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SUMÁRIO

Capa
Página Título

Dramatis Personae
Nota do Editores
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Créditos
Dramatis Personae

Han Solo, contrabandista (humano)


Chewbacca, contrabandista (Wookiee do gênero masculino)
Lando Calrissian, apostador (humano)
Bink Kitik, ladra fantasma (humana)
Tavia Kitik, especialista em eletrônica, assistente de ladra fantasma
(humana)
Dozer Creed, ladrão de naves (humano)
Zerba batedor de carteiras, especialista em prestidigitação Cber’dak,
(Balosariano)
Winter, registradora de carne e osso (humana)
Rachele Ree, aquisições, informações (humana)
Eanjer Kunarazti, vítima de roubo, financiamento (humano)
Avrak Villachor, chefe de setor do Sol Negro (humano)
R2-D2: droide astromecânico
Qazadi, vigo do Sol Negro (Falleen do gênero masculino)
Dayja, agente da Inteligência Imperial (humano)
Nota dos editores
O universo de STAR WARS é infinitamente rico e criativo. Desde 1977,
inúmeros planetas, raças alienígenas e personagens vêm despertando a
imaginação de fãs do mundo inteiro. A ideia de expandir um universo
ficcional, embora não seja nova, ganha novas proporções com STAR
WARS. O livro STAR WARS: from the adventures of Luke Skywalker,
novelização do Episódio IV da saga, foi lançado em 1976, antes mesmo da
estreia do filme no cinema. E, antes do final da trilogia clássica, já existiam
diversos quadrinhos e romances, que muitas vezes davam sinais dos
caminhos a ser seguidos depois nas telas, ou mesmo, como no caso do livro
Splinter of the mind’s eye, de Alan Dean Foster, diferiam completamente da
trajetória seguida nas continuações. Esse era apenas um prelúdio da força
que o Universo Expandido de STAR WARS acumularia nas décadas
seguintes.

Embora outras rarefeitas obras tenham sido lançadas no início dos anos
1980, dois marcos importantes deram impulso à saga, projetando-a ao atual
ousado projeto transmídia: em 1987, veio o lançamento do RPG STAR
WARS: The Roleplaying Game; em 1991, a publicação de STAR WARS:
Herdeiro do Império, de Timothy Zahn. Enquanto a importância do RPG foi
estabelecer novos cenários e trazer detalhes do universo de STAR WARS, o
livro de Zahn fez história ao ser o primeiro com autorização oficial da
Lucasfilm para abordar os acontecimentos posteriores ao Episódio VI. Os
personagens e as histórias do livro foram aproveitados por toda uma nova
geração de autores, que escreveram centenas de obras a fim de
complementar cada vez mais esse universo e saciar a sede dos fãs,
especialmente durante o intervalo de quinze anos entre os lançamentos das
duas trilogias no cinema, e também depois.

Em 2014, a Lucasfilm lançou o novo conceito de STAR WARS, aplicável a


filmes, HQs, livros, videogames e séries televisivas relacionados à franquia,
formando um só cânone. Juntos, todos esses registros contam uma única
história no universo de STAR WARS, complementando e continuando os
filmes lançados no cinema entre 1977 e 2005, além de servirem como
preparação para os tão esperados novos filmes, a começar com STAR
WARS: O despertar da Força em 2015. Todas as obras publicadas antes de
2014 passam a ser classificadas como Legends: histórias que não serviram
como base para o cânone estabelecido pela Lucasfilm para STAR WARS,
mas cuja importância e cuja qualidade continuam sendo apreciadas.

Participando dessa nova e empolgante fase de STAR WARS, a Editora


Aleph pretende lançar todos os romances adultos do novo cânone, bem
como uma seleção dos títulos Legends mais relevantes. Convidamos os
leitores a embarcar conosco nessa jornada rumo a uma galáxia muito, muito
distante.

E trata-se de uma viagem que não tem ponto de partida nem direção
definidos. Não importa por qual obra você decida começar, seja por uma
das novas ou uma das Legends. Temos a certeza de que viverá uma grande
aventura.

Que a Força esteja com você.

EDITORA ALEPH
CAPÍTULO

Os traços de luz viraram estrelas, e o Star Destroier imperial Dominador


chegou. Parado no passadiço de comando, com as mãos rigidamente
entrelaçadas às costas, o capitão Worhven olhava intensamente para o
planeta brumoso que flutuava na escuridão diretamente em frente e se
perguntava que raios ele e sua nave faziam ali.
Porque aqueles não eram bons tempos. A súbita dissolução do Senado
Imperial por parte do imperador disparara ondas perigosas de incerteza pela
galáxia, que serviram aos propósitos de grupos radicais, como a suposta
Aliança Rebelde. Ao mesmo tempo, organizações criminosas como o Sol
Negro e os sindicatos dos Hutts desafiavam a lei abertamente, comprando e
vendendo especiaria, mercadorias roubadas e autoridades locais e regionais
da mesma forma.
Pior ainda, o novo brinquedo de Palpatine, a arma que deveria Iinalmente
convencer tanto os msurgentes quanto quem descumpria as leis de que o
Império estava falando seríssimo sobre acabar com eles, fora
inexplicavelmente destruído em Yavin.
Worhven ainda não tinha ouvido uma explicação oficial para aquele
incidente.
Tempos malignos, realmente. E tempos malignos exigiam uma resposta
forte e sólida. No momento em que a notícia chegou de Yavin, o Centro
Imperial deveria ter ordenado um desdobramento completo da frota,
concentrando seus esforços nos sistemas mais importantes, mais
insubordinados e instáveis. Era a resposta clássica à crise, e segundo as
regras e a lógica, o Dominador deveria ter estado na vanguarda de qualquer
desdobramento do tipo.
Em vez disso, Worhven e sua nave haviam sido obrigados a servir como
burros de carga.
— Ah... capitão, — trovejou uma voz alegre atrás dele.
Worhven respirou fundo para se acalmar.
— Lorde D'Ashewl, — respondeu ele, fazendo questão de manter as
costas voltadas para o outro enquanto se forçava a fazer uma expressão
mais politicamente adequada à ocasião.
Foi bom Worhven ter começado a mudar o rosto naquele momento.
Praticamente cinco segundos depois, D'Ashewl se encontrava parado ao
lado dele, em vez de a dois passos, como o capitão exigia até mesmo dos
oficiais mais graduados, até que gesticulasse para que avançassem.
Mas aquilo estava longe de ser uma surpresa. O que um integrante gordo,
estúpido e acidentalmente rico da corte superior do Centro Imperial saberia
a respeito do protocolo de uma nave?
Uma pergunta retórica. A resposta, obviamente, era nada.
Mas se D'Ashewl não tinha o mínimo de educação, Worhven tinha. E
trataria o convidado com o devido respeito. Mesmo que isso o matasse.
— Meu senhor — disse ele educadamente, ao se voltar para encará-lo. —
Espero que tenha dormido bem.
— Dormi sim, — respondeu D’Ashewl, com os olhos no planeta adiante.
— Então aquilo lá é Wukkar, não é?
— Sim, meu senhor, — falou Worhven, resistindo à vontade de perguntar
em voz alta se D’Ashewl imaginava que o Dominador poderia ter se
desviado da rota de alguma forma, durante a noite na nave. — Conforme
suas ordens.
— Sim, sim, é claro, — disse D’Ashewl, dobrando um pouco o pescoço.
— Só é muito difícil de dizer a esta distância. É desagradável como a
maioria dos mundos lá fora são parecidos.
— Sim, meu senhor — repetiu Worhven, novamente contendo as
palavras que queriam tanto sair. Aquele era o tipo de comentário feito
apenas por pessoas inexperientes ou completamente idiotas. E D'Ashewl era
um ou outro.
— Mas se o senhor diz que é Wukkar, então eu acredito, — continuou
D'Ashewl. — O senhor compilou a lista de iates vindouros que pedi?
Worhven conteve um suspiro. Não apenas servia de burro de carga, como
de aia também.
— O oficial de comunicações está com ela, — respondeu o capitão
enquanto gesticulava com a cabeça para o fosso de estibordo da tripulação.
Pelo rabo de olho, Worhven agora via que ele e D'Ashewl não estavam
sozinhos: o jovem criado de D'Ashewl, Dayja, acompanhara o superior e
estava parado a uma respeitosa meia dúzia de passos no passadiço.
Pelo menos um dos dois sabia alguma coisa sobre o protocolo correto.
— Excelente, excelente — disse D'Ashewl, esfregando as mãos. — Corre
uma aposta, capitão, sobre qual de nossos grupos chegará primeiro e qual
chegará por último. Graças ao senhor e à sua magnífica nave, estou prestes
a ganhar um dinheirão.
Worhven sentiu o lábio se contorcer. Uma aposta ridícula e sem sentido,
para fazer par com a missão ridícula e sem sentido do Dominador. Era bom
saber que, em um universo à beira da loucura, ainda era possível encontrar
uma simetria irónica.
— Mande seu oficial repassar os dados para meu flutuador, — continuou
D'Ashewl. — Meu criado e eu sairemos assim que o Dominador entrar em
órbita. — Ele inclinou a cabeça. — Suas ordens foram para permanecer na
região caso eu precisasse de mais transporte, não foram?
O capitão permitiu que as mãos, ao lado do corpo e longe da vista de
D'Ashewl, se cerrassem em punhos frustrados.
— Sim, meu senhor.
— Ótimo — respondeu D'Ashewl alegremente. — Lorde Toorfi é
conhecido por mudar de ideia subitamente a respeito de onde os jogos
devem continuar, e caso ele mude, eu preciso estar pronto para novamente
chegar antes dele ao novo destino. O senhor nem sempre estará a mais do
que três horas de distância, correto?
— Sim, meu senhor, — falou Worhven. Gordo, estúpido e trapaceiro
ainda por cima. Certamente, todos os outros envolvidos naquele vago
torneio de jogatina de alto risco chegaram a Wukkar nas próprias naves.
Apenas D'Ashewl tivera o supremo desplante de convencer alguém no
Centro Imperial a lhe emprestar um Star Destroier imperial para a ocasião.
— Mas, por agora, tudo que preciso é que seus homens se preparem para
lançar meu flutuador, — continuou D'Ashewl. -
Depois disso, o senhor pode tirar o resto do dia de folga. Talvez o resto
do mês também. Nunca se sabe o quanto vão durar os créditos e o vigor dos
velhos, não é?
Sem esperar por uma resposta, — e ainda bem, porque Worhven não
tinha nenhuma que estivesse disposto a dar —, o homem roliço deu meia-
volta e percorreu o passadiço bamboleando, na direção da ponte de popa.
Dayja esperou que ele passasse, depois acompanhou D'Ashewl à distância
determinada de três passos.
Worhven observou até que a dupla tivesse passado pela arcada e entrado
no turboelevador da ponte de popa, só para garantir que eles realmente
haviam saído. Então, após descerrar os dentes, o capitão se voltou para o
oficial de comunicações.
— Avise o comando do hangar, — ordenou ele. — Nosso passageiro está
pronto para partir.
Worhven lançou um último olhar feio para a ponte de popa. Tirar o dia de
folga, é? Um pouco mais da condescendência idiota daquele tipo vindo da
classe dominante do Império, e Worhven estaria muito tentado a se unir à
Rebelião.
— E diga para que andem rápido — acrescentou ele. — Eu não quero
lorde D'Ashewl ou sua nave a bordo um único milissegundo a mais do que
o necessário.

— Eu provavelmente deveria mandar açoitar você, — comentou


D'Ashewl inconscientemente.
Dayja virou meio corpo no assento de comando do flutuador a fim de
olhar para trás.
— Perdão? — perguntou ele.
— Eu disse que provavelmente deveria mandar açoitar você, — repetiu
D'Ashewl, olhando para o datapad enquanto relaxava confortavelmente no
sofá suntuoso na área de estar logo atrás da cabine.
— Algum motivo especial?
— Não, realmente — respondeu D'Ashewl. — Mas está se tornando uma
moda entre o alto escalão da corte hoje em dia, e eu odiaria ficar de fora das
tendências realmente importantes.
— Ah — disse Dayja. — Eu suponho que esses rituais não sejam feitos
em público.
— Ah, não, as sessões são bastante privadas e sigilosas, — garantiu
D'Ashewl. — Mas é uma boa questão. A não ser que nós por acaso
encontremos outras pessoas da mesma elevada estatura que a minha,
realmente não haveria propósito algum. — Ele pensou na possibilidade. —
Pelo menos não até nós voltarmos ao Centro Imperial. Talvez seja melhor
tentar na ocasião.
— Falando apenas por mim, eu ficaria contente em protelar o açoite, —
falou Dayja. — Ele realmente parece muito sem sentido.
— É porque você tem uma atitude de classe baixa, — ralhou D’Ashewl.
— O açoite é uma espécie de ostentação. Uma demonstração de que a
pessoa tem tamanha abundância de criados e escravos que ela pode se dar
ao luxo de deixar um deles inativo por alguns dias, por um mero capricho.
— Ainda parece sem sentido, — disse Dayja. — Arrancar a pele do
corpo de alguém dá muito trabalho. Eu prefiro ter um bom motivo para
passar por tamanho esforço. — Ele apontou o datapad com a cabeça. —
Deu sorte?
— Infelizmente, os cubos de risco não estão caindo a nosso favor – falou
D’Ashewl ao jogar o instrumento ao lado dele, no sofá. — O aviso chegou
um pouco tarde demais. Ao que parece, Qazadi já está aqui.
— Tem certeza?
— Havia apenas oito possibilidades, e as oito pousaram e seus
passageiros se dispersaram.
Dayja voltou a olhar para frente, viu o planeta correr na direção deles e
tentou calcular distâncias e tempos. Se o iate que levava o alvo deles tivesse
acabado de pousar, talvez ainda houvesse uma chance de interceptá-lo antes
de ele se esconder.
— E a mais recente foi há mais de três horas, — acrescentou D’Ashewl.
— Então é melhor você relaxar o manete e aproveitar a viagem.
Dayja conteve um lampejo de irritação.
— Então, em outras palavras, nós tiramos o Dominador de serviço para
nada.
— Não totalmente, — disse D’Ashewl. — O capitão Worhven teve a
oportunidade de trabalhar seu nível de paciência.
Apesar da frustração, Dayja teve que sorrir.
— Você interpreta mesmo o papel do sujeito pomposo muito bem.
— Obrigado, — falou D’Ashewl. — Fico contente que meus talentos
ainda tenham alguma serventia para o departamento. E não fique chateado
demais por termos perdido Qazadi. Teria sido bem dramático arrancá-lo dos
céus como esperávamos. Mas um triunfo desse tipo teria provocado certos
custos. Antes de mais nada, teríamos que nos abrir com o capitão Worhven,
o que custaria a você uma identidade secreta muito boa.
— E possivelmente a sua?
— Muito provavelmente, — concordou D’Ashewl. — E embora o diretor
tenha muitas identidades de pilantras e criados para distribuir, ele não é
capaz de introduzir tanta gente assim na corte imperial sem que outros
integrantes percebam. Eles podem ser arrogantes e pomposos, mas não são
estúpidos. Levando tudo isso em conta, provavelmente é melhor que as
coisas tenham acontecido dessa forma.
— Talvez, — disse Dayja, não totalmente disposto a entregar os pontos.
— Ainda assim, vai ser mais difícil tirá-lo da mansão de Villachor do que
teria sido se tivéssemos capturado Qazadi ao longo do caminho.
— Mesmo assim, será mais fácil do que arrancá-lo de um dos complexos
do Sol Negro no Centro Imperial — contra-argumentou D’Ashewl. — Isso
presumindo que conseguiríamos encontrá-lo naquele buraco de rato, em
primeiro lugar. — Ele gesticulou para a vigia. — E não pense que teria sido
tão fácil assim arrancá-lo do espaço. Imagine a Virago de Xizor, só que em
uma escala cinquenta ou cem vezes maior, e você terá uma ideia do tipo de
osso duro que teríamos que roer.
— Todos os ossos podem ser roídos — falou Dayja dando de ombros. —
Basta dar o tipo de mordida certa.
— Desde que os dentes em si não se quebrem no processo — disse
D'Ashewl, com um tom de voz subitamente sombrio. — Você nunca se
envolveu com o Sol Negro neste nível, Dayja. Eu, sim. Qazadi é um dos
piores, com toda a engenhosidade e manipulação de Xizor.
— Mas sem o charme do príncipe?
— Brinque, se quiser — resmungou D’Ashewl. — Mas tome cuidado. Se
não por si mesmo, por mim. Eu tenho fantasmas de agentes perdidos
demais circulando na minha memória, do jeito que as coisas estão.
— Compreendo, — disse Dayja baixinho. — Tomarei cuidado.
— Ótimo. — D’Ashewl bufou, um cacoete que Dayja imaginou que ele
tivesse adquirido de outros integrantes da elite do Centro Imperial. — Tudo
bem. Ainda não sabemos o motivo de Qazadi estar aqui: se está em missão,
agindo discretamente, ou se caiu em desgraça com Xizor e o resto do
escalão superior. Se for a terceira opção, estamos com azar.
— Bem como Qazadi, — murmurou Dayja.
— Realmente, — concordou D’Ashewl. — Mas se for uma das duas
primeiras... — Ele balançou a cabeça. — Aqueles arquivos podem tirar o
Centro Imperial de órbita.
O que era motivo suficiente por si só para eles agirem com muito
cuidado, como Dayja sabia.
— Mas temos certeza de que ele ficará na mansão de Villachor?
— Eu não vejo Qazadi vindo a Wukkar e ficando em qualquer lugar que
não seja a mansão do chefe de setor, — respondeu D’Ashewl. — Mas pode
haver outras possibilidades, e não fará mal que você sonde um pouco por aí.
Eu baixei tudo que temos sobre Villachor, seu povo e a Mansão
Marblewood. Infelizmente, não há muita coisa.
— Acho que terei que entrar e ver o lugar por mim mesmo, — disse
Dayja. — O próximo Festival das Quatro Honrarias deve ser a melhor
aposta.
— Se Villachor seguir sua rotina habitual de promover uma das
comemorações da Cidade de Iltarr em Marblewood, — alertou D’Ashewl.
— É possível que, com a visita de Qazadi, ele passe este papel para outra
pessoa.
— Acho que não, — disse Dayja. — Agentes de alto nível do Sol Negro
gostam de usar comemorações sociais para mascarar reuniões com contatos
fora do planeta e armar futuras oportunidades. Na verdade, dado o momento
da visita de Qazadi, é possível que ele esteja aqui para observar ou dar
assistência quanto a algum problema especialmente complicado.
— Você fez seu dever de casa, — falou D’Ashewl. — Excelente. Tenha
em mente, porém, que o afluxo de gente também significa que a segurança
de Marblewood estará em alerta elevado.
— Não se preocupe, — disse Dayja calmamente. — E possível entrar em
qualquer porta caso se saiba a maneira certa de bater. Eu simplesmente
continuarei batendo até encontrar o ritmo.

De acordo com as maiores e mais influentes revistas de moda de Wukkar,


que adoravam fazer longas reportagens sobre Avrak Villachor sempre que
ele as pagasse para isso, a famosa Mansão Marblewood de Villachor era
uma das verdadeiras vitrines da galáxia. Essencialmente, era um casarão de
campo no meio da Cidade de Iltarr: uma extensão murada de terreno
ajardinado que cercava a antiga mansão de um governador construída no
clássico estilo da suprema imperatriz Teta.
Os comentaristas mais emocionados gostavam de lembrar os leitores dos
muitos prémios e feitos filantrópicos e comerciais de Villachor, e previam
que haveria mais honrarias do gênero no futuro. Outros comentaristas, os
que não eram pagos, contra- argumentavam com insinuações mais sombrias
que o feito mais provável de Villachor seria sofrer uma morte prematura e
violenta.
Ambas as previsões provavelmente estavam corretas; o pensamento
passou pela mente de Villachor enquanto ele estava parado na entrada
principal da mansão e via a fila de cinco landspeeders de aparência comum
passar flutuando pelo portão e entrar no pátio. Na verdade, era bem possível
que ele estivesse prestes a encarar um ou outro daqueles eventos
exatamente agora.
A única questão era qual deles.
A etiqueta em Wukkar mandava que um anfitrião esperasse ao lado da
porta de um landspeeder quando um convidado importante saísse. Nesse
caso, porém, isso seria impossível. Os cinco landspeeders tinham janelas
escuras, e não havia como saber em qual o misterioso visitante estava
vindo. Se Villachor adivinhasse errado, não apenas ele violaria os costumes
estabelecidos, como também pareceria um tolo.
E assim ele esperou no último degrau até que os landspeeders
executassem uma parada em uníssono bem ensaiada. As portas de todos,
menos as do segundo veículo, se abriram e começaram a evacuar
passageiros, a maioria formada por humanos de expressão carrancuda que
teriam se encaixado perfeitamente no próprio grupo de guardas e agentes de
Villachor. Eles se espalharam em um círculo improvisado e de aparência
casual em volta dos veículos, e um dos sujeitos murmurou algo no pequeno
comunicador preso no colarinho. As portas do último landspeeder se
abriram...
Villachor sentiu um aperto na garganta ao primeiro vislumbre de escamas
verde-acinzentadas acima de uma túnica de contas coloridas. Aquilo não era
um humano. Aquilo era um Falleen.
E não apenas um, mas um landspeeder inteiro cheio deles. No momento
em que Villachor foi em frente, dois Falleens saíram de cada lado do
veículo, com as mãos nas armas de raios que estavam nos coldres, e seus
olhos foram para Villachor e depois para a mansão que se agigantava atrás
dele. Guarda-costas especiais, que só poderiam ser para um convidado
igualmente especial. Villachor apertou o passo, tentando correr sem parecer
que corria, com o coração disparado em uma expectativa desagradável. Se
fosse o príncipe Xizor naquele landspeeder, aquele dia provavelmente
acabaria muito mal. Visitas não anunciadas do chefe do Sol Negro quase
sempre acabavam assim.
Realmente foi outro Falleen que saiu para a luz do sol no momento em
que Villachor chegou ao local devido, ao lado do veículo. Mas, para seu
alívio contido, não era Xizor. Era simplesmente Qazadi, um dos nove vigos
do Sol Negro.
Foi apenas quando Villachor se ajoelhou e abaixou a cabeça em
reverência ao convidado que lhe bateu o significado daquele pensamento,
com atraso. Apenas um dos nove seres mais poderosos no Sol Negro?
Só porque o Falleen parado diante dele não era Xizor, não significava que
o dia ainda não pudesse acabar em morte.
— Eu o saúdo, Vossa Excelência, — disse Villachor, abaixando ainda
mais a cabeça. Se ele estivesse em apuros, uma demonstração a mais de
humildade provavelmente não o salvaria, mas pelo menos poderia garantir
uma morte menos dolorosa. — Eu sou Avrak Villachor, chefe das operações
deste setor e seu humilde criado.
— Eu o saúdo de volta, chefe de setor Villachor, — respondeu Qazadi. A
voz era suave e melodiosa, muito parecida com a de Xizor, mas com uma
pontada mais sinistra de ameaça por baixo. — Você pode se levantar.
— Obrigado, Vossa Excelência, — falou Villachor voltando a ficar de pé.
— Como posso servi-lo?
— Você pode me levar a um quarto de hóspedes — respondeu Qazadi,
cujos olhos pareciam brilhar com uma satisfação particular.
— E depois você pode relaxar.
Villachor franziu a testa.
— Perdão, Vossa Excelência? — perguntou com cuidado.
— Você teme que eu tenha vindo julgá-lo, — falou Qazadi, com o tom de
voz ainda sombrio, mas ao mesmo tempo estranhamente casual. As
escamas verde acinzentadas do rosto também estavam mudando e
mostravam apenas um toque rosado nas maçãs do rosto. — E tais
pensamentos jamais devem ser simplesmente descartados, — acrescentou o
Falleen -, porque eu não saio do Centro Imperial sem um grande motivo.
— Sim, Vossa Excelência, — disse Villachor.
A sensação de incerteza sombria ainda pairava sobre o grupo como o
nevoeiro do início da manhã, mas, para sua leve surpresa, Villachor sentiu o
coração desacelerando e uma calma inesperada começando a fluir. Algo na
voz do Falleen era mais reconfortante do que ele percebera.
— Mas, neste caso, o motivo não tem nada a ver com você, — continuou
Qazadi. — Com a ausência de Lorde Vader do Centro Imperial deixando
seus espiões temporariamente sem liderança, o príncipe Xizor decidiu que
seria prudente embaralhar as cartas um pouco. — Ele deu um sorrisinho
para Villachor. — Neste caso, uma metáfora bastante apropriada.
Villachor sentiu a boca ficar subitamente seca. Será que Qazadi estava
realmente falando sobre...?
— Minha caixa-forte está completamente à sua disposição, Vossa
Excelência, — ele conseguiu responder.
— Obrigado, — disse Qazadi, como se Villachor tivesse escolha no caso.
— Enquanto meus guardas trazem meus pertences e arrumam o quarto, nós
investigaremos a segurança de sua caixa-forte.
A brisa que estivera batendo no rosto de Villachor mudou de direção, e
de repente a calma que havia se instalado apenas outro daqueles malditos
truques de química corporal que os Falleen gostavam de aplicar nas
pessoas.
— Como quiser, Vossa Excelência, — falou ele, fazendo uma mesura
novamente e apontando para a porta da mansão. — Por favor, siga-me.

O hotel que D’Ashewl arrumara ficava no meio do distrito mais


exclusivo da Cidade de Iltarr, e a Suite Imperial era a melhor acomodação
que o hotel tinha para oferecer. Mais importante, do ponto de vista de
Dayja, era que o alojamento dos humildes criados, enfiado em um canto da
suíte, tinha uma porta privativa que abria bem ao lado de uma das escadas
de serviço do hotel.
Uma hora após D’Ashewl terminar seu grande jantar do meio da tarde e
se recolher na suíte, Dayja trocou o uniforme de criado por roupas mais
discretas e foi para a rua. Alguns minutos de caminhada o tiraram do
enclave dos ricos e poderosos e o levaram para uma seção mais pobre e
desagradável da cidade.
Operações modernas de inteligência geralmente começavam na mesa do
oficial de campo, com um resumo completo das comunicações, finanças e
redes sociais do alvo. Neste caso, porém, como Dayja sabia, uma
abordagem desse tipo seria menos do que inútil. Os chefes do alto escalão
do Sol Negro eram excepcionalmente competentes em esconder os rastros e
enterrar todas as conexões e pontos que podiam ser usados para capturar
criminosos inferiores. Além disso, muitas dessas conexões escondidas
tinham sinalizadores embutidos para alertar o líder criminoso da presença
de uma investigação. A última coisa de que Dayja podia se dar ao luxo era
levar Qazadi a se embrenhar ainda mais no submundo ou, pior, mandá-lo
correndo de volta para o Centro Imperial, onde ele novamente estaria sob a
proteção direta de Xizor e dos enormes recursos do Sol Negro de lá.
Assim sendo, Dayja agiria da forma tradicional: cutucando e sondando os
limites das operações do Sol Negro na Cidade de Iltarr, incomodando até
atrair a atenção da pessoa certa.
Ele passou o resto da noite apenas perambulando, observando as pessoas
e absorvendo a sensação e os ritmos da cidade. Conforme o céu escurecia
ao cair da noite, Dayja retornou a um dos traficantes que vira mais cedo,
comprou dois cubos de especiaria nyriaana e comentou casualmente sobre a
qualidade superior da droga a que ele estava acostumado.
Quando estava pronto para retornar ao hotel, Dayja comprou amostras de
mais dois traficantes e fez comentários igualmente depreciativos em ambas
as vezes. O Sol Negro traficava muita especiaria nyriaana, e havia uma boa
chance de que os três traficantes fossem ligados pelo menos perifericamente
a Villachor. Se desse sorte, a notícia sobre esse estranho desdenhoso
começaria a subir pela cadeia de comando.
Ele estava próximo da estação de segurança particular do enclave da
classe alta quando foi atacado por três jovens valentões.
No primeiro momento de esperança, Dayja pensou que talvez a rede local
de inteligência do Sol Negro fosse melhor do que esperava. Porém, ficou
rapidamente evidente que os valentões não estavam trabalhando para
Villachor ou qualquer outra pessoa, mas apenas queriam roubar os cubos de
especiaria que Dayja levava. Os três jovens portavam facas; um deles tinha
uma pequena arma de raios, e um fogo ardente nos olhos deles dizia que o
trio levaria a especiaria a qualquer preço.
Infelizmente para eles, Dayja tinha uma faca também, uma que ele havia
retirado do corpo de um criminoso com planos similares. Trinta segundos
depois, Dayja estava novamente voltando para casa e deixava três corpos
pingando sangue na sarjeta que acompanhava a calçada.
Ele decidiu que sugeriria no dia seguinte que D’Ashewl visitasse
ostensivamente alguns dos centros culturais locais, onde Dayja teria uma
chance de avaliar melhor a classe dominante da cidade. Depois, faria outra
incursão solitária às periferias e provocaria mais do mesmo tipo de
confusão sutil. Somando as classes alta e baixa, mais cedo ou mais tarde
Villachor ou seus agentes deveriam notá-lo.
Dayja já tinha passado há muito tempo da estação de segurança, com
visões da cama macia dançando diante dos olhos, quando a polícia
finalmente chegou para recolher os corpos que ele deixara para trás.
CAPÍTULO

Han Solo nunca estivera na Cantina Reggilio antes, porém já havia


visitado centenas de lugares exatamente como aquele e conhecia muito bem
o tipo. Era razoavelmente silenciosa, embora por precaução, e não por boas
maneiras; ligeiramente animada, mas com a moderação que surgia da
necessidade de manter a discrição; e tinha uma decoração decadente, que
não pedia e nem esperava por desculpas.
Era, em resumo, o lugar perfeito para uma armadilha.
A um metro de distância, na outra metade do assento circular da cabine,
Chewbacca deu um rosnado de aborrecimento.
— Sem brincadeiras, — Han rosnou de volta, tamborilando inquieto a
caneca de cerveja corelliana com especiaria que ele ainda não tinha tocado.
— Mas se houver uma chance de esse lance ser legítimo, nós temos que
aproveitá-la.
Chewbacca grunhiu uma sugestão.
— Não — respondeu Han categoricamente. — Eles estão organizando
uma rebelião, lembra? Não têm nada sobrando para dar.
Chewbacca rosnou de novo.
— Claro que a gente vale, — concordou Han. — Só por ter derrubado
aqueles TIEs que estavam na cola de Luke, a recompensa deveria ter
dobrado. Mas você viu a expressão na cara de Dodonna; ele não estava tão
contente assim por nos dar o primeiro lote. Se Sua Alteza Real não
estivesse bem ali se despedindo, tenho certeza de que ele teria tentado nos
convencer do contrário.
Han Solo encarou a caneca. Além disso, ele não acrescentou, pedir para a
princesa Leia uma substituição dos créditos da recompensa significaria ter
que contar para ela como ele perdera o primeiro lote. Não para jogatina,
maus investimentos ou mesmo para a bebida, mas para um pirata
desgraçado.
E aí ela teria lhe dado um daqueles olhares.
Havia coisas piores, Han decidiu, do que estar na lista de assassinatos de
Jabba.
Por outro lado, se a oferta de serviço que ele tinha recebido durante a
entrega em Ord Mantell fosse verdadeira, havia uma boa chance de Leia
jamais ter que saber.
— Olá, Solo. — A voz desagradável surgiu pela direita de Han. — Olhe
para frente, com as mãos espalmadas sobre a mesa. Você também, Wookiee.
Han trincou os dentes ao soltar a caneca e espalmar as mãos sobre a
mesa. Lá se foi a chance de o serviço ser legítimo.
— É você, Falsta?
— Ei, boa memória — disse Falsta em tom de aprovação ao entrar no
campo de visão de Han e se sentar na cadeira do outro lado da mesa.
Falsta estava exatamente como Han se lembrava dele: baixo e
esquelético, com uma barba por fazer de quatro dias e usando a jaqueta de
couro de sempre, sobre mais uma camisa de pássaro flamejante saída de sua
coleção. A arma de raios era ainda mais feia do que a camisa: uma DT-57
da época das Guerras Clônicas, muito modificada.
Falsta gostava de dizer que a arma antigamente tinha pertencido ao
próprio general Grievous. Han não acreditava naquilo, nem ninguém.
— Ouvi dizer que Jabba está furioso com você, — continuou Falsta,
enquanto apoiava o cotovelo na mesa e apontava o cano da arma de raios
bem na cara de Han.
— Ouvi dizer que você expandiu os negócios para assassinatos —
respondeu Han de olho na arma e cuidadosamente reposicionando a perna
embaixo da mesa. Ele só teria uma oportunidade.
Falsta deu de ombros.
— Ei, se é isso que o cliente quer, é isso que o cliente recebe. Eu posso
lhe dizer uma coisa: o Sol Negro paga muito mais por um assassinato do
que Jabba paga por uma captura. — Ele sacudiu um pouco o cano da arma
de raios. — Não que não me importe em pegar alguns créditos de graça.
Desde que eu simplesmente esteja aqui, por acaso.
— Claro, por que não? — concordou Han, franzindo a testa. Aquele foi
um comentário estranho. Será que Falsta estava dizendo que não foi ele
quem passou aquela mensagem para Han?
Não — que ridículo. A galáxia era um lugar imenso. Não havia
possibilidade de um caçador de recompensas simplesmente ter entrado por
acaso em uma cantina qualquer em uma cidade qualquer em um mundo
qualquer no mesmo momento em que Han estivesse ali. Não, Falsta estava
apenas sendo engraçadinho.
Tudo bem. Han também sabia ser engraçadinho.
— Então você está dizendo que, se eu lhe desse o dobro do que Jabba
está oferecendo, você se levantaria e iria embora?
Falsta deu um sorriso maligno.
— Você tem essa quantia com você?
Han inclinou a cabeça para Chewbacca.
— No terceiro energipente, descendo do ombro.
Os olhos de Falsta foram para a bandoleira de Chewbacca...
E em uma única contorção, Han deu uma joelhada para cima, fez a mesa
bater no cotovelo de Falsta e tirou a arma de raios de perto, ao mesmo
tempo em que pegou a caneca e jogou a cerveja corelliana com especiaria
nos olhos do homem. Houve uma breve onda de calor quando o tiro de
reflexo do caçador de recompensas passou pela orelha esquerda de Han.
Um tiro foi tudo que Falsta conseguiu dar. Um instante depois, a arma
estava apontada inofensivamente para o teto, paralisada pela pegada firme
de Chewbacca em volta da pistola e da mão que a empunhava.
Aquilo deveria ter sido o fim da situação. Falsta deveria ter concedido a
derrota, entregado a arma e saído da cantina, um pouco humilhado, porém
ainda vivo.
Mas Falsta nunca tinha sido do tipo que concedia alguma coisa. Mesmo
enquanto piscava furiosamente por causa da cerveja que ainda escorria para
dentro dos olhos, a mão esquerda se enfiou como uma faca no interior da
jaqueta e saiu com uma arma de raios de pequeno porte.
Ele estava no processo de mirá-la quando Han disparou em Falsta por
baixo da mesa. O homem desabou para frente, com o braço direito ainda
erguido na mão de Chewbacca, e a arma de pequeno porte quicou na mesa
até parar. Chewbacca manteve aquela pose por mais um instante, depois
abaixou o braço de Falsta até a mesa, ao mesmo tempo que agilmente
recolhia a arma de raios da mão do morto.
Por meia dúzia de segundos, Han não se mexeu, ficou segurando a arma
de raios embaixo da mesa e vasculhando a cantina com o olhar. O lugar
ficara em silêncio, e praticamente todos os olhos agora focavam nele. Até
onde Han podia ver, ninguém sacara uma arma, mas a maioria dos
frequentadores nas mesas mais próximas tinha as mãos sobre ou perto de
coldres.
Chewbacca rosnou um alerta.
— Todos vocês viram, — falou Han, embora duvidasse de que mais de
algumas poucas pessoas realmente tivessem visto. — Ele atirou primeiro.
Houve outro momento de silêncio. Então, quase que
despreocupadamente, mãos se ergueram das armas, cabeças se viraram, e a
conversa baixa voltou.
Talvez esse tipo de coisa acontecesse o tempo todo na Reggilio. Ou
talvez todos eles conhecessem Falsta suficientemente bem para saber que
ninguém sentiria falta dele.
Ainda assim, com certeza era hora de partir.
— Vamos — murmurou Han enquanto guardava a arma de raios no
coldre e saía pela lateral da mesa.
Eles teriam que voltar à área do espaçoporto, decidiu Han, sondar as
cantinas de lá e ver se conseguiriam pegar algum frete. Certamente não
renderia o suficiente para quitar a dívida com Jabba, mas pelo menos tiraria
os dois de Wukkar. Ele ficou de pé e verificou a cantina uma última vez...
— Com licença!
Han deu meia-volta e abaixou a mão para a coronha da arma de raios, por
reflexo. Mas era apenas um homem comum correndo em sua direção.
Quer dizer, quase um homem. Metade do rosto estava coberta por um
medselo cor de pele que tinha sido esticado sobre a face e o cabelo, com um
olho prostético que quicava no lugar onde o olho direito normalmente
estaria.
E também não era simplesmente qualquer olho. Era algo com design
alienígena, que brilhava como uma versão menor do olho multifacetado de
um Arconiano. Mesmo na luz difusa da cantina, o efeito era impressionante,
perturbador e estranhamente hipnótico.
Com um choque, Han se deu conta de que o ficara encarando fixamente e
afastou o olhar. Não apenas era falta de educação, mas uma isca visual
como aquela era exatamente o tipo de truque que um assassino esperto
poderia usar para atrair a atenção das vítimas em um momento crítico.
Mas as mãos do homem estavam vazias, sem arma de raios ou faca
visíveis. Na verdade, a mão direita não teria sido de muita utilidade, de
qualquer forma. Retorcida e deformada, estava embrulhada no mesmo
medselo da face. Ou ela tinha sido seriamente danificada ou então havia
uma mão prostética embaixo daquilo que tinha vindo dos mesmos
alienígenas que lhe forneceram o olho.
— Melhor você tentar arrumar um olho diferente — sugeriu Han,
relaxando um pouco.
— Eu preciso tentar arrumar muitas coisas — disse o homem ao parar
alguns metros atrás. O olho remanescente se voltou para a arma de raios de
Han, depois se ergueu com um esforço de volta para o rosto dele. — Meu
nome é Eanjer... bem, meu sobrenome não é importante. O que é importante
é que me roubaram uma grande quantidade de dinheiro.
— Lamento ouvir isso — falou Han recuando para a porta. — Você
precisa falar com a polícia da Cidade de Iltarr.
— Eles não podem me ajudar, — disse Eanjer dando um passo à frente
para cada passo de Han para trás. — Eu quero meus créditos de volta e
preciso de alguém que saiba se virar e não se importe em trabalhar fora da
lei e dos costumes. É por isso que estou aqui. Estava torcendo para
encontrar alguém que se encaixasse em ambos os critérios. — O olho se
voltou para o corpo de Falsta. — Após tê-lo visto em ação, está claro que
você é exatamente o tipo de pessoa que procuro.
— Foi legítima defesa — contra-argumentou Han, aumentando o passo.
O problema do homem provavelmente era uma desprezível dívida de jogo,
e ele não tinha intenção de se envolver com algo do gênero.
Mas fosse lá o que mais Eanjer fosse, o homem era determinado. Eanjer
acelerou para manter o passo de Han e ficar ao lado dele.
— Eu não quero que você faça isso de graça, — falou Eanjer. — Eu
posso pagar. Posso pagar muito, muito bem.
Han foi parando, relutante. Provavelmente ainda era algo desprezível, e
ouvir o cara seria uma completa perda de tempo. Mas ficar sentado em uma
cantina de espaçoporto também provavelmente seria.
E se ele não ouvisse, havia uma boa chance de a peste segui-lo pelo
caminho inteiro até o espaçoporto.
— De quanto estamos falamos? — perguntou Han.
— No mínimo, as suas despesas, — respondeu Eanjer. — No máximo...
— Ele olhou em volta e abaixou o tom de voz para um sussurro. — Os
criminosos roubaram 163 milhões de créditos. Se recuperá-los, divido com
você e com quem mais chamar para ajudá-lo.
Han sentiu um aperto na garganta. Isso ainda poderia ser nada. Eanjer
poderia estar simplesmente inventando histórias.
Mas se estivesse falando a verdade...
— Beleza, — disse Han. — Vamos conversar, mas não aqui.
Eanjer voltou a olhar para o corpo de Falsta e sentiu um arrepio no corpo.
— Não — concordou baixinho. — Qualquer lugar, menos aqui.

— O nome do ladrão é Avrak Villachor, — falou Eanjer. O único olho


vasculhou a lanchonete que Han escolhera, um lugar mais refinado do que a
cantina e a uma distância prudente de três quarteirões. — Mais
precisamente, ele é o líder do grupo específico envolvido. Sei que também
está associado a alguma organização criminosa maior... não sei qual.
Han olhou para Chewbacca do outro lado da mesa e ergueu as
sobrancelhas. O Wookiee deu de ombros e balançou a cabeça.
Aparentemente, ele também nunca tinha ouvido falar em Villachor.
— E, tem um monte dessas para escolher, — falou Han para Eanjer.
— Realmente. — Eanjer abaixou o olhar para a bebida como se a
percebesse pela primeira vez, depois continuou a vasculhar
nervosamente o ambiente. — Meu pai é... era... um importador muito
bem-sucedido. Há três semanas, Villachor veio ao nosso lar com um grupo
de capangas e exigiu que passássemos o negócio para a organização de
Villachor. Quando ele se recusou... — Ele sentiu um arrepio pelo corpo. —
Eles o mataram, — disse Eanjer, com uma voz baixa, quase impossível de
ouvir. — Eles simplesmente... Nem usaram armas de raios. Foi alguma
espécie de granada de fragmentação. Ela apenas o destroçou... — Ele foi
parando de falar.
— Foi isso que aconteceu com seu rosto? — perguntou Han.
Eanjer pestanejou e ergueu o olhar.
— O quê? Ah. — Ele ergueu a mão medselada para tocar delicadamente
o rosto medselado. — Sim, eu peguei a rebarba da explosão. Houve tanto
sangue. Eles devem ter pensado que eu estava morto. — Eanjer estremeceu,
como se tentasse se livrar da memória. — De qualquer forma, eles levaram
tudo do cofre e foram embora. Todos os registros corporativos, os dados de
nossa rede de transporte, as listas de terceirizados... tudo.
— Incluindo 163 milhões de créditos? — indagou Han. — Devia ser um
cofre bem grande.
— Não, na realidade, — respondeu Eanjer. — Cabe uma pessoa, mas
nada especial. O dinheiro estava em fichas de crédito, um milhão por ficha.
Caberiam todas em uma pochete. — Ele puxou a cadeira um pouco mais
próximo à mesa. — Mas o problema é este: fichas de crédito são associadas
ao proprietário e aos agentes designados pelo proprietário. Com meu pai
morto agora, eu sou o único que consegue retirar o valor completo delas.
Para qualquer outra pessoa, as fichas valem não mais do que um quarto,
talvez metade de 1% do valor nominal. E isso apenas se Villachor encontrar
um sheer que consiga passar pelo código de segurança.
— Isso ainda o deixaria com 800 mil créditos, — argumentou Han. —
Nada mal para uma noite de trabalho.
— É por isso que não tenho dúvidas de que ele está atrás de um hacker
para o serviço neste momento. — Eanjer respirou fundo. — O problema é
este: os registros de negócios que Villachor roubou não importam. Todas as
pessoas que trabalhavam para nós estavam lá específica e pessoalmente por
causa do meu pai, e sem ele, elas vão sumir na bruma. Especialmente uma
vez que as fichas de crédito estavam à mão porque estávamos nos
preparando para pagar pelos serviços feitos. Se você não paga a um
transportador, ele não trabalha mais para você.
Especialmente se o transportador fosse na verdade um contrabandista,
que era a forte suspeita que Han tinha sobre o que estava por trás do
pretenso negócio de importação da família. Ele ainda não tinha certeza se o
próprio Eanjer sabia disso, se suspeitava ou estava completamente alheio ao
fato.
— Deixe-me entender direito, — falou Han. — Quer que a gente invada
a casa de Villachor... você por acaso sabe onde fica?
— Ah, sim, — respondeu Eanjer, concordando com a cabeça. — Fica
bem aqui na Cidade de Iltarr. E uma propriedade chamada Marblewood, um
terreno de quase um quilômetro quadrado que cerca uma grande mansão.
— Ah, — disse Han. Provavelmente era o grande espaço aberto na zona
norte da cidade que ele vira ao se aproximar com a Falcon. Na ocasião, Han
tinha achado que fosse um parque. — Você quer que a gente entre lá, invada
onde quer que ele esteja guardando as fichas, roube os créditos e saia
novamente. É mais ou menos isso?
— Sim, — respondeu Eanjer. — E fico muito agradecido...
— Não.
O único olho de Eanjer pestanejou.
— Como é que é?
— Você escolheu o homem errado, — falou Han. — Nós somos
transportadores, como seu pai. Não sabemos nada sobre invadir caixas-
fortes.
— Mas certamente você conhece pessoas que sabem, — disse Eanjer. —
Pode chamá-las. Eu divido os créditos com elas também. Todo mundo pode
ter uma parte igual.
— Você mesmo pode chamá-las.
— Mas eu não conheço nenhuma pessoa assim, — reclamou Eanjer, com
a voz suplicante. — Não posso simplesmente pegar um comunicador e
chamar o ladrão mais próximo. E sem você... — Ele parou e se esforçou
visivelmente para recuperar o controle. — Eu vi como você cuidou daquele
homem na cantina. Você pensa rápido e age com convicção. Mais
importante, você não o matou até não ter escolha. Isso significa que posso
confiar que você fará o serviço e será justo ao negociar comigo quando
acabar.
Han suspirou.
— Veja bem...
— Não, veja bem você, — disparou Eanjer, com uma pontada de raiva
surgindo na frustração. — Eu tenho sentado em cantinas há duas semanas
inteiras. Você é a primeira pessoa que encontrei que me deu absolutamente
alguma esperança. Villachor já teve três semanas para encontrar um sheer
para aquelas fichas de crédito. Se eu não pegá-las antes dele, Villachor vai
ganhar. Vai ganhar tudo.
Han olhou para Chewbacca. Mas o Wookiee estava sentado calado, sem
dar pistas do que pensava ou sentia. Claramente estava deixando a decisão
para Han.
— São os créditos que você realmente quer? — perguntou ele para
Eanjer. — Ou está atrás de vingança?
Eanjer abaixou o olhar para a mão.
— Um pouco dos dois, — admitiu.
Han ergueu a caneca e tomou um grande gole. Ele estava certo,
obviamente. Ele e Chewbacca realmente não eram as pessoas adequadas
para o serviço.
Só que Eanjer também estava certo. Os dois conheciam um monte de
gente que era.
E com 163 milhões de créditos em jogo...
— Eu preciso fazer uma ligação, — disse Han enquanto abaixava a
caneca e pegava o comunicador.
Eanjer concordou com a cabeça, sem fazer menção de ir embora.
— Certo.
Han fez uma pausa.
— Uma ligação particular.
Por outro segundo, Eanjer continuou sem se mexer. Então, abruptamente,
ele arregalou o olho.
— Ah, — falou ele, rapidamente ficando de pé. — Certo. Eu, hã, eu
volto.
Chewbacca emitiu uma pergunta.
— Não faz mal perguntar por aí, — respondeu Han enquanto digitava um
número e tentava manter a voz calma. Cento e sessenta e três milhões.
Mesmo uma pequena fatia disso quitaria a dívida com Jabba uma dezena de
vezes. E não apenas com Jabba, mas com todo mundo que queria um
pedaço da cabeça de Han rodeada de cebolas em uma travessa. Ele poderia
pagar para que todos saíssem de sua cola, e ainda haveria o suficiente para
ele e Chewie seguirem livres para onde quisessem. Talvez pelo resto da
vida. — Só espero que Rachele Ree não esteja em alguma viagem qualquer.
Para a leve surpresa de Han, ela de fato estava em casa.
— Ora, olá, Han, — respondeu Rachele alegremente quando ele se
identificou. — Que bom que você ligou, para variar. Está em Wukkar? Ah,
sim... vejo que está. Cidade de Iltarr, é? A melhor comida corelliana no
planeta.
Chewbacca grunhiu um comentário baixinho. Aborrecido, Han
concordou com a cabeça. O comunicador deveria estar programado para
evitar rastreamento, mas defesas eletrônicas nunca pareciam deter Rachele.
— Eu tenho uma pergunta, — disse ele. — Duas perguntas. Primeiro,
você ouviu alguma coisa sobre uma invasão de alto nível e um assassinato
há mais ou menos um mês? Teria acontecido em uma importadora.
— Você está falando da Importadora Polestar? — perguntou Rachele. —
Claro; foi o assunto nos bares há três semanas. O proprietário foi
assassinado, e o filho aparentemente se escondeu.
— Bem, ele surgiu novamente, — falou Han. — O nome do filho é
Eanjer, e ele se feriu no ataque?
— Deixe-me verificar... sim, Eanjer Kunarazti. Quanto a ter se ferido... a
reportagem não diz. Deixe-me verificar com outra fonte minha... sim,
parece que sim. O sangue dele foi encontrado na cena, de qualquer forma.
— Já está bom, — disse Han. Ele não tinha imaginado realmente que
Eanjer estivesse armando um golpe, mas não custava verificar. – Quero
dizer, não está bom, mas...
— Eu sei o que você quis dizer, — respondeu Rachele, com o que Han
imaginou que fosse um sorriso maroto. — E a segunda pergunta?
— Pode procurar por uns nomes e ver se algum deles está perto de
Wukkar neste momento? — perguntou Han. — Eanjer me ofereceu o
serviço de recuperar os créditos que foram roubados.
— É mesmo? — disse Rachele, parecendo intrigada. — Você anda
expandindo os negócios desde a última vez que te vi?
— Não exatamente, — respondeu Han. Lutar uma batalha ou duas para a
Aliança Rebelde não era considerado expansão de negócios, disse ele para
si mesmo com convicção. — Eanjer apenas gosta da maneira como faço as
coisas.
— E por acaso todo mundo não gosta? — contra-argumentou Rachele
secamente. — Sem problema. Quem você está procurando?
Han passou todos os nomes em que conseguiu pensar, gente que era ao
mesmo tempo competente e razoavelmente confiável. Considerando
quantos anos ele havia passado nadando na periferia da galáxia, era uma
lista surpreendentemente curta. Han adicionou mais três nomes sugeridos
por Chewbacca e ignorou explicitamente a quarta sugestão do Wookiee.
— E isso, — disse ele para Rachele. — Se pensar em mais alguém, eu te
ligo de novo.
— Claro, — respondeu Rachele. — Seu amigo mencionou o ganho
provável? Algumas dessas pessoas vão querer saber logo de saída.
Han sorriu por dentro, desejando que estivesse lá para ver a expressão
dela.
— Se conseguirmos mesmo, dividiremos 163 milhões.
Houve um momento de silêncio estupefato na outra ponta.
— Sério? — disse Rachele finalmente. — Uau. É praticamente possível
contratar o próprio Jabba por essa quantia.
— Obrigado, mas nós dispensamos, — falou Han. — E esse valor parte
do princípio de que Eanjer sobreviva durante toda a operação. É melhor
você deixar isso claro também.
— Deixarei, — respondeu Rachele. — Então está tudo em fichas de
crédito, hein? Faz sentido. Ok, farei algumas ligações e retornarei. Ele faz
alguma ideia de onde as fichas de crédito estejam?
— Eanjer diz que estão com alguém chamado Villachor. Você o conhece?
Houve outra pausa curta.
— Sim, eu ouvi falar dele, — falou Rachele, com um tom de voz
subitamente alterado. — Ok, vou começar com a sua lista. Onde vocês
estão hospedados?
— No momento, estamos apenas alojados na Falcon.
— Bem, vocês vão acabar precisando de algum lugar na cidade, — disse
Rachele. — Obviamente, tudo em vista já foi reservado para o próximo
Festival. Mas verei o que consigo arrumar.
— Obrigado, Rachele, — falou Han. — Eu te devo uma.
— Pode apostar. Nos falamos depois.
Han desligou e guardou o comunicador.
Chewbacca emitiu uma pergunta.
— Porque eu não o quero, é por isso, — respondeu Han. — Duvido que
ele apareceria mesmo que eu pedisse.
Chewbacca rosnou novamente.
— Porque ele disse que nunca mais queria me ver de novo, lembra? Às
vezes, Lando é sincero sobre o que diz, sabe?
Um movimento chamou-lhe a atenção no rabo do olho, e Han ergueu o
olhar para ver Eanjer se aproximando deles hesitante.
— Está tudo bem? — perguntou o homem, enquanto o olho pulava de um
para o outro.
— Claro, — disse Han. — Eu coloquei alguém para juntar uma equipe.
— Maravilha, — falou Eanjer terminando de se aproximar da mesa e se
sentando. Ele devia ter visto o fim da breve discussão, decidiu Han, e
provavelmente pensou que tinha sido mais séria do que foi, na verdade. —
Essa pessoa é alguém confiável?
Han concordou com a cabeça.
— Ela é uma integrante do baixo escalão da velha aristocracia de
Wukkar. Conhece tudo e todo mundo, e não está exatamente empolgada
com as pessoas que comandam a situação no momento.
— Se você diz, — respondeu Eanjer, que não parecia completamente
convencido, mas ficou claro que ele não estava pronto para forçar o
assunto. — Acho que descobri um momento perfeito para a invasão. Daqui
a duas semanas ocorre o Festival das Quatro Honrarias.
Han olhou para Chewbacca e recebeu um gesto de ombros.
— Nunca ouvi falar, — disse ele para Eanjer.
— É a versão de Wukkar da Semana do Carnaval, — respondeu ele
torcendo o lábio. — Tudo que o Centro Imperial faz, alguém aqui tem que
fazer melhor. Seja como for, é um evento de sete dias, com cada dia
dedicado à pedra, ao ar, à água e ao fogo, com um dia de preparação entre
cada uma das Honrarias. E o evento mais importante em Wukkar, com
pessoas vindo de lugares tão distantes como Vuma e o Centro Imperial para
participar.
— E provavelmente batedores de carteira de lugares tão distantes como
Nal Hutta, — murmurou Han.
— Eu não teria como saber, — respondeu Eanjer. — A questão é que
Villachor organiza uma das maiores comemorações da cidade no terreno
dele.
Han se ajeitou um pouco mais na cadeira.
— No terreno dele? Você quer dizer que Villachor deixa as pessoas
perambularem bem ao lado da casa?
— É mais uma mansão do que uma casa, — explicou Eanjer. — Ou
talvez mais uma fortaleza do que uma mansão. Mas, sim, milhares de
pessoas entram e saem livremente naqueles quatro dias.
Chewbacca emitiu a conclusão óbvia.
— É claro que ele terá aumentado a segurança, — concordou Han.
— Mas pelo menos não teremos que passar por cima de muros e através
de uma linha externa de sentinelas. Como conseguimos um convite para
esse troço?
— Não é preciso convite, — disse Eanjer. — A comemoração é aberta a
todos. A metade da boca que era visível estava curvada para cima, em um
sorriso amargo. — Villachor gosta de bancar que é um filantropo e amigo
da cidade. Também gosta de ostentar a riqueza e o estilo.
— Isso é bom. Alguns dos meus melhores negócios surgiram de pessoas
que achavam que eram melhores e mais espertas do que todas as outras.
Isso pode realmente dar certo.
— Então você vai me ajudar? — perguntou Eanjer, esperançoso.
— Primeiro vamos ver o que Rachele arruma, — falou Han. — Eu tenho
algumas ideias, mas como disse antes, essa não é a nossa especialidade.
Mas se conseguirmos as pessoas que preciso, nós devemos pelo menos ter
uma chance.
— Garanta que elas saibam o que está envolvido, — disse Eanjer. —
Cento e sessenta e três milhões.
— É, essa parte eu entendi, — respondeu Han. — Me dê o número de
seu comunicador, e eu ligo quando tivermos mais para conversar.
— Tudo bem, — falou Eanjer com um pouco de incerteza ao pegar um
cartão de dado e entregar. — Quando vai ser isso?
— Quando, — falou Han com uma paciência exagerada, — tivermos
mais para conversar.

Eles estavam de volta à Falcon quando chegou o relatório de Rachele.


Como sempre acontecia na vida, os resultados foram ambíguos. Muitas
das pessoas com quem Han tinha esperança de entrar em contato estavam
incomunicáveis, fora da área próxima ou temporariamente fora de
circulação. Outras que normalmente teriam sido possibilidades levariam
tempo demais para ser contatadas, especialmente com a contagem
regressiva de duas semanas para o Festival que Eanjer considerava.
E duas estavam indisponíveis, mas tinham pessoas que poderiam
recomendar. Mazzic, em especial, tinha tomado a iniciativa e informado
Rachele de que enviaria dois novos recrutas que possuíam as mesmas
habilidades que aqueles que Han havia pedido.
Chewbacca não tinha muita certeza de que havia gostado daquilo.
— É, eu também não, — concordou Han, franzindo a testa para a
mensagem enviada por Rachele. Ainda assim, ele conhecia Mazzic há
muitos anos, e Han e Chewbacca tinham feito transportes ocasionais para
ele e sua pequena organização de contrabandistas. Mazzic havia se
mostrado tanto confiável quanto competente.
Mais precisamente, ele era famoso por não confiar em ninguém até ter
verificado o candidato nos mínimos detalhes. Se Mazzic concordava com
esses recrutas, eles provavelmente eram seguros o suficiente.
A não ser que ele estivesse tentando se vingar de Han por algum motivo.
Mas isso era improvável. Han não tinha feito nada para Mazzic, não que ele
se lembrasse. Certamente não ultimamente.
Chewbacca grunhiu uma pergunta.
— Acho que vamos caçar, — respondeu Han ao ficar de pé. — Vá
ligando a Falcon. Eu vou arrumar uma vaga de decolagem para nós.
CAPÍTULO

As defesas do telhado eram intrigantes.


A longa descida pela sinteticorda foi divertida.
A segurança da janela era uma piada.
Bink Kitik balançou a cabeça ao concentrar o raio laser de uso medicinal
no transparaço até o conector do alarme. Ela sabia que a maioria dos
ladrões amadores que chegassem àquele ponto usaria o laser para cortar
toda a conexão, o que desconectaria o alarme primário, mas ao mesmo
tempo ativaria o circuito de impedância que acionaria o secundário. A
abordagem mais sutil de Bink, queimar o conector apenas o suficiente para
derreter os fios e provocar um curto-circuito, deixaria todos os alarmes
intactos, mas gastaria a energicélula do alarme de maneira rápida e
contínua, e ele ficaria inutilizado.
Ela terminou o corte e guardou o laser enquanto media o tempo. Vinte
segundos, não mais do que isso, e o alarme seria desativado.
— E aí? — A voz cansada da irmã surgiu no comunicador preso ao
ombro.
Bink deu um sorriso afetuoso. Tavia odiava o trabalho de Bink
— odiava cada minuto, cada aspecto, cada serviço. Mas, mesmo com
tudo isso, ela ainda era de longe a melhor olheira com quem Bink já havia
trabalhado.
Tavia também se preocupava como uma mãe zelosa, aquela era a quarta
vez que ela verificava a situação desde que Bink surgira no telhado.
— Tudo certo, — garantiu Bink. — Vinte para abrir.
Ela esperou trinta segundos, só para garantir. Depois, ativou o
vibrobisturi e começou a cortar delicadamente o transparaço, enquanto se
perguntava se as pessoas que criaram esses instrumentos médicos tão
maravilhosos um dia imaginaram como seriam úteis para uma ladra
fantasma. Provavelmente não.
Bink Kitik terminou o corte e trocou o vibrobisturi por uma sonda,
introduziu o instrumento pela nova abertura e cutucou a tranca da janela. O
fecho abriu e quase pegou a sonda no momento em que Bink a puxou
rapidamente. Ela entrou e ergueu o corpo sobre o peitoril, com cuidado para
não prender o arnês...
— Uau! Mas o quê...?
Por reflexo, Bink meteu a mão na arma de raios de pequeno porte.
— Tav? — sussurrou ela persistentemente.
— Está tudo bem, — respondeu Tavia, com a surpresa quase ausente da
voz. Quase. — Eu apenas... está tudo bem, — repetiu ela.
— Tudo crankapacky. Apenas continue em frente.
Bink franziu a testa. Crankapacky era o código particular para sem
problemas. Mas o quê, pela galáxia, teria feito sua irmã normalmente fria e
extremamente crítica levar um susto daqueles sem que fosse um problema?
— Devo cair fora?
— Não, está crankapacky, — repetiu Tavia. — Apenas ande rápido.
O cofre foi mais difícil de arrombar do que a janela, mas não tanto assim.
Bink teve que abri-lo em dois minutos cravados, reclamando baixinho o
tempo todo. Algumas pessoas simplesmente não mereciam ser ricas.
O plano tinha sido reservar alguns minutos para avaliar o conteúdo do
cofre, escolher quais gemas valia a pena pegar e quais seriam fáceis demais
para o futuramente furioso diretor de contabilidade do governador localizar.
Mas com a exclamação assustada de Tavia reverberando na mente, Bink
decidiu que simplesmente pegaria o que fosse possível em uma contagem
de vinte gemas e daria a noite por encerrada. Ela abriu as caixas de gemas
aleatoriamente, sabendo que tais caixas geralmente tinham rastreadores e
não podiam ser levadas como estavam, e começou a enfiar o conteúdo na
pochete. Uma das caixas de aparência mais interessante possuía um fecho
próprio, em que as microferramentas presas à parte inferior das unhas
deram um jeito rápido.
A contagem de vinte chegou a zero. Bink fechou o cofre, correu para a
janela e saiu.
O plano tinha sido retornar ao telhado e ir embora como ela havia
chegado, pela escadaria do prédio. Mas os ganchos do telhado eram
dispensáveis, o ejetor de sinteticorda tinha mais do que o suficiente para
alcançar a rua, e de repente Bink não sentiu vontade de permanecer naquela
vizinhança mais do que o necessário. Ela fechou a janela ao sair, soltou a
trava do ejetor de sinteticorda e desceu por rapei pela lateral do prédio.
A meio caminho do chão, Bink sacou a arma de raios. Apenas por
precaução.
Tavia, como se esperava, tinha visto a descida não planejada e estava
esperando quando Bink desceu calmamente na calçada.
— O que aconteceu? — perguntou ela com ansiedade. — Achei que você
voltaria para o telhado.
— Você e seu grito assustado aconteceram, — respondeu Bink. — Achei
melhor acelerar o passo.
— Eu disse crankapacky.
— Eu ouvi você dizer crankapacky, — concordou Bink olhando em
volta. Uma figura aparecera na porta onde Tavia estivera exercendo a
função de olheira e vinha a passos largos na direção das duas. Era um
humano, e mesmo com as sombras provocadas no rosto pela iluminação da
rua, ele parecia conhecido. O homem continuou a aproximação, e a cada
passo, a mão balançando roçava em uma arma de raios dentro de um coldre.
Bink apertou a própria arma...
E então, quando o sujeito passou pela luz de uma lâmpada de segurança
doméstica, Bink viu bem o rosto dele. Ela soltou um suspiro e sentiu a
tensão amolecer o corpo, de alívio. Não era de admirar que Tavia tivesse
levado um susto. E não era de admirar que ela tivesse dito crankapacky.
— Oi, Solo, — ela saudou o recém-chegado. — O que está fazendo em
Kailor?
— Procurando por você, Bink, — respondeu Solo calmamente. — Bom
ver que tem se mantido ocupada.
— Estamos nos mantendo, — falou Bink. — Só que eu sou Tavia,
não Bink. Nós decidimos que eu finalmente precisava aprender a parte
suja do negócio.
Por um longo instante, Han pareceu que ia acreditar na história. Os olhos
pularam entre os rostos das mulheres, à procura de uma pista de que face
pertencia a que gêmea.
Ele não encontraria, obviamente. Nem mesmo se as duas estivessem em
um ambiente intensamente iluminado, em vez de uma rua da cidade à noite.
Bink e Tavia tinham pregado a mesma peça inúmeras vezes ao longo dos
anos, e o passado delas estava repleto das caras vermelhas daqueles que
caíram no truque.
Mas Solo era mais esperto do que a maioria. E se não conseguisse
encontrar nenhuma prova visual de que Bink estava mentindo, ele a
conhecia bem o suficiente para dar um palpite.
— Boa ideia, — disse Han, encarando os olhos dela. — Eu preciso de
você e de Tavia para um serviço em Wukkar. Interessada?
— Pode ser, — respondeu Bink. — Recompensa decente?
— Muito decente, — confirmou Solo. — Venha para a Falcon e nós
conversaremos a respeito.
— Vamos nos encontrar na nossa nave, em vez disso, — sugeriu Bink. —
Doca 22. Vão e fiquem à vontade. Nós estaremos lá em breve; temos uma
parada para fazer primeiro.
— Sejam rápidas, — alertou Solo. — Estamos com um cronograma
apertado.
Ele deu meia-volta e foi embora noite adentro. Ao chegar ao fim do
quarteirão, outra figura, essa mais alta e peluda, apareceu. Chewbacca,
sendo seu reforço de sempre.
Parcerias entre contrabandistas não duravam para sempre, Bink sabia, e
quando terminavam, geralmente tinham um fim violento. Era bom ver que
essa ainda estava durando.
— Devemos ir, — falou Tavia, com um tom de voz ainda mais crítico do
que o normal.
— Certo. — Bink usou as microferramentas para cortar a sinteticorda do
arnês, e elas foram para o ponto onde estacionaram o landspeeder.
— Você vai aceitar o serviço? — perguntou Tavia enquanto as duas
caminhavam.
— Provavelmente, — disse Bink. — Vamos ouvi-lo primeiro, é claro.
Mas provavelmente.
— Você sabe que a recompensa provavelmente não é tão grande quanto
ele insinuou, — alertou Tavia. — Coisas assim praticamente imploram para
ser exageradas.
— Eu sei, mas não temos mais nada planejado, e serviços de coleta
podem ser divertidos. — Bink deu de ombros. — Além disso, é Solo. O que
pode dar errado?
Tavia deu um muxoxo de desdém.
— Você quer que eu te dê uma lista?
— Não é preciso, — falou Bink com pesar. — Eu tenho a minha própria.

A grande feira de Jho-kang’ma era conhecida principalmente por duas


coisas: os produtos agrícolas e animais mais frescos do planeta, — por
causa do exército de fazendeiros e pastores mantidos sob domínio por
contrato logo após os morros na fronteira da feira – e o número e a
qualidade de artistas que perambulavam pelo terreno para divertir os
clientes.
Havia muitos artistas naquele dia, Han notou enquanto ele e Chewbacca
andavam pelos corredores cobertos por palha entre as barracas. Havia
malabaristas, músicos, dançarinos de flâmulas, e um grande ser que parecia
estar comendo e cuspindo tiros de baixa potência de uma arma de raios.
Essa era uma atração que Han não tinha visto antes.
Mas os números mais populares, certamente aqueles que pareciam atrair
a maior plateia de crianças animadas, eram os mágicos.
Alguns tinham pequenas barracas móveis que eram armadas em cantos
afastados para shows de cinco ou dez minutos. Outros simplesmente
perambulavam com o show inteiro no bolso ou na pochete, faziam moedas
aparecer e desaparecer, criavam plantas vivas que cresciam e floresciam em
vasos que também surgiam do nada, criavam e soltavam passarinhos, ou
faziam truques simples, porém desconcertantes, com baralhos de cartas de
sabacc.
Os dois encontraram Zerba Cher'dak no meio de uma das maiores
plateias, vestindo um traje amarelo berrante parecido com uma roupa de
palhaço, com um colete marrom por cima, girando pequenos bastões entre
as mãos e fazendo com que mudassem de cor ou comprimento
aparentemente à vontade. Como a maioria dos Balosarianos que Han tinha
visto em mundos governados por humanos, Zerba havia retraído e
escondido as antênulas entre as ondas do cabelo felpudo e com muita
pomada, a fim de melhor se misturar com a população dominante.
Chewbacca rosnou um comentário.
— Um dos melhores — concordou Han enquanto Zerba continuava a
brincar com os bastões. Às vezes, ele transformava um dos bastões em uma
gema cintilante, o que arrancava risinhos alegres da plateia. — Pelo menos,
o melhor que conseguimos arrumar.
Chewbacca rosnou outra vez.
— Não, não vou dizer isso a ele, — prometeu Han pacientemente. Ele
sabia ser diplomático, apesar do que Chewbacca parecia achar.
O show terminou, e com um floreio de duas mãos cheias de bastões,
Zerba se despediu das crianças e as mandou de volta para os pais. A plateia
foi indo embora, e Zerba enfiou as mãos nos bolsos do colete e andou até
Han e Chewbacca.
— Se não é o notório Han Solo, — falou Zerba enquanto inclinava a
cabeça para cumprimentá-lo. — Eu estava pensando em você agora mesmo.
— Ele tocou o ponto do cabelo petrificado onde as antênulas estavam
escondidas. — Nós somos muito sensíveis a pensamentos maus e
criminosos, sabe.
— Eu ouvi falar disso, — disse Han. — Imagino que suas orelhas
funcionem muito bem também. Deixe-me adivinhar: Jabba aumentou a
recompensa por mim?
— Basicamente, — respondeu Zerba soando um pouco desanimado. —
Se está procurando um esconderijo, este lugar é uma escolha excelente. —
Ele olhou Han de cima a baixo. — Porém, sem qualquer talento para
entretenimento, você provavelmente trabalharia com os rebanhos. Ainda
assim, eu conheço pelo menos três outros Wookiees que ajudariam a
conseguir...
— Não estamos aqui para nos esconder, — interrompeu Han. — Estamos
aqui para lhe oferecer um serviço. Dos grandes.
— Sério? — perguntou Zerba, claramente surpreso. — Você me quer?
Por meio segundo, Han ficou tentado a ir em frente e contar para Zerba
que ele na verdade era o número oito em sua lista de habilidades
específicas, apenas para ver como o sujeito reagiria. Mas ele deixou a ideia
de lado. Zerba provavelmente não possuía uma nave própria, e Han não
desejava ter um Balosariano deprimido no meio do caminho, durante todo o
retorno a Wukkar.
— Com certeza, — disse ele ao contrário. — Eu andei trabalhando em
alguns planos diferentes para esse serviço, e todos eles precisam de um
prestidigitador, de um artista que mude rápido de roupa, ou que tenha algo a
mais no seu repertório de truques. Então, está interessado?
— Sim, claro. — Zerba olhou furtivamente ao redor. — Esse serviço é,
hã, fora do planeta?
Han concordou com a cabeça.
— Wukkar, para ser exato.
— Ah. — Zerba franziu os lábios. — O problema é que, como devo ter
insinuado antes, eu estou evitando agir no momento. Mas essa segurança
tem um certo preço.
Han revirou os olhos.
— Deixe-me adivinhar. Seus atuais patrões não permitem que você vá
embora.
— Vamos dizer apenas que eles gostam de saber onde estou. — Zerba
passou a mão pelo traje amarelo. — Daí a roupa ridícula. Eles são muito
sérios em relação à natureza do contrato de seus artistas.
Han olhou para Chewbacca, viu o mesmo pensamento refletido no rosto
do Wookiee. Eles já tinham descido e chegado ao número oito na lista;
realmente não podiam se dar ao luxo de descer ainda mais.
— Quanto vai custar? — perguntou ele.
— Ah, não é uma questão de créditos, — disse Zerba ao tirar o traje. —
Mas obrigado pela oferta. Aqui, fique com isso, pode ser? É possível você
me dar uma carona? Eu não tenho nave.
— Claro. — Han franziu a testa ao pegar o traje. Era mais pesado do que
parecia. Provavelmente com todos os bolsos cheios dos apetrechos mágicos
de Zerba. — Mas você acabou de dizer...
— Maravilha, — interrompeu Zerba. Ele tirou o cinto cheio de bolsos
que estava escondido embaixo do traje e entregou para Chewbacca. —
Deixe-me pegar minhas coisas e encontro com vocês no espaçoporto.
Chewbacca grunhiu uma pergunta.
— Ah, não se preocupe, — respondeu Zerba. — Eles não me observam
tão de perto assim. E estou preparado para este dia há algum tempo. — Ele
olhou ao redor. — Apenas preciso garantir que nenhum deles está aqui...
— Outra coisa, — falou Han. — As coisas que você vai pegar incluem
aquele velho sabre de luz que você costumava ter, certo?
Zerba virou o rosto imediatamente, e os olhos pularam entre Han e
Chewbacca.
— Espere um pouco, — disse ele desconfiado. — Essa é a questão? Tudo
que você precisa é do meu sabre de luz?
— Não, precisamos de você também. — Han se apressou para
tranquilizá-lo. — Além disso, se eu quisesse um sabre de luz de verdade,
conheço outro sujeito que possui um.
— O que você quer dizer com um sabre de luz de verdade?, — Zerba
bufou. — O meu corta tão bem quanto qualquer outra coisa que você
encontre por aí.
— Eu quero dizer um sabre de luz com uma lâmina maior do que isso, —
respondeu Han segurando as mãos afastadas por 20 centímetros. — O seu
está mais para adaga de luz. Ou faca de pão de luz.
— No entanto, ele parece valer o suficiente para você vir até aqui pegá-
lo, — contra-argumentou Zerba. — Por quê? O que você quer com o sabre
de luz?
— Quero cortar uma coisa, — falou Han lutando com a impaciência.
Aquele não era exatamente o lugar ou ocasião certos para aquela conversa.
— Eu não sei ainda. Mas sempre há alguma coisa que precisa ser cortada.
Por um longo momento, Zerba encarou Han em silêncio. Ele devolveu o
olhar e tentou se lembrar onde exatamente o número nove da lista estava no
momento.
Então, para seu alívio, Zerba concordou com a cabeça.
— É claro, — disse ele. — E sim, eu ainda tenho o sabre de luz, só que a
lâmina está com 15 centímetros agora. Eu não sei por que ela não para de
encolher.
— Deve servir, — tranquilizou Han. Então Zerba não ficaria deprimido,
mas provavelmente faria a viagem de volta paranoico e desconfiado. —
Você está com a gente ou não?
— Estou com vocês — respondeu Zerba. Ele deu uma última olhada ao
redor, depois meteu a mão no bolso e tirou algo do tamanho e formato de
um pequeno ovo...
E num piscar de olhos, o traje amarelo virou um casaco vermelho-escuro
comprido, uma blusa azul estampada, e uma calça bag bege.
Chewbacca latiu uma imprecação de susto.
Zerba sorriu e inclinou a cabeça em um gesto curto.
— Como disse, eu estava preparado, — disse ele. Zerba deu meia- volta
e desapareceu na multidão de fregueses.
Chewbacca rosnou de novo.
— Não tinha visto esse truque antes, hein? — perguntou Han ao ir
embora através da multidão, na direção contrária. — Alguém me disse uma
vez que é apenas um traje de seda com costuras rasgáveis e linhas que
arrancam todas as peças e cabem dentro daquela coisa tipo um ovo que ele
segurava.
Chewbacca pareceu pensar sobre aquilo por um momento, depois rosnou
novamente.
— Bem, sim, tenho certeza de que soa mais fácil do que realmente é —
falou Han. — Se resumirmos, tudo que nós fazemos é transportar carga de
um lugar para outro.
Chewbacca grunhiu.

— Certo — admitiu Han. — Sem sermos capturados.


O sujeito corpulento estava longe demais do outro lado do campo de
pouso do espaçoporto para Han conseguir ouvir o que ele dizia. Porém, pelo
jeito que agitava os braços ao encarar o Rodiano durante metade da
conversa, ele não estava contente.
A julgar pela maneira como a mão de escamas verdes do Rodiano estava
apoiada na coronha da arma de raios no coldre, também não parecia que ele
estava muito contente.
Ao lado de Han, Chewbacca grunhiu uma pergunta.
— Porque nós precisamos de um testa de ferro, — respondeu Han.
— Alguém que saiba contar uma boa história e fazer o ouvinte
acreditar. — Ele apontou com a cabeça para a dupla que discutia. — Dozer
tem a presença, a confiança, e até um pouco de sotaque Corelliano.
Chewbacca rosnou uma objeção.
— Sim, mas mafioso é o visual que procuramos, — lembrou Han.
— Ele é um pouco rústico, mas dá para passar como alguém que
progrediu nas fileiras. Além disso, nenhuma de minhas outras escolhas
estava disponível.
Chewbacca rosnou novamente.
Han manteve a calma. Será que Chewie nunca abandonaria o assunto?
— Claro que Lando provavelmente faria melhor — disse ele com
paciência forçada. — E não, não vamos chamá-lo. Fim de papo. — Han
olhou feio para a expressão teimosa do Wookiee. — E estou falando sério
quando digo fim de papo. Entendeu?
Com a cara amarrada, Chewbacca resmungou uma afirmativa emburrada.
Han voltou a atenção para a conversa distante e, pelo visto, cada vez mais
turbulenta.
A parte realmente irritante era que Chewbacca estava certo. Lando
Calrissian seria o testa de ferro perfeito para o esquema que ele tinha em
mente, — não tinha sotaque Corelliano, mas era mais afável e urbano do
que Dozer Creed conseguiria ser mesmo nos seus melhores dias. Porém,
depois do incidente em Ylesia, Lando disse categoricamente para Han que
nunca mais queria vê-lo outra vez. O fiasco com a estátua de Yavin
Vassilika não fez nada além de aumentar a animosidade.
Talvez Lando se acalmasse com o passar do tempo. Talvez não. Apenas o
tempo diria, e Han não estava com pressa para descobrir.
A conversa do outro lado do campo de pouso estava ficando mais alta.
Han viu Dozer balançar freneticamente os braços e se perguntou se era hora
de ele e Chewbacca intervirem. Se qualquer uma das partes decidisse tornar
a situação mais séria ao sacar a arma, a coisa iria para o brejo em tempo
recorde.
E então, de repente, a discussão acabou. O Rodiano entregou uma
bolsinha para Dozer, Dozer pegou uma pasta atrás de si e entregou para o
Rodiano, e ambos deram meia-volta e seguiram seus caminhos.
— Viu só? — falou Han gesticulando para o grandalhão. — Sem
problema. Ele resolveu a situação na lábia. Ande, vamos ver se ele está
livre. — Ele começou a ir na direção de Dozer...
E parou imediatamente quando sentiu algo duro lhe cutucar as costas.
— Não se vire, — disse uma voz em tom baixo atrás dele, só para o caso
de o cano da arma de raios não ter sido mensagem suficiente.
Han parou e soltou um breve suspiro. Ele deveria ter imaginado que não
seria tão simples assim.
— Calma, — ele tranquilizou o homem atrás dele enquanto lentamente
afastava as mãos da lateral do corpo. — Estamos apenas passando.
— Talvez, — respondeu o sujeito. — É assim que vamos fazer. Vamos
esperar, bem quietinhos, até que aquele ladrão filho de um Ranat venha
aqui. E nem pense em tentar alertá-lo.
— Ei, sem problemas — assegurou Han. Do outro lado do campo de
pouso, Dozer tinha visto os visitantes e mudado de direção até eles. — O
que acontece então?
— Então ele devolve a minha nave, — disse o homem. — Ou eu o mato.
— Justo — falou Han, examinando a expressão de Dozer. Este, por sua
vez, observava Han e Chewbacca (mais Chewbacca, na verdade) com o
cenho ligeiramente franzido. Mas era uma expressão curiosa, sem susto ou
desconfiança misturados.
O que significava que ele não tinha notado o pistoleiro atrás dos dois.
— Tem certeza de que ele é o cara que fez seja lá o que for com sua
nave? — perguntou Han prestando atenção.
— Se eu fosse você, não faria muitas perguntas, — aconselhou o homem.
— Se eu tiver a mínima suspeita de que você está trabalhando com ele,
talvez você não saia vivo dessa.
— É, saquei, — rosnou Han. Ele estava certo: a voz com certeza vinha da
esquerda e de alguns centímetros acima da orelha. O que
significava que o homem era alto demais para estar se escondendo
atrás de Han.
O que significava que ele estava se escondendo atrás de Chewbacca.
— E pega leve nas ameaças, ok? — continuou Han. — O Wookiee tem
um coração fraco, e empolgação não faz bem para ele. Muito agito e ele
pode ter um ataque.
— Sei, sei — disse o homem com sarcasmo. — Eu ouço falar sobre
Wookiees com problemas no coração o tempo todo.
— Não estou brincando, — insistiu Han. — Ele teve febre seumádica
quando era criança. — Ele ergueu o braço e tocou no de Chewbacca. —
Você está bem?
Chewbacca deu um trilado melancólico e balançou um pouco o corpo.
Ótimo, — ele tinha sacado o plano.
— Aguente firme, parceiro, aguente firme — encorajou Han. — Eu
posso pelo menos dar o remédio para ele? — Sem esperar pela resposta,
Han enfiou a mão no bolso lateral do colete.
E parou quando a arma de raios outra vez cutucou as costas.
— Mãos nas laterais — disparou o homem. — Você, Wookiee, parado.
Droga, fique parado!
— Ele não consegue evitar, — falou Han enquanto apertava o braço de
Chewbacca com força. O Wookiee realmente estava entrando no papel, se
balançando como uma tenda em um furacão. Se Han não soubesse, teria
jurado que o companheiro estava à beira de um colapso.
O agressor também pensou assim. Han ouviu o homem dando vazão à
frustração ansiosa com xingamentos enquanto seu escudo ambulante
ameaçava se mover o suficiente, para um lado ou para o outro, a ponto de
revelá-lo para Dozer. Han ouviu o leve arrastar de botas no permacreto
conforme o sujeito tentava acompanhar os movimentos de Chewbacca.
E com a atenção total do pistoleiro voltada para se manter escondido,
Han virou meio corpo, girou o braço esquerdo para trás a fim de desviar a
arma de raios e enfiou o punho direito na barriga do homem.
Com uma tosse agonizante, o pistoleiro dobrou o corpo e caiu de joelhos.
Chewbacca deu meia-volta, pegou o outro braço do agressor e imobilizou o
homem enquanto Han arrancava a arma de raios da mão frouxa. Ele era
muito mais jovem do que Han imaginara, apesar da altura. Não muito mais
velho do que Luke, com muito do mesmo ar de inocência deslumbrada.
— Quer explicar isso aqui? — perguntou Han brandamente ao erguer a
arma de raios diante dos olhos do moleque.
Ele olhou feio, mas permaneceu calado.
— Vamos tentar de novo, — sugeriu Han. Ele mudou a pegada na arma
de raios a fim de apontá-la para o rosto do moleque. — Você acabou de
sacar uma arma para dois completos estranhos. Eu quero saber o motivo.
— Ora, ora. — A voz confusa surgiu por trás de Han. Ele deu meia-volta,
tenso, e depois relaxou ao ver que era apenas Dozer, que vinha calmamente
na direção deles. O grandalhão estava com a mão na coronha da arma de
raios, mas não fazia menção de sacar. — O que temos aqui?
— Temos alguém que não está muito contente com você — respondeu
Han. — Ele está muito engasgado para explicar. Quer tentar?
Dozer sacudiu a cabeça com tristeza.
— Jephster, Jephster, — ele ralhou com o moleque. — Eu já lhe disse:
sua nave está no Quadrante Norte.
— Eu procurei, — falou o moleque a duras penas; as palavras saíram
com um esforço óbvio. — Doca 62, exatamente como você disse.
— Sessenta e dois? — Dozer suspirou exageradamente. — Jephster, eu
disse 72. Setenta e dois.
O moleque ergueu os olhos, com uma expressão aflita no rosto.
— Setenta e dois? — repetiu com a voz fraca.
— Setenta e dois, — falou Dozer com firmeza. — Sinto muito; eu
realmente achei que você tinha ouvido corretamente. Mas está tudo bem,
não é? — Ele puxou o comunicador. — Tenho uma sugestão: eu ligarei para
o supervisor do portão, direi que você se confundiu e pedirei que ele
confirme para você. Certo?
— Não, — disse o moleque rapidamente enquanto se esforçava para se
levantar. — Não, tudo bem. Eu simplesmente vou lá e... encontro a nave
sozinho. — Ele olhou para Han e acrescentou: — Foi mal.
— Dá próxima vez, tente saber o que está fazendo antes de começar a
apontar sua arma por aí, — alertou Han ao virá-la e recolocá-la no coldre do
moleque. — Outras pessoas não se preocupam em fazer perguntas antes de
começar a atirar.
— É, — sibilou o moleque. — Foi mal. — Ele acenou debilmente com a
cabeça, deu meia-volta e foi embora mancando.
Dozer esperou até que o moleque não pudesse escutar.
— Belo serviço, — murmurou ele. — Essa situação podia ter ficado feia.
É Solo, certo?
— Sou eu, — confirmou Han. — Já nos esqueceu?
— Ah, eu nunca esqueço um rosto, — assegurou ele. — Só tenho
problemas em associá-los aos nomes corretos. O que o traz a este canto da
galáxia?
— Eu tenho um serviço, — falou Han. — Não é contrabando desta vez.
Mais no sentido de um assalto a uma caixa-forte.
— Sério? — disse Dozer. — E então, você precisa de uma nave ou duas
para o esquema? — Ele gesticulou para o campo em volta. — Tudo que
você vir aqui, eu posso roubar para você.
— Eu estava mais pensando em ter você como testa de ferro, — explicou
Han. — Você tem a presença e a lábia que precisamos.
— Ah... então há algum golpe envolvido também? — perguntou Dozer.
— Interessante. Estou dentro.
Han franziu o cenho.
— Não quer ouvir sobre a recompensa primeiro?
— Você não teria vindo até aqui se não fosse decente — ressaltou Dozer.
O olhar pulou para o moleque. — Além disso, sair dessa rocha por um
tempo provavelmente seria uma boa ideia.
— Provavelmente — concordou Han. — Imagino que você já tenha
vendido a nave dele?
— Na verdade, nunca foi dele para início de conversa, — admitiu Dozer.
— Eu considero que minha margem de lucro é muito mais satisfatória
quando consigo vender a mesma mercadoria duas vezes.
— Mais fácil fazer isso na sua profissão do que na minha, — disse Han.
— Só por curiosidade, o que teria feito se ele tivesse deixado você falar
com o supervisor do portão?
— E deixar que as pessoas soubessem que ele foi suficientemente
estúpido para apontar armas para completos estranhos após ter ouvido
errado um número? — Dozer balançou a cabeça. — Sem chance. Jovens da
idade dele não medem esforços para evitar passar vergonha.
— Sorte sua.
Dozer deu de ombros.
— Você já estava com a arma de raios dele — ressaltou Dozer. — Ainda
assim, como creio que um grande poeta tenha dito uma vez, a discrição é a
base de uma existência prolongada. Estou pronto assim que você estiver.
— Ótimo, — falou Han, gesticulando para outra parte do campo.
— A Falcon é por ali. A não ser que você prefira levar sua própria nave.
— Na verdade, eu nunca tive uma nave própria — falou Dozer. — Os
custos de manutenção são caros demais.
— Pois é, — disse Han com pesar. — Ande, vamos sair do sol antes que
o moleque volte.
CAPÍTULO

Eanjer estava esperando na baia do Espaçoporto da Cidade de Iltarr


enquanto Han, Chewie, Zerba e Dozer saíam em fila da Falcon. Han cuidou
das apresentações e, embora Eanjer tenha sido suficientemente educado,
Han teve a nítida impressão de que ele ficou um pouco assustado com o
tamanho do grupo. Possivelmente estava começando a imaginar quantas
vezes a pilha de créditos seria dividida antes que ele ficasse com uma parte
para si.
Felizmente, caso ele estivesse ou não esperando uma galera, Eanjer tinha
vindo preparado. Em vez do landspeeder padrão de quatro lugares, ele
trouxera uma speeder van de dez passageiros.
— O restante do pessoal está aqui? — perguntou Han.
Ele torceu um pouco o rosto quando Eanjer manobrou para fora do
estacionamento e entrou na rua lotada. Han ainda não sabia se Eanjer
enxergava pelo olho prostético, e dirigir no trânsito de uma cidade com só
uma mão já era complicado com tudo a
a favor. Mas ele foi direto para o banco do motorista no momento
em que eles chegaram ao veículo, e Han ainda não tinha pensado
em um jeito diplomático de tirá-lo de lá.
— Não faço ideia — respondeu Eanjer —, uma vez que não sei quem
mais viria. Até agora temos três: Rachele, mais o rapaz e a mulher que
Mazzic mandou. Ah, e as gêmeas... Bink e uma outra? Elas chegaram assim
que eu estava saindo para pegar vocês.
— O nome da irmã de Bink é Tavia, — disse Han.
— Isso... Tavia, — falou Eanjer concordando com a cabeça. — Então
isso é tudo?
— É, — tranquilizou Han observando o trânsito. Rachele havia alertado
que, com a cidade ficando lotada para o Festival das Quatro Honrarias, ela
talvez tivesse dificuldade em arrumar acomodações. — Então, Rachele
conseguiu arrumar um quarto para nós?
— Sim. — Eanjer deu um sorriso tímido. — E não.
Realmente Rachele não tinha conseguido arrumar um quarto para eles.
Ela arrumou uma enorme suíte de dois andares.
— Estou impressionado — comentou Dozer, olhando de um lado para o
outro para vários elementos da decoração enquanto Rachele apresentava a
suíte. Um dos ambientes tinha vários tons de marrom, com piso de tábuas
corridas, cadeiras ajustáveis e reclináveis em volta de uma mesa de tampo
de vidro, equipada com um holovídeo. Outro cômodo era decorado em
azul-claro, com uma mesa de jogos redonda, um bar e quadros do piso ao
teto. — E Han pode confirmar que isso não é fácil. Eu sou capaz de roubar
naves o dia inteiro. Mas como, pelo Império, você rouba imóveis?
Rachele deu de ombros.
— Não é difícil quando se sabe.
— Isso não me diz nada, — falou Dozer.
— Não era para dizer, — assegurou Rachele.
Dozer inclinou a cabeça.
— Justo.
— Bink e Tavia chegaram há mais ou menos duas horas, — disse
Rachele enquanto conduzia o grupo para uma escada em espiral larga que
levava ao andar de cima. — Estão desfazendo as malas e arrumando o
equipamento em um dos quartos. O pessoal de Mazzic está aqui desde
ontem.
— Foi Mazzic quem os trouxe pessoalmente? — perguntou Han.
— Na verdade, ninguém os trouxe; eles vieram em voo comercial. — Ela
deu um leve sorriso. — Podemos jogar cubos de risco para ver quem de nós
dará carona para eles quando for a hora de partir. Vamos, o pessoal de
Mazzic está na sala de estar do andar de cima. Eu vou apresentá-los.
Rachele começou a subir as escadas. Han foi atrás, mentalmente
balançando a cabeça. Não era apenas uma suíte, mas uma com visão da
Mansão Marblewood de Villachor.
A loucura, na verdade, era que aquilo era apenas um hobby para Rachele,
algo que ela fazia como favor para amigos ou para se divertir. Se um dia
Rachele decidisse desistir da vida normal e investir na carreira criminosa, o
Império jamais seria o mesmo.
Dado o tipo de gente que Mazzic costumava contratar, o homem e a
mulher que conversavam tranquilamente em volta de um datapad foram
uma certa surpresa. Por um lado, eles eram mais jovens do que Han
esperava, não tinham mais do que uns vinte anos, possivelmente menos. Por
outro, nenhum tinha expressões e olhares desconfiados e embrutecidos,
como a maioria dos criminosos com quem Han tinha esbarrado ao longo
dos anos. Seja lá como for que passaram a trabalhar para Mazzic, os dois
provavelmente não faziam isso por causa de berço ou por obrigação.
— Você deve ser Han, — falou a mulher conforme o grupo surgia na
escada atrás dele e de Rachele. Apesar da juventude, o cabelo tinha um tom
branco quase reluzente, e Han imaginou se era natural ou artificial. — Meu
nome é Winter.
— Winter de quê? — perguntou Zerba.
A mulher disparou um olhar para ele e respondeu:
— Apenas Winter.
— Ela está certa, — concordou Han antes que mais alguém falasse.
— Vamos nos ater a prenomes de agora em diante. É mais seguro assim.
Estes são Chewie e Rachele, Zerba e Dozer. Rachele disse que vocês já
conheceram Bink e Tavia.
— A ladra fantasma e sua irmã, — disse Winter concordando com a
cabeça. — Sim, conhecemos. Um par impressionantemente idêntico.
— Eles também conheceram nosso contratante, — acrescentou Rachele.
— Ótimo. — Han gesticulou para o moleque sentado ao lado de Winter.
— E você?
Han não conseguiu identificar se o moleque estava encarando o restante
do grupo com fascinação ou repulsa. Agora, subitamente trazido ao centro
das atenções, ele pareceu voltar à realidade e respondeu:
— Sou Kell.
— E o que você faz...? — perguntou Dozer.
Kell franziu a testa.
— O que eu faço? — repetiu ele.
— Qual é a sua especialidade? — explicou Dozer. — O que você faz que
o torna digno de estar aqui entre toda essa grandeza? — Ele gesticulou para
o ambiente.
— Ah, — disse Kell com a expressão voltando ao normal. Ele ficava
facilmente perplexo, decidiu Han, mas se recuperava igualmente rápido. —
Eu sou muito bom com explosivos: fazer, instalar, disparar. Entendo muito
de droides também.
— É claro — falou Dozer secamente. — Conhecimento de droides é
essencial para qualquer bom roubo.
— Na verdade, neste caso, é sim, — concordou Rachele. — A segurança
da caixa-forte de Villachor inclui um conjunto de droides de guarda.
— Ah — disse Dozer meio impressionado. Porém, como Kell, ele se
recuperava rápido. — Bem, isso é bom saber. E quanto a você, Winter?
— Eu sei muito sobre sistemas de segurança, — respondeu ela. —
Também tenho um bom olho para detalhes.
Kell deu um risinho irônico.
— Um olho e um cérebro — disse ele. — Winter se lembra de tudo que
vê ou escuta. Tudo.
— Isso pode vir a calhar, — comentou Han observando Winter. Ele tinha
ouvido falar de pessoas com esse tipo de memória, mas eram raras.
— Já veio a calhar, — falou Rachele. — Andamos observando a mansão
de Villachor... — Ela interrompeu quando uma campainha suave tocou do
outro lado do cômodo. — Ah, ótimo, ele chegou — disse Rachele ao correr
para a porta.
Han franziu a testa enquanto fazia uma conta mental. Ele e Chewbacca,
Zerba e Dozer, Kell e Winter e Rachele, com Bink, Tavia e Eanjer em outro
lugar qualquer na suíte. Aqueles eram todos os convidados.
Então quem Rachele esperava?
Ele deu meia-volta e desceu a mão à arma de raios. Rachele chegou à
porta e abriu.
E, passando por ela como se fosse o dono do lugar, veio Lando
Calrissian.
— Olá, todo mundo, — disse ele dando aquele seu sorriso fácil enquanto
observava o ambiente. O olhar passou por Han e rapidamente se desviou.
— Então que serviço é esse, exatamente?

