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Aralon, O Centro De Epidemias
Clark Darlton
Tradução
Richard Paul Neto
Formatação
ÐØØM SCANS
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As frotas de guerra estão prontas para en-
trar em ação. Mas os médicos galácticos não lu-
tam com armas convencionais.
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Personagens Principais:
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Tiff levantou a cabeça e seu olhar encontrou
o de Sengu.
— Acho que fui ao guichê errado — murmu-
rou com a voz insegura. — Talvez aquilo seja
uma seção especial para astronautas doentes.
— Pois vamos tentar em outro guichê — su-
geriu o japonês.
Tiff dobrou o formulário, o enfiou no bolso
e, com uma expressão de indiferença no rosto,
dirigiu-se a um guichê que acabara de ficar livre.
Sem olhá-lo, a ara, bela mas muito magra, em-
purrou-lhe outra ficha. Tiff pegou-a, embora já
soubesse que era absolutamente igual à que re-
cebera antes.
Começou a desconfiar da verdade.
Voltaram à escrivaninha. Tiff pegou a cane-
ta e começou a preencher o formulário.
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Sengu ficou sacudindo a cabeça e olhou cau-
telosamente para todos os lados. Aquilo come-
çava a deixá-lo apavorado. Ninguém se interes-
sava por eles. Naquele recinto, as pessoas se
comprimiam como numa feira. O japonês viu
aras em capas brancas, que passavam devagar
e em atitude altiva por entre os recém-chega-
dos, examinando-os. Por vezes, dirigiam-se a
eles, conversavam um pouco e seguiam seu ca-
minho.
— Tiff, não estou compreendendo. Onde es-
tamos? O que está acontecendo por aqui? Será
que enlouquecemos?
Tiff colocou sua assinatura embaixo do for-
mulário e piscou para Sengu.
— Não enlouquecemos coisa alguma, meu
caro. Quer saber o que está acontecendo aqui?
Pois é muito simples. Acabamos de pousar em
Aralon, mundo central dos aras, que são uma
raça formada exclusivamente por médicos e o
respectivo pessoal auxiliar. Por isso, seria mais
que natural que transformassem o planeta num
único hospital. É isso mesmo, Sengu. Este pavi-
lhão é a recepção do hospital. Qualquer pessoa
que venha para Aralon está doente, quer ser cu-
rada. Acontece que a cura só pode ser encon-
trada neste lugar, que é a fonte de todas as do-
enças. Os aras querem viver, e vivem das doen-
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ças dos outros.
Parecia que uma venda caía dos olhos de
Sengu. Os aras de capa branca eram médicos
que caminhavam à toa, olhando os novos paci-
entes. Os numerosos guichês faziam a triagem
dos recém-chegados segundo a espécie da do-
ença e o poder aquisitivo do paciente.
Um planeta-hospital.
— Isso... isso é uma coisa inconcebível.
— Será mesmo? Pois eu acho isto mais que
natural. Deveríamos ter sabido antes de pousar-
mos. Bem, preenchi o formulário para Thora.
Vamos entregá-lo e aguardar os acontecimen-
tos.
— E nós? Será que não precisamos fazer al-
gum registro?
— Ao que parece não existe nenhuma obri-
gatoriedade de registro para as pessoas sadias.
É bem provável que uma pessoa sadia não per-
maneça em Aralon mais tempo que o absoluta-
mente necessário. Trazem os amigos ou paren-
tes doentes e dão o fora. Mais tarde vêm buscar
o paciente curado. É um sistema muito simples,
e provavelmente também muito lucrativo. Todo
um planeta vive disto.
Um sorriso ligeiro e frio surgiu em seu rosto.
Segurou o formulário, e caminhou em direção
ao guichê mais próximo. Sengu seguiu-o. Tinha
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uma sensação estranha na região do estômago.
A ara pegou o formulário, passou os olhos e
dirigiu-se a Tiff com um sorriso amável.
— Essa Thora da família Zoltral é sua paren-
ta?
