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Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Título original:

Die Späher der Gevari

Hans Kneifel

Tradução:

ProjetoTraduções

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Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Índice

Capítulo 1!.....................................................................................5

Capítulo 2!...................................................................................12

Capítulo 3!...................................................................................19

Capítulo 4!...................................................................................26

Capítulo 5!...................................................................................33

Capítulo 6!...................................................................................46

Capítulo 7!...................................................................................52

Capítulo 8!...................................................................................59

Capítulo 9!...................................................................................66

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Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

De Hans Kneifel
Na Terra e em outros mundos da humanidade, registra-se o começo de julho
do ano 3442.
Na luta contra o caos da imbecilização que domina a galáxia e contra o poder
do Enxame, Perry Rhodan e seus poucos imunes já haviam obtido sucessos
consideráveis, e mesmo na Terra havia alguns avanços a serem assinalados. Lá, a
maioria dos homens já havia recuperado parcialmente sua antiga inteligência e a
colocado em uso de maneira útil. Isso valia especialmente para os homens e
mulheres da Marco Polo. Eles voltaram a bordo da nave capitânia e conseguiram,
ao penetrarem no Enxame, recuperar sua inteligência toda de volta.
Com a Marco Polo, completamente tripulada e pronta para a batalha, e suas
naves auxiliares robotizadas, Perry Rhodan possui uma considerável força armada,
com a qual ele poderia atrapalhar os outros planos dos Senhores do Enxame de
maneira sensível.
Com o projeto “Infectar”, os terranos da Marco Polo conseguiram causar
confusão e pânico nas fileiras dos oponentes. Mas logo se mostraria que os
controladores do Enxame estão em condições de pagar na mesma moeda.
Os membros da Gevari, sob o comando de Atlan, enviados em uma missão de
reconhecimento, foram os primeiros a sentirem isso. Eles incorreram em grande risco,
apesar da ação da “Cavalaria Espacial”, e agora esperam por ajuda de Perry
Rhodan.
Mas ele também havia se encontrado em uma situação extremamente crítica e
agora faz tudo em seu poder para conseguir salvar OS SENTINELAS DA GEVARI.

Personagens Principais

• Atlan
Chefe da Expedição Gevari.

• Sandal Tolk
O vingador de Exota Alfa.

• Mentro Kosum
Piloto da Gevari.

• Ras Tschubai e Gucky


Teleportadores a bordo da Gevari.

• Takvorian
A “Cavalaria Espacial Solar”.

• Y’Xantramon
Um deus é localizado.

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Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Capítulo 1

Quando Takvorian virou sua cabeça, ele viu o gelo cheio de fissuras do
desfiladeiro. Um pálido crepúsculo apagava os contornos. Takvorian estava
exausto... esgotado. Ele respirava com dificuldade e tentava alinhar seus
movimentos com o lento tempo que se passava no campo de inibição do
fragmento de planeta. Aqui, um movimento que ele concluiria em um segundo
durava um minuto. Nós temos que encontrar um caminho para nos livrarmos
desse campo!, pensou ele decidido.
No momento, Takvorian também se encontrava nesse campo que os
estrambólicos emitiam para afetar os prisioneiros em seu fragmento de planeta.
Takvorian refletiu...
Provavelmente a Marco Polo se aproximava de seu posicionamento, ou
seja, do esconderijo do grupo do Lorde-Almirante Atlan. Mas isso não era
certo...
Ele olhou para o gelo novamente.
Há alguns segundos, ele, Takvorian, o amigo dos Ganjo e um estranho
nessa galáxia, havia colocado o arcônida em seu Campo-Rothyer. Atlan havia
procedido às máquinas do jato, não a todas, pois a capacidade de Takvorian era
limitada! – e pilotado o disco pelo desfiladeiro com pedaços de estalactites de
gelo. Agora o jato se encontrava em um ângulo louco entre as paredes de gelo: a
cobertura era ainda melhor. As superfícies de gelo ascendiam a mais de
duzentos metros de altura à esquerda e à direita do objeto voador, e eram
permeadas por longas colunas. O jato estava inclinado em cerca de quarenta e
cinco graus. Ele tocava com uma parte de seus cantos afiados o ângulo entre o
chão e a parede, e com os outros ela jazia sobre o gelo, derretendo-o e formando
um grande rastro. A estrutura inteira estava inclinada e permanecia quieta ali.
Apenas ocasionalmente havia um repuxão quase imperceptível na massa de
metal – então mais um pedaço de gelo derretido, e o jato se afundava de
maneira infinitamente lenta.
O que podemos fazer?, Takvorian se perguntava.
Durante algum tempo, apenas reinava um silêncio de rádio. Somente
poucas máquinas funcionavam, as quais supriam o interior do jato e os seus
onze tripulantes com o ar necessário à sobrevivência. A situação chegava ao
cúmulo do intolerável. Seres tão diversos apenas poderiam aguentar essa
pressão por um tempo limitado. E Takvorian não estava em condições de
neutralizar o campo inimigo de tal maneira que até os propulsores do jato
obedecessem à dinâmica temporal normal. Assim, uma decolagem era
impossível no momento.
Eles tinham que achar a fonte de radiação e desativá-la.
Takvorian olhou novamente para fora, entre as altas paredes de gelo e no
“céu” sobre o fragmento de planeta, o qual possuía a forma de um machado de
mão pré-histórico. Todo o “lado diurno” desse corpo cósmico inacreditável
estava coberto pelo campo. Longas rachaduras de gelo mostravam a estreita
abertura entre os penhascos de gelo brancos como leite. Um pedaço se soltou do
topo e caiu. Takvorian observou o fragmento girar como em câmera lenta e, por
fim, tombar, rompendo pequenas lascas de gelo que colidiram contra as
paredes. Isso ocasionou uma chuva de granizo de outros cristais. Todos os

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movimentos se passavam lentamente, quase insuportavelmente lentos e


dolorosos. Pareciam durar minutos até que a chuva de cristais de gelo, flocos de
neve e grandes detritos alcançassem a cúpula do jato e ali se dispersassem. Os
ruídos com o que isso acontecia eram profundos e escuros, ecoando em uma
longa sucessão, e alguns deles se encontravam além do limite da audição, na
região do infrassom.
Takvorian descansava; no momento ele não gerava nenhum
contracampo. E uma parte da tripulação dormia. Mas o desconforto e o
sentimento de perigo aumentavam. Eles todos sabiam que os seres de forma
estrambólica, outro povo escravo do gigantesco Enxame, poderia aumentar o
valor da desaceleração atual em dez vezes.
Um movimento, que normalmente duraria um segundo para acontecer,
passaria a durar uma pequena eternidade de seiscentos segundos, ou seja, dez
minutos.
Takvorian notou um movimento com o canto dos olhos. Ele tomou fôlego
de maneira interminavelmente lenta e criou um pequeno Campo-Rothyer. Ele
apenas cobria a extensão de seu corpo.
Então ele se virou, prestando atenção exatamente onde colocava seus
quatro cascos. Ele esbarrou em uma poltrona com o flanco, e viu que Sandal
havia levantado o braço e tentava acenar para ele. O movimento se mostrava
grotescamente lento para o mutante-cavalo, uma das criações dos cappins
criminosos.
O Campo-Rothyer se expandiu e abarcou Sandal Tolk, o qual se
encontrava em uma poltrona. Sandal arremessou-se da poltrona, lançou um
olhar para o rato-castor adormecido e apontou para Atlan. E então ele falou
alto:
“Nós temos que tentar alguma coisa a todo custo, Takvorian. Por favor,
coloque Atlan em seu campo!”
Takvorian fez que sim com a cabeça. No momento, ele era a figura mais
importante nesse pequeno drama. Eles precisavam achar uma maneira de
acabar com esse estado irritante.
“Um segundo!”, falou ele inquieto.
Atlan ouviu alguma coisa; as palavras de Sandal chegaram prolongadas e
profundas, apenas parcialmente entendíveis, aos ouvidos do arcônida. E então
ele também agora se encontrava dentro do Campo-Rothyer neutralizante. Ele
sabia como era importante que os três chegassem rapidamente a uma decisão.
Quanto maior era o campo, e quanto mais esse estado durasse, mais Takvorian
se exauria.
Takvorian disse baixo:
“Estou no fim das minhas forças. Entre as próximas ações que devem se
passar sob a proteção do Campo-Rothyer, eu tenho que fazer uma longa pausa.
O que você tem em mente, Sandal?”
Sandal Tolk, o homem de Exota Alfa, sacudiu-se para tirar o feitiço da
inibição. Ele tomou fôlego e disse:
“Não há possibilidade de deixar o planeta enquanto durar o campo, como
já mostrou a tentativa com o transmissor. Eu tenho razão, amigo Atlan?”
O arcônida, seu grande amigo, aproximou-se rapidamente e parou ao
lago de Takvorian; assim a expansão do campo era amenizada e as forças do
mutante eram poupadas. O bárbaro de cabelos bancos se encontrava ao lado da
parte superior humana do corpo de Takvorian.

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“Assim é. Sua expressão facial não me agrada, Sandal. Em que você está
pensando?”
Sandal falou baixo e furioso:
“Não podemos contar com esses seres levantando voluntariamente o
campo de desaceleração.”
“Dificilmente!”, falou Atlan. Seu sentido extra sussurrava intensamente:
Sandal quer mudar a situação pela força – e eu acredito que ele tenha chances
de fazê-lo, se começarmos da maneira certa.
Sandal esclareceu:
“Meu arco e eu, e Takvorian. Nós somos as armas com as quais nós
podemos obrigar os estranhos a desistir do mal.”
Sua mão apontou para o poderoso arco e as duas aljavas cheias de flechas
especiais.
“Eu vou perguntar de novo: o que você tem em mente?”, falou o arcônida
com uma face imóvel.
Ele sabia, assim como todos, que esse estado não poderia continuar por
muito tempo mais. Eles tinham que voltar para a proteção da Marco Polo.
“Eu penso da seguinte forma: os estrambólicos usam determinadas
máquinas para fortalecer suas radiações. Certo?”
Takvorian respondeu baixo:
“Certo.”
Ele baixou a cabeça, levantou os braços. Atlan, Sandal viram que os
dedos do mutante tremiam, e que também os joelhos de seu corpo de centauro
tremiam. Sob a pele lisa também tremiam os músculos do corpo de cavalo. Seu
rabo também tiritava.
“Se nós conseguirmos estrangular a energia das máquinas ou desligá-las,
então teremos a chance de que precisamos!”, falou Sandal apressadamente.
“Você tem razão, amigo Sandal!”, falou Atlan. “Mas...”
Sandal afastou todos os argumentos um único e rápido movimento de
mão e continuou insistentemente:
“Apenas nós dois, Takvorian e eu!”
“Entendido!”, falou o mutante-cavalo. “Nós avançamos e procuramos
atingir os estrambólicos?”
“Foi assim que planejei. Se nós abrirmos mão de algumas armas de
energia...”
Atlan interveio:
“E o arco não é uma arma de energia...”
Sandal concordou decidido.
“Certo. Se nós abrirmos mão delas, nós teremos excelentes
possibilidades. Nós nos movimentaremos no Campo-Rothyer através de uma
paisagem de movimentos congelados e obrigaremos os seres a suspender o
bloqueio dos raios de inibição.”
Atlan se lembrou de que algumas localizações eram conhecidas; cidades
que eram acordadas da longa hibernação da noite planetária e novamente
abertas.
“Estou de acordo!”, falou ele. “Quando?”
Sandal retrucou furioso:
“Eu estou pronto – mas tudo depende de Takvorian.”

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Ele olhou fixamente nos grandes olhos da esguia cabeça humana do


mutante-cavalo. Takvorian levantou os ombros e deixou-os cair lentamente de
novo.
“Eu estou me sentindo exausto”, falou ele. “Se eu tomar medicamentos
revigorantes, então talvez aguente mais algumas horas. Mas não mais que isso!”
Atlan enrugou a testa. Sua voz interior sussurrava:
Isso é arriscado. Supondo que eles precisem de três horas, então
Takvorian estará esgotado. Não haveria nenhuma possibilidade de salvá-los.
“E se... se vocês lá fora não chegarem ao objetivo? Quem os trará de
volta?”
Sandal encolheu os ombros de maneira fatalista e respondeu incisivo:
“Takvorian. Você consegue aguentar?”
Depois um longo bufo, ele respondeu:
“Cinco horas. Esse é o limite que eu mesmo me concedo. Eu calculo que
nós alcancemos as sombras energéticas dos projetores e tenhamos que superar
alguns obstáculos na ida e na volta. Provavelmente você, Atlan, terá que nos
buscar – em algum lugar lá fora.”
A zona crepuscular se aproximava. Eles o viam na resplandecência sobre
a barreira de gelo, a qual havia ficado um pouco mais clara.
Atlan falou finalmente:
“Eu estou de acordo. Cinco horas, então, com a reserva pra voltar?”
Takvorian abaixou a cabeça e roçou nervosamente o casco.
“Sim. Eu vou precisar de algumas seringas com medicamentos
estimulantes e, antes disso, de comer suficientemente. Eu aconselho o mesmo a
Sandal. E nós precisaremos de um equipamento especial.”
“Certamente”, falou o arcônida. “Ele está a bordo. Recupere-se – Sandal
e eu procuraremos juntos o que precisamos. Mantenha-nos no campo?”
Takvorian apenas acenou com a cabeça.
Enquanto Atlan abria a farmácia de bordo, ele pensava no ousado plano.
A fúria e a inquietação de Sandal eram compreensíveis e de maneira alguma
eram menores que as dos outros dez tripulantes. Seu plano havia surgido a
partir da situação de emergência.
Eles sabiam que sob as atuais circunstâncias duraria pouco tempo até
que o jato fosse descoberto pelos estrambólicos. Eles realmente os procuravam?
Tudo isso eram fatores de grande insegurança. Eles deviam agir para
mudar o jogo e deixar o inimigo em uma situação mais desfavorável.
Um povo escravo, os estrambólicos, que obedeciam a ordens de seres
estrangeiros a um deus com o estranho nome Y’Xanthymr, monitoravam outros
escravos e habitavam esse planeta atípico... uma situação curiosa havia se
estabelecido.
Enquanto Atlan colocava cuidadosamente as cápsulas de medicamento
nas seringas de pressão, protegido pelo anticampo do mutante, ele ouviu um
chamado baixo.
“Atlan!”
Era a voz de Takvorian.
“Aqui! O que está acontecendo?”
Atlan ainda virava-se quando ouviu a resposta.
“O campo está mudando de força!”
Atlan correu para a cúpula e olhou para Takvorian. Uma lasca de gelo
bateu no metal do jato de maneira estrondosa. O tom da batida soou diferente.

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Lentamente, o halutense mexeu-se e abriu seus maxilares. Isso já era a resposta,


mas Atlan falou uma segunda vez:
“Em qual direção, Takvorian?”
“Ele acabou de tornar-se mais fraco, veja só!”
Alguns segundos se passaram. Os outros membros da tripulação se
moviam lentamente. Eles ainda se encontravam sob o efeito da radiação de
desaceleração, mas sua força havia se reduzido drasticamente.
Takvorian murmurou:
“Parece que eles não nos localizaram. Eles nos procuram sem nenhum
método. No momento, o campo está sendo reduzido quase completamente.”
Era como um milagre, um milagre furtivo, pensou ele.
As poucas máquinas do jato funcionavam agora de maneira quase
totalmente normal. Os movimentos dos homens se tornavam cada vez mais
velozes. Eles se levantavam e corriam para a cozinha da nave; a fome e a sede
haviam se tornado grandes. Era como uma suspensão temporária de uma
prisão. Sandal arrastava os equipamentos, e Takvorian estava simplesmente
parado.
“A radiação se enfraqueceu bastante”, falou ele. “O campo de inibição
também migrou ainda mais para o lado noturno. Então eles ainda nos procuram
– eles não sabem onde estamos.”
Suspeitava-se que os intrusos estivessem em todo lugar, mas não nas
proximidades da zona crepuscular.
“Perfeito!”, falou Sandal e agarrou suas duas aljavas. “Vamos! Vista-se,
Takvorian!”
“Sim, claro!”, murmurou o mutante distraído.
Enquanto Atlan preparava as seringas, Sandal começou a se vestir
calmamente, mas com movimentos decididos.
Ele sabia o frio que fazia lá fora, ele preferiria suar a arriscar perder uma
flechada devido aos dedos tesos de frio. Ele sabia que iria se deparar com vários
estágios do clima, desde tempestades furiosas do lado noturno até redemoinhos
da força de Coriolis na área da estreita zona crepuscular e os movimentos
congelados nos “dias” claros desse planeta.
Meias grossas, duas calças sobrepostas, dois pulôveres grossos e então
um traje de proteção cuja energia poderia ser trocada sem radiação mensurável.
Além disso, as garrafas e baterias dos gases para a respiração. Takvorian
colocou o mesmo equipamento depois que as primeiras ondas de calor dos
medicamentos atravessaram seu corpo.
Há três minutos o relógio da nave corria normalmente, desde então todos
podiam se movimentar.
Icho Tolot falou com a voz de trovão:
“Eu já entendi o que vocês estão planejando – eu também queria poder
escapar desse campo. Então esse jovem fanático poderia cavalgar em meus
ombros.”
“Sinto muito, Icho!”, disse Takvorian. “Desculpe: Tolotos!”
O gigante halutense fez sinal que tudo bem e encolheu-se, como se
esperasse um novo golpe dos raios de inibição.
“Tudo bem. Eu desejo boa sorte a vocês.”
Alguns minutos mais tarde, Takvorian e Sandal estavam equipados. As
tentativas de colocar os forasteiros nas mãos do campo de desaceleração haviam
interrompido as preparações brevemente por três vezes. Completa “liberdade”

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havia alternado com fortes golpes massivos de radiação; Atlan desistiu de


qualquer tentativa de ligar o jato. “Vão!”, disse ele. “Vocês possuem um aparelho
de rádio – vocês podem entrar em contato casos suas vidas estejam em perigo.
Eu não preciso ressaltar que é muito perigoso ligar o aparelho de rádio”.
Takvorian, que de longe parecia um cavalo de corrida medieval, falou sob a
máscara especial:
“E, além disso, desnecessário, pois provavelmente não haveria ninguém
aqui que pudesse nos responder. Eu sugiro que todos ocupem seus lugares mais
confortáveis antes que eu deixe o jato, pois não haverá mais ninguém que possa
gerar o Campo-Rothyer.”
Atlan foi até sua poltrona, que se encontrava diante do controle do jato, e
se sentou.
“Bom!”, falou ele. “Muita sorte. Vocês sabem o que devem fazer!”
Sandal acenou furioso com a cabeça e disse:
“Eu sei muito bem, amigo Atlan. Pena, Tahonka, que nós dois não
possamos ir juntos!”
Tahonka-No abriu a boca com os lábios duros, córneos, e disse alto:
“O tempo em que lutaremos juntos virá novamente, tão certo como o
longo dia desse planeta!”
“Palavras verdadeiras!”, falou Sandal e seguiu Takvorian até a comporta.
A força repressora do campo ainda não havia alcançado o jato. Eles ainda
podiam se movimentar sem o anticampo do mutante.
Atrás deles, fechou-se a escotilha.
“Nós nos esquecemos de trazer uma longa plataforma”, falou Sandal,
quando a comporta se abriu e eles respiraram o ar gelado.
Takvorian retrucou de maneira confusa:
“Não demora muito.”
Eles ficaram na beirada da abertura. O chão jazia inclinado sobre eles.
Eles olharam em direção ao crepúsculo incerto sobre o desfiladeiro. O chão do
penhasco de gelo jazia a alguns metros debaixo deles. Quantos metros? Se eles
pulassem, havia o perigo de quebrar os ossos. Como eles chegariam lá embaixo
sem ligar os dispositivos energéticos? Se eles ligassem um campo de energia, o
perigo de localização era muito grande.
Takvorian esclareceu:
“Nós esperaremos um pouco.”
“Por quê?”
No mesmo instante, ele entendeu e começou a se sentir envergonhado
por não ter entendido imediatamente a mecânica do processo.
O campo de inibição se movimentava em forças diferentes e também
oscilantes sobre a superfície do planeta. Dois minutos depois, ele alcançou
novamente o desfiladeiro no qual Atlan havia escondido o jato.
Takvorian levantou a mão e disse:
“Agora. Simplesmente pule!”
Ele neutralizou o campo completamente por alguns segundos. Nesses
segundos, ele pulou primeiro e então Sandal. E então o mutante diminuiu sua
influência e assim permaneceu. De um rápido movimento de caída fez-se um
interminavelmente lento. Os dois amigos flutuavam lentamente para baixo,
sobre eles o sistema de comporta aberto. Eles esperavam alcançar essa
comporta novamente por um raio de tração quando sua missão tivesse acabado.
Eles não falhariam, jurou Sandal.

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Sua vingança ainda não havia se efetuado – ainda não.


Os Príncipes do Enxame se escondiam, dele e de suas flechas mortais.
“Vingança para o castelo Crater”, murmurou ele.
Suas botas pesadas e forradas tocaram o chão.
Takvorian estava em pé esperando e disse:
“Suba em meu lombo, amigo Sandal! Nós faremos tudo que está em
nosso alcance.”
Ele erigiu um Campo-Rothyer que envolvia a ele e a Sandal. Ele tinha
aproximadamente uma forma esférica. Dentro desse campo, todos os
movimentos corriam normalmente, ou seja, na velocidade ou lentidão habitual
das condições terranas.
Mas a primeira flecha que Sandal atirasse já iria deixar esse campo
protetor e se submeter às leis do planeta Porteiro no Sistema Solar Alfa-Interno.
Cuidadosamente, Takvorian colocava um casco depois do outro. Pontas
de aço cavavam o gelo e faziam rangidos. Ao lado do mutante-cavalo ia Sandal
Tolk.
Ele havia jogado o arco sobre os ombros; o tendão endireitou-se diante
de seu peito. À esquerda e à direita de sua “sela”, na qual ele se segurava para
não cair, achavam-se as duas aljavas com cem flechas cada uma.
A saída do cânion sinuoso começava.

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Capítulo 2

O “planeta” Porteiro era uma curiosidade cósmica.


