Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Arno Breker?
Quem é Arno Breker?
Preconceito e perseguição
Porém, nesse mesmo ano de 1945, as tropas aliadas transformam
em montanhas de estátuas quebradas oitenta por cento do trabalho
tanto escultural como arquitetônico de Arno Breker, alegando que
muitas de suas obras haviam sido encomendadas pelo governo
nacional socialista alemão. Imperturbável, o artista nunca negou nem
o que ele viveu nem o que criou, não parando de proclamar seu ideal
artístico: “Eu sempre celebrei o homem, jamais uma ideologia. Sou o
escultor do homem, da tripla criação: corpo, mente e espírito”. E,
com efeito, basta contemplar a sua obra para constatar a verdade de
suas palavras: o apelo à vida, à beleza, à pureza e à espiritualidade
presente em cada trabalho seu provoca em qualquer pessoa o
sentimento da vergonha pela existência da guerra e da violência.
O escultor começou então, a partir de 1945, a viver uma etapa difícil,
de preconceito e perseguição. Até 1959 ele se dedica mais à
arquitetura, participando da reconstrução das cidades de Munique,
Colônia, Hagen, Essen e Düsseldorf, voltando a viver, durante esse
período, na Alemanha. Também produz algumas esculturas abstratas.
Em 1958 casa-se com Charlotte Kluge, com quem tem duas filhas.
Em 1960 instala-se de novo em Paris e se dedica uma vez mais à
escultura, retornando ao brilho social de antes da guerra. Mas só a
partir de 1975, após trinta anos de rejeição, é que ele começa a ser
reconhecido novamente por algumas mentes mais lúcidas, que
perceberam a injustiça cometida. Contribuiu para isso um certo
enfado sentido pelo público e pela comunidade artística em relação à
chamada “arte abstrata”, que carece de imagens definidas e
representativas da força e da beleza do homem.
Durante esses trinta anos marcados pelo esquecimento e pelo
preconceito, que acabaram privando o artista de obter recursos para
produzir obras de grande porte, tal como anteriormente fizera, ele
continuou trabalhando em retratos e esculturas que demandassem
um investimento pequeno de material, e assim prosseguiu até o final
de sua vida, em 1991, quando já havia um crescente reconhecimento
internacional pela sua extensa e admirável obra.
O estilo imortal
Toda a produção artística de Breker é consagrada à beleza, valor
supremo para Nietzsche, seguindo nesse sentido o caminho traçado
pelos mestres da arte européia, os gregos Phídias e Praxísteles, o
florentino Michelangelo, os franceses Daumier e Carpeaux (que
exerceu uma profunda influência sobre ele) e Rodin. À imagem dos
mestres das letras da Renascença, ele reivindica a herança grega,
cadinho onde se forjou a estética européia. A Grécia e suas lendas
serão os temas mais recorrentes em sua obra.
Enquanto centenas de artistas no mundo inteiro estavam presos a
condicionamentos econômicos e modas passageiras, cultivando uma
arte abstrata, geralmente vazia ou resultante das tendências mais
obscuras do ser humano, Arno Breker conseguiu quebrar essas
cadeias e transmitir o seu conceito idealista e poético do mundo
através de suas esculturas. “A revelação da essência humana”,
afirmou ele, “razão de ser do retrato, não e realizável se não for por
intermédio do artista executante... É na penetração espiritual
recíproca entre o escultor e o seu modelo que se encontra o
verdadeiro impulso criador, o que anima as autênticas
mensagens”.
Se o corpo humano é uma densificação moldada por nossos
pensamentos, obras e convicções mais íntimas; se ele é uma
extensão do próprio espírito, a parte materializada de nós mesmos,
então Breker conseguiu captar essa essência nas suas obras,
imprimindo-lhes a beleza do eterno e do verdadeiro, que, embora não
seja propriamente visível, pode, através dos olhos, atingir
diretamente o que há de eterno e verdadeiro em nós, deleitando-nos.
É a arte na sua mais pura realização, conectando-nos a esferas de
amor, harmonia, sensibilidade e equilíbrio e nos aproximando de
nossa condição de homens. É a procura do belo, que marcou
indelevelmente a vida do artista desde que foi tocado pela mágica
mensagem da consciência ante a contemplação do David de
Michelangelo nas ruas de Florença: “Permaneci ali, como ferido por
um raio... Era como uma chamada mística, como uma ordem. Sim,
essa noite compreendi que terminava ali a minha fase de trabalhar
para o comércio e a gente rica, de esculpir objetos para serem
passados banalmente de mão em mão, de trabalhar para zelosos
colecionadores, e que a minha vocação seria, custasse o que
custasse, trabalhar para a Arte, para as praças públicas, para todo
mundo”.
Qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade que observe a obra
de Breker poderá perceber nela o divino toque de beleza de que só a
verdadeira arte é possuidora. Com o estilo dos gregos da era clássica,
o escultor concretizou o sentido do trágico e o harmonizou com um
suave romantismo germânico. Se Rodin imortalizou O Pensador, Arno
Breker eternizou sua obra com O Guerreiro Ferido. Ele projetou novas
dimensões na figuração plástica do homem e, a partir daí, tornou sua
criação artística um padrão incomparável.
O artista francês Charles Despiau assim define a arte de Breker: “A
arte não é para ele assunto de capela; deve responder a um ideal
novo, falar às massas uma linguagem elevada, mas simples e
inteligível... Essa arte, que aspira a resgatar ao indivíduo a beleza, a
nobreza, a força, a saúde física e moral, essa arte será viril, será
simples, será nua... Expressar-se-á mediante o corpo humano que
retorna ao ar livre, à sua nobreza original, animado de um gesto
puro, enobrecido pelo pensamento”.
As obras
Bibliografia:
Infiesta, José Manuel - Arno Breker - Ediciones de Nuevo Arte Thor.
Barcelona, 1976 (1ª edição); segunda edição, ampliada, 1982.
Egret, Dominique - Arno Breker: Uma Vida para Beleza - Edition
Grabert. Tübingen, 1996
Fotos:
Egret, Dominique - Arno Breker: Uma Vida para Beleza - Edition
Grabert. Tübingen,1996
Fonte: Revista Humanus