Han levou um segundo para recuperar a voz.


— Rachele, posso falar com você um minuto? — perguntou ele, forçando
um tom casual à voz.
Com o cenho levemente franzido, ela concordou com a cabeça e foi para
uma alcova na lateral, que havia sido decorada como um escritório. Han foi
atrás, ouvindo sem prestar atenção enquanto Lando e os demais começaram
a rever os conhecidos ou a se apresentar, conforme a necessidade.
Rachele parou assim que entrou no escritório e deu meia-volta.
— Sim?
— O que ele está fazendo aqui? — Han exigiu saber em voz baixa.
Rachele franziu mais a testa.
— Você me disse para convidá-lo.
Han encarou Rachele.
— Quando?
— Eu recebi a mensagem há três dias — respondeu ela, com um tom de
voz subitamente mecânico quando finalmente entendeu a situação, com
atraso. — Logo depois de você ter mandado a mensagem de que pegou
Bink e Tavia. — Rachele fez uma cara feia.
— Você não mandou, não é?
Han suspirou. Chewbacca. Ou mesmo Bink — ela sempre tivera uma
queda por Lando. Talvez até mesmo Mazzic, que imaginou que emprestar
Winter e Kell lhe daria o direito de ajudar com o restante da lista de
convidados.
— Não, não mandei, — falou Han. — Por acaso mencionei que ele me
odeia?
— Acho que ele não odeia, — disse Rachele. — Não de verdade. Lando
me disse que andou pensando, que talvez o que aconteceu não tenha sido
completamente culpa sua.
— Completamente? — retrucou Han sentindo a raiva crescer dentro de
si. Nem um único micrograma de qualquer um daqueles fiascos tinha sido
culpa dele. — Beleza. Que bom que não precisamos dele. Você o trouxe,
então pode voltar lá dentro e dizer para ele...
— Lando precisa dos créditos — falou Rachele rapidamente.
Han deu um muxoxo de desdém.
— Lando sempre precisa de créditos.
— Estou falando sério, — disse ela. — Acho que desta vez ele está
genuinamente desesperado.
Suficientemente desesperado para até mesmo trabalhar com um homem
que odiava? Han se virou e olhou para o grupo, ainda no meio de um papo
amigável. Se Lando estava desesperado, com certeza não demonstrava pela
expressão.
Por outro lado, ele nunca demonstrava. Se havia uma coisa em que
Lando era bom, era esconder sejam lá quais segredos sombrios se agitavam
dentro dele. Era justamente isso o que o tornava um apostador e golpista tão
bom, — e tão irritante.
E, como Han admitiu relutantemente, era o motivo de Lando ser um testa
de ferro tão bom para o serviço. Bem melhor do que Dozer.
— Você pode tirar o pagamento de Lando da minha parte, — ofereceu
Rachele. — Como você disse, ele está aqui por minha causa.
Por um momento, Han ficou tentado. Mas não era realmente culpa de
Rachele.
Além disso, se o roubo desse certo, haveria muito para distribuir.
— Não, — disse Han. — O que quer que a gente consiga, nós
dividiremos igualmente. Foi esse o acordo. — Ele respirou fundo. — Você
ia dizer alguma coisa sobre a mansão de Villachor?
— Sim, — falou Rachele, e Han notou o alívio na voz dela. Aquela tinha
sido uma situação muito embaraçosa para Rachele. — Ele andou recebendo
visitas...
— Não conte para mim — interrompeu Han. Ele colocou a mão nas
costas de Rachele para delicadamente levá-la de volta à sala de estar. —
Conte para todo mundo.
Levou um minuto para as conversas serem interrompidas e todo mundo
se sentar, e mais dois minutos para chamar Bink, Tavia e Eanjer de outras
extremidades da suíte.
— Como eu comecei a dizer antes, — falou Rachele quando todo mundo
estava finalmente reunido -, Winter, Kell e eu andamos observando o
movimento de veículos entrando e saindo do terreno de Villachor, e
notamos um padrão interessante. Primeiro, um grupo de três landspeeders
pesados entra pelo portão oeste e todos eles estacionam na entrada privativa
da ala sul. Uma pessoa sai de um dos veículos, que parece ser aleatório, e
entra.
— Você sabe dizer quem é? — perguntou Dozer.
— Quem ou o quê? — acrescentou Bink.
— Ele era humanoide, mas foi tudo que conseguimos saber — disse Kell.
— O toldo da entrada está sempre esticado, e o landspeeder passou bem
embaixo dele. Tudo que conseguimos enxergar deste ângulo foram
sombras, e elas não foram suficientemente nítidas para vermos além da
silhueta básica.
— Dá para usar um sensor de pulso? — sugeriu Tavia. — Se o toldo for
fino o bastante, isso pode nos dar uma visão melhor.
— Sensores de pulso são rastreáveis, — disse Dozer. — Não queremos
que Villachor nos rastreie até aqui.
— Estamos bem longe, e no meio de arranha-céus, — argumentou Tavia.
— Desde que o pulso seja curto, as chances de ele nos descobrir são
mínimas.
— Não importa, porque sensores de pulso não vão funcionar, — explicou
Winter. — Marblewood tem um escudo abrangente que se estende até um
pouco acima do muro externo. Se turbolasers não conseguem penetrar,
sensores de pulso certamente não conseguirão.
Dozer abanou a mão.
— Claro que não conseguirão — disse ele em tom de desculpas. — Foi
mal, eu deveria ter calculado que Villachor teria algo do tipo instalado. —
Dozer acenou com a cabeça para Rachele. — Por favor, continue.
— Dez a trinta minutos depois de esses landspeeders chegarem, outro
surge, cada vez é um landspeeder diferente, — falou Rachele. — Uma
única pessoa sai e passa pela entrada principal. Esses visitantes nós vimos
bem, e até agora têm sido sempre autoridades importantes ligadas ao
governo, à indústria ou ao mercado financeiro. Cerca de uma hora depois,
aquele visitante sai e vai embora dirigindo. Dez ou quinze minutos depois,
o passageiro do outro landspeeder sai pela entrada privativa, e o comboio
também vai embora.
— Isso vem acontecendo três a quatro vezes por dia, — acrescentou Kell.
— Geralmente ocorre uma visita de manhã cedo, depois outra por volta do
meio-dia, uma à noite, e em uma ocasião houve uma visita logo antes da
meia-noite.
— O ponto interessante é que sempre são os mesmos três landspeeders,
— disse Winter. — Os identificadores são diferentes, mas os landspeeders
são os mesmos.
— Assim como os passageiros, estamos presumindo, — falou Rachele.
— Como você sabe que são os mesmos landspeeders? — perguntou
Zerba.
— Eles têm os mesmos pequenos arranhões, mossas e outras marcas, —
respondeu Winter.
— Tem certeza? — indagou Dozer.
— Muita certeza, — disse Winter. — Rachele tem bons eletrobinóculos,
e esses detalhes ficaram claramente aparentes.
— Parece que Villachor está sendo o anfitrião de uma série de reuniões
— sugeriu Bink.
— Ele está tentando encontrar um sheer para roubar os meus créditos, —
disse Eanjer em tom sombrio. — Provavelmente trouxe alguém de fora do
planeta que tirou vantagem das multidões do Festival para entrar escondido
na cidade. Se não chegarmos lá rápido, vamos perder tudo.
— Calma, — tranquilizou Bink. — Correr antes de estar pronto é uma
receita para o desastre. Além disso, se o visitante é o hacker pessoal de
Villachor, por que ele não está hospedado na mansão em vez de ficar indo e
voltando?
— E por que o desfile de autoridades locais indo vê-lo? — acrescentou
Tavia. — Não, tem alguma coisa acontecendo.
— Como essas autoridades parecem quando saem? — perguntou Lando.
— Felizes, furiosas, deprimidas?
Winter e Kell se entreolharam.
— Nada, na verdade, — respondeu Kell. — Elas parecem apenas... sei lá,
normais.
— Você disse que geralmente há uma visita no meio do dia? — indagou
Lando, enquanto se levantava e ia à janela. — De que direção eles vêm?
— Noroeste, geralmente, — falou Winter, que se levantou e ficou ao lado
dele. — Eles surgem em uma daquelas ruas ali, depois prosseguem pela
avenida larga que acompanha o muro externo e entram naquele portão, que
fica na extremidade sudoeste.
— E saem pelo mesmo lugar?
— Saem pelo mesmo portão, mas tomam várias rotas a fim de voltar para
onde eles vão no fim das contas, seja lá onde for.
— Já tentou segui-los? — perguntou Han.
— Não achei que fosse seguro, — disse Rachele. — Creio que eles
tenham alguém dando cobertura, e nós precisamos ter mais do que apenas
alguns rastreadores se formos segui-los sem sermos vistos.
— Bem, temos um grupo com um tamanho decente agora — falou Han
indo à cadeira ao lado de Bink e Tavia e se sentando. — Winter, fique de
olho: veja se eles mantêm o cronograma de sempre. O resto de vocês,
venham aqui e vamos ver o que Rachele descobriu sobre a casa de
Villachor.
— Vai ser uma demonstração curta, infelizmente, — disse
Rachele conforme os demais voltavam à sala de estar e se sentavam.
Han achou graça ao notar que Lando se dirigia ao assento entre Bink e
Tavia, até que Tavia percebeu e foi depressa na direção da irmã para fechar
o espaço. Lando nem hesitou, simplesmente mudou de direção e, em vez
disso, se sentou ao lado de Zerba.
— Vamos ao básico, — falou Rachele quando todo mundo estava
sentado. Ela fez alguma coisa no datapad, e uma grande planta de vários
andares apareceu no ar sobre o holoprojetor. — A mansão de Villachor foi
construída originalmente há 150 anos como o novo lar do governador do
setor. Vocês notarão o leve formato aurek do prédio: alas norte e sul retas
voltadas para o oeste, com alas nordeste e sudoeste brotando do centro atrás
delas.
— Deixe-me adivinhar, — disse Dozer. — O nome do governador
começava com essa letra?
— O nome da esposa, na verdade, — explicou Rachele. — A sede do
governo foi transferida novamente oitenta anos depois, e a mansão passou
por uma série de proprietários até Villachor comprá-la há onze anos.
— Essa planta está atualizada? — perguntou Bink.
— Em grande parte — falou Rachele. — Até onde eu sei, nenhum dos
antigos proprietários fez algo drástico no prédio. A maior renovação foram
essas claraboias sobre o átrio e as alas, que foram instaladas há cinquenta
anos. Mas nada da estrutura básica ou do desenho foi mudado até Villachor
assumir o lugar. — Ela acionou o datapad novamente, e a imagem deu
zoom para um salão no térreo na extremidade sul da ala sul da construção.
— Esse é o salão de baile menor. A primeira e maior renovação de
Villachor foi transformá-lo em sua caixa-forte.
Lando assobiou baixinho.
— O que ele guarda ali, pequenas espaçonaves?
— Pelo que eu sei, a maior parte ainda é tomada por espaço vazio
— respondeu Rachele. — Sabemos que ele blindou as paredes e o teto de
alguma forma. Não tanto assim; eu examinei antigos pedidos de material e
creio que não haja mais do que 4 ou 5 centímetros de blindagem de casco
de espaçonave de guerra no lugar. Nada desprezível, mas nem tão ruim
quanto poderia ser. Infelizmente, a caixa-forte inteira também é selada
magneticamente, e provavelmente há uma camada ou duas de defletor de
sensores.
— Você disse que a blindagem é apenas nas paredes e no teto? —
perguntou Dozer. — Nada no piso?
— Pode haver algo ali embaixo também, — falou Rachele. — Mas uma
vez que toda a ala sul fica em cima de 10 metros de rocha sólida, duvido
que Villachor tenha se dado ao trabalho.
— As paredes não devem ser um problema — disse Zerba, pensativo
com um dedo cutucando o lábio inferior. — Mesmo com sua melhor
estimativa, não deve levar mais do que alguns minutos para eu abrir uma
porta para nós.
— Mesmo com selagem magnética? — perguntou Kell.
Zerba concordou com a cabeça.
— Não deve ser um problema.
— O que pode ser um problema é se a blindagem tiver uma armadilha de
mel — alertou Bink. — Mesmo algo tão fino assim tem muita espessura
para se trabalhar.
— O que é uma armadilha de mel? — indagou Eanjer.
— Uma armadilha parecida com favos de mel — explicou Bink. — A
pessoa coloca favos de explosivos, ácido ou gás venenoso pressurizado
dentro das paredes, para que quem estivesse atrás de um maçarico tivesse
uma supresa mortal no meio do caminho.
— É a última moda entre a classe alta de chefões do crime paranoicos, —
acrescentou Dozer secamente. — E quanto a isso, Kell? Tem experiência
com essas armadilhas? Ou simplesmente explode as coisas e deixa que os
outros desarmem?
— Não, eu consigo fazer as duas coisas, — disse Kell com a testa
franzida, pensando. — Eu provavelmente dou conta de quaisquer
armadilhas explosivas que nós encontrarmos, desde que Zerba não as
dispare antes de eu chegar lá. — Ele franziu o nariz. — Não tenho tanta
certeza sobre o ácido e o gás, porém.
— Na verdade, eu duvido que as paredes sejam nosso maior problema,
— falou Rachele. — Parece que o que Villachor tem dentro da sala é que
será o verdadeiro desafio.
— E o que seria isso exatamente? — perguntou Lando.
Rachele fez uma careta.
— Este é o problema, — admitiu ela. — Ninguém sabe. Pelo menos,
ninguém com quem consegui falar.
Houve um momento de silêncio.
— Sem problema — disse Han. — Isso apenas significa que o primeiro
trabalho é colocar alguém lá dentro para dar uma olhada.
— Sim — falou Rachele vagamente. — Só que ninguém pode entrar ali.
Há guardas de prontidão nas portas da caixa-forte o tempo todo, armados e
de armadura, e Villachor é o único que eles deixam entrar.
— Ou Villachor e um amigo — disse Han. — A segurança tem que estar
programada para que ele possa entrar com outra pessoa, caso queira.
— Só há uma maneira de descobrir, — falou Dozer. — Qual de nós vai
ser o novo melhor amigo de Villachor?
— Sem discussão — disse Lando, sorrindo para as gêmeas. — Eu indico
Bink.
— Ora, muito obrigada, senhor, — respondeu Bink sorrindo com doçura
para ele. — Eu simplesmente amo fazer novos amigos.
— Vocês realmente acham que Villachor vai cair nessa? — perguntou
Eanjer, parecendo confuso.
— Tenho certeza de que não cairá — falou Tavia duramente, combatendo
o sorriso de Lando com um olhar gelado. — Em vez disso, posso sugerir
que enviemos Zerba e seu sabre de luz para cortar um orifício na parede?
Podemos instalar um gravador e ver o que exatamente acontece lá dentro.
— Como iremos colocá-lo assim tão no interior da mansão? — indagou
Kell apontando para a planta. — Estou vendo o muro externo da mansão e
outro no interior antes de sequer chegar à caixa-forte.
Chewbacca rosnou.
— Chewie está certo, — concordou Han. — Mesmo que a multidão que
Villachor está recebendo por causa do Festival não possa entrar na mansão,
a segurança deve estar mais sobrecarregada do que o normal. Nós
encontraremos um buraco.
— Ou faremos um — falou Dozer.
Han concordou com a cabeça.
— Ou faremos um.
— Pelo menos, nós saberemos onde começar a procurar por esses
buracos — disse Rachele. — Marblewood tem sido um local do Festival
pelos últimos seis anos e recebido grande cobertura, tanto oficial quanto
informal. Eu examinei vários registros, e há muitas coisas que Villachor
parece fazer da mesma forma todo ano.
— Eu achei que o padrão e a ordem das Honrarias fosse sempre o
mesmo, de qualquer forma, — observou Dozer.
— Estou falando dos detalhes, — explicou Rachele. — Tipo onde ele
posiciona as tendas com comida, ou como veste todos os droides de serviço
e manutenção com capas temáticas para cada dia do Festival. Coisinhas
assim.
— Padrões são bons, — disse Lando. — Como no sabacc, quando
alguém sempre faz a mesma aposta...
Ele interrompeu quando, do outro lado da sala, Winter subitamente
estalou os dedos.
— Lá vêm eles, — anunciou ela.
Houve uma agitação louca quando todo mundo pulou dos assentos e
correu para as janelas.
— Onde? — perguntou Zerba.
— Aqueles três landspeeders a dois quarteirões de distância, —
respondeu Winter apontando. — Não, não faça isso — acrescentou ela
quando Dozer começou a abrir a porta que levava para o varandão. — Se
alguém estiver observando, ficaremos muito visíveis lá fora.
— Onde estão aqueles eletrobinóculos? — indagou Lando.
— Aqui. — Kell colocou um par de visores na mão dele. — Rachele?
— Vou pegar o outro, — Rachele respondeu e saiu correndo.
A sala ficou em silêncio. Han observou os landspeeders enquanto eles
manobravam, passavam pelo portão e entravam no terreno de Villachor, e
notou que os veículos mal diminuíram a velocidade antes de os guardas
acenarem para que entrassem.
— Aqui — murmurou Rachele no ouvido dele.
— Obrigado. — Han pegou os eletrobinóculos e colocou nos olhos. Os
landspeeders eram ainda mais impressionantes de perto do que a distância:
pretos, de aparência pesada, obviamente blindados, com janelas escuras que
escondiam os passageiros.
— Equipado com foguetes de impulsão, ao que parece, — murmurou
Lando. — Viu a blindagem reforçada na borda inferior?
— É, estou vendo, — confirmou Han.
Os veículos podiam parecer landspeeders normais, porém, com foguetes
escondidos, eles poderiam se transformar em airspeeders instantaneamente,
a qualquer momento que quisessem.
— Então por que estão perdendo tempo com as ruas? — indagou Zerba.
— Por que simplesmente não chegar voando?
— As vias áreas da Cidade de Iltarr não são mais rápidas do que as
terrestres, — explicou Rachele. — Além disso, eles teriam que vir pelo solo
para entrar, de qualquer maneira. O escudo abrangente, lembra?
— E se a pessoa é do tipo paranoico, é bom ter uma direção de onde não
possa levar tiros, — acrescentou Lando.
Os veículos seguiram pela trilha entre a sebe, os arbustos e pequenas
árvores e finalmente pararam na entrada coberta, na ala sul da mansão. Han
prendeu a respiração, segurou os eletrobinóculos com a maior firmeza
possível e se perguntou se aquele seria o dia em que o misterioso visitante
cometeria um erro.
Ele não cometeu. O toldo sobre a entrada bloqueou completamente a
visão do visitante quando ele saltou do landspeeder e entrou na mansão. E
com a luz do sol batendo praticamente de cima, não havia sequer as
sombras provocantes que Kell mencionara.
— Eles são malandros, com certeza — comentou Lando. — Quando
você disse que vem a próxima leva?
— Entre dez e trinta minutos — respondeu Winter.
— Então dá tempo suficiente para um lanche, — concluiu Lando.
— Por acaso eu senti o cheiro de chips de carni e molho demiglacê vindo
de algum lugar?
— Sim, — respondeu Eanjer, parecendo um pouco abalado pela súbita
mudança de assunto. — E também palitinhos de kamtro. Mas não
deveríamos ficar vigiando Marblewood?
— Eu estou observando — garantiu Lando, que se voltou para a janela.
— Winter, diga-me quando vir um provável landspeeder. Bink, pode fazer o
favor de trazer um pratinho daqueles chips de carni?
Bink deu um sorriso sardônico para Tavia. Elas conheciam Lando muito
bem.
— Claro, — respondeu Bink e foi para a cozinha.
Han começou a dar meia-volta e parou quando uma mão pegou seu
braço.
— Uma palavrinha? — falou Dozer baixinho.
Eles se afastaram alguns metros dos outros.
— Algum problema? — indagou Han.
— Está mais para uma pergunta. — Dozer acenou com a cabeça na
direção de Lando, que puxara uma cadeira para a janela e se sentara. —
Você me disse que eu seria o testa de ferro neste esquema. Agora que
Calrissian está aqui, eu presumo que isso tenha mudado.
— Provavelmente, — respondeu Han. — Mas não se preocupe: vai haver
outras coisas para você fazer.
— A-hã — concordou Dozer. — E a partilha?
— A mesma de antes — garantiu Han. — Todo mundo recebe a mesma
parte.
Dozer franziu os lábios, e não foi difícil ler o cálculo que ocorria
por trás do olhar. As partes podiam ser distribuídas igualmente, mas uma
partilha igual entre onze ainda era menor do que uma partilha igual entre
dez.
— Isso vai ser um problema? — pressionou Han.
Dozer abrandou a expressão.
— Não. Estava apenas pensando.
Com um pequeno aceno de cabeça, ele deu meia-volta e foi para o lugar
onde estavam Tavia e Rachele.
Houve um rosnado atrás dele, e Han se virou para ver Chewbacca parado
ali.
— Você ouviu?
O Wookiee rosnou novamente.
— Ele vai ficar bem, — tranquilizou Han. — Dozer não deixaria o
orgulho atrapalhar um serviço pago. Além disso, tenho certeza de que ele
sabe que Lando será um testa de ferro melhor do que ele.
Chewbacca soltou um último grunhido e se afastou.
— Ele vai ficar bem, — murmurou Han para si mesmo ao se voltar na
direção de Dozer. — Confie em mim.

Dez minutos depois e na metade da primeira porção de chips de Lando, o


visitante esperado passou pelo portão e entrou nas dependências de
Marblewood. Han, que já tinha devolvido os eletrobinóculos para Winter,
observava ao lado enquanto mastigava mecanicamente um prato de
palitinhos de kamtro. Alguma coisa grande estava acontecendo lá, muito
maior do que Eanjer e um lote de fichas de crédito roubadas.
As duas grandes questões eram se eles conseguiriam descobrir o que
Villachor estava aprontando e se aquilo afetaria a operação.
Han tinha saído da janela e estava no canto, discutindo minúcias sobre
arrombamento com Bink, quando Lando deu um
assovio de alerta.
— Ele está saindo, — informou Lando.
Novamente, houve uma breve confusão conforme o grupo se reunia nas
janelas. Han apertou os olhos, mas àquela distância, tudo que ele conseguiu
enxergar foi um homem descendo os degraus em direção ao landspeeder
que aguardava. O sujeito entrou, a porta se fechou, e o veículo deu meia-
volta e percorreu a trilha.
— Interessante, — murmurou Lando ao abaixar os eletrobinóculos. —
Aquele homem acabou de perder alguma coisa.
— O que ele perdeu? — perguntou Dozer.
— Eu não sei, — respondeu Lando. — Podem ter sido créditos, prestígio
ou poder. Mas as mudanças na expressão e linguagem corporal são muito
claras. O que quer que ele tenha perdido, era algo que queria manter.
— Não houve tempo suficiente para uma partida de alto risco de sabacc
— falou Zerba pensativo.
— Mas tempo suficiente para uma conversa séria, — observou Han. —
Especialmente se um lado foi o que mais falou.
— Você acha que Villachor o ameaçou? — perguntou Tavia.
— Ou chantageou ou extorquiu, — disse Dozer. — Essas são as três
maneiras principais de controlar alguém sem ter que gastar créditos para
subornar a pessoa.
Chewbacca emitiu uma pergunta.
— Não faço ideia — falou Winter. — Ele não estava no grupo de holos
que Rachele me deu.
— Só passei para ela as figuras do alto escalão da estrutura de poder da
Cidade de Iltarr — explicou Rachele.
— Talvez devamos descer um nível ou dois, — sugeriu Zerba.
— Concordo, — disse Rachele. — Eu verei o que posso arrumar.
— E enquanto você faz isso, — falou Dozer —, vamos ver se
conseguimos descobrir quem é o outro visitante. Acho que temos agora
gente suficiente para uma sombra. Devo sair e arrumar alguns landspeeders
para a gente?
— Não é necessário, — disse Rachele. — Eanjer conseguiu descolar
créditos suficientes para arranjar alguns landspeeders alugados. Temos três
deles lá embaixo, mais a speeder van, e mais dois airspeeders no
estacionamento do telhado.
— Ótimo, — falou Dozer. — Provavelmente está tarde demais para nos
posicionarmos antes que ele vá embora, então teremos que pegá-lo mais
tarde, hoje à noite.
— Presumindo que o drama ganhe uma reprise, — disse Bink.
— Vai ganhar, — garantiu Winter. — Essas pessoas gostam de pensar
que são espertas, mas curtem seguir padrões.
— Ótimo, — disse Dozer. — Quem está a fim de dar uma voltinha?
— Você deve perguntar para Han, — falou Eanjer. — Ele é que está no
comando.
Dozer pestanejou, depois deu um sorriso sardônico.
— Claro que está, — reconheceu ele ao se virar para Han e inclinar a
cabeça. — Desculpe. Muitos anos trabalhando sozinho. Então, quem vai?
Han olhou em volta e fez uma rápida avaliação.
— Você, Bink, Zerba e eu nos landspeeders — decidiu ele. — Lando e
Chewie coordenam do airspeeder.
— Parece bom, — disse Dozer.
— Eu gostaria de ir junto também, se puder, — falou Eanjer. — Quero
ajudar. — Ele olhou para a mão medselada. — Embora eu não tenha certeza
de que conseguirei, — acrescentou desapontado.
Han hesitou. Eles tinham um monte de motivos para manter Eanjer feliz.
Cento e sessenta e três milhões de motivos, para ser exato.
Mas Eanjer era um elemento desconhecido, e Han não fazia ideia de
como ele reagiria em uma situação de crise. Se algo desse errado, uma
pessoa em pânico poderia fazer tudo ir para o brejo.
Para alívio de Han, Chewbacca acompanhou o mesmo raciocínio e já
estava cuidando do problema com uma sugestão diplomática.
— Boa ideia, — disse Han. — Chewie diz que um par de olhos a mais
seria útil no airspeeder.
Dozer deu um pequeno muxoxo sarcástico.
— Um par de olhos?
— Eu quis dizer um observador a mais, — corrigiu Han olhando feio
para o ladrão de naves. Eanjer tinha noção da desvantagem sem precisar
que ninguém chamasse atenção para o fato. — Você pode ir com ele e
Lando, Eanjer.
— Obrigado, — falou Eanjer. Ele encarou Dozer com uma pontada de
fogo no único olho. — E meu prostético atual funciona muito bem,
obrigado, — disse friamente. — Eu planejo conseguir algo esteticamente
mais agradável quando recuperar meus créditos roubados e puder pagar
para resolver o resto dos ferimentos que Villachor me causou.
— Está resolvido então, — falou Lando alegremente no que poderia ter
sido o começo de um longo e embaraçoso silêncio. — Chewie pilota, você e
eu observamos, e quando nos recolhermos para a noite, teremos resolvido
esse pequeno mistério. — Ele deu um sorriso radiante para a sala. —
Enquanto esperamos, alguém topa uma partida de sabacc?

O nome do sujeito era Crovendif, e ele se considerava um chefe do crime


em ascensão.
Ele não era, obviamente, e jamais seria. Na verdade, Crovendif dominou
a roupa e o estilo, e até fez o esforço de alterar o ritmo e o tom da voz para
ser igual aos notórios criminosos das holonovelas. Mas o que ele não tinha
era o olhar vazio e a completa insensibilidade que Dayja frequentemente
enxergava nos humanos e alienígenas que ele dedicara a vida a derrotar.
Não, Crovendif era apenas um moleque perdido que se apaixonara pela
ideia de ser um chefe do crime, ou talvez tivesse encarado isso como o
caminho para a satisfação, a segurança e o respeito. Mais cedo ou mais
tarde, esses sonhos mal-acabados desapareceriam, e Crovendif aceitaria o
fato de que gerente de asfalto de um chefe do crime era tudo que ele seria
na vida.
Tudo isso presumindo, obviamente, que Crovendif sobrevivesse aos
próximos minutos.
— Você vem lançando um desafio no meu território por quase duas
semanas, — disse o aspirante a chefe do crime, em tom baixo e ameaçador,
com a cabeça levemente erguida de maneira a encarar o prisioneiro por
cima do nariz. Crovendif tinha até dominado o olhar de intimidação das
holonovelas, Dayja notou. — Me dê uma razão para eu não matá-lo aqui e
agora.
— Eu não estou pretendendo tomar seu território, — falou Dayja
suavemente. — Sinto muito se passei essa impressão.
A expressão de Crovendif se desmanchou, quase visivelmente.
Como esperava por fanfarronice e revolta da parte do prisioneiro, ele não
estava preparado para uma resposta calma e conciliatória.
— Sério? — falou ele com sarcasmo. — E que impressão eu deveria ter
tido?
— Estou à procura de um sócio, — explicou Dayja. — Eu tenho um
produto que vale muitos créditos. Mas não tenho tempo ou recursos para
organizar a parte de distribuição do negócio.
— E o que lhe faz pensar que eu estaria interessado em um negócio
assim? — desdenhou Crovendif.
— Não você, — corrigiu Dayja. — Seu chefe. Eu tenho uma quantidade
bem maior de produto do que seus seis ou sete quarteirões conseguiriam dar
conta.
Crovendif fechou a cara. Talvez ele tivesse tido uma breve esperança de
que aquilo seria sua passagem para a grandeza.
— Se você acha que vou incomodar mais alguém com uma história tão
ridícula assim...
— Ele vai querer uma amostra, é claro, — continuou Dayja suavemente.
— Posso?
Crovendif hesitou, depois acenou com a cabeça para os dois homens que
no momento prendiam os braços de Dayja.
— Esquerda, — ordenou ele.
Em silêncio, o capanga à esquerda de Dayja soltou aquele braço. Dayja
meteu dois dedos no bolso lateral, retirou um pequeno frasco e jogou para
Crovendif. O outro o pegou com uma agilidade que indicava que ele
começara como esgrimista antes de entrar para o Sol Negro. Mais um
motivo para Crovendif provavelmente nunca ascender mais do que já havia
ascendido.
— Brilhestim, obviamente — falou Dayja enquanto Crovendif
examinava atentamente o frasco. — Mas com uma diferença. O meu é
artificial.
— Então não é brilhestim, — disse Crovendif.
— Você tem razão, — reconheceu Dayja inclinando a cabeça. — Eu me
expressei mal. O que eu deveria ter dito é que isso é brilhestim legítimo,
criado por legítimas aranhas de Kessel. Mas não por aranhas vivendo em
Kessel no momento.
Houve uma pausa enquanto Crovendif aparentemente analisava aquela
informação.
— Você tem aranhas aqui em Wukkar?
— Digamos que elas estão próximas e criando brilhestim neste exato
momento, — falou Dayja. — O ponto é que eu posso fazer o produto por
uma fração do que custa fazer em Kessel, e isso nem leva em conta o valor
mais baixo do transporte.
— E você espera que eu simplesmente acredite em sua palavra sobre
tudo isso?
— De maneira alguma, — disse Dayja. — Leve o frasco para seu chefe,
faça minha oferta para ele e peça que realize alguns testes. Se ele estiver
interessado, ótimo. Caso contrário, não houve prejuízo; há muitos outros
peixes no rio. De qualquer maneira, ele pode ficar com a amostra, com
meus cumprimentos.
— E se eu recusar?
— Você quer dizer se decidir ficar com o frasco, vender o produto e
ganhar um dinheirinho extra? — perguntou Dayja. — Se é o que quer fazer,
eu certamente não posso impedi-lo. Tudo que posso dizer é que você não é
o único gerente de asfalto de seu chefe. Se não quiser levar esta
oportunidade para ele, tenho certeza de que outra pessoa qualquer levará.
Por alguns segundos, Crovendif continuou encarando o prisioneiro, com
o cenho franzido como se considerasse as possibilidades e tomasse uma
decisão. Mas era tudo uma encenação. Dayja tinha convencido Crovendif, e
ambos sabiam disso.
— Muito bem, — disse o sujeito finalmente, para oficializar a questão.
— Como eu encontro você para dar a resposta dele?
— Eu entrarei em contato. — Dayja indicou o capanga à direita com a
cabeça. — Agora, se não se importa...
Crovendif gesticulou de novo, e o homem que segurava o braço direito
de Dayja o soltou.
— Obrigado, — disse Dayja. — Eu procuro você.
Ele estava sentado em um landspeeder genérico a meio quarteirão de
distância quando Crovendif e dois capangas saíram do quartel-general em
um armazém e entraram no próprio veículo. Dayja deu um quarteirão de
vantagem para eles, depois começou a seguir. Ele tinha 90% de certeza de
que Crovendif estava levando o frasco para o chefe e tinha ainda mais
certeza de que o chefe era Villachor. Mas nunca fazia mal verificar.
Não deu outra: Crovendif cruzou a Cidade de Iltarr até o portão sudoeste
de Marblewood. Não era a atitude mais inteligente se ele estivesse tentando
esconder sua associação, mas Dayja já concluíra que Crovendif não era a
estrela mais brilhante da galáxia.
Ainda assim, o objetivo era aguçar o interesse de Villachor, e desde que
ele pegasse o frasco de brilhestim, os detalhes da entrega não eram
importantes. Tudo que Dayja tinha que fazer agora era relaxar, esperar que
os químicos do Sol Negro analisassem o presente e depois aceitar o convite
inevitável de Villachor para uma reunião.
Uma vez dentro da mansão, obviamente, começariam os verdadeiros
desafios. Mas Dayja lidaria com eles quando surgissem.
Crovendif ainda estava sentado no portão, provavelmente tentando
convencer os guardas de que trabalhava para Villachor e de que o assunto
era suficientemente importante para pular a fila. Dayja passou dirigindo
casualmente e olhou por entre os vários airspeeders.
Ele parou, e o olhar voltou uma segunda vez para um landspeeder azul-
escuro estacionado logo no início de uma das ruas transversais. Ao
contrário da maioria dos veículos estacionados na área, aquele não estava
vazio. Havia um homem no banco do motorista, tentando parecer
espontâneo.
E ele estava observando o portão sudoeste. Com muita atenção.
Dayja continuou passando sem diminuir a velocidade e virou na próxima
esquina. Provavelmente o homem era mais um dos guardas de Villachor,
postado ali como uma barreira, caso houvesse algum problema.
Mas ele não parecia ser o tipo de gente do Sol Negro. E a última coisa
que Dayja queria era que outra pessoa chamasse a atenção de Villachor.
Especialmente alguém de uma gangue rival.
E então, em vez de retornar ao hotel como havia planejado, ele achou
uma vaga onde pudesse ver o observador misterioso e se pôs a esperar. Se o
homem fosse um guarda, provavelmente haveria uma mudança de turno
dentro de algumas horas.
Se não fosse, Dayja não tinha intenção de permitir que uma guerra entre
gangues começasse. Não ali, e certamente não naquele momento.
Ele tirou o termojarro de chá de Karlini que sempre levava em passeios
como aquele, apenas por precaução, serviu uma caneca e se pôs a esperar.
CAPÍTULO

Oito minutos depois de o visitante do início da noite ir embora de


Marblewood, o agora conhecido comboio de três landspeeders também se
retirou. Han e seu landspeeder azul estavam logo atrás deles.
Ao lado de Lando, Chewbacca rugiu baixinho.
— Tenho certeza de que ele sabe, — tranquilizou Lando enquanto
estudava o mapa da área que havia acessado no datapad. O comboio tinha
ido para o sul, o que significava que eles seguiam pela Avenida Packrist...
— O que ele sabe? — perguntou Eanjer do banco traseiro. — O que
Chewie disse?
— Ele estava alertando Han para não se aproximar demais — explicou
Lando. — Eu disse que Han já sabia disso.
— Ah, — disse Eanjer parecendo nervoso. — Não deveríamos ir?
— Ir aonde?
— Seguir os landspeeders, — falou Eanjer. — Eu achei que era por isso
que estávamos aqui em cima.
— Não, estamos aqui para ficar de olho no reforço deles — disse Lando,
ouvindo sem prestar atenção ao comentário em andamento transmitido pelo
comunicador. Han havia interrompido a perseguição agora, exatamente
como deveria fazer, e Bink estava com o comboio em vista e se preparava
para assumir a sombra.
— Ah. Certo. — Houve um assobio baixo enquanto Eanjer se ajeitava no
assento. — Foi mal. Infelizmente esta não é minha especialidade.
— É por isso que você nos contratou — lembrou Lando pacientemente.
Ainda assim, se o homem tinha que estar em algum lugar, era melhor
estar estacionado ali com eles e fora do caminho.
O comboio fez a curva, e Bink assumiu a sombra, passou por eles e
alertou Zerba sobre a mudança de direção.
— Posso fazer uma pergunta? — indagou Eanjer.
Lando conteve um suspiro. Talvez ele devesse enviar Eanjer para a
beirada do telhado e mandá-lo observar o comboio de lá.
— Vá em frente.
— Por que você odeia Han?
Lando franziu o nariz quando a resposta óbvia surgiu na mente. Mas
óbvia não necessariamente significava correta.
— Eu não odeio Han, — respondeu ele escolhendo as palavras
cuidadosamente, bem ciente de que Chewbacca escutava com atenção a
meio metro de distância. — Não exatamente. Houve um negócio, alguns
negócios, em que ele acabou não me pagando o que havia prometido.
— Não me parece correto, — murmurou Eanjer. — Não admira que você
o odeie.
— Eu não odeio Han, — disse Lando irritado. — Eu já falei. Além disso,
quanto mais eu penso a respeito, mais considero que provavelmente não foi
culpa dele. Que Han foi enganado como o restante de nós. Mas isso não
muda o fato de que foi ele quem nos chamou e fez todas as grandes
promessas. — Lando olhou de lado para Chewbacca e imaginou como ele
estava encarando aquela situação. Mas o Wookiee olhava pela janela lateral,
com o rosto virado. — Eu não odeio Han, mas não quero mais trabalhar
com ele – concluiu Lando. — Se ele não tivesse pedido especificamente a
minha presença para este serviço, eu não teria vindo
— Entendo, — falou Eanjer. — Bem, eu, por exemplo, estou contente
que você tenha vindo. Sei que será de grande ajuda para a equipe. E, pelo
sim, pelo não, sua parte na recompensa deve possibilitar que você jamais
trabalhe com Han novamente.
— Vou manter isso em mente, — disse Lando, que afastou os
pensamentos sobre Han, promessas quebradas e futuras riquezas para
concentrar a atenção na conversa em andamento pelo comunicador.
— Eles viraram outra vez, — relatou Zerba com a voz apreensiva. — Na
mesma direção.
— Abandone a perseguição.
— Já abandonei, — falou Zerba. — Eu não sei, Han... tem algo estranho
aqui. Se eles perceberam a gente, um dos landspeeders da escolta não
deveria ter se separado para nos investigar?
— Talvez estejam protelando, — sugeriu Dozer em tom sombrio.
— Levando a gente para passear enquanto trazem mais reforços.
Chewbacca grunhiu e bateu no braço de Lando com uma mão enquanto
apontava com a outra.
Lando olhou pelo dedo estendido para outro estacionamento de telhado, a
três quarteirões.
— Vamos descobrir, — disse ele enquanto pegava os eletrobinóculos e
apontava para o veículo que Chewbacca destacara, um landspeeder
estacionado bem na porta do telhado.
O Wookiee estava certo — era o mesmo tipo dos outros landspeeders do
comboio que Han e os demais seguiam no momento. Havia dois humanos
sentados dentro daquele veículo, ambos com eletrobinóculos colados aos
rostos, e as cabeças iam de um lado para o outro enquanto varriam o
trânsito de airspeeders que passava acima deles. A alguns metros de
distância, havia um terceiro homem agachado na beira do telhado, com
eletrobinóculos focados na rua lá embaixo.
Lando deu um sorriso contido ao acionar o comunicador para
transmissão. Mais cedo, ele havia considerado mandar Eanjer vigiar a rua.
O par lá fora aparentemente teve a mesma ideia.
— Todo mundo, abandonem a perseguição, — ordenou ele. — Repito,
abandonem a perseguição.
— O que foi? — Han exigiu saber.
— Nós encontramos o olheiro deles, — respondeu Lando, vendo os
homens no landspeeder. Eles pareciam instalados com tanto conforto
quanto ele, Chewbacca e Eanjer. E se não estavam esperando para decolar a
qualquer momento...
— Novas posições, — continuou Lando ao colocar os eletrobinóculos no
colo e pegar o datapad. O estacionamento era... bem ali. O que significava...
— Han, vá para R-7 no mapa. Bink, entre na rua transversal a um quarteirão
dele. Zerba: S-7. Dozer: S-8. Encontrem vagas e esperem.
— A caminho, — respondeu Bink.
— Eu também, — disse Zerba. — Espero que você não esteja com
pressa; o trânsito aqui embaixo está horrendo.
— Qual é o plano? — indagou Han.
— Os olheiros estão posicionados a mais ou menos três quarteirões,
parados e sem parecer que estão prestes a se mexer, — explicou Lando. —
Creio que estejam observando o fim do trajeto, para garantir que ninguém
estará por lá à espera de emboscar o chefe.
— Tem certeza de que os olheiros fazem parte dessa equipe e não da de
outra pessoa? — perguntou Bink.
— Certeza absoluta, — falou Lando. — Estão no mesmo modelo de
airspeeder, com o mesmo sistema de foguetes de impulsão instalado.
— Vale a tentativa — disse Han. — Se não der certo, sempre podemos
tentar de novo amanhã.
— A não ser que já tenham percebido a gente, — alertou Dozer. —
Nesse caso, eles terão aprontado algumas contramedidas sinistras.
— Então vamos nos esforçar para fazer isso direito, — falou Lando.
Os minutos se passaram. Han e os demais relataram suas respectivas
chegadas aos pontos designados, depois ficaram em silêncio.
Chewbacca grunhiu uma sugestão.
— Boa ideia, — concordou Lando. Ele escorregou no banco de maneira
que a cabeça ficasse abaixo do nível das janelas.
— O que ele disse? — perguntou Eanjer.
— Chewie disse que deveríamos nos encolher e ficar fora do campo de
visão, — traduziu Lando enquanto apoiava os eletrobinóculos no suporte de
ombro do banco. Usando o reflexo das janelas do prédio a um quarteirão de
distância, ele deveria conseguir acompanhar o que os olheiros faziam. —
Até agora não parece que eles tenham verificado esta direção, mas se
verificarem, não queremos que eles nos vejam.
— Ah, — disse Eanjer, e Lando ouviu o leve assobio de tecido sobre
couro quando o outro também se encolheu para não ser visto. — Sim. Boa
ideia.
Lando virou o pescoço até conseguir enxergar Eanjer de rabo de olho.
— Vocês não têm Wookiees em Wukkar?
— Claro que temos, — falou Eanjer um pouco na defensiva. — Mas a
maioria deles é de trabalhadores, guarda-costas ou capangas. Eu nunca... —
Ele parou de falar.
— Pensou que valesse a pena aprender a compreendê-los? — sugeriu
Lando.
A metade da boca de Eanjer que não estava escondida pelo medselo se
contorceu em uma careta de incomodo.
— Creio que sim — disse ele relutantemente. — Não que eu... bem, não.
Acho que simplesmente... Acho que deveria ter aprendido.
Lando olhou para Chewbacca, cujo físico mais alto o obrigou a se
encolher ainda mais e de maneira mais desconfortável do que Lando e
Eanjer. Havia um pouco de mágoa brilhando nos olhos, mas,
essencialmente, ele parecia apenas resignado. Era muito comum hoje em
dia seu povo ser tratado como pouco mais do que trabalhadores acessíveis
ou guerreiros sacrificáveis.
Ou como escravos descartáveis e esquecíveis.
Os minutos se passaram. Lando começou a imaginar se havia feito uma
estimativa errada e já trabalhava em um plano alternativo, caso o comboio
do chefe estivesse ciente sobre eles, quando o veículo dos olheiros
subitamente ativou os foguetes de impulsão e levantou voo.
— Avistei os caras, — falou Han. — O comboio acabou de aparecer.
— Olheiros em movimento — disse Lando erguendo a cabeça para ver
melhor. O homem que estava na beirada do telhado continuava em posição,
observando a rua lá embaixo. — Todo mundo, fiquem em seus lugares; o
olheiro está alerta.
— Perdi os caras, — rosnou Han. — Fizeram uma curva, rumo ao norte.
Mais alguém?
— Não aqui — relatou Bink.
— Nem aqui, — falou Zerba.
— Mesma coisa — disse Dozer. — Lando? Parece que é com você.
— Certo, — respondeu Lando. Ele fez uma careta ao se ajeitar no banco
e gesticulou para Chewbacca e Eanjer fazerem a mesma coisa. Se os
olheiros lá adiante fossem dignos do nome, no minuto em que Chewbacca
decolasse e fosse naquela direção, eles chamariam instantaneamente uma
atenção inamistosa.
Mas se não havia outro jeito, não havia outro jeito.
— Certo, Chewie...
— Espere um instante... eu avistei os caras, — falou Bink subitamente.
— Indo bem na direção... raios, aqueles foguetes são bons... parece ser o
beco de serviço entre a vigésima e a vigésima- primeira, na extremidade
oeste.
As palavras mal saíram da boca de Bink quando Lando teve que segurar
firme o datapad no momento em que Chewbacca ligou o airspeeder e
disparou na direção do fluxo de trânsito acima deles. O Wookiee virou o
veículo para a direita...
— Espere... esse é o caminho errado, — alertou Eanjer. — O beco fica a
dois quarteirões para a esquerda.
— E os olheiros estão vigiando qualquer um que vá naquela direção, —
explicou Lando. — Ele está fazendo certo. — Lando girou no banco e
ergueu os eletrobinóculos.
Lá estavam eles: três landspeeders pretos, subindo suavemente ao longo
de um prédio alto e maciço.
— Estou vendo os caras, — disse Lando. — O que é aquele prédio, um
hotel?
— Sim, o Lulina Crown — confirmou Bink.
— Há uma garagem coberta para airspeeders no último andar, — falou
Rachele. — Entrada restrita para residentes e hóspedes. Deixe- me ver se
consigo acessar a lista atual de ocupantes.
— Bink, consegue enxergar a frente? — perguntou Han. — Talvez a
gente tenha sorte e eles acendam as luzes ao entrarem nos quartos.
— E se os quartos forem nos fundos? — indagou Eanjer. — Ela não será
capaz de vê-los da rua.
Novamente, Lando segurou firme o datapad no momento em que
Chewbacca ofereceu uma sugestão e fez uma curva acentuada para cima,
passando o airspeeder habilmente entre dois outros veículos na próxima via
acima.
— Chewie disse que vamos vigiar os fundos, — disse Lando enquanto
olhava para baixo, a fim de se orientar após tantas mudanças rápidas de
direção. O Lulina Crown... lá estava o hotel.
— Rachele, tem alguma maneira de aumentar o alcance deste troço?
— perguntou ele ao abaixar os eletrobinóculos para dar uma olhada
rápida no controle de zoom.
— Tente girar o controle de claridade até o máximo e aumentar o
contraste, — sugeriu Rachele. — Isso deve ajudar.
— Provavelmente um jardim Ninho Selvagem, — disse Eanjer. — E um
parquinho com vários tipos de árvores e outras plantas, geralmente
silvestres, que não se costuma ver dentro de cidades, e a coisa toda é
cercada por árvores crescentes altas ou de caule torcido. Hotéis com vários
prédios gostam de colocá-las no centro dos complexos.
— Verificando o sexto andar agora, — falou Rachele. — Vejamos... sim,
toda aquela seção no centro é uma suíte de oito quartos. Bink, está vendo
alguma coisa?
— Nada, — relatou Bink. — Nada no sexto ou em qualquer outro lugar.
Se eles têm alguns quartos neste lado, estão sendo discretos quanto a isso.
— Eles realmente devem gostar de parques, — comentou Dozer. — Eu
achava que os quartos externos teriam uma vista melhor.
— Não acho que a vista seja o que eles têm em mente, — disse Bink
pensativa. — Rachele, há chance de conseguir um quarto para nós em
algum lugar perto daquela suíte?
— Vou tentar, — respondeu Rachele. — Mas não prometo nada: com a
chegada do Festival, praticamente todos os quartos na cidade foram
reservados há semanas.
— Acabamos aqui fora? — indagou Lando.
— Sim, acabamos, — confirmou Han. — Todo mundo de volta. Hora de
calcular nosso próximo passo.

Para a total falta de surpresa de todo mundo, — exceto talvez da própria


Rachele -, ela de fato conseguiu um quarto para eles.
Embora o quarto não fosse exatamente o que Bink esperava quando
despachou Rachele para fazer o serviço. Ela imaginara uma suíte que
pudesse usar como base de operações para invadir o lugar. Um quarto
vizinho ou, melhor ainda, diretamente em cima ou embaixo. Mas havia
limites mesmo para a magia de computadores de Rachele e uma rede de
contatos de alto nível.
Ainda assim, se o lugar não era perfeito, poderia ter sido bem pior.
— É aquilo ali? — perguntou Tavia ao chegar à janela ao lado dela e
colocar uma mecha solta do cabelo preto atrás da orelha.
— É aquilo ali — confirmou Bink enquanto olhava para o parquinho no
outro pédio. Duas das janelas da suíte estavam bloqueadas pelos troncos das
grandes árvores que cercavam a vegetação, mas o resto era claro e visível.
— Pelo menos você não vai descer de rapei até o parque, — disse Tavia.
— Não daqui.
— Quanto a isso, você está certa — concordou Bink. De todos os
aspectos do trabalho de Bink que Tavia odiava, ver a irmã descer pela
lateral de um prédio em uma sinteticorda fina era provavelmente a parte que
ela mais detestava.
Não que esse serviço fosse muito melhor, pelo menos não do ponto de
vista de Tavia. Ainda assim, pular de árvore em árvore em um gancho não
era tão ruim quanto aquela longa queda mal e porcamente controlada de um
telhado.
— Uau — falou Kell baixinho em algum ponto atrás das duas mulheres.
— E você simplesmente nos colocou aqui?
— Não foi tão difícil assim, — garantiu Rachele. — Eu notei que o casal
que deveria se hospedar aqui hoje à noite estava registrado na Ordem da
Selva, então consegui que eles recebessem a oferta de um safári grátis na
Reserva Megrast, na província de Ancill. Foi simples, na verdade.
Kell balançou a cabeça, admirado.
— Eu ainda digo: uau.
Bink sentiu o lábio tremer. Kell podia ficar impressionado o quanto
quisesse, mas ele realmente deveria parar de verbalizar tanto. Já havia egos
inchados demais naquele ramo.
Ela olhou para trás casualmente e viu os demais perambulando pelo
ambiente. Talvez Winter estivesse disposta a dar algumas lições para Kell
de como manter a frieza. A mulher de cabelos brancos estava claramente
tão impressionada com o feito de Rachele quanto Kell, mas escondia bem
melhor.
— Algum problema? — murmurou Tavia.
— Não, tudo bem, — murmurou Bink de volta.
Teoricamente, estava tudo bem. Solo era um bom avaliador de caráter, na
maioria das vezes. Assim como Mazzic, mesmo que nem sempre Bink
concordasse com ele. Se Mazzic dissera que Winter e Kell eram gente boa,
e Solo aceitara aquela avaliação, então provavelmente era verdade.
Mas havia algo a respeito dos dois recrutas que a incomodava. Kell lhe
parecia ser jovem demais, não apenas em idade, como em experiência e
resistência mental. Ao mesmo tempo, Bink enxergava fantasmas anônimos
à espreita, por trás do olhar de Kell. Alguma coisa desagradável em seu
passado o movia, talvez para mais longe do que Kell estava realmente
preparado para ir.
Winter, estranhamente, era quase o extremo oposto. Não era muito mais
velha do que Kell, mas o olhar tinha uma profundidade surpreendente de
idade e maturidade. Winter também possuía um equilíbrio natural, o tipo de
elegância e autoconfiança que Bink também enxergava em Rachele. Será
que aquilo significava que Winter fazia parte da aristocracia de um mundo
qualquer, assim como Rachele? Em caso positivo, o quê, em nome do
Império, ela estava fazendo com uma gangue de ladrões? Será que estava
ali por vingança?
— Aqui. — A voz de Solo interrompeu as reflexões de Bink. Ela
pestanejou para afastar os pensamentos e viu Han oferecendo um dos
eletrobinóculos sofisticados de Rachele. — Rachele disse que temos até
amanhã à tarde para sairmos daqui. Acha que consegue nos colocar para
dentro até lá?
— É claro — respondeu Bink enquanto pegava os eletrobinóculos da
mão dele. Se ela tinha aprendido uma coisa naquele ramo, era jamais dizer
para o cliente que não era possível realizar alguma coisa.
Ela se voltou para a janela, colocou os eletrobinóculos nos olhos e
começou a trabalhar.
Não havia muita coisa para ver ali. E o que havia não era muito
animador.
Mas seria possível. Não seria fácil, mas possível.
Bink baixou os eletrobinóculos e deu meia-volta. Nos últimos minutos, o
restante do grupo encontrara cadeiras e sofás para se sentar e estava
conversando em voz baixa entre si.
— A situação é a seguinte. — Ela foi até o lugar livre ao lado de Rachele
e se sentou.
O ambiente ficou subitamente em silêncio.
— As janelas do hotel possuem sistemas de segurança embutidos, mas
parece que foram desabilitados pelos ocupantes — falou Rachele. — Isso
significa que...
— Eles desabilitaram os sistemas de segurança? — perguntou Kell
franzindo a testa.
— Sistemas de segurança central são muito fáceis de invadir, — explicou
Tavia. — Especialmente sistemas de hotéis, que não são conhecidos pela
sofisticação. Nossos amigos lá provavelmente estavam com medo de que
alguém assumisse o controle e usasse os sistemas para espioná-los.
— Que era exatamente o que teríamos feito — concordou Bink. — Vocês
também notarão que eles escolheram uma suíte no sexto andar, no lado do
prédio que dá para o jardim, com árvores grandes que impediriam qualquer
tentativa de chegar às janelas via airspeeder. Ambas as atitudes indicam
uma certa paranoia.
— Parece apropriado para pessoas que lidam com Villachor, —
murmurou Eanjer. Ele estava sentado a alguns metros dos demais, olhando
o parque com uma expressão taciturna, e a mão esquerda massageava
distraidamente a direita por cima das bandagens de medselo.
— E após ter desabilitado o arremedo de segurança do hotel, —
continuou Bink -, o que seria mais natural do que instalar a própria
segurança? — Ela gesticulou para a suíte. — A primeira linha de defesa foi
pregar uma série de placas de transparaço no lado interno do vidro normal
das janelas. A boa notícia é que as placas não são muito grossas, então eu
devo conseguir usar uma serra monofio para cortar a que eu quiser.
— Ou você pode simplesmente usar o sabre de luz de Zerba — sugeriu
Dozer. — Será bem mais rápido.
— Bem, só há um pequeno probleminha com isso — disse Bink.
— A segunda linha de defesa é um conjunto de sensores de energia.
— Tem certeza? — perguntou Lando. — Geralmente, sensores de
energia são instalados escondidos.
— Certeza absoluta, — respondeu Bink. — A onda de pulso no vidro é
inconfundível. Quem chegar a 5 metros de qualquer uma das janelas com
alguma coisa que tenha uma energicélula vai acionar alarmes de uma ponta
a outra da suíte.
— Que gracinha, — resmungou Dozer. — Não há jeito de desabilitá-los,
imagino?
— Não daqui de fora — falou Bink. — Mas acho que tenho um motor
manual, à manivela, para a serra monofio. — Ela olhou para Tavia. —
Certo?
— Sim — respondeu a irmã com a boca crispada em uma expressão
descontente. — Como você planeja chegar suficientemente perto para usá-
la, exatamente?
Bink se preparou. Tavia não gostaria da resposta.
— Vai ter que ser de galho em galho — disse ela. — Um arnês e ganchos
manuais.
Os lábios finos de Tavia ficaram ainda mais crispados.
— Ganchos manuais não se prendem com tanta firmeza quanto os
elétricos.
— Vou ficar bem — garantiu Bink. — Só preciso garantir que estarei
bem presa na árvore onde vou me balançar. Se o gancho falhar, eu posso
simplesmente voltar e tentar novamente.
— Que tal usar ganchos elétricos até o meio do caminho e depois trocar
por manuais? — sugeriu Rachele. — Você deve conseguir usar os elétricos
ao longo deste prédio e pelo menos até a metade do conjunto lateral de
árvores. Desde que você troque para os manuais antes de se aproximar da
suíte, não deve ter problema.
— Não vale o esforço, — explicou Bink. — Ganchos elétricos são um
sistema integrado. Eu teria que tirar o arnês, deixá-lo pendurado em um
galho ou coisa assim e pegá-lo ao voltar. Além disso, aquele alcance de 5
metros que mencionei sobre os sensores de energia é apenas um palpite.
Eles podem ter sensores concentrados, apontados para direções aleatórias,
que tenham duas ou até três vezes aquele alcance. Eu faria um papel de
idiota se alcançasse a janela e encontrasse meia dúzia de homens com
armas de raios esperando pacientemente que eu chegasse lá. Não se
preocupe: o sistema manual funcionará muito bem.
— Vamos dizer que funcione, — falou Lando. — Assim que você estiver
lá, o que vem a seguir?
— Ah, — disse Bink levantando um dedo. — Na verdade, essa é a parte
fácil. — Ela abaixou o dedo erguido para apontar para trás, pela janela. —
Bem no meio daquele quarto lá está um cofre de chão Jaervin-Daklow.
Provavelmente foi comprado aqui na cidade, pois parece novo. Eles são
grandes, pesados, praticamente impossíveis de arrombar, e têm um
codificador painel tátil que é virtualmente impossível de penetrar.
— A não ser? — falou Han.
— A não ser que a pessoa veja o painel tátil enquanto o código está
sendo digitado — respondeu Bink com um sorriso maroto nos lábios. —
Nossos amigos lá podem ser muito espertos a ponto de instalar o cofre
virado para longe da janela, de maneira que ninguém consiga ver, ah,
digamos, daqui. — Ela colocou o dedo na testa. — Mas não foram tão
espertos assim a ponto de perceber que a parede interna do quarto está
voltada para o cofre a menos de 3 metros de distância. E essa mesma parede
tem uma camada de tinta fresca, branca e reluzente.
Por um momento, o ambiente ficou em silêncio.
— Você está brincando, — disse Zerba.
Bink deu de ombros.
— Você transforma bastões em borboletas e muda de roupa mais rápido
do que um piscar de olhos, — argumentou ela. — Os Jedi supostamente
erguiam pedras com a mente e faziam as pessoas esquecerem o próprio
nome. Todos nós temos nossas especialidades. A minha é essa.
— Os botões luminosos individuais em um painel tátil nunca são
exatamente os mesmos — explicou Tavia. — A diferença dos emissores,
mais as partículas de poeira e gordura dos dedos, tudo isso altera um pouco
a cor e a textura óptica. Quando um botão é apertado, aquela luz é
bloqueada e o padrão na parede atrás é mudado.
— Do que você precisa para dar certo? — perguntou Solo.
— Preciso estar na janela quando eles começarem a digitar o código, —
respondeu Bink. — O resto é apenas a leitura dos reflexos.
— E das sombras, — acrescentou Tavia. — Se pudermos calcular se o
operador é canhoto ou destro, e geralmente podemos, a forma como as
sombras mudam quando ele aperta as teclas individualmente também pode
ser lida.
Bink revirou os olhos.
— Tavia, não é para você contar para as pessoas como o truque funciona,
— falou ela em tom de bronca de mentira. — Eles vão perder todo o
respeito se souberem como é fácil.
— É, isso vai acontecer — disse Solo secamente. — Quando vai estar
pronta?
Bink olhou para Tavia.
— Duas horas?
A irmã não pareceu contente, mas concordou com um leve aceno de
cabeça.
— Duas horas, — confirmou Bink ao se voltar para Solo. — Se Villachor
tiver outro visitante tarde da noite, e se nossos amigos lá do outro lado
forem convidados, eu consigo estar na janela antes de eles voltarem. Depois
disso, talvez meia hora para entrar e arrombar o cofre, ver o que está dentro
que nos diga quem eles são e o que querem com Villachor, e a seguir mais
dez minutos para fechá-lo novamente.
— E se Villachor já tiver encerrado as atividades hoje? — perguntou
Zerba. — Se ele mantiver a agenda, não terá outra reunião até amanhã de
manhã.
Bink deu de ombros.
— Então fazemos amanhã de manhã.
— Em plena luz do dia?
— Não é problema, — garantiu Bink. — Há folhagem suficiente lá fora
pra me esconder da maioria das pessoas.
— São aquelas que não fazem parte da maioria das pessoas que me
preocupam, — murmurou Zerba.
— Eu talvez consiga reservar outra noite para nós aqui, se realmente for
necessário — disse Rachele em tom de dúvida. — Vai ser complicado,
porém.
— Um momento, — falou Lando. Ele subitamente se endireitou na
cadeira, de olho na janela. — Parece que eles vão sair.
Bink virou o corpo e o pescoço. A luz do quarto estava ligada, e havia
sombras suficientes na parede dos fundos para mostrar que alguém estava lá
abrindo o cofre. Ela levou os eletrobinóculos aos olhos e focou na sombra.
Sim, daria certo, Bink decidiu. Ela teria que estar encostada na janela
para ler os movimentos e decifrar os toques nas teclas, mas já planejava
estar ali de qualquer forma. A luz e as sombras se alteraram e marcaram a
abertura e o fechamento da porta do cofre. O homem lá atrás apareceu...
Bink ficou rígida. Só que não era um homem. O rosto que apareceu
brevemente pelo campo de visão tinha escamas verdes, com uma massa de
cabelo negro preso, que descia pelas costas.
De algum ponto na área onde Kell e Zerba estavam sentados veio um
gritinho contido.
— Aquilo é...
— Aquilo é um Falleen — confirmou Eanjer em tom soturno. — O que,
pelo Império, um Falleen está fazendo aqui?
— Calma, — aconselhou Solo. Mas ele não parecia tão mais empolgado
do que Eanjer.
Ou tão mais empolgado do que Bink se sentia, por falar nisso. Havia
Falleens pelo Império inteiro, obviamente, assim como havia Rodianos,
Duros e até mesmo Wookiees. Mas tão perto assim do Centro Imperial, as
chances eram desagradavelmente altas de que qualquer Falleen estaria
trabalhando para...
— Calma?, — reclamou Kell. — Falleen significa Sol Negro.
— Não necessariamente — disse Winter. Dentre todos, ela parecia
manter a melhor aparência de calma. — Além disso, príncipe Xizor não é a
única voz dos Falleens na galáxia hoje em dia. A maioria deles não tem
nada a ver com o Sol Negro. Na verdade, há grupos que estão efetivamente
tentando restaurar a honra do nome dos Falleens por meio de sua derrocada.
Chewbacca rosnou.
— Bem, claro, a maioria desses grupos provavelmente está na folha de
pagamentos de Vader, — concordou Solo. — Mas isso não quer dizer que
não estejam atuando.
— E aposto que eles deixaram Xizor realmente preocupado —
murmurou Kell.
— Fique à vontade para cair fora, se quiser, — ofereceu Zerba.
Kell contraiu o maxilar.
— Não, obrigado.
— Se isso ajuda, acho que só existe um Falleen na suíte — disse Rachele
olhando o datapad. — Examinando os registros do serviço de quarto, vejo
apenas um pedido por hora de refeição que um Falleen provavelmente
escolheria. O resto da comida é mais adequada para humanos.
— Quantos humanos? — perguntou Lando. — Com que quantidade
estamos lidando?
Os lábios de Rachele se mexeram enquanto ela fazia a conta silenciosa.
— Eu diria dez a doze, mais nosso Falleen.
— Talvez o Falleen não esteja no comando, — sugeriu Tavia.
— Não se engane — falou Dozer. — Se é o Sol Negro, o Falleen com
certeza está no comando.
— Pelo que ouvi, o Sol Negro tem um monte de humanos em suas
fileiras também, — observou Eanjer. — Então, se ele for do Sol Negro, o
que isso significa para nosso plano?
— No momento, nada, — respondeu Han. — Ainda temos que descobrir
qual é a conexão dele com Villachor, e para isso precisamos dar uma olhada
naquele cofre. Bink?
— Estou dentro — assegurou Bink ao ficar de pé. — E agora, estão todos
convidados a sair e conversar em outro lugar.
— Nós não vamos a lugar algum, — insistiu Kell.
— Ah, vão sim — disse Bink com firmeza. — Eu preciso espalhar e
testar meu equipamento e não quero um monte de pezões nervosos pisando
em cima.
— Além disso, todos nós temos um trabalho a fazer, — acrescentou Solo
ao se levantar. — Rachele, como é a segurança do hotel?
— Não é das piores — respondeu ela novamente manipulando o datapad.
— Parece que tudo que a pessoa precisa fazer é pegar um cartão no lobby. E
também não parece que haja holocâmeras de segurança, a não ser no lobby
e nos locais de reunião.
— Isso vem a calhar. — Solo olhou para Zerba. — Você acha que
consegue arrumar um cartão para nós?
Zerba deu um muxoxo de desdém.
— Com hóspedes entrando e saindo o tempo todo? Com um pé nas
costas.
— Ótimo, — disse Solo. — Rachele, quero que você volte à suíte e vigie
o complexo de Villachor. Informe quando o Falleen e seu comboio
chegarem e quando eles partirem.
— Parece que eu peguei o serviço chato, — falou Rachele.
— Não se preocupe, eu tenho outro trabalho que deve mantê-la ocupada
— garantiu Solo. — Winter, Eanjer, vocês vão com ela. Chewie, você e
Lando fiquem aqui com Bink e Tavia. Zerba, Kell, Dozer, vocês estão
comigo.
— Eu gostaria de ficar aqui em vez de ir com Rachele, se puder, —
Winter se manifestou.
— Algum motivo especial? — perguntou Solo.
— Como disse antes, eu conheço muito sobre sistemas de segurança. —
Winter inclinou a cabeça para Bink. — Não tanto quanto Bink e Tavia
conhecem, é claro. Mas três pares de olhos são melhores do que dois, e eu
posso notar algo que elas deixarem passar.
Solo olhou para Bink e ergueu a sobrancelha em uma pergunta silenciosa.
— Por mim, tudo bem, — respondeu Bink encarando Winter. A mulher
de cabelos brancos estava certa sobre a correlação entre sucesso e o número
de olhos bem informados em cena.
Além disso, Bink não gostava de trabalhar com gente enigmática. Manter
Winter ali poderia lhe dar a oportunidade de conhecê-la melhor.
— Certo, então — falou Solo. — Chewie e Lando: fiquem de olho em
qualquer problema. Todo o resto, temos lugares a ir. Vamos a eles.
CAPÍTULO

O céu havia escurecido e já era noite plena, embora as ruas e os prédios


da Cidade de Iltarr estivessem radiantes como sempre.
O que, pensou Winter enquanto permanecia bem afastada da janela,
podia ser um problema.
Não que Bink em camuflagem completa fosse especialmente fácil de ver.
Na verdade, mesmo sabendo onde ela estava, Winter tinha dificuldade para
acompanhar sua posição. Na maior parte do tempo, ela estava encostada em
uma das árvores altas lá fora, e o traje que Bink escolhera se misturava
quase que perfeitamente às manchas e sombras da iluminação da cidade.
Apenas quando ela se balançava entre as árvores era que Bink ficava
realmente visível, e aqueles momentos passavam rápido.
Mas os momentos ainda estavam lá. E havia algo na intensidade das
luzes da cidade, combinada ao medo instintivo da noite, que
tornava aquela mistura especialmente perigosa.
— Parece que vai bem, — murmurou Tavia ao lado dela.
Winter concordou com a cabeça. Por fora, Tavia parecia tão controlada
quanto Bink quando saiu pela janela e começou a jornada pela beirada do
parque. Porém, por baixo do exterior calmo, Tavia estava preocupada com a
irmã. Winter notou a preocupação nos olhares nervosos que ela dava pela
janela, no tamborilar silencioso dos dedos, e no leve balanço do corpo
mesmo quando Tavia tentava se manter parada.
Os demais notaram também. No outro lado da suíte, Chewie soltou um
ronco em tom confortador, e Lando tirou os olhos do datapad.
— Ela vai ficar bem, — Lando tranquilizou Tavia. — Ela já fez isso
milhares de vezes.
— Eu sei, — disse Tavia firmemente. — Mas geralmente eu estou bem
ali com ela. Não com ela, mas... você sabe o que quero dizer. Conectada e
vigiando para garantir que tudo dê certo. — Ela balançou a cabeça. — Eu
me sinto impotente apenas vigiando. Impotente e inútil.
— Vocês duas fazem isso há muito tempo? — perguntou Winter.
— Desde que tínhamos dez anos de idade, — falou Tavia. — Não o lance
de ladra fantasma, não de início, mas toda essa coisa da vida marginal. —
Ela olhou de lado para Winter. — Não tivemos escolha, — acrescentou
Tavia, com um tom defensivo na voz. — Nosso pai foi morto nas Guerras
Clônicas, e mamãe morreu alguns anos depois. Não tínhamos outros
parentes ou amigos. Era isso ou morrer de fome.
— Felizmente, Bink mostrou ter alguns talentos escondidos no ramo, —
murmurou Lando.
Winter observou Tavia e notou o canto da boca franzida.
— E ela também descobriu que gostava disso?
Tavia abaixou o olhar.
— Por que ela não deveria? Todo mundo gosta de fazer aquilo em que é
bom. — Tavia deu um sorriso fraco para Winter. — Tenho certeza de que
você gosta também.
— Creio que sim, — respondeu Winter voltando a olhar para a janela.
Houve um vislumbre de movimento, e Bink avançou por mais uma árvore
em direção ao objetivo.
Sim, Winter gostava do trabalho. Ou, pelo menos, chegou a gostar um
dia.
Mas houve satisfação, houve paixão e houve dever. No momento, tudo
que havia sobrado para Winter era o dever. Dever e um ódio ardente que ela
não queria e não podia se dar ao luxo de sentir.
Alderaan. Seu lar, seus amigos, uma vida inteira de memórias. Tudo
aquilo, todos eles se foram.
Uma neblina vermelha atravessou a sua visão, cintilando com milhares
de rostos que Winter não conseguia esquecer e um milhão de memórias que
agora estariam para sempre manchadas com fogo e sangue. A princesa Leia
e os demais líderes da Aliança Rebelde ficavam sempre deslumbrados com
a memória perfeita de Winter, com sua habilidade de memorizar manifestos
de frete com uma olhadela e de reproduzir detalhes das mais complexas
plantas e operações de transferência sem fazer esforço. Nenhum deles
realmente compreendia o horrível inconveniente de ser incapaz de esquecer
qualquer coisa.
Antigamente, Winter tentava explicar, de vez em quando, a realidade de
seu dom para algumas pessoas ao redor. Agora, ela sequer se dava ao
trabalho.
A única exceção àquela regra fora Leia. A princesa possuía tantas
memórias perturbadoras que talvez fosse realmente capaz de compreender e
reconhecer o fardo de Winter.
Se ainda estivesse viva.
Mais imagens passaram pela memória indelével de Winter, retratos e
eventos de todas as vezes em que ela e Leia trabalharam ou brincaram ou se
meteram em confusão com o pai de Leia, Bail, enquanto cresciam juntas.
Será que Leia estivera em Alderaan quando aquele monstro insano,
Tarkin, destruiu o planeta? Aquela era a pergunta horrível e crucial. Leia
estivera pela área naquela época, mas poderia ter sido enviada em alguma
missão qualquer antes de seu mundo ser destruído. Winter precisava saber
desesperadamente a verdade, de uma forma ou de outra, para que tivesse
algum alívio ou adicionasse o rosto de Leia à coleção de imagens
manchadas de sangue em sua mente. Para ela, a incerteza era uma assassina,
uma inimiga que sugava foco, força e determinação.
O problema era que Winter não tinha como descobrir a verdade. Tudo
que ela sabia era que Alderaan fora destruído, que havia rumores de que a
Estrela da Morte fora destruída, e que nem os imperiais, nem a Aliança
descobriram como reagir àquela situação duplamente inesperada.
Mas quem morreu e quem sobreviveu, Winter não tinha como saber. As
pessoas com quem ela trabalhava na logística fora propositalmente isoladas
da estrutura de comando da Aliança e de todas as linhas diretas de
comunicação. Até que viesse alguma espécie de declaração oficial do
Centro Imperial, ou até que Winter recebesse uma informação menos
oficial, porém geralmente mais precisa, do QG da Aliança, tudo que ela
podia fazer era torcer, se preocupar e rezar.
E continuar a fazer o serviço que recebera. Por enquanto, isso significava
manter o disfarce como assistente de contrabandista e fazer o que quer que
Mazzic mandasse. Mesmo que a tarefa não tivesse nada a ver com derrubar
o Império que Winter aprendeu a desprezar.
Quando Rachele relatou que o comboio de três landspeeders havia saído
de Marblewood novamente, Bink chegou à outra extremidade do parque.
Quando Han relatou, do lado de fora do Lulina Crown, que o comboio
chegara, ela estava a três árvores da janela que era seu alvo.
Bink estava apoiada mais ou menos confortável na árvore que escolhera,
a 3 metros da janela, quando as luzes na suíte se acenderam, e o Falleen que
eles viram antes entrou no quarto a passos largos.
— Não se preocupe, ela vai conseguir. — A voz de Lando surgiu suave
por trás de Winter.
Ela olhou em volta. Lando tinha vindo do outro lado do quarto e estava
entre Winter e Tavia. Mais perto do que ele precisava estar, bem mais perto
do que ela gostava que estranhos chegassem.
Mas os olhos de Lando não estavam em Winter, e sim nas janelas do
outro lado do parque.
— Eu já vi Bink realizar façanhas mais loucas do que essa, — continuou
ele. — Como disse antes, ela tem talento. — Lando desviou
suficientemente o olhar a fim de dar um sorriso charmoso, ligeiramente
maroto para Winter. — Ambas têm — ele se corrigiu ao colocar a mão no
ombro de Tavia.
— Sim, — concordou Winter, que virou o olhar de volta para janela.
Era irritante, embora longe de ser uma surpresa, que Han tivesse sido
esperto o bastante para insistir que o grupo usasse apenas prenomes. Havia
nada menos do que quinze Landos nos registros de antecedentes criminais
que ela memorizou com o passar dos anos, e a maioria desses arquivos
infelizmente não possuía hologramas decentes. Brevemente, Winter se
perguntou se este Lando era um daqueles quinze ou alguém que ainda não
havia chamado a atenção dos imperiais.
O Falleen lá do outro lado retirou o paletó e revelou embaixo dele uma
túnica de aparência cara que descia até as coxas. Winter examinou o
pescoço dele, na esperança de que houvesse uma tatuagem de clã ou de
lealdade em algum lugar, capaz de dar alguma pista sobre a identidade ou
associação. Alguns grupos de Falleens gostavam de fazer isso.
Mas não havia nada, pelo menos nada que ela pudesse ver à distância em
que estava. O Falleen pousou o paletó em uma mesa baixa ao lado da porta
do quarto, depois meteu a mão em uma pochete e retirou um datapad de
aparência estranha, que colocou ao lado do paletó. Ele encolheu os ombros
uma vez, como se tirasse o peso residual do paletó, foi até o cofre e
desapareceu na lateral do objeto.
Winter franziu a testa ao ver o datapad. Algo nele parecia conhecido.
Abruptamente, ela ficou rígida.
— Eletrobinóculos, — disparou Winter ao arrancar o olhar do datapad e
procurar ao redor freneticamente. Onde o aparelho tinha ido parar?
— Aqui, — disse Tavia ao colocar um par de eletrobinóculos na mão
dela.
Winter enfiou o aparelho nos olhos, e os dedos acionaram o controle do
foco. A imagem se ajustou; então uma mão alienígena apareceu da lateral e
arrancou o datapad de seu campo de visão. Antes que ela pudesse rejeitar o
foco, o Falleen havia desaparecido novamente pela lateral do cofre, levando
com ele o datapad.
— O que foi? — perguntou Tavia tensa. — O que houve?
— Aquele datapad, — respondeu Winter enquanto abaixava os
eletrobinóculos e olhava para o local no piso onde Bink e Tavia haviam
espalhado seu equipamento. — Preciso ver melhor para ter certeza. Mas se
for o que penso que é, estamos com um problema.
— Mas Bink não consegue trazê-lo até aqui, — contestou Tavia. — Os
sensores de energia...
— Eu sei, — interrompeu Winter ao devolver os eletrobinóculos para
Tavia e correr ao equipamento. — Eu terei que ir até ela.
— Como? — perguntou Lando. — Bink tem o único arnês que funciona
sem energia.
— Então vou ter que improvisar. — Winter pegou o arnês com ganchos
elétricos e avaliou rapidamente. Se ela removesse a estrutura central, depois
desplugasse a mira telemétrica de ombro...
O Wookiee rosnou uma pergunta.
— É mais do que apenas importante, — respondeu Winter. — É
absolutamente vital. — Ela segurou firme a estrutura e olhou ao redor, à
procura de uma faca...
E se virou assustada quando o Wookiee chegou ao lado dela e arrancou o
arnês de suas mãos. Três segundos depois, ele tinha arrancado a estrutura, a
mira telemétrica e uma parte do equipamento que Winter não percebeu que
era elétrica. Chewbacca passou o arnês para ela, gesticulou para que o
vestisse e soltou a bandoleira do ombro.
— Tem certeza de que sabe o que está fazendo? — perguntou Lando. —
É um longo caminho.
Chewie soltou um rugido impaciente.
— Certo, ok, — respondeu Lando às pressas, com as mãos espalmadas
levantadas. — Tavia, abra a janela.
A luz tinha se apagado no quarto do outro lado do parque no momento
em que eles ficaram prontos. Chewie e Winter ficaram diante um do outro
na janela aberta; ela estava presa ao arnês, e as alças externas do
equipamento estavam presas aos ombros enormes do Wookiee.
Chewbacca abaixou o olhar para Winter e murmurou uma última chance
para ela.
— Estou pronta. — Winter concordou com a cabeça, e ele devolveu o
gesto.
Um instante depois, Chewbacca pulou pela janela no ar da noite.
Winter soltou um gritinho sem querer, e as mãos seguraram firme no pelo
em volta das costelas de Chewie, por reflexo. Um longo segundo depois, ela
quase se soltou quando as mãos e pés do Wookiee se chocaram na árvore
mais próxima. Por outro instante, pareceu que eles iriam deslizar e
despencar no parque lá embaixo. Aí houve outro solavanco quando
Chewbacca de alguma maneira conseguiu se segurar. Winter começou a
tomar um longo fôlego assustado...
E com outro solavanco e um giro violento do corpo, o Wookiee se lançou
com ela na direção da próxima árvore da fila.
Winter se equivocara. Ela não estava, de maneira alguma, preparada para
aquilo.
Mas um dos efeitos colaterais de uma memória perfeita era a capacidade
de se ajustar rápido a novas experiências, especialmente as repetitivas.
Quando os dois chegaram ao fim do prédio onde estavam e dobraram a
esquina, Winter já sabia se segurar, o momento de agarrar o arnês e a bora
de deixar o corpo mole. Ela também já sabia exatamente quantas árvores
estavam entre eles e Bink, o que significava que Winter era capaz de fazer
uma contagem regressiva até o fim do suplício. Psicologicamente, conhecer
a linha de chegada ajudava muito.
Mesmo assim, na maior parte do trajeto, ela manteve os olhos bem
fechados.
Obviamente, Bink viu os dois vindo. E ficou rapidamente evidente que
ela não estava contente com aquilo.
— O que vocês estão fazendo? — Ela exigiu saber em um sussurro alto
quando Chewie parou na última árvore.
— O datapad ali dentro, — respondeu Winter, lutando para se virar nas
restrições do arnês. Bink, notou ela, havia aberto a janela externa e estava
cortando um buraquinho circular na barreira de transparaço atrás da janela.
Era difícil enxergar daquele ângulo, mas parecia que Bink tinha feito a
maior parte do serviço. — Você viu?
— Sim, eu vi, — falou Bink. — E daí?
— Eu preciso ver mais de perto, — disse Winter. — É importante.
Os lábios de Bink tremeram, mas ela concordou com a cabeça,
relutantemente.
— É melhor que seja, — alertou Bink. — Certo. Me dê dois minutos
assim que eu entrar, depois você entra. Pode colocá-la na janela, Chewie?
O Wookiee rosnou uma afirmativa.
— Tudo bem, — disse Bink. — Só não faça nenhum barulho assim que
entrar. E não quebre nada.
Ela se virou novamente e retomou o serviço na janela.
Winter já tinha feito muitas invasões durante os anos em que estava na
Aliança Rebelde, mas a maioria dessas investidas havia sido em áreas de
pouca segurança, como armazéns de comida e de peças sobressalentes, e na
maior parte das vezes, Winter tinha ido com alguém mais experiente para
ajudar. Ela jamais havia tentado invadir um local com esse tipo de
segurança.
Lando estava certo. Bink definitivamente era talentosa.
Abrir um buraco na barreira de transparaço foi apenas o primeiro passo.
Depois veio o uso de uma substância grudenta para retirar o círculo do
lugar. Um par de sondas compridas foi introduzido pela abertura, desviando
de um par de rastreadores, enquanto um cabo de bateria na ponta de uma
sonda ainda maior contornou algum tipo de detector que Winter não
reconheceu.
Finalmente, quando todos os sensores e detectores de reserva haviam
sido contidos, confundidos ou distraídos, uma última sonda acionou o fecho
e soltou a placa de transparaço do lugar. Bink se agarrou ao peitoril, soltou
o arnês dos apoios adesivos que fixara à parede externa e entrou agilmente
no quarto pela abertura. Ela fechou quase toda a janela e a placa de
transparaço, disparou um olhar para Winter e foi para a lateral do grande
cofre de chão.
— Como resolvemos isso? — murmurou Winter para Chewie.
Como resposta, ele indicou o galho mais próximo.
— Eu temia isso, — disse Winter enquanto fazia uma careta ao segurar
firme no galho.
Chewie esperou até ela estar pronta, depois tirou as alças do arnês, um
ombro de cada vez. Winter se mexeu com cuidado, de um jeito
estranhamente desajeitado para ela, deu a volta e subiu nas costas do
Wookiee. Winter passou as mãos pelos ombros dele e se agarrou nos tufos
de pelo sobre as clavículas.
Ela tinha lido uma vez que aquele era o jeito mais seguro e menos
doloroso de se agarrar a um Wookiee. Winter torceu com fervor para que o
autor daquele artigo em especial não estivesse errado.
A contagem regressiva de dois minutos de Bink passou. Chewie rosnou
um alerta, depois se lançou da árvore para a janela. As mãos agarraram a
beirada inferior, e o corpo bateu na lateral do prédio com um solavanco que
quase fez Winter se soltar.
Felizmente, o Wookiee já havia previsto aquele perigo. Enquanto Winter
lutava para se segurar, Chewbacca dobrou os joelhos e ergueu os pés
embaixo dela, a fim de dar um apoio para Winter pisar. Ele esperou que ela
se agarrasse com firmeza novamente, dobrou os cotovelos e ergueu os dois
até beirada inferior da janela, que ficou no nível de seu rosto.
Winter havia agarrado a janela e começado a abri-la quando, do outro
lado do quarto, um sujeito grandalhão e de aparência bruta entrou a passos
largos.
Ela travou, ciente de que estava completamente exposta, mas também de
que qualquer movimento atrairia o olhar do homem de imediato.
Aparentemente, Chewie também estava ciente disso e travou da mesma
forma. O homem passou por trás do cofre e retirou um datapad enquanto
caminhava até um par de poltronas em volta de uma mesinha. Ele começou
a se sentar, dando as costas para a janela brevemente...
Um instante depois, Winter não viu mais nada, pois Chewie se
aproveitou que o homem havia se virado de costas e desceu o corpo para
ficar pendurado, deixando apenas as pontas dos dedos visíveis.
Mas Winter tinha visto o suficiente. A boa notícia era que o homem
claramente não desconfiara. A má notícia era que, pelo jeito, ele ficaria ali
por um tempo, fosse para ler, trabalhar um pouco ou talvez apenas cochilar.
Em todo caso, Bink ficaria presa do outro lado do cofre.
Winter torceu o pescoço a fim de olhar para trás. Àquela distância, com
as árvores bloqueando a vista parcialmente, não dava para dizer se Tavia ou
Lando tinham percebido o problema ou não. Ela só podia torcer com fervor
para que tivessem visto.
E para que pudessem pensar em alguma solução.

