Você está na página 1de 40

TARSILA DO AMARAL

WAL TÉRCIO CALDAS


FLÁVIO DE CARVALHO
TERESA D' AMICO
OSWALDO GbELDI
ALBERTO DA VEIGA GUIGNARD
WESLEY DU KE LEE
MARIA MARTINS
, . ISMAEL NERY
JOSÉ ANTONIO DA SILVA
TUNGA

~ .
FUNDAÇÃO
t----_______ BIENAL DE SÃO PAULO
---~--~~-----I
F981i

Fundação Bienal de São Paulo


Imaginários singulares. - São Paulo A Funda-
ção, 1987.
136p: 131 il. (71b.p.+60colorl.

Catálogo da exposição realizada dentro da 19. a


Bienal Internacional de São Paulo, de 02 de outubro a
13 de dezembro de 1987, reunindo 11 artistas cujas
obras remetem à idéia de imaginário,

1. Arte e imaginário 2. Arte fantástica 3. Surrealis-


mo no Brasil 4. 19. a Bienal Internacional de São Paulo
I. Título.

CDD: 759.981
CDU: 7036.7(81 l
, :

19.0 BIENAL DE SÃO PAULO


DE 02 DE OUTUBRO A 13 DE DEZEMBRO DE 1987
PAVILHÃO DA BIENAL - PARQUE IBIRAPUERA - SÃO PAULO, BRASIL


FUNDAÇÃO BIENAL DE SÃO PAULO
PATRocíNIO OFICIAL
Governo Federal
Presidente da República José Sarney

Ministério da Cultura
CelsÓ' Furtado, Ministro

Fundação Nacional de Arte - Funarte


Ewaldo Correia Lima, Presidente

Ministério das Relações Exteriores


Roberto de Abreu Sodré, Ministro

Governo do Estado de São Paulo


Governador Orestes Quércia

Secretaria de Estado da Cultura


Elizabete Mendes de Oliveira, Secretária

Prefeitura do Município de São Paulo


Prefeito Jânio Quadros

Secretaria Municipal de Cultura


Renato Ferrari, Secretário
PATROCíNIO ESPECIAL

fi BANCO DO BRASIL S. A.
19.a BIENAL INTERNACIONAL
DE SÃO PAULO

Diretoria Executiva
Jorge Wilheim, Presidente
Eduardo de Moraes Dantas, 1. o Vice-Presidente
Mendel Aronis, 2. o Vice-Presidente
Áureo Bonilha
Thomaz Jorge Farkas
Carlos Eduardo Moreira Ferreira
Henrique de Macedo Netto
Fernando Roberto Moreira Salles

Secretário Geral Executivo


Luiz Norberto C. Loureiro

Comissão de Arte e Cultura


Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses, Presidente
Ana Maria de Moraes Beluzzo, Secretária
Luiz Paulo Baravelli
Maurício Nogueira Lima
Cláudia Matarazzo
Glauco Pinto de Moraes
Maria Alice Milliet de Oliveira
Aldir Mendes de Souza
Sheila Leirner, Curador Geral da 19. a BISP

Curadores da Exposição Imaginários Singulares


Sônia Salzstein-Goldberg
Ivo Mesquita
COLECIONADORES

Acervo Arístico-Cultural dos Palácios do Governo


do Estado de São Paulo
Afonso Brandão Hennel
Afonso Henrique Costa
Aldo Franco
Ana Maria Martins Jones
Antonio Fernando de Franceschi
Artur Octavio de Camargo Pacheco
Augusto Lívio Malzoni
Benjamin Steiner
Cândido Guinle de Paula Machado
Carlos Martins Ceglia
Ministro Carlos Moreira Garcia
Chaim José Hamer-
Edo Rocha
Eduardo dos Santos
Família Fourpome
Fanny Feffer
Felipe Crescenti
Gabinete de Arte Raquel Arnaud
Geraldo Longo
Gilberto Chateaubriand Bandeira de Mello
G raziela Lafer
Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de
São Paulo
Isaac K rasilchik
Jean Boghici
João Estefan
João Marino
José Duarte de Aguiar
José Pedro de Oliveira Costa
Júlio Bogoricin
Kátia Mindlin Leite Barbosa
Laertes Moura Ferrão
Lourdes Cedran
Lúcia Crissiúma
Luisa Strina
Lydia Chamis
Maria Victoria Bocayuva Cunha
Mário Masetti
Max Perlihgero
Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando
Álvares Penteado
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de
São Paulo
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Nora Martins Lobo
Patricia Mendes Caldeira
Paulo Bittencourt
Paulo Klabin
Ricardo Takeshi Akagawa
Simão Mendel Guss
Torquato Saboia Pessoa
Tunga
Waltércio Caldas
Wesley Duke Lee
Yutaka Sanematsu
SUMÁRIO

Apresentaçãoo ..................................... . 11
Sheila Leirner, Curador Geral

A Dificuldade de Ser Fantástico 13


Paulo Venancio Filho

Imaginários Singulares. 15
Sônia Salzstein-Goldberg'
Ivo Mesquita

Artistas Participantes . ................... . 23

Catálogo . ........................... . 90

Bibliografia . ........................ . 130

Planta . ............ , .................................. . 131


APRESENTAÇÃO

S heila Leirner

Na 19. a Bienal Internacional de São Paulo, a identidade". Isso quer dizer que o grande mérito da
exposição "Imaginários Singulares" representa um exposição é, antes de tudo, colocar o dedo sobre a
dos pólos que englobam todo o processo da arte no questão da individualidade e abrir ângulos
século XX, onde reside a sua grande carga de utopia. "fantásticos" de visão sobre ela.
No contexto da Bienal, essa mostra simboliza o Naturalmente, há um ponto de partida
caminho da arte diretamente orientada para o Homem fenomenológico dentro do vácuo pretendido. Esse
e a Vida, a vertente da revolução em contraposição à ponto é a captação da presença energética da obra,
arte em função do próprio destino, das próprias por meio da qual se revelam as diferenças, as
questões, da própria evolução - e que também está tensões, as interioridades, enfim. Esse início, parece-
representada ali p~la exposição "EmBusca da me, está intimamente condizente com a arte que se
Essência - Elementos de Redução na Arte quer enfocar, ela mesma arredia à explicitação
Brasileira" . histórica, factual, analógica, mimética. Uma arte que
Constituída com agudeza e inteligência por Sônia é, se quisermos, também pura e irredutível energia. E
Salzstein e Ivo Mesquita, "Imaginários Singulares" que se contrapõe, da mesma maneira como na
certamente não é uma exposição convencional. Bem mostra "Em Busca da Essência", à parte significativa
ao contrário, é uma mostra que subverte as imagens dos trabalhos expostos no corpo da 19. a Bienal
cristalizadas pelos credos artísticos coletivos. Aqueles Internacional de São Paulo.
credos que elegem nomes, tendências e determinam A "Imaginários Singulares" representa, de certa
até mesmo modos de olhar. "Imaginários Singulares" forma, o contraponto utópico para as simulações
é, com efeito, conforme a proposta dos curadores, estilísticas que permeiam o processo da pós-
mais um "campo interrogante" do que uma exposição modernidade, e que se revelam muitas vezes como
assertiva. Por trás de uma possível retórica, há a novos maneirismos. A exposição nos dá, além de
verdadeira intenção de detectar inteligências artísticas tudo, a dimensão do eterno embate entre a "Utopia"
autônomas, "à deriva", como forma de chegar à do fantástico singular tr.anscendente versus a
qualidade "fantástica" de seus imaginários. "Realidade" do desaparecimento da singularidade na
Não se trata, portanto, de demonstrar as arte contemporânea. O que não raro acontece por
condições de uma suposta "estranheza" ou trás da encenação, da farsa e do pastiche.
"surrealidade" por meio da arte. Ou, se preferirem, de Sem moralismos maniqueístas, no entanto,
chegar à arte por meio dessas condições, como, aliás, devemos admitir que as duas vertentes têm a sua
se costuma fazer. Trata-se, isto sim, de uma razão de ser na pós-modernidade, a qual não
participação solidária às singularidades da obra, ou sabemos ainda se representa a morte da arte, a sua
seja, usar o "grau máximo de sensibilidade" para decadênci.a, ou se a sua "tragédia" representa a
estar absolutamente dentro dela. 'Iibertação das amarras estéticas, dos dogmas e - de
Tal postura pressupõe um vácuo que repele as maneira nietzschiana - renasce por meio de novas
idéias "exteriores e imparciais". Dentro desse vácuo, utopias, de um novo humanismo, para constituir
todos os grandes imaginários são singulares. Toda "uma força primitiva e eterna, que chama à vida o
grande arte não se oferece apenas como um mundo inteiro da aparência".l
imaginário histórico com imbricações sociais, ou
como uma "visualidade em superfície, presa fácil para 1. NIETZSCHE, Friedrich. A Origem da Tragédia, Guimarães
ser enfeixada num estilo e daí reduzida a uma Editores, 1985, Lisboa.

