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UNIDADE CURRICULAR 03:

TEXTO BASE

LÍNGUA E LINGUAGEM REPRESENTAÇÃO


LITERÁRIA, CULTURAL E ARTÍSTICA

PROFESSORES:
LUCAS SACRAMENTO RESENDE
ROSELY LUCAS DE OLIVEIRA

S E C R E TA R I A D E
DIRETORIA DE
E D U C A Ç Ã O C O N T I N U A D A, MINISTÉRIO DA
POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO
ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E EDUCAÇÃO
BILÍNGUE DE SURDOS
A D U LT O S , D I V E R S I D A D E E I N C L U S Ã O
Olá, caro (a) aluno (a)!

E um prazer recebê-lo no Texto base “Língua e Linguagem representação

Literária, Cultural e Artística”! Neste material, você terá a oportunidade de

explorar um universo ricamente carregado de cultura e perspectivas únicas.

Juntos, embarcaremos em uma jornada pela história das pessoas surdas. Já

parou para imaginar como era a vida dessas pessoas em épocas passadas,

quando políticas públicas e tecnologias ainda não faziam parte do cenário?

Este texto base convida você a refletir sobre essa realidade e a explorar os

artefatos culturais e a riqueza da comunidade surda. A jornada não se limita a isso.

Vamos adentrar no universo da “Língua e Linguagem representação Literária,

Cultural e Artística”, discutir as produções de surdos, a importância da Língua de

Sinais e o papel fundamental da contação de histórias para crianças surdas. Ao

longo dessa experiência, você terá a oportunidade de adquirir um vasto

conhecimento sobre este tópico.

Convidamos você a participar desta aventura com empatia e curiosidade.

Certamente, os insights adquiridos modificarão sua percepção e compreensão

do sujeito surdo. Mesmo se você ainda não possui conhecimentos prévios sobre

essa cultura, este material foi elaborado com esmero, baseando-se nas

experiências e vivências dos autores imersos nesse universo. Estamos prontos

para iniciar essa viagem enriquecedora!

Bons estudos!
Nesta unidade trataremos da importância sobre a relação da temática

“arte surda” oferecendo elementos de obras como pintura, escultura, música,

literatura, dança, arquitetura, fotografia e teatro, nas quatro linguagens

artísticas, ou seja, artes visuais, música, teatro e dança. O termo “arte surda”

engloba todas as formas de expressões artísticas realizadas por indivíduos

surdos utilizando a Língua de Sinais. Dentro do contexto da arte surda, o teatro

surdo é uma área de grande importância. Nesse sentido, a relação entre a arte

surda e o teatro surdo é significativa, pois o teatro surdo é uma forma

específica de expressão artística dentro do âmbito mais amplo da arte surda.

Ambos contribuem para a valorização da cultura e identidade surda,

promovendo a conscientização sobre as experiências e perspectivas dos

artistas surdos.

Nosso interesse reside na reflexão proporcionada pelo subcapítulo da

dissertação da pesquisadora surda Ana Luiza Paganelli Caldas, intitulado A

arte surda.... Existe? No texto, ela aborda a história da arte surda tanto no Brasil

como no exterior. Uma questão importante que surge é: o que os artistas

surdos apresentam?

[...] levar os surdos ao contato com artistas surdos e com a arte surda
através de fotos, vídeos, pinturas, esculturas, teatro; considerar que
os olhos, as mãos, a expressão corporal e facial são sinais
referenciais para os surdos; despertar os surdos para a arte, a fim de
que possam expressar sua identidade surda através da mesma; ver
a arte surda como forma de significado que produz certas
características determinadas para a diferença e as construções
históricas e culturais, colocar a pergunta: por que vivemos num
complexo tão desumano em relação à arte surda? (Caldas, 2006, p.
42).
Vamos cultivar nossa arte surda e irrigá-la cotidianamente para que se

converta em outros frutos e possamos colher novas artes poéticas e formas

de expressão. Assim, a arte surda permanece no coletivo da comunidade

surda artística, onde tem seu lugar e espaço de produção de ideias. É um

espaço onde os artistas surdos podem se reunir, colaborar e criar, gerando

uma produção rica de ideias e expressões artísticas.

