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Para Jack e Josie,

a minha própria pequena Tribo


Índice
Capa
Página Título
Dedicatória
Índice
Direitos Autorais
Epígrafo

Precipício
Introdução
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Celestial
Introdução
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Paradigma
Introdução
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Salvador
Introdução
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Purgatório
Introdução
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Sentinela
Introdução
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Panteão
Introdução
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Segredos
Introdução
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Pandemônio
Introdução
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Mapas

Sobre o Ebook
Agradecimentos
Sobre a Autora
Star Wars: A Tribo Perdida dos Sith - Coletânea de Histórias é uma obra de ficção. Nomes, lugares,
e outros incidentes são produtos da imaginação do autor ou são usadas na ficção. Qualquer
semelhança a eventos atuais, locais, ou pessoas, vivo ou morto, é mera coincidência.Direitos Autorais
© 2012 da Lucasfilm Ltd. ® TM onde indicada. Todos os direitos reservados. Publicado nos Estados
Unidos pela Del Rey, uma impressão da Random House, um divisão da Penguin Random House
LLC, Nova York.DEL REY e a HOUSE colophon são marcas registradas da Penguin Random House
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Star Wars: A Tribo Perdida dos Sith #1: Precipício
Star Wars: A Tribo Perdida dos Sith #2: Celestial
Star Wars: A Tribo Perdida dos Sith #3: Paradigma
Star Wars: A Tribo Perdida dos Sith #4: Salvador
Star Wars: A Tribo Perdida dos Sith #5: Purgatório
Star Wars: A Tribo Perdida dos Sith #6: Sentinela
Star Wars: A Tribo Perdida dos Sith #7: Panteão
Star Wars: A Tribo Perdida dos Sith #8: Segredos
Star Wars: A Tribo Perdida dos Sith #9: Pandemônio

TRADUTORES DOS WHILLS


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INTRODUÇÃO
"A Tribo Perdida dos Sith: Precipício" é o primeiro livro da série LEGENDS "A Tribo Perdida
dos Sith", na linha de tempo LEGENDS que vai de 5.000 ABY (Precipício) a 2.975 ABY
(Pandemonium), sendo que a HQ "Espiral" está situada em 2.974 ABY, um ano após
"Pandemonium". Cada volume da série retrata uma fase pela qual passa a tribo, que ficou isolada
do restante da galáxia após cair em um planeta. O livro "A Tribo Perdida dos Sith. — Coletânea de
Histórias", reúne todas essas histórias em um só volume. "Precipício" foi escrito por John Jackson
Miller e lançado em 28 de maio de 2009.
— L ohjoy! Dê-me alguma coisa! Erguendo-se na escuridão, o
Capitão Korsin esticou o pescoço para encontrar o holograma.
— Propulsores, controle de atitude... vou usar os jatos de
estacionamento!
Uma nave estelar é uma arma, mas é a tripulação que a torna mortal.
Uma velha frase de um viajante do espaço: banal, mas suficientemente
pesada para emprestar um pouco de autoridade. Korsin a usava
ocasionalmente. Mas hoje não. A sua nave estava sendo mortal por si só, e a
tripulação estava a caminho.
— Não temos nada, Capitão! — A imagem da engenheira Lohjoy, de
cabelos de serpente, tremulou diante dele, fora de ordem e fora de foco.
Korsin sabia que as coisas abaixo do convés deveriam estar ruins se a gênia
Ho'Din, integra e certinha, estava desequilibrada. — Os reatores estão
inoperantes! E temos falhas estruturais no casco, tanto na popa quanto...
Lohjoy gritou em agonia, com os seus tentáculos explodindo em uma
juba de fogo que a fez cambalear para fora de vista. Korsin mal reprimiu
uma risada assustada. Em tempos mais calmos, meia hora antes, teria
brincado dizendo que os Ho'Din eram meio árvore. Mas isso não era
apropriado quando todo o convés de engenharia estava prestes a explodir. O
casco havia rompido. De novo.
O holograma expirou, assim como tudo ao redor do atarracado capitão;
luzes de aviso dançavam, piscavam e apagavam. Korsin desabou na cadeira
de novo, segurando nos apoios de braços. Bem, a cadeira ainda funciona.
— Nada? Alguém?
Silêncio... e a trituração de metal ao longe.
— Apenas me dê algo para atirar. — Este era Gloyd, o oficial de
artilharia de Korsin, com os dentes brilhando nas sombras. O meio sorriso
era uma lembrança de um golpe de sabre de luz Jedi anos antes, que por
pouco não tinha arrancado a cabeça do Houk. Em resposta, Gloyd havia
cultivado a única sagacidade a bordo tão ácida quanto a do próprio
comandante, mas o artilheiro não estava achando nada muito engraçado
hoje. Korsin leu nos pequenos olhos do brutamontes: a morte em combate é
uma coisa. Mas esse não é o caminho a seguir.
Korsin não se deu ao trabalho de olhar para o outro lado da ponte. Os
olhares gelados lá poderiam ser usados como um dado. Até agora, quando a
Presságio estava incapacitada e despencando fora de controle.
— Alguém?
Até agora. As sobrancelhas espessas de Korsin brilhavam em um V
preto. O que havia de errado com eles? O ditado estava certo. Uma nave
precisava de uma tripulação unida em um propósito, só que o propósito de
ser Sith era a exaltação do eu. Todo alferes era um imperador. O passo em
falso do rival, era sempre uma oportunidade. Bem, aqui está uma
oportunidade, ele pensou. Resolva isso, "alguém", e você pode ficar com a
maldita cadeira confortável.
Jogos de poder Sith. Agora não significavam muito, não contra a
gravidade insistente abaixo. Korsin olhou novamente para a janela de
exibição da frente. A vasta esfera azul visível anteriormente tinha
desaparecido, substituída por luz, gás e cascalho chovendo para cima. Os
dois últimos, ele sabia, vinham das entranhas da sua própria nave, perdendo
a luta contra a atmosfera alienígena. O que quer que fosse, o planeta tinha
pego a Presságio agora. Uma descida descontrolada da órbita levava muito
tempo, surpreendentemente longo. Mais tempo para contemplar a sua
própria destruição, o pai dele sempre dizia. Mas do jeito que a nave estava
tremendo, Korsin e a sua tripulação poderiam ser roubados até desse
privilégio duvidoso.
— Lembrem-se. — ele gritou, olhando para toda a equipe da ponte pela
primeira vez desde que tudo começou. — Vocês queriam estar aqui!
E eles tinham querido estar lá, a maioria deles, pelo menos. A Presságio
tinha sido a nave viajar quando a flotilha de mineração Sith se reuniu em
Primus Goluud. As tropas de choque Massassi no porão não se importavam
para onde iam; quem sabia o que os Massassi pensavam metade do tempo,
presumindo que eles faziam isso. Mas muitos sencientes que tiveram uma
escolha no assunto escolheram a Presságio.
Saes, capitão da Prenúncio, era um Jedi caído: uma grandeza
desconhecida. Você não podia confiar em alguém em quem os Jedi não
confiavam, e eles confiavam em praticamente qualquer pessoa. Os
membros da tripulação conheciam Yaru Korsin. Um capitão Sith com um
sorriso era bastante raro e sempre suspeito. Mas Korsin estava nisso há
vinte anos-padrão, tempo suficiente para aqueles que o serviram
espalhassem a notícia. Uma nave com Korsin era uma viagem fácil.
Só que não hoje. Totalmente carregados de cristais Lignan, a Prenúncio
e Presságio se preparavam para deixar Phaegon III para a frente da guerra
quando um caça estelar Jedi testou as defesas da frota de mineração.
Enquanto os seus caças Blade, em forma de crescente, se envolviam com o
intruso, a equipe de Korsin se preparava para pular para o hiperespaço.
Proteger a carga era fundamental, e se eles conseguissem fazer a entrega
antes que o Jedi vira-casaca fizesse a dele, bem, isso seria um bônus. Os
pilotos dos Blade podiam pegar carona de volta na Prenúncio.
Só que algo deu errado. Um choque na Prenúncio e depois outro. As
leituras dos sensores da nave irmã não faziam sentido... e a Prenúncio
guinou perigosamente em direção à Presságio. Antes que o aviso de colisão
soasse, o navegador de Korsin engatou reflexivamente o hiperdrive. Já tinha
chegado a hora...
...ou talvez não. Não da forma que a Presságio estava desistindo de seus
sinais vitais agora. Eles nos atingiram, Korsin sabia. A telemetria poderia
ter dito a eles, se eles tivessem uma. A nave tinha sido derrubada para fora
do curso por um fio de cabelo astronômico... mas foi o suficiente.
O Capitão Korsin nunca havia experimentado um encontro com um
poço gravitacional no hiperespaço, nem nenhum de seus tripulantes.
Histórias precisavam de sobreviventes. Mas parecia que o próprio espaço
tinha se aberto perto do caminho da Presságio, amassando a superestrutura
de liga da nave como argamassa. Durou apenas uma fração de segundo, se o
tempo existisse ali. A fuga foi pior que o contato. Um estalo doentio e a
blindagem falhou. Anteparos cederam. E então, o arsenal.
O arsenal havia explodido. Era fácil o bastante de saber por causa do
buraco na parte de baixo da nave. O fato de ter explodido no hiperespaço
era uma questão de inferência: eles ainda estavam vivos. No espaço normal,
todas as granadas, bombas e outras cortesias que os Massassin estavam
levavando a Kirrek teriam subido em um floreio, levando a nave com eles.
Mas, em vez disso, o arsenal simplesmente desapareceu, junto com um
pedaço impressionante do tombadilho superior da Presságio. A física no
hiperespaço era imprevisível por definição; em vez de explodir para fora, o
convés violado simplesmente deixou a nave em um puxão sísmico. Korsin
podia imaginar as munições em erupção saindo do hiperespaço anos-luz
atrás da Presságio, onde quer que estivesse. Isso significaria um mau dia
para alguém!
Poderia muito bem compartilhar a dor.
A Presságio estremeceu ao entrar no espaço real, desacelerando
loucamente, e mirando sem vida em uma bolha azul pendurada diante de
uma estrela vibrante. Foi essa a fonte de sombra de massa que interrompeu
a viagem deles? Quem se importava? Estava prestes a terminar. Capturada,
a Presságio pulou e saltou pelo oceano de cristal do ar até que a séria
descida começou. Ela requeriria o seu engenheiro, provavelmente todos os
seus engenheiros, mas o convés de comando ainda se mantinha. Trabalho
do Tapani, Korsin se maravilhou. Eles estavam caindo, mas por enquanto
ainda estavam vivos.
— Por que ele não está morto?
Meio hipnotizado pelas correntes de fogo que explodiam do lado de
fora, pelo menos a Presságio estava de barriga para baixo para esse salto,
Korsin apenas vagamente percebeu as palavras duras à sua esquerda. —
Você não deveria ter pulado! — Apunhalou a voz jovem. — Por que ele não
está morto?
O Capitão Korsin se endireitou e lançou um olhar incrédulo ao meio-
irmão.
— Eu sei que você não está falando de mim.
Devore Korsin apontou um dedo enluvado passando pelo comandante
para um homem frágil, ainda cutucando futilmente o seu painel de controle
e parecendo muito sozinho.
— Esse seu navegador! Por que ele não está morto?
— Talvez ele esteja no convés errado?
— Yaru!
As piadas não salvariam Boyle Marcom hoje, o capitão sabia. Marcom
vinha guiando naves pela estranheza do hiperespaço desde o meio do
governo de Marka Ragnos. Boyle não estava na sua melhor forma há anos,
mas Yaru Korsin sabia que sempre valia a pena ter um ex-timoneiro de seu
pai. Hoje não, no entanto. O que quer que tivesse acontecido lá atrás, seria
justamente colocado na conta do navegador.
Mas atribuir culpa no meio de uma batalha? Isso era típico de Devore.
— Vamos resolver isso mais tarde. — disse o Korsin mais velho da
cadeira de comando. — Se houver mais tarde.
A raiva brilhou nos olhos de Devore. Yaru não se lembrava de nunca ter
visto mais nada lá. O pálido e esbelto Devore pouco se parecia com o seu
próprio corpo corado e atarracado, também a forma do pai deles. Mas
aqueles olhos e esse olhar? Estes poderiam ter sido um transplante direto.
O pai deles. Ele nunca teve um dia como este. O velho viajante espacial
nunca havia perdido uma nave dos Lordes Sith. Aprendendo a seu lado, o
adolescente Yaru havia apostado em seu próprio futuro, até o dia em que
ficou menos apaixonado pelos passos do pai. O dia em que Devore chegou.
Metade da idade de Yaru, filho de uma mãe de um porto de outro planeta, e
abraçado pelo veterano sem pensar duas vezes. Em vez de descobrir
quantos filhos mais de seu pai havia para disputar postos na ponte, o Cadete
Korsin apelou aos Lordes Sith para outra missão. Isso não tinha sido um
erro. Em cinco anos, ele se tornou capitão. Em dez, conquistou o comando
da recém-batizada Presságio sobre um rival talentoso muitos anos mais
velho.
O seu pai não gostaria disso. Ele nunca perdeu uma nave dos Lordes
Sith. Mas ele perdeu uma para o seu filho.
Mas agora perder a Presságio parecia uma tradição familiar. Toda a
equipe da ponte, até o forasteiro Devore, exalava audivelmente quando
filetes de umidade substituíram as chamas do lado de fora da janela. A
Presságio havia encontrado a estratosfera sem incinerar, e agora a nave
estava girando em um disco preguiçoso através das nuvens carregadas de
chuva. Os olhos de Korsin se estreitaram. Água?
Existe mesmo um chão?
O pensamento aterrorizante percorreu as mentes dos sete na ponte de
uma só vez, enquanto observavam a janela de transparaço se abaular e se
deformar: Gigante de gás!
Sim, tinha demorado muito tempo para sair da órbita, presumindo que
você tivesse sobrevivido à reentrada. Quanto tempo mais, se não houvesse
superfície? Korsin procurou sem rumo os controles colocados no descanso
de braço de sua cadeira. A Presságio iria rachar e romper, sufocada sob uma
montanha de vapores. Eles compartilharam o pensamento, e quase em
resposta, o portal tenso escureceu.
— Todos vocês. — ele disse. — cabeças para baixo! E agarrem alguma
coisa... agora!
Desta vez, eles fizeram o que foi dito. Sabia que um Sith faria qualquer
coisa por autopreservação. Até esse grupo. Korsin se agarrou na cadeira, os
olhos fixos na janela de exibição à frente e na sombra que caía rapidamente
sobre ela.
Uma massa encharcada bateu contra o casco. A sua forma esparramada
caiu sobre o transparaço, permanecendo um instante antes de desaparecer. O
capitão piscou duas vezes. Estava lá e desapareceu, mas não fazia parte da
nave dele.
E tinha asas.
Assustado, Korsin saltou de seu assento e cambaleou em direção à
janela. Desta vez, o erro foi proveniente dele. Já tensionado antes da colisão
no meio do ar, o transparaço cedeu e fragmentos choraram da nave como
lágrimas brilhantes. Uma corrente de ar que saía derrubou Korsin no
revestimento do convés. O velho Marcom caiu para um lado, tendo perdido
o apoio da sua posição. Sirenes soaram, como elas ainda estavam
funcionando? mas o tumulto logo se acalmou. Sem pensar, Korsin respirou.
— Ar! É ar!
Devore se recompôs primeiro, apoiando-se contra o vento. A primeira
sorte deles. A janela quase explodiu, mas não para dentro, e quando a
cabine perdeu a pressão, um vento salgado e gotejante entrou. Sem ajuda, o
Capitão Korsin lutou para voltar ao seu posto. Obrigado pela mão, irmão.
— É apenas um adiantamento. — disse Gloyd. Eles ainda não
conseguiam ver o que havia abaixo. Korsin já havia feito um mergulho
suicida antes, mas isso tinha sido em um bombardeiro, quando sabia onde
estava o chão. E que havia um chão.
Dúvidas antes contidas inundaram a mente de Korsin, e Devore
respondeu.
— Chega. — o caçador de cristal bradou, lutando contra o convés
oscilante para alcançar a cadeira de comando de seu irmão. — Me dê
controles!
— Eles estão tão mortos para você quanto para mim!
— Isso nós vamos ver! — Devore alcançou o apoio de braço, apenas
para ser bloqueado pelo pulso forte de Korsin. Os dentes do comandante
cerraram. Não faça isso. Agora não.
Um bebê gritou. Korsin olhou interrogativamente para Devore por um
momento antes de se virar e ver Seelah na porta, segurando um pequeno
embrulho vermelho. A criança chorou.
De pele mais escura que os dois, Seelah era uma agente da equipe de
mineração de Devore. Korsin a conhecia simplesmente como a mulher de
Devore, essa era a melhor maneira de dizer. Ele não sabia qual papel tinha
vindo primeiro. Agora, a figura esbelta parecia abatida quando caiu contra a
porta. O seu filho, amarrado firmemente à maneira de seu povo, tinha
soltado um pequeno braço e puxava seus cabelos ruivos e esparsos. Ela
parecia não perceber.
Surpresa... ou aborrecimento, cruzou o rosto de Devore.
— Enviei você para os pods de salvamento!
Korsin se encolheu. Os pods de salvamento não tinham motor de
arranque... literalmente. Eles sabiam que lá no espaço, quando o primeiro
agarrou na sua garra de atracação teimosa e explodiu no casco da nave. Ele
não sabia o que havia acontecido com o resto, mas a nave havia sofrido
tanto dano em sua coluna que ele imaginou que todo o conjunto era uma
perda provável.
— Estávamos... no porão de carga. — ela disse, ofegando quando
Devore a alcançou e agarrou seus braços. — Perto de nossos aposentos. —
Os olhos de Devore dispararam por ela, descendo pelo corredor.
— Devore, você não pode ir aos pods de salvamento...
— Cale a boca, Yaru!
— Pare com isso. — ela disse. — Há terra. — Quando Devore a
encarou inexpressivamente, ela exalou e olhou urgentemente para o capitão.
— Terra!
Korsin fez a conexão.
— O porão de carga! — os cristais estavam em um porão a salvo do
dano, em um lugar com janelas de exibição inclinadas para ver abaixo.
Havia algo sob todo aquele azul, afinal. Algo que lhes dava uma chance.
— O propulsor de bombordo vai iluminar. — ela implorou.
— Não, não vai. — disse Korsin. Não de qualquer comando na ponte,
pelo menos. — Vamos ter que fazer isso manualmente, por assim dizer. —
Ele passou pelo ferido Marcom até a janela de estibordo, que dava para a
protuberância principal da nave que seguia atrás. Havia quatro grandes
coberturas de tubo de torpedo em ambos os lados da nave, tampas esféricas
que giravam acima ou abaixo do plano horizontal, dependendo de onde
estavam situadas. Eles nunca abriram aquelas coberturas na atmosfera, por
medo do arrasto que causariam. Essa falha de projeto poderia salvá-los.
— Gloyd, elas vão funcionar?
— Eles vão circular uma vez. Mas sem energia, teremos de acionar os
pinos de disparo para abri-las.
Devore ficou boquiaberto.
— Nós não vamos para lá! — Eles ainda estavam em velocidade
terminal. Mas Korsin também estava se movendo, passando apressado pelo
irmão para a janela de exibição de bombordo.
— Todo mundo, para os dois lados!
Seelah e outro tripulante pisaram no painel direito. Devore, encarando,
relutantemente se juntou a ela. Sozinho à esquerda, Yaru Korsin colocou a
mão no portal suando frio. Do lado de fora, a alguns metros, ele encontrou
uma das enormes coberturas circulares, e a pequena caixa montada ao lado,
não maior do que um comunicador. Era menor do que ele se lembrava da
inspeção. Cadê o mecanismo? Ali. Ele alcançou através da Força.
Cuidado...
— Porta superior do torpedo, ambos os lados. Agora!
Com um ato mental determinado, Korsin acionou o pino de disparo. Um
parafuso grande se soltou explosivamente, disparando à frente, e a cobertura
do tubo colossal se moveu em resposta, girando em sua única dobradiça. A
nave, já tremendo, gemeu alto quando a cobertura alcançou sua posição
final, empoleirada no topo do plano da Presságio como um aileron
improvisado. Korsin olhou ansiosamente para trás, onde a expressão de
Seelah lhe assegurava um sucesso semelhante do seu lado. Como muitos
dos Sith a bordo, ela havia sido treinada no uso da Força, mas Korsin nunca
havia pensado em usá-la para fazer correções em voo antes. Por um
momento, ele se perguntou se tinha funcionado...
Thoom! Com um choque violento que nivelou a tripulação da ponte, a
Presságio inclinou-se para baixo. Não desacelerou a nave tanto quanto
Korsin esperava, mas não era esse o ponto. Pelo menos eles podiam ver
para onde estavam indo agora, o que estava abaixo. Se essas malditas
nuvens dessem uma abertura...
Ele viu imediatamente. Terra, de fato, mas mais água. Muito mais. Picos
irregulares e ásperos se erguiam de um mar esverdeado, quase um esqueleto
de rocha iluminado pelo sol poente do planeta alienígena, quase invisível no
horizonte. Eles estavam seguindo rapidamente pela noite. Não haveria
muito tempo para tomar uma decisão...
...mas Korsin já sabia que não havia escolha a ser feita. Embora mais
tripulantes sobrevivessem a um pouso na água, eles não durariam muito
tempo quando os seus superiores descobrissem que a sua preciosa carga
estava no fundo de um oceano alienígena. Melhor eles recolherem os
cristais dentre os nossos cadáveres queimados. Franzindo a testa, ele
ordenou que os usuários da Força do lado de estibordo ativassem as suas
portas inferiores do torpedo.
Novamente, houve um movimento violento, e a Presságio se inclinou
para a esquerda, inclinando-se para uma linha perigosa de montanhas. Na
parte de trás, um pod de salvamento disparou para longe da nave, e bateu
direto na cordilheira. A nuvem abrasadora desapareceu do campo de visão
da ponte em menos de um segundo. A equipe de torpedos de Gloyd ficaria
com inveja, Korsin pensou, balançando a cabeça e soltando um grande
suspiro. Ainda há pessoas vivas lá atrás. Eles ainda estão tentando.
A Presságio abriu um pico coberto de neve em menos de cem metros.
Água escura se abriu abaixo. Outra correção de curso, e a Presságio
rapidamente ficaria sem tubos de torpedo. Outro pod de salvamento foi
lançado, arqueando-se para baixo e para longe. Somente quando a pequena
embarcação se aproximou das ondas, o piloto, se é que tinha um, ligou o
motor. Os foguetes dispararam direto para o oceano a toda velocidade.
Apertando os olhos molhados de suor, Korsin olhou de volta para a sua
equipe.
— Carga de profundidade! É uma boa hora de um exercício de guerra
misto! — Nem Gloyd riu disso. Mas não era questão de protocolo, o capitão
viu quando ele se virou. Era o que estava à frente. Mais montanhas afiadas
emergindo das águas, incluindo uma montanha destinada a eles. Korsin se
recostou na cadeira.
— Para as estações!
Seelah entrou em pânico, quase perdendo o choroso Jariad enquanto
cambaleava. Ela não tinha uma estação, nenhuma posição defensiva. Ela
começou a atravessar em direção a Devore, congelado no terminal dele.
Não houve tempo. Uma mão a alcançou. Yaru a puxou para perto,
empurrando-a para trás da cadeira de comando em uma posição protetora.
O ato custou a ele.
A Presságio bateu em uma cordilheira de granito em ângulo, perdendo
sozinha a luta. O impacto jogou o capitão Korsin adiante contra a antepara,
quase o empalando nos fragmentos restantes da janela quebrada. Gloyd e
Marcom se esforçaram para se aproximar dele, mas a Presságio ainda
estava em movimento, cortando outra elevação rochosa e espiralando para
baixo. Algo explodiu, espalhando destroços em chamas na esteira de
trituração da nave.
Agonizante, a Presságio girou para a frente novamente, as portas do
torpedo que haviam sido seus freios a ar improvisados estalaram como
troncos enquanto deslizavam. Desceu uma ladeira de cascalho, derramando
pedras em todas as direções. Korsin, com a testa sangrando, olhou pra cima
e pra fora para ver...
...nada. A Presságio continuou a deslizar em direção a um abismo. Fora
da montanha.
Pare. Pare!
— Pare!
Silêncio. Korsin tossiu e abriu os olhos.
Eles ainda estavam vivos.
— Não. — Seelah disse, ajoelhando-se e se agarrando a Jariad. — Nós
já estamos mortos.
Graças a você, ela não disse, mas Korsin sentiu as palavras fluindo por
ele através da Força. Ele não precisava. Os olhos dela diziam bastante.
A tripulação permanente da Presságio veio do
mesmo estoque humano de Korsin: os destroços de uma casa nobre,
lançados para o céu séculos antes no turbilhão que formou o Império
Tapani. Os Sith os encontraram e os acharam úteis. Eles eram hábeis no
comércio e na indústria, tudo o que os Lordes Sith mais precisavam, mas
nunca tiveram tempo para isso, enquanto destruíam e construíam o mundo.
Os seus ancestrais administravam naves e fábricas, e os administravam
bem. E em pouco tempo, misturando o seu sangue com os dos Jedi
Sombrios, a Força também estava em seu povo.
Eles eram o futuro. Eles podiam não reconhecer isso, mas era óbvio.
Muitos dos Lordes Sith ainda eram das espécies de tons carmesins que há
muito formaram o núcleo de seus seguidores. Mas os números estavam
mudando, e se Naga Sadow queria governar a galáxia, eles tinham que fazê-
lo.
Naga Sadow. Rosto com tentáculos, Lorde Sombrio e herdeiro de
poderes antigos. Foi Naga Sadow quem despachou a Presságio e a
Prenúncio em busca de cristais Lignan; Naga Sadow, era quem precisava
dos cristais em Kirrek, para derrotar a República e os seus Jedi.
Ou eram os Jedi e a sua República? Isso não importava. Naga Sadow
mataria o Capitão Korsin e sua tripulação por perder a nave, Seelah estava
certa quanto a isso.
No entanto, Sadow não precisava perder a guerra, dependendo do que
Korsin fizesse agora. Ainda tinha uma coisa. Os cristais.
Mas eles estavam bem acima no momento.
Tinha sido uma noite de horrores, tirando pessoas do planalto elevado.
Dezesseis feridos haviam morrido ao longo do caminho, e outros cinco
haviam caído na escuridão da borda estreita que formava o único caminho
aparente para cima ou para baixo. Ninguém duvidava que a evacuação
tivesse sido a decisão certa, no entanto. Eles não podiam ficar lá em cima,
não com os incêndios ainda acesos e a Presságio precariamente
empoleirada. O último a deixar a nave, Korsin quase se borrou todo quando
um dos torpedos de prótons se soltou do tubo nu, caindo sobre o precipício
e no esquecimento.
Ao nascer do sol, eles encontraram uma clareira no meio da montanha,
pontilhada de ervas selvagens. A vida estava em toda parte da galáxia, até
ali. Era o primeiro bom sinal. Lá em cima, a Presságio continuava a
queimar. Não há necessidade de se perguntar onde estava a nave, pensou
Korsin. Não enquanto eles podiam seguir a fumaça.
Agora, voltando para a multidão da tarde, que era menos um
acampamento do que uma reunião, Korsin sabia que também nunca
precisaria se perguntar onde estava o seu povo. Não enquanto o nariz dele
funcionasse.
— Agora eu sei por que mantivemos os Massassi em seu próprio nível.
— ele disse para ninguém em particular.
— Encantador. — veio uma resposta por cima do seu ombro. — Devo
dizer que eles também não estão muito felizes com você. — Ravilan era um
Sith Vermelho, puro-sangue de nascença. Ele era intendente e guardião dos
Massassi, os desagradáveis bípedes pesados que os Sith valorizavam como
instrumentos de terror no campo de batalha. No momento, os Massassi não
pareciam tão formidáveis. Korsin seguiu Ravilan para dentro do círculo
diabólico, ainda menos agradável com o cheiro de vômito. Monstros
floridos de dois e três metros de altura estavam esparramados no chão,
arfando e tossindo.
— Talvez algum tipo de edema pulmonar. — disse Seelah, passando
com cartuchos de ar purificado recuperados de um pacote de emergência.
Antes de se conectar com Devore e garantir um lugar em sua equipe, ela
tinha sido médica no campo de batalha, embora Korsin não pudesse dizer
isso pelos modos dela ao lado da cama, pelo menos com os Massassi. Ela
mal tocou nos gigantes com respiração ruidosa.
— Não estamos mais em grande altitude, então isso deve diminuir.
Provavelmente normalize.
À esquerda dela, outro Massassi tossiu com força, e silenciosamente
observou o resultado: um punhado de tecido cicatrizado que pingava.
Korsin olhou para o intendente e perguntou secamente:
— Isso é normal?
— Você sabe que não. — rosnou Ravilan.
Do outro lado da clareira, Devore Korsin avançou, empurrando o filho
nas mãos de Seelah antes que ela terminasse de limpá-los. Ele agarrou o
pulso maciço do brutamonte, procurando. Os olhos dele brilharam para o
irmão.
— Mas os Massassi são mais resistentes do que qualquer coisa!
— Qualquer coisa que possam socar, chutar ou estrangular. — observou
o capitão. Um planeta alienígena, no entanto, era um planeta alienígena.
Eles não tiveram tempo de fazer um bioscan. E todo o equipamento estava
bem lá em cima. Devore seguiu Seelah, afastando-se do massassi doente.
Oitenta das criaturas haviam sobrevivido ao acidente. O capitão soube
que os assistentes de Ravilan estavam queimando um terço desses
sobreviventes, mesmo assim, além da encosta. Qualquer coisa invisível que
estivesse matando os Massassi neste planeta, estava fazendo isso
rapidamente. Ravilan lhe mostrou a pira fedorenta.
— Eles não estão longe o suficiente. — disse Korsin.
— De quem? — Ravilan perguntou. — Essa depressão é um
acampamento permanente? Devemos nos mover para uma montanha
diferente?
— Chega, Rav.
— Nenhuma resposta espirituosa? Estou surpreso. Você pelo menos
planeja muito à frente.
Korsin havia censurado Ravilan em missões anteriores, mas agora não
era a hora.
— Já disse, chega. Pesquisamos abaixo. Você viu. Não há para onde ir.
— Haviam praias no fundo do penhasco, mas elas terminavam contra os
penhascos escorregadios que começavam a próxima montanha da cadeia. E
ir mais longe ao longo da cadeia significava viagens através de
emaranhados de espinhos afiados. — Não precisamos de uma expedição.
Nós não vamos ficar.
— Espero que não. — Ravilan disse, com o nariz retorcido pelo cheiro
do fogo. — O seu irmão, quero dizer, o outro filho de Eldrak Korsin, quer
voltar imediatamente para a nave. Eu concordo. Temos que nos reportar a
Lorde Sadow.
Yaru Korsin parou.
— Eu tenho os códigos do transmissor. Cabe a mim fazer a
comunicação. — Ele olhou para a segunda nuvem de fumaça mais distante,
bem acima. — Quando for seguro.
— Sim, por todos os meios. Quando for seguro.
O capitão não queria Devore na missão. Anos antes, ele ficou aliviado
quando o seu meio-irmão abandonou a carreira naval, entrando no serviço
mineralógico dos Sith. Poder e riqueza eram mais facilmente encontrados
lá, procurando gemas e cristais imbuídos na Força. Com o patrocínio do pai,
Devore se tornou especialista no uso de armas de plasma e equipamentos de
escaneamento. O recente conflito com os Jedi o encontrou em alta
demanda, e designado, com a sua equipe, para a Presságio. Korsin se
perguntou de quem ele tinha feito uma piada para merecer isso. Disseram-
lhe que Devore respondia oficialmente a ele, mas essa teria sido a primeira
vez. Nem mesmo os Lordes Sith eram tão poderosos.
— Você deveria ter nos mantido em órbita!
— Nós nunca estivemos em órbita!
Korsin reconheceu a voz do navegador, Marcom, vindo da elevação
empoeirada. Ele já conhecia o outro.
O velho Marcom estava tentando sair da multidão quando o Capitão
Korsin chegou ao topo da colina a toda velocidade. Os mineiros de Devore
não estavam deixando a sua vítima em paz.
— Vocês não conhecem o meu trabalho! — Marcom gritou. — Fiz tudo
o que pude! Oh, de que adianta conversar com...
Assim que Korsin alcançou a clareira, a multidão avançou, como se
puxada por um ralo. Um estalido doentiamente familiar seguiu um outro.
— Não!
Korsin viu primeiro o sabre de luz, rolando em direção aos seus pés
quando violou a multidão. O antigo timoneiro de seu pai estava à frente,
estripado. Ao lado de Seelah e Jariad estava Devore, com o seu sabre de luz
brilhando vermelho nas sombras que se prolongavam.
— O navegador atacou primeiro. — Seelah disse.
O capitão ficou boquiaberto.
— Que diferença faz? — Korsin avançou para o centro, levitando o
sabre de luz para sua mão com a Força. Devore se manteve firme, sorrindo
gentilmente e mantendo o sabre de luz aceso. Os seus olhos escuros tinham
um olhar selvagem, familiar. Estava tremendo um pouco, mas não por
medo, não o medo que Yaru Korsin pudesse sentir. O capitão sabia que era
outra coisa, algo mais perigoso. Ele virou a arma apagada de Marcom para
baixo e a sacudiu. — Ele era o nosso navegador, Devore! E se os mapas
estelares não funcionarem?
— Posso encontrar o caminho de volta. — Devore respondeu com
esperteza.
— Você vai precisar! — Korsin estava consciente da mistura ao seu
redor. Mineiros uniformizados com ouro no círculo, sim, mas também a
equipe da ponte. Um Sith de rosto vermelho, não era Ravilan, mas um de
seus companheiros. Ele não se intimidou. — Isso não vai fazer nenhum bem
a nenhum de vocês. Esperaremos aqui até que seja seguro retornar à nave.
Isso é tudo.
Seelah se endireitou, encorajada pelos apoiadores ao redor.
— Quando será seguro? Em dias? Semanas? — A criança chorou. —
Quanto tempo devemos aguentar, até que seja seguro o suficiente para
você?
Korsin olhou para ela e respirou fundo, jogando o sabre de luz de
Marcom no chão.
— Diga a Ravilan que há mais um para a pira. — Quando uma multidão
relutante lhe deu espaço para sair, ele disse:
— Nós vamos quando eu disser. Essa nave pode explodir, ou tombar no
oceano, e então realmente teremos problemas. Nós vamos quando eu disser.
O mundo girou. Quando Korsin deu um passo para trás, Gloyd deu um
passo à frente, mantendo um olhar amarelo cauteloso nas massas queixosas.
Ele tinha perdido a diversão.
— Capitão.
Eles se entreolharam, observando os Sith em todas as direções.
— Não estou muito feliz aqui, Gloyd.
— Então você vai querer ouvir isso. — murmurou o Houk. — A meu
ver, temos três opções. Ou tiramos essas pessoas dessa rocha em qualquer
coisa que voe, ou nos abrigamos e nos escondemos até que todos se matem.
— Qual é a terceira escolha?
O rosto pintado de Gloyd enrugou.
— Não há uma. Mas imaginei que te animaria pensar que havia.
— Te odeio.
— O ódio é bom. Talvez você possa ser o Lorde Sombrio dos Sith
algum dia. — Korsin conhecia Gloyd desde seu primeiro comando. O Houk
era o tipo de oficial de ponte que todo capitão Sith queria: mais interessado
em seu próprio trabalho do que em assumir o cargo de outra pessoa. Gloyd
foi esperto em se poupar do problema. Ou talvez ele simplesmente gostasse
demais de explodir coisas para querer sair da estação tática.
É claro que, com a estação abandonada a cerca de um quilômetro da
montanha, Korsin não fazia ideia de quão útil seria o seu antigo aliado. Mas
Gloyd ainda tinha cinquenta quilos a mais do que a maioria da tripulação.
Ninguém se moveria contra eles enquanto estivessem juntos.
Ninguém se moveria sozinho, de qualquer maneira.
Korsin olhou para trás através da clareira para a multidão. Ravilan
estava lá agora, junto com Devore e Seelah e alguns oficiais subalternos.
Devore viu seu irmão o observando e este desviou o olhar; Seelah
simplesmente olhou de volta para o comandante, descaradamente. Korsin
cuspiu um palavrão.
— Gloyd, estamos morrendo aqui. Eu não os entendo!
— Sim, você entende. — disse Gloyd. — Você sabe o que dizemos:
você e eu, nós somos focados no trabalho. Os outros Sith estão no que vem
a seguir. — O Houk arrancou uma raiz escamosa do chão e a cheirou. — O
problema é que todo esse lugar é sobre o que vem a seguir. Você está
tentando mantê-los juntos, quando o que você realmente precisa é mostrar a
eles que há algo depois dessa pedra. Não há tempo para conquistar as
pessoas. Você escolhe um caminho. Se alguém não seguir...
— Eu os empurro adiante? — Korsin sorriu. Realmente não era o estilo
dele. Gloyd devolveu o sorriso e afundou os dentes na raiz. Estremecendo
comicamente, o chefe da artilharia pediu licença. Eles não viveriam da
terra, não desta terra, pelo menos.
Olhando para além da multidão, Korsin percebeu que seus os olhos
subiam em direção ao fio de fumaça que flutuava das alturas acima.
Acima. Gloyd estava certo. Era a única maneira.
Os Massassi haviam morrido na montanha. Korsin havia saído ao
amanhecer com três carregadores: os mais saudáveis dos Massassi,
cada um passando pelo cilindro de ar restante. Isso não durou, e nem eles. O
que quer que existisse nesse planeta que não gostasse dos Massassi existia
tanto em cima quanto abaixo.
Tudo bem, Korsin pensou, deixando os cadáveres cor de sangue onde
caíam. Ele não podia comandar os Massassi. Eles eram guerreiros flexíveis
e obedientes, mas respondiam à força, não a palavras. Um bom capitão Sith
precisava usar as duas, mas Korsin se inclinava mais para a última. Com
isto tinha feito uma boa carreira.
No entanto, isso não acontecia mais no pé da montanha. As coisas
estavam piorando. Elas já tinham piorado. Fazia frio à noite, mais frio do
que esperava para um clima oceânico. Alguns dos feridos mais graves não
suportaram a exposição ou a falta de assistência médica.
Mais tarde, algum tipo de animal, que Gloyd descreveu para ele como
um mamífero de seis patas, meia boca, saltou de uma toca e rasgou um dos
feridos. Foram necessários cinco sentinelas exaustos para matar a fera. Uma
das especialistas em mineração de Devore lançou um pedaço do corpo da
criatura na fogueira do acampamento e provou um pedaço. Ela vomitou
sangue e morreu em poucos segundos. O capitão estava feliz por não ter
acordado para ver isso.
Qualquer alívio que houvesse em saber que havia vida no planeta
terminava ali. A equipe da Presságio não era suficientemente numerosa
para descobrir o que era seguro e o que não era. Eles tinham que voltar para
casa, independentemente do estado das coisas com a nave.
Korsin olhou para o céu da manhã, agora mais manchado por nuvens
cirros do que fumaça. Ele não havia contado aos outros sobre o que havia
atingido a janela de exibição durante a descida. O que ele tinha visto? Outro
predador, provavelmente. Não fazia sentido trazer isso à tona. Todo mundo
estava assustado o suficiente, e o medo levava à raiva. Os Sith entendiam
isso, eles faziam uso disso, mas descontroladamente, não lhes faria nenhum
bem. O sol nem tinha se posto antes que os sabres de luz saíssem
novamente em uma disputa por um pacote de comida. Um Sith Vermelho a
menos. Não tinham passado nem vinte horas-padrão desde o acidente e as
coisas estavam começando a ficar básicas. Tribais.
O tempo tinha acabado.
A Presságio tinha pousado em um pequeno recuo por um curto caminho
do outro lado de uma crista. Céu e oceano se espalhavam adiante. A nave
parou na inclinação bem a tempo, e não tinha restado nenhuma superfície
plana no veículo. A visão de sua nave quebrada nas rochas alienígenas
moveu Korsin apenas um pouco. Ele tinha conhecido oponentes,
principalmente capitães da República, que tinham sentimentos por seus
comandos. Não era o jeito Sith. A Presságio era uma ferramenta como
qualquer outra, um blaster ou sabre de luz, para ser usada e descartada. E ao
mesmo tempo que a resiliência da nave tinha salvado sua vida, ela o tinha
traído primeiro. Isso não é algo a ser perdoado.
Ainda assim, ela tinha um propósito. Voar novamente estava fora de
questão, mas a visão da torre de metal logo acima da ponte lhe deu
esperança. O receptor encontraria os faróis hiperespaciais da República em
um instante, dizendo a Korsin sua localização. E o transmissor da nave diria
aos Sith onde encontrar a Presságio, e, o mais importante, os Lignan.
Talvez não fosse a tempo para a participação em Kirrek, mas Sadow iria
querê-los mesmo assim. Caminhando cuidadosamente sobre pedras soltas
até a câmara de ar, Korsin tentou não pensar na outra possibilidade. Se a
Batalha de Kirrek fosse perdida por causa da perda da Presságio, ele iria
morrer.
Mas morreria tendo completado sua missão.
Um frasco estava vazio na palma da mão aberta e trêmula de Devore.
De alguma forma, ele havia chegado à Presságio primeiro e estava
sentado na cadeira do comandante. "Desabado" na cadeira fosse a descrição
mais exata, o capitão notou.
— Vi que sua cabine está intacta. — disse Korsin. Ele lembrou-se de
Seelah voltando aos aposentos pelo pequeno Jariad. Em um incêndio, você
busca o que ama.
— Eu não fui lá primeiro. — disse Devore, lentamente deixando o
frasco cair no convés ao lado da cadeira de comando. Havia outro recipiente
ali, partículas de especiaria brilhante ainda ao lado. Ele está aqui há algum
tempo, Korsin pensou. Ele suspeitava que a especiaria era o motivo pelo
qual Devore havia entrado na mineração; o amor de seu irmão pelo
narcótico certamente diminuiu sua carreira naval.
— Eu não fui para a minha cabine... quero dizer, não fui lá primeiro. —
disse Devore, apontando vagamente para o teto. — Fui ver a matriz do
transmissor.
— A estrutura parecia boa.
— Do lado de fora, talvez. — Debruçado na cadeira de comando,
Devore observou inexpressivamente enquanto seu irmão escalava as vigas
caídas para alcançar a escada. Acima dos painéis do teto, Korsin viu o que
Devore devia ter visto: uma massa de eletrônicos derretida, fritada quando
uma costura se abriu no casco durante a descida. O transmissor externo
estava de pé, sim, mas como um monumento ao seu objetivo anterior, nada
mais.
Ao descer, Korsin se dirigiu ao controle do painel de comunicação e
pressionou o botão várias vezes. Nada. Suspirou. A história era a mesma em
todos os lugares da ponte. Ele ligou o transmissor uma última vez e recuou
sobre os escombros. A Presságio estava morta. Mas os Sith já haviam
sobrevivido à morte antes e as entranhas da Presságio ainda possuíam peças
de reposição suficientes para permitir um transplante. Seus olhos
dispararam para o corredor. Certamente, na oficina...
— Se foi, com o arsenal! — A explosão tinha expelido a maioria dos
depósitos no espaço. Devore enterrou o rosto nas mãos, finalizando.
Korsin não se deu por vencido.
— A baía de desembarque. Os Blades. Os caças estavam em voo
quando a Presságio fez a sua partida repentina, mas algo na baía de
desembarque poderia ser útil.
— Esqueça, Yaru. O convés foi esmagado quando atingimos o solo. Eu
nem consegui entrar lá.
— Então vamos cortar a nave, convés por convés e fabricar as peças que
precisamos!
— Com o que? Nossos sabres de luz? — Devore se levantou, apoiando-
se no apoio de braço. — Nós estamos acabados! — Sua tosse se tornou uma
risada. Os cristais Lignan ofereciam poder aos Sith, mas não do tipo que
opera um farol de perigo, um receptor ou mesmo o atlas celeste. — Estamos
aqui, Yaru. Estamos aqui e fora de ação. Fora da guerra. Fora de tudo.
Estamos fora!
— Você está fora.
Korsin escalou para dentro de um corredor e começou a vasculhar os
armários, procurando por algo que ajudasse os que estavam lá embaixo.
Infelizmente, a Presságio havia sido equipada para uma missão no espaço
profundo. Os provedores Sith estavam poupando. Não havia geradores
portáteis. Outro compartimento continha roupas. Elas ajudariam à noite,
mas eles não poderiam ficar.
— Temos que ficar. — disse Devore, como se tivesse lido o pensamento
de Korsin.
— O que?
— Temos que ficar. — repetiu Devore. De pé sozinho, como uma lápide
nas sombras do corredor, ele falou com uma voz trêmula. — Faz dois dias.
Você não entende. Faz dois dias.
Korsin não parou sua busca, passando na frente de seu irmão por outra
porta, atolado pelo estrago.
— Faz dois dias, Yaru. Naga Sadow vai pensar que fugimos. E que
pegamos os cristais Lignan para nós mesmos!
— Ele vai culpar Saes. — disse Korsin, lembrando-se. Naga Sadow não
confiava totalmente no Jedi caído que capitaneava a Prenúncio. Ele tinha
pedido a Korsin para ficar de olho em Saes, para reportar. Quando ele o
fizesse, se o fizesse, Korsin pretendia explicar como a Prenúncio havia
perdido o controle, como ela havia atingido a Presságio. Com alguma sorte,
Sadow já teria a Prenúncio...
Korsin soltou a maçaneta da porta. Ele não tinha visto o que aconteceu
com a Prenúncio após a colisão, mas era uma aposta segura que Sadow já
teria a teria. E Saes, sentado lá com apenas metade do carregamento de
cristais Lignan e incapaz de entregar, estaria negociando por sua vida,
dizendo algo sobre a Presságio. Ele iria contar histórias das quais o Khil se
orgulharia.
Korsin olhou para o corredor.
— Lá em Primus Goluud. Na estação. Você se encontrou com Sadow,
não foi?
Devore ficou confuso.
— Para discutir a operação com os Lignan.
— Você não estava discutindo outra coisa? Como quem deveria
comandar essa missão?
Devore olhou para ele com olhos injetados. Aquele olhar novamente.
— Você estava discutindo quem deveria comandar essa missão. —
insistiu Korsin, surpreso com sua própria calma. — O que você disse
quando Sadow se recusou a colocar você no comando?
O sangue do capitão congelou. Ele sabia como as coisas sempre
aconteciam com Devore, como as coisas deveriam ter acontecido. Sadow
teria rejeitado seu meio-irmão e Devore teria dito alguma coisa. O que? Não
o suficiente para ofender Sadow, não, Devore ainda estava aqui nos
destroços, respirando. Mas Sadow teria motivos para suspeitar da lealdade
de Devore, teria motivos para se perguntar se seus cristais estavam seguros.
A única coisa que Yaru Korsin possuía era a sua reputação de ser
verdadeiro, mas agora, no mínimo, Sadow saberia que Korsin não era o
mestre absoluto de sua própria nave. E se ele não fosse...
A mão de Devore tremeu, e seu sabre de luz voou para ela. A arma que
tinha matado Boyle Marcom acendeu em sua mão.
— O que eu te disse? — Korsin gritou, aproximando-se dele de
qualquer maneira. — Nada de jogos na minha nave!
Abalado, Devore correu de volta para a ponte. Korsin o seguiu.
— A única maneira de sairmos disso é se estivermos completamente
limpos, Devore! Sadow não pode pensar que fizemos isso de propósito! —
Ele alcançou a porta. — Nada de jogos na minha nave!
Korsin avançou como um furacão. Devore estava no topo da cadeira de
comando, chamando todos os destroços da ponte para si como uma
divindade no topo de uma montanha. Korsin rolou, com fragmentos de
transparaço cortando seu rosto e rasgando seu uniforme. Chegando à
estação de Gloyd, ele montou sua própria defesa, se aninhando na Força
contra o ataque. Devore era tão forte quanto qualquer outro em sua família,
e agora ele usava produtos químicos que Korsin não entendia.
Uma viga bateu contra a antepara, e a Presságio estremeceu. Um
segundo ataque, e a ponte tombou para frente, derrubando Devore de seu
poleiro. Korsin não o deixou se levantar novamente. No momento em que a
cabeça de Devore apareceu atrás da cadeira, Korsin o jogou com a Força
pela janela em ruínas. Ele tinha que terminar isso lá fora, antes que tudo
estivesse perdido.
Korsin correu morro acima pelo corredor até a câmara de ar, bufando.
Lutando contra um atacante louco de especiarias em uma armadilha
mortal? Eu devo ser o louco! O degrau abaixo do portal era agora um salto.
A sua bota afundou em uma mancha macia quando pisou, torcendo o
tornozelo e fazendo-o cair pela encosta coberta de cascalho. Mordendo o
lábio, tentou escalar de volta da borda em direção ao nariz esmagado da
Presságio. Uma sombra estava caindo sobre ele. Ele acendeu o sabre de
luz...
De repente ele viu aquilo... ou aquilo o viu. Outra criatura alada, no alto
da cordilheira próxima, circulando e observando. Observando a ele. Korsin
piscou para tirar a areia dos olhos quando a criatura voou para longe. Era o
mesmo que tinha visto na descida... quase. A diferença era ...
Thoom! Korsin sentiu-se erguido no ar e, antes que pudesse registrar o
que estava acontecendo, bateu nos destroços da Presságio. Devore marchou
adiante, as pedras rolando diante dele como se fossem impulsionadas por
um ímã. Preso na moldura amassada, Korsin lutou para se levantar. O olhar
familiar de seu pai desapareceu do rosto de Devore, substituído por um
nada sombrio.
— Acabou, Yaru. — disse Devore, erguendo o sabre de luz. —
Deveríamos ter feito isso antes. Já foi decidido. Eu sou o Korsin que
deveria estar no comando.
Já foi decidido? O pensamento passou pela mente de Yaru Korsin,
enquanto o sabre de luz passava perto de seu ouvido faiscando contra a
blindagem amassada da Presságio. O comandante levantou a sua arma para
desviar do próximo golpe... e o próximo e o próximo. Devore martelava.
Sem estilo, apenas com fúria. Korsin não encontrou para onde ir, exceto ao
longo da lateral da nave, deslizando para trás em direção aos tubos de
torpedo do lado da porta. Três das portas tinham sido abertas na descida. A
quarta...
Korsin viu a caixa de controle, exatamente como a que havia
manipulado remotamente na descida. Flexionou-se em direção a ela através
da Força e se abaixou. O pino de disparo foi ativado, disparando para frente
e pegando Devore no ombro do braço que segurava sabre de luz. A porta do
torpedo tentou se abrir, mas presa no chão, ela só cavou nos estratos,
jogando um fluxo de pedras que inundou a nave. A Presságio balançou
novamente e avançou, com Devore deslizando à sua frente em direção à
beirada e ao oceano abaixo.
Demorou um minuto para Korsin se soltar do apoio de mão que
encontrara na nave, e outro para limpar a poeira. Vendo que a Presságio
estava surpreendentemente imóvel, ele cautelosamente se afastou da lousa
esmagada. O arco da Presságio havia se empalado em uma elevação no
promontório, a poucos metros da borda.
À sua frente, parcialmente enterrado em escombros, estava o seu irmão.
O seu uniforme dourado estava desfiado, o seu ombro estava
ensanguentado, e ele se contorcia no precipício. Ele tentou se ajoelhar e
encolher os ombros para fora das pedras circundantes, apenas para cair
novamente.
Devore ainda segurava o sabre de luz. Como ele ainda poderia estar
segurando aquilo com o mundo inteiro desabando, Korsin não sabia. O
capitão colocou o próprio sabre de luz no cinto.
— Yaru? — Devore disse. A sua voz era um gemido agora. — Yaru...
eu não consigo enxergar. — O seu rosto estava manchado de lágrimas, mas
intacto. Então o seu sabre de luz rolou, desaparecendo de vista sobre a beira
do penhasco e revelando a mancha oleosa rosa em sua mão. Raiva
Vermelha. Era isso que havia nos frascos, pensou Korsin. Foi isso que deu a
Devore o seu maníaco poder, e era isso que o estava roubando dele agora.
O ferimento no ombro não era ruim, Korsin viu quando levantou o
irmão. Devore era jovem; com Seela cuidando dele, poderia até sobreviver
ali, presumindo que pudesse viver sem a especiaria. Mas... o que então? O
que se poderia dizer que já não tinha sido dito?
Já foi decidido.
O apoio se tornou mais firme... e Yaru Korsin virou o irmão para
encarar o pôr do sol sobre o oceano.
— Eu vou completar minha missão. — ele disse, olhando para o lado do
oceano que se abria muito abaixo. — E eu protegerei a minha equipe.
Ele o deixou cair.
E ra quase noite quando Korsin apareceu na trilha duas vezes
pisada, puxando um trenó improvisado feito de uma mesa desarranjada.
Korsin precisara da ajuda da Força algumas vezes para descer a montanha
com os cobertores térmicos e os demais pacotes de comida. Tiras de bolsas
cortavam seus ombros e pescoço, deixando vergões feios. A única fogueira
do acampamento se tornara várias. Ele ficou feliz em vê-las.
Ravilan também parecia feliz em vê-lo, após uma reação inicial de
surpresa.
— O farol! Está funcionando?
— Eu mesmo apertei o botão. — anunciou Korsin.
— E?
— E nós esperamos.
Os olhos de Ravilan se estreitaram na neblina esfumaçada.
— Você sabe onde estamos? Você falou com alguém? — A atenção de
Korsin já havia se voltado para o descarregamento dos pacotes para os
ansiosos tripulantes. Ravilan abaixou a voz. — Onde estão os seus
Massassi?
Korsin não olhou para cima.
— Todos mortos. Você não acha que eu queria fazer isso por mim
mesmo, acha?
O rosto vermelho do intendente empalideceu um pouco.
— Não, é claro que não, Capitão. — Ele olhou para o cume, que
desaparecia na escuridão circundante. — Talvez outros de nós pudessem dar
uma olhada no transmissor. Nós podemos...
— Ravilan, se você quiser voltar para lá, esteja à vontade. Mas eu
levaria uma equipe com algum equipamento pesado, porque se não
conseguirmos colocar alguns apoios sob a nave, a próxima pessoa que
embarcar poderá levá-la em seu último voo. — Korsin pousou a última
mochila e esticou o pescoço. — Onde estão os seus Massassi?
Ravilan o encarou.
— Todos mortos.
Korsin finalmente se libertou dos cabos que usara para arrastar o trenó.
A fogueira ardia de maneira convidativa. Então, por que ele estava com
tanto frio?
Ele entendeu.
— Olá, Seelah.
— Onde está Devore?
Ele olhou para ela friamente. Seelah se levantou, com seu uniforme de
ouro manchado tremeluzindo à luz do fogo.
— Onde está Devore? — Ele repetiu.
— Ele subiu... — Ela se conteve. Ninguém deveria sair do
acampamento. E agora, aquele olhar nos olhos de Yaru Korsin.
Ela apertou Jariad, que acordou chorando.
A conversa animada começou como muitas de Korsin, com um resumo
de Coisas Que Todo Mundo Já Sabe. Mas esse discurso foi diferente,
porque havia muitas coisas que ninguém sabia, inclusive ele. A garantia de
que Naga Sadow ainda valorizava a sua carga parecia verdadeira para todos,
e, embora estivessem claramente longe de qualquer lugar, poucos podiam
imaginar o desejo do Senhor Sith excedendo seu alcance. Mesmo que eles
estivessem menos otimistas sobre o que Sadow sentia por eles, Korsin sabia
que a sua equipe aceitaria que alguém, em algum lugar, estava procurando
por eles.
Eles simplesmente não precisavam saber quanto tempo isso poderia
levar. Era muito cedo para isso. Korsin se preocuparia com Sadow mais
tarde. Este não era o lugar para discutir o que viria a seguir. Era para
discutir o que vinha agora.
No final do discurso, Korsin se ergueu, invulgarmente filosófico:
— Era nosso destino aterrissar nesta rocha... e estamos vinculados ao
nosso destino. Por um tempo, parece que também estamos ligados a esta
rocha. Que assim seja. Nós somos Sith. Vamos torná-la nossa.
Olhou em direção a uma fogueira satélite no acampamento e avistou
Gloyd e o resto de sua equipe de artilharia se erguendo contra a brisa. Ele
acenou para a fogueira principal. Korsin sabia que seria outra noite difícil, e
os suprimentos que ele trouxera logo se esgotariam.
Mas sabia de outra coisa. Algo que ele, e mais ninguém, tinha visto.
A fera alada carregava um cavaleiro.
A Força estava com eles.
Agarrando o seu filho, Seelah observou o círculo se desfazer. O humano
Sith começou as suas tarefas, contornando Ravilan, o mestre sem Massassi.
Ele estava à distância, comiserando com os Sith Vermelhos e com os
poucos outros alienígenas sobreviventes. Energizado e triunfante, Yaru
Korsin conversava com Gloyd, mantendo as suas confidências com o
imenso alienígena, como sempre fazia. Forte demais para ser derrotado,
estúpido demais para traí-lo, e burro para a Força. O aliado perfeito.
Afastando-se do Houk, Korsin viu Seelah. Outra nova terra a ser
conquistada por sua vontade, talvez? Não havia ninguém em seu caminho...
não mais. Ele sorriu para ela.
Seelah devolveu o olhar friamente. Pensando em Devore, pensando no
pequeno Jariad, ela tomou uma decisão rápida. Convocando toda a sua
raiva, todo o seu ódio, toda a sua vontade...
...Seelah sorriu de volta.
Devore havia subestimado Yaru Korsin. O que quer que tenha
acontecido, pensou Seelah, ela não iria subestimá-lo. Ela esperaria o seu
tempo.
Tempo, eles tinham.
INTRODUÇÃO
A Tribo Perdida dos Sith: Celestiais é o segundo e-book da série A Tribo Perdida dos Sith. Uma
prequela da série de romances Fate of the Jedi, foi escrito por John Jackson Miller sendo lançado em
21 de julho de 2009.
CELESTIAL: Aquilo que é do céu, que vem do céu; que é divino.
"Celestial" se passa em 5.000 ABY e é contado principalmente do ponto de vista de Adari Vaal,
uma geóloga Keshiri e viúva do falecido Zhari Vaal, um membro do Neshtovar. Os Neshtovar eram
um sacerdócio aristocrático de elite que montavam uvaks, bestas de carga reptilianas aladas e
dominavam a sociedade Keshiri, em Keshtah Menor, um dos dois principais continentes de Kesh.
— H erege!
— É bom ver você também, mãe. — disse Adari. — As
crianças se comportaram?
A porta ainda não estava totalmente fechada quando a criança menor foi
empurrada por Eulyn para os braços de Adari. O filho mais velho de Adari
entrou no quarto, desequilibrando-a. Sob o ataque de quatro braços roxos,
Adari cambaleou em direção à parede, procurando um local para largar a
sua carga não-viva. A sacola de lona bateu no chão de pedra.
— Herege! É assim que o seu tio diz que estão chamando você. — disse
Eulyn. — Ele estava aqui... e o vizinho Wertram, o alfaiate. E a esposa dele
também... ela nunca sai da cabana por nada! Oito pessoas já passaram por
aqui hoje!
— Bem, não olhe pra fora. — Adari disse. — Mais me seguiram até em
casa. — Ela afastou a criança mais velha e tentou resgatar os cabelos
prateados da boca da criança menor. Cabelo curto não era a moda para as
mulheres Keshiri, mas para Adari, era autodefesa. No que dizia respeito ao
filho mais novo, nunca seria curto o suficiente. — O ensopado está no
ponto?
— Ensopado? — Eulyn puxou o seu netinho de volta, apenas para ver
Adari disparar para a cozinha. Corada de irritação, a pele de Eulyn assumiu
uma tonalidade violeta que quase combinava com a da filha. — Você está
preocupada com o jantar! Você não tem ideia do que está acontecendo por
aqui, não é?
— É uma pausa para o jantar. Eu estava trabalhando.
— Trabalhando nada! Eu sei onde você estava!
Adari olhou para a vasilha cheia de carne e legumes fervendo e
suspirou. É claro que a sua mãe sabia onde ela tinha estado. Todo mundo
sabia. Adari Vaal, colecionadora de rochas e pedras; jovem viúva do valente
cavaleiro de uvak sobre o qual repousavam tantas esperanças. Adari Vaal,
inimiga do direito e da ordem; mãe ausente e enganadora dos filhos de
outras pessoas. Hoje tinha sido seu terceiro dia de testemunho diante dos
Neshtovar. Foi tão bom quanto nos outros dois.
— Que som é esse?
— Eles estão jogando pedras na casa. — disse Adari, retornando com
uma tigela fumegante que colocou sobre a mesa. Recuando, ela abriu a
porta da frente e viu vários presentes da comunidade saltando sobre o
batente. Ela bateu à porta rapidamente. Uma pedra sob o berço vazio
chamou a sua atenção. Ela a pegou com o braço arranhado e musculoso. —
Essa é boa. — ela disse, virando a pedra na mão. — Não é daqui. — Ela
aparentemente estava atraindo pessoas de todo o mundo. Teria que olhar em
volta, mais tarde. Quem precisava de expedições quando tinha uma
multidão enfurecida para coletar amostras?
Adari se ajoelhou e colocou a descoberta em sua bolsa, já
sobrecarregada de pedras de todas as formas e cores. Acima, o barulho
ficou mais alto. A criança mais nova chorou. Os enormes olhos escuros de
Eulyn se arregalaram ainda mais com horror.
— Adari, ouça! — Ela disse. — Eles estão atingindo o teto agora!
— Na verdade é um trovão.
— É uma prova, é isso que é! Os Celestiais a abandonaram.
— Não, mãe, é uma prova de que eles estão me protegendo,. — Adari
disse, comendo em pé. — Se chover, a multidão não poderá incendiar nossa
casa.
Não era provável que isso fosse acontecer, pois a viúva de um
Neshtovari era uma pessoa protegida, improvável de ser morta em um
motim. No entanto, não havia nada de errado em tornar a sua vida miserável
e, como o seu pecado era contra os próprios Neshtovar, nenhuma autoridade
os impediria. De fato, as pequenas exibições como essa eram boas para a
ordem pública.
Adari enfiou a cabeça no quintal. Não havia pedras lá. Apenas o uvak,
fazendo o que havia feito o ano todo: ocupando a maior parte do lugar e
sendo fedido. Os olhos reptilianos cor de esmeralda se abriram o suficiente
para lhe dar um olhar ruim. As suas asas de couro se mexeram, batendo
contra os lados do curral. O animal não se importava com a chuva fria, mas
o barulho da rua perturbava o seu sono de realeza.
Os uvak sem cavaleiros eram todos preguiçosos e mal educados, mas
Nink não tinha gostado do cavaleiro nem mesmo quando tinha um. Ele era a
coisa menos favorita de Adari, mas tinha vindo com a casa. Em certo
sentido, a casa era dele.
Antigamente, quando um Neshtovari, um cavaleiro de uvak, morria, a
comunidade matava a família do falecido também. Essa prática havia
terminado, talvez a única vez em que os Neshtovar permitiram que a
praticidade anulasse a tradição. Os uvak eram preciosos, temperamentais e
apegados aos seus cavaleiros; colocá-los em estábulos com os sobreviventes
do cavaleiro morto geralmente mantinha as bestas sãs o suficiente para
serem úteis no mercado de procriação. Sem mencionar, refletiu Adari, as
consequências na procriação dos próprios Neshtovar. Os cavaleiros não
tinham muita vida social quando a morte estava em cena. Mas desde a
mudança, os cavaleiros de uvak tornaram-se muito procurados como
companheiros na sociedade Keshiri.
Adari não tinha procurado Zhari Vaal. Ela estava interessada em rochas;
Zhari era igual a elas em termos de capacidade de conversação. Em nove
anos ele deu a ela dois filhos estúpidos, uma descrição que lhe parecia
menos dura do que materialmente caridosa. Ela os amava o bastante, mas
eles não mostravam sinais de serem mais gentis ou mais brilhantes do que o
seu pai. A tolice gerou verdade. Ela era tola por não fugir; e ele, bem, ele
era Zhari Vaal. O “jovem e valente cavaleiro Neshtovar, em quem havia
tantas esperanças”, segundo o discurso do funeral, tinha maltratado Nink
muitas vezes. Numa linda manhã, a besta voou com Zhari para o mar e o
derrubou sem cerimônia. Adari tinha certeza de que havia visto uma pitada
de satisfação nos brilhantes olhos verdes da criatura quando voltou para
casa. Ela nunca se dera bem com Nink antes, mas pelo menos agora ela o
respeitava. Quando se tratava de Zhari, o uvak tinha mais senso do que ela.
Não era tudo culpa dela, claro. O casamento foi resultado de anos de
lobby de Eulyn, tentando garantir a posição futura de sua família. Somente
machos se tornavam cavaleiros, mas a propriedade Keshiri descendia
matrilinearmente; agora Adari e sua mãe tinham o uvak e a robusta casa de
casca de vosso, enquanto aos seus vizinhos ainda viviam em cabanas de
brotos de hejarbo amarrados. Eulyn ficou emocionada, e Adari se contentou
em deixar as crianças sob o domínio de Eulyn também. Adari cumprira o
seu dever; os Keshiri haviam avançado para outra geração. Agora poderia
se concentrar em algo mais importante.
Se eles deixassem.
— Tenho que voltar. — ela disse, retirando o filho mais novo de seu
trabalho que consistia em destruir a mesa de jantar. A audiência da tarde
tinha sido longa e uma sessão noturna sem precedentes apareceu.
— Sabia que você faria algo assim. — Eulyn disse, com o seu olhar
atravessando as costas da filha. — Eu sempre disse que toda aquela
escavação na sujeira não faria nenhum bem. Discutindo com os Neshtovar!
Por que você sempre tem que estar certa?
— Não sei, mãe. Mas isto é algo que eu vou ter que conviver. — Adari
respondeu, entregando a criança que pingava. Uma mancha ficou em sua
túnica, não havia tempo para trocar. — Tente fazer com que Tona e Finn
realmente durmam esta noite. Eu voltarei.
Abriu a porta com cuidado e descobriu que a chuva havia expulsado a
multidão. O conforto superou a crença em Kesh. Mas as pedras
permaneceram, dezenas de pequenas declarações irônicas espalhadas por
toda a varanda. Se as audiências durassem mais, não precisaria mais fazer
pesquisas de campo para a temporada, tudo o que precisava estaria à sua
porta.
Talvez ela devesse ofender os Celestiais todo o ano.

— Estávamos falando sobre as pedras de fogo. — lembrou Adari ao


chefe dos Neshtovar.
— Você estava falando. — disse Izri Dazh. — Não aceito esse termo. —
O cavaleiro idoso e alto conselheiro mancava ao redor do Círculo Eterno,
uma praça onde uma coluna alta servia como um relógio de sol maciço.
Adari olhou em volta. Outra noite linda, para um lugar que não tinha outra
natureza. Todos os dias eram iguais no interior: uma chuva breve e
determinada à tarde, seguida por uma brisa fresca que soprava diretamente a
noite toda. Mas agora, metade da vila havia renunciado a qualquer
entretenimento de verdade para assistir a um homem careca e sem sangue
discursando para uma jovem. — Não existem pedras de fogo. — ele disse,
apontando para um par de rochas carmesim em um pedestal ao lado da
coluna central. — Vejo aqui apenas pedras normais de Kesh, como você
pode encontrar em qualquer encosta.
Adari tossiu.
— Você tem algo a dizer?
— Melhor não. — Adari ergueu os olhos da cadeira na clareira arenosa,
e depois para os ouvintes que gritavam. Qual era o objetivo daquilo?
Ninguém iria ouvir. Por que continuar piorando...
Ela deu outra olhada em Izri. Esse espectro cor de lavanda era o homem
que elogiara Zhari no funeral. O que ele sabia sobre qualquer coisa? Quem
eram os Neshtovar para dizer a qualquer um o que pensar, só por que
convenciam alguns animais preguiçosos a levá-los para passear de vez em
quando?
Tudo bem, ela pensou, se levantando. Serão duas pedras a menos para
eles jogarem. Ela pegou uma pedra do pedestal.
— Eu tenho... os estudiosos de Kesh têm coletado pedras de todas as
partes deste continente. Registramos o que encontramos. Nós comparamos.
Essa rocha veio do pé do Pináculo Sessal, na costa sul.
A multidão murmurou. Todo mundo conhecia o Pináculo fumegante,
que roncava e borbulhava nos limites da civilização. Alguém deve ter ficado
louco para sair coletando pedras!
— O Pináculo criou esta pedra, a partir das chamas que mantém por
dentro. E esta. — Adari disse, pegando a outra pedra. — foi encontrada
aqui fora da vila, enterrada no leito do rio. — As pedras eram idênticas. —
Agora, as montanhas que circundam nosso planalto não são fumegantes, o
que chamamos de vulcões, pelo menos agora. Mas esta rocha aqui sugere
que elas poderiam ter sido uma vez. De fato, todo esse continente pode ter
sido criado por elas.
— Herege!
— Minha mãe está aqui? — Adari esticou o pescoço, examinando a
multidão. Alguém riu.
Izri pegou as pedras dela e sussurrou ao longo do perímetro da plateia.
— Você diz que essas pedras vieram... de baixo,. — ele disse, a palavra
horrível pingando de sua língua. — E criaram tudo o que é Kesh.
— Antes e agora. Os fumegantes estão construindo mais terras o tempo
todo.
— Mas você sabe que tudo o que é Kesh veio dos Celestiais,. — disse
Izri, apontando a bengala na direção dela. — Nada pode nascer de Kesh de
novo!
Ela sabia; toda criança sabia. Os Celestiais eram os grandes seres do
alto, a coisa mais próxima que Kesh tinha de divindades. Bem, havia algo
mais próximo: os Neshtovar, como os autoproclamados Filhos dos
Celestiais, que poderiam muito bem terem sido os próprios Celestiais no
que dizia respeito à vida em Kesh. A fé Keshiri era vertical; o alto
conselheiro era poderoso. Os elevados eram venerados. Foi o grupo de
cavaleiros de uvak de Izri que, eras antes, trouxera dos altos picos do
oceano a sabedoria da grande batalha da criação. Montando um colossal
uvak de cristal, os Celestiais haviam lutado contra o Outro Lado nas
estrelas. A batalha durou eras, com o Outro Lado ferindo os Celestiais antes
de ser derrotado. Gotas de sangue Celestial caíram sobre o mar revolto,
formando a terra que deu origem ao povo Keshiri.
Adari se perguntava sobre a biologia de uma raça gigantesca de sangue
arenoso, mas a noção dos Neshtovar tinha algo a seu favor: mapas que
descreviam Keshtah, o grande continente, e todos pareciam como se um de
seus filhos tivesse derramado alguma coisa em cima. Longas penínsulas
sulcadas espalhadas em todas as direções a partir de um aglomerado de
platôs, formando costas e fiordes enormes, muitas vezes inacessíveis, o
suficiente para que os Keshiri colhessem a vida marinha para sempre. Mais
adiante, ao longo dos muitos rios até os planaltos, os agricultores extraíam
ainda mais do solo rico. Os Keshiri eram vastos e bem alimentados.
Com relação ao Outro Lado, Adari descobriu que os Neshtovar eram
negligentes em relação a uma falha. "Aquilo que se opunha aos Celestiais"
significava morte, doença, fogo, rebelião, não necessariamente nessa
ordem, isso quando não estava assumindo a forma mortal de acordo com as
necessidades do contador de histórias. O Outro Lado veio "de baixo", outro
elemento da mensagem de fé vertical. E isso era tudo o que havia para dizer.
Dada a devoção dos anciãos aos Celestiais, Adari ficou surpresa por não
terem estabelecido quem ou o que era o Outro Lado. Mas então, se eles
tivessem feito isso, teriam escolhido um nome melhor.
O que não impedia Izri de invocá-lo repetidamente enquanto a criticava.
— As suas palavras glorificam o Outro Lado, Adari Vaal. É por isso que
você está aqui. Você está aqui por pregar...
— Ensinar!
— ...contar essas mentiras sobre a Grande Batalha aos seus acólitos!
— Acólitos? Eles são estudantes! — Ela procurou na multidão rostos
familiares. Os seus alunos haviam se esquivado no dia anterior, quando as
coisas ficaram difíceis, mas alguns de seus pais estavam aqui. — Você, Ori
Garran! Você enviou o seu filho para os estudiosos porque ele não era bom
na fábrica. E Wertram, a sua filha. Todo mundo aqui em Tahv, vocês acham
que a vila vai cair em um buraco só porque conversei com os seus filhos
sobre algumas pedras?
— Poderia muito bem! — Izri tirou a sua bengala da posição no
pedestal e a balançou. — Esta terra fazia parte dos Celestiais vivos. Você
acha que eles não ouvem você? Quando o chão treme, quando os
fumegantes queimam, é o restante deles agindo em simpatia com os seus
desejos. O desejo deles é que nós os honremos e odiemos o Outro Lado!
Isso de novo.
— Sei que é isso que você pensa. — disse Adari, procurando um tom
lento e uniformes. — Não pretendo saber quais forças funcionam no
mundo...
— Isso está claro!
— ...mas se palavras desagradáveis causassem tremor no mundo, Kesh
balançaria toda vez que maridos e esposas brigassem! — Ela inalou
profundamente. — Certamente, os Celestiais têm assuntos mais importantes
do que policiar nossos próprios pequenos desacordos. Eu sei que eles têm.
Silêncio. Adari olhou em volta. Os olhos escuros dos Keshiri, outrora
apontados para ela, apontavam agora para baixo e para longe. Ela tinha
ganho alguns, dessa vez. Talvez não o suficiente para a deixar manter o seu
emprego, mas o suficiente para poder continuar coletando...
Kraka-boooom!
Os rostos roxos se voltaram para o oeste, em direção às Montanhas
Cetajan. Destacando-se no oceano conhecido como Mar das Chamas, a
cordilheira ocidental fornecia à vila de Tahv alguns dos seus melhores
pores-do-sol. Mas agora as chamas vinham do próprio pico da montanha.
Um pilar de cinza ardente ondulava do cume.
Não fazia sentido. Adari ajudou Izri a se levantar.
— Aquilo... aquilo é um pico de granito. — ela disse sobre o eco. —
Não é vulcânico!
— Agora é.
U ma pedra era uma coisa simples,
avô lhe dissera:
mas como seu

Agora, graças a uma simples rocha, estava vendo mais do mundo do que
nunca, do alto, agarrada às costas largas de Nink. Era uma posição
improvável para os dois, mas esteve nela a maior parte da noite e parte do
dia. O seu primeiro voo de uvak. Não foi por escolha.
As horas após a explosão na montanha não foram tão ruins assim, ela
pensou. Os membros da Audiência no julgamento fugiram para casa. Ela
fez o mesmo depois que Dazh e os seus companheiros saíram juntos,
discutindo sobre sinais e presságios.
Na manhã seguinte, no entanto, o clima da cidade havia mudado. O
distante pico de Cetajan ainda estava com fumaça, mas ficou claro que não
representava perigo para Tahv ou para as aldeias mais abaixo na bacia
hidrográfica. Era certo que todos saíssem, principalmente para o jardim da
frente de Adari, para expressar os seus sentimentos sobre as palavras infiéis
dela e a adição ardente ao horizonte que haviam causado. Os Celestiais
tinham ouvido. Que outra prova era necessária? Se os Keshiri não
conseguissem silenciar Adari Vaal, pelo menos teriam certeza de que as
suas vozes eram mais altas que a dela.
Eles estavam fazendo um bom trabalho quando Adari enviou Eulyn e as
crianças para se refugiarem na casa de seu tio. A multidão crescente, ainda
atirando pedras na casa, se separou para deixar os inocentes partirem. Mas a
multidão permaneceu firme durante a chuva da tarde, e ao pôr do sol, os
próprios Neshtovar estavam do lado de fora, com os seus uvak amarrados
em segurança longe da multidão. Quando Izri Dazh subiu os degraus para
bater na porta, Adari viu as primeiras tochas acesas lá fora.
Isso foi o bastante pra ela. As tochas poderiam ser para iluminar, mas
poderiam ser para alguma coisa pior. Ela claramente tinha excedido
qualquer proteção que uma viúva de um cavaleiro uvak tivesse. Os Keshiri
não eram violentos, mas também não tinham muita variedade em suas
sanções sociais. Julgando que aquela não parecia ser o tipo de multidão que
bane alguém, Adari se virou em desespero para o seu próprio quintal e a
parte menos apreciada de seu legado: Nink.
A sua partida sobre o telhado surpreendeu as pessoas na frente quase
tanto quanto o sucesso da manobra a surpreendeu. O uvak foi a maior
surpresa de todas. Com seu dono morto, Nink esperava nunca mais ser
montado. Os uvak aceitavam novos pilotos tão raramente que eles eram
prontamente colocados para procriar. Ao acordar com Adari tentando
escalar as suas costas musculosas, Nink poderia ter feito qualquer coisa, ido
a qualquer lugar.
Mas ele voou.
Adari passou o resto daquela noite alternadamente gritando e se
esquivando da perseguição de pilotos Neshtovar. A última façanha foi
facilitada pela insistência de Nink em subir muito além do oceano. Aqueles
foram os piores momentos para Adari, que conhecia o passado do animal.
Mas algo da parte do uvak, talvez curiosidade, o impediu de mandá-la para
o túmulo de Zhari. Pouco antes do amanhecer, Nink finalmente encontrou
um poleiro em uma montanha à beira-mar, onde Adari imediatamente
desabou de exaustão..
Talvez ela devesse ofender os Celestiais todo o ano.

Surpreendentemente, quando acordou, o uvak ainda estava lá, enchendo


o bico com a pouca folhagem que havia. Claramente, o seu lar também não
parecia mais tão atraente para Nink.
Agora, na segunda manhã desde a explosão, Adari viu que o seu voo
noturno sem direção a levara para perto da fonte de ansiedade. A
Cordilheira Cetajan era uma cadeia de golias escarpados que se desprendia
do continente, uma parte proeminente do horizonte quando vista do interior,
mas tão inacessível quanto os lugares na costa oeste. Uma expedição de
caçadores de rochas trouxe o pouco que Adari sabia do lugar, e isso exigiu
um voluntário simpático Neshtovari disposto a voar em uma missão de
recolhimento de amostras. Ao ver a montanha à sua frente, Adari foi
tomada pelo desejo de ver a verdade de perto. Se a explosão não fosse
vulcânica, poderia acertar as coisas entre ela e a comunidade. E se a
montanha fosse mesmo subitamente vulcânica, ela também estava curiosa.
Qual teria sido o processo envolvido?
Ou os estudiosos estavam errados sobre a composição da cordilheira? O
cavaleiro-uvak havia estragado a amostra?
Provavelmente foi isso. A raiva de Adari aumentou enquanto Nink
subia, confortavelmente limpando a corrente em preparação para uma
abordagem à beira-mar. Seria poético, pensou Adari, se o projeto que os
estudiosos haviam confiado a um Neshtovar tivesse resultado em
informações erradas. Amostras da Cordilheira Cetajan, coisa nenhuma, ela
pensou. O idiota provavelmente nos trouxe pedras que pegou pelo caminho!
Ela estremeceu, e não só de frio. Por que ela deveria sofrer pela colossal...
De repente, a fonte da coluna de fumaça entrou em seu campo de visão.
Adari quase caiu de Nink naquele momento. Ela meio que esperava ver
uma cratera aberta, cozinhando como os fumegantes, a fumaça realmente
foi um equívoco, ela tinha visto do sul. Em vez disso, uma enorme concha
brilhante estava em um recuo no lado da montanha virado para o mar. Essa
foi a palavra que entrou em sua mente, mesmo que a escala estivesse
completamente errada: seus cumes afiados e ondulados pareciam as
conchas antigas que ela vira retornando do fundo do mar. Mas essa concha
era do tamanho do Círculo Eterno!
E essa concha tinha fumaça, não vapor, ondulando por várias rupturas.
Ranhuras enormes arrancadas do corpo mostraram que ele havia caído em
ângulo. Os fogos lá dentro já estavam quase gastos, mas ela percebeu pela
confusão derretida que eles deviam ter sido muito maiores antes. A
explosão que produziu a fumaça visível no interior do país deve ter
acontecido exatamente quando aquilo aterrissou, ela pensou.
Aterrissou?
Antes que Adari pudesse contemplar aquilo, um movimento chamou sua
atenção. Uma das aberturas da concha vomitava alguma coisa, algo que
atingiu o cascalho abaixo e desapareceu em uma lâmina de poeira. Ela
cutucou o uvak para mais perto. Um flash de luz carmesim apareceu na
pequena nuvem, e no final...
...um homem.
O homem olhou para ela. Ele estava pálido, mais claro que o Keshiri
mais doente que ela já vira. E na mão esquerda havia um raio de luz
vermelha brilhante do tamanho da bengala de Izri.
Estava na mão dele... ou fazia parte da mão dele? Adari entrou em
pânico, e Nink concordou, saindo do caminho. Uma corrente violenta, mas
bem-vinda, puxou os dois de volta ao mar.
Adari balançou a cabeça violentamente e fechou os olhos quando Nink
encontrou um ar mais suave. O que ela viu? Tinha a forma de um homem,
sim. Cabelo, mais escuro do que qualquer Keshiri... mas depois aquela luz
vermelha. Que luz era aquela? E havia algo mais se movendo na montanha
também, algo que ela tinha visto pelo canto do olho. A concha era algum
tipo de ninho?
Ela engoliu em seco, com a garganta cheia de vento e da altitude. Foi
tudo muito macabro. Missões de recolhimento de amostra, interrogatório
Neshtovar, nenhuma de suas preocupações passadas representava alguma
coisa diante do que ela tinha visto. Abrindo os olhos, ela trouxe Nink a uma
abordagem em giro paralelo à praia irregular. A concha gigante tinha se
empoleirado perto do final de um penhasco íngreme, bem acima. Ela se
aproximaria por baixo, desta vez, subindo com cuidado até poder olhar mais
de perto.
Adari logo percebeu que o seu plano, embora razoável, era totalmente
inadequado para um piloto iniciante. Nink se esforçou contra ela, levando-a
em uma rota em espiral até o topo que retorceu o seu estômago. Tonta, lutou
para manter os olhos no topo da falésia. A figura de antes estava lá, sem a
luz vermelha brilhante. Mas estava segurando outra coisa...
Algo passou zunindo, descendo a tal velocidade que Nink retraiu as asas
com medo. Desta vez, Adari escorregou de verdade, caindo para trás.
Agitando-se, ela pegou o pé com garras do uvak com um braço, e
desesperadamente passou o outro em torno dele.
— Nink!
Ela se esforçou para olhar para cima, mas Nink estava em movimento,
voando para longe da crista e de seus estranhos acontecimentos, tão rápido
quanto suas asas de réptil podiam carregá-los. Pendurada, ela viu que Nink
estava seguindo para a segurança no poleiro de antes, além da corrente. Ele
obviamente tinha tido surpresas suficientes por um dia.
Ela também. Mas pelo menos estava se acostumando com elas.
Ou assim pensava.
Pouco antes do sol se pôr atrás do oceano ocidental, ela viu os últimos
raios de fumaça desaparecerem do topo da montanha. Adari não achou que
Nink pudesse ser persuadido a ir lá em cima novamente antes que a bolsa de
água dela acabasse. As beterrabas brekka já tinham terminado. Ela saiu tão
rápido que não tinha reabastecido a sua mochila de expedição.
Agora, sentada em uma borda e assistindo ao pôr do sol, ela desenhou
um continente invisível sobre os joelhos, imaginando até que ponto teria
que voar para chegar a qualquer povoado que não tivesse ouvido falar de
sua situação difícil. Provavelmente não havia um lugar assim. Os Neshtovar
não eram apenas os mantenedores da paz e legisladores, eles eram o sistema
de comunicações que faziam do distante continente de Keshtah um mundo.
Os cavaleiros do circuito já teriam espalhado a palavra de Tahv para os
cavaleiros mais velhos de cada aldeia. Ela havia escapado, mas a liberdade
não era libertação para ela.
Libertação.
A palavra veio no vento. Na verdade, nem era uma palavra, pelo menos
nenhuma que ela já ouvira antes. Uma combinação estranha e melódica de
sílabas que não significava nada para seus ouvidos. No entanto, sua mente a
reconheceu como um conceito familiar: libertação.
Instintivamente, ela olhou de volta para o pico misterioso, afogando-se
nas sombras. Luzes piscavam na escuridão perto da base maciça. Fogueiras,
mas não os incêndios descontrolados que deviam estar presentes no topo da
montanha. Esses fogos foram acesos.
Adari ficou de pé, perdendo a bolsa de água sobre a borda. Os
Neshtovar! Eles a caçaram até ali, acamparam e, de manhã, a encontrariam!
Eles não esperariam para descobrir o que ela viu no topo da montanha, não
quando tinha agravado o seu crime ousando voar com Nink.
Uma brisa soprava para o mar vindo da da montanha. Fresca, calmante.
Libertação, veio a palavra novamente. Outro sentimento se seguiu,
complexo e enfático: nós somos seus... e você é nossa.
Adari piscou para conter as lágrimas confusas e caminhou em direção
ao uvak adormecido. O vento aumentou novamente.
Venha até nós.