11
o Sono, c . 1928
Óleo sobre tela, 60,5 x 72,7cm
Col . Giovanna Bonino

12
A DIFICULDADE DE SER
FANTÁSTICO

Paulo Venancio Filho

Somos fantásticos. "Filhos do sol", como disse inconscientes. O subconsciente é uma das instâncias
Oswald de Andrade. Existe algo mais fantástico que o psíquicas da vigília; o sonho é produto do
sol? Não se pode olhar para o sol. Do outro lado inconsciente. Tarsila é uma artista da vigília.
existem as sombras. É preciso olhar para as sombras. Voltemos às suas próprias palavras: são "estórias
Tarsila tinha diante de seus olhos o sol e a contadas pelas pretas velhas da fazenda". Novamente
incongruente desordem da natureza tropical, tão não é o contado direto, sem mediação, com o mito,
diferente da plácida e tranqüila natureza européia e nem o que Munch chamou de "clamor vindo da
também tão distante da genuína vertiginosa paisagem natureza", o momento revelador e apavorador. São
norte-americana da planície e do canyon. Pollock: é estórias contadas pela preta velha, esse elo
preciso pensá-lo como um canyon. O canyon é a intermediário, deformador, transmissor e amortecedor
natureza absolutamente despida de seu elemento do mito; são camadas e camadas que se sedimentam,
amaciante, afetivo: a vegetação. O canyon não .se acomodam através desse elemento mediador oral.'
envolve, repele . Aqui, ao contrário, a natureza é, em Resumindo: o Abaporu pode assustar a criança; não
sua maior parte, por demais envolvente, afetiva, assusta o homem.
sedutora. Faz dormir, não faz sonhar. Um dos Diante de Tarsila o homem não treme, nem se
quadros de Tarsila se chama O Sono, não o sonho. assusta, antes, com esforço, se reconhece. Diante de
Não poderia ser o sonho; o sonho não produz seres Goeldi o homem treme, não se reconhece. Esse é o
como o Abaporu. O sonho é instável, imprevisível. verdadeiro fantástico, não o da luz, o das sombras.
Tarsila disse: "Eu gosto de coisas estáveis". Palavras Goeldi é o pesadelo tornado dia, a lüz das sombras, o
notáveis. Revelam uma extrema sabedoria: na terra da mundo transformado no contrário do mundo, a
desordem, ordem; no país da desorganização, atemporalidade' inconsciente, o suor quente de
organização. Onde há excesso, Tarsila reduz. O Rousseau tornado gelo. São milhares de desenhos e
admirável esforço de sua fase construtiva é todo gravuras sem nome e sem data, A primeira coisa que
nessa direção. Um elemento carregado de afeto, Oswald fez ao. ver o Abaporu foi correr ao dicionário e
como a palmeira, se torna instrumento de procurar um nome. Estancou a presença potencial do
verticalização, de simplificação, de retificação do fantástico na sua origem: nomeou. Goeldi não nomeia
olho. Mesmo na fase antropofágica, encontramos nada, repete os versos de Jorge de Lima: "Parai tudo
idêntico processo: deformação calculada, limites que me impede de dormir / esses guindastes dentro
claros e distintos, uso construtivo da cor. Não foi da noite.! esse vento violento, / o último pensamento
uma inovadora, foi uma administradora do pictórico. desses suicidas./ Parai tudo que me impede dormir,/
Apesar de tudo, ficou assim: um pé na roça, outro pé esses fantasmas interiores que me abrem as
no mundo. A pergunta que permanece, permanecerá pálpebras, / esse bate-bate de meu coração, / esse
sempre, é: o que seria de Tarsila se tivesse ficado em ressoar de coisas desertas e mudas./ p'arai tudo que
Paris? me impede de voltar ao sono iluminado/ que Deus
É que Tarsila não experimentava o choque, me deu/ antes de me criar".
digamos, originário, com a natureza ou com o mito. Goeldi coloca nas ruas "esses fantasmas
Em Rousseau, que nunca esteve no México, interiores", povoa as "coisas desertas", faz falar as
experimentamos esse choque. Rousseau é a "coisas mudas". Daí, talvez, a nossa recusa em olhar
construção delirante em que sentimos o suor da Goeldi, aquele que elevou à mais alta potência
selva, é o fantástico incongruente, inusitado, estética a nossa mais íntima e cotidiana miséria.
revelado. Tal experiência não se percebe em Tarsila. O verdadeiro fantástico que surge, na
Não possuía a disponibilidade imagética de Rousseau, modernidade, como produto da angústia, do tédio, da
estava presa a si mesma, a suas imagens afetivas, a indiferença, que tem origem em terras frias,
seus limites estruturais. Escutemos suas palavras a ordenadas. protestantes. é libertação da Ordem. Aqui,
propósito do Abaporu: "Só então compreendi que eu não há ordem. Por isso, o nosso real fantástico é
mesma havia realizado imagens subconscientes, singular: é a Vontade da Ordem.
sugeridas por estórias contadas pelas pretas velhas da Rio de Janeiro, agosto, 1987.
fazenda à criançada na hora de dormir, repetidas
dezenas de vezes e misturadas às lembranças
1. Essas palavras de Tarsila só podem ser entendidas em
inapagadas de servidores de cor, divulgando seus
profundidade através de Casa Grande & Senzala. livro que lia pela
medos, lendas e superstições". São as palavras de primeira vez, na minha mais completa ignorância, aos 33 anos de
Tarsila: "imagens subconscientes", não idade. na semana, no dia mesmo, em que seu autor morria.

