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20 DEZEMBRO | 2013

António Mota
Quis trazer o interior
para dentro das
histórias

CEN TRO DE
R EC U R S OS E INV ESTIGAÇÃ O
S OB R E LIT ER ATURA PARA
A I NF Â NC IA E JUVEN TUDE
EDITORIAL

1. Retomamos neste SOLTA PALAVRA a série de autores portugueses de


Literatura Infantil e Juvenil, dando merecido destaque a António Mota, um
dos mais reputados escritores para crianças, a avaliar pelo carinho e leitura
que lhe devotam tais leitores. Desde A Aldeia das Flores, o seu livro de es-
treia, até ao presente, António Mota tem feito da literatura para a infância o
seu labor, atravessando géneros literários distintos como a narrativa, o conto
breve, a poesia e os jogos e rimas infantis.
A imaginação e o sonho são transversais a todos os seus livros, sendo

terra onde nasceu e cresceu. Disso nos dá conta o próprio escritor no conto
inédito que escreveu e na conversa provocada por Manuela Maldonado. As
referidas marcas não podem entender-se como exclusivamente regionais,
sublinha Ana Margarida Ramos, porque, na obra de António Mota, «se esta-
belecem laços com ideias perfeitamente universais e até intemporais, como
-
vas e familiares».
A descoberta do «lugar misterioso onde os sonhos nunca acabam», en-
fatizada por Sara Reis da Silva, nos fragmentos poéticos e narrativos da co-
leção «Se eu fosse…», ou o olhar poético, detetado por João Manuel Ribeiro,
CENTRO DE RECURSOS nos livros em que o escritor se mostra poeta, ou ainda, a ligação entre a pa-
E INVESTIGAÇÃO
SOBRE LITERATURA lavra e a memória, num exercício de reinvenção das rimas infantis e dos pro-
PARA A INFÂNCIA
vérbios, como nota Leonor Riscado, faz de António Mota um exímio escritor
E JUVENTUDE
de Literatura para a Infância e Juventude, seja pelas temáticas que aborda,

Diretor: João Manuel Ribeiro res, como mostra a exploração do livro Sonhos de Natal pelos alunos do Agru-
pamento de Escolas António Feijó, em Ponte de Lima. Que este SOLTA PA-
Colaboradores (neste número): António Mota, Manuela
Maldonado, Ana Margarida Ramos, Sara Reis da Silva, LAVRA contribua para um estudo mais alargado da obra de António Mota!
Leonor Riscado, Lúcia Barros, Maria de Fátima Dias,
Susana Gonçalves,Teresa Silva
2. O próximo SOLTA PALAVRA (a sair em Abril) será temático, aborda-
Fotografia da capa: António Rilo
Fotografias de António Mota: António Rilo rá o tema «A Morte na Literatura Infantil e Juvenil» e trará novidades em
termos de conteúdo e de formato, numa tentativa de valorização da LIJ e de
Design e Paginação: Anabela Dias

Site: www.crilij.com
tema, gostaríamos de convidar todos os interessados a colaborar com estu-
Editor: CRILIJ
-

ISSN: 1647-6786

João Manuel Ribeiro


SUMÁRIO
EDITORIAL
1 João Manuel Ribeiro

EM FOCO
3 Maior que as mil e uma noites
António Mota
5 Conversa com… António Mota
8 Do regional ao universal, uma leitura O Lobisomem,
de António Mota
Ana Margarida Ramos
12 Fragmentos poéticos e narrativos “para” pequenos leitores:
leituras da coleção “Se eu fosse…”, de António Mota
Sara Reis da Silva
16 A Poesia de António Mota: uma poética do olhar…
João Manuel Ribeiro
21 António Mota, guardião de memórias felizes:
as rimas infantis e os provérbios reinventados
Leonor Riscado

BIBLIOTECANDO
24 A exploração de Retratos de Família no Agrupamento de
Escolas António Feijó (Ponte de Lima)
Maria de Fátima Dias, Susana Gonçalves e Teresa Silva

