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Dentro de um poeta há mais que a vida, há a poesia, como bem adverte Manoel de
Barros na epígrafe desta seção. Difícil é penetrar a essência o âmago da questão, na
intimidade de uma vida em que transborda a poesia. Portanto, o que aqui se pretende de fato é
uma espécie de amostra biográfica, uma apresentação panorâmica, um sobrevoo rasante da/na
poética de Paulo Nunes, posto que:
Assim como os melhores retratos não são os que têm mais tinta ou os que nos
mostram todos os poros de um rosto, também as melhores biografias não serão as
que encerram um maior número de documentos e citações, mas as que, no conjunto,
nos proporcionam uma nítida e sincera impressão do autor sobre a vida e a
personalidade de um ser humano, inclusive assumindo-se como portador de
processos intelectuais e sensoriais (BOAS, 2008, p.173).
Escrever a vida de Paulo Nunes é contar/ cantar não somente a história do autor, mas
também um pouco a história dos livros. Todo texto está sujeito à interpretação e toda
interpretação começa a partir da primeira leitura – a do autor. Aqui a teoria da recepção se
mostra plena. Uma obra literária é, pois, um documento que nos possibilita conhecer quem a
criou, seu étimo espiritual, a sua visão de mundo. As várias leituras sucessivas nos entregam,
pouco a pouco, os segredos da persona/ DO EU criadora e criativa.
Figura 1 que tal substituir esta foto por uma mais atual? – Paulo Nunes1.
Paulo Jorge Martins Nunes, ou simplesmente Paulo Nunes, vive pendurado, feito
uma aranha aprendiz, no fio da palavra; ora é professor, ora poeta. É canceriano e nasceu em
Belém do Pará, na Amazônia, terra onde quase tudo – cheiros, cores, sons, temas (inclusive
contrastes) – é exagerado. Entrelaçou-se a Josse, uma libriana descendente de Sherazade. Seu
primeiro livro foi sua avó, Dona Judith, uma cabocla marajoara que contava lendas e histórias
dos povos da floresta2.
Paulo Nunes é Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa pela Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, onde escreveu a tese “Útero de Areia, um estudo do
romance Belém Do Grão-Pará, de Dalcídio Jurandir”. É Mestre em Letras – Teoria Literária,
pela Universidade Federal do Pará – UFPA –, com a dissertação intitulada “Aquonarrativa
1
Fonte: <http://www.culturapara.com.br/Literatura/paulonunes/index.htm >.
2
Texto de contracapa do livro Baú de bem-querer (2006), com adaptações.
CRUZ, Nathália da Costa. A mitopoética em Paulo Nunes: ensaio sobre Literatura e Educação na
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dalcidiana: uma leitura do tecido narrativo de Chove nos Campos de Cachoeira”. Trabalha
como professor nas áreas multidisciplinares de Comunicação, Cultura e Linguagem Literária.
Professor da graduação em Letras e Ciências Sociais e do Mestrado em Comunicação,
Linguagens e Cultura da Universidade da Amazônia. Como professor-pequisador atuou/atua
nos projetos “AFROAMALUS: palavras e imagens, estudos de autores lusófonos: africanos,
portugueses e brasilamazônicos” e “Literatura e Negritude”, ambos como coordenador de
pesquisa.
Paulo Nunes participou ativamente do grupo lítero-musical “Mãos Dadas” 3. O grupo
criado em 1981, no “Colégio Estadual Deodoro de Mendonça”, de uma “conversa-desafio”
entre Josse Fares e Ciro Pimenta, professores de Língua Portuguesa daquele estabelecimento
de público ensino. A ideia era a de divulgar a literatura para os alunos, em trabalhos
extraclasses, em complemento ao conteúdo ministrado em sala. Entretanto, somente Josse
levou a cabo o projeto.