Ela estava errada ao ir ali. O céu tinha dito a ela para ir, mas aquilo não
parecia nenhum tipo de libertação que Adari conhecia.
O nariz dela se enrugou com o cheiro. O barranco estava escuro, mas
era óbvio que algo horrível tinha sido queimado ali. Mesmo os poços
sulfurosos do sul não cheiravam tão mal. Ela olhou para Nink, bocejando na
folhagem e relutante em segui-la adiante. Animal sábio.
Os fogos ativos estavam à frente, no meio das árvores sobre a colina. O
ar a acariciou enquanto se esgueirava. O que quer que estivessem
queimando, não era o que havia no barranco.
Na clareira abaixo, Adari os viu: pessoas. Tantas quanto as que estavam
em sua audiência final se reuniam em torno de várias fogueiras. Pensou
novamente nos Neshtovar a esperando. Nesse caso, a chegada dela a pé
provavelmente era melhor. Esforçou-se para distinguir as vozes deles
quando se aproximou. Reconheceu uma delas, mas não as palavras. Ela se
aproximou...
... e foi arremessada em direção a uma árvore. Adari bateu com força
contra ela, desabando sem fôlego na base. Figuras correram para ela saindo
das sombras. Lutando, ela os viu... com os seus corpos iluminados não
pelos fogos, mas por caules de energia magenta que emanavam de suas
mãos, como ela já havia visto antes. Ela tropeçou em uma raiz.
— Não!
Nunca bateu no chão. Uma força invisível a puxou através do labirinto
de figuras, depositando-a abruptamente diante da fogueira maior.
Levantando-a de costas para as chamas, ela olhou para os espectros que
avançavam. Eles eram pessoas, mas não como ela. Não roxas, mas bejes,
marrons, vermelhas e mais... todas as cores, exceto a que deveriam ter. E
alguns rostos não eram como os dela. Pequenos tentáculos balançavam em
bochechas vermelhas. Uma figura gorda e leprosa, duas vezes mais
volumosa do que o resto e com uma pele como a de Nink, estava atrás de
todos, grunhindo guturalmente.
Adari gritou... mas eles não estavam ouvindo. Eles estavam ao seu redor
agora, homem, mulher e monstro, gritando coisas sem sentido. Ela apertou
as mãos contra os ouvidos. Não adiantou. As palavras estavam passando
por seus ouvidos. Cavando a sua mente.
As alfinetadas mentais se tornaram facas. Adari cambaleou. Os
estranhos avançaram física e etereamente... empurrando, arranhando,
procurando. Ondas de imagens passaram diante dela, de seus filhos, de sua
casa, de seu povo... tudo o que era Adari, tudo o que era Kesh. Ela ainda via
as bocas se movendo, mas a cacofonia agora crescia dentro de sua cabeça.
Palavras, palavras sem sentido...
...que de alguma forma começaram a se conectar com impressões
familiares. Como na brisa anterior, as vozes eram alienígenas, mas ela podia
sentir os sons se fundindo em torno de pensamentos racionais.
— Você está aqui.
— Há outros. Há outros.
— Traga-os aqui.
— Leve-nos lá!
— Traga-os aqui!
Adari girou, ou tudo o que Kesh o fez. Acima dela, o grupo se dividiu
para uma nova chegada. Era uma mulher de pele mais escura que a dos
outros. Ela segurava um bebê enrolado em um pano vermelho. Mãe, Adari
pensou contra o ataque clamoroso. Um sinal de esperança. Misericórdia.
— TRAGA-OS AQUI, TRAGA-OS AQUI, TRAGA-OS AQUI!
Adari gritou, se contorcendo contra as garras invisíveis que a atacavam.
Os outros estavam se segurando. A mulher com o filho, não. Adari
cambaleou. Ela pensou ter visto as asas com veias de Nink, voando acima e
além.
Uma mão apareceu no ombro da mãe, puxando-a para trás. O barulho
desapareceu da mente de Adari. Ela olhou para cima e viu... Zhari Vaal?
Não, ela percebeu, enquanto seus olhos chorosos se focavam. Outra
figura estranhamente vestida, mas baixa e atarracada como seu marido.
Uma vez ela imaginara Zhari no fundo do mar, com sua rica cor lilás
drenada. Esse homem estava ainda mais pálido, mas seu cabelo escuro e
olhos castanhos avermelhados davam a ele um olhar confiante e atraente.
Ela já o vira antes, na montanha. Ela já o ouvira antes, no vento.
— Korsin. — ele disse, ao mesmo tempo na mente dela e com uma voz
tão suave quanto a de seu avô. Ele apontou para si mesmo. — Eu sou
chamado de Korsin.
A escuridão se fechou ao seu redor.
N o terceiro dia
conversar.
entre os recém-chegados, Adari aprendeu a

Ela passou o primeiro dia inteiro após o terrível encontro dormindo, se


esse era o termo certo para um sono febril e cheio de pesadelos,
interrompido por breves períodos de delírio. Várias vezes, ela abriu os olhos
apenas para fechá-los rapidamente ao ver os estranhos pairando ao seu
redor.
Mas eles estavam cuidando dela, não a perseguindo, como havia
percebido na segunda manhã, quando despertou entre um cobertor
impossivelmente macio e o chão áspero. Os recém-chegados haviam
encontrado um local seco e isolado para ela, com várias figuras sentadas em
vigília. Adari bebeu a água que eles ofereceram, mas ela não restaurou asua
voz. A sua cabeça ainda martelava, a sua mente estava machucada pelo
ataque anterior. Nenhuma palavra de seu vocabulário veio quando chamada.
Ela tinha esquecido como falar.
Korsin estava sentado com ela quando finalmente se lembrou. Ele
chamou Hestus, uma figura cor de ferrugem que usava uma máscara
brilhante cobrindo parte do rosto cheio de cicatrizes de ácido. Quase parecia
que fazia parte do rosto dele, vários pedaços escondidos sob a pele. Adari se
encolheu de medo, mas Hestus simplesmente se sentou com calma, ouvindo
Korsin tentar falar com ela.
E eles conversaram. De modo desajeitado, a princípio, com Hestus
ocasionalmente repetindo uma nova palavra Keshiri que ela havia dito,
seguida pelo equivalente em seu próprio idioma. Adari ficou maravilhada.
As palavras Keshiri que Hestus falava soavam exatamente como o que ela
tinha dito, em sua própria voz, até. Korsin havia explicado que o “ouvido
especial” de Hestus lhe dava esse talento, que ajudava a acelerar o
intercâmbio de informações.
Adari estava interessada nessa troca, mas a maioria das informações
tinha sido na outra direção. Ela concluiu que as pessoas que Korsin liderava
tinham realmente vindo da concha de prata e que de alguma forma caíram
do céu. Também ficou claro que, por mais poderosos que fossem, não
tinham como sair da montanha agora, pois estavam isolados pela água e por
terrenos proibidos. Korsin ouvira com interesse enquanto ela falava sobre
Kesh e os Keshiri, dos uvak e aldeias no continente. Ela mencionou os
Celestiais apenas uma vez, antes de parar quase com vergonha. Ela não
sabia quem eram os recém-chegados, mas sentiu-se envergonhada de
mencionar.
Agora, na terceira tarde desde a chegada dela, Adari estava conversando
confortavelmente com os recém-chegados, e até havia aprendido algumas
palavras na própria língua deles sozinha. Eles eram algo chamado "Sith", e
Korsin era "humano". Ela repetiu as palavras.
— Você é uma boa ouvinte. — disse Korsin, encorajando-a. Ele disse
que outros tinham trabalhado com ela enquanto dormia, para tentar
melhorar as comunicações, só não disse como. Agora eles estavam
progredindo rapidamente, e não era mérito apenas deles. Mesmo exausta,
Adari permanecia afiada.
— Nossa preocupação imediata, Adari Vaal. — Korsin disse,
esvaziando uma bolsa brilhante de pó em um copo para ela. — é como
chegar ao continente. — Não havia comida ou abrigo suficiente para o povo
dele aqui, e a montanha era pura queda para o mar abaixo. O uvak poderia
ter fornecido uma saída para alguém, mas Nink, que estava com tanto medo
dos recém-chegados quanto da vida selvagem nativa da montanha, passara
os últimos dias longe do alcance, no alto.
Bebendo o caldo, que apenas a satisfazia, não muito diferente do
ensopado de sua mãe, ela pensou, Adari considerou o problema. Nink
poderia vir quando ela chamasse, mas apenas se ela estivesse ao ar livre,
sozinha. Ela poderia voar e retornar com ajuda.
— Mas eu não poderia levar outros cavaleiros. — Nink poderia não
aparecer se ela estivesse acompanhada, e um cavaleiro novato nunca
poderia transportar um passageiro de qualquer forma. — Eu teria que ir
sozinha. Mas voltaria assim que pudesse.
— Ela não vai voltar!
Adari conheceu a voz antes mesmo de olhar para cima. A gritadora. A
mãe da criança pequena avançou em direção à fogueira ardente.
— Ela vai nos abandonar!
Korsin se levantou e levou a mulher para o lado. Adari ouviu palavras
acaloradas serem trocadas, palavras desconhecidas. Mas, ao afastar a
mulher, ele falou palavras que Adari reconheceu:
— Nós somos a libertação dela, e ela é a nossa.
Adari observou a mulher, ainda a encarando de longe.
— Ela não gosta de mim.
— Seelah? — Korsin encolheu os ombros. — Ela está preocupada com
o companheiro dela, que foi perdido no local do acidente. E com uma
criança, ela está ansiosa para deixar esta montanha. — Ele sorriu,
oferecendo-se para ajudar Adari a ficar de pé. — Como mãe, tenho certeza
que você entende.
Adari engoliu em seco. Não havia mencionado os seus filhos. Mal tinha
pensado neles desde que tinha encontrado os recém-chegados, ela percebeu.
Balançando a cabeça com culpa, ela revelou outra coisa: que os Keshiri
talvez não a escutassem.
Korsin não parecia surpreso, e estava tranquilo.
— Você é inteligente, Adari. Você os fará ouvir. — Ele gentilmente
envolveu os ombros dela com o cobertor azul com o qual ela dormia no
chão. — Fique com isso. O sol estará se pondo em breve. Pode ser um
passeio frio.
Adari olhou em volta. Seelah permaneceu em silenciosa fúria, imóvel.
Os outros que Korsin havia apresentado olhavam nervosamente para o líder;
Ravilan, o do tentáculo vermelho, trocou um olhar preocupado com Hestus.
Até o grandalhão Gloyd, que, apesar de sua aparência brutal era claramente
o maior aliado de Korsin ali, mudou de posição desconfortavelmente. Mas
ninguém a impediu de deixar o acampamento.
Quando uma mão forte a deteve na beira da clareira, ela ficou surpresa
ao ver que era de Korsin.
— Sobre os Keshiri. Você nos contou que Tahv, a sua cidade, parece ter
um bom tamanho. Mas quantos são os Keshiri? Quantos Keshiri existem no
total, quero dizer?
Adari respondeu imediatamente.
— Nós somos incontáveis..
— Ah. — Korsin disse, suavizando a postura. — Você quer dizer que
eles nunca foram contados.
— Não. — Adari disse. — Quero dizer que não temos um número que
seja tão grande.
Korsin congelou, apertando o braço dela com força. Os seus olhos
escuros, um pouco menores que os dos Keshiri, focavam no deserto além.
Ela nunca o viu nervoso. Se estava, durou menos de um segundo antes que
ele recuasse.
— Antes de você ir embora. — ele disse, encontrando uma árvore na
qual se apoiar. — me diga o que sabe sobre os Celestiais.

Korsin chamava a nave em que chegou de Presságio. A palavra não só


existia na língua Keshiri, como era a favorita de longa data dos Neshtovar.
Observando o que estava acontecendo agora na praça conhecida como
Círculo Eterno, Adari imaginou que até os chefes dos cavaleiros de uvak
estavam percebendo a ironia.
Retornou a Korsin depois de um único dia, uma semana inteira depois
que a Presságio colidiu com a montanha, e com a vida dela. Tinha sido fácil
para ela atrair os cavaleiros de uvak lá; assim que as patrulhas a viram com
Nink, a seguiram todo o caminho até a cordilheira de Cetajan. O local havia
sido palco de várias surpresas nos últimos tempos, mas nenhuma superou o
momento em que os Neshtovar encontraram Adari parada desafiadoramente
entre 240 visitantes vindos do alto a apoiando, quase todos sinalizando a
sua presença com um sabre de luz rubi brilhante. Não tinha um dos
dispositivos estranhos, mas brilhava da mesma forma por dentro. Adari
Vaal, a colecionadora de pedras e inimiga da ordem, era agora Adari Vaal,
descobridora e salvadora; atendedora do chamado da montanha.
Acrescente “profeta” a isso, ela pensou enquanto observava a dúzia de
visitantes, alguns mancando por sua provação, entrar no Círculo Eterno.
Passaram entre multidões silenciosas de Keshiri, muitas das mesmas
pessoas que estavam na porta dela na semana anterior. À frente do Círculo,
todos os Neshtovar da região estavam presentes, mais do que ela já vira.
Três dias de operações de resgate aéreo haviam tirado os recém-chegados
da montanha, dias nos quais a notícia havia se espalhado pelo interior.
Os Celestiais tinham chegado a Kesh.
Nenhuma razão menor poderia explicar porque os cavaleiros de Keshiri
assumiram as suas posições não no próprio Círculo Eterno, mas ao longo do
perímetro elevado. Os aldeões tinham assistido à audição de Adari dali;
agora os Neshtovar a observavam no círculo, marchando atrás de Korsin.
Atrás deles, os visitantes entraram, formando o seu próprio perímetro
interior, sobre o qual os Neshtovar se esforçavam para ver.
Izri Dazh parecia pequeno, parado embaixo da coluna três vezes mais
alta, que servia como o gnômon do relógio de sol. Normalmente, isso o
fazia parecer maior. Hoje não. Ele mancou e cumprimentou Korsin e
companhia com palavras de louvor antes de se virar para o público.
Esforçando-se para ver por sobre a fila de visitantes, Izri oficializou a
declaração. Estes eram os Celestiais, ele disse, descidos da mesma
montanha da qual seus servos haviam trazido a lei séculos antes. Não era a
mesma montanha, Adari sabia; talvez os textos fossem mudados mais tarde.
Mas Izri ignorou esse detalhe por enquanto. Os visitantes tinham revelado
suas identidades para a satisfação de todos os Neshtovar, ele disse.
— Você não acreditou neles quando levitaram a sua bengala. —
sussurrou Adari, incapaz de resistir.
— Isso acabou quando eles me levitaram. — Izri murmurou, baixinho.
Ele se virou para ver os aldeões aplaudindo, não sua proclamação, mas Yaru
Korsin, Grande Lorde dos Celestiais, que havia acabado de saltar
fisicamente a distância para o topo da coluna.
Quando os aplausos finalmente cessaram, Korsin falou nas palavras
Keshiri que a sua interlocutora, a honrada Adari Vaal, Filha dos Celestiais,
havia lhe ensinado naquela manhã.
— Nós viemos de cima, como vocês dizem. — ele disse, a voz grave
chegando a todos. — Viemos visitar a terra que era um pedaço de nós e o
povo dessa terra. E Kesh nos recebeu.
Mais aplausos.
— Vamos encontrar... um templo no topo da montanha da descoberta.
— ele continuou. — Nós passaremos muitos meses trabalhando lá,
cuidando da embarcação que nos trouxe e comungando com os céus. E
durante esse tempo, vamos morar aqui em Tahv, com nossos filhos,
ajudados pelos Neshtovar, que foram bons servos aqui na nossa ausência.
Eles vão sair daqui hoje, voando a todos os cantos de Kesh, para espalhar a
notícia de nossa chegada e encontrar os artesãos de que precisamos. — Ele
falou sob aplausos. — Nós somos os Celestiais, e nós iremos voltar para as
estrelas!
Caos feliz. O filho mais novo de Adari, Tona, se agitou contra ela. Ela
espiou a sua mãe e Finn que estavam em um lugar de honra nos arredores
do Círculo, sorrindo alegremente. Adari olhou para Korsin e engoliu em
seco.
Foi tudo tão perfeito.
E tudo tão errado.
O clima de êxtase dos Keshiri durou até o Dia da
Mudança. Os Celestiais tinham sido alojados nas belas casas dos Neshtovar
enquanto os cavaleiros espalhavam a notícia. Quando os Neshtovar
retornaram um a um, os seus convidados declararam uniformemente a sua
preferência por permanecer nas acomodações relativamente suntuosas.
Depois que o sexto cavaleiro apelou a Izri, o ancião declarou que todos os
cavaleiros deveriam mudar as suas famílias para casas mais humildes, para
que os Celestiais pudessem conhecer a devoção deles. Korsin e Seelah
estavam morando na casa de Izri desde o primeiro dia.
Todos se mudaram, menos Adari. Por seu serviço aos Celestiais, ela foi
autorizada a permanecer na casa de Zhari. Isso também a manteve perto de
Korsin, a quem via diariamente em seu papel informal de embaixadora e
assessora. Ela via todos os Celestiais proeminentes com frequência: Gloyd,
áspero mas amável, que era algo chamado Houk; Hestus, ocupado
indexando o vocabulário Keshiri; e Ravilan cor de ferrugem, que muitas
vezes parecia perdido, uma minoria dentro de uma minoria. Ela também via
Seelah, que havia se instalado nos luxuosos alojamentos de Korsin. Adari
aprendeu que o filho de Seelah era sobrinho de Korsin.
Seelah sempre encarava Adari quando estava perto de Korsin. Incluindo
hoje, que Adari estava com ele em uma escavação na beira da Cordilheira
Cetajan, à vista do oceano para o qual ela tinha fugido um mês antes. Os
Celestiais precisavam de estruturas para estabilizar e proteger a Presságio,
mas primeiro precisavam de uma passagem limpa por terra para a
península. Uma rota estava tomando forma com os Celestiais, cujo número
incluía muitos mineiros, cortando enormes pedaços de camadas com seus
sabres de luz.
— Os sabres farão melhor quando recuperarmos alguns dos cristais
Lignan para alimentá-los. — disse Gloyd. Korsin presenteou Adari com
uma amostra de rocha. Granito. Os esforços não eram para ela, é claro, mas
ela sempre se perguntara do que as montanhas eram feitas. Agora ela sabia.
— Você estava certa, afinal. — Korsin disse, observando-a estudar a
pedra. Ela não mencionara seu conflito com os Neshtovar, mas estava
ansiosa por confirmar suas teorias com alguém que sabia. Vulcões podiam
formar novas terras. E as montanhas da cordilheira de Cetajan não eram
vulcões, embora o granito proviesse do magma, como disseram a ela, ele
tinha sido formado no subsolo ao longo de eras. Era por isso que as suas
rochas pareciam diferentes das pedras de fogo. — Eu não entendo metade
do que os meus mineiros me dizem. — disse Korsin. — mas eles dizem que
você poderia ajudá-los facilmente, se já não estivesse me ajudando.
Korsin começou a conversar com Gloyd sobre o seu próximo projeto,
uma escavação para encontrar metais necessários para reparar a Presságio.
Adari começou a intervir quando viu Seelah orbitando. Adari estremeceu
quando a mulher sumiu de vista. O que Adari tinha feito para ganhar tanto
ódio?
Ela não está olhando para mim, Adari percebeu. Ela está olhando para
Korsin.
— Eu vi você. — Adari deixou escapar para Korsin.
— O que?
— Eu vi você uma segunda vez na montanha, naquele dia. Você jogou
algo além da beirada.
Korsin se afastou de seu trabalho. Ele gesticulou, e Gloyd se afastou.
— Eu vi você jogar alguma coisa. — disse Adari, engolindo. Ela olhou
para o oceano, batendo contra os penhascos. — Eu não sabia o que era, até
que você me enviou de volta para a vila. — Korsin deu um passo cauteloso
na direção dela. Adari não conseguia parar de falar. — Eu voei até lá,
Korsin. Eu o vi lá embaixo, nas rochas. Era um homem como você.
— Como eu? — Korsin bufou. — Ele... ele ainda está lá?
Ela balançou a cabeça.
— Virei-o para olhar para ele. — ela disse. — A maré o levou.
Korsin tinha a altura dela, mas quando ela se encolheu, ele assomou
— Você viu aquilo... e ainda assim trouxe os Neshtovar para nos
encontrar.
Adari congelou, incapaz de responder. Ela olhou para as rochas, bem
abaixo, tão parecidas com as do outro lado da cordilheira. Korsin a alcançou
como tinha feito antes...
...e recuou. A sua voz suavizou.
— Seu povo se voltou contra você para proteger a sociedade deles. Você
era um perigo?
Como ele sabia? Adari olhou para Korsin. Ele parecia cada vez menos
com Zhari
— Eu acreditava em algo que eles não acreditavam.
Korsin sorriu e pegou a mão dela gentilmente.
— É uma luta com a qual o meu povo está familiarizado. Aquele
homem que você viu, ele era um perigo para a nossa sociedade.
— Mas ele era o seu irmão.
O aperto de Korsin aumentou por um momento antes dele se soltar
completamente.
— Você é mesmo uma boa ouvinte. — ele disse, endireitando-se. O fato
não teria sido difícil de aprender. — Sim, ele era o meu irmão. Mas ele era
um perigo, e tínhamos perigos suficientes quando você nos encontrou. —
Ele olhou profundamente nos olhos dela. — E acho que isso é algo que
você conhece, Adari. Aquele mesmo mar também tirou alguém de você.
Não é?
A boca de Adari se abriu. Como? Zhari tinha morrido ali, mas os
Neshtovar nunca teriam contado a Korsin. Falar da queda de um cavaleiro
era o maior tabu deles: a queda tinha sido reivindicada pelo Outro Lado.
Ninguém a tinha visto acontecer, exceto Nink... e o Celestial que tudo vê.
Korsin era um leitor de mentes ou era quem ele dizia ser. As palavras
dela mal saíram.
— Isso... não é a mesma coisa. Você empurrou aquele homem. Não tive
nada a ver com o que aconteceu com o meu...
— Claro que não teve. Acidentes acontecem. Mas você não se importa
que ele tenha morrido. — ele disse. — Eu posso ver isso em você, Adari.
Ele era um perigo para você... para a pessoa que você está se tornando. —
As sobrancelhas espessas de Korsin se ergueram. — Você está feliz que ele
se foi.
Adari fechou os olhos. Colocando o braço em volta do ombro dela,
Korsin a virou na direção do sol.
— Está tudo bem, Adari. Entre os Sith, não há vergonha nisso. Você
nunca seria o que é hoje, com ele te mantendo no chão. Assim como você
nunca seria o que você vai se tornar com Izri Dazh mantendo você no chão.
Com a menção do nome, os olhos de Adari se abriram. A luz do sol a
incomodou, mas Korsin não a deixou se virar.
— Você estava com medo de nós. — ele disse. — e estava com medo
quando viu o corpo. Você sabia que morreríamos na montanha se não
trouxesse ajuda. No entanto, você trouxe os Neshtovar de qualquer forma,
porque pensou que poderíamos ajudá-la contra eles.
Ele a soltou. Adari olhou inexpressivamente para o sol por mais um
momento antes de desviar o olhar. Atrás dela, Korsin falou nos tons suaves
que ele tinha usado quando sua voz a alcançou pelo vento.
— Ajudar-nos a interagir com os Keshiri não é apenas ajudar-nos,
Adari. Você aprenderá coisas sobre o seu mundo que nunca imaginou. —
Ele virou a pedra na mão dela. — Não sei quanto tempo vamos ficar aqui,
mas prometo que você aprenderá mais nos próximos meses do que em toda
a sua vida. Do que qualquer Keshiri aprendeu.
Adari tremeu.
— O que... o que você...
— Uma coisa simples. Esqueça o que viu naquele dia.

Korsin cumpriu a palavra. Nos primeiros meses dela com os Celestiais,


Adari aprendeu muito sobre o seu lar. Mas ela também aprendeu algumas
coisas sobre de onde eles vieram e quem eles eram. Ela era uma boa
ouvinte. Por coisas simples, conhecemos o mundo.
Os Sith de Korsin eram os seres do alto que ela negava, mas eles não
eram os deuses da lenda dos Keshiri. Não exatamente. Eles tinham poderes
surpreendentes, e talvez tivessem vindo das estrelas. Mas eles não
sangravam areia e não eram perfeitos. Eles discutiam. Eles sentiam inveja.
Eles matavam.
Os Sith liam mentes, até certo ponto. Korsin tinha usado isso para pedir
ajuda depois de vê-la no ar. Mas eles não eram oniscientes. Ela descobriu
isso com um experimento simples e furtivo, envolvendo Ravilan. Sugeriu
que ele visitasse um restaurante no bairro mais movimentado de Tahv. Ele
foi, e se perdeu no mesmo bairro em que ela sempre se perdia. Os poderes
perceptivos dos Sith eram incríveis, mas ainda exigiam conhecimento
preciso dos outros.
Procurou fornecer isso, acompanhando Korsin a muitos locais de
trabalho, empregando principalmente trabalhadores jovens dos Keshiri. Os
Celestiais eram perfeitos o suficiente para os Keshiri, e perfeitos o
suficiente para ela. Yaru Korsin estava tão acima de Zhari Vaal no intelecto
quanto estava acima das rochas, e desde que aprendesse a evitar os olhos de
Seelah, outra viúva de um homem caído, ela poderia esperar aprender muito
mais.
Ao mesmo tempo em que o seu conhecimento avançava, a fé de Izri era
ainda mais glorificada. Adari sentiu pouca alegria nisso, além da risada
ocasional que dava por ter um papel mais famoso do que Izri. Ela era a
Descobridora, e sempre seria lembrada pela sociedade Keshiri. Ninguém se
lembraria de Izri.
Observando outra pedreira sendo construída, ela se perguntou como
seria a sociedade. Sabia algo que os Sith não sabiam: eles ficariam ali por
um longo tempo. Mencionou isso uma vez a um mineiro, que prontamente
desconsiderou como sendo um conselho dos ignorantes locais.
Mas sabia. Os metais que os Sith procuravam não estavam no solo de
Kesh. Os estudiosos vasculharam todas as partes do continente. Eles
registraram o que encontraram. Se as substâncias que o pessoal de Korsin
procurava se escondessem mais abaixo da superfície, levaria tempo para
encontrá-las... muito mais tempo.
Tempo, os Sith tinham.
O que, ela se perguntou, os Keshiri teriam?
INTRODUÇÃO
A Tribo Perdida dos Sith: Paragon se passa no ano 4.985 ABY, quinze anos após os eventos de
Precipício, o primeiro livro da série A Tribo Perdida dos Sith. Esta curta história é contada do ponto
de vista de Seelah Korsin, a esposa do falecido Devore Korsin, que é irmão de Yaru Korsin, o
fundador da Tribo Perdida dos Sith. Após sua pacífica tomada de Tahv em 5.000 ABY, a Tribo
Perdida suplantou os Neshtovar como a nova elite governante do planeta Kesh, alegando serem os
Celestiais, deuses divinos na religião Keshiri. Seelah se casou com o irmão de seu falecido marido,
Yaru, e tem um filho e uma filha. Os esforços dos Siths para consertar a nave Presságio e retornar às
estrelas não tiveram sucesso devido à quebra de maquinário, falta de peças sobressalentes e falta de
metal no planeta. A atmosfera eletromagnética de Kesh também estava interferindo no equipamento
elétrico dos Sith. Os Sith também tentaram pesquisar nas histórias orais dos Keshiri por quaisquer
referências a visitantes de outros mundos, mas não conseguiram encontrar nada útil além das lendas
dos Celestiais e dos do Outro Lado ou Destruidores.
A água estava tão quente quanto todos os dias, escorrendo
da fenda de mármore no alto da parede até o corpo de Seelah. Não havia
refrigeração, nem conveniências modernas para os Sith que estavam presos
em Kesh há quinze anos-padrão. Mas eles aprenderam a viver com o que
tinham.
As gotas brilhantes de água que se agarravam à sua pele marrom vieram
de uma geleira a meio continente de distância. Os cavaleiros de uvak
Keshiri, com os seus animais carregados de barris enormes, transportavam a
água daquele lugar distante para o refúgio na montanha dos Sith. Os
atendentes da cobertura aqueciam a água de acordo com as suas
especificações exatas, canalizando-a todos os dias através de um sistema
completamente limpo de bolor e outros poluentes.
Lá embaixo, Seelah meticulosamente esfregava o seu pulso com pedra-
pomes trazida do pé do Pináculo Sessal, a quilômetros de distância. Os
artistas Keshiri esculpiram as pedras em formas agradáveis para ela. Os
nativos estavam mais interessados na aparência do que na função, mas,
nisso, eles tinham uma aliada. Seelah olhou com o seu desdém habitual para
a barraca, construída para seu uso pessoal por seus confrades Sith
imediatamente depois de se mudar para os aposentos do Capitão Korsin. O
lugar era mais um templo do que um lar.
Bem, ela não podia ter tudo. Não ali.
Quinze anos. Também era assim no calendário Keshiri, embora quem
pudesse confiar nele? Ela saiu pingando do chuveiro, imaginando quanto
tempo havia passado. Não para o corpo dela, que ela viu no espelho
colossal, trabalhos com vidro eram outra coisa em que os Keshiri eram
bons. Duas vezes mãe e vivendo de alimentos adequados para animais de
fazenda, no entanto, Seelah parecia mais em forma do que nunca. Dera
trabalho. Mas tempo era uma coisa que ela tinha.
— Eu sei que você está aqui, Tilden. — Seelah disse. Tilden Kaah, o
seu atendente Keshiri, sempre ficava além da vista do espelho, nunca
lembrando que ela podia senti-lo através da Força. Agora ele estava na
porta, desviando os grandes olhos de opala e apresentando uma túnica nas
mãos trêmulas.
Quinze anos também não o mudaram, pensou Seelah com uma risada
silenciosa enquanto pegava o roupão. Mas por que ele não deveria olhar?
Toda aquela pele roxa monótona; chamá-la de lavanda era bajulação. E
cabelos brancos, a cor da idade e da inutilidade. Se os Keshiri já haviam
achado outros Keshiri lindos antes, era só porque eles ainda não tinham
visto os Sith.
Além disso, o trabalho de Tilden era adorá-la. Um dos Altos Sacerdotes
mais jovens da fé Keshiri, que reconheceu Seelah e seus companheiros Sith
como divindades antigas dos céus, Tilden vivia para segui-la a todos os
lugares. Ela gostava de torturá-lo assim de manhã. Ela era o seu sacrilégio
matinal.
— O seu filho está caçando com os cavaleiros até hoje à noite. — ele
informou. — A sua filha está em Tahv com os educadores que o seu povo
enviou.
— Tudo bem, tudo bem. — ela disse, descartando o vestido que ele
exibia em favor de um mais brilhante. — Chegue a algo importante.
— A senhora é esperada na enfermaria hoje à tarde para as revisões. —
ele disse, erguendo os olhos do pergaminho. Encontrando-a completamente
vestida e em pé diante da grande janela, ele sorriu gentilmente. — Fora isso,
você está livre.
— E o Grande Lorde?
— A sua Eminência, o nosso salvador do alto, iniciou as suas reuniões
com seus conselheiros. As pessoas de sempre, nascidas no alto como a
senhora. O amigo gigante dele também está lá. Ele olhou para as anotações.
— Ah, e o homem carmesim pediu uma audiência.
— Homem Carmesim? — O olhar de Seelah permaneceu no oceano
espumante abaixo. — Ravilan?
— Sim, senhora.
— Então eu devo ir. — Seelah se espreguiçou com força antes de se
virar abruptamente para procurar os sapatos. Tilden os tinha. Eles foram os
únicos artigos de vestuário resgatados do acidente da Presságio que ela
continuava a usar. Os Keshiri ainda não haviam descoberto calçados
decentes.
— Eu... eu não pretendia transformar isso em um dia útil tão cedo. —
gaguejou Tilden, apertando os sapatos. — Me perdoe. Você terminou de
tomar banho? Eu poderia fazer com que os seguranças reciclassem a água.
— Relaxe, Tilden, eu quero sair. — ela disse, prendendo o cabelo
escuro com um clipe de osso esculpido, um presente de algum nobre local o
qual não conseguia se lembrar. Ela parou na porta polida. — Mas peça à
equipe que intensifique as entregas de água, e peça que as tragam do outro
lado da cordilheira. A de lá é melhor para a pele.

Seelah bocejou. O sol nem estava alto e a pantomima diária já estava


bem encaminhada. O Capitão Yaru Korsin, o salvador do alto do povo
Keshiri, estava sentado em sua velha cadeira de ponte, ouvindo como
costumava fazer no convés de comando da Presságio. Mas agora os
destroços quebrados da nave jaziam atrás dele, abrigados em uma parte da
estrutura robusta que não era usada para habitação, e a sua cadeira
desgastada estava incongruentemente caída no meio de uma colunata
marmorizada, que se estendia por centenas de metros. Ali, no alto das
Montanhas Takara, recentemente renomeada para homenagear a preciosa
mãe dele, onde quer que no inferno ela estivesse, Korsin presidia a corte.
A arquitetura e a localização eram um bom show para os Keshiri
habitantes da cidade que ocasionalmente voavam para lá. Estava de acordo
com o design. Mas também era grande o suficiente para acomodar todos os
suplicantes tolos que Korsin queria colocar em seu dia. Seelah viu Gloyd, o
artilheiro, o "amigo gigante de Korsin", na frente da fila, como sempre.
As bochechas do Houk de cabeça grumosa tremeram quando ele
apresentou sua última ideia maluca: usar um dos lasers chatos sobreviventes
que ainda tinham carga para disparar sinais no espaço. Chato parecia a
palavra certa para Seelah, e Korsin também não parecia encantado. Quanto
tempo Gloyd devia estar tagarelando antes dela chegar?
— Vai funcionar desta vez. — disse Gloyd, suando a pele manchada. —
Tudo o que precisamos fazer é chamar a atenção de um cargueiro que
estiver passando. Um observatório. Qualquer coisa.. — Ele limpou a testa.
Seelah nunca achou que a loteria genética tivesse sido gentil com os Houks
para começar. Mas agora parecia que a idade e o sol estavam fazendo com
que a pele de Gloyd derretesse de seu crânio.
— A intensidade se dissipará no inverso do quadrado da distância de
Kesh. — veio uma voz humana de trás de Korsin. Parrah, o navegador
auxiliar da Presságio e agora o seu principal consultor científico, deu um
passo à frente. — Seria apenas mais ruído de fundo cósmico. Eles não te
ensinaram nada de onde você veio?
Provavelmente não, Seelah pensou. Gloyd era um náufrago antes
mesmo de se juntar à tripulação da Presságio. Enquanto outros forasteiros
evitavam a Caldeira Stygian, a equipe de bandidos de Gloyd imaginou que
algo realmente surpreendente deveria estar lá. Havia: o Império Sith.
Poucos companheiros de Gloyd haviam sobrevivido à descoberta. Mas
como artilheiro e soldado de infantaria, ele havia combatido os Jedi várias
vezes em sua vida anterior, tornando-o útil para Naga Sadow e, mais tarde,
para Yaru Korsin.
Mas ultimamente? Não muito.
— Acho que não vai dar certo, velho amigo. — disse Korsin, espiando
Seelah pelo canto do olho e piscando. — E simplesmente não podemos
correr o risco de esgotar mais equipamentos. Você conhece o placar.
Todos eles conheciam. Mesmo quando construíram o abrigo de pedra na
Presságio nos meses seguintes ao acidente, a tripulação trouxe
equipamentos constantemente. Alguns esperavam restaurar a vida com
algumas peças fabricadas; o resto foi imediatamente utilizado. E usado.
Isso tinha sido um erro. Aconteceu que eles não haviam encontrado
nenhum metal em Kesh. Os Sith rasgaram e arranharam a superfície,
gastando a maior parte de suas munições sobreviventes sem sucesso. Em
cima, Kesh era agradável aos olhos, mas em baixo, parecia pouco mais que
uma bola de terra. Muitos equipamentos que funcionavam com energia
interna pulverizaram e ficaram inúteis. Pior, algo no campo eletromagnético
de Kesh estava bagunçando tudo, desde ondas de rádio até a geração
elétrica. Os sabres de luz ainda funcionavam, graças aos cristais Lignan,
mas os náufragos, intrépidos enquanto canibalizavam, não foram capazes de
reinventar tudo. As ferramentas simplesmente não estavam ali.
— Entendi. — disse Gloyd, não parecendo tão alto quanto antes. —
Você me conhece. Eu fui feito para a batalha. Este paraíso pacífico está me
afetando...
— Eu sei de algo com o que você pode lutar. — disse Seelah, sua túnica
brilhando quando ela se aproximou e passou o braço em volta de Korsin. —
Acho que os vi preparando o almoço no salão principal. — Korsin sorriu.
Gloyd olhou para o casal por um momento antes de relaxar com uma
risada agitada.
— O que posso dizer? — Ele perguntou, dando um tapinha na barriga e
se virando. — A senhora me conhece.
Korsin olhou além da carcaça do brutamontes em retirada e viu outra
figura.
— Ravilan! Qual é o seu próximo grande plano para nos tirar dessa
pedra?
— Nada nesse sentido. — Ravilan respondeu. O homem carmesim da
descrição de Tilden deu um passo à frente e encarou o seu líder de modo
cortês. — Hoje não.
— Sério? Bem, todos nós estamos envelhecendo. A mente esquece.
— Não essa aqui, Capitão. — Ravilan passou o dedo pela gavinha da
bochecha direita, uma expressão de consideração entre os Sith Vermelhos.
Isso fez a pele de Seelah se arrepiar. Ela agarrou Korsin com mais força.
Outrora intendente do complemento da Presságio de guerreiros Massassi,
Ravilan ficou sem missão depois que as suas tropas morreram nos primeiros
dias em Kesh. Desde então, ele realizou uma sequência de trabalhos
estranhos. Mais importante, ele se tornara o porta-voz dos Cinquenta e Sete,
os tripulantes sobreviventes cujas linhagens de sangue para as espécies Sith
de pele vermelha eram mais verdadeiras, e para aqueles que, como Gloyd,
estavam menos interessados em viver em Kesh do que em sair dele.
Mas a porção de Ravilan havia se tornado cada vez mais sombria. O seu
povo não contava mais cinquenta e sete desde a chegada deles. Uma dúzia
tombou devido a acidentes ou incompetência profissional, e nenhum dos
filhos do povo de Ravilan viveu além de um dia. Kesh não tinha sido gentil
em igual medida com todos os seus convidados. Quanto aos motivos para
querer ir embora, os dele eram bastante fortes.
Mas, aparentemente eles não o tinham trazido hoje perante Korsin.
— Há algo mais. — disse Ravilan, olhando para Seelah. — As pessoas
a serviço da sua... sua esposa estão tentando documentar as ascendências de
toda a nossa equipe. Elas se tornaram bastante insistentes. — ele
acrescentou, levantando uma sobrancelha.
Sentindo a pressão de Seelah aumentar ainda mais, Korsin se levantou.
— O seu pessoal não precisa se preocupar com isso, Rav. Apenas a
tripulação humana.
— Sim, mas muitos de nós temos pelo menos um pouco de sangue
humano. — disse Ravilan, caminhando ao longo da colunata com Korsin. A
multidão se separou; Seelah passou cautelosamente para trás. — E muitos
do seu pessoal têm um pouco do nosso. A fusão da linhagem dos Jedi
Sombrio com a dos meus antepassados Sith é um motivo de orgulho para o
meu... para o nosso povo, Korsin. Ter alguém separando-o...
Korsin continuou andando, apreciando a vista do oceano. Os fios de
prata em seus cabelos brilhavam ao sol. Seelah acelerou o passo para se
aproximar.
— Esse ainda é um planeta estrangeiro. — disse Korsin. — Nós não
sabemos o que matou os seus Massassi quando pousamos. Não sabemos o
que está acontecendo... bem, você sabe.
— Certamente eu entendo. — disse Ravilan, olhando para o oceano sem
parecer vê-lo. Sua coloração havia desbotado para um tom marrom escuro
em seu tempo em Kesh, e seus brincos e outros ornamentos Sithly serviam
apenas para fazer o homem embaixo deles parecer mais monótono. — Este
é um mundo movido pela tragédia, Korsin. Para todos nós. Se você
aceitasse uma das minhas pessoas na creche como parteira, poderíamos
entender melhor por que nossos filhos estão...
— Não! — Seelah disse, interpondo-se entre os dois. — Eles não são
médicos, Korsin. Em condições como essas, temos que ter algum controle!
Ravilan recuou.
— Não foi um pouco, Seelah. A sua equipe se saiu muito bem desde
que a nossa missão se tornou... de natureza geracional. Os Sith prosperam.
— Seu rosto, enrugado pela idade e preocupação, suavizou-se. — Deveria
ser assim para todos os Sith.
Seelah olhou urgentemente para Korsin, que acenou com a mão em
desdém. Dispensando nós dois? ela pensou.
— Falaremos sobre isso mais tarde. — disse Korsin. — Há algo mais?
Ravilan fez uma pausa.
— Sim... estarei no sul, como você solicitou, visitando as cidades dos
Lagos Ragnos. — Seelah conhecia o projeto: os Keshiri estavam colhendo
algum tipo de alga fluorescente, e Korsin havia designado Ravilan para
verificar seu potencial uso na iluminação das estruturas Sith. — Existem
oito aldeias em várias massas de água, todas com diferentes espécimes para
examinar.
— É muito território. — disse Korsin. — Você vai sozinho?
— Como você pediu. — Ravilan respondeu. — Começo em Tetsubal, a
mais distante.
Seelah sorriu. Era exatamente o tipo de trabalho irracional que levaria o
intendente à loucura.
— Leve toda a sua comitiva. — disse Korsin, batendo uma mão firme
no ombro de Ravilan. Korsin não havia se tornado mais fisicamente
imponente durante o exílio, mas ainda andava como um homem do tamanho
de Gloyd. — Isso é importante... e será mais rápido se vocês se separarem.
E vocês todos poderiam ficar fora dessa montanha por alguns dias.
Ele se aproximou de Ravilan e falou em seu ouvido afundado.
— E, veja... da próxima vez Seelah gostaria que você me chamasse de
Grande Lorde.
— Esse é apenas um título para os Keshiri.
— E há Keshiri aqui. É uma ordem, Rav. Voe seguro.
Seelah viu Ravilan mancando. Ele havia perdido uma briga com um
uvak no segundo ano deles aqui. Foi uma de uma série de perdas, e ela não
estava prestes a deixá-lo vencer uma discussão agora. Ela levou Korsin para
o lado.
— Não se atreva a aceitar qualquer pessoa dele nas minhas enfermarias!
— Você fica bonita quando é territorial.
— Korsin!
Ele olhou para ela com olhos penetrantes.
— Você não mora mais em Rhelg. Quanto tempo vai demorar até você
deixar o passado para trás?
Seelah deixou um olhar ardente falar por ela, mas Korsin ignorou.
Localizando alguém atrás dela, ele sorriu e se virou para se dirigir à
multidão que esperava.
— Desculpe por interromper, todos vocês, mas vejo que a minha
companheira de almoço chegou.
Seelah se virou.
Adari Vaal esperava na beira da praça.
O Império Sith da juventude de Seelah era um ninho de sistemas
estelares ligados por herança, ambição e ganância comuns. Era
também, em certo sentido, um buraco negro do qual poucos escapavam.
Os efeitos limitadores da Caldeira Stygian sobre as viagens no
hiperespaço eram desproporcionais, tornando muito mais fácil para
pessoas sem sorte de fora entrarem no espaço Sith do que para os Lordes
Sith se aventurarem a sair. Aqueles que encontravam um caminho
raramente retornavam, tornando-se escravos de um príncipe ou de outro.
Os recém-chegados frequentemente mudavam de mãos ao longo das
gerações, esquecendo completamente de seus lares. Eles também eram dos
Sith agora.
Alguns Lordes Sith, como Naga Sadow, viram valor no trabalho dos
descendentes humanos dos refugiados Tapani originais. Onde os seus
mestres de rosto com tentáculo, com linhagens voltadas às espécies Sith,
estavam mais interessados em feitiçarias, o pessoal de Seelah se destacava
na ciência. Quando lhes foi permitido praticar, formaram as infraestruturas
industriais e médicas para vários Lordes. Alguns até resolveram problemas
de fabricação de cristais de sabre de luz e geração de energia que haviam
escapado aos Jedi da República. Tais feitos nunca foram anunciados,
nenhum Lorde Sith compartilharia uma nova arma. Se o fracasso era órfão,
o sucesso, para os Sith, era um filho de um amor secreto.
A Seelah criança teve os seus próprios sucessos, servindo em Rhelg com
o resto de sua família nas forças de Ludo Kressh, o maior rival de Sadow.
Aos treze anos, Seelah já era uma curandeira talentosa, recorrendo à Força
e ao conhecimento médico de seus antepassados. A devoção já havia
produzido frutos.
— Estamos avançando nesse movimento. — dissera seu pai. — Você se
saiu bem e foi recompensada. Glória na honra, Seelah, essa é a maior coisa
que pode acontecer a gente como nós.
Ela fora encarregada de cuidar dos pés do Lorde Kressh.

Eles ficaram fora a tarde toda novamente, os dois. Korsin e a mulher


Keshiri. Tilden contou a Seelah, e ela tinha outros confidentes que
forneciam relatórios regulares. Seu marido e sua suposta "embaixadora",
Adari, passearam com cuidado pelos caminhos esculpidos fora da outrora
traiçoeira montanha, discutindo... o que? Nada demais, até onde Seelah
sabia.
As caminhadas de Adari com Korsin datavam do início do
relacionamento de Seelah com ele. Naquela época, havia uma necessidade.
A mulher Vaal havia descoberto os Sith na montanha e tinha agido como
intermediária com os Keshiri. Mas com o passar dos anos a necessidade de
um único embaixador declinou; no entanto, as caminhadas continuaram,
indo cada vez mais longe. Após o nascimento da filha de Seelah e Korsin,
Nida, seus passeios com Adari haviam se tornado diários, incluindo os
ocasionais voos de uvak.
De suas fontes, Seelah sabia o suficiente para não suspeitar de
infidelidade, como se importasse, mas a mulher nativa havia tomado
medidas para melhorar a sua aparência simples. Adari começou
recentemente a aparecer com marcas de rosto vor'shandi, uma decoração
incomum para uma viúva Keshiri de um cavaleiro uvak. Mas os
bisbilhoteiros confirmaram para Seelah que o conteúdo geralmente
irracional das discussões deles não tinha mudado. Para onde vai o sol à
noite, Korsin? O ar faz parte da Força, Korsin? Por que as rochas não são
comida, Korsin? Se ela era uma espiã, era bastante inútil, mas tinha o
domínio de uma grande parte do tempo do Grande Lorde. E mais.
— Ela é... realmente alguma coisa, não é? — Ele perguntou em um
momento desprotegido depois que Adari voou de volta para Tahv uma
noite.
— Eu acho que seus padrões de brinquedos caíram. — Seelah
respondeu.
— Junto com a minha nave.
E o meu verdadeiro marido, não chegou a dizer. Seelah pensava naquele
momento, agora enquanto estava do lado de fora da enfermaria. Quinze
anos com o odiado irmão de seu amado marido. Quinze anos com o homem
que provavelmente tinha deixado órfão o seu filho. Deixe o velho espectro
roxo ficar com ele, ela pensou. Quanto menos visse Yaru Korsin, melhor.
A sedução de Korsin por Seelah não durou muito, uma vez que o
convenceu de que não encontraria algo diferente de uma adaga. Era um
arranjo para ambos os lados. Ao obter a aprovação dela, o comandante
solidificou os seus laços com os mineiros inquietos que a nave carregava, e
tomou algo que pertencia ao seu odiado irmão. Ela até o deixou pensar que
tinha sido ideia dele, embora tenha sinalizado mordendo o lábio naquele
primeiro ano.
De sua parte, Seelah conquistou poder e influência na nova ordem,
benefícios que iam muito além das convenientes abluções matinais. O
pequeno Jariad seria criado nos melhores alojamentos onde quer que
estivesse, primeiro na cidade nativa murada de Tahv, depois no complexo
montanhoso.
E tinha um emprego. A administração das enfermarias dos Sith parecia
uma sinecura inútil, dada a saúde rude do mimado povo Keshiri.
Certamente ninguém mais queria a tarefa, não com um mundo para
conquistar e uma fuga interestelar para engendrar. A maioria dos Sith
feridos em desacordos nunca chegou a um curandeiro, de qualquer maneira.
Mas Seelah aprendeu mais sobre os Sith que estavam presos em Kesh
do que qualquer um, incluindo o oficial da Presságio que era originalmente
responsável por manter as fileiras. Sabia quem nasceu, quando e para servir
a quem; e esse era o equilíbrio do poder. Os outros nem estavam olhando.
Os olhos deles ainda estavam no céu, tentando sair. Apenas Korsin parecia
entender que eles poderiam estar se estabelecendo em uma situação
permanente, embora claramente trabalhasse para impedir que ninguém,
exceto Seelah, sentisse isso. Não entendia por que ele tinha se aberto com
ela sobre isso.
Talvez a esposa de Yaru Korsin não merecesse esperança. Não importa.
Não precisava disso, de qualquer maneira. Ela viu o futuro, ali no pátio da
assembleia atrás da enfermaria, enquanto fazia as suas revisões periódicas.
Ali, a juventude dos Sith se reportava para vê-la. Ou melhor, para ser vista.
— Esta é Ebya T'dell, filha do mineiro Nafjan e da cadete da ponte
Kanika. — Orlenda, a esbelta assessora de Seelah, estava atrás de uma
criança rosa de rosto severo e lia de um pergaminho. — Oito anos de idade
no próximo mês, pelas nossas contas. Sem doenças.
A mão de Seelah se fechou em um V ao redor do queixo da jovem.
Seelah olhou para a esquerda e para a direita, inspecionando a criança como
gado.
— Maçãs do rosto altas. — ela disse, esmagando o dedo indicador
contra o rosto da criança, que não se encolheu. — Eu conheço os seus pais,
garota. Você é uma fonte de desespero para eles?
— Não, Lady Seelah.
— Isso é bom. E qual é o seu dever?
— Ser como você, senhora.
— Não é a resposta que eu tinha em mente, mas não vou discutir. —
disse Seelah, soltando a criança e virando-se para Orlenda. — Não vejo
nenhuma queima do crânio, mas estou preocupada com a coloração dela.
Muito florida. Verifique a genealogia novamente. Ela ainda pode ter uma
família, se escolhermos adequadamente.
Com um tapinha de Orlenda nas costas, Ebya T'dell, de oito anos,
voltou a brincar no pátio, momentaneamente segura por saber que a sua
vida poderia não ser um beco sem saída genético.
Era um assunto importante, pensou Seelah, enquanto observava os
jovens a duelar com bastões de hejarbo. Todas as crianças nasceram desde o
pouso forçado. Além da infusão de jovens para a população Sith, parecia
que muito pouco havia mudado. Todas as cores do espectro da humanidade
foram representadas na tripulação original da Presságio, e esse continuou a
ser o caso. Nenhum dos pares casuais com Keshiri havia produzido filhos,
Seelah agradeceu o lado sombrio por isso, e, é claro, havia o problema com
o povo de Ravilan. O número de humanos de sangue relativamente puro
vinha aumentando constantemente. A pureza desse sangue também.
Ela cuidara disso, com a total aprovação de Korsin. Foi sensato. Kesh
havia matado os Massassi. Se ainda não havia matado os humanos, então os
Sith precisavam de mais humanos. Adapte-se ou morra, dissera Korsin.
— Há vários outros jovens na lista para esta semana. — Orlenda disse.
— Você quer vê-los hoje, Seelah?
— Não estou no clima. Mais alguma coisa?
Orlenda enrolou o pergaminho e levou as crianças restantes para o pátio
de exercícios.
— Bem. — ela disse. — precisaremos de um novo carregador Keshiri
para o quarto da enfermaria.
— O que aconteceu com o último, Orlenda? — Seelah sorriu. — Você
finalmente o matou com as suas gentilezas?
— Não... mas ele está morto.
— O grandão? Gosem?
— Gorem. — Orlenda disse com um suspiro. — Sim, ele morreu na
semana passada. Nós o emprestamos à equipe de Ravilan, que estava
destruindo um dos decks da Presságio, procurando o que quer que fosse
para usar. Gorem era, bem, você lembra, muito forte...
— Continue.
— Eu acho que ele estava movendo chapas pesadas, e está quente lá
embaixo, sob aquele teto. Ele caiu do lado de fora da nave. — Orlenda
estalou a língua.
— Hum. — Ela pensou que os Keshiri fossem feitos de materiais mais
fortes. Ainda assim, era uma boa chance de provocar a sua luxuriosa amiga.
— Eu imagino que você chorou na pira funerária?
— Não, eles o jogaram do penhasco. — Orlenda respondeu,
endireitando os cabelos louros. — Foi naquele dia com os ventos fortes.

Pouco antes do anoitecer, Seelah encontrou Korsin novamente na praça.


Seu brinquedo Keshiri se foi, e Korsin estava olhando para si mesmo, ou
melhor, para uma réplica muito ruim. Os artesãos de Tahv haviam acabado
de entregar uma escultura de quatro metros de altura, não muito parecida
com o seu salvador, esculpida em uma enorme placa de vidro.
— Isto é... uma primeira passagem. — disse Korsin, sentindo sua
chegada.
— Claramente. — Seelah pensou que aquilo seria uma agressão aos
campos de extermínio de Ashas Ree. Mas o assessor Keshiri dela tinha
achado maravilhoso. No mínimo.
— É positivamente estupendo, senhora. — disse Tilden. — Algo
verdadeiramente digno dos Celestiais, quero dizer, dos Protetores. — Ele se
corrigiu rapidamente na presença do Grande Lorde, mas ainda parecia
engolir em seco com a nova palavra, tão recentemente adicionada à religião
de seu nascimento.
O primo de Ravilan, o ciborgue Hestus, havia trabalhado por anos com
outros linguistas da Presságio para explorar as histórias orais dos Keshiri.
Eles procuraram alguma dica de que alguém já havia passado por lá,
alguém que pudesse voltar a Kesh novamente, para lhes proporcionar uma
fuga. Eles não haviam encontrado muito. Os Neshtovar, os cavaleiros de
uvak que até recentemente governavam o planeta, haviam mergulhado a sua
religião nos Celestiais e o Outro Lado em oposição, e nas histórias
anteriores de Protetores e Destruidores. Os Destruidores retornavam
periodicamente fazendo chover desastres sobre Kesh; os Protetores estavam
destinados a detê-los, de uma vez por todas. Korsin, agora no foco da fé
Keshiri, teve um momento de revelação e decretou um retorno aos nomes
antigos.
Essa, como muitas outras coisas ao longo dos anos, tinha sido ideia de
Seelah. Os Neshtovar se consideravam os Filhos dos Celestiais. Mas
nenhum Keshiri vivo poderia reivindicar parentesco com os Protetores
distantes. Qualquer que fosse o status de qualquer nativo anteriormente,
tinha acabado. E agora, Seelah viu, os Keshiri estavam demonstrando
respeito com placas de vidro com olhos de insetos.
É melhor eles aprenderem a acertar o rosto antes de me "respeitarem",
pensou Seelah.
— Não é que pareça ruim. — ela disse, depois que Tilden se afastou. —
É que não parece certo aqui.
— Pensando novamente em nos mudar da montanha? — Korsin sorriu,
com as rugas rachadas pelo vento escurecendo nas sombras. — Acho que
acabamos com a paciência dos Keshiri quando ficamos em Tahv na
primeira vez.
— E que diferença isso faz?
— Nenhuma. — Ele agarrou a mão dela, surpreendendo-a. — Escute,
eu quero lhe dizer o quanto eu aprecio o trabalho que você tem feito na
enfermaria. É tudo o que eu esperava, tudo o que eu sabia que você era
capaz.
— Oh, eu não acho que você sabe do que eu sou capaz.
Korsin desviou o olhar e riu.
— Bem, não vamos prosseguir com isso. O jantar lhe interessaria? —
Os olhos dele brilharam. Seelah reconheceu o olhar. O homem era capaz,
como sempre, de manter vários conjuntos de contas.
Antes que ela pudesse responder, um grito veio do alto. Korsin e Seelah
olharam para a torre de vigia. Nenhum atacante ameaçava, os Sith haviam
expurgado a variedade de predadores anos antes. Em vez disso, as
sentinelas simplesmente ficavam sentadas em meditação, ouvindo a Força e
recebendo mensagens dos Sith que estavam viajando pelos confins da terra.
— É o Ravilan. — chamou uma jovem sentinela de rosto vermelho, que
era apenas uma criança quando a Presságio caiu. — Algo aconteceu em
Tetsubal. Algo ruim.
Korsin olhou com irritação. Ele também podia sentir algo na Força, algo
caótico, mas não fazia ideia do que. Era exatamente por isso que eles não
deveriam ter pirateado seus comunicadores pessoais em um esquema de
fuga anterior.
Seelah olhou para a torre e murmurou:
— Ravilan... está morrendo?
— Não. — o arauto respondeu, mal entendendo as palavras dela. —
Todo mundo está.
O s Sith eram sobre a glorificação do eu e a subjugação dos
outros. Isso fazia sentido, pois a jovem Seelah via como era a vida no
palácio de Ludo Kressh.
O que não fazia sentido era porque tantos de seu povo, e de sua própria
família adotaram os ensinamentos dos Sith quando não tinham esperança
de avançar. Por que um Sith viveria como escravo?
Não era assim para todos. No grande esquema, o Império Sith esteve
em repouso por muitos anos, mas um império de Sith é um império de
pequenos esquemas. No comando de Kressh, a recém-adulta Seelah
observara o seu mestre se enfurecer com os empreendimentos de Naga
Sadow. Vira Sadow em várias reuniões na companhia de Kressh, quase
todas terminando em fúria. Os dois líderes diferiam em tudo, muito antes
da descoberta de uma linha espacial dentro do coração da República os
colocar em desacordo com a direção futura do Império Sith.
Sadow era um visionário. Ele sabia que o isolamento permanente era
uma impossibilidade prática em um Império, com tantos sistemas e tantas
rotas potenciais de hiperespaço; a Caldeira Stygian era um véu, não um
muro, e ele podia ver oportunidades através dela. E na comitiva de Sadow,
Seelah tinha visto muitos humanos e membros de outras espécies com status
aparente. Ela até conheceu o pai do capitão de Korsin uma vez.
Para Sadow, o contato com o novo era algo a ser desejado, e pessoas
de fora podiam ser tão Sith quanto qualquer outro nascido no Império.
Para Kressh, que passava seus dias em batalha e suas noites trabalhando
em um dispositivo mágico para proteger seu jovem filho de todo mal, não
poderia haver um destino pior do que escapar do berço cósmico dos Sith.
— Você sabe por que eu faço isso? — Kressh perguntou uma noite. Sua
raiva bêbada tocou toda a casa, incluindo Seelah. — Eu tenho visto os
holocrons, eu sei o que espera além. Meu filho se parece comigo, e o futuro
dos Sith também.
— Mas apenas enquanto estivermos aqui. Lá fora. — ele cuspiu, entre
socos sangrentos. — Lá fora, o futuro se parece com você.