ESCRITA INTEMPORAL
28 Falando de literatura juvenil
Manuela Maldonado

FAVORITOS
30 António Mota ou A memória poética de “humanismos”
em perda
Manuela Maldonado
DEZEMBRO | 2013

34 Mais livros

20
Manuela Maldonado
CENTRO DE RECURSOS
E INVESTIGAÇÃO
SOBRE LITERATURA
PARA A INFÂNCIA
E JUVENTUDE
EM FOCO

Maior que
as mil e uma noites
António Mota

Dizem-me os dicionários que a palavra Ovil


-
vam de campo em campo, de leira em leira, vigia-
das pelos cucos que ripostavam, escondidos sabe-se

fritos com cebola, as febras assadas no dia da des- para observar o resultado da labuta de tanta gente,

a voz rouca da Timarizé saindo debaixo da canas- -


tra colada à cabeça:
1

memória ampla, feita de imensos enleios, sobretudo -


os do tempo da meninice, o tempo maior da desco- -

com os elásticos das barbas, e a banda de música


terra revolvida todas as primaveras, ecoava por

3
EM FOCO

-
tas, as pandeiretas, os bombos, os carros e os barcos -

O Tiopulga trazia esses tesouros dentro de uma -

Quem carregava a arca era um burro que de vez


em quando desatava a zurrar e a mostrar uma certa -

-
- des e sempre me deu a mesma prenda: uma dúzia
-

compravam esses pacotes ao Tiopulga, que dizia


com ar solene:

cercado por montes, um rio lá ao fundo, e uma es-


trada estreita e serpenteante por onde passava qua-
tro vezes por dias a camionete da carreira, que tre-
- sandava a gasóleo queimado, a suor e a vomitado, e

retemperador, onde alguns rapazes se afoitavam na

-
-

-
-
- e muito mato que costuma arder nas noites quentes

4
EM FOCO

Conversa com…

António
Mota
provocada por Manuela Maldonado

MM – Uma tão vasta produção literária, -


compreendendo umas largas dezenas de livros,
terá, forçosamente, de ser o produto de uma primeira página: Livro de Histórias de Antó-
forte pulsão de escrita. Quando e de que modo nio Mota
essa pulsão se manifestou primeiramente? Gosto muito de uma
menina que se chama Ma, depois risquei o Ma
AM –
imagens dos tempos iniciais da meninice à medida
-
-
-

- o que via e ouvia e adorava inventar palavras sem

-
dos buracos das árvores e de voar do cocuruto de

5
EM FOCO

bom ser pássaro antes de aterrar no meio de um la-

descalços do menino Jesus, que veio trazer-me de

MM – Nascido no interior, a sua itinerân-


cia docente levou-o a lugares bem recônditos.
Enquanto escritor, a sua atividade criadora

AM – - AM – A gente sabe que existem os carimbos e


-
Se eu me agrupasse, diria que ao longo destes
trinta e cinco anos, quis trazer o interior para den-

-
-
-

-
MM – São geralmente os críticos que atri-
buem categorias à produção literária, partin-
do de caraterísticas intrínsecas e extrínsecas MM – Nos seus títulos juvenis, a opção
preestabelecidas. Doador de uma literatura recai, geralmente, num narrador masculino
infantojuvenil, sob um ponto de vista pes- homodiegético, dado que também é persona-
soal, como agruparia o António Mota o que gem. Por que razão privilegiou este ponto de
escreveu? vista?

6
EM FOCO

AM – AM –

A Aldeia das Flores, o meu primei-

-
MM – Os diminutivos de adultos e crian-
ças presentes no seu universo romanesco bem
como o uso de alcunhas, ligadas ora a pertença
MM – Nos seus livros para a infância,
defeito físico ou de caráter, são recorrentes. -
Grande conhecedor da alma do povo, onde pro- trimónio oral português, pode considerar-se
curar a génese dessas formas de tratamento? a existência de uma alternância de instantâ-
neos do Real com apontamentos do Imaginá-
AM – rio. Só quem guardou, intacta, a infância na
sua interioridade de adulto, pode tecer essa
- escrita. Que aspetos da mundividência infan-
til privilegiou?