13
IMAGINÁRIOS SINGULARES

Sônia Salzstein-Goldberg
Ivo Mesquita

Achamos que só seria lícito começar a ·pensar o ligadas às tradições culturais brasileiras (como por
fantástico na arte brasileira se ele, de fato, tiver exemplo as imagens da literatura de cordel); todos os
contribuído para o surgimento de alguma forma rituais religiosos, estilizados ou não, ligados à tradição
original e inteligente de produzir arte brasileira. afro-brasileira, mitos e lendas imbricados nessa
Devemos reconhecer que essa contribuição não é tradição.
visível facilmente: ela se dá em desvios, Não nos interessava movimentar-nos num campo
obliquamente, dispositivos raros e irregulares étnico ou antropológico, ou em suas derivações mais
obcecados na tentativa de afirmar algum pensamento ou menos estilizadas. Não desejamos aqui entrar no
inusitado e esquisitqmente produtivo. Mas se dá. mérito dessas abordagens. Entretanto, pensamos de
Não foi tarefa fácil: empenhávamo-nos, o tempo imediato que esse quadro de fatos culturais não
todo, em não aportar ao fantástico através da arte, poderia ser definido como fantástico, já que, inseridos
mas, ao contrário, à arte através do fantástico. Isso numa tradição, esses fatos organizam-se segundo
por uma razão muito simples: não queríamos perder certas regras, constituem uma ordem de fenômenos
de vista um olho sensível aos confrontos internos que socialmente reconhecida. 1
essa arte se colocava a si mesma, no esforço para se (2) Quisemos, além disso, evitar uma idéia
constituir como uma visualidade moderna e institucional de fantástico, um "fantástico de
contemporânea. parti-pris"/· que se chocaria frontalmente com nossas
Para isso, foi preciso estabelecer certas regras de o
duas premissas básicas: uma, a de resgatar sentido
atuação metodológica, sob pena de vermo-nos "desviante" do conceito, apreendendo-o no frágil
seduzidos a erigir um espetáculo historiográfico momento de uma ruptura; outra, a de pensá-lo, ao
eficaz, mas tendo cegado, de saída, aquele olho mesmo tempo, como dispositivo capaz de invenção
sensível que queríamos preservar. no conjunto das démarches que erigem uma arte
No início, nosso único princípio seguro de ação foi moderna e contemporânea brasileira.
o de evitar todas as certezas, enquadramentos Em linhas gerais, há quatro posturas
institucionalizantes e legitimadores do conceito. Não interpretativas voftadas à investigação do fantástico
importa se bons ou maus, corretos ou não: só na arte brasileira, que nos pareceram extremamente
queríamos tentar resgatar o poder de fogo do vulneráveis à intromissão deste conceito do fantástico
conceito, assegurar-lhe a potência da ambigüidade. É institucionalizado:
claro que depois disso nos terá restado um estreito (2a) postura interpretativa delimitando. uma
limite de manobra. Mas precisávamos correr os riscos. produção inspirada na tradição popular, a partir da
Dessa forma: referência da gravura de cordel. Aqui a idéia do
(1) Excluímos, a princípio, toda e qualquer fantástico está, em maior ou menor intensidade,
especulação sobre a presença do fantástico nas firmada num mito do popular como exaltação do
manifestações - consideradas ou não "artísticas" místico/mágico, mito que coloca a única prerrogativa

15
do discurso popular no místico e no. mágico. Surge todas as produções de alguma forma ligadas a essa
aqui, latente, a idéia de resgate do popular como crença denunciam seu próprio anacronismo, ao
conforto para superar a nostalgia de uma natureza converterem, ao final das contas, em estilo, os
primeira, imersa no esquecimento do saber e da dispositivos formais mais originais e transgressivos do
razão. A representação da natureza como pura (o surrealismo. Não é casual que grande parte dessa
popular) e a civilização (o saber) como impura. Do produção tenha se dedicado às representações de
ponto de vista do imaginário, essa produção opera evocação onírica, principalmente a partir da vertente
geralmente através de alegorias (do Bem e do Mal, da daliniana. Esse era o flanco mais vulnerável do
Justiça, da Redenção) e de signos reconhecidos da surrealismo frente ao risco de uma diluição pela via do
tradição popular. Do ponto de vista formal, sua estilo ou do gosto, que seria ainda acelerada na
referência primeira é possivelmente a imagem de medida em que a idéia revolucionária do automatismo
cordel ou, em suma, certas componentes técnicas do acha-se aí convertida num recurso infinita e
discurso popular: o poder de síntese e clareza e a monotonamente reprodutível. Além disso, há, em
capacidade pedagógica voltada à dedução de um geral, nessas produções, um mito latente da cisão do
sentido moral para a imagem. mundo em real e imaginário, onde o sujeito só se
(2b) postura interpretativa delimitando uma exerce como liberdade no último, por um dispositivo
produção constituída a partir da representação do de evasão sonhadora. Trata-se de uma compreensão
resgate da nacionalidade oprimida ou eclipsada. A anedótica e mecânica do inconsciente psicanalítico,
vontade declarada dessa produção é a de revelar a nada próxima daquela que lhe fixou o surrealismo
instância social dilacerada: opera, então, sempre pela mais revolucionário, onde ele trabalha como
metáfora, artifício de transportar um significado para mecanismo (real!) capaz de destilar certas desordens
outro, um "imaginário" atormentado para um (reais!) no cotidiano (real!). Tal como no caso
discurso inteligível ao nível do consciente, ao nível do anterior, também aqui se denuncia um sistema lógico
interlocutor que se quer sensibilizar. Esse e coerente de produzir o "mundo às avessas", cóm
procedimento eventualmente resulta numa figuração seus códigos e leis internas de funCionamento.
"fantástica". Não acreditamos, entretanto, que a Optamos, portanto, por trabalhar em limites pouco
representação do fantástico, utilizada aqui como estáveis do ponto de vista teórico, onde o único
recurso para transmitir, em código, um discurso princípio seguro que nos orientou foi o de não
primeiro (o do político, o da nacionalidade oprimida, e incorrer numa idéia institucional de fantástico, mas
que não é o imaginário, portanto), participe, buscandõ, ao mesmo tempo, sondar áreas
verdadeiramente, do terreno do fantástico. Há uma relativamente arredias ao esforço positivante da
certa mecânica em funcionamento, uma lei de apropriação teórica.
correspondências segundo a qual se torna possível o Certos da impossibilidade de levantar, nessa área,
deslocamento do discurso primeiro para o discurso uma linhagem coesa e articulada da produção artística
metafórico. Do ponto de vista formal, essa produção brasileira, supusemos que talvez essa impossibilidade
recorre a determinados símbolos de opressão, mesma nos designasse um modo específico de o
referidos mais ou menos explicitamente à instância fantástico - ou qualquer coisa de sua substância -
social. aparecer no contexto da arte brasileira.
(2c) postura interpretativa delimitando uma Esse fantástico que queríamos conceituar, ou essa
produção circunscrita à recuperação de um imaginário qualquer-coisa que ainda não sabíamos como definir,
historicamente reconhecido como fantástico. deveria ter ligação muito forte com os pressupostos
Produção que, em suma, está imersa numa idéia de do surrealismo, pois era ali que víamos ocorrer as
fantástico já submetida a um processo de transformações mais radicais que tornaram possível à
institucionalização histórica. Do ponto de vista do arte moderna recusar toda uma tradição secular para
imaginário, recorre a uma figuração referida às tentar reconhecer-se de novo a partir do ponto de
mitologias clássicas, a uma iconografia religiosa e vista de uma exterioridade absoluta: um olhar não
. mística medieval ou renascentista e também à contaminado pela cultura e que devia ser, para os
evocação tardia de imagens reconhecidas do surrealistas, o do inconsciente. Mas que para nós
repertório surrealista. Do ponto de vista formal, opera pode ser, simplesmente, o do imaginário, operando
geralmente com metamorfoses ou representações de num terreno indefinido entre as demandas do
caráter onírico, mais ou menos bem-sucedidas como inconsciente e o processo de positivação da obra,
figurações ilusionísticas do real. Habitualmente irrecusavelmente histórico, e sob esse ângulo, ao final
definidas como fantásticas pelo recurso infatigável a das contas, consciente.
um elenco de imagens do insólito, denunciam, Estabelecido esse ponto de referência, seria
entretanto, o regime de seu funcionamento: um certo duvidoso pretender construir uma visão histórica do
número de leis conferindo previsibilidade e coerência fantástico na arte brasileira. Pelo contrário, trata-se, a
a esse mundo presumidamente às avessas. partir daí, de se indagar se ele chegou de fato a
(2d) postura interpretativa delimitando uma constituir uma história, se articulou algum projeto
produção aferrada à crença na subsistência do duradouro que nos permita pensá-lo historicamente.
movimento surrealista internacional como êmulo de Pareceu-nos mais correto considerar a erupção de
uma postura surrealista universal e atemporal. Embora elementos fantásticos como um fato tangencial,
essa sobrevivência de uma "mentalidade surrealista" circunscrito, na arte brasileira. Ao contrário das
se justifique na recusa - teórica - em considerar o produções de extração construtiva - emergentes de
surreàlismo como estilo (só assim, a partir dessa um projeto de décadas - que encadeiam e
recusa, seria possível sua permanência histórica), engendram passos significativos para essa arte, as