— Consegui, — afirmou Dozer.


Ele desligou o comunicador, abriu a porta da escadaria, trocou acenos de
cabeça com Zerba e entrou no corredor do sexagésimo andar do Lulina
Crown, que tinha um cheiro de perfume delicado.
Enquanto andava, Dozer deu um sorriso contido para si mesmo.
Calrissian podia ter a aparência, o sorriso e o charme conquistador, e talvez
isso fosse tudo o que Solo queria para o serviço. Ou pelo menos tudo o que
ele pensava que queria.
Mas Calrissian não era nada mais do que um contrabandista e um
apostador ocasionalmente sortudo. Roubar naves é que era o serviço que
realmente exigia as habilidades de um vigarista.
Hora de mostrar como um profissional fazia o serviço.
As portas do Hotel Lulina Crown tinham campainhas bonitinhas ao lado
para os visitantes usarem, campainhas que com certeza emitiam zunidos e
pios fofinhos no interior da suíte. Dozer evitou a campainha e preferiu bater
na porta com a lateral do
— Olá? — chamou ele. — Entrega.
Nada. Dozer bateu novamente, na esperança de que a falta de resposta
não significasse que Bink tinha sido descoberta e que todo mundo lá dentro
estava ocupado demais para atender.
— Olá? — chamou ele outra vez, agora aumentando para valer o volume
da voz. — Quer atender à porta? Eu não tenho a noite toda. — Dozer
ergueu o punho novamente...
Com uma brusquidão que o pegou de surpresa, a porta foi escancarada, e
ele se viu encarando os canos de um par de armas de raios bem grandes e
sinistras.
— Ei, ei, ei... calma aí — falou Dozer rapidamente, abrindo a mão para
mostrar que estava vazia. Os homens atrás das armas, notou ele, eram tão
grandes e sinistros quanto elas.
— O que você quer? — um deles exigiu saber.
— Serviço de Entregas Rápidas, — respondeu Dozer, acenando com a
cabeça para a plaquinha dourada presa à jaqueta. — Eu tenho uma entrega
para Mencho Tallboy. — Cuidadosamente, ele ergueu o pequeno estojo de
segurança que estava na mão esquerda. — Ele está?
O homem franziu os olhos, e Dozer fez um esforço para manter a
respiração sob controle. Tallboy era o nome que Rachele havia puxado dos
pedidos do serviço de quarto, mas ela não tinha como saber se era uma
pessoa de verdade ou simplesmente um pseudônimo conveniente que o
Falleen e sua tropa usavam para questões mundanas. Uma suposta entrega
para uma pessoa que não existia não faria nada para apaziguar as suspeitas
de qualquer um, e este era exatamente o rumo errado que Dozer queria que
a conversa tomasse.
— É, ele está aqui, — disse o homem enquanto recolhia a arma de raios
em alguns centímetros e esticava a outra mão. — Eu pego.
— O senhor é o mestre Tallboy? — perguntou Dozer, fazendo uma careta
como quem sabe que está prestes a dar más notícias a um homem armado.
— Eu sinto muito, mas a ordem foi bem específica. Eu preciso entregar a
encomenda pessoalmente ao mestre Mencho Tallboy.
— Encomenda de quem? — indagou o homem com a mão ainda
esticada.
— Do remetente, — falou Dozer, com mais nervosismo e um pouco de
confusão no tom de voz. — Sou apenas um entregador. Faço o que me
mandam.
Por alguns segundos, os dois homens continuaram a se encarar. Então, o
sujeito com a mão estendida mexeu os dedos.
— Datapad, — ordenou.
— Sim, senhor, — disse Dozer.
Ele passou o estojo de segurança para a mão direita de maneira
desajeitada e puxou o datapad com a outra. O segundo homem guardou a
arma de raios no coldre, pegou o datapad e franziu a testa enquanto
começava a teclar.
Pelo rabo de olho, Dozer viu uma pequena esfera negra surgir através da
porta semiaberta da escadaria e rolar pelo corredor na direção dele a uma
velocidade bem maior do que um objeto daquele tamanho conseguiria em
um carpete tão grosso assim. Ela quicou na parede dos fundos e ajustou o
ângulo na direção de Dozer.
E um segundo depois, a esfera explodiu em um jato brilhante de fogo e
uma nuvem de fumaça negra.

Bink estava quase terminando a combinação do cofre quando a porta do


outro lado do quarto se abriu.
Seu primeiro pensamento foi óbvio e aterrorizante: que o serviço tinha
acabado de ser interrompido abruptamente e que ela estava prestes a lutar
pela vida. Bink se encostou no cofre, enfiou a mão direita na pochete e
pegou a serra monofio. Não era lá aquelas coisas como arma, mas era o
melhor que ela tinha.
Para alívio de Bink, o barulho da porta se abrindo foi acompanhado
apenas por um par de passos, e ainda por cima relaxados. Alguém
simplesmente entrando no quarto com outro objetivo que não fosse golpear
uma ladra fantasma indesejável?
Ela sentiu uma nova pontada de tensão ao se dar conta, subitamente, de
que Winter deveria estar entrando pela janela mais ou menos naquele
momento. Mas os passos não indicaram que a outra mulher tinha sido vista.
O visitante passou tranquilamente pelo outro lado do cofre, e Bink ouviu o
barulho suave de tecido no couro quando ele se sentou em uma das
poltronas de leitura.
O que a deixava então oficialmente presa.
Ela lambeu os lábios subitamente secos. Ser flagrada era um dos perigos
sempre presentes do ramo, mas até então Bink conseguira evitar tais
incidentes. Com um Falleen e possivelmente o Sol Negro envolvidos, um
confronto ali deveria ser evitado a todo custo.
Ela torceu para que Tavia tivesse algo muito especial na manga.
Oitenta segundos se passaram. Bink contou e examinou cada um deles,
enquanto a mente dava piruetas ao tentar desesperadamente inventar
sozinha um plano de fuga caso Tavia não fizesse o esperado.
Então, no silêncio do ambiente, veio o sussurro suave de uma voz
distante, como se saísse de um comunicador de colarinho. Bink não
conseguiu distinguir as palavras, mas subitamente houve outro rangido de
tecido no couro quando o visitante ficou abruptamente de pé. Ela segurou
firme a serra monofio, mas os passos simplesmente passaram correndo pelo
quarto até a porta. Outro abrir e fechar...
Com cautela, Bink espiou pela beirada do cofre. Houve um movimento
no rabo de olho, mas era apenas Chewie erguendo o corpo novamente e
Winter terminando de abrir a janela quebrada. Ela soltou um suspiro
silencioso de alívio momentâneo, muito ciente de que o que estava
acontecendo em outro lugar da suíte não prenderia a atenção do capanga
para sempre, e se abaixou novamente diante do cofre a fim de retomar o
trabalho.
Bink tinha quase acabado quando Winter apareceu ao lado dela.
— Quase, — sussurrou Bink, um pouco surpresa de que a outra tivesse
passado pela janela e pelo quarto sem fazer barulho algum. Talvez Winter
fosse mais experiente em atividades criminosas do que ela imaginara.
Ela digitou o último número, e o mecanismo emitiu um clique suave.
Bink cruzou os dedos mentalmente, torcendo para que não houvesse um
alarme escondido que ela não tivesse visto, e girou a alavanca...
De um ponto distante veio o som baixo de uma explosão. Bink virou a
cabeça na direção da porta...
— Deve ser a nossa distração, — sussurrou Winter. — Rápido.
Bink trincou os dentes, jogou o corpo para trás e aplicou todo o peso do
corpo na alavanca. A porta pesada abriu-se lentamente.
Ela sentiu os olhos se arregalarem. O cofre estava vazio.
Não, não exatamente. Na prateleira do meio havia um datapad de
aparência estranha.
— Mas quê...
Bink parou de falar quando Winter esticou a mão e pegou o aparelho. Ela
deu um passo para o lado, foi para a luz e virou rapidamente o datapad nas
mãos. Então, ao voltar, recolocou o datapad no cofre.
— Hora de partir, — sussurrou Winter e retornou para a janela.
— Só pode ser brincadeira — murmurou Bink para si mesma, em tom
amargo. Um datapad. Ela arriscou a vida por um maldito
datapad.
Bink fechou o cofre, trancou a porta e acompanhou Winter até o outro
lado do quarto.
Um longo minuto depois, ela estava em segurança do lado de fora, com a
placa de transparaço de volta ao lugar, a janela fechada, e os tampões que
ela cortara em ambas recolocados. Por enquanto, os tampões estariam
visíveis, porém, mais três minutos e o adesivo que Bink usara para colá-los
teria juntado tudo, não deixando sequer um sinal de que a vidraça e a placa
foram cortadas. Os apoios de betume que ela prendera à lateral do prédio
para fixar o arnês foram os últimos a serem retirados, após derreter o
adesivo com alguns jatos do spray de solvente.
Feito isso, Bink estava de volta, seguindo Chewie e Winter, disparando
os ganchos e balançando de árvore em árvore o mais rápido possível. Ela
tinha sobrevivido a mais uma operação, e quanto mais cedo estivesse de
volta à suíte em segurança, mais feliz ficaria.
Só restava a Bink torcer para que a pessoa do grupo de Solo que tinha
criado a distração explosiva também retornasse ilesa.

A bomba era minúscula, um pequeno estalinho que Kell havia montado


para a ocasião, com muita fumaça e som e pouca fúria de fato. Não era
suficientemente poderosa para derrubar Dozer.
O sujeito com a arma de raios, por outro lado, foi derrubado. Dozer caiu
de costas no carpete espesso, com a mão esquerda do homem espalmada
contra o peito até os dois atingirem o chão, e a arma pressionada com a
mesma força na bochecha esquerda de Dozer. Em algum momento, o som
da explosão teve como eco o barulho da porta da suíte sendo fechada com
força.
Dozer teve a intenção de gritar alguma coisa em tom de medo, algo que
se encaixasse no personagem de um espectador inocente. Mas o impacto
com o piso o deixou quase sem ar para ofegar. De rabo de olho, embaixo
dos anéis de fumaça e atrás das pernas do sujeito agora ajoelhado ao seu
lado, ele viu mais dois homens armados correrem na direção da escadaria,
com as armas de raios fora dos coldres e de prontidão.
Mentalmente, Dozer fez um gesto negativo com a cabeça. Homens
corajosos, e sem dúvida muito durões. E também muito estúpidos. Eles não
faziam ideia se havia um ou vinte homens à espreita na escada para onde
avançavam. Se Dozer estivesse no comando, ele teria enviado um
esquadrão de cinco integrantes ou nenhum.
Mas era um Falleen que mandava ali, e os Falleens eram conhecidos por
não se importarem com nenhuma outra raça que não fosse a própria.
No fim do corredor, a porta da escadaria fez um baque ao abrir quando os
dois homens avançaram, preparados para matar ou morrer a mando do
chefe. Felizmente para eles, desta vez os dois não tinham com que se
preocupar, de uma forma ou de outra. Após o estalinho de Kell e o lançador
relógio a mola de Zerba, aquela escada estava deserta há muito tempo.
— Não se preocupe, nós vamos pegar seu amigo — disse o homem
inclinado sobre Dozer. — Será bem mais fácil para você se falar agora.
— Sou apenas um mensageiro — Dozer conseguiu colocar uma boa
tremedeira na voz, como um homem realmente assustado faria.
— Só vim aqui entregar um pacote.
— E fazer a gente abrir a porta para que seu amigo rolasse uma bomba
em cima de nós?
— Eu não sei nada sobre bomba alguma, — reclamou Dozer, colocando
um pouco mais de tremedeira na voz. Não foi tão difícil assim, não com
uma arma de raios pressionada contra a bochecha.
— Veja bem, eu estava bem ali com você. Acha que eu quero ser
explodido?
O homem resmungou.
— Gorkskin? Fale comigo.
— Parece verdade — respondeu alguém fora do campo de visão de
Dozer, relutantemente. — Tem uma marca de empresa aqui que bate com o
banco de dados da Cidade de Iltarr. E há um pedido de entrega para
Mencho, com hora e lugar.
O guarda de Dozer resmungou de novo.
— Abra. — Ele ergueu as sobrancelhas. — Algo contra, mensageiro?
Dozer considerou salientar que a caixa só poderia ser legalmente aberta
pelo próprio destinatário. Diante das circunstâncias, ele decidiu que isso
fugiria totalmente ao personagem. Sem falar que seria uma estupidez
perigosa.
— Não, — respondeu Dozer.
— Ótimo. Gorkskin?
— Está trancada, — disse Gorkskin.
— Tem certeza?
Houve uma rápida sucessão de dois disparos de armas de raios, e Dozer
fez uma careta quando a onda de calor bateu no rosto.
— Acho que não, — respondeu Gorkskin sarcasticamente. Houve outro
barulho quando ele quebrou o estojo de segurança danificado para abri-lo.
— Ora, ora. Você vai adorar isto aqui, Wivi. A caixa está cheia de dinheiro.
Quinhentos ou seiscentos créditos, no mínimo.
A arma de raios na bochecha de Dozer se afundou um pouco mais.
— Ora, ora — disse Wivi, com a voz em um falso tom casual. — Estou
curioso para saber quem gosta tanto de Mencho a ponto de enviar créditos
para ele.
— Todo em moedas também, — falou Gorkskin. — Não em uma ficha
de crédito bacana, facilmente rastreável.
— Claro que não, — disse Wivi. — Vamos tentar de novo, mensageiro.
Quem mandou você?
— Eu lhe disse, — respondeu Dozer, com o máximo de medo e confusão
no tom de voz, se perguntando, preocupado, se dera um passo maior do que
as pernas.
Eles viram o cenário falso que Rachele plantara no datapad e nos
registros da cidade, e ainda assim não estavam acreditando. Se Solo tinha
mais provas, era melhor se apressar e exibi-las.
— Sou apenas um mensageiro... — repetiu Dozer.
— Do Serviço de Entregas Rápidas, — completou uma nova voz
calmamente.
Dozer sentiu um nó no estômago. Na superfície, a voz era tranquila,
pacata e bem civilizada. Mas aquele ar de civilidade tinha a espessura de
uma molécula... e por baixo havia algo frio, sombrio e muito, muito
maligno.
— Com todo respeito, lorde Aziel, o senhor não deveria estar aqui —
disse Wivi, em um tom de voz subitamente respeitoso. — Não até que
tenhamos protegido a área.
— Não há perigo, — falou a voz.
Dozer notou que havia algo de diferente no cheiro do corredor, e então,
para sua surpresa, ele sentiu o coração desacelerar e foi tomado por uma
nova onda de calma. Talvez o recém-chegado, esse tal de lorde Aziel,
pudesse fazer algo a respeito de sua enrascada.
— O agressor, seja lá qual for seu objetivo ou plano, foi embora há muito
tempo, — continuou a voz. — E este homem é o que alega: um mero
mensageiro.
— Senhor, nós não confirmamos isso ainda, — falou Gorkskin.
— Então vamos confirmar — disse a voz. — Deixem que ele fique de pé.
Wivi deu um último olhar frustrado de desprezo para Dozer. Então,
relutantemente, ele tirou a arma de raios da bochecha de Dozer e se
levantou. Após outro segundo de hesitação, Wivi estendeu o braço e
ofereceu a mão. Dozer também hesitou, apenas a fração de segundo que um
transeunte ainda assustado hesitaria, depois pegou a mão oferecida e deixou
que Wivi o erguesse de pé.
E quando ele começava a ajeitar o casaco, Wivi virou Dozer de lado, e
ele se viu cara a cara com o Falleen que eles observaram do outro lado do
parque, mais cedo.
Só que o alienígena não era tão ameaçador como aparentara naquela
ocasião. Na verdade, conforme Dozer encarava o rosto de escamas verdes e
os olhos azul escuros, ele não conseguia sequer se lembrar por que Solo e
os demais pensaram que o Falleen era alguém com quem eles deveriam se
preocupar, antes de mais nada. Aquele era um cavalheiro da mais alta
estirpe, longe de ser alguém
que se envolveria em algo tão vulgar quanto atividades criminosas.
— Você é mesmo um mensageiro? — perguntou Aziel.
Dozer engoliu em seco e foi tomado por uma onda de culpa e
arrependimento. O Falleen diante dele era tão honorável e carinhoso.
Sequer pensar em mentir para uma pessoa assim pareceu ser uma traição de
tudo que era correto e decente sobre o universo.
E, no entanto, uma pequena parte insistente de sua mente lembrava que
havia uma razão para Dozer estar ali. Havia alguma coisa sobre aquela
situação que era vital que ele mantivesse em segredo, mesmo deste
esplêndido Falleen. Vital para as vidas de outras pessoas, bem como a
própria vida de Dozer.
Talvez ele conseguisse agradar a ambas as partes. Dozer certamente
trouxera o estojo de segurança ali a pedido de Solo. Então...
— Sim, — respondeu ele. — Eu sou um mensageiro.
— Do Serviço de Entregas Rápidas?
Dado que a empresa não existia de verdade e que Dozer era literalmente
seu único funcionário:
— Sim.
— Você teve algo a ver com aquela explosão?
O estalinho tinha sido obra de Kell, o sistema de ativação fora de Zerba,
e o plano tinha sido de Solo.
— Não, — disse Dozer.
— Muito bem, — falou Aziel.
O Falleen olhou para os dois brutamontes, — porque era isso que todos
eles eram, Dozer se dava conta então: criaturas da ralé que mal podiam ser
consideradas sencientes quando comparadas à nobreza de seu chefe, — e
fez um pequeno gesto.
— Devolvam o estojo e deixem que ele siga seu caminho.
— E os créditos? — perguntou Wivi.
— A ordem de entrega diz que eles devem ir para Mencho Tallboy —
frisou Aziel. — Então eles devem ser entregues. — Os olhos brilharam. —
E ele pode explicar então a origem e o propósito. Seja como for, o
mensageiro pode seguir seu caminho.
Dozer sentiu uma onda de gratidão quando Wivi entregou o estojo
danificado em silêncio. Havia tão poucas pessoas verdadeiramente gentis
no Império naqueles dias. Fora uma honra ter conhecido uma delas.
Foi só quando ele estava no turboelevador, a caminho do nível da rua,
que a sensação começou a desaparecer, e Dozer lentamente começou a
perceber o que acabara de acontecer com ele.
E como, com um pouquinho menos de cuidado da parte dele, Dozer
poderia ter entregado todo o plano.
Ele ainda estava tremendo quando Han levou o airspeeder novamente
para o trânsito do fim de noite.
CAPÍTULO

— Chama-se cryodex — disse Winter quando o grupo estava novamente


reunido na suíte com vista para a Mansão Marblewood.
— Era um antigo aparelho de encriptação alderaaneano, montado dentro
de um datapad especialmente modificado. Ao contrário dos métodos
normais de encriptação, que usam software e camadas, os padrões giratórios
de ativação singular eram montados diretamente no interior da máquina.
— Parece complicado, — comentou Lando.
— Sem falar que é ineficiente, — acrescentou Tavia. — Se a encriptação
se torna obsoleta, a pessoa tem que jogar fora o aparelho inteiro e montar
um novo.
— Na teoria, sim, — disse Winter. — Mas o sistema tinha duas
vantagens. Primeiro, uma mensagem encriptada por um cryodex só poderia
ser lida por outro cryodex. Isso significa que a pessoa podia manter um
aparelho em cada ponta do canal diplomático, sem se preocupar em
transmitir uma chave de encriptação de um lado para o outro, ou confiar
que um mensageiro a entregasse.
— Um ladrão ainda seria capaz de interceptar a mensagem em si –
salientou Tavia.
— Verdade, — concordou Winter. — Mas não serviria de nada... porque
a segunda vantagem é que a mensagem encriptada por um cryodex não
pode ser decriptada. Por ninguém. Jamais.
— Sério? — perguntou Lando, com um leve tom de ceticismo educado
na voz.
— Sério, — disse Winter, em um tom incisivo que Han ainda não tinha
ouvido antes. — Em duzentos anos de uso, nenhuma encriptação de
cryodex jamais foi quebrada.
Elan aquiesceu para si mesmo quando uma parte da aura de mistério de
Winter ficou clara, e ele subitamente compreendeu o ar de tensão e tristeza
que ela tinha.
— Você sabe disso por experiência própria? — perguntou Han.
Winter se virou para encará-lo, e por um momento os dois sustentaram o
olhar. Han observou Winter travar uma breve batalha consigo mesma e
chegar a uma decisão relutante.
— Sim, — respondeu ela baixinho. O breve momento de contundência
passou e deixou apenas a tristeza. — Eu estava envolvida com o palácio
real de Alderaan.
Houve um momento de silêncio enquanto os demais assimilavam aquela
informação. Os detalhes oficiais a respeito do único tempo de serviço da
Estrela da Morte ainda eram incompletos, Han sabia, mas a destruição de
Alderaan estava por toda a HoloNet.
— Eu sinto muito, — murmurou Rachele finalmente.
— Obrigada, — respondeu Winter, novamente equilibrada.
Brevemente, Han se perguntou como ela conseguira tirar o assunto da
mente tão rápido. Ele tinha visto como a princesa Leia e os demais em
Yavin foram afetados, e mesmo que Han não tivesse perdido um bando de
amigos ou familiares, ainda fora um forte soco no estômago ter voado atrás
de um enxame de rochas que antes havia sido um mundo próspero. Ou
Winter tinha um tremendo autocontrole, ou era realmente boa em reprimir
memórias.
— Eu não contei isso para provocar empatia, — continuou ela. — Eu
contei, como Han disse, para que vocês entendam que eu sei pessoalmente
do que estou falando.
— Então, de onde vem esse cryodex em especial? — perguntou Zerba.
— Alguma ideia?
Winter contraiu os lábios levemente.
— Havia 137 cryodexes cujas existências eram conhecidas até... — Ela
se interrompeu. — Todos, menos oito, estavam em Alderaan, — continuou
Winter. — Desses oito, sete estavam em mãos de autoridades diplomáticas
do alto escalão. — Ela hesitou. — O oitavo sumiu há quatro anos,
supostamente roubado.
— Três chances para adivinhar qual dos oito é este aí, — murmurou Kell.
— Você faz alguma ideia de quem roubou o cryodex? — perguntou Bink.
— Um possível ladrão foi identificado, — falou Winter. — Mas jamais
descobrimos se ele de fato roubou e, se roubou, para quem entregou o
cryodex.
— Eu presumo que os demais foram desligados quando aquele sumiu? —
indagou Lando.
Winter concordou com a cabeça.
— Eles continuaram sendo usados ocasionalmente para objetivos
menores, mas toda a encriptação diplomática de alto nível foi
imediatamente mudada para outros métodos.
— Espere um pouco, — disse Tavia, subitamente franzindo a testa.
— Você disse que apenas um único criodex foi roubado?
— Ela está certa, — falou Zerba endireitando um pouco mais as costas.
— Você acabou de dizer que são necessários dois cryodexes para enviar
uma mensagem. Que uso alguém teria para apenas um?
— Talvez a pessoa já tivesse acesso a um dos instrumentos diplomáticos,
— sugeriu Bink sem muita certeza. — Não, não é isso. Se ela já tinha um,
por que perder tempo roubando outro? A pessoa simplesmente poderia
decriptar qualquer fofoca diplomática que quisesse ler e enviar a mensagem
para quem mais quisesse a informação.
— Eu não sei a motivação por trás do desaparecimento do cryodex, —
disse Winter. — O motivo por nunca termos sabido o que aconteceu foi que
o suposto ladrão morreu pouco tempo depois de ter sido preso.
Kell sentiu um arrepio.
— Que beleza.
— O que você esperava? — murmurou Dozer.
O tom de voz era sombrio, os olhos melancólicos encaravam fixamente o
copo alto de cerveja que ele se serviu no momento em que eles chegaram à
suíte. Até onde Han se lembrava, aquelas eram as primeiras palavras que o
homem falava desde que haviam voltado lá do Hotel Lulina Crown.
— O que você quer dizer? — perguntou Tavia.
— Quero dizer que obviamente o ladrão morreu sob custódia, — rosnou
Dozer, olhando feio para ela. — Estou surpreso de que não tenha morrido a
caminho da custódia. Essas pessoas são más, Tavia; um mal puro e sem
limites. Eles matarão qualquer um que se intrometa. — Ele abaixou o olhar
de volta para a bebida. Incluindo nós.
— Uau, — falou Bink ao observá-lo com atenção. — É aquele Dozer ex-
ladrão de naves corajoso que estou ouvindo?
Dozer balançou a cabeça.
— Você não estava lá, Bink, — disse ele. — Você não o encarou. Não o
ouviu. Você sabe que eu estive a uma rodada de sabacc de entregar todo o
plano? E sem motivo algum, só porque ele perguntou com educação.
— Você não nos entregou, não foi? — perguntou Zerba, ansioso.
— Você acha que eu estaria sentado aqui se tivesse entregado? —
disparou Dozer. — Mas eu cheguei perto. Perto demais. E vou dizer outra
coisa. — O olhar passou pela sala e finalmente parou em Eanjer. — Não
tenho mais certeza se esta operação vale a pena. Se eles descobrirem quem
somos e o que estamos tramando, estamos mortos. Simplesmente mortos.
— Eles não são Jedi, Dozer, — disse Eanjer em um tom reconfortante. —
Você esbarrou com feromônios de um Falleen, só isso. Eles usam os
feromônios para manipular a pessoa e torná-la...
— Ele gesticulou com a mão boa. — Sei lá, a melhor amiga deles,
escrava, o que for. A questão é que você não cedeu, e agora que sabe o que
está enfrentando, você consegue combater.
— E se eu não conseguir? — disparou Dozer. — Ou se um de vocês for
pego e não conseguir?
— Ainda estamos falando de 163 milhões de créditos — salientou Bink.
— Por esse tipo de recompensa, eu, por exemplo, sou perfeitamente capaz
de resistir a uma sala cheia de Falleens.
— Tem certeza disso? — reagiu Dozer. — Porque eu não tenho.
Chewbacca rosnou.
— É, não vamos pular do telhado aqui, — concordou Han. — Dozer está
certo: ter um Falleen envolvido pode significar problemas. Mas Bink
também está certa: há muitos créditos em jogo. O suficiente para todos nós
mudarmos de vida se quisermos.
— É igual quando se recebe a mão perfeita, — murmurou Lando.
— É preciso enxergá-la, reconhecê-la e apostar alto.
Han franziu a testa e se perguntou se aquilo fora alguma espécie de
indireta para ele. Mas Lando apenas olhava pensativo para a mesinha de
centro.
De qualquer forma, Lando era a menor das preocupações agora. Toda a
lenga-lenga de Dozer sobre seu nervosismo novinho em folha estava
começando a afetar o resto do grupo. Se o sujeito não calasse a boca, o
plano todo poderia desandar...
E se o grupo desmoronasse, a missão também desmoronaria. Cada um
voltaria à sua própria vida, e qualquer chance de Han e Chewbacca se
livrarem de Jabba sumiria.
Ele não deixaria isso acontecer. Não apenas porque um Falleen estava
envolvido. E certamente não porque Dozer havia descoberto a covardia.
— Vamos parar por alguns minutos, — sugeriu Han. — Andar pela suíte,
admirar a cidade, beber, fazer o que vocês quiserem. Pensem a respeito, e
nós voltaremos aqui em uma hora. Certo?
— Para mim, parece ótimo, — disse Lando ao se levantar.
— E se alguém tiver um contato com a polícia, é uma boa acioná-lo —
sugeriu Rachele enquanto o restante do grupo se levantava das poltronas e
sofás. — Agora que sabemos que estamos lidando com um Falleen, pode
haver alguma informação oficial por aí sobre quem ou o que estamos
encarando.
— Boa ideia — concordou Han. — Você vai acionar algumas pessoas
também?
Ela deu um sorrisinho.
— Eu já tenho uma lista.

O plano de Dayja, assim que chegou à sacada, era prender uma sonda à
janela, ouvir o que as pessoas lá dentro diziam e tentar entender quem ou o
que elas eram.
Ele não esperava chegar ao destino justamente quando o grupo estava se
desfazendo.
Mas era o que estava acontecendo. O grupo inteiro — nove humanos, um
Wookiee, um quase-humano, provavelmente um Balosar, — estava de pé,
indo em direções diferentes dentro da sala de estar, aparentemente a
caminho de cantos diferentes da suíte.
Dayja murmurou um xingamento ao recuar para a lateral da sacada, fora
do campo de visão das janelas. O veículo que ele notara andara vigiando
Marblewood, sim, e seguiu um comboio não identificado de lá até o Hotel
Lulina Crown. O rastreador voltara para lá, e depois ele e a maioria do
grupo, se não todo, tinha ido embora e se reunido no hotel do outro lado do
parque, em frente ao Lulina Crown. Alguns saíram, outros foram para a
frente do hotel, e finalmente o grupo inteiro retornou para a suíte, que Dayja
temporariamente identificara como o principal quartel-general.
Tinha sido muita correria para um dia só, especialmente considerando
que não tinha dado nenhum resultado aos olhos de Dayja. E não fosse pela
explosão tarde da noite no Lulina Crown, Dayja teria decidido que tinha
coisas melhores a fazer e deixado o grupo e suas atividades aos cuidados da
polícia local.
A explosão, porém, colocara aquela decisão fora de cogitação. Atentados
à bomba geralmente eram associados a roubo, sequestro, assassinato ou
grave dano à propriedade. Mas aquela explosão não estava ligada a nada
dessa lista. O fato levava inexoravelmente à conclusão de que o incidente
tinha sido uma distração.
Mas uma distração para quê? Naquele momento, D’Ashewl estava
sentado na suíte do hotel examinando as informações da polícia, mas até
então não havia detectado nenhum crime que a explosão pretendesse
confundir, distrair ou abafar.
Ainda assim, Dayja não tinha dúvida de que aquelas pessoas estavam
envolvidas. Então ele descobriu a suíte do grupo, encontrou um quarto
vazio três andares acima deles e desceu por rapei até a sacada.
Só para descobrir que seus pseudoinformantes inocentes estavam
encerrando o expediente.
Dayja ainda estava tentando decidir o que fazer a seguir quando notou
que um dos ocupantes da suíte, aquele com a mão e metade do rosto
medselados, vinha para a porta da sacada.
Dayja levou a mão à faca escondida enquanto a mente disparava. Ele
podia correr, se esconder ou atacar.
Ou podia fazer o que foi ali fazer.
Dayja esperou até que o homem percorresse todo o caminho até a sacada
e se instalasse com os cotovelos no parapeito, olhando as luzes de
Marblewood do outro lado. Então, de olho na janela ao lado para garantir
que eles não fossem interrompidos, Dayja deu alguns passos na direção do
recém-chegado.
— Boa noite, — disse ele baixinho.
Por uma fração de segundo o homem não reagiu, como se os ouvidos
tivessem dificuldade em mandar um alerta para o cérebro. Jzntao, como
uma súbita lutada de vento, um arrepio passou pelo corpo do sujeito. Ele
virou meio corpo para Dayja, e o único olho perfeito se arregalou. Ou o
homem tinha as reações mais lentas da galáxia, ou tinha tanto remédio para
dor dentro do organismo que vivia em um nevoeiro permanente.
Considerando o tamanho da área de medselo em questão, Dayja achou que
provavelmente fosse a segunda opção.
— Quem é você? — exigiu o homem, com a voz tensa. — Não... fique
aí.
— Calma, eu não vou machucar você, — disse Dayja em tom
reconfortante, dando mais alguns passos à frente. — Só quero conversar.
O único olho do sujeito lançou um olhar para a janela, e o olho prostético
implantado no medselo brilhou hipnoticamente na confusão das luzes da
cidade.
— Sobre o quê?
— Sobre você. — Dayja gesticulou para a sala de estar vazia. — Sobre
eles. Seu interesse em Avrak Villachor. Esse tipo de coisa. — Ele ergueu as
sobrancelhas. — Você está interessado em Villachor, não é?
A língua do homem surgiu brevemente no lábio superior.
— Você é um dos homens de Villachor?
— Longe disso, — garantiu Dayja em um tom seco. — Meu nome é
Dayja. Qual é o seu?
O olho do homem se voltou para a janela novamente.
— Eanjer.
— Vejo que é um nome local — comentou Dayja. — Interessante. E
quanto aos seus amigos? A maioria não é da cidade, correto?
Eanjer franziu a testa, e o olho percorreu a sacada como se ele
subitamente tivesse se lembrado de onde os dois estavam.
— De onde você veio? — perguntou Eanjer. — Como chegou aqui em
cima?
— Ah, não vamos falar sobre mim, — repreendeu Dayja. — Vamos falar
sobre você e seus amigos. O que todos vocês estão fazendo na Cidade de
Iltarr?
O rosto de Eanjer ficou sério.
— Procurando justiça.
— Isso é bom, — falou Dayja em tom encorajador. — Isso é muito bom.
Veja bem, eu também procuro justiça. — Ele encarou a pupila do olho
remanescente de Eanjer, sabendo que a primeira e mais honesta reação viria
dali. — Eu sou da Inteligência Imperial.
Novamente, Eanjer arregalou o olho. Desta vez, Dayja estava
suficientemente perto para ver a pupila crescer junto com o olho.
Ela cresceu, mas rapidamente voltou ao tamanho normal. A revelação
assustara o sujeito, mas ele tinha se recuperado rapidamente.
— Você tem como provar? — perguntou Eanjer.
— Sim, — respondeu Dayja, ele próprio lançando um olhar para a janela.
Mais cedo ou mais tarde, um dos outros acabaria voltando. Não seria
bom que ele e Eanjer estivessem conversando ali quando aquilo
acontecesse.
— Diga-me, — continuou Dayja -, você está confinado a esta suíte? Ou
pode sair e entrar quando quiser?
Eanjer deu um muxoxo baixinho de desdém.
— Eu saio e entro quando quero, é claro. Você pensou que eu fosse um
prisioneiro?
Dayja foi evasivo ao dar de ombros.
— Você joga sinuca?
Novamente, a única pupila de Eanjer se arregalou brevemente antes de
voltar ao normal.
— Sim, por quê?
— Há uma mesa na biblioteca lá embaixo, no segundo andar, logo na
saída do tapcaf, — informou Dayja. — Será um lugar bacana e reservado
para conversarmos.
— Tenho certeza de que será, — falou Eanjer com um toque de
nervosismo na voz.
— Não se preocupe, eu só quero conversar, — garantiu Dayja. — Talvez
comparar algumas anotações. Eu tenho a impressão de que você tem
informações úteis para mim. — Ele deu um sorriso matreiro. — Eu sei que
tenho informações úteis para você.
Eanjer respirou fundo e chegou a uma decisão.
— Tudo bem, — respondeu ele. — Temos uma hora antes de nos
reunirmos novamente.
— Ótimo, — disse Dayja, voltando ao fim da sacada e ao arnês de
gatuno que o esperava. — Eu encontro você em cinco minutos. Se chegar
antes, arrume as bolas e escolha um taco.
Ao longo dos anos, Dayja passara um bom tempo em salões de sinuca e
bilhar como aquele ao lado do tapcaf do hotel. Porém, dado que a maioria
das visitas havia sido para obter informação ou vigiar um suspeito em vez
de realmente tentar dominar o jogo, ele nunca se tornara um jogador muito
bom.
Ainda assim, contra um homem com um braço medselado e
provavelmente com uma prótese alienígena, Dayja calculou que teria uma
boa chance.
Para sua surpresa, ele não teve. Nem mesmo com Eanjer jogando com a
mão esquerda e tendo que equilibrar a ponta ao taco atabalhoadamente
sobre o pulso enfaixado.
Mas tudo bem. Na verdade, estava tudo ótimo. Dayja aprendera há muito
tempo que esportistas competitivos falavam mais livremente quando
estavam ganhando.
E o que Eanjer falava valia muito a pena escutar.
— 163 milhões, hein? — comentou Dayja enquanto observava Eanjer se
preparar para outra tacada. — São muitos créditos. E você disse que o valor
vai ser dividido entre onze pessoas?
— Eu disse que seria dividido igualmente, — corrigiu Eanjer. Ele deu
uma tacada de leve na bola branca. Dayja observou-a bater na bola três, que
caiu perfeitamente na caçapa da quina. — Eu nunca disse que éramos onze.
— Erro meu, — disse Dayja. — Ainda assim, me parece que você
deveria ficar com mais do que apenas uma parte, uma vez que as fichas de
crédito eram suas, antes de mais nada.
Eanjer deu de ombros.
— Cem por cento de nada é nada, — disse ele ao dar a volta para o fim
da mesa.
Eanjer alinhou o taco contra a bola branca e mirou na bola seis desta vez.
Puxou o taco para a tacada, mas antes disso a bola seis piscou e ficou preta
abruptamente.
Eanjer praguejou baixinho.
— Que pena, — Dayja se compadeceu. — Mas poderia ter sido pior. Eu
já vi a bola ficar preta justo quando o jogador ia dar a tacada na branca, sem
poder parar a tempo. A essa altura, tudo que o jogador pode fazer é
praguejar ao dar sequência à jogada e ver a própria tacada lhe custar a
partida.
— E a seguir ouvir a risada do oponente, imagino eu, — falou
Eanjer, dando um olhar maligno para Dayja ao reposicionar a tacada. —
Vamos ao que interessa, que tal? Você quer que o acordo seja uma divisão
em doze partes?
— De maneira alguma, — garantiu Dayja. — Eu não estou interessado
em Villachor e seus créditos adquiridos de forma ilícita. Só estou
interessado no convidado de Villachor... e no pequeno tesouro do
convidado.
— E o que seria esse misterioso tesouro exatamente?
Dayja franziu os lábios. Isso seria arriscado, mas não tão arriscado
quanto encarar Villachor e Qazadi sozinho.
— Farei um acordo com você, — ofereceu ele. — Eu lhe conto tudo
sobre o tesouro e dou qualquer apoio sigiloso de que você precisar, desde
que você o traga para mim assim que invadir a caixa-forte de Villachor. Em
troca, você me promete que não contará para os demais onde conseguiu a
informação e me manterá informado sobre seu andamento.
Eanjer o encarou com atenção.
— E você nos deixará seguir com o plano? Você, um agente da lei, nos
deixará simplesmente entrar lá e roubar Villachor?
— Sim, porque eu estava planejando fazer exatamente a mesma coisa, —
respondeu Dayja. — Dessa maneira, seremos capazes de juntar nossos
recursos e informações, e tomara que possamos nos ajudar.
— Com meu grupo correndo todos os riscos.
— E levando a maior parte das recompensas, — salientou Dayja. —
Além disso, após o golpe de vocês no Lulina Crown na noite de hoje, eu
poderia prender todo o grupo agora mesmo se quisesse. Como você disse,
cem por cento de nada é nada.
Por um momento, os dois se encararam em silêncio.
— Tudo bem, — disse Eanjer finalmente. — Vamos ouvir.
— Certamente, — falou Dayja. Ele pousou o taco na borda da mesma e
gesticulou para uma fileira de assentos ao lado. — Vamos nos sentar, e eu
contarei a respeito de uma organização criminosa conhecida como Sol
Negro. E sobre a coleção secreta e altamente lucrativa de arquivos de
chantagem que eles mantêm.
CAPÍTULO

Han deu um olhar de surpresa, sentindo um nó forte no estômago.


— Você está brincando — disse ele categoricamente.
— Eu pareço estar brincando? — reagiu Eanjer. — Eu sei que isso
parece inacreditável, e admito agora mesmo que eu não sei se é realmente
verdade. Mas meu informante definitivamente acredita nisso, e até agora
nunca se enganou.
— E o nome de seu informante é...? — perguntou Tavia.
— Desculpe — falou Eanjer. — Por enquanto eu tenho que manter essa
informação confidencial.
— E ele realmente tem certeza de que Villachor trabalha para o Sol
Negro? — perguntou Dozer com um tom de voz sombrio.
— Tem sim, — respondeu Eanjer. — Embora, de novo, eu não tenha
provas.
— Você não precisa de provas, — disse Rachele baixinho. — É verdade.
Han se voltou para ela, ciente de que todos os demais no ambiente
estavam fazendo o mesmo.
— Você sabia? — reclamou Han. — E não nos contou?
— Eu não sabia — respondeu ela, um pouco na defensiva. — Mas como
todo mundo na elite de Wukkar, eu suspeitava de uma ligação há anos.
Quando você veio a mim com o problema de Eanjer... — Rachele encolheu
os ombros. — Eu torcia para que todos nós estivéssemos errados, creio eu.
Que Villachor fosse apenas um criminoso nojento normal, aqui do local.
— Na verdade, isso faz muito sentido, — disse Lando, pensativo. — Não
quem Villachor é, mas sim que o cerne do poder político do Sol Negro
advenha da chantagem de autoridades do alto escalão. Muito mais fácil e
barato do que suborná-las.
— E manter esses arquivos em um conjunto portátil de cartões de dados é
simplesmente perfeito — concordou Bink. — Mesmo que um dos inimigos
de Xizor conseguisse passar por todas as autoridades assustadas que o
ajudam e conseguisse pegá-los, o sujeito nem saberia por onde começar a
procurar.
— Você faz ideia de quantos cartões de dados há no conjunto? —
perguntou Han.
— Meus contatos dizem que devem ser cinco, enfiados em alguma
espécie de caixa de madeira chique, laqueada à mão, que ninguém de fora
do Sol Negro jamais viu, — respondeu Eanjer. — A coisa toda deve ser
suficientemente pequena para caber em uma bolsa ou mesmo em uma
pochete. Como Bink disse, facilmente – Isso explica o cryodex também, —
disse Winter. — Encriptação perfeita e ilegível, e o único momento em que
é necessário juntar os dois é quando você quer mostrar para uma pessoa o
segredo específico que sabe sobre ela.
— Então por que manter o cryodex em um hotel no centro da cidade em
vez de dentro da caixa-forte de Villachor com os arquivos em si? —
perguntou Zerba. — Bink acabou de provar que lá é bem menos seguro.
— Como eu disse: mantê-los separados significa que ninguém sabe onde
procurar, — falou Bink. — É sempre melhor manter a chave e a fechadura
afastados, se possível.
— E, neste caso, ninguém sequer sabe o que está procurando, —
acrescentou Eanjer. — Tenho certeza de que meu informante não faz a
menor ideia de que há um cryodex envolvido.
— Pode haver outro motivo para manter o cryodex aqui, — disse Han,
com uma ideia nova e interessante começando a se formar na mente. Se o
cryodex estava sendo mantido longe da casa de Villachor porque o Falleen
não confiava no sujeito, uma nova abordagem podia estar surgindo diante
deles. — Winter, você consegue fazer um cryodex para nós? Não um
cryodex que funcione, apenas algo parecido?
— Certamente — disse Winter, olhando pensativa para Han. — Seria
uma modificação relativamente simples de um velho datapad Comp6OO,
presumindo que nós consigamos arrumar um.
— Deve haver alguns pela cidade, em algum lugar — falou Rachele. —
Eu vou atrás de um para você.
— Esperem um instante, — Tavia se manifestou em tom de alerta.
— Se você está pensando o que eu acho que está pensando, a resposta é
não. Bink não vai voltar lá. Não depois do joguinho com bolas saltitantes de
Kell e Zerba lá fora no corredor.
— Pena que ela não pegou o cryodex quando teve a chance, —
murmurou Kell.
— Ela não podia — disse Tavia. — Os sensores de energia, lembra?
— Bink poderia ter retirado a energicélula.
— Nós não sabíamos, é tarde demais agora, e não vamos falar sobre isso
— falou Han com firmeza.
— E não teria feito diferença se ela tivesse pego o cryodex, — disse
Lando. — Meia hora depois de ele desaparecer, os arquivos teriam saído de
Wukkar a caminho do Centro Imperial.
— Pelo menos eles não teriam conseguido usar os arquivos contra
qualquer outra pessoa, — salientou Kell.
— Claro que teriam, — desdenhou Lando. — Você acha que Xizor é
burro de guardar todos os ovos na mesma cesta? Ele deve ter um cryodex
de reserva enfiado em algum lugar.
— Apenas um cryodex foi registrado como roubado, — lembrou Winter.
Lando deu de ombros.
— E daí?
— Por isso nós vamos nos concentrar nos arquivos, e não no cryodex —
disse Han. — Tavia, quanto tempo você levaria para montar um cuspidor,
do menor tamanho possível?
Tavia deu de ombros.
— Uns dois dias. De que tamanho você precisa?
— Do tamanho de um cartão de dado, — respondeu Han.
— Isso é bem pequeno, — falou Tavia, franzindo a testa para o nada. —
Mas acho que consigo. Obviamente, para uma coisa desse tamanho, o
receptor terá que estar bem perto. Cem metros, talvez menos.
— Não deve ser um problema, — garantiu Han. — Agora...
— O que é um cuspidor? — indagou Eanjer.
— Um grupo de sensores de amplo espectro com um gravador e
um transmissor intermitente integrados, — explicou Bink. — A pessoa
enfia o aparelho no lugar que quer roubar, e ele cospe os detalhes relevantes
sobre a segurança, postos de vigia e tudo mais. Se a escolha da frequência
for correta, o sinal vai penetrar pelos campos de bloqueio de sensores do
alvo.
— E ao enviá-lo por um sinal intermitente, não é preciso se preocupar
com ele ser detectado por uma rede transmissora — acrescentou Tavia, com
o olhar fixo em Han. — Obviamente, o cuspidor tem que estar dentro da
caixa-forte para ter alguma utilidade. Você tem alguma ideia de como
realizar esse plano?
— Estou trabalhando nisso, — garantiu Han. — Ok, a primeira tarefa é
descobrir a aparência desses cartões de dados. Rachele, você disse que
conhecia algumas das pessoas que vêm entrando e saindo de Marblewood
nos últimos dias. Você consegue que alguém ali fale?
— Acho que não, — disse Rachele torcendo o nariz. — A maioria eu só
conheço de vista.
— Eu talvez conheça uma delas, — sugeriu Eanjer. — Quais eram alguns
dos nomes?
— Bem, havia Tark Kisima — respondeu Rachele, cujo olhar perdeu um
pouco do foco ao raciocinar. — Ele foi um dos primeiros. Eu também vi
Alu Cymmuj, Donnal Cuciv...
— Donnal Cuciv eu conheço, — interrompeu Eanjer.
— Quem é ele? — perguntou Dozer.
— O homem no comando geral das listas de passageiros e remessas que
chegam ao Espaçoporto da Cidade de Iltarr, — explicou Rachele. —
Supostamente é um cidadão bem honesto. Fico imaginando o que Villachor
tem contra ele.
— Não importa — falou Eanjer. — Eu o conheço e tenho certeza de que
consigo fazer Donnal conversar comigo.
— Você consegue que ele fale sobre os cartões de dados sem alertá-lo?
— perguntou Han.
— Especialmente sem que ele vá direto contar para Villachor? —
acrescentou Lando.
— Deixem isso comigo, — disse Eanjer ao se levantar.
— Beleza, — falou Han franzindo a testa. Não poderia ser assim tão
fácil, ou poderia? — Chewie, Dozer, vocês vão com ele.
— Não — respondeu Eanjer balançando a cabeça. — Desculpe, mas
preciso fazer isso sozinho. Donnal é uma pessoa muito reservada. Ele não
dirá uma única palavra se houver alguém lá além de mim.
— Você ao menos deveria levar alguém como acompanhante, — disse
Rachele. — Você provavelmente ainda está na lista de procurados de
Villachor.
— Não se preocupe, eu sei ficar longe de Villachor — falou Eanjer com
um tom de amargura na voz. — Eu ficarei bem.
Han olhou para Chewbacca, mas o Wookiee apenas soltou um rosnado
relutante concordando.
— Só tenha o cuidado de manter o comunicador ligado, — disse Han.
— E ligue se você sequer pensar que possa haver um problema. Você
disse que esse seu informante não sabe sobre o cryodex?
— Correto, — respondeu Eanjer. — Na verdade, eu não creio que ele
faça a menor ideia de como o sistema funciona. Tudo que ele sabe é que os
arquivos provavelmente estão aqui e, se estiverem, então estão com Qazadi.
— Ótimo, — falou Han. — Vamos manter assim.
— Certo. — Eanjer deu meia-volta e foi para a porta.
— Espere um minuto, — disse Dozer subitamente. — Antes de ele ir,
quero esclarecer uma coisa.
— Claro, — falou Han gesticulando para Eanjer parar. — O quê?
Dozer franziu os lábios.
— Quero garantir que ainda estamos todos juntos nessa missão — disse
ele. — Quero dizer, estamos falando do Sol Negro. Não foi para isso que
nenhum de nós veio.
— Justo, — concordou Han olhando ao redor do ambiente. E aquele era
o ponto em que tudo permaneceria unido ou desmoronaria. — Alguém quer
dizer alguma coisa?
Houve um breve silêncio.
— Ainda há 163 milhões na caixa-forte, certo? — perguntou Bink
finalmente.
— É claro, — disse Eanjer.
— Então estamos todos dentro — disse Bink, que cutucou a irmã.
— Certo?
Tavia não pareceu muito contente, mas deu um aceno submisso com a
cabeça.
— Certo.
— Mais o valor dos arquivos de chantagem, seja qual for, — Winter se
manifestou. — Dependendo de quem atrairmos como comprador, eles
podem facilmente triplicar nossa recompensa final.
— Por mim está ótimo, — falou Zerba.
— Por mim também — aprovou Kell.
Han olhou para Lando, que aquiesceu silenciosamente.
— Só sobrou você, Dozer. Se está com problemas quanto à missão, agora
é a hora de dizer.
O olhar de Dozer disparou pela sala. Depois, ele abaixou o olhar e soltou
o ar entre dentes cerrados.
— Não, — respondeu relutante. — Se todo mundo está dentro, eu só
trabalhei uma vez, naquele lance de Tchine. Winter e Kell eu não conhecia
mesmo.
— Mazzic recomendou os dois.
— Mazzic já se equivocou antes.
— Eles são aceitáveis, — insistiu Han. — Você não precisa ficar se não
quiser.
— Eu gosto daqui. — Lando sorriu um pouco. — Além disso, você
precisa de mim.
Han pensou em negar, mas, infelizmente, era a verdade.
— Então, o que você andou aprontando ultimamente?
— Não muita coisa, — respondeu Lando gesticulando vagamente.
— Ganhando algumas, perdendo outras. E você?
Han deu de ombros. Eu peguei uns passageiros malucos, resgatei uma
princesa, lutei com stormtroopers e caças TIE, ajudei a salvar a galáxia e
tive minha recompensa levada embora por piratas.
— Não muita coisa, — falou ele em voz alta. — Por que você está aqui?
— Rachele disse que você me convidou.
— Sei. Por que você está aqui?
Lando franziu os lábios.
— Para ser sincero, eu andei pensando sobre... você sabe. Tudo que
aconteceu entre nós. Venho pensando que talvez a culpa não seja toda sua
como achei na época. Que você não deu um calote proposital na gente, mas
sim que você tem um dedo podre para escolher as pessoas em quem confiar.
Han torceu a cara.
— É, eu tenho esse problema algumas vezes, — admitiu.
— Eu notei. — Lando apontou para a porta com a cabeça. — Você
conhece bem esse tal de Eanjer?
— Eu o conheci há oito dias. Mas Rachele pesquisou a história dele.
Parece suficientemente genuína.
— Ele mencionou que Villachor era do Sol Negro em algum momento?
— perguntou Lando incisivamente. — Ou essa parte foi esquecida de
alguma forma?
— Ele não disse nada a respeito — respondeu Han. — Mas você ouviu o
que Rachele disse. Até mesmo os mandachuvas locais não sabiam. Eanjer
provavelmente também não.
— Talvez — disse Lando. — Mas sabemos agora. Você ainda quer
cumprir a missão?
— Seria bom tirar Jabba da minha cola para variar — falou Han. — E só
os créditos vão dar um jeito nisso.
— Então você vai trocar Hutts furiosos por Falleens furiosos. — Lando
balançou a cabeça. — Não tenho certeza se é um bom negócio.
— A pessoa joga com a mão que tem da melhor maneira possível, —
disse Han franzindo a testa. — Você está tentando me fazer cair fora da
missão?
— Estou tentando garantir que você não está dando um passo maior do
que as pernas — respondeu Lando. — Você é um contrabandista, Han. Eu
sou um apostador. Nós não somos golpistas ou ladrões. — Ele apontou com
o polegar para a outra ponta da suíte. — Até onde sei, nenhum deles fez
algo nessa escala também.
Han sabia que Lando estava certo. A coisa toda estava rapidamente
alcançando uma seriedade com que ele nunca sonhara quando a colocou em
andamento. O fato de que ele tinha que confiar que tantas pessoas assim
soubessem o que estavam fazendo só piorava a situação.
Ainda assim, não era a primeira vez que ele tinha que confiar nas
pessoas. Geralmente tudo dava certo.
Geralmente.
— Talvez não, — admitiu Han. — Mas juntos temos todas as habilidades
necessárias para realizar a missão. Tudo que precisamos é do plano certo e
de um pouco de confiança.
— E você vai fornecer ambos?
— Com a ajuda de Chewie, Rachele e Bink, — respondeu Han. — E de
você, se quiser contribuir com sua opinião.
— É claro, — falou Lando com uma daquelas expressões inocentes que
ele fazia tão bem. — Somos velhos amigos aqui para fazer um serviço
juntos, certo? — Ele ergueu um dedo. — Mais uma coisa, antes que eu
esqueça. Supondo que tudo ocorra de acordo com o planejado, quero os
arquivos de chantagem como minha parte.
Han olhou espantado.
— Você quer o quê?
— Você me ouviu, — disse Lando. — Eu conheço um cara que vai pagar
um bom dinheiro por eles.
— Não teremos um cryodex para adicionar ao acordo, — alertou Han.
— O cara não vai se importar, — garantiu Lando. — Mas ele se irrita
fácil. É melhor eu me aproximar do cara sozinho do que com o grupo.
— A-hã, — falou Han quando as peças se encaixaram. — Então, qual é o
Hutt?
Lando torceu a cara.
— Durga, se quer saber, — respondeu ele relutantemente. — Ele ainda
está bem zangado com Xizor e o Sol Negro sobre todo o lance de Ylesia.
— Isso aconteceu muito em Ylesia.
— Foi o que eu ouvi dizer, — disse Lando com apenas um toque de
sarcasmo. — Combinado?
Han pensou a respeito. Mesmo com a humilhação de Durga em Ylesia,
ele duvidava muitíssimo de que o Hutt pagaria mais do que algumas
centenas de créditos por um conjunto de cartões de dados ilegíveis.
Mas era bem possível que Lando soubesse mais a respeito do atual estado
de espírito e situação de Durga do que ele. Se Lando achava que as suas
chances eram grandes o suficiente para abrir mão da partilha dos milhões de
Eanjer, não havia problema em tentar. Han certamente não tinha interesse
em adicionar outro Hutt à própria lista de clientes potencialmente
insatisfeitos.
— Claro, por que não? — falou Han. — Cartões de dados em vez de
créditos.
— Obrigado, — disse Lando, que tomou um último gole da caneca e se
recostou. — Então, me fale do seu plano.

Havia sido um longo dia, e como era de seu costume, Villachor saiu para
a varanda da suíte particular para alguns minutos de silêncio e relaxamento.
Era uma noite calma e agradável, sem nuvens e com apenas uma brisa
inconstante. As luzes da Cidade de Iltarr brilhavam em volta de Villachor,
— em volta e acima, uma vez que a maioria dos prédios ao redor de sua
propriedade era muito mais alta do que a própria mansão modesta de quatro
andares. Na maioria das noites, ele se deleitava com a vista, imaginando
que estivesse em algum palanque da Velha República, dando ordens para
um exército de criados em volta dele, em silêncio humilde.
Naquela noite, porém, as torres escuras com pontinhos de luz pareciam
encará-lo com um olhar sombrio. E em vez de um soberano altivo,
Villachor se sentia um alvo no meio de um estande de tiro.
Algo estava acontecendo lá fora. Algo espreitava pelas ruas da cidade,
talvez estivesse de olho em um de seus portões neste exato momento. Algo
que potencialmente poderia acabar com tudo que ele havia criado naquele
mundo e naquele setor subornando, chantageando e assassinando.
E Villachor não fazia ideia do que era.
O painel no parapeito piscou indicando uma solicitação: Sheqoa, seu
chefe de segurança, estava na porta da suíte pedindo para entrar. Villachor
girou o topo do braço da cadeira, apertou o botão para que Sheqoa entrasse
e fez uma aposta particular consigo mesmo de que daquela vez ele ouviria a
entrada do sujeito por trás, na varanda.
Novamente Villachor perdeu a aposta. Os ex-soldados imperiais da tropa
de choque, afinal de contas, não eram famosos por fazer barulhos
desnecessários.
— Eu recebi um relatório de Riston, senhor, — falou Sheqoa, cuja voz
vinha de menos de 2 metros de distância. Ele havia entrado na varanda e
andado um bocado. — Ele diz que o brilhestim de Crovendif é legítimo e
tem muita certeza de que não veio de Kessel.
— Muita certeza? — reagiu Villachor. — Que porcaria é essa de muita
certeza?
— Desculpe, senhor, — disse Sheqoa, em tom respeitoso, porém firme.
— Mas Riston diz que não há como ter 100% de certeza, não com uma
coisa criada organicamente. Há muita variação nas próprias aranhas. O
máximo que ele consegue é ter 85% de certeza.
Villachor fez uma expressão de desdém, — seu primeiro impulso foi se
levantar, marchar até o precioso laboratoriozinho de Riston e balançar o
pescoço fino do analista até que ele produzisse algo mais útil.
Mas aquilo não lhe renderia nada mais que uma satisfação momentânea.
O principal trabalho de Sheqoa era proteger Villachor, contudo, com o
passar dos anos, o grande ex- comandante também assumira a tarefa
informal de agir como um escudo entre o chefe e o resto do corpo de
funcionários.
O que provavelmente era uma boa coisa. Quando havia algo a ser
conquistado com ameaças de violência, Sheqoa estava logo ali ao lado de
Villachor, entregando armas ou cuidando ele próprio da tarefa. Mas quando
não havia, Sheqoa também estava ali para evitar que o chefe matasse as
pessoas. Especialmente pessoas competentes.
Se Riston dissera que não havia algo a ser apurado da amostra de
Crovendif, ele provavelmente estava certo.
Com algum esforço, Villachor afastou as ideias sobre matar o analista.
— E quanto ao próprio Crovendif? — perguntou ele.
— Crovendif trabalha para nós há dez anos, oito como vendedor, dois
como gerente de asfalto, — respondeu Sheqoa. — Desempenho decente.
Nada espetacular.
— Esperto o bastante para dar um golpe como esse sozinho?
Ele sentiu a cara feia de Sheqoa.
— A inteligência de Crovendif mal dá conta de conseguir a porcentagem
correta de vendas, — respondeu o grandalhão. — O senhor acha que é um
golpe?
— Acho que a escolha do momento é altamente suspeita, — rosnou
Villachor. — O vigo Qazadi aparece; e então, mal sepassaram nove dias,
alguém surge e nos oferece brilhestim abaixo dos valores do Sol Negro?
Sheqoa ficou calado por um momento, aparentemente tentando digerir
aquela informação.
— Tem que ser o golpista mais azarado da galáxia, — disse ele devagar.
— As chances de isso acontecer são... bem baixas.
Villachor olhou para as luzes da cidade ao redor, novamente contendo a
vontade de esganar. Ele não esperava que Sheqoa entendesse as sutilezas da
situação, e o chefe de segurança cumpriu exatamente suas expectativas.
Isso não era coincidência. Não mesmo. Ou alguém estava provocando
Qazadi e o Sol Negro, o que era uma coisa extraordinariamente idiota de se
fazer... ou então o estranho misterioso era alguém do pessoal de Qazadi, e a
oferta de brilhestim era um teste.
Um arrepio subiu pelas costas de Villachor. Um teste. Mas um teste de
quê? Da lealdade de Villachor? Tudo bem, — ele era capaz de passar num
teste assim.
Mas em que direção Villachor deveria pular? Deveria contar para Qazadi
sobre o vendedor de brilhestim e esperar que o vigo lhe dissesse o que
fazer? Isso poderia demonstrar fraqueza e indecisão da parte de Villachor,
qualidades que nem de longe o príncipe Xizor queria ver em um de seus
chefes de setor. Será que, em vez disso, ele deveria examinar a questão
pessoalmente e levá-la à atenção de Qazadi apenas depois que a
investigação fosse concluída? Mas se Qazadi o flagrasse no meio do
processo, poderia parecer que Villachor planejava fazer um acordo sem que
o Sol Negro soubesse. Esse seria o caminho rápido para uma cova de
indigente.
E se não houvesse uma resposta certa? E se Xizor já o tivesse julgado e
esse teste do brilhestim não fosse nada mais do que uma maneira de deixar
Villachor escolher o caminho para a própria armadilha? Xizor dificilmente
precisava de uma desculpa para eliminar um de seus subordinados, mas ele
poderia fazer daquela forma apenas pelo prazer de ver o condenado se
debater dentro de uma rede da qual não havia escapatória.
E tais pensamentos jamais devem ser simplesmente descartados, dissera
Qadazi sobre os receios de Villachor no primeiro encontro entre os dois,
porque eu não saio do Centro Imperial sem um grande motivo.
Villachor fez uma expressão de desdém. Qazadi explicara que sua visita
tinha três motivos: retirar os arquivos de chantagem do Centro Imperial e
assim despistar Vader e os outros inimigos de Xizor; tirar o próprio Qazadi
do alcance de várias intrigas que aqueles mesmos inimigos estavam se
preparando para lançar; e usar os arquivos para gerar mais alguns escravos
relutantes dentre a elite da Cidade de Iltarr e os dignatários que em breve
chegariam a Wukkar para o Festival das Quatro Honrarias.
Três motivos para sair do Centro Imperial. Se havia três, por que não
quatro? Será que o quarto motivo não seria armar a destruição de Villachor?
E ainda havia o incidente no Hotel Lulina Crown, onde o assistente de
Qazadi, Aziel, estivera no centro de um estranho semiataque.
— Alguma novidade sobre o incidente no Lulina Crown? — perguntou
ele.
— Não, senhor, — respondeu Sheqoa em um tom estranhamente
relutante. — Não exatamente.
— Não exatamente?, — repetiu Villachor incisivamente. — O que
significa não exatamente?
— A polícia deu o caso como encerrado, — falou Sheqoa, soando aflito.
— Eles descartaram como se fosse um trote.
Villachor girou o corpo na cadeira e ergueu um olhar furioso para o
outro.
— Um trote? - reclamou ele. — Uma bomba explode num corredor de
hotel e vira um trote?
Villachor deu as costas novamente e encarou fixamente as luzes da
cidade enquanto puxava o comunicador. Aparentemente era hora de lembrar
ao comissário de polícia Hildebron o nível de serviço que os créditos do
suborno do Sol Negro haviam comprado.
— Foi ordem do comissário Hildebron, — informou Sheqoa
evasivamente. — Após ele ter recebido uma ligação do mestre Qazadi.
Villachor ficou paralisado, com o comunicador a meio caminho dos
lábios.
— O mestre Qazadi suspendeu a investigação?
— E o que parece.
Lentamente, Villachor devolveu o comunicador ao cinto. Mas aquilo era
loucura. Por quê, pela galáxia, Qazadi suspenderia a investigação? Aziel era
um agente do Sol Negro como ele, um colega próximo, e, — até onde
Villachor era capaz de saber, — um amigo tão íntimo quanto era possível
um Falleen ter. Pela lógica, Qazadi deveria estar na delegacia naquele exato
momento, enchendo o gabinete de Hildebron com feromônios e insistindo
que a ameaça contra seu colega e os códigos do cryodex fosse
neutralizada...
Villachor sentiu um nó na garganta. É claro. Os códigos do cryodex.
Porque o fato de estar no bolso do Sol Negro não significava que
Hildebron não fosse um profissional competente. Ele era. E uma
investigação realmente correta poderia revelar facilmente que Aziel estava
na Cidade de Iltarr como guardião da metade dos códigos que ativavam o
cryodex que Qazadi havia trancado em sua suíte.
Obviamente, uma investigação incorreta poderia levar ao roubo daqueles
mesmos códigos se quem quer que estivesse tentando roubá-los decidisse
tentar de novo. Mas aparentemente Qazadi estava disposto a arriscar que
isso acontecesse.
Talvez ele estivesse certo em agir assim. Aziel viera a Marblewood para
ajudar Qazadi a ativar o cryodex antes de cada sessão de chantagem de
Villachor, mas o cryodex e os arquivos em si jamais correram risco algum.
Se os códigos de Aziel fossem roubados ou destruídos, isso simplesmente
significaria que Villachor não poderia usar os arquivos contra possíveis
alvos. Uma inconveniência, mas longe de ser um problema de verdade.
Mas tivesse o ataque falhado ou sido um trote, a questão é que um agente
do Sol Negro tivera sua noite arruinada no meio do território de Villachor.
Isso não era algo que poderia simplesmente ser ignorado ou varrido para
longe.
E se o brilhestim fosse um teste, talvez essa situação também fosse.
— Nós temos alguém no hotel? — perguntou ele.
— Não, — respondeu Sheqoa. — Eu achei que o mestre Qazadi tivesse
ordenado que ficássemos afastados.
— Isso foi antes de o pessoal dele ser atacado, — rosnou Villachor.
— Eu quero um esquadrão postado lá até a meia-noite. Coloque pelo
menos dois homens no mesmo andar, e os demais em qualquer quarto que
eles consigam em cima e embaixo da suíte de lorde Aziel.
— Sim, senhor, — disse Sheqoa com hesitação. — Posso lembrá-lo,
senhor, de que estaremos sobrecarregados controlando a multidão do
Festival nas atuais circunstâncias? Retirar um esquadrão inteiro da nossa
escala de serviço só vai piorar a situação.
— Eu não me importo, — falou Villachor rispidamente. — Desde que
mantenhamos um contingente completo na caixa-forte, isso é tudo que
importa. Se alguém quiser usar o Festival para entrar de mansinho na casa e
roubar algumas colheres, que fique à vontade para tentar. Qualquer coisa
assim pode ser resolvida mais tarde.
— Entendido, — disse Sheqoa, ainda nitidamente insatisfeito, mas
sabendo que não deveria continuar discutindo a questão. — O senhor não
poderia convencer o mestre Qazadi a trazer Aziel e os demais para cá em
vez disso? Tornaria a segurança bem mais fácil.
Villachor sentiu um nó no estômago. Sim, certamente tornaria. Na
verdade, Villachor havia salientado esse mesmo argumento para Qazadi no
primeiro encontro entre os dois.
Mas Qazadi dispensou a sugestão ao invocar uma política do Sol Negro
de manter os arquivos de chantagem e os códigos do cryodex separados, a
não ser que um dos arquivos estivesse para ser lido. Villachor ouviu o
argumento, aquiesceu educadamente e fingiu aceitá-lo, embora tivesse
ficado tão insatisfeito quanto Sheqoa. Aquilo sempre lhe parecera mais uma
desculpa com uma blindagem furada do que uma explicação.
Talvez houvesse outro motivo para Qazadi manter Aziel longe de
Marblewood. Talvez Aziel não estivesse ali apenas para cuidar dos códigos,
mas também estivesse esperando nos bastidores para avançar e assumir
como sucessor de Villachor no momento em que ele falhasse no teste de
Qazadi.
Se fosse esse o caso, dificilmente seria do interesse de Villachor fazer um
grande esforço e sobrecarregar seus recursos a fim de proteger Aziel.
Testes dentro de testes dentro de testes. E Villachor ainda não sabia em
que direção Qazadi queria que ele pulasse.
Mas havia uma coisa de que Villachor tinha certeza: se Qazadi esperava
por uma transferência de poder tranquila e civilizada, era melhor esquecer.
— Volte a falar com Riston, — ordenou ele para Sheqoa. — Diga- lhe
que quero que continue a fazer testes até poder me dizer com certeza de
onde vem aquele brilhestim.
— Não acho que haja mais testes que ele possa fazer, senhor, —
respondeu Sheqoa.
— Então é melhor que Riston invente alguns, — disparou Villachor. —
Vá.
— Sim, senhor.
Sheqoa não pareceu satisfeito, mas ele sabia o que era uma ordem.
— E você não deve contar para o mestre Qazadi ou para o pessoal dele
sobre nada disso aqui, — acrescentou Villachor. — Não até termos certeza.
— Sim, senhor, — disse o grandalhão. — Boa noite, senhor.
Ele deu meia-volta e saiu de mansinho, tão silencioso quanto chegara.
Villachor também se virou e observou até a sombra de Sheqoa passar pela
porta na outra extremidade da suíte. Então, com um suspiro pensativo, ele
se voltou para a vista da cidade.
Obviamente, Riston não descobriria nada de novo. Mas ordenar mais
testes garantiria algum tempo para Villachor, — o suficiente, ele esperava,
para examinar as possíveis armadilhas colocadas de maneira tão tentadora
diante de si.
Enquanto isso, o Festival das Quatro Honrarias começaria em três dias, e
com ele viriam multidões de pessoas importantes e insignificantes da
Cidade de Iltarr para suas dependências e pátio. Villachor tinha uma
exposição para montar, entretenimento para preparar, comida e bebida para
coordenar, e um grande número de autoridades para levar discretamente ao
interior da mansão a fim de suborná-las, ameaçá-las ou chantageá-las.
Ele prometeu a si mesmo que, quando o Festival acabasse, até mesmo
Xizor teria que admitir que Villachor, e apenas Villachor, sabia a melhor
forma de gerir as operações do Sol Negro naquele setor. Se o plano de
Qazadi ainda fosse derrubá-lo, ele descobriria que Villachor era um alvo
muito mais difícil do que imaginara.
E se a isca de brilhestim fosse outra pessoa tentando avançar em seu
território...
Villachor arreganhou os dentes para as luzes altas. Se alguém lá fora
fosse mesmo tolo o suficiente para enfrentá-lo, aquela pessoa se
arrependeria. Muito, muito amargamente.
A tranca fez um clique e a porta se abriu, e com um cansaço que Dayja
não se permitira sentir até aquele exato momento, ele entrou na suíte.
D’Ashewl estava à espera de Dayja, sentado à mesa do escritório.
— Como foi lá?
— Deu certo, — respondeu Dayja.
Ele arrastou os pés no tapete espesso até a cadeira confortável mais
próxima e se permitiu desabar nela. Tinha sido um dia muito, muito longo.
— O mestre Cuciv nem percebeu minha chegada e neste momento está
dormindo para passar o efeito da droga língua-solta.
D'Ashewl resmungou.
— Espero que você saiba o risco que está correndo com aquilo, —
alertou ele. — Uma chance de 80% de ataque cardíaco é algo para ser
levado a sério.
— Eu sei, — disse Dayja, torcendo o rosto ao se lembrar de ter visto o
velho agente do espaçoporto sobreviver à onda inicial da droga antes de o
coração finalmente se estabilizar. — Mas não havia escolha. Nós
precisávamos saber a respeito dos cartões de dados dos arquivos de
chantagem e não podíamos deixar Cuciv com nenhuma memória de ter sido
interrogado a respeito. O que significa que os droides de interrogação
estavam fora de cogitação, juntamente com a Bavo Seis, a OV 600 ou
qualquer outra droga de nosso repertório.
— E se ele tivesse morrido?
Dayja deu de ombros.
— Eanjer tinha dois outros nomes. Um deles provavelmente sobreviveria
ao procedimento.
D’Ashewl resmungou de novo.
— Mas você pegou?
— Sim, — respondeu Dayja. — Cartão de dado de tamanho padrão,
preto fosco, com o símbolo do Sol Negro gravado na frente em preto
reluzente.
— Sutil, — ironizou D’Ashewl. — Artístico também. Não o que se
esperaria dos capangas de Xizor. De que tamanho é o símbolo?
— Bem, esse é o pequeno problema, — admitiu Dayja. — Cuciv foi um
pouquinho vago quanto a isso. Eanjer vai ter que mandar a equipe dele criar
duas ou três versões e torcer para que uma delas seja suficientemente
parecida para passar.
— Não é o ideal, — falou D’Ashewl. — Mas você provavelmente
consegue fazer isso funcionar.
Por um momento, o ambiente ficou em silêncio. Dayja retirou a faca, o
comunicador, a arma de raios de pequeno porte dos bolsos e pousou na
mesinha baixa ao lado da cadeira, tentando decidir se estava cansado
demais para comer ou faminto demais para dormir. Faminto demais para
dormir, concluiu ele. Dayja se levantou e foi para a estação de comida ao
lado da central de entretenimento na outra ponta do escritório.
— Teve sorte identificando meus novos melhores amigos a partir dos
holovídeos que mandei para você? — perguntou ele de costas.
— Na verdade não, — respondeu D’Ashewl. — Sempre me surpreendo
que poucos criminosos tenham algo mais do que apenas os nomes nos
registros policiais. Mesmo os registros do DSI não têm muita coisa.
— Os criminosos do alto escalão aparentemente contratam hackers com
tempo livre demais, — concordou Dayja.
— Ao que parece, — disse D'Ashewl. — Ele já fez a pergunta óbvia?
— Por que não assobiamos para chamar uma legião de stormtroopers e
invadimos Marblewood com tudo? — perguntou Dayja em tom ácido. —
Não com essas mesmas palavras, mas Eanjer deu a entender a pergunta. Eu
tentei passar a impressão de que temos que nos manter dentro dos
procedimentos legais. Todo aquele lance de liberdades e direitos civis.
D’Ashewl deu um muxoxo de desdém.
— Liberdades e diretos, Sei. — Ele suspirou, um som que foi audível até
a estação de comida. — Eu espero que você se dê conta de que estamos na
corda bamba, Dayja. O Diretor está tendo problemas sérios com a corte
neste momento e pode estar de saída, quer a gente consiga ou não os
arquivos de chantagem para ele. Se estivermos ligados a ele quando cair, e
até nove dias atrás nós estávamos, não será agradável para nenhum de nós.
— Ainda há tempo, — disse Dayja com firmeza. — Se ele conseguir
descobrir quais de seus inimigos estão na folha de pagamentos do Sol
Negro, o Diretor pode virar essa ligação contra eles.
— Talvez, — disse D’Ashewl, não parecendo convencido. — Mas ele
conseguindo ou não escapar da queda, nosso futuro ainda está por um fio.
Se pegarmos os arquivos, seremos heróis. Se não conseguirmos, a questão
de o Diretor cair ou não pode ser insignificante. Xizor ficará furioso que
sequer tenham feito uma tentativa e, com suas capacidades de chantagem
ilesas, ele será um inimigo formidável.
— A vida é uma aposta, — frisou Dayja enquanto apertava botões para
pedir algo que fosse rápido de preparar e igualmente rápido de comer. —
Trabalho de espionagem é ainda mais. Não se preocupe, vai dar certo.
— Espero que você esteja certo, — falou D’Ashewl. — O que você vai
fazer com a jogada do brilhestim? Isso já está em andamento, não?
— Sim, mas pode ser pausado por alguns dias, — respondeu Dayja. —
Ninguém além daquele gerente de asfalto, Crovendif, sabe como eu sou.
Desde que eu fique longe da rua, estarei bem.
— Então você vai deixar Eanjer e a equipe dele assumirem a dianteira?
— Por enquanto, — disse Dayja. — Eu presumo que Qazadi estará aqui
para o festival inteiro. Se Eanjer não conseguir pegar os arquivos de
chantagem, eu devo ter tempo de voltar ao plano original.
— Vamos colocar nossas vidas em um conjunto de mãos extremamente
sujas, — alertou D’Ashewl.
— Vai ficar tudo bem, — garantiu Dayja, se permitindo um sorriso
contido.
A preocupação de D’Ashewl era tocante e certamente não era
inapropriada. Mas ambos sabiam que falar em “nossas vidas” era
meramente uma cortesia. D’Ashewl estava na carreira havia tempo
suficiente e amealhara muitos amigos e aliados, a ponto de até mesmo
Xizor hesitar enfrentá-lo. Certamente não por causa de uma tentativa de
espionagem que tinha fracassado, no fim das contas.
Não, a vida de D’Ashewl não estava nas mãos de Eanjer. Porém, Dayja
não tinha costas tão quentes assim. O que acontecesse nos próximos dias
faria ou encerraria sua carreira. Permanentemente.
Mas era preciso correr o risco. O Sol Negro era um mal que vinha roendo
as raízes da galáxia havia muito, muito tempo, e precisava ser detido. Se o
Imperador não estava inclinado a agir e Lorde Vader estava preocupado
demais, então o serviço caberia a homens menos importantes.
E se esses homens menos importantes também perecessem... ainda assim,
como ele dissera, a vida era uma aposta.
Os dados estavam lançados. Dayja simplesmente teria que esperar para
ver que resultado eles dariam.

Por alguns minutos depois de Lando ir embora arrastando os pés até o


quarto, Han permaneceu onde estava, olhando pela janela para o conjunto
de luzes da mansão de Villachor. Envolta na escuridão das dependências de
Marblewood, a mansão quase parecia um pequeno agrupamento de estrelas
à deriva no espaço, completamente sozinho. E todo piloto na galáxia sabia
como agrupamentos de estrelas eram perigosos.
Lando estava certo, obviamente. Han era um piloto e um contrabandista.
O que ele conhecia a respeito de golpes?
Nada, na verdade. Mas Han conhecia as pessoas. Sabia como elas
pensavam e reagiam, especialmente aquelas levadas pela ganância e sede de
poder. Tinha visto isso com Jabba e Batross, tinha visto acontecer com
oficiais imperiais e sentia uma pontada em si próprio de vez em quando.
Talvez fosse isso o que ele mais gostava a respeito de Leia. Como uma
princesa de Alderaan, ela tivera muito poder, mais do que a maioria das
pessoas sonharia ter um dia na vida. No entanto, Leia tinha deixado aquilo
de lado pelo que considerava ser uma causa maior e mais nobre.
Se aquilo era uma causa maior, obviamente, ou apenas um jeito chique
de cometer suicídio em massa, ainda levaria um tempo para saber. Mas isso
não era problema de Han. O problema era que ele mais ou menos prometera
justiça para Eanjer e a partilha de 163 milhões de créditos para todos os
outros.
E Lando estava certo sobre outra coisa. Às vezes a confiança que Han
depositava em outras pessoas se revelava muito inapropriada.
Ele pensou a respeito da situação por um pouco mais de tempo. Então se
arrancou da cadeira e foi à procura de Dozer. Considerando como o outro
andara agindo ao abandonar a sala de estar mais cedo, só havia um local
provável para começar a procurar. Han encontrou Dozer na cozinha,
mastigando um enorme sanduíche.
— Estou interrompendo? — perguntou Han ao entrar e se sentar.
— Não, — disse Dozer. — Você veio falar sobre Lando ser o testa de
ferro? Porque se for o caso, esqueça tudo o que eu disse antes. Até onde eu
sei, ele pode ficar com a vaga.
— Bom ouvir isso, — falou Han. — Porque tem outro serviço que eu
quero que você faça para mim. Uma coisa que talvez leve alguns dias.
Dozer franziu os olhos.
— Está tentando se livrar de mim?
— Claro que não, — garantiu Han.
— Porque se for por eu ter ficado preocupado com o Sol Negro mais
cedo, eu estou de boa com isso agora, — insistiu Dozer.
— Eu sei, — disse Han. — O serviço é apenas uma coisa que eu pensei
que vamos precisar, só isso.
— A-hã, — concordou Dozer, ainda parecendo desconfiado. — O
serviço envolve encarar aquele Falleen novamente?
— Sem Falleen, — respondeu Han. — Será um pouco complicado, mas
deve ser seguro o bastante.
Por mais alguns segundos, Dozer continuou examinando o rosto de Han.
Então ele pousou o sanduíche cuidadosamente no prato e tirou as migalhas
das mãos.
— Certo, — disse ele se recostando na cadeira. — Conte-me tudo a
respeito do serviço.
CAPÍTULO

Nos três dias seguintes, a equipe permaneceu perto da base. O quarto das
gêmeas rapidamente virou uma oficina eletrônica enquanto Bink, Tavia,
Chewbacca e Winter trabalhavam em montar cuspidores que coubessem no
espaço limitado dentro de um cartão de dado. Infelizmente, o amigo de
Eanjer, Donnal Cuciv, não fora capaz de informar o tamanho correto do
símbolo do Sol Negro impresso no cartão de dado que Villachor lhe
mostrara, o que significava que eles precisariam de pelo menos três e
possivelmente uns cinco para cobrir todas as possibilidades com segurança.
Com Winter e Chewbacca também construindo um cryodex falso, o prazo
seria apertado.
Ainda assim, Chewbacca estava com a mão na massa, e até então o
Wookie jamais o decepcionara. Han não esperava que essa fosse a primeira
vez.
Os demais tinham muito trabalho também. Kell instalou uma oticina de
explosivos no quarto adjacente ao das gémeas e passou três dias montando
cargas de vários tamanhos e formas. Zerba se ocupou com os trajes
rasgáveis para troca rápida que Han lhe passara, com pausas frequentes para
descansar os olhos e praticar prestidigitação. Eanjer, em contrapartida, tinha
pouco a fazer além de perambular pela suíte, fazer perguntas e, de resto,
atrapalhar os outros.
Lando e Han passavam a maior parte do tempo na sala de estar, longe dos
olhos dos demais e lendo o volume cada vez maior de material que Rachele
conseguia recolher sobre Villachor, seus funcionários, a mansão e as
pessoas com quem ele mais lidava, muitas das quais também eram
possivelmente associadas ao Sol Negro.
Tinha vezes que Han considerava toda aquela quantidade de dados um
pouco avassaladora. Villachor estava com as mãos em praticamente todos
os aspectos da vida da Cidade de Iltarr, com metade da polícia e
provavelmente mais da metade das autoridades do governo aparentemente
prontas para largar tudo sob seu comando. Era uma confirmação
preocupante de que a equipe tinha montado acampamento no meio de um
território seriamente hostil.
Lando, previsivelmente, não parecia incomodado com aquilo. Talvez,
como um apostador, ele estivesse mais do que acostumado a encarar mesas
cheias de inimigos. Talvez ele fosse apenas melhor em esconder seu
nervosismo. Ele examinava os dados de Rachele rápida e metodicamente,
às vezes fazendo comentários sobre alguma informação especialmente
reveladora ou útil. Às vezes experimentava vários sotaques que achava que
poderiam ser úteis quando finalmente encarasse Villachor cara a cara.
Era um pouco irritante vê-lo assim tão calmo, mas Han tinha que admitir
que talvez Lando encarasse a situaçao de uma maneira melhor. Jabba e os
outros Hutts não eram assim tão diferentes de Villachor e do Sol Negro, a
não ser pelo fato de que a influência deles era mais ou menos descarada e
óbvia, em vez de estar enterrada em um labirinto de raízes subterrâneas.
Han havia sobrevivido às intrigas e à inimizade dos Hutts. Ele também
sobreviveria a qualquer coisa que Villachor jogasse contra ele.
Dozer era a principal exceção do comportamento geral de ficar em casa,
adotado pelos demais. Desde a primeira vez que Tavia pedira a ele que
saísse para comprar algumas energicélulas, Dozer tomara para si o papel de
menino de recados, indo pegar tudo, de peças de detonador a novas
bandagens de medselo para Eanjer e comida rodiana quando Zerba
subitamente tinha uma vontade louca.
Houve um momento em que Rachele brincou que Dozer passava mais
tempo fora da suíte do que dentro, e se perguntou em voz alta se
conseguiria um desconto referente à parte dele do aluguel. Foi um exagero,
obviamente, mas todo mundo notou que Dozer geralmente se ausentava por
horas a fio, em busca de seu objetivo no momento.
Han apenas torcia para que nenhum deles suspeitasse do verdadeiro
motivo da ausência do sujeito.
Enquanto eles trabalhavam, as dependências de Villachor lá embaixo
estavam sendo transformadas em alguma coisa que era meio feira livre e
meio exposição. Do céu, telas e pavilhões acenavam com a promessa de um
retorno do esplendor da Velha República.

Do chão, a promessa estava mais do que cumprida.


— Isto é sensacional — comentou Bink enquanto o grupo seguia
pelo caminho que levava à mansão. — Eu jamais vi algo parecido. E eu
já estive em todos os lugares.
— Este também é apenas o primeiro dia — comentou Kell, parecendo
mais boquiaberto do que Bink. — Quem diria que havia tantas maneiras de
deslocar rocha e terra?
— Pedra, — corrigiu Dozer em tom ácido. — É a Honraria à Pedra em
Movimento.
— Rocha, pedra, dá no mesmo, — falou Kell ainda olhando ao redor.
— Não, um está certo, o outro, não, — insistiu Dozer. — Você quer
parecer um turista deslumbrado?
— Nós somos turistas deslumbrados, — salientou Lando calmamente. —
Assim como metade das pessoas aqui, provavelmente.
— Se não as desse grupo, então aquelas que estarão aqui mais tarde, —
concordou Han ao olhar para o fluxo de pessoas em ambos os lados do
grupo.
Nem era ainda meio-dia, e o evento sequer estaria oficialmente aberto
nas próximas duas horas, e já havia centenas ou até mesmo milhares de
pessoas ali, com mais gente passando pelos portões, todos olhando
boquiabertos com o mesmo deslumbramento de Bink e Kell.
Sendo sincero, Han não podia culpá-los. No alto, sistemas solares em
miniatura se deslocavam pelo ar, com planetas, luas e asteroides se
movendo rápida ou lentamente em volta de sóis reluzentes. Alguns sistemas
eram percorridos por naves minúsculas e brilhantes, e de vez em quando
uma delas piscava como se pulasse para o hiperespaço e reaparecia em um
sistema diferente a dezenas de metros de distância. Ao longo do caminho,
presos perto de grupos de árvores esculpidas, tornados de areia
serpenteavam, com suas formas compridas e afuniladas girando com uma
fúria cuidadosamente contida.
Han tinha visto atrações mais impressionantes nas viagens pela galáxia.
Mas raramente tinha visto uma atração feita com esse tipo de talento. Era
fácil se deixar envolver pelo encanto e pelo clima de festa.
Era bem mais fácil resistir à atração quando Han se lembrava de que tudo
aquilo era bancado por créditos sangrentos.
— Beleza, — resmungou Dozer. Ele, pelo menos, não corria perigo de se
deixar envolver pelo espírito do Festival. — Tanto faz. Eu só quero que ele
demonstre um pouco de dignidade. Sabe como é... dignidade?
— Desculpe — falou Kell, com a empolgação anterior visivelmente
contida.
Han olhou de lado para Lando. O outro devolveu o olhar e deu de
ombros. Dozer não queria ir com eles a Marblewood naquela manhã, mas,
ao mesmo tempo, se recusava a ser deixado para trás.
— Aqui está um — disse Bink, acenando com a cabeça para o lado.
Han olhou naquela direção e viu um droide imóvel ao lado do caminho,
provavelmente colocado ali para dar orientações ou conselhos para os
visitantes de primeira viagem. Ao contrário de praticamente todos os outros
droides que Han já vira na vida, aquele usava roupas: ele trajava um longo
vestido com padronagem de pedra até os pés, mangas e até luvas soltas nas
mãos. A cabeça estava coberta por um capuz drapeado com buracos apenas
para os olhos e a boca. Para todos os efeitos, ele parecia uma pilha de
pedras que por acaso foram equilibradas na forma de um droide, o que
provavelmente era a ideia.
— Impressionante, — murmurou Lando. — Meio ridículo, mas ainda
assim impressionante.
— Mal posso esperar para ver os trajes da Honraria ao Ar em
Movimento, — comentou Bink. — Algo frágil e delicado, sem dúvida.
Rachele tem razão: não há como adivinhar que tipo de droide é aquele
embaixo de tudo aquilo.
— Pelo formato, eu diria que é um SE 4 ou SE 6, — falou Kell. — A voz
do droide pode dar uma pista. Quer que eu tente?
Dozer soltou um muxoxo de desdém.
— A-hã, boa sorte, — disse ele dobrando o pescoço para ver acima da
multidão. — Eu estou vendo uma dezena de droides daqui, e esse número
nem conta os criados nos pavilhões e quem quer que esteja alimentando os
vulcões e gêiseres. Você quer brincar de pergunte... ao Quarren com todos
eles?
— Vamos simplesmente nos ater ao plano, — disse Han.
— Então qual será a nossa programação aqui? — perguntou Lando. —
Suponho que seja interessante perambular um pouco e sentir o ambiente
antes de partirmos para nossas respectivas ações?
— Parece ótimo — concordou Han. — No momento em que você
encarar Villachor, vai se tornar o centro das atenções. É melhor usarmos
nosso anonimato enquanto ainda o temos. Vamos tirar uma hora, reconhecer
o terreno e depois começamos a trabalhar. E lembrem-se de que alguns
daqueles planetas flutuantes lá em cima provavelmente são droides câmera.
Ajam como se tivessem plateia, porque é provável que tenham.
— E fiquem de olho em Villachor, — acrescentou Lando. — Não há
garantia de que ele vá estar aqui fora cuidando dos afazeres tão cedo assim,
se ele não aparecer, essa viagem inteira será à toa.
— Eu não sei se chamaria de à toa — disse Bink farejando o ar. — Ainda
há as barracas de comida.
— Concentre-se no serviço, Bink — ralhou Han. — Uma hora. E
cuidado.

