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UC ESTUDOS CRÍTICOS: HISTÓRIA, ARTE E CULTURA

ARTE E ARQUITETURA
NO NORTE EUROPEU /
O BARROCO NA EUROPA

Professores | Flávia Virgínia Teixeira e Luiz Felipe César


Outubro de 2023
O NORTE EUROPEU
NOS SÉCULOS XV E XVI
VAMOS VOLTAR UM POUCO NO
TEMPO PARA VER O QUE VINHA
OCORRENDO NO NORTE DA EUROPA!
Imagem 01 | Mapa da Europa na virada
do século XV para o XVI.
A pintura flamenga

Nos Países Baixos, por volta de 1420, ocorreu uma


revolução na pintura. Entre os pintores desta época,
tem-se o chamado Mestre de Flémalle, além dos irmãos
Jan e Hubert van Eyck.

Eles foram os responsáveis por transformar a técnica


da têmpera (em que os pigmentos eram diluídos em
água, à qual se adicionava como aglutinante a gema de
ovo, e que secavam muito rapidamente, sendo de rápido
endurecimento, com dificuldade de retoque de cores e
transição suave das mesmas) para a técnica a óleo, em
que se passou a utilizar o óleo como diluente, que
permite que a pintura seque mais lentamente, com tons
numa escala contínua de matizes.
(JANSON, 2011)
Imagem 02 | O Retábulo de Mérode, Mestre de Flémalle, c. 1425-28. Painel central: 0,64 x 0,63 m; postigos: 0,64 x 0,28 m.
Imagem 03 | O Retábulo de Ghent com as folhas fechadas, Jan van Eyck, 1432.
Óleo sobre painel. Medidas cada painel: 146,2 x 51,4 cm.
Imagem 04 | O Retábulo de Ghent com as folhas abertas, Jan van Eyck, 1432.
Óleo sobre painel. Medidas cada painel: 146,2 x 51,4 cm.
POSSIVELMENTE, SEU ADÃO E EVA
FORAM PINTADOS A PARTIR
DE MODELOS REAIS NUS E NÃO
DE IDEALIZAÇÕES DA VÊNUS DE MILO
OU DO APOLO DE BELVEDERE
COMO ERA DE PRAXE PROS
RENASCENTISTAS ITALIANOS.
Imagem 04 | O Retábulo de Ghent com as folhas abertas, Jan van Eyck, 1432.
Óleo sobre painel. Medidas cada painel: 146,2 x 51,4 cm.
POSSIVELMENTE, SEU ADÃO E EVA
FORAM PINTADOS A PARTIR
DE MODELOS REAIS NUS E NÃO
DE IDEALIZAÇÕES DA VÊNUS DE MILO
OU DO APOLO DE BELVEDERE
COMO ERA DE PRAXE PROS
RENASCENTISTAS ITALIANOS.
Imagem 04 | O Retábulo de Ghent com as folhas abertas, Jan van Eyck, 1432.
Óleo sobre painel. Medidas cada painel: 146,2 x 51,4 cm.
Imagem 05 | Os esponsais dos Arnolfini, Jan van Eyck, 1434.
Óleo sobre madeira. Medidas: 81,8 x 59,7 cm..
DESTAQUE PARA A REALIDADE
E DETALHISMO DOS OBJETOS
E DO AMBIENTE DA CENA.

Imagem 05 | Os esponsais dos Arnolfini, Jan van Eyck, 1434.


Óleo sobre madeira. Medidas: 81,8 x 59,7 cm..
O PRÓPRIO PINTOR
COLOCA-SE EM CENA
NO REFLEXO DO OBJETO
AO FUNDO.

Imagem 05 | Os esponsais dos Arnolfini, Jan van Eyck, 1434.


Óleo sobre madeira. Medidas: 81,8 x 59,7 cm..
Imagem 06 | O homem de turbante vermelho (autorretrato?), Jan van Eyck, 1433.
Painel. Medidas: 19 x 26 cm.
Imagem 07 | A descida da cruz, Rogier van der Weyden, c. 1436.
VAN DER WEYDEN MISTURA
O DRAMA EMOCIONAL GÓTICO,
COM A RIQUEZA DE CORES DE VAN EYCK
E A PRECISÃO ESCULTURAL E DAS
ROUPAGENS DO MESTRE DE FLÉMALLE.

