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LITERATURA

SURDA

Professora Mariana de Oliveira Ferreira


A etimologia do termo latim: Literatura

Gramma
É arte de escrever (produção
escrita), ou seja, arte das palavras)

Naquela época, literatura significava a


mesma coisa que “gramática”. Bem
diferentemente do sentido que têm hoje o
literato e o gramático.

https://www.cesadufs.com.br/ORBI/public/uploadCatalago/08295414112014Teoria_da_Literatura_I_Aula_2.pdf
Para que serve a literatura?

Ler
LITERATURA SURDA

A expressão “LITERATURA SURDA” é utilizada para


história que têm a LÍNGUA DE SINAIS, a IDENTIDADE
e a CULTURA SURDA na narrativa.

LINGUA DE SINAIS IDENTIDADE SURDA CULTURA SURDA


LIBRAS IDENTIDADE CULTURA SURDA

Lei no 10.436 - Art. 1o É Na Identidade Surda, as Cultura surda é o jeito de


reconhecida como meio pessoas apresentam o sujeito surdo entender
legal de comunicação e características culturais o mundo e de modificá-lo
expressão a Língua baseadas na experiência a fim de se torná-lo
Brasileira de Sinais - Libras visual, como acessível e habitável
e outros recursos de determinante em seu ajustando-os com as suas
expressão a ela comportamento; utilizam- percepções visuais, que
associados. se, somente, da Língua de contribuem para a
Sinais; transmitem sua definição das identidades
Cultura e seu surdas e das “almas” das
posicionamento comunidades surdas.
resistente diante da
diferença de ser para os
demais Surdos.
Fonte: https://prezi.com/jejmhmqdurgb/o-jovem-sistema-literario-da-
cultura-surda/
ARTEFATO CULTURA
Karin Strobel
O QUE É LITERATURA SURDA?

É a produção de textos literários em


sinais, que traduz a experiência visual,
que entende a surdez como presença
de algo e não como falta, que
possibilita outras representações de
surdos e que considera as pessoas
surdas como um grupo linguístico e
cultural diferente (KARNOPP, 2006)
ATENÇÃO COM CONCEITOS

•“literatura surda” = da comunidade surda e das pessoas surdas.


•“literatura em língua de sinais” = produzida na língua das pessoas surdas.
Em que o foco está na língua.
•“literatura em Libras” = é feita na língua de sinais dos surdos brasileiros.
“literatura sinalizada” = É uma forma de arte da língua mas frequentemente,
a literatura passa além do vocabulário de Língua de Sinais para criar algo
muito mais visual. É uma forma de arte visual ou arte visual em movimento;
Às vezes, a literatura sinalizada é mais parecida com a pintura, a dança ou
filme e cinema
•“literatura visual” = é uma categoria de literatura que dá prioridade às
imagens visuais, especialmente às produções não verbais.
O registro da literatura surda começou a ser
possível principalmente a partir do
reconhecimento da LIBRAS e do
desenvolvimento tecnológico, que
possibilitaram formas visuais de registro dos
sinais.
O surgimento da Literatura Surda se deu de maneira
natural nos países, ao mesmo tempo em que a lingua de
sinais comecou a ser usada pelos surdos. Esse nascimento
aconteceu inicialmente em escolas de surdos, onde a
comunicação entre crianças e jovens surdos ocorria, na
maioria das vezes, as escondidas, já que o uso da lingua de
sinais foi proibido durante muitos anos (MORGADO, 2011,
p.27);
A Literatura Visual ou Literatura
Surda é importante na formação
da identidade e da cultura surda.
... Essa literatura contribui para a
aprendizagem dos alunos
surdos, no que se refere à sua
língua e na sua formação como
bilíngue. Estimula a criatividade,
a imaginação e a linguagem
(Rosa, 2006).
Desejo de reconhecimento da literatura surda

• Afirmar suas tradições culturais nativas;


• Recuperar suas histórias reprimidas;
• Difundir e registrar sua defesa da cultura e a língua de sinais na
sociedade;
• Preservar os registros visuais como filmagens.
• Criar bibliotecas visuais.
• Contribuir para uma escrita posterior, com traduções
apropriadas.
http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/literaturaVisual/as
sets/369/Literatura_Surda_Texto-Base.pdf
(KARNOPP, 2006, p. 100) e (KARNOPP, 2010, p. 162)
Literatura de surdos ou literatura em língua de sinais

Pesquisa Sutton-Spence

Literatura escrita Literatura escrita Literatura em


sobre surdos dentro por surdos – Língua de Sinais –
do cânone de alguns deles quase sempre
literatura escrita. culturalmente produzido por
Surdos. Surdos.
Imagens de Surdos na Literatura em língua de sinais

Pesquisa Fernanda Machado


● Surdez como uma "perda”?
● A surdez e a opressão na sociedade ouvinte.
● Surdos reagindo e provocando os ouvintes.
● A experiência sensorial dos Surdos.
● Celebração do sucesso dos Surdos e da
Comunidade Surda.
● Celebração do “Ser Surdo e da língua de sinais.
● O lugar dos Surdos no mundo.
A LÍNGUA ESTÉTICA

•Apela aos sentidos.


