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PÁGIN@S 12 – DOSSIÊ DO PROFESSOR

PARA COMPREENDER

Manuel da Fonseca
Manuel da Fonseca é um nome maior do neorrealismo1 literário português. Na obra do escritor, a
navegação pelo mundo faz-se com a limpidez das imagens sobre a infância e sobre a paisagem que não
lhe abrandam o compromisso com as dores e os sonhos dos homens. Comunicando com o seu tempo,
reinventando a tradição, decantando e escrita, Manuel da Fonseca é um autor com lugar próprio e uma
referência na literatura portuguesa do século XX.
Nova Síntese, Textos e Contexto do Neorrealismo, n.° 6, Introdução, Lisboa: Colibri, 2011, p. 9.
Na obra poética como na prosa narrativa, o autor colheu na observação do real o alimento da escrita
– conceção em tudo propugnado pelo movimento neorrealista português, de que o escritor foi um dos
principais representantes. A par de um olhar sobre as circunstâncias socioeconómicas, quase toda a sua
obra se pauta por convocar o espaço humano e físico do Alentejo; em particular, a quietude das planí-
cies, das vilas provincianas perpassam na sua escrita.
Conto Português, Séculos XIX e XXI, coordenação Maria Isabel Rocheta e Serafina Martins, Lisboa: Caixotim, 2011, p. 93.

Q
1 Indica duas características marcantes da obra de Manuel da Fonseca.

1.
Corrente literária de influência italiana.

Cronologia
1911 Nasceu em Santiago do Cacém, a 15 de outubro.

1923 Fez estudos secundários em Lisboa.

1939 Começou a colaborar em várias revistas literárias. Participou, ao longo de vários anos nas seguintes revistas:
Afinidades, Árvore, Vértice, Altitude, O Diabo, O Diário, Pensamento, Sol Nascente e, a mais importante, Seara Nova.

1940 Publicou o volume de poesia Rosa dos Ventos.

1941 Publica um novo livro de poesia, Planície, e integra o Novo Cancioneiro, marco da estética poética neorrealista

1942 Sai o seu primeiro volume de contos: Aldeia Nova.

1943 Estreou-se no romance com Cerromaior.

1953 Reúne na obra O Fogo e as Cinzas os contos que foi publicando ao longo dos anos 40 do séc. XX.

1958 Publica um novo romance, Seara do Vento, considerado por muitos a sua obra-prima.

1968 Escreve Um anjo no trapézio.

1973 Publica Tempo de solidão.

1986 Publica Crónicas algarvias.

1993 Morreu em Lisboa, a 11 de março.

TEMPO HISTÓRICO-LITERÁRIO: O AUTOR E O CONTO

Seara Estado Presença – II Guerra


Nova Novo o Segundo Mundial
1921 1926-1974 Modernismo 1939-1945
1927

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OBRAS OPCIONAIS

Solidão e convivialidade

PARA COMPREENDER

A Caracterização de um espaço sociopolítico


Não está na natureza destes contos a apresentação de um conflito em todos os seus vetores e na ple-
nitude do seu desenvolvimento; mas neles encontramos a narração de situações de precariedade ex-
trema que contêm em si os germes de transformações profundas e urgentes.
Maria Isabel Rocheta, “Sobre O Fogo e as Cinzas de Manuel da Fonseca”,
in Três Ensaios sobre a Obra de Manuel da Fonseca, Maria de Lourdes Belchior, Maria Isabel Rocheta e Maria Alzira Seixo,
Lisboa: Comunicação, 1980, p. 70.

B O título do conto "Sempre é uma companhia"


O título do conto parece remeter para o benefício que, no tempo de II Guerra Mundial, a introdução
de um novo meio de comunicação (a radiotelefonia) traz à população de uma pequena e isolada aldeia
alentejana.
Violante F. Magalhães, in Conto Português, Séculos XIX e XXI, coordenação Maria Isabel Rocheta e Serafina Martins,
Lisboa: Caixotim, 2011, p. 103.