Na época, a imprensa divulgou farto material nos jornais de Belém. Dos trabalhos
mais significativos montados pelo grupo estão: “O social em Chico Buarque e Drummond”,
“Falando de amor” e “Mostra de músicos e escritores paraenses”. O grupo lítero-musical
“Mãos Dadas” acabou por tornar-se um dos agentes determinantes, na esfera do ensino
escolar, da difusão da cultura paraense em Belém, e por ele passaram vários militantes
culturais que hoje atuam Pará afora: Elaine Oliveira, Linda Ribeiro, Beto e Josebel Fares,
Inácio Obadia, Jaciléa Papaléo, Salomão Habib, Mário Morais, Márcia Morais, Sandra Nunes,
Luís Fagury Videira e muitos outros. O grupo durou cerca de dez anos, de 1981 a 1991.
O grupo fora convidado pelo professor Paes Loureiro, secretário de Educação e
Cultura do município de Belém no período, para integrar a programação, como grupo fixo da
“Serenata do Carmo”, depois o mesmo ocorreu no “Projeto Praça Aberta”, agora na
SECULT/PA, declamando poemas associados às músicas, sempre priorizando, mas não
somente, autores, escritores e compositores do Pará. Foram vários trabalhos feitos em escolas
estaduais e municipais, praças e centros culturais, como a feira do Ver-O-Peso, em bares e
outros locais os mais incomuns, mas sempre com estreia no “Colégio Estadual Deodoro de
Mendonça”. O grupo se empenhava em desbravar e abrir espaço para a literatura e a música
que consideravam de qualidade.
Quando ainda cursara o segundo grau, Paulo Nunes participou ativamente dos
festivais de poesia e música dos colégios estaduais “Augusto Meira”, “Sousa Franco” e
3
O nome “Mãos Dadas” tomou como inspiração o poema homônimo de Carlos Drummond de Andrade. Tal
qual o poema de insatisfação de Drummond, o grupo convidava à revolução pela arte, em especial à literária.
Ressalta-se que em 1981, em época de redemocratização, o poema tornou-se um hino à contemporaneidade.
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1.1.1 Poéticos
Paulo Nunes estreou nas Letras teve seu primeiro livro publicado em 1986, com Em
Citrial: uma história que parece duas. A obra foi editada, após ser vencedora do e um
concurso literário oncorreu ao “Prêmio Literatura Infantil da Prefeitura de Belém”, promovido
pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura – SEMEC. Em Citrial: uma história que
parece duas trabalha com várias possibilidades de leitura: “Há leitura da ilustração, de texto e
ilustração, só de texto”, segundo resenha a escritora e professora paraense Maria Lúcia
Medeiros no prefácio da obra. Trata, na verdade, do resultado de uma experiência instigante,
uma espécie de desafio criativo, fez com que o livro fosse escrito ao estilo renga 4: letras de
Paulo Nunes e ilustrações de Branco Medeiros.
Em prosa poética, o texto narra o amor interdito entre Beija-Flor e Dália. Uma
historieta de amor, entre jardins e poesia, cheia de erotismo. A flor na capa do livro representa
Dália, a personagem feminino. É o símbolo do amor. O cálice da flor é o receptáculo prestes a
ser fecundado, polinizado (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2009, p. 437-439).
4
Renga significa “em ligações”. É uma forma de composição poética japonesa que floresceu entre os séculos
XIV e XV e consiste na composição feita por colaboração, praticado por não menos de duas pessoas, em que
cada uma compõe uma parte até que se forme um todo encadeado.
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Figura 3 – Orelha do livro Em Citrial: uma história que parece duas, em que aparece Beija-Flor.
Na capa das primeiras edições, Tadeu Lobato trabalha com o traço infantil e
representa em pastéis5, na parte superior, o desenho de um jogo de amarelinha ou “macaca” e,
na parte inferior, um pequeno grupo de crianças de mãos dadas, como que formando uma
ciranda, típica brincadeira infantil, anunciando a temática do livro – a infância. Em Belém é
comum encontrar crianças e até mesmo jovens e adultos tomando banho e brincando na
chuva. À tarde de chuva em Belém é o momento propício ao lúdico, às águas encharcando a
imaginação.
5
Pastéis é uma técnica de ilustração que se faz com um pigmento encontrado em forma de lápis ou bastões.