Imagem 07 | A descida da cruz, Rogier van der Weyden, c. 1436.


Imagem 07 | Retábulo Portinari (aberto), Hugo van der Goes, c. 1476.
Painel central: 3 x 2,53 m; postigos: 1,31 x 2,53 m (cada).
A pintura flamenga

Hieronymus Bosch

Pintor nascido nos Países Baixos, aproximadamente em 1450,


e falecido em 1516 na mesma região de Hertogenbosch. Sua
obra é muito reconhecida pelas imagens fantásticas e
aparentemente irracionais, muitas vezes consideradas
indecifráveis, apesar de extremamente analisadas. Entre suas
principais obras, está o tríptico “O Jardim das Delícias”.
(JANSON, 2011)
Imagem 09 | O jardim das delícias, Hieronymus Bosch, 1500.
Painel central: 1,95 x 2,20 m; volantes: 0,97 x 2,20 m (cada).
PRAZERES MUNDANOS CASTIGOS PARA
CASTIGOS DIABÓLICOS FALSO PARAÍSO OS PECADOS

Imagem 09 | O jardim das delícias, Hieronymus Bosch, 1500.


Painel central: 1,95 x 2,20 m; volantes: 0,97 x 2,20 m (cada).
Imagens 10 a 14| Detalhes de O jardim das delícias, Hieronymus Bosch, 1500.
Pintura alemã do século XVI

A Alemanha é o berço da Reforma Protestante de Martinho


Lutero no século XVI. Ali, ocorrerá uma “guerra de estilos” entre
a manutenção do estilo que se produzira da pintura flamenga do
século anterior, ou uma influência mais ampliada da
Renascença Italiana, ligada fortemente à Igreja Católica.

Artistas como Mathias Grünewald e Albrecht Dürer (este


segundo já vimos no design nas últimas aulas) despontaram
como referências no período.
(JANSON, 2011)
Pintura alemã do século XVI

Mathias Grünewald

Sabe-se pouco da história de sua vida e suas ideias. Suas


principais pinturas são retábulos do tipo tradicional em grandes e
pequenas igrejas do interior da Alemanha, especialmente para o
altar-mor da igreja da aldeia alsaciana de Isenheim.

“Arte para ele não consistia na busca das leis ocultas da beleza;
para ele, a arte só podia ter uma finalidade, que era a de toda arte
religiosa da Idade Média: fornecer um sermão em ilustrações,
proclamar as sagradas verdades ensinadas pela Igreja.”
(GOMBRICH, 2012, p. 351)
Imagem 15 | A Crucificação, Grünewald, 1515.
Painel do altar de Isenheim, óleo sobre madeira, 269 x 307 cm.
DIFERENÇA DE ESCALA ENTRE IMAGENS
(VER MÃOS DE MARIA MADALENA
AJOELHADA E DO CRISTO CRUCIFICADO).
VOLTA ÀS IDEIAS DOS PINTORES
MEDIEVAIS E ANTIGOS. REPRESENTAÇÃO
EXCESSIVA DA AGONIZAÇÃO E SANGUE.

Imagem 15 | A Crucificação, Grünewald, 1515.


Painel do altar de Isenheim, óleo sobre madeira, 269 x 307 cm.
Imagem 16 | A Ressurreição, Grünewald, 1515.
Painel do altar de Isenheim, óleo sobre madeira, 269 x 143 cm.
IMPORTÂNCIA DO USO DAS CORES
NA LUMINOSIDADE. CONTRASTE ENTRE
ATITUDE DO CRISTO RESSUSCITADO
E DOS SOLDADOS IMPACTADOS.

Imagem 16 | A Ressurreição, Grünewald, 1515.


Painel do altar de Isenheim, óleo sobre madeira, 269 x 143 cm.
Pintura alemã do século XVI

Albrecht Dürer

Nascido em 1471 e falecido em 1528, foi importante como pintor


e também nas artes gráficas. Esteve em Veneza no fim do século
XV e voltou a sua cidade de Nuremberg com uma nova visão de
mundo. Utilizou o modelo de Grünewald “podado”, como dizia ele
mesmo, pelos saberes objetivos e racionais do Renascimento.
(JANSON, 2001)
Imagem 17 | Autorretrato, Albrecht Dürer, 1500.
Painel, medidas: 66,6 x 48,9 cm.
Imagem 17 | A Natividade, Albrecht Dürer, 1504.
Água forte, medidas: 18,5 x 12 cm.
Imagem 19 | Adão e Eva, Albrecht Dürer, 1504.
Água forte, medidas: 24,8 x 19,2 cm.
TRABALHA CUIDADOSAMENTE
AS PROPORÇÕES DO CORPO HUMANO
MASCULINO E FEMININO.