Isso Atlan já havia percebido quando ele entrou nessa cilada após o dia
27 de junho. Depois havia se mostrado que sua desconfiança tinha justificativa.
Porteiro, assim haviam batizado o corpo celestial, que parecia um machado de
mão pré-histórico, uma maçaroca comprida e disforme. Com a ponta na frente,
ele se movimentava em sua órbita ao redor do sol; esse fragmento de planeta
precisava de menos de cinco anos-padrão para completar um ano sideral.
Ele possuía uma atmosfera oxigenada que se parecia à terrana; de
qualquer forma, os tripulantes da Gevari podiam respirar sem prejuízo. A
aceleração gravitacional da superfície possuía menos de 0,68 g, e essa “coisa”
girava. O pedaço de pedra oscilava lentamente em volta de um eixo polar, que se
encontrava dentro de um eixo longitudinal, em um centro de massa
matemático. A maçaroca girava lentamente ao longo de uma linha que era
idêntica à linha orbital elíptica quase circular.
Os habitantes eram nômades de rotação, que seguiam a luz. Sua meia
civilização jazia durante a metade do ano sideral na escuridão e no frio, e a outra
metade na luz do sol. Uma estreita zona crepuscular, na qual se amotinavam
tempestades em lugares determinados e apenas lá, onde o campo de inibição
entrava em ação, paralisava, envolvia como uma fita o machado de mão de polo
a polo, do lado pontudo até o arredondamento quase completo do final obtuso.
Sandal e Takvorian se movimentavam para fora dessa zona crepuscular.
Eles haviam acabado de chegar à entrada do desfiladeiro. Aqui se
encontrava a zona de ablação de geleiras gigantes periódicas. O rio passava sob
as poderosas plataformas de gelo... era notável de ser ver e assombroso.
Ele jorrava por vinte metros de comprimento sobre as pedras frias,
solapava o gelo e seguia sinuosamente entre superfícies de areia e argila
depositada pelas geleiras. Depois desses vinte metros (isso aconteceu no
momento em que Sandal pulou para o lombo do mutante e colocou suas pernas
nas presilhas), o rio represava e o campo de inibição começava ali novamente.
A água parecia se solidificar em um só instante. Até as gotas
arremessadas faziam uma parábola no ar, interminavelmente lentas. Sandal
pestanejou sob sua grossa máscara e sentiu a corrente de ar quente.
“Vamos!”, disse ele. “Saudemos os nômades de rotação!”
Takvorian controlou uma última vez sua alimentação de oxigênio, sentiu
os medicamentos estimulantes em seu corpo de cavalo e começou a trotar.
Sandal estava leve; e além disso o bárbaro se sentava de maneira a suavizar o
peso para Takvorian.
“Para onde?”
“Ali na frente tem uma cidade. Ela logo será alcançada pelo sol – cerca de
dez quilômetros!”, disse Sandal.
Takvorian avançou.
Dentro de quinhentos metros, a paisagem mudou suas características no
mínimo dez vezes. E a radiação mudou quatro vezes sua intensidade. Por alguns
minutos era tão boa como se não existisse. Com um galope rápido e incisivo,
Takvorian pulava em direção à luz. O céu sobre eles ficava cada vez mais claro.
Eles eram mais rápidos do que o nascer do sol, do que a velocidade com a qual a

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Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

zona crepuscular circulava o planeta. Passaram-se alguns minutos, nos quais


Sandal e Takvorian observaram o terreno. Das camadas de rocha formavam-se
musgos. A natureza acordava cada vez mais à medida que se aproximavam da
luz. Em algum lugar, o sol iria se levantar para eles. Eles já viam seus raios nos
topos das montanhas das quais eles vinham. E também dois terços da cidade já
haviam sido iluminados.
Atrás de si, Sandal sabia que a nave se encontrava novamente sob o efeito
da radiação. Quão forte ela era, ninguém poderia dizer no momento. Eles
conseguiram decolar a nave, apesar de ela estar inclinada. As máquinas,
amparadas pelos projetores antigravitacionais controláveis, atirariam o jato no
céu sobre Porteiro em questão de segundos, assim que o perigo da radiação
fosse eliminado.
“Para a direita!”, gritou Sandal.
Takvorian levantou o braço; ele havia entendido. Alguns metros depois
ele viu o que Sandal quis dizer. Ali se estendia por alguns quilômetros uma
barreira, a qual era constituída de restos de gelo, pedras e árvores, cujos ramos
eram adornados pela geada e por pingentes de gelo. Impressionante, pensou
Takvorian, como esse jovem homem havia encontrado rapidamente a melhor
possibilidade de cobertura, como se estivesse em fuga durante a vida inteira.
A paisagem ao redor dela estava paralisada de duas formas. Enquanto o
som abafado dos cascos batia nos ouvidos dos dois intrusos, Sandal e Takvorian
olharam em volta. Eles tinham que chegar à cidade sem serem percebidos. O
sopé da montanha da qual eles vinham se dividia atrás deles no desfiladeiro
com a geleira com as altas paredes de gelo.
Entre as longas fileiras de árvores congeladas e a interrupção das geleiras
se encontrava uma superfície de cascalho branca e oblíqua, a “morena” final,
isto é, um amontoado de blocos carregados pelas geleiras. Dela projetavam-se
enormes pedaços de rochas que haviam sido transportados até aqui das zonas
montanhosas mais altas. Dentro de alguns dias ou semanas, essa zona iria se
transformar em uma ampla faixa verde. Todas as plantas e animais estavam
hibernando.
A luz se aproximava.
Mais precisamente: o trote rápido sob o céu branco do fragmento de
planeta levava Takvorian e Sandal para cada vez mais perto da zona iluminada
pelo “sol da manhã”. Eles ainda se encontravam sob a cobertura perfeita da
abertura no chão, atrás das árvores cobertas de gelo e dos arbustos
arredondados.
Sandal tirou seu arco dos ombros e testou a tensão da corda. Fazia muito
frio.
“Takvorian?”
O mutante-cavalo fincou a ferradura de seus cascos no chão gelado e
parou. Sandal sentia que Takvorian se cansava aos poucos, apesar dos
medicamentos.
“Sim?”
Sandal levantou sua máscara e sentiu o ar gelado que ventava ali. O fato
de ele conseguir constatar o movimento do vento significava que o campo não
estava fazendo efeito naquele momento, ou que fazia pouco efeito.
“Você pode fazer uma segunda corrida?”
Takvorian balançou a cabeça e agitou os braços em volta de si; ele
também congelava.

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Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

“Não agora. Eu preciso de um pouco de descanso. No momento, o campo


se encontra em outro lugar, Sandal. Nosso objetivo é o povoado ali?”
“Sim, mas não em uma abordagem direta, e sim por rodeios. Eles não
podem nos ver. Certo?”
“Certamente!”, falou Takvorian. “Eu tenho que parar.”
Sandal pulou da sela provisória e tocou o chão.
“Fique aqui”, falou ele. “Eu vou subir ali para as árvores gigantescas. Se o
campo de inibição voltar, você tem que me buscar.”
“Claro.”
Eles já estavam a caminho por certa de três quartos de hora. Por vinte ou
mais quilômetros, Takvorian havia cavalgado freneticamente. Agora ele estava
exausto, apesar dos medicamentos.
Sandal esticou os músculos sob o grosso tecido que ele usava. Apenas nos
lugares onde a máscara não estava totalmente fixa e não era coberta pelo tecido
do capuz claro, o frio cortava sua pele. Uma vez por outra, o ar quente do
aparelho de respiração soprava e expulsava o ar frio. Apesar disso, o frio mordia
a pele do rosto de Sandal e a fazia arder. Sandal acenou para Takvorian e saiu
correndo.
Ele pulou na borda do terreno, escalou como um gato sobre pedaços de
terra congelados, sobre estalactites de gelo e rochas, e alcançou o matagal entre
a pequena colina, coberta pelo branco imenso das árvores congeladas, e a
localização de seu amigo.
Ele escorregou várias vezes e parou sua queda com as mãos. Sobre luvas
finas e apertadas feitas de um material poroso, que era melhor do que couro
natural, ele usava luvas grossas e forradas que o protegiam do frio – ele
precisava de dedos aquecidos e ágeis para poder atirar.
Então ele emergiu atrás de troncos incrustados de gelo e olhou para o sol.
Ele esperou.
Seus olhos corriam ao redor. Ele registrava atentamente cada ponto das
redondezas, cada peculiaridade.
A cerca de cinco quilômetros de distância de onde ele estava, uma cidade
acabava de acordar para a vida. Ela havia acabado de ser liberada de seu estado
de preservação. Algumas abóbadas rebaixadas se achavam rodeadas de restos
de gelo, em meio a zonas nas quais já havia grama e musgos e as árvores se
libertavam do gelo sob os quentes raios de sol. Lentamente, a água corria ao
longo dos troncos, retardadas pelo campo de inibição. Atrás das janelas
transparentes da cidade, Sandal via figuras que se movimentavam. Quantos
estrambólicos havia lá?
Quinhentos? Mais? Menos?
“Nós podemos nos aproximar da primeira instalação de energia!”, disse
baixo para si. “Ali, ao longo da rua, escondidos pela floresta de gelo que vai ser
iluminada pelo sol.”
Um sopro quente veio ao encontro dele. Um minúsculo movimento de
uma grande massa de ar aquecida. Bem atrás de si, ele ouviu o barulho das
tempestades de Coriolis do lado noturno sobre a zona crepuscular. O céu sobre
ele era de um cinza pálido, mas claro.
O homem de Exota Alfa sabia o caminho. Ele se abaixou e deslizou de
volta, até se achar ao lado de Takvorian novamente. A radiação de inibição
perambulava, fechada em um campo esférico, em algum lugar atrás deles e
pulsava de maneira completamente assistemática.

14
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

“O que você viu?”, perguntou Takvorian.


Sua voz mostrava a Sandal que ele havia se recuperado um pouco.
“Um caminho relativamente confortável que nos aproximará da cidade.
Um trecho de cinco mil metros no total. E totalmente invisível.”
Takvorian perguntou novamente:
“O que ainda estamos esperando?”
Sandal pulou em seu lombo, segurou-se e disse ao mutante qual caminho
ele devia seguir.
A princípio, eles cavalgaram apressadamente por quinhentos metros ao
longo do fosso. Ninguém os viu, e de repente eles se depararam com uma zona
de uma tempestade furiosa.
O campo de inibição havia liberado as massas de ar de seu controle e
agora recorria outras áreas do lado noturno.
O vendaval avançava; ele trazia gigantescas massas de neve e pequenos
destroços de gelo consigo. Ele revolvia sobre a paisagem, limpava a superfície da
geleira e descendia sobre Sandal e Takvorian. Durante minutos, eles não
podiam ver quase nada; uma rápida rajada de neve os envolvia. Pequenos
pedaços de gelo crepitavam contra seus corpos. As massas de gelo eram levadas
pelo vento para as zonas de calor, lá se transformavam em água e causavam
chuvas. Todas as construções ficaram molhadas por um curto período de tempo
e brilhavam cintilantes. E então a água escoava novamente, o vendaval frio se
misturava com a frente quente e subia. Uma gigantesca nuvem se formava sobre
a cidade.
Então o campo tocava novamente a mesma área, e o vendaval parava
abruptamente. O ulular do vento se transformava em um zunir abafado, e
parava completamente. Apenas uma vez ou outra, os amigos ouviam barulhos à
distância, onde a melodia da flauta ressoava; pequenos e abruptos tons.
“Para a esquerda!”, falou Sandal e limpou a neve de sua roupa.
O mutante subiu uma encosta inclinada e deixou um rastro brilhante de
gelo. E assim eles estavam na primeira entrada da floresta gelada.
“Siga em frente pela floresta!”, falou Sandal alto.
Ele sentia pelo esforço de Takvorian que eles se encontravam novamente
em um campo desacelerado em sessenta vezes.
Uma coisa era certa: o jato ainda não havia sido descoberto. E eles
mesmos também não. Eles ainda tinham todas as chances.
“Pois sim!”, falou Takvorian arquejante.
Ele angariou suas últimas forças quando eles sumiram por entre os
primeiros troncos.
A floresta gelada parecia uma decoração de um cenário futurista.
Havia cerca de mil troncos, duas ou três vezes mais grossos do que um
homem. Eles erguiam-se redondos a quinhentos metros através do ar que
recebia os raios claros e aquecedores do sol. Seus ramos espalhavam-se
horizontalmente e tocavam uns aos outros. Bem acima de Sandal e seu amigo,
formava-se um teto feito da mais fina filigrana: madeira que estava escondida
sob as camadas de gelo de uma polegada de espessura e que agora brilhava
através do gelo que se tornava transparente. Chovia constantemente. As gotas
agora flutuavam como penugem em direção ao chão, mas em trajetórias
perpendiculares. Seu movimento também era desacelerado, assim como o dos
dois terranos e da ampla corrente de água que corria dos troncos e formavam
charcos da altura do tornozelo entre as raízes. Enquanto Takvorian galopava

15
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

decididamente, havia uma chuva lenta de milhares de gotas. À direita


penetravam longos e brilhantes raios de sol na floresta, formando um padrão
horizontal.
“Não tão rápido!”, falou Sandal e se abaixou quando um grande pedaço
de gelo que havia se soltado de um ramo caiu sobre seu pescoço.
“Quanto mais rápido terminarmos nossa missão”, falou Takvorian
arquejante, “mais rápido poderemos decolar o jato.”
Eles andaram mais um ou um quilômetro e meio pela floresta, e então o
mutante parou.
Diante deles se encontrava uma faixa de arbustos que se descongelavam
lentamente.
“Ali está a cidade!”, falou Sandal e protegeu seus olhos com a mão. Eles
olhavam diretamente para o sol.
“Eu a vejo!”, falou Takvorian.
Eles sabiam bem que os estrambólicos tinham que formar um parabloco
quando queriam recobrir e afetar uma grande superfície com seu campo de
inibição. Então era de esperar que um determinado grupo dessas criaturas
estranhas houvessem se reunido para disseminar esse campo com a ajuda de
aparelhos amplificadores mecânicos e gigantescos projetores.
Agora eles chegavam à zona em que o calor era pronunciadamente forte.
Os cascos do mutante afundavam no solo que descongelava. Ele agora iria
permanecer cerca de dois anos padrão sob a luz; um longo dia se iniciava nesse
planeta. Os nômades de rotação se reuniam no lado diurno. “Como
procederemos?”, Takvorian quis saber.
Ele estava entre os arbustos dos quais escorria água e cujas cascas se
rompiam em vários lugares. Apareciam os primeiros sinais de gema. A folhagem
sob os arbustos estava molhada, com as folhas coladas umas às outras e ao chão
com restos de gelo. Uma camada de ar quente fervilhava aqui e gerava no solo
uma difusa névoa, da qual as árvores e construções se levantavam.
Sandal riu e pensou que Tahonka-No não teria precisado perguntar nada
– o ósseo teria sabido.
“Devagar”, ponderou ele.
Um pouco mal humorado, Takvorian perguntou de volta:
“Isso eu também presumo – qual direção?”
Sandal levantou a mão sossegadamente e respondeu lenta e
espaçadamente:
“Nós ficaremos entre os arbustos até chegar aos primeiros prédios ali. Eu
atiro minhas flechas pelas aberturas dos prédios e nos projetores. Nós devemos,
em qualquer caso, permanecer sem sermos vistos.”
“Bom.”
Takvorian virou-se novamente para frente. Ele caminhou lenta e
cuidadosamente entre os arbustos, cujos ramos se partiam e quebravam com
claros e estalejantes barulhos. Até então, o campo de inibição atuava
novamente; ele ia e vinha como o vento, em ritmo irregular.
“Além disso, eu tenho que poder reconhecer meu alvo!”, falou Sandal
alto. “Eu devo estar a cerca de trezentos metros do alvo, ou ainda mais
próximo.”
“Entendido.”
Takvorian acelerou-se.

16
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Ele galopou com suas últimas forças pelos arbustos, deixando uma
estreita trajetória, demarcada por ramos quebrados e partidos e por um fundo
rastro no solo charcoso que descongelava. Então terminou o cinturão verde,
ligando-se a um muro baixo. Ele envolvia os quatro blocos da estação de
energia. Como uma rápida sombra, Takvorian galopou com Sandal em suas
costas ao longo do muro e parou quando eles já se encontravam na parede
traseira do grande prédio.
Sandal disse:
“É mais fácil para você se eu descer e você ficar aqui?”
Takvorian não precisou ponderar por muito tempo. Ele respondeu
arquejante:
“Sim. Eu vou gerar um campo no qual você poderá se movimentar sem
inibição. Também vou colocar suas flechas em meu contracampo. Seja rápido,
amigo Sandal, minhas forças claramente têm limites. Nós já estamos andando
há duas horas e meia.”
Sandal pulou para o chão e pegou a aljava. Ele tirou as grossas luvas e
afivelou a aljava nas costas. Hoje ele não precisaria poupar fechas, havia
reabastecimento suficiente.
“Espere por mim aqui!”, disse ele. “Eu sou razoavelmente rápido. Mas
não me perca de vista.”
“Eu sei do que depende nossa missão!”, frisou Takvorian e tirou a
máscara do rosto. Durante alguns segundos, Sandal pôde reconhecer os
vestígios do cansaço.
Por um curto período de tempo, os estrambólicos concentraram seu
campo em outra parte do planeta. Aqui passou a vigorar a dinâmica normal por
alguns segundos. Takvorian pôde relaxar. Sandal esperava; lentamente, ele
colocou as luvas novamente e regulou a alimentação de oxigênio de seu
aparelho de respiração. Quando ele expirava, pela primeira vez não aparecia
uma nuvem de vapor diante de seu rosto. A corda do arco tridulava quando ele a
dedilhava.
Ali havia uma cúpula como uma abertura pequena, na qual Sandal viu
uma grande quantidade de estrambólicos.
Não longe dali, as estações de energia jaziam nas sombras da cidade.
Atrás de vidros, Sandal via grandes e faulhentas máquinas. Provavelmente elas
tinham algo a ver com o campo.
Na proximidade imediata levantava-se uma construção que ligava todas
as partes da cidade. Era um cruzamento de ligamentos, escadas e rampas, de
superfícies retas e curvas. De lá, ele teria um campo de fogo livre em todas as
direções, até mesmo nas janelas mais baixas da cidade-pirâmide.
Ele tinha que ir para lá.
Mas ele certamente seria visto lá em cima. Ele confiava em sua rapidez e
no efeito surpresa.
Ele se inclinou para Takvorian, e então disse:
“Eu vou me movimentar para lá, atirando constantemente, e
permanecerei lá, desde que não seja descoberto. Daqui você pode ver tudo, sem
ser visto. Eu preciso de cerca de trinta minutos. Entendido?”
O mutante o olhou com olhos vermelhos e cansados e acenou
afirmativamente. Então disse baixo:
“Boa sorte, Sandal... para nós todos.”

17
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Sandal tirou as duas luvas, colocou-as na bolsa e retirou uma flecha com
uma plumagem vermelha da aljava. Então ele pegou o arco de dois metros e
meio, colocou a flecha ali e apoiou-se no muro.
“Obrigado!”, falou ele.
Iniciaram-se trinta minutos difíceis. Os primeiros tiros deveriam
desencadear tamanha perturbação, de modo que no final fosse possível a
decolagem da Gevari. Em trinta minutos, que Sandal Tolk dava a si mesmo, ele
podia atirar duzentas flechas mortais.
Ele levantou a mão, afastou-se três metros do muro e colocou-se a
caminho.

18
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Capítulo 3

A nuvem sobre a cidade tornava-se maior e mais alta. Ela se arqueava contra o
céu. Os raios de sol arrancavam reflexos rutilantes de todas as superfícies
vítreas ou lisas. Em toda parte, uma névoa pairava no ar. Em toda parte,
mexiam-se as plantas. O sol era uma grande vidraça amarelo-avermelhada,
aumentada opticamente pelo vapor de água da atmosfera artificial de Porteiro.
Ele se encontrava a três palmos sobre o horizonte. Sandal aterrissou com as
duas pernas sobre um lamaçal e parou. Entre ele e o começo da primeira rampa
arqueada havia árvores que descongelavam e plantas decorativas; e estava em
um pequeno parque.
Ele já tinha seu alvo em vista.
Sandal colocou seus pés na posição correta, retirou seu arco e sentiu a
tensão da corda em sua bochecha. Ele mirou cuidadosamente por dois
segundos, e então alinhou os três dedos. A flecha saiu ululante da corda.
Sandal lançou-se para frente.
Ao mesmo tempo em que movimentava seus pés, ele agarrou mais uma
flecha da aljava, em um movimento fluente. Quando a ponta pesada do projétil
de cento e cinquenta centímetros tocou o arco, ocorreu a primeira detonação.
Ela lançou uma das gigantescas vidraças em pedaços e ocasionou uma branca
nuvem de explosão para todos os lados. Sandal havia se movimentado vinte
metros para frente e agora estava inerte entre dois troncos de árvore.
O segundo tiro deixou a corda, que bateu forte contra o antebraço de
Sandal.
A flecha assoviou entre a nova abertura feita, atravessou ululante a
nuvem de fumaça e detonou quando sua ponta encontrou resistência. A carga de
explosão atômica transformou a sala em que os estrambólicos se encontravam
em um inferno.
Sandal apressou-se e continuou.
Ele deixou o parque e correu cerca de quinze metros subindo a rampa.
Atrás dele, saíam chamas e fumaça da pequena construção. Um barulho agudo
soou no ar. Cheirava a material queimado.
Sandal agora estava sem cobertura. Ele respirou fundo e se concentrou
em sua guerra privada contra esse povo do Enxame que havia devastado seu
planeta natal.
Ele pegou rapidamente uma flecha com plumagem azul, a colocou no
arco e retesou-o até que a corda se encontrasse atrás da orelha. Um tiro de longa
distância assoviou, descreveu uma curva balística e bateu, a mais de trezentos
metros de distância, através de uma abertura no flanco da cidade alcantilada.
Sandal não viu mais a explosão, apenas viu as chamas pelo canto do olho. A
cena se passava novamente em seu olho interno, quando seu avô sucumbiu sob
o fogo dos pequenos purpurinos e morreu, quando os bloqueios dos muros do
Castelo Crater explodiram. Outra flecha – novamente um tiro de longa
distância.
E então veio um tiro especialmente difícil.
“O projetor!”, murmurou Sandal cheio de ódio. Um frio gélido o
percorreu. Lentamente, ele se virou trezentos graus, e seus olhos fizeram uma
busca pelas proximidades. Ninguém o havia descoberto ainda.