O complexo da suíte de hóspedes de Marblewood ocupava praticamente


um terço do último andar da ala nordeste da mansão e estava equipado com
as melhores comodidades e decoração que o Império tinha para oferecer.
Sob vários aspectos, a suíte era até mais suntuosa do que a do próprio
Villachor, uma vez que o objetivo do quarto de Villachor era o conforto,
enquanto a suíte de hóspedes fora projetada para dar conforto e
impressionar os ocupantes. Ela tinha recebido dezenas de autoridades e
colegas do Sol Negro no decorrer dos últimos onze anos e, pelo que se
dizia, tinha sido bem-sucedida em ambos os objetivos.
Só que até então, nenhum dos hóspedes de Villachor tinha se
impressionado tanto com a suíte a ponto de se recusar a ir embora.
Como sempre, havia dois guardas Falleen flanqueando a porta da suíte
quando Villachor chegou.
— Chefe de setor Villachor, solicitando uma audiência com Sua
Excelência, — disse ele formalmente ao parar a 2 metros de distância.
— Qual é o objetivo da audiência? — perguntou um dos guardas.
Villachor conteve um rosnado. Era a mesma resistência arrogante e
humilhante que ele vinha tolerando havia três dias consecutivos. Sim,
Qazadi era um vigo, mas não havia motivo para um simples guarda-costas
ser tão obviamente desrespeitoso ao falar com um chefe de setor do Sol
Negro. Nem mesmo quando o guarda-costas era um dos preciosos Falleens
do príncipe Xizor.
— Eu quero convidar Sua Excelência à sacada de apresentação para a
grande cerimónia de abertura do Festival, mais tarde, — respondeu ele com
os dentes cerrados. — De lá ele terá uma visão muito melhor da erupção
dos gêiseres.
O guarda tirou um comunicador do cinto e falou brevemente no aparelho.
Houve uma resposta, e ele devolveu o comunicador à presilha.
— Sua Excelência lhe agradece a oferta, — informou o guarda- costas.
— Ele considera que pode observar os eventos da Honraria à Pedra em
Movimento muito bem da própria sacada.
— Compreendo, — falou Villachor, conseguindo manter um tom de voz
civilizado com um esforço extremo. — Por favor, agradeça a ele pelo tempo
e pela consideração.
Sheqoa estava esperando ao lado do turboelevador onde Villachor o
deixara.
— Ele vai sair, senhor? — perguntou o chefe de segurança.
— Não, não vai — disparou Villachor. — Aparentemente, ele não tem
interesse algum além do próprio quarto e do próprio pessoal.
Sheqoa resmungou baixinho.
— Talvez ele não tenha interesse algum, mas o pessoal de Qazadi com
certeza tem. Dorston e sua patrulha flagraram mais dois deles ontem à
noite, na cozinha.
Villachor engoliu um xingamento. Os guardas de Qazadi haviam se
espalhado pela mansão inteira nos últimos três dias, metendo o nariz e os
dedos em tudo. Já haviam acontecido vários confrontos tensos entre eles e o
pessoal de Sheqoa, e uma dessas altercações quase chegou ao ponto de
armas de raios serem sacadas.
E, assim como o isolamento autoimposto de Qazadi, as ações às
escondidas e as intromissões começaram na mesma noite em que Crovendif
trouxera a misteriosa amostra de brilhestim.
— Eles disseram o que estavam fazendo?
— Apenas que queriam dar uma olhada, — falou Sheqoa. — Mas acho
que era mais do que isso. O sujeito disse que eles estavam na ponta centro-
oeste, perto do elevador de cozinha, e que um deles tinha uma sonda.
Villachor fez uma expressão de desdém. O elevador de cozinha era algo
que sobrara do período do antigo proprietário da casa, um duto estreito e
vertical que levava comida e outros itens da cozinha do primeiro andar para
o quarto andar, onde a cesta ou a bandeja podia ser transferida para um dos
dois dutos horizontais que levavam à suíte principal de hóspedes ou à
própria suíte de Villachor na ala sudeste. Aparentemente, o proprietário
queria uma maneira de receber refeições sem ter que abrir portas para
criados ou droides.
— O que eles estavam fazendo com a sonda?
— Não acho que eles realmente tivessem começado alguma coisa —
respondeu Sheqoa. — Como de costume, eles alegaram que a liberdade de
movimento que o senhor concedeu a Qazadi também se aplicava a eles.
— Claro que alegaram, — disse Villachor.
Era uma desculpa com a espessura de uma molécula, e tanto ele quanto
Sheqoa sabiam disso. Mas não havia nada que os dois pudessem fazer a
respeito. Qazadi tinha que receber o direito de andar livremente pela
mansão, — ele era um vigo, afinal de contas. E uma vez que recebera essa
autonomia, não havia como Villachor restringir seus guarda-costas sem
parecer mesquinho ou suspeito.
Se havia uma coisa de que Villachor tinha certeza absoluta era que
mesquinho e suspeito não eram alcunhas que ele poderia se dar ao luxo de
receber agora.
— Quero que as patrulhas noturnas sejam dobradas — ordenou Villachor
para Sheqoa. — E coloque um guarda a mais na cozinha, em algum ponto
onde ele possa vigiar tanto a despensa quando o elevador. Com todos os
preparativos de comida que estamos fazendo para o Festival, nós devemos
ter mais um homem lá de qualquer forma.
— Sim, senhor.
Sheqoa estava tão insatisfeito com a situação quanto Villachor, mas era
óbvio que ele não tinha ideias ou sugestões melhores.
— Depois que você fizer isso, quero que entre em contato com aquele
gerente de asfalto, Crovendif, — continuou Villachor. — Quero que ele
esteja aqui, todos os dias do Festival, perambulando de olhos bem abertos.
Se o vendedor de brilhestim aparecer, eu quero esse sujeito.
— Sim, senhor, — repetiu Sheqoa. — Quando o senhor estiver pronto
para sair, Tawb e Manning estão esperando no pórtico oeste.
Villachor olhou por uma das claraboias no momento em que passava um
dos sistemas solares flutuantes. Ele não estava muito empolgado para sair
naquele momento, entre as pessoas simplórias e estúpidas, ser forçado a
sorrir e conversar com centenas de concidadãos da Cidade de Iltarr e fingir
que realmente se importava que eles existissem. Especialmente não em seu
atual estado de espírito.
Mas o novo Ministro de Relações Comerciais chegaria em menos de
meia hora. Villachor precisava estar presente para cumprimentá-lo,
convidá-lo informalmente para um aposento mais silencioso e reservado
dentro da mansão, e explicar para o ministro a realidade do serviço público
em Wukkar.
— Estou pronto, — disse Villachor. — É melhor você sair também. Este
é um ano em que não queremos problemas ou incidentes.
— Entendido, senhor, — respondeu Sheqoa com a cara fechada. — Não
se preocupe. Nada vai acontecer.
Como sempre, a multidão já estava entrando aos borbotões nas
dependências, embora a maioria dos espaços do Festival na cidade e no
planeta ainda nem estivessem abertos. Mas apesar da quantidade de gente e
do fato de que a comida só estava realmente começando a ser servida
naquele momento, a multidão parecia contente e educada. Conforme cada
visitante ou grupo avistava a aproximação do anfitrião, eles paravam as
atividades ou a conversa, faziam gestos de respeito, agradecimento e
saudação, e depois educadamente davam passagem.
Cordeiros, cada um deles. Mas pelo menos eram educados e amigáveis
enquanto Villachor e o Sol Negro arrancavam a lã e a carne de seus ossos.
Villachor cumpriu o primeiro circuito em volta do pátio interno e estava
seguindo um grupo de pessoas na direção das barracas de comida quando
Tawb se aproximou e tocou em seu braço.
— Senhor?
— O que foi? — perguntou Villachor enquanto trocava acenos de cabeça
com um Koorivariano que usava um capuz de mercador, fazendo uma
anotação mental para que alguém verificasse a condição e o itinerário de
viagem do alienígena. Muitos comerciantes Koorivarianos também
contrabandeavam armas, e sempre era útil ter outro canal de distribuição do
gênero.
— Acabei de receber um relatório de um dos guardas do mestre Qazadi,
— disse Tawb em voz baixa. — Ele acha que avistou o homem do Serviço
de Entregas Rápidas, que esteve na suíte do lorde Aziel durante o incidente
no Lulina Crown.
— É mesmo? — falou Villachor, franzindo a testa.
Na manhã seguinte ao acidente, Aziel disse que estava convencido de
que o mensageiro era uma testemunha inocente. Então por que o pessoal de
Qazadi estava de olho no homem?
— Onde está ele? — perguntou Villachor.
— Perto da barraca noroeste e do vulcão.
Que era também a atração pública mais próxima da entrada da ala norte
da mansão. Coincidência?
Na verdade, provavelmente era. Os vulcões de lava fria já eram um
sucesso comprovado entre o público, e aquela barraca em especial servia
salsicha branca, um petisco favorito entre muitos dos nativos. Certamente a
presença de um pobre mensageiro ali não era nada que pudesse levantar
suspeitas, — uma das grandes tradições do Festival era que o evento estava
aberto tanto para a família real quanto para o reles trabalhador.
Ainda assim, Villachor não tinha intenção de correr riscos.
— Mande que a segurança fique de olho nele, — falou Villachor para
Tawb. — Sem se aproximar ou detê-lo, apenas observando.
— Sim, senhor, — respondeu Tawb, que, enquanto voltava para a
posição de guarda no flanco, já falava baixinho no comunicador de
colarinho.
Com um esforço, Villachor recolocou o sorriso no lugar. Qazadi e Aziel
estavam jogando um jogo qualquer por baixo da mesa — disso, Villachor
tinha certeza. Fosse qual fosse o jogo, ele estava determinado a participar.
Quer eles quisessem ou não.

Dozer estava de olho na salsicha branca na barraca azul de comida,


imaginando se as ordens de Solo para dar uma olhada no ambiente podiam
ser ampliadas para incluir uma turnê gastronómica pelas dependências,
quando se deu conta de que estava sendo observado.
Os primeiros sinais foram sutis, como sempre são. Houve a olhadela de
um homem de expressão carrancuda que se demorou um pouco demais.
Outro sujeito carrancudo matando tempo perto da barraca olhou na direção
de Dozer e depois virou o rosto, enquanto os lábios se mexiam como se ele
falasse consigo mesmo. Um dos dois seguranças uniformizados perto da
entrada principal da mansão, que estavam ali provavelmente apenas pelas
aparências, cutucou o companheiro e indicou a direção de Dozer com a
cabeça.
Dozer fora visto.
Com um esforço, ele se obrigou a continuar perambulando casualmente,
enquanto o coração pulsava nos ouvidos. Ele fora visto, mas o que isso
significava? Será que os homens de Villachor procuravam por uma
oportunidade para tirá-lo da multidão às escondidas e levá-lo para dentro a
fim de ser interrogado? Talvez até encarar o lorde Aziel novamente? Dozer
sobrevivera ao último interrogatório de Aziel por pura sorte, pela
capacidade de Rachele de criar uma história falsa, e pelo fato de que Aziel
já estava convencido de sua inocência antes de eles começarem a pequena
conversa. Não havia garantias de que ele escaparia tão facilmente da
próxima vez.
Calma, alertou Dozer a si mesmo. Para começo de conversa, não havia
motivo para um reles funcionário de uma empresa de entregas não estar ali.
Na verdade, provavelmente havia dezenas ou centenas de cidadãos da
Cidade de Iltarr que Villachor e seus homens conheciam de nome ou de
vista ou pela reputação nas dependências de Marblewood naquele exato
momento.
Depois, este era um festival alegre e contente, de alcance planetário.
Certamente Villachor não faria nada para estragar o clima até que tivesse,
— e se tivesse, — provas concretas de que Dozer planejava alguma
travessura.
E se eles tivessem tais provas, certamente já teriam avançado contra ele.
Dozer respirou fundo e sentiu a tensão ir embora. Pois então, eles sabiam
que ele estava ali, sabiam que ele era alguém que interagira com Aziel sob
circunstâncias fora do normal, e ficariam de olho nele, apenas por
precaução.
Isso era tranquilo. Dozer não planejava fazer nenhuma travessura. Pelo
menos não ali e naquele momento.
Mas já que eles estavam observando mesmo assim...
No meio do caminho entre Dozer e a porta guarnecida, havia dois rapazes
trajando conjuntos bonitos, porém modestos, de túnicas e calças que os
identificavam como proletários que vestiram suas melhores roupas para
visitar a festa de Villachor. Ambos tinham copos nas mãos e, pelo jeito com
que conversavam e gesticulavam, provavelmente haviam provado mais do
que algumas bebidas das barracas. Observando o máximo da área que foi
possível, Dozer se encaminhou para a porta.
A reação foi instantânea, habilmente sutil e extremamente reveladora.
Tanto os guardas uniformizados quanto o trio à paisana que Dozer notara
subitamente pareciam ter olhos apenas para ele. Dozer viu um dos guardas
da porta falar alguma coisa para o parceiro ou para o comunicador de
colarinho, mas nenhum dos demais sequer mexeu os lábios.
O que não significava que eles não estavam se comunicando. Pelo
contrário, enquanto Dozer continuava indo na direção da porta, ele viu os
três homens passarem pela multidão em um movimento bem coordenado
que colocaria dois deles entre Dozer e a porta, e um imediatamente atrás
dele em uma posição de reserva. Àquela altura, os guardas teriam várias
opções de como lidar com ele, e nenhuma delas provavelmente seria
agradável.
Eles estavam perto das posições escolhidas quando Dozer alcançou os
dois rapazes.
— Ei! — disse ele de um jeito afável ao parar ao lado dos dois e erguer a
mão para cumprimentá-los. — Acho que reconheço vocês. São amigos de
Cadger, não é?
Os rapazes se voltaram para ele, e os sorrisos alcoolizados ganharam um
ar de perplexidade.
— Cadger? — perguntou um deles.
— É, — respondeu Dozer. De rabo de olho, ele viu os dois seguranças
fazerem uma pausa; um deles ficou em posição, enquanto o outro se
aproximou um pouco mais da conversa. — Bem, nós o chamamos de
Cadger. Sempre pegando coisas emprestadas, nunca lembrando de
devolver... a pessoa praticamente tem que chamar a guarnição de
Tweenriver para recuperá-las.
O rosto de um dos rapazes fez uma expressão de compreensão.
— Ah — falou ele conscientemente. — Você quer dizer Esmon.
— Isso, Esmon — confirmou Dozer. — Nós sempre o chamamos de
Cadger. Escutem, essa é a minha primeira vez neste espaço. Vocês sabem
quando essas barracas param de servir? Eu não consegui me aproximar de
ninguém para perguntar.
— Não se preocupe com isso, — garantiu o sujeito. — Você vai dar o
fora daqui bem antes de eles fecharem.
— Só fique de olho para não beber tanto a ponto de levar mais de um dia
para se recuperar, — acrescentou o outro rapaz, erguendo o copo para
enfatizar. — Porque depois de amanhã é a Honraria ao Ar em Movimento, e
Villachor serve as melhores batidas de Wukkar. É melhor você estar aqui
sóbrio e cedo para isso.
— Pode apostar, — concordou Dozer, dando um tapinha cordial no
ombro do outro. — Obrigado. Quando vocês virem Cadger... Esmon...
digam que Blather mandou um oi.
Dozer deu meia-volta e se afastou dos dois rapazes e da porta. Deu uma
olhada casual e viu que os seguranças também retornavam às posições
anteriores, e o alerta aparentemente fora reclassificado como alarme falso.
Ainda assim, Dozer não tinha dúvidas de que os seguranças continuariam
a vigiá-lo enquanto ele estivesse ali.
O que era tranquilo. Na verdade, era perfeito.
Dozer nunca ficara completamente à vontade com a ideia de ser o testa
de ferro daquela missão. Um certo nível de trapaça era necessário em
qualquer ramo de ladroagem, obviamente, e o roubo de naves não era
exceção. Se necessário, ele poderia ter feito um bom trabalho com essa
missão também.
Mas teria sido um bom trabalho, não um trabalho espetacular. Dozer
sabia que enfrentar um homem como Villachor exigiria algo além de
simplesmente bom. Embora ele jamais admitisse, especialmente não para
Solo, Dozer ficara secretamente aliviado quando Calrissian surgiu
inesperadamente na porta da suíte.
Então que Calrissian ficasse com a glória e o perigo de ser o testa de
ferro. Dozer tinha suas próprias habilidades, habilidades que nenhum dos
demais conseguiria igualar nem nos melhores dias.
Ele virou para o sul e foi na direção de outras barracas, atrás das quais,
não tão coincidentemente assim, havia outras portas da mansão. Quando a
equipe se reagrupasse na suíte, Dozer prometeu para si mesmo, ele teria
uma noção completa da distribuição da segurança de Villachor para o
Festival, do padrão de cerco e da rota de alerta dos guardas.
Que Calrissian e seu sorriso metido a besta superassem isso.
Trombar com as pessoas era uma arte e uma ciência. Felizmente, Bink
dominava ambas havia muito tempo.
— Ah! — exclamou ela, erguendo os braços e arregalando os olhos de
vergonha e constrangimento enquanto se virava para encarar o homem em
cujo peito ela acabara de esbarrar. — Sinto muitíssimo. O senhor está bem?
— Estou sim, — garantiu o sujeito ao oferecer um sorrisinho
ligeiramente gelado.
— Sinto muitíssimo, — repetiu Bink, olhando o homem de cima a baixo
como se de alguma forma esperasse que os enormes hematomas que ela
pudesse ter causado fossem visíveis através da roupa. — Eu machuquei o
senhor? Não derramei sua bebida, não foi? Por favor, que eu não tenha
derramado sua bebida.
— Nem uma gota, — garantiu o homem, perdendo um pouco da frieza;
como deveria, aliás, pois aquele era o melhor golpe de moça desastrada de
Bink, com garantia de provocar sentimentos de satisfação, simpatia ou
proteção na maioria da população masculina. — Viu? — acrescentou ele ao
erguer o copo para que ela verificasse.
— Graças aos céus — suspirou Bink, que notou que o copo estava meio
cheio de conhaque de Cariem, no nível certo para alguém que estivera
saboreando lentamente pela última meia hora, mais ou menos. — Isso
realmente parece gostoso. Eu odiaria que alguém desperdiçasse essa bebida,
especialmente se eu fosse essa pessoa.
— Está gostoso, e você não desperdiçou — garantiu ele novamente.
— Fico tão contente, — respondeu ela.
O homem estava mentindo, obviamente, pelo menos sobre a primeira
parte. O copo podia estar apenas meio cheio, mas não havia gotas ou outros
traços de líquido na borda do copo ou nas laterais. Ele estava meio cheio
desde o início, e o sujeito não dera nem sequer um gole.
Ele também tinha um comunicador de colarinho, o leve volume de uma
arma de raios escondida embaixo da lateral direita da túnica e o igualmente
sutil volume de uma faca presa ao antebraço esquerdo, embaixo da manga.
Só o fato de não estar bebendo já o teria identificado como alguém do
pessoal de Villachor. O olhar inflexível e as armas fecharam o pacote.
Obviamente, também havia o fato de que o rosto dele batia com o
holovídeo que Rachele tinha acessado sobre Lapis Sheqoa, o chefe da força
de segurança da mansão de Villachor.
Os holovídeos realmente acabavam com a graça desse jogo.
— Apenas tente tomar mais cuidado, — disse ele, oferecendo um sorriso
ligeiramente mais genuíno agora. — Olhar para trás quando se está andando
é uma péssima ideia, especialmente em uma multidão como essa. —
Sheqoa ergueu um dedo de alerta. — Além disso, na próxima vez você
pode trombar com o garfo de frutos do mar de alguém.
— E seria bem feito, — declarou Bink em um tom de falsa seriedade,
combinado com um sorriso sardónico enquanto se afastava dele. — A gente
se vê.
Ela passou a próxima meia hora passeando pelas dependências,
admirando as atrações, puxando conversa fiada com outras duas mulheres
na multidão, pegando um copo de alguma coisa frutada para beber e
tomando cuidado para não ter a mínima noção de onde Sheqoa estivesse.
Era praticamente certo que ele estaria de olho em Bink, pelo menos de vez
em quando, e ela não poderia dar a impressão de estar fazendo o mesmo.
Quando chegasse o momento, Bink não esperava ter problema algum em
localizá-lo novamente.
Ela julgou ter esperado tempo suficiente e deu mais dez minutos. A
seguir, Bink se juntou aos celebrantes em uma das mesas que serviam
comida, encheu um pratinho com petiscos variados, com cuidado para criar
um desequilíbrio capaz de tornar o prato difícil de controlar, sem deixar
evidente tal desequilíbrio. Com o prato em uma mão e o copo na outra, ela
foi atrás de Sheqoa.
Como Bink previra, não houve problema. Praticamente dois minutos
depois de sair da barraca, ela o avistou na multidão, ainda perambulando
casualmente enquanto ficava de olho em qualquer confusão.
Hora de aumentar a pressão.
O primeiro passo foi parar bruscamente, com os olhos no prato e na pilha
subitamente oscilante de biscoitos confeitados. A seguir vieram os pedidos
de ajuda aos transeuntes, e todas as solicitações cada vez mais frustradas
foram completamente ignoradas por todos que passavam.
Obviamente, o motivo para isso era que Bink estava mexendo os lábios
sem emitir som algum, o que significava que nenhum dos transeuntes fazia
a mínima ideia de que ela estava em dificuldades. Mas Sheqoa não tinha
como saber disso, não à distância em que estava e com o leve rugido da
multidão e as atrações das pedras em movimento em volta deles.
Bink continuou com a mímica dos pedidos de ajuda por vários segundos,
até que o instinto disse que aquela parte da farsa já tinha dado o que tinha
que dar. Ainda se desviando de transeuntes, ela começou a examinar o chão
em volta dos pés, como se tentasse calcular se havia um lugar seguro para
pousar o copo...
Abruptamente, e alguns segundos antes do que Bink esperava, um braço
apareceu no limite da visão e arrancou o copo de sua mão.
— Aqui, deixe-me ajudar, — ofereceu Sheqoa.
— Ah, obrigada, — disse Bink, deixando que a ansiedade e a frustração
fingidas fossem embora em uma onda de alívio enquanto arrumava os
biscoitos em uma configuração mais estável. — Obrigada — repetiu ela,
erguendo o olhar. — Eu estava... ah. Você.
— A gente parece estar se esbarrando, não é? — disse ele, oferecendo
um sorriso mais genuíno desta vez.
Mas ainda era um sorriso reservado, com uma grossa camada de cautela
por trás.
— Pelo menos, desta vez, eu não tentei transformar seu sabe-se- lá-o-quê
em um daqueles vulcões, — falou Bink. — Obrigada pela ajuda. Esses
biscoitos confeitados são demais para desperdiçar como lixo no chão. Eu
sou Katrin, por falar nisso.
— Lápis, — respondeu Sheqoa. — Este é seu primeiro Festival?
— O primeiro aqui, — disse ela. — Eu fui ao Festival em Barrange duas
vezes quando morava em Opolisti.
— Ouvi dizer que é bem bacana — falou ele.
— Não tanto quanto esse Festival aqui, — disse Bink em tom de pesar.
— Não que eu tivesse muita chance de curtir. Na época eu
tinha o mesmo tipo de chefe que você tem.
— O que você quer dizer com isso? — perguntou ele franzindo a testa.
— Seu comunicador — respondeu Bink apontando para o colarinho de
Sheqoa. — Você está de sobreaviso, não é? De folga, mas ainda assim de
sobreaviso, e ele poderia tirá-lo daqui em meio piscar de olhos.
— Algo assim — disse ele. — E como você conhece esse equipamento?
É da polícia? Militar? Técnica de medicina?
Bink conteve uma risada.
— Você vai morrer de rir com essa. Sou uma contadora.
— Uma contadora?.
— Não é uma loucura? — concordou ela. — Ora, vamos... quando foi a
última vez que alguém ligou para um contador depois do horário comercial
e disse — ela abaixou o tom da voz e imitou um chefe severo e carrancudo,
— “precisamos que você venha correndo e examine umas contas neste
mesmíssimo minuto?”.
Ele riu, e um pouco da circunspecção sumiu.
— A maioria das contas que eu conheço não tem problema em esperar
até o horário comercial, — concordou ele.
— E a doideira é que ele realmente fez isso, — disse Bink. — Meu chefe
realmente me arrastou duas vezes para coisas que poderiam ter sido
deixadas para o dia seguinte sem que ninguém no universo se importasse, a
não ser ele. Uma das vezes eu recebi a ligação bem no meio de uma ópera.
— Ela balançou a cabeça ao se lembrar. — A expressão na cara das pessoas
enquanto eu passava por elas, tropeçando. Se o Império quiser matar
rebeldes, eles devem falar com aquelas pessoas. Alguns daqueles olhares
podiam fritar banthas a 50 metros.
— Ópera, é? — falou Sheqoa. — Eu jamais teria achado que você era
dessas.
— Ah, não sou, — disse ela. — Mas o cara com quem eu estava na época
realmente gostava de ópera. Sou mais do tipo glitz de três acordes. E você?
Presumo que não seja um contador, a não ser que meu ex-chefe tenha aberto
uma sucursal na Cidade de Iltarr.
— Não, não, sou algo bem menos interessante — respondeu Sheqoa. —
Eu trabalho com a segurança da mansão do mestre Villachor.
Bink arregalou os olhos.
— Ah. Uau. Eu... eu não falei algo de ruim sobre alguma coisa, falei?
— Você disse que o mestre Villachor organiza um Festival melhor do que
o mestre Barrange, que minha bebida parece gostosa e que não queria
derrubar biscoitos confeitados no chão, — falou Sheqoa. — O pessoal da
limpeza vai ficar especialmente contente com essa última.
— Ah, que bom, — disse Bink. — Porque eu realmente estou curtindo o
evento. Eu odiaria ser banida do resto.
— Só tente não esbarrar em mais ninguém que você vai ficar bem. —
Sheqoa devolveu o copo dela. — E agora tenho que voltar ao dever.
— Ah, sim, claro, — falou Bink recebendo o copo de volta. — Obrigada
novamente. Uma pergunta rápida: uma vez alguém me disse que o mestre
Villachor tem os instrumentos originais de glitz de Sunright Feinhomm. É
verdade?
— É, sim, — confirmou Sheqoa. — Talvez eu consiga mostrá-los para
você algum dia.
— Isso seria tão sensacional, — disse Bink dando o sorriso mais
reluzente. — Bem, foi um prazer conhecer você, Lapis. A gente se vê por
aí, provavelmente.
— Eu estarei aqui — respondeu Sheqoa sorrindo e dando um breve
aceno.
Ele ainda estava sorrindo quando deu meia-volta e entrou na multidão.
Bink tomou um gole da bebida e foi na direção de uma das
arquibancadas. Sim, tinha dado certo. Ele estava completamente a fim dela.
E também tinha sacado completamente qual era a dela.
Bink sorriu para si mesma. Perfeito.

A multidão já era enorme, e parecia que uma em cada três pessoas que
avistava Villachor queria vir cumprimentá-lo, agradecer pela hospitalidade
ou conversar um momento com ele como se fosse de fato um amigo.
Mas se havia uma coisa que Lando aprendera na mesa de sabacc era
paciência. Ele exercia aquela paciência naquele momento, passeando pela
borda do séquito de Villachor, examinando o homem e seus guarda-costas.
Os nativos usavam determinados gestos e palavras nas saudações, que ele
percebia ao mesmo tempo que tentava identificar os sinais de interesse,
impaciência ou tédio da parte do próprio Villachor.
Finalmente, houve uma calmaria. Villachor fez uma pausa e olhou em
volta enquanto murmurava alguma coisa para um dos guarda-costas. Lando
deu a volta por um par de Ithorianos de cabeça de martelo e foi atrás do
grupo.
Villachor notou a aproximação dele, e Lando notou um leve tremor no
lábio antes de o rosto do anfitrião dar mais um de seus sorrisos falsos.
— Boa tarde, — disse Villachor, provavelmente na esperança de que, ao
falar primeiro, pudesse controlar a duração da conversa. — Curtindo o
Festival?
— Muito, — respondeu Lando, dando um educado aceno de cabeça que
parecia ser condizente com os cidadãos da elite da Cidade de Iltarr. — Eu
imagino que algo do gênero seja extremamente caro de organizar.
O sorriso de Villachor diminuiu um pouco. Aparentemente, a maioria das
pessoas com quem falava tinha o bom senso de não abordar um assunto tão
grosseiro.
— Vale muito o custo — respondeu ele calmamente. — O prazer que o
Festival dá ao cidadão comum é algo que não pode ser medido.
— É verdade — concordou Lando. — E, obviamente, eu suponho que o
Festival ofereça oportunidades únicas de conhecer pessoas. Algumas das
quais podem trazer ofertas interessantes.
O sorriso de Villachor cresceu, ao mesmo tempo que esfriou alguns
graus.
— Eu sinto muito, mas todas as discussões sobre novos negócios estão
interrompidas durante o Festival, mas fique à vontade para entrar em
contato com meu gabinete após o fim da Honraria ao Fogo em Movimento.
— Ele inclinou a cabeça e começou a dar as costas.
— Eu compreendo, — disse Lando dando um longo passo para se
aproximar, ciente de que os dois guarda-costas já se moviam para
interceptá-lo. — Deixe-me dizer apenas uma palavra: Cryo...
Lando foi interrompido quando os dois guarda-costas o seguraram, e um
colocou o antebraço em sua garganta como um gesto de advertência
enquanto o afastavam de Villachor.
— Um momento, — falou Villachor, detendo os homens com um dedo
erguido. — Muito bem — continuou ele com um tom de voz casual
ensaiado. — Uma palavra.
O guarda tirou milimetricamente o braço da garganta de Lando, pronto
para esganá-lo se necessário. Lando pigarreou.
— Cryodex — disse ele.
Lando contou seis batidas do coração antes de Villachor falar novamente.
— Tragam-no, — disse ele abruptamente.
Villachor deu meia-volta e retornou a passos largos para a mansão, indo
na direção de uma das menores portas de serviço. Os guarda-costas
soltaram Lando, e um deles o cutucou nas costas, dando uma ordem
silenciosa.
Não que ele precisasse de qualquer incentivo. Lando ia atrás de Villachor
a passos rápidos, ajustando o ritmo para alcançá-lo aos poucos. Ele sabia
que havia dezenas ou possivelmente centenas de pessoas e droides entrando
e saindo da mansão naquele dia, para reabastecer as barracas com comida e
bebida e cuidar de outros afazeres. Seria instrutivo ver exatamente como
Villachor havia arrumado as trancas das portas para permitir um vaivém
deles e, ao mesmo tempo, impedir que estranhos aleatórios entrassem na
mansão.
Foi, na verdade, um completo anticlímax. Villachor simplesmente
percorreu a trilha de lajotas até a porta, pegou e virou a maçaneta, e abriu a
porta sem problemas, incómodos ou contestação.
Lando conteve um sorriso quando ele e os dois guarda-costas entraram
atrás de Villachor. Como um dos truques de mágica de Zerba, as aparências
enganavam. Villachor pegara a maçaneta, mas, imediatamente antes de
virá-la, curvou-se levemente na cintura. Havia então um disparador
eletrónico, com o receptor no mecanismo da maçaneta e o ativador
escondido em algum lugar na área do pescoço ou ombro de Villachor.
Possivelmente o pingente retangular com uma minúscula pedra esmaltada
que Lando notara em uma pequena gargantilha em volta do pescoço de
Villachor.
E que também estava no pescoço dos guarda-costas, Lando percebia
então.
Eles haviam arrumado um jeito de entrar. Talvez.
Villachor parou depois de alguns passos perto da porta e esperava por
eles ao lado de mais dois guardas.
— E agora, — disse ele, sem sequer a falsa cordialidade na voz -, vamos
a um lugar calmo para conversar um pouco.
CAPÍTULO

10

Desde o início da caminhada solitária pelas dependências, Han achou que


as várias atrações que Villachor reunira para a Honraria à Pedra em
Movimento eram uniformemente impressionantes. Mas, para ele, os
tornados de areia eram as mais interessantes, mais fotogênicas e, no fim das
contas, as atrações com maior potencial de uso. Han foi de tornado em
tornado, ficou parado por alguns minutos diante de cada um, admirando as
formas serpenteantes e fingindo tirar inúmeras fotos com a holocâmera
falsa que Chewbacca havia montado para ele na noite anterior.
Han também não estava sozinho em suas atividades. Muitas pessoas
faziam exatamente a mesma coisa, ele geralmente se via no meio de uma
pequena aglomeração enquanto batia holofotos falsas.
A multidão era formada em sua maioria por famílias com crianças, e
todas elas encaravam as tempestades em miniatura com um misto de
deslumbramento, alegria e seriedade que apenas as crianças muito pequenas
eram capazes de expressar. As mais aventurescas ousavam chegar perto,
tocavam — algumas com mais ousadia, outras com mais cautela, — a borda
do redemoinho de areia e depois voltavam correndo para os pais, rindo. Os
pais, por sua vez, pareciam confiar na engenharia de Villachor e presumiam
que os projetistas dos tornados tinham garantido que o suporte e o campo
repulsor evitariam que a areia vazasse e ameaçasse os filhos.
Eles estavam certos, em grande parte. Os primeiros quatro tornados que
Han verificou estavam tão isolados e protegidos como se fossem apenas
hologramas flutuando acima do chão. As crianças ainda conseguiam tocar
no redemoinho de areia, mas cada toque soltava apenas alguns grãos dos
campos, que caíam inofensivamente e se espalhavam pelo chão. Han
passava o mínimo de tempo possível diante de cada tornado daqueles,
considerando seu papel como turista louco por tirar holofotos, antes de ir
para o próximo.
E foi no quinto tornado que Han sacudiu a areia e deu a volta por cima.
Literalmente.
Algo tinha dado errado com o campo de contenção da atração. Nada
gravemente errado, nem mesmo tão obviamente errado assim. Mas
enquanto o chão perto dos outros tornados tinha apenas uma leve camada
de areia solta pelo toque de mãos humanas e alienígenas, aquele ali tinha
um anel evidente de material que se soltara e se acumulara a cerca de um
metro da beira do tornado.
Han sabia que o anel não ficaria ali por muito tempo, não com droides
câmera flutuando no alto e seguranças perambulando pelas
dependências. Mais cedo ou mais tarde, alguém notaria o problema e o
relataria, e droides de manutenção, vestidos naqueles trajes ridículos de
pedras em movimento, correriam para consertar o vazamento e limpar a
areia.
Mas o anel estava ali naquele momento, e era tudo de que Han precisava.
Ele fez questão de marcar o tempo que passara nas outras atrações e não
tinha intenção de chamar atenção ao passar mais ou menos tempo naquela
ali. Porém, desta vez Han se aproximou um pouco mais do tornado
enquanto tirava as holofotos falsas, ouvindo atentamente o barulho da
conversa ao redor.
Logo à esquerda havia uma criança do ensino fundamental pedindo aos
pais permissão para tocar no tornado. Ainda tirando holofotos com a
holocâmera, Han se aproximou dela. Os pais discutiram o assunto
brevemente, depois deram permissão. A menina correu audaciosamente à
frente...
E ao passar pelo cotovelo de Han, ele virou a mão como se a criança
tivesse esbarrado no seu braço e soltou a holocâmera, que foi cair bem no
meio do anel de areia.
— Meelee! — berrou a mãe da menina. — Olhe o que você fez!
— Tudo bem, — Han se apressou a acalmá-la enquanto se aproximava e
se ajoelhava ao lado da holocâmera.
A garota, por sua vez, já tinha parado e dado meia-volta, claramente
confusa pelo resultado bizarro do que ela sabia ter sido apenas um toque de
uma manga na outra, e igualmente confusa pela bronca que estava levando
por isso.
— Não se preocupe, — acrescentou Han -, essas coisas duram bastante.
— Ele estendeu a mão e pegou a holocâmera.
E ao fechar os dedos em volta do aparelho, Han apertou discretamente o
botão escondido.
Ele havia pedido para Chewbacca fazer um aspirador silencioso, e como
sempre o Wookiee seguira à risca sua instrução.. Mesmo estando ajoelhado
diretamente acima do aparelho, Han mal conseguia ouvir o barulho da areia
raspando ao ser sugada pelo duto, e o aspirador em si era completamente
inaudível. O restante da multidão, a 3 metros ou mais de distância, não
poderia ter ouvido nada.
— Viu só? — disse ele ao pegar o aparelho e se voltar para os pais
ansiosos. Ao fazer isso, passou o pé sobre a areia como quem não quer
nada, para apagar todos os traços da pequena cratera que o aspirador tinha
feito no anel perfeito. — Sem problema. Está inteiro.
E com um sorriso amigável para a menina ainda confusa, Han se enfiou
na multidão e foi embora casualmente.
Ele visitou mais dois vulcões, apenas para apagar os rastros, e depois foi
se encontrar com Kell.
Ele encontrou o rapaz esperando em uma área de estar entre duas
barracas, perto da extremidade norte da mansão e da garagem enorme de
Villachor para landspeeders e airspeeders.
— Algum problema? — perguntou Kell quando Han surgiu e se sentou
diante dele à mesa.
— Nenhum, — respondeu Han, batendo no bolso do colete onde
guardara a holocâmera. — Você está pronto?
Na opinião de Han, Kell ainda não parecia pronto para arrombar o
cofrinho de uma criança, quanto mais a caixa-forte particular de um chefão
do crime. Mas o aceno de cabeça foi suficientemente firme.
— Vamos nessa.
— Certo, — disse Han, se lembrando mais uma vez de que Mazzic
recomendara o garoto.
Ele olhou em volta e viu um par de droides ocupados em recolher pratos
e copos usados de cima de uma mesa próxima.
— Conte até cinco, — instruiu Han. — E fique de olho no momento de
agir.
Os droides ainda estavam limpando a mesa quando ele chegou lá.
— Ei, — disse Han ao abordar um dos droides. — Você sabe me dizer
quando param de servir o almoço e trocam para o menu de jantar?
— Não há hora marcada para a troca de comida — respondeu o droide ao
virar o rosto encapuzado para Han enquanto continuava a recolher a louça.
O capuz que cobria a face tremulou na brisa, o que deu uma atmosfera
perturbadora de baile de máscaras à conversa. — Os vários pratos são
trocados em horários diferentes no decorrer do dia. Se o senhor quiser, os
serventes nas barracas podem lhe fornecer um cronograma para cada troca.
— Bem, o que eu mais queria saber é se vocês terão kiemple à caçarola
— falou Han, que viu, pelo rabo do olho, Kell se aproximando da mesa pela
direita. — Sabe o que é? Deixa para lá, — respondeu ele antes que o droide
pudesse responder. — Eu tenho um holovídeo aqui em algum lugar do
Festival do ano passado, — Han continuou falando enquanto puxava a
holocâmera e resistia a uma súbita onda de incerteza.
Eu dou conta disso, Han disse para si mesmo com firmeza. O tempo seria
apertado, mas ele e Chewbacca corriam contra o tempo todas as vezes que
voavam na Falcon. Aquilo seria como um dia normal de contrabandismo.
— Aqui está, — continuou Han, enfiando a holocâmera na frente da
máscara do droide.
Ao lado dele, Kell chegou à mesa. E quando o garoto passou pelo prato
que o droide pretendia pegar, Han apertou o obturador da holocâmera e
derramou a areia que ele havia coletado bem na luva do droide. Quando a
mão se fechou no prato e no pulso de Kell, houve um leve som de
esmigalhamento...
— Ei! — reclamou Kell. — Solte.
Ele pegou a mão do droide, como se tentasse soltá-la, mas em vez disso
apertou mais os dedos mecânicos em volta do pulso. Kell puxou o braço, e
o droide veio com ele.
— Solte.
— Oh, céus, — falou o droide com uma voz sofrida. — Sinto
muitíssimo, mas aparentemente eu estou preso.
— Que beleza — rosnou Kell. — Ei... você.
— O quê? Eu? — perguntou Han.
— Sim, você, — disse Kell. — Pode chamar alguém para tirar esse troço
de mim?
— Há algum problema aqui? — falou uma nova voz.
Han se virou. Um dos seguranças de Villachor vinha a passos largos na
direção deles, com os olhos observando a cena.
— Sim, há um problema, — disparou Kell. — Eu estava tentando chegar
ao meu copo ali e esse troço me agarrou e não quer soltar.
— Sinto muitíssimo, — repetiu o droide. — Minhas engrenagens
aparentemente estão emperradas.
— Sim, — disse o segurança, enquanto afastava gentilmente a manga da
luva do braço do droide e examinava. — Provavelmente entrou areia ali
dentro; com certeza tem muita voando por aí.
— Que beleza, — murmurou Kell. — Então, o que a gente faz?
— A gente tira fora — falou o guarda calmamente e gesticulou para a
mansão. — Venha, tem uma oficina de droides bem ao lado da garagem.
Os dois foram embora, com Kell resmungando, o droide se desculpando,
e o guarda provavelmente desejando que seu turno tivesse acabado meia
hora mais cedo. Han viu o trio ir embora, com uma onda de satisfação pelo
corpo.
Como ele sempre dizia, tudo era questão de tempo.

Lando foi levado para Villachor até um aposento pequeno e sem janela,
que continha possivelmente a mesa de trabalho mais intimidante que Lando
já tinha visto na vida. Mais dois guardas esperavam do lado de dentro, bem
perto da porta, o que elevava para seis o número de homens armados.
— Sente-se, — disse Villachor, indicando uma enorme cadeira
acolchoada em frente à mesa enquanto ele dava a volta por trás dela. —
Talvez você queira algo para beber?
Lando sabia que aquela provavelmente era uma oferta sincera. Mas
também era um teste. Villachor estava sondando Lando, tentando perceber a
fala, as reações, os modos e padrões. Era a mesma dança refinada que
também acompanhava toda partida de sabacc, e Lando estava acostumado
àquilo.
— Não, obrigado — disse ele se acomodando na cadeira.
Ela era ainda mais confortável do que aparentava; os braços macios e as
almofadas cederam ao peso de Lando e o envolveram. Ele estaria sem sorte
se estivesse planejando uma saída rápida e inesperada. Provavelmente era
esse o motivo por trás do design da cadeira, na verdade.
— Eu sei que seu tempo é valioso.
— É mesmo, — concordou Villachor, que se sentou na própria cadeira.
— Porém, mais valioso ainda do que o tempo é a informação —
continuou Lando. — E tenho certeza de que o senhor não quer que o que
estou prestes a lhe dizer seja ouvido por ninguém além do seu pessoal mais
próximo e mais confiável.
Villachor deu um sorrisinho.
— Se eu não confiasse nestes homens, eles teriam ido embora há muito
tempo.
— É claro — falou Lando. — Mas existe confiança e confiança.
Por um instante, Villachor o encarou pensativo. A porta se abriu do outro
lado da sala, e o homem que a pesquisa de Rachele identificara como o
chefe de segurança, Sheqoa, entrou. Villachor olhou de relance para o
sujeito e retornou o olhar para Lando.
— Muito hem — disse ele. — Tawb, Manning, esperem lá fora. Os
demais, voltem para seus afazeres. Sheqoa, você fica comigo.
Tão silenciosamente quanto Sheqoa entrara, o restante dos guardas saiu.
Villachor esperou que a porta estivesse fechada novamente, depois
gesticulou para Sheqoa ficar atrás de Lando.
— Muito bem, você tem a privacidade que queria, — falou ele. — Fique
sabendo que, se isto for alguma espécie de piada ruim, meu rosto será a
última coisa que seus olhos verão na vida.
— Sem piadas, — garantiu Lando, que estava acostumado a ser
ameaçado, mas havia algo na voz de Villachor que lhe provocou um arrepio
na espinha. — Vou começar contando algumas coisas que o senhor já sabe.
O senhor é um integrante do alto escalão do Sol Negro, está recebendo um
integrante ainda mais elevado, um vigo chamado Qazadi, e o mestre Qazadi
possui um conjunto de arquivos de chantagem que o senhor está usando
para ganhar ou sedimentar vantagens contra vários cidadãos de Wukkar e
provavelmente alguns visitantes de fora do planeta que vieram para o
Festival.
Ele fez uma pausa para tomar ar.
— Você é um contador de histórias divertido, no mínimo — comentou
Villachor, sem revelar nada na expressão. — Por favor, continue.
— Os arquivos de chantagem estão, obviamente, super encriptados, —
disse Lando. — O aparelho usado para decifrá-los é chamado de cryodex,
de design alderaaneano, e apenas poucos deles ainda existem.
— Ou possivelmente nenhum, — sugeriu Villachor.
— Não, existem pelo menos dois, — garantiu Lando. — O mestre
Qazadi tem um. — Ele inclinou a cabeça. — Eu tenho outro.
O olhar de Villachor foi para Sheqoa, depois se voltou para Lando.
— Eu calculo pelo seu tom excessivamente dramático que você espera
que isso tenha algum significado para mim.
— Sim, — concordou Lando. — E uma vez que ambos concordamos que
o tempo é precioso, deixe-me colocar as cartas na mesa. Eu represento um
grupo de pessoas que assumiu a tarefa de vasculhar o Império em busca de
gente que pense da mesma forma, cujos talentos e ambições estejam sendo
subutilizados ou, em alguns casos, completamente desperdiçados. Quando
pessoas assim são encontradas, esse grupo oferece melhores condições para
elas. Às vezes, isso envolve um posto em uma organização diferente, uma
que as valorize mais. Em outras ocasiões, significa dar ajuda para que elas
caminhem sozinhas. Às vezes, indicamos uma solução intermediária, um
trabalho temporário ou talvez uma autonomia tutelada.
— E se a pessoa está plenamente contente onde está? — perguntou
Villachor.
Lando deu levemente de ombros.
— Pela minha experiência, ninguém que esteja trabalhando abaixo de
suas capacidades está plenamente contente.
— A não ser que a pessoa saiba que a atual situação é a melhor que
provavelmente terá.
— Sempre há algo melhor, — falou Lando. — É simplesmente uma
questão de reconhecer a oportunidade quando ela chega.
— Você faz parecer tão fácil, — disse Villachor secamente. — E tão
desprovido de um provável perigo. Fale sobre este seu suposto cryodex.
— Como eu disse, o cryodex é a chave para ler os arquivos de chantagem
que estão guardados em sua caixa-forte neste momento
— explicou Lando mantendo a voz firme. O plano inteiro de Han
dependia de que essa história fosse convincente. — Esses arquivos teriam
um valor imensurável para as pessoas que eu represento.
O sorriso de Villachor foi sombrio e irritadiço.
— E tudo que eu tenho que fazer é entregar os arquivos, e oportunidades
maravilhosas cairão do céu?
— Oportunidades maravilhosas, exatamente, — confirmou Lando.
— O senhor seria capaz de literalmente cobrar o próprio preço, à sua
escolha. — Ele fez que não com a cabeça. — Mas nós dois sabemos que
não cairiam apenas oportunidades. O príncipe Xizor em pessoa
provavelmente lideraria a expedição atrás de sua cabeça.
– E da sua, — salientou Villachor. — Porque eles certamente arrancariam
todos os nomes, rostos e memórias de mim antes que eu tivesse permissão
para morrer.
— Ah, eu não tenho dúvida — concordou Lando em tom sombrio. — Por
isso o senhor seria um tolo se roubasse os arquivos, e por isso eu seria um
tolo se sugerisse tal coisa.
Villachor franziu levemente a testa.
— Neste caso, por que você está aqui exatamente?
— Para oferecer uma alternativa mais segura — disse Lando. — Não
para roubar os arquivos, mas para copiá-los.
Novamente, o olhar de Villachor se voltou para Sheqoa.
— Copiá-los, — repetiu ele categoricamente.
— Exatamente, — falou Lando. — O senhor tem os arquivos; eu tenho o
cryodex. Nós nos encontramos na caixa-forte, deciframos os arquivos e
copiamos em cartões de dados padrão, talvez protegidos por nossas próprias
encriptações, escolhidas por nós.
– Nossas encriptações?
Lando ergueu a mão.
— Um ato falho. Suas encriptações, obviamente.
— Ótimo — disse Villachor em uma voz que novamente provocou um
arrepio nas costas de Lando. — Porque qualquer tentativa da sua parte de
fazer uma cópia exigiria que eu lhe matasse ali mesmo. Vamos dizer que eu
tenha cópias dos arquivos. O que acontece a seguir?
— Eu apresentaria o senhor aos cavalheiros dos quais lhe falei, — Lando
conseguiu responder, com a garganta subitamente seca. — Vocês chegarão a
um acordo mutuamente satisfatório, e a ascensão à plenitude de seu
potencial terá começado.
— Sim, — falou Villachor pensativamente. — Deixe-me lhe dizer o que
eu acho. Acho que você nunca viu um cryodex na vida, muito menos possui
um. Acho que você não tem organização alguma por trás, certamente
nenhuma com algum poder. Acho que está aqui simplesmente como um
teste para ver se minha lealdade ao Sol Negro pode ser subvertida por uma
história tão ridícula e obtusa. E acho que, só por cautela, eu terei que matá-
lo.
Villachor se recostou novamente na cadeira.
— Vamos tentar de novo. Quem é você, e para quem você trabalha?
— Não há necessidade de ameaças — reclamou Lando brandamente,
sentindo um pouco da tensão ir embora.
A ameaça era real; porém, estranhamente, aquilo era um bom sinal, na
verdade. Se Villachor não estivesse interessado, ou pelo menos intrigado
pela oferta, ele simplesmente teria mandado Sheqoa expulsá-lo.
— Meu nome não é importante, mas o senhor pode me chamar de
Kwerve. E quanto aos meus empregadores... — Lando deu de ombros. —
Por enquanto eles devem permanecer anónimos.
— Que pena — falou Villachor. Talvez ele tivesse contraído a
sobrancelha ao ouvir o nome, mas a reação foi suficientemente pequena a
ponto de Lando ter apenas imaginado. — Teria sido útil saber para onde
enviar seu corpo.
— E claro que o senhor não precisa se comprometer agora, — continuou
Lando. — Eu não esperaria por isso. Daqui a dois dias é a Honraria ao Ar
em Movimento. Na ocasião, trarei meu cryodex para mostrá-lo. O senhor
pode selecionar um dos cartões de dados de chantagem, e eu decifrarei um
dos arquivos para o senhor. Depois disso, conversaremos mais.
— Considerando que nós dois ainda sejamos capazes de conversar?
— Por que não seríamos? — contra-argumentou Lando com bom senso.
— O senhor não fez nenhuma declaração e não tomou nenhuma atitude que
seja de alguma forma desleal aos chefes do Sol Negro. Tudo que o senhor
concordou em fazer foi ver se um estranho que alega possuir um artefato
valioso realmente o possui. Se eu possuir, é possível que sua intenção seja
comprar o artefato e enviá-lo para o Centro Imperial como um presente para
a coleção de raridades do príncipe Xizor.
— Talvez, — disse Villachor enquanto sondava o rosto de Lando com o
olhar.
Lando ficou sentado calado, esperando Villachor analisar a proposta.
Quando veio a decisão, ela veio subitamente.
— Depois de amanhã, na quinta hora após o meio-dia, — disse ele
abruptamente. — A tempestade presa será apresentada nesse horário e
atrairá a atenção dos visitantes para a seção noroeste das dependências.
Você virá à porta por onde está prestes a sair e esperará até que seja aberta.
Você trará, obviamente, o cryodex.
— Obviamente — concordou Lando, que começou a se levantar,
mexendo os quadris para soltar-se dos braços extremamente estofados da
cadeira.
E abruptamente caiu sentado de novo quando a mão de Sheqoa empurrou
Lando para baixo com força.
— Se você planeja uma traição, — continuou Villachor, em um tom de
voz baixo e mortal -, eu sugiro veementemente que, em vez disso, você saia
de Wukkar no transporte mais próximo.
— Compreendido. Eu verei o senhor depois de amanhã, às cinco horas
após o meio-dia. — Lando virou o pescoço a fim de olhar para Sheqoa. —
Posso?
Por um momento, o grandalhão apenas o encarou com uma cara
inexpressiva. A seguir, ele soltou o braço de Lando. Com mais esforço e
remelexo, Lando finalmente se soltou da cadeira.
— Os homens do lado de fora vão acompanhá-lo à saída, — falou
Villachor, que permaneceu sentado. — Até lá, mestre Kwerve.
— Até lá, — confirmou Lando. — Uma observação final, se for possível.
Nada neste universo dura para sempre. Nem o poder, posto ou aliados. —
Ele inclinou a cabeça. — Nem mesmo o Sol Negro. — Lando transformou
a inclinação de cabeça em um aceno educado. — Bom dia, mestre
Villachor.
Sheqoa o acompanhou até a porta e murmurou algumas palavras para os
guarda-costas que esperavam do lado de fora. Um deles gesticulou
silenciosamente para Lando, e sem dar uma palavra, eles o acompanharam
por um corredor largo, passaram por um par de portas entalhadas à mão e
chegaram a uma porta modesta em uma parede grossa, mas também
modesta. Lando foi conduzido através dela e se viu na extremidade sul da
ala sul da mansão.
A mesmíssima porta, na verdade, por onde Aziel sempre entrava.
O que significava que, presumindo que a planta de Rachele estivesse
correta, Lando acabara de passar pelo salão de baile menor e pela caixa-
forte de Villachor.
Talvez em dois dias ele conseguisse ver o interior daquela caixa- forte,
onde Rachele e sua incrível teia de contatos e fontes ainda nem tinham
conseguido entrar.
Talvez em dois dias ele estivesse morto.

— Sim, é areia, — disse o técnico com nojo, enquanto conduzia Kell e o


droide, ainda preso ao punho dele, por um labirinto de bancadas e armários
de ferramentas que batiam na cintura, na direção de um banco vazio perto
dos fundos. — É o terceiro hoje, e a Honraria mal começou. — Ele virou
Kell de costas e o sentou. — Você, curve-se, — falou o técnico para o
droide.
Obedientemente, o droide dobrou o corpo na cintura e colocou o punho e
o braço de Kell em um ângulo mais confortável.
— Pelo menos é só um dia, — comentou Kell. — O resto das Honrarias
deve ser mais fácil para eles.
— Não creia nisso, — resmungou o técnico, que repuxou o topo da luva
do droide e espiou a junta emperrada. — O ar em movimento levanta terra,
poeira e qualquer areia que os droides EG não tenham recolhido, a água em
movimento chega a lugares aonde a areia não chega, e nem me faça falar
sobre o fogo e os fogos de artifício. — Ele estalou a língua. — É, estou
vendo. Espere... vou soltá-lo num instantinho.
O técnico foi até um armário de ferramentas aberto e espiou lá dentro,
murmurando baixinho. Enquanto ele fazia isso, Kell olhou a oficina como
quem não quer nada.
Era um lugar impressionante, mais bem equipado até do que a maioria
das instalações de reparos de droides onde Kell estivera no decorrer dos
anos. Em uma das paredes laterais só havia equipamento de manutenção de
ponta da Cybot Galáctica, com máquinas intercaladas com armários de
peças sobressalentes e suportes de ferramentas. Plugadas às máquinas ou
espalhadas sobre bancadas próximas, havia partes parcialmente
desmanteladas de personal chefs 434-FPC, droides de trabalho EG e
droides protocolares das séries PD e 3PO. O equipamento na outra parede
lateral parecia ser dedicado a produtos da Industrial Automaton, SoroSuub,
Changli e GlimNova, com alguns droides serviçais SE4 e trabalhadores
ASP-15 em cima das mesas. Enfiado num canto, parecendo um pouco
esquecido, estava um droide garçonete WA-7 que certamente era uma sobra
da época da República, provavelmente esperando por peças sobressalentes
que Kell julgava estarem esgotadas havia muito tempo.
Mais agourenta, uma seção inteira da parede dos fundos era dedicada a
equipamentos dos droides policiais 501-Z. Um Z parcialmente desmontado
estava espalhado sobre uma das mesas, e Kell prestou atenção à estranha
placa do braço, coxa e cintura.
— Lá vamos nós, — disse o técnico ao tirar uma sonda comprida e fina
de um armário.
Ao voltar para Kell, ele enfiou a sonda dentro da luva do droide. Após
alguns segundos mexendo aqui e ali, de repente a força no pulso de Kell
diminuiu. O técnico afastou os dedos mecânicos alguns centímetros, e Kell
soltou a mão.
— Maravilha, — falou Kell enquanto massageava o pulso. — Muito
obrigado. Eu temia passar toda a Honraria preso aqui.
— Não, quem vai passar sou eu, — disse o técnico em tom amargo. —
Da próxima vez que o senhor vir um droide tentando pegar alguma coisa,
faça-me um favor e fique longe dele, ok?
— Pode deixar, — prometeu Kell. — Aquela é a saída, certo?
— Certo, — respondeu o técnico. — O guarda do lado de fora irá levá-lo
de volta ao pátio.

A grande erupção do gêiser foi o clímax do dia inteiro, tão espetacular


quanto os projetistas e técnicos prometeram que seria. Várias torrentes de
areia e pequenos seixos irromperam do maior dos vulcões de lava fria e se
misturaram às luzes e brasas e aos fogos de artifício que brilhavam entre
eles, tudo isso acompanhado por música especialmente encomendada para o
evento. A multidão estava tão animada quanto o próprio gêiser, e as pessoas
vibravam, batiam palmas e urravam a cada nova nuance ou reviravolta. Era
o apogeu da Honraria à Pedra em Movimento, visto por milhares de pessoas
e que certamente seria comentado por outras milhares nos próximos dias e
meses.
Sozinho na sacada de apresentação, Villachor mal notava o espetáculo.
Kwerve. Era assim que o misterioso visitante se chamara. Um nome
inócuo, certamente. Um nome que a enorme maioria das pessoas não
acharia nem um pouco incomum ou interessante.
Mas Villachor não era a maioria das pessoas. Ele era um chefe de setor
do Sol Negro, e as pessoas em sua profissão sinistra ficavam de olho umas
nas outras. Bidlo Kwerve fora um dos principais agentes de Jabba, o Hutt,
até que Jabba decidiu torná-lo a primeira vítima oficial de seu novo rancor
de estimação. Uma criatura que, se as histórias fossem verdade, o próprio
Kwerve encontrara e ajudara a dar ao gângster corpulento.
Então por que o visitante de Villachor escolhera aquele nome? Será que
estava dizendo que trabalhava para os Hutts? Que não estava trabalhando
para os Hutts? Que o objetivo principal daquela operação era derrubar os
Hutts?
Se fosse o caso, parte do objetivo seria colocar Villachor no vácuo da
organização que seria deixado pela morte de Jabba?
O detalhe maluco era que isso realmente seria possível. Os arquivos de
chantagem de Xizor estavam longe de ser a única arma do Sol Negro, mas
certamente eram uma das mais potentes. Ser capaz de atingir aquela
população do exército silencioso de Xizor daria uma imensa vantagem para
um rival, quer esse rival escolhesse afastar uma das pobres vítimas ou
simplesmente expô-la, e desse modo eliminar sua utilidade para o Sol
Negro.
Kwerve também estava certo a respeito de outra coisa. No momento, o
Sol Negro estava no ápice de seu poder, mas aquela posição não duraria
para sempre. Senhores do crime e organizações subiam e desciam como as
marés, destruídos por rivais gananciosos ou corrompidos e implodidos pela
própria ganância. Essa mesma combinação de caos e morte havia derrubado
Sise Fromm, Alexi Garyn, Jorj Car’das e inúmeros outros. Algum dia Jabba
também cairia.
Assim como o próprio príncipe Xizor. Provavelmente até mesmo antes de
Jabba, considerou Villachor, dada a intensa rivalidade de Xizor com Lorde
Vader. Muitos senhores do crime menosprezavam Vader ou o descartavam
como um mero lacaio de Palpatine. Villachor sabia que não devia fazer isso.
E quando Xizor caísse, como ficaria Villachor?
Vivo, bem e em algum lugar seguro, ele se prometeu com firmeza.
Villachor se certificaria disso. Ele sobreviveria ao Sol Negro, e se possível
até prosperaria durante o processo.
Será que a oferta de Kwerve era a porta para aquela liberdade? Ou era
simplesmente outro teste sádico, e a suposta porta não levaria a lugar
algum, a não ser à morte súbita?
Villachor ainda não sabia, mas descobriria.
De uma forma ou de outra, ele terminaria o Festival em uma posição
melhor do aquela que em que estava no início. Villachor teria poder e
liberdade ou teria um cryodex sobressalente para oferecer a seu senhor no
Centro Imperial. Um cryodex e muito provavelmente uma cabeça recém-
cortada.
Deixe Qazadi ousar testá-lo então.

Ao longe, o grande encerramento da Honraria à Pedra em Movimento de


Villachor era pouco mais do que uma nuvem
ligeiramente difusa de luzes piscantes.
— Provavelmente é mais impressionante do chão, — comentou
Eanjer.
— Provavelmente, — concordou Han. — Você já foi a um desses
eventos?
— Do Villachor? — Eanjer balançou a cabeça. — Não. Só estou
supondo. Eu tenho uma pergunta.
— Vá em frente.
Eanjer fez uma pausa, como se escolhesse as palavras com cuidado.
— Eu sei que você e os demais sabem mais dessas coisas do que eu. Mas
me parece que há sérios problemas com esse plano que vocês aparentam
estar ignorando.
— Tais como?
— Como o fato de que esse sujeito Sheqoa parece ter sacado qual é a da
Bink, — disse ele. — Ela praticamente admitiu que ele percebeu seu golpe.
— Sheqoa é um chefe de segurança, — salientou Han. — Ele não seria
muito bom em sua função se caísse em algo tão óbvio.
— Sim, mas...
— Não se preocupe, a situação está controlada, — falou Han. — Caindo
no golpe ou não, Sheqoa ainda assim vai cooperar. É tudo de que
precisamos.
— Mas por quê?, — reclamou Eanjer. — Por que ele faria isso?
— Porque até agora Bink não fez nada ilegal ou sequer ameaçador, —
explicou Han pacientemente. — Sheqoa vai dar corda suficiente para que
ela se enforque, na esperança de descobrir com quem Bink está trabalhando
enquanto isso.
Eanjer balançou a cabeça.
— Parece arriscado.
— Certo, Mas é assim que homens como ele pensam, — disse nan. —
Próximo?
— Próximo o quê?
— Próximo problema. Você disse que havia vários.
— Ah. Certo. — Eanjer fez novamente uma pausa, aparentemente
reorganizando os pensamentos. — Há também os droides. Não vejo por que
Kell está tão feliz por saber como desligar todos os modelos simples
quando ele admite que não podemos tocar nos droides policiais. Quer dizer,
nós não vamos brigar contra uma falange de 3POs ou algo assim.
— Eu espero que não, — falou Han secamente, se lembrando da primeira
viagem com Luke e seus dois droides. — 3POs conseguem ser bem
irritantes.
— Estou falando sério, — rosnou Eanjer. — Aqueles Zs devem ser a
primeira linha de defesa de Villachor na caixa-forte. Como vamos pegar os
arquivos e as fichas de crédito com eles no caminho?
— Calma, — tranquilizou Han. — Ainda estamos nas primeiras jogadas,
lembra? Em dois dias devemos ter uma ideia melhor do que vamos
enfrentar. Aí, se você quiser entrar em pânico, vá em frente.
Eanjer virou-se para encará-lo, com uma expressão sinistra no olho.
— Você está incrivelmente confiante, sabe? — disparou ele. —
Especialmente para um contrabandista insignificante que nunca deu um
golpe como esse na vida.
— Quem disse que eu nunca fiz isso antes? — contra-argumentou Han,
que não tinha feito, obviamente, mas aquilo não vinha ao caso. — Além
disso, a questão não sou eu, e sim conseguir as pessoas certas para o
serviço. — Ele deu um sorriso torto para Eanjer. — E liderá-las bem.
— Brinque o quanto quiser, — rosnou Eanjer. — Você não vai arrombar
a caixa-forte de Villachor com charme. O seu ou o de Bink.
— Também não é uma questão de charme, — disse Han, olhando para o
rosto meio enfaixado enquanto as dúvidas de Lando sobre o sujeito lhe
vinham à mente. Eanjer procurava informações e garantias. Quantas Han
deveria dar para ele?
Nenhuma, decidiu Han.
— É questão de informação, — continuou ele. — Dozer e Kell
conseguiram algumas na tarde de hoje. Lando e Zerba conseguirão mais em
alguns dias. Vamos apenas relaxar, sem entrar em pânico, até enxergarmos
todo o quadro. Certo?
Por um longo momento, Eanjer continuou a encará-lo. Depois,
lentamente, ele se voltou para a janela.
— Não estou convencido, — murmurou ele. — Mas o espetáculo é seu.
Veremos se você consegue realizá-lo.
— Eu agradeço pelo voto de confiança, — falou Han, tentando evitar ao
máximo o sarcasmo na voz.
Eanjer indicou Marblewood com a cabeça.
— Parece que eles terminaram.
Han se virou para olhar. Realmente, o espetáculo de luzes ao longe
terminara, e os visitantes começavam a sair aos borbotões pelos portões.
— É, — concordou ele. — Então amanhã é a desmontagem e o
recomeço, e depois temos a Honraria ao Ar em Movimento?
— E o momento da verdade, — disse Eanjer com a cara fechada. — Eu
só torço para que Winter e os demais estejam prontos a tempo.
— Eles estarão, — prometeu Han. — Como eu disse, as pessoas certas
para o serviço.
CAPÍTULO

11

A Honraria à Pedra em Movimento fora impressionante. A Honraria ao


Ar em Movimento, na opinião ligeiramente surpresa de Lando, foi ainda
mais.
Pela lógica e bom senso, não deveria ter sido. A primeira Honraria do
Festival incluíra um monte de materiais diferentes para Villachor trabalhar:
poeira, areia, rochas, lava fria e várias esculturas animadas que Lando
acabara concluindo que eram droides com camadas de pedras. Era difícil
visualizar como simplesmente mover o ar de um lado para o outro pudesse
competir com uma mão como aquela.
Mas os engenheiros de Villachor conseguiram. Parte do truque foi tornar
o ar visível, com minúsculas partículas reluzentes que eram leves o bastante
para ficarem suspensas nas brisas forçadas dos gêiseres de ar, chafarizes de
redemoinhos e cascatas. Várias instalações básicas dos gêiseres e vulcões
estavam sendo reutilizadas para essas atrações, recursos que Lando
considerou que também seriam utilizados para as outras duas Honrarias.
Mas a abordagem principal que os engenheiros usaram foi também
envolver os outros sentidos. Aromas deliciosos eram trazidos pela brisa
através das dependências ou saíam dos gêiseres e chafarizes de
redemoinhos, com misturas que mudavam constantemente, sempre
complementares. Sons também foram acrescentados: pios agudos de
pássaros acompanhavam os jatos de ar das cascatas, compilações
complexas de música saíam dos vários gêiseres, e o volume e o balanço dos
instrumentos mudava dependendo de onde a pessoa estava. O tato não foi
esquecido, e enquanto Lando andava com Zerba na direção da casa, lufadas
de ar inesperadas de vez em quando roçavam os pelos da nuca ou faziam
carinho nas bochechas e mãos.
Os trajes de droides não pareciam nem de longe tão impressionantes
quanto os de pedras em movimento que eles haviam usado dois dias atrás.
Mas isso foi compensado com pequenos jatos de ar e aromas próprios.
O espetáculo inteiro era tão obviamente projetado para humanos que
Lando se viu imaginando como os diferentes alienígenas na multidão
crescente estavam absorvendo. Mas, até onde ele sabia, os alienígenas
estavam curtindo tanto quanto ele. O punhado de Wookiees mais altos do
que todo mundo, em especial, parecia se divertir com os jatos de ar que
passavam entre os pelos.
Só mais tarde ocorreu a Lando que provavelmente havia padrões de cores
e aromas na mistura feitos especialmente para alienígenas, adornos a que
seus sentidos humanos estavam completamente alheios. As informações de
Rachele sobre Villachor alertavam que ele valorizava a pontualidade nos
parceiros e a exigia dos subordinados, e Lando havia calculado a chegada
com cuidado para ocorrer precisamente na marca das cinco horas que
Villachor especificara. Os dois estavam quase lá, e o público na outra ponta
da mansão havia explodido subitamente em comemoração, quando a porta
se abriu e revelou um Sheqoa silenciosamente irritado
Ele não permaneceu em silêncio por muito tempo.
— Quem é esse? — exigiu saber o grandalhão, com o olhar em Zerba
enquanto saía da porta para barrar a entrada de Lando.
— Meu assistente, — explicou Lando gesticulando atrás de si. — Ele
leva o objeto para mim.
O olhar de Sheqoa foi para o estojo de aparência pesada, pendurado na
mão de Zerba.
— Eu levarei, — disse Sheqoa dando um passo à frente.
Lando deu um passo rápido para o lado, barrando a passagem de Sheqoa
por sua vez.
— Ele leva o objeto, — disse Lando com firmeza. — Eu explicarei assim
que entrarmos.
Por um longo momento, os dois ficaram se encarando. Então,
relutantemente, Sheqoa deu um passo para o lado.
— Tudo bem, — disse ele, gesticulando para que fossem em frente. —
Por enquanto.
Lando olhou novamente para Zerba e acenou com a cabeça para que ele
fosse adiante, e os dois passaram pela entrada. Sheqoa fechou a porta assim
que eles entraram, isolando a comemoração distante, e depois passou pelos
dois para conduzi-los pelo corredor onde os outros guardas haviam
escoltado Lando dois dias atrás. Desta vez, porém, eles mal tinham
percorrido 20 metros quando Sheqoa virou para a direita, abriu outra porta e
gesticulou para que entrassem.
Era uma sala grande, do tipo que Lando já tinha visto milhares de vezes
antes: larga e espaçosa, com paredes curvas e decoradas com primor, lustres
pendurados no teto alto e piso de madeira formando mosaicos. Era uma
antessala, o tipo de lugar que os ricos e poderosos construíam do lado de
fora dos salões de baile. Era o local ideal para os convidados darem um
tempo da música e da dança para conversar com amigos, renovar
relacionamentos ou talvez ir a uma das salas laterais para conversas
particulares e acordos sussurrados. Praticamente todos os grandes torneios
de sabacc de que Lando participara haviam acontecido no salão de baile de
alguém, e 90% deles incluíam uma antessala como aquela.
A maioria das antessalas, porém, não incluía uma falange de dez droides
policiais 501-Z blindados, dispostos lado a lado em duas fileiras,
diretamente na frente da única porta no interior da antessala. Na verdade,
agora que Lando pensava a respeito, nenhuma delas incluía.
— Quem é você? — disse a voz ríspida de Villachor, vindo pela lateral.
Lando virou o rosto e viu o senhor do crime vindo a passos largos na
direção deles, saindo de outra porta na extremidade norte da antessala,
acompanhado pelos dois guias de Lando da visita anterior.
— Mestre Villachor, — disse ele ao abaixar a cabeça. — Sua
pontualidade é...
— Quem é esse? — interrompeu Villachor, olhando feio para Zerba. —
Você recebeu ordens para vir sozinho.
— Perdão, mestre Villachor, mas não recebi, — disse Lando
respeitosamente, porém com firmeza. — E meu parceiro é uma parte
importante da demonstração. — me ergueu um dedo em
advertência. — E eu não me aproximaria dele se fosse o senhor.
— Esta é a minha casa, — respondeu Villachor. — Eu dito as regras e
dou as ordens, não você.
— É claro, — falou Lando, que notou que, apesar da ameaça vã,
Villachor e sua escolta decidiram parar a cautelosos 5 metros de distância.
— A questão simplesmente é que eu quero garantir que meu estojo não saia
daqui sem mim. Pelo menos, não inteiro.
Em retrospecto, Lando achou que provavelmente deveria ter introduzido
o assunto de uma maneira mais diplomática. As palavras mal tinham saído
da sua boca, e Sheqoa e os dois seguranças de Villachor já tinham sacado as
armas de raios e as apontavam para os visitantes.
— Calma, — disse Lando às pressas. — É apenas uma pequena carga,
apenas o suficiente para detonar o estojo e seu conteúdo. Nada mais. — Ele
franziu os lábios e acrescentou:, — Pelo menos, a teoria é essa. É por isso
que mandei alguém carregá-lo.
Por um instante, ele encarou o olhar de Villachor, tentando ignorar as
armas apontadas para ele. Então Villachor se mexeu.
— E é também por isso que você não está tão próximo a ele, imagino?
— Exatamente, — respondeu Lando. — São as vantagens de subir na
vida.
— De fato, — murmurou Villachor. Ele ergueu um dedo e, para alívio de
Lando, as armas de raios foram relutantemente abaixadas. — Abra o estojo.
Eu quero ver o cryodex.
Lando se voltou para Zerba e acenou com a cabeça. Zerba respondeu ao
gesto e pousou o estojo delicadamente no piso de mosaico. Ele fez algo
aparentemente complicado com os fechos, depois abriu a tampa e virou o
estojo na direção de Lando e Villachor.
Ali, em toda sua singela glória, estava o cryodex falso.
Lando prendeu a respiração e fez um esforço para ficar calmo. Ele nunca
tinha visto um cryodex antes, — nem mesmo Rachele fora capaz de
encontrar qualquer holovídeo sobre os aparelhos. Lando apenas tinha a
garantia de Winter de que a versão deles era até parecida, jamais uma cópia
perfeita.
Para seu alívio, aparentemente o cryodex era parecido.
— Muito bem, — falou Villachor após dar alguns passos cautelosos à
frente e dobrar o pescoço para ver melhor. — Obviamente, qualquer um
pode falsificar a caixa. O que importa é o que está dentro.
— Que estamos prontos para demonstrar, — disse Lando gesticulando
para a porta atrás dos Zs. — Vamos?
— “Vamos” não, mestre Kwerve, — corrigiu Villachor. — Eu pegarei o
cartão de dado. Vocês esperam aqui fora.
— Minhas ordens são para não perder o cryodex de vista, — disse
Lando.
— Vocês esperam aqui fora, — continuou Villachor com a paciência no
limite, — enquanto eu pego um dos cartões de dados e trago para vocês.
Ele foi para a porta e deixou os dois guarda-costas para trás.
— Seria mais simples se todos nós entrássemos juntos, — sugeriu Lando.
— Acho que é muitíssimo improvável que qualquer um de nós tentasse
roubar alguma coisa.
— Vocês podem esperar aqui vivos ou podem esperar aqui não vivos, —
falou Villachor. — A escolha é de vocês.
— Compreendido, — disse Lando, sentindo uma pontada de irritação.
Dozer e Bink insistiram que um vigarista realmente bom não teria
dificuldade em convencer Villachor a entrar na caixa-forte, especialmente
com o cryodex como isca. Bink até chegou a apostar cinquenta créditos
com Lando que ele seria capaz, com Zerba agindo como juiz sobre o quanto
Lando se esforçara.
Lando não aceitara a aposta, mas naquele momento queria ter aceitado.
Ainda assim, embora uma olhada dentro da caixa-forte tivesse sido útil,
não era necessária. Han presumira que Villachor manteria os dois do lado
de fora, e o plano levou esse fato em consideração. Pelo menos ele e Zerba
veriam o procedimento de entrada de Villachor.
A maioria dos proprietários de caixas-fortes usava alguma combinação
de teclados, reconhecimento de voz e imagem para ter acesso às posses.
Mas Villachor imaginou um empecilho a mais. Ele foi até o Z mais
próximo, ergueu a mão diretamente em frente ao rosto do droide e esperou.
O droide olhou fixamente para a mão por um momento, depois deu um leve
aceno de cabeça e saiu da frente. Seguindo a deixa, o restante dos droides
também saiu da frente e deixou a passagem livre. Villachor passou pelo
grupo e foi à porta, abaixou um teclado na parede ao lado e digitou uma
série de números. Um som de fundo praticamente inaudível parou quando o
selo magnético foi interrompido, e a porta se abriu para dentro com um
baque pesado. Villachor entrou pela abertura, tocou em algo na parede ao
passar, e a porta foi na direção oposta para se fechar pesadamente.
Lando encarou os guardas, considerando se uma ou duas perguntas
casuais poderiam fornecer uma pista sobre o que o Z havia procurado com a
varredura, mas nenhuma delas soaria como uma conversa informal.
Obviamente, Lando também não podia perguntar aos próprios Zs. Na
verdade, àquela altura até mesmo se aproximar dos droides estava fora de
cogitação. Juntamente com as armas pesadas de raios nos coldres do lado
direito da cintura, cada um deles também portava um chicote neurônico
enrolado no cinto com tiras para saque rápido.
Lando torceu a cara quando surgiram as memórias. Ele já havia topado
com chicotes neurônicos antes, — algumas vezes literalmente -, e embora
eles fossem usados principalmente como equipamento de interrogatório e
controle de escravos, também eram ótimas armas de médio alcance. Lando
sabia que aquele modelo em especial tinha um cérebro droide primitivo no
cabo, que tiraria uma rápida amostra eletrônica da pele ou do couro que o
chicote tocasse para instantaneamente ajustar a descarga elétrica para
aquele padrão de frequência e pulsação, a fim de causar o máximo de dor
no sistema nervoso do ser em questão.
Lando não sabia qual era a regulagem máxima do chicote. Nem estava
ansioso para descobrir.
Eles ficaram ali por mais ou menos cinco minutos. Lando estava
acompanhando com o olhar o arabesco complexo em volta de um espelho
na parede para ver se ele realmente tinha sido trançado a partir de um único
filamento, quando Villachor voltou com um cartão de dado preto na mão.
— Excelente, — disse Lando enquanto andava na direção dele com a
mão estendida. — Como combinamos, eu decifrarei um único arquivo,
escolhido aleatoriamente...
Lando parou quando Villachor fez um gesto e tirou o cartão de dado do
alcance.
— Tenha uma coisa em mente, — disse o outro calmamente. — Eu
conheço o som que o cryodex faz quando está simplesmente lendo e
decifrando um arquivo. Também conheço o som que ele faz quando está
copiando um cartão de dado inteiro. Se eu ouvir esse segundo som, eu
matarei vocês dois, entendeu?
— É claro, — respondeu Lando.
Winter havia insinuado que tinha visto cryodexes em operação na época
em que trabalhava no palácio real de Alderaan, mas Lando não fazia ideia
se tinha lhe ocorrido adicionar os devidos efeitos sonoros no datapad
modificado.
— Eu não tenho intenção de copiar o cartão de dado ou tentar qualquer
outro truque, — disse ele com o máximo de sinceridade possível. — Por
que eu correria um risco tão tolo assim quando há lucros muito maiores
esperando no futuro?
— Se eu concordar em trabalhar com você.
— O senhor concordará, — garantiu Lando. — Também existem lucros
maiores para o senhor.
Villachor encarou Lando por mais um instante, depois ofereceu o cartão
de dado.
— Um único arquivo, — instruiu ele. — E eu quero ver o mostrador.
Você tem que digitar um código de acesso primeiro?
— Sim, e já está em vigor, — respondeu Lando, se perguntando,
preocupado, se aquilo tinha sido um teste.
Winter não mencionara nada sobre um código de acesso. Obviamente, ela
também não dissera que não havia um código. Supostamente, aquilo era
algo que uma ferramenta diplomática teria por padrão.
Ele voltou para Zerba e olhou casualmente para o cartão de
dado enquanto andava. Preto fosco, com a marca do Sol Negro no tamanho
certo em preto lustroso no meio. Perfeito.
— Algum registro em especial que o senhor queira? — perguntou Lando
ao entregar o cartão de dado para Zerba e depois se afastar dele.
— Surpreenda-me, — falou Villachor secamente.
Lando gesticulou para Zerba.
— Surpreenda-o.
Zerba concordou com a cabeça e digitou no cryodex. Houve um som
baixo, quase como uma risadinha, e após um breve tremeluzir, o mostrador
ligou e exibiu a cabeça ossuda e a papada flácida de um Houk. Zerba tirou o
cryodex do estojo e mostrou para Lando.
— Lá vamos nós, — disse Lando ao olhar o mostrador. As armas dos
guardas ainda apontavam para o chão; Winter devia ter acertado ao colocar
os efeitos sonoros. — Um Houk chamado Morg Nar. Atualmente
empregado por um senhor do crime chamado Wonn Ionstrike, responsável
por uma operação na Cidade das Nuvens, em Bespin.
— O que tem ele? — perguntou Villachor.
— Ionstrike parece que está de olho em Jabba, — respondeu Lando,
tentando ignorar os alarmes que dispararam na mente. Houve algo de
estranho na voz de Villachor naquele instante. — Ele é paralítico, se
desloca em uma cadeira flutuante e aparentemente tem se dedicado a levar
Jabba à falência. Nar é o sujeito forte que faz o trabalho pesado.
— E?
— E parece que Nar é bancado por Jabba, na verdade, — disse Lando,
cruzando os dedos mentalmente enquanto percorria o documento que o
falso cryodex estava fingindo ler no cartão de dado ilegível. Han dera a dica
sobre Nar e fornecera algumas fofocas que ouvira no palácio de Jabba em
Tatooine, e Racbele usara suas fontes para preencher algumas das lacunas.
Mas não havia como saber se as fofocas ou a afirmação de Han eram
precisas. — Ele supostamente está ajudando Ionstrike a expulsar os Hutts,
mas, por trás dos panos, está ajudando Jabba a encerrar algumas operações
de maneira organizada, enquanto transfere o resto para outros lugares que
Ionstrike desconhece.
— E o interesse do Sol Negro nisso tudo?
— O arquivo não diz, mas eles obviamente estão interessados em jogar a
terceira mão da partida, — respondeu Lando. — Parece que o príncipe
Xizor ainda não agiu em relação a Nar, mas provavelmente está esperando
pelo momento certo.
— Interessante, — disse Villachor. — Há apenas um problema.
Lando se preparou para o pior e se virou.
— O que é?
— Não há motivo possível para que este arquivo em especial esteja neste
cartão de dado em especial, — falou Villachor calmamente. — Ele vai de
osk a usk, e nem Nar, Ionstrike, Jabba, Hutt, Bespin ou Cidade das Nuvens
começam com essa letra.
E, subitamente, as armas de raios não estavam mais apontando para o
chão.
— E agora, — continuou Villachor baixinho -, você vai me dizer o que
realmente está acontecendo.

Pelos assovios e barulhos de agitação vindos da extremidade norte das


dependências de Marblewood, Dayja conjeturou que o espetáculo da
Grande Tempestade, que deveria ser o destaque do início da noite, estava
ocorrendo a pleno vapor. Pelos berros de aprovação da multidão, parecia
que a atração estava correspondendo às promessas de Villachor e às
expectativas do público.
Para Dayja, porém, o espetáculo bem mais interessante estava ocorrendo
atrás da porta sudoeste da mansão, a 50 metros de distância.
Só que ele não fazia ideia de como estava o espetáculo. Ou até mesmo
como ele era.
Dayja fez uma expressão de desdém para si mesmo enquanto tomava um
gole de uma bebida ácida que andara bebericando na última hora. Eanjer
tinha sido extremamente evasivo sobre a identidade dos colegas
conspiradores naquele pequeno golpe que estavam armando. Ele se recusou
a informar para Dayja qualquer nome ou até mesmo as áreas de
especialização dos participantes.
Mas Dayja tinha visto todos eles na noite em que invadiu a sacada, então
pelo menos ele conhecia os rostos.
E dois integrantes do grupo haviam passado por aquela porta fazia quinze
minutos. Sob escolta do chefe da segurança de Villachor.
Ele encarou a porta, imaginando se havia alguma maneira de entrar na
base da conversa ou da sabotagem, ou se sequer deveria tentar. A última
coisa que Dayja queria era descobrir que ele próprio havia sido vítima de
um golpe, que Eanjer e sua gangue estavam na verdade trabalhando para
Villachor e o Sol Negro.
A penúltima coisa que ele queria era que a gangue fosse morta.
Especialmente se eles mencionassem Dayja e seu interesse em Qazadi antes
de morrerem.
— Ei, — disse uma voz atrás dele. — Você.
Dayja se virou. Os dois homens que vinham em sua direção tinham a
aparência de guarda-costas, com expressões desconfiadas e passos largos e
confiantes que Dayja havia muito passara a associar a homens em missão,
portando armas de raios escondidas.
Mas nenhum dos dois usava os pingentes de pedra esmaltada que ele
tinha visto em todos os seguranças oficiais de Marblewood. Seriam
capangas extras que Villachor contratara para a ocasião? Ou alguma coisa
completamente diferente?
Dayja tinha uma fração de segundo para decidir qual personalidade
adotaria. Ele decidiu que, nas atuais circunstâncias, um visitante
ligeiramente distraído seria a melhor abordagem.
— Eu? — perguntou ele com uma expressão delicadamente alegre.
— Sim, você, — respondeu um dos homens, que deu mais alguns passos
adiante e deixou o parceiro como reforço atrás. Se eram capangas, pelo
menos eram bem treinados. — O que você está fazendo aqui? Está
perdendo o grande espetáculo. — Ele apontou para os sons da multidão.
— Eu sei, — disse Dayja com um suspiro. — Mas minha amiga precisou
usar o banheiro. Estou esperando que ela saia.
O homem olhou ao redor.
— Que banheiro?
— Ali, — falou Dayja ao apontar para a porta da mansão. — O banheiro
ali dentro, certo?
O homem encarou Dayja, provavelmente pensando como alguém podia
ser tão estúpido.
— Os banheiros ficam no pátio oeste, — disse ele, novamente apontando
para o barulho ao longe. — Ao norte e ao sul das principais barracas de
comida.
Dayja ficou ligeiramente boquiaberto. Ele deu um olhar espantado para a
mansão, depois se voltou.
— Mas ela disse o banheiro do sul... — Uayja parou de talar e olhou
novamente para a porta. — Em Cowher, os banheiros são sempre no
interior.
— Aqui não é a mansão Covv’ter, — o homem informou Dayja
pacientemente. — O banheiro sul fica a mais ou menos 150 metros naquela
direção.
— É melhor você chegar lá antes que ela desista e arrume outra pessoa
para curtir a Honraria, — acrescentou o segundo homem.
— Ah, não, — suspirou Dayja, que arregalou os olhos. — Não. Ela não...
ai, droga. Com licença.
Ele deu meia-volta e saiu correndo na direção da multidão e dos
banheiros, fazendo questão de usar o passo mais trôpego de seu repertório.
Um tropeço cuidadosamente controlado permitiu que Dayja olhasse para
trás e visse se estava sendo seguido.
Não estava. Os guardas não estavam interessados em Dayja. Estavam
interessados naquela porta.
E fosse qual fosse a razão daquele interesse, ele suspeitava que a equipe
de Eanjer não gostaria do motivo.

Um par de seguranças havia espantado um visitante solitário da área ao


redor do jardim normalmente deserto ao lado da porta sudoeste, mas,
tirando isso, não tinha havido qualquer atividade ao sul dos chafarizes de
redemoinhos desde que Lando e Zerba tinham entrado na mansão havia
vinte minutos. Winter reajustou os eletrobinóculos contra o rosto e mirou
nas claraboias mais próximas do prédio, — onde não havia nada para ver -,
se virou para a imensa multidão assistindo à Grande Tempestade, — onde
havia muita coisa para ver, — e depois se voltou para a porta.
— Você viu Bink? — perguntou Tavia ao surgir ao lado dela, na janela.
— Sinto muito... eu perdi Bink na multidão, — Winter se desculpou. —
Mas ela parecia bem há meia hora quando Sheqoa a deixou para ir à reunião
com Lando e Zerba.
— Tem certeza? — perguntou Tavia. — Você se lembra dos sinais de
perigo de Bink, certo?
— Sim, — garantiu Winter, deixando de dizer o óbvio: que ela levaria a
lista de gestos sutis para a cova. — Não houve sinais. Na verdade, pelo que
eu observei da linguagem corporal, os dois pareciam estar se dando muito
bem.
— Claro que estavam, — disse Tavia com um suspiro. — Outro dos
muitos talentos de Bink é conseguir que as pessoas façam o que ela quer.
Incluindo você?
— É uma habilidade útil em nosso ramo, — comentou Winter, em vez de
dizer o que havia pensado.
— Eu sei, — falou Tavia. — E eu não quis bancar a irritada. Só estou...
as pessoas dizem que é possível se acostumar com qualquer coisa. Mas eu
nunca me acostumei com isso. Acho que nunca me acostumarei.
— Talvez esta seja a última vez que tenha que fazer isso, — sugeriu
Winter. — Os créditos deste serviço devem permitir que vocês larguem o
ramo de uma vez por todas.
— Devem, — disse Tavia com a voz cansada. — Mas não irão. Bink
prometeu largar uma centena de vezes, praticamente todas em que pensou
estar de olho no grande prêmio. Porém, de alguma maneira, os créditos
nunca são tão bons quanto pareciam de início, ou o receptador rouba o
dinheiro, ou temos que abandonar a maior parte do ganho, ou há outras
complicações. Sempre há complicações.
— Às vezes, a própria vida parece não ser nada além de uma série de
complicações interligadas, — concordou Winter, afastando a mente das
horríveis complicações que Palpatine e seu Império impuseram a ela e a
Leia e a tantos e tantos outros. — Todas fazendo o melhor possível para
atrapalhar o que a pessoa esperava ou queria. — Ela abaixou os
eletrobinóculos e deu um tempo para os olhos descansarem. — O que você
esperava da vida, Tavia?
— Para ser sincera, apenas mais do mesmo. Mais pobreza, mais dessa
vida de andar com uma mão na frente e outra atrás, mais de nós duas
correndo, lutando contra o universo e tentando sobreviver mais um dia. O
que eu queria... — Ela subitamente sorriu. — Lembra quando eu disse que
Bink gosta do que faz porque é boa nisso? É a mesma coisa para mim, com
relação a trabalhar com eletrônica.
— Você pode viver bem fazendo isso, — murmurou Winter.
— E eu tentei, — disse Tavia, e seu sorriso desapareceu. — Tentei sem
parar. Mas toda vez que consigo me estabelecer em algum lugar, Bink
consegue descobrir algo de errado com o emprego. Ou não paga o que
deveria, ou o chefe é rude, ou os serviços que pego são indignos e
ofensivos, ou meus colegas tomam sopa fazendo muito barulho. Sempre há
alguma coisa.
— Às vezes, a vida também é uma série de concessões.
— E eu estou disposta, — falou Tavia. — Eu tento dizer para Bink que
tudo vai dar certo, que eu posso solucionar o problema. Mas você conhece
Bink. Antes que eu me dê conta, nós já estamos na rua, e ela está invadindo
o gabinete particular de alguém, à procura do próximo grande golpe.
Winter concordou com a cabeça tristemente. Ela conhecia muitas pessoas
assim, homens e mulheres que só se sentiam vivos se estivessem arriscando
tudo e desafiando as probabilidades.
Elas tinham seu lugar, com certeza. Na verdade, sem essas pessoas a
Rebelião provavelmente teria sido interrompida com sangue e agonia há
muito tempo. Porém, ao mesmo tempo, Winter não podia deixar de sentir
muitíssimo por elas.
Um dia aquela guerra acabaria. Talvez algum dia todas as guerras
acabassem. Friamente, ela imaginou o que pessoas assim fariam então.
— Mas pelo menos não precisamos mais viver um dia após o outro, —
continuou Tavia com um toque de sarcasmo. — Agora está mais para um
mês após o outro. É uma melhora, definitivamente. Talvez depois deste
serviço seja uma década após a outra.
— Só podemos torcer, — concordou Winter ao se voltar para a janela e
erguer os eletrobinóculos novamente aos olhos.
Ainda nada.
Ela também só podia torcer para que, o que quer que estivesse
acontecendo, Lando tivesse tudo sob controle.