O artefato “arte surda” representa uma expressão coletiva que conecta

a visão artística dos surdos com a lógica que expressa a cultura surda. O

resultado desse produto é uma rica diversidade cultural, que se assemelha ao

artefato cênico do teatro surdo, bem como o artefato da “arte surda” e o

artefato cênico do teatro surdo estão intrinsecamente ligados, trazendo

consigo uma representação coletiva da visão artística e da cultura surda.

O pesquisador artístico surdo Maurício Damasceno Souza apresentou

o seguinte resumo de sua pesquisa: “a arte surda é um reflexo cultural e

identitário de uma comunidade que se expressa através da individualidade do

artista surdo, sem, contudo, abandonar a representação da visão do grupo”

(Souza, 2014). Partindo desse ponto de vista, o artefato cênico do teatro surdo

não se limita apenas ao contexto específico do teatro surdo, mas é parte de

uma esfera artística maior que engloba diversas formas de expressão artística

surda. A promoção da arte surda ocorre com a presença do surdo e da

comunidade surda, utilizando-se necessariamente da visualidade como meio

de comunicação. A visualidade desempenha um papel fundamental na arte

surda, permitindo que os artistas surdos se expressem de maneira autêntica

e transmitam suas mensagens artísticas. Dança, poesia, música, arte,


literatura e teatro surdos, são componentes essenciais do artefato cênico,

uma vez que todas essas formas de expressão valorizam a importância da

resistência surda e a cultura surda como um todo.

Considero o estudo do autor surdo Lucas Sacramento Resende, mesmo

professor que está defendendo a tese de doutorado em Literatura sobre

teatro surdo uma temática diretamente relacionada à arte surda, o que é

fundamental neste contexto. Isso ocorre porque o artista cênico, ao se

envolver com a arte, é desafiado a criar e expressar sua imaginação,

empregando uma linguagem artística que possibilita a aplicação em

cenografia e figurino. Os artistas surdos têm a capacidade de dar vida às suas

ideias e conceitos de maneira visualmente impactante. Por meio do uso de

elementos visuais, cores, movimentos e símbolos, eles podem enriquecer as

narrativas e criar ambientes panoramas que reflitam a cultura e a identidade

surda.

A arte surda pode estabelecer relações com outras formas artísticas

que envolvem linguagem, como arte teatral, arte literária e arte dramática, e,

em todas as suas facetas, confere a expressão de liberdade. Entretanto, é

essencial o uso de Língua de Sinais. No teatro surdo, por exemplo, a Língua de

Sinais é utilizada como base para a criação e interpretação de personagens,

diálogos e performances. Na Arte Literária, escritores surdos podem expressar

suas ideias e experiências por meio da escrita em Língua de Sinais. Por fim, na

Arte Dramática, a linguagem visual e gestual da Língua de Sinais é incorporada

para criar expressões faciais, movimentos corporais e coreografias teatrais

impactantes.
Em outras palavras, a manifestação da arte surda traz uma perspectiva

única e poderosa dos surdos ao abordar os conflitos e desafios existentes

entre surdos e ouvintes na sociedade. Essas narrativas artísticas surdas são

uma forma de expressão e representação da cultura e identidade surda,

permitindo que os surdos compartilhem suas experiências e perspectivas com

o mundo. Endossamos a opinião da pesquisadora surda Renata Cristina

Fonsêca de Rezende, que destaca a importância da celebração cultural e da

politização na arte surda. A celebração cultural envolve o reconhecimento e a

valorização da cultura surda, sua língua, tradições e expressões artísticas:

As produções literárias são formas de celebração cultural, assim


como de resistência às diferentes formas de opressão vivenciadas
por surdos. Por meio da arte literária, os surdos manifestam seus
sentimentos, assim como suas posições políticas. As estórias
contadas por surdos com formas poéticas traduzem suas histórias e
representam verdadeiras manifestações culturais organizadas de
forma criativa através de possibilidades e rupturas linguísticas. Além
disso, elas empoderam os poetas e os públicos que assistem às
performances, pois os surdos narram a si mesmos por meio da
produção literária, enquanto parte da comunidade nacional e da
comunidade surda do mundo (Rezende, 2019, p. 104).