19
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Dessa vez, ele mirou de maneira especialmente demorada e exata. Seu


olhar fundiu-se formalmente com o alvo. A flecha deixou sibilante a corda e
assoviou dela. A corda colidiu estalejante contra a proteção de braço sobre o
grosso material do antebraço.
Ainda enquanto a flecha descrevia sua trajetória, Sandal retirou duas
flechas com plumagem amarela da aljava. Eram projéteis excepcionais em cuja
longa corrida cargas atômicas de diversos tamanhos eram alojadas. Espoletas de
impacto cuidavam da detonação. Sandal colocou as flechas duplas, virou-se e
atirou-as na estação de energia abaixo. Elas atravessaram o vidro e explodiram
ao fazê-lo. Dentro de seis segundos, Sandal atirou mais seis flechas pelo buraco.
Em seguida, a pressão da explosão o fez cair.
O projetor havia se transformado em uma massa metálica dilacerada e
incandescente.
Em três pontos de diferentes alturas, havia chamas saindo dos prédios da
cidade. Ali, onde a estação de força havia estado, um cogumelo de fumaça se
levantava no ar. Fumaça e gás venenosos arrastavam-se rentes sobre o chão e se
estendiam sobre todos os lados.
“Ótimo! Fumaça pelo Castelo Crater, por Bearcema!”, falou Sandal
ofegante.
Ele cobrou ânimo, balançou as flechas na aljava, colocando-as em ordem,
e retirou mais um tiro daí, enquanto corria pelo topo do cruzamento. O campo
de inibição parecia ter se tornado sem efeito.
“Vou ficar aqui!”, constatou.
Ele se encontrava sobre uma plataforma redonda, para a qual
convergiam sete ou mais rampas e escadas. Era o ponto mais alto do lugar, para
além da cidade. Sob ele e ao redor dele dominava o pânico. A tempestade da
zona crepuscular avançou e levou a fumaça embora. Sandal viu mais
acuradamente quais alvos ele ainda não havia atingido.
O pequeno emissor de hipercomunicador em seu braço recebia
ininterruptamente sinais de alarme e emergência – Sandal não se ocupava
disso. Ele atirava agora rápido, mas ainda assim metodicamente.
Ele se virava lentamente enquanto atirava flechas uma depois da outra
em espaços de três segundos. Ele trabalhava como uma máquina, mas com a
arte de um homem cujo arco era um tipo de extensão do braço. Em torno dele
espalhavam-se nuvens incandescentes. Em toda parte, estalavam detonações
das flechas especialmente preparadas. O projetor estava destruído. Cargas
elétricas tremiam sem parar de cabos derretidos no chão e pulavam sobre os
prédios e partes metálicas. Uma segunda estação de força também explodiu
pelos ares em chamas e fumaças depois de uma detonação. Um grupo de
estrambólicos em fuga foi morto.
O quinquagésimo tiro...
Sandal inclinou-se na balaustrada de pedra da rampa. A tempestade da
zona crepuscular estirava-se sobre ele. O campo então havia se tornado ineficaz.
Em toda parte, havia cortinas de fumaça e paredes de fogo. Alguns minutos
mais tarde, a tempestade no estilo de um furacão havia soprado a fumaça
novamente. Ele procurava por instalações ainda não destruídas. Em todo lugar,
ele via ruínas pretejadas e muros rachados. Em algum lugar sobre ele soavam
alguns gritos agudos, como se pássaros se chamassem em voz alta.
“De volta!”, disse ele.

20
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Finalmente, não havia simplesmente essa cidade; outra poderia retomar


a tarefa. Era importante cavalgar de volta para o jato enquanto a confusão
perdurasse. Sandal pegou uma flecha, a qual continha uma forte carga, e a
atirou à distância mais curta na torre da cidade. E então ele se virou para a fuga.
Ele desceu a rampa encurvada correndo, desviou-se dos fragmentos
incandescentes que jaziam em todo lugar, pulou sobre vigas de aço calcinadas e
alcançou o parque cujas árvores estavam dilaceradas e cujos arbustos jaziam em
chamas. Ele flanqueou o muro e viu Takvorian adiante.
“O campo sucumbiu!”, falou o mutante. “Nós devemos voltar!”
Sandal pulou sobre o lombo de Takvorian e disse: “Sim. Rápido, mas em
etapas.”
Takvorian havia se recuperado esplendidamente. Ele saiu apressado pela
trajetória que ele mesmo havia feito mais cedo. Sandal segurou-se com as duas
pernas e virou-se na sela.
Atrás deles estava a zona, a qual estava totalmente destruída.
A tempestade se enfurecia, e a luz do sol era escurecida pela fumaça e
pelo gás. Aqui e ali detonações secundárias abalavam as grandes instalações.
Sandal pegou uma flecha da aljava e falou: “Pare!” e a atirou. Ainda enquanto o
projétil descrevia sua trajetória balística, Takvorian continuou seu galope raso.
“Logo não poderei mais!”, balbuciou ele.
“Talvez o rato-castor nos busque!”, gritou Sandal, pescando uma nova
flecha na aljava. Ele estava sobre o lombo de Takvorian, havia se inclinado para
frente e se apoiava contra os ombros do mutante.
“Pare!”
Eles haviam chegado ao cinturão verde de arbustos depois de haverem
pulado uma pequena encosta. Entre os primeiros arbustos, os joelhos de
Takvorian lhe faltaram, mas ele se recuperou instantaneamente de novo.
“Já... está... tudo... bem!”, falou ele ofegante.
Sandal atirou cinco flechas dentro de dez segundos. Eram ousadas, mas
eram como se não tivessem um alvo certo. A tempestade arrastava os projéteis
consigo e as jogava em cinco lugares diferentes da cidade. Ainda durante a
terceira detonação, Takvorian continuou galopando. Ele pulava pela floresta,
cujos troncos estalavam e crepitavam na tempestade. Então eles chegaram à
fossa. Takvorian tropeçou novamente.
Sandal gritou contra a tempestade, a qual jogava gelo e neve em seu rosto
ininterruptamente.
“O campo voltou a fazer efeito?”
Takvorian balbuciou:
“Eu não estou sentindo nada, Sandal...”
Sandal retesou seus músculos, soltou seus pés dos estribos provisórios e
pulou da sela em meio ao forte galope. Ele colocou seu braço esquerdo ao redor
do tórax do mutante e correu ao lado dele. Parcialmente, Takvorian o levava
com ele. Eles correram ofegantes e respirando dificilmente pelo fosso e viram
diante de si, quando a fúria da tempestade se amansou, a superfície de cascalhos
de escombros da morena.
Nenhum rato-castor... nenhum teleportador...
“Nós temos que chegar ao jato!”, falou Sandal alto.
Ele também se sentia exausto e abatido.
“Nós estamos quase lá...”, falou Takvorian.

21
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Eles continuaram correndo e tropeçado. Sandal caiu uma vez e rapou


dolorosamente um joelho. Ele continuou, coxeando. Sob a máscara corria o suor
sobre o rosto e fazia seus olhos arderem. Ele conseguiu aumentar um pouco a
quota de oxigênio e a situação melhorou um pouco. Takvorian angariou suas
últimas forças para um violento esforço, agarrou o cinto de Sandal e o levou
consigo. E assim ele subiu a encosta inclinada, trovejou pelas águas geladas do
rio glacial e finalmente alcançou a zona de sotavento da geleira.
Sandal gritou:
“Mais duzentos metros! Temos que aguentar!”
O ar em seus pulmões aferroava e queimava. Seus flancos doíam. Seus
joelhos pareciam estar inchados. Eles caminhavam na penumbra do desfiladeiro
e viram um holofote se acender.
Isso só podia significar uma coisa, pensou Sandal.
O campo de inibição havia sido desativado ou havia sucumbido, eles
estavam livres. Todos os onze membros da expedição.
A fuga apressada para o jato havia chegado ao fim.
“Nós chegamos!”, falou Takvorian gemendo.
Ele estava à beira do colapso completo enquanto voltava pelo desfiladeiro
seguindo suas próprias pistas. Sandal se segurava ao lado dele quando o
holofote os alcançou, e mostrou como eles chegaram cambaleantes e se
arrastando ao ponto que se encontrava exatamente sob o sistema de comportas
do jato.
Atlan gritou lá de cima:
“Vamos! Nós decolaremos logo!”
Gucky e Ras Tschubai trouxeram Sandal e Takvorian para o jato.
Atrás deles, a comporta se fechou. Atlan agarrou instantaneamente a
chance que se apresentava a ele.
Por algum tempo, o campo de inibição havia se extinguido. A Gevari
estava livre.
As máquinas uivavam.
Todos os relógios e as dinâmicas de todos os processos se davam com a
velocidade normal.
O jato continuava a se virar. Ele já flutuava, seus dois cantos já haviam se
soltado do rebaixamento. Ele se soltou e soltou um estrondo. O jato se alinhou e
se lançou com um potente salto verticalmente no ar, subiu raspando entre as
paredes de gelo, desencadeando mais uma chuva de pedaços de gelo atrás de si.
As válvulas do propulsor de partículas enchiam o desfiladeiro com um
som trovejante e ululante.
O jato se lançava ao alto entre as paredes gelo, e se tornava cada vez mais
rápido, rompendo a névoa e era abolado pela tempestade colidente.
Atlan aninhou-se em sua poltrona de controle e virou a pequena nave
espacial ao estado normal de novo. E então ele acelerou completamente.
“Acabou”, falou ele. “Eles não vão nos capturar novamente. Nós
deixaremos esse planeta!”
A nave espacial em forma de disco se tornava cada vez mais rápida. Os
dedos de Atlan se moviam apressados; eles viravam chaves, ligavam máquinas,
regulavam os valores. A Gevari disparava quase verticalmente no céu encoberto
de nuvens, cortava a zona crepuscular e varria a área da noite planetária.
Sandal falou alto:

22
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

“Os aparelhos de rádio! Tahonka... você conhece a maioria das línguas do


Enxame! Veja o que eles estão falando!”
O homem de Gedynker Crocq acenou afirmativamente e se virou para os
botões de ajuste.
Os onze membros da tripulação reagiam rapidamente e com a
experiência de homens que já haviam passado por situações como essa ou
semelhantes. Sandal e Takvorian se livravam dos trajes molhados e sujos. Icho
Tolot arrastava o mutante-cavalo para baixo para uma cabine ampla. Takvorian
caiu em um sono profundo.
Depois de alguns minutos, nos quais o jato se distanciava do fragmento
de planeta chamado Porteiro com os campos defensivos ligados e as máquinas
trabalhando na potência máxima, e nos quais Sandal havia vestido novamente
suas velhas peças de roupa, ele ficou ao lado de Altan. Do outro lado do console
estava agora o emocionauta Mentro Kosum.
“Atlan?”, perguntou Sandal a meia voz.
Ele piscou surpreso quando ele viu o arcônida se levantar e acenar para o
emocionauta.
“Sim?”
Eles se olharam nos olhos.
“As naves de vigia do Enxame certamente esperam que nós tentemos
ganhar o espaço livre!”, disse Sandal.
“Assim é”, disse Atlan. Ele esperou até que Kosum houvesse tomado
assento e afivelado seu cinto, e continuou:
“Eu penso exatamente a mesma coisa, amigo Sandal Tolk! Quantas
flechas você atirou?”
“Nem cem!”, disse Sandal.
“Mas quando eles nos cercarem lá fora, logo haverá ajuda da Marco
Polo.”
Atlan deu um largo sorriso.
“Seu avô”, disse ele baixo. “O que ele te ensinou?”
Possivelmente as mesmas técnicas que você aprendeu nos longos anos de
seu cativeiro terrano, arcônida, murmurou seu sentido extra.
Sandal pensou por um momento, então desligou o hiperemissor de seu
dispositivo de pulso, que captava sinais ininterruptamente e alarmes da nave.
“Eu nunca devo fazer o que o adversário espera!”, falou Sandal mal
humorado. Ele se sentia como durante uma aula conduzida por Joaquin Cascal
ou Chelifer Argas. Então ele viu o sorriso no distinto rosto de Atlan e entendeu.
“Você não planeja fazer o que os Senhores do Enxame esperam de nós –
ou os povos escravos!”
“Nem um pouco!”, falou o arcônida e olhou para os monitores do jato.
Eles mostravam o espaço livre que se aproximava. Atrás deles ia ficando
o machado pré-histórico do fragmento de planeta.
O emocionauta perguntou concisamente:
“Qual o objetivo, Lorde-Almirante?”
“Gepla-I”, disse ele. “Por rodeios e com cobertura total. Faça uso de todos
os truques e possibilidades dessa máquina, Mentro!”
“Com prazer!”, disse o emocionauta e empurrou o capacete SERT sobre a
cabeça.
Atlan e Sandal assentiram um para o outro.
“Bom. Muito bom!”, disse Sandal.

23
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Ele pensava:
Atlan é de alguma maneira como meu avô. Ele é astuto e um lutador, que
é melhor do que eu. Ele sabe exatamente quando agir. E quando ele age, ele o
faz de maneira rápida e certa. Eu o admiro. Ele percebeu a chance no momento
certo.
Cada vez mais o jato se afastava do planeta dos perigos. Atlan temia os
raios de inibição, mas não as naves adversárias, apesar de que ele sabia que elas
também dominavam a técnica do espaço linear – uma das descobertas mais
espantosas dos últimos tempos.

Eles podiam se defender de maneira eficaz contras as naves, mas não


contra aqueles raios sinistros.
Icho Tolot voltou e falou retumbante:
“Eu presumo com absoluta certeza, Atlan, que nossa fuga tenha sido
notada.”
Tahonka-No disse:
“Sem dúvida! Mas eles esperam que nós fujamos do sistema solar!”
“Eu estava contando com isso”, disse Atlan. “Qualquer um iria supor que
um invasor, que se deparou com os maiores perigos, iria querer deixar essa
área. Eu contei com as chances de fazermos exatamente o contrário.
Naturalmente vai haver alguém entre nossos estranhos amigos que levará essa
possibilidade em consideração, mas por enquanto estamos sendo bem
sucedidos com isso.”
Com o tempo, a situação havia se normalizado visivelmente.
Dois dos membros da tripulação preparavam uma comida rápida na
cozinha da nave. Alguém fumava. Copos com bebidas eram distribuídos.
Takvorian dormia tranquilamente – ele havia estado à beira do colapso.
A amizade entre Sandal e Atlan havia se firmado ainda mais depois dessa
missão arriscada. Mas... no final das contas eles mal haviam conseguido
resolver o mistério do Enxame. Eles ainda não haviam visto ou identificado
nenhum dos Senhores do Enxame. Os príncipes sobre os vários povos escravos e
sobre os seres que até então eram nomeados “conquistadores amarelos” não
reagiam.
Sandal perguntou:
“Onde estamos?”
Sob o capacete SERT, o emocionauta murmurou:
“A cerca de quatrocentos milhões de quilômetros do Planeta Perigoso I”
“Obrigado.”
O jato completou uma série de manobras perigosas nas próximas horas.
Ele entrou no espaço linear, permaneceu lá um tempo, deixou-o novamente,
para dar oportunidade ao piloto para se orientar. Por algum tempo, eles
aceleraram pelo espaço normal e ouviram os sinais de rádio. Aparentemente
reinava algum pânico em alguns lugares que davam ordens às naves vigias, pois
uma pequena parcela dos sinais de rádio estava criptografada. Tahonka-No
tomava apontamentos tanto quanto podia e, além disso, as fitas de gravação
giravam.
Os perseguidores estavam confusos.
“Além disso”, falou Atlan lentamente, “Gepla-I era nosso objetivo desde o
começo. Se nós não chegarmos lá em voo direto, então o faremos de maneira
indireta.”

24
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Ele se sentou e pegou uma bandeja sobre a qual havia parte de uma
refeição preparada rapidamente. Ele estava com muita fome e comeu
silenciosamente e rápido.
Os mistérios continuavam.
Claramente, a hierarquia do Enxame era construída como uma pirâmide.
Havia uma certa quantidade de povos escravos, que, por sua vez, eram
controlados e vigiados. Aqueles que faziam isso pareciam ser apenas grupos
executantes.
Era importante para os terranos encontrar o grupo ou o indivíduo no
topo. Eles tinham que determinar quem eram os senhores ou príncipes do
enxame e forçá-los a afastar o desastre dos numerosos planetas dessa galáxia.
Mas no momento não havia nenhuma opção para tanto. Talvez eles
estivessem mais espertos depois de haver atingido Gepla-I...?

25
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Capítulo 4

Algumas horas mais tarde, Atlan falou baixo;


“Longos voos lineares não são possíveis, mas nós podemos bordejar as
proximidades do planeta num zigue-zague maluco. Vejamos.”
Dentro do sistema solar, reinava um grande frenesi. Em toda parte,
navegavam apressadamente formações de naves espaciais que buscavam os
fugitivos. A maioria das naves voava tão rápido quanto podiam para a borda do
sistema solar. Sinais de rádio eram trocados ininterruptamente entre as naves e
os lugares de comando superiores. Estavam nervosos. Poucos sinais de rádio
eram codificados.
Continuamente, Tahonka-No informava as passagens importantes.
“Eles não pensam”, falou o ósseo finalmente, “em nos procurar no centro
do sistema.”
“Ótimo!”, respondeu Atlan.
O jato espacial estava a caminho do “Planeta Perigoso I” fazendo voos em
zigue-zague entre o espaço normal e etapas lineares de menor duração, depois
de haver voado em um enorme arco para fora de Porteiro. Nesse momento, o
emocionauta levantou o capacete SERT e disse:
“Senhor!”
Atlan se virou rapidamente e olhou para os monitores e instrumentos da
pequena nave espacial.
“O que houve?”, perguntou ele.
Quatro homens da tripulação ainda se encontravam na central do jato.
Os outros se recuperavam dos grandes esforços dos últimos dias.
“Nós estamos a uma pequena etapa linear diante de Gepla-I!”
“Como estão os indicadores de localização?”, perguntou Atlan,
inclinando-se e observando as telas.
“Negativos por ora!”
Atlan aproveitou a chance da confusão que reinava entre os
perseguidores da tripulação da nave. Nas últimas horas eles haviam estado
atentos para evitar qualquer tipo de encontro acidental. Presumivelmente eles
não haviam sido detectados pelas naves adversárias. Era importante desvendar
os segredos do Enxame – mas no momento nenhum deles podia contribuir com
mais do que com uma pequena pedra de mosaico para um quadro ainda mais
confuso. E enquanto eles tentavam exatamente isso, a “caravana cósmica” corria
para a Terra. E a tentativa dos amarelos de deixar o Enxame com suas
gigantescas naves-colmeias e de destruir os planetas estava temporariamente
paralisada.
Atlan decidiu:
“Nós tentaremos pousar em Gepla-I. Entendido?”
“Entendido”, falou Sandal baixo. “Eu tenho que encontrar os príncipes do
Enxame!”
Atlan, o emocionauta, Sandal e Tahonka se encontravam sob a cúpula
transparente. O jato voava no espaço normal. Seus aparelhos de localização
estavam ligados, mas apenas ecos distantes apareciam nos monitores.
Tahonka-No riu em voz alta por um momento, e então apontou seus
olhos leitosos para Atlan.

26
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

“Nós temos apoio da grande nave?”


Atlan tinha até então evitado entrar em contato por rádio com a Marco
Polo, havendo apenas interceptado suas esporádicas emissões de informação.
“Possivelmente”, disse Atlan. “Mas nós não podemos contar com isso.”
Várias vezes Gepla I já havia aparecido nos monitores do jato. Parecia ser
um mundo do tamanho da Terra. A Gevari, que agora navegava no espaço
linear, permaneceu lá por pouco tempo e deixou novamente a zona
intermediária.
O planeta estava diante deles.
“Aí está ele!”, disse Sandal.
Desde o dia em que Atlan e Cascal haviam se encontrado, depois da
vingança contra os pequenos purpurinos, Sandal não havia mudado apenas
externamente. Ele usava principalmente roupas dos equipamentos da nave, mas
seus pontos de vista sobre o equipamento certo de um caçador e de um
guerreiro não haviam mudado. Como antes, ele mantinha seu cabelo branco
preso com uma fita de couro, usava seu largo cinto, a faca e a pesada arma de
energia, um presente de Atlan.
Sua real mudança era interior e quase imperceptível.
Ele era o produto de uma criação que o levou a muitas aventuras, mas
que também havia se passado dentro da nave. Chelifer Argas e Atlan, Cascal e
muitos outros homens o haviam ensinado que sua ideia de vingança era errada.
Ele havia aprendido bastante, mas seu objetivo último – no momento – ainda
era encontrar os Senhores do Enxame e obrigá-los a mudar seu caminho mortal
pela Via Láctea.
Será que aqui haveria uma oportunidade?
“O que nós encontraremos aqui?”, perguntou Sandal e se colocou atrás de
Atlan, o qual ligava os aparelhos de sensoriamento remoto e tentava descobrir
mais informações sobre Gepla I.
As averiguações eram feitas por aparelhos robóticos e assim eram
apresentadas rapidamente, apesar de o planeta ainda aparecer não ser maior do
que uma bola pela janela do jato.
“Eu sei tão pouco quanto você”, falou Atlan a meia voz.
Ele se inclinou tenso para frente e leu os dados apurados.
“Mas era nosso objetivo desde o começo chegar a esse planeta.”
Era um mundo ricamente coberto com oxigênio com um diâmetro de
13.400 quilômetros. Os valores da temperatura média do lado do planeta para o
qual o jato estava virado mantinham-se em torno de vinte e seis graus Celsius. O
planeta tinha uma rotação muito rápida, seu dia durava dezessete horas e
dezoito minutos e poucos segundos em medidas terranas normais.
“Freie um pouco, Mentro!”, falou Atlan.
Não se sabe se uma das procuradas centrais de comando do Enxame se
encontra nesse planeta, falava o sentido extra de Atlan. O setor lógico
continuava: não coloque a tripulação nesse tipo de perigo novamente, arcônida!
Cuidado!
“Entendido!”, falou o emocionauta sob o capacete.
Através de seus pensamentos, o jato era conduzido com uma rapidez e
confiabilidade que dificilmente poderiam ser ultrapassados. Todos os comandos
de direção se passavam harmonicamente de forma que a Gevari parecia ser uma
máquina que pensava de maneira independente e cujo voo corria em uma

27
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

harmonia tecnicamente perfeita. Sandal viu o planeta se aproximar e calculou


que tentaria descobrir os segredos desse mundo ao lado de Atlan.
“Caso haja um...”, murmurou ele lúgubre.
Tahonka-No se levantou lentamente e girou um pouco o regulador de
som do aparelho de rádio. As numerosas sobreposições de voz do alto-falante
ficaram mais baixas. O ósseo retirou os fones de ouvido e girou a cabeça em
volta. Ele viu Sandal e então abriu sua boca de lábios finos.
Com sua voz estridente, ele disse:
“É um planeta no qual todos nós podemos respirar e nos movimentar
livremente. Sandal e eu iremos e buscaremos.”
Atlan bateu com a unha do dedo indicador em uma tela. Ele mostrou,
bastante pálido e cinza, a bola do planeta, dividida em uma metade noturna e
uma metade clara, na qual era dia. Esse quadro era coberto por pequenos
pontos quadrados em um padrão irregular. A maioria desses pontos piscava
agitada e criava um padrão psicodélico.
“Localizadores de energia!”, falou Atlan. “Um mundo altamente
tecnológico!”
“Nesse mundo há muitos esconderijos, pois essas instalações são, na
maioria das vezes, totalmente controladas por robôs!”, disse Sandal. “Um bom
planeta para nós, amigo No!”
O ósseo, que havia sido expulso de seu planeta, riu alto.
“Um bom planeta! O que nós procuramos?”
“Indícios e sinais do príncipe do Enxame!”, respondeu o jovem guerreiro.
Enquanto isso, ele havia dominado a língua de Tahonka, e o ósseo falava o
intercosmo do terrano perfeitamente e falava terrano muito bem.
Atlan levantou as duas mãos e chamou:
“No momento, nós nos encontramos em curso para Gepla! Vocês ainda
não devem fazer planos, é muito cedo ainda. Pode ser que seja impossível uma
aterrissagem. Esperem até poderem se alegrar de poder deixar o jato.”
Ele explicou os ecos das localizações de energia.
Em sua opinião e a julgar pela força e intensidade da cor dos pequenos
quadros, as grandes estações de comutação, geradores de energia e usinas de
energia, as fábricas e outras instalações se achavam debaixo da superfície da
terra.
O amortecimento das camadas rochosas e de uma espessa cobertura de
vegetação eram inconfundíveis. Se todas as instalações estivessem sobre o solo,
as frequências de energia emitidas não seriam tão amortecidas.
O planeta se tornava cada vez maior. Eles olhavam os monitores
atentamente.
Nenhuma outra movimentação de nave.
As chances de aterrissar sem serem notados eram cada vez maiores.
Cerca de quinze minutos mais tarde, o emocionauta falou um pouco
hesitante:
“Nós temos que deixar claro onde e quando pousaremos, senhor!”
Atlan disse:
“De qualquer modo nós nos direcionaremos para a metade noturna, nos
aproximaremos com maior cuidado e tentaremos achar um esconderijo
imediatamente. E então poderemos mobilizar teleportadores. Trajes de voo são
proibidos, como usualmente.”
“Certo. Eu tentarei!”