Lando refletia que havia ocasiões em que a pessoa estava em


desvantagem numérica e de armas, com todas as saídas bloqueadas e uma
mão perdedora. Em situações como essa, só havia uma opção.
Blefar.
— Interessante, — disse ele calmamente. — O senhor tem certeza?
— Está me chamando de mentiroso? — reclamou Villachor.
— Estou? — contra-argumentou Lando, com um tom de ameaça na voz.
Ele era um integrante do alto escalão de uma misteriosa organização do
crime, afinal de contas. Homens assim não eram facilmente intimidados. —
Eu vi aquele cartão de dado, mestre Villachor. Eu não me lembro de ter
visto nenhuma letra nele.
— Elas não estão no cartão de dado em si, — disse Villachor. — E você
está ganhando tempo.
— Então o que o faz pensar que este cartão de dado tem algo a ver com
essas letras?
— O mestre Villachor é quem faz as perguntas, — rosnou Sheqoa.
— O mestre Villachor é que está tentando conseguir uma segunda
amostra grátis, — respondeu Lando sem meias palavras. — Para começar,
não há motivo para o príncipe Xizor organizar os arquivos de chantagem de
acordo com um sistema tão óbvio. Na verdade, eu sou capaz de pensar em
uma dezena de razões para ele não fazer isso. Uma pessoa não autorizada
poderia procurar um arquivo específico até o Centro Imperial ficar sem luz
sem encontrá-lo.
Ele endureceu a expressão.
— E segundo, por acaso eu sei que uma das gírias que os Falleens usam
para os Hutts é slivki. Que começa com a letra senth, que fica entre osk e
usk.
O olhar de Villachor disparou para Zerba e voltou para Lando. Ainda
havia desconfiança nos olhos, mas também havia uma incerteza crescente.
— Slivki, — repetiu ele. — Você tem certeza disso.
— Muita certeza, — respondeu Lando em tom gélido. — Eu estava lá
quando um Falleen chamou um Hutt disso, na cara dele. O dono do lugar
precisou de três dias para limpar os destroços. — Ele gesticulou para a
porta. — Vá em frente e verifique se quiser. Eu espero.
Villachor olhou para Zerba novamente.
— Talvez mais tarde — falou ele. — Morg Nar, você disse.
— Sim. E isso é tudo que direi. O senhor tem a amostra que eu prometi.
Fique à vontade para verificá-la também. Mas o momento da decisão
chegou.
Villachor encarou Lando por outro instante, com o rosto inexpressivo.
Parecia ser a pose favorita do homem, feita provavelmente para
desestabilizar o destinatário enquanto ele refletia sobre alguma coisa.
— Uma decisão, pelo menos, é imediata, — retificou Villachor. Ele
ergueu o dedo, e novamente as três armas de raios foram apontadas para o
chão. — Não estou mais pronto para matá-lo aqui e agora.
— Acho que esta é uma decisão que todos nós podemos apoiar, —
concordou Lando.
— Mas a decisão de continuar ou não negociando com você ainda está no
futuro — continuou Villachor. — Antes de dar qualquer passo do gênero,
preciso saber mais sobre sua operação e como eu me encaixaria nela. — Ele
franziu os olhos. — Em primeiro lugar, preciso saber o que você ganha com
um acordo desses.
— Eu sou o que o senhor poderia chamar de caça talentos, — respondeu
Lando com um gesto despreocupado. — Eu analiso o mercado e encontro
aqueles que acho que poderão se sair melhor em outros lugares. Se eu
estiver certo e a pessoa entrar para o grupo, recebo uma pequena comissão.
— Essa comissão depende do valor do cliente?
— Mais ou menos, — disse Lando.
— E esse valor aumentaria se o cliente levasse objetos ou conhecimentos
valiosos para seus superiores?
— Muito provavelmente.
— Ótimo, — disse Villachor animadamente. — Então você não vai se
importar se eu falar diretamente com seu superior. Afinal de contas, quem
melhor para definir o valor destes arquivos?
Lando conteve um sorriso. Han o alertara de que a conversa
provavelmente acabaria ali.
— Meu superior geralmente não gosta de fazer contato assim tão no
início das negociações, — falou ele. — Eu lhe garanto que tenho plena
autoridade para responder a qualquer pergunta e fazer qualquer negócio.
— Tenho certeza disso, — respondeu Villachor. — Mesmo assim, você o
trará até mim.
Lando fingiu refletir, depois deu levemente de ombros.
— Muito bem. Eu entrarei em contato com ele hoje à noite, farei seu
pedido e trarei a resposta amanhã.
— É melhor que essa resposta seja sim.
— Trarei a resposta amanhã, — repetiu Lando.
O lábio de Villachor tremeu.
— Amanhã, não. Traga a resposta em dois dias, durante o Festival da
Água em Movimento. Sua visita será menos chamativa assim.
— Novamente, o que o senhor quiser, — disse Lando, inclinando a
cabeça em uma mesura.
Então Villachor realmente queria que as visitas de Lando se perdessem
na multidão do Festival? Talvez ele genuinamente estivesse começando a
considerar desertar do Sol Negro.
Ou então apenas queria que Lando achasse isso. Jogos psicológicos,
infelizmente, eram uma rota espacial de várias direções.
— Uma última pergunta, se possível, — falou ele. — Simplesmente para
a minha própria curiosidade. Se o cartão de dado não estava marcado, como
o senhor soube qual era?
— Veio daquele escaninho na caixa de arquivos, — respondeu Villachor.
— Ah, — disse Lando com um aceno de cabeça.
E uma amplitude de sete letras por cartão de dado também implicava que
havia cinco, exatamente como o contato de Eanjer dissera. Até então,
aquele informante misterioso acertara em cheio sobre tudo que dissera.
— Novamente, isso faz sentido. Os seus outros convidados supostamente
veem o cartão de dado enquanto seus futuros bastante sombrios são lidos
para eles, e o senhor não quer que saibam como a informação é organizada.
Falando nisso... — Lando virou meio corpo e estendeu a mão. — Bib?
Obedientemente, Zerba retirou o cartão de dado e deu um passo à frente.
Ele o entregou para Lando, depois imediatamente recuou de novo e colocou
o cryodex cuidadosamente de volta no estojo.
— Isto é seu, mestre Villachor — falou Lando formalmente ao oferecer o
cartão de dado para Villachor.
Villachor pegou o cartão de dado em silêncio e manteve a atenção em
Zerba enquanto ele manipulava o estojo com uma bomba engatilhada.
— Você o chamou de Bib? — perguntou Villachor.
Lando deu de ombros.
— Uma pequena brincadeira. Reconhecível apenas por aqueles que já
conhecem a história de Jabba.
— Sim, — concordou Villachor. — Kwerve e Bib, juntos novamente.
— Isso mesmo.
Bib Fortuna e Bidlo Kwerve haviam sido dois dos mais altos
funcionários de Jabba, sempre disputando poder e cargo até a morte de
Kwerve e a subsequente promoção de Fortuna a administrador. Han havia
sugerido que incluir a história do Hutt em suas identidades falsas daria à
mentira de Lando uma camada a mais que Villachor poderia achar
intrigante. Pela expressão de Villachor, parecia que Han estava certo.
— Fico contente que tenha gostado, — disse Lando.
— Gostei. Dois dias, mestre Kwerve.
— Dois dias, — prometeu Lando, que fez uma nova mesura de leve.
Noventa segundos depois, eles estavam novamente lá fora no ar fresco,
com a barulheira da multidão do Festival muito bem-vinda após o silêncio
perigosamente tenso na antessala da caixa-forte.
— E então? — perguntou Lando baixinho.
— Então o quê? — respondeu Zerba. — Se eu troquei os cartões de
dados ou se os dados já vieram?
— A primeira — rosnou Lando, chateado a contragosto com a
leviandade do outro, afinal de contas, o pescoço de Zerba correra tanto risco
quanto o dele.
Ou talvez não. Era possível que os sentidos extras que os Balosarianos
afirmavam possuir tivessem dado a Zerba alguma noção naquela disputa
que Lando não havia percebido. Será que a ameaça de Villachor tinha sido
puro blefe, nada mais do que uma sondagem para ver se Lando cederia sob
uma pressão inesperada?
— Sim, eu troquei os cartões de dados, — respondeu Zerba calmamente.
— Na verdade, a resposta à outra pergunta também é sim. Se Bink ou
Rachele conseguirão extrair algo de útil é outra história completamente
diferente.
Lando deu de ombros.
— Vamos descobrir em breve.
— Então slivki é realmente um termo ofensivo para Hutt?
— Não que eu saiba — disse Lando. — Mas essa é a grande vantagem
das gírias. Há tantas versões e variedades, na língua de qualquer um, que
nunca é possível ter certeza se a pessoa sabe todas. Villachor pode pesquisar
os arquivos pelo resto do mês sem jamais ser capaz de provar que eu estava
blefando.
— Bacana — respondeu Zerba. — Tenho que me lembrar dessa. Pronto
para voltar?
Lando concordou com a cabeça.
— Vamos.
— Acho que não — murmurou uma voz grave no ouvido dele ao mesmo
tempo que dedos fortes inesperadamente pegaram o braço direito de Lando.
— Calado e sem confusão.
Lando virou a cabeça e se viu olhando para um rosto humano
esburacado, mais alto que o dele, com um chapéu de aba larga enterrado
quase até as sobrancelhas.
— Quem é você? — indagou ele. — O quê...
— Ele disse calado — outra voz o interrompeu.
Lando se voltou para a outra direção e viu que um segundo homem
pegara o braço de Zerba da mesma forma.
— Quem quer que vocês sejam, eu sugiro que nos soltem imediatamente,
— falou Lando friamente. — Somos convidados especiais do mestre
Villachor em pessoa. Um grito meu para qualquer um dos seguranças que
patrulham as dependências...
— Ah, é melhor você não fazer isso — ralhou o primeiro homem.
— Meu amiguinho odeia barulhos altos.
Lando fez uma careta quando o cano duro de uma arma de raios cutucou
as costelas embaixo do braço direito.
— Creio que a gente deva tentar mantê-lo contente — murmurou ele.
— Esse é o espírito da coisa — disse o primeiro homem em tom
encorajador. — Iremos ao extremo sul da casa e sairemos pela entrada de
serviço do sudeste. Muito mais tranquilo por aquele caminho. Folx, seja
gentil e alivie o nosso amigo daquele estojo pesado, pode ser?
— Eu não faria isso, — falou Lando rapidamente quando o segundo
homem esticou a mão para o estojo do cryodex. — Especialmente se seu
amiguinho odeia barulhos altos.
O segundo homem fez uma pausa, enquanto a mão tocava a alça do
estojo.
— Wolv? — perguntou ele.
Wolv hesitou, e Lando sentiu o homem dar de ombros.
— Ele pode ficar com o estojo. A gente dá um jeito nisso no fim do
passeio. — Wolv enfiou a arma de raios com um pouco mais de força na
lateral do corpo de Lando. — Vamos, ande rápido. Nós não temos a noite
toda.
— Vamos dar um passeio, hein? — perguntou Lando quando o grupo
apressou o passo.
— Um passeio bacana para uma sala bacana e tranquila, — respondeu
Wolv. — Onde teremos uma conversa bacana.
— E depois disso? — indagou Lando.
— Depois disso... — Wolv deu de ombros novamente. — Bem, aí
depende de você.
— Sim, — concordou Folx, com um tom de voz sinistro. — Em grande
parte.
— Eles estão a caminho do portão sudeste, — disse a voz tensa de
Rachele no comunicador de Han. — Eles já estão dando a volta no fim da
mansão.
— É, entendi — disse Han, indo a passos largos pela borda da multidão
que assistia à Grande Tempestade, desviando das pessoas reunidas em volta
das barracas de comida e tentando desesperadamente chegar a um equilíbrio
entre velocidade e cautela.
Se aquilo fosse uma verdadeira tentativa de sequestro, ele precisava
chegar lá o mais rápido possível. Mas se não fosse verdadeira, — se a
tentativa de sequestro fosse um truque de Villachor para revelar qualquer
aliado que Lando e Zerba tivessem escondido na multidão —, então chegar
correndo a toda velocidade para o resgate não seria nada além de fazer
perfeitamente o jogo dele.
— Eles estão abrindo distância, — alertou Winter do alto do ponto de
observação na suíte. — Se você não correr, jamais vai alcançá-los antes que
cheguem ao portão.
— Não podemos ir mais rápido, — rosnou a voz de Dozer no
comunicador de Han. O ladrão de naves parecia ainda mais frustrado do que
Han. — Se formos, eles vão nos marcar com certeza.
— Que ideia maravilhosa — falou Bink suavemente no comunicador,
com um tom de voz que combinava perfeitamente com sua persona avoada
apesar do perigo que eles encaravam no momento. — Eu não faço compras
lá há séculos. Quando você quer que eu o encontre?
— Apenas fique onde está, — ordenou Han. — Você está longe demais
para ajudar, e não queremos que você arruíne o seu disfarce. Sheqoa está aí?
— Não, não, — disse Bink, ainda suavemente. — Eu mal posso esperar
para lhe contar sobre esse novo cara que conheci.
— É, nós mal podemos esperar também, — rosnou Dozer. — Vamos,
menina, nós precisamos saber se ele e o resto do pessoal de Villachor estão
sabendo disso.
— Opa, eu tenho que ir — respondeu Bink, com um pouco mais de
empolgação na voz. — Lá vem ele agora. Você vai adorá-lo, Jessie... ele é
tão tranquilo. E tão atencioso.
Han rosnou baixinho um velho xingamento. O código verbal
improvisado de Bink era difícil de compreender, mas tão tranquilo e tão
atencioso só podiam significar que ela não sabia dizer se a reação de
Sheqoa era capaz de indicar que a abdução fosse ideia de Villachor.
Mais atraso e mais incerteza. E, enquanto isso, Lando e Zerba estavam
ficando cada vez mais fora de alcance.
E então, de repente, era tarde demais.
— Diminua o passo — veio a voz de Rachele novamente pelo
comunicador. — Você jamais chegará a tempo agora, não sem correr por
campo aberto, onde certamente vão marcá-lo.
Relutantemente, Han trocou o passo ligeiro por um lento e mudou de
direção para o portão sudoeste.
— Pelo menos me diga que Chewie está cuidando da situação.
— Está, — confirmou Rachele. — Ele foi para o telhado no minuto em
que os dois foram capturados. Talvez Chewie consiga decolar em um dos
airspeeders a tempo de segui-los.
— Lá vão eles — interrompeu Winter. — Parece ser um airspeeder
Incom PT-81: vermelho-escuro, com pontinhos amarelos na frente e no
canopi.
— Indo em que direção?
— Leste, — respondeu Winter. — Estão subindo... estão na aeropista
inferior. Subindo novamente...
— Chewie? — indagou Han.
Até alguém como Eanjer, que não compreendia Shyriiwook, não teria
problemas em reconhecer a raiva e a frustração no rugido de Chewie. Ele
havia decolado, mas os sequestradores já tinham ido embora.
— Tarde demais, — disse Rachele, que parecia estar quase chorando. —
Nós os perdemos.
CAPÍTULO

12

— Bem? — perguntou Han.


— Nada, — respondeu Rachele, com a cabeça quase tocando a de Winter
enquanto as duas olhavam juntas o monitor do computador de Rachele. —
Há simplesmente um excesso de PT-81s vermelho escuros nos registros da
cidade.
— E os pontinhos provavelmente são acessórios não oficiais, —
murmurou Dozer, que estava afundado em uma das cadeiras, encarando as
pontas das botas, mal-humorado.
Han olhou em volta do aposento. Tavia espiava outro monitor, com uma
expressão séria. Kell estava sentado diante de Dozer, tamborilando em
silêncio com a mão esquerda no braço estofado da cadeira e mexendo no
energipente da arma de raios com a mão direita. Eanjer se encontrava na
janela, emoldurado pelas luzes da cidade, olhando para a noite como se o
olho alienígena prostético
fosse capaz de penetrar a escuridão e enxergar o airspeeder perdido.
— Eu vou reconhecê-lo quando o vir, — disse Winter em tom
hesitante. — Se é que isso vale alguma coisa. Eu notei alguns arranhões e
mossas nas laterais.
— Mas esse tipo de dano menor não estará em nenhum registro oficial,
— falou Rachele.
Como se Han já não soubesse disso.
— Tavia?
— Desculpe, — respondeu ela balançando a cabeça. — Aqueles chapéus
estavam tapando a maior parte do rosto deles. As partes que consegui ver
simplesmente não eram suficientes para realizar uma pesquisa. E a placa
tinha algum pó brilhante que tornava impossível a leitura a essa distância.
Han acenou com a cabeça pesadamente enquanto digitava no
comunicador. Becos sem saída por todos os lados. Quem quer que fossem
aqueles caras, eles sabiam o que estavam fazendo.
— Chewie? Alguma coisa?
O relatório do Wookiee foi curto, frustrado e tão negativo quanto o dos
demais.
— Bem, continue procurando, — disse Han. — Porque com toda certeza
nenhum de nós vai conseguir ver o airspeeder daqui.
Chewbacca concordou e desligou.
— Talvez nós devêssemos sair, — sugeriu Rachele hesitante. — Temos
outro airspeeder no telhado, e Dozer provavelmente conseguiria roubar
mais alguns na rua.
— E aí o que faríamos? — indagou Han. — Sairíamos voando a esmo na
esperança de vê-los?
— Seria melhor do que ficar aqui esperando que eles venham nos pegar,
— murmurou Dozer.
— Quem virá nos pegar? — perguntou Kell.
— Essa é a questão, não é? — disparou Dozer. — Não temos a menor
ideia de quem eles sejam. E até sabermos, não temos sequer esperança de
localizá-los. — Ele apontou para Han. — Se quer saber, o que temos que
fazer agora é fugir daqui. E digo que é agora mesmo. Mais cedo ou mais
tarde, um deles vai ceder. Precisamos estar em outro lugar quando isso
acontecer.
— Não, — disse Han com firmeza antes que algum outro desse uma
opinião. — Se fugirem, eles virão para cá. Nós ficamos.
— Se fugirem? — retrucou Dozer. — Não seja ridículo. Quem você acha
que eles são, Revan e Malak? Estou dizendo, os dois estão ferrados. E nós
também, se ficarmos aqui.
— Então vá, — falou Han gesticulando para a porta. — Mas se passar
por aquela porta, você está fora.
— Ah, é mesmo? — rosnou Dozer.
Ele ficou de pé de supetão e levou a mão à arma de raios...
E parou, com metade da pistola para fora do coldre, de olhos arregalados
ao se ver encarando o cano da arma de raios de Han, totalmente sacada.
— É mesmo, — garantiu Han baixinho.
Dozer disparou um olhar pelo aposento. Seja lá o que tenha visto na
expressão dos demais, aparentemente não foi muito encorajador.
— Beleza, — murmurou ele enquanto abaixava a arma dentro do coldre e
desmoronava na cadeira. — Então, qual a nossa próxima ação?
Han sabia que aquela era uma tremenda de uma boa pergunta. Em um
único piscar de olhos, todo o grande plano havia degringolado, e de repente
ele estava voando às cegas. Han nem conseguia imaginar como aquilo
terminaria.
A não ser por uma coisa: eles resgatariam Lando e Zerba com vida. Era
garantido. Han já tinha perdido gente demais na vida. Ele veria Villachor no
inferno antes de perder mais alguém.
— Podemos alterar o rumo, — respondeu Han enquanto guardava a
própria arma de raios. — Rachele, esqueça o airspeeder. Lando e Zerba
estavam conversando com Villachor. Comece a fazer uma lista de pessoas
que possam não gostar disso.
— Pode deixar, — disse Rachele, que se voltou para o computador.
Han olhou para as luzes enganosamente alegres da cidade. Em algum
lugar, de alguma forma, eles precisavam dar sorte.
E era melhor que isso acontecesse logo.

— Vocês com certeza andaram bem ocupadinhos, — comentou Wolv


enquanto o airspeeder costurava pelo trânsito noturno. — Eu sei que esta foi
sua segunda audiência com o mestre Villachor. — Ele inclinou a cabeça. —
Ou foi a terceira? O vendedor de brilhestim era um de vocês, não era?
— Eu não sabia que a lista de convidados do mestre Villachor estava sob
tamanha análise, — falou Lando, sentindo a testa franzir.
Um vendedor de brilhestim? Desde quando um vendedor de brilhestim
tinha entrado na história?
— Tudo que o mestre Villachor faz está sob análise — disse Wolv.
— Especialmente se a coisa interferir em suas atividades comerciais
propriamente ditas. — Ele apontou para o estojo no colo de Zerba.
— Então, isto é o brilhestim especial? Ou o pagamento?
— Eu não faço ideia do que você está falando, — respondeu Lando com
o máximo de arrogância possível. — Mas garanto que, quando o mestre
Villachor souber disso, ele não vai ficar contente.
— Ah, eu concordo, — falou Wolv com um breve sorriso cruel no rosto.
— A umca questão e se voces dois vao cair junto com ele ou não.
— Eu ainda não o descartaria se fosse você, — alertou Lando.
— E eu não contaria com ele para tirá-los desta situação, — disparou
Wolv. — Sua melhor jogada no momento é abrir aquele estojo e entregar o
que houver dentro. Faça isso, e eu prometo que vocês vão embora.
Lando balançou a cabeça.
— Eu tenho minhas ordens.
O outro deu um muxoxo de desdém.
— Beleza, como queira. Mas eu já digo que quando chegarmos onde
estamos indo, vamos encontrar alguém que é capaz de abrir essa coisa sem
espalhar o brilhestim ao vento. Minha oferta dura até lá, e apenas até lá.
Pense a respeito. — Ele olhou incisivamente para Zerba. — Pensem vocês
dois.
Wolv manteve a pose por mais alguns segundos. Quando ficou evidente
que nenhum dos prisioneiros diria alguma coisa, ele balançou a cabeça com
repulsa e virou o corpo de volta para frente.
Lando olhou de lado para Zerba. Zerba mexeu a sobrancelha e abaixou o
olhar para as algemas. Lando acompanhou os olhos do Balosariano e viu
um pequeno vão na ligação das algemas.
Então Zerba já conseguira abri-las. O que não era surpresa.
Infelizmente, com as algemas ligadas a correntes presas ao piso do
airspeeder, não havia como Zerba alcançar as de Lando sem que os
sequestradores notassem.
Zerba também tinha percebido isso, obviamente. Ele abriu a mão de leve,
mostrou para Lando uma pequena gazua de três pontas que mantivera
escondida em algum lugar e mexeu a sobrancelha novamente para fazer
uma pergunta silenciosa.
Lando suspirou. Mais uma vez infelizmente, ele nunca dominara aquela
habilidade específica de arrombamento. Lando balançou a cabeça e abaixou
os ombros levemente. Zerba franziu o nariz em solidariedade e fechou a
mão novamente em volta da gazua.
Mesmo assim, o dia ainda não estava perdido. Se Zerba pudesse tirar
vantagem de sua liberdade para pular do airspeeder no momento em que
pousassem e conseguisse escapar com o cryodex para um lugar seguro,
Lando talvez pudesse blefar ou barganhar um indulto pelo menos
temporário. Qualquer espaço de manobra que conseguisse arrumar lhe daria
tempo para criar algo mais permanente.
Ou daria o mesmo tempo para Han e os demais.
Lando torcia para que eles estivessem trabalhando em um plano de
resgate. Torcia muitíssimo.

— Eles podem levá-los até você? — veio a voz de D’Ashewl no


comunicador de Dayja.
— Eu não sei, — respondeu Dayja com uma cara feia para o PT- 81 que
voava oito veículos à frente. Alguma coisa no jeito como o airspeeder se
deslocava indicava que eles estavam prestes a fazer uma nova curva. —
Acho que não, mas esta não é a questão. A questão é que se Eanjer e sua
equipe caírem do precipício, provavelmente toda a operação cairá com eles.
Eu posso não conseguir recomeçar meu próprio jogo a tempo de entrar em
Marblewood antes de o Festival terminar.
— Não há indicação de que Qazadi pretenda ir embora imediatamente
após o encerramento, — salientou D’Ashewl.
— Não há indicação do contrário — contra-argumentou Dayja.
Adiante, de Fato, o airspeeder virou à direta e rumou para uma aerovia
mais abaixo, de menor velocidade. Dayja fez a mesma manobra, depois
caiu mais um nível. Ele ainda não sabia se tinha sido visto ou se todas
aquelas voltas pela cidade eram apenas cautela da parte deles. De uma
forma ou de outra, não faria mal deixar que eles abrissem um pouco mais
distância.
— Se a operação cair, caiu, — disse D’Ashewl com um pouco de
impaciência. — Sinto muito, mas não posso deixar que você prossiga. E
absolutamente não posso deixar que chame qualquer autoridade imperial.
Dayja rangeu os dentes. Mas D’Ashewl estava certo. Se Qazadi sequer
desconfiasse de que estava sendo seguido pela Inteligência Imperial, o
grupo inteiro se espalharia, e ele e D’Ashewl voltariam ao Centro Imperial
com as mãos abanando.
Mas já que Dayja não podia interferir diretamente...
— Tive uma ideia, — disse ele. — Eu ligo de volta para você.
Ele interrompeu a conexão antes que D’Ashewl pudesse responder. A
placa do airspeeder tinha uma camada sutil de pó brilhante que era
muitíssimo eficiente em esconder os números e letras de eletrobinóculos
normais. Mas os eletrobinóculos de Dayja estavam longe de ser normais.
Se ele e D’Ashewl eram os únicos agentes da Inteligência na Cidade de
Iltarr, isso não significava que estivessem completamente sozinhos. Não
exatamente.
Enquanto pilotava com uma mão, tentando julgar o melhor momento
para voltar à aerovia dos sequestradores, ele digitou no comunicador.

— Onith três besh, — repetiu Eanjer gesticulando para Rachele. — Mais


alguma coisa?... Certo. Obrigado. — Ele desligou.
— Era o seu contato? — perguntou Han.
— Sim, — respondeu Eanjer, sustentando o olhar de Han com o único
olho por apenas um segundo antes de se virar para Rachele.
E se virou com o que pareceu estranhamente um lampejo de culpa e
incomodo no rosto.
Han também não foi o único que notou.
— Engraçado como ele por acaso testemunhou aquele airspeeder decolar,
— comentou Dozer com a voz cheia de desconfiança. — E suficientemente
perto para ver a placa com os próprios olhos nus.
— Porque não havia outro jeito de ter visto aquele número, — concordou
Tavia. — Não todo coberto por pó brilhante.
— Ele tem acesso a determinados recursos, — explicou Eanjer. — Do
que vocês estão reclamando? Nós temos a placa, não temos?
— Esta não é a questão, é? — contra-argumentou Dozer. — Podem me
chamar de paranoico, mas eu gosto de saber um pouquinho a respeito das
pessoas com quem estou trabalhando. Especialmente uma vez que
informação de graça geralmente vem com ganchos.
— Ah, eu não consegui de graça, — disse Eanjer em tom pesaroso. —
Acredite. Vou pagar o olho da cara por essa pequena gema.
— Aqui está, — falou Rachele. — Ora, ora. Parece que nossos
sequestradores estão passeando em um veículo policial da Cidade de Iltarr,
sem identificação.
— A polícia está atrás de nós? — perguntou Kell, soando espantado. —
Ah, que beleza.
— Talvez não, — disse Tavia. — Lembrem-se de que muitos policiais
locais estão na folha de pagamento do Sol Negro. Isso pode ser alguma
manobra de Villachor para tirar mais informações de Lando.
— Mas por que tirá-lo da mansão em vez de simplesmente mantê-lo lá
dentro e apertá-lo? — perguntou Winter. — A não ser que Han esteja certo
sobre Villachor estar tentando ver quem mais pode estar com Lando.
— Eu não sei, — interrompeu Rachele, cujos dedos ainda dançavam
sobre o teclado. — Mais eis aqui a parte interessante. Eu ouvi rumores
sobre um interrogatório policial sigiloso e muito extraoficial que ocorre em
uma fábrica abandonada na área industrial a cerca de 10 quilômetros a leste
do espaçoporto. Aposto que é para lá que eles estão indo.
— Não sei, — falou Eanjer incrédulo. — Meu contato disse que eles
estão apenas voando a esmo. Se eles têm um lugar para ir, por que
simplesmente não vão lá?
— Porque precisam garantir que não estão sendo seguidos, — respondeu
Tavia.
— Melhor ainda, — disse Han com uma ideia começando a se formar na
mente. Se eles realmente soubessem aonde os sequestradores estavam indo,
e se ele e os demais tivessem tempo para se preparar antes que os sujeitos
chegassem lá... — Eles precisam chamar um especialista em bombas para
abrir aquele estojo.
— Você tem razão — falou Kell, com um toque de empolgação
crescendo na voz. — Se eles estiverem esperando pelo especialista antes de
pousar, talvez a gente consiga chegar antes à fábrica.
— Faz sentido, — disse Rachele. — Assim que pousarem, eles estarão
vulneráveis. Desse jeito, eles ficarão em movimento durante o tempo todo
até estarem prontos para resolver o caso.
— Eu não sei, — alertou Dozer olhando para os demais no aposento. —
Sem querer ofender, mas mesmo com uma vantagem de sete contra dois, eu
não gosto de nossas probabilidades.
— Está mais para três contra dois, — disse Han. — Eu, você e Chewie.
— Espere, — reclamou Rachele. — Se você acha que o restante de nós
vai simplesmente ficar de fora, está muitíssimo enganado.
— Rachele tem razão, — falou Winter com firmeza.
— Não sobre ela, — retrucou Han com a mesma firmeza. — Rachele é
muito conhecida na cidade. Se alguém a vir, ela está ferrada, com certeza.
— Ele gesticulou. — O mesmo vale para Eanjer. E com Bink ainda no
terreno de Villachor, não podemos arriscar que alguém descubra que ela
tem uma gêmea, Tavia, o que deixa você de fora.
— Ainda sobram Kell e eu, — salientou Winter.
— Certo, — falou Dozer sarcasticamente. — E suas especialidades em
combate são?
— Eu conheço o bastante para saber que seria bom termos algum poder
aéreo, — disse Kell. — Se você conseguir alguma espécie de atmocaça, eu
sei pilotar.
Dozer franziu a testa para Han, depois voltou a encarar Kell.
— Você está brincando.
— De maneira alguma, — respondeu Kell.
— Ele sabe, — apoiou Winter, — Eu já o vi voar.
— A não ser que você ache que não consegue roubar algo do gênero a
tempo, — disse Han. O plano nebuloso começava a se formar...
Dozer empertigou os ombros.
— Onde você quer que eu entregue?
— Apenas roube e mantenha o atmocaça em algum lugar no espaçoporto
até eu ligar para você. — Han digitou no comunicador. — Chewie? Preciso
que você volte aqui. Você vai pegar Dozer e Kell e ir ao espaçoporto.
Temos um plano.
Ele recebeu uma resposta afirmativa e desligou.
— Rachele, preciso que você descubra algumas armas automáticas
pesadas para mim. Tavia, preciso que você arme alguns disparadores
remotos para elas.
— Sem problema, eu já tenho um bando de controles remotos, —
respondeu Tavia ao se levantar e correr na direção de seu quarto.
— Ótimo — falou Han. — Rachele, você consegue localizar algumas
armas?
— Não há necessidade, — disse Winter. — Eu já sei onde há um
depósito.
Han olhou fixamente para ela.
— Sério? Como?
Winter deu de ombros.
— Eu cheguei aqui um dia inteiro antes de você — salientou ela. — Não
fiquei sentada apenas, sem fazer nada.
— Creio que não — admitiu Han. — Que tipo de segurança tem o
depósito?
— Nada que não possamos encarar — respondeu Winter. — E o
mostruário de um Rodiano que se acha um contrabandista de armas em
franca ascensão. É pequeno, mas devemos conseguir encontrar o que
precisamos.
Tavia reapareceu com uma pochete preta na mão.
— Aqui estão oito disparadores remotos, — disse ela ao entregar a
pochete para Han. — Espero que sejam suficientes.
— Obrigado, — falou ele enquanto espiava o interior da pochete.
Disparadores padrão, acionáveis por comunicador. — Winter?
— Oito devem servir — confirmou ela.
— Ótimo, — disse Han ao fechar a pochete novamente. — Vamos,
pegaremos o outro airspeeder. Rachele, veja se consegue acessar alguma
planta daquela fábrica. Se conseguir, mande para mim e Chewie.
— Pode deixar. — Rachele se debruçou novamente sobre o computador.
— Todos vocês têm o que fazer, — falou Han para os demais. — Ao
trabalho.

A fábrica era velha, estava caindo aos pedaços, tinha três andares com
tinta descascando e janelas com camadas de poeira de décadas e arranhões
provocados pelo vento. Era o tipo de lugar que ninguém olharia duas vezes,
onde ninguém gostaria de entrar e que absolutamente ninguém jamais
gastaria suados créditos para alugar.
O que o tornava o lugar perfeito para uma força policial instalar uma sala
de interrogatório por baixo dos panos.
— Você sabe que vai disparar esses troços às cegas, — alertou Winter
quando eles armaram o quinto dos seis fuzis de raios de repetição E-Web
que foram roubados do depósito do contrabandista de armas. — Se você
tentar conectar esses gatilhos aos eletrobinóculos e ao sistema de mira, o
fluxo de dados será óbvio demais para o outro lado deixar de notar. Eles vão
rastreá-lo até você, e aí será o fim.
— Eu sei, — falou Han. — Ainda bem que eu não me importo se a gente
realmente acertar alguma coisa.
Winter fez uma longa pausa e olhou feio para ele.
— Você não planeja acertar alguma coisa? Então por que trouxemos as
armas, afinal?
— Porque elas são ótimas para fazer barulho, — respondeu Han ao se
abaixar para prender um dos gatilhos de Tavia ao mecanismo de disparo. —
Algo para fazer todo mundo olhar para as direções erradas. Chewie e Kell
vão infligir todo o dano de verdade.
— Tomara que seja apenas onde eles devam infligir, — murmurou
Winter.
— Chewie dá conta do recado. — Han olhou para Winter pelo cano do E-
Web. — A pergunta é: e Kell?
— Eu disse que já o vi voar.
— Sim, mas você não disse que o viu voando em combate, — salientou
Han. — Você o conhece bem, afinal de contas?
Winter deu de ombros ao terminar de firmar o tripé do E-Web e subir
novamente no airspeeder.
— Ele se juntou a Mazzic há mais ou menos seis meses, dois meses
depois de mim. Kell parece competente e leal o bastante, mas tenho a
impressão de que ele tem alguma história por trás. Um lance de família,
provavelmente.
— É, bem, quem não tem? — resmungou Han ao entrar no airspeeder ao
lado dela.
Ele ligou os repulsores, decolou e foi para o ponto que escolhera para
colocar a última arma.
— E ele não falou especificamente, — acrescentou Winter com hesitação
-, mas acho que Kell também é Alderaaneano.
Han sentiu o lábio se contorcer. Leia fingira não se abalar, tanto durante a
fuga da Estrela da Morte quanto depois. Porém, durante tudo aquilo, mesmo
quando ela estava dando parabéns a ele e a Luke pela vitória em Yavin, Han
notara o sofrimento profundo e duradouro por trás dos olhos dela.
Ele tinha reconhecido o mesmo sofrimento em Winter. E agora que
pensava a respeito, Han se dava conta de que ela tinha razão. Kell carregava
o mesmo fardo na memória.
Han tinha provado daquele sofrimento, embora não no mesmo nível que
Leia, Winter e Kell, e sabia muito bem que aquilo provocava alguns efeitos
nas pessoas. Às vezes o sofrimento as deixava deprimidas, indiferentes ou
letárgicas. Às vezes as deixava permanentemente furiosas e incapazes de se
importar com alguém ou alguma coisa por muito, muito tempo.
Às vezes o sofrimento as tornava temerariamente suicidas.
— Não se preocupe, ele vai se sair bem, — assegurou Winter. — Kell
sabe o que está em jogo e compreende seu dever. O que quer que você
tenha dito para ele fazer, Kell fará.
— Bem, se não fizer, ele vai se entender com Lando, — disse Han. O
comunicador tocou, e ele o tirou do cinto. — Chewie? E aí?
Desta vez, as notícias eram boas.
— Ótimo, — respondeu Han olhando o céu.
O trânsito de airspeeders nas principais rotas do centro da cidade ao sul e
a oeste estava intenso como sempre, e havia um fluxo constante de veículos
indo e vindo nas áreas interurbanas menos populosas, ao norte e a leste.
Mas nada parecia estar vindo na direção deles naquele momento.
— Você e Kell, esperem pelo meu sinal, — falou Han. — E mande Dozer
vir aqui imediatamente; é melhor que ele ajude com os E-Webs.
Han recebeu uma confirmação e desligou.
— Dozer provavelmente preferiria ficar esperando no espaçoporto, —
comentou Winter.
— Eu não dei escolha para ele.
— Talvez devesse dar, — disse Winter. — De todo mundo no grupo, ele
é quem mais me preocupa.
— Ele não tem problema, — falou Han. — Só está se sentindo um pouco
fora do que sabe fazer, apenas isso.
— Um ladrão de naves que não teve que roubar nave alguma até agora,
— disse Winter acenando com a cabeça. — Então por que você o trouxe?
— Ele seria o testa de ferro até Lando aparecer, — respondeu Han
enquanto dava a volta com o airspeeder e parava ao lado do motor quebrado
e coberto por poeira de uma esteira rolante.
— Isso significa que ele guarda mágoa de Lando? — insistiu Winter ao
sair e pegar o cano do último E-Web.
— Dozer, não, — garantiu Han ao pegar a outra ponta e ajudá-la a tirar a
arma do porta-carga do airspeeder. — Pague a Dozer os mesmos créditos
por metade do serviço, e ele voltará para casa rindo. Vamos colocar essa
aqui do outro lado daquele regulador.
Eles estavam na metade da montagem do E-Web quando Han notou um
airspeeder saindo do céu da noite e vindo na direção dos dois. Por um
instante ruim, Han achou que eles tivessem estourado o tempo, mas assim
que o veículo se aproximou, ele viu que era um airspeeder do grupo.
O veículo pousou, e Dozer saiu.
— Como estamos aqui? — perguntou ao se aproximar a passos largos.
— Quase terminando, — respondeu Han. — Chewie disse que você
conseguiu alguma coisa para Kell?
— Melhor do que apenas alguma coisa — disse Dozer enquanto protegia
os olhos da massa de luzes da cidade a oeste ao olhar para a fábrica. —
Encontrei um Z-95 Headhunter para ele. Uma versão AF-4 ainda por cima,
com todos os recursos de que a pessoa precisa para transformar prédios
antigos em pilhas de poeira. — Ele gesticulou. — Porém, se aquele é o
alvo, eu provavelmente teria dado duas pistolas sônicas para Kell e
encerrado o assunto. Onde você me quer?
— Ali, — falou Han apontando na direção de um barracão meio
desmoronado. — Deve ter espaço suficiente para você e o airspeeder ali
dentro. Você cuidará dos dois E-Webs deste lado. Winter e eu estaremos no
outro lado, com quatro.
— Certo — respondeu Dozer hesitante. — Então vamos atacar quando
eles entrarem?
— Não, — disse Han. — Vamos esperar que eles entrem.
— Ah, — falou Dozer com mais hesitação ainda. — E assim que
abrirmos fogo, como nós vamos evitar que tudo isso desabe em cima deles?
— Na verdade, — respondeu Han -, nós não vamos.

— Lá, — disse Wolv apontando para a direita. — Devem ser eles agora.
Lando acompanhou o dedo do sujeito. Ao longe, dois airspeeders haviam
saído do trânsito das aerovias principais e estavam descendo, indo a algum
lugar um pouco à esquerda.
— Já não era sem tempo, — resmungou Folx, que fez uma curva fechada
com o airspeeder e foi na direção do local de pouso apontado pelo outro.
Lando se debruçou à frente no meio do banco e virou o pescoço para
olhar entre os dois captores. Eles voavam sobre uma área industrial, e
apenas a metade dela parecia ainda estar sendo utilizada. Diretamente em
frente, o destino mais provável era um prédio monstruoso de três andares,
completamente sozinho no meio de pilhas de entulho, e que parecia ter sido
abandonado no primeiro dia das Guerras Clônicas.
— Cuidado com o que fala, — alertou Wolv em tom ameaçador e bateu
no parceiro com as costas da mão para dar ênfase. — Quando o chefe
parece com medo, estamos falando de alguém com quem você não quer se
meter.
Folx deu um muxoxo de desdém.
— O chefe é um velho Ugnaught, — disse ele em tom de deboche. —
Um chefão do crime é basicamente igual ao outro.
— Se você quiser dizer alguma coisa errada e deixar com que fritem seu
cérebro, vá em frente, — contra-argumentou Wolv. — Só me faça o favor
de fazer isso quando estiver com Cran ou Barr em vez de mim, ok?
Folx deu outro muxoxo de desdém.
— Você é um velho Ugnaught também.
— Talvez, — disse Wolv. — Mas um Ugnaught chega à velhice sendo
esperto. Então me faça um favor: seja esperto.
Folx balançou a cabeça, e Lando conseguiu imaginá-lo revirando os
olhos.
— Beleza. Se isso faz você se sentir melhor.
Tirando alguns buracos nas janelas superiores da fábrica, o lugar não
parecia ter abertura alguma, e por um momento Lando teve a esperança de
que o encontro ocorreria do lado de fora. Não havia muitos lugares para
onde correr ali, mas pelo menos correr seria uma opção.
No entanto, ao se aproximarem do prédio, uma porta larga, atrás de um
cais de carga parcialmente desmoronado, começou a subir pesadamente. Os
outros dois airspeeders já estavam se dirigindo para o interior, e o primeiro
mal esperou que houvesse espaço suficiente para passar e entrou pela
abertura com uma indiferença que beirava a arrogância. O segundo
airspeeder deu mais alguns segundos para a porta e depois acompanhou o
outro.
Lando olhou para Zerba. O primeiro airspeeder está com os guarda-
costas, disse ele sem emitir som.
Zerba concordou com a cabeça e encolheu os ombros. Onde estão eles?,
respondeu ele da mesma forma.
Lando deu uma piscadela para Zerba e virou o rosto. Não havia, afinal de
contas, razão para que o outro também ficasse preocupado.
Porque Zerba estava certo. Han e os demais deveriam estar ali àquela
hora. Chewie deveria estar agachado ao lado de um daqueles barracões de
equipamentos desmoronados com sua balestra, disparando cuidadosamente
no agrupamento de repulsores para obrigar Folx a fazer um pouso rápido,
porém ainda sob controle. Han deveria estar em algum ponto próximo ao
cais de carga, disparando com aquele BlasTech DL-44 superaquecido que
ele tinha e mantendo os outros dois airspeeders ocupados. Outra pessoa do
grupo, talvez Dozer ou Kell, deveria estar dando fogo de cobertura para
Han e Chewie, enquanto outro integrante, — qualquer um, — deveria vir a
toda velocidade em um airspeeder para pegá-los e fugir rapidamente.
Mas não havia nada. Não havia ninguém lá fora atirando. Não havia
sequer alguém visível. Nenhum veículo de qualquer tipo, em parte alguma.
Havia muitos barracões e esconderijos onde alguém poderia estar à espreita,
mas nenhum deles com o tipo de recurso para ataque e desaparecimento que
um resgate como esse exigia.
Porque somente uma manobra de ataque e desaparecimento daria jeito
naquela situação. Assim que ele e Zerba estivessem no interior do prédio,
tudo poderia acontecer. Lando não era engenheiro de estruturas, mas
mesmo ali de fora era muito evidente que começar um tiroteio naquele
lugar poderia facilmente fazer tudo desmoronar em cima de quem quer que
estivesse no interior.
Lando olhou para a porta adiante, que ainda se abria com esforço. Seria
possível que não houvesse resgate porque o grupo não sabia onde ele e
Zerba estavam?
Ridículo. Winter e Tavia certamente testemunharam o sequestro lá da
suíte, e Rachele certamente conseguira rastrear o airspeeder de alguma
forma. Folx andara voando com eles pela cidade por mais de uma hora,
tempo mais do que suficiente para Han bolar um plano.
A não ser que não houvesse resgate porque Han decidira não perder
tempo com isso.
Lando tomou fôlego cautelosamente. Não, — aquilo era loucura. Han
não faria algo assim. Sim, Lando tinha dito poucas e boas para Han da
última vez que os dois se despediram; e sim, ele mencionara algo a respeito
de jamais querer ver Han novamente. Mas Han o convidara para aquele
serviço, e Lando já tinha desistido daquele lance de jamais-encontrá-lo-
novamente. E Han certamente parecia ter aceitado o pedido de desculpas de
Lando.
Além disso, mesmo que Han não estivesse pronto para perdoá- lo, com
certeza Chewie não daria as costas para dois colegas de equipe em apuros.
Não era do feitio dele.
No mínimo, alguém no grupo deveria se importar com Zerba para tentar
um resgate.
Então, onde estavam eles?
— Dê uma boa olhada, — alertou Wolv com um gesto amplo.
Lando despertou dos pensamentos sombrios para notar que estavam perto
da porta aberta. — Pode ser a última visão que você terá do mundo exterior.
— Não se preocupe, — respondeu Lando o mais calmamente possível.
Homens como ele, Lando se lembrou com firmeza, não se intimidavam
facilmente. — Nós vamos sair numa boa. A questão é: você vai?
Wolv apenas deu um muxoxo de desdém.
E então eles passaram pela porta e cruzaram a vastidão impressionante de
um espaço aberto parcialmente iluminado, e o som dos motores do
airspeeder ecoou no teto alto. Adiante, os dois airspeeders estavam
pousados, cercados por meia dúzia de grandalhões com fuzis de raios de
prontidão. Folx desceu o airspeeder gentilmente até o chão, a uma distância
respeitosa de 50 metros, e a seguir ele e Wolv saltaram, deixando Lando e
Zerba sozinhos.
— Agora? — murmurou Zerba, que mexeu os dedos e revelou a gazua de
três pontas.
— Ainda não — sussurrou Lando enquanto os sequestradores
caminhavam até o grupo que os aguardava. — Os outros guardas estão
observando a gente.
— Certo — disse Zerba, com a voz um pouquinho trémula. — Vamos
precisar de uma distração, não é? — Ele deu um tapinha expressivo no
estojo sobre o colo. — Calculo que a gente só tenha uma, mas ela é uma
belezinha.
— Calma, — alertou Lando. — Ainda não estou pronto para recolher os
frutos do jogo.
Um dos guardas gesticulou para o segundo airspeeder. A porta se abriu, e
um velhinho baixo saiu do interior. O especialista em bombas,
provavelmente. Ele deu um passo para o lado a fim de abrir espaço para
uma segunda figura...
Lando se contraiu. Atrás do velho, saiu um Falleen do airspeeder.
— Lando? — perguntou Zerba urgentemente.
— Ainda não, — respondeu Lando, se indagando por que ainda se dava
ao trabalho. Ele não sabia se aquele era o mesmo Falleen com quem Dozer
se envolvera no Lulina Crown, mas aquilo quase não importava. Ele era um
Falleen, era quase certo que fosse do Sol Negro, e de repente uma morte
súbita por detonita não parecia mais tão absurda.
Lando era um apostador. Um verdadeiro apostador jamais descartava a
mão quando ainda havia cartas sobrando para jogar.
— Ainda não — repetiu ele. — Han ainda pode aparecer.
Atrás deles houve um baque surdo. Lando olhou para trás e viu que a
porta de enrolar se fechara e isolara a fábrica do resto do universo.
Han não tinha aparecido.
Ele e Zerba estavam por conta própria.

Do outro lado do campo veio um estrondo suave quando a porta da


fábrica se fechou.
— Agora? — perguntou Winter.
Han ligou o comunicador.
— Chewie? Kell? Dozer? Agora...
CAPÍTULO

13

Finalmente, finalmente, a ordem fora dada.


Praticamente antes de aquela única palavra tão esperada terminar de soar
pelo comunicador, Kell já colocara o Z-95 no ar. Os repulsores e os motores
se combinaram para jogá-lo contra o assento, e as luzes do painel ficaram
parecidas com o rastro das estrelas acima e das luzes da cidade em ambos
os lados.
A espera chegara ao fim. Ele entraria em combate. Talvez não com a
intensidade que assombrava tanto seus sonhos quanto seus pesadelos, mas
era combate ainda assim.
E com o fim da espera, vinha o fim de pelo menos algumas de suas
dúvidas.
Kell temera hesitar ou, pior, congelar. Ele não fez isso. Kell temera que
talvez não fosse capaz de pilotar uma nave com a qual tinha pouca
experiência fora dos simuladores, apesar de todas as garantias que ele dera
mais cedo. Parecia estar dando certo. Kell temera que pudesse virar as
costas e abandonar a missão. Até agora isso também não tinha acontecido.
Kell temera que talvez não fosse capaz de encarar a morte pelo bem dos
companheiros de equipe. Essa decisão, infelizmente, ainda estava por vir. E
se, — e quando, — chegasse a esse ponto, ele ainda não fazia ideia de como
reagiria.
Mas Kell não tinha que saber. Não ainda. Coragem não era uma questão
de passar por cima de uma montanha em um pulo só. Coragem era dar um
passo de cada vez, fazer o que fosse necessário no momento certo, se
preparar para o próximo passo e se recusar a preocupar-se se algum passo
no futuro fosse aquele que acabaria com ele.
Kell estava no ar, pilotando o caça com competência e indo na direção
certa. Três passos dados. Um de cada vez.
Ele ligou o comunicador do Z-95.
— Chewie?
Houve um rugido em resposta, uma confirmação sem palavras de que o
Wookiee estava de prontidão atrás dele.
E Kell se deu conta subitamente de que talvez aquele fosse o verdadeiro
segredo para a coragem: ter o apoio de alguém e a garantia de que não
estava encarando a montanha sozinho.
Ele endireitou os ombros. Bastava de filosofia. Kell tinha um caça
embaixo de si, um conjunto de armas ao alcance dos dedos e companheiros
de equipe que precisavam de resgate.
— Venha comigo, — disse ele para Chewie; Kell não sabia se era uma
ordem ou um apelo. — Eu vou entrar.

Wolv e Folx tinham sido liberados pelos capangas do Falleen, e a


conversa tinha passado a abordar o próprio Falleen, quando um grupo de
janelas do térreo explodiu para o interior do prédio, e a fábrica inteira foi
iluminada pelos múltiplos clarões de um tiroteio de raios prolongado.
— Não, não, não, — gemeu Zerba, com o corpo encolhido como se
tentasse desaparecer dentro do banco do airspeeder. — Lando, o que ele
está fazendo?
— Tirando a gente daqui, — respondeu Lando com os dentes trincados.
— Aqui... arranque isso de mim.
— Tirando a gente daqui como? — indagou Zerba enquanto arrancava as
mãos das algemas e se debruçava para trabalhar nas de Lando. — Em sacos
mortuários? Ele vai derrubar o lugar todo em cima de nós.
— Ele tem um plano, — insistiu Lando olhando para o teto.
Até então o tiroteio de raios estava apenas destruindo as janelas e
passando por cima da cabeça de todo mundo, de maneira inofensiva. Será
que todo aquele barulho e fúria eram uma distração, enquanto Han esperava
que eles pegassem o airspeeder e tentassem fugir?
Porque se esse fosse o plano, era um plano péssimo. Nenhuma das
janelas quebradas era suficientemente grande para o airspeeder passar. E
mesmo que fosse, aquele modelo específico de veículo obrigaria Lando ou
Zerba a sair do banco traseiro e dar a volta até a porta do motorista para
chegar aos controles, e ele duvidava que Wolv, Folx ou o Falleen
simplesmente ficariam parados e deixariam aquilo acontecer.
Falando nele...
— Rápido com isso — disparou Lando ao dobrar o pescoço para olhar
pelo canopi do airspeeder.
Na primeira salva de tiros, o especialista em bombas e o Falleen
mergulharam de volta para o interior do veículo deles, e o restante do grupo
assumiu posições de defesa. Wolv e Folx se juntaram aos dois, mas já
estavam olhando de volta para o próprio veículo.
E mesmo a 50 metros de distância, com todos aqueles clarões reluzindo
no canopi do airspeeder e obscurecendo a visão de Wolv e Folx, Lando
notou que eles haviam percebido que um dos prisioneiros estava sem
algemas e o segundo estava prestes a se soltar.
— Por quê? — reclamou Zerba. — Você tem outro lugar para ir?
— Sim, qualquer lugar menos aqui, — disparou Lando.
Wolv estava olhando de um lado para o outro entre os diferentes vetores
dos raios que lhe passavam sobre a cabeça, provavelmente à procura de um
padrão. Lando suspeitava que, assim que ele calculasse o momento seguro,
Wolv viria na direção deles.
Do outro lado da fábrica, um dos arrimos no meio da parede do prédio
abruptamente se soltou quando os tiros da janela adjacente cortaram a
borda. O trecho do teto imediatamente acima desabou alguns metros, e a
súbita mudança de pressão quebrou dois arrimos menores e lançou
estilhaços de metal pelo espaço aberto, que caíram a poucos metros dos três
airspeeders.
— Qualquer lugar menos aqui parece ótimo, — rosnou Zerba. — Mas
como chegaremos lá? Este lugar é... — Ele parou quando outro arrimo se
quebrou e se espalhou pelo cenário. — É uma armadilha. O que Han está
tentando fazer, nos matar?
Lando ainda tentava arrumar resposta para aquela pergunta quando, com
um baque ensurdecedor, um grupo de janelas embaixo do teto explodiu. O
lugar estava desmoronando, sem dúvida, e embora os airspeeders do
Falleen provavelmente fossem blindados, o dele e de Zerba certamente não
era. Lando ergueu o olhar para a explosão, imaginando se algum dos
destroços viria na direção dos dois, curioso para saber se veria o pedaço de
parede ou viga que acabaria por matá-lo.
A bola de fogo da explosão ainda girava dentro da nuvem de fumaça
quando um Z-95 Headhunter disparou pela abertura e entrou na fábrica.

Kell fez uma careta quando pedaços da parede que ele acabara de
explodir bateram e quicaram no canopi do Z-95. Ele definitivamente
passara raspando por essa. Algo a se lembrar para a próxima vez.
Considerando que haveria uma próxima vez. Kell mal tinha acabado de
passar pelos destroços da explosão quando subitamente a parte de baixo do
Z-95 foi alvejada por um intenso tiroteio de raios. A primeira hipótese
automática foi que a mira de Han e Dozer dera defeito, mas um segundo
depois Kell se deu conta de que o ataque vinha dos homens ao lado dos
outros dois airspeeders lá embaixo.
Um ataque intenso também. As armas de raios que eles disparavam eram
extremamente poderosas, muito além da capacidade de um equipamento
civil. Mesmo a blindagem do Z- 95, feita para combate espacial pleno,
estava rangendo e estalando sob o assalto furioso.
Teria sido extremamente satisfatório voar a toda velocidade até a outra
ponta da fábrica, virar o caça e acertar todos eles com um contra-ataque dos
canhões laser KX5. Mas Kell não podia arriscar. O ataque dos E-Webs
havia mostrado que a fábrica era perigosamente instável. E o escapamento
do motor e o calor osaquecimento imediato necessário para montar tal
ataque, poderia ser derrubado em todo o lugar. Seria um resgate bastante
patético se Lando e Zerba fossem esmagados até a morte por terem ficado
presos na casca de um hovercraft.
Felizmente, esse problema estava prestes a ser resolvido.
— Homens maus aos sessenta e cinco e setenta e seis anos — ele gritou,
enquanto o lutador girava alguns graus enquanto disparava a distância para
ter uma visão melhor do chão da fábrica. Ele levou um momento para olhar
para a tela, para a planta que Rachele lhe enviara e para a rede de orientação
que Chewbacca havia sobreposto. Amigável aos cinquenta e oito. Alvo para
o bombardeio: sessenta e sete. Eu repito: branco para bombardeio, sessenta
e sete.
A parede dos fundos estava se aproximando rapidamente. A parte do
plano projetada para ele contemplava disparar outra explosão, fazer um
novo buraco e partir antes que pudesse ser abatida. Em vez disso, ele soltou
o pé no acelerador, deslizou para o lado para fazer uma curva rápida, a fim
de matar o impulso da inércia que o estava levando para frente e finalmente
parar. Era arriscado, e Chewie provavelmente teria algo a dizer sobre isso
depois, se eles sobrevivessem.
Mas o plano de Han era tão insano, e sua execução tão impossível, que
ele só teria ficado vagando por aí, para ver por si mesmo se realmente tinha
alguma chance de trabalhar.
Para algumas coisas na vida, valeu a pena arriscar tudo. Para o resto...
bem, sempre foi uma questão de critérios.

Kell já tinha fundido a parede para abrir um furo, se tinha infiltrado no


interior, delimitado tinha a Blitz zona para Chewie, e cobertura fogo E-
Webs ainda não tinha feito toda a fábrica em colapso. Até agora, as coisas
estavam indo conforme o planejado.
E então, saindo da escuridão e atravessando o céu noturno, o Falcão
apareceu.
Han apertou seu punho. Chewie foi um dos melhores pilotos que eu
nunca tinha visto, mas este foi o tipo de jogo que mesmo Han, geralmente
descarta plana.
Mas quando você não tem outra opção, você não tem escolha a não ser
fazê-lo.
— Vamos lá, Chewie — ele murmurou baixinho quando o navio se
dirigiu diretamente para o buraco na parede que Kell tinha feito. Claro, a
abertura era muito pequeno para o Falcon poderia caber, e não havia
nenhuma maneira que qualquer um deles poderia tentar estendê-lo, pelo
menos não com as condições em que o prédio estavam. Mesmo ter deixado
Kell entrar e sair tinha sido um risco calculado.
Mas Chewie não precisava fazer o maior buraco. Tudo o que ele
precisava fazer era jogar uma única rodada do jogo mais popular da galáxia,
o "Hits-al-Hutt".
E eu tive exatamente uma chance de fazer isso direito.
Naquele momento, o Falcon começou a ganhar um pouco de altitude, e
Han pôde ouvir Chewbacca tirar o pé do acelerador enquanto afiava sua
trajetória. Um crescente sentimento de frustração e culpa começou a
perfurar a humanidade de Han enquanto ele observava; sob qualquer
circunstância, corresponderia a ele estar lá em cima. Ele deve ser o único a
voar seu navio e fazer esse trabalho.
Mas se ele tivesse assumido essa tarefa, quem teria sido deixado para
organizar as ações no nível do solo? Dozer Inverno?
Não. Para o bem ou para o mal, fazia sentido ou não, ele era o líder desse
grupo. Aqui embaixo, onde a maioria dos tiros a laser explodiu, era onde
deveria estar.
Você está quase lá. Um pouco mais de altitude... um pouco menos...
desacelera mais do que uma fração... modifica o vetor de aproximação em
apenas alguns graus...
E então Chewbacca já estava lá, saindo do caminho traçado com uma
fração de segundo, e a nave subiu pela borda do prédio e disparou para o
espaço.
E só porque Han estava focando especificamente naquilo foi que ele viu
o atarracado cilindro de metal que saiu da popa da nave e entrou
perfeitamente na fábrica pelo buraco fumegante.

O primeiro pensamento horrível de Lando foi que o estrondo que se


aproximava do lado de fora era um míssil, vindo para destruir o prédio e
desintegrar todas as provas do que acontecera ali. Mas, no último
milissegundo, a massa escura passou voando pela abertura irregular que o
Z-95 tinha feito, virou para cima e passou roncando pelo telhado. Lando
sentiu o local inteiro tremer com o recuo da nave, e uma nova chuva de
destroços começou a cair sobre eles. Um pedaço bem grande das lajotas do
teto acertou e quebrou o lado do canopi onde Lando estava, e voaram cacos
de transparaço.
Sem aviso, algo grande e sólido bateu no piso diretamente entre o
airspeeder de Zerba e Lando e o veículo dos homens do Falleen. O impacto
levantou uma imensa nuvem de poeira e lascas de permacreto. Lando
recuou e imaginou se aquilo era de fato a ponta cónica do míssil que ele
estava esperando alguns segundos atrás.
Não era um míssil. Era uma cápsula de fuga CEC Classe 1.
Do tipo que havia a bordo da Falcon.
E diante daquilo, ele finalmente compreendeu.
— Vamos! — disparou Lando para Zerba.
Ele abriu a porta do airspeeder à força e disparou para fora, entre a
poeira, as lajotas que caíam e os cacos de metal. Correu curvado para se
manter longe dos raios que ainda entravam aos borbotões pelas janelas e foi
na direção da cápsula de fuga.
Lando estava no meio do caminho quando Zerba o alcançou, segurando o
estojo do cryodex contra o peito, com força.
— Aonde nós vamos? — perguntou ele ofegante.
— Aqui dentro, — informou Lando. Ele se ajoelhou ao lado da cápsula e
girou a escotilha. — É a ideia que Han faz de um santuário blindado.
— Mas é uma cápsula para apenas um passageiro.
— Vai ser apertado, — concordou Lando quando a escotilha se abriu. —
Você pode ficar aqui fora se preferir.
Zerba nem se deu ao trabalho de responder.

— Eles entraram! — berrou Kell no comunicador. — A cápsula está


selada.
— Ótimo, — respondeu Han, e pela primeira vez em horas Kell ouviu
um pouco de alívio verdadeiro na voz dele. — Kell, Dozer, derrubem o
prédio.

E com uma rapidez que pegou Dayja completamente de surpresa, os tiros


múltiplos dos E-Webs que martelavam a fábrica passaram de fogo de
cobertura para demolição.
O comunicador dele apitou.
— Dayja, o que está acontecendo aí? — indagou D’Ashewl. — A rede
policial está em alerta daqui até Grackelton com relatos de um tiroteio na
sua área.
— Ah, com certeza é um tiroteio, — confirmou Dayja enquanto espiava
a fábrica de uma distância que ele esperava que continuasse a ser segura. —
Mas, no momento, é um tiroteio seriamente unilateral. E-Webs do lado de
fora, um Z-95 Headhunter no interior.
É um tipo qualquer de cargueiro leve Corelliano, ele nao acrescentou,
com o cenho franzido enquanto observava o céu. O cargueiro havia feito
uma única investida contra o local e desviado só no último segundo, depois
se afastara e não voltara mais. Ou a nave estava fazendo um retorno
realmente muito grande ou tinha dado as costas e fugido.
A primeira opção não fazia muito sentido. A segunda parecia fora de
sintonia com o que Dayja tinha visto do grupo de Eanjer.
E aí ele compreendeu. O piloto do cargueiro não tinha se acovardado. Ele
tinha feito o que quer que tivesse que fazer pela operação, — distração,
reconhecimento, qualquer coisa, — e depois ido embora porque estava
correndo para voltar ao espaçoporto antes que a polícia e as autoridades
portuárias reagissem a todo aquele barulho e começassem a prestar atenção
ao que acontecia no céu acima delas.
O que significava que o cargueiro era o único item trazido pela equipe de
Eanjer que eles não pretendiam abandonar após o resgate.
Interessante. Naquele momento, Dayja queria ter conseguido ver melhor
a nave.
Com um estrondo ao longe, uma parte do telhado da fábrica desmoronou,
seguida imediatamente por um colapso parcial da parede norte. Os
agressores pareciam estar derrubando o prédio de propósito, o que
levantava a questão: como eles esperavam que os companheiros
sequestrados sobrevivessem?
Talvez eles já estivessem mortos. Talvez fosse isso que o cargueiro e o Z-
95 tinham vindo confirmar. Outra parte do telhado cedeu, e esse pedaço
aparentemente acertou um velho tanque ao cair e levantou um jato de gás
que parencia esverdeado e que parecia vagamente maligno na luz refletida
do fogo de laser. Uma segunda parte da parede norte desmoronou.
E com isso, aparentemente, os sequestradores já tinham o suficiente.
Mesmo com o laser queimando, Dayja observou os três hovercrafts voar
pelos buracos recém-abertos e tentar ganhar altitude.
Desta vez ele estava pronto e capturou uma boa imagem com seus
poderosos eletrobinóculos. Quem quer que fossem, ele seria capaz de
rastreá-los.
— Dayja? O que está acontecendo?
— Parece que, na maior parte, isso acabou agora, disse Dayja enquanto o
fogo das E-Webs parou. O Z-95 já havia emergido do interior, e estava
olhando para pousar no chão próximo, e podia ver três figuras correndo em
direção ao prédio destruído de diferentes direções. Mas não faria mal deixar
a polícia fora da área por mais alguns minutos. Você poderia consertar isso
sem ser notado que você está furando suas mãos?
— Minhas mãos vão ficar de fora - disse D'Ashewl. Mas não as mãos do
seu time; eles já podem ser considerados mortos. De fato, se os
sequestradores eram policiais corruptos, não sei como eles vão compor esse
incidente sem que Villachor e Qazadi concluam que Eanjer está
oficialmente ligado a outra pessoa.
— Eu também não sei - disse Dayja. — Mas estou ansioso para descobrir
isso.
Lando já estava com a escotilha aberta e estava saindo da nave de fuga,
quando Han e os outros chegaram até eles.
— Se encontra bem? Han perguntou, oferecendo uma mão.
Pareceu-lhe que Lando hesitou uma fração de segundo a mais do que
precisava antes de pegar a mão estendida. Mas ele apertou a mão bem
solidamente.
— Obrigado - ele rosnou quando Han o ajudou. Bom movimento, a
propósito. Devo entender que foi Chewie quem estava a bordo do Falcon?
— Sim, — disse Han, olhando em volta. O aspecto da devastação parecia
ser ainda pior aqui, do que o que era apreciado de fora. Eu imaginei que se
você tivesse sido esmagado pela cápsula, você não ficaria tão bravo com ele
quanto você estaria comigo.
— Provavelmente não
— Lando se virou. Zerba?
— Estou aqui. Uma mão fina e fina emergiu pela escotilha. Você poderia
me dar alguma ajuda, por favor?
— Passe-me o recipiente - instruiu Dozer, agachando-se ao lado da
cápsula.
A mão desapareceu e reapareceu com o recipiente cryodex. Dozer pegou-
a e passou-a de costas, na direção de Winter, e depois ajudou Zerba a sair.
— Obrigado, — Zerba respirou. Ele atirou em Han um olhar assassino.
— Nunca faça isso de novo.
— Que parte? - Han perguntou. — Para atirar nos bandidos para se livrar
deles, ou para salvar sua vida?
Zerba pareceu reconsiderar.
— Certo, bom ponto - ele admitiu, soando um pouco menos agressivo.
— Podemos sair daqui agora?
— Claro, — disse Han. — Dozer, levante-os em seu hovercraft e leve-os
de volta para a suíte. Kell também pode ir com você.
— Nós deixamos o equipamento? - Dozer perguntou.
— Tudo completamente - Han confirmou. — O inverno e eu vamos para
o espaçoporto e esperamos Chewie.
Algumas ordens, ele refletiu, só precisavam ser dadas uma vez. Dozer já
estava trabalhando nos escombros, com Lando e Zerba logo atrás dele.
— Uma tática interessante - disse Winter.
Han se virou. Ela estava assistindo a cápsula de fuga, com uma expressão
estranha no rosto.
— Eles são projetados para lidar com o espaço profundo, penetração
atmosférica e aterrissagens turbulentas - ele lembrou. Achei que poderia
lidar com qualquer coisa que os sequestradores tivessem com eles. Ele
apontou para as estrelas que apareciam no teto rachado. E isso também.
— Parece que ele cumpriu sua tarefa, — concordou Winter. — Mas eu
estava pensando mais sobre o que teria acontecido se Chewbacca falhasse
no lançamento.
— Lando provavelmente nunca teria querido me ver de novo - disse Han.
— Ok, vamos ver se o Chewie já completou tudo mais uma vez.
Han se virou. Ela estava assistindo a cápsula de fuga, com uma expressão
estranha no rosto.
— Eles são projetados para lidar com o espaço profundo, penetração
atmosférica e aterrissagens turbulentas — ele lembrou. — Achei que
poderia lidar com qualquer coisa que os sequestradores tivessem com eles.
Ele apontou para as estrelas que apareciam no teto rachado. E isso também.
— Parece que ele cumpriu sua tarefa, — concordou Winter. — Mas eu
estava pensando mais sobre o que teria acontecido se Chewbacca falhasse
no lançamento.
— Lando provavelmente nunca teria querido me ver de novo — disse
Han. — Ok, vamos ver se o Chewie já completou tudo mais uma vez.
— Então você não tem ideia de quem eles eram? Tavia perguntou
enquanto ele dava uma bebida a Lando.
— Só que havia uma falleen no grupo, — disse Lando, tomando um gole
delicado. Cognac era uma bebida notoriamente imprevisível, porque seu
sabor e qualidade variavam muito entre diferentes sistemas e muitas vezes,
mesmo entre diferentes regiões do mesmo mundo. Felizmente, Tavia havia
escolhido uma muito boa e muito suave. Não faço ideia se foi esse amigo de
Dozer, Lorde Aziel ou talvez do próprio Qazadi, que o contato de Eanjer
afirma que ele está escondido na fazenda de Marmol.
— Não tenho certeza se importa quem é — disse Kell. — Ambos estão
no mesmo time, certo?
— Não foi nenhum dos dois — disse Zerba. — Ele estava segurando seu
próprio copo de conhaque com as duas mãos, e evidentemente ele ainda
estava chocado com os acontecimentos da noite. Provavelmente foi o
guarda-costas de alguns deles.
— Como sabes? — Lando perguntou, pensando sobre isso novamente.
— Ele não havia notado nenhuma arma particular ou qualquer armadura
que pudesse induzir Zerba a chegar a tal conclusão.
Ele era jovem — disse Zerba. Jovem demais para ser alguém com esse
tipo de proeminência.
— Ele correu para o hovercraft quando o tiroteio começou — Lando
apontou.
— Ele conseguiu o especialista em bombas dentro do hovercraft quando
o tiroteio começou — Zerba o corrigiu. — Então ele se apresentou. No
entanto, ele deixou a porta aberta.
— Para poder dirigir o fogo de resposta — Winter murmurou. — Além
disso, ele fez um trabalho decente sobre isso. Mesmo atirando às cegas, eles
conseguiram desmantelar uma das E-Webs antes que Kell pudesse entrar.
— Bem, quem quer que fosse, eles não estavam com Villachor — disse
Bink com convicção. — Nem Sheqoa, nem qualquer outro tipo de
segurança que vi lá, mostrou a menor indicação de que eles sabiam que algo
grande estava acontecendo.
— Então, eles não deveriam estar monitorando as comunicações
policiais — ressaltou Tavia. — Toda a rede estava ficando louca com a
enorme quantidade de relatórios. Estou um pouco surpresa por eles não
terem desistido de você antes que pudessem sair de lá.
— O que você gostaria de interferir em um interrogatório do Sol Negro?
Lando respondeu. É improvável.
— Em conclusão, o que tudo isso significa para a missão? — Eanjer
perguntou. Ele parecia calmo, mas o tremor de seus dedos inquietos traiu
sua tensão.
— Nada, na verdade — Han disse. — Quem está por trás de tudo isso,
só sabe que Lando tem uma organização impressionante por trás dele. Essa
é a história que estávamos mostrando em primeiro lugar.
— Só que agora que Lando foi marcado, ele precisa manter um perfil
baixo — disse Bink. — Eu acho que Dozer é o próximo que deve enfrentar.
Ou você, Han.
Pareceu a Lando que os lábios de Han estavam se contorcendo, mas
apenas ligeiramente.
— Provavelmente — Han concordou. — Nós podemos falar sobre isso
mais tarde. Ele se virou para Rachele. Está pronta?
— Sim — disse Rachele, enquanto seus olhos estavam confusos. — Mas
eu não acho que você vai gostar.
— Pronto com o que? — Zerba perguntou.
— A análise dos dados do sensor no cartão que você infiltrou — disse
Han, olhando em volta. Dozer
— Estou bem aqui — disse Dozer, saindo do corredor da cozinha com
um grande sanduíche na mão. — Resgate funciona me deixa com fome. Ele
caiu no sofá ao lado de Tavia, forçando-a a se afastar para abrir espaço para
ele. Pronto
Han gesticulou para Rachele. Ela digitou no datapad, e a imagem de uma
sala quase completamente retangular apareceu no ar acima do projetor
holográfico.
— O cofre de Villachor, ele disse. — Como dissemos, foi construído no
salão de baile júnior; olhe os cantos curvos e as caixas de conversa.
— Provavelmente armazene lugares agora, murmurou Lando.
— Principalmente, — confirmou Rachele. — Também leve em conta o
telhado alto e ondulado. Esse é o salão de baile, com a camada original de
gelo lá em cima e, a propósito, a camada de armadura que discutimos
anteriormente é colocada no espaço entre os andares que estão acima dela.
— Uma camada de gelo, né? — Bink perguntou mal humorado. — Que
ótimo.
— O que é uma cobertura cintilante? — perguntou Kell.
— A decoração de interiores preferida do homem de bom gosto, —
informou Bink. — Bonita, elegante, resistente, cintilante em qualquer tipo
de iluminação. Você entendeu. O problema é que é impossível cortá-la sem
espalhar nuvens de flocos brancos e reluzentes por toda parte.
— O que significa que não dá para entrar, pegar o tesouro e sair sem
ninguém notar, — acrescentou Tavia. — Assim que começarmos a
operação, nossas pegadas estarão por todos os lados.
— Que tipo de segurança ele tem dentro da caixa-forte? — indagou Bink.
— Ah, vocês vão adorar isso, — disse Rachele. Ela tocou no datapad
novamente, e uma dezena de figuras surgiu em volta das bordas da caixa-
forte. — Vocês se lembram daqueles droides políciais Z que Kell disse que
Villachor tinha? É aqui que eles ficam.
— Mais os dez que ficam de guarda do lado de fora da porta, — falou
Lando. — Com armas de raios e chicotes neurônicos TholCorp OT-7, só
para tornar as coisas interessantes. Passar por aquele grupo é o primeiro
passo no procedimento de entrada.
Chewbacca se voltou para Han e grunhiu uma pergunta.
— Não sei, — respondeu ele. — Kell? Sabe de alguma maneira de
derrubar um Z?
— Eu teria que pesquisar, mas tenho certeza de que é possível. — Kell
abanou a mão. — É claro que tudo é possível. É na execução que a coisa
empaca.
— Uma descarga alta no motivador ou no núcleo de memória resolve
para a maioria dos droides, — observou Bink.
— Mas é difícil de passar pelo tipo de blindagem que os Zs têm, — disse
Kell.
— E não se esqueçam dos chicotes, — acrescentou Lando. — Aqueles
troços têm uma tremenda energia, e Villachor dificilmente daria os chicotes
para os guardas se pudessem ser usados contra eles. Isso implica em mais
blindagem contra descarga elétrica.
— Na verdade, é pior do que isso, — falou Kell. — Você lembra que eu
disse que os Zs que vi tinham placas nos braços, coxas e cinturas? Essas
peças são onde os droides têm finos cilindros paralelos em vez de uma
única peça mais larga, e a cintura também fica mais estreita.
— E daí? — perguntou Bink.
— Daí que, com aquelas placas no lugar, não dá para dizer se eles
possuem os cilindros paralelos originais e o tubo do torso, ou algo mais
largo, — respondeu Kell. — Em outras palavras, não dá para dizer se aquilo
é ou não um Z de verdade.
— Uau, — exclamou Dozer, esquecendo momentaneamente o sanduíche.
— Você está dizendo que alguns daqueles Zs podem ser na verdade guardas
humanos blindados?
— Exatamente, — disse Kell. — É realmente muito inteligente. A pessoa
golpeia com um motivador de curto espectro como Bink disse, programado
para derrubar um droide. Só que o humano dentro da blindagem nem se
abala e derruba você de bunda no chão.
— Enquanto isso, algo feito para atordoar ou paralisar um humano não
funciona em um droide — falou Han.
— E somente Villachor sabe qual é qual, — disse Kell.
— Falando em droides, há alguma maneira de lidar com aqueles droides
câmera flutuantes do lado de fora? — perguntou Dozer. -
Eu não gosto da ideia de que alguém, em uma sala, esteja observando
tudo o que fazemos lá em um monitor.
— Isso não é um problema, assegurou Tavia. Temos um dispositivo
projetado para embaçar seu dispositivo de visão. Não é suficiente para
ativar alarmes ou sequências de autodiagnóstico, mas o suficiente para
impedir o reconhecimento facial. Com toda a poeira, o calor extra do corpo
e os campos de contenção dos repulsores que eles têm lá fora, você deve
assumir que isso é tudo o que está interferindo em seus holocams.
— Isso vai ser bom o suficiente? Dozer perguntou, olhando para Han.
— Deveria ser, — disse Han. Teremos que nos certificar de que não
seremos notados na multidão.
— Até que seja necessário, murmurou Lando.
— Certo, Han concordou.
— Então, como nos infiltramos no complexo? Kell perguntou.
— Está feito — Bink disse calmamente. Eu plantei há dois dias, em
nossa primeira incursão.
— Você poderia ter nos dito, — Dozer rosnou.
Bink encolheu os ombros.
— Eu assumi que seria óbvio.
— Vamos voltar para os Zeds, disse Zerba. Temos alguma ideia se
aqueles que estavam fora do cofre eram droides ou seres humanos? E mais
importante, temos alguma ideia de que tipo de código de acesso eles
estavam usando? Como pude ver, não era usual.
— Você está certo, não foi usual, Rachele concordou. Acontece que havia
algum cheiro nos dedos de Villachor que o Zed estava farejando.
— Algum cheiro? Lando repetiu quando sentiu a boca permanecer
aberta. Você quer dizer algo como um perfume?
— Colônia, na verdade, — disse Rachele. Ou o Rezi-Oito ou o Rezi-
Diez, as duas fórmulas são muito semelhantes na realidade.
Kell olhou para Tavia.
— Você tem que estar brincando. Você usou um analisador de odores?
Tavia encolheu os ombros.
— Han nos disse para analisar todo o espectro, — ela lembrou a ele.
Bem, analisamos o espectro total.
— Apesar de estarmos principalmente à procura de partículas de
materiais transportados pelo ar, — acrescentou Winter -. Não esperávamos
poder demarcar as preferências de Villachor em relação aos enfeites de
banheiro.
— Como eles fizeram, disse Rachele. Infelizmente, eu acho que a chave
aromática muda todos os dias, e se não podemos entrar em seu armário de
banheiro privado, eu não sei como vamos descobrir qual deles precisamos.
Kell sacudiu a cabeça.
— Isso está ficando melhor e melhor.
— Nós nem sequer começamos, avisou Rachele. Ele digitou seu datapad,
e uma grande esfera conectada por um pequeno pilar a uma larga
plataforma plana apareceu no centro da sala. Este é o seguro em si — disse
ele. É uma esfera de seis metros de diâmetro, com a parte externa feita de
duracrete, vertida sobre uma malha de metal que serve de suporte.
— Uma esfera? Winter perguntou. Soa um pouco demente.
— Tão enlouquecido quanto um Twi'lek — disse Zerba amargamente.
Um quadrado ou retângulo tem cantos que podem ser cortados para obter
uma entrada rápida. Uma esfera não as possui. Mesmo com um sabre de luz
completo, levaria uma eternidade para quebrar material suficiente para
poder entrar.
— E, provavelmente, encontraríamos armadilhas doces ao longo do
caminho, acrescentou Tavia. O duracreto derramado é perfeito para deixar
no meio, sacos de gás e cargas escondidas de detonite.
— Você disse que a parte externa foi conformada pelo duracreto, — disse
Han-. O que acontece com a parte interna?
— Isso é ainda pior, disse Rachele. No centro da esfera está o verdadeiro
cofre: um armário retangular, do tamanho de um armário, feito inteiramente
de pedra Hijnana.
Lando olhou em volta. Das expressões de perplexidade refletidas nos
rostos dos outros, ele percebeu que os outros não estavam mais
familiarizados com o termo do que ele.
— Que tipo de pedra é essa? Dozer pediu.
— Uma pedra dura e preta, que é excepcionalmente difícil de cortar e
absorve o fogo a laser, mesmo sem um arranhão, disse Rachele. O exemplo
mais proeminente é uma fortaleza parcialmente arruinada no planeta
Hijarna. O ponto é que, mesmo com o sabre de luz de Zerba, não vamos
passar por isso. Não no espaço de tempo que teremos.
— Bem, Villachor não sofre com todas as penalidades a cada momento,
Bink apontou. Por que devemos fazer isso?
— Exatamente, — ele concordou, Tavia. Landó percebeu que seu rosto
mantinha sua desaprovação habitual por esse tipo de coisa. Mas, ao mesmo
tempo, ele podia apreciar um certo tipo de interesse profissional que estava
começando a surgir no meio de tudo. Este foi um desafio tático, e se havia
algo que Tavia gostasse, isso era um desafio. Você pode explicar como você
executa sua rotina?
— Claro, disse Rachele. Ele entra no cofre depois de ser examinado
pelos Zeds que estão do lado de fora ...
— Ou para os guardas humanos, Lando murmurou.
Por quem ou pelo que está dentro dessas armaduras, concordou Rachele.
O selo magnético da cúpula apaga quando ele abre a porta, é claro.
Atravesse a sala até chegar à plataforma flutuante estacionária e ...
Chewbacca deu um grunhido agudo.
— disse Rachele. Desculpe, esqueci de mencionar essa parte. A caixa de
segurança é colocada nesta plataforma de dez metros de diâmetro, que está
flutuando a cerca de um metro e meio acima do solo, apoiada por
repulsores, e movendo-se lentamente ao redor de toda a sala. Eu não sei se
segue um circuito constante ou executa um caminho aleatório.
— Bem, agora tudo isso está ficando ridículo, — disse Dozer.
— Na verdade não, disse Tavia. Anteriormente, quando começamos com
essa coisa, alguém mencionou a possibilidade de tunelamento embaixo. A
outra abordagem óbvia é abrir um buraco no telhado e tentar cair no cofre
de cima, sem que os guardas nos vejam. Neste momento, com o cofre em
constante movimento ao redor da sala, ambas as táticas provaram ser
inúteis.
— Esses repulsores devem ser realmente formidáveis, disse Bink. Uma
esfera de duracrete desse tamanho provavelmente pesa mais de cento e
cinquenta toneladas.
— Facilmente, — disse Rachele. E sim, os repulsores são extremamente
poderosos, então eles têm seu próprio gerador de fusão integrado,
provavelmente dentro e abaixo daquele pilar de trinta centímetros que
segura a esfera na plataforma.
— O cara é esperto, isso é claro, Bink concordou. Se tivéssemos ficado
onde eu estava caminhando em direção à plataforma flutuante?
— Quando você se aproxima da plataforma, o conjunto mais próximo de
escadas se desdobra abaixo — disse Rachele. De acordo com meus
cálculos, existem cerca de cinquenta deles. Porque enquanto a plataforma
está se movendo ao redor da sala, ela também está girando lentamente.
— Aleatório, suponho? Winter perguntou.
Rachele assentiu.
— Eu observei duas pequenas mudanças de velocidade na rotação
enquanto se movia pela sala. É uma rotação lenta, mas a velocidade não é
realmente a coisa mais importante. A linha inferior é que, por causa da
rotação, o intruso médio não teria nenhuma maneira de saber onde o cofre
verdadeiro está localizado.
— Mas podemos descobrir, não é? Bink perguntou.
— Eu acho que sim, disse Rachele. Existem vários grupos de buracos
pareados que são do tamanho de um dedo, espaçados a cerca de quatro
centímetros de distância, distribuídos ao redor do contorno da esfera na
altura do peito. Villachor vai para um determinado conjunto pré-
determinado, e insere os dois primeiros dedos da mão direita e, em seguida,
a parte inferior de um dos segmentos da esfera, desdobra-se na plataforma,
abrindo um espaço de aproximadamente um metro e meio de largura e dois
metros de altura através do duracrete, um espaço que se estende até o fundo
do centro da pedra Hijarna.
— O gabinete está exatamente no meio da esfera? Zerba perguntou.
— Não, é cerca de meio metro atrás, disse Rachele, parecendo
desnorteada. Por que você pergunta?
Zerba encolheu os ombros.
— Só é curiosidade.
— Sabemos se os buracos são ativados por suas impressões digitais?
Tavia perguntou.
— Eu não penso assim, disse Rachele. A posição dos dedos parecia
casual, e ele nunca os manteve em silêncio o suficiente para uma boa leitura
das impressões. O melhor palpite é que é um gatilho ativado pelo calor do
corpo, e você só precisa saber qual par de furos você usa.
— Ou talvez todos os usem, disse Zerba.
— Eu não acho que seja o caso; e não há necessidade de experimentá-los
todos — disse Winter, apontando com o dedo. Existem duas pequenas
marcas de desgaste no par de furos, apenas à esquerda das que ele está
usando.
— Eu os vejo, disse Bink. O que vem depois?
Rachele digitou novamente, fazendo com que a imagem do holoprojetor
aumentasse na esfera, concentrando-se no segmento que havia sido
implantado, o que indicava o caminho que acabara de descrever.
— Agora temos um pequeno túnel, — continuado ... no final do qual está
a porta do armário interior, feita de outro bloco de pedra Hijarna com um
teclado alfanumérico padrão fixado nela.
A imagem do zoom foi ampliada mais uma vez, oferecendo um close-up
do teclado.
— Projetado com a fonte Galactic Alto, pelo que vejo — comentou
Zerba.
— As pessoas comuns o chamam de Aurebesh — disse Lando
secamente. Os esnobes, como Villachor, consideram que eles são de um
nível muito alto para se referirem a essas cartas dessa maneira.
— Nós poderíamos pegar o código, certo? Disse Tavia.
— De qualquer forma, nós temos o código de Esta tarde — disse
Rachele. Mas levando em conta o resto de suas medidas de segurança,
imagino que os códigos mudem regularmente.
— Provavelmente duas vezes por dia — disse Bink, levantando-se e
avançando para olhar mais de perto a imagem. Esse modelo específico
permite um padrão pré-estabelecido com alterações duas vezes ao dia.
— O que você quer dizer com "pré-estabelecido"? Kell perguntou.
— Quero dizer que, em vez de um computador em algum outro lugar da
casa, está selecionando um conjunto aleatório de números todos os dias, que
tem que ser enviado para o cofre ...
— Que teria que ser memorizado por Villachor, — acrescentou Tavia.
— O que teria que ser memorizado por Villachor ... -Bink concordou ...
ele pode pré-codificar o cofre por semanas ou mesmo por um período de
meses.
— Como você mantém tantos códigos memorizados? Dozer perguntou.
— Existem duas alternativas prováveis, disse Rachele. Em primeiro
lugar, um dos Zeds que está dentro, também pode salvar a sequência e
entregar o código que estava em vigor naquele momento. Eu não vi isso
acontecer, mas meu ângulo de visão pode não ter sido o mais apropriado.
Parece arriscado, disse Kell. Especialmente porque os droides
provavelmente serão aliviados regularmente para serem recarregados e
reparados.
— E também porque transmitir a sequência para um androide não é
melhor do que transmiti-lo diretamente ao teclado, — acrescentou Tavia.
— Tudo bem, disse Rachele. A possibilidade mais provável é que a
sequência se refira a um padrão que Villachor já conhece. Fatos sobre a
história de sua família, os nomes de suas ex-namoradas, os anos das
colheitas de vinho em seu porão. Algo como isso.
— Então agora também temos que ler sua mente, — disse Dozer,
preocupado. Ótimo
— Não sua mente," Winter corrigiu-o calmamente. Apenas sua história.
E nós temos um ponto conhecido a partir do qual podemos começar.
Dozer sacudiu a cabeça.
— Para mim ainda soa como acender um canhão com uma vela.
— Isso é verdade, mas é apenas um canyon único — disse Winter.
— E assim que conseguirmos decifrá-lo ... — continuou Rachele, — ...
parece que tudo dentro do cofre tem um sensor que será ativado se for
removido.
— Que significa isso? Eanjer perguntou.
— Isso significa que se tirarmos alguma coisa das paredes da mansão,
isso fará com que os alarmes sejam disparados por todo o Tesouro de
Mármore, — explicou Zerba.
— Mais do que apenas alarmes, — explicou Rachele. — Pelos velhos
registros de compras, parece que Villachor instalou uma cerca circular de
varas em volta da mansão. É como uma floresta de postes separados por
poucos centímetros que saem do solo quando acionados, — acrescentou ela
olhando para Eanjer. — Os postes geralmente têm corrente suficiente para
atordoar ou matar.
— Locais de alta segurança às vezes usam a cerca como última defesa
contra roubo, — falou Bink. — É preciso um airspeeder para passar por
cima dela, e mesmo assim não dá para chegar muito perto, ou a corrente
subirá até a pessoa e fritará os repulsores.
— Dependendo da altura dessa cerca, pode ser que esprema a pessoa
contra o escudo abrangente a ponto de ela ficar efetivamente presa lá
dentro, — falou Tavia.
— Então definitivamente temos que desligar o sistema antes de agirmos,
— concluiu Eanjer, concordando com a cabeça.
— O que provavelmente não conseguiremos, — disse Rachele. — Esse
tipo de sistema geralmente inclui uma malha fina por todas as paredes, que
emite um campo eletrostático de baixo nível por todas as portas e janelas. É
independente e descentralizado, e a única maneira de desligá-lo é
basicamente cortar a parede mais ou menos 2 metros em volta da porta que
se planeja usar. — Ela ponderou. — Obviamente, depois disso creio que a
pessoa de fato não precise mais da porta.
— Então o que precisamos é garantir que, quando o alarme for disparado,
ninguém esteja em condições de reagir — falou Dozer. — Talvez a gente
consiga atacar o lugar com gás.
Bink fez que não com a cabeça.
— Você jamais conseguirá entrar com tanto gás assim sem ser capturado.
— E, de qualquer forma, também não funcionaria nos droides —
acrescentou Kell. Também precisaríamos de uma quantidade suficiente de
detonite para explodir uma seção da cerca e ter tempo suficiente para
plantá-la.
— Então só temos que ter certeza de que todos estão ocupados demais
para responder? Lando perguntou, olhando para Han. Esse é o plano?
— Na maior parte — Han disse. Isso é tudo, Rachele?
Sim, disse Rachele. Ah, exceto que a sala que está diretamente acima do
cofre é a sala onde os guardas estão hospedados, onde os seguranças de
Villachor ficam quando não estão de serviço.
— Felizmente, a maioria deles estará de plantão durante os tributos —
assinalou Han. Obrigado, Rachele. Pelo menos agora sabemos o que
estamos enfrentando.
— Sim, tenho certeza que posso dormir melhor esta noite — rosnou
Dozer.
— Fico feliz em ouvir isso — Han disse naquele tom inocente, não
completamente livre de todo sarcasmo, que lhe convinha tão bem. Isso é
tudo por esta noite. É melhor dormirmos um pouco, amanhã vai ser um dia
agitado.
Levantando-se, ele se aproximou e sentou ao lado de Rachele,
murmurando alguma coisa e gesticulando em direção ao holograma. Os
outros, seguindo a indicação, levantaram-se e saíram.
Lando esperou até que todos saíssem.
— Posso te contar uma coisa? Ele perguntou.
— Claro — Han disse, ignorando a conversa particular.
— Quer que eu vá? Rachele perguntou.
— Não, eu apreciaria sua opinião, disse Lando. Bink disse há um tempo
que você ou Dozer teriam que tomar o meu lugar.
— Sim, ele fez — Han concordou. Você quer votar em um dos dois?
Lando assentiu.
— Eu voto em mim.
Rachele piscou. O rosto de Han se encolheu como se estivesse diante de
um jogo ilegível de sabacc.
— Você acabou de ser sequestrado, ele lembrou Lando.
— E eu fui liberado — respondeu Lando. Eu faço parte de uma
organização que não pensa duas vezes antes de querer defecar altos
funcionários do Sol Negro, lembra? Um sequestro não deve impedir meus
movimentos.
Han se virou para Rachele.
— O que você acha?
— Ele tem um bom argumento — admitiu com relutância. Especialmente
se Bink estiver correto que o Villachor não está envolvido em tudo isso.
Quem estava por trás do sequestro, também teve que lidar com a segurança
do Tesouro de Mármore, e agora eles têm que trabalhar com respeito à
segurança da organização Lando também. E como eles não conhecem o
tamanho ou o alcance desse grupo, eles terão que dar os passos com muito
cuidado.
— Mas você certamente precisa de mais segurança. A voz de Eanjer veio
do fundo da sala.
Lando se virou, sentindo uma pontada de aborrecimento. Não era óbvio
que ele foi deixado para trás porque queria falar com Han sozinho?
Aparentemente não foi. Pelo menos não para Eanjer.
— Existe algo que podemos fazer por você? Han perguntou, sendo mais
educado do que Lando poderia ter sido.
— Eu estava pensando na segurança de quem quer voltar para a Fazenda
de Mármore — disse Eanjer, caminhando o resto do caminho até o quarto.
Ele parecia disposto a se sentar, mas olhou para a expressão de Lando e,
aparentemente, pensou melhor. — Me ocorreu que o depósito de armas que
Winter encontrou para vocês também pode ter algumas armas de raios
menores que poderíamos pegar.
— Não precisamos de mais armas de raios, — garantiu Han. — Quem
quer que entre na mansão simplesmente levará Chewie junto.
Eanjer arregalou o único olho.
— Chewie?
— Claro, por que não? — disse Han. — Havia um monte de Wookiees lá
nos outros dois dias.
— Existe uma grande demanda por Wookiees como guarda- costas da
elite da Cidade de Iltarr, — confirmou Rachele.
— Sim, mas... — Eanjer fechou bem a boca. — Veja bem, eu sei que
você tem que bancar o confiante na frente de, — o olho se voltou para
Lando, — todos os demais. Mas isso é loucura. Não é possível que você
acredite que possamos invadir algo assim discretamente. — Ele apontou
com a cabeça para o holograma que flutuava no alto.
— Você tem uma ideia melhor? — perguntou Han.
— Um ataque direto e frontal, — disse Eanjer sem meias palavras. —
Juntamos mais amigos seus, atacamos o lugar enquanto a segurança está
ocupada com as Honrarias...
— Epa, epa, — interrompeu Lando. Ele nunca tinha gostado realmente
de Eanjer, mas não sabia dizer exatamente por quê. Agora Lando sabia. O
sujeito era um idiota. — Quem você pensa que nós somos, a 501a Legião?
Um ataque a Marblewood seria um suicídio instantâneo.
— Claro que seria arriscado, — contra-argumentou Eanjer. — Mas
lembre-se da recompensa ao final. É possível contratar muitos
mercenários por 163 milhões de créditos.
— Com créditos na mão, sim, — reagiu Lando. — Créditos prometidos
não são um atrativo tão bom.
— Eu sei, — falou Eanjer. Ele bufou. — Mas não vejo outra maneira de
entrar.
— Eu também não, — disse Han. — Para a nossa sorte, nós não
precisamos.
— O que você quer dizer? — perguntou Rachele.
— Quero dizer que nós não precisamos entrar, — repetiu Han
pacientemente. — Tudo que precisamos é que Villachor traga tudo para
fora.
— O quê? — reclamou Eanjer franzindo o olho. — Ora, vamos.
Villachor não vai simplesmente trazer os créditos e arquivos para fora e
entregá-los para você.
— Eu não disse que ele iria, — falou Han. — Mas se Villachor achar que
a caixa-forte está ameaçada, ele terá um bom motivo para transferir tudo
para um local mais seguro. É aí que roubamos dele.
— Não, — insistiu Eanjer. — Não podemos fazer dessa forma.
— Por que não?
O olho de Eanjer se voltou para Lando.
— Porque não vai funcionar, — disse ele, falando como se estivesse
explicando alguma coisa para uma criança de cinco anos. — Villachor
pode, pode transferir os arquivos de chantagem se você o deixar
suficientemente preocupado, mas não é provável que ele se dê ao trabalho
de transferir os créditos.
— Bem, então a gente simplesmente pega os arquivos — falou Han. —
Achei que tínhamos decidido que eles são mais valiosos no mercado aberto
do que algumas fichas de crédito, de qualquer forma.
— Não, sem um cryodex eles não farão, — insistiu Eanjer-. Não, se nós
vamos tirar isso, nós realmente temos que entrar lá. Nós temos que fazer
isso.
— Certo Sua opinião foi anotada.
Han olhou para Rachele e Lando.
— Alguém mais tem ideias que você deseja adicionar ao assunto?
Algo em seu tom de voz avisou Lando que a resposta correta era um
"não".
— Talvez mais tarde, ele disse. Estou pensando que vou preparar um
lanche rápido, supondo que Dozer tenha deixado algo para o resto de nós e
eu vou para a cama.
— Eu também, — disse Rachele, fechando o datapad e desligando o
projetor holográfico. Exceto pela parte do lanche. Boa noite a todos.
Lando quase esperava que Eanjer o seguisse até a cozinha e tentasse
argumentar outra coisa contra o novo plano de Han. Felizmente para Eanjer,
ele não o fez.
Lando e Eanjer desapareceram no corredor. Han esperou alguns
segundos, só para ter certeza, e então se virou para Rachele.
— Podemos estar prontos em dois dias?
— Não poderemos fazer isso, ele disse. Zerba ainda está trabalhando nos
ternos de seda que se rasgam, e Tavia e os outros têm apenas metade dos
decodificadores de que precisam.
— E ainda não temos como prová-los?
— Não, a menos que você queira experimentar um durante o Tributo à
Água em Movimento, depois de amanhã.
Han sacudiu a cabeça.
Muito arriscado. O que nós conseguimos provar, eles verão também.
— Sim. — Rachele observou a expressão dele. — O plano está
começando a desandar, não é?
— Não sei, — admitiu Han. — Talvez um pouco. Eu nunca acreditei
nessa história toda que o amigo de Eanjer contou sobre Qazadi, pelo menos
não na parte em que ele era um dos principais agentes de Xizor. Mas se
Qazadi realmente estiver no comando agora, ele talvez ataque mais rápido
do que a gente tinha imaginado.
— Mas também pode forçar Villachor a agir — observou Rachele. — Eu
sei que toda essa oferta para mudar de lado só aconteceu para que a gente
conseguisse colocar o cartão de dado de Tavia dentro da caixa-forte, mas se
formos capazes de realmente convencê-lo a desertar, nós podemos pegar os
créditos e os arquivos com muito menos trabalho.
— Sem chance, — disse Han expressamente. — Não agora que um dos
Falleens entrou em cena. Quem quer que seja, ele demonstrou muito bem
que pode requisitar recursos do Sol Negro em Wukkar. Se o Falleen sequer
suspeitar que Villachor está pensando em pular fora do barco, é o fim de
Villachor. Ele tem que saber disso.
— Creio que sim — falou Rachele, ainda observando Han. — O que
também significa que não há jeito de você convencê-lo a transferir os
arquivos para outro lugar, porque essa atitude faria parecer que Villachor
estaria fugindo com eles.
— Não, sem chance disso também, — concordou Han.
— Então por que você contou para Eanjer que esse era o novo plano?
— Principalmente para ver a reação dele, — respondeu Han ao se
levantar. — Vou para a cama. Não deixe Tavia dormir até tarde; temos
apenas quatro dias até a Honraria ao Fogo, e vamos precisar de todos os
misturadores que conseguirmos.
— Vou garantir que ela e os demais acordem ao raiar do sol, — prometeu
Rachele. — O que você vai fazer a respeito de Villachor? Ele espera
encontrar o chefe de Lando na Honraria à Água em Movimento depois de
amanhã.
— Acho que vou ter que enrolá-lo, — falou Han. — Podemos ver isso
amanhã.
Ele foi na direção do corredor e do quarto.
— E você conseguiu? — perguntou Rachele.
— Consegui o quê?
— Conseguiu descobrir o que estava procurando com Eanjer?
Han fez uma careta.
— É, acho que sim. Apague as luzes ao ir dormir, ok?
CAPÍTULO