AM –
naqueles tempos em que sair da aldeia era um acon-
MM – O uso de topónimos como Ben-
lhevai, Correquelogodormes e outros é um
curioso processo de nominalização.Quais as dos meus sete anos, aprendi a cortar erva com uma
premissas destes jogos verbais?

AM – Digamos que me interessa imenso esse


-

Benlhevai - -
Torna-ó-Rego, a citadina Correquelogodor-
mes Vi o mar com cinco anos e espantei-me com aquela
Pedrinha de Sol -
googlar esses nomes, para di a pescar trutas no rio Ovil e, com o tempo e muita
força de vontade, também consegui perder o medo

MM – Falou-se de antropónimos e topóni- cedo descobri que ser pobre é uma mágoa que se
mos deveras peculiares e originais. De que
forma se conjugam na atmosfera vivencial
das pequenas comunidades rurais, o grande
motivo das suas narrativas?

7
EM FOCO

Do regional ao universal,
uma leitura
O Lobisomen,
de António Mota
Ana Margarida Ramos
Universidade de Aveiro
anamargarida@ua.pt

- -

- -
O Lobisomem, ini- tenticidade da escrita do autor que nos merece par-

no seu cariz episódico, em alguns textos claramente


A brevidade dos textos, o caráter episódico das -
tidiano, é um dos elementos mais marcantes do volu-

particular das crianças) com os animais, as relações


com o espaço exterior urbano e com as personagens
elementos que singularizam o volume, permitindo,
surpresas e alegrias do dia a dia simples, mas também
do estilo do autor, quer em termos temáticos quer -
em termos formais, esclarecendo a originalidade da -
-
que constroem uma imagem multifacetada do univer-
- so rural, perspetivada de distintos e complementares

A sobriedade do registo do autor, pontuado aqui e ali


-
-
gor das condições de vida descritas, dominadas pelo

8
EM FOCO

presença de laços afetivos fortes e duradouros, vincu-

-
-

-
-

colaborar nas tarefas do campo e da casa, nomea-

-
mento de ligações afetivas fortes, como acontece com batizado – por todas as crianças, revelando-se uma
-
-
- -

vendidos anualmente a contragosto do narrador do


- -
culo de afetos das personagens dos vários contos, ani-
ao cemitério e ocuparam a campa do dono, durante
-
-

fugiram para a serra, onde encontraram novo refú- -

da qual organiza o seu tempo e as suas ocupações,


e pelo amigo, com quem brinca e se diverte e, in-
alimentar e cuidar com grande afeto, até ao dia em
que a mesma é atacada e morta por uma cadela mais

- casa e à terra das suas origens, recusando, apesar da

9
EM FOCO

personagem, que empresta o nome ao conto, só acei-


do universo animal e dos seus ciclos vitais e instintos

o universo animal, mesmo para as personagens do


-

narrador surpreende-se com a descoberta de um ou-

- As relações entre o universo rural e o mundo ex-


topos -
do o estabelecimento de diferenças entre realidades

-
- -
mens e animais que leva a que, todos os anos, as crias
-

-
regressam à procura de autenticidade e da tranquili-
-

As tentativas de alterar o rumo da natureza reve-

passa a tratar como animal doméstico e pela qual -

gato desesperam de saudades e a aldeia resigna-se a


-
nomeadamente os maternais, como acontece com a

1 0
EM FOCO

De fora surgem os estrangeiros e as diferenças que Obra dominada, simultaneamente, pela indi-
os caracterizam, mesmo se aparentemente falam a -
gional em que se insere, frequentemente transborda
do brasileiro”, que gostava de fotografar tudo o que via
-
também lugar de passeio para gente que vive na cida-
de origem, o crescimento e o processo gradual de

aos costumes do lugar, “passavam o tempo a ter medo” -


-
contudo, os portadores de novidades e introdutores de
surpresas, como as bananas que, anualmente, o nar- parece-nos, redutor ler os seus textos exclusivamente à

festa surgem também os vendedores ambulantes, carre- -

porque, simultaneamente, se estabelecem laços com


- ideias perfeitamente universais e até intemporais, como

-
-

- -
do que valoriza as coisas simples, associadas aos pra-

ambições infantis; “O brinquedo na gaiola”, narrati-

para as grandes cidades do litoral ou para o estrangei-


e esperanças, mas também as suas frustrações e as

-
-

1 1
EM FOCO

Fragmentos
poéticos e narrativos
«para» pequenos leitores:
leituras da coleção
«se eu fosse…»,
de António Mota
Sara Reis da Silva
IE – Universidade do Minho
sara_silva@ie.uminho.pt

«Levar uma linha para passear.»


