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(Resenha) Capítulo 2 – O CAMPO EXPANDIDO_ARCHER, Michael.

Arte contemporânea (uma


história concisa). São Paulo_Martins Fontes, 2001.

De acordo com Archer, as diversas ramificações que surgiram na arte, da metade dos
anos 60 a meados dos anos 70, têm sua herança nos desdobramentos e liberdades angariados
pelo Minimalismo, pelas várias formas da Por Art e pelo novo realismo. Esse período cujo
autor, a partir dos trabalhos do crítico Robert Pincus-Witten, nomeia de Pós-Minimalismo –
além de Arte Processo e Antiforma –, caracteriza-se pelo afrouxamento das categorias e pelo
desmantelamento das fronteiras interdisciplinares. Nas palavras do autor, “surgira uma arte
que sucedia cronologicamente o Minimalismo, apoderando-se das liberdades que ele trouxera
e, no entanto, reagindo contra a sua rigidez formal”.

Contudo, concomitantemente à expansão das formas e linguagens da arte, houve


também, segundo Archer, uma dificuldade em entender no que a arte estava se
transformando e, consequentemente, em agrupar e definir as suas diversas novas facetas.
Assim sendo, considerando essa variedade de linguagens e pensamentos, o autor cita as
principais tendências e seus expoentes mais distintos. Robert Smithson (1938 – 1973), artista
americano da Land Art, foi um dos personagens destacados pelo autor e também minha
escolha de pesquisa.

Robert Smithson, embora tenha passado por diversas linguagens na arte, foi
reconhecido nesse meio – e por este mesmo motivo mencionado por Archer -, principalmente,
pelos trabalhos em Land Art. “Sítio” e “não-sítio”, trabalhos gigantes, grandes modificações na
paisagem - pouca preocupação com as questões ambientais -, influência da passagem do
tempo na composição da obra, exposição das fotografias como registro de obra todos esses
elementos constroem o trabalho de Smithson e são muito bem apontados por Archer como
diferencial, bem como possível legado e influência do artista às gerações futuras.

Smithson preocupou-se em criar uma relação entre um local particular no meio


ambiente, e que se encontraria a obra, o “sítio”, e os espaços anônimos, os “não-sítios”,
essencialmente intercambiáveis, nas galerias onde os registros seriam apresentados. Entre
outras coisas, os sítios tinham limites abertos, informação dispersa e eram algum lugar; os
não-sítios, tinham limites fechados, continham informações e, ao passo que faziam parte de
um lugar, não eram um lugar, eram uma abstração do espaço.

Outros pontos interessantes da obra de Smithson e que foram pontuados por Archer,
são as grandes modificações na paisagem, as proporções gigantescas das obras e, devido a
essas dimensões, a exposição dos documentos em galerias e não da obra propriamente dita.
Embora Smithson tenha vivido na época em que se iniciava os debates sobre os problemas
ambientais, e talvez por esse motivo, o artista não apresentava grande preocupação com a
influência que suas obras teriam ao microcosmo em que elas eram construídas. Archer, em seu
livro, traz um trecho de um ensaio do artista e que ilustra o pensamento deste: “Imagine-se no
Central Park um milhão de anos atrás. Você estaria parado sobre um vasto manto de gelo, uma
parede glacial de 6.500 quilômetros, com até 600m de espessura. Sozinho sobre a vasta
geleira, você não sentiria o seu lento movimento esmagador, triturante, rasgando tudo à
medida que avançava para o sul, deixando em sua esteira grandes massas de fragmentos de
rocha”. Em comparação com forças de tal magnitude, de acordo com o pensamento de
Smithson, qualquer coisa realizada por um artista individual seria insignificante, e o artista
considerava fora de lugar a crescente sensibilidade para com as questões ambientais quando
esta se manifestava como um exagerado apreço pela natureza. Somado à despreocupação e à
disposição de alterar o ambiente de forma a reconfigurar a paisagem, a única forma de
apresentar o trabalho em um ambiente tradicional de arte (galerias, museus e afins) era em
forma de fotografias documentais o que, por sua vez, movimenta o questionamento sobre a
dificuldade de vislumbrar a obra em sua integralidade no sítio e a impossibilidade de a
contemplar por inteiro, visto que uma fotografia é sempre um recorte, em um museu.

Um dos trabalhos mais reconhecidos de Smithson, Molhe Espiral (1970), retrata


razoavelmente bem a produção do artista. Essa obra de 4,6m de largura e 460m de
comprimento, toda construída com lama, sal e rochas de basalto, encontra-se às margens do
Grande Lago Salgado, em Utah (sítio), foi inúmeras vezes inundada e, inclusive, adquiriu uma
coloração avermelhada devido a um processo natural do Lago – a passagem do tempo e a
interferência sobre a obra. As fotos que temos acesso da obra servem como documento de
que algo aconteceu naquele espaço, como forma de divulgação e, sobretudo, de exposição do
trabalho do artista.

http://api.whitney.org/uploads/image/file/817907/xlarge_robert_smithson_-_spiral_jetty_-_1970_740.jpg

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