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LITERATURA SURDA

1. O QUE É LITERATURA?

Antes de abordar sobre literatura surda é importante compreender sobre o


conceito de literatura. Conforme Apolinário (2005) “cita que para muitos pesquisadores
de estudos literários o termo literatura não pode ser definido efetivamente”, então fica
claro que literatura é um termo muito amplo, que não pode ser conceituado em uma
única questão, pois vai muito além.
De acordo com Nicola (1998) A literatura, como manifestação artística, tem por
finalidade recriar a realidade a partir da visão de determinado autor (o artista), com base
em seus sentimentos, seus pontos de vista e suas técnicas narrativas. Dessa maneira, fica
pode compreender que literatura é uma arte, uma produção, que transmite historias,
danças, músicas, tudo que pode ser recriado de acordo, com a visão o jeito do autor, ou
seja, uma forma de expressar o que é sentido, podendo ser fatos verídicos, baseados em
fatos reais ou fictícios, ou seja, não tem como descrever até mesmo definir em poucas
palavras a literatura, pois nela está contida várias questões no geral.
No cotidiano a literatura sempre faz presente, pois uma história que é contada é
uma forma de expressar o que aconteceu, no qual a pessoa pode contar com detalhes ou
não, podendo ser uma história da própria pessoa ou de outro. A contação de piada é uma
maneira de se expressar, torna um momento divertido, poesias, versos, fábulas tudo isso é
literatura, assim pode perceber que a literatura é uma forma do autor, ou seja, do artista se
expressar através de tudo isso que foi abordado.
Conforme Coelho (2000), a palavra Literatura,

é uma linguagem específica que, como toda linguagem,


expressa uma determinada experiência humana, e dificilmente
poderá ser definida com exatidão. Cada época compreendeu e
produziu a literatura a seu modo. Conhecer esse “modo” é, sem
dúvida, conhecer a singularidade de cada momento da longa
marcha da humanidade em sua constante evolução. Conhecer a
literatura que cada época destinou as suas crianças é conhecer
os ideais e valores ou desvalores sobre os quais cada sociedade
se fundamentou (e se fundamenta...). (COELHO, 2000).

Então, pode perceber que a literatura determina a experiência humana, ou seja, o


autor, o artista, podendo sofrer mudanças, conforme a época. Sendo importante
conhecer essa época e os ideias, os valores, com bases em seus sentimentos de acordo
com as narrativas.

2. O QUE É LITERATURA SURDA


A literatura surda é tudo que envolve a cultura surda, sem ela não tem a
existência dessa literatura surda, que são desenvolvidas por surdos, expressar essa
literatura através de textos, contações de histórias que está presente a língua de sinais e a
cultura surda. Então não pode ser falado em literatura surda, deixando de lado a própria
cultura do surdo.
E essa cultura surda, como pode ser entendida? De acordo com Strobel (2008),
“Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo a fim de se
torná-lo acessível e habitável ajustando-os com as suas percepções visuais, que
contribuem para a definição das identidades surdas e das “almas” das comunidades
surdas”. Então pode entender que é a forma, a maneira do surdo entender o seu mundo e
através do que ele compreender ele vai saber que tem sua própria cultura surda,
identidade surda e principalmente faz parte dessa comunidade surda, e assim ele vai se
desenvolvendo como um sujeito surdo de forma visual.
Já que foi mencionado o termo “cultura surda”, O que seria “identidade surda”?
Perlin (2004), afirma que,

As identidades surdas são construídas dentro das representações


possíveis da cultura surda, elas moldam-se de acordo com maior ou
menor receptividade cultural assumida pelo sujeito. E dentro dessa
receptividade cultural, também surge aquela luta política ou consciência
o posicional pela qual o indivíduo representa a si mesmo, se defende da
homogeneização, dos aspectos que o tornam corpo menos habitável, da
sensação de invalidez, de inclusão entre os deficientes, de menos valia
social”. (PERLIN, 2004).

Assim, pode compreender de acordo com Perlin (2004), que a identidade surda é
o surdo ter orgulho de ser surdo, se aceitar como surdo, sabe a língua de sinais,
compreende que tem uma língua materna, não acredita que a surdez pode lhe fazer
incapaz, desse modo é além de tudo lutar, defender os interesses culturais.
Portanto, foi compreendido o que é “cultura surda”, “identidade surda” e
agora o que seria “comunidade surda”? Strobel ( 2008), explica de forma clara em,
poucas palavras.
“a comunidade surda de fato não é só de sujeitos surdos, há também sujeitos ouvintes -
membros de família, intérpretes, professores, amigos e outros - que participam e
compartilham os mesmos interesses em comuns em uma determinada localização”.
Resumido é um grupo de pessoas vivem juntas e tem os mesmos interesses no
caso da comunidade surda a língua de sinais, podendo ter surdos ou ouvintes, todos que
tem interesse em participar dessa comunidade surda.
Como foi dito no início deste tópico que a literatura surda faz necessário
a existência da cultura surda, e foi mencionado o que é essa cultura surda, identidade
surda e comunidade surda. Agora será abordado de fato o que Literatura Surda?
Dessa maneira como foi abordado e compreendido o significado de literatura,
agora será apresentada sobre o foco do trabalho a literatura surda. Como se deu o
surgimento.