14

As preparações para a Honraria à Agua em Movimento estavam durando


o dia inteiro, e, pelo que Dozer conseguia observar ao espiar
ocasionalmente pelas janelas da suíte, parecia que ela seria tão espetacular
quanto as duas Honrarias anteriores.
Mas aquilo era assunto para o dia seguinte. Naquele momento, pelos
próximos minutos, a única coisa na mente de Dozer era o segurança de
Marblewood saindo cansado do landspeeder estacionado na frente da casa
dele, em um bairro de classe média da cidade.
Han garantira que o homem simplesmente não atiraria em Dozer ali
mesmo. Nem mesmo o Sol Negro lidava dessa maneira com pessoas que
faziam coisas estranhas, mas não ameaçadoras. Han prometera que o
homem simplesmente escutaria, pegaria o pacote e deixaria Dozer ir
embora.
Han sempre era persuaviso, mas nem sempre estava certo.
Especialmente visto que eles não sabiam nada sobre o guarda, a
não ser que ele trabalhava no turno do início da manhã em Marblewood.
Não sabiam o nome, a história ou qualquer outra coisa sobre ele. Sequer
sabiam o endereço dele até Dozer o seguir até em casa.
Felizmente, com Rachele e seu computador disponíveis para rastrear o
endereço, eles agora também sabiam que o nome dele era Frewin Bromly.
Ele estava tentando tirar uma bolsa a tiracolo do banco de trás, e o cabelo
louro intenso estava sob a sombra do teto do airspeeder. Dozer surgiu pelas
costas do homem e pigarreou.
— Com licença?
Bromly era tão bom quanto era de se esperar de alguém que trabalhava
para Villachor. Ele largou a bolsa novamente sobre o banco de trás e girou
num movimento suave e gracioso que o deixou diante de Dozer com a mão
ao alcance rápido da arma de raios no coldre. Uma única olhadela
igualmente graciosa captou Dozer e toda a área ao redor dele.
— Sim? — perguntou Frewin em tom perfeitamente neutro.
— Serviço de Entregas Rápidas — respondeu Dozer tocando na plaqueta.
— Tenho uma encomenda para Frewin Bromly. É o senhor?
— Sim — disse Frewin franzindo os olhos. — Eu não encomendei nada.
— Só o que eu sei é que fui contratado para trazer isto para o senhor, —
falou Dozer ao erguer a pasta e abrir a tampa. — Aqui está. — Ele retirou
um pequeno embrulho e ofereceu o pacote.
Bromly não fez menção de pegá-lo.
— O que é isso?
— Como vou saber? — respondeu Dozer. Ele segurou o pacote por mais
um segundo, depois se agachou e deixou o embrulho na entrada da garagem
da casa. — Beleza. Se o senhor não quer, é só deixar aqui. Eu tenho um
cronograma a cumprir. Tenha uma noite tranquila.
Ele endireitou o corpo, acenou educadamente com a cabeça para Bromly,
depois se virou e começou a voltar pela entrada da garagem na direção de
seu landspeeder.
— Ei!
Dozer parou com a garganta contraída.
— Sim?
— Eu não quero essa encomenda, — gritou Bromly. — Volte e pegue.
— Não posso fazer isso, — disse Dozer. — Se o senhor não quiser, dê
para alguém ou jogue para os peixes. Faça o que bem entender.
Ele voltou a andar, e suas costas se tornaram uma massa de músculos
tensos. Mais cedo ou mais tarde, provavelmente antes de Dozer sumir de
vista, a curiosidade de Bromly levaria a melhor, e ele abriria o pacote.
E embora quinhentos créditos não pudessem ser considerados dinheiro
caído do céu, deveriam ser mais do que o suficiente para atrair muita
atenção. Tanto de Bromly quanto, com o tempo, de Sheqoa e Villachor.
Dozer meio que esperava que Bromly viesse correndo atrás dele até o
landspeeder. Mas, novamente, o homem tinha sido bem treinado. Ou Dozer
era um mensageiro inocente, e nesse caso confrontá-lo não daria em nada,
ou então fazia parte de um grupo profissional de suborno, e qualquer um
que tentasse uma coisa dessas tão abertamente para cima de um guarda do
Sol Negro com certeza teria sido inteligente de ter vindo com reforços.
Não, a melhor atitude de Bromly no momento seria levar o pacote para
dentro e imediatamente ligar para os superiores em Marblewood a fim de
reportar o incidente.
Ou ele podia simplesmente embolsar os créditos. Mas isso realmente
seria esperar demais.
Ainda assim, Dozer tinha outros dois guardas na lista para seguir até em
casa quando os turnos acabassem. Talvez um deles fosse suficientemente
gentil e aceitasse a propina.
Com sorte, nenhum deles seria descortês o bastante e lhe daria um tiro
nas costas.
Sheqoa nunca gostara do Festival das Quatro Honrarias. Mesmo quando
era criança, ele achava o evento longo demais, os locais muito cheios, a
comida esquisita demais, e os espetáculos se alternavam entre bombásticos
e chatos. Como adulto, Sheqoa aprendera a gostar de algumas das comidas,
e ainda mais de algumas das bebidas. Ainda assim, continuava achando os
espetáculos longos e previsíveis.
Como chefe de segurança de Marblewood, Sheqoa aprendera a odiar o
evento completamente.
Ele compreendia por que Villachor gostava de sediar uma das
comemorações. Aquilo elevava seu status no alto escalão de Wukkar, o que
por sua vez atraía mais moscas inocentes para as teias do Sol Negro. O
Festival também proporcionava uma fachada perfeita para reuniões
clandestinas com aquelas moscas que já estavam presas, bem como dava
anonimato a possíveis novos contratos com fornecedores de armas,
contrabandistas e vendedores de especiaria. Se o preço para todas aquelas
reuniões fosse simplesmente o custo de alimentar e entreter uma grande
tração da população da Cidade de Iltarr, ele teria considerado que eram
créditos bem gastos.
Mas a comida e os fogos de artifício eram apenas o cume nevado da
montanha. Ter multidões de cidadãos da ralé perambulando pelas
dependências da mansão levava as forças de segurança de Sheqoa ao limite.
Os distraídos ou bêbados batiam em portas trancadas, tropeçavam na
mobília, danificavam droides- garçons e às vezes começavam brigas. Pelo
menos uma vez por festival seus homens tinham que expulsar um batedor
de carteira ou dois e retirar itens tanto valiosos quanto irrisórios de vários
ladrões.
Era um esforço e um custo que Villachor nunca considerava. E era um
custo que, se Sheqoa fizesse seu serviço adequadamente, Villachor sequer
deveria notar.
A não ser naquele ano. Aquele ano estava sendo diferente, de uma
maneira ruim e sombria.
O misterioso vendedor de brilhestim. O sujeito do cryodex. O incidente
com a bomba de luz do lado de fora da suíte de Aziel no Hotel Lulina
Crown. O tiroteio ainda não explicado no semiabandonado Complexo
Industrial Golavere, que podia ou não ter algo a ver com um dos outros três.
E então, bem no início da tarde, as tentativas bizarras de subornar três de
seus homens.
Era culpa de Qazadi, obviamente. Sheqoa não tinha dúvidas quanto a
isso. Era basicamente irrelevante se o Falleen e seu séquito tinham feito
alguma coisa diretamente para causar todo aquele caos ou se a mera
presença deles tinha provocado aquilo. De uma forma ou de outra, Qazadi
ainda era o foco.

E assim, como fizera na maioria das noites anteriores, Sheqoa


adormecera com pensamentos hostis sobre Qazadi e seu povo flutuando em
sua mente.
O que, supôs fracamente, tornou lógico e apropriado que o rosto de
Qazadi fosse a primeira coisa que viu, quando foi violentamente sacudido
para arrancá-lo daquele mesmo sono profundo.
— Você vai ficar em silêncio — Qazadi disse, sua voz suave e ainda
completamente viscosa, enquanto a mão de Sheqoa tentava, reflexivamente,
pegar o blaster que estava sob o travesseiro. Um esforço inútil; seus braços
já estavam firmemente seguros contra a cama. Eu vou te fazer algumas
perguntas. Você vai respondê-las. Ou você vai morrer Você entendeu?
Sheqoa assentiu, com um movimento quase imperceptível de sua cabeça,
que era tudo que podia fazer enquanto uma das mãos do outro agarrava seus
cabelos e, com a outra, segurava uma faca contra sua garganta.
Bem, disse Qazadi-. Conte-me sobre os dois homens que vieram ver o
maestro Villachor ontem em seu cofre.
— Ele não... — Sheqoa se interrompeu, lutando para deixar sua boca
úmida e segurando uma luta ainda mais difícil para evitar que sua voz
tremesse de medo. Uma pequena parte dele reconheceu que seu terror não
era real, que estava sendo liberado pelos feromônios das falleen. Mas esse
conhecimento não ajudou muito. Ele não os deixou entrar no cofre, ele os
compôs para respondê-lo. Ele os manteve apenas na antessala.
— O que eles estavam fazendo lá?
Sheqoa engoliu em seco e sentiu uma nódoa desagradável na lâmina da
faca na garganta, enquanto se perguntava rapidamente o que poderia dizer.
Villachor era seu superior e Villachor ordenara a ele e aos outros que não
dissesse nada sobre tal visita.
Mas eu não tive escolha. Uma mentira, ou mesmo uma meia verdade, e
seu próprio sangue emanando de seu pescoço, seria a última coisa que ele
veria.
— Os visitantes disseram que tinham um cryodex — ele engasgou.
Algo na expressão de Qazadi se transformou.
— E eles tinham isso?
— Sim — disse Sheqoa. O Mestre Villachor lhes dissera que tinham que
trazê-lo para ele, para que ele pudesse experimentá-lo e ver se realmente
funcionava.
— Tente, como?
Mais uma vez, Sheqoa teve dificuldade em decidir entre sua consciência
e suas ordens. Mas as ordens eram uma coisa. A morte era algo mais
permanente.
— Ele extraiu um cartão de dados do cofre — admitiu com relutância.
Ele queria verificar se seu cryodex poderia decifrá-lo.
Os olhos de Qazadi brilharam de raiva e Sheqoa se preparou para a
morte. Mas a lâmina contra sua garganta permaneceu imóvel.
— E ele poderia fazer isso?
— Sim — disse Sheqoa. Eles decifraram o arquivo de um homem
chamado Morg Nar em Bespin. Supostamente, ele estava tentando expulsar
o povo de Jabba, mas secretamente ele estava trabalhando para ele.
— Suponho que você tenha verificado.
Sheqoa estava começando a concordar, quando se lembrou da faca.
Sim
Qazadi olhou brevemente para alguém que estava fora do campo de visão
de Sheqoa e depois olhou para ele.
Diga-me sobre Dorston, Bromly, Uzior e Tallboy.
Sheqoa franziu a testa, tentando desesperadamente imaginar o que os
quatro guardas em particular poderiam ter em comum. Mas ele não
conseguia pensar em nada.
— Bem, os três primeiros receberam subornos que foram entregues a eles
esta tarde — disse ele, tentando ganhar tempo. Mas Tallboy não ... "Ele
parou quando de repente ele entendeu. Ele também foi subornado?
— Possivelmente — disse Qazadi-. Tudo o que sei é que o primeiro
suborno foi enviado para ele.
— Eu não entendo — disse Sheqoa. Ele nunca me informou sobre isso.
— Porque ele nunca soube de nada — disse Qazadi. Pelo menos, não
sobre esse suborno em particular. Sem que ele soubesse, Lorde Aziel se
apropriara de seu nome para usar em suas várias operações no Hotel Corona
de Lulina. No incidente de seis dias atrás, quando a pequena bomba foi
lançada em sua suíte, um mensageiro também estava envolvido na entrega
do que parecia ser um suborno para esse nome.
Sheqoa sentiu os olhos se estreitarem enquanto alguns dos aspectos mais
estranhos daquele evento de repente se tornavam evidentes.
— É por isso que ele fez a investigação parar — disse ele. Você não
queria que a parte do suborno aparecesse no evento em que Tallboy estava
realmente envolvido em parte disso.
— Certo — disse Qazadi, com uma ponta de ameaça implícita em sua
voz. E eu ainda não quero que venha à luz.
— Eu entendo — disse Sheqoa.
Os olhos de Qazadi se estreitaram quando ele olhou brevemente para o
outro lado.
— Mas o próprio Tallboy não tem importância especial — disse ele. A
questão mais importante não é qual dos seus guardas recebeu um suborno e
o denunciou, mas quantos deles receberam propinas e não informaram
sobre isso.
— Meus homens são leais, Excelência — disse Sheqoa, mais uma vez
lutando contra o tremor em sua voz. Eu já sabia o que estava acontecendo
com as pessoas do Sol NEgro que traiu sua lealdade.
— Tenho certeza de que estão — concordou Qazadi. Mas eles são leais
ao maestro Villachor, ou são leais ao Sol Negro?
Sheqoa engoliu em seco novamente.
— Sem dúvida, ambas as lealdades são a mesma coisa — disse ele com a
maior firmeza possível.
— Talvez — disse Qazadi-. Talvez não. Agora que o Mestre Villachor
confirmou que o cryodex de estranhos é, de fato, verdade, quais são seus
planos para o dispositivo e para eles?
Finalmente, algum terreno relativamente seguro.
— Ele está deixando que eles realizem seus propósitos, esperando saber
para quem estão trabalhando — disse Sheqoa. Se você não consegue
descobrir como destruí-los, pelo menos você será capaz de obter um
cryodex de reposição para o príncipe Xizor.
— Um objetivo nobre — disse Qazadi-. No entanto, ontem ele tinha o
cryodex à sua disposição em uma mansão cheia de homens armados. Por
que você não levou então?
Sheqoa engoliu em seco novamente antes de lembrar que não deveria.
— O cryodex e seu contêiner tinham uma armadilha — disse ele.
Detonite Ele sentiu os olhos se arregalarem quando outra peça do quebra-
cabeça começou a se encaixar. Que atirando no Complexo Golavere. Você
conseguiu abrir o contêiner?
— Não — disse Qazadi, e o pulsante coração de Sheqoa começou a
recuperar seu ritmo até certo ponto, enquanto o outro olhava para o espaço.
Eu pedi os serviços de dois dos policiais locais para que pudessem
interceptar os visitantes do mestre Villachor, a fim de interrogá-los. Quando
ouvi sobre o detonite, pedi que trouxessem Master Dempsey também.
Então era ali que o especialista em explosivos de Villachor havia
desaparecido e por que ficara tão nervoso e agitado quando retornou ao
laboratório na ala norte algumas horas depois.
— Só que eles interferiram com os amigos deles?
— Pela primeira e última vez, — disse Qazadi com a voz cheia de
ameaça. — A única questão pendente é se eles vão morrer rápida ou
lentamente. — Ele inclinou a cabeça para o lado. — Tem mais alguma coisa
que queira me contar? Outros, talvez, que possam estar envolvidos nessa
conspiração contra o Sol Negro?
— Há uma garota, — falou Sheqoa. — Uma humana. Jovem, cabelos
pretos, muito... bem, atraente para olhos humanos.
— E você acha que ela não seria atraente para olhos não humanos?
— Eu... não sei, — respondeu Sheqoa, correndo para mudar de assunto.
— Ela grudou em mim, provavelmente na esperança de que a levasse para o
interior da mansão. O nome é Katrin, mas sem dúvida é um pseudônimo.
— E você acredita que ela esteja com o vendedor do cryodex?
— Não sei, — disse Sheqoa. — Ela pode simplesmente ser uma ladra
normal querendo roubar a mansão. Recebemos gente assim todo Festival.
— Você ficará de olho nela. — Um breve sorriso surgiu nos lábios de
Qazadi. — Você cuidará disso pessoalmente.
— É claro, — confirmou Sheqoa. — Talvez a gente devesse...
Ele se interrompeu assim que a faca subitamente fez mais pressão contra
a garganta.
— Silêncio, a não ser quando lhe fizer uma pergunta, — salientou Qazadi
com frieza.
Ele olhou por cima de Sheqoa novamente e fez um gesto com a cabeça
dando uma ordem velada. Houve o som de movimento vindo daquela
direção, vários pés se arrastando.
E de rabo de olho, Sheqoa viu Villachor surgir no campo de visão, com
um Falleen armado de cada lado.
— Parabéns, mestre Villachor, — disse Qazadi em tom irónico de
cortesia. — Como você disse, seu pessoal é de fato leal.
— Assim como eu, — respondeu Villachor com a mesma cortesia ferina.
Sua pose era rígida e desafiadora, mas Sheqoa notou uma camada de suor
no rosto. — E o senhor ouviu, novamente, que meu objetivo é e sempre foi
descobrir quem são esses Kwerve e Bib e para quem trabalham. Nada mais.
— Talvez, — falou Qazadi com o tom ainda cortês. — Ainda assim, a
tentação de pegar os arquivos de chantagem para si deve ser praticamente
avassaladora. Especialmente quando os arquivos são atualmente acessíveis
apenas a você.
Sheqoa pigarreou baixinho.
— Eu acredito que o mestre Sheqoa estava prestes a fazer uma sugestão,
— disse Villachor. — Eu gostaria de ouvi-la.
Qazadi ponderou, depois abaixou o olhar para Sheqoa.
— Fale, — pediu ele.
A faca aliviou um pouquinho.
— Eu ia sugerir que, se Kwerve e Bib estão tentando roubar os arquivos,
talvez nós devêssemos simplesmente mudá-los de lugar, — disse Sheqoa.
— Até agora, todas as atividades deles ocorreram sob a proteção das
multidões nas Honrarias. Se transferirmos os arquivos hoje à noite, quando
ninguém estiver olhando, quaisquer esforços futuros que eles fizerem serão
contra uma caixa-forte vazia.
— Você tem uma sugestão de para onde os arquivos devem ir? —
perguntou Qazadi.
— Sua nave foi bastante segura para protegê-los na jornada até aqui, —
observou Sheqoa. — Também há a casa de campo do mestre Villachor na
província de Baccha. O cofre de lá não é tão seguro quanto a caixa-forte de
Marblewood, mas os ladrões jamais pensariam em procurar pelos arquivos
lá.
— Como você sabe? — contra-argumentou Qazadi. — Como sabe que
uma transferência dessas não é exatamente o que eles estão esperando?
Como sabe que eles já não têm gente de prontidão em Baccha e no
espaçoporto da Cidade de Iltarr, esperando que nós entreguemos os
arquivos diretamente nas mãos deles? Como sabe que eles não têm gente
esperando do lado de fora da muralha de Marblewood neste exato
momento, de olho nos airspeeders ou landspeeders que levariam os
arquivos embora?
— Eu... — Sheqoa deu um olhar desamparado para Villachor.
Mas Villachor não estava olhando para ele. Villachor estava olhando para
Qazadi. Pensando, calculando, talvez tramando. Procurando por uma
maneira de voltar às boas graças com o Falleen.
Tentando se salvar.
— Seu argumento é bom e válido, Vossa Excelência, — falou Villachor.
— Até sabermos o tamanho do alcance de nossos inimigos, não podemos
partir de pressupostos.
— Ao contrário, — disse Qazadi. — Certamente podemos partir de dois
pressupostos. Primeiro, eles lhe ofereceram um cryodex funcional.
Portanto, esperam conquistá-lo para trair o Sol Negro.
— O que não vai acontecer, — falou Villachor com firmeza.
— Esperamos que não — disse Qazadi em tom ameaçador, e mais uma
vez Sheqoa sentiu o coração acelerar brevemente. — Segundo, nós sabemos
que eles estão tentando subverter sua segurança. — Ele abaixou o olhar
para Sheqoa. — E isso pode ter acontecido.
Nunca, Sheqoa quis dizer, mas permaneceu em silêncio. Um aviso sobre
comentários não solicitados provavelmente era o máximo que ele receberia.
— Uma vez que não podemos mais confiar em seus homens, —
continuou Qazadi -, você vai imediatamente retirar todos os guardas
humanos da caixa-forte. De agora em diante, apenas os droides 501-Z serão
postados naquela área.
Sheqoa sentiu um nó na garganta. Aquela era uma ideia horrível. Todo o
objetivo de misturar droides com humanos era que possíveis intrusos não
saberiam o que estariam enfrentando num dado momento.
A SoroSuub alegava que os Zs eram impossíveis de quebrar ou
desprogramar. Mas nada no universo era realmente impossível. Se o pessoal
de Kwerve descobrisse que a caixa-forte era guardada apenas por droides,
eles poderiam descobrir uma fraqueza fatal no mecanismo ou na
programação e explorá-la.
Pela expressão no rosto de Villachor, ficou claro que ele pensava a
mesma coisa. Mas também ficou claro que ele não tinha a menor intenção
de discutir.
— Como queira, — disse Villachor. — Darei a ordem imediatamente.
— Ótimo, — falou Qazadi. — Os guardas podem ser transferidos para a
segurança do Festival. Talvez alguns olhos a mais permitam uma visão
melhor daqueles que procuram nos roubar. Você disse imediatamente, não
foi, mestre Villachor?
O lábio de Villachor tremeu quando ele puxou o comunicador e deu a
ordem de troca de guarda para o agente do turno noturno.
— Mais alguma coisa, Vossa Excelência? — perguntou Villachor ao
recolocar o comunicador no coldre.
— Não, por enquanto — respondeu Qazadi, que abaixou o olhar
para Sheqoa e depois voltou a encarar Villachor. — A Honraria à
Água em Movimento começa em oito horas. Vocês dois devem
descansar.
Ele deu meia-volta e saiu a passos largos do campo de visão de Sheqoa,
seguido pelos Falleens que flanqueavam Villachor. Alguns segundos
depois, a faca na garganta de Sheqoa e as mãos que seguravam seus braços
e cabelo também desapareceram. Houve o som de uma porta se abrindo e
depois se fechando.
E Sheqoa e Villachor ficaram sozinhos.
Sheqoa ergueu o olhar para o chefe e tentou pensar em algo para dizer. Se
Villachor considerasse as confissões de Sheqoa para Qazadi como uma
traição, ele estava morto.
Mas as palavras não saíram. E mesmo com a ausência de Qazadi e dos
truques causados pelos feromônios do Falleen, o pulso de Sheqoa
continuava disparado.
Porque, lá no fundo, ele sabia que as declarações para Qazadi foram uma
traição.
Finalmente Villachor se mexeu. Sheqoa se preparou para o pior.
— Ele está certo quanto à Honraria, — disse Villachor calmamente. —
Volte a dormir. Eu vejo você pela manhã.
Sem outra palavra, ele foi embora.
Sheqoa respirou fundo enquanto encarava a porta fechada. Ele sabia que
algo importante havia acontecido. Villachor chegara a uma decisão.
Só que Sheqoa não fazia ideia de que decisão era aquela.
Ele lentamente rolou de lado. Como se realmente fosse conseguir dormir
agora.
CAPÍTULO

15

Já disseram que há apenas três certezas na vida: a morte, os impostos e a


bebida ruim. Mas, ao cruzar as dependências de Marblewood, Lando
decidiu que poderia adicionar uma quarta certeza à lista. Quando se anda
com um Wookiee, as pessoas saem do caminho.
Obviamente, os mais de 2 metros de altura de Cbewie também tornavam
os dois mais fáceis de serem avistados pelos seguranças de Villachor
enquanto passavam pela multidão. Por outro lado, era essa a ideia.
Chewie grunhiu.
— Sim, eu os vi, — disse Lando fazendo uma careta.
Ele esperava que toda a segurança de Marblewood estivesse na cola deles
hoje. Só não esperava ser vigiado também por um par de Falleens.
E especialmente não esperava que um daqueles Falleens fosse o pretenso
interrogador do incidente na fábrica duas noites atrás.
Chewie grunhiu de novo.
— Não se preocupe, não vão tentar nada, — garantiu Lando. — Não
aqui.
Chewie soltou um comentário não muito confiante.
— Claro que devem estar furiosos, — concordou Lando. — Mas eles
querem nos interrogar, não nos matar. Pelo menos não de imediato.
Ou assim ele esperava. A lógica certamente fazia sentido, e a maioria das
pessoas que Lando havia encarado nas mesas de sabacc com o passar dos
anos seguia aquele mesmo raciocínio.
Mas havia espécies por aí que não hesitariam em abrir mão de lucro e
interesses por uma vingança imediata. Os Hutts tendiam a agir assim.
Talvez os Falleens tendessem também.
Ainda assim, eles estavam nas dependências de Villachor, e no meio de
um de seus atos favoritos de autopromoção. Certamente Villachor manteria
os Falleens na linha.
O que não queria dizer que ele e Chewie devessem abusar da sorte.
— Ali, — disse Lando apontando para longe dos Falleens parados no
local. — Aquela cascata suspensa parece interessante. Vamos até lá para ver
melhor.
Chewie rosnou.

— Certo, — confirmou Lando com um sorriso contido. — Parece que há


um lugar bem ao lado daqueles dois outros Wookiees.
— Tenho que dizer, — comentou Bink ao erguer os olhos para o rosto de
Sheqoa, — que você realmente parece cansado.
— Obrigado — disse ele sarcasticamente. — Você está linda também.
— Você é muito gentil, — falou Bink com um sorriso alegre. Ela deixou
o sorriso se transformar em uma expressão de preocupação.
— Mas estou falando sério. Acho que as pessoas não têm noção de como
uma coisa dessas é difícil para quem organiza o espetáculo. Há quanto
tempo você não tem uma noite de sono de verdade?
— Faz tempo, — admitiu ele. — Como você disse, é uma correria
durante o Festival.
— Bem, você precisa arrumar tempo, — disse ela em tom firme
enquanto erguia a mão para pegar o braço direito de Sheqoa. — Se não
descansar...
Bink se interrompeu quanto ele torceu o braço para se soltar, ao mesmo
tempo que empurrava a mão dela com a mão esquerda.
— Mão da arma, — falou Sheqoa abruptamente. — Jamais faça isso.
— Mil desculpas, — disse Bink fazendo a melhor careta de vergonha
possível. — Olha só, eu notei que você não está no clima de simplesmente
relaxar e se divertir. Talvez seja melhor eu ir embora e deixá-lo se
concentrar no trabalho.
— Não, tudo bem, — falou Sheqoa correndo quando ela começou a
recuar. — Só estou um pouco nervoso agora de manhã, apenas isso. — Ele
pegou a mão de Bink e gentilmente a fez dar a volta para o lado esquerdo.
— Venha, vamos ver se já estão servindo ambrósia cozida.
— Tudo bem, — disse Bink, passando a mão de maneira possessiva pelo
braço esquerdo de Sheqoa. Desta vez, ele não a afastou. — Mas só se você
prometer relaxar e comer uma comigo.
— Uma pequena, apenas, — falou Sheqoa.
Eles deram dois passos antes de ele mudar de direção subitamente.
— Pensando melhor, deixe-me mostrar uma outra coisa para você
primeiro, — disse Sheqoa passando pela multidão. — A cascata suspensa é
um dos destaques da Honraria, e está prestes a começar o espetáculo dos
próximos quinze minutos. Vamos assistir e depois comer a ambrósia.
— Parece interessante, — falou Bink com um pequeno alerta ligado no
cérebro; Sheqoa estava armando alguma coisa.
Novas ordens pelo comunicador de colarinho? — Provavelmente. Bink
mudou a pegada no braço dele e se aninhou um pouco mais perto. Se o alto-
falante do comunicador não estivesse ajustado corretamente, ela talvez
conseguisse chegar perto o suficiente para ouvir o que estava acontecendo.
Infelizmente, os técnicos de Villachor não eram tão descuidados assim.
Mas assim que Bink retornou à posição casualmente, um cheiro estranho
lhe tocou as narinas. Não era o suficiente para ela o identificar, mas sim
para informar que ela já havia sentido aquele odor antes. E isso era algo
significativo.
Seria arriscado se aproximar tanto assim novamente, tão rápido. Mas
Bink tinha tempo. O cheiro estava em Sheqoa, e Sheqoa claramente havia
recebido ordens para mantê-la por perto. Haveria oportunidades mais tarde
para pesquisar o cheiro. O mais importante no momento era compreender
aquela súbita mudança no cronograma dele.
E então, logo adiante, um par de Kubazes abriu caminho e proporcionou
um vislumbre momentâneo da cascata suspensa que Sheqoa havia
mencionado.
Da cascata e da grande silhueta peluda de Chewbacca, mais alto do que a
multidão.
Aparentemente, quem quer que estivesse vigiando Lando decidira que
seria divertido jogar Bink para cima dele e ver se os dois se conheciam.
Bink balançou a cabeça mentalmente. De todo mundo no grupo de Han,
ela e Lando provavelmente eram os menos propensos a demonstrar
qualquer uma das reações que Sheqoa esperava.
Ainda assim, ele merecia pontos pelo esforço. Enquanto fazia carinho no
braço de Sheqoa e tagarelava da maneira leve e despreocupada que sabia
que era o que ele esperava dela, Bink concentrou a mente na tarefa logo
adiante.

— ... ali na cascata suspensa, — dizia Villachor no comunicador no


momento em que Han se aproximava o bastante para escutá-lo. — Leve a
garota para lá, jogue-a para cima dele, e veja se eles se reconhecem.
Han sentiu um nó na garganta. Ele já sabia de antemão que Villachor
aumentaria a pressão naquele dia. Se ele não aumentasse, então Qazadi ou
Aziel certamente aumentariam. Tentar compreender qual era a conexão
entre os vários recém-chegados às vidas deles era o primeiro passo
evidente.
Ainda assim, jogar uma ladra fantasma para cima de um apostador
profissional provavelmente seria uma completa perda de tempo. Tanto Bink
quanto Lando eram mais do que capazes de controlar seus comportamentos
e expressões.
Então era a vez de Han.
Ele ajeitou os ombros. Ele conseguiria. Havia encarado Jabba, o Hutt, o
comandante imperial Nyklas, o sádico, e um monte de outros capangas e
bandidos. Villachor era apenas o mais recente em uma longa fila. Mais
alguns simpatizantes se aproximaram de Villachor e agradeceram pelo
espetáculo sob o olhar atento dos dois guarda-costas. Han esperou até que
fossem embora e foi até ele.
— Belo espetáculo, mestre Villachor, — falou ele.
— Obrigado, — respondeu Villachor olhando Han de cima a baixo
rapidamente. — Fico contente de que esteja gostando.
— Eu soube que o senhor tem uma bela coleção de airspeeders e
landspeeders, — continuou Han apontando para a garagem na extremidade
norte da mansão. — Alguma chance de trazê-los para fora e exibi-los para
nós?
— Não, acho que não, — falou Villachor com o mesmo sorriso forçado
que dava para todos os outros. — Não até que uma Honraria aos Veículos
em Movimento seja adicionada ao Festival.
— Creio que não, — disse Han, que se aproximou um passo e abaixou o
tom de voz. — E quanto aos arquivos de chantagem? — O senhor vai trazê-
los para fora?
O sorriso de Villachor desapareceu, e ambos os guarda-costas levaram as
mãos às armas de raios escondidas.
— Como é que é? — falou Villachor baixinho.
— Calma, — tranquilizou Han. — Só vim aqui para conversar.
— Então fale depressa, — rosnou Villachor, sibilando a última palavra.
— Você trouxe o item?
— Não, e não vou trazer, — disse Han. — Não depois do que aconteceu
há duas noites.
— Aquilo não foi coisa minha, — insistiu Villachor. Ele estava
começando a se recuperar, e Han notou que os pequenos chips de
computador na mente de Villachor começavam a girar novamente.
— Você é o chefe que Kwerve prometeu trazer até mim?
— Não, e você também não vai vê-lo, — falou Han. — Se não
foiplanejado por você, quem fez isso?
— Um colega mal orientado — disse Villachor. Alguém que sentiu que
precisávamos saber mais sobre você antes de nossas discussões continuou.
Se você não trouxe o artefato, e não vamos discutir os termos do acordo,
então por que você está aqui?
— Na maior parte, como cortesia — disse Han. Eu queria avisá-lo que
outro jogador invadiu o jogo.
— O que quer dizer?
— Você sabe o que eu quero dizer — disse Han. Alguém anda por aí
subornando seus guardas.
O rosto de Villachor mudou, mas apenas o suficiente para mostrar que os
guardas, de fato, o haviam informado sobre as visitas de serviço de Dozer.
— Tentando suborná-los — Villachor o corrigiu. Todos os homens que
foram abordados entregaram os créditos.
— Tem certeza disso? — Han respondeu. Porque, para os números que
eu ouvi mencionados, pelo menos cinco deles receberam os pacotes e
mantiveram suas bocas fechadas.
De repente, o cano de um dinamitador perfurou as costelas de Han.
Quem? — Villachor Exigido. Me dê seus nomes
— Eu não tenho seus nomes — Han rosnou, observando o guarda
pressionar o blaster em seu lado. Eu já te disse, tem mais alguém fazendo
isso.
— Uma garota, talvez? — Villachor sugerido. De cabelo preto, altura
mediana?
— Eu... eu não... eu... sei — Han disse, cuspindo cada palavra. Nós não
sabemos quem eles são.
— Ou talvez seja você? — O guarda rosnou.
— Use sua cabeça — Han rosnou em resposta. Nosso grupo está
tentando realizar um recrutamento agradável, silencioso e civilizado. Por
que teríamos que arriscar os créditos em funcionários que não têm a menor
importância? — Ele ergueu as sobrancelhas. Sem ofensa.
— Ele não — disse Villachor. Remova essa coisa, Tawb.
Relutantemente, o guarda devolveu o explosivo ao seu esconderijo.
— Chega de conversas inconseqüentes — continuou Villachor. Aqui está
o tema subjacente. Antes de tomar qualquer decisão, devo encontrar alguém
que tenha autoridade suficiente para me oferecer um acordo. E eu quero ver
o cryodex trabalhando mais uma vez.
— Nós já fizemos uma demonstração — Han lembrou a ele. O que você
decodificou não foi bom o suficiente para você?
— Oh, o que ele decodificou foi muito bom — garantiu-lhe Villachor. As
investigações que enviei a Bespin me confirmaram que essa pessoa, Morg
Nar, que seu homem havia identificado, está, na verdade, trabalhando para o
Hutt.
Han sentiu o estômago apertar. Se ele soubesse alguma coisa sobre o
modo como o Sol Negro fazia as coisas, a única investigação seria arruinar
a cobertura de Nar, jogando-a diretamente através da eclusa de ar. Jabba não
ficaria muito feliz com isso.
E quando Jabba não estava feliz, todo mundo que estava ligado a ele
pagou o preço. Quanto mais depressa recebessem os cartões de crédito de
Eanjer, e Han pudesse pagar suas dívidas, melhor.
— Porque o que poderia ser atingido uma vez, poderia ser atribuído à
sorte, — disse Villachor-. Uma segunda amostra faria a coisa mais
definitiva.
— Nós enviaremos seu pedido ao chefe — disse Han. E antes que você
me pergunte, sim, ele já está aqui em Wukkar.
— Então, qual é o motivo do atraso?
Han o olhou diretamente nos olhos.
— Está aguardando a confirmação de que quem quer que tenha
sequestrado Kwerve e Bib já está sob controle.
— Eu posso garantir que não haverá repetição desse incidente.
— Sem ofensa, Mestre Villachor, mas ele não está esperando por sua
confirmação — disse Han. Ele está esperando por nossa confirmação. Não
se preocupe, já estamos trabalhando nisso.
— Eu vejo — disse Villachor, sutilmente mudando o tom de sua voz.
Alguma ideia de quando ele considerará que é o momento certo para uma
reunião nesse nível?
— Logo — Han prometeu. Eu continuo esperando que eu possa trazê-lo
daqui a dois dias, durante o Tributo ao Fogo em Movimento.
— E se ele não puder?
— Nós vamos — assegurou Han. Se isso não funcionar ...
— Desculpe-me por um momento — murmurou Villachor, seus olhos
brilhando em algum lugar sobre o ombro de Han quando ele puxou o seu
link. Sheqoa? Qualquer coisa? ...Não importa. Fui informado de que um
homem, cuja descrição poderia corresponder à do misterioso mensageiro de
ontem, está em nossos campos... Sim, assim mesmo. Acho que você deveria
levar seu amiguinho para lá e ver se seria bom para eles se
cumprimentarem. Ele ouviu por um momento, depois cortou o comunicador
e se virou para Han. Sinto muito. Eu estava dizendo?
— Eu disse que, se não podemos proteger a área para a final do Festival,
deve ser capaz de marcar uma reunião para um ou dois dias depois, Han
disse, mantendo a voz calma e expressão despreocupada. Então, o pessoal
da segurança tinha visto Dozer, ou pelo menos eles pensavam que eles
tinham visto, e Villachor enviara Sheqoa e Bink naquela direção para
confrontá-lo. O problema era que, embora Han confiasse que Bink e Lando
dariam conta do jogo de despistar o reconhecimento, ele não tinha tanta
certeza de que Dozer seria capaz de fazer isso sem dar alguma das pistas
que Sheqoa estaria procurando.
Mas não havia nada que Han pudesse fazer. Villachor estava observando,
e se ele fizesse a menor menção de alertar Dozer ou interromper a conversa,
o outro perceberia.
Na verdade, aquele provavelmente era o motivo de ele ter feito a ligação
na presença de Han antes de mais nada. Qualquer reação, e eles teriam a
ligação entre ele e Dozer de que Villachor obviamente suspeitava.
Han não podia fazer nada.
Felizmente, ele não tinha que fazer nada.
— Mas se você tiver um momento, — continuou Han com fala mansa -,
eu tenho outra ideia que meu chefe queria que eu lhe sugerisse.
— Certamente, — falou Villachor. — Venha. Vamos caminhar.

— Epa, — disse Winter baixinho.


Ela pensou ter falado em volume baixo o suficiente para não ser ouvida,
mas os ouvidos de Rachele eram obviamente melhores do que a média. Do
outro lado da sala, montada em cima de um aparador baixo, a outra
conseguiu ouvir a palavra murmurada.
— Problemas? — perguntou Rachele.
— Nada grave — garantiu Winter enquanto mudava um pouco a pegada
nos eletrobinóculos para puxar o comunicador. — Parece que a tentativa de
Sheqoa de fazer Lando e Bink reagirem um ao outro não deu em nada.
Então ele vai tentar novamente com Bink e Dozer.
— Com Dozer? — falou Rachele parecendo preocupada. — E você disse
que não era nada grave?
— Fique parada, — disse Zerba com irritação. — Você vai abrir as
costuras do braço de novo.
— Eu só estava tentando...
— Tudo bem, — tranquilizou Winter enquanto ligava para Kell no
comunicador.
Dozer estava sendo observado, o que significava que ela não poderia
ligar para alertá-lo sem que a coincidência parecesse suspeita. Mas Kell não
estava sendo vigiado.
— Kell, você precisa tirar Dozer daí, — disse Winter quando ele atendeu.
— Pode fazer isso sem alertar os coleguinhas da segurança?
— Claro, — respondeu Kell. — Você quer que ele vá embora de vez ou
apenas fique em outro lugar qualquer das dependências?
— Melhor que vá de vez — falou Winter.
Dozer queria dar outra olhada no esquema de segurança de Marblewood,
mas com Sheqoa à espreita, seria mais seguro simplesmente cancelar a
operação.
— Tem certeza? — perguntou Kell. — Ele poderia brincar de esconde-
esconde por um bom tempo sem que Sheqoa jamais o alcançasse.
— Para fora e agora, — falou Winter com irritação enquanto imagens de
todos os agentes rebeldes que haviam abusado demais da sorte passavam
pela memória.
— Certo, ok, — disse Kell na defensiva. — Não precisa berrar. Você
quer que eu saia também?
— Apenas se você for visto — respondeu Winter fazendo cara feia para
si mesma. Ela não deveria deixar que as memórias levassem a melhor.
Especialmente não com Kell, que passava pela mesma agonia de perda que
ela. Sinto muito.
— Está tudo bem — disse ele. Não se preocupe, vou tirá-lo.
— Não seja muito duro com ele — disse Rachele no momento em que
Winter manteve o link. Ele ainda é jovem. Os jovens sempre acham que os
dados estão do lado deles.
— Razão mais do que suficiente para ser duro com ele — Winter
respondeu, concentrando os eletrobinóculos em Dozer novamente. Eu quero
que ele seja capaz de viver o suficiente para amadurecer e sair dessa fase.
— Ou tempo suficiente para eu aprender como fazer os dados
funcionarem para você — disse Zerba. Como você vê
O primeiro impulso do inverno foi para lembrá-lo de que ele tinha
trabalho a fazer, que ele não estava exatamente vagando por aqui, que
deveria vigiar a janela. Mas Kell tinha sido alertado com tempo suficiente,
Bink tinha sob o controle razoável de Sheqoa, e Lando, Chewbacca e Han,
todos eles pareciam estar fazendo o seu trabalho bem o suficiente. Eles
provavelmente poderiam fazer sem dar uma olhada na obra-prima de Zerba.
Bem, valeu a pena. A última vez que Winter tinha visto o traje, tinha sido
feito principalmente de uma pilha de delicados pedaços de seda vermelha.
Agora, duas horas depois, Zerba tinha transformado as peças em um vestido
vermelho completamente formal e elegante, que poderia ter atraído a
atenção até mesmo em uma das recepções formais da Rainha Breha.
Na verdade, exceto por uma linha mais profunda na cintura, um pescoço
mais alto e um tom ligeiramente diferente, era idêntico ao que a rainha
usara na comemoração do décimo segundo aniversário da Princesa Leia.
— E bem?
Com um arrepio, Winter percebeu que ela havia olhado para ele quando
as memórias a inundaram.
— É lindo, — falou ela. — A cor cai bem em você, Rachele.
— Obrigada, — disse ela ironicamente. — Eu faria uma mesura, só que
provavelmente rasgaria mais algumas costuras de Zerba. — Rachele
balançou a cabeça. — Eu ainda não acredito que você me convenceu a isso.
— Tavia está ocupada, Bink está ocupada, e você tem o mesmo
manequim delas, — lembrou Zerba.
— Eu sei, — suspirou Rachele. — Mas tem algo fundamentalmente
errado em pedir para que uma mulher prove um vestido quando não vai usá-
lo.
— Tenho uma sugestão, — ofereceu Zerba. — Quando tudo isso acabar,
eu farei o seu próprio vestido.
— Está falando sério?
— Com certeza. — Zerba passou os dedos delicadamente pela seda. — E
eu farei um igual ao vestido de Tavia que você possa usar mais de uma vez.
Rachele riu.
— Isso seria bom — disse ela em tom sarcástico.
Winter se voltou para janela e ajeitou o foco dos eletrobinóculos. Dozer
estava em movimento, passando calmamente pela multidão, e indo na
direção do fluxo de pessoas que saíam e entravam nas dependências. Dois
seguranças iam na mesma direção muito atrás, mas não perdiam Dozer de
vista.
Na maior parte do tempo, de qualquer forma. Havia um ponto, logo antes
do portão, onde o posicionamento das árvores e da cerca viva tiraria
temporariamente Dozer de vista. Winter digitou o número de Dozer no
comunicador e ficou de prontidão.
— Então, o que você faz exatamente para Mazzic? — perguntou
Rachele.
— Contratos, principalmente — disse Winter. Eu posso rastrear através
de manifestos de carga e estoques de armazéns, e eu acho as coisas que
você precisa e as pessoas que estão tentando esconder sua mercadoria. Este
último poderia ser definido como o trabalho de um contrabandista;
Primeiro, simplesmente rouba.
— Parece o tipo de trabalho em que você se senta em um computador e
não leva um tiro para fazê-lo — Zerba comentou melancolicamente. Deve
estar bem.
— Não é tão fácil assim — Winter disse a ele. Eu também gerencio
sistemas de segurança e alarmes para ele. Isso significa ter que permanecer
no local durante grande parte do dia. Mas você está certo, principalmente
você não recebe tiros para fazê-lo.
— Espero que ele esteja pagando bem — disse Zerba. Você não se parece
com o cara que vive a emoção do desafio.
O inverno se encolheu. A escala salarial de Mazzic era realmente muito
desprezível. O que a mantinha no trabalho era o fato de ela poder usar seus
recursos para encontrar e entrar em armazéns para suprimentos e armas,
deixar os contrabandistas pegarem o que quisessem e deixar o caminho
livre para seus parceiros na Aliança Rebelde. Eles poderiam deslizar atrás
deles e pegar o resto.
Eu tinha certeza de que Mazzic, pelo menos, suspeitava da afiliação
secreta. Mas ele nunca dissera nada para ela. Aparentemente, ele era esperto
o suficiente para valorizar as vantagens mútuas de seu relacionamento.
Embora talvez seja por isso que lhe paguei tão pouco quanto ele.
— Na verdade não — disse ele a Zerba. Mas vale a pena.
Dozer estava quase à porta naquele momento, caminhando ao lado de um
grupo de lepi com orelhas compridas e dentes de coelho, cujos braços
gesticulavam enquanto freneticamente enquanto andavam e conversavam
entre si. Winter verificou a posição dos seguranças, depois verificou
novamente a cobertura de vegetação e os alienígenas tagarelas.
Quando Dozer sumiu de vista momentaneamente, Winter tocou no botão
de chamada do comunicador. Sem perder o passo, Dozer tirou o casaco
marrom, virou do avesso para exibir a padronagem irregular azul e prata do
outro lado, e voltou a vesti-lo. Ao ajeitar o casaco nos ombros, Dozer tirou
um chapéu dobrável do bolso e enfiou na cabeça.
Um instante depois ele passou pelo portão, deixando para trás dois
seguranças que começavam a parecer confusos ao vasculhar a multidão que
marchava diante deles.
Winter deu um sorriso de satisfação. Sem dúvida ainda havia droides
câmera flutuando por ali, embaixo do escudo abrangente de Villachor, e
alguém no monitor provavelmente captara a rápida mudança. Mas o atraso
inevitável de comunicação entre o monitor e o portão dera a Dozer tempo
suficiente para sair de mansinho.
Obviamente, agora eles sabiam que Dozer não era simplesmente um
mensageiro inocente, mas um integrante de uma gangue misteriosa que
oferecia propinas ao pessoal de Villachor. Mas tudo bem. Aquela parte do
plano estava encerrada. Tomara que tivesse conseguido cumprir o objetivo
de fazer Villachor duvidar se seus guardas eram confiáveis ou não.
O sorriso de Winter sumiu. Confiança. Essa era realmente a fundação de
permacreto de cada organização. Juntamente com comprometimento,
confiança era o que definia, no fim das contas, se um grupo alçava a vitória
ou caía na destruição.
Ela confiava nos amigos e colegas da Aliança Rebelde. Confiava neles
cegamente. Será que podia dizer o mesmo sobre aquele grupo de ladrões e
vigaristas que Han e Rachele reunira?
Winter sorriu novamente, um sorriso bem reservado desta vez. Sim, ela
podia confiar neles.
Porque Han era mais do que parecia. Muito mais. E Winter prometera
para si mesma que, antes de aquela operação acabar, ela faria questão de
saber a história completa.
— O que está acontecendo? — perguntou Rachele.
— Ele saiu, — respondeu Winter. — Eles estão... parece que eles estão
enviando alguém para fora do portão a fim de ver se conseguem avistá-lo.
Zerba deu um muxoxo de desdém.
— Sem chance disso acontecer!
— Não com o zigue-zague que ele fez para voltar — falou Rachele
soltando um suspiro audível. — Essa passou perto.
— E todos estamos contentes por que acabou, — disse Zerba começando
a soar irritado novamente. — Agora, por favor, pode fazer a gentileza de
ficar parada?

— Pense nisso como uma apólice de seguro, — falou Han. — Sua


própria coleção de arquivos de chantagem, já decifrados e prontos para uso
pessoal.
— Você quer dizer minha própria execução, — disse Villachor em tom
sombrio. — Se eu tivesse tais cópias e o Sol Negro algum dia descobrisse a
respeito, eu estaria morto dentro de horas. Possivelmente dentro de minutos.
— Possivelmente, — concordou Han.
Villachor já havia mencionado a rápida retaliação do Sol Negro duas
vezes durante a conversa. Pelos rumores que Han ouvira com o passar dos
anos, ele tinha certeza de que não era um exagero.
Mas Villachor continuava escutando.
— Por outro lado, não há motivo para que algum dia eles descubram, —
continuou Han. — Eu trago o cryodex, nós fazemos cópias, e você as
coloca em algum lugar seguro. Talvez misture com todos os outros
documentos criptografados.
— Sim, — murmurou Villachor. — Você sabe, imagino eu, que seu
colega Kwerve já fez essa sugestão.
— Eu sei, — disse Han. — Pensei que valeria a pena fazer de novo.
— Valeria do meu ponto de vista, talvez — falou Villachor. — Você
oferece o que aparenta ser um negócio atraente, e no entanto não pede nada
em troca?
Han deu de ombros e respondeu:
— É um gesto de boa-fé. Claro, nós estamos interessados nos arquivos,
mas estamos muito mais interessados em você pessoalmente. Se esse tipo
de acordo fizer com que você se junte a nós, vamos considerar que é um
investimento válido a longo prazo.
Os dois deram mais alguns passos antes de Villachor falar novamente.
— Deixe-me oferecer um meio-termo — sugeriu ele. — Quando você
trouxer seu chefe, traga também o cryodex. Eu o verei funcionar mais uma
vez e permitirei que façam cópias de cinco arquivos, que vocês poderão
levar consigo. — Ele deu um sorrisinho. — Considere isso meu gesto de
boa-fé.
— Parece razoável — disse Han acenando lentamente com a cabeça
como se considerasse a sugestão.
As rachaduras começavam a surgir na determinação de Villachor: Han
podia ouvi-las na voz do homem.
Mas aquelas rachaduras não eram muito grandes. A não ser que algo
drástico acontecesse nos próximos dois dias, Villachor não estaria disposto
a desertar do Sol Negro ou mesmo transferir os arquivos de chantagem para
fora da caixa-forte.
O que significava que eles teriam que seguir com o plano original, afinal
de contas. Eanjer ficaria contente com isso.
— Tudo bem, — falou Han. — Deixe-me consultar meu chefe e ver o
que ele diz.
Villachor deu um muxoxo de desdém.
— Mais atrasos.
— Não dá para evitar, — disse Han. — Se isso ajuda, estamos tão
ansiosos para encerrar essa situação quanto você.
— Tenho certeza de que estão. — Villachor suspirou de modo audível
quando parou. — Posso esperar receber alguma mensagem sua na Honraria
ao Fogo em Movimento, depois de amanhã?
— Com certeza, — prometeu Han. — Se eu não puder trazer o chefe
para vê-lo na ocasião, ao menos trarei uma sugestão de quando vocês dois
poderão se encontrar.
— Muito bem, — falou Villachor. Ele olhou nos olhos de Han, e por um
momento Han ficou surpreso com a intensidade vista ali. — Estamos no
precipício, meu amigo. Riquezas e poder incomparáveis, ou uma morte
lenta e assustadora. Tenha muita certeza de que deseja continuar.
Com um esforço, Han sustentou o olhar de Villachor. Não, ele não queria
a morte, rápida ou lenta. Mas também não queria riquezas e poder, pelo
menos não do tipo que Villachor estava falando. Tudo que Han queria era
ficar livre de Jabba e depois liberdade para fazer o que bem quisesse.
Mas esse ainda era o caminho para aquele objetivo.
— Eu tenho, — respondeu ele com firmeza.
— Ótimo. — O olhar intenso como laser de Villachor sumiu. — Até a
Honraria ao Fogo em Movimento, então.
Han concordou com a cabeça.
— Bom dia, mestre Villachor.
Ele se forçou a caminhar tranquilamente por todo o caminho até o portão.
Os seguranças ali tinham sido obviamente alertados, e eles observaram Han
com atenção enquanto ele passava. Mas nenhum fez movimento algum para
detê-lo.
Mesmo assim, ele tomou o cuidado de seguir o caminho em zigue-zague
que Dozer havia criado para voltar à suíte. Só por precaução.

Sheqoa tentou esconder, mas pela mudança de expressão na última hora,


Bink sabia que a tarde tinha sido um fracasso.
Não que ela estivesse realmente surpresa. Bink e Lando haviam
interpretado seus papéis perfeitamente, equilibrando o reconhecimento
culposo com a ação oposta, porém igualmente suspeita, de ignorar
completamente um ao outro. Ela ficara um pouco preocupada de ser jogada
contra Dozer por Sheqoa, mas pelo que percebera ouvindo as comunicações
via comunicador de Sheqoa, parecia que Dozer havia saído de Marblewood
antes que alguém conseguisse capturá-lo.
Dado o mau humor cada vez maior de Sheqoa, Bink decidiu, enquanto
tagarelava alegremente, que ele provavelmente gostaria de um bom abraço
caloroso.
— Então, aí... ai, minhas estrelas, olha a hora — disse ela olhando o
relógio. — Sinto muito, Lapis, mas tenho que ir. Meu chefe está com alguns
clientes Anomids na cidade e quer que eu o ajude a levá-los para um
restaurante de luxo. Você sabe como Anomids são
curiosos a respeito de novas culturas.
— Se ele quer mostrar a cultura de Wukkar para os Anomids,
deve trazê-los aqui, — respondeu Sheqoa, com a mente claramente em
outras coisas.
— Foi o que eu disse, — falou Bink, balançando o dedo para enfatizar.
— Mas meu chefe é teimoso e sempre procura uma desculpa para comer
comida cara. Você vai estar aqui para a Honraria ao Fogo em Movimento,
não vai?
Com um esforço evidente, Sheqoa voltou o olhar e a atenção para ela.
— Claro, — respondeu ele com um leve sorriso. — E você?
— Não perderia por nada na galáxia — prometeu Bink. — Eu vejo você
em dois dias, então.
Ela se aproximou e abraçou Sheqoa, com cuidado para não prender o
braço direito dele, e se espremeu contra seu peito.
— Eu tive um dia maravilhoso — murmurou Bink no pescoço de
Sheqoa. — Obrigada por tudo.
O primeiro reflexo dele foi ficar rígido de surpresa. O próximo, uma
fração de segundo depois, foi começar a relaxar e curtir o toque de Bink. O
terceiro, após uma fração de segundo ainda menor, foi se lembrar de que
estava de serviço e afastá-la delicadamente, mas com firmeza.
E dentro de todas aquelas reações, ela finalmente identificou o cheiro que
sentira antes.
— Vejo você então, — falou Sheqoa com as mãos nos ombros dela ao
mantê-la afastada.
Por um momento ele olhou para Bink, depois deu meia-volta e
desapareceu na multidão. Bink também deu meia-volta e foi para o portão.
Então, além de desconfiar dela, — o que ele certamente deveria fazer —,
Sheqoa também decidira bancar o espertinho com ela. O cheiro que ele
percebera era um traço de tinta, uma camada invisível de tinta que deixava
manchas indeléveis nos dedos da pessoa que a tocava e que brilhavam com
luz ultravioleta.
Não foi surpresa; Sheqoa suspeitou de sua atenção extasiada, era apenas
para ser feito com a chave que ele tinha pendurado na gola em cadeia em
torno de seu pescoço, e ele pretendia obter provas de sua culpa no momento
ela tentou agarrá-lo. Simples, diabólico e praticamente infalível.
Bink sorriu para si mesma. De certo modo, ele quase sentiu pena dele

Quase o grand finale estava no auge, com saca-rolhas trovejantes


agitando e derramando água em cachoeiras na multidão de espectadores que
enchiam os terrenos da Hacienda de Marmol. Sparks e geada, brilhava e
cintilava e irrompeu em correntes, pressagiar fazer fogos de artifício que
aumentaria a Homenaje del Fuego in Motion, na conclusão do Festival
dentro de dois dias. As fontes e as explosões saltaram a meio caminho do
céu, disparadas para os lados e para trás; mais uma vez, todos
cuidadosamente controlados e contidos pelos cambiantes campos de
repulsão que garantiam que nem uma única gota caísse sobre o público que
os observava.
De pé na varanda da apresentação, absorvendo o ruído e as visões,
Villachor permitiu-se um momento de alegria quieta. Então Kwerve e sua
organização secreta decidiram seguir em frente com os pés de chumbo,
certo? Esperando, sem dúvida, que a tentação de seu cryodex, combinada
com a pressão de Qazadi, o forçasse a pular sobre um pântano do qual havia
apenas um único meio de fuga. O que eles ofereceram a ele.
Mas eles estavam errados. Assim foi Qazadi. Villachor não teve que
escolher entre o poder conhecido e a crueldade de Sol Negro, e o poder
ambíguo e a liberdade que Kwerve e seu grupo de estranhos lhe ofereceram.
Porque havia, de fato, um terceiro caminho. Uma estrada que nenhum
deles provavelmente pensaria que ele poderia escolher.
Quanto ao resto, ele mesmo não estava tão convencido a forçar sua
escolha, muito menos se não precisasse. Mas as escolhas faziam parte da
vida, e esse era um caminho que a prudência elementar insistia que, pelo
menos, deveria explorar.
Ele esperou até o clímax final do show da água, quando praticamente
todos os olhares e pensamentos em toda a cidade de Iltarr estavam focados
em sua apresentação e em outros lugares do Festival. Então ele pegou seu
comunicador e discou um número.
Demorou quase um minuto para Donnal Cuciv responder. Provavelmente
ele estava ocupado observando uma cerimônia semelhante que ocorreu em
um dos outros locais que estavam por toda a cidade.
— Cuciv.
— Avrak Villachor -Villachor se identificou. Talvez você possa lembrar
da nossa conversa há alguns dias atrás.
O silêncio era apenas o necessário para confirmar que, de fato, Cuciv se
lembrava daquela sessão embaraçosa, dolorosa e constrangedora. Villachor
tinha observado que as vítimas de chantagem respondeu com raiva,
vergonha e terror, mas nunca tinha visto aquele que tinha deixado a Marble
Hacienda tão completa e irremediavelmente quebrado.
Qazadi tinham especulado no momento em que Cuciv voltar para casa e
tirar sua própria vida, embora o Falleen tinha soado como se realmente não
se importam se a situação tinha de alguma forma ou de outra. Villachor o
recordara que o suicídio era um ato vergonhoso entre a cultura de Wukkar e
que Cuciv nunca acrescentaria essa denigração adicional ao seu nome. Até
agora, Villachor estava certo.
— Eu me lembro — disse Cuciv, com a voz tensa, mas firme.
Aparentemente, ele fez as pazes com sua situação e resignou-se ao fato de
que passaria o resto de sua vida sob a ameaça do Sol Negro. Que deseja?
— Algo bem pequeno, asseguro-lhe — disse Villachor. Ouvi dizer que
um membro da Corte Imperial está na cidade de Iltarr. Eu quero tudo o que
você tem sobre ele: seu nome, sua posição e posição precisa, os meios
utilizados para chegada, a sua localização actual, e a melhor maneira de
entrar em contato com ele... em privado.
Houve outra pausa. Do outro lado da sala, formou-se uma gigantesca
bica, que foi então dividida em cinco ramos, cada um com sua própria cor
de flashes intermitentes.
O que você vai fazer com ele? — Cuciv perguntou finalmente.
— Isso não é da sua conta — disse Villachor. Apenas me consiga a
informação.
Ele ouviu o suspiro de Cuciv mesmo acima da multidão.
— Você quer por esta noite, certo?
— Seria mais apropriado para amanhã — disse Villachor. Apenas
certifique-se de que é uma informação precisa.
— Tudo o que faço é preciso — disse Cuciv, com orgulho profissional
que momentaneamente eclipsou sua vergonha e ressentimento.
Bem, disse Villachor. Então para amanhã.
Ele pendurou o comunicador e o afastou, permitindo um pequeno sorriso.
Sim, Kwerve poderia pensar que seu cryodex era a última tentação. Qazadi
podia pensar que Sol Negro era a última ameaça.
Mas havia outra mão neste jogo. Uma mão quase certamente duraria
mais do que os dois.
Porque, se a situação se resumisse a vida ou morte, Villachor poderia
fazer algo pior do que abandonar o Sol Negro: levar seu conhecimento da
organização para os imperiais e ver que tipo de proteção eles poderiam lhe
oferecer.
Era hora de ver que tipo de barganha Lorde Vader estaria disposto a
oferecer.
CAPÍTULO

16

A gravação da conversa do comunicador terminou, e Dayja tirou os olhos


do datapad.
— Você só pode estar brincando, — disse ele categoricamente. — Ele só
pode estar brincando.
— Parece uma brincadeira, não é? — respondeu D’Ashewl pensativo. —
Mas se não for, este pode ser o princípio do fim para o Sol Negro. Um chefe
de setor como Villachor sabe todo tipo de segredo sujo. E se ele puder levar
os arquivos de chantagem de Qazadi com ele... — D’Ashewl ergueu as
sobrancelhas.
— Talvez, — falou Dayja com cautela olhando para o datapad. Não
podia ser tão fácil assim. Havia uma cilada escondida em algum lugar. —
Eu notei que, apesar de todas as palavras que ele proferiu, há uma notável
ausência de qualquer declaração ou promessa sólida.
— O que não é um absurdo para alguém que está simplesmente
jogando verde, — ponderou D’Ashewl.
— Ou para alguém que está buscando um acordo unilateral, — disse
Dayja. — Isso pode também ser um golpe para nos fazer olhar para a
direção errada.
— É possível, — concordou D’Ashewl. — Mas o que quer que esteja
acontecendo, temos que tratar como uma oferta genuína. — Ele deu um
sorriso contido. — Nem que seja porque, quanto mais mergulharmos no
esquema de Villachor, mais enxergaremos e mais chances teremos de voltá-
lo contra ele.
— A não ser que o esquema seja nos atrair e matar um par de agentes da
Inteligência, — alertou Dayja.
— Eu nunca disse para realmente confiarmos no homem, — falou
D’Ashewl dando de ombros. — Eu já mandei a ordem para o capitão
Worhven retornar. Ele e o Dominador devem estar aqui ao anoitecer.
— E aí?
D’Ashewl franziu os lábios.
— Dado que Villachor ainda não sabe da ligação entre nós, acho que já é
hora de vocês dois se encontrarem cara a cara. Possivelmente como parte do
golpe do brilhestim que você já armou.
Dayja ponderou.
— Talvez. Embora isso possa atrapalhar o que quer que Eanjer e sua
equipe estejam aprontando.
D’Ashewl soltou um muxoxo de desdém.
— Se Villachor vier até nós, não precisaremos de Eanjer e sua coleção de
vigaristas.
— Se Villachor estiver apenas fazendo barulho por nada, talvez
precisemos — contra-argumentou Dayja.
D'Ashewl acenou com a mão.
— Você é o agente operacional — disse ele. Eu não vou pré-julgar nada
que você decidir fazer sobre Eanjer.
— Obrigado, disse Dayja. D'Ashewl estava certo, claro. Esta foi a missão
de Dayja; D'Ashewl estava aqui apenas como apoio e camuflagem. Todas
as decisões que em última análise teriam que ser tomadas devem ser suas.
Como seriam as consequências dessas decisões.
— Quem você está chamando? D'Ashewl perguntou enquanto Dayja
desenhava seu comunicador.
— Para Eanjer — disse Dayja, digitando para que a conversa também
fosse transmitida ao comunicador de D'Ashewl e, em seguida, digitando o
número. Eu não posso acreditar que Villachor acabou de acordar esta
manhã, e que ele decidiu que estava cansado de trabalhar para o Sol Negro.
Se ele está sendo pressionado, pode ser a equipe de Eanjer que está
exercendo essa pressão. Pode ser uma boa ideia saber exatamente o que eles
estão fazendo.
O comunicador fez a conexão.
— Sim Disse Eanjer.
— Eu sou Dayja — O agente se identificou. Você pode falar?
— Espera um momento. O comunicador foi interrompido por um
momento, depois ativado novamente. Ok, eu já estou sem interferência —
disse Eanjer, sua voz se acalmando.
— Eu estou chamando você para me atualizar — disse Dayja. E para
fazer um possível aviso.
— Que tipo de aviso?
— Você primeiro — disse Dayja.
— Até onde eu sei, o plano está se desenvolvendo da maneira mais
apropriada — disse Eanjer. Há algumas ideias sobre pressionar Villachor
para mover os arquivo transferir os arquivos para outro lugar em Wukkar,
mas não o imagino entrando em pânico a ponto de seguir por esse caminho.
Se isso não der certo, teremos que ir em frente e invadir a caixa- forte.
— Entendo, — falou Dayja sorrindo para si mesmo. Então essa era a
jogada de Villachor. — A Honraria certamente deve proporcionar distrações
suficientes para um serviço como esse.
— Você nem sabe da metade. Agora, e essa história de alerta?
— Villachor pode estar tentando contornar vocês, — respondeu Dayja.
— Ele está sondando um integrante da corte imperial que se encontra na
cidade, neste momento. Se Villachor realmente decidir desertar, qualquer
que seja a isca ou a pressão que vocês estão usando contra ele se tornará
subitamente irrelevante. Quando isso acontecer, você e sua equipe podem
estar enrascados.
— Entendo, — disse Eanjer lentamente. — Obrigado pelo alerta. Quando
você saberá se isso vai acontecer ou não?
— Até agora eles estão bem no início das conversas preliminares, —
falou Dayja. — Se alguma coisa mudar, eu aviso você.
— Eu agradeço, — disse Eanjer. — Tenho que ir. Falo com você depois.
A ligação foi desfeita.
— Interessante, — comentou D’Ashewl ao abaixar o comunicador.
— De fato, — concordou Dayja. — E de repente a oferta de Villachor
tem toda uma segunda parte anexada.
— Ele está pensando em transferir os arquivos, sem dúvida — disse
D’Ashewl. — Mas sabe que não deve transferi-los sem a devida segurança.
Dayja concordou com a cabeça.
— E haveria segurança melhor do que uma escolta imperial completa?
— Realmente, haveria segurança melhor? — concordou D’Ashewl. —
Então Villachor finge desertar, faz com que escoltemos alguns
equipamentos ou itens de uso pessoal insignificantes para outro lugar e
então subitamente muda de ideia.
— E uma vez que é impossível que Villachor faça isso sem que Qazadi
interprete mal o ato e arranque a cabeça dele no meio do caminho —
acrescentou Dayja -, deduz-se que Qazadi também saiba do plano.
— Então os arquivos são transferidos e protegidos, e a equipe de Eanjer é
deixada de mãos abanando — concluiu D’Ashewl. — E como um bónus
para o Sol Negro, um par de agentes da Inteligência é identificado.
— E possivelmente tratados da tradicional maneira agradável do Sol
Negro, — falou Dayja em tom ácido. — E lá se foi a abordagem de Eanjer.
— Ao que parece, — concordou D’Ashewl. — A questão é:
recomeçamos a nossa?
Dayja bateu com o dedo no lábio.
— Creio que tenho que fazer isso, — disse ele. — Se Villachor realmente
está planejando desertar, não faz muito sentido tornar a água mais turva.
Mas se for só um golpe para nos obrigar a fazer o serviço pesado para ele,
então ainda precisamos de um caminho para entrar em Marblewood.
— E você vai precisar desse caminho antes que Villachor transfira os
arquivos, — alertou D’Ashewl. — Porque onde quer que ele nos faça levá-
los, Villachor estará pronto para retirá-los para outro local qualquer onde
jamais os encontraremos.
— A não ser que consigamos pegá-los no trajeto, como Eanjer
obviamente pretendia, — salientou Dayja. — Mas ele também terá
pensado nisso.
— Com certeza. — D’Ashewl encarou Dayja. — E então?
— Então eu acho que irei à Honraria do Fogo em Movimento em
Marblewood, amanhã — respondeu Dayja ao se levantar da cadeira. —
Melhor preparar outra amostra para balançar embaixo do nariz de Villachor.
— Você tem um dia para pensar em como adaptar sua abordagem —
lembrou D’Ashewl. — E não se esqueça de que o Dominador estará aqui
até lá. Se precisar, haverá reforços disponíveis.
— Só se quisermos revelar a operação inteira.
D’Ashewl deu de ombros.
— Se chegar a esse ponto, a operação já estará revelada — disse ele. —
Melhor uma operação morta e um agente vivo do que o contrário.
— Você tem um jeito tão reconfortante de dizer as coisas, — falou Dayja
ironicamente. — Você quer que eu o sirva durante o almoço, creio eu?
— Se você tiver tempo — disse D’Ashewl. — Se não, eu posso explicar
a sua ausência.
— Não, precisamos manter as aparências, — falou Dayja. — Eu vejo
você no almoço.

— O que foi isso? — gritou Bink do outro lado da sala de estar.


Parado diante da janela e da vista da cidade lá fora, Eanjer se virou para
encará-la.
— Perdão?
— Aquela ligação, — disse Bink.
Ela tinha começado a apontar para o comunicador que Eanjer estava
guardando, aparentemente se lembrou a tempo de que já tinha rasgado dois
pontos das costuras que Winter tivera o trabalho de tentar terminar, e em
vez disso apontou para o aparelho com a cabeça.
— Era o meu contato — falou Eanjer. — Ele queria me alertar que...
— Você anda contando nossos planos para o seu contato? — interrompeu
Bink.
— Ele já sabe, — explicou Eanjer pacientemente. — Foi ele quem nos
contou sobre Qazadi e os arquivos de chantagem antes de mais nada,
lembra? Seja como for, meu contato quis me alertar que Villachor talvez
arrume mais alguns droides-policiais Z.
Bink abaixou o olhar para Winter, e Winter notou a inquietação nos olhos
dela.
— Quantos? — perguntou Bink.
— E quando? — acrescentou Winter.
— Ele não sabe, — respondeu Eanjer. — Ele nem tem certeza de que
Villachor vai realmente arrumá-los ou se está apenas pensando em fazer
isso. Vai me avisar se souber de mais alguma coisa. — Ele gesticulou para o
corredor. — Eu vou à cozinha. Alguma de vocês quer algo?
— Não, obrigada, — disse Bink.
— Eu também não, — falou Winter.
— Ok. — Eanjer hesitou. — Me avisem se puder ajudar em alguma
coisa.
Ele saiu da sala.
— Alguns Zs a mais não vão prejudicar o plano, não é? — perguntou
Winter.
— Eles não deveriam — disse Bink. Mas ela não parecia estar cem por
cento convencida. Um Zed ou cinquenta, todos eles trabalham com o
mesmo sistema de controle mestre.
Winter assentiu. Eu tinha assumido que era o caso, e eu tinha certeza que
Han estava coberto. Mas ela estava escondendo suas cartas muito perto de
seu colete, especialmente desde o sequestro, e ela não tinha certeza absoluta
de como ou onde poderia estar começando a ajustar seus planos. Eanjer,
pelo que pôde apreciar, estava ainda mais no escuro do que ela.
Por outro lado, se ele soubesse que Eanjer tinha começado a tagarelar
livremente sobre seus planos com esse contato desconhecido, essa
provavelmente seria a razão pela qual Han não lhes contaria muito.
— Eu não tive a oportunidade de conversar com Tavia ultimamente —
disse Winter enquanto estudava a costura em que estava trabalhando. Ela
não tinha ideia do tipo de detalhe que Sheqoa tinha, mas era melhor
prevenir do que remediar. Você está bem?
— Ela está bem — disse Bink.
— Tem certeza? O inverno pressionou, enquanto ela se movia para a
próxima costura. Este, ela sabia, tinha que ser um pouco torto se fosse para
combinar com o anterior no outro vestido. Ela parecia bem cansada quando
a vi no jantar ontem à noite.
— Cansado, mas feliz — Bink assegurou. Sentar-se para articular
elementos eletrônicos e fazê-los trabalhar é o que ela vive. Mesmo quando
se trata dos mesmos produtos eletrônicos, como agora, ter que acoplá-los da
mesma maneira várias vezes. Entediado, se você me perguntar. Mas, ei, as
diferenças são o que move a galáxia, não é?
— Pelo que ouvi — Winter concordou. No entanto, parece que ela
preferiria uma vida tranquila.
Bink ficou em silêncio, tempo suficiente para Winter terminar aquela
costura e passar para a próxima.
— Percebo que ela andou conversando com você — disse Bink
finalmente. — Interessante. Tavia deve gostar de você; ela não se abre com
quase ninguém. Imagino que tenha contado como eu gosto do estilo de vida
de ladra fantasma e como nunca estou contente de me fixar em outra coisa
por muito tempo?
Winter hesitou.
— Tavia disse que você é muito boa no que faz — respondeu ela,
preferindo uma abordagem diplomática. — Nós conversamos um pouco
sobre as pessoas geralmente gostarem das coisas em que são boas.
— E imagino que ela tenha dito como é boa com equipamentos
eletrónicos?
— Tavia não precisa dizer isso para nenhum de nós — falou Winter na
esperança de desviar do assunto com um pouco de humor. — Todos vimos
o que ela sabe fazer.
— Ah, ela é boa no que faz, sem dúvida, — disse Bink. — No que Tavia
não é muito boa é em perceber como o universo ao redor é realmente cruel.
Winter ergueu a cabeça e franziu a testa para Bink. Havia uma expressão
extremamente séria no rosto da jovem, uma que Winter ainda não tinha
visto antes.
— Eu não entendi.
— Deixe que eu dê um exemplo, — disse Bink com um tom de amargura
na voz. — Suponho que ela tenha contado sobre a Companhia de
Eletrónicos Rivordak?
— Não pelo nome.
— É a empresa que Tavia geralmente cita como um exemplo de eu
abandonar todas as coisas boas que surgem na vida dela — explicou Bink.
— O salário era bom, o chefe estava contente com o desempenho de Tavia,
e ela realmente gostava do trabalho. Na superfície, parecia perfeito.
— Então o que havia de errado? — perguntou Winter. — Eles tomavam
sopa fazendo muito barulho?
— O que havia de errado é que o lugar não existe, — disse Bink
duramente. — Ou pelo menos o lugar em que ela pensava estar trabalhando
não exista. Toda a operação não era nada mais do que uma fachada de um
dos sindicatos dos Hutts. Eles escoavam especiaria, armas contrabandeadas,
até mesmo escravos pela empresa, tudo enfeitado por inocentes como Tavia.
Winter torceu o nariz. Ela tinha visto muitas operações como aquela
enquanto sondava locais prováveis para a Aliança atacar.
— Você podia ter dito para ela.
— Eu podia, — concordou Bink com um suspiro. — Talvez eu devesse
ter dito. Mas Tavia é tão inocente que... veja bem, tenho certeza de que, a
essa altura, você já percebeu que eu tenho cinismo suficiente para nós duas.
Provavelmente teria o bastante se fôssemos trigêmeas. Só não quero que ela
fique como eu.
— Eu entendo, — falou Winter.
E, surpreendemente, ela se deu conta de que entendia de verdade. Winter
e a princesa Leia tiveram a mesma inocência juvenil arrancada de suas
almas pelo conflito contra o Império.
— Eu quero que Tavia seja feliz, Winter — falou Bink com sinceridade.
— Eu realmente quero. Mas também quero que ela coma regularmente, e
isso não quer dizer num refeitório de prisão em Kessel. Até que a gente
tenha o suficiente para colocá-la em algum lugar seguro... — Ela deu de
ombros. — Eu tenho que continuar a fazer isso.
Bink pareceu voltar a si subitamente.
— Desculpe. Eu abri algumas das costuras agora?
— Não, está tudo bem, — garantiu Winter. — Só não repita isso.
— Certo — disse Bink. O clima mais sombrio havia desaparecido, e ela
estava de volta ao jeitão alegre. — Desculpe.
A sala ficou em silêncio novamente. Winter voltou a trabalhar,
ponderando como o universo podia parecer tão diferente para dois pares de
olhos tão semelhantes.
Ponderando, também, se esse seria o golpe que Bink e Tavia estavam
esperando. O golpe que finalmente lhes daria a liberdade.
Ou se o dia seguinte seria o último que as duas teriam juntas na vida.
CAPÍTULO

17

A manhã surgira com um raiar do sol pleno, sem nuvens, e todos os


sinais de um dia glorioso à frente. Algumas nuvens brancas tinham
aparecido por volta do meio-dia, mas foram embora no início da tarde.
Naquele momento, com o sol quase no horizonte e o céu ao leste já
começando a escurecer, havia todos os sinais de que os fogos de artifício
que encerrariam a Honraria ao Fogo em Movimento ocorreriam contra a
noite totalmente estrelada.
Era um bom dia para ganhar 163 milhões de créditos, pensou Han.
Não seria um dia tão bom para sair de mãos abanando. Seria um dia
realmente péssimo para levar um tiro. Ele fez uma careta de desdém ao
passar pela multidão conversando alegremente, ao ouvir as pessoas
exclamando diante dos jatos de chamas e tornados de fogo que cruzavam o
ar acima das dependências de Marblewood. O humor de Han tivera altos e
baixos naquele dia, indo do otimismo insano ao medo paralisante de que
eles estivessem a caminho de um fracasso catastrófico. Naquele momento,
ao caminhar em direção à mansão, com os prédios mais altos da cidade por
trás, o humor pendia para o lado do mau pressentimento.
O que não fazia sentido algum. Han fizera tudo que era possível. O
equipamento estava pronto, ele repassara todos os detalhes do plano e, por
habilidade ou pura sorte, Han havia conseguido juntar a equipe perfeita para
executá-lo.
Talvez esse fosse o problema. Talvez a equipe fosse boa demais. Tirando
o planejamento geral, não havia realmente muita coisa para o próprio Han
fazer. Na verdade, assim que ele entregasse o cartão de dado especialmente
preparado para Villachor, sua parte estaria encerrada. Han voltaria para a
suíte, se sentaria em uma poltrona confortável ao lado da janela e observaria
tudo se desenrolar embaixo dele através de eletrobinóculos. Ele ficaria com
toda a espera, todo o estresse e preocupação e nada da ação.
Han fez uma careta de desdém um pouco maior. Ele estivera no comando
quando ele e Chewie fizeram a rota de Kessel. Era ele na cabine de tiro
quando havia piratas ou mercenários que precisavam ser expulsos a tiro das
costas da Falcon.
E embora Han tivesse passado a maior parte do lance de Yavin sentado
tranquilamente com o sol nas costas, ele sabia que, quando chegasse a hora,
seria ele quem surgiria para derrubar a tiros aqueles caças TIE da cola de
Luke.
Han não estava acostumado a ficar sentado esperando enquanto outra
pessoa qualquer se divertia. Mas, para variar na vida dele, Han teria que se
conformar com aquilo.
Como sempre, não foi difícil encontrar Villachor. Tudo que blan teve que
tazer toi oinar para o ponto onde estavam as atrações de fogo mais
complexas e descobrir que caminho as pessoastomavam quando não
estavam olhando para o fogo ou indo em direção às barracas de comida e
bebida. Como a maioria dos figurões que Han conhecera, e praticamente
todos os chefões do crime, Villachor gostava de ser bajulado.
Como era de se esperar, o homem e dois guarda-costas estavam na horda
de uma multidão que olhava boquiaberta para um chafariz de fogo que
parecia igualar precisamente o fluxo e os movimentos do chafariz de água
que estivera ali dois dias atrás. Um belo truque, Han teve que admitir
enquanto esperava a fila de simpatizantes em volta de Villachor diminuir.
Finalmente houve um momento de calma.
— Ah, — falou Villachor quando Han foi até ele, com um tom meio
estranho na voz. — Fiquei me perguntando se você viria.
— Eu disse que sim, — lembrou Han. — Eu trouxe...
Ele se interrompeu quando um dos guardas surgiu por trás e uma coisa
dura foi pressionada contra a lateral do seu corpo. Um segundo depois, o
outro guarda se juntou ao companheiro e segurou os braços de Han com
firmeza.
Ele olhou para os homens e a seguir para Villachor.
— Você está brincando.
O lábio de Villachor tremeu.
— Tranquilo, por obséquio, — disse ele.
Villachor deu meia-volta e foi para uma das portas de serviço da mansão,
seguido por Han e pelos guarda-costas.
Han não viu nenhum dos outros seguranças pelo caminho.
Aparentemente, Villachor queria manter a situação em sigilo até mesmo
para o próprio pessoal.
O motivo para isso ficou rapidamente claro. Havia três Falleens
esperando no interior, a alguns metros da porta. O do meio usava um robe
esmerado com camadas e uma longa faixa ornamentada. Provavelmente o
tal Qazadi que Eanjer mencionara, especialmente porque os dois Falleens
que o flanqueavam tinham a aparência durona de guarda-costas. Por meio
segundo, Han pensou em tentar dar a primeira palavra, depois decidiu que o
silêncio calmo seria a melhor maneira de agir.
Provavelmente foi melhor assim, porque Qazadi claramente queria a
primeira palavra para si.
— Aqui está ele, — disse o Falleen antes de a porta sequer ter se fechado
atrás do pequeno grupo. — O humano que, na arrogância e no orgulho,
pensa que pode subverter a lealdade jurada de um agente do Sol Negro.
Han olhou para Villachor. A expressão dele estava controlada, mas havia
suor na testa.
— Eu sou apenas um funcionário, mestre Qazadi, — falou Han, se
voltando para o Falleen. — Eu não tenho permissão para ter arrogância ou
orgulho. Só transmito mensagens.
— Talvez eu deva transmitir uma mensagem minha, — sugeriu Qazadi
calmamente. — Seu corpo, por exemplo, destroçado em pedacinhos de
carne e osso. Será que uma comunicação dessas daria uma mensagem clara
o bastante sobre o preço de nos desafiar?
Han engoliu em seco. Ele sentiu o coração disparar enquanto a onda de
medo se aproximava rapidamente do pânico.
Eram os feromônios do Falleen, Han sabia, que o levavam àquela
emoção. Mas saber aquilo não adiantava nada.
— Tenho certeza de que há melhores maneiras de conseguir o que o
senhor quer, — respondeu ele, mantendo a voz tão calma
quanto possível.
— O que eu quero? — perguntou Qazadi ao erguer as sobrancelhas
fingindo surpresa. — O que o faz pensar que eu quero alguma coisa além da
sua morte e a de todos em sua organização?
— O fato de o senhor estar falando, e não atirando. — Han ergueu as
mãos, basicamente o único gesto que podia fazer com os braços ainda
seguros pelos guarda-costas de Villachor. — Então?
Qazadi deu um sorrisinho.
— Ele realmente é esperto, mestre Villachor, — comentou o Falleen. —
Muito bem. Eu quero o cryodex.
Mesmo sabendo que aquele seria o pedido de Qazadi, Han ainda sentiu
uma nova onda de medo.
— E em troca? — perguntou ele, também sabendo qual seria a resposta
do Falleen.
Han estava certo.
— Uma morte rápida, — disse Qazadi. — Ou, dependendo do que você
me contar sobre seu pessoal e seus recursos, há uma chance muito remota
de você de fato sair de Marblewood com a vida intacta.
— Parece um acordo razoável, — falou Han. — Eu preciso ligar para
meu contato.
Qazadi fez um pequeno gesto, e os guardas soltaram os braços de Han.
Ele puxou o comunicador e digitou o número de Lando.
Lando não gostaria daquilo. Nem um pouco.