C Importância das peripécias inicial e final


Nas páginas iniciais de “Sempre é uma companhia” não são apenas indiciados o isolamento geográ-
fico, a solidão, o silêncio. (…) Sobretudo, de forma extraordinariamente delicada, vai-se dando conta
das condições sociais indignas que os habitantes de Alcaria enfrentam. Elas são de tal ordem, que os
habitantes perdem as suas características humanas. (…)
[No final,] a radiotelefonia, uma inovação para a aldeia, devolveu a todos parte da humanidade per-
dida (ou nunca antes experimentada).
Violante F. Magalhães, in Conto Português, Séculos XIX e XXI, coordenação Maria Isabel Rocheta e Serafina Martins,
Lisboa: Caixotim, 2011, pp. 107-108.

D Caracterização de personagens
Mais do que os fortes, encontramos os fracos, mais do que o herói encontramos o anti-herói, caracte-
rizando uma sociedade que afasta do seu centro (que descentra) a maioria dos seus cidadãos.
Maria Isabel Rocheta, “Sobre O Fogo e as Cinzas de Manuel da Fonseca”,
in Três Ensaios sobre a Obra de Manuel da Fonseca, Maria de Lourdes Belchior, Maria Isabel Rocheta e Maria Alzira Seixo,
Lisboa: Comunicação, 1980, p. 58.

Q
1 Indica uma característica genérica dos contos que integram a antologia O Fogo e as Cinzas.
2 Identifica o tempo histórico que o conto “Sempre é uma companhia” fixa.
3 Infere qual será o elemento desencadeador da ação do conto.
4 Indica o que caracteriza globalmente as personagens do conto que vais estudar.

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EXCERTO
“SEMPRE É UMA COMPANHIA”
António Barrasquinho, o Batola, é um tipo bem achado. Não faz nada, levanta-se quando calha, e ainda
vem dormindo lá dos fundos da casa.
É a mulher quem abre a venda e avia aquela meia dúzia de fregueses de todas as manhãzinhas. Feito isto,
volta à lida da casa. Muito alta, grave, um rosto ossudo e um sossego de maneiras que se vê logo que é ela
5 quem ali põe e dispõe.
Pois quando entra para os fundos da casa, vem saindo o Batola com a cara redonda amarfanhada num
bocejo. Que pessoas tão diferentes! Ele quase lhe não chega ao ombro, atarracado, as pernas arqueadas. De
chapeirão caído para a nuca, lenço vermelho amarrado ao pescoço, vem tropeçando nos caixotes até que lá
consegue encostar-se ao umbral da porta. Fica assim um pedaço, a oscilar o corpo, enquanto vai passando as
10 mãos pela cara, como que para afastar os restos do sono. Os olhos, semicerrados, abrem-se-lhe um pouco
mais para os campos. Mas fecha-os logo, diante daquela monotonia desolada.
Dá meia volta, enche a medida com o melhor vinho que há na venda, coloca-a sobre o balcão. Ao lado, um
copo. Puxa o caixote, senta-se e começa a beber a pequenos goles. De quando em quando, cospe por cima do
balcão para a terra negra que faz de pavimento. Enterra o queixo nas mãos grossas e, de cotovelo vincado na
15 tábua, para ali fica com um olhar mortiço.
Às vezes, um rapazito entra na venda:
– Tio Batola, cinco tostões de café.
O chapeirão redondo volta-se, vagaroso:
– Hã?…
20 – Cinco tostões de café!
Batola demora os olhos na portinha que dá para os fundos da casa. Mas é inútil esperar mais. “Ah, se a
mulher não vem aviar o rapazito é porque não quer, pois está a ouvir muito bem o que se passa ali na loja!”
Quando se assegura que é esta e não outra a verdade dos factos, Batola tem de levantar-se. Espreguiça-se,
boceja, e arrasta-se até à caixa de lata enferrujada. Mede o café a olho, um olho cheio de tédio, caído sobre o
25 canudinho de papel.
Volta a encher o copo, atira-se para cima do caixote. E, no jeito que lhe fica depois de vazar vinho goela abaixo,
num movimento brusco, e de ter cuspido com uns longes de raiva, parece que acaba de se vingar de alguém.
Tais momentos de ira são pedaços de revolta passiva contra a mulher. É
uma longa luta, esta. A raiva do Batola demora muito, cresce com o tempo,
30 dura anos. Ela, silenciosa e distante, como se em nada reparasse, vai-lhe
trocando as voltas. Desfaz compras, encomendas, negócios. Tudo vem a fa-
zer-se como ela entende que deve ser feito. E assim tem governado a casa.
Batola vai ruminando a revolta sentado pelos caixotes. Chegam
ocasiões em que nem pode encará-la. De olhos baixos, põe-se a
35 beber de manhã à noite, solitário como um desgraçado. O fim da-
quelas crises tem dado que falar: já muitas vezes, de há trinta anos
para cá, aconteceu a gente da aldeia ouvir gritos aflitivos para os
lados da venda. Era o Batola, bêbado, a espancar a mulher.