O surgimento da Literatura Surda se deu de maneira natural nos


países, ao mesmo tempo em que a língua de sinais começou a ser
usada pelos surdos. Esse nascimento aconteceu inicialmente em
escolas de surdos, onde a comunicação entre crianças e jovens surdos
ocorria, na maioria das vezes, às escondidas, já que o uso da língua de
sinais foi proibido durante muitos anos (MORGADO, 2011).

Esse surgimento, foram acontecendo nas dentro das Comunidades


Surdas: Associações, Encontros, Escolas de Surdos, países da Europa e Estados Unidos
foram pioneiros, na Universidade Gallaudet: própria para os surdos. Dessa maneira o
reconhecimento da Libras foi de grande importância para acontecer de fato as
publicações e também esse reconhecimento da literatura surda.
A autora Morgado (2011), relata que “a Literatura Surda é pouco investigada e é
muito difícil encontrar livros, artigos ou estudos que tratam desse assunto”. Não pode
conceituar como algo inacabado, pois pode sofrer mudanças de acordo com a época.
Conforme Karnopp (2010), A literatura surda está relacionada com a cultura
surda.

A literatura da cultura surda, contada na língua de sinais de


determinada comunidade linguística, é constituída pelas histórias
produzidas em língua de sinais pelas pessoas surdas, pelas histórias de
vida que são frequentemente relatadas, pelos contos, lendas, fábulas,
piadas, poemas sinalizados, anedotas, jogos de linguagem e muito
mais. (KARNOPP, 2010).
Assim, fica claro os tipos de literatura surda e principalmente a presença da
cultura surda que é necessário, também a autora trás as histórias produzidas por língua
de sinais. Essas obras podem ser escritas por surdos ou por ouvintes, mas deve ser
relacionado aos surdos.
De acordo com Strobel (2008), relata os gêneros na literatura surda.

A literatura surda traduz a memória das vivências surdas através das


várias gerações dos povos surdos. A literatura se multiplica em
diferentes gêneros: poesia, história de surdos, piadas, literatura
infantil, clássicos, fábulas, contos, romances, lendas e outras
manifestações culturais. (STROBEL, 2008).

CRIANÇA

O contato que as crianças ouvintes tem com as histórias infantis, contos, fábulas
e etc, são desde de cedo, são lidas pelos pais, professores, alguém por perto, assim a
criança vai criando imaginação, tendo curiosidade e conhecendo as histórias e criando o
gosto pela a leitura. E a criança surda tem a mesma oportunidade de acesso as histórias
e fluir a imaginação?
Assim, como os ouvintes, surdos contam várias histórias, mas muitas histórias
não foram filmadas ou até mesmo escritas, tendo um registro para demais surdos. Então
não é fácil aguçar na criança surda o estimula pela a literatura surda, pois existem
poucas obras que narram sobre pessoas surda, mostrando a marca da cultura surda.
Conforme, Abramovich (1997) "O primeiro contato da criança com um texto é
feito oralmente, através da voz da mãe, do pai ou dos avós, contando contos de fada,
trechos da Bíblia, histórias inventadas (tendo a criança ou os pais como personagens)”,
com crianças ouvintes, tornando crianças que amam a literatura, ler livros, assim
utilizando a imaginação compartilhando a mesma língua, mas com as crianças surdas
não tem a mesma oportunidade, já que a maioria das crianças surdas nascem em família
ouvinte, no qual, muitos pais não conhece a língua de sinais e essas crianças são
privadas de conhecer as histórias, literatura.
A realidade das crianças surdas são bem diferentes, pelos seguintes fatores,
muitos são as dificuldades que eles têm, os surdos ao pegar um livro, pela a sua visão
muto bem aguçada vai se prender as ilustrações e dificilmente entenderá o livro, pois
muitos surdos tem dificuldade com a língua portuguesa, acaba que assim muitas
crianças não tem quem interprete esses livros para assim eles poderem ter entendimento
e utilizar sua imaginação como muitas crianças imaginam, utilizando a fantasia.
De acordo com Rosa e Klein (2009) explicam que os surdos percebem e captam
as informações através dos olhos, do visual. Sendo necessário histórias que sejam
contadas em Libras.
Relata Quadros(2006), “A produção de contadores de estórias naturais, de estórias
espontâneas e de contos que passam de geração em geração são exemplos de
literatura em sinais que precisam fazer parte do processo de alfabetização de
crianças surdas”.
Esse processo de alfabetização dessas crianças a literatura surda precisa
está presente, com experiências de outro surdos e assim conseguir aguçar a
imaginação e a liberdade de pensamento que essas crianças surdas, podem criar
fantasias, estimular de diversas forma sua imaginação, mas com histórias de
pessoas surdas são mais importantes, neste momento.
Segundo o autor Mourão (2011), relata sobre a importância das histórias
sinalizadas por crianças surdas.