A voz revelava certa dúvida. Qualquer um
perceberia imediatamente que Tiff e Sengu não
eram arcônidas. No Império de Árcon havia
tantas raças que a ara não poderia ter a menor
idéia sobre a raça a que pertenciam os visitan-
tes.
— É claro que não. Apenas a trouxemos a
pedido da família.
A moça confirmou com um aceno de cabeça
e lançou uma observação no formulário, antes
de colocá-lo na mesma. Ainda não se deu por
satisfeita. Sorriu mais uma vez, inclinou-se para
a frente e fitou os olhos de Tiff, como se procu-
rasse uma resposta.
— Não tenho nada com isso, mas gostaria
de saber de que sistema é o senhor. Não deve
ser de Heroinka.
Tiff sacudiu a cabeça com tamanha Torça
que qualquer um acreditaria que para ele He-
roinka era o inferno.
— Venho do planeta Terra, sistema Sol! —
disse em tom indiferente. — A senhora o co-
nhece?
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Igual a Tiff, a moça sacudiu a cabeça violen-
tamente.
— Nunca ouvi falar. Ainda não tivemos ne-
nhum paciente de lá. Onde fica?
Tiff deu de ombros.
— Fica muito longe, a milhares de anos-luz.
A moça fitou Tiff com os olhos arregalados.
Depois soltou uma risada melódica. Naquele
instante, era bela e engraçadinha.
— O senhor está brincando. Não existe ne-
nhum sistema que fique a mais de cento e quin-
ze anos-luz daqui.
Tiff sabia que o conceito de ano-luz era qua-
se idêntico ao da Terra. O planeta completava
sua órbita em torno do astro central num perío-
do de trezentos e oitenta dias.
— Ao menos não existe nenhum sistema
pertencente ao Império.
— A Terra — disse Tiff, falando devagar e
com certa ênfase — não pertence ao Império.
A ara parou de rir. Escreveu algumas obser-
vações no formulário e atirou-o numa caixa me-
tálica. Ouviu-se um chiado, e formulário desa-
pareceu.
Abriu uma gaveta, tirou um disco metálico e
entregou-o a Tiff.
— Com isto o senhor pode pagar a uma
ambulância que tirará Thora de sua nave. Será
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levada automaticamente ao local indicado. En-
tregue a paciente e volte à sua nave. Desejo-lhe
uma longa vida.
Dirigiu-se ao próximo visitante, que era uma
coisa disforme com um traje pressurizado e
uma máscara.
Tiff arrastou Sengu consigo. O disco metáli-
co desaparecera no seu bolso. Quando se viram
do lado de fora, respiraram aliviados. O ar era
puro e tépido. Lembrava um dia de primavera
na Terra.
— Como é difícil chamar a atenção de al-
guém num lugar como este — disse Tiff em
tom preocupado. — Até parece um hospital da
Terra. Ali também se pode entrar sem que nin-
guém lhe pergunte quem é e o que deseja. Isso
num grande hospital, naturalmente. Mas experi-
mente entrar num edifício de apartamentos.
Todo mundo o olhará e perguntará quem é
você e com quem quer falar. E o planeta em
que nos encontramos forma um hospital. Não é
de admirar que nem queiram saber quem so-
mos. O que lhes interessa é que tragamos um
paciente e o respectivo dinheiro...
— O que vamos fazer? Não podemos entre-
gar Thora e voltar sozinhos.
— Não tenho a menor intenção de fazer
isso. A moça já colocou algumas informações
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no formulário. Na central, que reúne todas as
informações, começarão a desconfiar. Especial-
mente quando lerem a referência à Terra.
— Acredita que já ouviram falar no planeta
Terra?
Tiff acenou com a cabeça.
— De qualquer maneira desconfiarão. Tanto
faz que nunca tenham ouvido falar em nosso
planeta, ou que disponham de informações que
não poderão ser nada tranqüilizadoras. Estarão
muito interessados em travar conhecimento co-
nosco. Aposto que já nos estão esperando no
lugar para onde Thora será levada.