Quanto ao tipo, os pastéis podem ser secos ou oleosos, mas ambos precisam ser fixados com verniz
(HADDAD, 2008, p. 59-60). Possivelmente, os pastéis utilizados por Tadeu Lobato são do tipo seco, já que
criam uma transição suave de cores e tons, conferindo certa leveza às imagens.
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de 1990, divulgando a obra. Banho de Chuva foi leitura obrigatória dos vestibulares da
Universidade do Estado do Pará e da Universidade da Amazônia entre os anos de 1990 e
1996. Já foi objeto de estudos de monografias de cursos de graduação e pós-graduação no
Pará e em Minas Gerais, que buscam investigar os aspectos de sua Literatura voltada para o
público infanto-juvenil.
Conforme o apontamento do poeta mineiro Bartolomeu Campos de Queirós na
apresentação da obra:
Mais do que de chuva, o livro é banhar-se em poesia. Versos claros pela rigorosa
sonoridade perseguida em suas construções. Há o cotidiano reinventado, como
convém à poesia, sem afastar-se da fidelidade à proposição, mas ampliando em
humanidade cada personagem ou fado. Abrindo portas para um novo olhar, Banho
de Chuva trouxe-me, ainda, saudades de Belém. Li algumas vezes os poemas, sinto
necessidade de reler, não apenas para familiarizar-me com os temas. É que em cada
leitura encontro um novo ritmo, me deparo com outros sentidos. Bonita a
programação visual e as ilustrações do Tadeu Lobato. Ilustrar é mesmo mais que
“decorar”. É sensibilizar-se com o assunto e tratá-lo em outra vertente. É escrever
outra história em um mesmo objeto. Daí acreditar que a ilustração é um contra-
ponto, um diálogo entre dois poetas. Também a CEJUP está de parabéns pelo
investimento, de tão bom gosto e necessário.
O mosquito qu’engoliu o boi (2002), surgiu de uma brincadeira com um dos poemas:
Jornaleiro
O título por si só propicia uma imediata empatia entre o livro e o leitorO fundo
amarelo da capa traz o desenho que parece ser a cabeça de um boi engolindo um mosquito.
Ora se tem a impressão de que o traço em preto é a o caminho de um mosquito que engole o
boi. . É mesmo uma brincadeira.
Em O mosquito qu’engoliu o boi, Paulo Nunes revolve os armazéns da memória e
retoma como temática os tipos8 populares que ainda resistem ao processo de urbanização e
modernização da cidade de Belém. O poeta reconstitui cenas de sua infância e eterniza em
seus versos rostos e personagens que povoaram a Belém de outrora, ainda pacata e
provinciana, hoje quase todos em processo de apagamento. Cada página pode ser vista como
uma esquina da cidade. O livro, projeto gráfico e ilustrações de Emmanuel Nassar, foi um dos
cento e cinquenta livros latino-americanos selecionados para o “Salão do Livro da Juventude
de Saint-Dennis” (1998) na França.
As lembranças, entendidas por Staiger (1977) como recordações, quando participam
do processo de fabricação literária, acabam por engendrar uma grande teia figurativa. Nos
textos presentes nos livros que compõem a trilogia para Belém pode se observar uma unidade
conceitual, na recorrência de imagens e motivos. A esta característica dá-se o nome de
intratextualidade, quando o escritor é capaz de criar elos de aproximação entre um texto e
outro de livros diferentes de sua autoria (PAULINO et al, 1995). Um texto remete ao outro e
8
Para Alfredo Bosi (1991, p. 28, grifos do autor) os tipos são “[...] a reprodução seletiva do que parece mais
característico de uma pessoa ou coisa” e esta é uma operação que revela aspectos típicos da vida social. O
artista seleciona os perfis relevantes do mundo real/ objetivo, ou seja, os “originais” antes de (trans)figurá-los.
Exemplo inconteste do princípio mimético da Arte Literária, da “representação” preconizada pela teoria
aristotélica.
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continua a encenação das personagens. Esse caráter autorreferencial será uma marca
recorrente na literatura de Paulo Nunes.