Imagem 19 | Adão e Eva, Albrecht Dürer, 1504.


Água forte, medidas: 24,8 x 19,2 cm.
Imagem 20 | Paisagem, Albrecht Altdorfer, c. 1526-28.
Óleo sobre pergaminho montado em madeira, 20 x 22 cm.
Imagem 22 | O repouso na Fuga para o Egito, Lucas Cranach, 1504.
Óleo sobre madeira, medidas: 70,7 x 53 cm.
Pintura alemã do século XVI

Os retratos de Hans Holbein

Nascido em 1497, em Augsburg, no sul da Alemanha, e falecido


em 1543, Holbein, o Jovem, foi gravurista em madeira, decorador e
retratista. Firmou-se, assim, como um dos principais retratistas da
região da Basileia, partindo para a Inglaterra quando estourou a
Reforma Protestante em sua região.

Volta em 1528 para a Alemanha, mas retorna, quatro anos depois,


para a corte do rei inglês Henrique VIII.
(JANSON, 2001)
Imagem 23 | Erasmo de Roterdã, Hans Holbein, O Jovem, 1523.
Painel, 42 x 32 cm.
Imagem 23 | Henrique VIII, Hans Holbein, O Jovem, 1536.
Imagem 23 | Jane Seymour, Hans Holbein, O Jovem, 1537.
Pintura holandesa do século XVI

Pieter Bruegel, o Velho

A pintura holandesa sobreviveu à crise da Reforma Protestante


pintando sobre tudo aquilo sobre o qual a Igreja Protestante não
levantava objeções. Surgiram, assim, as peinture de genre, ou seja,
“pinturas de gênero”, nas quais apareciam cenas inspiradas na
vida cotidiana, no dia a dia de pessoas comuns.

O mais renomado dentre os pintores desse gênero foi Pieter


Bruegel, o Velho (1525?-1569). Ele esteve na Itália e trabalhou em
Bruxelas e Antuérpia. Pintou muitas cenas da vida camponesa
(GOMBRICH, 2012)
Imagem 24 | Casamento aldeão, Pieter Bruegel, o Velho, 1568.
Óleo sobre madeira, 114 x 164 cm.
O QUADRO É COMO UMA ANEDOTA,
ORGANIZADO PARA NÃO PARECER
CONFUSO OU CONGESTIONADO.
BRUEGEL DESCOBRE AQUI UMA NOVA
PINTURA QUE SERÁ MUITO EXPLORADA
PELOS HOLANDESES.

Imagem 24 | Casamento aldeão, Pieter Bruegel, o Velho, 1568.


Óleo sobre madeira, 114 x 164 cm.
Imagem 25 | Regresso dos caçadores, Pieter Bruegel, o Velho, 1565.
Óleo sobre madeira, 117 x 162 cm.
Imagem 26 | Provérbios holandeses, Pieter Bruegel, o Velho, 1559.
Óleo sobre tela, 117 x 163 cm.
O BARROCO EUROPEU
O barroco italiano

“O estilo que sucedeu a Renascença é usualmente chamado


barroco. Mas enquanto é fácil identificar os estilos anteriores por
características definidas de reconhecimento, a característica não
é tão simples no caso do barroco. O fato é que, da Renascença em
diante, quase até o nosso tempo, os arquitetos usaram as
mesmas formas básicas - colunas, pilastras, cornijas,
entablamentos e molduras -, todas elas originalmente inspiradas
em ruínas clássicas.”
(GOMBRICH, 2012, p. 387, grifo nosso)
O barroco italiano

“A palavra “maneirismo” ainda retém, para muita gente, a sua


conotação original de artifício e imitação superficial, de que os
críticos haviam acusado os artistas do final do século XVI. A
palavra “barroco” foi empregada pelos críticos de um período
ulterior parque lutavam contra as tendências seiscentistas e
queriam expô-las ao ridículo. “Barroco”, realmente, significa
absurdo ou grotesco, e era empregado por homens que insistiam
em que as formas das construções clássicas jamais deveriam ser
usadas ou combinadas senão da maneira adotada por gregos e
romanos. Desprezar as severas normas da arquitetura antiga
parecia, a esses críticos, uma deplorável falta de gosto - e daí
terem apodado o estilo de barroco.”
(GOMBRICH, 2012, p. 387, grifo nosso)
Arquitetura maneirista italiana