28
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Tahonka saltou repentinamente da poltrona do aparelho de rádio, girou o


regulador de som e ouviu concentrado. Sandal entendia alguns pedaços da
conversa. Ele segurou o fôlego.
“... Y’Xantramon... solicitação para fornecer mais rápido ... os novos
aparelhos de inibição do movimento fabricados!”
“Um sinal de rádio para os seres de Porteiro!”, murmurou No.
Ele estava vestido com um traje de bordo terrano, usava botas leves e
uma jaqueta de comprimento médio com vários bolsos e outras unidades
incorporadas.
“Calma!”, falou Sandal.
Nos monitores de observação remota projetavam-se os claros e definidos
campos de luz das cidades da zona noturna. Numerosos ecos de energia das
estações de rádio e torres de espaçoporto eram medidos. A menção a um deus
deixava-os perplexos. Ainda era muito cedo para acordar os outros tripulantes
do jato e ainda se passaria algum tempo até o alerta para aterrissagem, e o
emocionauta não precisava de nenhuma ajuda.
“Y’Xantramon!”, falou Sandal cheio de ódio. “Um dos príncipes ou deus.
Ele é culpado por vários planetas estarem em perigo e por a galáxia estar
imbecilizada. Eu o encontrarei...”
“Esqueça por um momento seus planos”, exortou Atlan e ouviu
atentamente a tradução de Tahonka.
“Os sinais de rádio são ordens ou determinações. Elas são dadas em
nome de um deus que se chama Y’Xantramon. Talvez haja um senhor com esse
nome em Gepla I. Talvez não; isso é incerto. Ele solicita aos seres que nós
chamamos de estrambólicos que fabriquem e forneçam para cá uma quantidade
enorme desses aparelhos.”
Atlan riu baixo.
Então a intervenção dos terranos havia tido sucesso!, falou seu sentido
extra. Esse deus fazia muita questão de que os aparelhos fossem levados para lá,
onde os chamados conquistadores amarelos queriam se dividir. Os seres no
interior do Enxame tentam dificultar uma explosão populacional ao retardar
com toda força os processos corporais dos amarelos.
“Isso é tudo essencialmente, amigos!”, falou o homem de Gedynker
Crocq.
A tensão subia lentamente. Ela tomou posse dos quatro diferentes
tripulantes da cabine de direção. Eles suspeitavam que eles estavam perto da
resolução de outro mistério do Enxame.
Atlan disse pensativo e baixo:
“Nós já conhecemos esses sinais de rádio de missões anteriores, casos
essas armas peculiares forem utilizadas amplamente, os líderes do enxame terão
um prazo que eles poderão prolongar arbitrária, mas não indefinidamente. Um
outro sinal de que os príncipes do enxame estão aflitos. Nós os obrigamos a
lidar com um adversário do qual eles não podem se apossar.”
De repente, Mentro falou alto e alarmado:
“Formação de naves em rota de colisão!”
O pequeno grupo espalhou-se. Atlan olhou para os monitores. Ele
contava lentamente os gigantescos objetos que se projetavam ali. Eles voavam
exatamente para a zona crepuscular, para a linha de separação entre noite e dia,
enquanto o jato se aproximava do centro da metade noturna e se encontrava na

29
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

sombra do planeta. Apesar do filtro na cúpula, Sandal pôde reconhecer à vista


algumas das naves, brilhando à luz do sol.
“Sem manobras de desvio!”, ordenou Atlan. “Nós voaremos
simultaneamente com elas para o campo do planeta.”
“Entendido.”
O jato adaptou sua velocidade, fez uma pequena curva e colocou-se em
uma posição na qual ele poderia ser tido como parte da formação de naves.
A imagem na tela explodiu em todas as direções quando Atlan pressionou
os botões de ampliação. Um colosso se projetou; uma enorme nave de
transporte que se destacava do comboio e continuava voando para Gepla I.
Todas as naves pareciam querer pousar em espaçoportos espaçados, pois
elas faziam uma trajetória de pouso que as levaria a diferentes pontos do
planeta, desde que elas mantivessem o curso em linha reta que elas seguiam no
momento.
“Nós pousaremos junto com elas!”, falou ele. “Nossa melhor chance.”
“Na metade noturna?”, perguntou Sandal e ansiou pela terra firme de um
planeta com oxigênio, onde ele poderia se movimentar rápida e naturalmente.
“Pois sim!”
Então Atlan acionou o alarme para que os outros membros do jato
acordassem. Quando eles se reuniram alguns minutos mais tarde, explicou a
eles seu plano e encontrou consentimento geral. Eles não ansiavam por incorrer
em risco de vida, mas eles sabiam bem que eles eram a única arma da Terra, se é
que era assim, para retirar a ameaça do Enxame de uma galáxia, a qual saía
apenas lenta e relutantemente da imbecilização.
Nas telas havia agora informações valiosas sobre a estrutura da superfície
do planeta.
Ele parecia ter sido cultivado propositalmente há muitos séculos. Todas
as áreas visíveis, que eram divididas cuidadosamente, pareciam ser férteis.
Campos gigantescos alternavam com florestas. Havia majoritariamente cidades
circunvizinhas, em cuja borda externa se achavam elementos alongados e
discretos. Construções utilitárias se alternavam com casas curiosas. Ruas e
caminhos, rios e montanhas... um velho, mas bonito planeta.
Y’Xantramon reinaria aqui?
“Lá em baixo!”, falou Atlan.
Eles assistiram o emocionauta levar a Gevari para o planeta, frear e
pilotar o disco pelas finas camadas da atmosfera. Um pequeno e claro aguaceiro
diante da nave mostrava que eles cruzavam a camada de proteção da
magnetosfera. Então começaram os barulhos com os quais o ar bramia e ululava
ao redor da nave.
Projetava-se no radar e nos campos infravermelhos uma montanha que
dividia o planeta exatamente na linha do Equador e possuía mais de seis mil
quilômetros de comprimento.
O emocionauta direcionou-se para o ponto mais alto.
Quando se mostraram os anúncios de um gigantesco mar interior que
possuía uma grande praia branca no sopé do grande maciço montanhoso, o jato
se direcionou para lá. Fisionomias tensas revelavam que os tripulantes
contavam com uma localização a todo momento.
Ninguém parecia notá-los.
Ao mesmo tempo que algumas das vinte e sete naves, eles se
aproximavam do solo. Seis mil metros, cinco mil. O cume da montanha se

30
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

aproximava, e desenhava-se com destaque sobre a tela. As sondas acústicas


mostravam que uma parte do maciço da montanha cárstica era perpassado por
cavernas, buracos e gigantescas aberturas.
“Eu estou procurando por um esconderijo que nos deixe alguma margem
de manobra!”, falou o piloto sob o capacete.
“Faça seu melhor!”, disse Atlan.
O jato afundou novamente e, enquanto o piloto traçava um voo
horizontal lento, ficou a apenas dois mil metros acima do mar. Brilhando
suavemente, a superfície da água se estendia sob eles. Os aparelhos de radar
funcionavam constantemente. Eles mostravam que sob uma fina crosta rochosa,
formada principalmente de rochas calcárias, passava uma fileira de grandes
cavernas de leste a oeste. Então, subitamente, os indicadores subiram
rapidamente; os raios localizadores haviam encontrado uma caverna que levava
lateralmente para dentro do rochedo.
As máquinas da nave frearam zumbindo.
Kosum parou e mudou a direção em noventa graus, desceu mais
quinhentos metros e se aproximou de uma abertura de mais de cem metros de
largura e de mais de vinte metros de altura. Na tela do super-radar projetavam-
se as estruturas da entrada, atrás delas surgiam formações difusas e confusas
que pareciam estalactites de gelo. Estalagmites e estalactites, geradas do
calcário da rocha no passar de milênios, quando a água da chuva se associava ao
dióxido de carbono do ar e das plantas e tornava o calcário solúvel.
Cautelosamente, o emocionauta direcionou o jato para dentro da caverna que
aumentava novamente depois de vinte metros.
Surgia então um gigantesco recinto da forma de um domo.
O jato seguiu por mais cem metros a passagem rasa e então virou-se, e
todas as luzes de pouso se acenderam.
Elas mostraram um esplendor colorido de estalagmites, mantos de
calcário, cortinas e bacias d’água, que eram rodeadas por estruturas de coral de
barreiras de calcário colorido. Não aparecia nenhuma superfície dura; em toda
parte viam-se as curvaturas do calcário.
“Atenção... nós estamos pousando.”
“Nós estamos prontos!”
O jato seguiu os apoios de pouso e afundou de maneira
interminavelmente lenta. E então perpassaram ligeiras vibrações pelo metal da
cabine. Quase totalmente horizontal, o disco jazia ali, apenas dois holofotes
iluminavam a caverna.
“Há emanações de seres vivos, Gucky?”, perguntou Atlan preocupado.
Sandal agarrou sua arma ainda mais forte.
Depois de um pequeno hesitar, o rato-castor falou:
“Eu não consigo detectar nada. Nem em uma grande distância. A
paisagem é muito árida e pobre para ser povoada.”
“Então nós temos um esconderijo ideal!”, disse Tahonka-No. “Esperamos
até que fique claro?”
“Nós esperamos pelo dia!”, concordou o arcônida. “Gucky e Ras Tschubai
– vocês podem, se não se importarem, fazer o reconhecimento da área em
pequenos saltos e escolher a escarpa a partir da qual faremos as buscas
amanhã.”
“Com prazer”, disse Gucky. “Talvez eu encontre plantas que se
assemelhem às cenouras terranas.”

31
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

“Ou cogumelos venenosos!”, riu o halutense retumbante.


Sempre que ele aparecia na cabine de controle, todos tinham um
pequeno acesso de claustrofobia. Isso acontecia porque sua poderosa figura
parecia estourar a cabine da nave e fazia todos parecerem anões.
“Máquinas desligadas. Apenas os dispositivos necessários estão
funcionando com a menor potência!”, falou o emocionauta e levantou o
capacete SERT de sua cabeça.
A Gevari estava em cobertura.
Eles não poderiam ser localizados nem do espaço, nem mesmo de outros
lugares do planeta, o que parecia inacreditável. Eles se encontravam em um
maciço montanhoso abandonado desse planeta, quinhentos metros sob a
superfície de um grande mar interior, sob a proteção de uma poderosa caverna
de estalactites. Daqui eles podiam tentar fazer reconhecimentos do planeta.
Sandal contava com o fato de encontrar um dos príncipes do Enxame.
Estes foram seus últimos pensamentos ao adormecer.

32
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Capítulo 5

No passado, pensava Sandal Tolk asan Feymoaur sac Sandal-Crater, depois de


ter aberto os olhos, eu acordava mais rápido e já estava pronto para ação. A vida
na nave espacial apaga o caçador em um homem, que amolece e aprecia a
comodidade.
Ele se encontrava em sua minúscula cabine, estava sozinho e descansado.
Ele olhou as horas que estavam no amplo aparelho de comando localizado no
canto da parede oposta sobre o tabuleiro de escrever.
“Tempo suficiente”, murmurou o jovem guerreiro e tateou os corais
arredondados em seu lóbulo”, “para conquistar o planeta!”
Ele sorriu, então se levantou e tomou banho, escovou os dentes e se
vestiu lenta e minuciosamente.
Depois de abrir a porta deslizante de sua cabine, ele viu que a nave ainda
estava muito calma. Apenas os acordados conversavam baixo na cabine de
comando.
Sandal acenou e pegou seu arco.
Ele acariciou a haste da longa e esguia arma, viu as aljavas cheias das
longas fechas de fabricação da Marco Polo e subitamente lhe ocorreu que ele
não possuía nenhuma flecha de Exota Alfa. Mais um sinal de que sua vida havia
tomado outro caminho desde a destruição do Castelo Crater e a morte de seu
avô e Beareema.
Ele apertou os maxilares ao pensar nisso.
E então ele abriu cuidadosamente o revestimento de couro na haste do
arco e desenrolou o pergaminho. Ele colocou o rolo sobre o tabuleiro de
escrever, sentou-se na beira de seu suporte e sacou uma caneta.
Ele escreveu:
“A bordo da Gevari, aterrissada no ‘Planeta Perigoso I’ no sistema solar
Alfa-Interno. Eu e meus amigos nos encontramos sob a proteção de uma
gigantesca caverna cheia de curiosas estalactites rochosas.
Depois de refletir, ele riscou as palavras “eu e meus amigos” e as
substituiu por “meus amigos, Atlan e eu.”
Ele sorriu brevemente, e então continuou escrevendo:
Um dos antigos bardos dos terranos havia escrito que o homem deve se
sujeitar ao tempo e às leis das horas. Isso todos nós tentamos. O que aconteceu
em Exota Alfa, aconteceu em vários outros planetas. Eu e Atlan sabemos disso –
todos os terranos, que agora estão como intrusos no Enxame, também o sabem.
Nós já vimos muita coisa e já conhecemos muitos estranhos curiosos.
Há certamente pequenos purpurinos nesse planeta. Eles são o alvo
preferido de minha vingança, ou antes da minha tentativa de tentar encontrar o
senhor. Pois eles o vigiam e impedem que nós encontremos esse príncipe. Os
instaladores do Enxame, assim chamados por mim, são os executores dos
comandantes. Eles fazem aparelhos com os quais danificam a natureza dos
planetas, matam os seres que vivem neles, e apenas os amarelos vivem e se
multiplicam.
A galáxia corre o perigo de ser inundada por seres em forma de pera.
Os seres que parecem pássaros com cabeças fastidiosas, os
“estrambólicos”, usaram uma arma contra nós à qual apenas Takvorian podia

33
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

resistir. Eles são um novo povo de inimigos que se colocaram entre os deuses e
eu.
Nós sabemos agora dos lacoons, cujo olhar é como de basiliscos e nos
paralisa. Eles são verdadeiros adversários para minhas flechas silenciosas. Se
algum dia eu tiver filhos e netos, poderei contar mais coisas do que o avô Sandal
a mim, e coisas piores. Eles são verdadeiros adversários para um guerreiro.
Muitos desses grupos são controlados e monitorados pelos “demônios
negros”. O Enxame ou a caravana cósmica era um aglutinador para vários
povos. Será que eles foram roubados junto com seus mundos de origem e
escravizados? Nós não sabemos ao certo.
Eu suspeito que daremos um passo decisivo nesse planeta. É apenas uma
suspeita de um jovem guerreiro, que eles já chamaram de “Sandal, o Selvagem”
ou “Bárbaro”.
Talvez eu seja apenas um bárbaro quando eu luto.
Por que eu luto?
Pela vingança? Não mais, isso eu sei. Antes para que todos os povos da
Via Láctea obtenham sua liberdade de volta, que lhes foi tomada pelo Enxame.
Isso não é, eu acredito, uma razão ruim para lutar.
Eu concluo agora. Em poucas horas saberemos mais. O teleportador nos
trouxe imagens seguras das imediações, de forma que nós não tenhamos que
tropeçar como cegos por um matagal.
Sandal colocou a tampa na caneta, enrolou o pergaminho novamente e
prendeu-o na haste do arco. E então ele retesou a arma, apertando a ponta
esquerda do arco contra a canela da perna esquerda, afastando a haste para trás
do joelho direito e arqueando a ponta direita com os braços, para então
conseguir colocar a corda.
Ele ainda tinha mil flechas em cem aljavas.
A cor de suas plumagens mostrava qual efeito os projéteis possuíam.
Nos próximos dias, rapidez sozinha não era importante. Todos eles
deviam não apenas ser rápidos, mas também invisíveis. Altan, Tahonka-No e
ele... seria um bom grupo.

***

Depois de alguns passos, enquanto procurava por Atlan, Sandal


encontrou Ras Tschubai, o teleportador com a pele escura.
“Novidades?”, perguntou ele.
Ras apontou laconicamente para a cabine de direção.
“Ah!”, falou o guerreiro. “Não me torture com falsa tensão. O que
aconteceu?”
Ras sorriu largamente, mostrando uma dupla fileira de dentes brancos
como a neve. Ele falou baixo:
“Nós interceptamos um sinal condensado de Rhodan, um tanto vago,
mas bastante informativo.”
Sandal pensou na garota de olhos verdes Chelifer, que ele amava, e que se
achava com Rhodan. E em Cascal, o homem que o havia ensinado a ironia.
“Me informe!”, pediu ele.
“Muito além do sistema Alfa-Interno”, disse Ras, “o chefe desencadeou
uma grande manobra de desvio. Ele travou combate com as naves do Enxame
com vinte e dois cruzadores e dezoito corvetas. Os comandantes parecem saber

34
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

muito bem como é vital desviar as naves do Enxame de nós. No final das contas,
trata-se da vida do grupo Atlan.”
“Trata-se disso!”, respondeu Sandal gesticulando. “Mais alguma
informação?”
“Sim. Recebemos ordens da Marco Polo. Rhodan é da opinião de que
seria a hora de colocar o adversário numa posição em que ele tenha que reagir.
Talvez nós consigamos, com força concentrada suficiente, desviar o enxame.”
Sandal bateu levemente nos ombros de Ras e disse:
“E aqui... em Gepla I?”
“Nós fizemos um reconhecimento das redondezas”, assegurou Ras e
enrugou a testa. “Nós realizamos algumas dúzias de saltos, parcialmente na
zona diurna. E nas últimas horas a cidade da planície, à luz da manhã. Você já
viu a caverna?”
“Ainda não. Vale a pena ver?”, perguntou Sandal, que já começava a
sentir fome.
“Bizarro. Tahonka está te esperando.”
“Onde?”
“Ao lado da pequena cozinha.”
Sandal se despediu e foi até à cozinha. A maior parte da tripulação já
havia comido. Icho Tolot se encontrava fora da nave. Uma tela mostrava Sandal,
enquanto ele andava, a vista na caverna de calcário com suas imagens
maravilhosas.
A luz entrava pelas numerosas aberturas e brilhava fracamente pela
caverna. Já era o final da manhã. Um mundo fantástico de formas fugazes
paralisadas como gelo se mostrava ao jovem guerreiro. Ele nunca havia visto
uma caverna assim em sua vida, ou essas cortinas que pareciam de material
efervescente e eram rochas duras. A água corria de uma bacia para outra. Uma
fileira inteira dessas bacias formadas por calcário e de diferentes cores e
tamanho seguiam em um declive até o ponto central do lado de trás da caverna
gigante, a qual poderia ter espaço para um cruzador ou a metade do Castelo
Crater. Uma abertura onde a água virava e se encontrava diretamente entre dois
pilares do jato. Sandal decidiu observar melhor as maravilhas da caverna depois
de comer e antes de o grupo discutir sobre a missão.
Tahonka-No agarrou o braço de Sandal e o sentou em uma poltrona.
Entre o ósseo e Sandal um rico café da manhã preparado pelos robôs da cozinha
com os ingredientes a bordo. “Nós iremos explorar a cidade na superfície”, disse
Tahonka. “Atlan, você e eu. Com a ajuda de Ras Tschubai.”
Ele colocou, enquanto Sandal comia com grande apetite, algumas
ampliações de fotos tridimensionais entre os pratos e copos. Sandal as estudou.
“Uma poderosa cidade!”, disse ele.
“Você deve só ver a cidade na península – no outro lado do mar interior”,
esclareceu No. “Um sistema similar àquele sob a cúpula em que lutamos depois
do voo nas costas dos dinossauros.”
Sandal observou as fotos e comeu calado.
A cidade na superfície seria então o primeiro objetivo. No declive
localizado a norte do maciço montanhoso, dentro da zona subtropical desse
planeta, espalhavam-se suavemente encostas vegetadas. Elas formavam,
misturadas com florestas e um rio que corria em forma de arco, três quartos de
um círculo. Dentro dessa formação, havia uma planície completamente plana.

35
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

“Provavelmente o resultado de glaciares pré-históricos que um dia se


originaram dessa montanha e ali moldaram uma planície. Há também alguns
lagos tipicamente glaciais – alimentados por pequenos rios da montanha!”,
falou o ósseo.
Agora a visão de outros comensais não mais fazia parte de seus tabus. Ele
também comia e bebia na companhia de outros sem que isso afetasse seu
apetite. Havia outras coisas bastantes que os terranos apenas faziam quando
não eram observados.
“A planície é gigantesca. Ela mede no mínimo cem quilômetros”, falou
Sandal sem se entusiasmar. Era muito difícil aproximar-se cautelosamente de
uma planície. Uma pessoa era vista rapidamente.
“Exatamente oitenta quilômetros. E no meio se encontra o prédio. Aqui.”
Tahonka colocou mais uma foto sobre a mesa. No mesmo instante,
Sandal foi tomado por um tipo de febre de caça. Ele viu uma enorme pirâmide
cujas linhas de base possuíam mais de quinhentos metros. Essa construção se
ascendia a quatrocentos metros ou pouco menos no céu. A foto foi feita no
momento exato em que a luz do sol atingia os três quartos superiores da
construção – todas as outras partes da Pirâmide e da cidade estavam sob a
bruma de uma névoa matinal.
“Um espaçoporto... uma torre de porto, muitos prédios baixos que
pareciam fábricas de robôs, uma ampla instalação de transporte para o
espaçoporto... aqui se produz e se carrega rapidamente”, falou Sandal de boca
cheia.
“Assim parece ser.”
“Assim é”, falou Atlan. Ele entrou, acenou para eles e se sentou. Ele
pegou um copo de café da máquina e reclinou-se relaxado.
“Nós nos decidimos”, falou ele depois de um grande gole, “por ficar aqui
até o dia dez do mês, desde que o deus não nos obrigue a tomar outras medidas
ou a decolar antes disso!”
“Mas isso são menos que cinco dias!”, disse Sandal.
“Assim foi planejado”, respondeu o arcônida.
Eles não eram parecidos apenas externamente, ele e Sandal. Seus
pensamentos também pareciam seguir as mesmas trajetórias. O que de fato os
diferenciava eram duas coisas: primeiramente, a poderosa e bem maior
experiência de vida do arcônida, que estava atrelada a suas vivências em várias
partes da galáxia. E, em segundo lugar, a maior capacidade do arcônida de
ponderar e planejar. Sandal ainda era muito jovem e muito disposto a agir sem
grandes reflexões.
Falava a seu favor o fato de que ele quase sempre fazia a coisa certa com
seu instinto de uma rápida fera.
Sandal empurrou o copo, observou as grandes imagens e então disse:
“A zona crítica é a área entre os primeiros prédios baixos e o terreno
abaixo da colina. É provavelmente inútil tentar penetrar diretamente na
pirâmide.”
Atlan apontou primeiro para Tahonka-No, e depois para o homem de
Exota Alfa e falou incisivo:
“É importante que nós aproveitemos o prazo que nós nos demos. Vocês
entendem o que isso significa?”
Tahonka-No colocou seu antebraço musculoso sobre uma mesa,
empurrou o aparelho de rádio para o pulso e fez que sim com a cabeça.

