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Para Kevin e Rebecca: amigos, professores, colegas exploradores.

Índice
Capa
Página Título
Dedicatória
Índice
Direitos Autorais
Dramatis Personae

Prólogo: Espaço Selvagem


Parte um: Interesses Próprios
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis

Parte Dois: Hutta


Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito

Parte Três: A Perseguição


Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis

Parte Quatro: Sebaddon


Capítulo Vinte e Sete
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta

Parte Cinco: Aliança Fatal


Capítulo Trinta e um
Capítulo Trinta e Dois
Capítulo Trinta e Três
Capítulo Trinta e Quatro
Capítulo Trinta e Cinco
Capítulo Trinta e Seis
Capítulo Trinta e Sete
Capítulo Trinta e Oito
Capítulo Trinta e Nove
Capítulo Quarenta
Capítulo Quarenta e um
Capítulo Quarenta e Dois
Capítulo Quarenta e Três
Capítulo Quarenta e Quatro
Capítulo Quarenta e Cinco

Parte Seis: Preparações para a Guerra


Capítulo Quarenta e Seis
Capítulo Quarenta e Sete
Capítulo Quarenta e Oito
Capítulo Quarenta e Nove

Epílogo: Tatooine
Sobre o Ebook
Sobre o Autor
Agradecimentos
A Velha República - Aliança Fatal é uma obra de ficção. Nomes, lugares, e outros incidentes são
produtos da imaginação do autor ou são usadas na ficção. Qualquer semelhança a eventos atuais,
locais, ou pessoas, vivo ou morto, é mera coincidência.Direitos Autorais © 2010 da Lucasfilm Ltd. ®
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impressão da Random House, um divisão da Penguin Random House LLC, Nova York.DEL REY e a
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DRAMATIS PERSONAE
Dao Stryver: guerreiro (Mandaloriano)
Darth Chratis: Lorde Sith (humano)
Eldon Ax: Aprendiz Sith (humana)
Jet Nebula : capitão da Auriga Fire (humano)
Larin Moxla: ex-soldado da República (mulher Kiffar)
Satele Shan: Grã Mestra Jedi (humana)
Shigar Konshi: Padawan Jedi (homem Kiffar)
Ula Vii: Agente Imperial (homem Epicanthix)
O cruzador LUZ ESTELAR parecia enganosamente
insignificante contra o pano de fundo da galáxia. Aos olhos afiados de um
pirata, no entanto, ele exibia várias qualidades desejáveis: nenhuma marca
Imperial ou da República; apenas armas e blindagens moderadas; um
compartimento da tripulação mal grande o suficiente para acomodar uma
dúzia de pessoas; sem escolta ou embarcações de acompanhamento.
— A escolha é a sua, capitão, sibilou uma voz gutural no ouvido de Jet
Nebula.
— Mas não demore muito nisso. O nosso amigo aqui não vai ficar
parado pra sempre.
O contrabandista que se chamava "Jet Nebula" gostava de manter o seu
primeiro imediato ansioso. Não nutria sentimentos ruins sobre o motim em
si mesmo. No momento em que a Auriga Fire tropeçou em algo realmente
valioso, uma tentativa de aquisição fora inevitável. Contratou Shinqo
sabendo exatamente isso e não perdeu quase um minuto de sono desde
então. Lidar com a escória fazia parte do trabalho.
Não gostava de violência desnecessária, no entanto. O nariz de um
blaster cavando no lado de Jet era exagero.
— Então? — Shinqo o levou em Rodaniano enquanto ele fingia vacilar.
— Tenha calma, — disse Jet em protesto. — Nós os interditamos apenas
um minuto atrás. É muito cedo para planejar outro salto.
— Só não corra nenhum risco, — disse Shinqo, enfatizando o seu
argumento com outro golpe de blaster. — E fique feliz que não queremos a
sua nave também.
Algo pesado rangeu à direita de Jet. A forma de caixa de Clunker
apareceu à vista, amassada e empoeirada, com os fotorreceptores brilhando.
Jet balançou a cabeça minuciosamente e o droide voltou a sumir de vista.
— Não me faça perguntar duas vezes, — disse Shinqo.
— Tudo bem, então. — Jet tomou o assento do capitão e deu um soco
para ativar o omunicador. — Desde que você colocou as coisas tão bem,
vamos ver quem são esses caras antes de roubar o esconderijo pelas suas
costas.
As luzes do cruzador estelar piscavam e piscavam contra o escuro. Os
seus sistemas ainda estavam se instalando após o seu puxão repentino do
hiperespaço, mas Jet tinha certeza de que o comunicador já estava
trabalhando. Todos os ouvidos a bordo estariam se esforçando para ouvir o
que a nave acidentada pendurada em seus arcos tinha a dizer.
Recorreu a frases curtas e simples que lhe serviram bem o suficiente no
passado:
— Você está presa, minha linda. Preparar para o embarque.
— Negativo. — veio a resposta imediata. Masculino, brusco e era
humano, provavelmente. — Nós não reconhecemos a sua autoridade.
Essa era uma nova história.
— Quem em seu juízo perfeito investiria qualquer autoridade em
pessoas como nós?
— Você é um pirata. Você trabalha para a República.
— Agora, isso não é verdade. — Não mais, de qualquer maneira, Jet
pensou. — Somos humildes vigaristas de um grupo independente, e você
tropeçou em nosso caminho. Submeta-se facilmente, e verei se o meu
primeiro imediato sedento de sangue não tira todos vocês de vista.
— Isso não vai acontecer. Estamos em uma missão diplomática.
— Pra quem? De onde? Se eu ganhasse um crédito em cada vez que
alguém que veio com essa história, você não estaria falando comigo agora.
Houve uma longa pausa.
— Tudo bem então. Quanto vai custar pra você nos deixar ir?
Jet olhou para Shinqo, que estava dando às ordens. Os verdadeiros
empregadores de Shinqo eram os Hutts, e às vezes um suborno valia tanto
quanto o montante, depois que os cartéis tomavam o seu lugar.
O Rodiano balançou a cabeça.
— Você está sem sorte, parceiro, — disse Jet à pessoa do outro lado do
comunicador.
— Melhor ventilar essas travas de ar, espertinho. Estamos entrando e
não queremos acabar com a mercadoria mais do que precisamos.
O cruzador estelar não tinha nada a dizer sobre isso.
Shinqo latiu para um comunicador enquanto Jet colocava a subluz em
ação.
— Fekk, Gelss, preparem-se para a ação.
Os dois Sullustanos faziam parte do grupo traiçoeiro de Shinqo, e Jet
não se importaria se pagassem o preço pela pressa dos amotinados. Jet tinha
uma forte sensação de que o cruzador não iria desistir facilmente. As suas
linhas eram muito esbeltas, o seu casco era muito polido. O nome do lado a
estibordo, tinha a única Identificação que exibia, dizia CINZIA em negrito e
preto, recentemente afixado. Isso mostrou orgulho.
Não, os proprietários desta nave podem não estar acima de oferecer um
suborno para continuar no seu caminho, mas não rolariam com facilidade.
Poucos o fizeram, ultimamente. Com o Império e a República ainda na
garganta um do outro, faltando apenas uma declaração para chamar a briga
de uma guerra honesta, as pessoas estavam fazendo a lei com as suas
próprias mãos. Havia muito a perder e tão pouco a ganhar em todas as
frentes.
Lá se vai o Tratado de Coruscant. E tanto para evitar derramamento de
sangue desnecessário, pensou, ao se lembrar de Fekk e Gelss. Seja
vermelho ou verde, o sangue era tudo a mesma coisa. Quanto menos
derramar em torno dele, menor a chance de ser dele, um dia.
— O que vamos dizer aos nossos ex-chefes quando ficarmos vazios?
— Isso não é problema meu, — gabou-se Shinqo. — No flimsi, você
ainda é o capitão da Auriga Fire. É o seu trabalho inventar uma desculpa na
qual a República acreditará. Eu estarei muito longe antes disso, com os
créditos.
Verdade seja dita, então, o Rodiano planejava enganar o Jet nas duas
extremidades do acordo. Isso mudou tudo. Jet olhou para o Clunker, que
estava inocentemente em frente à entrada da cabine. Ninguém iria passar
por ele, se o empurrão chegasse. O mais importante, ninguém iria sair...
Mal a Auriga Fire diminuiu a metade da distância entre as duas naves
quando as dúvidas de Jet sobre o cruzador foram violentamente justificadas.
Uma dispersão de luzes vermelhas dançava pelos painéis de instrumentos;
uma campainha soou duramente. Jet estudou a tela por uma fração de
segundos, certificando-se absolutamente do que estava vendo, antes de
elevar cada escudo ao máximo e socar o botão do subluz ao máximo.
A Auriga Fire rodou de ponta-cabeça até o cruzador e Shinqo
cambaleou pra trás. Clunker o pegou, habilmente torcendo o blaster para
fora do alcance do Rodiano. Naquele momento, o cruzador estelar que
deveria ter sido o seu prêmio explodiu, enviando uma rajada de pura luz
branca através de todas as janelas, telas e escudos.
Jet fez mais do que apenas afastar a nave. Cobrira os olhos e agora
espiava cautelosamente por entre os dedos os instrumentos que estavam
completamente descontrolados. Quase não sobrou nada onde a Cinzia
esteve. Baques e barulhos registrados no casco enquanto os pedaços do
cruzador estelar dispararam.
Shinqo estava latindo no seu comunicador novamente, rápido na
aceitação, mas não rápido o suficiente. Quem atirou? Quem ordenou que
você disparasse?
— Ninguém, — disse Jet. — A nave se explodiu sozinha, e se eu não
tivesse pegado o pico de neutrinos das unidades antes de partirem, teríamos
sido torrados também.
Shinqo o rodeou como se tivesse planejado isso o tempo todo.
— Eu deveria atirar em você aqui.
— Com o que, parceiro? — Jet assentiu para o Clunker, que apontou o
próprio blaster do Rodiano em seu peito. Jet apreciava a confusão nua no
rosto de couro verde do seu parceiro. — Vamos começar de novo, sim?
Trabalhamos para os Hutts agora. Compreendo isso. Um Mestre é tão bom
quanto qualquer outro, desde que o corte seja o mesmo. Mas todos nós
temos partes iguais nesse golpe, certo? Ou digo à tripulação, que está
arruinando a luta que acabaram de perder. Eles não ficarão felizes por você
estar prestes a roubar alguns deles. E digo ao Clunker aqui, que precisa
muito de outro banho de óleo, para apertar mais o gatilho e enviar você
atrás da tripulação daquela nave, qualquer que seja a parte sombria da
criação que eles habitam agora. Sacou?
A aceitação substituiu a ansiedade no rosto de Shinqo. As mãos dele
subiram.
— Aqui, agora, capitão, houve algum tipo de mal-entendido.
— Talvez você queira esclarecer, então.
— Claro, claro. Você receberá a sua parte. Todos nós iremos. Eu nunca
pretendi o contrário.
— E a República?
— Nós vamos dar um jeito neles... tipo, juntos. Não seria justo deixar
tudo com você.
— Fico aliviado ao ouvir isso, garoto. — Jet assentiu para o Clunker,
que virou o blaster e o devolveu ao dono. — Enquanto eu for o capitão
desta nave, como está escrito no flimsiplast, couro de Barabel, ou qualquer
outra coisa, espero um certo grau de civilidade e propósito em comum.
Enquanto eu tiver isso, todos vamos nos dar bem.
Virou-se para encarar os instrumentos, confiante de que Clunker
impediria que algo desagradável acontecesse atrás dele. E também
confiante de que o Rodiano era inteligente o suficiente para reconhecer um
compromisso quando via um. Jet não se importava com quem o pagava,
assim como os Hutts não se importavam com quem lhes entregava o seu
tesouro, contanto que fosse o deles. Tudo acaba por se resolver, para
aqueles que conseguirem sobreviver.
— Vamos ver o que resta do nosso amigo lamentável lá fora...
O campo de detritos estava se expandindo rapidamente. Os sensores
rastrearam os maiores pedaços, muitos dos quais eram do tamanho de um
humano ou até maiores. Isso o surpreendeu. Uma explosão de acionamento
geralmente deixava apenas detritos e poeira.
— Parece parte da seção da frente, — disse Shinqo, inclinando-se sobre
Jet para apontar para uma tela.
— Não há sinais de vida.
— Não há testemunhas, — disse o Rodiano com satisfação.
— Normalmente, esse é o nosso trabalho, — disse Jet, embora ele nunca
tenha matado uma única pessoa que roubou em todos os seus anos de
pirataria, não depois que ele as roubou. Quebrou alguns corações, com
certeza, e quebrou algumas cabeças, mas nada pior. — Não pense que eles
estavam fazendo isso por nós.
— Por que eles fizeram isso, então?
Jet encolheu os ombros.
— Essa é a questão do bilhão de créditos.
Shinqo esfregou o queixo, fazendo um som seco e áspero com as pontas
dos dedos. Agora que a situação entre eles estava resolvida, ele voltou a ser
um parceiro adequado. Ele tinha uma boa aparência, quando a ganância não
atrapalhava, caso contrário, Jet nunca o aceitaria.
— Eles tinham algo a bordo, algo que não queriam que pegássemos.
— Algo vale mais do que as próprias vidas? — Jet se virou para
encontrar os olhos cortados de Shinqo. — Isso parece muito valioso para
mim.
— Mesmo que em pedaços, talvez.
— Exatamente o que eu estava pensando. — Jet indicou o assento do
copiloto. — Prenda-se e assuma o controle do raio trator. Vamos ver o que
podemos encontrar.
A Auriga Fire surgiu e começou a vasculhar os restos da nave cuja a
jornada eles haviam interceptado. Um sentimento de turbulência incomodou
ao Jet Nebula ao fazê-lo. Parecia culpa, e ele disse a si mesmo para não
ceder. Ele não havia matado a tripulação da Cinzia. Eles puxaram o gatilho
sozinhos. Foi apenas azar que o caminho deles tivesse cruzado ao dele e a
sua boa sorte de estar respirando depois. Se a sua sorte continuasse, ainda
poderia lucrar com essa rota no espaço profundo e, finalmente, poderia
contratar um tipo de escória um pouco mais respeitável e voltar ao
contrabando.
Alguns dias eram melhores que outros. Talvez este fosse um deles. Disse
a si mesmo que com toda a convicção que podia reunir, o que era suficiente
para um homem em seu ofício.
O que poderia dar errado?
SHIGAR KONSHI seguiu o som dos tiros dos blasters pelos
antigos bairros de Coruscant. Nunca tropeçou, nunca escorregou, nunca se
perdeu, mesmo através de ruas estreitas e lotadas com anos de detritos que
se instalaram lentamente nos níveis acima. Cabos e placas balançavam no
alto, pendendo tão baixo em lugares que Shigar foi forçado a se esconder
embaixo deles. Alto e esbelto, com uma divisa azul em cada bochecha, o
aprendiz Jedi se movia com graça e certeza surpreendente em seus dezoito
anos.
No âmago do seu ser, no entanto, ele fervia. A decisão do Mestre Nikil
Nobil não o tinha atingido tão profundo por ter sido entregue por holograma
do outro lado da galáxia.
— O Alto Conselho considera Shigar Konshi despreparado para os
testes Jedi.
A decisão o chocou, mas Shigar sabia que não devia falar. A última
coisa que queria era transmitir a vergonha e o ressentimento que sentia
diante do Conselho.
— Diga a ele por quê, — disse a Grã Mestra Satele Shan, de pé ao seu
lado com as mãos cruzadas firmemente diante dela. Ela era uma cabeça
mais baixa que Shigar, mas irradiava um senso indomável de si. Mesmo via
holoprojetor, ela fez Mestre Nobil, um imenso Thisspiasiano com barba
cerimonial completa, se mover seu rabo desconfortavelmente em seu lugar.
— Nós, isto é, o Conselho, consideramos o treinamento do seu Padawan
incompleto.
Shigar corou.
— De que maneira, Mestre Nobil?
O seu Mestre o silenciou com uma cutucada telepática gentil, mas
irresistível.
— Ele está perto de atingir o domínio total, — Assegurou ela ao
Conselho. — Estou certo de que isso é só uma questão de tempo para
acontecer.
— Um Cavaleiro Jedi é um Cavaleiro Jedi em todos os aspectos, —
disse o Mestre distante. — Não há exceções, nem mesmo para você.
A Mestra Satele assentiu com a cabeça, aceitando a decisão. Shigar
mordeu a língua. Ela disse que acreditava nele, então por que não anulou a
decisão? Ela não teve que se submeter ao Conselho. Se não fosse o seu
Padawan, ela teria falado por ele então?
Os seus sentimentos inquietos não estavam tão ocultos quanto gostaria.
— A sua falta de autocontrole se revela de várias maneiras, — disse-lhe
Mestre Nobil em um tom severo. — Dados os seus comentários recentes a
Senadora Vuub sobre as políticas do Conselho de Gestão de Recursos.
Todos podemos concordar que o tratamento da República pela crise atual é
menos do que perfeito, mas qualquer coisa que não seja de extrema
disciplina política é imperdoável neste momento. Você entende?
Shigar inclinou a cabeça. Deveria saber que a Neimoidiana escorregadia
estava por trás de mais do que só a sua opinião quando se aproximou dele e
o reconheceu com elogios. Quando o Império invadiu Coruscant, só
devolveu o mundo à República em troca de um grande número de
concessões territoriais em outros lugares. Desde então, as linhas de
suprimentos estavam tensas. Que Shigar estava certo, e a CGR era uma
bagunça irremediavelmente corrupta, colocando a vida de bilhões em risco
de algo muito pior que a guerra... fome, doença, desilusão... simplesmente
não contava em alguns círculos.
O rosto proibitivo do Mestre Nobil se suavizou.
— Você está naturalmente desapontado. Compreendo. Saiba que a Grã
Mestra falou muito a seu favor por um longo tempo. Em todos os aspectos,
exceto este, adiamos o julgamento dela. Ela não pode influenciar a nossa
decisão tomada, mas chamou a nossa atenção. Estaremos acompanhando o
seu progresso de perto, com grandes expectativas.
A holoconferência havia terminado ali, e Shigar sentiu o mesmo vazio
conflituoso nas profundezas de Coruscant como antes. Despreparado?
Grandes expectativas? O Conselho estava jogando um jogo com ele, ou
pelo menos é o que parecia, batendo nele pra trás e pra frente como um
felinx em uma gaiola. Ele alguma vez estaria livre para seguir o seu próprio
caminho?
Mestra Satele compreendeu os seus sentimentos melhor do que ele.
— Vá dar um passeio, — ela disse, colocando uma mão em cada ombro
e fixando o olhar por tempo suficiente para garantir que ele entendesse as
suas intenções. Ela estava lhe dando a oportunidade de se acalmar, sem
dispensá-lo.
— Eu preciso falar com o Comandante Supremo Stantorrs de qualquer
maneira. Vamos nos encontrar mais tarde na União dos Claustros.
— Sim Mestra.
E então estava andando e estufando. Em algum lugar dentro dele, sabia,
que tinha que ter a força para superar esse revés temporário, a disciplina
para trazer os últimos fios do seu talento para um delineamento unificado.
Mas nessa ocasião, os seus instintos o estavam afastando da serenidade, não
em direção a ela.
O som do tiro de blaster ficou mais alto à sua frente.
Shigar parou em um beco que fedia como os restos de um woodoo. Uma
luz oscilante se acendeu e apagou no nível acima, lançando lixo e o
apodrecer era um alívio indesejado. Um droide antigo observava com olhos
vermelhos piscando de um nicho imundo, dedos enferrujados reunindo fios
protetores e servos motores de volta ao seu peito aberto. A guerra fria com
o Império estava sendo conduzida para longe deste beco e do seu infeliz
morador, mas os seus efeitos eram sentidos profundamente. Se quisesse
ficar zangado com o estado da República, não poderia ter escolhido um
lugar melhor pra isso.
O tiroteio se intensificou. A sua mão agarrou forte o seu sabre de luz.
Não há emoção, ele disse a si mesmo. Só existe paz.
Mas como poderia haver paz sem justiça? O que o Conselho Jedi,
sentado confortavelmente em seu novo templo em Tython, sabia disso?
O som dos gritos o tirou do seu transe contemplativo. Entre uma batida
do coração e a seguinte, ele se foi, e o fogo esmeralda do seu sabre de luz
permaneceu um instante atrás dele, brilhante na escuridão.
LARIN MOXLA parou para apertar a correia da barriga em sua armadura. A
coisa miserável continuava solta, e não queria se arriscar. Até os justicars
chegarem lá, ela era a única coisa entre os gângsteres do Sol Negro e os
moradores relativamente inocentes de Ninho do Roedor. Parecia que a
metade já havia sido feita em pedaços.
Satisfeita que nada vulnerável foi exposto, espiou pra fora da cobertura e
ergueu o rifle snub modificado. Era ilegal em Coruscant, exceto pelos
comandos de elite das forças especiais, apresentava uma poderosa visão de
atirador, a qual treinou no esconderijo do Sol Negro. A entrada principal
estava deserta e não havia sinal do guarda no telhado. Isso era inesperado.
Ainda assim, o tiro veio de dentro do edifício fortificado. Poderia ser uma
armadilha de algum tipo?
Desejando, como sempre, ter apoio, abaixou o rifle e ergueu a cabeça
com capacete à plena vista. Ninguém atirou nela. Ninguém sequer a notou.
As únicas pessoas que podia ver eram moradores correndo para se esconder.
Mas, pelo tumulto vindo de dentro, a rua poderia estar completamente
deserta.
Com ou sem armadilha, decidiu se aproximar. Chocalhando um pouco e
ignorando os lugares onde a sua armadura de segunda mão irritava, Larin se
abaixou e foi rápido de capa em capa até que estivesse a poucos metros da
entrada da frente. Os tiros das armas estavam ensurdecedor agora e gritos
vieram com ele. Tentou identificar as armas. Pistolas e espingardas blaster
de várias marcas diferentes; pelo menos um canhão montado no chão; duas
ou três vibro serras; e abaixo de tudo isso, um som diferente. Um rugido,
como gases superaquecidos jorrando violentamente através de um bocal.
Um lança-chamas.
Nunca tinha ouvido falar um gangue tinha usado fogo. O risco de um
incêndio se espalhar por toda parte era muito alto. Somente alguém de fora
usaria uma arma assim. Apenas alguém que não se importava com os danos
que deixa em seu rastro.
Algo explodiu na sala superior, enviando uma chuva de tijolos e poeira
pela rua. Larin se abaixou instintivamente, mas a parede se sustentou. Se
tivesse desmoronado, teria sido enterrada sob metros de entulho.
A sua mão esquerda queria contar, e deixou. Parecia errado de outra
forma. Se movendo... em três... dois... um...
O silêncio caiu.
Ela congelou. Era como se alguém tivesse apertado um botão. Um
minuto, nove tipos de caos se desenrolavam dentro do edifício. Agora não
havia nada.
Puxou a mão pra dentro, com a contagem regressiva esquecida. Não
estava indo a lugar nenhum até saber o que acabara de acontecer e quem
estava envolvido.
Algo entrou em colapso dentro do prédio. Larin agarrou o seu rifle com
mais força. Passos estalaram em direção à entrada. Um par de pés: isso foi
tudo.
Levantou-se à vista da entrada, colocou-se de lado para reduzir o alvo
que se fez e treinou o rifle na porta escura.
Os passos se aproximaram, sem pressa, confiantes, pesados. Muito
pesados.
No momento em que viu o movimento na porta, gritou com uma voz
firme:
— Pare aí mesmo.
Os pés de botas assumiram uma posição de pé. Caneleiras blindadas em
cinza e verde metálico.
— Avance lentamente para frete da luz.
O dono das pernas deu um passo, depois dois, revelando um
Mandaloriano tão alto que o seu capacete roçou o topo da porta.
— Já é o bastante.
— Para quê?
Larin manteve a calma diante daquela voz áspera e desumana, embora
fosse difícil. Já tinha visto Mandalorianos em ação antes, e sabia como
estava terrivelmente equipada para lidar com um agora.
— Para você me dizer o que estava fazendo lá dentro.
A cabeça abobadada se inclinou ligeiramente.
— Eu estava procurando informações.
— Então você é um caçador de recompensas?
— Importa o que eu sou?
— Importa quando você está atrapalhando o meu povo.
— Você não parece um membro do sindicato do Sol Negro.
— Eu nunca disse que era.
— Você também não disse que não é. — A figura maciça mudou um
pouco, encontrando um novo equilíbrio. — Estou buscando informações
sobre uma mulher chamada Lema Xandret.
— Nunca ouvi falar dela.
— Você tem certeza disso?
— Eu pensei que era a única a fazer perguntas aqui.
— Você pensou errado.
O Mandaloriano levantou um braço para apontar pra ela. Uma escotilha
em sua manga se abriu, revelando o lança-chamas que ouvira em ação mais
cedo. Firmou o controle e tentou desesperadamente se lembrar onde
estavam os pontos fracos da armadura Mandaloriana, se havia algum...
— Não, — disse uma voz dominante à sua esquerda.
Larin olhou automaticamente e viu um jovem de roupão em pé com uma
mão levantada com o sinal de parada universal.
A visão dele baixou a guarda momentaneamente.
Uma chama poderosa em forma de folha rugiu pra ela. Abaixou-se, e
queimou o ar a milímetros da sua cabeça.
Soltou uma rajada que ricocheteou inofensivamente no tórax do
Mandaloriano e rolou para se esconder. Era difícil dizer o que a surpreendeu
mais: um Jedi nas profundezas de Coruscant, ou o fato dele ter as tatuagens
faciais de um nativo de Kiffu, assim como ela.
SHIGAR olhou para o confronto com um olhar. Nunca havia lutado com
um Mandaloriano antes, mas havia sido cuidadosamente instruído na arte
por seu Mestre. Eles eram perigosos, muito perigosos, e quase teve dúvidas
sobre enfrentar ele. Mesmo juntos, ele e um único soldado de aparência
maltratada dificilmente seriam suficientes.
Então a chama surgiu sobre a cabeça do soldado, e os seus instintos
assumiram. O soldado se escondeu com uma velocidade admirável. Shigar
pulou pra frente, com o sabre de luz levantado para cortar a rede que
inevitavelmente se dirigia a ele. O lamento da mochila a jato abafou o
chiado furioso da lâmina de Shigar enquanto se libertou. Antes que o
Mandaloriano chegasse a pouco mais de um metro de altitude, Shigar o
empurrou com a Força lateralmente no prédio ao lado dele, esmagando
assim saída de exaustão do jato.
Com um rosnado, o Mandaloriano pousou pesadamente nos dois pés e
disparou dois dardos em rápida sucessão, ambos voltados para o rosto de
Shigar, o qual os desviou e se aproximou, dançando levemente com seus
pés. À distância, estava em desvantagem. Os Mandalorianos eram Mestres
em armas à distância e fariam qualquer coisa para evitar o combate corpo a
corpo, exceto em um do seus infames poços de gladiadores. Se pudesse se
aproximar o suficiente para atacar, com o soldado mantendo um distraído
disfarce, poderia ter sorte...
Um foguete explodiu acima de sua cabeça, depois outro. Eles não foram
apontados para ele, mas nos níveis superiores da cidade. Os escombros
choveram sobre ele, forçando-o a proteger a cabeça. O Mandaloriano se
aproveitou dessa leve distração para mergulhar sob a sua guarda e para
segurá-lo com força na garganta. A confusão de Shigar estava completa,
mas os Mandalorianos não deveriam lutar de perto! Então estava
literalmente voando pelo ar, arremessado pela vasta força física do agressor
contra uma parede.
Caiu de pé, atordoado, mas se recuperando rapidamente, e se preparou
para outro ataque.
O Mandaloriano correu por três longos degraus à sua direita, saltando
em um-dois-três em pilhas de lixo e da lá para um telhado. Mais foguetes se
projetaram pra cima, rasgando as colunas ferrocretos de um monotrilho.
Lanças delgadas de metal entortaram e caíram na direção de Shigar e do
soldado. Somente com o maior esforço da Força que Shigar pôde convocar,
foi capaz de desviá-los para o chão ao redor deles, onde eles ficaram presos
rápido, tremendo.
— Ele está fugindo!
O grito do soldado foi seguido por outra explosão. Uma granada lançada
atrás do Mandaloriano em fuga destruiu uma grande parte do telhado à sua
frente e enviou um enorme cogumelo preto no ar. Shigar mergulhou
cautelosamente através dele, esperando uma emboscada, mas encontrou a
área limpa do outro lado. Girou em um círculo completo, banindo a fumaça
com um impulso pra fora.
O Mandaloriano se foi. Pra cima, pra baixo, de lado, não havia como
dizer em que direção ele escolhera fugir. Shigar se conectou através da
Força. O seu coração ainda martelava, mas a sua respiração era firme e
superficial. Não sentiu nada.
O soldado se tornou visível através da fumaça a poucos passos de
distância, avançando agachado. Ela se endireitou e plantou os pés afastados.
O focinho do seu rifle mirou nele, e por um momento Shigar pensou que ela
poderia realmente disparar.
— Eu o perdi, — disse ele, infelizmente reconhecendo fracasso deles.
— Não culpa é sua, — disse ela, abaixando o rifle. — Nós fizemos o
nosso melhor.
— De onde ele veio? — Ele perguntou.
— Eu pensei que era só a briga habitual do Sol Negro, — disse ela,
indicando o prédio destruído. — Então ele saiu.
— Por que ele te atacou?
— Sei lá. Talvez ele pensou que eu era um justicar.
— Você não é uma?
— Não. Eu não gosto dos métodos deles. E eles estarão aqui em breve,
então você deve sair daqui antes que decidam que você é responsável por
tudo isso.
Esse foi um bom conselho, reconheceu pra si mesmo. A milícia
sanguinária que controlava os níveis era uma força da lei, que não aceitava
gentilmente incursões em seu território.
— Vamos ver o que aconteceu aqui, primeiro, — disse ele, movendo-se
em direção à porta enegrecida pela fumaça com o sabre de luz preparado.
— Por quê? O problema não é seu.
Shigar não respondeu a isso. O que quer que estivesse acontecendo aqui,
nenhum deles poderia simplesmente se afastar. Sentiu que ela ficaria
aliviada por não estar entrando sozinha no prédio.
Juntos, eles exploraram as ruínas fumegantes e destruídas. Armas e
corpos jaziam um ao lado do outro em proporções iguais. Claramente, os
habitantes haviam pegado em armas contra o intruso e, por sua vez, todos
eles haviam morrido. Isso era horrível, mas não era surpreendente. Os
Mandalorianos não desaprovam as armas ilegais em si, mas não aceitavam
bem levar um tiro delas.
No andar superior, Shigar parou, sentindo algo vivendo entre a
carnificina. Levantou a mão, alertando a soldado para prosseguir mais
devagar, caso alguém pensasse que eles estavam vindo para terminar o
trabalho. Ela deslizou suavemente à frente dele, indiferente ao perigo e com
a arma pronta. Seguiu-a silenciosamente, sentindo os formigamentos.
Eles encontraram um único sobrevivente amontoado atrás de um caixote
quebrado, um Nautolano com muitas queimaduras de blaster de um lado e
um dardo no pescoço, deitado em uma poça do seu próprio sangue. O
sangue estava se espalhando rapidamente. Ele olhou pra cima enquanto
Shigar se inclinava sobre ele para verificar os seus ferimentos. O que Shigar
não podia fazer torniquete, ele poderia cauterizar, mas teria que se mover
rápido para ter alguma chance.
— Dao Stryver. — A voz do Nautolano era um rosnado gutural, não
ajudado pelo dano em sua garganta. — Veio do nada.
— O Mandaloriano? — Disse a soldado. — É disso que você está
falando?
O Nautolano assentiu.
— Dao Stryver. Queria o que tínhamos. Não daria a ele.
A soldado tirou o capacete. Ela era surpreendentemente jovem, com
cabelo escuro e curto, uma mandíbula forte e olhos tão verdes quanto o
sabre de luz de Shigar. O mais surpreendente eram as distintas marcas
negras do Clã Moxla tatuadas em suas bochechas sujas.
— O que você tinha, exatamente? — Ela apertou o Nautolano.
Os olhos do Nautolano rolaram em sua cabeça.
— Cinzia, — ele tossiu, pulverizando sangue escuro na frente de sua
armadura. — Cinzia.
— E isso é...? — Ela perguntou, inclinando-se para perto enquanto a
respiração dele falhou. — Espera, a ajuda está chegando, só espera!
Shigar se recostou. Não havia nada que pudesse fazer, não sem um kit
médico adequado. O Nautolano deu último suspiro.
— Sinto muito, — disse ele.
— Você não tem motivo para sentir, — disse ela, olhando para as mãos.
— Ele era um membro do Sol Negro, provavelmente um assassino.
— Não quer dizer que ele seja mal? A falta de comida poderia ter feito
isso, ou de remédio para a sua família, ou milhares de outras coisas.
— Más escolhas não fazem pessoas más. Certo. Mas o que mais temos
que seguir aqui em baixo? Às vezes você precisa se posicionar, mesmo que
não saiba mais quem são os bandidos.
Um olhar desesperadamente fatigado cruzou o seu rosto, então, e Shigar
pensou que a entendia um pouco melhor. A justiça era importante, assim
como as pessoas a defendiam, mesmo que isso significasse lutar sozinho às
vezes.
— Meu nome é Shigar, — disse ele em uma voz calma.
— Prazer em conhecê-lo, Shigar, — disse ela, se iluminando. — E
obrigada. Você provavelmente salvou a minha vida lá atrás.
— Não posso aceitar nenhum crédito por isso. Tenho certeza que ele não
considerou nenhum de nós dois como adversários dignos.
— Ou talvez tenha descoberto que não sabíamos nada sobre o que estava
procurando no esconderijo. Lema Xandret: esse foi o nome que deu pra
mim. Já ouviu falar dela?
— Não. Nem de Cinzia.
Ela se levantou em um movimento e colocou o rifle nas costas.
— Sou Larin, a propósito.
O aperto dela era surpreendentemente forte.
— Os nossos clãs foram inimigos uma vez, — disse Shigar.
— História antiga é o menor dos nossos problemas. É melhor sairmos
antes que os justicars cheguem aqui.
Olhou em volta, para o Nautolano, para os outros corpos e pro prédio
destruído. Dao Stryver. Lema Xandret. Cinzia.
— Vou falar com a minha Mestra, — disse ele. — Ela deveria saber que
há um Mandaloriano causando problemas em Coruscant.
— Tudo bem, — disse ela, erguendo o capacete. — Indique o caminho.
— Você vem comigo?
— Nunca confie em um Konshi. Era o que minha mãe sempre dizia. E
se vamos parar uma guerra entre Dao Stryver e o Sol Negro, temos que
fazer o que é certo. Certo?
Ele mal a viu sorrir antes de desaparecer por trás do capacete.
— Certo, — ele disse.
ELDON AX venceu as suas feridas até Dromund Kaas.
O dano ao seu corpo foi tratado com mais facilidade. Muitos dos cortes e
arranhões que deixou para cicatrizar naturalmente, acreditando que o seu
Mestre havia lhe ensinado que uma lição rapidamente esquecida é uma
lição pouco aprendida. O resto, tratou com a ajuda do kit médico na cabine
do seu interceptor, evitando analgésicos e anestésicos completamente. Não
era a dor que a preocupava. Isso era bom pra ela também.
O dano causado à sua confiança levaria muito mais tempo para curar,
sem mencionar as suas perspectivas de progresso. Darth Chratis cuidaria
disso. Não importava que o seu registro em missões solo tivesse sido
perfeito até então. Não importava o quanto havia sido premiada pela
Academia Sith. Tudo o que importava era o sucesso.
O interceptor voltou ao espaço real e a capital de face sombria do
Império, a Cidade de Kaas, apareceu à primeira vista.
— Eu vou te matar, Dao Stryver, — jurou Eldon Ax, — Ou morrer
tentando.
A REUNIÃO foi tão mal quanto temia.
— Conte-me sobre a sua missão, — instruiu o Mestre em tons cortados
de sua câmara de meditação. Ax havia sido admitida em sua presença antes
que os seus rituais matinais estivessem completos, e sabia muito bem como
isso o incomodava.
Fez uma reverência e fez o que foi instruída. O seu Mestre distribuiu
ordens com um desejo inflexível de testar a sua vontade de obedecer. Sabia
que não devia desafiá-lo completamente, mesmo enquanto estava fazendo o
possível para manter o seu fracasso longe dele.
Foi durante a sua missão que a Mandaloriana a encontrou. E foi nesse
encontro que ela fez o possível para esconder do seu Mestre, na medida do
possível.
— Conte-me mais, — disse Darth Chratis, saindo lentamente do seu
sarcófago. Para se concentrar com mais eficiência, ele ocupava pelo menos
uma hora por dia em uma concha semelhante a um caixão que não permitia
luz ou ar, forçando-o a confiar apenas em suas próprias energias para
sobreviver. — Você não explicou o suficientemente as razões do seu
fracasso.
Não conseguia ler o humor dele. O seu rosto era uma bagunça de rugas e
fissuras profundas, das quais dois olhos vermelho sangue espiavam o
mundo. Os seus lábios finos como uma faca estavam torcidos em um
sorriso perpétuo. Ocasionalmente, tinha uma língua tão pálida que era quase
transparente parecia provar o ar.
— Eu não vou mentir pra você, Mestre, — disse ela, ajoelhando-se
diante dele. — Ao me infiltrar em uma célula inimiga, a minha identidade
foi revelada e fui forçada a me defender.
— Revelada? — Os lábios sem sangue se contraíram. — Eu não sinto o
fedor da sujeira dos Jedi em você.
— Não, Mestre. Fui exposta por outra pessoa, alguém cujo povo já foi
aliado em nossa guerra contra a República.
Essa era a aposta que havia decidido, de devolver a culpa pelo incidente
à pessoa que o havia causado.
— Então. — Darth Chratis se libertou dos limites do seu sarcófago. As
solas dos pés dele pareciam folhas secas sendo esmagadas. — Um
Mandaloriano.
— Sim Mestre.
— Você lutou com ele?
— Sim Mestre.
— E ele derrotou você.
Isso não era uma pergunta, mas exigia uma resposta.
— Isso é verdade, Mestre.
— No entanto, você ainda está aqui. Qual é o por que disso?
Darth Chratis estava diretamente diante dela agora. Uma garra murcha
estendeu a mão para tocar o seu queixo. As unhas dele eram como cristais
antigos, frios e afiados contra a pele dela. Ele cheirava a morte.
Olhou para o rosto proibitivo e não viu nada além da implacável
demanda pela verdade.
— Ele não veio lutar comigo, — disse ela. — Acredito nisso, embora
não faça sentido. Ele me solicitou nominalmente. Ele sabia o que eu sou.
Ele me fez perguntas para as quais eu não sabia responder.
— Ele a interrogou? — Isso fez uma careta. — O Imperador ficará
descontente se você revelar algum do seus segredos.
— Eu prefiro ter uma morte prolongada em suas mãos, Mestre. — A
resposta dela foi totalmente sincera. Tinha sido uma Sith em treinamento
toda a sua vida. O Império fazia parte dela como o seu sabre de luz. Não o
trairia para um bando de mercenários orgulhosos que trabalhavam com o
Império quando lhes convinha.
Mas como transmitir a verdade disso ao seu Mestre quando foi aqui,
neste ponto crítico, que a sua história se desfez?
— Ele não me perguntou nada sobre o Império, — Ax disse ao Mestre,
lembrando a cena com uma clareza desgastante. O seu agressor a desarmou
e a prendeu com uma rede resistente a todos os seus esforços para escapar.
Um dardo a paralisou, deixando apenas a capacidade de falar.
— Ele não me torturou. Fui ferida apenas em legítima defesa.
Ela estendeu os braços para mostrar a Darth Chratis os ferimentos que
sofrera.
Ele os considerou sem sinal de aprovação.
— Você está mentindo, — disse ele com desprezo pronto. — Você
espera que eu acredite que um Mandaloriano caçou uma aprendiz de Sith, a
interrogou, nada lhe perguntou sobre o Império e depois a deixou viva?
— Se eu estivesse mentindo, Mestre, certamente faria isso de maneira
mais plausível.
— Então você ficou perturbada. De que outra forma posso explicar isso?
Ax abaixou a cabeça. Não havia mais nada que pudesse dizer.
Darth Chratis andava pelo nártex angular em que ele conduziu suas
audiências. Nas paredes à sua volta, haviam relíquias de suas muitas
vitórias, incluindo relíquias de sabre de luz cortadas e relíquias Jedi
despedaçadas. Ausentes estavam as homenagens aos seus muitos inimigos
Sith. Embora Darth Chratis não tivesse conquistado o medo e o respeito do
seus pares simplesmente superando-os, ele não se vangloriava daqueles que
havia retirado à força do caminho. A sua reputação era suficiente.
Só um em cada três aprendizes que serviam sob ele sobreviveu ao
treinamento. Eldon Ax se perguntou sem fôlego se chegara a hora dela se
juntar àqueles que haviam falhado. A sua vida tinha sido muito curta... com
apenas dezessete anos!., mas ela não levantaria a mão para se defender, se o
seu Mestre escolhesse terminar agora. Não haveria sentido. Ele poderia
derrubá-la tão facilmente quanto golpear uma mosca.
Darth Chratis parou, virou-se para encará-la novamente.
— Se este o seu Mandaloriano não perguntou sobre os planos do
Imperador, o que ele perguntou?
Na época, as perguntas a intrigaram. Elas ainda a intrigavam agora.
— Ele estava procurando por uma mulher, — disse ela. Ele mencionou
uma nave. Os nomes não significaram nada pra mim.
— Que nomes exatamente?
— Lema Xandret. A Cinzia.
De repente, o seu Mestre estava de pé sobre ela novamente. Ofegou. Ele
não fez nenhum som. O aperto frio e forte da Força estava de volta em sua
garganta, puxando-a irresistivelmente na posição vertical até que ela estava
na ponta dos pés.
— Diga esses nomes novamente, — ele assobiou.
Ela não conseguiu desviar o olhar do dele.
— L-Lema Xandret. A Cinzia. Você sabe o que eles significam, Mestre?
Ele a soltou e se virou. Com dois gestos rápidos, a ruína do seu corpo foi
envolvida da cabeça aos pés em uma capa longa e sinuosa, tão escura
quanto a sua alma, e a sua mão direita agarrou um bastão longo e
pontiagudo.
— Chega de perguntas, — disse ele. — Venha.
Com passos largos, ele saiu da sala.
Eldon Ax respirou fundo e estremeceu e correu na esteira do seu Mestre.
A CLASSIFICAÇÃO E ARMAZENAMENTO dos dados Imperiais era uma
indústria em crescimento em Dromund Kaas, embora mantivesse
cuidadosamente escondida da vista. Várias torres do céu invertidas
perfuravam profundamente o solo fértil da selva, sepultando séculos de
registros redundantes e multiplicados por dezenas de milhares de escravos.
Extensos compostos se espalham pelas entradas, mantendo a maior
segurança possível. Para um desses compostos, Darth Chratis levou Eldon
Ax.
Ele não ofereceu uma palavra de explicação durante o longo voo da
Cidade de Kaas, e suportou o silêncio dele com algo como alívio. Pelo
menos ele não a estava repreendendo. A sua missão se tornou um fracasso
completo. Teve que praticamente abrir caminho para o espaçoporto e fora
do planeta, mas não antes de fazer uma pesquisa nos registros de pouso nos
últimos dias. Lá, encontrou uma referência ao Mandaloriano. Ele teve a
ousadia de viajar sob o que parecia ser o seu nome verdadeiro: Dao Stryver.
Mais uma vez, renovou a promessa de vê-lo humilhado como estivera,
não importando quanto tempo levasse. Talvez a morte fosse boa demais pra
ele. Mais rápida, pelo menos.
Darth Chratis comandava uma câmara privada de acesso a dados, setenta
andares abaixo da superfície do mundo, uma que era equipada com um
holoprojetor gigante, e ordenou que os dois não fossem interrompidos. Ax
seguiu obedientemente atrás dele, cada vez mais confusa. Nem uma vez em
seus anos de treinamento ele demonstrou interesse nesse aspecto do
domínio Imperial. Guarda-livros interestelar era o seu termo depreciativo
para aqueles que preferiam o serviço nas minas de dados a uma busca mais
direta pelo poder. Foi se sentar no lugar do requisitante de dados, mas ele
acenou para ela ir para o lado.
— Fique aí, — disse ele, apontando para uma posição diretamente na
frente da tela e se sentando.
Com movimentos rápidos e angulares, ele começou a inserir os pedidos.
Isso, tanto quanto qualquer coisa, a convenceu de que os eventos estavam
realmente tomando um rumo muito estranho.
Menus e diagramas vieram e foram na tela gigante. Ax achou difícil
seguir, mas ela sentiu que o seu Mestre a estava conduzindo através da
vasta e complicada estrutura que era registros Imperiais para um local em
particular.
— Este, — disse ele, tocando no teclado com finalidade, — é o banco de
dados de recrutamento.
Uma longa lista de nomes apareceu na tela, rolando rápido demais para
ler.
— Todas as pessoas que entram na Academia Sith estão listadas aqui, —
continuou ele.
— Os seus nomes, origens, linhagens, e os seus destinos também,
quando aplicável. O Conselho Sombrio usa esses dados para organizar as
partidas e antecipar o potencial da prole. A sorte das numerosas famílias se
baseia na natureza desses dados. Portanto, está protegido, Ax. É muito
seguro.
Indicou a sua compreensão, até agora.
— Estou aí, — disse ela.
— De fato, você está, e eu também. Veja o que acontece quando eu
introduzo Lema Xandret.
Uma nova janela apareceu, mostrando o rosto de uma mulher. Olhos
redondos, loiros e afiados. Isso não significava nada para Ax. O espaço
abaixo da imagem estava cheio de palavras destacadas em vermelho
urgente. No final de uma longa lista de entradas, havia duas linhas em
negrito:

Extinção ordenada.
Arquivo incompleto: alvo evadiu-se.