Giorgio Vasari

O arquiteto (1511-1574) foi responsável pelo edifício dos Ufizzi em


Florença, que consistia em repartições para a família. Ele se
inspira na Biblioteca Laurentiana de Michelangelo.
(JANSON, 2001)

Bartolommeo Ammanati

O arquiteto (1511-1592) desenvolveu o Palácio Pitti, no qual as


ordens gregas, conforme o Coliseu, são revestidas por arabescos
e ostensiva massa parietal, perdendo seu valor histórico. São
quase desintegradas pelo relevo da parede.
Imagem 27 | Loggia dos Ufizzi, Giorgio Vasari, iniciada em 1560, Florença.
Imagem 28 | Loggia dos Ufizzi, Giorgio Vasari, iniciada em 1560, Florença.
Imagem 28 | Palácio Pitti, Ammanati, 1558-1570, Florença.
Imagem 29 | Palácio Pitti, Ammanati, 1558-1570, Florença.
Arquitetura maneirista/barroca italiana

Giacomo della Porta

O arquiteto (1541?-1602) construiu uma das primeiras igrejas no


estilo barroco em Roma, a Igreja de Il Gesù, em 1575. Era a igreja
da recém-fundada Companhia de Jesus, que buscava combater a
Reforma Protestante na Europa (início da Contrarreforma).

O modelo redondo e simétrico renascentista é rejeitado e a igreja


passa a ter formato cruciforme com uma cúpula alta e imponente.
Na fachada, parece haver manutenção da ordem clássica, mas há
transformações, como a duplicação das pilastras e colunas;
evita-se monotonia, com um destaque para o centro, e um realce
de dupla moldura para a entrada.
(GOMBRICH, 2012)
Imagem 30 | Igreja de Il Gesù, Giacomo della Porta,
1575-1577, Roma.
O USO DA VOLUTA NA FACHADA,
CONECTANDO AS PORÇÕES
SUPERIOR E INFERIOR
É UMA NOVIDADE NÃO UTILIZADA
EM PERÍODOS CLÁSSICOS!

Imagem 30 | Igreja de Il Gesù, Giacomo della Porta,


1575-1577, Roma.
Imagem 31 | Planta da Igreja de Il Gesù, Giacomo della Porta,
1575-1577, Roma.
Imagem 32 | Interior da Igreja de Il Gesù, Giacomo della Porta,
1575-1577, Roma.
Arquitetura barroca italiana

Gian Lorenzo Bernini

Bernini (1598-1680) é considerado o maior arquiteto e escultor do século


XVI, sendo do tipo de personalidade expansiva e confiante. Dispensou
grande parte de sua vida para obras na Catedral de São Pedro, desde
conjuntos escultóricos até soluções urbanísticas.

Francesco Borromini

Borromini (1599-1667), diferente de Bernini, era de gênio reservado e


emocionalmente instável, tendo se suicidado. Enquanto Bernini trabalha de
forma simplista em sua retórica barroca, Borromini utiliza-se de complexa
extravagância em suas obras. O próprio Bernini considerava que Borromini
desrespeitava a tradição clássica.
(JANSON, 2001)
Imagem 33 | Igreja de Santa Inês, Bernini, Roma, 1653.
Imagem 34 | Igreja de Santa Inês, Bernini, Roma, 1653.
IGREJA COM AR DE ESPLENDOR
E MOVIMENTO, FESTIVA.
OPULÊNCIA CATÓLICA ERA UMA ARMA
CONTRA A REFORMA PROTESTANTE.

Imagem 34 | Igreja de Santa Inês, Bernini, Roma, 1653.


Imagem 35 | Baldaquino de São Pedro, Bernini, Roma, 1624-1633.
Imagem 36 | O êxtase de Santa Teresa, Bernini, Roma, 1645-1652.
Mármore, altura: 3,5 m.
Imagem 37 | O êxtase de Santa Teresa, Bernini, Roma, 1645-1652.
Mármore, altura: 3,5 m.
ATRAVÉS DAS EXPRESSÕES
E MOVIMENTOS, BERNINI ALCANÇA
O EXTREMO DA EMOÇÃO, ATÉ ENTÃO
EVITADO PELOS ARTISTAS
NO RENASCIMENTO.