Com ilustrações de Cláudio Martins, Paulo lança Baú de Bem-Querer (2006), livro
indicado ao “Prêmio Jabuti de Melhor Ilustração” (2007). São histórias fartamente ilustradas,
que valorizam a sensibilidade e a inteligência. São poemas essencialmente líricos que contam
as recordações guardadas no baú de bem-querer das memórias da infância.
Baú de Bem-Querer guarda as relíquias coloridas da infância. São personagens e
histórias vividas ou ouvidas e recontadas pelo eu lírico. As lembranças da escola, das
brincadeiras, do avô sapateiro, da mãe costureira, dos mitos que embalam os sonhos, tudo isto
se transforma no relicário das memórias. Com muita poesia e lirismo, o autor convida:
“Meninas e meninos de todas as idades abram − por favor − este baú (as dobradiças estão
desenferrujadas?), que tentei fazer feito um carpinteiro! Que ele seja de vocês também!”.
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Ou: poemas não são linguagens (2007) é um livro comemorativo dos 20 anos de
literatura de Paulo Nunes. Apresenta composições mais duras, ásperas, frutos de um
amadurecimento intelectual do escritor. Quase todos os poemas apresentam uma epígrafe ou
dedicatória que ora revelam as referências literárias do escritor, ora são dedicados aos seus
amigos e professores. São flagrantes as influências literárias que permeiam o texto: Max
Martins, Graciliano ramos, Dalcídio Jurandir, Guimarães Rosa, Ruy Barata, Eneida de
Moraes. Como o título anuncia, os poemas da antologia são metalinguísticos, metapoéticos,
metacriativos. A capa é produção do próprio escritor. Se vista de longe parece um revólver,
apontando para o leitor e inquirindo-o “Ou poemas não são linguagens?”. Se vista com
minúcia, se vê um zíper entreaberto. O livro à espera de leitura. Linguagens a desvendar.
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Paulo Nunes inova com edição independente e lança Vaginário (1993), antologia de
poemas eróticos, ilustrado por Tadeu Lobato. Na mesma linha, desta vez em contornos
fálicos, publica Peniário (199?). Em Arco Mutante dos Huacos (1997), faz uma espécie de
fusão entre os dois livros eróticos − Vaginário e Peniário − já que um, de certa forma,
completa o outro.
Na capa de Vaginário, Tadeu Lobato representa em traços primitivos o órgão sexual
feminino, um triângulo invertido, como uma taça. Simbolismo da fecundidade da mulher, o
órgão é uma taça prestes a receber o leite fecundador. Em Arco Mutante dos Huacos, a capa
de Paulo Nunes, é uma bricolagem de um Da Vinci. “O homem vitruviano” tem sua
intimidade encoberta por uma borboleta.
O interessante da literatura erótica é a engenhosidade do poeta em transformar o que
ao primeiro olhar pode parecer vulgar, em algo sublime, lascivo e, acima de tudo, lúdico. A
ludicidade do erótico evoca inda mais o prazer de se ler, a fruição de que tanto falava Roland
Barthes (1987).
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Este trabalho encerra um modo particular de contar os casos que eu escutava, antes
de dormir, nas redes da infância. A voz de minha velha avó, dona Judith, cabocla do
Marajó, nos industriava nas teias do “verdevagomundo”, para usar uma expressão
do romancista Benedicto Monteiro [...] Não procurei descobrir a pólvora – isso seria
burrice da minha parte, pois não?, fiz apenas puxar mais um fio nesse imenso novelo
de palavras que é tecido pelo imaginário do Norte do País.
pelo reflexo do verde das matas e florestas que margeiam os rios. Como os peixes, as histórias
da coletânea se encadeiam de tal modo que parecem formar uma grande meada. Na ponta de
cada fio, um poeta, um contador de histórias do seu lugar. Nas volutas desta meada, os mitos
recontados diluem fronteiras linguísticas e culturais.
10
É possível estabelecer um intertexto do título do livro com o poema “Portugal, meu avozinho”, de Manuel
Bandeira, publicado em Mafuá do Malungo (1948). A vertente temática do poema de Bandeira se desdobra em
todo o livro.
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lusitanos e guardamos, em nossos genes, em nossa cultura, traços dos homens e de uma
história que vieram das terras de lá, de além do Bojador.