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OBRAS OPCIONAIS

Tirando isto, a vida do Batola é uma sonolência pegada. Agora, para ali está, diante do copo, matando o
40 tempo com longos bocejos. No estio, então, o sol faz os dias do tamanho de meses. Sequer à noite virá alguém
à venda palestrar um bocado. É sempre o mesmo. Os homens chegam com a noitinha, cansados da faina. Vão
direito a casa e daí a pouco toda a aldeia dorme.
Está nestes pensamentos o Batola quando, de súbito, lhe vem à ideia o velho Rata. Que belo companheiro!
Pedia de monte a monte, chegava a ir a Ourique, a Castro, à Messejana. Até fora a Beja. Voltava cheio de no-
45 vidades. Durante tardes inteiras, só de ouvi-lo parecia ao Batola que andava a viajar por todo aquele mundo.

Manuel da Fonseca, O Fogo e as Cinzas, Lisboa: Caminho, 1998, pp. 145-149.

PARA COMPREENDER

Aldeia
Nove casas,
duas ruas
ao meio das ruas
um largo,
ao meio do largo
um poço de água fria.
Tudo isto tão parado
e o céu tão baixo
que quando alguém grita para longe
um nome familiar
se assustam pombos bravos
e acordam ecos no descampado.
Manuel da Fonseca, Obra Poética,
Lisboa: Caminho, 2011, p. 97.

Q
1 Em trabalho de grupo, realiza uma das tarefas propostas.

a) Caracteriza o espaço sugerido no poema.


b) Constrói argumentos de forma a publicitares este espaço.
c) Caracteriza um espaço oposto ao retratado no poema.
d) Constrói argumentos de forma a evidenciares os aspetos negativos deste espaço.
1
Educação Literária
1 Identifica a região portuguesa em que se passa a ação e indica os topónimos que te permitiram tal
identificação.
2 Delimita os três momentos principais da ação e indica sucintamente o seu conteúdo.
3 Na primeira parte, a vida de Batola é uma “sonolência pegada” (l. 39). Ilustra esta afirmação com referências ao texto.
4 Caracteriza e interpreta a relação entre Batola e a mulher no primeiro momento.
5 Neste conto, o espaço físico condiciona o espaço social. Documenta esta afirmação com base na vivência
das personagens na primeira parte.
6 O vendedor que chega no carro revela-se uma pessoa atenta e comercialmente experiente. Ilustra esta afir-
mação com referências ao texto.

1
As questões dizem respeito ao conto integral.
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7 A sua chegada traz uma profunda alteração à vida da aldeia. Documenta essa alteração no comportamento
do Batola e da mulher, bem como na vida dos habitantes da aldeia.
8 Mostra como esta transformação se reflete na perceção do tempo e na vivência do espaço.
9 Em muitos dos seus contos, Manuel da Fonseca estabelece um confronto entre o passado e o presente. In-
dica, justificando, qual dos dois tempos sai valorizado em “Sempre é uma Companhia”.
10 Associa números e letras, identificando recursos expressivos.

Expressão textual Recurso expressivo


1. “O chapeirão redondo volta-se, vagaroso” (l. 18). A. Hipérbole.
2. “todo aquele mundo” (l. 42). B. Sinédoque.

3. “chegava a ir a Ourique, a Castro, à Messejana” (l. 41). C. Perífrase.


4. “o rebanho que se levanta com o dia, cava a terra, ceifa e recolhe vergado
pelo cansaço e pela noite”. D. Enumeração.

Gramática
1 Relaciona a construção de campos lexicais com o tema dominante do texto e com a respetiva intencionali-
dade comunicativa.
2 Identifica e interpreta discurso direto e discurso indireto livre.
3 Distingue mecanismos de construção da coesão textual entre o segundo e o terceiro parágrafo do conto.
4 Identifica uma sequência textual descritiva e outra narrativa.