Na citação mencionada, é possível observar como a manifestação

cultural da arte surda se torna uma expressão pela qual os artistas surdos

resistem e preservam sua cultura surda dentro da comunidade surda global.

Dessa forma, a cultura e a arte surdas constituem uma percepção visual que

intensifica a representação da arte surda, a qual se desenvolveu ao longo de

diversos processos culturais e artísticos em território nacional.

Recomendamos a leitura de um trecho do Ebook “Os surdos e a sétima artes”.

O excerto escolhido aborda a jornada singular desse indivíduo surdo, compartilhando sua vivência na
pesquisa e na expressão artística. Consideramos essa leitura particularmente relevante para
aprofundar nosso entendimento sobre o sujeito que é tema constante ao longo deste material.
Desejamos uma excelente leitura!
Fonte:
https://www.editoraschreiben.com/_files/ugd/e7cd6e_e2ce489b4d2848c2b01657843d9c77f4.pdf
Nesta unidade, a interseção entre registros literários e produções

culturais desempenha um papel crucial na compreensão e preservação da

diversidade e riqueza das expressões humanas ao longo do tempo. Os

registros literários, por meio de sua capacidade única de capturar a essência

de uma época, oferecem uma janela para as diferentes facetas da experiência

humana, desde as complexidades emocionais até as complexidades sociais.

Da mesma forma, as produções culturais, que englobam uma ampla

gama de formas artísticas, são testemunhas e agentes de transformação nos

cenários sociais e históricos. Essas manifestações, que incluem música, arte

visual, dança e muito mais, não apenas refletem, mas também moldam as

identidades culturais.

Nesta exploração da interação entre registros literários e produções

culturais, buscaremos entender como esses dois domínios se entrelaçam,

influenciam-se mutuamente e contribuem para a construção de narrativas

que transcendem fronteiras temporais e geográficas. Essa análise nos

permitirá apreciar a intrincada teia de conexões entre a palavra escrita e as

expressões culturais, enriquecendo nossa compreensão da complexidade da

experiência humana ao longo da história.

2.1 - CONCEITO DE CULTURA SURDA

A cultura surda representa um conjunto de práticas e perspectivas

distintas daqueles que interpretam o mundo de maneira única. Para as

pessoas surdas, a experiência do mundo é moldada pela visão.


Essa visão única do mundo contribui para a subdivisão da cultura

majoritária, dando origem à cultura surda. A autora surda Karin Strobel, em seu

livro "As imagens do outro sobre a cultura surda" (2008), da Universidade

Federal de Santa Catarina, explora de maneira clara e emocionante a formação

da cultura surda. Utilizando a etimologia da palavra "cultura" como "ato de

plantar e cultivar", ela destaca a importância da linguagem na construção da

identidade surda. Segundo Strobel (2008), a cultura envolve as habilidades

individuais na utilização da linguagem, e a metáfora da semente plantada no

solo ilustra como a cultura, assim como a natureza, é essencial para o

desenvolvimento.

Diante desse belo exemplo, podemos adotar uma visão poética da

cultura. Considerando a metáfora da planta, direcionemos nosso pensamento

para o bebê surdo nascido em uma família de ouvintes em sua cidade natal.

Esse bebê participará ativamente de uma cultura, recebendo carinho,

alimentação e saúde, mas, conforme a metáfora, a comunicação é o

"fertilizante" que falta para o seu pleno desenvolvimento.

2.2 - ARTEFATOS CULTURAIS DO POVO SURDO

Os artefatos culturais do povo surdo são expressões tangíveis da

identidade, história e valores compartilhados pela comunidade surda. Esses

artefatos desempenham um papel essencial na preservação e promoção da

cultura surda. Aqui estão alguns exemplos de artefatos culturais associados

ao povo surdo:

1. Língua de Sinais: A língua de sinais é um artefato cultural fundamental,

representando a forma de comunicação primária da comunidade surda.

Cada país ou região pode ter sua própria língua de sinais, e estas são
ricas em expressividade e nuances, refletindo a cultura única de cada

comunidade surda.