•A Língua estética pretende criar uma experiência para seus
leitores por meio da língua, ao invés de apenas afirmar
alguma coisa.
•Informações apresentadas como informações podem ser
reconhecidos, por exemplo, como uma história, um poema ou
uma oração com a estrutura e língua certa.
•A experiência corporal das pessoas surdas é de visão e tato,
em vez de som - e a literatura mostra isso.
COISA OU PROCESSO?

•É uma 'coisa' ou um artefato importante da cultura surda (ou uma


coleção de artefatos).

•A literatura sinalizada é um processo, também

•Pessoas realizam e participam da literatura sinalizada;

•Ambos, os artistas e o público “fazem” a literatura sinalizada;


O CORPO COMO CORPUS – LITERATURA SURDA E PERFORMANCE

•A literatura de Língua de Sinais é "uma união da língua e de gestos


que resulta em movimento estético, linguisticamente, organizado."
(Heidi Rose, 1992).

•Em uma literatura do corpo que prioriza a imagem visual (pontos de


vista das pessoas surdas, de seu lugar no mundo).

•Para Rose, “é uma literatura de performance, que se move através


do espaço e do tempo”.
O MAIS IMPORTANTE

•É importante ressaltar que ela brinca com Língua de Sinais,

•A literatura explora o potencial criativo de Libras, principalmente,


para o prazer.

•É bonita e divertida!
ATENÇÃO: CLASSIFICAR A LITERATURA, PARA ANALISAR E ENTENDER

Existem muitos gêneros literários da literatura na Libras.

Importante de entender analise entre os gêneros literários


como os textos escritos x vídeos como narrativas de
experiência pessoal, poesia, histórias cinematográficas, contos
populares, obras traduzidas, ficção original e histórias com
restrições de formato de mão.

Podemos classificá-la de acordo com sua forma, seus temas e


seu modo de representação.
TIPOS DE LITERATURA

•Ficção;
•Oratório (reuniões políticas, sermões);
•Autobiografia = não-ficção literária;
•Literatura política - lutam contra a opressão;
•Crônicas - descrições de pessoas, eventos ou vida;
•A literatura religiosa;
•Músicas - ou os textos das canções - = literatura?
•Poesia.
ELEMENTOS QUE NÃO HÁ NA LITERATURA ESCRITA OU FALADA:

•Velocidade;
•Espaço;
•Mesmas configurações da mão;
•Perspectivas múltiplas;
•Mostrar humanos (com incorporação);
•Mostrar animais, plantas e objetos inanimados;
•CLs (novos e visuais; para confundir);
•Duetos.
VELOCIDADE:

É os estudos de prosódia como os


efeitos estéticos que a mudança
de velocidade pelos sinalizantes
(movimentos lentos ou rápidos Rimar Segala – Bolinha de Ping Pong
como como intensidade, volume,
frequência, dentre outro.
Um britânico (Children`s Park, de Richard Carter, disponível no
link https://www.youtube.com/watch?v=Hpryz9d1M5E) e um
brasileiro (Bolinha de ping pong, de Rimar Segala, disponível
em https://www.youtube.com/watch?v=VhGCEznqljo) Richard Carter –
Children’s Park (Parque Infantil)
MESMAS CONFIGURAÇÕES DE MÃO:

Utilizavam configurações de
mãos repetitivas nos sinais História Leoa Guerreira
de Vanessa Lima.
para criar um sentido de “rima”
.
Esteticamente, a visualização
repetida de uma mesma Poesia em Libras
de Nelson Pimenta
configuração de mão é muito – Arco-Íris
agradável de se ver.
Nelson Pimenta – Encontro do Amor
ESPAÇO E SIMETRIA