Perto do parque de estacionamento que já
haviam visto encontraram outro. Havia por ali
veículos dos mais variados tipos, capazes de
abrigar pacientes de todas as espécies. Um de-
les tinha o formato de grande aquário e estava
cheio de água. Tiff tinha uma fantasia bastante
ativa para imaginar como seria o paciente
transportado nesse veículo.
Tirou o disco metálico do bolso e examinou-
o mais detidamente. Possuía uma marcação. A
marcação, também redonda, que se via nas pa-
redes laterais do aquário transportável, não era
idêntica à de sua ficha.
Não demoraram em encontrar o carro desti-
nado a eles. Lembrava uma ambulância como
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qualquer outra. No lugar da maçaneta, havia
uma fenda. Embaixo, o desenho da moeda.
— É uma coisa bem bolada — murmurou
Tiff. — Até mesmo um analfabeto não teria a
menor dificuldade em orientar-se num lugar
como este.
Enfiou tranqüilamente a ficha na fenda.
A porta abriu-se silenciosamente, como se
uma mão de fantasma a movesse. Entraram. A
porta fechou-se, e o carro foi posto em movi-
mento. Saiu para o campo espacial e dirigiu-se
para a rua larga que passava entre as naves es-
tacionadas.
— Como é que o condutor automático vai
saber onde fica nossa nave? — perguntou Sen-
gu com certo ar de triunfo. — Não existe a me-
nor indicação sobre o lugar em que a Gazela se
acha estacionada. Será que existe uma explica-
ção lógica?
— Acho que existe — respondeu Tiff e viu
as naves gigantescas aproximarem-se com uma
rapidez vertiginosa. Não se sentia o menor aba-
lo. — Afinal, fomos apanhados por um carro.
O cérebro positrônico registrou a rota percorri-
da. Basta solicitá-la, e o minúsculo cérebro ro-
botizado do automóvel fornece os dados, que
são introduzidos na programação da ambulân-
cia. Como vê, é muito simples.
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O japonês desistiu. Sem dizer uma palavra,
resolveu aguardar os acontecimentos. Quando
o carro parou suavemente bem embaixo da es-
cotilha de entrada da Gazela, limitou-se a soltar
um ronronar de aprovação.
Thora estava acordada. Sorriu para os dois
homens, sem compreender o que estava acon-
tecendo. Como as correias a prendessem à
cama, Tiff não achou necessário pô-la a dormir
de novo. Por meio do antígravo portátil tiraram
a cama do camarote, levaram-na pelo estreito
corredor e finalmente a colocaram no automó-
vel que os esperava. A escotilha de entrada vol-
tou a ser fechada. Quando os dois homens ha-
viam entrado, as portas do veículo se fecharam
e este voltou a colocar-se em movimento.
Desta vez seguiu uma rota diferente.
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Os seiscentos e cinqüenta quilos do superpe-
sado Talamon acomodavam-se junto aos con-
troles da nave Tal VI. Estava estacionado no se-
tor de Dragolan, a uns 47 anos-luz de Árcon,
quando o receptor de hipercomunicação captou
uma mensagem dirigida a ele.
Vinha do quartel-general dos superpesados.
Talamon acenou com a cabeça; parecia sa-
tisfeito.
— O tédio da espera chegou ao fim. Está na
hora de acontecer alguma coisa, senão serei re-
tirado da circulação antes da hora.
Seu humor era um tanto mordaz.
O oficial de rádio anunciou que a ligação ha-
via sido completada.
Poucos segundos depois, respondeu o quar-
tel-general, que não estava instalado em algum
planeta, mas numa gigantesca nave cilíndrica.
— Talamon! Os aras estão solicitando ajuda
militar. Planeta de Aralon, sistema de Kesnar.
As coordenadas já são conhecidas. Duas naves,
uma delas de origem arcônida, devem ser des-
truídas. O comandante é um certo Perry Rho-
dan do planeta Terra. Não o conhecemos. De
quantas unidades dispõe?
— Cento e oito.
— Isso basta. Entre imediatamente na transi-
ção.
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Antes que Talamon tivesse tempo para con-
firmar, o quartel-general interrompeu o contato.
Talamon transmitiu as respectivas instruções
aos comandantes das naves e agiu sem demora.