Ax franziu o cenho.
— Então... ela era uma traidora? Uma espiã da República?
— Pior que isso. Mantemos menos registros sobre os Jedi do que de
pessoas como essa. Darth Chratis girou no banco para encará-la.
— Diga-me, minha aprendiz, o que acontece quando um Sith é
recrutado.
— A criança é removida de sua família e colocada na Academia. Lá, a
sua vida começa de novo, a serviço do Imperador e do Conselho Sombrio,
como a minha.
— Exatamente. É uma grande honra para a família quando uma criança
é selecionada, principalmente se a linhagem deles não tiver sido tão
honrada antes. A maioria dos pais está satisfeita, como deveria estar.
— E aqueles que não são são executados, — disse ela. — Lema Xandret
era um deles?
Um sorriso cadavérico animava brevemente a paisagem murcha do rosto
de Darth Chratis.
— Exatamente. Ela era algo não digno de nota, uma fabricante de
droides, eu acho. Sim é exatamente isso. De uma longa linhagem de
fabricantes de droides, sem nenhum vestígio de sensibilidade à força.
Produziu uma criança com potencial para ser uma Sith, e a criança teve que
partir.
O Mestre de Ax não mostrava se divertir com frequência. Isso a
perturbou mais do que a raiva dele.
— O arquivo diz 'alvo evadiu-se', — disse ela.
— Primeiro, ela tentou esconder a criança, uma florzinha tardia, a qual
temia que não sobrevivesse ao treinamento em Korriban. Quando isso
falhou e a criança foi levada de qualquer maneira, ela fuigiu com o resto da
família da criança, tios, tias, primos, qualquer pessoa em risco de
represálias, e nunca mais se ouviu falar deles.
— Até agora.
— Da boca de um Mandaloriano, — disse Darth Chratis, — aos seus
ouvidos.
— Por que eu? — Ela disse, sentindo que o seu Mestre a estava
estudando de perto. — Porque a minha família tentou me esconder
também?
— Possivelmente.
— O que eu era antes de conhecer você não é importante, — ela
assegurou. — Não tenho problemas com o destino da minha família.
— De fato. Eu te treinei bem. — Deu mais uma vez aquele sorriso
desidratado. — Talvez muito bem. — Ele se inclinou para mais perto.
— Olhe aqui, Ax. Nos meus olhos.
Ela fez isso, e o horror vermelho do seu olhar a encheu.
— O bloco é forte, — disse ele, e era como se as palavras viessem de
dentro de sua cabeça. — Está entre você e a verdade. Eu a libero. Eu liberto
você, Ax. Você é livre para saber a verdade sobre o seu passado.
Ela cambaleou pra trás como se tivesse sido atingida, mas nenhuma
força física a havia tocado. Uma detonação silenciosa explodiu em sua
mente, uma carga profundamente abaixo do seu eu consciente. Algo se
mexeu lá. Algo estranho e insuspeito.
Ax olhou para a foto no holoprojetor.
Lema Xandret olhou pra ela com os olhos vazios.
— Ela era sua mãe, Ax, — disse o seu Mestre. — Isso responde à sua
pergunta?
Entorpecida, Ax supôs que sim. Mas, ao mesmo tempo, isso
representava muito mais.
DARTH CHRATIS usou o holoprojetor da câmara para conduzir uma
audiência segura com o Ministro da Inteligência. Ax nunca havia conhecido
o ministro antes, nem o via em nenhum tipo de comunicador, mas a imensa
confiança que o seu Mestre demonstrava ao permitir que permanecesse na
sala estava completamente perdida pra ela. A sua cabeça ainda ecoava pela
libertação do condicionamento do seu Mestre. Não por causa do que
revelou, mas por causa da pouca diferença que isso fez pra ela.
A falta de sensibilidade da Força de sua família era a única coisa que
tinha certeza sobre a sua vida antes de se tornar uma Sith. Assumiu que a
sua família havia sido morta, mas isso nunca a incomodou. Certamente
nunca se preocupou com isso, e isso não a teria incomodado agora, exceto
por uma coisa.
O bloco foi removido. As memórias deveriam ter voltado à tona sobre
Lema Xandret e o seu início de vida.
Mas não havia nada. Com bloco ou sem, não havia mais nada. Lema
Xandret permaneceu uma completa estranha.
Com um pouco de atenção, observou à conversa que o seu Mestre estava
tendo com o ministro.
— Foi por isso que os Mandalorianos procuraram interrogar a garota.
Ela é uma pista em potencial.
— Uma pista para Xandret?
— A que outra conclusão podemos chegar? Ela deve estar viva, no
mesmo buraco que fugiu para escapar da execução, presumo.
— O que os Mandalorianos queriam com ela?
— Eu não sei, e o fato de não sabermos torna vital que a encontremos
primeiro.
— Por uma questão de princípio, Darth Chratis, ou de segurança
Imperial?
— Os dois são muitas vezes inseparáveis, Ministro, acho que você
encontrará.
O homem na tela parecia desconfortável. Era o posto mais alto que
qualquer pessoa mundana poderia atingir no braço de inteligência do
Império, mas, para um Lorde Sith, ele era considerado fundamentalmente
inferior. Pouco disposto, ele poderia reconhecer que uma única fabricante
de droides desaparecida merecia a sua atenção, mesmo alguém que tentava
esconder dos Sith uma criança sensível à Força, mas desobedecer era
inconcebível.
Então, um pensamento o atingiu, e o olhar conflituoso em seu rosto
diminuiu.
— Eu me pergunto, — ele meditou, batendo no queixo com um dedo
longo. — Ontem, chegou um relatório de nosso informante no Senado da
República. Os Hutts afirmam ter colocado as mãos em algo valioso e acham
que o Senado gostaria de fazer uma oferta. Contra nós. Pesquisei os
despachos diplomáticos e soube que recebemos exatamente a mesma oferta,
mas expressos em termos opostos, é claro. Normalmente, eu descartaria
essa abordagem como indigna de atenção, mas o fato dela ter vindo de duas
fontes amplamente diferentes dá-lhe alguma credibilidade. E agora isso.
— Eu não consigo ver como os Hutts estão conectados. Eles são
mentirosos compulsivos.
— Sem dúvida. Mas como você vê, Darth Chratis, é aqui que fica
interessante. A nave da qual os Hutts afirmam ter recuperado esses dados
misteriosos, ah, artefatos, dados, o que você tem... essa nave é chamada de
Cinzia. E noto no arquivo que você acessou que este é o nome de
nascimento da garota.
Darth Chratis assentiu.
— Deve haver uma conexão.
— Que a nave recebeu o nome da filha de Lema Xandret e um
Mandaloriano está perguntando pelas duas? Acho que sim.
— Mas isso nos ajuda muito pouco sem saber o que os Hutts estão
leiloando.
Isso tirou um pouco do triunfo da expressão do Ministro.
— Vou buscar essas informações imediatamente, Darth Chratis.
— Eu confio em você, ministro, por uma questão de princípios.
A audiência à longa distância terminou com uma chuva de estática.
Eldon Ax levou quase um minuto para perceber. Frases desconectadas
enchiam a sua cabeça como pássaros, procurando um lugar para se
esconder.
... uma potencial líder...
... Nomeada após a filha de Lema Xandret...
... o nome de nascimento da garota...
Só então lhe ocorreu que o nome que pensava ser dela não passava de
uma versão das iniciais de sua mãe.
O que você tem feito nesses últimos quinze anos, mãe?
— Diga-me o que você lembra, Ax.
— Eu não quero lembrar, Mestre.
— Por que não?
— Porque não tem nada a ver com quem eu sou agora. E daí se Lema
Xandret fosse minha mãe? Se eu a conhecesse amanhã, provavelmente não
a reconheceria. Eu nunca a conheci, nunca precisei dela.
— Bem, você precisa dela agora, Ax, ou pelo menos, precisa das
memórias dela. — Seu Mestre chegou tão perto que podia sentir o frio
mortal de sua respiração.
— Parece que o conhecimento de Lema Xandret e dos seus fabricantes
de droides ausentes é importante para os Mandalorianos. Isso significa que
também é importante para o Império, pois o que fortalece outro nos
enfraquece. Qualquer coisa que você possa lembrar sobre o paradeiro de
sua mãe pode ser crucial. Portanto, sugiro que você se esforce mais. Para
recompensar você, voltarei a colocar o bloco no lugar depois, para que as
memórias desapareçam novamente, como se nunca tivessem existido.
— Tudo bem, Mestre, — disse ela, embora a sua cabeça doesse com o
pensamento. E se nada viesse? E se algo viesse? — Vou tentar.
— Você vai fazer melhor do que tentar, — Darth Chratis disse a ela com
final arrepiante. — Em dez horas padrão, espero estar diante do Conselho
Sombrio com você ao meu lado. Se você me decepcionar, nós dois
sofreremos.
Num bom dia, Ula Vii não falou com ninguém. Ele apenas ouviu.
Era nisso que era bom. Nas folgas, sentava-se em seus aposentos e
repassava as gravações da semana, examinando conversas inteiras em busca
de algo importante. Coisas importantes aconteciam o tempo todo em
Coruscant, é claro, mas isolar itens de maior significado era uma parte
crítica do seu trabalho, e gostava de pensar que era muito bom nisso. Ula
era um informante Imperial no Senado da República. Assumia essa
responsabilidade com orgulho.
Em um dia ruim, era empurrado para fora das sombras direto para a luz:
o problema em interpretar um papel era que às vezes Ula tinha que
realmente interpretá-lo. Como assistente sênior do Supremo Comandante
Stantorrs, Ula costumava fazer anotações, conduzir pesquisas e oferecer
conselhos. Tudo isso o colocou em uma posição única para ajudar o
Império em sua missão de retomar a galáxia, mas ao mesmo tempo foi
forçado a realizar dois trabalhos exigentes ao mesmo tempo. Em dias ruins,
a sua cabeça doía tanto que parecia que se abriria, derramando todos os seus
segredos no chão.
O dia em que ouviu falar sobre a Cinzia foi realmente um dia muito
ruim.
O Comandante Supremo teve uma manhã movimentada: incontáveis
visitantes, suplicantes sem fim, o zumbido interno do seu comunicador. Ula
não sabia como aguentava. Então veio o pedido da Grã Mestra Satele Shan
para uma audiência, jogando a programação do Supremo Comandante
completamente para fora de controle.
— Você não pode adiá-la? — Stantorrs perguntou à secretária, com um
olhar que sinalizava aborrecimento. Quanto mais Ula ocupava o seu papel,
melhor estava entendendo as expressões de alienígenas, mesmo do Duros
sem nariz e com cara de lua como este. — Ela estava aqui só há uma hora.
— Ela diz que é importante.
— Tudo bem, tudo bem. Mande-a entrar.
Ula nunca havia conhecido formalmente a Grã Mestra Jedi antes.
Considerava os Jedi com desconfiança e aversão, e não apenas porque eles
eram inimigos do Imperador.
Ela entrou no escritório do palácio e ofereceu ao Supremo Comandante
um imenso respeito. Com um rosto de ossos finos e cabelos grisalhos, não
era uma mulher alta, mas a posição que ocupava na hierarquia da República
era considerável.
Stantorrs se levantou e ofereceu um aceno que parecia muito mais lento
em comparação com o dela. Como Ula, ele não aprovava os Jedi, mas os
seus motivos não tinham nada a ver com filosofia. Muitos na República
atribuíram firmemente a culpa pela ascensão do Império aos ombros
coletivos do Conselho Jedi. O Tratado de Coruscant havia arrancado a
capital galáctica do controle do Imperador mais uma vez, mas apenas a um
grande custo para a República e os seus aliados, e com uma terrível perda
de vista. A retirada do Conselho para Tython não ajudou.
— Como posso ajudá-la, Mestra Shan? — Perguntou ele, bruscamente
na linguagem Básica.
— Recebi do meu Padawan um relatório de um possível caçador de
recompensas solto no distrito antigo, — disse ela em tom medido. —
Causando tumulto entre as classes criminosas, aparentemente.
— Essa é uma questão menor. Por que traz isso pra mim?
— A sua instrução é restaurar a segurança em Coruscant. Além disso, o
caçador de recompensas é um Mandaloriano.
Ula não precisava ler mentes para saber o que Stantorrs estava pensando
agora. Um bloqueio Mandaloriano da rota comercial da Via Hydiana nas
últimas décadas da Grande Guerra havia prejudicado a República e quase
levou à sua ruína. Desde a sua derrota, Mandalore havia perdido muitos do
seus invasores nas brigas de gladiadores em Geonosis, mas Ula não era a
única pessoa em Coruscant que sabia que os agentes Imperiais estavam por
trás da ação antirrepública e que ele ainda estava procurando por uma luta.
Se ele estava pensando em fazer uma mudança no próprio Coruscant, tinha
que ser resolvido imediatamente.
— O que você pode me dizer sobre ele?
— O nome é Dao Stryver. Está procurando informações sobre uma
mulher, Lema Xandret, e algo chamado de Cinzia.
Os ouvidos de Ula se ergueram com o último nome. Ouvira isso
recentemente. Onde exatamente?
O Comandante Supremo estava realizando a mesma busca mental.
— Um relatório, — ele meditou, tamborilando com os dedos longos na
mesa.
— Algo do SIE, tenho certeza. Talvez você deva perguntá-los sobre isso.
Uma sugestão da verdadeira autoridade da Grã Mestra Satele Shan
apareceu em sua voz.
— Devo entrar em contato com o Tython imediatamente sobre as nossas
discussões anteriores. O general Garza me impressionou com a urgência e o
sigilo do assunto. Eu não posso me dar ao luxo de ser adiado mais.
A pele de cera de Stantorrs ficou roxa. Ele não gostava que as próprias
políticas da República fossem usadas contra ele. Ula esperava uma perda
momentânea de controle, para que algo pudesse escapar da natureza dessas
reuniões anteriores. Por mais que tentasse, não pôde aprender nada sobre
eles, embora tivesse certeza de que eram de extrema importância para os
seus Mestres em Dromund Kaas.
Infelizmente, o autocontrole de Stantorrs correspondia ao seu
temperamento.
— Não tenho tempo para investigar todas as perturbações menores, —
irritou-se o Comandante Supremo. — Ula! Cuide disso, sim?
Ula pulou com a menção do nome dele.
— Senhor?
— Acompanhe este incidente para a Mestra Shan. Informe-nos quando
encontrar algo. Se você encontrar alguma coisa.
A última frase foi dirigida a Grã Mestra com uma quantidade generosa
de mal-estar.
— É claro, senhor, — disse Ula, esperando que a concessão fosse
simplesmente um ardil para tirar a Grã Mestra das costas de Stantorrs.
— Obrigado, Ula, Comandante Supremo. Sou muito grata.
Com isso, Satele Shan saiu da sala, observado com ressentimento por
Stantorrs e a sua equipe. Todos os departamentos da República estavam
sobrecarregados e com a falta de pessoal. A última coisa que alguém queria
era os Jedi enfiando o nariz, encontrando falhas e entregando mais trabalho.
O trabalho de Ula não era semear dissidência, mas às vezes desejava que
semeasse. A dissidência praticamente se espalhou pelo amaldiçoado
Coruscant, onde o céu estava do mesmo cinza pesado que as suas passarelas
e as marcas da guerra ainda marcavam o seu rosto artificial.
O Comandante Supremo voltou a sentar com um suspiro pesado.
— Tudo bem, Ula. É melhor você começar.
— Mas, senhor, — disse Ula, — certamente você não... quero dizer, eu
pensei...
— Não, é melhor fazermos exatamente o que eu disse, apenas no caso
de ser importante. Nada de deixar de lado quando os Mandalorianos estão
envolvidos. Se essa multidão de encrenqueiros está ajudando o Império a
dar outro passo em Coruscant, precisamos saber sobre isso. Mas não gaste
muito tempo com isso, né? O resto da galáxia não vai esperar.
Ula inclinou a cabeça em obediência frustrada. Ficou consternado que o
pedido menor da Grã Mestra o removesse da presença do Supremo
Comandante. Como iria reunir as informações de que precisava agora? Essa
busca sem sentido poderia lhe custar dados valiosos.
Não adiantava discutir, e talvez teria algum benefício em cumprir
também. Os Mandalorianos não eram nenhum tipo de ralé: o seu grande
número de clãs individuais, cada um disponível para aluguel pelo maior
lance, somava uma força de combate potente capaz de mudar o equilíbrio
de poder em uma grande batalha, como a República já havia aprendido a
seu custo. O Império havia dado aos Mandalorianos os meios de retornar à
galáxia e se vingar do seus inimigos, mas não havia lealdade entre os dois
lados. Com a assinatura do Tratado de Coruscant, o Imperador e Mandalore
seguiram caminhos separados.
Valeu a pena seguir essa pista, ele disse a si mesmo, mesmo que a
pesquisa de uma ou duas horas provasse que alguém estava perseguindo as
sombras e os negócios voltassem ao normal depois.
Também estaria fora do personagem fazer o contrário. Ula Vii, o
funcionário receptivo, sempre fazia o que lhe era pedido. Foi assim que
obteve acesso tão íntimo aos assuntos do Comandante Supremo. Com um
arco vivo, alisou a já impecável frente do uniforme e dirigiu-se para a sede
do seu homólogo na República.
OS SERVIÇOS DE INFORMAÇÕES ESTRATÉGICAS não anunciavam os
seus escritórios no Complexo de Heorem, mas qualquer pessoa com alguma
precedência na administração sabia onde eles estavam. Ula teve motivos
para só uma visita uma antes, enquanto cobria um Agente de Criptografia, e
ele fez questão de evitá-lo desde então. A companhia de outros agentes de
inteligência o incomodava, não importava de que lado eles estivessem. Eles
eram todos da mesma raça, mais ou menos: observador, raciocínio rápido,
acostumado a ver... ou imaginar... enganos ao seu redor. Eram criaturas de
poucas palavras, revelavam pouco e os seus olhos eram tão pontudos
quanto as agulhas de um droide interrogador.
Ula mascarou o seu nervosismo por trás de uma fachada de calma
enquanto entrou no átrio amplo e cultural. A secretária sorriu calorosamente
pra ele.
— Posso te ajudar senhor?
— Ula Vii, conselheiro do Comandante Supremo Stantorrs.
A sua impressão vocal foi verificada, naturalmente, mas sem obstrução.
O secretário acenou pra passar. Ele foi recebido em uma sala de
conferências por um Ithoriano impossível de ler, possivelmente do sexo
feminino, vestido com túnicas pretas simples, sem etiquetas ou insígnias.
— Você é um Epicanthix, — disse ela sem rodeios, de ambas as bocas.
Para início uma conversa, foi desconcertante. A maioria das pessoas não
percebia que ele não era totalmente humano. Ele se recusou a lhe dar a
vantagem.
— O Comandante Supremo Stantorrs solicita informações, — disse ele.
— Por que ele não segue os canais habituais?
— Nós precisamos de uma resposta rapidamente, — disse ele, pensando:
Para que eu possa voltar ao meu trabalho real. Os dois.
— Pergunte, — disse ela.
Deu-lhe o nome do Mandaloriano e os outros nomes associados ao caso.
A Ithoriana tirou um datapad de baixo de suas vestes e bateu nele com
um dedo comprido e esbelto. Além desse digitar, nenhuma parte do corpo
dela se moveu. Ula esperou sem o sinal exterior de impaciência,
imaginando como a criatura respirava.
— Uma nave registrada para um Dao Stryver desembarcou em
Coruscant há dois dias atrás, — disse ela finalmente. — Ele saiu há uma
hora.
— Qual era o nome e a classe da nave?
— Primeiro Sangue, um Kuat D-Sete modificado.
— Destino?
— Desconhecido.
— Conte-me sobre Lema Xandret.
— Não temos registro desse nome.
— Nada mesmo?
— Uma vez, — ela disse, — que a informação fluiu livremente através
da galáxia, fluxo e refluxo tão prontamente quanto a própria luz.
Orgulhamo-nos da facilidade com que sabíamos todas as coisas. Então o
Império chegou, lançando uma sombra sobre a República, e o brilho
constante do conhecimento foi quebrado. Muita coisa que saberíamos agora
vem devagar e de formas incompletas. A nossa tarefa é tanto reconstruir
quanto reunir.
— Então isso é um não, — disse Ula, irritado. Estava muito ciente do
estado da informação na galáxia e não gostava que o Império fosse
responsabilizado por isso. Do seu ponto de vista, a República nunca havia
acertado, e apenas o estabelecimento do governo Imperial permitiria o
melhor fluxo correto de dados para todos.
Não estava indo muito longe com a alienígena, mas tinha uma pergunta.
— E o terceiro nome: Cinzia?
— Temos três aparições: duas no Senado e uma de uma na rede de
espionagem aliada. Ambos apontam para a mesma fonte.
Mais espiões, Ula pensou com desgosto. Odiava essa palavra.
— Quem são os senadores?
— Bimmisaari no setor de Halla e Sneeve no setor Kastolar.
— Você pode me dizer a fonte deles?
— Facilmente. Não há avisos de segurança ligados a esse assunto. A
Ithoriana digitou novamente.
— Tanto os senadores quanto a rede de espionagem relatam um leilão
incomum no espaço de Hutt. As propostas foram solicitadas.
— Onde o nome Cinzia se encaixa?
— Parece ser algum tipo de embarcação.
— Algo mais?
— A especulação varia entre as três partes. Não posso oferecer fatos
concretos.
Ula pensou rapidamente consigo mesmo. Então, Dao Stryver era real e a
Cinzia também. Mas o que um estava fazendo em Coruscant enquanto o
outro estava no espaço Hutt? Como a ganância de uma espécie de
criminosos malignos os conectava?
— Obrigado, — disse ele. — Você tem sido de alguma ajuda para nós.
A Ithoriana o levou de volta ao átrio e o deixou lá. A secretária acenou
alegremente ao sair. Uma película de suor cobria Ula da cabeça aos pés.
Poderia ter sido muito pior, disse a si mesmo, se eles soubessem quem ele
realmente era...
Ula teve um contato no escritório do senador Bimmisaariano. Marcou
uma consulta pelo comunicador enquanto caminhava. Com sorte, esperava,
que tudo isso poderia ser encerrado antes do fim do dia e a vida voltaria ao
normal.
— AH, EU SEI exatamente do que você está falando, — bradou Hun et
L'Beck sobre um jarro de cerveja tradicional. Ele insistiu em se encontrar
para almoçar, e Ula achou impossível convencê-lo disso. Ula não gostava
de comer em público. Era uma das coisas que preferia guardar pra si, sem
se preocupar com o que as outras pessoas pensavam.
— Continue, então, — disse ele, movendo pedaços de feijão yot frito em
torno do seu prato. — Conte-me tudo.
L'Beck havia terminado de comer há muito tempo e estava no segundo
jarro. Isso o tornou ainda mais loquaz do que o normal, o que não era uma
coisa ruim. Ula precisava que ele falasse.
— Os escritórios do senador em Bimmisaari receberam um comunicado
de Tassaa Bareesh há sete dias. Você sabe quem é ela?
— Um membro do Cartel de Bareesh, eu presumo.
— Somente a chefe, a matriarca. Ela tem laços estreitos com o Império,
por isso a vigiamos da melhor maneira possível. Não há nada que possamos
fazer com o contrabando, mas a escravidão aberta é algo que tentamos
acabar.
Ula assentiu. O setor doméstico de Bimmisaari atacou diretamente o
espaço Hutt, de modo que o comportamento dos cartéis poderiam ter um
efeito extremamente desestabilizador na economia local.
— Continue.
— O comunicado foi realmente um argumento e bastante sutil. Bareesh
estava tentando nos interessar por algo que um do seus piratas havia
encontrado na Orla Exterior. Informações, aparentemente, e um artefato não
especificado. Ela não disse de onde eles vieram, exatamente; A única pista
que ela deixou foi a de Rinn. Nós não prestamos muita atenção a princípio,
naturalmente.
— Por que 'naturalmente'?
— Bem, recebemos dezenas de ofertas dos Hutts todos os dias. A
maioria são golpes. Algumas são armadilhas. Todas estão cheios de
mentiras. Não é tão diferente do que recebemos do Conselho de Gestão de
Recursos, mas pelo menos deve estar do nosso lado. L'Beck brindou ao seu
próprio humor cínico e pediu outra bebida.
— Então você ignorou o comunicado, — Ula solicitou.
— E que normalmente teria sido o fim de tudo. Exceto que outro
chegou, e depois outro, cada um acrescentando um pouco à história até que
finalmente tivemos que prestar atenção. Foi uma campanha bastante
inteligente, na verdade. Não teríamos aceitado se tivesse chegado de uma só
vez, mas distribuímos pouco a pouco, deixando cada peça do quebra-cabeça
se encaixar antes de nos oferecer a próxima; eventualmente, foi o suficiente
para atrair o próprio Senador em pessoa.
— Em quê exatamente?
Os Hutts encontraram uma nave. A Cinzia. Aparentemente, havia algo
dentro dela, um artefato que eles estão tentando vender, mas isso não é a
coisa mais importante. O que realmente torna isso interessante é a origem
da nave.
Ula estava ficando cansada de jogar.
— Só me diga, sim?
— Eu não posso. Essa informação é o que os Hutts estão vendendo.
L'Beck se inclinou pra frente.
— Estamos tentando gerar interesse no Senado. O apoio está se
espalhando para uma resposta oficial, mas não rápido o suficiente. O leilão
é daqui a alguns dias, e tenho medo de perdermos. A voz de L'Beck baixou
até quase não ser audível com o ruído de fundo. — Como você gostaria de
entregar à República um mundo anteriormente desconhecido e rico em
recursos, pronto para a colheita? — Ula manteve a sua expressão neutra.
Então era disso que se tratava. Os mundos novos não eram especialmente
difíceis de encontrar, mas qualquer coisa rica em minerais ou biosfera era
ferozmente contestada entre o Império e a República. Se os Hutts tivessem
tropeçado na localização de um mundo assim, havia de fato uma chance
real de lucrar com o conhecimento.
— Você tem certeza de que é real, não é outro golpe? — Perguntou ele a
L'Beck.
— Até onde podemos ter, — disse L'Beck, levemente, pegando o
terceiro jarro do garçom e derramando um pesado gole.
— O Chanceler Supremo Janarus autorizaria uma licitação para
Bimmisaari, tenho certeza, se pudéssemos falar com ele. Você acha que
pode ajudar?
E lá estava, o pedido de assistência para apoiar a política local. O setor
de Halla não queria ser apenas aquele que trouxe um novo mundo à atenção
da República, mas também o acesso aos cofres do Chanceler. Uma pequena
porcentagem seria retirada de cima para cobrir as despesas administrativas,
sem dúvida, fornecendo mais cerveja para pessoas como Hunet L'Beck e a
sua espécie. Assim, a República se condenou, e tudo o que pretendia
representar.
Ula suprimiu a sua repulsa ideológica.
— Vou chamar a atenção do Comandante Supremo Stantorrs, — disse
ele. E essa era a verdade. Não tinha escolha agora. Se voltasse sem nada e,
dois dias depois, a informação chegasse aos ouvidos do Supremo Chanceler
de outra fonte, bem, não valeria a pena ser diminuído diante dos olhos de
Stantorrs. Manter esse contato era primordial.
Mas isso não o impediria de espalhar as informações em outro lugar
primeiro.
— Eu te devo, — disse L'Beck enquanto Ula pagava a conta e se
despedia. Essa era a melhor maneira de deixar um informante: em dívida.
Os cofres de Ula, como os da República, não eram ilimitados, mas
continham créditos suficientes para unir um pouco o caminho para a
dominação Imperial.
EXISTEM MUITOS MEIOS de obter transmissões secretas de Coruscant.
Pode-se esconder uma antena em um prédio pouco usado e transmitir
enquanto os satélites oficiais estão fora de alcance. Um poderia pagar um
bandido para levar uma gravação para a órbita, ao enviar a mensagem mais
longe por meios mais comuns. Pode-se empregar uma criptografia de
complexidade barroca que a transmissão se assemelhe a camadas de ruído
sobre ruído, sem características significativas.
Ula acreditava que a melhor maneira de despertar suspeitas era se
esforçar demais para evitá-las. Portanto, o seu método preferido de entrar
em contato com os seus superiores era fazer uma ligação para Panatha, o
planeta do seu nascimento, deixar uma mensagem para a sua mãe e
aguardar a resposta. Dessa forma, o fardo da culpa era transferido pra outro
lugar. Era muito mais fácil evitar receber uma comunicação ilícita,
possivelmente extraviada, do que a acusação de fazê-la.
Depois de notificar o Comandante Supremo de que estava interessado no
caso, foi imediatamente para os seus aposentos austeros e enviou dois
sinais. Ula morava em Manarai Heights, perto do seu trabalho no Distrito
do Senado e, ao mesmo tempo, perto o suficiente da Instalações de
Ancoragem de Portoleste para fazer uma escapada rápida, se necessário.
Tinha esconderijos de documentos, créditos e armas em vários locais entre a
casa e o espaçoporto. Ele também tinha um apartamento secundário, pouco
mais que um armário, na verdade, caso precisasse de um lugar para se
esconder por um tempo. Não era de se arriscar. A ilusão de inocência que
havia envolvido em torno de si poderia ser facilmente dissipada. Já tinha
visto isso acontecer antes. Um erro era tudo o que precisava...
O bipe do seu comunicador o interrompeu do devaneio nervoso em que
passara na última hora. A ligação estava a caminho, em resposta ao
primeiro do seus sinais. Preparou-se endireitando o uniforme pela décima
segunda vez e se posicionou na frente do holoprojetor. Essa era a parte do
seu trabalho que menos gostava.
Uma imagem fantasmagórica apareceu diante dele, piscando em azul
com estática. Havia pouco mais do que uma sugestão de rosto, e a voz era
sem gênero e sem espécie. Ula não fazia ideia de com quem falava no
distante Dromund Kaas.
— Relatório, — disse o Sentinela Três.
Ula resumiu tudo o que havia aprendido com o mínimo de palavras
possível: uma nave de um mundo não associado e rico em recursos na Orla
Exterior havia sido capturada pelos Hutts, que estavam oferecendo
informações sobre isso ao maior lance. Esse mesma nave era objeto de uma
busca por um Mandaloriano, Dao Stryver. Outro nome, Lema Xandret, foi
implicada. As origens da nave eram desconhecidas, assim como a sua carga,
o objeto misterioso que L'Beck havia mencionado. Ambos estavam em
leilão.
Quando terminou, a linha barulhenta estalou e chiou por quase meio
minuto antes do Sentinela Três responder.
— Muito bom. Isso é motivo de preocupação para o ministro. Mantenha
uma vigilância cuidadosa e relate todos os desenvolvimentos.
— Sim senhor.
— Dispensado.
A transmissão terminou e Ula cedeu com alívio. Pelo que sabia, o
Sentinela Três era uma pessoa perfeitamente comum, apenas outro
funcionário como ele, mas havia algo naquela voz oca que o fazia se sentir
totalmente indigno. Ruim o suficiente para não ser totalmente humano, mas
pior ainda. Sentia-se sujo, impuro, vil, sem nenhuma razão.
O Sentinela Três fez com que se sentisse como quando falava com um
Sith.
O seu comunicador tocou novamente. Preparou-se novamente, com
razões muito diferentes para se sentir nervoso. Enquanto a última ligação
havia chegado através de canais perfeitamente oficiais do Ministério da
Inteligência, esta tinha um propósito muito diferente e apresentava riscos
próprios.
Desta vez, quando o holoprojetor se mexeu, revelou uma imagem
perfeitamente clara de uma mulher que ainda impressionava Ula como se
parecesse jovem demais para o papel que desempenhou na administração
Imperial.
— Olá, Ula. Que bom ouvir você novamente. A que devo o prazer?
Ula engoliu em seco. O sorriso de Shullis Khamarr parecia
perfeitamente sincero e Ula não tinha motivos para acreditar no contrário. A
atual Ministra da Logística tinha a mesma idade que ele e compartilhou a
sua crença apaixonada de que o Império era uma força civilizadora a ser
reconhecida. Eles discutiram bastante sobre esse assunto durante um voo de
traslado de Dromund Kaas, a única vez em que havia visitado a capital
Imperial. Estava participando de um instrução para membros que não
tinham se qualificado como Agentes Codificadores, mas ainda eram
considerados úteis para o braço de inteligência; ela estava a caminho de ser
promovida a tenente. Desde então, a sua ascensão foi meteórica, enquanto
ele permaneceu essencialmente em lugar nenhum.
— Eu tenho algo para você, — disse a ela. — Um mundo pronto para
anexação, descoberto pelos Hutts.
— Eu já ouvi algo sobre isso, — disse ela.
— Ninguém sabe onde fica, e não saberemos até pagarmos. Você tem
algo a acrescentar, Ula?
Esvaziou um pouco. Então não foi o primeiro a apresentar um relatório.
— Ainda não, Ministra. Mas estou bem posicionado para acompanhar e
espero aprender mais em breve.
— Isso seria para o benefício de todos nós, Ula, — disse ela com outro
sorriso. — Por que você me ligou sobre isso?
— Porque é a oportunidade pela qual estamos esperando, — disse ele,
sentindo o latejar bater no pescoço. Era um território tão perigoso agora
como jamais fora.
— Não precisamos de fanáticos para governar uma galáxia. Nós apenas
precisamos de governança e administração adequadas. Regras, leis,
disciplina. Quando você vê aqueles lunáticos causando estragos nos
mundos daqui, Jedi e Sith.., tenho que perguntar que benefício eles trazem.
— Ele usou a sua própria palavra deliberadamente. — Não haveria uma
guerra sem eles agitando as coisas.
— Eu lembro disso, Ula, — disse ela com uma paciência que o cortou
como um sabre de luz. — Eu entendo as suas opiniões, mas não há nada
que eu possa fazer...
— Tudo o que precisamos é de só um mundo, um mundo forte capaz de
se defender, no qual os cidadãos Imperiais possam prosperar sem medo ou
opressão.
— O mundo de que você ouviu falar pertence ao Imperador. Não posso
reivindicar por mim mesma.
— Mas você é a Ministra da Logística agora! Toda a burocracia Imperial
é sua.
Ela o rejeitou gentilmente, como sempre fazia.
— É do Imperador, como deveria ser. Eu sou o instrumento dele e não
trairia a sua confiança.
— Eu nunca pediria pra você fazer isso.
— Eu sei, Ula. És tão leal como eu, e tens boas intenções, mas temo que
o que pedes seja impossível.
Ele se esforçou para nunca levar a amizade muito longe, mas não
conseguiu esconder a sua decepção.
— O que é preciso para mudar de ideia, Ministra?
— Quando você tiver a localização do mundo, fale comigo novamente.
Sabia muito bem que trair a República e ao mesmo tempo tentar
convencer uma Ministra sênior a aumentar a influência das pessoas comuns
em suas relações com a classe dominante Sith poderia arruinar todo o seu
mundo.
— Obrigado, Ministra, — disse ele. — Você é gentil em me esclarecer.
— Não é nem bondade, Ula, nem indulgência. Você pode me ligar a
qualquer momento.
Ela terminou a transmissão e desta vez Ula não cedeu. Já se sentia
totalmente desanimado, insignificante, mesmo que o Sentinela Três
descrevesse a sua missão de ser importante para o próprio Imperador.
Sentia-se como um grão de areia atingido por poderosas correntes
oceânicas. Não importa em que costa pousou, as ondas o bateram mais forte
do que nunca.
Manter um olhar atento e informar a todos os desenvolvimentos.
Isso poderia fazer. Exausto do seu dia de conversa, apresentou um
relatório por escrito ao Comandante Supremo Stantorrs. Depois, despiu-se,
deitou-se na cama dura e esperou o amanhecer.
Larin Moxla estava parada nos jardins do Senado, em uma rua
movimentada e cheia de bancos. Era começo da noite e o céu estava cheio
de luzes. Sentiu-se desconfortavelmente exposta e ficou impressionada com
a forma como se acostumou aos distritos antigos. Apenas alguns meses se
passaram desde que foi expulsa do Esquadrão Estrela Sombria, e o céu
nebuloso dos níveis superiores parecia muito grande, as pessoas refinadas
demais, os droides limpos demais e os edifícios novos demais. Dê a ela um
ano, pensou, estaria completamente unida com a escória da sociedade.
O seu sentimento de alienação só foi confirmado quando um quarteto de
Agentes de Segurança do Senado apareceu, três homens, Twi'lek, Zabrak e
humano, e uma mulher Nikto atarracada. Os ASSs a viram e se
aproximaram.
— Você está perdida? — Murmurou o Twi'lek. — Parece que você foi
puxada por trás de um Sarlacc.
— As duas coisas, — a mulher Nikto ria, não grosseiramente.
Larin queria ir embora. Eles estavam conversando de soldado pra
soldado, usando tons familiares e brincalhões, mas o coração dela não
estava nisso.
— Obrigado, pessoal, — disse ela. — Eu estou bem, e não vou ficar
aqui por muito tempo. — Ela estava esperando Shigar voltar da conversa
com Satele Shan, e era ali que havia dito que eles deveriam se encontrar.
— Não se preocupe, — disse o humano com uma piscadela. — Só tente
não assustar ninguém.
— Espere, — disse o Zabrak, olhando para ela. — Eu conheço você?
— Acho que não, — disse ela.
— Sim, eu conheço, — disse ele. — Você é a Moxla Tóxica, a Kiffar
que denunciou o sargento Donbar.
Larin sentiu o sangue subir à sua cabeça.
— Isso não é da sua conta.
— Oh, é? Tenho um primo das Forças Especiais que discorda, — disse o
zabrak, bem na cara dela.
Encarou-o de volta, lutando contra a vontade de recuar ou de dar um
tapa na cabeça dele, uma investida rápida e sólida que poderia cortar a sua
testa até os ossos dos chifres, mas certamente o deixaria frio.
Mas então teria uma provável taxa de indenização a ser usada depois. Os
jardins estavam cheios de testemunhas, ótimas testemunhas honestas que
não dormiam em um armazém abandonado e soldavam as suas roupas à
mão com sucata descartada.
— Calma, Ses, — disse o Twi'lek para o Zabrak. — Você bebeu
fizzbrews demais no almoço novamente.
— Quando você recebeu notícias do seu primo, afinal? — Acrescentou a
mulher Nikto, pegando o seu braço e guiando-o com firmeza. — A última
vez que ouvi, ele lhe devia dinheiro.
O humano lançou a Larin um olhar de desculpas quando o trio levou o
amigo bêbado para longe, mas não antes que pudesse chamar por cima do
ombro:
— Volte para o seu buraco, Moxla Tóxica. Não queremos o seu tipo aqui
em cima!
Larin assistiu o Zabrak ir com o rosto queimando de raiva. Como
alguém assim entrou na ASS, quanto mais alguém nas Forças Especiais?
Isso não parecia possível.
Mas misturado com a sua indignação havia um sentimento de profunda
vergonha. Sim, denunciou o seu oficial comandante. Sim, estava brincando
de ser uma soldado em um traje mal feito. Mas nem veio suavemente pra
ela. Tinha as suas razões.
Larin se virou para encarar o distante templo Jedi. Abandonado em
ruínas e isolado desde o saque de Coruscant, era uma presença sinistra e
sombria contra as luzes das pistas celestes e arranha-céus. Como o destino,
sempre presente.
SHIGAR ESPEROU POR cinco minutos antes da sua Mestra aparecer do
nada, ao seu lado. Nunca a ouviu chegar, mas aprendeu pelo menos a não se
assustar como nos primeiros dias do seu aprendizado. Esse, supôs, que era o
cerne dessa lição em particular: algumas coisas nunca poderiam ser
antecipadas, mas podia controlar a maneira como reagia a elas.
Eles ficaram juntos por um momento nos claustros vazios, olhando para
o iminente cilindro de prata que era o Centro de Justiça Galáctico. As suas
luzes brilhavam intensamente e nunca piscavam uma vez sequer.
— Você colocou algo em movimento, Shigar, — disse ela.
— Você vê isso no futuro, Mestra? — A previsão da Grã Mestra Satele
Shan era lendária e nunca errava.
Ela balançou a cabeça.
— Não dessa vez. Recebi isso há um momento do Comandante Supremo
Stantorrs.
Ela passou pra Shigar um datapad, e leu o pacote de informações
exibidas lá duas vezes. Continha tudo o que foi descoberto sobre Dao
Stryver, Lema Xandret e Cinzia nas horas anteriores. Alguém esteve
ocupado, ele pensou.
— Os Hutts certamente reconhecem uma oportunidade quando veem
uma, — disse ele, envolvendo os novos dados em torno de tudo o que já
havia recolhido sobre o Mandaloriano, o Sol Negro e o ataque a Larin
Moxla.
— A Cinzia dá a Tassaa Bareesh duas peças pelo preço de uma, — disse
a sua Mestra.
— Para as administrações da República e do Império, a principal
preocupação é a origem da nave. De onde veio, importa muito mais do que
o seu propósito ou o que continha. Todos sabemos que a República está
desesperada por recursos, e qualquer novo mundo ajudará a sua causa. Nem
é preciso dizer que o Supremo Comandante Stantorrs continuará esse
assunto ainda mais, só nesse terreno.
— Do ponto de vista do Conselho Jedi, no entanto, a situação é
precisamente revertida. Os Hutts estão leiloando mais do que só
informações: também há a carga da nave a considerar. O objeto que eles
estão vendendo provavelmente possui algum valor reconhecível, mas ainda
não sabemos o que é. Poderia ser qualquer coisa. Não podemos ignorar a
possibilidade de que eles tenham tropeçado em algo crítico para a Ordem
Jedi, um artefato, talvez, ou uma arma. Muitos são mencionados nos
registros antigos, mas ainda não foram explicados; só um artefato pode
fazer a diferença na guerra contra o Imperador.
— Pode ser um artefato Sith, — disse ele, sabendo muito bem que as
forças do inimigo tinham os seus próprios arsenais, tão antigos quanto os da
Ordem Jedi.
— Essa também é uma possibilidade. Portanto, devemos fazer tudo o
que estiver ao nosso alcance para garantir que essa coisa que os Hutts
tenham, seja o que for, não caia nas mãos erradas.
— Já está nas mãos erradas, — disse ele.
— É verdade, mas Tassaa Bareesh reconhece apenas um lado: o dela.
Não tenho medo dela usar esse achado diretamente contra nós. Ainda assim,
precisamos saber mais sobre isso e logo. É aí que você entra, Shigar.
Shigar estudou o rosto de sua Mestra. Achava que a conversa era mais
do que conversa fiada, mas não esperava um papel ativo na situação.
— Farei o que quiser, Mestra.
— Você irá à corte de Tassaa Bareesh e descobrirá tudo o que puder
sobre a Cinzia e o seu conteúdo. Você deve viajar anonimamente para
minimizar o nosso aparente interesse na venda. Você vai relatar o que você
encontrar para mim diretamente, e eu decidirei o que fazer com essas
informações. Você vai sair esta noite.
Sua voz era viva e direta, negando o significado de suas palavras. Essa
era uma tarefa importante, cortando a maior parte de um nó político
complexo. Se falhasse, isso refletiria mal na Ordem Jedi e talvez
atrapalhasse todo o esforço de guerra. A responsabilidade era considerável.
Chegando tão logo após a sua decepção daquela manhã, no entanto, era
impossível silenciar uma voz irritante e duvidosa.
— Tem certeza de que sou a escolha certa? — ele perguntou, arrastando
as palavras como se fossem feitas de chumbo. — Afinal, o Conselho me
considera inapto para os testes. Deve haver alguém mais qualificado que
possa fazer isso por você.
— Você está me dizendo que não quer ir, Shigar? Que você não está
pronto?
Inclinou a cabeça para esconder o seu orgulho e incerteza misturados.
— Eu confio em seu julgamento, Mestra, é melhor que o meu.
— Bom, porque acredito que o meu raciocínio é sólido. O seu rosto é
desconhecido em Hutta; você achará mais fácil passar despercebido. E eu
tenho fé em você. Lembre-se disso. Estou certa de que Este é o caminho
traçado para você.
— Então você viu alguma coisa!
Tentou ler a expressão dela nas luzes tremeluzentes da cidade. Poderia
estar achando graça, preocupada ou completamente em branco. Era difícil
dizer. Talvez todos os três.
Jurou pra si mesmo que a deixaria orgulhosa.
— E a situação aqui, com as gangues, a pobreza?
— Essa é a responsabilidade das autoridades locais, — disse ela,
encarando-o com um olhar firme. — Eles estão fazendo o seu melhor.
Ouviu o aviso na voz dela. O papel dos Jedi na galáxia os levou para
fora, para Tython; ele já havia dito muitas vezes que os muitos problemas
sociais da República não deveriam ser dele, mesmo que desta vez os
Mandalorianos estivessem envolvidos. Até Mandalore se declarar inimigo
de alguém, ele poderia ser considerado mais ou menos neutro.
— Sim Mestra.
— Vá agora. Há um transporte esperando por você.
Shigar se curvou e foi embora.
— Seja gentil, Shigar, — acrescentou a sua Mestra. — Algumas estradas
são mais difíceis do que a sua tem sido.
Quando voltou, Satele Shan se foi, desapareceu na noite como se ela
nunca tivesse estado lá.
COM ALÍVIO, LARIN viu Shigar caminhando ao longo da via em sua
direção. Ele tinha saído menos de meia hora, mas parecia muito mais do
que isso. Após o encontro com os agentes de segurança do Senado, não
falou com ninguém e evitou chamar a atenção de alguém, sentindo-se mais
deslocada do que nunca. Quando voltou, prometeu a si mesma, e quando ele
terminou lhe assegurando que tinha falado com a sua Mestra sobre a
situação lá embaixo e iria fazer algo sobre isso, Larin poderia desaparecer
de volta para o seu buraco de novamente, assim como o Zabrak tinha a
aconselhado fazer.
Não que achasse que o zabrak estava certo. Pelo contrário.
Simplesmente não sabia mais onde se encaixar, aqui em cima. Pelo menos
tinha algo a fazer nos distritos antigos. Desde a sua dispensa, ela se
comprometeu a proteger os fracos e desprovidos de direitos, aqueles que até
os justicars ignoravam, na medida em que os seus poucos recursos
permitiam. Ao contrário dos justicars, estava interessada em algo mais
importante do que território, e se isso significava trabalhar sozinho, que
assim seja.
— Como foi? — Perguntou a Shigar quando ele a alcançou.
— Bem. Eu acho.
— Você tem certeza disso?
Não o conhecia o suficiente para poder dizer o que o incomodava, mas
ele não parecia remotamente satisfeito. A sua sobrancelha estava dobrada, e
as divisas azuis em suas bochechas estavam retorcidas pelos músculos
cerrados embaixo. Talvez a garantia que ela esperava não estivesse
chegando, afinal.
— Eu tenho que ir a algum lugar, — disse ele. — Você vai andar
comigo, parte do caminho?
— Certo. Pra onde estamos indo?
— Portoleste.
— Eu pensei que você tinha acabado de chegar em Coruscant.
— Isso mesmo. — Olhou-a, como se estivesse surpreso por ela ter se
lembrado. — Eu tenho viajado a vida toda, desde que a Mestra Satele me
levou, afinal.
Eles caminharam em um ritmo tranqüilo durante a noite temperada.
Uma leve brisa percorreu com seus dedos através do seu cabelo curto, e se
lembrou de uma coisa boa da vida: o clima. A última vez que que choveu
nela foi quando uma linha de esgoto explodiu dois níveis acima.
— Não vejo outro Kiffar há anos, — disse ela para quebrar o silêncio.
— Você esteve em Kiffu durante a Anexação?
— Não. Mestre Tengrove, o Sentinela Jedi desse setor, me encontrou no
ano anterior. Eu estava em Dantooine quando aconteceu, ajudando o meu
Mestre a cavar algumas ruínas.
— Encontrou algo interessante?
— Não me lembro. — Ele olhou pra ela novamente. — E se você? Da
Anexação, quero dizer.
— Eu estava lá, embora não me lembre claramente. Eu era jovem
demais. Os meus pais me colocaram em um transporte e me tiraram do
mundo antes que o pior acontecesse. O transporte me levou para Abregado-
rae, onde uma família de acolhimento me adotou. Eles tinham tomado um
monte de crianças após o Tratado de Coruscant, mas sempre havia espaço
para outras. Era um hospício.
— O que aconteceu com os seus pais?
— Eles morreram na prisão em Kiffex.
— Sinto muito, — disse ele.
— Não fique. É só uma história antiga. E os seus?
— Mortos também, de um acidente de vedação de vácuo em um
transporte Fresiano, no entanto, não tem nada a ver com a Anexação.
Eles caminharam em silêncio por mais um tempo, ele olhava fixamente
pra frente e ela para os pés. Sentia a mistura habitual de alívio e tristeza
sempre que surgia a questão do sacrifício do seus pais. Não sabia disso na
época, mas depois descobriu o quanto a sua fuga por um fio lhes custara.
Com as naves de guerra Imperiais lotando o seu planeta natal, eles devem
ter subornado um artilheiro Imperial para ignorar uma nave que escapava,
além do piloto da nave e quem sabia quantos guardas do espaçoporto? Eles
haviam desistido de tudo, apenas para salvá-la.
E como os pagou?
— Eu tenho que ir para Hutta, — ele finalmente disse.
— Por quê?
— Um dos cartéis descobriu algo. Eu preciso descobrir o que é.
— Isso está conectado a esse Mandaloriano?
— Parece que sim. Mas ele está fora de Coruscant agora e não vai
incomodá-la novamente.
— Você tem certeza que ele não vai voltar?
— Tanto quanto possível.
— Bem, isso é alguma coisa, — disse ela com mais satisfação do que
realmente sentia. Agora que havia conseguido tudo o que pretendia naquele
dia, podia razoavelmente recuar para o seu santuário nos distritos antigos e
voltar a fazer o que fazia de melhor. O problema era que não estava pronta
para se libertar de Shigar Konshi. Ele lhe lembrou como era receber uma
nova missão: objetivos, recursos, restrições, prazos. Sentia falta dos dias em
que tudo era nitidamente definido e transparente.
— Já esteve em Hutta antes? — Ela perguntou.
— Não. Não na superfície.
— É vil e perigoso. Eu estive lá em uma operação secreta há dois anos.
Quase não saí de novo.
— Você fez um trabalho secreto?
— Mais do que eu gostaria de pensar. — Não tinha dito a ele sobre
forças especiais e as Estrelas Negras. Até onde Shigar sabia, ela era apenas
um soldado comum, dando um tempo temporário no serviço.
— E quanto a hackear? — Ele perguntou, visivelmente atendendo. —
Eles ensinam esse tipo de coisa também?
— O básico. Aprendi muito mais com uma garota chamada Kixi quando
cheguei aqui. Agora eu poderia fazer isso dormindo.
— E você está familiarizado com algumas das gangues mais duras que
correm ao redor do submundo. Você até pode passar por um deles, com um
banho.
— Ei, cuidado. — Ela deu um soco no ombro dele, que ele se esquivou
com uma facilidade surpreendente.
Ele parou de andar, sem brincar, e eles ficaram de frente um para o
outro.
— Você poderia vir comigo, — disse ele, como se a ideia tivesse
acabado de lhe ocorrer. — Para Hutta, quero dizer.
— Pensei que nunca pediria, — disse ela.
Ele não riu.
— Estou falando sério. Você acabou de sugerir que eu precisaria de um
guia lá e certamente poderia usar a ajuda. É um grande trabalho.
— Você vai me dizer o que estaríamos procurando? Nunca gosto de ser
deixada no escuro.
— Eu não sei o que é. Ainda não. Eu sei tão pouco quanto você.
— Bem... — Ela fingiu pensar sobre isso, embora tivesse elaborado sua
resposta enquanto ele estava perguntando sobre as suas qualificações
secretas, como queria perguntar desde que terminou de falar com a sua
Mestra. Foi isso que teve dificuldade em cuspir o tempo todo. Podia ver
perfeitamente agora. Não queria perguntar a ela imediatamente por medo de
colocá-la na defensiva. E talvez tenha imaginado que ela não queria lhe
pedir medo de parecer desesperada. Dessa forma, parecia que eles estavam
tendo a ideia juntos. Ninguém precisava ser resgatado. Eles eram um time.
A transparência dele tanto a divertiu quanto a aqueceu para ele. Não teve
escolha senão ir a Hutta, apenas para salvá-lo do que o esperava lá. Claro,
os Sith eram um trabalho árduo, mas os Hutts o comeriam vivo se o
capturassem nesse estado.
— Tudo bem, — disse ela, — mas com uma condição.
— Qual é?
— Você parar de pensar que está me fazendo um favor.
Ele corou.
— Certo.
— E você me paga uma refeição adequada. Estou vivendo de ração há
semanas.
— São dois favores.
— Pense nesse último como uma boa administração de tropas. Você não
quer que eu perca a minha concentração no trabalho, não é?
— Acho que não. — Ele sorriu de uma maneira que o fez parecer ainda
mais jovem do que ele era.
— Qual é, Moxla. Não vamos chegar lá se ficar aí parada.
Fez continência desleixada.
Caminharam noite adentro e, em três passos, os seus passos tinham-nos
inconscientemente transportado no tempo.
PRETO SOBRE PRETO, e uma pitada de aço brilhante.
Os doze Senhores do Conselho Sombrio do Imperador encaravam a
Eldon Ax e o seu Mestre com a força combinada de uma avalanche glacial.
— ... e como podem ver, meus lordes, — concluiu Darth Chratis, —
como essa situação pode ser avançada pela aplicação de ações rápidas e
apropriadas: as pessoas certas, no lugar certo, na hora certa. Eu e minha
aprendiz somos o povo. O lugar é Hutta. A hora de atacar é agora.
Eles estavam de pé em uma seção recuada do chão, cercada pelo
Conselho Sombrio. Doze imagens monstruosas os encaravam, algumas
expostas e com cicatrizes, outras escondidas por máscaras, todas irradiando
ódio frio e constante. Estes eram os confidentes do Imperador, os seus
servos mais apreciados. Só eles viram o rosto dele e agora estavam vendo o
de Ax.
Sentiu o medo do seu Mestre pela primeira vez, e isso a emocionou.
— Poupe-nos a retórica, Darth Chratis, — disse um dos Lordes
Sombrios, um ser que poderia ter sido uma mulher, mas cujo rosto agora era
pouco mais que um esqueleto sem sexo. — Não seremos movidos por
discursos.
— O que exatamente você quer? — Acrescentou outro, a sua voz era um
estilete agudo emitido por uma máscara de ferro inexpressiva. — Conte-nos
os seus planos.
— A minha aprendiz se infiltrará na corte de Tassaa Bareesh, — disse
Darth Chratis, — a fim de roubar as informações dos Hutts. Vou esperar
fora do mundo. Quando ela for bem-sucedida, irei para o local da colônia e
começarei a sua anexação, para a glória contínua do Império.
Ele se curvou e Ax estava cheia de desprezo.
— Um plano simples, — disse outro dos Lordes Sombrios. Darth Howl
tinha os dentes afiados, e o seu rosto era cortado por padrões aleatórios de
linhas retas.
— Eu admiro a sua franqueza. Nós não negociamos com criminosos.
— Tassaa Bareesh tem sido útil pra nós, — disse outro. — Não seria
sensato irritá-la.
— A minha aprendiz será cautelosa, — assegurou Darth Chratis.
— Ela é desconhecida para eles. Eles não a detectarão.
— E a própria Anexação. Como você vai facilitar isso? Você não pode
ter recursos suficientes para capturar um mundo inteiro.
— Não, meus senhores. Vou exigir pelo menos uma divisão para
reprimir qualquer resistência.
— Uma divisão inteira? — Murmúrios secos circularam ao redor do
anel dos Lordes Sombrios. — Você pede demais.
— Você espera um resistência significativa?
— Sim, Darth Howl. — Aqui o Mestre de Ax hesitou. O único ponto
que ele subestimou durante o seu resumo estava finalmente sendo levado à
primeira vista. — A colônia foi fundada por fugitivos do Império.
— Que tipo de fugitivos?
Ele descreveu tudo o que descobriram sobre Lema Xandret enquanto o
Conselho ouvia em um silêncio frio. Enquanto ele descreveu a conexão
entre Xandret e Ax, todos os olhos se voltaram pra ela. Fez o possível para
olhar de volta, apesar de causar dor física na parte de trás das órbitas
oculares. Era como encontrar o olhar de um buraco negro.
— O Mandaloriano deixou a filha dos fugitivos viver, — disse Darth
Howl quando a conta foi concluída. — Você pode ter certeza de que não há
conexão entre eles?
— Eu a examinei completamente. Ela não sente simpatia pelos que
procuramos.
— O que você diz, garota? Diga-me o que você lembra da sua mãe.
Ax forçou a língua a descongelar. Ela tinha falado com ela, então ela
deve responder. Foi assim que funcionou.
— Não lembro de nada, minha lorde. Isso é uma maldição e uma
bênção.
— Explique.
— A minha falta de memória significa que não posso oferecer nenhuma
pista sobre o paradeiro dos fugitivos. Isso é uma maldição, porque seria
mais simples evitar lidar com os Hutts por completo. Mas se eu me
lembrasse, os meus sentimentos poderiam realmente estar nublados e você
teria razão em desconfiar de mim. Garanto-lhe que sou leal e que os Hutts
podem ser tratados.
Sentiu uma pressão em sua mente, como se uma montanha estivesse
inclinada sobre ela.
— Você está confiante, — disse Darth Howl.
— Talvez confiante demais. Mas você não está mentindo.
— Obrigado, milorde. — Curvou-se profundamente.
— Isso não significa, no entanto, que possamos confiar em você.
Endireitou-se.
— Se eu puder falar com o Conselho mais uma vez, há algo que gostaria
de dizer.
— Fale, — Darth Howl a instruiu.
Darth Chratis lançou-lhe um olhar de advertência, mas o ignorou.
— Essa missão é primordial, e não só por causa do mundo que temos a
ganhar. Há algo que o meu Mestre não elencou para vocês e diz respeito às
ações do Mandaloriano, Dao Stryver. O seu Mestre já foi aliado do Império,
mas nos últimos anos Mandalore tem sido distante, ameaçador, até. No
entanto, ele conhecia a minha história, sabia da minha conexão biológica
com Lema Xandret, sabia onde me encontrar. Sabia todas essas coisas,
como? Acredito que encontrá-lo e obter uma resposta para essa pergunta é
fundamental para a segurança do Império.
Isso provocou outra rodada de sussurros. Um espião Mandaloriano na
administração Imperial? Impensável, mas potencialmente desastroso se
fosse verdade. Isso poderia sinalizar a volta dos olhos hostis dos
Mandalorianos para o Império. Cadeias inteiras de comando precisariam ser
examinadas. Seriam necessários expurgos. Cabeças rolariam, talvez até do
Ministro da Inteligência. A turbulência pode ser tremenda.
Darth Chratis olhou pra ela com os lábios pressionados tão firmemente
que ele poderia estar fazendo diamantes com os dentes.
Então, inesperadamente, Darth Howl começou a rir. Era um som
horrível, cheio de bílis, podridão e crueldade, e perfurava a tensão como
uma adaga. Ele ecoou pela câmara do Conselho como o som de vidro
quebrando, trazendo todo o resto para o silêncio.
— Eldon Ax, — disse ele, quando sua risada maligna diminuiu, — você
não me engana.
O sangue nas veias de Ax se transformou em gelo.
— Eu juro, milorde...
— Não interrompa. — O chicote do comando foi apoiado por todo o
poder da Força. — Conheço um mentiroso quando encontro um.
Ax não conseguiu se mexer. Só podia olhar horrorizada, imaginando o
que havia dado errado.
— Você fala de infiltrados no Império, de infiltração Mandaloriana, —
continuou o acusador, mas eu vejo você claramente, Eldon Ax. Eu sei o que
mexe com você, que você esconderia de todos nós. Sinto o seu ódio pelos
Mandalorianos e o desejo de vingança. Eu sei que esta missão não tem nada
a ver com o Império. Trata-se de provar que Dao Stryver estava errado em
dispensá-la por não matá-la. Você deseja virar a mesa contra ele, derrotá-lo
e depois matá-lo. Isso é tudo que você deseja. É isso que enche o seu
coração.
Um sorriso gelado se espalhou pelo rosto de Darth Howl.
Preparou-se para receber o castigo que merecia.
Em vez disso, ele disse:
— Eu aprovo.
A mão invisível que segurava Ax da cabeça aos pés relaxou.
— Meu lorde?
— Você me demonstrou que é uma verdadeira serva do lado sombrio,
Eldon Ax. Apoio os seus planos e aconselho os meus colegas do Conselho a
fazerem o mesmo.
O alívio passou por Ax. Logo após a certeza de que estava prestes a
morrer, sentiu-se tonta.
— Obrigada, meu lorde.
Darth Howl levantou a mão pedindo silêncio.
— Eu tenho apenas um esclarecimento a fazer.
O Mestre de Ax olhou pra ele.
— Sim, meu lorde?
— O problema em questão não é a segurança do Império. Há uma dúzia
de fontes das quais Dao Stryver poderia ter aprendido a herança da garota,
incluindo, e não deve ser esquecida, a mãe da garota. A questão não é nem
o mundo que você espera nos trazer, embora naturalmente isso seja um
benefício significativo para os nossos preparativos para a guerra. Não,
Darth Chratis, a questão é a provocação. Quinze anos atrás, Lema Xandret
se posicionou contra os Sith e escapou do castigo que era justamente dela.
Agora vem a oportunidade de corrigir esse descuido. Devemos tomá-lo para
demonstrar a todos que nossa força só aumentou, e que nunca perdoamos.
O Conselho saudou o seu pronunciamento com um murmúrio de
aprovação. Alguns olhos olharam para o holoprojetor no centro da sala,
como se até a ausência da imagem do Imperador fosse suficiente para
inspirar respeito e medo.
Darth Chratis curvou-se baixo.
— Vocês tem minha palavras, meus lordes, de que um exemplo será
dado aos parentes rebeldes da garota. Os seus nomes serão eliminados da
história, exceto como exemplo para aqueles que nos desafiariam.
Darth Howl não olhou para Darth Chratis. O seu olhar permaneceu
firmemente fixo em Ax.
— Entendo, — Ax disse-lhe. E ela tinha entendido. Este era um teste de
lealdade tanto quanto uma missão de punir aos traidores esquecidos. Ser um
Sith não era apenas sentir ódio e raiva; era encontrar uma maneira de focar
esses sentimentos em direção à obtenção do domínio. Ax disse que havia
esquecido a mãe e que não a tinha afetado, mas quando Lema Xandret
estiver diante dela e chegar a hora de entregar o seu castigo por direito,
poderia Ax ser a única a administrá-la?
Jurou que sim. Não havia carinho em seu âmago por ninguém. Nem
mesmo pelo Mestre dela.
Ficou em silencio obediente quando Darth Chratis confirmou os detalhes
do seu plano. O Império daria a ele meia divisão para comandar, como
quisesse. Eles aguardariam notícias de Ax em Hutta antes de seguirem para
o seu destino final. Um enviado Imperial seria enviado para dar cobertura a
Ax, mas essa pessoa não teria um papel significativo no caso. Ele ou ela
simplesmente asseguraria a Tassaa Bareesh que o Imperador não estava
suspeitosamente desinteressado no leilão do seu prêmio.
— As suas ambições são claras pra nós, Darth Chratis, — disse Darth
Howl. — Nos entregue este mundo, e você será recompensado.
Com uma última reverência, Darth Chratis se despediu do Conselho e a
sua aprendiz seguiu respeitosamente dois passos atrás.
Somente quando eles estavam no transporte ele se voltou contra ela. O
seu bastão esbelto se abriu longitudinalmente em uma extremidade e a outra
se retraiu, formando a cruzeta e o cabo do seu sabre de luz vermelho
sangue. Ele esfaqueou o seu rosto, parando perto de sua pele, e ela
congelou.
— Você me surpreendeu lá, — disse ele com uma voz enganosamente
calma. — Nunca mais me surpreenda.
Ela não disse: Você é um tolo. Você lidou mal com a coisa toda. Se você
me deixasse falar com você antes, em vez de ficar furioso com a minha
incapacidade de lembrar de qualquer coisa, eu poderia ter lhe dito com
antecedência. Em vez de traí-lo, salvei a você e o nosso plano de serem
dispensados imediatamente.
— Não vou, Mestre, — foi tudo o que disse.
Satisfeito com o cumprimento dela, Darth Chratis desativou o sabre de
luz e se afastou. Trégua, ela pensou, por enquanto. Com um grunhido, ele
se recostou a fazer a viagem de Korriban de volta a Dromund Kaas, e dali a
Hutta, e a realização de todos os seus sonhos.
— OS HUTTS CRIARAM uma grade agitação, — disse o
Comandante Supremo Stantorrs, recostando-se na cadeira e batendo com
um dedo na mesa.
— Recebi quatro consultas do Senado da noite pro dia e espero mais
durante o dia. Se este leilão é uma farsa ou não, teremos que fazer algo
sobre isso agora.
Ula disse:
— Não podemos ser vistos de braços cruzados, senhor. — Obediência e
segurança: isso era tudo o que o Comandante Supremo queria dos seus
assessores. Uma verdadeira meritocracia, no entanto, exigiria muito mais
dos seus cidadãos.
— De fato não! — Stantorrs exclamou. — Quando todo mundo na
República, dos assentamentos periféricos ao próprio Núcleo, está chorando
de pobreza, deixar que uma possível fonte de recursos escorregue por
nossos dedos seria um desastre de relações públicas, sem mencionar um
revés para a segurança galáctica.
— Quando os Mandalorianos estão envolvidos, — disse outro assessor,
— geralmente é um problema de segurança.
— De fato. E é por isso que decidi perseguir isso, publicamente e
politicamente, para garantir que não possa voltar mais tarde contra nós.
O ritmo marcial das batidas do Comandante Supremo colocou Ula no
limite. Descanse, ele queria gritar com eles. É uma cortina de fumaça, uma
distração do problema real... A guerra fria que você está perdendo! Os
Hutts estão explorando e alimentando a sua paranoia ao mesmo
tempo. Você não vê como isso faz de todos vocês parecerem ingênuos?
Estava tão encerrado em seu diálogo interno que quase não ouviu as
próximas palavras do Comandante Supremo.
— É por isso que decidi enviar você, Ula, a Hutta como enviado oficial
da República.
Os pensamentos de Ula atingiram o obstáculo desse pronunciamento e
formou um engarrafamento de cinco pistas celestes.
— Você... o que, senhor?
— Preciso de alguém para investigar e, se necessário, negociar em nosso
nome. Não é alguém do último escalão, não queremos que os Hutts pensem
que estamos interessados demais, e nem alguém do exército também, já que
isso é um assunto político. Precisamos de alguém informado e dedicado, e
os relatórios que você registrou ontem à noite indicam que você não é nada,
senão ambos. Ula, quero você no primeiro transporte disponível.
Os outros assistentes o encararam com inveja indisfarçável, enquanto
Ula tentava encontrar uma maneira de sair da situação.
Estou lisonjeado, senhor, mas...
— Os seus dossiês já estão cheios, eu sei, mas não há nada que você não
possa delegar. E se você está preocupado com a segurança, solicitei um
detalhe completo. Não podemos nos dar ao luxo de perder alguém com suas
habilidades, Ula.
Ula engoliu em seco. Stantorrs derrubou as suas duas principais
objeções em pouco mais de um suspiro. Embora fosse realmente agradável
o fato do Supremo Comandante lhe proporcionar tanta confiança, que
utilidade tinha como informante no setor errado da galáxia? Precisava estar
ali, no escritório, não mexendo com Hutts imundos e potencialmente sob
fogo.
A guerra de gangues que levou Stantorrs a ouvir sobre o Cinzia seria
apenas uma pequena escaramuça se a nave casa fosse tão valiosa quanto os
Hutts disseram que era. Disso Ula tinha certeza, e era um informante, não
um soldado, por um motivo. Gostava de lutar tão pouco quanto gostava de
ser o centro das atenções. Simplesmente não foi treinado pra esse tipo de
coisa.
Porém, não havia como escapar disso, então aceitou com toda a graça
que pôde reunir.
— Excelente. Eu sei que posso confiar em você, Ula. Confidencial,
espero que você fique atento ao Jedi, é claro. Satele Shan diz que não fará
nenhuma ação oficial, mas eu não confio nela. Você conhece os principais
atores, não é? Se você ver um deles, me avise.
Ula assentiu.
— Eu vou, senhor.
— E se houver alguma substância nas reivindicações dos Hutts, informe
imediatamente. Vou ter uma frota sob ordens permanentes para oferecer ao
mundo proteção contra o Império.
— Sim, senhor. — Como qualquer pessoa com algum conhecimento
político, Ula sabia que “proteção” era algo que muitos mundos
simplesmente não queriam, por medo dos chamados protetores que
pilhavam recursos naturais e talento. Além disso, a mera presença de um
cruzador da República, sem falar em um Jedi, provavelmente provocaria a
ira dos Sith, que poderiam ser ainda piores. — E se não for nada?
— Então não perdemos nada e você mantém a sua promoção. Stantorrs
se levantou e estendeu a mão. — Estou elevando você para assessor sênior,
com eficácia imediata, e nomeando-o como enviado interino para o Cartel
de Bareesh. Parabéns, Ula.
Ula apertou a mão do Comandante Supremo, mas mal registrou o
esmagamento dos fortes dedos militares do Duros.Entorpecido da cabeça
aos pés, ele mal conseguia aceitar o que acabara de acontecer. O melhor que
conseguia era encontrar maneiras de lucrar com isso.
Enquanto os seus ex-colegas pressionavam para dar os seus parabéns,
percebeu que isso o colocava na posição ideal para garantir que a República
não ganhasse com a oferta dos Hutts. Poderia subestimar a importância de
qualquer informação que descobrisse, até mesmo interferir ativamente no
leilão, se fosse o caso. O que quer que os Hutts tivessem, a República não
teria acesso a ele.
E havia a frota da República que aguardava o resultado de sua
investigação. Se pudesse enviá-los em uma busca infrutífera a um setor
vazio da galáxia, isso poderia ajudar o Império de uma dúzia de maneiras
tangíveis. Também era útil que as forças militares do Supremo Comandante
da República e as partes do Senado fossem absorvidas nesse drama que se
desenrolava. O que havia começado como uma pequena curiosidade
poderia acabar desempenhando um papel decisivo no conflito, se ele fosse
cuidadoso.
— Quando você quer que parta, senhor?
— Imediatamente. A suas equipes de segurança estão esperando.
— Obrigado, senhor.
Ula engoliu o seu nervosismo, despediu-se e saiu da sala.
ELE NÃO FOI muito longe. No corredor do lado de fora do escritório do
Comandante Supremo, um esquadrão de seis soldados o esperava. Eles
usavam uniformes elegantes e o saudaram ao vê-lo.
— Sargento Robann Potannin, — o soldado principal se apresentou. —
Somos a sua escolta, Enviado Vii.
Potannin era moreno e musculoso, e embora ele fosse tão alto quanto
Ula, ele parecia ter uma grande altura.
— Obrigado, sargento Potannin. Serei grato por sua proteção em Hutta.
Qual a organização? Vamos nos encontrar no espaçoporto apropriado
quando o transporte estiver pronto?
— O transporte sai em uma hora, senhor.
— Então é melhor eu me mexer, não é?
Afastou-se pelo corredor, e o esquadrão se formou ao seu redor. Parou e
eles pararam também.
— Aonde vocês vão? — Ele perguntou a Potannin.
— Escoltando você para o Fornecimentos Diplomáticos, senhor.
— Não é para onde eu vou. Preciso passar no meu apartamento para
fazer as malas e tenho certeza de que posso lidar com isso sozinho.
— Negativo, senhor. Todas as necessidades para fora do mundo são
fornecidas pelos Fornecimentos Diplomáticos.
— Mas as minhas roupas
— Não são necessárias, senhor. Os trajes cerimoniais estão sendo
adaptados às suas medidas enquanto falamos.
Ula nunca tinha visto esse lado do governo da República em ação. Era
surpreendentemente e irritante, eficiente.
— Eu tenho um voorpak de estimação, — disse ele, improvisando
descontroladamente. — Se eu deixar sozinho, ele vai morrer.
— Não se preocupe, senhor. Nos forneça a sua chave e eu cuidarei dele.
— Não não. Isso não é necessário. — Ula passou a mão pelos cabelos.
Tanto para arrumar uma mala quanto o animal de estimação imaginário
eram a cobertura para a sua real intenção. Queria enviar uma mensagem do
seu apartamento para os seus Mestres Imperiais, informando-os desse
repentino desenvolvimento. Caso contrário, eles podem se preocupar com o
silêncio dele.
Felizmente, havia se preparado para todas as contingências.
Puxando o comunicador do bolso, ele disse:
— Vou ligar para um vizinho. Ela cuidará disso. Me dê um momento.
Ele andou a uma curta distância de Potannin e fez uma ligação rápida. O
vizinho também era imaginário, mas o número era real. Isso levou a um
serviço de mensagens automatizado que era verificado regularmente pela
rede de agentes do Sentinela Três em Coruscant. Após o tom, ele gravou o
seu nome e pediu dois pratos inócuos em um cardápio inexistente. O nome
do primeiro prato continha nove sílabas, o segundo treze, e esses números
permitiam que a mensagem real de Ula fosse decodificada a partir de frases
comuns que todo agente Imperial conhecia de cor: ele experimentara uma
interrupção não planejada e restabeleceria o contato o mais rápido possível.
Pelo menos através da voz, a sua mensagem abreviada passaria. Quem
sabia quando ele encontraria uma oportunidade de enviar outra?
Esse pensamento desencadeou toda uma nova onda de ansiedade. Ruim
o suficiente para estar no centro das atenções, mas ser completamente
separado de sua cadeia de comando era ainda pior. Ele sentiu as mãos
começarem a tremer e a esconder que as enfiara com o comunicador nos
bolsos.
— Tudo bem, — disse ele, voltando-se para o atento sargento Potannin e
dando o sorriso mais brilhante que conseguiu. — Sou todo seu.
A suavemente entrando em formação ao seu redor, eles o levaram para
se vestir para o seu novo papel.
A JOIA GLORIOSA do sistema Y'Toub se ergueu como um
cadáver inchado do mar sem fundo do espaço. Shigar olhou de soslaio,
contente pela primeira vez por não terem encontrado o transporte mais
opulento. O salão dos passageiros da Oportunidades da Seda Vermelha
estava imundo, e as suas janelas mal pareciam translúcidas, mas a miséria
combinava com a vista. Hutta parecia tão desagradável quanto sugeria a sua
reputação, verde e marrom mofado como uma fruta deixada para
amadurecer por muito tempo, cheia de podridão por dentro.
Larin se sentou ao lado dele, e os seus ombros se agitaram toda vez que
o cargueiro balançava embaixo deles. O seu rosto estava escondido pelo
capacete de sua armadura cada vez mais não regulamentada, mas ele
percebeu pela retidão de sua espinha que estava prestando muita atenção a
todos ao seu redor. Os droides e vigaristas que viajam com eles
justificavam. Até agora, houve duas brigas de facas, vários jogos de dejarik
fraudado, numerosos argumentos sobre o resultado da última Grande
Caçada e um vigoroso e longo canto... num dialeto que Shigar nunca ouvira
antes. que parecia durar para sempre.
Procurando acalmar os seus nervos, ele fechou os olhos e se concentrou
em um fragmento de plastóide de formato estranho na mão direita, que
havia captado nas ruas de Coruscant enquanto eles esperavam para
embarcar no transporte. Nada era familiar, então não havia como sua mente
consciente adivinhar suas origens ou propósito. Determinar um ou os dois
era onde a sua capacidade psicométrica deveria entrar.
Cerca de um em cem Kiffar nasceram com esse talento específico da
Força, decifrando a origem e a história dos objetos apenas pelo toque.
Shigar veio e foi apesar de todos os seus esforços, e era essa falta de
controle que, pelo menos em parte, adiou o Conselho Jedi quando se tratava
de permitir os seus testes. Muitos Cavaleiros Jedi não tinham nenhuma
habilidade psicométrica, mas todos deveriam conhecer intimamente os seus
próprios pontos fortes e fracos. Um talento selvagem de qualquer tipo não
era aceitável.
Shigar se concentrou em sua respiração e deixou a Força fluir
fortemente através dele. O tremor do cargueiro e o barulho dos passageiros
diminuíram. Sentiu apenas a forma complexa do objeto na palma da mão e
examinou o modo como se sentava no universo sem recorrer aos sentidos
habituais. Era velho ou novo? Veio de perto ou de longe? Era precioso ou
descartável? Era descartado deliberadamente ou sem cuidado? Era
fabricado ou artesanal? Haviam milhares de coisas assim na galáxia, ou era
a única que já existira?
Impressões meio sentidas vieram e foram. Ele viu o rosto de uma
mulher, uma humana, com olhos castanhos bem abertos e uma cicatriz
distintiva no queixo. Perseguiu esse perfume mental até o fim, mas nada
mais lhe ocorreu. Deixou pra lá e percebeu que tinha visto essa mulher nos
distritos antigos, enquanto se afastava da raiva da decisão do Conselho. Ela
estava vendendo baratas aranha assadas para um Abissínio com um olho. A
sua mente vomitou em seu rosto em desespero. Ela não tinha nada a ver
com o pedaço de plastóide.
Um cavaleiro Jedi é um cavaleiro Jedi em todos os aspectos, dissera o
Mestre Nobil. Até que controlasse esse talento, dificilmente se poderia dizer
que tinha controle sobre si mesmo. Nesse ponto, ele não teve defesa.
Frustrado, abriu os olhos e colocou o pedaço de volta no bolso. Tinha
alguns bolsos agora, principalmente no peito e na frente das coxas. Eles
acrescentaram vários quilos à sua massa corporal e tilintavam quando
andava. As texturas desconhecidas e o corte do seu disfarce vieram como
cortesia de um mercado em Klatooine, onde ele e Larin haviam embarcado
na Oportunidades da Seda Vermelha para Hutta. Ainda estava se
acostumando.
Através da janela suja, a quinta lua do mundo sujo, Nar Shaddaa,
passava furtivamente.
Estamos quase lá, Shigar disse a si mesmo.
— Você é um pouco pequena pra uma caçadora de recompensas, não é?
— Um contrabandista de seis dedos perguntou pra Larin.
Ela virou a cabeça a menor fração.
— E daí? Você é um pouco feio demais pra um ser humano. — A voz
dela foi artificialmente endurecida pelo vocoder adicionado para aumentar o
seu disfarce.
O contrabandista só riu.
— Você não me intimida, garota. Perdi a minha nave tocando pazaak em
um esconderijo pertencente a Fa'athra. Vou pedir de volta a ele, pela
bondade do seu coração. O que você acha disso?
O Hutt chamado Fa'athra era amplamente conhecido como o mais cruel
e sádico de todos.
— Acho que isso faz você ser tão estúpido quanto feio.
O contrabandista riu de novo, com o seu rosto se abrindo como uma
ferida para expor uma variedade desconcertante de dentes arranhados.
Shigar estava pronto para intervir se o intercâmbio se tornasse violento, mas
o contrabandista parecia satisfeito com a resposta de Larin.
— Diga ao seu amigo aqui, — disse o contrabandista, inclinando-se para
perto, — que se ele realmente quiser se passar por um piloto de rancor, ele
terá que encrespar um pouco a pele. Esses caras têm uma expectativa de
vida de menos de cinco minutos. Você não dura mais do que isso sem
algum tipo de dano.
Virou a cabeça pra outra pessoa, deixando Shigar e Larin trocarem um
olhar rápido.
— Vou colocar a máscara quando pousarmos, — Shigar sussurrou pra
ela. Não queria fazer isso em Klatooine, por não gostar da aparência
grotesca que lhe emprestava e do cheiro de couro mal curado. — Então
você pode dizer que eu te disse.
Ela só assentiu. Estava feliz por não poder ver a expressão dela.
O ESPAÇOPORTO DE BILBOUSA estava lotado de todo tipo de espécie
sensível e de modelos de droides que Larin já ouvira falar. O ar estava cheio
de especiarias e de uma densa mistura de línguas. Enquanto a Chances de
Seda Vermelha vomitava os seus passageiros com uma pretensão de
cortesia, eles se misturavam ao fluxo lamacento da vida como convinha ao
personagem: empurrar, bater, apelar pela passagem ou simplesmente parar e
esperar por uma abertura.
Shigar, agora revestido com o rosto enrugado de um piloto de rancor,
misturou-se perfeitamente.
Eles negociaram a impressão o mais graciosamente possível e fretaram
um saltador para levá-los a Gebroila, a cidade mais próxima do palácio de
Tassaa Bareesh. Não havia necessidade de passar pela segurança ou troca de
moedas. Todas as formas de créditos eram aceitas em Hutta. Depois de
verificar que a ficha de Shigar não era falsificada, o motorista Evocii os
levou de forma imprudente ao fluxo interminável de tráfego, provocando
uma dúzia de acidentes quase fatais. Larin manteve os olhos e a atenção no
interior do táxi. A missão deles era perigosa o suficiente sem se preocupar
com as ameaças cotidianas.
A viagem para Gebroila era longa e pareceu ainda mais longa. A
biosfera úmida de Hutta foi envenenada por milênios de abuso industrial,
tornando perigoso até respirar lá. As poucas espécies que sobreviveram à
conquista do mundo pelos Hutts sofreram mutações irreconhecíveis.
Alguns, como o lagarto químico, desenvolveram a capacidade de se
sustentar a partir de compostos que poderiam matar um animal comum.
Outros aperfeiçoaram defesas químicas elaboradas e caras, ou ocuparam
aqueles poucos nichos que não estavam cheios de poluentes. Tais nichos
eram vigorosamente contestados, tornando os seus habitantes alguns dos
mais cruéis da galáxia.
Os próprios Hutts eram um excelente exemplo de evolução em ação.
Corpulentos e parecidos com lesmas, os seus ancestrais devem ter sido
presas fáceis do seu mundo natal original. Mas a catástrofe ambiental os
forçou a se tornarem mais duros de várias maneiras ao mesmo tempo,
desenvolvendo músculos surpreendentemente poderosos sob toda a sua
flacidez e mentes para combinar com isso. Eles eram os habitantes originais
dos nichos e agora formaram o cume da cadeia alimentar.
Larin montou em silêncio, muito familiar em seu tempo de forças
especiais, com longos períodos em que nada acontecia. Gostaria de fazer
planos para a chegada deles a Gebroila, mas Shigar ficou calado, envolvido
em seus próprios pensamentos. Deixou-o em paz e ponderou sobre o
assunto. A segurança ao redor do palácio era praticamente rígida, e eles não
conseguiram comprar as identificações corretas para entrar. Em uma cultura
de falsificações e mentiras, seria difícil demonstrar autenticidade
apropriada... A menos que encontrem uma entrada por trás que não tenha
sido vigiada de uma dúzia de ângulos de uma só vez. De alguma forma, não
achou que seria muito fácil.
O PALÁCIO ERA tão grande quanto a cidade vizinha. Shigar ficou ao
mesmo tempo intimidado e tranquilizado por sua vastidão. Seria mais fácil
se esconder por trás daqueles muros ornamentados, entre os milhares de
servos, penitentes e outros inimigos que convergiam para onde quer que o
dinheiro estivesse concentrado. Ao mesmo tempo, haveria olhos por toda
parte. Eles não podiam se dar ao luxo de escorregar uma vez.
Shigar pagou ao motorista da saltadora e acrescentou uma gorjeta
substancial. O motorista era um escravo, amarrado por correntes ao veículo
que comandava. Evocii já havia sido proprietário em Hutta, mas agora eles
estavam no nível mais baixo de sua sociedade oportunista. Inúmeras
gerações de endogamia as haviam reduzido a uma espécie pálida e doentia.
Somente fora das cidades o seu espírito de luta permanecia, na forma de
tribos rebeldes cujo o vigor não causava problemas aos Hutts.
A expressão permanentemente sofrida, mas plácida, do motorista não
mudou quando ele puxou a saltadora pra longe do pátio do palácio e saiu
em disparada.
— E agora? — Perguntou Larin.
— Nós entramos.
— Sem mais nem menos?
— Sem mais nem menos.
Liderou o caminho por um longo lance de escadas, o primeiro gosto da
imposição de Tassaa Bareesh sobre os seus convidados. Ela nunca iria
escalar tal obstáculo sozinha. Sem dúvida, ela tinha equipes de carregadores
de liteiras ou de plataformas repulsoras para levá-la aonde quisesse. Ao
forçar os visitantes a fazer o que ela não faria, antes mesmo de entrarem em
seu domínio, e a sofrer por isso, ela os colocou automaticamente em um
nível social mais baixo.
Larin estava em forma. Não rompeu o passo enquanto eles subiam
rapidamente para o nível da guarda, ultrapassando várias outras partes ao
longo do caminho. Haviam três entradas com armas colocadas sobre cada
uma. Shigar pegou a da esquerda mais aleatoriamente. Quatro guardas
Gamorreanos blindados os aguardavam, dois fora e dois dentro. Os seus
olhos profundos contemplavam todos os seres que se aproximavam com
quantidades iguais de suspeita. Atrás deles, uma das partes que eles haviam
ultrapassado foi empurrada pelas escadas, gritando com tristeza.
— Tem certeza de que deseja fazer dessa maneira? — Ela perguntou.
— Essa é a parte mais fácil, — ele disse a ela. — Observe.
Os guardas cruzaram os eixos vibratórios quando se aproximaram.
Shigar parou obedientemente e se dirigiu a eles em uma voz calma.
— Você não precisa ver nossos documentos. Nós temos a autorização
necessária.
Os machados se separaram, permitindo que eles passassem.
— Dois fora, — o vocoder de Larin estalou.
Shigar repetiu o truque mental do outro lado da entrada. Novamente os
machados se separaram e eles atravessaram. Em uma porta acima, um
grupo barulhento de Ortolanos fez o mesmo, mas com os documentos
oficiais.
— Não pareça tão convencido, — disse Larin. — Eu posso ver até
através da sua máscara.
Um droide de protocolo prateado apareceu na frente deles, apoiado por
um par de droides de guarda TT-2G de olhos de inseto.
— Por esse caminho por favor. O Intendente Droog lhes atribuirão
quartos o suficiente para as suas necessidades.
— Tudo bem, — disse Larin. — Nós sabemos o caminho de volta.
— Se você permitir apenas verificar as suas identificações, — disse o
droide com mais insistência, — Intendente Droog garantirá que vocês sejam
acomodados adequadamente.
— Realmente, você não precisa se preocupar.
— Não se preocupem, honrados convidados. Vocês devem permitir que
mostremos a hospitalidade adequada.
Uma forte ênfase na palavra deve levou Shigar a olhar pra cima. A
localização das armas no lado interior da parede eram rastreadas para
atingi-las. Os Gamorreanos claramente não eram as únicas barreiras à
entrada no castelo de Tassaa Bareesh.
— É claro, — disse Shigar ao droide, suprimindo o menor sinal de
preocupação em sua voz. — Nós não queremos fazer barulho.
O droide se curvou e os levou a uma mesa, atrás da qual estava um Hutt
com aparência adoentado, com bolsas profundas sob os olhos. Ele estava
ocupado com os barulhentos Ortolans, que pareciam ter perdido um do seus
passaportes. Este foi outro revés. Os Hutts eram imunes a todas as formas
de persuasão dos Jedi, de modo que não iria funcionar desta vez. Shigar
pensou freneticamente. Lutar para entrar não era uma opção, dadas as
posições e a necessidade de sigilo. Nem estava lutando para sair, pois
haviam tantas armas assim. Se ele não pensasse em algo rápido, eles
ficariam presos.
Finalmente, o Intendente acenou para os Peripleens e gesticulou para
que Shigar e Larin se aproximassem.
— Kimwil Kinz e Mer Corrucle, — disse ele, dando ao Hutt os nomes
falsos com os quais haviam se estabelecido durante a viagem a Hutta.
Colocando a mão sobre a ficha de crédito, deslizou-a sobre a mesa como se
fosse algum tipo de documentação oficial. Indicando as costas dos
Ortolanos, desaparecendo em um amontoado no palácio propriamente dito,
ele acrescentou: — Estamos com eles.
Os olhos cansados do Hutt o encaravam com uma mistura de hostilidade
e desdém. Não havia como dizer de que maneira ele cairia. Ele era
automaticamente leal a Tassaa Bareesh, que o colocara nessa posição de
responsabilidade, ou estava entediado ou bêbado o suficiente com o seu
pequeno poder para aproveitar a oportunidade que Shigar apresentava? O
conteúdo da ficha de crédito era considerável; eles representavam tudo o
que havia recebido para cumprir a sua missão. Se ele aceitasse, seria um
dinheiro bem gasto.
O Intendente pegou a ficha e a colocou nas dobras do corpo.
— É melhor você se apressar, — ele murmurou em Huttês. — Eles estão
saindo sem você.
Shigar levou Larin para longe, sentindo-se exposto sob as posições e
cheio de aversão pelos Hutts e pela corrupção que eles abraçavam tão
prontamente. Muito provavelmente, o Intendente os trairia alguns minutos
depois de liberá-los, mas se ele conseguisse sair da linha de visão direta, ele
e Larin poderiam desaparecer na multidão do palácio, para nunca mais
serem vistos.
Eles andaram vinte e cinco passos sem interferência. Na primeira porta
disponível, ele virou à esquerda e imediatamente saiu novamente. Quando
nenhum som de perseguição soou atrás deles, deixou escapar o fôlego que
escapava por entre os dentes.
Larin ouviu.
— Ocorreu como planejado, foi?
— Precisamente, — disse ele com alegria falsa. — Você não estava
preocupada, estava?
— Nem por um segundo. — Ela balançou a cabeça. — Vamos encontrar
um lugar quieto e fora do caminho. Precisamos mudar a nossa aparência.
Eles se espremeram em um nicho e Shigar se livrou da máscara e de
uma grande quantidade do seu equipamento de couro de rancor, deixando-o
vestindo apenas calças, botas e um colete preto apertado na parte superior
do corpo. Sentiu-se cinquenta porcento mais leve e ficou grato por
recuperar a liberdade dos seus braços. Larin abriu o capacete e amarrou-o
com segurança ao cinto, depois entregou a capa que usava e a entregou pra
ele para cobrir os ombros expostos. Esfregando poeira nas bochechas e na
testa, ela fez o possível para fazê-las parecerem tão sujas quanto todos os
outros que haviam visto até agora.
Shigar se sentiu sujo o suficiente, e não apenas por causa do ar fedorento
de Hutta. Eles entraram e o primeiro obstáculo real da missão estava por
trás deles. Agora eles poderiam descobrir o que Tassaa Bareesh havia
encontrado na Cinzia.
Deixando o resto do seu disfarce escondido, eles se moveram pelos
corredores do palácio, mantendo os ouvidos e os olhos bem abertos para
surpresas.
NOS FUNDOS DO PALÁCIO, onde um penhasco altamente
fortificado provia um escudo natural contra atiradores e ataques de mísseis,
havia um espaçoporto particular grande o suficiente para uma dúzia de
transportes suborbitais. Seis das vagas já estavam cheias quando a enviada
Imperial se aproximou para pousar. Nenhum transporte foi registrado na
República. Uma delas parecia ser uma nave de um corsário, bulbosa e
maltratada e amplamente enegrecida de um lado como se tivesse sofrido
uma forte explosão.
— Bom, — disse Darth Chratis quando Ax comunicou essa informação
de inteligência a ele.
— Temos o salto da República, pelo menos. Algum sinal de Stryver?
— Nenhum ainda, Mestre.
— Mantenha os seus sentidos em alerta para a presença dele, mas
lembre-se do seu lugar. O seu desejo de vingança vem em segundo com as
ordens do Conselho Sombrio. Cumpra-os primeiro, então você pode agir
livremente. Precisamos saber o que havia dentro da Cinzia.
— Sim, Mestre, — disse ela com toda a aparente obediência. Em seu
coração, jurou aproveitar todas as oportunidades possíveis, aprovadas ou
não por Darth Chratis.
O transporte desceu com uma batida suave. Ax preferiria ter vindo sob a
sua própria direção, em seu próprio interceptor, mas o seu novo papel a
forçou a aceitar alguns compromissos. Soltou-se e avançou para encontrar o
enviado: Ia Nirvin, um homem austero e capaz, que entendeu muito bem
que o seu papel nos próximos eventos era cerimonial. As suas credenciais
eram genuínas, e a linha de crédito o qual tinha acesso veio diretamente do
tesouro imperial. Ele estava, no entanto, sob as ordens expressas de não
fazer acordos, a menos que Eldon Ax falhasse em sua missão.
— Por aqui, Enviado, — disse ela, conduzindo-o para a rampa de saída
traseira. Um comitê de boas-vindas já havia se reunido do lado de fora.
Nirvin ajeitou o uniforme, esperou até que a escolta se reunisse em torno
dele, em seguida, saiu do transporte.
Ax veio por último, caminhando com confiança pela rampa. As equipes
de segurança em torno da festa de boas-vindas a notaram instantaneamente.
Estava vestida inteiramente de preto, como convinha a uma emissária dos
Sith, e o seu punho de sabre de luz pendia abertamente ao seu lado. A
incerteza das equipes de segurança a agradou. O Enviado Nirvin veio com
toda a autoridade da burocracia Imperial, mas quem detinha o poder real?
Ela era guarda-costas ou a mestra das marionetes?
Um enorme Houk se aproximou dela.
— Sua arma, por favor.
Ax desengatou o sabre de luz, acendeu e, sem dizer uma palavra,
removeu a cabeça do Houk.
Mais quatro Houks avançaram para forçar o problema.
— Não há necessidade de tanta hostilidade sem fundamento, — disse o
Enviado Nirvin, pressionando sem medo entre ela e os guardas. — Ela vem
em paz como minha conselheira em assuntos esotéricos. Deixe o assunto
pra lá, ou temo que possamos voltar atrás agora.
A suas palavras foram dirigidas ao comitê de boas-vindas, não a ela, e
ficou feliz por isso. Não se importava com quantos Houks tinha que matar
para mostrar aos servos dos Hutts que não ia deixar o sabre de luz em
nenhuma circunstância.
A festa de boas-vindas conferiu em sussurros apressados, depois
assentiu com a aceitação da situação. Ax esperou até os Houks recuarem,
antes de desativar a sua lâmina e relaxar a sua postura defensiva.
— É bom fazer negócios com você, senhores, — disse ela, seguindo o
enviado e a sua comitiva para o palácio.
— TASSAA BAREESH OFERECE aos seus ilustres convidados as mais
cordiais boas-vindas e deseja a eles uma estadia lucrativa em sua humilde
morada.
Nada humilde, pensou Ax, olhando a decoração extravagante da sala do
trono. O que não tinha sido dourado estava incrustado de joias ou envolto
em seda. Nada menos que cem funcionários da corte se reuniram para
receber o modesto contingente Imperial, e não tinha dúvida de que a
multidão era uma tentativa deliberada de impressionar.
O droide tradutor, um esbelto A-1DO "cabeça de cone", fez o possível
para acompanhar o discurso retumbante de sua patroa.
— Tassaa Bareesh convida a sua ilustre convidada a tirar o máximo
proveito das comodidades do palácio antes de prosseguir para o programa
oficial. Temos uma boa variedade de banhos, restaurantes, salões de dança,
arenas de lutas...
— Preferimos continuar, — interrompeu o Enviado Nirvin em uma voz
contida, mas firme. — Com todo o devido agradecimento e gratidão, é
claro.
Em vez de parecer ofendida, Tassaa Bareesh deu um sorriso largo e
lascivo. A matriarca Hutt era impressionantemente grande, como uma
lesma enorme, com mãos de dedos curtos apoiados em sua barriga inchada.
Joias brilhavam em vários colares e anéis, e seda caía sobre os seus ombros
inclinados, mas nada podia esconder a repulsão de sua pele, que era tão
verde e oleosa quanto as costas de um réptil do pântano. A matriarca
retumbou brevemente, depois pegou um aperitivo. Ele se contorceu e se
contorceu inutilmente antes de cair na boca cavernosa e morrer com uma
trituração.
— Tassaa Bareesh entende o seu desejo urgente de prosseguir nos
negócios, — disse o tradutor. — Gostaria de ver a mercadoria?
— Por favor.
A matriarca Hutt latiu um comando. Da multidão de espectadores,
surgiu um alto Twi'lek, adornado com joias, que se curvou e disse
O meu nome é Yeama. Eu serei o seu guia.
Nirvin se curvou de volta.
— Se a mercadoria atender às nossas necessidades, podemos oferecer
um preço imediatamente.
— É claro, — disse Yeama, — mas receio que tenhamos outro grupo em
breve. Não poderíamos chegar a um acordo até que eles tivessem a
oportunidade de ver o que você viu.
— Quando este outro grupo chega?
— Hoje eu acredito.
— Da República?
— Não posso revelar a identidade deles.
— Você pode me dizer quantas outras partes interessadas existem?
Yeama sorriu apenas com os lábios.
— Por aqui, por favor.
A expressão do Enviado Nirvin era azeda, mas ele fez como lhe foi dito.
O Twi'lek conduziu a ele e a sua comitiva da sala do trono. Eles formaram
em uma procissão vistosa, com Yeama e Nirvin à frente, acompanhados por
um soldado Bareesh para cada guarda-costas Imperial. Ax apareceu na
retaguarda, feliz por estar se movendo novamente. Tolerava a diplomacia ao
invés de gostar dela.
Para equilibrar com Ax, havia o maior Houk que já tinha visto. Ele
acompanhou o ritmo dela, com a sua expressão impassível.
Quando saiu da sala, Ax vislumbrou uma figura despretensiosa nos
fundos. Um humano de estatura média, ele usava roupas práticas que
tinham visto dias melhores. Os seus cabelos grisalhos pareciam ter sido
puxados da cama momentos antes. Em uma rua em qualquer outro lugar da
galáxia, Ax o teria ignorado, é claro, mas no palácio de Bareesh ele era o
único que não estava cheio de elegância. Parado diretamente atrás dele
havia um velho droide de combate que parecia ainda mais maltratado do
que ele.
Ele viu Ax olhando-o e desviou o olhar, como se estivesse entediado.
Virou os olhos pra frente e seguiu o enviado.
YEAMA OS CONDUZIU por um labirinto de corredores, cada um mais
opulento que o anterior. Se Ax tivesse algum interesse em pinturas,
esculturas e tapeçarias, ou mesmo apenas no valor de tais coisas, tinha
certeza de que ficaria impressionada. Em vez disso, enquanto memorizava
cuidadosamente a rota, mantinha os olhos abertos para obter informações
táticas: quantos guardas estavam em cada cruzamento, quais áreas eram
cobertas por câmeras de segurança, onde as portas de segurança estavam
localizadas, ocultas ou não.
Sem surpresa, rapidamente concluiu que o palácio era uma fortaleza
embrulhada em papel alumínio. Os Hutts amavam o seu luxo, mas amavam
mais as suas vidas. Tassaa Bareesh não havia se elevado à liderança de um
cartel Hutt simplesmente dando as maiores festas. Ela sabia como para
protegê-la de volta, também.
Haviam pontos fracos em todos as equipes de segurança. Ax tinha
certeza de que poderia chegar à matriarca, se precisasse. Felizmente para
Tassaa Bareesh, a sua missão era simplesmente roubar.
Yeama parou as comitivas misturadas em uma grande sala circular sob
um teto abobadado, diferenciado por um lustre feito de milhares de pedaços
de vidro barroco. Havia apenas duas entradas nesta sala: aquela pela qual
haviam acabado de entrar, com grossas portas blindadas atualmente abertas
sob uma enorme estátua de pedra da própria Tassaa Bareesh, e a outra à
frente, com um par de portas para combinar, formando uma escotilha de
segurança. Yeama bateu palmas, e as portas atrás deles se fecharam. Ax
manteve a mão no punho do sabre de luz, mesmo sabendo que Tassaa
Bareesh não podia ser estúpida o suficiente para planejar uma emboscada, e
notou com aprovação que os guarda-costas do Enviado haviam se
aproximado dele.
Um som de baque e um barulho vieram das portas do lado oposto da
sala. Elas se abriram, revelando uma antecâmara que era agradavelmente
desprovida de decoração. Paredes, piso e teto eram de um branco uniforme
e impecável. Havia espaço com facilidade suficiente para todos, quando
entraram atrás de Yeama. A antecâmara poderia conter mais de cinquenta
humanos.
Quatro portas circulares do cofre se abriram para a antecâmara, cada
uma com mais de quatro metros de largura. Portais de transparaço
pequenos, mas muito grossos, no centro, permitiam acesso visual ao
conteúdo. Apenas um desses portais parecia não ter sido destruído. Foi para
aquela porta do cofre que Yeama os conduziu.
— Aqui, finalmente, Enviado Nirvin, é o prêmio que lhe foi prometido.
Mas me permita primeiro descrever como isso veio parar em nossas mãos.
Nirvin olhou através do portal, franziu a testa e voltou-se para Yeama.
— Faça isso, — ele latiu.
Ax estava muito longe para ver. Ansiava por passar por eles e procurar
por si mesma, mas por um momento teria que ficar satisfeita apenas com as
palavras.
— Parte do que estou prestes a contar é conhecido fora desta sala, —
disse Yeama. O resto não. Duas semanas atrás, um de nossos associados
parou uma nave nas profundezas do Espaço Selvagem.
Associados, Ax presumiu, era um termo diplomático para "pirata". E
parar com certeza significava "interditada e embarcada a baixo de armas".
— Foi um encontro de rotina, mas logo tomou uma virada
surpreendente.
— Surpreendente como? — Perguntou Nirvin.
— Aqui está a conversa que ocorreu entre nosso associado e a nave.
Uma gravação de áudio encheu a antecâmara, rica em respiração,
estática e crepitação. Alguns cliques sugeriram que ele havia sido editado,
mas o ambiente parecia autêntico.
— Preparar para o embarque.
Esse era o associado, Ax adivinhou: experiente, pragmático, com uma
ponta de tensão que desmentia a descrição do Twi'lek do encontro como
"rotina".
— Negativo. Nós não reconhecemos a sua autoridade.
Essa era a Cinzia, Ax presumiu, e aqui um sentimento estranho
percorreu a sua espinha. O orador era do sexo masculino e parecia
impossivelmente distante. Ele conhecera a mãe dela? Ele era parente dela?
Forçou-se a se concentrar no resto da conversa.
— Você é um pirata. Você trabalha para a República.
— Agora, isso simplesmente não é verdade.
— Estamos em uma missão diplomática.
— Pra quem? De onde?
Houve uma longa pausa cheia de estática.
— Tudo bem então. Quanto vai custar pra você nos deixar ir?
— Você está sem sorte, parceiro. Melhor ventilar essas travas de ar,
espertinho. Estamos entrando.
A gravação terminou com uma explosão de ruído branco que fez o
enviado pular.
— O que foi isso? — Ele perguntou.
— Uma explosão, — disse Yeama.
— A nave da qual o nosso associado se aproximou possuía uma unidade
íon de design desconhecido. Foi isso que explodiu, levando a nave e todos
com ele.
Como se o Twi'lek estivesse lendo os pensamentos de Ax, acrescentou:
— Acreditamos que as células de energia da unidade foram
deliberadamente incendiada.
— Eles se explodiram?
— Sim, Enviado Nirvin. Em vez de serem embarcados, eles escolheram
destruir a sua nave e todo o seu conteúdo. Infelizmente pra eles, a
destruição não foi completa. Fragmentos significativos sobreviveram. O
que você vê antes de serem dois itens recuperados dos detritos. O primeiro
é o computador de navegação da Cinzia, o qual contém as coordenadas de
sua origem. O segundo é mais misterioso. O que você acha disso?
O enviado espiou pelo grosso portal transparaço uma segunda vez. Ele
franziu o cenho mais uma vez.
— Eu nunca vi nada parecido.
— São exatamente os nossos sentimentos, — disse Yeama.
Mais uma vez, Ax resistiu ao impulso de avançar e ver por si mesma.
— Isso é o que podemos dizer. — Yeama cruzou as mãos sobre a
barriga. — Detectamos sinais de usinagem na carcaça externa, feita de uma
liga de dois metais extremamente raros, lutécio e promécio. Portanto, é uma
construção de algum tipo, e uma de um considerável valor material por si
só. Por outro lado, há também um componente biológico, cuja natureza não
conseguimos compreender. Está indubitavelmente presente, sabemos que
está ali, mas não podemos examinar a fonte da leitura mais de perto sem
penetrar fisicamente na caixa. Fazer isso naturalmente reduziria o valor do
objeto, então deixaremos isso para o comprador final.
— Podemos chegar mais perto?
— A combinação do cofre é o que você estará licitando, Enviado Nirvin.
Até que você a compre, a porta permanece fechada.
O Enviado assentiu com a cabeça, mas o seu cenho permaneceu intacto.
Afastando-se da janela, ele finalmente acenou pra frente.
— Dê uma olhada, — disse ele. — Veja o que você acha disso.
Apesar de ter ficado irritada com as ordens do boneco administrativo,
Ax fez como lhe foi dito, espiando com intensa curiosidade o que havia
dentro do cofre. Finalmente, ela podia ver o motivo de toda essa confusão.
O computador de navegação era facilmente identificável, embora tivesse
sido torcido e parcialmente derretido pela explosão que destruiu a nave ao
seu redor. Era um modelo portátil, inesperadamente pequeno, mais parecido
com um comunicador de satélite mais robusto do que o coração do sistema
de navegação de uma nave estelar. Presumivelmente, foi impresso por voz,
mas essas disposições de segurança poderiam ser facilmente contornadas
por um hacker talentoso. Ax só podia aceitar a palavra de Yeama para saber
se ainda funcionava ou não. Ele repousava em uma caixa de transparaço em
um pedestal de vidro à esquerda do centro da sala e era observado de perto
por inúmeros sensores montados nas paredes, piso e teto de aço duraço da
abóbada.
Sentado no chão à sua direita estava o segundo objeto. Nirvin estava
correto: não combinava com nenhuma estética de design que ela já havia
encontrado. Era atarracado, como um droide utilitário T3, mas sem pernas
ou interfaces ambientais visíveis. O seu corpo era tubular e repousava rente
ao chão do cofre. Não havia marcas além de uma série de ondulações quase
branquiais no meio. A sua cabeça era levemente convexa, como se tivesse
sido empurrada para cima e parte dela estava chamuscada de preto. A cor
natural do seu invólucro parecia ser prata. Sem escrita, sem símbolos, sem
marcadores de identificação.
Ax também não sabia o que era, mas não disse imediatamente.
Aproveitando a oportunidade para inspecionar o interior do cofre com mais
detalhes, memorizou as posições dos sensores, estimou a força das paredes
e mediu a distância de cada objeto da porta, para o caso dela ter que se
apresentar no escuro. Seria muito melhor, é claro, receber o prêmio uma vez
que estivesse fora do cofre e longe de todos esses impedimentos, mas
estaria preparada para qualquer coisa.
— Pode ser um biorreator, — disse ela ao Enviado, devolvendo o
controle da janela pra ele.
— Agente de pragas, talvez?
— Acho difícil dizer sem abrir.
— De fato. — Nirvin voltou-se para Yeama. — Isso é tudo que você tem
para nos mostrar?
— Tudo? — O Twi'lek mostrou os dentes. Eles eram tão pontudos
quanto as pontas do seu lekku. — Vou acompanhá-lo até uma sala de
espera, onde você pode examinar os dados relacionados à nossa descoberta
em perfeito conforto.
— Muito bem. — Nirvin indicou que Yeama deveria liderar o caminho.
Ax desceu atrás deles, com sua enorme sombra Houk ao seu lado. Os
objetos no cofre não falavam com ela como aprendiz de Sith ou como filha
biológica de Lema Xandret. O biorreator de pragas, se tal fosse coisa, não
provocou nenhuma lembrança.
As informações esparsas que haviam recebido informavam apenas um
pouco mais. Que o objeto fosse feito de uma liga de metais extremamente
raros, bem incorporada aos sonhos do seu Mestre de dar ao Imperador um
mundo novo e rico, mas isso não significava nada em si. Com a tripulação
da Cinzia morta, também não havia pistas a seguir, a menos que ela
descobrisse algo que havia sido escondido pelos Hutts, como um
sobrevivente, talvez, ou outra pista sobre as origens da nave. Não passou
por Tassaa Bareesh para leiloar apenas metade do que eles encontraram
enquanto mantinha algo extra em reserva, para vender para a parte que
perdeu o leilão.
Yeama os tirou da antecâmara e voltou para a trava circular de
segurança, onde as pesadas portas voltaram rotacionaram novamente. De lá,
Yeama os conduziu por um novo conjunto de corredores luxuosos em
direção da sala de espera igualmente agradável.
Ax fez questão de estar em outro lugar. Confundindo a sua escolta Houk
com um truque mental bem colocado, afastou-se do grupo e desapareceu
nas sombras.
ULA SUPORTOU o discurso de boas-vindas de Tassaa Bareesh com
desprezo mal disfarçado, cordialidade e a lucratividade como parceiros de
cama não confiáveis, principalmente quando a honestidade e a ética
também não eram convidada. Quando a sua anfitriã prometeu a ele uma
variedade de comodidades, incluindo aprimoramentos químicos e formas de
entretenimento ainda mais duvidosas, era tudo o que podia fazer para não
cuspir para tirar o gosto ruim da boca.
— Acho que podemos dispensar tudo isso, — disse ele. — Por que não
vamos direto ao assunto?
O sorriso de fenda de Tassaa Bareesh aumentou ainda mais, se isso fosse
possível.
O seu droide protocolo de cabeça pontuda garantiu a Ula que Tassaa
Bareesh entendeu completamente.
Ela acenou pra frente a um subordinado, um Twi'lek de aparência
desonesta, que assumiu as negociações a partir desse ponto. O Twi'lek
prometeu que logo veriam o legado da Cinzia. Quando Ula foi conduzido
da sala do trono, ele vislumbrou um homem de aparência desalinhada
encostado na parede traseira com um olhar vazio no rosto e um droide
laranja amassado perto do seu ombro. O tédio do homem tinha um ar
fabricado, e foi isso que chamou a atenção de Ula.
— Quem era aquele sujeito lá atrás? — Ele perguntou ao guia.
— Qual sujeito? — Yeama nem olhou por cima do ombro.
Ula o descreveu, ainda não disposto a desistir do assunto. Ser um bom
informante significava não dar nada por garantido e perceber todos os
detalhes.
— Cabelos grisalhos, nariz proeminente, olhos castanhos, com um
droide velho.
— Oh, ninguém em particular, — assegurou o Twi'lek.
— Um piloto cuja nave está atualmente atracada aqui. Ele tem o favor
da minha senhora e, portanto, da administração do palácio.
— Qual o nome dele?
— Jet Nebula, Enviado Vii. Você nunca ouviu falar dele.
Isso era verdade. Nem parecia um nome real. Mas não era tolo o
suficiente para aceitar a palavra de Yeama. Os Hutts e os seus servos eram
mentirosos naturais. Como ele.
Ele arquivou o nome em sua memória.
YEAMA O LEVOU através de várias medidas de segurança ridículas para
apresentá-lo à causa de todo essa confusão. Um computador de navegação e
um pouco de lixo espacial, tudo parecia caindo aos pedaços, até onde se
podia dizer, embora isso por si só fosse um alívio. Se a charada não
chegasse a nada, logo terminaria. No entanto, prestou atenção aos detalhes e
fez as perguntas que esperava.
— Você disse que não houve sobreviventes? — Ele perguntou depois de
ouvir as últimas transmissões da Cinzia. — Como posso ter certeza de que
o seu associado não os matou e inventou essa história louca para cobrir a
ação?
— O destino dos passageiros é irrelevante para nós, — respondeu
Yeama. — Nós não mentiríamos para poupar as suas sensibilidades.
Que Ula acreditou completamente e reviveu a indignação moral que
sentira por estar na corte de uma Hutt. As táticas venais de Tassaa Bareesh
apenas confirmaram a sua baixa opinião da espécie dela e as suas
esperanças de que fossem desfeitas de alguma maneira. Os Hutts estavam
caminhando em uma linha muito tênue. Quanto mais valiosos os itens que
estavam em leilão, mais eles obviamente podiam cobrar, mas quanto tempo
até que uma ou outra parte simplesmente entrasse e os levasse?
Perguntou-se se ambos os lados tinham exatamente essas contingências
no lugar. O Comandante Supremo Stantorrs obviamente suspeitava disso,
com relação aos Jedi, e não houve chance de perguntar ao Sentinela Três se
o Imperador havia enviado alguém que não fosse um enviado oficial. Um
Agente Codificador, talvez, capaz de feitos muito maiores do que um mero
informante como ele. Ula vislumbrara um transporte Imperial na doca na
parte de trás do palácio, então ele sabia que não era o único enviado que
Bareesh havia entretido naquele dia.
Ocorreu-lhe que o enviado Imperial não saberia que o enviado da
República era na verdade um traidor sem intenção de ganhar o leilão para
os seus supostos Mestres. Se ele pudesse encontrar alguma maneira de
comunicar essa mensagem, isso poderia poupar ao Imperador uma grande
quantidade de problemas e despesas...
Yeama estava falando novamente.
— O leilão será realizado amanhã, com todas as partes presentes. Você
fará os lances para a combinação deste cofre. A segurança de todas as
partes é a nossa principal preocupação, portanto, o processo será anônimo.
Vou levá-lo para a sua acomodação segura agora, e você pode examinar os
dados lá durante a noite.
— Se os licitantes forem anônimos, — disse Ula, vendo a sua chance de
enviar uma mensagem ao enviado Imperial se afastando dele, — como
saberemos que as propostas são genuínas?
— Como de fato? — Disse Yeama, com um sorriso de conhecimento. —
Aconselho que você faça lances justos, para ter certeza de que o lance
vencedor reflita o verdadeiro valor do prêmio.
Ladrões, mentirosos e racionalistas econômicos, pensou Ula como
Yeama, o levaram ao centro de hospitalidade embaraçosamente exuberante.
Pro caos com todos eles.
ANALISAR OS DADOS levou quase uma hora. A Cinzia mostrada nas
gravações feitas pelo pirata de Bareesh tinha sido um cruzador estelar de
design desconhecido, mas o olhar afiado de Ula detectou indícios de um
chassi Imperial sob um casco reformado. Poderia ter sido um modelo antigo
da classe S, despojado e reconstruído de dentro para fora. As unidades
tinham uma assinatura semelhante, embora as suas emissões tivessem sido
confundidas de alguma forma. Fragmentos do casco coletados após a
explosão mostraram altas proporções de metais raros, semelhantes aos do
objeto parado no cofre de Tassaa Bareesh. Nada sobre a nave dava alguma
dica sobre as suas origens.
Um mundo rico em metais exóticos seria realmente um prêmio, pensou
Ula, enquanto vasculhava os dados em busca de pistas. Talvez a sua viagem
não tivesse sido por nada, afinal. Essas substâncias raras eram a espinha
dorsal de muitas indústrias, das comunicações à guerra. A escassez já havia
atrasado muitos projetos cruciais para a expansão do Império, incluindo
alguns tão secretos que só os ouviu através de relatórios emitidos ao
Comandante Supremo Stantorrs por espiões da República. O seu próprio
lado não confiava nele para saber disso.
— É tudo um jogo, — ele murmurou pra si mesmo, afastando o
holovídeo dele em frustração.
— Algo está errado, Enviado? — perguntou Potannin, prestando atenção
na entrada da suíte.
— Oh, nada, sargento, — disse ele. — Eu só estou cansado.
— Você gostaria de ir para os aposentos? Você tem uma escolha de
camas...
— Não acho que vou dormir hoje à noite.
— Você recebeu vários convites de outras festas no palácio, senhor. Se
houver algum interesse, eu poderia tomar providências.
— Isso seria seguro?
O rosto angular de Potannin mostrou segurança confiante.
— Eu arriscaria um palpite, senhor, que enquanto os Hutts se
propuserem a lucrar conosco, estaríamos no lugar mais seguro da galáxia.
— Verdade. — Ula pensou por um momento. — Tudo bem então.
Deixe-me ver a lista.
Examinou rapidamente, encobrindo embaixadores menores, chefes
criminosos ambiciosos e vários seres cujas intenções eram ainda menos
honrosas. Um nome chamou a sua atenção.
— Jet Nebula, aquele piloto com o nome ridículo que tem livre-trânsito
do palácio. O que ele quer de mim?
— Não sei dizer, senhor. Mas ele convidou você para uma bebida em
uma cantina chamada Cova do Veneno.
— Parece desagradável.
— Devo recusar todos eles, senhor?
— Sim. Não, espere. Havia algo estranho na postura desafetada de Jet
Nebula e em sua colocação no salão de boas-vindas. Se ele estava realmente
tão entediado, por que ele se colocou em uma posição a partir da qual ele
poderia estudar a todos na sala?
— Diga a Nebula que vou encontrá-lo em meia hora.
— Sim senhor.
Ula escolheu um vestiário aleatoriamente e trocou as suas vestes por
algo mais sensato. Os Fornecimentos Diplomáticos o fizeram se sentir um
palhaço. Além disso, ele não queria se destacar. Se ele descobrisse quem era
realmente esse Jet Nebula , ou pelo menos o que sabia, faria isso vestido
adequadamente.
Antes de sair da vestiário, pegou o blaster compacto que guardara e
enfiou no bolso do peito. Só pra prevenir.
A CANTINA ERA tão ruim quanto previra, com alienígenas e seres
humanos vagabundos agrupados em dois e três jarros de bebidas castanhas
de aparência densa. Um rugido complexo de frequências em constante
mudança atingiu o espaço, realizado por um quinteto de Bith; Ula só podia
assumir que eles consideravam o barulho que faziam ser música.
Trocou um olhar com Potannin, que colocou vigias nas duas entradas e
colocou os três soldados restantes em pontos estratégicos ao redor da
cantina. Só a presença deles levou alguns clientes a pegar as suas bebidas e
cambalear em outros lugares.
Jet Nebula ocupava um canto escuro, espalhado por um salão
acolchoado baixo com a cabeça inclinada para trás e seu droide maltratado
de pé protetivamente aos seus pés. O copo à sua frente estava vazio.
Quando Ula se aproximou, a cabeça de Jet apareceu e o encarou com o
mesmo olhar que estava usando no início do dia.
— Roupas bonitas, — disse ele.
Ula sentiu o seu rosto ficar vermelho. A ideia de "sensato" dos
Fornecimentos Diplomáticos equivalia a um uniforme militar simulado em
roxo, com dragonas e insígnias sem sentido em todas as superfícies
disponíveis. Havia tirado as bugigangas, mas não havia nada que pudesse
fazer sobre a cor, a não ser colocar uma capa cinza sobre os ombros e
esperar o melhor.
— Você queria conversar comigo, — disse ele, indo direto ao ponto.
— Isso depende, parceiro. Você está pagando?
— É tudo o que você procura: uma bebida grátis?
— E se estiver? Um homem tem que levá-lo onde encontra, na minha
linha de trabalho.
— Ou seja?
— Você não consegue adivinhar? É preciso um farsante para conhecer
um farsante.
Um calafrio percorreu a espinha de Ula. O que Jet estava dizendo? Que
ele sabia que Ula era uma informante? Ele iria chantageá-lo por dinheiro,
ou pior?
Jet sorriu e coçou preguiçosamente o queixo.
— Todas essas perguntas estão me deixando com sede. Que tal você
mandar o seu homem nos comprar uma rodada de Núcleos do Reator e
conversaremos como cavalheiros.
Ula não teve escolha senão concordar. Por acaso se Jet sabia alguma
coisa, não queria que fosse revelado detalhes na frente de sua equipe de
segurança.
Ula deu as ordens e o droide saiu correndo atrás de Potannin. Ele se
sentou, ignorando a súbita fraqueza nos joelhos.
— O que você quer?
— Eu já te disse, e você já está providenciando.
— Não estou falando de álcool. Seja mais explícito.
— Se você não consegue descobrir, não tem utilidade pra mim.
— O que você quer dizer? — Ula sentiu sua indignação aumentar, mas
antes que ele pudesse atacar em troca, algo ocorreu a ele. — Espere um
minuto. Yeama disse que você tinha o favor de Tassaa Bareesh. O que você
está fazendo aqui embaixo mendigando bebidas de mim?
Jet não disse nada.
Ula examinou tudo o que sabia sobre Jet e encontrou uma série de fatos
desconectados, assumindo uma nova e surpreendente configuração em sua
mente.
— Essa é a sua nave no cais, — ele disse, — aquela com o dano da
explosão. Você pediu uma bebida de contrabandista. Você disse farsante por
causa do que você faz, não eu.
— 'Todos os políticos são mentirosos', — disse ele, — para citar o
Chanceler Janarus.
Ula não riu do paradoxo.
— Você é o pirata que encontrou a Cinzia.
— Prefiro capitão decargueiro, — disse Jet, — mas eu sou esse sujeito.
— Ele executou uma reverência de sua posição relaxada no salão. — Os
Hutts não esquecem quem são os seus amigos.
— Você não parece estar se divertindo.
— Como não gostar? A minha nave está apreendida e não posso sair do
palácio. Estou no paraíso.
Ula se aproximou e sussurrou sobre a mesa.
— É sobre isso que você quer falar comigo? Se sim, não tenho
autoridade para...
Jet acenou pra ele em silêncio. Potannin voltou com as bebidas. Eles
eram grandes, sombrios e perigosos. Jet ergueu o braço, soprou a espuma
cintilante e brindou à República.
Ula ecoou o brinde e tomou um gole. Um fogo elétrico queimou um céu
na garganta e causou uma detonação lenta no estômago.
— Você está bem, senhor? — perguntou Potannin.
— Sim, sargento, — ele conseguiu.
— Deixe-nos por um momento. Mas fique perto. — Caso eu precise de
um médico ...
— Sim senhor.
A equipe de segurança saiu respeitosamente do alcance dos ouvidos.
— Não é seu costume beber? — disse Jet com um sorriso malicioso.
Ula normalmente não bebia nada, mas não estava disposto a admitir
isso.
— Posso informar ao meu superior, se você quiser organizar uma
extração, mas...
— Não foi por isso que te convidei aqui. Só acho que alguém deveria
saber o que realmente aconteceu com a Cinzia no Espaço Selvagem naquele
dia.
A curiosidade de Ula foi despertada por isso.
— Já ouvi a gravação e vi os dados. Você está me dizendo que há mais?
— Muito mais. Beba e ouça.
Assim começou uma história longa e desmedida sobre rivalidade e
traições entre contrabandistas. Ula prestou muita atenção no início. Jet tinha
sido pior do que um contrabandista: ele havia sido um pirata contratado
pela República para vasculhar as margens da galáxia interior em busca de
material digno de roubo para ajudar a causa da República. Isso era
interessante por duas razões. Confirmou os relatórios sugerindo que a
República realmente se engajou nessa tática inglória. Mostrou também com
que facilidade os objetos em leilão poderiam ter caído diretamente na posse
da República. A intervenção dos Hutts, pela primeira vez, funcionou em
vantagem do Império.
Ula se sentiu um pouco desconcertado com isso. Acreditava que a
sociedade civilizada nunca deveria permitir que essa decadência e
corrupção prosperassem. O fato da República negociar com pessoas como
Tassaa Bareesh era evidência, se precisasse, da invalidez do seu inimigo
para governar, mas o que dizer sobre o Império se permite lucrar por meios
semelhantes?
Enquanto Jet falava, a atenção de Ula começou a se desviar. Quem se
importava com o desagradável Shinqo e se ele tinha permissão para deixar
o palácio ou não? O que importava se o Jet Nebula se sentisse mal utilizado
por seus novos Mestres, que não tinham a intenção de compartilhar o lucro
maciço que deveriam obter do leilão com mais ninguém? Por que ele estava
desperdiçando o seu tempo em uma exibição tão egoísta e uma exibição de
autopiedade?
Gole a gole, Ula abriu caminho através da bebida. Jet não parecia estar
bebendo muito, e isso o intrigou, de forma distante. Quando o
contrabandista terminou de descrever o triste fim da Cinzia, a visão de Ula
estava começando a ficar um pouco confusa.
— Diga isso de novo, — disse ele, achando estranhamente difícil manter
o cotovelo apoiado na mesa. — Algo sobre diplomomo, ah, diplomatas.
— Eles estavam em uma missão diplomática. Perguntei a eles pra quem
e eles não responderam. Isso não faz você pensar? Tanto a República
quanto o Império estão pedindo informações sobre de onde essas pessoas
vieram e o que estavam carregando. Se a tripulação da Cinzia não estava
vindo falar com nenhum de vocês, com quem eles estavam conversando?
Esse foi um ponto interessante. Ula arquivou para pensar mais tarde,
quando o chão parou de tremer.
— Então há a explosão.
— E a explosão?
— Bem, foi um pouco dramático, não foi? Mas, ao mesmo tempo, não
foi muito eficaz. Você pensaria que se eles realmente quisessem fazer isso,
se eles se importassem o suficiente para se matar, teriam se esforçado para
fazer o que é certo.
— Você pensaria que sim. — Você faria, concordou Ula. — Mas e se
eles discutissem? E se nem todos quisessem ser explodidos? Eu não
gostaria de ser.
— Esse é um bom argumento, Enviado Vii, — disse Jet. — Eu não tinha
pensado nisso.
Ula estava desenvolvendo um forte gosto por Jet Nebula, apesar do fato
de que ele parecia ter aumentado de tamanho.
— Outra rodada?
— Espere, — disse o contrabandista, sentando-se reto de repente. —
Alguma coisa não está certa.
Ula olhou em volta. Ficara muito quieto sem ele perceber. A banda
zelosiana não fazia mais barulho. Os clientes da cantina haviam caído sobre
as mesas. Alguns deles estavam roncando em suas bebidas. Até o barman
estava esparramado no balcão, se contorcendo levemente.
Enquanto observava, o sargento Potannin se inclinou pra frente e caiu
desossadamente no chão.
Isso não poderia estar certo, Ula pensou. Desde quando é que alguém
da segurança se embebeda?
— Obah, gás! — Jet estava de pé com um blaster na mão. — Clunker!
O droide danificado chegou instantaneamente ao lado do contrabandista,
com os seus fotorreceptores brilhando.
— Bom. Fique de olho na porta. Eu vou...
Um estalo agudo veio detrás deles. O droide cambaleou, envolto em
raios azuis brilhantes de energia. Um barulho estridente veio de suas
entranhas. Ele congelou, um raio de retenção se projetando do lado de sua
cabeça.
— Não se mexa, Nebula, — chamou uma voz aprimorada por vocoder
da direita de Ula.
Ula se virou a tempo de ver uma parte do teto cair. A cabeça e os
ombros de um Mandaloriano se projetavam do buraco. O rifle que ele
segurava estava apontado diretamente para o peito de Jet.
— Fique onde está, Enviado Vii. Isso não envolve você. Abaixe o
blaster, Nebula... Agora.
O contrabandista obedeceu.
— Se você quisesse interromper, tudo o que precisava fazer era pedir.
Com um movimento elegantemente musculoso, o Mandaloriano pousou
com os pés no chão abaixo dele.
— O seu droide irá se recuperar. O mesmo acontece com os
espectadores. Usei gás suficiente para nocauteá-los, não mais.
— Sorte que estávamos bebendo Núcleos de Reator, — disse Jet.
— Por que você acha que os contrabandistas os pedem tanto? Eles têm
um gosto horrível, mas garantem imunidade a todos os tipos...
— Chega de conversa, — disse o Mandaloriano, indicando com o
objetivo comercial do rifle que Jet deveria sair de trás da mesa.
— Você vai pelo menos nos dizer quem é? — Perguntou o
contrabandista.
— Eu sei, — disse Ula, embora ele ainda estivesse lutando para pensar
na bebida narcótica. Você é Dao Stryver. O que você quer com Lema
Xandret, exatamente?
A atenção do Mandaloriano se voltou diretamente pra ele, e de repente
Ula se sentiu completamente sóbrio.
— Você, também, — disse Stryver, balançando o rifle. — Vocês dois
estão vindo comigo.
— Ou o quê? — Jet perguntou.
— Você não quer saber 'ou o quê'. Mexa-se.
Tarde demais, Ula se lembrou da arma que estava no bolso. Ele ficou de
pé cambaleante e foi impulsionado pela ponta do blaster na cantina, com
rosto grisalho de Jet Nebula ao seu lado.
A VISÃO DE UM capacete distintamente arredondado e de queixo
baixo levou Larin a uma parada abrupta. Com um aceno urgente de sua mão
para sinalizar para Shigar se esconder, recuou para um corredor lotado e
ficou lá até o Mandaloriano passar em segurança.
Um segundo olhar lhe disse que não era Dao Stryver. A armadura dessa
pessoa era prata e azul, não cinza e verde, e Stryver era mais alto e mais
maciço. As pessoas se afastaram.
Pegou um transeunte ao acaso.
— Quem era? — Ela perguntou, indicando o capacete que estava
recuando.
— Só o Akshae Shanka, — disse a Evocii sem graça, como se ela fosse
uma idiota. — Fique longe dele, se você souber o que é bom pra você. Ele
ficou em segundo lugar em duas Grandes Caçadas separadas.
— E aposto que isso não melhorou o humor dele, — murmurou Larin
enquanto o escravo se afastava. Enquanto os Mandalorianos esperavam a
próxima grande guerra, eles se divertiram com rituais de luta entre si,
atraindo alguém tolo o suficiente para mostrar interesse em seus violentos
jogos de ascensão. Eles eram perigosos e imprevisíveis em todas as coisas,
exceto em uma: tendo retornado à galáxia durante a Grande Guerra, Eles
não iam fugir novamente tão cedo.
Larin esperou um minuto inteiro para se certificar de Shanka não voltou,
Em seguida, ela se mudou de volta para o fluxo do ramo principal e acenou
para Shigar para segui-la.
Eles estavam seguindo as informações colhidas por um dos chefes do
palácio. Dois visitantes da alta segurança, a República e os enviados
Imperiais, supuseram Larin e Shigar, estavam alojados em uma das alas de
luxo no coração da estrutura desconexa. Era difícil entrar naquelas partes do
palácio, mas eles souberam de um poço que ligava as rotas de serviço
subjacentes, como a que estavam seguindo no momento, e os porões de alta
segurança. Passar de um para o outro estava demorando, mas até agora não
estava provando ser especialmente difícil.
Larin liderou o caminho, seguindo o mapa que havia memorizado e
mantendo os olhos firmemente em frente. Shigar a estava seguindo, em
algum lugar; tinha certeza disso, embora não pudesse vê-lo. Ele andou
levemente como um cisne alderaaneano e desapareceu na multidão como
uma nuvem de fumaça. Quando parou no próximo cruzamento para
verificar seu rumo, ele simplesmente apareceu ao lado dela, como se não
tivesse no lugar.
— Falta pouco, — disse ele. — Eu vou na frente no próximo trecho.
— Tudo bem, — disse ela.
— Mas eu tenho pensado: por que estamos indo por esse caminho em
primeiro lugar? A nossa prioridade não deveria ser o cofre?
— Seria, se soubéssemos onde está. Quando chegarmos a um dos
enviados, teremos o nosso guia. Sabemos que os dois o viram. Pedir às
pessoas certas é sempre melhor do que perguntar aleatoriamente.
Concordou sinceramente com isso. Eles aprenderam muito se
misturando com a equipe humilhada do palácio, mas todas as informações
importantes que reuniram vieram com uma riqueza de trivialidades inúteis.
Separar uma da outra levou mais tempo do que qualquer um deles gostaria.
— Depois de você, — disse ela, acenando pra ele na frente dela. Era sua
vez de seguir na próxima. Um par de pessoas caminhando lado a lado
sempre chamava mais atenção do que indivíduos na multidão. Cercados por
escravos e servos desconhecidos, eles entraram, passaram e foram
instantaneamente esquecidos. Isso era algo que Akshae Shanka nunca
conseguiria.
ELES CHEGARAM À ENTRADA no poço subterrâneo sem incidentes. Lá,
Larin tropeçou em um Gamorreano que passava em um Evocii pesadamente
carregado e, durante a distração resultante, Shigar ativou o sabre de luz e
cortou o enorme parafuso de segurança da porta. Dobradiças enferrujadas
gemeram quando abriu a porta; ninguém notou os gritos e recriminações. A
discussão mal estava no auge quando Larin apareceu atrás dele. Juntos, eles
fecharam a enorme porta.
Era muito mais silencioso do outro lado e mais escuro também. Shigar
respirou fundo, feliz por estar fora da prensa multi espécies e da pobreza
que eles enfrentavam. Ele vislumbrara os luxos luxuosos daqueles no topo
da pirâmide social em Hutta. Sabia quais privilégios eles desfrutavam. Tudo
ao seu redor era o custo, na imundície e na miséria senciente.
Que o submundo de Coruscant era exatamente o mesmo lhe deu uma
pausa em culpar os Hutts. Talvez fosse simplesmente a natureza das coisas.
Talvez a repreensão de Mestre Nobil tenha sido merecida. Como a Ordem
Jedi poderia mudar algo que durou milênios? Não era a tarefa do Conselho,
não quando os lobos do Imperador estavam abocanhando a garganta da
galáxia.
Uma fraca luz amarela ascendeu a vida.
— Em frente, depois a esquerda, não era isso?
A voz de Larin ecoou sibilantemente nos quilômetros de canos de metal
à frente deles. À luz da lanterna do seu rifle blaster, levou um dedo aos
lábios e assentiu. Ela revirou os olhos e disse:
— Não há ninguém aqui embaixo. Foi o que nos disseram.
Ele balançou a cabeça e indicou que era a vez dela liderar. Melhor não
arriscar, ele pensou.
Larin partiu em um galope cauteloso através do túnel. O cano estava
seco e vazio e era facilmente grande o suficiente para eles ficarem de pé.
Eles poderiam ter corrido lado a lado, se quisessem. Ocasionalmente, o teto
era interrompido por conjuntos de cabos, forçando-os a se abaixarem, e em
duas ocasiões eles tiveram que pular através de um poço, mas fora isso não
houveram mais interrupções.
Chegaram ao cruzamento em quinze minutos. Quando Larin se
aproximou, Shigar pegou no ombro dela. Com um aperto firme, puxou-a
para uma parada.
Ela o olhou interrogativamente. Colocou uma mão sobre a lâmpada do
rifle, extinguindo a luz.
Tudo ficou escuro por um momento; então um brilho opaco apareceu. O
som de um movimento fraco ecoou ao redor deles. Alguém estava no túnel,
ao virar da esquina.
Shigar avançou, mal ousando respirar. Através da Força, sentiu três
organismos em um agrupamento, mas não com clareza suficiente para
identificar as suas intenções. Se eles estavam esperando, por que a luz? Se
não era uma armadilha, por que o silêncio?
Passou a cabeça pela esquina. Três grandes figuras com chifres estavam
agrupadas em volta de uma lâmpada, olhando para o teto e coçando a
cabeça. Eles eram claramente Hortek, o que explicava por que não estavam
conversando: eram telepáticos. Além disso, os uniformes grosseiros de
trabalho que usavam e as ferramentas espalhadas aos pés explicavam o que
estavam fazendo nos túneis. Eles eram uma equipe de manutenção e,
portanto, perfeitamente inocentes.
Shigar levou um momento para tranquilizar Larin, depois fechou os
olhos. Os seus poderes telepáticos eram modestos na melhor das hipóteses,
mas haviam sido aprimorados sob a Grã Mestra a ponto dela lhe transmitir
conceitos simples sem falar. Os Hortek eram receptivos a pensamentos do
exterior e vulneráveis à persuasão da Força. Se Shigar pudesse combinar os
dois, poderia facilmente se livrar deles.
Encontrou o foco necessário com uma facilidade surpreendente. A treino
a caminho de Hutta lhe fizera bem. Em instantes, os Hortek pegaram as
suas ferramentas e foram embora.
— Legal, — sussurrou Larin quando o som de passos pesados
desapareceu. Ela dobrou a esquina e acendeu a luz na posição mais baixa.
— Fica mais difícil daqui em diante, — disse Shigar, desatando o punho
do sabre de luz. — Não vamos ficar acomodados.
— Ei, olhe isso. — Larin tinha a luz apontada para o teto, onde os
Hortek estavam trabalhando. Algo explodiu na parede de metal do poço,
derretendo-o. Vários fios de prata pendiam como fios de teia. Larin soprou
suavemente em um deles. Ele balançou rigidamente de um lado para o
outro. — Que se parece com fio.
— Não pode ser, — disse Shigar. — Está ficando mais longo.
Larin apontou a luz para o fundo do fio. O seu término estava
visivelmente se estendendo mais baixo.
— Crescendo, — disse ela, — ou extrudado?
— Não importa, de qualquer maneira, — disse ele. — O que está
acontecendo lá em cima não é da nossa conta.
— No palácio da Hutt, — ela disse, — eu chamaria isso de filosofia que
salva vidas.
O PRIMEIRO DRONE DE SEGURANÇA que encontraram era uma esfera
de metal que caiu zunindo de uma chaminé, brotando as armas quando
surgiu. Larin o derrubou com um tiro, batendo Shigar por um milésimo de
segundo.
Soprou fumaça imaginária do seu blaster.
— Você terá que fazer melhor do que isso para vencer, hum, a mim.
Quase disse para vencer os Estrelas Negras, mas parou a tempo. Não
queria que ele se perguntasse o que uma dos comandos de elite da
República estava se escondendo com ele nas entranhas da fortaleza de
Tassaa Bareesh. Só de pensar em contar essa história, a sua confiança era
cortada. Ainda assim, o que eles estavam fazendo era como nos velhos
tempos, e o estado mental era surpreendentemente fácil de sucumbir. A
ousadia, a jactância e a beligerância, juntamente com a correria por lugares
escuros e atirar nas coisas.
— Fique alerta, — disse Shigar. — Haverão mais desses.
— Eu nasci alerta, — disse ela, ainda não pronta para abandonar o
sentimento dos velhos tempos ainda.
O segundo drone de segurança zuniu de um túnel lateral, piscando as
suas luzes e emitindo um aviso para ficar parado. Shigar pegou este,
espetando-o no meio com a lâmina do seu sabre de luz.
— Não fui tão rápido, quanto você?
Sorriu.
Eles se moveram com cautela. Drones eram um perigo, mas a presença
deles significava que eles estavam chegando ao objetivo. Os bastidores de
luxo estavam quase tão fortemente protegidos quanto a câmara de dormir de
Tassaa Bareesh.
O eixo começou a se ramificar e dobrar de volta. Shigar os navegou
infalivelmente, ela esperava, enquanto os drones convergiam para eles
como moscas. Os seus tempos de reação melhoraram com a prática até que
os drones mal tiveram tempo de aparecer antes de serem destruídos.
Então um drones três vezes maior que os outros zumbiu pelo poço na
direção deles, disparando rapidamente. Shigar girou o sabre de luz como
um escudo, refletindo o seu próprio tiro. Gesticulando com a mão, ele
derrubou parte do teto e esmagou o drone sob os escombros.
— Não queremos fazer isso com muita frequência, — disse ele enquanto
a poeira se dissipava.
— As pessoas são obrigadas a perceber quando o chão desaba sob elas.
Eles seguiram o caminho sobre a pilha de alvenaria caída.
— Aqui em cima, — disse Shigar, espiando algo à frente.
Seguiu logo atrás dele. Havia uma escada firmemente montada na
parede, levando a um poço vertical.
— Você tem certeza de que é esse? — Ela perguntou.
— Tanto quanto possível. — Ele testou o seu peso nos degraus. Eles se
seguraram sem reclamar. — Eu vou primeiro.
— Não mate nada até eu chegar lá, — disse ela.
O POÇO CONDUZIU a um porão cheio de barris de óleo enterrados sob
dois centímetros de cascas de insetos e poeira. Parecia que eles não tinham
sido tocados por décadas. Shigar se moveu levemente através deles,
deixando apenas algumas pegada. Larin era quase tão furtivo, e ela era um
tiro certeiro com aquele rifle snub dela. Várias vezes se sentiu tentado a
perguntar por que ela estava perdendo tempo nos antigos distritos de
Coruscant, mas não queria bisbilhotar. Atrás da brincadeira, estava com os
lábios cerrados. Se havia algo que precisava saber, ela lhe diria
eventualmente, tinha certeza disso.
Seja gentil, Mestra Satele havia dito. Havia pensado muito
cuidadosamente sobre essa instrução. Tinha que se aplicar a Larin, a jovem
a qual já havia resgatado uma vez, do Mandaloriano. Mas foi uma gentileza
ser arrancada de sua casa e mergulhada no meio da guerra de outra pessoa?
Alguns pensariam que não. Mas sentiu em Larin uma raiz corrosiva que
poderia envenená-la se não fosse neutralizada. Em Coruscant, era apenas
mais uma pessoa desprovida de privilégios, apanhada em motins
alimentares, revoltas separatistas e corrupção. O que ela precisava era de
direção, um propósito. Poderia lhe dar isso, temporariamente, se ela
quisesse.
O porão dos barris os entregou a uma porta que havia sido soldada. O
seu sabre de luz logo eliminou esse obstáculo. Eles entraram em uma
escada estreita e mofada que os levou, nível por nível, a um porão que
estava em uso no momento. Uma equipe da Evocii estava ocupada
descarregando engradados de alimentos delicados em uma ampla sala fria.
Eles estavam ocupados demais para notar as figuras fugazes que passavam
por eles, entrando nas cozinhas.
Larin encontrou um armário e Shigar atraiu uma escrava relativamente
bem vestida para trás deles.
— Somos convidados de sua mestra, — Shigar disse-a, incentivando-a a
aceitar a mentira por meio de um incentivo gentil através da Força. —
Obviamente, perdemos o rumo.
— Você está muito longe da sala do trono, senhor.
— Você sabe onde os dois enviados estão alojados?
— Sim senhor. Trabalho nos detalhes da lavanderia e sou
frequentemente chamada para atender essas áreas.
— Você ficará feliz em nos lembrar como chegar lá.
A Evocii forneceu uma descrição detalhada das duas suítes. Eles
estavam praticamente lado a lado, com entradas voltadas para direções
opostas. A suíte pertencente ao Enviado Vii da República estava mais
próxima.
— Já ouviu falar desse sujeito Vii? — Larin perguntou a ele de lado.
Shigar teve que confessar que não.
— Política é assunto da minha Mestra.
— Deveria ser da conta de todos.
— Cá entre nós, concordo completamente.
Shigar interrompeu a escrava, que havia descido a detalhes ridículos em
seus esforços para ajudar.
— Você também nos dará códigos de acesso às áreas seguras, caso os
tenhamos esquecido.
— Sim, senhor, mas não para as suítes em si. Não sei o que são. Os
guardas podem ajudá-lo quando chegar lá, espero. Eles vão conhecer você,
é claro...?
— Claro, — Shigar a tranquilizou. — Você não precisa se preocupar
com isso.
— Não senhor. Não preciso me preocupar com isso.
A Evocii obedientemente deu a eles tudo o que sabia, e Shigar guardou
na memória.
— Antes de você ir. — ele lhe disse, — eu quero que você saiba que
hoje não é seguro aqui em baixo. Encontre um lugar para se esconder e
fique lá até o barulho acabar. Você não quer se machucar.
— Eu não quero me machucar.
— Está certa.
A escrava saiu do armário e correu para obedecer o seu comando.
— Pronta? — Ele perguntou a Larin.
— Eu nasci pronto.
— Você já fez isso.
— Fiz? Bem, é melhor você me dizer onde atirar antes que eu me
envergonhe ainda mais.
Eles saíram do armário e correram pelos corredores bem equipados. Era
uma mudança agradável não levantar poeira e correr por teias de aranha.
Em vez disso, vasos e estátuas frágeis cobriam os corredores, e Shigar
tomou muito cuidado para não danificar nada desnecessariamente. Alguém
fez essas coisas. A preservação da cultura estava entre as muitas missões de
um Jedi.
Eles chegaram ao posto de controle que a escrava Evocii havia descrito.
Cinco sentinelas Houk guardavam a entrada dos quartos de hóspedes da
República. Isso foi mais do que o esperado. Larin percebeu a situação
rapidamente e comunicou a sua estratégia a Shigar com uma série de gestos
rápidos e concisos. Assentiu, feliz por assumir sua liderança.
Ela rolou da capa e ficou de joelhos, atirando nos ombros de dois dos
Houks. Eles tombaram pra trás. Shigar passou por ela, usando a sua lâmina
para defender os dois. Um terceiro Houk caiu, atingido por uma flecha de
sua própria arma, desviada para ele do sabre de luz de Shigar. Restou dois.
Larin levou um tiro a queima-roupa perto de um deles e retaliou com dois
tiros no peito. Shigar cortou o restante do braço.
Ficou parado em uma posição defensiva na fumaça ondulante, pronto
para atacar novamente se algum dos caídos se contorcesse. Larin se moveu
levemente para o lado dele, sem se machucar com o quase acidente, embora
o seu ombro agora ostentasse uma nova mancha de carvão.
— Sem alarme, — disse ela com satisfação. — Nós os pegamos bem a
tempo.
— A porta estará trancada. Veja se você consegue passar sem
desencadear qualquer coisa.
Ajoelhou-se junto à fechadura e tirou o capacete enquanto ele ficava de
olho nos transeuntes. Um fluxo de ferramentas de precisão saiu da escotilha
da coxa esquerda de sua armadura. Aplicou-as uma a uma no mecanismo de
trava, cantarolando baixinho enquanto trabalhava. Shigar estava prestes a
perguntar quanto tempo ela levaria quando guardou as ferramentas no
bolso, levantou-se e tocou no painel de acesso.
A porta se abriu, surpreendendo os dois Houks do outro lado. Shigar
desviou o tiro, enquanto Larin lidava com eles. Então eles correram para a
suíte e fecharam a porta atrás deles.
A cena que os esperava era totalmente inesperada.
Um Twi'lek, com uma roupa vistosa, estava parado sobre os corpos da
equipe de segurança da República. Ele alcançou um comunicador, mas
Shigar o tirou do seu alcance com um rápido puxão da Força.
— O que está acontecendo aqui? — Larin perguntou em tons nítidos e
imponentes. — O que você fez com o Enviado?
— Eu? — O Twi'lek parecia mortalmente afrontados.
— Essas criaturas não foram prejudicadas por alguma ação minha. Eles
foram encontrados assim, drogados, em uma cantina. O Enviado está
desaparecido.
Larin pressionou o cano da rifle sob o queixo do Twi'lek.
— Você está mentindo.
— O Enviado é um convidado de honra, convocado aqui só para fazer
negócios! Não o desejamos nenhum mal!
— É um bom argumento, — disse Shigar.
— Isso não significa que eu tenho que gostar dele. — Ela inverteu o rifle
e golpeou o Twi'lek na cabeça. Ele caiu como uma pedra. — Você fica lá
enquanto eu checo história dele.
Shigar fechou a porta atrás deles e a trancou novamente. Larin puxou
um dos guarda-costas caídos para um sofá e bateu levemente em seu rosto.
— Ele tem um pulso. Já é um começo.
Antes que pudesse causar danos graves ao homem, Shigar veio ajudar,
abaixando a cabeça do guarda-costas sobre uma almofada antes de tentar
acordá-lo.
Uma mão ficou na almofada. A outra segurou a testa do guarda-costas.
Concentrando-se, Shigar cutucou o fluxo da Força através do seu corpo,
incentivando a despertar.
O guarda-costas se contorceu e abriu os olhos em alarme. Houve um
som rasgando como todos os espinhos em seu couro cabeludo dispararam
para fora. A almofada absorveu todos eles.
— Sinto muito por assustá-lo, — disse Shigar em voz calma.
— Você foi drogado. Meu nome é Shigar Konshi. Esta é Larin Moxla. A
Grã Mestra Satele Shan nos enviou para ajudá-los. Isso não era inteiramente
verdade, mas como explicação, seria útil.
O homem o empurrou e se sentou. Ele passou a mão pelo couro
cabeludo e limpou a garganta.
— Minhas desculpas por atacar você. Sou o sargento Potannin. Onde
está o Enviado Vii?
— Nós não sabemos, — disse Larin. — Esperávamos que você pudesse
nos contar.
Potannin balançou a cabeça.
— Nós devemos ter sido emboscados. O Enviado Vii estava
conversando com um homem que trabalha para os Hutts. O nome dele é Jet
Nebula. E havia mais alguém, um Mandaloriano.
— Que Mandaloriano? — perguntou Larin, inclinando-se para perto. —
Você tem um nome?
— Não me lembro. — Ele olhou para Larin e Shigar em apelo. —
Temos que encontrar o enviado.
Shigar assentiu. Um Dao Stryver ativo em Hutta seria uma complicação
inesperada, mas não era necessariamente um desastre. A missão principal
ainda pode continuar.
— Tudo bem, — disse ele. Você e Larin procuram o enviado. Se o
Twi'lek está dizendo a verdade, os Hutts o ajudarão.
— E você? — Perguntou Larin.
— Vou dar uma olhada naquele cofre. O que você não pode aprender
com o enviado, eu vou descobrir por aí. Sargento Potannin, pode me dar
instruções?
Potannin forneceu uma descrição abrangente da rota da suíte de luxo ao
cofre, através de uma antecâmara de segurança. Shigar guardou na
memória.
— Você viu o que havia lá dentro?
— Existe o computador de navegação da Cinzia e um artefato que o
Enviado Vii não conseguiu identificar. Feito de um metal estranho.
Potannin parecia se desculpar. — Sinto muito, mas é tudo que sei.
— Não importa. — Shigar desejou que Potannin tivesse aprendido mais.
As relíquias antigas de Sith e Jedi às vezes podiam ser identificadas por
suas marcações. — Vou dar uma olhada e ver se consigo descobrir.
— Tem certeza de que quer fazer isso sozinho? — Perguntou Larin antes
de sair.
— Eu tenho o meu comunicador, — disse ele. — Eu ligo pra você se eu
tiver problemas.
— Seria melhor. — Ela tocou seu braço brevemente, e então se afastou.
— Vejo você mais tarde, de qualquer maneira.
Shigar deixou ela e o sargento Potannin para acordar os outros. Com o
sabre de luz aceso, voltou aos fluxos e refluxos do palácio de Tassaa
Bareesh e contou as interseções, uma de cada vez.
A VOZ DE DARTH CHRATIS percorreu fracamente os
milhares de quilômetros que o separavam da sua aprendiz.
— Você viu algum grupo do enviado Jedi na República?
— Nenhum, Mestre. — Ax podia ouvir a decepção em sua própria voz.
Estava ansiosa para lutar contra algo mais desafiador do que os ineptos
guardas do palácio. — Se eles estão aqui, os estão mantendo muito
discretos.
— Está claro, então, que eles planejam roubar o artefato diante de nós.
Caso contrário, eles seriam visíveis. Suas ordens estão inalteradas. Você
deve agir rapidamente para garantir que você chegue lá primeiro.
— Vai ser difícil, Mestre. As portas são enormes e é provável que hajam
alarmes...
— É para você se preocupar. Falhe comigo e você mesmo se reportará
ao Conselho.
A linha se fechou e Ax sorriu na escuridão. Darth Chratis era tão
transparente quanto o vidro. Se ela conseguisse, ele planejava receber o
crédito; se ela falhasse, a culpa seria dela. Mas algumas das manchas,
inevitavelmente, passariam pra ele, se ela falhasse, parando os seus planos
do avanço. Era divertido, portanto, mantê-lo nervoso. Isso o tornou
previsível.
Só três minutos se passaram desde que determinara as cargas. Elas eram
velhos, sobras de uma expedição de mineração que havia abandonado o seu
equipamento em um dos três armazéns do palácio, mas os consumira o
suficiente para derrubar um pequeno pedaço de uma colina. Se os
cronômetros funcionassem corretamente, os guardas de Tassaa Bareesh
teriam em breve algo para ocupar a sua atenção.
Enquanto isso, estava engatinhando. Os planos hackeados do
computador central do palácio mostravam que os cofres eram estruturas
independentes com energia e suprimentos de ar próprios. Ao redor de todas
as amplas caixas de duraço havia um metro de espaço livre, repletos de
armadilhas. Se alguma coisa passasse pelas armadilhas e tocasse
simultaneamente na caixa e na parede, um circuito dispararia, soando um
alarme alto o suficiente para acordar o próprio Imperador em Dromund
Kaas.
Os planos também mostraram que o cofre era mantido no lugar por uma
série de repulsores, alimentados por bobinas de indução na base de um
berço de ferrocreto. Ferrocreto era relativamente fácil de cortar com um
sabre de luz. Ax abriu caminho por pequenos espaços de rastreamento até
uma posição diretamente abaixo de um canto do cofre que continha os
restos da Cinzia. Os esquemas de fiação não mostraram cabos naquele
momento. Tudo o que precisava fazer era esperar pela distração, cortar
caminho por cima, desativar as armadilhas e saltar através da lacuna.
Dentro de uma hora, esperava tocar o lado de fora do cofre com as pontas
dos dedos. De lá, ela tocaria de ouvido.
Deslizou como um rato por espaços que não tinham tamanho o
suficiente para respirar, inclinando-se desajeitadamente em cantos apertados
e apertando com os dedos dos pés e das pontas dos dedos. Segurou o sabre
de luz à sua frente, pronta para atravessar quaisquer obstáculos sérios. O ar
estava cheio de poeira e fumaça. Piscou frequentemente para clarear os
olhos.
Um som subsônico de buum veio através da alvenaria em torno dela,
seguido rapidamente por outro. Prendeu a respiração enquanto o palácio
tremia, e se pressionou pra fora com a Força, apenas no caso de algo pesado
se cair nela. Uma série de buuns menores reverberou quando as cargas
desencadearam uma reação em cadeia no reator primário do palácio, como
esperava que pudessem reverberar. Imaginou os Hutts e os seus escravos
correndo para descobrir o que tinha acontecido. Se eles fizeram ou não, não
importava pra ela. Nem se importava se o reator secundário restaurasse a
energia imediatamente. O cofre era independente. Manter os seus anfitriões
distraídos era seu objetivo principal.
Outro minuto de rasjando a levou ao lugar que precisava estar. O espaço
para rastejar era amplo o suficiente para se agachar, e o fez, segurando o
pomo do sabre de luz diante dela. Fechando os olhos, o acendeu e levantou
a lâmina lentamente no teto acima dela. Ferrocreto borbulhou e sibilou;
manchas ardentes atingiram a sua pele. Quando o punho estava nivelado
com o próprio teto, parou e fechou os olhos.
O poder do lado sombrio fluiu através dela, elevando a temperatura do
ferrocreto até escaldante. Respirou levemente pelo nariz, não se importando
se estava queimada. Um brilho vermelho a cercou, irradiando da superfície
acima. Manteve a sua concentração, formando uma bolha autoprotetora
sobre ela enquanto o ferrocreto se fundiu e começou a pingar.
A bolha subiu suavemente através da lava, entregando-a sem mais
esforço ao espaço sob a base do cofre. Quando a bolha atingiu o topo do
ferrocreto derretido, abaixou o sabre de luz e abriu os olhos. Pelo brilho
vermelho, viu o cofre de duraço através do topo da bolha e um emaranhado
de cabos que faziam parte da estrutura ferrocreto ao seu redor. Eles
permaneceram emaranhados enquanto a lava esfriava. Nenhum dos cabos
foi cortado, portanto, em teoria, nenhum alarme deveria soar.
Falta pouco.
Apenas as armadilhas permaneceram. Levantou a cabeça
cuidadosamente da bolha em resfriamento, mas não viu nenhum sinal de
laser em lugar algum. Eles deveriam estar claramente visíveis em toda a
fumaça, mas nenhuma linha brilhante irrompeu à primeira vista.
Intrigada, Ela colocou as mãos enluvadas no lábio ainda quente da bolha
e levantou-se fisicamente à primeira vista.
Sem alarmes. Nenhum outro senão aqueles causados por suas explosões.
Contra todas as expectativas, o sistema de segurança externa do cofre
parecia estar desativado.
Será que os Jedi a venceriam?
Agachou-se no espaço sob o cofre, ao lado de um dos repulsores
segurando a estrutura maciça acima da cabeça, e reativou o sabre de luz.
Por seu brilho avermelhado, distinguiu as lentes do sistema de laser olhando
cegamente para ela. Eles não tinham sido fisicamente interferidos, pelo
menos. Estendeu a mão e tocou a base do cofre. Sem passos ou outros
movimentos óbvios por dentro. Esse era outro sinal positivo.
Um detalhe inesperado deu-lhe mais uma razão para ser cautelosa. A
parte central do cofre estava fisicamente conectada ao berço por uma série
de fios de prata. Aproximou-se deles, tomando cuidado para não cortá-los.
O seu objetivo era desconhecido, assim como haviam impedido o segundo
sistema de alarme de disparar. Assim que o cofre foi penetrado, todo o
palácio de Tassaa Bareesh deveria saber.
Algo inesperado estava acontecendo, e não gostou.
Ax desativou o sabre de luz e se sentou de pernas cruzadas no ferrocreto
quente. Se alguém desativasse os repulsores, seria esmagada como um
inseto. Anulando esse pensamento da melhor maneira possível, lançou os
seus sentimentos para o espaço ao seu redor, procurando sinais de algo fora
do lugar.
O cofre, antes de tudo, estava desabitado, além do mais fraco vislumbre
de atividade biológica dentro do artefato anômalo recuperado da Cinzia.
Aproveitou a oportunidade para examiná-lo dessa maneira e sentiu um raro
calafrio percorrer a sua espinha. O que estava ali? Pequenos sinais de vida
estavam agrupados em quatro grupos, mas não pareciam exatamente
mentes. E algo sobre eles fez os seus instintos recuarem.
A minha mãe fez isso, não pôde deixar de pensar. A minha mãe, que
deveria estar morta.
Colocando firmemente toda a especulação nessa frente, Ax examinou a
antecâmara e os outros três cofres, a seguir. Era possível, embora
extremamente improvável, que um ladrão totalmente independente tivesse
mirado algo em um dos outros cofres, fechando o dela durante o processo.
Uma rápida varredura provou que a teoria era falsa. Não havia ninguém lá
fora.
Quase desistiu de lá, repreendendo-se por exagerar. A distração que
criou não duraria para sempre. E não queria que o Mestre Chratis se
preocupasse por muito tempo. Parte do objetivo de dizer a ele que a missão
seria difícil era para surpreendê-lo quando a realizasse rapidamente. O
pensamento a encheu de satisfação antecipada.
Antes de se levantar, lançou um rápido olhar mental através da trava
circular de segurança do lado de fora da antecâmara.
O seu rosto se torceu em uma carranca imediata. Um Jedi! Reconheceria
aquele fedor mental sem graça e inibido em qualquer lugar. Uma única
amostra havia ignorado os alarmes e queimado através das fechaduras da
porta externa. Era um trabalho impressionante, mas ele não estava se
movendo rápido o suficiente. Podia abrir caminho sob o cofre e subir na
antecâmara muito antes dele abrir a porta interna. E então, quando o fizesse,
receberia muito mais do que esperava.
Sorrindo, passou de pernas cruzadas para um agachado e começou a
derreter o seu caminho através da última barreira entre ela e o seu inimigo.
DAO STRYVER USOU uma teia densa e adesiva extrudada de um
bico no punho esquerdo para prender Ula e Jet em seus assentos. A sala de
jantar para a qual ele os levara estava vazia, contendo nada além de cadeiras
e uma mesa, mas, como convém ao palácio de Tassaa Bareesh, esses eram
bons exemplos de materiais preciosos e design e, portanto, muito resistentes
para os prisioneiros quebrarem.
A cabeça de Ula estava latejando com os efeitos posteriores do Núcleo
do Reator, mas ele notou o brilho de metal revelando quando Stryver soldou
a porta. De duraço, muito provavelmente, também convinha ao palácio de
um Hutt. Todos os tipos de celebridades criminosas preocupadas com a
segurança podem ter comido nesta sala. E morrido aqui, possivelmente.
Ula testou as amarras e as achou imutáveis. Os seus dedos já estavam
dormentes.
— Você sabe o meu nome, — disse o Mandaloriano, parado em cima
dele. — Como?
Tentando e não reprimindo um gaguejar, Ula descreveu o relatório
recebido pelo Supremo Comandante Stantorrs da Grã Mestra Satele Shan.
Foi aí que o Mandaloriano foi identificado pela primeira vez. Ele não tinha
escrúpulos em revelar a extensão do conhecimento da República, pois
garantiria a Stryver que um pouco mais havia sido descoberto sobre ele ou
Lema Xandret.
— Você vai me desamarrar agora? — Ula perguntou a ele.
— A única razão pela qual você ainda está vivo é porque não há honra
em matá-lo, e também não há vantagem. — O Mandaloriano se elevou
imensamente sobre ele. — Isso pode mudar facilmente.
Ula caiu de volta em seu assento e fechou a boca.
Jet estava sentado na cadeira ao lado de Ula, olhando inexoravelmente
para o captor.
— Suponho que você me conhece de algum lugar, — disse ele. —
Arruinei a reputação da sua irmã? Nesse caso, receio que ela tenha sido
esquecida.
Stryver não mordeu à isca.
— Capitão Nebula, me disseram que foi você quem falou com a
tripulação da Cinzia.
— Quem disse isso?
— Um ex-membro de tripulação chamado Shinqo.
— Ele dizia qualquer coisa para tirar o seu blaster da cara dele.
— É a minha avaliação com precisão. O que ele me disse é verdade?
— Como você sabe que a minha versão é diferente da dele?
— Eu serei o juiz disso.
— Por que você quer saber? O que é tão importante para atravessar a
galáxia e descobrir?
— Apenas responda as minhas perguntas, Nebula. O que te disseram?
— Você quer dizer 'o que' ou 'quanto'?
Ula não entendeu por que Jet estava tornando as coisas mais difíceis do
que deveriam.
— Eu ouvi a gravação, — disse Ula. — Eles não disseram nada pra ele.
O Mandaloriano se voltou a ele.
— Quais foram as palavras exatas?
— Eles estavam em uma missão diplomática e não queriam ser
embarcados.
— Eles mencionaram algum nome?
— Nenhum.
— A gravação poderia ter sido editada?
— Suponho que poderia ter sido, mas...
— Fique em silêncio. — Stryver voltou-se para Jet. — O nome Lema
Xandret significa alguma coisa para você?
— Se essa é a sua irmã...
A ponta do blaster de Stryver cravou na garganta de Jet.
— Não brinque comigo. Ela era uma fabricante de droides Imperiais que
desapareceu quinze anos atrás. O nome dela foi mencionado por alguém a
bordo dessa nave?
— Não, — disse Jet. — E não havia sobreviventes, se você acha que ela
estava a bordo. Shinqo te disse isso, tenho certeza.
— Ele me disse que havia destroços e que você deu aos Hutts.
— Por que eu faria algo assim?
O estrondo abafado de uma explosão sacudiu o chão, fazendo Ula pular.
Choveu poeira do teto. Stryver apontou o rifle para a porta, pronto para
disparar contra qualquer um que a atravessasse, mas a explosão veio de
muito mais longe. Um segundo seguiu rapidamente o primeiro, e as luzes
piscaram. Distantemente, os alarmes começaram a soar.
— O palácio está sob ataque, — disse o Mandaloriano. — Não há tempo
agora para a embromação. Se você sabe o que sobreviveu à explosão, deve
me dizer.
Havia algo na voz do Mandaloriano, uma crescente urgência que fez Ula
falar mais do que só para a autopreservação.
— Eu já vi, — ele disse. — Estão em um cofre não muito longe daqui.
— O que são?
— Há duas coisas e ambas estão à venda. O computador de navegação
da Cinzia...
— Intacto?
— Então me disseram.
— E o outro item?
— Eu não sei o que é.
— Descreva-o.
— Prata tubular, com cerca de um metro de altura, feita de metais raros
e algum tipo de componente orgânico. Sem insígnia. Você sabe o que é
isso?
O Mandaloriano brincou com a sua armadura e projetou um pequen
holovídeo nos jardins do palácio.
— Existem sete cofres de segurança máxima no enclave de Tassaa
Bareesh. Diga-me qual deles contém esses dois itens.
— Por quê? — Perguntou Jet. — É apenas lixo espacial.
— Você não acreditava nisso, — disse o Mandaloriano.
— Vou vender qualquer coisa, ou tentar.
— Se você soltar minha mão, — disse Ula, — mostrarei qual é o cofre.
— Você também não está atrás deste planeta misterioso, está? —
perguntou Jet, revirando os olhos enquanto Stryver afrouxava a rede que
continha a mão esquerda de Ula. — A menos que... Ah! Sim. A menos que
você queira o computador de navegação por uma razão completamente
diferente.
Stryver o ignorou.
— Indique, — disse ele, segurando o holovídeo para Ula.
— Traga um pouco mais perto. Aquele aí, acho.
Enquanto o Mandaloriano estudava a planta baixa, Ula enfiou a mão no
bolso e segurou o blaster.
Ouviu-se falar calmamente e sem medo, como se estivesse do lado de
fora do seu próprio corpo, assistindo o que estava acontecendo.
— Solte a minha outra mão, — disse ele, apontando o blaster para o
estômago de Stryver. — Prefiro falar como iguais.
Stryver empurrou o holovídeo nos olhos de Ula, cegando-o. Ula apertou
o gatilho, mas Stryver foi rápido demais. Com uma varredura do outro
braço, ele golpeou o blaster pra longe. O tiro único disparou
inofensivamente no teto
— Boa tentativa. — Jet riu enquanto Stryver voltou a fixar a mão de Ula
na cadeira. — Você nunca lidou com o tipo dele antes, não é?
Ula estava tendo problemas para ver o lado engraçado. O medo voltou à
tona. Os seus olhos ainda estavam ofuscados e a sua mão parecia quebrada.
— Como você sabe?
— Mandalorianos não acreditam que tenham iguais.
LARIN HACKEOU OUTRA camada do programa de segurança do palácio e
conduziu outra busca. O nome de Dao Stryver ainda apareceu apenas uma
vez: a sua nave, Primeiro Sangue, estava ancorada no espaçoporto
particular do palácio. Mentalmente, ela se chutou por perder algo tão óbvio
como isso, mas não perdeu tempo com isso. A arquitetura dos programas de
segurança do palácio era ainda mais barroca que o próprio palácio. Mesmo
que tivesse pensado em procurar o nome do Mandaloriano, era provável
que não tivesse aparecido pela primeira vez.
— Alguma coisa? — Perguntou o sargento Potannin, que olhava
preocupado por cima do ombro.
Ela balançou a cabeça. Pesquisas no nome de Ula Vii também não
haviam revelado nada.
— Você está bloqueando a minha luz. — Potannin estava tentando ser
útil, mas ele não era Shigar. — Eu grito quando encontrar algo.
Puxando outro algoritmo de descriptografia do seu repertório, Larin
tentou outra rota.
Por trás deles, o Twi'lek, Yeama, entrou na suíte do Enviado
desaparecido e esboçou uma reverência. A protuberância em sua têmpora se
destacava em vermelho brilhante contra o verde de sua pele.
— Minha senhora oferece desculpas profundas. A caçada pelos
sequestradores e por aqueles que atacaram os seus guardas começará
imediatamente.
Larin embaralhou a visão do holoprojetor para que Yeama não visse o
que estava fazendo na infraestrutura de segurança de sua mestra.
— Você tem um Mandaloriano solto no palácio, — disse ela, — e você
não sabia disso?
— Ele é um dos muitos. Eles não gostam de ser vigiados de perto.
— Agora você sabe o porquê. Talvez você pense duas vezes sobre o tipo
de escória que está lidando.
Yeama endureceu.
— E você é..?
— Importa quem eu sou? Estou ajudando você a encontrar o enviado. O
que você está fazendo?
O Twi'lek ficou com uma cor doentia, mesmo para a sua espécie.
— Tudo ao nosso alcance, naturalmente...
— Bom, então pule pra ele. Estamos ocupados aqui.
Yeama recuou e Larin descodificou a tela que ela estava olhando.
— Há toda uma outra camada aqui embaixo, — ela murmurou,
maravilhada com os meandros do sistema. Ou ele evoluiu peça por peça, à
medida que cada novo desenvolvimento adicionava um nível extra ao que já
estava lá, ou havia sido projetado pelo engenheiro de software mais
paranoico da galáxia.
Ainda sem sorte com Dao Stryver, no entanto. E o Enviado Vii não
produziu sucesso. Se um dos dois homens estava andando pelo palácio,
nenhum dos sistemas de reconhecimento dos padrões do sistema de
segurança os rastreava.
Larin estava começando a ficar desesperada. Este era o único trabalho
que tinha que fazer, enquanto Shigar cuidava do resto da missão, e estava
falhando. Provar-se capaz não era o problema, sabia que era, ou pelo menos
que fora, caso contrário, nunca teria estado nas forças especiais. Conseguir
uma pontuação no quadro era o principal, depois de tanto tempo no banco.
Desesperada, ela tentou 'Jet Nebula'.
Instantaneamente uma localização apareceu. Não apenas um local, mas
uma etiqueta codificada que ela reconheceu como um pedido de ajuda de
contrabandista.
— Consegui algo. — Potannin se apressou.
— Você disse que o Enviado Vii estava com aquele figura, o Nebula,
não é? Bem, eu o encontrei, pelo menos.
Potannin bateu palmas e sorriu sem graça.
— Bom trabalho, Larin.
Virou-se para o esquadrão de escolta e recitou uma série de ordens.
Metade ficaria; a outra metade iria com ele. Larin teve que lutar contra o
reflexo de obedecer. Se tivesse se alistado nas Estrelas Negras, Potannin a
teria superado.
— Eu vou com você, — ela disse enquanto o seu grupo se reunia,
verificando armas e armaduras leves.
Ele assentiu.
— Eu estava prestes a perguntar, Larin. Obrigado.
— Não tem de quê, sargento.
— Vai na frente e mostre o caminho.
O seu rosto estava ardendo enquanto eles corriam pelos corredores, o
eco de seus pés calçados que os precedendo, incentivando a multidão a se
separar. Isso era familiar demais, disse a si mesma, perigosamente familiar.
Não podia se deixar pensar que estava de volta ao grupo. Se descobrissem
quem era, se voltariam contra ela, assim como os imbecis de Coruscant.
Melhor se diferenciar, pelo bem do futuro.
Eles quase chegaram ao local em seu holopad quando uma explosão
sacudiu o chão embaixo deles, seguida por outra pouco tempo depois.
Parou, imaginando se eles estavam entrando em uma armadilha, mas as
explosões não se aproximaram. As luzes diminuíram por um segundo,
depois brilharam. Os geradores do palácio, adivinhou, danificados por
sabotagem ou por acidente.
Os habitantes do palácio correram para encontrar abrigo. Eles não
gritaram ou entraram em pânico. Eles simplesmente juntaram os seus
objetos de valor e entes queridos e foram para outro lugar. Claramente,
essas coisas não eram incomuns em Hutta, concluiu Larin.
— Quase lá, — disse ela, acenando com a equipe novamente. Moveu-se
com mais cautela ao se aproximar do local sinalizado. Só porque alguém
havia explodido a central eléctrica não significava que não havia uma
armadilha pela frente.
A localização estava correlacionada com uma cozinha do tamanho
industrial, mas muito vazia. Larin recuou e deixou Potannin assumir a
liderança. O seu esquadrão se espalhou silenciosamente para verificar todos
os esconderijos, comunicando-se apenas por gestos. Eles eram bem
experientes e eficientes, no entanto, eles não encontraram nada além de um
droide velho espancado que haviam se abrigado da confusão. Depois de
procurar munições, eles o deixaram em paz. Ele voltou para o canto em que
estava escondido, observando-os silenciosamente.
— Nenhum sinal do Enviado Vii, — disse Potannin, afirmando o óbvio.
— Você tem certeza de que este é o local certo?
— Tenho certeza. A bandeira dizia que Nebula estava aqui e em algum
tipo de perturbação.
— Ele deve ter estado aqui em algum momento, para deixar essa pista,
mas agora ele foi levado para outro lugar.
— Não há evidências de luta...
Um distúrbio distraiu Larin da busca. O droide saiu do canto e
gesticulava loucamente.
— Alguém acalme essa coisa, sim? — latiu Potannin.
— Não, espere. — Larin se aproximou, observando atentamente cada
movimento que fazia.
— Reconheço os sinais que está dando. Eles são da guerra civil. Está
dizendo... — Ela procurou em sua memória a tradução correta. Fazia muito
tempo que estudara história e uso de línguas militares durante o treinamento
das forças especiais. — Ele está dizendo que deixou a bandeira para
encontrarmos. Não nós especificamente, mas qualquer um que pudesse
ajudá-lo. Reforços. Ele seguiu o seu mestre, Nebula, presumo, através de
um identificador de algum tipo, provavelmente escondido nas roupas ou no
corpo de Nebula. Ele está tentando montar um resgate, mas... mas ele não
tem os recursos para completar o seu objetivo de missão.
O droide assentiu e ela se dirigiu diretamente a ele.
— Quem capturou a Nebula? Mandaloriano?
A resposta foi sim.
Não é de admirar, pensou Larin, o droide estava procurando reforços.
— Nebula é o único prisioneiro?
A resposta foi não.
— Você sabe onde eles estão?
Um enfático sim. O droide levou Larin até a esquina, onde ele arranhou
um mapa detalhado na parede de metal. Reconheceu esse local a partir do
seus próprios dados. Era uma sala de jantar a uma dúzia de metros de
distância.
— Acho que podemos ajudar um ao outro, — disse ela ao droide, que
assentiu solenemente. — Armas prontas, — disse ela ao esquadrão. — Esse
Mandaloriano é grande e perigoso. Se você conseguir uma chance, pegue.
Mas cuidado com os prisioneiros. Não podemos nos dar ao luxo de
prejudicar o enviado.
O droide bateu firmemente no ombro com um dedo quadrado de metal.
— Ou Nebula, — acrescentou Larin.
Eles tiraram as travas de segurança e caíram ao seu redor. Somente
quando eles estavam em movimento, com o droide assumindo a liderança,
percebeu que havia dado as ordens, não Potannin, que obedeceram junto
com o resto do seu esquadrão. Isso fez com que se sentisse culpada e
satisfeita, embora tecnicamente, supunha, agora não tivesse posto, o que
significava que não tinha superiores para se preocupar. Esse era o
pensamento ao qual se agarrou enquanto corria para enfrentar Dao Stryver
pela segunda vez.
FOI A VEZ DE ULA enfiar o rifle do Mandaloriano embaixo do queixo.
Arqueou as costas o máximo que pôde, mas o cano o seguiu, cavando fundo
em sua garganta. Estava tão perto de Stryver agora que podia ouvir o
zumbido dos muitos mecanismos do seu traje, até o assobio de ar através do
seu respirador quando o Mandaloriano respirou fundo para falar.
— Responda a esta pergunta com muito cuidado, Enviado Vii, — disse
Stryver.
Ula assentiu. Após seu ato solitário de desafio, não tinha intenção de
fazer outra coisa senão exatamente o que lhe disser. A sua visão ainda
brilhava com o efeito deslumbrante do holoprojetor enfiado em seu rosto.
— Eu vou.
— Você apontou para uma localização no mapa. O cofre que você
indicou foi o correto?
— Sim.
— Ele contém os destroços recuperados da Cinzia?
— Sim. — Ele assentiu o mais vigorosamente para convencer Stryver de
sua sinceridade.
A pressão do rifle caiu. Ula balançou pra frente, com o peito arfando.
Não tinha notado que tinha parado de respirar.
— E você? — Stryver perguntou a Jet. — Você tem mais perguntas?
— O que, eu? — O contrabandista observou a arma de perto. Foi
apontado diretamente para o peito dele. — Só uma. E agora? Não posso
deixar de comentar que você se soldou aqui conosco...
Algo bateu contra a porta selada. Stryver e os seus dois cativos se
viraram para olhá-lo. O baque voltou e uma voz fraca chamando:
— Abra!
O Mandaloriano se virou e se ocupou com o traje, guardando o rifle e
apertando botões com movimentos rápidos e treinados.
— Posso garantir, — disse Ula, — que tenho muito pouco valor como
refém.
Stryver não disse nada. Quando uma linha vermelha brilhante começou
a rastejar pela porta reforçada, o Mandaloriano se afastou deles e olhou pra
cima. Um gemido crescente veio de sua mochila.
— Sugiro que feche os olhos, disse Jet, virando a cabeça na direção de
Ula e protegendo-a da melhor forma possível com o ombro.
Houve um brilho. Fumaça e detritos encheram o ar. O lamento se tornou
um rugido, e naquele momento a porta irrompeu.
Ula cerrou as pálpebras sobre uma nuvem de partículas ardentes. Ele
ouviu gritos e tiros, e sentiu corpos se movendo rapidamente ao seu redor.
Algo bateu nele, e ele sentiu as mãos enluvadas trabalhando em suas
amarras.
— Vai dar tudo certo, senhor, — disse uma voz familiar. — Nós vamos
te proteger agora.
Potannin! Ula poderia ter chorado.
Quando abriu os olhos, a fumaça desapareceu junto com o brilho do
holoprojetor, e Dao Stryver não estava em lugar algum. Dois membros da
escolta de Ula vigiavam a porta, enquanto outros dois passavam pelos
destroços. O droide que Stryver desativou estava liberando Jet. Um soldado
de armadura branca desalinhada espiava um buraco gigante no teto, com o
rifle na mão.
Stryver nunca teve a intenção de sair pela porta, Ula entendeu. O seu
plano sempre foi subir.
O soldado desalinhado se virou para ele.
— O que Stryver disse para você? Ele te disse o que estava procurando?
— Ele foi buscar o computador de navegação, — disse Jet, limpando a
poeira dos olhos.
— Por quê? Os Mandalorianos estão seguindo a mesma coisa que nós?
— Eu não acho que essa é a única razão. O computador de navegação
não mostraria apenas a origem da nave, mostraria? Também mostraria o
destino pretendido.
O capacete do soldado levantou um pouco.
— Que diferença isso faz pra alguém?
— Não faz pra ninguém, eu acho. Só pra ele.
O soldado assentiu.
— Você é o Nebula ou o enviado?
— Me chame de Jet.
Ula ficou de pé cambaleando, finalmente livre da teia pegajosa do
Mandaloriano.
— Ula Vii, ao seu serviço. Obrigado a todos por nos resgatar. A nós
dois.
— É nosso dever, senhor, — disse Potannin com uma rápida saudação.
— Eu, — acrescentou o soldado, — só estou aqui por diversão.
Com isso, ela tirou o capacete, revelando a mulher mais bonita que Ula
Vii já tinha visto.
SOB UMA ESTÁTUA MACIÇA de Tassaa Bareesh, Shigar
vedou a porta externa atrás dele, usando a Força para ajudar o sistema
hidráulico que danificara no caminho. Reconheceu esse tipo de quarto; a
porta interna não abriria até a porta externa ser fechada. Atravessou a
extensão circular da antecâmara de segurança, notando, mas não se
distraindo, com o tilintar suave do lustre de vidro acima. O ar fedia a
fumaça, o que era estranho. As explosões misteriosas estavam distantes e
presumiu que o sistema de ar condicionado do cofre era completamente
independente.
Os seus sentidos formigaram. Movendo-se devagar e silenciosamente,
aproximou-se da porta interna.
Estava desbloqueada.
Havia uma coisa que dizia sobre os Hutts: quando se tratava de proteger
os seus objetos de valor, eles não economizavam. A porta era uma máquina
maravilhosa, com ferramentas de precisão para medições muito precisas.
Pode não aguentar um Jedi e o seu sabre de luz, mas manteria uma horda de
os arrombadores ocupados por um mês e suportaria facilmente uma
pequena explosão nuclear.
Certamente não se abriria sozinho.
Shigar desativou o sabre de luz e ficou parado por um minuto inteiro.
Com a sua respiração lenta e superficial e batimentos cardíacos constantes
eram tudo o que podia ouvir. Se não foi ninguém do outro lado da porta,
estavam sendo tão tranquilo como ele estava.
Estendendo a mão, puxou a maçaneta da porta. Tão bem equilibrado que
girou suavemente para o lado, revelando a antecâmara que procurava. As
quatro portas do cofre eram exatamente como o sargento Potannin havia
descrito. Nenhumas delas foi interferida. Atrás de um deles havia os
misteriosos destroços que consumia tanto as pessoas.
No centro da sala, um buraco negro havia sido queimado no chão,
cicatrizando a sua brancura impecável. Era daí que a fumaça vinha.
Aproximou-se com cautela e olhou pra baixo. Alguém havia queimado na
sala por baixo, presumivelmente para roubar o conteúdo do cofre. Mas
como eles haviam evitado acionar alarmes? E onde eles estavam agora?
Olhou ao redor. A antecâmara estava vazia. Não havia onde se esconder.
Nenhum dos cofres parecia ter sido adulterado. Todas as quatro portas
foram fechadas. Não havia outra saída, exceto de volta pelo buraco, ou...
As costas dele coçavam. Virou-se para encarar a porta pela qual havia
entrado. A certeza o encheu. Ativando o sabre de luz, Ele entrou na sala da
câmara de ar.
— Você não parece um Jedi, mas com certeza cheira a um. — Com um
estremecimento, uma garota magra, toda vestida de preto, desceu do lustre.
Os seus cabelos tremiam em grossos dreadlocks vermelhos como os
tentáculos de uma coisa viva. — Você fede a repressão. Vamos ver o que
podemos fazer para mudar isso!
A garota ativou um sabre de luz vermelho brilhante.
Shigar não retribuiu o seu sorriso sanguinário. Manteve o batimento
cardíaco regular, ergueu o sabre de luz em troca e adotou uma postura de
prontidão.
Ela veio a ele em uma tempestade de golpes, com os seus pés se
movendo levemente pelo chão, quase dançando, com a lâmina balançando
como uma hélice. As suas armas se chocaram com um furioso som elétrico.
Combinou seu movimento por movimento, mas fazendo isso o testou
gravemente. Cada bloco o atingiu como um golpe de martelo. A sua
oponente era pequena, mas ela era forte e os seus olhos estavam cheios de
ódio. O lado sombrio fluiu através dela em ondas poderosas.
Ela o levou de volta à porta interna da sala e, com uma varredura
telecinética, fechou-a com força.
— Não há para onde correr agora, Jedi, — ela se alegrou. — Por que
você não para de lutar defensivamente e me mostra o que tem? Eu vou te
matar de qualquer maneira, mas pelo menos vamos nos divertir.
Shigar a ignorou. Sabia que alguns Sith usavam ataques verbais ao lado
dos físicos, para desanimar o oponente, mas não seria vítima de tal
manobra. Também não permitiria que o medo ou a raiva determinassem o
modo como lutava. A sua Mestra o treinou bem. Sabia como combater um
Sith, e era da mesma maneira que lutaria com alguém. A chave era cometer
menos erros do que o seu oponente e aproveitar todas as oportunidades que
surgissem. O elemento surpresa pode fazer a diferença entre uma batalha
prolongada e uma vitória decisiva no início.
Sorrindo calmamente, ele encarou a garota rosnando e estendeu a mão
esquerda.
AX OUVIU O som do vidro tilintar por trás dela e se abaixou a tempo.
Centenas de pequenos fragmentos correram até ela, arrancados do lustre
pelo poder da mente dos Jedi e arremessados no local exato em que estivera
de pé. Uma segunda corrente a seguiu quando rolou e se afastou,
empurrando com as mãos e aterrissando com os pés no meio da sala.
Recuperando a sua postura, se envolveu num escudo cinético ao seu redor e
jogou os fragmentos para longe. Apenas um punhado passou, um cortando
o braço e outro fazendo um corte sangrar sobre o olho esquerdo. Piscou o
sangue, saboreando a nitidez da dor.
O Jedi alto e magro estava vindo até ela, com a lâmina Lâmina verde
encurvada por um golpe forte e cortante apontado para seu o diafragma.
Afastou-o, apenas para descobrir que a mudança era uma finta. Ele dirigiu
um chute no joelho direito dela e trouxe a lâmina para a cabeça dela. Com
um grunhido, deu um chute na canela dele e se salvou da decapitação
apenas reduzindo a pressão em seu punho numa mão. Os sabres de luz deles
se encontravam a poucos centímetros de sua pele.
Eles travaram ali por um momento, a lâmina dele pressionando em
direção ao rosto dela, a perna esquerda torcida por trás dela, em uma
posição difícil de usar o seu peso contra ele. Ele era fisicamente mais forte
que ela, e não estava acima de tirar vantagem desse fato. Um empurrão
sólido e a sua lâmina queimaria mais que o ar.
Ele era mais forte, mas ela era mais astuta. Girar a capa em torno do
rosto e da garganta levou quase uma energia telecinética do que para pensar
nela, e o movimento teve o efeito que ela precisava. Pego de surpresa, ele
cambaleou pra trás, apertando o tecido que agitava. Recuou só tempo o
suficiente para o seu recuperar o equilíbrio antes de voltar a mudar,
enquanto ele estava cego.
Mesmo sem o uso dos olhos, ele ainda igualava com ela. Ele antecipou
os seus movimentos e os bloqueou com uma mão. Com a outra mão rasgou
a capa, lutando contra suas dobras estranguladoras. Quando ele finalmente a
jogou fora, ele a encarou com as duas mãos novamente, lábios contraídos e
ombros nus, e sabia que o jogo estava realmente começando agora.
Eles lutaram pra frente e pra trás através da sala, cortando, bloqueando,
pulando e correndo, usando paredes, piso e teto como plataformas de
lançamento para cada novo ataque. O vidro triturava sob os seus pés e
girava em torno deles em serpentinas perturbadoras e potencialmente
ofuscantes. Ele era bom, teve que admitir a contragosto, mas também era
boa e lutou até o limite de suas habilidades. A sua missão não ia terminar
ali, espetada no sabre de luz de um Jedi. Se Darth Chratis iria comparecer
perante o Conselho Sombrio e admitir que falhou, estaria lá para vê-lo.
O fim veio inesperadamente para os dois. Ela desligou o som dos
alarmes e os tremores distantes de sua sabotagem, mas permaneceu alerta
para tudo em seu ambiente, apenas no caso do seu parceiro de disputa tentar
algo novo. Quando um barulho veio do outro lado da porta interna da
cabine de ar, ela inicialmente o descartou como um truque para distraí-la.
Havia selado o túnel ferrocreto por trás dela, para que ninguém pudesse
subir por ali, e não havia outra entrada para o cofre.
O som voltou novamente, com um baque metálico abafado, e desta vez
captou a reação do Jedi. Ele também estava distraído. Os seus olhos foram
para a porta interna selada.
Naquele instante atacou.
A sua capacidade de produzir relâmpagos Sith ainda não estava
totalmente desenvolvida, e não se atreveu a esperar que isso pudesse
sobrecarregar qualquer pessoa com treinamento Jedi, mas o usou de
qualquer maneira, explodindo o seu oponente com tudo o que tinha. Ele
pegou mal, como se não estivesse acostumado a enfrentar tais ataques, e
ocorreu-lhe apenas então que ele era um aprendiz como ela. Como ela, esta
poderia ser a primeira vez que ele enfrentara o seu inimigo sozinho. Ao
contrário dela, ele não viveria para aprender com a experiência.
Ele cambaleou para longe, carne atormentada e fumegando. Manteve a
onda o maior tempo que pôde, e a seguiu com dois ataques rápidos na
barriga e na garganta. Ele mal os bloqueou, balançando com uma mão,
segurando o outro braço sobre os olhos como se a luz o cegasse.
Emocionada com a sua fraqueza, Ax investiu repetidamente, empurrando-o
pra trás até bater na parede. Ele deslizou pra baixo, a lâmina erguida
ineficaz para bloquear o golpe mortal.
O seu comunicador chiou.
— Shigar, cuidado. Stryver está a caminho. Ele está atrás do computador
de navegação!
Triunfo virou ódio que tudo consome. Dao Stryver... está aqui!
Era a vez dela de ser surpreendida.
Com um chute rápido, o Jedi, Shigar, bateu o sabre de luz da sua mão.
Ele deslizou para longe, com a lâmina piscando e desativando
automaticamente. Cambaleou pra trás, desarmada, e ele se levantou, com os
olhos vermelhos e cheios de determinação. Não é ódio. Não é raiva. Nem
teve a satisfação daquela pequena vitória.
Correu pra trás, puxando com força o punho caído, mesmo sabendo que
não poderia chegar a tempo. O Jedi a seguiu, levando-a em direção à porta
externa.
Quando a porta estourou atrás dela, não precisou olhar para ver quem
estava lá. Sentiu a presença dele tão intensamente quanto de uma adaga nas
costas.
Dao Stryver.
Presa entre um aprendiz Jedi e um Mandaloriano que já a havia vencido
uma vez, tudo o que ela podia fazer era acertar o botão de ativação e esperar
por um milagre.
LARIN ESTAVA A MEIO CAMINHO do cofre quando
Yeama a interceptou. Estava parada na passagem deserta à frente, com as
mãos levantadas no sinal universal de parar. Teria passado por ele se não
tivesse sido apoiada por cinco Weequay e uma dúzia de Gamorreanos
empunhando machados. — Vejo que o enviado desaparecido voltou, —
disse ele, vendo o grupo atrás dela com olhos vermelhos e tristes.
— O pirata também. A minha mestra ficará satisfeita.
Larin não teve tempo para discutir a situação. O pensamento de Shigar
encarando Dao Stryver sozinho a encheu de urgência. Talvez já seja tarde
demais. As suas tentativas de saudá-lo no comunicador não provocaram
nada além de silêncio em resposta.
— Agradeça a ela por sua preocupação, — disse ela. — Estamos
devolvendo o enviado aos seus aposentos agora.
— Está? Excelente. Você pode ter ouvido a, ah, perturbação ocasional na
última hora. Não há com o que se preocupar, lhe garanto isso, mas seria
aconselhável que você permaneça na ala de alta segurança até que seja dito
o contrário.
— Parece que você está sob ataque, parceiro, — disse Jet. — Fa'athra
finalmente fez a sua jogada?
O Twi'lek sorriu com força.
— Temos muitos itens de grande valor armazenados no palácio, portanto
ataques não são incomuns.
— Isso não está vindo de fora, — disse Larin, ficando impaciente. —
Esse é o Mando que eu avisei antes. Ele está atrás do computador de
navegação da Cinzia.
— Impossível. Nenhum alarme foi disparado nesse setor do palácio.
— Isso está prestes a mudar, e em breve.
Segurando o rifle, ela continuou o seu caminho.
— Não tão rápido. — O Twi'lek se afastou para bloquear o seu caminho.
O Weequay o apoiou. — Você está indo na direção errada. Os aposentos do
enviado são por ali.
— Sério? É fácil errar por aqui.
— Eu não acredito que você errou. Acredito que você saiba exatamente
para onde está indo. — O Twi'lek não estavam sorrindo agora. — Você não
é um visitante registrado neste palácio. O sequestro foi uma distração,
dando-lhe tempo para cuidar dos seus verdadeiros negócios. Encontramos a
trilha que você deixou em nossos sistemas de segurança. A sabotagem é
outra distração. O que está tramando agora? Vocês são todos da liga ou são
apenas colaboradores oportunistas?
O seu olhar frio varreu o grupo diante dele.
Larin não gostou do rumo disso.
— Olha, — ela disse, — não estamos planejando roubar as suas coisas
preciosas. Mas mais alguém está, e estamos tentando impedi-los. Estou
falando sério. Dao Stryver entrará e sairá antes de chegarmos lá, se você
não sair do meu caminho agora. Não me obrigues a fazer isto..
O Twi'lek não se afastou diante do ultimato.
— Você admite que está indo para o cofre?
— Foi o que eu acabei de dizer.
— E ainda assim você insiste que os seus motivos são puros?
— Tão puro quanto eles jamais serão.
— Então você não vai se importar se eu aconselhar o enviado imperial
para nos encontrar lá?
— Tanto faz! Apenas se mexa, é tudo o que peço.
Yeama sinalizou para a sua comitiva, que se aproximou dela e do seus
parceiros. Uma vez que o caminho estava livre, estabeleceu um ritmo
acelerado, enquanto Yeama rosnava em seu Twi'leki, sua terra natal, em um
comunicador.
Atrás deles, O enviado da República fez uma exibição de arrogância.
— Eu me ressinto da implicação, — ele disse, — de que isso seja uma
conspiração de qualquer tipo. Se alguma coisa, sou eu quem deve suspeitar.
Fui eu quem fui sequestrado e a minha escolta foi neutralizada. Fui preso e
torturado, sob o teto de um anfitrião cujo servo agora me chama de
criminoso! Você terá sorte se continuarmos neste leilão simulado.
Yeama o ignorou, e Larin também. Ainda nada de Shigar.
— Sem alarmes, — disse ela ao Twi'lek.
— E no meio de toda essa confusão também. Isso não te parece
estranho?
Yeama olhou pra ela por três segundos completos. A sua única outra
resposta foi o de acelerar o ritmo e começar a latir ordens em seu
comunicador novamente.
ULA MANTEVE O SEU discurso severo por tempo suficiente para garantir
que o seu argumento tinha sido feito. Não era nem o argumento dele. Estava
representando o leal enviado da República em uma situação difícil. Não era
isso que alguém deveria fazer?
Ula não sabia. Estava anos-luz fora de sua profundidade e se afastava a
cada minuto. Ele desejou que eles realmente estivessem indo para os seus
aposentos seguros, em vez de se precipitarem em perigo. Tudo o que o
impediu de pedir para ser dispensado da ação vindoura foi o pensamento de
como Larin Moxla consideraria a sua covardia. Ela não parecia do tipo que
aceita qualquer coisa desse tipo.
Não conseguia tirar os olhos dela. Tudo nela, da armadura surrada às
tatuagens negras nas bochechas, o cativou.
— Nem pense nisso.
Ula olhou pra Jet. Também estava observando a mulher notável que
viera do nada para liderar seu grupo incomparável.
— O que você quer dizer?
— Ela não serve para você, e vice-versa.
Ula corou. Não fazia ideia de que o seu fascínio instantâneo por ela era
tão óbvio.
— Do que você está falando? — Ele disse, abaixando a voz para que
ninguém pudesse ouvir. — Você sabe tanto sobre ela quanto eu.
— Eu sei que ela está fingindo. E essa é a única coisa que vocês dois
têm em comum.
Mais uma vez, essa dica astuta de que Jet achava que Ula era mais do
que estava dizendo. Ou pelo menos, se o tom de voz dele era algo de se
passar.
— O que exatamente você está sugerindo?
— Eu? Nada. Estou apenas conversando.
Isso rapidamente se tornou difícil. O ritmo deles estava aumentando a
cada minuto. Logo estavam correndo ao lado de Potannin e as equipes de
segurança, com Weequay de pernas longas andando ao lado deles e os
Gamorreanos lutando atrás deles. Mais pessoal de segurança do palácio se
juntou a eles, principalmente Niktos e Houks, formando uma caravana
sempre crescente em direção aos cofres. Era difícil ver o que havia adiante
do Twi'lek e Larin, mas parecia que haviam mais guardas esperando por
eles. E mais do que isso, aliás.
Na entrada da antecâmara de segurança havia uma cena de demolição
total. Paredes haviam caído; o teto desabou. Toneladas de pedra e ferrocreto
reforçado jaziam entre eles e o seu objetivo. Escravos Evocii e guardas de
segurança escolheram os escombros, e entraram no caminho um do outro na
pressa de abrir caminho. Ordens conflitantes brilhavam de um lado para o
outro. Yeama correu para a bagunça, tentando em vão impor ordem.
— Isso é ultrajante, — anunciou uma voz arrogante sobre o tumulto. Era
um homem alto, de nariz comprido, de uniforme Imperial, abrindo caminho
em direção à comitiva da República. — Se você teve um papel a
desempenhar nesse caso fraudulento
— Temos tanto a perder quanto você, — retrucou Ula, desejando que ele
pudesse deixar o seu parceiro Imperial de lado e não revelar a ele o papel
secreto que estava desempenhando. Não havia necessidade de discutir,
exceto pela aparência. — E estou tão no escuro quanto você.
Do outro lado dos escombros, veio uma explosão, estalos e tremores no
chão. Ula colocou as mãos sobre os ouvidos e se afastou. Dois enormes
droides de limpeza se empurraram para a frente para vasculhar a bagunça.
— Fiquem aqui, — ordenou Larin, e ficou feliz no momento de
obedecer. Ela se juntou a Yeama na esteira dos elevadores pesados,
claramente determinados a estar entre os primeiros a entrar. O Twi'lek não a
desiludiu dessa intenção. Mais uma vez, Ula admirou a sua confiança. O
que em Korriban, Jet Nebula queria dizer que ela era farsante também?
Um grito subiu. A barreira foi violada. Uma nuvem de fumaça e poeira
rolou sobre aqueles reunidos. O som do combate chegou a eles, feroz e
agudo.
Larin gritou algo por cima do ombro.
— O que ela disse? — Ula perguntou a Jet.
— Algo sobre um Sith. Eu não peguei tudo.
Ula olhou para o enviado Imperial, que estudiosamente evitou o olhar de
todos.
Yeama acenou para os reforços. Uma fila de Weequays entrou, seguida
por Potannin e o seu número oposto no lado Imperial. Houve mais confusão
quando as três colunas tentaram se espremer no espaço de uma. Ula perdeu
Larin de vista e esticou o braço para ter uma visão melhor.
— Por que você não se aproxima? — Perguntou Jet.
— Ah, acho que não seria seguro. E você?
— Eu acho que é tudo relativo, agora.
Envergonhado, Ula foi em direção ao buraco cada vez maior. Jet seguiu,
deixando o droide para observar a entrada. Vendo Ula entrando, o enviado
Imperial o seguiu, não querendo ficar de fora. O túnel através dos
escombros estava cheio de pessoas. O que havia no final não estava claro
através da fumaça e poeira. O tiro de blaster lançou luzes estranhas na
neblina, e Ula ouviu distintamente o som da mochila propulsora do
Mandaloriano. Além disso, rasgava o som do zumbido volátil dos sabres de
luz.
Passaram por uma folha de metal retorcida que poderia ter sido a porta
externa da antecâmara de segurança. O cheiro de ozônio era insuportável.
— Se baixe, senhor! — Exclamou Potannin ao vê-lo.
Ula se deixou arrastar para uma posição relativamente protegida atrás de
uma parede de escombros. De lá, ele ainda não conseguia ver a ação, mas
podia ver a parte de trás do capacete de Larin. Ela estava agachada ao lado
de Yeama, avistando o rifle. A sua voz veio claramente através do som da
batalha.
— Ainda não há alarmes, hein?
Ula não ouviu a resposta do Twi'lek.
Uma explosão maciça derrubou a maior parte do teto,
ensurdecedoramente alto. Ula encostou as costas ao escudo de pedra e
cobriu os ouvidos com as mãos. Poeira e detritos choveram sobre ele em
ondas grossas. Fechou os olhos com força.
Quando timidamente removeu as mãos, um silêncio estranho caiu. Tudo
o que podia ver eram pessoas disputando posição, pálidas como fantasmas.
Os escombros continuavam caindo do telhado. Ao lado dele, Jet lentamente
inclinou a cabeça pra cima para ver o que estava acontecendo.
A sua expressão mudou para uma de espanto.
— Que brix é esse?
Antes que Ula pudesse se olhar, uma voz falou, feminina e cheia de
raiva.
— Nós não reconhecemos a sua autoridade.
Um calafrio passou por ele. Ele já ouvira essa frase antes.
SHIGAR ESTAVA PARADO EM UM canto de um triângulo
equilátero, com a jovem Sith e Dao Stryver ocupando os outros dois cantos.
O Mandaloriano hesitou, claramente surpreso ao ver os dois.
— É uma galáxia pequena, — refletiu Shigar.
— Você o conhece também? — A fachada hostil da Sith rachou apenas
por um instante.
— Vocês dois deveriam ter deixado pra lá, — disse o Mandaloriano. —
Isso não diz respeito a vocês.
— Você estava matando pessoas em Coruscant, — disse Shigar. — É
claro que era da minha conta.
— Fique fora disso, — rosnou a Sith. — Ele é meu!
— Eu já venci você uma vez, — disse Stryver. — Ser morta não vai
honrar as ações de sua mãe.
A jovem mulher mudou num tom de vermelho mais brilhante ainda do
que seu cabelo.
O Mandaloriano levantou o braço esquerdo e a golpeou com o seu lança-
chamas.
Shigar se agachou e rolou, imaginando a cena que acabara de acontecer.
O destino colocado os três no mesmo lugar e ao mesmo tempo. Estavam
todos atrás da mesma coisa, o que quer que fosse dentro do cofre, e tinham
uma janela estreita antes que os Hutts percebessem o que estava
acontecendo e trouxessem todo o peso das forças de segurança do palácio
sobre eles. Stryver gostaria de agir de forma rápida e decisiva. No entanto,
parou para conversar com a garota Sith. Por quê?
Ficou claro que toda a conversa de sua mãe fora um truque para distraí-
la. A sua raiva estava totalmente inflamada agora, o que a tornaria mais
forte, se ela sobrevivesse aos próximos segundos. Shigar precisava escolher
entre as várias opções. Recuar para o cofre e deixá-los em paz era uma, mas
havia apenas uma saída dessa posição, o que significava que ele teria que
enfrentar Stryver eventualmente. E o Mandaloriano tinha o superado.
Melhor lutar agora, enquanto havia pelo menos uma chance da Sith servir
como uma distração.
Chamas rugiram após a silhueta esvoaçante da garota. Shigar chegou a
Stryver do lado oposto, balançando o sabre de luz para dar um golpe
incapacitante no ombro. Stryver levantou o braço para bloquear, e a lâmina
de Shigar patinou ao longo da poderosa armadura Mandaloriana, deixando
um vergão borbulhante, mas sem penetrar. Uma escotilha na mochila de
Stryver se abriu e uma lança de choque dobrável disparou em sua mão.
Shigar entrou para outro ataque, e o choque golpeou seu peito, atingindo-o
em seus pés.
Do outro lado de Stryver, a Sith irrompeu das chamas, com o sabre de
luz erguido e o ódio brilhando em seus olhos. O seu salto a levou sobre o
jato mortal do lança-chamas e foi cronometrado para dar um impulso de se
lançar no capacete abaulado do Mandaloriano. Ele se abaixou com uma
velocidade surpreendente para alguém tão grande e impulsionou o choque
contra ela. Ela cortou ao meio, chutou-o o desequilibrando, e voltou para
outro corte.
Shigar estava de pé, circulando para pegar Stryver quando surgisse uma
oportunidade. Mais uma vez o lança-chamas ardeu, mas o elemento
surpresa foi perdido. A garota Sith facilmente se afastou as chamas. Em vez
disso, Stryver lançou uma rede lâmina nela. Ela abaixou das suas farpas
penetrantes e tentou lhe dar um choque com um raio. Seu traje isolado
pegou a carga e a jogou-a no chão, enegrecendo e flambando-a. Shigar
aproveitou a oportunidade para empurrar Stryver com a Força e colocá-lo
de joelhos, mas o Mandaloriano era tão sólido quanto uma montanha e ele
tinha outras armas que ainda não havia revelado.
De uma escotilha na coxa, Stryver obteve uma pistola grossa. Ele
apontou para Shigar e disparou uma única vez. Shigar se esquivou, mas não
tão rapidamente, para a periferia do tiro errar completamente. Ele foi jogado
como uma folha na parede e deslizou no chão, temporariamente atordoado.
STRYVER VIROU A arma para Ax, que se esquivou mais efetivamente do
que o lento do Jedi tinha. Reconheceu a arma instantaneamente e sabia o
quão perigosa era. Os disruptores eram proibidos em todas as partes
civilizadas da galáxia. Não ficou surpresa ao ver um em Hutta, na mão
enluvada de um Mandaloriano.
Ax também sabia que os disruptores portáteis eram eficazes apenas em
curto alcance e podiam gerenciar um punhado de tiros. Se Stryver
continuasse atirando e errando, a arma logo seria inútil. Então continuou a
se mover em torno do seu inimigo, praticamente correndo nas paredes da
antecâmara de segurança enegrecida pela batalha, incitando-o atirando
cacos de vidro de suas vedações. Por duas vezes, ele quase não a viu, e até
as periferias do raio enviaram ondas de choque poderosas através de sua
carne. Só a raiva dela a fazia continuar. Usou a dor para alimentar o lado
sombrio.
A terceira vez que ele disparou em sua pequena dança... o quinto tiro no
geral, mal sentiu os seus efeitos posteriores. A carga da arma estava
moribunda. Sorrindo em triunfo, virou a sua corrida circular em um
lançamento rápido. Hora de trazer a luta de volta pra ele.
Ele encontrou o ataque dela com uma lâmina vibratória apontada para a
garganta. Gritou, tentando enfiar a lâmina na armadura dele com toda a
força do seus músculos e força de vontade combinados. A sua lâmina
vibrante estava tão perto que roçou a pele dele, levantando uma fina camada
de sangue, mas ainda não desistiu. O Mandaloriano estava se recuperando
do ataque dela. Esta foi a melhor chance que já teve.
A sua mochila propulsora foi ativada com um gemido. De repente, eles
estavam se movendo, puxando pra cima como se tivessem sido levantados
por um fantoche gigante. Pego de surpresa, Ax perdeu o controle e caiu.
Stryver se ergueu acima dela em jatos gêmeos de exaustão ardente. Rolou
para evitar o calor intenso deles e cobriu os olhos do brilho.
Stryver parou quando alcançou o recesso abobadado que outrora
segurava o lustre tilintante e pairava ali, perfurando comandos em seus
sistemas de armas. Ax teve tempo suficiente para perceber que agora ele
tinha a vantagem da altura antes que uma mão forte segure o seu pulso e a
arraste para o lado.
Um fluxo de mísseis atingiu o chão, exatamente onde estava. O Jedi a
salvara e se separou dele, mesmo quando sentiu uma pontada de gratidão.
Certamente ele não tinha feito isso pela repugnante bondade do seu
coração! Não, disse a si mesma. Ele sabia que não poderia derrotar Stryver
por conta própria. Era para salvá-la ou ser o próximo a morrer.
Mísseis de concussão explodiram contra ela e o Jedi na porta interna da
antecâmara de segurança. Eles se separaram para evitar outra rodada, que
explodiu a porta de volta à antecâmara, expondo as quatro portas do cofre e
o buraco pelo qual Ax havia entrado. Teve um instante para notar que uma
das portas do cofre estava brilhando em vermelho brilhante, então uma
chuva de tiros veio de uma parte totalmente diferente da sala e percebeu que
alguém havia se juntado à festa. Os Hutts, presumivelmente, haviam notado
que o seu tesouro estava em risco.
Antes que pudesse tirar proveito da mudança no campo de batalha, o
Jedi se lançou contra Stryver, desviando dos mísseis dele quando veio. Os
mísseis explodiram no teto, derrubando enormes faixas de alvenaria nos
três. Um grande pedaço atingiu o Mandaloriano, fazendo-o cair da posição
estratégica. Ax se esquivou de uma laje grande o suficiente para esmagar
um bantha e procurou girar no ar que de repente estava cheio de poeira.
Figuras sombrias dançavam ao seu redor, Weequay com adornos, oficiais
com uniformes Imperiais, Gamorreanos e outros.., mas Stryver não estava
em lugar algum entre eles. Ou um silêncio atordoado havia caído ou seus
ouvidos foram sufocados pelas explosões mais recentes.
A luz vermelha passou pelo campo de batalha e depois morreu. Só luz,
sem concussões. Ax piscou e virou-se para encontrar a fonte, lembrando-se
de como fazia a porta brilhante do cofre. Não era um golpe aleatório dos
sistemas de armas do Mandaloriano, como inicialmente presumira. Estava
claro agora que a porta havia derretido completamente, liberando o precioso
conteúdo do cofre para todos os que chegavam.
Ninguém estava invadindo o cofre, no entanto. Isso foi imediatamente
aparente pelos respingos de metal derretidos no chão da antecâmara. Foi,
sim, o contrário.
SHIGAR SE APROXIMOU, costurando em torno dos recém-chegados à
luta. Eles haviam proporcionado uma distração inesperada, mas muito bem-
vinda, mas agora se preocupava com o perigo em que estavam se
colocando. Stryver estava abatido, mas não fora, e o Mandaloriano havia
destruído uma célula inteira do sindicato do Sol Negro em Coruscant
sozinho. Shigar, o qual estava com a sua cabeça ainda zunindo com o
disruptor, sabia que Dao Stryver não pararia para alcançar os seus objetivos
em Hutta, se fosse necessário.
Naquele momento, porém, todos os olhos estavam no cofre. As medidas
de segurança dos Hutts haviam falhado. Alguém tinha derretido a porta e
ganhou acesso ao interior. Shigar se perguntou se eles haviam subido no
chão do cofre, como a Sith tentou. Mas se sim, por que não ir embora? Por
que se dar ao trabalho de derreter outra saída?
A piscina de metal derretido que uma vez foi uma porta lançou uma luz
de fundo sangrenta na figura que saiu do cofre. Não parecia qualquer tipo
de ser que Shigar já tinha visto antes. Tinha dois metros de altura e parecia
a princípio um bípede comum, com braços e pernas magros de igual
comprimento. Em seguida, desdobrou outro par de braços presos a sua
cintura, espaçados igualmente entre as articulações do ombro e do quadril.
No entanto, não tinha nenhuma semelhança com espécies de insetos, como
os Geonosianos ou os Killik. O seu corpo era um hexágono perfeito,
esticado verticalmente. Não havia cabeça. Órgãos sensoriais negros
pontilhavam o corpo central como os olhos de um aracnídeo, brilhando na
luz. Além desses órgãos, a sua pele era prateada. Não sabia dizer se era uma
criatura em traje ambiental ou algum tipo de construção.
Com passos infalíveis, atravessou a poça de metal derretido nos pés que
eram duplicatas de suas mãos. Ele girou 180 graus, revelando um dorso
idêntico à frente. Quando alcançou os destroços da porta interna, parou ali e
girou levemente, apreciando a antecâmara de segurança arruinada e os seres
que ela continha: o Mandaloriano, o Padawan Jedi, os guardas do palácio, o
Twi'lek e a Sith.
— Não nos submetemos à sua autoridade! — Gritou, caindo
suavemente em uma nova postura. O corpo se tornou um hexágono regular,
em vez de um torso esticado, quase retangular, e as pernas dobradas,
agachando-se. Todos os quatro braços se espalharam para atacar diferentes
partes da sala.
Shigar instintivamente apertou cabo do seu sabre de luz. Não tinha a
capacidade da previsão da Mestra Satele, mas todas as células do seu corpo
gritavam em alerta. Quem ou o que quer que tenha entrado no cofre dos
Hutts, não iria embora silenciosamente.
As mãos da criatura cuspiram dardos de fogo azul que ricocheteavam na
armadura e nas lâminas dos sabres de luz e explodiam sempre que
golpeavam carne ou pedra. A garota Sith estava focada no ataque inicial,
mas quando ela caiu, o fogo se tornou mais indiscriminado. Os corpos
mergulhavam em todas as direções, atingindo ou buscando cobertura. Não
era fácil dizer identificar. As paredes torturadas da sala renderam ainda
mais sua massa ao pó e cascalho.
Shigar se manteve firme, refletindo os fluxos de energia desconhecidos
de volta à sua fonte. A pele prateada da criatura os refletia por sua vez,
estabelecendo um fluxo ressonante entre ele e a criatura que só se tornou
mais intenso a cada pulso que disparou... em seguida, dobrou de
intensidade, pois adicionou um braço extra ao ataque.
Shigar apoiou os pés e se segurou, determinado a não ceder antes que
isso acontecesse. O ar zumbia e estalava com energia ao longo do caminho
combinado dos pulsos. Nunca tinha visto algo assim antes.
Finalmente algo cedeu. A corrente se dissipou com um clarão
suficientemente violento para explodir a criatura pra trás na antecâmara.
Faíscas de alta energia ricocheteavam ao redor da antecâmara de segurança,
fazendo todo mundo se abaixar novamente.
Shigar derrubou o seu sabre de luz, não a sua guarda. Os seus braços
pareciam ter sido atingidos por martelos. O zumbido em seus ouvidos
estava mais alto do que nunca. Mas até ter certeza de que a coisa estava
incapacitada, ele não relaxaria nem um pouco.
Uma segunda criatura saiu do interior fumegante do cofre. Não disse
nada. Apenas gritou e disparou.
Shigar saltou o mais alto que pôde para fugir dos pulsos de energia
convergentes. Fluxos azuis destacados o seguiram, rasgando um sulco raso
na parede e no teto. Vislumbrou o rosto de Larin abaixo dele. Ela estava em
plena vista, bombeando tiro após tiro no corpo da segunda criatura. A sua
pele prateada os dissipou como gotas de chuva, e começou a se preocupar
que não seria capaz de fugir da vingança da criatura para sempre.
Um trio de mísseis de concussão bem espaçados de Dao Stryver salvou
Shigar da bissecção. Eles transformaram a antecâmara em uma fornalha,
finalmente cortando as vigas mortais. Shigar aterrissou em uma seção do
telhado desabado, sem fôlego e chamuscado, mas em grande parte ileso
A criatura deu um pulo virando pra trás, pousando em seis pernas e se
levantou novamente, desta vez em suas mãos. Parecia exatamente o mesmo
de antes.
Atrás dele, o primeiro rastejou para fora dos escombros em que
aterrissara.
Uma terceira criatura saiu do cofre.
O estômago de Shigar estava oco.
— Tire todo mundo daqui, — ele gritou para Larin através do
comunicador antes que o tiroteio começasse novamente. — Não é seguro
aqui.
— E quanto a você?
— Eu farei o meu melhor para segurá-los.
— Por que não só deixá-los ir?
Não teve uma resposta curta para essa pergunta. Porque isso significaria
admitir o fracasso. Porque quaisquer que fossem essas criaturas, não
deixaria que elas tivessem o que havia dentro da Cinzia. Porque não
deixaria coisas como essa chuva assassina dispararem contra os infelizes
habitantes do palácio Hutt.
— Sem motivo.
— Tudo bem, — disse ela, — mas voltarei com munições mais pesadas
assim que...
Tudo o que ela disse não foi ouvido. Com um grito estridente, as três
criaturas atiraram em conjunto, rasgando o ar.
LARIN PEGOU YEAMA pelo lekku enquanto fugia como se não
houvesse amanhã.
— Canhões de assalto, rifles de precisão, aceleradores de massa, —
disse ela. — Tudo o que você tem... Agora!
O Twi'lek vacilou, dividido entre medos conflitantes: de sua mestra; das
coisas que causam estragos na antecâmara de segurança demolida; e de
Larin. Com uma escolha, ele parecia correr para a nave mais próxima e
seguir para as estrelas.
Para ajudar a mudar de ideia, Larin ergueu o rifle e o apontou entre os
olhos dele.
— Você não dará um único passo a menos que faça a ligação.
Yeama levou o comunicador à boca e começou a emitir ordens.
Correu de volta para onde o sargento Potannin estava deitado de bruços,
assistindo a batalha se desenrolar pelo escopo eletromonocular de emissão
padrão que lhe emprestara. Ele devolveu a ela e disse:
— Eu acho que eles são droides. Olhe para o da esquerda. Está
danificado.
Focou a mira na criatura parecida com uma aranha que Potannin havia
indicado. Um dos membros torácicos haviam sidos cortados, revelando não
carne ou exoesqueleto, mas uma confusão de fios que se flexionavam e
torciam, chovendo faíscas douradas. Estreitou o campo de visão para ver
mais de perto. Definitivamente, os fios finos como cabelo e maleável como
mercúrio.
A sua mente voltou à equipe de manutenção da Hortek que ela e Shigar
haviam tropeçado nos túneis abaixo do palácio. Lá ela tinha visto fios de
prata também.
Antes que tivesse tempo de seguir o pensamento, Yeama retornou,
empurrando um rifle sniper de cano longo em seus braços.
— Tem mais vindo, eu espero?
Ele assentiu infeliz e se afastou apressadamente.
Alinhou o rifle, apoiando o seu peso em um pedaço de pedra saliente.
— Vá para as articulações, — Potannin aconselhou, mas o ignorou. As
mãos estavam causando o dano. Se pudesse eliminá-los, isso reduziria a
ameaça a Shigar. No momento, apenas ele e Stryver estavam fazendo
qualquer coisa para impedir que os droides assassinos saíssem da
antecâmara.
Os droides se moveram rápido, e não se moveram como nada que Larin
havia disparado antes. Qualquer um dos seis membros poderia atuar como
uma perna, o que significa que eles não corriam tanto como uma roda de
carroça de um lugar para outro, eram como daninhas animadas, disparando
à medida que avançavam. Eles também podiam se agachar com três das
todas as seis pernas no chão, dando-lhes uma base mais estável para
disparar. Eles poderiam até se enrolar em uma bola para proteger o seu
diafragma hexagonal. Além disso, o droide danificado demonstrou um tipo
poderoso de escudo quando Shigar se aproximou demais. Ele cruzou dois
membros em um X e criou um eletroespelho circular de curta duração que
dobrou o seu sabre de luz em um V, quase arrancando o braço no processo.
Ele recuou e o droide voltou a atirar nele.
Larin deu o seu primeiro tiro e errou. O seu segundo golpeou o membro
anterior e foi desviado. O seu terceiro golpeou a articulação do pulso,
cortando a mão de atirar com um clarão avermelhado. Instantaneamente, o
droide girou para fazer com que esse membro ficasse em pé, colocando
outra arma em jogo. Ela moveu o seu identificadores de alvo para apontar
para o próximo.
Outro rifle de precisão chegou, e Potannin começou a luta. Ele
experimentou as articulações, com pouco sucesso, e passou para os órgãos
sensoriais espalhados pelo peito das coisas. Os círculos pretos reagiram de
maneira diferente da pele prateada sob fogo. Eles absorveram tudo o que
lhes atacou e irradiou a energia como calor. As as suas superfícies negras
refletivas logo ficaram vermelhas, depois aumentaram para laranja e
amarelo. Eventualmente, um atingiu roxo e explodiu, fazendo o droide girar
em círculos por um momento antes de se recuperar.
Larin constantemente pegou as armas da mão do seu alvo escolhido.
Quando restavam apenas dois, o droide transferiu o seu peso para as quatro
pernas feridas e pulou para onde um do seus parceiros estava trocando tiros
com Dao Stryver. O droide ferido pulou na parte de trás da contraparte e os
dois corpos ficaram juntos. As quatro pernas feridas se retraíram, criando
um droide mais maciço com oito pernas, com todas dispostas e capazes de
disparar.
— Ah, qual é, — disse ela.
Os esforços de Larin e do sargento Potannin não passaram
despercebidos. O droide ameaçando Shigar pulverizou uma onda de pulsos
azuis em sua direção, forçando os dois a se esconderem. Quando acabou, os
canos dos dois rifles estavam enegrecidos, mas ainda pareciam capazes de
disparar. O sargento Potannin, no entanto, não teve tanta sorte. Um
ricochete o pegou no olho e o matou instantaneamente.
Antes que pudesse se vingar, alguém bateu no seu ombro. Virou-se para
ver Yeama e três Houks puxando um canhão de laser montado em uma torre
e com rodas.
— Já era tempo, — ela rosnou, rastejando. — Aqui, deixa eu ver. Eu já
usei esse modelo antes.
Yeama acenou pra ela ir embora. O seu olhar dizia tão claramente
quanto as palavras que, se alguém iria dispará-lo no palácio de sua mestra,
seria ele.
Recuou quando outra onda de pulsos azuis convergiu sobre eles. Um
quarto droide de seis pernas emergiu do cofre.
— Quantas dessas coisas estão lá dentro? — Ela perguntou pra ninguém
em particular.
Então o canhão estava disparando, tirando todos os pensamentos mais
elevados da situação de sua mente. Era uma soldado. Era o seu trabalho
lutar, não analisar. Deitando de bruços, pegou o rifle de atirador novamente,
disparou-o e começou a salpicar o inimigo com tiros.
— QUANTAS DESSAS coisas estão em lá dentro? — Ula ouviu Jet dizer
sobre o som de tiros de blaster.
Esticou o pescoço sobre a viga caída e arriscou outro olhar. Com certeza,
outro dos droides hexagonais tinham aparecido.
— Eles estão lá, — ele perguntou, — ou só passando por lá?
— Não sei se faz sentido se eles têm outra maneira de entrar no cofre.
Quero dizer, se eles podiam se virar e voltar, por que não estão fazendo
isso? Por que eles estão lutando para superar todos os outros?
Ula se perguntou por que eles não apenas abriram um buraco, mas ele
logo encontrou uma resposta para isso. Os seus pulsos azuis arrancavam
pedaços de pedra do tamanho de um punho da parede, e muitos deles. Eles
também eram letais contra a carne, mas não possuíam força necessária para
atravessar o ferrocreto reforçado. A antecâmara de segurança era a única
rota aberta para eles.
Era também a única rota de fuga aberta para ele e Jet, mas haviam sido
cortados pela viga reforçada que agora se abrigavam atrás. Entre eles e a
saída havia dez metros de espaço aberto, coberto de cacos de vidro,
entulhos e os corpos ocasionais. Um deles pertencia à jovem garota Sith,
que havia sido a primeira alvejada pelos hexagonais, pois Ula passara a
abreviá-los. O droide de Jet assistia impotente do outro lado da sala,
incapaz de se aproximar para ajudar o seu Mestre.
— Observe o Stryver, — disse Jet.
— Por quê? — Ula tinha visto o suficiente dos Mandalorianos em ação
por uma vida.
— Ele está se segurando, quase como se estivesse os testando.
— Testando quem?
— Os droides, é claro. Por que ele testaria Shigar? Eles já lutaram duas
vezes.
— Por que testar os hexagonais?
— Eu não sei. Curiosidade, talvez? Talvez o Mandalore esteja
procurando uma nova espécie de lutadores de poço. A propósito, nome
legal: hexagonais.
Eles observaram Yeama e Larin posicionarem um canhão de laser para
uma cobertura ideal. O rosto de Larin estava escondido por seu capacete,
mas Ula ficou feliz ao ver que ela ainda estava de pé.
— Talvez seja assim que Stryver tenha sido o tempo todo, — disse Jet.
— Afinal, foi ele quem falou sobre os droides antes. Qual era o nome
dessa mulher? A fabricante de droides?
— Lema Xandret.
— Quem quer que ela fosse, ele a conhecia, e você disse que ele estava
fazendo perguntas sobre ela em todo o lugar. E se aquela coisa na Cinzia
tivesse algo a ver com o seu trabalho? E se os hexagonais estiverem aqui
agora para roubá-lo de volta?
— E se eles estivessem na nave o tempo todo?
— Esse não pode ser o caso. A coisa que você viu era muito pequena, a
julgar pela sua descrição. Não, eles devem ter entrado de alguma forma.
Talvez alguém os tenha deixado entrar.
Ula estava observando Shigar, que havia desenvolvido uma nova tática
contra os hexagonais. Quando um deles disparava contra Stryver, ele corria
pra baixo, sob os membros azuis. De perto, eles estavam mais vulneráveis,
e ele conseguia levar algumas boas estocadas ao corpo de um deles. Ele
estava funcionando mal de um lado, e dois do seus membros não
funcionavam mais.
— Essa garota Sith ainda está viva, — disse Jet, cutucando-o com um
cotovelo.
Ula olhou através do campo de batalha e descobriu, para a sua surpresa,
que isso era verdade. Ela estava subindo de joelhos, balançando a cabeça
com uma expressão furiosa. Os seus cabelos dançavam como chamas
líquidas. Ela olhou para Ula como se tivesse sido despertada de um sonho
poderosamente infeliz.
— Eles os tornam duros como Korriban, — disse Jet com sombria
admiração.
A garota estava de pé agora. No momento em que o seu sabre de luz se
ativou, os hexagonais a notaram. Quatorze fluxos de pulsos de energia
convergiram e Ula teve tempo suficiente para sentir pena dela antes de
desaparecer em uma esfera brilhante de luz.
Com um som de buum, o canhão do laser disparou, disparando no
hexagonal de oito pernas através da barriga. Ele bateu de costas, gritando de
maneira penetrante. Os dois hexagonais restantes direcionaram os seus
pulsos para o escudo do canhão, tornando-o vermelho vivo.
Ula estava olhando para a garota Sith. Surpreendentemente, ela não
tinha morrido no ataque concentrado. Ainda mais surpreendente, ela ainda
estava de pé e parecendo mais irritada do que nunca.
— De quem vocês reconhecem a autoridade? — ela gritou, saltando de
cabeça para a batalha. — De quem vocês reconhecem a autoridade?
O tom de sua fúria era tão alto que parte de Ula realmente sentiu pena
dos hexagonais quando ela pousou entre eles e começou a bater.
AX SONHAVA COM UM mundo muito maior que o normal,
onde tudo parecia estranho, mutável e cheio de ameaças. Estava propensa a
ficar confusa, mesmo que ela tenha se esforçado muito para acompanhar.
Quando cometia um erro, as pessoas gritaram com ela, pessoas gigantes
com vozes aterradoras. Doía quando gritavam com ela. Cobriu os ouvidos
com as mãos e tentou correr. As vozes a seguiram por toda parte, gritando o
seu nome.
Cinzia!
Cinzia!
Acordou assustada no meio de um tiroteio e não conseguiu se lembrar
por um momento quem era ou onde estava. Cada célula do seu corpo doía.
Alguém estava gritando. Ela não. Eram os gritos que a acordaram. Somente
ao despertar ficou claro que a voz não vinha da garganta humana.
Ela lembrou.
Hutta.
O cofre.
Lema Xandret.
O seus músculos queimaram enquanto os colocou em ação. Erguer a
cabeça era como erguer uma montanha de dor. Sentiu um grito ferver dentro
dela, um grito de raiva, desespero e medo. Contê-lo a machucou, mas ao
mesmo tempo deu-lhe força. Precisava de toda a força que pudesse reunir
para sobreviver nos próximos segundos.
De todos os que estavam na antecâmara de segurança, os droides de seis
pernas tinham visado ela em primeiro lugar.
Nós não reconhecemos a sua autoridade!
Ela, no entanto, reconheceu o desafio deles. Foi o mesmo oferecido pela
tripulação da Cinzia quando eles foram confrontados pelo contrabandista.
Mas cuja autoridade eles reconhecem? Tinha que haver algo, ou alguém,
por trás de sua natureza assassina.
Ax se ajoelhou e, a partir daí, com um supremo esforço de vontade,
levantou-se. O mundo balançava ao seu redor, mas o grito estava intacto e
crescente. O lado sombrio inchou dentro dela.
As criaturas do cofre a viram e imediatamente voltaram os seus pulsos
azuis pra ela.
Ela libertou o grito.
Uma barreira da Força a cercava, a milímetros de sua pele. Ela brilhou e
cintilou enquanto onda após onda de energia colidia contra ele, mas resistiu.
Ela durava enquanto gritasse, desde que não quisesse morrer.
O ataque cessou e recuou um passo, respirando pesadamente. Os seus
pulmões estavam cheios de fumaça quente e ozônio. A cabeça dela tocou
com som. Uma das coisas que a atacaram havia sido revertida por algum
tipo de arma. Os detalhes a iludiram. O importante era que os droides
estavam distraídos. Essa era a sua chance de descobrir o quanto eles eram
realmente durões.
— De quem vocês reconhecem a autoridade? — ela gritou, lançando-se
no mais próximo. Suas armas de mão estavam concentradas no escudo de
um canhão de laser e não giravam a um tempo. — De quem vocês
reconhecem a autoridade?
O coisa droide não respondeu.
A sua raiva gerou instantes em horas.
Primeiro, tentou espetar o corpo hexagonal com o seu sabre de luz.
Algum tipo de escudo apareceu entre eles, dobrando a lâmina de volta
em seu próprio braço, forçando-a a recuar.
Em seguida, tentou explodi-lo com relâmpagos Sith.
O corpo da coisa captou a energia e a descarregou das pontas dos
membros. Quatro braços brilhantes se lançaram contra ela, forçando-a a se
abaixar novamente.
Estendeu a mão e tentou esmagar o seu interior telecineticamente.
O seu esqueleto de favo de mel resistia mais poderosamente que o
duraço. Os membros mortais do hexagonal se agitavam para empalá-la ou
matá-la, por mais que se esforçasse.
Eles gritaram juntos, trancados em um impasse vicioso. Não poderia
matá-lo, e a coisa não poderia matá-la. Ele se moveu sobre a inclinação,
com servomotores poderosos que combinavam com a sua própria força e
agilidade. Os seus órgãos sensoriais sombrios a rastreavam a cada
movimento. Mas cada pulso azul que disparava contra ela era refletido pela
barreira da Força, e cada golpe selvagem do seus membros afiados era
desviado inofensivamente.
Então, de repente, ele recuou. Os seus membros se preocupavam com a
pele metálica, como se arranhasse atrás de pulgas. Seguiu-o, intrigada e
cautelosa. Isso era uma armadilha, alguma nova tática estranha para jogá-la
de surpresa? Lançou-se contra ele, e ele se afastou rapidamente, disparando
uma corrente de azul para mantê-la afastada na baía.
Então parou, manteve-se firme e desapareceu.
Por um segundo, Ax duvidou da evidência do seus próprios olhos. Como
um droide poderia simplesmente desaparecer? Não era possível!
Uma explosão de energia azul a atingiu pelo lado, do nada, e percebeu: o
droide havia ativado um sistema de camuflagem, reduzindo a sua aparência
a pouco mais que um borrão. Estava se misturando ao fundo, circulando-a,
tentando atirar nas costas dela.
Ax estreitou os olhos. Não sabia exatamente o que essas coisas podiam
ou não fazer, mas de uma coisa estava completamente certa. De um jeito ou
de outro, iam morrer. Ela ia destruir a todos eles.
SHIGAR PISCOU O SUOR DOS OLHOS e aproveitou a oportunidade para
recuperar o fôlego. O reforço não poderia ter chegado tão cedo, mesmo que
fosse na forma de uma Sith e um Twi'lek de pele verde nos controles de um
canhão de laser. Não tinha energia para reclamar. Com uma das coisas
droides caídas, espetado ao meio pelo Twi'lek, e outra ocupada com a
garota, que deixou apenas um pra ele e por Stryver liquidar.
O Mandaloriano pairou sobre ele, salpicando-o com tiros de blaster e
mísseis de concussão. Shigar esperou por uma abertura.
O seu comunicador tocou.
— Você deveria recuar, — disse Larin. — Temos tudo resolvido agora.
— Não acho tão simples assim.
— Mas você está machucado. Ao menos, alguém que veja isso pra você.
Olhou pra baixo e notou pela primeira vez que o seu braço esquerdo
estava coberto de sangue. Estava completamente alheio à dor.
O canhão laser disparou novamente. Desta vez, as coisas droides
estavam prontas. O que Shigar estava assistindo caiu agachado e jogou o
seu escudo eletroespelho. O raio do canhão bateu pra trás, mas o próprio
raio se refletiu na parede. Lá explodiu inofensivamente, cobrindo a dois não
combatentes agachados com cascalho.
Stryver mergulhou com sua mochila propulsora e pousou ao lado de
Shigar. O qual ergueu o sabre de luz, mas o Mandaloriano não estava na
ofensiva.
— Diga para eles apontarem para o cofre, — disse ele, indicando o
comunicador.
— Por que, o que há lá?
— Só fala pra eles.
Então ele decolou e voltou a perseguir o alvo. Mais uma vez o canhão
laser disparou, e novamente o raio explodiu na parede.
Shigar transmitiu a instrução.
— A porta está aberta, — ele disse, — e é um espaço confinado.
Qualquer coisa deixada lá será frita.
Larin passou a mensagem para o Twi'lek. De sua posição, Shigar podia
ver o seu lekku balançando num instante em negativo. Uma breve discussão
se seguiu antes de Larin voltar a falar com ele.
— O computador de navegação ainda pode estar lá, — disse ela através
do comunicador. — Se você conseguir tirá-lo, em seguida, eles atirarão no
cofre.
Shigar não descartou o plano de imediato. Longe dele ajudar os Hutts
em suas atividades venais, mas a República precisava de toda a ajuda que
pudesse obter na guerra contra o Império. Não era a sua missão principal,
mas ainda era importante.
— Tudo bem, — ele começou a dizer.
Então duas coisas aconteceram que tiraram todo o pensamento do
computador de navegação de sua mente. Primeiro, o droide atacando a
garota Sith desapareceu. Segundo, o canhão laser disparou novamente e o
raio foi desviado pela terceira vez contra a parede.
Na mesma setor da parede, Shigar percebeu. Os tiros não estavam
ricocheteando aleatoriamente. Eles estavam sendo mirados.
— Parem de atirar! — Ele gritou no comunicador. — Digam a eles para
parar de atirar!
Larin bateu no capacete, obviamente pensando que tinha ouvido mal a
ordem dele.
A garota Sith estava se movendo, seguindo uma ondulação no ar. Ele
disparou de volta para ela, pulsos azuis aparecendo do nada e ricocheteando
em sua barreira da Força. O droide quase invisível estava indo para os dois
não-combatentes que Shigar vira antes.
— Eu disse para parar de atirar! — Ele acenou com os braços para
transmitir a sua urgência. — Agora!
O Twi'lek o ignorou. Outro raio foi para a parede, alargando a cratera
que já havia sido perfurada nela. Mais um tiro, Shigar pensou alarmado.
Isso foi o suficiente para arruinar tudo.
As armas de mão não eram fortes o suficiente para que os droides
pudessem sair, então eles estavam usando o armamento dos Hutts. Em vez
de matá-los, o canhão de laser os libertaria.
Shigar rangeu os dentes e correu em frente. Se Larin não conseguisse
impedir o Twi'lek de atirar, teria que se jogar no droide camuflado e esperar
ter sucesso onde a Sith havia falhado.
Distante, ouviu o rugido da mochila propulsora de Stryver passar por
cima, mas o significado disso o iludiu. O tiro o qual temia veio do canhão
de laser e ricocheteou no escudo de eletrometro, para dentro do buraco na
parede. Longas rachaduras se espalharam e, de repente, o reboco caiu da
parede. Os dois não combatentes estavam diretamente no caminho dos
escombros.
Shigar teve uma escolha. Poderia interceptar o droide ou salvar os dois
homens. Não podia fazer as duas coisas. Havia apenas uma fração de
segundo para decidir.
Ignorando a sua dor e exaustão, deixou a Força fluir através dele e fez a
única coisa que poderia.
OS DENTES DE YEAMA foram descobertos com determinação enquanto
disparou contra o hexagonal encolhido. Larin gritou pra ele parar, adivinhou
as intenções do droide, assim como Shigar, mas o Twi'lek estava cegamente
resoluto. Ele pensou que estava fazendo a coisa certa. Ele acreditava
sinceramente que estava prestes a dominar seu alvo. Ele não quis ouvir.
Preparou-se para tirar Yeama fisicamente dos controles do canhão a
laser, mas o gemido crescente de um mochila propulsora a fez olhar pra
cima. Stryver estava a caminho. Ele também deve ter visto o que o canhão
laser estava fazendo. Mas ele não estava voando para defender a brecha,
como Shigar estava. Ele estava vindo direto até ela.
Com o tempo, Larin percebeu as suas intenções. Jogou-se para longe do
canhão e mergulhou para se esconder. Atrás dela, o canhão explodiu em
uma bola de fogo. Pedaços de metal passaram zunindo por ela, arrancando a
sua armadura. Uma onda de calor a envolveu. Sentiu como se um rancor a
tivesse agarrado pelas mandíbulas e a estivesse sacudindo de um lado para
o outro.
Quando acabou, olhou de volta para o canhão de laser. Era uma ruína
fumegante, destruída pelos mísseis de Stryver. De Yeama, não havia sinal
algum.
Stryver caiu pesadamente ao lado dela. A armadura dele estava tão
enegrecida e amassada quanto a dela.
— Entre no cofre. Destrua tudo o que encontrar lá.
— O que você vai fazer?
— Terminar o que comecei. Eu já vi o bastante.
Enquanto ele falava, mais da parede danificada caiu, revelando espaço
vazio do outro lado. Os hexagonais já estavam indo para a abertura,
seguidos pela Sith. Stryver grunhiu e foi ao ar, ativando sistemas de armas
que ele ainda não havia usado contra os droides. Larin o observou partir,
pensando seriamente.
Haveria tempo para pensar depois, lembrou a si mesma novamente. A
prioridade era pôr fim à atual crise. Stryver não estava acima de tomar
medidas drásticas para fazer exatamente isso, matar Yeama ao colocar o
canhão fora de ação era apenas um exemplo, e ele parecia saber do que
estava falando. Olhando em volta, encontrou dois dos guardas do pobre
Potannin e os chamou. Movendo-se cautelosamente pelos escombros, eles
se dirigiram para a antecâmara marcada pela batalha e a boca escancarada
do cofre.
ULA OLHOU horrorizado para a massa descendente de alvenaria. Não
havia nada que ele ou Jet pudessem fazer para evitar serem esmagados, e o
droide de Jet estava muito longe para intervir. Não havia tempo para os
últimos arrependimentos ou dúvidas. A lei da gravidade era inquebrável,
mesmo em uma Hutta sem lei.
Levantou os braços em uma tentativa fútil de autopreservação e fechou
os olhos.
Não morreu. Os seus pensamentos se sustentam com uma vitalidade
cada vez mais espantada, até que eventualmente lhe ocorreu que alguém
havia interveio para ajudá-lo a viver um pouco mais.
Abriu os olhos. A avalanche foi desviada ao redor deles por uma força
invisível. Pela Força, percebeu quando olhou em volta para a fonte da sua
salvação. Era o Jedi, com a mão esquerda estendida em um movimento de
defesa e a sua expressão feroz. O próprio Ula não pôde sentir nada
decorrente desse gesto, mas ficou profundamente agradecido pelas pedras
parecerem tão bem.
Outro estrondo veio de cima. A parede não era estável. O Jedi desviou
outra laje caindo, o qual foi ao lado deles com um som estrondoso.
— Vamos lá, — disse Jet, puxando o seu braço. — Acho que é hora de
encontrarmos outro lugar para ficar.
Ula concordou de todo coração. Conflituoso, mas grato, ele acenou em
agradecimento ao Jedi e correu com Jet para fora da zona de perigo. Jet os
conduzia para o que antes fora a saída externa da antecâmara de segurança,
mas agora era um caminho aberto por montanhas de escombros. O droide
de Jet estava esperando por ele lá, agitando os braços. O cano grosso do
canhão laser se projetava entre duas grandes lajes. Por trás, Ula podia ver
Larin e Yeama brigando pelos controles.
Então Stryver entrou, disparando contra o canhão. Larin deu um pulo ou
foi jogada para longe, e o coração de Ula martelou em seu peito. Ela se
machucou? Poderia ajudá-la? Jet o puxou pra baixo quando o canhão
explodiu e os estilhaços ecoaram ao redor deles. Tardiamente cobriu a
cabeça com as mãos, sentindo como se tivesse passado a última hora nessa
posição.
Não se tratava de um agente Imperial, disse a si mesmo, cansado de sua
própria covardia. Certa vez, tinha aspirações de ser um Agente de
Criptografia, cujo trabalho era negociar exatamente nessas situações. Aqui
estava ele, bem no meio das coisas, e o que ele estava fazendo? Quando não
estava sendo salvo por um Jedi, estava se encolhendo e choramingando ao
menor barulho. Simplesmente não faria isso.
Os droides estavam ocupados com Stryver, Shigar e os Sith. O caminho
para a antecâmara estava escancarada.
— Vou ver o que há lá, — disse ele. — Vem?
Jet olhou para ele como se ele tivesse enlouquecido, carrancudo.
— Você não pode estar falando sério.
— Por que eu não estaria? Esta é a minha chance de entrar antes que
mais alguém o faça.
— Isso não é trapaça?
— Se for, eu não sou o único. Olhe. — Ele agarrou Jet pelo ombro.
Larin está se mexendo. — Eu tenho que parar a República de chegar lá
primeiro.
Jet sorriu firmemente com isso.
— Acho que você quer dizer 'os Imperiais', meu amigo.
Ula corou.
— Sim. Sim, claro. Foi exatamente o que eu quis dizer.
— O enviado Nirvin está lá. Não acho que ele se importe muito, de
qualquer maneira.
Jet apontou para um corpo tão esmagado que Ula não conseguiu
identificá-lo. Ula estremeceu e desviou os olhos.
— Independentemente disso, eu vou. Você pode vir se quiser. Eu não
ligo.
— Tudo bem, tudo bem, mas mantenha a cabeça baixa!
Jet limpou as palmas das mãos nas calças empoeiradas e assumiu a
liderança, como se, ao fazer isso, aumentasse as chances de um deles voltar
vivo.
A PAREDE CAIU apesar dos melhores esforços do Jedi para
sustentá-la. O ar fresco entrou em uma onda de poeira e cinzas. O droide
quase invisível de Ax saltou agilmente de afloramento em afloramento em
direção à abertura. Em dois saltos, alcançou o buraco e saltou para a luz do
mundo exterior.
O droide seguindo em seu rastro disparou contra ela. Os seus pulsos
ficaram roxos, de alguma forma, e agora deu um soco mais poderoso.
Rolou, mantendo o escudo intacto, e refletiu os pulsos de volta. Mais poeira
subiu e o droide desapareceu na nuvem. Não precisava usar a Força para
saber que ele havia seguido os passos do seu irmão.
Stryver estava de pé, com a mochila propulsora flamejando. Ax arriscou
ser queimada em sua pós-lavagem posterior, estava seguindo tão perto de
trás dele. O Jedi a seguiu, parecendo desgastado e danificado. Pensou em se
voltar contra ele e derrubá-lo, aproveitando a oportunidade para terminar o
que haviam começado antes, mas preocupações mais importantes a levavam
agora. Podia ouvir os droides gritando enquanto explodiam a população
inocente do palácio de Tassaa Bareesh. O som de suas vozes alimentou o
seu desejo de destruí-los, vê-los todos muito, muito mortos.
Evocii e outros alienígenas estavam correndo por toda parte, fugindo dos
droides e do Mandaloriano, disparando contra eles. Os seus mísseis de
concussão derrubaram tetos e paredes no caminho dos droides, impedindo-
os de ficarem muito à frente. Eles atiraram de volta para ele, causando ainda
mais danos colaterais. Se isso continuasse, Ax pensou, não demoraria
muito para que o lugar inteiro de Tassaa Bareesh fosse destruído. Não
conseguia se importar.
Quando Stryver estava ao alcance, ele usou o seu lançador de rede para
derrubar o droide semi visível. Ele não havia tentado essa tática antes,
notou. Além disso, a rede era diferente da que havia usado nela. Por que
havia mudado de tática era, no entanto, menos importante no momento do
que o fato de estarem trabalhando. A malha da rede foi eletrificada e
entregou um poderoso pulso de energia à pele prateada do droide. A
criatura de seis pernas explodiu e estremeceu, derramando faíscas em tudo
o que tocou. O seu lamento ganhou uma nova nota e desesperada quando a
sua camuflagem falhou.
Ax se preparou para correr e acabar com isso.
Então parou.
O que eu estou fazendo?
A resposta demorou surpreendentemente para chegar. Essa não era a luta
dela. A menos que um dos droides estivesse carregando o computador de
navegação, não tinha nada a ganhar os matando. A vingança pode parecer
doce naquele momento, mas ela se arrependeria mais tarde se alcançá-la
significasse falhar em sua missão. Darth Chratis se asseguraria disso.
A Cinzia, Lema Xandret. Elas eram o que importava.
O Jedi passou correndo por ela, com sabre de luz erguido. Deixe-o
acabar com o droide caído, Ax decidiu. Pra ele poderia ir esse pequeno
espólio. Então ele e Stryver certamente poderiam acabar com o único
androide que restava para lidar por conta própria.
Sem ser notada por nenhum deles, se virou e voltou para a antecâmara
de segurança.
SHIGAR SE ESTABILIZOU nas entranhas do droide caído, pressionando com
força para penetrar no metal surpreendentemente resistente do seu
exoesqueleto. As suas pernas se esticaram contra a rede, deixando de
disparar contra ele ou de formar a sua defesa contra eletroespelhos. Faíscas
ainda eram lançadas ao redor, e Shigar teve o cuidado de não se queimar
nem ser eletrificado. Os cabelos do seus braços estavam arrepiados,
eletrificados mesmo ao longo do eixo do seu sabre de luz.
Os órgãos sensoriais brilhantes do droide ficaram pretos foscos enquanto
ele morria. Ele caiu pra trás com um chocalho metálico, e as suas pernas
estavam moles. Shigar ainda trabalhava em seu corpo, garantindo que nada
sobrevivesse. A caixa se abriu, derramando vários hemisférios brancos em
forma de concha. Temendo que eles pudessem criar algum tipo de ataque de
última hora, Shigar os atacou também. Eles assobiaram e caíram,
escorrendo um líquido vermelho escuro.
Quando estava absolutamente certo de que o droide não tinha mais vida,
afastou-se e correu atrás de Stryver. O droide final estava salpicando o
Mandaloriano com seus pulsos recém-potentes, mantendo-se fora do
alcance do seu lançador de rede. Stryver, por sua vez, conseguiu manobrá-
lo em um beco sem saída e o prendeu entre ele e um trio de seguranças
Nikto. Os seus blasters eram ineficazes contra a armadura da coisa, mas
tinham um efeito de distração.
Shigar veio atrás do Mandaloriano e considerou a melhor maneira de
ajudar. O teto era baixo e muito menos resistente do que o da antecâmara de
segurança. Conectando-se a Força, afrouxou uma viga principal e trouxe
uma chuva de tijolos e telhas do teto para o droide. A distração foi
suficiente para Stryver se aproximar o suficiente para lançar a rede.
O droide caiu com um grito de dor e raiva. Stryver jogou três granadas
de concussão no peito, sem se importar com o Nikto parado nas
proximidades. Shigar passou por ele para acabar com o droide, antes que
alguém pudesse se machucar.
Antes de dar o golpe fatal, tentou falar com ele.
— Por que você está lutando?
— Nós não reconhecemos...
— Você é um droide de combate. Você deve ter protocolos principais.
— ...não reconhecemos a sua...
Quem é o seu comandante? Seu criador?
— ...sua autoridade! Nós...
Stryver se inclinou sobre ele e mergulhou a sua barra de choque no peito
da coisa. As suas pernas se agitavam e gritavam tão tristemente que Shigar
quase sentiu pena dele. Então a sua função de vocabulário se degradou e a
sua voz se tornou pouco mais do que sons eletrônicos penetrantes. Ele ficou
feliz quando finalmente se calou.
O seu comunicador tocou.
— Shigar, estou no cofre, — disse Larin. — Você precisa ver isso.
— O que é?
— Eu não sei. Isto...
Com uma explosão de estática, o comunicador ficou sem sinal.
Shigar se virou e correu de volta por onde tinha vindo, com a forma
massiva de Stryver cinco longos passos à sua frente.
LARIN PISOU CAUTELOSAMENTE na poça de metal derretido que outrora
fora a porta do cofre. Ainda estava quente. Podia sentir o calor mesmo
através de suas botas isoladas. Mas estava sólido, e as suas solas se
sustentavam. O corpo do droide morto pelo canhão ficava próximo, as oito
pernas abertas e o corpo duplo inerte.
Rapidamente examinou a antecâmara e descobriu que estava vazia. O
que antes eram paredes brancas agora estava enegrecida e marcada, mas os
outros três cofres permaneciam bem fechados. Havia uma depressão no
centro da sala que parecia uma boca de túnel. O ferrocreto novamente
solidificado se fechou, no entanto, seguido por uma camada de metal da
porta fundida.
Satisfeita por nada pular por trás dela, Larin se aproximou da porta. O
seu rifle estava armado e pronto, e tinha um apoio armado. Os membros do
esquadrão de Potannin eram discretos e eficientes. Mas o mais importante,
eles estavam seguindo às ordens dela.
O interior do cofre era iluminado por um único globo trêmulo. Através
dos brilhos de luz que fornecia, finalmente viu com os seus próprios olhos o
objeto que Potannin havia descrito: um cilindro baixo e abobadado, feito de
prata reluzente. A imagem de um soldado com cicatrizes de batalha parado
atrás de sua arma se refletia à sua frente curva. À luz irregular, parecia
ameaçadora e hesitante.
Gesticulando economicamente, ordenou que os membros do esquadrão
de Potannin passassem por ela. Eles foram em direções separadas,
contornando o objeto para cobri-lo de todos os ângulos. Um deles pisou em
um longo tubo de vidro que se partiu com um som alarmante. Não
aconteceu nada sinistro, notou com alívio.
Não havia sinal do computador de navegação.
— Destrua tudo o que encontrar, — dissera Stryver, e veio armada com
granadas para fazer exatamente isso. Mas não estava prestes a fazer nada
precipitado. Quem sabia que informações valiosas poderiam desaparecer
para sempre se agisse precipitadamente? Pode ter sido demitida das Forças
Especiais da República, mas isso não significava que estava prestes a
receber ordens de um Mandaloriano sem questionar.
Larin avançou um passo. A ponta da bota pegou algo e, quando olhou
para baixo, viu mais fios prateados brilhantes atravessando o seu caminho.
Entendeu num instante o que isso poderia ser, e alcançou o seu
comunicador para ligar para Shigar.
Com um estalo, a parte superior do objeto prateado se abriu. Dele saiu
outro droide. Ela largou o comunicador e caiu sobre um joelho, com o seu
rifle subindo ao fogo. O droide estava vindo direto até ela, com as pernas se
agitando e gritando como uma coisa louca. A sua forma selvagem estava
congelada em um brilho de luz, sua silhueta era como um inseto em uma
janela. Registrou cinco braços de comprimento variável e as manchas em
seu corpo que brilhavam através da luz. Os tiros do seu rifle abriram mais
buracos em seu couro e o jogaram pra trás. Ele bateu e gritou.
Afastou-se, com o coração batendo forte, despejando uma rodada após
outra no droide e no objeto de onde ele emergira. Este droide não estava
inteiramente completo. Isso era óbvio, mesmo pelo breve vislumbre que
recebera. Se tivesse, ela estaria morta agora. Era novo, feito do zero dentro
do objeto puxado da Cinzia. Como os outros tinham sido.
O droide parou de se mover. Sinalizou um cessar-fogo e agradeceu o
súbito silêncio. O ar estava cheio de fumaça e descargas estáticas. O tique-
taque do metal refriando era o único som.
Aproximou-se do droide com cicatrizes de blaster e do objeto que o fez.
De pé cautelosamente sobre o último, apontou o rifle para a boca aberta e
olhou pra dentro. Viu uma massa de fios de prata e manipuladores finos,
ainda se movendo, apesar dos danos infligidos a ele. Disparou dois tiros na
boca e a massa em turbilhão ficou frenética. Metade de um droide da frente
apareceu, atrofiado e deformado. Um órgão sensorial negro entrou e saiu.
Larin sabia o que era agora. Era uma fábrica de droides compacta e
estava ocupada desde que os Hutts a colocaram aqui, enviando pequenos
fios em busca de metais e energia, infiltrando-se nos sistemas de segurança
e levando tudo o que precisava. Daí os fios que ela e Shigar haviam
tropeçado sob os cofres. Daí a falta dos alarmes.
Apostou que, se levasse uma faca para as paredes de metal do cofre, iria
encontrá-las quase finas como flimsi... o suficiente para enganar um olhar
casual, mas, de outra forma, totalmente saqueada, dissolvida e removida,
íon por íon, para uso em o trabalho secreto da fábrica.
Construindo droides perversos, determinados e reticentes que não
aceitavam ordens.
Por quê?
Esse era um outro mistério. Mas a coisa ainda estava se movendo, ainda
funcionando. Com tempo suficiente, apostou que isso se consertaria e
começaria tudo de novo. Não admira que Stryver quisesse destruí-lo.
Pegou o comunicador.
— Shigar, estou no cofre, — disse ela. — Você precisa ver isso.
— O que é?
— Eu não sei. Isto...
Algo vermelho brilhou na frente do seus olhos. Uma dor lancinante
atingiu a mão segurando seu comunicador. Olhou horrorizada a terrível
ferida cauterizada onde os seus dedos estiveram.
Sobre o zumbido do seu sabre de luz carmesim, a Sith disse:
— Me dê o computador de navegação ou será a sua cabeça que você
perderá em seguida.
ULA SE ESTICOU PARA VER o que estava acontecendo dentro do cofre.
Ele e Jet estavam de pé na antecâmara e estavam prestes a se aventurar atrás
de Larin quando o som de um tiro de blaster os interrompeu. Brilhos claros
iluminavam o espaço apertado. Larin e os seus dois parceiros estavam
atirando em alguma coisa. Mas o que? Não era outro droide, com certeza!
Ula e Jet mergulharam em busca de proteção, por precaução, e
mantiveram a cabeça baixa até o barulho do fogo das armas desaparecer.
Ula olhou pra cima. Podia ver a silhueta de Larin inclinada sobre o
objeto que Yeama havia lhe mostrado. O seu topo estava aberto e ela atirou
duas vezes nele.
Estava prestes a se levantar quando os seus olhos perceberam algo fora
do lugar entre os pedaços de pedra e outros escombros no chão.
Era o computador de navegação.
Um dos hexagonais deve tê-lo derrubado enquanto emergiram para fazer
a batalha. Ele se esforçou antes que alguém visse e pegasse. O seu
recipiente de transparaço estava intacto, e o dispositivo em si não parecia
pior do que antes.
Um sentimento de triunfo o encheu. Se pudesse abrir a caixa e libertar a
coisa, poderia contrabandear debaixo da capa sem que ninguém mais visse.
Mas primeiro tinha que distrair Jet. Se o contrabandista visse, haveria outra
briga por causa disso. Todo o desastre prolongado pode começar de novo.
Passos triturados vieram por trás dele, e se virou, temendo que já tivesse
sido descoberto.
Era a ruiva Sith. Ela estava indo para o cofre, não até ele.
O seu alívio durou pouco. O sabre de luz da Sith piscou e Larin ofegou
de dor.
— Me dê o computador de navegação ou será a sua cabeça que você
perderá em seguida.
Ula congelou de horror.
— Não estou com ele, — disse Larin, a voz tensa.
— Não acredito em você.
Um dos parceiros de Larin disparou contra a Sith. Facilmente desviou o
raio de volta para a garganta dele. Ele caiu chutando, em seguida, ficou
imóvel..
— Eu estou dizendo a verdade.
— Vou contar até cinco. Então eu vou começar a cortar o seu amigo
aqui. E então será a sua cabeça, eu prometo.
A Sith se aproximou do último membro sobrevivente da equipe de
segurança de Ula. Ele se afastou nervosamente.
A caixa contendo o computador de navegação estava na posse de Ula.
Tudo o que ele tinha que fazer era entregá-la a Sith e Larin seria salva. E
entregaria com segurança as informações ao Império. Era uma solução
simples para todos os seus problemas.
— Dois.
Mas Ula não conseguia se mexer. Os Sith e o Império não eram a mesma
coisa. Oh, pelos trilhões eles eram inseparáveis, o próprio Imperador era um
Sith a quem todos os outros se deferiam!.., mas para ele eram muito
diferentes. Por um lado, o Império ofereceu uma sociedade com regras e
justiça claramente definida que, se permitidas, trariam paz e prosperidade a
todos os planetas da galáxia. Por outro, opressão e conflito constante.
Poderia, em sã consciência, dar alguma vantagem aos seguidores dele?
Larin gostaria que ele desse?
— Três.
Se ele pudesse entregar o computador de navegação a Ministra de
Logística. Com isso na mão, ela certamente poderia encontrar uma maneira
de tirar proveito disso. O Império era tão grande que não perderia os
recursos deste mundo, por toda a disputa sobre eles agora. Tudo que Ula
queria era a chance de provar a exatidão do seus princípios. Não se
importava com a existência dos Sith, mas eles não deveriam ser atropelados
por todos os outros.
— Quatro.
No entanto, não havia sentido em sonhar. A Ministra da Logística
poderia estar em outro universo completamente. Não poderia mais dar a ela
essa peça vital no quebra-cabeça do que poderia enfrentar os Sith e
sobreviver. Era só um peão em um jogo muito maior do que poderia
imaginar. Era insignificante e descartável. Que tolice pensar que poderia ter
mudado a maneira como isso acabaria! O computador de navegação havia
sido reservado para os Sith no momento em que ela chegou.
— Cinco. — A Sith se moveu para começar a cortar.
— Espere! — Ele gritou.
Todos os olhos se voltaram pra ele. A Sith o encarou com olhos odiosos.
Jet parecia tão chocado como se Ula tivesse brotado asas e voado até o teto.
A expressão de Larin estava oculta pelo capacete dela, e esse era o que mais
queria ver.
— Aqui, — ele disse a Sith, segurando o computador de navegação. —
Pegue. Só a deixe em paz.
A expressão da garota ficou faminta, triunfante. Ula não queria se
aproximar mais daquela lâmina do que ele precisava. Levantou a caixa e
jogou pra ela.
No auge do arco, uma teia cintilante alcançou e arrancou a caixa do ar.
— O que..? — Ula se virou.
O Mandaloriano pegou a caixa ordenadamente em uma mão e jogou
algo de volta para Ula em troca. Ele pegou automaticamente. Era uma
esfera de metal pesado com uma luz vermelha piscando.
— Não! — Gritou a Sith, roubada do seu prêmio.
Stryver já estava em movimento, subindo com a sua mochila propulsora
e indo para a saída.
— Largue isso! — Gritou Jet para Ula. — É um detonador térmico!
Ula jogou a esfera para longe dele o mais forte que pôde. Ela subiu e
continuou subindo enquanto Shigar, o Jedi, usava a Força para varrê-la pra
longe. A tática não era totalmente defensiva. O detonador explodiu alto no
andaime rangente que outrora fora o teto da antecâmara de segurança,
diretamente acima da rota de fuga de Stryver. A estátua de Tassaa Bareesh
caiu. Mais uma avalanche desabou depois dela, enterrando o Mandaloriano
e um rebanho de guardas do palácio que vieram para sufocar a perturbação.
O chão cedeu e continuou cedendo enquanto Stryver disparava para
baixo, pilotando a maré do colapso nos níveis mais profundos do palácio.
Rosnando, a garota Sith foi atrás dele, determinada a não perder o
prêmio. Ela desapareceu no barulho de pedra e ferrocreto, e não reapareceu.
Ula deu um passo em direção a Larin, mas Shigar o venceu.
— Você está bem? — Perguntou o Jedi.
Ela estava encostada na parte externa do cofre com a sua mão esquerda
mutilada comprimida sob a axila. Com a mão direita, ela tirou o capacete. O
rosto dela estava branco e atormentado.
— Eu vou viver, — disse ela. Enquanto isso, ainda não acabou. Stryver
irá para a sua nave na primeira chance que conseguir. Você tem que
interceptá-lo e recuperar o computador de navegação, da maneira que
puder. Você acha que pode fazer isso sem mim?
Shigar assentiu, calado, e saltou pelo chão quebrado para o buraco na
parede, saltando graciosamente de viga em viga.
Larin sorriu até Shigar sumir de vista. Então ela caiu de dor.
A dor de Ula era diferente, mas não menos real. Ficou claro que Larin
tinha uma estreita ligação com Shigar. O Jedi até tinha tatuagens
semelhantes às dela. Era algum tipo de coisa cultural, certamente. Talvez
eles fossem casados. O pensamento fez o seu peito doer.
Sabia que era ridículo se sentir assim. Sabia que era baseado em nada.
Sabia que tinha construído tudo em sua própria cabeça, e isso fez dele um
idiota da mais alta ordem. Tinha coisas mais importantes com que se
preocupar do que isso.
A batalha pelo computador de navegação terminou. As forças de
segurança do palácio de Tassaa Bareesh estariam convergindo no local para
limpar e fazer as acusações. Não queria estar lá quando isso acontecesse. As
suas lealdades eram tão comprometidas que não tinha certeza de que
poderia convencer alguém de que não era culpado de tudo.
— Stryver irá para a nave dele, como ela disse, — disse ele a Jet, — mas
ele está seguindo o caminho errado. Vou impedi-lo e ver se consigo salvar
alguma coisa. Diga a ela, diga aos outros que os encontrarei no transporte.
O contrabandista o estudou de perto e depois simplesmente disse:
— Tudo bem, parceiro. Eu posso precisar de uma carona.
— E a sua nave..?
— Apreendida e sem tripulação. — Ele deu de ombros. — E o que é um
capitão de carga sem a sua nave? Acho que é melhor começar a pensar em
um trabalho normal.
Ula deu um tapinha no ombro dele com o que esperava ser a
camaradagem apropriada, porque era totalmente genuíno. Um trabalho
normal. Essas três palavras o atingiram com a força de um dos detonadores
térmicos de Stryver.
Apressou-se, seguindo infinitamente com a maior falta de jeito a rota de
Shigar pelo chão quebrado. Ignorou os clamores e gritos vindos dos níveis
abaixo. Ele ignorou o aperto de suas mãos. Manteve a sua mente
firmemente em seu objetivo.
Havia uma nave Imperial no cais do palácio. Era para onde estava indo.
Se pudesse chegar lá antes de partir, poderia revelar a sua verdadeira
identidade e reivindicar anistia. Poderia escapar com os Sith e o
computador de navegação quando ela voltasse da caça de Stryver, e poderia
finalmente se reportar ao seu superior.
Podia relaxar o disfarce e falar livremente, sem mentiras ou enganos.
Poderia ser ele mesmo. E então...
Um trabalho normal?
Nada naquele momento o atraiu mais.
AX SENTIU COMO se estivesse sendo engolida inteira por uma
lesma espacial. Mesmo através da barreira da Força, jogou-se como a
proteção contra a queda de rochas, cada ponta afiada e pressão esmagadora
espremiam a respiração dela. Quase que instantaneamente, ela desistiu de
tentar guiar a sua descida.
Consolou-se com o conhecimento de que Stryver estava se saindo tão
mal. Fugir dessa maneira era o auge do desespero. Admirava a sua
coragem, mesmo enquanto o desprezava por capturar o computador de
navegação de todos os outros.
Ainda não havia terminado. Encontraria ele, não importava o que fosse
necessário. Não havia absolutamente nenhuma maneira dela se reportar ao
Mestre de mãos vazias.
A agitação finalmente diminuiu, e ela foi capaz de atravessar os
destroços, usando a Força para ajudar a afastar rochas e cascalho, cortando
obstáculos maiores com o sabre de luz, se fosse necessário. Em cada bolso
de ar, ela parava para respirar, grata por cada pulmão de oxigênio. Estava
quase completamente escuro, mas muito barulhento. Quando os destroços
em si não estavam gemendo e triturando ao seu redor, podia ouvir vozes
chorando por ajuda.
Finalmente, um braço surgiu no ar livre, depois a cabeça. Um trio de
Evocii empoeirados agarrou as suas axilas e começou a puxar. Encolheu os
ombros e saiu. Ao ver o seu sabre de luz, eles gritaram e correram.
Axe limpou a poeira.
Agora, Stryver.
Emergiu em algum tipo de dormitório, com beliches nas duas paredes e
o resto estava esmagado sob a avalanche. A verdadeira extensão do colapso
foi difícil de medir. Poderia ter caído uma dúzia de níveis ou apenas um. A
julgar pela relativa pobreza que via ao seu redor, porém, imaginou que
estava longe dos luxuosos andares superiores. Estes eram os leitos de
escravos, não de empregados.
Stryver estaria mais abaixo e gostaria de subir. A sua subida, sem
dúvida, não seria silenciosa.
Fechou os olhos e desligou os gritos, os detritos de povoamento, o tiro
ocasional de blasters. Estava procurando por um som em particular da
multidão ao seu redor. Seria fraco, mas definitivamente estaria lá.
O lamento da mochila propulsora de Stryver.
Lá.
No momento em que o localizou, girou o sabre de luz em círculos em
volta dos pés. O chão caiu debaixo dela, e chegou com perfeita postura no
meio de uma tentativa de resgate do rabo de um escravo Hutt de sua
posição esmagada sob uma parede caída.
Ignorou a todos os envolvidos, atravessou a parede mais próxima e
cortou uma porta improvisada através dela. Isso a levou a uma sala de
tortura, onde escravos indolentes ou desobedientes eram publicamente
punidos, a fim de servir de exemplo para outros. Mais uma vez, Ax não
parou para admirar as técnicas do Dug no comando. Observou apenas que
muitos dos gritos que assumiu serem causados pelo colapso do prédio
realmente emanaram daqui.
Através de outra parede, e a mochila propulsora de Stryver estava
definitivamente soando mais alto. Ela também podia distinguir o estrondo
maçante de seu canhão de assalto da confusão de outros sons. Como Ax, ele
estava usando as armas em seu arsenal para abrir caminho pelo palácio.
Onde não havia portas ou corredores, ele não estava acima de fazer o seu.
Ax contornou a beira de um poço profundo de rancor. Os animais
enormes estalaram e rugiram pra ela, enfurecidos por toda a comoção. Os
tratadores fizeram todo o possível para contê-los, usando correntes, ganchos
e objetos pesados, mas a natureza selvagem dos rancores não foi tão
facilmente subjugada. O grito truncado de um dos tratadores seguiu Ax
enquanto avançava pelo recinto em busca de sua presa.
O mochila propulsora estava perto o suficiente agora para que pudesse
sentir o cheiro da exaustão.
Através de um ferro-velho, uma cantina e uma instalação de contenção
de gás de Tibanna, finalmente Ax alcançou a trilha de Stryver.
Foi instantaneamente reconhecível. Seu canhão de assalto explodiu um
túnel diagonalmente para cima através de cada estrutura em seu caminho. A
série de furos atravessava paredes e pisos em uma linha perfeitamente reta.
No final, Ax pôde ver um lampejo de luz brilhante: o banho ardente da
mochila propulsora.
Mostrando os dentes em antecipação, partiu atrás dele. Cada salto a
levou um passo mais alto na longa escada pontual. As superfícies em que
pousou não eram confiáveis. Às vezes elas desmoronavam embaixo dela; às
vezes escorregavam, ainda derretidos pelo calor do canhão. Às vezes as
pessoas disparavam contra ela, empolgadas pela passagem violenta do
Mandaloriano. Ax manteve firme e desviou cada tiro. Não parou para nada
ou ninguém.
Chegou cada vez mais perto de Stryver. Ele não olhou pra trás. A
atenção dele estava concentrada apenas em subir. Passado o brilho de sua
mochila propulsora, ela podia ver a caixa de transparaço agarrada
firmemente em uma mão maciça. O computador de navegação ainda estava
lá dentro. Quase alcançou através da Força, mas se conteve. Se revelasse a
sua presença prematuramente, Stryver teria tempo para reagir. Melhor
acertá-lo pelas costas e receber o prêmio de suas mãos mortas.
Mais dois andares. Três. Levantou uma barreira para impedir que o calor
da mochila propulsora esfolasse sua pele. Quatro. Agora estava tão perto
que quase poderia ter estendido a mão e tropeçado nele. A pancada do seu
canhão foi ensurdecedor.
Agora.
Lançou-se sobre a nave de guerra no momento em que Stryver irrompeu
pelo telhado do palácio. Um brilho marrom os atingiu, e Ax apertou os
olhos enquanto lutava pela posse da caixa. Stryver não mostrou surpresa,
embora momentaneamente tenha perdido o controle da sua mochila
propulsora. Eles giraram em espiral e voaram pelo telhado, enquanto os
guardas os salpicaram com fogo blaster.
As mãos enluvadas de Stryver soltaram a caixa.
Por um instante fugaz, sentiu triunfo. Preparou-se para se afastar dele.
Então a sua mão esquerda pulou para pegá-la em volta da garganta,
enquanto a direita ergueu o canhão de assalto e disparou contra o seu
estômago.
À queima-roupa, o tiro foi como ser atingido por um carro aéreo em
pleno voo. Se não tivesse colocado uma barreira da Força no lugar, toda a
sua barriga seria instantaneamente vaporizada. Como era, foi empurrada
para fora do seu agarrão cruel e a deixou esparramada, momentaneamente
desumana, no telhado.
Stryver pegou a caixa ordenadamente, com uma mão, e voou para o céu.
Ax assistiu atordoada, estava tão atordoada para sentir algo além de
curiosidade. Para onde ele estava indo? A seu mochila propulsora não
poderia ter combustível suficiente para levá-lo longe. Tassaa Bareesh teria
colocado um preço por sua cabeça dentro de uma hora... um preço alto o
suficiente para garantir que ele nunca deixaria Hutta.
Então, uma elegante forma sombria apareceu à primeira vista. Ela
reconheceu as lâminas angulares de uma batedora Kuat, mas não conseguiu
determinar o modelo, mas não conseguiu determinar o modelo. Ele
mergulhou pra baixo pra interceptar o Stryver e depois rugiu para o céu.
A sua presa se foi.
Não sentiu nada.
Uma forma embaçada obstruiu sua visão do céu lamacento. Aumentou o
foco. Era um guarda Nikto. Foi cutucada por uma bota comercial, como se
quisesse saber se estava viva ou morta. Outro Nikto entrou, depois um
terceiro. Observou-os como se estivessem no fundo de um poço profundo e
escuro.
Vou te matar, Dao Stryver, ou morrer tentando.
A sua raiva voltou, como a própria vida. Havia perdido o computador de
navegação, mas isso não precisava ser o fim do mundo. Encontraria outra
maneira de satisfazer Darth Chratis e o Conselho Sombrio... e a si mesma
também. Não era realmente sobre Stryver e o computador de navegação, de
qualquer maneira. Era onde ele levava. O misterioso mundo de metais
raros. Os fugitivos da justiça Imperial. E a mãe dela.
Não poderia terminar aqui.
Não ia deixar.
Estava de pé em um piscar de olhos. A dúzia de guardas convergindo
para ela através do telhado não seria um problema.
O SEU PRIMEIRO PASSO era conceber um novo plano. Roubar o
computador de navegação e desvendar os seus segredos obviamente não
seria possível agora. Stryver o tinha, e ela não tinha nenhuma ilusão quanto
à probabilidade dele compartilhar esses segredos.
Tinha que haver outra maneira. Tudo o que precisava fazer era encontrá-
lo.
O palácio estava em alvoroço quando retornou ao local da batalha com
os droides, os "hexagonais", como ouvira alguém chamando-os. Fazia
sentido voltar à cena, já que só havia alguma chance de aprender alguma
coisa sobre as suas origens. Não tinha certeza exatamente do que esperava
encontrar, no entanto. Talvez o contrabandista não tivesse contado aos Hutts
tudo o que sabia. Talvez pudesse torturá-lo para extrair todas as últimas
informações.
Enquanto passava pelos labirínticos corredores do palácio, passou por
um punhado de Gamorreanos carregando o Jedi inconsciente cativo no alto.
Sorriu, mas não parou. Era bom ver alguém pior do que ela.
Quando chegou às ruínas da antecâmara de segurança, encontrou-a
selada atrás de uma densa pressão de guardas empunhando canhões a laser.
O buraco na parede estava protegido por um banco de escudos de partículas
portáteis. Entrar não seria tão fácil quanto sair, e não tinha intenção de
voltar a subir a avalanche de detritos. Lutar era uma opção, é claro, mas o
cansaço estava começando a cobrar o seu preço. Em melhores
circunstâncias, nunca teria deixado Stryver bater nela assim.
Precisava ser mais esperta do que mais forte.
Recuando para um lugar calmo para pensar, examinou tudo o que sabia
sobre os hexagonais. Não era muita coisa. Eles eram decididos, mas o que
ela sabia sobre as mentes que possuíam? Eles se recusaram a reconhecer
qualquer autoridade além do seu criador. Eles mataram todos os outros com
impunidade. Havia mais alguma coisa que poderia dizer sobre eles?
Lembrou-se da maneira como eles haviam enganado o Twi'lek para abrir
uma rota de fuga para eles através da parede. Isso exibia desenvoltura e
astúcia, qualidades que faltam em muitos droides, mas não em todos. Não
era uma característica única do design deles.
Algo se mexeu na parte de trás do seu cérebro. Um pensamento se
agitou ali, hesitantemente se empurrando pra frente para a reflexão.
Fugir.
As hexagonais estavam tentando fugir.
Então, pra onde estavam tentando fugir?
Casa.
Mas como eles sabiam onde ficava a casa?
A resposta a essa pergunta surgiu em sua mente com clareza cristalina.
O computador de navegação não é o único mapa.
Ax estava se movendo, circulando a ruína até encontrar o caminho que
os dois droides fugitivos haviam tomado. Ninguém ficou no seu caminho
até que alcançou o primeiro dos corpos. Estava isolado por Gamorreanos, e
os deixou em paz. O Jedi fez uma bagunça real naquele hexagonal,
derramando as suas entranhas em uma desordem de prata e vermelho. No
segundo droide, esperava, que estaria em melhores condições.
Também estava isolado, mas podia ver através dos guardas que o corpo
estava intacto, enredado numa rede como um animal preso em uma
armadilha.
Perfeito, ela pensou, colocando o seu sabre de luz para funcionar.
ENQUANTO ELA SEGUROU o cadáver por cima do ombro, tudo o que
teve que fazer foi sair. Isso foi tão fácil quanto caminhar pelo palácio até o
espaçoporto, onde o transporte Imperial aguardava ao seu bel prazer. A
segurança do palácio havia sido reforçada na tentativa de impedir que
qualquer um saísse. A tentativa estava condenada ao fracasso.
Dois guardas Imperiais armados estavam de pé junto à porta interna da
escotilha. Eles saudaram quando entrou.
— Algum problema? — Ela perguntou.
— Havia um cara farejando a nave do Mandaloriano antes de decolar, —
disse um deles.
— E alguma escória não humana tentando entrar aqui, — disse o outro.
— Nós o despachamos.
— Muito bom.
Subiu com confiança a rampa e entrou na cabine, onde o piloto estava
esperando. Ele viu a sua aparência empoeirada e combalida, mas não
comentou sobre isso.
— Estamos saindo, — disse ela. — Oriente a Darth Chratis de nosso
encontro iminente. Quero uma tecnologia droide disponível no momento
em que atracarmos.
— Sim senhor. Mas e o enviado?
— Ele não está mais conosco.
O piloto assentiu incerto, obviamente comparando às suas ordens com as
que ele acabara de receber. Um Sith sempre superava um oficial superior.
Essa era a única conclusão disponível.
Enquanto os repulsores se aqueciam, Ax pegou o hexágono morto e o
guardou no compartimento seguro que havia sido reservado para o
computador de navegação. Essa carga não era menos preciosa. A coisa boa
sobre um droide era que, embora morto estivesse indiscutivelmente morto,
a memória levava um tempo para desaparecer. Com a experiência certa, a
localização do mundo misterioso poderia ser extraída dos dados
armazenados na carcaça, e o seu sucesso estaria garantido.
Um brilho quente a encheu, em parte de alívio, em parte de orgulho, em
parte de exaustão. Estava ansiosa para se sentar. Mas havia algo que tinha
que fazer primeiro.
O transporte estava decolando quando voltou para a cabine. Olhou
através das janelas para o espaçoporto e o seu minúsculo conjunto de naves.
— Em qual nave o enviado da República chegou?
— Aquela, — disse o piloto, indicando uma nave atarracada e de nariz
gordo apoiada em quatro pernas espaçadas.
— Destrua, — disse ela.
— Sim senhor.
O canhão da nave disparou, atingindo a parte de trás da nave indefesa.
Ela explodiu em uma bola de fogo tão brilhante que ofuscou o sol.
Ax sorriu de satisfação quando o telhado marcado do palácio recuou ao
longe. Com alguma sorte, ela pensou, essa seria a última vez que veria
Hutta.
SHIGAR TINHA VISTO o espaçoporto nas plantas do palácio,
mas não tinha estado lá antes. Moveu-se com rapidez e com cuidado pelos
corredores do palácio, contando esquinas e observando pontos de
referência, evitando guardas e cordões de segurança. Ficar perdido ou preso
era a última coisa que precisava. Stryver teria que ir mais longe, mas
conhecia melhor o layout. Se houvesse outro confronto, Shigar queria ter a
vantagem.
Também em sua mente estava o bem-estar de Larin. Mais uma vez
debateu a sabedoria de trazê-la para Hutta. Ela tinha sido de uma grande
ajuda e boa companhia também, mas agora estava machucada,
possivelmente mutilada, e isso deixou suas perspectivas futuras ainda mais
sombrias. Jurou ter certeza de que a mão dela estava bem cuidada, mas era
o suficiente? A bondade que assumira que estava fazendo por ela se
transformou em uma crueldade intolerável?
Tinha medo do que a sua Mestra pensaria quando visse aonde o seu
julgamento o tinha levado.
Ainda mais importante, portanto, ter sucesso com Stryver. Todo o
palácio estava em alvoroço, o que era esperado após as explosões nos níveis
mais baixos, uma luta na antecâmara de segurança, droides invasores
correndo pelos corredores e o colapso multinível que Stryver provocara. Os
alarmes conflitantes se sobrepunham descontroladamente, criando uma
linha estridente que Shigar fez o possível para ignorar. Só podia imaginar
como Tassaa Bareesh estava lidando com isso.
Os guardas do espaçoporto estavam em alerta máximo. Shigar arrancou
uma sentinela de sua patrulha regular e usou a Força para convencê-lo a
revelar a estrutura de comando do local. Já havia matado o suficiente
naquele dia. Além disso, qualquer evidência de luta alertaria Stryver para
uma emboscada.
Encaasa Bareesh era sobrinho mais novo da matriarca do palácio. Ele
supervisionou as equipes de segurança de um escritório a dois andares de
distância e ficou famoso por apenas ocasionalmente olhar as câmeras. Era
simples convencer Encaasa de que um membro da tripulação
completamente independente queria embarcar na nave, mas havia
extraviado o código de liberação. Shigar imaginou o indolente Hutt
cansadamente batendo os seus dedos gordos nos controles certos e, em
seguida, estabelecendo-se de volta em sua rede. Nem mesmo um alerta de
segurança em todo o palácio poderia irritá-lo.
A entrada principal do espaçoporto se abriu. Shigar entrou, observando
atrás dele por qualquer sinal do Mandaloriano. Nenhum ainda. As portas se
fecharam, deixando-o sozinho na área de desembarque circular.
Shigar perguntou ao guarda qual vaga havia sido designado para a
Primeiro Sangue e seguiu direto para lá. A porta umbilical do espaçoporto
estava aberta, revelando a pele cinza da nave de Stryver no outro extremo.
Shigar não era tão tolo a ponto de chegar perto daquele portal convidativo.
Seria uma armadilha, com certeza.
Em vez disso, esperou por perto, à vista da Primeiro Sangue e da entrada
do espaçoporto, com o sabre de luz inativo, mas se mantendo firmemente
pronto. Stryver tinha que vir buscar a sua nave em algum momento, e
Shigar estaria preparado.
Esvaziou a sua mente de todas os problemas... toda preocupação com a
Larin e com a sua missão, toda dor e sofrimento, e ficou pronto para a ação.
O som dos repulsores ativando o tirou do transe. Uma das naves estava
aquecendo os seus motores para a decolagem. Circulou a área de
desembarque para identificar qual delas, mas o som não vinha de nenhuma
das fechaduras de ar fechadas. Vinha do cais de Stryver.
Isso o surpreendeu. Presumiu que Stryver estava viajando sozinho.
Portanto, não poderia haver ninguém dentro de sua nave para aquecê-la. Ou
Shigar estava errado nesse ponto, ou Stryver o havia ativado por controle
remoto.
O lamento do repulsor continuou a aumentar em volume. Ela não estava
apenas aquecendo. A nave estava prestes a decolar.
Amaldiçoando baixinho, Shigar abandonou a sutileza. Aproximando-se
da escotilha exterior da nave, rapidamente a examinou em busca de pontos
fracos e encontrou apenas uma. A porta estava trancada com os sinais
biométricos de Stryver, altura, largura, proporção de membros e assim por
diante, mas também apresentava uma substituição, caso Stryver fosse
gravemente ferido no decurso de uma missão. Se ele perdesse um membro
importante, por exemplo. Esse comando poderia ser cortado por alguém
inteligente o suficiente.
Shigar não era um hacker tão bom quanto Larin, mas já havia visto esse
tipo de truque antes. As naves Mandalorianos eram alvos dos Jedi desde a
Grande Guerra, e havia aprendido várias vezes a melhor maneira de
desativá-los. Trabalhando rapidamente, digitou uma série de códigos
projetados para redefinir a função de substituição para um padrão
comumente usado. Quando digitou o padrão, a porta se abriu.
Bem na hora. Os repulsores estavam em tom estridente e a nave pairava
levemente no chão. Em outro segundo, estaria bem acima do palácio.
Shigar saltou levemente para dentro da escotilha e foi arrastado pra cima
com ela. No momento em que as suas botas tocaram o chão, um sistema de
segurança secundário entrou em ação. Poderosos choques elétricos
percorreram o seu corpo, enviando os seus músculos a espasmos
irresistíveis. Caiu de lado, incapaz de gritar. A sua mandíbula estava
trancada em um grito silencioso.
O piloto automático elevou a nave diretamente pra cima do espaçoporto
e ajustou a guarnição. Shigar se sentiu rolando em direção à escotilha
aberta, mas não conseguiu mover um dedo para se salvar.
Os choques elétricos cessaram no momento em que liberou a escotilha.
Isso era algo para agradecer quando caiu como uma pedra no telhado
abaixo.
POR QUANTO TEMPO esteve inconsciente, não sabia. Minutos,
provavelmente. Tempo o suficiente para que o seu corpo desamparado fosse
reunido por uma equipe de segurança no telhado, preso com algemas nos
pulsos e tornozelos e amordaçado como uma boa medida. Quando acordou,
estava sendo transportado através do palácio nos ombros de um esquadrão
de Gamorreanos. Nem o sabre de luz nem o comunicador estavam ao
alcance.
Em vez de lutar, se concentrou em aliviar as muitas contusões e
agressões do seu corpo. Não sabia de quão alto havia caído, mas felizmente
acabou sem ossos quebrados. Um crânio zumbido, sim, e um golpe
esmagador em sua dignidade, mas nada pior que isso. No momento, estava
agradecido simplesmente por estar vivo.
Os seus captores o levaram a uma rápida corrida pelo palácio.
Memorizou as curvas, mas sem um ponto de partida não tinha como saber
exatamente para onde estava indo. A sua impressão geral, no entanto, era a
da opulência aumentando ao seu redor, não diminuindo. Quando chegou a
um grande espaço cheio de pessoas sussurrando e conversando, com uma
voz alta ecoando em Huttês por cima deles, adivinhou instantaneamente
onde estava.
Os Gamorreanos pararam no centro da sala do trono de Tassaa Bareesh
e, com um grunhido coordenado, jogaram-no no chão. O silêncio irradiava
ao seu redor enquanto as pessoas notavam a sua presença. Levantou-se
desajeitadamente e olhou em volta.
Uma grande multidão de seres o olhou, sussurrando e apontando. Viu
nada menos que vinte espécies diferentes em uma contagem rápida, do
entroncado Kubaz aos felinos Cathars, com bípedes ocupando uma minoria
pronunciada. As suas origens exóticas desmentiam o seu propósito
unificado: espreitar e se enfeitar diante daquela que controlava os seus
destinos.
— Bona nai kachu, — rugiu a matriarca do palácio, — dopa meekie
Seetha peedunky koochoo!
Shigar se virou para encarar Tassaa Bareesh. Ela estava esparramada
pesadamente em uma trono cama horrivelmente ornado no fim do corredor
e decorado quase tão ornamentadamente quanto era. Não sabia o suficiente
sobre os Hutts para ler a sua expressão, mas o tremor de sua boca sem
lábios e a saliva que ela borrifava enquanto falava deixavam pouco para a
imaginação.
Um droide do protocolo A-1DA se arrastou pra frente sobre as pernas
finas.
— Tassaa Bareesh deseja que você compreenda totalmente a certeza de
que será punido, Sith traiçoeiro.
Shigar considerou as suas opções. Havia pelo menos duas dúzias de
armas apontadas pra ele. Atrás da multidão, guardas armados corriam de
um lado para o outro, respondendo a várias emergências ocorrendo no
palácio.
Curvou-se o mais cerimoniosamente possível, dadas as suas amarras.
— Eu devo corrigir a sua mestra. Na verdade, sou um Jedi.
— Stoopa dopa maskey kung!
Ignorou o insulto.
— Não posso te traído quando não tínhamos um acordo entre nós. Além
de invadir o seu território sem permissão, Não quero fazer mal a ninguém.
Tassaa Bareesh roncou ameaçadoramente, mudando para um dialeto
diferente agora que ela percebeu que podia entender pelo menos algumas de
suas palavras.
— Tassaa Bareesh diz: A sua intenção era roubá-la. Por isso, você deve
morrer.
— Se você me revistar, verá que não estou carregando nada com o qual
não vim aqui.
— Tassaa Bareesh diz: Seus cúmplices fugiram com o prêmio.
— O computador de navegação? A última vez que vi, estava nas garras
de um Mandaloriano, não de um Jedi.
— Tassaa Bareesh diz: A sua traição é superada apenas por sua punição.
Ele roubou de você depois que você roubou de nós.
— Você está chateada, — disse Shigar.
— O seu julgamento está nublado. Um momento antes, você pensou que
eu era um Sith. Talvez a mentira que você pensa que estou dizendo seja
realmente a verdade.
A multidão murmurou em consternação. Claramente, poucas pessoas
eram ousadas o suficiente para questionar o julgamento de Tassaa Bareesh
em sua cara.
A matriarca Hutt rosnou algo longo e envolvente que realmente não
precisava de tradução. O droide piscou rapidamente os seus olhos azuis
redondos e fez um valente esforço de qualquer maneira.
— Tassaa Bareesh está muito descontente. Ah, ela criou várias maneiras
de usar você para entretenimento.
Shigar não discutiu a questão. Terminou de contar os guardas e as saídas
e chegou à conclusão que esperava. Não havia como sair dessa, e não podia
confiar em reforços. Teria que conversar. Pode até ter que fazer um acordo.
Esse pensamento o deixou enjoado.
— A sua raiva é perfeitamente justificável, — disse ele. — O seu
palácio foi atacado e as propriedades e informações que você planejava
vender foram roubadas. Você foi privada do lucro que merece. Ninguém
negaria que você tem o direito de se vingar, de fazer um exemplo daqueles
que lhe causaram embaraço e danos significativos. — Ele se curvou
novamente. — Tudo o que eu imploro é que você culpe as pessoas certas.
Outra explosão atravessou o palácio, causando grande transtorno na sala
do trono. Os enormes olhos de Tassaa Bareesh ficaram brancos nas bordas
enquanto ela acenava pra um Twi'lek. O seu comunicador estava gritando
com urgência. Eles conversaram apressadamente, e baixo demais para
Shigar ouvir. Então a raiva venceu a matriarca. Ela afastou o Twi'lek dela e
rugiu para o tradutor.
— Tassaa Bareesh deseja que você entenda que o espaçoporto foi
atacado, — disse o droide, com a cabeça afunilada balançando
obsequiosamente.
— Por quem?
— Por Imperiais. O transporte da República foi destruído.
Shigar pensou em não dizer nada. Em um nível, não precisava. As ações
dos Imperiais venceram o argumento por sua flagrante violação do Tratado
de Coruscant. Mas em outro nível, ainda estava na maus lençóis. Tassaa
Bareesh poderia executá-lo apenas por ser uma irritação e um lembrete
inconveniente de sua perda. Tinha que lhe dar uma razão para poupá-lo, e
não matá-lo.
Tinha que apelar ao senso comercial dela.
— Nós dois somos as vítimas aqui, — disse ele, escolhendo as suas
palavras com cuidado requintado.
— Matar-me não receberá o computador de navegação de volta e a fará
como uma inimiga do Conselho Jedi. De qualquer maneira, você vai acabar
pior. Deixe-me viver, no entanto, ofereço uma maneira de reduzir suas
perdas.
— Tassaa Bareesh pergunta: como?
Shigar engoliu em seco. Um gosto ruim apareceu em sua boca.
— Pretendo seguir o Mandaloriano onde quer que ele vá. Ele machucou
o meu orgulho e minha parceira e pagará por esses crimes. As informações
que ele roubou podem não ter mais valor, por si só, mas todo um mundo
novo oferece oportunidades de comércio e exploração. Em troca de me
libertar, assegurarei que essas oportunidades cheguem a você primeiro,
antes de mais ninguém.
A matriarca cantarolava um tom quase baixo demais para um ouvido
humano ouvir. Os olhos dela não deixaram o rosto de Shigar, mas agora
tinham um ar interior.
— Tassaa Bareesh está considerando a sua oferta, — disse o droide,
olhando para frente e pra trás entre eles.
— Eu resolvi isso.
Ela retumbou algo, e o tradutor disse:
— Tassaa Bareesh se pergunta como você pretende seguir o
Mandaloriano quando não tem uma nave, muito menos instruções.
— Eu sou um Jedi. — Ele bateu na testa, na esperança de esconder o
fato de que não tinha a menor ideia em qualquer ponto. — Temos os nossos
métodos.
Uma nova onda de sussurros se espalhou pela multidão.
— Tassaa Bareesh diz que os seus métodos são insuficientes. O
investimento é muito arriscado.
— Mas...
O tradutor levantou uma mão de metal.
— Ela diz que, a fim de proteger a sua participação neste
empreendimento, ela deve ser autorizada a fornecer-lhe assistência.
— "Deve ser"? — A escolha das palavras deu-lhe uma pausa. O que
estava sendo imposto a ele exatamente? — Conte-me mais.
A matriarca se recostou em seu trono. Os olhos dela se estreitaram.
— Tassaa Bareesh fornecerá transporte. Seu sobrinho fará as
providências necessárias. Se você aceitar a oferta, poderá sair
imediatamente.
Shigar se perguntou o que aconteceria se rejeitasse a sua oferta.
Desconfiava da súbita satisfação da matriarca. Momentos antes, ela estava
fervendo de raiva pela maneira como os seus planos haviam sido
arruinados. Isso era um ato ou era esse o ato?
— Tudo bem, — disse ele, seguindo os seus instintos. Viver agora era
melhor do que morrer. Isso era o mais importante. E se tivesse ainda mais
sorte, poderia fazer algo para ajudar Larin também, supondo que ela ainda
estivesse viva. — Eu aceito a oferta.
A matriarca abriu um sorriso enorme e desagradável. Com um dedo
gordinho apontado pra ele.
— U wamma wonka.
— Tassaa Bareesh diz...
— Eu sei o que ela disse. — Ele engoliu isso como uma coisa ruim.
Ela estalou os dedos e os guardas largaram as armas. Um Gamorreano
correu pra frente pra devolver o seu comunicador e o sabre de luz. Colocou-
os no cinto e se curvou. A multidão o observava silenciosamente agora.
— Obrigado, — disse ele. — Foi um prazer fazer negócios.
Quando os guardas o conduziram da sala do trono, era um hóspede
agora, e não um prisioneiro, o som da risada da Hutt, baixo e lúgubre,
ecoou e ressoou pelos corredores sibaríticos atrás dele.
— Você está se sentindo bem?
Larin se virou pra olhar para o contrabandista. Abandonou-se por um
momento, deixou as ruínas do antecâmara de segurança e a fábrica de
droides, deixou o clamor da segurança do palácio cavando através dos
escombros, e até deixou o ocasional tiro em sua direção de um Houk;
ambicioso, atualmente estacionado no buraco que o imediatista Yeama tinha
explodido através da parede. Agora estava de volta, e a vista não era bonita.
A resposta chegou finalmente.
Você está se sentindo bem?
— Sim.
Eles estavam escondidos na entrada do cofre. Estava agachada de
joelhos, ainda aplicando pressão na mão machucada sob a axila direita. O
traje vedou o ferimento da melhor forma possível, não lhe deixando mais
nada pra fazer agora. Sabia disso muito bem, tendo sido ferida em combate
antes. Certa vez, fora envolvida em uma intensa troca de tiros de guerrilhas
urbanas com a qual o Esquadrão Estrela Sombria das Forças Especiais fora
enviado para lidar. Informações de Inteligência havia vazado, levando Larin
e três membros do esquadrão a uma armadilha. Às vezes, ainda sonhava
com o modo como as granadas de fragmento haviam acertado o grupo,
reduzindo instantaneamente dois de seus amigos a meras insígnias. Fora
protegida da maior parte, mas mesmo assim a pele da perna e do lado
direito fora esfolada completamente, junto com uma boa porção de
músculo. Levou um longo período em um tanque de bacta para recuperar o
tecido e três meses de reabilitação para restaurá-la à flexibilidade total.
Isso era diferente, no entanto e não era apenas porque os dedos não
podiam ser renovados. Nas Estrelas Negras, tinha muitos motivos claros
para lutar: entre eles, fortalecer a causa da República, impor princípios de
liberdade e igualdade entre todos os seres da galáxia e promover a sua
própria carreira. Considerava-se perfeitamente normal a esse respeito. Por
que mais se uniria com as forças especiais senão para ser um herói do lado
do bem?
Sabia agora que nem todo mundo era como ela. Cada barril continha
uma ou duas maçãs podres. Também sabia o quão dois desses princípios
eram importantes pra ela. O mais importante, combinados, com o anterior.
Sacrificar a sua carreira para os defender parecia a coisa certa a fazer, na
época.
Sem a carreira dela, porém, era muito difícil lutar por qualquer causa. E
agora a sua situação estava totalmente confusa. A invasão de um estado
soberano, ainda que compreendendo criminosos e assassinos, era a melhor
maneira de impor liberdade e igualdade? Como brigar com os
Mandalorianos e os Sith por causa de um computador de navegação
danificado ajudaria a República? A quem devia lealdade agora, se não a si
mesma ou aos seus ex-colegas?
Não tinha boas respostas para nenhuma dessas perguntas, mas havia
perdido os dedos da mão esquerda lutando por elas. Isso piorou a dor, de
alguma forma.
— O que aconteceu com o seu droide? — Ela perguntou a Jet em troca.
— Clunker? Ele está em algum lugar sob esse lote, disse o
contrabandista, indicando a pilha de alvenaria deixada na sequência da
detonação térmica. Ele havia se armado com uma pistola lançada por um
dos soldados mortos do lado de fora. — Não se preocupe. Ele voltará
quando estiver pronto.
— Eu reconheço o modelo dele, — disse ela, agarrando o fato como se
isso explicasse tudo.
— J-Oito-O, classe de soldado. É por isso que ele fala em sinais de
combate. Mas eles foram eliminados, não foram?
— Talvez, — ele disse.
— Eu o encontrei em uma pilha de sucata há dois anos. O seu vocoder
estava morto, e quando eu tentei consertá-lo, ele simplesmente quebrou
novamente. Isso prova o quão inteligente ele é. Ele descobriu que, se você
não responder às ordens, ninguém pode provar que você as ouviu.
— Essa é uma ótima tática de sobrevivência, — disse ela, — para
qualquer pessoa do exército.
Eles se inclinaram pra fora do cofre para ver se alguma coisa havia
mudado. O Houk levantou algumas pedras nas proximidades, mas errou
mais de um metro. A última escolta sobrevivente de Potannin devolveu o
fogo do outro lado da antecâmara. Ele também errou. Larin poderia ter
mirado melhor, mesmo com apenas uma mão.
— Qual é o seu nome, soldado? — ela o chamou.
— Hetchkee, senhor, — ele chamou de volta. Ele era um jovem Kel Dor,
e o seu rosto estava escondido principalmente por trás de uma máscara e
óculos projetados para protegê-lo de uma atmosfera hostil de oxigênio.
— Quem disse para você me chamar de "senhor"?
— Ninguém, senhor.
Ele obviamente não sabia nada sobre o passado dela. Não seria a única a
substituí-lo.
O som da escavação ficou mais alto.
— Larin, — disse Jet, aproximando-se, — você acha que fomos
deixados para segurar o bebê?
— Em que sentido?
— No de que Alguém vai ter que explicar essa bagunça para Tassaa
Bareesh e pode ser que você sinta.
— Não se preocupe, — disse ela. — Ele voltará.
— Quem? O seu amigo Jedi ou o Enviado Vii?
Larin olhou em volta. Não tinha notado que o enviado se fora, embora
agora que pensasse nisso, lembrava-se de Jet dizendo algo sobre Ula os
encontrar no transporte. Não lhe ocorreu imaginar quando e como eles
iriam chegar lá. Ula partiu antes que as forças de segurança selassem a sua
única saída.
— Quero dizer Shigar, — disse ela. — Os Cavaleiros Jedi sempre
cumprem as suas promessas.
— E o que exatamente ele prometeu a você?
Suprimiu uma resposta aguda. Onde Jet queria chegar? Claro, Shigar
pode não ter prometido voltar pra ela, mas sabia que ele faria se pudesse. E
enquanto as forças de segurança de Tassaa Bareesh se acumulavam do lado
de fora, não havia mais nada que pudesse fazer além de confiar nele. Tinha
desistido de tentar contactá-lo no comunicador há muito tempo.
Ela levantou.
— Eu sugiro...
O som de uma explosão distante a interrompeu. O chão tremeu e uma
chuva de poeira caiu sobre eles de cima.
Não havia como dizer de onde veio essa última explosão, então terminou
o que estava prestes a dizer.
— Sugiro que olhemos para esta coisa enquanto ainda temos a chance.
Foi até a fábrica de droides em miniatura e olhou pra dentro. As pestanas
prateadas em espiral ainda estavam imóveis, então se sentiu segura ao
presumir que estava morta. Tentou inclinar para ver a base, mas estava
firmemente afixado pelos fios parecidos com arame que haviam devorado o
chão do cofre como raízes de árvores.
Um pedaço da liga prateada derretera durante o tiroteio no cofre. Pegou
e pesou na mão. Era surpreendentemente pesado.
— Deixe-me ver se entendi, — disse ela.
— Essa coisa estava na Cinzia. Você o encontrou nos destroços e o
trouxe para Hutta. Tassaa Bareesh trancou aqui. Parecia inerte, mas não
estava. Deixou cair essas coisas no chão e começou a vasculhar o metal.
Isso infiltrou-se no sistema de segurança. Começou a construir os droides.
— Ula os chamou de hexagonais.
Esse era um nome tão bom quanto qualquer outro, por enquanto.
— Talvez só um ou dois hexagonais a princípio, para se defender.
Manteve-os escondidos por dentro, como um ninho ou um ovo. Se você
olhar para um dos hexagonais, verá que eles não são sólidos o tempo todo.
Eles têm uma estrutura de favo de mel. Então, dois poderiam facilmente
caber aqui, se fossem derrubados. — Ela cutucou os cílios com o cano da
espingarda. — Dois seriam suficientes para assumir uma nave.
Jet a olhou, não para o ninho dos droides.
— Você acha que eles estavam esperando alguém ganhar o leilão e levá-
los embora?
— Eu estaria. Os hexagonais teriam surgido, dominado a tripulação e
voltado para casa em segurança.
Ele assentiu devagar, pensando na proposição dela.
— Acho que está parcialmente lá, — disse ele. — Dado tempo
suficiente, acho que os hexagonais poderiam ter escapado daqui por
vontade própria. Observe como eles emergiram do cofre no momento em
que todos começaram a brigar com eles. A porta derreteu como manteiga,
provavelmente graças aos fios como esses. Se todos esperassem apenas
mais um dia, acho que o nosso ninho aqui estaria vazio.
— Você pode estar certo, — disse ela.
— É só um palpite, — disse ele, se autodepreciando.
— Aqui está o outro, — disse ela, voltando pra porta. — Se a teoria do
instinto de retorno está certa, os hexagonais devem saber o caminho de
casa.
O rosto de Jet se iluminou.
— Então, se pudermos sair daqui com um do seus cérebros, afinal não
precisaremos do computador de navegação!
Eles espiaram no corpo do hexágono duplo no chão do cofre. O canhão a
laser havia aberto um buraco nos dois abdominais. As entranhas estavam
enegrecidas e derretidas, totalmente indizíveis.
A expressão de Jet mudou.
— Vale a pena pensar, de qualquer maneira.
Larin se recostou na parede e fechou os olhos. Shigar com certeza estava
demorando. A sua taxa de açúcar no sangue estava baixa e a dor sem fim a
deixava tonta.
A lasca de metal da fábrica ainda estava na sua mão boa. Colocou-a em
um dos muitos compartimentos selados do seu traje. Pelo menos eles não
voltariam de mãos vazias.
Uma perturbação lá fora a distraiu.
— Alguém está vindo! — Chamou Hetchkee.
Larin apoiou o cano do seu rifle nas costas da mão esquerda e o passou
pela porta. O monte de escombros na extremidade da antecâmara de
segurança estava se movendo. Alguém estava claramente passando por isso,
mas era o Stryver, a Sith, ou o droide leal de Jet?
Uma mão cor de laranja arranhada, estendendo a mão para encontrar
uma viga caída, logo respondeu à pergunta.
— Eu te disse, — disse Jet com uma expressão satisfeita. — Por aqui,
parceiro! — Ele gritou para o droide.
Clunker se livrou dos escombros e mancou para se juntar a eles,
completamente indiferente. O Houk havia parado de atirar. Em vez de
tranquilizar Larin, isso a preocupou. Não havia como saber o que estava
acontecendo fora do reduto improvisado. Presumiu que os Hutts não os
deixariam em paz por muito tempo.
— Bom trabalho, Hetchkee, — disse ela, voltando à segurança do
interior do cofre. — Acho que teremos mais companhia em breve, então
fique alerta.
— Sim, senhor. — Se o soldado estava preocupado com essa
perspectiva, ele não demonstrou.
Clunker estava se comunicando com Jet através de uma série de sinais
rápidos.
— Más notícias, — traduziu o contrabandista. — Stryver escapou com o
computador de navegação.
— É o fim disso, então, — disse ela, incapaz de esconder a sua
amargura. A trilha ficou fria. Todas as esperanças que pudesse ter de se
redimir por meio de uma missão voluntária bem-sucedida estavam agora
oficialmente mortas.
— O que ele quer com esta colônia, afinal? Mandalore já não tem
soldados suficientes?
— Tassaa Bareesh não tem dinheiro o suficiente? O seu sorriso cínico
brilhou novamente.
— Acho que o Stryver queria o computador de navegação por dois
motivos. Para encontrar as origens da Cinzia e esconder o seu destino. Isso
faria sentido se Mandalore fizesse parte disso desde o começo.
Encarou-o com força.
— Você pode estar certo. Stryver sabia da Cinzia muito antes de
qualquer pessoa. Foi ele andar por aí ao fazer perguntas que nos deu a dica.
— E a Cinzia estava em uma missão diplomática, mas nem o Império
nem a República jamais ouviram falar dela. Você pode citar outros
jogadores importantes da galáxia no momento?
Concedeu a ele o argumento. Mesmo que os Mandalorianos não
tivessem agido como um corpo unido desde a guerra, não era inconcebível
que pudessem fazê-lo novamente, por honra ou pelo preço certo, ou só
porque precisavam de uma boa guerra.
— Por que essas coisas atacaram o Stryver, então?
— Eu não sei.
— E quem salvou o ninho da destruição quando a tripulação da Cinzia
se explodiu?
— Eu também não sei.
Ela balançou a cabeça.
— De todas as formas que vejo isso, fica cada vez mais louco.
— Tassaa Bareesh não fazia ideia, não é?
O som de escombros triturando veio do lado de fora do cofre. Larin
correu para a porta antes que Hetchkee pudesse chamar. A massa gigante de
pedra bloqueando a entrada mais distante estava se movendo pra frente. Por
trás da trituração de rochas e ferrocreto, podia ouvir um assobio e uma
batida que só poderiam ter vindo de droides que moviam a sujeira.
— Tudo bem, — ela disse, — é isso. Se você tem outras ideias
brilhantes, Jet, agora é a hora.
— Receio que você teve a sua cota diária.
— Bem, então é melhor você se juntar a mim na esperança de que
Shigar apareça em breve. Caso contrário, veremos como é realmente a
hospitalidade de Tassaa Bareesh, por trás de todo o tecido de algodão.
— Suponho que poderíamos tentar fazer uma última tentativa, — disse
ele.
— E ir para onde?
— Bem, lá está a minha nave.
— Eu pensei que estava apreendida.
— Oh, aquilo. Um pequeno detalhe técnico.
— Vamos sair desta vivos.
Ele piscou.
— Um homem pode sonhar, não pode?
A leviandade em face das probabilidades indescritíveis sempre animava
os seus espíritos. Surpreendeu-lhe o quanto havia gostado do contrabandista
em tão pouco tempo juntos. Talvez as suas celas estivessem muito próximas
uma da outra na masmorra de Tassaa Bareesh. Talvez eles fossem esticados
em araras adjacentes.
Com um barulho estrondoso, os droides atravessaram os escombros.
Uma vez que o caminho estava livre, eles se retiraram para permitir que as
forças de segurança do palácio passassem. Haviam dezenas deles, todos
fortemente blindados e armados, avançando pelas vigas expostas do chão,
com as miras apontadas para o cofre.
Larin quase riu. Tassaa Bareesh havia enviado um exército para capturar
apenas quatro pessoas! Seria absurdo se ela não estivesse do lado errado da
equação.
— O que você acha, Hetchkee? — ela chamou o soldado Kel Dor.
— Podemos tentar nos render a eles, se você quiser. Não fizemos nada
de errado, se pensarmos bem. O seu chefe foi realmente convidado.
— Eu não acho que eles estejam com disposição para se preocupar com
isso, senhor.
Isso era verdade. As fileiras de Weequay, Houks, Niktos e Gamorreanos
pareciam esperar que todo um exército Sith, Jedi e Mandalorianos saíssem
do cofre e fugissem com a fortuna de sua mestra. Se eles soubessem que
havia apenas três pessoas e um droide. Nem ocorreu a Larin tentar
destrancar os outros três cofres.
— Tudo bem, então, — disse ela. — Espere até ver o vermelho dos
olhos deles.
O seu número oposto na equipe de segurança dizia a mesma coisa, a
julgar pelo repentino aperto de suas fileiras. Um enorme Weequay levantou
a mão direita para dar o sinal de ataque.
Naquele momento, o comunicador de Larin tocou.
Congelou, incapaz de disparar e responder ao mesmo tempo. O que era
mais importante: os últimos tiros que poderia dar em sua vida, ou a última
ligação que poderia receber?
O Weequay também havia congelado. Um Twi'lek de pele azul apareceu
no outro extremo da sala, acenando e gritando algo em um idioma que não
conseguia entender.
— Consegues entender isso? — Ela perguntou a Jet.
Ele balançou a sua cabeça.
— Parece importante, porém, seja o que for.
Ninguém os procurava naquele momento, então aproveitou a
oportunidade para deixar o rifle de lado e pegar o comunicador.
— Larin, sou eu, — disse Shigar. — Onde você está?
— Bem onde você me deixou. Diga-me que você tem uma carta na
manga.
— Eu posso apenas ter. Tassaa Bareesh já enviou alguém até vocês?
Olhou para a multidão de seguranças.
— Pode-se dizer que sim.
— Vá aonde eles te levarem. Eu sei o que ela tem em mente.
— Você quer que eu me renda?
— Não vai se render. Nós, ah, chegamos a um acordo, ela e eu.
Larin não gostou daquele momento de hesitação. E se ele estivesse sob
pressão e a levando para uma armadilha?
Perguntou-lhe:
— Você se lembra da temporada de relâmpagos em Kiffu, quando a
eletricidade estática toma o ar?
— O que..? Sim lembro. Dragões-faísca os atraem para as cavernas para
roubar a sua carga. Não estou armando para você, Larin. Você pode ficar
tranquilo nesse quesito.
— Tudo bem, — disse ela, mantendo um olhar atento sobre o principal
Weequay. Ele estava gritando com o Twi'lek e brandindo os seus punhos
enormes. — Você estará onde eles nos levarão?
— Pode contar com isso.
Largou o comunicador e se virou para Jet. Ele ouvira tudo.
— Vou admitir, — disse ele, — que prefiro as resoluções que envolvam
conversas do que tiroteios.
— Então você acha que devemos fazer isso?
— Acho. E até o Clunker concorda.
O droide parecia estar totalmente preparado para sair, mas assentiu
rigidamente.
— Hetchkee! Abaixe o seu rifle. Quando digo isso, estamos saindo.
— Uh, sim, senhor.
— Aguarde o sinal. Se sincronizarmos direito, acho que temos uma boa
chance de sobreviver a isso com um pouco de classe.
O Weequay apertou as mãos uma última vez, depois as deixou cair ao
seu lado. O Twi'lek parecia satisfeito. O Weequay se virou para as suas
tropas e resmungou uma série de comandos.
A equipe de segurança se levantou um de cada vez e abaixaram as
armas.
— Certo, — disse Larin.
— Essa é a nossa sugestão. Abaixe os seus blasters, mas mantenham as
mãos ao seu lado. Não estamos nos rendendo.
Saiu primeiro do cofre e o Twi'lek veio encontrá-la.
— Eu sou Sagrillo, — disse ele com um pequeno arco. — Pela ordem de
Tassaa Bareesh, vocês estão livre pra partir.
Larin manteve o seu alívio completamente escondido.
— Podes apostar que sim.
— E eu? — Perguntou Jet, esperançoso.
— Infelizmente, capitão Nebula, a minha mestra ainda precisa dos seus
serviços. O Twi'lek se curvou novamente. — Vocês vão me acompanhar,
por favor, todos vocês, eu vou levá-los aonde vocês são obrigados estar.
Larin caiu atrás do Twi'lek, com Jet ao lado dele. Clunker e Hetchkee
foram atrás. O único som era um rosnado subterrâneo vindo do Weequay
enquanto as equipes de segurança se abriram diante deles. Larin considerou
lhes dar uma saudação de despedida, mas pensou melhor.
Ela olhou para Jet. Além do aperto lento e da abertura dos músculos da
mandíbula, ele não demonstrou nenhuma emoção.
ULA SENTOU-SE NO escritório de Encaasa Bareesh e tentou não
chorar. Nunca deveria ter vindo para Hutta. Deveria ter discutido com o
Comandante Supremo Stantorrs e tê-lo feito enviar outra pessoa. Não
importava como pareceria. Felizmente, ele assumia uma posição de
responsabilidade muito reduzida na administração militar da República, em
vez de aguentar mais um minuto nessa área desastrosa.
Desde o momento em que ouviu o nome da maldita Cinzia, tudo deu
errado. Primeiro ele foi sequestrado e interrogado. Então foi pego no fogo
cruzado entre uma Sith, um Jedi e um Mandaloriano. Então os hexagonais
brutais quase o mataram. E agora...
Colocou a cabeça entre nas mãos, mal conseguindo pensar nisso.
Do lado de fora do escritório vinha o som de comoção constante. A
destruição do transporte da República havia danificado o espaçoporto do
palácio. As equipes de bombeiros e reparos correram pra trás e pra frente,
gritando umas com as outras e entrando em ligações, solicitando reforços.
Ula não se ofereceu para ajudar. O palácio poderia arder no chão com todos
nele por tudo que se importava.
As chances de Larin Moxla ainda estar viva eram pequenas. Disso
estava completamente certo.
Não estava orgulhoso de si mesmo por fugir das ruínas da antecâmara de
segurança, mesmo tendo certeza de que os seus motivos eram puros. A sua
atuação como enviado da República nunca foi convincente; Jet tinha visto
através dele imediatamente, mesmo que não o tivesse se entregue
completamente como um espião Imperial. Melhor deixar essa vida
desaparecer e começar uma nova no Império, onde poderia gastar menos
tempo se preocupando com quem as outras pessoas pensavam quem era e
mais em realmente fazer a coisa certa.
Atravessar os guardas do espaçoporto não era difícil, mesmo após a
partida inesperada da nave de reconhecimento de Dao Stryver. Eles se
lembraram dele desde a sua chegada e o deixaram passar. Aproximou-se do
cais Imperial sem hesitar, confiante de que os guardas permitiriam a sua
entrada.
Não foi assim.
A vergonha ainda queimava. Os seus parceiros Imperiais, da categoria
júnior, além do mais, o haviam recusado, reconhecendo-o como
pertencendo a uma espécie quase humana, em vez de puro sangue como
eles. Escória Epicanthix, eles o chamavam. Você pertence a esse buraco,
eles disseram a ele. Vá embora antes que matemos você.
Cambaleou para fora do espaçoporto, atordoado pela repentina inversão.
Se a sua própria espécie não o aceitasse, quem o aceitaria? Mal
conseguindo pensar direito, vagou em círculos pelo bairro pelo que parecia
dias, mas não poderia ter passado mais de uma hora. As suas escolhas eram
limitadas. Poderia voltar para a República e o seu antigo emprego sob o
Comandante Supremo Stantorrs, se não fosse demitido por falhar tão
miseravelmente em sua missão, ou fazer o que os guardas Imperiais haviam
sugerido e permanecer em Hutta. O último simplesmente não o faria.
Quando voltou ao espaçoporto, determinado a se despedir do planeta
para sempre, soube que o transporte da República havia sido destruído. Já
era ruim o suficiente que os seus parceiros Imperiais o tivessem rejeitado;
agora eles haviam destruído o seu único meio de sair do mundo! Estava tão
envolvido com a miséria dele que nem sequer ouviu a explosão, e teve a
notícia de que as coisas haviam ido de mal a pior com uma angustiante falta
de graça.
Felizmente, a situação não ficou sem esperança. A quebra flagrante dos
Imperiais do Tratado de Coruscant poderia, em mundos mais civilizados, ter
resultado em uma guerra total, mas em Hutta era provável que fosse
ignorado junto com muitas outras infrações perpetradas pelos Sith e pelos
Jedi naquele dia. Além disso, a situação de Ula como enviado da República
ainda carregava algum peso. O sobrinho de Tassaa Bareesh instalou Ula em
seu escritório fétido, um lugar de cortinas de couro e veludo demais, com
coisas vivas rastejando por toda a mesa, e o deixou lá para se organizar
enquanto o espaçoporto lidava com emergências muito mais importantes.
Ula não podia culpá-lo.
A única pessoa que Ula culpava era ele mesmo. Se não tivesse fugido
como um covarde, poderia ter feito a diferença no resultado da missão.
Larin era muito capaz, mas ela também foi ferida. E agora que Stryver e a
Sith se foi, um deles presumivelmente com o computador de navegação e os
guardas do lado de fora balbuciando sobre o Jedi que alguém havia
capturado, Tassaa Bareesh dificilmente mostraria a alguém envolvido a
menor clemência. Ele próprio esperava uma reação irada. Todo o espaço de
Hutt tremia até que ela encontrasse uma maneira de mitigar as suas perdas.
Um Weequay moreno entrou no escritório. Ele não bateu. O seu rosto se
derreteu em um sorriso permanente.
— De pé, — disse ele, cutucando Ula com a sua lança forte.
O estômago de Ula afundou. Aí chegou, no momento em que temia.
Como Tassaa Bareesh lidaria com ele? Se tivesse sorte, seria rápido. Se
conseguisse o que merecia, seria extremamente lento.
O Weequay o cutucou novamente, e se levantou cansado. Vários
lagartos minúsculos caíram de suas costas e rastejaram sob o sofá-cama.
Pelo menos, pensou, estaria deixando pra trás essa horrível coleção de
animais.
Foi levado para o espaçoporto, onde Encaasa Bareesh e uma ninhada de
Gamorreanos estavam esperando, machados cerimoniais prontos. No meio
deles estava um homem sujo e espancado que Ula não reconheceu
imediatamente. Uma atadura grosseira interrompeu o fluxo de sangue de
uma ferida no braço esquerdo. Uma dúzia de outros pequenos cortes e
escoriações as quais não foram atendidos.
— Enviado Vii, não acredito que tenhamos sido formalmente
apresentados, — disse o jovem formalmente. — Sou Shigar Konshi,
Padawan Jedi, sob a Grã Mestra Satele Shan.
Ula ficou tão surpreso com a deferência inesperada que foi difícil
responder da mesma maneira.
— Eu pensei que você tinha sido capturado.
— Eu fui.
— Então, o que você está fazendo aqui?
— Estou esperando por... — Ele olhou por cima do ombro de Ula. —
Sim, aqui estão eles agora.
Ula se virou e viu a cena por trás deles. Se havia sido surpreendido pela
descortesia antes, estava totalmente sem palavras agora.
Larin Moxla liderou uma procissão de um Weequay, um Twi'lek, Jet
Nebula e o seu droide, e um dos guardas sobreviventes de Potannin. Eles
não estavam sendo empurrados; eles não estavam algemados. Como Shigar,
eles estavam sendo tratados mais como convidados do que como
prisioneiros.
— Prazer em vê-lo de novo, parceiro, disse Jet, fazendo uma saudação
casual. — Se você foi que os convenceu a nos tirar dessa bagunça, devo
uma dúzia de Núcleos de Reator.
— Não eu. — Ula se virou impotente para Shigar para uma explicação.
— Eu fiz um acordo, — disse o Padawan a todos eles, embora os seus
olhos continuassem voltando para Larin. — Tassaa Bareesh está nos
deixando ir.
— Isso é suspeitosamente generoso da parte dela, — disse ela.
— Sim, bem, há um problema. — Shigar fez uma cara infeliz. — Eu vou
te dizer quando estivermos a caminho.
— Você também tem carona? — perguntou Ula, com esperança de
começar a florescer.
— Melhor que isso, — disse Shigar. — Eu tenho uma nave e um
capitão.
— Alguém que conhecemos? — Perguntou Jet, esperançoso.
O Twi'lek se dirigiu a Jet em termos aparados e oficiosos.
— A grande Tassaa Bareesh instruiu o seu sobrinho a liberar a sua
embarcação, mas o seu contrato com a nossa empregadora permanece em
vigor. Você fornecerá passagem para o Jedi e aos seus parceiros para
destinos de sua escolha. Você não irá cortar e fugir no momento em que sair
do nosso espaço aéreo. Você retornará com as informações coletadas e
fornecerá essas informações na íntegra. Quaisquer perdas fiduciárias
incorridas durante esta expedição serão de sua responsabilidade.
— E os lucros?
— Eles serão distribuídos da maneira normal.
Jet fez uma careta. Ula adivinhou que "o caminho normal" significava
tudo para Tassaa Bareesh e nenhum para mais ninguém.
— Não é bem um acordo, — disse Jet, — e, bem, me chame de defensor
de detalhes, se quiser, mas não me lembro de ter havido um contrato entre
nós.
O Twi'lek sorriu.
— Existe agora.
— Acho que esse é o problema, — disse Larin.
— Bem, — disse Jet, — pelo menos estamos vivos e logo estaremos em
movimento. Descobri que não há nada que não possa ser resolvido com a
aplicação de um pouco de velocidade.
Ele piscou para Ula, que ainda estava chocado com a mudança repentina
de eventos para gerenciar uma expressão natural.
— Para onde estamos indo, exatamente? — Ele perguntou ao grupo
reunido.
— Atrás de Stryver, — disse Shigar. — E quanto mais tempo ficarmos
por aqui, mais a frente que ele estará.
Ele fez uma reverência ao sobrinho de Tassaa Bareesh, que resmungou
algo em resposta. Os Weequay e os Gamorreanos se dispersaram,
marchando com passos pesados para perseguir tarefas mais importantes.
Quando as portas do espaçoporto se abriram para permitir sua entrada, Jet
assumiu a dianteira, assobiando alegremente enquanto os conduzia ao seu
ancoradouro.
— Não espere muito, — disse ele.
— A Auriga Fire é uma coisa antiga e leal, mas já viu dias melhores.
Como você, hein, velho amigo? — Ele deu um tapinha no ombro de
Clunker, provocando um ruído estridente que desapareceu no interior da
perna esquerda do droide. — Você vai de A a B, mas não posso falar com
mais nada.
Parou na rampa de desembarque, onde uma série de malas havia sido
alinhada.
— Olá, — disse ele. — A quem eles pertencem?
— Eu acho que eles são meus, — disse Ula. Os seus aposentos
obviamente estavam vazios enquanto se afundava em autopiedade no
escritório de Encaasa Bareesh.
— Então você está se juntando a nós, Enviado Vii? — Jet perguntou
com um brilho de conhecimento nos olhos.
— Sim, — ele disse. — Se, ah, se isso não for inconveniente.
— Não posso garantir que você voltará para Coruscant tão cedo.
— Tudo bem. Eu gostaria muito de sair daqui imediatamente.
— Você está certo.
Jet digitou um código elaborado em sua vaga, depois outro na escotilha
de sua nave. O casco foi perfurado e marcado com dezenas de ataques de
micrometeoritos. Ula se preocupou com o estado dos campos de partículas
da nave, mas supôs que se Jet tivesse sobrevivido por tanto tempo, eles não
poderiam ser tão ruins.
A escotilha se abriu.
Jet acenou pra subir a rampa de acesso.
— Depois de você, então. Cuidado com o degrau. Quartos da tripulação
à sua direita. Acho que é isso que você qualifica agora. Alguém tem que me
ajudar a fazer isso direito.
Ula pegou uma bolsa de transporte enquanto passava. A sua única
escolta restante fez o mesmo. A rampa rangeu e balançou. Torceu o nariz
com o fedor emanado do interior da nave. Cheirava a Rodiano velho. A
Auriga Fire, sem dúvida, estaria muito longe do transporte oficial de que
desfrutara no caminho para Hutta.
Ainda assim, não se importava. De algum modo, um desastre absoluto
havia sido evitado, e por isso estava agradecido. Estava vivo, e Larin
também; tinha roupas limpas e transporte; havia até uma chance de que
pudesse retornar com as informações para os seus Mestres em Dromund
Kaas. Quando lembrou do desespero que estava sentindo apenas alguns
minutos antes, as suas circunstâncias atuais pareciam positivamente
otimistas.
— Stang!
Esquecido o aviso de Jet, Ula bateu com o dedo no topo da rampa.
A AURIGA FIRE não era de modo algum uma nave de luxo. De cima, o
cargueiro atarracado era quase perfeitamente triangular, com hiperdrives na
base; matrizes de sensores, geradores de blindagem e comunicações no
ponto superior; e uma cabine ligeiramente descentralizado no meio, acima
dos porões principais. Os seus corredores baixos e apertados eram
arranjados em um Y rústico, com porão principal, alojamento da tripulação
para cinco e um compartimento de engenharia apertado nos terminais. A
cabine estava um nível acima, acessado por uma escada. Porões adicionais
enchiam todos os espaços disponíveis na nave, incluindo alguns, Ula tinha
certeza, que não eram visíveis a olho nu. Jet alegou ter uma equipe de dez
em fuga que havia encontrado a Cinzia. Ula se perguntou como eles se
encaixavam.
A nave estava quase insuficientemente abastecida em termos de
equipamento. Na curta viagem de volta de atualização, Ula avistou um raio
de trator, um dispositivo de interdição bruto e fontes de alimentação para
nada menos que quatro canhões tri-laser. Cabos grossos sugeriam que as
blindagens também eram bem supridas de energia. O jato poderia diminuir
as suas capacidades, decidiu Ula, mas a nave poderia, sem dúvida, se
manter.
Havia espaço suficiente para todos na cabine. Shigar estava no lugar do
copiloto. Larin tinha cronometrado mais horas de voo, mas até que a sua
mão fosse tratada adequadamente, ela foi relegada à astrometria. Clunker
havia se acostumado aos sistemas de controle de voo da nave e desligado os
seus fotorreceptores. Isso fez Ula e Hetchkee percorrer a curta viagem para
orbitar nos assentos dos passageiros.
À medida que a atmosfera marrom desbotava para as estrelas, Ula
instantaneamente se sentiu mais leve, tanto física quanto espiritual. Jet
habilmente guiou a nave para uma órbita estável de estacionamento e o
colocou no piloto automático. Então girou em seu assento e cruzou as mãos
atrás da cabeça.
— Agora, a questão de dez trilhões de créditos, — disse ele. — Pra
onde?
Todo mundo olhou para Shigar, que se mexeu desajeitadamente em seu
assento.
— É mais fácil perguntar do que responder, receio, — disse ele. —
Tassaa Bareesh acha que vamos atrás de Stryver, então acho que é isso que
precisamos fazer.
— Por que nós simplesmente não fugimos? — Ula perguntou.
— Eu não posso, — disse Jet.
— Por causa de um contrato inventado?
— Porque ela vai me caçar e me pregar na parede dela, se eu fizer.
Plantou um rastreador em algum lugar neste balde velho. Estou certo disso.
É o que eu faria no lugar dela.
— Então vamos procurar Stryver, — disse Larin. — Ele vai para a casa
dos hexagonais, com certeza.
— Se tivéssemos o computador de navegação, — disse Shigar, —
faríamos o mesmo.
— Ele precisa decifrar o código primeiro, — disse Jet. — Tivemos uma
chance ou duas no caminho de Hutta, sem sorte.
— Existem outros dados que não recebemos? Por exemplo, quando você
interditou a Cinzia, você poderia dizer a partir de sua trajetória de onde se
originou?
Jet balançou a cabeça.
— Nós tentamos isso também. Projete a rota da nave de volta, e você
terá espaço vazio até o limite da galáxia e, em seguida, muito mais espaço
vazio depois disso. O mesmo acontece com tudo o que pegamos. Tudo
aponta para lugar nenhum.
— Eles eram espertos, — disse Larin.
— E eles realmente queriam ficar escondidos. Eu quero saber o porque.
Eles ponderaram sobre essa pergunta por um momento, em silêncio. Ula
não tinha nenhuma ideia a oferecer sobre a psicologia de Lema Xandret. Os
hexagonais eram notáveis e estranhos, mas isso por si só não revelou nada
sobre as pessoas que os criou.
Ou fez? Em Panatha, o trisavô de Ula gostava de coletar antigos ditados
Palawan.
— O que você faz fala mais alto do que o que você diz — era um deles.
Outra era: — O que você faz, faz você.
A aplicação dessa filosofia à situação atual parecia impossível para Ula,
até que se lembrou de algo que Yeama havia lhe dito.
— O que construiu os hexagonais, — disse ele. — O ninho. Era feito de
uma liga estranha. Do que era isso?
— Lutécio e promécio, — disse Jet.
— Então eles são metais raros. Não pode haver muitos mundos onde
ambos são encontrados, certo?
Jet derramou água fria nessa fagulha de ideia.
— Não existe um único mundo pesquisado com esses metais em
abundância.
— E o Espaço Selvagem? Existem muitos mundos não vigiados por lá.
— Claro, mas é um lugar grande e eles não chamam isso de selvagem
por nada.
Ula caiu de volta em seu assento.
— Como você convenceu Tassaa Bareesh de que tinha a menor chance
de encontrar este lugar? — Ele perguntou a Shigar. — Parece-me inútil.
Shigar parecia envergonhado.
— Eu lembrei a ela que sou Jedi. Eu disse a ela que nós temos os nossos
caminhos.
Larin enfiou a mão em um dos compartimentos de sua roupa e levantou
uma tira de metal prateado.
— É assim que vamos encontrar o planeta, — disse ela, triunfante,
oferecendo-o a Shigar. — Isso e os seus caminhos misteriosos.
As sobrancelhas de Shigar se afundaram em confusão, depois desceram
ainda mais em uma careta.
— Não, — ele disse, empurrando o metal para longe dele. — Não vai
funcionar.
— Tem que funcionar, — ela insistiu. — Você me contou sobre a sua
capacidade psicométrica
— A minha habilidade psicométrica não é confiável, Larin.
— ...e que a sua Mestra acha que você pode domá-la. Que melhor hora
para tentar do que agora?
— Não há melhor momento, — ele concordou, — mas você não pode
fazê-lo funcionar apenas querendo.
— Eu confio em você, — disse ela com sinceridade não afetada.
— E você não me decepcionou ainda, nem uma vez. Não espero que
você comece agora.
Isso parou os seus protestos. Ele estendeu a mão, pegou o pedaço de
metal da mão dela e segurou-o contra a luz. Brilhava como um diamante
metálico.
— É isso que eu acho que é? — Perguntou Ula.
— É um pedaço do ninho, — ela confirmou.
— E Shigar pode usar a sua mente para descobrir de onde vem?
— Eu posso tentar, — disse Shigar, severamente. — Isso é tudo. Não
posso prometer nada.
— Bem, é um começo. Quanto tempo vai demorar?
— Eu não sei. Vou falar com a Mestra Satele, primeiro. Pode ser capaz
de me guiar por isso. Você pode ligar para Tython?
— Mais rápido do que você pode me pedir.
— Vou colocá-lo no compartimento principal, — disse ele. — Há um
holoprojetor lá.
Shigar se levantou do assento do copiloto. Jet brincou com os
instrumentos à sua frente, abrindo canais do comunicador e enviando dados
através da nave.
Larin estava sentado, pensativo, os olhos olhando fixamente para a
escada que Shigar havia desaparecido. Uma pequena linha de preocupação
vincou a ponta do nariz.
Ula se inclinou para sussurrar:
— Você realmente não acha que ele pode fazer isso, não é?
Os olhos verdes dela focaram nele.
— Só penso em uma coisa, — disse ela. — Se ele nem tentar, isso seria
pior do que falhar.
Ula só podia acenar com a cabeça diante de sua integridade inabalável, e
desejava que ele possuísse metade dela.
— Agora, — ela disse, — eu tenho que tirar essa luva e cuidar da minha
mão. Na ausência de um médico de campo, preciso de um de vocês dois pra
me ajudar. Soldado Hetchkee? Enviado Vii?
— Eu vou fazer isso, — disse Ula rapidamente. — Você fica aqui e seja
o substituto do Jet, caso ele precise, — disse ele a Hetchkee.
— O kit médico está na escotilha traseira, — Jet chamou. — Deixe-me
saber quando você tiver um destino e eu moverei esse caixote.
— Farei isso.
Larin se dirigiu para a escada e Ula a seguiu, arrastando freneticamente
tudo o que havia aprendido sobre medicina em uma breve sessão de
treinamento em Dromund Kaas, anos antes.
SHIGAR ANDOU de um lado para o outro no porão apertado da
Auriga Fire da melhor maneira possível, enquanto esperava Jet passar a
ligação pra Tython. Não estava fazendo um bom trabalho. Só conseguia dar
três passos largos de um lado para o outro e já havia batido a cabeça em um
painel de instrumentos saliente duas vezes. A inutilidade do exercício
estava se tornando aparente para ele quando o holoprojetor do modelo
antigo piscou e emitiu um sussurro suave de estática.
Puxou da parede oposta uma cadeira retrátil projetada para alguém
muito menor que ele e se sentou, sentindo apenas os joelhos e cotovelos.
Uma imagem azulada da Grã Mestra se formou. Piscou e pulou, mas se
manteve firme o suficiente para segui-lo.
— Shigar, — disse Satele Shan, levantando a mão em saudação.
— Estou feliz em ouvir você. Você está em Hutta?
Ele descreveu brevemente a sua posição atual: na nave de um
contrabandista sobre o mundo dos Hutts, ainda usando o que restava do seu
disfarce improvisado.
— Eu me encontro em uma posição intratável e preciso do seu conselho,
Mestra.
Ela sorriu, um pouco, mas não indelicadamente.
— Você concordou com coisas que não acha que pode realizar ou que
não deseja realizar. Talvez os dois.
O seus poderes de percepção o assustaram.
— Você consegue sentir isso de tão longe? — Realmente ela era a Jedi
mais poderosa da galáxia!
Ela balançou a cabeça e sorriu com encantadora autodepreciação.
— Não, Shigar. Só me lembro como é estar em campo.
Responsabilidade, decisões, consequências... sentem-se muito diferentes
quando assumidas isoladamente. Não sentem, meu Padawan?
Abaixou a cabeça.
— Sim Mestra.
— Diga-me, — disse ela, — e vou oferecer o conselho que puder.
Shigar iniciou do começo, com a chegada dele e de Larin em Hutta.
Pulou os detalhes mundanos de sua infiltração no palácio e descreveu o seu
primeiro encontro com a tecnologia exclusiva oferecida à venda por Tassaa
Bareesh, as raízes prata se espalhando do cofre para os túneis subterrâneos e
o relato de Larin sobre o ninho de droides que Jet Nebula havia se retirado
dos destroços da Cinzia. Descreveu a sua briga de três vias com Dao
Stryver e a jovem Sith, depois o surgimento dos hexagonais e a sua quase
fuga.
— Você lutou com uma Sith? — Mestra Satele perguntou, parecendo
impressionado.
— Acredito que ela era uma aprendiz como eu, — ele admitiu, — senão
eu não teria sobrevivido.
— Independentemente. Uma Sith e um Mandaloriano de uma vez, e
você conseguiu sobreviver. Poucos Padawans podiam se gabar disso,
Shigar. O fato de você não se gabar disso é um bom sinal de caráter.
— Mestra, não acredito que tenha sobrevivido por habilidade ou mesmo
por sorte. — Ao recontar, notou várias coisas que não lhe haviam ocorrido
na época. — Stryver teria derrotado a mim e a aprendiz Sith, com tempo. A
interrupção dos hexagonais mudou tudo. Ele não lutou mais conosco. Ele
recuou para nos ver lutar contra esse novo inimigo. Acredito que ele estava
se segurando.
Ela se recostou na cadeira, segurando o queixo com uma mão. Shigar
reconheceu o segundo plano; ela estava em seu escritório particular, um
espaço minimalista e austero, com poucos ornamentos, mas construído a
partir da melhor madeira possível.
— Entendo. — foi tudo o que ela disse. — Continue.
Descreveu os hexagonais com mais detalhes, começando com a simetria
seis vezes maior de sua aparência básica, a sua idêntica falta de
personalidade ou individualidade e a sua falta de vontade mortal de se
afastar, passando então aos vislumbres de sua estrutura interna que havia
visto ao matar um deles.
— A tecnologia está bem fora da minha experiência, — disse ele,
lembrando das matrizes de favo de mel e fluidos oleosos estranhos vazando
do corpo. — Os hexagonais não têm mais recursos do que qualquer droide
normal, certamente não mais do que os droides de treinamento em Tython,
mas exibem uma adaptabilidade que nunca vi antes. Um ferido se fundiu ao
outro para formar uma única versão de oito pernas. Mais tarde, um ativou
um sistema de camuflagem que os outros não pareciam possuir, e as armas
de um terceiro se tornaram mais poderosas. Quase parece...
— Como o que, Shigar?
— Não quero dizer evoluindo, Mestra, mas acho que eles são capazes de
se reprojetar de forma adaptativa.
— No calor do combate?
— Sim. Particularmente nele, suspeito.
— Isso os torna droides muito notáveis, — disse ela. — Quem poderia
ter construído essas coisas?
— O Enviado Vii foi interrogado por Dao Stryver, Mestra. O
Mandaloriano deixou escapar que Lema Xandret era uma fabricante de
droides.
— Você acha que essas são as criações dela, Shigar?
— Tenho muito pouca informação para dizer com certeza, mas o que
temos é sugestivo.
Ela assentiu.
— De fato. Dao Stryver estava caçando uma fabricante de droides em
particular e uma nave contendo os meios para construir droides notáveis.
Lema Xandret é provavelmente a arquiteta dessas coisas. Mas qual é o
propósito deles? Se são armas, para quem são destinadas?
— É possível, Mestra, que não sejam armas. Armas não dirigidas, de
qualquer maneira. Eles podem simplesmente estar lutando para chegar em
casa.
— Para fazer o que?
Shigar não tinha especulação a oferecer sobre essa questão. Lembrou-se
vividamente da raiva estridente dos droides por estarem obstruídos em sua
missão de escapar. Essa programação emocional não era normal para
droides de combate, ou quaisquer droides, em sua experiência.
— Há algo mais, — disse ele. — Quando Stryver confrontou a aprendiz
Sith, ele disse algo sobre a mãe dela. Não sei exatamente o que ele quis
dizer, mas isso teve uma reação dela. Quem quer que seja a sua mãe, ela
está conectada de alguma forma.
Deixou esse fato ficar onde estava. Tal como estava, o envolvimento da
Sith era inexplicável. Embora tentados a tirar conclusões de fatos
sugestivos, achou melhor esperar até que tivessem mais informações. A
conclusão errada pode ser mortal, se eles basearem as suas ações nela.
Mestra Satele, ao que parecia, concordou.
— Então, — ela disse, — a coisa na Cinzia não era um artefato antigo
que nós ou os Sith pudéssemos achar útil. Era algo estranho e novo. Onde
isso nos deixa?
— O Mandaloriano tem o computador de navegação, — disse ele. —
Ele decodificará a informação que ela contém enquanto falamos.
— E depois?
— Os seus motivos são desconhecidos, — disse Shigar, voltando a
pensar nas coisas que Ula e Larin haviam dito a caminho da órbita.
— Acredito que o Mandaloriano esteja envolvido nisso desde o início.
Stryver pode ter desejado que o computador de navegação, em parte,
destruísse as evidências de que a "missão diplomática" da Cinzia tinha com
Mandalore, mas isso faz menos sentido quanto mais penso nisso.
Mandalorianos não são unificados e não disputam com ninguém. Lutar ou
conquistar, essa é a filosofia deles.
— Eles se aliaram com o Império contra nós, — lembrou Mestra Satele.
— Sim, mas esse é o Império, não uma colônia isolada no meio do nada.
Ela assentiu.
— Quais são os seus planos agora, Shigar? Você está retornando com o
Enviado Vii e a sua amiga para Coruscant?
Shigar conhecia aquele olhar no rosto da sua Mestra. Ela já sabia a
resposta para a sua pergunta. Ela havia pensado em tudo ou visto em uma
visão. Houve também uma ligeira ênfase na palavra amiga que o encorajou
a dar a sua resposta nos termos mais francos possíveis.
— Larin acha que eu posso usar a psicometria para encontrar este
mundo. — Ele levantou o pedaço de liga prateada que ela recuperou do
ninho. Brilhava de uma maneira que não era bonita, mas certamente
chamava a atenção.
— Eu acho que ela deposita muita fé em minhas habilidades. Prefiro
trazê-la a Tython para que alguém confiável o leia lá.
— Isso desperdiçaria tempo, Shigar, e o tempo pode ser essencial.
— Você sabe disso, Mestra, ou apenas sugere?
— Não importa. Eu sei que a fé de Larin em você não é injustificada.
Talvez você deva ter fé nela também. Será que ela parece fantasista?
— Qualquer coisa, menos isso. — Larin era tão sólido quanto uma
rocha. — Ela vê o que vê e diz o que diz.
— Bem então. Talvez quem não vê seja você, Shigar.
— Talvez, Mestra. Mas se eu falhar...
— Metaforicamente falando, — ela disse com um sorriso, — se é a
menor palavra no léxico da Linguagem Padrão Galáctica, no entanto, fica
entre nós e nossos maiores sonhos. Deixe que seja uma ponte, Shigar. Está
na hora de você atravessar. Estarei esperando por você do outro lado.
Respirou fundo.
— Sim, Mestra.
— Enquanto isso, espero que o Supremo Comandante Stantorrs nos
forneça um apoio substancial. No que diz respeito aos Mandalorianos, é
improvável que ele se arrisque. Mas, sem dúvida, será uma missão militar,
não dos Jedi. Vou sugerir um encontro em Honoghr. Mande as coordenadas
pra mim de lá, depois de tê-las, e seguiremos o nosso caminho.
A mente de Shigar voltou aos esforços logísticos que se desenrolavam
em resposta a suas ações.
— Sim, Mestra.
— A Força está com você, Shigar.
A linha estalou e morreu.
Shigar caiu momentaneamente no assento e depois foi encontrar um
lugar quieto para meditar.
LARIN NÃO PRETENDIA escutar a conversa de Shigar com a sua Mestra,
mas a Auriga Fire era pequena demais para permitir a privacidade real de
alguém. Onde ela e Ula estavam sentados frente a frente, ficava a menos de
cinco metros de Shigar, e os corredores revestidos de metal transmitiam
todos os sons. Ula falou suavemente para não incomodá-lo, e era fácil para
Larin acabar com o enviado.
Achou muito mais difícil, no entanto, ignorar a bagunça que a patife da
Sith havia feito em sua mão.
Tirar a luva fora difícil. Não havia analgésicos suficientes para protegê-
la inteiramente da sensação de carne misturada com plastóide se rasgando.
O sabre de luz da Sith derreteu a ambos em uma vedação horrível, um que a
impediu de perder muito sangue, mas teria que ser removida antes que a
ferida pudesse curar adequadamente. A varredura inicial do kit médico
revelou uma bagunça de ossos e vasos sanguíneos truncados embaixo. Só
poderia lidar com eles uma vez que a ferida estivesse limpa.
Esse trabalho coube a Ula, que usava um bisturi sônico com mais
segurança do que esperava. Ula falou com ela sobre o procedimento, na
tentativa de tranquilizar os dois, provavelmente. Cerrou os dentes, incapaz
de desviar o olhar, e ao mesmo tempo tentou concentrar a sua mente em
outra coisa.
— Quais são os seus planos agora, Shigar? Você está retornando com o
Enviado Vii e a sua amiga para Coruscant?
Essa tinha que ser a Mestra de Shigar, a lendária Satele Shan. Larin
desejou poder ver a sua imagem. Ela falou com tanta segurança e confiança,
e Shigar respondeu a ambos das maneiras que ele provavelmente nem
estava ciente, confiando e se rebelando simultaneamente. Era difícil
imaginá-lo em um papel subalterno para qualquer um.
— Talvez quem não vê seja você, Shigar.
— Pronto, — disse Ula, erguendo cuidadosamente a luva de sua carne
brutalizada. Saiu em três pedaços. Ele havia selado novamente os principais
vasos sanguíneos com um cauterizador a laser e aplicado um composto
estabilizador ósseo.
— Eu acho que isso é bom o suficiente para colocar no kit médico
agora. Vou vasculhar os armários da nave mais tarde e ver se consigo
encontrar uma prótese para ajudá-lo até chegarmos em casa.
Não queria olhar para a mão arruinada, mas precisava. O corte
atravessou ordenadamente todos os seus metacarpos, deixando-a sem um
único toco de dedo. A dor estava nublada e indistinta agora, mas muito
presente. Obviamente, os seus nervos ainda estavam funcionando. Isso era
uma coisa boa, lembrou a si mesma, se ela fosse ter uma prótese completa
anexada.
O kit médico engoliu o que restava da mão dela até o pulso e cantarolou
pacientemente consigo mesmo.
— A Força está com você, Shigar.
Larin o ouviu suspirar, depois se levantou para se mover para outro lugar
da nave. Os seus passos bateram pesadamente, como se ele estivesse
carregando um grande peso. As portas se abriam e fechavam, às vezes
motivadas por um ou dois baques. Finalmente ele parou. Uma porta fechada
e selada. Além do zumbido combinado de suporte de vida e uma dúzia de
outras máquinas, a nave estava silenciosa.
— Eu disse, tenho várias malas cheias de roupas novas. Se você ou mais
alguém quisesse se trocar...?
Concentrou-se no rosto de Ula.
— O que? Oh, sim. Desculpe. Essa é uma boa ideia. Você poderia me
ajudar a tirar a minha armadura? Não poderei alcançar as vedações do meu
lado direito até que o kit médico termine.
— Claro. Eu ficaria feliz.
Juntos, eles a arrancaram as placas do braço e do peito. Das costas o
derrotou completamente, então lhe mostrou como abrir as vedações da
cintura e contornar a concha. Mesmo através da luva do corpo, sentiu a
frescura do ar. Literalmente não tirava a armadura há dias. Em Coruscant,
nos perigosos bairros antigos, se acostumara a dormir com ela quase todas
as noites.
O estado da armadura a desanimou. Tinha sido bem usada mesmo antes
de comprá-la, mas os últimos dias a testou além das expectativas razoáveis.
Estava amassada, cortada, derretida, perfurada e enegrecida. Mais de uma
vez encontrou manchas de sangue que nem se lembrava de derramar.
— Eu posso lidar com o resto, — disse ela. — Deve haver algo mais
fresco aqui em algum lugar.
— Vi uma pequena perto do porão de estibordo. Tem certeza de que
ficará bem sozinha?
— Definitivamente. Uma garota precisa guardar alguns segredos.
Ele ficou vermelho, e imediatamente se arrependeu da piada.
— Sinto muito, — disse ela, pegando a mão dele.
— Você foi uma grande ajuda, Enviado Vii. Os analgésicos estão me
fazendo sentir um pouco tonto. Eu posso deitar depois de me limpar.
— Sim, sim, você deveria descansar. E por favor me chame de Ula.
— Obrigado, Ula.
A mão quente dele estava junto dela. Surpreendeu-se por não querer
deixá-lo ir. Eles ficaram sentados sem dizer nada por um momento, e talvez
os analgésicos realmente estavam funcionando porque e sentiu chorando
naquele pequeno instante de contato humano. Estava sozinha por tanto
tempo.
Não seja idiota, ela disse a si mesma. Estar nas Estrelas Negras nunca
foi assim. Lutamos e matamos juntos. Nós não damos as mãos.
— Tudo bem, — disse Ula, parecendo envergonhada novamente.
— A bagagem está nos alojamentos da tripulação. Vou deixar você
vasculhá-la. Chame se precisar de alguma coisa, qualquer coisa.
Larin assentiu e limpou o nariz dela.
Ula soltou a sua mão.
Quando ela olhou pra cima, ele se foi.
O TRANSPORTE IMPERIAL surgiu do hiperespaço acima do
mundo verde e vazio de Kant, nas profundezas do espaço Bothano. As duas
luas de Kant possuíam uma variedade brilhante de companheiros asteroides.
Entre eles, espreitavam as dezessete naves da meia divisão concedidos a
Darth Chratis pelo Conselho Sombrio. O volume do cruzador à sua frente,
uma gigante Keizar-Volvec de nariz oco chamada de Primordial, pairava
abaixo e inoperante à frente. Ax sentiu um pavor antecipado quando o
transporte entrou na plataforma. Havia limpo as feridas no rosto e no
pescoço e se vestiu com roupas limpas. Ainda assim, sentiu-se desesperada
para o que estava por vir.
Um destacamento completo a esperava no convés do hangar. Ignorou a
saudação deles.
— Onde está o técnico que eu pedi?
— A especialista Pedisic está a caminho, milorde.
— Não é o suficiente. Eu pedi um para estar aqui quando eu chegar. E
quanto a Darth Chratis? Ele também está a caminho?
— Não, minha lorde. Ele deseja que você o atenda imediatamente.
— Novamente, não é o suficiente. — Ela envolveu a Força em volta da
garganta do homem e apertou até que ele ofegou. — Diga a ele que tenho
um trabalho importante para supervisionar e não vou me distrair.
— Sim... lorde! — O soldado de rosto vermelho conseguiu.
Soltou-o e ele se apressou para obedecer às ordens dela.
Atrás dela, o piloto e outro soldado carregavam uma caixa de metal
selada pela rampa com cuidado exagerado. Havia espantado a eles com a
importância do seu conteúdo. Se algo acontecesse com os restos do
hexagonal, seria afundada junto com a missão.
— Eu preciso de um lugar seguro para abrir esta caixa, — disse ela ao
próximo soldado na fila. — Mostre-me a baía de quarentena mais próxima.
— Sim, minha lorde. — Ele girou com força nos calcanhares e a levou a
uma sala com janelas de vidro situada em uma parede do convés do hangar.
A caixa seguiu prontamente.
A baía de quarentena era pequena, mas bem equipada. A caixa foi para o
chão ao lado de uma mesa de metal reluzente. Finalmente chegou uma
técnica de droide com respiração pesada, e Ax mandou a todos os outros
embora.
— Dentro dessa caixa há um droide, — disse ela a técnica. — E dentro
do droide há informações da maior importância possível. É o seu trabalho
tirá-las.
— Eu entendo, minha lorde.
— Bom. Então, abra isso!
A especialista Pedisic abriu os fechos, olhou por um momento o que
havia lá dentro e depois pegou os restos. O hexagonal morto entrou em
colapso e agora estava reduzido ao tamanho de uma criança humana
pequena. As suas pernas se enroscaram protetoralmente em volta da
barriga. Líquido marrom escuro manchava tudo.
— Eu nunca vi nada assim antes, — Pedisic disse a ela, limpando as
mãos em um pano que ela tirou de dentro do uniforme.
— O que você viu ou fez antes não me diz respeito, — disse Ax. — É o
que acontece agora o que importa. Se eu dissesse que isso é uma questão de
vida ou morte, não estaria exagerando. Para você, certamente é.
Pedisic engoliu em seco.
— Deixe-me pedir um pouco mais de equipamento e começarei
imediatamente.
Ax assentiu.
— Você tem uma hora.
Saiu da baía de quarentena, passou pela guarda dupla à porta e foi
encontrar o seu Mestre.
O GOLPE VEIO tão rápido que não conseguiu evitá-lo, apesar de esperar
desde o momento em que embarcou na Primordial. Sentiu-se arrastada e
empurrada com força esmagadora para a antepara mais próxima, e a
manteve ali, incapaz de se mover.
— Você foi enviada a Hutta para reivindicar uma coisa.
O assobio mortal da voz do seu Mestre deslizou como uma agulha em
brasa em sua orelha direita. Podia senti-lo perto dela, mesmo que o quarto
estivesse na escuridão absoluta. A sua presença era como um fogo ardente
no tecido do próprio espaço.
— Só uma coisa, — ele repetiu, — mas você volta sem ela, fica parada
enquanto o enviado oficial do Imperador é morto e demora antes de se
reportar a mim. O que devo fazer com você, Eldon Ax? Que punição seria
mais adequada?
— O enviado era um fantoche, — ela conseguiu em sua própria defesa.
— Eles sempre são, mas continuam sendo a face pública do Imperador.
Desprezar um deles é desprezá-lo. Você seria parte de tal coisa? Ele deveria
ser informado de que você permitiu que a sua autoridade fosse
desrespeitada?
— Não, Mestre. Não era a minha intenção.
— Talvez não fosse. É difícil ter certeza. A sua confusão está exposta
pra mim. Você está enfraquecida pelo apego, pela existência de uma mãe...
Afastou-se dele como se fosse fisicamente atingida.
— Você mente! — Ela gritou, embora parte dela se preocupasse que
pudesse ser a verdade.
As luzes acendem, ofuscantemente brilhantes. Caiu no chão, soltou-se e
piscou para longe. A sala era quadrada, preta e vazia, exceto pelo sarcófago
de meditação do seu Mestre montado firmemente no centro. Ele estava
dentro dele, com o seu rosto murcho escondido em segurança atrás da
tampa.
Ele nunca esteve ao lado dela.
— Deixe-me explicar, Mestre.
— Se você não puder, vou esmagar a sua mente em pó.
Começou com a sua tentativa de se infiltrar no cofre e passou
rapidamente para o seu confronto com o Padawan Jedi, depois com Dao
Stryver. Darth Chratis estava descontente pela sua incapacidade de matar
qualquer um do seus inimigos, e sentiu a sua vontade febril enrolando-a
novamente, mas continuou sem hesitar. O seu destino repousava em
convencê-lo do valor dos hexagonais.
— Droides, — ele respirou. — Lema Xandret era uma fabricante de
droides.
— Isso certamente confirma, sem sombra de dúvida, que a Cinzia estava
conectada a ela. Mestre, não é?
— Você tem alguma outra evidência?
Afastou uma lembrança dos implacáveis gritos dos hexagonais.
— Eles sempre me atacaram primeiro, como se possuíssem um
ressentimento embutido nos Sith. Caso contrário, eles só atacavam quando
são atacados ou se o seu caminho fosse impedido.
— Sugestivo de fato. Você diz que o Mandaloriano tinha o parâmetro
deles, como se ele já tivesse visto a sua espécie antes?
— Ele se conteve até ficar claro que os hexagonais iriam escapar.
— Acho isso muito interessante também.
— Os Hutts claramente não faziam ideia do que haviam encontrado,
Mestre. Eles poderiam tê-lo vendido apenas pelo valor do material, se não
tivesse sido ativado.
— Você acha que a sua presença provocou algum tipo de despertar?
— Não, Mestre. Era uma questão de conveniência. A fábrica de
sementes permaneceu relativamente quieta até as circunstâncias declararem
que essa tática era impraticável. Depois se mudou para outra tática. Se o
leilão tivesse sido realizado uma semana depois, acredito que os hexagonais
teriam escapado sem controle para a biosfera de Hutta, e dali voltariam para
casa.
— Para relatar, eu presumo.
— Sim Mestre.
— Você pode recuperar a rota deles dos restos que você trouxe aqui?
— Eu pretendo, Mestre.
— Vou esfolá-la viva na frente do Conselho Sombrio, antes que eles me
matem.
— Sim Mestre.
— Humilhar-se diante de mim, — ele disse a ela, — e jure que o
pensamento que vejo em sua mente não é outra razão para eu te matar
agora.
Congelou. Tudo o que estava pensando era que os hexagonais lutavam
tanto quanto lutavam contra os seus inimigos... mais difícil, de fato, porque
era uma Sith. Certamente, em vez disso, eles deveriam tê-la reconhecido e
detido. Afinal, Lema Xandret havia criado os dois. Ela até nomeou a nave
em homenagem à filha. Eles deveriam ser seus aliados, não os seus
inimigos.
Darth Chratis manteve a sua mente como um ovo, pronta para rachar
com um pensamento.
Fez exatamente o que ele disse, pressionando-se de bruços no chão de
metal frio para reafirmar a sua lealdade a ele.
— Eu continuo sendo a sua serva de confiança, — disse ela. — Eu sou
sua para matar, se você achar conveniente.
Esperou, mal ousando respirar, e gradualmente a pressão diminuiu.
— Você viverá, — seu Mestre disse a ela, — por enquanto. Encontre-me
a localização desse planeta. Se você me falhar novamente, não mostrarei
piedade. Você me entende?
— Sim Mestre.
— Saia.
Ela foi.
Somente quando teve certeza de ter alcançado uma distância segura,
atreveu-se em pensar: Você não pode esperar piedade de mim, Mestre, no
dia em que as nossas posições forem revertidas.
NO SEGUNDO EXATO que o kit médico apitou para dizer-lhe o
seu trabalho foi feito, Larin deslizou a metade mão livre e se dirigiu para se
refrescar. Estava cansada e doía por toda parte, mas isso não podia esperar.
Havia apenas o que podia pedir por uma luva de autolimpeza. Um bom
banho era exatamente o que precisava.
Quando terminou, fez o que Ula havia sugerido e procurou nas malas
dele qualquer coisa que pudesse usar. Grande parte era de roupa formal e
ainda lacrada a vácuo em sua embalagem original. Muito disso também era
feito de tecido natural mais caro e, portanto, não passível de ajustes em
tempo real, mas Ula não era significativamente maior do que ela.
Eventualmente, encontrou calças azuis escuras e uma jaqueta combinando
com um corte militar. As mangas e pernas subiram para combinar com o
comprimento dela, e as outras medidas estavam bem apertadas. Com a luva
negra por baixo, ela quase parecia estilosa, exceto pelos machucados no
rosto e os dedos ausentes da mão esquerda.
Larin pensou no que havia dito a Ula que faria, e rejeitou isso. Estava
cansada, mas sabia que não seria capaz de dormir. A primeira coisa que
notou ao deixar o banho era que a nave não estava se movendo. Ainda
estava em órbita de Hutta.
Explorou o nível principal da Auriga Fire. Hetchkee estava
profundamente adormecido nos aposentos da tripulação e, como qualquer
bom soldado, não havia sido perturbado por vasculhar ao redor. As suaves
vozes masculinas que desciam as escadas da cabine pertenciam a Jet e Ula.
Todos os porões que enfiou a cabeça estavam vazios, exceto um.
Shigar estava sentado de pernas cruzadas, com as mãos cruzadas sobre o
colo e com os olhos fechados. O pedaço de prateado estava inocentemente
no chão, à sua frente. O seu rosto estava inexpressivo, mas podia sentir a
tensão irradiando dele como um som audível. Parecia que havia se sentido
meia hora antes: exausta, suja e espancada até a morte.
Foi buscar o kit médico.
— O seu braço, — ela disse quando voltou. — Como você vai conseguir
alguma coisa se você sangrar aqui no escuro?
Sem mover um único outro músculo, ele abriu os olhos.
— Não consigo fazer isso de qualquer maneira, Larin.
— Você sabe, que nunca será capaz de provar a verdade, — disse ela,
segurando o kit médico como um desafio. — Tudo o que você pode provar
é que parou de tentar.
— Mas se você me distrair...
— Isso não é a mesma coisa que desistir. Isso é se chama
reagrupamento. Eu sou o seu reforço.
A sua máscara de concentração finalmente abriu um leve sorriso.
— Eu felizmente trocaria de lugar com você.
— Eu também, — disse ela, levantando a mão machucada.
Ele pegou o kit médico dela sem dizer outra palavra.
Explicou a situação das roupas enquanto ele cuidava do braço. Ele
assentiu vagamente. Deslizou pela parede e sentou-se de costas contra ela.
Ele não a deteve. Pela luz que derramava pela porta aberta, ele parecia
muito mais velho do que achava que ele era.
— Todo mundo está esperando por mim, — disse ele enquanto o kit
médico zumbia. — Não, só você e a Mestra Satele. O Comandante
Supremo Stantorrs, centenas de soldados e pilotos de caça estelar, toda a
República, esperando que eu faça algo que nunca fui capaz de fazer. Não
corretamente, de qualquer maneira. Vem e vai. Não é confiável. Posso lhe
dizer de onde veio a sua armadura, mas essa coisa...?
O pedaço do ninho de droide brilhava impassivelmente de volta pra ele.
— E a minha armadura? — Ela disse.
— Uma vez, quando eu a escovava, recebi um vislumbre do seu antigo
dono. Ela era uma franco-atiradora de Tatooine. Ela recebeu uma medalha
por eliminar um chefe local da Bolsa.
— O que aconteceu com ela?
— Ela não morreu na armadura nem nada, se é com isso que você está
preocupado.
Larin assentiu, sentindo uma pequena quantidade de alívio.
— Talvez ela tenha sido promovida para fora da área e levado a
armadura com ela. Isso acontece, às vezes.
— Mas ela vendeu, — disse ele. — Ela precisaria tanto de dinheiro?
— Seus filhos podem ter. É uma armadura antiga, Shigar, a última em
ação antes do Tratado de Coruscant. Vou dizer-te que ela me deu muito
trabalho para colocá-la na forma que estava.
— Você poderia ter comprado uma nova armadura a qualquer momento,
— ele disse, — mas não queria. É um símbolo que substitui a todas as
coisas que precisam ser consertadas.
— É isso que você acha?
— É só um palpite.
O seus olhos verdes a observavam sem piscar. Às vezes, sentia que eles
a olhavam diretamente. Às vezes gostava desse sentimento. Às vezes não.
— Você está pensando demais, — ela lhe disse.
— Foi pra isso que fui treinado.
— Tenho certeza que não foi. Tenho certeza que a Grã Mestra treinou
você pra pensar apenas o suficiente, e não mais. Mas a lição ainda não
chegou ao fim porque as pessoas só aprendem da maneira mais difícil. E é
aí que você está agora. Absolutamente preso, em um lugar difícil. Certo?
Ainda assim, ele não desviou o olhar.
— Talvez.
— Talvez nada. Você sabe que precisa fazer alguma coisa. Você sabe o
que é e sabe por que isso precisa ser feito. Mas você não pode fazer isso
porque está tão ocupado analisando bem isso e aquilo, certificando-se de
que está absolutamente certo. Muitos de vocês sabem que estão certos, mas
há uma pequena parte que quer pensar sobre isso mais uma vez. As razões,
o método, as consequências. Não importa. Como você pode planejar tudo
com antecedência e, em seguida, apenas sentar e assistir ao acontecimento,
tão perfeitamente que você nem precisa estar lá para fazer isso. As coisas
simplesmente vão acontecer por conta própria. Talvez você não precise
fazer nada se pensar o suficiente. Vale sempre a pena esperar por isso.
— Você está falando por experiência própria, eu posso dizer.
— Você pode apostar, — disse ela, mas depois parou. As palavras
tinham secado.
— Está tudo bem, — disse ele. — Não tem que me contar.
— Não, eu tenho. Eu preciso contar a alguém, um dia. Pode ser você
agora. Sentiu o rosto esquentar e se virou, esperando que ele não pudesse
ver. — Eu denunciei um oficial superior.
— Presumo que você tenha um motivo.
— O melhor deles. O sargento Donbar era corrupto. Mas isso não
mudou nada. Fui contra a cadeia de comando e o denunciei aos seus
superiores. Eles o esbofetearam e o dispensaram, mas o motivo disso foi
abafado. Sempre haviam pessoas que não acreditavam em mim, achando
que eu estava fazendo isso por ressentimento, mas por causa do segredo eu
não conseguia me defender. Ninguém quer que as Forças Especiais pareçam
ruins, e ele era tão ruim quanto parecia. Ele recebeu dispensa e,
eventualmente, eu desisti. Ficou muito desconfortável.
— Você se arrepende?
— Às vezes, — ela disse, pensando no Zabrak em Coruscant, — mas
isso precisava ser feito. Se eu tentasse capturar as semanas de agonia pelas
quais passei, eu realmente te aborreceria até a morte.
A pele ao redor dos olhos dele se apertou.
— E agora você acha que eu deveria me superar e fazer o que tenho que
fazer.
— Você não concorda?
— De modo nenhum. Encontrar um planeta que poderia estar em
qualquer lugar do Espaço Selvagem é um pouco diferente de fazer uma
denúncia, você não acha?
— Claro que é diferente. Você não perde todos os amigos que já teve, se
fizer a coisa certa. E você realmente treinou pra isso a maior parte da sua
vida. Lembre-se, Shigar, que você não precisou se arrastar do nada para
chegar onde está. Você foi escolhido a dedo de todos em Kiffu para ser um
Cavaleiro Jedi. Aconteça o que acontecer hoje, você voltará à vida que
conhece. Para que você possa fazer no seu próprio ritmo ou quando
precisar. Eu acho que só há uma escolha certa.
Ele desviou o olhar.
— Você veio me dizer que acha que eu tenho tudo de mão beijada. Isso
faz uma grande diferença. Obrigado.
O seu sarcasmo doeu. Larin não sabia por que o procurou, realmente,
exceto para tirá-lo do seu medo. Ficou surpresa com a profundidade dos
sentimentos e a dureza com que havia falado. Era difícil dizer quanto era
para o seu benefício.
— Tudo bem, então, — disse ela. — Vou deixar você com isso.
Quando se levantou, os seus joelhos praticamente tremiam de fadiga.
— Eu farei isso, — disse ele. — Preciso.
— Bem, faça isso em voz baixa quando o fizer. Vou dormir um pouco.
Não esperou por seu retorno rápido, se ele tivesse um. Deixando as
pernas trabalharem no piloto automático, foi para um beliche no quarto da
tripulação e estava dormindo antes de bater a cabeça no travesseiro.
SHIGAR OUVIU-A IR. Ele já se arrependeu da maneira como reagiu aos
conselhos e confissões dela combinados. Claramente, ela estava
desenvolvendo a última parte há algum tempo, e deveria ter demonstrado
mais compaixão. Mas estava tão envolvido em seus próprios problemas, em
sua própria bagunça egocêntrica, que não foi capaz de ver a ferida que ela
havia exposto a ele. Não a mão dela, mas a dolorosa separação de tudo o
que ela considerava querido.
Como se sentiria, perguntou a si mesmo, se precisava dar as costas à
Ordem Jedi? Era impossível imaginar a Mestra Satele fazendo algo
contrário ao Código em que vivia, mas famosos Jedi haviam caído no lado
sombrio antes. E se descobrisse que ela estava de fato trabalhando contra o
Conselho? E se soubesse que a palavra dela seria colocada contra a dele? O
seu senso de justiça seria forte o suficiente para fazer a ligação de qualquer
maneira, como a de Larin?
Uma vez teria certeza absoluta de si mesmo. Agora, depois de suas
negociações com Tassaa Bareesh, não tinha tanta certeza.
E ainda havia a questão do mundo misterioso, esperando para ser
resolvido.
O pedaço de ninho de droide brilhava impassivelmente de volta pra ele.
Larin estava certa em uma observação: ficar sentado pensando sobre isso
não o levaria a lugar algum. Durante todo o tempo em que esteve isolado no
escuro, nem tocou no pedaço prateado. Estava tentando e falhando em
colocar a sua mente no estado certo, acreditando que não havia sentido em
começar até que estivesse completamente pronto.
A fé de Larin em você não é injustificada. Talvez você deva ter fé nela
também.
Shigar lembrou como se sentira quando a Mestra Satele ordenou que ele
fosse a Hutta. Convidou Larin porque sentiu que ela precisava dele para
provar algo para si mesma. Ela estava cheia de tagarelice, mas sem um
senso claro de propósito. Agora entendia por que faltava o núcleo da vida
dela, e era ele quem precisava provar alguma coisa. Se não o fizesse, faria
muito pior do que decepcionar seu Mestre e a República. Ele falharia.
Existe apenas uma escolha certa.
Pegou a lasca de metal. Era frio e afiado ao toque. Se o colocasse com o
punho direito e o apertasse, certamente iria tirar sangue.
Envolveu-a com o punho e apertou.
O fundo sumiu do porão e ele estava caindo de repente.
O seu primeiro pensamento foi se agarrar a algo e se aguentar, mental e
fisicamente. Isso era totalmente diferente de qualquer informação
psicométrica que já havia recebido antes. Mas o que estava lendo desta vez
era diferente de tudo o que tentara tocar antes, então, lutar contra a visão
pode ser autodestrutivo. Talvez estar mergulhado no fundo do poço fosse
exatamente o que ele precisava. Preparou-se contra a onda de vertigem e
tentou tirar da experiência o que podia.
Queda. A princípio, parecia não haver nada além disso. Então notou
detalhes que lembram muito a estranha geometria azul do hiperespaço. Era
isso o que estava vislumbrando? A última jornada do ninho, ou a primeira?
Houve um clarão ofuscante, e parou com um empurrão. Tudo estava
escuro de novo. Vozes iam e vinham, indistintas demais para distinguir as
palavras. Elas eram elevadas, no entanto, como se estivessem em uma
discussão. Não conseguia distinguir rostos, localizações ou coordenadas.
Apenas um sentimento: que a coisa a que a tira pertencia estava
determinada a sobreviver.
A Cinzia, ele pensou. Estava investigando a história da fábrica de
droides, ao contrário. Possuía claramente uma autoconsciência rudimentar,
o que não deveria ter sido uma surpresa, uma vez que organizou sozinha a
criação clandestina de quatro droides avançados de combate sem ser
detectada. Mesmo que a maioria dos seus algoritmos internos fossem
automatizados, era preciso um certo grau de astúcia para saber quando ficar
quieto e quando se tornar ativo.
O brilho foi provavelmente a explosão que quase o matou.
Shigar queria se mexer novamente. O próximo salto seria aquele que o
levaria pra casa, para onde a fábrica de droides se originou. Mas a sua
ansiedade apenas fez com que a visão se desgastasse pelas bordas, e de
repente foi jogado de volta no chão duro do porão sem nada para mostrar a
experiência.
Sentou, respirando pesadamente e amaldiçoando a sua impaciência.
Quando abriu a mão direita, a tira descansava na palma da mão em uma
poça crescente de sangue.
O que havia feito dessa vez, comparado com todas as outras vezes antes,
que funcionou?
Conseguia adivinhar a resposta, e era incrivelmente simples. Não fez
nada de especial. Acabou de fazer. A Força passou por ele exatamente da
maneira certa, e o conhecimento que estava procurando havia chegado a
ele. Não exigiu nenhum grau em particular de concentração ou nenhum
trabalho mental sofisticado. Conseguiu porque poderia fazê-lo. Havia uma
boa chance dele nem sempre ter sido capaz de fazê-lo; tinha certeza de que
todos esses anos de treinamento não foram por nada. Mas em algum
momento, como Larin havia dito, todo o pensamento extra que fez sobre o
assunto havia sido desperdiçado. De fato, tinha sido contraproducente.
A próxima pergunta era: poderia fazê-lo novamente?
Não precisou perguntar. Não queria perguntar. O tempo para perguntas
terminou.
Transferiu a peça para a mão esquerda e apertou novamente.
Uma segunda visão do hiperespaço o envolveu. Caindo mais rápido
dessa vez. O túnel azul estava torcido, deformado. Sentiu-se tonto. Forças
misteriosas o puxaram, o sacudiram violentamente às vezes. Sentiu como se
estivesse descendo uma montanha íngreme e que a qualquer momento
poderia tropeçar e cair de cabeça no chão. À medida que a jornada da
fábrica de droides se desenrolava no tempo, ela o levou a um lugar
profundo e escuro.
Shigar não questionou a visão. Deixou que se desenrolasse em seu
próprio ritmo. O tremor piorou quando se aproximou da origem da Cinzia,
até que sentiu que poderia ser despedaçado.
Quando cessou, tudo ficou quieto. Sentiu uma sensação de regresso a
casa, mesmo que isso fosse certamente ilusório. A fábrica era uma máquina
e estava deixando o seu mundo natal, não chegando lá. Mas o sentimento
era persuasivo. Sentiu que pertencia ali, e que ali... onde quer que ali
fosse... era importante e precioso. Único. Shigar entendeu esse sentimento,
mesmo que nunca tivesse sentido isso por Kiffu, a sua terra natal. Shigar era
cidadão da galáxia por muito tempo para sentir laços estreitos em qualquer
lugar.
Mais uma vez pensou em Larin e ela mudou as circunstâncias. Ela
também havia feito grandes progressos em toda a República e além. Mas
agora ela estava presa em Coruscant, ou tinha estado até a chegada dele. Ela
nunca expressara qualquer infelicidade por seu relativo confinamento, mas
só podia imaginar como deveria ser.
A fábrica de droides sentiu como se pertencesse. De onde quer que tenha
vindo, que era onde queria estar. E Larin o matou.
Talvez, pensou, isso tinha sido misericórdia.
Mais vozes, desta vez com rostos embaçados. Homens e mulheres
humanos; Shigar não reconheceu nenhum deles. Conseguiu decifrar
algumas palavras, incluindo o furioso choro dos hexagonais. Estava sendo
gritado por um grupo de pessoas, incluindo uma mulher de meia-idade, com
cabelo loiro curto e olhos inteligentes. A sua mão estava levantada acima da
cabeça. Ela estava balançando o punho para o céu, mas não era um céu. Era
um telhado. Ela estava em um grande espaço com um tanque tubular no
centro, cheio de vermelho.
Shigar não lutou com a visão. Apenas disse: Eu quero estar dentro da
cabeça dela.
E ele estava lá. Foi envolvido por um fluxo turbulento de pensamentos e
impressões sensoriais. Caiu, um pouco admirado com o quão fácil tinha
sido. Nada disso havia acontecido antes. Talvez houvesse algo de especial
nela, nessa Lema Xandret.
Pois era de fato ela. Foi atingido por sua raiva. Encontrou força em sua
determinação de viver sem restrições. Ficou cansado com o entendimento
de que todas as coisas devem eventualmente ser comprometidas ou morrer.
Sentiu satisfação por todas as suas realizações. Chorou com o amor
misturado e a perda de uma filha.
Shigar olhou através dos olhos para o mundo que adotara por conta
própria e sentiu orgulho tingido de preocupação e um intenso desejo de
vingança.
Nós não reconhecemos a sua autoridade!
E lá estava, finalmente. Tudo o que procurava: o mundo denso e
metálico, rico em mudanças e vigor, onde ninguém o procuraria em um
milhão de anos.
Os olhos dele se abriram. Não sentiu a dor dos cortes nas palmas das
mãos. Havia esquecido as várias dores e dores do seu corpo, conquistado o
caminho mais difícil em Hutta. Sentiu apenas um grau de gratidão que
nunca havia experimentado antes, misturado com um poderoso senso de
conquista.
Levantando-se, correu para os aposentos da tripulação. Larin já estava
dormindo profundamente. Pensou em acordá-la para lhe contar as
novidades, mas controlou o impulso. Ela mereceu o seu descanso. Poderia
agradecê-la mais tarde.
Ula e Jet estavam na cabine. Subiu a escada e começou a conversar.
— Eu sei onde é!
— O mundo? — Perguntou Ula, olhando surpreso.
— Sim. Eu encontrei!
— Bom pra você, parceiro, — disse Jet. — Tem algumas coordenadas
para mim?
— Não exatamente, — disse Shigar, — mas posso descrevê-lo. Eu acho
que será bem fácil definir.
— Bem, ótimo. Estou muito cansado da vista daqui. Sente-se e vamos
começar.
Shigar sentiu um pouco de triunfo ao pensar no que os esperava.
— O quê? — Perguntou Ula, encarando seu rosto. — Existe algum
problema?
— Pode-se dizer que sim.
Os seus rostos caíram em uníssono quanto ele lhes disse.
Encontrar o planeta era uma coisa.
Chegar lá seria completamente diferente.
A ESPECIALISTA PEDISIC ERGUEU os olhos quando Ax
entrou na baía de quarentena. O espaço havia sido transformado. Grandes
equipamentos pairavam sobre a mesa de dissecação, conectados por cabos
grossos em grande parte às matrizes principais do processadores do
cruzador. Os restos do hexágono haviam sido espalhados como uma
delicada tapeçaria, revelando detalhes intricados de sua estrutura e função.
As paredes das células que o tornavam robusto e leve foram rosqueadas
com metal brilhante, sugerindo que eles desempenhassem funções
importantes, além de fornecer suporte interno. Ela viu vários globos do
tamanho de punhos, como ovos redondos e prateados aninhados contra
componentes mais familiares. As pernas foram removidas inteiramente de
juntas de aparência complexa e empilhadas como chifres de metal em uma
jarra de transparaço.
— Tenho muito a relatar, senhora, — disse o especialista. Ela arregaçara
as mangas e os braços estavam manchados de gosma marrom-escura até os
cotovelos.
— Então faça isso. — Ax estava com as mãos nos quadris em uma
extremidade da mesa. Foi generosa. A especialista tinha mais de uma hora.
Se Darth Chratis não tivesse sido tão coloquial em sua disciplina, Ax teria
voltado muito antes.
— Bem, a primeira coisa que posso dizer é que essa coisa, seja o que
for, não está concluída. — Pedisic selecionou uma ferramenta de ponta fina
dentre as muitas em torno do seu espaço de trabalho e apontou enquanto
falava. — Veja aqui: a sua rede neural foi interrompida antes da conclusão
de um conjunto completo de análogos reflexos. E aqui: há uma gama
completa de sentidos prestes a entrar nesta região dorsal, mas está
totalmente desconectada do computador central. O sistema de relatórios
cresceu apenas até aqui e ainda não se juntou aos dois.
— Você quer dizer que foi lançado muito cedo, antes de estar pronto?
— Há evidências que sugerem que continuava a se desenvolver depois
que saiu da fábrica que a construiu. Eu sugiro que essa coisa teria terminado
sozinha, com o tempo.
Ax se lembrou de como ferozmente a coisa havia lutado. E nem estava
completo!
— Como seria a forma final?
É impossível dizer. O banco de dados principal não contém um único
modelo. Em vez disso, existem muitos, com muitas formas transitórias. E
há também um componente biológico que acho muito intrigante. Esse
material marrom deve desempenhar alguma função, caso contrário não
estaria presente em tais quantidades. Talvez ele atue como um agente
aleatório, incentivando-o a se adaptar de forma mais fluida. É difícil de
analisar, no entanto, porque foi tão severamente confeccionado.
Ela olhou para Ax indicando incerteza, como se a culpasse pela
condição da amostra. Nesse caso, Ax era completamente inocente. Ou foi o
Jedi ou o Mandaloriano que fez esse trabalho por ela.
E de qualquer maneira, isso era irrelevante.
— Então você acessou o cérebro, então.
— Sim. Só nesse minuto.
— Quão inteligente isso era? Poderia pilotar uma nave, por exemplo?
— Não é provável, minha lorde, mas se fosse necessário, poderia mudar
a si próprio para que pudesse. Como pássaros, crescem novas partes do seus
cérebros na primavera para aprender novas canções. É apenas uma questão
de...
Ax acenou para ela em silêncio.
— Os dados são codificados?
— Naturalmente, mas o código é baseado em um sistema Imperial que
saiu de uso quinze anos atrás.
Quando Lema Xandret fugiu do Império, Ax lembrou.
— Eu vou quebrar logo. Não se preocupe, minha lorde. O fato da coisa
estar incompleta na verdade facilitou a entrada. Tudo o que tenho a fazer é
mapear a arquitetura e encontrar o caminho de volta...
Ax não prestou atenção aos detalhes. E não sabia que parecia
preocupada. Se essa especialista não pudesse fazer o trabalho, apenas
conseguiria outro que fizesse.
— Tudo o que quero saber é de onde veio essa coisa, — disse ela. — E
eu quero saber agora.
A especialista Pedisic assentiu.
— Sim, minha lorde. Com a sua permissão, vou retomar o meu exame.
Ax indicou com um movimento do dedo indicador que a especialista
deveria voltar ao trabalho.
Enquanto Ax esperava, passeava pelo espaço lotado, lendo dados brutos
e tirando as suas próprias conclusões. Nada do que viu contradizia as
opiniões da especialista, e havia muito mais a ser absorvido do que poderia
ter sido amontoado naquela conversa curta. Os globos continham os
principais processadores do hexágono, onde os dados sensoriais
convergiam, eram trocados e provocavam várias respostas ambientais. As
armas de cada mão eram pouco diferentes em princípio da tecnologia de
blaster padrão, mas notavelmente miniaturizadas e integradas a um membro
capaz de segurar e suportar peso também. Esse hexagonal não tinha um
sistema de camuflagem para analisar e, infelizmente, a defesa contra o
eletroespelho foi muito danificada para fazer engenharia reversa. Seções
inteiras do seu corpo foram fritos em cinzas.
— Eu hackeei o código, minha lorde, — disse a especialista.
Ax correu para espiar por cima do ombro. Percorrendo um holopad
havia uma lista de símbolos, os blocos a partir dos quais a mente do
hexágono e todas as suas ações foram construídas. Nenhum dos comandos,
regras de linguagem e algoritmos, no entanto, parecia remotamente familiar
para Ax.
— Eles controlavam o hexagonal? O droide, quero dizer.
— Sim.
— Podemos usá-los para controlar os outros?
— Receio que não. Esses comandos específicos são gerados no próprio
dispositivo, um sistema exclusivo e puramente interno para coordenar suas
várias partes. Cada droide teria um sistema diferente, então o que ganhamos
é apenas a linguagem desse droide, que agora está morto.
— Tudo bem, mas você já traduziu, neste caso?
— Sim.
— Então encontre o que estou procurando. O tempo é curto. — Tenho
um Mandaloriano a bater, ela disse baixinho, e se eu perder, você pagará
caro.
A especialista se inclinou sobre a seção do hexágono a qual havia
exposto, operando remotamente manipuladores capazes de realizar
medições menores do que qualquer humano poderia fazer. Os dados
rolaram vertiginosamente em todas as direções através do holopad, rápido
demais para Ax seguir. A sua cabeça logo doía de se concentrar demais em
algo que realmente não entendia.
— Você tem um minuto, — disse ela a especialista.
— Minha lorde, eu encontrei, — disse Pedisic. — Nome, coordenadas
do hiperespaço...
— Dê-os pra mim. — Uma repentina explosão de emoção a encheu. —
Agora!
Onde está você, mãe?
A especialista Pedisic relatou uma longa série de números. Ax fechou os
olhos, visualizando aproximadamente onde o local se encaixava no disco
galáctico.
Isso não existia. Era bem acima da Orla Central, no meio do nada.
Ax abriu os olhos.
— Você tem certeza de que é isso que está na cabeça?
— Positivo, senhora. Apesar de não fazer sentido, Não? Não há nada lá
fora. Nada mesmo.
Bem, Ax disse a si mesma que isso não era inteiramente verdade. Havia
anãs frias e gigantes gasosos órfãos e todo tipo de bestas estelares estranhas.
E era um mundo ainda não descoberto, adequado para fabricantes de
droides traidores, fugindo dos Sith. Não era irracional que as pessoas
desesperadas para manter um local secreto pudessem ter desviado os
parsecs do seu caminho para ocultar qualquer chance de perseguição.
Mas o que levou Lema Xandret a esse paraíso isolado em primeiro
lugar? O que a havia encorajado a olhar nessa direção? As chances dela
pegar uma nave em um salto longo para lugar nenhum e simplesmente
chegar a um mundo habitável eram mínimas.
— Execute as coordenadas através dos registros Imperiais, — disse ela a
especialista. — Acho que vamos encontrar algo lá.
A solicitação foi enviada aos bancos de dados da nave. Ax bateu o dedo
na mesa de dissecação enquanto esperava a resposta. Demorou mais do que
o esperado, e teve tempo suficiente para observar o quanto o resíduo
orgânico confeccionado parecia sangue seco...
Com um toque, o holopad produziu uma única linha de informação.
— Agora, isso é realmente impossível, — disse a especialista.
— Tente novamente.
A especialista repetiu o procedimento do zero, extraindo os dados
incorporados e inserindo-os nos registros.
O mesmo resultado voltou.
— Deve ser um blefe, — disse a especialista. — Um local falso para nos
despistar.
— Acho que não, — disse Ax.
— Tudo parece errado, mas isso me diz que devemos estar certos. Eu lhe
disse que encontraríamos algo, não foi?
— Mas é um buraco negro, — disse a especialista.
— Eu sei. Eu posso ler com os meus próprios olhos.
Ax sentiu como se aquela estrela distante e morta tivesse estendido a
mão e a agarrado com a sua gravidade irresistível. Estava absolutamente
certa de que era ali que encontraria Lema Xandret, a construtora de droides
que falava com a sua própria voz.
— Acho melhor você me dar o nome agora, — disse ela. — Vamos sair
assim que o curso for traçado.
ERA UM NOME DESPRETENSIOSO, Ula pensou enquanto
a Auriga Fire balançava ao seu redor, por uma colônia que não deveria
existir.
Sebaddon.
— Você sabe que somos loucos, não é? — Jet disse sobre o som dos
hiperdrives da nave. — Se a sombra da massa do buraco negro não nos
despedaçar, a sua gravidade nos sugará quando chegarmos.
— Traçamos o curso para considerar qualquer possibilidade, — disse
Shigar. — Nós ficaremos bem. Provavelmente.
— Vou tentar não pensar nisso, — disse Ula entre os dentes.
— Só estou tentando não vomitar, — disse Larin.
Ula girou em seu assento para olhar para ela. Piscou.
— Quanto tempo mais? — Shigar perguntou.
A sua calma confiante era irritante. Ula não sabia como Jet aguentava.
— Em algum lugar entre um minuto e nunca. Provavelmente o último.
A nave rangeu da ponta a outra como se algo a tivesse agarrado em cada
extremidade e torcido. Ula agarrou os braços da cadeira e fechou os olhos.
Não era pra isso que havia se inscrito. Ser um informante deveria estar
sentado nas sombras, roubando informações e tramando o estranho
assassinato. Não era lutar contra droides assassinos, ser torturado por
Mandalorianos ou mergulhar de cabeça num buraco negro. Era o que os
Agente Codificador faziam.
Uma mão forte agarrou o seu cotovelo. Os olhos dele se abriram.
— Não se preocupe, — disse Larin. — Nós vamos conseguir.
Assentiu e forçou as mãos a soltarem a cadeira. Deixe-a pensar que
estava seguro, quando na verdade era exatamente o oposto. A revelação
psicométrica de Shigar elevou a sua fé nele a novas alturas, embora
houvesse uma nova tensão entre eles agora, como se o relacionamento deles
tivesse mudado fundamentalmente. Isso, Ula pensou, pode ser a coisa mais
irritante sobre sua situação.
Afastou-se a mão. A mão boa dela. A que foi cortada pela metade pelos
Sith estava envolta em uma luva mecânica, uma luva em forma de pá que
lhe permitia agarrar um pouco mais. Essa era toda a extensão das provisões
protéticas da Auriga Fire.
A nave cambaleou novamente. Clunker avançou, bamboleando e
balançando, e passou um cabo de sua barriga até o console principal.
— O que ele está fazendo? — Ula perguntou.
— Sincronizando a sua mente com o computador da nave, — disse Jet,
passando pela carcaça surrada do droide.
— Você está deixando ele pilotar a nave?
— Ele tem a cabeça no lugar e o seu tempo de reação é muito mais
rápido que o meu.
Como se fosse para refutar a afirmação de Jet, a Auriga Fire se inclinou
assustadoramente para estibordo, depois voltou a bombordo. Ula foi jogado
no cinto de segurança, mas de alguma forma o Clunker conseguiu ficar de
pé e ligado.
Um momento depois, o voo da nave se acalmou. As vibrações
diminuíram; as queixas do hiperdrive e do casco recuaram para o fundo. O
nó de tensão no estômago de Ula começou a relaxar.
— Tudo bem, — disse Jet, apertando os botões. — Estamos chegando
agora. Aguentem!
Ula endureceu novamente quando as texturas distorcidas do hiperespaço
recuaram. Normalmente, uma visão esticada pela velocidade das estrelas
tomaria seu lugar, mas aqui, nas margens da galáxia, elas apontavam para o
relativo breu. Somente a luz luz das ilhas estelares distantes existia para ser
distorcida pelo movimento da nave.
Com um estômago revirado, a Auriga Fire voltou ao espaço real e o
tremor foi retomado.
Jet desligou os hiperdrives e colocou os repulsores no máximo. Ula foi
pressionado em seu assento quando a nave surgiu. Sensores varreram o céu
à frente, revelando vistas nunca vistas por ninguém além de Lema Xandret
e os seus companheiros na história da galáxia.
Era muito mais leve do que Ula esperava. Essa foi sua primeira
impressão. Enquanto a nave se aproximava e o buraco negro apareceu, viu
não uma sombria ausência de luz, mas dois jatos amarelos brilhantes
esguichando dos dois polos da singularidade. Isso foi o que restou da última
refeição do buraco, uma estrela morta, talvez, ou uma gigante gasosa
solitária que teve a infelicidade de cruzar o caminho com esse monstro sem
fundo. Como se alguém tivesse enfiado muita comida na boca de uma só
vez, parte da refeição esguichou de volta ao espaço, brilhando como tochas
celestes contra o pano de fundo da galáxia.
A segunda coisa que Ula notou foi a própria galáxia. A nave e os seus
passageiros estavam longe o suficiente do disco habitado da galáxia para
que pudessem vê-la de fora. Um belo espiral com uma protuberância central
e gorda, ocupava quase metade do céu. Quando apareceu, Ula esqueceu as
suas ansiedades por um momento e não experimentou nada além de
admiração ofegante. Cada nebulosa, aglomerado e abismo lhe foi revelado
com mais clareza e beleza do que qualquer mapa poderia mostrar. Era
difícil acreditar que algo tão sublime pudesse ser o local de tanta guerra e
sofrimento.
— Existe o planeta, — disse Jet, tocando os seus instrumentos como um
maestro.
— Sebaddon? Onde? Shigar espiou a vista espetacular.
— Lá. — Jet indicou uma tela. Ula não viu nada além de um ponto.
— Está mais longe do que eu esperava. Vamos dar a volta no buraco e
pegá-lo na subida.
— Isso é seguro? — Ula perguntou.
— Relativamente. Contanto que não cheguemos muito perto.
Ula não quis perguntar: Em relação a quê?
Shigar estava observando a tela.
— Nenhum sinal de outras naves, — disse ele. — Há uma pequena lua.
— Como poderia ter uma lua? — Perguntou Hetchkee do banco atrás de
Ula.
— Como poderia estar aqui? — Acrescentou Larin.
— Um buraco negro vai te matar se chegar muito perto, — disse Shigar,
— mas não se você estiver a uma distância segura. As coisas podem
facilmente orbitá-lo. Sebaddon, ou qualquer pedaço aleatório de lixo que
está agarrado ao longo dos anos, ou nós.
A maneira como a nave estava agitando não fez Ula se sentir
remotamente seguro.
— E o calor? — Ele perguntou. — Esses jatos são quentes, mas não tão
quentes.
— À medida que o planeta orbita, a gravidade do buraco vai se esticar e
apertá-lo, impedindo a solidificação do seu núcleo. Aposto que veremos
vulcões quando nos aproximarmos. Deve ser isso que está trazendo à
superfície todos os metais raros, e também dióxido de carbono, o que
também ajudaria a manter a atmosfera quente.
Os jatos estavam ficando visivelmente maiores à frente. Clunker
permaneceu conectado. Sebaddon ainda estava invisível a olho nu, e Ula
desistiu de procurá-lo.
Um alarme soou.
— Naves, — disse Jet, — atrás de nós, exatamente de onde saímos.
— A quem eles pertencem? — Perguntou Larin.
— Espere até termos dado a volta. Então eu poderei lhe contar.
A tela se dissolveu em estática, à medida que caíam mais fundo no
campo magnético assustadoramente intenso do buraco negro. Um cheiro de
ozônio encheu a cabine. Qualquer coisa que contenha ferro começou a
vibrar em um tom irritantemente alto.
Não havia senso de peso, porque eles caíam livremente ao redor do
buraco, usando a sua força gravitacional para lançá-los para onde o planeta
estava orbitando. Ainda assim, Ula sentia como se estivesse sendo esticado
e espremido simultaneamente, como Shigar havia descrito ao falar sobre o
planeta. Efeitos das marés, eles eram chamados. Os seus pulmões lutavam
para aspirar ar suficiente, e manchas roxas dançavam na frente do seus
olhos.
Então eles passaram e a pressão começou a diminuir. Caiu de volta na
cadeira, suando pesadamente e agradecendo ao Imperador por ainda estar
vivo.
— Certo, — disse Jet, — essa é a parte mais difícil. Obrigado, Clunker.
Sebaddon chegando a frente. Faremos a inserção orbital em cerca de um
minuto. Quanto àquelas naves... — Ele examinou os visores do sensor
revividos.
— Conto quinze, com códigos de identificador da República. Stantorrs
deve ter movido a própria Coruscant para trazê-los aqui tão rápido.
Shigar assentiu. Estava claro que ele também estava impressionado.
— Nenhum sinal de Stryver?
— É o que dizem os videoscópios.
— E o Império? — Perguntou Ula.
— As únicas naves aqui são aquelas quinze e nós, — disse Jet.
— Como os Sith saberiam para onde ir, afinal? — Perguntou Larin. —
Eles não tinham o computador de navegação.
— Eles podem ter pensado em outra coisa, como nós, — disse Ula,
tentando manter as suas esperanças, mesmo que tenha formulado isso como
um aviso. — Melhor não subestimá-los.
— De fato, — disse Larin. — Aí está, — acrescentou ela, apontando
através das portas de avanço.
Ula esticou o braço para ver.
Sebaddon era um mundo pequeno, marcado pela atividade tectônica,
exatamente como Shigar havia previsto. A sua superfície variava de basalto
cinza a manto vermelho brilhante exposto à atmosfera por constante
movimento da placa. A atmosfera era densa o suficiente para respirar e
mostrava sinais de nuvens e precipitação. Não haviam oceanos, apenas as
superfícies brilhantes ocasionais nas partes mais frias do planeta que
poderiam ter sido lagos.
— Se isso é água, — disse Larin, — a superfície pode realmente ser
habitável.
Perto de um dos "lagos" havia um aglomerado de fontes luminosas de
radiação, indicando algum tipo de cidade. Em outros lugares do globo,
haviam outros pontos positivos, possivelmente minas ou assentamentos
menores.
— Alguém esteve ocupado, — disse Jet. — Há quanto tempo eles estão
aqui?
— Nós não sabemos, — disse Shigar.
— Eu acho que vinte anos, assumindo apenas um pequeno grupo para
começar. A infraestrutura é irregular e há alguns lugares para os quais eles
ainda não se espalharam.
Jet apontou para a tela enquanto falava. Não haviam naves em órbita ou
satélites. A pequena lua estava completamente intocada.
— Você quer que eu os cumprimente? — Ele perguntou.
— Não, — Shigar disse a ele.
— Espere a Mestra Shan chegar. Ela deveria ser a primeira a fazer o
primeiro contato.
— E Ula? — Perguntou Larin. — Ele é o enviado da República.
— Sem ofensa, — disse Shigar, virando-se para falar diretamente com
Ula, — alguém superior a nós dois deveria lidar com isso. Espero que
entenda.
— Completamente, — disse ele, com graça fabricada. Teria preferido
estragar uma abordagem da República ao mundo valioso, na esperança de
que as propostas do seu inimigo fossem repelidas. Mas não havia como
argumentar sem levantar suspeitas. Teria que esperar um pouco e esperar
que outra oportunidade surgisse.
A Auriga Fire deslizou ordenadamente em uma longa órbita polar ao
redor de Sebaddon, e os motores da nave ficaram abençoadamente
silenciosos. Clunker se desconectou e voltou ao seu lugar no canto. Faziam
horas de barulho e confusão desde que começaram o último salto, e Ula
ficou profundamente feliz por ter terminado.
Jet compartilhou claramente os seus sentimentos. O contrabandista se
levantou e bateu na blindagem acima dos painéis de instrumentos.
— Qual é, — ele murmurou. — Eu sei que está aqui em algum lugar...
Um painel escondido se abriu e ele deslizou a mão pra dentro.
— Ah! Aqueles Hutts que não conseguiram encontrar tudo, graças aos
deuses.
A mão reapareceu, segurando uma garrafa delgada de líquido dourado.
Jet quebrou o lacre e deu um gole.
— Mais alguém quer brindar? Para torná-los vivos, apesar dos
passageiros malucos e orientações não confiáveis?
O comportamento de Jet foi amplamente ignorado. No momento, todos
os olhos estavam na flotilha da Mestra Satele que se aproximava. Como Jet,
havia escolhido contornar o buraco negro em vez de tentar se afastar contra
a sua atração considerável. As vastas forças que atuavam nas naves eram
muito mais aparentes do lado de fora. Ula ficou chocado com as
velocidades que alcançaram nos pontos mais próximos do buraco negro.
Um deles não conseguiu fazer a inserção correta e desviou apenas uma
fração do curso. Instantaneamente, o buraco o agarrou, jogando-o de ponta
a ponta na boca aberta. Desapareceu como um grito de raios-X.
Uma a uma, as quatorze naves restantes saíram do outro lado, abaladas,
mas intactas.
— Veja se você pode contatá-los ainda, — disse Shigar. — Palavra de
chave falcão-morcego.
— Vai dar. — Jet tampou a garrafa e guardou-a antes de voltar para o
local. — O subespaço de longo alcance é embaralhado pela singularidade,
então você não pode ligar pra casa, mas poderemos abrir transmissões de
curto alcance com eles em um momento ou dois.
— Estranho pensar que tudo poderia acabar em alguns minutos, — disse
Larin enquanto Jet tentava saudar as naves que se aproximavam.
— Quero dizer, Stryver perdeu o interesse ou caiu no buraco. O Império
não faz ideia de onde fomos. Enquanto a Mestra Shan entra em contato com
Lema Xandret, o nosso trabalho está concluído.
— Você esqueceu dos Hutts, — disse Ula. — Se eles colocaram um
dispositivo de retorno na nave, em breve nos rastrearão.
— Só se eles estiverem procurando o sinal na direção certa. E quem
pensaria em procurar aqui em cima? É o esconderijo perfeito.
Jet tinha razão, mas Ula não queria admitir. Uma vez que Sebaddon
fosse anexado pela República, não havia nada que pudesse fazer, além de
relatar a posição do planeta enquanto retornasse a Coruscant, muito depois
que a questão de sua propriedade tivesse sido resolvida. A sua missão
estava à beira do fracasso total e não parecia haver muito o que pudesse
fazer sobre isso.
— Esse Mandaloriano me pareceu bastante sagaz, — disse Hetchkee. —
Não consigo vê-lo caindo em um buraco negro, a menos que ele tenha sido
empurrado.
— Eu sou da mesma opinião, — disse Shigar. — Seria imprudente supor
que vimos o fim dele.
— Peguei ela, — disse Jet, voltando a sentar-se em satisfação. —
Continue, Grã Mestra.
— Muito bom trabalho, Shigar, — estalou a voz de Satele Shan do
comunicador subespacial.
— Obrigado, Mestra. — O Padawan estava claramente animado pelo
elogio.
— O Comandante Supremo gostaria que você devolvesse o Enviado Vii
a Coruscant o mais rápido possível.
— Com a sua permissão, — disse Shigar, — gostaríamos de nos juntar a
companhia que trouxe com você e observar as negociações.
— Espere um minuto, parceiro, — disse Jet, mas Shigar o interrompeu.
— Estamos perseguindo Lema Xandret há tanto tempo. Parece uma
pena vir até aqui e voltar.
Ula não sabia o que pensava dessa perspectiva. Por um lado, não
esperava nada mais interessante do que disputas diplomáticas muito
familiares; por outro lado, não tinha pressa em relatar o seu fracasso a
nenhum dos seus mestres.
— Eu esperava por isso, — respondeu a Mestra Satele com o indício de
um sorriso em sua voz. O Coronel Gurin tem o comando da frota. Sugiro
que você entre na Segunda Companhia e substitua a nave que perdemos.
Espere um sinal táctico em breve.
— Obrigado novamente, Mestra, — disse Shigar, entregando o controle
do comunicador a um Jet Nebula infeliz. As instruções e a telemetria já
estavam fluindo da Auriga Fire para as naves que se aproximavam. Quando
Jet atualizava o computador de sua nave no sinal, ele se tornava parte de
uma entidade tática muito maior, não mais um agente livre.
— Anime-se, — disse Shigar para Jet com um sorriso. — Você
trabalhou para a República antes, não foi?
— Claro, mas só pelo dinheiro deles. Não pela glória ou pela diversão,
como você.
— Não vai demorar por muito tempo. Eu só quero ver isso.
— Você não está enganando ninguém, Shigar. Sei que não queres
cumprir o teu acordo com a Tassaa Bareesh.
Shigar puxou os cantos da boca, mas não disse nada para negar a
acusação.
O cruzador que a Mestra Satele ocupava passou por eles, como uma
pastilha de ouro que parecia enganosamente menor do que realmente era,
com uma nacela de comando saliente como uma picada de inseto da parte
traseira e um casco cravejado de bolhas de canhão de íons e turbolaser. Ao
esticar o pescoço, Ula conseguiu distinguir a telemetria que entrava na
Auriga Fire. O cruzador era chamado de Corellia. Reconheceu o nome nos
relatórios do Supremo Comando Stantorrs.
Jet entregou a sua nave ao comando da República. Logo eram apenas
uma das oito naves que obedeciam às instruções do Coronel Gurin. O
agrupamento de naves passou suavemente para uma órbita mais baixa,
alterando o curso e as atitudes com facilidade. As conversas alegres de
negócios como as de uma empresa encheram a comunidade, tanto
biológicas quanto droides. A postura em branco habitual de Clunker tornou-
se mais atenta. Ula também ouviu atentamente informações valiosas. Em
tempos tão tensos, os protocolos militares mudavam quase diariamente.
— Estou registrando atividade lá embaixo, — disse Jet. — Xandret e o
seu pessoal sabem que estamos aqui.
— Por que eles não estão dizendo nada, então? — Perguntou Larin.
— Talvez eles sejam tímidos.
— Que tipo de atividade? — Perguntou Shigar.
— Depósitos de calor, principalmente, talvez reatores sendo acionados.
Alguns se parecem com locais industriais, mas as suas assinaturas estão
fora de escala.
— Você está passando os dados para o coronel Gurin?
— Ele está vendo exatamente o que estamos vendo, a menos que esteja
admirando a vista em outro lugar.
A galáxia formou um belo cenário de cata-vento enquanto Satele Shan
fazia a sua primeira transmissão ao povo de Sebaddon.
— Meu nome é Grã Mestra Satele Shan, — disse ela, transmitindo em
todas as frequências, uma vez que as bandas mais usadas estavam
obstruídas pela radiação do buraco negro. — Não venho em nome da
República, mas venho em nome dos defensores da paz e da justiça em toda
a galáxia.
— O que isso quer dizer? — Perguntou Hetchkee.
— É conversa fiada dos Jedi, — disse Larin. — Ela não quer que os
sebadonitas pensem que estão prestes a ser invadidos.
— Mesmo que ela esteja montando à frente de uma frota de naves de
guerra da República?
— Mesmo assim.
Shigar levantou a mão pedindo silêncio. Ninguém respondeu, então
Mestra Satele estava tentando novamente.
— Temos motivos para acreditar que uma missão diplomática enviada
por Sebaddon foi interceptada antes de chegar ao seu destino. Não somos
responsáveis por sua destruição, mas desejo transmitir a vocês os nossos
mais sinceros pesares e compartilhar com você os dados que coletamos
sobre esse infeliz incidente.
— Mais atividade, — disse Jet. — Esses pontos quentes estão ficando
muito quentes.
— Tem certeza de que não são vulcões? — Perguntou Larin.
Ele não respondeu, e o povo de Sebaddon também não respondeu à
última mensagem de Satele Shan.
— Eles podem ser vulcões, — disse Ula, não querendo descartar
qualquer sugestão que Larin fizesse, mesmo que fosse uma piada.
— Faria sentido explorar a energia geotérmica em um mundo como este.
Se eles encontraram uma maneira de armazenar e liberar esse poder,
poderia ser o que estamos vendo aqui.
— Ou eles podem ser locais de lançamento, — disse Jet.
— Se eles estão enviando uma festa de boas-vindas, por que eles não
dizem isso?
— Pode não ser o tipo de festa de boas-vindas em que você está
pensando.
— Eu vim falar com Lema Xandret, — a Grã Mestra tentou pela terceira
vez. — Eu tenho motivos para acreditar que ela pode ser a sua líder.
Finalmente, algo quebrou o silêncio do planeta. A voz de uma mulher
veio das ondas do ar, estalando fracamente com interferência.
— Não temos líder.
— Muito bem, — disse Mestra Satele, — mas estou falando com Lema
agora?
— Pedimos apenas para sermos deixados em paz.
— Vocês não tem nada a temer de nós. Eu juro. Viemos conversar e
oferecer proteção, se vocês precisarem. Você não tem obrigação de oferecer
nada em troca.
— Nós não reconhecemos a sua autoridade.
A pele de Ula se arrepiou.
— Foi o que os hexagonais disseram. Ela soa exatamente como eles.
Shigar estava assentindo.
— Esta deve ser a Xandret. Os hexagonais compartilham a sua voz e as
suas filosofias porque foi ela quem os criou.
— Não queremos impor nenhum tipo de autoridade a você, — dizia
Mestra Satele.
— Pedimos apenas para sermos deixados em paz, — repetiu Xandret.
— Esses pontos quentes estão prestes a entrar em erupção, — disse Jet
em tom ameaçador.
— Dê-me a comunicador, — disse Shigar.
— Mestra, não acho que falar funcione. Ela é tão teimosa quanto os seus
droides. Sugiro encontrar outra abordagem.
A Grã Mestra já estava falando:
— Talvez eu possa falar com você pessoalmente. Isso pode nos ajudar a
alcançar a um entendimento. Apenas eu e meu Padawan, em um lugar de
sua escolha. A última coisa que quero é que você ou seus líderes se sintam
ameaçados ou intimidados...
— Não temos líderes! — Gritou Xandret. — Nós não reconhecemos a
sua autoridade!
— Aí vem eles, — disse Jet, chamando na tela vários flashes brilhantes
da superfície do mundo. — Eles parecem mísseis para mais alguém?
Ula olhou atentamente para a imagem. O seu conhecimento de
equipamento militar era irregular, mas os pontos que subiam rapidamente
tinham um ar letal. Para começar, eles se moveram rapidamente, acelerando
muitas vezes mais rápido do que a maioria das naves tripulados arriscaria
na atmosfera. Havia oito deles, longos e elegantes. Eles espiralaram como
fogos de artifício enquanto subiam, apresentando um alvo muito mais difícil
para as naves acima.
A Auriga Fire balançou embaixo dele, respondendo à telemetria da
Corellia. Como um todo, todos as quinze naves mudaram de rumo em
resposta à crescente ameaça.
— Aí está a sua resposta, — disse Larin. — Alguém definitivamente
está levando isso a sério.
— Certo, — disse Jet, — mas não vou prender a minha nave a ninguém
enquanto estiver sob fogo.
— Espere, — disse Shigar, mas já era tarde demais. Jet já havia rompido
a conexão de curta duração entre a sua nave e as naves da República. Com
um lampejo dos seus repulsores, a Auriga Fire se afastou da Segunda
Companhia e acelerou para uma órbita mais alta.
Atrás deles, as naves da República adotaram a formação de batalha, com
a Corellia no centro e as naves suporte em um tetraedro nítido ao seu redor.
Enquanto os caças lançavam do convés do hangar, seus canhões treinavam
nos alvos que se aproximavam. A Grã Mestra não disse nada, e a conversa
entre frota cessou.
— Entre na fila, Auriga Fire, — veio um pedido conciso do Corellia. —
Entre na fila!
Jet ignorou, mas manteve o sinal tático aberto.
— Isso não faz sentido, — disse Ula, pensando em voz alta.
— Se Xandret quer ficar tão isolada, por que ela quer conversar com os
Mandalorianos? Eu teria pensado que é exatamente a coisa errada a fazer.
— Talvez a Cinzia não representasse a todos aqui, — disse Larin. —
Talvez as pessoas que se explodiram fossem um grupo dissidente.
— E por que atacar ao invés de falar? — Ele perguntou, passando para o
próximo ponto de perplexidade. — Disparar sem provocação é loucura.
— Sem dúvida, — disse Shigar. — Eles praticamente assinaram a sua
própria sentença de morte.
Os mísseis rugiram para fora da atmosfera superior e atingiram a
primeira onda de fogo defensivo. Uma rede densa de pulsos de turbolaser e
torpedos de íons convergiu para os oito mísseis. O nariz de cada míssil
ativou um escudo defensivo não muito diferente dos vistos em uma escala
muito menor em Hutta. Espelhados, refletiam perfeitamente os pulsos de
laser e até desviavam um grande número de torpedos. O espaço entre a
Corellia e o planeta abaixo estava subitamente cheio de explosões.
Daquele estufado de gases quentes, apenas seis mísseis emergiram. Os
escombros dos dois que haviam sido atingidos caíram, seguindo o seu
impulso final. Pequenos pontos brancos brilhavam à luz dos jatos do buraco
negro.
Os seis mísseis atingiram outra onda de tiro defensivo. Os escudos
brilharam novamente, piscando em rápida sucessão... para economizar
energia, Ula assumiu. Os mísseis não eram grandes. Eles não podiam se
defender para sempre contra esse tipo de ataque.
Mas eles não precisavam. Quatro dos oito originais estavam agora perto
o suficiente das naves principais para constituir uma ameaça iminente.
Caças envolvidos, lançando os mísseis de todas as direções ao mesmo
tempo. Os escudos não podiam cobrir todas as abordagens possíveis. Três
mísseis vacilaram, com os seus sistemas de acionamento danificados e os
seus lados lançando nuvens de detritos. O último trovejou, mirando
diretamente para a Corellia.
O olhar no rosto de Shigar era doloroso de ver. A sua Mestra estava a
bordo da nave, e um míssil desse tamanho estava destinado a causar danos
consideráveis, talvez até destruir a Corellia completamente. Ula se
perguntou se ela estava correndo para um pod de fuga naquele exato
momento, na esperança de superar o seu destino.
O míssil sobreviveu à onda final de tiros defensivos e atingiu a Corellia
logo à frente do seu propulsor estelar.
Ula estremeceu automaticamente, esperando uma explosão gigante.
Nenhuma veio. O míssil atingiu o casco dourado com força suficiente
para abrir um buraco através dele, mas simplesmente desapareceu por
dentro. Uma rajada de ar e outros gases rugiram para fora do buraco.
Nenhum fogo. O míssil não explodiu.
As comunicações da frota se levantaram novamente, traindo uma nota
ligeiramente frenética. O Coronel Gurin estava no ar, assegurando a todos
que o cruzador estava intacto. Não havia mais lançamentos visíveis do
chão. O ataque de Sebaddon parecia ter fracassado completamente.
As nuvens de detritos dos sete mísseis caídos, ainda subindo em seu
próprio momento, começaram a chegar. Alguns deles eram pedaços de
cascos e motores rasgados. Grande parte consistia dos mesmos pontos
brancos que Ula vislumbrara antes. Eles brilhavam como flocos de neve na
luz do sol, flutuando pelas naves da República em correntes não
direcionadas.
— Podemos dar uma olhada mais de perto nessas coisas? — Ele
perguntou. — Se os mísseis não estavam cheios de explosivos, talvez não
fossem mísseis.
Jet obedeceu, concentrando os sensores da nave em um trecho próximo.
Os pontos brancos se transformavam em bolhas nadando como amebas
contra o céu escuro.
— Vou ver se posso aumentar a resolução, — disse ele.
A vista cristalizou. As bolhas se tornaram objetos hexagonais agitando
seis pernas delgadas.
Ula sentiu uma onda de alarme. Hexagonais. Milhares e milhares de
hexagonais.
— Afaste-nos deles, — disse Shigar. — Me ligue com o Coronel Gurin.
A visão mudou para mostrar uma das naves de ataque da República. Os
hexagonais eram mais fortes lá. Onde os hexagonais se encontravam, eles
ligavam braços e corpos para formar objetos maiores, cordas longas, redes
ou bolas desajeitadas. O cruzador flutuou entre eles, alegremente
inconsciente, mesmo quando os hexagonais flutuantes encontraram a
compra em seu casco.
— Tire essas naves de lá! — Shigar gritou no comunicador subespacial.
— Elas estão em terrível perigo!
A resposta foi crepitante e intermitente.
— ...interferência... por favor, repita... — Atrás de sua voz estava o som
de alarmes.
Ula olhou além de Shigar para onde a Corellia estava pendurado contra
o globo do planeta. O fogo vermelho agora lambia o aluguel deixado pelo
míssil. Em Hutta, quatro hexagonais quase derrotaram um Jedi, um Sith e
um Mandaloriano. Em Sebaddon, toda a carga dos hexagonais de um míssil
havia sido lançada no corpo de um cruzador. Só podia imaginar que tipo de
dano esses droides estavam causando em centenas entre as tropas comuns.
— Esqueça a Corellia, — disse Jet. — Temos que avisar os outros. —
Ele mudou o comunicador para a transmissão geral. — Aqui é a Auriga
Fire. Você está sob ataque. Use os seus caças e posicionamentos de armas
para limpar o seu casco. Em seguida, quebre a órbita e siga para o espaço
livre. Os mísseis contêm os hexagonais que vimos em Hutta. Eles vão
rasgar vocês se não se livrarem deles.
— Diga-lhes para ignorarem todos os pedidos da Corellia, — disse Ula.
— Se a rede estiver comprometida, os hexagonais podem semear
informações erradas ou algo pior.
Jet aceitou o conselho e passou para os outras naves. Só então Ula se
chutou por ajudar a República.
Mas não podia sentar e assistir milhares de pessoas morrerem. A
República venceu a corrida. Não havia nenhuma vantagem a ser adquirida
ajudando um abate.
Uma explosão de estática poderosa abafou todas as comunicações por
um segundo. Então uma nova voz falou do Corellia.
— Nós não reconhecemos a sua autoridade!
— Esses são os hexagonais falando, — disse Larin. — Eles assumiram o
controle.
— A Corellia está lançando pods de fuga, — disse Shigar, apontando.
— Temos que chegar mais perto. Os pods serão capazes de desviar dos
hexagonais melhor do que as grandes naves, mas precisam de um lugar para
se encontrar. Podemos dar a eles isso até que alguém mais chegue.
— Tudo bem, — disse Jet, de boca fechada. — Quero você e Larin nos
tri-lasers, mantendo o nosso caminho livre. Se apenas uma dessas coisas
chegar aqui, estamos todos mortos.
Shigar se levantou e desapareceu com Larin de volta aa nave.
— Ula, aqui em cima, — disse Jet, acenando para o assento do copiloto
vazio. — Hetchkee, você estará no controle do raio trator. Clunker, pare os
sinais da Corellia mexendo com os nossos sistemas. — O droide avançou
para se conectar novamente ao computador da nave.
Quando Ula trocou de assento, notou uma luz brilhante no painel de
instrumentos na frente de Jet.
— Isso é importante?
— Talvez, mas é uma coisa com a qual não temos tempo para nos
preocupar agora. — Jet apertou botões em uma sequência rápida no painel
de instrumentos. — Temos mais companhia.
Ula ajustou a sua tela de modo que ela apontasse de volta para o buraco
negro. À luz dos jatos, viu uma série de naves emergindo do hiperespaço.
Um grande cruzador e numerosas naves menores, dispostas em duas linhas
precisas. Reconheceu a configuração delas imediatamente, e uma onda de
surpresa tomou conta dele.
Naves Imperiais.
Mas como? Stryver tinha o computador de navegação. Eles devem ter o
rastreado e tirado dele. Isso explicaria por que não havia sinal do
Mandaloriano no sistema. A adrenalina fez o seu coração bater mais forte e
mais rápido. Sim, isso fazia sentido.
Mais do que como eles chegaram aqui, porém, a própria presença deles
significava que ainda havia esperança para uma vitória Imperial. Com as
forças da República em tal confusão, seria fácil invadir e subjugá-los.
Somente com dificuldade reprimiu um sorriso triunfante. Afinal,
Sebaddon se tornaria o prêmio do Império e a sua missão não teria
fracassado.
Então se lembrou onde estava e todos os pensamentos de vitória
desapareceram. A Auriga Fire estava ajudando a República. Se o Império
vencesse a República, ele estaria morto.
Assustado, olhou pra tela enquanto os motores Imperiais acionavam as
suas unidades e se preparavam para atacar.
AX AGARROU O CORRIMÃO de metal que separava o
posto de comando sênior do resto da ponte. Os nós dos dedos dela estavam
brancos. Nunca havia experimentado tanta turbulência no hiperespaço. Os
pilotos às vezes se gabavam de navegar pela Goela, rica em singularidades,
e contavam histórias de naves perdidas ali em circunstâncias bizarras.
Sempre pensou que eles provavelmente seriam exageros. Agora, no entanto,
lutando contra a influência de apenas um buraco negro, se perguntou se
tinha sido um pouco apressada em seu julgamento. Não lhe ocorreu
seriamente que poderia ser expulsa do universo por algo tão simples como
um acidente de navegação. Se este último salto de Circarpous V não tivesse
sido calculado com o maior grau de precisão possível ...
Com um gemido estridente, a Primordial voltou ao espaço real. Um
novo tipo de força imediatamente tomou conta do cruzador volumoso,
enviando a sua tripulação correndo para compensá-lo. Ax largou o corrimão
e ficou em pé, para que ninguém a pensasse que era fraca.
— Chegamos às coordenadas, Darth Chratis. — O coronel era tão magro
quanto um droide médico, e a sua expressão traía tanta emoção. — Todas as
naves estão contabilizadas.
— Muito bem, Kalisch. Mostre-me onde estamos.
As imagens dançavam ao redor deles, projetadas em enormes telas e
holoprojetores ao redor da ponte. Os jatos do buraco negro foram a primeira
coisa que Ax notou, esfaqueando como lâminas brilhantes longe de um
ponto central invisível. Pareciam olhos estreitados olhando de volta para a
galáxia com ódio.
Do lado de fora, o potencial da galáxia era completamente revelado a
ela. Com tantos sistemas sob o seu controle, o que não conseguia alcançar?
— Localizamos um planeta, — disse o coronel, transmitindo um
relatório entregue por um do seus muitos subordinados. — Acreditamos que
seja o chamado Sebaddon.
Ax reprimiu uma súbita onda de excitação. Não poderia revelar nada na
frente de seu Mestre: alívio, ambição, esperança...
As telas mudaram. Um mundo dilacerado e distorcido pelas forças
gravitacionais apareceu diante deles, embaçado pela distância.
— Milorde, — disse o coronel, — a rota mais eficiente em termos de
energia é ao redor do buraco negro. — Um mapa apareceu em uma das
telas, mostrando uma linha pontilhada passando pela singularidade e
subindo para encontrar o planeta em apogeu. — Sob o seu comando, darei
às ordens aos capitães da frota.
— Normalmente, eu prefiro a abordagem direta, — disse Darth Chratis,
olhando através das pálpebras com fendas para as vistas diante dele. — O
que é isso que eu vejo aqui? — Um dedo longo escolheu uma visão
particular.
— Picos de energia? Assinaturas de motores?
O coronel lançou um olhar frio e questionador para o pessoal da ponte.
— Parece que é uma batalha espacial, milorde, aventurou um deles,
permanecendo temorosamente no centro das atenções.
— Identifique essas naves, — latiu o coronel. — Quero saber quem as
enviou.
— Sim, senhor. — A garota que falou se sentou e começou a martelar
furiosamente em sua estação de trabalho.
Ax se perguntou quem poderia estar lutando aqui. Stryver tinha o
computador de navegação e ela tinha o único remanescente hexagonal
inteiro. Portanto, não poderia ser a República. Mandalore poderia ter
formado um exército tão rapidamente? O que poderia tê-lo despertado para
unificar o seu povo contra esse estranho posto avançado, em vez de um
inimigo mais plausível?
— Naves da república, senhor, — chamou alguém da equipe da ponte,
provando que ela estava errada.
— É definitivamente da República, e eles estão martelando, senhor.
Nenhum outro combatente visível, mas pode ter havido lançamentos do
solo.
Darth Chratis sorriu e Ax sorriu com ele. A República fez a sua jogada e
estava sendo rejeitada. Como seria mais fácil, então, entrar como salvador e
"libertar" o planeta, diretamente nos braços do Imperador!
— Nos leve, coronel Kalisch, — disse Darth Chratis. — Lance todos os
caças e prepare-se para a batalha.
— A essa distância, os nossos caças não seriam capazes de se libertar da
força gravitacional do buraco negro, — disse Kalisch, contrariando
suavemente a ordem. — No momento em que estiver seguro, milorde, vou
lançá-los.
— Muito bem, — assobiou o lorde Sith. — Isso vai ter que servir. — Ele
não estava acostumado a nada tão humilde quanto a física entre ele e seus
desejos.
— Potência máxima, todos os motores, — ordenou Kalisch à frota. —
Trave os cursos e prepare-se para participar!
A frota Imperial surgiu, esforçando-se para reverter o impulso
considerável que já havia ganho apenas por estar no poderoso campo
gravitacional do buraco negro. Os motores da Primordial rugiram e
estrondaram, lançando uma luz azul brilhante através daquelas naves que
vinham atrás dela. Os cruzadores mais leves se saíram melhor do que o
maciço cruzador volumoso e as suas naves de apoio mais pesados. Eles
alcançaram e começaram a seguir em frente.
Logo ficou muito claro que o conselho original de Kalisch havia sido
sólido. Em vez de ganhar velocidade ao percorrer o horizonte de eventos da
singularidade, impulsionado pela gravidade disponível gratuitamente, eles
lutariam para ganhar cada gota de Delta-V, arrancada dos motores com
grandes custos. O progresso deles foi dolorosamente lento. Ax podia sentir
a impaciência do seu Mestre aumentando, redobrando porque sabia que não
podia dizer nada, ameaçar ninguém. Esta foi sua decisão e a sua própria
responsabilidade. A equipe trabalhou ao seu redor em perfeita eficiência e
com o máximo esforço. Todos sabiam que Darth Chratis desabafaria a sua
frustração com a primeira pessoa a falhar com ele da menor maneira
possível.
Ax observou atentamente a telemetria de longo alcance, ansiosa por
aprender o que pudesse sobre as forças do planeta. O que viu a intrigou
profundamente. Não haviam naves além daquelas pertencentes à República.
Além disso, não havia nenhum ataque óbvio sendo conduzido a partir do
solo. Parecia que a frota da República não lutava contra nada.
Ainda mais estranho, as naves da República pareciam estar sendo
atacadas. Metade da frota parecia estar recuando, enquanto a outra metade
não fez nada ou impediu ativamente o resto. Enquanto ela observava, um
pequeno cruzador mudou repentinamente os seus discos, impulsionando-o
descontroladamente para outra nave, desintegrando os dois. Era como se
algo tivesse infectado metade da frota, deixando-a louca.
Darth Chratis estudou os mesmos dados com uma expressão
profundamente desconfiada. Ax se perguntou se ele pensava que era uma
armadilha. Mas com que finalidade? A República não poderia se beneficiar
com a destruição da suas próprias naves.
— Gostaria que eu saudasse uma das partes? — Perguntou o coronel.
— Não, — disse Ax.
Darth Chratis e Kalisch se viraram surpresos pra ela.
— Mestre, eu aconselho a não nos identificar explicitamente como
servos do Imperador, — disse ela. — Lembre-se de que somos o inimigo
aos olhos de Lema Xandret.
— Talvez a traidora harridan mude de ideia, — disse Darth Chratis, —
agora que esses tolos de vontade fraca a encontraram.
Com um clarão ofuscante, a nave capital da República explodiu,
lançando destroços em todas as direções. Ax protegeu os olhos contra o
brilho.
— Eles certamente não estão lutando muito, — disse ela. Metade das
naves da República havia sido destruída ou aleijada. O resto estava se
reagrupando e reconvocando os seus caças.
— Independentemente disso, a situação é clara. Sebaddon não é mais
um segredo. Xandret deve optar por se curvar à vontade do Imperador ou
enfrentar as consequências.
— Ela nunca vai concordar com a sua própria execução.
Darth Chratis a estudou com olhos frios.
— Naturalmente, não direi nada sobre o destino que reserva a ela. Pare
de questionar às minhas ordens. Coronel Kalisch, anuncie a nossa presença
aos cidadãos de Sebaddon e avise-os de que tomaremos posse do mundo
deles assim que limparmos os céus dessa ralé da República.
— Sim, milorde.
Ax voltou a estudar as telas. O padrão dos tiros das naves da República
parecia errado pra ela, embora ela não conseguisse identificar o que a
perturbava. Ainda não há lançamentos do solo, embora o infravermelho
tenha mostrado inúmeros locais de atividade. Ax assumiu que cidades e
fábricas seriam bombardeadas com certeza se Xandret resistisse. Os
instintos de Ax disseram a ela que a vitória não seria tão fácil quanto um
anúncio da intenção do Império de anexar o mundo, mas ao mesmo tempo
não conseguia ver como uma pequena civilização terrestre poderia esperar
prevalecer contra o terreno elevado do espaço. Mesmo que eles tivessem
uma arma misteriosa que deixava as naves e as suas tripulações loucas...
As forças da República devem ter sido pegas de surpresa. Então foi
forçada a assumir. O Coronel Kalisch certamente não cometeria os mesmos
erros que eles cometeram.
Nenhuma resposta veio do solo a saudação da Primordial. Além das
transmissões ilegíveis nas frequências da República, as bandas estavam
vazias.
— Eles nos ignoram, — disse Darth Chratis, — por sua conta e risco.
— Lançando caças em dois minutos, milorde, — disse Kalisch.
Ax já estava indo para a saída da ponte.
— Preparem o meu interceptor, — ela chamou por trás dela. — Vou dar
uma olhada mais de perto.
Levou um minuto para descer da ponte até o convés do hangar, mas
pareceu uma eternidade. O seu interceptor Mk. VII avançado havia sido
enviado de Dromund Kaas com o resto do material de Darth Chratis e
mantido totalmente abastecido, caso fosse necessário um lançamento
rápido. A equipe de terra o aqueceu e deixou pronto pra ela quando chegou
lá. As suas aletas salientes familiares a tranquilizavam de uma maneira que
nenhuma diplomacia enganosa poderia. Abdicando um traje de voo
completo, colocou um capacete sobre os dreadlocks, subiu a bordo e ativou
o computador de navegação. O qual mostrou a ela o curso projetado para as
muitas asas prestes a lançar ao seu redor. Ela desligou e traçou sua própria
trajetória.
As equipes do hangar recuaram enquanto os caças começaram a sair do
cruzador. Os lançamentos eram limpos e bem cronometrados, apesar da
ansiedade dos pilotos em se interagir. Ax entrou em sua formação com
facilidade, um elegante predador preto cercado por colegas de alcateia
dispostos, mas menores. Ouviu o comunicador enquanto monitorava a
disposição da frota, mas não respondeu.
Ondas após ondas de interceptors ISF pretos angulares saíam da
Primordial e das suas embarcações auxiliares. Elas eram facilmente
compatíveis com os caças XA-8 e PT-7 lançados pela República. Canhões
montados nas naves selecionaram alvos e se prepararam para disparar
contra as naves da República. O alcance era um pouco longo, mas o ritmo
ainda imponente das naves principais garantia uma base sólida para
disparar. Um tiro de sorte ou dois não era impossível.
À frente, o vasto campo de destroços deixado pela destruição do
principal cruzador da República estava se espalhando em alta velocidade.
Somente quando se aproximou, Ax percebeu o que a havia perturbado com
o comportamento das naves da República.
As naves sobreviventes estavam atirando na nuvem, não nas suas
próprias naves renegadas.
Afastou-se da ala que estava sombreando e se dirigiu diretamente para a
nuvem.
— Os seus alvos principais são as naves danificadas, — chegaram às
ordens da Primordial. — Caças inimigos secundários. Nós vamos enfrentar
o resto. Disparem à vontade.
O céu se iluminou quando uma nave menor da República explodiu.
Contra essa luz cruel estavam em silhueta de milhares de objetos
flutuantes, suspensos no espaço. Alguns estavam girando círculos; outros
eram pontas em fila. Todos eram instantaneamente reconhecíveis como
hexagonais, os droides que Ax havia lutado com Hutta, seus corpos
hexagonais regulares idênticos e sem rosto, exceto a escuridão total de suas
cápsulas sensoriais. Enquanto ela voava entre eles agora, eles a alcançaram
com pernas de aranha, disparando raios de plasma de suas armas de mão
para impulsioná-los para frente.
Naquele instante, entendeu.
— Primordial, reconvoque-se os caças imediatamente. Afaste-os desse
campo de entulho. Está cheio de hexagonais!
Disparou enquanto voava, destruindo um hexagonal a cada pulso do
canhão de íons do caça. Para cada um que matou, no entanto, mais três
apareceram em sua mira.
— Eles são só droides. — retornou a resposta da Primordial. — Que
mal eles podem fazer contra caças estelares?
— Me passe para o Darth Chratis, — ela retrucou. A cabeça de alguém
rolaria por isso. — Mestre, as naves da República foram infectadas com
hexagonais. É por isso que eles estão se autodestruindo e se transformando.
Não sei como a infecção ocorreu, mas o campo de detritos está cheio de
hexagonais. Nossa prioridade de segmentação deve ser eles primeiro,
depois as naves em fuga.
— Você quer que abandonemos a oportunidade de ouro de derrotar a
República para brincar de tiro ao alvo contra um punhado de máquinas? —
A resposta de Darth Chratis era cheia de desprezo. — As ordens do coronel
Kalisch permanecem.
Ax ouviu um dos tripulantes da ponte chamar no fundo:
— Lançamentos! — Ela olhou para sua telemetria e viu o que a
Primordial havia detectado.
Quatro mísseis estavam subindo da superfície de Sebaddon. Cheios de
hexagonais, ela aposta, e não explosivos convencionais. Além disso, todas
as naves da República infectadas que ainda eram capazes de voo controlado
estavam abandonando a perseguição das outras naves e se voltando para
atacar os Imperiais.
A transmissão imperiosa do coronel aos cidadãos de Sebaddon não havia
sido ignorada.
— Mova a frota, — ela disse ao seu Mestre. — Você será pego por eles
se você continuar nesse curso.
A Primordial não respondeu nem mudou de rumo. Uma onda de fogo
anti míssil estava surgindo para interceptar as ameaças ascendentes. Só
podia esperar que fosse o suficiente.
Ao seu redor, hexagonais enxameavam e agarravam os caças Imperiais.
Alguns haviam ligado os braços para formar redes e teias largas no céu.
Qualquer nave que se aproximasse demais era amarrada e esmagada. Outros
grupos de hexagonais formavam chicotes capazes de atirar hexagonais
individuais a velocidades incríveis. A própria Ax falhou dois desses
projéteis por apenas pequenas margens. Outros pilotos não tiveram tanta
sorte.
— Mirem nas concentrações maiores, — ela aconselhou aqueles que
lutavam ao seu redor. — Ignorem as naves infectadas. Se explodirem, só
teremos mais hexagonais em nossas mãos.
Não recebeu nenhum reconhecimento oficial das ordens, mas elas foram
obedecidas. Esquadrões interrompidos pela natureza incomum e hostil do
campo de destroços se reformaram para estreitar as mais densas
concentrações de hexagonais que puderam encontrar. Ax se juntou a eles,
tendo uma satisfação sombria toda vez que o seu canhão explodia uma
aglomeração tão grande.
Parte de sua mente prestou atenção ao campo de batalha mais amplo. Os
mísseis haviam realizado uma manobra surpreendente no meio da queima,
rompendo-se em quatro pedaços menores, cada um capaz de voar
independentemente. Agora, com dezesseis, eles escaparam da primeira onda
de tiros defensivos. Seis mini mísseis foram lançados na próxima onda e
mais cinco na terceira. Isso deixou cinco para atingir a frota intacta.
Ax estremeceu enquanto eles atacavam. Não houve explosões, como
previra. A Primordial estava intacta, felizmente, mas quatro das
embarcações de suporte maiores eram chances de se tornarem, se os
hexagonais ganhassem o controle. Pode haver apenas algumas dúzias em
cada mini míssil, mas isso pode ser suficiente, principalmente se eles se
infiltrarem nos sistemas de controle das naves.
Em retaliação, a Primordial lançou uma série de ataques terrestres
contra a origem dos mísseis. Ax esperava isso também. Em vez de guardar
as munições para se defenderem dos hexagonais que já possuíam, estavam
sendo potencialmente desperdiçadas com as pessoas que as enviaram. O
castigo poderia esperar, na opinião dela. Melhor estar vivo e com raiva do
que morto.
Voltou a sua atenção para os caças. O campo de destroços estava muito
mais claro do que tinha sido, restando apenas uma dispersão aleatória de
hexagonais individuais. As naves da República infectadas haviam chegado
e estavam acelerando de frente para a frota Imperial, fazendo o que temia
que fizessem assim que a segunda frota fosse identificada. Para o povo de
Sebaddon, para Lema Xandret, o Império era o inimigo número um; todos
os outros tinham que esperar a sua vez.
— Alvejem as unidades, — ela ordenou aos caças.
— Só as unidades. Não queremos separá-los, faça o que fizer. Temos
que evitar criar outro campo de entulho para a frota entrar.
— Como os destruímos, então? — Perguntou um dos pilotos.
— Deixamos a gravidade fazer isso por nós, — disse ela. — Uma vez
que eles não podem manobrar, o planeta ou o buraco os arrastará.
— Não são as ordens que estou recebendo do coronel Kalisch, —
protestou um líder de esquadrão.
— Eu sei disso. — A Primordial ainda estava preocupada que as naves
que se aproximavam pretendessem apenas atacá-los.
— Eu sou a única autoridade com a qual você precisa se preocupar, aqui
fora. O primeiro piloto que perfurar o casco de uma dessas naves recebe um
torpedo no dispositivo de pós-combustão. Entendido?
— Entendido. Tudo bem, você tem as suas ordens, pessoal. Vamos lá.
Os caças saíram em busca de novos objetivos.
Enquanto isso, a primeira nave Imperial infectada estava começando a
se comportar de maneira irregular.
— Mestre, peço novamente que mova a Primordial para uma distância
segura. — Onde a razão já havia falho, ela tentou lisonjear. — Se o
impensável ocorresse, ficaríamos sem a sua liderança.
— Talvez isso seja prudente, — concordou Darth Chratis.
Ax mal o ouviu. No fundo, enchendo a ponte da Primordial, uma voz
familiar gritava.
Mudou de canal para o que o coronel Kalisch usara para transmitir as
sua mensagens ao solo.
— Nós não reconhecemos a sua autoridade!
Por um instante, Ax pensou que a sua mãe estava transmitindo para as
naves Imperiais. Então percebeu... com algo que poderia ter sido uma
pontada de decepção... que a voz tinha a qualidade levemente de
inexpressividade de um droide. Por que de um droide e não da própria
Xandret?
Enquanto os caças atacavam as naves infectadas e a Primordial subia
lentamente em perigo, Ax considerou os prós e os contras de transmitir uma
mensagem ela mesma. Isso pode dar à mãe motivos para hesitar antes de
lançar mais hexagonais na frota Imperial. Mas o que poderia dizer àquela
mulher de que mal se lembrava, se estava viva? Eu sou uma Sith agora.
Não tenho família. Isso certamente não ajudaria.
Os ataques de retaliação lançados pela Primordial detonaram na
superfície do mundo infeliz. O que já era um ponto quente brilhante de
repente se tornou muito mais brilhante, e Ax se perguntou se a questão da
sobrevivência de sua mãe agora era completamente discutível.
Mais dois mísseis eram lançados de uma área de tensão completamente
diferente.
Então o primeira nave Imperial infectada explodiu, espalhando
hexagonais por toda a frota. Com a sobrevivência de sua própria espécie
agora em jogo, se forçou a se concentrar no que realmente importava.
AS POSIÇÕES DO CANHÃO tri-laser da Auriga Fire foram
para bombordo e estibordo. Eles se inclinaram levemente para cobrir cada
centímetro da nave e foram acessados por dois túneis apertados que
cheiravam a graxa.
Larin pegou a torre a bombordo e sentou-se no assento de couro rachado
com facilidade. A luva protética na mão esquerda era suficiente para
envolver o punho do canhão, enquanto a mão direita fazia os movimentos
delicados necessários para mirar e disparar. O próprio canhão operava sem
problemas, balançando livremente em seus giroscópios como se acabasse
de sair da fábrica.
Não era a primeira vez que notou a incompatibilidade entre a aparência
da Auriga Fire e a sua capacidade. Outra incompatibilidade dizia respeito a
sua instalação compacta do raio trator, recuado atrás de uma escotilha na
ampla barriga da nave. Era uma característica totalmente fora do padrão
para uma nave desse tamanho. Estava curiosa para saber quantas vezes isso
foi útil na busca pelo emprego normal de Jet, mas não achava que ele
admitisse nada. Por um momento, o brilho e o peso dos canhões eram tudo
o que a preocupava.
Uma rápida depressão do gatilho e uma teia de hexagonais se
contorcendo desapareceram em uma bola de gases.
— Isso é tão fácil quanto atirar lagartos-tocos em Kiffex, — ela chamou
Shigar por cima do seu comunicador montado na cabeça.
— Olhe aquele trio vindo de cima, — foi tudo o que ele disse.
Larin girou o laser triplo e os transformou em átomos.
— Não se preocupe com a Grã Mestra, — ela disse a ele. — Nós vamos
encontrá-la.
Ele tinha sido subjugado desde que a Corellia tinha sido detonada,
disparando hexagonais com velocidade e precisão letais. Dois terços dos
pods de fuga do cruzador agora eram contabilizadas, mas a Mestra Satele
não estava em nenhum deles. Shigar tentou transmitir em todos os canais,
mas o espectro eletromagnético estava uma bagunça. O que não estava
congestionado pelo buraco negro, pelos Imperiais ou pelas conversas em
pânico estavam cheias de hexagonais gritando. Era tudo o que o novo
comandante da República podia fazer para coordenar as naves maiores a
coletar com segurança os pods de fuga sem pegar hexagonais por acidente
também.
— Bem à frente, — disse Jet, da cabine. Um pod de fuga colidiu com
dois hexagonais que estavam no processo de cortar o casco fino do pod. A
Auriga Fire se aproximou para ajudar.
— Um pra cada, Hetchkee, — disse Larin enquanto o raio do trator se
apertava invisivelmente nos droides hexagonais. — O favoritismo é
fortemente desaprovado aqui.
Perguntou-se se o ex-segurança sabia que estava brincando. Um
hexagonal caiu para a bombordo, para Shigar atirar, enquanto o outro,
depois de uma luta prolongada, desviou-se dos olhos de Larin. Depois,
coube a Ula para dar as coordenadas dos ocupantes em pânico para o ponto
de encontro.
— Fiquem no canal que liberamos, — disse ele. — Não pegue nenhum
atalho.
— Foi horrível, — murmurou um jovem aspirante do outro lado da
linha. — De repente, haviam muitos deles, e eles se moveram tão rápido...
— Você está seguro agora. Apenas fique no canal e faça o que a capitã
Pipalidi diz.
— Sim, sim, e obrigada. Mais alguns segundos, nós teríamos sido
furados com certeza.
O pod disparou os seus retrofoguetes e seguiu na direção certa. Larin
esperava que os seus ocupantes ficassem bem agora. Vários foram
resgatados e, em seguida, entraram em conflito com os hexagonais
novamente, por má sorte ou mau julgamento. Um deles parou para resgatar
outro grupo em perigo, apenas para ser dominado por hexagonais
escondidos dentro. A Auriga Fire estava longe demais para ajudar, mas os
gritos se arrastaram.
A capitã Pipalidi, era o Anx no comando da Commenor e, por padrão, o
que restava da frota, tinha um trabalho difícil pela frente, distribuindo os
sobreviventes traumatizados pelas oito naves restantes à sua disposição.
Larin não tinha inveja desse trabalho, com as comunicações de longo
alcance embaralhadas e nada maior que um cruzador leve de assalto para
ocupar o lugar do Corellia. Mas pelo menos a lição foi aprendida: os
hexagonais podem não parecer muito individualmente, mas eram difíceis, e
em grande número deviam ser levados muito a sério.
— Há outro pod do outro lado da teia em frente, — disse Jet. — Você
acha que pode nos ajudar a passar?
Larin espiou pela mira. A teia era uma das mais densas que eles já
haviam visto até agora, com centenas de hexagonais ligados em uma
estrutura de múltiplas extremidades que lembra vagamente um hexagonal
individual, girando lentamente contra o pano de fundo do planeta abaixo.
Os membros chicotearam e estalaram, arremessando hexagonais em alvos
distantes e recolhendo substitutos da nuvem de detritos ao seu redor. O pod
que Jet avistara estava flutuando atrás do corpo principal, com os retro
propulsores danificados. A luz interior piscava rapidamente, indicando um
pedido de ajuda no código intermitente Mon Calamari.
— Facilmente, — disse Larin, sabendo que nada faria Shigar mais feliz
do que matar mais hexagonais. Exceto, é claro, encontrar a Grã Mestra.
— Vê essas concentrações perto do centro? — Disse Shigar. — Esse é o
melhor lugar para acertar. Retire-os e a estrutura se despedaçará.
— Afirmativo. — Larin flexionou as mãos reais e protéticas ao redor
dos punhos dos canhões, prontos para a ação.
— Lançamento, — disse Ula, enquanto a nave avançava.
Larin olhou para a telemetria apenas pelo tempo suficiente para um
olhar rápido do campo de batalha mais amplo. Foi dominado por vários
campos de entulhos sobrepostos na órbita baixa sobre Sebaddon, com o
maior entulho centrado no local onde a Corellia se separou. O segmento
"seguro" da frota da República e das várias dezenas de pods de fuga
estavam agora bem livres do perigo, reagrupando-se perto da lua rochosa do
planeta. A frota Imperial estava se dividindo em duas, enquanto as naves
não infectadas copiavam a tática de retirada da República. Dois esquadrões
de caças Imperiais estavam desativando os motores de várias naves, para
que não pudessem espalhar a sua infecção atacando ou detonando nas
proximidades. Larin aprovou a tática. Poderia ter sugerido a si mesma se as
naves da República infectadas não parecessem tão determinadas a atingir o
Império.
Os caças da República invadiram a seção não infectada da frota,
mantendo os hexagonais à distância. Desafiando a gravidade e a distância,
alguns conseguiram chegar tão longe. Se apenas um estivesse carregando
um ninho, a infecção poderia se enraizar novamente.
A sua mente se prendeu a esse pensamento, e por um instante voltou a
Hutta, encarando a fábrica de droides, E a lâmina Sith estava piscando
como um raio carmesim passando por seus olhos novamente. Seus dedos
caíram com o comunicador no chão de metal e um grito de dor ferveu em
sua garganta..
Piscou e voltou ao presente. O grito permaneceu.
Lançamentos, Ula havia dito. Ela se concentrou nisso.
Cinco mísseis estavam subindo pela atmosfera de Sebaddon, lançados
separadamente em grupos de dois e três. O primeiro emparelhamento foi
destinado às forças Imperiais. Os outros, ficou aliviada ao ver, não estavam
apontados em lugar algum perto da Auriga Fire ou do resto da frota da
República. Eles pareciam, de fato, estar direcionados a lugar nenhum.
Os possíveis motivos de Lema Xandret e dos seus seguidores saíram da
mente de Larin enquanto a Auriga Fire chegou ao alcance da gigantesca
aglomeração hexagonal. Fez o que Shigar havia sugerido, colocando raio
após raio no aglomerado interno mais próximo. Isso teve um efeito
satisfatório, a princípio. A defesa combinada do escudoespelho dos
hexagonais logo foi esmagada, e o aglomerado começou a parecer
decididamente esfarrapado, como uma lua cheia de crateras à beira do
colapso. Mas então, mais uma vez, os hexagonais demonstraram a sua
capacidade de se adaptar diante de uma ameaça.
O aglomerado se reorganizou em um tubo atarracado, com uma
extremidade plana apontando para a Auriga Fire. Larin disparou contra o
tubo, como é óbvio, e os escudos espelho voltaram à vida, pegando o raio
laser e canalizando-o pelo centro do tubo. O raio ricocheteou pra trás e para
a frente, juntando-se a outros que disparou depois dele, até que todo o tubo
começou a brilhar. Tirou o polegar restante do gatilho assim que o tubo
liberou toda a energia que continha em um único e poderoso pulso, voltado
para a Auriga Fire.
Mesmo através dos escudos invulgarmente poderosos da nave, o
impacto foi ensurdecedor. Larin se recostou na cadeira com um braço
cobrindo os olhos. Um instante depois, um segundo raio atingiu a nave,
criado pelas tentativas de Shigar de destruir o alvo. A Auriga Fire entrou
em uma queda selvagem, depois se endireitou com um empurrão.
— ...fogo! Cessar fogo! — Jet estava gritando.
— Tudo bem, entendemos. — Larin ajustou o fone de ouvido. — O que
devemos fazer agora? Fazer caretas até eles irem embora?
— Eu não sei, — ele disse, — mas não podemos sofrer outro golpe
como esse. Os nossos escudos estão abaixo de quarenta por cento
— Coloque os escudos na frente, — disse Shigar.
— Defina um curso para as coisas mais próximas do tubo. Quando eu
mandar, coloque a subluz a toda velocidade.
— Isso é loucura! — Disse Ula.
— Não, entendi o que ele quer fazer. — Jet trouxe a nave para enfrentar
o tubo que Larin havia disparado. Descargas brilhantes ainda faiscavam de
hexágono em hexágono, correndo em ondas pra cima e pra baixo ao longo
do comprimento do tubo. — Querem energia? Felizmente, lhes darei
energia.
A Auriga Fire saltou pra frente como se fosse para atacar. Os hexagonais
atiraram ineficazmente nos escudos dianteiros, e os braços da aglomeração
se curvaram para abraçar o atacante. As mãos de Larin estavam
incansavelmente nos controles dos canhões enquanto o tubo crescia
rapidamente à sua frente. Disse a si mesma que essa era uma situação em
que disparar definitivamente tornaria as coisas piores.
Em vez disso, fazia parte da bala e do gatilho ao mesmo tempo.
A Auriga Fire atingiu a extremidade aberta do tubo. O qual era
suficientemente largo para a nave caber no interior, fato pelo qual Larin
estava completamente agradecida: as bolhas dos tri-laser marcavam o ponto
mais amplo da nave. No momento em que ela e os seus passageiros foram
completamente encapsulados, Shigar gritou:
— Agora! — E Jet ligou a subluz no máximo.
Houve um momento horrível em que a nave se esforçou para avançar,
mas toda a força que produziu foi sugada pelo tecido de hexagonais
firmemente amarrados ao seu redor. Larin podia ver o efeito que isso
causava neles de perto. Os hexágonos se contorceram e tremeram, e
lentamente começaram a brilhar. Membros de metal queimavam como
magnésio queimando em oxigênio puro. Cápsulas sensoriais escuras
estalaram e os corpos hexagonais se esticaram. Não conseguia ouvir nada,
mas imaginou os hexagonais gritando.
Girar um raio laser de volta para o seu dono era uma coisa. Absorver
toda a energia necessária para acelerar uma nave estelar era outra
completamente diferente.
A Auriga Fire irrompeu para o outro lado, seguida por um rabo de azul
brilhante. O tubo hexagonal tremia e aumentava ao tentar conter a energia
que havia absorvido. Uma bola tão brilhante quanto um sol se formou em
seu coração, e Larin temia que pudesse realmente atirar nelas, destruindo-as
instantaneamente.
Mas então o tubo de hexagonais se curvou, pois a bola não explodiu
tanto quanto descarregou ao longo de toda a aglomeração. Milhares de
hexagonais se separaram em um instante, pulverizando o vácuo ao redor
com estilhaços exóticos.
— Ihaaa! — Gritou Larin, depois acrescentou com mais seriedade: —
Não vamos repetir isto nunca mais.
O pod de fuga sitiado e os seus ocupantes se viram inesperadamente fora
de perigo. Agora era simples pegá-lo com o raio trator e transportá-lo para a
segurança fora do campo de destroços, onde as outras naves poderiam
cuidar dele.
Enquanto a Auriga Fire se virou para procurar outro pod assolado,
Shigar disse:
— Espere.
— O que foi? — Ela perguntou, ouvindo uma nota de urgência em sua
voz.
— É ela. Mestra Satele está me ligando.
— Eu não estou recebendo nenhuma transmissão, — Jet disse a ele.
— Ela não está me chamando desse jeito. — Larin prendeu a respiração,
não querendo distraí-lo enquanto se concentrava no que estava recebendo
através da Força. — Vê aquele pedaço da Corellia ali, Jet? Vá nessa
direção.
— Vou fazer.
A Auriga Fire acelerou para um pedaço relativamente grande do
cruzador destruído. O fragmento oval torcido estava a aproximadamente
cinquenta metros abaixo do seu longo eixo e apresentava um acabamento
dourado em um dos lados, revelando que já havia feito parte do casco. Ele
caiu livremente por causa dos hexagonais, e parecia ser o foco de um
esforço combinado de remoção de metal de uma extremidade.
Larin se preparou para a ordem de disparar. Equanto o pod da Mestra
Satele foi visto, deixá-lo livre com segurança e rapidez seria a prioridade.
Depois:
— Não vejo nenhum pod, — disse Ula. — Você tem certeza de que este
é o lugar certo?
Não foi a primeira vez que o ex-enviado expressou dúvidas sobre as
habilidades de Shigar. Larin se perguntou se ele fazia parte do eixo no
governo da República que desconfiava dos Jedi e dos seus métodos.
— Tenho certeza, — disse Shigar. — Ela não está em um pod. Ela deve
estar em um compartimento pressurizado naquele pedaço.
— Eu posso preparar um anel de acoplamento, — disse Jet, — se você
puder identificar a localização dela.
— Não teremos tempo, — disse Ula. — Há hexagonais por toda parte.
— Você tem trajes para vácuo, não é? Vou pular até a abertura. — Disse
Shigar.
— Eu vou com você, — disse Larin.
— Não, — ele disse.
— Vou precisar de você no canhão, certificando-se de que eles não
venham a bordo. Deixe-me, recue e depois venha nos buscar quando
estivermos fora. Vou levar um traje de sobressalente pra ela.
— E se o compartimento dela não tiver uma escotilha?
— Então eu vou pensar em outra coisa.
Ouviu-o rastejando pelo túnel de acesso, de volta na nave e se virou para
olhá-lo.
— Você tem certeza de que é a coisa certa a fazer? — ela o chamou ao
longo do túnel, incapaz de esconder a intensa preocupação que sentia. Os
destroços estavam cheios de hexagonais. Um deslize, e nem ele nem a sua
Mestra voltariam.
— Positivo, — ele disse.
— Ela é a pessoa mais importante da galáxia. É meu dever salvá-la.
Então ele se foi, deixando Larin se sentindo um pouco ferido por suas
palavras. Em Hutta, ele não tinha vindo para salvá-la. Se o acordo com
Tassaa Bareesh tivesse dado errado, acabaria como comida de rancor com
certeza. Mas, para a Mestra Satele, ele entrou com o sabre de luz
balançando, arriscando a vida e os membros, e nem mesmo deixando Larin
ajudar.
Ela se perguntou se ele achava que ela poderia atrasá-lo.
Não pense assim, ela disse a si mesma. Ainda somos parceiros, e isso
obviamente não terminará tão rapidamente quanto pensávamos. As chances
são de que encontraremos muito mais oportunidades de lutar lado a lado.
Ela girou o canhão e pegou um hexagonal no alto dos destroços. Essa
era uma a menos com a qual ele teria que se preocupar.
OS TRAJES PARA VÁCUO da Auriga Fire eram modelos simples, sem
armadura, armas inerentes, ou jatos de manobra, e só tinha quase 50
minutos de ar em suas mochilas. Shigar imaginou que eles normalmente
eram usados para reparos rápidos fora da nave, onde podiam ser amarrados
ao principal suporte de vida. Shigar tirou as roupas novas que improvisara
do guarda-roupa oficial de Ula, a túnica marrom, a calça preta e blusa cor
de areia, o mais próximo que ele pode se aproximar das cores Jedi, em
seguida, pegou o traje mais limpo da prateleira e escorregou-o rapidamente
sobre os seus membros desprotegidos. Idealmente, ele usaria um cota
corporal, como a de Larin, mas não havia tempo para essas sutilezas. Ele
usaria o bio retorno para regular a temperatura do corpo.
Fixou o sabre de luz em um grampo no quadril direito do traje, onde
seria acessível num instante, e colocou um traje sobressalente sobre a dobra
do braço esquerdo.
— A escotilha traseira preparada e pronta, — disse Jet pelo
intercomunicador do traje.
— Certo. — Shigar testou as vedações uma última vez. O ar tinha um
gosto rançoso, mas esse era o menor do seus problemas. — Entre o mais
próximo possível dos destroços.
A sua respiração soou alta em seus ouvidos enquanto a porta interna da
escotilha se abriu e ele entrou. Enquanto a escotilha girava, aproveitou a
oportunidade para se concentrar. Sabia o que esperar. Já enfrentara os
hexagonais antes. A sua prioridade, no entanto, era encontrar a Mestra
Satele e tirá-la o mais rápido possível. Não havia tempo para lutar ou correr
riscos desnecessários. Isso apenas mataria os dois.
— Você pode me ouvir, Mestra Satele? — Ele perguntou no
comunicador do traje, usando uma faixa espessa com a estática de estrelas
distantes. As forças militares normalmente evitavam esse canal, tornando-a
perfeita para transmissões de curto alcance que precisavam não ser
rastreadas.
— Perfeitamente bem, — respondeu Mestra Satele, fraca mas
claramente.
— Como está o seu ar?
— Acabando, mas ainda não está crítico.
A porta exterior se abriu com um sopro de nevoeiro e Shigar se atirou no
casco. Por um momento, a pura estranheza de sua posição o atingiu com
força. Estava praticamente nu no casco da nave de um contrabandista,
cercado por droides assassinos e naves naufragadas, com a brilhante espiral
da galáxia de um lado e os jatos de um buraco negro do outro.
Não sabia dizer se sentia alegria ou terror.
Os destroços retorcidos se aproximaram. O canhão de Larin brilhou e
um hexagonal caiu. Usando o raio trator, Hetchkee puxou outro hexagonal
para fora do que antes era uma janela no casco da Corellia. Isso criou um
ponto claro.
Shigar se preparou para pular.
— Aqui está o mais perto que podemos chegar, — disse Jet. — Não
erre.
Com um chute explosivo do seus músculos, Shigar limpou a abertura.
Por um momento, o céu girou sobre ele, o planeta apareceu por trás da
Auriga Fire, cheio de cúpulas de magma, e então bateu nos destroços
solidamente, com os braços estendidos para encontrar o menor contato.
Se prendeu rápido, e parou para recuperar o fôlego. Um hexagonal,
alertado por sua chegada pela sutil mudança no momento angular dos
destroços, espiou com olhos negros por um buraco próximo. As suas pernas
dianteiras apontaram para ele. Shigar pegou o seu sabre de luz, mas
Hetchkee foi mais rápido. O hexagonal foi varrido pra cima e pra longe
dele, no espaço vazio, onde foi explodido em átomos por Larin.
— Obrigado, — disse ele.
— O prazer é meu. — veio a resposta de Larin. — Você vai ficar aí o dia
todo enquanto fazemos todo o trabalho?
Já estava se movendo, puxando-se levemente de segurar em segurar na
perfeita queda livre do espaço aberto.
— Você está perto, — disse Mestra Satele no comunicador. — Eu posso
sentir você. Há uma porta de acesso quebrada à frente. Vá por esse
caminho.
Obedeceu sem hesitar, mantendo um olho atento para mais hexagonais.
Enquanto ele estivesse lá dentro, não haveria o auxílio de Larin e Hetchkee.
Os destroços pareciam fazer parte do centro de comando avançado da
Corellia e estavam ocupados no momento do desastre. Shigar passou por
vários corpos enquanto se afundava profundamente na estrutura retorcida.
O caminho era apertado e ocasionalmente perigoso, com bordas afiadas e
pontas para transpor. Havia muito pouca luz.
— Venha para o próximo cruzamento e pare por um momento, — disse
ela. — Eu tenho que te dizer uma coisa.
O som do movimento veio da frente, através das anteparas que tocou, e
Shigar diminuiu a velocidade até rastejar, todos os sentidos sintonizados
com a menor mudança. O cruzamento deve ter sido largo o suficiente para
um jardineiro, mas agora não era grande o suficiente para admitir uma
pessoa, particularmente uma tão alta quanto ele. Definitivamente, havia
algo se movendo na curva da direita.
— O que devo lhe dizer é isso, — disse Mestra Satele. — Desde que
ouvimos os droides, eu me pergunto o quanto Lema Xandret colocou em
suas criações. A resposta está ao virar da esquina, Shigar. Já consegue ver?
Virou a esquina para ver o que havia pela frente. Haviam nove
hexagonais imóveis agrupados em torno de uma porta pressurizada, como
se esperasse que ela se abrisse.
— Estou atrás daquela porta, — disse ela, — e em breve você também
estará.
— Como, Mestra? — Ele não conseguia imaginar uma maneira de
derrotar nove hexagonais de uma só vez, quando apenas duas haviam sido
mais do que um confronto para ele em Hutta. Mal havia espaço suficiente
para passar por eles, quanto mais lutar.
— Você me disse que a fábrica de droides continha um componente
biológico, — disse ela. — Parecia razoável imaginar se os hexagonais
também poderiam ter.
— Há um fluido dentro deles, — disse ele, lembrando o que tinha visto
em Hutta.
— Parece sangue. Mas eles são definitivamente droides. Eles não são
ciborgues.
— Não no sentido usual. Eles são outra coisa. Mas o fato deles estarem
pelo menos parcialmente vivos é a única razão pela qual ainda estou aqui.
— Você está influenciando eles?
— Tanto quanto eu posso, o que não é muito. Eles atacam apenas
quando obstruídos ou ameaçados. Eu não estou fazendo nada disso, então
eles estão me deixando em paz. Eles não vão embora, mas pelo menos não
estão sendo agressivos. Acho que posso segurá-los enquanto você chega à
porta.
Shigar engoliu em seco.
— Você quer que eu passe por eles?
— É a única maneira.
— E então depois?
— Então você abre a porta e me deixa sair.
— Eu tenho um traje para você...
— Não terei a chance de colocá-lo. Não há escotilha. Vou manter uma
bolha de ar ao meu redor usando um escudo da Força. Isso vai me dar
alguns minutos. Você terá que se mover muito mais rápido do que isso, no
entanto. Não vou conseguir segurar os hexagonais e o escudo ao mesmo
tempo.
Shigar cerrou os punhos. Parecia impossível. Mas ela estava confiando
nele. Ninguém mais poderia ajudá-la.
— Estou a caminho, Mestra.
Empurrou-se ao virar a esquina e ficou à vista dos hexagonais. Apesar
de sua fé nos poderes mentais de Satele Shan, esperava ser abatido
imediatamente. Em vez disso, os hexagonais apenas o olhavam com as suas
cápsulas sensoriais sombrias e se rearranjavam um pouco, para que
pudessem observar a porta e a ele ao mesmo tempo.
Sentindo-se como se estivesse em algum tipo de pesadelo surreal, Shigar
se empurrou para o emaranhado de corpos gordos e membros angulares,
tomando o máximo cuidado para não tocar em nada. Não queria uma
chance de acordá-los de sua complacência incomum. Até respirou baixinho,
apesar do isolamento perfeito do vácuo ao seu redor. A intensidade do olhar
dos hexagonais o fez se contorcer por dentro.
Finalmente estava na porta. Uma luz vermelha avisava da pressão do
outro lado. Pressionou uma tecla no teclado e a luz ficou verde. A porta se
abriria ao seu comando agora, expelindo o ar em um instante.
— Você está pronta, Mestra?
— Sim.
Ele apertou o botão. A ventania tentou acabar afastá-lo, mas estava
firmemente apoiado na parede oposta. Os hexagonais se agitaram com a
surpresa, repentinamente liberados da influência calmante da Mestra Satele
e cegados pelo ar gelado que cobria as suas cápsulas sensoriais. Shigar foi
parcialmente cego, também, que podia ver apenas desfocada através da
névoa presa à sua viseira, mas tinha a vantagem de não ter que ver. A
presença da sua Mestra era como um farol para ele.
Pulou na pequena câmara e apertou o botão para selar a porta atrás de si.
Os hexagonais tentaram entrar. Não demoraria muito para que eles abrissem
o caminho. Tinha talvez alguns segundos para encontrar outra saída.
Mestra Satele flutuava em uma bola no centro da sala, o seu escudo de
Força brilhava ao seu redor, uma luminescência leitosa mantinha apenas na
distância de um dedo do corpo. Shigar ficou impressionado com o quão
pequena ela parecia. Na sua opinião, ela sempre parecia ter uma estatura
gigantesca, não só dominando o Alto Conselho Jedi, mas também
influenciando o rumo da República. Agora, porém, ela parecia pequena.
Um barulho rangente veio da porta. Os hexagonais já a estavam
cortando. Mestra Satele havia deixado o seu sabre de luz flutuando ao lado
dela, fora do escudo da Força. Pegou-o na mão esquerda, pegou o seu sabre
com a direita e ativou os dois simultaneamente. Os seus verdes não eram
muito idênticos e, pela luz combinada, sombras estranhas dançavam através
das paredes.
A sala tinha apenas três metros de altura. Além da porta, não haviam
outras entradas. Isso não importava. Shigar poderia fazer o seu. Erguendo
os dois sabres de luz, ele esfaqueou a parede em um ponto acima da cabeça,
depois estendeu as duas lâminas em círculo antes de se encontrar ao nível
dos joelhos. Uma seção de arestas vermelhas da parede caiu livre, e ele a
chutou para o espaço do outro lado. Usando a telecinesia para se reunir a
Mestra Satele, se lançou através da abertura.
Era outra sala, exigindo outra porta improvisada. Moveu-se
rapidamente, com movimentos confiantes. Atrás dele, os hexagonais
estavam se contorcendo através das locações cada vez maiores na porta e na
parede. Em um segundo eles estariam sobre ele.
Um corredor, desta vez. Ele passou a Mestra Satele à sua frente e
rapidamente se orientou. Veio por esse caminho na jornada. No outro
extremo do corredor, podia ver a espiral distante da galáxia.
Um hexagonal de corpo gordo apareceu à vista, bloqueando o seu
caminho.
— Prepare-se, — ele chamou seu comunicador. — Eu vou sair rápido.
— Bom, — disse Larin. — Está ficando um pouco apertado aqui
também.
Shigar não desperdiçou energia respondendo. O escudo da Mestra Satele
era, sem dúvida, forte o suficiente para desviar qualquer coisa que o
hexagonal pudesse lançar sobre eles, então a manteve à frente dele. O seu
trabalho era simplesmente mover os dois... rápido.
A Força correu através dele. Desde a primeira descoberta dos seus
poderes, adorava a emoção da velocidade. Ela o ajudou a vencer corridas
antes de ser removido de Kiffu. Ela o ajudou a sobreviver aos desafios da
academia. Lembrando-se daquela sensação selvagem de aceleração,
afundou-se profundamente e se lançou contra a parede atrás dele.
O corredor ficou borrado. A Mestra Satele o precedeu como uma bala de
canhão, soprando o hexagonal pra trás, pra fora dos destroços e pra o
espaço. Por um instante, tudo estava girando o céu e arranhando as pernas,
então uma força invisível arrancou o hexagonal, e ele foi arrastado para
cima na escotilha da Auriga Fireque os aguardava.
— Pegou eles, Hetchkee? — Veio a voz de Larin pelo comunicador.
— Estão sãos e salvos.
Várias explosões rápidas do tri-laser colocaram o hexagonal fora de
serviço e enviaram outros quatro que surgiram depois que Shigar correu
para se esconder. Agarrou os lados da escotilha quando a nave acelerou,
girando agilmente pelos membros de uma aglomeração que se aproximava,
com os tiros de Larin cobrindo um caminho bem iluminado.
Então a porta foi fechada e o ar quente entrou. Shigar não havia notado
como os seus dedos estavam frios. Esfregou-os rapidamente, depois deitou
a Mestra Satele no chão.
— Estamos fora de perigo agora, Mestra.
O escudo da Força brilhou e se dissolveu.
A Grã Mestra Satele Shan se desdobrou na posição sentada e abriu os
olhos.
— Obrigado, Shigar. — Ela se levantou e alisou suas vestes. — Eu te
devo minha vida.
Shigar inclinou a cabeça e devolveu o sabre de luz.
— Eu só fiz o que devia, Mestra.
A mão direita dela agarrou o seu ombro.
— É tudo o que fazemos, Shigar, em tempos de guerra.
A porta interna se abriu.
— É melhor vocês subirem aqui, — disse Jet no comunicador interno da
nave. — E rápido.
Shigar conduziu a sua Mestra pelos corredores apertados da nave até a
cabine elevada. Ula e Jet estavam nos controles, com Clunker de pé ao lado,
tão imóvel quanto uma estátua. Hetchkee estava em outro lugar,
preenchendo o ponto de tri-laser vazio, Shigar supôs, agora que a
necessidade do raio trator havia passado. Ula olhou pra eles quando eles
entraram, depois se levantou e fez uma reverência.
— Grã Mestra, — ele disse com uma expressão nervosa no rosto, —
estou aliviado em vê-la novamente.
— A gente se conhece?
— Eu sou o Enviado Vii, na equipe do Comandante Supremo...
— Esqueça as apresentações, — disse Jet.
— Podemos fazer uma festa de chá mais tarde. Há outra nave na mira.
— Imperial? — Perguntou Mestra Satele, inclinando-se sobre a cadeira
de Ula.
— Acho que não. — Jet trouxe uma ampla visão do espaço ao redor de
Sebaddon. — Bem quando pensei que estávamos lidando com essa
bagunça...
A tela mostrava a frota remanescente da República em uma órbita muito
mais alta do que antes, bem fora do alcance dos hexagonais. As naves
infectadas se lançavam em direções totalmente diferentes, graças a
impulsos aleijados ou força gravitacional de Sebaddon ou do buraco negro.
A frota Imperial, reduzida a sete naves, incluindo o seu cruzador volumoso,
também estava subindo para áreas mais altas. Uma rápida olhada nas
órbitas projetadas mostrou que elas provavelmente se cruzariam em
algumas horas, mas isso era algo com que se preocupar mais tarde.
— O que é tudo isso? — perguntou Shigar, passando a mão por uma
camada de penugem ao redor do equador do planeta.
— Foi aí que os três últimos mísseis se separaram, — disse Ula, — e
mais dois lançados desde então. Eles não foram destinados a nada. Acho
que Xandret está estabelecendo um halo defensivo de hexagonais para
proteger o planeta.
— Como devia, — disse Mestra Satele. — Mostre-me a última chegada.
O dedo de Jet esfaqueou um ponto brilhante pairando perto do pequeno
satélite do planeta.
— Apareceu a um minuto atrás.
— Das mesmas coordenadas que todos os outros?
— Não. Foi lançado de uma cratera na lua. Eu acho que está escondido
lá o tempo todo.
Ela assentiu.
— Gostaria de transmitir uma mensagem.
Jet deu a ela o comunicador.
— Já era hora de você se mostrar, — disse ela. — Gostaria muito de
falar com você, Dao Stryver.
— E eu com você, Grã Mestra, — veio a resposta imediata. — Me
agrada que você tenha sobrevivido a essa derrota pouco lisonjeira.
— Alguém pode ter prazer com a sobrevivência do inimigo? — Ela
perguntou ao Mandaloriano.
— Pode-se, de fato, — disse ele. — Vou explicar no devido tempo.
— Espero que sim.
— Encontre-me na lua em meia hora. Envie uma nave. Sem escolta.
Você tem minha palavra de que você e o seu grupo não serão prejudicados.
Stryver desligou.
— Eu não confio nele, — disse Shigar.
— Não temos escolha, — disse ela. — Planeje o curso, capitão Nebula.
Nos leve ao Commenor. Preciso falar com a capitã Pipalidi agora, caso não
tenhamos outra chance.
— 'Nós'? — Perguntou Jet.
— Essa missão já perdeu sete naves de guerra. Não vou arriscar outra.
— Alguém não se importa com o que estou preparado para arriscar?
— Olhe pra isso, — disse Ula, chamando a atenção de todos de volta
para a tela. — Os Imperiais estão lançando um transporte.
— Não podemos deixar que ela alcance as coordenadas de salto, —
disse Shigar. — Se eles estão enviando reforços...
— Eu não acho que é para onde eles estão indo, — disse Satele. — 'Uma
nave, sem escolta'. — citou ela.
— E Stryver disse que não seríamos prejudicados por ele, —
acrescentou Jet. — Você tem certeza de que quer fazer isso?
— Esqueça o sobrevoo da Commenor, — ela disse a ele.
— Faça-nos avançar agora. Vou conversar com a capitã Pipalidi no
caminho.
— Sim, senhora, — disse Jet, fazendo uma saudação sardônica a Mestra
Satele. — Podemos correr para a nossa desgraça como caminhar.
ULA OBSERVOU COM pavor crescente enquanto o ponto de
encontro se aproximava. Estava na pior posição imaginável, era incapaz de
agir contra os desejos da República, porque Satele Shan imediatamente o
anularia e era incapaz de revelar a sua identidade aos seus verdadeiros
mestres sem estragar o seu disfarce. Por um instante de desvario, pensou em
se lançar à mercê do Mandaloriano, mas felizmente a sanidade prevaleceu.
Stryver não tinha piedade. O melhor que Ula poderia esperar em seus
cuidados era a escravidão.
Pelo menos estava vivo, disse a si mesmo, e tinha uma chance de
permanecer assim se passasse por esse campo minado com o máximo
cuidado.
O nariz contundente da Auriga Fire estava dobrado à frente do
transporte Imperial ao se aproximar do satélite solitário de Sebaddon. A lua
era maciça e deformada, mais como um tijolo do que uma esfera, com uma
cornucópia de crateras e fissuras insondáveis marcando seu rosto feio. Não
é de admirar que Stryver tenha ficado escondido por tanto tempo. Não
parecia ter sido pego em uma mina ou armadilha, o que foi uma grande
omissão para uma administração colonial tão interessada em permanecer
intacta. Ula se perguntou se eles simplesmente nunca pensaram nisso, ou se
erroneamente, mas não irracionalmente, assumiram que nunca seriam
descobertos tão longe do disco galáctico.
A Primeiro Sangue, a batedora de Stryver, ancorou-se na superfície da
lua quando as duas naves se aproximaram. Tinham o formato de uma lua
crescente, com asas apontando para a frente que se eriçavam com armas e
uma pele preta fosca e não refletiva. Não havia marcas de nenhum tipo,
apenas dois círculos brilhantes de cada lado indicando escotilhas prontas.
Jet preparou um anel de ancoragem e um tubo para percorrer a distância e
saltou para se aproximar da escotilha de estibordo. O piloto Imperial notou
as suas intenções e se mudou para atracar no lado oposto. Juntamente com
Larin e Hetchkee, Ula observou atentamente o transporte, procurando sinais
de traição. A maneira como os Imperiais haviam destruído ilegalmente o
transporte da República em Hutta ainda era doloroso para ele. Ele esperava
mais.
— Quem está entrando? — Perguntou Larin sobre a comunicação
interna.
— Shigar e eu, — disse a Mestra Satele, — e o Enviado Vii.
Ula engoliu em seco.
— Temo que possa ser de pouca utilidade, — ele começou a dizer, mas
foi cortado por Larin.
— Você precisará de um guarda-costas, — disse ela. — Apenas para
aparências.
— Tudo certo.
— E leve Clunker também, — disse Jet. — Vou assistir através dos
olhos dele.
— Você e Hetchkee podem pilotar a nave sozinhos, se precisar?
— Numa emergência, — disse o contrabandista. — Com o incentivo
certo, eu poderia pilotar sozinho um cruzador de batalha.
— Muito bem então. Mantenha a vedação umbilical, mas feche a nave
assim que desembarcarmos. Deixe ao meu sinal, esteja ou não a bordo.
— Não se preocupe com isso, — o contrabandista disse a ela. — Vou
desenferrujar se você se mexer de maneira engraçada.
Ula procurou se distrair na telemetria quando a nave pousou levemente
na lua de baixa gravidade. Sebaddon não lançou nenhum míssil desde o
último ataque. O principal ponto quente havia sido consideravelmente mais
quente pelo fogo retaliatório, e a atividade estava crescendo também em
outras regiões. Parecia-lhe que os ocupantes do planeta estavam se
reagrupando para revidar, mas era difícil dizer a essa distância. Cada drone
espião lançado pela frota da República foi interceptado e destruído pelo
halo orbital de hexagonais.
Talvez, disse a si mesmo, pudesse passar algum tipo de mensagem para
seu número oposto no grupo Imperial. Essa era uma esperança pequena e
improvável de se agarrar.
Com uma série de sons de clanks e thumps, A barriga da nave se agarrou
no solo empoeirado lá fora. O gemido dos repulsores desapareceu. Jet tirou
as mãos dos controles e se recostou no banco. Apesar de todo o alarido, ele
parecia exausto, ou pelo menos de ressaca. Os seus cabelos prematuramente
grisalhos se erguiam de um lado e os seus olhos estavam fortemente
ensacados.
— Eu cuidarei da fazenda até você voltar, — disse a eles. — Não façam
nada que eu não faria.
Ula se levantou, esperando contra a esperança que a Grã Mestra
mudasse de ideia. Não há tal sorte. Ela já estava descendo a escada da
cabine, seguindo Shigar como um animal em estimação. Ula acenou para o
Clunker na frente dele.
— Boa sorte, — Jet disse a ele.
— Você não disse isso para os outros.
— Eu acho que eles não precisam disso.
— Obrigado pelo voto de confiança.
Jet sorriu.
— Você ficará bem. E lembre-se: você tem uma vantagem imbatível.
— E qual é?
— A capacidade de ver ambos os lados de uma só vez.
Ula não sabia o que dizer sobre isso, ou para as muitas outras dicas que
Jet tinha deixado, indicando que ele sabia o quem era. Ula nunca teve
coragem de perguntar diretamente, nem mesmo durante as longas horas em
que ele e o contrabandista ficaram esperando Shigar cumprir a sua
promessa psicométrica. Se era verdade ou não que Jet havia adivinhado,
Ula preferia que nunca fosse dito em voz alta. A sua vida se baseou em
fingimentos. Uma vez que se foi, não sabia o que iria deixá-lo.
Então apenas acenou com a cabeça e desceu as escadas para encontrar os
outros na escotilha, imaginando como alguém em sua posição poderia ser
considerado vantajoso. Sentiu como se estivesse sendo puxado para uma
dúzia de direções. Se não fosse cuidadoso, um escorregão poderia rasgá-lo
em pedaços.
AX PERCORREU a curta distância ao longo do tubo umbilical com fúria
medida. Inflamou-se por estar de volta em seu interceptor ao invés de
perder o seu tempo com o Mandaloriano e os enviados novamente. Era tão
ruim quanto estar de volta a Hutta, só que desta vez não tinha nenhuma
vantagem clara a esperar. Tudo o que conseguia pensar era no trabalho que
deveria estar fazendo naquele momento, protegendo a frota dos hexagonais,
pelo menos, ou talvez até preparando uma força de ataque para varrer
Stryver do céu. Não gostava de ir até ele quando lhe chamaram, como se
fosse algum tipo de serva.
— Você falará com o Mandaloriano intrometido em meu nome, —
dissera o seu Mestre.
— Mas Mestre...
— Preciso explicar novamente qual é o seu dever? É servir ao
Imperador, através de mim, o seu instrumento. Quando você me desafia,
você o desafia.
E esse era o problema, é claro. Tinha-o desafiado, ignorando as suas
ordens durante o ataque dos hexagonais em Hutta. Agora estava sendo
punida por isso, enquanto ele esperava confortavelmente meio congelado na
sala secreta em seu transporte. Se o desafio dela havia servido a frota ou
não era irrelevante. Só podia esquecer tudo sobre fazer qualquer coisa
construtiva... sem falar na melhoria do Império... até Darth Chratis mudar
de ideia.
— Estou aqui, — disse ela quando alcançou a escotilha externa da
Primeiro Sangue. A mão direita brincava com o punho do sabre de luz. —
Não me deixe esperando, Stryver.
A porta se abriu. Uma escolta simbólica a seguiu até a nave, três
soldados em preto e cinza formal. Não olhou pra trás para ter certeza de que
a estavam acompanhando. Como um ato deliberado de desafio, destinado
tanto a Stryver quanto ao seu Mestre, não havia trocado de uniforme de
combate. Fedia a óleo, fumaça e combate, exatamente como a nave de
Stryver. Os cabelos dela balançavam pesadamente nas costas, como uma
corda grossa.
A Primeiro Sangue tinha um perfil reduzido, de frente, mas era
surpreendentemente espaçoso por dentro. As suas paredes eram nervuradas,
em vez de vedadas com painéis planos; às vezes não havia lacunas em todo
o delineamento do corredor do porão. Fiação e componentes eram
ocasionalmente expostos, tudo, supunha, em um esforço para manter o peso
baixo. Também assumiu que qualquer coisa secreta era mantida fora da
vista, então não se incomodou em memorizar o que viu. Apenas andou,
seguindo o som de vozes que levavam ao centro da embarcação.
— ... entenda por que você precisa de todos nós de uma vez. Você não
pode nos contar agora?
Ax conhecia aquela voz. Ouvira-a em Hutta. Pertencia a um quase
humano que lutara no lado da República, embora claramente não fosse um
soldado. O que ela estava fazendo aqui?
— Não gosto de me repetir, — disse outra voz familiar: os tons
profundos e flexionados do vocoder de Dao Stryver.
Ax caminhou ao redor de um pilar grosso de cabos, atuando como
conduíte e suporte, e se viu na cabine principal. Era uma sala circular com
piso e teto branco brilhante e um holoprojetor central. Stryver estava à
esquerda de Ax, o capacete apenas balançando abaixo do teto relativamente
alto. À esquerda, havia um grupo heterogêneo de pessoas, incluindo vários
outros indivíduos que Ax reconheceu: o enviado da República, um droide
que vira rondando a antecâmara de segurança de Tassaa Bareesh e o
Padawan Jedi. Ao lado dele estava uma mulher que não tinha conhecido
antes, mas reconheceu instantaneamente.
Ax parou de entrar na sala, um assobio cauteloso escapando
inconscientemente entre os dentes. O ar estava denso com a hipocrisia do
inimigo, concentrada principalmente em torno da mulher leve com a faixa
cinza vestindo as vestes de um Cavaleiro Jedi. Não era uma mera Cavaleira
Jedi. Era ela mesma, a Grã Mestra do Alto Conselho! Darth Chratis iria
ranger os seus dentes cristalinos de frustração por perder um encontro tão
próximo com a inimiga mais odiada do Imperador. Matá-la traria a Ax uma
fama e fortuna consideráveis entre os favorecidos pelo Conselho Sombrio.
Ax forçou a sua mão a deixar seu punho em paz. Apesar de toda a sua
ambição, Ax sabia que não podia vencer sozinha a Mestra e o Padawan.
Teria que atacar com palavras em vez de sua lâmina.
— A Ordem Jedi deve ser realmente fraca, — disse ela, — para que a
Grã Mestra e um Youngling de entrar na fantasia de um Mandaloriano.
O Padawan, Shigar, ficou rígido ao descrevê-lo como Youngling.
— Não tão fraco assim, — disse ele, — eu salvei sua vida mais de uma
vez em Hutta.
— Você está enganado, — disse ela, sentindo o calor subir pelo pescoço.
— Estou? Vou me esforçar mais para não estar, da próxima vez.
— Chega, — disse a Grã Mestra, e o Padawan a obedeceu
instantaneamente. — Estamos todos aqui agora, Stryver. Continue com isso.
— Não aceito as suas ordens, Grã Mestra, — disse o Mandaloriano.
— No entanto, você tem razão. Trouxe vocês aqui para lhes mostrar uma
coisa.
O holoprojetor entre eles cintilou em vida. Ax reconheceu o globo de
Sebaddon, com os seus pequenos lagos parecidos com pedras preciosas
espalhados entre grandes quantidades irregulares de calor do continente. As
costuras de magma brilhavam em laranja, formando um rendilhado que em
outros mundos poderia ter sido rios. Vários círculos azuis nos cruzamentos
de tais rendilhados indicavam assentamentos ou centros industriais. Ax
reconheceu o que Darth Chratis havia bombardeado quando a Primordial
foi atacada, e muitos outros. Alguns dos quais se lembrava que não eram
visíveis.
— Era assim que Sebaddon parecia quando cheguei seis horas antes de
vocês, — disse Stryver. — É assim que parecia quando você chegou.
Havia uma clara diferença: muitos dos pontos quentes ausentes estavam
presentes; os mais brilhantes ainda eram mais brilhantes.
— É assim que parece agora.
Ax não precisava estudar o que já sabia.
— Sua opinião?
— Eles trabalham rápido, — disse o Padawan.
— Foi o que Jet disse quando chegamos. Ele pensou que a colônia tinha
cerca de vinte anos.
— Não pode ser mais do que quinze, — disse Ax, lembrando quanto
tempo se passou desde que Lema Xandret desertou.
— Na verdade, é muito menos do que isso, — disse Stryver,
descansando as mãos gigantes e enluvadas na borda do holoprojetor e
inclinando-se sobre a imagem.
— Estude esta sequência de imagens com cuidado e verá que a colônia
se expandiu cinco por cento desde que cheguei. Se você projeta essa taxa de
crescimento pra trás no tempo, isso dá uma data de fundação de cerca de
três semanas atrás.
— Impossível, — disse ela.
— Foi aí que a Cinzia foi interceptada, — disse Ula.
— E daí? Ainda é impossível.
— É? — Perguntou Stryver. — Lema Xandret escolheu essa colônia em
parte por causa de sua riqueza de recursos. Com um exército de
trabalhadores dispostos e um meio de criar novos, por que ela não podia
fazer o que mais queria?
— Se a colônia pode crescer tão rapidamente, por que ainda é tão
pequena?
— Essa é uma boa pergunta, Eldon Ax. Você deveria conhecer a sua
mãe melhor do que qualquer outra pessoa aqui. O que você acha?
Em vez de corar, Ax sentiu o seu rosto ficar frio e tenso.
— Comece a falar algo com sentido, cara, ou eu vou embora.
Os dois dedos indicadores de Stryver bateram pesadamente, apenas uma
vez, e pela primeira vez Ax notou que ele tinha apenas quatro dedos em
cada mão.
Então ele não é exatamente um homem, ela pensou. Mas quem se
importa com isso?
— Eu estive observando a todos vocês, — ele disse, — enquanto vocês
erram em se matar. Essa é a vantagem de ser o primeiro no campo de
batalha. Em vez de testar as defesas de Sebaddon, sentei-me e vi vocês
fazerem isso. Foi um experimento interessante, que confirmou as minhas
observações anteriores. Os habitantes de Sebaddon não estão dispostos a
falar sobre a abertura de suas fronteiras para forasteiros, particularmente o
Império, e são capazes de se defender quando pressionados.
— Fomos pegos de surpresa, — disse Ax. — Isso não vai acontecer, da
próxima vez.
— Se você esperar demais, a surpresa não será a única coisa com a qual
você deve se preocupar.
— Como assim? — Perguntou Satele Shan.
— Quanto tempo você leva para pedir reforços? Você não pode ligar,
por isso é uma viagem de ida e volta para enviar um mensageiro. Então uma
frota deve ser montada. Quanto maior a frota, mais tempo você precisará. E
a cada hora, Sebaddon está convertendo mais do seus metais preciosos em
máquinas de guerra. Mais de trinta naves falharam hoje. Quanto tempo até
cinquenta naves não serem o suficiente? Cem? Mil?
Ax zombou.
— Nenhum planeta poderia suportar o poder da máquina de guerra
Imperial.
— Eu concordo, se a máquina de guerra Imperial estivesse disponível.
Mas atualmente se estende por toda a galáxia, tênue e vulnerável, e o
mesmo pode ser dito da República. Além disso, todos sabemos que nenhum
deles viria se ligássemos. Eles pensariam que as suas preocupações eram
exageradas. Eles estão mais interessados em lutar entre si do que essa
ameaça isolada.
— Ela é uma ameaça? — Perguntou Shigar.
— Xandret não fala conosco, mas pelo menos ela parou de atirar agora
que nos mudamos. Por que não damos o que ela quer e a deixamos em paz?
— Você realmente acha que isso é possível agora? — Disse a fêmea
quase humana.
— Por que não? — Shigar olhou para a Mestra em busca de apoio, mas
ela não estava dando a ele.
— Você é ingênuo, — disse Ax. — Este mundo é valioso demais. O
Imperador o terá, ou mais ninguém o terá.
— E a sua mãe deve servir de exemplo, — disse Stryver, — caso
contrário, o poder dos Sith será corroído.
— Pare de chamá-la de minha mãe. Lema Xandret é uma criminosa e
uma fugitiva. Não há possibilidade dela escapar da justiça.
— Você a derrubaria, se pudesse?
— Eu faria, e irei. Ela não significa nada pra mim.
— Bom. Eu acreditei uma vez que poderia argumentar com ela. Eu
acreditava que poderia intermediar um acordo que manteria ela e as suas
criações sob controle. Agora, temo que seja tarde demais para qualquer tipo
de negociação. Nenhum raciocínio ou acordo é possível.
— Ela enlouqueceu? — Perguntou a soldado à direita de Shigar.
— Se assim for, existem outras opções. Poderíamos eliminá-la e
conversar com outra pessoa, por exemplo.
— Este plano sofre de uma falha pequena, mas fatal.
— Qual é? — Perguntou o enviado da República.
— Lema Xandret já está morta. E já faz algum tempo.
Uma lasca gelada estalou no coração de Ax com essas palavras,
deixando-a incapaz de dizer se sentia triunfo ou pesar, ou ambos.
— ACHO QUE ESTÁ NA HORA de você nos contar tudo o que sabe, —
disse Mestra Satele.
— Eu concordo, — disse Larin. — Desde quando os Mandalorianos
negociam com alguém?
Ula se lembrou de Jet dizendo a ele: Eles não acreditam que tenham
iguais.
— Você era a pessoa que os emissários de Xandret esperavam encontrar,
— disse Ula. — Você veio procurá-los quando eles não apareceram.
O capacete gigante e abobadado se inclinou em sua direção.
— Correto.
— A própria Xandret deveria estar a bordo da Cinzia? — Perguntou
Shigar. — É por isso que você acha que ela está morta?
— Não. Ela enviou outros. Acredito que ela estava aqui quando morreu.
— Então você não tem certeza? — Perguntou a Sith. O seu rosto tinha
um branco atormentado sob os dreadlocks vermelhos de sangue.
— Estou certo disso.
— Você a matou? Você viu o corpo dela?
— Não.
— Então, como você pode ter certeza?
Stryver bateu no capacete com um dedo enluvado. Ula não podia ver o
rosto do Mandaloriano, mas estava certo de que ele estava sorrindo.
— Ela não significa nada pra mim, — disse a jovem Sith com firmeza,
como se estivesse se assegurando da verdade. — Eu só quero ter certeza.
— Esteja certa, Eldon Ax: quando os droides criados por sua mãe
deixarem este mundo, eles consumirão toda a galáxia em menos de uma
geração.
Ula piscou. A alegação era absurda, mas se Stryver realmente acreditou,
isso explicava outra parte intrigante da história.
— Então é por isso que você estava disposto a conversar com ela, —
disse Ula. — Lema Xandret era uma ameaça ou uma possível aliada, assim
como o Império.
— Uma força a ser reconhecida, potencialmente, — disse Mestra Satele.
— Uma força que claramente subestimamos. Mas você não teria
aceitado a palavra dela. Você deve ter recebido algum tipo de prova.
— Uma fábrica de demonstração, — disse Stryver. — Em dois dias,
fabricou dezessete droides e duas duplicatas de si mesmo, usando apenas os
materiais ao seu redor. As fábricas duplicadas foram imediatamente
trabalhar, fabricando outras quatro fábricas e ainda mais droides. A sua taxa
de reprodução era limitada apenas pela energia disponível pra eles; depois
descobrimos como eles enviam raízes para explorar o suprimento local,
garantindo que eles nunca acabem. Curioso, colocamos os droides no porão
e eles prevaleceram contra todos, exceto o atual campeão. Em seguida, os
droides e as fábricas se autodestruíram, deixando restos insuficientes para
descobrirmos os segredos de sua fabricação ou função. A mensagem foi
clara. O Mandalore me enviou para prosseguir a conversa.
— Por que ele enviou só você? — Perguntou Larin. — Você não é muito
útil pra nós sozinho.
— Posso confirmar várias hipóteses que você já pode estar formando.
Isso economizará o seu tempo para que possa começar a agir. Stryver
levantou a mão direita e começou a marcar pontos. — 1. Lema Xandret e os
seus colegas refugiados chegaram a Sebaddon determinados a abandonar a
hierarquia que haviam deixado pra trás. Quinze anos depois, esconder-se
não era mais suficiente: Xandret queria se vingar das pessoas que haviam
roubado a sua filha. Então, procurou Mandalore para ajudá-la. Aproximou-
se dele porque a minha cultura evita a Força. Afinal, foi aí que tudo
começou, com cultos religiosos militarizados transformando crianças em
monstros.
Ula não se atreveu a olhar para o rosto da jovem Sith. Não sabia
exatamente como os Sith treinavam os seus acólitos, mas isso parecia
plausível. Perguntou-se se os seus "Mestres" Jedi tinham um sistema
semelhante.
— Dois. — A contagem de Stryver continuou. — Durante o seu exílio
autoimposto, Xandret e os seus colegas artesãos avançaram a robótica em
direções nunca vistas antes. Encontrando inspiração e materiais na própria
biologia humana, eles procuraram criar droides que não envelheceriam nem
se tornariam inflexíveis e bitoladas, para que a sua pequena colônia pudesse
durar para sempre. Os desafios técnicos eram imensos, é claro, mas eles
fizeram algum progresso em direções inesperadas. Os droides que você viu
são protótipos avançados chamados reprodutores rápidos. Dado metal e
energia bruta suficientes, eles crescem de sementes para versões de combate
totalmente formadas em questão de dias. O ninho em Hutta poderia ter
produzido dezenas desses assassinos se não fosse perturbado, e o mesmo se
aplica aos ninhos de Sebaddon. Os pontos quentes que você observa de
cima, os que se parecem com cidades, são de fato fábricas de construção de
droides. Eles estão produzindo milhares de reprodutores rápidos agora que
as defesas do planeta foram derrubadas. E não apenas reprodutores rápidos:
novas fábricas também. É aí que reside a verdadeira ameaça. Esta era a
arma que ela pretendia usar contra o Império.
— Três. Se deixada sem controle, a tecnologia de reprodutores de
Xandret inevitavelmente superará o seu mundo natal e se espalhará pela
galáxia. A matemática da progressão geométrica é inegável: um mundo este
ano, dois mundos no outro; depois quatro, depois oito; dentro de uma
década, são duzentos e cinquenta mundos; depois, outra década, é um
quarto de milhão. Uma geração humana é tudo o que eles precisariam para
dominar toda a galáxia, unindo os Sith, Jedi e Mandalorianos.
— Quatro. A negociação não é mais uma opção. Xandret colocou todos
os seus preconceitos em seus droides. Você ouviu as vozes deles. Você sabe
o que os motiva. A única solução é esmagar completamente o Sebaddon.
Devemos ser cruéis, decisivos e completos, a fim de garantir que o legado
de Lema Xandret seja completamente erradicado. Apenas um ninho seria
suficiente para permitir que tudo isso recomeçasse.
Stryver ficou sem dedos na mão direita.
— Terminou? — Perguntou a Sith.
— Terminarei se essa ameaça não for neutralizada.
Os punhos de Stryver desceram para suportar o seu peso, primeiro com
os nós dos dedos, ao lado do holoprojetor.
A esfera de Sebaddon girou sem parar entre eles. Luzes vermelhas
brilhantes apareceram e se espalharam como uma praga em movimento
rápido. Logo o planeta inteiro ficou vermelho e correntes de pequenos
pontos malignos começaram a saltar da superfície e a escapar para espaços
invisíveis.
— Você disse 'nós'. — A voz de Satele Shan fez Ula pular. — Nós
devemos ser cruéis. Presumo que isso foi calculado.
— E foi. Tudo o que vi, em Hutta e Sebaddon, confirma os meus piores
medos. Sebaddon está respondendo à ameaça que todos representam
aumentando a produção. Ele deve ser parado antes que o contágio se
espalhe. Como nem o Império nem a República podem, por si só, destruir
essa ameaça com os recursos disponíveis no momento, vocês devem
trabalhar juntos para fazer isso.
— Com você no comando, suponho, — disse Larin.
— O fim justifica os meios.
— Nunca receberei ordens de um Mandaloriano, — disse a Sith em tom
de zombaria. — E nunca vou lutar ao lado de um Jedi. Você é mesmo louco
ao sugerir isso.
— Deve haver uma alternativa, — disse a Mestra Satele. — Outra
tentativa de negociação, talvez...
— O sistema de defesa planetário é automatizado, — disse Stryver. —
As únicas vozes vindas do planeta se originam dos reprodutores rápidos. É
assim que sei que Lema Xandret está morta. Todo mundo lá embaixo está
morto. Agora são apenas os droides, e vocês não podem negociar com eles.
— Bem, não podemos confiar um no outro, — disse Shigar. — Essa é
uma escolha que você nos deu.
— Se eu pudesse fazer de outra maneira, eu faria. Acredite em mim.
Os Jedi e a Sith se entreolharam por cima do holograma, e de repente
Ula soube exatamente o que tinha que fazer. Mais uma vez, Jet estava
absolutamente certo. Ula podia ver os dois lados ao mesmo tempo e se
salvar na barganha.
— Você é a líder da frota Imperial? — Ele perguntou a jovem Sith. Ele
já sabia a resposta. O Imperador nunca confiaria tanta riqueza a alguém tão
jovem, por mais poderoso que ela fosse. Mas ele teve que perguntar, pelo
bem da aparência.
— Não, — ela admitiu.
— Quem quer que seja essa pessoa, quero falar com ela cara a cara, —
disse ele. — Acredito que posso trazer o Império para a mesa.
— Você? O meu Mestre estriparia um verme como você só para vê-lo
morrer.
O estômago de Ula revirou. O Mestre dela. Esperava um comandante
não um Sith, mas teria que se contentar com o que conseguiu.
— Leve-me a sua nave de comando e deixe-me tentar. Se eu falhar, ao
que parece, eu também poderia estar morto.
— Sua morte está mais perto do que você pensa. Ele está no transporte.
— Bem então. Melhor ainda. Terminará rapidamente.
— Enviado Vii, — disse Satele Shan, — tenha muito cuidado. Você
deve estar absolutamente seguro de si.
— Estou. — Ele se endireitou e estufou o peito. — Se o Império
concordar com a sugestão de Stryver, você também concorda?
A Grã Mestra não mostrou sinais de incerteza.
— Claro. Afinal, não estamos em guerra e a ameaça é grave.
— Bom. — Ula se voltou para a garota Sith. Ela estava com os lábios
cerrados de raiva, como se não pudesse acreditar na audácia dele.
— Isso não é um truque. Eu vou com você agora, se você me levar. Por
favor.
— Só você, — ela finalmente disse. — Ninguém mais.
— Isso está fora de questão, — disse Larin.
— Não, — disse ele, embora o seu coração esquentasse com a
preocupação dela.
— Fico feliz em ir sozinho. Se não consigo convencê-los com palavras,
que diferença faria com mais um rifle ou dois?
Ela relutantemente recuou.
— Seja cuidadoso. Nós queremos você de volta inteiro.
— Não em várias partes? — Disse a Sith. Ela estava sorrindo agora,
talvez antecipando o jogo que o seu Mestre teria com ele. — Eu me recuso
a garantir qualquer coisa.
Ula se perguntou se parecia tão fraco como se sentia. E se ela o matasse
no momento em que estavam do outro lado da escotilha, antes que tivesse a
chance de falar? Essa seria a ironia mais terrível de todas.
— Estou pronto, — disse ele com a voz mais forte possível. — Não
vamos deixar o seu Mestre esperando.
— De fato, — disse ela. — Não vamos.
— Se não recebermos notícias suas em trinta minutos, — disse Stryver,
— assumiremos que você está morto.
Ula deu a volta no holoprojetor e deixou os guardas Imperiais pegá-lo
pelos ombros e marchar com ele até a porta. Não havia como voltar agora.
Os olhos do seus antigos aliados na República o seguiram enquanto foi
levado para trair a todos eles.
NO MOMENTO em que a escotilha se fechou atrás deles, o enviado
insignificante começou a debater-se. Ax seguiu em frente, com a sua mente
cheia de maneiras de diminuir as consequências inevitáveis do seu fracasso.
Não sabia o que Darth Chratis esperava, mas tinha certeza de voltar esse
resultado inesperado contra ela. Estava achando difícil pensar o que não
estava ajudando.
— Ouça-me, — o enviado chamou atrás dela. — Você tem que me
ouvir!
Não diminuiu a velocidade. Mal o ouviu. Lema Xandret está morta,
dissera Stryver. Todo mundo lá embaixo está morto. Não sabia por que esse
pronunciamento havia feito diferença, mas parecia. A sua família, a sua
mãe, o que havia acontecido com o seu pai? Nunca perguntou. Talvez ele
também estivesse morto, morrera anos atrás, quando era criança. Talvez
fosse um lorde Sith que não se rebaixasse ao ser associado a uma mulher
comum. Talvez, pensou, apenas talvez...?
Impossível. Zombou de si mesma por sequer pensar nisso. Darth Chratis
não era um tipo de pai pra ela, e nunca seria. Não precisava de pai, assim
como não precisava de família. Se Stryver está certo e os fugitivos estavam
todos mortos, isso apenas tornava a sua vida mais fácil. Não teria que gastar
a energia encontrando e matando-os, em nome do Imperador.
— Por favor, estou tentando lhe dizer que não sou quem você pensa que
sou! Estamos do mesmo lado e estivemos o tempo todo!
Os gritos do enviado finalmente penetraram em sua consciência. À beira
de entrar no transporte, parou e estendeu pela metade uma mão.
Ele saiu das mãos dos guardas e se chocou contra a parede da escotilha.
— Nem pense em mentir pra mim, — disse ela.
— Eu não estou. — O enviado estava tão pálido quanto mármore e a sua
voz era pouco mais que um sussurro, mas ele não se encolheu quando ela se
aproximou. — Eu sou um agente Imperial.
Ativou o sabre de luz e o segurou na garganta dele.
— Você não parece um Agente de Criptografia. Você nem é totalmente
humano.
O desprezo dela era feroz.
— Certo. Não propriamente um agente, mas pelo menos um informante.
E eu sou leal, independentemente de que espécie eu sou. Totalmente leal.
Eu juro.
Ax não se mexeu. Sabia que muitos oficiais da República de alta patente
às vezes preferiam funcionários não humanos na crença de que isso os
protegeria da vigilância. Se esse enviado tivesse sido transformado nisso,
ele seria altamente valorizado pelo Ministro da Informação.
— Eu tentei embarcar no seu transporte em Hutta, — ele continuou,
começando a gaguejar agora, — mas os guardas me afastaram.
Isso era verdade, e isso a fez hesitar. Ax não podia acreditar o que estava
ouvindo, e mais, realmente considerando a sua história. Mas a sua ousadia e
coragem diante de uma morte certa eram persuasivas. Tinha que admirar
suas entranhas, mesmo que as visse chiando se descobrisse que ele estava
tentando enganá-la. Não era impossível que ele fosse um agente duplo
colocado por Satele Shan para desviar ela e o seu Mestre...
Ax sorriu com os dentes. Darth Chratis saberia. Se o enviado estivesse
dizendo a verdade, seria um benefício pra ela. Caso contrário, o seu Mestre
teria outra pessoa sobre a qual manifestar o seu descontentamento.
— Que espécie você é? — Ela perguntou.
— E-Epicanthix.
— Nunca ouvi falar disso.
— Viemos de Panatha, no Alcance Pacanth
— Eu não ligo. Se você quiser ver a sua casa novamente, se quiser ver
alguma coisa novamente, então contará ao meu Mestre tudo o que acabou
de me dizer e o convencerá de que é verdade.
— Quem é o seu Mestre?
— Darth Chratis. Esse nome significa alguma coisa pra você?
De qualquer forma, o enviado ficou ainda mais pálido.
— Bom. Então você aprecia a gravidade da sua situação.
Desativou o sabre de luz e o deixou cair. Os guardas o pegaram e o
arrastaram atrás dela, para dentro da nave onde o seu Mestre os esperava.
Darth Chratis esperou por ela na espaçosa mas inóspita cabine de
passageiros do transporte, vestindo um traje blindado volumoso. Apenas o
seu rosto estava visível, comprimido e enrugado em uma carranca
permanente. Ele se apoiou pesadamente em seu bastão de sabres de luz.
Quando ele viu o enviado, a sua sobrancelha desceu ainda mais.
— Explique.
Ax fez isso, começando pelas terríveis previsões de Dao Stryver e
passando rapidamente pela possibilidade de cooperação. O prisioneiro
permaneceu em silêncio o tempo todo, impressionado com a atitude
proibitiva de Darth Chratis. Aquilo foi uma coisa boa; se tivesse
interrompido a qualquer momento, poderia ter sido morto imediatamente.
— E Satele Shan foi atraída pelas maquinações desse Mandaloriano? As
sobrancelhas do seu Mestre, eram tão finas quanto cicatrizes antigas,
ergueram-se em direção ao couro cabeludo gasto pelo tempo.
— Parece que sim, — disse ela. — Ela enviou o seu enviado para
negociar em seu nome.
Agora, o olhar de Darth Chratis desceu completamente sobre ele, e o
enviado tremeu.
— Fale.
— O meu nome é Ula Vii, — ele gaguejou.
— Eu reporto diretamente ao Sentinela Três na divisão de operações do
Ministério da Inteligência. Sou seu servo, milorde, um agente leal do
Império.
— Um espião? Que infelicidade para a Grã Mestra. — O rosto de Darth
Chratis abriu um sorriso largo e rachado. — Diga-me, espião, como você
pretende traí-la.
— República e Império compartilham os mesmos objetivos iniciais, —
disse o enviado, libertando-se dos dois guardas. Claramente estava
pensando muito enquanto esperava a sua vez de falar. — A destruição do
sistema de defesa orbital de Sebaddon está à frente de qualquer invasão ou
bombardeio em massa, cujo objetivo seria a neutralização da autoridade
central do planeta, já que deve ter um, humano ou vida artificial, e, juntos,
concordo que provavelmente podemos conseguir isso. Mas uma vez que
tenhamos o planeta desprotegido e acéfalo, a necessidade de uma aliança
desaparecerá. Sugiro que nos viremos contra os Jedi e Dao Stryver então,
quebrar a chamada aliança e pegar o que é nosso por direito. Sebaddon será
finalmente do Imperador. Fornecerei informações erradas em todas as
oportunidades, garantindo que a Grã Mestra nunca encontre a chance de
fazer o mesmo com você.
— O que você pede em troca?
O enviado pareceu surpreso com a pergunta.
— Eu? Nada milorde. Estou simplesmente cumprindo o meu dever.
— Deve haver algo importante para você, além do seu dever. Peça, e
será seu.
— Bem, há uma pessoa que eu pediria para você poupar, após a sua
vitória inevitável.
— Diga-me quem é.
— Ela não é ninguém, menor ainda que um trooper. O nome dela é Larin
Moxla.
— Você conhece essa mulher, Ax? — Perguntou Darth Chratis.
— Eu acredito que sim, Mestre.
— Bom.
O sorriso de Darth Chratis desapareceu. O enviado foi puxado pra frente
e levantado no ar. Ele lutou contra o aperto invisível sobre ele, mas não
havia como resistir. Ax experimentou o poder do seu domínio da Força do
Mestre. Sabia o quão apertado poderia ser.
— Ouça-me, espião.
O enviado assentiu freneticamente, com muito medo de falar em voz
alta.
— Eu não consigo ler você. A sua mente está protegida de mim, por
algum artifício não natural ou por um talento natural. Eu suspeito do último.
O Ministro da Inteligência procura a sua espécie, a fim de guardar os
segredos dele, dos seus senhores e dos nossos inimigos. Então, quando olho
para você, não vejo lealdade ao Imperador. Eu sinto apenas alianças
emaranhadas, sem resultados claros. Se tivesse uma escolha, eu nunca
confiaria em você.
— No entanto, você e a sua espécie são uma necessidade repugnante em
tempos como esses. Preciso encontrar uma maneira de refrear o seu instinto
natural de traição. Para esse fim... — Aqui o Enviado Vii deu um pulo
violento pra frente, então ele estava olhando diretamente nos olhos de Darth
Chratis. — Para esse fim, tenha certeza de que, se você me trair, caçarei a
fantasia do seu coração não humano e a submeterei a tais tormentos que
você ficará agradecido quando eu a matar. E então será a sua vez. Está
claro?
— Sim, milorde. Abundantemente.
O enviado caiu com um baque no chão.
— Muito bom, — disse Darth Chratis.
— Ax, tire-o da minha vista. Você o devolverá a Satele Shan com o
acordo que ele prometeu a ela e o acompanhará como a minha porta-voz
oficial.
— Mas Mestre
— Cale-se! Eu não podia deixá-lo ir sozinho. Eles nunca acreditariam
que eu confiaria neles, a menos que tomasse tais precauções. Você vigiará a
Grã Mestra e também este. Ao menor sinal de traição, você me notificará e
minha ira cairá sobre os dois.
Inclinou a cabeça, pensando: Outra tarefa sem saída. E provavelmente
uma missão suicida também.
— Farei o que ordenar.
— Sinto a sua impaciência, Ax. Lembre-se de que as nossas
recompensas serão abundantes quando a vitória estiver completa. Quando a
Grã Mestra estiver morta e este mundo for nosso, o seu aprendizado
terminará. Não antes. Vá agora e cumpra a minha ordem.
— Sim, Mestre, — disse ela, curvando-se profundamente, certa de que
ele sentiu a excitação em sua mente. Estar livre dele, finalmente, ser uma
verdadeira Sith, isso era tudo o que sempre quis! E mereceu. Sabia disso
muito bem. Não foi à toa que ela se escravizou essa última década e mais,
em detrimento de todo o resto.
Lema Xandret está morta.
Ax suprimiu até o menor indício de arrependimento quando se virou e
saiu da nave, arrastando o informante trêmulo por trás dela.
— VOCÊ TEVE que trazê-la de volta com você? — Larin sussurrou
para Ula enquanto escoltava os passageiros da Auriga Fire para a sala de
conferências da Commenor. — Eu não confio nela.
O enviado ajeitou o colarinho como se estivesse com muito calor.
— Não temos escolha, receio. Darth Chratis foi insistente.
— Bem, ele não se ofereceu para colocar um de nós em seu convés de
comando.
— Suponho que ele não ofereceria, dada a escolha, e receio não ter
pensado em perguntar. Eu pensei que seria valioso como refém para os Sith,
só isso.
— Suponho que sim. — Notando o desconforto de Ula, ela forçou um
sorriso. — Ei, olha, eu não estou dizendo que você não fez o seu melhor.
Estou feliz que você nos trouxe até aqui. Ninguém mais poderia ter feito
isso. Deu um tapinha no ombro dele com a meia mão protética.
— Obrigado, — disse ele, parecendo envergonhado. — Estou feliz que
pense assim.
Não pôde evitar um sorriso. O seu constrangimento social era ao mesmo
tempo tocante e intrigante. Como alguém tão desajeitado subiu tão alto no
governo da República, quanto mais sobreviveu a uma audiência com um
Lorde Sombrio dos Sith? Talvez Darth Chratis tivesse piedade dele.
Isso parecia bastante improvável.
A Sith aprendiz, Eldon Ax, caminhava firmemente entre o Mestre Satele
e Shigar, cercada por uma comitiva de soldados profissionais, todos
segurando rifles em prontidão. Sua cabeça com cabelos selvagens estava
erguida, e ela dava cada passo como se lutasse contra o desejo de girar e
lutar. Ela era como um animal selvagem, quase sem controle..
— Eu não confio nela, — repetiu Larin, — e eu sou boa em ler pessoas.
Ao lado dela, Ula pigarreou, mas não disse nada.
A REUNIÃO FOI desconfortável desde o início. A crista da capitã Pipalidi
era de um roxo profundo, e o seu linguajar Básico era difícil de entender,
como costumava ser o caso de um Anx, cujas vozes tendiam a ser tão
profundas que chegavam ao subsônico. Shigar jurou que sentiu a caixa
torácica estremecer em algumas ocasiões.
A capitão ordenou que todo o pessoal não essencial saísse da sala. Larin
era um desses, e Shigar captou o olhar magoado que ela atirou nele. Não
havia nada o que pudesse fazer sobre isso, no entanto. Não tinha poder aqui.
— O coronel Gurin não teve oportunidade de confirmar os seus planos
de sucessão para mim, — disse a Mestra Satele, — mas sei que ele tinha a
maior consideração por você, capitã Pipalidi. Ele ficaria feliz em saber que
a frota está em mãos confiáveis.
— Que assim seja, — rosnou o capitã, com um olhar penetrante para
Eldon Ax. A implicação era óbvia e dupla. Muitos militares sentiram pesar
pelos Jedi depois dos eventos que levaram ao Tratado de Coruscant, quando
a Ordem havia sido deliberadamente presa entre o Império e os
Mandalorianos. O fechamento dessa armadilha deixou a República dividida
sobre o papel que os Cavaleiros Jedi deveriam desempenhar em futuros
conflitos. Alguns chegaram a desconfiar completamente da Ordem,
preferindo deixá-los de fora. O fato da Mestra Satele ter trazido uma Sith
para a mesa de negociações apenas confirmou esses sentimentos
desconfiados.
— O meu inimigo é o seu inimigo, — disse Ax. — Isso te torna útil pra
mim. E vice versa.
A crista da capitã Pipalidi ficou laranja brilhante.
— Nós não precisamos de você, sua criança bruxa assassina...
— Chega, — disse Mestra Satele, levantando as duas mãos.
— Isso não nos levará a lugar algum. O fato é que fazer precisa dela,
capitã Pipalidi, e os Imperiais, bem, por isso devemos negociar em
conformidade. Os seus analistas confirmaram os cálculos de Dao Stryver?
— Sim. — A capitã se levantou, tornando-o a pessoa mais alta da sala
em mais de um metro. — Enviei um droide sonda de longo alcance para
transmitir uma mensagem ao Comandante Supremo, mas não prevejo uma
resposta de qualquer tipo dentro de um dia.
— A chance de Stantorrs enviar uma frota com base em uma mensagem
é remota, — disse a Mestra Satele. — E quando chegasse, Sebaddon estaria
fervendo.
— Sim. — Essa única sílaba transmitia um peso de importância. Apesar
de toda a aversão à situação, pelo menos a capitã entendeu seu significado.
— Não entendo por que Stryver não nos contou isso antes, — disse
Shigar.
— Atualmente, temos apenas quinze naves agora. Se combinássemos as
duas frotas na chegada, já passariam dos trinta. Se ele tivesse nos avisado...
— Você teria acreditado nele? — Perguntou Ula.
— Não, — disse Ax inesperadamente. — Tentei contar ao meu Mestre
sobre os hexagonais, mas ele não ouviu.
Shigar também não me adicionou, mas poderia.
— Então, Stryver nos deixou martelar só para provar algo? Se
tivéssemos sido derrotados, isso não faria bem a ninguém.
— Tenho certeza que ele tem as suas razões, — disse Mestra Satele. —
A mesma razão, possivelmente, que ele é o único de sua espécie aqui. Se o
Mandalore se sente tão forte nisso, por que ele não mandaria mais para nos
apoiar?
— Talvez ele queira que façamos o trabalho sujo pra ele.
— Ou ele não acha que o seu pessoal está preparado, — disse a jovem
Sith.
Shigar encontrou o seu olhar rápido. Se eles compartilhavam uma coisa,
ao que parecia, era a desconfiança dos Mandalorianos.
— Quinze naves, — ponderou a capitã Pipalidi, — incluindo um
cruzador volumoso...
Ax disse:
— Temos três mil soldados de linha de frente, divididos pelos restos de
três regimentos, repulsores, armas pesadas e blindados, com duzentos
droides de batalha TRA-Nove. Temos transporte suficientes para pousá-los
e apoiá-los, mas perdemos grande parte de nossas munições quando as
naves que as carregavam foram destruídas pelos hexagonais.
— Esses números são precisos? — perguntou a capitã, desconfiado.
— Fui ordenada a não reter nada. É para nosso benefício, no momento,
não fazê-lo.
— Nesse espírito, vou oferecer o mesmo. Três mil e quinhentas tropas,
dois regimentos completos. Repulsores e armaduras. Nossas asas estavam
no ar quando as suas naves principais foram destruídas, então a maioria dos
caças sobreviveu. Os deques dos hangares estão lotados e as opções de
reabastecimento são limitadas.
— Temos o mesmo problema, — disse Ax. — O coronel Kalisch enviou
grupos de ataque para salvar o que podiam das naves infectadas, mas
nenhuma retornou. Uma voltou infectada. Nós a destruímos.
— Nós percebemos. A nossa equipe de inteligência trabalha em turnos
duplos, observando tudo ao redor do planeta. Evidentemente, não ajudamos
pelo fato de termos poucos funcionários.
A tensão da capitão diminuiu visivelmente quando ela e Ax trocaram
detalhes de perdas e contratempos. Shigar ouvira como as linhas de batalha
podiam ser borradas na frente sangrenta de uma guerra. Foi a primeira vez
que viu isso em ação. Talvez o plano improvável de Stryver tivesse algum
mérito, afinal.
Ula entrou na rápida troca de informações.
— A cada minuto que ficamos conversando, — ele disse, — os droides
de Xandret constroem mais de si mesmos, mais fábricas, mais quem sabe o
que? Se quisermos detê-los, precisamos começar a fazer planos sólidos e
com rapidez.
— Concordo, — disse Mestra Satele.
— A nossa prioridade número um é impedir que os droides obtenham
mais do que um ponto em órbita. Enquanto as suas fábricas estiverem
confinadas à superfície do planeta, será possível derrotá-las.
— Um planeta inteiro com apenas quinze naves? — Perguntou um dos
oficiais superiores da capitã. — E apenas um cruzeiro volumoso? O major
de pele dura balançou a cabeça. — Não importa como você as divida, é
impossível.
— Somente se dissermos a nós mesmos, — disse Shigar. — que os
dados de Stryver mostraram claramente como os hexagonais irradiavam
para fora de um ponto central, o principal ponto quente que as suas naves
bombardearam, — acrescentou ele, acenando para Ax. — Acho que é
seguro assumir que foi onde a Xandret e os outros fundaram a capital da
colônia. Destruí-la não tirou a inteligência coordenada dos hexagonais, mas
deve ter machucado o suficiente para se mover para outro lugar. Se
procurarmos o lugar que está crescendo mais rápido, esse será o lugar para
atirar.
— Nós identificamos dois desses locais, — disse a capitã Pipalidi. Um
holograma cintilou para a vida entre eles. — Aqui e aqui, — disse ela,
indicando um ponto no equador e outro no polo sul. — Talvez os
hexagonais tenham decidido não colocar todos os ovos em uma cesta, desta
vez.
Shigar estudou a imagem. O local no equador estava no meio de um
vasto mar de lava, pontilhado de ilhas de pedra sólida. O local polar era
muito mais estável. Linhas retas irradiavam dele em todas as direções,
levando a outros pontos em outros lugares.
— Isso é uma fábrica, — disse ele, apontando para o polo.
— Talvez a fábrica principal, onde tudo mais se origina. E esse é o
cérebro, — ele disse, transferindo o dedo para o equador.
— Como você pode saber disso? — Perguntou Ax.
— Porque as fábricas precisam de meios físicos para organizar as coisas.
Recursos, energia, droides acabados. É isso que são. — Ele seguiu uma
linha de ponto a ponto. — Estradas ou ferrovias de algum tipo. Ou cabos de
energia.
— E o cérebro não precisa de nada disso, — disse ela, assentindo. —
Ele pode simplesmente ficar lá, isolado no meio dessa bagunça, enviando
ordens pelo rádio.
— Eu acho que você está certo, Shigar. — Mestra Satele se moveu ao
redor do globo, esfregando o queixo. — As equipes que atacam ao mesmo
tempo, mais o bombardeio direcionado nos locais secundários, devem ser
suficientes para retardar o crescimento dos hexagonais.
— O suficiente para impedir, talvez, — disse a capitã Pipalidi, — até
que os reforços cheguem.
Houve um silêncio desconfortável. Shigar sabia tão bem quanto
qualquer um que, depois que a ameaça do planeta fosse reduzida a zero, a
aliança se romperia. Esse momento de solidariedade era ao mesmo tempo
frágil e temporário. Ninguém havia esquecido que os Sith e os Jedi, o
Império e a República, eram outra coisa além de ser inimigos mortais.
— Vamos nos preocupar com reforços quando eles chegarem aqui, —
disse Ula. — Capitã Pipalidi, você gostaria de esboçar um plano básico
agora, para passar a Darth Chratis e ao coronel Kalisch para saber a opinião
deles? Sugiro dividir os recursos igualmente sobre todos os objetivos
táticos, para garantir que ambas as partes sintam que foram incluídas, mas
não exploradas, além do dobro do número usual de comandantes para cada
pelotão. A disciplina deve ser mantida. Não queremos que as tropas se
matem em um momento crítico.
— Naturalmente não, — disse a capitã com um tom azulado ao seu
brasão. Shigar não sabia o que aquilo significava. Ironia, talvez.
Shigar captou outro olhar na direção da jovem Sith, entediada, desta vez,
e novamente simpatizou. O duelo na antecâmara de segurança dos Hutts
parecia uma vida atrás. A mão do sabre de luz coçava, mas a mantinha
cuidadosamente mole no seu lado.
A PORTA DA SALA de conferências se abriu. Larin foi pega de surpresa.
Há muito tempo, ela desistiu de tentar ler os lábios das pessoas lá dentro.
Ao ver um major, ela automaticamente ficou em posição de sentido.
— Soldado Hetchkee, um momento, — disse o robusto Rellarin. —
Você também, Moxla.
Larin seguiu Hetchkee e o major para a sala de conferências. O ar
parecia muito mais denso que o normal, como sempre acontecia durante
longas sessões de planejamento. Uma projeção atual do planeta estava
pendurada no centro da sala, tracejada e pontilhada com anotações em
amarelo e verde. As pessoas se amontoavam ao redor, fazendo sugestões. A
garota Sith era uma delas.
Ambos Shigar e Ula olharam pra cima quando Larin entrou, mas foi a
capitã quem falou.
— Estamos enviando equipes de ataque para os dois locais, — disse ela
em uma voz tão profunda que machucou o peito de Larin. Um dedo longo
esfaqueou o globo. Aqui e aqui. Precisamos de pessoas familiarizadas com
os hexagonais para guiar cada equipe. Ambos os seus nomes foram
mencionados para o ataque à fábrica principal. Soldado Hetchkee, os seus
detalhes estavam com o enviado, sob a autoridade do Comandante Supremo
Stantorrs. Não supero ele, é claro, mas posso promovê-lo acima do nível
exigido para uma escolta. Ninguém sonharia em desperdiçar um tenente
com essa escolta, e estamos com falta de oficiais. Você aceita esta tarefa?
— Sim, senhor. — Hetchkee fez uma saudação instantânea. Parecendo
que ele estava igualmente encantado e aterrorizado. Este não era só o salto
mais rápido que se pode imaginar na cadeia de comando, mas também pode
ser o mais breve.
— E quanto a você Moxla?
— Perdoe-me, senhor, mas eu tenho uma história
— Então me disseram. Eu não ligo para o que aconteceu naquela época.
Você é a coisa mais próxima que temos das forças especiais agora, então
seria uma loucura não usá-la. Tudo o que importa é que você siga as ordens,
e será seguida, por sua vez, por qualquer pessoa que tenha alguma dúvida.
Você acha que pode gerenciar isso?
O rosto dela estava queimando. Estava a serviço novamente! Não sabia
se deveria matar Shigar ou beijá-lo.
— Sim senhor. Eu faço. Eu vou.
— Bom. Major Cha, leve-os ao contramestre e prepare-os. Quero que
estejam informados e prontos para a ação dentro de uma hora.
— Sim senhor.
O Rellarin saudou e os guiou em direção à porta. Larin sentiu como se
estivesse atravessando um vácuo sem peso, não flutuando exatamente, mas
se soltando de tudo. Um toque, e poderia cair pra fora de controle.
O major riu quando a porta foi fechada atrás deles.
— Vocês deveriam ver os seus rostos, — disse ele. — Bem, eu
realmente não posso ver o seu, Hetchkee, mas posso imaginar.
— Vamos realmente atacar o planeta, senhor?
— Pode apostar sim. Você está disposto pra isso?
— Eu farei o meu melhor, senhor.
— Isso é tudo o que podemos pedir a você. O que esperamos é uma
história diferente.
Em pouco tempo, alcançaram o amplo armazém técnico da Commenor.
Larin olhou avidamente de fileira em fileira de armaduras limpas vazias,
armas atualizadas e aparentemente infinitas caixas de munição. Sabia que
esta não era uma nave grande, então as provisões não eram tão extensas
quanto imaginava, mas era muito mais do que via há muito tempo. Quase
chorou.
— Aqui estamos. Sargento, esses dois novos tenentes se encontram
extremamente sub-provisionados. Certifique-se de que eles estejam
equipados com tudo o que precisam e faça isso em dobro.
— Sim, major Cha.
O sargento moreno assumiu o comando de Larin e a levou ao paraíso.
— E QUANTO AO Mandaloriano? — Ax se perguntou quando os troopers
atordoados se foram. — Que papel ele desempenha nisso tudo?
Não tinha esquecido a sua promessa. Vou te matar, Dao Stryver, ou
morrer tentando.
— Além de fornecer qualquer outra informação que ele possa ter, —
disse a capitã, — espero que ele se junte aos caças que varrem os
hexagonais da órbita.
— Pode ser difícil mantê-lo fora de jogo, — disse um do seus oficiais.
— Os Mandalorianos não amam nada menos do que uma boa luta.
— Ele fez um trabalho muito bom em ficar de fora desta, — disse o
Padawan com um encolher de ombros. — Talvez ele esteja contente com
isso.
Ax manteve os seus sentimentos para si mesma. Estaria a centenas de
quilômetros de distância deles, então, com a intenção de destruir a
inteligência coordenada dos droides. Mas aconselharia o Mestre a ficar de
olho na batedora de Stryver, na esperança de que ele se aproximasse demais
de uma nave Imperial. No caos do combate, os mísseis costumavam se
perder. Queria-o morto, mesmo que não pudesse dar o golpe mortal.
— Um de nossos oficiais de sinalização acredita que os hexagonais nos
detectam por nossos identificadores, — disse outro alienígena da equipe da
capitã. — Poderíamos confundir nossas unidades, e confundi-los.
— Melhor ainda, — disse o Padawan, — poderíamos evitar
completamente as unidades.
— O que você quer dizer?
— Transporte para órbita baixa, em queda livre direto para baixo a partir
daí, em seguida, identifique o alvo.
Ax ficou impressionado. Ela gostou desse plano, contra a vontade.
— Poderia funcionar. Apareceremos no radar, é claro, mas eles não
saberão o que somos. Jogue fora um pouco do lixo com a gente, e eles
podem até nos confundir com detritos.
A capitã estava assentindo.
— Excelente. A única coisa que resta a decidir é quem tem autoridade
total.
Houve outro silêncio constrangedor.
Ax sabia que esse momento estava chegando. Darth Chratis ou Coronel
Kalisch. Temos o cruzador volumoso.
— Mas temos mais naves, — disse a capitã Pipalidi.
— A Mestra Shan deve tomar a decisão, — disse o Padawan, com
perfeita previsibilidade. — A previsão dela é lendária.
— Ela sabe como isso vai acabar? — Ax perguntou a ele.
— Eu não, — disse a Grã Mestra. — Mas eu sei que nunca vamos
concordar com essa questão. Sugiro que dar a outra pessoa a autoridade
para supervisionar esse compromisso. Não os detalhes, mas os principais
momentos estratégicos. Alguém em quem já confiamos para agir como
intermediário em circunstâncias difíceis.
Todos os olhos se voltaram para o Enviado Vii.
— Eu, ah, ficaria honrado, é claro, — ele disse, — mas...
— Darth Chratis aceitará essa proposta, — disse Ax, gostando da
maneira como o traidor se contorcia.
— Eu também, — disse a capitã.
— Com uma condição, — acrescentou Ax. — Devemos ter certeza de
que o Enviado Vii está agindo de forma independente, sem nenhum tipo de
sofrimento ou influência. Como não podemos garantir que ele o faça aqui,
em uma nave da República, exigimos que ele esteja estacionado em outro
lugar e permaneça em contato constante com todas as partes.
— Não com você, — disse a capitã. — Ou Dao Stryver.
— Na nave do Nebula, — disse Shigar.
A Grã Mestra assentiu.
— A Auriga Fire
A laringe do Enviado Vii balançou uma vez, duas vezes, então ele
visivelmente se recompôs.
— Eu aceitarei essa responsabilidade, — disse ele, — assumindo que as
minhas instruções serão seguidas à risca. Não faz sentido ter-me nesse papel
se vocês não me ouvirem. Cada um de vocês.
Ele estava olhando para a capitã, que assentiu. Claramente, uma
autoridade civil era melhor do que um Sith ou um Jedi.
— Eu vou fazer o meu papel, — disse ela.
— Darth Chratis também, — disse Ax. — Tenho certeza de que o
Enviado Vii fará a coisa certa por todos nós.
Olhou pra ela, e ela viu o terror nos olhos dele. Entendeu muito bem o
que ela quis dizer.
ENQUANTO A SITH aprendiz transmitia as ordens ao seu Mestre, Ula
levou um momento para rever o plano em sua mente. Objetivos primários e
secundários foram agora definidos. Haveriam três equipes. O primeiro
limparia a órbita de Sebaddon, para que os desembarques pudessem passar.
O segundo, liderado pela Grã Mestra Shan, tentaria destruir a inteligência
coordenada dos droides, a sua versão dela, ele agora percebia. Sem dúvida,
os hexagonais estariam tentando eliminá-lo em troca. A terceira equipe
seria liderada pelo major Cha, com Larin e Hetchkee o apoiando. Eles
entrariam na fábrica principal e impediriam que os droides criassem um
novo IC.
O trabalho de Ula era supervisionar tudo e, de alguma forma,
permanecer vivo.
O Padawan Jedi chegou perto.
— Não sei o que você disse a eles, — sussurrou Shigar, — mas você
tem os imperiais pulando exatamente a tempo.
Ula ergueu os olhos do globo holográfico.
— Não foi nada de especial, — disse ele, escondendo muitas camadas
da verdade por trás de uma simples mentira. — Eles não são monstros. Eles
podem ser convencidos a ver a razão.
A dúvida de Shigar sobre esse ponto era impermeável.
— Seja como for, continue assim e você será o Supremo Chanceler um
dia.
Não se eu for pego. Ula sabia muito bem como os agentes eram punidos
nos dois lados. Mas parte dele ficou lisonjeado com a confiança do
Padawan nele. Lembrou-se de como Shigar o salvara da parede em colapso
de Hutta e de como Larin se ofereceu para acompanhá-lo até o que deve ter
parecido uma certa desgraça, quando se encontrou com Darth Chratis. Esses
atos foram oferecidos livremente, sem promessa de recompensa. Ele não
entendia de onde eles vinham, a menos que eles realmente pensassem que
merecia ser salvo.
Esse eu, perguntou-se, ou o seu eu falso?
De qualquer maneira, sentiu-se um pouco animado com a consideração
deles.
— O Mandaloriano concorda, — disse o major Rellarin, erguendo os
olhos de outro holoprojetor. — Inteligência e vigilância, envolvendo apenas
com o instruído.
— Darth Chratis concorda em todos os pontos, exceto um, —
acrescentou a aprendiz Sith ao retornar ao grupo.
— Ele lutará com a Mestra Shan durante o ataque ao IC. E eu vou lutar
também.
A Grã Mestra assentiu devagar.
— Muito bem. O meu Padawan fará parte da força de ataque, então isso
é justo.
— Excelente, — disse Ula, desempenhando o papel de mediador com
algo como serenidade, ele esperava. — Estamos de acordo. Tudo o que
resta é começar.
— Não há tempo a perder, eu sempre digo, — murmurou a capitã
Pipalidi.
— É exatamente o que eu digo, — disse Ula.
— Vou me retirar para a Auriga Fire e montar o meu posto de comando
lá. Na notificação de que tudo está no lugar, darei a ordem. Nada deve
começar até então. Entendido?
Eles entenderam muito bem, e também não tinha ilusões. Era tudo um
ato, um curativo apressado das rachaduras que inevitavelmente rasgaria a
aliança em pedaços. Mas enquanto eles estavam preparados para jogar, ele
também estava.
A capitã Pipalidi estalou os dedos e uma escolta caiu por trás dela. Eles
marcharam através da nave até o local onde a Auriga Fire permanecia
ancorada em segurança e o deixaram lá.
O contrabandista olhou pra cima quando entrou na cabine.
— Como foi?
— Poderia ter sido pior, — disse Ula, caindo no assento do copiloto. —
Eles me colocaram no comando.
— Bem, bom pra você. Esse é o lugar para você se quiser economizar
um pouco de lucro.
— Eu não estou interessado em fazer isso.
— Então, no que você está interessado?
Essa era a pergunta, supôs Ula. Era para dar aos Sith o que eles queriam
e, assim, perpetuar o seu regime mortal? Era para fornecer recursos a
Ministra de Logística, a fim de promover o seu sonho de uma sociedade
Imperial mais equilibrada? Ou era algo mais?
Sempre pensou em Coruscant como um lugar amaldiçoado. Só agora
percebeu o quão fácil a vida dele era lá. Por aqui, os problemas eram os
mesmos, mas os blasters os quais estavam apontados para o seu templo
estavam muito, muito mais próximos.
LARIN OLHOU um portal de transparaço e se perguntou se estava
sonhando.
A Commenor estava estacionada na órbita próxima da lua irregular de
Sebaddon, em sintonia com os outras naves da República. As naves
Imperiais haviam ocupado uma órbita diferente, mas estavam cada vez mais
alinhadas. Uma vez que as frotas se fundissem, o primeiro ataque
começaria. Estaria indo para a superfície com os outros soldados para
combater o inimigo onde ele morava. Até então, não havia nada a fazer
além de encarar a vista.
Enquanto Larin observava, uma conjunção quase surreal ocorreu diante
do seus olhos. A lua, Sebaddon, e a dramática espiral da galáxia formaram
uma linha reta, com os jatos do buraco negro alinhados em ângulos retos,
criando um X estelar. Isso a lembrou da Cruz da Glória, o maior prêmio
militar concedido pelo República. Não acreditava em presságios, ou em
qualquer tipo de previsão do futuro, na verdade, apesar das conversas sobre
as habilidades da Mestra Satele a esse respeito, mas decidiu tomar isso
como um bom sinal. Tudo estava alinhado. Tudo estava perfeito.
Quando a conjunção terminou, afastou-se da janela e testou a sua nova
armadura. O traje estava limpo, totalmente carregado e equipado com tudo
o que sempre quis. Todos os bolsos estavam cheios, com todas as vedações
verificadas. As suas articulações se moviam suavemente, sem
impedimentos, e prestavam assistência quando solicitadas, sem perturbar ou
perder o controle. O seu capacete era um pouco confortável, mas o
intendente tinha lhe assegurado que todos eram assim, nos dias de hoje. Os
projetos mais recentes estavam melhor equipados para evitar traumatismo
craniano, mesmo nas situações mais extremas. Teria um pouco de
claustrofobia em troca de saber que o seu crânio estava seguro.
No espelho, estava irreconhecível, e isso não era apenas por causa das
insígnias de tenente em seus ombros.
— Você tem os dedos, — disse uma voz da entrada do gabinete.
Virou-se e viu Shigar parado ali, recém-vestido na versão Jedi de
uniforme e armadura: marrons e pretos, principalmente, com dobras soltas
de tecido ocultando um revestimento compacto de armadura.
— Essa é a Larin, não é? — Ele acrescentou com uma careta repentina.
— Sim, — disse ela, saindo de seu deslumbramento. Puxou o capacete
com a mão esquerda, que, como Shigar apontou, agora tinha dígitos
individuais. A nova prótese não era permanente; era apenas um passo acima
da raquete grosseira que Ula encontrara na Auriga Fire. Mas poderia
segurar o estoque de um rifle enquanto a sua mão direita puxava o gatilho.
Poderia digitar dígitos em um teclado. Poderia apontar.
— Vai servir, — disse ela, fingindo indiferença.
Ele entrou mais fundo na sala, então eles estavam com um braço de
distância.
— Estamos saindo da órbita em dez minutos. Eu queria dizer boa sorte.
O seu estômago revirou. Tinha planos pra rever, equipamentos pra
checar, tropas pra se dirigir... e o próprio salto em si, esperando no final de
tudo isso. Não tinha mergulhado em órbita desde o treino básico. Somente
pessoas loucas faziam isso por escolha. Tantas coisas podem dar errado.
Estava ciente de que essa poderia ser a última vez que se viam.
— Quem precisa de sorte? — Ela disse. — Você tem a Força do seu
lado, e eu tenho muitos explosivos.
Ele sorriu.
— Nada perturba você?
— Não oficialmente. Apenas aranhas plasma. Ah, e o cheiro dos
biscoitos de Reythan, por algum motivo.
O sorriso dele se alargou.
— Bom para você. Francamente, estou aterrorizado.
O seu estômago revirou como se estivesse em queda livre.
— Na verdade, — disse ela, — esse tipo de coisa me deixa um pouco
nervosa.
Ela se inclinou para mais perto dele, movendo-se rapidamente, para não
mudar de ideia, e o beijou nos lábios.
Afastou-se com um olhar chocado no rosto.
— Larin, oh, oh, desculpe, eu não...
— Não, — disse ela, com o rosto queimando.
Eu não penso em você dessa maneira, ele claramente estava prestes a
dizer. Eram palavras que ela não queria ouvir.
— Não peça desculpas. Me desculpe.
— Isso foi erro meu. Eu pensei...
Ela parou. Eles estavam conversando um sobre o outro, e o seu rosto
estava tão vermelho quanto o dela. De repente, teve medo de se mexer, de
fazer ou dizer qualquer coisa, para não ser totalmente mal interpretada. Para
onde foram as brincadeiras naturais entre eles? O que aconteceu com a
conexão que tinha certeza de que estava lá?
Se tinha certeza de uma coisa agora, era que prolongar o
constrangimento não garantia nada além de mais do mesmo.
— Acho que isso é um adeus, — ela disse, — por enquanto. Boa sorte
para você também, Shigar.
— Obrigado, — disse ele, e embora não pudesse olhar pra ele, sabia que
ele estava olhando para ela. — Obrigado, Larin do Clã Moxla.
Então ele se foi, deixando apenas o cheiro pra trás.
Apertou o rosto nas mãos.
— Flack. Flack flack flack!
— O que há de errado? — Perguntou uma voz totalmente nova na porta.
Era o Hetchkee. Piscou pra ele e tentou se concentrar em algo diferente
de como era uma idiota.
— Nada. Apenas me colocando no clima.
— Os nossos pelotões estão reunidos, — disse ele. — O que eu vou
dizer a eles?
Ele estava tão assustado quanto ela.
— Nada além da verdade, — ela disse, — que você os chutará no porão
de carga se eles nos fizerem parecer ruins.
Pegou o capacete e o seguiu até as salas de reunião. Hetchkee foi o
primeiro da fila. Com uma respiração profunda da sua mistura atmosférica
única, ele mergulhou dentro. O salto de Larin era o terceiro, e mal teve
tempo de se recompor antes de chegar lá. Era uma tenente encarregada de
uma missão vital, lembrou a si mesma. Havia sobrevivido a dois encontros
com os droides de Sebaddon antes disso, e agora também havia sobrevivido
ao encontro romântico mais embaraçoso de sua vida. Foi treinada pelas
forças especiais. O que um bando de grunhidos de miseráveis
possivelmente poderia fazer para derrubá-la?
— Bem, bem, — disse uma voz das tropas reunidas na sala. — Se não é
a Moxla Tóxica, a informante de Kiffu.
Ali, na fila da frente, estava o Zabrak que a desafiou em Coruscant.
Perfeito, ela pensou. Só um assassinato militar perfeito.
AX OLHOU pra cima quando o Padawan entrou na área de preparação. Não
havia literalmente uma nuvem sobre a sua cabeça, mas poderia muito bem
ter havido. O seu rosto estava sombrio, nublado, à beira de algum tipo de
tempestade interna.
Saiu da canto que tinha encontrado pra si mesma, longe da multidão da
República, esperando o lançamento do transporte, e foi até ele.
— Você está com raiva, — disse ela.
— Somente de mim.
Ele tentou afastá-la, mas não o deixou ir tão facilmente.
— Essa é a primeira vez que eu te vejo desse jeito. É uma melhora.
Ele deu-lhe um olhar ameaçador.
— Do que você está falando?
— A raiva é uma coisa boa, — disse ela. — Isso te liberta, te fortalece.
— Isso é uma mentira. A raiva é um caminho para o lado sombrio.
— Você diz isso como se fosse uma coisa ruim. — Ela o puxou para
mais perto dela.
— Você sabe, você luta muito bem. Imagine o quão mais poderoso você
poderia ser se pudesse ignorar os modos repressivos do seus mestres e...
— Não. — Ele puxou o seu braço livre. — A sua mãe também estava
com raiva e veja onde isso a levou.
Ela recuou.
— O que você planejou fazer com ela quando a encontrar?
Deixou a verdade disso transparecer em seu rosto.
— A raiva e o ódio sangram tudo até secar.
Ele foi embora.
Ax não sorriu até ter certeza de que ele não estava olhando. O seu
desgosto o deixou bonito, e isso era a recompensa suficiente pra ela.
SHIGAR COLOCOU A MAIOR distância possível entre si e a garota Sith.
Ela era bonita, mas o seu rosto escondia um coração imundo. O melhor, ele
disse a si mesmo, era ficar bem longe dela.
A sua repulsa estava inevitavelmente enredada em sentimentos de
arrependimento por Larin. Como pode ter lidado com esse encontro tão
mal? Deveria ter ficado menos surpreso, e sido mais gentil. Era isso que a
Mestra Satele quis dizer sobre ser gentil?
A sua Mestre veia até ele e colocou a mão em seu ombro. Sentiu-se
instantaneamente mais calmo, como se ela tivesse sugado a tensão dele.
— Vamos descer nos mesmos transporte espaciais, — disse ela.
— Imperiais e nós. Você se encontrará muito pior.
— Eu sei Mestra. Ela só me pegou de surpresa.
— Esse é sempre o objetivo deles. Quando eu era Padawan...
Um tinido de metal sobre metal a cortou. A escotilha externa sibilou.
Um esquadrão de soldados Imperiais marchavam, igualando o contingente
da República em um por um. Era claramente o esquadrão que se juntaria a
eles na descida para a ilha que continha a inteligência coordenada dos
hexagonais. Eles eram humanos, malvados e fortemente armados. A
disciplina deles era impecável. Nem uma bochecha se contorceu fora do
lugar; nem um lábio curvou.
Atrás deles, uma presença sombria que transformava o sangue de Shigar
em água. Um amálgama torturado de carne e metal, ele era uma cabeça
mais alta do que qualquer outra pessoa e irradiava um frio profundo e
penetrante. Ele já fora homem, mas o lado sombrio torcera cada gota da
humanidade dele, deixando uma casca que mal parecia viva. Apenas os seus
olhos continham uma vitalidade genuína. Deles irradiavam reservas
ilimitadas de ódio. Ele respirou suspiros apressados, como se o ar cheirasse
mal, ou como se cada ingestão pudesse ser a sua última. Um bastão
comprido e fino bateu na hora de pisar pesado de suas botas.
— Estou aqui, — anunciou Darth Chratis. — Esta operação agora pode
começar.
— O Enviado Vii está aguardando apenas as nossas atribuições pessoais,
— disse Satele Shan, enfrentando-o como se ele fosse um ser comum. —
Quando dermos a ele, ele emitirá a ordem.
— Consulte-o como 'enviado' não mais. — O Lorde Sith olhou para ela
com o nariz torcido. — Não obedecerei a nenhum servo da República.
— Então, Diretor Vii da Operação Independente Sebaddon. — Ela
cruzou as mãos pacientemente atrás das costas. — Vou levar o meu
Padawan no primeiro dos dois ataques da...
— Não. Você levará a minha aprendiz e eu levarei o seu. Essa é a única
maneira de garantir a imparcialidade.
As palavras pendiam como pingentes de gelo. Shigar queria implorar a
sua Mestra que negasse a Darth Chratis essa condição. Não ceda a ele,
desejava dizer. Não me envie a lugar algum com essa... criatura. Ele vai me
matar assim que você virar as costas!
Mestra Satele apenas sorriu.
— Claro, Darth Chratis. Fico feliz em atender o seu desejo. Deseja
dividir o restante de nosso pessoal de alguma maneira específica?
— Eles não me preocupam. — Ele acenou uma mão em dispensa fácil.
— Muito bem. Vou atribuí-los aleatoriamente. Isso é tudo?
O olhar dele se estreitou. A pergunta dela fez com que ele parecesse
pedante, e ele claramente não gostou disso.
— As disposições são suficientes.
A Mestra Satele digitou rapidamente em um datapad. Os comunicadores
da Imperial e da República haviam sido casados às pressas em uma rede
contígua, permitindo que as ordens fossem transmitidas da Auriga Fire
através de várias naves de comando. Quase que imediatamente, uma série
de sinos e comandos de voz dividiram os dois cooperantes em dois grupos
misturados. Metade ficaria pra trás e partiria da Commenor. O resto
retornaria com Darth Chratis ao transporte Imperial.
Shigar estava no último grupo e observou com o coração na boca os
troopers que logo deixaria pra trás, entrando em sua nova disposição,
espaçados ordenadamente, embora de maneira desajeitada, pela área de
preparação. Em muito pouco tempo, seria lançado à deriva no mundo dos
Imperiais, nas garras de Darth Chratis.
A Mestra Satele apareceu ao lado dele. Mais uma vez, ela adivinhou
corretamente a fonte de sua inquietação, mas desta vez não havia mão que o
acalmasse.
— Concordei com o pedido de Darth Chratis, — disse ela, — porque
não posso confiar nele. Estou confiando em você para garantir que ele
cumpra o acordo.
— Não sou páreo para um lorde Sith, — disse Shigar, horrorizado.
— Oh, ele não vai te matar, — disse ela. — Tenho certeza que ele tem
algo pior em mente.
Então entendeu. Ela estava testando ele... e se ele falhasse, eles
poderiam nunca mais se encontrar como Jedi novamente.
— Eu não vou decepcioná-la, Mestra.
— A Força estará com você.
Eles se abraçaram e seguiram em seus caminhos separados.
— TRANSPORTES SE AFASTANDO, — disse Jet.
Ula caiu de volta no assento do co-piloto, observando a telemetria
confirmando a afirmação simples de Jet. A frota combinada da República
Imperial tinham obedecido a sua ordem de implantação. O plano maluco
deles pode realmente funcionar.
Na hora seguinte, quatro mil pessoas convergiriam para Sebaddon
isoladamente, para se recombinar como esquadrões de ataque para atingir
objetivos primários e secundários. Os Jedi e os Sith liderariam o ataque ao
equador, enquanto soldados comuns, incluindo Larin, atacariam a fábrica
principal no polo. Outros dois mil permaneceriam em órbita, mantendo os
céus livres dos hexagonais e fornecendo bombardeios ocasionais ao solo
abaixo. O restante forneceria suporte vital de vários Quarteis Generais
distribuídos, dois dos quais estavam na Commenor e na Primordial.
Todos se reportando a ele.
E para Jet e Clunker.
O contrabandista recusou todas as ofertas da equipe de segurança,
oficiais de comunicação, alegando que ele não queria uma tripulação
potencialmente fracionada. Escolher um lado ou outro seria politicamente
complicado.
— Ao menos não precisamos de alguém para ajudar a nos defender? —
Ula perguntou, um pouco horrorizado com o quão vulnerável isso os
deixaria.
— De modo nenhum. Clunker pode operar os tri-lasers remotamente da
ponte.
— Então, o que havia em Hutta sobre precisar de uma equipe? Por que
você já precisou de uma equipe?
Jet sorriu.
— Pela companhia.
Ula agora se perguntava se era por uma razão completamente diferente:
por um disfarce. Notou o quão silencioso Jet ficava na maioria das vezes.
Quando ele não estava representando o papel de um contrabandista
dissoluto, ele estava observando e ouvindo tudo o que acontecia ao seu
redor. E agora, de alguma maneira, ele havia se envolvido no centro de
tudo. Ele estava a par de todas as ordens que vinham através da Auriga
Fire. Todas as informações nas quais Ula baseava esses pedidos eram
filtradas pelos sensores da Jet. Se Jet desligasse, a frota combinada ficaria
sem liderança.
Ula garantiu a si mesmo que esse não era o estilo de Jet, que se ele
tentasse mudar o curso da batalha, faria isso de uma maneira muito mais
sutil. Ainda assim, Ula estaria atento para qualquer coisa, e se armara com
um novo blaster, por precaução.
— Implantar combatentes, — ele ordenou a frota. — Iniciar bombardeio
de alvos principais.
Instantaneamente, os pontos na tela principal começaram a mudar.
Quatro esquadrões de Mk. Os interceptors Mk. VI Imperiais e os caças
estelares XA-8 da República bombardeariam a concha de hexagonais em
órbita com canhões de laser e torpedos de prótons, criando buracos em
quatro locais cruciais. Dois desses locais permitiriam aos importantes
transportes de tropas o acesso à órbita mais baixa, para descarregar os
paraquedistas, entre os quais estava Larin. Era vital que eles não fossem
interferidos no caminho. Os outros dois orifícios orbitais forneceriam
janelas críticas para o bombardeio da Primordial, principalmente pelos B-
28 com pilotos Imperiais. No primeiro engajamento, vinte por cento dos
mísseis lançados no planeta foram desativados durante a descida por
interferência dos hexagonais. Cada tiro disparado agora tinha que contar.
Os interceptors e caças estelares atingem a concha de hexagonais. O
espaço se iluminou com explosões, brilhando quase delicadamente ao
longe. A Auriga Fire manteve uma distância respeitosa das principais
forças de ataque e das frotas da República e dos Imperiais combinadas,
estacionadas em um ponto equidistante entre o planeta e a sua lua, mas não
era o única nave que flutuava livremente pelo campo de batalha.
— Estamos recebendo uma saudação da Primeiro Sangue, — disse Jet.
— Ponha-o na linha..
— Estou notando um aumento nas comunicações subespaciais, — disse
Dao Stryver em um imagem em miniatura. O seu rosto era um dos vários no
fundo da holotela principal da Auriga Fire. O aumentar da sua nave varreu
o campo de batalha em uma faixa prata. — Como o buraco negro distorce
todas as tentativas de comunicação fora do sistema, sugiro que todas sejam
mensagens de curto alcance, originárias de Sebaddon.
— Os hexagonais, — disse Ula. — Poderia ser assim que eles se
comunicam entre si?
— É uma forte possibilidade de que essa seja a voz da inteligência
coordenada. Não detectamos outros sinais significativos por rádio ou micro-
ondas.
— Você pode localizar a fonte?
— Eu estou trabalhando nisso. Com mais dois ouvidos ouvindo, poderei
triangular.
— Considere feito, — disse Ula, fazendo uma anotação mental para
requisitar os recursos do coronel Kalisch e da capitã Pipalidi.
— Lançamentos, — anunciou Jet.
— Nós ou eles?
— Eles.
Dois locais no globo de Sebaddon foram destacados. Seis mísseis
estavam subindo em motores de íons, as suas cargas provavelmente
destinavam-se a consertar os buracos que os interceptors e os caças
estelares haviam feito na defesa orbital.
— Mandem esses transportes passarem, — Ula transmitiu aos
comandantes da frota. — Esses buracos podem não durar muito.
A confirmação veio dos dois lados. Uma dúzia de embarcações de
tamanho médio quebrou as fileiras, acelerando na capacidade máxima das
suas unidades. Os transportes de tropas leves Vokoff-Strood VT-22
Imperiais correram com os transportes leves NR2 da Industrias Celestial,
cada um carregando centenas de homens e mulheres, humanos e
alienígenas, Jedi e Sith e droides de combate, todos com a intenção de fazer
o possível para esmagar a ameaça hexagonal.
Já se arrependeu de ter pressionado Larin para a equipe da capitã
Pipalidi. Valeu a pena o olhar de surpresa e deleite em seu rosto, mas e se
algo lhe acontecesse? Isso era um custo que ele estava disposto a suportar?
— Não esqueça o que Stryver queria, — disse Jet.
— Eu não me esquecerei, — disse ele, embora isso tenha escapado
completamente de sua mente. — Passe-me para o coronel Kalisch.
Os Imperiais alegaram falta de recursos, assim como a capitã Pipalidi
quando chegou até ela. Poderia muito bem ser verdade, pensou Ula, mas
ainda assim era frustrante.
— Nem mesmo uma nave? — Implorou. — Não precisa ser digna para
batalha. Nós podemos ser os terceiros, se necessário.
— Tudo bem, — disse ela.
— Você pode pegar o meu transporte pessoal. Os suas armas e escudos
foram tirados, então não coloque em perigo.
— Você tem minha palavra. Obrigado, Capitã.
— Transportes atravessem, — disse Jet.
Ula se chutou por não prestar atenção ao quadro geral. Os transportes de
tropas descendentes haviam passado pelas brechas temporárias na concha
orbital. A maioria não era afetada, mas estava soltando seus paraquedistas
prematuramente, combatendo um enxame de hexagonais lançados por um
míssil de passagem. Todos foram acompanhados por interceptors e caças
estelares, que permaneceriam sob a concha quando fechassem, para causar
o dano que poderiam causar por baixo.
— Lançar segundo bombardeio, — ordenou Ula. — Qualquer coisa para
manter os hexagonais ocupados enquanto os paraquedistas descem.
— Confirmado, — disse Jet. — Não, espera. Kalisch quer atacar um
alvo diferente. Alguns dos mísseis vieram de um local que não estava em
nosso radar. Ele está solicitando a permissão para trocá-lo.
Ula rangeu os dentes. Por um lado, era bom que Kalisch tivesse pedido
permissão primeiro. Por outro lado, não havia nenhuma dúvida na mente de
Ula de que faria o que queria, independentemente do que Ula dissesse. A
Primordial era a nave que mais corre risco de ataques do solo. Como a
maior da frota combinada, era natural que os hexagonais o atingissem
primeiro.
— Diga a ele para seguir o plano, — disse Ula, — e da próxima vez que
pedir recursos, é melhor ele cumprir. Ele pode atingir esse alvo na próxima
rodada.
Jet sorriu enquanto transmitia a ordem. A resposta de Kalisch foi curta,
mas ele obedeceu.
— Onde estão os meus ouvidos? — perguntou Stryver.
— Uh, a caminho, — disse Ula, notando apressadamente que o
transporte de Pipalidi havia deixado a Commenor e aguardava instruções.
Jet enviou a permissão do piloto para obedecer às ordens de Stryver, dentro
do razoável, e sincronizou o seu comunicador com as da Primeiro Sangue.
— Somos a sua terceira nave, — disse Ula ao Mandaloriano. — Você
pode usar a nossa localização como um receptor fixo.
— Não se esqueça de compartilhar os seus dados, — disse Jet. — Se o
Clunker puder elaborar o seu código, poderemos ganhar uma tática melhor
do que apenas explodir as coisas.
— Você acha que poderia hackear o sistema de comando deles? — Ula
perguntou.
— Não estou prometendo nada.
Algo mais para eles ficarem de olho, pensou Ula. Como se já não
houvesse coisas suficientes.
Um dos mísseis lançados no solo não explodiu em órbita baixa nem
mirou na Primordial. Estava indo para a lua e chegando muito perto da
Auriga Fire
— Isso é direcionado para nós, — disse ele, — ou é a primeira fábrica
em fuga.
— Primeiro, vamos sair do caminho, — disse Jet, ativando os motores
de íons da nave. — Segundo, Kalisch já está tratando disso.
Ula notou apenas então a dúzia de Blackhawks perseguindo o míssil
com armas travadas. Estava feliz que alguém estava atento.
Quando a Auriga Fire saiu do caminho do míssil que se aproximava,
notou que todos os paraquedistas haviam deixado os seus transportes e
começado a sua descida. Atrás deles veio a nave infectada. Os seus motores
estavam travados a toda velocidade, direcionando o nariz para a atmosfera.
Essa era a política oficial da frota agora: quando as naves estão infectadas
além de qualquer esperança, os membros da tripulação deveriam apontar a
sua embarcação para o alvo e abandonar a nave. A sua pele já brilhava em
vermelho brilhante, e os fragmentos de metal do casco estavam
descascando, fornecendo cobertura e riscos para os que desciam livremente.
Vozes o chamavam no comunicador. Cem fluxos de dados aguardavam a
sua atenção. Ele não podia ficar sentado olhando para o holo para sempre.
Boa sorte, Larin, ele pensou, tentando não se sentir como se estivesse se
despedindo para sempre. Espero que seja isso o que você queria.
O TRANSPORTE VT-22 sacudiu e tremeu tanto que Larin mal
podia ouvir a contagem regressiva. Ainda falta um minuto ou dez?
Verificou o interior do capacete, que mostrava diferentes visões do planeta
abaixo, o seu caminho em direção a ele, e os muitos, e muitos hexagonais
em seu caminho. Dois minutos... essa era a resposta. Resistiu ao desejo da
quádrupla verificação do seu perfil aerodinâmico e do para-jato antes que o
casco se abrisse embaixo dela e a deixasse cair no vazio. Melhor usar esse
tempo para respirar profunda e calmamente e para lembrar quem já foi. —
Nahrung, fique de olho nessas varreduras orbitais, — disse ela ao sargento
pelo canal privado do pelotão. — Se você vir algo que se parece com um
complexo central, sinalize. — Novas informações estavam sendo
derramadas a cada segundo do transporte e de suas escoltas enquanto se
aproximavam da superfície do mundo. — Ozz, observe o tempo. É seu
trabalho garantir que não aterrissemos no meio de um vulcão. Ozz era um
Imperial, de poucas palavras, mas disposto a seguir as suas ordens até
agora. — Mond, o seu esquadrão é o primeiro a descer. Invada com tudo, e
não faça prisioneiros. Quero que você dê os seus melhores tiros primeiro.
Jopp, por exemplo. Vamos ver se ele é tão bom em disparar com um rifle
quanto com a sua boca.
— Sim, senhora, — disse o sargento Mond. O Zabrak, Ses Jopp,
murmurou algo muito baixinho de ouvir. Ele não era nada além de
insubordinado desde que cruzara o caminho dela novamente. Reforçar a
cadeia de comando era a melhor maneira de lidar com pessoas como ele.
— Quando descermos, a primeira prioridade é destruir a fábrica.
Segmentem linhas de suprimentos, linhas de energia, correias
transportadoras, elevadores pesados, o que parecer essencial. Não pare para
contar mortes. Haverão muitos hexagonais para todos. E lembrem-se: eles
se reformulam rapidamente, portanto, não tomem nada como garantido,
mesmo que não esteja em movimento. Não sabemos exatamente o que eles
estão construindo lá em baixo. Tratem tudo com cautela até explodir pelos
ares.
— Vinte segundos, — veio o anúncio da ponte do transporte.
As portas da baía se abriram, deixando entrar a luz do buraco negro.
Aconteceu em quase silêncio, já que não havia atmosfera lá fora. Somente
as vibrações mecânicas atravessaram traje dela e o cinto a segurando no
lugar, acrescentando um gemido baixo ao burburinho geral.
— Dez segundos.
O transporte rotacionou para alinhar as portas do compartimento
diretamente com o planeta abaixo. Centenas de tropas prenderam a
respiração coletiva com a visão. Sebaddon parecia bastante ameaçadora nos
holoprojetores. Rios de lava, cordilheiras montanhosas quase fundidas, e
lagos desiguais espelhados... agora conhecido por ser folhas de metal
reluzente, sólido congelado... eram claramente visíveis através da atmosfera
nebulosa.
— Cinco segundos.
Uma última queima colocou o transporte na trajetória correta. O seu
destino era o polo, em um caminho completamente diferente daquele que se
dirigia ao equador. Shigar estava entre o último grupo, e mesmo naquele
momento, com a voz contando segundos individuais, teve tempo de pensar
nele e sentir um súbito lampejo de vergonha e dor.
— Hum.
— Vão.
De repente, ficou sem peso e o transporte se elevou acima dela, com os
repulsores piscando, retrocedendo rapidamente quando ela desceu. Ao seu
redor haviam soldados adotando a mesma posição que ela, com o rosto para
a frente, com os braços e pernas raspando em linhas retas. Ainda não havia
atrito, e não haveria por alguns minutos, mas a atmosfera era imprevisível.
Tinha ouvido falar de membros e até cabeças arrancadas por simples erros
de telemetria. A desaceleração quando chegasse seria esmagadora.
— Bom lançamento, pessoal, — veio o major Cha, era só um dentre
tantos. Grupos de droides de batalha TRA-9 pairavam imóveis entre eles,
silenciosos como pedra. — Agora encontre os seus parceiros de esquadrão e
reforcem a sua formação. Mantenham o silêncio no comunicador o tempo
todo. Indo para o apagão da inteligência... Agora.
As visões do capacete de Larin de repente se simplificaram, pois a rede
da companhia ficou praticamente inativa. Para apresentar a ilusão de que os
objetos em queda eram inocentes detritos, não haveria conversas internas
nem sinal de dados das naves acima. Ficaria assim até o chão estar a apenas
alguns segundos de distância. Até então, exceto em emergências, era só ela
e os dados coletados até o momento.
Sentia-se estranhamente isolada, descendo entre tantas pessoas sem
trocar uma única palavra. Outros soldados desciam, identificados por forte
preto nos capacetes e nos paraquedas, agrupavam-se em grupos de dez ou
doze, e esses grupos, por sua vez, desciam em suas próprias formações.
Ficou onde estava, e deixou os seus esquadrões caírem ao seu redor. Um
sistema aproximado de codificação de cores diferentes haviam sido
improvisados para garantir que as tropas mistas não tivessem as suas linhas
de comando atrapalhadas. Como o resto dos tenentes... brevet ou não, o
capacete de Larin era verde; os três sargentos eram azuis. O major Cha era
laranja, pendurado sozinho no centro da formação.
Do outro lado, viu outra figura de capacete verde lhe dando um polegar
para cima. Devolveu o gesto, sabendo que era o Hetchkee.
Um do seus sargentos se aproximou, jatos de atitude bufando para
colocá-lo em contato físico com ela. Era Nahrung. Eles se tocaram nas
placas frontais.
— Grade do mapa em vinte e cinco-J, — disse a sua voz abafada. —
Esse é o meu melhor palpite.
Chamou a última varredura recebida antes do blecaute. A referência da
grade mostrou um X artificial, um complexo gigante de algum tipo, com
numerosos afluentes menores correndo em todas as direções. Os jatos dos
buracos negros projetavam longas sombras na paisagem polar, sombras que
podem ter vindo de chaminés, ou posicionamentos de armas.
— Isso vai servir, — disse ela. — Bom trabalho.
Algo brilhante e rápido brilhou por eles: um míssil, seguido por mais
três em rápida sucessão. Bombardeio das naves atrás deles, suavizando o
que estava pela frente. Nahrung se afastou e ela retomou a posição alerta. A
sua tela estava piscando: quase na hora de atingir a atmosfera.
Consciente de todos a observando, se aproximou do esquadrão de Mond.
Jopp estava no local. Veio para o lado dele e seguiu em frente, esperando
enviar uma mensagem: que, embora pudessem tê-la colocado na linha de
tiro, não tinha medo de estar lá com eles.
Cogumelos amarelos e brancos floresceram no chão abaixo.
Os primeiros dedos da atmosfera a tocaram, assobiando levemente,
balançando-a quase gentilmente de um lado para o outro.
Então bateu pra frente, sentindo como se tivesse atingida por uma parede
de tijolos. Rugiu desafiando o ar passando por ela, acrescentando o seu
próprio ruído à barulheira ensurdecedora. A sua primeira experiência em
Sebaddon a sacudiu e a martelou, trepidando todos os ossos nas usas juntas.
O seu cérebro estremeceu e a visão ficou turva. O tempo ficou sem sentido.
Não havia sentido em contar quando cada segundo a oprimia, e nada
mudava.
Isso tinha que terminar, e acabou finalmente. O tremor e os gritos
diminuíram. As leituras de temperatura externa do seu traje saíram do
vermelho. A vista não era mais do vácuo perfeito, pois agora eles estavam
na atmosfera. A pura formação ao seu redor gradualmente se reformou.
Em vez de contar os segundos desde o lançamento, estava estudando
uma contagem regressiva do altímetro. A superfície do planeta estava a
apenas alguns quilômetros de distância. Eles haviam se desviado do curso,
provavelmente devido a um vento de alta altitude mais forte do que o
esperado, mas isso não era um desastre. Nuvens gigantes em forma de
cogumelos lhe deram uma correção visual em seu alvo. O sistema de
orientação interna do seu traje o confirmou.
Clicando duas vezes no rádio do traje, ela avisou o pelotão para se
preparar.
Eles se firmaram, dobrando em um ângulo de 45 graus.
Enquanto clicava mais uma vez, os seus aerofólios se desenrolaram
ordenadamente, como pássaros em um rebanho abrindo as suas asas ao
mesmo tempo. As asas ainda não se abriram todo o caminho; uma dispersão
total teria sido rasgada em pedaços, mesmo com pressões tão rarefeitas. À
medida que a altitude e a velocidade diminuíam, eles se desdobravam
lentamente em toda a extensão. A cem metros do chão, seus para-jatos
disparavam, permitindo que controlassem o seu desembarque até o último
segundo. Eles ainda estavam se movendo muito rapidamente. Um pouso
sem assistência resultaria em morte certa.
Jopp foi soprado para mais perto dela, pego pela turbulência. A fábrica
principal ficava logo abaixo deles, a apenas há quinhentos metros de
distância. A Inteligência vai entrar a qualquer segundo. Larin verificou os
sistemas de mira do seu traje e destrancou o rifle que havia escolhido a
dedo na Intendência de armas. Os hexagonais não ficariam parados à
medida que as equipes de ataque se aproximassem. Eles estariam
trabalhando em algo, tinha certeza disso, mas ainda não havia como dizer o
que poderia ser. Só teria que estar pronta para qualquer coisa.
A sua tela de alerta estava livre e atualizada com a transmissão de dados
de cima. O alvo apareceu com perfeita clareza, revelado sob a fumaça por
radar.
— Já sabem como funciona, pessoal, — disse o major Cha. —
Mantenham-se abaixados e firmes até atingir os seus objetivos, depois
dispersem. Se os comunicadores estiverem congestionados, sigam as
sinalizações. Se você não conseguir ver os sinais luminosos, mova-se para
poder. Não está é liberado atirar em tudo. Qualquer coisa com sangue não é
um alvo viável.
— Vocês ouviram o homem, — disse Larin. — para-jato em trinta
segundos. Observem aquelas lavas. Não queimem a cabeça de quem vem
antes de você.
Fez uma rápida verificação do resto do campo de batalha.
A Primordial ainda estava intacta, embora sitiada em várias direções ao
mesmo tempo. Alguns dos hexagonais orbitais haviam ligado corpos para
formar uma arma de energia como a que Jet havia atirado anteriormente.
Mísseis vindo de baixo haviam reparado os buracos nas defesas orbitais, e
parecia haver algum tipo de confusão perto da lua. Um dos VT-22 Imperiais
estava infectado e estava descendo. O seu rastro de fogo era visível por
satélite, esculpindo uma faixa preta na atmosfera superior do globo e devido
ao impacto suspeito próximo ao local da IC.
Rapidamente, realmente não querendo saber, verificou o manifesto da
nave que caía. O seu coração afundou. Shigar estava naquele transporte.
Agora, realmente doía pensar no que havia acontecido no gabinete. Se essa
seria a última vez que eles se viram, como poderia viver sozinha?
Um bipe em seus ouvidos disse-lhe que era hora do seu para-jato entrar.
Empurrou as informações e sentimentos supérfluos para um lado, a fim de
se concentrar na manobra que estava por vir. O jato era pouco mais do que
um propulsor modificado adaptado para se adequar à armadura da
República de edição padrão. Montá-lo seria como domar um cavalo
selvagem.
— Acender!
Sob o seu comando, o pelotão iluminou o céu. Lanças de chamas
apontadas para baixo apunhalaram a superfície de Sebaddon. Os aerofólios
prateados refletiam a luz, transformando os soldados em anjos de fogo que
eram visíveis de baixo. A Inteligência confirmou que pelo menos algumas
das pilhas altas eram posições de armas. Talvez eles estivessem oscilando
para rastreá-la e aos seus soldados até agora. Preparou-se para os primeiros
tiros, enquanto tentava manter o jato sob controle.
Não era a única tendo problemas. O comunicador estava cheio de
"ooops" e gritos de alerta enquanto os troopers que lutavam para manter a
posição. Duas quase colisões entre os troopers Imperiais e soldados da
República provocaram uma troca de palavras duras, as quais o sargento Ozz
deu corte rápido. A última coisa que eles precisavam agora era de uma luta
interna para começar.
Então os locais começaram a disparar, e tudo foi caos. Raios de energia
azul passaram por eles, queimando o ar. Dois dos seus troopers morreram
na primeira troca, caindo para fora de controle em bolas de fogo. Larin
devolveu o fogo, mesmo enquanto lutava para pilotar o jato. Duvidava que
qualquer um do seus tiros acertasse o alvo.
O bombardeio de cima veio quase imediatamente, chamado pelo major
Cha. Um local explodiu, acrescentando outra bola de fumaça ao que já
estava próximo da fábrica principal.
Um sorriso selvagem dividiu o rosto de Larin. Havia esquecido o quão
belo o combate aéreo poderia ser.
Um tiro à queima-roupa limpou o sorriso. Foi atingida! O seu jato
gotejou, enviando-a pelo céu. O seu aerofólio chicoteava faixas atrás dela.
Amaldiçoando a sua falta de sorte, lutou para controlar a sua descida e
só conseguiu se virar. As suas mãos agitadas alcançaram o soldado mais
próximo, desesperada por algo sólido em que se agarrar. O soldado hesitou
e, naquele momento fugaz, lembrou-se de quem ele era. Ses Jopp.
Falar fora da lealdade equivocada era uma coisa. Deixar um parceiro
soldado cair para a morte era outra. Sabia que ele mudaria de ideia, e ele o
fez dentro de um instante. A sua mão direita a alcançou, cronometrando o
seu aperto para combinar com o momento em que o braço dela estava mais
próximo dele. Já era tarde demais.
O para-jato de Larin falhou e ela caiu como uma pedra no céu.
MESMO ANTES dos alarmes começarem a tocar, Shigar sabia que
algo estava errado. O transporte que o continha e Darth Chratis balançou
como se tivesse sido atingido, e o major encarregado da queda interrompeu
no meio da divulgação de um comunicado geral. Shigar não estava
conectado diretamente à rede Imperial, então não sabia o que estava
acontecendo com a nave em tempo real. Em vez disso, estava recebendo
dados dos soldados da República, retransmitidos pelo nó de comando
neutro. O atraso entre os sistemas era quase fatal.
— Algo não está certo, — disse aos troopers embalados ao lado dele em
fileiras, prontos para descer. Os seus instintos estavam o avisando para se
mexer. Socando os controles em seu arnês, ele ficou em pé quando o
primeiro hexagonal atravessou o casco exterior, entrando no compartimento
de tropas.
Shigar estava pronto pra isso. Empurrou o droide pra trás, enviando-o
para o espaço. Haviam mais por trás, procurando por garras no metal
rasgado. Saltou sobre eles com o sabre de luz balançando, cortando as
pernas e esfaqueando os órgãos sensoriais antes que os hexagonais
pudessem ativar os seus escudos de eletroespelhos. Se pudesse impedi-los
de entrar, ele e os outros passageiros poderiam ter uma chance.
A parede da baía se abriu em outro ponto, distante demais para ele
enfrentar os dois ao mesmo tempo. Felizmente, os soldados atrás dele
estavam prontos e colocaram suas próprias armas em jogo. O fogo blaster
Imperial e da República convergiu contra os hexagonais invasores,
empurrando vários de volta ao vazio. Ainda mais vieram atrás deles,
escalando um sobre o outro num enxame horrível. Os hexagonais estavam
retornando fogo agora, os de trás disparando além dos de frente, e Shigar
sentiu a defesa da baía começando a se virar a favor dos hexagonais.
— Tirem esses troopers daqui! — Ele disse ao major ao cortar dois
hexagonais em duas partes de cada.
Do outro lado da baía, viu o capacete laranja assentir. Ordens saíram
para abrir as portas da baía cedo e lançar os troopers a caminho de
Sebaddon. O reconhecimento veio de duas das outras três baías, e as portas
abaixo de Shigar se abriram sem problemas, descartando a sua preciosa
carga, o major com eles. Também se foram vários hexagonais, o que sem
dúvida tornaria a jornada mais interessante para todos.
Shigar ficou pra trás, agarrando-se a um poste com uma mão e chutando
outro hexágono de volta de onde veio. Ele se contorceu e girou em queda
livre, com as seis pernas balançando freneticamente.
Quanto tempo, se perguntou, até que reformulasse as suas entranhas para
combinar com as que estavam em órbita e "crescesse" um retro-foguete ou
dois?
Não estaria por perto para descobrir. A quarta e última baía não enviou
nenhum tipo de reconhecimento. Se eles estavam com problemas, tinha que
ajudá-los.
A nave balançou sob os pés enquanto atravessou a escotilha e correu
pelos corredores vazios. Perto da quarta baía, ouviu tiros de blaster,
explosões e um crepitar persistente no seu comunicador. Os hexagonais
estavam bloqueando as frequências do Império e da República. Era um
progresso perturbador.
Uma antepara interior quebrou, enviando os hexagonais se derramando
sobre o corredor. Preparou-se para encontrá-los de frente, usando um
escudo da Força para desviar os pulsos de laser enquanto apunhala com o
sabre de luz. Eles não esperavam que estivesse lá; isso era certo. Eles
estavam atirando em qualquer um que os atacava de dentro da baía, e eles
levavam um momento para carregar os seus próprios escudos. Shigar
arrancou as pernas de três, sem parar para empalar os corpos caídos. A
imobilidade era boa o suficiente.
Uma figura sombria saltou através do rasgo na parede, empunhando um
sabre de luz vermelho. Um raio brilhou de sua mão aberta, enviando
hexagonais se contraindo e fumando em todas as direções. Presos entre
Shigar e Darth Chratis, os hexagonais não tinham chance. Em instantes, o
Padawan Jedi e o Lorde Sith ficaram sozinhos em um campo de destroços
de droides vermelhos.
O bloqueio cessou, permitindo que eles falassem.
— O resto foi lançado, — disse Shigar. — Temos que abrir essas portas
do compartimento.
— Não pense em me dar instruções, Padawan. Você sobreviveu sozinho
até aqui por sorte. Darth Chratis caminhou pelo corredor. — O mecanismo
está danificado. O tenente Adamek o consertará na nossa ausência ou
ampliará o buraco existente. Caso contrário, ela sairá da nave pelas outras
baías abertas. Essa não é a nossa preocupação. A sua prioridade e a minha é
impedir que esta nave seja transformada pelos hexagonais em uma arma.
— Para a ponte, então? — Disse Shigar, engolindo seu aborrecimento
por ter falado como uma criança.
— Para a ponte.
Eles encontraram três enxames de hexagonais no caminho. Viajando em
grupos de seis, os droides pareciam vasculhar as naves seção por seção,
destruindo todas as evidências de insígnias Imperiais. A aparência de Darth
Chratis e da sua lâmina vermelha os levou a um frenesi imediato. Em duas
ocasiões, Shigar foi completamente ignorado, permitindo-lhe flanquear os
hexagonais e atacar por trás. O elemento surpresa estava trabalhando pra ele
para variar, transformando uma situação impossível em uma que era só
difícil.
O Lorde Sith varreu os hexagonais com pouco esforço aparente,
deixando-os para Shigar terminar. O sabre de luz do Lorde Sith tinha um
alcance excepcionalmente longo, emergindo como de um bastão dobrável
de algum tipo. Darth Chratis também tinha outra arma que Shigar não. O
seu raio era muito mais poderoso do que os esforços de Eldon Ax e tinha
um efeito semelhante às redes eletrificadas que Stryver havia disparado
contra os hexagonais em Hutta, enviando-os para paroxismos que os
deixavam vulneráveis ao ataque convencional.
— A Grã Mestra te ensinou mal, — disse Darth Chratis, observando os
esforços de Shigar em subjugar o último dos hexagonais. — Ela permite
que a filosofia da mente interfira nos resultados em combate. É assim que
os Sith triunfarão sobre vocês e a sua espécie, no final. Vocês se impedirão
de alcançar o seu verdadeiro potencial.
Shigar piscou o suor dos olhos. Satele Shan considerava o raio da Força
um caminho para o lado sombrio e aconselhou Shigar muitas vezes contra
seu uso. Agora, porém, podia ver como Darth Chratis poderia ter razão.
Não era tão ingênuo, no entanto, que não conseguia ver aonde o Lorde
Sith estava indo com isso.
— Poupe o fôlego, Darth Chratis. Nada vai me tentar a me juntar a você.
O sorriso do Sith era terrivelmente sem humor, mesmo através do vidro
de sua placa frontal.
A ponte estava dois níveis acima, selada por trás de grossas portas
antiexplosão que até os hexagonais estavam tendo problemas em penetrar.
As comunicações caíram novamente, então não havia como sinalizar a
tripulação lá dentro. Darth Chratis tentou anular as fechaduras, mas elas
foram fundidas em pedaços sólidos de metal pelas tentativas dos
hexagonais de entrar.
— Juntos, — disse Shigar, pensando nas enormes massas que vira os
Mestres Jedi movendo usando nada além do poder das suas mentes e da
Força.
— Ao meu comando, — concordou o lorde Sith.
Operando em conjunto, eles foram capazes de torcer as portas
antiexplosão como se fossem feitas de papel alumínio. Shigar considerou a
cooperação deles uma pequena vitória moral até que interrompeu o esforço
e estremeceu. Algo de Darth Chratis se apegara a ele durante o esforço.
Uma frieza, e uma sordidez. Os seus punhos cerraram enquanto passou por
cima do metal dobrado e entrou na ponte. Queria atacar alguma coisa, mas
não haviam hexagonais por perto. Só haviam os Imperiais, que foram
temporariamente perdoados.
O comandante do transporte, de aparência assustada, saudou quando
Darth Chratis se aproximou dele.
— Diga-me que as unidades estão bloqueadas, — foi tudo o que o Sith
dissera.
— Eu-eu não posso, milorde. A sala de máquinas não está respondendo.
Eu pedi uma equipe de manutenção...
— Eles já estarão mortos. Fique aqui. Nós mesmos efetuaremos os
reparos.
Darth Chratis já estava saindo.
— Talvez você deva evacuar, — disse Shigar ao comandante antes de
segui-lo. — Não há nada que você possa fazer aqui.
— Deixar meu cargo? — O Imperial pareceu ofendido com a sugestão.
— Nunca!
Shigar quis discutir. As portas antiexplosão estavam abaixadas e os
hexagonais voltariam logo. Ficar significava a morte certa para o
comandante e para a sua tripulação da ponte.
Em vez disso, ele deu de ombros. Quem era ele para combater a
teimosia do oficial Imperial? Esse não era o trabalho dos Jedi.
— É sua decisão, eu acho.
Tirando-os de sua mente, ele correu atrás de Darth Chratis.
— Você perde tempo, — disse o Sith quando Shigar o alcançou.
— Você desperdiça vidas.
— Humanos são substituíveis. Segundos não são.
Shigar não tinha uma boa resposta para isso, então se concentrou no que
estavam fazendo. Darth Chratis o conduzia pelo dorso do transporte,
passando por inúmeras fileiras de janelas. Lá fora, a galáxia girava em torno
deles, completando um circunscrição a cada poucos segundos. O transporte
estava girando, embora, graças à gravidade artificial lá dentro, não houvesse
maneira de saber. Vários hexagonais eram visíveis, nadando impotente pelo
espaço ou rastejando pelo casco exterior. A esfera de Sebaddon veio e se
foi, e Shigar não sabia dizer se estava se aproximando ou não.
Uma massa de hexagonais os esperava no outro extremo, na entrada da
seção de engenharia. Os raios da força se espalham através deles em ondas,
rompendo a massa em partes gerenciáveis. Shigar pulou no meio deles,
desviando os pulsos de laser de volta para seus donos e desmembrando
qualquer coisa que estivesse ao seu alcance. Quando julgou mal uma
devolução e pegou numa ferida do seu lado, a dor apenas aumentou sua
concentração. Moveu-se como se estivesse em um sonho, com a Força
guiando todos os seus passos.
Quase arrependido, alcançou o outro lado. Lá, Darth Chratis estava
examinando os controles da unidade de íons. Eles haviam sido parcialmente
desmontados por um dos hexagonais, provavelmente com a intenção de
assumir o controle e enviar o transporte para cima, para infectar o resto da
frota.
Darth Chratis trabalhou rapidamente, religando os controles em uma
aproximação do seu estado anterior. O convés tremeu quando a aceleração
descendente recomeçou.
— Conseguiu? — Shigar perguntou a ele.
— Sim.
Darth Chratis levantou a mão e uma parte da parede se abriu, expondo o
espaço lá fora. Shigar percebeu, ouvindo um uivo crescente ao redor deles.
Eles estavam entrando na atmosfera.
— Depois de você, meu garoto, — disse o Sith.
Por mais relutante que Shigar fosse dar as costas a um dos inimigos mais
antigos dos Jedi, sabia que, por enquanto, estava seguro. A sua Mestra
estava totalmente correta. Aquela lâmina de sangue era a última coisa que
tinha a temer.
Quatro passos correndo levaram Shigar ao buraco. O quinto o levaria da
nave em chamas até a superfície do planeta.
Pulou, jurando que nunca serei seu aprendiz, Darth Chratis.
Uma voz sedosa e sinistra voltou para ele em resposta.
Não faça promessas precipitadas. Afinal, em breve posso precisar de um
novo.
Shigar fechou a sua mente contra quaisquer outras invasões e
concentrada unicamente na queda.
AX POUSOU perfeitamente com os dois pés. O chão estava seguro:
sem ciladas ou armadilhas ocultas. Apertou o botão do arnês, e a para-jato
se fechou e o aerofólio se afastou. A gravidade de Sebaddon era um pouco
abaixo do padrão, deixando-a um pouco tonta, mas só por um momento.
Além dos jatos amarelos do buraco negro, o céu estava vermelho, refletindo
o brilho da lava ao redor. Tomando o cuidado com os hexagonais, deu dois
passos pra frente e olhou em volta para os outros que haviam caído da
órbita com ela. A Mestra Satele era um deles. Não gostava de saber que
havia uma Jedi solta que não podia contar.
O esquadrão do qual fazia parte nominalmente tinha como objetivo uma
das seções mais complexas do centro de IC. Do ar, a ilha como um todo se
assemelhava a um labirinto gigante, com edifícios longos e sinuosos
conectados por cabos e canos grossos. Aterrissou no que poderia ter sido
uma rua angular de paredes íngremes, exceto por não haver portas, janelas
ou passarelas. O objetivo dos prédios era desconhecido, mas estava claro
que o local ainda estava em construção. Um esquadrão tinha como alvo as
máquinas responsáveis pela expansão da estrutura, enquanto o restante
pretendia atacar o coração dele... ou o que parecia ser o coração da órbita,
ao menos. Haviam três locais possíveis, e estava em um deles.
Acima dela, tropas choveram do céu como sementes, caindo em seus
próprios pequenos desfiladeiros feitos por droides. Ninguém parecia estar
pousando perto dela. Tentou o comunicador do seu traje, mas tanto Darth
Chratis quanto a Mestra Satele estavam fora do ar ou bloqueados. O
primeiro transporte atingido brilhou no céu como uma estrela brilhante,
aureolado com fumaça preta. Parecia estar vindo direto pra ela.
Rapidamente decidiu que o seu ponto de aterrissagem estava
amaldiçoado, sem nem mesmo hexagonais para matar. Então, escolhendo
uma direção aleatoriamente, andou ao longo do desfiladeiro, tentando se
disfarçar nas sombras pontiagudas e desfocadas. Manteve o sabre de luz
apagado na mão. Discrição era a melhor parte da coragem, particularmente
em um planeta de hexagonais programados pra matar os guerreiros Sith à
primeira vista.
Se ao menos, pensou como tinha feito muitas vezes, havia alguma
maneira de explorar essa programação central e transformá-la em
vantagem. Era perfeitamente possível que Lema Xandret tivesse colocado
um pouco mais de si mesma neles do que apenas os seus pensamentos e
preconceitos. O componente biológico de todo hexagonal tinha que
significar alguma coisa, afinal. Se puder apelar para algo, fazer ouvir a
razão... a sua razão...
Em uma curva veio um soldado da República, balançando a arma pra
frente e pra trás e correndo levemente sobre os pés. Ax voltou para as
sombras. Melhor correr por conta própria, decidiu, até ter certeza do que
havia pela frente. Não queria que ninguém atrapalhasse em um momento
crítico.
Enquanto o soldado passava, notou uma coisa estranha. O ar estava
literalmente brilhando diante do seus olhos. No começo, pensou que tinha
algo a ver com ela, a sua visão sendo interferida, talvez. Mas então
percebeu que as distorções vinham do próprio ar. Estava quente.
Ajoelhada e tocando o chão, podia sentir o calor através das luvas. Em
todo o complexo da IC havia lava, então isso fazia sentido, supunha.
Algo caiu silenciosamente por trás dela.
Estava com o sabre de luz aceso num instante.
— Reflexos impressionantes, — disse Mestra Satele, com todas a
aparência despreocupada com a possibilidade de que Ax pudesse cortá-la
pela metade. Nem havia ativado o seu próprio sabre de luz.
— Entretanto, a sua visão periférica pode dar algum trabalho. Eu estive
atrás de você desde que você desembarcou.
— Bem, essa é uma maneira produtiva de gastar o seu tempo. — Ax
baixou a arma para o lado dela. — Não lhe ocorreu fazer algo pela missão,
imagino?
— Sou a primeiro a admitir que tenho muita coisa em mente. — A Jedi
sorriu.
— Mas não tanto assim. Tire o capacete e me diga o que ouviu.
— Mas... — Está quente, estava prestes a dizer. Então notou que a
Mestra Satele estava suando dentro do seu capacete. Claramente ela tinha
feito exatamente como ela pediu Ax para fazer... e se ela sobreviveu, Ax
também pode.
— Tudo bem, — disse ela, acionando as vedações do pescoço. O
capacete sibilou e ela o puxou.
O ar queimou a sua pele e o interior do seu nariz. Fedia a produtos
químicos, fogo e ozônio. Ao longe, podia ouvir vozes gritando frases
familiares repetidas vezes.
— Nós não reconhecemos a sua autoridade!
— Pedimos apenas para sermos deixados sozinhos!
— Hexagonais, — disse Ax. — Eles estão aqui em algum lugar.
— Não é isso, — disse Mestra Satele com um rápido movimento de
cabeça. — Mais profundo. Por trás disto tudo.
Ax ouviu novamente. Então escutou: um rosnado de baixa frequência na
extremidade de sua audição, quase impossível de captar.
— É a nave? — Ela perguntou, indicando o transporte ainda caindo do
céu. Era maior agora, e ainda estava certo para eles.
— Acho que não. Parece-me mais como prospecção.
— O que é que a IC está minerando num momento deste?
— Material para mais hexagonais, talvez.
— Isso não é uma fábrica.
— Não, mas devem haver ninhos aqui em algum lugar.
— Então, vamos encontrá-los, — disse Ax, sem esconder a sua
impaciência. — Não é isso que deveríamos estar fazendo?
No alto, um clarão laranja floresceu, pintando sombras estranhas nos
dois rostos.
— Era o que eu estava esperando, — disse Mestra Satele. — Os
soldados encontraram uma maneira de entrar. Vamos ajudá-los.
Satele Shan mudou de posição com uma velocidade surpreendente. Ax
foi pega de surpresa e teve que se apressar para acompanhar. Seguiram a
base do desfiladeiro artificial até o cruzamento seguinte e depois saltaram
para o topo para viajar em linha reta, pulando de parede em parede sobre os
espaços vazios abaixo. O labirinto parecia se estender para sempre. Ax se
lembrou dos diagramas de circuitos ou fluxogramas lógicos, mas esse
cenário estranho carecia de ordem ou propósito geral que pudesse discernir.
Era mais como as gravuras aleatórias de um cupim do que qualquer coisa
que um senciente pudesse projetar.
Explosões sopravam intensamente ao longe, refletidas pelas nuvens
finas acima. O som de cada resposta chegava segundos depois. Mestra
Satele mudou de direção levemente para ir direto para a zona de combate.
As tropas ainda caíam do céu, atirando em canhões montados sobre o
labirinto. Uma nuvem de fumaça pairava sobre tudo, mais densa em alguns
lugares do que outros. Ax podia sentir o cheiro do "sangue" dos hexagonais
no ar. Isso lhe deu o nervosismo. Estava perdendo a diversão.
Olhando por cima do ombro, viu uma dúzia de hexagonais os seguindo,
pulando nas seis pernas de parede em parede. Ela riu. Não estaria perdendo
por muito mais tempo!
A Mestra Satele caiu inesperadamente em um desfiladeiro, e Ax a
seguiu. Lá, parou de paralisou. A Jedi estava de pé no chão com um dedo
nos lábios. Ela contou três dedos com a outra mão e depois saltou para o
alto com o sabre de luz piscando. O primeiro dos hexagonais perseguidores
caiu em duas partes iguais. O resto gritou e correu para lutar.
A batalha era rápida e gloriosa. Ao ver Ax, eles imediatamente caíam
sobre ela, mas tinha a medida deles agora. O seu escudo da Força repeliu
tudo, exceto o fogo mais concentrado, e tinha mais do que um mero
Padawan e um Mandaloriano desinteressado para apoiá-la.
A Grã Mestra possuía poderes prodigiosos da Força. Um gesto esmagou
os hexagonais em bolas ou as separou por dentro. Um olhar silencioso no
meio da investida, enquanto Ax corria para acabar com eles. Em questão de
momentos, as dúzias foram tratadas e Ax procurava mais.
— Por aqui, — disse a Mestra Satele, guiando-a para a origem do clarão.
— Não devemos nos preocupar com eles? — Ela perguntou, apontando
para o transporte. Agora estava imenso no céu, ou parecia, e brilhava como
um sol falso.
— Preocupe-se com tudo o que você quiser, — disse Mestra Satele. —
A menos que haja algo que você possa fazer sobre isso, não vejo que bem
fará.
Ax não tinha uma boa resposta pra isso, então seguiu com algo que se
aproximava da obediência. A Grã Mestra impressionava mais do que as
suas habilidades telecinéticas e telepáticas. A sua velocidade e
determinação em combate eram inacreditáveis, mas nunca fez um som. O
seu rosto estava calmo, quase sereno, quando cortou e rasgou os
hexagonais. Havia uma tranquilidade nela, quase uma felicidade, que falava
de uma intimidade com a violência que Ax não esperava.
Para os Sith, a violência era uma forma de arte. Para dominar Satele,
parecia a própria vida.
Isso não se casou muito bem com o que Ax sabia sobre os Jedi. Eles não
eram insensíveis, moralistas hipócritas, que lutavam só quando isso servia
aos seus interesses? Eles não desprezavam a paixão e pregavam impotência
a todos que querem ouvir e obedecer?
Pela primeira vez, Ax viu que poderia haver força na serenidade e aço
sob a quietude.
Algo explodiu na próximo desfiladeiro do outro lado. Antes que os
destroços parassem de cair, Mestra Satele os mantinha no meio de um
tiroteio entre um esquadrão de soldados entrincheirados e nada menos que
trinta hexagonais. A explosão não parecia ter tido muito efeito na operação
dos hexagonais como um todo. Pelo contrário, eles lutavam com mais
determinação do que nunca. As equipes de ataque tiveram que encontrar
outra maneira de atacar a instalação para que tivessem algum efeito no IC.
A tenente do pelotão, um Imperial, reconheceu a sua presença com um
aceno agradecido.
— O major está lá, — disse ela, apontando quando a escaramuça
terminou. — Estamos captando vibrações consistentes com a perfuração
geotérmica.
— É claro, — disse Mestra Satele. — É isso que eles estão fazendo. Se o
IC puder explorar as camadas mais profundas do planeta, terá toda a energia
necessária.
— Para fazer o que? — Perguntou Ax.
— Isso não sabemos, — disse o tenente.
— Encontramos uma mina a duas avenidas, mas é fortemente defendido.
Não podemos chegar perto o suficiente para fazer acusações.
— Nós cuidaremos disso, — disse Ax.
— Não precisa, — disse Mestra Satele.
— Diga para as suas tropas recuarem. Quero que a área seja evacuada o
mais rápido possível.
— O quê? — Ax não podia acreditar no que estava ouvindo. — Você
está desistindo?
— De modo nenhum. Apenas deixando que outra coisa faça nosso
trabalho por nós.
Ela apontou para o céu, para o transporte atingido rapidamente sobre
eles.
— Sim, senhora. — A tenente começou a fazer pedidos através do seu
comunicador e apoiou-os com outra rodada de explosões, apenas no caso da
mensagem não ter sido recebida. Imediatamente os soldados começaram a
recuar, disparando contra os hexagonais que os seguiam.
— O que acontece se ele não pousar exatamente no lugar certo? — Ax
perguntou a Mestra Satele enquanto elas pulavam pelo labirinto.
— Acho que não precisa, — respondeu o Jedi. — Se o IC estiver
perfurando energia geotérmica, esses eixos estarão batendo diretamente nas
camadas de magma. Desconecte os eixos, e o que obteremos?
— Um vulcão, — disse ela. — Muitos vulcões.
— Exatamente. Poderíamos destruir o cérebro dos hexagonais com um
golpe. Melhor não ficarmos muito perto quando isso acontecer, não é?
Mais uma vez, Ax foi atingido pela calma da Maser Shan. Como ela
podia ser tão otimista quando a ilha em que eles estavam estava prestes a
entrar em erupção em fluxos de lava derretida? Certamente ela sentiu
alguma apreensão sobre o que poderia acontecer?
Ax abaixou a viseira do seu capacete para que pudesse rastrear
exatamente onde o transporte iria atingir. Não era tão perto dela quanto
parecia: a ilha tinha dois quilômetros de largura e o ponto de impacto estava
na extremidade norte. Ainda assim, correu para o sul com a Mestra Satele o
mais rápido que pôde, ansiosa por colocar espaço entre ela e a inevitável
explosão.
Enquanto pulava de uma parede artificial do desfiladeiro para a seguinte,
outra semelhança entre o labirinto e os processadores de computador
vieram à ela. As paredes tinham apenas um metro ou dois de diâmetro;
portanto, eles não poderiam conter salas ou corredores, ou qualquer coisa de
qualquer substância. Não se perguntou que função elas desempenhavam.
Agora, porém, pulando através de ondas de ar quente e ondulante, ocorreu-
lhe que as paredes pareciam os cumes finos que os engenheiros
adicionavam a alguns componentes do computador para aumentar a área de
superfície exposta ao ar. Quanto maior a área, maior o efeito de
resfriamento. Dissipadores de calor, eles eram chamados.
E se a ilha não fosse o cérebro coordenador dos hexagonais, mas um
enorme dissipador de calor para o cérebro?
Isso significaria que as equipes de ataque estavam atacando
completamente a coisa errada.
Teve tempo suficiente de se perguntar se o transporte em queda seria
diferente quando descesse à distância, iluminando o céu com um brilho azul
brilhante. O som veio um segundo depois, tanto o som do boom sônico de
sua passagem pela atmosfera quanto a concussão titânica do seu impacto e
detonação. O chão empinou sob os seus pés, e julgou mal o pouso na parede
do próximo desfiladeiro. Balançando para se equilibrar, sentiu-se agarrada
pelo braço esquerdo e puxada pra baixo.
A Mestra Satele a apoiou no chão do desfiladeiro enquanto uma onda de
gases superaquecidos rugiu acima. O chão resistiu e se curvou embaixo
deles. Ax olhou pra baixo e viu rachaduras se espalhando ao redor do seus
pés. Isso não era um bom sinal.
Um trovão crescente abafou o repentino retorno das comunicações... não
que pudesse ter percebido algo da massa de avisos e ordens contraditórias.
Uma onda de ar varreu por eles. Mestra Satele inclinou a cabeça e puxou
Ax ao longo do desfiladeiro, longe da fonte do vento.
Em seu rastro, veio uma inundação de lava em brasa.
— Salte! — Ax gritou, arrancando a Grã Mestra do desfiladeiro.
A parede desmoronou sob o peso combinado e elas saltaram novamente.
O labirinto estava desmoronando ao redor delas, seguido por uma maré de
vermelho que se espalhava pelo local do acidente. A beira do dilúvio se
movia com uma velocidade espantosa, consumindo soldados e hexagonais
em amplas faixas borbulhantes. Os vulcões que Ax imaginava não eram
nada comparados a essa fuga silenciosa e rápida. A seção do labirinto que
havia explorado já estava incluída.
De repente, a inundação do tipo tsunami estava sobre elas. Duas línguas
vermelhas e grossas se fecharam na frente de Ax e da Mestra Satele,
cortando o seu melhor caminho para um terreno seguro.
Mestra Satele se virou, puxando Ax por trás dela. Ficou claro que
poderia ter corrido mais rápido sozinha, mas não abandonou Ax ao seu
destino. Ax não questionou o porquê. Apenas aceitou o gesto, mesmo
quando ficou claro que isso iria condenar as duas.
O caminho do terreno estável que elas ocupavam estava encolhendo
rapidamente.
— Mais só um salto para conseguirmos, — disse Mestra Satele. — Você
está pronta?
Ax não estava, mas não havia como admitir. A brecha vermelha fervente
entre elas e a segurança já estava muito grande e crescia a cada segundo.
— Pronta, — disse ela.
Elas correram e saltaram juntas. Por um momento, elas ficaram bem
acima do labirinto afogada, sustentado pela Força e pelo momento, e nada
poderia tocá-las. Ax desejou poder ficar ali pra sempre, naquele lugar
pacífico em que forças contraditórias se anulavam e tudo estava parado.
Mas a gravidade conquistou tudo. O chão se aproximou rápido demais, e
ela gritou enquanto lava vermelha brilhante se levantou para engoli-las.
UMA HORA na batalha, Ula percebeu que trair a República seria
muito mais difícil do que imaginava, mesmo em sua posição privilegiada no
alto do campo de batalha. O problema estava na enorme quantidade de
dados que chegavam do campo de batalha à Auriga Fire. Era impossível
acompanhar tudo, muito menos decidir qual parte isolada poderia ser
melhor manipulada para beneficiar os seus mestres. Mal conseguia
acompanhar a torrente como estava.
Mísseis cheios de hexagonais restauravam as defesas orbitais e
forneciam novas armas para combater as frotas combinadas, dificultando o
apoio de terra às equipes de baixo. O alvo da IC estava queimando e o poste
estava escondido sob a fumaça. As comunicações eram erráticas, na melhor
das hipóteses. Ula não tinha como saber o que estava acontecendo lá em
baixo, e a situação na lua era um pouco diferente. Os hexagonais haviam
sido atacados repetidamente, mas sem enviar tropas para enfrentá-los cara a
cara, era impossível saber se a infecção havia sido contida. Toda vez que a
aliança progredia, as criações tenazes de Lema Xandret se recuperavam de
uma maneira nova e surpreendente.
— Tenho bloqueios em três alvos de subespaciais, — relatou Stryver. —
Eles são retransmissores, espalhados pelo o globo.
Essa era uma boa notícia.
— Envie as coordenadas para Kalisch e Pipalidi. Diga a eles para tirar
todos os três.
— Devemos manter um intacto, — disse Jet. — Como vamos nos
infiltrar em suas comunicações se eles não tiverem nenhum comunicador?
— Quão perto estamos de decifrar a sua criptografia?
— Não sei. Clunker elaborou os protocolos de transmissão, permitindo-
nos fingir que somos a IC, mas não estamos mais perto de descobrir a
linguagem real que está usando.
— Então não posso me arriscar. Sabemos que eles construirão novos
retransmissores de qualquer maneira. Dessa forma, obtemos uma vantagem
momentânea. Precisamos de todos aqueles que conseguirmos.
Jet encerrou o comunicador da nave por um momento.
— Aqui está outra coisa para se preocupar. E se Stryver ficar fora da luta
puramente para conseguir essas criptografias? Com eles, poderia virar os
hexagonais contra nós.
Ula não tinha pensado tão longe.
— Você está certo, e nós não podemos ter isso. Quando Clunker decifrar
a criptografia, vamos mantê-la pra nós mesmos.
— Isso nos tornaria imparáveis. Você não me parece do tipo que governa
a galáxia, mas não tenho certeza sobre os seus mestres.
Ula não tinha absolutamente nenhum desejo de governar nada. Não
haveria esconderijo nas sombras enquanto estivesse sentado em um trono. E
não ia dizer nada sobre os seus senhores, verdadeiros ou falsos.
— E se você?
A pergunta era carregada e Ula estava com a mão no blaster enquanto
perguntava.
Jet riu.
— O que, desistir da minha vida despreocupada? Acho que não,
parceiro. Muita burocracia, por nada.
Uma nova luz vermelha se juntou aos muitos que piscavam no painel de
instrumentos. Um alarme se juntou a ele.
— Vários lançamentos, — disse Jet, com todos os risos esquecidos, —
também do planeta e da lua, desta vez. — Ele parou e olhou mais de perto
para as telas.
— Algo está vindo em nossa direção. A IC deve ter notado que estamos
sentados aqui, nos mantendo na surdina. Hora de mudar.
Ula notificou os líderes da frota combinada de que agora era um alvo e
estaria mudando de órbita. A Commenor reconheceu imediatamente, mas
não ofereceu nenhum tipo de apoio tático. A Primordial não disse nada,
apenas enviou um esquadrão de interceptors.
— Negativo, negativo, — disse Jet ao líder do esquadrão.
— Volte para a luta. Ficaremos bem e gritaremos se isso mudar.
— As ordens do coronel eram muito específicas, — voltou a resposta.
— Não vamos deixá-los fora de nossas vistas.
A frase tinha conotações ameaçadoras que Ula tinha certeza de que eram
intencionais.
— Kalisch, tire essas naves de nossa cola, — disse Jet a Primordial. —
Eu tenho coisas mais importantes com que me preocupar com seus figurões
rápidos no gatilho.
— Passe-me para o diretor, — veio a resposta.
Sem nome, pensou Ula. Apenas um título.
— Coronel, — ele disse, — aqui é o diretor Vii. Os seus recursos são
necessários em outro lugar. Temos que perfurar essa carapaça defensiva
para ter acesso às regiões polares...
— Darth Chratis explicou a sua situação, — disse Kalisch sobre ele. —
Eu realmente devo insistir.
Ula fechou os olhos. Esta era uma linha aberta. Se ele se curvasse aos
desejos do coronel, seria o mesmo que reconhecer que ele o favorecia, ou
pelo menos podia ser influenciado pelos Imperiais. Ainda não era o
momento de fazer isso.
— Negativo, coronel. Eu o aconselhei a enviar os seus caças para outro
lugar. Lembre-os ou serei forçado a interpretar as suas intenções como
hostis e solicitar assistência da capitã Pipalidi.
Mais uma vez, a Primordial não disse nada, mas as naves pelo menos
mudaram de rumo.
Ula esfregou a testa. Não só estava deixando de trair a República, mas
agora estava sendo forçado a desafiar um oficial da marinha Imperial.
— Por que estamos fazendo isso de novo?
— Me vença, — disse Jet. — Oficialmente, ainda espero obter lucro,
mas isso parece cada vez menos provável a cada minuto.
— Isso é realmente tudo o que você está interessado? — Ula perguntou,
subitamente irritado com a pretensão do contrabandista.
— Não posso estar? — Jet atirou de volta.
— Eu acho que você está fazendo um desserviço. Se as pessoas
soubessem o que você e a sua nave poderiam realmente fazer...
— Ninguém nunca me deixaria atracar em qualquer lugar. Se eles acham
que eu sou um vagabundo sem esperança, isso me dá uma vantagem. Isso
me mantém seguro. Como Tassaa Bareesh. Se ela soubesse que eu poderia
pegar a minha nave de volta a qualquer momento, ela não me deixaria ficar
para ver o que aconteceu. E se eu não tivesse ficado por perto, não estaria
aqui. Concedido, aqui não parece tão confortável no momento, mas isso
pode mudar. A vida é surpreendente. Acho que vamos tirar algo do chapéu.
— Isso só parece desonesto.
Jet disse:
— Você devia falar.
Ula se irritou.
— O que você quer dizer?
— Qual é, parceiro. Eu sei o que você é. Eu sei desde o segundo em que
te vi. Por que você acha que eu te pedi uma bebida?
Ula sacou a pistola e apontou para Jet.
— Diga-me o que você pensa o que eu sou.
— Acho que você é um homem mais corajoso do que está deixando
transparecer, — disse Jet sem vacilar.
— Para os seus superiores, você é apenas um peão. Para os seus
inimigos, você é pior que o mal. Você fica preso entre querer fazer o seu
trabalho e tentar mantê-lo oculto. Isso o deixa louco, mas você não pode
confiar em ninguém. Você tem que manter tudo trancado, e ninguém nunca
aprecia o quão difícil é isso. Esperamos continuar, caras como nós, porque
se tropeçarmos, não haverá rede de segurança.
Ula se irritou.
— Não sou nada parecido contigo.
— Somos mais parecidos do que você pensa. Eu fui um peão e,
recentemente, também. Por que você acha que eu estava trabalhando como
corsário? Não era pelos bons tempos, vou te dizer.
— Você não tem princípios, é amoral.
— Estou feliz que você pense assim. Isso significa que a capa está
funcionando.
— Você não está fazendo nenhum sentido! Por que você está me
contando isso? Você quer que eu atire em você ou não?
— Quero que trabalhemos juntos exatamente como estivemos.
— Como podemos fazer isso agora?
— Você está falando como um deles, — disse Jet, apontando para o
holoprojetor.
— Você não é humano, mas parece humano pra mim. O que importa
quem realmente somos? É o que fazemos que importa.
— Mas o que eu devo fazer?
— Você pode abaixar o blaster, pra começar, antes que eu peça ao
Clunker para tirá-lo de você.
Ula olhou pra ele por um longo e tortuoso momento. Eles tinham uma
batalha para coordenar, e o que tinha realmente mudado? Jet poderia ter
revelado o segredo de Ula a qualquer momento, assim como Ula poderia ter
revelado o de Jet, entregando-o ainda. Nada estava causando o confronto
entre eles, exceto a sua própria incerteza e dúvida. Se Jet o achava corajoso,
talvez fosse a hora de ser.
— Tudo bem, — disse ele, abaixando o blaster. Clunker, que havia se
aproximado de alguma forma sem Ula perceber, se afastou.
— Obrigado, — disse Jet com um sorriso solto. — Sabe o que é
estranho? Não sei dizer pra quem está trabalhando. Quero dizer, eu sei
como isso deveria estar acontecendo, mas em um nível prático você me
venceu. Tanto quanto posso ver, você está apenas tentando fazer a coisa
certa.
Uma série de alarmes começou a soar.
— Oh não. — O humor despreocupado do contrabandista evaporou. —
Isso é o que acontece quando você não presta atenção.
Ula examinou rapidamente a telemetria. Mais lançamentos. Mais
aglomerações se formando para atingir as frotas combinadas. Ainda não há
boas notícias do terreno e nenhuma notícia sobre Larin ou o seu pelotão.
Um esquadrão misto de combatentes da República e do Império havia
sofrido um desentendimento interno, levando a uma troca de tiros, e uma
nave Turbodyne 1220 havia colidido com uma NR2 da República durante
um ataque. Recriminações ferozes estavam sendo trocados pelos dois lados,
e nem a capitã Pipalidi nem o coronel Kalisch responderam às suas
saudações.
— E agora? — Perguntou Ula.
— Bem, se não vamos correr, — disse Jet, — sugiro que dediquemos
toda a capacidade de nossas mentes conspiradoras a encontrar uma maneira
de sobreviver.
— Espere um minuto. Onde está o Stryver?
— Eu não posso vê-lo. Ele poderia estar na parte de trás da lua, ou...
Um bipe urgente se juntou às chamadas de alarme já estridentes. O mapa
de Sebaddon ficou vermelho no polo sul. Ula olhou com espanto quando a
casca defensiva de hexagonais começou a se separar, criando uma abertura.
— Eles estão nos deixando entrar?
— Não conte com isso, — disse Jet.
Pela abertura nas defesas orbitais voou o familiar quarto de lua prateado
da nave de Stryver, subindo em uma linha perfeitamente vertical.
— O que ele está fazendo lá?
— Fugindo, eu acho.
Logo depois de Stryver, veio um monstro explodindo do coração do
planeta.
LARIN IGNOROU O ALARIDO dos alarmes e as luzes
vermelhas piscando enchendo o capacete do seu traje. O tiro de azar parecia
não ter danificado a linha de combustível em seu para-jato, mas os seus
giroscópios foram completamente destruídos. Se o aerofólio estivesse
intacto, isso teria pelo menos um efeito estabilizador, mas agora não
passava de frangalhos. Chutando e derrapando loucamente pelo céu, estava
completamente fora de controle.
Recusou-se a ceder. Tinha que haver uma maneira de derrubar o para-
jato com segurança, e ela com ele.
Primeiro de tudo: obter controle manual do jato. Estava atrás dela, mas,
soltando as fivelas, podia se contorcer e soltar pelo peito. O barulho era
ensurdecedor. Escureceu o visor para que os brilhos não a cegassem.
Pelo menos ainda tinha os seus instrumentos. Era difícil obter uma
leitura sensível do altímetro, então não sabia exatamente quanto tempo
tinha, mas a temperatura lá fora era clara: abaixo da linha de congelamento.
Qualquer carne exposta congelaria em apenas alguns momentos. Melhor
trabalhar rapidamente, então.
Puxando a luva esquerda, usou os dedos artificiais da prótese para puxar
a carcaça do propulsor. Ele caiu por trás dela, pra cima ou pra baixo, não
sabia dizer. O horizonte estava girando loucamente ao seu redor. Só de
olhar, se sentiu tonta.
Concentrou-se na fiação dentro da carcaça do para-jato. O vapor sibilou
no ar fino e frio. Felizmente, os seus dedos também não foram afetados pelo
calor. O para-jato era uma máquina descomplicada, projetada para ser
robusta e não versátil. Haveria todos os tipos de garantias e substituições,
mas não precisava delas. Só queria o interruptor que ligava e desligava o
impulso.
Um puxão forte em um componente em particular tinha o último efeito.
De repente tudo ficou quieto e ficou sem peso. O mundo abaixo ainda
girava, mas pelo menos não estava mudando de direção três vezes a cada
segundo. Agora que conseguia que olhar para isso, Ela podia ver o quão
perto tinha chegado. Perigosamente.
Não era isso que importava. No momento, tinha que corrigir a sua
rotação. Contou furiosamente, julgando a queima correta por instinto mais
do que cálculo consciente. Enfiou os dedos artificiais nas entranhas quentes
e ligou o impulso novamente, apenas por um segundo.
Sacudiu pelo céu, girando loucamente. Por muito, muito tempo. Tinha
que ser mais precisa. Contando novamente, tentou uma segunda vez, com
mais sucesso. Ainda estava caindo depois disso, mas não estava tão mal que
o ar espesso não conseguia segurá-la. Espalhou as suas pernas em forma de
estrela até que estava caindo firmemente de frente.
O complexo no polo sul do planeta estava chegando nela com uma
velocidade assustadora. Ativou o para-jato e o manteve a toda a velocidade,
lutando a cada momento para mantê-lo apontando pra baixo. Era como
tentar se equilibrar em um alfinete: a menor oscilação ameaçava derrubá-la
e colocá-la de volta onde começou. Rangeu os dentes e aguentou.
Lenta e firmemente, o seu mergulho descendente começou a diminuir.
Teve tempo de examinar onde estava pousando. Era uma planície larga e
plana, cruzada com rachaduras profundas que pareciam retas demais para
serem naturais. Uma porta foi seu primeiro pensamento, levando a algo
subterrâneo. A volta dela, haviam vários canhões, com todos apontados
para alvos em outros lugares, felizmente. Já era difícil o suficiente cair
direto, sem falar em se esquivar. Queria olhar pra trás, para ver onde
estavam os outros, mas a mera tentativa de fazê-lo ameaçava perturbar o
seu delicado equilíbrio.
Caiu mais e mais devagar, até que estava viajando pouco mais do que
velocidade de ataque. O chão ficava a apenas dezenas de metros de
distância. Começou a sentir alívio. Contra todas as probabilidades, ela ia
conseguir!
Com uma tosse, o para-jato ficou sem combustível.
— Não! — Ela gritou.
Mas as palavras não eram suficientes. Estava caindo de novo e estava
ganhando rapidamente velocidade. Só alguns segundos estavam entre ela e
ser esmagada como um inseto contra a cara dura de Sebaddon. Nada
poderia salvá-la agora.
Membros fortes em volta do peito. Com um suspiro, se sentiu apertada e
puxada pra trás. Não conseguia ver o que havia acontecido, mas reconheceu
as luvas segurando na sua frente. Elas eram de emissão padrão da
República. O para-jato pertencente ao proprietário daquelas luvas se esticou
e choramingou, diminuindo a velocidade para que caíssem com um tombo,
não se estatelar.
Larin não podia acreditar na sorte dela. Colocando-se de pé, ajudou o
seu salvador a se livrar do para-jato e do arnês do aerofólio. O painel dele
se abriu e reconheceu Hetchkee.
— Não poderia deixar você ir assim, — disse ele com naturalidade. —
Falha no equipamento é indesculpável.
— Obrigada, — disse ela, significando ambas as sílabas com todo o
coração. — O que aconteceu com o Jopp?
— Me ligou para pedir ajuda. Você não o ouviu?
Larin não ouviu, mas não o pressionou. Estava um pouco ocupada na
hora. O importante era que havia sobrevivido. Enquanto Jopp se mantivesse
fora do caminho, eles nunca mais precisariam conversar, sobre como a
hesitação dele quase lhe custara a vida.
— Certo, — disse ela, deslizando a luva de volta para a mão enegrecida
pelo gelo e pelo calor.
— Temos alguns reagrupamentos pra fazer e hexagonais a matar.
Alguma ideia de onde os nossos esquadrões chegaram?
Eles correram juntos para o ponto de encontro, pulando duas das
rachaduras profundas ao longo do caminho. Eles foram definitivamente
usinados em uma superfície semelhante a ferrocreto, com algum tipo de
selante preto na base. Se não fossem as bordas de uma porta enorme,
poderiam ser canais. Mas pra que? Qualquer água ao redor seria congelada.
Eles poderiam ter sido estradas para hexagonais, só que nenhum estava
aparente.
O ponto de encontro era uma bagunça de armas de fogo. As tropas da
República e do Império tinham se entrincheirado e estavam colocando
cargas ou preparando fogo de cobertura, na esperança de tirar os canhões do
alcance. O major Cha latiu ordens no comunicador irregular enquanto o
bombardeio caía de cima. Droides de combate Imperiais pesavam em linhas
perfeitamente retas pelo campo de batalha, cuspindo fogo em alvos
distantes. Larin não entendeu o tamanho do local da fábrica principal. De pé
em cima dela, não podia ver as bordas.
— Moxla! Pegue um esquadrão e coloque a torre número cinco pra fora
de serviço. Vou mandar alguém atrás de você assim que estiver posicionada.
— Sim, senhor. — Não havia uma maneira fácil de distinguir um
esquadrão de outro, então escolheu um sargento aleatoriamente e o
designou para a missão. Ele era Imperial, mas isso não importava. No chão,
sob fogo inimigo, os troopers eram todos iguais.
Vários trenós de suprimentos haviam descido nas proximidades, e se
serviu de todos os lançadores e cargas que poderia carregar. Com o sargento
e o seu esquadrão a reboque, atravessou a cúpula plana, observando
atentamente a orientação do posicionamento dos canhões. Em algum
momento, eles seriam notados.
Atravessou outra rachadura e se lançou dentro. Era profundo o suficiente
para se agachar. Seguiu a fenda até que estivessem o mais perto possível e
lá ordenou que o esquadrão parasse.
— Deixe esses lançadores descarregados e prontos para disparar.
Sargento, quero que três dos seus melhores atiradores à frente para fornecer
distração, outros três voltem e façam o mesmo. Espalhe-se e espace suas
rondas. Mantenham essa colocação ocupada.
— Sim senhora.
Os lançadores eram leves e fáceis de montar. Eles estavam prontos em
instantes. À medida que um amplo campo de fogo convergia para a torre,
golpes mais potentes a atacavam em intervalos regulares, encobrindo os
seus confins superiores com uma fumaça negra e espessa.
Ainda assim, disparou.
— Você e você, — disse Larin, apontando para dois soldados
aleatoriamente, — comigo.
Pegou um cinto de cargas explosivas e pulou para fora da trincheira. Os
soldados a seguiram, correndo muito pela base da torre. O local já estava
ocupado rastreando vários destinos. Com sorte mais três escapem
despercebidos.
No meio do caminho, eles foram alvejados. O soldado à sua direita caiu,
alvejado no seus meio por pulsos de fogo púrpura. Larin e o seu único
parceiro se esquivaram da esquerda, e a onda seguinte foi ampla. Depois,
voltou a mirar nos lançadores de granadas e eles chegaram à base ilesos.
Tinha dez metros de diâmetro e era tão sólido quanto uma montanha.
Deu metade das cargas ao soldado.
— Coloque um a cada dois metros, prontas para explodir sob o meu
comando.
Ele assentiu e partiu, movendo-se pela base na direção oposta à dela.
Quando eles se encontraram, eles se retiraram o máximo que ousavam e se
jogaram no chão. O local não pareceu notar. Estava disparando para cima,
em algo que não podia ver.
Apertou o interruptor de detonação remota, e os destroços explodiram
sobre as suas cabeças. O topo da torre se inclinou e começou a cair.
Então, um clarão muito mais forte veio de trás dela, e o chão de
ferrocreto resistiu. Larin olhou pra trás e viu uma grande nuvem de
cogumelo surgindo do ponto de encontro. Foi atingido por munições mais
pesadas do que já vira funcionar nos hexagonais anteriores. Ou nos droides
de Xandret que haviam evoluído novamente, ou tinham abatido algo de
cima do do percurso. Talvez, pensou, fosse nisso que o local estava
disparando antes de destruí-lo: bombardeio, desviado apenas o suficiente
para atingir as forças invasoras.
Levaria séculos para que o pó se assentasse, mas pelo menos as
comunicações estavam limpas. Levantou-se e fez uma chamada para que
todos os oficiais se reportassem.
Hetchkee falou do outro lado da cúpula e um tenente Imperial também.
Nenhum outro. Nem o major Cha.
Uma forma prateada brilhou através das nuvens acima, brilhando ao sol.
— É você, Stryver? — ela chamou. — Diga-me o que você vê aí de
cima.
— Uma das principais fontes do subespaço está bem debaixo dos seus
pés, — respondeu o Mandaloriano. — Por que colocá-lo tão longe do IC?
Não sabia a resposta para essa pergunta, e o comunicador se dissolveu
em estática novamente antes que pudesse perguntar mais alguma coisa.
Fez um sinal para que o seu soldado a seguisse de volta à trincheira. O
resto da equipe se reformou e estava arrumando os lançadores, preparando-
se para se mudar para outro lugar. Larin não sabia qual deveria ser o seu
próximo objetivo. Continuar derrubando torres? Tentar encontrar os outros?
Sem o major Cha, seria difícil coordenar todos os que permaneceram.
Enquanto considerava apressadamente as suas opções, a superfície preta
na parte inferior da trincheira mudou. Olhou para os pés e viu uma onda
passar através do material preto emborrachado. Mudou novamente, e um
gemido subterrâneo profundo a cercou.
— Mexam-se, — disse ela ao esquadrão. — Se tudo isso é uma porta,
então...
O mundo caiu debaixo dela antes que pudesse terminar a frase. Lançou-
se e mal alcançou a borda mais próxima da trincheira. A superfície negra se
dissolveu como se sua estrutura molecular tivesse subitamente mudado de
sólido para líquido. Os dois soldados caíram na escuridão, atirados no nada.
Os seus tiros cessaram depois de menos de um segundo.
Larin puxou-se para fora da vala repentinamente sem fundo. Outro
gemido sacudiu o ar. As paredes opostas se separaram. Em dez metros,
depois vinte metros. Estava de pé com metade do esquadrão na beira de
uma vala cada vez maior. Por outro lado, o resto do seus soldados recuou
para longe.
A cúpula estava se desenrolando, deslizando segmentos do telhado em
forma de dedos em recessos profundos em sua borda e liberando uma vasta
quantidade de ar quente. Gavinhas de névoa surgiram, misturando-se com a
fumaça e criando formas estranhas ao seu redor. Olhou pra baixo e viu algo
enorme e indistinto se mexendo. Fosse o que fosse, os hexagonais deviam
tê-lo construído sem parar, usando todos os recursos prodigiosos do mundo
rico em metais e energia.
— O que é essa coisa? — Perguntou um do seus soldados, alto o
suficiente para ser ouvido sem um comunicador.
— Eu não sei, — disse ela, — mas esses parecem repulsores... ali, em
torno de sua borda.
— É uma nave, igual a isso? Onde estão os motores?
Um pensamento louco ocorreu a ela.
— Talvez não haja nenhum.
Os soldados olhavam pra ela como se estivesse falando bobagem.
O segmento da cúpula em que eles estavam estava perto da borda do
telhado.
— Não podemos ficar aqui por muito mais tempo, — disse ela ao que
restava da equipe. — Eu aconselho vocês a se prepararem pra pular.
— Descer disso?, — Perguntou um deles, apontando para o objeto
subindo em direção a eles.
— Eu acho que é um skyhook, — disse ela, preparando-se, — então não
vamos cair por muito tempo.
SHIGAR SAIU do seu para-jato e olhou horrorizado para o lago
vermelho borbulhante e brilhante, onde estava o local de pouso pretendido.
Observou a descida furiosa do transporte no equador, enquanto seguia em
seu rastro. O seu impacto enviou uma onda de choque através do labirinto
complexo, que cedeu e depois se acalmou no fluido abaixo. Todos naquele
labirinto foram engolidos. Restavam apenas algumas chegadas tardias,
paradas na beira da cratera como ele, olhando para a morte de todas as suas
esperanças.
Mestra Satele estava no labirinto, em algum lugar, com Eldon Ax.
Shigar tentou ligar para a sua Mestra através do processo e da força, mas
não recebeu resposta. Tudo o que podia ver se movendo eram os
hexagonais, balançando e nadando pela maré vermelha, aparentemente
ilesos. Três posições de canhão sobreviventes dispararam contra qualquer
um no alcance, com pouco efeito.
Darth Chratis tinha descido com ele e pousado não muito longe.
— Não só devo procurar um novo aprendiz, — disse o Lorde Sith, com
um sabre de luz vermelho se destacando ao seu lado como um padrão, —
mas parece que você precisa de um novo Mestre.
A tristeza e a frustração de Shigar encontraram um alvo.
— Você fez isso acontecer, — disse ele, afastando-se da visão terrível
para enfrentar o antigo inimigo da Ordem Jedi.
— Eu não, garoto.
— O Imperador, então, com todos os seus sonhos de assassinato e
dominação, abrindo caminho através da galáxia.
— Eu não vejo o Imperador aqui, não é?
— Você está zombando de mim.
— Porque você merecia ser ridicularizado, garoto. Você é ingênuo e
protegido, graças às bobagens que os seus Mestres lhe alimentaram. A
verdadeira face do universo o assusta, e você recorre a essa bobagem para
explicar o seu medo. Somente uma criança fecha os olhos quando está
assustada. Olhe ao seu redor e cresça.
Shigar sentiu os seus arrepios subirem, mesmo sabendo que Darth
Chratis estava tentando obter exatamente essa reação dele.
— Você não pode negar que os Sith roubaram a Cinzia Xandret de sua
mãe. Foi isso que nos levou até aqui.
— Lema Xandret era brilhante e louca. Ela é a culpada, Shigar. Ou
Stryver, por não deixar o assunto morrer. Ou você.
— Eu? O que eu fiz?
— Foi você quem chamou a atenção da sua Mestra.
— Afaste-se. — Shigar ativou seu sabre de luz. Darth Chratis estava
chegando muito perto. O vermelho de sua lâmina combinava com a lava e o
céu acima. Shigar parecia que o mundo inteiro estava virando sangue.
Darth Chratis parou a cinco passos, com uma expressão
desdenhosamente achando graça em seu rosto murcho.
— Culpe o Imperador por todos os seus problemas, se você precisar, —
disse ele. — Culpe o Império como um todo. Dada a chance, você
explicaria a todos como eles estavam tão errados? Você abordaria os Sith,
os ministros, os soldados e os espiões? Temo que eles não o ouçam, nem
mesmo as pessoas que você imagina estar do seu lado: os oprimidos, os
desprovidos de direitos, os dissidentes. Existem menos deles do que você
imagina, você sabe. E, de resto, você é o inimigo, você, os seus Jedi e o seu
Senado. Eles maldiçoam o seu nome, assim como você amaldiçoa o nosso,
pelos entes queridos que perderam em suas mãos, pelos bens roubados por
seus corsários, pelas muitas dificuldades que sofreram. Você nunca os
conquistará com as suas palavras, com as suas bobagens, portanto será
forçado a matá-los todos. Como isso parece pra você, Padawan? Você se
imagina o maior assassino em massa da história da galáxia? Caso contrário,
talvez você deva, pois esse é o caminho que você está seguindo. Você e o
Imperador, não são nada diferentes.
— Você mente. — Shigar recuou, mesmo que Darth Chratis não tivesse
feito nenhum movimento físico. O peso de suas palavras já era bastante
ameaçador.
— Essa ladainha vazia não irá protegê-lo agora, garoto. Não de você
mesmo.
— Lutamos contra vocês porque vocês são maus. Porque vocês são
escravos do lado sombrio.
— Todos esses bilhões e bilhões? Gostariam que os Sith fossem tão
abundantes.
— Você os seduziu, distorceu os pensamentos deles. Eles os obedecem
porque temem vocês.
— A República é tão diferente?
— Temos leis, salvaguardas contra abusos de poder
— Também temos leis, embora diferentes, e o Imperador é a
salvaguarda definitiva. Não pode haver erro judiciário sob o seu governo,
pois a sua palavra é lei. Onde está a sua preciosa justiça em Coruscant?
Como a República se beneficiou da inapetência inapta do seus líderes?
Algo floresceu na mente de Shigar como uma flor: uma flor de certeza,
crescendo forte e segura na escuridão da hora. Sentiu como se anos de
história tivessem se condensado neste momento: o reaparecimento do
Império e dos Mandalorianos; o saque de Coruscant e o tratado frágil que o
restabeleceu a uma república muito reduzida; a anexação de Kiffu e a
subjugação do seu povo.
Tudo se resumia a ele e a Darth Chratis.
— Você é a fonte de tudo o que aconteceu com a galáxia, — disse ele.
— É por isso que temos que lutar contra vocês. A guerra é inevitável, assim
como as pessoas dizem que é. Não pode haver paz duradoura com pessoas
como vocês.
— Você é mais parecido conosco do que gostaria de admitir, — rosnou
Darth Chratis. — Estou me oferecendo para salvar a sua vida, garoto. Junte-
se a mim como o meu aprendiz, e eu vou abrir os seus olhos para sempre.
Não pode haver paz porque a paz é a mentira. A força vem apenas do
conflito, e para que haja conflito, deve haver um inimigo. Essa é a verdade
que está por trás dos ensinamentos do seus Mestres. Reconheça-a, aceite-a e
você entenderá por que nunca pode servi-los.
Shigar firmou o sabre de luz em um forte, segurar com as duas mãos.
Os olhos profundos de Darth Chratis brilharam. A ponta do sabre de luz
não se moveu nem um milímetro.
Shigar o observou atentamente, esperando o primeiro golpe vir.
O Lorde Sith riu, com um som de cacarejo terrível, tudo em desacordo
com as circunstâncias.
— Você acha que eu pretendo matar você agora, garoto? Você esquece:
nós temos uma trégua. A menos que você planeje me atacar, e eu sou
forçado a me defender...
— Eu deveria te atacar. Qualquer tipo de aliança com os Sith é falho em
seu coração. Mestra Shan nunca deveria ter concordado com isso.
— Foi a sugestão dela, lembra, e vê como isso o aprisionou? Me
obedeça e a trégua se mantém. Me ataque e a trégua está quebrada. —
Darth Chratis riu. — Qual vai ser?
Shigar vacilou a ponto de agir. Podia sentir a necessidade fervendo em
cada músculo, cada nervo. A Força estava pronta. Encheu as suas veias
como lava, queimando em brasa.
Pensou em Larin dizendo: Você está pensando demais.
O seu sabre de luz se moveu como se por vontade própria, avançando ao
alcance de Darth Chratis com um zumbido quase encantado. As suas
lâminas se chocaram uma vez, duas, três vezes, e o Sith recuou um passo.
— Sim, excelente...
Shigar não o deixou falar, pressionando-o com outra combinação de
movimentos, mantendo-se de pé pelas respostas inevitáveis, sentindo com
cada instinto, cada respiração, o que deveria ser feito. Eles dançaram juntos
ao longo da borda da cratera, à vista dos membros sobreviventes da força de
ataque. Nenhum sinal surgiu; nenhuma palavra para dissolver a aliança; as
comunicações caíram, então o ataque conjunto de Sebaddon continuou.
Darth Chratis se uniu a uma série de ataques ousados e cruéis que
custaram a Shigar o terreno que havia ganho e muito mais. Revidou apenas
com a sua lâmina, sabendo que perderia se o duelo caísse em uma
telecinesia livre e para todos os outros poderes da Força. Isso era inevitável.
A sua única esperança estava em Darth Chratis cometer um erro precoce,
dando a Shigar uma vantagem. Mesmo assim, seria difícil. Os Sith não
morrem facilmente.
Nem os Jedi, disse a si mesmo, mesmo quando o suor escorria em seus
olhos e jogava o capacete para longe, era melhor para lutar sem
impedimentos.
— Você está ficando cansado, — disse o lorde Sith.
— A sua determinação está enfraquecendo. Eu posso sentir isso. Você
sabe que nunca vai me vencer dessa maneira. A sua única esperança é
alcançar em seu coração a raiva que nós dois sabemos que existe.
— A raiva nunca vai me governar.
— Pense na Grã Mestra. Pense no seu mundo natal e em todos os que
morreram lá. Diga a si mesmo que eu os matei e busque a força que o
conhecimento traz.
— Você não teve nada a ver com Kiffu.
— Não?
Shigar lutou, combinando em Darth Chratis golpe após golpe. A lâmina
vermelha tirou três centímetros de sua trança. Ele marcou uma linha no
ombro direito do Sith.
— Você não pode lutar sem o lado sombrio.
Shigar silenciou os seus pensamentos e os sentimentos. Ele era só a
lâmina. Ele era só a Força.
— Você não pode vencer sem o lado sombrio.
Darth Chratis enviou uma onda de raios através do espaço entre eles.
Shigar tentou pegá-los com o seu sabre de luz. O choque percorreu a
lâmina, alcançou o punho e dali o braço direito. Queimava como ácido, era
muito mais poderoso e insidioso do que a rajada que Eldon Ax o havia
atingido em Hutta. Não só doeu. Roeu a sua determinação, dizendo-lhe para
combater o fogo com fogo, para usar as próprias armas do Lorde Sith contra
ele, desafiando os conselhos da sua própria Mestra. Se não o fizesse,
certamente morreria.
Shigar caiu de joelhos, com o começo de um grito assobiando por entre
os dentes cerrados.
Por que ela não avisou? O sussurro de dúvida em sua mente agora tinha
uma voz. A sua Mestra é famosa por ver o futuro, então por que ela não
disse que isso estava à sua frente?
Porque não havia nada que pudesse fazer sobre isso. É por isso. Os seus
ensinamentos são mais fracos que os dos Sith, e ela sabe disso. Ela sabe
que os Jedi perderão a guerra que está inevitavelmente chegando. Ela sabe
que o Imperador vencerá. Ao manter esse segredo de você, ela o matou.
Ela mentiu pra você, assim como o Alto Conselho mentiu para você.
Eles não se importam com a justiça. Eles são corruptos e fracos.
Tudo o que você precisa fazer é dar-lhes as costas e você viverá.
O raio de Darth Chratis passou pelo corpo de Shigar e desceu pela mão
esquerda. Lá concentrou-se em uma bola, ofuscantemente brilhante. À
espera de ser libertado.
Golpeie-me, disse a voz, e levante-se novamente, mais forte do que
nunca.
— Morra, — disse Shigar com uma voz que não soava como a sua. —
Morra!
Quando levantou a mão, Darth Chratis nem estava olhando pra ele. A
atenção do Lorde Sith havia sido capturada por uma sombra que caíra sobre
eles. A coisa que o lançara era enorme e bulbosa, como um punho tão
grande quanto uma cidade subindo lentamente para fora do lago. A lava
pingava como água.
O choque foi tanto que os raios do Sith concentrados na mão esquerda
de Shigar fracassaram. O resto foi junto com a dor. Shigar entendeu então,
com penetrante clareza, que era a fonte de tudo isso, desde o primeiro raio
de Darth Chratis. A voz sussurrando em sua mente, e as dúvidas que
expressara, não eram outra senão suas.
O seu sabre de luz estava em pedaços enegrecidos aos seus pés. O seu
traje fedia a fumaça.
Levantou-se. A coisa do lago se elevou sobre eles, não subindo mais,
apenas pairando, bloqueando o céu. O barulho que fazia era profundo e
ressonante, como o canto de um mamífero do fundo do mar. Parecia uma
convocação, oferecida na linguagem dos mundos.
Um pequeno ponto prateado atravessou o céu: a batedora de Stryver.
Além disso, pendiam as brilhantes constelações das frotas combinadas.
Brilhos dançavam entre eles, indicando que eles estavam respondendo aos
tiros. Shigar não sabia dizer se estavam atirando nos hexagonais ou um no
outro.
Olhou para as mãos. As suas luvas estavam queimadas, mas os seus
dedos e palmas não estavam danificadas.
Este é o caminho traçado para você, disse Mestra Satele em sua mente.
Eram as mesmas palavras que ela usara em Coruscant.
Shigar quase chorou de triunfo e desespero. Ela estava viva, mas onde
isso o levou? Foi contaminado pelo lado sombrio, mesmo que não tivesse
realmente atacado ao Darth Chratis? A Mestra Satele realmente sabia o
tempo todo que isso chegaria a isso, e nunca o avisara?
Mais uma vez ele pensou em Larin, dizendo-lhe que teve sorte de ser
retirado da obscuridade para treinar na Ordem Jedi. Ele até acreditou nela, e
encontrou força no conhecimento de que a sua Mestra e o Alto Conselho
durariam. Aconteça o que acontecer hoje, você voltará à vida que conhece.
Não mais.
A galáxia é pintada de preto e branco, ele percebeu, sentindo a verdade
e as certezas profundas em cada osso. Mas de longe, tudo parece cinza.
AS GROSSAS CORRENTES vermelhas puxaram Ax
irresistivelmente para baixo, derrubando-a como um glóbulo vermelho em
um ataque cardíaco. A Mestra Satele agarrou o seu pulso com tanta força
que temeu que os seus ossos pudessem quebrar, e agarrou a Jedi com a
mesma força. Não conseguia ver nada além do seu alerta e ouvir nada além
de alarmes. As especificações precisas do traje de proteção blindada da
República não lhe eram conhecidas, mas imaginou os seus sistemas de
refrigeração gritando enquanto tentavam irradiar o excesso de calor, apenas
para serem sobrecarregados e falharem.
Esperou, mas isso não aconteceu. Estavam caindo tão violentamente
quanto antes, mas não estava ficando mais quente.
Em vez disso, um sentimento estranho tomou conta dela, um sentimento
que não era inteiramente físico nem inteiramente psíquico. Por todo o
espancamento e agressão ocorrida, não estava em perigo imediato de ser
esmagada ou queimada. O fluído parecia lava. Não estava sendo afogada.
Provar, talvez? Ou abraçar...?
Um forte desejo de nadar a dominou, mas não de alcançar a superfície.
Havia algo no lago com eles, algo que queria que ela se aproximasse.
Começou a chutar e lutar contra a corrente. Mestra Satele era um peso
morto até que adivinhou a intenção de Ax e se juntou ao esforço. Elas se
contorciam através da massa grossa e vermelha, com todo o corpo dolorido,
atingido ocasionalmente por objetos sólidos sendo arrastados pelo fluxo.
Algumas coisas a agarraram, mas Ax não sabia dizer se eram pessoas ou
hexagonais, ou uma manifestação inteiramente nova do fenômeno
Sebaddon. Em vez de parar, nadou, seguindo a única bússola que possuía:
sua intuição.
O seus dedos questionadores encontraram algo duro e estável submerso
no líquido parecido com lava. Era suave e ligeiramente curvado, como o
lado de um submarino. Ela e a Mestra Shan o exploraram, procurando uma
maneira de entrar. Eles encontraram extrusões que poderiam ter sido
antenas, canhões e unidades de luz secundária.
Um barco. Era para onde deveria ir. Algo dentro a trouxe aqui.
Satele Shan a puxou para mais perto, tocou nas placas frontais. O líquido
vermelho se abriu apenas o suficiente para Ax vislumbrar o universo
particular da Grã Mestra. O seu rosto estava abatido, mas calmo.
— Escotilha, — disse ela. — Por aqui.
— Você acha que vai funcionar nessas coisas?
— Só há uma maneira de descobrir.
Elas se separaram, e a Mestra Satele guiou a mão pelo painel que havia
encontrado. Os controles foram instantaneamente reconhecíveis. Ax os
tinha visto em milhares de naves. Milhares de naves Imperiais.
Apertou o botão superior: ABRIR. Uma corrente repentina as aproximou
quando a câmara vazia aspirou fluído. Quando a porta estava
completamente aberta, elas nadaram para dentro e procuraram os controles
internos.
A porta se fechou silenciosamente, deixando pra trás a turbulência
incessante do fluído do lado de fora. Ax flutuou em silêncio por um
momento, grata pelo descanso, pela chance de pensar. Onde elas estavam?
O que estava fazendo? O que a trouxe aqui? Deveria estar nadando para a
superfície, não explorando artefatos afundados enquanto o resto da missão
lutava ao seu redor.
— Você vai abrir a porta interna? — Perguntou Mestra Satele,
pressionando para fechar novamente.
Claro que estava. Tinha chegado longe demais para voltar. Os seus
instintos a puxaram, apesar de suas apreensões.
Quando tocou no botão CICLO, as bombas nas paredes se esforçavam
para drenar o fluído. O peso voltou, juntamente com luz e ar. Elas
finalmente seguiram em caminhos diferentes. Ax limpou o painel, e viu a
Mestra Satele fazendo o mesmo. No meio de tanta estranheza, ela parecia
tão pequena quanto a própria Ax. Estava feliz por não estar sozinha.
A porta interna se abriu, revelando o corredor de uma nave de estoque
padrão, arranhada e empoeirada pela idade. Ax saiu do lamaçal deixado na
escotilha e colocou os pés pingando com gratidão em uma superfície seca.
Verificou a sua tela de alerta. O ar estava bom. Rompendo a vedação em
seu capacete, abriu o painel.
Só tinha cheiro de sangue.
Mestra Satele se aproximou dela com o painel facial frontal aberto
também.
— Alguma ideia de quem é essa nave?
Ax manteve os seus pensamentos para si mesma por um momento.
Caminhou pelo corredor até o primeiro cruzamento, traçando mentalmente
o layout. Se fosse um cruzador leve, decidiu, o convés de comando estaria à
direita, seguraria à esquerda, a tripulação desceria a primeira escada e
seguiria em frente. Escolheu ir para a direita e foi recompensada com
sucesso. O convés de comando era pequeno, mas parecia espaçoso por estar
tão vazio. Nenhum painel de instrumentos brilhava. Nenhum holoprojetor
projetava. Os únicos sinais de vida eram as luzes brilhando de cima.
— O gerador é claramente funcional, — disse Mestra Satele, — mas os
sistemas de controle foram desconectados. Se você está pensando em sair
de Sebaddon, pode esquecer.
O chão tremeu embaixo delas, e Ax foi lembrada de que, embora o
fluído que as havia engolido não fosse lava, eles ainda estavam no topo de
um gigantesco local de perfuração geotérmica, em um mundo cuja casca era
tão estável quanto balão de água.
A nave sacudiu e rangeu ao redor deles. O eco de suas muitas
reclamações soou como uma voz, gradualmente desaparecendo no silêncio.
— O comunicador está bloqueado pelo casco, — continuou Mestra
Satele. — Isso não faria parte do design original da nave.
— Eles nunca pretendiam ir a lugar nenhum, — disse Ax, — ou
conversar com alguém. Aposto que este é a nave de Lema Xandret.
Mestra Satele olhou em volta.
— Sem obras de arte, sem toques personalizados, sem sinais de ser um
lar. Como você sabe?
— Há uma escotilha na parte traseira, — disse Ax, evitando a pergunta.
Eles voltaram pelo caminho que vieram. — Vamos ver o que há por lá.
No caminho, elas passaram fila após fila de salas vazias, confirmando a
sensação de Ax de que a nave havia sido abandonada. Xandret e os outros
fugitivos haviam despojado tudo de útil ou pessoal e o haviam levado para
outro lugar. Talvez a nave os lembrasse demais do que haviam deixado pra
trás; talvez tivessem construído alojamentos mais confortáveis em outro
lugar. Talvez eles o tivessem mantido como uma lembrança da morte, como
um símbolo do seu isolamento e abandono, e nunca pretendessem usá-lo
novamente. Quando eles retornaram à galáxia, eles usaram uma nave
completamente diferente, uma que eles mesmos construíram.
Em nenhum lugar nos registros Imperiais, Ax percebeu, foi registrado o
nome dessa nave. A menos que encontre um sobrevivente, ou algum tipo de
registro, nunca poderá saber. Esse buraco na história de sua mãe a
incomodou enquanto eles caminhavam e subiam pela nave. Sabia que isso
não significava nada, na verdade, e que permanecer nesse ponto era uma
espécie de autodefesa contra as lacunas muito mais largas que em breve
poderiam ser preenchidas. Mas não pôde deixar de se perguntar como teria
sido viver com a rocha sólida. lembrete de sua traição constantemente à
mão. Provavelmente seria enlouquecedor.
A escotilha de carga na popa era duas vezes maior do que aquela haviam
atravessado no lado a bombordo. Estava aberta, um tubo umbilical levando
a espaços desconhecidos. O tubo balançou e sacudiu incerto sob a
influência do fluído ao seu redor.
Ax avançou, dizendo a si mesma que não havia nada a temer. Concordou
com Stryver. Lema Xandret já está morta. E já faz algum tempo. Não havia
vida ali. A colônia havia sobrevivido o tempo suficiente para construir os
hexagonais, mas depois fracassou. Ou os hexagonais os mataram,
reconhecendo que os humanos haviam sobrevivido à sua utilidade ou se
mataram. Todas as evidências que Ax esperava encontrar eram os seus
corpos.
Não estava preparada, portanto, para os aposentos intimamente
decorados que haviam sidos deixados pra trás: fotos, diários, roupas,
celulares, refeições e muito mais espalhados pelos corredores sinuosos da
colônia, perfeitamente preservados no ar fresco e seco, como se tivessem
sido deixados de lado apenas uma hora antes. Haviam crianças morando ali.
Haviam memoriais para os mortos e para os que foram deixados pra trás.
As semelhanças dos colonos a encaravam de todos os ângulos. Reconheceu
o rosto da mãe em algumas fotos. Lema Xandret tinha envelhecido ali. O
seu rosto estava delineado e os seus cabelos estavam grisalhos. O seu olhar
era forte.
— Você estava certa, — disse Mestra Satele com algo como admiração
em sua voz. Preocupação também, se os ouvidos de Ax não a enganassem.
Apressou-se em um silêncio determinado. A colônia vazia era o
testemunho de muitas coisas: esperanças e medos, bravura e covardia, o
cotidiano e o profundo. Ax não estava interessada em nada disso. Não tinha
ido a Sebaddon em busca de um museu. Veio porque o Conselho Sombrio
ordenou, porque o destino exigia e por causa de Dao Stryver. O
sentimentalismo de Maudlin era irrelevante para ela.
Ainda assim, o ritmo de Ax aumentou até que estava quase correndo de
sala em sala, procurando algo que não podia nomear. A Mestra Satele a
seguiu, movendo-se levemente e silenciosamente em seu rastro. Os
corredores se enrolam cada vez mais, conectando-se a espaços maiores e
estruturas mais comerciais, incluindo purificadores de ar e água e usinas de
energia. A pressão aumentou constantemente ao seu redor. Em vários
lugares, viram vazamentos lentos, escorrendo vermelho em poças em
crescimento.
Chegaram finalmente a uma sala grande e quadrada que parecia mais um
armazém do que um laboratório, embora claramente tenha sido o último. As
peças dos droides estavam espalhadas em vários estados de reparo, ao lado
ferramentas de todas as formas e tamanhos e instrumentos misteriosos de
medição. Os holoprojetores exibiam desenhos rotativos, revelando várias
variantes dos hexagonais que Ax nunca havia visto antes: versões com dez
pernas ou mais, corpos múltiplos, membros especializados e aglomerados
em máquinas maiores capazes de viajar no espaço ou de destruição em
massa. Alguns deles mudavam enquanto caminhava em direção a eles,
indicando que os algoritmos evolutivos responsáveis por eles ainda estavam
em execução. Cabos grossos passavam por toda parte através de uma
camada vermelha de centímetros de tamanho. Alguns deles levaram a um
tanque de vidro tubular, cinco vezes maior que um tanque de bacta, que
ficava em um canto da sala. Estava cheio de fluído vermelho opaco,
aparentemente idêntico ao material lá fora.
Mestra Satele se aproximou do tanque, mas Ax recuou. Sentiu que isso
era o que a tinha atraído aqui, Mas agora que estava em pé na frente dele,
estava nervosa. Realmente queria saber qual tinha sido o destino de sua
mãe?
— Está quente, — disse a Mestra Satele. Ela tirou uma luva e a
pressionou contra o vidro. — Em temperatura corporal, ou por volta disso.
— Essa coisa vermelha, — disse Ax. — Está em todos os hexagonais.
Parece lava, mas não é. É o componente biológico que os Hutts detectaram.
— É sangue?
— Eu não sei. — Ela estremeceu. — Espero que não.
A Grã Mestra ainda estava de pé com a mão tocando o vidro. Observou
Ax de perto.
— É isso que eu exploro quando domino os hexagonais. Está vivo, mas
ao mesmo tempo não está vivo. É incompleto, como um corpo sem mente.
— A IC poderia estar pensando?
— Poderia estar, mas não vimos nenhum sinal do IC até agora. Se
estiver nesta seção do planeta, está mantendo um perfil muito baixo.
O fluído no tanque se mexeu e a Mestra Satele se afastou bruscamente.
— Há algo mais lá, — disse ela. — Eu senti.
Ax se abraçou sem perceber. Queria correr, mas não conseguia se mexer.
Os seus pés estavam congelados no chão. Os olhos dela não conseguiam
desviar o olhar.
Dentro do tanque, algo branco varreu o vidro. Desapareceu quase
instantaneamente, de volta no escuro, mas depois voltou um momento
depois, pressionando com força.
Ax engasgou. Era uma mão humana. Outro apareceu ao lado, com os
dedos abertos. O fluído vermelho se agitou quando o corpo ao qual as mãos
foram presas se firmou no fluído.
Algo zumbiu no laboratório. Uma câmera se virou para encarar a Mestra
Satele, depois foi atrás de Ax.
— Eu reconheço você.
A voz veio de todos os lados. Mulher, sem fôlego, surpresa.
— Eu conheço você.
Um rosto apareceu mais perto da parede de vidro do tanque, aparecendo
lentamente.
— Eu sou você.
Ax sentiu as suas entranhas virarem água. O rosto era dela.
ULA OBSERVOU a plataforma repulsora subindo do polo sul do
planeta com algo que se aproximava. A skyhook era enorme e bem
defendida, e os hexagonais o haviam construído quase em pouco tempo. Se
Stryver ainda precisava convencer alguém da realidade de sua teoria do
crescimento geométrico, a prova estava bem na frente dele.
— O que um skyhook está fazendo no polo? — Jet perguntou. — Seria
inútil, flutuando lá.
— Por quê?
— Porque o melhor lugar para chegar a órbita mais altas é pelo equador,
e é isso que eles querem fazer. Não é?
Ula apenas deu de ombros. Os skyhooks tinham muitos usos, não era só
como um ponto de partida para a órbita, como costumavam ser empregados,
pairando imóveis sobre os pontos na superfície do planeta. Eles poderiam
fornecer defesa ou agir como demonstrações de riqueza. Quem sabia o que
os hexagonais queriam? Ainda estava aprendendo o que eles podiam fazer.
— Mirem nessa coisa, — ele ordenou a frota combinada, só para ter
certeza. — Derrubem-na!
A Primordial enviou uma salva sem entusiasmo na direção do skyhook,
mas estava claro que Kalisch estava mantendo um poder de fogo
significativo na reserva. A Commenor não enviou nada.
— Você não me ouviu, capitã Pipalidi? Precisamos impedir que essa
coisa atinja a atmosfera superior.
— E preciso garantir a segurança das naves que restam, — disse a líder
do contingente da República. — Se a Primordial lançar as suas armas sobre
nós enquanto procuramos em outro lugar, ficaremos indefesos.
— Se os hexagonais escaparem, todos perdemos.
— Na cabeça de Kalisch seja o caso.
Deu um soco no painel de instrumentos, frustrado.
Jet o olhou com reprovação.
— Ei, vá com calma.
— É tão... tão inútil! Qual o sentido de brigar entre si? Tudo o que eles
precisam fazer é cooperar um pouco mais e temos uma chance.
— Eles são muito parecidos. Esse é o problema. Você vê isso nas
culturas primitivas, quando os cismas dividem as religiões em seitas
semelhantes, mas não idênticas. Eles se odeiam mais que o inimigo.
— Do que você está falando? O Império não é uma cultura primitiva.
— Não, mas o princípio ainda é válido. Hierarquias semelhantes, com
uma casta de sumo sacerdotes dominantes; crenças semelhantes, mas
práticas diferentes; competindo pelo mesmo território
— Pare com isso, — disse Ula. — Você não está ajudando.
— Só estou tentando apontar por que isso nunca iria funcionar.
— Então nem deveríamos ter tentado?
— Tudo vale a pena tentar pelo menos uma vez. E sou conhecido por
estar errado em algumas ocasiões. Infelizmente, isso não é uma delas.
— Então, como podemos mudar isso? O que podemos fazer para
impedir que os hexagonais saiam?
— Sempre existe o plano B.
— Qual é?
— Eu esperava que você tivesse um.
Stryver estava indo para o norte, longe do polo sul. Ula projetou o
progresso do Mandaloriano através de um mapa da superfície do planeta e
encontrou a provável localização da IC no final dele. Essa parte do mapa
era uma bagunça de atividade. Ula usou os dados de satélite e de caça para
aumentar o zoom.
Algo estava surgindo de um lago de lava, enchendo a cratera onde o
local da aterrissagem estava.
— Outro skyhook? — Ele disse, apontando para a imagem.
— Está no lugar certo, — disse Jet, — mas não acredito nisso. O design
não está correto e não parece ter a capacidade de elevação de repulsão
necessária para decolar.
Uma escotilha circular se abriu no topo da coisa, como uma íris enorme.
Outro espaço se abriu entre os hexagonais diretamente acima.
Ula esperou, mas nada emergiu da escotilha.
— Isso não faz sentido, — disse ele.
— Aí está o Stryver novamente, — disse Jet, apontando para um
pontinho solitário circulando a nova chegada.
— Eu acho que ele está perseguindo esses focos subespaciais, — disse
Ula. — Esse deve ser um grandalhão.
— Como o skyhook. — Jet apontou para o sul do planeta. — Que está
se movendo, a propósito.
Ele estava certo. O skyhook se afastou do polo e estava acelerando
consideravelmente para o norte.
Ula pensou rápido. Se o skyhook continuasse acelerando a esse ritmo e
continuasse nessa direção...
— São duas metades de uma mesma coisa, — ele chorou.
— O skyhook estava no polo porque foi onde a fábrica principal o
construiu. Agora está chegando para pegar a IC e levá-la para fora do
mundo. Aposto que as unidades estão sendo construídas na lua, enquanto
falamos. Eles estão se preparando para se libertar. Temos que detê-los!
— Acho que você está certo, — disse Jet, — e concordo que isso é sério.
Tente Kalisch e Pipalidi mais uma vez. Talvez eles mudem de ideia.
Ula sabia que era inútil. A frota estava se dividindo. Tiros estavam
sendo disparados por caças que passavam perigosamente perto das
embarcações principais do lado oposto. Ficou claro que as linhas estavam
sendo desenhadas e as contas tiradas. Tudo o que seria necessário era um
erro para que a guerra aberta surgisse.
— Se houvesse apenas uma maneira de forçá-los a fazer o que é
necessário, — disse ele.
— Eu sabia que você tinha os ingredientes de um Imperador.
— Como você pode brincar em um momento como este?
— Quem está brincando? — Jet virou-se e disse ao Clunker: — Hora do
plano B.
O droide inclinou a cabeça maltratada. Uma série de novas telas
apareceu e saiu do holoprojetor principal enquanto o droide enviava uma
série de comandos pelos principais computadores da Auriga Fire.
— Não me diga, — disse Ula. — Você decifrou a criptografia dos
hexagonais, mas está sentado nela, esperando o resto de nós descobrir por
nós mesmos.
— Acredite, eu não teria esperado. Além disso, não havia nada a ganhar
com isso. Depois que a criptografia é decifrada, os hexagonais estão mortos
e estou sem grana.
— Então o que você vai fazer?
— Algo nobre e provavelmente bastante estúpido. Em troca, preciso que
você faça algo por mim.
— É só perguntar.
— Eu preciso que você finja que isso nunca aconteceu.
Ula olhou para ele.
— Observe as telas, — disse Jet.
A frota combinada estava se dividindo, mas não as linhas de facção. A
Primordial estava levando um contingente misto até uma órbita mais baixa,
para atingir a IC com maior precisão. A Commenor estava indo para a lua
com um séquito menor e dois esquadrões de combatentes. Todas as brigas
internas haviam cessado abruptamente.
Os comunicadores não estavam desativados, mas estavam desconfiados.
Ninguém estava dando ordens para coordenar os movimentos da frota. Isso
estava só acontecendo.
— Você está fazendo isso, — disse Ula, horrorizado.
— Clunker está. Ele tem uma cabeça muito boa no lugar.
— Você me usou para me infiltrar nas redes Imperiais e da República.
Você decifrou as criptografias deles. Agora você assumiu o controle!
— O fim justifica os meios, certo?
— Foi o que Stryver disse. Não tenho certeza se concordo.
— Estar vivo é sempre melhor do que estar morto. Essa é a minha regra
de ouro.
— Mas o que vem depois?
— As frotas mudam as suas criptografias. As coisas voltam ao normal.
— Se você deixá-los livres.
— Por que não iria fazer isso? Eu não sou louco por poder como você.
Pode haver dinheiro na construção de um Império, mas nunca no topo. Você
acaba no lado errado de um golpe, de um invasão ou de um rifle de atirador.
O seu Imperador aprenderá isso eventualmente, da maneira mais difícil.
Ula estava preso. Havia traído a República, afinal, mas havia traído o
Império junto com ele. E agora estava totalmente impotente. Tudo o que
podia fazer era sentar e assistir, e se perguntou se iria intervir se a
oportunidade surgisse. Afinal, Jet estava fazendo o trabalho que não havia
conseguido. Quem era ele para atrapalhar?
Talvez Jet também estivesse desafiando os seus instintos mais básicos e
tentando fazer a coisa certa.
Uma voz crepitou do planeta em uma frequência da República. Ula
reconheceu instantaneamente.
— ...mais altos agora, então o bloqueio pode não ser tão eficaz. Aqui é a
tenente Moxla chamando o diretor Vii. Peguei um elevador na parte de trás
do Skyhook e estou colocando identificadores nos pontos vulneráveis.
Golpeie-os o mais forte que puder. Por favor responda. Deixe-me saber o
que estou passando. Estamos mais altos agora, então o bloqueio pode não
ser tão eficaz. Aqui é a tenente Moxla chamando o diretor...
— É uma gravação. — Jet reduziu o volume. — Eu vejo os
identificadores. Se ela fez o seu trabalho corretamente, podemos atingir o
skyhook com tudo o que a Paramount tem e tirá-lo de serviço antes que
chegue ao equador
— E a Larin?
— Talvez ela já tenha o abandonado.
— Nós não temos como saber, temos?
— Não. Então o que você quer fazer?
— Você realmente está me dando escolha?
— Na verdade não. Só querendo ver se você poderia apresentar um
argumento decente.
Os minúsculos pontos de luz brilhavam no holoprojetor enquanto a
Primordial enviava todos os mísseis que tinha para o trajeto.
LARIN CORREU SUAVEMENTE sobre a cúpula mais alta do
skyhook, mantendo-se abaixada para evitar tiros ocasionais. A estrutura era
feita inteiramente de corpos de hexagonais ligados. Alguns deles
mantiveram um pouco de individualidade e levantaram um membro para
disparar enquanto passava. Não podia olhar a todos os lugares ao mesmo
tempo, mas conseguiu evitar quaisquer ferimentos graves até agora.
Isso mudaria no momento em que a sua mensagem fosse recebida ou a
frota abrisse fogo independentemente dela. Não havia como sair do
skyhook agora que estava voando. Se tudo acontecesse, ela e todos os seus
colegas de esquadrão também. Nem todos haviam pulado a bordo com ela,
mas só aqueles que sabiam no que estavam se metendo o fizeram. Haviam
talvez duas dúzias de troopers como ela espalhados pelo skyhook em
movimento, todos operando de forma independente.
As comunicações vieram e se foram; havia configurado o seu
transceptor para transmitir o mais cedo possível e o deixava funcionar sem
ouvir. Cada identificador que colocava apontava para um respiradouro ou
conjunto de sensores, ou qualquer outra coisa que pudesse sofrer um
impacto certo. Não perdeu tempo tentando esgueirar-se dentro do skyhook.
Haveria pouco benefício em se matar dessa maneira.
Era irônico, pensou. A telemetria lhe disse que o skyhook a estava
aproximando de onde Shigar deveria ter pousado, mas provavelmente não
chegaria, e nem ele, muito provavelmente. O seu transporte tinha sido
incendiado. Poderia compartilhar o mesmo destino que ele e nunca saberá.
A luz azul piscou à sua direita. Um soldado havia sido preso por três
hexagonais amplamente espaçados, todos disparando simultaneamente.
Devolveu o fogo, agachando-se para apresentar um alvo menor, mas não
conseguiu atirar em todos eles, e não tinha para onde recuar. Enquanto
observava, medindo a situação dele, um tiro cortou a vedação do pescoço
do capacete, provocando um jato de ar precioso. Caiu, se debatendo para
alcançar o vazamento, mas as suas articulações dos ombros não se
flexionavam tanto.
Chegou abaixada e rápida, disparando no hexagonal mais próximo
primeiro, antes de acertar as contas com os outros. Eles mudaram a mira pra
ela, mas tinha prática em lutar contra os hexagonais agora. Apontou
primeiro para os sensores, porque eram mais fáceis de acertar. Sem os
olhos, como eles poderiam atirar de volta?
Dois outros hexagonais se juntaram antes que alcançasse o soldado
caído. Pegou-o com uma mão por baixo da axila esquerda e continuou se
movendo, e disparando. Usando a gravidade e o seu próprio momento,
levou-o pelo domo como se estivessem correndo pela encosta de uma
colina.
Quando eles estavam fora de alcance, ela os fez parar. A borda estava à
primeira vista. Além desse ponto, não havia nada além de Sebaddon, bem
abaixo.
Ele ainda estava se debatendo. Pegou o kit de reparo no bolso da coxa e
pediu que ele ficasse quieto. Ele obedeceu. Quando aplicou o selante de
ação rápida na articulação do pescoço danificada, eles se reconheceram.
O soldado que a olhava era Ses Jopp.
A sua voz viajou claramente através do material do seus trajes.
— Você é a última pessoa que eu esperava ver.
Não queria dizer que o sentimento era mútuo.
— Eu não poderia simplesmente deixar você lá.
— E eu sou grato, acredite em mim. Obrigado, tenente.
Não sabia dizer se ele era sincero ou não, mas já era alguma coisa.
— Pronto, — disse ela, alisando o último selante. — Você viverá para
lutar outro dia.
Os olhos dele seguiram para a direita, por cima do ombro.
— Provavelmente não, — disse ele. — Veja.
Virou-se e olhou para o céu. Viu claramente as listras brancas da
artilharia Imperial vindo em sua direção. Parecia que a tripulação da
Primordial estava dando tudo o que tinham, exatamente como deveriam, ela
pensou.
Em vez de se erguer desajeitadamente com os mísseis que se
aproximavam, virou-se e sentou-se ao lado de Jopp.
— Melhores lugares da casa, hein? — Ela disse.
Ele riu.
— Sim. As pessoas matariam por eles.
Pensou em seus ex-colegas do Estrelas Negras, na bravata e na ligação,
no sentimento de pertença que tinha perdido tão profundamente.
— Soldados como nós nunca aprendem. Os fogos de artifício são só
bonitos à distância.
Jopp assentiu com seriedade.
— É uma mudança agradável ter uma oficial aqui conosco.
Virou-se para olhar pra ela.
— Acho que você não é tão ruim, afinal, Moxla Tóxica.
Ela sorriu. Isso era o mais próximo possível de um pedido de desculpas,
mas no serviço isso representava um voto de lealdade que perduraria até a
morte deles. Era uma pena, ela pensou, que isso não fosse demorar muito.
TRILHAS DE EXAUSTÃO desenharam hieróglifos complexos
pelo céu. Nada menos que quinze mísseis estavam convergindo para o
objeto que havia subido do lago. O raio da explosão seria tão grande que
não havia sentido em correr.
Shigar se preparou para a explosão. Havia uma pequena chance de que
pudesse se proteger do pior, mas o que aconteceria depois era uma grande
incógnita. Pode não haver mais ilha, afinal. Não podia flutuar para sempre
em um mar de lava.
À beira da morte, teve um vislumbre de como sua vida teria acontecido,
se tivesse vivido. Sabia, intelectualmente e visceralmente, que havia
conquistado o posto de Cavaleiro Jedi. Mestre Nobil não podia lhe negar
isso agora. Lutou e fez acordos com os inimigos. Lutou com o lado
sombrio. Havia vencido a sua única fraqueza restante. E, o mais importante,
estava disposto a lutar.
Você é um produto do seu tempo, ouviu a antiga Mestra dizendo. Você
deve enfrentar os tempos futuros com muito cuidado. Os Sith são o inimigo,
mas não devemos nos tornar como eles para vencê-los. Devemos
permanecer fiéis a tudo o que defendemos.
Não sabia dizer se a voz dela estava no presente ou se era um eco do
futuro que nunca seria. Da mesma forma, não sabia dizer se ela o estava
censurando ou oferecendo incentivo.
Não aguento enquanto os políticos jogam os seus jogos, ele respondeu.
Foi um ato de roubo que nos trouxe até aqui, um ato realizado em nome da
República. Mesmo neste canto do universo, corsários e falsos tratados
colocaram em risco bilhões de vidas. Quando toda a galáxia está em jogo,
quem pode ficar ocioso?
Você não pode, Shigar Konshi. Você não pode.
Eu não entendo Você está me dizendo que estou errado ou que estou
certo?
Talvez ambos. A resposta está além da minha visão.
Voltou à realidade.
Um rugido poderoso encheu o ar. As linhas no céu convergiram em um
ponto. O hieróglifo estava completo.
Darth Chratis desapareceu por trás de um escudo brilhante da Força.
Shigar permaneceu desprotegido, ao lado dos outros soldados que
olhavam para as suas mortes. Não tinha medo de morrer.
Houve um clarão, depois outro, depois tantos que se tornaram um ataque
simultâneo.
Shigar protegeu os olhos com a mão.
Se surpreendeu que ainda tivesse uma mão e olhos.
Olhou entre os dedos.
A estrutura maciça havia gerado uma ampla blindagem de
eletroespelhos e estava desviando toda a força das explosões de volta ao
espaço.
Alívio o inundou, depois desânimo. Ainda estava vivo, mas o plano
falhou. E agora?
Darth Chratis emergiu do seu escudo enquanto nuvens super quentes
irradiavam acima deles. Ele parecia tão surpreso quanto Shigar.
— Inaceitável, — disse ele.
Uma segunda série de brilhos veio do sul, onde outra coisa estava sendo
bombardeada por cima. Eles se viraram para ver outro trabalho de
megaengenharia dos hexagonais que flutuavam no céu, arrastando
serpentinas explosivas. Um escudo eletromecânico idêntico também o
protegia.
Um skyhook, Shigar percebeu. A outra metade da coisa pairava sobre
ele, sem danos a tudo o que o Império e a República podiam jogar nele.
Quase riu.
— Isso tudo foi em vão, — disse ele a Darth Chratis. — Você, eu, Larin,
tudo.
— Você acha isso divertido, garoto?
Não achava, mas o momento tinha uma ponta histérica da mesma forma.
Poderia agonizar o quanto quisesse sobre as escolhas que fizera e faria,
sobre o papel da Ordem Jedi nos planos do Imperador e sobre os pés de
barro da República quando se tratava de tomar medidas decisivas, mas se
nada parasse os hexagonais, não haveria guerra alguma. O futuro da galáxia
acabou aqui.
Você venceu, Lema Xandret, ele pensou, onde quer que esteja.
CINZIA XANDRET OLHOU para fora do tanque para a garota a
qual poderia ter sido.
— Não olhe pra ela, — sussurrou a sua mãe.
— Por que não?
— Ela não é real.
— Ela parece real o suficiente.
— Mas ela não é você.
— Ela é como eu poderia ter sido.
— Você não é ela. Você nunca será ela. Ela é uma mentira e ela é má.
Ela é...
— Cala a boca, Mãe.
O sussurro cessou. A atenção de Cinzia voltou para as duas pessoas do
lado de fora do tanque, uma mulher madura com cabelos castanhos
grisalhos e a sua companheira mais jovem, ambas vestidas com trajes
blindados manchados de sangue, ambas estranhas, pelo menos no
complexo. Uma que reconheceu. Tinha visto aquele rosto a vida toda. Era
dela própria.
— Quem é você? — A mulher mais velha das duas pareceu chocada e
surpresa. — Você é a Cinzia?
— Eu sou a clone dela, — disse ela. Não havia nada a ganhar
escondendo a verdade, e não havia mal em falar. — A minha mãe tirou uma
amostra de tecido de mim antes que eu fosse levada. Ela me fez de novo. A
mesma filha, mas melhor, mais pura.
— Isso explica por que você parece mais jovem, — disse a mulher.
Olhou para a parceira, que parecia incapaz de falar. — O meu nome é
Satele Shan. Como assim... mais pura?
— O fluído que estou respirando suprime as minhas habilidades da
Força. Há algo nele, um metal, eu acho, ou um extrato de algo que se
alimenta de metal. Isso me mantém segura.
— Segura? — Agora a outra Cinzia falou. — Se parece mais com morta.
O sorriso de escárnio em seu próprio rosto, lindo, ficou feliz em ver,
com a adição de mais alguns anos, era simplesmente horrível de se ver.
— Viu? — A sua mãe sussurrou. — Ela acha você um monstro. Chame
os droides, agora. Ela deve ser parada!
— Não, — disse Cinzia.
— Deixe-me falar com ela primeiro. Quero saber o que aconteceu com
ela. Quero saber por que ela está aqui.
— Ela veio para destruir tudo. É o que eles fazem. Eles pegam e
destroem. Eles não mostrarão nenhuma gentileza, assim como não
mostraram com ela.
— Eu te disse pra ficar quieta, Mãe. Além disso, não confio mais nos
droides. Você sabe o motivo.
Isso fez efeito. Os redemoinhos do fluido ao redor dela ficaram mais
silenciosos.
— Você viveu aqui a vida toda? — Perguntou a mulher chamada Satele
Shan.
— Sim. Eu posso acessar todas as câmeras do complexo. Muito disso é
automatizado, você sabe. Os droides são os meus olhos e ouvidos.
— Você os controla?
— Se eu quiser, — disse ela, embora agora estivesse menos certa disso
do que antes.
— Então você é responsável pelo que está acontecendo lá fora? —
Perguntou a outra Cinzia.
— Para ser sincera, — ela disse, — não sei o que está acontecendo lá
fora. Eles parecem bastante ocupados, no entanto. Eles são projetados para
me proteger, e a definição de proteger é um pouco vaga. Acho que no
momento isso significa não me contar nada. Seja o que for que eles estão
fazendo, eu tenho certeza que eles têm boas intenções.
— Você deveria dar uma olhada, Cinzia, — disse Satele Shan. — Os
hexagonais estão matando pessoas.
— Você tem certeza?
— Positivo.
— Eles só fariam isso se fossem atacados. Por que vocês os atacaram?
— Eles são uma ameaça para toda a galáxia.
— Eu não acredito em você, — disse ela. O pensamento era totalmente
absurdo. — Você está apenas tentando me distrair. Este é um dia
importante. As duas Cinzias finalmente se encontram! Estou esperando por
isso, bem, desde que nasci. Finalmente estamos juntas! Eu quero ouvir tudo
sobre a sua vida. Quero saber se gostamos das mesmas coisas, pensamos os
mesmos pensamentos...
— Eu não sou você, — disse a versão mais antiga de si mesma. — O
meu nome é Eldon Ax.
— Não diga isso.
— Eu direi o que eu quiser. Você é uma aberração, um erro. Eu deveria
te matar agora, apenas por existir.
A outra Cinzia produziu uma espada vermelha brilhante e a segurou
entre elas.
— Viu? — Assobiou a mãe. — Ela fará muito mal a você, se você
permitir, talvez até a mate!
— Não sejam cruéis, — disse Cinzia à mãe e a gêmea. — Não precisa
ser assim.
— Ela está certa, — disse Satele Shan, colocando a mão no braço da
outra Cinzia. — Não aja precipitadamente.
— Sim. — A lâmina vermelha desceu. — Precisamos do que ela sabe,
sobre os hexagonais, sobre Lema Xandret.
— Como a sua mãe morreu? — Perguntou Satele Shan.
— Os droides a mataram, — disse Cinzia, — e os outros também, mas
ela não está realmente morta.
— Não conte a eles, — sussurrou a voz em seu ouvido. — Não conte a
eles!
— Por que os hexagonais a mataram?
— Eles não queriam assinar um tratado com ninguém. Quando a nave
partiu...
— A nave que recebeu o seu nome?
— Sim... a Mãe a construiu antes de me fazer, e ela nunca quis mudar o
nome. Os droides não queriam que as pessoas viessem aqui, nunca. Não era
seguro pra mim. — Quase se esquivou do pensamento do que havia
acontecido a seguir, mas se forçou a não fazê-lo. A divulgação era
importante, se as duas se tornassem uma. — Os droides mataram a minha
mãe para impedi-la de enviar mais naves. Os outros tentaram detê-los, então
os droides os mataram também. Foi tudo muito estúpido, realmente. A Mãe
deveria saber como seriam os droides.
Satele Shan assentiu lentamente.
— Então ela não estava na nave?
— Não, eram Kenev e Marg Sar.
— Por que ela não foi com eles, se ela era a líder deles?
— Eles não tinham líderes. Eles não queriam viver como antes. Eles
queriam uma mudança.
— Tudo bem, mas Kenev e Marg Sar nunca voltaram, não é? Eles se
mataram quando a nave foi interceptada por um corsário. Eles explodiram a
nave.
Isso foi um choque. O fluido ondulou por toda a sua pele, e ela se
abraçou com força.
— Eles gostariam de manter a carga em segredo, — disse ela, pensando
bem.
— A fábrica de droides?
— A planta. É assim que as chamamos.
— Algo interferiu na explosão, — disse Satele Shan. — A planta não foi
destruída.
— Deve ter sido um dos droides. Eles não gostariam de morrer, mesmo
que precisassem.
— Foi isso que nos trouxe aqui, Cinzia. Viemos encontrar a sua mãe,
perguntar o que ela queria dizer ao mundo exterior. E isso é tudo.
Cinzia esperou que a sua mãe dissesse alguma coisa. Pela primeira vez,
porém, ficou quieta.
— Eu não acho que ela quer falar com você, — disse Cinzia.
— Você disse que ela estava morta.
— Ela está, na maior parte. Os droides levaram o corpo dela,
provavelmente para reciclagem. Mas ela ainda está aqui, conversando
comigo.
— Não conte a eles!
— Ela não quer que eu fale com você também.
As duas mulheres do lado de fora do tanque trocaram um olhar
preocupado.
— Eu não estou brava, — disse Cinzia, sentindo-se ofendida.
— Não vejo como você poderia estar de outra forma.
— Nós simplesmente não entendemos, — disse Satele Shan, silenciando
a outra Cinzia.
— Não, você não entende. A minha mãe me protege. É por isso que os
hexagonais são do jeito que são. Ela se inseriu neles, também.
— Nós percebemos isso. Tanto a sua carne e sua filosofia. Eles são
flexíveis e decididos ao mesmo tempo, combinando as melhores qualidades
de máquinas e produtos orgânicos em uma única criatura. A sua mãe deve
ter sido bastante brilhante ao pensar em fazer isso.
— Eu ainda sou, — sussurrou Lema Xandret.
— Ela diz que ainda é.
— Você não vê como os hexagonais podem ser uma ameaça? — Disse
Satele Shan, ignorando o seu comentário. — Eles não reconhecem um líder
e querem ser deixados em paz. Eles não querem morrer e querem protegê-
la. Qual a melhor forma de mantê-la segura do que destruir todos os outros,
incluindo a sua mãe?
— É a lógica, — ela admitiu, lembrando como eles a desobedeceram
também. Cinzia havia implorado para que deixassem a Lema Xandret
original em paz, mas não havia como voltar atrás, não uma vez que sua
criadora os traiu. A mãe de Cinzia os havia programado muito bem.
— É uma loucura, — murmurou a outra Cinzia.
— Você precisa entendê-los, — ela insistiu. — Se o que diz é verdade,
então faz sentido. Vai ser difícil convencê-los a não atacar os seus amigos.
— Você acha que poderia tentar convencê-los? — Perguntou Satele
Shan.
— Eu poderia tentar. Mas você teria que prometer sair e nunca mais
voltar.
— Eu não acho que isso seria possível.
— Por que não?
— O seu mundo é valioso demais. Muitas pessoas sabem que existe
agora.
— E daí?? Eles não precisam vir aqui. Vocês tem toda a galáxia. Eu só
quero um mundo. Isso é pedir muito?
— Para alguns é.
— Bem então. Estamos em um impasse.
— Sim. Temo que sim.
Cinzia não gostou do jeito que a sua outra eu estava olhando pra ela.
Havia tanta fúria e mágoa naqueles traços familiares. Nunca poderia
imaginar olhar daquele jeito, ter aquele cabelo incrível.
— Por que os hexagonais protegem você, — perguntou a outra Cinzia,
— e não a mim?
— Porque eles não te conhecem. Você não se parece exatamente
comigo, ou vive como eu, aqui. Você parece uma das pessoas que te
levaram embora.
— Eu sou uma das pessoas que me levou embora.
— Mas você também sou eu, mesmo que tente negar. Você não precisa
ser do jeito que é agora.
— De que outra forma eu posso ser? Não me lembro de mais nada.
— Sério?
— Sim, com certeza. E qual é o sentido de tentar? Os droides vão me
matar de qualquer maneira.
— Talvez se lhes déssemos uma amostra do seu código genético. Talvez
então eles não matariam você.
— Então seria apenas eu e você em uma galáxia cheia de hexagonais. É
isso que você quer?
Ela balançou a cabeça.
— Eu só quero que todos vão embora. Todo mundo, quero dizer. Você
não. Temos muito o que conversar.
— Não tenho nada para lhe contar.
— Mas você tem! Onde você mora, o que você faz. Não sei nada sobre
lugar nenhum. Tudo o que sei é Sebaddon, onde fui clonada. Você pode me
contar sobre onde nasci.
— Não me lembro de nada disso, — disse a outra Cinzia. — Tudo o que
conheço é o Império.
— O quê?
Satele Shan olhou para ela com franca surpresa.
— Você nunca ouviu falar do Império?
— Não. Deveria ter ouvido?
— E os Sith? A República? Os Mandalorianos?
Cinzia balançou a cabeça irritada.
— Pare de se exibir. Você está me fazendo sentir estúpida.
— Eu não estou me exibindo. Estou surpresa que você esteja tão isolada
aqui. Não me parece justo que a sua mãe tenha feito isso com você.
— Ela está tentando te virar contra mim, — sussurrou a voz. — Cuidado
com isso.
— A mãe diz que eu devo tomar cuidado com você. Porque isso?
— Talvez ela esteja com medo que eu a tire dela. Eu prometo que não
vou tentar fazer isso, Cinzia. — O rosto de Satele Shan estava tão
inexpressivo quanto alguém se esforçando muito para não ter uma
expressão. — A sua mãe está com você agora? No tanque?
— Sim.
— Ela é outro clone?
— Não exatamente.
O fluido a rodeava, agitado e selvagem. Cinzia foi puxada para longe do
copo, no centro do tanque.
— Eu disse, não fale com elas! Por que você nunca me escuta?
— Eu sempre ouço você, Mãe.
— Mas você nunca faz o que eu digo. Eu disse para você não contar a
elas sobre mim!
— Elas iriam adivinhar de qualquer maneira. Por que dificultar pra elas?
— Eles não vão entender, Cinzia. Você tem que dizer aos droides para
levá-los embora. Eles vão te obedecer dessa vez. Você sabe que eles vão.
Quando há uma ameaça claramente definida, precisam agir contra ele.
— Assim como eles agiram contra você.
— Sim! Inclusive eu! A lógica era impecável. Eu fui uma estúpida por
tentar lutar contra ela.
Cinzia se lembrava muito bem dos dias que antecederam aquele terrível
momento. Não havia como suprimi-los completamente.
— Eu acho que você suspeitava disso, Mãe. Você estava com medo dos
droides. Você me deu as substituições na esperança de que eles me
ouvissem, mas eu não as usei. — Ela se lembrou de sua passividade com
dolorosa ansiedade. Às vezes se sentia mal por não intervir. — Os droides
são os meus protetores. Você é a minha protetora. Eu ainda tenho os dois.
Foi errado não fazer nada?
— Ainda estou aqui, Cinzia. Está certa. Todos nós protegeremos vocês
juntos.
— Mas e se você estivesse certa, Mãe? E se os droides se tornaram
poderosos demais? Isso significa que você concorda com Satele Shan e não
deve argumentar contra ela. Eu deveria ouvi-la também. Talvez eu deva
usar as substituições para parar os droides agora, antes que seja tarde
demais.
— Não, Cinzia, você não deve!
O fluido enrolou em torno dela mais apertado do que nunca. Mesmo que
lutasse, ela não conseguia segurar no vidro.
— Mãe, me deixe ir!
— Não!
— Eu não posso ficar parada e deixar que pessoas inocentes se
machuquem. Você não gostaria disso.
— Eu devo mantê-la segura!
— Mas eu tenho... você precisa ...
Correntes grossas se fecharam em torno de sua garganta e encheram a
sua boca, silenciando as palavras. Ela engasgou e tossiu, incapaz de encher
os pulmões.
— Cinzia!
O grito veio de fora do tanque.
Me ajude, ela tentou gritar. Me salve!
Com a quebra de vidro e muita pressa, o tanque explodiu. Cinzia foi
jogada e arremessada por uma onda de líquido se contorcendo. A mãe dela
estava gritando. Ela também estava gritando. Algo duro bateu contra a sua
carne nas costas e pernas. Pela primeira vez em sua vida, sentiu o seu peso
real. Não conseguia se mexer. Não conseguia respirar. A pressão ao redor
de sua garganta diminuiu, apenas para ser substituída por outra.
— Ela não consegue oxigênio suficiente, — alguém disse. O som estava
todo errado. Assim era a luz. — Ela não está acostumada a respirar ar.
— O que fazemos? — Essa era a outra Cinzia. — Temos que mantê-la
viva.
Cinzia bateu fracamente com uma mão.
— Gene... classificador... — Ela apontou para a máquina que alimentaria
o padrão genético da outra Cinzia na memória coletiva dos hexagonais. —
Prometa... salve...
— Estamos fazendo tudo o que podemos por você, — disse Satele.
Ela balançou a cabeça.
— Salve... Mãe...
— Ela está no sangue, certo? — Disse a outra Cinzia.
— Eu pensei que ela estava matando você. Eu pensei que você estava se
afogando.
— Prometa!
— Tudo bem, tudo bem. Eu prometo.
Cinzia não conseguia se levantar, mas ainda podia segurar.
— A filha dela... A filha dela...
A outra Cinzia se aproximou, arrastada para o foco pelo que restava de
suas forças.
— Conte-me... tudo.
O CORPO DA MENINA sem cabelo e emagrecida ficou imóvel. A Mestra
Satele balançou a cabeça. Além do gotejamento e vazamento do líquido
carmesim, o laboratório ficou em silêncio.
Ax caiu de costas e colocou as mãos no rosto. O que acabara de
acontecer? Estava tentando matar a garota ou salvá-la? Não era qualquer
garota, é claro: era a sua própria clone. Isso se tornou assassinato, suicídio
ou fratricídio?
Suspeitava que nunca saberia.
— Sinto muito, — disse Mestra Satele, tocando-a levemente no ombro.
— O choque a matou. Com o equipamento certo, podemos ter...
Ax deu de ombros e se levantou muito rápido. A cabeça dela nadou.
Imaginou ter ouvido uma voz no fundo de sua memória, chorando e
exigindo a sua atenção. Ela ignorou.
O classificador de genes estava exatamente onde Cinzia havia indicado
que estaria. Ax foi até ele e enfiou a mão no tubo. A máquina fria a picou,
bebeu o seu sangue, cantarolou para si mesma e depois apitou
inquisitivamente.
Ax sentiu um breve momento de pânico. A máquina queria a
confirmação de alguma coisa. Uma senha? Uma frase de comando? Uma
criptografia?
Lembrou-se de tudo o que Cinzia havia dito em seus momentos finais.
Ela fez Ax prometer salvar o que restava de Lema Xandret. Havia mais
alguma coisa que ela enfatizou? Alguma coisa?
— 'A filha dela', — disse Ax.
A máquina emitiu um sinal sonoro de confirmação.
— O que isso significa? — Ela perguntou à sala em geral. — As
hexagonais agora acham que eu sou ela? Eu sou imune a eles? Eles vão
obedecer às minhas ordens agora?
Mestra Satele não tinha respostas, e ninguém mais. A maneira como o
fluído do tanque puxou os seus tornozelos não lhe disse nada que queria
saber. Tinha alimentado e sufocado Cinzia ao mesmo tempo... assim como
Darth Chratis tinha feito com Ax. Cinzia havia se libertado da única
maneira que se abriu para ela. Ax esperava ter mais opções.
Havia apenas uma maneira de descobrir como os hexagonais reagiriam a
ela.
— Vamos pegar um e ver o que acontece.
LARIN ESTAVA ALÉM da surpresa. Depois de escapar da chuva de
artilharia da Primordial e subir o skyhook até o equador, foi com apenas um
leve sentimento de preocupação que sentiu a estrutura abaixo dela começar
a cair. E agora?
Jopp ecoou a sua confusão.
— Eu pensei que essa coisa estava decolando e agora está indo pra terra.
Eu gostaria que os hexagonais se decidissem.
O skyhook balançou embaixo deles, e eles se abraçaram em busca de
apoio.
— Isso não parece aterrissagem, — disse ela. — Algo diferente...
Não terminou esse pensamento. Cada hexagonal na estrutura escolheu
aquele momento para deixar o seu vizinho, fazendo com que toda a
estrutura caísse e viesse para baixo. De repente, estava montando uma onda
acelerada de hexagonais individuais, não uma estrutura sólida. Era como
surfar, mas sem prancha e um mar de lava derretida em vez de uma praia do
outro lado.
— Aguentem firme! — Ela gritou quando a onda de hexagonais os
carregou para baixo.
Jopp se agarrou ao braço dela o máximo que pôde, mas a maré
inevitavelmente os separou. Larin se agachou e agarrou a ponta de um
único hexagonal com toda a força de sua mão esquerda protética, na
esperança de superar a onda sem cair ou ser esmagada. O hexágono não se
opôs. Parecia totalmente passivo. Isso a surpreendeu, mas não reclamou.
Era apenas mais uma surpresa na esteira de tantas.
A torrente de hexagonais foi suficiente para encher a cratera que restava
do antigo local da IC. Encolheu-se quando uma massa de fluido vermelho
se levantou para encontrá-la, mas não era lava. O fluido ensanguentado
chegou aos joelhos dela, depois parou de subir. Soltou o hexagonal e
descobriu que podia suportar.
Sentindo-se como se estivesse andando em um sonho, passou de
hexagonal em hexagonal em direção à parede da cratera mais próxima. Não
havia sinal de Jopp, mas viu uma figura observando seu progresso na beira
do lago, um acenar de encorajamento. Ao se aproximar, reconheceu a
proibitiva forma sombria de Darth Chratis. Não era ele acenando. Essa era a
figura alta e esbelta parada ao lado dele.
O coração dela disparou. Era Shigar.
Aumentou o ritmo. Sonho ou não, iria tirar vantagem dessa revelação
enquanto durasse.
SHIGAR OBSERVOU a figura de capacete verde atravessando a massa
fervente de hexagonais no lago. Não podia ter certeza de que era ela, e disse
a si mesmo para não ter esperanças. Mas as suas entranhas estavam certas.
Havia algo sobre a maneira como ela se movia, a ligeira rigidez da mão
esquerda da figura, que acenava alegremente pra trás.
Darth Chratis se afastou, ainda tentando alcançar a Primordial em seu
comunicador. Até agora, não havia resposta da frota acima, embora as
comunicações estivessem finalmente começando a clarear.
Shigar caminhou cuidadosamente pela margem quando a figura se
aproximou. Estendeu a mão e finalmente teve um vislumbre do rosto dentro
do capacete. Era de fato Larin, e ela estava radiante. Com um puxão
poderoso, ele a puxou para terra.
Ela levantou a viseira e ele fez o mesmo.
— Estou surpresa vê-lo aqui, — disse ela.
— Você está chorando?
— O que? Não. Eu tenho alergia. E se eu estiver? Tem sido um longo
dia.
Abraçou-a.
— Com certeza.
Ela devolveu o abraço, mas não por muito tempo.
— O que há com os hexagonais? — Ela perguntou enquanto se
separavam.
— Eu não sei, — disse ele.
— A coisa no lago se desintegrou quando o skyhook chegou. Eu nem
sabia que era feito de hexagonais até então. Eles pareciam confusos. Agora
eles não estão fazendo nada.
Falou cedo demais. O centro do lago fervia e borbulhava. Os hexagonais
se contorciam quando a borda principal de algo grande e cinza emergia das
profundezas. Shigar colocou o braço esquerdo em torno de Larin, pronto
para protegê-la atrás de um escudo, se isso se revelasse um novo tipo de
ataque, mas se afastou.
— É uma nave, — disse ela, correndo de volta para a beira do lago. —
Veja!
Protegeu os olhos. O objeto parecia uma nave estelar. Um modelo mais
antigo, fabricação Imperial, talvez.
A nave rolou, apresentando um flanco largo para o céu. Uma escotilha
se abriu e duas figuras saíram. Um som estranho varreu a superfície do
lago... um clique de membros de metal se movendo através de um fluido
espesso. Os hexagonais estavam agitando, formando uma nova
aglomeração.
Tudo o que eles fizeram foi uma ponte que ligava a nave à costa. A
ponte foi apontada diretamente para Darth Chratis. Ele olhou pra cima
quando as duas figuras começaram a caminhar em sua direção.
Shigar e Larin tentaram se juntar a ele. Um punhado de outras figuras
espalhadas ao longo da borda da cratera fez o mesmo. Shigar ganhou
velocidade quando reconheceu a Mestra Satele como uma das duas que
emergiu da nave. Sentiu um ressurgimento de otimismo. Primeiro Larin, e
agora ela. Talvez o desastre tivesse sido evitado, afinal!
A Mestra Satele que a acompanhava era a aprendiz Sith, Eldon Ax. O
seu capacete estava fora, expondo cabelos ruivos selvagens e os olhos com
bordas escuras. Shigar estava perto o suficiente para ouvir o que ela disse
quando se aproximou do seu Mestre.
— Eu me liberto do seu serviço, Darth Chratis.
— Bobagem, — ele disse com um olhar de indignação assustada. —
Você é a minha aprendiz, e assim permanecerá até que eu julgue que você
se encaixa em ser chamado de Sith.
— Você vai me libertar, — disse ela, parando dois passos dele, — ou
vias sofrer as consequências.
Ele riu.
— Com quais possíveis consequências você pode me ameaçar? Não me
diga que essa Jedi patética te transformou. — Ele ergueu o sabre de luz e
adotou uma pose de disposição. — Eu vou matar vocês duas antes que
vocês dê um único passo em minha direção.
A Mestra Satele sacou a sua lâmina em resposta e Shigar desejou não ter
perdido o dele.
Mas Eldon Ax não se mexeu.
— Eu não fui transformada, — disse ela. — Eu simplesmente percebi
como fui usada. A minha raiva era constantemente dirigida para fora, para
minha mãe e Dao Stryver, ou para dentro de mim mesma. A pessoa pela
qual eu deveria estar mais brava estava de pé ao meu lado. Meu professor.
Meu Mestre. Você.
Darth Chratis sorriu como uma caveira.
— A raiva leva ao ódio, — disse ele. — O ódio leva ao poder. Viu como
eu te ensinei?
— Você realmente me ensinou bem. E assim eu me liberto do seu
serviço, milorde, sabendo que você nunca o faria.
Um som crescente atrás dela chamou a atenção de Darth Chratis. Os
hexagonais estavam subindo em uma enorme onda e fluindo para fora do
lago. Pingando líquido parecido com sangue, eles vieram em massa para o
amontoado de pé na beira da cratera. Larin pegou o braço de Shigar e o
puxou para fora do caminho. Mestra Satele se juntou a eles. Apenas Ax e o
seu Mestre estavam diante da maré horrível.
Relâmpago lampejou. O sabre de luz de Darth Chratis esfaqueou e
cortou. Mas haviam muitos deles para um homem, até mesmo para um
Lorde Sith detê-los. Ax não fez nada enquanto o avolumar-se envolveu os
dois.
— O que está acontecendo? — Perguntou Larin.
Sobre o barulho dos hexagonais, Mestra Satele respondeu:
— Acho que nossa jovem amiga descobriu quem ela realmente quer ser.
— E quem é esse? — Shigar perguntou.
Com um gemido agudo, um transporte voou baixo. Mestra Satele olhou
pra cima quando a nave pousou. Ela exibia as insígnias da República e foi
seguida de perto por uma contraparte Imperial. Elas pousaram em ambos os
lados do tentáculo de hexagonais que haviam pulado para fora do lago.
Um oficial júnior da República saiu correndo da nave que havia pousado
perto deles e saudou Larin. De olho no enxame de hexagonais que haviam
engolido Ax e Darth Chratis, Adarian falou sem fôlego:
— Pegamos as margens de uma transmissão Imperial pedindo uma
evacuação de emergência e a seguimos. Todos estão bem?
— Por enquanto, — disse Mestra Satele, guiando-o para longe. — Qual
é a situação em órbita?
— É difícil de explicar. Nossas comunicações ficaram inoperantes por
um tempo e agora todos os nossos bancos de dados foram apagados.
— Por quem?
— Não sei senhora. A capitã Pipalidi entrará em contato com você e o
diretor Vii quando eu voltar a órbita.
— Ula fez isso também? — Perguntou Larin.
— Temos ele a bordo agora, — disse ele.
— Encontrei-o à deriva em um pod, gritando por socorro, e o apanhei no
caminho. Não vai explicar como ele chegou lá, mas ele parece saudável o
suficiente.
— Isso é bom, — disse Larin. — Estou feliz que ele esteja bem.
Shigar olhou para a nave. Era esse o rosto do enviado que via, espiando
por uma janela? Não sabia dizer.
— Sobre os hexagonais, — o jovem oficial se aventurou, olhando por
cima do ombro. — Quero dizer, está tudo acabado?
— Acho que não, — disse Mestra Satele. — Não exatamente.
ULA OBSERVOU da segurança do transporte. Não havia nada que o
impedisse de sair do seu assento. Não estava sob guarda, nem mesmo sob
suspeita. Poderia ter saído a qualquer momento e se jogado nos hexagonais,
se quisesse.
A traição de Jet a ele ainda doía, então ficou exatamente onde estava.
Tinha começado a dar errado antes do colapso do céu. Após a deflexão
dos mísseis da Primordial, Jet considerou jogar a própria Primordial no
alvo, numa tentativa desesperada de frustrar os planos dos hexagonais. Ula
argumentou se contra, incapaz de suportar um desperdício da vida humana.
— Mil ou mais pessoas para salvar trilhões, — dissera Jet. — Não é uma
troca justa?
— Nós nem sabemos se funcionaria! E se não funcionar, ficaremos
ainda piores do que estamos agora.
— Se você está preocupado em destruir uma nave Imperial...
— Você realmente acha que eu deixaria isso ficar no caminho de fazer a
coisa certa?
Somente quando ele disse as palavras, percebeu que estava falando
sério.
A questão se tornou totalmente discutível quando o skyhook caiu.
— Parece que alguém encontrou uma maneira de fazer o que não
podemos, — disse Jet. — Nesse caso, não somos mais necessários. Saia do
assento, diretor Vii. Está na hora de seguirmos em caminhos separados.
O anúncio pegou Ula completamente de surpresa.
— Do que você está falando? Eu vou ficar com você.
— Não, você não vai. — Jet pegou um blaster e o cobriu enquanto
Clunker o arrastava da cabine. A força do droide era grande demais para
resistir. — Temos negócios em outro lugar.
— Espere! — Ula se agarrou à borda da escotilha. — Leve-me com
você, por favor!
Jet balançou a cabeça, mas não sem compaixão.
— Você tem que encontrar o seu próprio lugar, parceiro, e eu não acho
que vai ficar comigo. Diga adeus a essa adorável dama... e pare de fingir, se
você espera ter uma chance com ela.
A escotilha se fechou, raios explosivos dispararam e Ula foi lançada no
vazio. Se o transporte que passava não o tivesse encontrado, poderia ter
caído no planeta abaixo, ou mesmo no buraco negro, mas Ula não
imaginava que Jet tivesse deixado assim ao acaso.
Agora estava a poucas distâncias de Larin e não sabia o que fazer.
A massa de hexagonais que dominaram Darth Chratis se retirou para o
lago, deixando apenas a jovem Sith pra trás. Ela se virou para o lago,
levantou os braços acima da cabeça e falou com eles. Os hexagonais
responderam, formando novas aglomerações, voltando a sua mente coletiva
para novas tarefas. Alguns desceram de volta ao lago; outros invadiram
vários lugares diferentes na parede da cratera e combinaram os seus pulsos
em poderosos lasers de corte. Vibrações chegaram até ele através das
paredes e do piso do transporte. Viu Larin e os outros se levantarem, como
se o chão estivesse chutando também.
A Mestra Satele se aproximou da jovem Sith. Elas trocaram algumas
palavras, depois se separaram. A Grã Mestra se voltou para Larin e Shigar e
o oficial que correra para encontrá-los. Juntos, eles correram para dentro do
transporte.
— Lembre-se do resto, — ela estava dizendo enquanto subia a rampa e
entrava no porão principal de passageiros. — Se eles não conseguirem
chegar aqui a tempo, envie outro transporte.
— O que está acontecendo? — Ula perguntou. — O que está
acontecendo lá fora?
Mestra Satele já havia saído para a cabine.
— Eu não sei, — disse Larin, sorrindo para ele. Os motores gemeram.
— Mas parece que estamos saindo.
Shigar o reconheceu com um aceno de cabeça, que Ula gravemente
retornou. O Padawan parecia menos maltratado que a Larin e a Mestra
Satele. A guerra terrestre obviamente fora tão cansativa quanto a que
ocorreu no ar.
Os repulsores do transporte pressionaram Ula de volta no assento. Deu
uma última olhada pela janela e viu as paredes da cratera desmoronando ao
redor do lago ensanguentado. A lava ardente do mar derretido colidiu,
queimando e destruindo quando veio. Nuvens de fumaça engrossaram e se
enrolaram, escondendo a jovem Sith de vista.
— VOCÊ VAI destruí-los, — disse Mestra Satele.
Ax não respondeu. Não era uma pergunta, mas exigia uma resposta, e
teve o cuidado de guardá-la pra si mesma. Os hexagonais estavam descendo
para rasgar o habitat inundado em pedaços. Quando terminavam, irrompiam
nos eixos geotérmicos e continuavam perfurando até que o magma bruto
chegasse de baixo. O que o verdadeiro mar de lava não queimava, o calor
do núcleo derreteria e se transformava em escória.
— E quanto a Lema Xandret? — Mestra Satele pressionou. — Não resta
muito desse fluído amniótico, mas poderia ser salva.
— Você acha que ela deveria ser salva ? — Ax perguntou, pensando na
vida da sua clone no tanque, isolada da Força, tão isolada do universo ao
seu redor que ela nem sabia o que era o Império. Cinzia poderia ter parado
os hexagonais a qualquer momento, mas não o fez. A filha de Lema
Xandret renascida, e ela mesma, transformada em um horrível eco da
maternidade, foi mais responsável pelos danos do que os próprios
hexagonais.
Era tudo sobre controle, percebeu agora. Xandret tentou controlar a
Cinzia clonada e perdeu o controle dos hexagonais. Darth Chratis tentou
controlar Ax, mas ela se voltou contra ele. A raiva não era suficiente por si
só.
Ela ainda podia ouvir a mãe gritando.
— Não cabe a mim decidir se você deve salvá-la ou não, — disse
Mestra Satele, — mas você prometeu a Cinzia.
Ax prometeu muitas coisas, a si mesma, a Darth Chratis, ao Conselho
Sombrio e, finalmente, ao Imperador.
Mas isso já havia acontecido antes. Antes que entendesse que tinha
escolhas.
— Você não pode esperar piedade de mim, Mestre, no dia em que as
nossas posições forem revertidas.
— Eu menti, — disse ela.
A Grã Mestra assentiu. Ax não sabia se entendia ou não. Parar de falar
foi suficiente.
Ax se levantou e observou os hexagonais trabalhando enquanto os
outros fugiam. O cheiro de sangue queimado era suave em suas narinas. As
cinzas que choveram suavemente sobre ela eram macias e quentes, como
penas. Lentamente, a voz desapareceu de sua mente. Respirou fundo,
sentindo-se em paz. Apenas o constante balido do piloto da nave perturbou
a sua tranquilidade.
Ela ficou o máximo que pôde. Quando o chão ameaçou se dissolver sob
ela e o céu se iluminou com estrelas cadentes, hexagonais orbitais, caindo
no seu destino, se virou para deixar a casa quea sua mãe havia construído
para sempre.
LARIN NUNCA conhecera o Comandante Supremo Stantorrs antes,
e mal sentiu que o tinha conhecido agora, mesmo depois de meia hora de
interrogatório em seu escritório. Havia tantos assistentes se apressando em
transmitir mensagens e crises repentinas que precisavam de uma decisão
instantânea que raramente tinha a atenção dele por mais de alguns segundos
seguidos. Mesmo quando o fez, achou-o muito difícil de ler. Em vez de
observar o seu rosto severo de um Duros, concentrou-se nos dedos longos
dele. Eles bateram, enrolaram, dobraram e descansaram de maneiras que,
esperava, lhe deram uma ideia do que ele estava pensando.
— Você diz que foi seguido até lá?
— Sim, senhor, — disse ela. — Os Hutts colocaram um localizador na
Auriga Fire.
— Você sabia disso antes de sair de Hutta. Parece que me lembro de ter
lido sobre isso em algum lugar.
— Está correto, senhor. — Tudo isso estava no relatório dela e não havia
dúvida em vários outros relatórios sobre o incidente, mas não deixou
nenhum sinal de impaciência passar pela guarda. Se ele quisesse ouvi-la
cara a cara, que assim seja. Ele era o Comandante Supremo, afinal. —
Achamos que o localizador partiu com o Jet Nebula, mas depois apareceu
no pod que ele usou expulsar o Enviado Vii.
— Este 'Jet Nebula '. Ele é uma pessoa real?
— Sim, senhor. Os seus pais tinham um estranho senso de humor, ele
disse.
— O que, sim? — Um assessor havia pressionado um datapad na frente
dele. O dedo indicador esquerdo apunhalou algo na tela.
— Aquela, é claro. Tassaa Bareesh estava presente em sua expedição a
Sebaddon?
— Não senhor. Ela colocou outra pessoa no comando, um adjunto
chamado Sagrillo.
— Ele é quem reivindicou a propriedade do planeta e declarou as forças
conjuntas restantes como invasoras.
— Sim, senhor. Na época, ele nos superou. A sua mestra não estava se
arriscando.
As pontas dos dedos do Comandante Supremo se uniram para formar
um triângulo à sua frente.
— Eu posso imaginar a surpresa dele quando os seus reforços
apareceram.
Não apenas os nossos reforços, queria dizer, mas também dos Imperiais.
Era apenas uma questão de tempo até que todos os outros chegassem. O
senso de humor esquisito habitual do universo havia assegurado que todos
viessem mais ou menos juntos.
Lembrou-se muito bem daquelas horas estressantes, embora não
estivesse na ponte com os oficiais seniores e os negociadores. Estava no
porão da tripulação, trocando histórias com Hetchkee e Jopp e os outros que
haviam sobrevivido ao ataque no solo. Eles pararam para observar através
das janelas enquanto naves brilhavam dentro e fora do hiperespaço ao redor
do buraco negro. Houveram vários confrontos, deixando os destroços
girarem indefesos para a gravidade incrivelmente íngreme, e várias naves
atípicas entraram em conflito com os próprios jatos. Eles tinham esperado
com as mentes e os corpos envenenados pela exaustão pelo chamado às
armas, pois certamente isso viria. As naves da República que sobraram da
missão original acabariam sendo puxadas, e todos os soldados disponíveis
seriam desesperadamente necessários.
Então, de repente, tudo ficou pra trás. A Commenor saltou para o
hiperespaço, deixando as naves novas e os seus comandantes para resolver
a bagunça. E essa foi a última vez que viu Sebaddon e os seus hexagonais.
Foi informada que todos os dados da campanha foram apagados, por algum
tipo de pulso eletromagnético exótico. Tudo o que restava eram lembranças
confusas e relatórios como o que havia apresentado ao retornar.
Muito poucos deles mencionaram Dao Stryver. Durante a confusão, o
Mandaloriano desapareceu como se estivesse nas profundezas do próprio
buraco negro, nunca mais sendo visto.
— Você acredita que a capitã Pipalidi agiu com responsabilidade no
confronto que se seguiu? — Stantorrs lhe perguntou.
Larin escolheu as suas palavras com cuidado. O assunto de sua
reinscrição e promoção ainda era muito indeciso, e não queria comprometer
nenhuma chance que pudesse permanecer.
— Acho que ela fez o melhor em uma situação difícil, senhor. Ninguém
poderia culpá-la por isso.
— O serviço não pede o nosso melhor, mas o melhor possível. Foi isso
que a capitã Pipalidi ofereceu?
Era a mesma pergunta com palavras diferentes, e Stantorrs não parecia a
Larin como um ser que se repetia com muita frequência.
— Acredito que sim, senhor. Todas as instalações do planeta estavam
em chamas. Todas as nossas tropas foram evacuadas. A missão já havia
custado à República mais recursos do que podia pagar, e permanecer por ali
desperdiçaria ainda mais. A retirada foi, portanto, a ação mais sensata a ser
tomada.
As mãos do Comandante Supremo pousaram de bruços na mesa à sua
frente.
— É bom ouvir isso, Moxla, porque estou pensando em promover
Pipalidi para coronel sobre uma oposição bastante rígida, do tipo de pessoas
que acham que devemos tudo aos Jedi, se você pode imaginar, e é bom ter o
apoio da opinião de alguém em quem posso confiar. Não estou errado em
pensar que posso confiar em você, estou, Moxla?
Ele, sem dúvida, conhecia a história dela com os Estrelas Negras, então
não fazia sentido prevaricar agora.
— Senhor, você sempre pode confiar em mim para falar, se eu acho que
uma oficial superior não está fazendo a sua parte.
— Foi isso o que eu pensei. E é exatamente disso que eu preciso. Tem...
o que? Ele não pode esperar?
Outro assessor, desta vez sussurrando no ouvido do Comandante
Supremo.
— Tudo bem. — Suas mãos descansavam impotentemente em seu colo.
— Bem, eu vou fazer isso breve, Moxla. Os ASSs com quem você lutou em
Sebaddon, um bando confuso, mas mostraram muita coragem. Vamos
formar um novo esquadrão das Forças Especiais em torno deles, e
queremos que você faça parte. Não podemos apagar o seu registro, mas
podemos adicionar um ou dois elogios, pós-factum, para aprimorar um
pouco e alterar algumas das palavras. Você manterá o posto que recebeu,
resumidamente, é claro, e terá a primeira escolha das tropas. O que você diz
sobre isso?
A surpresa a deixou sem palavras.
— Uh, sim, senhor.
— Você não parece particularmente entusiasmado, tenente Moxla.
Não demorou muito tempo para sair de si mesma. Qualquer coisa era
melhor do que ficar sentada no ventre de Coruscant, à espera do machado
cair. Ou uma guerra definitiva com o Império começar a qualquer dia, ou a
capacidade da República de manter a paz em seus próprios mundos falhar.
Dessa forma, estaria bem no meio disso, onde talvez pudesse fazer algo de
bom. Estaria trabalhando, e, se tivesse sorte, poderia levar algumas pessoas
em quem confiava absolutamente. Ses Jopp, por exemplo. Chamou a
atenção e saudou com entusiasmo apropriado.
— Você não poderia ter escolhido alguém melhor, — disse ela. — Dê-
me um mês, e o seu esquadrão será tão polido quanto a sua mesa.
— Não me fale nisso, Moxla, — disse ele com um súbito golpe do seus
dedos na superfície de madeira verde. — Nada é tão limpo quanto parece.
— Outro assistente se aproximou e o Comandante Supremo acenou pra ela
ir embora. — Mãos à obra, Moxla. Você tem minha absoluta confiança.
Larin o saudou novamente e marchou para a porta. Assessores se
separaram diante dela, observando com olhos que não revelavam nada.
— Como foi? — Perguntou Ula, encontrando-a na antecâmara do lado
de fora e combinando o seu ritmo ao longo do corredor.
— Muito bem, considerando, — disse ela. — Você tem algo a ver com
isso?
— Improvável, — disse ele. — Fui transferido para um portfólio na
coleta de dados.
Então não estava sendo modesto dessa vez.
— Sinto muito, Ula.
— Não, está tudo bem. Eu encontrei o meu último emprego um pouco...
estimulante demais.
Ele sorriu e ela se viu sorrindo. Ula... ainda estava atuando como
enviado na época... que a procurado por ela na volta a Coruscant, untando o
caminho para a atenção do Comandante Supremo, certificando-se de que os
oficiais superiores a ela não saíssem do controle, nem aceitassem o crédito
por suas ações. A Capitã Pipalidi pode ter desempenhado um papel nisso
também. O fato da capitã estar sendo promovida sugeria que ela tinha
ouvido de Stantorrs muitas coisas a ver com Sebaddon, e Larin certamente
ajudou todo o caso a se tornar uma derrota completa.
— O que você está fazendo agora? — Ula perguntou.
Não respondeu imediatamente, lembrando-se de como Ula havia
limpado a sua mão ferida na Auriga Fire, e como ele ficou satisfeito ao vê-
la quando o transporte os recolheu do mundo em chamas. Flexionou os
dedos novos, finalmente uma prótese adequada, enxertada cirurgicamente
para ela, indistinguível de uma mão real, e se perguntou quem iria cuidar
dele em seu novo papel.
— Eu tenho que encontrar alguém agora, — disse ela, — e então parece
que vou estar movimento por um tempo. Mas gostaria de conversar com
você quando voltar.
O sorriso dele se alargou.
— Eu posso esperar.
— Isso pressupõe que você ainda estará por aí, é claro.
— As chances de eu ir a qualquer lugar são muito pequenas agora.
— Ótimo. Podemos beber Núcleos de Reator e conversar sobre os
velhos tempos.
— Tenho certeza que teremos muito mais sobre o que falar até então.
— Qual, as estatísticas de nascimento e morte do Setor Quatro?
— Só para começar.
Na saída do prédio, eles pararam e se entreolharam. Era imaginação
dela, ou ele parecia mais jovem e mais leve do que antes? Provavelmente
era o sorriso, decidiu. Queria que ele continuasse assim quando estivesse
por perto.
Ela estendeu a mão e pegou a mão esquerda dele. Os seus dedos
artificiais apertaram levemente. Quando se afastou, sabia que ele a estava
observando, descendo os degraus da praça abaixo.
SHIGAR ESTAVA ESPERANDO por ela no Cenotáfio dos Inocentes,
andando de um lado para o outro em frente ao primeiro banco de árvores
asaari. O molde conturbado em sua testa combinava perfeitamente com o
pesado céu cinza acima. Estava de volta as vestes marrons dos Jedi, com
um novo sabre de luz balançando no quadril, mas parecia uma pessoa
completamente diferente daquela que ela conhecera nos distritos antigos
não faz muito tempo. Moveu-se rigidamente, ainda favorecendo uma ferida
no seu lado. O seu cabelo, cortado mais curto por Darth Chratis em
Sebaddon, pendia frouxamente em volta do rosto. Observando-o, Larin
quase se arrependeu de ter vindo.
Olhou pra cima quando ela se aproximou. As marcas azuis do clã em
suas bochechas pareciam desbotadas e desgastadas.
— Você ainda está de uniforme. Esse é um bom sinal.
— Você pensou que eles me despiriam e me jogariam na rua? — Ela
parou na frente dele.
— E agora você está sorrindo. As coisas devem ter corrido bem.
— Elas correram.
— Fico feliz, Larin.
— Bem, digo o mesmo de você. Olá, a propósito.
— Olá. Vamos por aqui.
Levou-a a um monte de árvores plantadas como um memorial para as
pessoas que morreram durante o saque do Templo Jedi pelo Império. Um
broto para cada vítima havia crescido em uma pequena floresta, com grutas
e bancos para as pessoas passarem um momento em contemplação. Eles
ficaram sentados lado a lado, próximos, mas sem se tocar, e pareceu por um
longo tempo que Shigar não ia dizer nada. Os galhos inquietos se agitavam
acima deles, movendo-se para frente e pra trás de maneiras que nada tinham
a ver com o vento.
— Quero perguntar uma coisa, — ele finalmente disse.
— E eu quero lhe dizer uma coisa, então estamos quites. Você quer ir
primeiro?
— Não muito, mas vou, se você quiser.
— Diga lá.
— Eu fiz a coisa certa, trazendo você junto comigo?
Isso a surpreendeu. Temia que ele estivesse prestes a revelar que havia
mudado de ideia e queria revisitar a possibilidade de romance entre eles. Se
ele dissesse isso, teria sido forçada a encontrar palavras para explicar como
se sentia nessa frente, e duvidava que tais palavras existissem. Sabia
exatamente de onde esses sentimentos tinham vindo, mas ela não tinha
descoberto o que eles eram agora. E então havia o Ula, a quem
definitivamente pretendia procurar quando voltasse.
— Acho, — ela disse, — que depende do que você quer dizer com
'certo'. —
Ele fez uma careta.
— Isso realmente não ajuda.
— Bem, deixe-me dizer o que eu ia dizer, e talvez isso ajude. É isso:
Obrigado.
— Pelo quê?
— Só obrigado.
— Por quê?
Revirou os olhos.
— Você vai me fazer explicar, não é?
— Se não for demais. — Ele conseguiu torcer os lábios no que poderia
ter sido um sorriso.
— É bem simples, realmente. Você me encontrou quando as coisas
estavam mais sombrias do que nunca. Eu não tinha segurança, família,
propósito ou vida, realmente. Você me ofereceu todas essas coisas.
Relativamente falando, é claro. Eu nunca tinha enfrentado nada como os
hexagonais antes, e sempre me orgulhei em manter a maioria dos meus
membros intactos. Mas o essencial estava lá. Nós tivemos a missão; nós
tínhamos papéis a desempenhar. E eu tive você.
Levantou a mão para impedi-lo de falar sobre ela.
— Eu sei que não tinha você, em nenhum sentido possessivo, mas você
representou mais para mim do que apenas um cara com quem me deparei.
Você é Kiffar como eu, e não há muitos de nós lá fora agora, então isso fez
de você uma família. E você me protegia quando as coisas ficavam difíceis,
então isso fez de você... ser do meu esquadrão, eu acho. Você era tudo o que
eu estava perdendo, sem nunca poder dizer isso.
— Estou lisonjeado, — disse ele.
— Não fique, — disse ela. — Não tinha realmente nada a ver com você.
Qualquer outro Kiffar bonito e bem armado caberia na conta. — Ela sorriu
para tirar a tensão de suas palavras, e ele sorriu em troca.
— Fico feliz, — disse ele. — Isso me faz sentir como se tivesse feito a
coisa certa.
— Bem, pensa assim agora, mas no dia em que estiver na mira do
Império e sem munição, saiba que você será o primeiro a culpar. Pelo
menos vou ter um esquadrão adequado comigo, então essa é uma caixa.
Foi surpreendida por uma repentina explosão de emoções. Realmente
estava agradecida, mas não sabia como transmitir isso, exceto com uma
piada.
— Você estava pensando seriamente que eu gostaria de nunca vir? Você
não se lembra de como eu costumava cheirar?
— Isso ainda me dá pesadelos.
— Além disso, acho que você tem muito mais com o que se preocupar
agora.
Ele ficou sério.
— O que você quer dizer?
— Bem, o fato de você estar se perguntando o que fez me diz que entrou
em um novo mundo de incertezas. Fazer a coisa certa não é tão fácil no
mundo real, né?
Ele estudou a grama aos pés deles.
— Não.
— Então você aprenda essa lição, o que significa que provavelmente se
tornará um Cavaleiro Jedi adequado agora, mas no processo, mas no
processo você chega à chocante percepção de que nada será preto e branco
novamente. Está tudo cinza.
— Nem tudo, — disse ele. — Ainda há um pouco de preto.
— Mas é difícil encontrar branco, certo? — Ela colocou a mão protética
no ombro dele. — Você é um guerreiro agora. Eventualmente, você vê
apenas duas cores: preto e vermelho. É melhor se acostumar com isso, se
você vai ficar na linha de frente.
— Eu tenho escolha?
— Com certeza. Com a vida que você teve, você sempre teve uma
escolha.
— Você ainda acha que eu tive tudo fácil?
— Não, meu amigo. Não. — O lampejo de raiva em seus profundos
olhos verdes veio rápido demais. Ela se preocupou com isso. Mas sabia que
tinha dito o suficiente. Não era o trabalho dela colocar a cabeça dele no
lugar. — Todo mundo sabe que o Clã Konshi fez um mau negócio quando
se trata de aparência.
Isso colocou a raiva de volta em seu lugar, onde poderia ferver até
encontrar outra saída. Tinha pena da próxima pessoa que o conheceu no
lado errado do sabre de luz.
— Eu deveria ir, — disse ele. — O Conselho já deve ter terminado de
deliberar.
— Essa é a vida em tempos de guerra, — disse ela. — Muita espera
entre o ataque e ser baleado.
— Não se esqueça de se esquivar, Larin.
Eles se levantaram e se encararam.
— Não se esqueça de continuar procurando o branco, — disse ela,
abraçando-o e dando-lhe um aperto rápido. — Está lá fora em algum lugar.
Você só precisa achá-lo.
Ele assentiu.
Eles deixaram o Cenotáfio dos Inocentes por caminhos separados. Ela
não olhou pra trás.
— OLÁ, MÃE. Desculpe, estou sem contato há tanto tempo. O
trabalho me manteve muito ocupado, mas vou lhe contar tudo sobre isso
uma outra vez. Ligue para Coruscant quando tiver chance.
Ula fechou a linha e voltou a esperar. Não achou que demoraria muito.
Após a perda de Darth Chratis, o fracasso da Cinzia em qualquer coisa e o
apagamento dos bancos de dados da frota, teve certeza de que alguém iria
querer ouvir o seu lado da história.
O que seria, ele pensou muito.
O seu comunicador bipou, avisando que a ligação era iminente. Isso foi
impressionantemente rápido... tão rápido, de fato, que o fez pensar.
Normalmente, alguém em Panatha anotava a mensagem e retransmitia a
solicitação codificada através das linhas de comando para o Sentinela Três,
que então emitia ordens que filtravam as linhas de comando, resultando em
um simples ping. Normalmente, esse processo pode levar horas.
Ocasionalmente dezenas de minutos. Nunca segundos.
Ula olhou em volta do apartamento dele. Parecia menor do que se
lembrava, e agora tinha um molde hostil também. Faria uma varredura mais
tarde naquela noite, na esperança de encontrar uma escuta que agora tinha
certeza de que estava lá. Se ele iria destruir a escuta ou não permaneceu
uma questão em aberto.
O holoprojetor piscou. Ficou de frente e apagou o rosto. Uma das
primeiras coisas que aprendeu sobre espionagem foi que uma aparente falta
de emoção aumentava a credibilidade dos relatórios e a ilusão de
autoridade. Suspeitava que era por isso que nunca tinha visto o rosto de
Sentinela Três em mais do que um perfil sombrio.
Aquele perfil apareceu diante dele agora, tremulando e esticando, como
se viesse do outro lado do universo. Pelo que Ula sabia, porém, o Sentinela
Três também estava em Coruscant, talvez no final da estrada. Tudo era
possível. Conhecia pelo menos dois outros agentes de inteligência que
moravam no seu quarteirão, buscando um equilíbrio semelhante entre o
fácil acesso ao Senado e uma rota de fuga pronta.
— Relatório, — disse o Sentinela Três.
Ula precisava voltar até a sua chegada a Hutta para contar a história
corretamente. Não mentiu nenhuma vez, mas disse muito menos do que
toda a verdade. Como em todo trabalho de inteligência, muito era dito por
implicação. Deixou o Sentinela Três para deduzir que o seu rápido avanço
de enviado para comandante da frota conjunta tinha menos a ver com as
suas próprias habilidades do que a necessidade de um fantoche em ambas as
posições. Também deixou Sentinela Três decidir que o Darth Chratis era a
pessoa por trás da segunda colocação. Afinal, quem melhor para culpar do
que alguém que não pode se defender?
— O último relatório que Stantorrs recebeu que eu vi antes de ser
transferido, — concluiu Ula, — sugeria que a órbita de Sebaddon havia
sido perturbada, levando à sua iminente destruição pelo buraco negro.
Algumas pequenas quantidades de metais raros foram eliminadas pela
República, mas os ataques Imperiais mantiveram isso em um nível mínimo.
Nenhum destroço foi recuperado de nenhum dos locais estabelecidos por
Lema Xandret e os seus parceiros fugitivos.
O Sentinela Três não divulgou se isso concordava ou não com as
denúncias feitas pelo Coronel Kalisch. Também não mencionou a aquisição
misteriosa das naves de Kalisch ou a questão do apagamento dos bancos de
dados. Um vírus de computador propagado pelas naves infectadas foi
suficiente para explicar o último, e a natural relutância do coronel em
admitir que as suas naves já haviam saído do seu controle corrigiu o
primeiro. É melhor ter uma missão um pouco equivocada no registro de
alguém do que uma completa falha de comando.
Isso não surpreendeu Ula. Jet Nebula havia antecipado exatamente esse
resultado. Ele fez a frota fazer o que precisava, sabendo muito bem que o
seu papel nos eventos nunca seria registrado. O único elo fraco em seu
plano ambicioso fora o próprio Ula. Qualquer pessoa menos confiante,
menos segura de si, teria matado Ula descontroladamente, por medo de que
o seu segredo fosse revelado. Mas Jet o deixou viver. E agora Ula retribuiria
esse favor da única maneira que pudesse, garantindo que os dois lados
acreditassem na versão falsa de como as coisas haviam acontecido em
Sebaddon.
Não era uma jogada completa, é claro. Os soldados contariam histórias
loucas sobre Sebaddon por anos, como sempre faziam, quando eram
exigidas histórias loucas. Ninguém iria acreditar neles, no entanto. E aí o
assunto finalmente descansaria.
— E o Mandaloriano? — Perguntou o Sentinela Três.
— Se foi. Ele saiu muito antes da chegada dos reforços. Uma vez que os
hexagonais estavam em fuga, ele presumivelmente não tinha interesse no
resultado da batalha.
— Por que investir tanto em rastrear a Cinzia até sua fonte e depois não
desempenhar nenhum papel no que acontece? Isso não faz sentido.
— Lembre-se, ele era apenas um Mandaloriano que se envolveu
pessoalmente. Um invasor operando com pouco mais do que a sua própria
iniciativa. Xandret poderia ter esperado algum tipo de aliança com
Mandalore, mas é claro que ele não estava mais do que interessado. Se ele
acreditasse nos hexagonais verdadeiramente notáveis, teria enviado mais do
que Stryver para lidar com eles.
— E eles não eram notáveis?
— Eu deixo isso para pessoas mais qualificadas do que eu decidirem, —
disse Ula, seguro ao saber que o Sentinela Três teria uma inteligência
marcadamente vaga sobre esse assunto. Mais uma vez, o coronel Kalisch
não gostaria de ser lembrado por ter sido derrotado por um bando de
droides. Melhor, em vez disso, pintar as suas primeiras perdas como
resultado de uma emboscada na República e minimizar todo o
envolvimento dos hexagonais, como a capitã Pipalidi fez. Nenhum dos
registros sobreviventes contradizia as duas histórias, graças a Jet.
Às vezes, o brilho do contrabandista dominava Ula, junto com a sua
completa irritação. Onde ele estava agora? Ula teria dado a mão esquerda
para saber.
— O Ministra está descontente com o seu rebaixamento, — disse
Sentinela Três. — Você deve fazer todos os esforços para recuperar o seu
antigo cargo.
Agora, isso foi interessante. Não só era uma exigência completamente
irracional que Ula traísse a República, mantendo ao mesmo tempo a sua
posição sob o Comandante Supremo, mas a urgência com que eles
esperavam que voltasse as boas graças de Stantorrs sugeria que não haviam
outros agentes nesse departamento. Ula teria isso em mente em suas futuras
negociações com os dois lados.
— Sim senhor. Vou mantê-lo informado sobre o meu progresso.
— Dispensado.
O holoprojetor esvaziou.
Ula não se mexeu.
Antes de contar até dez, um novo rosto apareceu diante dele.
— Olá, Ula, — disse Shullis Khamarr, Ministra de Logística. — Faz
muito tempo. Eu estava ficando preocupada.
Uma vez, Ula teria ficado mudo com essa abertura inesperada. Nos
negócios anteriores, ele invariavelmente fora o suplicante. Para ela chamá-
lo do nada, uma alteração considerável de sua dinâmica.
— Minhas desculpas, Ministra, foram por muitos motivos. A busca pelo
mundo sobre o qual eu falei não correu bem, e os recursos que eu esperava
fornecer ao Império não foram realizados. Só posso garantir que o inimigo
não nos venceu.
— Bem, isso é alguma coisa. Espero que você não esteja muito
decepcionado.
— Não, Ministra. O meu papel aqui será muito reduzido, mas tenho
certeza de que outros se levantarão para tomar meu lugar.
— Haverão outros, sim. Ninguém como você, no entanto. — Ela sorriu.
— Sempre admirei a sua paixão e achei as nossas conversas instigantes.
— Ministra, sobre esse assunto, eu temo
— Sim, Ula?
— Receio ter me enganado em minhas opiniões anteriores.
O sorriso dela sumiu.
— Como assim?
Essa era a única mentira que ele se permitiu contar.
— No curso de minha missão, trabalhei em estreita colaboração com
Darth Chratis e a sua aprendiz, e as ações deles me convenceram a
reconsiderar os preconceitos que mantinha em relação a eles. Agora vejo
como fui tolo por dispensá-los tão prontamente. Eles são cruciais para o
esforço de guerra e essenciais para o bom funcionamento do Império.
O molde guardado em seu rosto aliviado.
— Confesso que estou aliviada, Ula. Era uma heresia perigosa que você
abraçou. Bem intencionado, naturalmente, mas não uma que possa ser
tolerada em qualquer nível de governança.
— Eu vejo isso agora. Você foi muito indulgente, Ministra.
— Bobagem, Ula. Somos amigos, e amigos perdoam muito.
Perguntou-se se parte dela estava decepcionada. Deve ter havido alguma
vantagem, mesmo que meramente psicológica, em ter um informante
privado com a intenção de manter o seu próprio progresso. Nesse caso, ela
escondeu bem.
Estou cansado de seduzi-la com a minha maneira de pensar, Shullis
Khamarr, disse para si mesmo, pensando em Larin e Shigar, que o
resgataram de destinos terríveis e do estoicismo calmo da Grã Mestra,
Satele Shan. Os sobreviventes de Sebaddon seriam mudados para sempre
pelo que lhes acontecera ali, e não foi diferente. Estou convencido de que
há mais na governança do que apenas regras, leis e disciplina. Uma
cultura também deve ter um coração. Um coração forte que nunca vacila.
— Obrigado, Ministra, — disse ele, e ofereceu-lhe uma reverência
respeitosa.
Ela concluiu sua conversa com uma banalidade superficial. Ula se
perguntou se nunca mais falaria com ela. Provavelmente não. Era difícil
manter amizades de qualquer tipo nos negócios de inteligência, ainda mais
quando alguém era rebaixado.
Nas próximas semanas, consideraria os benefícios de jogar em ambos os
lados, tentando conciliar a interação entre eles como Jet fez. Não tinha
acesso a um exército de hexagonais imparáveis ou a um droide que poderia
dominar frotas inteiras, mas estava começando a acreditar que talvez o fim
justificasse os meios, às vezes. Se pudesse afastar o Império e a República
da guerra, ou pelo menos poupar os seus cidadãos dos piores excessos, isso
poderia ser uma coisa boa, e uma coisa real, não falsa como tudo o que
havia tentado antes. Ele estaria do seu próprio lado, enfim, como Larin
tinha estado quando ela foi dispensada das forças especiais... do lado dos
trilhões de pessoas comuns presas em uma galáxia em guerra.
Ficou em seu pequeno apartamento e considerou o seu próximo passo.
Procurar essa escuta? Redigir uma mensagem codificada para o Ithoriano
com quem ele falara em Sistemas Estratégicos de Informação? Dormir?
Ula não sabia ainda, o que em si era uma coisa agradável.
As paredes podem estar se fechando ao seu redor, mas os seus
horizontes estavam mais amplos agora do que nunca. Mesmo Coruscant não
parecia tão amaldiçoada como antes. Larin estava de volta às forças
especiais. A satisfação brilhou bastante em seu rosto quando ela falou sobre
o futuro. Podemos beber Núcleos de Reatores e conversar sobre os velhos
tempos. Nenhuma menção a Shigar, ou a qualquer outro sobrevivente de
Sebaddon.
Isso, pelo menos, lhe deu algo pelo que esperar.
APÓS HORAS DE ESPERA, o momento de Shigar havia
chegado.
— Nós o encontramos pronto para os testes, Shigar Konshi, — disse
Mestre Nobil. — Acho que você não ficará surpreso ao saber que dominar
os seus poderes psicométricos foi só a menor parte de sua jornada.
Shigar não ficou surpreso, mas ao mesmo tempo não conseguiu
esconder o seu alívio. Fez uma reverência profunda diante das imagens
holográficas dos membros do Alto Conselho, muitos dos quais ainda não se
encontrou pessoalmente: o taciturno Wens Aleusis, o brilhante Giffis Fane,
o jovem Oric Traless, o mais novo membro do Conselho...
— Obrigado, Mestres, — disse ele. — Tenho certeza que não vou
decepcioná-los.
— Diga-me como você resolveu o seu acordo com a Tassaa Bareesh, —
disse Mestre Nobil. — Isso não foi mencionado na sua sessão de
depoimento.
— Receio que ainda não tenha sido resolvido, — disse ele. — O acordo
foi oportuno na época, mas era sempre provável que se tornasse um
empecilho. Ela usou um localizador para encontrar o mundo, por isso não
tenho escrúpulos em permitir que a República lá chegue primeiro. Ela não
pode reivindicar nenhuma desvantagem, já que o mundo em si não caiu nas
mãos de ninguém.
— Há os danos ao palácio dela em Hutta, — disse Mestre Fane, — e a
própria perda de prestígio. Suudaa Nem'ro deve estar esfregando as mãos de
alegria.
— E deve haver consequências por desonrá-la, sem dúvida.
— Sim, Mestre Nobil. Acredito que haja um preço por minha cabeça.
— Todos nós já tivemos um desses momentos, — disse Mestre Traless
com um sorriso irônico. — Não perca o sono por isso, mas fique de olho.
— Obrigado Mestre. Eu vou.
Shigar sabia o que eles estavam tentando dizer. Não espere jogar este
jogo sem violar as regras. Você já fez isso uma vez e fará novamente.
Acostume-se a isso. Isso era muito da Larin outra vez.
A disputa dos senhores do crime de Hutt não o preocupou nem um
pouco. Tinha preocupações muito maiores.
— Posso falar livremente com o Conselho? — Perguntou ele.
— Eu acho que você deveria, — disse a Grã Mestra Shan, a primeira vez
que ela falou durante a discussão. Quase esquecera que ela estava lá, parada
em silêncio no canto da câmara de audiência que eles haviam requisitado.
— Tem algo em sua mente desde Sebaddon.
— É verdade, Mestra. Não sei por onde começar.
— Comece com o que mais lhe machuca.
Ele nunca tinha pensado em seu novo entendimento como doloroso, mas
viu que era verdade. Queimava em seu peito como fogo.
— Tantas pessoas morreram, — ele disse, — por nada. Não me diga que
é assim em tempos de guerra, porque oficialmente não estamos em guerra.
Xandret e os seus hexagonais não eram nossos inimigos; Darth Chratis foi
de fato nosso aliado por um tempo. No entanto, eles estão todos mortos.
Não vejo sentido nisso.
— Continue, — disse Mestre Nobil.
Tentou se explicar claramente.
— Todo esse caso é endêmico da crise atual. Os Sith estão em ascensão.
Estamos em declínio. Os Mandalorianos e os Hutts estão entre nós, criando
confusão e brigando por vantagem. As nossas opções são limitadas. Se não
fizermos nada, milhões de pessoas morrem. Se revidarmos, nos
envolveremos com eles no nível deles.
— Conte-nos a sua solução, Shigar, — disse Mestre Traless.
— Atacar agora. A guerra está chegando... todos nós sabemos... então
por que ficar sentado esperando que o Imperador faça a sua jogada? Antes
que ele tenha a chance de consolidar seu poder ainda mais. Usar o elemento
surpresa enquanto o temos. Não gastar vidas por nada.
— Os donos dessas vidas podem questionar a necessidade disso, —
disse o Mestre Nobil. — Fala-se muito de como causamos o infortúnio atual
ao fazer os Sith como inimigos, em primeiro lugar. Começar uma guerra
agora não aliviaria essas dúvidas.
— Quando vencermos a guerra, as pessoas verão a necessidade disso.
— E se perdermos? — Perguntou Mestre Fane.
— Não devemos, — disse Shigar. — Nós não podemos. E não o faremos
se agirmos com rapidez suficiente. A cada dia o Imperador fica mais forte e
nós ficamos mais fracos. Quantos espiões e traidores corroem as fortalezas
que construímos em nosso entorno? Quantas batalhas infrutíferas devemos
travar antes que todos na República nos abandonem? Quantos outros
Sebaddon estão lá fora, esperando por nós? O próximo pode ser o que nos
mata.
— A nossa missão é promover a paz, — disse Mestre Nobil. — Você
esqueceu isso?
— Nunca, Mestre. Mas há graus de guerra, assim como há graus de paz.
Um ataque antecipado pode poupar a galáxia da guerra total.
— Mas a que custo? Lembre-se, Shigar, quando você costumava
argumentar por justiça para bilhões de pessoas comuns, apanhadas entre os
dois lados neste conflito? Se agirmos agora, as suas mortes serão colocadas
à nossa porta. Você quer isso em sua consciência, meu jovem militarista?
— Não, Mestre. Ou seja, eu não... eu só... — Ele olhou para as suas
mãos, tão surpreendentemente sem queimar depois de ter tanto poder sobre
Sebaddon. Se podia fazer isso, por que o Conselho Jedi não podia? Essa foi
a única lição que Darth Chratis lhe ensinou. — Eu apenas acho que vale a
pena considerar.
— Nós consideramos isso, — disse Mestre Fane. — E continuaremos a
considerá-lo até que a solução adequada se apresente.
— Você não é o único que se sente assim, — disse Mestre Traless,
inclinando-se para a frente. — Temos mil jovens Jedi apenas esperando...
Poderia ter dito mais, mas um olhar do Mestre Nobil acalmou a sua
língua.
— A sua paixão não diminuiu, jovem Shigar. Você deve tomar cuidado
para que isso nunca domine a sua cabeça. Obrigado por suas opiniões.
Venha para o Tython e termine o que você começou. Quando você estiver
totalmente instalado como um Cavaleiro Jedi, poderá desempenhar o seu
papel mais plenamente nos próximos tempos.
Mas qual é a minha parte?
Deixou essas palavras em silêncio em sua língua enquanto, uma a uma,
as imagens dos Altos Conselheiros Jedi tremulavam e desapareciam.
— Vamos juntos, — disse-lhe a Grã Mestra Shan. — Os testes são
difíceis. Muitos tentam e falham, por isso aconselho a não ser complacente.
O rosto dela estava ilegível.
— Sinto muito se eu o desagradei, Mestra, — disse ele.
— Você não me desagradou, Shigar. Estou simplesmente cansada. Como
você, desejo uma resolução rápida para esses tempos.
— Mas não é através da guerra.
— Não se puder ser evitada, não. Eu entendo que você não vê dessa
maneira, no entanto. Você é um produto do seu tempo.
Começou, reconhecendo as palavras dela pela visão que tinha tido em
Sebaddon.
— Eu sei o que você está prestes a dizer, — disse ele. Eu já vi. Você está
prestes a me dizer que devo enfrentar os tempos futuros com muito cuidado.
Mas eu já disse isso, então agora talvez você não o faça.
Ela sorriu.
— É desconcertante quando o que você viu não acontece da maneira que
deveria.
Isso era verdade. A conversa já estava indo em uma direção diferente,
graças à sua intervenção. Em seguida, ela deveria avisá-lo que os Sith eram
o inimigo e que não deveria se tornar como eles para vencê-los.
— Então o futuro nem sempre é imutável?
— Não, e às vezes fico contente com isso, Shigar. Ela colocou a mão no
ombro dele e o guiou em direção à porta. — Você aprenderá a ser também,
acho.
Ela parecia estar cansada. Desejou que houvesse algo que pudesse fazer
para fazê-la se sentir melhor. Mas como poderia, um humilde Padawan,
entender ou mesmo começar a suportar a carga pesada que ela estava
sofrendo?
Mais uma vez, uma centelha de predestinação disse-lhe que ele estava
roçando de perto contra algo visto no passado.
Seja gentil, Shigar.
Ela quis dizer a si mesma o tempo todo? Toda a sua agonia por Larin
fora por nada?
Então outro pensamento lhe ocorreu.
Algumas estradas são mais difíceis do que as suas.
As palavras até agora não foram ditas para considerar o agora?
Ela referia-se a ele.
Quando saíram da sala de audiência, decidiu que não havia problema em
se sentir despedaçado. De fato, deveria se acostumar com isso. Haviam
sérios desafios por vir, quer os Altos Conselheiros tivessem sucesso com os
seus esforços diplomáticos ou não. Em um universo que exigia preto e
branco, ele se contentava com o cinza.
E quando passasse nos testes, conversaria em particular com o Mestre
Traless. Se mil cavaleiros Jedi realmente se sentissem como ele, haveria
esperança quando a diplomacia falhasse.
DARTH HOWL, Lorde Sombrio Sith, era menos imponente no
segundo encontro do que na primeira vez. Ele usava um uniforme preto sem
insígnias e troféus, e Ax interpretou que isso significava que ele não queria
impressionar. Que pediu para encontrá-la em particular, em seu campo de
caça pessoal em Dromund Kaas, ela entendeu como um sinal confudo.
— Escolha um rifle, — disse ele, indicando uma extensa coleção na
parede do seu escritório. — Siga-me até o deque.
Ax selecionou uma arma antiga com um estoque feito de osso. Sua carga
estava cheia e suas miras, perfeitamente alinhadas. Ela apostou que Darth
Howl as mantinha assim, e não apenas para mostrar.
Estava certa. O "deque" era uma extensa plataforma de observação com
vista para o denso terreno tropical que havia sido limpo em trechos,
permitindo uma linha de visão desobstruída para a vegetação rasteira. O sol
estava no auge, acima das nuvens. As condições eram as melhores da
capital Imperial.
Darth Howl tocou uma campainha. Em algum lugar nas árvores, uma
porta da gaiola se abriu.
— Eu trouxe você aqui, Eldon Ax, — disse ele enquanto levantava o seu
próprio rifle para avaliar o alcance, — para que você pudesse me explicar
como matou Darth Chratis.
Ela congelou. Como ele sabia? Não contou a ninguém e tinha certeza de
que nenhum dos soldados em Sebaddon teria entendido o que aconteceu
naquele dia. Os hexagonais mataram tantas pessoas. Darth Chratis tinha
sido apenas um deles.
O rifle de Darth Howl emitiu um estalo agudo e cortante, fazendo-a
pular. Algo gritou nas árvores abaixo.
O Lorde Sombrio olhou pra ela e lhe ofereceu um sorriso misterioso, de
dentes afiados.
— Não se preocupe, — disse ele. — Enquanto você estiver aqui em
cima, ficará bem.
Perguntou-se quanto tempo essa boa sorte duraria.
— O que faz você pensar que eu o matei, milorde?
— Sempre que um ex-aprendiz volta sem o seu Mestre, a pergunta se
faz. É uma tradição, apesar de não se falar muito sobre isso. Primeiro você
sobrevive à Academia; então você tem que sobreviver ao seu Mestre. Foi
assim que eu ganhei minha reputação e presumo que é assim que você
planeja fazê-lo também. A questão é: como?
O rifle estalou novamente.
— Se você não disparar logo, jovem Ax, serei forçado a assumir que
você perdeu a coragem.
Ax fez o que lhe disseram, erguendo o rifle e segurando-o firmemente
contra a ponta do ombro. Não conseguia se lembrar da última vez em que
atirou com um blaster de qualquer tipo. Certamente desde que construiu seu
primeiro sabre de luz.
Examinou a folhagem através da mira. Quando uma cabeça macia de
olhos escuros espiou cautelosamente para fora da cobertura, deu um tiro
nela. O rifle produziu um estranho zumbido, mas lançou um impressionante
raio de energia verde brilhante na direção certa. A criatura aterrorizada
explodiu em uma bola de pelo flamejante.
— Eu usei os hexagonais, — disse ela a Howl, adequadamente satisfeita,
enquanto se alinhava para outra tentativa.
— Como você os levou a obedecer a sua ordem?
— É, uh, difícil de explicar.
— Eu não trouxe você aqui para facilitar a vida pra você. — Outro tiro
do seu rifle; outro grito abaixo. — Você já nos falou sobre o remanescente
de Lema Xandret presente em todos os droides. Como você chamou isso de
novo?
— O amnióide.
— Sim. Você mencionou em seu relatório que você e a Grã Mestra Jedi
foram capazes de influenciar os hexagonais, graças ao amnióide. Não sabia
que você era capaz de fazê-lo em um grau tão avassalador.
— Não foi assim que eu fiz.
No seu segundo tiro errou. Ele estava ganhando dela em três mortes pra
um.
— Esteja certa, jovem Ax, que eu vou tirar isso de você de uma maneira
ou de outra.
Não havia como negar a ameaça agora. Procurou a mesma força de aço
que Satele Shan demonstrou em Sebaddon.
— Havia algo que eu omiti no relatório, milorde, — disse ela.
— O amnióide não existia apenas para controlar os hexagonais. Também
foi projetado, principalmente, talvez, para sustentar uma criança em um
tanque de bacta sem a Força. Ela era filha de Xandret. Uma clone.
— De você?
Ax não usaria a palavra eu. Ela recusou.
— O nome dela era Cinzia. Ela acreditava que eu era ela.
— Você falou com ela?
— Sim.
— Então você a matou?
— Não, mas eu posso ter. A Grã Mestra a soltou quando o amnióide
tentou sufocá-la. Ela morreu por exposição ao ar.
Ambos atiraram. Ao mesmo tempo, um raio irrompeu o céu sombrio em
mil pedaços irregulares. A sincronicidade não foi intencional, mas
impressionante.
— Quando os hexagonais não estavam operando de forma independente,
— ela continuou, — eles obedeciam a Cinzia, não ao amnióide. Por termos
códigos genéticos idênticos, eles também me obedeceram. Foi fácil fazê-los
se virarem contra o Darth Chratis.
— E é claro que isso era necessário. Você não poderia tê-lo matado
sozinha.
— Não. — Isso a queimou ao admitir, mas essa era a verdade, e este
pareceu um momento em que só a verdade seria suficiente. O jogo de Darth
Howl era totalmente diferente de qualquer jogo de Darth Chratis. Estava
aprendendo as regras à medida que avançava.
— A omissão da clone no seu relatório, — ele disse, — foi premeditada,
deliberada e perigosa. O Conselho Sombrio desaprova qualquer coisa que
cheira a deslealdade, ou a apego emocional a qualquer coisa que não seja o
próprio Conselho.
— Não senti parentesco com a clone, milorde, — disse ela.
— Nenhum mesmo?
Lutou para encontrar palavras para as emoções que ainda a agitavam
quando pensou na criatura patética no tanque.
— Lema Xandret se recusou a deixar a sua filha ir, então ela criou uma
nova, a quem ela aprisionou. Ela se recusou a ser controlada, mas ela
própria era possessiva e controladora. Que prisão ela poderia ter formado
pra mim se eu não tivesse sido resgatada dela por Darth Chratis? Foi por
isso que as minhas memórias dela foram tão fáceis de suprimir? A única
coisa que despertou em todo o caso foi uma lembrança dos seus gritos. Em
suma, — ela concluiu — sorte em escapar. E a clone também no final.
— Você ordenou que os hexagonais cometessem suicídio?
— Isso eu não fiz, — disse ela, — mas provavelmente poderia ter
ordenado que não o fizessem.
Ele assentiu.
— Era o amnióide, então.
— Desta vez sim. Lema Xandret perdeu a filha duas vezes. Não havia
mais nada pelo que viver. Nem vingança.
— Então, em vez de se tornar o seu Mestre, você os deixa morrer. —
Darth Howl abaixou o rifle e a encarou com um olhar de obsidiana. —
Alguns podem achar intrigante o fato de você não ter usado os hexagonais
para cumprir a sua vingança contra o Dao Stryver e depois conquistar a
galáxia.
— Sim. — Eu poderia ter sido Imperatriz! — O pensamento me
ocorreu. Mas o Mandaloriano já havia escapado até então, e eu permaneço
leal ao Conselho Sombrio.
— Alguns podem dizer que a sua exposição a Grã Mestra do Jedi
confundiu os seus pensamentos. Alguns podem usar isso como argumento
para nunca mais confiar em você.
— Eu não ligo para o que as pessoas dizem.
— Você só precisa se preocupar com o que o Conselho Sombrio vai
decidir o que fazer com você.
— Eu me encontrei com eles ontem. Eles... você disse...
— Muitas coisas são ditas, Ax, e muitas coisas são feitas. Nem sempre
são os mesmas.
Sabia disso.
— Então você vai me matar?
Ele riu dela e levantou o rifle. Outro tiro; outro grito de dor.
— Isso depende inteiramente de como você gira, — disse ele. — Os
fugitivos foram punidos?
O destino de sua mãe e a clone a deixaram sem dúvida quanto a isso.
— Sem dúvida.
— O planeta caiu nas mãos da República?
— Não.
— Então você sobreviveu onde o seu Mestre não sobreviveu e voltou
com informações valiosas. Você é forte e determinada, como a sua mãe.
Você merece nada além de admiração e um olhar atento.
— Se alguém aprender o segredo sobre os hexagonais, a explicação é
simples. A sua lealdade ao Imperador é tal que você nunca tentaria derrubá-
lo. Note que eu disse 'Imperador', não o Conselho Sombrio. O trabalho de
um Sith é tentar nos derrubar. É por isso que temos que ficar de olho em
você. Dispare a arma.
Ax fechou um olho e acalmou o seu coração martelando. Talvez
sobrevivesse, afinal.
A criatura à sua vista não sobreviveu, nem mais duas que vieram para
investigar.
Não diria a Darth Howl que a única razão pela qual não havia poupado
os hexagonais era porque tentar controlá-los teria, sem dúvida, saído pela
culatra. Crivados com o espírito distorcido de sua mãe, os hexagonais
acabariam se voltando contra ela e acabaria tão presa quanto a sua clone.
Longe de se tornar Imperatriz, seria uma princesa amarga em uma gaiola,
gritando por ajuda em uma galáxia vazia.
Melhor que tudo desapareça em um buraco negro, literal e
metaforicamente, e ela continue com a sua vida. A vida dela. No entanto,
muito do que havia deixado.
— Por que você me convidou para cá? — Ela perguntou. — Não era
para me interrogar sobre o meu relatório ou para me dar conselhos.
— Verdade. Você é jovem e inexperiente, mas é observadora e
sobreviveu ilesa à crise. Talvez você esteja escondendo bem os seus
verdadeiros sentimentos ou seja mais resistente do que parece. De qualquer
maneira, você pode ser útil pra mim. Trouxe você aqui para lhe oferecer
uma aliança.
Axe nem mesmo viu o que estava em sua mira.
— Que tipo de aliança?
— Uma consideravelmente mais ao seu favor do que o última. Darth
Chratis mereceu o que lhe ocorreu. Os seus métodos não eram confiáveis,
as suas filosofias perigosas e a sua ambição descontrolada. Portanto, era
inevitável que ele caísse. A única pergunta era: até onde você cairia com
ele?
Não respondeu.
Os dentes de Darth Howl brilhavam fracamente na noite.
— Darth Chratis falhou com você, assim como a minha última aprendiz
falhou comigo. É hora de olhar além do fracasso e ver os sucessos que
esperam você e eu. Com o meu poder e o seu potencial, você pode imaginar
o que podemos realizar juntos? Podemos sacudir o Chanceler Supremo do
seu lugar e ganhar recompensas além dos nossos sonhos mais loucos!
Não estava pensando tão longe. Tudo o que tinha em mente era o quão
útil seria em ter um Mestre no Conselho Sombrio, não apenas sonhando
com isso.
— O que aconteceu com a sua último aprendiz?
— Ela gostava de manter animais de estimação, — disse ele, mirando e
despachando outra bola de pelo infeliz lá embaixo.
— E agora eu a mantenho na cúpula de observação diretamente acima
de nossas cabeças. Ela adora quando eu recebo convidados.
O seu sorriso era frio e cruel, e algo nele emocionou Ax em seu âmago.
Darth Howl precisava dela, e precisava dele. Não havia vergonha em
admitir isso. Haviam jogos maiores para se jogar agora.
Dao Stryver poderia esperar. Quando precisava sentir a raiva em sua
forma mais pura, ele estaria lá, pronto para inspirá-la. Não importava onde
ele estava ou o que estava fazendo. Quanto mais tempo a sua promessa não
fosse cumprida, maior a sua raiva se tornaria. O fim justifica os meios,
como ele mesmo havia dito.
— Eu ficaria honrada, milorde.
— Bom. E eu vou te aceitar como minha aluna. Você vai deixar pra trás
o negócio bagunçado de sua mãe e nós dois estaremos ansiosos para
massacrar a escória Jedi em suas camas. E, o mais importante...
Ele piscou como o corte de uma guilhotina.
— Mais importante de tudo, minha jovem aprendiz, nós dois vamos
cuidar de nossas retaguardas.
NÃO HAVIA ESCASSEZ de cantinas em Tatooine, nem de
brigas. Akshae Shanka ficou em segundo lugar em mais um torneio de
combate, e as emoções estavam em alta. Houveram tumultos ao redor da
arena, e vários tiroteios completos haviam rivalizado com os do próprio
concurso.
Dao Stryver não estava lá para lutar, no entanto.
Das profundezas sombrias da Ala e do Andarilho, o Mandaloriano
observou a chegada do humano que se chamava "Jet Nebula" com um olhar
aguçado.
O contrabandista tinha um ar arenoso, como a maioria das pessoas no
planeta desidratado. Os seus cabelos grisalhos eram tão selvagens e o seu
uniforme, como sempre usados no espaço. O droide que o seguia ganhara
dois amassados extras em suas viagens desde Sebaddon. Mas eles pareciam
com o que Stryver esperava. Eles estavam vigilantes de uma maneira que os
guerreiros mais velhos aprenderam a ser.
Jet Nebula olhou em volta do bar, viu o impassível Gektl sentado
sozinho e executou uma sutil visão dupla.
Então ele levantou dois dedos para o barman, que conversou com
confirmação, e ele e o droide pressionaram a multidão empoeirada.
— Estou surpreso em vê-lo aqui.
— Você me reconhece?
— Dao Stryver, em carne e osso. Você parecia melhor com o capacete.
Stryver mostrou os dentes de uma forma que poder ter sido confundida
com um sorriso.
— Na minha cultura, essa expressão é considerada um desafio.
— Qual é. Eu sei que você pode entender uma piada. — Ele puxou uma
cadeira. — Além disso, você obviamente está esperando por mim. Acho
que estou seguro, pelo menos, até que você me diga o que quer.
— Eu vim pelo droide.
Nebula levantou uma sobrancelha.
— Ele não está à venda.
— Eu não estou lhe oferecendo dinheiro.
Dois pequenos copos caíram entre eles. Stryver não fez nenhum
movimento para pagar, nem ele. Ele obviamente tinha uma conta.
— Boa sorte em batalha, — brindou Nebula. — Que todos os seus ovos
eclodam como soldados.
— Como você sabe disso?
— Eu tenho um bom olfato. E eu transportei algumas pinturas de Hoszh
Iszhir uma vez. Você tem um belo planeta lá, se você respirar gás venenoso.
Stryver levantou o outro copo e jogou o líquido ardente em sua garganta.
— Estava errada em te dar como certo, — disse ela.
— Não é sua culpa. Esforço-me para dar uma certa impressão.
— Não estou me desculpando. Estou lhe dando um elogio. Poucos me
enganam.
— Nós dois temos as nossas máscaras. Você mantém a cauda cortada
para caber nessa armadura ou a removeu permanentemente?
Ela balançou a cabeça, relutante em ser desviado.
— Estive procurando por você desde o caso Sebaddon.
— Estou satisfeito que demorou tanto tempo para me encontrar.
— A notícia é de boatos é que você está comprando dados técnicos para
o mercado negro. Que tipo de dados?
Ele encolheu os ombros.
— Tudo o que eu tinha nos hexagonais, o que não era muito. Análises
químicas, imagens de vídeo, uma amostra da sua criptografia de subespaço.
Eu as vendi como um lote de trabalho para um personagem chamado
Shavak. Mas não se preocupe: não há lugar o suficiente para ele ou
qualquer outra pessoa reconstruí-los.
Ela o deixou acreditar que essa era sua preocupação, se ele realmente
acreditava nisso. Ele era um homem de muitas máscaras. No palácio de
Tassaa Bareesh, ele teve o cuidado de não jogar as coisas com muita
inteligência, para não ser considerado uma ameaça, ao mesmo tempo em
que reforçava o seu valor como o homem que encontrou a Cinzia e que
poderia encontrar outras recompensas como essa, para para evitar estar
convenientemente desaparecido. Enquanto os Hutts observavam os
enviados, o contrabandista no meio deles mantinha os seus olhos e ouvidos
cuidadosamente abertos.
Da mesma forma, ele havia puxado as cordas do enviado como um
marionete da República, garantindo que o caso Xandret terminasse em seu
proveito. Ele pode estar fazendo a mesma coisa agora.
— Você sabe, eu seria um excelente Mandaloriano, — disse Nebula, —
se eu fosse assim.
Stryver se enrijeceu em seu assento, resistindo à vontade de atravessar a
mesa e arrancar a cabeça insignificante.
— Explique, — ela rosnou.
— Nós dois temos uma sensação de ironia. — Ele sinalizou para o
barman para outra rodada de bebidas. — E os nossos objetivos são os
mesmos. Quero dizer, sério. Você projetou toda a coisa em Sebaddon desde
o início, certo? Você deu coordenadas a Xandret para uma reunião que a
levaria a um espaço infestado de corsários. Você sabia onde a nave
terminaria uma vez capturada e o que os Hutts provavelmente fariam com
ela. Então você pulou pelo Império e pela República, escalando a situação.
Você queria que as pessoas pensassem que estava perseguindo a Cinzia para
impedir que ela caísse nas mãos de outras pessoas, mas na verdade você
estava fazendo exatamente o oposto. É por isso que você não matou a
nenhum dos jogadores que encontrou. Você queria uma luta com os
hexagonais tanto quanto queria apagar o seu próprio envolvimento nisso.
As bebidas vieram. Stryver deixou a dela intacta na mesa enquanto
Nebula continuava.
— Você estava testando as respostas do Império e da República aos
hexagonais. Você queria ver quem tem vantagem hoje em dia. A República
se recuperou do quase espancamento que você lhes deu uma década atrás?
O Império cresceu forte o suficiente para ser considerado um candidato
sério em sua próxima campanha? Eu diria que os resultados foram
empatados, o que combina comigo. O que você acha? Com quem o
Mandalore vai lutar em seguida, quando ele se cansar de trabalhar para todo
mundo? Essa é a pergunta que aposto que todos os Jedi e Sith gostariam de
responder agora.
Ele colocou o conteúdo do copo sem tirar os olhos dela.
Ela teve o cuidado de não lhe responder.
— Onde a ironia entra nisso?
— Nós não temos líder. Lembra-se daquilo? Tenho certeza que sim, e
tenho certeza que atingiu um acorde. A sua espécie é bastante
individualista, assim como a minha. Simpatizamos com o desejo de Lema
Xandret de seguir o seu próprio caminho, mesmo se não compartilhamos da
sua metodologia. Afinal, não temos o exército de droides que permitiram as
suas indulgências políticas, um exército que provavelmente tratava mais de
construir e deformar originalmente do que lutar contra alguém, até que
aparecemos. E é aí que reside a ironia.
— O Imperador certamente não endossou as aspirações igualitárias de
Xandret, e tenho certeza de que o Chanceler Supremo também teria
desaprovado. Impérios e Repúblicas não gostam daqueles com capacidade
de derrubar os seus regimes. Nesse sentido, os nossos dois amigos brigões
são mais parecidos do que preferem pensar, e o meme político de Xandret
pode ter sido ainda mais perigoso que os seus hexagonais, se escapasse.
Stryver assentiu, pensando nas hierarquias, burocracias e subclasses
estratificadas que testemunhara no Império e na República, todas espumar
em descontentamento, nem tudo isso causado pela guerra fria que existia há
mais de uma década. Não era impossível imaginar um ou outro regime
sendo derrubado por uma rebelião interior.
Tão perigosa, porém, e muito mais importante, era a possibilidade de as
duas facções rivais um dia se unirem contra um inimigo comum, como
tinham contra os hexagonais. Manter os dois na garganta um do outro era,
portanto, vital, de uma perspectiva Mandaloriana.
— Você está cochilando, — perguntou Jet, — ou concordando comigo?
Stryver concentrou os seus pensamentos.
— Estou pensando que a coisa mais perigosa da galáxia é um servo
ambicioso.
— Como todo regime explorador descobre o seu custo, quando aqueles
que fazem o trabalho decidem que querem manter os lucros pra si mesmos.
— O que aconteceria se os droides chegassem à mesma decisão?
— Isso significaria o fim da civilização como a conhecemos.
Felizmente, os hexagonais não eram ambiciosos, só eram mal programados.
— Eu não estou falando sobre os hexagonais. Estou falando do Clunker.
Nebula mostrou dentes suficientes para sugerir que o seu sorriso também
poderia ser uma ameaça.
— Você não acha que já seríamos escravos dele, se é isso o que ele
queria?
— Você me diz o que ele quer. O que motiva uma máquina que pode
dominar naves Imperiais e da República à vontade e depois fugir?
— Não é poder ou glória, obviamente. Ou lucro, caso contrário, eu seria
um bilionário. Às vezes ele faz o que eu peço, e às vezes não, então não se
trata de me obedecer. Para ser sincero, eu tenho tentado entendê-lo há anos
e talvez não esteja mais perto da resposta do que quando eu comecei.
— Você não o fez assim?
— Sem chance. Ele era um erro, algum tipo de erro de fábrica, e estava
programado para derreter quando eu o encontrei. O seu cérebro tinha um
problema de redefinição, aparentemente. A cada poucos minutos, ele
desligava e perdia a memória. Um droide sem capacidade de armazenar
evidências incriminatórias me atraiu, então eu o roubei e o remendei o
melhor que pude. Hoje em dia, ele pode gerenciar dias de cada vez sem
uma ressuscitação, mas isso ainda acontece. As únicas coisas que ele
lembra são de mim e da nave, eu acho, porque estávamos onde a vida dele
realmente começou.
Stryver olhou para o droide estático.
— Então ele não vai se lembrar de Sebaddon e o que aconteceu lá?
— Não. Ele foi reiniciado quatro vezes desde então. Eu cheguei a pensar
que tudo está conectado, como se os seus pensamentos ficassem grandes
demais para seu cérebro aguentar, então se desliga periodicamente para
impedi-lo de enlouquecer. Afinal, o que poderia ser pior do que um droide
com ambição, como você diz? Você viu o que as pessoas fazem quando têm
ideias.
— E por boas razões, quando se trata de hexagonais.
— Clunker não é hexagonal. Ele é apenas um droide danificado lutando
para lidar com um universo grande e mal.
— Então talvez tenha chegado a hora de aliviá-lo do seu fardo.
— Eu aconselho a não tentar.
— Aconselho não resistir, Jeke Kerron. Algo endureceu em seus olhos.
Stryver se levantou e pegou o seu carbonizador.
Ela nunca tinha certeza do que acontecia a seguir.
Clunker se moveu. Isso era esperado. Ela havia planejado isso. Mas o
ataque não veio da direção dele. Veio de quatro outros ângulos
simultaneamente e ela foi arremessada de volta em seu assento por pulsos
de energia convergentes. O traje dela faiscou e fumou; os seus membros
tremiam. Por um momento potencialmente fatal, a sua visão se acinzentou.
Então ela se recuperou, e a cantina lotada estava exatamente como havia
sido, exceto que o contrabandista e o seu droide haviam desaparecido.
— É melhor beber, o barman riu, indicando que o copo ainda estava
diante dela. — Ele nos pediu para não expulsá-la imediatamente, mas há
um limite para a minha generosidade.
— Ele pediu...? — Fechou a boca quando o seu cérebro o alcançou. Ele
vinha aqui há dias. Foi assim que ela o encontrou. Pensara que ele estava
desperdiçando dinheiro com os outros jogadores e delinquentes, quando na
verdade ele estava preparando uma armadilha. Pra ela.
A multidão evitou estudiosamente o seu olhar desafiador.
Stryver riu por dentro, profundamente satisfeita com dois pontos.
Um: ela ainda estava viva.
Dois: era bom ter um adversário digno.
Dao Stryver tinha percorrido um longo caminho desde os dias da lutas
sangrentas, quando a vida de uma jovem Gektl era barata e se esperava que
não durasse nem uma única semana. Ela havia conquistado uma glória
considerável desde então e se considerava a personificação viva do credo
Mandaloriano. A guerra era travada por indivíduos, não por Imperadores e
políticos. As batalhas eram decididas por pessoas cujos os nomes nunca
poderiam ser registrados na história. Mas a questão não era a história, ou
mesmo quem ganhou. Qualquer um que se esforçasse o suficiente poderia
se tornar um herói. Esse era o objetio.
O inimigo dela entendeu. Era importante pra ela que ele fizesse. Ela
rastreara a sua história desde o capitão até o primeiro oficial de uma
embarcação muito diferente, onde a trilha terminara. Mas o capitão daquela
nave, Jeke Kerron, tinha a reputação de ser inteligente demais para o seu
próprio bem. Ele fez inimigos entre vários cartéis e finalmente desapareceu.
Foi um simples salto imaginar se um havia tomado o lugar do outro.
Eles podem nunca mais estar do mesmo lado, pensou Stryver, mas pelo
menos de agora em diante eles estariam jogando o mesmo jogo.
Ela bebeu o licor e saiu do Asa e Andarilho, empurrando o olhar seco de
Tatooine. Com o capacete de volta no lugar, ela era apenas mais um
Mandaloriano, um entre muitos no mundo dos gladiadores. Procuraria em
todos os espaçoporto da cidade, é claro, apesar de suspeitar que a Auriga
Fire passasse por seus dedos mais uma vez. Então ela se reportaria ao
Mandalore. Se necessário, ela caçaria o seu inimigo até os confins da
galáxia e estaria pronta pra ele quando se encontrassem novamente. Caso
contrário, voltaria a estudar o Império e a República, ciente de que logo
haveria glória suficiente para todos.
A guerra estava chegando. A certeza disso aqueceu a alma de sua
guerreira.
Ela levantou os olhos para encarar o sol e desejou ao homem que se
chamava "Jet Nebula" boa sorte em batalha.
STAR WARS / A VELHA REPÚBLICA - ALIANÇA FATAL
TÍTULO ORIGINAL: Star Wars / The Old Republic - Fatal Alliance
COPIDESQUE: TRADUTORES DOS WHILLS
REVISÃO: TRADUTORES DOS WHILLS
DIAGRAMAÇÃO: TRADUTORES DOS WHILLS
ARTE E ADAPTAÇÃO: TRADUTORES DOS WHILLS
ILUSTRAÇÃO: TRADUTORES DOS WHILLS
GERENTE EDITORIAL: TRADUTORES DOS WHILLS
DIREÇÃO EDITORIAL: TRADUTORES DOS WHILLS
ASSISTENTES EDITORIAIS: TRADUTORES DOS WHILLS

COPYRIGHT © & TM 2010 LUCASFILM LTD.


COPYRIGHT © TRADUTORES DOS WHILLS, 2022
(EDIÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA PARA O BRASIL)
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.
PROIBIDA A REPRODUÇÃO, NO TODO OU EM PARTE, ATRAVÉS DE QUAISQUER MEIOS.

VELHA REÚBLICA - ALIANÇA FATAL É UM LIVRO DE FICÇÃO. TODOS OS PERSONAGENS, LUGARES E


ACONTECIMENTOS SÃO FICCIONAIS.
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) TDW CRB-
1/000
W93s Williams, Sean
STAR WARS - VELHA REÚBLICA - ALIANÇA FATAL [recurso eletrônico] / Sean Williams;
traduzido Tradutores dos Whills.
400 p. : 4.0 MB.
Tradução de: The Old Republc - Fatal Alliance
ISBN: 978-0-307-79604-2 (Ebook)
1. Literatura norte-americana. 2. Ficção científica. I. MYTHOSAUR, RED SKULL CF. II. Título.
2017.352

ÍNDICES PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO:

Literatura : Ficção Norte-Americana 813.0876


Literatura norte-americana : Ficção 821.111(73)-3

tradutoresdoswhills.wordpress.com
Sobre o Autor

SEAN WILLIAMS é o autor mais vendido do New York Times


com o romance Star Wars: The Force Unleashed, publicou
trinta romances para leitores de todas as idades, setenta
contos de vários gêneros e até mesmo um poema estranho.
Ele foi chamado de “o principal escritor australiano de
ficção especulativa da época, o “Imperador da Ficção
Científica” e o “Rei dos Camaleões” pela diversidade de
sua produção. É mais conhecido internacionalmente por
suas premiadas séries de ópera espacial, como Evergence,
Geodesica e Astropolis, ele também é autor de dez
romances de fantasia inspirados nas paisagens de sua
infância: as planícies secas do sul da Austrália, onde ainda
vive com a sua esposa e família.
Agradecimentos

Obrigado à Shelly, ao Frank, ao Daniel e aos dois Robs por me mostrarem o


caminho.
Star Wars: Guardiões dos Whills
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No mundo do deserto de Jedha, na Cidade Santa, os amigos Baze e


Chirrut costumavam ser Guardiões das colinas, que cuidavam do
Templo de Kyber e dos devotos peregrinos que adoravam lá. Então
o Império veio e assumiu o planeta. O templo foi destruído e as
pessoas espalhadas. Agora, Baze e Chirrut fazem o que podem
para resistir ao Império e proteger as pessoas de Jedha, mas nunca
parece ser suficiente. Então um homem chamado Saw Gerrera
chega, com uma milícia do seus próprios e grandes planos para
derrubar o Império. Parece ser a maneira perfeita para Baze e
Chirrut fazer uma diferença real e ajudar as pessoas de Jedha a
viver melhores vidas. Mas isso vai custar caro?

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STAR WARS: Episódio ViiI: Os Últimos Jedi (Movie
Storybook)
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Um livro de imagens ilustrado que reconta o filme Star Wars: Os


Últimos Jedi.

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Chewie e a Garota Corajosa
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Um Wookiee é o melhor amigo de uma menina! Quando Chewbacca


conhece a jovem Zarro na Orla Exterior, ele não tem escolha a não
ser deixar de lado sua própria missão para ajudá-la a resgatar seu
pai de uma mina perigosa. Essa incrível Aventura foi baseada na
HQ do Chewbacca... (FAIXA ETÁRIA: 6 a 8 anos)

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Star Wars: Ahsoka
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Esse é o Terceiro Ebook dos Tradutores dos Whills com uma


aventura emocionante sobre uma heroína corajosa das Séries de
TV Clone Wars e Rebels: Ahsoka Tano! Os fãs há muito tempo se
perguntam o que aconteceu com Ahsoka depois que ela deixou a
Ordem Jedi perto do fim das Guerras Clônicas, e antes dela
reaparecer como a misteriosa operadora rebelde Fulcro em Rebels.
Finalmente, sua história começará a ser contada. Seguindo suas
experiências com os Jedi e a devastação da Ordem 66, Ahsoka não
tem certeza de que possa fazer parte de um todo maior de novo.
Mas seu desejo de combater os males do Império e proteger
aqueles que precisam disso e levará a Bail Organa e a Aliança
Rebelde....

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Star Wars: Kenobi Exílio
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A República foi destruída, e agora a galáxia é governada pelos


terríveis Sith. Obi-Wan Kenobi, o grande cavaleiro Jedi, perdeu
tudo... menos a esperança. Após os terríveis acontecimentos que
deram fim à República, coube ao grande Mestre Jedi Obi-Wan
Kenobi manter a sanidade na missão de proteger aquele que pode
ser a última esperança da resistência ao Império. Vivendo entre
fazendeiros no remoto e desértico planeta Tatooine, nos confins da
galáxia, o que Obi-Wan mais deseja é manter-se no completo
anonimato e, para isso, evita o contato com os moradores locais. No
entanto, todos esses esforços podem ser em vão quando o “Velho
Ben, — como o cavaleiro passa a ser conhecido, se vê envolvido na
luta pela sobrevivência dos habitantes por uma Grande Seca e por
causa de um chefe do crime e do povo da areia. Se com o Novo
Cânone pudéssemos encontrar todos os materiais disponíveis aos
anos de Exílio de Obi-Wan Kenobi em um só Lugar? Após o Livro
Kenobi se tornar Legend, os fãs ficaram sem saber o que aconteceu
com o Velho Ben nesse tempo de reclusão. Então os Tradutores dos
Whills também se fizeram essa pergunta e resolveram fazer esse
trabalho de compilação dos Contos, Ebooks, Séries Animadas e
HQs, em um só Ebook Especial e Canônico para todos os Fãs!!

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Star Wars: Dookan: O Jedi Perdido
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Esse é o Quarto Ebook dos Tradutores dos Whills com uma


aventura emocionante sobre um Vilão dos Filmes e da Série de TV
Clone Wars: Conde Dookan! Mergulhe na história do sinistro Conde
Dookan no roteiro original da emocionante produção de áudio de
Star Wars! Darth Tyranus. Conde de Serenno. Líder dos
Separatistas. Um sabre vermelho, desembainhado no escuro. Mas
quem era ele antes de se tornar a mão direita dos Sith? Quando
Dookan corteja uma nova aprendiz, a verdade oculta do passado do
Lorde Sith começa a aparecer. A vida de Dookan começou como um
privilégio, nascido dentro das muralhas pedregosas da propriedade
de sua família. Mas logo, suas habilidades Jedi são reconhecidas, e
ele é levado de sua casa para ser treinado nos caminhos da Força
pelo lendário Mestre Yoda. Enquanto ele afia seu poder, Dookan
sobe na hierarquia, fazendo amizade com Jedi Sifo-Dyas e levando
um Padawan, o promissor Qui-Gon Jinn, e tenta esquecer a vida
que ele levou uma vez. Mas ele se vê atraído por um estranho
fascínio pela mestra Jedi Lene Kostana, e pela missão que ela
empreende para a Ordem: encontrar e estudar relíquias antigas dos
Sith, em preparação para o eventual retorno dos inimigos mais
mortais que os Jedi já enfrentaram. Preso entre o mundo dos Jedi,
as responsabilidades antigas de sua casa perdida e o poder sedutor
das relíquias, Dookan luta para permanecer na luz, mesmo quando
começa a cair na escuridão.

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Star Wars: Discípulo Sombrio
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Esse é o Quinto Ebook dos Tradutores dos Whills com uma


aventura emocionante sobre um Vilões e Heróis dos Filmes e da
Série de TV Clone Wars! Baseado em episódios não produzidos de
Star Wars: The Clone Wars, este novo romance apresenta Asajj
Ventress, a ex-aprendiz Sith que se tornou um caçadora de
recompensas e uma das maiores anti-heróis da galáxia de Star
Wars. Na guerra pelo controle da galáxia entre os exércitos do lado
sombrio e da República, o ex-Mestre Jedi se tornou cruel. O Lorde
Sith Conde Dookan se tornou cada vez mais brutal em suas táticas.
Apesar dos poderes dos Jedi e das proezas militares do seu
exército de clones, o grande número de mortes está cobrando um
preço terrível. E quando Dookan ordena o massacre de uma flotilha
de refugiados indefesos, o Conselho Jedi sente que não tem
escolha a não ser tomar medidas drásticas: atacar o homem
responsável por tantas atrocidades de guerra, o próprio Conde
Dookan. Mas o Dookan sempre evasivo é uma presa perigosa para
o caçador mais hábil. Portanto, o Conselho toma a decisão ousada
de trazer tanto os lados do poder da Força de suportar, — juntar o
ousado Cavaleiro Quinlan Vos com a infame acólita Sith Asajj
Ventress. Embora a desconfiança dos Jedi pela astuta assassina
que uma vez serviu ao lado de Dookan ainda seja profunda, o ódio
de Ventress por seu antigo Mestre é mais profundo. Ela está mais
do que disposta a emprestar seus copiosos talentos como caçadora
de recompensas, e assassina, na busca de Vos.Juntos, Ventress e
Vos são as melhores esperanças para eliminar a Dookan, — desde
que os sentimentos emergentes entre eles não comprometam a sua
missão. Mas Ventress está determinada a ter sua vingança e,
finalmente, deixar de lado seu passado sombrio de Sith.
Equilibrando as emoções complicadas que sente por Vos com a
fúria do seu espírito guerreiro, ela resolve reivindicar a vitória em
todas as frentes, uma promessa que será impiedosamente testada
por seu inimigo mortal... e a sua própria dúvida.

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Star Wars: Episódio IX: A Ascensão do Skywalker:
Edição Expandida

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Leia o épico capítulo final da saga Skywalker com a novelização


oficial de Star Wars: A Ascensão Skywalker, incluindo cenas
ampliadas e conteúdo adicional não visto nos cinemas! A
Resistência renasceu. Mas, embora Rey e os seus parceiros heróis
estejam de volta à luta, a guerra contra a Primeira Ordem, agora
liderada pelo líder supremo Kylo Ren, está longe de terminar. Assim
como a faísca da rebelião está reacendendo, um sinal misterioso é
transmitido por toda a galáxia, com uma mensagem assustadora: o
Imperador Palpatine, há muito pensado derrotado e destruído, está
de volta dos mortos. O antigo Senhor dos Sith realmente voltou?
Kylo Ren corta uma faixa de destruição pelas estrelas, determinado
a descobrir qualquer desafio ao seu controle sobre a Primeira
Ordem e o seu destino para governar a galáxia – e esmagá-la
completamente. Enquanto isso, para descobrir a verdade, Rey, Finn,
Poe e a Resistência devem embarcar na aventura mais perigosa
que já enfrentaram. Apresentando cenas totalmente novas,
adaptadas de material nunca visto, cenas excluídas e informações
dos cineastas, a história que começou em Star Wars: O Despertar
da Força e continuou em Star Wars: Os Últimos Jedi chega a uma
conclusão surpreendente.

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Star Wars: Os Segredos Dos Jedi

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Descubra o mundo dos Jedi de Star Wars através desta experiência


de leitura divertida e totalmente interativa. Star Wars: Jediografia é o
melhor guia do universo Jedi para o universo dos Jedi,
transportando jovens leitores para uma galáxia muito distante,
através de recursos interativos, fatos fascinantes e ideias cativantes.
Com ilustrações originais emocionantes e incríveis recursos
especiais, como elevar as abas, texturas e muito mais, Star Wars:
Jediografia garante a emoção das legiões de jovens fãs da saga.

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Star Wars:Thrawn: Alianças

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Palavras sinistras em qualquer circunstância, mas ainda mais


quando proferidas pelo Imperador Palpatine. Em Batuu, nos limites
das Regiões Desconhecidas, uma ameaça ao Império está se
enraizando. Com a sua existência pouco mais que um vislumbre, as
suas consequências ainda desconhecidas. Mas é preocupante o
suficiente para o líder Imperial justificar a investigação do seus
agentes mais poderosos: o impiedoso agente Lorde Darth Vader e o
brilhante estrategista grão almirante Thrawn. Rivais ferozes a favor
do Imperador e adversários francos nos assuntos Imperiais,
incluindo o projeto Estrela da Morte, o par formidável parece
parceiros improváveis para uma missão tão crucial. Mas o
Imperador sabe que não é a primeira vez que Vader e Thrawn
juntam forças. E há mais por trás do seu comando real do que
qualquer um dos suspeitos. No que parece uma vida atrás, o
general Anakin Skywalker da República Galáctica e o comandante
Mitth’raw’nuruodo, oficial da Ascensão do Chiss, cruzaram o
caminho pela primeira vez. Um em uma busca pessoal
desesperada, o outro com motivos desconhecidos... e não
divulgados. Mas, diante de uma série de perigos em um mundo
longínquo, eles forjaram uma aliança desconfortável, — nem
remotamente cientes do que os seus futuros reservavam. Agora,
reunidos mais uma vez, eles se veem novamente ligados ao planeta
onde lutaram lado a lado. Lá eles serão duplamente desafiados, —
por uma prova de sua lealdade ao Império... e um inimigo que
ameaça até seu poder combinado.

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Star Wars: Legado da Força: Traição

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Esta é a era do legado de Luke Skywalker: o Mestre Jedi unificou a


Ordem em um grupo coeso de poderosos Cavaleiros Jedi. Mas
enquanto a nova era começa, os interesses planetários ameaçam
atrapalhar esse momento de relativa paz, e Luke é atormentado
com visões de uma escuridão que se aproxima. O mal está
ressurgindo “das melhores intenções” e parece que o legado dos
Skywalkers pode dar um ciclo completo.A honra e o dever colidirão
com a amizade e os laços de sangue, à medida que os Skywalker e
o clã Solo se encontrarem em lados opostos de um conflito
explosivo com repercussões potencialmente devastadoras para
ambas as famílias, para a ordem Jedi e para toda a galáxia. Quando
uma missão para descobrir uma fábrica ilegal de mísseis no planeta
Aduman termina em uma emboscada violenta, da qual a Cavaleira
Jedi Jacen Solo e o seu protegido e primo, Ben Skywalker, escapam
por pouco com as suas vidas; é a evidência mais alarmante ainda
que desencadeia uma discussão política. A agitação está
ameaçando inflamar-se em total Rebelião. Os governos de vários
mundos estão se irritando com os rígidos regulamentos da Aliança
Galáctica, e os esforços diplomáticos para garantir o cumprimento
estão falhando. Temendo o pior, a Aliança prepara uma
demonstração preventiva de poder militar, numa tentativa de trazer
os mundos renegados para a frente antes que uma revolta entre em
erupção. O alvo modelado para esse exercício: o planeta Corellia,
conhecido pela independência impetuosa e pelo espírito renegado
que fizeram do seu filho favorito, Han Solo, uma lenda. Algo como
um trapaceiro, Jacen é, no entanto, obrigado como Jedi a ficar com
seu tio, o Mestre Jedi Luke Skywalkers, ao lado da Aliança
Galáctica. Mas quando os Corellianos de guerra lançam um contra-
ataque, a demonstração de força da Aliança, e uma missão secreta
para desativar a crucial Estação Central de Corellia; dão lugar a
uma escaramuça armada. Quando a fumaça baixa, as linhas de
batalha são traçadas. Agora, o espectro da guerra em grande escala
aparece entre um grupo crescente de planetas desafiadores e a
Aliança Galáctica, que alguns temem estar se tornando um novo
Império. E, enquanto os dois lados lutam para encontrar uma
solução diplomática, atos misteriosos de traição e sabotagem
ameaçam condenar os esforços de paz a todo momento.
Determinado a erradicar os que estão por trás do caos, Jacen segue
uma trilha de pistas enigmáticas para um encontro sombrio com as
mais chocantes revelações... enquanto Luke se depara com algo
ainda mais preocupante: visões de sonho de uma figura sombria
cujo poder da Força e crueldade lembram a ele de Darth Vader, um
inimigo letal que ataca como um espírito sombrio em uma missão de
destruição. Um agente do mal que, se as visões de Luke
acontecerem, trará uma dor incalculável ao Mestre Jedi e a toda a
galáxia.

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Star Wars: Battlefront II: Esquadrão Inferno

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Após o humilhante roubo dos planos da Estrela da Morte e a


destruição da estação de batalha, o Império está na defensiva. Mas
não por muito. Em retaliação, os soldados Imperiais de elite do
Esquadrão Inferno foram chamados para a missão crucial de se
infiltrar e eliminar os guerrilheiros, a facção rebelde que já foi
liderada pelo famoso lutador pela liberdade da República, Saw
Gerrera. Após a morte do seu líder, os guerrilheiros continuaram seu
legado extremista, determinados a frustrar o Império, não importa o
custo. Agora o Esquadrão Inferno deve provar seu status como o
melhor dos melhores e derrubar os Partisans de dentro. Mas a
crescente ameaça de serem descobertos no meio do seu inimigo
transforma uma operação já perigosa em um teste ácido de fazer ou
morrer que eles não ousam falhar. Para proteger e preservar o
Império, até onde irá o Esquadrão Inferno. . . e quão longe deles?
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Star Wars: Catalisador: Um Romance de Rogue One

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A guerra está destruindo a galáxia. Durante anos, a República e os


Separatistas lutaram entre as estrelas, cada um construindo uma
tecnologia cada vez mais mortal na tentativa de vencer a guerra.
Como membro do projeto secreto da Estrela da Morte do Chanceler
Palpatine, Orson Krennic está determinado a desenvolver uma
super arma antes que os inimigos da República possam. E um velho
amigo de Krennic, o brilhante cientista Galen Erso, poderia ser a
chave para a tentativa de vencer a guerra. Como membro do projeto
secreto da Estrela da Morte do Chanceler Palpatine, Orson Krennic
está determinado a desenvolver uma super arma antes que os
inimigos da República possam. E um velho amigo de Krennic, o
brilhante cientista Galen Erso, poderia ser a chave. A pesquisa
focada na energia de Galen chamou a atenção de Krennic e do seus
inimigos, tornando o cientista um peão crucial no conflito galáctico.
Mas depois que Krennic resgata Galen, sua esposa, Lyra, e a sua
filha Jyn, de sequestradores separatistas, a família Erso está
profundamente em dívida com Krennic. Krennic então oferece a
Galen uma oportunidade extraordinária: continuar seus estudos
científicos com todos os recursos totalmente à sua disposição.
Enquanto Galen e Lyra acreditam que sua pesquisa energética será
usada puramente de maneiras altruístas, Krennic tem outros planos
que finalmente tornarão a Estrela da Morte uma realidade. Presos
no aperto cada vez maior do seus benfeitores, os Ersos precisam
desembaraçar a teia de decepção de Krennic para salvar a si
mesmos e à própria galáxia.

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Star Wars: Ascensão Rebelde

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Quando Jyn Erso tinha cinco anos, sua mãe foi assassinada e o seu
pai foi tirado dela para servir ao Império. Mas, apesar da perda do
seus pais, ela não está completamente sozinha, — Saw Gerrera, um
homem disposto a ir a todos os extremos necessários para resistir à
tirania Imperial, acolhe-a como sua e dá a ela não apenas um lar,
mas todas as habilidades e os recursos de que ela precisa para se
tornar uma rebelde.Jyn se dedica à causa e ao homem. Mas lutar ao
lado de Saw e o seu povo traz consigo o perigo e a questão de quão
longe Jyn está disposta a ir como um dos soldados de Saw. Quando
ela enfrenta uma traição impensável que destrói seu mundo, Jyn
terá que se recompor e descobrir no que ela realmente acredita... e
em quem ela pode realmente confiar.

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Star Wars: A Alta República: A Luz dos Jedi

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Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo


da Ameaça Fantasma... Os Jedi iluminaram o caminho para a
galáxia na Alta República. É uma era de ouro. Os intrépidos
batedores do hiperespaço expandem o alcance da República para
as estrelas mais distantes, mundos prosperam sob a liderança
benevolente do Senado e a paz reina, reforçada pela sabedoria e
força da renomada ordem de usuários da Força conhecidos como
Jedi. Com os Jedi no auge do seu poder, os cidadãos livres da
galáxia estão confiantes em sua habilidade de resistir a qualquer
tempestade. Mas mesmo a luz mais brilhante pode lançar uma
sombra, e algumas tempestades desafiam qualquer preparação.
Quando uma catástrofe chocante no hiperespaço despedaça uma
nave, a enxurrada de estilhaços que emergem do desastre ameaça
todo o sistema. Assim que o pedido de ajuda sai, os Jedi correm
para o local. O escopo do surgimento, no entanto, é o suficiente
para levar até os Jedi ao seu limite. Enquanto o céu se abre e a
destruição cai sobre a aliança pacífica que ajudaram a construir, os
Jedi devem confiar na Força para vê-los em um dia em que um
único erro pode custar bilhões de vidas. Mesmo enquanto os Jedi
lutam bravamente contra a calamidade, algo verdadeiramente
mortal cresce além dos limites da República. O desastre do
hiperespaço é muito mais sinistro do que os Jedi poderiam
suspeitar. Uma ameaça se esconde na escuridão, longe da era da
luz, e guarda um segredo.

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Star Wars: A Alta República: O Grande Resgate Jedi

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Conheça os nobres e sábios Jedi da Alta República!Quando um


desastre acontece no hiperespaço, colocando o povo de Hetzal
Prime em grave perigo, apenas os Jedi da Alta República podem
salvar o dia! Esse ebook é a forma mais incrível de introduzir as
crianças nessa nova Era da Alta República, pois reconta a história
do Ebook Luz dos Jedi de forma simples e didática para as crianças.
(FAIXA ETÁRIA: 5 a 8 anos)

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Star Wars: A Alta República: Na Escuridão

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Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo


da Ameaça Fantasma... Os Jedi iluminaram o caminho para a
galáxia na Alta República. Padawan Reath Silas está sendo enviado
da cosmopolita capital galáctica de Coruscant para a fronteira
subdesenvolvida, e ele não poderia estar menos feliz com isso. Ele
prefere ficar no Templo Jedi, estudando os arquivos. Mas quando a
nave em que ele está viajando é arrancada do hiperespaço em um
desastre que abrange toda a galáxia, Reath se encontra no centro
da ação. Os Jedi e os seus parceiros de viagem encontram refúgio
no que parece ser uma estação espacial abandonada. Mas então
coisas estranhas começaram a acontecer, levando os Jedi a
investigar a verdade por trás da estação misteriosa, uma verdade
que pode terminar em tragédia...

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Star Wars: A Alta República: Um Teste de Coragem

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Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo


da Ameaça Fantasma... Vernestra Rwoh é mais nova Cavaleira Jedi
com dezesseis anos, mas a sua primeira missão de verdade parece
muito com ser babá. Foi encarregada de supervisionar a aspirante a
inventora Avon Starros, de 12 anos, em um cruzador rumo à
inauguração de uma nova estação espacial maravilhosa chamada
Farol Estelar. Mas logo em sua jornada, bombas explodem a bordo
do cruzador. Enquanto o Jedi adulto tenta salvar a nave, Vernestra,
Avon, o droide J-6 de Avon, um Padawan Jedi e o filho de um
embaixador conseguem chegar a uma nave de fuga, mas as
comunicações acabam e os suprimentos são poucos. Eles decidem
pousar em uma lua próxima, que oferece abrigo, mas não muito
mais. E sem o conhecimento deles, o perigo se esconde na selva...

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Star Wars: A Alta República: Corrida para Torre
Crashpoint

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Outra história emocionante da série mais vendida do New York


Times! A Feira da República está chegando! Visitantes de toda a
galáxia estão viajando para o planeta Valo para um festival enorme
e inspirador que celebra a República. Enquanto os seus parceiros
Valons se preparam para a feira, o Padawan Jedi Ram Jomaram
está se escondendo em seu lugar favorito: uma garagem suja cheia
de peças mecânicas e ferramentas. Mas quando um alarme de
segurança dispara no topo de uma colina próxima, apelidado de
Pico Crashpoint, ele se aventura com o seu confiável droide V-18
para investigar. Lá, ele descobre que alguém derrubou a torre de
comunicações de Valo, um sinal assustador de que Valo e a Feira
da República estão em perigo. Com certeza, enquanto Ram corre
para avisar os Jedi, os temidos Nihil desencadeiam um ataque
surpresa! Cabe a Ram enfrentar o inimigo na Torre Crashpoint e
enviar um pedido de ajuda à República. Felizmente, ele está prestes
a receber ajuda de novos amigos inesperados... Não perca todas as
aventuras de Star Wars: A Alta República! (Material indicado para
crianças a partir de 8 – 12 anos)

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Star Wars: Velha República: Enganados

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“Nossa hora chegou. Durante trezentos anos nos preparamos;


ficamos mais fortes enquanto você descansava em seu berço de
poder... Agora sua República cairá.”Um guerreiro Sith para rivalizar
com o mais sinistro dos Lordes Sombrios da Ordem, Darth Malgus
derrubou o Templo Jedi em Coruscant em um ataque brutal que
chocou a galáxia. Mas se a guerra o coroasse como o mais sombrio
dos heróis Sith, a paz o transformará em algo muito mais hediondo,
algo que Malgus nunca gostaria de ser, mas não pode parar de se
tornar, assim como ele não pode impedir a Jedi desobediente de se
aproximar rapidamente. O nome dela é Aryn Leneer - e o único
Cavaleiro Jedi que Malgus matou na batalha feroz pelo Templo Jedi
era seu Mestre. Agora ela vai descobrir o que aconteceu com ele,
mesmo que isso signifique quebrar todas as regras da Ordem.

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Star Wars: Thrawn: Traição

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Essa foi a promessa que o Grão Almirante Thrawn fez ao Imperador


Palpatine em seu primeiro encontro. Desde então, Thrawn tem sido
um dos instrumentos mais eficazes do Império, perseguindo os seus
inimigos até os limites da galáxia conhecida. Mas por mais que
Thrawn tenha se tornado uma arma afiada, o Imperador sonha com
algo muito mais destrutivo. Agora, enquanto o programa TIE
Defender de Thrawn é interrompido em favor do projeto
ultrassecreto conhecido apenas como Estrelinha, do Diretor Krennic,
ele percebe que o equilíbrio de poder no Império é medido por mais
do que apenas perspicácia militar ou eficiência tática. Mesmo o
maior intelecto dificilmente pode competir com o poder de aniquilar
planetas inteiros. Enquanto Thrawn trabalha para garantir o seu
lugar na hierarquia Imperial, seu ex-protegido Eli Vanto retorna com
um terrível aviso sobre o mundo natal de Thrawn. O domínio da
estratégia de Thrawn deve guiá-lo através de uma escolha
impossível: dever para com a Ascendência Chiss ou a fidelidade
para com o Império que ele jurou servir. Mesmo que a escolha certa
signifique cometer traição.

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Star Wars: Mestre e Aprendiz

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Um Jedi deve ser um guerreiro destemido, um guardião da justiça e


um erudito nos caminhos da Força. Mas talvez o dever mais
essencial de um Jedi seja transmitir o que aprenderam. Mestre Yoda
treinou Dookan o qual treinou Qui-Gon Jinn; e agora Qui-Gon tem
um Padawan próprio. Mas enquanto Qui-Gon enfrentou todos os
tipos de ameaças e perigos como um Jedi, nada o assustou tanto
quanto a ideia de falhar com seu aprendiz. Obi-Wan Kenobi tem
profundo respeito por seu Mestre, mas luta para entendê-lo. Por que
Qui-Gon deve tantas vezes desconsiderar as leis que obrigam os
Jedi? Por que Qui-Gon é atraído por antigas profecias Jedi em vez
de preocupações mais práticas? E por que Obi-Wan não disse que
Qui-Gon está considerando um convite para se juntar ao Conselho
Jedi - sabendo que isso significaria o fim de sua parceria? A
resposta simples o assusta: Obi-Wan falhou com seu Mestre.
Quando Jedi Rael Aveross, outro ex-aluno de Dookan, solicita sua
ajuda em uma disputa política, Jinn e Kenobi viajam para a Corte
Real de Pijal para o que pode ser sua missão final juntos. O que
deveria ser uma tarefa simples rapidamente se torna obscurecido
por engano e por visões de desastre violento que tomam conta da
mente de Qui-Gon. Conforme a fé de Qui-Gon na profecia cresce, a
fé de Obi-Wan nele é testada - assim como surge uma ameaça que
exigirá que o Mestre e o Aprendiz se unam como nunca antes, ou se
dividam para sempre.

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Star Wars: Legado da Força: Linhagens de Sangue

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Uma nova era de aventuras emocionantes e revelações chocantes


continua a se desenrolar, à medida que a lendária saga Star Wars
avança em um novo território surpreendente. A guerra civil se
aproxima enquanto a incipiente Aliança Galáctica enfrenta um
número crescente de mundos rebeldes... e a guerra que se
aproxima está separando as famílias Skywalker e Solo. Han e Leia
retornam ao mundo natal de Han, Corellia, o coração da resistência.
Os seus filhos, Jacen e Jaina, são soldados na campanha da
Aliança Galáctica para esmagar os insurgentes. Jacen, agora um
Mestre completo da Força, tem os seus próprios planos para trazer
ordem à galáxia. Guiado por sua mentora Sith, Lumiya, e com o filho
de Luke, Ben, ao seu lado, Jacen embarca no mesmo caminho que
o seu avô Darth Vader fez uma vez. E enquanto Han e Leia
assistem o seu único filho homem se tornar um estranho, um
assassino secreto emaranha o casal com um nome temido do
passado de Han: Boba Fett. Na nova ordem galáctica, amigos e
inimigos não são mais o que parecem...

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Star Wars: A Sombra da Rainha

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Quando Padmé Naberrie, Rainha Amidala de Naboo, deixa sua


posição, ela é convidada pela rainha recém-eleita para se tornar a
representante de Naboo no Senado Galáctico. Padmé não tem
certeza sobre assumir a nova função, mas não pode recusar o
pedido para servir seu povo. Junto com suas servas mais leais,
Padmé deve descobrir como navegar nas águas traiçoeiras da
política e forjar uma nova identidade além da sombra da rainha.

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Star Wars: Amanhecer dos Jedi - No vazio

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No planeta Tython, a antiga ordem Je'daii foi fundada. E aos pés do


seus sábios Mestres, Lanoree Brock aprendeu os mistérios e
métodos da Força, e encontrou seu chamado como um do seus
discípulos mais poderosos. Mas tão fortemente quanto a Força fluiu
dentro de Lanoree e os seus pais, ela permaneceu ausente em seu
irmão, que passou a desprezar e evitar os Je'daii, e cujo
treinamento em seus métodos antigos terminou em tragédia. Agora,
de sua vida solitária como um Patrulheira mantendo a ordem em
toda a galáxia, Lanoree foi convocada pelo Conselho Je'daii em
uma questão de extrema urgência. O líder de um culto fanático,
obcecado em viajar além dos limites do espaço conhecido, está
empenhado em abrir um portal cósmico usando a temida matéria
escura como chave - arriscando uma reação cataclísmica que
consumirá todo o sistema estelar. Porém, mais chocante para
Lanoree do que até mesmo a perspectiva de aniquilação galáctica
total, é a decisão do seus Mestres Je'daii de incumbi-la da missão
de evitá-la. Até que uma revelação surpreendente deixa claro por
que ela foi escolhida: o louco brilhante e perigoso que ela deve
rastrear e parar a qualquer custo é o irmão cuja morte ela lamentou
por muito tempo, e cuja vida ela deve temer agora.

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Star Wars: Thrawn: ASCENDÊNCIA (Livro I – Caos
Crescente)

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Além do limite da galáxia estão as Regiões Desconhecidas:


caóticas, desconhecidas e quase intransitáveis, com segredos
ocultos e perigos em igual medida. E aninhada em seu caos
turbulento está a Ascendência, lar dos enigmáticos Chiss e das
Nove Famílias Regentes que as lideram. A paz da Ascensão, um
farol de calma e estabilidade, é destruída após um ousado ataque à
capital de Chiss que não deixa vestígios do inimigo. Perplexo, a
Ascendência despacha um do seus jovens oficiais militares para
erradicar os agressores invisíveis. Um recruta nascido sem título,
mas adotado na poderosa família de Mitth e que recebeu o nome de
Thrawn. Com o poder da Frota Expansionista em suas costas e a
ajuda de sua camarada Almirante Ar’alani, as respostas começam a
se encaixar. Mas conforme o primeiro comando de Thrawn investiga
mais profundamente a vasta extensão do espaço que o seu povo
chama de Caos, ele percebe que a missão que lhe foi dada não é o
que parece.

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Star Wars: A Alta República - Tormenta Crescente

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Os heróis da era da Alta República retornam para enfrentar uma paz


destruída e um inimigo terrível, após os eventos dramáticos de Luz
dos Jedi. Na esteira do desastre do hiperespaço e do heroísmo dos
Jedi, a República continua a crescer, reunindo mais mundos sob
uma única bandeira unificada. Sob a liderança da Chanceler Lina
Soh, o espírito de unidade se estende por toda a galáxia, com os
Jedi e a estação Farol Luz Estelar recentemente estabelecida na
vanguarda. Em comemoração, a chanceler planeja a Feira da
República, será uma vitrine das possibilidades e da paz da
República em expansão, uma paz que os Jedi esperam promover.
Stellan Gios, Bell Zettifar, Elzar Mann e outros se juntam ao evento
como embaixadores da harmonia. Mas à medida que os olhos da
galáxia se voltam para a feira, o mesmo ocorre com a fúria dos Nihil.
O seu líder, Marchion Ro, pretende destruir essa unidade. A sua
Tempestade desce sobre a pompa e a celebração, semeando o
caos e exigindo vingança.

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Star Wars: Velha República – Aniquilação

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O Império Sith está em fluxo. O Imperador está desaparecido, dado


como morto, e a tentativa de um ambicioso lorde Sith de tomar o
trono terminou fatalmente. Ainda assim, Darth Karrid, comandante
do temível cruzador de batalha Imperial Lança Ascendente, continua
seus esforços incansáveis para alcançar o domínio Sith total da
galáxia. Mas a determinação implacável de Karrid é mais do que
compatível com a determinação de aço de Theron Shan, cujos
negócios inacabados com o Império podem mudar o curso da
guerra para sempre. Embora filho de uma mestra Jedi, Theron não
exerce a Força... mas, como a sua renomada mãe, o espírito de
rebelião está em seu sangue. Como um importante agente secreto
da República, ele desferiu um golpe crucial contra o Império ao
expor e destruir um arsenal de super arma Sith, o que o torna o
agente ideal para uma missão ousada e perigosa para acabar com o
reinado de terror da Lança Ascendente. Juntamente com a
contrabandista Teff'ith, com quem ele tem uma ligação inexplicável,
e o sábio guerreiro Jedi Gnost-Dural, ex-Mestre de Darth Karrid,
Theron deve combinar inteligência e armas com uma tripulação
testada em batalha da escuridão mais fria discípulos secundários.
Mas o tempo é brutalmente curto. E se eles não aproveitarem sua
única chance de sucesso, certamente terão inúmeras oportunidades
de morrer.

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Star Wars – The Clone Wars – Histórias de Luz e
Escuridão

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Um confronto épico entre as forças da luz e das trevas, entre a


República Galáctica e os Separatistas, entre bravos heróis e vilões
brilhantes – o destino da galáxia está em jogo na série de animação
ganhadora do Emmy Award, Star Wars: The Clone Wars. Nesta
emocionante antologia, onze autores que também são fãs da série
trazem histórias do seu programa favorito para a vida. Reunidos
aqui estão momentos memoráveis e aventuras impressionantes, de
tentativas de assassinato a generosidades roubadas, de lições
aprendidas a amores perdidos. Todos os seus personagens
favoritos de The Clone Wars estão aqui: Anakin Skywalker, Yoda,
Obi-Wan Kenobi, Ahsoka Tano, Capitão Rex, Darth Maul, Conde
Dookan e muito mais!

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Star Wars – Tribo Perdida dos Sith: Coletânea de
Histórias

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Finalmente, em um volume único, as oito partes originais da épica


série de e-books Tribo perdida dos Sith... junto com o final explosivo
e nunca antes publicado, Pandemônio, com mais de cem páginas
de novo material! Cinco mil anos atrás. Após uma emboscada Jedi,
a nave mineira Sith Presságio está destruída em um planeta
desconhecido e remoto. O seu comandante, Yaru Korsin, luta contra
o derramamento de sangue de uma facção amotinada liderada por
seu próprio irmão. Encalhados e enfrentando a morte, a tripulação
Sith não tem escolha a não ser se aventurar em seus arredores
desolados. Eles enfrentam inúmeros desafios brutais, predadores
cruéis, pragas letais, tribos que adoram deuses vingativos... e, como
verdadeiros guerreiros Sith, enfrentam-nos com o lado sombrio da
Força. As lutas só estão começando para os orgulhosos e
intransigentes Sith, dirigidos como estão para governar a todo custo.
Eles vencerão os nativos primitivos e encontrarão o caminho de
volta ao seu verdadeiro destino como governantes da galáxia. Mas à
medida que o seu legado cresce ao longo de milhares de anos, os
Sith acabam sendo testados pela ameaça mais perigosa de todas: o
inimigo interno.

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Star Wars – Esquadrão Alfabeto

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O Imperador está morto. A Rebelião é vitoriosa. No rescaldo, Yrica


Quell é apenas um dos milhares de desertores Imperiais que vivem
em uma favela de desertores. Incerta sobre o seu lugar na
República contra a qual ela lutou uma vez, ela começou a perder
qualquer esperança de redenção, até que ela seja selecionada para
se juntar ao Esquadrão do Alfabeto. Formados por uma variedade
eclética de pilotos e caças, os cinco membros da Alfabeto são
encarregados pela própria general da Nova República, Hera
Syndulla. A missão deles: rastrear e destruir o misterioso Shadow
Wing, uma força letal de TIE fighters exigindo uma vingança
sangrenta e impiedosa no crepúsculo do seu reinado. Mas passar
de rebeldes menos favorecidos a heróis célebres não é tão fácil
quanto parece. Os rebeldes guerreiros do Esquadrão Alfabeto terão
que aprender a voar juntos para proteger a nova era de paz que
lutaram tanto para conquistar.

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Star Wars - Comandos da República - Contato Hostil

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Enquanto a Guerra dos Clones se enfurece, a vitória ou a derrota


estão nas mãos de esquadrões de elite que assumem as tarefas
mais difíceis na galáxia, soldados frios que vão aonde ninguém mais
iria, para fazer o que ninguém mais poderia... Em uma missão para
sabotar uma instalação de pesquisa de armas químicas em um
planeta controlado pelos Separatistas, quatro soldados clones
operam sob o nariz do seus inimigos. Os comandos estão em menor
número e com menos armas, bem atrás das linhas inimigas, sem
apoio, e trabalhando com estranhos em vez de parceiros de equipe
de confiança. As coisas não melhoram quando Darman, o
especialista em demolições do esquadrão, se separa dos outros
durante a queda do planeta. Mesmo a aparente boa sorte de
Darman em encontrar uma Padawan inexperiente desaparece
quando Etain admite a sua terrível inexperiência. Para os comandos
clones divididos e o Jedi preso, uma longa e perigosa jornada está à
frente, através de um território hostil repleto de escravos
Trandoshanos, Separatistas e nativos suspeitos. Um único passo
em falso pode significar descoberta... e morte. É uma missão suicida
virtual para qualquer um, exceto para os Comandos da República.

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Star Wars - Alta República - Confronto na Feira

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Muito antes das Guerras Clônicas, do Império ou da Primeira


Ordem, os Jedi iluminaram o caminho para a galáxia em uma era
dourada conhecida como Alta República! Este emocionante livro de
histórias colorido traz à vida um confronto épico entre os Cavaleiros
Jedi e os seus misteriosos inimigos, os Nihil. Burryaga, o Wookiee
Padawan e os seus parceiros Jedi devem salvar o dia! Esse ebook é
a forma mais incrível de introduzir as crianças nessa nova Era da
Alta República, pois reconta a história do Ebook Tormenta
Crescente do ponto de vista do Padawan Jedi Burryaga, que conta
de forma simples e didática para as crianças. (FAIXA ETÁRIA: 6 a 8
anos)

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Star Wars – A Alta República – Fora das Sombras

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Sylvestri Yarrow vive uma maré de azar sem fim. Ela tem feito o
possível para manter o negócio de carga da família em
funcionamento após a morte de sua mãe, mas entre o aumento das
dívidas e o aumento dos ataques dos Nihil a naves desavisados, Syl
corre o risco de perder tudo o que resta de sua mãe. Ela segue para
a capital galáctica de Coruscant em busca de ajuda, mas é desviada
quando é arrastada para uma disputa entre duas das famílias mais
poderosas da República por um pedaço do espaço na fronteira.
Emaranhada na política familiar é o último lugar que Syl quer estar,
mas a promessa de uma grande recompensa é o suficiente para
mantê-la interessada... Enquanto isso, o Cavaleiro Jedi Vernestra
Rwoh foi convocada para Coruscant, mas sem nenhuma ideia do
porquê ou por quem. Ela e o seu Padawan Imri Cantaros chegam à
capital junto com o Mestre Jedi Cohmac Vitus e o seu Padawan,
Reath Silas, e são convidados a ajudar na disputa de propriedade
na fronteira. Mas por que? O que há de tão importante em um
pedaço de espaço vazio? A resposta levará Vernestra a uma nova
compreensão de suas habilidades e levará Syl de volta ao
passado... e às verdades que finalmente surgirão das sombras.

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Star Wars - A Alta República - A Estrela Cadente

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Uma e outra vez, os invasores viciosos conhecidos como Nihil


tentaram trazer a era de ouro da Alta República a um fim ardente.
Repetidamente, a Alta República emergiu desgastada e cansada,
mas vitoriosa graças a seus protetores Jedi, e não há monumento à
sua causa maior do que o Farol Luz Estelar. Pendurado como uma
joia na Orla Exterior, o Farol encarna a Alta República no ápice de
suas aspirações: um centro de cultura e conhecimento, uma tocha
brilhante contra a escuridão do desconhecido e uma mão estendida
de boas-vindas aos confins do mundo. A galáxia. Enquanto
sobreviventes e refugiados fogem dos ataques do Nihil, o Farol e a
sua tripulação estão prontos para abrigar e curar. Os agradecidos
Cavaleiros e Padawans da Ordem Jedi estacionados lá finalmente
têm a chance de se recuperar, da dor do seus ferimentos e da dor
de suas perdas. Mas a tempestade que eles pensavam ter passado
ainda continua; eles são simplesmente capturados em seus olhos.
Marchion Ro, o verdadeiro mentor dos Nihil, está preparando o seu
ataque mais ousado até agora, um projetado para extinguir a luz dos
Jedi.

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Star Wars - Os Segredos dos Sith

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e você conhecesse o poder do lado sombrio! Descubra os caminhos


dos Sith neste livro infantil emocionante, informativo e totalmente
ilustrado. Junte-se ao Imperador Palpatine, também conhecido
como Darth Sidious, nesta exploração dos Sith e dos aliados
malignos do lado sombrio. Star Wars: Os Segredos dos Sith irá
emocionar os jovens fãs com conhecimento do lado sombrio, obras
de arte incríveis e recursos interativos, como pop-ups, livretos e
inserções de levantar a aba. Experimente o poder do lado sombrio :
Narrado pelo Imperador Palpatine, este livro dará aos jovens leitores
uma visão do poder do lado sombrio. Aprenda sobre alguns dos
maiores vilões do lado sombrio de Star Wars : abrangendo filmes,
programas de televisão, livros, quadrinhos e videogames, Star Wars:
Os Segredos dos Sith narra alguns dos praticantes mais infames do
lado sombrio, incluindo Darth Maul, Conde Dookan, Asajj Ventress,
Darth Vader, o Grande Inquisidor e Kylo Ren. Ilustrações originais
incríveis: Star Wars: Os Segredos dos Sith é um livro infantil
lindamente ilustrado que os leitores vão querer revisitar várias
vezes. Cheio de recursos interativos empolgantes: Pop-ups, folhetos
e inserções de levantar a aba vão emocionar os jovens fãs,
proporcionando uma experiência envolvente enquanto investiga as
histórias sobre os Sith. O complemento perfeito para qualquer
biblioteca virtual de Star Wars : Este lindo ebook encadernado é um
item obrigatório para a coleção de qualquer jovem fã.

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Star Wars - A Alta República – Missão para o
Desastre

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Os Jedi acham que os temidos saqueadores Nihil foram todos


derrotados. O seu líder está fugindo e os seus números diminuíram.
A Cavaleira Jedi Vernestra Rwoh espera que isso signifique que ela
finalmente terá tempo para realmente treinar o seu Padawan, Imri
Cantaros, mas os relatos de um ataque Nihil a Porto Haileap logo
frustram essas esperanças. Pois não só os Nihil que atacaram o
pacífico posto avançado, como também sequestraram a amiga de
Vernestra e de Imri, Avon Starros. Os dois Jedi partiram para Porto
Haileap, determinados a descobrir para onde os Nihil levaram a sua
amiga. Enquanto isso, Avon deve colocar a sua inteligência e
habilidades à prova enquanto luta pela sobrevivência entre os Nihil,
e descobre um plano sinistro. Vernestra e Imri podem encontrar a
sua amiga antes que o desastre aconteça?

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Star Wars - Alta República - Batalha Pelo Farol Luz
Estelar

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Muito antes das Guerras Clônicas, do Império ou da Primeira


Ordem, os Jedi iluminaram o caminho para a galáxia em uma era
dourada conhecida como Alta República! Este emocionante livro de
histórias colorido traz à vida uma outra emocionante aventura no
livro de histórias com heróis Jedi e os seus Padawans enquanto
lutam contra os nefastos vilões Nihil!!

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Star Wars - Alta República - Horizonte à Meia Noite

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Séculos antes dos eventos de Star Wars: A Ameaça Fantasma, na


era da gloriosa Alta República, os Jedi são os guardiões da paz e da
justiça na galáxia! Depois de uma série de perdas impressionantes,
a República parece finalmente ter os vilões saqueadores de Nihil em
fuga, e parece que há luz no fim do túnel. Até que venha a notícia
de um suposto ataque de Nihil ao mundo cosmopolita industrial de
Corellia, bem no Núcleo Galáctico. Enviados para investigar estão
os Mestres Jedi Cohmac Vitus e Kantam Sy, juntamente com os
Padawans Reath Silas e Ram Jomaram, todos travando as suas
próprias batalhas particulares após meses de perigo implacável. Em
Corellia, Reath e Ram encontram um descarado jovem especialista
em segurança chamado Crash, cujo amigo foi uma das vítimas do
ataque Nihil, e eles se unem a ela para se infiltrar na elite de Corellia
enquanto os Mestres buscam caminhos mais diplomáticos. Mas se
disfarçar com Crash é mais perigoso do que qualquer um esperava,
mesmo quando Ram puxa seu amigo Zeen para ajudar com um
estratagema elaborado envolvendo uma estrela pop galáctica. Mas
o que eles descobrem em Corellia acaba sendo apenas uma parte
de um plano maior, que pode levar os Jedi à sua derrota mais
impressionante até agora...

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Star Wars - A Alta República - Executora da
Tempestade

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Mergulhe no mundo cruel de um dos maiores inimigos da Alta


República, a impiedosa Lourna Dee, neste roteiro completo para o
áudio original de Star Wars: Executora da Tempestade. A
tempestade Nihil assolou a galáxia, deixando caos e tristeza em seu
rastro. Poucos do seus invasores são tão cruéis quanto a Executora
da Tempestade Lourna Dee. Ela fica um passo à frente da Ordem
Jedi no comando de uma nave com o nome de um dos monstros
mais mortais da galáxia: ela mesma. Mas ninguém pode fugir dos
defensores da Alta República para sempre. Após a derrota de sua
tripulação, Lourna cai nas mãos dos Jedi, mas não antes de
esconder a sua identidade, tornando-se apenas mais uma
condenada de Nihil. Os seus captores não entendem a fera que
encurralaram. Assim como todos os tolos que ela já enterrou, seu
primeiro erro foi mantê-la viva. Lourna está determinada a
subestimá-la pela última vez. Trancada em uma nave correcional da
República, ela é arrastada pela galáxia para reparar os danos que
ela e os seus parceiros Executores da Tempestade infligiram. Mas
enquanto Lourna planeja a sua gloriosa fuga, ela faz alianças que se
aproximam perigosamente das amizades. Fora dos Nihil, separada
da sua infame nave, seu terrível arsenal e o seu temido nome,
Lourna deve trilhar seu próprio caminho. Mas isso levará à
redenção? Ou ela emergirá como uma ameaça mais mortal do que
nunca?

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Star Wars – Legado da Força – Tormenta

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Enquanto a guerra civil ameaça a unidade da Aliança Galáctica, Han


e Leia Solo enfureceram suas famílias e os Jedi ao se juntarem aos
insurgentes Corellianos. Mas os Solos traçam a linha quando
descobrem o plano dos rebeldes para fazer do Consórcio Hapan um
aliado – que depende dos nobres Hapan assassinarem sua rainha
pró-Aliança e a sua filha. No entanto, a determinação altruísta dos
Solos de salvar a rainha não pode dissipar as consequências
inevitáveis de suas ações que colocarão mãe contra filho e irmão
contra irmã nas batalhas à frente. À medida que os poderes
sombrios de Jacen Solo se fortalecem sob o Jedi Negro Lumiya, e a
sua influência sobre Ben Skywalker se torna mais insidiosa, a
preocupação de Luke com seu sobrinho o força a uma luta de vida
ou morte contra seu inimigo mais feroz, e Han e Leia Solo
descobrem ficam à mercê do seu inimigo mais mortal... O filho
deles.

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Star Wars: Irmandade

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As Guerras Clônicas começaram. As fileiras de batalha estão sendo


desenhadas por toda a galáxia. Com cada mundo que se junta aos
Separatistas, a paz guardada pela Ordem Jedi está escorregando
por entre os dedos. Depois que uma explosão devasta Cato
Neimoidia, a joia da Federação do Comércio, a República é culpada
e a frágil neutralidade do planeta é ameaçada. Os Jedi despacham
Obi-Wan Kenobi, uma das mentes diplomáticas mais talentosas da
Ordem, para investigar o crime e manter o equilíbrio que começou a
mudar perigosamente. Enquanto Obi-Wan investiga com a ajuda de
uma heroica guarda Neimoidianoa, ele se vê trabalhando contra os
Separatistas que esperam atrair o planeta para a sua conspiração, e
sente a mão sinistra de Asajj Ventress nas brumas que cobrem o
planeta. Em meio ao caos crescente, Anakin Skywalker sobe ao
posto de Cavaleiro Jedi. Apesar da ordem de que Obi-Wan viaje
sozinho, e da insistência do seu ex-Mestre para que ele ouça desta
vez, A determinação obstinada de Anakin significa que nada pode
impedi-lo de invadir a festa e trazer um jovem promissor, mas
conflitante. Antes um Padawan de Obi-Wan, Anakin agora se
encontra em pé de igualdade, mas incerto, com o homem que o
criou. O atrito persistente entre eles aumenta o perigo para todos ao
seu redor. Os dois cavaleiros devem aprender uma nova maneira de
trabalhar juntos, e devem aprender rapidamente, para salvar Cato
Neimoidia e o seu povo dos incêndios da guerra. Para superar a
ameaça que enfrentam, eles devem crescer além de Mestre e
aprendiz. Eles devem permanecer juntos como irmãos.

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Skywalker – Uma Família em Guerra

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Descubra os segredos dos Skywalkers: a família que moldou uma


galáxia muito, muito distante... A história de Skywalker tem tudo:
paixão, intriga, heroísmo e feitos sombrios. Esta biografia reveladora
explora cada reviravolta da dinastia Skywalker: a lenta sedução ao
lado sombrio de Anakin; seu casamento condenado com Padmé
Amidala; o heroísmo de Luke e Leia; a queda e redenção do filho de
Han Solo e da princesa Leia, Ben; e as lutas de sua díade na Força,
Rey. Sem deixar pedra sobre pedra ao traçar as provações e
tribulações da dinastia, esta biografia definitiva da primeira família
de Star Wars explora e explica a história mais profunda e pessoal
dos Skywalkers, seus personagens, motivações e, contra
probabilidades aparentemente impossíveis, seu triunfo final.

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Star Wars – Comandos da República – Triplo Zero

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Após a erupção das sangrentas Guerras Clônicas na batalha de


Geonosis, ambos os lados permanecem em um impasse que só
pode ser quebrado por equipes de guerreiros de elite como o
Esquadrão Ômega, comandos clone com habilidades de combate
aterrorizantes e um arsenal letal... Para o Esquadrão Ômega ,
implantado bem atrás das linhas inimigas, é a mesma velha rotina
de operações especiais: sabotagem, espionagem, emboscada e
assassinato. Mas quando o Esquadrão Ômega é levado às pressas
para Coruscant, o novo ponto de acesso mais perigoso da guerra,
os comandos descobrem que não são os únicos a penetrar no
coração do inimigo. Uma onda de ataques separatistas foi rastreada
até uma rede de células terroristas de Separatistas na capital da
República, planejada por um espião no Quartel General do
Comando. Identificar e destruir uma rede de espionagem e terror
separatista em uma cidade cheia de civis exigirá talentos e
habilidades especiais. Nem mesmo a liderança dos generais Jedi,
juntamente com a assistência do esquadrão Delta e um certo notório
CRA trooper, pode igualar as chances contra os Comandos da
República. E enquanto o sucesso pode não trazer vitória nas
Guerras Clônicas, o fracasso significa derrota certa.

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Star Wars – De um Certo Ponto de Vista – Uma Nova
Esperança

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Em 25 de maio de 1977, o mundo foi apresentado a Han Solo, Luke


Skywalker, Princesa Leia, C-3PO, R2-D2, Chewbacca, Obi-Wan Kenobi,
Darth Vader e uma galáxia cheia de possibilidades. Em homenagem ao
quadragésimo aniversário , mais de quarenta colaboradores emprestam sua
visão a esta releitura de Star Wars . Cada um dos quarenta contos reimagina
um momento do filme original, mas através dos olhos de um personagem
coadjuvante. De um Certo Ponto de Vista apresenta contribuições de
autores mais vendidos, artistas inovadores e vozes preciosas da história
literária de Star Wars.
"'<!-1,...udo eu ollio para você, não vejo lealdade ... Sinto apenas lealdades
emtar.U1111adas ... Dê wna escollia, eu nunca confliar:íla em você."

Eles vieram d� toda a galáxia, agentes da República e do lmpé- __ ;f.'. :'·,.


rio Sith, um Padawan Jedi investigador, um ex-soldado retira- ,: · . , · ·
do da elite Esquadrão Blackstar da República e um misterioso
Mandaloriano. Um leilão extraordinário os juntou, em busca
de um prêmio que apenas um pode,._reivindicar. Cada um está
. ..
�;,":.c/1' :::• ·::.,a�;:,:,·-·\

preparado para fazer o que for necessário para posÍuir o tesou-


ro, cujo valor pode ser a riqueza do próprio mundo. Nenhum
pretende partir de mãos vazias. Tod9J têm segredos, desejos e
esquemas. E nada poderiá 7amais �;{Íd� co;;;,aliados, exceto
a verdade sobre o perigo mortaldcf�b/et.eles ambicio­
nam. Mas será que Sith e Jedi! ���ública e Im\ério, inimigos
::.
por milênios, podem se unir �2,ntra a dest;}Jtção certa da galá-
. �-j'Y. ·, . -
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FICÇÃO CIENTÍFICA __

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ISBN 978•0-3&5-51133-1
Desenho Capa: TdW so7�9
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