Imagem 37 | O êxtase de Santa Teresa, Bernini, Roma, 1645-1652.


Mármore, altura: 3,5 m.
Imagem 38 | Vista aérea de São Pedro, Roma.
Nave e fachada de Carlo Moderno, 1607-1615.
Colunata de Bernini, delineada em 1657.
Imagem 39 | Vista aérea de São Pedro, Roma.
Nave e fachada de Carlo Moderno, 1607-1615.
Colunata de Bernini, delineada em 1657.
Imagem 40 | São Pedro, Roma. Colunata de Bernini, delineada em 1657.
Imagem 41 | San Carlo alle Quatro Fontane, Borromini, 1638, Roma.
FACHADA COM PRESSÕES E
CONTRAPRESSÕES EM SUA MÁXIMA
INTENSIDADE, PELO JOGO DE CÔNCAVOS
E CONVEXOS. A PLANTA É UMA ELIPSE
APERTADA, SUGERINDO UMA DISTORCIDA
CRUZ GREGA.

Imagem 41 | San Carlo alle Quatro Fontane, Borromini, 1638, Roma.


Imagem 42 | Cúpula de San Carlo alle Quatro Fontane, Borromini, 1638, Roma.
Imagem 43 | Planta de San Carlo alle Quatro Fontane, Borromini, 1638, Roma.
Imagem 44 | Sant’Ivo, Borromini, iniciada em 1642, Roma.
Imagem 45 | Cúpula de Sant’Ivo, Borromini, iniciada em 1642, Roma.
Arquitetura barroca italiana

Guarino Guarini

Guarini (1624-1683) explora, em Turim, na Itália, as


inovações trazidas por Borromini. Era um frade teatino
com conhecimento em filosofia e matemática. Uma de
suas principais obras é para o Palazzo Carignano, em que
se utiliza de um vocabulário altamente pessoal, inspirado
no barroco de Roma.
(JANSON, 2001)
Imagem 45 | Fachada do Palazzo Carignano, Guarini, iniciada em 1679, Turim.
Imagem 45 | Cúpula da Capela dp Santp Sudário, Guarini, 1668-1694, Turim.
Pintura barroca europeia

Na Itália, Annibale Caracci e Michelangelo Caravaggio serão os responsáveis


por transformações na pintura maneirista que se fez no fim do século XVI.

O primeiro fascinou-se pelas obras de Rafael e queria recuperar algo de sua


simplicidade e beleza.

O segundo, por sua vez, buscava não a beleza, mas a verdade, ou seja, não
almejava a beleza ideal clássica, desvencilhando-se de todas as convenções. Foi
acusado, de certo modo à época, de “naturalista”. Seu “naturalismo” consistia,
então, em copiar a natureza, quer fosse bela ou feia, não lhe importava.

Guido Reni, por sua vez, trabalha um ilusionismo sensorial, buscando um quase
retorno ao classicismo rafaelesco.
(GOMBRICH, 2012)
Imagem 46 | Pietà, Annibale Caracci, 1599-1600.
Retábulo, óleo sobre tela, 156 x 149 cm.
Imagem 47 | Tomé, o incrédulo, Caravaggio, 1602-1603.
Óleo sobre tela, 107 x 146 cm.
Imagem 47 | Judite e Holofernes, Caravaggio, 1598-1599.
O ESTILO LUMINISTA DE CARAVAGGIO
CONSISTE EM FAZER DA LUZ
UMA QUESTÃO PICTÓRICA
SEMPRE DEIXANDO MUITO BEM
DEMARCADAS AS ZONAS
DE LUZ E SOMBRA.

Imagem 47 | Judite e Holofernes, Caravaggio, 1598-1599.


Imagem 47 | Flagelação de Cristo, Caravaggio, 1607.
Imagem 47 | Medusa, Caravaggio, 1597.
Óleo sobre tela, 60 x 55 cm.
Imagem 48 | A aurora, Guido Reni, 1614.
Afresco, 280 x 700 cm. Palazzo Palavicini- Rospigliosi, Roma.
Pintura barroca europeia

Pintura francesa no século XVII

Na França, os franceses costumam renegar-se a chamar a arte da


época de barroca, e muitas vezes a pintura vai ser lida, de fato, como
“clássica” ou “acadêmica”.