— Mas por que levaram Han para dentro? — perguntou Rachele


preocupada, com os eletrobinóculos enfiados no rosto, parada diante da
janela da sala de estar. — Tudo que ele tinha que fazer era entregar um
cartão de dado. Por que não fizeram isso lá fora?
— Talvez Villachor quisesse privacidade, — disse Lando, imaginando se
a desculpa parecia tão esfarrapada para os outros quanto para si.
Pareceu que sim.
— Desde quando? — indagou Winter. A voz estava mais controlada do
que a de Rachele, mas Lando notou a mesma preocupação. — Até agora,
ele sempre preferiu nos manter do lado de fora sempre que possível. Mudar
esse padrão é um mau sinal.
Chewbacca soltou um rosnado de mau agouro.
— Calma, — aconselhou Lando. — Han é crescidinho. Seja lá o que
Villachor tenha em mente, tenho certeza de que ele consegue se safar no
papo.
Na cintura, o comunicador apitou. Lando puxou e clicou para atendê-lo.
— Sim?
— Ei, Kwerve. — A voz de Han estava apenas um pouco descontraída
demais. — Tem um problema aqui.
— Que tipo de problema? — perguntou Lando chamando os demais
enquanto ligava o viva-voz do comunicador.
— Estou em uma reunião com o mestre Qazadi, — disse Han. — Ele
gostaria de ver nosso cryodex.
Epa.
— Você quer dizer que ele gostaria de vê-lo funcionando? — perguntou
Lando com cuidado.
— É, algo assim, — respondeu Han. — Acho que seria de nosso
interesse mostrá-lo para ele.
Lando olhou de relance para os demais, reunidos em volta dele. Rachele
e Tavia pareciam assustadas. Winter parecia controlada e estar tramando
algo. Dozer parecia nervoso. Chewbacca parecia pronto para partir para a
violência. E Eanjer...
Lando franziu a testa. Eanjer parecia estranhamente culpado.
Que motivo exatamente Eanjer teria para parecer culpado?
— Eu posso perguntar para o chefe, — disse Lando no comunicador. —
Teriam que lhe mostrar que há uma compensação excelente para isso.
— Digamos apenas que haverá uma compensação muito desagradável se
ele não mostrar o cryodex, — falou Han com um tom sombrio.
Por um momento, Lando teve um visão daquela cena constrangedora em
Nar Shaddaa, antes do fiasco de Ylesia, quando ele ficara tão furioso com
Han que ameaçara meter um raio na cabeça do amigo. Han tinha a
tendência de provocar esse tipo de reação nas pessoas.
Mas Lando tinha falado no calor da raiva, frustração e traição. A ameaça
de Qazadi era fria, calculista e muito, muito séria.
— Eu direi para ele, — prometeu Lando. — Eu retorno assim que tiver a
resposta.
— Seja rápido, — disse Han. — O mestre Qazadi não me passa a
impressão de ser paciente.
— Pode deixar, — falou Lando. — Eu retorno em breve.
Ele desligou.
— Bem, isso tornou o dia mais interessante, — comentou Lando. —
Alguma ideia?
Chewbacca deu um rosnado em tom de ameaça.
— Claro que vamos tirá-lo de lá, — concordou Rachele firmemente. —
Acho que a questão é como.
— Na verdade, a primeira questão é por quê, tipo por que a situação
entrou em colapso de repente? — falou Lando. — Eanjer? Você tem algo a
dizer?
Quando ele se sentiu desafiado, Eanjer respondeu a ele com uma
pergunta.
— O que você quer dizer?
— Você recebeu uma ligação do seu contato ontem — disse Winter. Ele
disse alguma coisa sobre isso?
Eanjer engoliu visivelmente.
— Eu ... — ele parou. Quero dizer…
Chewbacca deu um passo em direção a ele. Eanjer se afastou e depois
pareceu se encolher.
— Sinto muito — disse ele, falando quase baixo demais para Lando
ouvir. Eu não acho que ... mencionou que Villachor estava fazendo
propostas para os imperiais.
— E você não achou que valeu a pena contar sobre isso? Tavia
repreendeu. Porra, Eanjer, se ele fizer um acordo com os Imperiais,
perderemos todo o controle sobre ele. Ele pode jogar conosco sem ter que
colocar todas as fichas no pote, com a certeza de que ele tem uma brecha se
seu jogo não for bem sucedido.
— Eu sei, eu sei — disse Eanjer, parecendo ainda mais contrito. Eu não
achei que nada disso pudesse acontecer tão rápido, só isso.
— Acho que aconteceu assim — disse Dozer sem rodeios. E agora que?
— Você ouviu Chewie e Rachele — disse Lando. Vamos sair
Como? Dozer respondeu.
— De alguma forma — disse Lando com uma paciência tensa, enquanto
sua mente lutava para elaborar um plano. Inverno, existem outros depósitos
de armas espalhados pela cidade em que nos podemos aventurar?
— Até onde sei, há dois — disse Winter. Mas qualquer coisa que
pudéssemos contrabandear através de suas portas, certamente não seria
poderosa o suficiente para passar pelas portas, paredes ou janelas da
mansão.
— Sem mencionar todos os seguranças — destacou Dozer.
— O power dome terá que ser desligado para o grande show de fogos de
artifício mais tarde — ressaltou Rachele. Talvez pudéssemos conseguir algo
grande o suficiente para quebrar a parede daqui de cima.
— Não podemos esperar tanto tempo — disse Lando. Não sei quanta
paciência Qazadi tem, mas duvido que dure mais de uma hora, mais ou
menos.
Eanjer limpou a garganta.
— Eu tenho uma ideia — ele disse hesitante. Winter, com que precisão
você duplicou o outro cryodex?
— Com a máxima precisão — disse Winter.
— Quer dizer, com a maior precisão?
— Que parte do "completo" não é compreendido? Lando rosnou.
— Não, não, eu entendo — disse Eanjer. Eu estava pensando ... se
deixarmos Qazadi ver o cryodex, e se ele já o viu perto o suficiente junto
com Aziel ... "Ele fez uma pausa, olhando em volta com expectativa.
Rachele foi o primeiro a entender isso.
— Ele vai pensar que é da Aziel — disse ele. E isso Aziel é ... não é?
— Que está…? Eu poderia pensar que é Aziel quem está por trás da
proposta de Lando para obter os arquivos de chantagem? Winter perguntou.
Claro, porque não?
— Você está certo — concordou Tavia. Se ele suspeita que Villachor é
responsável por uma possível traição, por que ele não poderia pensar o
mesmo de Aziel?

— Jogar um contra o outro, — concordou Lando. Eanjer talvez estivesse


no caminho certo. — Então, se conseguirmos convencer Qazadi de que
Aziel é um traidor...
— Ele não vai simplesmente deixar Han ir embora, — falou Tavia
lentamente. — Mas com certeza vai descobrir que Han vale mais vivo do
que morto.
— Especialmente se Qazadi achar que ele pode esclarecer os detalhes do
plano de Aziel, — acrescentou Rachele. — Isso pelo menos deve nos dar
tempo.
Chewbacca grunhiu um alerta.
— Tem razão, — concordou Lando com a cara fechada. — O plano só
funciona até Aziel aparecer em Marblewood com o verdadeiro cryodex.
— O que significa que temos que pegar Aziel agora mesmo e roubar o
verdadeiro, — disse Rachele.
— E quanto aos guardas e aos alarmes nas janelas? — reclamou Dozer.
— Vamos ter que correr o risco, simplesmente, — falou Rachele. — Se
Villachor vir os dois cryodexes juntos, Han está morto. Tavia, você acha
que Bink consegue levar isso a cabo?
— Não sei, — respondeu ela com uma careta enquanto pensava. —
Rápido assim, e antes de ficar totalmente escuro... acho que não. Mas se for
a única maneira, ela topará tentar.
— Se retirarmos Bink de lá agora, podemos perder a chance de entrar na
caixa-forte de Villachor, — alertou Winter enquanto pegava os
eletrobinóculos e retornava à janela.
— Han vale mais do que todos os arquivos na galáxia — disse Rachele
logo atrás de Winter e olhando feio para Eanjer. — E todos os créditos
também.
— Não vamos chegar no tudo ou nada ainda, — falou Lando. — Winter?
Consegue vê-la?
— Sim, — respondeu Winter balançando a cabeça. — Sinto muito, ela já
está metida com Sheqoa. Se a retirarmos agora, especialmente com ele já
desconfiado, será o fim.
— A não ser que a gente consiga devolvê-la a tempo, — disse Dozer.
— Nem pensar, — falou Tavia.
— O que deixa apenas outra tentativa, — continuou Winter calmamente.
— Dozer e eu não temos mais nada para fazer agora. Nós iremos ao Lulina
Crown e manteremos Aziel lá.
— Opa, — exclamou Dozer arregalando os olhos. — Nós contra...? Não.
Nem pensar.
— Calma, — disse Winter. — Não estou sugerindo que nós ataquemos
Aziel e sua coleção de guarda-costas. Só temos que mantê-lo trancado na
suíte do hotel.
— Ah, sim, isso vai funcionar, — falou Dozer sarcasticamente. — Ele
não vai ter um comunicador ou outra coisa que possa usar para ligar para
Qazadi. Nem pensar.
— Espere, — disse Lando sentindo a primeira pontada de esperança. —
Winter está certa. Ligar para Qazadi não serve de nada para Aziel. É claro
que ele dirá que ainda está com o cryodex, mas ele diria isso quer estivesse
com o aparelho ou não.
— Então como se prende alguém no quarto? — perguntou Rachele.
— Eu não sei ainda — respondeu Lando. — Vamos fazer um rápido
inventário do que temos à mão e ver se conseguimos bolar um plano.
— A não ser que você ainda esteja com medo demais do Falleen para
fazer isso — acrescentou Rachele para Dozer, com um tom de desafio na
voz.
Dozer olhou feio para as costas de Winter e endireitou os ombros.
— Vamos encontrar um plano que funcione primeiro, — disse ele.
— Quanto aos equipamentos, eu tenho alguns veículos remotos, alguns
abridores universais de portas criptografadas...
— Com licença, — falou Winter, ainda parada na janela. — Algum de
vocês sabe se Han fuma?
— Não que eu saiba, — disse Lando franzindo a testa. — Chewie?
Chewbacca rosnou uma resposta negativa.
— Talvez há muito tempo, mas não ultimamente, — falou Lando.
— Por quê?
— Porque eu acho, — disse Winter pensativa, — que ele talvez tenha
acabado de nos mandar uma mensagem.

Han desligou o comunicador. Quando começava a guardá-lo, um dos


seguranças arrancou o aparelho de sua mão.
— Certo, eu mandei a mensagem, — falou Han para Qazadi. — Acho
que agora é esperar.
— Sim, — disse Qazadi. — Vamos torcer para que seu superior lhe
considere mais valioso do que o cryodex. — Ele deu um sorrisinho.
— Especialmente porque lacaios são muito mais fáceis de substituir do
que artefatos raros.
— Não os bons — contra-argumentou Han olhando para Villachor. O
homem estava a dois passos de distância. O plano devia funcionar. — Creio
que serei seu hóspede por algum tempo?
— Por pouco tempo apenas — disse Qazadi, cujos olhos se voltaram para
os guarda-costas de Villachor. — Vocês dois, levem-no até os aposentos dos
guardas na frente da minha suíte. O armário lá pode ser protegido com a
fechadura. Coloque dentro.
— Manning pode levá-lo — disse Villachor com firmeza. Tawb ficará
comigo.
— Os dois vão levá-lo — disse Qazadi.
Por um segundo, seu olhar e o de Villachor permaneceram trancados.
E naquele instante, Han fez seu movimento.
Os guarda-costas ainda seguravam seus braços, mas ambos os antebraços
estavam livres. Encolhendo o ombro esquerdo ligeiramente como uma
distração, Han enfiou a mão direita no bolso lateral e pegou o cartão de
dados que ele havia colocado lá. Com um único movimento suave, ele
puxou e jogou para Villachor.
Ela teve tempo suficiente para ver como Villachor, em um ato reflexo, a
pegou antes que os dois guarda-costas o puxassem de volta e o bateu no
chão.
— Acalme-se — Han disse a eles apressadamente, fazendo uma careta
com a dor súbita em seus ombros, enquanto desintegradores pareciam vir de
toda a sala. É apenas a ordem do meu chefe. Fui obrigado a entregar o
cartão ao maestro Villachor.
Por um longo momento, ninguém se mexeu. Com o canto do olho, Han
pôde ver Villachor girando o cartão de dados entre as mãos.
— O que é? Qazadi perguntou.
— Os detalhes da sua proposta — disse Han. Eu não acho que isso
importe muito agora, suponho.
— Eu nunca disse que ia me juntar a você — insistiu Villachor, jogando
o cartão de volta para Han, como se estivesse se livrando de um gundark de
bebê.
Han fez um pequeno encolher de ombros.
Como eu havia dito, recebi ordem para entregá-lo.

Por mais alguns segundos, ninguém fez um gesto ou falou. Han aguardou
ansiosamente...
E então Qazadi se mexeu e deu um sorrisinho para Han.
— Eu admiro um homem que gasta seu último suspiro cumprindo
ordens, — disse ele. — Levantem-no.
As mãos que prendiam Han ao chão mudaram de direção e o puxaram
para ficar em pé novamente.
— E eu ficarei com esse cartão de dado, — acrescentou o Falleen quase
como se tivesse esquecido. — Dygrig?
Um dos guardas de Qazadi recuperou o cartão de dado e o entregou para
o chefe.
— Vocês têm ordens a cumprir, — continuou Qazadi pensando enquanto
olhava o cartão de dado.
— Senhor? — perguntou um dos guarda-costas de Villachor.
— Sim, vá em frente, Manning, — falou Villachor com um sinal de
suspiro. — Tawb, vá com ele.
— Ande, — rosnou Manning no ouvido de Han enquanto apertava o
braço dele com as mãos novamente. Seu hálito tinha um leve cheiro de
tabaco; aparentemente o homem fumava cigarra.
Os guarda-costas o conduziram por um corredor comprido e por três
lances de escada acima até o quarto andar. Pelo caminho, Han percebeu
com algum interesse, eles passaram por uma única pessoa exatamente, um
velho em roupas de chef correndo para a área da cozinha. Aparentemente,
todos os funcionários de Villachor estavam do lado de fora ou de prontidão
nas várias áreas de serviço da mansão.
— Aonde estamos indo? — perguntou Han ao erguer o olhar para as
claraboias enquanto andavam pelo corredor até a ala nordeste.
— Você ouviu Sua Excelência, — rosnou Tawb.
— Sim, um armário na sala da guarda. — Han olhou Manning de lado.
— Você bem que podia me dar uma cigarra para ajudar a matar o tempo.
Manning deu um muxoxo de desdém.
— Sei.
— Não, é sério, — insistiu Han. — Eu realmente preciso de uma cigarra
e sei que você fuma; posso sentir o cheiro em você. Vamos lá, seja razoável.
Eu realmente preciso.
— Você realmente precisa fumar? — Manning soltou o braço de Han,
deu um longo passo à frente e depois acertou o passo ao lado dele. Ele tirou
do bolso uma cigarra comprida e fina. — Uma dessas?
— Cuidado, — alertou Tawb. — Qazadi não vai gostar se você jogar
fumaça nos aposentos dele.
— Não vou fazer isso, — garantiu Manning. Ele acendeu a cigarra,
tragou e baforou. — Fumar assim? — perguntou ele para Han e soltou outra
nuvem de fumaça.
— É, assim, — disse Han, lutando contra o aperto de Tawb enquanto
tentava se aproximar dos anéis de fumaça, torcendo para conseguir
esconder o nojo que sentia daquilo. — Vamos, deixe-me pelo menos sentir
o cheiro.
— Porque eu teria muitos problemas se desse alguma coisa a você, —
continuou Manning ao andar de costas enquanto tragava e baforava mais
fumaça em cima de Han, sempre mantendo distância suficiente para que
Han só sentisse um leve cheiro da borda de cada nuvem antes que ela
subisse para o teto. — Especialmente uma cigarra. Especialmente na suíte
de Qazadi.
— Ora, vamos, — implorou Han.
Ele praticamente podia sentir os pelos do nariz se enroscando ao inalar a
fumaça, e seus pulmões pairaram sobre a borda de um violento ataque de
tosse. Mas eu tive que fazer isso parecer real se eu quisesse que Manning
continuasse com o jogo.
— Chega — Tawb disse. Vamos lá, estamos bem perto.
— Relaxe — Manning se acalmou. Ele soltou um último suspiro e depois
deslizou uma tampa sobre o charuto para apagá-lo. Vou guardar o resto para
mais tarde — disse ele, colocando-o de volta no bolso. Aproveite a
memória. Ele parou em uma porta aberta e gesticulou para dentro. Entre lá
— Claro — disse Han. Winter e Rachele deveriam estar em sua suíte
agora, mantendo um olhar atento na mansão e nos jardins, e um estranho
padrão de fumaça em uma das claraboias, deveria ser exatamente o tipo de
coisas que um deles poderia perceber.
Ou pode ser que a mensagem tenha sido perdida completamente. Mas se
eles pudessem detectá-lo, eles poderiam perceber que Han estava apontando
a parte da mansão onde ele estava sendo mantido.
Era uma possibilidade muito remota. Mas, às vezes, tiros longos
compensavam.
O quarto por onde passaram era surpreendentemente grande, equipado
com uma pequena mesa e quatro cadeiras, um par de luzes no chão e seis
camas espaçadas ao redor da sala de estar. Era um quartel para guardas bem
equipados, para homens ou homens que usariam o quarto por muito poucas
coisas, exceto para dormir. Manning levou-o na direção de uma grande
porta na parede lateral, que tinha um teclado grande ao lado. Ele digitou um
código simples, — um, dois, três, — e a porta se abriu para revelar um
grande camarim. Tawb caminhou até Han e deu-lhe um empurrão para
mandá-lo para dentro.
— Você tem que estar brincando — Han protestou enquanto recuperava o
equilíbrio e olhou em volta. Sem roupas, sem caixas de arrumação, o
armário estava completamente vazio, exceto por um punhado de hastes
penduradas ao longo das paredes laterais, prateleiras móveis e uma dúzia de
cabides. E se você pelo menos me der uma daquelas cadeiras?
— E se não o fizermos? Tawb disse, dando ao gabinete uma rápida
verificação de sua parte, depois se afastando. Aproveite a sua estadia.
Estaremos de volta quando o Mestre Villachor mandar por você.
— Muito provavelmente quando o Mestre Qazadi me mandar — Han
respondeu quando a porta se fechou. Parece que é ele quem está
encarregado de tudo agora.
Nenhum comentário foi ouvido de nenhum deles. Han não esperava que
houvesse.
O armário estava escuro, mas Han descobrira um interruptor ao lado da
porta em seu caminho. Ele bateu, e um conjunto de luzes suaves iluminou
as bordas superiores do gabinete.
Ele passou os minutos seguintes olhando ao redor da sala, esperando
encontrar algo útil que não teria notado em sua primeira avaliação. Mas não
havia nada. Os cabides eram do tipo de alta classe, madeira polida com
ganchos cromados, — ligeiramente úteis como suportes, — mas nada que
pudesse causar qualquer dano contra uma pesada porta de madeira. As
prateleiras e os varais das roupas eram feitos da mesma madeira polida,
que, de novo, não oferecia muita esperança como material para conseguir
sua fuga. As paredes e o chão também eram feitos de madeira, de um tipo
diferente da prateleira, mas igualmente sólidos. Teto…
O teto.
Han olhou para cima. O teto parecia ser feito de algum tipo de cerâmica.
Mas quando Rachele falara sobre a caixa-forte, ela mencionara um vão
entre o teto e o piso acima dele. Se o mesmo design se aplicasse ali, aquele
teto não deveria estar sustentando peso algum e talvez não fosse tão grosso
assim.
E se o vão entre andares fosse suficientemente grande para Han caber
nele...
Ele levou alguns minutos para retirar as prateleiras e apoiá-las nas
paredes laterais, em ângulos opostos do chão ao teto para criar uma espécie
de andaime improvisado. Han pegou o cabide de madeira com aparência
mais robusta, subiu nas prateleiras e experimentou bater no teto.
Nada aconteceu. Ele bateu com mais força, depois com mais força ainda,
imaginando se o barulho atrairia atenção indesejada. Mas ninguém entrou
correndo. Han continuou batendo até que, finalmente, de uma batida de
força mediana, o cabide rompeu a cerâmica.
Ele estava certo, — o material não era muito grosso. Han forçou a teia de
rachaduras que partiam do ponto de impacto e arrancou o suficiente para
fazer uma abertura de 20 centímetros. Ele subiu o resto do andaime e enfiou
a cabeça no buraco.
Havia um vão entre os andares, realmente. Infelizmente, não tinha mais
do que 20 ou 30 centímetros de profundidade, e ficava mais estreito em
cima da porta do armário. Bink talvez conseguisse passar, especialmente
com o equipamento de alpinismo adequado, mas não havia jeito de Han
fazer aquilo.
Mas se ele conseguisse arrancar pedaços suficientes do teto do lado de
fora do armário, talvez fosse capaz de usar uma das barras de roupa para
bater no teclado e abrir a porta. O código um-dois-três que Manning usou,
provavelmente era uma configuração padrão, e seria fácil digitar
novamente.
Segurando de novo para poder descer, ele moveu seu andaime para um
lugar bem em frente à porta e foi trabalhar.
Por tudo isso Dayja tinha sido capaz de ler nos folhetos de visitantes, o
Tributo a Fire in Motion foi o destaque do Festival, um dia em que os vários
locais em toda a largura de todo o planeta, trabalhando da maneira mais
amarga para superar os outros. Algum dia, Dayja decidiu, ele teria que ter
tempo para vir aqui e apreciá-lo corretamente.
Mas hoje não foi esse dia. Hoje, ele só tinha olhos para a multidão que
passava pelos jardins da Hacienda de Mármore.
Havia onze pessoas na equipe de Eanjer, eu sabia disso. Depois de
observá-los secretamente na varanda nove dias antes, ele os tinha visto na
sala de conversação de sua suíte. E apesar de eu ter visto apenas uma das
mulheres, tive uma visão clara de todos os rostos dos outros. Hoje, naquele
exato momento, eles tiveram sua última e melhor chance de se infiltrar na
mansão de Villachor e invadir seu cofre. Eles deveriam estar aqui, prontos
para desempenhar seus papéis em qualquer plano com o qual Eanjer tivesse
chegado.
Ele já havia visto três deles. Dois deles, o mais jovem da equipe e balosar
Peeping macho humano, parecia ter o mesmo trabalho: passear e sub-
repticiamente colocar algo debaixo trajes com projetos da chama de
diferentes serviços droids que cuidou de provisionamento e manutenção de
droides. Restrições, Dayja supostamente, ou possivelmente pequenas
acusações de detonite. O terceiro membro da equipe, uma jovem de cabelos
negros, vestida com um longo tom vermelho intenso, grudara em Sheqoa, o
chefe da segurança de Marblewood. Ela, obviamente, estava planejando ser
a distração.
Então onde, raios, estavam os outros oito?
À esquerda, um jorro de chamas azul-amareladas subitamente disparou
para o céu e mandou uma onda de calor pela multidão reunida. Dayja deu
um olhar distraído para o chafariz, depois mudou a direção e foi para as
barracas de bebidas. O sol havia acabado de se pôr, e faltava mais ou menos
uma hora e meia para a escuridão completa e a exibição apoteótica de fogos
de artifício. Dayja decidiu dar uma hora para Eanjer agir; depois disso, se
nada tivesse acontecido ainda, ele encontraria Villachor e tentaria retomar o
seu plano original de infiltração.
Enquanto isso, as barracas de comida e bebida de Marblewood ainda
tinham um estoque impressionante. Não haveria problema em tirar
vantagem disso.

O teto do quarto bem do lado de fora da porta foi tão fácil de quebrar
quanto o teto do armário, embora Han fizesse uma careta a cada estalo e
ruído que a cerâmica fazia quando os pedaços se soltavam. Ele conseguiu
ver que a porta do quarto estava parcialmente aberta e ficou um pouco
surpreso de que ninguém lá fora tivesse notado o barulho que fazia.
Ainda assim, como Han já havia percebido, a maioria dos funcionários de
Villachor estava ocupada em outros lugares. Isso e mais o barulho da
multidão e do espetáculo lá fora eram aparentemente suficientes para
acobertar suas atividades.
O primeiro problema aconteceu quando ele se deu conta de que as barras
eram longas demais para manejar dentro do buraco, através do vão entre os
andares, até descê-las pelo buraco ao lado da porta. Também teimavam em
não quebrar, mesmo com Han apoiando uma delas contra a parede e
pulando sobre ela.
Mas ainda havia os cabides de luxo. Prendendo um no outro, ele
conseguiu fazer uma corrente flexível suficientemente comprida para
pendurar pela abertura e tocar no teclado.
Não que tenha sido fácil. Foram necessárias inúmeras tentativas e mais
paciência do que Han achou que tivesse. Mas, no fim, ele conseguiu abrir a
porta.
Felizmente, o quarto ainda estava vazio. Segurando um dos cabides de
prontidão como um porrete, e reconhecendo no fundo de sua mente que
uma arma assim seria ridícula contra facas, chicotes neurônicos e armas de
raios, Han cruzou o quarto e espiou de mansinho lá fora.
E se viu completamente bloqueado. A 15 metros, descendo o corredor,
parados de cada lado de uma porta, estavam os dois guarda-costas Falleen
que ele vira mais cedo.
Evidentemente Qazadi era a única pessoa na Cidade de Iltarr que não
estava lá fora vendo o espetáculo pirotécnico de Villachor.
Han praguejou baixinho e recuou da porta. Ok, então ele estava
encurralado ali. Mas isso não duraria para sempre. Assim que Lando
surgisse com o cryodex falso, Qazadi certamente desceria para dar uma
olhada. Aonde fosse Qazadi, os guarda-costas também iriam.
E com o resto dos funcionários de Villachor ocupados, assim que os
Falleens saíssem, Han basicamente teria liberdade de ação dentro da
mansão.
Presumindo que Lando realmente trouxesse o cryodex.
Enfie isso na sua cabeça, as palavras raivosas de Lando retornaram à
memória. Como nós fomos amigos no passado, eu não eu não vou fazer o
que você realmente merece, o que é para explodir sua mente. Mas nunca
mais se aproxime de mim.
Lando havia dito a ele dias antes, que a questão já havia esfriado desde a
disputa, que ele havia relutantemente percebido que Han não o havia
enganado de propósito. Em virtude de sua longa história em comum, Han
aceitara que esse fogo era autêntico.
Mas e se não fosse? E se as desculpas não fossem de todo, não fossem
mais do que as palavras que Lando achava que ele tinha a dizer para se
aproximar dos cento e sessenta e três milhões de créditos de Eanjer?
Nesse caso, tudo o que Lando tinha que fazer era continuar com o plano
original, ajudar os outros a invadir o cofre do Tesouro de Mármore e deixar
Han para Qazadi decidir o que ele queria fazer com ele. Limpo e bem
cuidado, sem Lando precisar sujar as mãos.
E seria quase como garantir que ele nunca teria que se preocupar com
Han chegando perto dele novamente.
Han respirou fundo. Não, Lando não faria isso com ele. Não dessa
maneira. Definitivamente não com Chewie respirando em seu pescoço.
Eu apenas tive que esperar. Isso foi tudo. Apenas espere.
Voltando pela sala para uma das camas, ela se sentou no chão atrás dela,
abaixando o suficiente para colocar os olhos logo acima do nível do
colchão, de onde ela podia ver o corredor, mas onde ela não iria fazê-la. A
pessoa era imediatamente visível, a menos que a pessoa que passasse
tivesse um olhar cuidadoso.
Lando e os outros viriam com alguma coisa. Eu só precisava estar pronta
para quando eles fizessem.

Cuidadosamente, Lando instalou seu falso cryodex em seu contêiner e o


selou.
— Todo mundo pronto? — perguntou ele olhando em volta da sala.
O grupo deu um coro de respostas afirmativas. Eles certamente pareciam
prontos, decidiu Lando. Mesmo com o chapéu marrom de aba larga que
escondia metade do rosto e a tensão da expectativa do que viria a seguir,
Tavia estava deslumbrante no discreto vestido marrom. Rachele tinha
transferido o computador para a janela, pronta para prestar qualquer apoio a
quem precisasse, fosse pesquisa de informações ou vigilância aérea. Winter
e Dozer estavam vestidos com trajes que não atrairiam olhares na rua, mas
que foram feitos para ajudar a correr, desviar ou atirar. Chewbacca, como
sempre, apenas parecia impaciente para andar logo.
— Certo, — falou Lando enquanto ajustava cuidadosamente a barra do
casaco rasgável comum que Zerba tinha feito para ele. — Vamos nessa.
— Esperem! — berrou Eanjer, vindo do corredor.
Lando virou e se perguntou, irritado, o que o sujeito queria então.
Ele ficou boquiaberto. Eanjer tinha vestido um casacão comprido, azul-
escuro, com o colarinho virado para cima a fim de esconder grande parte do
medselo que cobria a metade direita do rosto. Na cabeça, de maneira
vistosa, havia uma grande boina bordo com penas que pendiam pela borda e
escondiam boa parte do resto.
— Por que você está todo arrumado assim? — indagou Lando.
— Eu vou com vocês — respondeu Eanjer em tom firme. — E minha
culpa que Han está nessa enrascada. Eu não vou simplesmente ficar sentado
aqui sem fazer nada.
— E se o pessoal de Villachor reconhecer você? — perguntou a ele.
— Eles não vão — assegurou Eanjer.
— E se eles fizerem? Tavia insistiu.
O único olho de Eanjer parecia algo cortado de uma pedra de sílex
quando ele se virou lentamente para ele.
— Então você e Bink terão que fazer um pouco mais de trabalho de
distração, certo?
Chewbacca grunhiu e fez um gesto impaciente para a porta.
— Sim, e não podemos desperdiçar qualquer ajuda — Lando concordou
com relutância. Ele não queria que Eanjer fosse lá com ele. Mas a menos
que colocassem algemas nos pulsos do homem, ou ordenassem a Rachele
que sentasse nele, não haveria maneira prática de mantê-lo na suíte. Ok,
mas... — Ele apontou um dedo para ela. Você permanecerá nas sombras,
fará apenas o que um de nós lhe disser para fazer e não se converterá em
nenhum tipo de distração. Entendido?
— Entendimento –Enjer sorriu cinicamente. Afinal, se Villachor me
pegar, seus cento e sessenta e três milhões serão subitamente reduzidos para
oitocentos mil. Nós não podemos permitir isso, certo?
— Eu não me importo com a redução — rosnou Lando. Nós sabemos o
que estamos fazendo. Você não. Então fique fora do caminho.
— Confie em mim — disse Eanjer suavemente. Não tenho intenção de
morrer hoje.
Bem, disse Lando. Porque nenhum de nós pretende fazer isso. Ele
respirou fundo. Tudo bem. Vamos
Houve outra rodada de assentimento silencioso enquanto todos se
dirigiam para a porta.
Ao se juntar a eles, Lando sentiu ainda mais o sulco enrugado da testa.
Teria sido difícil dizer que eu o ouvira no meio de todos os outros
murmúrios. Mas eu poderia jurar que Winter acabara de dizer ...
— Inverno -Ele interpelou ela.
— Sim Ela disse, olhando para ele.
Lando sentiu seus lábios se contraírem.
— Nada — ele disse, e continuou andando.
Porque, na verdade, ninguém disse que a Força nos acompanha.
Ninguém, exceto rebeldes e fanáticos religiosos.
E se Winter pertencia a um desses dois grupos, ele realmente não queria
saber nada sobre isso.
CAPÍTULO

18

Dozer aterrissou o airspeeder na área de pouso a meio quarteirão do


Hotel Lulina Crown e desligou o motor e as luzes.
— Em posição, — informou Winter via comunicador. Ela ouviu durante
um instante, depois acenou com a cabeça. — Ok, nos avise quando for o
momento.
Ela desligou e guardou o aparelho.
— Os outros estão a caminho, — disse Winter para Dozer. — Lando
ligará quando quiser que entremos em ação.
Dozer concordou com a cabeça olhando para a escuridão da entrada da
garagem de airspeeders do Lulina Crown.
— Ótimo, — murmurou ele.
— Você está pronto?
Dozer cerrou os dentes. Não, ele não estava pronto para isso, raios. E se
Winter tivesse cérebro, também não estaria.
Porque aquele lá dentro era um Falleen. Um Falleen. Mais do que isso,
um Ealleen que já havia levado Dozer à beira de dizer
coisas que ele não queria.
E o Falleen tinha feito isso simplesmente sorrindo, perguntando com
educação e enchendo os pulmões de Dozer com veneno bioquímico.
Dozer sempre se orgulhara de estar no controle. Sempre. Mesmo quando
estava trabalhando para outra pessoa, ainda havia certas liberdades
importantes que Dozer possuía e de que jamais abriria mão. Era ele quem
escolhia se obedecia a ordens questionáveis ou não. Era ele quem decidia
quando e como fechar o negócio que era preciso fechar. Era ele quem sabia
quando precisava continuar ou cair fora.
Com o Falleen, ele não tinha mais essas liberdades. O Falleen podia tirar
todas elas de Dozer.
Ele olhou de lado para Winter. Ela olhava diretamente para a entrada da
garagem, mas Dozer sabia que ela podia sentir o olhar dele.
E não havia medo no rosto dela. Nada além de calma e determinação.
Dozer sentiu o lábio tremer. Winter mal tinha a metade da idade dele.
Certamente não tinha mais do que a metade do tamanho. Mas mesmo ela
devia ser esperta o suficiente para ficar preocupada com as chances de
encarar um agente do Sol Negro e seus guarda-costas.
Talvez Winter estivesse nervosa. Talvez simplesmente não estivesse
demonstrando.
Ou talvez ela apenas não se importasse. Talvez tudo que importasse para
Winter fosse realizar o serviço.
E que raios partissem Dozer se ele deixasse uma garota imatura humilhá-
lo.
Na verdade, pensando nisso, o grupo inteiro andara basicamente
ignorando Dozer desde o dia em que tudo aquilo começara. Ele tinha sido
escolhido como testa de ferro, mas aí Calrissian aparecera e recebera a
função. Ele esperava ter que roubar airspeeders, mas Eanjer simplesmente
saíra e alugara os veículos. Tirando o Z-95 e aquele outro serviço que Han
lhe pedira para executar, Dozer basicamente não tinha feito nada para
merecer sua fatia do bolo, a não ser entregar as propinas que todo mundo
sabia que o pessoal de Villachor sequer pegaria.
Bem, isso mudaria. Ele, Dozer Creed, faria com que os 163 milhões de
créditos de Eanjer parecessem trocados no bolso. E quando o fizesse, os
demais o tratariam com mais respeito. Muito mais respeito.
— É — rosnou Dozer para Winter. — Estou pronto.
E para sua surpresa, ele descobriu que realmente estava sendo sincero.

Uma chama sibilante passou diretamente acima deles como uma cobra
flamejante. Lando se abaixou por reflexo, embora o fogo estivesse contido
por um campo repulsor e separado por bons 2 metros da cabeça dele.
Chewbacca, que estava mais próximo ainda à chama, sequer piscou.
Mas, por outro lado, Chewbacca estava seriamente concentrado agora.
Como já tinha visto aquele humor antes, Lando estava contente por não ser
o foco do Wookiee.
O fogo passou, e Chewbacca rosnou.
— Ele está aqui, — disse Lando.
— Onde? — perguntou Eanjer.
— Ao lado do posto de segurança na extremidade sul do pavilhão infantil
— informou Lando.
Eanjer resmungou.
— Estou um pouco surpreso de que ele tenha se disposto a se reunir
publicamente assim.
— Eu não ofereci outra escolha, — disse Lando com a cara fechada. —
Duvido que ele esteja muito contente a respeito disso.
— Nem sempre conseguimos o que queremos, — comentou Eanjer
filosoficamente. — Qazadi está com ele?
Chewbacca rosnou de novo.
— Nenhum sinal do Falleen, — disse Lando. — Certo. Mais dez passos e
será o momento de você e Chewie se separarem e encontrarem Bink.
— Espere um minuto — reclamou Eanjer franzindo a testa para Lando
com o olho bom. — Eu pensei que iria com você.
— Não sei de onde você tirou essa idea — falou Lando. — Você vai com
Chewie.
— Mas...
— E se você encher nossos ouvidos de estática quanto a isso, ele vai
jogá-lo sobre o ombro e levá-lo para fora daqui como uma criança
malcriada, — disse Lando. — Entendeu?
Eanjer ergueu o olhar para Chewbacca.
— Entendi — respondeu ele relutantemente.
— Você veio aqui ajudar a soltar Han, — lembrou Lando. — Esse é o
trabalho de Chewie, e sei que ele pode contar com a sua ajuda.
Chewbacca vociferou sua opinião sobre aquilo.
Dessa vez, Lando decidiu que seria melhor não traduzir.
— Da minha parte, só vou entregar uma encomenda e depois irei embora,
— disse Lando, em vez da tradução.
O que também não era verdade. Mais uma vez, Eanjer não precisou se
preocupar com os detalhes.
Chewbacca rosnou um aviso.
— Hora de ir– disse Lando, enfatizando sua ordem com um firme
empurrão no ombro de Eanjer. Boa sorte.
Com um breve aceno de cabeça, Eanjer deslizou pela multidão,
Chewbacca andando atrás dele. Lando esperou até que o Wookiee fosse
apenas uma cabeça emergindo acima da multidão, e então retirou seu
comunicador.
— Rachele?
— Parece que há um total de oito guarda-costas no grupo — ela
informou. Mas há pelo menos mais quatro tipos de segurança vagando,
formando um anel a cerca de vinte metros do lado de fora do grupo
principal. Poderia haver mais alguns que eu não consegui detectar.
Lando assentiu. Ele esperava que Villachor fosse fortemente protegido e
estava certo.
E Qazadi?
— Não há sinais dele. Villachor poderia estar planejando levá-lo para
dentro para que você possa conhecê-lo.
— Tenho certeza de que é assim — disse Lando acidamente. Entrar na
mansão era o que deixara Han preso, e Lando não tinha intenção de
oferecer a Villachor um especial dois por um. Particularmente considerando
o que ele usava sob o terno para rasgar. Tavia está indo bem?
— Ela já está lá, circulando ao redor da instalação principal do gêiser de
chamas — disse Rachele. Espere ... Sim, ela viu Chewbacca. Está
começando a se mover para o sudeste ... bem, agora eu posso ver Bink,
saindo do quiosque de bebidas com Sheqoa. Chewie e Tavia estão a
caminho para interceptá-los.
Bem, disse Lando. Ele pensou brevemente em dizer a Rachele para dar
um rápido telefonema a Tavia para lembrá-lo sobre a nova sincronização
com a qual haviam concordado, mas decidiu contra. Ela e Chewbacca
sabiam o que estavam fazendo, e Bink já sabia o que esperar para não
ultrapassá-los. Contanto que eles não a empurrem, o tempo deve ser
preciso. Ok, eu vou entrar — disse ele. Como você vê a extremidade norte
do pavilhão infantil?
— Está claro, pelo que vejo — disse Rachele. Mas eu não posso ver
todas as pessoas de Villachor daqui. Tenha cuidado.
— Eu vou ter — disse Lando. Não se esqueça de que todas as
probabilidades são contra Villachor, tornando meu rosto familiar demais,
mesmo entre sua própria força de segurança.
— Isso pode ser o que seus cálculos lhe dizem — Rachele disse
severamente. Eu não tenho tanta certeza.
— Eu vou ficar bem — disse Lando. Eu tenho aquelas cargas estridentes
do pacote de Kell. Se o pior acontecer, posso começar a jogá-los ao redor
deles e tentar escapar em meio à confusão.
— Apenas não muito barulho — Rachele lembrou a ele. A última coisa
que queremos agora é desencadear um pânico total.
— Eu sei — disse Lando. Vou verificá-los novamente antes de fazer a
entrega.
O pavilhão das crianças era fácil de identificar, cheio de equipamentos
coloridos para brincar e repleto de gritos e risos excitados das crianças.
Lando se aproximou do extremo norte com cautela, mas não notou nenhum
homem de rosto duro andando por ali. Através do labirinto colorido de
estruturas de escalada e estruturas de jogo, ele vislumbrou aparições
ocasionais de Villachor e seu grupo de guardas, à espera de Lando, no
extremo sul, exatamente onde Lando lhes havia dito que esperar.
Villachor não ficaria feliz por levar um bolo dessa maneira, mas as
pessoas nem sempre conseguiam o que queriam.
Ao passar pelo pavilhão, Lando deixou cair o estojo discretamente dentro
da coluna no canto noroeste.
Ele andou por mais um minuto, ziguezagueando entre grupos de pessoas,
e em dado momento passou por uma fila dupla de gente que ia e vinha entre
um dos chafarizes de chamas e a barraca de bebidas. Só então ele puxou o
comunicador e ligou para o número de Villachor.
O homem atendeu prontamente.
— Villachor.
— Kwerve, — Lando se identificou. — O pacote o espera no canto
noroeste do pavilhão infantil.
Houve uma breve pausa.
— Eu pensei que teríamos uma discussão cara a cara como cavalheiros
civilizados.
— Eu sei, — concordou Lando. — Meu chefe decidiu que não havia
mais nada que a gente precisasse dizer um para o outro no momento. Ele
também quer saber quando podemos esperar que o outro funcionário seja
libertado.
— Depois que verificarmos seu aparelho, — respondeu Villachor. — E
se ele não estiver onde você disse, ou se acontecer uma explosão quando
abrirmos, eu lhe prometo que a única libertação que seu funcionário terá
será na forma de uma morte muito lenta.
— Não haverá explosões — prometeu Lando com uma careta. Era
melhor que o plano de Chewie para resgatar Han funcionasse. — Por sua
vez, meu chefe mandou que eu lhe dissesse que, se alguém do nosso pessoal
for machucado, é você que morrerá muito lentamente.
— Tenho certeza de que sim — disse Villachor com uma calma
enganosa. Diga a ele que estou ansioso para conhecê-lo um dia.
— Algum dia — prometeu Lando, tentando igualar o tom do outro.
Aproveite o pacote. Estaremos esperando para ver nosso amigo livre muito
em breve.

Quando isso aconteceu, tudo aconteceu de uma só vez.


Em um minuto, o corredor do lado de fora do quarto de Han estava tão
morto quanto a lista de amigos de um hutt. No seguinte, ele foi de repente o
anfitrião de um desfile. Mantendo-se tão agachado quanto pôde, viu seis
seres humanos e três falleen partirem em formação; Um dos Falleen estava
vestido como se tivesse recebido uma convocação imperial, e os outros
foram mortos e os humanos estavam armados até os dentes.
Em algum lugar, aparentemente Lando entregou o cryodex.
Esperou até que a procissão passasse e lhes deu um minuto depois disso,
só para ter certeza. Então, abandonando a alpendre, ele caminhou
silenciosamente em direção à porta. Uma verificação rápida em ambas as
direções mostrou-lhe que o corredor estava vazio novamente. Tentando
observar em ambas as direções ao mesmo tempo, ele voltou para a parte
central da mansão.
No entanto, não havia muito que ele pudesse fazer, e ele sabia disso. Não,
pelo menos até o plano realmente começar. Sem armas, aliados ou
comunicador, tudo que eu poderia fazer era encontrar um lugar para ficar
escondido por um tempo.
Felizmente, depois de ter tido tempo para pensar nisso, encontrei o lugar
ideal.
Apenas as grandes salas foram totalmente identificadas nos planos de
Rachele, mas a análise dela sobre um determinado grupamento de pequenos
quartos no segundo andar sugeria que eles eram provavelmente uma estação
de guarda. No momento, com o contingente de guardas de Marblewood
sobrecarregado, seria lógico que as subestações menores provavelmente
estivessem desertas.
A principal sala de segurança daquele grupamento, onde o equipamento e
as armas provavelmente ficavam guardadas, estava solidamente trancada.
Mas a área de estar ao lado estava aberta e vazia.
E o melhor de tudo, ela era convenientemente localizada bem no fundo
do corredor em relação ao principal alojamento dos seguranças e à sala da
guarda, aquela que ficava bem em cima do salão de baile menor.
A sala onde, se tudo ocorresse de acordo com o plano, a equipe se
reuniria para invadir a caixa-forte.
Han sabia que havia uma boa chance de não ser pertubado por ninguém
até que o entretenimento inesperado que Kell e Zerba haviam
providenciado começasse lá fora. Mas caso alguém o incomodasse...
A área de estar revelou ter um estoque de petiscos, garrafas de água,
sucos de frutas e bebidas à base de caf. Han encontrou uma bandeja, levou
ao aparador e encheu com metade das garrafas e metade da tigela de frutas.
A seguir, com as costas para a porta, ele enfiou no cinto o cabide que havia
retirado do armário que lhe servira de cela, onde ficaria à mão.
Um guarda que passasse provavelmente ficaria instantaneamente
desconfiado de um estranho perambulando pelos corredores da mansão,
mas não deveria desconfiar tanto de um simples funcionário que viera
reabastecer os petiscos.
Com sorte, o guarda permaneceria sem desconfiar por tempo suficiente
para Han dar o primeiro tiro.
Ao olhar para os petiscos e se perguntar se pareceria suspeito se um
guarda flagrasse um dos funcionários do bufe comendo durante o serviço,
Han decidiu esperar.

Dayja ainda circulava pelas dependências, procurando em vão o resto da


equipe de Eanjer, quando finalmente notou um deles.
Não que aquela descoberta fosse digna de orgulho especial. O Wookiee
era mais alto que todos os humanos e que a maioria dos outros alienígenas
misturados na multidão, — suficientemente alto, na verdade, para que ele e
os outros da espécie provavelmente corressem risco de serem queimados
por algumas das atrações mais baixas que cuspiam fogo. Dayja viu o
Wookiee indo para noroeste, passando pela multidão com uma
determinação que confirmava que ele não estava apenas apreciando o
espetáculo a esmo.
Com um sorrisinho, Dayja traçou um curso de interceptação e
perseguição e partiu para ver o que o Wookiee estava tramando.
Ele havia dado quatro passos quando um objeto duro foi abruptamente
enfiado em suas costelas, o que lhe provocou uma parada igualmente súbita.
— Ora, ora, — murmurou uma voz em seu ouvido. — Já era hora de
mostrar a cara.
Dayja engoliu um xingamento. Com tudo que acontecera nos últimos
dias, ele quase se esquecera daquela voz.
— Olá, Crovendif, — disse ele inocentemente. — Apreciando o
espetáculo?
— Apreciando bem mais agora, — rosnou Crovendif. — O mestre
Villachor não sai do meu pé, querendo mais daquele brilhestim que você
empurrou para cima de mim. Só que você nunca mais
apareceu. Em lugar algum.
— Eu andei ocupado, — falou Dayja olhando inocentemente sobre o
ombro.
Se conseguisse sair da linha de tiro de Crovendif, ele talvez fosse capaz
de derrubá-lo discretamente, a ponto de a multidão ao redor sequer
perceber.
Infelizmente, a falta de percepção provavelmente não se estenderia aos
dois seguranças de Marblewood que o vigiavam a poucos metros de
distância.
Dayja considerara Crovendif estúpido demais ou descuidado demais para
garantir reforços antes de confrontar um alvo potencialmente perigoso.
Obviamente ele o havia subestimado.
— Imagino que o mestre Villachor tenha considerado a amostra
intrigante?
— Eu não sei, — falou Crovendif. — Que tal nós perguntarmos para ele?
— O sujeito pressionou a arma de raios com mais força na lateral do corpo
de Dayja. — Agora mesmo.

Villachor ficara olhando o pavilhão infantil com uma expressão furiosa


por quase dois minutos, planejando elaboradamente o que faria com o
prisioneiro se Kwerve estivesse mentindo, quando a confirmação
finalmente chegou.
— Eles pegaram, — anunciou Manning baixinho ao se aproximar um
pouco mais do comunicador de colarinho. — Mesmo estojo que ele trouxe
antes.
O mesmo estojo. Será que isso também significava a mesma armadilha
com bomba?
— Eles abriram?
— Não, senhor — disse Manning. Eles estão levando-o para a sala de
guarda.
Onde Dempsey e seu equipamento para escanear bombas já estavam
instalados.
— Bom Villachor olhou em volta, quase esperando ver Kwerve
observando-o da beira da multidão. Mas o homem não estava em lugar
nenhum. De volta para dentro, ele ordenou. Permita que Vossa Excelência
saiba que devemos ter o cryodex no saguão sudoeste em alguns minutos.
— Ele já está lá — Manning disse desconfortavelmente. Bromley diz que
ele parece impaciente.
Villachor engoliu uma maldição. Claro que Qazadi estava impaciente.
Ele queria ver alguém morto.
Mas pelo menos, esse alguém não seria Villachor. Nem uma vez eu
mostrei a ele que Kwerve havia realmente lhe trazido um cryodex.
Embora a razão pela qual Kwerve tivesse lhe dado tão facilmente ainda o
incomodasse. Seu prisioneiro valeria tanto para seu chefe? Ou havia outra
coisa que ainda continuava a se mover abaixo da superfície?
— Você quer que a gente vá atrás dele, senhor? Tawb perguntou. Ou
lançamos um alerta geral? Nós temos a descrição do Kwerve.
— Mas não o rosto dele — rosnou Villachor.
Tawb fez uma careta.
— Não senhor.
Villachor olhou para o céu acima dele. Droides voadores amaldiçoados e
inúteis, os técnicos ainda não conseguiram decifrar por que não podiam
tirar fotos decentes.
— Esqueça isso — ele decidiu. Seus dois guarda-costas e Sheqoa foram
os únicos que realmente viram o homem, e neste momento, Villachor
precisava que os três ficassem exatamente onde estavam.
— Não há grande prejuízo que ele possa causar aqui fora. Não agora.
Villachor gesticulou para os outros seguranças.
— Os demais, voltem às áreas de patrulha, — disse ele falando mais alto
do que o barulho da multidão. — E fiquem atentos.

Outra pessoa qualquer, até mesmo outro senhor do crime, talvez tivesse
expressado sua impaciência andando de um lado para o outro no saguão.
Mas vigos não andavam de um lado para o outro. Pelo menos não esse.
Qazadi estava perfeitamente imóvel quando Villachor e seus dois guarda-
costas entraram pela porta; ele encarou e trespassou Villachor com um olhar
frio.
— O cryodex está em nossas mãos, Vossa Excelência, — anunciou
Villachor. — Estão verificando se há armadilhas neste exato momento.
— E aquele tal mestre Kwerve? — perguntou Qazadi.
— Ele fugiu da reunião e deixou o estojo em um lugar diferente
— disse Villachor. — Provavelmente já foi embora das dependências.
— Sem o companheiro? — Um leve sorriso gelado surgiu nos lábios de
Qazadi. — Acho que não. Alerte seus guardas para vigiarem as portas com
cuidado. Mais cedo ou mais tarde ele tentará entrar na mansão.
— Os guardas já foram alertados, — respondeu Villachor tentando não
torcer a cara. Ele não precisava de um vigo para dizer como deveria
gerenciar o próprio território. — As portas estão bem seguras.
— Ótimo — falou Qazadi. — Eu gostaria de ver esse suposto cryodex.
Quando termina a verificação?
Do outro lado do saguão, a porta da sala da guarda se abriu e
surgiu Dempsey, com um passo que era uma mistura fatídica de urgência
e hesitação. Ele segurava o cryodex em frente ao corpo com as duas mãos,
como se fosse uma obra de arte de valor incalculável.
— Eu diria que a verificação está completa agora, — disse Villachor ao
acenar para Dempsey. — Traga-o aqui. Pelo que vejo não havia explosivos?
O olhar de Dempsey se voltou para Qazadi. Porém, em vez de responder,
ele simplesmente apertou o passo.
Villachor sentiu uma nova pontada de raiva. Ele não estava acostumado a
ver suas perguntas serem ignoradas.
— Eu perguntei se havia explosivos, — repetiu Villachor asperamente.
— Não havia, mestre Villachor — falou Dempsey ao parar aos trancos a
alguns metros do grupo. Agora ele parecia fazer muito esforço para não
olhar para Qazadi. — Mas havia uma armadilha, um tubo de gás
pressurizado pronto para explodir em uma nuvem quando o estojo fosse
aberto.
Então Kwerve tinha uma última carta letal na manga. Ele e seu pessoal
pagariam caro por aquilo.
— Que tipo de gás?
— Vou precisar levar o tubo de volta ao laboratório para realizar uma
análise química adequada, — respondeu Dempsey. — Mas a etiqueta... —
A língua lambeu o lábio superior. — A etiqueta identificava como fieljina
branca.
Um chiado violento irrompeu dentro do grupo de Qazadi, um som
diferente de tudo que Villachor ouvira antes. Ele estremeceu como reação e
se virou para olhar.
Villachor pensava ter visto Qazadi furioso antes. Ele estava errado. Foi
assim que um homem furioso foi realmente visto.
— Excelência? Ele perguntou cautelosamente.
— Você vai encontrar esse humano, Kwerve, e trazê-lo para mim —
Qazadi disse em uma voz que fez um frio percorrer o corpo de Villachor.
Então você encontrará todos os membros da sua organização e também os
trará para mim.
— Entendido, Excelência — disse Villachor, desejando que o demônio o
levasse embora. Ele se virou para Dempsey. Em nome da galáxia, o que é
esse fieljine branco?
— É um veneno — disse Dempsey, tremendo visivelmente naquele
momento. Isso só mata o falleen.
Villachor olhou para ele, sentindo o sangue escorrer de seu rosto. Em um
piscar de olhos, isso passou de uma rivalidade comercial para algo
amargamente pessoal.
Kwerve estava morto, certo. Assim foram todos em sua organização e,
provavelmente, todos que já tiveram relações com sua organização.
E a menos que Villachor executasse o filho de Sith, e rapidamente, ele
provavelmente se juntaria a todos eles.
— Eu vejo — ele disse. Bem ...
Ele parou de novo, enquanto a porta se abriu de repente. Ele se virou,
quase esperando ver Kwerve e uma equipe de assalto fortemente armada,
entrando para resgatar seu companheiro.
Mas eram apenas dois membros de sua equipe de segurança, Becker e
Tarrish, que estavam à porta, com um homem desconhecido usando
suspensórios de camponeses, espremidos entre eles.
— O que aconteceu? Ele rosnou.
— Alguém de fora, chamado Crovendif, disse-nos para trazê-lo, senhor
— disse Becker, seu comportamento profissional rachando quando
percebeu o clima tenso no saguão. — Crovendif disse que esse é o homem
que deu a amostra de brilhestim para ele, há alguns dias.
Villachor sentiu uma pontada de alívio. Finalmente notícias boas, e o
momento não poderia ter sido melhor.
— O senhor pediu a organização de Kwerve, Vossa Excelência, — disse
Villachor fazendo um gesto para que eles entrassem. — Aqui está o
primeiro deles.
— Sério? — disse Qazadi enquanto observava o recém-chegado.
Villachor notou que o breve acesso de raiva aparentemente
havia passado. Com Falleens, ele sabia que isso podia ser um mau sinal
ou um péssimo sinal.
— Traga-o para mim. — Qazadi gesticulou para Dempsey. — E o
cryodex.
Villachor confirmou a ordem com um aceno de cabeça. Becker e Tarrish
conduziram o prisioneiro para Qazadi e pararam a alguns metros de
distância ao serem interceptados por dois dos guarda- costas do Falleen, que
pegaram o homem sob custódia silenciosamente, porém com firmeza. Ao
mesmo tempo, Dempsey foi cautelosamente até o grupo e da mesma forma
entregou o cryodex para um dos Falleens do Qazadi, que por sua vez passou
o aparelho para o chefe.
— Como o senhor pode ver, Vossa Excelência, é realmente um cryodex,
— falou Villachor enquanto Qazadi estudava o instrumento. — E como lhe
disse, minha única intenção era atrair esse sujeito e a organização dele...
— O que é isso? — rosnou Qazadi, subitamente com raiva de novo. —
Onde você pegou isso? — Ele disparou um olhar fulminante como laser
para o prisioneiro. — Onde conseguiu isso? — indagou o Falleen.
— Eu não sei, — reclamou o prisioneiro estremecendo diante da fúria do
Falleen. — Quem quer que sejam essas pessoas, eu não estou com elas...
Abruptamente, Qazadi deu um longo passo à frente e estapeou com força
o rosto do homem. Ele cambaleou para trás e só não caiu no piso de pedra
porque os guardas impediram.
— Vossa Excelência, o que foi? — perguntou Villachor cautelosamente.
Qazadi virou um olhar cruel para ele.
— Este aqui não é um cryodex qualquer, — disparou o Falleen. — Esse é
o cryodex de Aziel. De AzieD.
— De Aziel? — repetiu Villachor, completamente confuso agora. — Ele
tem o próprio...?
E numa onda repentina e horrível, ele compreendeu. Aziel não detinha os
códigos de um cryodex que Qazadi guardava em sua suíte, da forma como
Qazadi lhe contara. Ele jamais tivera. Na verdade, Aziel era o guardião do
próprio cryodex.
Mas se aquele era o cryodex de Aziel, então a oferta de Kwerve para
copiar os arquivos de chantagem...
Villachor ficou aflito. Era impossível. Para um ajudante de um vigo do
Sol Negro, era completamente impossível sequer pensar em traição.
E, no entanto, ali estava o cryodex, entregue a eles pelo próprio Kwerve.
O cryodex de Aziel.
Ou alguma coisa que parecia o cryodex de Aziel.
— Só pode ser uma cópia — disse Villachor no silêncio tenso. — Uma
falsificação.
— Como? — indagou Qazadi. — Há marcas na parte traseira que só o
cryodex dele tinha. Marcas que nenhuma outra pessoa jamais
veria. Marcas que certamente ninguém mais notaria. Por que elas
teriam sido incluídas?
— Eu não sei, — falou Villachor. — Mas só pode ser um truque. Porque
se for mesmo o cryodex do lorde Aziel... — Ele se interrompeu ao se dar
conta de que não ousaria dizer.
Qazadi não teve tais escrúpulos.
— Então Aziel é um traidor, — disse ele baixinho. — E portanto, talvez,
você também seja.
— Não, — falou Villachor rapidamente. Talvez rápido demais. — Se eu
estivesse planejando alguma coisa com o lorde Aziel, nós dois dificilmente
precisaríamos passar por essa complicação toda. Eu poderia ter entregado
os arquivos para ele há muito tempo.
— Talvez você tenha feito isso, — disse Qazadi. — Talvez esse seja
apenas o método que você escolheu para atrair meu interesse para a questão
e depois providenciar a minha morte. — Ele ergueu o cryodex levemente.
— Com certeza, assim que eu estivesse morto, seria difícil provar quem
seria o verdadeiro dono deste aparelho.
Villachor sentiu um nó no estômago. A situação inteira era uma loucura
completa.
Mas um vigo do Sol Negro não precisava das típicas provas de um
tribunal para tomar decisões e julgar. Ele poderia fazer isso puramente
baseado nas próprias suspeitas.
— Mas eu não acho que veneno seja o seu estilo, — continuou Qazadi.
— Se não for você, talvez um de seus homens esteja agindo em conluio
com o traidor.
O primeiro impulso de Villachor foi negar. Seus homens eram leais,
selecionados a dedo pelo próprio Sheqoa.
O segundo impulso foi manter a boca bem fechada. Se a ameaça de
morte de Qazadi fosse apontada para outra pessoa, não seria para ele.
Qazadi também sabia disso.
— Vejo que você não nega a possibilidade, — comentou ele.
— Infelizmente, tudo é possível, Vossa Excelência, — falou Villachor
escolhendo as palavras com cuidado. — Antes do dia de hoje, eu teria dito
que a lealdade de todos os meus homens ao Sol Negro era inquestionável.
Agora... — Ele balançou a cabeça.
— Sim, — disse Qazadi, e a palavra saiu da boca como um silvo de
cobra. — Você retirou todos os guardas humanos da caixa-forte, como
mandei?
— Sim, Vossa Excelência, — confirmou Villachor. Na ocasião, ele
achara a ordem perigosamente estúpida; agora, estava bem contente por ter
obedecido. — E verifiquei a caixa-forte após eles terem saído. Os cartões
de dados continuam no lugar. — Villachor usou a cabeça para indicar o
prisioneiro, que havia conseguido ficar mais ou menos de pé e estava
apoiado entre os guardas. — O que o senhor quer que eu faça com ele?
— Eu cuido dele, — disse Qazadi com um olhar frio para o homem. —
Você disse que não está com essas pessoas, humano?
— Eu nunca ouvi falar desse tal Kwerve, — respondeu o sujeito, com a
voz estremecida, a respiração fraca e acelerada. — Ou desse Aziel, ou de
um cryodex, ou de todo o resto. Eu só tenho uma boa fonte de brilhestim e
procuro alguém para distribuí-lo para mim. Até trouxe outra amostra, que
está com ele ali. — Ele começou a erguer a mão a fim de apontar para
Becker.
E ofegou engasgado quando o guarda de Qazadi dobrou o braço dele no
cotovelo.
— Eu não estou com eles, — gemeu o prisioneiro. — Eu juro.
Por mais um momento, Qazadi encarou o sujeito. O homem
estremeceu sob o olhar do Falleen e evitou seus olhos como se estivesse à
beira das lágrimas. Bem diferente do traficante arrogante e convencido que
Crovendif havia descrito, pensou Villachor com desdém.
— Levem-no para meus aposentos, — disse Qazadi finalmente. — O que
ele carregava?
— Um comunicador, uma holocâmera e uma pequena ampola, —
respondeu Becker. — Talvez o brilhestim. Sem armas.
— Tragam aqui.
Novamente Becker deu uma olhadela para Villachor em busca de
confirmação, depois deu um passo à frente e entregou os itens para um dos
homens que segurava o prisioneiro.
— Levem essas coisas para os meus aposentos também, — ordenou
Qazadi. — Esperem por mim lá.
— Nós obedecemos, Vossa Excelência, — disse um dos guardas.
Ele empurrou o prisioneiro, e o trio foi na direção do
turboelevador de serviço no fundo do saguão. Qazadi observou a saída
deles, depois se voltou para um dos quatro guardas humanos
remanescentes.
— Levem mais dois e os meus airspeeders e se posicionem em pontos de
observação ao redor do Hotel Lulina Crown, — ordenou ele. — Eu
mandarei o lorde Aziel trazer o cryodex aqui. Se o mestre Villachor estiver
correto e esta for simplesmente alguma cópia bem feita, ele responderá ao
chamado sem hesitação ou medo.
Ele olhou para Villachor.
— Se o mestre Villachor estiver errado e este for mesmo o cryodex de
Aziel, ele tentará fugir. Pelas próprias ações, Aziel será condenado.
O guarda se curvou.
— Eu obedeço, Vossa Excelência. — Ele puxou o comunicador e saiu
rapidamente do saguão, na direção da garagem.
— Posso oferecer a assistência da minha própria segurança? —
perguntou Villachor com hesitação.
— Existe alguém em quem você confie com a própria vida? — contra-
argumentou Qazadi.
Diante das circunstâncias, Villachor sabia qual seria a resposta correta.
— Não, — admitiu ele.
— Então seus homens não podem ajudar, — falou Qazadi. — Eu lhe
informarei os resultados dos interrogatórios no devido tempo.
Ele deu meia-volta e foi na direção da escada, com os dois Falleens e os
três humanos formando uma caixa móvel ao redor de Qazadi.
Villachor observou o vigo ir embora, com uma sensação de nó no
estômago. Nas quase três semanas desde a chegada de Qazadi e seu séquito,
ele tinha visto os guardas do Falleen assumirem uma formação defensiva
tão óbvia apenas nas raras ocasiões quando eles saíam da segurança da
mansão para as dependências lá fora. Obviamente, Qazadi não se sentia
mais seguro dentro da casa de Villachor.
Villachor mal podia culpá-lo. Se o cryodex era falso, como tinha sido
feito? Se era real, o que poderia ter possuído Aziel para que ele fizesse essa
jogada louca por poder?
A não ser que o pessoal de Kwerve não estivesse apenas mirando em
Villachor. Talvez eles estivessem trabalhando com ambos os lados: com
Aziel pelo cryodex, com Villachor pelos próprios arquivos.
Ou talvez não houvesse traição alguma. Afinal de contas, ele só tinha a
palavra de Qazadi de que o cryodex de Kwerve era idêntico ao de Aziel.
Será que essa era a forma de Qazadi pintar Villachor com a suspeita de
traição?
Se fosse isso, provavelmente não haveria nada que pudesse fazer.
Villachor era um chefe de setor; Qazadi era um vigo. Se Aziel era realmente
um traidor ou se Qazadi estava manipulando uma prova inexistente para
implicar Villachor, era a palavra de um lado contra a de outro.
E não havia dúvida alguma sobre em que lado o príncipe Xizor
acreditaria.
De repente, o acordo com os imperiais parecia cada vez melhor.
— Senhor? — disse Tawb.
Villachor saiu dos pensamentos sombrios e sentiu uma onda de
determinação renovada. Ele não sairia correndo para lorde D'Ashewl, Darth
Vader ou até mesmo o próprio imperador. Ele defenderia sua posição e
lutaria pelo poder e o território que trabalhara tão pesado para construir. O
poder e o território que eram dele por direito. Como Villachor seria sequer
capaz de pensar em desistir?
E aí ele se deu conta de como fora capaz de pensar naquilo e cerrou os
dentes em um rosnado cruel.
Maldito Qazadi e seus feromônios de Falleen, de qualquer forma.
— Senhor? — repetiu Tawb com mais urgência.
— O que foi? — disparou Villachor.
— Estou recebendo informes de uma comoção lá fora, — disse o guarda-
costas em tom de emergência.
— Que tipo de comoção? — A voz de Qazadi cruzou o saguão.
Villachor se virou. O falleen e sua guarda haviam parado perto da base da
escada e estavam olhando para Villachor e os outros.
Villachor virou-se para Tawb. E ele amaldiçoou Tawb e sua boca grande
também.
— Você já ouviu falar — ele rosnou. Que tipo de comoção?
— Parece... — Tawb franziu a testa e aproximou-se do comunicador de
seu clipe. Parece que alguns dos droides estão ficando loucos...

O céu estava começando a escurecer, e Bink estava se perguntando se


algo estava errado, quando finalmente viu Chewbacca se aproximando
casualmente na direção deles.
Ele soltou um suspiro de alívio. O comunicador no clipe Sheqoa vinha
recebendo novas encomendas e solicitando relatórios a cada poucos
minutos durante a última hora, e embora ele podia ouvir nenhum deles
claramente como ela se aconchegou contra seu lado, ela poderia inferir a
partir da contração de sua músculos faciais e a tensão de seu corpo que algo
não estava indo bem naquele cantinho do paraíso de Villachor. O fato de
que Sheqoa aparentemente estava ignorando os relatos, a fim de continuar
vagando pelas multidões, — e fingindo desfrutar da conversa com Bink, —
confirmou a ela que ela era o objetivo de sua missão naquele momento.
Qual era, naturalmente, o lugar exato onde eu queria.
Chewie estava chegando cada vez mais perto, aparentemente, com sua
atenção focada em algo ao lado. Bink ainda não tinha visto Tavia, mas ele
não tinha dúvidas de que sua irmã estava se movendo atrás dela, exatamente
como deveria.
Casualmente, ele tirou a mão direita sobre o braço esquerdo Sheqoa,
levantando-o para acomodar uma mecha de cabelo caindo sobre os olhos, e
dando a oportunidade para uma verificação visual final das lâminas unhas
plenamente respeitado, mas totalmente invisível abaixo de suas unhas. Eles
estavam bem colocados e prontos para ir. Com o canto do olho ele viu
Chewbacca se aproximando de sua esquerda ...
E de repente lá estava ele, em rota de colisão em um ângulo reto com ela,
enquanto fingia observar algo à sua esquerda. Bink se afastou da grande
parede peluda que se aproximava dela e se agachou para um lado para
enfrentar Sheqoa. Ela se agarrou a ele enquanto continuava o movimento
evasivo, segurando o ombro de Sheqoa com a mão esquerda, enquanto
pressionava a mão direita levemente contra o peito, enquanto soltava um
suspiro de surpresa e pânico sobre ele. rosto do seu companheiro.
Enquanto ele continuava a se virar para alcançar o outro lado do homem,
as lâminas de sua mão direita cortaram com destreza, destacando a pequena
corrente que continha a chave pendurada que pendia do colarinho ao redor
de seu pescoço. A pedra esmaltada do tamanho de um dedo caiu em sua
mão, e quando ele a envolveu na palma da mão, ele continuou a virar para o
lado direito de Sheqoa, segurando o braço direito com as duas mãos.
Qual foi a mão com a qual ele lidou com seu blaster, que ele já havia
avisado para não tocar. Com certeza, antes que ele pudesse ter seus pés
totalmente assentados, seu antebraço reflexivamente contraiu para cima e
para trás, destacando-se de suas mãos e enviando-o para trás na multidão
circulante de pessoas atrás dele. Ela meio que se virou enquanto alguém a
estava segurando, ela podia ver um vestido marrom, um chapéu de abas
largas e o rosto de Tavia. Enquanto os dois se viravam, lutando para manter
o equilíbrio contra o impulso que Bink trouxe, a mão direita oscilante de
Bink escorregou sob a aba do chapéu de Tavia, jogando-o para trás e
puxando-o da cabeça de sua irmã. Quando o chapéu foi perdido no ar, a
mão esquerda de Bink entrou em uma dobra de sua saia e pegou um dos
ovos mágicos de Zerba. Ela apertou o ativador...
E num piscar de olhos, enquanto os dois caíram no chão, o vestido de
seda vermelha de Bink foi sugado em um instante para dentro do ovo,
deixando-a vestida com uma duplicata do vestido marrom de Tavia,
enquanto o vestido marrom de Tavia se desvaneceu de maneira semelhante
para deixar uma cópia do vestido vermelho de Bink aparecer.
O movimento giratório, quando caíram, fez com que, no momento do
desembarque, Bink estivesse no fundo da confusão das duas mulheres.
Tavia se levantou em um instante, rolando para dar a Bink a necessária
liberdade de movimento para rolar de bruços e fazer com que seu rosto não
fosse visto por Sheqoa. Ela terminou de executar o movimento giratório,
então colocou as mãos sob ele e se empurrou tremendo para se levantar de
joelhos. Um segundo depois, meia dúzia de mãos se fecharam em torno de
seus braços, outra meia dúzia ficou com a de Tavia e, um instante depois, as
duas mulheres estavam de pé novamente. Pé atrás de sua irmã, ouvindo
tensa de perceber os sinais significam que Sheqoa não tinha sido enganado
pelo truque, Bink sacudiu-se e foi levado pela multidão na distância,
murmurando algumas palavras para tranquilizá-los de que ele era bem para
as pessoas ansiosas que estavam ao seu redor. Alguém lhe entregou o
chapéu de aba larga de Tavia quando ele passou; ela sorriu agradecida e
colocou-o cuidadosamente em sua cabeça.
— Se encontra bem? Sheqoa disse asperamente atrás dela. Bink ficou
tenso ...
— Estou bem — disse Tavia, quase sem fôlego. Sinto muito. Não era
minha intenção agarrar você desse jeito.
— Está tudo bem — disse Sheqoa. Seu tom de voz ainda era abrupto,
mas Bink podia sentir que o grunhido era produto de vergonha, não de
suspeita. Estúpido estúpido wookie oaf. Isso te machucou?
— Não, não, estou bem — disse Tavia novamente. Eu tinha certeza que
ele ia me jogar diretamente no chão.
— Está tudo bem agora — disse Sheqoa, e Bink percebeu que ele estava
agarrando o braço dela e puxando-a gentilmente, mas com firmeza, para
trazê-la de volta para o lado dele.
Em algum ponto nas proximidades, audível acima do rugido da multidão
e dos chiados de vários jatos de chamas, veio o ruído de utensílios de mesa
caindo.
— Epa, parece que alguém vai ter que fazer uma limpeza, — comentou
Tavia. — Acho que os Wookiees não são os únicos desajeitados aqui, hoje.
As palavras mal tinham saído da boca de Tavia quando mais duas quedas
foram ouvidas nas dependências, cada uma vindo de uma direção diferente.
Meio segundo depois, uma queda ainda mais alta ecoou no muro da
mansão, acompanhada pelo grito de uma mulher ou criança.
— Isso não é alguém desajeitado, — disparou Sheqoa. — Vamos.
Pelo rabo de olho, Bink viu os dois correrem na direção da
queda mais recente e desaparecerem em questão de segundos na
multidão.
Ela deu um sorrisinho para si mesma ao sair da área de maneira mais
relaxada. Lá se foram as preocupações de algo ter dado errado.
O plano estava de volta ao cronograma. Chewbacca e Tavia tinham feito
sua parte, e pela cacofonia cada vez maior de quedas, berros e gritos, estava
claro que Kell e Zerba fizeram a deles.
Agora era hora de Bink fazer a parte dela.
Os demais estariam esperando por ela na porta da garagem. Bink
acelerou o passo enquanto imaginava o tamanho da confusão que os droides
estavam causando e rumou para o norte.

Dayja nunca tinha apanhado de um Falleen antes, e se o tapa de Qazadi


fosse uma amostra representativa do serviço deles, ele tinha certeza de que
jamais queria apanhar de outro Falleen novamente. Aquele único golpe
ainda latejava na bochecha, na cabeça e na maior parte da metade superior
do corpo.
Mas os efeitos residuais do tapa não se comparavam à confusão mental
criada pelas revelações que ricocheteavam pelo cérebro.
Um cryodex. Então era assim que Xizor encriptara os arquivos de
chantagem. A Inteligência Imperial tinha conseguido reunir supostos
trechos desses arquivos com o passar dos anos, mas jamais havia sido capaz
de decifrar a encriptação, nem mesmo descobrir como ela havia sido feita.
Havia muitos analistas, na verdade, que rejeitavam categoricamente a ideia
de que aqueles trechos fossem de arquivos genuínos do Sol Negro e
consideravam que eles eram simplesmente desinformação feita para manter
a Inteligência correndo em círculos.
Um cryodex explicava tudo. E se fora usado para encriptar os arquivos de
chantagem, por que não outras informações
confidenciais? Na verdade, por que não toda a rede de informações do
Sol Negro?
Dayja torceu o nariz. Intrigante, mas muitíssimo improvável. Era
possível que ainda existissem outros cryodexes flutuando por aí, e qualquer
um poderia instantaneamente decifrar o código indecifrável. Xizor era
esperto demais para colocar todos os filhotes recém-saídos dos ovos na
mesma cesta.
Mas mesmo que fossem apenas os arquivos de chantagem,
conseguir pegar aquele cryodex seria um grande feito.
Especialmente agora que a maioria dos modelos remanescentes fazia
parte da nuvem de poeira em expansão que um dia havia sido
Alderaan. Dayja não fazia ideia de como a equipe de Eanjer conseguira
pegar o aparelho de Aziel, mas não tinha intenção de deixar Qazadi ou
qualquer outro levá-lo novamente para as sombras.
Supondo, e claro, que o aparelho em posse de Qazadi tosse de fato um
verdadeiro cryodex.
Mentalmente, ele balançou a cabeça. Dayja concordava com Villachor
quanto a isso. Tanto roubar o cryodex de Aziel quanto falsificá-lo pareciam
ser igualmente impossíveis. A coisa toda cheirava de fornia suspeita a um
jogo de conchas de um vigarista, e até que Dayja soubesse qual concha
escondia o verdadeiro cryodex, não fazia sentido tomar qualquer atitude.
A não ser, obviamente, a primeira atitude em todo e qualquer plano
futuro, que era se livrar dos capangas de Qazadi.
— Entre, — rosnou um deles quando a porta do turboelevador se abriu.
Dayja encolheu os ombros completamente desmoralizado e obedeceu. Os
guardas se juntaram a eles, e todos subiram.
Dayja notara ao longo dos anos que os roteiristas das holonovelas tinham
um estranho fascínio por turboelevadores. Eles gostavam especialmente de
escolher tais lugares como o local perfeito para um herói ou uma heroína
capturados entrarem em ação contra os malignos captores, usando mãos,
pés ou armas escondidas para matar ou nocautear os oponentes, geralmente
antes de eles sequer chegarem ao andar de destino. Talvez fosse do drama
do ambiente confinado que os produtores gostavam, ou talvez as brigas em
turboelevadores simplesmente não precisassem de um cenário decorado e
deixassem um estrago mínimo para limpar depois.
Aquilo era, obviamente, ridículo. O ambiente confinado implicava que
não havia para onde o fugitivo escapar, além da desvantagem adicional de
ter que lutar com um círculo inteiro de inimigos ao mesmo tempo. A falta
de mobília ou decoração significava que não havia armas improvisadas à
mão. Também não havia como dizer que tipo de ambiente ou situação se
revelaria quando a porta do turboelevador se abrisse. Mesmo que o herói
sobrevivesse a tudo isso, um turboelevador não tinha lugar para esconder os
corpos.
Finalmente, o fato de que os bandidos assistiam aos mesmas holonovelas
significava que eles esperavam perfeitamente que surgisse confusão em
turboelevadores. Como resultado, os guardas tinham a tendência de cercar
ainda mais o prisioneiro em tal ambiente, deixando os sentidos alertas para
qualquer sinal de confusão.
Infelizmente para eles, o fato de estarem atentos a sinais de violência
iminente os deixava mais distraídos de qualquer outra coisa. O que tornava
os turboelevadores o local ideal para um prisioneiro arrombar algemas.
Dayja já havia se soltado na hora em que a porta se abriu no quarto andar.
— Aonde estamos indo? — perguntou ele ao espiar pela abertura,
nervoso.
O corredor tinha uma decoração luxuosa, com vasos de plantas e obras de
arte caras ao longo das paredes, um tapete espesso no piso e um teto
modelado com cobertura cintilante. Um andar para hóspedes, sem dúvida,
cujos únicos residentes atuais eram Qazadi e seu contingente de guardas.
Várias portas no corredor estavam vazias, mas não havia ninguém visível.
— Para seu próprio inferno pessoal, — respondeu um dos seguranças ao
empurrá-lo para fora do turboelevador. — Ande.
Turboelevadores eram péssimos locais para brigar. Portas de
turboelevadores, por outro lado, eram ideais.
A porta aberta mais próxima levava a um quarto de dormir que possuía
uma decoraçao ainda mais Domta que a do corredor, o armário de vestir
tinha uma tranca, mas havia espaço suficiente no outro lado da cama
enorme para ambos os corpos. Dayja parou para retirar dos guardas mortos
o comunicador e a holocâmera que lhe foram confiscados e depois voltou
ao turboelevador. Teria sido bom também pegar uma das armas de raios,
mas ele não descartaria que Qazadi fosse capaz de mandar colocar um chip
de rastreio em todo o armamento dos guardas. Assim que o alarme fosse
acionado e a caçada começasse, não faria sentido facilitar sua localização
para eles.
A planta original da mansão do governador incluía uma escada para o
telhado ao lado do duto do elevador de cozinha que subia da parte central
do prédio. Havia uma chance de Villachor ter selado a escada por julgá-la
desnecessária e um possível risco para a segurança, mas valia a pena tentar.
Ele ficou um pouco surpreso de ver que a escada ainda estava ali, com a
entrada escondida atrás de uma impressionante pintura com quatro painéis.
Dayja abriu a porta, entrou de mansinho e depois fechou a pintura da
melhor maneira possível.
Telhados eram tradicionalmente lugares ruins para um fugitivo ficar
encurralado, especialmente aqueles tão altos que tornavam os pulos uma
garantia de morte ou de graves ferimentos. Mas sua fuga provavelmente
seria descoberta dentro de poucos minutos, e a mesma lógica que
argumentava contra os telhados como esconderijos deveria mandar os
caçadores de Villachor correndo para verificar todos os outros locais
prováveis primeiro. No mínimo, o telhado deveria dar um pouco mais de
tempo para Dayja.
E naquele exato momento, era de tempo que ele mais precisava.
Subindo as escadas o mais silenciosamente que pôde, ele puxou seu
comunicador. Ele só esperava que sua ligação não chegasse tarde demais.
CAPÍTULO

19

Do outro lado das dependências escuras veio um som de madeira sendo


quebrada.
— Lá, — disse Tawb apontando naquela direção. — Lá se vai mais um.
— Parece o som de um droide de manutenção chutando um banco, —
acrescentou Manning. — Sim, está confirmado. Tallboy está indo lá para
tentar derrubá-lo.
Villachor fez um esforço para manter o que sobrara da paciência. Alguns
droides com defeito, e seus pretensos seguranças profissionais estavam em
pânico?
— Nós temos técnicos para isso — rosnou ele ao dar meia-volta a fim de
retornar para a porta aberta atrás de si. — Chame-os.
— Não, — disse a voz de Qazadi dentro da porta.
Villachor parou e engoliu um xingamento.
— Eles são droides com defeito, Vossa Excelência, — disparou ele. —
Acontece o tempo todo. Provavelmente um vazamento de
frequência entre motivadores...
— Ou um ataque proposital, — interrompeu Qazadi. — Como seu chefe
de segurança parece considerar que seja.
Villachor franziu a testa.
— O quê?
— Ele está vindo até você agora — disse Qazadi.
Villachor se virou. De fato, Sheqoa apareceu na orla da multidão e vinha
correndo na direção de Villachor, com a mão no pulso de uma jovem em um
vestido vermelho que era meio puxada, meio arrastada por ele.
E com certeza havia uma expressão séria em sua face.
Villachor arreganhou os dentes. Traição e deslealdade por toda parte,
prisioneiros que podiam deter a solução esperando interrogatório, e tudo
com que esses tolos se preocupavam eram alguns droides fora de controle?
Mas Qazadi estava preocupado, e era Qazadi quem mandava. Tudo que
Villachor podia fazer era resolver aquela confusão o mais rápido possível e
voltar aos verdadeiros problemas.
— São os droides, senhor — falou Sheqoa ao se aproximar deles. —
Tanto os garçons quanto os de manutenção.
— Sim, eu estou ouvindo, — rosnou Villachor quando outro estrondo e
grito de susto surgiu de algum lugar a noroeste. — Eu já chamei Purvis. Se
for um defeito de programação, ele consertará.
— Eu não acho que seja um defeito, — insistiu Sheqoa. — Acho que é
uma distração proposital. Meus homens já estão sobrecarregados, e esta
situação os está distraindo ainda mais...
— Sheqoa! — disparou Villachor sentindo uma pontada de horror e fúria.
O pescoço do homem... — Seu pingente!
A mão livre de Sheqoa foi para sua garganta, enquanto seus olhos se
dilatavam com o mesmo horror no momento em que ela tocava o lugar onde
deveria estar a chave pendurada. Então, jogando uma maldição, ele puxou a
mulher para encará-la.
— Onde está? Ele estalou quando ela parou de tropeçar entre ele e
Villachor. Droga, onde está?
— Onde está o que? — ela protestou, encolhendo diante do olhar dele -.
Eu não sei do que você está falando.
Sheqoa amaldiçoou novamente e empurrou-a para Tawb.
— Segurá-la — ele ordenou quando ele enfiou a mão no bolso e tirou a
barra de luz. Classificando o seletor para emitir radiação ultravioleta, ele
segurou a mão direita da mulher, aproximou-a e focalizou a luz nela.
Villachor deu um passo à frente e olhou para a mão.
Nada Apenas a pele normal, com o cálcio de suas unhas brilhando com o
branco usual, sem nenhum sinal no corante revelador de corante que cobria
todas as teclas penduradas.
Sheqoa lançou um olhar ilegível para Villachor, deixou cair a mão direita
da menina e colocou a luz UV em sua mão esquerda. Nem nada.
— E Qazadi pediu-lhes de dentro da porta.
— Ela pegou — Sheqoa disse sombriamente. Eu não sei porque ele não
mostra evidências do corante, mas eu sei que ele pegou. Ele parou de
segurar a mão, mas ele estalou o braço dela para que fosse novamente
colocado ao lado da mulher surpresa. Talvez com... — Ele pegou a mão
esquerda novamente, desta vez virando-a para que pudesse observar de
perto a parte de baixo de suas unhas. Ele amaldiçoou baixinho e mudou
para a mão direita, fazendo o mesmo escrutínio naquele conjunto de unhas.
— Lâminas de unha? Villachor perguntou.
Mais uma vez Sheqoa jogou a mão da mulher para o lado dela.
— Ele deve ter conseguido se livrar deles de alguma forma — ele
rosnou.
— Do que você esta falando? A mulher perguntou. Olha, eu não quero
causar nenhum problema com o seu pessoal, mas isso é suficiente. Eu tenho
direitos, e não tenho que ...
— Cale a boca — interrompeu Sheqoa. Ele se virou e olhou para a
multidão, tentando alcançar o comunicador de seu clipe. Kastoni deve estar
muito perto. Vou tê-lo carregado para dentro e gravá-lo completamente.
— Não — disse Qazadily calmamente. Eu vou cuidar disso.
Villachor se virou, enquanto a frustração se apoderou dele.
— Com todo o respeito, Vossa Excelência, você tem outros prisioneiros
para questionar — disse ele tão civilmente quanto podia. Prisioneiros que
sabemos estão realmente envolvidos.
— Ela também está envolvida — insistiu Sheqoa.
— Os outros terão que esperar, Mestre Villachor — disse Qazadi-. Mas
esta é uma fêmea. Nós, as falleen, temos certas raízes para fazer as fêmeas
falarem.
Villachor observou a mulher. Seu rosto endureceu.
— Você tem alguma coisa que queira nos contar? Ele convidou.
Ela engoliu em seco.
— Não tenho nada a ver com o que você está dizendo — disse ele com
firmeza. Eu vim aqui hoje para a homenagem ao fogo em movimento, e ...
— Leve-a para o interior, Sheqoa — disse Villachor, apontando para a
porta. Se Sua Excelência deseja dispor dela, devemos agradar a Sua
Excelência.
— Sim, senhor.
Sheqoa pegou o punho da mulher e novamente meio que a puxou, meio
que a arrastou até a porta e ao Falleen que a aguardava.
— E depois tire alguns homens das dependências e faça uma varredura
na mansão — disse Villachor para Sheqoa. — Começando com os
prisioneiros.
— Sim, senhor.
Villachor se voltou para as dependências, rosnando baixinho a cada
estrondo, baque ou grito. Aparentemente, o chefe de Kwerve queria seu
pessoal de volta.
Era hora de ver o preço que ele estava disposto a pagar por eles.