Enquanto a frota acelerava, ficou refletindo
constantemente sobre o nome Perry Rhodan.
Era desconhecido?
Não, esse nome não era tão desconhecido
assim. Já o ouvira.
Seria Topthor que lhe havia falado nele...?
Naturalmente, foi Topthor! Em algum lugar,
a mais de trinta mil anos-luz do lugar em que se
encontrava, Topthor tivera um encontro com o
tal do Rhodan e levara a pior. Bem, isso não
aconteceria com ele, Talamon. Esse Rhodan
que tentasse enfrentar cem naves bem arma-
das... Pouco importava que viesse da Terra ou
do inferno.
Dez minutos depois da mensagem de socor-
ro de Themos, a frota de Talamon se materiali-
zou no sistema de Kesnar, a menos de três se-
gundos-luz de Aralon. Espalhou-se e entrou em
posição. Cinqüenta unidades pesadas bloquea-
ram o porto espacial. Mantendo-se numa altitu-
de de dois quilômetros, estenderam uma rede
impenetrável sobre o gigantesco campo de pou-
so, em cuja extremidade estava pousada a gi-
gantesca Titan.
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Talamon sentiu uma pressão no estômago
quando viu a gigantesca esfera. Nunca vira uma
nave desse tamanho. Devia ser o produto mais
recente dos estaleiros de Árcon. Bem, talvez o
monstro nem fosse tão perigoso como parecia
ser.
Bem, era só experimentar.
Ligou o telecomunicador.
— Regul, pegue dez naves e lance um ata-
que contra a esfera. Acione simultaneamente
todos os canhões de radiação de que dispõe
para romper o campo defensivo. Destrua a es-
fera, se puder. Ataque daqui a um minuto. Fim.
Regul confirmou e formou suas unidades
para o ataque.
Talamon continuava sentado atrás dos con-
troles da Tal VI. Estava esperando.
***
Gucky se materializou.
Três ou quatro aras espalharam-se apavora-
dos, quando viram o rato-castor formar-se re-
pentinamente diante deles. Um deles correu
com a capa esvoaçante em direção à porta.
Mas só conseguiu dar alguns passos. Sentiu-se
levantado e, deslocando-se que nem um torpe-
do, descreveu uma curva ampla pelo pavilhão,
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pousando com uma longa escorregadela diante
da parede. Confuso, mas sem ter sofrido feri-
mentos visíveis, ficou deitado.
— Onde está Themos? — perguntou Gucky
com a voz estridente, apontando para os dois
aras que tentavam desaparecer às escondidas.
— Levem-me ao lugar em que está. Rápido, se-
não eu os transformo em foguetes espaciais.
Até que o formato de vocês ajuda.
Os dois hesitaram, mas quando suas capas
conquistaram a independência e procuraram
ganhar a liberdade com tamanha força que se
rasgaram e, transformadas em panos de chão,
executaram algumas manobras e caíram lenta-
mente ao chão, desistiram. Resolveram obede-
cer. Viraram-se e marcharam por um corredor,
em cuja extremidade se via uma porta de vidro
opaco. O letreiro dizia que atrás dela o chefe
desempenhava suas funções.
Gucky expulsou os dois aras com um movi-
mento da mão e abriu a porta através da teleci-
nese. A porta se abriu, como se a mão de al-
gum espírito a tocasse. Themos estava sentado
atrás de sua mesa, exausto com as medidas es-
tratégicas que acabara de ordenar. E o calombo
da testa não diminuíra.
Gucky fechou a porta atrás de si. Aliás, pa-
recia fechar-se por si. Themos apavorou-se e
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chegou à conclusão de que a fase dos milagres
ainda não havia chegado ao fim. Mas nem des-
confiou de que os milagres mais grossos ainda
estavam por vir.
— Seu monstro de ara, será que você cha-
mou a frota dos saltadores? Fale logo, senão eu
o transformarei numa espiral giratória e o farei
descer ao centro de Aralon.
— Eu... eu...
— Obrigado — disse Gucky. — Já basta.