16
produções de alguma forma ligadas à idéia de evidentemente trespassada de lances surrealistas,
fantástico surgem obliquamente, pequenos e "fantásticos" .
silenciosos enclaves, que, embora nem sempre O segmento antropofágico da obra de Tarsila
apresentando o interesse imediato de uma posição confere, pela primeira vez, uma qualidade moderna à
inovadora, comprometida num programa de idéia de fantástico na arte brasileira. Invertendo o
transformação, trazem a qualidade de sua estranheza, campo do olho culto europeu, que de certa forma
de sua inteligência peculiar, retraída em seus próprios pressupunha a anterioridade do ponto de vista da
limites. cultura sobre a natureza, onde a instância do
É evidente que a delimitação desses enclaves fantástico era, por excelência, a da Natureza vista
isolados não pretende qualificá-los como exemplares como o Outro insondável e irredutível às categorias da
do surrealismo na arte brasileira, mesmo porque em razão, a pintura antropofágica conquista para o Outro
vários deles a presença de certas conquistas o poder de falar de si mesmo, em primeira pessoa. A
possibilitadas por esse movimento surgem como que idéia da antropofagia nas telas de Tarsila resgata ao
a sua revelia. E sobretudo, como já foi dito, não Outro a prerrogativa do sujeito. Se o fantástico é
pretendemos endossar a idéia da subsistência de uma também o topos do inconsciente e se, fadados à
revolução surrealista de âmbito internacional e, a condição da Natureza, temos atuado como o
fortiori, traçar seus passos no Brasil. .. inconsciente da tradição culta, por que não
Embora reafirmando nossa cautela em não armar conquistarmos para nós mesmos a possibilidade
uma falsa paisagem histórica para produções tão surrealista da transgressão, expropriando com nossos
heterogêneas e tão diversamente tocadas pela olhos as imagens do mundo culto? E vasculhando
experiência do fantástico-surrealista, pensamos que assim nosso próprio inconsciente para nós mesmos?
seria importante chamar a atenção para os primeiros Entretanto, é preciso reconhecer - e talvez aí
momentos em que a questão foi explicitamente esteja a dificuldade em ser fantástico no Brasil, de
tratada pela arte brasileira, mesmo porque essa que fala Paulo Venancio Filho - que esse "desvio"
apenas aparente tentativa de historicização logo se do esforço construtivo em Sua pintura não existe,
desmente, no vácuo que deixa atrás de si, na curiosa seguramente, na mesma intensidade das rupturas
ausência de articulação histórica que registra em surrealistas. Há sempre uma afetividade "amorosa,
relação ao meio artístico lírica"3 e quase complacente na evocação dos
É evidente, diga-se de passagem, que não haveria devaneios infantis, pacificada ainda pela nostalgia da
como brotar aqui o elo arrebatador que conduzira o ambiência das fazendas e do interior brasileiro. E isso
surrealismo europeu à desmontagem febril de toda a remeterá sua figuração, inclusive a antropofágica,
tradição clássica, através do desbravamento de um irremediavelmente para um contexto familiar. Daí a
território novo para a arte, onde as conquistas idéia de a antropofagia não dever ser considerada
conceituais desencadeadas pela idéia de automatismo principalmente do ponto de vista do surrealismo, mas
associaram-se à urgência da revisão do estatuto da antes da possibilidade que encerra para a instauração
arte na esfera da produção do conhecimento. de uma consciência moderna na cultura brasileira, em
seu embate com as grandes matrizes culturais. Em
Mas, de qualquer forma, a pintura antropofágica
todo caso, interessou-nos em Tarsila esse momento
de Tarsila, os trabalhos de Ismael Nery, Flávio de
inadvertido em que o empreendimento modernizador
Carvalho e Maria Martins foram, não importando aqui
de sua pintura dá lugar a um imaginário, emergido
o grau de informação histórica que pudessem conter,
certamente das conquistas cubistas, mas enleado na
possibilitados, em maior ou menor grau, por essa
figuração "descompromissada" dos mitos da terra.
vertente da arte moderna escavada pelo surrealismo.
Do ponto de vista da idéia de fantástico tal como
Foi dito há pouco que essas produções a queremos conceituar, a qualidade maior da pintura
sintomaticamente não encadearam desdobramentos,
antropofágica de Tarsila é a de superar as abordagens
não foram consideradas capazes de lançar as bases
que a pretendem confinar à instância do mágico e do
de um projeto de mudança conceitual para a arte
maravilhoso, mitos da sublevação da natureza inculta
brasileira (abordaremos logo adiante o viés do
contra o mundo civilizado, sendo aquela capaz de
fantástico na idéia de antropofagia, cara à cultura
redimir-se apenas pelo elogio simplório do não-saber.
brasileira a partir de então), permanecendo
Ora, o saber da obra antropofágica de Tarsila é o
circunscritas a um momento na produção do artista
saber experimentar radicalmente esses mitos,
ou ao silêncio devido a uma obra peculiar e dobrada
devorando-os.
sobre si mesma.
Poder-se-ia argumentar que a suposição de uma
Aí está mais um motivo para convencer-nos a não tal inteligência crítica na obra do artista denunciaria
tentar nenhum inventário histórico, delimitando um lagos operando, o que aniquilaria, portanto, de
furiosamente qualquer "desvio" insólito nas imediato, a idéia de fantástico. Mas a partir do
produções artísticas. momento em que pensamos o fantástico como uma
Pretendemos, ao invés disso, demarcar apenas das vertentes produtivas da arte moderna e
posições que experimentaram a idéia do fantástico já contemporânea brasileira, e não como o triunfo dos
no âmbito da visual idade moderna ou contemporânea mitos da nacionalidade consumida atavicamente pelo
brasileira, medindo, assim, a qualidade de sua mundo dos ritos e das lendas primordiais, conferimos·
intervenção no meio de arte e na constituição da lhe um mínimo de vontade crítica. Ou seja, a ruptura
história desse meio. instalada com o desvio para o fantástico ocorre,
Temos, no entanto, presenças históricas. Dentre inicialmente, a partir da recusa de um estatuto
elas, a antropofagia das telas de Tarsila, idéia vigente, seja ele qual for, seja ela consciente ou não.