Adari Vaal disse uma vez a Korsin que os Keshiri não tinham um
número grande o suficiente para descrever a sua própria população. A
tripulação da Presságio tentou fazer estimativas nos primeiros anos em
Kesh, apenas para encontrar cada vez mais aldeias no horizonte. Tetsubal,
com dezoito mil habitantes Keshiri, tinha sido uma das últimas cidades
contadas antes dos Sith finalmente desistirem.
Agora eles desistiram de novo. As paredes de Tetsubal estavam cheias
de cadáveres, tornando impossível a contagem de corpos. Quando chegaram
de uvak naquela noite, Seelah, Korsin e os seus companheiros puderam ver
do céu os Keshiri mortos, espalhados pelas estradas de terra como galhos
após uma tempestade. Alguns haviam desabado dentro das portas de suas
cabanas de brotos de hejarbo. Eles logo viram que era igual mais para
dentro.
O que eles não viram foram sobreviventes. Se existia, estavam se
escondendo bem.
Dezoito mil corpos era um bom palpite.
O que quer que tivesse acontecido foi de repente. Uma enfermeira caíra,
entrelaçada junto com seu bebê em um abraço fatal. Nas calhas ligadas
pelas ruas, alimentadas pelo aqueduto, vários Keshiri caíram e se afogaram
ao lado de seus baldes de tecidos flutuantes.
Vivo e sozinho estava Ravilan, agitado e preso dentro do portão da
cidade ainda trancado. Ele havia mantido a sua posição em Tetsubal a noite
toda, e parecia muito pior por causa disso. Korsin se aproximou dele assim
que desmontou.
— Tudo começou depois que eu me encontrei com os meus contatos
aqui. — disse Ravilan. — As pessoas começaram a entrar em colapso nos
restaurantes, nos mercados. Então o pânico começou.
— E onde você estava durante tudo isso?
Ravilan apontou para o círculo da cidade, uma praça com um grande
relógio de sol muito parecido com o de Tahv. Era a estrutura mais alta da
cidade, além do sistema de polias acionado por uvak que alimentava o
aqueduto.
— Não consegui encontrar a assessora que trouxe comigo. Eu pulei lá
em cima para chamá-la e examinar o que estava acontecendo.
— Examinar. — Seelah rosnou. — Sério!
Ravilan exalou com raiva.
— Sim, eu estava tentando ficar limpo! Quem sabe que praga essas
pessoas podiam estar carregando? Fiquei lá por horas, vendo as pessoas
caírem. Chamei meu uvak, mas ele também estava morto.
— Amarre os nossos fora dos muros. — ordenou Korsin, parecendo
confuso à luz das tochas. Ele puxou um pano da túnica e o colocou sobre a
boca, sem parecer perceber que ele era o último no grupo a fazer isso. Ele
olhou para Seelah. — Agente biológico?
— Eu... eu não sei dizer. — ela respondeu. O seu trabalho tinha sido
com os Sith, nunca com os Keshiri. Quem sabia a que eles poderiam ser
suscetíveis?
Korsin puxou Gloyd.
— A minha filha está em Tahv. Garanta que ela volte para a montanha.
— ele disse. — Vá!
O Houk, incomumente agitado, disparou para a sua montaria.
— Pode ser transportado pelo ar. — disse Seelah, andando atordoada
entre os cadáveres. Isso explicaria como atingira tantos, tão rapidamente. —
Mas nós não fomos afetados...
Um grito veio da frente. Lá, Seelah viu o que o batedor havia
encontrado sob outro corpo: a assistente desaparecida de Ravilan. A mulher
estava na casa dos quarenta, como Seelah. Humana... e morta.
Seelah apertou a gaze sobre o rosto. Tola, tola! Eu sou uma tola! Já é
tarde demais?
— Já é tarde. — Ravilan respondeu, pegando o pensamento
desprotegido dela. Ele confrontou Korsin. — Você sabe o que deve fazer.
Korsin falou em tom monótono.
— Vamos queimar a cidade. Claro, vamos queimar.
— Não basta, Capitão. Temos que excluí-los!
— Excluir quem? — Seelah estalou.
— Os Keshiri! — Ravilan gesticulou para os corpos ao redor. — Há
algo que os mata e isso pode nos matar! Temos que removê-los de nossas
vidas de uma vez por todas!
Korsin pareceu completamente surpreso.
Seelah agarrou o ombro dele.
— Não escute isso. Como vamos viver sem eles?
— Como Sith! — Ravilan exclamou. — Este não é o nosso caminho,
Seelah. Você se... Nós nos tornamos demasiadamente dependentes dessas
criaturas. Eles não são Sith.
— Nem nós, de acordo com o seu povo.
— Não seja política. — disse Ravilan. — Olhe em volta, Seelah! O que
quer que seja isso deveria ter nos matado agora. Se não o fez, devemos
aceitá-lo pelo que é: um aviso do lado sombrio.
Atrás do pano, o queixo de Seelah caiu. Korsin voltou à realidade.
— Espere. — ele disse, pegando o braço de Ravilan. — Vamos
conversar sobre isso...
Korsin e Ravilan começaram a caminhar em direção ao portão, que só
agora estava sendo aberto por seus assistentes. A própria aldeia parecia
expirar, o ar miserável passando pela abertura. Seelah não se moveu,
hipnotizada pelos corpos ao redor. Os mortos Keshiri pareciam iguais para
ela, rostos roxos e línguas azuis, rostos retorcidos em agonia sufocante.
Seus pés vacilaram e ela viu a assistente de Ravilan. Qual era o nome
dela? Yilanna? Illyana? Seelah conhecera toda a árvore genealógica da
mulher no dia anterior. Por que ela não conseguia se lembrar do nome
agora, quando a mulher estava no chão, engasgada com a língua, inchada e
azul...
Seelah parou.
Ajoelhou-se ao lado do cadáver, tomando cuidado para não tocá-la. Ela
sacou o seu shikkar, a lâmina de vidro que os Keshiri haviam feito para ela,
e cuidadosamente abriu a boca da mulher. Lá estava, a língua num azul
louco, vasos sanguíneos inchados e estourando. Ela já tinha visto isso antes
em humanos, no limite de sua memória...
— Eu preciso voltar. — disse Seelah, saindo pelos portões da vila. —
Eu preciso voltar para casa... para a enfermaria.
Korsin, dirigindo seus capangas na construção de uma fogueira, pareceu
intrigado.
— Seelah, esqueça de quaisquer sobreviventes. Nós somos os
sobreviventes. Nós temos esperança.
Ravilan, sem sorte, tentando acalmar o uvak coletado que Korsin havia
amarrado do lado de fora do muro da vila, olhou para trás alarmado.
— Se você está pensando em trazer esta doença para o nosso santuário...
— Não. — ela disse. — Eu estou indo sozinha. Se estivermos
infectados aqui, nada vai importar mesmo. — Ela pegou o freio de um uvak
de Ravilan e lançou um sorriso sem entusiasmo. — Mas se não estivermos
infectados, é como você disse. É um aviso.
Korsin a observou sair e voltou-se para a tarefa de queimar a vila.
Seelah não olhou para trás, voando pela noite. Não havia muito tempo. Ela
precisava se encontrar com toda a equipe da enfermaria, com os seus
assessores mais leais.
E ela precisava ver seu filho.
Quando o amanhecer surgiu nas Montanhas Takara, Seelah não foi
encontrada no banho por Tilden Kaah, por mais que ela agora sentisse que
precisava de um. Seelah não tinha dormido nada. Com o retorno de Korsin
e Ravilan na calada da noite, o retiro se tornou um centro de crise.
As comunicações eram o verdadeiro problema. As mortes dos Keshiri
sem nome haviam agitado pouco a Força para aqueles que não se
importavam com eles. Mas as consequências provocaram tanta confusão
nas mentes dos Sith que até os arautos mais experientes estavam tendo
problemas para enviar mensagens. Korsin tinha sido cuidadoso ao pedir o
retorno de seu povo das cidades e vilas Keshiri; até agora, Tahv e o resto
das grandes cidades não tinham ouvido falar do desastre em Tetsubal, e ele
não queria uma retirada em massa colocando os nativos em guarda. Os Sith
no exterior foram instruídos a se afastar casualmente do contato público e
voltar para casa.
O que havia acontecido em Tetsubal ainda não havia atingido as
principais cidades, mas os pilotos de reconhecimento ainda estavam lá fora,
checando as áreas circundantes. Quando as notícias chegassem do interior,
todos os Sith estariam em segurança em seu reduto.
Seelah viu Korsin várias vezes pela manhã enquanto passava. Ele queria
que a equipe dela estabelecesse quarentenas para reentrar no complexo.
Nenhum dos Sith que incendiou Tetsubal apresentava sintomas de estresse,
mas os riscos eram altos. Seelah tinha designações próprias na enfermaria e,
de fato, poucos de seus funcionários médicos apareceram em público.
— Estamos trabalhando no problema. — ela dissera.
Ao entrar ao meio-dia, Seelah viu Ravilan em pé com Korsin,
analisando relatórios de monitoramento. Korsin parecia abatido pela falta de
sono, a pequena fofinha roxa dele não passaria por ela hoje! Mas Ravilan,
apesar de suas experiências angustiantes do dia anterior, parecia
rejuvenescido; a sua cabeça careca era uma magenta robusta.
— Foi melhor do que temíamos, Korsin . — disse Ravilan. Sem Grande
Lorde agora, notou Seelah. Nem mesmo Capitão.
Korsin resmungou.
— Todo o seu pessoal está de volta?
— Fui informado de que todos acabaram de voltar aos estábulos. Sem
muitos de férias. — disse Ravilan, com os seus cachos faciais se curvando
levemente. — mas há muito trabalho a ser feito. Em nossas novas
prioridades.
Seelah olhou para cima. Deve ser agora.
— Cavaleiro chegando!
O arauto sentiu a aproximação do uvak muito antes de aparecer no
horizonte sul. Acenando diretamente para a colunata, o cavaleiro pousou a
besta e saltou para a superfície de pedra. Todos os olhos estavam voltados
para a nova chegada. Todos, exceto os de Seelah.
— Grande Lorde. — ele disse, sem fôlego. — Aconteceu de novo... em
Rabolow!
Seelah ouviu o suspiro de Korsin, mas ela viu os olhos amarelos de
Ravilan se arregalarem. Levou apenas um segundo para o intendente
encontrar a sua compostura.
— Rabolow?
— Isso é nos Lagos Ragnos, não é? — Seelah olhou para Ravilan e
sorriu com seriedade. — Foi para onde o seu pessoal foi designado ontem,
não foi, Ravilan? Aldeias nos Lagos Ragnos.
Ele assentiu. Todos eles estavam lá quando estava sendo discutido.
Ravilan pigarreou, subitamente seco.
— Eu... eu deveria falar com o meu colega que acabou de voltar de lá.
— Ele passou mancando por Seelah, virou-se e fez uma reverência. — Eu...
eu realmente deveria encontrá-los. Capitão.
— Faça isso. — disse Seelah. Korsin não disse nada, ainda perplexo
com as notícias recentes e a coincidência. Ele observou Ravilan desaparecer
de vista, indo para os estábulos.
— Cavaleiro vindo!
Korsin olhou para cima. Seelah pensou que ele quase parecia com
medo, com medo das notícias que o cavaleiro traria.
A notícia era de outra cidade da morte, em outra região dos Lagos
Ragnos. Um terceiro piloto falou de uma terceira. E depois uma quarta.
Cem mil Keshiri, mortos.
Korsin arregalou os olhos.
— Algo a ver com os lagos? Aquela... o que era aquilo... aquelas algas
que Ravilan iria estudar?
Seelah cruzou os braços e olhou diretamente para Korsin, curvado e
quase da mesma altura. Ela ficou tentada a deixar o momento demorar...
...mas havia trabalho a ser feito. Ela chamou Tilden Kaah.
O assistente preocupado dela apareceu vindo da direção da enfermaria,
segurando um pequeno recipiente. Ela pegou e o dispensou.
— Você sabe o que é isso, Korsin?
Korsin virou o frasco vazio na mão.
— Silicato de cianogênio?
Era dos estoques médicos dela na Presságio... e também dos estoques
que Ravilan mantinha para as criaturas sob seus cuidados. Na sua forma
sólida, ela explicou, era usada como agente cauterizante pelos curandeiros
que trabalhavam com os Massassi. Ela já o vira sendo usado repetidamente
a serviço de Ludo Kressh. Nada mais fraco poderia fazer alguma coisa com
a pele daqueles selvagens.
— Já é ruim o suficiente sozinho. — ela disse. — Mas se a umidade
entra, ela se decompõe e se intensifica mil vezes. Uma partícula por bilhão
pode fazer qualquer coisa.
As sobrancelhas espessas de Korsin se ergueram.
— O que... o que poderia fazer em um lençol freático? Ou um
aqueduto?
Seelah segurou as mãos dele com força e olhou diretamente em seus
olhos.
— Tetsubal.
Ela explicou a história por trás da morte do carregador da sua
enfermaria. O musculoso Gorem, que havia sido destacado para a equipe de
Ravilan para ajudar a alcançar o que restava em seções esmagadas da
Presságio. Aparentemente, ele tocou em uma chapa manchada do boticário
Massassi e morreu lá fora, pouco depois de lavar as mãos. A morte não foi
instantânea, mas a vítima nunca foi longe.
Ravilan deve ter visto a morte de Gorem, ela disse, e percebeu que tinha
uma ferramenta contra os Keshiri. Uma arma que poderia forçar Korsin e o
resto dos humanos a esquecerem de construir neste mundo... e a se
comprometerem a deixá-lo.
E agora todas as cidades que os membros dos Cinquenta e Sete haviam
visitado no dia anterior tinham seguido o mesmo caminho que Tetsubal.
Korsin girou e quebrou a sua cadeira da ponte contra uma coluna de
mármore. Ele não usou a Força. Ele não precisava.
— Por que eles fariam isso? — Ele agarrou Seelah. — Por que eles
fariam isso, quando é tão óbvio que eu rastrearia de volta a eles? Quão
estúpido, quão desesperados eles teriam que estar?
— Sim. — Seelah respondeu, curvando-se em torno dele. — Quão
desesperados eles teriam que estar?
Korsin olhou para o sol, agora batendo na montanha. Soltando-a, ele
olhou nos rostos de seus outros conselheiros, todos esperando e
imaginando.
— Traga todos os outros. — ele disse. — Diga a eles que está na hora.
S eelah já tinha decidido deixar Ludo Kressh antes que
executasse a família dela. Foi trivial; o tornozelo dele tinha sido ferido
em uma batalha e ela não conseguiu parar a infecção. Ele matou o pai dela
na primeira noite e a influência dele sobre ela diminuiu consideravelmente
depois disso. Seelah teve a chance de partir alguns dias depois, quando
uma das equipes de mineração de Sadow parou em Rhelg para reabastecer.
Pelo menos ela não tinha mais ninguém para deixar.
Seelah já tinha decidido deixar Ludo Kressh antes que ele executasse a
família dela. Foi trivial; o tornozelo dele tinha sido ferido em uma batalha
e ela não conseguiu parar a infecção. Ele matou o pai dela na primeira
noite e a influência dele sobre ela diminuiu consideravelmente depois disso.
Seelah teve a chance de partir alguns dias depois, quando uma das equipes
de mineração de Sadow parou em Rhelg para reabastecer. Pelo menos ela
não tinha mais ninguém para deixar.
Devore Korsin tinha sido sua fuga. Ela viu a imaturidade e imprudência
dele, mas também viu algo com o que trabalhar. Ele também se esforçava
contra as correntes invisíveis que limitavam a sua ambição. Ele poderia ser
o aliado dela. E a serviço de Sadow, pelo menos, algo poderia acontecer,
desde que Devore não estragasse tudo.
E se ele estragasse, bem, sempre havia o filho deles...
Sabres de luz brilhavam à noite na montanha, mas não na praça
principal. Seelah caminhou calmamente ao longo da colunata escura, agora
enfeitada com adornos adicionais: as cabeças com tentáculos dos Cinquenta
e Sete, estacadas em intervalos regulares.
Havia o jovem sentinela da torre, preso e morto. Ele nunca abandonou
seu posto. À direita estava Hestus, o tradutor; Seelah esteve envolvida
pessoalmente em sua derrocada. Korsin disse que voltariam a Hestus pela
manhã para remover os implantes cibernéticos. Quem sabe, poderia haver
algo lá que eles pudessem usar.
Ela podia sentir Korsin e seus principais tenentes além do muro externo
agora, levando o restante a uma última posição ao lado do precipício onde a
Presságio quase chegou ao fim. Nenhuma opção seria oferecida; ela podia
ver Korsin arremessando qualquer um que se rendesse no precipício.
Bem, ele tem experiência nisso.
O silo de pedra do cavalariço pairava diante dela. Os recintos dos uvak
se estendiam em todas as direções a partir deste polo central, onde os
assessores Keshiri lavavam os animais fedorentos. Os Keshiri tinham ido
embora hoje à noite, ela viu quando entrou na sala redonda. No centro,
vigiado apenas por um guarda nas sombras, pendia o corpo mole, mas
respirando, de Ravilan. Cordões fortes de fibra tecida pelos Keshiri
amarravam seus braços abertos a cornijas altas nos dois lados da estrutura.
O arranjo tinha sido projetado para impedir que um uvak fugisse durante o
banho. Agora estava fazendo o mesmo com Ravilan, os pés balançando
meros centímetros acima do solo. Seelah recuou quando uma onda de água
foi despejada de fendas altas na torre, engasgando o prisioneiro.
O fluxo parou depois de um minuto, mas demorou mais para Ravilan,
cansado, registrar a presença de sua visitante.
— Tudo se foi. — ele engasgou. — Certo?
— Tudo se foi. — ela disse, entrando em seu campo de visão. — Você é
o último. — Ravilan foi pego logo, sua perna ruim falhou com ele de uma
vez por todas.
Ravilan balançou a cabeça.
— Só fizemos uma vez. — ele disse, com a sua garganta um rastro de
cascalho. — Em Tetsubal. Essas outras cidades... eu não sei. Nós nunca
planejamos...
— ...fui eu. — Seelah disse.
Foi surpreendentemente fácil, uma vez que ela percebeu a manobra de
Ravilan em Tetsubal. O único elemento era o tempo. Ela retornou ao
refúgio da montanha durante a noite e chamou seus assistentes mais
confiáveis da enfermaria. Logo depois da meia-noite, seus servos estavam
no ar, impulsionando as suas criaturas para as cidades dos lagos do sul que
o pessoal de Ravilan havia sido instruído a visitar no dia anterior. A sua
enfermaria mantinha o único outro suprimento sobrevivente de silicato de
cianogênio que agora estava nos poços e aquedutos das cidades dos lagos e
nos corpos dos Keshiri mortos. O tempo era o elemento chave, mas ela teve
ajuda para coordenar tudo.
— Você... você fez isso? — Ravilan tossiu e conseguiu dar uma risada
fraca. — Acho que é a primeira vez que você gosta de uma das minhas
ideias.
— Ela fez o trabalho.
O sorriso amassado de Ravilan desapareceu.
— Que trabalho? Genocídio?
— Você se importa com os Keshiri agora?
— Você sabe o que eu quero dizer! — Ravilan esforçou-se em suas
amarras. — Meu povo!
Seelah revirou os olhos.
— Não está acontecendo nada aqui que não teria acontecido no Império
eventualmente. Você sabe como as coisas estavam indo. Em que movimento
você estava, afinal?
— Naga Sadow não queria isso. — Ravilan murmurou. — Sadow
valorizava o poder onde ele o via. Ele valorizava o velho e o novo. Ele nos
valorizava...
Ela assentiu com a cabeça para o guarda... e outra barragem esmagadora
de água bateu em Ravilan.
Demorou mais tempo para ele se recuperar dessa vez.
— Poderia ter funcionado. — ele engasgou. — Nós poderíamos ter
trabalhado... juntos, como os Sith e os Jedi caídos da antiguidade. Se ao
menos nossos filhos... meus filhos... tivessem vivido...
Ravilan olhou para cima, a água escorrendo de seu rosto flácido.
— Você.
Seelah fixou o olhar silencioso nas calhas, ainda pingando, perto do teto
alto.
— Você. — ele repetiu, mais alto. — Você administrava a creche. Você
e o seu povo. — Seu rosto se torceu em um grito de agonia. O futuro do seu
povo já havia sido sufocado, muito antes. — O que você fez? O que você
fez conosco?
— Nada que você eventualmente não teria feito conosco. — Ela andou
em direção às sombras, para perto do guarda. — Nós não somos seus Sith.
Somos algo novo, uma chance de fazer certo. Uma nova tribo.
— Crianças... bebês! — Murmurou, Ravilan gemendo. — Que... que
tipo de mãe você é?
— Mãe de um povo. — ela respondeu, olhando para o guarda nas
sombras. — Agora, meu filho.
O guarda deu um passo à frente, e Ravilan reconheceu a forma animal
de Jariad Korsin com o rosto de olhos selvagens do pai, sob os cabelos
negros. O adolescente saltou para o prisioneiro, empunhando uma
vibrolâmina irregular sem remorso. Por fim, ele sacou o sabre de luz e
cortou Ravilan em um violento flash de vermelho.
— Você mudou o mundo hoje. — disse Seelah, aproximando-se do filho
e cúmplice. Ele fora crucial para coordenar a jogada da noite anterior,
levando os cúmplices para onde eles precisavam ir. Era o certo que ele
deveria fazer parte desse momento.
O garoto ofegou, olhando para a vítima.
— Não é ele quem eu quero matar.
— Seja paciente. — Seelah disse, acariciando os cabelos do filho. — Eu
tenho sido.
Tilden Kaah caminhava silenciosamente pelas trilhas escuras de Tahv,
recentemente pavimentadas com pedras. Os Sith haviam dispensado os
outros atendentes Keshiri mais cedo, quando a excitação começou; ele foi
um dos últimos a sair. As ruas, geralmente povoadas de foliões, mesmo a
essa hora, estavam assustadoramente imóveis. Ele viu apenas um membro
de meia-idade dos Neshtovar parado em pé em uma travessia; despojado de
seu uvak anos antes, a figura parecia entediada.
Tilden assentiu com a cabeça para o vigia e entrou em uma praça perto
de um dos muitos aquedutos da vila. Lençóis de água fresca da montanha
caíam em longas calhas crescentes, uma presença refrescante no que havia
se tornado uma noite quente. Chegando diante de uma parede de água,
Tilden vestiu a túnica que estava carregando, levantou o capuz e entrou no
aguaceiro.
Ou melhor, através dele.
Tilden caminhou, pingando, pela passagem escura que conduzia
profundamente à estrutura de pedra. Ele seguiu as vozes abafadas até o final
de uma passagem. Não havia luz, mas havia vida. Tilden ouviu uma
conversa agonizante ao se aproximar: as horríveis notícias do sul
começavam a chegar. Os supersticiosos Keshiri provavelmente absorveriam
o horror silenciosamente, disse uma voz das sombras. Os Sith culpariam
invariavelmente as mortes em massa aos Destruidores.
— Está feito. — Tilden falou à escuridão. — Seelah livrou os Celestiais
dos Cinquenta e Sete. Das pessoas que não são como eles, apenas o homem
esburacado, Gloyd, permanece.
— Seelah não suspeita de você? — Retornou uma voz rouca e feminina
da escuridão. — Ela não lê a sua mente?
— Ela acha que não valho a pena. E não falo de nada além das velhas
lendas. Ela me acha um tolo.
— Ela não consegue distinguir nossos grandes estudiosos dos nossos
tolos. — disse uma voz masculina.
— Nenhum deles pode. — disse outro. — Bom. Vamos continuar assim.
Seelah nos fez um favor, reduzindo o número deles. Ela pode fazer mais. —
Um clarão ofuscante apareceu quando um velho Keshiri acendeu uma
lanterna. Havia vários Keshiri ali, amontoados no espaço apertado, suas
atenções não em Tilden, mas na figura saindo das sombras atrás dele. Tilden
virou-se para reconhecer a mulher que primeiro se dirigira a ele.
— Permaneça firme, Tilden Kaah. Com a sua ajuda... e com a ajuda de
todos nós aqui, os Keshiri terminarão o trabalho. — A raiva brilhou nos
olhos de Adari Vaal. — Eu trouxe esta praga sobre nós. E eu vou acabar
com ela.
INTRODUÇÃO
A Tribo Perdida dos Sith: Salvador ocorre vinte e cinco anos após os eventos de PRECIPÍCIO e
dez anos após os eventos de PARADIGMA. Esta história curta é contada do ponto de vista de três
personagens principais: o Grande Lorde Yaru Korsin, líder da tribo Sith em Kesh; Adari Vaal, a
líder da resistência Keshiri contra os Sith; e Seelah Korsin, a esposa de Yaru que está tramando
vingança contra o Grande Lorde pelo assassinato do seu marido, Devore Korsin, quase um quarto
de século antes.
Yaru Korsin adotou o título de Grande Lorde e fez da antiga vila de Tahv sua nova capital. Sob a sua
liderança, a Tribo Perdida havia se mudado de seu retiro nas montanhas, do local da queda da
Presságio, para Tahv permanentemente. Korsin também foi capaz de explorar a "praga" que ocorreu
dez anos antes, alegando que os residentes das cidades dos Lagos Ragnos não tinham fé na Tribo
Perdida dos Sith, que alegavam serem os divinos Celestiais, deuses na mitologia Keshiri. Para
comemorar o vigésimo quinto aniversário da chegada da Tribo Perdida em Kesh, Korsin havia
encomendado uma celebração em Tahv. Entre os presentes estavam sua esposa Seelah e a
embaixadora Keshiri, Adari Vaal, que foi a primeira a descobrir a chegada da Tribo.
— F ilhos de Kesh, os seus Protetores retornaram para vocês.
Novamente!
Korsin esperou que o clamor da multidão diminuísse. Não aconteceu. O
Capitão Yaru Korsin, Grande Lorde da Tribo dos Sith em Kesh, estava no
topo da plataforma de mármore e olhava através do mar agitado de rostos
roxos em êxtase. Atrás dele, erguiam-se as colunas e cúpulas de sua nova
casa. Antes uma vila nativa, Tahv era agora uma capital Sith.
As edificações haviam sido erguidas rapidamente no local do antigo
Círculo Eterno para este dia, exatamente um quarto de século em anos-
padrão após a chegada dos Sith a Kesh. Korsin estava determinado a fazer
deste aniversário algo para se comemorar, em vez de se lamentar. Com a
dedicação de hoje, Korsin sinalizava a intenção de seu povo de viver entre
os Keshiri para sempre.
Agora, anos após o acidente, ficou claro que nada mais poderia ser feito
para reparar a Presságio. Não havia motivo para morar no templo do local
do acidente, quando existia tanta beleza lá embaixo. Korsin olhou para
cima, em direção ao pico nublado no horizonte ocidental. Um esqueleto de
equipe de trabalhadores Sith e Keshiri estavam lá, encerrando assuntos na
montanha. Selada com segurança em seu santuário, a Presságio estaria lá se
precisassem.
Korsin sabia que não iriam precisar. Foi tudo uma farsa. Ninguém
estava vindo para ajudá-los; ele soube disso assim que viu as entranhas
derretidas do transmissor. O planeta Kesh não estava nem perto de lugar
algum, ou Naga Sadow já os teria encontrado. Eles e os preciosos cristais
Lignan dele.
Ele se perguntou sobre o Capitão Saes e a Prenúncio. Eles teriam
sobrevivido à colisão que desviara a Presságio? O Jedi caído teria
conquistado a glória que deveria pertencer ao Sith, depois de uma vitória
em Primus Goluud? Ou Naga Sadow o tinha matado por sua
incompetência?
Sadow ainda vive?
Korsin sabia que esses eram pensamentos ociosos. Mas tinha que
manter essas perguntas vivas em seu povo, desde que alguém se lembrasse
de onde elas vieram. A estabilidade requeria isso.
E exigia um elegante ato de equilíbrio. Os Sith que enfrentassem um
futuro apenas em Kesh lutariam para sempre pelo status, o que significaria
mais dias como aquele, anos antes, quando ele e Devore duelaram. Ele
olhou para os Sith, que permaneciam atentos dos dois lados da ampla
escada de ardósia que descia a plataforma. Tantas pessoas, tantas ambições
para gerenciar. Foi por isso que Korsin permitiu que pensassem que ele
realmente havia ativado o farol de emergência uma vez, antes que falhasse.
A perspectiva de partida tinha o poder de unir; o mesmo acontecia com o
fantasma da chegada de um poder superior punitivo.
Mas ele também tinha que garantir que qualquer esperança de fuga
sempre perdesse para o trabalho real: remodelar Kesh como um mundo
Sith. O que tinha acontecido com o pessoal de Ravilan foi parcialmente
devido ao fracasso de Korsin em administrar isso, embora ele não se
importasse com o resultado. Ao contrário de sua esposa, ele não tinha nada
contra os Sith de pele vermelha, mas as facções ameaçavam a ordem. Um
povo Sith homogêneo era mais fácil de governar.
Sua esposa. Casar-se com Seelah tinha sido outro aceno para a
estabilidade, uma ponte entre a tripulação da Presságio e seus passageiros
da equipe de mineração. Lá estava ela, do outro lado do estrado,
cumprimentando os dignitários Keshiri que tinham permissão para estar ali.
Cumprimentando, mas sem realmente tocar em nenhum deles. Korsin
também nunca mais a tocou, o que era uma pena, pois ela estava linda
agora, com os cabelos ruivos caindo em uma cascata de cachos em volta da
pele escura e impecável. Ele não sabia que feitiçaria sombria a sua equipe
de especialistas havia feito, mas ela mal parecia ter um dia a mais do que 35
anos.
Essa mudança foi ideia dela. Ela odiava a esterilidade do retiro na
montanha; o seu novo lar era mais quente, tanto em temperatura quanto em
aparência. Os artesãos Keshiri e os designers Sith haviam aprendido muito
uns com os outros. Havia pedras, sim, mas também flores espinhosas de
dalsa escalando as paredes exteriores. Jardins apareciam aqui e ali, ao lado
de borbulhantes piscinas alimentadas por aquedutos. Era um lugar para a
vida.
Nem todas as cidades Keshiri eram lugares para a vida, Korsin pensou
ao reconhecer os anciãos que passavam mancando. Ele quase tinha perdido
completamente os nativos, anos antes. As mortes em massa nas cidades dos
lagos foram efetivamente atribuídas à falta de fé dos moradores na
divindade da Tribo. Os Sith até fizeram um show para os que duvidavam:
um conhecido dissidente Keshiri foi levado até o Círculo Eterno para
proclamar contra os "supostos Protetores", apenas para cair, aparentemente
sufocando até a morte com as suas próprias palavras. O próprio Korsin
pareceu benevolente e chocado, mas a mensagem era clara. Praga e peste
aguardavam quem os desafiasse.
Gloyd havia pensado naquela pequena façanha. O bom e velho Gloyd.
Mais velho, agora, do que bom. O severo Houk estava atrás dele, com o
sabre de luz à mão, como um guarda-costas cerimonial de Korsin, mas o
artilheiro de outrora agora parecia que precisava ele mesmo de proteção.
Ele era o último não-humano que restara da equipe original. Uma era
chegaria ao fim com ele.
— A Filha dos Celestiais, Adari Vaal. — anunciou Gloyd. Korsin
imediatamente esqueceu tudo sobre arquitetura e Houks inteligentes. Adari,
a sua antiga salvadora nativa, aproximou-se levemente deles e se curvou.
Korsin observou o frio acolhimento por parte de Seelah. Se eles não
estivessem na frente de metade de Kesh, estaria ainda mais frio. Ele sempre
se maravilhava quando observava as duas juntas. Não havia comparação.
Seelah era atraente, mas sabia disso, e nunca deixava ninguém esquecer. Ela
achava a Keshiri feia: mais uma prova de que o julgamento dela nunca seria
confiável.
Como uma Keshiri, Adari era muito menos que Seelah, e, no entanto,
muito mais. Ela não foi tocada pela Força, mas tinha uma mente ágil que
lidava com coisas muito além das óbvias limitações de seu povo. E ela tinha
a vontade de um Sith, senão as crenças. Apenas duas vezes ele viu sua força
falhar com ela, o mais importante, da primeira vez, quando ela concordou
em manter em segredo a morte de Devore. Isso tornara muitas coisas
possíveis, para os dois.
Pisando diante dele, Adari observou Korsin com os seus olhos escuros e
sondadores, cheios de mistério e inteligência. Ele pegou a mão dela e sorriu.
Esqueça Seelah.
Vinte e cinco anos. Ele tinha salvo o seu povo.
Este foi um bom dia.
Você pode ler minha mente. Você não sabe o quão desconfortável isso é
para mim? Você não se importa?
Adari soltou a mão de Korsin e sorriu. A "saudação" de Seelah apenas
lhe deu um leve arrepio. Mas Yaru Korsin sempre a olhava como alguma
coisa que estava prestes a comprar pela metade do preço.
Ela tentou dar um passo atrás e continuar na linha da recepção, mas
Korsin puxou o seu braço.
— Este dia é seu também, Adari. Fique conosco.
Maravilha, ela pensou. Tentou evitar o olhar de Seelah, sem saber se o
corpo de Korsin seria suficiente para bloqueá-lo. Mas pelo menos esse era
um desconforto com o qual tinha aprendido a lidar diariamente. Espetáculos
públicos, como este, ela nunca se acostumaria.
E todos tinham sido muito bons para ela, qualquer que fosse a sua idade
ou status. Bem ali neste local, tinha sido acusada de heresia. E então, dias
depois, tinha se tornado uma heroína, não importa que ela tivesse trazido
uma praga para seu povo na forma dos Sith.
Agora que a antiga praça estava enterrada sob essas novas edificações,
ela estava ali novamente, olhando através de um mar de ignorância. Os
Keshiri comemoravam alegremente a sua própria escravidão, ignorando os
seus incontáveis irmãos e irmãs que haviam morrido desde a chegada dos
Sith. Muitos haviam morrido nos desastres das cidades do lago, mas muitas
outras vidas foram perdidas em trabalhos forçados, tentando agradar os seus
convidados das alturas. Os Sith haviam distorcido a fé Keshiri, então nada
disso importava. Toda esperança vã que as massas já tiveram foi investida
nos Sith.
Nem Adari estava imune. Ela pensou em seu pobre filho Finn,
ensanguentado e esmagado. Ele tinha insistido em se juntar às equipes de
trabalho quando atingiu a adolescência. Nenhum filho da Filha dos
Celestiais precisava trabalhar, mas o caçula de Zhari Vaal se rebelara
exatamente dentro do cronograma, acompanhando uma equipe de trabalho.
Um andaime, erguido às pressas, cedeu. Adari também falhou naquele
dia, voando com o seu filho quebrado para o templo e para os pés de
Korsin, que imediatamente veio para o lado de Finn, trabalhando a sua
magia Sith; por um momento, Adari se viu esperando que Korsin pudesse
realmente devolver a vida ao seu filho. Mas é claro que ele não podia.
Ela já sabia que eles não eram deuses.
Korsin ganhou uma briga com Seelah naquele dia; a cura era o domínio
dela, mas Adari não havia pensado em consultar os médicos dela. Os
médicos Sith ficaram interessados nos Keshiri apenas o tempo suficiente
para aprender que as doenças deles não representavam ameaça aos
humanos, e que eles não podiam ter filhos com os Sith. Talvez por isso
Seelah tolerasse a companhia de Adari com Korsin.
Mas essa amizade nunca mais foi a mesma depois daquele dia. Adari
tinha gostado de aprender com Korsin, mas a morte de Finn despertou a sua
consciência. Tinha significado uma coisa para o seu povo. Depois disso,
passou a significar outra, como líder do movimento de resistência
subterrâneo Keshiri, composto por outros que haviam recuperado a razão.
E agora, depois de uma dúzia de anos, eles finalmente estavam prontos
para agir.
Do sul, um estrondo soou. O Pináculo Sessal vinha sentindo a sua
juventude vulcânica recentemente e seus primos vulcânicos mais próximos
de Tahv estavam resmungando em resposta. Seguramente distante, no
entanto, interrompeu a formação perfeita de pilotos de uvak que pairavam
sobre a procissão.
Adari olhou para eles, e depois para Korsin, com os cabelos agora
cinzentos. Ela tinha aprendido a esconder seus pensamentos dele,
mantendo-se firme e sem emoções. Ela precisava disso agora, mais do que
nunca.
Ela conseguiu sorrir. Korsin a chamara por libertação, anos antes. Em
breve, ela a entregaria à sua própria espécie.
Não sou a pechincha que você pensa que sou. Kesh também não.
Seelah viu quando o uvak pousou na clareira abaixo. A abordagem deles
era desleixada; não o suficiente para estragar o dia, mas o suficiente para
chamar atenção onde não devia.
Principalmente não para o cavaleiro líder, que agora desmontava e
caminhava em direção à escada. No vigésimo aniversário de sua filha, Yaru
Korsin fez dela chefe de algo que não existia: os Patrulheiros Celestiais. Era
pouco mais que um clube de cavaleiros Sith amadores, úteis apenas para
exibições públicas como esta. Nida Korsin acabara de mostrar que não era
muito boa nisso.
O fato de Nida também ser a sua filha era um detalhe da genealogia. A
roupa da criança era uma abominação contra a moda. Seelah imaginou que
o colete e as calças de couro de uvak deveriam fazê-la parecer robusta e
ativa, mas, seguindo a linha da recepção, a pequena Nida simplesmente
parecia cômica. Seelah reconheceu os seus próprios olhos e as maçãs do
rosto na garota, embora não muito mais; cabelos curtos e tintas coloridas
para o rosto desperdiçavam qualquer beleza natural que Nida pudesse ter
herdado. A garota nunca teria passado por uma das infames inspeções de
Seelah.
— Ela é filha do Grande Lorde. — Seelah disse com desdém a Korsin
quando a filha passou por eles. — O que os Keshiri vão pensar?
— Desde quando você se importa com isso?
Nida saiu do palco com apenas um aceno de Korsin. Estava na hora do
show real.
Gritos vieram da multidão, primeiro de surpresa, depois de alegria. De
locais dentro da multidão, duas dúzias de foliões fantasiados com máscaras
cerimoniais Keshiri saltaram alto no ar, rasgando as suas capas. Pousando
no chão, limpo de espectadores com um empurrão na Força, os acrobatas
vestidos de preto se revelaram como os Sabres, o novo detalhe de honra da
Tribo. Sabres de luz carmesim dançavam enquanto realizavam exercícios
complexos. O floreio final resultou em uma explosão de deleite dos Keshiri,
seguida por um anúncio de Gloyd:
— O Alto Lorde Jariad, da linhagem de Korsin!
O líder dos Sabres subiu vigorosamente a escada central até o estrado,
roubando a respiração dos Keshiri a cada passo resoluto. Com os cabelos e
a barba de ébano perfeitamente penteados, Jariad fazia de cada pausa uma
pose para a história. O filho selvagem de Devore Korsin e Seelah atingira a
maioridade.
Com o sabre de luz ainda aceso, Jariad parou diante de Yaru Korsin.
Sobrinho e enteado, Jariad era quase um terço de metro mais alto, um fato
que ninguém deixou de reparar. Um olhar gelado passou entre os dois. De
repente, Jariad se ajoelhou, segurando o sabre de luz centímetros acima da
nuca bronzeada.
— Vivo e morro a seu comando, Grande Lorde Korsin.
— Levante-se, Alto Lorde Korsin.
Seelah assistiu com alívio quando o seu filho se levantou para um
abraço caloroso. A multidão murmurou. Por todo o seu título e conexão
com a família, Jariad não era o herdeiro de Yaru Korsin no poder, não mais
do que Seelah era; Korsin mantinha os seus planos de sucessão em segredo
há muito tempo. Os sete Alto Lordes que ele havia indicado eram meros
conselheiros. Mas se Jariad fosse o favorito do público, Seelah sabia que
Sith e Keshiri reconheceriam a reivindicação dele, de uma maneira ou de
outra. Ela ficou satisfeita: Jariad agiu exatamente como ela havia
aconselhado. O momento de Yaru Korsin estava próximo, mas este não era
o lugar para isso.
Jariad cumprimentou os outros, dando atenção especial a Adari. A
mulher Keshiri se afastou imediatamente e olhou para baixo. Seelah sabia
que não era modéstia, embora o aborrecimento insuportável tivesse muito
para ser modesta. Desde que o filho tinha crescido à semelhança de seu
falecido pai, Seelah sempre pegava pensamentos dispersos de Adari quando
Jariad estava por perto. Ela pensou nisso por um longo tempo. Korsin se
gabara de ter matado Devore? Isso seria suficiente para causar uma reação
tão forte?
Eventualmente, Seelah encontrou a resposta, profundamente em seus
próprios pensamentos. Ela remexeu na mente de Adari anos antes, quando
se conheceram na escuridão na montanha. Na época, Seelah estava
procurando qualquer indício de resgate. Mas, na contemplação, Seelah
percebera que o mar de pedras e rostos roxos sem sentido na mente da
alienígena incluía outra coisa. Algo meio visto, mas chocante para Adari, e,
na época, recente: um corpo jogado do precipício para o mar revolto.
Adari Vaal vira Yaru assassinar Devore Korsin.
E assim, finalmente, Seelah também viu.
Jariad voltou para o lado de sua mãe e deu-lhe um olhar familiar.
— Logo. — ela sussurrou.
Isso exigiria cuidados. Korsin tinha amigos, a maioria da tripulação
permanente da Presságio. Mas muitos partidários de Devore Korsin
permaneceram. Contos sussurrados do capitão que retinha informações
sobre sua situação abandonada conquistaram outros aliados. Ela
providenciaria para que todos estivessem no lugar certo e na hora certa.
A multidão rugiu novamente quando Korsin pegou a mão dela e virou-
se para os degraus que levavam ao novo lar deles. Seelah sorriu.
Vinte e cinco anos. Ela tinha guardado todo o seu ódio.
O fim estava chegando.
K orsin reconheceu o som imediatamente. Sabres de luz colidiram na
galeria da capital, do lado de fora do corredor para o seu escritório.
Girando pelo chão brilhante, Jariad atacava três adversários vestidos de
preto. Desta vez, as suas lâminas não estavam desenhando circuitos
inofensivos no ar. Os atacantes de Jariad se lançaram contra ele, apenas para
serem repelidos por sua resposta irritada.
Um por um, Jariad venceu os seus oponentes, conduzindo um para
baixo de uma estátua em queda e jogando outro por um painel novinho de
vidro defumado. O terceiro viu o seu sabre de luz deslizar pelo corredor
quando Jariad separou a mão enluvada de seu pulso.
Korsin saiu para o salão, segurando o sabre de luz e a mão decepada.
— Tem certeza de que deseja chamar esse seu grupo de Sabres? Eles
parecem estar sem.
Jariad desativou a sua arma e exalou.
— Era isso que eu queria lhe mostrar, Grande Lorde. Eles foram
rapidamente desarmados.
— Você não deveria interpretar essa palavra tão literalmente, filho. —
disse Korsin, jogando a mão para o dono que estremecia no chão. — Nós
não temos exatamente um laboratório médico moderno aqui.
— Não há indulgência para a incompetência!
— Era um exercício, Jariad, não o Grande Cisma. Respire fundo e
venha para fora. — Korsin suspirou. Apesar de seus sentimentos sobre o
seu falecido meio-irmão, ele tentara orientar Jariad. Só que não estava
dando certo. Jariad tinha muitos dos mesmos traços egocêntricos que
haviam arruinado Devore. Ou ele não fazia nada, ou exagerava. Era bom
que não houvesse narcóticos em Kesh, Korsin pensou; Jariad poderia ter
retomado de onde seu pai tinha parado.
Korsin saiu para o sol poente. Ultimamente, os vulcões haviam
arruinado muitos dias agradáveis. Um servo Keshiri apareceu do nada,
carregando bebidas.
— As coisas não são boas aqui. — disse Jariad, emergindo. — Existem
muitas distrações aqui nesta cidade.
— Eles estão distraindo. — disse Korsin, olhando para o pátio. Adari
Vaal havia chegado.
Jariad a ignorou.
— Grande Lorde, peço permissão para remover os Sabres para os
Confins do Nordeste para uma missão de treinamento. Muito além de
Orreg, onde não há nada para distraí-los naqueles desertos. Lá, eles podem
se concentrar.
— Humm? — Korsin olhou para o sobrinho. — Oh, certamente. — Ele
pegou o segundo copo da bandeja. — Com licença.
Korsin pensou que Adari estivesse olhando para ele. Juntando-se a ela
no jardim, descobriu que ela estava, na verdade, encarando uma escultura
em relevo que estava sendo entalhada em um frontão triangular acima da
edificação.
— O que... o que é isso? — Ela perguntou.
Korsin apertou os olhos.
— Se não me engano, é uma representação do meu próprio nascimento.
— Ele tomou um gole. — Não tenho certeza de como o sol e as estrelas
estão envolvidos. — Em todos os lugares para onde ele olhava neste
palácio, os Keshiri haviam estampado algo que representava a sua
divindade. Ele riu para si mesmo. Realmente fizemos um bom trabalho
promocional. — Eu não estava esperando você hoje.
— Agora somos vizinhos. — ela disse, pegando ociosamente o copo.
— Com um lugar desse tamanho, somos vizinhos de metade de Kesh.
— E a outra metade está dentro de casa, limpando o chão... — Adari
parou abruptamente e o olhou nos olhos. De vez em quando, ela flertava em
cruzar a linha. Korsin riu com vontade. Ela sempre o fazia rir.
Mas quando as asas de couro passaram voando sobre a sua cabeça,
Korsin viu o verdadeiro motivo da visita de Adari. Tona, o filho
sobrevivente dela, correu de uma estrutura externa ornamentada para pegar
o freio de um uvak que pousava. Nida Korsin havia retornado de seu
passeio matinal.
Korsin havia nomeado Tona como o mestre de estábulo viajante do
grupo recém fundado de Nida. O jovem rapaz parecia bastante amável, se
não particularmente afiado. E Nida parecia gostar dele. Adari puxou o filho
para o lado e trocou palavras baixas.
Adari voltou-se para Korsin.
— Sinto muito, mas tenho negócios na cidade.
— Vou ver você de novo?
— O que, hoje?
— Não, eu quis dizer, sempre? — Korsin riu novamente. Ela está
desconfortável, ele pensou, se perguntando o porquê. — Claro, hoje.
Estamos na mesma cidade agora, não estamos?
Adari revirou os olhos para o edifício colossal atrás deles.
— Isso é muito esforço apenas para me ter mais perto. — Ela conseguiu
sorrir.
— Bem, apenas saiba que eu não estarei aqui amanhã. — Korsin disse.
— O centro médico de Seelah está se mudando para cá do templo. Vou
subir de manhã para inspecionar todo o lugar antes de fecharmos tudo. É só
por um dia.
Absorvendo suas palavras, Adari tocou na mão dele.
— Eu deveria estar indo.
Quando ela se afastou, Korsin olhou novamente para a filha, do outro
lado do quintal. Nida fez uma pausa para assistir Jariad e seus humildes
combatentes marchando deliberadamente para suas próprias montarias.
E Tona, ele viu, estava olhando para ela.
— Seu filho deve ter cuidado, Adari. — Korsin disse. — Ele está
passando muito tempo com Nida. — Ele sorriu. — É esse charme Korsin
que mantém os Vaals por perto.
— Bem, hoje não, Vossa Grande Excelência. — Adari disse, apontando
para o filho que se aproximava. — Tona vem comigo. Negócios de família.
— Eu entendo. — Korsin disse. Negócios de família. Observando Jariad
voar para o norte, desejou que ele próprio tivesse menos disso.
Anos antes, Izri Dazh havia sido seu algoz. Inquisidor dos Neshtovar,
Dazh acusou Adari Vaal de heresia por não se interessar pelas lendas sobre
a criação de Kesh, e o papel de seus deuses do alto, os Celestiais.
Dazh estava morto há muito tempo. Mas agora os seus filhos e netos
estavam sentados em silêncio em frente a Adari na sala de visitas de Dazh à
luz de velas. O movimento de resistência de Adari havia se encontrado em
vários lugares ao longo dos anos, debaixo de um aqueduto até na parte
traseira de um estábulo uvak onde Tona trabalhava em Tahv. Mas raramente
eles se encontravam com esse luxo, ou o que havia sido considerado luxo,
antes que Adari trouxesse pessoas que alegavam ser os Celestiais para o
meio deles, para reformular os padrões dos Keshiri. Agora, na habitação
que outrora havia abrigado temporariamente o próprio Grande Lorde
Korsin, os Neshtovar e a herege decidiam juntos o destino do povo Keshiri.
— Isso vai funcionar. — ela disse. — O que você me ensinou sobre os
uvak... o que combinamos para o seu pessoal fazer. Vai funcionar.
— É melhor que seja assim. — murmurou o homem mais velho. —
Estamos desistindo de muito.
— Vocês já desistiram de muito. Este é o único caminho de volta.
Adari sabia que tinha se arriscado, trazendo membros dos Neshtovar
para o seu círculo. Mas isso tinha que ser feito, enquanto os Neshtovar mais
velhos ainda se lembravam do que lhes fora tirado pelos Sith. A lembrança
dos benefícios que a sua antiga sociedade havia injustamente acumulado
como cavaleiros de uvak ganhava agora a cooperação deles.
Adari havia percebido recentemente que os uvak eram a chave. Os Sith
eram poderosos; um, agindo sozinho, poderia manter dezenas de Keshiri
afastados, talvez até mesmo uma vila inteira. Mas eles tinham que chegar
primeiro à vila. E ali, Kesh, com a sua vasta extensão de terra, trabalhava
contra eles.
Os Sith agora eram quase seiscentos agora, quase o dobro do que
haviam chegado. Mas as aldeias de Kesh ainda eram mais numerosas. A
manutenção da ordem exigia que os Sith fizessem voos frequentes de uvak
para o interior. Cavaleiros Neshtovar de outra época haviam unido o
continente de Keshtah superando as muitas barreiras naturais. Agora, os
Sith usavam a mesma estratégia, despachando cavaleiros em uma rota para
fazer aparições e consultar burocracias locais, a maioria composta por
membros antigos dos Neshtovar.
Mas enquanto eram tenentes dos Sith no chão, os Neshtovar agora
também estavam de castigo. Embora os Sith tivessem tomado os uvak mais
fortes pra si logo após a sua chegada, isso ainda deixava milhares de bestas
domesticadas para os Keshiri. A maioria havia sido empregada como mão-
de-obra animal, mas os Neshtovar ainda podiam voar em uvak em visitas ao
retiro nas montanhas Sith, entre outras tarefas administrativas.
Isso terminou após o desastre nos lagos. Os cavaleiros de uvak eram os
portadores de notícias tradicionais dos Keshiri, mas os Sith não queriam que
a notícia fosse divulgada, a não ser por eles. Os ex-cavaleiros que não
foram reduzidos ao trabalho de patrulha estavam agora mantendo os
estábulos, alimentando criaturas que nunca teriam permissão de montar. Os
uvak deles pertenciam aos Sith que provavelmente ainda estavam na creche.
Adari tinha permissão para manter Nink para que pudesse continuar a
visitar Korsin, mas ela era a única.
— Korsin vai ao templo da montanha amanhã. — ela disse. — Seelah
está lá... e Jariad partiu para o norte.
Os homens Neshtovar assentiram uns para os outros.
— Muito bom. — disse o mais velho. — Temos números adequados em
todos os lugares, se a sua contagem de cabeças estiver certa.
— Está. — O movimento dela incluía assessores Keshiri de muitos dos
principais Sith. Tilden Kaah estava contando cabeças entre o séquito de
Seelah; Adari tinha outras pessoas próximas de Korsin e Jariad. Seu filho
mesmo estava acompanhando a rotina dos artistas de voo de Nida. — Meio-
dia de amanhã. Isso vai funcionar.
Adari pensou em Korsin enquanto entrava no beco iluminado por tochas
atrás da habitação. Ele tinha sido convocado... por Seelah? Korsin não iria
sozinho ao templo, por mais mundano que fosse o assunto. Checou
novamente as figuras que havia marcado na mão. Sim, teria pessoas
suficientes lá, exatamente entre os mantenedores do estábulo fechando a
oficina.
Tona apareceu da escuridão.
— Eu estava esperando.
— Desculpe. — Adari disse, olhando para cima. — Eles queriam rever
tudo de novo.
Ela podia ver a decepção tremeluzente do filho quando ele entrou na
luz. Sempre pensou que os dois filhos se pareciam com o pai; agora, aos
vinte e poucos anos, Tona a surpreendeu com o quanto ele se parecia com
ela.
— Eu deveria estar com você, mãe. Eu também sou dos Neshtovar.
— Eles estão só sendo cuidadosos, Tona. Quanto menos pessoas
souberem os detalhes, melhor.
— Eu quero cavalgar com você amanhã. — Tona disse.
— Você tem o seu próprio trabalho aqui. — Adari disse. — E você vai
me ver quando tiver sucesso. — Ela tocou na bochecha dele. — Você não
deve ficar longe de Nida e do pessoal dela por muito tempo. Amanhã
estaremos ocupados. Durma um pouco.
Adari observou enquanto ele se voltava e entrava na noite. O doce e
simples Tona. Não tinha contado tudo a ele, mas como poderia? A sua
falecida mãe nunca havia entendido a sua heresia, ou a sua canonização.
Como o seu filho poderia aceitar o seu martírio?
A era de ouro havia começado, pensou Seelah, enquanto examinava o
seu quarto vazio. E ela era responsável.
Eles tinham feito um bom trabalho ali nos anos em que ela dirigia a
equipe médica da Tribo. Todas as doenças locais foram identificadas e
controladas. Com a ajuda dos Keshiri, os biólogos de Seelah vasculharam o
campo, indexando remédios botânicos úteis para os seres humanos. As
habilidades de cura pela Força de sua equipe, longe de atrofiar, haviam
aumentado. O mesmo aconteceu com a taxa de sobrevivência dos
amputados.
A Tribo também era um povo mais puro, graças à sua atenção à eugenia.
Antes de muitas gerações, o sangue dos Sith em Kesh seria totalmente
humano. Ela lamentou que não estaria viva para ver isso.
Ou estaria? Um pensamento agradável.
Mas os Sith já eram mais agradáveis de se olhar. Tinha instilado nos
jovens um respeito por seus corpos, um desejo de perfeição física. Os
Lordes Sith que eles deixaram para trás eram modelos de regras atrozes: a
maioria deles era uma confusão bárbara de bugigangas e tinta de guerra. A
Tribo de Seelah não aceitaria nada disso. Tatuagens eram etiquetas para
escravos. Um Sith de Kesh já nascia uma obra de arte.
E após as perdas no expurgo, os números da Tribo tinham começado a
aumentar rapidamente nos últimos anos. A perspectiva de uma casa quente
perto do nível do mar era suficiente para estimular os Sith de mente mais
independente com pensamentos de família. No pátio, Seelah viu Orlenda, a
principal hedonista da tribo, plenamente grávida. As maravilhas nunca
cessavam.
— Isso é tudo. — Orlenda disse, apoiando-se em um carrinho precário
de suprimentos prestes a partir para Tahv. A mulher mais jovem olhou para
baixo nervosamente; Korsin chegaria a qualquer momento. — Você... você
me quer aqui para isso? Não posso voar, mas posso descer neste carrinho
com os mais frágeis.
Seelah mordeu o lábio. Ver Orlenda ao lado dela quando ele chegasse
deixaria Korsin à vontade. Mas se algo desse errado ali, Orlenda poderia
garantir que as políticas de Seelah continuassem.
— Vá. — ela disse, suspirando. — Mas depressa. Eles estão chegando.
Orlenda foi atrás de carregadores Keshiri. Além dos uvak, eles eram os
únicos animais de carga do continente.
Estava na hora. Seelah se apressou em direção à praça formada pelos
domicílios e o santuário da Presságio. A comitiva de Korsin desembarcava
no outro extremo. Bem no horário, para variar. Os quatro guarda-costas de
Korsin e Gloyd tomaram as suas posições enquanto os atendentes Keshiri
levavam os uvak. Os seus estábulos seriam a última coisa a fechar.
Korsin estudou a praça ao seu redor.
— Ah, Seelah. Aí está você. — Ele se aproximou dela. Do lado de fora
em campo aberto.
— Sim. Aí está você. — Ela fechou os olhos e se concentrou. Agora,
Jariad!
N ão foi a onda de corpos que assustou Korsin mas sim de
onde vieram. Sith vestidos de preto desciam sobre a praça dos alojamentos,
saindo de portas, janelas superiores, telhados, e das muralhas do templo
multinível da Presságio. Korsin acendeu o sabre de luz e se manteve firme
quando os invasores se aproximaram. Eles eram os Sabres de Jariad, a
mesma equipe da manhã anterior.
Korsin trocou olhares com Gloyd. Os seus guarda-costas os ladeavam,
formando um grupo defensivo voltado para fora. Quatro para um.
— Fiquem juntos.
Korsin observou Jariad sair propositalmente da porta do templo, arma
acesa.
— Isso não parece os Confins do Norte para mim, Jariad.
O sobrinho não disse nada. Ele tinha aquele olhar selvagem novamente.
O olhar de Devore.
— Concordei com seu pequeno grupo para lhe dar algo para fazer. —
gritou Korsin. Ele se dirigiu aos companheiros severos de Jariad. — Vocês
deveriam ter vergonha. Voltem para Tahv.
— Eu não sou como Nida. — Jariad disse, ainda se aproximando. — Eu
não preciso de hobbies. Já desperdicei tempo demais. — Ele andou entre os
confederados, que agora formavam um perímetro de sabres de luz
brilhantes ao redor do grupo de Korsin. — Chegou a hora de acertar as
contas, Capitão Korsin. Você mesmo nos disse isso. Uma nova era
amanheceu. É hora de a autoridade militar terminar. Trata-se de sucessão,
de quem deve liderar melhor a tribo.
— Quem? Você? — Korsin tentou parecer surpreso, e riu. — Oh, Jariad,
eu realmente acho que não. Volte para casa.
Jariad congelou, evidentemente ciente dos olhares atentos de suas
próprias forças. Gloyd, parecendo entender a ideia, riu.
— Capitão, eu não colocaria esse aí nem como encarregado de limpar as
baias dos uvak.
— Eu sou o futuro! — Jariad explodiu. — Eu sou o mais jovem
daqueles nascidos nos céus. Todos os Sith depois de mim são nascidos em
Kesh. — Ele ergueu o sabre de luz. — O líder dos Sith deve ser especial.
Korsin olhou e rosnou.
— Você não é especial. Já vi outros como você antes.
A voz de uma mulher soou.
— Conte a ele! — Seelah. Ele tinha se esquecido dela. Ela estava em pé
no final da praça, agora acompanhada por vários de seus leais retentores.
Todos armados. — Conte a ele sobre como você viu o pai dele morrer,
Yaru. Diga a ele como você o matou e jogou o corpo nas rochas, tudo para
manter o controle sobre nós!
Korsin começou a responder, apenas para ver Jariad dar um passo para
trás. Os Sabres se aproximaram. Claramente, Jariad os deixaria dar os
primeiros golpes antes de entrar para a matança. Korsin se fortaleceu, e
olhou para as nuvens. Meio-dia.
De repente, figuras sombrias atravessaram a quadra. Cinco, dez,
dezenas de criaturas subiram ao céu, levantando-se atrás do templo. Uvak.
Deles.
— Que droga? — Jariad olhou para a mãe. Seelah parecia não ter mais
ideia do que ele.
Finalmente, a resposta veio de um dos assessores dela, subindo a escada
sem fôlego até a praça.
— Os cavalariços... os Keshiri! Eles estão roubando nossos uvak!
Vários Sabres de Jariad ergueram os olhos, atordoados. Korsin viu a sua
chance. Ele e Gloyd se lançaram para os vestidos de pretos do lado deles,
varrendo um caminho mortal em direção ao edifício mais próximo. Os seus
guarda-costas se fecharam atrás deles, bloqueando a perseguição da melhor
maneira possível.
Korsin e Gloyd correram pelo prédio, seguidos por uma multidão de
Sabres. Korsin foi para a escada, acenando para Gloyd o seguir.
— Bom truque, Capitão. — Gloyd disse. — Mas nós poderíamos ter
usado mais do que isso!
— Esse truque não é meu. — Korsin disse, alcançando uma janela. — E
você está certo!
Ele olhou com urgência para os céus e sondou a Força em vão. Ele fora
libertado da montanha anos antes. Mas ele podia sentir que a sua libertadora
agora estava longe.
A sua pilotagem havia melhorado desde seu primeiro voo desesperado,
anos antes. Agora Adari habilmente guiava Nink enquanto ele voava,
seguindo a costa irregular abaixo. Atrás dela voavam mais de cem uvak,
toda a população dos estábulos do templo da montanha, montados por
cavalariços Keshiri, domésticos e trabalhadores. Todos os agentes do
movimento de Adari tinham sido cuidadosamente posicionados lá para este
dia. Se quaisquer montarias tivessem sido deixadas para os Sith no templo,
ninguém as estava usando para segui-los.
O rebanho que se aproximava do leste era um dos dela. Haveriam
outros. Nas aldeias do continente, o mesmo aconteceria: os conspiradores
Neshtovar, que simplesmente cuidavam de seus uvak, iriam ao ar com eles,
sem deixar ninguém para trás.
Não haveria cavaleiros o suficiente, mas isso não importava. Embora
não fossem animais naturais de rebanho, mesmo os uvak não quebrados
eram altamente sugestionáveis aos berros dos machos mais velhos, o tipo
exato que os Neshtovar pretendiam. Histórias haviam sido passadas de
revoadas aéreas pelos séculos, com cavaleiros liderando nuvens dos répteis
pelo céu. A de Adari seria uma frente de tempestade evolutiva, recolhendo
todos os animais do campo em ondas vastas e sucessivas. Eles montaram as
suas rotas para canalizar todos os uvak que não estavam amarrados em
direção ao Pináculo Sessal, assomando à frente em sua majestade
fumegante.
Ali, a salvo da cratera, os cavaleiros da frente pousavam os seus animais
apenas o tempo suficiente para desmontar. Permanecendo no alto, Adari
ordenava que Nink desse um grito de agrupamento: um comando poderoso
que obrigava todos os uvak ao alcance da voz a segui-lo imediatamente.
Aos quarenta anos, o mimado Nink era o uvak mais antigo na memória.
Todos os uvak atenderiam cegamente à sua ordem, brevemente. Mas o
suficiente, Adari imaginou, para ela voar pelas nuvens acima da cratera
fumegante e desaparecer.
Não seria suicídio. Seria libertação.
Os Sith haviam viajado para longe nas costas dos uvak, mas os
Neshtovar foram os destinatários de gerações de conhecimento das
correntes de ar de Kesh. Eles sabiam as coisas estranhas que as correntes de
jato faziam quando o Pináculo Sessal agia. Os cavaleiros que voavam alto o
suficiente simplesmente desapareceriam, lançando-se além do horizonte da
manhã, bem acima do grande mar oriental. Ela escalaria alto, e o vento a
reivindicaria e a qualquer uvak que a seguisse.
Apesar de sua antipatia inicial pelos uvak, ela estremeceu ao pensar no
que viria a seguir. O rebanho frenético lutaria contra o vórtice, mas em tal
elevação, Kesh estava no comando. Talvez um fenômeno semelhante tenha
desativado a nave Sith; Adari não sabia. Mas quando os ventos se
enfraquecessem, ela, e todos os uvak que conseguisse convencer a segui-la,
chegariam a um fim aquoso. Assim como meu marido, ela pensou.
Os seus companheiros conspiradores amavam os seus uvak, mas
odiavam mais os Sith. Eles tinham discutido frequentemente o que
aconteceria a seguir. Os líderes Sith desceriam do retiro nas montanhas por
seu caminho de serviço, mas seria necessário tempo, tempo durante o qual
os aliados de Adari atacariam os principais simpatizantes dos Sith em cada
aldeia. Não haveria resistência aberta. Seriam lâminas shikkar à noite. Os
Sith ficariam orgulhosos.
Na verdade, é claro, os Sith atacariam. Tahv certamente sentiria a ira
deles. Mas os Sith estariam realizando seu massacre étnico a pé. O
transporte deles seria retirado do mapa, literalmente. E os Keshiri achariam
mais fácil matar os uvak remanescentes desgarrados do que os Sith.
Os Sith agora tinham os seus próprios jovens para proteger; eles
poderiam simplesmente pegar um pedaço de território e deixar por isso
mesmo. Ou, melhor ainda, eles poderiam se retirar para o refúgio da
montanha para sempre. A maioria dos Keshiri ainda idolatrava seus
Protetores, mas enquanto alguns deles estivessem dispostos a envenenar
seus senhores, eles sempre seriam um perigo.
Presumindo que o veneno matasse os Sith. Adari nunca realmente
compartilhou o entusiasmo de seus confederados sobre as consequências.
Sabia do que os Sith eram capazes. Poderia ser necessário mil Keshiri para
matar apenas um. Mas mesmo se conseguissem? No momento, as chances
ainda favoreciam os Keshiri. Eles não iriam mais adiar. É por isso que tem
que ser hoje, ela pensou.
Kesh fervilhava de vida. O fato de uma de suas espécies pagar um preço
por sua serventia era trágico. Mas os Keshiri já haviam pago um preço por
sua própria serventia para os Sith. Ambos tinham que terminar.
O seu grupo se fundiu com os pilotos do leste, Adari virou Nink e olhou
na direção de Tahv. Essa seria a grande onda.
Quando chegassem.
Onde eles estavam?
Seelah correu pelo telhado de sua antiga casa. Por metade de sua vida,
ela tinha acordado diante da mesma vista do mar que tinha engolido
Devore. Agora, olhando para baixo, via as suas forças se aproximando do
homem que o havia enviado para lá.
Não tinha visto como, mas Korsin e Gloyd haviam se separado. O
pesado Houk ainda estava vivo, ela sabia, os leais assessores dela o
perseguiam em outra parte do complexo. Mas Korsin era a chave. Ele tinha
escolhido bem seus guarda-costas. Dois permaneciam vivos, feridos, mas
eficazes em sua defesa desorientada.
A equipe de Sabres de Jariad, entretanto, havia demonstrado falta de
treinamento formal. Ele tinha insistido em ser o único mentor deles, mas só
tinha começado a treinar seriamente nas últimas semanas, depois que
Seelah tomou a decisão de atacar. Jariad a lembrava mais o pai dele todos
os dias. Não havia recanto que Devore Korsin não rompesse.
O desaparecimento dos uvak era um problema inesperado, mas tinha
cortado igualmente, removendo a fuga para todos. Os Keshiri haviam
levado todos os animais. Jariad tinha feito essa preparação sem contar a ela?
Improvável. Mas parecia ter afetado as esperanças de Korsin. Lá, na encosta
reforçada ao lado do templo da Presságio, ele continuava a olhar para cima.
Seelah tinha certeza de que ele não estava olhando para ela.
Seelah apreciou a vista. Jariad tinha Korsin agora. Treinados ou não, os
Sabres dele eram numerosos. Quando os seus guarda-costas ficaram para
trás, Korsin recuou em direção ao precipício, a mesma marca da qual
Devore caíra. Jariad iria gostar disso. Ele parecia estar gostando de cada
momento, golpeando Korsin várias vezes, sua lâmina ocasionalmente
encontrando sua marca. Korsin estava machucado agora, sangrando muito.
Jariad se aproximava cada vez mais, empurrando seu tio para trás.
E, no entanto, Korsin continuava olhando para cima.
O que ele estava esperando?
Um estrondo atrás chamou a atenção dela. A forma flácida de um de
seus assessores disparou através de uma claraboia e desapareceu pelo lado.
Então é aí que Gloyd está. Ele tinha que ser contido, longe da ação abaixo.
Irritada por ter sido roubada de ver Korsin morrer, Seelah se virou para a
claraboia quebrada.
...apenas para perder o equilíbrio quando asas batendo dispararam sobre
a crista do telhado. Seelah rolou para o lado, evitando o pontapé e as garras.
Os uvak estavam de volta!
Tropeçando pelo buraco aberto, Seelah bateu no chão de pedra de
quatro. A batalha de Gloyd estava na sala ao lado, mas ela correu para a
janela de qualquer maneira. Ela tinha que ver. Os Keshiri voltaram com os
uvak? Ou era alguém que ela nunca considerou, com quem nunca contou?
Olhando para fora, ela viu.
Nida.
K orsin havia jogado o seu trunfo.
A própria existência de Nida, ele sabia, fazia parte do jogo de Seelah
para manter a si mesma e a Jariad perto do poder. Dar a Korsin uma filha
foi útil para Seelah; a própria Nida não era. Seelah havia “cuidadosamente”
encontrado uma série de babás Keshiri e depois tutores para a criança,
enviando-a para uma vila atrás da outra. Oficialmente, era um gesto de
confiança dos Sith nos Keshiri; na verdade, refletia o buraco que ele sempre
conhecera no coração de sua esposa.
Havia mais. Seelah não estava apenas tirando Nida do caminho; Korsin
sabia que ela estava impedindo a filha de receber nada além de treinamento
superficial dos modos Sith. Seelah mantinha as listas dos Sith em Kesh; ela
sabia onde estavam todos os mentores em potencial a qualquer momento.
Mas Korsin tinha vários membros leais da tripulação dispostos a servi-
lo em qualquer função. Com a ajuda de Gloyd, Korsin havia encenado as
mortes deles em áreas remotas de Kesh e os havia escondido. Durante todas
as noites do aparente exílio de Nida, a garota secretamente aprendia os
caminhos do lado sombrio, mesmo durante os dias em que estava
conquistando amigos Keshiri e construindo uma rede de informantes. Tudo
em seu papel aparentemente sem sentido, mas muito móvel, como
embaixadora aérea dos Sith.
Enquanto Seelah se esforçava para se apresentar como a modelo Sith
em Kesh, Korsin estava criando uma líder, alguém com talento para lutar e
governar. Uma herdeira, e hoje, uma salvadora.
Na noite anterior, um dos conhecidos Keshiri de Nida tinha revelado o
plano para roubar os uvak enquanto os principais Sith estivessem no topo da
montanha. Ela tinha passado a manhã se certificando de que o que quer que
os Keshiri estivessem fazendo não fossem muito longe, antes de se juntar a
Korsin ali, junto com os seus Patrulheiros Celestiais e vários partidários de
Korsin. Não muitos, e não tão cedo quanto ele esperava, mas o suficiente e
a tempo. Expulsara os seus inimigos vindo para cá; a surpresa deles foi
completa.
Nida pulou no chão, com o sabre de luz brilhando, empalando um dos
bandidos de Jariad quando pousou. Dois convergiram para a posição dela,
apenas para serem cortados ao meio. Ela jogou um terceiro na parede do
templo, logo atrás. Não havia muito campo de batalha ao lado do penhasco,
mas Nida já o dominara. O próprio Jariad se afastou de Korsin antes da
matança, juntando-se aos seus Sabres na luta.
Uma explosão abafada veio da mansão mais acima da colina. Gloyd,
Korsin sabia. Cerrando os dentes, o capitão tocou o corte no seu peito. Ele
não sairia dessa, ele sabia. O chão vacilou embaixo dele. Não tinha sobrado
muito.
Mas ele olhou novamente para Nida.
Tão forte. O seu futuro para os Sith, lutando contra o futuro de Seelah.
E vencendo.
Estremecendo de dor, Korsin se arrastou de volta do precipício em
direção à briga. Jariad, ferido e lutando para impedir o avanço de sua irmã,
olhou para trás surpreso.
— Você está certo, Jariad. — Korsin disse, sufocando com sangue. — É
minha hora de ir... mas não sem o meu último ato oficial. E ele está
atrasado.
Adari deveria ter ficado mais surpresa. Ao cair da noite, mais de mil
Keshiri chegaram perto do pé do Pináculo, liderando cinco vezes mais uvak
sem cavaleiros. A multidão de feras que circulavam bem acima da formação
de fumaça parecia como uma auréola viva de couro. Era emocionante, mas
decepcionante: muitos mal teriam ocupado os currais de uvak no sopé do
sul.
Adari desistiu de examinar o horizonte muito antes de seus
compatriotas. À meia-noite chegou um cavaleiro solitário de Tahv, sem
fôlego e aterrorizado. O relatório dele confirmou a sua suspeita. Tona tinha
caído no feitiço de Nida Korsin e revelara todos os planos deles.
Não havia esperança desde o começo; alguém os teria traído. Tona foi
apenas o mais fraco. Adari se afastou antes de ouvir se Nida havia
recompensado Tona ou o matado. Nada mais importava.
O que surpreendeu Adari foi o que aconteceu a seguir. Ela esperava que
todos fossem embora. Que voassem para longe, libertassem os seus uvak e
desaparecessem novamente na sociedade Keshiri antes que os Sith os
encontrassem. Em vez disso, quando ela sombriamente seguiu para as
nuvens em Nink e se dirigiu para o rio sombrio de ar, ela encontrou toda a
comitiva em seu rastro.
Tinha adormecido, assumindo que Nink se renderia à gravidade durante
a noite. Muitos outros já haviam caído no oceano desde que deixaram
Keshtah para trás. A sua vez chegaria.
Mas ela acordou com outra coisa.
Lá de cima, a linha de terra não passava de uma costura entre as ondas,
uma cadeia de recifes contíguos a uma superfície suja um pouco maior do
que a antiga vizinhança dela. Nada daquilo sugeria um refúgio. Mas a
corrente de jato cedeu, e Nink também. Dos cavaleiros que haviam
começado, restavam menos de trezentos. Era isso, ou nada.
E isso é quase nada, ela pensou enquanto atravessava a sujeira salgada
da praia. O continente principal havia fornecido tudo o que os Keshiri
precisavam para prosperar. Ali, necessidades básicas teriam que ser
agarradas. Chuvas pouco frequentes acumulavam água fresca em recifes
côncavos. Os uvak, inúteis e sem destino à vista, teriam que ser abatidos
drasticamente para dar uma chance à vegetação escassa. A carne deles era
pouco comestível; as suas carcaças produziriam os únicos materiais de
construção.
Para as atividades intelectuais dela, a ilha não oferecia nada. Apenas os
mesmos escombros vulcânicos da praia ao monte. Anos em um purgatório
de sua própria autoria não pareciam suficientes: agora ela deveria ficar
entediada até a morte. Tudo o que encontrou foi um cadáver antigo de
Keshiri, outra vítima solitária das correntes aéreas oceânicas.
Por que os Sith não poderiam ter pousado ali?
Ela sabia a resposta. Os Sith tinham estado presos em um lugar assim.
Para salvar a si mesma, deles e dos anciãos, ela os libertou. Korsin estava
certo, aqueles anos atrás. Todos fazemos o que temos que fazer.
Eles estavam fazendo isso agora. Adari olhou para Nink, que estava
morrendo de cansaço, os pés bifurcados mal respondendo às carícias da
arrebentação. Ela não podia simplesmente enterrá-lo quando chegasse a
hora; ele seria necessário, assim como o resto. Os uvak eram parte
integrante de sua sobrevivência, mas descartáveis quando necessário.
Os Sith haviam olhado os Keshiri exatamente da mesma maneira.
Adari estudou o seu povo, trabalhando silenciosamente na ilha. Eles
esperavam que não sobrevivessem ao ano. Pior ainda, quem viesse procurá-
los não seria um salvador.
Talvez os Sith de Korsin se preocupassem com a mesma coisa, ela
pensou. Talvez as histórias fossem verdadeiras. Talvez os verdadeiros
Celestiais, os verdadeiros Protetores da lenda, estivessem por aí em algum
lugar, caçando os Sith.
Ela não acreditava nisso.
Mas de qualquer forma, ela nunca tinha acreditado.
Seelah acordou em uma laje em sua antiga enfermaria. Não havia
diferença entre as acomodações dos pacientes e os esquifes no necrotério;
tudo era mármore frio, assim como tudo no templo amaldiçoado.
Seelah estava se movendo agora, apenas as suas pernas não estavam.
Ela se lembrou de tudo. Segundos depois que viu Nida chegar, Gloyd havia
levado a luta para a câmara de Seelah. Gloyd sempre se gabava de que
quem o matasse não viveria para comemorar. De fato, encurralado por
Seelah e seus confederados, Gloyd havia ativado algo que devia ter
literalmente na manga desde o acidente: um detonador de prótons. A
apólice de seguro do Houk havia derrubado a sala em cima do grupo todo.
A Força ajudou a libertar Seelah dos escombros que a prendiam dos
joelhos para baixo, mas nada poderia fazê-la andar novamente. Ela não
precisava de seu treinamento médico para reconhecer isso. Ela trabalhou
incansavelmente para se tornar um espécime perfeito da humanidade, algo
pelo qual a Tribo aspiraria. Agora, sentando-se e examinando os seus cortes
e machucados, sabia que nunca mais voltariam a seguir o seu antigo
exemplo.
— Você está acordada. — Veio uma voz feminina suave. — Bom.
Seelah esticou o pescoço para ver a sua filha na porta, vestindo a sua
roupa do Dia da Dedicação. Quando Nida não se moveu para entrar, Seelah
usou os braços doloridos para se virar.
— Você vai fazer muito disso. — Nida disse, entrando e mergulhando
uma xícara em uma bacia. Ela bebeu profundamente e exalou. — Oh,
quando você precisar, a água está aqui. — Ela desviou o olhar.
Nida explicou como ela havia aprendido com Tona Vaal o plano de
roubar os uvak dos Sith, cronometrado exatamente quando o maior número
possível de Sith estaria na montanha. Levou mais tempo do que esperava,
mas frustrou a trama em Tahv e correu para o lado do pai. Mas chegou tarde
demais.
— Eu acho que você pode sentir isso... o papai se foi.
Seelah lambeu os lábios, provando o próprio sangue seco.
— Sim. E Jariad?
— Papai tentou jogá-lo para além do precipício com a Força. — Nida
respondeu. — Ele tentou... e quando falhou, eu o fiz.
Seelah olhou inexpressivamente para a filha.
— Eu odiava usar o pobre Tona assim. — Nida disse. — Mas ele
pensava que tinha algo que eu queria. — Ela tomou outro gole. —
Tínhamos algo em comum, você sabe. Nossas mães não tinham utilidade
para os nossos pais.
Tona havia revelado que os conspiradores estavam levando os uvak ao
Pináculo Sessal, mas ele não sabia nada além disso.
— Não há sinal deles lá. — Nida disse. — Nosso palpite é que eles
mergulharam no poço de lava. Por ressentimento ou medo. Não importa. —
Sith ou Keshiri, a dissidência terminou em Kesh. Foi um dia produtivo. —
Eu vim aqui porque acabamos de ler o testamento final do papai. — Ele
existia, sob os cuidados dela. — Ele recomenda o seu legado para mim, e
para os três Alto Lordes sobreviventes que o ratificaram. Então, você vê?
Você é a mãe da nova Grande Lorde. Parabéns. — Nida sorriu. Por sua
idade, ela poderia esperar governar Kesh nas próximas décadas. — Ou até
os Sith virem nos resgatar.
Seelah zombou.
— Você é uma criança. — Ela deslizou da laje, apenas para se apoiar
contra ela com as mãos quando seus pés não responderam. — Ninguém
vem nos buscar. Seu pai sabia disso.
— Ele me disse. Realmente não me importo, de um jeito ou de outro.
— Deveria. — disse Seelah, lutando para se endireitar. — Se eu contar
para aquelas pessoas lá fora...
Nida casualmente recolocou a xícara no lugar e deu um passo em
direção à porta.
— Não há ninguém lá fora. — ela disse. — Talvez você deva ouvir o
restante dos desejos finais do papai. Doravante, com a morte do Grande
Lorde, a cônjuge e os trabalhadores domésticos dessa pessoa deverão ser
sacrificados. Ele pegou a ideia de um antigo costume Keshiri.
Tecnicamente, é para homenagear o Grande Lorde, mas você e eu sabemos
do que realmente se trata. — Ela passou os dedos enluvados pelos cabelos.
— Eu imagino que isso vai colocar um friso na minha vida social, mas vou
superar.
Selah prendeu a respiração.
— Você não pode querer...?
— Relaxe. — Nida disse. — Doravante. Não, ordenei que todos os Sith
se retirassem desta montanha, em homenagem à morte do papai. Enquanto
eu viver, ninguém pode voltar aqui. Esta é a sua nova casa... de novo. — E
com isso, ela saiu para o pátio.
Seelah levou minutos dolorosos para a seguir, arrastando-se através da
pedra. Nida estava pisando no estribo do seu uvak, cercada por caixotes
feitos de hejarbo cheios de frutas e legumes. Mais seriam lançados por
sobrevoos regulares de uvak, disse Nida; as únicas criaturas, selvagens ou
treinadas, permitidas no espaço aéreo acima do templo. Em outras partes do
complexo, o acesso ao abrigo da Presságio havia sido cortado. Abaixo, o
caminho até a montanha estava sendo barricado, mesmo agora. Este tinha
sido cuidadosamente esculpido, mas agora seria bloqueado para sempre.
O que restou, Seelah viu ao olhar em volta, era o templo frio em que ela
passara a desprezar a vida. Um lar adequado apenas para uma deusa nas
alturas... para sempre. Sozinha.
— Nida. — Seelah tossiu quando Nida começou a voar. — Nida, você é
minha filha.
— Sim, é o que eles me dizem. Adeus.
INTRODUÇÃO
A Tribo Perdida dos Sith: Purgatório ocorre aproximadamente 1.140 anos após os
acontecimentos de Precipício, o primeiro romance da série. É contada do ponto de vista de duas
protagonistas, Orielle Kitai, uma Sith Sabre, e o seu amigo Jelph Marrian, um servo que se
especializou em vender fertilizantes de alta qualidade para fazendeiros Keshiri. Desconhecido para
Orielle, Jelph também era um Jedi Sombrio secreto que ficou preso no planeta Kesh. Após a morte
do fundador da Tribo Perdida dos Sith, Yaru Korsin, em 4.975 ABY, a sua filha Nida Korsin
governou o continente de Keshtah Menor como a Grande Lorde por 79 anos. Apesar dela ter gerado
um filho chamado Donellan, ele não viveu mais do que a mãe. Como resultado, Nida instituiu um
sistema de sucessão baseado no mérito. Assim, sucessivos Grandes Lordes foram eleitos entre os sete
Alto Lordes da Tribo.
A tarde deles começou como sempre. O ancinho
desceu, arrancando sulcos ordenados na lama negra. Erguendo-o para outro
passe, o manejador o desceu novamente, dividindo cuidadosamente os
sulcos.
Ori Kitai assistia do outro lado da cerca. O jovem fazendeiro ia muito
devagar. O ancinho, um casamento insubstancial de brotos de hejarbo e
pedras finas, separou o rico solo com facilidade. Mas Jelph de Marisota
parecia não ter pressa, para isso ou qualquer outra coisa.
Que monótono deve ser, pensou Ori. Durante todo o dia, todos os dias, o
homem de chapéu com abas de palha cuidava de seus deveres, sem lugar
para ir ou amigos para ver. Sua propriedade ficava sozinha em uma curva
do Rio Marisota, longe da maioria dos centros da cultura Sith em Kesh.
Nada existia rio acima senão vulcões e selva; nada rio abaixo além das
cidades fantasmas dos Lagos Ragnos. Não era vida para um humano.
— Lady Orielle. — disse Jelph, tirando o chapéu. O cabelo arenoso
pendia em uma longa trança do lado de fora da gola da blusa encharcada.
— Apenas Ori. — ela disse. — Eu já falei uma dúzia de vezes.
— E isso significa uma dúzia de visitas. — ele disse com aquele sotaque
estranho. — Estou honrado.
A mulher esbelta de cabelos castanhos-avermelhados passeava ao longo
da cerca, lançando olhares de soslaio para o trabalhador. Ela não tinha
nenhum motivo para esconder porque ainda vinha ali, não com o futuro de
sua família prestes a ser garantido. Ori podia fazer o que quisesse. E, no
entanto, ao atravessar a abertura para o caminho de cascalho, sentiu-se
mansa e com quinze anos novamente. Não uma Sith Sabre da Tribo, uma
década mais velha.
Os seus olhos castanhos seguiram pelo chão e ela riu para si mesma.
Não havia motivo para modéstia. Ori usava o uniforme preto de sua função.
Jelph usava trapos. Tinha passado nos testes de aprendizagem no terreno do
palácio, ao longo da gloriosa avenida percorrida pelo Grande Lorde Korsin
mais de um milênio antes. A casa de Jelph era um casebre, ele possuía
menos uma fazenda do que um depósito para solos fertilizados que fornecia
aos jardineiros das cidades.
E, no entanto, o homem tinha algo que ela nunca havia encontrado em
outro humano: ele não tinha nada a provar. Ninguém nunca olhava
diretamente para ela em Tahv. Na verdade, não. As pessoas sempre ficavam
de olho no que a conversa poderia significar para elas, em como a sua mãe
poderia ajudá-las. Jelph não pensava em avanços.
Que benefícios tais pensamentos teriam para um escravo?
Colocando o ancinho no chão, Jelph saiu da lama e puxou uma toalha
do cinto.
— Eu sei por que está aqui. — ele disse, limpando as mãos. — mas não
porque você está aqui hoje. Qual é a grande ocasião desta vez?
— Dia de Donellan.
Jelph olhou inexpressivo para ela.
— Um de seus feriados Sith?
Ori inclinou a cabeça enquanto o seguia ao redor da cabana.
— Você já foi Sith uma vez, você sabe.
— É o que eles dizem. — ele disse, jogando a toalha longe. Ela caiu em
um balde no chão, fora da vista dele. — Receio que não cultivemos muita
memória antiga no interior.
Ori sorriu. Ele era tão instruído, para um inferior. Jelph cultivava
bastante, fora da vista da trilha onde ela tinha deixado seu uvak pastar até
que estivesse pronta para voar novamente. Atrás da casa, além das pequenas
montanhas de barro do rio que ele negociava com os Keshiri, ele mantinha
seis treliças das mais lindas flores de dalsa que ela já vira. Como a cabana e
o ancinho, as treliças eram feitas de brotos de hejarbo amarrados, e, no
entanto, representavam uma exibição que rivalizava com as maravilhas da
horticultura do Assento Alto. Ali, atrás dos aposentos de um escravo no
meio do nada.
Pegando a lâmina de cristal que ela ofereceu, o fazendeiro de olhos
castanhos começou a cortar os espécimes que ela selecionou. Como sempre,
eles decoravam as urnas na varanda de sua mãe nas festas.
— Então, o seu evento. O que é? — Parando, ele olhou para ela. — Se
você quiser me dizer, é claro.
— Amanhã vai completar mil anos do nascimento do primogênito de
Nida Korsin.
— Oh. — Jelph disse, aparando. — Ele se tornou Grande Lorde ou algo
assim?
Ela sorriu.
— Oh, não. — O reinado de Nida Korsin iniciou uma era robusta e
gloriosa para os Sith, ela explicou. Donellan sabia que o seu pai, o Lorde
Consorte, seria morto com a morte de Nida. Isso estava no testamento de
Yaru Korsin. Mas ele esperou muito tempo para fazer a sua jogada. O único
filho de Nida morreu velho, esperando a chance de subir ao poder. Foi o fim
de um sistema dinástico; após a morte dele, Nida, sem herdeiros, instituiu a
sucessão com base no mérito.
— Então esse cara falhou e tem o seu próprio dia?
Os Sith gostaram da mensagem da história de Donellan, ela contou.
Muitos Sith eram pacientes em engendrar as suas ascensões, mas era
possível ser paciente demais.
— O Dia de Donellan também é chamado de Dia dos Despossuídos. E
pense nisso. — ela disse, admirando os braços musculosos dele através das
mangas cortadas. — A Tribo realmente precisava de um motivo para uma
celebração?
Ele riu uma vez, uma risada gutural que fez Ori sorrir.
— Não, acho que não. — ele respondeu. — Pelo menos, isso mantém as
pessoas da minha linha de trabalho ocupadas.
Os sete Alto Lordes estavam sempre tentando se superar na decoração
de seus camarotes nos jogos. Assumindo o design do estande de sua mãe
em suas próprias mãos oito meses antes, Ori descobrira Jelph e seu jardim
secreto com um dos floristas Keshiri de Tahv, mas indiretamente. Sentindo
uma mentira quando o Keshiri alegou que as flores eram dele mesmo, Ori o
seguiu em seu uvak um dia. Como os animais voadores ainda eram
proibidos para os Keshiri, o florista viajou a pé para encontrar uma
caravana de carrinhos trazendo fertilizantes de Marisota. Ela encontrou
Jelph, e o encontrara várias vezes desde então, exceto quando ele estava em
sua jangada, mais acima na selva.
A selva. Ori olhou por cima da treliça para as colinas verdes, subindo
para os picos fumegantes do leste. Nem a Tribo subia naquele emaranhado
de arbustos e folhagens pendentes.
— Nenhuma pessoa sã deveria ir para lá. — dizia Jelph. Mas o que ele
trazia de volta em sua pequena barcaça era o segredo do seu sucesso na
horticultura, e do sucesso de todos os seus clientes. — No momento em que
o escoamento flui rio abaixo. — ele explicou uma vez, enfiando as mãos em
um monte de terra. — muitos nutrientes se vão. — Ori passou noites
acordada imaginando o homem mergulhado até a cintura em um riacho na
montanha escura, colocando a sujeira em sua barcaça.
Bobagem. Um excesso hedonista. Mas ela era Sith, não era? Quem mais
ela deveria agradar?
Ajoelhando-se, ele organizou os talos ordenadamente em um pano
cobrindo o chão. Mãos grandes e manchadas de sujeira trabalhavam com
uma delicadeza surpreendente, arrancando os botões que não serviam para
nada. Jelph olhou-a atentamente.
— Sabe, eu posso te dar os nomes dos meus clientes mais próximos em
Tahv. Eles estão plantando na mesma terra.
— Você é o melhor. — ela disse. Isso era verdade. Talvez as flores
simplesmente crescessem melhor no ar mais perto do solo nativo. Talvez
fosse a obra de um humano, e não de um Keshiri.
Ou talvez fosse este humano. Quando ela o conheceu, imaginou que
Jelph só tinha se tornado escravo recentemente. Nenhum trabalhador que
ela conhecia, humano ou Keshiri, tinha o vocabulário dele. Ele devia ter
sido alguém antes, que veio das cidades Sith. Mas ele respondia sem
hesitar:
— Eu não sou ninguém. Eu nunca conheci ninguém antes de você. —
Ele havia nascido como escravo e ali tinha ficado. Ele, e quaisquer filhos
que ele pudesse ter.
A classe de escravos humanos havia se desenvolvido logo após o
término da linha Korsin. Enquanto muitos dos descendentes da Presságio
eram sensíveis à Força, aqueles que não eram formaram a sua própria
camada na sociedade abaixo daqueles que serviram ao Grande Lorde.
Membros livres da Tribo, esses yeomanry ajudavam a manter os Keshiri,
que estavam mais abaixo, produtivos. Mas quando qualquer cidadão Sith
era condenado por um Lorde, o direito por nascimento poderia ser perdido
para sempre. Jelph de Marisota não tinha sobrenome porque o seu pai não
tinha nenhum para dar. Ele era melhor que um Keshiri, ela nunca deixara
que um dos servos de pele roxa a chamasse pelo seu primeiro nome, mas
apenas porque ele era humano, não porque ele era Sith. Jelph devia lealdade
e serviço aos Sith, se eles quisessem, mas apenas Ori já havia prevalecido
sobre ele diretamente por qualquer coisa.
Que desperdício, ela pensou, admirando tanto o trabalhador quanto o
trabalho manual.
— Você sabe, minha mãe é um Alto Lorde.
— Você já mencionou.
— Ela é poderosa, mas as tradições são muito fortes. — ela disse. — É
uma pena que não haja algum tipo de caminho para você voltar.
— Eu nunca estive lá. — ele disse. — E o que eu faria em Tahv? Eu
dificilmente me encaixaria em seu povo bonito.
Olhando para ela, ele piscou. À luz do sol, ela podia ver a cicatriz longa
e avermelhada escorrendo da bochecha direita até o pescoço. Ela às vezes
imaginava que era de alguma grande batalha, e não de um acidente de
fazenda, anos atrás. Mas ele estava certo. Mesmo que ele tivesse um nome,
sua desfiguração o tornaria um mau ajuste para a Tribo.
Jelph se levantou abruptamente.
— Você vai enrolá-las. — ela disse, os olhos correndo entre ele e as
flores.
— Na verdade, tenho algo para você. — ele disse, apontando um
polegar para trás. — Em homenagem ao seu Dia da Despossessão.
— É 'Despossuídos'.
— Peço perdão. — Ele a levou para mais longe na fazenda do que ela já
tinha estado antes, passando pelos montes até uma estrutura que ela tinha
visto apenas do céu. Situada perto da margem do rio, a cabana era maior
que a habitação dele e tinha o dobro da altura.
Ori empalideceu.
— O que tem lá atrás? Isso fede!
— Estrume geralmente fede. Os uvak estão bem na categoria. — ele
respondeu, aproximando-se da porta gradeada. O que antes era um estábulo
para um ocupante anterior que poderia possuir um uvak, agora fornecia a
ele um local sem vento para armazenar as cargas de esterco que ele
precisava para misturar no seu solo. — Você não quer estar por perto
quando eu tiver que carregar essas coisas. — Ele abriu a porta.
— Certamente este não é o seu presente para mim. — ela disse,
apertando os olhos e cobrindo o nariz.
— Certamente que não. — Ele alcançou dentro da porta para recuperar
uma canga de aparência estranha. — É algo em que eu estive trabalhando.
Aumentei algumas bolsas de pele para água e as prendi na parte de um
arnês de uvak. — Balançando as tiras centrais nas mãos, ele mostrou a ela
como as bolsas compridas pendiam de cada lado. — Você sempre tem que
levar as dalsas de volta em um pano úmido. Com elas, você pode carregá-
las direto, e não estará encharcada quando chegar em casa.
Ori arregalou os olhos, mesmo quando ele fechou a porta do lugar
rançoso.
— Você fez isso para mim?
Jelph olhou em volta.
— Humm. Eu não vejo o Grande Lorde aqui hoje, então... claro. Eu
acho que é para você.
Eles caminharam de volta ao longo do rio, passando pela pequena
barcaça de casca de gornk amarrada na margem. Retornando do pasto,
Shyn, o uvak de Ori, sobrevoou e se estabeleceu em uma clareira. Jelph
caminhou com segurança em direção ao animal e ergueu a canga sobre sua
estrutura de couro. Um ajuste perfeito. Shyn, que não levava ninguém,
assentiu passivamente.
É por isso que venho aqui, Ori pensou. A vida na corte era cruel, este
mês mais do que na maioria das vezes. Mas muitos eram motivados não
pelo desejo de poder, mas pelo medo de perder o poder que tinham. Este
homem não tinha nada e não temia nada.
A sua mãe havia dado um nome a isso: a confiança do beco sem saída.
Jelph encheu parcialmente as peles com água e depois depositou os
talos dentro. Shyn parecia um animal de desfile agora, enfeitado com flores.
Isso podia ser uma ideia para alguma outra vez, Ori pensou, mas não para
amanhã. Ela observou quando ele prendeu os topos para proteger as flores.
— Pronto. Apto para o Grande Lorde. — Ele a ajudou a subir no uvak.
— Jelph. — ela disse, olhando para baixo. — Com o que você pode
fazer, você realmente deveria ensinar os Keshiri a cultivar coisas, não lhes
vender sujeira.
— Cuidado. — ele disse, apontando para o celeiro de compostagem. —
A minha vida está nessa sujeira. — Ele deu um tapinha no rosto comprido
de Shyn e se virou em direção à sua barcaça, balançando na água. — E eu
posso não ser da Tribo, mas pelo menos eu tenho uma embarcação. — Ele
riu. — Tal como é!
O ri sabia que os Sith tinham uma nave, mas ela nunca a tinha visto.
Ninguém vivo tinha. Um dos últimos atos de Yaru Korsin foi remover todos
do elevado retiro para Tahv, onde os recém-chegados podiam expandir os
seus números e prosperar. Sentinelas aéreas protegiam perpetuamente o
templo sagrado e era proibido pra violadores, Sith e outras coisas. Mas a
montanha estava sempre visível sobre as paredes protetoras agora inúteis de
Tahv, um lembrete de suas origens estelares.
Ori podia ver claramente o pico do novo compartimento de luxo de sua
mãe em Korsinata. Múltiplos decks do estádio se erguiam sobre um campo
de jogo pentagonal, com a seção do Grande Lorde sendo a mais alta de
todas. Naquela manhã, a mãe de Ori havia recebido uma seção cobiçada no
estádio perto da Grande Lorde, cuja varanda sempre dava para o templo.
— Mais perto das estrelas. — Ori disse baixinho. Estamos subindo.
Ela estudou o horizonte. Lá, a quilômetros de distância, a Presságio
estava sentada em seu prédio protegido, esperando o dia em que os Sith
viriam para a sua tribo perdida. Mas ninguém veio, e poucas explicações
sobre o porquê eram atraentes. O lendário Lorde Sith Naga Sadow já os
teria encontrado se tivesse vencido a guerra. Se os Sith e Jedi tinham se
matado, ninguém viria.
E se os Jedi tivessem vencido? Como ela tinha feito na fazenda, Ori
empalideceu só de pensar nisso. Ela sabia o que eram os Jedi apenas pelos
seus professores, que mantiveram a história viva. Ori sabia o suficiente para
odiar os Jedi e tudo o que eles representavam. Fraqueza. Pena. Abnegação.
A descoberta pelos Jedi seria um destino cruel, de fato.
Mas a pior coisa da passagem do tempo foi a constatação de que, em
suas tentativas de sair do mundo, esses mesmos pioneiros da lenda de um
milênio antes haviam desperdiçado a maior parte dos recursos que poderiam
ter ajudado a Tribo agora. Muitos cristais Lignan do porão da Presságio
ainda circulavam, mas eram bons para sabres de luz e pouco mais. E
qualquer compreensão de como a Presságio funcionava havia desaparecido;
isso agora era território de estudiosos que nem tinham mais acesso à nave.
Somente o Grande Lorde poderia reverter a proibição de Korsin e devolver
os olhos da Tribo ao espaço.
Não seria essa Grande Lorde, a maior inútil do mundo a manter a
posição. Ori fervia enquanto olhava para a velha murcha em sua barraca
decorada. Lillia Venn balançava em seu trono, com a sua mão paralisada se
movendo completamente fora do ritmo dos músicos que tocavam abaixo. A
Grande Lorde Venn havia sido a candidata na qual se chegou a um meio
termo, um ano antes, quando os outros seis Alto Lordes não conseguiram
chegar a um acordo sobre um novo líder. A mais velha Grande Lorde em
vinte anos, Venn já não tinha medo; ninguém imaginava que ela duraria. Os
partidos políticos rivais, distinguidos pelas faixas vermelhas e douradas que
usavam, juraram lealdade à mulher enquanto continuavam a planejar os
seus próximos passos. Esta Grande Lorde era um cadáver em espera.
— Não se esqueça de saudar, querida.
Ori olhou de volta para os olhos escuros de Candra Kitai. Vibrante em
seus cinquenta anos, a mais nova Alto Lorde se aproximou da grade,
voltada primordialmente para a cabine da realeza, e se curvou. Quando a
Grande Lorde não respondeu, o rosto de Candra ficou tão tenso que Ori
temia que pudesse rachar.
— Calma, mãe. — Ori disse. — Como você mesma disse, é o nosso
grande dia. — Meses antes, a mãe de Ori havia tomado o lugar de Venn
entre os sete Alto Lordes, tornando-se instantaneamente a segunda pessoa
mais importante da Tribo. Mantendo as suas preferências em relação às
facções rivais em segredo, Candra se tornou o desempate: aquela que
finalmente selecionaria a sucessão da líder idosa.
Reconhecendo a nova importância de Candra, Venn havia lhe dado a
seção mais próxima, no alcance de seus olhos débeis. Se bem tratada,
Candra poderia manter os outros Alto Lordes indefinidamente num
impasse, afastando todos os desafios.
E depois? Quem sabe, Ori pensou. No próximo dia de Donellan,
poderemos estar no camarote real.
Os próprios rivais dela entre a liderança dos Sabre, os irmãos Luzo,
flanqueavam a Grande Lorde. O par de peito estufado olhou de volta para
Ori, mal escondendo o seu desdém. Provavelmente irritados, ela pensou,
porque esse era o momento em que eles não seriam capazes de sabotá-la.
Eles a observavam há meses, ansiosos por lucrar com qualquer deslize.
Com alguma sorte, o fim de Venn também seria o fim dos Luzos.
— Calma, querida. — Candra pediu, pegando o pensamento dela. —
Hoje somos todos amigos. — A mais recente Alto Lorde se virou e acenou
com a cabeça para os líderes das duas facções rivais, sentados em seus
habituais camarotes vermelhos e dourados. Os Alto Lordes Dernas e
Pallima eram tão importantes para ela quanto a Grande Lorde, e ela, para
eles.
— Amigos. Certo. — Ori revirou os olhos.
— Mas o nosso estande está adorável. Um bom trabalho, novamente.
Lembrada, Ori voltou o olhar para algo mais agradável, as flores de
dalsa, frescas e vibrantes na varanda. Jelph de Marisota talvez nunca
aparecesse ali, mas pelo menos uma parte dele havia feito a viagem.
O trovão veio de baixo. Ori olhou para lá e viu os cavaleiros, vestindo a
roupa antiga dos Patrulheiros Celestiais de Nida Korsin, entrando no campo
com seus uvak aleijados. O mais duro de todos os esportes sangrentos em
Kesh, a cavalgada rake começou com sangue. Os músculos das asas dos
filhotes de uvak tinham sido cortados, mantendo-os no chão
permanentemente, mas preservando uma certa amplitude de movimento.
Com pontas de vidro aparafusadas nas duras arestas das asas, as criaturas
agora crescidas andavam por aí, batendo suas asas transformadas em armas
perigosas.
Apertando os olhos, Ori tentou identificar os cavaleiros. Dernas e seus
Vermelhos tinham os seus favoritos, assim como Pallima e seus Dourados.
Venn teve duas inscrições, promovidas pelos irmãos Luzo. O último a entrar
em campo, no entanto, foi o que Ori se importava: Campion Dey, tratador
de uvak das terras do sul que Candra representava. Dey saudou Ori e a sua
mãe.
— Ele vai se sair bem, eu acho. — comentou Ori.
— Ele vai morrer. — disse Candra.
Ori olhou para trás, surpresa. Candra se sentava em sua cadeira
confortável, indiferente aos tambores batendo abaixo. Procurando no rosto
da mãe, Ori percebeu a verdade. Esses eventos esportivos sempre foram
lutas por sucessão por procuração. As facções rivais poderiam tentar ganhar
o favor de Candra, permitindo que sua inscrição ganhasse, mas a mais nova
Alto Lorde não iria agitar a Grande Lorde Venn. Não hoje.
— Nós vamos ter que ganhar um dia. — resmungou Ori.
— Não hoje. — Candra disse. Campion Dey era tão bom quanto morto.
Com o som da buzina, o campo se dissolveu imediatamente em uma
nuvem de poeira e sangue. Não havia nenhuma estratégia para cavalgada
rake, nenhuma postura. Os cavaleiros tinham seus sabres de luz, mas
qualquer um com bom senso se importava com as rédeas e nada mais.
Como qualquer Sabre, Ori adorava uma boa luta, mas isso não passava de
uma briga com animais: titãs cambaleantes rasgando um ao outro.
E a inscrição de sua família estava lá simplesmente para ocupar o lugar,
não melhor do que as flores no...
— Veja!
Todos os olhos se voltaram para Campion Dey, cujo uvak recuou
subitamente com os pés com garras. Ele avançou, asas com ponta de
navalha estendidas. Mas, em vez de dominar o oponente que tropeçou
desafortunadamente diante dele, a criatura pulou...
... e voou. As asas que não deveriam funcionar bateram com força,
permitindo que o uvak e o cavaleiro saltassem do corpo a corpo em direção
às arquibancadas.
Dey, de pé na sela, levantou seu sabre de luz vermelho e gritou algo que
Ori não podia ouvir. Ele estava no controle, tudo bem. Acendendo sua
própria arma, Ori saltou sobre o parapeito, pronta para atacar se ele se
aproximasse. Mas o gigante pesado passou para a esquerda,
desajeitadamente, subindo pela multidão em pânico em direção ao
compartimento de luxo da Grande Lorde, acima.
Ori viu Lillia Venn de pé, sem vacilar, enquanto o atacante escalava as
arquibancadas de pedra em sua direção. Erguendo as mãos trêmulas, a
Grande Lorde desencadeou uma torrente de energia do lado sombrio. Com
o fogo azul crepitando ao longo de sua envergadura, o animal surpreendido
caiu para trás no assento inferior, jogando seu cavaleiro livre. Os Luzos
saltaram do camarote real, com suas próprias armas brilhando em vermelho
quando mergulharam na direção do pretenso assassino.
— Mãe, volte! — Ori gritou.
Do outro lado do caminho, um assessor Keshiri fechou as persianas do
compartimento da Grande Lorde. Ori agora fez o mesmo, derrubando os
grandes vasos de flores de Jelph no processo. Ela se virou e viu a mãe,
cambaleando, paralisada diante do espetáculo.
— O que aconteceu, mãe? — Elas conheciam Campion Dey por anos,
apoiaram seu treinamento. O que poderia ter causado seu ato louco?
Candra simplesmente balançou a cabeça, o sangue escorrendo de um
rosto que parecia jovem momentos antes.
— Você... é melhor você ir, Ori.
— Os outros Sabres estão lidando com Dey. — Ori disse, guardando a
entrada do compartimento.
— Não é isso que eu quero dizer.
Ori olhou para a mãe, atordoada.
— Nós não fizemos isso. Não temos nada com que nos preocupar. Não
é? — Ela pegou o braço da mulher mais velha. — Mãe, não é?
Convocando alguma reserva invisível de calma, Candra se endireitou.
— Não sei o que acabou de acontecer. Mas eu vou saber, de uma forma
ou de outra. — Ela passou pela filha e abriu a porta. Do lado de fora, Sith e
Keshiri corriam loucamente pelas rampas externas da Korsinata.
— Mãe!
Candra olhou pra trás com olhos tristes.
— Eu não posso falar agora, Ori. Apenas vá para a propriedade e
garanta que os escravos saibam que não voltarei para casa hoje à noite. —
Ela desapareceu na multidão.
Uma estrela caiu inofensivamente do céu. Ao pousar em uma colina,
fornecia luz durante a noite, fazendo os jardins de Kesh florescerem como
nunca antes.
Até que se elevou novamente, incendiando tudo. As pedras da casa de
Ori viraram pó diante do vento quente, expondo-a ao inferno. Carbonizada
e morrendo, ela perseguiu a estrela na selva para perguntar por que ela
havia destruído seu mundo. Esta respondeu:
— Porque você pensou em mim como um amigo.
Ori experimentou a visão da Força durante o seu segundo dia como
Tyro, o nível mais baixo da hierarquia da Tribo. Isso nunca tinha significado
nada para ela. Mas, chegando a Starfall, a propriedade rural de sua mãe ao
sul de Tahv, ela teve a chance de lembrar. Uma procissão de trabalhadores
Keshiri estava saindo da mansão de mármore, carregando pertences para
uma pira no gramado.
Os trabalhadores dela. Seus pertences.
Deixando Shyn nas colunas que ladeavam a frente, Ori correu em
direção à fogueira. Sacando seu sabre de luz, ela cobrou da frágil figura
roxa que dirigia o trabalho: o zelador de sua mãe.
— O que está acontecendo? — Ori agarrou o homem. — Quem disse
para você fazer isso?
Reconhecendo a filha de sua senhoria, o Keshiri olhou furtivamente
para os lados antes de tocar no pulso de Ori. Ele falou em um sussurro
baixo.
— Isso foi ordenado pela própria Grande Lorde, senhora. Apenas
algumas horas atrás.
Há algumas horas atrás? Ori balançou a cabeça. A tentativa de
assassinato havia sido apenas duas horas antes. Como isso era possível?
O zelador apontou para a entrada principal. Lá, dois aprendizes dos
irmãos Luzo estavam de pé na grande porta, observando os trabalhadores
carregados de móveis passarem. Eles ainda não a haviam notado, mas ela
mudaria isso. Ori deu um passo em direção à casa.
Segurando o braço dela, o velho a puxou de volta.
— Há mais deles lá dentro. — ele disse, puxando-a para trás do fogo e
fora de vista deles. — Eles estão pegando as coisas de sua mãe também.
— Ela ainda é uma Alto Lorde? — Ori perguntou.
O zelador olhou pra baixo.
Outro pensamento a atingiu.
— Eu ainda sou um Sabre?
De repente enojada, Ori se aproximou das chamas e tentou se lembrar
do que ouvira e vira ao sair da Korsinata. Houve muito caos. Com Campion
Dey morto segundos depois de seu ataque fracassado, os rumores estavam
atribuindo seu ato a todos os lugares. A Facção Vermelha alegou que sua
mãe tinha feito um pacto terrível com os Dourados e vice-versa. Alguns
alegaram que Venn havia morrido em seu camarote, sucumbindo aos
esforços e à excitação; outros relataram terem visto as execuções dos
Grande Lordes Dernas e Pallima, bem em seus camarotes na arena. Nada
disso fazia sentido.
A única coisa que todos concordaram foi quem trouxe o assassino para
o estádio: a família Kitai.
Tinha que voltar para Tahv e conversar com os seus aprendizes leais
com acesso ao Assento Alto. Defensores dos interesses de sua família, eles
saberiam o que estava acontecendo agora. Era importante não sucumbir à
ira sobre a fogueira, uma tentativa óbvia da facção da Grande Lorde de
provocar uma reação e revelar deslealdade.
Olhando em direção à mansão, ela sorriu. As habilidades políticas de
Candra Kitai eram incomparáveis. Por agora, ela já teria desviado a culpa
com sucesso e descoberto quem eram os vencedores. Quando Ori chegasse
a Tahv, Candra provavelmente estaria sentada à mão direita de quem tivesse
vencido. Agora não era hora de cair em uma armadilha desajeitada montada
pelos Luzos.
— Isso será resolvido. — ela disse ao zelador, virando-se para o seu
uvak.
— Adeus, Ori.
Subindo em cima de Shyn, Ori pegou as rédeas na mão. De repente, ela
parou, chamando o ancião Keshiri que se retirava.
— Espere. Você me chamou de Ori.
O Keshiri olhou para baixo e se afastou.
Pelo lado sombrio, ela pensou. Qualquer coisa menos isso.
Jelph inclinou o carrinho trêmulo para trás, permitindo que outra pilha
de terra se derramasse na calha. À medida que o verão passava, os montes
secavam, ficando mais ácidos; uma lavagem alcalina tendia a refortificar os
estoques. Seus clientes Keshiri não sabiam sobre os íons de hidrogênio,
mas, no entanto, eles eram particulares.
Ouvindo um som, Jelph deixou cair a espátula e deu um passo ao redor
da cabana. Lá, nos raios minguantes da tarde, estava a visitante do dia
anterior, encarando seu uvak e segurando o freio.
— Estou surpreso em vê-la. — Jelph disse, aproximando-se por trás. —
Nada de errado com as dalsas, espero?
Girando, ela soltou o cinto. Os brilhantes olhos castanhos estavam
cheios de mágoa e raiva.
— Fui condenada. — disse Ori de Tahv. — Eu sou uma escrava.
J elph derramou mais da mistura granulosa em sua tigela. Prato digno
de um mendigo Keshiri, o cereal insípido se tornou outra coisa em suas
mãos, temperado com especiarias de seu jardim e os menores pedacinhos de
carne salgada. Ori não sabia de que animal era, mas agora devorava a
refeição com fome. Dois dias de restrição orgulhosa foram suficientes.
Ainda era tão estranho vê-lo aqui, fora dos campos. Nas duas últimas
manhãs, ele havia se levantado antes do amanhecer, começando suas tarefas
cedo para ter mais tempo para ela. Ele se lavava no rio antes que ela se
levantasse. Quando chegava a vez dela, ele se retirava para o canto da
cabana que servia de cozinha para preservar seu recato. Ori não achava que
tinha, mas novamente, aquela estranha mansidão apareceu. Ele não era um
brinquedo Keshiri, mas um humano, mesmo que fosse escravo.
Como ela.
Por alguma razão, não tinha dito nada a ele naquela primeira noite.
Havia tão pouco o que ele pudesse fazer, e tudo estava muito além do
quadro de referência dele. Ficou sentada em silêncio na porta da cabana,
esperando por nada até desmaiar. Acordou na manhã seguinte lá dentro, na
cama de palha que ele usava. Ela não tinha ideia de onde ele dormiu
naquela noite, se é que tinha dormido.
Na segunda noite, depois de um jantar intocado, deixou escapar tudo:
tudo o que havia acontecido em sua viagem a Tahv. Os líderes das duas
facções que nunca chegariam a um acordo quanto a um Grande Lorde
haviam de fato sucumbido a um candidato de meio termo idoso. O evento
deu aos lacaios dela motivos para decapitar, literalmente, as lideranças das
facções Vermelha e Dourada.
A mãe de Ori ainda vivia, garantiram as suas fontes, embora nas garras
da vingativa Venn. Era tarde demais para Candra salvar a sua carreira, mas
ainda poderia salvar a sua vida, se dissesse as coisas certas sobre as pessoas
certas. Como Donellan, Candra esperou muito tempo para escolher um lado
e se apresentar como sucessora. Um ano parecia muito pouco tempo para
ser um Alto Lorde. Mas para Venn, para quem cada respiração era um
milagre, a necessidade de sobreviver a seus rivais era primordial.
Ao saber que fora condenada à escravidão, Ori correra para o uvak
escondido e voara imediatamente para o único lugar seguro que conhecia.
Após um longo momento de hesitação, Jelph a recebeu, embora tivesse
menos certeza do que fazer com Shyn. Como escravos, nenhum deles
poderia possuir um uvak. Lembrando-se do celeiro de compostagem que
outrora servira de estábulo, Ori pediu que ele escondesse a criatura ali, atrás
das barracas que armazenavam esterco. Inicialmente incerto, Jelph cedeu
sob a sua pressão. Já se sentindo doente, arfou assim que a porta do lugar
vil foi aberta. Fez de novo na segunda noite, depois de contar a história
completa da queda de sua pequena, mas importante família.
Jelph tinha sido atencioso e prestativo naqueles tempos, com a água fria
do rio e o pano de banho à mão. Agora, no crepúsculo da terceira noite,
estava realmente testando os limites da hospitalidade dele. Sentindo-se
melhor, passou o dia inteiro andando pela fazenda, examinando os eventos
em sua mente e planejando o retorno de sua família ao poder, mesmo que a
família agora fosse apenas ela. No jantar, testou tanto o conhecimento
quanto a paciência dele.
— Eu não entendo. — Jelph disse, raspando o fundo da tigela de casca
de orojo. — Eu pensei que a tribo esperasse que as pessoas quisessem os
empregos umas das outras.
— Sim, sim. — disse Ori, de pernas cruzadas no chão. — Mas não
matamos para pegá-los. Nós matamos para mantê-los.
— Há uma distinção?
Ori deixou cair a tigela vazia no chão da cabana. Alguma mesa de
jantar, ela pensou.
— Você realmente não sabe nada sobre o seu povo, não é? A tribo é
uma meritocracia. Quem for o melhor em um trabalho, pode tê-lo, desde
que seja feito um desafio público. Dernas nunca fez um desafio público à
Grande Lorde. Pallima também não.
— Nem a sua mãe. — ele ofereceu, ajoelhando-se para recuperar a
tigela. Ele pareceu um pouco assustado quando usou a Força para levitá-la
até a mão dele. — Obrigado.
— Olha, é realmente simples. — ela disse, levantando-se e fazendo um
esforço fútil para tirar a sujeira do uniforme. — Se você chegar aos seus
rivais antes que eles estejam prontos, poderá fazer o que quiser... incluindo
assassinatos.
A testa dele franziu quando olhou para ela.
— Parece um banho de sangue.
— Normalmente mantemos tudo discreto, pelo bem da ordem.
Envenenamentos. Uma lâmina shikkar no intestino.
— Pelo bem da ordem.
Ela ficou parada na porta e encarou.
— Você vai me criticar ou vai me ajudar?
— Sinto muito. — Jelph disse, levantando-se. — Eu não quis aborrecê-
la. — Ele balançou a cabeça. — Só que o pensamento de ter regras para
esse tipo de coisa parece, bem, estranho. Existem regras para violar as
regras.
Ori caminhou até o banco e olhou para o oeste. O sol parecia estar
afundando no próprio rio, pintando a água com chamas alaranjadas. Esse
era um lugar bonito, e tinha fantasiado sobre noites roubadas ali antes. Mas
não era isso que tinha imaginado. Não seria capaz de planejar seu retorno
deste lugar. E precisaria de mais ajuda do que um ajudante de fazenda.
— Tenho que voltar. — ela disse. — A minha mãe foi presa. Quem fez
isso conosco pagará, e eu terei o meu nome de volta. — Ela olhou para ele,
que mordia um talo de algo que tinha puxado do chão. — Eu tenho que
voltar!
— Eu não faria isso. — ele disse, juntando-se a ela no rio. — Eu
suspeito que a sua Grande Lorde fez tudo isso sozinha.
Ori olhou para ele, espantada.
— O que você saberia sobre isso?
— Não muito, eu garanto a você. — Jelph respondeu, mastigando. —
Mas se a sua mãe era a chave para selecionar o substituto de Venn, eu podia
ver a velha querendo que ela se afastasse do caminho.
Incrédula, Ori olhou para as sombras crescentes.
— Graveto para fertilizantes, Jelph.
— Veja dessa maneira. — ele disse, entrando no campo de visão dela.
— Se Venn não tivesse encenado o assassinato e realmente suspeitasse de
sua mãe, você não teria sido condenada. Você estaria morta. Mas a Grande
Lorde não precisa te matar, porque ela sabe que você não fez nada. Você é
mais útil como um exemplo. — Ele jogou o graveto no rio. — Ao fazer de
escravos uma Alta Lorde e a família dela, ela vive, respirando medidas
dissuasivas na frente das pessoas enquanto você viver.
Ori olhou para ele, atordoada. Isso fazia sentido. Dernas e Pallima
haviam morrido fora da vista do público. A fogueira na propriedade atraíra
a atenção de humanos e de Keshiri. Se ela tivesse ficado em Tahv, ela
poderia já estar no trabalho, trabalhando duro completamente à vista do
público.
— Então o que eu faço?
Ele sorriu suavemente, sua cicatriz invisível agora.
— Bem, eu não sei. Mas me parece que, contanto que você ainda não
sinta sua mãe sofrendo através da sua Força, o caminho para frustrar Venn
é... não ser um exemplo.
Ele não disse o resto, mas ela entendeu. A maneira de não ser um
exemplo é não estar lá. Ela olhou nos olhos dele, que refletiam a luz das
estrelas batendo na água.
— Como um fazendeiro sabe sobre essas coisas?
— Você tem visto o meu trabalho. — ele disse, colocando a mão no
ombro dela. — Eu lido com muitas coisas que fedem.
Ela riu, apesar de si mesma, pela primeira vez desde que chegou.
Quando deu um passo para longe do rio na escuridão, seus pés vacilaram no
chão macio.
Ele a pegou. Ela deixou.
De pé na porta da cabana depois da meia-noite, Jelph olhou para a
forma adormecida na cama de palha. Tinha sido errado deixar Ori ficar
tanto tempo, ele pensou, e certamente errado deixar as coisas irem tão longe
quanto nos últimos nove dias. Mas então, teria sido errado encorajar as
visitas dela desde o começo.
Ao sair, ele apertou o roupão esfarrapado. Depois de tantos dias
abafados, houve um frio sazonal no ar esta noite. Combinava com o humor
dele. A presença de Ori tinha colocado tudo em risco, de maneiras que ela
nunca poderia imaginar. Havia muito mais em jogo do que a sorte de uma
família Sith.
E, no entanto, ele a havia acolhido. Esta era uma Ori Kitai diferente que
tinha vindo vê-lo, uma que ele não podia resistir. Ela parecia tão orgulhosa
em suas visitas anteriores, cheia da titularidade nociva de seu povo, certa
tanto do seu status quanto de si mesma. Com a perda de um, o outro se foi.
Tinha visto a pessoa por baixo disso: hesitante e insegura. Ela estava tão
brava com o que havia acontecido, quanto estava triste com a perda de uma
visão que ela teve uma vez de si mesma. E ultimamente, a tristeza estava
vencendo, em seus dias limitados a caminhadas da cabana até o jardim.
A humildade em um Sith era uma coisa incrível de se testemunhar, uma
impossibilidade. A armadura dela derreteu, as impurezas pareciam ferver.
Seria possível que nem todos os Sith em Kesh tivessem nascido venais? A
sua raiva por ter sido espoliada parecia... não mais do que o normal. Não
mais do que se sentiria, e tinha sentido, em situações semelhantes. Não era
o tipo de fúria que destruía as civilizações por esporte. Isso não era Sith.
Parecia errado que o maior infortúnio na vida de Ori só a fizesse mais
atraente para ele. A reserva que havia trabalhado para desenvolver
desaparecera depois daquela noite na margem do rio. Ela precisava dele, e
já fazia muito tempo desde que alguém tinha precisado. Não havia muito
mercado para nulidades, na natureza ou em qualquer outro lugar. Mas o
risco estava sempre presente, acompanhando a felicidade.
Olhou para o norte. Um leve raio de luz se aninhava entre as nuvens e as
colinas. A aurora estava começando de novo. Em algumas noites, o céu do
norte estaria em chamas. Logo chegaria a hora.
Lançando um olhar para o armazém, calculou quanto tempo teria que
ficar longe da fazenda. Não era seguro deixá-la vagando por aí na ausência
dele. Ela teria que ir.
Mas ele não podia deixá-la ir embora.
E le havia saído de madrugada, com um longo bastão
de hejarbo na mão para empurrar a sua embarcação rio acima. Com a sua
tranquilidade quebrada, Ori havia emitido uma série de protestos. Quem se
importava com o que os clientes dele precisavam para a estação de
crescimento do outono? O que ele devia àquelas pessoas? Tudo o que ele
conseguiu por seu trabalho foram alguns itens que ele não conseguia tirar da
terra.
Mas Jelph continuava olhando para as terras altas da selva e para o céu.
Alegou que tinha mais responsabilidades do que ela sabia. Ori zombou,
mais e mais alto do que pretendia. Isso a preocupava, agora, trazendo de
volta duas das armadilhas que ele colocara para os roedores na borda da
selva. Jelph não tinha ficado louco, mas tinha ido embora, apesar dos
pedidos dela.
Ela não gostou. Tinha sido o bálsamo que ela precisava, que fez toda a
dor de seu coração desaparecer. Ela tinha dependido tanto do cargo de sua
mãe na vida que foi sedutoramente fácil para ela colocar sua existência nas
mãos dele. Mas a partida dele a lembrou de que ele poderia recusá-la. Ela
não tinha poder sobre ninguém.
E ela não poderia viver sem ele. Sem Jelph, não havia mais ninguém.
Ninguém além de Shyn. Mais à frente, Ori espiou a porta traseira do
celeiro de compostagem, aberta para permitir a circulação. Nem mesmo um
uvak deveria morar naquele lugar, mesmo que o fedor viesse de sua espécie.
Respirando fundo, ela se aproximou. Levou a maior parte do dia para
verificar e limpar as armadilhas, produzindo alguns dos vermes que Jelph
usava para complementar a dieta dele. Miserável. Ao menos ver o uvak a
lembrou que ela ainda tinha alguma liberdade, alguma chance de...
Os olhos de Ori se estreitaram. Algo na Força havia mudado. Soltando
as armadilhas, ela correu para o celeiro e abriu a porta frágil.
Shyn estava morto.
A grande fera jazia sangrando no chão de terra, cortes profundos
queimavam em seu longo pescoço dourado. Reconhecendo imediatamente
as feridas, Ori acendeu o sabre de luz e examinou o prédio.
— Jelph! Jelph, você está aqui?
Exceto por algumas ferramentas que revestiam a parede, não havia nada
aqui, exceto o monte gigante de sujeira perto da frente.
— Eu te disse que a encontraríamos aqui. — veio uma voz masculina
jovem do lado de fora. — Bastava seguir o fedor.
Ori emergiu, arma erguida. Os irmãos Luzo, os seus nêmesis no corpo
do Sabre, se destacavam na frente diante de suas próprias montarias uvak.
Flen, o mais velho, sorriu.
— Fedor de fracasso, você quer dizer.
— Você está procurando a morte, Luzo? — Ela deu um passo à frente,
sem medo.
O par não se mexeu. Sawj, o irmão mais novo, zombou.
— Matamos dois Alto Lordes esta semana. Acho que não vamos sujar
as mãos com uma escrava.
— Você matou o meu uvak!
— Isso é diferente. — disse Sawj. — Você pode não saber, mas nós,
Sabres, somos responsáveis por manter a ordem. Um escravo não pode ficar
com um uvak!
Cheia de ódio, Ori deu um passo à frente, pronta para atacar... apenas
para ver Flen Luzo se virar em direção ao seu próprio uvak.
— Os negociantes nos disseram que você gostava de vir aqui. — ele
disse, abrindo o alforje. — Estamos aqui para negociar. — Ele jogou dois
pergaminhos aos pés dela.
Ajoelhando-se, Ori olhou para a cera no pergaminho. Havia a marcação
de sua mãe, um desenho conhecido apenas por ela e por membros imediatos
de sua família. Tal coisa estava reservada para validar um testamento final.
Desdobrando o pergaminho, ela viu que, em certo sentido, era isso.
— Esse diz que ela conspirou com Dernas e os Vermelhos para matar a
Grande Lorde!
— E o outro diz que ela conspirou com Pallima e o povo dele. — disse
Flen, sorrindo. — Ela assinou as duas confissões, como você pode ver.
— Você poderia ter conseguido qualquer coisa com coação!
— Sim. — Flen disse.
Ori analisou o documento. Candra Kitai agora prometia a sua lealdade
eterna à Grande Lorde Venn, que a manteria viva como a sua escrava
pessoal. Agora Venn iria nomear três Altos Lordes em substituição,
partidários dela, Flen disse, bloqueando efetivamente qualquer movimento
que restasse de seus possíveis rivais. Ori podia adivinhar pelo som da voz
de Flen que os irmãos poderiam se encontrar subitamente elevados, por sua
lealdade.
— Como eu disse. — Flen acrescentou. — viemos negociar. Seu sabre
de luz, por favor.
Ori jogou os pergaminhos no chão.
— Você vai ter que pegar!
Ele simplesmente cruzou os braços.
— A sua mãe nos disse que você cooperaria. Tenho certeza que você
não gostaria de ser a causa do sofrimento dela.
— Ela já está sofrendo! — Ela deu outro passo na direção deles.
— E então os nossos Sabres descerão aqui em força e arrasarão esta
pequena fazenda. E aquele seu fazendeiro. — ele disse, com os olhos
brilhando maldosamente. — Eles já têm ordens para fazer isso, se eu não
levar o seu sabre de luz.
Ori congelou. De repente lembrada, ela olhou freneticamente para o rio.
Ele estaria flutuando para casa em breve.
Flen falou com uma voz conhecedora.
— Nós não nos importamos com o que uma escrava faz, ou com quem
ela faz. Mas você não é uma escrava até que tenhamos essa arma. — Os
irmãos acenderam seus sabres de luz ao mesmo tempo. — Então, o que vai
ser?
Ori fechou os olhos. Ela não merecia o que havia acontecido com ela,
mas ele não merecia nada disso. E ele era tudo o que ela tinha.
Pressionando o botão, ela desativou o sabre de luz e jogou-o no chão.
— Decisão certa. — disse Sawj Luzo, desativando o sabre de luz e
pegando o dela. Os dois irmãos voltaram para as montarias e subiram a
bordo.
— Ah. — Flen disse, pegando algo amarrado ao cinto de seu uvak. —
Nós temos um presente da Grande Lorde... para iniciar sua nova carreira. —
Ele jogou o objeto longo, que pousou aos pés de Ori com um baque.
Era uma pá.
A lâmina de metal a transformava em um verdadeiro tesouro: ela podia
ver que tinha sido forjada a partir de um dos poucos fragmentos da
aterrissagem da Presságio. Esse material havia sido trabalhado e
retrabalhado ao longo dos séculos, quando a escassez de ferro na superfície
de Kesh ficou conhecida. Uma recompensa final por sua vida anterior. Com
a pá nas mãos, ela ouviu os Luzos rindo enquanto voavam para o norte.
Ori olhou em volta para o que ela tinha sido deixada. A cabana. O
celeiro. Monte após monte de lama do homem. E as treliças, lar dos dalsas
que a trouxeram ali para começar...
— NÃO!
Com a raiva fervendo dentro dela, ela atacou, atingindo as estruturas
frágeis com a pá. Um poderoso golpe rasgou a moldura, enviando as flores
ao chão. Os destroços dos talos de hejarbo explodiram em lascas pela força
de sua mente.
Furiosa, ela avançou pela fazenda, cortando o carrinho trêmulo de Jelph
em pedaços. Tanta raiva, tão pouco para destruir. Virando-se, ela viu o
símbolo de sua despossessão: o celeiro de compostagem. Balançando, ela
esmagou a porta de suas dobradiças e entrou. Furiosa, ela puxou através da
Força as ferramentas pesadas nas paredes, enviando-as voando em um
turbilhão de ódio. E havia aquele monte de estrume, grande e nocivo.
Girando, ela trouxe a lâmina da pá sobre aquilo...
Clang! Golpeando algo sob a superfície do esterco, a pá se soltou de
suas mãos, fazendo-a perder o equilíbrio na lama.
Acalmando-se enquanto se levantava, Ori olhou espantada para a pilha.
Lá, embaixo da bagunça fedorenta, havia um pano sujo cobrindo algo
grande.
Algo de metal.
Recuperando a pá, ela começou a cavar.
Ele se sentiu péssimo, deixando Ori com um trabalho que a roubaria o
dia todo. Mas ele tinha sua própria armadilha para verificar, aqui embaixo
da copa exuberante. Jelph não pegava nada há meses, mas suas melhores
chances sempre pareciam coincidir com as auroras.
Aproximando-se da colina isolada, ele encontrou seu tesouro, escondido
sob as folhas gigantes. Ele respirou mais rápido em antecipação. Durante os
últimos dias de turbulência e tranquilidade, ele sentiu de alguma forma que
algo estava para acontecer. Este podia ser o dia que ele estava esperando,
depois de tanto tempo...
Jelph parou. Algo estava acontecendo, mas não era aqui. Olhando
através da folhagem para o oeste, ele sentiu aquele instinto novamente.
Algo estava acontecendo, e estava acontecendo agora.
Ele correu para o barco.
Ori encontrou a coisa estranha colocada embaixo da lona coberta de
estrume. Na verdade, não havia muito do material sujo empilhado sobre
aquilo; apenas o suficiente para dar a aparência de que o que estava por
baixo era algo diferente.
E o que aquilo era, era grande... facilmente o comprimento de dois
uvak. Uma grande faca de metal, pintada de vermelho e prateado, com uma
estranha bolha preta posicionada no alto, na parte de trás. Saliências
arrastavam para trás, como asas, em um símbolo formado por duas lanças
compridas que a lembravam sabres de luz.
Ela havia esquecido o cheiro, agora, respirando mais rápido enquanto
passava a mão pela superfície do misterioso metal. Era frio e imperfeito,
com amassados e marcas de queimadura. Mas a verdadeira surpresa ainda a
esperava. Alcançando a seção arredondada nas costas, ela pressionou o
rosto contra o que parecia ser vidro preto. Dentro, escondido em um espaço
incrivelmente pequeno, ela viu uma cadeira. Uma placa gravada estava logo
atrás do apoio de cabeça, com caracteres parecidos com os que ela havia a
por seus mentores:
Caça Estelar Tático classe Aurek
Sistemas de Frota da República
Modelo X4A. — Linha de Produção 35-C
Os olhos de Ori se arregalaram. Ela viu aquilo pelo que era. Um
caminho de volta.
Por toda a sua vida, Jelph Marrian temera os Sith. A Grande Guerra Sith
havia terminado antes dele nascer, mas a devastação causada em seu mundo
natal, Toprawa, foi tão completa que havia dedicado sua vida a impedir o
retorno deles.
Foi longe demais, alienando os líderes conservadores que dirigiam a
Ordem Jedi. Expulso, procurou continuar a sua vigília, trabalhando com um
movimento clandestino dos Cavaleiros Jedi dedicado a impedir o retorno
dos Sith. Por quatro anos, ele trabalhou nas sombras pela galáxia,
certificando-se de que os mestres do mal eram de fato apenas uma
lembrança.
As coisas deram errado novamente. Atribuído a uma região remota três
anos antes, ele soube do colapso do Pacto Jedi. Com medo de voltar,
dirigiu-se para as Regiões Desconhecidas, certo de que nada jamais poderia
restaurar o seu nome e lugar com a Ordem.
Em Kesh, ele encontrou algo que poderia restaurar, envolvido em seu
pior pesadelo se tornado realidade. Ele foi pego em uma das colossais
chuvas de meteoros de Kesh, caindo na selva remota como apenas mais
uma estrela cadente. Incapaz de obter ajuda através do bizarro campo
magnético de Kesh, ele se aventurou em direção às luzes que tinha visto no
horizonte.
A luz de uma civilização, mergulhada na escuridão.
Ainda a alguns metros da margem, ele pulou do barco.
— Ori! Ori, estou de volta! Você está...
Jelph parou quando viu as treliças cortadas. Percebendo o dano, ele
correu em direção ao celeiro.
A porta estava aberta. Ali, exposto no crepúsculo da noite, estava o caça
estelar danificado que ele tinha meticulosamente feito flutuar da floresta,
um pedaço de cada vez. Ele encontrou outra coisa ao lado: uma pá de metal
descartada.
— Ori?
Entrando nas sombras do celeiro, ele viu o cadáver do uvak, agora
alimento para os pequenos pássaros carniceiros. Atrás da construção, ele
encontrou as armadilhas que a mandara verificar, abandonadas no chão. Ela
esteve ali... e se foi.
Em frente à cabana, ele encontrou outras trilhas. Botas Sith largas e
mais pegadas de uvak. As pegadas menores de Ori também estavam ali,
passando pela cobertura até o caminho do carrinho que levava a Tahv.
Jelph procurou dentro da roupa o pacote que sempre carregava em
viagens. A luz azul brilhou em sua mão. Ele era um Jedi solitário em um
planeta inteiro cheio de Sith. A existência dele os ameaçava, mas a
existência deles ameaçava tudo. Ele tinha que detê-la.
Não importa o que fosse preciso.
Ele correu pelo caminho para dentro da escuridão.
INTRODUÇÃO
A Tribo Perdida dos Sith: Sentinela ocorre imediatamente após os eventos do conto Purgatório,
que ocorre em 3.960 ABY. Este conto é contado do ponto de vista de dois protagonistas: o disfarçado
Jedi das Sombras Jelph Marrian e a ex-Sabre Sith Orielle Kitai. Anteriormente, Ori havia perdido
seu status privilegiado na sociedade da Tribo depois que a sua mãe foi acusada de estar envolvida
na tentativa de assassinato da Grande Lorde Lillia Venn. Na tentativa de recuperar o status perdido
de sua família, Ori procurou revelar a existência de uma nave espacial capaz de viajar no
hiperespaço na fazenda de Jelph para a liderança da Tribo.
— E u acho... que posso ter arruinado a minha vida.
— Parece que você conheceu uma mulher. — disse o barman
de rosto roxo, enquanto servia. — Você quer que eu deixe a garrafa?
Só se eu puder esmagá-la na minha cabeça, Jelph Marrian pensou. De
qualquer maneira, era água doce, nada que o ajudasse a esquecer. Com o
suor pingando de seus cabelos loiros emaranhados, ele bebeu
profundamente. A caneca vazia brilhava, com as suas facetas moldadas
refletindo a luz do fogo. Jelph a girou na mão, seguindo os reflexos. Desde
que tinha chegado em Kesh, ele só tinha bebido em cascas de orojo. Mas os
Keshiri produziam artigos de vidro tão maravilhosos, mesmo ali, para servir
os hóspedes em uma estação de pedestres.
O barman passou uma tigela de mingau para ele.
— Amigo, parece que você fugiu de South Talbus.
— E mais um pouco. — Jelph não acrescentou que estava correndo
praticamente sem parar desde a noite anterior. Agora, quando o sol se punha
novamente, ele parou, sedento e faminto, ali em uma choupana aninhada
nas sombras alongadas das paredes da cidade capital. Jelph simplesmente
assentiu com a cabeça para o agradável e velho Keshiri e se retirou para um
canto com a refeição. Os nativos de Kesh sempre se sentiam mais livres
para se familiarizar com os escravos humanos do que com os Sith. Eles não
devem ter muita dificuldade para nos diferenciar, ele imaginou; nesta noite,
as suas roupas ensopadas e esfarrapadas provavelmente eram uma dica de
que ele não nasceu no alto.
Na verdade, é claro, Jelph era o único mortal em Kesh nascido “no
alto”. Veio do espaço, apesar de não chamar nenhum planeta de lar. Os três
anos que o ex-Cavaleiro Jedi passou em sua pequena fazenda no Rio
Marisota foram os mais longos que viveu em um lugar em anos. Teve a
sorte de encontrá-la. Jelph descobrira a fazenda abandonada poucos dias
depois de cair com o seu caça estelar na selva das terras altas, quando a
fome o fez ousado o suficiente para explorar. O ocupante original havia
saído muito antes, provavelmente temendo as histórias de que o Rio
Marisota era amaldiçoado. Sentindo o lado sombrio da Força, Jelph
começou a concordar, até se aventurar no norte e perceber que, de fato, todo
o planeta estava amaldiçoado. Kesh pertencia aos Sith.
Jelph havia dedicado toda a sua vida adulta a impedir o retorno dos Sith
à galáxia. Toprawa havia sido devastada pela guerra dos Jedi com Exar
Kun; Jelph nasceu em um mundo que já havia perdido toda esperança. Sem
pai, ele ouviu de sua mãe só as histórias de horror da ocupação Sith.
Quando ela desapareceu numa manhã para nunca mais voltar, o jovem Jelph
também poderia ter perdido a esperança, se esta não tivesse chegado na
forma de batedores Jedi. A mulher a quem o apresentaram salvaria a sua
vida.
Krynda Draay também tinha perdido alguém em Toprawa, o seu marido
Jedi, e montado o Pacto, uma seleção de Cavaleiros Jedi dispostos a fazer
qualquer coisa para impedir o retorno dos Sith. Auxiliando aos seus
videntes vigilantes estavam as Sombras, agentes que serviam ao filho dela,
outro Jedi de grande visão. Mestre Lucien tinha de alguma forma removido
Jelph das listas dos Jedi, dando ao jovem mobilidade completa e total. Por
anos, Jelph foi o agente secreto perfeito, viajando pela Orla Exterior
investigando possíveis ameaças dos Sith, enquanto a verdadeira Ordem Jedi
se ocupava de assuntos de menor importância. Ele ficou satisfeito com o
seu sucesso...
... até o início da guerra da República com os Mandalorianos de
armadura, quando tudo mudou. Jelph nunca entendeu exatamente o que
havia acontecido, além de que algum cisma tinha decapitado o Pacto,
revelando a sua existência, entre outros. Agora considerado pelos Jedi como
um fora da lei, Jelph considerou o voo a sua única opção. Que ironia, ao
escolher Kesh como o seu refúgio, encontrou exatamente aquilo que jurara
exterminar!
Jelph terminou a refeição e esfregou os olhos. Tinha feito tudo certo até
agora. Depois de viver como uma Sombra, esconder-se dos Sith em Kesh
não tinha sido difícil. Sabia como encobrir a sua presença na Força. E a
existência de uma classe de pessoas humanas insignificantes tornava fácil
para ele se misturar, desde que vivesse no interior e mantivesse mínimos
contatos. Em pouco tempo, aprendeu o dialeto local e o sotaque, dando-lhe
acesso às necessidades da vida. Uma vida passada cuidando de sua fazenda
durante o dia, e trabalhando para reparar o seu caça estelar danificado à
noite.
O caça estelar. Havia reparado a maior parte dos danos causados ao
Aurek pela tempestade de meteoros; restava apenas reinstalar o console de
comunicações e selecionar a hora e o modo de sua partida. Então seria
verdadeiramente o sentinela que pretendia ser, alertando a República e os
Jedi sobre os Sith e reivindicar o seu nome.
Mas ele a tinha conhecido. Ori Kitai era dos Sith, e havia se aproximado
muito dela, apesar de seu melhor julgamento. Deixou-a distraí-lo de sua
missão. Permitiu-na entrar em sua casa. E agora ela tinha descoberto o seu
caça estelar, e partira, presumivelmente para avisar os Sith.
Ou ela o tinha deixado?
Deixou a fazenda rapidamente. Não havia outra escolha. Preferiu não
lançar o caça estelar sem o sistema de comunicações, o que levaria uma
semana para ser reinstalado. Pegar Ori primeiro valia a pena tentar. Mas, se
amaldiçoou agora por não ter estudado as pistas mais de perto. Sim, alguém
tinha atravessado o galpão, matado o uvak dela e descoberto o caça estelar.
Mas não estava claro quem fez o quê. Sim, Ori estava desaparecida, e as
suas pegadas o levavam pela trilha. Mas outras pessoas montando uvak
também estiveram lá recentemente e foram embora. Só os Sith livres
montavam em uvak, mas todos eles eram supostamente hostis a Ori, a quem
eles agora consideravam uma escrava. Alguma coisa tinha mudado? Não
tinha voltado com eles, de qualquer forma.
A sua aposta era que a tribo ainda não sabia o seu segredo. Se os
cavaleiros de uvak Sith tivessem descoberto a nave, teriam deixado alguém
para protegê-la. Assim, sobrava Ori. No dia anterior, enquanto estava na
selva, tinha sentido uma profunda pontada de traição dela através da Força.
Viu a destruição que ela havia causado em sua pequena fazenda. E agora ela
estava se dirigindo para a cidade capital com um conhecimento capaz de
espalhar a destruição em escala galáctica.
Ela tinha que estar lá. Os rastros de Ori haviam desaparecido antes da
encruzilhada, mas Jelph continuava certo de que ela estava indo para Tahv.
Não havia nada além de selva a leste, e ninguém para contar a jusante nas
cidades abandonadas dos Lagos Ragnos. Com as chuvas das monções
sufocando o Rio Marisota, os baixios estavam nas poucas cidades do sul.
Sobrava a capital, uma cidade que ele nunca havia visitado. O centro do mal
em Kesh, lar da Grande Lorde Lillia Venn e de toda a sua ilegítima Tribo.
Olhou pela janela em direção às muralhas da cidade, agora sem
propósito. Onde Ori poderia estar? Para onde ela iria?
— Você não parece feliz, meu amigo. — O velho e preocupado Keshiri
pegou a tigela vazia. — Eu sempre tento ter algo para servir aos pobres. Me
desculpe por não estar melhor.
— Não é isso. — disse Jelph, lembrando-se de si mesmo.
— Ah. A mulher. — O velho se retirou para trás do balcão. — Eu posso
não ser da sua espécie, jovem humano, mas posso lhe dizer algo universal.
Você deixa uma mulher entrar na sua vida e tudo pode acontecer.
Jelph deu um passo em direção à porta, virou-se e fez uma reverência.
— É disso que eu tenho medo.
Os últimos visitantes saíram do zoológico. Era assim que Ori sempre
chamava, mas o nome verdadeiro era algo mais complicado. Originalmente,
um parque especial que homenageava Nida Korsin e os Patrulheiros
Celestiais; desde então teve o nome de dois ou três outros Grande Lordes,
embora isso não parecesse uma honra particularmente alta para Ori. Outrora
houveram animais selvagens em seu interior, os últimos membros de
algumas das espécies predadoras de Kesh. Mas os Sith há muito os haviam
retirado e matado por esporte.
Agora, a instalação servia de morada pública para as montarias uvak
usadas na cavalgada rake, aqueles poucos uvak que sobreviviam às lutas
naquele esporte violento, de qualquer maneira. Cidadãos Sith e Keshiri
também se maravilhavam com as bestas poderosas, sendo mimadas e
preparadas para suas disputas na vizinha Korsinata.
Ultimamente, porém, eles tinham vindo para ver outra coisa. Ou melhor,
alguém.
Ori encontrou sua mãe onde esperava encontrá-la, limpando as baias de
uvak. Jelph estava realmente certo: a Grande Lorde Venn tinha feito um
espetáculo público com a queda de Candra Kitai do poder. Sob os vigilantes
olhos do corpulento guarda noturno, a deposta Alta Lorde continuou o
trabalho que ela fizera o dia inteiro para divertir os transeuntes. Ainda
vestindo seu vestido cerimonial do Dia de Donellan, agora sujo e
desgastado, Candra ficou na ponta dos pés, realocando delicadamente
depósitos sujos com uma grande pá.
Olhando para baixo do poleiro no telhado do abrigo, Ori esperou até que
o guarda estivesse logo abaixo dela. Então ela pulou para baixo, chutando
para bater no sentinela, deixando-o sem sentidos. Ajoelhando-se, ela pegou
o sabre de luz do homem e o arrastou para a baia atrás do uvak.
Com os olhos lacrimejando pelo cheiro, Candra olhou para a filha com
uma expressão cansada.
— Você voltou.
— Sim.
— Faz-se semanas e semanas.
— Está mais para duas. — Ori disse, estudando a mãe. Tão pouco
tempo desde a festa real, e ela mal conseguia reconhecer a mulher. Os
cabelos grisalhos, sempre cuidadosamente escondidos pelas esteticistas
Keshiri, estavam aparecendo com uma força estranha agora. Candra fedia a
todas as coisas vis que havia encontrado em seu trabalho. As suas mãos, no
entanto, permaneciam livres de calos. Ori percebeu porque, enquanto
Candra voltava roboticamente ao trabalho, segurando cuidadosamente a pá
e fazendo pouco progresso.
— Eles continuam alimentando-os com lixo que os deixa doentes. —
gemeu Candra. — Eu sei que estão fazendo isso de propósito.
— Você nunca vai conseguir fazer esse trabalho com a pá assim. — Ori
disse, agarrando a ferramenta. Olhando por um momento, de repente ela se
lembrou de que não era agricultora e jogou-a de lado. — Você esteve aqui
esse tempo todo?
Candra apontou debilmente para o estábulo vazio do outro lado do
caminho.
— Eles me deixam dormir lá algumas vezes. — Cansada, ela olhou para
Ori. — Você parece cansada, querida. Você já descansou?
Ori bufou. Ela correra a noite toda e no dia anteriores, saindo da fazenda
de Jelph depois de descobrir o segredo dele no galpão, chegando finalmente
a Tahv uma hora atrás. Agora, finalmente estava aqui, e tinha algo para
negociar. O que era ele? De onde ele era? SISTEMAS DA FROTA DA
REPÚBLICA, diziam os caracteres antigos. A República, ela lembrou de
seus estudos, era a ferramenta dos Jedi, o corpo de marionetes através do
qual os Cavaleiros Jedi governavam os fracos da galáxia.
Definitivamente, era uma informação que valia algo para alguém. Mas
quem?
— Vou tirar você daqui. — ela disse para a mãe.
— Eu não posso simplesmente sair. — Candra disse. — Eles vão nos
encontrar, aonde quer que formos, e nós duas vamos acabar aqui.
Olhando rapidamente para fora do estábulo, Ori puxou a mulher mais
velha para as sombras.
— Eu não vou te ajudar a fugir. Eu... descobri algo. Algo que nos
restaurará... restaurará você. Você tem que me levar para ver os Alto
Lordes.
Candra olhou para ela, perplexa, por um longo momento antes de voltar
os olhos culpados para a pá.
— É melhor eu voltar ao trabalho, antes que alguém venha conferir...
Ori agarrou os pulsos da mãe antes que ela pudesse se mover.
— Mãe, eu preciso saber com quem falar!
Balançando a cabeça, Candra lutou para fugir do olhar da filha.
— Não, Ori. Não sei o que você acha que encontrou, mas nada fará
diferença. Nós perdemos.
— Isso fará diferença! — Ori não tinha dúvidas quanto a isso. Ela
explicou rapidamente. Havia outra nave estelar em Kesh, uma além da
Presságio. Uma nova, escondida em uma fazenda ao lado do Rio Marisota.
O sussurro de Ori ficou mais alto de emoção. — Isso não é só sobre a nossa
família, mãe! É sobre reunir a Tribo com os Sith!
Candra simplesmente a encarou, incrédula.
— Você ficou louca. Você inventou essa história, para tentar voltar...
Ouvindo o guarda começar a se mexer, Ori olhou freneticamente para
Candra.
— Você conhece a política. Eu preciso saber o que fazer. A quem eu
posso ir?
Com a palavra política, os olhos de Candra pareceram focar. Olhando
tristemente para a pá, ela falou em voz baixa.
— Três dos Altos Lordes foram recém-nomeados fantoches da Grande
Lorde, — ela disse. — Mas isso tinha deixado quatro outros que poderiam
ouvir, dois de cada uma das antigas facções Vermelha e Dourada. Eles
formavam o equilíbrio do poder político e poderiam muito bem
recompensar a família Kitai por trazer a notícia primeiro.
— Se isso é real, é preciso levá-los até lá, para verem por si mesmos. —
Candra disse. — Envie mensagens para eles através do arquiteto Gadin
Badolfa. Ele vê todos eles, e eu ainda confio nele. Não conte exatamente o
que você encontrou; assim, eles não ficam comprometidos para virem
encontrar você.
Ori ruminou. O muito requisitado Badolfa era altamente posicionado na
sociedade Sith, tão bem conectado quanto uma figura fora da hierarquia
poderia ser. Os Alto Lordes talvez não acreditassem que os convites eram
legítimos, mesmo chegando por um amigo de confiança da família como
Badolfa, mas não havia muita escolha.
Arrastou o corpo do guarda de volta para fora da baia. Tinha passado
por uma bom coxo mais cedo o qual seria um bom lar temporário para ele;
os outros guardas achariam que ele estava bêbado de plantão. Mas ficaria
com o sabre de luz. Fazia apenas um dia desde que os irmãos Luzo tinham
pegado o dela, mas era bom ter um outro na mão novamente.
— Mãe, você tem certeza de que não quer vir comigo?
Apoiando-se no cabo da pá, Candra olhou longa e duramente para a
filha.
— Não, este é o meu lugar agora. Eu só iria atrasar você. — Ela olhou
para o chão do estábulo e fez uma careta. — E se esse seu plano não
funcionar, não se preocupe comigo aqui. Não espero ficar por mais tempo,
de qualquer maneira.
Ó dio: puro e opressivo. Tahv era um monumento a ele.
Jelph sentiu isso em todos os becos, em todas as encruzilhadas. O lado
sombrio da Força permeava esse lugar, como em nenhum outro lugar que já
havia visitado.
Muitas vezes enquanto crescia em Toprawa, Jelph pensou que estava
ficando louco. Era atormentado por dores de cabeça constantes; cada
momento de vigília o afetava. Só mais tarde percebeu que a causa havia
sido a sua crescente sensibilidade à Força, respondendo às cicatrizes
psíquicas que Exar Kun e a sua espécie haviam causado no mundo, anos
antes.
Mas o mal deles era passado. O ácido psíquico que corria pelas ruas de
Tahv estava vivo. Estava em todo lugar. O prédio contra o qual ele se
escondia era o lar de um velho Sith que estava castigando violentamente um
servo Keshiri. Na janela do outro lado do caminho, um jovem casal
planejava a morte de seus vizinhos. O sentinela no caminho, tinha
lembranças que continham coisas além das piores imaginações de Jelph.
Jelph tentou ocultar as impressões que vinham através da Força sem
atrair atenção para a sua presença psíquica. Era quase impossível. Os Sith
alegremente transmitiam o seu ódio e raiva, como animais selvagens latindo
para as estrelas.
Desmoronando contra uma parede, Jelph se dobrou. Tarde demais, ele
percebeu que não tinha sido uma boa ideia comer antes de vir até ali.
Levantou-se, ofegando e limpando o suor da testa. "Quantos Sith moravam
ali?" ele se perguntou. Em Tahv? Em Kesh? Nunca soube. Era
ostensivamente um batedor Jedi, mesmo que eles não o reconhecessem
como tal; queria entregar um relatório completo no seu eventual retorno.
Mas toda vez que se aproximava de qualquer centro populacional, ficava
doente. Inclusive agora, quando mais precisava de suas faculdades mentais.
Jelph lutou para reunir os seus pensamentos. Ori. Precisava encontrar
Ori. O nome e o rosto dela seriam a tábua de salvação dele. Ela era o
motivo pelo qual estava aqui... e pelo qual não tinha partido.
Conhecia a presença dela através da Força muito bem, mas não tinha
esperança de encontrá-la no mar de sentimentos duros que era Tahv.
Perguntou-se como ela havia sobrevivido aqui. A natureza sombria dela
nunca lhe parecera estar na mesma classe de os outros Sith de Kesh, por
mais que ela posasse como tal. Ori era orgulhosa, mas, não venal;
indignada, mas, não odiosa. Teria recuado ao toque dela, se ela fosse
diferente. Tinha que estar certo sobre ela.
Mas e se estivesse errado? Ela estava mesmo ali?
Jelph estava prestes a se render ao desespero que o cercava quando viu
algo que despertou uma memória. Em um de seus primeiros encontros, Ori
se gabou de como nenhum dos outros Sabres conhecia o sistema de
aquedutos da cidade como ela. Era o território de patrulha dela, com os seus
aprendizes. Jelph olhou para cima e viu um dos vários altos edifícios de
pedra que se estendiam acima de toda a cidade, descendo com a água das
terras altas. Construído pela primeira vez pelos Keshiri, o sistema havia
sido aprimorado pelos primeiros Sith, que adicionaram reservatórios de
armazenamento dezenas de metros acima do solo. Ori estava certa: lá de
cima, toda Tahv podia ser vista. E espero que não seja sentida, ele pensou.
Atravessou pelas sombras sob um enorme suporte de aqueduto, um pilar
quase do tamanho de um quarteirão da cidade. A sensação do lado sombrio
não era tão ruim ali. Jelph escalou o suporte, tomando cuidado para ficar
constantemente na escuridão até chegar ao topo.
Com uma ampla borda de ambos os lados canalizando águas agitadas, a
calha de pedra era do tamanho de uma rua da cidade. Deitado de bruços no
parapeito, Jelph ficou maravilhado com o fato de os Keshiri terem
conseguido construir, de fato, um rio no ar muito antes da chegada dos Sith.
O que eles poderiam ter realizado se não tivessem sido molestados?
Balançando a cabeça, pegou a sua bolsa de ombro e retirou os seus
macrobinóculos.
Estudando a área, notou uma cadeia de montanhas se aproximando no
oeste. Isso o encheu de pavor. Ouvira dizer que os Sith mantinham a nave
estelar destruída ali, em um templo. Eles seriam capazes de usar materiais
de seu caça para repará-la? Ou um Sith simplesmente tentaria sair em seu
caça, planejando voltar mais tarde para buscar os outros? De qualquer
maneira, encontrar Ori era a coisa mais importante agora. Voltando a
atenção para a cidade lá embaixo, ele colocou o visor na visão noturna e
examinou as ruas que levavam ao grande palácio. Ela teria ido lá, mesmo
sabendo o que a Grande Lorde Venn tinha feito com sua família?
Esforçando-se para ver mais longe, ousou ficar de pé.
— Ori, onde você está?
De repente, uma mão invisível o jogou para trás na água corrente. Os
macrobinóculos caíram de suas mãos, saltando uma vez na borda e
quebrando sem serem vistos em um telhado de mármore bem abaixo.
Depois que tocou o fundo do canal, Jelph chutou com as botas de trabalho
contra o chão de pedra oleosa e se levantou, apenas para voltar a voar,
empurrado pela Força. Incapaz de se endireitar, ele caiu na calha.
A corrente diminuiu, depositando-o em uma piscina coletora, mais
abaixo, mas ainda muitos metros acima dos telhados próximos. Ele lutou
até o final raso, tirou o seu sabre de luz do cinto e o acendeu. Com a luz
azul brilhando no meio da noite, Jelph cambaleou na água até a cintura,
procurando seu agressor.
— Mentiroso!
A alegação tinha se originado acima do canal. Ali Jelph viu a silhueta de
uma mulher se lançando em sua direção, brandindo um sabre de luz
vermelho. Com as duas mãos em sua arma, desviou o golpe poderoso,
permitindo que a força do ataque da mulher a carregasse para dentro do
reservatório com ele. Ela se recuperou rapidamente e atacou novamente.
— Mentiroso! — Ori repetiu, seus olhos normalmente castanhos
brilhando em laranja.
— Você a encontrou. — disse Jelph, colocando o sabre de luz contra o
dela em um impasse crepitante. Era tudo o que ele conseguia pensar em
dizer.
Ori rosnou algo inaudível e chutou a água para ele. Jelph evitou o
movimento, fazendo com que ambos perdessem o pé, e fazendo com que
Ori perdesse o sabre de luz na parte mais profunda da bacia.
Ao vê-la chapinhando, procurando a arma, Jelph recuou para lhe dar
espaço.
— Você a encontrou. — ele disse, desativando seu sabre de luz. — Você
a encontrou... e destruiu o jardim. Eu não culpo você.
— Eu culpo você! — De pé novamente, ela enfiou a mão na água, sem
resultados. — Você é um mentiroso. Você é um Jedi!
— Eu era. — ele disse. Não havia por que negar. — Aquela era a minha
nave espacial que você encontrou. Agradeço à Força que você não tentou
entrar...
— O que? Você acha que eu não sou inteligente o suficiente? —
Pingando, ela olhou de volta para ele. — Eu sou só uma idiota estúpida pra
você, não sendo melhor que os Keshiri!
— Não é isso!
— Viemos do espaço, você sabe. E nós vamos voltar! É disso que você
tem medo?
— Sim... entre outras coisas. — De repente, lembrando onde estava,
Jelph olhou nervosamente para cima. O reservatório estava alto demais para
eles serem ouvidos lá de baixo, mas já havia visto sentinelas aéreas mais
cedo. Pelo menos ele a encontrou. — O que... o que você está fazendo aqui?
Ori pisou em volta na água, ainda incapaz de encontrar seu sabre de luz.
— Eu vim para Tahv para falar de você! Para avisá-los!
— Aqui em cima? — Esperava que ela tivesse ido ver alguém
importante. Estudou-na enquanto ela sacudia a água dos cabelos. — Espere.
Você viu alguém importante. A sua mãe.
A mulher Sith simplesmente olhou com raiva.
— Pensei que a sua mãe não estava mais no poder...
— Isso vai mudar! — O rosto de Ori se encheu de raiva. — Com o que
sabemos agora, ela voltará! Eu voltarei!
Jelph deu um passo para trás, como se tivesse sido empurrado pela força
das palavras dela.
— Essa não é você. — ele disse. — A pessoa que ficou comigo
naqueles dias não se importava mais com isso. Aquela pessoa...
— Não era eu. — cuspiu Ori. — Aquilo era a derrota!
— Mas gostei da outra você... e não me importa como você a chama.
Aquela era uma parte de você.
— Aquela pessoa não era uma Sith! — Ela apontou para as estrelas,
espreitando além das nuvens lá em cima. — Aquelas estrelas nos
pertencem! Isso não é só sobre mim. Vivemos aqui há mil anos, esperando
voltar pra lá. À espera de voltar ao que é nosso!
Jelph começou a dizer algo, mas parou.
— Isso mesmo. — ele sussurrou, calculando. A Tribo era um
remanescente da Grande Guerra do Hiperespaço, mais de um milênio antes.
Ela não sabia o que tinha acontecido em seguida. Tinha uma arma.
A História.
— Os Sith não existem mais. — Jelph disse.
— O que?
— Os Sith não existem mais. — ele repetiu. — Eles estão extintos.
— Você está mentindo. — Ori disse, caminhando em direção à borda.
— Aquela nave que você estava escondendo era uma nave de guerra!
Aquelas grandes... pontas dos dois lados. Você está me dizendo que são
para decoração?
Jelph balançou a cabeça.
— Sim, nós temos inimigos. E nós até mesmo lutamos com os Sith em
uma memória viva. Um Jedi, Exar Kun, caiu para o lado sombrio e reviveu
o movimento. Mas foram erradicados. Caçados... todos eles. — Com
cuidado, aproximou-se dela. — Até onde eu sei, o seu povo são os únicos
Sith que restam vivos na galáxia. Sinta os meus pensamentos. Saberá que
estou dizendo a verdade.
Respirando com dificuldade, Ori olhou de volta dele. Com a raiva
passando, ela se ergueu na beira da bacia e tirou a bota, derramando água
dela.
— Nós vamos ascender. — ela disse, mais calma agora. — Sozinhos
contra um, ou um bilhão de Jedi. Vamos nos arriscar.
— Vocês serão esmagados pelos Jedi.
— Alguém sabe que existimos? — Ela perguntou. — Se os Sith não
estiveram nos procurando, duvido que os Jedi estejam.
— Eles estão me procurando. — ele respondeu. — E acredite em mim,
os Jedi estão procurando por vocês. — Ele não sabia o que havia acontecido
com todos os membros do Pacto desde que fugira... mas sabia que,
enquanto Lucien Draay vivesse, alguém estaria perscrutando os Sith.
Ori esfregou a testa, exasperada.
— Se eu não posso salvar a minha família... e não posso salvar o meu
povo... o que devo fazer?
— O que deve fazer? — Jelph riu. — Você é aquela que sempre diz que
define o seu próprio caminho. — Ele caminhou em direção ao poleiro dela
na beirada. — Só decida o que você quer.
Por um longo momento, Ori o olhou, parado na água estrelada diante
dela. Finalmente, ela fechou os olhos e balançou a cabeça.
— Nós nunca poderemos confiar um no outro. — ela disse.
Jelph a olhou com perspicácia.
Ela abriu os olhos e olhou pra ele.
— Posso sentir isso em seus pensamentos. Você me acha bonita. Acha
que me quer. Quer confiar em mim. Mas está olhando por trás de cada
palavra que digo, tentando me descobrir, tentando me prender. Por causa de
quem eu sou.
Jelph olhou para a água. Não sabia porque tinha vindo até ali quando
havia tanto risco. Não até agora.
— Acho que sei quem você é, Ori. — Ele deu um passo à frente e
colocou a mão no ombro dela. Ela se encolheu com o toque.
— Jelph. — ela disse, agarrando a mão dele, mas sem a afastar. — Não
posso ser a pessoa que eu era lá na fazenda. Se a única maneira de estar
com você é ser fraca, eu simplesmente não consigo.
— Você pode ser forte. — ele disse, alcançando-a e puxando-a para fora
da borda, para baixo na água diante dele. Com os pés tocando o fundo, ela
olhou pra ele. — Você é forte. Você simplesmente não precisa governar a
galáxia.
Ela desviou o olhar dele, para baixo na piscina.
— É para isso que nascemos, você sabe. Para governar a galáxia.
— Então a Tribo é construída sobre uma mentira. — ele disse. — Um
engodo. Todo mundo está brigando por algo que só uma pessoa pode ter. Só
uma. O que significa que ser um Sith... é ser um fracasso quase certo.
Quase todo mundo que segue o seu Código está fadado ao fracasso, mesmo
antes dele começar. — Jelph riu. — Que tipo de filosofia é essa? —
Deslizando o queixo dela para cima com a mão, ele olhou em seus olhos,
castanhos novamente. — Não se deixe enganar. Você não pode perder se
não jogar.
Beijou-na, indiferente ao que qualquer sentinela aérea Sith pudesse ver.
Ori devolveu o abraço antes de se afastar.
— Espere. — ela disse. — Nós já estamos jogando. Está em
movimento. Eu não posso parar.
— O que você quer dizer?
Com a testa escura franzida, Ori explicou o que a sua mãe sugerira que
ela fizesse.
— Eu já enviei uma mensagem para os Altos Lorde rivais. — ela disse.
— Eles vão me encontrar na sua fazenda para ver a nave espacial.
Jogado de volta à realidade, Jelph a soltou.
— O que... o que você disse a eles? — Atordoado, ele saiu do
reservatório.
Ori seguiu, apelando para ele. Sua mãe havia lhe dado uma frase para
usar... o código dentro da pequena comunidade dos Altos Lordes para uma
descoberta de importância tremenda em Kesh.
— Eu não contei a eles sobre a nave espacial, mas eles sabem que é
importante. — ela disse. — Eles deveriam me encontrar lá amanhã ao pôr
do sol.
— Pôr do sol! — Jelph cedeu. Tinha levado um dia e uma noite inteiros
apenas para chegar aqui a pé. — Como você iria chegar lá?
— Eu ia roubar um uvak. — Ori respondeu, de pé no topo da borda e
apontando para uma figura escura no céu. — É por isso que eu vim aqui...
eu sabia que do aqueduto eu poderia atrair uma das sentinelas aéreas aqui
embaixo. — Ela olhou para ele petulantemente. — É claro que isso foi
quando eu ainda tinha um sabre de luz.
— Que sorte você ter feito um amigo. — ele disse, parado na borda ao
lado dela e olhando para a sentinela pairando. Ele sorriu. — Sabe, Ori, você
é a primeira Sith com quem eu já lutei.
— Você pode precisar se esforçar mais contra este. — ela disse,
observando o sabre de luz dele ganhar vida. — Não somos todos
encantados tão facilmente.
E ra bom voar de novo. Ori olhou para o campo que se
afastava sob as asas batendo do uvak. De vez em quando, voltava-se para
ver Jelph, agarrando-se a ela enquanto puxava as rédeas. Ele ainda estava
sorrindo. Voar não era um mistério para ele, sabia, mas ele vivera por três
anos no chão, olhando para cima para os Sith voando. Esta era uma
mudança bem-vinda.
Perguntou-se como seria voar na nave espacial dele. Sabia agora porque
ele simplesmente não tinha voado para longe nela mais cedo, mas agora que
eles se encontraram, não precisavam mais ficar presos a Kesh por mais
tempo. Eles teriam que se encaixar desconfortavelmente no veículo de um
assento, e sabia que ele tinha que reinstalar algum tipo de sistema de
comunicação antes de partir. Mas mesmo que eles não tivessem discutido
isso, ela fervorosamente esperava por essa fuga.
Como seria a vida dela, uma filha da Tribo em uma galáxia dominada
pelos Jedi? Bem como Jelph deve ter se sentido nos últimos anos, imaginou.
Estava começando a pensar assim agora. Empatia era uma característica que
os Sith entendiam apenas como um meio de conhecer melhor o inimigo;
não tinha outro objetivo prático. Ori começou a ver as coisas de maneira
diferente.
Candra, por exemplo. Havia muitas razões pelas quais Ori queria
restaurar a posição perdida de sua mãe, mas a maioria girava em torno de
orgulho, vingança e vergonha sobre seu estado atual. Era mais importante,
ela agora percebeu, simplesmente melhorar a vida de sua mãe tirando-a das
garras de Venn. Os quatro Alto Lordes podiam fazer isso, Gadin Badolfa
garantiu-lhe isso quando ela o contatou. Ela só precisava de algo para
negociar com eles, em vez da nave espacial de Jelph. Ele havia sugerido os
quatro blasters funcionais que tinha escondido em casa; ela poderia alegar
tê-los descoberto em um túmulo em algum lugar. Todas as armas que eles
tinham da tripulação da Presságio estavam há muito esgotadas. A
descoberta de algumas carregadas poderia fazer a diferença na política
violenta dos Alto Lordes.
— Não vamos chegar a tempo. — disse Jelph. O uvak deles não queria
carregar dois cavaleiros estranhos e lutou com eles por todo o caminho. —
O que é isso lá em cima?
Ori olhou para cima e viu grupo de uvak voando em V, uma figura
solitária seguida por mais três de cada lado, voando pelo ar acima deles.
— Que droga! — Eles encontraram o jato da corrente, ela percebeu. —
Eles vão chegar lá primeiro!
— Constante. — Jelph disse. O aperto dele sobre ela aumentou. — Mas
mais rápido!
Ori permitiu que Jelph ficasse fora da vista da fazenda antes de pousar.
Viu quando ele agilmente bateu na terra e rolou para dentro de uma
cobertura. Era tão surpreendente vê-lo em ação, tão fisicamente capaz em
todos os aspectos quanto um Sabre Sith. E furtivo também. Os visitantes,
com as suas criaturas estacionadas atrás da casa da fazenda, não tinham
visto nada.
Respirando fundo, Ori desmontou. O saco de blasters estava exatamente
onde Jelph dissera que estava, embaixo da calha de mistura. Eles se
pareciam muito com as quais tinha visto no museu. Felizmente, seriam
suficientes para comprar a redenção de sua mãe, e fazer com que os
visitantes fossem embora.
Baixinho, ensaiou o que diria enquanto contornava a casa da fazenda,
passando pela treliça destruída. Sabia quais dos quatro Alto Lordes esperar.
Sentindo presenças sombrias familiares, chamou-os.
— Meus Lordes, eu tenho o que vocês estão procurando...
— Sim, eu acho que sim.
Ori ficou pálida ao som da voz rouca. A Grande Lorde!
Pálida e encolhida, Lillia Venn emergiu do estábulo. Levantando uma
mão manchada, agarrou Ori através da Força, imobilizando-a. Quatro de
seus guardas leais apareceram por trás do celeiro e se apossaram
fisicamente de Ori. Girando, a líder Sith entrou no celeiro.
— Lordes Luzo!
Ori sentiu a espinha se gelar quando Flen e Sawj Luzo abriram as portas
do estábulo atrás de Venn, revelando a massa metálica do caça Aurek lá
dentro. Ouvira de Badolfa que Venn havia elevado Flen e Sawj Luzo aos
Senhorios por sua lealdade. Agora os irmãos coniventes haviam retornado à
fazenda... com a pior inimiga dela.
— Como isso aconteceu? — Ori perguntou, lutando contra os guardas.
— O Badolfa me traiu?
— Oh, deixamos Badolfa entregar as suas mensagens. — disse Sawj
Luzo, com a voz estridente e alta de prazer. — A sua mãe fez outro acordo.
— O que?
— Sim. — Venn disse, virando-se e mancando de volta para dentro. —
Ela não achou que a sua descoberta existisse... e não achou que os outros
Alto Lordes viriam. Então, ela nos alertou para a reunião aqui.
Ori parecia horrorizada.
— Em troca de quê?
Venn lambeu os lábios secos.
— Chame de... melhores condições de trabalho. Se algum Alto Lorde
viesse, eu os pegaria por traição. — Ela apontou para o veículo espacial. —
Mas este é um prêmio muito melhor.
Esforçando-se contra os seus captores, Ori olhou em volta. Jelph estava
lá fora, sabia, mas haviam muitos deles. E agora o irmão mais velho dos
Luzo estava ajudando a Grande Lorde através do estrume parcialmente
cavado no estábulo em direção à descoberta dela.
— Consegui. — Venn disse, triunfante. — Eu vivi para ver o dia. —
Soltou o braço de sua escolta e se apoiou no caça estelar. — A vida é uma
piada cruel, Lorde Luzo. Você passa os seus anos buscando o auge do
poder, só então todos pensam que é hora de você morrer.
— Nenhum de nós pensou, Grande Lorde.
— Cale a boca. — Ela acariciou o metal frio do veículo. — Bem, a vida
de Lillia Venn não acabou. Há outro pico, outro lugar para conquistar. Vou
começar de novo... nas estrelas. — Vagamente ciente dos pés cambiantes de
seus aliados atrás de si, ela acrescentou: — Vou levar todos vocês comigo, é
claro.
— Claro, Grande Lorde.
Do lado de fora, dois dos guardas, antes Sabres seguidores de Ori, se
afastaram de Ori, com a atenção voltada para a excitação lá dentro. Nem
eles nem os dois captores restantes perceberam o saco de blasters
descartado e fechado atrás deles, levitando silenciosamente em direção aos
arbustos ao lado da casa da fazenda. Ori, porém, começou a se mexer antes
mesmo de ouvir o chamado mental de Jelph.
Ori! Abaixe-se!
Em vez de lutar para se libertar e fugir, Ori jogou o seu peso no chão,
surpreendendo os homens que seguravam os seus braços. A distração foi
suficiente para Jelph, que emergiu da casa da fazenda atirando. Feixes
brilhantes não vistos em Kesh desde o primeiro século de ocupação
atingiram os dois guardas por trás. À frente, os Sabres restantes ficaram em
choque.
Lá dentro, a forma envelhecida de Venn ganhou vida. Olhou para os
seus novos Lordes.
— Protejam esse lugar!
Jelph avançou pelo quintal, atirando de novo. Os Sabres restantes, que
nunca haviam desviado um raio de blaster em suas vidas, moviam-se
freneticamente para desviar dos raios. Ori rolou no chão, tentando encontrar
um dos sabres de luz dos guardas caídos. À frente, viu os irmãos Luzo
vigiando a porta do estábulo, enquanto atrás deles, a Grande Lorde havia
subido de alguma forma no topo do caça estelar.
Não, ela viu com um sobressalto. Não no topo da embarcação. Dentro
dela.
Ori se virou para Jelph, que havia chegado ao lado dela. Ele também
viu. Por um momento ele congelou, com os seus disparos de blaster
parando. A velha estava dentro de sua preciosa nave estelar. Ele agarrou o
braço de Ori e a ajudou a se levantar.
Atirando novamente contra os Luzos e os seus guardas, ele puxou o
braço dela.
— Ori, vamos!
De repente jogada em movimento, Ori olhou de volta para o celeiro. Ele
claramente não tinha entendido.
— Jelph, não! A Grande Lorde está aqui. — ela falou. — O que você
está fazendo?
Jelph não respondeu. Em vez disso, ele a empurrou para a frente. Para
longe do celeiro, em direção ao rio.
Lá dentro, a velha alcançou o acelerador.
Uma voz baixinha veio do compartimento.
— Sistema de navegação automática ativado. Modo de flutuação
ativado. — Os olhos de Venn se arregalaram quando ela começou a subida.
Fora do Aurek, os irmãos Luzo ordenaram que o Sabre sobrevivente
guardasse a entrada contra Ori e o seu protetor desconhecido. A porta
traseira do estábulo acomodava um uvak de asas largas; ele permitiria
facilmente a saída de um caça estelar.
— Tanto poder. — Sawj Luzo disse, observando o monstro de metal
subir. — Ela nem precisa que cortemos as amarras.
— Amarras? — Flen olhou embaixo da nave. Dois minúsculos cordões
de monofilamento amarrados ao redor dos trens de aterrissagem eram agora
visíveis à luz. Quando as linhas se esticaram, os olhos amarelos do jovem
Lorde dispararam para as outras extremidades, enterradas na lama onde a
nave havia estacionado.
Lá, no chão, pequenos pinos estalaram... e botou abaixo os sonhos de
uma Lorde Sombrio.
O dispositivo de segurança foi colocado antes que Jelph trouxesse a
primeira parte do caça estelar da selva. O Aurek estava escondido debaixo
de um monte de estrume no celeiro, mas embaixo tinha outra coisa
enterrada: dois torpedos de prótons da nave, cercados por milhares de quilos
de explosivo à base de nitrato de amônio. Transformar o fertilizante em algo
adequado para um sistema antifurto exigiu muita paciência e cuidado, mas
isso deu a Jelph uma maneira de transformar o seu trabalho nominal em
algo útil para a sua missão.
Agora, o sistema anti-roubo funcionava exatamente como planejado.
Quando os cabos puxaram para cima, os gatilhos se fecharam nas ogivas
dos torpedos. As armas detonaram, inflamando os explosivos ao redor.
O trovão atingiu a fazenda quando a bola de fogo rasgou e se libertou da
argila ao redor, consumindo o estábulo e os seus ocupantes em
milissegundos. Do lado de fora, Jelph puxou Ori, mergulhando os dois na
água, exatamente quando a onda de choque rasgou o chão atrás deles.
Empurrado através do telhado do celeiro em desintegração, o caça subiu
para o alto como um gêiser de calor e força. Por uma fração de segundo, a
mulher se alegrou com o movimento, assumindo que era uma demonstração
natural da potência do veículo. A sua alegria terminou quando, com a
blindagem da embarcação inoperante, os outros quatro torpedos detonaram
em seus tubos de lançamento. Trabalhadores noturnos tão distantes quanto
Tahv viram o novo cometa surgir e morrer com a mesma rapidez, banhando
o céu do sul com uma luz assustadora.
Lillia Venn havia encontrado seu caminho para o céu.
A pequena cabana estava tomando forma.
uma copa densa de folhagem que nenhum batedor uvak podia penetrar, a
Sob