1.1.2 Ensaios
Cidade Velha, um dos primeiro bairros de Belém, em algumas áreas preservadas pelo
patrimônio histórico ainda é possível observar esse tipo de pavimento. As pedras de
encantaria também podem fazer referência à morada dos “encantados” ou das entidades
caboclas, seres que se metamorfoseiam em elementos da natureza.
Em 2007, novamente em parceria com Josse Fares, traz à tona: Transmares: vozes
em diálogo (ensaios sobre Literatura portuguesa, Literatura africana de expressão
portuguesa e outras interfaces). Como o subtítulo indica, são ensaios que propõem uma
transposição de fronteiras e aproximação solidária entre diferentes escritores africanos,
brasileiros e portugueses, com o intuito de interligar países e culturas cujo patrimônio comum
é a Língua Portuguesa. Desvelam a necessidade de inserir e integrar a Literatura de Expressão
Amazônica no mapa maior da Literatura Brasileira e da Literatura Lusófona, bem como trazer
as vozes de poetas contemporâneos de África e Portugal para o solo da Amazônia. Na capa, a
barcarola feita com papel de jornal noticia o tratado do livro e flameja uma pequena bandeira
do Pará – sinaliza o lugar de origem dos marinheiros – a transpor mares linguísticos e
literários, para “além do Bojador”.
1.1.3 Didáticos
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Paulo Nunes, em coautoria com Josebel Fares, Josse Fares e Rey Vinas, lança Texto
e Pretexto: experiência de educação contextualizada a partir da Literatura feita por autores
paraenses (1988). O livro, elaborado à luz da teoria freireana, compôs o projeto pioneiro de
regionalização dos currículos das escolas municipais de Belém. O projeto “Texto e Pretexto”
iniciou na década de 1980, mais precisamente em 1985, sob a coordenação de Lindomar
Teodora da Silva e Josebel Akel Fares, a partir da reivindicação dos professores da rede
municipal que reclamavam não haver, na grade curricular, nada que pudesse representar um
(re)conhecimento da cultura amazônica e paraense. De modo a atender à reivindicação e ao
interesse dos professores, foram implementadas na SEMEC três disciplinas: Estudos de
Questões Regionais (EQR), História do Pará e Literatura Paraense.
Para tanto, a SEMEC assinou convênio com a Universidade Federal do Pará, então a
única universidade a ter curso de Letras em Belém, para pensar num processo de implantar na
rede municipal a disciplina literária. Assim, os professores José Guilherme Castro,
representando a UFPA, Josse Fares, representando a SEMEC, juntamente com Paulo Nunes e
Josebel Fares, organizaram quatro módulos de capacitação de professores, processo que durou
cerca de dois anos. Ao final desta etapa, a proposta era a de que deveria haver um material
didático, livro ou coisa similar, os professores, então, resolveram escrever o que viria a ser
posteriormente, o “Texto e Pretexto”.
Os exemplares do Texto e Pretexto: experiência de educação contextualizada a
partir da Literatura feita por autores paraenses editados pela SEMEC serviram de incentivo
à leitura, em articulação com o estudo da disciplina que tinha apenas duas horas semanais. Foi
um projeto extenso de difusão do literário. O projeto estava sustentado em três pilares
teóricos, a saber: na leitura crítica do mundo segundo propõe Paulo Freire; na busca do prazer,
a literariedade do texto; e, no conhecimento da cultura paraense, amazônica, intercambiada
com a brasileira, a partir da literatura.
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Na primeira versão, em quatro volumes, traz estudos de textos dos autores paraenses
João de Jesus Paes Loureiro, Ápio Campos, Lindanor Celina, Bruno de Menezes, Eneida de
Moraes, Dalcídio Jurandir e Ruy Barata. A edição da SEMEC traz capa e ilustrações de Jota.
A imagem da capa é a mesma, muda-se a cor sinalizando a série a que correspondente cada
volume. Um desenho aparentemente despretensioso, livre, ao passo da proposta do livro.