Figura 1- Professora Bilíngue com a criança surda

Fonte: Fotógrafo Rafael Motta (2011)

2. Literatura Surda: Livros, poemas, contos e outros trabalhos literários

criados por autores surdos são artefatos culturais que refletem as

experiências, perspectivas e valores da comunidade surda. Essas obras

muitas vezes exploram temas relacionados à surdez e contribuem para

a construção da identidade cultural surda.

Figura 2: Livro Patinho Surdo

Fonte: Retirado pela impressa do livro


3. Arte Visual Surda: Obras de arte criadas por artistas surdos podem

incluir pinturas, esculturas e outras formas visuais que exploram a

experiência surda, a identidade e a diversidade da comunidade. Essas

expressões artísticas oferecem uma maneira única de compartilhar

histórias e perspectivas surdas.

Figura 3- Arte Visual

Fonte: https://culturasurda.net/2011/12/12/fernanda-machado/

4. Tecnologias Adaptadas: Ferramentas e dispositivos adaptados para

atender às necessidades específicas da comunidade surda, como

alarmes vibratórios, telefones TTY (texto para fala) e aplicativos de

tradução de língua de sinais, são artefatos que facilitam a

comunicação e a participação na sociedade.

Figura 4- Tecnologia
Fonte: https://www.redemagic.com/blog/tecnologia/tecnologia-favor-dos-surdos/>
Acesso em: 29 nov. 2023

5. Eventos Culturais Surdos: Festivais, conferências, peças teatrais, e

outros eventos organizados pela comunidade surda são artefatos

culturais que promovem a expressão artística, o compartilhamento de

histórias e a celebração da identidade surda.

Figura 5: Divulgação Festival de Cultura Surda

Fonte: Itaú Cultural


Figura 6: Evento Conali - Cartaz

Fonte: Feneis

6. Símbolos e Bandeiras: Símbolos específicos, como a Bandeira da

Cultura Surda, mencionada anteriormente, são artefatos culturais que

representam visualmente a comunidade surda, promovendo o orgulho

e a coesão cultural.

Figura 7: Bandeira Comunidade Surda

Fonte: Retirado pelo Google

Esses artefatos não apenas preservam a rica herança cultural da

comunidade surda, mas também desempenham um papel vital na promoção

da conscientização, na educação e no fortalecimento da identidade surda

dentro e fora da comunidade.


2.3 - A CULTURA SURDA E A LITERATURA

Antes de nos aprofundarmos nesse universo literário, é essencial

explorarmos os marcos históricos, compreender as diversas identidades

presentes na surdez e distinguir a cultura dos surdos da cultura dos ouvintes.

Armados com esse conhecimento, estaremos prontos para adentrar a riqueza

desse campo literário.

Quando falamos em literatura, o dicionário nos oferece a definição de

um "conjunto de obras literárias de reconhecido valor estético, pertencentes

a um país, época, gênero etc." (DICIO, 2019). Desde o início deste texto,

estamos discutindo literatura. No entanto, surge a questão: por que é

necessário diferenciar literatura ouvinte de literatura surda? Ao longo deste

tópico, você compreenderá as distinções e semelhanças entre essas duas

formas de literatura.

Na contemporaneidade, a literatura tornou-se um poderoso meio de

expressão de ideias, experiências de superação e afirmações identitárias,

especialmente para as minorias. Ao considerarmos essas produções culturais,

deparamo-nos com o compartilhamento de identidades, narrativas pessoais,

rastros de histórias e a construção de subjetividades que permanecem na

memória. Como observado nos marcos históricos, as histórias dos surdos, em

grande parte, foram registradas por ouvintes, narradas por aqueles que não

compartilham da vivência da surdez. Certamente, esse fato influencia a

formação das narrativas surdas. Então, prepare-se para embarcar nessa

jornada histórica!
2.4 - PRODUÇÃO CULTURAL DOS SURDOS

A produção cultural dos indivíduos surdos, destacando a importância

das Línguas de Sinais nesse processo. Inicialmente, ressalta-se que a história

cultural surda é recente em comparação à história mundial, especialmente

após a adoção das Línguas de Sinais pela comunidade surda.