36
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

“Nós temos que permanecer invisíveis. Nenhum de nós pode ser visto de
maneira alguma. O teleportador que nos levará também deverá nos buscar.”
Sandal acenou assentindo.
“Isso mesmo!”
A cidade na planície estava disposta quase na forma de um círculo. No
centro estavam os prédios mais altos; o centro sobressalente era aquela
pirâmide curiosa com numerosas aberturas. A partir dela, declinava a altura dos
prédios e instalações de conexões até atingirem o solo. Entre os prédios
achavam-se extensas zonas verdes que pareciam velhos parques nas fotos.
Sandal sabia que isso significava uma boa quantidade de esconderijos ideais.
“Quando começamos?”, perguntou ele ansioso.
“Em algumas horas. Nós precisamos primeiramente esperar o retorno de
Gucky e, em segundo lugar, fazer um plano mais preciso.”
“Entendido!”, responderam Sandal e o ósseo como de uma só boca.

***

No momento eles não podiam pensar em colocar trajes espaciais, pensou


o jovem guerreiro enquanto descia a rampa do sistema de comportas e chegava
ao jardim de conto de fadas de estalactites e estalagmites, o qual se
transformava num labirinto de luz e cores, sombras e formas.
Ele andava lentamente pela grandiosa caverna, entre os pilares e
cumprimentava os outros terranos da patrulha, que montavam pequenos
aparelhos e com a ajuda deles procuravam executar localizações – eles não
queriam arriscar serem descobertos. Mais tarde, nos últimos dias, já se poderia
correr o risco.
Mas, a princípio, resultados eram importantes. Pequenos ou também
observações de peso, os quais deveriam ajudar a melhorar o quadro que se tinha
da infraestrutura da caravana cósmica.
“Mas que quadro!”, murmurou ele à luz do sol brilhante.
Ele havia deixado a caverna pela ampla e rasa passagem e agora estava ao
lado da entrada em uma grande faixa de rochas. Cascalho e areia grossa haviam
se acumulado num canto protegido do vento. Uma estreita faixa de pequenas
plantas crescia aqui e marcava a entrada. Em quase noventa graus caía o flanco
da montanha e desembocava diretamente na água.
Mil e quinhentos metros...
Até quanto Sandal podia olhar, ele via uma superfície de água quase
imóvel. As pequenas ondas e as enormes superfícies onduladas pelos ventos
formavam pequenos padrões nos quais a luz solar de um final de manhã se
refletia e criava numerosos reflexos. Era uma visão de um grande vazio e
abandono.
“Nenhum navio, nenhum barco...”, murmurou Sandal. Atrás de si, ele
ouviu passos pesados, e, quando ele se virou, ele viu Icho Tolot vir até ele.
“Meu pequeno!”, rugiu o halutense. Algumas pedrinhas se soltaram e
desceram a parede rochosa rolando.
“Sim?”
“Gucky voltou. Ele fez interessantes fotos que estão sendo ampliadas no
momento.”

37
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

“Eu já estou indo”, disse Sandal e colocou os dedos na orelha. O


halutense falava tão alto que o guerreiro temia que alguém fosse ouvi-lo ao pé
da montanha.
Eles voltaram lado a lado. Meia hora mais tarde, os onze membros da
pequena expedição se reuniram e se consultaram a respeito de como proceder.
Gucky havia tirado fotos de diferentes localizações da cidade na planície. Ela
estava a seiscentos quilômetros de distância.
A cidade era rodeada por quatro ou cinco anéis de fábricas robotizadas,
cujos produtos eram levados diretamente para o espaçoporto, que se achava a
quarenta quilômetros a norte da cidade, através de um sistema de condução
subterrâneo.
Então o primeiro grupo foi decidido:
“Eu espero que vocês fiquem satisfeitos comigo!”, falou Ras Tschubai.
Ele deveria levar Sandal e Tahonka-No até à cidade e trazê-los de volta,
caso houvesse perigo de eles serem descobertos.
Eles tinham, ao todo, trinta e seis horas para esse pequeno setor de um
grande planeta.
Eles o chamavam de “Planeta Perigoso”!
Será que o planeta fazia jus ao nome?
Dentro de meia hora, Sandal e Tahonka estavam completamente
equipados. Sandal levava uma pesada aljava com duzentas flechas diversas e seu
arco, além de seu armamento “normal”. Ele sabia que ele poderia se
movimentar mais rápido quanto mais leve estivesse. O mesmo se aplicava ao
ósseo.
Cada um deles levava uma pequena câmera de bracelete cujo disparador
era combinado com um músculo do dedo.
Todas as informações eram importantes.
Por fim, Ras Tschubai se concentrou, apanhou os dois sentinelas nos
braços e teleportou.
Tahonka-No estava inseguro e nervoso. Seus nervos do estômago
pareciam tensos, ele pressentia os perigos. Ele não conhecia nada: nem a
cidade, nem seu propósito. Ele sabia que Sandal era o melhor parceiro que ele
poderia desejar, mas ninguém poderia avaliar corretamente uma tarefa que era
em grande parte desconhecida. O que os esperava lá? Até mesmo para um
membro do Enxame, era difícil achar a posição correta. No momento em que
Sandal e ele sumiram do jato e apareceram atrás de uma saliência sobre um teto
no centro, a inquietação deixou o pária de Gedynker Crocq. Ele estava
totalmente calmo. Agora eles se achavam no meio do perigo.
A primeira impressão foi resumida por Sandal:
“Eu acho que a cidade está muito vazia, eu sinto falta de barulhos e
manifestações de vida.”
Eles saíram lentamente da cobertura. O sol estava alto no céu; em cerca
de uma hora terrana, ele chegaria ao ponto mais alto. A cidade jazia como morta
na planície sob eles.
Sandal agarrou mais firmemente o cabo de seu arco. E então ele olhou
lentamente em volta. Ele observava cada janela, cada abertura, cada rampa...
Nenhum desconhecido...
Ras bramiu alto:
“Ali! Um planador!”

38
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

As cabeças dos dois amigos se voltaram para lá. Um grande planador


branco flutuava saindo de uma abertura nas partes bem inferiores do prédio
reluzente cinza-prateado semelhante a uma pirâmide. Neles estavam alguns
purpurinos mudos. O planador subiu rapidamente e voou a aproximadamente
vinte metros do solo para uma rampa. As sombras em forma de pino o seguiam
a alguma distância.
“Unidades de guarda!”, falou Sandal. “Ras?”
“Sim?”
“Nos leve de volta até a borda da cidade. Nós queremos ver o que é
produzido aqui caso haja fábricas robotizadas lá.”
Ras acenou afirmativamente e sombreou os olhos com a palma da mão.
Em seu rosto havia uma feição tensa.
“Toquem em mim!”, falou ele e se concentrou em seu alvo. Eles
seguraram em seu braço.
Um repuxão e uma dor que vieram quando eles já haviam chegado: o
sistema nervoso reagia de maneira mais lenta do que a velocidade de um curto
salto teleportador.
“Aqui estamos nós.”
Sandal tentou recuperar o equilíbrio. Eles estavam um ao lado do outro
sobre um grosso galho, cerca de trinta metros sobre o chão. Logo na frente deles
estava o baixo e extenso teto da fábrica metade subterrânea. Canais de
ventilação e protuberâncias hemisféricas podiam ser vistos.
Sandal decidiu:
“Entramos, Ras? Você nos acompanha?”
“Mas é claro!”
Sandal jogou seu arco sobre os ombros, segurou a arma de radiação e
saiu pulando de galho em galho para baixo. De cócoras, no último galho, ele
olhou em volta. Ele não notou nem unidades de guarda nem refletores de
sistemas de alarme escondidos. Também não havia nenhuma pegada na grama
ao redor da instalação. E então ele pulou três metros mais abaixo, parou o pulo
com as mãos e se virou de uma vez a trezentos e sessenta graus.
“Ninguém aqui!”, chamou ele num grito abafado, agachou-se e após
quinze longos saltos ele estava na grade do canal de ventilação. Ao se colocar
diante dele, veio-lhe um cheiro ao nariz que consistia de vários numerosos
componentes: o cheiro amargo de lêvedo, diversos aromas, o cheiro de
máquinas aquecidas. Sandal agarrou o cano da bota e, antes mesmo que
Tahonka e Ras tivessem chegado, ele já havia aberto a tranca com uma faca.
Ouviu-se um estalo metálico por quatro vezes. Ras não se admirava mais quão
rápido esse jovem homem havia dominado os truques técnicos, ele havia
assistido a enorme intensidade com a qual Sandal havia aprendido.
“Para dentro!”
Sandal balançou-se para dentro da abertura, No lhe entregou o arco.
Então ele espreitou-se enviesado para baixo. Ele olhou através de uma segunda
grade, maior, enviesada para baixo e viu um gigantesco e relativamente baixo
hall da fábrica.
“Caldeiras tremulantes e muitos tubos, uma boa quantidade de máquinas
estranhas... vamos ver o que elas produzem!”
Rapidamente, ele tirou algumas fotos com a câmera automática e
removeu a grade quase sem fazer nenhum ruído. Ele viu alguns robôs de
manutenção flutuando, mas nenhum ser vivo. E ele havia esperado, no mínimo,

39
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

instaladores do Enxame, aqueles seres semelhantes a árvores com oito braços e


pés e o anel auricular.
“Sigam-me!”, falou ele com urgência, jogou a grade para o lado e pulou
sobre uma rampa em espiral que rodeava um pilar central. Diretamente ao lado
deles havia uma enorme instalação de controle na qual numerosos indicadores
cintilavam.
“Se eu estou pensando corretamente, essa fábrica poderia ser uma que
produz algum tipo de alimento!”, opinou Ras Tschubai.
“Nós temos que achar o final da esteira.”
Ele desenganchou uma caixa quadrada e achatada de um cinto, deslocou
um relógio e prendeu a caixa com uma substância autocolante sob a instalação
de controle.
Tahonka-No havia constatado, entrementes, onde a esteira terminava.
Ele correu agachado entre as máquinas, esquivou-se dos robôs; sempre com a
mão no cabo de sua arma. Mas eles ainda não haviam sido descobertos. Alguns
minutos mais tarde, eles estavam ao lado de uma máquina de engarrafamento
crepitante e estalejante.
De algum lugar debaixo do hall vinham contêineres em forma de cubos.
Um bocal afundava na abertura, e uma massa pastosa, amarela, era colocada
rapidamente sob forte pressão nos recipientes transparentes.
“Nós conhecemos esses recipientes!”, falou Tahonka e acotovelou Sandal.
“É isso mesmo!”, falou Sandal e tirou algumas fotos.
“De onde?”, perguntou Ras.
“De nossa viagem atribulada no interior de um tubo hexagonal. Um dos
conquistadores amarelos se alimentava desses recipientes em seu voo para um
planeta no qual ele queria se dividir.”
Uma massa desse alimento fluía constantemente para os recipientes. Eles
já possuíam um tubo grosso com um bocal de formato estranho. Um outro
aparelho atarraxava a tampa com uma válvula simples, mas refinada. Então, os
recipientes corriam sobre uma esteira rápida e sumiam na abertura da parede.
Ras falou baixo:
“Caso nós queiramos visitar o espaçoporto... aqui está um meio de
transporte rápido para isso!”
Sandal bateu levemente em suas costas e assegurou sorrindo:
“Eu prefiro seu meio de transporte. Ele é menos arriscado!”
“Tudo bem então!”, falou o africano.
Eles olharam mais uma vez a instalação e acharam uma saída. Na
fachada do hall, cujas máquinas zuniam, passava uma rampa até uma saliência.
Ali se achava provavelmente um caminho de conexão para outro hall.
“Porque essas fábricas são tão vazias?”, perguntou-se Ras ao levar os
amigos diretamente até uma porta deslizante com um pequeno pulo. Diante
deles, havia um amplo e iluminado corredor com cerca de quinze metros de
comprimento. Não se via ninguém.
“Será que é falta de pessoal?”, falou Sandal ironicamente.
“Provavelmente é outra coisa”, respondeu No com sua voz altiva. Ele
atravessou um feixe de luz e as portas se empurraram para trás, e eles
marcharam para dentro da passagem. Sandal colocou uma flecha na corda; era
um tiro com uma ponta de flecha afiada, sem descarga explosiva. “O que você
acha?”

40
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

“Eu acho”, respondeu Tahonka-No, enquanto eles andavam pelo


corredor e se aproximavam da saída, “que as instalações robóticas são
construídas de tal modo a não precisarem de controle. E quando há controle,
então ele se faz mediante robôs de manutenção especialmente programados.”
Quando eles chegaram à saída, Ras Tschubai disse com uma respiração
ofegante:
“Além disso... quem iria invadir exatamente uma fábrica robotizada em
um planeta onde se aplicam as ordens de Y’Xantramon?”
“Você tem razão!”, disse o jovem guerreiro e passou pelos painéis de
vidro que se abriam em um outro salão.
As lembranças voltaram instantaneamente.
Os objetos redondos e aplanados que aqui deixavam o processo de
fabricação sobrepostos a uma esteira também haviam estado dentro do tubo
hexagonal no qual amarelos inchados haviam deixado a “Ilha dos Bem-
aventurados”. Sandal disse surpreso com a descoberta:
“Uma coisa é certa. Uma grande parte dessas construções produzem
equipamentos para os conquistadores amarelos, que não são nenhuns
conquistadores.”
“Você tem certeza?”, perguntou Ras quando entraram no hall e correram
para os painéis.
“É quase certo!”, concordou Sandal.
Mais uma vez, ele tirou uma foto e Ras mais uma vez atou uma de suas
caixas no painel.
“E agora?”, perguntou ele.
Eles já haviam visto o suficiente: no final das contas, não era tarefa deles
nem especialmente importante pular de uma fábrica robotizada para outra para
fotografar equipamentos. Tahonka e Sandal se olharam e então o ósseo
murmurou:
“Vamos em direção ao centro. Talvez encontremos coisas que chamem
mais a atenção.”
“Eu estou pronto. Mas primeiro temos de deixar esse prédio, pois eu não
conheço nosso objetivo. E um salto cego nos colocará em grande aperto!”,
ressalvou o teleportador.
Eles se orientaram rapidamente, correram novamente sobre a rampa e
procuraram por uma saída. Por fim, eles a encontraram. Era uma placa
transparente que, a princípio, parecia ser uma parte da parede. Tahonka-No se
colocou à direita da placa e pressionou uma rodela na parede. A placa moveu-se
para cima zumbindo e sumiu em uma abertura no teto.
Sandal agachou-se quando ela ainda estava em movimento e, quando ele
se endireitou novamente, ele viu o planador.
“No! Cuidado!” Chamou ele. “Não use armas de energia!”
O planador parou a vinte metros dele. Havia seis purpurinos nele.
Quando eles se movimentaram, seus tufos de cabelo agitaram-se. Sandal
endireitou-se, estendeu o arco e atirou sem parar. Ao lado dele, apareceu
Tahonka-No. Seu longo e musculoso braço traçou um semicírculo e a longa faca
que ele atirou relampeou no ar e acertou o peito do piloto. Apenas então os
purpurinos deram a volta. Dois deles procuraram cobertura atrás do planador
quando a segunda flecha saiu zunindo do arco.
Sandal desceu a pequena escada correndo enquanto ele retirava mais
uma flecha da aljava e a colocava sobre o arco. Ele parou e atirou. Tahonka

41
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

lançou sua segunda faca. Ras segurava sua arma na mão e avançava. Ele tinha
que impedir os purpurinos de manusear o aparelho de rádio. Os impactos das
armas da unidade de guarda detonavam à direita e à esquerda de Sandal
enquanto ele atirava.
Tahonka-No aterrissou na grama, rolou e pulou lateralmente ao redor do
planador. Seu caminho era marcado por feixes de chama que saíam da arma de
um purpurino e iam de encontro a ele. Apenas dois purpurinos ainda viviam.
Eles haviam procurado se proteger atrás do planador.
Sandal esperou um pouco, trouxe o arco até o queixo e atirou.
A flecha bateu estalejante na parede oposta do planador aberto. Ela
passou pelo buraco que havia feito e furou o corpo do purpurino que se escondia
ali.
“Aqui!”
Enquanto Ras corria ao redor do planador, Tahonka-No executava uma
série de movimentos interligados. Ele correu, abaixou-se e retirou a faca do
peito do purpurino. Então ele deu um grande salto, pulou sobre o planador e se
jogou sobre o último sobrevivente. Sua mão com a faca afundou-se; o feixe de
fogo da arma do pequeno purpurino se apagou.
“Nós temos que esconder os corpos e o planador!”, disse Ras Tschubai e
guardou a arma novamente.
“Claro!”, Sandal se aproximou e olhou atentamente em volta. Não se via
nenhum planador, apenas os vestígios de fogo e as marcas das botas na grama.
Tahonka murmurou enquanto ele levantava um purpurino e o deixava
cair no planador:
“O planeta é grande e não muito povoado. Se nós tomarmos o controle do
planador...”
“Entendo.”
Eles trabalhavam rapidamente e com movimentos precisos e
controlados. Os seis seres mortos foram colocados nos assentos junto com as
armas. Ras prendeu uma carga explosiva com cronômetro sob o painel.
“Você conhece a direção, No! Ao trabalho!”, disse Sandal. O ósseo ligava e
girava botões e colocou a arma de um dos purpurinos no pedal do controlador
de velocidade. No deu um passo atrás, com a mão no interruptor principal, e
disse:
“Nessa direção, Ras?”
“Sim”, disse o africano depois de uma olhadela nas árvores do parque. “O
planador voava na direção da montanha. E o aparelho de rádio...”
Tahonka fez sinal que não.
“Desligado!”, murmurou ele.
E então ele soltou a arma e pulou para trás.
A concha branca do planador ascendeu flutuando, a cerca de vinte
metros. Ao mesmo tempo, ela ganhava velocidade. Ela passava pelas coroas das
árvores, subia sem parar e se distanciava em linha reta. Os três homens a
observaram por poucos segundos, e então Ras falou:
“Esse foi um o primeiro obstáculo. Outros incidentes desse tipo
certamente se seguirão.”
“Provavelmente. Nós precisamos continuar, Ras!”, disse Sandal.
Ras se concentrou no próximo alvo. Eles o alcançaram e agora estavam
atrás de um parapeito que contornava a terça parte superior de um edifício
colunar. Eles não sabiam a que propósito ele servia. Lentamente, eles se

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Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

levantaram de sua posição agachada e olharam para baixo, para as ruas


estranhas da cidade.
“Como mortas!”, constatou Sandal. “O que deve haver nesses prédios?”
“Antes de entrarmos, nós temos que pensar se o risco compensa. A
probabilidade de esbarrarmos com moradores ou com unidades de guarda é
consideravelmente mais alta.”
“Vamos procurar uma entrada.”
Eles olharam em volta. O coração de Sandal bateu rápido quando
descobriu uma ampla janela a cerca de vinte metros de onde estavam. Quando
Ras se colocou em movimento, eles ouviram um barulho conhecido. Um trovão
assolou a cidade, e se intensificou, e um terceiro barulho agudo encobriu as
vibrações abafadas, e alguns segundos mais tarde eles viram a leste três naves
espaciais subirem uma atrás da outra e voarem verticalmente para o céu claro.
Eram grandes naves de transporte; eles todos já conheciam bem suas
formas.
“Um grande tráfego de naves!”, falou Sandal alto para superar o barulho.
Ras respondeu:
“Provavelmente os alimentos são levados daqui para os amarelos para
algum ponto de distribuição.”
Isso com certeza também se aplicava para os outros equipamentos dos
transportadores em forma de favo. Eles eram construídos aqui. Certamente as
outras naves traziam a matéria prima ou equipamentos semipreparados para
Gepla I. Um planeta de fabricação?
“Vamos!”, disse Sandal. “Quanto mais coisas descobrirmos, menor será
nossa estadia.”
Enquanto eles se aproximavam da “janela” sob os barulhos ressoantes
das naves que decolavam, Tahonka disse:
“E menor é o nosso contato com as unidades de guarda.”
Sandal chegou primeiro à placa de vidro, que parecia se inserir
diretamente na maciça parede sem nenhuma moldura visível. Ele colocou-se
sobre joelhos e cotovelos, empurrou sua cabeça para frente e espreitou a sala.
Ele disse baixo o que ele viu:
“Uma única sala, redonda e baixa. Ela está cheia de equipamentos de
informática e coisas que parecem ser semelhantes. Eu não vejo nenhum único
guarda. Mas uma tranca para essa placa. Nos leve para dentro, Ras!”
Tschubai hesitou.
Sandal falou insistindo:
“Focalize outro alvo caso tenhamos que sair rapidamente da sala em caso
de emergência.”
“Isso já soa melhor!”, disse o teleportador.
Ele tocou os dois homens... e subitamente eles se encontravam em uma
confortável sala climatizada. Em seus ouvidos, soava um zumbido profundo.
Ras olhou em volta, Sandal concentrou-se na entrada, que se achava em
uma coluna grossa e leitosa no meio da sala cilíndrica.
Lentamente, eles foram em sua direção.
Todas as máquinas trabalhavam. Sandal imaginava que aqui seria um
tipo de centro nervoso da cidade. Os problemas logísticos apenas poderiam ser
solucionados por meio dessas máquinas. Fornecimento de matéria-prima,
máquinas, consumo de energia, emissões, envio e transporte eram calculados

43
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

constantemente e controlados. Apesar de o processo de criação ser retardado


fortemente nos próximos dias, ainda era preciso garantir o decurso das ações.
“Seria um golpe considerável contra os Príncipes do Enxame”, disse
Sandal pensativo, “desativar essas instalações. Não apenas desativar – destruir.”
Assim eles conseguiriam um prazo maior para parar a ameaça sobre a
Terra. Ras Tschubai disse furioso:
“Não tenho outra coisa em mente. Esperem aqui, guardem a entrada.”
“Entendido!”, falou Tahonka.
Em uma série de pequenos e rápidos saltos, o teleportador rodopiou pela
sala e prendeu em toda parte suas cargas explosivas com detonadores
cronometrados. Depois de terem deixado a cidade, haveria explosões em várias
partes e a produção seria interrompida, ou pelo menos consideravelmente
prejudicada. Isso não se aplicava apenas para a produção de alimento, mas
também para outros ramos de suprimentos.
Enquanto Sandal esperava perto da abertura, ele procurava ouvir, tenso,
se algum guarda se aproximava, várias naves decolaram mais uma vez do
espaçoporto. Nesse planeta havia um grande número de portos,
consequentemente havia muitas aterrissagens e decolagens. Isso significava que
uma grande quantidade de materiais era manipulada. E a implicação era clara:
quanto mais materiais, mais os Senhores do Enxame dependiam de Gepla I e do
funcionamento de todos os estabelecimentos.
“Pronto?”, chamou Sandal com a voz abafada.
Ele acreditava ter ouvido algo, mas o retinir das naves impedia uma
identificação mais precisa. Apenas lentamente se distanciava o barulho dos
propulsores.
“Quase!”, falou Ras.
Alguns segundos depois ele estava novamente ao lado deles. Tudo havia
ficado silencioso. Desde o barulho das máquinas em trabalho e a respiração
apressada dos homens, não se ouvia nada.
“Eu devo ter me enganado!”, murmurou Sandal. “Nós estamos no
terceiro andar, vamos para cima, Ras!”
Eles deixaram a sala rapidamente, subiram as escadas e pararam ao
chegar ao próximo andar. Nessa sala achavam-se gigantescos depósitos de
aparelhos de processamento de dados. Ras colocou cargas explosivas em dois
lugares e voltou.
“Apenas trinta e três horas!”, disse ele.
“Tempo suficiente para tudo!”, retrucou Tahonka-No.
Eles se olharam brevemente. Suas faces estavam sérias e tensas e
deixavam escapar que os homens sabiam os perigos que corriam. Enquanto eles
procuravam por informações aqui, as naves de Rhodan estavam envolvidas em
batalhas que não tinham outro sentido a não ser inquietar o adversário e
impedi-los de procurar pela Gevari. Finalmente, eles chegaram na sala mais alta
dessa construção – era apenas uma de cerca de quinhentas. E a terceira em que
eles entravam.
“E onde estamos agora?”, perguntou Sandal a meia-voz.
Ele olhou ao redor da sala. Parecia ser um tipo de sala de conferência,
pois em uma área de menos de cinquenta metros de diâmetro havia diferentes
tipos de assentos e mesas. Um grande número de aparelhos de comunicação se
encontrava entre os assentos e as paredes; monitores, aparelhos de escrita,
intercomunicadores e outros.