Ainda no viés didático, desta vez em parceria com os professores José Ildone, Josse
Fares, Josebel Akel Fares, Maria Lúcia Medeiros, Nilza Melo e Silva e Leila Sodré, lança pela
Secretaria de Educação do Pará, Do Texto ao Texto: leitura, gramática e criação (1994). Este
didático, direcionado aos alunos da rede pública estadual de ensino, originou-se do projeto “O
Livro Didático para a Amazônia”. A partir de textos de autores amazônicos, o livro busca, a
partir da literatura, ensinar gramática, produção textual e incentivar a leitura de textos que
falem de nossa cultura e de nossos escritores tão pouco mencionados em sala de aula.
* * *
A escrita de Paulo Nunes passeia por diversas modalidades, do conto ao poema, do
infanto-juvenil ao erótico, do literário ao didático e assim por diante. Prova de sua destreza ao
lidar com a palavra, “essa alardia, essa prava, essa lavra/ pavulagem”11.
11
Fragmento do poema “IX – Silente” (NUNES, 2007, p. 19).
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AIRES, Romário dos Anjos. Poesia Amazônica: recepção da poética de Paulo Nunes.
Trabalho de Conclusão de Curso, Licenciatura em Letras – Língua Portuguesa. Belém:
UEPA, 2012. Orientador(a): Prof. Ms. José Denis de Oliveira Bezerra.
Estudo elaborado a partir das teorias Estética da Recepção e das reflexões sobre a
produção literária amazônica. Compreende as maneiras de se encarar uma literatura elaborada
dentro de uma vivência definida, para isto, considera as formas como essa vivência pode ser
percebida pelos leitores, quando configurada em matéria poética. Aplica tais teorias à análise
dos poemas “Tapajós”, “Ver-o-P”, “Joio do Trigo” e “Jangada”, do livro Ou poemas: não são
linguagens (2007).
BRASIL, Franciane Pinto Dantas. Estudo da Literatura Infantil de Paulo Nunes. Trabalho
de Conclusão de Curso – Licenciatura Plena em Letras – habilitação em Português-Espanhol.
Belém: UNAMA, 1999. Orientador(a): Profª. Ms. Nelly Cecília Paiva Barreto da Rocha.
uma leitura simbólica e imagética do modo como o elemento água e todas as suas derivantes
temáticas bem como o tempo e a memória aparecem no texto de Banho de Chuva (2010).
GOMES, Aline Lúcia Araújo & AMADOR, Vanessa Araújo. O poder imagético de Paulo
Nunes: uma análise da literariedade em “O Bobinho da Lata” e “Ki-Su”. Trabalho de
Conclusão de Curso – Licenciatura Plena em Letras – habilitação em Língua Portuguesa –
Faculdade de Letras. Belém: UFPA, 2008. Orientador(a): Prof. Dr. José Guilherme
Fernandes.
Analisa os poemas “Bobinho da Lata” e “Ki-Su”, do livro de poemas O mosquito
qu’engoliu o boi (2002). Os poemas, pelo poder imagético que apresentam, suscitam
experiências associativas e análogas, além de propiciarem uma leitura múltipla e
diversificada. Discute a essência do fenômeno literário – a literariedade – a partir da obra de
Paulo Nunes.
LAMEGO, Maria Edilene Silva das Neves. O despertar para a Literatura Infanto-Juvenil
através de Paulo Nunes. Trabalho de Conclusão de Curso – Licenciatura Plena em Letras –
habilitação em Português. Belém: UNAMA, 2006. Orientador(a): Profª. Ms. Nelly Cecília
Paiva Barreto da Rocha.
NASCIMENTO, Jamylle Nazaré dos Reis. Vaginário: uma leitura do erótico na poética de
Paulo Nunes. Trabalho de Conclusão de Curso – Licenciatura Plena em Letras – habilitação
em Língua Portuguesa e Literatura. Belém: UNAMA, 2006. Orientador(a): Profª. Drª. Josebel
Akel Fares.
SAVARY, Olga. Paulo Nunes. In: SAVARY, Olga (Seleção e notas/ Org.) Poesia do Grão-
Pará: antologia poética. Rio de Janeiro: Graphia Editorial, 2001. (p. 319-322)