Por exemplo, se os surdos tivessem uma experiência mais intensa com


histórias, com textos literários (em sinais ou através de leituras), essa
aprendizagem nas escolas ou em seus lares, com os professores ou
pais contando histórias, eles teriam mais possibilidade de imaginação,
reflexão, emoção, e se tornariam como uma fábrica de histórias, de
subjetividades literárias, logo produzindo ideias e criatividade – isso
seria criação. Com conhecimento e experiências, sua subjetividade
literária possibilitaria a criação de histórias. (MOURÃO,2011).

Nesse sentindo essa ausência de contato, experiencia com histórias que


dificultou a aprendizagem de crianças surdas de estimular de imaginação, reflexão,
emoção em ser crianças contadoras de histórias.
Afirma Stock (2010) que nessa questão o comprometimento só professores, que
tem alunos surdos, devem fazer. “a literatura surda é muito rica em informações, o que
exige do professor muito esforço para saber adequar os livros em língua de sinais para
as crianças surdas, proporcionando prazer e estimulação para o aprendizado a língua de
sinais, a leitura e escrita.”.
Nesse caso pode perceber a responsabilidade que o professor tem em fazer
adaptações, se adequando, é uma questão muito importante saber a faixa etária do livro
que vai depender, nesse caso, são crianças. Mas na verdade os livros de pessoas
ouvintes, muitos tem a faixa etária adequado do leitor, mas isso não acontece com livros
de crianças surdas.
A literatura surda é sem dúvida muito importante para as crianças surdas, se
reconhece na sua própria cultura surda, forma a identidade dessas crianças, conhecer
sobre os costumes , historias que envolve sua cultura, mas para isso é necessário que
elas tenham p acesso a essas histórias em língua de sinais, somente assim elas poderão
compreender e entender.
Já que muitos surdos não conhecem nada sobre a sua cultura surda, pois muitos
nascem em família ouvintes e a leitura surda permite a criança surda esse contato essa
experiencia o conhecimento da sua cultura surda e tendo esse conhecimento sobre seus
costumes a criança surda pode se desenvolver.

AS CLASSIFICAÇÕES DA LITERTURA SURDA: Tradução, Adaptação ou Criação.

De acordo com Karnopp (2006 apud RIBEIRO E PEREIRA 2015), a literatura surda
está categorizada em três linhas de produção, podendo ser apresentada em forma de
tradução, adaptação ou criação.É importante compreender cada uma desses tipos de obras
literárias, o autor Mourão (2012), aborda de forma bem detalha e de fácil compreensão.
Conforme Mourão(2012), explica que a literatura surda no aspecto de tradução
“caracterizam se como traduções para a Libras de clássicos da literatura. Tais materiais
contribuem para o conhecimento e divulgação do acervo literário de diferentes tempos e
espaços, já que são traduzidos para a língua utilizada pela comunidade surda”.
Assim, pode perceber que a tradução, como já diz o próprio nome é traduzir um livro
por exemplo para outra língua, neste caso, será traduzido para a língua de sinais. São livros,
histórias ouvintes que serão traduzidas, no qual as crianças surdas vão compreender a cultura
ouvinte. Estes livros traz a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) de uma forma visual,
ilustrativa. Exemplos:
Fonte: Coleção Contos Clássicos em Libras: Márcia Honora; Mary Lopes Esteves Frizanco.
De acordo com Mourão (2012) “Tais materiais contribuem para o conhecimento e
divulgação do acervo literário de diferentes tempos e espaços, já que são traduzidos para a
língua utilizada pela comunidade surda”.
Outros exemplos :dois volumes das 6 fábulas de Esopo, da editora LSB Vídeo,
traduzidas pelo poeta surdo Nelson Pimenta, e nos dois volumes das Aventuras da Bíblia, da
editora Sociedade Bíblica do Brasil (SBB).