17
Além da antropofagia, e ainda dentre as presenças questão de sua própria pintura). Isso por um motivo
históricas, estabelecemos como mais um ponto de muito simples: essas obras pulsam inteiramente numa
referência na demarcação da idéia de fantástico parte "existência fantás,tica"; não poderiam existir de outra
dos trabalhos de Ismael Nery, onde o fervor religioso maneira. É verdade que selecionamos trabalhos
articula-se bizarra mente a uma forte carga erótica. específicos e bem localizados na obra de cada artista,
Esse extravasamento erótico está presente mas essa decisão se deu antes segundo um critério de
também - aliado a uma mitologia pessoal de caráter ·qualidade e agudeza na experiência disto que
profano e blasfemo - na obra de Flávio de Carvalho, queríamos conceituar do que por preferências
situada a meio caminho entre as distorções temáticas. Conhecíamos, evidentemente, outros
psicológicas de intensidade expressiva e as artistas que haviam registrado, com maior ou menor
condensações simbólicas que evocam certos intensidade, incursões pela área. Mas essa
procedimentos surrealistas. circunstância não nos seria suficiente: b.uscávamos a
S.obretudo é importante essa passa'gem por Flávio idéia do fantástico-surrealista como condição mesma
de Carvalho enquanto primeiro artista a ter da existência das obras.
manifestado interesse por trabalhos de doentes
Entretanto, o reconhecimento desses quatro
mentais, já em fins dos anos 20, tendo chegado
pontos de referência parece um fato já assimilado nas
inclusive a afirmar que se esforçava por desenhar
abordagens realizadas até aqui. Trata-se, afinal, de
como eles ... Significativamente, sua pintura constitui,
leituras já relativamente estabilizadas na história.
às vezes, uma estranha ordem de representação,
Gostaríamos de empreender a tentativa, a partir de
onde campos de cor empenham-se na desagregação
agora, de superar a compreensão deste fantástico'
da forma, insinuam a figura para logo adiante explodi-
manifesto numa visual idade específica, para tentar
la, fazendo-a esfacelar-se em arabescos absurdos e
pensá-lo como dispositivo capaz de produzir desvios,
justaposições de planos puramente arbitrárias.
estranhezas, súbitas e inesperadas, impondo um .
As expansões e contrações orgânicas da escultura regime novo e desconhecido ao que já existia, ao que
de Maria Martins - ela, de fato, a única a ter tido já estava lá. Pensá-lo, portanto, como procedimentO,
ligação com o movimento surrealista - apontam para como um modo determinado de o pensamento operar
outra área de interesse do fantástico. Importa, antes no interior dos trabalhos, não necessariamente
de tudo, reconhecer a obstinação dessa 9bra marcada emergindo para uma visual idade reconhecível como
pelo excesso, pela profusão incontrolável de uma fantástica.
figuração discursiva num contexto - o do Brasil dos
anos 50 ~ que se esforça por impor uma visualidade Autor de uma pintura que aponta como uma ilha
regida por princípios abstratos, racionais e nas démarches do movimento modernista brasileiro de
generalizantes, que devem dar conta da desordem após 30, Alberto da Veiga G uignard deixa
originária da realidade brasileira. transparecer, por detrás de uma "figuração
convencional", o veio secreto de uma Natureza
A obra de Maria faz o trabalho inverso: expressa
depur-ada ao grau máximo da subjetividade do artista.
ingenuamente essa desordem, em dois tipos de
O fantástico aqui não irrompe como excesso,
figuração. A primeira, apresentando-se como o
transbordamento, mas pelo artifício de uma filigrana
inconsciente mítico da própria alma brasileira, surgida
que discretamente reverte esta "figuração
do esforço tortuoso de materialização de uma
convencional" numa Natureza pouco material, pouco
natureza generosa e exuberante, mas ao mesmo
orgânica - transparência da subjetividade lírica do
tempo inculta e indomável. É significativo observar
artista. O rigoroso depu ramento formal que
aqui a série de obras que a artista dedicou à
acompanha essa "reversão", nos afasta, de imediato,
Amazônia. A segunda, irrompendo como o
da idéia de figuração convencional e da idéia do 'olho
desrepresamento do inconsciente psicológico,
tacanho e ingênuo, empenhado numa representação
entregue despudorada mente à transcrição quase
habilidosa do real. A espessura infinitesimal dessa
retórica de suas imagens. Em ambas, a crença de
pintura, ao contrário.do que faz pensar sua aparência
poder materializar imediatamente o inconsciente
anedótica, remete a um esforço de reposição da
transbordante, uma Natureza primordial que vai se
inocência do olhar, um olhar culto, sem dúvida.
instalar como viscosidade insondável num mundo
ordenado e controlado. Por essa falta de Num ponto simetricamente oposto ao olhar em
comedimento, essa quase deselegância, Mário Guignard, está o olha'r naí'f em José Antonio da Silva,
Pedrosa apontou a ausência de monumentalidade em historicamente o mais belo e consumado conjunto de
sua escultura. Aspira a algo grande, majestoso, mas pinturas oe inocência feito no Bras'il. Antes de mais
se dilacera na impossibilidade da própria grandeza de nada, importa observar que o tomamos como
seu discurso. Por isso, vive nesse limiar, sempre a um condensação exemplar de todas as visual idades .
passo além ou aquém da escultura: vive nessa dúvida, "incultas", cujos procedimentos foram resgatados
desejando incessantemente ostentar uma potência para a arte a partir do desregramento surrealista.
que a ultrapassa até o infinito. . Visualidades que até então não cabiam no quadro da
Essas presenças designam quatro formas de Razão escavado pela tradição da arte ocidental.
inserção de um conceito de fantástico-surrealista na Interessa-nos aqui a estranheza dessa pintura que
história da arte brasileira. Cada uma das escolhas não pôde olhar para o terreno perspectivo da tradição
se baseou na procura de um estilo, nem na como se este fosse uma superfície absolutamente
delimitação de um período ou fase determinados da plana, sem espessura. Um olhar que se dá
produção dos artistas (exceto no caso especial de imediatamente como Natureza; que não se põe do
Tarsila, onde a idéia de antropofagia ultrapassava a outro lado.