A tecnologia começou a desempenhar um papel significativo na

comunidade surda a partir dos anos 1990, permitindo a documentação e

divulgação das produções culturais em Línguas de Sinais. Essas produções,

marcadas pelo uso das mãos na Língua de Sinais, proporcionaram avanços

qualitativos e quantitativos.

O conceito de "letramento ou leitura de mundo" é introduzido,

destacando a importância da compreensão do contexto e da relação dinâmica

entre linguagem e realidade. A leitura de mundo, que precede a leitura da

palavra, é descrita como a absorção de experiências sensoriais como aromas,

gostos, texturas, sons e cores. Como diz Paulo Freire:

O ato de aprender a ler e escrever deve começar a partir de uma


compreensão muito abrangente do ato de ler o mundo. Até mesmo
historicamente, os seres humanos primeiro mudaram o mundo,
depois revelaram o mundo e, a seguir, escreveram as palavras. Os
seres humanos não começaram por nomear A! F! N! Começaram por
libertar a mão e apossar-se do mundo (FREIRE, 2011 apud MOREIRA;
SOUZA, 2015, p. 4).

Enquanto os ouvintes aprendem a ler e escrever por meio da audição,

os surdos utilizam as mãos e a visão para a leitura de mundo, interagindo

através da Língua de Sinais. A cultura surda é caracterizada pela

aprendizagem coletiva, onde a interação entre surdos resulta na criação de

novos sinais e na partilha de significados.


A produção cultural em Línguas de Sinais teve início na Universidade

Gallaudet, evoluindo com as tecnologias contemporâneas que permitem a

documentação visual. A prática da filmagem é comum entre os surdos para

registrar debates, discussões e conceitos, utilizando aplicativos de celular

para compartilhamento.

A diversidade regional na Língua de Sinais é comparada ao fenômeno do

regionalismo na língua portuguesa. Cada região ou estado pode ter variações

de gírias, sotaques e particularidades na Libras. Isso inclui diferenças na

utilização de datilologia (soletração) ou na criação de sinais específicos para

determinadas palavras, refletindo a riqueza e diversidade da cultura surda.

Os surdos, ao longo da história, estiveram envolvidos em diversas

expressões culturais, como circos e apresentações teatrais, embora muitas

vezes de maneira isolada. A história da comunidade surda é marcada por

momentos distintos, indo desde veneração até isolamento. Este isolamento

contribuiu para uma lacuna na história das produções culturais surdas, pois a

falta de interação entre pares limitava as oportunidades de criação conjunta.

A produção editorial dos surdos reflete suas vivências e relatos de vida.

Embora algumas obras surdas tenham sido esquecidas, outras foram

valorizadas e registradas em diversos formatos, como livros, CDs, DVDs, pen

drives e nuvens, graças às tecnologias atuais. Com a abertura do mercado

editorial para textos autobiográficos, as produções surdas são consideradas

literárias, ressignificando o conceito de literatura ao longo do tempo.

A literatura surda, ao expressar experiências pessoais, aborda as

dificuldades, conquistas e opressões enfrentadas pela comunidade surda.

Embora haja poucos relatos autobiográficos em Língua de Sinais, a preferência

pela escrita amplia significativamente o público-alvo. Os surdos reconhecem


que a escrita em Língua de Sinais restringiria o acesso a um público limitado,

enquanto a escrita em língua portuguesa alcança uma audiência mais ampla,

incluindo muitos ouvintes. Essa escolha também destaca a relação peculiar

que muitos surdos têm com a Língua Portuguesa, tornando a literatura surda

mais acessível e compreensível para um público diversificado.

Na década de 1960, Jorge Sérgio Lopes Guimarães, um carioca surdo,

dedicou-se à redação de crônicas sobre o cotidiano da comunidade surda,

publicando em três jornais que circulavam no Rio de Janeiro. Nascido em 1933,

Guimarães recebeu uma educação pautada no método oralista e jamais aderiu

à língua gestual, o que resultou em sua não aceitação pela comunidade surda.