Clássica por ter atingido um certo auge durante o reinado de Luís XIV,
como o Renascimento Pleno italiano de séculos anteriores; clássica
também porque imita as formas e temas da Antiguidade Clássica; e
também porque apresenta qualidades de equilíbrio e moderação.
Porém, por ter influências do barroco que se difundiu pela Europa à
época, muitos vão chamá-lo, de fato, de “classicismo barroco”.
(GOMBRICH, 2012; JANSON, 2001)
Pintura barroca europeia

Pintura francesa no século XVII

Nicolas Poussin (1594-1665) foi um dos principais pintores


“acadêmicos” ou do “classicismo barroco”, fazendo de Roma sua cidade
adotiva. Seu estudo fervoroso das estátuas clássicas se deu porque
buscava que a beleza delas o ajudasse a transmitir, na terra, a inocência
e dignidade de outrora.

Ele considerava que o mais elevado fim da pintura era “representar


ações nobres e sérias de maneira lógica e ordenada”, como
aconteceriam se a natureza fosse perfeita. Suprime trivialidades como
cores brilhantes e acentua a forma e a composição. Era como se se
pudesse “ler” a emoção de cada figura. Com essa teoria, também, ele
produziu paisagens.
(GOMBRICH, 2012; JANSON, 2001)
Imagem 49 | Ei in Arcadia ego, Nicolas Poussin, 1638-1639.
Óleo sobre tela, 85 x 121 cm.
Imagem 50 | Cephalus e Aurora, Nicolas Poussin, 1630.
Óleo sobre tela, 96,5 x 129,5 cm.
Imagem 51 | O rapto das Sabinas, Nicolas Poussin, 1638.
Óleo sobre tela, 154,6 x 209,9 cm.
Pintura barroca europeia

Pintura francesa no século XVII

Claude Lorrain (1600-1682) desenvolve os princípios da paisagem ideal,


acentuando seus aspectos idílicos, em uma construção da Arcádia
ideal. Viveu longo tempo em Roma, explorando os campos dos
arredores, a Campagna, e fazendo diversos desenhos in loco. Esses
desenhos geram pinturas que não representam fielmente as paisagens
vistas, mas ajudam a criar esta Arcádia, que é a representação de “uma
paisagem plena de ecos da Antiguidade”.
(GOMBRICH, 2012; JANSON, 2001)
Imagem 52 | Vista pastoral, Claude Lorrain, 1644.
Óleo sobre tela, 98 x 137 cm.
Imagem 52 | Paisagem com sacrifício a Apolo, Claude Lorrain,
1662-1663. Óleo sobre tela, 174 x 220 cm.
Pintura barroca europeia

Pintura flamenga no século XVII

Peter Paul Rubens (1577-1640) foi dos poucos pintores nórdicos que entrou mais
diretamente em contato com a atmosfera da pintura italiana de Carracci e
Caravaggio. Chegou a Roma em 1600, aos 23 anos de idade, sendo um bom
ouvinte e aprendiz das discussões da época.

Respeita a tradição flamenga de pintar não a beleza clássica, mas tão fielmente
quanto os olhos pudessem ver, a exemplo de Van Eyck ou Bruegel, por exemplo.
Mas se interessava pelo modo como Carracci e alguns italianos tinham
ressuscitado temas mitológicos.

Retorna para a Antuérpia em 1608 já com grande manejo dos pincéis e na


representação de corpos, roupagens, animais e paisagens.
(GOMBRICH, 2012; JANSON, 2001)
Imagem 52 | Virgem e Menino entronizados com santos, Rubens, 1627-1628.
Esboço para um grande altar, óleo sobre tela, 80,2 x 55,5 cm.
Imagem 53 | Autorretrato, Rubens, 1639.
Óleo sobre tela, 109,5 x 85 cm.
Imagem 54 | O Jardim do Amor, Rubens, 1633.
Óleo sobre tela, 198 cm x 283 cm.
DESTACAM-SE A REPRESENTAÇÃO
REALISTA E DETALHISTA, SOMADA
À COMPOSIÇÃO DRAMÁTICA QUE ROMPE
AS BARREIRAS DA TELA DA PINTURA,
COM UM ESTILO DINÂMICO.