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Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

“Desinteressante!”, disse Ras Tschubai. Seu olhar virou-se pra cima, para
o flanco do prédio piramidal, que possuía uma semelhança distante com um
formigueiro.
“Tentamos?”
“Por mim tudo bem. O ponto de fuga é aqui?”, perguntou o ósseo e
agarrou mais firmemente sua arma.
“Sim!”, disse Sandal alto.
Eles se aproximaram de Ras Tschubai, tocaram seus braços e em uma
fração de segundo, eles se rematerializaram logo abaixo do topo do edifício. Eles
estavam no centro da cidade na planície.
E agora eles viam um grupo de instaladores do Enxame, que estavam em
um terraço a três níveis abaixo deles e conversavam. Sandal reconheceu as vozes
altas e estridentes instantaneamente.
Nesse mesmo momento, decolou uma densa formação de naves. O
barulho dos propulsores se misturou com o de um agrupamento de cerca de
uma dúzia de naves de carga que se preparavam para aterrissar.

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Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Capítulo 6

Atlan andava inquieto de um lado para o outro pela cabine de direção da Gevari.
“Nada mudou”, disse ele. “A maioria dos mutantes está fora da nave e
continuam o reconhecimento. Se nós pudéssemos arriscar uma comunicação de
rádio, nós saberíamos se eles encontraram alguma coisa ou se estão em perigo.”
Ele estava sozinho no momento.
Ele havia ouvido várias vezes as fitas nas quais estava gravado o que os
teleportadores haviam constatado. O arcônida havia visto as fotos inúmeras
vezes e procurava angariar inteligência a respeito delas. A preocupação com a
vida dos amigos o martirizava. Essa procura em águas escuras dentro desse
meio estranho... essa tentativa de desviar o Enxame de seu caminho assassino
pela Via Láctea, agindo por dentro dele e usando os recursos do inimigo... não
era seu jeito de lidar com as coisas.
Já não foi seu jeito várias vezes, arcônida!, falou o sentido extra. O tempo
deve ser aproveitado! Quanto mais se souber a respeito do Enxame, vocês
poderão agir com mais propriedade. Você e Rhodan!
“Eu sei!”, murmurou Atlan.
Ele pensou nos lacoons, aqueles seres com as cabeças de serpente que
pareciam ter se originado das sagas terranas: naquela época eles eram
chamados de basiliscos ou Gorogo Medusa, cujo olhar paralisava os homens ou
mesmo os petrificava. Contra essas armas silenciosas, as habilidades dos
mutantes foram tão ineficazes quanto as flechas de Sandal.
O que aconteceria se os sentinelas fossem surpreendidos por esses seres
na cidade estrangeira ou em suas redondezas, nas centrais de energia e
instalações de controle? Então o plano seria inviável. Os Senhores do Enxame se
vingariam terrivelmente dos invasores paralisados.
Para os príncipes da caravana cósmica, os terranos deviam ser um tipo de
“adversário invisível”, dos quais se conheciam quase exclusivamente as naves. E
as ações que foram levadas a cabo em vários pontos.
O arcônida olhou o relógio.
“Mais trinta horas!”, murmurou ele. Ele ansiava pelo momento em que
deixaria esse sistema, enriquecido com muitas experiências. Ele não suspeitava
que as coisas poderiam se passar de maneira diferente...

***

Sandal pegou uma flecha e se afastou silenciosamente do parapeito. À


direita atrás dos três amigos havia uma entrada escura, apenas uma nesse
pequeno terraço. Ele sussurrou no ouvido de Tschubai:
“Pule lá dentro e olhe em volta. E volte instantaneamente, caso haja
perigo de ser descoberto.”
O ruído das naves espaciais se misturava com a tagarelice das vozes altas.
“Certo!”, Ras cochichou de volta e desapareceu.
Três segundos mais tarde, ele estava mais uma vez ao lado dos dois
outros, agarrou-os e pulou novamente.
Eles se viram diante de uma sala à meia-luz, cerca de quinze metros
quadrados. Não parecia ter entrada, mas quando os olhos de Sandal se

46
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

acostumaram à escuridão, ele notou algumas escotilhas quadradas no chão e um


número de níveis mais baixos. Ele se virou lentamente. Nas paredes, ele viu uma
fileira de monitores desligados. Havia duas poltronas diante deles.
“Uma sala de controle!”, murmurou Tahonka-No e moveu-se agachado e
devagar paras escadas. Ele colocou seus pés cuidadosamente sobre os degraus e
espreitou lá em baixo. A embocadura de sua arma apontava para a próxima sala.
Não se ouvia nenhum barulho a não ser do babel de vozes sob eles, que
claramente vinha de fora.
Sandal estalou os dedos.
No olhou para cima, seus olhos se encontraram.
“Você consegue entender o que eles estão dizendo?”, perguntou Sandal
baixo.
“Já vou!”, Tahonka continuou andando, enquanto Ras e Sandal o
observavam, tensos e visivelmente preparados para serem descobertos ou
colocados sob fogo.
O nervosismo que esse barulho estridente lá fora expressava foi
transmitido para os dois homens. Claramente não para o ósseo, que agora podia
olhar a sala lá em baixo. Ras não se atrevia a respirar. E então No acenou.
“Venham!”, disse ele.
Eles o seguiram rapidamente e o mais silenciosamente possível. Assim
que puderam observar a sala, eles puderam descobrir mais detalhes que
possibilitavam afirmações importantes. Era uma sala um pouco maior que a
sala de cima. Era um centro para um ser que estava acostumado a dar ordens.
Um tipo de mesa de trabalho, vários monitores, dos quais apenas alguns
estavam ligados, uma poltrona que possuía uma forma curiosa... Ras sussurrou:
“Aquele que ocupar este lugar – pois tendo em vista essa pompa não se
pode falar simplesmente de sentar – é consideravelmente maior do que nós.
Maior do que duzentos centímetros.”
Sandal falou ofegante:
“Um príncipe do Enxame!”
Tahonka deslizou para a janela aberta ou para a escotilha de entrada e
andou agachado até a borda do parapeito. Ele se endireitou de maneira
infinitamente lenta. O sol batia e queimava impiedosamente. Ali, onde a cidade
se encontrava na península, diretamente na linha do equador, seria bem mais
quente. Atentamente, o ósseo escutava a conversa dos instaladores do Enxame.
Sandal e Ras tiravam algumas fotos, pois eles sabiam bem que essa sala
era uma espécie de residência. Aqui ficava com grande probabilidade um dos
príncipes do Enxame quando ele visitava a cidade na planície.
Eles correram para Tahonka-No, que olhou para eles e colocou o dedo
sobre os lábios.
Os instaladores do Enxame conversavam ininterruptamente.
Eles esperaram meia hora. Então, Tahonka-No deslizou para perto deles
e falou baixo:
“Eu já ouvi o suficiente. Nos leve para um esconderijo seguro, onde
podemos conversar, Ras!”
Pouco tempo depois, eles estavam à margem de um pequeno rio muito
além do último prédio da cidade.
Sandal perguntou instantaneamente:
“O que eles falavam?”
Tahonka acenou e murmurou:

47
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

“Quase mais do que eu poderia me lembrar. Eu também não os entendi


muito bem. Nós assumimos o correto, isso aqui é uma cidade de fabricação
quase completamente automática. Eles produzem quase tudo de que os
amarelos precisam.”
Eles se sentaram sobre uma grande pedra e sobre eles havia a sombra de
uma grande árvore. Sandal correu em círculo ao redor do lugar provisório e
garantiu todos os lados. Eles não estavam sendo observados, ele viu alguns
animais e vários pássaros coloridos.
“Aqui há poucos estrambólicos, poucos lacoons, além de muitos
pequenos purpurinos, demônios negros e muitos instaladores do Enxame.
Todos são unidades de guarda, cujas funções são mutuamente complementares.
Mas, nessa cidade, apenas um único prédio é habitado, nomeadamente aquele
em que estávamos. Isso é tudo em relação aos residentes.”
“Entendo”, falou Sandal e pegou alguns cubos de concentrados da bainha
de seu casaco. Ele os partiu e passou o pacote para os outros. Eles comeram
rapidamente.
“Em toda parte nesse planeta há fábricas robotizadas e estações de
energia, espaçoportos e instalações de carga. Os principais “artigos de
exportação” são os alimentos para os amarelos. Em nenhum outro planeta eles
são produzidos nessa quantidade; se Gepla I sucumbisse, isso significaria uma
catástrofe existencial para o Enxame. Esse não é nosso propósito, por isso seria
suficiente se causássemos uma obstrução grave. Mas nós sabemos com o que
podemos ameaçar – em caso de uma confrontação grave.”
Sandal concordava lentamente; ele queria ouvir isso.
“Continue, Tahonka!”, pediu Ras com urgência.
“Nós podemos nos poupar de invadir outras áreas de fabricação”, falou o
ósseo. “Eu consegui descobrir o que é produzido aqui. E não apenas nessa
cidade, mas também em outros lugares do planeta.”
Ele suava muito. O calor os combalia.
“Mesmo?“
“Pelo planeta inteiro acontecem diariamente milhares de aterrissagens e
decolagens. As naves são quase todas transportadores, que trazem matéria-
prima e partem com fabricados de todos os tipos e voam para todas as partes do
Enxame. No momento, espera-se urgentemente um envio de projetores de
radiadores de inibição de Porteiro.”
Sandal e Ras ouviam atentamente. Quando Tahonka mencionou que o
ataque aos estrambólicos em Porteiro havia desencadeado um pânico
desconcertante, ele sorriu friamente e olhou para o jovem guerreiro.
“Eles não sabem o que pode acontecer – naturalmente, observou-se a
decolagem rápida da Gevari. Continuando... outras fábricas que, na maior parte,
são subterrâneas e visivelmente alcançam uma extensão impressionante,
produzem os tubos hexagonais em forma de favo. Elas trabalham a toda
capacidade, como os instaladores do Enxame disseram. Em alguns lugares, já se
chegou à escassez de material.”
Diante de seus olhos, surgiram quadros que mostravam com precisão
quais perigos se aproximavam da Terra e dos planetas.
Máquinas incansáveis fabricavam ininterruptamente os tubos em forma
de favos nos quais os conquistadores amarelos faziam suas viagens para os
planetas condenados. Outras fábricas forneciam os caixões metálicos. Caso se

48
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

soubesse as capacidades, seria possível compreender e expressar a destruição


em termos numéricos.
Ras Tschubai murmurou soturnamente:
“Não tem sentido. Nós não podemos visitar todas essas fábricas e colocar
explosivos nelas. E também não alteraria o tamanho da ameaça. Deixemos
então. Mas se nós conseguíssemos fazer com que o Senhor...”
Tahonka-No levantou sua mão óssea e a cerrou em um punho.
“Isso poderia dar certo. Y’Xantramon se encontra na cidade da
península”, disse ele baixo.
“Como?”
Sandal levantou-se num pulo.
“Assim é. E ele é tão bem guardado quanto os pensamentos de Rhodan”,
disse Tahonka e se esforçou para mostrar emoção em sua face imóvel.
Sandal se encontrava suando e parado diante dele, o olhou com olhos
flamejantes e segurou a alça do arco como se quisesse quebrá-lo.
“Acalme-se, Sandal!”, disse Ras Tschubai. “Não passou nem um quinto
do prazo que nós calculamos.”
Sandal concordou e se sentou novamente.
Ele mal ouvia Tahonka-No continuar a falar:
Os tubos de favo não eram simplesmente produzidos aqui, mas também
completamente preparados para o uso e enviados. Esse planeta era, no que diz
respeito a esses receptáculos, um ponto de confluência dentro do Enxame.
Apenas aqui, com exceção talvez de alguns menores ramos de fabricação em
outros mundos da caravana, fabricavam-se esses receptáculos de transporte.
Também por isso as várias aterrissagens de naves. Elas recolhiam os tubos
completamente equipados a bordo e voavam para onde os amarelos em
crescimento as esperavam.
Sandal rangeu os dentes.
“Para fora do Enxame! Para outros planetas! Para mundos como Exota
Alfa, que são preparados pelos purpurinos ou instaladores do Enxame.
Preparados e destruídos!”
Tahonka falou baixo e sério:
“Assim é. Eu também apenas entendi algumas relações hoje. Eu sei mais
agora... várias pequenas observações somaram-se a um grande e perigoso
quadro.”
Por alguns minutos, reinou um silêncio depressivo.
Ras refletiu se ele devia pular rapidamente no jato com as novas
descobertas ou não. Sandal apenas tinha um pensamento:
Eu tenho que achar esse Senhor!
E Tahonka-No começou a se sentir culpado. Os homens de Gedynker
Crocq eram médicos que ajudavam os amarelos a se curarem e lhes possibilitava
um processo de divisão sem perturbações. Até agora eles não tinham suspeitado
que eles ajudavam sistematicamente a destruir vidas – vidas de outros.
Ajudavam a destruir planetas por todos os tempos e a torná-los inabitáveis para
qualquer outro povo.
Lentamente o sol se punha no horizonte. A noite se anunciava.
“E agora, amigos?”, perguntou Sandal baixo:
Tahonka levantou os largos ombros e os deixou cair novamente.
“Ras?”

49
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

“Eu sugiro que nós visitemos os espaçoportos e vejamos o que há por lá.
Talvez descubramos algo que nos proporcione ainda mais conhecimentos acerca
dos mecanismos dentro do Enxame.”
“A escuridão vai nos proteger!”, prometeu o jovem guerreiro.
Ras Tschubai conhecia a localização do espaçoporto pelas fotos. Ele
esperou que os outros dois homens tivessem arrumado seus equipamentos, e
então se concentrou e pulou com eles no nível do espaçoporto. Quando eles
pousaram em uma grama alta do outro lado de um muro delimitador, uma nave
decolou com um barulho trovejante. Certamente ela carregava tubos
hexagonais.
E ao mesmo tempo soou uma sirene.
Os três sentinelas pareciam formigas aos pés de um prédio que não era
de seu mundo. Grama quase do tamanho de um homem os circundava; um
esconderijo de primeira, e ao mesmo tempo uma armadilha, se fossem
descobertos. O ressoar da sirene desapareceu, mas agora eles ouviam os
barulhos de muitos planadores pesados.
Longe deles, na borda oposta do espaçoporto, havia uma fileira de
pequenas naves de carga. Tahonka-No contou suas extremidades; eram em
torno de cinquenta.
“O que significa a sirene?”, murmurou Ras Tschubai, virou-se várias
vezes e abaixou a grama com seus pés.
“Não faço ideia. Talvez seja o anúncio da aterrissagem de uma ou mais
naves”, disse o ósseo.
Sandal apontou para cima.
“Nave dos estrambólicos!”, disse ele.
Uma frota de dez naves preparava-se para aterrissar, elas pareciam ter
pressa, pois os barulhos do outro lado do muro de grama, que agora se
movimentava com a pressão do vento noturno, aumentaram agitadamente.
“Nós temos que ver isso!”, disse Sandal.
Ras levantou a mão e apontou para as construções de gruas gigantes que
se levantavam à direita deles, rodeadas por grandes e rasos galpões e pavilhões.
“Nós saltaremos para lá. Lá, veremos mais.”
“Entendido”, falou Sandal. “Isso se aplica a vocês. Eu vou até a borda do
espaçoporto e farei uma pequena ronda lá. Dessa maneira, eu verei coisas
diferentes de vocês, e até agora nós tivemos muita sorte!”
Ras tinha dúvidas. O risco parecia muito grande para ele. Mas ele se
calou e marcou um ponto de encontro com o jovem guerreiro. Dentro de meia
hora, eles iriam se encontrar debaixo de uma grande árvore, a qual se podia ver
de onde estavam.
“Bom. Ficamos assim então!”, disse Sandal. “Boa sorte. Tentem descobrir
o que eles estão carregando.”
Eles tinham que conversar gritando, pois as naves haviam acabado de
pousar, uma depois da outra. Elas afundaram nas proximidades das pequenas
naves que esperavam no solo. Em dez intervalos, o barulho esvaneceu quando
as naves desligaram seus propulsores. Sandal suspeitava, ao andar pela grama,
que as tripulações nas cabines de direção não eram estrambólicos, pois esses
reconhecidamente não se davam bem com o movimento rápido das coisas. Ras e
Tahonka sumiram. Sandal estava sozinho.

50
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Os raios do sol vermelho queimavam agora quase paralelamente ao chão.


As construções e as naves se transformavam em gigantes vermelho-vivos.
Finalmente, os barulhos acabaram.
Sandal parou e aspirou e expirou profundamente. A grama cheirava
intensamente a umidade e possuía o aroma de pequenas flores brancas. Era
como em vários outros planetas: calmo, ainda assim estranho e ao mesmo
tempo familiar. Os padrões de caça, ainda que sejam por informações, eram
iguais em todo lugar. Ver muito e não ser visto. Ao contemplar o pequeno beco
na grama, ele sabia que ele devia deixar essa área rapidamente. Suas pegadas
podiam ser vistas perfeitamente sob a luz que esvanecia.
Ele pegou três das flechas não preparadas de sua grande aljava,
endireitou-as e colocou as flechas e o arco na mão esquerda. Com a direita, ele
despedaçava caules e corria em amplos saltos em direção à borda do
espaçoporto.
Lá, ele sabia que se achava uma rua relativamente larga.
Alguns minutos se passaram. O raspar das botas nos caules, o farfalhar
da relva em movimento, o arrancar das folhas quando elas eram pegas entre o
arco e a corda e o respirar de Sandal, esses eram os únicos barulhos. Em
seguida, adicionaram-se outros: no espaçoporto trabalhava-se rápida e
intensivamente. Holofotes se acenderam.
Sandal continuou correndo entre a grama, alcançou uma zona de
arbustos e desapareceu no meio dos ramos. Alguns vinte pulos depois, e ele se
encontrava em um tipo de floresta. As árvores eram gigantes pretos no
crepúsculo verde-acinzentado, e seus passos se tornaram inaudíveis no chão da
floresta. Ele se colocou atrás de um tronco, parou e inclinou-se para a casca lisa.
Diante dele, estava o espaçoporto.
Mais precisamente: sob ele, mas com apenas alguns metros de altura de
diferença. O olhar de Sandal percorreu as poderosas torres de pouso redondas e
os suportes de carregamentos, os robôs que se moviam de um lado para outro e
os planadores pesados, até as naves e o prédio para o qual a tripulação dessa
nave foi levada. Ele parecia ser a metade de uma pirâmide. Todas as aberturas
de inspeção davam na área portuária, e a parede traseira consistia em uma peça
na qual os últimos raios de sol brincavam.
De repente, o caçador sentiu que estava sendo observado.
Ele se virou lentamente.

51
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Capítulo 7

Com três pequenos saltos, Ras e Tahonka haviam deixado a parte gramada,
haviam pousado em uma cabine de uma grua não utilizada equipada
roboticamente e se encontravam agora em um esconderijo seguro pelo
momento.
“Mais dois minutos... não mais que isso!”, murmurou Tahonka.
Eles estavam um do lado do outro perto da carga de um planador pesado.
A carga retirada era de uma nave do planeta dos estrambólicos que havia
pousado. Atentamente, o ósseo estudava o texto nas grandes e pesadas
bagagens. O planador de carregamento se movimentava ao longo de duas zonas
de luz. Em alguns segundos, ele alcançaria as baterias dos holofotes ao redor de
um dos pequenos transportadores.
“São radiadores de inibição!”, constatou No. “Eles vêm de Porteiro e
serão enviados para todas as partes do Enxame. Isso é certo.”
Ras tateou buscando o braço de Tahonka, agarrou-o e, quando a luz
atingiu a borda do planador, os dois homens se rematerializaram em um canto
escuro do espaçoporto. Eles se olharam; um vago feixe de luz caiu em seus
rostos.
“Nós descobrimos uma central decisiva nesse planeta!”, constatou
Tschubai sorrindo. Ele olhou para as zonas de luzes frias e brancas nas quais se
passava um constante intercâmbio de radiadores de inibição.
“Sim. Uma plataforma na qual começam todas as linhas de comunicação
na forma de radiação em todas as partes importantes do Enxame. Basta olhar
para a incrível velocidade com a qual esses aparelhos são carregados!”
A resposta ficou perdida no barulho dos motores. A primeira das
cinquenta naves decolou com as salas de carregamento cheias para seu objetivo
ainda desconhecido. Mas lá os radiadores seriam utilizados para reduzir a
velocidade da explosão populacional em sessenta vezes.
Tubos de favo...
Equipamentos de peças de naves espaciais...
Alimento para os conquistadores amarelos...
“O deus Y’Xantramon então é responsável por essas três coisas. Essa
descoberta abre perspectivas incríveis, Tahonka!”, murmurou Ras e olhou para
os números digitais luzindo em seu relógio.
“Assim é. Y’Xamthymr é um, Y’Xantramon é outro... e nós conhecemos
apenas poucos homens e, assim, poucos deuses. É assim. Nós ainda temos que
fazer algo aqui?”
Ras disse baixo:
“Não. Nós vimos o que é importante. Vamos procurar Sandal e voltar
para a nave na caverna de estalactites.”
“Mas ainda parece ser muito cedo”, retrucou Tahonka.
“Vamos procurar Sandal.”
Eles permaneceram parados e ainda lançaram um último e longo olhar
sobre o espaçoporto. Como esperado, Ras constatou uma grande semelhança
com portos terranos. Mas havia uma diferença decisiva entre a estrutura que
reinava dentro do Enxame e aquela de planetas povoados por homens.