Paul Klee

- -
-
A Aldeia das Flo- mar” alguma destas obras de outras assinadas pelo
res, ponto de partida, aliás, de uma «carreira (…) O Ra-
- paz de Louredo
lumes a revisitar neste conciso ensaio, conquanto
poética Sal, Sapo, Sardinha O So-
às novelas do autor, por exemplo, possuem um lu- nho de Mariana
Se eu por Danuta Wojciechowska -
fosse… subtantivam uma escrita macrotextual que
Se eu fosse…,
descontinuidade e o episódico, bem como, como poesia e narrativa (esta ainda que, quase sempre, de

1 2
EM FOCO

- ou invulgar – como a magreza, a altura e a força


excessivas – ou de uma capacidade especial – fa-
-

-
das a uma série de outras, mais de pormenor, so- -
bre as quais nos deteremos de seguida, permitem -

É o que se pode ler logo no primeiro volume da


de alguns dos percursos criativos que, na última Se eu fosse muito magrinho
-
ferencialmente dirigida aos leitores mais novos (e -
também, note-se, na literatura dita canónica, em -

- com palavras – mais ou menos próximas do registo


comum – e ilustrações diversas, mas numa arquite-
ora acentuando os seus sentidos, os volumes da série tura e num tom similares, em todos os outros que
Se eu fosse… exploram as potencialidades/possibili- formam a série em apreço: «Se eu fosse muito alto

1 3
EM FOCO

em Se eu fosse um mágico
Outros processos técnico-discursivos, como a -
-
-
-

sucede, de forma recorrente, em Se eu fosse muito forte: os meninos pequeninos que se perdem no meio da

Tópicos como a paz e a liberdade perpassam, Algumas palavras, ainda, acerca da compo-
igualmente, o discurso literário e visual destes tex- -

-
todas as guerras e as fábricas das armas transforma-
-
- -

discreto, mas metaforicamente forte, da liberdade


-
Assinale-se, também, o topos -
Castro, igualmente adequada e esteticamente es-
timulante, assenta em formas geométricas bastan-
de cortiça e dois remos com palitos e fazer viagens
-
dia ir brincar para dentro de um búzio perdido nas -
areias de uma praia e adormecer embalado pelas
- vezes, alberga imagens feitas também com carac-
tivamente) à natureza e aos seus elementos: «Se eu teres/letras/palavras e que acordam a capacidade

1 4
EM FOCO

texto verbal e texto pictórico materializam um per-


curso lúdico próximo do experimental ou concre-
tista, desenvolvendo-se em torno das possibilidades in -
E-Dicionário de Termos Literários
que, por exemplo, uma ambicionada ou efabulada
(EDTL)
-
curso em primeira pessoa, marcadamente repetiti- Se eu fosse muito magrinho

Se eu fosse muito alto

e, muitas vezes, pelo nonsense Se eu fosse muito forte

Se eu fosse muito pequeni-


-
no
sagem verbal é apenas aparente, porque o texto
funciona sobretudo como um pretexto, um ponto Se eu fosse um mágico

-
«Se eu fosse muito
magrinho» in
parecem, também, ser a vontade de agir solidaria-

in Malasartes

Breve História da Literatu-


- ra para Crianças em Portugal. Nova edição ac-
tualizada até ao ano 2000.
in
certas partes do mundo, bem como uma envolvente

livros convidam, página ante página, a «descobrir

1 5
EM FOCO

A poesia de
António Mota:
uma poética do olhar…
João Manuel Ribeiro
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação
Universidade de Coimbra
joaomanuelribeiro@fpce.uc.pt