nova estrutura estava no topo de um pedaço relativamente seco no meio do


mato. Os brotos de hejarbo cresciam muito mais fortes ali na selva; se não
fosse pelo sabre de luz de Jelph, Ori nunca teria limpado o terreno.
Oito semanas se passaram desde que a explosão destruiu a fazenda.
Jelph e Ori haviam descido da floresta apenas uma vez, sob a cobertura da
noite, para investigar o que restava. Não havia nada para ver. Toda a
margem tinha caído no Rio Marisota. As águas escuras se agitaram e
giraram sobre a cratera explodida. Tudo o que restava era o topo de um
caminho coberto de ervas daninhas que terminava na beira do rio. Os dois
haviam retornado à selva naquela noite, confiantes de que ninguém nunca
saberia que houve um caça estelar em Kesh. Ori riu pela primeira vez em
dias, citando a frase favorita de sua mãe.
— A Confiança do Beco Sem Saída.
Desde aquela viagem, o foco deles estava inteiramente em criar um
lugar para se esconderem. Não havia retorno, Ori percebeu agora; não
depois da traição de sua mãe. A morte de Venn certamente havia sido
transmitida pela Força, e, com a mesma certeza, teria posto os Altos Lordes
remanescentes uns contra os outros novamente. O jogo foi renovado; talvez
Candra pudesse até encontrar um papel a desempenhar. Ori não queria nada
disso. Essa parte dela era passado.
E se ninguém lamentou por Lillia Venn, ninguém veio procurar Ori e
Jelph também. De fato, os dois mais tarde haviam espionado poucos Sith e
Keshiri nas terras vizinhas do que o habitual. Presumivelmente, uma
Grande Lorde desaparecendo misteriosamente em uma área temida como
assombrada desde a tragédia nos Lagos Ragnos teria esse efeito.
Tudo bem pra ela. Ori tinha uma nova visão para si mesma agora,
baseada em uma história antiga que ouvira quando criança. A lenda Keshiri
contava que logo após a chegada dos Sith, parte de sua população nativa
havia escapado sobre o oceano. Eles escolheram uma viagem de ida para a
privação e provável morte do que viver a serviço da Tribo. O mais devoto
Keshiri de hoje contava isso como uma história de advertência: a escolha do
destino era um luxo reservado aos Protetores, não a seus servos. O custo da
arrogância, para um servo, era o de isolamento.
Ori via isso de maneira diferente. Se o êxodo realmente aconteceu,
quem levou os escravos para longe foi o maior Keshiri de todos os tempos.
Os seus destinos tinham sido decididos... e desafiados. Jelph estava certo.
Tinha que haver uma maneira de vencer na vida além de subir ao topo de
uma ordem violenta, apenas para ser esfaqueado por um shikkar ou
envenenado por um suposto aliado. Venn tinha ficado feliz, ela pensou, ao
ser imolada em seu momento de triunfo? Os membros da Tribo pareciam
tão irremediavelmente ligados aos seus caminhos quanto os Keshiri que
continuavam escravos. E eles pensavam que eram mais espertos?
Olhando para o sol desaparecendo entre as árvores, Ori começou a
cortar os últimos brotos de metro que formariam a porta lateral deles.
Parecia estranho usar a arma dos Jedi, ela pensou. Todos os sabres de luz
que os Sith usavam em Kesh eram vermelhos, mas alguns dos náufragos
originais mantinham os sabres de luz dos Jedi capturados como troféus. Ela
tinha visto um verde no Museu Korsin. A cor deste era estranha e bonita,
num azul brilhante não encontrado em nenhum lugar da natureza. O único
artefato de origem alienígena de Jelph.
Bem, não o único, ela pensou, extinguindo o sabre de luz.
Era onde ele estava agora, ela sabia. Como sempre, ele se levantou de
madrugada para apanhar o café da manhã e colher as frutas para mais tarde.
Embora não oferecesse nada como as condições de jardinagem nas
planícies, a selva fornecia outros meios de sustento o ano todo; nessa
latitude, ela duvidava que notaria quando chegasse o inverno. Ele passou o
resto do dia construindo o abrigo deles, antes de se recolher, ao entardecer,
como sempre fazia, para vigiar ao lado do dispositivo, a parte de sua nave
espacial que ele não trouxera para a fazenda. Ela caminhou até lá agora, até
o local nas árvores onde Jelph ficava sentado no tronco por horas, olhando
para a caixa de metal escura e brincando com seus instrumentos.
Ele não tinha escondido isso dela. Para os Sith, o "transmissor", como
ele chamava, poderia ser uma descoberta tão explosiva quanto o caça
estelar. Jelph o guardara pelo que representava: a sua salvação para o
exterior. Nunca fora capaz de transmitir uma mensagem; como ele explicou,
algo sobre Kesh e seu campo magnético variável impedia tais tentativas.
Isso podia não ser uma situação permanente, mas podia levar séculos para
mudar. Ori se perguntou se esse mesmo fenômeno havia frustrado os
náufragos séculos antes. Tudo o que ele foi capaz de fazer foi configurar o
dispositivo para procurar sinais no éter, gravando-os para reprodução
posterior. Talvez, se algum viajante chegasse perto o suficiente, ele poderia
levar uma mensagem para o além. Ela agora entendia as viagens dele rio
acima nos meses anteriores: ele vinha à selva para ouvir os sons que havia
apanhado.
Normalmente, ele não ouvia nada além de estática. Mas o que quer que
Jelph tivesse acabado de ouvir o derrubara.
— Eu não posso voltar. — ele disse, olhando fixamente para o
dispositivo.
Ori olhou para a coisa piscante, sem entender.
— O que aconteceu?
— Eu peguei um sinal. — Levou alguns momentos para poder dizer as
palavras. — Os Jedi estão em guerra uns com os outros.
— O que?
— Um Jedi chamado Revan. — ele disse. — Quando eu morava lá,
Revan era como nós, tentando reunir os Jedi contra um grande inimigo. —
Jelph engoliu em seco, encontrando a boca seca. — Pelo que parece, algo
deu errado. A Ordem Jedi se dividiu. Está em guerra consigo mesma.
Jelph repetiu a mensagem gravada para ela. Um fragmento de um aviso
de um almirante da República, advertia os ouvintes de que nenhum Jedi era
confiável. O pacto milenar entre a República e os Jedi havia sido quebrado.
Agora havia apenas guerra.
A mensagem terminou.
Abalado, Jelph desativou o dispositivo.
— Isto... é nossa culpa. O Pacto.
— A facção Jedi a que você pertencia?
— Sim. — Ele olhou para o crepúsculo, incapaz de encontrar estrelas da
noite através da folhagem. — E esse é o problema. Não deveria existir
nenhuma facção Jedi. A Ordem está dividida agora, mas nós a dividimos
primeiro. — Ele balançou a cabeça. — Que a Força ajude todos eles.
Voltou o olhar para a natureza selvagem novamente. Ori o deixou ficar
sentado em silêncio. Ocorreu a ela que, durante todos os dias de queixa dela
sobre o mundo que ela havia perdido, Jelph estava vivendo com a perda de
uma galáxia inteira. E ele a estava perdendo novamente agora.
Por fim, ele se levantou e falou.
— Não sei o que fazer, Ori. Nós evitamos que a Tribo descobrisse uma
saída de Kesh. Mas sempre tive esperança de que, com o transmissor, eu
pudesse fazer contato um dia. Fazer contato... — ele disse, olhando para ela
por um momento. — ...para nos tirar deste lugar.
— E para avisá-los sobre o meu povo. — Ori disse.
Jelph desviou o olhar. Não havia como evitar a verdade.
— Sim.
Ori tocou o ombro dele.
— É justo. Eu tentei avisar o meu povo sobre você.
— Bem, agora não faz mais sentido. — ele disse, inclinando-se para
erguer uma pedra do futuro jardim da frente. — Se os Jedi estão divididos,
ou, pior, se Revan ou outra pessoa caiu para o lado sombrio, então chamar a
atenção para um planeta cheio de Sith é a pior coisa que eu poderia fazer
pela galáxia.
— Você não sabe disso. — ela disse. — Você pode estar errado. Os Jedi
ainda podem vir aqui e acabar com todos.
— Sim, eu posso estar errado. — Rindo de si mesmo, ele olhou para ela.
— Sabe, é a primeira vez que alguém me ouve dizer isso. Talvez se eu
tivesse dito isso com mais frequência em casa, não estaria aqui agora. —
Ele jogou a pedra no riacho e se ajoelhou novamente. — Eu vivi minha vida
inteira pensando que sabia o que deveria fazer. Só não sei o que devo fazer
agora.
Observando-o, Ori viu o olhar que tinha visto nele em suas visitas
anteriores à fazenda. Era a expressão que ele usava quando trabalhava na
lama. Na época ele estava fazendo algo desagradável, mas porque
precisava, para manter seu jardim vivo e seus clientes felizes. Seu dever.
Dever. O termo não significava a mesma coisa para os Sith. Nos Sabres,
Ori tinha missões em que ela era encarregada de realizar, mas ela as
encarava como desafios pessoais, não por lealdade a uma ordem superior. A
galáxia não tinha o direito de dar-lhe trabalhos estranhos. Seres
verdadeiramente livres tinham vidas. Escravos tinham deveres.
E agora Jelph estava sofrendo, certo de que ele tinha algum dever a
cumprir, mas sem saber o que era. Que serviço ele devia à galáxia, uma
galáxia que já o expulsara?
— Talvez... — Ori disse. — talvez a filosofia Sith tenha a resposta para
você.
— O que?
— Somos ensinados a ser egocêntricos. Nós não pensamos em nós e
eles. É só você, contra todos os outros. Ninguém mais importa. —
Colocando os braços em volta dele por trás, ela olhou para o riacho escuro,
passando silenciosamente em caminho para alimentar o Rio Marisota. —
Os Sith me expulsaram. Os Jedi expulsaram você. Talvez nenhum dos lados
mereça a nossa ajuda.
— O único lado que vale a pena salvar. — ele disse, virando-se para ela.
— é o nosso?
Ela sorriu para ele. Sim, ela estava certa desde o começo. Ele era muito
mais que um escravo.
— Dê uma chance a isso, Jedi. — ela disse. — Se eu posso fazer algo
altruísta, talvez seja hora de você fazer algo egoísta.
Ele olhou para ela por um longo momento, com um brilho nos olhos.
Sem palavras, ele quebrou o abraço e foi até o receptor. Ao desenraizá-lo,
ele sorriu para ela.
— Devemos?
Ori observou-o embalar a máquina piscando por um momento antes de
perceber o que ele pretendia. Expirando, ela se aproximou e o ajudou a
carregar o transmissor para o lado do riacho. Com um grande solavanco,
eles o jogaram lá dentro. Atingindo um cardume sob a corrente, a
engenhoca se dividiu ruidosamente em cacos. Eles assistiram juntos por um
momento enquanto pedaços do invólucro balançavam e desapareciam na
escuridão. Então voltaram para casa.
Os cabos foram cortados.
Estava na hora de viver.
INTRODUÇÃO
A Tribo Perdida dos Sith: Panteão se passa em 3.000 ABY, mais de dois mil anos após os
ancestrais da Tribo Perdida dos Sith pousarem em Kesh. Este romance é contado do ponto de vista
de Varner Hilts, um Sith idoso que é o guardião dos registros históricos e da tradição da Tribo. Seu
assistente e amigo próximo era Jaye Vuhld, um talentoso matemático Keshiri. Juntos, eles
administraram os arquivos da Tribo no edifício do capitólio Kesh, na capital Tahv. Desde a morte da
Grande Lorde Lillia Venn durante a "Noite do Meteoro De Baixo para Cima", a Tribo Perdida estava
privada de qualquer liderança coesa. A tribo estava envolvida em uma guerra civil cruel que durou
mais de novecentos anos e devastou grande parte do continente de Keshtah Menor.
O tempo é um amante, dizia o velho ditado: um amante
Sith. Ele tenta você com a eternidade... e depois te corta e te deixa pra
morrer.
Olhando para o reflexo na piscina, Varner Hilts estudava a última
cicatriz do tempo, o seu primeiro e único relacionamento de longo prazo.
Não, ele não podia pôr a culpa em um truque da luz ou na água poluída. Era
real. Uma rachadura fresca corria diretamente do olho esquerdo para a
têmpora. Virando a cabeça e olhando mais de perto, ele xingou. Por que não
havia pelo menos uma ruga correspondente do outro lado? O tempo não era
grandioso em simetria.
Hilts ia bem em seu caminho de se tornar a construção mais inútil de
toda a criação: um ancião em uma sociedade Sith. Era a grande ironia da
Tribo em Kesh. Um homem sem inimigos vivia muito, mas não tinha
futuro. Em virtude de seu chamado único, Hilts conseguiu sobreviver a
décadas de tumulto, mas para quê? Para que pudesse passar mais trinta anos
passando pela mesma bacia, observando seu declínio todos os dias a
caminho do trabalho?
Bem, tradições são importantes, Hilts pensou. Ajoelhado sobre o
reflexo, ele levou a mão ao rosto e apertou os olhos. Lentamente, seu dedo
traçou a nova fenda...
CRACK!
Uma pedra antiga quebrou. Assustado, Hilts olhou para cima. No alto,
uma seção do aqueduto suspenso de Tahv se soltou e cedeu, se soltando de
seu imponente suporte.
— Guardião!
Antes que Hilts pudesse ficar completamente de pé, um borrão roxo
apareceu no beco. O Keshiri macho mergulhou de cabeça na barriga de
Hilts, derrubando o humano para trás. Lajes gigantes de pedra bateram na
rua, pulverizando a borda da bacia onde Hilts estava ajoelhado momentos
antes.
Deitado de costas na calçada, Hilts alcançou a Força e desviou pedaços
de detritos de si mesmo e de seu socorrista. Mas nenhum poder poderia
impedir que a cascata de água salobra caísse da comporta despedaçada. O
Keshiri protegeu Hilts o melhor que pôde até que a chuva de água e pedras
diminuiu.
Tossindo, Hilts reconheceu o seu salvador.
— Tentando marcar pontos com o chefe, Jaye? — Enquanto falava, se
levantou, sacudindo a água suja de seus esparsos cabelos prateados.
— Eu... Eu sinto muito por te empurrar, Mestre Hilts. — gaguejou o
Keshiri. — Eu estava passando por aqui...
— Acalme-se. — Hilts sabia que era uma instrução inútil, mesmo que
Jaye fosse oficialmente seu comandado. O nativo com cara de lua não tinha
mais chance de relaxar do que Hilts de se tornar Grande Lorde. — Apenas
um dia normal na 'Coroa de Kesh'.
— É a conjunção. — Jaye disse, limpando a capa de seu superior. Olhos
negros nervosos percorreram a linha do horizonte agora quebrado da
capital. — O presságio de que te falei!
— E falei. E falei. — Hilts avistou uma multidão de humanos brigando
perto da seção do aqueduto despedaçado. A imputação de culpa, ao que
parecia, era a única indústria em crescimento em Tahv. Ele puxou a manga
do assessor. — Vamos ao escritório antes que alguém decida que nós o
derrubamos por respirar pesadamente!