Imagem 54 | O Jardim do Amor, Rubens, 1633.


Óleo sobre tela, 198 cm x 283 cm.
Imagem 55 | Alegoria sobre as bênçãos da paz, Rubens, 1629-1630.
Óleo sobre tela, 203,5 x 298 cm.
Pintura barroca europeia

Pintura flamenga no século XVII

Anthony van Dyck (1599-1641) foi discípulo e ajudante


de Rubens, 22 anos mais jovem que ele, um menino
prodígio. Aprendeu com seu mestre a representação da
textura e superfície das figuras, mas diferiu dele em
temperamento e humor. Predomina, em suas obras, um
ânimo lânguido e algo melancólico. Tornou-se o pintor
da corte de Carlos I.
(GOMBRICH, 2012; JANSON, 2001)
Imagem 55 | Carlos I da Inglaterra, Anthony van Dyck, c. 1635.
Óleo sobre tela, 266 x 207 cm.
Imagem 55 | Lorde John e lorde Bernard Stuart, Anthony van Dyck, c. 1638.
Óleo sobre tela, 237,5 x 146,1 cm.
Pintura barroca europeia

Pintura holandesa no século XVII

A Escola de Utrecht terá pintores de renome inspirados em Rubens, muitos


que não visitaram a Itália e preferiram, assim, o realismo de Caravaggio.

Frans Hals (1580-1666) viveu em Haarlem, para onde seus pais foram por
serem protestantes. Viveu endividado com seus padeiros, sapateiros, e
morreu com 80 anos de idade. Combina características da pintura de
Rubens, como uma determinada concentração, com Caravaggio.
(GOMBRICH, 2012; JANSON, 2001)
Imagem 56 | O alegre beberrão, Frans Hals, 1628.
Imagem 57 | Banquete dos oficiais da Milícia St George Company, Frans Hals, 1616.
Óleo sobre tela, 175 x 324 cm.
Pintura barroca europeia

Pintura holandesa no século XVII

Rembrandt van Rijn (1606-1669) é reconhecido como um dos maiores


pintores da Holanda. Nasceu na cidade de Leiden, filho de um próspero
moleiro. No começo da carreira, sofreu influência indireta de Caravaggio,
com quadros pequenos, fortemente iluminados e intensamente realísticos.

Sua primeira esposa, falecida, deixou-lhe considerável fortuna. Com o


tempo, ele desenvolveu seu próprio estilo barroco, com sua própria luz que
gera dramas significativos nas cenas, altamente teatrais. Fez, também,
uma série de autorretratos, desde muito jovem até velho.
(GOMBRICH, 2012; JANSON, 2001)
Imagens 58 a 60 | Três diferentes autorretratos de Rembrandt, em 1632, 1660 e 1669.
Imagem 56 | O cegar de Sansão, Rembrandt, 1636.
Imagem 56 | Ronda da Noite, Rembrandt, 1642.
ESTA OBRA INSATISFEZ ALGUNS DOS
RETRATADOS, AQUELES QUE FICARAM NAS
PARTES MAIS ESCURAS DA CENA.
ISSO PORQUE AQUI É REPRESENTADA UMA
COMPANHIA MILITAR E OS INDIVÍDUOS
PAGARAM PARA SEREM REPRESENTADOS.

Imagem 56 | Ronda da Noite, Rembrandt, 1642.


Pintura barroca europeia

Pintura na Espanha do século XVII

Diego Velázquez (1599-1660) era da corte espanhola de Carlos I e se


encontrou com Van Dyck. Inspirou-se muito nas descobertas de
Caravaggio, embora não tenha estado na Itália no início de sua carreira.

Absorveu o programa do “naturalismo” e devotou sua arte à paixão pela


observação da natureza. Fará muitos retratos e pinturas de gênero, como
os holandeses.
(GOMBRICH, 2012; JANSON, 2001)
Imagem 56 | As Meninas, Velázquez, 1656.
Imagem 57 | O aguadeiro de Sevilha, Velázquez, 1619-20.
Imagem 58 | Papa Inocêncio X, Velázquez, 1649-50.
Arquitetura francesa de Luís XIV

Vaux-le-Vicomte e Versailles

André Le Nôtre (1613-1700), quem estudou geometria e arquitetura,


constrói, em 1652, para Nicolas Fouquet (1615-80), administrador das
finanças reais, os jardins para o palácio de Vaux-le-Vicomte, projeto do
arquiteto Louis Le Vau (1612-70).

