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Os conhecimentos têm três portas de acesso a nossa alma. Ver, ouvir e tocar
são as três portas.
(Diderot, 2000 [1749], p. 856)
[...] assim, é com a noção de sensibilidade, muito pertinente aos atuais es-
tudos da História Cultural, que quero contemplar este artigo. Para nós,
historiadores da cultura, ela é colocada como uma outra forma de apreensão
do mundo, para além do conhecimento científico. As sensibilidades corres-
ponderiam a este núcleo primário de percepção e tradução da experiência
humana no mundo, que se encontra no âmago da construção de um ima-
ginário social. O conhecimento sensível opera como uma forma de
reconhecimento e tradução do mundo que brota não do racional ou das
construções mentais mais elaboradas, mas dos sentidos, que vêm do íntimo
de cada indivíduo. (REPITO, BROTA DOS SENTIDOS). Às sensibilidades
compete esta espécie de assalto ao mundo cognitivo, pois lidam com as
144 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
Que o homem seja um ser corpóreo, provido de uma força natural, vivo, real,
sensível, objetivo, significa que tem como objeto de seu ser, de suas mani-
festações vitais objetos reais, sensíveis, e que somente sobre objetos reais,
sensíveis, pode manifestar sua vida. Ser objetivo, natural, sensível, é idên-
tico a ter objeto, natureza, sentido fora de si, ou incluso ser objeto, sentido,
natureza para um terceiro. A fome é uma necessidade natural; necessita, pois,
de uma natureza fora de si, de um objeto fora de si, para poder satisfazer-se,
para poder acalmar-se. A fome é a necessidade objetiva que um corpo sente
de um objeto que está fora dele, indispensável para sua integração e a ma-
nifestação de seu ser (MARX, 1978, p. 160, tradução deste autor do espanhol,
editora Pluma).
1
Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/marx/1845/tesfeuer.htm Acesso em 14/7/2021
148 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
com a realidade. Dizia Pesavento (2007b, p. 16): “temos uma herança que
pode ser definida como clássica: a realidade é apreendida pelos sentidos,
como postulam Epicuro e Lucrécio, ou pela mente, como argumentam
Platão e Aristóteles”. E, em mais detalhes, notemos sua conclusão:
IX:
REFERÊNCIAS
CAMARGO, Robson Corrêa de. E que a nossa emoção sobreviva... Brecht, Marx e o tratado
védico Natyasastra. Moringa: artes do espetáculo, João Pessoa, v. 1, n. 2, p. 35-43,
jul./dez. 2010.
DIDEROT. Lettre sur les aveugles a l’usage de ceux que voient [carta aos cegos para o uso
de quem pode ver]. Paris Gallimard, 2000 [1749], p. 856.
156 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
LANGER, Susanne K. Filosofia em Nova Chave. São Paulo: Perspectiva, 1971b [1942].
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e História Cultural. 3. ed. (2003, primeira edição).
Autêntica, 2007a.
TURNER, Victor. From Ritual to Theatre: The Human Seriousness of Play Performance
studies series. New York: Performing Arts Journal, 1982.