18
A partir de uma posição singular na arte brasileira, mais recentes, de maneira que não seria justo fazer
Teresa D' Amico obstinou-se, "torturou-se", na busca convergi-Ias para o campo sobredeterminante de uma
de um não-saber: "De que tenho certeza é de que eu certa idéia de fa ntástico.
não procuro ser original. Apenas faço esse trabalho Esperamos, entretanto, que esse percurso
porque gosto. L .. ) Trabalho como a criança: porq·ue oscilante tenha tido suas vantagens. Uma: manter-se
acho bonito': 4 O esforço do trabalho do artista é o atento ao processo da arte moderna e contemporânea
do esquecimento: conquistar a ilha do estranhamento no trabalho interno de suas conquistas formais
onde se aporta a uma visual idade - espelho da (formais no sentido expresso por Octavio Paz: o de
Natureza primordial - ainda não corrompida pela que a forma é em última instância; o de que só a
vontade de saber. forma significa). Outra: procurar apreender o
Os trabalhos de Wesley Duke Lee surgiriam como fantástico nos limites estritos da produção artística
um ponto extremamente instável no conjunto das como via permanente para um Desconhecido, para a
tentativas fragmentárias e propositadamente abruptas transgressão de um aqui reconhecido, cúmplice e
de constituir um conceito de fantástico. Nessa legitimado. O que se constituiu num dos fluxos mais
situação, tornam-se bastante significativos, na medida produtivos da arte moderna e permanece sendo, em
em que tentam remover do tema o caráter outras condições, da arte contemporânea.
irrevogavelmente histórico impresso em cada um
daqueles trabalhos já enunciados, projetando-o para
uma visual idade contemporânea. A instabilidade desse Uma Grande Planície
ponto onde se coloca Wesley Duke Lee deve-se à
multiplicidade de gestos anárquicos e contraditórios Talvez a primeira coisa que pudéssemos dizer de
de que é capaz, irredutíveis a quaisquer desejos da Imaginários Singulares é que é algo assim como uma
Ordem, da apreensão construtiva dos significados e exposição sem exposição, um campo interrogante em
das totalidades. O Inconsciente aí é principalmente o que a p·rópria situação curatorial - o projeto que os
repositório da Memória, dispositivo secreto, máquina faz emergir - estaria em jogo, precisando ser
fantástica e inútil cujo regime de funcionamento atualizada, reconstituída, a todo momento em que os
cerra-se diante da vontade de saber para abrir-se olhasse. Porque não há, aqui, um pensamento que se
somente à Revelação. explicite e se desenvolva antes, previamente à mostra;
Instalada, com as obras de Wesley Duke Lee, essa ao contrário, esse só pode se dar simultaneamente a
zona de turbulência na proposição de um espaço que ela, pontualmente em cada instante em que é
abriria para a questão contemporânea, já não se percorrida.
tratará mais, a partir daqui, de fazer emergir, de dar a Com os trabalhos dos onze artistas escolhidos,
ver os imaginários. Como já dissemos, seria preciso portanto, não quisemos ilustrar uma idéia, confirmar
verificar agora a pertinência desse campo para a uma hipótese. O que fizemos foi deixar esses
produção contemporânea. Nessa, que o obriga a um trabalhos, por assim dizer, à deriva, inteiramente sob
confronto radical, ele se verá exposto em seus o domínio e o risco de suas prerrogativas;
elementos constituintes, fragmentário, convergência responsáveis - eles, e não qualquer idéia que
de vetores contraditórios. pudesse pairar sobre eles, imparcial e exterior - pelas
Os trabalhos de Waltércio Caldas e de Tunga zonas de tensão que instauram.
situam-se nessa indeterminação, que é condição da É inegável, entretanto, a existência de um sujeito
situação contemporânea: escapam a qualquer esforço que, a partir de uma posição especial, pode explicitar
de reconhecimento, não se deixam identificar numa a situação-exposição, o porquê da convergência, num
linhagem, recusam, enfim, ser captados para um mesmo espaço, desses artistas marcados pela
conjunto que se constitui como fantástico (ainda que diferença. Mas, como numa pintura cubista, seu olhar
seja esse fantástico que a duras penas queremos é virtualmente equivalente para todos os pontos do
conceituar ... ). Mas talvez essa posição limiar seja o real, de forma que ele, solidário, participa de suas
único ponto possível para se trabalhar numa idéia singularidades, recusando o afastamento doutoral de
contemporânea de imaginário. uma localização perspectiva e também o conforto de
Não se trata mais, para esses artistas, de uma Gestalt delineada sobre limites apenas
manifestar ou afirmar um imaginário como instância vislumbrados e para sempre indecisos.
produtiva, mas de trabalhar a partir de seus elementos O que se apresentou então ao sujeito foi, a
fundantes, de garantir o fluxo disto, inominável, que princípio, a possibilidade de percorrer, num grau
o torna possível: um pensamento. máximo de sensibilidade, as irregularidades do
Projeto deliberadamente assumido como terreno, sem se desviar de fissuras ou reentrâncias
inadequado para se formular historicamente, não se não exploradas, propondo, talvez, o desenho de uma
colocou de antemão qualquer hipótese que surgiria, outra topografia.
ao final, triunfalmente provada. Tentando manter-se O que pudemos perceber nessa topografia "em
fiel às imagens do fantástico vislumbradas em "ilhas" negativo" é que a história da arte brasileira - as
de produção artística - enclaves impossíveis de representações que se constroem dela - fazem-na
serem vistos como os elos da corrente histórica que derivar, grosso modo, de duas referências de base: de
daria conta da emergência de fantástico no Brasil -, um lado, a vertente construtiva saída de Tarsila,
pode-se dizer que não se concluirá, mas apenas se marcada pelo esforço de uma pedagogia do social,
interromperá por aqui. uma vontade de ordem capaz de resgatar, para o
Não quisemos erigir um falso passado e nem espaço da modernidade industrial, a explosão criativa,
imprimir uma conceituação histórica em produções mas inculta, da terra; e, de outro, a vertente

19
expressionista saída de Anita e Segall, pensada José Antonio da Silva: síntese de todas as
também como uma forma de participação social, mas experiências que chamamos de exterioridade e que
pelo pólo oposto: não como sua configuração aportam para a arte moderna uma nova visualidade, o
ordenadora, mas sob a metáfora de um sujeito "olhar inocente", uma natureza em estado bruto, à
inelutavelmente arrebatado da instância coletiva, qual terá sido possível manifestar-se, límpida e
justamente por sua consciência exacerbada do social. verdadeira, sem a mediação maculadora da cultura;
Segundo esse raciocínio, teríamos uma ao invés do longo percurso que a arte precisou
continuidade sem fraturas no desenvolvimento de um empreender para conhecer a materialidade da pintura,
imaginário social da arte brasileira. E a história dessa essas experiências pareceriam possibilitar, ao
arte coincidiria então com a história daquele contrário, a materialidade absoluta do olhar ...
imaginário. Uma grande planície.
Oswaldo Goeldi: não certamente o expressionista,
Mas, no percurso dessa tradição, interrogávamo-
do dilaceramento amargo e impotente ante a realidade
nos, então, se não existiria um outro imaginário, uma
social, mas aquele que mergulha, radicalmente, na
floração estranha e rebelde, empenhada unicamente
noite paralisada e sem tempo das imagens do
na inteligência de suas especificidades, em
inconsciente.
disponibilidade para cruzar o social sem prescindir de
seu regime próprio de funcionamento, sem desejar se Alberto da Veiga Guignard: uma inocência
espelhar nele, resistindo, afinal, à obrigatoriedade da conquistada à pintura; pintura seduzida pela
correspondência a todo custo. materialidade do mundo e, no entanto, na
Em caso afirmativo, apontaríamos para uma outra impossibilidade de tê-lo, resultando na consciência
história da arte brasileira, ou ao menos abriríamos a extremada de si própria - reduzindo-se a quase
possibilidade de uma redistribuição de forças, com a nada, pura transparência.
inserção de novas balizas.
Weslev Ouke Lee: a distância escavada em relação
Teríamos aí um ponto de vista privilegiado, cujo
a um saber instituído, como parti pris para a
alcance se entranharia por todos espaços, de maneira
emergência do conhecimento verdadeiro, que só se
a rebatê-los para a superfície, fazendo participar do dará numa situação de gratuidade e descompromisso
embate histórico o que vinha sendo considerado até
absolutos; a recusa desse saber que, onipotente, se
agora como momentos intersticiais na arte brasileira. concede o privilégio de uma exterioridade capaz de
Tarsila antropofágica, Ismael Nery, Flávio de conferir sentido a tudo; em lugar disso, a circulação
Carvalho, Maria Martins, Teresa O'Amico, José livre e anárquica das demandas do inconsciente.
Antonio da Silva, Alberto da Veiga Guignard, Uma das condições do projeto era a de que
Oswaldo Goeldi, Wesley Ouke Lee, Waltércio Caldas propiciasse uma atualização do conceito que o institui
e Tunga: reunir as obras desses artistas é então a cada vez que a exposição fosse percorrida, evitando
conferir materialidade ao que sempre terá sido visto todo tipo de legitimação histórica, e que, além disso,
como uma espécie de vácuo; todas elas engendrando pudesse criar um solo contemporâneo para sua
imaginários desgarrados da explicitação social, ou, ao compreensão. E a pertinência do projeto estaria em
menos, arredios a ela. fazer esse conceito de imaginário singular passar pelo
Tarsila do Amaral antropofágica: uma figuração de xeque-mate da situação contemporânea.
esforço construtivo que se confessa, finalmente, Os trabalhos de Waltércio Caldas e de Tunga
como pura subjetividade, ainda que por um momento apontam para essa possibilidade, na medida em que o
fugaz e limite em sua obra; todos os mitos dos pressuposto de sua existência é a própria
trópicos, enquanto Natureza pródiga e primordial, problematização dessa situação contemporânea. Ao
elaborados pela tradição européia, são devolvidos ao invés de dizermos que essas produções estão
olhar culto nessa pintura; só que agora, abrangidas por Imaginários Singulares, melhor seria
calculadamente, ela os terá devorado, de forma a dizer que elas estão lá para transgredir
poder se situar já como sujeito de seu próprio incessantemente seus limites. O que delas nos
universo simbólico. interessou foi essa inteligência contemporânea
Ismael Nerv: a modernidade esquisita mente irredutível à explicação (explicitação) histórica. Se
conquistada antes pelo tema - o inconsciente estão, de alguma forma, referidas ao conceito da
repartido entre Deus e o corpo - do que pela exposição, é porque, numa existência quase imaterial,
inteligibilidade de um espaço pictórico, de fato, constituem o ponto dé convergência de uma
moderno. inteligência (des)construtiva (pois é essa a condição
Flávio de Carvalho: a transitividade alternada e para se colocarem, substantivamente, como atos de
ininterrupta entre sujeito e obra, em que o sujeito se decisão, e não como meras emanações do
coisifica, num alheamento de si mesmo, e o inconsciente) e das ambigüidades e indeterminações
inanimado se insufla de vida. próprias da produção artística (pois é o movimento
pendular que, paradoxalmente, confere identidade à
Maria Martins: a obstinação de uma obra que se arte e a diferença da ciência). É nesse ponto de
recusa à assepsia e ao bom-tom que o afã de energia que se engendram seus imaginários
modernidade lhe impunha, no Brasil dos anos 50. singulares.
Teresa O 'A mico: o esforço atormentado da O que tornou possível unir esses imaginários, a
conquista da inocência, para o que precisará, a todo princípio marcados por uma idéia de estranheza
custo e a cada momento, tentar esquecer a (enquanto qualidade do que é exterior, de fora; do
experiência - vista como dolorosa - do ato de que não pertence à família) foi uma só questão: cada
saber. um deles instala uma diferença, singular, irredutível.