Escrita
Visiona o trailer do filme Rede Social, de David Fincher, 2010, sobre a
fundação da rede social Facebook e sua evolução e escreve um texto de
opinião (180-240 palavras) sobre o vertiginoso desenvolvimento dos
meios tecnológicos e de comunicação a que assistimos e as alterações
nos hábitos, na convivialidade e no comportamento das populações.
Fotograma do filme Rede Social.

Em poucas palavras
“Sempre é uma companhia” consagra um retrato económico e sociocultural do Alentejo na primeira metade
do século XX. Oferece-nos retratos humanos que atravessarão outros tempos e outros espaços. O refúgio em
comportamentos antissociais e a desistência da vida, as relações afetivas conturbadas e a necessidade de correr
mundo em busca de um rumo são algumas linhas de reflexão que o conto propicia.

PARA CONCLUIR

• O título do conto ("Sempre é uma companhia") anuncia um novo meio de comunicação que vai mudar a
vida de uma população deprimida, no contexto da II Guerra Mundial.
• A intriga é simples e é contada de forma linear.
• O espaço exterior representa os sentimentos negativos do protagonista.
• Os homens perdem características humanas que são transpostas para o universo inanimado.
• O conto permite uma reflexão sobre a condição humana, que excede os limites temporais da ação.

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OBRAS OPCIONAIS

MEMÓRIAS

Memórias de África
A Mas na metrópole há cerejas. Cerejas grandes e luzidias que as raparigas põem nas orelhas a fazer

de brincos. Raparigas bonitas como só as da metrópole podem ser. As raparigas daqui não sabem como
são as cerejas, dizem que são como as pitangas1! Ainda que sejam, nunca as vi com brincos de pitangas
e rirem-se umas com as outras como as raparigas da metrópole fazem nas fotografias.
5 A mãe insiste para que o pai se sirva da carne assada. A comida vai estragar-se, diz, este calor dá cabo
de tudo, umas horas e a carne começa a esverdear, se a ponho na geleira fica seca como uma sola. A mãe
fala como se hoje à noite não fôssemos apanhar o avião para a metrópole, como se amanhã pudéssemos
comer as sobras da carne assada dentro do pão, no intervalo grande do liceu. Deixa-me, mulher. Ao
afastar a travessa o pai derruba a casta do pão. A mãe endireita-a e ajeita as côdeas com o mesmo cui-
10 dado com que todas as manhãs ordena os comprimidos antes de os tomar. O pai não era assim antes de
isto ter começado. Isto são os tiros que se ouvem no bairro acima do nosso. E as nossas quatro malas por
fechar na sala.
Dulce Maria Cardoso, O retorno, Lisboa: Tinta-da-China, 2015, p. 7.

Memórias de África
B Manuel deixou o seu coração em África. Também conheço quem lá tenha deixado dois automó-

veis ligeiros, um veículo todo-o-terreno, uma carrinha de carga, mais uma camioneta, duas vivendas,
três machambas2, bem como a conta no Banco Nacional Ultramarino, já convertida em meticais3.
Quem é que não foi deixando os seus múltiplos corações algures? (…)
5 Lourenço Marques, na década de 60 e 70 do século passado, era um largo campo de concentração
com odor a caril.
Em Lourenço Marques, sentávamo-nos numa bela esplanada, de um requintado ou descontraído
restaurante, tanto fazia, a qualquer hora do dia, a saborear o melhor uísque com coda e gelo e a debicar
camarões, tal como aqui nos sentamos, à saída do emprego, num snack do Cais do Sodré, forrado a azu-
10 lejos de segunda, engolindo uma imperial e enjoando tremoços.
Isabela Figueiredo, Caderno de Memórias Coloniais, Lisboa: Caminho, 2015, pp. 35.

2.
fruto tropical.
2.
terreno agrícola. A Baixa de Lourenço Marques (antiga designação da cidade
3.
Unidade monetária de Moçambique. de Maputo, capital de Moçambique), alguns anos antes da
Independência de Moçambique, em 1975.

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Leitura Oralidade
1 O texto A é um excerto do primeiro romance que assume uma visão retrospetiva de um momento marcante
da história recente do nosso País: o fim da colonização e a vinda dos “retornados”.