Daniel Faria escreveu que «o poeta é o que des-

Sal, sapo, sardinha


que singular; está muito para além do registo poéti- Onde tudo aconteceu
- Se tu visses o que eu vi
ta e constitui-se como poiesis, isto é, como feitura de e Lá de cima cá de baixo

de dizer, nem sequer um dizer, na medida em que

- -
-

único critério de verdade poética, a marca de água 1. Sal, Sapo, Sardinha


subsiste uma textura metafórica que, apesar de lem-
-
cional oral, nomeadamente as lengalengas, os trava-

-
-
- de lido, como se o poema possibilitasse a descoberta

1 6
EM FOCO

-
- dos os animais e neles a todas as realidades que

grande metáfora da realidade outra que cada coisa,


excesso de sentidos: assim acontece com o «Cara-
este propósito o imperativo do verbo com que inicia

de abertura do livro:

Olha:
aqui está uma gravata
às pintas -
azuis -
vermelhas
douradas, partida para um percurso de descoberta: desven-
que serve dar o mistério que se esconde por trás de cada um,
para enfeitar
um rio de águas claras. -

consubstanciada em marcas de narratividade (como

1 7
EM FOCO

-
Sal, sapo, sardi-
nha

passa por «apontamentos de poesia breves, fugazes

-
2.
qualquer lugar, acrescenta mais-valia e sentido à

fosse o cenário ou o pano de fundo para a (den- diferente do real, que simultaneamente nos dá um

Onde tudo aconteceu


-
colar de que fala o primeiro poema com o mesmo

1 8
EM FOCO

- (como no poema inaugural), ora indiretamente por

encontra este e aquele, que faz perguntas a dada

extratextual num lado oposto à da realidade apre-


- -
-

- -
- -
-
ro ou da noite, pelo excesso do diurno, luminoso,

mas especialmente evidente nos sete poemas do que -

se enxertar na referida arquitetura, evoca também


Sal, sapo, sardinha,

a mesma densidade metafórica, a mesma carga

3. Se tu visses o que eu vi
dezenas de textos poéticos que, na generalidade, 4.
treze poemas para ver Lá de cima cá de baixo, indi-

cantilenas, lengalengas e rimas infantis, reinven-


nonsense
e do recurso ao imaginário do contrário, das aves-
«Baloiço cá
- baloiço lá
eu já vi
mais lúdico, um território imagético-visual que se o que ali está».

1 9
EM FOCO

-
-

- a sensorialidade, a coloquialidade, a narratividade,


-
se faz esta poesis

pomba; ou para os frutos, sobretudo para as azei-


La poétique de l’espace
tonas; ou para os gatos, especialmente para «um /
O que é a poesia? -

O Livro do Joaquim.

-
Sal, Sapo, Sardinha, de Antó-
nio Mota In
-
Lá de cima cá de baixo

Sal, Sapo, Sardinha

poético e ampliada «por marcas de narratividade e Onde tudo aconteceu

Se tu visses o que eu vi

Lá de cima cá de baixo distingue-se por textos de maior Onde tudo aconteceu – Recen-
são In -

-
Sal, sapo, sardinha – Recen-
trutura formal diversa onde, além da metáfora, es- são In

Onde tudo aconteceu – Recen-


são In -
-
Onde tudo aconteceu – Re-
censão In

Lá de cima cá de baixo – Re-


censão In

2 0
EM FOCO

António Mota,
guardião de
memórias felizes:
as rimas infantis e os
provérbios reinventados
Leonor Riscado
Escola Superior de Educação de Coimbra