52
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

“Nós somos homens inteligentes”, disse Tahonka. “Eu não consigo me


expressar corretamente. Mas desde que eu escapei da compulsão pela
obediência, eu posso pensar livremente. Todos os povos escravos do Enxame
são usados. Manipulados. Eles são o elo entre a execução e as instâncias de
controle. Suas inclinações e capacidades são usadas e exploradas pelos deuses.
Eles me dão pena.”
Havia um novo e desconhecido tom em sua voz. Era como se ele se
envergonhasse. Ras silenciou e tentou não interromper o discurso desse
homem.
“Eles não sabem que pode ser diferente. Eles obedecem sem pensar que
são apenas ferramentas. Ou há uma ideologia extremamente eficaz nessa
posição, ou o medo; ambos igualmente condenáveis.
Quem são os culpados?
Os deuses?”
Ele calou-se e olhou para Ras com seus olhos que pareciam cegos, como
se esperasse dele uma explicação completa. Ras limpou a garganta e murmurou:
“Eu não acredito na maldade suprema de alguns seres que dominam
bilhões de outros seres.
Ao contrário, eu acredito que os deuses são impulsionados de alguma
forma e não podem se comportar de maneira diferente. Seja como for, No, nós
não podemos mudar as coisas e já está na hora de procurar Sandal e de
conferenciar com ele.”
“Estou me sentindo um pouco cansado e com fome.”
Tahonka-No falou:
“Entendido. Saltemos então.”
Nesse instante, a segunda nave decolou. Também ali, onde ela pousaria,
os amarelos deviam ser paralisados. Os Senhores do Enxame pareciam estar em
uma emergência. No que dizia respeito a eles, os onze sentinelas em espaço
estrangeiro, eles fariam de tudo para aumentar a confusão.
Ras teleportou-se dali.

***

Sandal virou-se lentamente.


Ele não viu ninguém. Lentamente, ele se moveu ao redor do tronco da
árvore e tentou penetrar na escuridão.
Seus passos eram inaudíveis.
Com um movimento rápido, ele tirou um feixe de seus cabelos compridos
e brancos da testa. Ele segurou a respiração; sua figura fundiu-se com o tronco.
Caso alguém o tivesse visto, seria importante mudar a localização. Ele deslizou
lentamente para baixo na casca do tronco de árvore, tocou as raízes nodosas
com os cotovelos e escorregou dali rente ao chão. Vinte metros... quase sem
ruído... quase invisível entre as baixas raízes retorcidas... e então ele viu dois
olhos.
Eram duas luzes fosforescentes ao lado de outro tronco.
Sandal pensou rapidamente enquanto ele estava escondido atrás de um
tronco. Os olhos se achavam a cerca de cinquenta centímetros sobre o chão. Um
animal? Provavelmente. Ele pensou nos animais brancos, semelhantes a lobos,
com os quais ele e No já haviam lidado. Agora os olhos se fecharam novamente,
abriram-se – o animal havia mudado de lugar.

53
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Sandal deu um assovio curto entre os dentes.


Ele virou a cabeça, enquanto colocava uma flecha em seu arco.
Novamente os olhos se fecharam. Ao mesmo tempo, senão ele teria suposto que
o animal se moveria e teria se colocado atrás de uma árvore.
“Maldição!”, pensou ele. Um segundo par de olhos.
Ele tinha que agir rapidamente.
Ele se soltou do tronco e concentrou-se no primeiro par de olhos. A
distância era de cerca de quinze metros. Agora, ele ouvia o barulho ofegante de
um animal atrás de si. Provavelmente um dos lobos brancos!, pensou ele saber.
As pontas dos dedos tocaram o coral no lóbulo de sua orelha. Ele olhou
diretamente nos olhos do animal, e então soltou rapidamente os dedos.
Um ruído rápido e chiado.
E então a flecha bateu; tão rápido, que não se podiam distinguir os
ruídos.
Nesse momento, ressoou um uivo selvagem, que se interrompeu
abruptamente. Sandal pegou uma segunda flecha, tencionou a corda e atirou
novamente. Ele mirava a um palmo de mão debaixo dos olhos, e o barulho
abafado ao qual se seguiu um ganir, provou que ele havia acertado.
Ele se virou.
Então ele viu a figura que se levantou contra a distante luz do
espaçoporto. Maior que dois metros, com quatro longos braços. Um deles
segurava três cordas. Essas três cordas terminavam em coleiras de três lobos.
Sobre um corpo poderoso estava a cabeça que, à distância, parecia a de uma
serpente. Sandal colocou a próxima flecha na corda.
O que era mais perigoso?
A figura sibilou:
“Lacoon!”
Sandal atirou. Ele havia ouvido falar desses seres. Eles haviam invadido a
Marco Polo. Apenas a circunstância de estar escuro o havia salvado. O truque
hipnotizador desses seres não conseguiu atingi-lo completamente.
A flecha atingiu seu alvo.
Quando o lacoon entrou em colapso, ele soltou as coleiras. Rosnando e
com latidos roucos, que fizeram Sandal ter calafrios, os três animais correram
para cima dele. Ele deu conta do primeiro com a última flecha, e então o outro
mordeu seu braço. As presas se enterraram no protetor do braço. A mão direita
de Sandal desceu, tirou a faca do compartimento da bota e procurou seu alvo.
O animal morreu quando o aço branco cortou sua garganta. Sandal
levantou o braço esquerdo e atacou com o direito, forçando a faca três vezes no
corpo do terceiro animal. Então ele balançou o braço, lançou o animal
moribundo contra um tronco de árvore e levantou o arco enquanto cravava a
faca quatro vezes no chão para limpar a lâmina.
“Por pouco seria tarde demais!”, disse ele, enquanto ouviu os barulhos
terríveis da primeira nave que decolavam.
Por hábito, ele tirou a flecha do animal morto, manteve-a na mão e
andou cuidadosamente em direção ao lacoon morto.
A três metros da cabeça de serpente com o longo chifre venenoso, ele
parou e olhou em volta lentamente. Ninguém?
Ele não conseguia ver nada. Além disso, já estava chegando a hora em
que Ras queria buscá-lo. A árvore em que eles se encontrariam ainda estava a
cerca de um quilômetro de distância. Sandal se agachou para retirar a flecha do

54
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

corpo morto. No mesmo momento, a nave se levantou e os feixes de fogo de seus


propulsores iluminaram todas as adjacências. Contra sua vontade, Sandal olhou
nos olhos do réptil.
Um pensamento passou por ele:
Ele não está morto!
Os olhos moribundos o fitaram. Sandal foi paralisado instantaneamente.
Sua mão direita, que segurava a faca, não conseguia se mover. Ele endureceu em
sua posição agachada. O olhar hipnótico dos olhos do réptil encontraram seus
olhos e o cravaram ali. Ele não conseguia soltar seus olhos da cabeça de
serpente do lacoon. Mas ele podia pensar sem impedimentos.
Esse ser não vai viver muito tempo mais... pensou ele. Mas enquanto ele
viver, eu estou paralisado! Maldita cautela! Eu não deveria ter tocado na
flecha...!
Onde estão Ras e Tahonka?
Sandal olhava fixamente nos olhos que os paralisavam com força mágica.
Sua flecha, isso ele podia ver fora do centro de nitidez de se olhar, havia
desferido um ferimento mortal. Ele via ainda mais uma coisa:
Em um dos quatro braços de serpente desse ser havia um tipo de
aparelho de rádio, cuja luz de controle brilhava constantemente. Provavelmente
alguém chamava esse guarda, e quando ele não respondesse, iriam procurá-lo.
Caso Sandal estivesse ao lado dele... isso significaria morte para ele. Ele tem de
morrer antes... pensou Sandal com medo. A paralisia se limitava ao movimento
de sua musculatura, mas não às glândulas sudoríparas. Seu corpo estava
banhado de suor, e ele tentava defender-se. Agora ele sentia alguma coisa! Seu
pé direito estava sobre um galho que havia caído sobre uma raiz. Lentamente, o
galho escorregava sobre a raiz úmida e o pé escorregava com ele. A sola da bota
se inclinava cada vez mais.
Lentos e milimétricos movimentos...
Esperemos!, pensou Sandal ansioso.
Ele estava completamente passivo. Os olhos, que o prendiam e
fascinavam, obscureciam cada vez mais, mas a força que eles exprimiam não se
quebrava.
O galho escorregou da raiz.
O pé direito dobrou-se, a sola escorregou, e Sandal estava tão paralisado,
que a reação normal, nomeadamente a de achar o equilíbrio novamente, não
pôde se processar mais. Ele virou-se lentamente, escorregou e caiu.
Sua cabeça bateu contra a raiz.
O encanto estava quebrado.
Ele obteve algumas contusões, que doíam terrivelmente, mas rolou sobre
o chão da floresta. Alguns espinhos arranharam seu rosto. Ele caiu, conseguiu
parar finalmente e colocou-se sobre as pernas.
“Foi por pouco!”, falou ele baixo e furioso.
Ele se aproximou do corpo paralisado com o rosto virado, desatou a
flecha de sua ponta e a colocou novamente na aljava. Então ele tomou fôlego e
correu dali em direção à árvore onde eles iriam se encontrar. A terceira nave
decolou quando ele havia completado cem metros.
“Nós tivemos sorte até agora...”, murmurou ele e continuou correndo.
Nos próximos minutos, ele percorreu uma parte do perímetro do porto
espacial entre os troncos de árvores. Pouco antes da árvore determinada, a qual
ele viu várias vezes sob a luz das naves que decolavam ou pelas superfícies

55
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

iluminadas próximas da borda, ele viu um pequeno planador entre o baixo


muro delimitador e a rua.
Ele andou mais lentamente e parou.
“Uma segunda patrulha?”, murmurou ele baixo.
Ele observou o planador por alguns minutos, e então notou que o veículo
estava abandonado. Nas redondezas mais próximas, ele não podia ver nem
ouvir ninguém. Cuidadosamente, sob a melhor cobertura, ele se aproximou,
pronto para fugir ou para se defender, caso fosse descoberto.
E agora ele estava ao lado do objeto voador.
Ele olhou dentro dele.
O dispositivo parecia estar desligado, nenhuma luz de controle brilhava.
O olhar de Sandal aportou em um cubo que jazia sobre um assento traseiro. Ele
estendeu a mão hesitante para pegá-lo, poderia ser uma armadilha. Mas então
ele disse a si mesmo que a presença deles aqui certamente ainda não havia sido
descoberta. Ele tomou o cubo para si e se impressionou com sua leveza. Quando
seus polegares se moveram, ele acidentalmente apertou o botão disparador. O
lado frontal do cubo começou a piscar; meio segundo depois também as outras
superfícies.
“Uma imagem?”
Sandal viu a imagem por alguns segundos com uma admiração cada vez
maior, e então balançou a cabeça satisfeito e desativou o cubo de imagem.
“Atlan vai se alegrar com isso!”, constatou ele; colocou o cubo sob seu
casaco e continuou correndo.
Minutos mais tarde, ele havia chegado ao ponto de encontro. Já de longe,
ele viu as duas figuras confiáveis.
A voz abafada de Tahonka disse:
“Nós estávamos preocupados, Sandal!”
“Com alguma razão”, falou o jovem guerreiro quase alegre.
“Eu quase fui morto.”
“Como?”, perguntou Ras.
Sandal relatou o que ele havia passado. Ele disse que era importante
deixar essa área, pois mais cedo ou mais tarde as flechas nos corpos dos cães
farejadores seriam encontradas. Além disso, ele havia feito uma grande
descoberta...
“Vamos fazer uma votação!”, disse Ras Tschubai. “De volta para a Gevari
ou não?”
Sandal apenas disse:
“De volta, Ras! Rápido. O que nós tínhamos que saber, nós vimos, e mais
alguma coisa.”
“Eu não sou contra”, disse Tahonka. “Vai chegar a hora de ver a cidade na
península mais de perto. Além disso, é muito arriscado trabalhar com sentinelas
sonolentos e cansados.”
“Decisão da maioria!”, concordou Ras. “Vamos. Nós iremos voltar!”
Eles pegaram seu braço, e o teleportador se concentrou no interior da
caverna de estalactites.
Então, subitamente, eles estavam lá.
Um único holofote iluminava a forma estrambólica sob a barriga do jato
espacial. Icho Tolot jazia como uma torre ao lado do sistema de comportas e os
reconheceu imediatamente.

56
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

“Vocês chegam na hora certa!”, trovejou sua voz. Isso ocasionou um forte
eco na caverna.
Sandal se soltou de Ras.
“Por quê?”
“A inquietação do chefe chegou a um excesso. Ele queria mandar Gucky
para encontrá-los.”
Icho Tolot riu bem humorado. Isso significava que não havia problemas;
nenhum grande problema pelo menos. E o eco de suas palavras se transformou
em um barulho infernal na caverna.
Pouco depois, eles estavam diante de Atlan. Podia-se ver claramente
como o arcônida estava contente de vê-los relativamente seguros de novo.
Dentro de poucos minutos, o resto da pequena tripulação se reuniu na
sala de direção da Gevari.
Merkosh e Balton Wyt, Gucky e Ras Tschubai relatavam o que haviam
descoberto. As câmeras foram descarregadas e as imagens reveladas e
ampliadas em fotos tridimensionais.
Eles se concentraram em dois pontos:
Na cidade da planície e na outra cidade que se encontrava no final da
península. A última era três vezes maior. E muito mais interessante.
Atlan disse:
“Vocês chegaram dezenove horas mais cedo. Vocês viram o que nós
precisamos? Quais são as informações?”
Sandal pegou o cubo sob seu casaco e o colocou sobre um console
dobradiço.
“Entre outras coisas, isso!”, disse ele.
Ele ligou o cubo.
Como se estivessem encantados, os outros membros da tripulação
olharam para as cinco superfícies visíveis. Elas mostravam, sem exceção, a
mesma imagem, mas com algum retardamento. Uma depois da outra, as
superfícies se iluminavam.
A face de um dos deuses amarelos apareceu: assim haviam Tahonka-No e
Sandal o visto na saída daquela fatídica batalha em que se encontraram. E então
a imagem mudou e passou a mostrar uma torre piramidal gigantesca.
Gucky gritou:
“Essa é a torre no centro da península! Eu a reconheço bem. São dali as
fotos que eu tirei.”
“Calma!”, advertiu Sandal.
A imagem foi ampliada. A câmera se aproximava da terça parte superior
dessa torre habitada e filmou um recorte. Mudança de imagens. Via-se dentro
um enorme quadro no qual uma surpreendente figura estava sentada. Apenas
podia-se ver a metade, nomeadamente a parte superior de seu corpo.
O ertrusiano Toronar Kasom disse:
“Deve ser um dos deuses!”
“Correto!”, disse Sandal. Agora saíam sons do cubo. Uma música
barbárica ressoava. Apenas por algum tempo. E então ela se silenciou, e o deus
falou algumas frases alto. Tahonka-No acenou afirmativamente, e traduziu alto:
“Aqui fala Y’Xantramon”, disse ele. “O Senhor sobre esse planeta.
Chegaram informações alarmantes, meus amigos.”

57
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

O tom emitido do alto-falante escondido do cubo era ríspido, mas ele


mudou de repente. Era de alguma forma falso e untuoso, achou Sandal Tolk. No
continuou traduzindo:
“Forasteiros invadiram o Planeta...”, seguiu-se um nome intraduzível,
“...e causaram grandes danos. Existe o perigo de eles virem para cá. Peço a todas
as unidades de guarda de todas as cidades para executarem seu serviço
ininterrupta e cuidadosamente. Nós temos que apreender e matar os invasores:
eles perturbam nossa segurança e a ordem de nosso Estado de vários povos.”
Atlan estendeu sua mão e desligou o cubo.
O arcônida perguntou a Sandal com grande admiração:
“Onde você conseguiu essa descoberta sensacional, Sandal?”
Sandal sorriu e relatou como ele havia encontrado o cubo. Quando ele
terminou, todos sabiam que sua presença seria descoberta dentro de pouco
tempo. Mas ninguém os procuraria nesse labirinto de calcário petrificado.
“Vamos ligar a coisa novamente, não?”, pediu Ras Tschubai.
Sandal apertou o botão e novamente os terranos viram um príncipe do
Enxame.
Ele mandava sua mensagem aos povos escravos.

58
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Capítulo 8

Tahonka-No traduziu as próximas frases que o deus falou.


“É muito claro para todos nós que esse planeta possui três importantes
tarefas a cumprir. Nós produzimos os receptáculos com cuja ajuda nós trazemos
nosso amigos ao mundo, e nos quais eles podem se produzir sem perturbações.
Nós equipamos as naves com as quais os receptáculos hexagonais são
transportados. E isso não é menos importante do que a primeira tarefa que
nossas instalações robotizadas possuem.
Além disso, nós fabricamos os alimentos e os diversos suprimentos que
são usados por nossos amigos durante seu processo de divisão. Por essas razões,
nós devemos ficar atentos e não nos deixar ser observados pelos forasteiros.
Peço a cada um de nós para agir inconsideradamente. Nós temos que nos
defender contra esses seres que perturbam a estrutura de nosso Estado e o
transcorrer de nossos processos vitais.
Combatam-nos onde quer que estejam!
Há ainda uma quarta tarefa.
Nós temos que executar os trabalhos de carregamento mais rápido. Dos
nossos amigos, os...”, novamente seguiu-se um termo intraduzível por Tahonka-
No, composto de poucas vogais e muitas consoantes, “... chegam produtos que
devem ser distribuídos em todas as direções. Trata-se de nossos amigos que se
dividem.
Os trabalhos de carregamento devem ser executados o mais rápido
possível.
Dentro de alguns dias, quando a ação tiver se concluído, eu vou conferir
os resultados nos locais e vou recompensar ou punir os responsáveis.
Isso é tudo por agora.”
“Pronto!”, falou Tahonka concluindo.
A imagem no quadro tornou-se ainda maior. Agora, ela mostrava apenas
a cabeça do deus em close-up. Era redonda, mas os grandes olhos faziam dessa
cabeça uma ameaça indisfarçável. Ao menos, assim parecia para os terranos;
Icho Tolot, por exemplo, poderia ter outra impressão. Suas formas e maneiras
de expressão eram arquetípicas; ninguém podia se defender dessa impressão. O
quadro se apagou. As cinco superfícies visíveis do cubo tornaram-se escuras e
sem vida uma depois da outra.
Sandal disse:
“Isso foi um príncipe do Enxame. Nós o achamos na cidade da península.
O que você tem em mente, amigo Atlan?”
Ele urge uma decisão rápida e mal pensada!, sussurrou o sentido extra.
“Eu ainda não sei. Hoje, nós iremos – Icho Tolot e eu – analisar tudo.
Gucky trouxe uma grande quantidade de material da cidade na península.”
Sandal murmurou:
“Isso significa... amanhã ou depois de amanhã uma dura missão nessa
cidade?”
“Talvez. Nós somos onze. Ali moram milhares ou dezenas de milhares.
Lacoons dentre eles, Sandal!”, disse Atlan.
“Eu entendo. E estou estranhamente cansado o suficiente para achar sua
conclusão totalmente certa!”, disse Sandal.

59
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Apesar disso, eles não conseguiram se acalmar nas próximas horas.


Todos os mutantes que estavam em missão e também aqueles que foram
levados com os teleportadores, deram seus relatórios. Centenas de fotos foram
analisadas e comentadas. Finalmente, todos estavam cansados e exaustos. Um
dia havia terminado, mas a missão ainda não.
Todos sabiam por suas próprias e amargas experiências: muita pressa
lhes seria prejudicial.
Além disso, eles haviam recebido sinal condensado de Rhodan.
A Marco Polo encontraria a Gevari “a sul” do Sistema Alfa-Interno e a
anexaria.
Rhodan também havia definido as primeiras horas do dez de julho como
ponto de encontro. Seria uma coincidência? Ou destino?

***

Você não acha que é levado desconsoladamente pelos acontecimentos?


Com uma tripulação de onze homens, incluindo você mesmo?, perguntou o
sentido extra em reflexão.
O arcônida estava na poltrona ao lado da construção especial dos
emocionautas. A poltrona anatômica estava desdobrada, e quando Atlan passou
olhando seus joelhos, ele viu a face amedrontadora do halutense. Mas para ele e
para os outros, ela era tudo menos amedrontadora.
“O que acha meu amigo halutense?”, murmurou Atlan.
Icho Tolot abafou sua voz; ele não queria acordar os outros nove homens.
Diante de Atlan, havia um copo cheio de café quente, no qual o arcônida havia
derramado um pouco de álcool. Eles podiam se dar ao direito de fazer essa
pausa, aqui eles estavam tão seguros, que eles não podiam imaginar como
aumentar essa segurança.
“Eu acho”, falou o gigante halutense, “que nós devíamos tentar. Não que
eu ache que uma lavagem forçada seja necessária... nos últimos meses eu já
passei por experiências suficientes para ser compensado. Mas nós temos uma
boa quantia de pontos positivos.”
Atlan murmurou:
“Nós temos que atacar pouco antes de decolarmos. Não podemos arriscar
ficarmos escondidos por muito tempo. Eu vejo assim: nós nos aproximamos da
cidade. Com a ajuda dos teleportadores, isso vai acontecer quase
imperceptivelmente.
Então nós tentamos entrar no templo do deus e o localizarmos. Nós
devemos obrigá-lo a mudar a direção do Enxame. Possivelmente...”
“Provavelmente até!”, disse Tolotos.
“... vai haver lutas. Eu não consigo imaginar que o deus Y’Xantramon se
deixe convencer por nós.”
Icho Tolot riu discretamente. O desdobramento de barulhos
correspondia ao de um propulsor em funcionamento.
“Dificilmente!”, confirmou ele.
Atlan interveio:
“Isso significa uma pausa de dois dias, e então agir rapidamente. Nós
temos que contar com o efeito surpresa. Eu não nos dou mais do que uma ou
duas horas em que podemos agir.”
O halutense concordou novamente.