20
Matrizes de um pensamento redobrado sobre si
próprio e, no entanto, operantes. Implacavelmente
avessos a qualquer tentativa de apropriação, não se
mimetizando com o meio, não se mimetizando com
os trabalhos que estão a seu redor. Nesse esforço de
afirmarem uma presença num espaço que tenderia a
anulá-Ia, nesse estreito limiar em que devem brigar
por sua materialidade - não qualquer uma, mas
aquela que resulta de seu próprio regime de
funcionamento - apresentam-se, paradoxalmente,
quase que imateriais. Porque não se oferecem como
uma visualidade em superfície, presas fáceis para
serem enfeixadas num estilo e daí reduzidas a uma
identidade. Mas pulsam, agora o podemos mencionar,
fantasticamente, numa enervação interna.
É evidente que a exposição não pretendeu
demarcar o estranho. O objetivo foi justamente o
inverso: desmarcá-lo, para investi-lo imediatamente no
real. A situação-exposição movimenta-se, então, em
dois níveis: fazendo esses imaginários singulares
interferirem no tecido institucional da história da arte
e explicitando-os como instância atuante no regime
de produção da própria arte.

Notas

1. Para uma compreensão mais detalhada da recusa dessas


abordagens, consulte-se a obra de Roger Caillois: "J'ecartai
encore I'étrangeté qui dérive des moeurs en usage et des
croyances reçues sous quelque latitude lointaine ou proche,
à quelque époque révolue ou présente. EÍl effet, ces
illustrations, replacées dans leur contexte, font partie du lot
des images generàlement acceptées: elles n'y apparaissant
nullement fantastiques. Cette séverité, qu'on estimerait
presque prise de vertige, s'explique par le fait que, pour moi,
fantastique signifie d'abord inquiétude et rupture. I .. ) A
vraie dire, pour le fab!es des mythologies et pour les
mystéres des religions, je ne les crois certes pas en eux-
mêmes sources suffisantes de I'intrusion fantastique et ceci
précisément parce que le merveilleux y est installé de droit
divin et que tout y est par principe prodige ou miracle"
ICAILLOIS, Roger. Au Coeur du Fantastique. Paris,
Gallimard, 1965, p. 9.)
2. "I .. ) c'ést à dire Ij'ecartai), les oeuvres d'art créés expressement
pour surprendre, pour derouter le spectateur par I'invention
d'un univers imaginaire, féerique ou rien ne se présente ni ne
se passe com me dans le monde réel." IOp. cito p. 8.)
3. AMARAL, Aracy. Tarsi/a: Sua Obra e Seu Tempo, São Paulo,
Tenenge Patroc., 1986
4. ANDRADE FILHO, Oswald. "A Solução para o Pintor é
Aproximar-se do Povo", in Retrospectiva Teresa O'Amico,
Paço das Artes, São Paulo, 1972 lapresentação de Clóvis
Graciano, Oswald de Andrade Filho et a/ii).

21
ARTISTAS PARTICIPANTES

Tarsila do Amaral
Waltércio Caldas
Flávio de Carvalho
Teresa O' Amico
. Oswaldo Goeldi
Alberto da Veiga Guignard
Wesley Duke Lee
Maria Martins
Ismael Nery
José Antonio da Silva
Tunga
23
WESLEY DUKE LEE
(São Paulo, SP, 1931)

Freqüentou as aulas de desenho do Museu de Arte de


São Paulo em 1950. Cursou artes gráficas na Parsons
School of Design de Nova York de 1952 a 1955, recebendo
o "Bruce Rogers Award" pela gráfica do livro Sopros
d'Alma, publicado no American Institute of Graphic Arts
'Wqrkshop (1955), No Brasil, trabalhou em publicidade e,
em 1957, cómeçou a pintar no atelier de Karl Plattner, em
São Paulo. No ano seguinte, quando esteve na Europa,
estudou com o gravador Johnny Friedlander e na Académie
de la Grande Chaumiêre em Paris. Colaborou com Plattner
na execução dos murais da Air France em São Paulo (1958)
e da Salzburg Neufestspielhaus, na Austria (1959) .
.organizou o movimento do Realismo Mágico, com Pedro
Manoel Gismondi e outros, na Galeria Seta, em São Paulo
(1963), sendo autor do famoso happening noJoão
Sebastião Bar naquele mesmo ano. Ingressou no Groupe
Phases de Paris (1964), figurando em suas exposições.
Atuou como professor de desenho no período de 1964 a
1965. Criou a Rex Gallery & Sons,dando origem ao Grupo
REX, integrado também por Nelson Leirner, Geraldo de
Barros, Frederico Morais, Carlos Fajardo e José Resende,
numa reação aos sistemas de exposições e galerias
~ existentes (1966-67). Expõe desde 1961, tendo recebido o
primeiro prêmio na VIII Bienal de Tóquio, com trabalhos da
série A Zona (1965). Figura em importantes coleções, como
as do Museu de Arte de São Paulo, do Museu de Arte
Contemporânea da Universidade de São Paulo e do Museu
de Arte Moderna de São Paulo.

60
:' j.

./
"'. . r
\
,/

\.\
\
\
\

\.\

Çaríssimo W .
gl~o sobre t~!se~Tan, 1964
o . Lydia Ch amls
' . ,5 x 64 ' 5cm

61

r m'tt
,~4!
;/~l
Sav
, e d Ire
' que . ce de I'
. -
a
0c leo sobre te la 90 4 , "1 na9, 09,04,64
01. Luisa Stri~a ' x 24cm

62
o Macaco, s.d.
Acrílica, carvão, pastel, objetos, barbante e plástico sobre te la, 185 x 240cm
Col. Augusto Lívio Malzoni

63
o Trapézio ou uma Confissão, abril 1966
Ambiente suspenso: telas, placas de acrílico e ruído branco eletrônico, 9 m2
Col. do artista .

