Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INTERTEXTUALIDADE:
UMA LEITURA DE A
MÁQUINA DE FAZER
ESPANHÓIS, DE
VÁLTER HUGO MÃE
prudência, uma sabedoria que vinha de família, de colocar a família no centro das
coisas. eu deixava que a sociedade fosse apodrecendo sob aquele tecido de famílias de
bem, um mar imenso de famílias de aparências, todas numa lavagem cerebral social
que lhes punha o mundo diante dos olhos sublinhado à lápis azul, para melhor vermos
o que melhor queriam que apreciássemos. ai as glorias de salazar, eram tão grandes as
pontes e longas as estradas (...) parecíamos um grande cenário de lego. (MÃE, 2010,
p. 133)
era notório que seguíamos estúpidos com a maravilha de termos diante de nós
tal figura. pasmávamos ainda como se não fosse coisa de acreditar que o joão
esteves um dia tivesse vivido em lisboa e frequentado a tabacaria alves com
naturalidade suficiente para ser genuíno dentro de um poema do fernando
pessoa. o anísio finalmente disse, que filho da mãe sortudo. nem rimos.
estávamos demasiado atónitos para beliscarmos aquela fantasia tão grande
(MÃE, 2011, p. 127).
A imagem (composta quase como uma cena, com caráter dramático) descrita no
poema de Álvaro de Campos é retomada pelo romance de Hugo Mãe e apresentada como
relato da memória daquele que teria vivido a situação ficcional. Uma rememoração de
memória do outro, lembranças depositadas como bonecas russas, umas dentro das outras.
António dá vida e história ao personagem de Pessoa, transbordando dos versos.
O aspecto intertextual do diálogo com a obra pessoana funciona como uma chave
interpretativa da narrativa, que fornece novas perspectivas sobre a manipulação da memória
coletiva.
era exatamente como ler a tabacaria parte dois, ou frequentar a tabacaria e
estarmos oitenta anos antes a confraternizar com os génios numa das histórias
mais históricas da nação. (...) em mil novecentos e trinta e três saiu a
tabacaria na capa da maior revista de literatura portuguesa, dirigida com
importância pelo josé régio. eu soube já em trinta e cinco. senti-me afundado
na metafísica. (...) o fernando pessoa havia morrido e o poema ficou para
sempre a fazer que éramos amigos, com aquele cumprimento no fim, como
regozijando por me ver. uma mentira qualquer, ou não? (MÃE, 2011, p. 96-
7).
Conclusão:
Referências bibliográficas: