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Precipício
Introdução
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Celestial
Introdução
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Paradigma
Introdução
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Salvador
Introdução
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Purgatório
Introdução
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Sentinela
Introdução
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Panteão
Introdução
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Segredos
Introdução
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Pandemônio
Introdução
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Mapas
Sobre o Ebook
Agradecimentos
Sobre a Autora
Star Wars: A Tribo Perdida dos Sith - Coletânea de Histórias é uma obra de ficção. Nomes, lugares,
e outros incidentes são produtos da imaginação do autor ou são usadas na ficção. Qualquer
semelhança a eventos atuais, locais, ou pessoas, vivo ou morto, é mera coincidência.Direitos Autorais
© 2012 da Lucasfilm Ltd. ® TM onde indicada. Todos os direitos reservados. Publicado nos Estados
Unidos pela Del Rey, uma impressão da Random House, um divisão da Penguin Random House
LLC, Nova York.DEL REY e a HOUSE colophon são marcas registradas da Penguin Random House
LLC.randomhousebooks.com/starwars.com/Facebook.com/starwarsbooks
Star Wars: A Tribo Perdida dos Sith #1: Precipício
Star Wars: A Tribo Perdida dos Sith #2: Celestial
Star Wars: A Tribo Perdida dos Sith #3: Paradigma
Star Wars: A Tribo Perdida dos Sith #4: Salvador
Star Wars: A Tribo Perdida dos Sith #5: Purgatório
Star Wars: A Tribo Perdida dos Sith #6: Sentinela
Star Wars: A Tribo Perdida dos Sith #7: Panteão
Star Wars: A Tribo Perdida dos Sith #8: Segredos
Star Wars: A Tribo Perdida dos Sith #9: Pandemônio
Agora, graças a uma simples rocha, estava vendo mais do mundo do que
nunca, do alto, agarrada às costas largas de Nink. Era uma posição
improvável para os dois, mas esteve nela a maior parte da noite e parte do
dia. O seu primeiro voo de uvak. Não foi por escolha.
As horas após a explosão na montanha não foram tão ruins assim, ela
pensou. Os membros da Audiência no julgamento fugiram para casa. Ela
fez o mesmo depois que Dazh e os seus companheiros saíram juntos,
discutindo sobre sinais e presságios.
Na manhã seguinte, no entanto, o clima da cidade havia mudado. O
distante pico de Cetajan ainda estava com fumaça, mas ficou claro que não
representava perigo para Tahv ou para as aldeias mais abaixo na bacia
hidrográfica. Era certo que todos saíssem, principalmente para o jardim da
frente de Adari, para expressar os seus sentimentos sobre as palavras infiéis
dela e a adição ardente ao horizonte que haviam causado. Os Celestiais
tinham ouvido. Que outra prova era necessária? Se os Keshiri não
conseguissem silenciar Adari Vaal, pelo menos teriam certeza de que as
suas vozes eram mais altas que a dela.
Eles estavam fazendo um bom trabalho quando Adari enviou Eulyn e as
crianças para se refugiarem na casa de seu tio. A multidão crescente, ainda
atirando pedras na casa, se separou para deixar os inocentes partirem. Mas a
multidão permaneceu firme durante a chuva da tarde, e ao pôr do sol, os
próprios Neshtovar estavam do lado de fora, com os seus uvak amarrados
em segurança longe da multidão. Quando Izri Dazh subiu os degraus para
bater na porta, Adari viu as primeiras tochas acesas lá fora.
Isso foi o bastante pra ela. As tochas poderiam ser para iluminar, mas
poderiam ser para alguma coisa pior. Ela claramente tinha excedido
qualquer proteção que uma viúva de um cavaleiro uvak tivesse. Os Keshiri
não eram violentos, mas também não tinham muita variedade em suas
sanções sociais. Julgando que aquela não parecia ser o tipo de multidão que
bane alguém, Adari se virou em desespero para o seu próprio quintal e a
parte menos apreciada de seu legado: Nink.
A sua partida sobre o telhado surpreendeu as pessoas na frente quase
tanto quanto o sucesso da manobra a surpreendeu. O uvak foi a maior
surpresa de todas. Com seu dono morto, Nink esperava nunca mais ser
montado. Os uvak aceitavam novos pilotos tão raramente que eles eram
prontamente colocados para procriar. Ao acordar com Adari tentando
escalar as suas costas musculosas, Nink poderia ter feito qualquer coisa, ido
a qualquer lugar.
Mas ele voou.
Adari passou o resto daquela noite alternadamente gritando e se
esquivando da perseguição de pilotos Neshtovar. A última façanha foi
facilitada pela insistência de Nink em subir muito além do oceano. Aqueles
foram os piores momentos para Adari, que conhecia o passado do animal.
Mas algo da parte do uvak, talvez curiosidade, o impediu de mandá-la para
o túmulo de Zhari. Pouco antes do amanhecer, Nink finalmente encontrou
um poleiro em uma montanha à beira-mar, onde Adari imediatamente
desabou de exaustão..
Talvez ela devesse ofender os Celestiais todo o ano.
Ela estava errada ao ir ali. O céu tinha dito a ela para ir, mas aquilo não
parecia nenhum tipo de libertação que Adari conhecia.
O nariz dela se enrugou com o cheiro. O barranco estava escuro, mas
era óbvio que algo horrível tinha sido queimado ali. Mesmo os poços
sulfurosos do sul não cheiravam tão mal. Ela olhou para Nink, bocejando na
folhagem e relutante em segui-la adiante. Animal sábio.
Os fogos ativos estavam à frente, no meio das árvores sobre a colina. O
ar a acariciou enquanto se esgueirava. O que quer que estivessem
queimando, não era o que havia no barranco.
Na clareira abaixo, Adari os viu: pessoas. Tantas quanto as que estavam
em sua audiência final se reuniam em torno de várias fogueiras. Pensou
novamente nos Neshtovar a esperando. Nesse caso, a chegada dela a pé
provavelmente era melhor. Esforçou-se para distinguir as vozes deles
quando se aproximou. Reconheceu uma delas, mas não as palavras. Ela se
aproximou...
... e foi arremessada em direção a uma árvore. Adari bateu com força
contra ela, desabando sem fôlego na base. Figuras correram para ela saindo
das sombras. Lutando, ela os viu... com os seus corpos iluminados não
pelos fogos, mas por caules de energia magenta que emanavam de suas
mãos, como ela já havia visto antes. Ela tropeçou em uma raiz.
— Não!
Nunca bateu no chão. Uma força invisível a puxou através do labirinto
de figuras, depositando-a abruptamente diante da fogueira maior.
Levantando-a de costas para as chamas, ela olhou para os espectros que
avançavam. Eles eram pessoas, mas não como ela. Não roxas, mas bejes,
marrons, vermelhas e mais... todas as cores, exceto a que deveriam ter. E
alguns rostos não eram como os dela. Pequenos tentáculos balançavam em
bochechas vermelhas. Uma figura gorda e leprosa, duas vezes mais
volumosa do que o resto e com uma pele como a de Nink, estava atrás de
todos, grunhindo guturalmente.
Adari gritou... mas eles não estavam ouvindo. Eles estavam ao seu redor
agora, homem, mulher e monstro, gritando coisas sem sentido. Ela apertou
as mãos contra os ouvidos. Não adiantou. As palavras estavam passando
por seus ouvidos. Cavando a sua mente.
As alfinetadas mentais se tornaram facas. Adari cambaleou. Os
estranhos avançaram física e etereamente... empurrando, arranhando,
procurando. Ondas de imagens passaram diante dela, de seus filhos, de sua
casa, de seu povo... tudo o que era Adari, tudo o que era Kesh. Ela ainda via
as bocas se movendo, mas a cacofonia agora crescia dentro de sua cabeça.
Palavras, palavras sem sentido...
...que de alguma forma começaram a se conectar com impressões
familiares. Como na brisa anterior, as vozes eram alienígenas, mas ela podia
sentir os sons se fundindo em torno de pensamentos racionais.
— Você está aqui.
— Há outros. Há outros.
— Traga-os aqui.
— Leve-nos lá!
— Traga-os aqui!
Adari girou, ou tudo o que Kesh o fez. Acima dela, o grupo se dividiu
para uma nova chegada. Era uma mulher de pele mais escura que a dos
outros. Ela segurava um bebê enrolado em um pano vermelho. Mãe, Adari
pensou contra o ataque clamoroso. Um sinal de esperança. Misericórdia.
— TRAGA-OS AQUI, TRAGA-OS AQUI, TRAGA-OS AQUI!
Adari gritou, se contorcendo contra as garras invisíveis que a atacavam.
Os outros estavam se segurando. A mulher com o filho, não. Adari
cambaleou. Ela pensou ter visto as asas com veias de Nink, voando acima e
além.
Uma mão apareceu no ombro da mãe, puxando-a para trás. O barulho
desapareceu da mente de Adari. Ela olhou para cima e viu... Zhari Vaal?
Não, ela percebeu, enquanto seus olhos chorosos se focavam. Outra
figura estranhamente vestida, mas baixa e atarracada como seu marido.
Uma vez ela imaginara Zhari no fundo do mar, com sua rica cor lilás
drenada. Esse homem estava ainda mais pálido, mas seu cabelo escuro e
olhos castanhos avermelhados davam a ele um olhar confiante e atraente.
Ela já o vira antes, na montanha. Ela já o ouvira antes, no vento.
— Korsin. — ele disse, ao mesmo tempo na mente dela e com uma voz
tão suave quanto a de seu avô. Ele apontou para si mesmo. — Eu sou
chamado de Korsin.
A escuridão se fechou ao seu redor.
N o terceiro dia
conversar.
entre os recém-chegados, Adari aprendeu a
Adari Vaal disse uma vez a Korsin que os Keshiri não tinham um
número grande o suficiente para descrever a sua própria população. A
tripulação da Presságio tentou fazer estimativas nos primeiros anos em
Kesh, apenas para encontrar cada vez mais aldeias no horizonte. Tetsubal,
com dezoito mil habitantes Keshiri, tinha sido uma das últimas cidades
contadas antes dos Sith finalmente desistirem.
Agora eles desistiram de novo. As paredes de Tetsubal estavam cheias
de cadáveres, tornando impossível a contagem de corpos. Quando chegaram
de uvak naquela noite, Seelah, Korsin e os seus companheiros puderam ver
do céu os Keshiri mortos, espalhados pelas estradas de terra como galhos
após uma tempestade. Alguns haviam desabado dentro das portas de suas
cabanas de brotos de hejarbo. Eles logo viram que era igual mais para
dentro.
O que eles não viram foram sobreviventes. Se existia, estavam se
escondendo bem.
Dezoito mil corpos era um bom palpite.
O que quer que tivesse acontecido foi de repente. Uma enfermeira caíra,
entrelaçada junto com seu bebê em um abraço fatal. Nas calhas ligadas
pelas ruas, alimentadas pelo aqueduto, vários Keshiri caíram e se afogaram
ao lado de seus baldes de tecidos flutuantes.
Vivo e sozinho estava Ravilan, agitado e preso dentro do portão da
cidade ainda trancado. Ele havia mantido a sua posição em Tetsubal a noite
toda, e parecia muito pior por causa disso. Korsin se aproximou dele assim
que desmontou.
— Tudo começou depois que eu me encontrei com os meus contatos
aqui. — disse Ravilan. — As pessoas começaram a entrar em colapso nos
restaurantes, nos mercados. Então o pânico começou.
— E onde você estava durante tudo isso?
Ravilan apontou para o círculo da cidade, uma praça com um grande
relógio de sol muito parecido com o de Tahv. Era a estrutura mais alta da
cidade, além do sistema de polias acionado por uvak que alimentava o
aqueduto.
— Não consegui encontrar a assessora que trouxe comigo. Eu pulei lá
em cima para chamá-la e examinar o que estava acontecendo.
— Examinar. — Seelah rosnou. — Sério!
Ravilan exalou com raiva.
— Sim, eu estava tentando ficar limpo! Quem sabe que praga essas
pessoas podiam estar carregando? Fiquei lá por horas, vendo as pessoas
caírem. Chamei meu uvak, mas ele também estava morto.
— Amarre os nossos fora dos muros. — ordenou Korsin, parecendo
confuso à luz das tochas. Ele puxou um pano da túnica e o colocou sobre a
boca, sem parecer perceber que ele era o último no grupo a fazer isso. Ele
olhou para Seelah. — Agente biológico?
— Eu... eu não sei dizer. — ela respondeu. O seu trabalho tinha sido
com os Sith, nunca com os Keshiri. Quem sabia a que eles poderiam ser
suscetíveis?
Korsin puxou Gloyd.
— A minha filha está em Tahv. Garanta que ela volte para a montanha.
— ele disse. — Vá!
O Houk, incomumente agitado, disparou para a sua montaria.
— Pode ser transportado pelo ar. — disse Seelah, andando atordoada
entre os cadáveres. Isso explicaria como atingira tantos, tão rapidamente. —
Mas nós não fomos afetados...
Um grito veio da frente. Lá, Seelah viu o que o batedor havia
encontrado sob outro corpo: a assistente desaparecida de Ravilan. A mulher
estava na casa dos quarenta, como Seelah. Humana... e morta.
Seelah apertou a gaze sobre o rosto. Tola, tola! Eu sou uma tola! Já é
tarde demais?
— Já é tarde. — Ravilan respondeu, pegando o pensamento
desprotegido dela. Ele confrontou Korsin. — Você sabe o que deve fazer.
Korsin falou em tom monótono.
— Vamos queimar a cidade. Claro, vamos queimar.
— Não basta, Capitão. Temos que excluí-los!
— Excluir quem? — Seelah estalou.
— Os Keshiri! — Ravilan gesticulou para os corpos ao redor. — Há
algo que os mata e isso pode nos matar! Temos que removê-los de nossas
vidas de uma vez por todas!
Korsin pareceu completamente surpreso.
Seelah agarrou o ombro dele.
— Não escute isso. Como vamos viver sem eles?
— Como Sith! — Ravilan exclamou. — Este não é o nosso caminho,
Seelah. Você se... Nós nos tornamos demasiadamente dependentes dessas
criaturas. Eles não são Sith.
— Nem nós, de acordo com o seu povo.
— Não seja política. — disse Ravilan. — Olhe em volta, Seelah! O que
quer que seja isso deveria ter nos matado agora. Se não o fez, devemos
aceitá-lo pelo que é: um aviso do lado sombrio.
Atrás do pano, o queixo de Seelah caiu. Korsin voltou à realidade.
— Espere. — ele disse, pegando o braço de Ravilan. — Vamos
conversar sobre isso...
Korsin e Ravilan começaram a caminhar em direção ao portão, que só
agora estava sendo aberto por seus assistentes. A própria aldeia parecia
expirar, o ar miserável passando pela abertura. Seelah não se moveu,
hipnotizada pelos corpos ao redor. Os mortos Keshiri pareciam iguais para
ela, rostos roxos e línguas azuis, rostos retorcidos em agonia sufocante.
Seus pés vacilaram e ela viu a assistente de Ravilan. Qual era o nome
dela? Yilanna? Illyana? Seelah conhecera toda a árvore genealógica da
mulher no dia anterior. Por que ela não conseguia se lembrar do nome
agora, quando a mulher estava no chão, engasgada com a língua, inchada e
azul...
Seelah parou.
Ajoelhou-se ao lado do cadáver, tomando cuidado para não tocá-la. Ela
sacou o seu shikkar, a lâmina de vidro que os Keshiri haviam feito para ela,
e cuidadosamente abriu a boca da mulher. Lá estava, a língua num azul
louco, vasos sanguíneos inchados e estourando. Ela já tinha visto isso antes
em humanos, no limite de sua memória...
— Eu preciso voltar. — disse Seelah, saindo pelos portões da vila. —
Eu preciso voltar para casa... para a enfermaria.
Korsin, dirigindo seus capangas na construção de uma fogueira, pareceu
intrigado.
— Seelah, esqueça de quaisquer sobreviventes. Nós somos os
sobreviventes. Nós temos esperança.
Ravilan, sem sorte, tentando acalmar o uvak coletado que Korsin havia
amarrado do lado de fora do muro da vila, olhou para trás alarmado.
— Se você está pensando em trazer esta doença para o nosso santuário...
— Não. — ela disse. — Eu estou indo sozinha. Se estivermos
infectados aqui, nada vai importar mesmo. — Ela pegou o freio de um uvak
de Ravilan e lançou um sorriso sem entusiasmo. — Mas se não estivermos
infectados, é como você disse. É um aviso.
Korsin a observou sair e voltou-se para a tarefa de queimar a vila.
Seelah não olhou para trás, voando pela noite. Não havia muito tempo. Ela
precisava se encontrar com toda a equipe da enfermaria, com os seus
assessores mais leais.
E ela precisava ver seu filho.
Quando o amanhecer surgiu nas Montanhas Takara, Seelah não foi
encontrada no banho por Tilden Kaah, por mais que ela agora sentisse que
precisava de um. Seelah não tinha dormido nada. Com o retorno de Korsin
e Ravilan na calada da noite, o retiro se tornou um centro de crise.
As comunicações eram o verdadeiro problema. As mortes dos Keshiri
sem nome haviam agitado pouco a Força para aqueles que não se
importavam com eles. Mas as consequências provocaram tanta confusão
nas mentes dos Sith que até os arautos mais experientes estavam tendo
problemas para enviar mensagens. Korsin tinha sido cuidadoso ao pedir o
retorno de seu povo das cidades e vilas Keshiri; até agora, Tahv e o resto
das grandes cidades não tinham ouvido falar do desastre em Tetsubal, e ele
não queria uma retirada em massa colocando os nativos em guarda. Os Sith
no exterior foram instruídos a se afastar casualmente do contato público e
voltar para casa.
O que havia acontecido em Tetsubal ainda não havia atingido as
principais cidades, mas os pilotos de reconhecimento ainda estavam lá fora,
checando as áreas circundantes. Quando as notícias chegassem do interior,
todos os Sith estariam em segurança em seu reduto.
Seelah viu Korsin várias vezes pela manhã enquanto passava. Ele queria
que a equipe dela estabelecesse quarentenas para reentrar no complexo.
Nenhum dos Sith que incendiou Tetsubal apresentava sintomas de estresse,
mas os riscos eram altos. Seelah tinha designações próprias na enfermaria e,
de fato, poucos de seus funcionários médicos apareceram em público.
— Estamos trabalhando no problema. — ela dissera.
Ao entrar ao meio-dia, Seelah viu Ravilan em pé com Korsin,
analisando relatórios de monitoramento. Korsin parecia abatido pela falta de
sono, a pequena fofinha roxa dele não passaria por ela hoje! Mas Ravilan,
apesar de suas experiências angustiantes do dia anterior, parecia
rejuvenescido; a sua cabeça careca era uma magenta robusta.
— Foi melhor do que temíamos, Korsin . — disse Ravilan. Sem Grande
Lorde agora, notou Seelah. Nem mesmo Capitão.
Korsin resmungou.
— Todo o seu pessoal está de volta?
— Fui informado de que todos acabaram de voltar aos estábulos. Sem
muitos de férias. — disse Ravilan, com os seus cachos faciais se curvando
levemente. — mas há muito trabalho a ser feito. Em nossas novas
prioridades.
Seelah olhou para cima. Deve ser agora.
— Cavaleiro chegando!
O arauto sentiu a aproximação do uvak muito antes de aparecer no
horizonte sul. Acenando diretamente para a colunata, o cavaleiro pousou a
besta e saltou para a superfície de pedra. Todos os olhos estavam voltados
para a nova chegada. Todos, exceto os de Seelah.
— Grande Lorde. — ele disse, sem fôlego. — Aconteceu de novo... em
Rabolow!
Seelah ouviu o suspiro de Korsin, mas ela viu os olhos amarelos de
Ravilan se arregalarem. Levou apenas um segundo para o intendente
encontrar a sua compostura.
— Rabolow?
— Isso é nos Lagos Ragnos, não é? — Seelah olhou para Ravilan e
sorriu com seriedade. — Foi para onde o seu pessoal foi designado ontem,
não foi, Ravilan? Aldeias nos Lagos Ragnos.
Ele assentiu. Todos eles estavam lá quando estava sendo discutido.
Ravilan pigarreou, subitamente seco.
— Eu... eu deveria falar com o meu colega que acabou de voltar de lá.
— Ele passou mancando por Seelah, virou-se e fez uma reverência. — Eu...
eu realmente deveria encontrá-los. Capitão.
— Faça isso. — disse Seelah. Korsin não disse nada, ainda perplexo
com as notícias recentes e a coincidência. Ele observou Ravilan desaparecer
de vista, indo para os estábulos.
— Cavaleiro vindo!
Korsin olhou para cima. Seelah pensou que ele quase parecia com
medo, com medo das notícias que o cavaleiro traria.
A notícia era de outra cidade da morte, em outra região dos Lagos
Ragnos. Um terceiro piloto falou de uma terceira. E depois uma quarta.
Cem mil Keshiri, mortos.
Korsin arregalou os olhos.
— Algo a ver com os lagos? Aquela... o que era aquilo... aquelas algas
que Ravilan iria estudar?
Seelah cruzou os braços e olhou diretamente para Korsin, curvado e
quase da mesma altura. Ela ficou tentada a deixar o momento demorar...
...mas havia trabalho a ser feito. Ela chamou Tilden Kaah.
O assistente preocupado dela apareceu vindo da direção da enfermaria,
segurando um pequeno recipiente. Ela pegou e o dispensou.
— Você sabe o que é isso, Korsin?
Korsin virou o frasco vazio na mão.
— Silicato de cianogênio?
Era dos estoques médicos dela na Presságio... e também dos estoques
que Ravilan mantinha para as criaturas sob seus cuidados. Na sua forma
sólida, ela explicou, era usada como agente cauterizante pelos curandeiros
que trabalhavam com os Massassi. Ela já o vira sendo usado repetidamente
a serviço de Ludo Kressh. Nada mais fraco poderia fazer alguma coisa com
a pele daqueles selvagens.
— Já é ruim o suficiente sozinho. — ela disse. — Mas se a umidade
entra, ela se decompõe e se intensifica mil vezes. Uma partícula por bilhão
pode fazer qualquer coisa.
As sobrancelhas espessas de Korsin se ergueram.
— O que... o que poderia fazer em um lençol freático? Ou um
aqueduto?
Seelah segurou as mãos dele com força e olhou diretamente em seus
olhos.
— Tetsubal.
Ela explicou a história por trás da morte do carregador da sua
enfermaria. O musculoso Gorem, que havia sido destacado para a equipe de
Ravilan para ajudar a alcançar o que restava em seções esmagadas da
Presságio. Aparentemente, ele tocou em uma chapa manchada do boticário
Massassi e morreu lá fora, pouco depois de lavar as mãos. A morte não foi
instantânea, mas a vítima nunca foi longe.
Ravilan deve ter visto a morte de Gorem, ela disse, e percebeu que tinha
uma ferramenta contra os Keshiri. Uma arma que poderia forçar Korsin e o
resto dos humanos a esquecerem de construir neste mundo... e a se
comprometerem a deixá-lo.
E agora todas as cidades que os membros dos Cinquenta e Sete haviam
visitado no dia anterior tinham seguido o mesmo caminho que Tetsubal.
Korsin girou e quebrou a sua cadeira da ponte contra uma coluna de
mármore. Ele não usou a Força. Ele não precisava.
— Por que eles fariam isso? — Ele agarrou Seelah. — Por que eles
fariam isso, quando é tão óbvio que eu rastrearia de volta a eles? Quão
estúpido, quão desesperados eles teriam que estar?
— Sim. — Seelah respondeu, curvando-se em torno dele. — Quão
desesperados eles teriam que estar?
Korsin olhou para o sol, agora batendo na montanha. Soltando-a, ele
olhou nos rostos de seus outros conselheiros, todos esperando e
imaginando.
— Traga todos os outros. — ele disse. — Diga a eles que está na hora.
S eelah já tinha decidido deixar Ludo Kressh antes que
executasse a família dela. Foi trivial; o tornozelo dele tinha sido ferido
em uma batalha e ela não conseguiu parar a infecção. Ele matou o pai dela
na primeira noite e a influência dele sobre ela diminuiu consideravelmente
depois disso. Seelah teve a chance de partir alguns dias depois, quando
uma das equipes de mineração de Sadow parou em Rhelg para reabastecer.
Pelo menos ela não tinha mais ninguém para deixar.
Seelah já tinha decidido deixar Ludo Kressh antes que ele executasse a
família dela. Foi trivial; o tornozelo dele tinha sido ferido em uma batalha
e ela não conseguiu parar a infecção. Ele matou o pai dela na primeira
noite e a influência dele sobre ela diminuiu consideravelmente depois disso.
Seelah teve a chance de partir alguns dias depois, quando uma das equipes
de mineração de Sadow parou em Rhelg para reabastecer. Pelo menos ela
não tinha mais ninguém para deixar.
Devore Korsin tinha sido sua fuga. Ela viu a imaturidade e imprudência
dele, mas também viu algo com o que trabalhar. Ele também se esforçava
contra as correntes invisíveis que limitavam a sua ambição. Ele poderia ser
o aliado dela. E a serviço de Sadow, pelo menos, algo poderia acontecer,
desde que Devore não estragasse tudo.
E se ele estragasse, bem, sempre havia o filho deles...
Sabres de luz brilhavam à noite na montanha, mas não na praça
principal. Seelah caminhou calmamente ao longo da colunata escura, agora
enfeitada com adornos adicionais: as cabeças com tentáculos dos Cinquenta
e Sete, estacadas em intervalos regulares.
Havia o jovem sentinela da torre, preso e morto. Ele nunca abandonou
seu posto. À direita estava Hestus, o tradutor; Seelah esteve envolvida
pessoalmente em sua derrocada. Korsin disse que voltariam a Hestus pela
manhã para remover os implantes cibernéticos. Quem sabe, poderia haver
algo lá que eles pudessem usar.
Ela podia sentir Korsin e seus principais tenentes além do muro externo
agora, levando o restante a uma última posição ao lado do precipício onde a
Presságio quase chegou ao fim. Nenhuma opção seria oferecida; ela podia
ver Korsin arremessando qualquer um que se rendesse no precipício.
Bem, ele tem experiência nisso.
O silo de pedra do cavalariço pairava diante dela. Os recintos dos uvak
se estendiam em todas as direções a partir deste polo central, onde os
assessores Keshiri lavavam os animais fedorentos. Os Keshiri tinham ido
embora hoje à noite, ela viu quando entrou na sala redonda. No centro,
vigiado apenas por um guarda nas sombras, pendia o corpo mole, mas
respirando, de Ravilan. Cordões fortes de fibra tecida pelos Keshiri
amarravam seus braços abertos a cornijas altas nos dois lados da estrutura.
O arranjo tinha sido projetado para impedir que um uvak fugisse durante o
banho. Agora estava fazendo o mesmo com Ravilan, os pés balançando
meros centímetros acima do solo. Seelah recuou quando uma onda de água
foi despejada de fendas altas na torre, engasgando o prisioneiro.
O fluxo parou depois de um minuto, mas demorou mais para Ravilan,
cansado, registrar a presença de sua visitante.
— Tudo se foi. — ele engasgou. — Certo?
— Tudo se foi. — ela disse, entrando em seu campo de visão. — Você é
o último. — Ravilan foi pego logo, sua perna ruim falhou com ele de uma
vez por todas.
Ravilan balançou a cabeça.
— Só fizemos uma vez. — ele disse, com a sua garganta um rastro de
cascalho. — Em Tetsubal. Essas outras cidades... eu não sei. Nós nunca
planejamos...
— ...fui eu. — Seelah disse.
Foi surpreendentemente fácil, uma vez que ela percebeu a manobra de
Ravilan em Tetsubal. O único elemento era o tempo. Ela retornou ao
refúgio da montanha durante a noite e chamou seus assistentes mais
confiáveis da enfermaria. Logo depois da meia-noite, seus servos estavam
no ar, impulsionando as suas criaturas para as cidades dos lagos do sul que
o pessoal de Ravilan havia sido instruído a visitar no dia anterior. A sua
enfermaria mantinha o único outro suprimento sobrevivente de silicato de
cianogênio que agora estava nos poços e aquedutos das cidades dos lagos e
nos corpos dos Keshiri mortos. O tempo era o elemento chave, mas ela teve
ajuda para coordenar tudo.
— Você... você fez isso? — Ravilan tossiu e conseguiu dar uma risada
fraca. — Acho que é a primeira vez que você gosta de uma das minhas
ideias.
— Ela fez o trabalho.
O sorriso amassado de Ravilan desapareceu.
— Que trabalho? Genocídio?
— Você se importa com os Keshiri agora?
— Você sabe o que eu quero dizer! — Ravilan esforçou-se em suas
amarras. — Meu povo!
Seelah revirou os olhos.
— Não está acontecendo nada aqui que não teria acontecido no Império
eventualmente. Você sabe como as coisas estavam indo. Em que movimento
você estava, afinal?
— Naga Sadow não queria isso. — Ravilan murmurou. — Sadow
valorizava o poder onde ele o via. Ele valorizava o velho e o novo. Ele nos
valorizava...
Ela assentiu com a cabeça para o guarda... e outra barragem esmagadora
de água bateu em Ravilan.
Demorou mais tempo para ele se recuperar dessa vez.
— Poderia ter funcionado. — ele engasgou. — Nós poderíamos ter
trabalhado... juntos, como os Sith e os Jedi caídos da antiguidade. Se ao
menos nossos filhos... meus filhos... tivessem vivido...
Ravilan olhou para cima, a água escorrendo de seu rosto flácido.
— Você.
Seelah fixou o olhar silencioso nas calhas, ainda pingando, perto do teto
alto.
— Você. — ele repetiu, mais alto. — Você administrava a creche. Você
e o seu povo. — Seu rosto se torceu em um grito de agonia. O futuro do seu
povo já havia sido sufocado, muito antes. — O que você fez? O que você
fez conosco?
— Nada que você eventualmente não teria feito conosco. — Ela andou
em direção às sombras, para perto do guarda. — Nós não somos seus Sith.
Somos algo novo, uma chance de fazer certo. Uma nova tribo.
— Crianças... bebês! — Murmurou, Ravilan gemendo. — Que... que
tipo de mãe você é?
— Mãe de um povo. — ela respondeu, olhando para o guarda nas
sombras. — Agora, meu filho.
O guarda deu um passo à frente, e Ravilan reconheceu a forma animal
de Jariad Korsin com o rosto de olhos selvagens do pai, sob os cabelos
negros. O adolescente saltou para o prisioneiro, empunhando uma
vibrolâmina irregular sem remorso. Por fim, ele sacou o sabre de luz e
cortou Ravilan em um violento flash de vermelho.
— Você mudou o mundo hoje. — disse Seelah, aproximando-se do filho
e cúmplice. Ele fora crucial para coordenar a jogada da noite anterior,
levando os cúmplices para onde eles precisavam ir. Era o certo que ele
deveria fazer parte desse momento.
O garoto ofegou, olhando para a vítima.
— Não é ele quem eu quero matar.
— Seja paciente. — Seelah disse, acariciando os cabelos do filho. — Eu
tenho sido.
Tilden Kaah caminhava silenciosamente pelas trilhas escuras de Tahv,
recentemente pavimentadas com pedras. Os Sith haviam dispensado os
outros atendentes Keshiri mais cedo, quando a excitação começou; ele foi
um dos últimos a sair. As ruas, geralmente povoadas de foliões, mesmo a
essa hora, estavam assustadoramente imóveis. Ele viu apenas um membro
de meia-idade dos Neshtovar parado em pé em uma travessia; despojado de
seu uvak anos antes, a figura parecia entediada.
Tilden assentiu com a cabeça para o vigia e entrou em uma praça perto
de um dos muitos aquedutos da vila. Lençóis de água fresca da montanha
caíam em longas calhas crescentes, uma presença refrescante no que havia
se tornado uma noite quente. Chegando diante de uma parede de água,
Tilden vestiu a túnica que estava carregando, levantou o capuz e entrou no
aguaceiro.
Ou melhor, através dele.
Tilden caminhou, pingando, pela passagem escura que conduzia
profundamente à estrutura de pedra. Ele seguiu as vozes abafadas até o final
de uma passagem. Não havia luz, mas havia vida. Tilden ouviu uma
conversa agonizante ao se aproximar: as horríveis notícias do sul
começavam a chegar. Os supersticiosos Keshiri provavelmente absorveriam
o horror silenciosamente, disse uma voz das sombras. Os Sith culpariam
invariavelmente as mortes em massa aos Destruidores.
— Está feito. — Tilden falou à escuridão. — Seelah livrou os Celestiais
dos Cinquenta e Sete. Das pessoas que não são como eles, apenas o homem
esburacado, Gloyd, permanece.
— Seelah não suspeita de você? — Retornou uma voz rouca e feminina
da escuridão. — Ela não lê a sua mente?
— Ela acha que não valho a pena. E não falo de nada além das velhas
lendas. Ela me acha um tolo.
— Ela não consegue distinguir nossos grandes estudiosos dos nossos
tolos. — disse uma voz masculina.
— Nenhum deles pode. — disse outro. — Bom. Vamos continuar assim.
Seelah nos fez um favor, reduzindo o número deles. Ela pode fazer mais. —
Um clarão ofuscante apareceu quando um velho Keshiri acendeu uma
lanterna. Havia vários Keshiri ali, amontoados no espaço apertado, suas
atenções não em Tilden, mas na figura saindo das sombras atrás dele. Tilden
virou-se para reconhecer a mulher que primeiro se dirigira a ele.
— Permaneça firme, Tilden Kaah. Com a sua ajuda... e com a ajuda de
todos nós aqui, os Keshiri terminarão o trabalho. — A raiva brilhou nos
olhos de Adari Vaal. — Eu trouxe esta praga sobre nós. E eu vou acabar
com ela.
INTRODUÇÃO
A Tribo Perdida dos Sith: Salvador ocorre vinte e cinco anos após os eventos de PRECIPÍCIO e
dez anos após os eventos de PARADIGMA. Esta história curta é contada do ponto de vista de três
personagens principais: o Grande Lorde Yaru Korsin, líder da tribo Sith em Kesh; Adari Vaal, a
líder da resistência Keshiri contra os Sith; e Seelah Korsin, a esposa de Yaru que está tramando
vingança contra o Grande Lorde pelo assassinato do seu marido, Devore Korsin, quase um quarto
de século antes.
Yaru Korsin adotou o título de Grande Lorde e fez da antiga vila de Tahv sua nova capital. Sob a sua
liderança, a Tribo Perdida havia se mudado de seu retiro nas montanhas, do local da queda da
Presságio, para Tahv permanentemente. Korsin também foi capaz de explorar a "praga" que ocorreu
dez anos antes, alegando que os residentes das cidades dos Lagos Ragnos não tinham fé na Tribo
Perdida dos Sith, que alegavam serem os divinos Celestiais, deuses na mitologia Keshiri. Para
comemorar o vigésimo quinto aniversário da chegada da Tribo Perdida em Kesh, Korsin havia
encomendado uma celebração em Tahv. Entre os presentes estavam sua esposa Seelah e a
embaixadora Keshiri, Adari Vaal, que foi a primeira a descobrir a chegada da Tribo.
— F ilhos de Kesh, os seus Protetores retornaram para vocês.
Novamente!
Korsin esperou que o clamor da multidão diminuísse. Não aconteceu. O
Capitão Yaru Korsin, Grande Lorde da Tribo dos Sith em Kesh, estava no
topo da plataforma de mármore e olhava através do mar agitado de rostos
roxos em êxtase. Atrás dele, erguiam-se as colunas e cúpulas de sua nova
casa. Antes uma vila nativa, Tahv era agora uma capital Sith.
As edificações haviam sido erguidas rapidamente no local do antigo
Círculo Eterno para este dia, exatamente um quarto de século em anos-
padrão após a chegada dos Sith a Kesh. Korsin estava determinado a fazer
deste aniversário algo para se comemorar, em vez de se lamentar. Com a
dedicação de hoje, Korsin sinalizava a intenção de seu povo de viver entre
os Keshiri para sempre.
Agora, anos após o acidente, ficou claro que nada mais poderia ser feito
para reparar a Presságio. Não havia motivo para morar no templo do local
do acidente, quando existia tanta beleza lá embaixo. Korsin olhou para
cima, em direção ao pico nublado no horizonte ocidental. Um esqueleto de
equipe de trabalhadores Sith e Keshiri estavam lá, encerrando assuntos na
montanha. Selada com segurança em seu santuário, a Presságio estaria lá se
precisassem.
Korsin sabia que não iriam precisar. Foi tudo uma farsa. Ninguém
estava vindo para ajudá-los; ele soube disso assim que viu as entranhas
derretidas do transmissor. O planeta Kesh não estava nem perto de lugar
algum, ou Naga Sadow já os teria encontrado. Eles e os preciosos cristais
Lignan dele.
Ele se perguntou sobre o Capitão Saes e a Prenúncio. Eles teriam
sobrevivido à colisão que desviara a Presságio? O Jedi caído teria
conquistado a glória que deveria pertencer ao Sith, depois de uma vitória
em Primus Goluud? Ou Naga Sadow o tinha matado por sua
incompetência?
Sadow ainda vive?
Korsin sabia que esses eram pensamentos ociosos. Mas tinha que
manter essas perguntas vivas em seu povo, desde que alguém se lembrasse
de onde elas vieram. A estabilidade requeria isso.
E exigia um elegante ato de equilíbrio. Os Sith que enfrentassem um
futuro apenas em Kesh lutariam para sempre pelo status, o que significaria
mais dias como aquele, anos antes, quando ele e Devore duelaram. Ele
olhou para os Sith, que permaneciam atentos dos dois lados da ampla
escada de ardósia que descia a plataforma. Tantas pessoas, tantas ambições
para gerenciar. Foi por isso que Korsin permitiu que pensassem que ele
realmente havia ativado o farol de emergência uma vez, antes que falhasse.
A perspectiva de partida tinha o poder de unir; o mesmo acontecia com o
fantasma da chegada de um poder superior punitivo.
Mas ele também tinha que garantir que qualquer esperança de fuga
sempre perdesse para o trabalho real: remodelar Kesh como um mundo
Sith. O que tinha acontecido com o pessoal de Ravilan foi parcialmente
devido ao fracasso de Korsin em administrar isso, embora ele não se
importasse com o resultado. Ao contrário de sua esposa, ele não tinha nada
contra os Sith de pele vermelha, mas as facções ameaçavam a ordem. Um
povo Sith homogêneo era mais fácil de governar.
Sua esposa. Casar-se com Seelah tinha sido outro aceno para a
estabilidade, uma ponte entre a tripulação da Presságio e seus passageiros
da equipe de mineração. Lá estava ela, do outro lado do estrado,
cumprimentando os dignitários Keshiri que tinham permissão para estar ali.
Cumprimentando, mas sem realmente tocar em nenhum deles. Korsin
também nunca mais a tocou, o que era uma pena, pois ela estava linda
agora, com os cabelos ruivos caindo em uma cascata de cachos em volta da
pele escura e impecável. Ele não sabia que feitiçaria sombria a sua equipe
de especialistas havia feito, mas ela mal parecia ter um dia a mais do que 35
anos.
Essa mudança foi ideia dela. Ela odiava a esterilidade do retiro na
montanha; o seu novo lar era mais quente, tanto em temperatura quanto em
aparência. Os artesãos Keshiri e os designers Sith haviam aprendido muito
uns com os outros. Havia pedras, sim, mas também flores espinhosas de
dalsa escalando as paredes exteriores. Jardins apareciam aqui e ali, ao lado
de borbulhantes piscinas alimentadas por aquedutos. Era um lugar para a
vida.
Nem todas as cidades Keshiri eram lugares para a vida, Korsin pensou
ao reconhecer os anciãos que passavam mancando. Ele quase tinha perdido
completamente os nativos, anos antes. As mortes em massa nas cidades dos
lagos foram efetivamente atribuídas à falta de fé dos moradores na
divindade da Tribo. Os Sith até fizeram um show para os que duvidavam:
um conhecido dissidente Keshiri foi levado até o Círculo Eterno para
proclamar contra os "supostos Protetores", apenas para cair, aparentemente
sufocando até a morte com as suas próprias palavras. O próprio Korsin
pareceu benevolente e chocado, mas a mensagem era clara. Praga e peste
aguardavam quem os desafiasse.
Gloyd havia pensado naquela pequena façanha. O bom e velho Gloyd.
Mais velho, agora, do que bom. O severo Houk estava atrás dele, com o
sabre de luz à mão, como um guarda-costas cerimonial de Korsin, mas o
artilheiro de outrora agora parecia que precisava ele mesmo de proteção.
Ele era o último não-humano que restara da equipe original. Uma era
chegaria ao fim com ele.
— A Filha dos Celestiais, Adari Vaal. — anunciou Gloyd. Korsin
imediatamente esqueceu tudo sobre arquitetura e Houks inteligentes. Adari,
a sua antiga salvadora nativa, aproximou-se levemente deles e se curvou.
Korsin observou o frio acolhimento por parte de Seelah. Se eles não
estivessem na frente de metade de Kesh, estaria ainda mais frio. Ele sempre
se maravilhava quando observava as duas juntas. Não havia comparação.
Seelah era atraente, mas sabia disso, e nunca deixava ninguém esquecer. Ela
achava a Keshiri feia: mais uma prova de que o julgamento dela nunca seria
confiável.
Como uma Keshiri, Adari era muito menos que Seelah, e, no entanto,
muito mais. Ela não foi tocada pela Força, mas tinha uma mente ágil que
lidava com coisas muito além das óbvias limitações de seu povo. E ela tinha
a vontade de um Sith, senão as crenças. Apenas duas vezes ele viu sua força
falhar com ela, o mais importante, da primeira vez, quando ela concordou
em manter em segredo a morte de Devore. Isso tornara muitas coisas
possíveis, para os dois.
Pisando diante dele, Adari observou Korsin com os seus olhos escuros e
sondadores, cheios de mistério e inteligência. Ele pegou a mão dela e sorriu.
Esqueça Seelah.
Vinte e cinco anos. Ele tinha salvo o seu povo.
Este foi um bom dia.
Você pode ler minha mente. Você não sabe o quão desconfortável isso é
para mim? Você não se importa?
Adari soltou a mão de Korsin e sorriu. A "saudação" de Seelah apenas
lhe deu um leve arrepio. Mas Yaru Korsin sempre a olhava como alguma
coisa que estava prestes a comprar pela metade do preço.
Ela tentou dar um passo atrás e continuar na linha da recepção, mas
Korsin puxou o seu braço.
— Este dia é seu também, Adari. Fique conosco.
Maravilha, ela pensou. Tentou evitar o olhar de Seelah, sem saber se o
corpo de Korsin seria suficiente para bloqueá-lo. Mas pelo menos esse era
um desconforto com o qual tinha aprendido a lidar diariamente. Espetáculos
públicos, como este, ela nunca se acostumaria.
E todos tinham sido muito bons para ela, qualquer que fosse a sua idade
ou status. Bem ali neste local, tinha sido acusada de heresia. E então, dias
depois, tinha se tornado uma heroína, não importa que ela tivesse trazido
uma praga para seu povo na forma dos Sith.
Agora que a antiga praça estava enterrada sob essas novas edificações,
ela estava ali novamente, olhando através de um mar de ignorância. Os
Keshiri comemoravam alegremente a sua própria escravidão, ignorando os
seus incontáveis irmãos e irmãs que haviam morrido desde a chegada dos
Sith. Muitos haviam morrido nos desastres das cidades do lago, mas muitas
outras vidas foram perdidas em trabalhos forçados, tentando agradar os seus
convidados das alturas. Os Sith haviam distorcido a fé Keshiri, então nada
disso importava. Toda esperança vã que as massas já tiveram foi investida
nos Sith.
Nem Adari estava imune. Ela pensou em seu pobre filho Finn,
ensanguentado e esmagado. Ele tinha insistido em se juntar às equipes de
trabalho quando atingiu a adolescência. Nenhum filho da Filha dos
Celestiais precisava trabalhar, mas o caçula de Zhari Vaal se rebelara
exatamente dentro do cronograma, acompanhando uma equipe de trabalho.
Um andaime, erguido às pressas, cedeu. Adari também falhou naquele
dia, voando com o seu filho quebrado para o templo e para os pés de
Korsin, que imediatamente veio para o lado de Finn, trabalhando a sua
magia Sith; por um momento, Adari se viu esperando que Korsin pudesse
realmente devolver a vida ao seu filho. Mas é claro que ele não podia.
Ela já sabia que eles não eram deuses.
Korsin ganhou uma briga com Seelah naquele dia; a cura era o domínio
dela, mas Adari não havia pensado em consultar os médicos dela. Os
médicos Sith ficaram interessados nos Keshiri apenas o tempo suficiente
para aprender que as doenças deles não representavam ameaça aos
humanos, e que eles não podiam ter filhos com os Sith. Talvez por isso
Seelah tolerasse a companhia de Adari com Korsin.
Mas essa amizade nunca mais foi a mesma depois daquele dia. Adari
tinha gostado de aprender com Korsin, mas a morte de Finn despertou a sua
consciência. Tinha significado uma coisa para o seu povo. Depois disso,
passou a significar outra, como líder do movimento de resistência
subterrâneo Keshiri, composto por outros que haviam recuperado a razão.
E agora, depois de uma dúzia de anos, eles finalmente estavam prontos
para agir.
Do sul, um estrondo soou. O Pináculo Sessal vinha sentindo a sua
juventude vulcânica recentemente e seus primos vulcânicos mais próximos
de Tahv estavam resmungando em resposta. Seguramente distante, no
entanto, interrompeu a formação perfeita de pilotos de uvak que pairavam
sobre a procissão.
Adari olhou para eles, e depois para Korsin, com os cabelos agora
cinzentos. Ela tinha aprendido a esconder seus pensamentos dele,
mantendo-se firme e sem emoções. Ela precisava disso agora, mais do que
nunca.
Ela conseguiu sorrir. Korsin a chamara por libertação, anos antes. Em
breve, ela a entregaria à sua própria espécie.
Não sou a pechincha que você pensa que sou. Kesh também não.
Seelah viu quando o uvak pousou na clareira abaixo. A abordagem deles
era desleixada; não o suficiente para estragar o dia, mas o suficiente para
chamar atenção onde não devia.
Principalmente não para o cavaleiro líder, que agora desmontava e
caminhava em direção à escada. No vigésimo aniversário de sua filha, Yaru
Korsin fez dela chefe de algo que não existia: os Patrulheiros Celestiais. Era
pouco mais que um clube de cavaleiros Sith amadores, úteis apenas para
exibições públicas como esta. Nida Korsin acabara de mostrar que não era
muito boa nisso.
O fato de Nida também ser a sua filha era um detalhe da genealogia. A
roupa da criança era uma abominação contra a moda. Seelah imaginou que
o colete e as calças de couro de uvak deveriam fazê-la parecer robusta e
ativa, mas, seguindo a linha da recepção, a pequena Nida simplesmente
parecia cômica. Seelah reconheceu os seus próprios olhos e as maçãs do
rosto na garota, embora não muito mais; cabelos curtos e tintas coloridas
para o rosto desperdiçavam qualquer beleza natural que Nida pudesse ter
herdado. A garota nunca teria passado por uma das infames inspeções de
Seelah.
— Ela é filha do Grande Lorde. — Seelah disse com desdém a Korsin
quando a filha passou por eles. — O que os Keshiri vão pensar?
— Desde quando você se importa com isso?
Nida saiu do palco com apenas um aceno de Korsin. Estava na hora do
show real.
Gritos vieram da multidão, primeiro de surpresa, depois de alegria. De
locais dentro da multidão, duas dúzias de foliões fantasiados com máscaras
cerimoniais Keshiri saltaram alto no ar, rasgando as suas capas. Pousando
no chão, limpo de espectadores com um empurrão na Força, os acrobatas
vestidos de preto se revelaram como os Sabres, o novo detalhe de honra da
Tribo. Sabres de luz carmesim dançavam enquanto realizavam exercícios
complexos. O floreio final resultou em uma explosão de deleite dos Keshiri,
seguida por um anúncio de Gloyd:
— O Alto Lorde Jariad, da linhagem de Korsin!
O líder dos Sabres subiu vigorosamente a escada central até o estrado,
roubando a respiração dos Keshiri a cada passo resoluto. Com os cabelos e
a barba de ébano perfeitamente penteados, Jariad fazia de cada pausa uma
pose para a história. O filho selvagem de Devore Korsin e Seelah atingira a
maioridade.
Com o sabre de luz ainda aceso, Jariad parou diante de Yaru Korsin.
Sobrinho e enteado, Jariad era quase um terço de metro mais alto, um fato
que ninguém deixou de reparar. Um olhar gelado passou entre os dois. De
repente, Jariad se ajoelhou, segurando o sabre de luz centímetros acima da
nuca bronzeada.
— Vivo e morro a seu comando, Grande Lorde Korsin.
— Levante-se, Alto Lorde Korsin.
Seelah assistiu com alívio quando o seu filho se levantou para um
abraço caloroso. A multidão murmurou. Por todo o seu título e conexão
com a família, Jariad não era o herdeiro de Yaru Korsin no poder, não mais
do que Seelah era; Korsin mantinha os seus planos de sucessão em segredo
há muito tempo. Os sete Alto Lordes que ele havia indicado eram meros
conselheiros. Mas se Jariad fosse o favorito do público, Seelah sabia que
Sith e Keshiri reconheceriam a reivindicação dele, de uma maneira ou de
outra. Ela ficou satisfeita: Jariad agiu exatamente como ela havia
aconselhado. O momento de Yaru Korsin estava próximo, mas este não era
o lugar para isso.
Jariad cumprimentou os outros, dando atenção especial a Adari. A
mulher Keshiri se afastou imediatamente e olhou para baixo. Seelah sabia
que não era modéstia, embora o aborrecimento insuportável tivesse muito
para ser modesta. Desde que o filho tinha crescido à semelhança de seu
falecido pai, Seelah sempre pegava pensamentos dispersos de Adari quando
Jariad estava por perto. Ela pensou nisso por um longo tempo. Korsin se
gabara de ter matado Devore? Isso seria suficiente para causar uma reação
tão forte?
Eventualmente, Seelah encontrou a resposta, profundamente em seus
próprios pensamentos. Ela remexeu na mente de Adari anos antes, quando
se conheceram na escuridão na montanha. Na época, Seelah estava
procurando qualquer indício de resgate. Mas, na contemplação, Seelah
percebera que o mar de pedras e rostos roxos sem sentido na mente da
alienígena incluía outra coisa. Algo meio visto, mas chocante para Adari, e,
na época, recente: um corpo jogado do precipício para o mar revolto.
Adari Vaal vira Yaru assassinar Devore Korsin.
E assim, finalmente, Seelah também viu.
Jariad voltou para o lado de sua mãe e deu-lhe um olhar familiar.
— Logo. — ela sussurrou.
Isso exigiria cuidados. Korsin tinha amigos, a maioria da tripulação
permanente da Presságio. Mas muitos partidários de Devore Korsin
permaneceram. Contos sussurrados do capitão que retinha informações
sobre sua situação abandonada conquistaram outros aliados. Ela
providenciaria para que todos estivessem no lugar certo e na hora certa.
A multidão rugiu novamente quando Korsin pegou a mão dela e virou-
se para os degraus que levavam ao novo lar deles. Seelah sorriu.
Vinte e cinco anos. Ela tinha guardado todo o seu ódio.
O fim estava chegando.
K orsin reconheceu o som imediatamente. Sabres de luz colidiram na
galeria da capital, do lado de fora do corredor para o seu escritório.
Girando pelo chão brilhante, Jariad atacava três adversários vestidos de
preto. Desta vez, as suas lâminas não estavam desenhando circuitos
inofensivos no ar. Os atacantes de Jariad se lançaram contra ele, apenas para
serem repelidos por sua resposta irritada.
Um por um, Jariad venceu os seus oponentes, conduzindo um para
baixo de uma estátua em queda e jogando outro por um painel novinho de
vidro defumado. O terceiro viu o seu sabre de luz deslizar pelo corredor
quando Jariad separou a mão enluvada de seu pulso.
Korsin saiu para o salão, segurando o sabre de luz e a mão decepada.
— Tem certeza de que deseja chamar esse seu grupo de Sabres? Eles
parecem estar sem.
Jariad desativou a sua arma e exalou.
— Era isso que eu queria lhe mostrar, Grande Lorde. Eles foram
rapidamente desarmados.
— Você não deveria interpretar essa palavra tão literalmente, filho. —
disse Korsin, jogando a mão para o dono que estremecia no chão. — Nós
não temos exatamente um laboratório médico moderno aqui.
— Não há indulgência para a incompetência!
— Era um exercício, Jariad, não o Grande Cisma. Respire fundo e
venha para fora. — Korsin suspirou. Apesar de seus sentimentos sobre o
seu falecido meio-irmão, ele tentara orientar Jariad. Só que não estava
dando certo. Jariad tinha muitos dos mesmos traços egocêntricos que
haviam arruinado Devore. Ou ele não fazia nada, ou exagerava. Era bom
que não houvesse narcóticos em Kesh, Korsin pensou; Jariad poderia ter
retomado de onde seu pai tinha parado.
Korsin saiu para o sol poente. Ultimamente, os vulcões haviam
arruinado muitos dias agradáveis. Um servo Keshiri apareceu do nada,
carregando bebidas.
— As coisas não são boas aqui. — disse Jariad, emergindo. — Existem
muitas distrações aqui nesta cidade.
— Eles estão distraindo. — disse Korsin, olhando para o pátio. Adari
Vaal havia chegado.
Jariad a ignorou.
— Grande Lorde, peço permissão para remover os Sabres para os
Confins do Nordeste para uma missão de treinamento. Muito além de
Orreg, onde não há nada para distraí-los naqueles desertos. Lá, eles podem
se concentrar.
— Humm? — Korsin olhou para o sobrinho. — Oh, certamente. — Ele
pegou o segundo copo da bandeja. — Com licença.
Korsin pensou que Adari estivesse olhando para ele. Juntando-se a ela
no jardim, descobriu que ela estava, na verdade, encarando uma escultura
em relevo que estava sendo entalhada em um frontão triangular acima da
edificação.
— O que... o que é isso? — Ela perguntou.
Korsin apertou os olhos.
— Se não me engano, é uma representação do meu próprio nascimento.
— Ele tomou um gole. — Não tenho certeza de como o sol e as estrelas
estão envolvidos. — Em todos os lugares para onde ele olhava neste
palácio, os Keshiri haviam estampado algo que representava a sua
divindade. Ele riu para si mesmo. Realmente fizemos um bom trabalho
promocional. — Eu não estava esperando você hoje.
— Agora somos vizinhos. — ela disse, pegando ociosamente o copo.
— Com um lugar desse tamanho, somos vizinhos de metade de Kesh.
— E a outra metade está dentro de casa, limpando o chão... — Adari
parou abruptamente e o olhou nos olhos. De vez em quando, ela flertava em
cruzar a linha. Korsin riu com vontade. Ela sempre o fazia rir.
Mas quando as asas de couro passaram voando sobre a sua cabeça,
Korsin viu o verdadeiro motivo da visita de Adari. Tona, o filho
sobrevivente dela, correu de uma estrutura externa ornamentada para pegar
o freio de um uvak que pousava. Nida Korsin havia retornado de seu
passeio matinal.
Korsin havia nomeado Tona como o mestre de estábulo viajante do
grupo recém fundado de Nida. O jovem rapaz parecia bastante amável, se
não particularmente afiado. E Nida parecia gostar dele. Adari puxou o filho
para o lado e trocou palavras baixas.
Adari voltou-se para Korsin.
— Sinto muito, mas tenho negócios na cidade.
— Vou ver você de novo?
— O que, hoje?
— Não, eu quis dizer, sempre? — Korsin riu novamente. Ela está
desconfortável, ele pensou, se perguntando o porquê. — Claro, hoje.
Estamos na mesma cidade agora, não estamos?
Adari revirou os olhos para o edifício colossal atrás deles.
— Isso é muito esforço apenas para me ter mais perto. — Ela conseguiu
sorrir.
— Bem, apenas saiba que eu não estarei aqui amanhã. — Korsin disse.
— O centro médico de Seelah está se mudando para cá do templo. Vou
subir de manhã para inspecionar todo o lugar antes de fecharmos tudo. É só
por um dia.
Absorvendo suas palavras, Adari tocou na mão dele.
— Eu deveria estar indo.
Quando ela se afastou, Korsin olhou novamente para a filha, do outro
lado do quintal. Nida fez uma pausa para assistir Jariad e seus humildes
combatentes marchando deliberadamente para suas próprias montarias.
E Tona, ele viu, estava olhando para ela.
— Seu filho deve ter cuidado, Adari. — Korsin disse. — Ele está
passando muito tempo com Nida. — Ele sorriu. — É esse charme Korsin
que mantém os Vaals por perto.
— Bem, hoje não, Vossa Grande Excelência. — Adari disse, apontando
para o filho que se aproximava. — Tona vem comigo. Negócios de família.
— Eu entendo. — Korsin disse. Negócios de família. Observando Jariad
voar para o norte, desejou que ele próprio tivesse menos disso.
Anos antes, Izri Dazh havia sido seu algoz. Inquisidor dos Neshtovar,
Dazh acusou Adari Vaal de heresia por não se interessar pelas lendas sobre
a criação de Kesh, e o papel de seus deuses do alto, os Celestiais.
Dazh estava morto há muito tempo. Mas agora os seus filhos e netos
estavam sentados em silêncio em frente a Adari na sala de visitas de Dazh à
luz de velas. O movimento de resistência de Adari havia se encontrado em
vários lugares ao longo dos anos, debaixo de um aqueduto até na parte
traseira de um estábulo uvak onde Tona trabalhava em Tahv. Mas raramente
eles se encontravam com esse luxo, ou o que havia sido considerado luxo,
antes que Adari trouxesse pessoas que alegavam ser os Celestiais para o
meio deles, para reformular os padrões dos Keshiri. Agora, na habitação
que outrora havia abrigado temporariamente o próprio Grande Lorde
Korsin, os Neshtovar e a herege decidiam juntos o destino do povo Keshiri.
— Isso vai funcionar. — ela disse. — O que você me ensinou sobre os
uvak... o que combinamos para o seu pessoal fazer. Vai funcionar.
— É melhor que seja assim. — murmurou o homem mais velho. —
Estamos desistindo de muito.
— Vocês já desistiram de muito. Este é o único caminho de volta.
Adari sabia que tinha se arriscado, trazendo membros dos Neshtovar
para o seu círculo. Mas isso tinha que ser feito, enquanto os Neshtovar mais
velhos ainda se lembravam do que lhes fora tirado pelos Sith. A lembrança
dos benefícios que a sua antiga sociedade havia injustamente acumulado
como cavaleiros de uvak ganhava agora a cooperação deles.
Adari havia percebido recentemente que os uvak eram a chave. Os Sith
eram poderosos; um, agindo sozinho, poderia manter dezenas de Keshiri
afastados, talvez até mesmo uma vila inteira. Mas eles tinham que chegar
primeiro à vila. E ali, Kesh, com a sua vasta extensão de terra, trabalhava
contra eles.
Os Sith agora eram quase seiscentos agora, quase o dobro do que
haviam chegado. Mas as aldeias de Kesh ainda eram mais numerosas. A
manutenção da ordem exigia que os Sith fizessem voos frequentes de uvak
para o interior. Cavaleiros Neshtovar de outra época haviam unido o
continente de Keshtah superando as muitas barreiras naturais. Agora, os
Sith usavam a mesma estratégia, despachando cavaleiros em uma rota para
fazer aparições e consultar burocracias locais, a maioria composta por
membros antigos dos Neshtovar.
Mas enquanto eram tenentes dos Sith no chão, os Neshtovar agora
também estavam de castigo. Embora os Sith tivessem tomado os uvak mais
fortes pra si logo após a sua chegada, isso ainda deixava milhares de bestas
domesticadas para os Keshiri. A maioria havia sido empregada como mão-
de-obra animal, mas os Neshtovar ainda podiam voar em uvak em visitas ao
retiro nas montanhas Sith, entre outras tarefas administrativas.
Isso terminou após o desastre nos lagos. Os cavaleiros de uvak eram os
portadores de notícias tradicionais dos Keshiri, mas os Sith não queriam que
a notícia fosse divulgada, a não ser por eles. Os ex-cavaleiros que não
foram reduzidos ao trabalho de patrulha estavam agora mantendo os
estábulos, alimentando criaturas que nunca teriam permissão de montar. Os
uvak deles pertenciam aos Sith que provavelmente ainda estavam na creche.
Adari tinha permissão para manter Nink para que pudesse continuar a
visitar Korsin, mas ela era a única.
— Korsin vai ao templo da montanha amanhã. — ela disse. — Seelah
está lá... e Jariad partiu para o norte.
Os homens Neshtovar assentiram uns para os outros.
— Muito bom. — disse o mais velho. — Temos números adequados em
todos os lugares, se a sua contagem de cabeças estiver certa.
— Está. — O movimento dela incluía assessores Keshiri de muitos dos
principais Sith. Tilden Kaah estava contando cabeças entre o séquito de
Seelah; Adari tinha outras pessoas próximas de Korsin e Jariad. Seu filho
mesmo estava acompanhando a rotina dos artistas de voo de Nida. — Meio-
dia de amanhã. Isso vai funcionar.
Adari pensou em Korsin enquanto entrava no beco iluminado por tochas
atrás da habitação. Ele tinha sido convocado... por Seelah? Korsin não iria
sozinho ao templo, por mais mundano que fosse o assunto. Checou
novamente as figuras que havia marcado na mão. Sim, teria pessoas
suficientes lá, exatamente entre os mantenedores do estábulo fechando a
oficina.
Tona apareceu da escuridão.
— Eu estava esperando.
— Desculpe. — Adari disse, olhando para cima. — Eles queriam rever
tudo de novo.
Ela podia ver a decepção tremeluzente do filho quando ele entrou na
luz. Sempre pensou que os dois filhos se pareciam com o pai; agora, aos
vinte e poucos anos, Tona a surpreendeu com o quanto ele se parecia com
ela.
— Eu deveria estar com você, mãe. Eu também sou dos Neshtovar.
— Eles estão só sendo cuidadosos, Tona. Quanto menos pessoas
souberem os detalhes, melhor.
— Eu quero cavalgar com você amanhã. — Tona disse.
— Você tem o seu próprio trabalho aqui. — Adari disse. — E você vai
me ver quando tiver sucesso. — Ela tocou na bochecha dele. — Você não
deve ficar longe de Nida e do pessoal dela por muito tempo. Amanhã
estaremos ocupados. Durma um pouco.
Adari observou enquanto ele se voltava e entrava na noite. O doce e
simples Tona. Não tinha contado tudo a ele, mas como poderia? A sua
falecida mãe nunca havia entendido a sua heresia, ou a sua canonização.
Como o seu filho poderia aceitar o seu martírio?
A era de ouro havia começado, pensou Seelah, enquanto examinava o
seu quarto vazio. E ela era responsável.
Eles tinham feito um bom trabalho ali nos anos em que ela dirigia a
equipe médica da Tribo. Todas as doenças locais foram identificadas e
controladas. Com a ajuda dos Keshiri, os biólogos de Seelah vasculharam o
campo, indexando remédios botânicos úteis para os seres humanos. As
habilidades de cura pela Força de sua equipe, longe de atrofiar, haviam
aumentado. O mesmo aconteceu com a taxa de sobrevivência dos
amputados.
A Tribo também era um povo mais puro, graças à sua atenção à eugenia.
Antes de muitas gerações, o sangue dos Sith em Kesh seria totalmente
humano. Ela lamentou que não estaria viva para ver isso.
Ou estaria? Um pensamento agradável.
Mas os Sith já eram mais agradáveis de se olhar. Tinha instilado nos
jovens um respeito por seus corpos, um desejo de perfeição física. Os
Lordes Sith que eles deixaram para trás eram modelos de regras atrozes: a
maioria deles era uma confusão bárbara de bugigangas e tinta de guerra. A
Tribo de Seelah não aceitaria nada disso. Tatuagens eram etiquetas para
escravos. Um Sith de Kesh já nascia uma obra de arte.
E após as perdas no expurgo, os números da Tribo tinham começado a
aumentar rapidamente nos últimos anos. A perspectiva de uma casa quente
perto do nível do mar era suficiente para estimular os Sith de mente mais
independente com pensamentos de família. No pátio, Seelah viu Orlenda, a
principal hedonista da tribo, plenamente grávida. As maravilhas nunca
cessavam.
— Isso é tudo. — Orlenda disse, apoiando-se em um carrinho precário
de suprimentos prestes a partir para Tahv. A mulher mais jovem olhou para
baixo nervosamente; Korsin chegaria a qualquer momento. — Você... você
me quer aqui para isso? Não posso voar, mas posso descer neste carrinho
com os mais frágeis.
Seelah mordeu o lábio. Ver Orlenda ao lado dela quando ele chegasse
deixaria Korsin à vontade. Mas se algo desse errado ali, Orlenda poderia
garantir que as políticas de Seelah continuassem.
— Vá. — ela disse, suspirando. — Mas depressa. Eles estão chegando.
Orlenda foi atrás de carregadores Keshiri. Além dos uvak, eles eram os
únicos animais de carga do continente.
Estava na hora. Seelah se apressou em direção à praça formada pelos
domicílios e o santuário da Presságio. A comitiva de Korsin desembarcava
no outro extremo. Bem no horário, para variar. Os quatro guarda-costas de
Korsin e Gloyd tomaram as suas posições enquanto os atendentes Keshiri
levavam os uvak. Os seus estábulos seriam a última coisa a fechar.
Korsin estudou a praça ao seu redor.
— Ah, Seelah. Aí está você. — Ele se aproximou dela. Do lado de fora
em campo aberto.
— Sim. Aí está você. — Ela fechou os olhos e se concentrou. Agora,
Jariad!
N ão foi a onda de corpos que assustou Korsin mas sim de
onde vieram. Sith vestidos de preto desciam sobre a praça dos alojamentos,
saindo de portas, janelas superiores, telhados, e das muralhas do templo
multinível da Presságio. Korsin acendeu o sabre de luz e se manteve firme
quando os invasores se aproximaram. Eles eram os Sabres de Jariad, a
mesma equipe da manhã anterior.
Korsin trocou olhares com Gloyd. Os seus guarda-costas os ladeavam,
formando um grupo defensivo voltado para fora. Quatro para um.
— Fiquem juntos.
Korsin observou Jariad sair propositalmente da porta do templo, arma
acesa.
— Isso não parece os Confins do Norte para mim, Jariad.
O sobrinho não disse nada. Ele tinha aquele olhar selvagem novamente.
O olhar de Devore.
— Concordei com seu pequeno grupo para lhe dar algo para fazer. —
gritou Korsin. Ele se dirigiu aos companheiros severos de Jariad. — Vocês
deveriam ter vergonha. Voltem para Tahv.
— Eu não sou como Nida. — Jariad disse, ainda se aproximando. — Eu
não preciso de hobbies. Já desperdicei tempo demais. — Ele andou entre os
confederados, que agora formavam um perímetro de sabres de luz
brilhantes ao redor do grupo de Korsin. — Chegou a hora de acertar as
contas, Capitão Korsin. Você mesmo nos disse isso. Uma nova era
amanheceu. É hora de a autoridade militar terminar. Trata-se de sucessão,
de quem deve liderar melhor a tribo.
— Quem? Você? — Korsin tentou parecer surpreso, e riu. — Oh, Jariad,
eu realmente acho que não. Volte para casa.
Jariad congelou, evidentemente ciente dos olhares atentos de suas
próprias forças. Gloyd, parecendo entender a ideia, riu.
— Capitão, eu não colocaria esse aí nem como encarregado de limpar as
baias dos uvak.
— Eu sou o futuro! — Jariad explodiu. — Eu sou o mais jovem
daqueles nascidos nos céus. Todos os Sith depois de mim são nascidos em
Kesh. — Ele ergueu o sabre de luz. — O líder dos Sith deve ser especial.
Korsin olhou e rosnou.
— Você não é especial. Já vi outros como você antes.
A voz de uma mulher soou.
— Conte a ele! — Seelah. Ele tinha se esquecido dela. Ela estava em pé
no final da praça, agora acompanhada por vários de seus leais retentores.
Todos armados. — Conte a ele sobre como você viu o pai dele morrer,
Yaru. Diga a ele como você o matou e jogou o corpo nas rochas, tudo para
manter o controle sobre nós!
Korsin começou a responder, apenas para ver Jariad dar um passo para
trás. Os Sabres se aproximaram. Claramente, Jariad os deixaria dar os
primeiros golpes antes de entrar para a matança. Korsin se fortaleceu, e
olhou para as nuvens. Meio-dia.
De repente, figuras sombrias atravessaram a quadra. Cinco, dez,
dezenas de criaturas subiram ao céu, levantando-se atrás do templo. Uvak.
Deles.
— Que droga? — Jariad olhou para a mãe. Seelah parecia não ter mais
ideia do que ele.
Finalmente, a resposta veio de um dos assessores dela, subindo a escada
sem fôlego até a praça.
— Os cavalariços... os Keshiri! Eles estão roubando nossos uvak!
Vários Sabres de Jariad ergueram os olhos, atordoados. Korsin viu a sua
chance. Ele e Gloyd se lançaram para os vestidos de pretos do lado deles,
varrendo um caminho mortal em direção ao edifício mais próximo. Os seus
guarda-costas se fecharam atrás deles, bloqueando a perseguição da melhor
maneira possível.
Korsin e Gloyd correram pelo prédio, seguidos por uma multidão de
Sabres. Korsin foi para a escada, acenando para Gloyd o seguir.
— Bom truque, Capitão. — Gloyd disse. — Mas nós poderíamos ter
usado mais do que isso!
— Esse truque não é meu. — Korsin disse, alcançando uma janela. — E
você está certo!
Ele olhou com urgência para os céus e sondou a Força em vão. Ele fora
libertado da montanha anos antes. Mas ele podia sentir que a sua libertadora
agora estava longe.
A sua pilotagem havia melhorado desde seu primeiro voo desesperado,
anos antes. Agora Adari habilmente guiava Nink enquanto ele voava,
seguindo a costa irregular abaixo. Atrás dela voavam mais de cem uvak,
toda a população dos estábulos do templo da montanha, montados por
cavalariços Keshiri, domésticos e trabalhadores. Todos os agentes do
movimento de Adari tinham sido cuidadosamente posicionados lá para este
dia. Se quaisquer montarias tivessem sido deixadas para os Sith no templo,
ninguém as estava usando para segui-los.
O rebanho que se aproximava do leste era um dos dela. Haveriam
outros. Nas aldeias do continente, o mesmo aconteceria: os conspiradores
Neshtovar, que simplesmente cuidavam de seus uvak, iriam ao ar com eles,
sem deixar ninguém para trás.
Não haveria cavaleiros o suficiente, mas isso não importava. Embora
não fossem animais naturais de rebanho, mesmo os uvak não quebrados
eram altamente sugestionáveis aos berros dos machos mais velhos, o tipo
exato que os Neshtovar pretendiam. Histórias haviam sido passadas de
revoadas aéreas pelos séculos, com cavaleiros liderando nuvens dos répteis
pelo céu. A de Adari seria uma frente de tempestade evolutiva, recolhendo
todos os animais do campo em ondas vastas e sucessivas. Eles montaram as
suas rotas para canalizar todos os uvak que não estavam amarrados em
direção ao Pináculo Sessal, assomando à frente em sua majestade
fumegante.
Ali, a salvo da cratera, os cavaleiros da frente pousavam os seus animais
apenas o tempo suficiente para desmontar. Permanecendo no alto, Adari
ordenava que Nink desse um grito de agrupamento: um comando poderoso
que obrigava todos os uvak ao alcance da voz a segui-lo imediatamente.
Aos quarenta anos, o mimado Nink era o uvak mais antigo na memória.
Todos os uvak atenderiam cegamente à sua ordem, brevemente. Mas o
suficiente, Adari imaginou, para ela voar pelas nuvens acima da cratera
fumegante e desaparecer.
Não seria suicídio. Seria libertação.
Os Sith haviam viajado para longe nas costas dos uvak, mas os
Neshtovar foram os destinatários de gerações de conhecimento das
correntes de ar de Kesh. Eles sabiam as coisas estranhas que as correntes de
jato faziam quando o Pináculo Sessal agia. Os cavaleiros que voavam alto o
suficiente simplesmente desapareceriam, lançando-se além do horizonte da
manhã, bem acima do grande mar oriental. Ela escalaria alto, e o vento a
reivindicaria e a qualquer uvak que a seguisse.
Apesar de sua antipatia inicial pelos uvak, ela estremeceu ao pensar no
que viria a seguir. O rebanho frenético lutaria contra o vórtice, mas em tal
elevação, Kesh estava no comando. Talvez um fenômeno semelhante tenha
desativado a nave Sith; Adari não sabia. Mas quando os ventos se
enfraquecessem, ela, e todos os uvak que conseguisse convencer a segui-la,
chegariam a um fim aquoso. Assim como meu marido, ela pensou.
Os seus companheiros conspiradores amavam os seus uvak, mas
odiavam mais os Sith. Eles tinham discutido frequentemente o que
aconteceria a seguir. Os líderes Sith desceriam do retiro nas montanhas por
seu caminho de serviço, mas seria necessário tempo, tempo durante o qual
os aliados de Adari atacariam os principais simpatizantes dos Sith em cada
aldeia. Não haveria resistência aberta. Seriam lâminas shikkar à noite. Os
Sith ficariam orgulhosos.
Na verdade, é claro, os Sith atacariam. Tahv certamente sentiria a ira
deles. Mas os Sith estariam realizando seu massacre étnico a pé. O
transporte deles seria retirado do mapa, literalmente. E os Keshiri achariam
mais fácil matar os uvak remanescentes desgarrados do que os Sith.
Os Sith agora tinham os seus próprios jovens para proteger; eles
poderiam simplesmente pegar um pedaço de território e deixar por isso
mesmo. Ou, melhor ainda, eles poderiam se retirar para o refúgio da
montanha para sempre. A maioria dos Keshiri ainda idolatrava seus
Protetores, mas enquanto alguns deles estivessem dispostos a envenenar
seus senhores, eles sempre seriam um perigo.
Presumindo que o veneno matasse os Sith. Adari nunca realmente
compartilhou o entusiasmo de seus confederados sobre as consequências.
Sabia do que os Sith eram capazes. Poderia ser necessário mil Keshiri para
matar apenas um. Mas mesmo se conseguissem? No momento, as chances
ainda favoreciam os Keshiri. Eles não iriam mais adiar. É por isso que tem
que ser hoje, ela pensou.
Kesh fervilhava de vida. O fato de uma de suas espécies pagar um preço
por sua serventia era trágico. Mas os Keshiri já haviam pago um preço por
sua própria serventia para os Sith. Ambos tinham que terminar.
O seu grupo se fundiu com os pilotos do leste, Adari virou Nink e olhou
na direção de Tahv. Essa seria a grande onda.
Quando chegassem.
Onde eles estavam?
Seelah correu pelo telhado de sua antiga casa. Por metade de sua vida,
ela tinha acordado diante da mesma vista do mar que tinha engolido
Devore. Agora, olhando para baixo, via as suas forças se aproximando do
homem que o havia enviado para lá.
Não tinha visto como, mas Korsin e Gloyd haviam se separado. O
pesado Houk ainda estava vivo, ela sabia, os leais assessores dela o
perseguiam em outra parte do complexo. Mas Korsin era a chave. Ele tinha
escolhido bem seus guarda-costas. Dois permaneciam vivos, feridos, mas
eficazes em sua defesa desorientada.
A equipe de Sabres de Jariad, entretanto, havia demonstrado falta de
treinamento formal. Ele tinha insistido em ser o único mentor deles, mas só
tinha começado a treinar seriamente nas últimas semanas, depois que
Seelah tomou a decisão de atacar. Jariad a lembrava mais o pai dele todos
os dias. Não havia recanto que Devore Korsin não rompesse.
O desaparecimento dos uvak era um problema inesperado, mas tinha
cortado igualmente, removendo a fuga para todos. Os Keshiri haviam
levado todos os animais. Jariad tinha feito essa preparação sem contar a ela?
Improvável. Mas parecia ter afetado as esperanças de Korsin. Lá, na encosta
reforçada ao lado do templo da Presságio, ele continuava a olhar para cima.
Seelah tinha certeza de que ele não estava olhando para ela.
Seelah apreciou a vista. Jariad tinha Korsin agora. Treinados ou não, os
Sabres dele eram numerosos. Quando os seus guarda-costas ficaram para
trás, Korsin recuou em direção ao precipício, a mesma marca da qual
Devore caíra. Jariad iria gostar disso. Ele parecia estar gostando de cada
momento, golpeando Korsin várias vezes, sua lâmina ocasionalmente
encontrando sua marca. Korsin estava machucado agora, sangrando muito.
Jariad se aproximava cada vez mais, empurrando seu tio para trás.
E, no entanto, Korsin continuava olhando para cima.
O que ele estava esperando?
Um estrondo atrás chamou a atenção dela. A forma flácida de um de
seus assessores disparou através de uma claraboia e desapareceu pelo lado.
Então é aí que Gloyd está. Ele tinha que ser contido, longe da ação abaixo.
Irritada por ter sido roubada de ver Korsin morrer, Seelah se virou para a
claraboia quebrada.
...apenas para perder o equilíbrio quando asas batendo dispararam sobre
a crista do telhado. Seelah rolou para o lado, evitando o pontapé e as garras.
Os uvak estavam de volta!
Tropeçando pelo buraco aberto, Seelah bateu no chão de pedra de
quatro. A batalha de Gloyd estava na sala ao lado, mas ela correu para a
janela de qualquer maneira. Ela tinha que ver. Os Keshiri voltaram com os
uvak? Ou era alguém que ela nunca considerou, com quem nunca contou?
Olhando para fora, ela viu.
Nida.
K orsin havia jogado o seu trunfo.
A própria existência de Nida, ele sabia, fazia parte do jogo de Seelah
para manter a si mesma e a Jariad perto do poder. Dar a Korsin uma filha
foi útil para Seelah; a própria Nida não era. Seelah havia “cuidadosamente”
encontrado uma série de babás Keshiri e depois tutores para a criança,
enviando-a para uma vila atrás da outra. Oficialmente, era um gesto de
confiança dos Sith nos Keshiri; na verdade, refletia o buraco que ele sempre
conhecera no coração de sua esposa.
Havia mais. Seelah não estava apenas tirando Nida do caminho; Korsin
sabia que ela estava impedindo a filha de receber nada além de treinamento
superficial dos modos Sith. Seelah mantinha as listas dos Sith em Kesh; ela
sabia onde estavam todos os mentores em potencial a qualquer momento.
Mas Korsin tinha vários membros leais da tripulação dispostos a servi-
lo em qualquer função. Com a ajuda de Gloyd, Korsin havia encenado as
mortes deles em áreas remotas de Kesh e os havia escondido. Durante todas
as noites do aparente exílio de Nida, a garota secretamente aprendia os
caminhos do lado sombrio, mesmo durante os dias em que estava
conquistando amigos Keshiri e construindo uma rede de informantes. Tudo
em seu papel aparentemente sem sentido, mas muito móvel, como
embaixadora aérea dos Sith.
Enquanto Seelah se esforçava para se apresentar como a modelo Sith
em Kesh, Korsin estava criando uma líder, alguém com talento para lutar e
governar. Uma herdeira, e hoje, uma salvadora.
Na noite anterior, um dos conhecidos Keshiri de Nida tinha revelado o
plano para roubar os uvak enquanto os principais Sith estivessem no topo da
montanha. Ela tinha passado a manhã se certificando de que o que quer que
os Keshiri estivessem fazendo não fossem muito longe, antes de se juntar a
Korsin ali, junto com os seus Patrulheiros Celestiais e vários partidários de
Korsin. Não muitos, e não tão cedo quanto ele esperava, mas o suficiente e
a tempo. Expulsara os seus inimigos vindo para cá; a surpresa deles foi
completa.
Nida pulou no chão, com o sabre de luz brilhando, empalando um dos
bandidos de Jariad quando pousou. Dois convergiram para a posição dela,
apenas para serem cortados ao meio. Ela jogou um terceiro na parede do
templo, logo atrás. Não havia muito campo de batalha ao lado do penhasco,
mas Nida já o dominara. O próprio Jariad se afastou de Korsin antes da
matança, juntando-se aos seus Sabres na luta.
Uma explosão abafada veio da mansão mais acima da colina. Gloyd,
Korsin sabia. Cerrando os dentes, o capitão tocou o corte no seu peito. Ele
não sairia dessa, ele sabia. O chão vacilou embaixo dele. Não tinha sobrado
muito.
Mas ele olhou novamente para Nida.
Tão forte. O seu futuro para os Sith, lutando contra o futuro de Seelah.
E vencendo.
Estremecendo de dor, Korsin se arrastou de volta do precipício em
direção à briga. Jariad, ferido e lutando para impedir o avanço de sua irmã,
olhou para trás surpreso.
— Você está certo, Jariad. — Korsin disse, sufocando com sangue. — É
minha hora de ir... mas não sem o meu último ato oficial. E ele está
atrasado.
Adari deveria ter ficado mais surpresa. Ao cair da noite, mais de mil
Keshiri chegaram perto do pé do Pináculo, liderando cinco vezes mais uvak
sem cavaleiros. A multidão de feras que circulavam bem acima da formação
de fumaça parecia como uma auréola viva de couro. Era emocionante, mas
decepcionante: muitos mal teriam ocupado os currais de uvak no sopé do
sul.
Adari desistiu de examinar o horizonte muito antes de seus
compatriotas. À meia-noite chegou um cavaleiro solitário de Tahv, sem
fôlego e aterrorizado. O relatório dele confirmou a sua suspeita. Tona tinha
caído no feitiço de Nida Korsin e revelara todos os planos deles.
Não havia esperança desde o começo; alguém os teria traído. Tona foi
apenas o mais fraco. Adari se afastou antes de ouvir se Nida havia
recompensado Tona ou o matado. Nada mais importava.
O que surpreendeu Adari foi o que aconteceu a seguir. Ela esperava que
todos fossem embora. Que voassem para longe, libertassem os seus uvak e
desaparecessem novamente na sociedade Keshiri antes que os Sith os
encontrassem. Em vez disso, quando ela sombriamente seguiu para as
nuvens em Nink e se dirigiu para o rio sombrio de ar, ela encontrou toda a
comitiva em seu rastro.
Tinha adormecido, assumindo que Nink se renderia à gravidade durante
a noite. Muitos outros já haviam caído no oceano desde que deixaram
Keshtah para trás. A sua vez chegaria.
Mas ela acordou com outra coisa.
Lá de cima, a linha de terra não passava de uma costura entre as ondas,
uma cadeia de recifes contíguos a uma superfície suja um pouco maior do
que a antiga vizinhança dela. Nada daquilo sugeria um refúgio. Mas a
corrente de jato cedeu, e Nink também. Dos cavaleiros que haviam
começado, restavam menos de trezentos. Era isso, ou nada.
E isso é quase nada, ela pensou enquanto atravessava a sujeira salgada
da praia. O continente principal havia fornecido tudo o que os Keshiri
precisavam para prosperar. Ali, necessidades básicas teriam que ser
agarradas. Chuvas pouco frequentes acumulavam água fresca em recifes
côncavos. Os uvak, inúteis e sem destino à vista, teriam que ser abatidos
drasticamente para dar uma chance à vegetação escassa. A carne deles era
pouco comestível; as suas carcaças produziriam os únicos materiais de
construção.
Para as atividades intelectuais dela, a ilha não oferecia nada. Apenas os
mesmos escombros vulcânicos da praia ao monte. Anos em um purgatório
de sua própria autoria não pareciam suficientes: agora ela deveria ficar
entediada até a morte. Tudo o que encontrou foi um cadáver antigo de
Keshiri, outra vítima solitária das correntes aéreas oceânicas.
Por que os Sith não poderiam ter pousado ali?
Ela sabia a resposta. Os Sith tinham estado presos em um lugar assim.
Para salvar a si mesma, deles e dos anciãos, ela os libertou. Korsin estava
certo, aqueles anos atrás. Todos fazemos o que temos que fazer.
Eles estavam fazendo isso agora. Adari olhou para Nink, que estava
morrendo de cansaço, os pés bifurcados mal respondendo às carícias da
arrebentação. Ela não podia simplesmente enterrá-lo quando chegasse a
hora; ele seria necessário, assim como o resto. Os uvak eram parte
integrante de sua sobrevivência, mas descartáveis quando necessário.
Os Sith haviam olhado os Keshiri exatamente da mesma maneira.
Adari estudou o seu povo, trabalhando silenciosamente na ilha. Eles
esperavam que não sobrevivessem ao ano. Pior ainda, quem viesse procurá-
los não seria um salvador.
Talvez os Sith de Korsin se preocupassem com a mesma coisa, ela
pensou. Talvez as histórias fossem verdadeiras. Talvez os verdadeiros
Celestiais, os verdadeiros Protetores da lenda, estivessem por aí em algum
lugar, caçando os Sith.
Ela não acreditava nisso.
Mas de qualquer forma, ela nunca tinha acreditado.
Seelah acordou em uma laje em sua antiga enfermaria. Não havia
diferença entre as acomodações dos pacientes e os esquifes no necrotério;
tudo era mármore frio, assim como tudo no templo amaldiçoado.
Seelah estava se movendo agora, apenas as suas pernas não estavam.
Ela se lembrou de tudo. Segundos depois que viu Nida chegar, Gloyd havia
levado a luta para a câmara de Seelah. Gloyd sempre se gabava de que
quem o matasse não viveria para comemorar. De fato, encurralado por
Seelah e seus confederados, Gloyd havia ativado algo que devia ter
literalmente na manga desde o acidente: um detonador de prótons. A
apólice de seguro do Houk havia derrubado a sala em cima do grupo todo.
A Força ajudou a libertar Seelah dos escombros que a prendiam dos
joelhos para baixo, mas nada poderia fazê-la andar novamente. Ela não
precisava de seu treinamento médico para reconhecer isso. Ela trabalhou
incansavelmente para se tornar um espécime perfeito da humanidade, algo
pelo qual a Tribo aspiraria. Agora, sentando-se e examinando os seus cortes
e machucados, sabia que nunca mais voltariam a seguir o seu antigo
exemplo.
— Você está acordada. — Veio uma voz feminina suave. — Bom.
Seelah esticou o pescoço para ver a sua filha na porta, vestindo a sua
roupa do Dia da Dedicação. Quando Nida não se moveu para entrar, Seelah
usou os braços doloridos para se virar.
— Você vai fazer muito disso. — Nida disse, entrando e mergulhando
uma xícara em uma bacia. Ela bebeu profundamente e exalou. — Oh,
quando você precisar, a água está aqui. — Ela desviou o olhar.
Nida explicou como ela havia aprendido com Tona Vaal o plano de
roubar os uvak dos Sith, cronometrado exatamente quando o maior número
possível de Sith estaria na montanha. Levou mais tempo do que esperava,
mas frustrou a trama em Tahv e correu para o lado do pai. Mas chegou tarde
demais.
— Eu acho que você pode sentir isso... o papai se foi.
Seelah lambeu os lábios, provando o próprio sangue seco.
— Sim. E Jariad?
— Papai tentou jogá-lo para além do precipício com a Força. — Nida
respondeu. — Ele tentou... e quando falhou, eu o fiz.
Seelah olhou inexpressivamente para a filha.
— Eu odiava usar o pobre Tona assim. — Nida disse. — Mas ele
pensava que tinha algo que eu queria. — Ela tomou outro gole. —
Tínhamos algo em comum, você sabe. Nossas mães não tinham utilidade
para os nossos pais.
Tona havia revelado que os conspiradores estavam levando os uvak ao
Pináculo Sessal, mas ele não sabia nada além disso.
— Não há sinal deles lá. — Nida disse. — Nosso palpite é que eles
mergulharam no poço de lava. Por ressentimento ou medo. Não importa. —
Sith ou Keshiri, a dissidência terminou em Kesh. Foi um dia produtivo. —
Eu vim aqui porque acabamos de ler o testamento final do papai. — Ele
existia, sob os cuidados dela. — Ele recomenda o seu legado para mim, e
para os três Alto Lordes sobreviventes que o ratificaram. Então, você vê?
Você é a mãe da nova Grande Lorde. Parabéns. — Nida sorriu. Por sua
idade, ela poderia esperar governar Kesh nas próximas décadas. — Ou até
os Sith virem nos resgatar.
Seelah zombou.
— Você é uma criança. — Ela deslizou da laje, apenas para se apoiar
contra ela com as mãos quando seus pés não responderam. — Ninguém
vem nos buscar. Seu pai sabia disso.
— Ele me disse. Realmente não me importo, de um jeito ou de outro.
— Deveria. — disse Seelah, lutando para se endireitar. — Se eu contar
para aquelas pessoas lá fora...
Nida casualmente recolocou a xícara no lugar e deu um passo em
direção à porta.
— Não há ninguém lá fora. — ela disse. — Talvez você deva ouvir o
restante dos desejos finais do papai. Doravante, com a morte do Grande
Lorde, a cônjuge e os trabalhadores domésticos dessa pessoa deverão ser
sacrificados. Ele pegou a ideia de um antigo costume Keshiri.
Tecnicamente, é para homenagear o Grande Lorde, mas você e eu sabemos
do que realmente se trata. — Ela passou os dedos enluvados pelos cabelos.
— Eu imagino que isso vai colocar um friso na minha vida social, mas vou
superar.
Selah prendeu a respiração.
— Você não pode querer...?
— Relaxe. — Nida disse. — Doravante. Não, ordenei que todos os Sith
se retirassem desta montanha, em homenagem à morte do papai. Enquanto
eu viver, ninguém pode voltar aqui. Esta é a sua nova casa... de novo. — E
com isso, ela saiu para o pátio.
Seelah levou minutos dolorosos para a seguir, arrastando-se através da
pedra. Nida estava pisando no estribo do seu uvak, cercada por caixotes
feitos de hejarbo cheios de frutas e legumes. Mais seriam lançados por
sobrevoos regulares de uvak, disse Nida; as únicas criaturas, selvagens ou
treinadas, permitidas no espaço aéreo acima do templo. Em outras partes do
complexo, o acesso ao abrigo da Presságio havia sido cortado. Abaixo, o
caminho até a montanha estava sendo barricado, mesmo agora. Este tinha
sido cuidadosamente esculpido, mas agora seria bloqueado para sempre.
O que restou, Seelah viu ao olhar em volta, era o templo frio em que ela
passara a desprezar a vida. Um lar adequado apenas para uma deusa nas
alturas... para sempre. Sozinha.
— Nida. — Seelah tossiu quando Nida começou a voar. — Nida, você é
minha filha.
— Sim, é o que eles me dizem. Adeus.
INTRODUÇÃO
A Tribo Perdida dos Sith: Purgatório ocorre aproximadamente 1.140 anos após os
acontecimentos de Precipício, o primeiro romance da série. É contada do ponto de vista de duas
protagonistas, Orielle Kitai, uma Sith Sabre, e o seu amigo Jelph Marrian, um servo que se
especializou em vender fertilizantes de alta qualidade para fazendeiros Keshiri. Desconhecido para
Orielle, Jelph também era um Jedi Sombrio secreto que ficou preso no planeta Kesh. Após a morte
do fundador da Tribo Perdida dos Sith, Yaru Korsin, em 4.975 ABY, a sua filha Nida Korsin
governou o continente de Keshtah Menor como a Grande Lorde por 79 anos. Apesar dela ter gerado
um filho chamado Donellan, ele não viveu mais do que a mãe. Como resultado, Nida instituiu um
sistema de sucessão baseado no mérito. Assim, sucessivos Grandes Lordes foram eleitos entre os sete
Alto Lordes da Tribo.
A tarde deles começou como sempre. O ancinho
desceu, arrancando sulcos ordenados na lama negra. Erguendo-o para outro
passe, o manejador o desceu novamente, dividindo cuidadosamente os
sulcos.
Ori Kitai assistia do outro lado da cerca. O jovem fazendeiro ia muito
devagar. O ancinho, um casamento insubstancial de brotos de hejarbo e
pedras finas, separou o rico solo com facilidade. Mas Jelph de Marisota
parecia não ter pressa, para isso ou qualquer outra coisa.
Que monótono deve ser, pensou Ori. Durante todo o dia, todos os dias, o
homem de chapéu com abas de palha cuidava de seus deveres, sem lugar
para ir ou amigos para ver. Sua propriedade ficava sozinha em uma curva
do Rio Marisota, longe da maioria dos centros da cultura Sith em Kesh.
Nada existia rio acima senão vulcões e selva; nada rio abaixo além das
cidades fantasmas dos Lagos Ragnos. Não era vida para um humano.
— Lady Orielle. — disse Jelph, tirando o chapéu. O cabelo arenoso
pendia em uma longa trança do lado de fora da gola da blusa encharcada.
— Apenas Ori. — ela disse. — Eu já falei uma dúzia de vezes.
— E isso significa uma dúzia de visitas. — ele disse com aquele sotaque
estranho. — Estou honrado.
A mulher esbelta de cabelos castanhos-avermelhados passeava ao longo
da cerca, lançando olhares de soslaio para o trabalhador. Ela não tinha
nenhum motivo para esconder porque ainda vinha ali, não com o futuro de
sua família prestes a ser garantido. Ori podia fazer o que quisesse. E, no
entanto, ao atravessar a abertura para o caminho de cascalho, sentiu-se
mansa e com quinze anos novamente. Não uma Sith Sabre da Tribo, uma
década mais velha.
Os seus olhos castanhos seguiram pelo chão e ela riu para si mesma.
Não havia motivo para modéstia. Ori usava o uniforme preto de sua função.
Jelph usava trapos. Tinha passado nos testes de aprendizagem no terreno do
palácio, ao longo da gloriosa avenida percorrida pelo Grande Lorde Korsin
mais de um milênio antes. A casa de Jelph era um casebre, ele possuía
menos uma fazenda do que um depósito para solos fertilizados que fornecia
aos jardineiros das cidades.
E, no entanto, o homem tinha algo que ela nunca havia encontrado em
outro humano: ele não tinha nada a provar. Ninguém nunca olhava
diretamente para ela em Tahv. Na verdade, não. As pessoas sempre ficavam
de olho no que a conversa poderia significar para elas, em como a sua mãe
poderia ajudá-las. Jelph não pensava em avanços.
Que benefícios tais pensamentos teriam para um escravo?
Colocando o ancinho no chão, Jelph saiu da lama e puxou uma toalha
do cinto.
— Eu sei por que está aqui. — ele disse, limpando as mãos. — mas não
porque você está aqui hoje. Qual é a grande ocasião desta vez?
— Dia de Donellan.
Jelph olhou inexpressivo para ela.
— Um de seus feriados Sith?
Ori inclinou a cabeça enquanto o seguia ao redor da cabana.
— Você já foi Sith uma vez, você sabe.
— É o que eles dizem. — ele disse, jogando a toalha longe. Ela caiu em
um balde no chão, fora da vista dele. — Receio que não cultivemos muita
memória antiga no interior.
Ori sorriu. Ele era tão instruído, para um inferior. Jelph cultivava
bastante, fora da vista da trilha onde ela tinha deixado seu uvak pastar até
que estivesse pronta para voar novamente. Atrás da casa, além das pequenas
montanhas de barro do rio que ele negociava com os Keshiri, ele mantinha
seis treliças das mais lindas flores de dalsa que ela já vira. Como a cabana e
o ancinho, as treliças eram feitas de brotos de hejarbo amarrados, e, no
entanto, representavam uma exibição que rivalizava com as maravilhas da
horticultura do Assento Alto. Ali, atrás dos aposentos de um escravo no
meio do nada.
Pegando a lâmina de cristal que ela ofereceu, o fazendeiro de olhos
castanhos começou a cortar os espécimes que ela selecionou. Como sempre,
eles decoravam as urnas na varanda de sua mãe nas festas.
— Então, o seu evento. O que é? — Parando, ele olhou para ela. — Se
você quiser me dizer, é claro.
— Amanhã vai completar mil anos do nascimento do primogênito de
Nida Korsin.
— Oh. — Jelph disse, aparando. — Ele se tornou Grande Lorde ou algo
assim?
Ela sorriu.
— Oh, não. — O reinado de Nida Korsin iniciou uma era robusta e
gloriosa para os Sith, ela explicou. Donellan sabia que o seu pai, o Lorde
Consorte, seria morto com a morte de Nida. Isso estava no testamento de
Yaru Korsin. Mas ele esperou muito tempo para fazer a sua jogada. O único
filho de Nida morreu velho, esperando a chance de subir ao poder. Foi o fim
de um sistema dinástico; após a morte dele, Nida, sem herdeiros, instituiu a
sucessão com base no mérito.
— Então esse cara falhou e tem o seu próprio dia?
Os Sith gostaram da mensagem da história de Donellan, ela contou.
Muitos Sith eram pacientes em engendrar as suas ascensões, mas era
possível ser paciente demais.
— O Dia de Donellan também é chamado de Dia dos Despossuídos. E
pense nisso. — ela disse, admirando os braços musculosos dele através das
mangas cortadas. — A Tribo realmente precisava de um motivo para uma
celebração?
Ele riu uma vez, uma risada gutural que fez Ori sorrir.
— Não, acho que não. — ele respondeu. — Pelo menos, isso mantém as
pessoas da minha linha de trabalho ocupadas.
Os sete Alto Lordes estavam sempre tentando se superar na decoração
de seus camarotes nos jogos. Assumindo o design do estande de sua mãe
em suas próprias mãos oito meses antes, Ori descobrira Jelph e seu jardim
secreto com um dos floristas Keshiri de Tahv, mas indiretamente. Sentindo
uma mentira quando o Keshiri alegou que as flores eram dele mesmo, Ori o
seguiu em seu uvak um dia. Como os animais voadores ainda eram
proibidos para os Keshiri, o florista viajou a pé para encontrar uma
caravana de carrinhos trazendo fertilizantes de Marisota. Ela encontrou
Jelph, e o encontrara várias vezes desde então, exceto quando ele estava em
sua jangada, mais acima na selva.
A selva. Ori olhou por cima da treliça para as colinas verdes, subindo
para os picos fumegantes do leste. Nem a Tribo subia naquele emaranhado
de arbustos e folhagens pendentes.
— Nenhuma pessoa sã deveria ir para lá. — dizia Jelph. Mas o que ele
trazia de volta em sua pequena barcaça era o segredo do seu sucesso na
horticultura, e do sucesso de todos os seus clientes. — No momento em que
o escoamento flui rio abaixo. — ele explicou uma vez, enfiando as mãos em
um monte de terra. — muitos nutrientes se vão. — Ori passou noites
acordada imaginando o homem mergulhado até a cintura em um riacho na
montanha escura, colocando a sujeira em sua barcaça.
Bobagem. Um excesso hedonista. Mas ela era Sith, não era? Quem mais
ela deveria agradar?
Ajoelhando-se, ele organizou os talos ordenadamente em um pano
cobrindo o chão. Mãos grandes e manchadas de sujeira trabalhavam com
uma delicadeza surpreendente, arrancando os botões que não serviam para
nada. Jelph olhou-a atentamente.
— Sabe, eu posso te dar os nomes dos meus clientes mais próximos em
Tahv. Eles estão plantando na mesma terra.
— Você é o melhor. — ela disse. Isso era verdade. Talvez as flores
simplesmente crescessem melhor no ar mais perto do solo nativo. Talvez
fosse a obra de um humano, e não de um Keshiri.
Ou talvez fosse este humano. Quando ela o conheceu, imaginou que
Jelph só tinha se tornado escravo recentemente. Nenhum trabalhador que
ela conhecia, humano ou Keshiri, tinha o vocabulário dele. Ele devia ter
sido alguém antes, que veio das cidades Sith. Mas ele respondia sem
hesitar:
— Eu não sou ninguém. Eu nunca conheci ninguém antes de você. —
Ele havia nascido como escravo e ali tinha ficado. Ele, e quaisquer filhos
que ele pudesse ter.
A classe de escravos humanos havia se desenvolvido logo após o
término da linha Korsin. Enquanto muitos dos descendentes da Presságio
eram sensíveis à Força, aqueles que não eram formaram a sua própria
camada na sociedade abaixo daqueles que serviram ao Grande Lorde.
Membros livres da Tribo, esses yeomanry ajudavam a manter os Keshiri,
que estavam mais abaixo, produtivos. Mas quando qualquer cidadão Sith
era condenado por um Lorde, o direito por nascimento poderia ser perdido
para sempre. Jelph de Marisota não tinha sobrenome porque o seu pai não
tinha nenhum para dar. Ele era melhor que um Keshiri, ela nunca deixara
que um dos servos de pele roxa a chamasse pelo seu primeiro nome, mas
apenas porque ele era humano, não porque ele era Sith. Jelph devia lealdade
e serviço aos Sith, se eles quisessem, mas apenas Ori já havia prevalecido
sobre ele diretamente por qualquer coisa.
Que desperdício, ela pensou, admirando tanto o trabalhador quanto o
trabalho manual.
— Você sabe, minha mãe é um Alto Lorde.
— Você já mencionou.
— Ela é poderosa, mas as tradições são muito fortes. — ela disse. — É
uma pena que não haja algum tipo de caminho para você voltar.
— Eu nunca estive lá. — ele disse. — E o que eu faria em Tahv? Eu
dificilmente me encaixaria em seu povo bonito.
Olhando para ela, ele piscou. À luz do sol, ela podia ver a cicatriz longa
e avermelhada escorrendo da bochecha direita até o pescoço. Ela às vezes
imaginava que era de alguma grande batalha, e não de um acidente de
fazenda, anos atrás. Mas ele estava certo. Mesmo que ele tivesse um nome,
sua desfiguração o tornaria um mau ajuste para a Tribo.
Jelph se levantou abruptamente.
— Você vai enrolá-las. — ela disse, os olhos correndo entre ele e as
flores.
— Na verdade, tenho algo para você. — ele disse, apontando um
polegar para trás. — Em homenagem ao seu Dia da Despossessão.
— É 'Despossuídos'.
— Peço perdão. — Ele a levou para mais longe na fazenda do que ela já
tinha estado antes, passando pelos montes até uma estrutura que ela tinha
visto apenas do céu. Situada perto da margem do rio, a cabana era maior
que a habitação dele e tinha o dobro da altura.
Ori empalideceu.
— O que tem lá atrás? Isso fede!
— Estrume geralmente fede. Os uvak estão bem na categoria. — ele
respondeu, aproximando-se da porta gradeada. O que antes era um estábulo
para um ocupante anterior que poderia possuir um uvak, agora fornecia a
ele um local sem vento para armazenar as cargas de esterco que ele
precisava para misturar no seu solo. — Você não quer estar por perto
quando eu tiver que carregar essas coisas. — Ele abriu a porta.
— Certamente este não é o seu presente para mim. — ela disse,
apertando os olhos e cobrindo o nariz.
— Certamente que não. — Ele alcançou dentro da porta para recuperar
uma canga de aparência estranha. — É algo em que eu estive trabalhando.
Aumentei algumas bolsas de pele para água e as prendi na parte de um
arnês de uvak. — Balançando as tiras centrais nas mãos, ele mostrou a ela
como as bolsas compridas pendiam de cada lado. — Você sempre tem que
levar as dalsas de volta em um pano úmido. Com elas, você pode carregá-
las direto, e não estará encharcada quando chegar em casa.
Ori arregalou os olhos, mesmo quando ele fechou a porta do lugar
rançoso.
— Você fez isso para mim?
Jelph olhou em volta.
— Humm. Eu não vejo o Grande Lorde aqui hoje, então... claro. Eu
acho que é para você.
Eles caminharam de volta ao longo do rio, passando pela pequena
barcaça de casca de gornk amarrada na margem. Retornando do pasto,
Shyn, o uvak de Ori, sobrevoou e se estabeleceu em uma clareira. Jelph
caminhou com segurança em direção ao animal e ergueu a canga sobre sua
estrutura de couro. Um ajuste perfeito. Shyn, que não levava ninguém,
assentiu passivamente.
É por isso que venho aqui, Ori pensou. A vida na corte era cruel, este
mês mais do que na maioria das vezes. Mas muitos eram motivados não
pelo desejo de poder, mas pelo medo de perder o poder que tinham. Este
homem não tinha nada e não temia nada.
A sua mãe havia dado um nome a isso: a confiança do beco sem saída.
Jelph encheu parcialmente as peles com água e depois depositou os
talos dentro. Shyn parecia um animal de desfile agora, enfeitado com flores.
Isso podia ser uma ideia para alguma outra vez, Ori pensou, mas não para
amanhã. Ela observou quando ele prendeu os topos para proteger as flores.
— Pronto. Apto para o Grande Lorde. — Ele a ajudou a subir no uvak.
— Jelph. — ela disse, olhando para baixo. — Com o que você pode
fazer, você realmente deveria ensinar os Keshiri a cultivar coisas, não lhes
vender sujeira.
— Cuidado. — ele disse, apontando para o celeiro de compostagem. —
A minha vida está nessa sujeira. — Ele deu um tapinha no rosto comprido
de Shyn e se virou em direção à sua barcaça, balançando na água. — E eu
posso não ser da Tribo, mas pelo menos eu tenho uma embarcação. — Ele
riu. — Tal como é!
O ri sabia que os Sith tinham uma nave, mas ela nunca a tinha visto.
Ninguém vivo tinha. Um dos últimos atos de Yaru Korsin foi remover todos
do elevado retiro para Tahv, onde os recém-chegados podiam expandir os
seus números e prosperar. Sentinelas aéreas protegiam perpetuamente o
templo sagrado e era proibido pra violadores, Sith e outras coisas. Mas a
montanha estava sempre visível sobre as paredes protetoras agora inúteis de
Tahv, um lembrete de suas origens estelares.
Ori podia ver claramente o pico do novo compartimento de luxo de sua
mãe em Korsinata. Múltiplos decks do estádio se erguiam sobre um campo
de jogo pentagonal, com a seção do Grande Lorde sendo a mais alta de
todas. Naquela manhã, a mãe de Ori havia recebido uma seção cobiçada no
estádio perto da Grande Lorde, cuja varanda sempre dava para o templo.
— Mais perto das estrelas. — Ori disse baixinho. Estamos subindo.
Ela estudou o horizonte. Lá, a quilômetros de distância, a Presságio
estava sentada em seu prédio protegido, esperando o dia em que os Sith
viriam para a sua tribo perdida. Mas ninguém veio, e poucas explicações
sobre o porquê eram atraentes. O lendário Lorde Sith Naga Sadow já os
teria encontrado se tivesse vencido a guerra. Se os Sith e Jedi tinham se
matado, ninguém viria.
E se os Jedi tivessem vencido? Como ela tinha feito na fazenda, Ori
empalideceu só de pensar nisso. Ela sabia o que eram os Jedi apenas pelos
seus professores, que mantiveram a história viva. Ori sabia o suficiente para
odiar os Jedi e tudo o que eles representavam. Fraqueza. Pena. Abnegação.
A descoberta pelos Jedi seria um destino cruel, de fato.
Mas a pior coisa da passagem do tempo foi a constatação de que, em
suas tentativas de sair do mundo, esses mesmos pioneiros da lenda de um
milênio antes haviam desperdiçado a maior parte dos recursos que poderiam
ter ajudado a Tribo agora. Muitos cristais Lignan do porão da Presságio
ainda circulavam, mas eram bons para sabres de luz e pouco mais. E
qualquer compreensão de como a Presságio funcionava havia desaparecido;
isso agora era território de estudiosos que nem tinham mais acesso à nave.
Somente o Grande Lorde poderia reverter a proibição de Korsin e devolver
os olhos da Tribo ao espaço.
Não seria essa Grande Lorde, a maior inútil do mundo a manter a
posição. Ori fervia enquanto olhava para a velha murcha em sua barraca
decorada. Lillia Venn balançava em seu trono, com a sua mão paralisada se
movendo completamente fora do ritmo dos músicos que tocavam abaixo. A
Grande Lorde Venn havia sido a candidata na qual se chegou a um meio
termo, um ano antes, quando os outros seis Alto Lordes não conseguiram
chegar a um acordo sobre um novo líder. A mais velha Grande Lorde em
vinte anos, Venn já não tinha medo; ninguém imaginava que ela duraria. Os
partidos políticos rivais, distinguidos pelas faixas vermelhas e douradas que
usavam, juraram lealdade à mulher enquanto continuavam a planejar os
seus próximos passos. Esta Grande Lorde era um cadáver em espera.
— Não se esqueça de saudar, querida.
Ori olhou de volta para os olhos escuros de Candra Kitai. Vibrante em
seus cinquenta anos, a mais nova Alto Lorde se aproximou da grade,
voltada primordialmente para a cabine da realeza, e se curvou. Quando a
Grande Lorde não respondeu, o rosto de Candra ficou tão tenso que Ori
temia que pudesse rachar.
— Calma, mãe. — Ori disse. — Como você mesma disse, é o nosso
grande dia. — Meses antes, a mãe de Ori havia tomado o lugar de Venn
entre os sete Alto Lordes, tornando-se instantaneamente a segunda pessoa
mais importante da Tribo. Mantendo as suas preferências em relação às
facções rivais em segredo, Candra se tornou o desempate: aquela que
finalmente selecionaria a sucessão da líder idosa.
Reconhecendo a nova importância de Candra, Venn havia lhe dado a
seção mais próxima, no alcance de seus olhos débeis. Se bem tratada,
Candra poderia manter os outros Alto Lordes indefinidamente num
impasse, afastando todos os desafios.
E depois? Quem sabe, Ori pensou. No próximo dia de Donellan,
poderemos estar no camarote real.
Os próprios rivais dela entre a liderança dos Sabre, os irmãos Luzo,
flanqueavam a Grande Lorde. O par de peito estufado olhou de volta para
Ori, mal escondendo o seu desdém. Provavelmente irritados, ela pensou,
porque esse era o momento em que eles não seriam capazes de sabotá-la.
Eles a observavam há meses, ansiosos por lucrar com qualquer deslize.
Com alguma sorte, o fim de Venn também seria o fim dos Luzos.
— Calma, querida. — Candra pediu, pegando o pensamento dela. —
Hoje somos todos amigos. — A mais recente Alto Lorde se virou e acenou
com a cabeça para os líderes das duas facções rivais, sentados em seus
habituais camarotes vermelhos e dourados. Os Alto Lordes Dernas e
Pallima eram tão importantes para ela quanto a Grande Lorde, e ela, para
eles.
— Amigos. Certo. — Ori revirou os olhos.
— Mas o nosso estande está adorável. Um bom trabalho, novamente.
Lembrada, Ori voltou o olhar para algo mais agradável, as flores de
dalsa, frescas e vibrantes na varanda. Jelph de Marisota talvez nunca
aparecesse ali, mas pelo menos uma parte dele havia feito a viagem.
O trovão veio de baixo. Ori olhou para lá e viu os cavaleiros, vestindo a
roupa antiga dos Patrulheiros Celestiais de Nida Korsin, entrando no campo
com seus uvak aleijados. O mais duro de todos os esportes sangrentos em
Kesh, a cavalgada rake começou com sangue. Os músculos das asas dos
filhotes de uvak tinham sido cortados, mantendo-os no chão
permanentemente, mas preservando uma certa amplitude de movimento.
Com pontas de vidro aparafusadas nas duras arestas das asas, as criaturas
agora crescidas andavam por aí, batendo suas asas transformadas em armas
perigosas.
Apertando os olhos, Ori tentou identificar os cavaleiros. Dernas e seus
Vermelhos tinham os seus favoritos, assim como Pallima e seus Dourados.
Venn teve duas inscrições, promovidas pelos irmãos Luzo. O último a entrar
em campo, no entanto, foi o que Ori se importava: Campion Dey, tratador
de uvak das terras do sul que Candra representava. Dey saudou Ori e a sua
mãe.
— Ele vai se sair bem, eu acho. — comentou Ori.
— Ele vai morrer. — disse Candra.
Ori olhou para trás, surpresa. Candra se sentava em sua cadeira
confortável, indiferente aos tambores batendo abaixo. Procurando no rosto
da mãe, Ori percebeu a verdade. Esses eventos esportivos sempre foram
lutas por sucessão por procuração. As facções rivais poderiam tentar ganhar
o favor de Candra, permitindo que sua inscrição ganhasse, mas a mais nova
Alto Lorde não iria agitar a Grande Lorde Venn. Não hoje.
— Nós vamos ter que ganhar um dia. — resmungou Ori.
— Não hoje. — Candra disse. Campion Dey era tão bom quanto morto.
Com o som da buzina, o campo se dissolveu imediatamente em uma
nuvem de poeira e sangue. Não havia nenhuma estratégia para cavalgada
rake, nenhuma postura. Os cavaleiros tinham seus sabres de luz, mas
qualquer um com bom senso se importava com as rédeas e nada mais.
Como qualquer Sabre, Ori adorava uma boa luta, mas isso não passava de
uma briga com animais: titãs cambaleantes rasgando um ao outro.
E a inscrição de sua família estava lá simplesmente para ocupar o lugar,
não melhor do que as flores no...
— Veja!
Todos os olhos se voltaram para Campion Dey, cujo uvak recuou
subitamente com os pés com garras. Ele avançou, asas com ponta de
navalha estendidas. Mas, em vez de dominar o oponente que tropeçou
desafortunadamente diante dele, a criatura pulou...
... e voou. As asas que não deveriam funcionar bateram com força,
permitindo que o uvak e o cavaleiro saltassem do corpo a corpo em direção
às arquibancadas.
Dey, de pé na sela, levantou seu sabre de luz vermelho e gritou algo que
Ori não podia ouvir. Ele estava no controle, tudo bem. Acendendo sua
própria arma, Ori saltou sobre o parapeito, pronta para atacar se ele se
aproximasse. Mas o gigante pesado passou para a esquerda,
desajeitadamente, subindo pela multidão em pânico em direção ao
compartimento de luxo da Grande Lorde, acima.
Ori viu Lillia Venn de pé, sem vacilar, enquanto o atacante escalava as
arquibancadas de pedra em sua direção. Erguendo as mãos trêmulas, a
Grande Lorde desencadeou uma torrente de energia do lado sombrio. Com
o fogo azul crepitando ao longo de sua envergadura, o animal surpreendido
caiu para trás no assento inferior, jogando seu cavaleiro livre. Os Luzos
saltaram do camarote real, com suas próprias armas brilhando em vermelho
quando mergulharam na direção do pretenso assassino.
— Mãe, volte! — Ori gritou.
Do outro lado do caminho, um assessor Keshiri fechou as persianas do
compartimento da Grande Lorde. Ori agora fez o mesmo, derrubando os
grandes vasos de flores de Jelph no processo. Ela se virou e viu a mãe,
cambaleando, paralisada diante do espetáculo.
— O que aconteceu, mãe? — Elas conheciam Campion Dey por anos,
apoiaram seu treinamento. O que poderia ter causado seu ato louco?
Candra simplesmente balançou a cabeça, o sangue escorrendo de um
rosto que parecia jovem momentos antes.
— Você... é melhor você ir, Ori.
— Os outros Sabres estão lidando com Dey. — Ori disse, guardando a
entrada do compartimento.
— Não é isso que eu quero dizer.
Ori olhou para a mãe, atordoada.
— Nós não fizemos isso. Não temos nada com que nos preocupar. Não
é? — Ela pegou o braço da mulher mais velha. — Mãe, não é?
Convocando alguma reserva invisível de calma, Candra se endireitou.
— Não sei o que acabou de acontecer. Mas eu vou saber, de uma forma
ou de outra. — Ela passou pela filha e abriu a porta. Do lado de fora, Sith e
Keshiri corriam loucamente pelas rampas externas da Korsinata.
— Mãe!
Candra olhou pra trás com olhos tristes.
— Eu não posso falar agora, Ori. Apenas vá para a propriedade e
garanta que os escravos saibam que não voltarei para casa hoje à noite. —
Ela desapareceu na multidão.
Uma estrela caiu inofensivamente do céu. Ao pousar em uma colina,
fornecia luz durante a noite, fazendo os jardins de Kesh florescerem como
nunca antes.
Até que se elevou novamente, incendiando tudo. As pedras da casa de
Ori viraram pó diante do vento quente, expondo-a ao inferno. Carbonizada
e morrendo, ela perseguiu a estrela na selva para perguntar por que ela
havia destruído seu mundo. Esta respondeu:
— Porque você pensou em mim como um amigo.
Ori experimentou a visão da Força durante o seu segundo dia como
Tyro, o nível mais baixo da hierarquia da Tribo. Isso nunca tinha significado
nada para ela. Mas, chegando a Starfall, a propriedade rural de sua mãe ao
sul de Tahv, ela teve a chance de lembrar. Uma procissão de trabalhadores
Keshiri estava saindo da mansão de mármore, carregando pertences para
uma pira no gramado.
Os trabalhadores dela. Seus pertences.
Deixando Shyn nas colunas que ladeavam a frente, Ori correu em
direção à fogueira. Sacando seu sabre de luz, ela cobrou da frágil figura
roxa que dirigia o trabalho: o zelador de sua mãe.
— O que está acontecendo? — Ori agarrou o homem. — Quem disse
para você fazer isso?
Reconhecendo a filha de sua senhoria, o Keshiri olhou furtivamente
para os lados antes de tocar no pulso de Ori. Ele falou em um sussurro
baixo.
— Isso foi ordenado pela própria Grande Lorde, senhora. Apenas
algumas horas atrás.
Há algumas horas atrás? Ori balançou a cabeça. A tentativa de
assassinato havia sido apenas duas horas antes. Como isso era possível?
O zelador apontou para a entrada principal. Lá, dois aprendizes dos
irmãos Luzo estavam de pé na grande porta, observando os trabalhadores
carregados de móveis passarem. Eles ainda não a haviam notado, mas ela
mudaria isso. Ori deu um passo em direção à casa.
Segurando o braço dela, o velho a puxou de volta.
— Há mais deles lá dentro. — ele disse, puxando-a para trás do fogo e
fora de vista deles. — Eles estão pegando as coisas de sua mãe também.
— Ela ainda é uma Alto Lorde? — Ori perguntou.
O zelador olhou pra baixo.
Outro pensamento a atingiu.
— Eu ainda sou um Sabre?
De repente enojada, Ori se aproximou das chamas e tentou se lembrar
do que ouvira e vira ao sair da Korsinata. Houve muito caos. Com Campion
Dey morto segundos depois de seu ataque fracassado, os rumores estavam
atribuindo seu ato a todos os lugares. A Facção Vermelha alegou que sua
mãe tinha feito um pacto terrível com os Dourados e vice-versa. Alguns
alegaram que Venn havia morrido em seu camarote, sucumbindo aos
esforços e à excitação; outros relataram terem visto as execuções dos
Grande Lordes Dernas e Pallima, bem em seus camarotes na arena. Nada
disso fazia sentido.
A única coisa que todos concordaram foi quem trouxe o assassino para
o estádio: a família Kitai.
Tinha que voltar para Tahv e conversar com os seus aprendizes leais
com acesso ao Assento Alto. Defensores dos interesses de sua família, eles
saberiam o que estava acontecendo agora. Era importante não sucumbir à
ira sobre a fogueira, uma tentativa óbvia da facção da Grande Lorde de
provocar uma reação e revelar deslealdade.
Olhando em direção à mansão, ela sorriu. As habilidades políticas de
Candra Kitai eram incomparáveis. Por agora, ela já teria desviado a culpa
com sucesso e descoberto quem eram os vencedores. Quando Ori chegasse
a Tahv, Candra provavelmente estaria sentada à mão direita de quem tivesse
vencido. Agora não era hora de cair em uma armadilha desajeitada montada
pelos Luzos.
— Isso será resolvido. — ela disse ao zelador, virando-se para o seu
uvak.
— Adeus, Ori.
Subindo em cima de Shyn, Ori pegou as rédeas na mão. De repente, ela
parou, chamando o ancião Keshiri que se retirava.
— Espere. Você me chamou de Ori.
O Keshiri olhou para baixo e se afastou.
Pelo lado sombrio, ela pensou. Qualquer coisa menos isso.
Jelph inclinou o carrinho trêmulo para trás, permitindo que outra pilha
de terra se derramasse na calha. À medida que o verão passava, os montes
secavam, ficando mais ácidos; uma lavagem alcalina tendia a refortificar os
estoques. Seus clientes Keshiri não sabiam sobre os íons de hidrogênio,
mas, no entanto, eles eram particulares.
Ouvindo um som, Jelph deixou cair a espátula e deu um passo ao redor
da cabana. Lá, nos raios minguantes da tarde, estava a visitante do dia
anterior, encarando seu uvak e segurando o freio.
— Estou surpreso em vê-la. — Jelph disse, aproximando-se por trás. —
Nada de errado com as dalsas, espero?
Girando, ela soltou o cinto. Os brilhantes olhos castanhos estavam
cheios de mágoa e raiva.
— Fui condenada. — disse Ori de Tahv. — Eu sou uma escrava.
J elph derramou mais da mistura granulosa em sua tigela. Prato digno
de um mendigo Keshiri, o cereal insípido se tornou outra coisa em suas
mãos, temperado com especiarias de seu jardim e os menores pedacinhos de
carne salgada. Ori não sabia de que animal era, mas agora devorava a
refeição com fome. Dois dias de restrição orgulhosa foram suficientes.
Ainda era tão estranho vê-lo aqui, fora dos campos. Nas duas últimas
manhãs, ele havia se levantado antes do amanhecer, começando suas tarefas
cedo para ter mais tempo para ela. Ele se lavava no rio antes que ela se
levantasse. Quando chegava a vez dela, ele se retirava para o canto da
cabana que servia de cozinha para preservar seu recato. Ori não achava que
tinha, mas novamente, aquela estranha mansidão apareceu. Ele não era um
brinquedo Keshiri, mas um humano, mesmo que fosse escravo.
Como ela.
Por alguma razão, não tinha dito nada a ele naquela primeira noite.
Havia tão pouco o que ele pudesse fazer, e tudo estava muito além do
quadro de referência dele. Ficou sentada em silêncio na porta da cabana,
esperando por nada até desmaiar. Acordou na manhã seguinte lá dentro, na
cama de palha que ele usava. Ela não tinha ideia de onde ele dormiu
naquela noite, se é que tinha dormido.
Na segunda noite, depois de um jantar intocado, deixou escapar tudo:
tudo o que havia acontecido em sua viagem a Tahv. Os líderes das duas
facções que nunca chegariam a um acordo quanto a um Grande Lorde
haviam de fato sucumbido a um candidato de meio termo idoso. O evento
deu aos lacaios dela motivos para decapitar, literalmente, as lideranças das
facções Vermelha e Dourada.
A mãe de Ori ainda vivia, garantiram as suas fontes, embora nas garras
da vingativa Venn. Era tarde demais para Candra salvar a sua carreira, mas
ainda poderia salvar a sua vida, se dissesse as coisas certas sobre as pessoas
certas. Como Donellan, Candra esperou muito tempo para escolher um lado
e se apresentar como sucessora. Um ano parecia muito pouco tempo para
ser um Alto Lorde. Mas para Venn, para quem cada respiração era um
milagre, a necessidade de sobreviver a seus rivais era primordial.
Ao saber que fora condenada à escravidão, Ori correra para o uvak
escondido e voara imediatamente para o único lugar seguro que conhecia.
Após um longo momento de hesitação, Jelph a recebeu, embora tivesse
menos certeza do que fazer com Shyn. Como escravos, nenhum deles
poderia possuir um uvak. Lembrando-se do celeiro de compostagem que
outrora servira de estábulo, Ori pediu que ele escondesse a criatura ali, atrás
das barracas que armazenavam esterco. Inicialmente incerto, Jelph cedeu
sob a sua pressão. Já se sentindo doente, arfou assim que a porta do lugar
vil foi aberta. Fez de novo na segunda noite, depois de contar a história
completa da queda de sua pequena, mas importante família.
Jelph tinha sido atencioso e prestativo naqueles tempos, com a água fria
do rio e o pano de banho à mão. Agora, no crepúsculo da terceira noite,
estava realmente testando os limites da hospitalidade dele. Sentindo-se
melhor, passou o dia inteiro andando pela fazenda, examinando os eventos
em sua mente e planejando o retorno de sua família ao poder, mesmo que a
família agora fosse apenas ela. No jantar, testou tanto o conhecimento
quanto a paciência dele.
— Eu não entendo. — Jelph disse, raspando o fundo da tigela de casca
de orojo. — Eu pensei que a tribo esperasse que as pessoas quisessem os
empregos umas das outras.
— Sim, sim. — disse Ori, de pernas cruzadas no chão. — Mas não
matamos para pegá-los. Nós matamos para mantê-los.
— Há uma distinção?
Ori deixou cair a tigela vazia no chão da cabana. Alguma mesa de
jantar, ela pensou.
— Você realmente não sabe nada sobre o seu povo, não é? A tribo é
uma meritocracia. Quem for o melhor em um trabalho, pode tê-lo, desde
que seja feito um desafio público. Dernas nunca fez um desafio público à
Grande Lorde. Pallima também não.
— Nem a sua mãe. — ele ofereceu, ajoelhando-se para recuperar a
tigela. Ele pareceu um pouco assustado quando usou a Força para levitá-la
até a mão dele. — Obrigado.
— Olha, é realmente simples. — ela disse, levantando-se e fazendo um
esforço fútil para tirar a sujeira do uniforme. — Se você chegar aos seus
rivais antes que eles estejam prontos, poderá fazer o que quiser... incluindo
assassinatos.
A testa dele franziu quando olhou para ela.
— Parece um banho de sangue.
— Normalmente mantemos tudo discreto, pelo bem da ordem.
Envenenamentos. Uma lâmina shikkar no intestino.
— Pelo bem da ordem.
Ela ficou parada na porta e encarou.
— Você vai me criticar ou vai me ajudar?
— Sinto muito. — Jelph disse, levantando-se. — Eu não quis aborrecê-
la. — Ele balançou a cabeça. — Só que o pensamento de ter regras para
esse tipo de coisa parece, bem, estranho. Existem regras para violar as
regras.
Ori caminhou até o banco e olhou para o oeste. O sol parecia estar
afundando no próprio rio, pintando a água com chamas alaranjadas. Esse
era um lugar bonito, e tinha fantasiado sobre noites roubadas ali antes. Mas
não era isso que tinha imaginado. Não seria capaz de planejar seu retorno
deste lugar. E precisaria de mais ajuda do que um ajudante de fazenda.
— Tenho que voltar. — ela disse. — A minha mãe foi presa. Quem fez
isso conosco pagará, e eu terei o meu nome de volta. — Ela olhou para ele,
que mordia um talo de algo que tinha puxado do chão. — Eu tenho que
voltar!
— Eu não faria isso. — ele disse, juntando-se a ela no rio. — Eu
suspeito que a sua Grande Lorde fez tudo isso sozinha.
Ori olhou para ele, espantada.
— O que você saberia sobre isso?
— Não muito, eu garanto a você. — Jelph respondeu, mastigando. —
Mas se a sua mãe era a chave para selecionar o substituto de Venn, eu podia
ver a velha querendo que ela se afastasse do caminho.
Incrédula, Ori olhou para as sombras crescentes.
— Graveto para fertilizantes, Jelph.
— Veja dessa maneira. — ele disse, entrando no campo de visão dela.
— Se Venn não tivesse encenado o assassinato e realmente suspeitasse de
sua mãe, você não teria sido condenada. Você estaria morta. Mas a Grande
Lorde não precisa te matar, porque ela sabe que você não fez nada. Você é
mais útil como um exemplo. — Ele jogou o graveto no rio. — Ao fazer de
escravos uma Alta Lorde e a família dela, ela vive, respirando medidas
dissuasivas na frente das pessoas enquanto você viver.
Ori olhou para ele, atordoada. Isso fazia sentido. Dernas e Pallima
haviam morrido fora da vista do público. A fogueira na propriedade atraíra
a atenção de humanos e de Keshiri. Se ela tivesse ficado em Tahv, ela
poderia já estar no trabalho, trabalhando duro completamente à vista do
público.
— Então o que eu faço?
Ele sorriu suavemente, sua cicatriz invisível agora.
— Bem, eu não sei. Mas me parece que, contanto que você ainda não
sinta sua mãe sofrendo através da sua Força, o caminho para frustrar Venn
é... não ser um exemplo.
Ele não disse o resto, mas ela entendeu. A maneira de não ser um
exemplo é não estar lá. Ela olhou nos olhos dele, que refletiam a luz das
estrelas batendo na água.
— Como um fazendeiro sabe sobre essas coisas?
— Você tem visto o meu trabalho. — ele disse, colocando a mão no
ombro dela. — Eu lido com muitas coisas que fedem.
Ela riu, apesar de si mesma, pela primeira vez desde que chegou.
Quando deu um passo para longe do rio na escuridão, seus pés vacilaram no
chão macio.
Ele a pegou. Ela deixou.
De pé na porta da cabana depois da meia-noite, Jelph olhou para a
forma adormecida na cama de palha. Tinha sido errado deixar Ori ficar
tanto tempo, ele pensou, e certamente errado deixar as coisas irem tão longe
quanto nos últimos nove dias. Mas então, teria sido errado encorajar as
visitas dela desde o começo.
Ao sair, ele apertou o roupão esfarrapado. Depois de tantos dias
abafados, houve um frio sazonal no ar esta noite. Combinava com o humor
dele. A presença de Ori tinha colocado tudo em risco, de maneiras que ela
nunca poderia imaginar. Havia muito mais em jogo do que a sorte de uma
família Sith.
E, no entanto, ele a havia acolhido. Esta era uma Ori Kitai diferente que
tinha vindo vê-lo, uma que ele não podia resistir. Ela parecia tão orgulhosa
em suas visitas anteriores, cheia da titularidade nociva de seu povo, certa
tanto do seu status quanto de si mesma. Com a perda de um, o outro se foi.
Tinha visto a pessoa por baixo disso: hesitante e insegura. Ela estava tão
brava com o que havia acontecido, quanto estava triste com a perda de uma
visão que ela teve uma vez de si mesma. E ultimamente, a tristeza estava
vencendo, em seus dias limitados a caminhadas da cabana até o jardim.
A humildade em um Sith era uma coisa incrível de se testemunhar, uma
impossibilidade. A armadura dela derreteu, as impurezas pareciam ferver.
Seria possível que nem todos os Sith em Kesh tivessem nascido venais? A
sua raiva por ter sido espoliada parecia... não mais do que o normal. Não
mais do que se sentiria, e tinha sentido, em situações semelhantes. Não era
o tipo de fúria que destruía as civilizações por esporte. Isso não era Sith.
Parecia errado que o maior infortúnio na vida de Ori só a fizesse mais
atraente para ele. A reserva que havia trabalhado para desenvolver
desaparecera depois daquela noite na margem do rio. Ela precisava dele, e
já fazia muito tempo desde que alguém tinha precisado. Não havia muito
mercado para nulidades, na natureza ou em qualquer outro lugar. Mas o
risco estava sempre presente, acompanhando a felicidade.
Olhou para o norte. Um leve raio de luz se aninhava entre as nuvens e as
colinas. A aurora estava começando de novo. Em algumas noites, o céu do
norte estaria em chamas. Logo chegaria a hora.
Lançando um olhar para o armazém, calculou quanto tempo teria que
ficar longe da fazenda. Não era seguro deixá-la vagando por aí na ausência
dele. Ela teria que ir.
Mas ele não podia deixá-la ir embora.
E le havia saído de madrugada, com um longo bastão
de hejarbo na mão para empurrar a sua embarcação rio acima. Com a sua
tranquilidade quebrada, Ori havia emitido uma série de protestos. Quem se
importava com o que os clientes dele precisavam para a estação de
crescimento do outono? O que ele devia àquelas pessoas? Tudo o que ele
conseguiu por seu trabalho foram alguns itens que ele não conseguia tirar da
terra.
Mas Jelph continuava olhando para as terras altas da selva e para o céu.
Alegou que tinha mais responsabilidades do que ela sabia. Ori zombou,
mais e mais alto do que pretendia. Isso a preocupava, agora, trazendo de
volta duas das armadilhas que ele colocara para os roedores na borda da
selva. Jelph não tinha ficado louco, mas tinha ido embora, apesar dos
pedidos dela.
Ela não gostou. Tinha sido o bálsamo que ela precisava, que fez toda a
dor de seu coração desaparecer. Ela tinha dependido tanto do cargo de sua
mãe na vida que foi sedutoramente fácil para ela colocar sua existência nas
mãos dele. Mas a partida dele a lembrou de que ele poderia recusá-la. Ela
não tinha poder sobre ninguém.
E ela não poderia viver sem ele. Sem Jelph, não havia mais ninguém.
Ninguém além de Shyn. Mais à frente, Ori espiou a porta traseira do
celeiro de compostagem, aberta para permitir a circulação. Nem mesmo um
uvak deveria morar naquele lugar, mesmo que o fedor viesse de sua espécie.
Respirando fundo, ela se aproximou. Levou a maior parte do dia para
verificar e limpar as armadilhas, produzindo alguns dos vermes que Jelph
usava para complementar a dieta dele. Miserável. Ao menos ver o uvak a
lembrou que ela ainda tinha alguma liberdade, alguma chance de...
Os olhos de Ori se estreitaram. Algo na Força havia mudado. Soltando
as armadilhas, ela correu para o celeiro e abriu a porta frágil.
Shyn estava morto.
A grande fera jazia sangrando no chão de terra, cortes profundos
queimavam em seu longo pescoço dourado. Reconhecendo imediatamente
as feridas, Ori acendeu o sabre de luz e examinou o prédio.
— Jelph! Jelph, você está aqui?
Exceto por algumas ferramentas que revestiam a parede, não havia nada
aqui, exceto o monte gigante de sujeira perto da frente.
— Eu te disse que a encontraríamos aqui. — veio uma voz masculina
jovem do lado de fora. — Bastava seguir o fedor.
Ori emergiu, arma erguida. Os irmãos Luzo, os seus nêmesis no corpo
do Sabre, se destacavam na frente diante de suas próprias montarias uvak.
Flen, o mais velho, sorriu.
— Fedor de fracasso, você quer dizer.
— Você está procurando a morte, Luzo? — Ela deu um passo à frente,
sem medo.
O par não se mexeu. Sawj, o irmão mais novo, zombou.
— Matamos dois Alto Lordes esta semana. Acho que não vamos sujar
as mãos com uma escrava.
— Você matou o meu uvak!
— Isso é diferente. — disse Sawj. — Você pode não saber, mas nós,
Sabres, somos responsáveis por manter a ordem. Um escravo não pode ficar
com um uvak!
Cheia de ódio, Ori deu um passo à frente, pronta para atacar... apenas
para ver Flen Luzo se virar em direção ao seu próprio uvak.
— Os negociantes nos disseram que você gostava de vir aqui. — ele
disse, abrindo o alforje. — Estamos aqui para negociar. — Ele jogou dois
pergaminhos aos pés dela.
Ajoelhando-se, Ori olhou para a cera no pergaminho. Havia a marcação
de sua mãe, um desenho conhecido apenas por ela e por membros imediatos
de sua família. Tal coisa estava reservada para validar um testamento final.
Desdobrando o pergaminho, ela viu que, em certo sentido, era isso.
— Esse diz que ela conspirou com Dernas e os Vermelhos para matar a
Grande Lorde!
— E o outro diz que ela conspirou com Pallima e o povo dele. — disse
Flen, sorrindo. — Ela assinou as duas confissões, como você pode ver.
— Você poderia ter conseguido qualquer coisa com coação!
— Sim. — Flen disse.
Ori analisou o documento. Candra Kitai agora prometia a sua lealdade
eterna à Grande Lorde Venn, que a manteria viva como a sua escrava
pessoal. Agora Venn iria nomear três Altos Lordes em substituição,
partidários dela, Flen disse, bloqueando efetivamente qualquer movimento
que restasse de seus possíveis rivais. Ori podia adivinhar pelo som da voz
de Flen que os irmãos poderiam se encontrar subitamente elevados, por sua
lealdade.
— Como eu disse. — Flen acrescentou. — viemos negociar. Seu sabre
de luz, por favor.
Ori jogou os pergaminhos no chão.
— Você vai ter que pegar!
Ele simplesmente cruzou os braços.
— A sua mãe nos disse que você cooperaria. Tenho certeza que você
não gostaria de ser a causa do sofrimento dela.
— Ela já está sofrendo! — Ela deu outro passo na direção deles.
— E então os nossos Sabres descerão aqui em força e arrasarão esta
pequena fazenda. E aquele seu fazendeiro. — ele disse, com os olhos
brilhando maldosamente. — Eles já têm ordens para fazer isso, se eu não
levar o seu sabre de luz.
Ori congelou. De repente lembrada, ela olhou freneticamente para o rio.
Ele estaria flutuando para casa em breve.
Flen falou com uma voz conhecedora.
— Nós não nos importamos com o que uma escrava faz, ou com quem
ela faz. Mas você não é uma escrava até que tenhamos essa arma. — Os
irmãos acenderam seus sabres de luz ao mesmo tempo. — Então, o que vai
ser?
Ori fechou os olhos. Ela não merecia o que havia acontecido com ela,
mas ele não merecia nada disso. E ele era tudo o que ela tinha.
Pressionando o botão, ela desativou o sabre de luz e jogou-o no chão.
— Decisão certa. — disse Sawj Luzo, desativando o sabre de luz e
pegando o dela. Os dois irmãos voltaram para as montarias e subiram a
bordo.
— Ah. — Flen disse, pegando algo amarrado ao cinto de seu uvak. —
Nós temos um presente da Grande Lorde... para iniciar sua nova carreira. —
Ele jogou o objeto longo, que pousou aos pés de Ori com um baque.
Era uma pá.
A lâmina de metal a transformava em um verdadeiro tesouro: ela podia
ver que tinha sido forjada a partir de um dos poucos fragmentos da
aterrissagem da Presságio. Esse material havia sido trabalhado e
retrabalhado ao longo dos séculos, quando a escassez de ferro na superfície
de Kesh ficou conhecida. Uma recompensa final por sua vida anterior. Com
a pá nas mãos, ela ouviu os Luzos rindo enquanto voavam para o norte.
Ori olhou em volta para o que ela tinha sido deixada. A cabana. O
celeiro. Monte após monte de lama do homem. E as treliças, lar dos dalsas
que a trouxeram ali para começar...
— NÃO!
Com a raiva fervendo dentro dela, ela atacou, atingindo as estruturas
frágeis com a pá. Um poderoso golpe rasgou a moldura, enviando as flores
ao chão. Os destroços dos talos de hejarbo explodiram em lascas pela força
de sua mente.
Furiosa, ela avançou pela fazenda, cortando o carrinho trêmulo de Jelph
em pedaços. Tanta raiva, tão pouco para destruir. Virando-se, ela viu o
símbolo de sua despossessão: o celeiro de compostagem. Balançando, ela
esmagou a porta de suas dobradiças e entrou. Furiosa, ela puxou através da
Força as ferramentas pesadas nas paredes, enviando-as voando em um
turbilhão de ódio. E havia aquele monte de estrume, grande e nocivo.
Girando, ela trouxe a lâmina da pá sobre aquilo...
Clang! Golpeando algo sob a superfície do esterco, a pá se soltou de
suas mãos, fazendo-a perder o equilíbrio na lama.
Acalmando-se enquanto se levantava, Ori olhou espantada para a pilha.
Lá, embaixo da bagunça fedorenta, havia um pano sujo cobrindo algo
grande.
Algo de metal.
Recuperando a pá, ela começou a cavar.
Ele se sentiu péssimo, deixando Ori com um trabalho que a roubaria o
dia todo. Mas ele tinha sua própria armadilha para verificar, aqui embaixo
da copa exuberante. Jelph não pegava nada há meses, mas suas melhores
chances sempre pareciam coincidir com as auroras.
Aproximando-se da colina isolada, ele encontrou seu tesouro, escondido
sob as folhas gigantes. Ele respirou mais rápido em antecipação. Durante os
últimos dias de turbulência e tranquilidade, ele sentiu de alguma forma que
algo estava para acontecer. Este podia ser o dia que ele estava esperando,
depois de tanto tempo...
Jelph parou. Algo estava acontecendo, mas não era aqui. Olhando
através da folhagem para o oeste, ele sentiu aquele instinto novamente.
Algo estava acontecendo, e estava acontecendo agora.
Ele correu para o barco.
Ori encontrou a coisa estranha colocada embaixo da lona coberta de
estrume. Na verdade, não havia muito do material sujo empilhado sobre
aquilo; apenas o suficiente para dar a aparência de que o que estava por
baixo era algo diferente.
E o que aquilo era, era grande... facilmente o comprimento de dois
uvak. Uma grande faca de metal, pintada de vermelho e prateado, com uma
estranha bolha preta posicionada no alto, na parte de trás. Saliências
arrastavam para trás, como asas, em um símbolo formado por duas lanças
compridas que a lembravam sabres de luz.
Ela havia esquecido o cheiro, agora, respirando mais rápido enquanto
passava a mão pela superfície do misterioso metal. Era frio e imperfeito,
com amassados e marcas de queimadura. Mas a verdadeira surpresa ainda a
esperava. Alcançando a seção arredondada nas costas, ela pressionou o
rosto contra o que parecia ser vidro preto. Dentro, escondido em um espaço
incrivelmente pequeno, ela viu uma cadeira. Uma placa gravada estava logo
atrás do apoio de cabeça, com caracteres parecidos com os que ela havia a
por seus mentores:
Caça Estelar Tático classe Aurek
Sistemas de Frota da República
Modelo X4A. — Linha de Produção 35-C
Os olhos de Ori se arregalaram. Ela viu aquilo pelo que era. Um
caminho de volta.
Por toda a sua vida, Jelph Marrian temera os Sith. A Grande Guerra Sith
havia terminado antes dele nascer, mas a devastação causada em seu mundo
natal, Toprawa, foi tão completa que havia dedicado sua vida a impedir o
retorno deles.
Foi longe demais, alienando os líderes conservadores que dirigiam a
Ordem Jedi. Expulso, procurou continuar a sua vigília, trabalhando com um
movimento clandestino dos Cavaleiros Jedi dedicado a impedir o retorno
dos Sith. Por quatro anos, ele trabalhou nas sombras pela galáxia,
certificando-se de que os mestres do mal eram de fato apenas uma
lembrança.
As coisas deram errado novamente. Atribuído a uma região remota três
anos antes, ele soube do colapso do Pacto Jedi. Com medo de voltar,
dirigiu-se para as Regiões Desconhecidas, certo de que nada jamais poderia
restaurar o seu nome e lugar com a Ordem.
Em Kesh, ele encontrou algo que poderia restaurar, envolvido em seu
pior pesadelo se tornado realidade. Ele foi pego em uma das colossais
chuvas de meteoros de Kesh, caindo na selva remota como apenas mais
uma estrela cadente. Incapaz de obter ajuda através do bizarro campo
magnético de Kesh, ele se aventurou em direção às luzes que tinha visto no
horizonte.
A luz de uma civilização, mergulhada na escuridão.
Ainda a alguns metros da margem, ele pulou do barco.
— Ori! Ori, estou de volta! Você está...
Jelph parou quando viu as treliças cortadas. Percebendo o dano, ele
correu em direção ao celeiro.
A porta estava aberta. Ali, exposto no crepúsculo da noite, estava o caça
estelar danificado que ele tinha meticulosamente feito flutuar da floresta,
um pedaço de cada vez. Ele encontrou outra coisa ao lado: uma pá de metal
descartada.
— Ori?
Entrando nas sombras do celeiro, ele viu o cadáver do uvak, agora
alimento para os pequenos pássaros carniceiros. Atrás da construção, ele
encontrou as armadilhas que a mandara verificar, abandonadas no chão. Ela
esteve ali... e se foi.
Em frente à cabana, ele encontrou outras trilhas. Botas Sith largas e
mais pegadas de uvak. As pegadas menores de Ori também estavam ali,
passando pela cobertura até o caminho do carrinho que levava a Tahv.
Jelph procurou dentro da roupa o pacote que sempre carregava em
viagens. A luz azul brilhou em sua mão. Ele era um Jedi solitário em um
planeta inteiro cheio de Sith. A existência dele os ameaçava, mas a
existência deles ameaçava tudo. Ele tinha que detê-la.
Não importa o que fosse preciso.
Ele correu pelo caminho para dentro da escuridão.
INTRODUÇÃO
A Tribo Perdida dos Sith: Sentinela ocorre imediatamente após os eventos do conto Purgatório,
que ocorre em 3.960 ABY. Este conto é contado do ponto de vista de dois protagonistas: o disfarçado
Jedi das Sombras Jelph Marrian e a ex-Sabre Sith Orielle Kitai. Anteriormente, Ori havia perdido
seu status privilegiado na sociedade da Tribo depois que a sua mãe foi acusada de estar envolvida
na tentativa de assassinato da Grande Lorde Lillia Venn. Na tentativa de recuperar o status perdido
de sua família, Ori procurou revelar a existência de uma nave espacial capaz de viajar no
hiperespaço na fazenda de Jelph para a liderança da Tribo.
— E u acho... que posso ter arruinado a minha vida.
— Parece que você conheceu uma mulher. — disse o barman
de rosto roxo, enquanto servia. — Você quer que eu deixe a garrafa?
Só se eu puder esmagá-la na minha cabeça, Jelph Marrian pensou. De
qualquer maneira, era água doce, nada que o ajudasse a esquecer. Com o
suor pingando de seus cabelos loiros emaranhados, ele bebeu
profundamente. A caneca vazia brilhava, com as suas facetas moldadas
refletindo a luz do fogo. Jelph a girou na mão, seguindo os reflexos. Desde
que tinha chegado em Kesh, ele só tinha bebido em cascas de orojo. Mas os
Keshiri produziam artigos de vidro tão maravilhosos, mesmo ali, para servir
os hóspedes em uma estação de pedestres.
O barman passou uma tigela de mingau para ele.
— Amigo, parece que você fugiu de South Talbus.
— E mais um pouco. — Jelph não acrescentou que estava correndo
praticamente sem parar desde a noite anterior. Agora, quando o sol se punha
novamente, ele parou, sedento e faminto, ali em uma choupana aninhada
nas sombras alongadas das paredes da cidade capital. Jelph simplesmente
assentiu com a cabeça para o agradável e velho Keshiri e se retirou para um
canto com a refeição. Os nativos de Kesh sempre se sentiam mais livres
para se familiarizar com os escravos humanos do que com os Sith. Eles não
devem ter muita dificuldade para nos diferenciar, ele imaginou; nesta noite,
as suas roupas ensopadas e esfarrapadas provavelmente eram uma dica de
que ele não nasceu no alto.
Na verdade, é claro, Jelph era o único mortal em Kesh nascido “no
alto”. Veio do espaço, apesar de não chamar nenhum planeta de lar. Os três
anos que o ex-Cavaleiro Jedi passou em sua pequena fazenda no Rio
Marisota foram os mais longos que viveu em um lugar em anos. Teve a
sorte de encontrá-la. Jelph descobrira a fazenda abandonada poucos dias
depois de cair com o seu caça estelar na selva das terras altas, quando a
fome o fez ousado o suficiente para explorar. O ocupante original havia
saído muito antes, provavelmente temendo as histórias de que o Rio
Marisota era amaldiçoado. Sentindo o lado sombrio da Força, Jelph
começou a concordar, até se aventurar no norte e perceber que, de fato, todo
o planeta estava amaldiçoado. Kesh pertencia aos Sith.
Jelph havia dedicado toda a sua vida adulta a impedir o retorno dos Sith
à galáxia. Toprawa havia sido devastada pela guerra dos Jedi com Exar
Kun; Jelph nasceu em um mundo que já havia perdido toda esperança. Sem
pai, ele ouviu de sua mãe só as histórias de horror da ocupação Sith.
Quando ela desapareceu numa manhã para nunca mais voltar, o jovem Jelph
também poderia ter perdido a esperança, se esta não tivesse chegado na
forma de batedores Jedi. A mulher a quem o apresentaram salvaria a sua
vida.
Krynda Draay também tinha perdido alguém em Toprawa, o seu marido
Jedi, e montado o Pacto, uma seleção de Cavaleiros Jedi dispostos a fazer
qualquer coisa para impedir o retorno dos Sith. Auxiliando aos seus
videntes vigilantes estavam as Sombras, agentes que serviam ao filho dela,
outro Jedi de grande visão. Mestre Lucien tinha de alguma forma removido
Jelph das listas dos Jedi, dando ao jovem mobilidade completa e total. Por
anos, Jelph foi o agente secreto perfeito, viajando pela Orla Exterior
investigando possíveis ameaças dos Sith, enquanto a verdadeira Ordem Jedi
se ocupava de assuntos de menor importância. Ele ficou satisfeito com o
seu sucesso...
... até o início da guerra da República com os Mandalorianos de
armadura, quando tudo mudou. Jelph nunca entendeu exatamente o que
havia acontecido, além de que algum cisma tinha decapitado o Pacto,
revelando a sua existência, entre outros. Agora considerado pelos Jedi como
um fora da lei, Jelph considerou o voo a sua única opção. Que ironia, ao
escolher Kesh como o seu refúgio, encontrou exatamente aquilo que jurara
exterminar!
Jelph terminou a refeição e esfregou os olhos. Tinha feito tudo certo até
agora. Depois de viver como uma Sombra, esconder-se dos Sith em Kesh
não tinha sido difícil. Sabia como encobrir a sua presença na Força. E a
existência de uma classe de pessoas humanas insignificantes tornava fácil
para ele se misturar, desde que vivesse no interior e mantivesse mínimos
contatos. Em pouco tempo, aprendeu o dialeto local e o sotaque, dando-lhe
acesso às necessidades da vida. Uma vida passada cuidando de sua fazenda
durante o dia, e trabalhando para reparar o seu caça estelar danificado à
noite.
O caça estelar. Havia reparado a maior parte dos danos causados ao
Aurek pela tempestade de meteoros; restava apenas reinstalar o console de
comunicações e selecionar a hora e o modo de sua partida. Então seria
verdadeiramente o sentinela que pretendia ser, alertando a República e os
Jedi sobre os Sith e reivindicar o seu nome.
Mas ele a tinha conhecido. Ori Kitai era dos Sith, e havia se aproximado
muito dela, apesar de seu melhor julgamento. Deixou-a distraí-lo de sua
missão. Permitiu-na entrar em sua casa. E agora ela tinha descoberto o seu
caça estelar, e partira, presumivelmente para avisar os Sith.
Ou ela o tinha deixado?
Deixou a fazenda rapidamente. Não havia outra escolha. Preferiu não
lançar o caça estelar sem o sistema de comunicações, o que levaria uma
semana para ser reinstalado. Pegar Ori primeiro valia a pena tentar. Mas, se
amaldiçoou agora por não ter estudado as pistas mais de perto. Sim, alguém
tinha atravessado o galpão, matado o uvak dela e descoberto o caça estelar.
Mas não estava claro quem fez o quê. Sim, Ori estava desaparecida, e as
suas pegadas o levavam pela trilha. Mas outras pessoas montando uvak
também estiveram lá recentemente e foram embora. Só os Sith livres
montavam em uvak, mas todos eles eram supostamente hostis a Ori, a quem
eles agora consideravam uma escrava. Alguma coisa tinha mudado? Não
tinha voltado com eles, de qualquer forma.
A sua aposta era que a tribo ainda não sabia o seu segredo. Se os
cavaleiros de uvak Sith tivessem descoberto a nave, teriam deixado alguém
para protegê-la. Assim, sobrava Ori. No dia anterior, enquanto estava na
selva, tinha sentido uma profunda pontada de traição dela através da Força.
Viu a destruição que ela havia causado em sua pequena fazenda. E agora ela
estava se dirigindo para a cidade capital com um conhecimento capaz de
espalhar a destruição em escala galáctica.
Ela tinha que estar lá. Os rastros de Ori haviam desaparecido antes da
encruzilhada, mas Jelph continuava certo de que ela estava indo para Tahv.
Não havia nada além de selva a leste, e ninguém para contar a jusante nas
cidades abandonadas dos Lagos Ragnos. Com as chuvas das monções
sufocando o Rio Marisota, os baixios estavam nas poucas cidades do sul.
Sobrava a capital, uma cidade que ele nunca havia visitado. O centro do mal
em Kesh, lar da Grande Lorde Lillia Venn e de toda a sua ilegítima Tribo.
Olhou pela janela em direção às muralhas da cidade, agora sem
propósito. Onde Ori poderia estar? Para onde ela iria?
— Você não parece feliz, meu amigo. — O velho e preocupado Keshiri
pegou a tigela vazia. — Eu sempre tento ter algo para servir aos pobres. Me
desculpe por não estar melhor.
— Não é isso. — disse Jelph, lembrando-se de si mesmo.
— Ah. A mulher. — O velho se retirou para trás do balcão. — Eu posso
não ser da sua espécie, jovem humano, mas posso lhe dizer algo universal.
Você deixa uma mulher entrar na sua vida e tudo pode acontecer.
Jelph deu um passo em direção à porta, virou-se e fez uma reverência.
— É disso que eu tenho medo.
Os últimos visitantes saíram do zoológico. Era assim que Ori sempre
chamava, mas o nome verdadeiro era algo mais complicado. Originalmente,
um parque especial que homenageava Nida Korsin e os Patrulheiros
Celestiais; desde então teve o nome de dois ou três outros Grande Lordes,
embora isso não parecesse uma honra particularmente alta para Ori. Outrora
houveram animais selvagens em seu interior, os últimos membros de
algumas das espécies predadoras de Kesh. Mas os Sith há muito os haviam
retirado e matado por esporte.
Agora, a instalação servia de morada pública para as montarias uvak
usadas na cavalgada rake, aqueles poucos uvak que sobreviviam às lutas
naquele esporte violento, de qualquer maneira. Cidadãos Sith e Keshiri
também se maravilhavam com as bestas poderosas, sendo mimadas e
preparadas para suas disputas na vizinha Korsinata.
Ultimamente, porém, eles tinham vindo para ver outra coisa. Ou melhor,
alguém.
Ori encontrou sua mãe onde esperava encontrá-la, limpando as baias de
uvak. Jelph estava realmente certo: a Grande Lorde Venn tinha feito um
espetáculo público com a queda de Candra Kitai do poder. Sob os vigilantes
olhos do corpulento guarda noturno, a deposta Alta Lorde continuou o
trabalho que ela fizera o dia inteiro para divertir os transeuntes. Ainda
vestindo seu vestido cerimonial do Dia de Donellan, agora sujo e
desgastado, Candra ficou na ponta dos pés, realocando delicadamente
depósitos sujos com uma grande pá.
Olhando para baixo do poleiro no telhado do abrigo, Ori esperou até que
o guarda estivesse logo abaixo dela. Então ela pulou para baixo, chutando
para bater no sentinela, deixando-o sem sentidos. Ajoelhando-se, ela pegou
o sabre de luz do homem e o arrastou para a baia atrás do uvak.
Com os olhos lacrimejando pelo cheiro, Candra olhou para a filha com
uma expressão cansada.
— Você voltou.
— Sim.
— Faz-se semanas e semanas.
— Está mais para duas. — Ori disse, estudando a mãe. Tão pouco
tempo desde a festa real, e ela mal conseguia reconhecer a mulher. Os
cabelos grisalhos, sempre cuidadosamente escondidos pelas esteticistas
Keshiri, estavam aparecendo com uma força estranha agora. Candra fedia a
todas as coisas vis que havia encontrado em seu trabalho. As suas mãos, no
entanto, permaneciam livres de calos. Ori percebeu porque, enquanto
Candra voltava roboticamente ao trabalho, segurando cuidadosamente a pá
e fazendo pouco progresso.
— Eles continuam alimentando-os com lixo que os deixa doentes. —
gemeu Candra. — Eu sei que estão fazendo isso de propósito.
— Você nunca vai conseguir fazer esse trabalho com a pá assim. — Ori
disse, agarrando a ferramenta. Olhando por um momento, de repente ela se
lembrou de que não era agricultora e jogou-a de lado. — Você esteve aqui
esse tempo todo?
Candra apontou debilmente para o estábulo vazio do outro lado do
caminho.
— Eles me deixam dormir lá algumas vezes. — Cansada, ela olhou para
Ori. — Você parece cansada, querida. Você já descansou?
Ori bufou. Ela correra a noite toda e no dia anteriores, saindo da fazenda
de Jelph depois de descobrir o segredo dele no galpão, chegando finalmente
a Tahv uma hora atrás. Agora, finalmente estava aqui, e tinha algo para
negociar. O que era ele? De onde ele era? SISTEMAS DA FROTA DA
REPÚBLICA, diziam os caracteres antigos. A República, ela lembrou de
seus estudos, era a ferramenta dos Jedi, o corpo de marionetes através do
qual os Cavaleiros Jedi governavam os fracos da galáxia.
Definitivamente, era uma informação que valia algo para alguém. Mas
quem?
— Vou tirar você daqui. — ela disse para a mãe.
— Eu não posso simplesmente sair. — Candra disse. — Eles vão nos
encontrar, aonde quer que formos, e nós duas vamos acabar aqui.
Olhando rapidamente para fora do estábulo, Ori puxou a mulher mais
velha para as sombras.
— Eu não vou te ajudar a fugir. Eu... descobri algo. Algo que nos
restaurará... restaurará você. Você tem que me levar para ver os Alto
Lordes.
Candra olhou para ela, perplexa, por um longo momento antes de voltar
os olhos culpados para a pá.
— É melhor eu voltar ao trabalho, antes que alguém venha conferir...
Ori agarrou os pulsos da mãe antes que ela pudesse se mover.
— Mãe, eu preciso saber com quem falar!
Balançando a cabeça, Candra lutou para fugir do olhar da filha.
— Não, Ori. Não sei o que você acha que encontrou, mas nada fará
diferença. Nós perdemos.
— Isso fará diferença! — Ori não tinha dúvidas quanto a isso. Ela
explicou rapidamente. Havia outra nave estelar em Kesh, uma além da
Presságio. Uma nova, escondida em uma fazenda ao lado do Rio Marisota.
O sussurro de Ori ficou mais alto de emoção. — Isso não é só sobre a nossa
família, mãe! É sobre reunir a Tribo com os Sith!
Candra simplesmente a encarou, incrédula.
— Você ficou louca. Você inventou essa história, para tentar voltar...
Ouvindo o guarda começar a se mexer, Ori olhou freneticamente para
Candra.
— Você conhece a política. Eu preciso saber o que fazer. A quem eu
posso ir?
Com a palavra política, os olhos de Candra pareceram focar. Olhando
tristemente para a pá, ela falou em voz baixa.
— Três dos Altos Lordes foram recém-nomeados fantoches da Grande
Lorde, — ela disse. — Mas isso tinha deixado quatro outros que poderiam
ouvir, dois de cada uma das antigas facções Vermelha e Dourada. Eles
formavam o equilíbrio do poder político e poderiam muito bem
recompensar a família Kitai por trazer a notícia primeiro.
— Se isso é real, é preciso levá-los até lá, para verem por si mesmos. —
Candra disse. — Envie mensagens para eles através do arquiteto Gadin
Badolfa. Ele vê todos eles, e eu ainda confio nele. Não conte exatamente o
que você encontrou; assim, eles não ficam comprometidos para virem
encontrar você.
Ori ruminou. O muito requisitado Badolfa era altamente posicionado na
sociedade Sith, tão bem conectado quanto uma figura fora da hierarquia
poderia ser. Os Alto Lordes talvez não acreditassem que os convites eram
legítimos, mesmo chegando por um amigo de confiança da família como
Badolfa, mas não havia muita escolha.
Arrastou o corpo do guarda de volta para fora da baia. Tinha passado
por uma bom coxo mais cedo o qual seria um bom lar temporário para ele;
os outros guardas achariam que ele estava bêbado de plantão. Mas ficaria
com o sabre de luz. Fazia apenas um dia desde que os irmãos Luzo tinham
pegado o dela, mas era bom ter um outro na mão novamente.
— Mãe, você tem certeza de que não quer vir comigo?
Apoiando-se no cabo da pá, Candra olhou longa e duramente para a
filha.
— Não, este é o meu lugar agora. Eu só iria atrasar você. — Ela olhou
para o chão do estábulo e fez uma careta. — E se esse seu plano não
funcionar, não se preocupe comigo aqui. Não espero ficar por mais tempo,
de qualquer maneira.
Ó dio: puro e opressivo. Tahv era um monumento a ele.
Jelph sentiu isso em todos os becos, em todas as encruzilhadas. O lado
sombrio da Força permeava esse lugar, como em nenhum outro lugar que já
havia visitado.
Muitas vezes enquanto crescia em Toprawa, Jelph pensou que estava
ficando louco. Era atormentado por dores de cabeça constantes; cada
momento de vigília o afetava. Só mais tarde percebeu que a causa havia
sido a sua crescente sensibilidade à Força, respondendo às cicatrizes
psíquicas que Exar Kun e a sua espécie haviam causado no mundo, anos
antes.
Mas o mal deles era passado. O ácido psíquico que corria pelas ruas de
Tahv estava vivo. Estava em todo lugar. O prédio contra o qual ele se
escondia era o lar de um velho Sith que estava castigando violentamente um
servo Keshiri. Na janela do outro lado do caminho, um jovem casal
planejava a morte de seus vizinhos. O sentinela no caminho, tinha
lembranças que continham coisas além das piores imaginações de Jelph.
Jelph tentou ocultar as impressões que vinham através da Força sem
atrair atenção para a sua presença psíquica. Era quase impossível. Os Sith
alegremente transmitiam o seu ódio e raiva, como animais selvagens latindo
para as estrelas.
Desmoronando contra uma parede, Jelph se dobrou. Tarde demais, ele
percebeu que não tinha sido uma boa ideia comer antes de vir até ali.
Levantou-se, ofegando e limpando o suor da testa. "Quantos Sith moravam
ali?" ele se perguntou. Em Tahv? Em Kesh? Nunca soube. Era
ostensivamente um batedor Jedi, mesmo que eles não o reconhecessem
como tal; queria entregar um relatório completo no seu eventual retorno.
Mas toda vez que se aproximava de qualquer centro populacional, ficava
doente. Inclusive agora, quando mais precisava de suas faculdades mentais.
Jelph lutou para reunir os seus pensamentos. Ori. Precisava encontrar
Ori. O nome e o rosto dela seriam a tábua de salvação dele. Ela era o
motivo pelo qual estava aqui... e pelo qual não tinha partido.
Conhecia a presença dela através da Força muito bem, mas não tinha
esperança de encontrá-la no mar de sentimentos duros que era Tahv.
Perguntou-se como ela havia sobrevivido aqui. A natureza sombria dela
nunca lhe parecera estar na mesma classe de os outros Sith de Kesh, por
mais que ela posasse como tal. Ori era orgulhosa, mas, não venal;
indignada, mas, não odiosa. Teria recuado ao toque dela, se ela fosse
diferente. Tinha que estar certo sobre ela.
Mas e se estivesse errado? Ela estava mesmo ali?
Jelph estava prestes a se render ao desespero que o cercava quando viu
algo que despertou uma memória. Em um de seus primeiros encontros, Ori
se gabou de como nenhum dos outros Sabres conhecia o sistema de
aquedutos da cidade como ela. Era o território de patrulha dela, com os seus
aprendizes. Jelph olhou para cima e viu um dos vários altos edifícios de
pedra que se estendiam acima de toda a cidade, descendo com a água das
terras altas. Construído pela primeira vez pelos Keshiri, o sistema havia
sido aprimorado pelos primeiros Sith, que adicionaram reservatórios de
armazenamento dezenas de metros acima do solo. Ori estava certa: lá de
cima, toda Tahv podia ser vista. E espero que não seja sentida, ele pensou.
Atravessou pelas sombras sob um enorme suporte de aqueduto, um pilar
quase do tamanho de um quarteirão da cidade. A sensação do lado sombrio
não era tão ruim ali. Jelph escalou o suporte, tomando cuidado para ficar
constantemente na escuridão até chegar ao topo.
Com uma ampla borda de ambos os lados canalizando águas agitadas, a
calha de pedra era do tamanho de uma rua da cidade. Deitado de bruços no
parapeito, Jelph ficou maravilhado com o fato de os Keshiri terem
conseguido construir, de fato, um rio no ar muito antes da chegada dos Sith.
O que eles poderiam ter realizado se não tivessem sido molestados?
Balançando a cabeça, pegou a sua bolsa de ombro e retirou os seus
macrobinóculos.
Estudando a área, notou uma cadeia de montanhas se aproximando no
oeste. Isso o encheu de pavor. Ouvira dizer que os Sith mantinham a nave
estelar destruída ali, em um templo. Eles seriam capazes de usar materiais
de seu caça para repará-la? Ou um Sith simplesmente tentaria sair em seu
caça, planejando voltar mais tarde para buscar os outros? De qualquer
maneira, encontrar Ori era a coisa mais importante agora. Voltando a
atenção para a cidade lá embaixo, ele colocou o visor na visão noturna e
examinou as ruas que levavam ao grande palácio. Ela teria ido lá, mesmo
sabendo o que a Grande Lorde Venn tinha feito com sua família?
Esforçando-se para ver mais longe, ousou ficar de pé.
— Ori, onde você está?
De repente, uma mão invisível o jogou para trás na água corrente. Os
macrobinóculos caíram de suas mãos, saltando uma vez na borda e
quebrando sem serem vistos em um telhado de mármore bem abaixo.
Depois que tocou o fundo do canal, Jelph chutou com as botas de trabalho
contra o chão de pedra oleosa e se levantou, apenas para voltar a voar,
empurrado pela Força. Incapaz de se endireitar, ele caiu na calha.
A corrente diminuiu, depositando-o em uma piscina coletora, mais
abaixo, mas ainda muitos metros acima dos telhados próximos. Ele lutou
até o final raso, tirou o seu sabre de luz do cinto e o acendeu. Com a luz
azul brilhando no meio da noite, Jelph cambaleou na água até a cintura,
procurando seu agressor.
— Mentiroso!
A alegação tinha se originado acima do canal. Ali Jelph viu a silhueta de
uma mulher se lançando em sua direção, brandindo um sabre de luz
vermelho. Com as duas mãos em sua arma, desviou o golpe poderoso,
permitindo que a força do ataque da mulher a carregasse para dentro do
reservatório com ele. Ela se recuperou rapidamente e atacou novamente.
— Mentiroso! — Ori repetiu, seus olhos normalmente castanhos
brilhando em laranja.
— Você a encontrou. — disse Jelph, colocando o sabre de luz contra o
dela em um impasse crepitante. Era tudo o que ele conseguia pensar em
dizer.
Ori rosnou algo inaudível e chutou a água para ele. Jelph evitou o
movimento, fazendo com que ambos perdessem o pé, e fazendo com que
Ori perdesse o sabre de luz na parte mais profunda da bacia.
Ao vê-la chapinhando, procurando a arma, Jelph recuou para lhe dar
espaço.
— Você a encontrou. — ele disse, desativando seu sabre de luz. — Você
a encontrou... e destruiu o jardim. Eu não culpo você.
— Eu culpo você! — De pé novamente, ela enfiou a mão na água, sem
resultados. — Você é um mentiroso. Você é um Jedi!
— Eu era. — ele disse. Não havia por que negar. — Aquela era a minha
nave espacial que você encontrou. Agradeço à Força que você não tentou
entrar...
— O que? Você acha que eu não sou inteligente o suficiente? —
Pingando, ela olhou de volta para ele. — Eu sou só uma idiota estúpida pra
você, não sendo melhor que os Keshiri!
— Não é isso!
— Viemos do espaço, você sabe. E nós vamos voltar! É disso que você
tem medo?
— Sim... entre outras coisas. — De repente, lembrando onde estava,
Jelph olhou nervosamente para cima. O reservatório estava alto demais para
eles serem ouvidos lá de baixo, mas já havia visto sentinelas aéreas mais
cedo. Pelo menos ele a encontrou. — O que... o que você está fazendo aqui?
Ori pisou em volta na água, ainda incapaz de encontrar seu sabre de luz.
— Eu vim para Tahv para falar de você! Para avisá-los!
— Aqui em cima? — Esperava que ela tivesse ido ver alguém
importante. Estudou-na enquanto ela sacudia a água dos cabelos. — Espere.
Você viu alguém importante. A sua mãe.
A mulher Sith simplesmente olhou com raiva.
— Pensei que a sua mãe não estava mais no poder...
— Isso vai mudar! — O rosto de Ori se encheu de raiva. — Com o que
sabemos agora, ela voltará! Eu voltarei!
Jelph deu um passo para trás, como se tivesse sido empurrado pela força
das palavras dela.
— Essa não é você. — ele disse. — A pessoa que ficou comigo
naqueles dias não se importava mais com isso. Aquela pessoa...
— Não era eu. — cuspiu Ori. — Aquilo era a derrota!
— Mas gostei da outra você... e não me importa como você a chama.
Aquela era uma parte de você.
— Aquela pessoa não era uma Sith! — Ela apontou para as estrelas,
espreitando além das nuvens lá em cima. — Aquelas estrelas nos
pertencem! Isso não é só sobre mim. Vivemos aqui há mil anos, esperando
voltar pra lá. À espera de voltar ao que é nosso!
Jelph começou a dizer algo, mas parou.
— Isso mesmo. — ele sussurrou, calculando. A Tribo era um
remanescente da Grande Guerra do Hiperespaço, mais de um milênio antes.
Ela não sabia o que tinha acontecido em seguida. Tinha uma arma.
A História.
— Os Sith não existem mais. — Jelph disse.
— O que?
— Os Sith não existem mais. — ele repetiu. — Eles estão extintos.
— Você está mentindo. — Ori disse, caminhando em direção à borda.
— Aquela nave que você estava escondendo era uma nave de guerra!
Aquelas grandes... pontas dos dois lados. Você está me dizendo que são
para decoração?
Jelph balançou a cabeça.
— Sim, nós temos inimigos. E nós até mesmo lutamos com os Sith em
uma memória viva. Um Jedi, Exar Kun, caiu para o lado sombrio e reviveu
o movimento. Mas foram erradicados. Caçados... todos eles. — Com
cuidado, aproximou-se dela. — Até onde eu sei, o seu povo são os únicos
Sith que restam vivos na galáxia. Sinta os meus pensamentos. Saberá que
estou dizendo a verdade.
Respirando com dificuldade, Ori olhou de volta dele. Com a raiva
passando, ela se ergueu na beira da bacia e tirou a bota, derramando água
dela.
— Nós vamos ascender. — ela disse, mais calma agora. — Sozinhos
contra um, ou um bilhão de Jedi. Vamos nos arriscar.
— Vocês serão esmagados pelos Jedi.
— Alguém sabe que existimos? — Ela perguntou. — Se os Sith não
estiveram nos procurando, duvido que os Jedi estejam.
— Eles estão me procurando. — ele respondeu. — E acredite em mim,
os Jedi estão procurando por vocês. — Ele não sabia o que havia acontecido
com todos os membros do Pacto desde que fugira... mas sabia que,
enquanto Lucien Draay vivesse, alguém estaria perscrutando os Sith.
Ori esfregou a testa, exasperada.
— Se eu não posso salvar a minha família... e não posso salvar o meu
povo... o que devo fazer?
— O que deve fazer? — Jelph riu. — Você é aquela que sempre diz que
define o seu próprio caminho. — Ele caminhou em direção ao poleiro dela
na beirada. — Só decida o que você quer.
Por um longo momento, Ori o olhou, parado na água estrelada diante
dela. Finalmente, ela fechou os olhos e balançou a cabeça.
— Nós nunca poderemos confiar um no outro. — ela disse.
Jelph a olhou com perspicácia.
Ela abriu os olhos e olhou pra ele.
— Posso sentir isso em seus pensamentos. Você me acha bonita. Acha
que me quer. Quer confiar em mim. Mas está olhando por trás de cada
palavra que digo, tentando me descobrir, tentando me prender. Por causa de
quem eu sou.
Jelph olhou para a água. Não sabia porque tinha vindo até ali quando
havia tanto risco. Não até agora.
— Acho que sei quem você é, Ori. — Ele deu um passo à frente e
colocou a mão no ombro dela. Ela se encolheu com o toque.
— Jelph. — ela disse, agarrando a mão dele, mas sem a afastar. — Não
posso ser a pessoa que eu era lá na fazenda. Se a única maneira de estar
com você é ser fraca, eu simplesmente não consigo.
— Você pode ser forte. — ele disse, alcançando-a e puxando-a para fora
da borda, para baixo na água diante dele. Com os pés tocando o fundo, ela
olhou pra ele. — Você é forte. Você simplesmente não precisa governar a
galáxia.
Ela desviou o olhar dele, para baixo na piscina.
— É para isso que nascemos, você sabe. Para governar a galáxia.
— Então a Tribo é construída sobre uma mentira. — ele disse. — Um
engodo. Todo mundo está brigando por algo que só uma pessoa pode ter. Só
uma. O que significa que ser um Sith... é ser um fracasso quase certo.
Quase todo mundo que segue o seu Código está fadado ao fracasso, mesmo
antes dele começar. — Jelph riu. — Que tipo de filosofia é essa? —
Deslizando o queixo dela para cima com a mão, ele olhou em seus olhos,
castanhos novamente. — Não se deixe enganar. Você não pode perder se
não jogar.
Beijou-na, indiferente ao que qualquer sentinela aérea Sith pudesse ver.
Ori devolveu o abraço antes de se afastar.
— Espere. — ela disse. — Nós já estamos jogando. Está em
movimento. Eu não posso parar.
— O que você quer dizer?
Com a testa escura franzida, Ori explicou o que a sua mãe sugerira que
ela fizesse.
— Eu já enviei uma mensagem para os Altos Lorde rivais. — ela disse.
— Eles vão me encontrar na sua fazenda para ver a nave espacial.
Jogado de volta à realidade, Jelph a soltou.
— O que... o que você disse a eles? — Atordoado, ele saiu do
reservatório.
Ori seguiu, apelando para ele. Sua mãe havia lhe dado uma frase para
usar... o código dentro da pequena comunidade dos Altos Lordes para uma
descoberta de importância tremenda em Kesh.
— Eu não contei a eles sobre a nave espacial, mas eles sabem que é
importante. — ela disse. — Eles deveriam me encontrar lá amanhã ao pôr
do sol.
— Pôr do sol! — Jelph cedeu. Tinha levado um dia e uma noite inteiros
apenas para chegar aqui a pé. — Como você iria chegar lá?
— Eu ia roubar um uvak. — Ori respondeu, de pé no topo da borda e
apontando para uma figura escura no céu. — É por isso que eu vim aqui...
eu sabia que do aqueduto eu poderia atrair uma das sentinelas aéreas aqui
embaixo. — Ela olhou para ele petulantemente. — É claro que isso foi
quando eu ainda tinha um sabre de luz.
— Que sorte você ter feito um amigo. — ele disse, parado na borda ao
lado dela e olhando para a sentinela pairando. Ele sorriu. — Sabe, Ori, você
é a primeira Sith com quem eu já lutei.
— Você pode precisar se esforçar mais contra este. — ela disse,
observando o sabre de luz dele ganhar vida. — Não somos todos
encantados tão facilmente.
E ra bom voar de novo. Ori olhou para o campo que se
afastava sob as asas batendo do uvak. De vez em quando, voltava-se para
ver Jelph, agarrando-se a ela enquanto puxava as rédeas. Ele ainda estava
sorrindo. Voar não era um mistério para ele, sabia, mas ele vivera por três
anos no chão, olhando para cima para os Sith voando. Esta era uma
mudança bem-vinda.
Perguntou-se como seria voar na nave espacial dele. Sabia agora porque
ele simplesmente não tinha voado para longe nela mais cedo, mas agora que
eles se encontraram, não precisavam mais ficar presos a Kesh por mais
tempo. Eles teriam que se encaixar desconfortavelmente no veículo de um
assento, e sabia que ele tinha que reinstalar algum tipo de sistema de
comunicação antes de partir. Mas mesmo que eles não tivessem discutido
isso, ela fervorosamente esperava por essa fuga.
Como seria a vida dela, uma filha da Tribo em uma galáxia dominada
pelos Jedi? Bem como Jelph deve ter se sentido nos últimos anos, imaginou.
Estava começando a pensar assim agora. Empatia era uma característica que
os Sith entendiam apenas como um meio de conhecer melhor o inimigo;
não tinha outro objetivo prático. Ori começou a ver as coisas de maneira
diferente.
Candra, por exemplo. Havia muitas razões pelas quais Ori queria
restaurar a posição perdida de sua mãe, mas a maioria girava em torno de
orgulho, vingança e vergonha sobre seu estado atual. Era mais importante,
ela agora percebeu, simplesmente melhorar a vida de sua mãe tirando-a das
garras de Venn. Os quatro Alto Lordes podiam fazer isso, Gadin Badolfa
garantiu-lhe isso quando ela o contatou. Ela só precisava de algo para
negociar com eles, em vez da nave espacial de Jelph. Ele havia sugerido os
quatro blasters funcionais que tinha escondido em casa; ela poderia alegar
tê-los descoberto em um túmulo em algum lugar. Todas as armas que eles
tinham da tripulação da Presságio estavam há muito esgotadas. A
descoberta de algumas carregadas poderia fazer a diferença na política
violenta dos Alto Lordes.
— Não vamos chegar a tempo. — disse Jelph. O uvak deles não queria
carregar dois cavaleiros estranhos e lutou com eles por todo o caminho. —
O que é isso lá em cima?
Ori olhou para cima e viu grupo de uvak voando em V, uma figura
solitária seguida por mais três de cada lado, voando pelo ar acima deles.
— Que droga! — Eles encontraram o jato da corrente, ela percebeu. —
Eles vão chegar lá primeiro!
— Constante. — Jelph disse. O aperto dele sobre ela aumentou. — Mas
mais rápido!
Ori permitiu que Jelph ficasse fora da vista da fazenda antes de pousar.
Viu quando ele agilmente bateu na terra e rolou para dentro de uma
cobertura. Era tão surpreendente vê-lo em ação, tão fisicamente capaz em
todos os aspectos quanto um Sabre Sith. E furtivo também. Os visitantes,
com as suas criaturas estacionadas atrás da casa da fazenda, não tinham
visto nada.
Respirando fundo, Ori desmontou. O saco de blasters estava exatamente
onde Jelph dissera que estava, embaixo da calha de mistura. Eles se
pareciam muito com as quais tinha visto no museu. Felizmente, seriam
suficientes para comprar a redenção de sua mãe, e fazer com que os
visitantes fossem embora.
Baixinho, ensaiou o que diria enquanto contornava a casa da fazenda,
passando pela treliça destruída. Sabia quais dos quatro Alto Lordes esperar.
Sentindo presenças sombrias familiares, chamou-os.
— Meus Lordes, eu tenho o que vocês estão procurando...
— Sim, eu acho que sim.
Ori ficou pálida ao som da voz rouca. A Grande Lorde!
Pálida e encolhida, Lillia Venn emergiu do estábulo. Levantando uma
mão manchada, agarrou Ori através da Força, imobilizando-a. Quatro de
seus guardas leais apareceram por trás do celeiro e se apossaram
fisicamente de Ori. Girando, a líder Sith entrou no celeiro.
— Lordes Luzo!
Ori sentiu a espinha se gelar quando Flen e Sawj Luzo abriram as portas
do estábulo atrás de Venn, revelando a massa metálica do caça Aurek lá
dentro. Ouvira de Badolfa que Venn havia elevado Flen e Sawj Luzo aos
Senhorios por sua lealdade. Agora os irmãos coniventes haviam retornado à
fazenda... com a pior inimiga dela.
— Como isso aconteceu? — Ori perguntou, lutando contra os guardas.
— O Badolfa me traiu?
— Oh, deixamos Badolfa entregar as suas mensagens. — disse Sawj
Luzo, com a voz estridente e alta de prazer. — A sua mãe fez outro acordo.
— O que?
— Sim. — Venn disse, virando-se e mancando de volta para dentro. —
Ela não achou que a sua descoberta existisse... e não achou que os outros
Alto Lordes viriam. Então, ela nos alertou para a reunião aqui.
Ori parecia horrorizada.
— Em troca de quê?
Venn lambeu os lábios secos.
— Chame de... melhores condições de trabalho. Se algum Alto Lorde
viesse, eu os pegaria por traição. — Ela apontou para o veículo espacial. —
Mas este é um prêmio muito melhor.
Esforçando-se contra os seus captores, Ori olhou em volta. Jelph estava
lá fora, sabia, mas haviam muitos deles. E agora o irmão mais velho dos
Luzo estava ajudando a Grande Lorde através do estrume parcialmente
cavado no estábulo em direção à descoberta dela.
— Consegui. — Venn disse, triunfante. — Eu vivi para ver o dia. —
Soltou o braço de sua escolta e se apoiou no caça estelar. — A vida é uma
piada cruel, Lorde Luzo. Você passa os seus anos buscando o auge do
poder, só então todos pensam que é hora de você morrer.
— Nenhum de nós pensou, Grande Lorde.
— Cale a boca. — Ela acariciou o metal frio do veículo. — Bem, a vida
de Lillia Venn não acabou. Há outro pico, outro lugar para conquistar. Vou
começar de novo... nas estrelas. — Vagamente ciente dos pés cambiantes de
seus aliados atrás de si, ela acrescentou: — Vou levar todos vocês comigo, é
claro.
— Claro, Grande Lorde.
Do lado de fora, dois dos guardas, antes Sabres seguidores de Ori, se
afastaram de Ori, com a atenção voltada para a excitação lá dentro. Nem
eles nem os dois captores restantes perceberam o saco de blasters
descartado e fechado atrás deles, levitando silenciosamente em direção aos
arbustos ao lado da casa da fazenda. Ori, porém, começou a se mexer antes
mesmo de ouvir o chamado mental de Jelph.
Ori! Abaixe-se!
Em vez de lutar para se libertar e fugir, Ori jogou o seu peso no chão,
surpreendendo os homens que seguravam os seus braços. A distração foi
suficiente para Jelph, que emergiu da casa da fazenda atirando. Feixes
brilhantes não vistos em Kesh desde o primeiro século de ocupação
atingiram os dois guardas por trás. À frente, os Sabres restantes ficaram em
choque.
Lá dentro, a forma envelhecida de Venn ganhou vida. Olhou para os
seus novos Lordes.
— Protejam esse lugar!
Jelph avançou pelo quintal, atirando de novo. Os Sabres restantes, que
nunca haviam desviado um raio de blaster em suas vidas, moviam-se
freneticamente para desviar dos raios. Ori rolou no chão, tentando encontrar
um dos sabres de luz dos guardas caídos. À frente, viu os irmãos Luzo
vigiando a porta do estábulo, enquanto atrás deles, a Grande Lorde havia
subido de alguma forma no topo do caça estelar.
Não, ela viu com um sobressalto. Não no topo da embarcação. Dentro
dela.
Ori se virou para Jelph, que havia chegado ao lado dela. Ele também
viu. Por um momento ele congelou, com os seus disparos de blaster
parando. A velha estava dentro de sua preciosa nave estelar. Ele agarrou o
braço de Ori e a ajudou a se levantar.
Atirando novamente contra os Luzos e os seus guardas, ele puxou o
braço dela.
— Ori, vamos!
De repente jogada em movimento, Ori olhou de volta para o celeiro. Ele
claramente não tinha entendido.
— Jelph, não! A Grande Lorde está aqui. — ela falou. — O que você
está fazendo?
Jelph não respondeu. Em vez disso, ele a empurrou para a frente. Para
longe do celeiro, em direção ao rio.
Lá dentro, a velha alcançou o acelerador.
Uma voz baixinha veio do compartimento.
— Sistema de navegação automática ativado. Modo de flutuação
ativado. — Os olhos de Venn se arregalaram quando ela começou a subida.
Fora do Aurek, os irmãos Luzo ordenaram que o Sabre sobrevivente
guardasse a entrada contra Ori e o seu protetor desconhecido. A porta
traseira do estábulo acomodava um uvak de asas largas; ele permitiria
facilmente a saída de um caça estelar.
— Tanto poder. — Sawj Luzo disse, observando o monstro de metal
subir. — Ela nem precisa que cortemos as amarras.
— Amarras? — Flen olhou embaixo da nave. Dois minúsculos cordões
de monofilamento amarrados ao redor dos trens de aterrissagem eram agora
visíveis à luz. Quando as linhas se esticaram, os olhos amarelos do jovem
Lorde dispararam para as outras extremidades, enterradas na lama onde a
nave havia estacionado.
Lá, no chão, pequenos pinos estalaram... e botou abaixo os sonhos de
uma Lorde Sombrio.
O dispositivo de segurança foi colocado antes que Jelph trouxesse a
primeira parte do caça estelar da selva. O Aurek estava escondido debaixo
de um monte de estrume no celeiro, mas embaixo tinha outra coisa
enterrada: dois torpedos de prótons da nave, cercados por milhares de quilos
de explosivo à base de nitrato de amônio. Transformar o fertilizante em algo
adequado para um sistema antifurto exigiu muita paciência e cuidado, mas
isso deu a Jelph uma maneira de transformar o seu trabalho nominal em
algo útil para a sua missão.
Agora, o sistema anti-roubo funcionava exatamente como planejado.
Quando os cabos puxaram para cima, os gatilhos se fecharam nas ogivas
dos torpedos. As armas detonaram, inflamando os explosivos ao redor.
O trovão atingiu a fazenda quando a bola de fogo rasgou e se libertou da
argila ao redor, consumindo o estábulo e os seus ocupantes em
milissegundos. Do lado de fora, Jelph puxou Ori, mergulhando os dois na
água, exatamente quando a onda de choque rasgou o chão atrás deles.
Empurrado através do telhado do celeiro em desintegração, o caça subiu
para o alto como um gêiser de calor e força. Por uma fração de segundo, a
mulher se alegrou com o movimento, assumindo que era uma demonstração
natural da potência do veículo. A sua alegria terminou quando, com a
blindagem da embarcação inoperante, os outros quatro torpedos detonaram
em seus tubos de lançamento. Trabalhadores noturnos tão distantes quanto
Tahv viram o novo cometa surgir e morrer com a mesma rapidez, banhando
o céu do sul com uma luz assustadora.
Lillia Venn havia encontrado seu caminho para o céu.
A pequena cabana estava tomando forma.
uma copa densa de folhagem que nenhum batedor uvak podia penetrar, a
Sob
STAR WARS: A TRIBO PERDIDA DOS SITH - COLETÂNEA DE HISTÓRIAS É UM LIVRO DE FICÇÃO. TODOS OS
PERSONAGENS, LUGARES E ACONTECIMENTOS SÃO FICCIONAIS.
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
TDW CRB-1/000
M28j Miller, John Jackson
STAR WARS: A TRIBO PERDIDA DOS SITH - COLETÂNEA DE HISTÓRIAS [recurso eletrônico] / John Jackson Miller ;
traduzido por Red Skull Mythosaur.
400 p. : 2.0 MB.
Tradução de: Tribe of the Sith - The Collected Stories
ISBN: 978-85-503-0253-9 (Ebook)
1. Literatura norte-americana. 2. Ficção científica. I. Mythosaur, Red Skull CF. II. Título.
2017.352
tradutoresdoswhills.wordpress.com
A série com os nove romances LEGENDS de Fate of the Jedi, de Aaron
Allston, Christie Golden e Troy Denning introduziram uma Tribo Perdida
dos Sith, abandonada no planeta Kesh e descoberta no tempo de Luke
Skywalker. O projeto A Tribo Perdida dos Sith contou a história dessa
sociedade Sith através de uma série de histórias curtas de livros eletrônicos;
estes aparecem aqui, pela primeira vez como um novo romance. Os meus
agradecimentos à editora da Del Rey, Shelly Shapiro, e à ex-editora de
ficção da Lucasfilm, Sue Rostoni, por me trazer o projeto, e a Aaron,
Christie e Troy pelo desenvolvimento dos materiais de apoio que se
tornaram a base dessas histórias. Agradeço a David Pomerico, Frank Parisi,
Erich Schoeneweiss e a todos da Random House que ajudaram a trazer a
Tribo Perdida à vida tanto impressa como em mídias eletrônicas. Para ler
mais aventuras da Tribo Perdida, procure os romances de Fate of the Jedi,
agora disponíveis em brochura de capa dura e de mercado de massa. E
encontre novas histórias nas histórias em quadrinhos A Tribo Perdida dos
Sith, disponíveis pela Dark Horse Comics.
John Jackson Miller é designer de jogos e autor da série de e-
books Star Wars: Cavaleira Errante e Star Wars: Tribo Perdida dos Sith,
bem como de nove histórias em quadrinhos Star Wars: Cavaleiros da Velha
República. O seu trabalho em quadrinhos inclui escrever para as HQs do
Homem de Ferro, de Mass Effect, do Bart Simpson e do Indiana Jones. Ele
mora em Wisconsin com a sua esposa, os dois filhos e muitos quadrinhos..
Star Wars: Guardiões dos Whills
Baixe agora e leia
Um livro de imagens ilustrado que reconta o filme Star Wars: Os Últimos Jedi.
Esse é o Terceiro Ebook dos Tradutores dos Whills com uma aventura emocionante sobre
uma heroína corajosa das Séries de TV Clone Wars e Rebels: Ahsoka Tano! Os fãs há
muito tempo se perguntam o que aconteceu com Ahsoka depois que ela deixou a Ordem
Jedi perto do fim das Guerras Clônicas, e antes dela reaparecer como a misteriosa
operadora rebelde Fulcro em Rebels. Finalmente, sua história começará a ser contada.
Seguindo suas experiências com os Jedi e a devastação da Ordem 66, Ahsoka não tem
certeza de que possa fazer parte de um todo maior de novo. Mas seu desejo de combater
os males do Império e proteger aqueles que precisam disso e levará a Bail Organa e a
Aliança Rebelde....
A República foi destruída, e agora a galáxia é governada pelos terríveis Sith. Obi-Wan
Kenobi, o grande cavaleiro Jedi, perdeu tudo... menos a esperança. Após os terríveis
acontecimentos que deram fim à República, coube ao grande mestre Jedi Obi-Wan Kenobi
manter a sanidade na missão de proteger aquele que pode ser a última esperança da
resistência ao Império. Vivendo entre fazendeiros no remoto e desértico planeta Tatooine,
nos confins da galáxia, o que Obi-Wan mais deseja é manter-se no completo anonimato e,
para isso, evita o contato com os moradores locais. No entanto, todos esses esforços
podem ser em vão quando o “Velho Ben”, como o cavaleiro passa a ser conhecido, se vê
envolvido na luta pela sobrevivência dos habitantes por uma Grande Seca e por causa de
um chefe do crime e do povo da areia. Se com o Novo Cânone pudéssemos encontrar
todos os materiais disponíveis aos anos de Exílio de Obi-Wan Kenobi em um só Lugar?
Após o Livro Kenobi se tornar Legend, os fãs ficaram sem saber o que aconteceu com o
Velho Ben nesse tempo de reclusão. Então os Tradutores dos Whills também se fizeram
essa pergunta e resolveram fazer esse trabalho de compilação dos Contos, Ebooks, Séries
Animadas e HQs, em um só Ebook Especial e Canônico para todos os Fãs!!
Esse é o Quarto Ebook dos Tradutores dos Whills com uma aventura emocionante sobre
um Vilão dos Filmes e da Série de TV Clone Wars: Conde Dookan! Mergulhe
na
história do sinistro Conde Dookan no roteiro original da emocionante
produção de áudio de Star Wars! Darth Tyranus. Conde de Serenno.
Líder dos Separatistas. Um sabre vermelho, desembainhado no
escuro. Mas quem era ele antes de se tornar a mão direita dos Sith?
Quando Dookan corteja uma nova aprendiz, a verdade oculta do
passado do Lorde Sith começa a aparecer. A vida de Dookan
começou como um privilégio, nascido dentro das muralhas
pedregosas da propriedade de sua família. Mas logo, suas
habilidades Jedi são reconhecidas, e ele é levado de sua casa para
ser treinado nos caminhos da Força pelo lendário Mestre
Yoda. Enquanto ele afia seu poder, Dookan sobe na hierarquia,
fazendo amizade com Jedi Sifo-Dyas e levando um Padawan, o
promissor Qui-Gon Jinn, e tenta esquecer a vida que ele levou uma
vez. Mas ele se vê atraído por um estranho fascínio pela mestra
Jedi Lene Kostana, e pela missão que ela empreende para a
Ordem: encontrar e estudar relíquias antigas dos Sith, em
preparação para o eventual retorno dos inimigos mais mortais que
os Jedi já enfrentaram. Preso entre o mundo dos Jedi, as
responsabilidades antigas de sua casa perdida e o poder sedutor
das relíquias, Dookan luta para permanecer na luz, mesmo
quando começa a cair na escuridão.
Esse é o Quinto Ebook dos Tradutores dos Whills com uma aventura emocionante sobre
um Vilões e Heróis dos Filmes e da Série de TV Clone Wars! Baseado em episódios não
produzidos de Star Wars: The Clone Wars, este novo romance apresenta Asajj Ventress, a
ex-aprendiz Sith que se tornou um caçadora de recompensas e uma das maiores anti-
heróis da galáxia de Star Wars. Na guerra pelo controle da galáxia entre os exércitos do
lado negro e da República, o ex-Mestre Jedi se tornou cruel. O Lorde Sith Conde Dookan
se tornou cada vez mais brutal em suas táticas. Apesar dos poderes dos Jedi e das
proezas militares de seu exército de clones, o grande número de mortes está cobrando um
preço terrível. E quando Dookan ordena o massacre de uma flotilha de refugiados
indefesos, o Conselho Jedi sente que não tem escolha a não ser tomar medidas drásticas:
atacar o homem responsável por tantas atrocidades de guerra, o próprio Conde Dookan.
Mas o Dookan sempre evasivo é uma presa perigosa para o caçador mais hábil. Portanto,
o Conselho toma a decisão ousada de trazer tanto os lados do poder da Força de suportar.
— juntar o ousado Cavaleiro Quinlan Vos com a infame acólita Sith Asajj Ventress. Embora
a desconfiança dos Jedi pela astuta assassina que uma vez serviu ao lado de Dookan
ainda seja profunda, o ódio de Ventress por seu antigo mestre é mais profundo. Ela está
mais do que disposta a emprestar seus copiosos talentos como caçadora de recompensas,
e assassina, na busca de Vos.Juntos, Ventress e Vos são as melhores esperanças para
eliminar a Dookan. — desde que os sentimentos emergentes entre eles não comprometam
a sua missão. Mas Ventress está determinada a ter sua vingança e, finalmente, deixar de
lado seu passado sombrio de Sith. Equilibrando as emoções complicadas que sente por
Vos com a fúria de seu espírito guerreiro, ela resolve reivindicar a vitória em todas as
frentes, uma promessa que será impiedosamente testada por seu inimigo mortal... e sua
própria dúvida.
Leia o épico capítulo final da saga Skywalker com a novelização oficial de Star Wars: A
Ascensão Skywalker, incluindo cenas ampliadas e conteúdo adicional não visto nos
cinemas! A Resistência renasceu. Mas, embora Rey e seus companheiros heróis estejam
de volta à luta, a guerra contra a Primeira Ordem, agora liderada pelo líder supremo Kylo
Ren, está longe de terminar. Assim como a faísca da rebelião está reacendendo, um sinal
misterioso é transmitido por toda a galáxia, com uma mensagem assustadora: o Imperador
Palpatine, há muito pensado derrotado e destruído, está de volta dos mortos. O antigo
Senhor dos Sith realmente voltou? Kylo Ren corta uma faixa de destruição pelas estrelas,
determinado a descobrir qualquer desafio ao seu controle sobre a Primeira Ordem e seu
destino para governar a galáxia – e esmagá-la completamente. Enquanto isso, para
descobrir a verdade, Rey, Finn, Poe e a Resistência devem embarcar na aventura mais
perigosa que já enfrentaram. Apresentando cenas totalmente novas, adaptadas de material
nunca visto, cenas excluídas e informações dos cineastas, a história que começou em Star
Wars: O Despertar da Força e continuou em Star Wars: Os Últimos Jedi chega a uma
conclusão surpreendente.
Descubra o mundo dos Jedi de Star Wars através desta experiência de leitura divertida e
totalmente interativa. Star Wars: Jediografia é o melhor guia do universo Jedi para o
universo dos Jedi, transportando jovens leitores para uma galáxia muito distante, através
de recursos interativos, fatos fascinantes e ideias cativantes. Com ilustrações originais
emocionantes e incríveis recursos especiais, como elevar as abas, texturas e muito mais,
Star Wars: Jediografia garante a emoção das legiões de jovens fãs da saga.
Palavras sinistras em qualquer circunstância, mas ainda mais quando proferidas pelo
Imperador Palpatine. Em Batuu, nos limites das Regiões Desconhecidas, uma ameaça ao
Império está se enraizando. Com a sua existência pouco mais que um vislumbre, as suas
consequências ainda desconhecidas. Mas é preocupante o suficiente para o líder imperial
justificar a investigação de seus agentes mais poderosos: o impiedoso agente Lorde Darth
Vader e o brilhante estrategista grão-almirante Thrawn. Rivais ferozes a favor do Imperador
e adversários francos nos assuntos imperiais, incluindo o projeto Estrela da Morte, o par
formidável parece parceiros improváveis para uma missão tão crucial. Mas o Imperador
sabe que não é a primeira vez que Vader e Thrawn juntam forças. E há mais por trás de
seu comando real do que qualquer um dos suspeitos. No que parece uma vida atrás, o
general Anakin Skywalker da República Galáctica e o comandante Mitth’raw’nuruodo,
oficial da Ascensão do Chiss, cruzaram o caminho pela primeira vez. Um em uma busca
pessoal desesperada, o outro com motivos desconhecidos... e não divulgados. Mas, diante
de uma série de perigos em um mundo longínquo, eles forjaram uma aliança
desconfortável. — nem remotamente cientes do que seus futuros reservavam. Agora,
reunidos mais uma vez, eles se veem novamente ligados ao planeta onde lutaram lado a
lado. Lá eles serão duplamente desafiados. — por uma prova de sua lealdade ao Império...
e um inimigo que ameaça até seu poder combinado.
Esta é a era do legado de Luke Skywalker: o Mestre Jedi unificou a Ordem em um grupo
coeso de poderosos Cavaleiros Jedi. Mas enquanto a nova era começa, os interesses
planetários ameaçam atrapalhar esse momento de relativa paz, e Luke é atormentado com
visões de uma escuridão que se aproxima. O mal está ressurgindo “das melhores
intenções” e parece que o legado dos Skywalkers pode dar um ciclo completo.A honra e o
dever colidirão com a amizade e os laços de sangue, à medida que os Skywalker e o clã
Solo se encontrarem em lados opostos de um conflito explosivo com repercussões
potencialmente devastadoras para ambas as famílias, para a ordem Jedi e para toda a
galáxia.Quando uma missão para descobrir uma fábrica ilegal de mísseis no planeta
Aduman termina em uma emboscada violenta, da qual a Cavaleira Jedi Jacen Solo e o seu
protegido e primo, Ben Skywalker, escapam por pouco com as suas vidas; é a evidência
mais alarmante ainda que desencadeia uma discussão política. A agitação está
ameaçando inflamar-se em total Rebelião. Os governos de vários mundos estão se
irritando com os rígidos regulamentos da Aliança Galáctica, e os esforços diplomáticos
para garantir o cumprimento estão falhando. Temendo o pior, a Aliança prepara uma
demonstração preventiva de poder militar, numa tentativa de trazer os mundos renegados
para a frente antes que uma revolta entre em erupção. O alvo modeloado para esse
exercício: o planeta Corellia, conhecido pela independência impetuosa e pelo espírito
renegado que fizeram de seu filho favorito, Han Solo, uma lenda.Algo como um trapaceiro,
Jacen é, no entanto, obrigado como Jedi a ficar com seu tio, o Mestre Jedi Luke
Skywalkers, ao lado da Aliança Galáctica. Mas quando os corellianos de guerra lançam um
contra-ataque, a demonstração de força da Aliança, e uma missão secreta para desativar a
crucial Estação Central de Corellia; dão lugar a uma escaramuça armada. Quando a
fumaça baixa, as linhas de batalha são traçadas. Agora, o espectro da guerra em grande
escala aparece entre um grupo crescente de planetas desafiadores e a Aliança Galáctica,
que alguns temem estar se tornando um novo Império.E, enquanto os dois lados lutam
para encontrar uma solução diplomática, atos misteriosos de traição e sabotagem
ameaçam condenar os esforços de paz a todo momento. Determinado a erradicar os que
estão por trás do caos, Jacen segue uma trilha de pistas enigmáticas para um encontro
sombrio com as mais chocantes revelações... enquanto Luke se depara com algo ainda
mais preocupante: visões de sonho de uma figura sombria cujo poder da Força e crueldade
lembram a ele de Darth Vader, um inimigo letal que ataca como um espírito sombrio em
uma missão de destruição. Um agente do mal que, se as visões de Luke acontecerem,
trará uma dor incalculável ao Mestre Jedi e a toda a galáxia.
Quando Jyn Erso tinha cinco anos, sua mãe foi assassinada e seu pai foi tirado dela para
servir ao Império. Mas, apesar da perda de seus pais, ela não está completamente
sozinha. — Saw Gerrera, um homem disposto a ir a todos os extremos necessários para
resistir à tirania imperial, acolhe-a como sua e dá a ela não apenas um lar, mas todas as
habilidades e os recursos de que ela precisa para se tornar uma rebelde.Jyn se dedica à
causa e ao homem. Mas lutar ao lado de Saw e seu povo traz consigo o perigo e a questão
de quão longe Jyn está disposta a ir como um dos soldados de Saw. Quando ela enfrenta
uma traição impensável que destrói seu mundo, Jyn terá que se recompor e descobrir no
que ela realmente acredita... e em quem ela pode realmente confiar.
Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo da Ameaça Fantasma .
. . Os Jedi iluminaram o caminho para a galáxia na Alta República. É uma era de ouro. Os
intrépidos batedores do hiperespaço expandem o alcance da República para as estrelas
mais distantes, mundos prosperam sob a liderança benevolente do Senado e a paz reina,
reforçada pela sabedoria e força da renomada ordem de usuários da Força conhecidos
como Jedi. Com os Jedi no auge de seu poder, os cidadãos livres da galáxia estão
confiantes em sua habilidade de resistir a qualquer tempestade. Mas mesmo a luz mais
brilhante pode lançar uma sombra, e algumas tempestades desafiam qualquer preparação.
Quando uma catástrofe chocante no hiperespaço despedaça uma nave, a enxurrada de
estilhaços que emergem do desastre ameaça todo o sistema. Assim que o pedido de ajuda
sai, os Jedi correm para o local. O escopo do surgimento, no entanto, é o suficiente para
levar até os Jedi ao seu limite. Enquanto o céu se abre e a destruição cai sobre a aliança
pacífica que ajudaram a construir, os Jedi devem confiar na Força para vê-los em um dia
em que um único erro pode custar bilhões de vidas. Mesmo enquanto os Jedi lutam
bravamente contra a calamidade, algo verdadeiramente mortal cresce além dos limites da
República. O desastre do hiperespaço é muito mais sinistro do que os Jedi poderiam
suspeitar. Uma ameaça se esconde na escuridão, longe da era da luz, e guarda um
segredo.
Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo da Ameaça Fantasma .
. . Os Jedi iluminaram o caminho para a galáxia na Alta República. Padawan Reath Silas
está sendo enviado da cosmopolita capital galáctica de Coruscant para a fronteira
subdesenvolvida, e ele não poderia estar menos feliz com isso. Ele prefere ficar no Templo
Jedi, estudando os arquivos. Mas quando a nave em que ele está viajando é arrancada do
hiperespaço em um desastre que abrange toda a galáxia, Reath se encontra no centro da
ação. Os Jedi e seus companheiros de viagem encontram refúgio no que parece ser uma
estação espacial abandonada. Mas então coisas estranhas começaram a acontecer,
levando os Jedi a investigar a verdade por trás da estação misteriosa, uma verdade que
pode terminar em tragédia ...
Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo da Ameaça Fantasma .
. . Vernestra Rwoh é mais nova Cavaleira Jedi com dezesseis anos, mas a sua primeira
missão de verdade parece muito com ser babá. Ela foi encarregada de supervisionar a
aspirante a inventora Avon Starros, de 12 anos, em um cruzador rumo à inauguração de
uma nova estação espacial maravilhosa chamada Farol Estelar. Mas logo em sua jornada,
bombas explodem a bordo do cruzador. Enquanto o Jedi adulto tenta salvar a nave,
Vernestra, Avon, o droide J-6 de Avon, um Padawan Jedi e o filho de um embaixador
conseguem chegar a uma nave de fuga, mas as comunicações acabam e os suprimentos
são poucos. Eles decidem pousar em uma lua próxima, que oferece abrigo, mas não muito
mais. E sem o conhecimento deles, o perigo se esconde na selva...
Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo da Ameaça Fantasma .
. . Padawan Ram Jomaram quer cuidar das suas atividades em paz, mas o droide V-18
vem trazer notícias sobre a queda das comunicações. Contudo os outros Jedi estão
resolvendo outros problemas e ele é o único disponível para resolver a situação.
“Nossa hora chegou. Durante trezentos anos nos preparamos; ficamos mais fortes
enquanto você descansava em seu berço de poder... Agora sua República cairá.” Um
guerreiro Sith para rivalizar com o mais sinistro dos Lordes Sombrios da Ordem, Darth
Malgus derrubou o Templo Jedi em Coruscant em um ataque brutal que chocou a galáxia.
Mas se a guerra o coroasse como o mais sombrio dos heróis Sith, a paz o transformará em
algo muito mais hediondo, algo que Malgus nunca gostaria de ser, mas não pode parar de
se tornar, assim como ele não pode impedir a Jedi desobediente de se aproximar
rapidamente. O nome dela é Aryn Leneer - e o único Cavaleiro Jedi que Malgus matou na
batalha feroz pelo Templo Jedi era seu Mestre. Agora ela vai descobrir o que aconteceu
com ele, mesmo que isso signifique quebrar todas as regras da Ordem.
Essa foi a promessa que o Grão Almirante Thrawn fez ao Imperador Palpatine em seu
primeiro encontro. Desde então, Thrawn tem sido um dos instrumentos mais eficazes do
Império, perseguindo os seus inimigos até os limites da galáxia conhecida. Mas por mais
que Thrawn tenha se tornado uma arma afiada, o Imperador sonha com algo muito mais
destrutivo. Agora, enquanto o programa TIE Defender de Thrawn é interrompido em favor
do projeto ultrassecreto conhecido apenas como Estrelinha, do Diretor Krennic, ele percebe
que o equilíbrio de poder no Império é medido por mais do que apenas perspicácia militar
ou eficiência tática. Mesmo o maior intelecto dificilmente pode competir com o poder de
aniquilar planetas inteiros. Enquanto Thrawn trabalha para garantir o seu lugar na
hierarquia Imperial, seu ex-protegido Eli Vanto retorna com um terrível aviso sobre o mundo
natal de Thrawn. O domínio da estratégia de Thrawn deve guiá-lo através de uma escolha
impossível: dever para com a Ascendência Chiss ou a fidelidade para com o Império que
ele jurou servir. Mesmo que a escolha certa signifique cometer traição.
Quando Padmé Naberrie, Rainha Amidala de Naboo, deixa sua posição, ela é convidada
pela rainha recém-eleita para se tornar a representante de Naboo no Senado Galáctico.
Padmé não tem certeza sobre assumir a nova função, mas não pode recusar o pedido para
servir seu povo. Junto com suas servas mais leais, Padmé deve descobrir como navegar
nas águas traiçoeiras da política e forjar uma nova identidade além da sombra da rainha.
No planeta Tython, a antiga ordem Je'daii foi fundada. E aos pés de seus sábios Mestres,
Lanoree Brock aprendeu os mistérios e métodos da Força, e encontrou seu chamado como
um de seus discípulos mais poderosos. Mas tão fortemente quanto a Força fluiu dentro de
Lanoree e seus pais, ela permaneceu ausente em seu irmão, que passou a desprezar e
evitar os Je'daii, e cujo treinamento em seus métodos antigos terminou em tragédia. Agora,
de sua vida solitária como um Patrulheira mantendo a ordem em toda a galáxia, Lanoree
foi convocada pelo Conselho Je'daii em uma questão de extrema urgência. O líder de um
culto fanático, obcecado em viajar além dos limites do espaço conhecido, está empenhado
em abrir um portal cósmico usando a temida matéria escura como chave - arriscando uma
reação cataclísmica que consumirá todo o sistema estelar. Porém, mais chocante para
Lanoree do que até mesmo a perspectiva de aniquilação galáctica total, é a decisão de
seus Mestres Je'daii de incumbi-la da missão de evitá-la. Até que uma revelação
surpreendente deixa claro por que ela foi escolhida: o louco brilhante e perigoso que ela
deve rastrear e parar a qualquer custo é o irmão cuja morte ela lamentou por muito tempo,
e cuja vida ela deve temer agora.
Os heróis da era da Alta República retornam para enfrentar uma paz destruída e um
inimigo terrível, após os eventos dramáticos de Luz dos Jedi. Na esteira do desastre do
hiperespaço e do heroísmo dos Jedi, a República continua a crescer, reunindo mais
mundos sob uma única bandeira unificada. Sob a liderança da Chanceler Lina Soh, o
espírito de unidade se estende por toda a galáxia, com os Jedi e a estação Farol Estelar
recentemente estabelecida na vanguarda. Em comemoração, a chanceler planeja a Feira
da República, será uma vitrine das possibilidades e da paz da República em expansão,
uma paz que os Jedi esperam promover. Stellan Gios, Bell Zettifar, Elzar Mann e outros se
juntam ao evento como embaixadores da harmonia. Mas à medida que os olhos da galáxia
se voltam para a feira, o mesmo ocorre com a fúria dos Nihil. O seu líder, Marchion Ro,
pretende destruir essa unidade. Sua Tempestade desce sobre a pompa e a celebração,
semeando o caos e exigindo vingança.
O Império Sith está em fluxo. O imperador está desaparecido, dado como morto, e a
tentativa de um ambicioso lorde Sith de tomar o trono terminou fatalmente. Ainda assim,
Darth Karrid, comandante do temível cruzador de batalha Imperial Lança Ascendente,
continua seus esforços incansáveis para alcançar o domínio Sith total da galáxia. Mas a
determinação implacável de Karrid é mais do que compatível com a determinação de aço
de Theron Shan, cujos negócios inacabados com o Império podem mudar o curso da
guerra para sempre. Embora filho de uma mestra Jedi, Theron não exerce a Força... mas,
como a sua renomada mãe, o espírito de rebelião está em seu sangue. Como um
importante agente secreto da República, ele desferiu um golpe crucial contra o Império ao
expor e destruir um arsenal de super arma Sith, o que o torna o agente ideal para uma
missão ousada e perigosa para acabar com o reinado de terror da Lança Ascendente.
Juntamente com a contrabandista Teff'ith, com quem ele tem uma ligação inexplicável, e o
sábio guerreiro Jedi Gnost-Dural, ex-mestre de Darth Karrid, Theron deve combinar
inteligência e armas com uma tripulação testada em batalha da escuridão mais fria
discípulos secundários. Mas o tempo é brutalmente curto. E se eles não aproveitarem sua
única chance de sucesso, certamente terão inúmeras oportunidades de morrer.