Em dias passados, os Sith em Kesh aguardavam a sua hora para


alcançar o poder, seguindo temporariamente os outros, a fim de um dia
reivindicar o prêmio. Para a maioria naquela época era mais simples: a
estrutura de poder de Yaru Korsin de Alto Lordes, Lordes e Sabres
funcionou como um meio para atingir um fim. A hierarquia sobreviveu
porque serviu aos propósitos de pessoas suficientes, pessoas com poder para
defender o sistema contra aqueles que o destruiriam. Por mais de mil anos
após a morte do fundador, a Tribo prosperou.
Mas o segundo milênio trouxe tribulações implacáveis. A Grande Lorde
Lillia Venn havia desaparecido mais de novecentos anos antes, no que os
habitantes de Keshiri lembravam, de maneira pouco eloquente, como a
Noite do Meteoro de Cabeça para Baixo. Isso certamente pressagiava a
desgraça para os netos da Presságio. Ao saber de seu desaparecimento, os
rivais de Venn atacaram os seus partidários primeiro, e depois uns aos
outros. Combatentes derrotados deixaram a cidade capital e foram para o
interior, onde muitos encontraram causas comuns com os escravos humanos
desprovidos de privilégios. Um número crescente de Sith pressionou os
Keshiri, amantes da paz, para dentro de suas tropas. Durante séculos, as
facções se uniam por tempo suficiente para conquistar Tahv e assassinar o
Grande Lorde no poder; apenas para começar imediatamente a lutar entre si
mesmos. Uma força rebelde se tornava duas, que se tornava vinte. O poder
na Tribo envenenava quem o provava.
Um quarto de século antes, Hilts tinha cunhado o famoso termo para a
época, que não exigiu muita imaginação. "A Época do Apodrecimento" era
visível em todos os lugares. Sob cercos sucessivos, as ricas ruas de Tahv se
deterioraram. Deixados sem assistência, os aquedutos altos entupiam e
transbordavam; a calamidade da manhã era uma ocorrência muito familiar.
Mais ao sul, o Pináculo Sessal se enfurecia como nunca na memória dos
Keshiri, desencadeando uma explosão tão estrondosa que uma face da
grande arena, a Korsinata, entrou em colapso. Era como se o próprio
planeta estivesse lutando contra os seus emigrantes do além.
Mas aninhado em um pequeno canto do mármore em ruínas do
Capitólio, um lugar permaneceu livre de negligências: o escritório do
Guardião. Em meio a todas as batalhas entre Grandes Lordes e Anti-lordes,
apenas ele permaneceu intocado.
Não porque os Sith tinham algum medo de sacrilégio. O escritório de
Varner Hilts, estava fora da estrutura de poder tradicional, havia sido
estabelecido no tempo de Nida Korsin para fornecer à Tribo uma
cronometragem do tempo precisa e um arquivo histórico. Era um
compromisso vitalício, em parte porque poucos candidatos estavam
interessados. Ninguém desejava a função do Guardião; seus únicos
seguidores eram uma sala cheia de funcionários Keshiri inadequados para o
serviço no exército de alguém. Não que Hilts estivesse realmente com
demanda. Um polímata histórico, ele havia sido informado desde o início de
que, com as suas habilidades de sabre de luz, nunca precisaria se preocupar
com um aliado traiçoeiro. Ninguém ousaria ficar perto dele, por medo de
desmembramento acidental.
Saindo da antessala e entrando no saguão dos ornamentadores, Hilts
ouviu novamente o estalo que o cumprimentara por metade de sua vida.
Sentados de joelhos em um semicírculo, os Keshiri vestidos de marrom
trabalhavam em quadros portáteis de contagem construídos a partir de
conchas do mar e jovens brotos de hejarbo. Hilts descartou a sua capa
pingando e caminhou pela sala, mal se perguntando no que estavam
trabalhando hoje. Jaye mantinha os figurinistas ocupados, na maioria das
vezes, calculando datas para acompanhar os trechos que Hilts retirava dos
arquivos. Sempre se maravilhava com a precisão deles. Para uma espécie
que não possuía matemática básica quando a Presságio caiu, os Keshiri
adotaram o cálculo com tanto vigor quanto todas as outras artes.
Agarrando um ábaco de um colega de trabalho, Jaye seguiu Hilts no
átrio iluminado pelo sol. Séculos antes, o primeiro Grande Lorde, Yaru
Korsin, havia visto seu sobrinho Jariad duelar ali, sabendo, mesmo assim,
Hilts suspeitava, que Jariad estava planejando traí-lo. Agora os tubos de
areia dominavam a sala. Silenciosamente cuidado por garotas Keshiri
vestidas de bronze, a rede de torres de frascos de vidro cheios de pó contava
o tempo para a Tribo. Como se o tempo pudesse ser engarrafado, Hilts
pensou, coçando a lateral do rosto.
— Quero poder ver o meu reflexo naqueles canos. — ele ordenou. —
Eu não preciso lhes dizer em que grande dia estamos chegando.
Não precisava. Os trabalhadores poliram o dispositivo enorme com mais
urgência, tomando cuidado para não interferir no funcionamento. Pela
primeira vez em suas jovens vidas, os visitantes estavam vindo ao local de
trabalho deles. Nenhum Grande Lorde ou pretendente tinha vivido no
palácio por seiscentos anos; os arquitetos de Korsin haviam projetado para a
beleza, não para a defesa. O Dia do Testamento era a única vez em que o
edifício recebia visitantes.
A cada vinte e cinco anos, no aniversário da morte de Korsin, os
ouvintes ouviam seu testamento final novamente. Cinquenta anos antes,
Hilts era um garoto que não recebeu permissão para entrar no palácio, mas a
ideia de se comunicar com o passado havia capturado a sua imaginação.
Através do estudo e do trabalho, se assegurara de que, quando chegasse o
próximo Dia do Testamento, ele seria o responsável por gerenciar o evento.
Agora, como um cometa, o dia chegara mais uma vez. Mas o palácio
hoje era um lugar muito mais pobre, além de seus recursos para reparar.
Olhando para as rachaduras nas janelas de vidro defumado no teto, Hilts
simplesmente não conseguia se animar.
Jaye não tinha esse problema.
— Eles confirmaram, Guardião! — o Keshiri chiou, o ábaco tremendo
em sua mão. — Os meus cálculos sobre os tubos de areia...
— ...não são importantes agora. — Hilts disse. — a menos que você
pretenda pegar um pano e ajudar a limpá-los. — Ele considerou as jovens
em seu trabalho. Pelo menos algumas partes da sala ficariam bem. —
Temos doze dias. Estaremos prontos.
O funcionário mordeu o lábio.
— Podemos realmente estar prontos? Isso... isso é uma convergência
mística. Não... sagrada.
Hilts revirou os olhos. Jaye não apenas amava seus números; ele
também os temia. Este ano era o primeiro para a Tribo. O Dia do
Testamento não era o único memorial desse tipo... e Yaru não era o único
Korsin. A filha Nida reinou por um recorde de setenta e nove anos depois
do pai, e a sua elevação a Grande Lorde era comemorada com um festival
de um mês nas dependências do palácio a cada setenta e nove anos. Nem
Hilts tinha estado por perto no último festival.
— Você não vê, Guardião? — As conchas de ábaco sacudiram quando
Jaye fez outro cálculo. — Faz mil novecentos e setenta e cinco anos desde
que o Grande Lorde Korsin transcendeu a essa existência e Nida o sucedeu,
e isso é setenta e nove vezes vinte e cinco! Esta é a primeira vez que o Dia
do Testamento e a Ascensão de Nida caíram no mesmo ano! — Os olhos se
lançaram para o lado e ele baixou a voz para um sussurro. — A primeira
vez, de todas.
— De todas! — Hilts agarrou o seu companheiro roxo pálido pelos
ombros com uma seriedade falsa, fazendo com que Jaye largasse a sua
moldura de contagem no chão de pedra. — Então o que você está me
dizendo é que dessa vez economizaremos vinho! — Hilts soltou Jaye e deu
um tapa de leve em sua bochecha. — Não precisamos de mais presságios,
Jaye. Temos um, na montanha, lembra? E ninguém tem permissão para
entrar lá.
Hilts caminhou em direção a seu escritório particular, deixando o seu
assessor olhando fixamente para o ábaco.
— Mas, Guardião...
— Está exagerando, Jaye.
— Mas e o que eu aprendi sobre os Tubos de areia?
— Não comece isso de novo! — Hilts entrou em seu escritório e olhou
com alívio para sua cadeira. Sim, essa era a resposta. Depois de uma manhã
como essa, seria um alívio sentar-se em silêncio e beber um pouco...
Vozes subiram do lado de fora no átrio. Batendo seu copo meio cheio na
mesa com nojo, Hilts gritou por cima do ombro para a comoção.
— Jaye, eu disse para você se acalmar!
— Engraçado. — respondeu uma voz feminina rouca. — Acabei de
dizer a mesma coisa a ele. — Hilts virou-se para ver uma mulher de quase
20 anos vestida de preto, segurando um brilhante sabre de luz vermelho
logo abaixo do pescoço de Jaye. Olhos dourados vivos com inteligência
sombria, ela falou. — Temos que conversar, Guardião... e eu odeio ser
interrompida.
Ela estava a dois metros, era facilmente mais alta que Hilts. Cabelos
ruivos brilhantes, bem arrumados; pele rosa impecável. Ela teria se saído
bem nas inspeções de Seelah Korsin, séculos antes, Hilts pensou. E esse era
o ponto.
A intrusa levou Hilts de volta ao átrio, onde viu meia dúzia de mulheres
vestidas da mesma forma, todas espécimes perfeitas da humanidade,
ameaçando os trabalhadores amontoados com sabres de luz. Ela falou de
novo.
— Claro, você me conhece.
— Só de reputação. — ele disse, com a garganta seca. Ele nem chegou a
provar a sua bebida. — Eu não saio muito.
— Eu posso ver. — A mulher sorriu primordialmente e desativou o
sabre de luz. — Iliana Merko. E estas são as minhas seguidoras Irmãs de
Seelah.
— Não acho que Seelah Korsin tenha tido irmãs. — disse Hilts, com
relação às belezas que ameaçavam os seus Keshiri.
— Irmãs em espírito. — Iliana avançou com confiança, esmagando o
ábaco de Jaye sob os pés enquanto avançava. O matemático estava com os
outros, agora, caídos no chão, mas seguros. Saltos de botas batendo contra o
mármore, Iliana examinou as estátuas de vidro que revestiam o átrio. Todas
representavam Yaru ou Nida Korsin. Iliana não parecia satisfeita.
— Desculpe. — Hilts disse. — Eles tiraram as estátuas de Seelah
depois... depois do que aconteceu, anos antes. — Ele presumiu que ela
soubesse do golpe fracassado que Seelah havia conspirado com Jariad
contra o seu marido, Yaru. Para os membros da facção de Iliana, era como
ontem. — Acho que eles não mantiveram nenhuma parte de Seelah.
— Não estou surpresa. Ninguém deu a nossa senhora o respeito que ela
merecia. Ela fundou a Tribo, você sabe... não esses traidores. — Olhando
fixamente para uma representação em vidro de Yaru Korsin, a expressão de
Iliana derreteu em perplexidade. — Será que ele realmente se parecia com
isso?
— Naquela época, os escultores keshiri ainda estavam tentando
descobrir como acertar os olhos humanos. — Hilts cautelosamente se
aproximou dela. A mulher não parecia ter pressa, e ele optou por pensar que
isso era bom para a sua sobrevivência. Mas então, não era como se ela fosse
ser interrompida. Quem iria ali?
— Você sabe por que estou aqui. — ela disse, encarando-o.
— O Testamento só será lido daqui a doze dias. Por que você está aqui
agora?
Ela deu um passo rápido na direção dele.
— Temos que conversar sobre o que o Testamento de Korsin diz. — ela
disse. — Antes que os outros cheguem.
Hilts não pôde deixar de rir.
— Você sabe o que o Testamento diz. Todo mundo sabe. Foi transcrito
tantas vezes...
Iliana avançou, acendendo o sabre de luz e acenando com a ponta logo
abaixo do queixo peludo do Guardião.
— Claro que sabemos! Mas este é diferente. Este Dia do Testamento,
essa leitura... de alguma forma, tornou-se um conclave.
Os olhos dele se estreitaram.
— A Paz do Panteão.
— Exatamente.
De repente, fez sentido para Hilts. Durante séculos, o Dia do
Testamento e a leitura foram a única vez em que toda a hierarquia da Tribo
se reunia pacificamente sob o mesmo teto, o do átrio do palácio, para ouvir
as palavras de seu falecido fundador. Mesmo depois que os Sith se
fragmentaram, a deferência aos grandes líderes do passado era suficiente
para reunir os vários líderes de facção ao mesmo tempo. Ninguém ousou
fazer da reunião uma oportunidade para o caos; alguns agora consideravam
Korsin quase como um ser mágico, capaz de influenciar eventos do além-
túmulo. Os seus antepassados haviam andado nas estrelas.
— Todos os meus rivais estarão aqui. — disse Iliana, ainda o
ameaçando com o sabre de luz. — Alguns acreditam que, no Testamento,
eles ouvirão apoio à causa deles, o endosso de um homem morto. — Ela
olhou de volta para a estátua e zombou. — Bem, todos nós sabemos o que
isto é... um discurso velho e chato recompensando os seus aliados por
ajudá-lo a frustrar Seelah.
Hilts engoliu em seco. Não, Iliana e as suas aliadas não encontrariam
muito o que gostar no discurso agonizante de Korsin. O líder só mencionou
Seelah para bani-la. Alguns dos outros grupos podiam encontrar algum
apoio para as suas próprias reivindicações de poder nas palavras de
Korsin... mas as Irmãs não.
— É por isso que eu quero que você mude o que está no Testamento,
velho. — Iliana fechou os poucos passos restantes entre eles e olhou para o
Guardião. Ela sorriu. — Mude-o... para nos favorecer.
Ele sustentou o olhar dela por um momento.
— Você está falando sério.
— Mortalmente sério. — Girando, ela se afastou, apagando o sabre de
luz novamente. — Eu sei sobre você, Wilts...
— É Hilts.
— ...você e os seus pequenos trabalhadores aqui existem para
desenterrar curiosidades sem valor. Bem... — ela disse, virando:. — ...você
vai revelar o que descobriu o verdadeiro Testamento... declarando que
Seelah e aqueles que seguem os seus ensinamentos hoje são os herdeiros
legítimos do poder de Kesh.
Uma das camaradas de Iliana apareceu com um pergaminho e o
empurrou para Hilts. Desenrolando-o, ele olhou fixamente.
— Eu não acho que vai funcionar.
— Ah, vai. — Iliana disse. — Os outros são supersticiosos, todos
invocando uma figura de nossa história ou outra. Eles admiram os nossos
ancestrais nascidos no alto, e estão certos disso. Mas eles não respeitam o
que deveriam. — Ela apontou para o pergaminho nas mãos de Hilts. — Isso
mudará quando você ler esse em vez do Testamento de Korsin. Os mais
simples vão acreditar e me seguir. Deve ser o suficiente.
Hilts expirou, sufocando uma risada. Ele considerava a mulher tão cheia
de energia e inteligência... tudo gasto sem proveito algum.
Não, é claro que ela não saberia, ele pensou. Ela é muito jovem.
Iliana olhou pra ele.
— O que?
— Sinto muito. — disse Hilts, apontando para o pergaminho. — Eu
admiro a sua iniciativa, Iliana Merko. Mas há uma razão pela qual ninguém
tentou isso antes. Você não saberia, a menos que estivesse aqui para uma
leitura do Testamento antes... ou falasse com alguém que esteve.
— O que droga você está falando?
Lentamente, para não causar alarme, Hilts deu um passo à direita dos
tubos de areia e se aproximou de um pedestal coberto.
— Veja bem, eu não leio o Testamento de Korsin. Os Guardiãoes nunca
o leem.
Iliana assistiu, intrigada, enquanto ele retornava com algo embrulhado
em tecido rico.
— Então quem lê?
— Yaru Korsin. — Hilts puxou o pano, revelando um pequeno objeto
em forma de pirâmide. Um dispositivo... em uma cidade que não tinha
nenhum...
— I sso... é incrível.
— Isso não é bom, Guardião.
— Eu não disse que era. — respondeu Hilts ao seu assessor. — Mas
ainda é incrível.
Enquanto o sol de Kesh lançava os seus primeiros raios sobre a cidade,
Hilts e Jaye olhavam da varanda para o terreno do palácio. Eles nunca
tinham visto a cidade tão viva. Um tapete contorcido de humanos e Keshiri
cobria o que antes fora o Círculo Eterno, com pessoas montando abrigos
portáteis para proteção contra chuva vulcânica.
Os celebrantes começaram a se reunir no dia seguinte à chegada de
Iliana e as suas guerreiras ao palácio, todos os locais de interesse em
preparação para o Festival da Ascensão de Nida. Nenhum cidadão comum
seria autorizado a entrar para a leitura do Testamento, mas isso não parecia
importar.
— Este é um planeta que precisa de uma festa. — Hilts disse.
— Eles querem um líder. — Jaye respondeu. Os olhos escuros olharam
para o Guardião. — Foi o que ouvi Iliana dizendo. Todos os humanos
esperam que alguma orientação venha das palavras do Grande Lorde.
Hilts riu.
— Bem, pelo menos serão as palavras dele. — Ele lançou um olhar de
volta para o palácio, onde Iliana e as suas companheiras olhavam
estupefatas para a pirâmide decorada. — Elas nunca descobrirão como ligá-
la. — Isso era verdade, lembrou Hilts; ele mal havia conseguido colocar a
coisa para funcionar durante o último Dia do Testamento, vinte e cinco anos
antes. O seu antecessor o descrevera como um dispositivo de gravação e
passara para ele o segredo antigo para ativá-lo, mas foram necessárias
quatro tentativas para Hilts acertar no dia marcado. Ele se perguntou se
havia algo errado com aquilo. Reproduziria a mensagem este ano?
Não importa. Ele tinha feito funcionar nos últimos quatro dias muito
bem, Hilts pensou. Para ganhar tempo, mentiu para Iliana que o dispositivo
só era ativado no Dia do Testamento. Isso não impediu a mulher arrogante
de brincar com ele, sem sucesso, mas o estratagema trouxe o alívio que
esperava. Juntamente com os foliões, os rivais de Iliana haviam entrado em
Tahv muito antes do previsto, evidentemente atraídos pelos relatos de seus
espiões de que as Irmãs de Seelah haviam tomado o palácio. Agora, lá fora,
os acampamentos ostentavam as bandeiras dos Korsinites, do Destino
Dourado, da Força 57 e de inúmeras outras facções. A vanguarda de Seelah
tomara posição fora da entrada do palácio, mas não estava claro por quanto
tempo elas poderiam impedir a entrada com o número de seus oponentes
crescendo. Com oito dias restantes para o Dia do Testamento, os inimigos
de sangue haviam evitado a violência, usando a reunião do público em
massa como uma chance de proselitismo. A Ascensão de Nida havia se
tornado um festival de comoção.
— Procurando por um líder nesse bando. — disse Hilts. — que o lado
sombrio ajude a todos nós.
— A conjunção. — Jaye disse. Hilts temia que estivesse prestes a ouvir
outra rodada sobre a teoria de Jaye, e o que hoje realmente era, quando os
Keshiri suspiravam e olhavam diretamente para ele. — Guardião, nunca
vou entender por que você nunca desafiou para governar a Tribo. Você é
mais sábio nos caminhos dos antigos Protetores do que qualquer um.
— Muito sábio. — Hilts disse, achando graça. — Estes são os dias do
Tolo Flagrante, meu amigo. Homens sábios como nós não podem ir longe.
— Mas a Tribo ensina que todo homem ou mulher livre pode crescer e
se tornar o Grande Lorde.
— O que é uma coisa boa para eu acreditar. — Hilts disse. — Mas se
você acredita, não é tão bom. E se aqueles idiotas lá fora também
acreditam... — ele continuou, gesticulando para a multidão. — ...isso se
torna uma coisa horrível. A sua oportunidade está no meu fracasso. — Ele
sorriu. — E o que essa 'Tribo ensina'? Ninguém concorda com o que a Tribo
é, nem sobre qualquer coisa. — O sistema de ensino tem sido apenas mais
uma vítima da turbulência. Sob Korsin e seus sucessores, as pessoas haviam
trabalhado juntas. Mas, à medida que os indivíduos cada vez mais
buscavam atalhos para o poder único, a sociedade Sith, se ela pudesse ser
chamada assim, se desintegrava. Hilts bateu a mão no ombro do jovem
ajudante. — Não, é tarde demais. Como Donellan, o tempo passou para
mim.
— Eu não concordo...
— Escute, Jaye. Quando um homem de idade avançada lhe diz que algo
é verdade, acredite nele ou assinta educadamente. — Hilts disse, afastando-
se da grade. — A última coisa que você quer fazer é abalar a fé dele em sua
onisciência.
— Mesmo se ele estiver errado?
— Especialmente se ele estiver errado. — Ele se virou para voltar para
dentro do palácio. — E falando em tolos...
Lá dentro, Iliana continuava a remexer na pequena pirâmide. Apenas
duas de suas companheiras permaneceram, o restante partiu para guardar a
entrada.
— Se é algum tipo de dispositivo de gravação. — Iliana disse. — deve
ter uma fonte de energia. Talvez um cristal Lignan.
— Se descobrir como funciona. — disse Hiltsn. — Você entrará para os
registros históricos. — Ele atravessou para uma posição não ameaçadora
perto dos Tubos de Areia. Depois de trancar os seus trabalhadores em outra
sala, Iliana tinha mantido o Guardião e o seu assistente na área imediata,
prontos para responder a perguntas. Hilts não estava indo a lugar algum
mesmo. A coisa toda se tornou um espetáculo engraçadp, e os jogadores,
divertidos de assistir.
Achava Iliana uma mulher atraente, mas completamente venal e não
confiável. Hilts nunca havia encontrado uma companheira, em parte por
causa de sua posição sem perspectiva, mas também porque sabia que os
Sith não sabiam como compartilhar. Ele tinha visto isso nas histórias várias
vezes: toda aquela inveja e conspiração, mesmo dentro das famílias. Não é
de admirar que Yaru Korsin tenha decretado que os consortes dos Grandes
Lordes falecidos precisavam ser mortos. O veneno não tinha lugar no quarto
de dormir.
Não que Iliana soubesse disso. Agora, como tinha feito uma vez no dia
anterior, Iliana deu um passo em sua direção e olhou dentro de seus olhos
com um calor repentino.
— Guardião, você tem certeza de que não há como ver a gravação
agora... para alterá-la? — A mão enluvada dela roçou suavemente no braço
dele.
— Sangue de Gloyd, garota! Tenho pelo menos duas vezes a sua idade.
— Hilts disse, olhando para ela com incredulidade. — Você é uma Irmã de
Seelah.
Olhando firmemente, ela se encolheu de volta.
— E você é uma verruga velha e apodrecida!
— É mais parecido com isso. Podemos nos resumir aos fatos agora?
Mesmo que eu quisesse, não seria capaz de falsificar a mensagem nele. E eu
não quero! — Ele se afastou dela e apontou para as pinturas nas paredes do
átrio, representando a chegada dos viajantes dos céus. — Esse dispositivo é
o nosso único elo de funcionamento com o passado, com o que nos
tornamos. Eu não mexeria com ele se minha vida dependesse disso.
— Que tal a de outra pessoa?
Hilts ouviu o assobio agudo do sabre de luz de Iliana sendo ativado.
Girando cautelosamente, ele viu que as suas companheiras tinham pegado
Jaye pelos braços.
— Agora, não há necessidade disso.
— Eu acho que há. Comece a desmontar o dispositivo, Guardião. E
enquanto você faz isso. — Iliana disse. — vamos desmontar este Keshiri.
Pode restar algo dele, se você trabalhar rápido o suficiente.
Os olhos de Hilts alternaram entre o seu assistente contorcido e em
pânico e o dispositivo reluzente. Ele nem sabia por onde começar, mas tinha
que fazer alguma coisa. Relutantemente, ele pegou a pequena pirâmide na
mão...
...e quase a deixou cair quando várias figuras romperam pelas janelas de
vidro acima, despencando no átrio. Vestidos com o traje de couro de uvak
antigo dos Patrulheiros Celestiais, os recém-chegados atingiram a superfície
de mármore atrás das captoras de Jaye e acenderam os seus sabres de luz.
Ao mesmo tempo, várias guerreiras de Iliana as quais estavam do lado de
fora entraram, retirando-se da carga de uma multidão de misantropos de
aparência horrível. Com sua arma já sacada, Iliana saltou em defesa de suas
aliadas, liberando Jaye, que mergulhou no chão perto dos pés de Hilts.
— Agora, garoto! — Segurando a túnica de seu assessor em uma mão e
o gravador na outra, Hilts seguiu na direção dos Tubos de Areia, longe da
briga. Atrás deles, a energia carmesim estalava, rasgando carne Sith.
Haviam dois grupos de agressores além de Iliana, ele percebeu.
Reconhecendo quem eles eram, Hilts entendeu o que tinha que fazer.
— Lixo humano! — Iliana gritou de fúria enquanto cruzava sabres de
luz com uma mulher gigante com cicatriz. — Rameira traidora! — Gritou
uma montanha careca com raiva masculina, um dos recém-chegados de
armadura de couro lá de cima. Em confronto, os combatentes pareciam tão
interessados em insultar seus inimigos quanto em atacá-los. Tanto que, entre
os golpes, eles conseguiram ouvir...
— Ei! Aqui em cima!
Cabeças se viraram para a engenhoca de vidro que se erguia perto da
parede norte. O amarrotado Hilts se agarrava à escada de manutenção dos
Tubos de Areia, com um Jaye aterrorizado nos degraus logo abaixo.
Segurando o dispositivo de gravação em uma mão, o Guardião engoliu em
seco e falou.
— Facções de Kesh... visitantes convidados... bem-vindos. Hum... vocês
chegaram cedo.
E les só tinham que derrubar as janelas, pensou
Hilts. Ele passou trinta anos tentando impedir que a sua parte do edifício do
Capitólio desmoronasse. Os idiotas em guerra acabaram de atrasar a ele e à
sua equipe por mais trinta anos, desde que ele sobrevivesse a esta tarde.
— Preciso dizer que estou surpreso em ver todos vocês aqui. — Hilts
disse, passando por cima dos cacos em direção ao centro da sala. Os
guerreiros se afastaram uns dos outros, mas ainda seguravam os seus sabres
de luz, deixando uma cunha de espaço entre ele e Jaye. — Faltam oito dias
para o Dia do Testamento. Mas este é um palácio. Acho que temos alguns
quartos extras aqui para vocês...
— Cale a boca, velho! — A mulher gorda de cabelos pretos com todas
as cicatrizes deu um passo à frente e apontou para Iliana. — Nós queremos
saber por que ela está aqui!
Hilts olhou para ver Iliana e suas companheiras, algumas
ensanguentadas da batalha, recuando contra os Tubos de Areia, prontas para
sua última posição. O rosto de Iliana brilhou em desafio.
— Não responda essa cretina, Hilts!
— Não levante a voz neste lugar, mulher! — O homem corpulento
careca com um bigode preto deu um passo à frente e saiu de sua confraria
revestida de couro e fez um gesto indelicado para Iliana. — A casa de
Korsin não era lugar para Seelah... nem é lugar para você!
Vendo a fila de guerreiras atrás de Iliana pronta para se mover, Hilts
rapidamente se colocou entre elas e o gigante.
— Você... você é da Liga Korsinite, certo?
— Eu sou Korsin Bentado. — respondeu o homem de cabeça brilhante,
sua voz profunda trovejando na câmara. Ele apontou para os dois lados. —
Este é Korsin Vandoz, e você conhece Korsin Immera da última leitura do
Testamento. Nós viemos, Guardião, para celebrar a vida de Yaru e Nida
Korsin neste momento grandioso e celestial. Esperamos que tudo esteja
pronto...
— Bem, vai...
— ...e esperamos que você possa mostrar aos enganados entre nós a
verdade do Testamento. Que o líder veio do além, que a Tribo é o corpo do
líder e que aqueles que colocariam em risco o corpo não merecem nem
piedade nem vida. — disse Bentado. Ele olhou reverentemente para a
estátua que Iliana havia zombado e inclinou a cabeça. — Um se torna tudo,
e todos um. Korsin agora, Korsin para sempre.
— Se você diz. — Hilts disse. Virando-se, ele lançou um olhar furtivo a
Jaye e balançou a cabeça. Hilts conhecia bem essas pessoas. Um ex-escravo
havia fundado a Liga Korsinite um século antes, tomando Korsin como um
título para si, separado da hierarquia dos Lordes. Emancipado, ele modelou
a sua vida seguindo aquelas lideradas pelo primeiro Grande Lorde e a sua
filha sucessora; como ele declarou, qualquer um digno poderia aspirar uma
qualificação Korsin, assim como ele tinha. Os seus seguidores levavam isso
a sério, e, sendo Sith, decidiram que poderiam adotar o título facilmente
para eles mesmos. O que todos fizeram, apesar das queixas do fundador do
movimento, e, eventualmente, de seu corpo morto. Agora haviam centenas
de autonomeados Korsins de ambos os sexos correndo por aí, cantando
mantras e declarando os seus impérios de um para a multidão em geral.
Iniciar uma conversa com um Korsinite era arriscar a morte por dissonância
cognitiva.
— Eu ainda quero saber por que essa... essa mulher foi autorizada a
entrar aqui! — A fêmea de rosto cheio de cicatrizes bateu a mão vazia no
ombro de Hilts e o girou. Hilts percebeu com um sobressalto que a mão
tinha apenas três dedos.
— Você é da Força 57, acredito.
— Obviamente! — Os seus companheiros empurraram atrás dela,
rosnando ferozmente. A mulher Neera era de fato a menos horrível do
grupo, Hilts notou. Ninguém sabia muito sobre os 57 originais; Seelah
Korsin evidentemente havia tomado medidas para apagar a existência dessa
facção da memória. Mas os contos dos Keshiri falavam daqueles primeiros
membros da tripulação da Presságio como deformados de alguma maneira,
o oposto dos espécimes humanos perfeitos de Seelah.
A Força 57 moderna tinha muito mais que cinquenta e sete em número;
olhando para os aliados de Neera, Hilts se perguntou se todos os seres
humanos deformados que viviam em Kesh haviam entrado nas fileiras. Eles
eram fáceis de perceber quando se aventuravam perto da capital; até os
menos manchados de nascença tinham dezenas de cicatrizes auto infligidas.
Cinquenta e sete, Hilts imaginou, embora nunca tivesse tido a oportunidade
ou o desejo de contar.
— Seelah baniu a nossa espécie, para que pudesse ter a sua perfeição
feliz. — Neera gritou, apontando para as paredes. — Este lugar é nojento!
Você vê quem está faltando nessas pinturas, não é? Onde está Ravilan, o
líder Dos Diferentes? Ora, eles nem se preocuparam em representar Gloyd,
aquele que os Korsins deixaram viver, como um animal de estimação! —
Ela cuspiu no mármore. — O seu precioso Panteão está com membros
faltando!
— Você também! — Iliana respondeu. — Seelah estava certa em
eliminar os defeitos! E vamos fazer isso de novo! — As Irmãs avançaram,
apenas para serem bloqueadas por Hilts.
— Gente, gente! — Olhando para trás, Hilts viu que o seu triângulo de
terreno neutro havia encolhido. — Este não é o lugar para isso!
— Você está absolutamente certo, Guardião. — disse Korsin Bentado,
apertando os fixadores na luva da mão do sabre de luz. — Os profanadores
devem pagar a penalidade. Terminaremos esta batalha aqui e agora, e depois
lá fora, onde as outras facções estão reunidas. O sangue santificará este
lugar. A Liga Korsinite triunfará... e em oito dias, só nós ouviremos as
bênçãos de Yaru Korsin.
Encolhido perto de seu mestre, Jaye chiou.
— Mas existem milhares de pessoas por aí!
— Se é assim que tem que ser.
— Não precisa ser assim! — Hilts gritou. Lembrando-se do dispositivo
de gravação, ele o levantou no ar. — Vocês estão aqui para a leitura. Nós
poderíamos fazer isso agora!
Iliana olhou para ele.
— Você disse que só era ativado no Dia do Testamento!
Hilts olhou para ela e deu de ombros.
— Eu sou Sith. Eu menti.
— A Liga não aceitará a leitura do Testamento em nenhum dia além do
aniversário. — disse Bentado, com os olhos dourados brilhando sob as
espessas sobrancelhas negras. — Você seria considerado herege, Guardião,
como esses outros? — A fila começou a se mover novamente atrás dele. —
Vamos ouvir o fundador em oito dias... sozinhos!
Vendo os combatentes avançarem, Hilts sentiu Jaye se agarrando
firmemente a ele. Num instante, ele fez uma conexão.
Oito dias.
— Jaye! Seus cálculos! — Puxando a cabeça do Keshiri de seu peito,
Hilts gritou com urgência. — Os seus cálculos sobre os Tubos de Areia!
O assistente olhou para cima, lágrimas de pânico fluindo livremente.
— Agora? Mas você disse que ninguém estaria interessado em...
— Agora, Jaye! — Ele murmurou. — Diga a eles!
Tremendo de terror, o pequeno Keshiri soltou seu mestre e se dirigiu à
assembleia.
— Implorando o perdão de vossas Senhorias...
— Nós não somos todos Lordes, Keshiri!
Jaye quase caiu com a resposta de Neera. Os seus enormes olhos negros
dispararam de volta para Hilts, que murmurava com urgência: Diga!
— Implorando os seus perdões, mas quando os Protetores chegaram,
eles trouxeram o Calendário Padrão deles, que nós Keshiri adotamos,
independentemente da duração diferente do dia e do ano...
Outro sabre de luz acendeu na multidão.
— ...e calibramos nossos Tubos de Areia com o cronômetro mágico de
vocês, a bordo da Presságio. Quando o templo da montanha foi selado e a
Presságio abandonada, os portadores trouxeram os Tubos de Areia para cá,
ainda mantendo o tempo...
Mais dois sabres de luz e mais movimento.
— ...mas descobrimos anos atrás que a areia não corria pelos canos na
mesma velocidade no continente e na montanha. — Com a energia
vermelha brilhando em seu rosto, Jaye engoliu em seco. — Corre mais
devagar.
Bentado levantou a arma e uma sobrancelha.
— Quanto mais lento?
— Um segundo mais lento. — Jaye respondeu, a voz rangendo. — O
seu dia padrão é realmente um segundo mais curto do que o que estamos
usando esse tempo todo.
Neera e os 57 estrondaram com impaciência.
— O que droga essa diferença faz?
Hilts cerrou os punhos e olhou para Jaye.
— Diga a eles!
— Em mais de dois mil anos? Faz oito dias de diferença. Isso significa
que...
— Significa. — Hilts disse, caminhando ao lado de seu assessor
trêmulo. — que pela verdadeira cronometragem de nossos fundadores, o
Dia do Testamento é hoje. E o Festival da Ascensão de Nida também
começa hoje. — Ele olhou para Iliana e baixou a voz. — Mas o dia de Yaru
é o mais importante.
Bentado caminhou na direção do par e se enfureceu.
— Isso é um absurdo! — Ele agarrou Jaye pelo pulso. — Você está me
dizendo que esse tolo Keshiri contava todos os segundos desde
praticamente quando a Presságio chegou? Isso deve ser dez milhões...
— A palavra no seu idioma é bilhões. — Jaye resmungou. — E são
mais de sessenta.
Iliana deu um passo à frente e abaixou o sabre de luz.
— Ele está dizendo a verdade. — ela disse. — Não vejo nenhum
engano nele. Nem muito de qualquer coisa.
Bentado se voltou para so seus aliados, que assentiram em silêncio. Até
os desventurados 57 tinham parado.
Hilts olhou para o Keshiri e ficou maravilhado. Bem feito. Agora cale a
boca!
— A leitura está iniciada. — Hilts disse. — Declaro a Paz do Panteão.
— Segurando o gravador no alto, ele olhou de um dos líderes de facção
para o outro. — Desativem as suas armas... e chamem qualquer um de seus
líderes rivais lá de fora. Não posso dizer às pessoas como administrar os
seus negócios. Mas talvez Yaru Korsin possa.
— ... quando pousamos, éramos poucos. Nossa
sobrevivência não estava garantida. A Tribo... o que nos
tornamos... era o mecanismo necessário. Depois que soubemos que Kesh
não oferecia nenhum perigo para nós, a única ameaça vinha de nós
mesmos...
O capitão da nave espacial estava sentado em sua cadeira de comando,
encarando a morte, e, sem o conhecimento dele, vários de seus
descendentes remotos, separados pelo tempo. A imagem de Yaru Korsin
tremulou no ar, lançando sombras assustadoras através do átrio escuro. Não
foi nem o robusto Korsin das pinturas posteriores nem a divindade com
olhos de inseto da escultura Keshiri que apareceu; era simplesmente um
homem. Um rei guerreiro gasto, segurando o peito e falando seu último
desejo.
— ...e assim como eu treinei você em segredo, Nida, há segredos que
você deve sempre guardar. O verdadeiro poder está por trás do trono. Se
um desastre acontecer, lembre-se disso...
Banalidades passadas de um governante para sua filha, ambos mortos há
muito tempo. Hilts tinha estudado as palavras por tantos anos que perderam
a sua magia para ele. É verdade que aquela primeira visão de Yaru Korsin,
animada, havia excitado a sua imaginação. Mas desta vez foi diferente. De
pé atrás do dispositivo e sua projeção, ele se viu olhando não para a figura
antiga, mas através dela, para os ouvintes reunidos. O átrio fora limpo de
cadáveres e guerreiros vivos naquela tarde; agora, quando a escuridão caía,
restavam apenas os líderes das facções, incluindo mais de uma dúzia
trazidos lá de fora. Hilts procurou olhar em cada rosto. Alguns tinham o
mesmo olhar de admiração que ele já teve; humildade era um conceito novo
para a maioria dos Sith. Outros pareciam intocados.
Hilts voltou a se concentrar em Korsin. Ele estava morrendo quando
gravou isso; sangrando no assento que outrora fora a cadeira do capitão da
Presságio, ele rapidamente registrou uma mensagem para a sua filha, que
estava ocupada finalizando os rebeldes em outros lugares da montanha.
Entre tosses, o espectro de Korsin falou da hierarquia da Tribo e de como a
estrutura deveria ser gerenciada para evitar revoltas como a que acabou por
matá-lo. Ele acabara de falar o segmento sobre matar as esposas do Grande
Lorde e banir Seelah; Hilts ainda podia sentir a raiva vindo de Iliana.
— ...isso deve manter a Tribo a longo prazo, mas você deve começar a
trazer o seu próprio povo ao nível de Lorde. Eu tenho algumas sugestões,
dependendo de quem sobreviver...
— Esta é a parte chata. — Iliana retrucou. Hilts olhou para os sapatos.
Ela estava certa. Por toda a consideração colocada no documento, ele sabia
que isto incluía muitos detalhes logísticos. Vários dos líderes prestaram
muita atenção, ouvindo Korsin falar de seus antepassados intelectuais
adotados, mas para os outros foi um tédio.
Olhando para os membros inquietos, Hilts se perguntou sobre o seu
próximo passo. Ele estava sozinho agora; Jaye fora expulso junto com seus
colegas de trabalho antes do início da leitura. Isso foi bom para eles, no
momento. Mas a Paz do Panteão terminaria quando a gravação terminasse,
e não parecia que as palavras estavam levando a um acordo. Quanto tempo
ele poderia permanecer vivo, muito menos proteger sua equipe e posição...
se isso não resolvesse nada? Não importa o futuro da Tribo, Hilts pensou. E
quanto ao meu futuro?
Depois de alguns minutos, o discurso de Korsin diminuiu. A ferida
mortal cobrava seu preço, as palavras se tornaram pessoais. Hilts olhou para
cima novamente, fascinado pela conexão momentânea com um homem de
dois mil anos de idade.
— ...Nida, minha filha, você é mais do que a única coisa boa que vem
de Seelah. Você é o futuro dos Sith neste planeta. Não foi... nossa escolha
morar aqui. Mas é... nossa escolha não morrer aqui. Essa escolha... será
feita por você...
Korsin caiu na cadeira. A imagem congelou.
— Isso é tudo? — Iliana disse.
Hilts olhou para ela, sem surpresa por ter vencido a corrida para falar
primeiro.
— Isso é tudo. — Ele andou até o dispositivo de gravação.
— Basta. — disse Korsin Bentado com reverência. — Você acabou de
ouvir um grande líder falar. Só pode haver uma estrutura de poder... a que
ele inventou. Aquele que meu povo representará. Sem compromisso.
— Você está errado. — veio outra voz. Hilts viu que pertencia ao líder
do Destino Dourado, um grupo obcecado pelos aspectos estelares da origem
da Tribo. — Ouvi um grande conquistador descrever um povo poderoso.
Nem tinham a intenção de vir aqui... mas subjugaram este mundo
instantaneamente. Todo ser humano na galáxia provavelmente tem seu
próprio reino planetário! Devemos parar de lutar, reabrir o templo e retornar
às estrelas!
Hilts balançou a cabeça quando as brigas começaram de novo. Ainda
não havia sabres de luz; os líderes estavam muito ocupados contando uns
aos outros o que tinham acabado de ouvir. Mas era apenas uma questão de
tempo. Ele distraidamente brincou com o gravador. Dessa vez, ele começou
a desativar mais facilmente, mas, por algum motivo, não estava desativando
corretamente.
A estática apareceu... e depois outra coisa. Imagens fugazes,
entrelaçadas com a cena do Grande Lorde expirado.
— Há algo aqui. — disse Hilts, ajustando o dispositivo. — Por baixo.
Um palimpsesto. Ele ouvira artistas Keshiri falarem do conceito.
Ocasionalmente, um segundo trabalho era pintado sobre uma versão
anterior, usando a mesma tela. O conceito não tinha significado na
escultura, e a imagem projetada não era uma escultura viva? Mas ainda
assim, algo estava lá. Talvez quando Korsin usou o dispositivo para gravar
sua mensagem, já houvesse outra nele!
Ele mexeu nos poucos controles que entendia de novo...
...e um monstro apareceu.
— Aqui é o seu senhor, Naga Sadow, falando para o capitão Yaru
Korsin!
Os líderes se voltaram instantaneamente de suas discussões ao ouvir a
voz grave. Pertencia a algo não inteiramente humano, vestido com as vestes
de um governante Sith. O rosto de Sadow tinha um tom avermelhado,
terminando em dois tentáculos pontiagudos que se contorciam quando ele
falava. Veias saltavam de seu crânio careca como cadeias de montanhas.
E enquanto falava, gesticulava com as mãos, e que mãos! Com garras
que um uvak poderia ter.
Neera da Força 57 falou primeiro.
— O que... é essa coisa?
— Ao lado de Saes e da Prenúncio, você está decretado a entregar a
equipe de mineração pertencente ao seu irmão, Devore, a Phaegon. Você
obterá cristais Lignan para a minha causa e retornará a Kirrek.
Hilts teve que esfregar os olhos. A língua era a deles, mas fortemente
acentuada. Mas do que ele estava falando? Além dos Keshiri, não havia
registro de haver outras espécies sencientes no universo.
E certamente não aquela que dava ordens aos humanos.
— Para esta missão, envio a você alguém com quem você já trabalhou
antes, Ravilan Wroth e seus guerreiros Massassi.
A imagem mudou, e se o rosto de Naga Sadow assustou os
espectadores, a aparência do suposto Ravilan e sua escolta provocou
suspiros audíveis. Com a pele totalmente avermelhada, Ravilan parecia
ainda menos humano que Sadow, com hastes salientes nas sobrancelhas
para combinar com gavinhas faciais ainda mais longas. E as
monstruosidades pesadas e cor de sangue atrás de Ravilan eram grotescas
além da descrição.
A imagem tremeluziu e Naga Sadow reapareceu.
— Mandei chamar o seu irmão, Devore, para informá-lo de que você
estará no comando. Mas lembre-se de que todos vocês estão sujeitos à
minha lei e capricho. Você pode ter mais liberdade de ação do que outros
Sith permitem a seus escravos, mas a melhor coisa que seu tipo pode
aspirar é a competência a meu serviço. E é isso que eu exijo de você. O seu
trabalho criará a minha glória. Comece os seus preparativos. Sucesso em
meu nome. Falhe comigo e morra.
A imagem desapareceu, deixando o átrio na escuridão. A luz das
estrelas entrava pelas janelas quebradas acima.
Por fim, Iliana falou.
— O que foi isso?
— Uma mensagem. — Hilts respondeu, tocando cuidadosamente o
dispositivo. — Uma mensagem anterior. Eu acho que Korsin gravou sobre
ela, e não deveríamos vê-la. — O dispositivo havia sido irritante em
ativações recentes. Talvez tivesse finalmente falhado em fazer o que Korsin
pretendia. Ele expirou e olhou para as claraboias. — Acho que era, como
ele disse, Naga Sadow.
A multidão explodiu em descrença, com a voz mais alta de Korsin
Bentado.
— Naga Sadow é apenas um nome de contos populares... "aliado
celestial de Korsin." Aquilo... aquela coisa agiu como se possuísse a
Presságio. E a equipe!
— Eles não eram conquistadores. — Iliana disse acidamente. — Eles
eram escavadores de terra. E o grande Yaru Korsin era apenas um
entregador!
Os terríveis párias da Força 57 pareciam os mais horrorizados de todos,
tendo visto a verdadeira face de Ravilan e seus párias.
— Isso... isso não é Sith. — disse Neera, quase num sussurro. — Isso é
loucura.
Hilts ficou sem palavras. Todos os pequenos mistérios da história deles
e todas as seções editadas de textos de repente fizeram sentido, se isso
pudesse ser chamado de sentido. Yaru Korsin e todo o panteão fundador
haviam sido escravos... dessa coisa?
— Não é à toa que Seelah Korsin queria que todos nós fossemos
espécimes puros. — disse Iliana, diante dos outros. — Ela estava
santificando a raça.
Korsin Bentado estava andando.
— Não, não pode ser. Não pode ser. — Ele olhou para Hilts. — Você!
Guardião! As Irmãs chegaram até você mais cedo. Você mexeu com isso?
— Eu não saberia por onde começar. — Hilts respondeu. Ele levantou o
projetor do chão e o colocou de volta no pedestal.
— Então... o que isso significa?
— Significa que não somos apenas a Tribo. — Hilts disse. — Somos
uma Tribo Perdida. — Ele quase cuspiu o adjetivo. Não havia nada do que
se orgulhar. — Estavam perdidos. Nós não viemos por conta própria; fomos
enviados e não enviados para cá. Mas, uma vez que caímos, Korsin ficou,
porque ele não queria voltar e encarar aquilo.
Os murmúrios ficaram mais altos. Quem culparia Korsin? Mas isso fez
de todos algo realmente terrível.
Escravos em fuga.
Num instante, Iliana acendeu o sabre de luz e se lançou. Hilts tropeçou,
certo de que ela estava vindo para ele. Em vez disso, a arma dela encontrou
seu lar no dispositivo de gravação, bifurcando-o e o pedestal sobre o qual
estava assentado.
Hilts se atrapalhou na direção das metades faiscantes do dispositivo.
— O que você fez com isso?
— Não podemos deixar ninguém saber. — Iliana disse aos outros, com
a voz grave. — Eles nunca quiseram que soubéssemos. Seelah deve ter
proibido qualquer registro do que o povo de Ravilan realmente era. É por
isso que Korsin gravou a mensagem. Temos que manter esse segredo.
Hilts olhou para ela.
— Eu não vejo como...
— Nós nunca podemos deixar os Keshiri saberem! — Korsin Bentado
disse, o gigante estoico agora estava igual a Jaye em nervosismo. — Se eles
descobrirem que os seus Protetores puderam ser governados por criaturas
como essa...
— Eles não vão. — Neera assobiou. — Eu vou matar todos eles
primeiro.
— Isso não será necessário. — disse Iliana, moendo os fragmentos do
gravador com a bota. — Está feito.
Hilts olhou para os restos mortais. Estava.
Isso tinha dado previsivelmente errado. Vinte Sith não podiam
compartilhar um segredo, nem mesmo para sua própria proteção. Alguém
contou a história. Talvez um dos participantes, angustiado e cheio de
bebida, tenha revelado tudo sobre as origens da Tribo Perdida. Certamente,
muitos dos camaradas dos líderes ficariam ansiosos por notícias sobre o que
aconteceu durante a leitura. E lá, acampados do lado de fora, havia
humanos de todo o país, comemorando o Festival da Ascensão de Nida.
Humanos com uvak, prontos para voar e entregar as terríveis notícias.
Eles não eram especiais.
O resultado foi rapidamente visto. As cidades de Kesh estavam
desmoronando. Agora elas queimavam. Todas elas, nas poucas palavras que
haviam chegado do resto do continente. Hoje era o dia do Testamento
agendado regularmente. Tinha levado apenas oito dias para que a verdade
cancerígena chegasse a todos os lugares onde os humanos viviam.
Eles não eram nada.
Hilts espiou pelas ruas noturnas da cabana de Jaye. A habitação havia
sobrevivido à primeira tempestade de fogo, mas os incendiários estavam em
movimento novamente, e provavelmente não estaria ali por muito tempo.
Em todos os lugares, os Keshiri assistiam de seus esconderijos, temendo por
suas vidas e fascinados pelas convulsões pelas quais seus mestres estavam
passando. A raiva fluía livremente enquanto uma raça inteira tentava
cometer suicídio.
Eles mereciam não ser nada.
— Este é o fim dos tempos, mestre Hilts. — disse Jaye, encolhendo-se
ao lado dele na porta. O Keshiri assustado olhava para a nuvem de uvak
enlouquecidos, circulando as chamas.
Hilts simplesmente assentiu. Ele havia dito ao assessor o conteúdo da
gravação. Realmente não importava agora. A população humana de Kesh já
estava reduzida a alguns milhares depois de todas as lutas internas. Quantos
sobrariam? Ele não tinha visto nenhum dos líderes da facção desde o início
dos tumultos, nem mesmo Iliana, que parecia confiante de que o perigo
havia passado. Como ela estava errada. Não demoraria muito agora.
E ainda...
...Korsin havia dito outra coisa.
"O verdadeiro poder está por trás do trono", ele dissera. Foi uma
afirmação estranha. Hilts tinha ouvido falar de uma expressão idiomática
Keshiri, onde isto se referia às contribuições de um cônjuge. Mas o marido
de Seelah não podia ter dito aquilo. Ele conhecera Iliana, sua descendente
espiritual. Hilts não teria confiado nela para não roubar seu cadáver.
Nenhum Sith confiava em um amante... muito menos em uma como Seelah.
Hilts estava parado na porta.
— Guardião, os manifestantes vão vê-lo!
O humano de cabelos grisalhos não prestou atenção, olhando para o
palácio. Eles o evacuaram quando a multidão ficou feia. Mas não era o que
estava lá que estava em sua mente agora. Era o que nunca esteve lá.
Um trono.
Com a capa ondulando atrás de si, Hilts correu para a rua. Alarmado,
Jaye seguiu, tomando cuidado para não pisar... ou olhar para qualquer um
de seus vizinhos mortos.
— Guardião, o que é?
— É o trono, Jaye. O trono!
Os Keshiri conheciam o termo. Os anciãos Neshtovar costumavam
modelá-los para si mesmos.
— Mas Korsin não tinha trono.
— Não no palácio, meu garoto. Olhe! — Agarrando os ombros do
assessor, ele apontou o Keshiri para o oeste, e para os picos envoltos em
nuvens das montanhas Takara. De repente rejuvenescido, Hilts recitou as
frases que ele havia memorizado décadas antes.
— “Existem segredos que você deve sempre guardar. O verdadeiro
poder está por trás do trono. Se acontecer um desastre, lembre-se disso!”.
— Semicerrando os olhos por causa da fumaça, ele olhou para o lugar
proibido. — O trono de Korsin era o lugar dele na Presságio, e ele está lá
em cima!
— Eu... eu não entendo. — gaguejou Jaye.
— Não deveríamos ter visto a mensagem de Sadow, mas esse não é o
legado de Yaru Korsin. Há algo mais, algo que ele mencionou no
Testamento. Algo que talvez possa salvar a Tribo de si mesma!
Hilts respirou fundo, mais excitado do que havia estado em anos. Por
toda a sua vida, ele pensou que sabia toda a história que havia, tudo o que
Korsin tinha a dizer. Ele realmente poderia ter deixado... um pós-escrito?
— Só há uma coisa a fazer. — Hilts disse, apertando a capa e
caminhando com confiança pelo caos. — Vamos abrir o templo. Vamos a
bordo da Presságio!
INTRODUÇÃO
A Tribo Perdida dos Sith: Segredos é definido em 3.000 ABY e ocorreu duas semanas após os
eventos de Panteão. É contado do ponto de vista do historiador Sith Varner Hilts. Durante a Grande
Crise, Hilts e o seu assistente Keshiri Jaye Vuhld viajam para o Templo Sith em Kesh na tentativa de
descobrir segredos que podem salvar a Tribo Perdida dos Sith de sua própria destruição. Ninguém
tinha visitado o Templo Sith por vários séculos desde que a filha do fundador da Tribo, Yaru Korsin,
Nida Korsin, ordenou que a Tribo evacuasse o Templo. Depois de muita dificuldade para navegar
pelo terreno difícil, Hilts e Jaye conseguiram entrar no complexo do Templo. Pouco depois, eles
encontram uma desanimada Iliana Merko, a ex-líder das Irmãs de Seelah, uma facção Sith que
emulava Seelah Korsin, a ex-esposa de Yaru Korsin.
C omo todos os Sith em Kesh durante a Época do
Apodrecimento, a família Hilts tinha ambição. Porém nunca foi muito
grande na execução.
O pai de Varner Hilts passou anos ganhando a confiança do líder de sua
facção local. Ele tomou muito cuidado ao selecionar a lâmina shikkar
destinada às costas de seu senhor. Mas o Hilts mais velho usou um pouco
menos de cuidado ao prender a bainha da adaga, e a lâmina de vidro caiu do
cinto e se enterrou no tornozelo. Ele morreu em um mês gangrenoso, um
período misericordiosamente curto para suportar o apelido de "Hilts
Escorregadio".
Imperturbável, a viúva Hilts seguiu em frente, mirando o líder da facção
com sedução na semana seguinte. Lacaios a entregaram cuidadosamente aos
aposentos privados do líder em uma enorme urna cerimonial. Infelizmente,
a tampa era teimosa e ninguém lhe disse que o líder passaria o mês fazendo
campanha no alto do país. No entanto, ela conseguiu sua surpresa, se o
horror dos criados da limpeza contasse.
Varner Hilts viveu mais tempo do que os dois, subindo silenciosamente,
para não dizer inofensivamente, a uma posição de responsabilidade dentro
da Tribo. Ele trabalhava todos os dias no maior palácio do continente, e
tinha visto o Testamento de Yaru Korsin não uma vez, mas duas. Ele havia
se aventurado mais perto do que qualquer um em anos do Templo que
abrigava a Presságio, a nave que levara Korsin e a Tribo Perdida a Kesh.
E agora ele estava prestes a ser morto por uma planta.
— Jaye! Jaye! — Hilts chamou, lutando de cabeça para baixo dentro de
uma teia espinhosa de trepadeiras. Cada movimento fazia com que os laços
se apertassem ao redor dos membros do velho. Ele viu o seu assistente
olhando para ele do alto da pedra verde trançada. — Jaye, corte isso e me
derrube!
Olhos negros piscaram.
— Com o que, Guardião?
— Com qualquer coisa!
— Ah! — O Keshiri de rosto roxo desapareceu por um momento antes
de reaparecer com a sua mochila. — O sabre de luz que você encontrou!
— Uau, não! — Hilts abriu os dedos da mão livre em pânico.
Previsivelmente, Jaye estava segurando a arma pelo lado errado. — Você
vai se matar se ligar!
Jaye se ajoelhou perto de onde Hilts estava pendurado.
— Devo passar para você, então?
— Não. Olhe, vá encontrar uma pedra afiada. — Hilts disse,
acomodando-se o melhor que pôde em sua prisão complicada. — Eu vou...
ficar por aqui.
Hilts ouviu o saltitante Keshiri se afastar e se amaldiçoou por seu
esquema maluco. Ninguém ousara se aproximar do Templo da montanha há
séculos, e agora um arquivista de sessenta anos e seu covarde funcionário o
fariam? Durante uma semana, nada menos, quando todos os assentamentos
no continente de Keshtah se agitaram com convulsões desenfreadas? Hilts
balançou a cabeça, ignorando os arranhões da videira enrolada sob o
queixo. Ele estava louco para fazer essa jornada!
E a jornada foi enlouquecedora. Hilts havia retornado primeiro ao seu
museu na cidade capital Tahv, onde preservou por muito tempo os mapas
antigos do Templo da Presságio. Mas saqueadores haviam atingido o
palácio e queimado cada pedaço de pergaminho nos arquivos. Tudo o que
era quebrável tinha sido quebrado. A visão dos Tubos de Areia esmagados
levou Jaye às lágrimas.
Hilts estava preparado para isso. O tumulto autodestrutivo vinha sem
parar desde a descoberta da Tribo de que seus ancestrais não haviam sido
conquistadores, mas escravos de alienígenas. No entanto, a visão de tantos
cadáveres humanos caídos nas ruas o havia enervado. Nenhum Sith via uma
única vida como preciosa, mas a sua espécie como um todo certamente era.
Os sobreviventes da Presságio eram tão poucos em número no começo.
Quantas gerações foram perdidas? Eles poderiam se recuperar?
O Templo proibido poderia ter a solução, mas Hilts tinha que chegar lá
primeiro, evitando os bandos itinerantes de bandidos Sith em fúria
homicida. Foi por isso que ele trouxe Jaye junto. As famílias Keshiri que
antes adoravam humanos agora os temiam; ninguém lhe daria abrigo. Mas
qualquer Sith que viajasse com o manso Jaye Vuhld provavelmente não era
alguém em um tumulto assassino. Eles haviam se refugiado nos barracos
dos Keshiri durante o dia, seguindo para o oeste à noite.
A viagem era longa, mas necessária: o Templo estava no topo das
Montanhas Takara, no extremo norte de uma longa península, paralela ao
continente. Teria sido um pequeno salto sobre a entrada para um uvak, mas
nada poderia colocar Hilts nas costas de um dos animais voadores. Eles
haviam percorrido o longo caminho ao longo da costa sul antes de
chegarem ao segmento hostil de terra. Não havia abrigo ali, nem sustento;
bem como Hilts provou apenas do seu próprio ácido estomacal desde o
início dos tumultos. Finalmente, eles chegaram à base de Os Blocos,
enormes barreiras de granito alojadas em uma passagem estreita por Nida
Korsin para impedir que alguém acessasse o local proibido nas alturas a pé.
Com cada cubo de dez metros de altura, davam a impressão de uma escada
para os deuses, um obstáculo formidável, de fato. Mas em algum momento
dos séculos que se seguiram, uma folhagem robusta se enraizou nas fendas
das pedras, trepadeiras fortes, proporcionando um caminho para subir.
Ou uma maneira de ficar de cabeça para baixo até você sangrar e
morrer, Hilts pensou. Ele olhou para cima. Onde estava aquele maldito
Keshiri?
Uma luz brilhou no céu. Os olhos cansados focaram. Um reflexo? Mas
de que?
— Aqui, Guardião!
Assim que Hilts ouviu a voz estridente, sentiu um puxão violento, e
depois foi arrastado pelas laterais de Os Blocos pelas pernas.
— Jaye! O que você está fazendo?
O Keshiri gemeu, puxando um punhado de trepadeiras enroladas em
torno de seus dedos finos. Hilts se endireitou e subiu no topo da barreira,
onde passou um minuto inteiro ofegando. Rolando, ele viu que Jaye tinha
encontrado uma série de buracos para postes na superfície da pedra. A base
de alguns andaimes séculos antes, cada buraco era grande o suficiente para
acomodar um pé de Keshiri, permitindo ao funcionário frágil alguma
vantagem mecânica quando ele puxou seu mestre para o lado.
— Esta... é a última barreira. — disse Jaye, limpando o sangue das
palmas das mãos e olhando para trás. Uma modesta descida levou a uma
trilha aberta até o desfiladeiro, e até a montanha do Templo, mais acima.
Mas a atenção de Hilts estava mais alta ainda.
— Olhe lá! — No céu oriental, um uvak batia as suas asas enquanto se
arqueava em direção ao Templo. Hilts apertou os olhos. Havia um cavaleiro
a bordo. Outro brilho de luz, um reflexo, como antes. Em Kesh, pobre em
metal, isso geralmente significava uma coisa: o cabo de um sabre de luz.
Hilts franziu a testa e olhou em direção ao templo.
— É melhor nós irmos. — De pé, ele puxou os restos de videira
restantes de sua estrutura corpulenta. Com um propósito renovado, ele deu
um passo adiante...
...diretamente em um buraco de poste.
— Guardião!
O granito estava frio no rosto de Hilts.
— Eu decidi, Jaye... que primeiro... vamos descansar aqui... por um
tempo...
O Keshiri não discutiu.
"Você deve terminar o trabalho de remover a tribo desta montanha.
Nosso destino, por enquanto, reside em governar a parte de Kesh que
vive..."
Assim Yaru Korsin havia instruído a sua filha no Testamento, e seu
decreto havia sido seguido. Seguido e respeitado por um povo que não
respeitava nada. Hilts ficou maravilhado quando saiu do caminho rochoso
para a pedra varrida pelo vento do local. Os Sith procurariam qualquer
vantagem que encontrassem em suas disputas, mas nenhum Sith jamais
retornou ali, pelo que ele sabia. Poderia ter sido superstição, mas Hilts
achou mais provável que eles entendessem a futilidade de retornar. Que
vantagem poderia ser encontrada ali que Korsin e os outros passageiros da
Presságio já não teriam aproveitado?
E, no entanto, essa era a sua busca. Milhares de metros abaixo, em todo
o continente a leste, a sua civilização estava em processo de expurgar a si
mesma. Vinte facções em guerra já haviam destruído o estado Sith. Mas a
revelação de sua origem comum e humilde deixara toda alma humana
desapegada e desanimada. Uma esclerose de mil anos poderia sobreviver,
mas não outra semana de automutilação.
O que posso encontrar ali que mais ninguém possa? Hilts se perguntou
de novo quando olhou para as torres gêmeas que ladeavam a residência real
muito à frente. A vaidade o levou a isso certamente. Mas talvez não fosse
um sonho tão louco. Qualquer um procuraria aqui por uma arma, alguma
tecnologia antiga das estrelas. Hilts estava procurando uma mensagem.
Algo que Korsin havia sugerido em suas palavras agonizantes, algo que
poderia levar a Tribo de volta a um caminho singular. "O verdadeiro poder
está por trás do trono", dissera Korsin. "Se um desastre acontecer, lembre-
se disso..."
Jaye pisou com medo no terraço sul do lugar sagrado. Edifícios de pedra
surrados alinhavam-se aos lados, desgastados pelo vento, sol e negligência.
— É maior do que eu imaginava, Guardião.
— Tudo bem. — Hilts disse, ignorando o tornozelo dolorido enquanto
caminhava com confiança. — Eu sei onde estamos.
E ele sabia. Ele não tinha os mapas agora, mas eles tinham estado com
ele há anos. Ele se comprometera a memorizar esse terraço mais baixo,
onde o pessoal de serviço tinha morado. Ao norte, depois dos estábulos dos
uvak, ficavam os degraus para o terraço do meio, com academia de
treinamento, dormitórios, depósitos e enfermaria. Mais escadas e estariam
na colunata ao ar livre, onde Yaru Korsin mantinha sua corte pública. Então,
finalmente, o quadrilátero da praça principal, formado pela residência real a
oeste, a torre de vigia e a guarita a leste e a cúpula do Templo ao norte.
Parte da praça superior ficava no topo do local de descanso homenageado
da Presságio; a estrutura havia sido construída ao redor e no topo da nave
danificada, para protegê-la.
Só de pensar na Presságio trouxe mais energia ao passo de Hilts. Ele
nem empalideceu ao ver a profusão de escadas para o terraço do meio.
Qualquer um que visse o edifício de longe presumiria que ele fora
construído por uma cultura que adorava escalar.
De fato, tinha sido.
— Vamos lá, meu garoto. — Hilts disse. — Mantenha o ritmo.

O corpo estava recém morto. Um corte rápido e desleixado na garganta


tinha sido o fim do uvak. Hilts estudou a besta fedorenta que assava ao sol
do meio-dia. Ela certamente era a criatura que ele tinha visto se
aproximando, morta ali, bem no meio do terraço.
— Acho que os estábulos não satisfizeram nosso visitante. — disse
Hilts.
Jaye se encolheu atrás dele.
— Você... você quer a arma?
Hilts olhou ao redor, sentindo através da Força. Alguma coisa estava
aqui.
— Sim. — ele disse. — Dê para mim.
Jaye remexeu na bolsa e pegou o sabre de luz. Hilts não possuía um por
ser Guardião (qual era o objetivo?) mas no caminho para fora de Tahv ele
tinha roubado um do cadáver de um guerreiro enorme. Ele não sabia do que
poderia precisar.
— Você sabe como usá-lo? — perguntou Jaye.
— Claro. Apenas faça com que eles fiquem bem na minha frente e vou
ligá-lo.
A leviandade não diminuiu o desconforto. Hilts também não tinha
prática no uso da Força para defesa. Ele teve o mesmo treinamento que os
outros membros da Tribo quando era garoto, mas além de desviar pedaços
do aqueduto em queda, ele tinha feito pouco uso das manifestações físicas
da Força nas últimas décadas.
Ainda assim, ele conhecia um sentimento ruim quando tinha um, e
aquilo não tinha a ver com o ácido em sua garganta. Na verdade, ele
reconhecia aquela pontada em particular.
— A sala da guarda. — disse Hilts, sentindo a fonte da pontada à frente.
— Fique do lado de fora. Se ouvir problema, corra e nunca mais volte.
Poderia não haver estátuas de Seelah Korsin no palácio em Tahv, mas a
figura esculpida em baixo relevo do lado de fora do hospital era
inconfundível. Como esposa de Yaru Korsin, Seelah era a mãe da Tribo;
mas antes disso, ela tinha sido esposa de Devore Korsin e mãe de um
traidor. Hilts nunca tinha visto Seelah em quaisquer representações, mas
olhando para a pele macia, o cabelo penteado e a figura perfeita no
mármore, ele soube que tinha visto a gêmea dela, e recentemente.
— Ilana Merko. — chamou, passando pela porta. — É o Guardião Hilts.
Sei que está aqui. Acho que deveríamos conversar.
— I liana? Iliana?
Hilts ficou boquiaberto quando viu a figura nas sombras. As
últimas duas semanas foram difíceis para todos em Kesh, mas ele mal
reconheceu a líder das Irmãs de Seelah. Iliana estava sentada no canto frio
da despensa, acariciando gentilmente uma caveira.
Ela soluçava, sem registrar a presença dele. Hilts olhou nervosamente
para a sala externa e as suas fileiras de mesas cirúrgicas em mármore, e
depois para baixo para o sabre de luz em sua mão. Ele o prendeu de volta
no cinto. Iliana Merko era uma perigosa líder de facção, mas a figura diante
dele era outra coisa. O seu cabelo outrora brilhante estava sujo e
emaranhado; a sua pele outrora impecável estava manchada de sujeira e
sangue, e surpreendentemente, com algo que ele nunca pensou que veria no
rosto dela: lágrimas.
— Ela morreu aqui. — Iliana disse, trazendo o crânio para a testa. —
Sozinha.
Hilts olhou pra baixo. Ali na escuridão fria, uma parte do esqueleto
havia sobrevivido, agrupada em um canto. Percebendo a quem pertencia o
crânio, ele falou com cautela.
— Como você sabe que é Seelah?
— Eu sei. — Iliana sussurrou. Abrindo a mão enluvada, ela revelou um
anel com o selo da família Korsin. Um ato de compromisso Tapani.
— Eles a deixaram aqui. — Hilts disse, ajoelhando-se para olhar os
restos. Os fêmures pareciam inteiros, mas restavam apenas pequenos
fragmentos dos ossos abaixo. O tempo não tinha feito isso, ele pensou, e ao
perceber a bengala próxima, a história se encaixou. Ele sabia que a traição
de Seelah havia sido exposta e que Nida Korsin havia punido a sua mãe.
Mas os registros nunca disseram se tinha sido exílio ou morte. Agora, Os
Blocos abaixo faziam sentido. A barreira manteria uma Seelah aleijada aqui
tanto quanto manteria outras pessoas afastadas. — Exílio. — ele disse
calmamente.
— Ela foi traída! — Iliana piscou com raiva para conter as lágrimas. —
Ela merecia mais do que isso!
— E ela ainda estaria morta, qualquer que fosse o memorial que ela
tivesse. — Observando a mulher gentilmente devolver o crânio ao chão,
Hilts se levantou e deu um passo para trás. — Você está sozinha aqui. O que
aconteceu com...
— As Irmãs de Seelah? — Iliana manteve o rosto na parede enquanto se
recompunha. — Lutamos muito quando as facções se encontraram. Mas
depois nos separamos, como todo mundo. — Ela balançou a cabeça e olhou
para trás com olhos dourados, vermelhos. — Não tínhamos nada a seguir.
Seelah nasceu escrava!
— Eu acho que sim.
— Eu sei disso. — ela disse, fechando os punhos enluvados com raiva.
— Quando menina, uma vez tive uma visão da Força sobre Seelah. Ela me
pediu para vingá-la.
Hilts pensou no baixo-relevo lá fora.
— Então foi assim que você soube como ela arrumava o cabelo.
— Mas o que eu nunca disse a ninguém é o que ela estava fazendo na
visão. — ela disse. — Havia aquele monstro, aquele monstro vermelho,
parecido com aquele Ravilan na mensagem. E ela estava lavando os pés
dele! — Ela atacou com a Força, quebrando os ossos preciosos contra a
parede. — Seus pés fedorentos e nojentos!
Hilts assentiu. Sim, ele gostaria de ser vingado por algo assim.
Iliana passou por ele e pisou no quarto da enfermaria.
— Aparentemente, algumas das outras irmãs tiveram visões parecidas.
— Ela esfregou os olhos limpando uma lágrima persistente e depois a jogou
para longe, como se fosse apenas areia. — Nós não poderíamos ficar juntas
muito tempo depois disso.
Entre os esquifes de mármore, Iliana fez uma pausa. Num instante, a sua
mão foi para o sabre de luz.
— Tem alguém lá fora. — ela retrucou, os olhos na porta. — Eles estão
aqui!
Hilts correu para o quarto, passando por ela.
— Está tudo bem. Ele está comigo. — Ele chamou o seu assistente. Jaye
apareceu timidamente do lado de fora.
Iliana abaixou o sabre de luz e revirou os olhos.
— O especialista em cálculos? O mundo está chegando ao fim e você
ainda está mantendo animais de estimação!
— Eu tenho que ter alguma coisa para cuidar. — Hilts disse. — É o meu
trabalho, afinal. — Ele se interpôs entre a mulher e Jaye. — Mas o que você
quis dizer com 'eles estão aqui'?
— Eles estão me procurando. — Iliana disse.
— Quem?
— Todos. Korsin Bentado. O que resta da Força Cinquenta e Sete.
Aquelas pessoas loucas do Destino Dourado. — ela respondeu. — Todo
mundo que restou. Todos os ressentimentos finais estão sendo resolvidos
antes de todos morrermos.
— Eles te seguiram?
— Eles vão. — Iliana respondeu. — Tirei pedaços de bastantes deles
antes de sair. Eu estava voando para o oeste na última vez que os
rastreadores me viram. Não há nada mais a oeste do que isso.
Hilts girou Jaye e o empurrou de volta para a porta.
— Não temos muito tempo. — ele disse. — Siga-me... eu vou explicar
enquanto vamos.
A mulher alta encarou-o desafiadoramente.
— Eu não sou o seu escrituráriozinho. Por que deveria seguir você a
qualquer lugar?
O zelador a encarou.
— Porque nós podemos precisar de ajuda para encontrar o que estamos
procurando... e você está em um beco sem saída. Você mesma disse isso. —
Ele apontou para a saída. — Enquanto isso, eu realmente tenho um plano.
Iliana respirou fundo e deu um passo em direção à saída.
— Tenho certeza de que é um plano tolo. — ela disse ao passar.
— Nossa, você é uma coisa odiosa. — Hilts disse. — Isso vem
naturalmente?
Ela olhou para ele e deu um sorriso amarrotado.
— Forjei-me no espírito de Seelah.
A mulher cujo crânio você acabou de beijar... e depois bateu contra
uma parede, ele quis dizer. Hilts sorriu. Iliana havia escolhido Seelah para
idolatrar, como qualquer pessoa desagradável teria feito. Ele nunca confiou
nela, um Sith nunca confiava em ninguém, de qualquer forma, mas ele
estava começando a entendê-la.
— Vamos pelo portal à frente. — ele disse. — Pelo menos, você verá
algo que ninguém vivo viu...
Hilts observou Iliana traçar os contornos do metal escuro com as pontas
dos dedos. Então, havia algo que poderia impressioná-la.
A Nave do Destino.
— É maravilhosa. — ela disse.
A Presságio estava esparramada sob os tetos arqueados do Templo,
suavemente iluminados pelas barras de brilho que Jaye estava acendendo.
Dizia-se há muito tempo que a Presságio se assemelhava a um lanvarok,
uma antiga arma de pulso Sith. Mas ninguém em Kesh jamais viu um
lanvarok, nem ninguém tinha visto a Presságio por séculos. Os fundadores
fizeram o possível para preservá-la, usando apenas pedra polida ao redor e
limitando o número de passagens de entrada, mas a nave danificada ainda
vestia uma camada de poeira.
E foi maltratada. Até mesmo rasgada em alguns lugares. O que era
preciso para subir nas estrelas? Hilts se perguntou. Que tipo de proteção?
Um pouco, a julgar pelas línguas retorcidas de metal meio descascadas do
casco. E muito metal! Mais em um só lugar do que qualquer ser vivo já
havia visto, apesar do fato de que grande parte do material precioso
atualmente em circulação havia sido retirado de fragmentos da Presságio
deixados na encosta da montanha após seu acidente.
Que calamidade deve ter sido, Hilts pensou, observando seu tamanho.
Era uma maravilha que a nave e a montanha tivessem sobrevivido.
Iliana reivindicou os primeiros passos para dentro, como sabia que ela
faria. Isso foi bom para Hilts: se contentou em acompanhar com uma das
hastes luminosas que Jaye havia trazido. Vendo o Keshiri tremendo
timidamente no chão de mármore do lado de fora da escotilha, Hilts acenou
para ele entrar.
— É um sacrilégio estar aqui. — gaguejou Jaye. — Eu sou um Keshiri,
não sou digno
— Esqueça isso. Precisamos de mais luz.
Hilts encontrou Iliana em uma seção avançada da nave. Lá, como em
todos os outros lugares a bordo, a Presságio vira uma catástrofe. O teto
acima estava curvado e dobrado. As janelas da frente estavam quebradas, os
vidros torcidos para fora. Alguma coisa os havia nocauteado por dentro?
Hilts não fazia ideia do que.
Também não tinha noção do que estava vendo de ambos os lados.
Painéis de ébano suaves alternavam com os rompidos, expondo as
entranhas retorcidas e torradas da nave. Hilts estudou um e depois outro,
reconhecendo os caracteres Sith, mas não todos os termos. Telemetria.
Hiperespaço. Astronavegação. Eles eram decifrados como palavras mágicas
para ele. Os estudiosos da Tribo tentaram manter vivo o conhecimento das
viagens espaciais, mas isso vacilou como todo o resto nos últimos séculos.
Iliana bateu repetidamente nos painéis pretos, como se pressionar com
mais força trouxesse vida à nave. Sim, ela estaria procurando uma maneira
de sair do mundo, pensou Hilts. Como todo mundo.
A mulher bateu o punho em um painel, quebrando-o.
— Nada funciona por aqui!
— Não. — disse Hilts. — Uma coisa funciona. — Na parte de trás da
ponte, Jaye se ajoelhou, encantado, diante de um mostrador suavemente
brilhante. Os números Sith apareceram em seu rosto, um derretendo no
outro conforme os segundos passavam. Era o dispositivo que seus amados
Tubos de Areia foram projetados para imitar: o crono da Presságio.
— Ainda está funcionando. — Iliana disse, estupefata.
Hilts deu de ombros. Tudo a bordo da nave exigia algum tipo de
energia; talvez o dispositivo de cronometragem não usasse muito. Ele se
aproximou e tocou o ombro hipnotizado do Keshiri.
— Hoje é o dia que você pensou que era, Jaye?
A boca de Jaye se abriu, mas nenhum som surgiu. Finalmente, com a
voz seca, ele respondeu.
— Sim. Os Tubos de Areia estavam atrasados por oito dias. Assim
como na minha teoria...
Ouvindo as palavras desaparecerem, Hilts olhou com carinho para o
funcionário.
— Muito bom, Jaye. Estou impressionado. — Ele e Jaye passaram a
vida inteira estudando grandes questões, sabendo que nunca descobririam se
suas soluções estavam corretas. Ali Jaye vira os seus cálculos justificados,
de uma vez por todas. Hilts achou estranho. Era errado pensar que Sith e
Keshiri poderiam aspirar aos mesmos objetivos, e, no entanto, ele e Jaye
tinham. E agora Jaye teve a sua resposta.
Hilts sentiu uma repentina pontada de ciúmes e desviou os olhos para o
centro da sala. O que ele estava procurando não estava ali.
— Era ali que a cadeira de comando ficava? — Iliana apontou para uma
plataforma vazia. — A coisa que você veio aqui para encontrar?
— Eu sempre soube que não estaria dentro da Presságio. — Hilts disse,
caminhando em direção ao estrado. — Achei que você só precisava dar uma
olhada ao redor. — Era sabido pelas pinturas Keshiri que Korsin retirava o
assento do capitão da colunata nos dias em que recebia visitantes.
Certamente não estava lá fora agora... nem aqui.
Iliana parecia angustiada.
— Eu não entendo. Com essa nave, por que Korsin mudou todos da
montanha para Tahv? — Ela pairou sobre Hilts quando ele se agachou ao
lado do local vazio. — Talvez a geração deles não pudesse ser capaz de
reparar isso, mas parar de trabalhar completamente e sair? Eu tinha razão.
Korsin era um tolo!
— Ele queria que a Tribo se comprometesse com suas vidas em Kesh.
— Hilts disse. — Ele sabia melhor do que ninguém qual era a situação da
nave. Eles não estavam indo a lugar algum. Você viu o espaço exterior, não
há como a Presságio sair, a menos que desmantelem o lugar. Eles
construíram o abrigo em torno dela. — Ele deu um passo à frente na lacuna
vazia e olhou para as paredes de pedra além. — Isso não é um estábulo para
um uvak, Iliana. É uma tumba.
Lembrando o rosto do Testamento, Hilts imaginou a voz de Korsin
descrevendo a sua estratégia. Korsin ordenaria que a enclausurasse para
proteger dos elementos, e os outros náufragos concordariam. Mas uma vez
que Aqueles Diferentes, o povo grotesco de Ravilan, estivessem fora do
caminho, Korsin voltaria cada vez mais a atenção dos sobreviventes para
governar Kesh. Era o melhor que eles podiam esperar. Selar o Templo e
deixar a montanha acabar com a tentação.
Até agora.
Um movimento chamou a sua atenção e ele ofegou.
— Alguém está lá fora!
Hilts se abaixou sob a janela quebrada. As luzes do lado de fora
projetavam longas sombras contra as paredes curvas. Iliana violentamente
empurrou Jaye para o convés e correu para se juntar a Hilts. Os dois
espiaram cuidadosamente enquanto as figuras entravam no Templo com
bastões luminosos.
O Guardião contou oito recém-chegados que ele podia ver, mas ele
podia ouvir as vozes de outros. Alguns ele reconheceu instantaneamente.
Havia o careca e corpulento Korsin Bentado, reconhecido como o líder dos
Korsinites, mas seriamente ferido pela violência da semana passada, tendo
perdido a mão esquerda em algum lugar. Três outras figuras usavam as
túnicas outrora brilhantes do Destino Dourado, a facção obcecada pelas
origens do outro mundo da Tribo; seus uniformes chamativos haviam
perdido o brilho.
E um parecia familiar.
— Eu conheço aquele homem. — Hilts sussurrou para Iliana, apontando
para um jovem guerreiro loiro. Edell Vrai tinha sido um dos poucos
visitantes regulares no museu, fascinado pela arquitetura da era Korsin e
também pelos contos da Presságio, um assunto sobre o qual ele poderia
falar incessantemente. Hilts esperava que Edell ficasse encantado ao ver
finalmente a embarcação espacial de seus sonhos. E, no entanto, a figura do
lado de fora exibia uma expressão amarga.
— Isso me deixa doente. — ele ouviu Edell dizer. — Isso... essa coisa...
não passa de um transporte de escravos!
Hilts quase congelou ao ouvir as palavras de Edell, mas Iliana o
empurrou de volta. Juntos, eles ouviram Edell e os seus companheiros,
alguns de diferentes facções, falarem com desdém da nave estragada.
— Um transporte de vermes. — outro disse.
— Aqui começou a aprisionamento de nossa raça. — acrescentou
Bentado. — Isto é um presságio... mas para o desespero.
— Você está certo. — disse Edell, com as suas palavras ecoando por
toda a câmara. — Temos que destruí-la.
Hilts e Iliana se entreolharam, atordoados. Do lado de fora, surgiram
palavras de acordo, de pessoas que nunca haviam concordado com nada.
— Está certo. — a voz profunda de Bentado se elevou. — Um último
golpe desafiador. Nosso povo terminará... mas terminaremos com um punho
fechado no ódio contra o destino.
— Eu sei exatamente como fazer isso. — respondeu Edell. — Um
último ato de cooperação. Nós teremos sucesso.
Hilts sentiu-se mal ao ouvir botas no chão do lado de fora, caminhando
em direção à saída. Ele esperava que os recém-chegados tentassem
embarcar na Presságio, como eles fizeram. Mas isso era outra coisa. A
corrida em direção à autodestruição reivindicou os sentidos de todos?
Sim, ele pensou. Sim, isso tinha.
— Eles não podem destruir nada desse tamanho. — disse Iliana, com a
sua voz rouca enquanto olhava ao redor da ponte. — Não há mais
explosivos. O que eles vão fazer, esfaquear com sabres de luz?
Hilts não sabia, mas sabia que não duvidava de Edell.
— Ele encontrará um caminho. — ele disse, levantando-se. Ele a
agarrou pelo braço. — Rápido! Temos que encontrar o que Korsin deixou
para trás, antes que seja tarde demais.
E dell já devia estar pensando nesse plano há algum tempo, percebeu
Hilts enquanto espiava pela janela estreita da cúpula. Situada no topo da
cobertura do Templo, a cúpula sofisticada oferecia uma visão clara do
quadrilátero principal, e dali Hilts observara toda a atividade, maravilhado.
Com o pôr do sol sobre o vasto oceano ocidental, o dia de trabalho dos
guerreiros Sith estava apenas começando. Pelo menos trinta estavam ali,
alguns vestidos de acordo com suas diferentes facções; outros haviam
abandonado completamente suas vestes partidárias. Muitos haviam chegado
enquanto Hilts e seus dois companheiros aguardavam uma oportunidade
para deixarem a Presságio sem serem notados, e todos estavam agora
envolvidos em um grande projeto de engenharia. Ou melhor, um projeto de
demolição. Guerreiros se apegavam às laterais da gigantesca torre de vigia,
amarrando longos cabos de couro nos suportes. A torre era uma maravilha,
improvavelmente pesada demais com plataformas de observação no alto;
não seria preciso muito esforço para derrubá-la.
Hilts viu exatamente onde ela deveria pousar. Edell estava na praça,
orientando os guerreiros sobre como posicionar as suas equipes de uvak.
Com as bestas no chão e no ar puxando as cordas em uníssono, Edell
claramente esperava que o convés mais pesado da torre de pedra chegasse
ao topo da câmara que abrigava a Presságio.
— Essa sala foi bem construída. — Iliana disse, olhando por cima do
ombro. — Isso poderia prejudicá-la?
— Vai quebrar como um ovo de uvak embaixo de um martelo. — Hilts
murmurou. Ele conhecia Edell, era intenso, mas estudioso. Sabia como as
estruturas clássicas haviam sido construídas e vira de perto o refúgio da
Presságio. — Eles podem não explodir a nave, mas definitivamente a
enterrarão.
Iliana zombou.
— Ela já estava morta e enterrada.
Hilts só pôde balançar a cabeça e encarar. Havia tantos por lá, todos
trabalhando em sua causa destrutiva comum. Ele até reconheceu Neera, a
líder deformada da Força 57, jogando os seus enormes músculos de volta ao
trabalho ao lado dos outros guerreiros.
— Algumas dessas suas Irmãs de Seelah não estão com ela? — Hilts
olhou de soslaio para dentro da escuridão crescente. — Você não as
liderava? Elas não ouviriam você?
— Você não viu o que está acontecendo ultimamente? Ninguém segue
ninguém agora. — disse Iliana, dando de ombros. — Mas eles trabalharão
juntos nisso. As pessoas precisam de uma missão.
Hilts piscou. A união que ele esperava, mas na causa de esmagar toda a
esperança. Ele estudou Iliana.
— Você poderia viver, juntando-se a eles.
— Não é provável. Quem você acha que tirou a mão de Bentado?
Por trás da antecâmara, um clique alto.
— Eu trabalhei na trava, Guardião. — Jaye disse, levantando-se. A
enorme porta interna da rotunda gemeu se abrindo pela primeira vez em
séculos.
— Dedos pequenos. — disse Hilts. — Ajuda ter alguém te seguindo. —
Jaye esperou que seu mestre e Iliana entrassem antes de seguir, com um
bastão luminoso na mão.
Enquanto o lar inferior da Presságio tinha uma inquilina imensa, não
havia nada nessa rotunda menor, a não ser uma única cadeira ao lado de um
braseiro. Hilts andou ansiosamente em direção a ela. Sim, era o que ele
pensava que era. A cadeira de comando. O trono do Grande Lorde.
Perto o suficiente para tocar o assento, Hilts parou e olhou em volta. Era
um lugar estranho para isto, sozinho ali nesta sala no topo do Templo. Ele
olhou para o vazio acima. A única haste luminosa de Jaye não era suficiente
para iluminar o local.
— Você vê alguma coisa lá em cima?
— Eu acho que sei. — disse Iliana. Agarrando Jaye, ela arrancou
violentamente a túnica das costas do atônito escriturário. Sem uma palavra,
ela enrolou o pano e jogou-o no braseiro. Com a ajuda da ferramenta de
pederneira acorrentada ao lado, ela logo teve um pequeno incêndio. A
fumaça flutuava até as fendas perto do ápice do teto.
Sentindo frio, Jaye se preocupou.
— Alguém lá fora pode ver a fumaça.
— Eu não ligo, — disse Iliana. — Não tenho mais nada a perder a não
ser lutar.
Hilts olhou para o assessor e deu de ombros. Ficaria
surpreendentemente frio ali em cima, frio o suficiente para incomodar até
um viajante das estrelas.
— Apenas fique perto do fogo. — ele disse, antes de olhar para cima.
Por um momento, ele pensou ter visto as estrelas lá fora. Então, com
outro olhar, ele percebeu que tinha, de certa forma.
— Um planetário!
No teto arredondado estavam embutidas pedras vermelhas, brilhando
calorosamente enquanto o fogo abaixo tremeluzia. Uma a uma, ele
reconheceu as estrelas do céu de verão de Kesh, e viu muitas menores com
as quais não estava familiarizado.
— Aquilo são cristais Lignan lá em cima? — Iliana perguntou.
Hilts riu.
— Por que não? — A tripulação da Presságio teria muitos deles.
Voltou sua atenção para a cadeira, a peça que faltava na ponte da nave
estelar. Não foi difícil imaginar Yaru Korsin ali, sentado à noite,
contemplando o retorno de seu povo às estrelas. Ele pensou novamente na
fala de Korsin no Testamento. O que havia por trás do trono? Não havia
nada ali que ele pudesse ver... apenas uma parede vazia. Havia algo no
mapa estelar? Não, isso era acima.
Indiferente à exibição no alto, e a qualquer senso de história, Iliana se
jogou na cadeira, jogando as pernas sobre o apoio de braço.
Hilts olhou para ela.
— Você vai sentar aí?
— Eu não vou. Eu estou sentando. — Casualmente, ela soltou seu sabre
de luz e o jogou de uma mão para a outra. — As pessoas lá fora derrubarão
o Templo em cima de nós ou nos encontrarão aqui. Se vou esperar, vou me
sentar.
— Tanto faz.
— Você sabe, este quarto é bastante inútil. — disse Iliana, estalando os
pulsos. — Ele só mostra o céu em uma época do ano.
Hilts assentiu. Era mais decorativo do que útil. Mas seus pensamentos
ainda estavam na cadeira... e no Testamento de Korsin.
— Você tem uma faca?
— É claro. — Iliana respondeu, usando a Força para retirar uma lâmina
de vidro de um compartimento em sua bota. A arma parou no ar, pairando
perto do rosto de Hilts.
— Muito obrigado. — ele disse, pegando-a e ajoelhando-se atrás da
cadeira.
Atrás do trono. Timidamente, quase com medo, Hilts deslizou a ponta
do shikkar na pele dura do encosto do banco. Os Sith não equipavam as
suas naves para o conforto, ele viu, mas mesmo a pele áspera da cadeira de
comando não era páreo para a lâmina Keshiri. Com cuidado para não cortar
mais do que precisava, Hilts retirou a faca e enfiou a mão dentro da mobília.
Ainda sentada, Iliana observou o velho pescar sem rumo, com o braço
enfiado até o cotovelo dentro da cadeira.
— Você parece um tolo. — ela disse.
Ele se sentia como um também, e estava prestes a parar quando sua mão
alcançou o nível dos braços.
— Há alguma coisa aqui. — ele disse. — Costurado por dentro! — Ele
estendeu a mão rapidamente, rasgando mais o estofamento enquanto o
fazia.
O frasco de vidro continha uma única folha enrolada de filme
transparente, mais frágil que o pergaminho mais fino que os Keshiri já
haviam criado. Ao aproximar-se do fogo, figuras começaram a tomar forma.
— O que é essa escrita? — Iliana perguntou, subitamente interessada.
— É o velho código dos Tapani, a linguagem dos humanos sob o
domínio Sith. — Hilts respondeu. — A linguagem da mãe de Korsin.
— Como você sabe?
— Porque eu estudei... e ela escreveu isso. — Ele empurrou as pernas
de Iliana do apoio de braço e levou o filme o mais perto possível do fogo.
— Takara Korsin. O pai de Korsin a deixou pela mãe de Jariad. — Os seus
olhos percorreram a página. Ele tinha passado o ano anterior estudando um
texto sobre o idioma. Lentamente, com certeza, ele o desvendou.
— Está marcado como pessoal. — ele disse. — Trazido por um
mensageiro de confiança para Korsin. — Engolindo, ele recitou:
Eu sei que você está cansado de ouvir as minhas visões, meu filho. Se
você fizer o que sempre fez, espero que não leia isso até que sua missão
esteja bem encaminhada. Fico satisfeita por você ter recebido o comando
de uma tarefa importante para Naga Sadow, mesmo que isto me entristeça,
como faz a toda a nossa espécie, saber que a sua vitória é apenas para a
glória dele.
Sim, eu tive outra das visões. Vi nossos descendentes governando um
grande povo um dia, livres dos Sith Vermelhos. Teremos algo que será
nosso. Enquanto eles forem bem orientados, vejo novos horizontes se
abrindo... novos lugares para conquistar.
Yaru, apenas você é sábio o suficiente para guiar o nosso povo. Devore
será a sua própria ruína; sinto força em sua companheira escolhida,
Seelah, mas isso não é o suficiente. Você sabe como gerenciar as ambições
de muitos... como moldar a sua raiva e modelá-la para se adequar ao
objetivo à frente.
Você tem um propósito. Tome cuidado. Se você orientar bem o nosso
povo, eles sempre terão uma missão.
Hilts retirou a carta para longe do fogo e a encarou. Ele nem percebeu a
abordagem cautelosa e reverente de Jaye, atrás dele.
— Olhe para a impressão do tempo. — disse o Keshiri tremendo,
apontando por cima do ombro de Hilts para figuras ao longo da borda. —
Ele recebeu isso logo antes da Presságio partir para Phaegon.
Hilts assentiu enquanto considerava as palavras. Não, Korsin não
gostaria que alguém lesse a mensagem enquanto ele ainda estava
trabalhando para Naga Sadow, daí o esconderijo. Mas durante um quarto de
século, Korsin manteve a mensagem sempre perto dele.
— Eu sempre me perguntei como ele encontrou forças para continuar.
— ele disse.
— Aplausos de líder de torcida de uma mãe amorosa. — Iliana disse. —
Nem Korsin poderia ter acreditado nessa bobagem.
— Quieta, garota. — Ele olhou para ela. — Ela era sábia. Ela viu o que
construiríamos. E isso prova que o nosso povo não estava destinado a viver
como escravo para sempre. Temos um futuro. — Hilts levantou-se
repentinamente e foi em direção à saída. — Essas pessoas lá fora. Se eu
pudesse ler para eles...
— Eles não vão ouvir. — Iliana disse. — Isto já foi longe demais. Eu sei
que eu não iria ouvir.
Hilts parou antes de chegar à porta. Ele olhou para a carta novamente e
franziu a testa.
Iliana estava certa. Os sentimentos eram um bálsamo para os espíritos,
mas as pessoas precisavam de uma causa específica. Como derrubar uma
torre e destruir uma nave espacial.
— Que causa faria você se unir para realizar? — Ele perguntou,
enrolando a carta e colocando-a de volta em seu tubo.
Iliana respondeu sem pensar duas vezes.
— Eu mesma.
— Hummm.
Ele podia ouvir mais gritos do lado de fora, além da antecâmara. A
equipe de demolição estaria mais longe agora. Hilts e seus companheiros
não podiam ficar. Não aqui, não muito acima no local de descanso da
Presságio...
— Espere. — Hilts disse, olhando para o chão.
Jaye estremeceu ao lado do braseiro refrescante.
— O que é, Guardião?
— Esta mensagem... não é isto que Korsin queria dizer. — Ele olhou
para a cadeira onde Iliana ainda estava sentada. — Lembre-se da citação. O
verdadeiro poder está atrás do trono. Não no trono. Não atrás daquele que
está sentado nele!
— Você quer discutir semântica agora? — Iliana balançou a cabeça. —
Não, não. Você está procurando precisão nas palavras de um tolo
moribundo...
— Um tolo inteligente o suficiente para conquistar um povo nativo
inteiro, e treinar uma filha para a guerra sob o nariz de todos. Não. — Hilts
disse, rolando o tubo com a missiva na mão. — Esta mensagem foi
importante para Korsin, mas não foi o que ele quis dizer. — Ele olhou de
volta para o teto, onde as estrelas falsas haviam desaparecido com o fogo.
— Nada disso está certo.
Iliana se mexeu no assento.
— O que você quer dizer?
— Esse lugar. Não acredito que Korsin passou todo o tempo aqui. — ele
respondeu. — Você está certa. Este mapa acima... não é prático. É
decorativo. O foco de Korsin estava na construção de um império em Kesh.
Ele não estava sentado olhando para as estrelas! — Hilts andou pela sala. —
E Korsin. Você viu como ele estava na gravação.
— Eu lembro. — Iliana disse, o interesse aumentando à medida que o
Guardião ficava mais animado. — Ele estava sangrando até a morte.
— A lenda diz que Korsin foi mortalmente ferido do lado de fora, na
encosta oeste, e voltou para sua cadeira para gravar o Testamento.
— Aqui. — Jaye disse.
— Não! — Hilts pensou na mensagem cintilante que tinha visto dias
antes. Não, não havia nenhum plano de fundo na imagem. Eles conseguiram
ver a cadeira, mas nada mais. — Nós presumimos que ele gravou aqui,
quando encontramos a cadeira. Mas veja como estamos no alto. Yaru não
poderia ter subido todas aquelas escadas com uma ferida aberta no peito.
Estou saudável e quase não consegui!
Iliana se levantou e olhou para o assento.
— Eu não entendo. Eles mudaram a cadeira dele para cá depois que ele
morreu? — Ela deu de ombros. — Por quê? E onde ele teria ido em vez
disso?
Hilts elaborou por alguns momentos diante de seu ajudante, agora
amontoado no chão perto do braseiro, para se aquecer.
— Talvez haja algo na câmara abaixo na Presságio.
— Abaixo? — Hilts piscou na quase escuridão da rotunda. — Não há
câmara embaixo da Presságio. Eles construíram o Templo sobre a nave
onde ela parou.
— Mas a nave pousou em uma ladeira. — Jaye observou. — e o que
vimos foi completamente nivelado. Eles a apoiaram com trabalhos em
pedra. — Ele se mexeu, contando com as pontas dos dedos roxas antes de
olhar para cima. — Entramos no Templo por uma passagem aberta no
vigésimo terceiro degrau da escada do terraço do meio. Mas passamos por
uma porta selada no sétimo degrau. — O pequeno Keshiri cruzou os braços
com satisfação. — Outra câmara, na base da estrutura de suporte da
Presságio.
Iliana revirou os olhos.
— Ele contou os degraus?
— Ele contou os degraus. — Hilts respondeu, sorrindo.
Seu humor momentaneamente melhorado foi interrompido por um leve
estremecimento, ecoando pelo chão. Os aliados improvisados do lado de
fora estavam se aproximando de seu objetivo.
— O que vocês estão esperando? Vamos!
E la não recebia visitas há quase dois mil anos, e também
não parecia ter visto muito tráfego quando as pessoas moravam ali.
Diferentemente do local de descanso da Presságio acima deles e da cúpula
celestial no topo acima de tudo, esse nível mais baixo não era um santuário,
e não era para ser mostrado. O corredor estreito através da escuridão carecia
de suportes para bastões luminosos, e comparada com as portas
ornamentadas de outros lugares, a entrada da sala octogonal era
positivamente modesta.
Hilts e os seus companheiros haviam entrado nas catacumbas depois de
desviarem da confusão na praça. Os cabos haviam se rompido, frustrando
temporariamente o plano de Edell de derrubar a torre na Presságio, mas
Hilts sabia que eles descobririam como contornar isso mais cedo ou mais
tarde. Ele tinha que descobrir o que Korsin queria dizer antes.
O que era difícil no escuro.
— Encontre mais barras luminosas. — ele ordenou. Jaye assentiu e saiu
correndo.
Entre as poucas que trouxeram e a luz dos sabres de luz dele e de Iliana,
eles foram capazes de reconhecer a principal característica da sala. Um
enorme mapa esculpido em pedra de Keshtah, o seu continente, dominava
uma das paredes; pequenos cristais Lignan foram entalhados no projeto para
indicar assentamentos. Era o equivalente planetário do mapa do céu, no
andar de cima. Uma parede tinha a porta; as outras seis tinham apenas
grandes placas em branco do mesmo tamanho que o mapa de Keshtah.
— Eu não gosto de estar aqui. — disse Iliana, segurando o seu sabre de
luz com força. — Este é um beco sem saída.
— Certo. — disse Hilts, olhando para cima. — Yaru Korsin morreu
aqui. Eu posso sentir.
Os olhos de Iliana se estreitaram por um momento.
— Eu também sinto. — ela disse. — Isso é bom.
Hilts a ignorou, ajoelhando-se no centro da sala e aproximando o sabre
de luz do chão.
— Sulcos. — ele disse, sentindo a superfície da pedra. — Quatro deles.
É aqui que a cadeira de Yaru Korsin era mantida à noite. — Ele olhou para
o mapa da parede. — E era isso que ele encarava.
— Por que eles não deixaram a cadeira de Korsin aqui depois que ele
morreu?
— Talvez Nida quisesse que alguém que entrasse no futuro pensasse
que Yaru passava o tempo todo contemplando o cosmos, e o retorno deles.
Iliana zombou.
— Então talvez ela devesse ter perfurado algumas janelas na sala onde
eles guardavam a nave.
Hilts se levantou e caminhou até o mapa. Sim, isso fazia sentido. Este
não era um lugar chique, era um local de trabalho, onde Korsin planejava a
administração da Tribo em seu novo mundo. Ele pode ter trazido apenas os
seus assistentes de confiança Keshiri ali, para trabalhar no mapa. Olhando
pra trás, ele olhou pela escuridão para as outras paredes. Uma enorme
ardósia preta, presa às paredes por estacas de metal que devem ter vindo da
Presságio. Hilts podia imaginar Korsin trabalhando ali, traçando os seus
planos para a Tribo. Se a cadeira do capitão sempre encarava o mapa, e ele
não podia imaginar o contrário, nada estava "por trás do trono". Apenas
painéis de pedra em branco.
Ele desativou o sabre de luz e olhou para a escuridão.
O que Korsin quis dizer?
Um pensamento ocorreu a ele, Hilts se afastou do mapa...
...apenas para ver uma figura se debatendo no quarto, lançada do
corredor por um forte impulso da Força.
— Jaye! — Hilts gritou quando o Keshiri aterrissou a alguns metros da
parede oposta. O velho correu para o lado do seu ajudante e o virou, apenas
para ver os ferimentos de queimadura no peito nu do funcionário.
O trabalho de um sabre de luz. Ou vários.
— Sinto muito, Guardião. — Jaye disse, tossindo enquanto a vida
escapava. — Eu tentei... encontrar... mais alguns bastões luminosos...
Atordoado, Hilts olhou para o lado, onde Iliana já havia saltado para
uma postura defensiva. Um após o outro, as figuras que tinham sido vistas
do lado de fora da Presságio invadiram a sala, com sabres de luz na mão.
— Bem, bem. — disse Korsin Bentado, a voz pingando de prazer
horrível. — Então foi para cá que a chefe das Irmãs debandou! — Ele
levantou o braço esquerdo truncado. — Eu estive procurando por você!
— Você não é o único. — vociferou Neera, ao lado de Edell e vários de
seus companheiros do Destino Dourado, impedindo qualquer fuga. —
Ameaçazinha bonitinha, é hora de acabar com você!
— Vamos colocá-la na torre e vê-la despencar. — Bentado disse.
— Não. — disse outro, gesticulando para uma desfiguração que Iliana
evidentemente havia causado. — Vamos acorrentá-la ao local onde o
martelo cairá!
— Esqueçam isso! — Iliana gritou, pronta para se mover. —
Terminaremos isso agora!
— Parem!
O grito do Guardião ecoou pela sala, atraindo a atenção dos recém-
chegados para ele pela primeira vez. Segurando seu assistente morto em
seus braços, ele gritou novamente.
— Qual de vocês fez isso?
— Que diferença faz? — Os dentes de Bentado brilhavam na luz
emitida pelo armamento brilhante. — Ele era um Keshiri. A presença dele
profana esse lugar.
— O quê? — Soltando Jaye, Hilts ficou de pé, sentindo uma raiva que
não conhecia desde a juventude. — Os Keshiri ajudaram a construir este
lugar. E profaná-lo? Vocês são os que estão tentando destruir o templo, e a
Presságio nele!
— Toda vida é profana. — Neera disse. Ela tinha adicionado algumas
cicatrizes novas desde a última vez que ele a viu. — Você viu nossos
mestres alienígenas. Você sabe como a vida pode ser nojenta.
Hilts deu um passo em direção ao grupo, apenas para ver Edell dar um
passo à frente.
— Eu sei como você se sente sobre esse lugar, Guardião. Mas a piada
está em nós, todos nós. Tudo o que já nos disseram sobre a Tribo é uma
mentira. Acabou. Não há sentido em se apegar a lugares como este. Isto é
apenas mais um item para acertar. Nós limparemos tudo... e depois um ao
outro.
— Este não é o fim. — Hilts gritou. — Este não é o fim!
— Não. — Edell disse, com um arrepio na voz. — O fim já aconteceu.
Nós simplesmente não sabíamos disso. — Os guerreiros avançaram em
direção ao centro da sala, empurrando Hilts enquanto tentavam envolver
Iliana, a mais perigosa de suas presas.
Seguindo para trás, Hilts viu novamente as lajes vazias nas paredes,
suspensas nos espigões de metal. Por alguma razão bizarra, naquele
momento ele se viu pensando no pensamento que teve antes de Jaye ter sido
jogado na sala: por que desperdiçar metal precioso em quadros negros
pendurados?
De repente ele soube!
Com um tremendo esforço, Hilts puxou as hastes de metal através da
Força, arrancando-as das paredes. Nos seis lados da sala, os enormes
painéis de pedra se soltaram, caindo para frente e batendo no chão. Hilts
puxou Iliana, afastando-a de um dos monólitos que caíam.
Thoom! Thoom! Thoom! Thoom! Thoom!
Doom!
Vendo os outros guerreiros se recuperando da surpresa e do impacto,
Hilts se levantou primeiro e pegou uma haste luminosa. Virando-a para as
paredes de frente para a parede do mapa, ele viu o que esperava ver...
...o resto do mundo!
Edell Vrai olhou para a parede mais próxima dele.
— O que... o que é isso?
— É um mapa de Kesh. — Hilts respondeu, aproximando a luz da tela
na parede oposta. Os painéis revelados adjacentes ao mapa de Keshtah
estavam em branco, mas os quatro painéis do outro lado da sala
representavam um continente maciço, superando o lugar que eles
conheciam. — É um mapa do outro lado de Kesh. É o resto do mundo!
Iliana ficou boquiaberta.
— Mas não há nada além dos oceanos! Eles exploraram tudo depois que
a Presságio chegou!
— Eles só sabiam o que podiam ver, nas costas de um uvak, e em
lugares onde o uvak podia chegar. — Hilts contrapôs, correndo
entusiasticamente as pontas dos dedos pelo mapa. Também havia cristais
indicando cidades aqui... muito mais do que no mapa familiar do outro lado
da sala, e os caracteres Tapani gravados nas proximidades. — Era isso que
estava por trás do trono. — ele disse, virando-se para encarar os outros. —
Isso é o que Korsin quis dizer!
Quando o zelador se virou, os guerreiros se espalharam pela sala,
usando seus sabres de luz agora para iluminação e não para defesa.
— O que é isso escrito aqui? — perguntou Edell, frustrado. — Há muito
disso neste local.
— Só um momento. — Hilts respondeu, passando para a seção. Tinha
sido gravado com uma caneta de diamante... um artefato do qual ele se
lembrava de ter ficado intrigado como curador no palácio Tahv, anos antes.
— Esta é a própria caligrafia de Korsin!
A sala ficou em silêncio enquanto ele estudava. Havia algumas palavras
novas aqui, com as quais ele fazia referência a Kesh e aos Keshiri, termos
que não seriam conhecidos no dialeto Tapani. Korsin era evidentemente
apaixonado por palavras, junto com todo o resto. Hesitante, ele recitou, o
melhor que pôde...
Nida, você conhecerá esse idioma a partir dos estudos que lhe designei,
mas não conhecerá este mapa. Ninguém conhece. É baseado nos últimos
dados registrados pelas câmeras da Presságio durante nossa descida pelo
lado escuro de Kesh. Quando descobri uma câmera com uma tela
funcionando, ocultei o dispositivo, transferindo ao longo dos anos o que ela
registrou para os painéis do mapa até que a energia finalmente acabou.
Nosso povo e os Keshiri pensaram que este continente era tudo o que
havia, sozinho em um mar gigantesco. Tomar o controle do continente de
Keshtah deu ao nosso povo um propósito. Mas nós apenas estivemos em
Keshtah Menor. Este mapa exibe outra massa terrestre conosco no
hemisfério sul, Keshtah Maior, muito além do alcance de qualquer uvak
para voar! E com muito mais pessoas!
E sim, existem pessoas. Devem haver. Os cristais representam luzes...
luzes! ...vistas no lado escuro do planeta. Existem cidades lá, outra
civilização inteira. Keshiri, provavelmente, mas talvez mais avançada, e
possivelmente não com medo dos Celestiais. Eles poderiam aumentar nosso
poder, ou poderiam ser nossos inimigos.
Durante anos, registrei secretamente o mapa com base no que consegui
decifrar antes que as imagens morressem. É realmente outro mundo. Fiz
tudo o que posso agora, e os meus confiáveis Keshiri estão selando os
painéis do mapa antes de nos mudarmos para Tahv.
Mas você, ou seus descendentes, podem um dia precisar de uma causa
que una nosso povo. O conhecimento que deixo aqui é o verdadeiro poder.
A inveja levou os Sith a grandes conquistas. Agora há novamente algo a ser
cobiçado, algo que pode estar ao alcance dos liderados adequadamente...
A sala permaneceu em silêncio depois que ele parou de ler. Hilts olhou
para as palavras novamente, e o grande novo mapa ao redor do texto, e
exalou. Desajeitadamente, ele sentiu uma protuberância no bolso do colete e
pegou o tubo de vidro.
— Humm... eu também tenho uma carta da mãe dele.
Parado pacificamente ao lado de Iliana diante dos novos mapas,
Bentado olhou para Hilts.
— Ele tem mais da mesma escrita em todos os lugares. Existem guias
para esse idioma?
— Havia. — Hilts respondeu. — até que vocês destruíram meus
arquivos. — Ele arrastou os pés. — Eu sou o único que sabe isso agora. —
Ouvindo as suas próprias palavras, ele se endireitou. Eu sou o único que
sabe isso agora!
— Isso é... inimaginável. — Iliana disse. — Por que Korsin não contou
a ninguém?
— Ele já tinha um continente para conquistar. — Hilts respondeu. — E
a sua briga com Seelah e Jariad era muito pessoal, eles não teriam sido
motivados por isso. — Ele olhou para os rivais reunidos. — Mas isso
mudará o nosso povo agora. Se você precisa que os Sith atuem em
uníssono, dê a eles um inimigo.
Aproveitando a paz, Hilts desenrolou a missiva de Takara Korsin. Ele
leu o destino dos humanos Tapani, que vagaram pelo território Sith e foram
escravizados, e ele leu sobre o futuro deles, governando em algum lugar por
conta própria. E depois outro lugar. E outro.
— Se você orientar bem o nosso povo, eles sempre terão uma missão.
Edell parecia deslumbrado.
— Como vamos chegar lá? — Todos na sala sabiam o problema. Os
Keshiri não eram uma cultura naval. As madeiras locais eram densas
demais para flutuar ou frágeis demais para suportar qualquer peso.
— Esta será a maior coisa que a nossa sociedade já empreendeu. —
Hilts respondeu. — Nunca seremos capazes de fazer isso se agirmos como
temos feito. Vamos precisar de todo mundo. — Ele acenou com a cabeça
para a deformada Neera. — Todo mundo. Isto exigirá ordem e disciplina. —
Ele fez uma pausa. — Como nos velhos tempos.
Abruptamente, Edell desligou o sabre de luz.
— Vamos criar a sociedade novamente, como nos velhos tempos. — Ele
deu um passo em direção a Hilts e se ajoelhou. — Você é o Guardião. Você
sozinho conhece a língua antiga, e os costumes antigos melhor do que
ninguém. Você guiará bem o nosso povo.
Hilts olhou surpreso para o jovem ajoelhado diante dele. Os colegas de
Edell, do Destino Dourado, também se curvaram. Ao lado, Korsin Bentado
fez uma pausa... e finalmente assentiu, inclinando a cabeça careca quando
caiu de joelhos.
— Você redimiu nossa fé em Korsin.
Até Neera se ajoelhou.
— Onde não havia caminho, você encontrou um caminho amplo o
suficiente para todos. Sozinho, você tem a minha confiança.
Logo, apenas Iliana permaneceu de pé, boquiaberta ao ver os seus
agressores, todos ajoelhados diante do curador do museu, estupefato.
— Todos saúdem Varner Hilts, o novo Grande Lorde!
H ilts havia dado o nome à era anterior. Agora, com o fim da Era do
Apodrecimento, ele também havia nomeado a época por vir.
A Restauração Hilts. Ele gostou do som disso.
A maior facção sobrevivente após o caos de duas semanas tinha sido a
Destino Dourado, e isto acabou sendo fortuito. Como seus rivais, eles
queriam tomar o poder em Kesh, mas sempre tiveram os olhos postos na
direção certa: para o exterior. Hilts não podia oferecer a eles o retorno às
estrelas que eles queriam, mas havia encontrado um mundo novo para eles
conquistarem. Acompanhados por Bentado, Neera e os outros, eles se
espalharam rapidamente pelo continente, anunciando as grandes notícias. O
sistema de governo da Tribo seria restaurado e estabelecido em direção a
uma meta.
Hilts não se preocupou em como eles chegariam ao novo continente.
Como seu o engenheiro-chefe, Edell prometeu atacar o problema com vigor,
estudando maneiras de percorrer distâncias maiores do que qualquer uvak
ou embarcação já tinha. Poderia levar anos, décadas ou até séculos, mas a
Tribo teria sucesso.
O novo Grande Lorde se perguntou o que encontrariam. Korsin havia
contado a Adari Vaal sobre o novo continente? Se ele tinha ou não, se ela o
tinha de alguma forma alcançado com o seu voo de uvak roubado, os
moradores saberiam que os Sith existiam. A nota de Korsin provavelmente
estava correta. A conquista do novo continente não seria tão fácil quanto a
conquista do antigo.
A perspectiva do desafio o fez se sentir jovem novamente.
Havia uma última coisa. Chegara a Hilts quase como uma reflexão
tardia. Assim que Edell e os outros anunciaram a sua elevação, Hilts viu o
fogo brilhar nos olhos de Iliana. Afinal, era ela quem reivindicava o poder,
não o Guardião. Ele não deveria ser o único elevado ao alto. Mas após o
choque inicial, e percebendo que Bentado e os seus companheiros ainda se
sentiam vingativos em relação a Iliana por suas ações passadas, ele pensou
na coisa absolutamente certa para dizer a ela, antes de todos eles.
— Se eu vou ser o Grande Lorde, precisarei de uma esposa.
A surpresa não tinha sido toda dela, a princípio; Hilts mal podia
acreditar que tinha dito isso. Também nunca soube exatamente o que ela
pensara daquilo, até agora, aqui na colunata em forma de estrela do lado de
fora do Templo no topo da montanha. Alta e majestosa, Iliana estava diante
dele, brilhando em um vestido dourado, produto dos trabalhos dos melhores
artesãos de Keshiri. Os rituais nupciais eram sempre apenas mais uma
desculpa para uma celebração, no que dizia respeito aos membros da Tribo;
fidelidade significava pouco para um crente Sith. Mas propriedade
significava muito, e Iliana acabara de conseguir um pouco. Várias de suas
ex-Irmãs de Seelah estavam aqui em suas próprias roupas, ele viu;
evidentemente, essa reviravolta havia consertado todas as fendas do
continente.
Girando a antiga faixa de compromisso de Seelah em seu dedo, Iliana
sorriu fracamente para as outras, e então olhou em particular para Hilts.
— Nós dois sabemos que isso é ridículo. — ela sussurrou. — Se você
acha que vou ser muito grata a você por me salvar...
— Eu nunca pensaria isso. — Hilts disse.
Isso pareceu satisfazer a mulher por um momento. Mas enquanto os
membros da Tribo passavam por eles na linha da recepção, Iliana teve um
pensamento repentino.
— Espere. — ela disse, baixinho. — Se você está restaurando os
costumes antigos, a consorte do Grande Lorde não será morta com asua
morte? — As sobrancelhas dela se levantaram. — Está certo. Está no
Testamento de Korsin!
— Ah, está? — Hilts olhou para ela, levemente. — Eu tinha esquecido.
Iliana ardia. Hilts olhou para a sua jovem noiva e sorriu. Haveria
liderança sábia enquanto vivesse, e poderia viver outros quarenta anos,
porque haveria alguém para garantir que vivesse. Poderosa, jovem e
desonesta, lutando todas as suas batalhas. Certamente alguns haviam
concordado com a sua elevação porque era um alvo fácil, mas ela não era. E
a única maneira de proteger a própria vida dela era protegendo a dele.
Hilts olhou para a estátua, pairando sobre os dois. Lá estava ele: Yaru
Korsin, sábio acima de tudo, mesmo em questões de casamento. Atrás da
estátua, havia filas e mais filas de membros da Tribo vestidos de maneira
correta, atentos e esperando a sua vez de encontrar o novo líder e a sua
noiva. Todo Sith sobrevivente em Keshtah Menor deve estar aqui hoje,
pensou Hilts. Alguns estavam mais desgastados pelos tumultos do mês
passado, mas estavam aqui, comemorando o casamento dele e o último dia
do Festival da Ascensão de Nida. Este seria um mês de festa que ninguém
jamais esqueceria!
Ao longo dos lados da colunata estavam centenas de Keshiri, festejando
e aplaudindo. Acenando para eles, Hilts recebeu um grito coletivo de
aprovação em resposta. Os Keshiri ainda não podiam se tornar parte da
Tribo, mas Hilts mudaria isso. Muitos deles tinham talentos úteis, e a Tribo
poderia precisar da ajuda de todos no desafio à frente.
Por um momento, ele imaginou como o pobre e pequeno Jaye teria
ficado com o uniforme de um Tyro ou Sabre. Hilts sorriu com o
pensamento. Levaria um tempo, mas ele faria.
Ler a história fora a vida dele. Agora ele escreveria a sua.
A Tribo continuaria.
INTRODUÇÃO
A Tribo Perdida dos Sith: Pandemônio se passa em 2.975 ABY e ocorre vinte e cinco anos após
os eventos de Panteão e Segredos. O romance é contado do ponto de vista de três personagens
principais: a mulher Alanciari Keshiri Quarra Thayn, o Lorde Sith Edell Vrai e o Grande Lorde
Varner Hilts. Após uma tentativa malsucedida de expulsar a Tribo Perdida dos Sith de Kesh em
4.975 ABY, Adari Vaal e trezentos outros seguidores Keshiri fugiram de Keshtah Menor para outro
continente conhecido como Alanciar. Lá, eles transformaram a civilização Keshiri e a prepararam
para resistir a uma futura invasão Sith. Dois séculos depois, em 2.975 ABY, o Grande Lorde Varner
Hilts consegue unir a Tribo Perdida após novecentos anos de guerra civil. Ele se comprometeu com
a Tribo a encontrar uma maneira de chegar a Alanciar. Depois de muitas dificuldades, um
engenheiro Sith chamado Edell Vrai teve sucesso na construção de uma frota de aeronaves que
permitiu à Tribo viajar para Alanciar.
— P ronto! Mirar! Disparar!
Uma dúzia de lançadores de madeira soou em uníssono e o
poderoso estalido ecoou por toda a fortaleza. Depois de um segundo para os
balesteiros recarregarem, um som semelhante se seguiu. E depois outro. O
barulho marcou os quinze minutos ali na pequena vila, da mesma forma que
fez nas grandes cidades do continente. Alguns poderiam ter dito que esse
poderia ser o hino nacional, mas Alanciar já possuía canções patrióticas em
abundância.
Os artilheiros eram bons aqui, pensou Quarra, observando o campo de
treino enquanto guiava o seu muntok para dentro do complexo. A chegada
do pesado réptil de seis patas e a sua cavaleira Keshiri não fez nada para
distrair os cadetes dos seus disparos. Os segundos entre os tiros das balistas
de mão de alta tensão foi mais rápido do que na maioria dos artilheiros das
terras altas metropolitanas conseguiam. Foram as armas ou os guerreiros?
Provavelmente os dois, ela pensou. O seu próprio distrito de Uhrar estava
mais atrás no interior do continente. Os Keshiri ali no forte no Garganta de
Garrow, situado atravessado em um dos longos esporões no mar ocidental,
teriam que ser melhores: era ali que estava a ameaça.
Quarra tinha todo o direito de estar ali, mas ainda se sentia deslocada.
Colete marrom e cinza, cabelos prateados enrolados firmemente em um
coque, esse era o melhor estilo militar de onde ela era, mas esse era um
campo de trabalho. Ela conhecia o trabalho duro, mas ultimamente tinha
sido diferente...
— Pare, aí! — Um capitão de rosto cor de vinho perto do campo tocou
um apito e correu em sua direção.
Quarra puxou as rédeas e gritou. O muntok maciço derrapou
violentamente até parar, borrifando areia roxa no rosto do oficial que se
aproximava. Ele xingou enquanto tentava limpar o seu único olho bom.
— Desculpe. — Quarra disse, dando um tapa nas mandíbulas do animal
que rosnava. — Os Muntoks são todos pernas e uma nuvem de areia.
O capitão não riu.
— Documentos!
— Eu já fui liberada no portão leste. Como você acha que eu consegui...
— Documentos! — Ele levantou a arma lateral. Ela assumiu que estava
carregada com pinos de lascas fragmentadas, e não as hastes de vidro
baratas disparadas pelos estagiários.
— Certo. — Eles são todos profissionais no oeste, Quarra pensou,
pegando a sua bolsa. Ela passou uma pasta de couro para o capitão. —
Cartas de trânsito e minha incumbência.
Os estagiários haviam parado de atirar agora, com os seus jovens olhos
nela. Keshiri masculinos e femininos com idades entre doze e quinze anos,
todos em seu primeiro rascunho. Quarra olhou de rosto novo em rosto novo.
A sua filha mais velha estaria treinando como eles no próximo ano.
Observou o capitão enquanto ele folheava seus papéis. Talvez ele tenha
perdido o olho para um recruta. Ou talvez não: ele estava velho para esse
dever, o que significava que ele era bom nisso. Nenhum oficial sensato
transferiria um talentoso balesteiro do Garganta de Garrow. Era ali que a
ação estava.
Ou melhor, estaria.
— Chefe da guarda Quarra Thayn. — ele gemeu, a visão das insígnias
elevadas evidentemente arruinando seu apetite pelo mês seguinte. — Eu
parei uma chefe da guarda. Sinto muito, senhora.
Tentada a dominar o oficial, Quarra lembrou porquê ela estava lá.
— Não tem problema, Capitão...
— Ruehn. Divisão de treinamento da 108.ª, Diretório do Sudoeste.
— Não se desculpe, Ruehn. Você está na ponta da faca. Ou perto o
suficiente.
O passe dela indicava que ela estava indo para Ponta do Desafio. Um
dos esporões mais a oeste de Alanciar, o cone de granito pontuava a
extremidade mais distante do istmo, passando pela fortaleza. Muitos diziam
que o continente lembrava a perna de um muntok. A maior parte da
população e da indústria vivia nas elevações mais altas do enorme quadril a
leste. A região atravessada pelo canal conhecida como Shank cortava para o
oeste, terminando nas Seis Garras, penínsulas de montanha quase paralelas
chegando ao mar ocidental. Cada Garra tinha uma estação de sinal no final:
preparativos para quando finalmente chegasse o dia terrível.
O capitão pigarreou quando dobrou o pergaminho.
— Estou surpreso que você não voltou com o resto dos mandachuvas
com o Dia da Observância chegando. — ele disse.
— Parecia uma boa hora para visitar a frente.
O olho bom do sentinela deu uma piscadela.
— Frente de batalha, meu traseiro roxo! Passei o dia mantendo os meus
recrutas dentro das paredes. A Guarda Costeira rouba quem quer que seja
por si só. Trinta anos, e essa é a única batalha que lutei.
Quarra recolocou os documentos na pasta. Ela apontou para os altos
portões à frente.
— É por este caminho?
— A menos que você queira nadar. — Os animais voadores chamados
uvak eram de uso exclusivo da Guarda Costeira nessas áreas, e as viagens
aquáticas nos fiordes leste-oeste formados pelas Seis Garras eram altamente
restritas. Não havia acesso à Ponta do Desafio, a não ser pelo campo militar
em Garganta de Garrow. — Aproveite a sua visita. E fique preparada.
— Ficarei preparada. — ela disse, pegando as rédeas.
Cutucando o muntok de volta a trotar, Quarra passou pelas barricadas
ocidentais, produto de centenas de anos de construção e reforma. Mas o que
chamou sua atenção foi a torre de sinalização, de pé entre os anéis da
fortaleza. Luzes de cores brilhantes no campanário brilhavam, apagavam,
facilmente visíveis no final da tarde. Ela estudou enquanto passava... e
lembrou novamente por que estava ali.
Tudo começou com mensagens enviadas três anos antes através
exatamente desta estação de retransmissão. E agora, à frente, ela viu a fonte
dessas missivas pela primeira vez. Quando o poderoso portão se abriu para
permitir sua saída, ela olhou para a trilha rochosa. Meio cercado por uma
nuvem de névoa do mar, a Ponta do Desafio se projetava para um oceano
agitado. Um silo solitário estava no topo do promontório, piscando
minúsculas luzes em resposta à fortaleza distante acima dela.
Ela pensou por um momento em voltar, em refazer a longa jornada que
a trouxe aqui. Se ela chegasse a uma estrebaria de uvak antes que a noite
caísse, poderia estar de volta ao mundo que conhecia antes que alguém
fosse mais sábio. Para Quarra Thayn, esposa e mãe de três filhos,
administradora militar chefe de Uhrar, e uma rara portadora Keshiri do
misterioso poder conhecido como Força, naquele momento, pensava-se que
estivesse em outro lugar. Oficialmente, ela deveria estar em uma turnê de
trabalho pelas fábricas de armaduras de batalha na Encosta Norte de
Alanciar, não indo para uma reunião secreta no meio do nada com alguém
que ela nunca havia conhecido.
Atrás dela, os balesteiros voltaram a disparar, seus tiros sincronizados
com os sinais piscantes à frente. Quase hipnotizada pela visão e pelo som,
ela sentiu seu futuro se estendendo à sua frente. Isso era algo que ela tinha
que fazer.
Ela respirou fundo e chutou o muntok para correr.
É melhor que valha a pena.
O sol brilhava baixo sobre o oceano ocidental, mas Quarra não estava
enganada. A escuridão estava lá fora, nessa direção. A Anunciadora tinha
vindo do oeste, assim como as correntes de ar e mar nessa latitude sul. Para
o oeste, havia engano e traição, ódio e pânico.
Mas os Protetores que haviam criado Alanciar e tudo em Kesh haviam
provido bem ao seu povo. As Seis Garras eram como garras, pontas
rochosas nas quais ameias haviam sido erguidas. Durante séculos, os fiordes
haviam sido portos movimentados para os navios de patrulha da Guarda
Costeira, enquanto os seus vigias em uvak navegavam no alto. Com o
tempo, todas as seis penínsulas foram fortificadas e ativadas.
Quarra ainda viu os restos varridos pelo vento de algumas dessas
instalações anteriores aqui em Ponta do Desafio. Um aglomerado de ruínas
se espalhava diante da torre de sinalização e estavam arruinadas,
claramente, pelas tropas em Garganta de Garrow que haviam praticado
demolições ali há algum tempo. Grande parte do posto avançado havia sido
abandonado, pois as operações foram consolidadas nas extensões mais
amplas de terras ao norte. Embora não tão a oeste quanto Desafio, algumas
das outras penínsulas se erguiam mais alto, oferecendo melhor cobertura
dos portos, e, ao norte, estavam em melhor posição para proteger a massa
de Alanciar. Desde a entrada das novas instalações, patrulhas aéreas e
marítimas foram trazidas para mais perto da costa. Seria um erro para um
povo que se escondia despertar acidentalmente os Destruidores, indo muito
longe para o mar.
A estação de sinalização pairava grande diante dela, um cilindro de
alabastro subindo sobre um pátio murado. Poleiros de trilhos no nível
superior da torre olhavam para todas as direções, com a grade muito
importante de globos de fogo em postes acima da varanda leste.
Desmontando do lado de fora do muro, Quarra encontrou um poste e
amarrou o muntok.
— O nevoeiro está chegando. — disse um macho Keshiri de dentes
largos, com os seus sessenta anos, quando abriu o portão. — Pode ser uma
tempestade.
Quarra empalideceu ao vê-lo. Pequenos cabelos crespos terminavam em
pontos cômicos atrás das orelhas, e os botões do uniforme se esforçavam
para conter a barriga.
— Você não é Jogan Halder?
— Misericórdia, não. — seu receptor disse. — Ele está na torre. Eu
trabalho com ele.
Por dentro, Quarra deu um suspiro de alívio.
— Você é o Arauto de Pensamento?
Eu sou, ele disse através da Força. E você?
Quarra fechou os olhos e enviou uma resposta telepática afirmativa. Ela
reabriu os olhos rapidamente, vendo o velho Keshiri sorrindo.
— Prazer em conhecer outro que tem o dom. — ele disse. — Mas eu
mal ouvi você. Está cansada?
— Foi uma longa viagem. — Quarra ficou tensa. Fazia muito tempo
desde que fora chamada a usar a Força em seu trabalho. Ultimamente, ela
só usava para divertir os seus filhos e para ver se eles possuíam os raros
talentos dela. Isso era por simples curiosidade materna; o Conselho de
Indução acabaria descobrindo com certeza quais crianças tinham talento.
Tirando a mochila das costas do muntok, Quarra virou-se e estendeu a
bolsa de documentos.
— Você quer ver isso?
— Não precisa. — ele disse jovialmente. — Nossos amigos do forte não
teriam deixado você chegar tão longe de outra maneira. — Ele saiu,
carregando a bagagem. — Se as coisas correrem como sempre, eles vão me
revistar por uma hora em cada portão. Melhor ir agora, antes que o clube
dos oficiais feche.
Expirando, Quarra colocou os documentos de volta dentro do colete.
Com a bolsa na mão, ela acenou para o arauto de pensamento e fechou o
portão atrás dela. Ela estava ali, e dentro.
Timidamente, ela atravessou o gramado até a porta aberta da torre.
Ouviu música lá dentro, ecoando através do enorme cilindro de pedra.
Segurando a mochila com força pela alça, Quarra entrou e inclinou a
cabeça. Escadas de madeira em espiral, quase fora de vista. A granulação de
madeira dos degraus não coincidia, evidentemente tendo sido substituída
muitas vezes na vida da estação. Mas alguém começou a pintá-los em tons
gradualmente alterados, criando o efeito de um arco-íris giratório.
Ao redor da sala circular, ela viu portas se conectando ao resto do
complexo. Podia sentir o cheiro de que algo estava cozinhando em uma
pequena cozinha; as duas portas abertas levavam a quartos de dormir
escassamente mobiliados, lado a lado. E uma passagem final descia as
escadas... para a música.
— Hup, harroo, por uma vida com você! — cantou uma voz de
barítono, cada vez mais alta. — O mar é minha casa e, embora eu vagueie,
sempre vou ficar...
— Verdade? — Quarra estava diante da porta. — Eu não tinha ouvido
essa.
— A Canção do Marinheiro. Nós as pegamos aqui. — disse o Keshiri
de cabelos curtos, os braços carnudos carregados de volumes encadernados
de pergaminho. — Você é Quarra?
— Culpada. — Ela deixou cair a mochila com um baque. — Posso
ajudá-lo com isso?
— Sem problema. — ele respondeu, passando por cima. Com uma pele
cor de malva robusta, com um pedaço de barba prateada bem raspada, o
homem uniformizado tinha o dobro do seu peso e estava em uma forma
incrível.
E ele tem a minha idade? Ele deve subir e descer muito as escadas.
— Desculpe eu não ter estado lá para recebê-la. — ele disse, colocando
a pilha monstruosa de livros em uma mesa precária. — Eu estava na
biblioteca, caso você estivesse atrasada. Gosto de ler enquanto como. — Ele
passou por um arco de pedra e encontrou uma panela de vidro fervendo
sobre os carvões gastos. — Sempre temos ensopado aqui. Quer algo para
comer?
— Eu estou bem. — ela disse, inclinando-se na porta. — Você é...
— Oh. — ele disse, deixando cair a colher e limpando as mãos. —
Desculpe. Jogan Halder. — Ele apertou a mão dela. — Não há educação de
cidade grande por aqui.
— Está tudo bem. — Quarra disse, sorrindo apesar de si mesma
enquanto sentia o aperto firme dele. De repente, constrangida, ela afastou a
mão. — Você tem uma biblioteca aqui?
— Tal como é! — Jogan sorriu, levando-a para fora. — Eu vou ao
Garganta de Garrow nas folgas e, às vezes, os viajantes deixam coisas para
ler por lá. Não há muito o que fazer aqui. — Ele apontou para onde os
degraus pintados terminavam. — Às vezes, uma das outras estações de sinal
envia notícias quando não há outro tráfego. Mas é uma maneira lenta de ler.
Quarra sabia o que ele queria dizer. As suas conversas com Jogan
haviam começado três anos antes, durante uma visita de rotina a Kerebba,
um centro militar de suprimentos a montante de um dos canais que
esvaziava em uma das baías definidas pelas Seis Garras. Havia conversado
com uma prima de lá que havia salvado meses de histórias da fronteira
transmitidas a ela por um oficial de sinal nas horas de folga. Quarra lera a
coleção completa, encantada com o jogo de palavras do autor e com a
avaliação honesta e contundente da vida à beira da civilização. Quando a
prima foi transferida, Quarra enviou uma mensagem através da estação de
sinalização em Uhrar, apresentando-se.
O que se seguiu transformou a sua vida. Mais de mil mensagens se
passaram entre Jogan e Quarra. Chegando principalmente da noite para o
dia, os despachos dele a esperavam quando chegava ao escritório todas as
manhãs. Logo começou a carregá-las durante as suas rondas, folheando-as
secretamente para passar pela labuta de seus dias. Reuniões inúteis de
distribuição tornaram-se oportunidades para ela refletir sobre as respostas
que enviava para ele antes de voltar para casa. Lutou para fazer sua própria
vida parecer emocionante; por fim, à medida que a confiança aumentou,
compartilhou seus sentimentos sobre seu trabalho e unidade familiar. Estava
agradecida por seu acesso ao sistema de semáforos ser limitado, para que
seu discurso não se tornasse insuportável. Mas Jogan sempre foi
compreensivo, aproveitando as longas noites dele para elaborar respostas
ponderadas e eloquentes.
E agora estava ali, em seu elemento. Imaginara-o muitas vezes, em seu
posto avançado envolto em neblina, à beira do mundo seguro. Ele não foi
uma decepção, e definitivamente parecia estar prestando atenção nela.
Espionando o casaco, tirou o sobretudo para revelar o seu uniforme. Era
necessário para as suas viagens, mas deixava as decorações em sua mesa no
trabalho. Sentiu-se estranha o suficiente sem superá-lo visivelmente no
primeiro encontro.
— Você conheceu Belmer na saída?
— Conheci. — Quarra respondeu. Ela riu. — Tive medo que ele fosse
você.
— Não, mas eu envio mensagens românticas para ele em meu nome. —
Ele riu. — Só brincando. Os amores de Belmer são todos fermentados.
— Não é exatamente o que você quer em um arauto de pensamento na
frente, é?
— Ele não bebe de plantão, é claro. — Ele pegou a mochila dela. —
Deixe-me levar isso. — Ela observou com antecipação quando ele a
colocou entre as portas dos dois quartos, quase o equivalente a uma
piscadela no manuseio da bagagem. Eles não haviam falado em detalhes
sobre arranjos de dormir durante a semana da visita dela, o que seria muito
premeditado. Foi mais divertido imaginar.
— Perdoe a aparência do lugar. Estamos no final da rota de inspeção e,
com velhos solteiros, você pode imaginar...
— Eu tenho três filhos. Você deveria ver minha casa quando o meu
marido fica trabalhando demais por muito tempo. — ela disse,
arrependendo-se imediatamente.
— Seu marido... Brue, não é? Como ele está?
— Ele está bem. — Quarra respondeu, arrependida de o ter
mencionado. Estúpida, estúpida! Os olhos dela dispararam para o lado. —
Que tal aquela turnê que você me prometeu?
— É um prazer mostrar-lhe o lugar, embora não haja muito para ver. —
Jogan respondeu. — Mas primeiro as primeiras coisas, Quarra. Venha
comigo.
Ao vê-lo acenando para ela seguir, Quarra hesitou antes de perceber o
que ele tinha em mente. Envergonhada de onde seus pensamentos tinham
ido, seguiu-o pelas escadas em espiral até a torre de sinalização. Balançou a
cabeça enquanto subia e se perguntava sobre sua estabilidade mental.
Eu já não tenho catorze anos há trinta anos! O que droga há de errado
comigo?
— A qui é onde a mágica acontece, — Jogan disse,
ajudando-a a entrar no campanário. — O que resta dele.
Do lado de fora da porta voltada para o oeste, um suporte de madeira
continha cilindros de vários tamanhos. Cada tambor tinha várias rodas
cobertas de ardósia orientadas em torno de um passador central, com linhas
dividindo a circunferência de cada roda em partes iguais. Jogan selecionou
um dos tambores de tamanho médio e o encaixou em um suporte em sua
bancada. Com uma rapidez nascida da rotina, ele rabiscou uma mensagem
em giz através do cilindro, um caractere em cada caixa, girando o tambor
inteiro ao chegar ao final de cada linha. Terminando, ele puxou uma
pequena haste de travamento do cilindro, fazendo com que as rodas-letra
girassem livremente. Após redefinir as posições das rodas aleatoriamente,
ele recolocou a haste de travamento e registrou um número de dez dígitos
refletindo as novas posições das engrenagens.
— Não há grande cifra para este. — ele disse. Desconectando o cilindro
de sua estação de trabalho, ele saiu para a varanda leste. Ao lado do
parapeito estava a armação segurando a enorme grade de globo de fogo,
com exceção de um de seus globos voltados para dentro das buchas, a
posição "desligada". — Você pode querer proteger os seus olhos. — ele
disse.
Quarra permaneceu na porta e observou Jogan trabalhar no dispositivo
de sinal. Trocando polias, ele trouxe a grade à vida ardente. Uma luz laranja
piscou e depois outra, brilhando longe na escuridão do leste. O sinal de
alerta foi enviado, as mãos de Jogan dispararam de um controle para outro,
abrindo e fechando luzes brancas, douradas, alaranjadas e verdes. Entendeu
o que eles queriam dizer uma vez; fazia parte de seu treinamento básico em
casa. Mas apenas um especialista podia enviar sinais tão rápido quanto um
operador experiente de semáforo Alanciar. Jogan levou cinco segundos para
enviar o código de destino e começar a transmitir sua missiva.
— Você é bom.
— Prática. — ele disse, mal olhando para o tambor com o texto
embaralhado para referência. — É muito trabalho apenas para dizer que
Belmer Kattun foi dormir no chão de uma taberna por uma semana e que a
rendição dele chegou.
— Você não está usando o meu nome?
— Não precisa. — Jogan disse, sorrindo para ela, enquanto as suas
mãos continuavam a trabalhar no dispositivo. — Você é mais um guerreiro
anônimo pela Grande Causa.
Podemos ter uma Grande Causa diferente neste fim de semana, ela
disse a si mesma, esperando que o seu rubor não fosse notado no brilho.
Voltando para dentro, protegida dos brilhos abrasadores, estudou o
quarto solitário. Com observadores, sinalizadores e transcritores, a maioria
das estações de sinalização no interior possuía nada menos que quatro
trabalhadores. E muitas tinham mais, lidando com o tráfego em mais de
uma direção. O que havia começado como um sistema de alerta precoce
tornou-se a espinha dorsal logística do estado, transmitindo tudo, desde
boletins meteorológicos até atualizações de remessas. Com o passar das
décadas, sem a chegada do inimigo esperado, muitos com autoridade
começaram a usar a rede para mensagens pessoais, como aquelas que
passaram entre ela e Jogan. A rede havia sido um dos maiores
desenvolvimentos dos tempos modernos, mas estava cada vez mais
estressada, e ela esperava que a qualquer momento o Gabinete de Guerra
reprimisse.
Tudo bem, ela pensou. Estou aqui agora.
— Onde o arauto de pensamento trabalha? — Ela perguntou.
— Às vezes aqui. Às vezes na varanda ou no quintal. — Jogan
respondeu, respondendo de fora. Quando a mensagem terminou, ele limpou
o cilindro com um pano úmido. — Há uma sala de meditação no andar de
baixo com um pouco de privacidade, mas isso não parece importar para
vocês.
— Certo. — ela disse, lembrando. — Você não pode usar a Força.
— Eu gosto da minha maneira de enviar mensagens muito bem. — Ele
apontou para a porta ao lado dele. — Pôr do sol?
De alguma forma, Quarra se viu na varanda ocidental, bem acima das
ondas estrondosas. A vida estava se movendo sem ela, agora. Ela não estava
mais tomando decisões, não conscientemente. Lá fora, como prometido,
apareceu uma chama laranja entre as nuvens baixas e o horizonte.
— Os Bancos de Coral ao sul são ainda melhores. Temos um barco a
remo... talvez de manhã, você possa ver. — Jogan apareceu ao lado dela
segurando uma garrafa e um copo. — Do esconderijo de Belmer.
Ele serviu para ela.
— Desculpe, só há um copo. Belmer bebe da garrafa. — Piscando, ele
fez exatamente isso.
— Então é isso que vocês fazem. — disse ela. — Você fica aqui o ano
todo bebendo...
— E escrevendo para mulheres casadas.
— ...bebendo e escrevendo para mulheres casadas, enquanto o Grande
Inimigo se esconde sobre as ondas. — Ela tomou um gole e sorriu. — Eu
sou chefe de ala, você sabe. Eu poderia denunciar isso.
— Eu vou aproveitar as minhas chances.
O sol desapareceu e o tapete de nuvens apagou o céu restante. Sentindo
o vento subir, ela se aproximou do parapeito onde ele bebia.
— Você nunca se casou?
— Não, e você sabe disso. — ele respondeu. — Cobrimos isso na
mensagem dois.
Quarra riu. Seu estado civil fora introduzido apenas na mensagem doze.
— Suponho que seja difícil pensar em ter uma família no final da linha.
— O Fim da Linha. — disse Jogan, virando-se para olhar o oceano. —
Eu gosto disso.
— Desculpe, isso te ofendeu?
— Nada é inferior sobre estar aqui. Essa é a frente. — ele disse.
Segurando o ombro dela, ele a virou e apontou. — Vê aquela boia lá fora?
Essa é a direção da qual a Anunciadora veio, dois mil anos atrás. Em algum
lugar atrás dela está o maior mal que Kesh já viu. O diabo que conhecemos.
Agora, eu poderia estar estacionado no interior, transmitindo mensagens
mundanas de outras pessoas... ou poderia estar aqui, dizendo ao mundo
todas as noites que tudo ainda está bem.
— Profundo. — ela disse, terminando a bebida. Ela colocou o copo na
borda. — Você me escreveu isso uma vez. — Várias vezes, ela lembrou. —
Essa é uma boa razão para estar aqui.
Ele assentiu.
— Agora. — ele disse, pousando a garrafa. — por que você está aqui?
Quarra riu.
— Fui convocada, como todo mundo!
— Não é isso. — Ele a virou para fora da vista e olhou para ela com
olhos escuros e sinceros. — O que você está fazendo aqui?
Ela gaguejou, surpresa com a mudança no tom dele.
— O que... o que você quer dizer?
— Quero dizer que uma mulher na sua posição tem coisas melhores a
fazer do que sair e se queixar com um condenado no Corpo de Sinalização.
— Eu queria ver o oceano?
Ele sorriu... mas não riu.
Ela exalou e disse o nome.
— Brue.
— Brue. O que seu marido faz mesmo? Algo com o Diretório de
Treinamento, eu acredito.
— Ele ensina sopro de vidro para os idosos.
— Bem, isso é...
Quarra desviou o olhar quando Jogan parou para recompor suas
palavras.
— Tenho certeza de que ele ganha muito trabalhando com eles. — ele
concluiu.
— Dores de cabeça contam? — Quarra sorriu fracamente. — Brue
odeia cada minuto disso. Eles são veteranos e, embora todos tenham se
aposentado, ainda precisam fazer algo pela Causa, como todos nós fazemos.
Portanto, essas pessoas irritadiças estão na linha de produção e cada uma
delas pensa que pode superá-lo. O que eles não poderiam, se Brue tivesse
alguma posição... — A voz de Quarra parou.
— Ainda assim, ele está colocando as pessoas para fazer alguma coisa.
Tudo o que nós podemos fazer, não é?
— Não. — ela disse, balançando a cabeça. — Ou sim. Isso poderia ser
tudo o que ele pode fazer... mas ele nunca saberá porque não tenta. Brue é
um bom pai para as crianças, e ele fez um lar decente, apesar de eu estar
ocupada...
— Mas ele não é mais o homem com quem você se casou.
— Na verdade, ele é. Esse é o problema. Em vinte anos, passei de
funcionária de suprimentos para arauto de pensamento, e então para
supervisora de materiais e depois para chefe de guarda. Os chefes de guarda
de sucesso se tornam prefeitos. Eu sempre acabo odiando o meu trabalho
também, mas toda vez, eu encontro um caminho para algo melhor. Mas
Brue não tem coragem de expor um fóssil antigo cuja autoridade terminou
antes do Antigo Cataclismo!
Quarra prendeu a respiração. Era como as mensagens dela, mas desta
vez não havia um limite de palavras para detê-la. Ela não queria fazer isso,
não queria reclamar de Brue. Não era justo com ele, não era o que ela veio
fazer ali.
O que ela veio fazer aqui?
— Você sabe. — Jogan disse. — não é tão ruim se ele tem a atitude
certa. Não acontece muita coisa aqui, mas há algo em poder dizer às
pessoas as coisas que eu gosto. Todos os meus relatórios daqui... são uma
pequena história, se contada em uma frase...
Jogan não terminou a frase, porque Quarra havia decidido o que tinha
ido fazer ali. Ele não rejeitou o beijo. Virando-o de costas para o parapeito
da varanda, apertou-se contra ele e o beijou com mais força. Sentiu um
alívio avassalador por estar neste lugar, fazendo isso, depois de tantos
meses e tantas palavras. Eles terminaram de conversar.
— Quarra. — O nome era suave no ar. Ele a puxou mais apertado.
Virou a cabeça para roçar a bochecha dele com os lábios e abriu os olhos
para o oceano...
...e viu a gigantesca bolha voadora emergindo do nevoeiro.
— Jogan!
O homem olhou para ela em pânico, horrorizado por ter cruzado uma
linha. Vendo os olhos dela, porém, ele se virou para olhar na mesma
direção.
— O que diabos é aquilo?
A forma sombria ficou mais clara à medida que se aproximava.
Barriguda e arredondada, como um biscoito de refeitório elevado, só que
gigantesco, tão alto quanto a própria torre de sinal. O trabalho de design
fluorescente deu à forma uma face estranha e alienígena. Algo estava
suspenso logo abaixo da massa: um convés de trilhos, facilmente do
tamanho de um dos barcos de encomendas do canal. E havia algo na parte
traseira do corpo de ambos os lados, movendo-se para frente e para trás
quase organicamente ao vento. Algo estava vivo ali, Quarra podia sentir a
agitação na Força, mas a estrutura geral era artificial.
Era uma aeronave.
— Há duas delas. — ela falou, puxando o colete de Jogan e apontando.
— Não. — ele gritou, apontando para as nuvens ao norte do oeste. —
Três!
Por uma fração de segundo, eles se abraçaram novamente, estupefatos,
ambos olhando para as naves.
— O que a gente faz?
— O que devemos fazer. — Jogan respondeu. Ele a soltou e correu de
volta para dentro.
— Espere. O que você está fazendo?
— Essa deve ser uma resposta fácil. — ele respondeu, pegando um
tambor coberto de poeira posicionado sozinho no topo da bancada de
madeira. Foi o primeiro cilindro a ser inscrito para transmissão quando a
estação de sinal abriu, séculos antes, e continha apenas uma palavra, sem
embaralhar, com o identificador de origem da Ponta do Desafio no topo.
Não havia código de destino, porque o destino estava em todo lugar.
— Não enviei nenhum tráfego instantâneo desde o tufão que fracassou
seis anos atrás. — ele disse, correndo para a varanda leste. — Espero que
eles acreditem em mim! — Trabalhando nas polias, ele olhou para trás e a
viu ainda de pé na porta. — Quarra, o que você está esperando?
— O que você quer dizer?
— Você é o arauto de pensamento. — ele respondeu. — As estações de
semáforo divulgam as notícias, mas não tão rapidamente. Você precisa
comunicá-los!
Ela congelou, de repente percebendo onde estava, e o que estava
fazendo, quando as notícias chegassem. Ela trabalhou tanto para manter
tudo em segredo. Sua voz falhou.
— Mas... eu não deveria estar aqui!
— Quarra!
Ela não teve escolha. Era isso. Era Isso, se o pronome tivesse algum
significado em Alanciar. O sentimento na Força era mais forte agora. Mais
imundo. Mais sombrio.
Quarra sabia, agora, porque estava aqui. Embora não fosse necessário
olhar para o continente, ela se virou, fechou os olhos e se concentrou com
força. Sim, havia mentes lá fora no populoso nordeste, esperando para
retransmitir sua comunicação. Uma palavra, a palavra que os Alanciari
temiam há dois mil anos desde que a Anunciadora apareceu em uma ilha
perto de suas margens.
— Sith!
E dell Vrai esperava muitas sensações ao ver a terra à frente. O que
não tinha planejado era o arrependimento.
Vinte e cinco anos de trabalho se passaram até hoje, o maior momento
da história da humanidade em Kesh. Por fim, Edell, Alto Lorde da Tribo e
capitão da expedição Sith, tinha conseguido. Ele havia descoberto o novo
mundo, mas poucos estavam lá para vê-lo.
Alguém deveria estar gravando isso, pensou o capitão. Pena que não
trouxemos um escriba.
Edell agarrou a grade da proa da gôndola e olhou de soslaio para a noite
oriental. Os telescópios fornecidos pelo seu Keshiri nos estaleiros de
construção foram de pouca utilidade. Ele esperava ver mais luzes no novo
continente, como as câmeras da Presságio viram em seu mergulho suicida
na superfície de Kesh. Mas a única visão eram formas escuras surgindo da
superfície, como costelas cutucando um cadáver enrugado.
— Ajuste a velocidade. — ele falou para sua tripulação na popa. —
Ainda estamos a quilômetros de distância. Não sabemos como serão os
ventos na praia.
— Sim, Capitão!
Os arrependimentos de Edell desapareceram. Capitão. O título com o
qual Yaru Korsin havia chegado a Kesh. Não houveram capitães de nada
entre os Sith em dois milênios, nenhuma embarcação para comandar maior
do que os flutuadores de casca de gornyk que os fazendeiros usavam nos
rios. Sempre se presumiu que o criador do método de atravessar o mar teria
a honra de liderar a expedição, mas, perto dos cinquenta, Edell sentiu-se
feliz por finalmente ter conseguido. Afinal, ele era jovem quando a missão
começou. Magro e de rosto jovem, com cabelos loiros bem arrumados, ele
fora membro do Destino Dourado, a visão de futuro das facções da Tribo
antes da Crise. Ele gostava de pensar agora que ainda era jovem: ele havia
crescido em suas feições, e era uma figura arrojada como o engenheiro
chefe do reino. Mas na última década, ele havia se desesperado para
alcançar o seu objetivo. Tanta coisa deu errado.
A distância era o problema. Os Keshiri que Korsin encontrou moravam
em Keshtah, um continente sozinho no oceano. Foi isso que os Keshiri
descreveram e foi o que os Sith encontraram em suas próprias viagens. Mas
o conhecimento coletivo do mapa fora limitado por algo: a resistência de
um uvak. Como os Neshtovar tinham feito antes deles, os Sith fizeram
muitos voos exploratórios das costas de Keshtah; os que voltaram relataram
mar em todas as direções, e nenhuma ilha sobre a qual pousar. Recifes eram
visíveis em lugares não muito longe abaixo das ondas; talvez houvesse terra
seca lá ao mesmo tempo. Mas se algum cavaleiro realmente atravessou o
oceano nas costas de um uvak, ninguém jamais relatou. Os Sith, é claro,
sabiam que o mundo deles era redondo; até os nativos keshiri descobriram
isso por conta própria. Mas parecia que Keshtah era tudo o que havia.
O grande mapa que o Grande Lorde Korsin mantinha embaixo do
Templo havia removido não um, mas dois assuntos da dúvida. Na verdade,
havia mais e muita terra. Mas o diagrama também mostrava a que distância
estava: decepcionantemente, desesperadamente longe. A rota ocidental era
mais curta, mas lutava contra as correntes. O leste era a única opção.
Agora havia um Grande Lorde em Tahv novamente, e Edell era amigo
dele desde os tempos do homem mais velho como curador do museu do
palácio. Varner Hilts não era matemático, mas respeitava e empregava as
pessoas que eram, e, quando adolescente, Edell passara muitos dias
estudando com eles as técnicas de construção dos grandes edifícios. Assim
que a restauração começou, Hilts encarregou Edell de resolver o problema
do trânsito. E resolvê-lo para sempre: uma única viagem não serviria. Tinha
que ser replicável e pronto para produção em massa. O outro continente,
Korsin havia mostrado, era habitado. A ocupação tinha que seguir a
descoberta.
Anos de experimentos se seguiram. Os barcos estavam fora de questão:
as florestas da selva de Keshtah não produziam nada que sobrevivesse às
ondas agitadas. As plantas de Hejarbo eram abundantes, mas seus brotos
mal protegiam os agricultores Keshiri da chuva. Elas não resistiriam às
pressões enfrentadas pelo casco de um navio. Vosso e as poucas outras
madeiras do interior eram densas demais para flutuar. Outras eram muito
borrachudas.
Edell passou a segunda década de seu trabalho no estudo desses
materiais, esperando encontrar algo que tornasse a viagem possível.
Fracasso após fracasso se amontoaram, e muitos assessores ficaram com
nojo dele e se tornaram rivais, testando os seus próprios planos. Hilts o
tornara um dos Alto Lordes mais jovens da História para garantir que ele
tivesse acesso total aos recursos, mas Edell não tinha tempo para políticas
da corte, ou da família. Ele se recusou a ceder. Os seus ancestrais haviam
cruzado as estrelas. A Força poderia negar as regras da natureza. Um
verdadeiro Sith deveria ser capaz de atravessar uma poça planetária!
A solução que finalmente o atingiu estava muito longe da engenharia e
se assemelhava à alquimia de seus colegas. Talvez fosse. Os veios quentes
do Pináculo Sessal emitiam uma variedade de gases nocivos, incluindo o
metano. Usando vasos de vidro moldados por artesãos Keshiri, Edell e a sua
equipe prenderam o metano e usaram um catalisador de água simples para
isolar o hidrogênio, o elemento mais leve conhecido. Com uma linha de
produção montada, Edell desenvolveu estruturas pelas quais o gás poderia
ser transportado. Mais uma vez, os artesãos Keshiri estavam à altura da
tarefa, criando um tecido de contenção incrivelmente fino que endurecia
contra a pressão. A forma de "sino em ascensão" de Edell era a mais
estável, e ele acrescentou uma gôndola criada a partir de várias camadas de
hejarbo entrelaçado, suficientemente forte para suportar o peso de uma
equipe e as suas provisões. O que não flutuaria na água flutuaria no ar.
Três anos se passaram desde que ele chegara tão longe, e então caiu
novamente no desespero. Não havia método para controlar a direção,
expondo os balões a todos os caprichos violentos dos ventos oceânicos. As
correntes de jato ali no hemisfério sul de Kesh poderiam fornecer uma ajuda
poderosa, mas se mostraram indomáveis. No sul, uma mudança no humor
do Pináculo Sessal e dos outros vulcões poderia enviar um aviador para
qualquer lugar. Às vezes, os sulistas carregavam cavaleiros para muito
acima e além, presumivelmente liberando-os para perecer no poderoso
bloco de gelo polar. E mais ao norte, a rota equatorial acabou por levar os
pilotos a uma morte aquática nos dias de chuva, ou assim eles assumiram,
pois nenhum jamais havia retornado de nenhum dos voos de teste.
Por fim, no início deste ano, com os seus inimigos protestando contra os
seus gastos extravagantes, Edell teve uma revelação. A nave não precisava
ser menor, mas maior. Grande o suficiente para suportar o peso de dois ou
mais uvak, suspensos em arreios à ré, embaixo da quilha da gôndola.
Nenhum uvak poderia fazer a travessia sob o seu próprio poder sem se
cansar, mas, no ar, os animais podiam descansar, ser alimentados e até
dormir quando não fossem necessários. Quando fossem, as suas asas
bateriam com propulsão suficiente para controlar a direção, desde que o
piloto tendesse a sentir os padrões do vento adequadamente.
Edell deu um passo para o lado direito da gôndola e olhou de volta para
baixo através da escuridão para uma das criaturas balidas balançando em
seu jugo esquelético. Estava mais confuso do que nunca sobre a situação
deles, mas batendo as asas ao comando.
— Parece que o Estibordo está fazendo a sua parte. — Edell disse. —
Como está o Bombordo?
— Bombordo está feliz e alimentada. — respondeu Peppin, a
combinação de tratadora de uvak e piloto da Candra. — Apenas diga a ela
onde você quer ir.
O capitão sorriu. Os uvak realmente os levariam através do oceano, mas
não da maneira que alguém imaginou!
Edell sentiu o vento aumentar enquanto se dirigia para o meio da nave.
Uma brisa salgada. Eles estavam descendo, graças à liberação controlada de
gás, desde que avistaram a terra minutos antes. Ao norte, ele viu as duas
embarcações companheiras, idênticas à dele, emergindo das nuvens. Bom.
A sua pequena frota havia conseguido, todos as naves.
A Candra, a Lillia e a Dann Itra. Edell havia se desesperado para
nomear as aeronaves, que eram para homenagear os Grandes Lordes desde
o início da Época do Apodrecimento. Era uma tendência recente no
pensamento do Grande Lorde Hilts. Passaram-se anos renovando a conexão
da Tribo com os seus fundadores; agora, segundo o líder, era necessário
reabilitar outras figuras de sua História. Mesmo aquelas que, por ação ou
inação, contribuíram para o caos que os seguiu. Em seu mandato há muito
tempo, Candra Kitai fora memorável por nenhuma outra ação a não ser
fechar o zoológico local. E, no entanto, ali estava ela, um fac-símile de
pedra-sabão da mulher preso do lado de fora do casco da gôndola. As
decorações não faziam parte dos desenhos de Edell para as naves. Se a nave
dele precisasse perder peso para ganhar altitude, a honorável senhora
Candra seria a primeira coisa a mergulhar.
Pequenas luzes vermelhas apareceram nos decks de Lillia e Dann Itra:
sabres de luz, piscando. Edell retornou o sinal. Todos eles viram a terra e
foram desacelerando. Edell realmente não conhecia os outros capitães que
haviam sido nomeados, mais bobagens políticas, mas eles seguiriam o
exemplo dele. As suas naves, como a dele, carregavam tripulações de dez
pessoas: capitão, piloto, clarividente e cinco guerreiros, além de dois
embaixadores Keshiri. Rostos roxos familiares poderiam ser úteis se eles
tivessem que fazer contato com os nativos. Mas o contato não era o plano
para esta viagem. Em vez disso, Edell planejou um reconhecimento de
sobrevoo de “Keshtah Maior” seguido de um retorno, cruzando o oceano
relativamente pequeno até a costa oeste de sua terra natal. Uma força maior
já estava sendo preparada e se seguiria, uma vez que eles soubessem que o
mapa de Korsin não era fantasia.
Estava tudo bem para Edell. Deixe a luta para os outros; ele levaria a
glória da descoberta, navegando Candra direto para Tahv, onde todos os
seus céticos podiam vê-lo chegando do pôr do sol.
Estava na hora.
Sentada à frente da cuidadora de uvak, uma mulher de pele escura na
casa dos vinte anos falou.
— Envio a impressão, capitão?
— Envie.
Edell observou enquanto Taymor, uma das Sith mais capazes de projetar
pensamentos através da Força, se concentrou. Ela não estava tentando
projetar mais do que um sentimento neste momento, a sensação de sucesso,
de realização. A distância não era necessariamente um obstáculo para os
usuários da Força, mas ninguém na Tribo jamais havia tentado enviar uma
mensagem ao redor do mundo antes. Eles manteriam emoções simples
agora. Haveria tempo para experimentar mais, mais tarde.
— Feito. — Taymor disse, sorrindo como se lembrasse aos outros que
ela tinha acabado de fazer algo sem precedentes para a Tribo em Kesh.
Edell revirou os olhos e voltou à proa. Era assim que acontecia com os
Sith. Todo encontro, por menor que seja, se tornava um show de talentos.
De repente passou a respeitar muito mais Yaru Korsin. Naves espaciais
devem ter sido pesadelos para operar. Não é de admirar que a Presságio
tivesse uma cabine particular para o capitão. Edell já desejara por uma
várias vezes na viagem.
Algo que faltava à Candra também era um bom posto de observação
para a frente, ele pensou novamente enquanto pegava um dos cabos de
couro enrolados que ligavam a gôndola ao invólucro de gás. Não era
problema para um ousado Sith disposto a brilhar, como ele era, mas ele já o
havia adicionado à sua lista mental de necessidades de design para o futuro.
Com as mãos enluvadas no cordão, ele começou a se erguer, apenas
para ser interrompido por um chamado por trás.
— Capitão!
Edell olhou para trás no escuro e viu Taymor franzindo a testa.
— E agora?
— Há muita coisa acontecendo aqui. — disse a telepata, com os dedos
espalhados pelas têmporas. — Neste lugar. Muitas emoções. Muita energia.
— A testa dela franziu.
O capitão riu.
— Você está apenas nos lendo, Taymor.
— Não, Alto Lorde. Está lá fora. — Ela apontou para a frente.
Edell apertou os olhos.
— Eu não sei o que você quer dizer. — Ele subiu no cabo e olhou para
frente. Os pedaços no leste eram mais que ilhas, as pontas de longas
penínsulas, com portos no meio. As estruturas eram visíveis em vários
promontórios, linhas retas na escuridão leitosa. Inclinando-se para fora e
esticando o pescoço, ele viu pequenas luzes multicoloridas espreitando
através da névoa que cobria as regiões do interior. As luzes piscaram,
mudaram e se apagaram.
Onde estão as cidades brilhantes sobre as quais Yaru Korsin escreveu?
Balançando ao vento, Edell tentou se concentrar através da Força, para ver
se podia sentir alguma coisa que Taymor tinha sentido. Ele sentiu apenas
tensão, apreensão, antecipação e excitação, tudo o que poderia ter surgido
facilmente de seus vigorosos companheiros de nave Sith como de qualquer
outro lugar.
Ele olhou de volta para a sua equipe.
— Nós não temos nada para nos preocupar...
Kra-koooom! Imediatamente um brilho apareceu por cima do ombro
dele. No céu, um quilômetro ao norte, Lillia explodiu!
Cegado momentaneamente, Edell quase perdeu o controle do cabo.
Segurando-se, o capitão se virou e lutou para focar os olhos. O invólucro de
gás de Lillia havia sido completamente substituído por uma flor crescente
de chamas, e sua gôndola não estava à vista.
— Todos parem!
Também a bombordo, mas mais perto de Candra, Dann Itra cambaleou
e se virou. Edell sentiu um solavanco, também, quando os uvak de direção
da Candra decidiram que queriam estar em outro lugar.
— Peppin, controle esses animais!
O dirigível tremeu. Os companheiros de nave de Edell se levantaram de
suas posições, alguns tentando ajudar a navegadora, outros olhando
boquiabertos com a explosão, que agora se transformara em um chuveiro
quente e cinzento, salpicando o oceano lá embaixo. A mente de Edell
disparou.
— É apenas um raio! — Ele gritou. Todo mundo sabia o quão volátil o
hidrogênio era; o perigo de carga elétrica sempre foi um risco. Ele pensou
no vento que sentira. Não havia tempestade óbvia, mas talvez isso tivesse a
ver com a terra que se aproximava e com o clima aqui. Foi por isso que eles
trouxeram três naves. Respirando fundo, ele se sentiu melhor por um
momento...
...até que olhou para baixo novamente e viu o míssil brilhante e ardente
lançando-se para cima da terra. Com três metros de comprimento, a cabeça
em chamas, o dardo preto se arqueava em direção a Dann Itra.
Kra-koooom! Edell fechou os olhos desta vez, mas a onda de choque
superaquecida o jogou de seu poleiro. O Alto Lorde bateu desajeitadamente
no convés, o joelho direito esmagando bem no nível superior do piso de
hejarbo.
Candra girava agora, esticando os cabos que ligavam a gôndola ao
balão. Enquanto Edell lutava para se endireitar, ele ouviu o uvak gritar.
Não, não era o uvak de Candra, ele viu quando alcançou a grade. No céu
abaixo, a gôndola danificada de Dann Itra caía violentamente para baixo,
de ponta a ponta, seguida quase gentilmente através da nuvem furiosa por
uma parte rasgada do invólucro de lona. Edell subiu no meio do parapeito,
gritando através da Força para que os ocupantes de Dann Itra saíssem,
apenas para ver outro pique disparado do chão atingir o meio dos destroços,
despedaçando-o.
Sentindo as mortes de seus colegas Sith, Edell sentiu outra coisa. A
Força havia sido usada contra ele! Tamanha precisão? Era a única maneira.
Mas quem já tinha ouvido falar de Keshiri que usavam a Força?
— Capitão! Eles estão atirando em nós agora!
Abaixo, o próprio ar parecia gritar. O capitão agarrou a grade e xingou.
Foi realmente um momento histórico. Como Yaru Korsin, Edell Vrai e seus
Sith fizeram o primeiro contato com os nativos de um novo continente.
Mas desta vez, os nativos eram mais fortes!
S nap-crack! A enorme balista de Ponta Vigilante disparou
novamente, com o seu recuo mecânico ecoando através do porto até a
estação de sinalização em Desafio.
— Sim! Sim! — Jogan gritou da torre da estação, pulando no lugar. A
sua excitação sacudiu mais a varanda do norte do que as explosões. —
Pegue-os!
Quarra caiu contra o parapeito, confusa na cena a noroeste. Uma névoa
rançosa no alto era a única pista para a existência anterior da primeira
aeronave. A segunda havia deixado um pilar bilioso de fumaça, girando
para baixo enquanto seguia a sua carga infeliz.
Sith. Sith! Quarra se amaldiçoou por não sentir o mal se aproximando. O
seu trabalho, toda a sua civilização, era se manter em alerta, e ela se deixou
preocupar. A culpa era dela! Mas então, quem sabia o que procurar, afinal?
Ninguém vivo em Alanciar jamais fora tocado pelo mal dos Sith. Apenas
alguns minutos antes, quando abriu a mente para enviar a mensagem de
aviso para o continente. Ela os sentiu então: tentativas contorcidas de
escuridão, alcançando a noite, extremamente confiantes em sua
inferioridade, e em seu sucesso final.
— Sucesso. — Ela quase sentiu a palavra, coçando em uma boca
alienígena.
As duas das aeronaves caíram depois disso, mas quem sabia quantas
mais os Sith tinham? Quem sabia o que eles tinham? Os dirigíveis não
foram mencionados nas Crônicas de Keshtah, o tomo que dizia tudo o que
se sabia sobre o lado sombrio do mundo. Se os Sith tinham dirigíveis, por
que não os usaram antes? Eles eram novos? Isso foi um teste?
Se fosse, as forças de Alanciar estavam passando por ele. Sobre as
águas, outra arma disparou, lançando uma nuvem assobiando na noite.
— Certo! Certo! — Jogan gritou. — Leve isso de volta para casa com
você!
Quarra olhou para cima de repente.
— Casa! — Ela correu de volta para dentro do campanário.
Imediatamente ela bateu em algo dolorosamente sólido. Eles tinham
apagado os poucos holofotes no campanário, conforme ordens gerais, mas
ela havia esquecido onde ficava a bancada de Jogan. Agora estava nela, ou
ela estava nela. Quarra rolou, lutando para desembaraçar a perna. As
canetas de Jogan caíram de seus suportes, batendo no chão ao lado dela. Ela
xingou, mas sua voz se perdeu no som de outro lançamento da costa oposta.
Lá fora, Jogan aplaudiu.
— Exploda-o! Exploda-o!
Quarra pensou as mesmas palavras. Ela rangeu os dentes e chutou a
mesa livre. Virando-se, ela subiu nos bens caídos e tropeçou na direção da
escada.
— Quarra, você precisa ver isso!
Enfiando a cabeça para dentro, Jogan a viu desaparecer no buraco negro
da escada.
— Quarra?
A gôndola tremeu na escuridão.
— Depressa, tolos!
Todos os ocupantes da Candra estavam se movendo agora, lançando
provisões para o lado, numa tentativa desesperada de elevar um pouco a
altitude entre o dirigível e as balistas abaixo. Edell viu que a fortificação
que dava para o porto estava cheia de armas, mas eles tinham um alcance
limitado. Para evitar um destino ardente, um Sith poderia morrer de fome
um pouco.
Mas a Tribo tinha que saber o que os espreitava ali.
— Taymor! Envie o alarme!
Olhando para trás, Edell viu o telepata se ajoelhar. Não havia como se
concentrar ali, não com a Candra batendo tão violentamente contra os
esforços dos uvak enlouquecidos. A mulher se apoiou contra a moldura da
gôndola com uma mão, e gritou quando gêiseres brancos pareceram
irromper debaixo de seus pés, rasgando a mulher e o hejarbo em pedaços.
Edell arregalou os olhos quando Taymor caiu. Com Candra balançando
novamente, ele pulou pelo novo buraco no chão para pousar ao lado do que
restava da clarividente. Não havia como salvar Taymor, ele viu, o corpo
dela estava dilacerado com dezenas de pedras brilhantes. Ele ficou
boquiaberto ao reconhecer os projéteis.
Diamantes!
Um uvak passou alto, subindo no céu noturno atrás de Candra. Edell
pensou que uma de suas próprias criaturas lamentadoras havia se soltado,
até que o uvak aparentemente rodou no ar e se virou em perseguição. Não
havia dúvida: era a fonte dos tiros fatais. E agora que se aproximava, Edell
podia ver através da escuridão um cavaleiro Keshiri, apoiando um longo
tubo no ombro.
— Cuidado!
Quando Edell mergulhou de volta pela abertura, um estalo mecânico
soou por trás. Uma nuvem de pedras brilhantes arqueou para cima, algumas
pepitas perfurando a parte traseira da gôndola, outras zunindo acima da
vista. Abaixo, o próprio uvak de Candra, que nunca parou de gritar, ficou
abruptamente silencioso.
O capitão viu o atacante subir à frente para se juntar a outros dois,
igualmente armados. Os olhos de Edell se arregalaram. Os Keshiri tinham
uma força aérea!

Quarra perdeu todos os outros degraus descendo antes de finalmente


pular o corrimão na escuridão. Pousando em segurança no chão da torre,
pelo menos a Força havia sido útil para ela nisso, ela correu para a cozinha,
nem mesmo se lembrando do que estava procurando.
Jogan desceu rapidamente os degraus.
— Quarra!
— Eu tenho que ir. — ela disse enquanto corria sem prestar atenção de
sala em sala. — Onde está a minha mochila? Eu preciso da minha mochila!
Jogan obsevou, intrigado, do seu poleiro nas escadas enquanto ela
passava em um frenesi. Ele apontou para o chão em frente às portas do
quarto.
Procurando no escuro pela mochila, Quarra se levantou. O tecido rasgou
ruidosamente quando ela pegou a corda da mochila sob os pés, e ela caiu no
chão novamente com um baque abafado. Roupas derramadas da bolsa
rasgada.
Outro clamor de fora. Jogan olhou para as alturas, dividido entre assistir
a destruição dos antigos invasores e uma mulher atormentada lutando no
escuro para recuperar as roupas. Não esperou muito tempo para decidir.
Saltando da escada, ele a encontrou de joelhos e com as mãos, enfiando
itens em uma bolsa que não existia mais. Ele se ajoelhou atrás dela.
— Quarra, você não precisa ir a lugar nenhum! Enviamos as nossas
mensagens. Estamos seguros aqui.
— Você está seguro aqui. — ela disse, procurando pela última de suas
roupas íntimas rebeldes. Olhando para a esquerda, ela encontrou, na mão do
oficial de sinal confuso. — Eu não estou segura aqui... porque eu não estou
aqui!
Jogan deu-lhe um olhar vazio.
— O que você quer dizer?
Ela arrancou a roupa da mão dele.
— Meu marido acha que estou viajando pela encosta norte agora!
— Eu não saio muito. É assim que eles chamam o que estávamos
fazendo?
Devolveu um olhar que lhe garantiu que não estava se divertindo. Do
lado de fora, outro som de rachadura de madeira falou de mais aflição para
os invasores Sith.
Ele a viu dobrar o que restava da bolsa.
— Mas você disse que Brue não está no exército. — ele disse. — Eu
não acho que ele vai descobrir.
Segurando seus pertences entre o braço e o tronco, Quarra girou e
agarrou as mãos de Jogan. Ela falou com urgência.
— Jogan, conhecê-lo foi uma das melhores coisas que já me aconteceu.
Você é uma pessoa muito esperançosa e confiante. — ela disse. Virou as
mãos e as apertou com mais força. — Mas isso lá fora é a maior coisa que
já aconteceu, e você e eu estávamos na varanda assistindo! Fui eu quem
enviou o sinal de pensamento!
Ela largou as mãos dele e se levantou.
— Haverá muita gente aqui em breve. — ela disse, gesticulando
descontroladamente. — E todo mundo em Kesh saberá quem estava aqui
quando os Sith vieram. Eu não posso estar aqui!
— É a história...
— Guarde isso!
Jogan se levantou.
— Quarra, se o estado a despachou, eles já sabem que você está aqui...
— É exatamente isso. Eles não me enviaram. — Ela passou por ele em
direção à porta. Iluminada por trás pela pouca luz do lado de fora, ela o
olhou com tristeza. — Eu escrevi a carta de trânsito. Peguei emprestado o
selo do supervisor de viagem para carimbá-lo!
— Você pode fazer isso?
— Na verdade não! Ajuda que ele tenha setenta e sete anos e esteja
muito bem conectado para ser enviado para trabalhar... não sei, numa
fábrica de vidro!
— Não havia uma ordem de rendição para Belmer?
Belmer! A mente dela disparou. Não, ela não tinha dito seu nome para
Belmer, o arauto de pensamento. Ele também voltaria para cá agora, a
menos que as forças no Garganta de Garrow o detivessem. Ela pensou no
capitão e em seus artilheiros. Ele se lembraria do nome dela? Eles também
devem subir a trilha a qualquer momento. Como ela deveria passar por
eles?
— Eu tenho que ir! — Ela correu pela porta.
— Sino de ascensão danificado!
O aviso de Peppin não surpreendeu Edell. O hidrogênio sibilou devido a
perfurações na bolsa de gás. Isso não é bom, ele pensou, embora pelo
menos os atacantes que zumbiam por aí, haviam três agora, não tivessem os
dardos com ponta de fogo que mataram os seus companheiros. Mas Candra
estava descendo novamente, logo voltaria ao alcance das balistas. Não havia
escolha. Eles tinham que esvaziar o balão, antes que alguém o fizesse.
Edell abriu caminho. Havia uma amarra pendurada em algum lugar,
lançando no escuro, o que expeliria os invólucros de maneira, se ele
conseguisse tempo. Do lado de fora, os cavaleiros de uvak se viraram para
outro passe.
— Guerreiros a bombordo e estibordo! Preparem-se para desviar o fogo.
— ele gritou. — Sem sabres de luz, usem a Força! — Não era hora de saber
se acender um sabre de luz provocaria uma explosão.
Os dois uvak convergiram de ambos os lados, com os seus cavaleiros
lançando uma saraivada de bolinhas brilhantes na noite. Mas enquanto os
guerreiros Sith gesticulavam para bloquear o spray, o terceiro cavaleiro
uvak apareceu, mergulhando de cabeça na direção da gôndola.
A seção dianteira se dividiu sob o impacto do ataque suicida,
esmagando a imagem esculpida de Candra Kitai para trás, juntamente com
o resto da proa. Dois tripulantes morreram instantaneamente pelo impacto.
Edell pegou uma balaustrada no meio da nave, assim que os cabos
dianteiros se romperam. O que restou da gôndola virou para baixo,
segurado no balão de suspiro apenas pelos suportes traseiros. Outro
guerreiro e um embaixador Keshiri desnorteado desapareceram na
escuridão.
O que restou de Candra foi arremessado para baixo, o balão jogando os
seus reféns violentamente embaixo dele. Edell viu rostos girando acima
dele, todos agarrados desesperadamente aos restos. Abaixo, o porto escuro
bocejava, como se fosse devorá-los. Do outro lado, ele ouviu os assobios
reveladores recomeçarem, ficando mais estridentes a cada segundo. Ele
gritou para sua tripulação se libertar da nave, e finalmente se soltou,
entregando o seu sonho a uma erupção de calor e luz.
À medida que as ondas batiam na península mais ao sul, o caos
continuava a se espalhar pelo o norte. Todos os lançadores das Seis Garras
atiravam loucamente no céu, procurando o último dirigível. Jogan estava
parado no portão aberto, segurando a sua balista de repetição com as duas
mãos. Uma construção robusta de madeira ossificada e faixas elásticas sob
alta tensão, era uma edição padrão para a frente de batalha.
Mas enquanto a tão esperada guerra finalmente estava acontecendo do
outro lado do porto ao norte, Quarra estava vagando pela colina, olhando
para todos os lados. Com a sua mochila rasgada estava no chão, sem
vigilância.
— Quarra, o que há de errado? — Jogan perguntou, caminhando.
— Meu muntok. — ela disse, agitando um fio de couro. — A coisa
maldita mastigou a corda e fugiu!
Jogan se ajoelhou e olhou para as trilhas na areia roxa.
— As explosões o assustaram. Você pode chamá-lo?
— Eu poderia se soubesse o nome dele. Eu o peguei no curral em
Tandry!
— Você não pegou o nome dele?
— Eu só ia ficar com ele por um tempo. Você deveria conhecer os
muntoks alugados?
Jogan olhou para ela confuso.
— E o seu trabalho é manter Uhrar organizada?
— Desculpe, é o meu primeiro caso!
Quarra virou-se para discutir mais o assunto, apenas para sentir uma
agitação na Força. Sentindo a sombra cair sobre Jogan antes de vê-la, ela
estendeu a mão para empurrá-la telecinéticamente.
Muito tarde! Uma massa orgânica bateu na encosta arenosa, agitando ao
atingir a superfície. Lançada ao chão pelo impacto, Quarra tropeçou, e
olhou diretamente para o olho verde sem vida de um gigante.
— Um uvak! — Ela gritou, lutando para se levantar. Ela alcançou
através da escuridão, sentindo o seu caminho ao redor da criatura. — Jogan!
Você está bem?
Por cima do ombro a nordeste, o último balão restante explodiu
estrondosamente sobre o porto. Quarra não se importou, procurando ao
redor do cadáver gigantesco até encontrar Jogan, o seu corpo preso sob a
cauda pesada da criatura.
Com o rosto violeta iluminado pela detonação, Jogan olhou atordoado,
com o sangue escorrendo dos lábios.
— Acho que encontrei o seu animal. — ele disse, entre tosses. — Mas
eu pensei... você tinha dito que alugou um muntok... não um uvak...
A s nuvens se abriram e o sol novamente espelhou através das torres
de vidro de Tahv. Edell escalou os degraus de mármore para a capital,
sozinho. Nenhuma escolta o cumprimentou; nenhum desfile marcou a sua
chegada.
Lá dentro, no átrio onde três grandes facções haviam lutado um quarto
de século antes, Edell encontrou a Tribo trabalhando em uníssono. Lordes e
Sabres Sith se amontoavam sobre uma réplica do mapa secreto de Korsin,
montada como uma enorme mesa no meio da sala. Edell examinara o
assunto várias vezes ao planejar a sua jornada, uma jornada agora
concluída.
— Meus Lordes e Sabres, voltei. — ele disse. Ninguém se mexeu na
mesa. Ele falou de novo... e de novo.
Finalmente, os Lordes enviaram um subordinado. Não era nem mesmo
um aprendiz, mas um mero Tyro, um terço da idade de Edell. O jovem o
menosprezou.
— O que você quer?
— Eu tenho novidades. — Edell respondeu, endireitando-se. — Estive
no novo continente e voltei em triunfo.
— Como você triunfou, exatamente?
— Eu nos levei lá. Eu provei que existia.
— Notícias antigas. — disse o garoto, ainda menosprezando. — A
conquista está bem encaminhada.
Uma lacuna se abriu entre os Lordes em pé de costas para ele. Edell viu
pela abertura que a tabela do mapa estava preenchida com dezenas de
marcadores, significando as forças Sith e as aeronaves que as trouxeram.
A testa de Edell franziu.
— Eu não esperava que vocês invadissem tão rapidamente.
O Tyro não disse nada.
— Muito bem. — Edell disse, avançando. — Estou preparado para
aconselhar...
— Não. — O Tyro acendeu um sabre de luz, bloqueando seu caminho. À
frente, o espaço entre os planejadores se fechava para que Edell não
pudesse mais ver a mesa.
Ele protestou.
— Eu pertenço a este lugar. Eu confirmei que o continente existia!
— E daí? Alguém teria feito isso.
— Eu inventei as aeronaves!
— Que podemos construir sem você.
— Mas eu sou o Alto Lorde da Tribo dos Sith...
— Um verdadeiro Sith teria feito algo. — o Tyro disse. — não apenas
dado uma olhada. Você é um inventor, nada mais. Dois guardas enormes,
antes invisíveis, agarraram Edell por trás. — Jogue-o para fora. Ele não
pertence aqui.
Edell ofegou e abriu os olhos para a noite. Agarrando as areias
molhadas, ele retirou a água do mar de seus pulmões.
Quanto tempo ele estave desacordado, ele pensou, sonhando? Pareceu
um longo tempo, mas não poderia ter passado mais do que alguns minutos.
Olhando para o oeste ao longo da costa irregular, ele viu quatro de seus
companheiros similarmente encalhados e saindo do porto. Um quilômetro a
nordeste, os restos de Candra ainda ardiam na água. Sem serem vistos, ele e
o seu grupo caíram ao norte da estação de sinalização; o balão levara os
destroços da gôndola para o leste. Apertando os olhos, ele viu os uvak
zumbindo sobre os restos, enquanto as luzes se moviam na costa norte do
outro lado do porto.
Ainda não sabem que estamos aqui, pensou. Nós temos uma chance.
Edell se levantou, ainda instável. Ferido e encharcado, mas sem
ferimentos, cambaleou pela costa para encontrar os outros que haviam
sobrevivido. Peppin, a cuidadora de uvak; Ulbrick e Janns, dois dos
guerreiros; e um dos Keshiri, cujo nome não importava. Juntos com Edell,
eles estavam cinco anos. Isso foi tudo o que restou, de uma expedição de
trinta anos?
— Subam. — Ele disse, apontando para cima uma pedra pedregosa.
Acima, no topo do cume ocidental, havia uma torre branca alta rodeada por
um muro alto. Abrigo, ou mais inimigos? Não sabia, mas o complexo era
muito menor que o da península do norte e, se alguém tivesse disparado
mísseis dali, não o faria agora. — Não usem os sabres de luz. — ele
sussurrou. A escuridão sempre foi amiga dos Sith, mas particularmente
agora.
Os guerreiros chegaram primeiro ao topo da subida. Edell ouviu um
estalo alto. — Alto Lorde!
Edell se levantou para ver Ulbrick no chão, segurando uma ferida na
coxa. Alguns metros à frente, uma mulher Keshiri uniformizada agachada
atrás do cadáver de um uvak e disparando fragmentos brilhantes de uma
arma exótica. Os tiros não acertaram em Janns, que se escondeu atrás de
uma cabana em ruínas. Edell ouviu os projéteis quebrarem com o impacto.
Ele percebeu que o vidro era como pequenas lâminas de shikkar. E ainda
mais perigoso, como atestou o gemido de Ulbrick.
A mulher viu Edell e apontou a arma para ele. O Alto Lorde saltou bem
a tempo. Quantos mais pinos haviam naquele compartimento? Ele não
queria descobrir. Atingindo o chão, ele fez uma concha com a sua mão e
rasgou a superfície através da Força, retornando os disparos da Keshiri com
um jato de areia. A mulher estava pronta para isso, mas a sua arma se
recusou a disparar novamente. Edell pegou o shikkar que mantinha no
cinto...
...apenas para ser violentamente atingido por um poder invisível. Os
joelhos de Edell dobraram embaixo dele e ele caiu pra trás, deixando cair a
lâmina. A mulher estava nela em meio segundo, se apossando da arma e se
lançando. Ele a segurou pelo braço quando ela o pressionou e viu nos olhos
dela. Mais amplo e mais distante do que qualquer olho Keshiri que ele já
vira, e cheio de um medo raivoso.
Tirando força das emoções dela, Edell arfou poderosamente. A mulher
caiu para trás, perdendo o controle da adaga. Quando ela pousou, encontrou
Peppin e Janns pairando sobre ela. As mãos enluvadas dos Sith a agarraram,
derrubando-a no chão.
Erguendo os pés, Edell olhou para a agressora. A mulher Keshiri parecia
ter mais ou menos a sua idade. Usava um colete feito de couro que ele
nunca tinha visto antes, quase uma armadura. O uvak morto atrás dela, ele
reconheceu como o infeliz Starboard, da Candra, e perto dele estava um
Keshiri macho incapacitado, vestido como a mulher, exceto por um casaco
meio enrolado em seu corpo.
Edell olhou para a torre, além do muro. Alguém viu o corpo a corpo?
Ele sinalizou para o embaixador Keshiri sobrevivente para cuidar de
Ulbrick.
— Eu vou lidar com este. — ele disse, recuperando o seu shikkar e
caminhando em direção ao homem ferido.
— Não toque nele, seu Sith imundo!
Todos ficaram boquiabertos com a prisioneira consciente. Edell
gaguejou:
— O... o que você disse?
Lutando contra seus captores, a mulher falou novamente.
— Eu disse, não toque nele, você...
— Eu ouvi o que você disse. — Edell disse, apontando para Peppin
cobrir a boca da Keshiri. — Estou surpreso ao ouvir você dizer isso. —
Ninguém sabia que idioma esperar dos nativos do continente oculto. O
melhor que ele esperava era um dialeto Keshiri antigo, houve algum
intercâmbio pré-histórico entre as culturas; seu embaixador estava
familiarizado com várias variantes. Mas o que ela estava falando, com forte
sotaque, era a língua que a tripulação da Presságio havia trazido a Kesh!
Acalmando-se, a mulher de cabelos prateados olhou para Peppin e falou
naquela língua novamente.
— Você quer me libertar.
Peppin deu uma olhada dupla.
— Ah, não me diga...
— Sim. — Edell disse, com os olhos dourados se enchendo de
admiração. — Eu tinha razão. Pensei nisso no oceano... e novamente
quando a vi lutar. Esses Keshiri sabem como usar a Força. Ou pelo menos
esta aqui. — Ele olhou para a bizarra arma de madeira que jazia na areia. —
Eles têm várias armas secretas.
— Nós nos preparamos para vocês. — disse a prisioneira, contida no
chão.
— Prepararam-se para nós? Como vocês sabiam sobre nós. — Edell
olhou através da escuridão para o muro composto. — Quem mais está aqui?
— Todo um destacamento!
Edell bufou.
— Mentira.
Finalmente, uma pausa. Os Keshiri dali podem fazer uso da Força, mas
essa mulher não se desenvolveu muito no caminho das defesas mentais. Isso
deu certo.
— O seu nome é... Quarra, eu acho. E você está sozinha.
Quarra olhou para ele e tremeu. Ao lado, seu companheiro Keshiri
tossiu, acordando. Os olhos dela dispararam na direção dele.
— Você não quer que ele morra. — Edell disse. — Bem. Eu posso usar
isso. Leve os dois para dentro da torre, rápido.
— Cuidado com ele. — Quarra disse. — Seu maldito uvak caiu sobre
ele e quebrou as costelas dele!
— Você derrubou a criatura sobre vocês mesmos. — Ele estalou os nós
dos dedos. — Você está prestes a trazer muito mais problemas para si
mesma.
— Eu não acho. — Quarra disse enquanto era puxada pelos captores. —
Você viu o que aconteceu lá fora! Você nunca vai superar nossas defesas.
— Ah, acho que vou. — Edell apontou para a abertura na parede do
complexo. — Você deixou o portão aberto para nós, sabia?
Edell viu que seriam necessários dois para trazer o volumoso nativo
ferido. De repente, ele se lembrou de seu próprio guerreiro ferido. Nas
sombras da estrutura, a vítima de Quarra desabou tristemente contra o
ombro do lacaio Keshiri de Edell. Um curativo improvisado ao redor da
perna direita de Ulbrick estava completamente saturado de sangue.
— Qual é a condição dele... seja lá qual for seu nome?
— Eu sou Tellpah, alto. — respondeu o estudioso Keshiri. — O Sabre
Ulbrick tem muitas lascas na perna.
— Talvez tenhamos que nos mover rapidamente. Ele pode andar?
Ulbrick rangeu os dentes com dor.
— Não com facilidade, Alto Lorde. — respondeu o jovem Sith. —
Acho que não.
Edell olhou para o guerreiro e depois para Quarra. Ele sorriu para ela, e
girou, acendendo o sabre de luz e decapitando Ulbrick com um flash
vermelho. Tellpah evitou o golpe que não era para ele, mas o assessor
Keshiri não conseguiu evitar a bagunça.
— Esconda o corpo. — ordenou Edell, desativando a arma. Este local
estava protegido da vista do porto, de modo que ninguém tinha sido capaz
de ver o ato, além do público pretendido.
Quarra cuspiu em horror.
— Ele era um dos seus!
— Sim. — Edell disse suavemente enquanto passava pelo portão. —
Não se esqueça disso. — Ele olhou para o trio restante de companheiros. —
Coloquem o homem lá embaixo na torre. Vou ao topo dar uma olhada.
— Outros estarão aqui em breve. — Peppin disse.
— Então faremos isso rapidamente. — ele disse. — Temos que saber do
que se trata. Amarre a mulher e leve-a para o andar de cima também. Ela
pode me dizer o que estou vendo!
Um sabre de luz!
Amarrada e sentada contra a bancada derrubada de Jogan, Quarra olhou
de relance para o líder Sith remexendo no campanário, e para a arma
atarracada presa ao cinto dele, refletindo suavemente a luz da lâmpada que
ele carregava. Os sabres de luz foram descritos nas Crônicas de Keshtah, e
havia até um boato de que existia um em Alanciar, trazido pela
Anunciadora há muito tempo. Se tal coisa existia, ficava nos arquivos mais
secretos do continente enterrados no subsolo ao lado da sede do Gabinete de
Guerra em Sus'mintri. Perguntou-se se a relíquia ainda funcionaria, como a
arma do humano. Um pilar mágico de energia, que não desmoronou ao
atingir algo.
Certamente os Sith eram os Destruidores da lenda. Ou os seus servos.
Ou as suas criações.
As Crônicas também descreviam os humanos, mas nada poderia tê-la
preparado para as diferenças entre eles. Essa variedade de tons de pele e cor
de cabelo, em comparação com o roxo Keshiri. Era difícil acreditar que
Edell, com os seus cabelos cor de sol, pertencia à mesma espécie que a
fêmea Peppin e a sua chocante juba vermelha. Eles não eram nada atraentes
quanto monstros, mas as Crônicas também haviam alertado os Alanciari
sobre esse fato.
O líder Sith pairava impaciente sobre o seu assistente.
— Você encontrou alguma coisa, Tellpah?
— Não, Alto Lorde. — respondeu o homem mais velho, peneirando
notas no chão, não muito longe de onde ela estava sentada. Tellpah enervou
Quarra acima de tudo. Ele era Keshiri, e ainda assim não exatamente, com
uma testa mais baixa e um rosto um pouco mais estreito. Não era um ramo
distante da árvore Keshiri, mas um ramo dela. Todos os humanos vinham de
lugares diferentes, para parecer tão distintos?
E por que um Keshiri estaria ali, ajudando os Sith que o escravizavam?
Ela sussurrou.
— Você não precisa obedecê-los, Tellpah. Os Keshiri aqui são livres!
Tellpah olhou para ela inexpressivamente, sem entender.
— Ignore-a. — Edell esbravejou. — Eu preciso saber o sinal adequado
para enviar!
Quarra sorriu. Ao chegar ao campanário, Edell foi de sacada em sacada,
estudando a cena noturna do lado de fora. Isso claramente o deixou nervoso.
Somente havia escuridão oceânica a oeste e sul; investigadores armados no
porto ao norte. E ao longo da península a leste, as tropas reuniam-se do lado
de fora dos portões da fortaleza de Pescoço de Garrow, preparando-se para
seguir a trilha na direção deles. Pelo que os Sith disseram, os globos de fogo
haviam sido acesos ali e em todas as fortalezas ao norte, para ajudar as
forças que vasculhavam. Um bom sinal, ela pensou. Os Alanciari não
tinham mais medo de mais aeronaves entrando e estavam na limpeza final.
A única coisa que parecia seguir o caminho do líder Sith era a chegada
de mais dois humanos, guerreiros evidentemente expulsos da aeronave
exatamente como ele fora. Eles haviam saído ilesos do porto perto da ponta
oeste de Ponta do Desafio e aumentaram o seu número para seis. Mas se ele
queria impedir a chegada das tropas do Leste, seu tempo estava se
esgotando.
— O sinal, Tellpah! O sinal!
— Eu te disse antes, eu sei o código claro. — Quarra falou.
Do lado de fora, junto ao aparelho de sinalização, Edell olhou para ela e
zombou.
— Acho que eu não confiaria no sinal que você enviaria.
— Sua escolha. — ela disse. Ele a levou para o andar de cima pensando
que, tendo Jogan em seu poder, ele conseguiria a cooperação dela. Mas,
mesmo com sua influência, os Sith não eram nada senão suspeitos, ela viu.
Edell pisou de volta no campanário e olhou com raiva para o suporte
com os cilindros de sinal. Em uma explosão de poder da Força, ele os
esmagou contra a parede de pedra.
Bom, ela pensou. Ele está rachando.
— Eu não estou. — ele disse, virando-se para o sul. Pela porta aberta,
ele viu algo distante no horizonte. Ele rapidamente saiu. — Tellpah, venha
aqui. Você vê o que eu vejo?
O escravo Keshiri se juntou ao seu mestre na borda.
— Um navio, senhor!
Quarra estremeceu. Apenas os navios da Guarda Costeira trabalhavam
no mar ocidental, mas a frota de colheitadeiras trabalhava nas margens de
coral na Passagem Sul. Soltando enormes calços de pedra para combater a
corrente rápida, os navios e seus mergulhadores saíam por semanas
seguidas. Eles não deveriam trabalhar tão a oeste, ela sabia, mas os capitães
atrasados na colheita de suas cotas de frutos do mar eram conhecidos por
cortar custos.
— Isso é bom. — Edell disse, apontando para o sudeste. — Você vê
onde está? Aposto que eles não conseguem ver a torre de sinal naquela
fortaleza perto de nós. — Ele deu um tapa no ombro de Tellpah. — Rápido,
vamos lá. Leve-a para o andar de baixo!
Forçando Quarra a se levantar, a escrava apertou o cordão que prendia
os pulsos dela atrás das costas e a empurrou para a frente. Quarra olhou
para a boca aberta da escada e viu uma oportunidade. Seria fácil sair e
mergulhar para a morte. Era, um fato horrível, sua responsabilidade agora.
Nenhum Alanciari poderia ajudar os Sith em seus planos de invasão. Ela já
havia dado muito, apenas abrindo a boca. Ela deu um passo no ar, sua bota
pairando sobre o vazio. Algo tinha que ser feito.
Não. Ela pensou em seus filhos em casa, e em Jogan, ferido e talvez
morrendo lá embaixo. Não, tinha que haver uma razão para ter sido atraída
para ali agora, de todos os tempos. E havia esperança. Tropas estavam
chegando. O casamento dela podia não sobreviver à chegada deles, mas os
humanos assassinos também não. Recém-determinada, ela desceu as
escadas, seguida por Tellpah e seu mestre.
Os guerreiros recém-chegados emergiram do porão, com os braços
carregados de livros e pergaminhos, exatamente como Jogan havia sido.
— Arquivos, Alto Lorde!
— Aqui fora? — Edell observou o estoque de pergaminhos. — Tragam.
Eles podem ser úteis.
Quarra mal abafou uma risada. Ela imaginou o que havia na biblioteca
de Jogan. Metade daquilo era provavelmente histórias de aventura ou
romances. De repente lembrando, ela olhou para o lado. Em seus aposentos,
Jogan gemeu.
Edell a empurrou em direção ao quarto de Jogan.
— Não fique confortável.
Jogan certamente não estava confortável, ela viu. Os Sith o jogaram no
chão, ignorando completamente a cama dele. Mas havia mais cor em seu
rosto agora. Ele entrou em choque quando o uvak o atingiu; todas as suas
habilidades na Força foram necessárias para mantê-lo vivo. Ela se ajoelhou
ao lado dele. Com as mãos amarradas nas costas, tudo o que ela podia fazer
era beijar sua bochecha machucada.
Grogue, Jogan a reconheceu.
— Não era assim que eu imaginava levá-la para o meu quarto. — ele
disse, murmurando as suas palavras.
— Cala a boca.
Jogan ouviu as vozes alienígenas do lado de fora e tentou se levantar,
combatendo a dor. Ela o cutucou de volta. Ele bufou, exausto com o
esforço.
— Aqueles são... os Sith?
— Sim. — ela sussurrou, acariciando o lado do rosto dele com o dela.
— Mas eles não estão felizes agora. Nós só temos que esperar...
— Chega de esperar. — disse Edell, parado na porta acima deles. Ele
sorria. — Uma pena interromper um casal tão amoroso. Mas encontramos o
seu barco lá fora. Estamos prestes a fazer outra viagem... todos nós!
A s nuvens se abriram
torres de vidro de Tahv.
e o sol novamente refletiu através das

— Não vejo nada amaldiçoado. — disse o velho, protegendo os olhos.


— Todo esse vidro não foi uma boa ideia!
— Sim, Grande Lorde. — Um Keshiri bateu palmas solenemente e
outro assistente puxou um cordão de seda. No telhado do edifício do
capitólio, os trabalhadores em espera abaixaram cortinas escuras sobre os
vitrais da cúpula do átrio.
— Está muito quente aqui. — O seu mestre rosnou, limpando o suor
inexistente de sua testa irregular. — Estou indo para o meu escritório.
— Sim, Grande Lorde. — Os atendentes que carregavam os leques
voltaram para as alcovas, permitindo que ele passasse. Varner Hilts, líder
supremo da Tribo Perdida dos Sith em Kesh, estava voltando para o
quartinho onde passara metade da vida. E porque não? Ele ainda era o
Guardião e também o Grande Lorde. O quarto era dele, como todos os
quartos eram agora. Se ele quisesse sentar na frente de uma mesa velha,
enterrada sob textos antigos e bebericar a sua bebida, ele poderia.
Ultimamente, tudo o que ele queria era privacidade. As suas principais
responsabilidades, como ele as via, foram há muito cumpridas. Ele havia
devolvido a Tribo à estabilidade e restaurado o edifício que amava ao seu
antigo esplendor. O resto foi trivial. O octogenário havia perdido o interesse
no dia a dia da Tribo e na grande missão na qual ele colocara o seu povo
vinte e cinco anos antes. Havia outros para lidar com essas coisas.
A sua companheira, Iliana, ainda robusta aos 49 anos, tinha as mãos
ocupadas administrando a política. O Grande Lorde Guardião ainda era uma
figura reverenciada para a maioria, mas entre os Sith, mesmo um pedaço de
pão desenvolveria inimigos se colocado em um trono. Ninguém foi tão
irreverente a ponto de desafiá-lo diretamente, mas Hilts não era tão ingênuo
a ponto de pensar que sempre receberia um passe. Embora, se ele ficasse
mais velho, provavelmente não seria capaz de distinguir a lâmina que o
atingiu de qualquer outra de suas dores.
Mas aqueles que estão no poder são os criadores de tradições, e lá, Hilts
encontrou a oportunidade única que o fazia levantar de manhã. Um quarto
de século se passou desde a última leitura do Testamento de Yaru Korsin em
Tahv, e era hora de fazê-lo novamente. Mas com a destruição do antigo
dispositivo de gravação, o Korsin espectral nunca mais entregaria a
mensagem em voz alta. Apesar dos danos aos arquivos durante os horríveis
distúrbios da Grande Crise, o texto do Testamento ainda existia. As
bibliotecas de Orreg e Elvarnos haviam escapado da destruição total e, além
do mais, Hilts conhecia o discurso de cor. Mas esse mesmo coração, ainda
razoavelmente forte, depois de todos esses anos, dizia a ele que a mensagem
agonizante de Korsin não era mais apropriada para o momento e para o seu
povo.
Então Hilts e uma equipe de escribas começaram a trabalhar em um
novo discurso. Parte manifesto, lembrando os ouvintes do que significava
ser Sith; parte documento legal, reafirmando a hierarquia dos Altos Lordes,
Lordes e Sabres e reafirmando as práticas em torno da sucessão. Mas a
cerne da mensagem, e o que mais excitou o idoso governante, era uma
seção que contava a linhagem dos humanos de Kesh, desde os membros
Tapani da Casa Nidantha. Para Hilts, representava a sua conquista, além de
seu mandato como Grande Lorde.
Logo após o início da Restauração Hilts, ele e outros pesquisadores
começaram a colocar em contexto tudo o que haviam descoberto
recentemente, desde as ordens fragmentadas de Naga Sadow até a missiva
de Takara Korsin para o filho. Sempre houve referências intrigantes nos
escritos antigos dos sobreviventes originais da Presságio; agora todas
faziam sentido. Os humanos da Tribo eram importantes no esquema
galáctico, e, chocantemente, eram um povo muito mais velho que o próprio
movimento Sith.
Através das canetas dos escritores Keshiri mais eloquentes do que ele, o
que havia sido uma simples recontagem de eventos se tornou poesia
calculada para instilar a Tribo com orgulho. Bloqueados da supremacia no
setor Tapani, os membros da Casa Nidantha procuraram encontrar um
destino novo e maior por conta própria, apenas para ficarem presos e
escravizados pelos Sith da Caldeira Stygean. Mas os ancestrais da Tribo não
seriam mantidos nas hierarquias mais baixas, especialmente depois de terem
aprendido as filosofias fortalecedoras dos Sith e o funcionamento do lado
sombrio da Força. Sim, a chegada da tripulação da Presságio em Kesh tinha
sido tão acidental como a chegada dos seus antepassados Tapani no espaço
Sith, mas não foi nenhum acidente. Os primeiros anos da Tribo em Kesh
foram, de fato, um recomeço, no qual os humanos se tornaram governantes
e escravos, e nos quais os Sith Vermelhos foram rápido e justamente
extintos. Se ao menos os refugiados Tapani já tivessem conhecido a Força
quando chegaram à Caldeira Stygean. Quão diferente a história poderia ter
sido!
Não importa: a tribo estava fazendo a sua própria história agora. O que
quer que tenha acontecido com Naga Sadow e a sua espécie durante os
últimos dois mil anos, as pessoas que eventualmente deixariam Kesh seriam
independentes. Um novo Sith, nascido de um povo velho. Hilts tinha ficado
tentado a usar o seu Testamento Verdadeiro para dublar publicamente os
membros da Tribo Nidanthans, mas pensou melhor. Eles podem ter
começado como parte de uma casa de comerciantes interestelares, mas a
identidade deles agora estava no que haviam feito desde que chegaram.
Anos antes, o termo Tribo Perdida carregava o anel do fracasso. Agora,
as palavras lembravam tudo o que eles já haviam alcançado. Ao se perder, a
Tribo havia encontrado muito mais.
— Está bom. — Hilts disse, o pergaminho crepitando nas mãos pálidas.
— Bom o suficiente. — Ele colocou as páginas no topo do único local
nivelado. Pena que você não pode estar aqui para ver isso, Jaye. Você
sempre gostou das minhas histórias.
— Varner, você parece o lado errado de um uvak!
— Ahn?
— Eu não entendo. — Iliana Hilts disse, entrando. Usando um vestido
acetinado carregado de pedras preciosas, a ruiva beliscou as bochechas dele
e franziu a testa. — Nós trazemos os melhores especialistas em pele para
você...
— Eu os bani do reino. — ele disse, esfregando a mandíbula. — Eles
queriam plantar árvores nos meus poros.
— É um cataplasma orgânico, Varner. Eles são especialistas. Eles
preparam as melhores pessoas.
— Bem, agora eles estão cuidando de icebergs.
Abaixando a cabeça, ela endireitou o colarinho.
— A rotina do governante irascível diverte os Keshiri? Porque isso não
funciona comigo.
— Nada funciona com você, minha querida. — Ele sorriu para ela
através dos dentes de cerâmica. — É uma das verdades das quais dependo.
Nunca poderia dizer se Iliana o amava ou odiava. Mas depois de todos
esses anos, realmente não importava. Eles trabalharam. Duvidava que
muitos casais em Kesh pudessem dizer o mesmo. Claro, tinha sido
necessária uma ameaça de morte para os acordar para um interesse comum.
Não podia lutar sozinho e, como consorte, ela só poderia viver enquanto ele
permanecesse vivo. Mas talvez fosse isso que os relacionamentos Sith
exigissem.
— Levante-se. — ela disse, puxando a cadeira frágil dele para trás tão
rápido que ele quase caiu. — Você é necessário na sala do trono.
— De novo? Prefiro lamber o chão. — Ele apontou para o tratado quase
pronto sobre a mesa. — Eu sou necessário aqui. É aqui que eu posso ser
eficaz.
Iliana suspirou.
— Mais palavras. — Empurrando as mãos sob os braços dele, ela o
forçou a ficar de pé. — Elas são tudo o que você é. Você sempre foi um
pobre Sith. Onde está a sua raiva, a sua inveja?
— Fico com raiva toda vez que olho no espelho, e invejo toda vez que
vejo alguém com menos de setenta anos.
Ela endireitou a túnica e mordeu o lábio.
— Isso terá que servir. O Alto Lorde Korsin Bentado está solicitando
uma audiência.
Hilts gemeu.
— Sabia que tinha vivido muito tempo. — Ele olhou tristemente para o
pergaminho. Ele nunca seria feito nesse ritmo. — Apenas mande-o embora.
— Nada me faria mais feliz. — Iliana disse, revirando os olhos. — Mas
você o colocou no comando da força de invasão.
— Por que eu faria isso?
— Porque eu te disse para fazer. Um Bentado ocupado é melhor do que
um Bentado vagando por aí, encontrando cultos para começar. — Ela
encolheu os ombros. — Mas principalmente, porque eu te disse.
— Bentado. — ele disse, mal-humorado. O homem fazia os seus lados
doerem. — Edell Vrai, agora, esse é um homem inteligente.
— E você o enviou na expedição, Varner. — ela disse, cutucando-o em
direção à porta. — Agora vamos lá. Eu faço todo o resto por aqui, mas não
vou fazer isso!

— Bênçãos do lado sombrio para a sua família, Grande Lorde. —


Korsin Bentado disse.
Sentado na cadeira do capitão da Presságio, Hilts murmurou uma
resposta inaudível. O lado sombrio abençoa coisas? Imbecil.
— Como sempre, é uma honra visitar este lugar, o mais santo dos santos
de Tahv. — Bentado disse, gesticulando ao redor da sala do trono com a
mão restante. Yaru Korsin havia morrido antes que ele pudesse realizar uma
corte aqui, e a sala comprida e de teto alto permaneceu fechada até Hilts
reabri-la. Bentado chiou. — Fiquei maravilhado do lado de fora, diante das
novas torres de vidro. Isso prova o que eu tinha dito. A Restauração Hilts
apenas começou em Kesh. Mas chega às estrelas, onde um dia você nos
restaurará ao nosso legítimo lugar de domínio!
— Certo.
O Alto Lorde Bentado desfilava diante de oito guerreiros Sith, todos
vestidos como ele em couro preto. Com pouco mais de cinquenta anos,
Bentado parecia exatamente como em sua juventude, careca com espessos
pelos faciais pretos. Hilts suspeitava que ele tinha feito muito trabalho com
os "especialistas" de Iliana. Que tipo de homem tinge as sobrancelhas?
— As notícias pelas quais esperamos por anos chegaram finalmente. —
declarou Bentado. — Gorducho!
Bentado olhou para as grandes portas, onde um Keshiri corcunda entrou
com uma nota. Parando logo atrás do Grande Lorde, Iliana revirou os olhos.
— Bem. — ela sussurrou no ouvido enrugado do marido. — Agora
sabemos por que demoramos anos para chegar aqui.
— Silêncio. — respondeu Hilts, tentando não rir. Tinha sido a piada
deles cinco anos antes, sugerir Gorducho como assessor de Bentado. O Alto
Lorde fingiu achar graça da recomendação, aceitando prontamente o
Keshiri deformado em seu séquito de espécimes humanos perfeitos. Eles se
perguntaram até onde ele levaria isso, e ainda estavam se perguntando.
Bentado nunca apareceu sem seu assistente atrofiado a reboque.
Bentado pegou a nota e a ergueu.
— Sucesso! — Ele declarou. — Nossos ouvintes ouviram o chamado
através da Força poucas horas atrás. Edell Vrai encontrou a terra escondida
que Yaru Korsin nos revelou. Ela existe! — Ele amassou o pergaminho com
o punho enluvado. — A sondagem está feita. Está na hora do ataque!
Hilts olhou para a esposa. As suas fontes disseram a mesma coisa no
início do dia, mas não havia nada para se animar ainda.
— Devemos esperar até Edell voltar.
— Grande Lorde, a maioria das aeronaves está pronta. As minhas
tripulações estão equipadas e esperando. Você concordou que, se ele
encontrasse alguma coisa, valia a pena conquistar com força total! —
Bentado se virou para encarar as suas tropas. — Aguardamos o seu
comando: para atacar!
— Você disse isso.
Esfregando os ombros do marido sobre as costas da cadeira, Iliana
sorriu.
— Ele não está dizendo o resto, Grande Lorde. O meu pessoal também
estava ouvindo. Apenas uma mensagem clara chegou. Mas houve outras
emoções sentidas mais tarde. Surpresa. Choque. Confusão. Ela parou de
esfregar. — E então, nada.
Bentado encarou Iliana e ergueu o toco do braço esquerdo; ela causou a
ferida, meio século antes.
— Eles encontraram um mundo totalmente novo, consorte.
Provavelmente há muito a se perguntar, e provavelmente estão confusos
sobre o que fazer a seguir. Edell Vrai não é um guerreiro. — ele disse. —
Respeitado, sim, como deveria ser um Alto Lorde. Mas ainda é um
talentoso inventor. Ele está esperando as minhas forças chegarem, para
realizar a invasão.
Iliana zombou.
— E se as engenhocas malucas de Edell caíram no oceano?
— Edell não está morto. — Hilts disse, subitamente defensivo. — Eu
teria sentido.
Iliana olhou pra ele. Ela disse muitas vezes que ele não podia sentir a
água se estivesse em um lago.
Bentado sorriu amplamente.
— Eu compartilho a sua confiança, Grande Lorde. O hospedeiro está
pronto agora. As sessenta primeiras aeronaves estão infladas e equipadas
para a guerra. — Ele se ajoelhou e, atrás dele, os seus seguidores também.
O pequeno Gorducho pegou a dica um momento tarde demais e quase caiu
no chão tentando seguir o exemplo.
— Eu imploro a sua permissão. — Bentado disse, de cabeça baixa. —
para perseguir nosso destino.
Hilts piscou.
— Humm... claro.
Os guerreiros saíram. Antes de seguir, o companheiro Keshiri de
Bentado curvou-se novamente diante do trono, desta vez, mais
adequadamente. Hilts sorriu gentilmente com o esforço. Permanecendo até
o fim, Bentado saudou o Grande Lorde e seguiu sua tripulação.
Hilts olhou para Iliana e levantou uma sobrancelha branca e fina.
— Estamos desperdiçando uma aeronave com ele. Aquele homem é seu
próprio saco de gás.
— Ele está com tanta pressa. — Iliana disse. Ela parecia perplexa. —
Ele deveria esperar Edell voltar. Ele está levando todo o seu pessoal a se
afogar.
— E isso iria incomodá-la?
— De jeito nenhum. — Iliana disse, fazendo outra saída em um
turbilhão de renda. — Ele os escolheu a dedo. Qualquer um que Bentado
confie vale a pena se afogar.
I nfortúnio, era como o navio foi nomeado, e foi puramente o
infortúnio que colocou os marinheiros Keshiri na água naquela noite,
refletiu Edell.
Ele e a sua tripulação partiram da costa sul da península, Ponta do
Desafio, como o mapa local a chamava, minutos depois de encontrar o
barco. Eles demoraram apenas para mover Quarra e aquele de nome Jogan a
bordo como prisioneiros. A mulher se opôs; o homem febril continuava
acordando e desfalecendo. Mas Edell precisava de um guia, e até agora o
cônjuge dela, se era isso o que ele era, serviria de impulso.
O momento era bom: as forças do Garganta de Garrow chegaram no
momento em que eles desapareciam na noite aquática. As tropas
encontrariam o lugar vazio e saqueado; o corpo de Ulbrick havia sido
jogado em uma cisterna. Enquanto isso, Edell e companhia foram para o
navio que ele tinha visto, remando com força contra a corrente cruzada para
alcançá-lo enquanto a cobertura da noite permanecia.
Os marinheiros Keshiri de fato desconheciam a batalha anterior; a
surpresa foi absoluta. Eles lutaram como animais selvagens, no entanto. Os
Sith levaram até o amanhecer para tomar o controle do Infortúnio, e mesmo
assim todos os defensores, exceto um, haviam lutado até a morte.
Agora, com o sol subindo à sua posição de meio-dia outonal no norte, o
último marinheiro do Infortúnio tinha morrido em agonia sob a tortura de
seus interrogadores. Edell assistiu do arco quando Peppin emergiu da casa
do leme, tirando as luvas.
— O que você aprendeu?
— Não muito. — disse Peppin. — Para agricultores do mar, eles eram
feitos de materiais bem fortes.
— Parece ser uma característica local. — ele respondeu, olhando para o
convés de proa onde Quarra e seu parceiro estavam amarrados a um mastro.
— O navio estava aqui apanhando crustáceos. Infortúnio deve ficar aqui
por uma semana antes de voltar.
Edell examinou a costa. Não havia estações de sinal visíveis em nenhum
lugar em terra, então não havia como os Keshiri chamarem o Infortúnio de
volta, e a única maneira de ver quem estava a bordo do navio era por via
aérea, a bordo de uvak.
— Nós poderíamos descansar aqui por um tempo.
Peppin pareceu surpresa.
— Podemos não precisar, senhor. Os Keshiri têm bons mapas das
correntes aqui embaixo. Chegar em casa pode ser apenas uma questão de
puxar a âncora.
— Casa. — Edell olhou para a vela quadrada solitária, enrolada na
verga. Peppin poderia descobrir como dirigir o navio, tudo bem. Ela
trabalhava na equipe dele há anos, absorvendo seu conhecimento de
engenharia. Eles podiam fazer isso, e fazia sentido chegar em casa o mais
rápido possível. Ele completaria a missão como foi designado, e levar de
volta um navio de baixa colheita seria uma conquista. Era maior do que
qualquer navio que Keshtah já havia produzido.
Peppin leu os seus pensamentos.
— Seria um bom transporte, poderia levar algumas centenas de Sith ou
mais, eu acho. Muito mais fácil do que trazê-los voando para cá. — Ela fez
uma pausa. — Muito mais seguro também.
Os pensamentos de Edell foram para sua chegada explosiva, e depois
recordaram o sonho de seu delírio na praia. Seu humor escureceu. Será que
o retorno com o Infortúnio seria o suficiente para um triunfo pessoal? Não
com as coisas como estavam em casa. Korsin Bentado já estava preparando
a próxima onda. A Frota de Ébano, vinte vezes maior que sua própria
expedição. Bentado aguardaria seu retorno ou seria enviado mais cedo?
Ele sabia a resposta. E ele sabia que, se seus papéis fossem invertidos,
Bentado certamente não velejaria levemente para casa. Mas o que mais ele
poderia fazer?
Ele olhou novamente para Quarra e Jogan. Ele não sabia nada sobre o
homem, mas ela era claramente alguém entre os Keshiri. Os documentos
que ela carregava diziam isso, mas ele viu primeiro o comportamento dela.
Ela esteve por toda esta terra, essa "Alanciar". Ela entendia como a estação
de sinal funcionava, bem como as várias armas aqui. E ela entendia
profundamente em seu peito, o que quer que estivesse fazendo com que
esses Keshiri lutassem tanto.
Sim, isso seria algo a saber.
Edell voltou-se para Peppin.
— Tenho novas ordens. — ele disse. — Ouçam, e sigam a minha
liderança...
Quarra assistiu atentamente enquanto o líder Sith falava. Não conseguia
ouvir, mas o grupo de bandidos estava ao seu redor agora, prestando
atenção. Comparado com os saqueadores mais jovens, Edell era
relativamente pequeno. Como ele conquistou a missão, quanto mais o
comando? Provavelmente, ela concluiu, através de demonstrações de
brutalidade como a do lado de fora da estação de sinalização.
No entanto, por duas vezes ouviu um deles chamando-o de "Alto
Lorde", um termo de significado muito maior nas Crônicas. Na primeira
vez, pensou que eles estavam sendo sarcásticos com o humano menor; os
Sith tinham uma maneira sarcástica de conversar com os outros. Mas vendo
a deferência que eles estavam pagando agora, não tinha tanta certeza. Um
Alto Lorde! Os Sith eram tão poucos em número que esse era o maior grupo
invasor que um de seus principais oficiais pôde reunir?
Esperava que sim, mas também se preocupava que o que vira sobre o
porto fosse apenas uma parte da força Sith. Que houvesse mais aeronaves
mais ao norte, ameaçando as fazendas férteis do Escudo Ocidental, ou pior,
passando por cima delas para as terras altas povoadas do interior. Uhrar
estava lá. Os seus colegas de trabalho e as sua família estavam seguros?
Pela primeira vez em horas, pensou em Brue, seu marido. Ele sabia
muito pouco de guerra, ou a sua preparação para o efeito. O que ele teria
dito às crianças, quando o alarme soou?
Pelo menos uma coisa não a preocupava mais: a menos que o velho
guarda de Garganta de Garrow se lembrasse de seu nome, ninguém saberia
que esteve na Ponta do Desafio. Estranho pensar que, afastando-a, os Sith
poderiam ter salvo o seu casamento!
Mas não era a única que eles tinham levado. Amarrado ao lado dela,
Jogan entrava e saía do sono. As costelas dele quase perfuraram os seus
pulmões de volta ao istmo, ela percebeu; ele teve sorte de estar vivo.
Especialmente depois de ser maltratado pelos Sith que o carregaram. Eles o
amarraram ao mastro sentado, e podia sentir a sua agonia através da Força,
e através de seus ombros se tocando. Toda vez que Infortúnio puxava a sua
âncora, Jogan fervia de dor.
Ele abriu os olhos novamente.
— Onde estou? — Ele perguntou.
— Comigo. — ela respondeu, lutando por qualquer palavra que traria
conforto nesta situação. — Nós estamos nos movendo agora.
— Não é verdade. — disse o Lorde Sith, caminhando em sua direção.
— Pelo menos não para você, Quarra Thayn. Você vem comigo.
— O quê? — Quarra se esforçou contra suas amarras e parou de
repente, lembrando que Jogan estava ligado a ela.
Edell cruzou as mãos na frente do corpo.
— Este... primeiro encontro de nossos povos não correu bem. Você não
deu as boas-vindas aos seus vizinhos.
— Isso é muito ruim!
— As reparações virão depois. Mas, enquanto isso, gostaria de saber
mais sobre você.
— Sobre mim?
— Todos vocês. Alanciar. — ele respondeu, acenando para os cumes
das montanhas visíveis no horizonte norte. — Quero ver quem tem
autoridade aqui e você me levará, Quarra. Mas nos meus termos, e na minha
programação. — Pegando um mapa enrolado de Peppin, ele caminhou até o
parapeito e gesticulou. — Há uma pequena enseada a nordeste. Oculta pelas
montanhas, e sem vigilância. Você e eu vamos remar até ela. A sua capital
militar fica a vários dias de caminhada, de acordo com isso. Infortúnio
ficará aqui até eu sinalizar das montanhas que voltei. — ele disse.
Quarra olhou para ele.
— Você é louco. Você não se parece nada com a gente. Sabemos que
você está aqui agora. Nosso pessoal o identificará em um piscar de olhos.
— Você vai pensar em algo. — Edell disse suavemente, passando o
mapa para a sua companheira. — Você deve pensar, se você quiser que o
seu precioso Jogan viva. Se eu não voltar livremente em duas semanas, ele
seguirá as colheitadeiras que jogamos no fundo do oceano.
Quarra olhou para Jogan. Ele estava caindo de novo, desaparecendo. Ela
duvidava que ele tivesse ouvido uma palavra.
— Eu não quero deixá-lo!
— Você não tem escolha.
Esticando o pescoço, ela viu Tellpah.
— Você tem o seu próprio escravo Keshiri com você. Deixe ele ser seu
animal de carga. Por que você precisa de mim?
— Não seja tola. Preciso de um guia local que conheça a região.
Trouxemos o Keshiri para espalhar a religião dele, uma religião centrada
em nós. Mas vocês nos receberam com guerra. Quero ver o que mais vocês
têm reservado.
Estudou Jogan por um longo momento antes de olhar para o humano.
— Pode haver uma maneira de esconder quem você é. — ela disse. —
Mas eu farei isso apenas com uma condição...
— Você não está em posição de negociar...
— ...com a condição de que você desate Jogan daquele mastro. Há
beliches na cabine. Deixe-o deitar. Se você continuar batendo nele, vai
matá-lo.
Edell assentiu.
— Eu posso ser razoável. Movam-no. — Imediatamente os seus
companheiros se adiantaram para desatar o casal Keshiri do mastro.
Sentindo os laços afrouxados, Jogan olhou para ela com olhos turvos. A
gratidão cruzou o seu rosto, e depois a preocupação.
— Quarra, não tenho certeza do que está acontecendo. — ele
murmurou. — Mas seja o que for, você não precisa fazer isso por mim. Eu
não valho a pena.
— Eu decido isso. — ela disse. Ela estudou os humanos novamente.
Eles não eram Keshiri, mas talvez também não fossem monstros:
igualmente capazes de duvidar e tomar más decisões. — E acho que posso
ter exatamente o que assustará esses Sith de volta para o lugar de onde eles
vieram. — Ela olhou para o norte. — Eu tenho Alanciar.
K eshtah era o domínio Sith.
percebeu, era o verdadeiro império.
Mas Alanciar, Edell

Em sua terra natal, era possível viajar em segredo em alguns lugares,


evitando as estradas principais. Ali não era. A folhagem dessas árvores ali
foram cortadas para ficar longe dos caminhos de pedra elevados, e as
trincheiras separavam os residentes dos viajantes. As estações de serviço
tinham vistas para cima e para baixo por longos trechos, observando o
tráfego em qualquer direção. Edell e Quarra haviam passado despercebidos
por uma estrada remota na montanha, no escuro da noite, mas ele duvidava
que pudessem atravessar mais campos dessa maneira. Alanciar estava
atenta.
Assobios estridentes continuavam soando sobre as colinas, parecendo
vir de todas as direções. Ele ainda não tinha se acostumado a eles. Os gritos
vinham de todas as áreas povoadas, mais alto do que qualquer coisa que ele
já ouvira. Quarra havia explicado que eram como sirenes de aviso, geradas
pela passagem de vapor através de tubos de vidro colossais. Toda vila
parecia ter uma. Era a quarta manhã desde a chegada da flotilha Sith, e os
alarmes ainda soavam.
Atentos.
Edell viu outro ponto de parada adiante e puxou mais o capuz de
marinheiro sobre o seu rosto. A sua aparência continuou a preocupá-lo. O
uniforme de Alanciar de Jogan, era muito grande para ele, e Edell
considerou vestir as roupas dos marinheiros. Mas Quarra havia lhe dado o
casaco em vez disso, junto com um par de óculos sombreados que
encontrara a bordo do navio para esconder os seus olhos. Isso, e um pouco
de trabalho em seu rosto, seria tudo o que era necessário para esconder a
sua identidade, ela tinha dito. Edell não podia imaginar como isso poderia
ser possível.
E, no entanto, funcionara até agora. Eles não encontraram ninguém no
primeiro dia e noite de viagem, atravessando as montanhas arborizadas ao
norte da Enseada de Meori. Mas desde que começaram na estrada no
segundo dia, eles viram muitos Keshiri, principalmente soldados, indo para
o oeste. Todos os pararam e todo intercâmbio tinha sido no mesmo
caminho. Agora, na encruzilhada, estava acontecendo de novo.
— O que você tem aqui? — o sentinela armado perguntou, olhando para
Edell.
— Um dos artistas de Kerebba. — respondeu Quarra, exibindo os
papéis de identificação dela.
— Esta noite? Sim, acho que eles não gostariam de quebrar a tradição.
Especialmente agora! — O sentinela voltou para a guarita e acenou com a
cabeça para Edell. — Ele é bom, ele é. Siga em frente.
Embolsando os documentos, Quarra voltou para a estrada que levava ao
norte.
— Vamos lá. — ela rosnou de volta para Edell.
O Alto Lorde espezinhou atrás dela.
— Do que ele estava falando? Por que eles continuam me deixando
passar?
— Você vai ver.
Agarrou o colete dela e a puxou para encará-lo.
— Você não está em posição de ser engraçadinha comigo, Keshiri!
— E você não está em um lugar onde possa me pressionar. — ela disse.
Atrás, o guarda da estação do caminho olhou para eles. Havia outras
pessoas lá dentro, e uma torre de sinalização com pessoal estava à vista,
fora da estrada. — Eu grito 'Sith' e você está morto. — disse ela friamente.
— E provavelmente será dissecado.
Por trás dos óculos, os olhos dourados de Edell se arregalaram. De má
vontade, ele a soltou e continuou a segui-la pela estrada. Havia mais na
mulher do que pensara.
Teve mais certeza disso uma hora depois, após um longo período de
silêncio. Ela não era apenas severa por ser sua guia relutante, ele percebeu.
Quando estimulada, ela respondeu.
— Estou preocupada com a minha família. — Ela olhou para ele
secamente. — Você sabe o que é isso, né?
— Sua família. — Edell respondeu. — Você tem filhos?
— Depende. Você não os come, né?
Os olhos de Edell se estreitaram.
— Os seus filhos não estavam na estação de sinalização. Você os
mandou embora?
Quarra simplesmente olhou para ele.
As peças se encaixaram para Edell.
— Ah, entendo. Você tem um marido... mas não era aquele espécime
roxo robusto. — Ele riu. — Parece que não sou a única coisa que você tem
a esconder.
Ela virou o rosto para longe dele e continuou andando.
— Eu não acho que tenho que ser julgada por um Sith.
— Ah, eu não estou te julgando. — Edell disse, um brilho nos olhos
dourados. — A menos que seja para dizer que você tem mais em comum
com os Sith do que pensa.
O canal tinha duas faixas de tráfego, com um caminho branco no centro,
por onde seguiam os animais de tração.
— Grande. — Edell disse. — Quase um rio.
— Já foi uma vez. Fizemos melhorias.
Edell observou como barcos pequenos e barcaças subiam e desciam
pelos canais, gritando para as equipes dos animais, as quais Quarra
chamava de muntoks.
— Como os barcos podem ir tão rápido? — Perguntou. Ele estudou a
ideia de desenvolver um sistema de canal similar para cargas em casa, para
coincidir com os reparos nos aquedutos elevados, mas finalmente desistiu.
O tráfego rápido causava ondas que danificavam o revestimento das
paredes.
— Olhe mais de perto.
Ajoelhando-se, Edell sentiu a margem lisa do canal.
— Concreto! — Os Keshiri de sua terra conheciam o composto;
cimento, agregado e água eram abundantes; mas raramente o usavam,
preferindo trabalhar com lajes de rocha polida. Eles o mantinham fora de
vista quando o usavam. Mas os Keshiri de Alanciar pareciam ter alinhado
todo o seu sistema fluvial com ele. — Isso deve ter levado séculos!
— Tivemos tempo.
Edell atravessou a ponte com ela, tolerando primeiro mais uma conversa
intrigante com um sentinela. O Alto Lorde ainda não fazia ideia do que eles
estavam falando, mas não sentiu nenhum engano por parte de Quarra. Edell
a instruiu a levá-lo à sede do governo, e ela parecia estar cumprindo. A
maior parte do continente ficava a nordeste, e eles estavam ziguezagueando
naquela direção por horas. Ela também estava se tornando mais livre com
detalhes sobre o mundo dela, talvez pensando que as vistas estavam
causando uma impressão nele.
Teve o cuidado de não dar a ela motivos para pensar isso; afinal, o seu
povo veio das estrelas. E, embora anos de estudo da Presságio não o
aproximassem de ser capaz de reproduzir uma única coisa dentro daquela
nave antiga, nada sobre as rodas d'água, fortalezas de tijolos ou rios
pavimentados escapava do seu entendimento. O fato deles existirem ali, no
entanto, o intrigava. Era difícil acreditar que as pessoas que os criaram eram
da mesma espécie que os Keshiri que conhecia. O que os fez assim?
— Já chegamos. — Quarra disse. — Kerebba. Até onde vamos hoje.
Kerebba era a maior cidade que já tinha visto, monótona e pouco
convidativa. O concreto não era apenas para canais; os Alanciari viviam em
blocos pouco inspirados nisso. Quando o sol desapareceu no horizonte
cinzento, uma escuridão deprimente inundou as ruas. E sempre havia aquele
apito soando... ali, mais alto do que nunca.
— Não quero passar a noite em uma área povoada. — ele disse,
erguendo a voz quando se aproximaram da praça da cidade.
— Não podemos ir mais longe. As estradas estarão fechadas.
— Elas não estavam fechadas ontem à noite! Do que você está
falando...
Edell parou de espanto. Olhou para os canos em um telhado próximo.
Os assobios pararam. Preocupado, tentou puxar Quarra para mais perto,
apenas para ser empurrado por Keshiri, jovens e velhos, saindo pelas ruas.
A maioria estava de uniforme, como aqueles que conheceu ao longo do
caminho, mas não todos. Alguns, viu, estavam vestidos de forma
relativamente festiva, em cores vivas. Mais Keshiri entraram na avenida,
conversando e rindo. Por um segundo, pensou ter visto um humano...
— Aqui está um! — Quarra gritou, puxando o capuz de Edell. O Alto
Lorde ficou atordoado quando os Keshiri ao seu redor ficaram
boquiabertos. A mão dele buscou dentro da capa, onde o sabre de luz estava
preso à túnica. Mas assim que ele pegou a arma, a multidão riu.
Eles riram. Dando uma volta, os locais piaram e gritaram, apontando
para o rosto exposto do recém-chegado, mais pálido e rosado do que
qualquer outro Keshiri. Sob os óculos, Quarra tinha aplicado um pouco de
tinta no rosto para Edell em faixas negras e raivosas, dando-lhe uma
aparência ameaçadora. Agora ela rasgou a parte de trás da jaqueta,
puxando-a para baixo e expondo o traje dele, e a arma apagada.
— Ele é ótimo! — Gritou um espectador. — Olhe para a cor dele!
— Ele até tem até um sabre de luz!
Gritos de alegria surgiram da multidão, gritos que logo se
transformaram em zombarias, às suas custas. E não apenas ele agora.
Aturdido, Edell olhou para ver outros Keshiri dançando pelas ruas, vestidos
de preto com os rostos pintados em uma variedade de tons não roxos.
A multidão foi à loucura.
— Os Sith! Os Sith!
Os mascarados fugiram para a praça escura, onde um grande palco
havia sido montado. Empurrado junto com a multidão, Edell não teve
escolha a não ser segui-los e ficou cego quando a luz brilhou de cima. Em
tripés poderosos, globos colossais queimavam intensamente, alguma
substância luminescente dentro deles espelhava e ampliava uma dúzia de
vezes. De uma vez, toda a Kerebba pôde ser vista. E todos, ao que parecia,
estavam vindo para cá.
As luzes, Edell pensou, olhando para cima. Korsin viu um continente
iluminado.
Olhou para os lados, de repente percebendo que tinha sido separado de
Quarra. Não, lá estava ela, voltando a ele e sorrindo presunçosamente. À
frente, os foliões estavam subindo no estrado, preparando algum tipo de
produção.
— Então é por isso que eles me chamaram de artista. — Ele olhou para
ela. — Eu não vou lá em cima.
— Você não precisa. — ela disse, gesticulando. Também havia “Sith”
na plateia, rosnando para os foliões e recebendo vaias de crianças
uniformizadas animadas. — Seja você mesmo, desagradável.
Edell viu os Keshiri erguerem adereços no palco. Rochas. Ondas
pintadas. Um grande veleiro. Dois Keshiri se juntaram em um traje de uvak.
— Vocês pensaram que estavam sob cerco. — ele disse. — E estão
parando para uma peça?
— Aqui e em todas as cidades de Alanciar. É o Dia da Observância.
Eles não iam cancelar por causa da sua invasão. — Ela parecia inchar de
orgulho enquanto falava. — Especialmente não por causa disso.
— Eu não penso muito nisso. — ele disse. Os Keshiri em sua terra
usavam pantomimas luxuosas, vestiam roupas ricas e se apresentavam em
salões de mármore. Os patronos raramente estavam em escassez, pois o
teatro sempre foi uma propaganda útil para uns Sith ou outros. As trupes da
cidade capital mantiveram os seus padrões mesmo quando a civilização ao
seu redor declinou, interrompendo a produção apenas durante os tumultos
um quarto de século antes. Elas também foram parte importante da
restauração da ordem civil, divulgando o que Hilts havia descoberto no
templo da montanha. Mas esse teatro ao ar livre parecia amador, as roupas
nem um pouco "adequadas para Tahv".
Estava prestes a dizer isso quando, no palco, o adereço de navio
subitamente se lançou em uma tempestade de mentira. A rocha falsa subiu
para barrar o seu caminho, e uma mulher Keshiri apareceu por trás dele. A
plateia aplaudiu a chegada dela. Vestida com armadura de couro, ela
segurava no alto um bastão de vidro brilhante com um globo brilhante no
topo, uma versão em miniatura das luzes que iluminavam a praça. O navio
agitado parou de repente e caiu no palco, revelando atores vestidos como os
marinheiros que Edell tinha visto. Vendo o pessoal dela, eles se encolheram.
Um silêncio caiu sobre a multidão.
— Eu sou Adari Vaal... e eu sou o Rochedo de Kesh!
— Adari! — Edell não pôde deixar de deixar escapar o nome,
percebendo enquanto isso que os olhos estavam voltados em sua direção.
Ele congelou. Quarra olhou urgentemente para ele. Edell se esquivou e a
atenção se voltou para o palco. Ele se perguntou se tinha ouvido direito.
No palco, ele recebeu a sua resposta.
— Eu sou Adari, o Rochedo e a Anunciadora. A Salvadora e a Filha
Perdida. Aliada da Tuash Brilhante, lendária portadora alada da
misericórdia. — disse a atriz Adari. — Rechaçada de longe, eu me levantei
do oceano para trazer notícias de medo e admiração. Eu sou a Rocha que se
ergueu do mar e vou lhes contar sobre o dilúvio que virá!
Edell ficou boquiaberto. Adari Vaal. Confidente de Yaru Korsin, ou
brinquedo, dependendo do conto em que você acredita. A mulher que
tentou uma insurreição Keshiri... e fugiu para uma morte aquática. Ele
olhou ao redor. Os Keshiri aqui pareciam já ter ouvido o discurso antes.
Alguns estavam declamando enquanto a atriz falava.
— Existem inimigos além do seu conhecimento, povo de Alanciar.
Vocês não podem vê-los, pois eles estão além da vela do seu navio mais
distante. Vocês não podem ouvi-los, embora eles possam falar suas
maldades em sussurros perigosos para serem ouvidos no ar.
Edell resmungou no ouvido de Quarra.
— Isso é conversa formal. Ela deveria expressar o seu significado
claramente.
— É uma cerimônia. — ela sussurrou. — Fazemos isso a cada dez anos.
— Dez anos foram a duração da resistência secreta de Adari contra a Tribo,
disse Quarra, e, no palco, a oradora falava daquela Tribo e de seu mal. Os
personagens Sith surgiram no palco, por trás da mesma rocha. A plateia
assobiou e gemeu.
Adari levantou a sua equipe para o céu.
— Sim, os Sith são os Destruidores preditos, mas não temam! Pois eu vi
o seu Alanciar, e ele é superior a Keshtah, em todos os presentes da
natureza. — Ela caminhou pelo perímetro do palco, apontando para fora. —
Superior na produção de suas florestas, madeiras finas e fortes para
embarcações à vela. As selvas de Keshtah produzem poucas que suportem
peso. Superior nas criaturas do campo, o poderoso shumshur, o veloz
muntok. Além do uvak, Keshtah não tem criaturas que suportem o jugo.
— Nós comemos todas elas. — interrompeu um bobo da corte Sith no
palco, ganhando risadas. Jogando os braços diante de si para simular uma
barriga enorme, ele cambaleou em torno de vaias e gritos depreciativos.
— Tolos, tolos!
Adari sorriu.
— Sim, isso também, Alanciar é supremo na inteligência de seu povo.
Com caldo de chama e espelhos, vocês criaram os globos de fogo para
manter os seus caminhos e as casas iluminadas. Os seus canais fornecem
transporte. A indústria abrange a todos em Alanciar!
Edell olhou através dos ouvintes enquanto a recitação dos sucessos
continuava. Até aquele momento, ele tinha se endurecido contra as visões
de Alanciar; suspeitava-se há muito tempo que o local era mais avançado.
Mas agora, cercado pelo inimigo, sentia um grande desconforto. Cresceu
em uma Tribo que tinha perdido o seu caminho. Nada tinha sido certo. Foi o
que o atraiu para a arquitetura e engenharia quando adolescente: elas tinham
regras, imutáveis e inquestionáveis.
Sim, a Restauração havia reparado grande parte do dano, dando aos Sith
algo em que acreditar novamente, mas os Keshiri de Alanciar nunca
deixaram de acreditar, desde que Adari Vaal os visitou dois mil anos antes.
Olhando os rostos à sua frente, Edell viu certeza.
Por que eu não nasci aqui?
— Vou lhes ensinar a língua dos maus. Vocês a falarão como a sua
língua nativa, para conhecê-los quando eles chegarem. E lhes dou outro
presente. — Disse a oradora, abaixando o cajado brilhante na direção dos
marinheiros Keshiri. — O diferencial dos Sith é um poder conhecido como
Força. É um poder que alguns de vocês já têm, dentro de vocês! — Quando
o globo de fogo tocou o primeiro marinheiro, ele arrancou a sua roupa
exterior para revelar uma roupa branca acetinada, brilhante como ouro. —
Eu não tenho o poder. Mas vocês podem ter, e agora, sabem procurá-lo.
Vocês são os Protetores de Kesh!
Ela sorriu graciosamente e olhou para a plateia.
— E vocês também. Vocês travaram a primeira batalha. — Ela disse,
acrescentando algo novo ao óbvio deleite dos ouvintes. — Vocês ganharam.
E ganharão novamente. Declaro este dia um Dia da Observância. Vocês
sempre estarão atentos. E um dia vocês triunfarão para sempre!
A plateia rugiu em auto congratulações. Edell assistiu em silêncio
atordoado quando Quarra comemorou alto e aplaudiu.
Um homem idoso subiu ao palco. Identificando-se como prefeito de
Kerebba, ele apoiou a chamada para vigilância.
— Todos nós já vimos esse drama antes. Mas este é um momento
especial de todos os tempos, pois o inimigo chegou. Esta noite nossas forças
estão vasculhando as penínsulas em busca de qualquer vestígio dos
atacantes. Eles virão novamente, para ter certeza. O Gabinete de Guerra
enviou as forças antiaéreas para o oeste. Se eles vierem novamente no
mesmo número ou mais, eles morrerão. Morrerão como os Sith devem
morrer!
A multidão explodiu em gritos, mas mais organizada do que antes.
Punhos bombearam no ar em uníssono.
Morram como Sith! Morram como Sith!
Foi demais. Edell agarrou o braço de Quarra e saiu da multidão.
Consciente, colocou o casaco e o capuz novamente. Queria pular no palco e
matar os vaidosos tagarelas.
Podia ter feito isso. Outros teriam feito. Por que não o fez?
Lutou para controlar a sua raiva. Não era a hora, e uma pequena cidade-
depósito não era o lugar. Se o que acabara de ver realmente estava
acontecendo em todos os lugares, a força de invasão de Bentado estava em
perigo.
E talvez até a própria Tribo?
— Vamos continuar amanhã assim que as estradas abrirem. — Edell
disse a Quarra nas sombras. — Quero ver esse 'Gabinete de Guerra', e
aprender exatamente o que aquela traidora Keshiri lhes contou sobre todos
nós!
Q
uarra acordou com a chuva batendo em seu
rosto.
Os seus olhos se abriram para ver o sol de Kesh espreitando através de um
dossel verde luxuriante, bem acima. Pingos de chuva quentes atingiram as
suas bochechas.
— Estação chuvosa na selva. — disse uma voz feminina profunda por
trás. — Mesmo quando a chuva para, ela fica nas árvores. Você não
deveria ficar aqui fora assim, não sem um chapéu.
Quarra secou os olhos e piscou. Alanciar não tinha selvas há séculos.
Obviamente, não era onde tinha ido dormir. Mas onde estava?
Sentou-se na lama. Atrás dela, uma mulher humana com um chapéu de
palha trabalhava no solo, transferindo flores de vasos de barro. Ela era
bronzeada e mais nova que Edell, e tinha cabelos ruivos curtos.
— Temos que replantar as dalsas enquanto o solo ainda está molhado.
— ela disse, sem tirar os olhos do trabalho. — Quarra, né? Você realmente
deveria pensar em colocar um chapéu. Também vale a pena manter o
cabelo curto aqui. Os aracnorídeos são hediondos aqui.
Quarra ficou tensa ao ouvir o seu nome.
— Os Sith... me trouxeram aqui. Você é um deles.
A humana riu.
— Eu não costumava conversar com os Keshiri. — ela disse. — Você
tem sorte. Eu amadureci desde que nos mudamos para cá.
Adiante, em uma clareira nas árvores, Quarra viu outro humano
trabalhando um pequeno lote com uma enxada. À luz manchada, quase
pensou estar olhando para Jogan: musculoso, sereno. Mas ainda
alienígena.
— Vocês dois são Sith. — ela disse.
— Não somos nada. — respondeu a fêmea, levantando-se do canteiro
para encarar a Keshiri. — Nós não somos nada quando somos... ou quando
você é. Sou Orielle... me chame de Ori. E ele é o Jelph.
Com as palavras, os raios do sol refletiram na névoa. O mundo ficou
agitado por um momento.
— Isso não é real. — Quarra disse. — Estou tendo uma visão da Força.
Ou um sonho.
— Nunca pensei que houvesse muita diferença. — Ori disse.
— Você mora na selva?
— Sim. Ou morava. O tempo passa de maneira diferente nas selvas e
nos sonhos.
Quarra olhou para baixo e viu uma criança humana atravessando as
poças. Antes que ela pudesse chegar ao jardim, Ori colocou a criança no
quadril. Quarra ouviu outras vozes jovens vindo de uma cabana.
— Você tem filhos.
— Três. Como você.
— Certo. — Tinha que ser um sonho, Quarra sabia; nenhum dos Sith
sabia detalhes de sua família. Viu Ori entregar a criança aos irmãos mais
velhos: enlameados, mas felizes. Uma vida inteira estava ali na clareira da
selva. Pequena... mas aparentemente repleta.
— Eu já tive responsabilidades como você, antes. — Ori disse,
espontaneamente. — Eu desisti delas por amor.
— Amor? Um Sith? — Quarra se conteve. — Desculpe, você disse que
não era...
— Eu disse que não era Sith agora. Mas acho que também não era uma
boa Sith antes.
— Existe um bom Sith?
— Alguns são mais fáceis de conviver do que outros... mas se assim for,
provavelmente eles também não são muito bons em serem Sith. — Ori riu.
— E não, o amor não é a única razão pela qual eu vim parar aqui. Eu tinha
responsabilidade e uma posição... como você. Eu vi para onde elas estavam
me levando. E não gostei.
Quarra olhou para as escassas acomodações.
— Isto é o que você escolheu.
— É assim que se esconde. — respondeu Ori. Ela olhou para as
crianças brincando e respirou fundo. — O problema é que o mundo já
estava ficando sem lugares para se esconder no meu tempo. Não sei se há
muito futuro nisso.
Os ombros de Quarra caíram enquanto ouvia. Com as crianças e os
sons da selva, era um lugar barulhento... mas sentia paz ali, algo pelo qual
tanto ansiava em Uhrar.
— Eu queria viver à parte. — ela disse, quase para si mesma. — Estou
tão cansada. Olhei em volta e tudo que eu podia ver eram coisas que eu já
tinha feito. Até meus filhos... eu já sabia como seriam as suas vidas antes
deles viverem. — Quarra fez uma pausa. — Acho que foi por isso que criei
algo diferente pra mim. Pra me dar um sonho pra seguir. Tenho certeza de
que isso soa mal...
— Ah, você pode seguir um sonho. — Ori disse, olhando de volta para o
marido. O fazendeiro olhou brevemente e sorriu de volta para as duas antes
de voltar ao trabalho. — Você pode seguir um sonho e pode construir seu
mundo inteiro em torno dele. — Ela olhou de volta para a Keshiri. — Você
pode viver em um sonho por muito tempo. Mas eventualmente...
— ... eventualmente, o mundo vai encontrar você. — sussurrou Quarra.
Abriu os olhos.
Eles tinham dormido em um bueiro seco, ao lado da estação do canal
Kerebba. Não adiantou tentar convencer Edell a ficar com ela em um dos
quartéis aos quais o seu cargo oficial a autorizava. Desde a peça do Dia da
Observância, ele tinha ficado tenso como uma balista pronta para atirar.
Não sabia dizer se isso era uma coisa boa ou não, pois tinha visto do que
ele era capaz. Mas o fato dele estar tão tenso agora significava alguma
coisa. Estava certa: Alanciar tinha sido a sua maior arma contra ele. Quanto
mais ao norte Quarra guiava o Sith, mais confiante ela ficava. Ficou cada
vez mais claro que o grupo dele era o único que havia desembarcado, e, ao
passarem por mais centros industriais, podia vê-lo imaginando as armas
sendo construídas lá.
Isso não o impediu de continuar fingindo indiferença, ela viu.
— Outra vila feia. — ele disse quando saíram de Minrath.
— Você não me engana, Sith. Eu posso sentir. — Quarra disse. — Você
está impressionado.
Edell olhou diretamente para ela.
— Admito que os seus Keshiri aqui são mais adequados para a
elaboração de implementos práticos do que os nossos.
— Seus Keshiri?
— Claro. Quem mais os possui?
Quarra soltou um suspiro exasperado.
— Keshtah é um continente suave e bonito. — ele disse. — Talvez
tenha sido isso que voltou seus nativos para a arte. Sim, eles fizeram
aquedutos, mas eles os tornaram lindos. — Ele apontou para um canal
cruzando à frente. — Se eles pensassem em funcionalidade como o seu
pessoal, nossos aquedutos teriam durado mais tempo.
— Eles não existem mais?
— Não, nós os consertamos. Mas se o seu pessoal os tivesse projetado,
nunca teríamos tido problemas. — Ele desviou o olhar, como se pesasse as
próximas palavras. — Eu acho. — ele disse, finalmente. — que a Presságio
aterrissou no lugar errado.
Quarra balançou a cabeça.
— Você não ouviu nada em Kerebba, ouviu? Vocês são a razão pela
qual Alanciar é do jeito que é. Vocês Sith, e a ameaça de vocês. Por dois mil
anos, estamos nos preparando para a sua vinda. — Ela olhou de volta para a
paisagem urbana cinza e lamentou. — Você não nos entende. Vocês nos
fizeram assim.
Edell sorriu.
— E se você acha que vamos nos arrepender, então você não nos
entende.
Ao meio-dia, eles chegaram ao país mais bonito do Escudo Ocidental.
As coisas estavam mais espalhadas nessa protuberância do Shank, com
fazendas estatais espalhadas pelas vias navegáveis e carrinhos de feno
movidos a muntok roncando pelas estradas. As terras que outrora subiram
suavemente para o leste, até o platô que formava a maior parte do
continente, haviam sido remodeladas há muito tempo em terraços
organizados. Mas a colheita estava próxima e a visão de tantos verdes e
dourados tornava fácil ver as fortalezas altas entre os campos.
Os olhos de Quarra traçaram uma linha de estações de sinalização
piscando, entregando notícias do litoral para a capital militar em Sus'mintri,
empoleirada na extremidade oeste do platô. A ascensão era apenas visível
nas nuvens a leste: uma nobre muralha natural, protegendo as entranhas de
Alanciar. Sentia-se mal pelos sinalizadores e arautos do pensamento ali. A
vida de Jogan pode não ter sido cheia de emoção, ela pensou, mas pelo
menos ele tinha mais a olhar do que campos de trigo.
Desde o seu sonho, pensamentos sobre Jogan a perturbavam. A torre
dele não era um refúgio na selva, ela sabia, e tinha começado a questionar
todo o relacionamento deles. Ele era o isolado, sem nada para fazer na
maioria dos dias, mas sempre foi quem escreveu para ele. Era sem dúvida a
mais ocupada dos dois, e, no entanto, toda vez que as conversas terminavam
devido a alguma tarefa dela, sempre era Quarra quem iniciava a conversa
seguinte.
Imaginou que, como tinha muito o que fazer, estava simplesmente
adiando sua agenda. Mas talvez ele simplesmente não se importasse tanto.
O que fazia ele se preocupar? E que bem uma mulher poderosa faria na
vida de um guarda inveterado de torre de vigia, afinal? Ela começou a se
perguntar.
— A sentinela está em seus pensamentos novamente. — Edell disse. —
Você tem dificuldade para esconder. — Ele cheirou o ar. — Eu nunca me
casei, é claro.
— É um choque. — ela disse. — Quem poderia viver com um Sith?
Estou surpresa que ainda haja humanos em Kesh.
Edell riu, num som sombrio que a assustou.
— Eu me pergunto isso também! Costumo preferir construir coisas à
companhia de outras pessoas.
Talvez seja assim que ele se tornou Alto Lorde, ela pensou. Ele é um
recluso. Talvez ninguém que saia de casa chegue aos cinquenta por lá.
Graças sociais à parte, não pôde deixar de ficar impressionada com a
motivação dele, mesmo que fosse para um fim ruim. Perguntou-se depois da
peça porque ele simplesmente não voltou para o Infortúnio e partiu com o
que havia aprendido. Evidentemente, ele não achava que isso seria
suficiente para impedi-lo de perder a cabeça depois de ser abatido. Era fácil
imaginar que ele tinha rivais; as Crônicas descreviam sete Alto Lordes. A
sua posição estaria em risco se ele trouxesse de volta apenas informações de
inteligência?
— Eu tenho que fazer alguma coisa. — ele disse repetidamente. Mas o
que ele poderia fazer?
Possivelmente um pouco. A Força fluía em torno de Edell e os seus
companheiros humanos de uma maneira que não ocorria com ninguém que
ela já conhecera em Alanciar. Os Alanciari tinham instrutores no uso da
Força, como em todo o resto, mas na raiz havia um entendimento
superficial, na melhor das hipóteses; exatamente o que Adari Vaal foi capaz
de descrever observando os talentos dos Sith. Mas Edell vinha de uma
longa tradição de uso da Força. Que poderes secretos ele conhecia?
Vários, decidiu. O fato de eles terem chegado tão longe não era devido à
sua capacidade de blefar. Edell estava fazendo alguma coisa,
sorrateiramente escondendo a razão daqueles que lançavam os olhos em sua
direção. Viu-o como ele era. Os outros, literalmente viam Edell como ele
queria ser visto, incapazes de concentrar muita atenção nele, sem se distrair
com outra coisa.
Isso seria útil pra aprender, pensou. Mas o que quer que ele estivesse
fazendo não seria suficiente para esconder a sua aparência depois de hoje. O
Dia da Observância terminou, e um ator viajante ainda vestido como Sith
não passaria despercebido. Apontou pra frente.
— Assim que chegarmos ao cruzamento, encontraremos um barco de
carga para subir o canal. Aproveite o ar enquanto pode, pois você irá com
os caixotes.
— Quanto tempo isso vai levar?
— É a linha mais reta para Sus'mintri. Deve ser apenas um dia ou dois.
— ela respondeu.
— Um dia!
— Você tem sorte de estar tão perto. O Gabinete de Guerra costumava
se reunir no interior, antes da construção do Salão Vaal. Eles me chamavam
para reuniões e levava uma eternidade para chegar lá. Agora são apenas
alguns dias de viagem de Uhrar. Mas não se preocupe. Haverá tempo de
sobra para voltar para o Infortúnio... e para que você cumpra sua parte no
acordo.
Ele olhou para um dos botes, deslizando rapidamente pelo canal sem a
ajuda de uma equipe muntok.
— Eles não parecem confortáveis por dentro. — ele disse. —
Certamente você pode fazer melhor.
Quarra revirou os olhos.
— Nós não vamos encontrar uma cabine de luxo para você! Se quisesse
seguir por conta própria, deveria ter voado mais alto com suas aeronaves e
não levado um tiro...
Skreeeet!
O som estava de volta e por toda parte: o alarme apitou, vindo das torres
nos campos subindo a encosta. Quarra apontou para as estações de
sinalização, os globos de fogo piscando sem parar. O vocabulário das cores
era mais limitado durante o dia, mas ela podia ver na torre mais próxima a
mesma mensagem que Jogan havia enviado ao continente. Os Sith estão de
volta!
Agarrando o antebraço dela com uma mão, Edell arrancou os óculos
com a outra. Com urgência, ele examinou o horizonte baixo a noroeste.
— Eles estão daquele lado. — ele disse.
— Eu sei. — ela respondeu. O desconforto que experimentara no
campanário da estação estava dez vezes maior. E agora os arautos do
pensamento também estavam gritando avisos. A noite da chegada de Edell
antes tinha sido apenas um borrifo. Agora uma tempestade estava chegando.
E, surpreendentemente, o Alto Lorde parecia ainda menos feliz com isso
do que ela.
— Muito cedo! Muito cedo! — Ele acenou com os braços para o céu.
— Muito cedo!
E les pareciam manchas de alcatrão no céu pastel, bolhas
do mal mil metros acima do solo. Uma divisa sinistra de aeronaves, ambas
terminando além do horizonte, e outro grupo mais atrás, mais alto ainda. As
naves eram maiores que os ágeis batedores de Edell, com o dobro do
número de uvak em cativeiro os levando adiante. Desenhos pintados
transformavam os balões em bestas, zombando das fazendas. E os monstros
tinham dentes embaixo: cada uma das poderosas gôndolas com estrutura de
madeira de vosso tinha uma ponta em lança na frente.
A Frota de Ébano de Bentado.
— Eles chegaram muito cedo. — repetiu Edell. A maior parte da força
estava quase pronta quando partiu em sua viagem, mas esperava que eles
esperassem o seu retorno. O seu próprio transporte aéreo levou três dias;
para estar ali agora, Edell percebeu que Bentado deve ter saído quase
imediatamente após receber a mensagem de sucesso da Taymor.
Tolo impulsivo! Por que o Grande Lorde Hilts permitiria isso? Edell já
sabia a resposta: Iliana ficaria feliz em ver Bentado partir. Mas a política
não importava agora, não quando as naves já haviam atravessado a costa e
estavam descendo. Eles simplesmente voaram sobre as baterias de balista
da costa. Desesperadamente, Edell procurou algo para escalar. As fortalezas
dos campos eram a única defesa restante?
Recebeu a sua resposta quando um dos balões floresceu intensamente e
depois outro. Não conseguia entender o que estavam atirando nas
aeronaves, mas as bolas de fogo eram familiares o suficiente. Trovões
rolaram pela terra na direção deles, e um nevoeiro se desenvolveu por todo
o horizonte ocidental.
— Droga!
— Quantos são? — Quarra perguntou.
Levantou uma sobrancelha.
— Você é o inimigo. Eu não vou lhe contar...
— Não é sobre a guerra. — ela disse, segurando a gabardina dele. — É
sobre minha família! Uhrar fica a apenas alguns dias para o interior. Essas
coisas podem estar lá em horas!
Antes que pudesse responder, um carrinho de feno acionado por muntok
passou por eles. Parou perto da ponte do canal, onde descarregou vários
soldados Keshiri. Enquanto um separava o carrinho da equipe, outros dois
rasgavam a cobertura do feno. Eles dobraram as paredes de madeira do
veículo, revelando uma versão em tamanho grande da arma que Quarra
usara contra ele anteriormente.
Edell ficou congelado. Pensou que era apenas neblina, no oeste.
Olhando mais de perto, viu chover acima: dardos flamejantes e cacos de
vidro disparavam para o céu de unidades móveis camufladas semelhantes,
escondidas por todos os campos. Perto, o muntok chiou de surpresa quando
a equipe da balista disparou sua arma com um estalo doloroso.
— Depressa! — Quarra gritou, correndo em direção à estação do canal.
A torre de sinalização em cima estava em chamas com luz e cor,
comunicando os relatórios dos observadores de cima abaixo da linha.
Disposto a mover as pernas, Edell a seguiu. Houve mais explosões, com
brilhos além dos horizontes norte e sul.
— Maldito seja! — Edell cuspiu no chão. — Muito cedo!
— O que você quer dizer?
— Quero dizer Bentado. — ele respondeu. — Outro Alto Lorde. Ele
não deveria se lançar até eu voltar! Então ele saberia sobre as suas armas de
fogo e tudo mais!
Amaldiçoou-se também. Temia que Bentado tentasse algum tipo de
ataque nas próximas semanas; foi por isso que Edell ficou esperando para
aprender o suficiente para impedir outra derrota. Mas Bentado havia se
deslocado imediatamente, e pior, ele havia enviado a maioria das aeronaves
prontas: um desastre além do juízo final. Por trás da casa do canal, viu um
trio de aeronaves poderosas ainda a alguns quilômetros de distância. Elas
estavam perdendo altitude rapidamente, com os seus invólucros perfurados.
Uma explodiu em chamas; outra perdeu toda a sua sustentação de uma só
vez e tombou, enviando os seus habitantes gritando para os campos abaixo.
A fortaleza através dos campos a noroeste se abriu, catapultando uma
nuvem brilhante para os restos mortais da terceira aeronave. Diamantes de
novo! Os destroços bateram no campo, onde os lançadores os atacaram sem
piedade. Edell ficou boquiaberto. Uma calamidade de proporções históricas
estava em andamento e, se ele não era o engenheiro, era a testemunha dela.
Pelo menos nada havia chegado perto demais...
— Cuidado!
O tiro de balista do carrinho passou rápido, quase atingindo a estação de
sinalização. Um segundo depois, algo aconteceu. Um dirigível passou,
cortando a torre. Deformada, a sua gôndola despencou em direção ao canal.
Livre do peso, o balão desfiado caiu e ricocheteou pelos campos a leste.
Sem aviso, Quarra saiu do lado dele, disparando para o norte através da
ponte do canal. Gritando o nome dela, Edell seguiu em uma debandada.
Separados de seus jugos do barco de canal, os muntoks dispararam ao longo
do caminho elevado, derrubando o Alto Lorde dentro no canal.
Edell esmurrou a água salobra e gritou de novo.
— Quarra!
Escalou as paredes escorregadias e subiu correndo os degraus até uma
plataforma de carga do lado do canal. O céu claro se foi agora, substituído
pela fumaça de ébano. Em todos os lugares, através das terras agrícolas
varrendo o oceano, os restos de aeronaves brilhavam em montões no chão,
com ainda mais pilares raivosos surgindo além do horizonte. E havia figuras
no chão perto de algumas das naves caídas. Algumas imóveis; outras
correndo, com brilhantes sabres de luz na mão.
No ataque ou sob ataque? Não podia ver, mas podia sentir a mesma
emoção de ambos os lados através da Força. Puro pandemônio. A derrota
começou!
— Morram, Sith!
O pescoço de Edell girou com a voz familiar, mas a ameaça não era para
ele. A alguns metros da berma de concreto na margem norte, um guerreiro
Sith de traje preto lutava contra um inimigo invisível. Sem reconhecer o
homem, Edell saltou da plataforma. Iluminado atrás do guerreiro, Edell viu
o inimigo do homem: Quarra! De pé sobre o corpo de um Keshiri caído,
Quarra disparou repetidamente a balista de mão de repetição do soldado
contra o invasor Sith. O guerreiro aparou os projéteis facilmente com o
sabre de luz.
— Tyro! — Edell gritou, tirando o capuz. — Por aqui!
Quarra parou de atirar. Ela olhou o para, assustada, mas o guerreiro Sith
ficou mais surpreso.
— Alto Lorde Vrai!
— Certo. — disse Edell, falando alto para ser ouvido sobre o barulho ao
redor. Deu um passo em direção ao par. — O que você está fazendo aqui?
Todos vocês deveriam aguardar o meu retorno, quando o resto da frota
estivesse terminada!
— Lorde Bentado ordenou...
Antes que pudesse terminar, o jovem guerreiro espiou Quarra erguendo
a arma e se lançou, cortando o dispositivo de madeira. Girou para outro
golpe... e Edell e Quarra atacaram com a Força, lançando o guerreiro
atônito e seu sabre de luz separadamente no campo próximo.
Edell se virou para ela, segurando os restos da arma dividida.
— O que você está fazendo atirando nele?
— O meu trabalho. — ela gritou, ajoelhando-se para embalar o Keshiri
caído cuja arma havia pego. O guerreiro de pele de lavanda não passava de
um jovem, Edell viu. — Fiz um acordo com você, Lorde Sith. Ninguém
mais!
Edell deu um passo em sua direção, apenas para ser balançado por outra
explosão, muito mais perto. Olhando para cima, ele viu uma aeronave
enorme, a maior de toda a Frota de Ébano, passar voando. Tatuada com o
emblema escarnecedor de Korsin Bentado, a nau capitânia Yaru seguia em
direção às montanhas do leste, sua gôndola esfumaçada com dardos
empalados na parte de baixo.
Ele piscou. Sim, esta era a Yaru, tudo bem, desaparecendo no horizonte
oriental. Segundos depois, um clarão de luz e um trovão anunciaram sua
chegada, ou não, ao topo do platô.
Edell agarrou o braço de Quarra.
— Rápido, vamos seguir!
Ela se afastou dele.
— Eu não vou!
— Eles foram para o leste... e é para onde estávamos indo!
— O plano mudou. — ela disse, de pé. O seu rosto se contorceu de dor
quando ela olhou para o caos através dos campos. — A guerra começou!
Tenho que ver se o meu povo está seguro, se os meus filhos estão seguros!
— Ela correu através da fumaça em direção à ponte, voltando por onde eles
vieram.
Edell puxou o capuz por cima da cabeça e correu atrás.
— Vi o seu distrito no mapa no barco! Está a sudeste da capital, a dois
dias, você disse. E deve levar pelo menos três dias daqui. Está fora do nosso
caminho!
— Eu não ligo. — ela disse. — Tenho que chegar em casa!
— E o seu precioso Jogan?
Ouvindo o nome, ela parou embaixo da estação de sinal e olhou para
cima.
— Eu não sei o que fazer sobre isso. — ela respondeu, com a voz
embargada ao ver as luzes. — Eu não posso fazer tudo. Mas tenho que fazer
isso.
Edell engoliu em seco. Por todos os campos aterrados, os Sith estavam
sendo explodidos em pedaços ou crivados de vidro dos artilheiros Keshiri.
Alanciar não tinha sido um bom lugar para ficar sozinho e ser humano
antes. Certamente não seria agora. Ele puxou o capuz com mais força e se
aproximou dela.
— Temos que sair daqui de qualquer maneira. — ele disse. Ele bateu a
mão no ombro dela. — Bem. Fazemos do seu jeito. Mas então, fazemos do
meu!
A segunda rodada de alarmes não parou por três dias e meio;
eles pareciam gritar mais alto do que nunca. Quarra se acostumou com a dor
de cabeça. Metade da população está fervendo água para os apitos, ela
pensou, e a outra metade está fazendo protetores de ouvidos para os
surdos!
Mas estes eram os assobios dela, os assobios de Uhrar. Parada à meia-
noite nas ruas escuras da cidade industrial, ela sentiu orgulho de que eles
estivessem funcionando exatamente como pretendido. Tinha havido treinos
durante anos, mas sempre houve alguma dúvida se os grandes tubos de
vidro durariam numa invasão real. Essa pergunta foi respondida.
Todo Alanciar parecia ter aguentado bem, pelo que tinha visto. Ela e
Edell haviam escapado do conflito invertendo o caminho, mas o resultado
da batalha era prontamente aparente. O crescente de aeronaves Sith tinha
sido grande, de fato, sessenta embarcações atingindo uma vasta faixa de
território. Todas, exceto as duas mais ao norte das Seis Garras, foram
contornadas, deixando a luta limitada ao Escudo Ocidental, um nome que
provara ser mais do que topográfico. As fortalezas e balistas no meio das
fazendas haviam destruído a maioria dos invasores Sith no ar. Outros foram
levados ao chão, onde enfrentaram números avassaladores. Os arautos de
pensamento relataram vários Sith ainda à solta, e as torres de sinal
continuaram piscando loucamente. Se os fugitivos Sith eram reais ou
fantasmas, no entanto, não era problema dela. Tinha que chegar em casa.
Exibiu as suas credenciais para comandar um carrinho e uma equipe de
muntok. Ninguém iria interferir em uma chefe da guarda correndo para o
seu distrito natal. Edell seguia atrás, fora de vista. Depois de três dias e
noites, chegou logo após o pôr do sol.
Visitar Uhrar naquela noite a fez se sentir muito melhor. Encontrou os
seus filhos, dormindo no abrigo protetor da comunidade, o primeiro lugar
que olhou e exatamente onde eles deveriam estar. A sua equipe havia feito
um trabalho maravilhoso, envolvendo todos; a família estava ali desde que a
força de Edell atacou mais de uma semana antes.
O vice-chefe da guarda parecia quase desapontado ao vê-la. A ausência
dela era sua hora de brilhar. Ela não podia se preocupar com isso agora. Ela
também não precisava ver Brue; com os filhos seguros e com tanta munição
de vidro sendo usada, ele provavelmente fora mandado de volta à fábrica
para um turno tardio.
Saindo do escritório, ela olhou para as luzes piscantes da estação de
sinalização e respirou fundo. O carrinho com Edell dentro estava próximo,
na escuridão. Encontrou-o sentado na parte de trás, comendo a comida que
havia guardado.
— A sua família está segura. — ele disse. — Está satisfeita?
— Sim. — ela respondeu.
— Mentirosa. — Ele jogou um osso fora. — Vamos. Esse desvio pode
ter sido bom para você, mas foi caro para mim. Para Sus'mintri.
Subiu no banco do motorista e pegou as rédeas. Edell deslizou de volta
para a escuridão da carroça, de costas para ela, com o rosto escondido nas
sombras.
Retumbando através do caminho de pedra, olhou para a escuridão.
Embora os ataques aéreos fossem um perigo, o apagão, para todos, exceto
as estações de sinalização, continuaria. Finalmente falou.
— O que você quis dizer quando disse que eu tinha mais em comum
com os Sith do que eu pensava?
Após a contemplação, Edell falou.
— Quis dizer que você se move pelo desejo de melhorar a si mesma, e
que se desespera pela fraqueza dos outros. Eu não estava brincando. Você
nunca está satisfeita. Espero que isto tenha feito de você uma boa mestre de
guerra...
— Chefe de guarda.
— ...uma boa organizadora de outras pessoas. Você vê o que precisa ser
feito e espera que seja feito. Você vê uma falta de ambição como uma falta
de respeito não só de si mesma, mas dos outros. E você.
Não respondeu.
— Este seu marido... quase posso ver o rosto dele quando você pensa
nele. Ele não é nada. Ele nunca foi e nunca quis ser mais do que é. Ele está
atrasando você. Suponho que isso te levou a esse sentinela, o Jogan. Mas,
embora ele possa ter um pouco mais a oferecer do que seu marido, ele
também está apenas acompanhando. — O Alto Lorde tomou um gole de
uma garrafa. — Eu o estudei, você sabe, enquanto ele era meu prisioneiro.
Ele pode ter um uniforme, mas é um observador, não um ator. Você poderia
tê-lo, sim, mas logo se cansaria dele.
Quarra olhou para a escuridão.
— Há mais nele do que isso.
— Talvez, mas há muito mais para você. Você o superaria... e ele seria
um peso para você, como o uvak nas minhas aeronaves. E você teria que
soltá-lo.
— Sim, eu vi o que você fez com os seus. — ela disse, lembrando-se do
enorme cadáver que havia caído do céu sobre Jogan. — Esqueça. Eu não
vou fazer uma escolha dessas.
— Essas são as boas notícias. — Edell disse. — Porque assim como
com as aeronaves, quanto maior você se tornar, mais poderá transportar.
Poder não é apenas ter escolhas. O poder é ser capaz de decidir se você
deve escolher o todo. Você pode ter o seu marido e a sua pequena família...
e o seu amante da torre. E você pode estender a sua autoridade e ter a sua
palavra obedecida.
Quarra piscou.
— O que, ao seu serviço?
— Sim. — ele respondeu. — Mas também a serviço de você mesma.
Você poderia ser Sith, Quarra. É apenas uma questão de crença. Você nunca
será verdadeiramente Sith se usar as correntes de outras pessoas, mas
abandonar esses laços menores é o primeiro passo.
— Eu teria cuidado se fosse você. — ela disse. — Vocês Sith... e as suas
aeronaves... tem um jeito de explodir.
Bocejando, ele se esticou na parte de trás do carrinho. Quarra olhou de
volta para Uhrar e pensou na outra coisa que acabara de fazer. A coisa que
ela não tinha contado a ele.
Enviou a mensagem como uma pergunta geral, perfeitamente
compreensível, dado o recente ataque. O que deveria fazer se um Lorde Sith
caísse em suas mãos?
O sinal de resposta de Sus'mintri veio quase imediatamente: "Traga-o
para nós. Nós sabemos o que fazer."
Não poderia ter sido mais claro, ou mais autoritário. O código de
identificação oficial do Gabinete de Guerra estava anexado. Imaginou o
imprimatur saindo para todos os chefes de guarda agora. Perguntou-se o que
aquilo significava. Certamente, eles gostariam de reunir os sobreviventes
dos Sith. Mas trazê-los para a capital? Talvez os apêndices secretos das
Crônicas, muitas vezes republicadas, contassem alguma maneira de
restringir com segurança os Sith indefinidamente.
Talvez eles fossem procurados para execução e dissecação.
Olhou para Edell, que dormia. Tinha tempo suficiente para levá-lo ao
Salão Vaal para o que ele quisesse fazer e voltar com ele para a Enseada
Meori, para salvar Jogan. Mas mesmo se o pegasse em uma armadilha,
ainda poderia resgatar Jogan, e poderia ter toda a força dos militares de
Alanciar atrás dela na tentativa.
Poderia salvar Jogan, e também ser uma heroína, tendo feito seu
trabalho e muito mais.
Você está certo, Lorde Sith. Eu posso ter tudo.
S us'mintri havia começado séculos antes como apenas mais um
posto militar na extremidade do platô, com vista para o país mais baixo do
Escudo Ocidental, que se espalhava pelo oceano. A sua localização entre as
ameias da linha costeira e o coração industrial, no entanto, o colocou no
centro nervoso das comunicações de sinal dos Alanciari, exatamente onde o
Gabinete de Guerra queria estar.
Até dez anos antes, os líderes dos vários diretórios militar, industrial e
educacional haviam se reunido separadamente. O Salão Vaal, em Sus'mintri,
consolidou as operações em uma residência de um andar sem graça,
imperceptível, não fosse o colossal silo branco que se erguia próximo a ele
no grande pátio murado. Ao contrário da torre de Jogan em Ponta do
Desafio, a torre do Salão Vaal tinham vários níveis de luzes de sinalização,
apontando em todas as direções. Os ocupantes do Salão Vaal podiam se
comunicar com qualquer pessoa, desde os construtores de navios no
nordeste distante até os guardas em seu próprio portão, a apenas um
caminho poeirento de distância.
Um guarda Keshiri vestido de marrom olhou para a torre de sinalização
e depois para Quarra. Ele falou alto para ser ouvido através dos assobios de
alarme.
— Eles estão me dizendo para deixá-la entrar, Chefe de Guarda. — Ele
bateu na carroça com a arma lateral. — Vocês dois. — ele disse com
desdém nervoso.
O portão se abriu e a equipe de muntok de Quarra se arrastou para
dentro. As portas não tinham sido fechadas ainda quando Edell espiou por
debaixo da lona na parte de trás.
— Vocês dois? O que isso significa?
— Eu... eu não sei. — ela gaguejou, movendo-se no assento. Ele estava
com o sabre de luz na mão. A longa viagem de Uhrar a deixou
extremamente cansada e ele cada vez mais agitado; esperava que isso
diminuísse a vantagem dele no caso de uma armadilha estar preparada.
Meio que esperava ser recebida por esquadrões de atiradores de elite,
aguardando a sua entrega. Mas as únicas coisas no pátio eram ela e seu
carrinho. Um cheiro ruim estava no ar. Acima, as luzes de sinalização na
torre piscavam silenciosamente.
E a porta do Salão Vaal estava aberta.
— Eu não gosto disso. — ela disse, sem querer ser ouvida.
— Então somos dois. — Edell disse, deslizando para o lado da carroça e
batendo no chão. Agarrando o ombro dela, ele a virou para encará-lo. —
Eles não estavam apenas esperando você, estavam? Eles estavam me
esperando também.
Olhando para todas as direções, menos para ele, Quarra lutou por
palavras.
— Você nunca me disse o que queria fazer aqui. ‘Ver o país, visitar a
capital, conhecer o Gabinete de Guerra.’— Ela encolheu os ombros. — Sou
uma burocrata, Edell. Não posso simplesmente levá-lo pela porta da frente.
Edell olhou para ela sombriamente por mais um segundo antes de abrir
um sorriso.
— Não, eu vou levá-la pela porta da frente. — Ele jogou a capa no chão
e acendeu o sabre de luz. — Como sempre, você lidera o caminho.
Os Keshiri no corredor estavam mortos há pelo menos um dia, talvez
mais. Quarra reconheceu os seus uniformes de escritório, alguns guardas
primeiro, seguidos por uma mistura de administradores e assessores mais
adiante. O prédio não havia sido invadido; não havia evidência de uma
vigorosa defesa na porta. Apenas surpreendidos, Keshiri mutilados.
Algumas das marcas de queimadura pareciam feridas de sabre de luz. Mas
nem todas.
Ela cobriu a boca.
— Eu trabalhei com essas pessoas.
— Não mais. — Edell disse, passando por cima dos cadáveres. Ele
olhou para o corredor, em alerta. — Este andar não é nada, não é? Tudo o
que é importante está no subterrâneo.
— Sim. — ela respondeu, desejando ter ousado se esgueirar com uma
arma de sua visita ao escritório. A malícia de Edell a qual estava se
acostumando. O sentimento ali, no entanto, era de um mal generalizado. E
estava se espalhando.
As lâmpadas de brilho já estavam acesas no pé da escada. Fora do
corredor principal, eles encontraram uma sala de estar bem decorada, exceto
pelo guarda Keshiri morto, ao pé de uma grande tapeçaria. Edell olhou para
a imagem. Uma fêmea Keshiri idosa. Os seus cabelos brancos e finos
emolduravam uma expressão cansada, quase pálida.
— Essa é uma mulher feia. — ele disse.
— Você só diz isso porque sabe quem é. — ela disse. — Adari Vaal. —
Ela tinha ficado de pé muitas vezes nesta sala enquanto esperava para ver o
Gabinete de Guerra, admirando a tapeçaria que ficava sob a guarda
perpétua. Representava a grande Keshiri como ela era no final, não a figura
jovem das revistas históricas. A pura resistência que a imagem sugeria a
tinha animado no passado.
Agora o guarda de honra da tapeçaria estava morto, como todos os
outros. A sala de reuniões do Gabinete de Guerra era um necrotério, com
todas as principais figuras da política Alanciari caídas sob a mesa ou sobre
ela. Mais uma vez, sem nenhum sinal de uma última resistência. Quem
entrou havia chegado à noite e com total surpresa.
— Não. — Edell disse, olhos dourados arregalados. — Aqui não é onde
ele iria ficar. Me siga.
— Quem?
— Apenas me siga... e fique perto!