64
9. A Zona, 1965
Óleo, acrílica e papel sobre tela, 130 x 97 cm
Cal. Lydia Chamis

65
CATÁLOGO

90
LEE, WESLEY DUKE
1. Caríssimo Wesselmann, 1964 22. Da série Killing, 29.11.67
Oleo sobre tela, 91,5 x 64,5 cm Nanquim, crayon e frottagesobre papel, 72 x 99 cm
Col. Lydia Chamis, SP Col. Lydia Chamis, SP
2. Savedire que Ce de Lá .. . Não, 09.04.64 23. A Zona: Considerações (Retrato de Assis Chateaubriand),
Oleo sobre tela, 90,1 x 124 cm 1968
Col. Luisa Strina, S P Ambiente: pintura, peças móveis sobre roda e luz, 200 x
3. A Zona: Limpeza, 09.04.64 200 x 200 cm
Oleo sobre tela, 90 x 125 cm Col. Gilberto Chateaubriand Bandeira de Mello, RJ
Col. Luisa Strina, SP 24. O Trapézio ou uma Confissão, 1966
4. A Zona: Formas Pouco Elaboradas Significam Pouco Ambiente suspenso: tela, placas de acrílico e ruído branco
Recuo Histórico, s.d. eletrônico, 9 m 2
Acrílica sobre tela, 73,3 x 68,5 x 3,7 cm Col. do artista, SP
Col. Augusto Lívio Malzoni, SP
5. A Zona, 1965
Oleo e acrílica sobre tela, 130 x 97 cm
Col. Lydia Chamis, SP
6. A Zona, 1965
Oleo, acrílica, papel e grafite sobre tela, 130 x 97 cm
Col. Lydia Chamis, SP
7. A Zona, 1965
Oleo, acrílica, papel e grafite sobre tela, 130 x 97 cm
Col. Lydia Chamis, SP
8. A Zona, 1965
Oleo, acríHca e barbante sobre tela, 130 x 97 cm
Col. Lydia Chamis, SP
9. A Zona, 1965
Oleo, acrílica e papel sobre tela, 130 x 97 cm
Col. Lydia Chamis
10. Retrato de Lydia, 1970
Oleo sobre tela, montagem em acrílico e objeto com
partes móveis a pilha, 135 x 100 cm
Col. Lydia Chamis, SP
11. O Macaco, s.d.
Acrílica, carvão, pastel, objetos, barbante e plástico sobre
tela, 185 x 240 cm
Col. Augusto Lívio Malzoni, SP
12. Ode Erótica: Segunda ... , 14.02.61
Nanquim e guache sobre papel, 47 x 62 cm
Col. Lydia Chamis, SP
13. A Hilda Angélica, 22.05.62
Carvão, nanquim e aplicação de papel artesanal sobre
papel, 47,9 x 62 cm
Col. Luisa Strina, SP
14. Da série Ligas, 06.01.62
Nanquim e aquarela sobre papel, 45 x 60,8 cm
Col. Edo Rocha, SP
15. Da série Ligas, 11.06.62
Nanquim e aquarela sobre papel, 46 x 60 cm
Col. Edo Rocha, SP
16. Sem Título, 29.06.62
Carvão e crayon sobre papel, 66 x 80 cm
Col. Lydia Chamis, SP
17. A Zona (a Vida ... a Morte ... ), 21.03.65
Carvão, pastel, acrílica, crayon e frottage sobre papel, 57
x44cm
Col. Lydia Chamis, SP
18. A Zona (a Vida ... a Morte .. . ),21.03.65
Pastel, guache e frottage sobre papel, 57 x 44 cm
Col. Lydia Chamis, SP
19. Killing: a Zona C, 20.11.67
Desenho, frottagee guache sobre papel, 72 x 102 cm
Col. Augusto Lívio Malzoni, SP
20. A Erótica, 15.11.66
Carvão e pastel sobre papel, 32 x 44 cm
Col. Luisa Strina, SP
21. Preparation Drawing for a Drawing, 29.11.66
Desenho, guache, frottagee colagem sobre papel, 65 x 50
cm
Col. Luisa Strina, SP

110
A Zona (a Vida ... a Morte ... ), 21.03.65 Da série Ligas, 06.01.62
Carvão, pastel, acrílica, crayon e frottage sobre papel, 57 x Nanquim e aquarela sobre papel, 45 x 60,8 cm
44 cm Col. Edo R acha
Cal. Lydia Chamis

,
Preparation Orawing for a Orawing, 29.11.66 Da série Ligas, 11.06.62
Desenho, Aguache, frottage e colagem sobre papel, Nanquim e aquarela sobre papel, 46 x 60 cm
65 x 50 cm Cal. Edo Rocha
Cal. Luisa Strina

111
A Erótica, 15,11,66
Carvão e pastel sobre papel, 32 x 44 em
Co/. Luisa Strina

112
A Zona: Limpeza, 09.04.64
Óleo sobre tela, 90 x 125 em
Cal. Luisa Strina

Kil/ing: a Lona C, 20.11.67 Retrato de Lydia, 1970


Desenho, frottage e guache sobre papel, 72 x 102 em Óleo sobre tela, montagem em acrílico e objeto
Cal. Augusto Lívio Malzoni com partes móveis a pilha, 135 x 100 cm
Col. Lydia Chamls

113
PLANTA
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------,
I
I
I
I

-I----~~----~-.--~I~----~I------~I----~I~----~I~----~I~----I------~I~--~~I~--~~I~~~I i

~~:-;-.~#~;--.~_,~~~6~ .1
----
-p - --
• ------ -\

-----.=-'---1/
• • • :____:_.__

10 z-:-i--..".- i
I

• • • • • • • •
;..
.:I

I
I
11 II
I
11 I
I
I I I I
• I I I
• I I

____________________________________________________________________________________________________________________-.JI
I:I
I
I

01. Tarsila do Amaral

02. Ismael Nery

03. Flávio de Carvalho

04. José Antônio da Silva

05. Alberto da Veiga Guignard

06. Oswaldo Goeldi

07. Teresa d'Amico

08. Maria Martins

09. Tunga

10. Waltércio Caldas

11. Wesley Duke Lee

131
ORGANIZADORES

Curadores
Sônia Salzstein-Goldberg
Ivo Mesquita

Coordenadoria Geral e Montagem


Luiz Norberto C. Loureiro - Arquiteto

Pesquisador
Márcio Martinez

Assistente de Produção e Montagem


Alessandra Labate Rosso
Marcos de Mattos Marcelino - Colaborador

Assessoria Técnica
Tercio Levy Toloi

Projeto de Arquitetura e Montagem


Haron Cohen - Arquiteto
F.elippe Crescenti - Arquiteto
Lilian Ayako Shimizu
Christina Guerra
Mario Gallo
Ana Cecília Mourão Campos

Secretaria
Maria Rita de Cássia Marinho
Eunice Tenório Alves
Marly Revuelta
Antonieta Oliveira da Silva
EDiÇÃO DO CATÁLOGO

Editores - Copytexto Serviços Editoriais S/C Ltda.:


Maria Otília Bocchini (coordenação)
Marcos Gomes
Paulo Gusmão
Concepção Gráfica e Programação Visual
Milton Medina
Secretaria Editorial
Beatriz Caro!ina Gonçalves (coordenação)
Elisa Marcia Pinto Braga
Pesquisa
Monica Ester Struwe Razuk
Mônica Raisa Schpun
Preparação e Revisão de Texto
Cássio de Arantes Leite
Márcia Accioly Gatto
Vania Marino Zeballos
Serviços Editoriais Auxiliares
Ana Maria de Castro
Ceres de Arantes Leite
David Fernandes da Silva
Márcia Regina Vanzo Sanches
Salime Aoum
Fotografia
Cesar Caldas
Leonardo Crescenti Neto
Miguel Rio Branco
Rômulo Fialdini
Capa
Milton Medina
Uma realização da Fundação Bienal de São Paulo
ARTE-FINAL, COMPOSiÇÃO,
FOTOLITOS E IMPRESSAO
n IMPRENSA OFICIAl
~ DO ESTAOOSAIMESP
Rua da Mooca, 1921 .- Fone; 291-3344
Vendas, ramais: 257 e 325
Telex: 011-34557 - DOSP
Caixa Postal: 8231 - São Paulo
C.G.C. (M.F.) N.' 48.066.04710001-84

Você também pode gostar