Sou telepata e posso ler os pensamentos imun-
dos que você traz na cabeça. Quer dizer que
você nos traiu. E foram logo os superpesados
que você mandou chamar. Rapaz, você come-
teu um erro imperdoável. Já sabíamos que você
estava fulo, mas nunca poderíamos imaginar
que, de tanta estupidez, você não consegue en-
xergar mais nada. Vamos! Você virá comigo.
— Os superpesados irão...
— Os superpesados podem dar-se por satis-
feitos se não os despacharmos para o inferno
— interrompeu Gucky, que mal conseguia con-
trolar-se. — Quero que você venha comigo.
Preciso mostrar-lhe uma coisa. Como é, ainda
não se decidiu?
Themos ergueu-se lentamente. Seus senti-
mentos não prenunciavam nada de bom, e não
tinha a menor curiosidade de ver o que esse pe-
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quenote queria mostrar-lhe.
De repente, Gucky captou os pensamentos
de Thora. Estavam carregados de medo cheio
de pânico. Lá fora, no campo de pouso, estava
sendo travada uma batalha encarniçada. Gucky
conseguiu descobrir isso em meio à confusão. A
Titan estava sendo atacada. Numa fuga desaba-
lada Thora conseguira colocar-se em segurança
no interior do edifício, depois de ter percorrido
metade do trajeto que a separava da nave.
A raiva de Gucky cresceu.
Não teve mais a menor contemplação. Sub-
meteu Themos ao seu controle telecinético e o
fez planar à sua frente, dois metros acima do
chão. Quando chegou ao pavilhão, viu que
Thora entrava e, exausta, se deixava cair numa
poltrona. Parecia ter chegado ao fim das suas
forças. Poucos segundos depois, foi seguida por
RK-940, cujos braços armados ainda estavam
incandescentes.
Themos aterrissou de forma nada suave aos
pés de Thora.
A arcônida levantou os olhos, viu Gucky e
depois o ara. Seu rosto contorceu-se. Themos
levou um soco do lado, que voltou a despertar
as dores já esquecidas da primeira queda. Cho-
ramingava tristemente. O robô levantou o braço
armado do lado direito e apontou-o para o trai-
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dor.
— Pare! — gritou Gucky. — Rhodan deu or-
dem para que não matássemos ninguém.
— Themos merece a morte — disse Thora,
vindo em apoio do robô. Sua raiva era ainda
maior que a de Gucky, e isso significava alguma
coisa. — Por que vamos poupá-lo?
— Quem vai decidir isso é Rhodan — chiou
o rato-castor em tom apaziguador. — Este su-
jeito não nos escapará.
— Onde está Rhodan? — perguntou Thora.
Só agora parecia lembrar-se dele.
Gucky olhou para as entradas dos elevado-
res.
— Deve chegar a qualquer momento. Já
está a caminho com Crest, Tiff e Sengu. Os
dois robôs virão atrás deles. Vão usar o peque-
no elevador de passageiros, porque o outro está
estragado.
Thora levantou-se devagar e foi caminhando
em direção ao elevador. Duas portas fechavam
as entradas para os poços dos elevadores: uma
larga, outra estreita.
— Não é essa porta — gritou Gucky, quan-
do comprimiu um botão e a porta larga se
abriu. Não se via nenhuma cabine de elevador,
apenas uma abertura grande e escura. Era o
poço, que descia mais de dez mil metros. — Já
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disse que é o elevador pequeno.
Thora deixou aberta a porta maior e dirigiu-
se ao elevador de passageiros. Mais uma vez viu
o poço, mas dele saiu um zumbido monótono.
Era a cabine do elevador que estava subindo.
Demorou mais dois minutos até que parou.
Rhodan entrou no pavilhão, seguido dos três
acompanhantes. O rosto de Thora cobriu-se
com um brilho de alegria e alívio. Correu para
Rhodan e segurou-lhe as mãos.
— Perry, sinto-me tão satisfeita, eu... eu...
Rhodan retribuiu a pressão das mãos de
Thora.