Espaço Simetria
• Colocar dois sinais em lugares opostos • A simetria é outra maneira de criar
do espaço pode gerar o sentido de efeitos de linguagem estética por
que dois referentes se opõem. meio da criação de uma sensação de
• A mudança de lugar na escolha das equilíbrio.
configurações de mão, no espaço em • As divisões de espaço entre alto e
que cada uma se desenvolve, gera baixo, esquerdo e direito ou em frente
também uma significação diferente. e atrás são exemplos de divisões
• Lembra que “o texto escrito está espaciais com simetria. Vemos muita
limitado ao tamanho do papel e esse simetria nas poesias em Libras.
recurso de mudança de espaço é de
difícil tradução para as línguas orais”. Poema
Como Veio Alimentação, Fernanda Machado
PERSPECTIVAS MÚLTIPLAS:

O objetivo é “colocar a linguagem no David Ellington –


primeiro plano” e criar uma Mostra a bandeira e
desfamiliarização ao mostrar cenas uma flecha e se
habituais através de perspectivas fora torna numa bandeira
do comum. que veja a flecha

Obras da literatura sinalizada é muito


comum que o sinalizador assuma
diversas perspectivas de um modo Paul Scott – A criança
dinâmico e criativo, principalmente se coloca maquiagem na
utilizando do espaço mental subrogado boneca e a boneca
(segundo nossa percepção). recebe a maquiagem
MOSTRAR HUMANOS (POR INCORPORAÇÃO) :

No lugar de contar ao público acerca dos personagens


literários, a Libras frequentemente os apresenta através do
recurso da incorporação, e um aspecto da sinalização
estética altamente valorizado é a habilidade de imitar
pessoas (MORGADO, 2011).
Muitos contadores de história têm o cuidado de descrever
seus personagens fisicamente através da incorporação e
continuam a enfatizar esses aspectos enquanto contam a
história.

Mostrar os personagens é algo visualmente muito


satisfatório para a plateia, que por vezes se sente como se Rimar Segala
estivesse assistindo a personagens de um filme. – Bolinha do
Ping Pong
MOSTRAR ANIMAIS, PLANTAS E OBJETOS INANIMADOS

Esse recurso literário é conhecido como antropomorfismo ou personificação.

Palavra antropomorfismo significa “dar uma forma humana a uma coisa não
humana, dar características ou comportamento humano” (Bloomsbury) ou
“atribuir forma humana ou personalidade às coisas” (Merriam-Webster).

A imitação estética de seres humanos estende-se à imitação de não humanos,


sejam eles animais, plantas ou objetos inanimados.

O corpo do artista se transforma pelo processo de incorporação e, portanto,


passa a ser o animal ou o objeto.
MOSTRAR ANIMAIS:

Descritivo: Pré-linguístico: Linguístico:


• Descreve o não-humano com o Atribui emoções, intenções ou Atribui na exposição performática do
não-humano, também o uso da
corpo humano, mas não dá outros sentimentos e língua humana, ou como ser humano,
outras características, ou seja, comportamentos humanos, mas ou com forma do animal ou da coisa,
não faz uso de outras não atribui a língua humana. Ex: revelado principalmente pelas
faculdades como as emoções “Sapos” - Richard Carter) ou configurações de mão adaptadas na
humanas, o diálogo e a forma de patas ou partes do não-
interação por meio de palavras ‘’Voo sobre Rio’’ - Fernanda humano, mudanças também
ou sinais. Ex: O Papagaio de Machado ) apresentadas pelos pontos de
Rei, Bruno Ramos. articulação ou expressões. (Exemplo
https://repositorio.ufsc.br/handle/1234567 utilizado: “Sapo”, de Nelson Pimenta
89/130150. https://www.youtube.com/watch?v=YaAy0cbjU8o na fábula o Boi e o Sapo)
MOSTRAR PLANTAS:

Paul Scott – Tree (A Árvore) Tree – Aulio Nobrega

https://antologia.libras.ufsc.br/tree-tech-2/
MOSTRAR OBJETOS INANIMADOS:

São a incorporação de objetos inanimados, que pode ser utilizada na


produção das narrativas em Libras, demonstrando uma performance
desses objetos inanimados como se fossem humanos.

•Outro exemplo: Richard Carter – Um lápis e um apontador


CLASSIFICADORES (E NOVOS CLASSIFICADORES) /
USAR CL DE NOVAS FORMAS

USAR CL DE NOVAS FORMAS:


Paul Scott,
•As configurações das mãos são escolhidas Tree (A Árvore)
a partir de um conjunto convencional da
Libras, posicionadas e movidas no espaço
a fim de mostrar como os personagens e
os objetos se movem e se relacionam uns
com os outros.
•Alguns sinalizantes, entretanto, vão além Eu x Rato,
de Rodrigo Custódio da Silva.
dos limites das regras da linguagem e
criam configurações de mão
classificadoras que não são convencionais.
CONFUNDIR COM OS CLS:

Johanna Mesch – Party (A Festa)


https://youtu.be/IlrvX0BeMvE
ELEMENTOS NÃO MANUAIS

•São muito importantes, especialmente quando se tem o


objetivo de acrescentar impacto estético.
•Na sinalização cotidiana, os dois tipos de movimento de
boca ocorrem em conjunto, em proporções variadas. Golf Ball,
de Stefan Goldschmidt;
•Na sinalização estética com frequência há menos
padrões bucais derivados do português, em parte devido
a uma frequência maior de estruturas altamente
icônicas.
• Quanto mais visual a peça, e quanto menos sinais de
vocabulário de Libras houver, menos padrões de boca
derivados do português. A Pedra Rolante, de Sandro
Pereira
DUETOS (MOURÃO, C. A. F. 2019).

• Gênero das produções em língua de Richard Carter and


David Ellington
sinais, descrito como a prática de dividir a ‘Deaf Gay’
(‘Surdo Gay’)
apresentação com outro sinalizante que
https://youtu.be/3DS5xG
compõe de forma criativa e/ou W8jcQ

simultânea a mesma obra.


Unexpected moment

• Onde dois sinalizantes compõem uma (Momento


inesperado)
mesma peça a quatro mãos, o que não Amina Ouahid e
Jamila Ouahid
deixa de ser uma brincadeira em língua https://youtu.be/hD48RQL
Qurg
de sinais.
AMBIENTE DA LITERATURA SURDA

cultural, identidade e
socio-histórica, Libras

De acordo da
idade do leitor
O QUE DIFERENÇA ENTRE ANÁLISE LITERÁRIA NAS LÍNGUAS ESCRITAS X
ANÁLISE LITERÁRIA NAS LÍNGUAS DE SINAIS
•Quando passamos a tratar de análise literária nas línguas escritas, em
algum ponto devemos dialogar com a gramática, uma vez que a língua é o
instrumento de uso das produções literárias e questões de prosódia
associadas à semântica e ao discurso é por onde melhor vamos descrever
aspectos como ritmo, métrica, entonação e seus efeitos estéticos dentro
do texto.

•Nas línguas de sinais podemos dizer que a análise literária é uma


atividade quase inexistente até pela dificuldade já enfrentada no campo
linguístico de desenvolver uma terminologia apropriada aos fenômenos
articulados dentro de uma modalidade visual e espacial de língua.
Obrigada!
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA

FILHO, Antonio Cardoso. Teoria da Literatura I. A palavra “literatura” e seu uso ao longo da história - Aula - UFS/CESAD -
Disponível em
https://www.cesadufs.com.br/ORBI/public/uploadCatalago/08295414112014Teoria_da_Literatura_I_Aula_2.pdf.

MOURÃO, Cláudio Henrique Nunes. Literatura surda: experiência das mãos literárias. UFRGS, 2016. Disponivel em
https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/151708.

STROBEL, Karin Lilian. “As imagens do outro sobre a cultura surda”. Editora da UFSC – Série Geral.2008.

KARNOPP, Lodenir. Literatura Surda. UFSC, Florianópolis, 2008. Disponivel em:


http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/literaturaVisual/assets/369/Literatura_Surda_Texto-
Base.pdf.

ROSA, Fabiano Souto. Literatura surda: o que sinalizam professores surdos sobre livros digitais em Língua Brasileira de Sinais
LIBRAS. UFPel. Pelotas – Rio Grande do Sul 2011. Disponivel em : http://guaiaca.ufpel.edu.br/handle/123456789/1699
Referência bibliografia

ROSA, Fabiano Souto; KLEIN, Madalena. Literatura Surda: Marcas Surdas Compartilhadas. CIC-2009-UFPel.. Disponivel
em:https://wp.ufpel.edu.br/fabianosoutorosa/files/2012/04/CIC-2009-UFPel.pdf.

LIBRANDO – compartilhando Literatura Surda. UFSC. Disponivel em: https://librando.paginas.ufsc.br/

MACHADO, Fernanda de Araújo. Antologia da Poética em Língua de Sinais Brasileira – UFSC - 2018 - Disponivel em
http://antologia.libras.ufsc.br/

MOURÃO, Carlos Antonio Fontenele. Literatura Surda: um currículo em Fabricação. 2019.

SUTTON SPENCE, Rachel. Literatura em Libras. 1.ed. Rio de Janeiro: Arara Azul, Editora Arara Azul. No prelo, 2021.

VIEIRA, Saulo Zulmar et al. A produção narrativa em libras: uma análise dos vídeos em língua brasileira de sinais e da sua
tradução intersemiótica a partir da linguagem cinematográfica. 2016.

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