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Com isso, muitos surdos passam por experiências traumáticas por meio das
opressões ouvintistas da própria família, estabelecendo uma lacuna entre em
relação de pais e filhos, que convivem no mesmo ambiente geográfico, porém em
perspectivas diferentes do mundo. Neste caso, os pais ouvintes com experiências
auditivas como foco de desenvolvimento humano e a pessoa surda com suas
experiências visuais para a construção do sujeito, com sua própria língia, cultura e
identidade.
“Um dia, chegou uma carta. Era um convite do príncipe para um grande baile”
neste viés da história, podemos destacar que o “convite do príncipe” foi destinado
para que todos participassem da festa. “Acontece que o filho do rei iria dar um baile
e convidou todas as pessoas de estirpe”. Podemos levar em consideração conforme
o contexto da Cinderela Surda, que o “convite do príncipe”, pode-se fazer referência
ao marco histórico da promulgação da Convenção dos Direitos Humanos, onde
preconiza o acesso de todas as pessoas, com ou sem deficiência, na sociedade,
com equidade de direitos, dentre eles, a garantia dos direitos linguísticos das
pessoas surdas.
Interessante perceber que na obra tradicional, a Cinderela era muitas das
vezes chamada para participar do convívio familiar, mas que de forma velada, havia
ali, uma maldade camuflada de boas intenções:
“Elas chamaram Cinderela para lhes dar sua opinião, pois ela
tinha bom gosto. Cinderela lhes deu os melhores conselhos do
mundo e até se ofereceu para lhes pentear, o que elas
aceitaram de bom grado. Enquanto eram penteadas, elas lhe
disseram: — Cinderela, ficarias contente de ir ao baile? — Ai
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de mim! Senhoritas, zombais! Lá não é lugar que me convém.
[...] —Tens razão, seriam muitos risos se vissem um
Cucendron ir ao baile.” (PERRAULT, 1997)
Sobre este prisma, obra adaptada, reflete sobre o reconhecimento entre o par
linguísticos dos personagens, se identificando como pessoas surdas, usuárias das
Língua de Sinais, mostra a importância do convívio entre seus pares, e com isso,
compartilhando das mesmas experiências, conflitos e desafios, enfrentados perante
uma sociedade, que muitas das vezes, julga a potencialidade do indivíduo por sua
aparência física. Frases como “Nossa, você nem parece que é surdo” ou “É tão
bonita, pena que é surda”, essas são algumas das frases que nos deparamos
cotidianamente quando estamos interagindo na comunidade surda. Assim como, os
profissionais intérpretes de língua de sinais, são chamados de “aquele que trabalha
com os surdos” ou “nossa, que lindo esse dom que você tem”. Esses são exemplos
que reforçam o estereótipo de que a pessoa surda necessita de assistencialismo
diariamente, ao invés de políticas públicas e políticas de tradução para a plena
garantia de direitos linguísticos e que o intérprete de Língua de Sinais não é um
profissional e sim um mensageiro da paz e harmonia quando envolve o caos entre
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pessoas que não sabem se comunicar com o surdo. São frases e ações capacitistas
como estas que atrasam o desenvolvimento do sujeito surdo como protagonista de
sua vida.
Por fim, quando ao direcionar o ensaio sobre as narrativas tradicionais da
Cinderela e a adaptada Cinderela Surda, buscou-se apresentar as particularidades
da sociedade frente ao contexto da comunidade surda, bem como à circulação e à
relação entre sentidos visuais construídos, explicitando alguns trechos significativos
das histórias. Porém, a capacidade de indenticar as relações intertextuais entre as
obras, partimos da premissa que os leitor possua informações básicas sobre a obra
de partida e a obra de chegada, no caso, do contexto da comunidade surda para
que estabeleça correlações no conto de fadas. Com isso, o ponto crucial para
identificar as relações intertextuais presentes entre uma obra antecedente e outra
posterior está baseado no conceito Kristeva (1974) sobre a intertextualidade como:
Cinderella (The Original Fairy Tale with Classic Illustrations) Cinderela surda/ Carolina Hessel, Fabiano Rosa e Lodenir
(English Edition). Por Charles Perrault (Autor), Gustave Karnopp. 2.ed-. Canoas: Ed. ULBRA. Visualizado
28/06/2023, às 05h15, no link:
Dore (Ilustrador), A. Jacque (Ilustrador), Soren Filipski https://tonaniblog.files.wordpress.com/2019/10/cinderela-sur
(Tradutor). Visualizado 28/06/2023, às 05h13, no link: da.pdf
https://m.media-amazon.com/images/I/51cVzuPHlRL.jpg
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Referências bibliográficas