Conforme destacado por Madeira (2015), "a memória social da comunidade

surda é moldada por questões tanto culturais quanto linguísticas que se

estabelecem no contexto histórico. Infelizmente, Guimarães, ao longo das

gerações, nunca foi mencionado de alguma forma, seja no âmbito acadêmico

ou literário". Suas crônicas, contudo, foram posteriormente compiladas e

publicadas no livro intitulado "Até onde vai o surdo".

Figura 8: Livro Onde vai o Surdo

Fonte: https://online.unisc.br/seer/index.php/reflex/article/viewFile/6130/pdf_44
Recomendamos a leitura de um trecho da tese de doutorado de Cláudio Henrique Nunes Mourão
(Cacau) de 2016, intitulada “Literatura Surda: Experiência da Mãos Literárias”.

O excerto escolhido aborda a jornada singular desse indivíduo surdo, compartilhando sua vivência na
pesquisa e na expressão artística. Consideramos essa leitura particularmente relevante para
aprofundar nosso entendimento sobre o sujeito que é tema constante ao longo deste material. Ao
mergulhar na trajetória de Cláudio, perceberá que a única barreira que separa surdos de ouvintes é a
comunicação. Desejamos uma excelente leitura!

Fonte: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/151708

A integração das artes na educação bilíngue de surdos desempenha um

papel fundamental na promoção de um ambiente educacional enriquecedor e

inclusivo. Ao explorar a interseção entre a expressão artística e o aprendizado

bilíngue, abrem-se portas para uma compreensão mais profunda e holística do

desenvolvimento cognitivo e emocional dos alunos surdos.

As artes, incluindo a música, a dança, o teatro e as artes visuais,

proporcionam meios diversificados para a expressão e comunicação. Em um

contexto bilíngue, onde a língua de sinais é uma ferramenta vital, as artes

oferecem uma plataforma única para aprimorar a proficiência linguística,

facilitando a conexão entre a língua de sinais e a língua escrita. Esse

entrelaçamento não apenas fortalece as habilidades de comunicação, mas

também promove um ambiente educacional estimulante.

Nesta exploração da incorporação das artes na educação bilíngue de

surdos, busca-se compreender como essas formas de expressão contribuem

para o desenvolvimento global dos alunos. Ao reconhecer a importância da

linguagem visual e corporal, aliada à riqueza das expressões artísticas, aspira-


se a criar uma base sólida para a aprendizagem, a comunicação e o

crescimento pessoal, celebrando a diversidade e promovendo a inclusão no

âmbito educacional bilíngue para surdos.

A criança surda terá todos os recursos necessários para compreender as

obras literárias e criar suas próprias narrativas imaginativas. Além disso, estará

igualmente capacitada para colaborar com seus colegas ouvintes na

produção, ensaio e encenação dessas histórias, desenvolvendo sua própria

forma de atuação. Em contraste, em ambientes escolares bilíngues ou em

classes especiais, o professor, seja surdo ou ouvinte, domina a Língua de

Sinais, e todo o processo de ensino ocorre nessa língua, o que facilita a

integração da literatura surda.

Ensino bilíngue tem, como eixo de sustentação, a Libras como língua de

instrução para o surdo, e a oral oficial do país como segundo idioma. Somente

num ambiente linguístico naturalmente bilíngue é que este aluno terá, de fato,

a possibilidade de construir-se enquanto sujeito usuário da Língua de Sinais

como primeira língua, promovendo a aprendizagem da linguagem oral por meio

da metodologia de segunda língua. Desse modo, é reforçada a obviedade de

que tal possibilidade não se realiza numa escola ouvinte, em que a língua de

instrução é a oral e todo o ensino é organizado a partir da perspectiva de quem

ouve (WITKOSKI, 2015, p. 96)

Figura 8: Crianças Surdas na Escola


Fonte: Fotógrafo Rafael Motta (2011)

Estudante, a seguir, compartilharemos sugestões e orientações para a

contação de histórias destinadas a crianças surdas e bilíngues (ouvintes que

utilizam a Língua de Sinais). Durante a narração na sala de aula, é fundamental

empregar recursos visuais. Observe atentamente as expressões faciais das

crianças ao longo da história, identificando emoções como admiração, medo

e riso. Integre objetos, como bonecos, animais, carrinhos e casinhas, para

enriquecer a experiência. Ao concluir a narrativa, convide os alunos a

desenharem a história, destacando detalhes como cores, tamanhos e,

especialmente, os sentimentos presentes no enredo, como medo, maldade e

alegria. Encoraje-os a compartilhar seus desenhos com os colegas.