1.1. Seleciona expressões que comprovem que o ponto de vista apresentado é o de um adolescente.

1.2. Indica as expectativas que a personagem tem sobre a metrópole.


2 O texto B constitui um excerto do Caderno de Memórias de uma jovem, filha de colonos, que vive a sua in-
fância em África.

2.1. Distingue as referências textuais intemporais das marcas de um contexto histórico definido.
3 Debate (30-40 min) com os teus colegas: Os retornados dos anos 70 eram refugiados? O que os distingue?

Gramática
1 Analisa sintaticamente as expressões sublinhadas do texto A.

1.1. “Cerejas grandes e luzidias” (l. 1).

1.2. “nunca as vi com brincos de pitangas” (l. 3).

1.3. “Isto são os tiros” (l. 11).


2 Classifica as orações do texto A.

2.1. “que são como as pitangas” (l. 3).

2.2. “Ainda que sejam” (l. 3).

2.3. “como as raparigas da metrópole fazem nas fotografias.” (l. 4).

2.4. “que se ouvem no bairro acima do nosso.” (l. 11).

Escrita
Sobre o mesmo tema, visiona o trailer do filme Tabu, de Mi-
guel Gomes (2012), e escreve um texto de opinião (180-240
palavras) sobre os diferentes olhares que os jovens portugueses
têm de África.

Fotograma do filme Tabu.

PARA CONCLUIR

No final do século XX, os textos memorialistas ganham enorme relevância. As comemorações dos 50 anos
da II Guerra Mundial lembram que há acontecimentos decisivos que não podem ser apagados da memória
coletiva e que é necessário registar os testemunhos dos últimos intervenientes vivos. Do mesmo modo, os
textos de Dulce Maria Cardoso e de Isabela Figueiredo retomam a realidade do colonialismo português em
África.

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OBRAS OPCIONAIS

SÍNTESE DA OBRA

MANUEL DA FONSECA, “SEMPRE É UMA COMPANHIA”

• Peripécia banal: um engano de percurso leva um vendedor a Alcaria.


• Isolamento geográfico da aldeia e ausência de comunicação: abandono, solidão e desu-
manização da população.
A INTRIGA
• Chegada do novo aparelho: a radiotelefonia.
• Ligação ao mundo: música e notícias.
• Alteração de comportamentos: devolução da humanidade.

• Aldeia de Alcaria: “quinze casinhas desgarradas e nuas”.


• Estabelecimento do casal Barrasquinho: “a venda” é um local onde reina o desleixo.
O ESPAÇO
• “Fundos da casa”: espaço de habitação sombrio separado da venda.
• Locais “longínquos” por onde viajava Rata: Ourique, Castro Marim, Beja.

• Tempo histórico: anos 40 do século XX (referência à eletricidade e à telefonia).


• Passagem do tempo condensada: “há trinta anos para cá”, “todas as manhãzinhas”.
O TEMPO
• Tempo sintetizado: da chegada do vendedor à partida do vendedor e prazo de entrega do
aparelho – um mês.

• António Barrasquinho, o Batola, é preguiçoso, improdutivo, sonolento, bêbado, bate na


mulher. Tem nome e alcunha. Usa uma indumentária própria do homem alentejano. A
morte de Rata agudiza a sua solidão.
• A mulher do Batola é expedita, dominadora e trabalhadora. Não tem nome.
AS PERSONAGENS
• Rata é o companheiro de Batola, mendigo e viajante, é o mensageiro do exterior. Suici-
dou-se quando deixou de poder viajar.
• Caixeiro-viajante, vendedor de aparelhos radiofónicos, comerciante e amigo de vender.
• Homens de Alcaria: “figurinhas” metaforicamente aparentadas com gado.

• O narrador de terceira pessoa narra os acontecimentos, conhece o passado e o mundo


interior das personagens.
O NARRADOR • O narrador centra a atenção do leitor no abandono e solidão sentidos pelo protagonista.
• O narrador conhece os pensamentos de Batola e desvenda como se vão formando: o
desgosto leva-o a fechar-se num mundo de evocações.

• Isolamento e falta de convivialidade.


• Relações entre homem e mulher.
A ATUALIDADE
• Vícios sociais: o alcoolismo, a violência doméstica.
• As inovações tecnológicas e as alterações dos hábitos sociais.

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