A poesia, essa “rosa inútil e necessária” de que nos


-

-
gam-se desde os tempos mais remotos dando forma

-
ca e musical, independentemente da menor ou maior
-

2 1
EM FOCO

de poesia, quer de autor, quer da poesia tradicional,

rimas infantis e de outros repositórios de sabedoria

sabemos como este professor muito especial que foi,


-
lar ligação com a palavra e com a memória
apuro e o rigor com que cuida em oferecer aos leito-

as crianças um património oral que agrega gerações,


-
-

parte das crianças, de pertença a uma comunidade e


-
-

- design grá-
-
ria José Costa, segundo a qual designam “os textos
- Saliente-se a cumplicidade estabelecida entre os au-

da criança desde o nascimento até mais ou menos


- -

O
Livro das Lengalengas 1 2
O Livro dos Trava-línguas 1
2 O Livro das Adivinhas -
1 2
- antes imersos no macrotexto cultural das tradições
populares da esfera do adulto: O Livro dos Provérbios
O Livro 1 e O Livro dos Provérbios 2
das Adivinhas -

2 2
EM FOCO

O Livro dos Pro-


vérbios

-
textos aparentemente – mas só aparentemente – fá-

O Livro das Adivinhas 1 e O Livro das Adivinhas 2


-
Os provérbios, textos marcados pela brevidade

adulto-criança é promovida através desta provo-


-

-
por diferentes sugestões de resposta, mais ou menos
forma particular de traduzir verbalmente o modo próxima da correta, que aparece, no livro, bem assi-

o inexplicável, com o que o oprime ou amedronta O Livro dos Provérbios 1 e O Livro dos Provérbios 2
utilizam, também, este tipo de estratégia, comple-
-
-
tivos que, ao longo de mil cento e cinquenta e dois
provérbios, permitem à criança afastar-se do pensa-
mento concreto e adquirir, de forma lúdica mas re-
-
no pensamento abstrato, nomeadamente através da
O Livro das Lengalengas 1 e O Livro das Lengalengas 2
- -
ta e quatro textos do folclore rimado infantil, encon-

rimas para as quais é indicado o contexto e rimas

biombo de coletor, mas, lá bem no fundo do seu


O Livro dos Trava-Línguas 1 e O Livro dos Trava-
-línguas 2

- rimas infantis, sem que a maior parte dos leitores


-
-

2 3
BIBLIOTECANDO

A exploração de
«Retratos de Família»
no agrupamento de
escolas António Feijó
Ponte de Lima

Maria de Fátima Dias, Susana Gonçalves e Teresa Silva


Trabalho realizado no âmbito da Oficina de Formação:
O Papel da literatura na Formação do leitor, coordenado por
Lúcia Barros (Professora Bibliotecária)

Retratos de Família
(…) Considerando o tema aglutinador do agru- -
pamento A Árvore e a Arte de Envelhecer na Literatura
-
-
-
permitindo às crianças estabelecer comparações e

capazes de compreender e respeitar as diferentes


Roteiro de análise textual para “SONHOS DE NATAL”

da sociedade, também é produtora de mudanças e


procura implementar novos valores, a par de ou-

Grupo etário
-
Indicação do género, das personagens e dos elementos
espácio-temporais

A obra que serve de mote e de arranque a este

para além de se enquadrar nas temáticas acima re-

2 4
BIBLIOTECANDO

Sinopse/Apreciação dos
aspetos estéticos e ideológicos

lembrar que este sempre foi muito mais do que efémero


-
-

do autor à terra, experimentamos o frio dos dias sem


escola a brincar na neve; o aroma e o sabor da mais

-
-
-

motivos, este livro proporciona o caloroso reencontro

Pré-leitura
Pistas de Trabalho À descoberta do título desaparecido

-
Objetivos
de diferentes caixas encontram-se cartões com pala-

– Contactar com autores/ilustradores portugueses

Book Bit
que proporcionem o prazer da leitura, da escrita
e/ou outras formas de arte;

2 5
BIBLIOTECANDO

Durante a leitura Após a leitura


-
minha aldeia
-
Teia de personagens
-
- O dia seguinte…
-

Gaveta de Histórias

acontecimentos neles vividos, “arrumando” cartões Forum


com citações e/ou ações nos diferentes cenários da Dividir a turma em dois grupos para debater o

A caixa mágica
Diário de Leitura

… muito mais pequena, também de madei-


ra.”) e deixar que os alunos se manifestem, e argu-

Confrontar as ideias prévias dos alunos com a Sugestões de intertextualidade:


Há sempre uma estrela no
Natal
Dicionário de Natal

Outras Obras do autor:


Lá de Cima, Cá de Baixo -
Carta do Pai

A Aldeia das Flores -

Se Tu visses o que eu vi
Mapa Comparativo (passado vs presente)

Segredos -

O Nabo Gigante -

2 6
BIBLIOTECANDO

- pertou curiosidade pelo conteúdo da obra e revelou

por abordar a obra recorrendo a duas atividades de


pré-leitura e, embora inicialmente, tivéssemos pla- que se refere ao “Book Bit” é de salientar o facto

mais novos, o que contribuiu para o enriquecimento

- que a caixa criou, quer pelas sugestões dos alunos


revelou-se uma atividade muito criativa como ve-
-
rentes grupos, onde apareceram alusões a sapatos

-
- vel surpresa, visto que fomos surpreendidas pela ca-

positiva, os alunos demonstraram interesse e entu-


-
-
-

2 7
ESCRITA INTEMPORAL

Falando de
Literatura
Juvenil Manuela Maldonado

- Lisboa, Irene
Uma Mão cheia de Nada…

O volume inclui pequenos textos de caráter con-


Solta Palavra
- narrativas do cotidiano circundante que se recriam
substanciada em duas obras: Uma Mão cheia de Nada
– Outra de Coisa Nenhuma Aventuras inscrevendo-se num percurso existencial atribulado
de João Sem Medo

-
- nos libertadores, entre outros textos, em «As Aventu-

-
dicionado pelo eu social, nesta faixa etária é motivo -
-

-
-
lescentes na fase do diário e das grandes descobertas

2 8
ESCRITA INTEMPORAL

-
Ferreira, José Gomes
Aventuras de João Sem Medo -
-
-
-
-

romances de todos os tempos se debruçam sobre


o enigma do eu e que a sua busca acabará sempre

-
contra uma séria de situações embaraçosas e tem
de tomar opções e é, nesses momentos, que surge o
mass media, o futebol, a moda, a música de massas…
-
-

Sobre Irene Lisboa


A Literatura para Crianças e Jo-
Sempre se sai a preceito, pela sua coragem, que vens em Irene Lisboa
Irene Lisboa
Sobre José Gomes Ferreira
para casa com a saudade de petiscos como o ba- Vida e Obra de José Gomes
Ferreira
Sobre o Romance
A Arte do Romance

2 9
FAVORITOS

António Mota
ou a memória poética
de «humanismos»
em perda
Manuela Maldonado

-
- -
dor adolescente, que também é personagem, sendo -

- A par dos acontecimentos reais, ocorrem va-

incidentes variados, podendo assumir a forma de

O milagre da vida é consubstanciado nos epi-


- sódios do nascimento de animais em que crianças

acontecimentos que constam dos vários livros como

forasteiros como os vendedores ambulantes, os amo-

- -

3 0
FAVORITOS

Mota, António
A Casa das Bengalas

-
- -

Há que referir ainda, pela poeticidade transbor- -


-
-
tos…
a todos os alunos num lugar onde a neve campeia e
sobretudo depois da viuvez de Henrique, visitam-

-
levava uma abada de rosas…
- fortes dores de cabeça, que só o Aspegic consegue

-
A narrativa inicia-se por uma das viagens a

3 1
FAVORITOS

-
-se desconfortáveis, Sibilina reage mal, discutem e o

Voltando para a aldeia a Custódia continua a


- -

A estadia é um constrangimento para todos:

- terra, além da roupa de vestir no dia a dia levava

- -
po cósmico, bem como a moldura com o retrato de
-

de férias na aldeia quando criança: os animais, o

por terem ido visitar outro amigo, num lar de idosos

3 2
FAVORITOS

-
-

causada pela dádiva de uma tia de um livro de con-

aproveitando o clima esotérico dessa data, leva dois


meninos fantasiados de bruxa e fantasma, a entrar
-

Mota, António -
Histórias às cores petivas donas, originando uma escrita que toca a fá-

um bom prestidigitador, de pequenos nadas como


- -

netos, festas de aniversário infantis, o esoterismo do


dia das bruxas, tira da cartola apontamentos narra- -

-
- -
ções do código escrito, permitindo leituras cada vez

narrativa seguinte privilegia-se a casa da avó como


aparecem pequenos mosaicos, estudos prévios de
deliciosos doces caseiros; o terceiro valoriza o en-
tendimento e cumplicidade de duas gerações na quadros temáticos em que o ilustrador confessa que

3 3
FAVORITOS

Mais Livros Manuela Maldonado

Além de volumes de literatura infantojuvenil,


esta secção privilegiará outros que poderão
configurar culturas da criança ou do jovem.