— Obrigado, Thora. A senhora acaba de me
dar uma grande alegria. Mais uma vez, muito
obrigado, Thora. Mas não temos tempo para
tratar de assuntos particulares. Sengu, a caixa
com os medicamentos. Entregue-a ao RK-940.
Gucky ergueu-se à frente de Rhodan. Pre-
tendia dizer alguma coisa, quando Thora soltou
um grito. Quando se virou a fim de voltar para
sua poltrona, lembrou-se de Themos.
O ara ficara apavorado ao ver que seu inimi-
go saíra são e salvo do elevador, seguido pelos
prisioneiros e o arcônida. Reunindo as forças
que ainda lhe restavam, levantou-se de um salto
e, passando por Thora, correu em direção ao
elevador. Acreditava que a fuga para o labirinto
131
subterrâneo seria a única possibilidade de esca-
par à vingança de Rhodan.
No seu nervosismo, confundiu as portas. De-
morou um segundo para perceber o engano.
Com um grito apavorante caiu no poço.
Rhodan correu para o elevador e contem-
plou a profundidade abismal, como se pudesse
fazer alguma coisa pelo traidor. Mas logo viu
que só havia uma pessoa que poderia ajudá-lo.
— Gucky! — gritou apressadamente. —
Traga-o de volta. Depressa!
O rato-castor lançou um olhar rápido para
Thora. O rosto da arcônida, que ainda há pou-
co estava marcado pela surpresa, voltara a ficar
liso e indiferente.
— Gucky! — gritou Rhodan em tom mais
insistente. — Será que você não ouviu?
O rato-castor arrastou-se em direção a Tho-
ra e olhou para o relógio da arcônida.
— Themos já está caindo há trinta segundos
— constatou em tom objetivo. — São quase
cinco mil metros. Não é de supor que a queda
tenha sido perfeitamente vertical. Já está mor-
to.
— Gucky! — a voz de Rhodan assumiu um
tom mais enérgico. — Faça imediatamente o
que eu lhe disse.
— Quarenta segundos! — disse o rato-castor
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com a maior indiferença. — São oito quilôme-
tros. Rhodan, recuso-me a cumprir a ordem.
Themos é um traidor miserável, que está sendo
castigado pelo destino. Ninguém tem o direito
de interferir no destino. Cinqüenta segundos.
Themos está morto; não existe a menor dúvida.
O rosto de Rhodan estava pálido. Em seus
olhos chamejava a raiva e o aborrecimento.
— Gucky, você acaba de cometer uma insu-
bordinação. Ainda falaremos sobre isso — in-
terrompeu-se ao ouvir um ruído atrás das suas
costas. Era apenas a cabine do elevador, que
descia para trazer os robôs. Ao que parecia, o
incidente estava esquecido. Apertou um botão e
entrou em contato com a Titan. — Tenente
Bristal? Quero um relato da situação. Rápido!
— Dez naves inimigas estão atacando. Nos-
sos campos defensivos resistem. O que deve-
mos fazer?
— Aguarde. Dentro de dez segundos estarei
aí. Ligue o hipertransmissor.
Dirigindo-se a Gucky, prosseguiu:
— Leve-nos à sala de comando da Titan.
Thora e Crest, daqui a pouco serão apanhados;
Tiff e Sengu também. Até já.
Gucky enlaçou Rhodan com os braços cur-
tos e desapareceu numa fração de segundo. Os
que ficaram para trás ainda chegaram a ver o
133
brilho triunfante nos olhos do rato-castor.
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155
Havia muitos observadores que acompa-
nhavam a ação de Rhodan com uma tremen-
da atenção. Era a primeira vez na história do
Grande Império que alguém se levantava, in-
tervinha com mão de ferro nos acontecimen-
tos de Aralon e dava uma lição amarga aos
médicos galácticos.
Será que os aras tomarão essa lição a pei-
to e passarão a agir exclusivamente em bene-
fício da Galáxia?
Em PROJETO AÇO ARCÔNIDA, próxi-
mo volume da série, uma estranha ameaça
surge.
*
* *
ÐØØM SCANS
PROJETO FUTURÂMICA ESPACIAL
https://doom-scans.blogspot.com.br
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