Fonte: Obras traduzidas

Adaptação, de acordo com Mourão (2012):


a adaptação se defini como uma releitura do enredo original com
possíveis modificações nos personagens, objetos, descrições, língua
ou cultura; aspecto que favorece o povo surdo no tocante ao
fortalecimento de sua própria identidade, dado o fato de se
identificarem com a história ou com o personagem, porque o discurso
traz representações sobre os surdos (mourão, 2012).

Adaptações como diz o nome, adaptar histórias já existentes para a língua de sinais, geralmente
existem muitos contos clássicos, uma característica marcante é que os protagonistas das histórias são
surdos.
Exemplos:

Fonte: Obras adaptadas

De acordo com Strobel (2008) “uma das peculiaridades da cultura surda, é uma forma
de comunicação que capta as experiências visuais dos sujeitos surdos, sendo que é esta
língua que vai levar o surdo a transmitir e proporcionar-lhe a aquisição de conhecimento
universal”.
Criação, de acordo com Mourão (2012):

No caso de criação, encaixam-se textos originais que surgem e são


produzidos a partir de um movimento de histórias, de idéias que
circulam na comunidade surda. Se os surdos tivessem uma experiência
mais intensa com narrativas, com textos literários (em sinais ou
através de leituras), nas escolas ou em seus lares, com os professores
ou pais contando histórias, teriam mais possibilidade de usar a
imaginação, a criatividade e a emoção e poderiam se tornar uma
fábrica de histórias, produzindo ideias, narrativas e poemas, que ainda
são poucos. (MOURÃO, 2012).
As obras de criação se caracterizam como obras criadas por surdos, no qual tem a
cultura surda presente, onde o surdo pode usar sua imaginação, todos os sentimentos para
expressar. É possível encontrar alguns livros cuja temática é sobre surdez, a língua de
sinais e/ou surdos. Os livros publicados a partir de 2000 que foram analisados são os
seguintes:

Fonte:Obras criadas
REFERÊNCIAS

APOLINÁRIO, Andréia Aléssio. O que os Surdos e a Literatura tem a dizer? – Uma


Reflexão sobre o Ensino na Escola ANPACIN do Município de Maringá/PR. Dissertação
apresentada à Universidade Estadual de Maringá (UEM), como requisito parcial à
obtenção do Título de Mestre em Letras, área de concentração: Estudos Literários, 2005.
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. 5ª. Ed. 2ª imp. São
Paulo: Scipione, 1997.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. São Paulo:
Moderna, 2000.
MOURÃO, Claudio Henrique Nunes. Adaptação e Tradução em Literatura Surda: a
produção cultural surda em língua de sinais. IX ANPED SUL. Seminário de Pesquisa em
Educação da Região sul, 2012.
_________, Claudio Henrique Nunes. Literatura Surda: produções culturais de
surdos em Língua de Sinais. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da
Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre em Educação, 2011.
NICOLA, José de. Literatura Brasileira: das origens aos nossos dias. São Paulo:
Scipione, 1998.
PERLIN, Gladis Teresinha Taschetto. O Lugar da Cultura Surda,. In Thoma, Adriana da
Silva; Lopes, Maura Corcini (Org), A Invenção da Surdez: cultura, alteridade,
identidade
STROBEL, Karin Lilian. As Imagens do outro sobre a Cultura Surda. Florianópolis,
Ed. Da UFSC, 2008.

http://www.marciahonora.com.br/classicos.html#

LIBRAS: CONHECER A CULTURA SURDA – utilizado .

MORGADO, Marta. Literatura das Línguas Gestuais. Lisboa: Universidade Católica


Editora, 2011.

STOCK, I. M. – A Importância da Literatura Surda no Desenvolvimento


Educacional da Criança Surda. Revista Eficaz – Revista científica online z ISSN 2178-
0552, 2010.

ROSA, Fabiano Souto; KLEIN Madalena. Literatura Surda: Marcas Surdas


Compartilhadas. Anais do XVIII Congresso de Iniciação Científica (CIC) e XI ENPOS, I
Mostra Científica, 2009.

QUADROS, R. M.; SUTTON-SPENCE, R. Poesia em língua de sinais: traços da


identidade surda. In.: R. M. Quadros (Orgs.), Estudos surdos I (pp. 110-165). Petrópolis:
Arara Azul. 2006.

QUADROS, R. M.; SCHMIEDT, M.L.P. – Idéias para ensinar português para alunos
surdos. – Brasília: MEC, SEESP, 2006.

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