-
bre: além de remendar a roupa, também o faz com

-
-

Woolf, Virgínia
A Viúva e o Papagaio
-

mesmo desapontamento aconteceu no escritório de


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FAVORITOS

Nieto, Iván Baliano


Caçadores de Tesouros
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A estrutura da(s) narrativa(s) assume-se como um

e lá estava a fortuna de quem vivera e morrera na

Volta a casa com James, na carroça do mesmo Tudo é aventura, a começar pela temática: um
arqueólogo, nas férias grandes, convida o sobri-

A viúva viveu até idade avançada e, de tanto

que foi o papagaio o incendiário da casa do ava-


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A pesquisa leva-os de continente em continente,


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preto e branco, dada a faixa etária a que se destina,

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na a cor valorizando a expressividade dos protago-

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FAVORITOS

Sado”, de inverdades sobre o nascimento, como em

A rematar o volume aparecem os direitos dos


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dicativa: pretendem, sobretudo, ser bem alimenta-

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nal do poema, para a criança: defender os animais

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Ribeiro, João Manuel


Animalices

neste caso, interpretado disfemisticamente, porque

diz na contracapa, “povoam a escrita dos poetas e

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culatórios, individuais e coletivos, tendentes a me-
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sobre as estações em “Cada animal sua lua”, de

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FAVORITOS

Elias, Marta Ribeiro, João Manuel


Lengalenga dos nomes O Anjo do Pintor

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maior parte das vezes, o nonsense
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Falar de arte pictórica para crianças e até para

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atrás das pinturas, que se torna o guia da visita guiada,

a escrita regista o diálogo que estabelece com o re-

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FAVORITOS

Letria, José Jorge


- O Mosteiro de Santa Maria de Salzedas:
as formigas, o gaio e as pedras

este painel apresenta uma imagem de Cristo vigorosa,


erguendo-se do túmulo, em contraste com os soldados

à viagem através de grandes monumentos nacionais

sabe explicar a perda de um dos retábulos e angus- -


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tre narrador e recetor é também doado pela ilustra- Os cistercienses eram grandes agricultores, com

os mosteiros se deveriam situar num vale atravessa-


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anos mas, ao longo dos tempos, sofreu remodela-

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este sinal, o imaginário avoca do imaginário um

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FAVORITOS

gaio, muito colorido, que, estridentemente, grita:

para Salzedas, o rei ofereceu terras para os monges


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artesanais, é o que cabe ao monge bibliotecário: a


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Como era expectável, a fundadora teria de fa-


zer parte da lenda, ela que pediu para ser enterrada

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rativa construir a sua lenda, imaginando um dia de

Mendes, Rui et alius


Jogos Tradicionais Portugueses
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Deixe-se falar o texto: “Talvez uma lenda criada como se diz na contracapa, é destinado à dinamiza-

oferta de atividades complementares e interdiscipli-


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tores deste volume, na última página, sentados em -

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FAVORITOS

CHAMADA DE TEXTOS
SOLTA PALAVRA 21

Os interessados podem enviar textos (artigos ou recensões a


livros) para o próximo Solta Palavra «A Morte na
Literatura Infantil e Juvenil»

Gomes, Fernando Paulo et alius


autor(es) (se for o caso); endereço completo (incluindo telefone, fax
Viajar a cantar em Portugal
e e-mail) do(s) autor(es) responsável;
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corresponder determinado instrumento musical a -

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CENTRO DE RECURSOS
E INVESTIGAÇÃO
SOBRE LITERATURA
PARA A INFÂNCIA
E JUVENTUDE

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