60
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Atlan estava convencido de ter achado um dos Senhores do Enxame.


Certamente, ele não compartilhava da crença mitológica de Sandal, por
exemplo. O deus não era um deus, e sim um membro dos povos dominantes ou
da casta dominante. Eles deveriam ser pequenos numericamente, senão haveria
muitos outros deuses. Tantos, que os terranos haveriam visto mais de seus
vestígios aqui no Enxame.
Mas eles conheciam apenas alguns nomes que provavelmente eram
idênticos com as pessoas responsáveis por determinados distritos ou
determinados processos dentro do Enxame. Um ministro responsável pelas
relações exteriores certamente não havia, sua tarefa teria sido estabelecer
conexão com os terranos.
Atlan perguntou alto:
“Como dito: vai haver luta. O deus vai se defender. Temos chances?”
Tolotos rosnou:
“Nós temos alguns mutantes muito capazes aqui. Não é nem preciso
desperdiçar nenhuma palavra descrevendo suas forças. O ponto principal é a
surpresa. Nós temos que aparecer subitamente, atacar e desaparecer
novamente. Devemos então aproveitar a confusão causada para fugir
rapidamente e encontrar com Rhodan.”
Sem dúvida o deus era uma personalidade forte e poderosa, sem falar nas
medidas de proteção ou nas peculiaridades das redondezas. Isso estava fora de
dúvida. Por várias vezes, Atlan e Tolot, um mestre dos planos, haviam repassado
as informações e então haviam, em pequenos passos, desenvolvido um plano.
Ele deveria ocorrer nas primeiras horas do nove de julho.
Atlan bebeu o restante do café, levantou-se e disse:
“Nós descansaremos e falaremos do plano mais algumas vezes. E então
atacaremos, a toda força.”
“Entendido!”, murmurou Tolot.
Caso eles ainda tivessem dúvidas, elas haviam sido eliminadas. A cidade
da península era o ponto de partida para uma cadeia ininterrupta de ligações de
hipercomunicador. Era surpreendente: saltos lineares, transmissores,
transições e hiper-rádios, habilidades parapsicológicas e muitos e diversos
povos – tudo isso havia no Enxame. Havia paralelos entre a tecnologia dos
terranos e a do Enxame?
Eles logo saberiam mais.
Atlan se despediu do halutense e desceu até sua cabine para dormir.
Diversos aparelhos colocados na entrada da caverna cuidavam da
segurança da Gevari e de seus tripulantes.
A curta noite passava.

***

Era noite novamente:


Os onze membros do pequeno time se encontraram, descansados,
equipados e armados, na entrada da caverna cárstica.
Havia mais seis horas até o amanhecer. Nesse meio-tempo, o arcônida de
cabelos brancos esperava que eles tirassem um problema do mundo.
De qualquer maneira. De alguma forma.

61
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

“Você fica aqui. Essa é uma ordem irrevogável”, disse Atlan. Sua voz
estava áspera; expressava sua preocupação. Dez dos onze membros estavam
vestidos com seus trajes de combate, até os emocionautas.
“Eu vou recapitular”, disse o piloto do jato espacial a meia-voz.
Ele ouviu o eco na caverna, e então continuou:
“Eu deixarei o jato pronto para decolagem, o trarei até a entrada e
partiremos assim que o último membro do nosso pequeno time estiver a bordo.
O objetivo é conhecido. Silêncio de rádio – a não ser que a caverna seja
descoberta e atacada. Eu sou responsável para que a Gevari chegue ao ponto de
encontro a salvo. Ok?”
O arcônida concordou. Podia-se ler a preocupação com a missão em seu
rosto. Icho Tolot trazia Gucky sobre os ombros.
“Certo”, disse Atlan. “Volte para a cabine de direção, arrume as coisas por
aqui e espere por nós. Eu confio em você.”
Uma tensão nervosa tomou conta de todos os homens, sem exceção.
“Você pode confiar!”, disse o piloto e acenou.
Ele sabia que o tempo de espera seria terrível para ele.
Inatividade faria dessas horas uma tortura ainda maior.
Mas não era possível ser de maneira diferente. O emocionauta se sentou
em uma pedra calcárea.
Atlan continuou:
“Tudo já foi conversado. Nós não recebemos nenhuma ligação de rádio
que se relacione aos acontecimentos da cidade na planície.”
Ras Tschubai olhou para o relógio e disse:
“Em uma hora, minhas cargas explosivas irão detonar e destruir uma
parte dos aparelhos eletrônicos e dos dispositivos de controle. Então a atenção
vai se voltar para lá.”
“Bom. Os teleportadores começarão agora – nós temos nosso objetivo.”
O rato-castor e Ras Tschubai desapareceram de um golpe. Com eles,
foram Sandal, Tahonka-No, Icho Tolot e Takvorian.
Vinte segundos se passaram silenciosa e monotonamente.
E então Gucky apareceu novamente e cantou satisfeito:
“Eles foram deixados – os próximos, por favor!”
Ele levou Merkosh, o vítreo, com Balton Wyt.
Ras Tschubai, que apareceu logo depois, levou Atlan e o ertrusiano
consigo.
A entrada da caverna estava vazia.
Mentro Kosum, o emocionauta, deu de ombros e começou a recolher os
aparelhos de rádio, a enrolar os cabos de antena e a acondicionar tudo na nave.
Ele fez uma ronda em volta do jato, arrumando a desordem aqui e ali, fechou os
aparelhos e fiscalizou tudo. Então, ele ligou o jato e o colocou na entrada da
caverna, pouco antes da zona verde do enorme desfiladeiro rochoso. Ele
desligou as máquinas novamente, olhou para o relógio e procurou lutar contra a
inquietação.
E então ele esperou...

***

Dez seres diferentes estavam juntos em um grupo. Ras Tschubai e Gucky


levavam uma série de bombas consigo, com as quais eles podiam destruir partes

62
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

das máquinas de controle e armazenamento. Eles conversaram baixo com Atlan


e então desapareceram.
Cada um deles executou cerca de quinze saltos.
Os objetivos eram conhecidos. Em cada alvo, as bombas eram colocadas
e escondidas, e o detonador ligado.
O ponto culminante de suas ações coincidiria na detonação de trinta
diferentes lugares no total.
Atlan, que ainda não havia fechado seu traje de combate, olhou em volta.
Eles se encontravam sobre um teto de um prédio baixo, sobre o qual se erguia
uma coroa de grandes árvores. Eles estavam muito bem escondidos.
Quinze minutos mais tarde, os teleportadores estavam novamente com
eles, aliviados e com rostos decididos.
“Exatos sessenta minutos, senhor!”, falou Ras Tschubai. “Então as
bombas detonarão. Mas antes devem chegar os alarmes de emergência da
cidade da planície.”
“Muito bem. Tahonka e Ras, tentem invadir o prédio central.”
“Imediatamente.”
Tahonka-No e Ras Tschubai fecharam seus trajes de combate, ligaram a
alimentação interna, mas deixaram de ligar o campo de proteção, os aparelhos
de rádio e outros dispositivos cuja energia poderia ser medida e localizada.”
Em seguida, eles desapareceram.
Atlan e os outros esperavam inquietamente. Eles sabiam que esse ponto
representava uma etapa crucial.

***

Tahonka-No e Ras materializaram-se aos pés do prédio central. Eles


deviam tentar penetrar. No sussurrou:
“Uma série de saltos rápidos, cada um dentro do campo de visão, Ras!”
“Eu sei.”
Eles estavam sob uma sombra escura para além da entrada fracamente
iluminada, que se encontrava atrás de uma rampa. Podiam-se ver portas de
vidro, protegidas por campos defensivos. Atrás, podia-se ver cerca de cem
metros de um amplo e profundo corredor. De repente, achavam-se Ras e o ósseo
no final do corredor. Três segundos mais tarde, o ambiente mudou. Estavam
numa sala vazia, à meia-luz, cheia de tubos, interruptores, alavancas e turbinas,
mas sem nenhum ser vivo.
“Central de aquecimento! Traga os outros até aqui!”, sussurrou o ósseo,
correu até a parede e colocou uma bomba no aparelho de turbinas. E então ele
se escondeu atrás de espessos tubos interligados.
Ras Tschubai desapareceu.
E voltou.
Dois minutos mais tarde, os dez sentinelas temerários se encontravam na
sala. As escotilhas estavam bloqueadas, e Tahonka procurou se lembrar de
como, na sua opinião, o fornecimento de energia estava instalado.
Ele sussurrou para Atlan:
“Nós temos que subir cerca de trezentos metros. De lá vêm as
localizações mais fortes. Eu sou a favor de tentar fazer isso no poço.”
“De acordo, No!”, murmurou o arcônida.

63
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

“O poço com várias conduções de energia!”, disse seu sentido extra. “Um
esconderijo perfeito – até novo aviso!”
“Sim. Vamos!”
Gucky ligou a luz forte em seu traje de combate, visou a portinhola que
desaparecia por trás dos tubos e cabos, e teleportou. Segundos depois, ele estava
novamente sobre os ombros de Tolot e disse:
“Ela continua por quase duzentos metros para cima. Vocês podem seguir.
Há nichos embutidos a alguns intervalos. Nós podemos nos esconder lá. Eu vou
dar um sinal com meu holofote. E porque ele é o maior – primeiro Icho Tolot!”
Eles desapareceram.
Um depois do outro, os teleportadores levaram os dez homens para o
poço. Pouco tempo depois, eles estavam sobre uma pequena plataforma,
segurando as armas nas mãos, e viam ferramentas e robôs de manutenção.
Atlan murmurou:
“Cada um sabe sua tarefa. Gucky: procure o príncipe do Enxame.”
Enquanto o rato-castor executava a ação mais perigosa, Sandal agarrava
mais fortemente seu arco e olhava para o relógio. Ele sabia que teria poucas
oportunidades de atirar suas flechas mortais nas salas – mas ele ainda o
tentaria. Os minutos se passaram lentamente. Gucky procurava. A escuridão e
seu pequeno tamanho eram sua proteção pessoal.
Pensamentos... lembranças...
A radiação parapsíquica veio da terça parte superior do “Forte”. De
alguma forma, essa designação havia sido introduzida nas discussões. A
pirâmide com suas numerosas aberturas, rampas e antenas havia recebido esse
nome. As edificações mais baixas ao redor dessa construção havia sido chamada
de “Cidade Templo”, apesar de agora ser certo de que os prédios não eram
templos, mas sim fábricas e centros de dados. E armazéns.
“Essa espera”, murmurou Tahonka-No. “Insuportável!”
A quatrocentos metros de altura, com um comprimento de aresta de
cerca de seiscentos metros, coroada por uma poderosa antena parecida a uma
agulha, estava a residência do deus. Só faltava encontrá-lo. No poço, ficava cada
vez mais quente. Além disso, o ar estava empoeirado e pouco oxigenado.
“Onde está esse Gucky”, Atlan se perguntava alto.
Até agora, ele sempre havia encontrado o que procurava, acalmava seu
sentido extra.
Surpreendente, achou Sandal, que esses seres não pensavam em utilizar
aparelhos que mostrassem a presença de forasteiros.
Ou eles achavam estar seguros com uma certa quantidade de campos
defensivos?
De repente, Gucky estava de volta.
“Eu o achei!”, disse ele. “Ele parece estar trabalhando. É um grande e alto
salão. Quem se atreve primeiro?”
A voz de Atlan tornou-se mais ríspida:
“Ras! Vá com Gucky! Orientem-se. E, em seguida, transporte-nos o mais
rápido possível para lá. E com todo cuidado!”
“Entendido.”
Ras e Gucky desapareceram, alguns segundos se passaram e eles
apareceram novamente.
Ras disse baixo:

64
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

“Fora do salão há no mínimo duzentos guardas. O próprio deus é


excelentemente protegido. Quem vai primeiro?”
Atlan decidiu:
“Icho Tolot e... eu.“
O ar moveu-se na cavidade quando os dois teleportadores levaram Atlan
e o halutense com eles. E então os acontecimentos começaram a se precipitar.
A primeira detonação ocorreu quando o halutense apareceu no salão. Ele
tomou cobertura imediatamente atrás de um grande banco de interruptores. A
cabeça do deus se levantou quando os choques da explosão chegaram a seu
ouvido. Ele gritou alguma coisa.

65
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Capítulo 9

De repente, dez forasteiros se achavam no salão. Três deles se viraram


rapidamente e apontaram suas armas de aparência perigosa para os portais que
levavam para fora do salão.
Um grande e elegante homem, cujo cabelo branco podia ser reconhecido
por debaixo do capacete do pesado traje de combate, estava ao lado de um
homem de Gedynker Crocq!
O deus Y’Xantramon levantou-se num pulo e estendeu a mão apara
apertar um botão.
O elegante homem levantou a arma em um movimento estupidamente
rápido e um raio de fogo fulgurou pela metade da largura do salão e despedaçou
uma parte do console.
Um alto-falante estalou.
Uma voz estranha. Uma segunda. Ela traduzia. Aquela de Crocq dizia
alto:
“Nós somos seres da Via Láctea, a qual vocês atravessam, estrangeiros!
Exorto-vos a mudar o curso da caravana cósmica.”
Não foi dito mais nada.
Outros barulhos se misturaram à cadeia de detonações distantes. Os
portais foram abertos e tropas de guarda apareceram.
Os mutantes começaram a colocar suas habilidades em ação.
Takvorian, o cavalo-mutante e movador, reverteu o efeito da radiação de
inibição e desacelerou os movimentos dos agressores. O rato-castor e Balton
Wyt retiraram as armas das mãos dos guardas e as arremessaram contra as
paredes. Sandal Tolk, que correu ao redor do salão com alguns rápidos pulos,
atirou uma flecha atrás da outra através das poderosas aberturas. Bolas
incandescentes detonaram, colunas de fumaça se levantaram e cortinas de fogo
se espalharam. Campainhas, gongos e sirenes trabalhavam constantemente e
geravam um barulho infernal.
Sandal atirou vinte ou vinte e cinco flechas, criando uma zona de fogo
diante dos portais, através da qual ninguém se atrevia a passar. Icho Tolot
avançou com sua força primeva através do salão, esmagando alguns aparelhos
importantes ao fazê-lo e parou a dez metros do deus.
Ele gritou.
Ele repetiu as palavras traduzidas do ósseo.
Ao mesmo tempo, Merkosh abriu sua boca trombuda e começou a
trombetear, cuidando ao mesmo tempo de que nenhum de seus amigos
estivesse na direção das ondas sonoras destruidoras. Anéis nas paredes
causavam estragos nas máquinas e aparelhos.
O príncipe parecia uma mutação terrana negativa...
O corpo era um pouco maior que duzentos e cinquenta centímetros.
Sandal comparou o original com a imagem do cubo de informação falante. Duas
pernas maciças e relativamente curtas, dois braços com mãos que tinham
apenas dois dedos e dois polegares opostos cada uma. O príncipe usava
vestimentas amarelo-claro, a cor dos conquistadores.

66
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Icho Tolot se apartou; seu escudo brilhava sob a fúria dos raios de
projetores escondidos que iam de encontro ao dele. Além disso, ele sentia a
influência de um campo de inibição.
Takvorian também o sentia, e ele lutava com toda força contra uma
desaceleração de quinhentas vezes.
Gucky e Balton Wyt colocaram suas forças telecinéticas em ação,
levantaram o enorme príncipe e o arremessaram contra uma das paredes. Ele
acabou por danificar um projetor ao aterrissar sobre ele no meio de um raio de
fogo.
Sandal atacava.
Nos portais, tropas de guarda emergiam da fumaça, do vapor e das
chamas. Elas possuíam equipamentos e armas pesadas. Elas atiravam nos
terranos, mas não em Sandal, pois ele se encontrava entre duas instalações de
controle e estava relativamente discreto. Apenas suas flechas, que ele atirava em
intervalos de segundos, traziam a morte e a desgraça para as fileiras do inimigo.
Quando as aberturas se transformaram novamente em quadrados de
calor abrasador, quando as radiações nucleares atingiram os campos defensivos
dos terranos, Sandal viu novamente o deus de maneira mais precisa.
Novos raios de fogo chamejavam de nove armas em seu campo defensivo.
A cabeça era enorme. E ela parecia diferente nas pinturas, esculturas e
imagens gigantes que Sandal conhecia. Lá, as faces eram todas estilizadas –
aqui ele via a realidade.
Media cerca de setenta centímetros de diâmetro, com dois grandes olhos
semelhantes a olhos de vespa, facetados, quadro extensões sensoriais que
tinham quase o comprimento de uma mão e cujas extremidades se dividiam
múltiplas vezes. Uma boca sem lábios, com a mandíbula semelhante à de um
inseto, triangular e bem aberta. Dessa boca vinha um sibilar como de uma
grande cobra. A cor da pele, como se podia ver nas mãos e na cabeça, vermelho
vivo.
Takvorian ameaçava ser derrotado.
Mas o campo inibidor que Y’Xantramon irradiava apenas era direcionado
a um dos homens. Os teleportadores o confundiam ao levantá-lo e ao
arremessá-lo ao chão. O campo vinha, desaparecia, e vagava sem rumo.
Icho Tolot e o ertrusiano estavam ocupados com seus raios de proteção.
O campo defensivo do gigante ainda resistia.
Finalmente, o halutense gritou tão alto quanto pôde:
“Todos os mutantes trabalhando juntos... AGORA!”
Alguns segundos se passaram.
Eles se estenderam como pequenas eternidades. Sandal Tolk permaneceu
de guarda – ele não podia contribuir em nada para essa tentativa, a não ser com
sua vigilância e com suas flechas, que pareciam funcionar como brinquedos em
face das energias desencadeadas. Ele observava alternadamente o gigante em
vestimentas amarelas e as portas. Ninguém havia conseguido ainda atravessar
as paredes de chamas.
Finalmente, gritou o halutense:
“O campo... um rasgo na proteção.”
Uma pequena lacuna parecia ter surgido, pois as vestimentas amarelas
do príncipe agora queimavam sob os múltiplos campos.

67
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

Sob um pano preto que se esfumaçava em grandes superfícies sobre o


chão, apareceu uma armadura encouraçada semelhante àquelas que eram
usadas pelos lacoons.
Atlan gritou:
“Sandal!”
Tolk não sabia o que ele queria dizer. Uma coluna de fumaça bloqueava
seu campo de visão. Ele se movimentou rapidamente da cobertura, mudou sua
localização e viu, entre as estruturas esféricas do campo, a fumaça e os feixes de
energia, algo que o deixou perplexo.
Ele olhou por cima do ombro, viu uma flecha com uma impressionante
plumagem amarela. O calor já crispava as plumas artificiais.
Sandal pegou a flecha, a colocou no arco e tencionou-o.
Entre a cabeça do deus e o primeiro anel encouraçado do pescoço
brilhava um pedaço de pele vermelho-vivo.
Os ossos do polegar de Sandal bateram fortemente contra seu maxilar
inferior.
Ele viu a fina tira da corda, viu a longa flecha perspectivamente
distorcida e levantou o arco um pouco, de forma que a extremidade não desse
contra o chão e não desviasse a flecha. Então, seu olhar fundiu-se com o alvo:
uma pele brilhante de um centímetro quadrado. Ele soltou a corda. A flecha
zumbiu pelo ar, mas ninguém ouviu seu zunir em meio ao barulho.
A flecha... ela voou dez, quinze metros pelo salão, atravessou o buraco no
campo, e se inflamou ao fazê-lo. E então ela encontrou a ponta ligeiramente
chamuscada do pescoço do deus. Um fogo químico incendiou-se de um só golpe
e gerou um calor de mais mil graus.
A flecha estava estacada no pescoço do deus.
Línguas de fogo atiravam-se em todas as direções.
Y’Xantramon bramiu. Ele gritou mais alto que o halutense. Atlan
levantou a mão, apontou para Takvorian e Merkosh e tentou dizer alguma coisa
– seu alto-falante o impedia diante do berro do gigante moribundo.
Gucky e Ras entenderam.
Eles guardaram suas armas enquanto procediam ao que tinham de fazer
e desativaram o campo defensivo. Com um poderoso pulo, o rato-castor saltou
sobre as costas do cavalo-mutante e desapareceu imediatamente. Ras Tschubai
agarrou o vítreo, disse alguma coisa e sumiu também.
Icho Tolot e o ertrusiano desapareceram em seguida.
Então, Sandal correu para Tahonka-No e para Atlan. O barulho insano
desapareceu, mas quando os dispositivos de energia do deus detonaram, ele
quase deitou por terra os sentinelas. Grandes chamas se espalhavam por toda
parte. Os terranos juntaram-se estreitamente.
Ras levou Atlan e Sandal com ele.
Gucky levou Tahonka-No e Balton Wyt.
O salão estava vazio.
Eles tropeçaram uns sobre os outros quando apareceram novamente sob
o jato. Cada um deles entrou na comporta tão rápido quando podia, enquanto as
máquinas começavam a uivar. Atlan foi o último – ele correu para cima e se
certificou de que todos estavam a bordo.

***

68
Os Sentinelas da Gevari Perry Rhodan

“Decolar!”, gritou Mentro Kosum sob o capacete SERT. Eles precisaram


de apenas um minuto para acelerar com toda a potência que as máquinas
possuíam. O jato entrou no espaço linear. Atrás de si, ele deixou uma cidade que
queimava em trinta lugares, e então trinta um, pois também o centro piramidal
também brilhava claro no meio da noite.
Também na cidade da planície, as cargas explosivas foram detonadas –
importantes aparelhos de armazenamento e processamento de dados, assim
como dispositivos de controle foram atingidos.
A tripulação da Gevari estava completamente exausta e se ajudava com
os trajes de combate.
Um único sinal de rádio foi enviado.
A Gevari corria pelo espaço, recebeu resposta da Marco Polo e
direcionou-se para o ponto de encontro.
A Marco Polo a anexou. Também entrou em contato com as naves
auxiliares, as quais pararam suas batalhas e também correram pelo espaço
linear na direção do ponto de encontro.
Sandal pensou ao se jogar em sua cama:
“Minha vingança... ela se tornou realidade. Eu matei um deus com um
único tiro, um príncipe do Enxame.”
O primeiro deus, para os povos do enxame uma fabulosa deidade, à qual
todos obedeciam, morreu – isso vai ser um choque. Para todos.”
Além disso, ele sabia que a fabricação seria interrompida. Os ataques
poderiam mudar e influenciar a estrutura do Enxame de maneira decisiva.
A desgraça se desencadeava dentro do campo defensivo refletor.
Então, Sandal relaxou.
Ele pensou na garota de olhos verdes Chelifer Argas, em Cascal e nas
próximas horas.
Ele adormeceu com um sorriso nos lábios. Era o sorriso de um jovem
homem que lentamente se tornava adulto.

FIM
Um Senhor do Enxame que possuía uma importante função havia
sido morto, e os homens da Gevari foram salvos.
Logo depois haverá um confronto com um Poderoso do Enxame,
no qual Alaska Saedelaere possui o papel principal.

O MENSAGEIRO MASCARADO

69

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