Korsin Bentado estava sentado em uma cadeira de encosto alto,


parecendo um aracnídeo na teia da selva. E uma teia, é o que isso era.
Quarra havia chamado esta sala de "vigia do mundo" momentos antes, e
Edell tinha certeza da existência de um lugar assim o tempo todo. Todos os
sinalizadores tinham que estar encaminhando suas mensagens para algum
lugar. Ele assumiu que haveria concentradores subsidiários, um movimento
sensato, por razões de velocidade e redundância. Mas como ele viu a
natureza marcial da vida dos Alanciari, ele percebeu o quanto isso estava
centralizado. Uma mensagem de Ponta do Desafio para Garganta de Garrow
poderia ser uma conexão direta, mas todo o resto era encaminhado primeiro
ao centro.
O centro estava ali, e Bentado estava nele, parecendo muito mudado. A
sua cabeça tinha cicatrizes de queimaduras de vários dias antes. Não era
debilitante, mas era obviamente doloroso... as suas sobrancelhas espessas se
arrepiaram completamente. Vermelho e roxo manchavam o seu uniforme.
— Você sobreviveu. — Bentado disse, com a sua voz profunda mais
áspera do que Edell lembrava. — Eu pensei que era você que eu estava
sentindo. Entre, Vrai. Veja o que fizemos com o lugar.
Edell entrou pela porta, guardado de cada lado pelos capangas Sith de
Bentado. Quarra esperou nervosamente atrás.
— Traga a sua guia. — Bentado disse, estremecendo ao se levantar. —
Ela é a razão de você estar aqui.
Edell desativou o sabre de luz e pegou o pulso de Quarra para levá-la
para dentro. Era o quarto que ele suspeitava, tudo bem. Uma grande
instalação redonda enterrada sob a torre, com pessoal subindo e descendo os
degraus transportando despachos. Grelhas de um metro quadrado no teto
lançam luz sobre uma superfície elevada no meio da sala. Havia um grande
mapa de Alanciar, surpreendentemente semelhante ao que existia no palácio
de Tahv, exceto pela complexa rede de estações de sinal e fortalezas nele
indicadas.
Edell olhou para os mensageiros. Muitos ele reconheceu da enorme
tripulação da Yaru de Bentado, mas outros eram de embarcações diferentes.
Principalmente guerreiros humanos, mas também havia alguns
embaixadores Keshiri na mistura, incluindo Gorducho, que trouxe um maço
de pergaminho para o seu mestre, mancando.
— Pouso forçado. — Bentado disse. — Soltamos a gôndola assim que
passamos o topo da cordilheira. — Ele sorriu com os dentes quebrados. —
O seu hidrogênio foi uma péssima ideia.
— Ele nos trouxe aqui. — Edell disse, cada vez mais consciente. Ele
pertencia ali, entre os outros Sith... mas algo não estava certo. Caminhou até
o mapa e depois olhou de volta para a sala. — Eles são ótimos construtores
aqui. Mas este não pode ser o centro de todas as comunicações.
— Não. Existem pelo menos treze edifícios nesta cidade, processando
mensagens. Encontramos um depois que pousamos, foi o que nos trouxe até
aqui. Uma das instalações ainda recebe mensagens dos usuários da Força,
se você puder acreditar nisso. Mas todas as mensagens importantes são
copiadas aqui... ou começam aqui. Depois que encontramos o lugar, era
apenas uma questão de entrar sem chamar a atenção. — Ele riu. —
Geralmente deixo o requinte para os outros. Mas você pode ver algumas das
minhas obras ao redor do prédio.
Edell olhou para os degraus da torre.
— Foi assim que você reuniu os outros sobreviventes da sua frota.
— E te trouxe aqui. — Bentado disse, acenando para Quarra. —
Usamos a estação de sinalização para tudo, até para abrir os portões. Uma
coisa foi quando conseguimos que os Keshiri entregassem comida dentro do
portão. Mas os tolos também nos entregaram seus prisioneiros!
Edell olhou para Quarra. Ela estava espantada, com a mão sobre a boca.
Ele podia ver o reconhecimento penetrando naqueles olhos enormes. A
organização que havia fornecido à Alanciar a sua força também havia sido a
sua fraqueza. Ele tinha uma pequena ideia de que isso seria possível; era
parte do que o atraíra incansavelmente para Sus'mintri. Mas Bentado
chegou primeiro e com a mesma ideia. A glória seria dele.
— Cancele os alarmes em todos os lugares. — ordenou Bentado.
Gorducho voltou aos pés da escada com o comando. Menos de um minuto
depois, os assobios estridentes acima de Sus'mintri pararam, como em breve
atravessariam todo o continente. — Traga todos para um estado de
prontidão, para quando a próxima onda chegar.
— A próxima onda? — Edell perguntou.
— A próxima onda de Sith. Algumas aeronaves foram deixadas para
trás em Keshtah. Espero que as vejamos em breve.
Edell ergueu as sobrancelhas.
— Então precisamos mandar notícias de volta para casa antes que eles
saiam. Você pode comandar os Keshiri por aqui. Mas acredito que o que
quer que você diga, os Alanciari ainda atirarão em nossas aeronaves!
— Concordo. — Bentado disse, sorrindo sombriamente. — E é
exatamente isso que eu quero que eles façam!
— V ocê quer que os Keshiri daqui destruam nossas
naves? — disse Edell ao cambalear.
— Não as nossas naves. — Bentado respondeu, pairando sobre o mapa
gigante. Uma dúzia de modelos de dirigíveis em miniatura estava na
margem oeste. — Eles destruirão as naves da Tribo.
— Mas nós somos todos parte da Tribo.
— Somos? — A cicatriz acima dos olhos de Bentado se inclinou.
— Passamos muito tempo tentando reconstruir. — Edell respondeu,
quase sem consciência de Quarra observando atentamente do lado. — Não
vejo que sentido faz em se desfazer isso.
— Não se faça de inocente. Você e o seu pessoal do Destino Dourado
estavam destruindo a Tribo por anos, assim como o meu pessoal. — Ele fez
um gesto para os Sith na sala. — Perdição, Edell! Você estava bem ao nosso
lado na Crise nos mostrando como destruir o Templo!
— Não foi um dos meus melhores momentos.
— Não, claro que não. — Bentado disse. — Mas não me proponho a
destruir o que reconstruímos. Estou falando de uma Segunda Tribo, aqui em
Alanciar.
— Uma segunda... — Edell ficou assustado. Ele nunca considerou uma
coisa dessas.
— É simples. — explicou o careca. — Não há caminho para o Grande
Senhorio enquanto Hilts viver. E Iliana. — a sua boca se curvou
maldosamente em torno do nome da consorte real, estendendo a palavra
para o dobro de seu comprimento. — ...ela fará com que Hilts viva até que
você e eu tenhamos idade demais para se incomodarem.
Bentado mancou ao redor do mapa.
— Você disse que os Keshiri aqui eram superiores aos nossos em casa...
e não me refiro apenas a esse desperdício de carne aqui com o qual Hilts me
envolveu. — ele disse, batendo com a mão pesada no ombro retorcido de
Gorducho. — Yaru Korsin encontrou escultores e pintores. Nós
encontramos uma raça de guerreiros. Construtores e armeiros!
— Os Alanciari são alguma coisa. — disse Edell, assentindo em direção
a Quarra. — Verdadeiramente incríveis. Mas eles são todos Keshiri. O
potencial existe também nas pessoas do nosso velho continente.
— Você teve dois mil anos para treiná-los? — Bentado bufou.
Edell olhou para os guardas humanos perto da porta. Eles ouviram tudo,
e não fizeram nada. Seu povo, dissera Bentado. As tripulações dele
escolhidas a dedo, Edell percebeu. Quantos vieram da antiga Liga Korsinite
de Bentado? Por que ele não prestou mais atenção?
Bentado passou a mão enluvada sobre a superfície do mapa.
— É perfeito, você sabe. Uma solução perfeita. O problema com os Sith
é o que sempre foi. Somos ensinados à glorificação do eu e à subjugação
dos outros. O indivíduo é verdadeiramente livre somente quando todas as
correntes são quebradas, quando ninguém pode limitar as suas ações
resistindo à sua vontade. O Sith perfeito deve controlar tudo e todos. — Ele
ergueu as miniaturas dos dirigíveis com a Força. Os pequenos dirigíveis
balançaram no ar, pairando como a coisa real.
— Mas efetuar esse controle, é aí que o problema sempre falha. Existem
muitas variáveis. Escravos demais aspirando a algo que não seja sua glória.
Muitos pretensos Sith trabalhando em direções opostas. — Com um
movimento do pulso, as mini aeronaves caíram sobre a mesa. —
Pandemônio!
Edell não disse nada. Bentado sempre falava assim. O homem pertencia
ao palco com os outros atores.
— Quando eu era jovem. — Continuou Bentado. — Pensava que Yaru
Korsin tinha a solução. Você lembra. Ele enganou os Keshiri para acreditar
nele. Ele não conquistou, ele entrou e virou a chave. Ele acertou a primeira
parte, mas não a segunda. O resultado foi sua própria morte, e um milênio
perdido. Mas aqui... — Bentado parou para pegar o modelo de uma estação
de sinalização. — Aqui eu posso fazer tudo de novo e fazer direito. Como
Korsin, fui jogado do céu para essas margens. Aqui, há um sistema de
governo em funcionamento para ser dobrado à minha vontade, como luva
para minha mão. E aqui, não há Sith.
Edell considerou as palavras. O que quer que ele pensasse da fonte, a
ideia era interessante. Um solitário Lorde Sith talvez nunca consiga que
uma multidão trabalhe em seu nome, a menos que isso já esteja
funcionando. Alanciar era um coração palpitante, que mantinha os seus
exércitos preparados pela força do hábito. Exigia apenas que um Lorde Sith
entrasse no topo, sem perturbar as operações da grande máquina.
— É uma boa ideia, Alto Lorde. — ele disse finalmente. — Muito boa.
Alguém deveria se lembrar disso quando enfrentarmos a República
Galáctica.
Bentado sorriu.
— Há apenas um problema em fazer isso em Alanciar, é claro. — Edell
continuou. — Você não é o único Sith aqui.
— As pessoas neste edifício são leais. — Bentado disse. — Elas vão
trabalhar para mim.
— Por quanto tempo, enjaulados aqui? Eles são humanos. Eles não
podem sair ou os Keshiri os identificarão como diferentes imediatamente.
— Eles não te viram!
— Ele teve ajuda. — Quarra disse, falando pela primeira vez. — Ajuda
motivada. Prometo que ninguém mais irá ajudá-lo quando descobrirem que
você está aqui. — Olhando fixamente, ela apontou em direção à saída com
o polegar. — E você matou nossos líderes. No bunker ou não, meu pessoal
acabará por vir procurá-los.
Edell leu a frustração no rosto de seu rival. Não, Bentado não teria
pensado tão longe. E ele sabia algo que Bentado não sabia, que ele nem
tinha contado a Quarra.
— As próximas aeronaves podem chegar mais cedo do que você espera.
Precisamos começar a pensar em como trazê-los com segurança. Esse seu
plano... é interessante. Mas realizaremos mais como uma Tribo.
— Então que a melhor Tribo vença!
— Não. Não vamos fazer isso de novo. — Edell lançou um olhar para
Quarra, encorajando-a em direção à saída com os olhos. Ao vê-la começar a
se mover, ele avançou para os guardas. — O Alto Lorde Bentado
estabeleceu o controle sobre os Keshiri deste continente. Vocês o ajudarão
até que os reforços cheguem. Depois, trabalharemos juntos para consolidar
o poder aqui, em nome da Tribo e do Grande Lorde Hilts.
Bentado soltou um suspiro exasperado.
— Você sempre foi um tédio. — Ele comandou os guardas. — Peguem-
no!
Os bandidos de Bentado na porta deram um passo à frente, mas não
mais do que isso; Edell já estava em movimento, com o sabre de luz
ativado. Um golpe em arco na seção do meio dos dois abriu o caminho.
— Quarra, vamos!
Quarra passou correndo pela porta, passando por Edell e o seu sabre de
luz brilhante. Ele virou na porta para segui-la e gritou. Quarra olhou
horrorizada quando um raio iluminou o corredor escuro. Do observatório do
mundo, Korsin Bentado avançou deliberadamente, a sua mão acesa com
estranhos tentáculos azuis de energia. Edell tremeu sob o ataque, largando o
sabre de luz.
Os olhos dela dispararam para o chão, e a visão que teve quando entrou:
os Sith não se deram ao trabalho de tirar as armas dos Keshiri mortos que
guardavam a sala! Caindo no chão, Quarra pegou uma balista de mão
repetitiva, rolou e atirou. Os estilhaços de vidro lançados passaram por
Edell. Bentado uivou de dor quando um se alojou em seu braço esquerdo,
encerrando a teia elétrica.
Ainda estalando, Edell caiu para trás no braço livre dela. Atirou de
novo, levando Bentado e seu ajudante Gorducho de volta à cobertura. Com
a sua arma vazia, ela puxou o sabre de luz caído de Edell do chão para sua
mão com a Força.
Agora Quarra liderava o caminho, ajudando o Sith cambaleante pelo
labirinto de corredores. Esmagou os globos de fogo que iluminavam o lugar
enquanto passava; a escuridão seria a sua amiga, para variar. Podia ouvir a
tripulação de Bentado se movendo pelos corredores novamente atrás dela,
mas sabia onde estava.Não havia entendido tudo o que os Sith haviam dito,
mas precisava contar ao mundo lá fora: o sistema havia sido comprometido!
Bufando, alcançou a antecâmara do lado de fora da câmara do Gabinete
de Guerra. Do outro lado da sala estavam as escadas íngremes que levavam
ao nível da superfície. Mas quando ela se virou para elas, Edell caiu no
chão, ainda em agonia pelo ataque dos Sith. Ela não sabia o que Bentado
havia feito com ele, mas Edell claramente nunca tinha experimentado
aquilo antes.
Tentou ajudá-lo a se sentar, e se recordou rapidamente de ter feito
exatamente a mesma coisa com Jogan em Ponta do Desafio, dias antes.
Muitos dias antes. Quarra levantou-se, atordoada por uma percepção.
— Estou sem tempo, Edell! Eu tenho que ir.
Edell tossiu alto.
— Do que... você está falando?
— Eu tenho que avisar as pessoas, não tente me parar. Então eu tenho
que ir! Faz dez dias desde que deixamos o navio. Mesmo de uvak, levará
dois dias para voltar para a Enseada Meori e o Infortúnio. — Ela tentou
ajudá-lo a se levantar. — Por favor, venha comigo! Se não voltarmos, a sua
equipe o matará!
O Alto Lorde se dobrou de dor. Quarra lutou para mantê-lo acordado,
mas falhou.
— Eu irei sozinha se precisar...
— Não, fique, Quarra. Isto... é importante. Fique para me ajudar...
— Eu não posso! — Quarra se levantou e olhou em direção às escadas.
— Eu tenho que ir!
Ela estava no último degrau quando o ouviu gritar.
— Quarra... eles não estão lá!
— O que?
— Eu só disse a você que o Infortúnio ficou para que você me guiasse
até aqui. — Edell disse, esforçando-se para se sentar. — Eu os enviei para
casa.
— Para casa? — Ela correu de volta para o lado dele. — Casa onde?
— Para Keshtah. Nosso continente.
— Com Jogan?
— Se ele sobreviveu. — Edell chiou. — Ele com certeza não estava
indo a lugar algum por conta própria. Eles partiram assim que você e eu
chegamos à costa.
— Vá para o inferno!
Quarra se voltou para a escada e parou de repente. Passos lá em cima.
Bentado tinha pessoas escondidas acima? E agora havia vozes no corredor
escuro.
Atrás dela, Edell lutou para ficar de joelhos. Ela ainda estava com o
sabre de luz dele.
— Quarra, eles vão nos matar. Então todo mundo perde!
Quarra congelou por um segundo, sem saber o que fazer. Ela deu um
passo para trás em direção a Edell, que caiu contra ela. Sentindo o peso
dele, ela olhou com urgência para as portas, e depois para a tapeçaria logo
atrás dela. Adari Vaal olhou para ela, silenciosa como sempre, com o
barulho do lado de fora e nas escadas ficando mais alto. Ela gritou:
— Rochedo de Kesh, salve a sua filha!
Sentiu um tremor através da Força... leve, quase como uma rajada de
vento, vindo da direção da tapeçaria.
Os olhos de Quarra se arregalaram. Sim! Sem tempo para temer
desrespeito histórico, ela puxou o tecido para o lado... e olhou para a
escuridão da sala escondida além. Colocando o braço de Edell por cima do
ombro, ela mergulhou imprudentemente com ele no vazio.
P ela segunda vez em duas semanas, Quarra
cuidou de um homem ferido enquanto os Sith a perseguiam por perto. Mas
a localização dificilmente poderia ter sido mais diferente. Não estava na
estação de sinalização de Jogan ou no convés de um navio; estava no maior
santuário de todo Alanciar: a biblioteca de Adari Vaal.
Os Sith permaneceram do lado de fora, além da tapeçaria, e
ruidosamente. Nunca houve menos de três vozes ao mesmo tempo nas
longas horas desde que entrou. Não havia como sair, mas ainda havia a
chance de avisar seu povo. Por duas horas, tentou alcançar outros arautos de
pensamento através da Força, indiferente ao fato dos Sith sentirem sua
presença. A Força era um sistema de comunicação que os Sith não podiam
comprometer...
...ou assim pensou. Entre a raiva que emanava dos Sith e os níveis quase
tóxicos de medo que se desenvolveram entre os Alanciari nos últimos dias,
se comunicar através da Força parecia uma morte por afogamento. Não
havia como alguém entender o que estava tentando dizer. Estava muito
cansada... e com muito medo.
E com raiva. Por mais longas horas, olhou para Edell enquanto ele
dormia, se recuperando de sua provação. Ele mentiu para ela o caminho
todo. Conhecia a acidentada costa sul. Não havia muitos assentamentos ou
fortalezas: as montanhas cobertas de neve eram sua própria defesa. O
Infortúnio poderia sair para o mar sem ser molestado. Mas com o outono no
sul, os marinheiros Alanciari evitavam a Passagem Sul por causa de suas
correntes polares rápidas como foguetes pela propagação do gelo. Uma
tripulação inexperiente teria chance de chegar ao oceano oriental? E Jogan
os alertaria ou permaneceria em silêncio, disposto a afundá-los, se
necessário? Se ele os avisasse, eles ouviriam?
Quarra percebeu com um sobressalto que realmente não sabia o que
Jogan faria. Imaginou que conhecia os pensamentos particulares dele, mas o
que realmente tinha era uma pilha de mensagens e algumas horas ao lado
dele. E quase tinha mudado a sua vida inteira por ele.
E quanto a Edell? Ele e o povo dele haviam destruído o seu mundo
inteiro. E, no entanto, ela o salvou, mesmo depois de saber que ele havia
mentido. Por quê? Pensou na cena do observatório do mundo. Edell parecia
diferente de Bentado. Um assassino, com certeza, mas Edell era um
construtor, não um lutador. Ele parecia estar interessado em algo maior.
Ainda assim, os Sith estavam sempre interessados em algo maior que eles?
Isso não derrotava o ponto de ser Sith?
Não confiava nele. Mas também não tinha sido capaz de abandoná-lo. O
que estava acontecendo com ela?
Quarra dormia irregularmente, muitas vezes acordando para ouvir as
vozes do lado de fora. Mas elas não chegavam mais perto, e pela manhã, a
luz entrou na sala a partir de um eixo diagonal no alto. O túnel de concreto
estreitava-se demais no topo para servir como saída, mas a iluminação
proporcionou a chance de fazer algo enquanto o Alto Lorde dormia. Pegou
um livro.
Tinha lido as mesmas Crônicas de Keshtah que todo mundo. As
entrevistas transcritas com a geóloga lutadora pela liberdade sobre sua vida
anterior eram obrigatórias assim que as crianças aprendiam a ler. Elas eram
a base, vagamente, é claro, do que era representado nas peças. Mas se sabia
que Adari Vaal havia produzido outros escritos durante o seu exílio em
Alanciar. Alguns eram trabalhos biográficos sobre os Sith; outros
forneceram uma descrição detalhada de seu continente. Um conjunto
considerável de seu trabalho comparou e contrastou os minerais dos dois
continentes; até os mais dedicados estudiosos de Vaal tiveram problemas
para ler esse material. Seu apoio à teoria de que o Antigo Cataclismo cortou
o acesso entre Keshtah e Alanciar era a única coisa de muito interesse lá.
Mas o livro que Quarra segurava agora era algo diferente. As páginas
não estavam em caligrafia, mas em rabiscos de alguém. A mão de Adari?
Não parecia possível para Quarra, que agora tomava cuidado extra
folheando as páginas. Mas se o documento era original ou uma cópia
artesanal de séculos depois, era algo que nunca tinha visto: as memórias
pessoais de Adari.
Ansiosamente, Quarra vasculhou os escritos, sentindo toda a emoção
que sempre sentira ao ler as cartas de Jogan. Havia muitas seções de
arrependimentos sobre os filhos de Adari; particularmente Tona, que havia
sido deixado para trás. Houve algumas passagens azedas sobre a mãe de
Adari, Eulyn, e nada sobre o seu primeiro casamento com Zhari. Mas,
virando a página, ela viu a mão do escritor acelerar, as letras inclinadas. Era
sobre Yaru Korsin, o capitão da Presságio e o primeiro Grande Lorde da
Tribo.
Korsin tocou a mente de Adari de longe muito antes do primeiro
encontro deles, e ela mencionou essa sensação mais de uma vez. E isso era
irritante então, e toda vez que ele fazia isso depois. Quarra entendeu o
desconforto de Adari, pois ela sentiu isso ao tentar se comunicar
mentalmente com outros Keshiri não sintonizados com a Força. Ela não
fazia isso com frequência porque nem sempre funcionava e, de qualquer
maneira, não havia necessidade da prática disso. Como uma arauta de
pensamento, ela só se comunicava com outros usuários da Força. Mas ela
tentou alcançar o marido telepaticamente, e a resposta tinha sido uma
expressão doentia dele. Foi isso que Adari sentiu, o primeiro Keshiri a ser
contatado através da Força? Quarra imaginou o seu desconforto.
E esse desconforto estava vivo em todas as páginas depois disso, onde
Adari descreveu o ciúme apontado por Seelah, a esposa de Yaru entre os
humanos. O ácido mental, transmitido a ela toda vez que Yaru não estava
por perto. Não que ele tivesse parado Seelah quando estava por perto; Adari
escreveu que ele gostava de vê-las uma contra a outra. Esse comportamento
não era Sith, escreveu Adari; era masculino. Mas o que agravou Adari foi
que ela se colocou de bom grado nessa posição, e não só para obter
inteligência para o seu movimento de resistência:
Yaru tem uma mente mais aguçada do que qualquer um que eu já
conheci. Esgrimir verbalmente com ele era como uma de suas brigas de
sabres de luz; eu me sentia completamente acordada e viva. Mesmo agora,
décadas depois, lembro-me de acordar de manhã e querer que a próxima
conversa começasse. Andar com ele enquanto outros Keshiri e Sith se
ajoelhavam era como estar no centro do mundo.
Mas nunca consigo esquecer o outro sentimento. O jeito que me senti
naquele primeiro dia na montanha, quando Seelah e a sua espécie
rasgaram minha mente. Yaru é esperto, inteligente e charmoso, e usa essas
coisas para governar os outros, e a mim. Mas ele também é um chefe entre
os Sith, e isso significa que ele é vaidoso, cruel e sádico. Este é um homem
que matou o seu irmão por conveniência. Se Yaru ainda vive, ele
provavelmente já fez coisas ainda piores. Ele é um animal.
Quando jovem, eu fiz parte de uma união feita por vantagem. O
problema é que isto define você como desigual antes mesmo de começar.
Qualquer mulher que considere um Sith tenha cuidado: mulheres fortes não
andam ao lado de animais. Não sem uma coleira...
Quarra fechou o livro, de repente, gelada.
Agora entendia porque ninguém nunca vira as memórias, quando se
exigia muito mais leitura de Adari Vaal. O líder dos Sith a havia tentado. E
o Rochedo de Kesh vacilou.
Olhou para Edell, inconstante em seu sono. Ainda estava com o sabre de
luz. Poderia remover uma ameaça, uma ameaça para o seu povo e
possivelmente para si mesma. Não o amava, mas também não o odiava,
ainda não, e ele sempre brincava com isso. Ele já havia começado isso, ao
longo de toda a jornada. Ela tinha a chance de parar com isso agora.
Mas também tinha uma pergunta.
— Acorde. — ela disse calmamente, empurrando-o.
Edell soltou um gemido abafado.
— Eles ainda estão lá fora?
— Sim. Três ou quatro, eu acho. Você pode cuidar deles?
Ele se apoiou no cotovelo e estremeceu.
— Não. Mas talvez nós possamos. — Ele viu o sabre de luz na mão
dela. — Sabe usar isso?
— Eu tenho uma pergunta. — Quarra disse, séria. — Você disse que
mais pessoas estão vindo. E que você e eles servem a alguém. Essa pessoa é
tão ruim quanto Bentado?
Assustado com a pergunta, Edell olhou atentamente para ela.
— Não. Não, ele não é. O Grande Lorde é velho, mas sábio.
— Você gosta dele. — ela disse, surpresa com o que estava sentindo. —
Ele é seu amigo.
Apesar de tudo, Edell sorriu fracamente.
— Sim, eu suponho que seja. Se você tivesse que viver sob um Sith,
você preferiria viver sob ele, e eu, do que Bentado. Confie em mim,
tivemos muito pior.
— Os aquedutos. Você disse que eles desmoronaram. Eles caíram em
ruínas por causa de alguns de seus líderes?
— E alguns que queriam liderar. Houve mil anos de caos, Quarra. Se
Alanciar acredita na construção de coisas, como eu, você não pode deixar
isso começar de novo. Você tem que me ajudar.
Ela o estudou, e chegou a uma conclusão. Adari estava certa, mas eu
também estou.. Alguns animais são melhores que outros.
— Tudo bem. — ela disse, levantando-se. — Mas deixo uma coisa bem
clara. Não estou ajudando você por você ou por mim. Vou parar Bentado, e
arrumar as coisas. Estou fazendo isso pelo meu povo.
— Isto é o mesmo que fazer por você. — ele disse, sorrindo. — Mas
discutiremos a filosofia Sith mais tarde. Há trabalho a ser feito. Temos que
cortar as comunicações de Bentado, mas se tentarmos falar com o seu
pessoal, eles me cortarão em pedaços. O que eles também farão se você
procurar ajuda sozinha e eles me encontrarem aqui. Se ainda tivéssemos a
sua balista, poderíamos disparar os globos de fogo na torre de sinalização...
— Isso levaria uma eternidade!
— ...e então os dois lados nos cortariam em pedaços. — Ele suspirou.
— Suponho que você já tentou procurar ajuda através da Força?
Ela assentiu.
— O que significa que a única maneira de parar Bentado... é parar
Bentado. — Edell apertou as mãos, profundamente pensativo.
Esse é o modo normal dele, ela percebeu. Calculando, não brigando.
Os olhos dourados se abriram um segundo depois, e olharam para cima.
— Certo, entendi. Ainda teremos que lutar, no entanto. Pena que só
temos uma arma.
Quarra se levantou.
— Sem problemas. Se veio para cá o que eles trouxeram os arquivos de
Adari Vaal, deveria haver outro sabre de luz por aqui.
— Se houver, então ela o roubou.
— Bom pra ela, então. — Ela piscou. — E melhor para nós. Eu sempre
quis usar um.
— U m dirigível chegou, — relatou Gorducho. — Ao
largo da costa oeste, perto de Porto Melephos.
— O primeiro da onda. — O seu mestre disse. Bentado rangeu os dentes
quando puxou lascas de vidro do próprio braço. — Os Keshiri atiraram
nele?
— Não, milorde. — o assessor chiou. — A embarcação está a
quilômetros de distância. As equipes antiaéreas de diamante de Uvak estão
se engajando.
— Diga para eles sinalizarem quando o derrubarem. O comando de
ataque ao avistar é dado a todas as posições acima e abaixo da linha.
Deixamos Hilts com dezesseis aeronaves. Esperemos que ele tenha enviado
todas!
Edell estremeceu ao ver o Sith puxar outra lasca sangrenta. Quase podia
sentir a dor de Bentado ali no poço, olhando para o observatório do mundo.
Edell percebeu, ao ver o túnel diagonal que levava para cima dos arquivos
secretos, que o bunker de concreto, onde tantos Keshiri esperavam viver e
trabalhar por dias seguidos, tinha que ter um sistema de ventilação. Como
grande parte das instalações ficava embaixo da casa de tijolos ou da torre de
sinalização na superfície, os dutos de alguns quartos necessariamente
viajavam na diagonal, cruzando outros. Ele tinha visto isto em alguns dos
edifícios antigos de Tahv. Os Alanciari usaram concreto nesta construção
moderna, mas o pensamento deles não era muito diferente da dos arquitetos
Keshiri que conhecia em casa.
Não havia como escapar pelo duto na sala secreta em seu topo estreito,
mas içar Quarra no espaço lhe revelou uma fenda de um metro quadrado
que descia em uma direção diferente. Um espaço para engatinhar
confortável o suficiente, inclinava-se para cima e para baixo ao encontrar as
junções acima do quartel e das salas de suprimentos. Um mau cheiro lhes
disse quando eles estavam na sala do Gabinete de Guerra. E agora eles
estavam sobre o santuário de Bentado, olhando para baixo separadamente
de poços paralelos.
— Onde está a mensagem de Porto Melephos? O que está demorando
tanto?
Edell viu o topo da cabeça cheia de cicatrizes de Bentado logo abaixo,
enquanto o homem olhava o mapa da superfície.
Aqui vai o tudo ou nada!
Com os pés apoiados na grade, Edell alcançou a Força e derrubou várias
miniaturas. Assustado, Bentado se inclinou para recuperá-las... exatamente
quando Edell juntou as pernas, esmagando a treliça de madeira com as
botas. Um Alto Lorde bateu no outro, empurrando a cabeça de Bentado para
o mapa da superfície. Edell rolou pelo campo falso, acendendo seu sabre de
luz enquanto, a metros de distância, Quarra quebrou e desceu, assustando o
pequeno Gorducho.
Edell se virou para ver uma tripulante de traje preto correndo em defesa
de Bentado. Edell a empurrou de volta através da Força, mas a distração
deu a Bentado a chance de se recuperar. O enorme Sith agarrou o tornozelo
de Edell e o jogou para baixo, de costas.
Do lado, Quarra se lançou, segurando o antigo sabre de luz roubado
diante dela como uma das baioneta com as quais treinara. Bentado acendeu
o sabre de luz e desviou do dela em um movimento de moinho de vento,
embaraçado por sua postura meio parada em uma cordilheira. Edell rolou
para trás, para fora do mapa da superfície, e do ataque de outro defensor do
Bentado que chegou. Ele se lançou com a sua arma, empalando o atacante.
— Edell! A torre!
Edell olhou para trás e viu Quarra subindo os degraus da torre.
Gorducho já estava sobre eles, desaparecendo nas alturas acima.
— Não! — Bentado gritou, correndo atrás dela o melhor que pôde com
sua perna ruim. — Que droga, mulher!
Edell se esforçou para segui-lo, matando outro de traje preto enquanto o
seguia. Isso não era bom! Quarra poderia desfazer o controle de Bentado
em Alanciar na torre, mas também poderia derrubar um anfitrião Keshiri na
cabeça dele.
— Quarra, não!
Ele a encontrou ofegante em um dos campanários mais baixos. Bentado
a jogara contra a parede, derrubando o sabre de luz dela.
— Afaste-se, Edell! — Brilhando de suor, Bentado apontou a ponta do
sabre de luz para o pescoço dela. — Se essa coisa roxa significa alguma
coisa para você, afaste-se!
Edell olhou para o lado. Gorducho se encolhia perto dele, atrás da
escada em espiral de madeira que levava para cima.
— Não acho que dois possam jogar esse jogo. — Edell disse,
ameaçando o corcunda.
— Gorducho? — Bentado riu. — Faça o que quiser. Eu posso encontrar
mais Keshiri. Há um continente inteiro aqui. — Ele zombou de Quarra. —
Essa aqui é especial?
— Me esqueça, Edell! — Quarra gritou. — Esfaqueie esse animal
imundo!
— Mova-se e ela morre!
Edell respirou fundo, e recuou. Ele abaixou o sabre de luz, mas não o
desativou.
— Ela tem sido uma grande ajuda, Bentado. É rude que os hóspedes
matem os seus anfitriões.
— Tolo. — Bentado disse, projetando-se através da Força. Edell voou,
com a cabeça batendo no muro de concreto em frente ao atacante. O sabre
de luz voou de sua mão.
Bentado chutou a arma de Edell e jogou Quarra para o seu lado.
Gorducho, recuperando o juízo, saiu do esconderijo, e Bentado o instruiu a
pegar o antigo sabre de luz de Quarra.
— Apenas segure esse. Eu cuidarei desses dois eu mesmo. — Com o
sabre de luz brilhando na mão, ele se aproximou dos combatentes feridos.
Ao lado da escada, um cabo puxou, fazendo tocar uma campainha de
vidro. Gorducho, segurando o velho sabre de luz, olhou para seu mestre.
— Chamada chegando.
— Bem, pegue-a.
Gorducho mancou escada acima, onde foi passado um pedaço de
pergaminho de outro Keshiri de Bentado.
— Os sinalizadores em Porto Melephos relatam que o dirigível pousou.
— Gorducho disse.
— Foi derrubado, você quer dizer.
— Não, eles dizem que pousou.
Bentado ferveu.
— Do que você está falando? Eu dei o comando para atacar!
Outra mensagem passou pelos degraus. Gorducho olhou para ele... e
depois olhou novamente.
— A mensagem parece ser do Grão Lorde Hilts, senhor. Ele diz que
chegou.
Ainda tonto, Edell olhou para Quarra, atordoado. O queixo de Bentado
caiu. Ele gritou pelas escadas.
— Diga a ele que Korsin Bentado e os Keshiri de Alanciar lhes dão as
boas-vindas. E diga às tropas para matá-lo e qualquer um com ele, agora!
Segundos se passaram com apenas os sons do aparelho de sinalização
no andar de cima enchendo a sala. Finalmente, um dos capangas Keshiri de
Bentado desceu as escadas, parecendo intrigado.
— Bem? O que é isso?
— O Grande Lorde Hilts envia apenas uma palavra, meu Lorde. —
disse o mensageiro, endireitando-se e dando um passo à frente. —
Saudações.
Bentado ficou boquiaberto.
— 'Saudações?'
Edell olhou, confuso. Ao lado de Bentado, os olhos negros de Gorducho
se estreitaram ao ouvir a palavra.
Veias pularam no pescoço de seu mestre. O sabre de luz vacilou nas
garras furiosas de Bentado.
— Eles estão brincando comigo? — Ele se virou, pairando sobre seus
prisioneiros. — Isso é algum tipo de...
Thunk!
Os olhos de Bentado se arregalaram obscenamente quando o sabre de
luz empurrado em suas costas encontrou seu coração enegrecido. Ele caiu
de joelhos e depois com o rosto.
O pequeno Gorducho olhou para a forma imóvel de seu mestre.
Ajoelhando, o Keshiri retorcido desativou a arma roubada de Adari Vaal e
desarmou seu mestre morto.
Edell mal conseguiu falar.
— Gorducho?
— Tenho certeza de que a família Hilts tem uma saudação melhor para
você, Lorde Vrai. — O corcunda se curvou e passou as armas para Edell. —
E tenho certeza que eles gostariam de entregá-la pessoalmente.
O dirigível branco estava imponente sobre o local de
desfile de Sus'mintri. Do mesmo tamanho que o dirigível Yaru, Bom
Presságio diferia praticamente em todos os outros aspectos. No lugar do
design sombrio e assustador, o incremento dourado na vela traçava a
imagem de uma poderosa criatura aviária, com o bico curvando-se em um
sorriso feliz. Jóias e franjas pendiam do invólucro. Bandeirolas de seda
cercavam a gôndola fechada, dando a impressão de que uma nuvem inchada
desceu do céu para pairar alguns metros sobre o exército dos Keshiri
acumulado, prestando atenção.
Quarra estava no estande de recepção ao lado de Edell, que esperava
com expectativa, e abertamente, entre os líderes sobreviventes da cidade.
Ele parecia olhar o dirigível com absoluto prazer.
— Esse é o veículo real em que você estava trabalhando? — Ela
perguntou.
— Sim. Mas eles fizeram algumas mudanças no exterior. — ele
respondeu. — Eles trabalharam rápido.
Já havia parado uma vez em Porto Melephos, descendo primeiro no
mar, a pouca distância do alcance das balistas dos Keshiri. Um passageiro
havia emergido na varanda da frente para saudar os defensores nos uvak, o
mesmo passageiro que agora emergia no mesmo lugar. Quarra já sabia
quem era.
Jogan Halder estava parado no parapeito, vestindo seu uniforme militar
Alanciar e aparentemente desassossegado por seus ferimentos.
— Keshiri de Alanciar. — ele gritou. — Estive além do oceano. Deixe-
me contar o que vi!
Um silêncio caiu sobre os regimentos.
— Eu fui tirado de nossas costas por esses seres... esses humanos, que
nos foram descritos como os Sith. Não fui de boa vontade e, o que quer que
acontecesse, eu estava determinado a proteger Alanciar. Fui vendado logo
depois que o Infortúnio avistou a terra, mas tive tempo de ver um país
exuberante pela frente, como o descrito por Adari Vaal. Fui levado às
pressas para o interior em um carrinho com rodas, enquanto alguns dos
meus captores foram na frente e se juntaram a outros. — Ele bateu com as
mãos na grade. — Mais uma vez, eu estava determinado a não dizer nada,
independentemente da tortura que eles trouxessem!
Sua expressão suavizou.
— Mas então alcançamos os caminhos de pedra lisa de uma cidade... e
eu fui libertado. E quero dizer completamente liberado, permitido andar
livremente pelas ruas. E que ruas! Uma cidade magnífica e brilhante, com
torres de vidro subindo para o céu, mais bonita do que qualquer coisa que já
vi. E a cidade estava viva, com nada além de Keshiri!
Um murmúrio surgiu da multidão.
— Eu sei o que vocês estão dizendo agora, porque eu também pensei. A
Anunciadora nos disse há séculos que a terra não era realmente deles e que
os Keshiri não eram realmente livres. Mas eu não vi os humanos em lugar
algum. Mesmo aqueles que haviam sido meus captores desapareceram logo
após a minha libertação.
— Eu não queria falar com esses Keshiri. Eles se parecem conosco, mas
sabemos que estão vivendo sob tirania. Como poderiam ser parecidos
conosco? — Ele abriu as mãos teatralmente. — Mas não vi qualquer traço
de tirania. Vi artesãos, passando os seus dias não em trabalhos forçados,
mas fazendo arte nas ruas. Pintando. Esculpindo. Música e canto do tipo
que economizamos para os feriados, bem ali ao ar livre. Eu pensei que era
um festival, e que os humanos haviam encenado isso para me enganar. Com
o passar das horas, percebi que era assim que eles viviam.
— Os artesãos Keshiri me cumprimentaram. Reconhecendo que eu era
estrangeiro pelo meu uniforme, eles perguntaram sobre minha terra. Mais
uma vez, eu não disse nada. Mas eles me contaram alegremente,
confirmando que as imagens que eu estava vendo eram normais. Eu
perguntei onde estavam os humanos. Eles apontaram para o que chamavam
de capitólio, um antigo edifício de mármore aprimorado com torres de
vidro. Diziam que era o refúgio dos Protetores!
Desta vez, um barulho alto veio da multidão. Jogan colocou as mãos
diante de si, com as palmas abertas.
— Sim, sim, eu sei. A Anunciadora nos advertiu que os Sith haviam
enganado o povo de Keshtah a pensar que eram os Protetores da lenda. Eu
me opus ao termo, tentei dizer que eles haviam sido enganados. Mas eles
não discutiram. Em vez disso, me permitiram continuar pela cidade,
chamada Tahv, como Adari havia descrito, para falar com quem eu
quisesse.
— Convencidos de que eles realmente sentiam o que disseram, eu tentei
mudar de ideia. Descrevi Alanciar, e como nos preparamos para a vinda dos
Sith. Descrevi como vivemos e tudo o que fizemos. E a resposta foi pena.
— Sua voz aumentou quando ele falou. — Pena, por tantos anos perdidos
se preocupando, sentindo medo de uma ameaça existencial. Pena, por tantas
vidas passadas em trabalhos árduos, em vez de artesanato. E pena que
nunca tivéssemos conhecido os humanos, com a sua sabedoria das estrelas.
Humanos que me disseram que não governavam sobre os Keshiri, mas que
ficavam sempre dentro de seu Capitólio em contemplação silenciosa.
— Pedi para ser levado ao Capitólio, para ver por mim mesmo. Eles me
levaram de bom grado, e fui recebido lá dentro. Havia, de fato, os humanos
que chamamos de Sith. Desarmados e em meditação. Fui levado a uma
câmara onde seu círculo dominante estava, nenhum homem ou mulher
estava acima de qualquer outro.
Há arte na narrativa, pensou Quarra. Assim como naqueles feixes de
mensagens que ele a enviou por meses. Foi o que a atraiu para ele em
primeiro lugar. Ele certamente tinha a atenção de todos agora.
— Eu não queria falar. — Jogan disse. — e então eles falaram, me
dando boas-vindas a Keshtah e pedindo desculpas pelo método da minha
chegada. Ali me contaram a mesma história do desembarque de pessoas em
Kesh que Adari contou, mais ou menos. Eles conheciam Adari Vaal, e
disseram que ela não estava errada em seus avisos. Naquele tempo, havia
pessoas más: servos dos Destruidores, escondidos!
A multidão ressoou ansiosamente.
— Eles estavam cientes do perigo que Adari temia e derrubaram
aqueles seres sombrios no dia em que ela deixou o continente deles para o
nosso. Se Adari tivesse esperado mais um dia... só mais um dia! — Jogan
parou, com a garganta seca. Todos ficaram em silêncio enquanto esperavam
que ele continuasse. — Em apenas mais um dia, todos aqueles que Adari
temia teriam sido destruídos, e o aviso dela, sem sentido!
Um grito coletivo veio das forças. Não! Não!
— Sim, foi o que eles disseram. Tudo o que fizemos foi por nada. Eu
não acreditei, não queria acreditar. Mas eles tinham mais notícias.
Disseram-me que agora, dois mil anos depois, um servo vil dos
Destruidores havia levado seus números novamente, ameaçando toda a
vida. Expulsos de Keshtah, ele construiu aeronaves e partiu em busca de
outro lugar para conquistar.
— Os guerreiros de preto! — Veio um grito da multidão.
— Sim. — Jogan respondeu. — Agora eu sei que eles estavam atacando
aqui, mesmo quando eu estava lá visitando! — Murmúrios aumentaram em
volume, ele continuou. — Perguntei sobre as primeiras aeronaves que
vimos, as de Edell Vrai, cujos guerreiros me abordaram e me sequestraram.
Os conselheiros humanos me disseram que Vrai era um amigo de confiança,
que tinha vindo em busca dos criminosos. Assustado com a rapidez e o
poder tecnológico de nossa defesa, Vrai temia que nós também servíssemos
aos Destruidores. E foi por isso, meus amigos, que eles me levaram para
Keshtah. Eles tinham que saber que nós não éramos os inimigos vis da
lenda!
— Foi quando eu finalmente falei, dizendo a eles que estávamos do lado
do bem, que resistiríamos a qualquer mal que surgisse em nosso caminho.
Nós não merecíamos a ira deles. Não, não Alanciar!
— Jogan salvou a todos nós! — Veio um grito das massas.
— E os humanos, os Sith, ficaram felizes com isso. E se ofereceram
para ajudar!
Uma animação ascendeu, e os olhos de Quarra se arregalaram com a
percepção. Ele é o novo Anunciador. Jogan era o novo Adari, só que ele
contava histórias agradáveis para os Sith!
Quarra olhou para a multidão de ouvintes, olhando urgentemente rosto
após rosto. Eles estavam levando Jogan a sério. Era uma história incrível,
mas ele era um deles.
Bem, eu também, ela pensou. E tinha uma história para contar também.
Lançando um olhar furtivo a Edell, Quarra virou-se para o parapeito.
Tinha sentido uma paralisia desde o momento na torre sobre o Salão Vaal,
quando Edell reafirmou o controle sobre a tripulação de Bentado e os
dispositivos de sinalização. Não havia chance de avisar ninguém. Mas ali
estava a melhor parte de uma legião de Alanciari, a poucos passos do posto
de recepção. Talvez não estivesse tudo acabado. Edell tentaria silenciá-la,
mas isso poria fim a esse show, enquanto ainda houvesse alguma dúvida...
— Mas não considerem isso por mim. — Jogan disse, afastando-se para
permitir uma nova figura na varanda. — Há alguém que todos vocês
deveriam conhecer!
Um rubor branco apareceu no parapeito. Um homem ancião humano,
vestido com uma capa de penas enfeitadas com pedras preciosas e usando
um bico afiado, ergueu as asas dos braços e olhou para o céu.
Reconhecendo o Tuash Brilhante, criatura aviária lendária de seus mitos, a
multidão perdeu o fôlego.
Apenas Edell, boquiaberto, riu alto. Incrédulo, ele olhou para Quarra.
— Grande Lorde Hilts!
— Povo de Alanciar, eu vim a vocês como o servo nascido em Kesh dos
Tuash Brilhantes. — disse o velho. — Tenho mais de dois mil anos de
idade. Os humanos estão entre meus filhos, e vocês também. Sua
anunciadora, Adari Vaal, era minha filha Keshiri. Bem intencionada, mas
carecendo de entendimento. — Ele bateu um braço emplumado no ombro
de Jogan. — Esse filho de Alanciar falou a verdade. Existiam servos dos
Destruidores entre o meu povo, mas eles não eram todos do meu povo. Nós
os tínhamos expulsado!
— Quando vocês gentilmente me receberam em Porto Melephos, o meu
coração se elevou, até eu receber a triste história de que os renegados já
haviam chegado aqui, matando seus grandes líderes. — Ele inclinou a
cabeça tristemente.
O fato já era conhecido do público, mas a demonstração de remorso do
humano chamou a atenção de todos. Hilts semicerrou os olhos em direção
ao palanque e apontou.
— Mas os maus e seu líder foram derrotados, graças aos esforços de um
de meus agentes, trabalhando em conjunto com um de seus Alanciari bem
treinados!
Milhares de olhos se voltaram para Edell e Quarra. A derrota de
Bentado também era conhecida, mas muitos se maravilharam em ver os
dois juntos. Um humano, trabalhando secretamente em Alanciar para
derrotar os Destruidores!
— O meu povo se sente responsável por tudo o que aconteceu. Nos
próximos dias, equipes de socorro chegarão. Humanos e Keshiri, vestidos
de branco, para ajudar a corrigir o dano, e construir pontes entre nossos
mundos. — Com os aplausos já começando, o Pássaro-Hilts levantou as
asas. — Juntos, podemos nos entender, e criar um Kesh melhor para todos
nós!
A multidão rugiu em aprovação. Quarra olhou em volta. Havia usuários
da Força aqui, estudando o velho como ela estava. Mas ninguém havia
disparado um alarme.
— Eles não sentem malícia nele. — disse Edell. — Ele nunca teve
nenhuma por vocês.
— Ainda há engano. — ela disse.
— Talvez essas pessoas estejam prontas para serem enganadas. Elas são
como uma de suas balistas. Elas estão engatilhadas há anos, esperando para
sair. Agora que dispararam, estão prontas para algo mais... mesmo que uma
história bonita.
Olhou pra cima. Sim, Jogan havia dado isso a elas. O que poderia dizer
agora?
O dirigível desceu agora, permitindo que seu correspondente ocasional
abrisse o portão no chão.
— Há mais na minha história, mas preciso chegar a uma estação de
sinalização. Esta história precisa ser contada a todos. E se vocês não se
importarem. — disse ele, sorrindo amplamente. — eu gostaria de ser aquele
que vai enviá-la!
Jogan saiu da gôndola para a multidão. Quarra desceu do posto de
recepção, mas não conseguiu se aproximar dele, de tão atordoado que ele
estava com os Keshiri curiosos. Ela correu, tentando em vão alcançar a
multidão em movimento antes de pular em cima de um muro de pedra.
— Jogan! — Ela gritou.
Jogan olhou para a esquerda e direita antes de avistá-la. Sorrindo, ele
apontou para ela com uma mão e para ele mesmo com a outra.
Conversaremos, ele murmurou, antes de ser arrastado para a estação de
sinalização na beira do local do desfile.
Edell sorriu.
— Grande Lorde, seja bem-vindo.
Os ouvintes Alanciari se afastaram e agora estavam reunidos em
grandes grupos com os embaixadores Keshiri do Bom Presságio. Hilts não
havia trazido outros seres humanos, mas eles estariam em naves que viriam.
O velho Grão Lorde trouxe Edell para perto para um abraço, e depois falou,
colando os lábios no ouvido do jovem.
— Essa foi a pior coisa que já fiz. — ele disse, acenando com o bico.
— A fantasia, ou andar no dirigível?
— Ambos.
Edell olhou de volta para a enorme embarcação. Ninguém jamais soube
que o Grande Lorde montou em um uvak.
— Ele torna o voo disponível para quem não pode cavalgar. Poderíamos
fazer muito com eles...
— O povo de Kesh está inchado o suficiente, meu garoto. — Hilts disse,
afofando as penas de sua capa. — Esse não é o jeito de unir um império.
Eles têm mais destes navios marítimos?
— Nos portos. Não sabemos quantos podem fazer o trânsito, mas isso é
porque eles simplesmente nunca tentaram. — ele respondeu. —
Obviamente, Peppin e o Infortúnio conseguiram.
— Claro. Estava esperando vê-lo com eles, mas eles me disseram que
você havia ficado para sondar mais à frente. Ainda bem. E que bom que
você nos enviou esse sujeito falador e a sua coleção de leitura. Era um
monte de pretensões românticas, principalmente, mas ele também tinha uma
cópia disso. — Ele puxou um volume de dentro de sua capa. — A cópia
dele das Crônicas de Keshtah. Este livro nos contou o que estávamos
enfrentando: tudo o que os Alanciari sabiam sobre nós.
— O testamento de Adari Vaal. — Edell disse, balançando a cabeça. —
A fugitiva Keshiri causou muitos danos.
— Não tanto quanto você imagina. — Hilts disse, sorrindo. — Vocês
riem de mim e das minhas histórias. Mas a história é importante. Pode ser
uma arma, para ambos os lados. O seu tenente leu durante a travessia e
seguiu em frente até Tahv quando chegou à costa. Ficou claro que os
Keshiri em Alanciar já foram como os nossos no começo, até o mesmo no
mito dos Protetores e Destruidores. E agora, como eles. — ele deu um
tapinha no bico. — era simplesmente uma questão de convencê-los de quem
éramos na história. E isso significava também escolher um papel para
Bentado.
— Mas a frota de Bentado já devia ter saído até lá!
— E não havia como chamar de volta o tolo obstinado. Sabíamos que os
invasores dele dariam aos Alanciari a luta pela qual estavam esperando...
uma luta que provavelmente venceriam. Então nós usamos isso. Ele e as
suas naves e pessoas pareciam como a face do mal. Tínhamos que parecer
com outra coisa. — disse Hilts, maliciosamente. — Felizmente, você nos
enviou um sujeito de teste.
Quando a carroça com Jogan chegou a Tahv, Hilts explicou, a Tribo
havia se retirado da vista do público, colocando os seus Keshiri mais
fervorosamente leais nas ruas. Uma vez convencido o novo embaixador, era
uma simples questão de assumir uma forma agradável para os Alanciari em
geral.
— A equipe de Bentado se parecia com o que eles tinham medo. Mas eu
sou um homem gentilmente velho.
— Vestindo um casaco de penas brancas!
— As coisas que faço pela Tribo. — Hilts disse. Ele apertou os olhos.
— Eu li os seus sinais sobre a virada de Bentado. Bem, era só uma questão
de tempo. Estou feliz por você estar aqui para cuidar dele.
— Eu comecei, mas Gorducho terminou.
O velho tirou uma pena do rosto e sorriu.
— O pequeno e leal Gorducho, outra ideia de Iliana. Um conselho para
você, meu rapaz. Quando um Grande Lorde dos Sith envia seus
cumprimentos... corra!
Edell riu. Mas enquanto pensava nisso, a sua expressão mudou para
uma carranca.
— Isso poderia ter começado tudo de novo, Grande Lorde. A luta
interna dos Sith. Nossa missão está cumprida.
— Está? — Hilts balançou a cabeça. — Capturar novos escravos não é
vitória. Qualquer brutamontes com uma lâmina pode fazer isso, como o Sith
original fez com nossos ancestrais Tapani. Mas trazê-los para o seu serviço
de bom grado? Agora, isso é alguma coisa. Vai tomar todos os nossos
esforços conjuntos. Foi o que Yaru Korsin pensou e é bom o suficiente para
mim.
— Você está certo, é claro.
— Claro que estou. Eu sou velho. — Hilts aproximou do seu protegido
e pegou o braço dele. — Aqui, deixe-me contar sobre a história em que
estou trabalhando...
M uitos queriam encontrar o líder dos humanos
incompreendidos, mas Quarra não ficou para cumprimentar o Grande
Lorde. Edell imaginou que ela tinha ido atrás de Jogan, mas ninguém no
local do desfile a tinha visto.
Mais tarde, soube que ela foi ajudar na limpeza do Salão Vaal.
Gorducho e o Keshiri sobrevivente de Bentado, agora sob a direção de
Edell, haviam mantido a importante torre de sinalização até a chegada dos
conselheiros humanos de vestes brancas. Apenas alguns dias após o
Testemunho de Jogan, havia muitos nas ruas de Sus'mintri, parecendo gentis
e prestativos. Edell movia-se livremente pelas ruas agora em suas próprias
roupas brancas, nem invasor nem senhorio, mas convidado benevolente. Os
Sith foram gentis e generosos com presentes bonitos do outro lado do
oceano, e os Alanciari sabiam fazer uma coisa muito bem: espalhar a
notícia.
Edell agora era essencialmente governador de Alanciar para Hilts, mas
levaria anos de cooperação sorridente para que o domínio fosse totalmente
aceito e reconhecido abertamente. O Alto Lorde enfrentou muitos dos
mesmos desafios que a tripulação da Presságio e, de certa forma, seu
trabalho era mais complicado. Cada vila, cada fazenda estatal ali continha
alguma inovação Keshiri desconhecida do outro lado do globo. Todos
tiveram que ser avaliados. Alguns avanços seriam levados a Keshtah; os
navios eram uma escolha óbvia para substituir as aeronaves perigosas.
Vastas áreas de Kesh, como o desconhecido hemisfério norte, ausente no
mapa antigo de Korsin, agora podiam se tornar acessíveis. Poderia haver
mais nativos, mais mistérios lá? A perspectiva excitava Edell.
Haviam até boatos de criar um par de recifes artificiais no oceano, para
fornecer aos uvak estações de descanso enquanto eles faziam travessias
oceânicas. Os continentes já haviam sido unidos; haveria conexões
novamente.
Os navios eram uma coisa, mas muitas outras tecnologias Alanciari
seriam retiradas. Eles iriam lentamente, mas com firmeza, exortando os
moradores a queimar as suas balistas, grandes e pequenas, em uma
demonstração de confiança. Não era só por causa do desejo de desarmar os
Alanciari. Milhões de Keshiri armados eram uma tentação muito grande
para um Sith ambicioso.
O trabalho pela frente era imenso. Ele sabia de quem ele precisava,
alguém a quem ele rapidamente passou a respeitar e admirar, de uma
maneira que ele não valorizava ninguém em casa.
Ele a encontrou no Salão Vaal. A equipe de limpeza ainda estava
colocando o local de volta ao seu bom funcionamento, mas Quarra estava
do lado de fora da parede do pátio, onde havia deixado a equipe muntok.
Ela olhou para cima ao alimentá-los.
— Está ficando lotado lá. — ela disse.
— Ficará ainda mais cheio. E ocupado. Você viu o seu amigo sentinela?
— Brevemente. — Ela pousou o balde de ração. — Parece que ele
estará ocupado também.
— Ele terá um lugar de honra em nossa sociedade, como nosso primeiro
visitante de Alanciar. — Edell olhou para a torre de alabastro, erguendo-se
acima da parede do pátio. — Jogan não será confiado cegamente, como
Adari Vaal foi. Em certo sentido, você pode dizer que nós o trocamos por
ela.
Quarra não respondeu. Prendeu um alforje a um dos muntoks e o retirou
do carrinho.
Edell deu um passo em sua direção.
— Você poderia se juntar a ele, é claro... ou fazer outra coisa. O Grande
Lorde Hilts está impressionado com a tradição na Força nas pessoas daqui.
Autodidata, e tudo. Ele sempre quis trazer os Keshiri para a Tribo, com
títulos como os nossos. — Ele pegou a mão dela e a olhou atentamente. —
Várias estradas estão abertas para você, Quarra.
— Não. — ela disse, sorrindo fracamente e puxando a mão para trás. —
Só há uma.
No final de um período repleto de decisões difíceis, quase impossíveis,
a decisão final foi a mais fácil.
Observando o sol se pôr enquanto o seu muntok galopava pela cidade,
Quarra entendia agora porque viajara para Ponta do Desafio naquela noite
de outono. Tornara-se um barco no canal de sua carreira, atrelada a uma
única direção. Por mais que avançasse, saber exatamente como seria o resto
de sua vida a tinha esgotado. Outros no estado militar viviam com o mesmo
problema há anos.
Mas desde a chegada dos Sith, a sociedade parecia animada. Novas
perspectivas misteriosas se abriram para todos. Entre eles, apenas Quarra
ainda sentia que sabia como seria o futuro. Apenas ela tinha visto os Sith
como eles realmente eram.
Não como Jogan. O correspondente dela no final da linha era agora o
centro do mundo. Ele disse que conversariam em breve, mas ele nunca a
contatou, e ela nunca fez qualquer tentativa de encontrá-lo. Ele estava
ocupado agora, o eremita profissional ocasional, visitando uma cidade em
Alanciar após outra no Bom Presságio para repetir a história de sua
aventura. Já havia sido dramatizado, com a ajuda de atores e compositores
importados de Keshtah, em algo que substituiria a peça de Adari Vaal.
Adari só seria encontrada agora em uma rocha. Ele viveu em uma, antes de
ver a verdade. Jogan Halder era o verdadeiro Rochedo de Kesh.
Ele nunca fora uma verdadeira sentinela, percebeu. Jogan aspirava a um
chamado que não florescia em Alanciar desde a chegada de Adari Vaal.
Agora iria novamente. As peças patrióticas respeitáveis apresentadas em
cada Dia da Observância seriam substituídas por novas produções, para
todos os dias. Haveria novamente contadores de histórias, escultores,
clientes e atores. Tudo o que foi deixado de lado durante a longa
emergência estava voltando agora, com uma velocidade surpreendente.
Encorajados e instigados pelos Sith, que sempre cultivaram silenciosamente
a noção de que os últimos dois mil anos em Alanciar haviam se perdido
para uma espécie de loucura coletiva.
Era uma noção que os seus amigos, vizinhos e colegas estavam
aceitando prontamente. Quarra temia que, no final, apenas ela se lembrasse
de Adari com carinho. Os sinais do mal dos Sith estavam visivelmente
presentes nas ações de Bentado, mas as forças sob Varner Hilts estavam em
seu melhor comportamento desde a chegada deles. A Unificação já estava
em andamento. A conspiração para tomar Jogan e o povo de Alanciar tinha
sido diabólica, mas sutil, e difícil de convencer alguém. Quarra havia
tentado mais de uma vez, falando baixo com outras pessoas que conhecia
com autoridade. Mas tudo o que recebeu em troca foi o ceticismo que
deveria ter sido dirigido aos Sith, mesmo daqueles em cujo julgamento ela
havia confiado anteriormente. Ninguém queria ouvir de outra Adari.
Finalmente, ela desistiu.
Havia recebido um último aviso de Adari, entretanto... e talvez fosse o
último que alguém tivesse ouvido da desacreditada Anunciadora. As
memórias de Adari contavam a sua esperança de que, ficando perto de Yaru
Korsin, algum dia pudesse aprender o suficiente para libertar o seu povo.
Ela havia conseguido isso parcialmente, ensinando ao povo de Alanciar o
que sabia. Mas Adari também confessara as suas próprias falhas pessoais.
Ao caminhar com Korsin, ela se tornou a Salvadora por um tempo, honrada
muito acima dos Keshiri que a atormentaram em sua vida anterior. E ela
substituiu um marido chato e repugnante por um companheiro que, embora
mais ameaçador, tinha muito mais inteligência.
Edell Vrai havia oferecido a Quarra a mesma oportunidade. Havia tantas
tarefas pela frente e Edell precisava dela. E Alanciar precisava dela, em
algum sentido. Poderia melhorar as coisas, poderia suavizar a transição, e
poderia até mesmo levar um pouco do conhecimento médico do povo dele
para Alanciar. Havia muito em Edell. Não era melhor ser companheira de
um Alto Lorde Sith do que ser um herói popular Keshiri?
Não. Orielle, a mulher dos sonhos, havia dito a ela que não podia fugir
do inevitável, e seu povo não iria. Aceitaria isso também. Mas não
significava que tivesse que correr em direção a isso. Adari respondeu isso
para ela. Quarra deu um tapinha no livro de memórias, seguro no alforje
após o resgate dos arquivos. Sim, alguns animais são melhores que outros,
mas ainda são animais. Fique com você mesma.
Encontrou Brue no crepúsculo do lado de fora da casa deles em Uhrar,
polindo os globos de fogo que ele moldara.
— Parece que você teve férias agitadas. — seu marido disse, desligando
os aparelhos.
— Essa é uma maneira de dizer. — ela disse, desmontando. — Como
foi o trabalho?
— Muito bom. — O Keshiri desgastado deu um tapinha nas esferas de
vidro e sorriu. Ele estava em demanda agora, como todos os artesãos; os
Sith estavam interessados nos dispositivos. — As crianças estão felizes por
estar em casa. Elas ficarão emocionadas em vê-la.
— Eu vou surpreendê-las. — ela disse, ajoelhando-se para amarrar a
criatura. Brue voltou a subir os degraus de casa, assobiando.
Quarra olhou para a casa deles e depois subiu a rua. Sabia como seria o
resto de sua vida e sabia como seria o resto da vida de seus filhos. Ficaria
ali, para guiá-los, e os seus cidadãos, desde que existisse seu escritório. Não
havia realmente mais o que fazer.
Olhou para as estrelas que apareciam no céu. Sob os Sith, elas
receberiam novos nomes. Esperava que em algum lugar vivessem os
verdadeiros Protetores, prontos para salvar o seu povo.
Mas estava preparada para estar errada.
STAR WARS / STAR WARS: TRIBO PERDIDA DOS SITH - COLETÂNEA DE HISTÓRIAS
TÍTULO ORIGINAL: Star Wars / Tribe of the Sith - The Collected Stories
COPIDESQUE: TRADUTORES DOS WHILLS
REVISÃO: TRADUTORES DOS WHILLS
DIAGRAMAÇÃO: TRADUTORES DOS WHILLS
ARTE E ADAPTAÇÃO: TRADUTORES DOS WHILLS / JOSEPH MEEHAN
ILUSTRAÇÃO: TRADUTORES DOS WHILLS
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DIREÇÃO EDITORIAL: TRADUTORES DOS WHILLS
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(EDIÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA PARA O BRASIL)
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STAR WARS: A TRIBO PERDIDA DOS SITH - COLETÂNEA DE HISTÓRIAS É UM LIVRO DE FICÇÃO. TODOS OS
PERSONAGENS, LUGARES E ACONTECIMENTOS SÃO FICCIONAIS.
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
TDW CRB-1/000
M28j Miller, John Jackson
STAR WARS: A TRIBO PERDIDA DOS SITH - COLETÂNEA DE HISTÓRIAS [recurso eletrônico] / John Jackson Miller ;
traduzido por Red Skull Mythosaur.
400 p. : 2.0 MB.
Tradução de: Tribe of the Sith - The Collected Stories
ISBN: 978-85-503-0253-9 (Ebook)
1. Literatura norte-americana. 2. Ficção científica. I. Mythosaur, Red Skull CF. II. Título.
2017.352

ÍNDICES PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO:

Literatura : Ficção Norte-Americana 813.0876


Literatura norte-americana : Ficção 821.111(73)-3

tradutoresdoswhills.wordpress.com
A série com os nove romances LEGENDS de Fate of the Jedi, de Aaron
Allston, Christie Golden e Troy Denning introduziram uma Tribo Perdida
dos Sith, abandonada no planeta Kesh e descoberta no tempo de Luke
Skywalker. O projeto A Tribo Perdida dos Sith contou a história dessa
sociedade Sith através de uma série de histórias curtas de livros eletrônicos;
estes aparecem aqui, pela primeira vez como um novo romance. Os meus
agradecimentos à editora da Del Rey, Shelly Shapiro, e à ex-editora de
ficção da Lucasfilm, Sue Rostoni, por me trazer o projeto, e a Aaron,
Christie e Troy pelo desenvolvimento dos materiais de apoio que se
tornaram a base dessas histórias. Agradeço a David Pomerico, Frank Parisi,
Erich Schoeneweiss e a todos da Random House que ajudaram a trazer a
Tribo Perdida à vida tanto impressa como em mídias eletrônicas. Para ler
mais aventuras da Tribo Perdida, procure os romances de Fate of the Jedi,
agora disponíveis em brochura de capa dura e de mercado de massa. E
encontre novas histórias nas histórias em quadrinhos A Tribo Perdida dos
Sith, disponíveis pela Dark Horse Comics.
John Jackson Miller é designer de jogos e autor da série de e-
books Star Wars: Cavaleira Errante e Star Wars: Tribo Perdida dos Sith,
bem como de nove histórias em quadrinhos Star Wars: Cavaleiros da Velha
República. O seu trabalho em quadrinhos inclui escrever para as HQs do
Homem de Ferro, de Mass Effect, do Bart Simpson e do Indiana Jones. Ele
mora em Wisconsin com a sua esposa, os dois filhos e muitos quadrinhos..
Star Wars: Guardiões dos Whills
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No mundo do deserto de Jedha, na Cidade Santa, os amigos Baze e Chirrut costumavam


ser Guardiões das colinas, que cuidavam do Templo de Kyber e dos devotos peregrinos
que adoravam lá. Então o Império veio e assumiu o planeta. O templo foi destruído e as
pessoas espalhadas. Agora, Baze e Chirrut fazem o que podem para resistir ao Império e
proteger as pessoas de Jedha, mas nunca parece ser suficiente. Então um homem
chamado Saw Gerrera chega, com uma milícia de seus próprios e grandes planos para
derrubar o Império. Parece ser a maneira perfeita para Baze e Chirrut fazer uma diferença
real e ajudar as pessoas de Jedha a viver melhores vidas. Mas isso vai custar caro?

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STAR WARS: Episódio VIII: Os Últimos Jedi
(Movie Storybook)
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Um livro de imagens ilustrado que reconta o filme Star Wars: Os Últimos Jedi.

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Chewie e a Garota Corajosa
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Um Wookiee é o melhor amigo de uma menina! Quando Chewbacca conhece a jovem


Zarro na Orla Exterior, ele não tem escolha a não ser deixar de lado sua própria missão
para ajudá-la a resgatar seu pai de uma mina perigosa. Essa incrível Aventura foi baseada
na HQ do Chewbacca... (FAIXA ETÁRIA: 6 a 8 anos)

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Star Wars: Ahsoka
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Esse é o Terceiro Ebook dos Tradutores dos Whills com uma aventura emocionante sobre
uma heroína corajosa das Séries de TV Clone Wars e Rebels: Ahsoka Tano! Os fãs há
muito tempo se perguntam o que aconteceu com Ahsoka depois que ela deixou a Ordem
Jedi perto do fim das Guerras Clônicas, e antes dela reaparecer como a misteriosa
operadora rebelde Fulcro em Rebels. Finalmente, sua história começará a ser contada.
Seguindo suas experiências com os Jedi e a devastação da Ordem 66, Ahsoka não tem
certeza de que possa fazer parte de um todo maior de novo. Mas seu desejo de combater
os males do Império e proteger aqueles que precisam disso e levará a Bail Organa e a
Aliança Rebelde....

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Star Wars: Kenobi Exílio
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A República foi destruída, e agora a galáxia é governada pelos terríveis Sith. Obi-Wan
Kenobi, o grande cavaleiro Jedi, perdeu tudo... menos a esperança. Após os terríveis
acontecimentos que deram fim à República, coube ao grande mestre Jedi Obi-Wan Kenobi
manter a sanidade na missão de proteger aquele que pode ser a última esperança da
resistência ao Império. Vivendo entre fazendeiros no remoto e desértico planeta Tatooine,
nos confins da galáxia, o que Obi-Wan mais deseja é manter-se no completo anonimato e,
para isso, evita o contato com os moradores locais. No entanto, todos esses esforços
podem ser em vão quando o “Velho Ben”, como o cavaleiro passa a ser conhecido, se vê
envolvido na luta pela sobrevivência dos habitantes por uma Grande Seca e por causa de
um chefe do crime e do povo da areia. Se com o Novo Cânone pudéssemos encontrar
todos os materiais disponíveis aos anos de Exílio de Obi-Wan Kenobi em um só Lugar?
Após o Livro Kenobi se tornar Legend, os fãs ficaram sem saber o que aconteceu com o
Velho Ben nesse tempo de reclusão. Então os Tradutores dos Whills também se fizeram
essa pergunta e resolveram fazer esse trabalho de compilação dos Contos, Ebooks, Séries
Animadas e HQs, em um só Ebook Especial e Canônico para todos os Fãs!!

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Star Wars: Dookan: O Jedi Perdido
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Esse é o Quarto Ebook dos Tradutores dos Whills com uma aventura emocionante sobre
um Vilão dos Filmes e da Série de TV Clone Wars: Conde Dookan! Mergulhe
na
história do sinistro Conde Dookan no roteiro original da emocionante
produção de áudio de Star Wars! Darth Tyranus. Conde de Serenno.
Líder dos Separatistas. Um sabre vermelho, desembainhado no
escuro. Mas quem era ele antes de se tornar a mão direita dos Sith?
Quando Dookan corteja uma nova aprendiz, a verdade oculta do
passado do Lorde Sith começa a aparecer. A vida de Dookan
começou como um privilégio, nascido dentro das muralhas
pedregosas da propriedade de sua família. Mas logo, suas
habilidades Jedi são reconhecidas, e ele é levado de sua casa para
ser treinado nos caminhos da Força pelo lendário Mestre
Yoda. Enquanto ele afia seu poder, Dookan sobe na hierarquia,
fazendo amizade com Jedi Sifo-Dyas e levando um Padawan, o
promissor Qui-Gon Jinn, e tenta esquecer a vida que ele levou uma
vez. Mas ele se vê atraído por um estranho fascínio pela mestra
Jedi Lene Kostana, e pela missão que ela empreende para a
Ordem: encontrar e estudar relíquias antigas dos Sith, em
preparação para o eventual retorno dos inimigos mais mortais que
os Jedi já enfrentaram. Preso entre o mundo dos Jedi, as
responsabilidades antigas de sua casa perdida e o poder sedutor
das relíquias, Dookan luta para permanecer na luz, mesmo
quando começa a cair na escuridão.

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Star Wars: Discípulo Sombrio
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Esse é o Quinto Ebook dos Tradutores dos Whills com uma aventura emocionante sobre
um Vilões e Heróis dos Filmes e da Série de TV Clone Wars! Baseado em episódios não
produzidos de Star Wars: The Clone Wars, este novo romance apresenta Asajj Ventress, a
ex-aprendiz Sith que se tornou um caçadora de recompensas e uma das maiores anti-
heróis da galáxia de Star Wars. Na guerra pelo controle da galáxia entre os exércitos do
lado negro e da República, o ex-Mestre Jedi se tornou cruel. O Lorde Sith Conde Dookan
se tornou cada vez mais brutal em suas táticas. Apesar dos poderes dos Jedi e das
proezas militares de seu exército de clones, o grande número de mortes está cobrando um
preço terrível. E quando Dookan ordena o massacre de uma flotilha de refugiados
indefesos, o Conselho Jedi sente que não tem escolha a não ser tomar medidas drásticas:
atacar o homem responsável por tantas atrocidades de guerra, o próprio Conde Dookan.
Mas o Dookan sempre evasivo é uma presa perigosa para o caçador mais hábil. Portanto,
o Conselho toma a decisão ousada de trazer tanto os lados do poder da Força de suportar.
— juntar o ousado Cavaleiro Quinlan Vos com a infame acólita Sith Asajj Ventress. Embora
a desconfiança dos Jedi pela astuta assassina que uma vez serviu ao lado de Dookan
ainda seja profunda, o ódio de Ventress por seu antigo mestre é mais profundo. Ela está
mais do que disposta a emprestar seus copiosos talentos como caçadora de recompensas,
e assassina, na busca de Vos.Juntos, Ventress e Vos são as melhores esperanças para
eliminar a Dookan. — desde que os sentimentos emergentes entre eles não comprometam
a sua missão. Mas Ventress está determinada a ter sua vingança e, finalmente, deixar de
lado seu passado sombrio de Sith. Equilibrando as emoções complicadas que sente por
Vos com a fúria de seu espírito guerreiro, ela resolve reivindicar a vitória em todas as
frentes, uma promessa que será impiedosamente testada por seu inimigo mortal... e sua
própria dúvida.

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Star Wars: Episódio IX: A Ascensão do Skywalker:
Edição Expandida
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Leia o épico capítulo final da saga Skywalker com a novelização oficial de Star Wars: A
Ascensão Skywalker, incluindo cenas ampliadas e conteúdo adicional não visto nos
cinemas! A Resistência renasceu. Mas, embora Rey e seus companheiros heróis estejam
de volta à luta, a guerra contra a Primeira Ordem, agora liderada pelo líder supremo Kylo
Ren, está longe de terminar. Assim como a faísca da rebelião está reacendendo, um sinal
misterioso é transmitido por toda a galáxia, com uma mensagem assustadora: o Imperador
Palpatine, há muito pensado derrotado e destruído, está de volta dos mortos. O antigo
Senhor dos Sith realmente voltou? Kylo Ren corta uma faixa de destruição pelas estrelas,
determinado a descobrir qualquer desafio ao seu controle sobre a Primeira Ordem e seu
destino para governar a galáxia – e esmagá-la completamente. Enquanto isso, para
descobrir a verdade, Rey, Finn, Poe e a Resistência devem embarcar na aventura mais
perigosa que já enfrentaram. Apresentando cenas totalmente novas, adaptadas de material
nunca visto, cenas excluídas e informações dos cineastas, a história que começou em Star
Wars: O Despertar da Força e continuou em Star Wars: Os Últimos Jedi chega a uma
conclusão surpreendente.

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Star Wars: Os Segredos Dos Jedi
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Descubra o mundo dos Jedi de Star Wars através desta experiência de leitura divertida e
totalmente interativa. Star Wars: Jediografia é o melhor guia do universo Jedi para o
universo dos Jedi, transportando jovens leitores para uma galáxia muito distante, através
de recursos interativos, fatos fascinantes e ideias cativantes. Com ilustrações originais
emocionantes e incríveis recursos especiais, como elevar as abas, texturas e muito mais,
Star Wars: Jediografia garante a emoção das legiões de jovens fãs da saga.

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Star Wars:Thrawn: Alianças
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Palavras sinistras em qualquer circunstância, mas ainda mais quando proferidas pelo
Imperador Palpatine. Em Batuu, nos limites das Regiões Desconhecidas, uma ameaça ao
Império está se enraizando. Com a sua existência pouco mais que um vislumbre, as suas
consequências ainda desconhecidas. Mas é preocupante o suficiente para o líder imperial
justificar a investigação de seus agentes mais poderosos: o impiedoso agente Lorde Darth
Vader e o brilhante estrategista grão-almirante Thrawn. Rivais ferozes a favor do Imperador
e adversários francos nos assuntos imperiais, incluindo o projeto Estrela da Morte, o par
formidável parece parceiros improváveis para uma missão tão crucial. Mas o Imperador
sabe que não é a primeira vez que Vader e Thrawn juntam forças. E há mais por trás de
seu comando real do que qualquer um dos suspeitos. No que parece uma vida atrás, o
general Anakin Skywalker da República Galáctica e o comandante Mitth’raw’nuruodo,
oficial da Ascensão do Chiss, cruzaram o caminho pela primeira vez. Um em uma busca
pessoal desesperada, o outro com motivos desconhecidos... e não divulgados. Mas, diante
de uma série de perigos em um mundo longínquo, eles forjaram uma aliança
desconfortável. — nem remotamente cientes do que seus futuros reservavam. Agora,
reunidos mais uma vez, eles se veem novamente ligados ao planeta onde lutaram lado a
lado. Lá eles serão duplamente desafiados. — por uma prova de sua lealdade ao Império...
e um inimigo que ameaça até seu poder combinado.

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Star Wars: Legado da Força: Traição
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Esta é a era do legado de Luke Skywalker: o Mestre Jedi unificou a Ordem em um grupo
coeso de poderosos Cavaleiros Jedi. Mas enquanto a nova era começa, os interesses
planetários ameaçam atrapalhar esse momento de relativa paz, e Luke é atormentado com
visões de uma escuridão que se aproxima. O mal está ressurgindo “das melhores
intenções” e parece que o legado dos Skywalkers pode dar um ciclo completo.A honra e o
dever colidirão com a amizade e os laços de sangue, à medida que os Skywalker e o clã
Solo se encontrarem em lados opostos de um conflito explosivo com repercussões
potencialmente devastadoras para ambas as famílias, para a ordem Jedi e para toda a
galáxia.Quando uma missão para descobrir uma fábrica ilegal de mísseis no planeta
Aduman termina em uma emboscada violenta, da qual a Cavaleira Jedi Jacen Solo e o seu
protegido e primo, Ben Skywalker, escapam por pouco com as suas vidas; é a evidência
mais alarmante ainda que desencadeia uma discussão política. A agitação está
ameaçando inflamar-se em total Rebelião. Os governos de vários mundos estão se
irritando com os rígidos regulamentos da Aliança Galáctica, e os esforços diplomáticos
para garantir o cumprimento estão falhando. Temendo o pior, a Aliança prepara uma
demonstração preventiva de poder militar, numa tentativa de trazer os mundos renegados
para a frente antes que uma revolta entre em erupção. O alvo modeloado para esse
exercício: o planeta Corellia, conhecido pela independência impetuosa e pelo espírito
renegado que fizeram de seu filho favorito, Han Solo, uma lenda.Algo como um trapaceiro,
Jacen é, no entanto, obrigado como Jedi a ficar com seu tio, o Mestre Jedi Luke
Skywalkers, ao lado da Aliança Galáctica. Mas quando os corellianos de guerra lançam um
contra-ataque, a demonstração de força da Aliança, e uma missão secreta para desativar a
crucial Estação Central de Corellia; dão lugar a uma escaramuça armada. Quando a
fumaça baixa, as linhas de batalha são traçadas. Agora, o espectro da guerra em grande
escala aparece entre um grupo crescente de planetas desafiadores e a Aliança Galáctica,
que alguns temem estar se tornando um novo Império.E, enquanto os dois lados lutam
para encontrar uma solução diplomática, atos misteriosos de traição e sabotagem
ameaçam condenar os esforços de paz a todo momento. Determinado a erradicar os que
estão por trás do caos, Jacen segue uma trilha de pistas enigmáticas para um encontro
sombrio com as mais chocantes revelações... enquanto Luke se depara com algo ainda
mais preocupante: visões de sonho de uma figura sombria cujo poder da Força e crueldade
lembram a ele de Darth Vader, um inimigo letal que ataca como um espírito sombrio em
uma missão de destruição. Um agente do mal que, se as visões de Luke acontecerem,
trará uma dor incalculável ao Mestre Jedi e a toda a galáxia.

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Star Wars: Battlefront II: Esquadrão Inferno
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Após o humilhante roubo dos planos da Estrela da Morte e a destruição da estação de


batalha, o Império está na defensiva. Mas não por muito. Em retaliação, os soldados
imperiais de elite do Esquadrão Inferno foram chamados para a missão crucial de se
infiltrar e eliminar os guerrilheiros. — a facção rebelde que já foi liderada pelo famoso
lutador pela liberdade da República, Saw Gerrera.

Após a morte de seu líder, os guerrilheiros continuaram seu legado extremista,


determinados a frustrar o Império. — não importa o custo. Agora o Esquadrão Inferno deve
provar seu status como o melhor dos melhores e derrubar os Partisans de dentro. Mas a
crescente ameaça de serem descobertos no meio de seu inimigo transforma uma operação
já perigosa em um teste ácido de fazer ou morrer que eles não ousam falhar. Para proteger
e preservar o Império, até onde irá o Esquadrão Inferno. . . e quão longe deles?

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Star Wars: Catalisador: Um Romance de Rogue One
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A guerra está destruindo a galáxia. Durante anos, a República e os Separatistas lutaram


entre as estrelas, cada um construindo uma tecnologia cada vez mais mortal na tentativa
de vencer a guerra. Como membro do projeto secreto da Estrela da Morte do Chanceler
Palpatine, Orson Krennic está determinado a desenvolver uma super arma antes que os
inimigos da República possam. E um velho amigo de Krennic, o brilhante cientista Galen
Erso, poderia ser a chave. tativa de vencer a guerra. Como membro do projeto secreto da
Estrela da Morte do Chanceler Palpatine, Orson Krennic está determinado a desenvolver
uma super arma antes que os inimigos da República possam. E um velho amigo de
Krennic, o brilhante cientista Galen Erso, poderia ser a chave. A pesquisa focada na
energia de Galen chamou a atenção de Krennic e de seus inimigos, tornando o cientista
um peão crucial no conflito galáctico. Mas depois que Krennic resgata Galen, sua esposa,
Lyra, e sua filha Jyn, de sequestradores separatistas, a família Erso está profundamente
em dívida com Krennic. Krennic então oferece a Galen uma oportunidade extraordinária:
continuar seus estudos científicos com todos os recursos totalmente à sua disposição.
Enquanto Galen e Lyra acreditam que sua pesquisa energética será usada puramente de
maneiras altruístas, Krennic tem outros planos que finalmente tornarão a Estrela da Morte
uma realidade. Presos no aperto cada vez maior de seus benfeitores, os Ersos precisam
desembaraçar a teia de decepção de Krennic para salvar a si mesmos e à própria galáxia.

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Star Wars: Ascensão Rebelde
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Quando Jyn Erso tinha cinco anos, sua mãe foi assassinada e seu pai foi tirado dela para
servir ao Império. Mas, apesar da perda de seus pais, ela não está completamente
sozinha. — Saw Gerrera, um homem disposto a ir a todos os extremos necessários para
resistir à tirania imperial, acolhe-a como sua e dá a ela não apenas um lar, mas todas as
habilidades e os recursos de que ela precisa para se tornar uma rebelde.Jyn se dedica à
causa e ao homem. Mas lutar ao lado de Saw e seu povo traz consigo o perigo e a questão
de quão longe Jyn está disposta a ir como um dos soldados de Saw. Quando ela enfrenta
uma traição impensável que destrói seu mundo, Jyn terá que se recompor e descobrir no
que ela realmente acredita... e em quem ela pode realmente confiar.

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Star Wars: A Alta República: A Luz dos Jedi
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Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo da Ameaça Fantasma .
. . Os Jedi iluminaram o caminho para a galáxia na Alta República. É uma era de ouro. Os
intrépidos batedores do hiperespaço expandem o alcance da República para as estrelas
mais distantes, mundos prosperam sob a liderança benevolente do Senado e a paz reina,
reforçada pela sabedoria e força da renomada ordem de usuários da Força conhecidos
como Jedi. Com os Jedi no auge de seu poder, os cidadãos livres da galáxia estão
confiantes em sua habilidade de resistir a qualquer tempestade. Mas mesmo a luz mais
brilhante pode lançar uma sombra, e algumas tempestades desafiam qualquer preparação.
Quando uma catástrofe chocante no hiperespaço despedaça uma nave, a enxurrada de
estilhaços que emergem do desastre ameaça todo o sistema. Assim que o pedido de ajuda
sai, os Jedi correm para o local. O escopo do surgimento, no entanto, é o suficiente para
levar até os Jedi ao seu limite. Enquanto o céu se abre e a destruição cai sobre a aliança
pacífica que ajudaram a construir, os Jedi devem confiar na Força para vê-los em um dia
em que um único erro pode custar bilhões de vidas. Mesmo enquanto os Jedi lutam
bravamente contra a calamidade, algo verdadeiramente mortal cresce além dos limites da
República. O desastre do hiperespaço é muito mais sinistro do que os Jedi poderiam
suspeitar. Uma ameaça se esconde na escuridão, longe da era da luz, e guarda um
segredo.

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Star Wars: A Alta República: O Grande Resgate Jedi
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Conheça os nobres e sábios Jedi da Alta República! Quando um desastre acontece no


hiperespaço, colocando o povo de Hetzal Prime em grave perigo, apenas os Jedi da Alta
República podem salvar o dia! Esse ebook é a forma mais incrível de introduzir as crianças
nessa nova Era da Alta República, pois reconta a história do Ebook Luz dos Jedi de forma
simples e didática para as crianças. (FAIXA ETÁRIA: 5 a 8 anos)

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Star Wars: A Alta República: Na Escuridão
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Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo da Ameaça Fantasma .
. . Os Jedi iluminaram o caminho para a galáxia na Alta República. Padawan Reath Silas
está sendo enviado da cosmopolita capital galáctica de Coruscant para a fronteira
subdesenvolvida, e ele não poderia estar menos feliz com isso. Ele prefere ficar no Templo
Jedi, estudando os arquivos. Mas quando a nave em que ele está viajando é arrancada do
hiperespaço em um desastre que abrange toda a galáxia, Reath se encontra no centro da
ação. Os Jedi e seus companheiros de viagem encontram refúgio no que parece ser uma
estação espacial abandonada. Mas então coisas estranhas começaram a acontecer,
levando os Jedi a investigar a verdade por trás da estação misteriosa, uma verdade que
pode terminar em tragédia ...

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Star Wars: A Alta República: Um Teste de Coragem
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Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo da Ameaça Fantasma .
. . Vernestra Rwoh é mais nova Cavaleira Jedi com dezesseis anos, mas a sua primeira
missão de verdade parece muito com ser babá. Ela foi encarregada de supervisionar a
aspirante a inventora Avon Starros, de 12 anos, em um cruzador rumo à inauguração de
uma nova estação espacial maravilhosa chamada Farol Estelar. Mas logo em sua jornada,
bombas explodem a bordo do cruzador. Enquanto o Jedi adulto tenta salvar a nave,
Vernestra, Avon, o droide J-6 de Avon, um Padawan Jedi e o filho de um embaixador
conseguem chegar a uma nave de fuga, mas as comunicações acabam e os suprimentos
são poucos. Eles decidem pousar em uma lua próxima, que oferece abrigo, mas não muito
mais. E sem o conhecimento deles, o perigo se esconde na selva...

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Star Wars: A Alta República: Corrida para Torre
Crashpoint
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Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo da Ameaça Fantasma .
. . Padawan Ram Jomaram quer cuidar das suas atividades em paz, mas o droide V-18
vem trazer notícias sobre a queda das comunicações. Contudo os outros Jedi estão
resolvendo outros problemas e ele é o único disponível para resolver a situação.

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Star Wars: Velha República: Enganados
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“Nossa hora chegou. Durante trezentos anos nos preparamos; ficamos mais fortes
enquanto você descansava em seu berço de poder... Agora sua República cairá.” Um
guerreiro Sith para rivalizar com o mais sinistro dos Lordes Sombrios da Ordem, Darth
Malgus derrubou o Templo Jedi em Coruscant em um ataque brutal que chocou a galáxia.
Mas se a guerra o coroasse como o mais sombrio dos heróis Sith, a paz o transformará em
algo muito mais hediondo, algo que Malgus nunca gostaria de ser, mas não pode parar de
se tornar, assim como ele não pode impedir a Jedi desobediente de se aproximar
rapidamente. O nome dela é Aryn Leneer - e o único Cavaleiro Jedi que Malgus matou na
batalha feroz pelo Templo Jedi era seu Mestre. Agora ela vai descobrir o que aconteceu
com ele, mesmo que isso signifique quebrar todas as regras da Ordem.

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Star Wars: Thrawn: Traição
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Essa foi a promessa que o Grão Almirante Thrawn fez ao Imperador Palpatine em seu
primeiro encontro. Desde então, Thrawn tem sido um dos instrumentos mais eficazes do
Império, perseguindo os seus inimigos até os limites da galáxia conhecida. Mas por mais
que Thrawn tenha se tornado uma arma afiada, o Imperador sonha com algo muito mais
destrutivo. Agora, enquanto o programa TIE Defender de Thrawn é interrompido em favor
do projeto ultrassecreto conhecido apenas como Estrelinha, do Diretor Krennic, ele percebe
que o equilíbrio de poder no Império é medido por mais do que apenas perspicácia militar
ou eficiência tática. Mesmo o maior intelecto dificilmente pode competir com o poder de
aniquilar planetas inteiros. Enquanto Thrawn trabalha para garantir o seu lugar na
hierarquia Imperial, seu ex-protegido Eli Vanto retorna com um terrível aviso sobre o mundo
natal de Thrawn. O domínio da estratégia de Thrawn deve guiá-lo através de uma escolha
impossível: dever para com a Ascendência Chiss ou a fidelidade para com o Império que
ele jurou servir. Mesmo que a escolha certa signifique cometer traição.

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Star Wars: Mestre e Aprendiz
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Um Jedi deve ser um guerreiro destemido, um guardião da justiça e um erudito nos


caminhos da Força. Mas talvez o dever mais essencial de um Jedi seja transmitir o que
aprenderam. Mestre Yoda treinou Dookan o qual treinou Qui-Gon Jinn; e agora Qui-Gon
tem um Padawan próprio. Mas enquanto Qui-Gon enfrentou todos os tipos de ameaças e
perigos como um Jedi, nada o assustou tanto quanto a ideia de falhar com seu aprendiz.
Obi-Wan Kenobi tem profundo respeito por seu Mestre, mas luta para entendê-lo. Por que
Qui-Gon deve tantas vezes desconsiderar as leis que obrigam os Jedi? Por que Qui-Gon é
atraído por antigas profecias Jedi em vez de preocupações mais práticas? E por que Obi-
Wan não disse que Qui-Gon está considerando um convite para se juntar ao Conselho Jedi
- sabendo que isso significaria o fim de sua parceria? A resposta simples o assusta: Obi-
Wan falhou com seu Mestre. Quando Jedi Rael Aveross, outro ex-aluno de Dookan, solicita
sua ajuda em uma disputa política, Jinn e Kenobi viajam para a Corte Real de Pijal para o
que pode ser sua missão final juntos. O que deveria ser uma tarefa simples rapidamente se
torna obscurecido por engano e por visões de desastre violento que tomam conta da mente
de Qui-Gon. Conforme a fé de Qui-Gon na profecia cresce, a fé de Obi-Wan nele é testada
- assim como surge uma ameaça que exigirá que o Mestre e o Aprendiz se unam como
nunca antes, ou se dividam para sempre.

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Star Wars: Legado da Força: Linhagens de Sangue
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Uma nova era de aventuras emocionantes e revelações chocantes continua a se


desenrolar, à medida que a lendária saga Star Wars avança em um novo território
surpreendente. A guerra civil se aproxima enquanto a incipiente Aliança Galáctica enfrenta
um número crescente de mundos rebeldes... e a guerra que se aproxima está separando
as famílias Skywalker e Solo. Han e Leia retornam ao mundo natal de Han, Corellia, o
coração da resistência. Os seus filhos, Jacen e Jaina, são soldados na campanha da
Aliança Galáctica para esmagar os insurgentes.Jacen, agora um mestre completo da
Força, tem os seus próprios planos para trazer ordem à galáxia. Guiado por sua mentora
Sith, Lumiya, e com o filho de Luke, Ben, ao seu lado, Jacen embarca no mesmo caminho
que o seu avô Darth Vader fez uma vez. E enquanto Han e Leia assistem o seu único filho
homem se tornar um estranho, um assassino secreto emaranha o casal com um nome
temido do passado de Han: Boba Fett. Na nova ordem galáctica, amigos e inimigos não
são mais o que parecem...

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Star Wars: A Sombra da Rainha
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Quando Padmé Naberrie, Rainha Amidala de Naboo, deixa sua posição, ela é convidada
pela rainha recém-eleita para se tornar a representante de Naboo no Senado Galáctico.
Padmé não tem certeza sobre assumir a nova função, mas não pode recusar o pedido para
servir seu povo. Junto com suas servas mais leais, Padmé deve descobrir como navegar
nas águas traiçoeiras da política e forjar uma nova identidade além da sombra da rainha.

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Star Wars: Amanhecer dos Jedi - No vazio
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No planeta Tython, a antiga ordem Je'daii foi fundada. E aos pés de seus sábios Mestres,
Lanoree Brock aprendeu os mistérios e métodos da Força, e encontrou seu chamado como
um de seus discípulos mais poderosos. Mas tão fortemente quanto a Força fluiu dentro de
Lanoree e seus pais, ela permaneceu ausente em seu irmão, que passou a desprezar e
evitar os Je'daii, e cujo treinamento em seus métodos antigos terminou em tragédia. Agora,
de sua vida solitária como um Patrulheira mantendo a ordem em toda a galáxia, Lanoree
foi convocada pelo Conselho Je'daii em uma questão de extrema urgência. O líder de um
culto fanático, obcecado em viajar além dos limites do espaço conhecido, está empenhado
em abrir um portal cósmico usando a temida matéria escura como chave - arriscando uma
reação cataclísmica que consumirá todo o sistema estelar. Porém, mais chocante para
Lanoree do que até mesmo a perspectiva de aniquilação galáctica total, é a decisão de
seus Mestres Je'daii de incumbi-la da missão de evitá-la. Até que uma revelação
surpreendente deixa claro por que ela foi escolhida: o louco brilhante e perigoso que ela
deve rastrear e parar a qualquer custo é o irmão cuja morte ela lamentou por muito tempo,
e cuja vida ela deve temer agora.

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Star Wars: Thrawn: ASCENDÊNCIA (Livro I – Caos
Crescente)
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Além do limite da galáxia estão as Regiões Desconhecidas: caóticas, desconhecidas e


quase intransitáveis, com segredos ocultos e perigos em igual medida. E aninhada em seu
caos turbulento está a Ascendência, lar dos enigmáticos Chiss e das Nove Famílias
Regentes que as lideram. A paz da Ascensão, um farol de calma e estabilidade, é
destruída após um ousado ataque à capital de Chiss que não deixa vestígios do inimigo.
Perplexo, a Ascendência despacha um de seus jovens oficiais militares para erradicar os
agressores invisíveis. Um recruta nascido sem título, mas adotado na poderosa família de
Mitth e que recebeu o nome de Thrawn. Com o poder da Frota Expansionista em suas
costas e a ajuda de sua camarada Almirante Ar’alani, as respostas começam a se
encaixar. Mas conforme o primeiro comando de Thrawn investiga mais profundamente a
vasta extensão do espaço que seu povo chama de Caos, ele percebe que a missão que
lhe foi dada não é o que parece.

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Star Wars: A Alta República - Tormenta Crescente
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Os heróis da era da Alta República retornam para enfrentar uma paz destruída e um
inimigo terrível, após os eventos dramáticos de Luz dos Jedi. Na esteira do desastre do
hiperespaço e do heroísmo dos Jedi, a República continua a crescer, reunindo mais
mundos sob uma única bandeira unificada. Sob a liderança da Chanceler Lina Soh, o
espírito de unidade se estende por toda a galáxia, com os Jedi e a estação Farol Estelar
recentemente estabelecida na vanguarda. Em comemoração, a chanceler planeja a Feira
da República, será uma vitrine das possibilidades e da paz da República em expansão,
uma paz que os Jedi esperam promover. Stellan Gios, Bell Zettifar, Elzar Mann e outros se
juntam ao evento como embaixadores da harmonia. Mas à medida que os olhos da galáxia
se voltam para a feira, o mesmo ocorre com a fúria dos Nihil. O seu líder, Marchion Ro,
pretende destruir essa unidade. Sua Tempestade desce sobre a pompa e a celebração,
semeando o caos e exigindo vingança.

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Star Wars: Velha República – Aniquilação
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O Império Sith está em fluxo. O imperador está desaparecido, dado como morto, e a
tentativa de um ambicioso lorde Sith de tomar o trono terminou fatalmente. Ainda assim,
Darth Karrid, comandante do temível cruzador de batalha Imperial Lança Ascendente,
continua seus esforços incansáveis para alcançar o domínio Sith total da galáxia. Mas a
determinação implacável de Karrid é mais do que compatível com a determinação de aço
de Theron Shan, cujos negócios inacabados com o Império podem mudar o curso da
guerra para sempre. Embora filho de uma mestra Jedi, Theron não exerce a Força... mas,
como a sua renomada mãe, o espírito de rebelião está em seu sangue. Como um
importante agente secreto da República, ele desferiu um golpe crucial contra o Império ao
expor e destruir um arsenal de super arma Sith, o que o torna o agente ideal para uma
missão ousada e perigosa para acabar com o reinado de terror da Lança Ascendente.
Juntamente com a contrabandista Teff'ith, com quem ele tem uma ligação inexplicável, e o
sábio guerreiro Jedi Gnost-Dural, ex-mestre de Darth Karrid, Theron deve combinar
inteligência e armas com uma tripulação testada em batalha da escuridão mais fria
discípulos secundários. Mas o tempo é brutalmente curto. E se eles não aproveitarem sua
única chance de sucesso, certamente terão inúmeras oportunidades de morrer.

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