Para tornar a contação de histórias mais envolvente, explore kits

específicos, como aventais de histórias, sacos e caixas de histórias, utilizando

sua criatividade. Além disso, no YouTube, há diversos vídeos que contam

histórias em Libras, como os disponíveis nos canais "Mãos Aventureiras" e

"Portal da TV INES Contação de Histórias", que podem ser recursos valiosos em

diferentes momentos.

A poesia em Língua de Sinais incorpora elementos fundamentais da

identidade surda, conhecimentos e poder tanto da comunidade surda quanto


da ouvinte. Essa expressão artística reflete os movimentos de resistência

surda, ideologias e discursos hegemônicos, evidenciados em diversos

poemas sinalizados. O ambiente escolar, frequentemente, representa o

primeiro contato da criança com a poesia. Portanto, a educação bilíngue,

projetada para atender às necessidades dos surdos, é o cenário ideal para

integrar esses elementos essenciais. Esse ambiente proporciona ao sujeito

surdo um espaço inspirador, onde ele pode apreciar e apresentar poesias

sinalizadas. Além disso, esse espaço de lazer e estudo linguístico se torna

propício para o desenvolvimento da paixão pela poesia, permitindo explorar

emoções, ideias complexas e superar desafios, incluindo as metáforas, que

muitas vezes são consideradas um tabu para os surdos.

Morgado (2011, p. 21) destaca que "a Literatura Surda não precisa ser

necessariamente contada apenas em língua de sinais; ela pode ser escrita,

contando que aborde temas relacionados aos surdos". Sob essa perspectiva,

o livro "Luanda Lua" se enquadra em uma abordagem bilíngue, apresentando

duas versões: uma em língua portuguesa escrita e outra em Língua Gestual

Portuguesa (LGP), disponível no DVD que acompanha o livro físico. O DVD em

língua de sinais segue uma abordagem fundamentada na educação dos

surdos, permitindo que a criança surda acesse sua língua materna,

preferencialmente incentivada pelo contato com a comunidade surda. O

desenvolvimento na primeira língua (L1) é considerado crucial para a

aprendizagem da segunda língua (L2).


Recomendamos a leitura de um trecho do artigo dos autores Bruno Galasso, Monica Lopez, Rafael
Secerino, Roberto Lima e Dirceu Teixeira, intitulada “Processo de Produção de Materiais Didáticos
Bilíngues do Instituto Nacional de Educação de Surdos”.

O excerto escolhido aborda a jornada singular desse indivíduo surdo, compartilhando sua vivência na
pesquisa e na expressão artística. Consideramos essa leitura particularmente relevante para
aprofundar nosso entendimento sobre o sujeito que é tema constante ao longo deste material.
Desejamos uma excelente leitura!

Fonte: https://www.scielo.br/j/rbee/a/R8nwGtrSrb3LdF9BvbxNZLt/#

Referências Bibliográficas
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Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006. Disponível
em:https://lume.ufrgs.br/handle/10183/8735. Acesso em: 15 ago. 2023.

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https://central3.to.gov.br/arquivo/299633/. Acesso em: 27 nov. 2023.

HESSEL, C.; ROSA, F.; KARNOPP, L. Cinderela surda. 2 ed. Canoas: Editora ULBRA, 2007.

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MOURÃO, C. H. N. Literatura Surda: experiência das mãos literárias. 2016. Tese (Pós-
graduação em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016.
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REZENDE, R. C. F. Perfovisual: A transcrição artística em língua de sinais. 2019.

Dissertação (Mestrado em Estudos da Tradução) – Programa de Pós-Graduação em


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ROSA, F.; KARNOPP, L. Patinho Surdo. Canoas: ULBRA, 2005.

SOUZA, M. D. Artistas surdos: um resgate de sua identidade e cultura através da arte. In:
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http://www.youblisher.com/p/219074-surdos-100- piadas-capitulo-10/. Acesso em: 27
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