Para realização do projeto, demoliram-se três pequenos vilarejos, foram


feitas grandes movimentações de terra, plantações de árvores adultas e
bloqueio de um rio com um dique, posteriormente transformado em um
amplo canal regular.

O jardim passa a ser entendido como um grande teatro ao ar livre, uma


composição que se irradia a partir da residência.
(PANZINI, 2013)
Arquitetura francesa de Luís XIV

Vaux-le-Vicomte e Versailles

Jardim axial e simétrico, apresentando-se como uma sucessão de


compartimentos verdes decorados com desenhos vegetais intrincados

De longe, visão de um quadro compositivo equilibrado, dando ao observador a


noção de uma totalidade. Na proximidade, contudo, o jardim torna-se um local de
surpresas.

Parterre: termo francês que indica o setor do jardim mais próximo do palácio,
normalmente mais decorado, com compartimentos de contorno articulado e
desenhos complexos. Canteiros minuciosamente decorados com plantas
floríferas. O parterre de broderie apresenta desenhos em volutas e ramagens feitos
com sebes de buxos ou outras espécies sempre-verdes plantadas sobre base de
areia ou pedrisco colorido.
(PANZINI, 2013)
Imagem 59 | Vista dos jardins e do palácio de Vaux-le-Vicomte.
Imagem 60 | Vista dos jardins e do palácio de Vaux-le-Vicomte.
Arquitetura francesa de Luís XIV

Vaux-le-Vicomte e Versailles

Grand Canal: elemento compositivo de água do jardim francês, conformado


inicialmente por um tanque ou espelho d’água, que progride através de um canal
de enorme vastidão (até um quilômetro de extensão), ali escondido pelos bosques.

Patte d’oie: literalmente “pata de ganso”, indicando a ordenação em alamedas


radiais, que partem de um único ponto central. Muito utilizadas nos jardins
franceses, dividem o bosque e levam uma vez mais o parque até o limite do
horizonte visual.
(PANZINI, 2013)
Imagem 61 | Vista dos jardins e do palácio de Vaux-le-Vicomte.
Arquitetura francesa de Luís XIV

Vaux-le-Vicomte e Versailles

Versalhes foi o parque real que funcionava como sala de festas, auditório para
concertos e jardim botânico junto ao palácio real.

Imbuído de significado político e simbólico, projeta na paisagem o governo do


soberano francês, Luis XIV, demonstrando a submissão da natureza ao homem. As
progressivas ampliações do parque podem ser lidas como metáfora da
progressiva aquisição de poder pelo rei em relação à sua corte.
(PANZINI, 2013)
Arquitetura francesa de Luís XIV

Vaux-le-Vicomte e Versailles

Luis XIV irá prender Fouquet, dono de Vaux-le-Vicomte, e transfere pra sua
propriedade tanto estátuas e arvoredos quanto os projetistas: Le Vau (arquitetura),
Le Brun (esculturas) e Le Nôtre (implantação dos jardins).

Le Nôtre dá ao terreno uma nova conformação, aproveitando o declive natural, e


criando diversos platôs e taludes de inclinação suave, contornados por bosquetes.

O projeto é pensado por meio de perspectivas estendidas até o limite visual,


levando ao extremo da escala territorial.

(PANZINI, 2013)
Imagem 62 | Esquema de Versalhes.
Imagem 63 | Parterre sul de Versalhes, o da Orrangerie.
Imagem 64 | Eixo central do Jardim com o Tapis Vert (primeiro plano) e o Gran Canal (segundo plano).
Imagem 65 | Parterre de água do jardim de Versalhes (restauro).
Referências

ADDIS, Bill. Edificação: 3000 anos de Projeto, Engenharia e Arquitetura. Porto Alegre: Bookman,
2009.

BENÉVOLO, Leonardo. História da cidade. São Paulo: Perspectiva, 2019.

GOMBRICH, Ernst Hans. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 2012.

JANSON, H. W; História geral da arte. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

MEGGS, Philip B. História do design gráfico. São Paulo: Cosac Naify, 2009.
Presença

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lista de presença para o dia 03/10.

Lembre-se que você deve ter, no mínimo, 75% de


presença na UC (somando as segundas e terças) para
ser aprovado.

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