— Eles a levaram para dentro. — A voz tensa de Rachele surgiu no


comunicador de Lando. — Alguém lá dentro levou Tavia... eu não consegui
ver quem foi.
Lando olhou para as dependências escuras e se abaixou por reflexo
quando uma bola de fogo passou girando acima e iluminou brevemente a
área.
— Eu aposto que foi Qazadi, — disse ele. — Pelo menos torço que sim.
— Você torce que sim? Lando, você faz ideia do que um Falleen faz com
as mulheres?
— Sim, eu ouvi as histórias, — respondeu Lando com a cara fechada. —
Estou torcendo para que ele esteja com Tavia porque calculo que esteja com
Han também. E nós sabemos onde Han está.
— Talvez, — falou Rachele. — Se Winter estiver certa a respeito da
fumaça.
— Eu ainda não vi que ele estava errado — lembrou Lando. E pedir um
charuto de alguém, só para poder enviar lufadas de fumaça através de uma
clarabóia, é exatamente o tipo de coisa que Han faria.
— Bem — disse Rachele. É melhor você entrar lá e tirar os dois. E
rápido.
— O mais rápido que podemos — prometeu Lando. Me dê o sinal.
— Certo — ela disse com relutância. Apenas tenha cuidado, não esqueça
tudo que Dozer teve que passar em seu interrogatório com Aziel. Eles são
quase tão ruins com os homens quanto com as mulheres.
— Vou ter cuidado.
Ele desligou o comunicador e olhou para o céu. A noite caiu rapidamente
e os fogos de artifício não levaram mais de meia hora para serem acesos.
Eles tiveram que resolver tudo antes disso.
Só ele e Chewbacca não podiam se mexer. Ainda não. Não até Bink fazer
os outros entrarem em segurança dentro do cofre.
Para a segurança de sua irmã, seria melhor se Bink fizesse sua parte no
tempo estimado.

Kell e Zerba estavam esperando perto da porta do estacionamento


quando Bink chegou.
— Você entendeu? Kell perguntou.
Bink assentiu com a cabeça, colocando a mão na boca e recuperando a
chave pendurada de onde ele havia escondido, debaixo da língua. O
rastreamento de tintura de cor, provado exatamente da mesma maneira que
cheirava, só que mais forte.
— A propósito, bom trabalho com os droides — disse ele enquanto
corriam para a porta e através dela. Além era um corredor de serviço de cor
clara. Para onde estamos indo?
— O ambiente de reparo dos droides está por aqui — resmungou Kell,
enquanto se dirigia para as profundezas da passagem de serviço. O controle
e as operações dos droides geralmente estão na mesma área.
— Vamos — ele disse a Bink para Zerba, puxando as alças de
fechamento de seu vestido marrom. Eu já te alcancei.
— Certo — disse Zerba, puxando um blaster escondido de seu cinto. O
sabre de luz?
Bink puxou a bainha de sua saia e desembrulhou o sabre de luz,
retirando-o de sua anágua interna. Ele entregou a Zerba, recebendo o blaster
em troca, e enquanto ele estava trotando pelo corredor atrás de Kell, ele
voltou para a tarefa de se livrar de seu vestido.
Não era o mesmo material fácil de rasgar como o vestido vermelho que
ela usava nele. Mas pelo menos Zerba se certificou de que não houvesse
ganchos, atacadores, gravatas ou qualquer outro aborrecimento complicado
associado a esse tipo de vestido. Depois de um minuto, o vestido já havia
sido retirado, e as ferramentas e outros equipamentos que haviam sido
colocados na parte inferior das pernas já estavam colocados nos lugares
mais convenientes do cinto em seu quadril. .
Sua última tarefa foi a de inserir o pingente de chave em uma bola de
massa de vidraceiro rock, abrindo uma fresta na porta exterior que tinha
atravessado, e coloque a massa no chão perto da porta, impedindo-a
fechada. Tudo com o objetivo de que, no momento em que Lando estivesse
pronto para entrar, ele pudesse chegar ao interior da mansão sem ter que
intimidar qualquer guarda de segurança para abrir a porta para ele.
Ela estava a menos de dois minutos atrás das outras. Mas esses dois
minutos podem fazer toda a diferença no universo. Um pouco além do
ambiente de reparo dos androides, ele observou uma porta com uma longa
incisão de borda enegrecida sobre ela. Franzindo a testa, ele correu para ela
e olhou através da rachadura.
Era a sala de controle dos droides, com todas as paredes cobertas por
controles, consoles de computadores e telas de indicadores. Kell e Zerba
estavam lá dentro, andando entre três corpos imóveis esparramados no chão
perto de várias cadeiras. Com uma careta, Bink abriu a porta de mansinho e
entrou.
Zerba deu meia-volta quando a porta se abriu e apontou a arma de raios
de porte pequeno para ela. Ele abaixou a arma novamente assim que viu
quem era.
— Por que demorou? — perguntou Zerba.
— Tente sair de um desses vestidos — respondeu ela acenando com a
cabeça para a porta. — Eu nunca me dei conta de que sabres de luz faziam
tanta confusão assim.
— O meu faz, — disse Zerba ainda soando um pouco aborrecido.
— Por que acha que eu não quis usar na porta exterior? Venha aqui e me
diga o que eu preciso fazer.
— Provavelmente nada — falou Bink passando agilmente por cima de
um dos corpos. — Eu espero que você tenha se lembrado da ordem de Han
de não matar ninguém, se fosse possível evitar.
— Não se preocupe, eles só estão atordoados, — garantiu Kell. — Acho
que este aqui é o console dos Zs. Mas parece bem maciço.
— Não é um problema, — disse Bink enquanto olhava para o console ao
lado de Zerba. — Zerba, aquele teclado ali. Digite oito ou nove números,
quaisquer oito ou nove números servem, e depois repita três ou quatro
vezes.
— Certo — respondeu ele e começou a trabalhar.
Bink foi até o console de Kell, uma versão mais blindada do que o
console de Zerba.
— Mesma coisa, — falou ela para Kell apontando um dos teclados.
— Zerba, jogue aquele sabre de luz para mim, pode ser?
— Deixa comigo, — Zerba digitou o último número, depois foi até eles e
tirou o sabre de luz de seu cinto. — Desculpe, mas ele já é suficientemente
temperamental nas circunstâncias atuais. Do que você precisa?
— Um cortezinho aqui — respondeu Bink enquanto passava o dedo por
uma das conexões traseiras. — Com mais ou menos 3 centímetros de
comprimento, e não corte nenhum dos fios atrás dela.
— Pode deixar.
Ele ligou o sabre de luz, que emitiu um chiado meio engasgado que não
parecia em nada com os sabres de luz em velhas holonovelas. A lâmina
também não parecia com nada que Bink tinha visto na vida, um tom
enjoativo de amarelo que não tinha mais do que 14 ou 13 centímetros de
comprimento.
— Eu sei, — resmungou Zerba ao posicionar o sabre de luz com cuidado
no ponto que Bink indicara.
Ele devia pedir muitas desculpas pela arma. Ainda assim, por mais que
fosse inútil em uma luta, o sabre de luz era mais do que perfeitamente
adequado para o que Bink precisava. A ponta da lâmina cortou o metal com
facilidade, ainda que fizesse barulho, e deixou outra cicatriz escura como a
da porta.
— Ótimo — disse ela. — Feche o sabre de luz, e vamos sair daqui.
— Você descobriu um local para nos escondermos? — perguntou Kell
enquanto os três voltavam à porta.
— Acho que sim, — respondeu Bink abrindo a porta de mansinho e
olhando lá fora. O corredor ainda estava deserto. — A escada de serviço
fica a 20 metros naquela direção, e subimos ao segundo andar.
— Espere um momento, — falou Kell ao retirar um disco fino do bolso e
erguer os olhos para o teto. — Tem alguma ideia de onde ficariam o
intercomunicador e os fios dos alarmes?
— Por que raios você precisa disso? — perguntou Bink.
— Ah, é mesmo... você não sabe — disse Kell. — Lando ligou enquanto
você conversava com Sheqoa. Villachor capturou Han quando ele veio mais
cedo.
Bink ficou sem ar.
— O quê? Ai, maldição...
— Está tudo bem, nós temos um plano, — Zerba se apressou em
tranquilizá-la. — A gente te informa mais tarde.
— Neste momento nós precisamos de uma desculpa para Lando entrar e
fazer um barulho, — falou Kell. — É isso aqui. — Ele balançou o disco.
Bink cerrou os dentes e passou um olho treinado por cima da porta. Se o
sistema tivesse sido instalado como geralmente era...
— Provavelmente ali — respondeu ela apontando para o canto superior
direito da porta. — Aquele deve ser um dos pontos de conexão, de qualquer
forma.
— Já serve. — Kell se esticou ao máximo da altura e colocou o disco no
lugar, contra a parede. — Ok, vamos.
Bink concordou com a cabeça e franziu a testa ao olhar para trás para o
disco, enquanto novamente começava a andar pelo corredor.
— O que aquilo faz?
— Absolutamente nada, — respondeu Kell. — Mas eles não saberão
disso.
— A gente devia fazer silêncio agora, certo? — sugeriu Zerba.
Bink concordou com a cabeça. Ela tinha um monte de perguntas, mas
elas teriam que esperar.
A escada de serviço levou a um corredor suntuoso, e enquanto Bink ia à
frente no tapete espesso, ela decidiu que aquele era, sem dúvida, o maior
alvo que já havia atacado na vida.
— Aonde estamos indo? — murmurou Kell.
Bink sorriu. Eles tinham segredos? Beleza. Ela também.
— Vocês vão ver.

— O que você quer dizer com eles sumiram? — indagou Villachor. —


Ambos?
— Sim, senhor, — respondeu Kastoni, com um tom de fúria contida por
pouco. — E dois dos guardas do mestre Qazadi estão mortos. Parece que
nosso vendedor de brilhestim é mais do que um típico traficante de drogas.
Villachor apertou o comunicador com tanta força que doeu. Aquilo, ou
eles tinham tido ajuda de quem quer que tivesse roubado o pingente de
Sheqoa.
— Encontre-os — ordenou ele, deixando sua raiva e frustração entrarem
em banho-maria. Estourar furioso apenas o impediria de pensar claramente,
e isso era a última coisa a que Villachor podia se dar ao luxo. — Retire
quantos homens forem necessários da patrulha das dependências, mas
encontre-os.
— Senhor, eles provavelmente já estão fora das dependências...
— Se estiverem, cuidaremos deles depois, — interrompeu Villachor. —
Você se concentre em garantir que eles não estejam se escondendo em
algum lugar na minha casa. Ficou claro?
— Sim, senhor.
Villachor desligou, praguejou baixinho e ligou para Sheqoa.
— Os prisioneiros fugiram, — disse ele quando o outro atendeu.
— Sim, eu acabei de saber, — falou Sheqoa com a cara fechada. — Eu
mandei mais cinco homens para Kastoni e estou tentando retirar guardas
suficientes das dependências para colocar em cada porta.
— Ultimo, — disse Villachor. — Deixe bem claro que ninguém entra ou
sai sem minha ordem expressa.
— Sim, senhor, — respondeu Sheqoa. — Quer que eu destaque mais
alguns homens para o senhor?
— Você quer dizer caso eles peguem Manning e Tawb cochilando como
eles fizeram com os finados guardas de mestre Qazadi? — falou Villachor
em tom ácido. — Acho que isso é muito improvável.
— Sim, senhor, — disse Sheqoa. — Se eles ainda estiverem aqui, nós
vamos encontrá-los.

Han tinha rearrumado os petiscos e as garrafas de bebidas na bandeja


provavelmente pela sétima vez e se perguntava até quando deveria abusar
da sorte, quando ouviu o som suave de vários passos vindo em sua direção
pelo corredor.
Ele congelou, com uma das maçãs ainda na mão. Então, propositalmente,
Han recolocou a maçã de volta na bandeja e recomeçou a transferir os itens
de volta para o aparador. Ele resolveu que, caso quem quer que fosse
decidisse dar uma olhada, a própria bandeja seria sua melhor aposta. Han
jogaria o conteúdo em cima da cara do primeiro guarda da fila e depois
tentaria chegar perto do segundo guarda rapidamente para acertá-lo com a
bandeja em si. Os passos se aproximaram...
E passaram pela porta sem desacelerar.
Han respirou fundo e sentiu um pouco da tensão ir embora. Aquela tinha
passado perto.
Ele franziu a testa e respirou fundo novamente. Veio do corredor um
cheiro leve, porém totalmente inconfundível.
O perfume que Bink e Tavia estavam usando na manhã daquele dia.
Com três passos rápidos, ele já estava na porta. Com certeza, correndo
silenciosamente pelo corredor estavam Bink, Kell e Zerba. Pelo menos, ele
assumiu que era Bink.
— Bink! Ele meio que sussurrou o nome, quando entrou no corredor e se
dirigiu a eles.
Os três se viraram, seus engenheiros se voltando para ele também. Os
três pares de olhos se dilataram para ver quem era. Bink fez sinal para que
ele se apressasse, e então a mão que o animava mudou para colocar um
dedo de advertência em seus lábios.
Han assentiu. Ele já havia presumido que teria que ser assim.
Os três estavam de pé na frente de uma porta de metal simples no
momento em que Han se juntou a eles.
— Nós pensamos que você era um prisioneiro — Kell sussurrou,
enquanto Bink se agachou na porta com seu picklock.
— Eu estava — Han sussurrou, olhando para a placa da estação elétrica
na porta. Teremos espaço suficiente para todos nós?
— Fácil — Bink assegurou a ele. Houve um clique suave e a porta se
abriu. Enter Em silêncio.
Han já havia visto armários elétricos antes. Na verdade, ele passara boa
parte do tempo se escondendo naquele tipo de lugar de tempos em tempos
nos últimos anos. Mas eu nunca tinha visto um tão grande. Tinha uns bons
dois metros de diâmetro, com um telhado de cerca de três metros de altura,
e continha uma dúzia de cabos de vinte centímetros de espessura que
corriam verticalmente ao longo da parede dos fundos.
— O que eles dão impulso para um, Star Destroier? — murmurou ele ao
olhar para os cabos enormes.
— Quase isso, — sussurrou Bink, com o ejetor de sinteticorda na mão,
prendendo a ponta do cabo em um pequeno pedaço de massinha. — Esses
são os cabos que sobem do gerador do subporão norte até a seção sul dos
projetores do escudo abrangente no telhado.
Ela desdobrou um pequeno estilingue e disparou a massinha em uma
ponta do teto, enquanto o ejetor alimentava uma linha fina de sinteticorda.
— Kell, aquele é seu, — disse Bink ao cortar a linha com as
microferramentas e encher o ejetor com mais massinha. — Conte até dez,
depois prenda no passador do cinto e suba até o teto.
Quando a massinha estava suficientemente sólida para Kell começar a
subir, Bink já tinha colocado duas linhas no lugar.
— Acho que temos que dividir uma, — falou Bink enquanto retirava o
cinto de escalada e entregava para Han. — Já teve alguém sentado no seu
colo a 2 metros do chão?
— Não recentemente, — respondeu Han ao prender o cinto na cintura.
Quando ele ficou pronto, Kell e Zerba já estavam lá no teto, com os corpos
espremidos contra a cerâmica. — O que faremos se eles olharem para cima?
— Já cuidei disso, — garantiu Bink. Ela foi até Han, enfiou a sinteticorda
no passador no cinto, depois deu meia-volta e recuou para se aconchegar
nele. — Você quer operar? Ou deixa comigo?
— Eu faço — resmungou Han sentindo uma onda inesperada de
vergonha e irritação.
Quer Bink estivesse sendo sincera ou não, havia uma hora e um lugar
para flertes, e ali não era nem um, nem outro. Han encontrou o controle, e
os dois saíram do chão quando o cinto recolheu a linha. Alguns segundos
depois, ambos estavam espremidos contra o teto entre Kell e Zerba.
— E agora? — perguntou ele.
— Pegue isso — disse Bink ao entregar para Han um pedaço grosso de
algo que parecia a seda que Zerba usara para fazer os vestidos rasgáveis das
mulheres; no centro de um lado havia um anel flexível do tamanho de um
dedo. — Segure firme no anel, mantenha-o embaixo de você e puxe o
cadarço da ponta. E não solte.
Han abaixou a mão e obedeceu...
E teve um sobressalto de surpresa quando o material se desdobrou para
fora em todas as direções, com cada ponta se expandindo até chegar à
parede daquele lado.
— Tecido camaleônico, — explicou Bink. — Parede ou teto
instantâneos, em um prático tamanho portátil.
— Eles não vão notar que o teto é mais baixo do que deveria ser? —
perguntou Kell.
— As pessoas jamais sabem a altura que os tetos deveriam ter, —
respondeu Bink dando de ombros. — Vocês dois, segurem firme nas bordas
e estabilizem o tecido. Ótimo. Agora, tudo que temos que fazer é esperar os
caçadores passarem por essa parte do...
Bink se interrompeu quando ouviu um clique suave por baixo deles. Um
segundo depois, a porta foi escancarada e um eletrosoldador brilhou. A luz
reluziu suavemente pela borda do tecido camaleônico enquanto quem quer
que estivesse lá embaixo brandia o eletrosoldador pelo quadro elétrico. Han
ficou tenso, à espera do inevitável grito anunciando a descoberta...
Mas não houve nenhum grito, e a porta foi batida com força.
Bink contou até vinte antes de falar novamente.
— E aí estaremos quase prontos para ir — terminou eia.
— Não exatamente, — disse Zerba ao puxar o comunicador. — Eu tenho
que dar o sinal para Rachele.
— Sinal para quê? — perguntou Han.
— Depois que você foi capturado, nós decidimos que não podíamos nos
dar ao luxo de deixar que Villachor percebesse o lance dos droides, —
explicou Zerba. — Então Lando vai ajudar.
— Lando?
— Sim, — falou Zerba. — Que pena que vamos perder a atuação dele.
Deve ser o apogeu da carreira de Lando.
— Sério? — perguntou Han franzindo a testa. — Quem ele vai encarnar?
— A última coisa que você esperaria, — falou Zerba, e Han o imaginou
sorrindo no escuro. — Ele vai encarnar alguém respeitável.
CAPÍTULO

20

Lando jamais gostara da ideia de Bink se esconder em um quadro


elétrico. Gostara ainda menos quando a tarde virou noite, e quando Han, e
depois Tavia, foram capturados. A segurança de Marblewood estaria ainda
mais alerta após tudo aquilo, e ter visto uma demonstração do tecido
camaleônico não diminuíra suas dúvidas.
Então, quando ele finalmente recebeu a ligação de Rachele, foi ao mesmo
tempo um alívio e muita surpresa.
E houve até um bônus quanto à parte do alívio.
— E Han está com eles? — perguntou Lando apenas para garantir.
— A não ser que Zerba tenha errado o código, — disse Rachele. — Ele
não enviou detalhes, mas se Han estivesse ferido, acho que Zerba teria dito
alguma coisa.
— Provavelmente, — falou Lando. Então Han havia escapado por
conta própria. Ele deveria ter imaginado que eles não o manteriam preso
por muito tempo. — E quanto a havia?
— Nada, — respondeu Rachele com a voz séria. — Mas se Qazadi
assumiu a situação, e com certeza nós demos muitas razões para ele fazer
isso, então é provável que tanto ela quanto Han tenham sido levados para o
local onde ele se instalou. Zerba confirmou que aquelas nuvens de fumaça
que vimos eram um sinal de Han, então Tavia provavelmente está na
mesma área.
— É o local para começar, de qualquer forma, — concordou Lando.
Ele espiou por trás do refrescador portátil para a porta da garagem a 50
metros de distância. Um dos homens de Villachor se posicionara ali, com a
coluna ereta e rígida, e a cabeça se movendo de um lado para o outro
enquanto vasculhava a área ao redor. Villachor e Qazadi estavam
nervosinhos, de fato. Era hora de levá- los além do limite.
— Certo, vou entrar, — falou ele. — Avise Chewie e Eanjer que a porta
deve estar livre em alguns minutos.
— Entendido. Boa sorte.
Lando desligou e guardou o comunicador enquanto dava a volta pelo
refrescador, olhando inocentemente ao redor. Os técnicos e seguranças de
Villachor capturaram a maior parte dos droides com os misturadores soltos
por Kell e Zerba, mas ainda havia um número suficiente deles no ambiente
para dar um ar de preocupação distraída a uma multidão até então festiva.
Somando isso aos jatos e chafarizes de chamas ainda ligados por todas as
dependências, não havia muita atenção sobrando para notar alguém como
Lando apenas parado calmamente ao lado.
Ele tomou coragem, puxou o ovo de Zerba e apertou o ativador.
Lando esperou sentir um choque ou sobressalto quando a roupa exterior
de seda tosse arrancada e puxada para dentro do ovo, porém praticamente
não houve sensação alguma. Um belo truque, decidiu ele, que deveria ser
estudado para uso futuro.
Ele parou um instante para examinar o uniforme da polícia da Cidade de
Iltarr que vestia agora, tirou um pedacinho de seda que se soltara de alguma
forma ao ser arrancado, e puxou o quepe dobrado que estava enfiado dentro
da túnica. Colocou o quepe na cabeça, com cuidado para a aba cobrir bem
os olhos, e pediu uma última esperança ao céu de que o aparelho que Bink e
Tavia haviam plantado para confundir os droides câmera tivesse feito seu
serviço. Não daria certo se o guarda ali o reconhecesse como o mesmo
homem que trouxera um cryodex contrabandeado para seu chefe examinar.
Lando respirou fundo e se empertigou, assumindo a postura de
autoridade arrogante que tinha visto muitas vezes em policiais e seguranças.
Passou pela curva do refrescador e foi a passos largos na direção da porta da
garagem.
A primeira reação do guarda ao ver a figura que se aproximava foi enfiar
a mão embaixo da barra da túnica, na direção da arma de raios escondida. A
segunda reação, quando um jato de chamas do outro lado das dependências
iluminou brevemente a cena e o uniforme de Lando, foi não se mexer um
único centímetro daquela postura.
— O que você quer? — gritou ele.
— Sargento Emil Talbot, da polícia da Cidade de Iltarr — disse Lando
com educação. — Eu preciso verificar a ligação de emergência que nós
recebemos de alguém aí dentro.
Outro jato de chama foi disparado em algum lugar atrás dele, formando
uma espiral sibilante, e na luz, Lando viu o guarda que os seus olhas
estavam se estreitando.
— Desculpe, oficial, mas tenho ordens de não admitir ninguém sem
autorização de ...
— Sou sargento, não oficial — gritou Lando. E eu não preciso da sua
permissão para investigar uma situação de emergência. Alguém, em sua
sala de controle de droides, ligou para informar que estavam sob ataque. E
eu já estava na cena, se isso ...
— No ambiente de controle dos droides? O guarda perguntou,
endurecendo.
— Sim, no ambiente dos droides. Lando apontou o dedo para a porta
atrás dele. Agora, faça essa porta abrir neste momento, ou eu juro para você
...
— Sim, claro — disse o guarda, recuando e dirigindo-se ao comunicador
camuflado no clipe em seu ombro. Eu só tenho que fazer uma ligação ...
Senhor, eu sou Pickwin. Eu tenho um sargento da polícia da cidade de Iltarr
aqui, que diz que eles receberam uma chamada de emergência da sala de
controle dos droides ... Sim, senhor, imediatamente.
Ele recuou e abriu a porta.
— O mestre Villachor enviará alguns de nossos homens para verificar —
disse ele.
— Eu também tenho que dar uma olhada para mim — insistiu Lando.
— Entendido, senhor — disse Pickwin. Como sempre, o Mestre
Villachor está mais do que disposto a cooperar com a polícia. Se ele tem
que fazer assim, eu fui ordenado a acompanhá-lo até a cena.
— Obrigado, — disse Lando. Ele passou pelo guarda e atravessou a
porta, parando do lado de dentro para esperar por Pickwin. O outro homem
o seguiu, fechando a porta atrás dele.
E logo antes de fechar, Lando viu algumas figuras movendo-se pelos
jardins em direção à porta: uma delas era do tamanho de um ser humano
normal; o outro, o porte alto, como se fosse uma torre, de um Wookiee.
— Aqui, senhor — disse Pickwin, indo pelo corredor.
Lando seguiu, resistindo à tentação de lançar um olhar furtivo atrás dele.
Se Bink tivesse seguido o plano e deixado sua chave roubada onde
Chewbacca poderia encontrá-lo, ele e Eanjer deveriam estar bem atrás dele.
Se ele não tivesse, Lando estava sozinho.

— Confirmado, senhor — disse Kastoni gravemente. A entrada da sala


de controle dos droides foi definitivamente forçada. Provavelmente uma
tocha de plasma, embora o corte pareça um pouco estranho. Três técnicos
estavam no andar de baixo, incluindo Purvis. A boa notícia é que eles
estavam apenas atordoados.
— Sim, isso é maravilhoso — rosnou Villachor enquanto observava nos
jardins escuros, os bolsos caóticos de pessoas ainda se formando entre as
multidões. Purvis era o chefe da seção de droides, com um conhecimento
mais prático daquelas malditas máquinas do que qualquer um dos outros
cinco homens de Villachor. Com ele incapacitado, os droides de serviço e
manutenção, que estavam fora de controle, teriam que ser derrubados um a
um. Por que diabos eles não pediram ajuda? Mesmo um jato de plasma
levaria tempo para passar por aquela porta.
— Provavelmente tentou — disse Kastoni. Há algo na parede, no topo
das linhas de intercomunicação e alarme. Provavelmente é um certo
bloqueador de sinal de algum tipo.
— E você não pensou em usar seus links em vez disso?
— Claro, é assim que a polícia descobriu sobre isso — disse Kastoni
acidamente. Eu acho que eles não poderiam se comunicar com ninguém até
que fosse tarde demais.
E isso talvez porque todos os homens de segurança também estava
usando seus comunicadors, perseguindo os droides defeito, e determinado a
encontrar os prisioneiros que haviam desaparecido. Villachor notou um
conjunto de fontes de chamas à distância, que giravam para uma música
distante, de modo que ele pudesse ouvi-la.
— O que há com esse policial? Eles verificaram isso?
— Sim, senhor — disse Kastoni. É o sargento Emil Talbot. Eu não o
conheço pessoalmente, mas sua identidade está correta e aparece no
sistema. Além disso, parece que ele é treinado para lidar com a cena do
crime.
— De qualquer forma, manter um olho sobre ele ordenou Villachor, sua
mente foi agitada novamente com o incidente no Hotel "Crown Lulina" e
como Qazadi tinha manipulado contatos Villachor no Departamento de
Polícia de enterrar essa investigação. Pickwin está de volta na porta?
— Sim, senhor — disse Kastoni. Eu o mandei de volta assim que ele
passou a informação sobre Talbot.
— Bem — disse Villachor, embora não houvesse uma coisa boa nessa
situação. Estou mandando Sheqoa para assumir. Assim que chegar, você e
Bromley voltarão para sua equipe de pesquisa.
— Sim senhor.
Villachor desligou o comunicador, novamente com uma carranca na
escuridão que estava cheia de raios de fogo, e digitou o número de Sheqoa.
— Você ouviu alguma coisa de Qazadi, sobre Aziel e seu cryodex? Ele
perguntou quando o outro havia respondido.
— Não ele, senhor, não — disse Sheqoa. Mas nossos homens no hotel
acabaram de informar que Lorde Aziel e seus guardas deixaram o quarto e
estão indo para o estacionamento do hovercraft. Eu estava prestes a ligar
para ele.
— Faça-os segui-lo — ordenou Villachor. Se este era um jogo que
Qazadi e Aziel cozinhavam entre si, pelo menos ele queria manter os olhos
focados em como isso iria se desenvolver. Então siga em direção à sala de
controle dos droides. Tivemos uma infiltração e quero que você
supervisione o policial que veio investigá-lo.
— Sim senhor.
Villachor se desconectou e lançou outro olhar sobre o recinto. Seria em
um espaço de tempo muito curto que os fogos de artifício começariam.
Normalmente, essa era a parte mais feliz e ansiosamente esperada do
Festival.
Mas Villachor não estava ansioso por eles começarem. Não totalmente.
Porque um show de fogos de artifício apropriado iria forçá-lo a
desconectar seu escudo protetor de energia.
Ele olhou para o céu. Cancelar o show, seria uma tremenda perda de
prestígio aos olhos da comunidade.
Mas se Qazadi ou Aziel tivessem planejado algum tipo de ataque aéreo ...
Felizmente, ainda não havia necessidade de tomar tal decisão. Ainda não.
Ele poderia esperar até que eles capturassem os prisioneiros fugitivos, ou
até que eles confirmassem que haviam deixado o Rancho de Mármore; ou
até que os homens de Sheqoa descobriram o que Aziel estava fazendo na
"Corona de Lulina".
E ele definitivamente não tomaria nenhuma decisão até que Sheqoa e o
sargento Talbot descobrissem o que os intrusos estavam fazendo na sala de
controle dos droides.

— Acho que sim, — respondeu Winter.


Ela abaixou os eletrobinóculos e esfregou os olhos rapidamente com a
ponta dos dedos. Quatro airspeeders entraram na garagem do Hotel Lulina
Crown, outros três saíram, e no intervalo entre eles, Winter já estava com o
procedimento e o cronograma na ponta da língua.
— É melhor começarmos a voar assim que um airspeeder passar pela
quarta abertura, contando a partir da entrada, — continuou ela apontando
para uma das largas passagens no paredão da garagem. — Isso deve fazer
com que a gente bata no veículo sem dar muita chance para que ele saia do
caminho, ao mesmo tempo mantendo a ilusão de ter sido um acidente.
— E nosso ângulo está certo?
Winter franziu a testa. Dozer ficara olhando intensamente para a garagem
desde que eles chegaram, com tanta intensidade que ela praticamente era
capaz de ouvir as engrenagens girando no cérebro.
— Está ótimo, — disse Winter. — Vamos acertá-lo no ponto cego. E,
com o atendente olhando para o outro lado enquanto realiza o procedimento
de saída do hotel, ele também não nos verá. Tudo bem com você?
— Tudo bem, — garantiu Dozer. — Estou pensando que, depois de
batermos no airspeeder e bloquearmos aquela entrada, talvez você devesse
permanecer aqui para manter o atendente ocupado enquanto eu cruzo e
bloqueio a entrada do outro lado.
— Achei que você quisesse que eu fosse ajudá-lo.
— Acho que não vou precisar de você, — falou ele. — É melhor ficar
por aqui, onde não vai atrapalhar.
— Onde não vou atrapalhar? — repetiu Winter. — O que isso quer...
— Ali está um, — interrompeu Uozer ao pegar novamente no volante e
ligar os faróis. — Segure-se.
O airspeeder cruzou a passagem que Winter apontara. Ela agarrou o cinto
de segurança quando o veículo saltou à frente e acelerou em direção à
entrada da garagem. Ela contraiu o corpo por reflexo, depois fez um esforço
para relaxar os músculos. Essa era a melhor maneira de evitar ferimentos. O
veículo-alvo apareceu atrás da estação do atendente e começou a fazer uma
curva lenta para entrar pela passagem. Dozer acelerou por mais meio
segundo, depois pisou no freio como se tivesse subitamente percebido o
obstáculo.
Com uma batida de revirar o estômago, o mundo inteiro de Winter
pareceu se afundar em seu peito, girar por cima da cabeça e cair como um
saco de batatas sobre os ombros. Houve um grito horroroso de metal,
plástico e cerâmica que reverberou em seu ouvido como uma lixa.
E então, abruptamente, tudo ficou em silêncio.
Winter pestanejou duas vezes, e na segunda piscadela seu mundo confuso
subitamente se ajeitou. O airspeeder estava virado de lado em um ângulo de
trinta graus e apontando para cima, com o bico quase tocando no teto da
garagem. Algo ali perto estava assobiando; mais baixo do que o assovio, ela
conseguiu ouvir sons tênues de gente berrando. Havia fumaça branca por
toda parte, provavelmente uma mistura do fluido resfriador do turbojato
rompido com o spray do sistema de contenção de incêndio dos airspeeders.
E Dozer havia sumido.
Ela balançou a cabeça, e o movimento ajudou a clarear as ideias.
Winter soltou o cinto de segurança. Se Dozer achava que ela
simplesmente ticana sentada ali parecendo indefesa, era melhor ele pensar
melhor.
A confusão era ainda mais barulhenta e agitada com a porta aberta, e o ar
tinha cheiro de fluido resfriador e jato de extintor de incêndio. Winter
escutou com cuidado ao sair rolando pela abertura e se deitar no piso, mas
os gritos eram mais de surpresa e fúria do que de dor e ferimentos, na
verdade. Pelo menos Dozer tinha seguido aquela parte do plano
corretamente. Ela levou um segundo para confirmar que os dois airspeeders
estavam de fato bloqueando a entrada, depois saiu de mansinho em meio à
fumaça. Winter se manteve abaixada ao lado das fileiras organizadas de
veículos estacionados e rumou para a entrada, do outro lado do hotel.
Lá, o atendente na cabine estava olhando ansioso para os destroços
fumegantes, mas não fazia menção de ir ajudar. Winter achou que ele
provavelmente tinha ordens expressas para ficar no posto, não importando o
que acontecesse.
Embora isso provavelmente fosse mudar quando o maior veículo da
garagem viesse para cima dele roncando, executasse uma meia pirueta e se
enfiasse bem na frente da entrada. Winter viu por ali três candidatos
perfeitos para o serviço, todos a quatro fileiras da entrada.
Dozer não estava em nenhum deles.
Por um instante, ela se recostou no último dos grandes airspeeders,
respirando a leve fumaça que cruzava a garagem vinda dos jatos dos
extintores de incêndio, enquanto sua pulsação reverberava nos ouvidos. O
que, raios, Dozer estava aprontando? Tudo que Lando pedira para eles era
que impedissem Aziel de levar o verdadeiro cryodex para Qazadi.
A não ser que Dozer tivesse decidido ser criativo.
De fato, Winter o encontrou no fundo da garagem, deitado de costas
embaixo de um dos quatro landspeeders negros de Aziel.
— O que você está fazendo? — indagou ela ao se ajoelhar ao lado de
Dozer.
— Já não era sem tempo de você aparecer — disse ele com um
resmungo. — É você que tem esse talento maluco para identificar detalhes.
Existe algum desses landspeeders aqui que Aziel sempre use?
— Dozer...
— Eu sei, eu sei — interrompeu ele. — Grite comigo mais tarde. Agora,
só me diga qual landspeeder é o dele.
Engolindo uma palavra que certa vez deixara ela e Leia em sérios
problemas, Winter olhou para os landspeeders. O menor, com pequenas
marcas...
— Aquele — respondeu ela apontando para o veículo à direita de Dozer.
— Eles se enfileram em ordem aleatória quando saem, mas Aziel sempre
anda naquele.
— Eu sabia. — Dozer resmungou novamente ao sair do landspeeder e se
enfiar embaixo do que Winter identificou. — Esses caras são sempre muito
previsíveis.
— Claro, — falou ela. — Falando em talento maluco, você ficou
completamente maluco? Aziel pode chegar aqui a qualquer minuto, e você
está tentando fazer uma ligação direta no landspeeder dele?
— Tentando, não, — corrigiu ele, com a voz interrompida pelo barulho
de ferramentas. — De qualquer forma, todos nós concordamos que os
arquivos de chantagem valem muito mais se tivermos um cryodex para
juntar a eles, correto?
Winter ficou boquiaberta.
— Você está louco?
— Você me perguntou antes — Dozer lembrou a ele. Toma isto; Você
poderia descascar o isolamento nas extremidades por favor?
Um pequeno cilindro do tamanho de um dedo rolou sob o hovercraft.
— Dozer, você não vai pensar nisso — Winter insistiu, enquanto ele se
agachava e começava a puxar o isolamento nas pontas dos fios que saíam
de uma das extremidades do cilindro. Pelo menos você tem um blaster?
Porque eu não.
— Eu não preciso de um blaster — disse Dozer. Houve um duplo tinido
quando ele bateu uma de suas ferramentas contra a borda da estrutura do
veículo. Eu tenho isso Você terminou com isso? Magnifico Obrigado
Winter endireitou-se, tomando uma posição inclinada, e observou o outro
lado da capa do chinelo, em direção ao conjunto de portas do turbo elevador
que ficavam ao longo da parede. — Quanto tempo você vai levar com isso?
— Não muito — disse Dozer, enquanto a última palavra soava como um
grunhido. Eu só tenho que evitar o sistema de segurança, que é
absurdamente simples; A Sol Negro realmente precisa investir alguns
créditos em um sistema realmente confiável e, em seguida, conectá-lo a
seus controles remotos. Eu terminarei em muito pouco tempo.
Do outro lado do estacionamento, uma das portas do turbolift se abriu.
— Espero que você esteja certo — Winter murmurou com urgência.
Porque aqui vêm eles.

— Eu não sei — disse Kastoni, olhando para frente e para trás nos
monitores e teclados. Tenho certeza de que fizeram alguns ajustes em algum
lugar. Por que mais eles entram aqui? Mas não tenho ideia do que eles
poderiam ser.
— Vamos precisar de um técnico — concordou Lando, fingindo olhar em
volta. Ele notou o console que Zerba havia cortado quase tão logo ele
entrou na sala. Mas, claro, ele sabia o que procurar. Ele também sabia que
não deveria apontar muito depressa. Já fiz a ligação, mas todos os nossos
técnicos estão espalhados pela cidade nos vários locais do Festival. Vai
demorar um pouco para qualquer um deles voltar.
— Tudo bem — disse o outro guarda, Bromley, do outro lado da sala. De
qualquer forma, não acho que o Mestre Villachor queira que seu pessoal
esteja bisbilhotando por aqui. Nosso chefe de androides poderá consertá-lo
assim que ele acordar.
— Espero que sim — disse Lando, olhando casualmente para a porta.
E ele estava petrificado. No outro extremo do corredor, falando
incessantemente para o comunicador escondido em seu clipe enquanto
caminhava em direção à sala de controle, estava Sheqoa.
Uma das poucas pessoas na propriedade de Marble que conhecia Lando
de vista.
De repente, Lando ficou sem tempo.
— Espere um segundo — disse ele, apontando o dedo para o console
danificado. Aquela consola ... vês o corte?
— Sim — disse Kastoni quando ele cruzou para ela. Parece que eles
fizeram isso com a mesma coisa que usaram para cortar e abrir a porta.
— Tenho certeza de que era — disse Lando, juntando-se a ele e
examinando seu próprio console. Não havia nada para identificá-lo como
um painel de controle do 501-Z, pelo menos nada que ele pudesse ver. Mas,
obviamente, Bink tinha percebido que era, e se ela pudesse fazê-lo,
certamente o sargento da polícia Talbot poderia fazer isso também. Parece
que é um console de controle 501-Z — disse ele. Eles têm Zeds patrulhando
os jardins em algum lugar?
Com o canto do olho, viu Kastoni balançar a cabeça em sua direção.
— Isso controla os Zeds? Ele bufou. Oh inferno. Ele tocou o
comunicador que estava em seu clipe. Lando prendeu a respiração... – É
Kastoni, senhor — disse Kastoni rapidamente. Parece que eles estavam
mirando no painel de controle dos Zeds ... Sim, senhor.
Ele recuou e esticou o pescoço para olhar pelo corredor.
Sim, eu vejo ... Mestre Sheqoa? -eu chamo-. Mestre Villachor requer sua
presença.
Kastoni foi pelo corredor. Lando virou as costas para ele, inclinando-se
sobre o console Zed, enquanto fingia examinar o corte irregular que o sabre
de luz de Zerba havia produzido. Atrás dele, os dois homens conversavam
em voz baixa e, embora Lando não conseguisse distinguir as palavras, ele
pôde ver a mudança no tom de voz de Sheqoa quando parou de falar com
Kastoni e começou a conversar com Villachor. A conversa chegou ao fim e
Lando ouviu passos que estavam saindo rapidamente.
— Você foi verificar seus Zeds? Lando perguntou por cima do ombro.
— Sim, se eles ainda estão lá — Kastoni rosnou, chegando ao seu lado.
— Você sabe que a polícia sabe alguma maneira de acordar alguém que
foi atingido por um atordoador? Bromley perguntou. Alguma droga ou algo
que possamos usar?
— Nada que possa ser legal — Lando disse a ele. Sinto muito. Aqui,
você poderia me ajudar a tirar esse outro console do caminho? Precisamos
ver se os cabos deles também entram nos conduítes da parede.

O eco do movimentado corredor de o serviço deu lugar ao silêncio e à


tranquilidade mais tênue que prevalecia nos corredores principais da sala.
Sheqoa mal notou.
Então eles estavam atrás dos Zeds, afinal. Em retrospecto, tudo era óbvio,
especialmente depois que Villachor substituiu todos os guardas humanos
que carregavam armaduras no cofre, por um número maior de droides de
kriffing.
Tudo isso fora ideia de Qazadi. De qualquer forma, ele também
amaldiçoou o estúpido idiota com escamas verdes.
A menos que não fosse estúpido. A menos que fosse parte de algum
plano maluco Qazadi Aziel, Kwerve e talvez o mesmo kriffing Príncipe
Xizor, tinha preparado para derrubar Villachor e colocar outra pessoa em
seu lugar.
Bem, não faria mal a eles continuarem sonhando. Não importa quão
grande seja o sucesso que o misterioso intruso poderia ter obtido com os
droides de serviço e manutenção do lado de fora, ele certamente descobriria
que os Zeds eram um osso duro de roer. Eles eram terrivelmente difíceis de
reprogramar ou desativar, especialmente sem os códigos gerais de acesso
que apenas Villachor e Purvis, o chefe dos androides, possuíam. Uma vez
que Purvis se recuperasse do impressionante impacto, ele poderia checar os
Zeds e consertar qualquer dano que o intruso tivesse conseguido infligir.
Enquanto isso, Sheqoa e Villachor iriam para o cofre, sozinhos se
necessário, e ficariam de guarda diante dos arquivos de chantagem
preciosos e seguros de Xizor.
A menos que Purvis fizesse parte do enredo.
Sheqoa olhou para o luxuoso corredor. O lindo e complicado Festival das
Quatro Honrarias de repente se tornara um labirinto de conspirações dentro
de conspirações dentro de conspirações. Com Qazadi e seu plano secreto de
um lado, e alguém subornando os funcionários de Marblewood do outro, ele
não tinha mais noção de em quem podia confiar.
— Mestre Sheqoa?
Sheqoa arreganhou os dentes. Ele certamente não confiava naquele
sujeito.
— O que você quer, Barbas? — rosnou Sheqoa, sem se dar ao trabalho
de dar meia-volta ou mesmo diminuir o passo.
— Temos uma mensagem de Sua Excelência, — respondeu Barbas.
Ele ouviu o som suave de passos vindo correndo, e Barbas e outro dos
guardas de Qazadi (Narkan, Sheqoa hesitou em identificá-lo) surgiram nas
laterais de Sheqoa.
— Sua Excelência exige a graça de sua presença, — relatou Barbas.
— Sua Excelência terá que esperar, — falou Sheqoa rispidamente. —
Neste exato momento eu tenho uma possível crise nas mãos.
— Uma crise para o mestre Villachor e Marblewood? — perguntou
Barbas incisivamente, — Ou uma crise para o mestre Lapis Sheqoa?
Sheqoa balançou a cabeça.
— Eu não faço ideia do que você está falando.
— Então deixe-me esclarecer, — disse Barbas. — A mulher que você
mandou para nós está dando algumas declarações fascinantes para Sua
Excelência. Uma das declarações é que ela não consegue se lembrar de ter
visto seu pingente com a chave por pelo menos uma hora antes de mestre
Villachor finalmente notar que ele havia sumido.
Sheqoa sentiu uma onda de desdém superar a raiva.
— E você acreditou nela? Uma ladra desgraçada, e você realmente
acreditou nela?
— Sim, quanto a isso, — falou Barbas. — Nós a examinamos
detalhadamente e não encontramos nada. Nem sinal de tintura rastreadora;
nenhuma microferramenta, ou mesmo marcas onde as microferramentas
poderiam ter sido presas; nenhuma arma, equipamento ou contrabando de
qualquer espécie. Até onde sabemos, a mulher não é nada além da alpinista
social avoada que parece ser.
— Então vá mais fundo, — rosnou Sheqoa. — Ela é a ladra. Eu sei disso.
— E Sua Excelência adoraria que você provasse isso para ele, — disse
Barbas. — Isso deve tomar apenas alguns minutos de seu tempo.
— Discordo, — falou Sheqoa e parou abruptamente.
Barbas e Narkan foram tomados completamente de surpresa, cada um
dando ainda outro passo antes de conseguir reagir. Os dois pararam e se
viraram para encarar Sheqoa...
E congelaram diante da visão de sua pistola de raios de prontidão.
— Deixe-me lhe dizer o que vai acontecer, — disse Sheqoa no silêncio
tenso. — Eu irei à caixa-forte e confirmarei que o cofre e seu conteúdo
estão seguros. Depois disso, se o mestre Villachor achar que pode dispensar
meus serviços pelos poucos minutos que você mencionou, eu terei prazer
em responder qualquer pergunta que Sua Excelência tenha para mim. — Ele
ergueu o cano da arma de raios alguns centímetros. — Você pode vir
comigo, pode voltar a
Sua Excelência e esperar ou pode morrer. A escolha é sua.
— Você não ousaria, — falou Barbas ameaçadoramente.
— Nós temos dois prisioneiros fugitivos e possivelmente outro intruso
dentro dessas paredes, — lembrou Sheqoa. — Um deles pode facilmente ter
pego uma arma de raios.
Os lábios de Barbas tremeram em um sorrisinho.
— Muito bem. Nós aceitamos o convite gentil. Afinal de contas, o item
mais valioso no cofre é de Sua Excelência, portanto faz sentido que nós o
ajudemos a torná-lo seguro. — Ele gesticulou para o fim do corredor. —
Indique o caminho.
Sheqoa enfiou a arma de raios no coldre ao passar pelos dois. Barbas
podia sorrir à vontade, mas Sheqoa sabia que ele não se esqueceria disso.
Tudo bem. Sheqoa também não.

O landspeeder de Aziel não fora tão fácil de invadir quanto Dozer fizera
parecer. Longe disso. Mas ele era o melhor, ele estava determinado, e o Sol
Negro realmente precisava gastar os créditos em uma segurança melhor.
Ainda assim, Dozer podia ouvir os passos se aproximando no permacreto
na hora em que finalmente terminou e rolou pelo chão até um ponto seguro.
Winter o esperava a cinco fileiras de distância, abaixada atrás de um
clássico Incom T-24 lindamente restaurado.
— Nada como terminar em cima do laço, — murmurou ela.
— Isso mantém o coração batendo, — sussurrou Dozer de volta enquanto
olhava por trás do estabilizador ventral do T-24 e se perguntava se o seu
dono tinha optado por um sistema de segurança decente.
Havia doze pessoas vindo a passos largos, incluindo Aziel. O contingente
completo, se a estimativa anterior de Rachele sobre o
tamanho do grupo estivesse correta. Em volta da cintura de Aziel
havia uma pochete que aparentemente continha o cryodex.
— Qual é o plano? — perguntou Winter.
— A primeira parte de qualquer plano é sempre a mesma, — respondeu
Dozer enquanto abria o console do controle remoto que ele instalara no
sistema do landspeeder. O sincronismo ali seria importantíssimo. — Você
separa o doce das pessoas contratadas para guardá-lo.
— Se você quer dizer que espera que ele entre naquele landspeeder
sozinho, isso não vai acontecer, — alertou Winter. — Lá em Marblewood, o
motorista e dois guardas sempre entraram no mesmo momento que Aziel.
— Eu sei, — falou Dozer. — A gente simplesmente vai ter que se virar
com o que tem.
O primeiro humano da fila parou diante do landspeeder de Aziel e entrou
pela porta do motorista. Assim que o sujeito fez isso, o próximo homem na
fila passou por ele e abriu a porta traseira. O segurança entrou e foi seguido
por Aziel, que por sua vez foi acompanhado pelo próximo homem na fila.
Os demais guardas esperaram até que ambas as portas estivessem fechadas,
depois foram na direção dos outros três landspeeders. Dozer se concentrou
para escutar o motor do primeiro landspeeder ser ligado.
E no meio segundo entre a ignição e a digitação do código de acesso do
motorista, Dozer ativou o interruptor do redirecionador no console.
Com um ronco, os motores foram levados à potência máxima.
Dozer apertou o acelerador e girou completamente o controle de
nível; o veículo deu um pulo para cima e colidiu com força no teto de
permacreto.
Os guardas eram bons, de fato. Nenhum deles perdeu tempo olhando
boquiaberto para o movimento súbito e inexplicável do landspeeder. Em
vez disso, os oito sacaram as armas de raios e se espalharam, à procura de
quem seria o responsável pela sabotagem.
Um segundo depois, correram freneticamente para se proteger quando
Dozer derrubou o landspeeder bem no meio deles.
— Você pegou um, — avisou Winter baixinho de uma nova posição, no
nariz do T-24. — O resto está se protegendo entre outros veículos.
Onde Dozer não poderia atingi-los. Mas era um atitude óbvia de defesa, e
ele tinha contado com ela. Tudo que Dozer realmente queria fazer era
atrasá-los e obrigá-los a reagir em vez de pensar.
Porque aquele era o momento de afastá-los de Dozer. Ele ergueu o
landspeeder acima do nível dos veículos em geral, balançou-o
violentamente para trás e para frente, a fim de manter os passageiros se
agitando no interior, e lançou o landspeeder pela garagem, na direção dos
destroços dos dois veículos que Dozer e Winter haviam provocado antes.
Com a mistura perfeita de raiva frustrada e reação irracional com que
Dozer contara, o grupo inteiro de guardas se levantou dos esconderijos e
disparou atrás do landspeeder.
Dozer deu um sorrisinho. Perfeito. Agora tudo que ele tinha que fazer era
manter o veículo balançando tanto que o motorista não conseguisse
pressionar o botão para desligar o motor, deixar os guardas caçarem o
sabotador que eles naturalmente presumiam que estivesse em algum ponto
perto do destino do landspeeder, e depois trazê-lo de volta para lá. Antes
que os guardas conseguissem retornar, ele deveria ser capaz de virar o
veículo de cabeça para baixo, abrir a porta, tirar o cryodex da pochete de
Aziel enquanto o Falleen e seus guardas estivessem tontos demais para
fazer qualquer coisa, e fugir dali.
— Cuidado. Três deles estão entrando em um dos outros landspeeders,
— alertou Winter.
O sorrisinho de Dozer virou uma careta. Ok, então os guardas de Aziel
não eram tão burros quanto ele pensara. Eles estavam dividindo as apostas;
um grupo cuidava da busca no solo, enquanto o outro voava.
O que significava que ele tinha menos tempo do que pensara para
terminar o plano.
— Você pode fazer ligação direta em um airspeeder? — perguntou Dozer
para Winter.
— Provavelmente, — respondeu ela, e pelo rabo de olho, Dozer viu
Winter olhando em volta. — Algum modelo em especial?
— Esquece, — falou Dozer. Ele recuou até Winter e enfiou o console nas
mãos dela. — Para frente, para trás, de lado, balançar, acelerar, — disse ele
rapidamente, tocando cada controle para identificá-los. — Mantenha o
landspeeder lá, e mantenha-o em movimento.
— Dozer...
— E se o landspeeder cair, significa que o motorista desligou o motor, e
nós desistimos e saímos correndo, — acrescentou ele olhando para os
veículos estacionados mais perto; Dozer optou pelo OS-20 a dois veículos
dali.
— Dozer, cuidado!
Ele deu meia-volta. Um airspeeder negro entrou roncando pela entrada
desobstruída, com mais dois pairando em posições de guarda atrás dele. O
primeiro veículo parou assim que entrou na garagem enquanto o motorista
aparentemente avaliava a situação.
— São de Villachor, — disse Winter com a voz tensa. — As placas...
— Sim, sim, — interrompeu Dozer ao pegar de volta o console. — Pegue
um veículo para nós, eu vou contê-los.
O recém-chegado concluiu a avaliação e se voltou na direção do
landspeeder de Aziel, que estava pairando...
E virou a toda para o lado, tentando sair do caminho, enquanto Dozer
mandava o veículo sabotado diretamente para cima dele.
O outro piloto quase conseguiu. O veículo de Aziel pegou de raspão no
anteparo dos jatos e jogou o airspeeder contra a parede lateral em uma
colisão rangente. Um vislumbre de movimento chamou a atenção dos olhos
de Dozer: o outro landspeeder de Aziel havia decolado então, com
propulsores a toda velocidade, a caminho do veículo sabotado.
E com isso, as chances de Dozer de repente foram reduzidas a zero. Com
dois veículos no jogo e mais dois pairando do lado de fora, à espera de uma
oportunidade de participar, era apenas uma questão de tempo para que eles
conseguissem isolar o veículo sabotado de Aziel por tempo suficiente para
o motorista se soltar dos assentos e desligá-lo.
Era agora ou nunca.
— Proteja-se, — disparou Dozer e virou o controle com força.
O landspeeder sabotado mudou de direção e colidiu novamente no
recém-chegado. Dozer virou-o novamente para frente e trouxe o veículo
diretamente para o ponto onde ele e Winter estavam abaixados. Pela visão
periférica, notou que os dois airspeeders lá fora tinham desaparecido em
algum lugar. Dozer trouxe o veículo sabotado quase até eles, colidiu-o com
o teto pela última vez, depois virou o landspeeder de cabeça para baixo e
fez com que deixasse cair no chão na frente deles.
Ele não tinha ideia de quanto tempo levaria os homens e as pessoas
dentro para se recuperar daquele duplo impacto. Ele também não tinha
intenção de ficar tempo suficiente para descobrir. Saltando de seu
esconderijo, ele correu para o veículo que estava virado de cabeça para
baixo, digitou o controle de seu seguro e abriu a porta.
O interior do slider da Terra estava quase tão quebrado quanto o exterior.
Aparentemente, Aziel tinha sido equipado com um frigobar com bebidas
para o seu conforto, o conteúdo do qual, foram espalhados em cima, ou
estavam pingando nos luxuosos assentos.
Mas nada disso importava. A única coisa que importava era o cryodex
que permanecia preso ao redor da cintura do idiota atordoado, e que não
havia blasters apontando para ele. Descompactando a mochila que estava na
cintura de Aziel, Dozer se agachou para sair do veículo e correu na direção
dos turbolifts. Ele não teve tempo para se apossar de um hovercraft naquele
momento, ele sabia disso, e mesmo se ele tivesse, ele não tinha nenhum
lugar onde pudesse ir com ele. Sua única chance era tentar escapar dos
perseguidores que os procuravam no estacionamento e jogar todas as suas
possibilidades no nível do solo.
Winter estava agachado ao lado de um dos hovercrafts, trabalhando na
fechadura. Dozer agarrou seu pulso quando ele passou, fazendo-a ficar de
pé e arrastando-a para trás dele. Atrás dele, o estacionamento explodiu com
os flashes e a fúria de várias explosões de blaster, e Dozer fez uma careta
enquanto muitas das cenas queimavam o ar acima de suas cabeças. Ele
pensou em olhar para trás para ver o quão próximos seus perseguidores
estavam, mas decidiu que ele tinha que focar toda a sua atenção em sua
fuga. Os turbolifts não estavam mais de trinta metros à frente. As portas de
todas abriram ao mesmo tempo...
E com uma maldição horrorizada, Dozer parou de repente. Em um piscar
de olhos, a situação subitamente chegara ao fim.
O jogo estava encerrado... e ele e Winter haviam perdido.
CAPÍTULO

21

Villachor estivera esperando impacientemente na antessala da caixa-forte


por quase dois minutos até que finalmente Sheqoa apareceu.
Só que ele não estava sozinho. Sheqoa tivera a consideração de trazer
convidados.
— O que eles estão fazendo aqui? — indagou Villachor. — Eu não
chamei ninguém além de você.
— Eu também não chamei ninguém, senhor, — rosnou Sheqoa. — Eles
se convidaram. E eu não achei que tivesse tempo para matá- los.
Villachor olhou feio para os dois capangas, muito tentado a mandar que
fossem embora e a reforçar a ordem com os Zs então imóveis em frente à
porta da caixa-forte.
Mas Sheqoa tinha razão. Haveria tempo para lidar com os capangas de
Qazadi mais tarde.
Com um muxoxo de desdém, Villachor deu as costas para eles. Os dois
queriam assistir? Muito bem, — que assistissem. Ele ainda era o senhor de
Marblewood, da caixa-forte de Marblewood e de tudo que havia dentro
dela. E naquele momento, pelo menos, não havia nada que os homens de
Qazadi ou até mesmo que o Falleen em pessoa pudessem fazer a respeito.
Villachor foi a passos largos até o Z principal e ergueu a mão até a face do
droide para a confirmação de odor de sempre. Villachor decidiu que ele e
Sheqoa entrariam, verificariam se o cofre ainda estava seguro, e depois
reconfigurariam os Zs no interior da caixa-forte para uma possível invasão.
Àquela altura, Villachor poderia sair ou esperar lá dentro com os droides...
Ele franziu a testa. A mão ainda estava na face do Z, mas o Z estava
apenas parado ali.
— Cheire — ordenou Villachor aproximando a mão. A colônia com a
senha não poderia ter vencido. Ela nunca vencia. — Eu mandei cheirar, —
repetiu ele, desta vez pressionando a mão bem no metal.
Villachor recolheu sua mão justamente a tempo de o Z subitamente
ganhar vida e erguer seu enorme braço para segurar Villachor, enquanto sua
outra mão descia para o chicote neurônico enrolado na lateral.
— Senhor! — disse Sheqoa ao pular para frente.
— Eu sei, eu sei, — rosnou Villachor ao recuar rapidamente para fora do
alcance do chicote.
Os Zs eram programados para reagir severamente se fossem tocados.
E as implicações daquela reação gelaram seu sangue.
O intruso penetrara na programação do Z, de fato, exatamente como o
policiais na sala de droides avisara. Mas ele não havia simplesmente
desligado todos os Zs, da maneira como um ladrão sem imaginação teria
feito. Em vez disso, o intruso havia reprogramado suas lealdades,
convertido os droides para o lado dele, de forma que, em vez de impedir o
acesso de intrusos, os Zs estavam impedindo a entrada de Villachor.
Só havia um motivo para fazer algo tão complicado e demorado assim:
ganhar mais tempo no outro extremo da situação.
O intruso não tinha intenção de invadir a caixa-forte. Ele já estava lá
dentro.
Com um xingamento, Villachor arrancou o comunicador e ligou para
Kastoni.
— Purvis já acordou? — disparou ele.
— Eu não sei, senhor, — respondeu Kastoni. — Ele e os demais foram
levados para a enfermaria por Bromley e dois técnicos...
— Não importa, — interrompeu Villachor. Então o intruso achava que
podia virar os Zs contra seu mestre? Muito bem. Aquele jogo ele também
podia jogar. — Vá ao painel de controle dos Zs e acione a página principal
de status.
— Sim, senhor.
Villachor fez um gesto para que Sheqoa se aproximasse.
— Você ainda tem homens de prontidão na sala da guarda? — perguntou
ele mantendo a voz baixa.
— Sim, senhor, cinco, — confirmou Sheqoa. — Uzior está no comando.
— Mande que coloquem os trajes — ordenou Villachor. — Equipamento
completo, e que desçam até aqui o mais rápido
— Sim, senhor. — Sheqoa tocou o comunicador de colarinho, e os olhos
se voltaram para os homens de Qazadi, parados ali do lado. — Senhor?
— Eu sei e não me importo, — rosnou Villachor. — O intruso está lá
dentro, ou estará em breve, e mandou que os Zs o ajudassem. Então vamos
tirá-los de cena.
Sheqoa olhou para a fileira dupla de Zs.
— Sim, senhor, — falou ele, não parecendo muito contente com a ideia.
— O senhor acha...
— Estou na página de status, senhor, — interrompeu Kastoni.
— Vá na caixa de inserção de código no canto superior esquerdo, —
orientou Villachor, que fechou os olhos para visualizar a sequência. —
Digite os seguintes números: oito, quatro, cinco, cinco, dois...
Villachor informou a sequência completa, depois mandou que Kastoni
lesse de volta para ele.
— Ótimo, — disse Villachor. — Agora aperte “ativar”.
— Posso perguntar o que o senhor está fazendo, mestre Villachor? —
falou um dos homens de Qazadi.
— Estou resolvendo um problema, — respondeu Villachor olhando feio
para o homem. — Eu espero que você não esteja planejando se tornar outro.
— Não, senhor, de maneira alguma, — garantiu o sujeito com um leve
sorriso.
Mas Villachor notou que o sorriso não se refletia no olhar.
E que a mão dele estava muito próxima à arma de raios.

Só quando passos pesados começaram a soar no corredor do lado de fora


do quadro elétrico é que Han realmente começou a acreditar que a coisa
toda pudesse funcionar mesmo.
Foi um pensamento surpreendente. Na maior parte do tempo, ele sempre
achava que seus planos tinham uma chance de sucesso de cinquenta por
cento, e mesmo assim, só se ele começasse a remexer como louco a ideia
original, que começava a fazer água de todos os lados. Mas por algum
motivo, este parecia estar funcionando exatamente como deveria.
Claro, se eles não levassem em conta o pequeno par de falhas secundárias
que eu tive ao longo do caminho.
— Parece que havia cerca de cinco deles — Bink murmurou, seu ouvido
pressionado contra a porta. Eles também parecem bastante apressados.
— Acho que eles estão procurando por Han e seu cartão de dados
mágicos — disse Zerba. Ele parecia ainda mais surpreso do que Han, que o
plano estava funcionando. Em todo caso, o que havia nele?
— Simples e simplesmente, uma base modificadora de perfume — disse
Bink, deslizando uma fina linha ótica por baixo da porta e ajustando a
ocular sobre o olho. O tipo que se adapta à química do seu corpo ao longo
do dia. Um toque foi suficiente para os reagentes dissolverem a colônia na
mão de Villachor e alterá-la o suficiente para torná-la irreconhecível para os
Zeds. Tudo bem, parece claro.
Han assentiu.
— Primeiro — ele disse.
Na verdade, o corredor estava deserto. Os guardas que tinham acabado de
trovejá-lo com o passo, haviam se lembrado de fechar a sala de guarda
quando saíram, mas era uma fechadura comum e Bink fez o seu caminho
em questão de segundos. Os quatro patifes escorregaram para dentro,
fecharam a porta e prenderam-na novamente.
Era a coisa mais próxima da réplica de um ambiente de preparação
militar padrão, como Han nunca tinha visto. Duas das paredes estavam
cobertas com conjuntos de armaduras que imitavam a blindagem dos
droides Zs, sobre os quais Kell havia alertado, dispostos no mesmo tipo de
estrutura automática que os stormtroopers imperiais usavam para ajudá-los
a entrar nas armaduras. As outras duas paredes eram dedicadas a armários
de roupas, gabinetes para equipamentos e um aparador para comidas e
bebidas como aquele na área de estar em que Han se escondera mais cedo.
No centro da sala havia um par de mesas de jogos e cadeiras, com um grupo
de beliches de três camas visível através de uma porta aberta em uma sala
dos fundos.
— Por onde começamos? — perguntou ele para Bink.
Ela se abaixou entre as duas mesas e segurou um pequeno sensor logo
acima do piso.
— Bem aqui deve servir, — respondeu ela, que desenhou um pequeno
círculo com o dedo no tapete fino. — Zerba?
— Que profundidade? — indagou ele ao se ajoelhar ao lado de Bink e
ligar o sabre de luz.
— Cerca de 10 centímetros, — disse Bink enquanto prendia um gancho
naquele ponto do tapete. — Não tem que ser preciso... não há muitos fios de
sensores embaixo.
Zerba concordou com a cabeça e cuidadosamente cortou um círculo em
volta do gancho. Ele desligou o sabre de luz, e Bink puxou a tampa do
buraco.
— Agora, se eles fizeram isso corretamente, — comentou ela ao enfiar a
ponta do cabo óptico dentro do buraco e mexê-lo de um lado para o outro -,
deve haver uma malha de fios de sensores... sim, lá estão eles. Ok, Zerba:
um círculo de um metro de diâmetro daqui até aqui. Com essa espessura. —
Bink ergueu a tampa para demonstrar. — Desta vez, a precisão importa.
— Certo. — Zerba ligou o sabre de luz novamente e se pôs a trabalhar.
Han olhou ao redor da sala, de repente acometido por um pensamento
esquisito. Sua parte do trabalho de campo deveria ter acabado com a
entrega do cartão de dado sabotado para Villachor. Na verdade, de acordo
com o plano original, ele deveria estar na suíte naquele exato momento,
observando as dependências de Marblewood com eletrobinóculos e
ajudando Rachele e Winter a coordenar o resto da operação. Ali, naquele
instante, Han basicamente não tinha nada para fazer.
Os olhos dele se voltaram para a fileira de trajes blindados. Ou talvez ele
tivesse o que fazer.
— Kell? — chamou Han baixinho enquanto andava até o traje mais
próximo. Não parecia muito complicado de entrar.
— O quê? — perguntou Kell surgindo ao lado dele.
— Você sabe alguma coisa sobre esses trajes?
— Nada específico, — disse Kell passando os dedos pelo metal do
capacete, pensativo. — Suporte de vida completo, provavelmente. Com
certeza tem ampliação de força motora, meio painel transparente,
capacidade de comunicação e um conjunto parcial de sensores.
Possivelmente mira óptica também.
— Obrigado, — falou Han secamente. Uma pena que o garoto não
soubesse nada específico. — Pode me dar uma mão?
— Vai a algum lugar? — perguntou Bink erguendo os olhos do trabalho
de Zerba.
— Pensei em dar uma volta lá embaixo e ver o que Villachor está
aprontando — disse Han dando um puxão no torso da armadura para
experimentar. Este se ergueu facilmente no braço automático
contrabalanceado. — Vocês três parecem estar com essa parte do plano bem
sob controle, não é?
— Mais ou menos — Bink disse quando ela e Zerba removeram o círculo
que haviam cortado do chão e o colocaram de lado.
Han esticou o pescoço para olhar dentro do buraco, trabalhando na perna
esquerda e no quadril na parte de baixo de sua armadura. Juntamente com
meia dúzia de armas de raios, havia dois chicotes.
— Aqui, — disse ele ao arrancar um do gancho e jogá-lo para Bink. —
Eu mal posso esperar para ouvir essa.
— É realmente muito simples, — falou ela ao desenrolá-lo. — Os
chicotes neurônicos se adaptam às características neurais de qualquer pele
que por acaso estejam tocando, certo?
Kell ficou boquiaberto.
— Você está brincando.
— De maneira alguma, — garantiu Bink enquanto colocava
cuidadosamente o chicote em um círculo em cima da malha de cabos. —
Eles não são suficientemente rápidos para se adaptar a um campo de pulsos
normal, e é por isso que ninguém perde tempo se preocupando com chicotes
neurônicos. Mas com o randomizador desacelerado, o chicote deve
conseguir captá-los e copiá-los numa boa.
Ela fez um ajuste final no posicionamento do chicote, pegou no cabo e
acionou o interruptor.
Houve um estalo de energia do chicote, acompanhado por um clarão de
luz branco azulada. O chicote reluziu de novo, depois passou a emitir um
brilho azulado intermitente.
— E deve ser isso, — concluiu Bink.
— Nós precisamos nos preocupar com o deve nessa frase? — perguntou
Zerba.
— Vamos descobrir. — Bink fez um gesto para a cavidade. — Faça um
buraco, Zerba. Não saia do círculo do chicote.
Zerba foi devagar e com cuidado, claramente esperando que uma sirene
de alarmes fosse disparada em algum momento, e igualmente surpreso
quando isso não aconteceu. Enquanto ele trabalhava, 15ink desdobrou uma
pequena grua com tripé e colocou sobre o buraco. Han notou as pernas do
aparelho tremerem enquanto a grua lentamente recebia o peso do segmento
do subpiso e da blindagem embaixo dele. No momento em que Kell fechou
o capacete na cabeça de Han, o corte havia terminado, a tampa fora erguida,
e eles estavam retirando o material do caminho.
— Como estou? — perguntou Han.
— Veja você mesmo, — surgiu tenuemente a voz abafada de Bink pelo
capacete.
— Como? — grunhiu Han olhando para a escuridão diante dele.
E então, subitamente, o interior da placa frontal se acendeu com uma
imagem da sala, sobreposta com medidas de distância. Havia uma
minúscula versão infravermelha no canto superior direito e um igualmente
minúsculo visor com a imagem traseira no canto superior esquerdo.
— Melhorou? — A voz de Kell surgiu normalmente nos ouvidos.
— Sim, — respondeu Han olhando o monitor.
Havia uma barra de status que percorria a parte inferior da imagem e
marcava a configuração do sistema de comunicação, os níveis de energia e
de captação de som e opções avançadas de sensores.
— Os controles devem estar bem aqui, — disse Kell ao virar o braço
esquerdo de Han e indicar a parte interna do pulso. — Vê alguma coisa?
— Vejo agora, — respondeu Han com um sorrisinho.
Onde ele tinha visto apenas metal liso do lado de fora do traje, o painel
transparente agora indicava meia dúzia de botões e controles deslizantes
suscetíveis ao toque. Para experimentar, Han levou a mão direita ao pulso
esquerdo e tocou no botão de visão telescópica e, em seguida, deslizou o
dedo ao longo do slide. A imagem na frente dele saltou para ele, ampliando
os controles, o braço e a seção do chão que estava além deles.
— Sim, eu entendi — disse ele, deslizando o escorregador de volta ao
lugar e desligando o osciloscópio. Você tem alguma entrada aqui para
conectar um comunicador adicional? Eu acho que o comunicador do traje
está integrado no circuito de segurança.
— Sim, deve haver uma entrada aqui — disse Kell, tocando o capacete
atrás da borda da bochecha direita. Há uma entrada de ar escondida atrás
deste aro. Deixe-me ver se consigo encaixar meu comunicador aqui para
você ... Certo, isso deve funcionar. Zerba?
Zerba tirou o seu link.
— Probando?
— Chega — disse Han.O som do comunicador era fraco, mas enquanto
não houvesse muito barulho lá fora, ele deveria ser capaz de ouvir bem o
suficiente. Certo, estou indo para baixo. Boa sorte com o cofre.
— Espera um segundo. Bink tirou um detonador do bolso e jogou para
Kell. Kell, desde que você está com vontade de colocar acessórios, veja se
você pode encontrar um lugar para isso.
— Não há problema, pode ser anexado logo abaixo do comunicador —
disse Kell. Deixe-me ver ... lá. É logo abaixo do comunicador, Han.
Pressione para fazer o trabalho.
— Espere um segundo — disse Zerba, franzindo a testa para Bink. Eu
pensei que você ia tomar conta dessa parte.
— Han ia estar lá assistindo o show de qualquer maneira — Bink
apontou. Eu poderia ter a honra. Além disso, você terá uma visão melhor e
um ângulo melhor do que eu poderia ter.
— Ela está certa — Han concordou, olhando para o quadro de armas.
Tudo que ele precisava para completar o novo traje era algo que tivesse o
máximo de poder em curto alcance.
Os olhos bateram em uma pistola de raios pesada Caliban Modelo X:
cinquenta disparos em carga plena, com alcance de 60 metros, e quase tão
poderosa quanto um fuzil de raios. Serviria muito bem.
Ele enfiou a Caliban no coldre da armadura, no lado direito. Depois,
quase se esquecendo, soltou o outro chicote neurônico e o prendeu na
cintura esquerda.
— Tomem cuidado, — falou Han ao sair.
— Você também — disse Kell.
Um momento depois, Han estava a caminho, pisando forte no corredor,
com um mau pressentimento. Essa parte da operação era de Bink, e se ela
tivesse sucesso, seria o auge de toda a sua carreira. Não havia chance de
Bink entregar de bandeja o grande momento para ele. A menos que ela
tivesse uma razão muito boa para isso.
Infelizmente, aquela razão não era difícil de adivinhar. No minuto em que
Bink abrisse o cofre, ela cruzaria a mansão para encontrar a irmã.
Han murmurou um xingamento e sentiu a respiração quicar no painel
transparente e voltar para os lábios. O problema era que Bink jamais
conseguiria. Não sozinha. Certamente não sozinha e com toda a segurança
de Marblewood agitada do jeito que estava. A divisão de tarefas naquela
operação toda fora bem clara: Lando e Chewbacca, na extremidade norte da
mansão, iriam atrás de Tavia; Bink, Zerba e Kell, na extremidade sul,
cuidariam do cofre. Esse fora o combinado desde o começo, e nenhum dos
ajustes de última hora de Lando mudara isso. Bink, aparentemente, iria
mudá-lo de qualquer maneira.
E não havia nada que Han pudesse fazer a respeito. A não ser que eles
quisessem descartar a operação e fossem todos resgatar Tavia juntos, e eles
tinham ido longe demais para isso.
Han só podia torcer para que Bink se acalmasse e pensasse melhor.
Desde que Qazadi não soubesse quem estava de que lado, — ou mesmo
quais eram os lados -, ele seria um tolo em pressionar demais Tavia.
Especialmente com a questão do cryodex ainda no ar. Se Bink relaxasse
apenas um pouco, talvez ela visse que poderia recuar e deixar Lando e
Chewbacca resgatarem a irmã.
Porque, se Bink não fizesse isso, eles bem que podiam acabar com duas
prisioneiras para resgatar em vez de uma.
E havia uma chance muito boa de Qazadi decidir que não precisava
manter ambas vivas.

Com um chiado de propelente químico das antigas, o primeiro dos fogos


de artifício disparou para o alto saindo das dependências de Marblewood. O
propelente queimou até acabar, e houve um momento de expectativa
enquanto parecia que nada iria acontecer. Então, com um estouro de cores
vibrantes, o rojão explodiu e disparou estrelinhas no ar que depois voaram,
mergulharam e sumiram no esquecimento.
Sentado encostado em uma das chaminés, onde as sombras eram
maiores, Dayja franziu a testa. Ele sabia que os fogos de artifício eram o
final tradicional do Festival das Quatro Honrarias. Mas aquele final deveria
esperar até o pleno anoitecer, e ainda havia quinze ou vinte minutos para
isso. Será que algo dera errado?
Talvez. Por outro lado, talvez alguém houvesse notado que o grande
número de droides alvoroçados tinha ameaçado causar um êxodo em massa
dos visitantes e estivesse tentando conter aquele fluxo com o começo
antecipado dos fogos.
Se aquele fosse o plano, ele claramente parecia estar funcionando.
Quando um segundo rojão subiu chiando e depois estourou, Dayja viu que o
fluxo de pessoas indo na direção das saídas havia diminuído conforme os
visitantes retornavam para assistir ao espetáculo.
Se ao menos...
Dayja franziu a testa, abriu a holocâmera falsa e retirou a faca e os
pequenos, porém possantes, eletrobinóculos enfiados lá dentro. Ele enfiou a
arma na manga, onde seria útil caso fosse precisar da faca, ativou os
eletrobinóculos e focou no muro baixo que cercava as dependências.
De acordo com o tênue brilho das luzes indicadoras, o escudo abrangente
de Marblewood ainda estava ativo.
Um terceiro rojão explodiu no céu, e as estrelinhas se dividiram em um
desenho de flores. Deixar o escudo para esses fogos menores, tudo bem.
Mas os fogos maiores e mais rebuscados, programados para mais tarde no
espetáculo, eram feitos para voar muito mais alto antes de explodir. Se o
escudo ainda estivesse ligado quando eles fossem disparados, os fogos
estourariam antes ou possivelmente até ricocheteariam para baixo, no meio
da multidão.
Talvez Villachor já tivesse cuidado disso e desligasse o escudo antes de o
espetáculo chegar ao ponto de colocar em perigo os visitantes.
Ou talvez colocar em perigo os visitantes fosse exatamente o que ele
tinha em mente.
De uma forma ou de outra, seria muito interessante de assistir.

O grande cofre redondo estava no meio da sala, se movendo pesadamente


sobre a plataforma flutuante, enquanto Bink deslizava pelo buraco no teto.
Para seu alívio, os Zs distribuídos pelo aposento permaneciam
silenciosos e imóveis. Sempre havia a chance, por mais remota que fosse,
de que Villachor reconsiderasse sua estratégia e reativasse os droides.
Observando pelo buraco acima dela, Zerba e Kell estavam quase tão quietos
quanto os Zs.
O que era ótimo, porque Bink não estava a fim de conversar com
ninguém naquele momento.
Será que Han tinha adivinhado? Provavelmente. Quando se dedicava, ele
conseguia julgar muito bem as pessoas, e Han conhecia Bink a ponto de ser
capaz de interpretar suas reações. Obviamente, o simples fato de ter dado a
ele o detonador sobressalente seria uma pista mais do que suficiente para
Han.
Mas ele não fizera nada para detê-la. Nem dissera nada. Provavelmente
sabia que seria uma perda de tempo.
Porque Tavia estava em perigo, e era Bink quem a tinha colocado ali. E
por mais que ela gostasse de Chewbacca e confiasse nele, Bink não tinha
intenção de deixá-lo conduzir a bola sozinho naquela situação.
Primeiro, ela tinha um serviço a fazer, pela simples razão de que a missão
garantiria que aquela seria a última vez que sua irmã passaria por aquele
tipo de perigo na vida.
Bink pousou com um leve baque no chão, olhou uma vez para a porta e
depois foi na direção do cofre flutuante, examinando-o enquanto andava.
Conforme Rachele descrevera antes, a plataforma girava lentamente
seguindo o traçado de sua trajetória em volta do salão de baile. Não muito
rápido, provavelmente apenas uma vez a cada três minutos.
Infelizmente, àquela altura qualquer rotação era um problema. A primeira
tarefa, portanto, era pará-la.
Houve um baque suave atrás dela, e Bink olhou para trás e viu Kell se
soltando da sinteticorda.
— Tem algum lugar em especial por onde você quer que eu comece? —
sussurrou ele.
— Você não precisa sussurrar, — informou Bink. — O lugar é
completamente à prova de som.
Kell ergueu o olhar, como se fosse comentar que o buraco aberto acima
deles com certeza não era à prova de som. Felizmente, ele mudou de ideia.
— Estava pensado que a gente devia interromper o movimento da
plataforma, — continuou Kell em tom apenas ligeiramente mais alto ao
correr até ela. — Caso contrário, o momento certo...
— Sim — interrompeu Bink. — Acha que consegue fazer isso sem
deixar cair tudo?
Kell fez que sim com a cabeça.
— Sem problema.
— Então faça.
Kell fez que sim novamente, passou por ela e retirou o kit de ferramentas
compactas e uma de suas pequenas cargas de detonita. Bink assistiu
enquanto Zerba descia de rapei, pousando com um baque bem maior do que
ela e Kell fizeram.
— Você está pronto? — perguntou Bink.
— Claro, — respondeu Zerba enquanto corria até ela. — Você vai
conseguir achar a porta? Não sou fã da ideia de cutucar aquela coisa
aleatoriamente.
— Também não sou fã, — disse Bink. — Não se preocupe, nós vamos
encontrar isso.
As escadas se desdobraram quando se aproximaram, do jeito que Rachele
dissera que iriam. Bink subiu na plataforma e começou a girar devagar,
passando os dedos pela superfície do duracrete, procurando as marcas
reveladoras de desgaste que Winter identificara. Na metade da exploração,
Bink sentiu a plataforma parar suavemente.
— Eu entendi — disse Kell. Vou começar a definir as cargas explosivas.
— Bem — Bink respondeu, franzindo a testa enquanto olhava para o
cofre. Seria apenas uma questão de sorte se ela começou mais à direita,
enquanto procurando os orifícios adequados para os dedos, mas teria que
examinar todos os buracos escavados cerca de nove metros e meio
compondo a entrada da área, antes que ele pudesse encontrar os corretos
Mas o universo decidiu jogar de maneira cavalheiresca hoje. Dois passos
depois, ele identificou as marcas.
Os buracos corretos onde ele tinha que inserir os dedos estavam à sua
direita, exatamente como Winter lhe dissera. Cruzando os dedos
mentalmente, Bink inseriu os dedos nos buracos.
E com uma gratificante ausência de esforço ou desconforto, o segmento
inferior desdobrou-se para baixo, exatamente como a simulação de Rachele
lhes mostrara. Bink deu um passo para o lado da estrada enquanto estava
sentado na plataforma e olhou para dentro.
O túnel tinha seu próprio sistema de iluminação: um conjunto de
pequenos holofotes dicróicos instalados no teto, com um painel brilhante
maior, colocado logo acima da porta de pedra negra e do teclado que ficava
na outra extremidade.
— Eu espero que você não vai me pedir para fazer um corte através disso
— Zerba advertiu como ele estava atrás dela. Eu li algo sobre a pedra
Hijarna. Eu duvido que meu sabre de luz possa começar a arranhá-lo.
— Eu não sonharia em passar por isso com o seu sabre de luz —
assegurou Bink, puxando o dispositivo de recepção e entrando no túnel.
O cuspidor dentro do cartão de dado falso estivera silencioso desde que
Villachor o desligou no cofre, e seu transmissor de baixa voltagem não era
capaz de mandar um sinal nem através da pedra Hijarna nem das paredes
magneticamente seladas da caixa-forte. Mas Tavia calculara que ele deveria
conseguir enviar um sinal através da pedra se o receptor estivesse
suficientemente perto do cofre.
Como sempre, ela estava certa. O sinal era fraco, mas legível.
— O que temos aí? — perguntou Zerba.
— Villachor abriu o cofre mais três vezes nos últimos quatro dias, —
respondeu Bink com satisfação.
— Então são quatro no total, contando a vez que ele colocou o cartão de
dado aí dentro, — disse Zerba em tom de incerteza. — Eu não sei. Vai ser
complicado calcular um padrão com apenas quatro pontos.
— Rachele e Winter conseguem, — falou Bink com firmeza ao voltar
para a plataforma. — Você não tem um trabalho para fazer?
— Só estava esperando até ter certeza de que o cofre não vai a lugar
algum, — disse Zerba, que se debruçou sobre a borda da plataforma. —
Kell?
— O cofre não vai a lugar algum, — confirmou Kell. — Se a gente não
terminar isso antes de os homens de Villachor entrarem, nenhum de nós vai
também.
— Entendido, — falou Zerba.
Ele espiou a porta, depois deu as costas para ela e se ajoelhou ao lado do
pilar curto que ligava a bola de permacreto à plataforma. Zerba ligou o
sabre de luz e começou a trabalhar.
Bink se afastou alguns passos dele e do chiado do sabre de luz e fez uma
ligação no comunicador.
Rachele atendeu quase antes de o sinal de chamada tocar.
— Bink?
— Sim, — confirmou ela. — Estamos prontos aqui. Pode colocar Winter
na ligação?
— Estou tentando, — disse Rachele, tensa. — Não sei dela ou de Dozer
desde que eles entraram.
Bink apertou o comunicador.
— Você acha que aconteceu algo com eles?
— Não sei, — respondeu Rachele. — Estou começando a me perguntar
se teremos outra missão de resgate nas mãos.
Bink soltou um suspiro de impaciência.
— Espero que não, raios.
— Eu também, — disse Rachele. — Mas, de uma forma ou de outra,
acho que eu e você estamos por nossa conta.

Os cinco guardas blindados entraram pisando forte pela porta da


antessala, para alívio e irritação simultâneos de Villachor. Já não era sem
tempo, droga.
— Eu quero entrar na minha caixa-forte, — rosnou ele. — Esses Zs estão
no meu caminho. Tirem os droides daqui.
— Sim, senhor, — falou o líder da guarda com a voz filtrada de Uzior. —
Vamos retirá-los em um instante.
Villachor olhou de lado para Barbas e Narkan, ainda parados
silenciosamente contra a parede, com expressões indecifráveis.
Provavelmente já pensavam em como relatariam aquela situação para o
chefe.
Que relatassem. Que dissessem o que quisessem. De uma forma ou de
outra, Villachor sobreviveria àquilo tudo.
— Andem rápido — disse ele para Uzior. — Bem rápido.
CAPÍTULO

22

O jogo acabou, Winter pensou com frieza. Ela jogara bem e sobrevivera
por muito mais tempo do que jamais imaginara. Certamente por mais tempo
que muitos de seus companheiros. Mas então acabou.
E ela perdeu.
Sem forças, Winter estimava que havia pelo menos trinta, ao vê- los sair
aos borbotões dos turboelevadores. Trinta stormtroopers imperiais. As
armaduras brancas reluziam mais do que deveriam na luz difusa do lugar,
com os fuzis de raios de prontidão enquanto eles se espalhavam com
eficiência silenciosa pela garagem.
— Lá se foi nossa fuga, — murmurou Dozer ao lado dela. — Pelo menos
nós sabemos por que aqueles outros dois airspeeders de repente
descobriram outro lugar para estar.
Winter olhou para trás. Pairando do lado de fora da entrada da garagem,
reluzindo como a armadura dos stormtroopers na luz difusa da cidade,
estava uma nave imperial de desembarque, classe sentinela, com canhões de
laser e armas de raios giratórias cobrindo a garagem.
— Vocês, — disse bruscamente uma voz filtrada.
Winter se virou para a frente. Dois stormtroopers foram até ela e Dozer,
com os fuzis de raios não exatamente apontados para eles.
— Venham conosco.
E ali o jogo realmente chegava ao fim.
Outro homem tinha surgido dos turboelevadores abertos quando Winter e
Dozer chegaram. Ele foi meio que uma surpresa: um sujeito mais velho, de
rosto rosado e com um excesso de peso bem maior do que até mesmo um
oficial superior da Frota poderia manter impunemente, vestindo roupas
comuns, porém caras. Alguém importante, a julgar pela maneira como a
escolta de stormtroopers ficou em posição de sentido ao parar diante dele.
— Ah — falou o homem alegremente, com um olhar intenso,
concentrado e sagaz. — É isso?
— É isso o quê? — perguntou Dozer, com uma confusão genuína na voz.
— Eu não sei o que está acontecendo aqui, mestre, mas estou muito
contente que o senhor e suas tropas tenham aparecido. Essa gente, — ele
apontou para trás com o polegar, — está maluca ali. Simplesmente maluca.
— Sério? — comentou o homem calmamente. — Voando a esmo como
maníacos, não estavam?
— E batendo no telhado e nos veículos estacionados e simplesmente
destruindo o lugar inteiro — disse Dozer pegando gosto pela história. —
Pensei que a gente fosse morrer, com certeza.
— Uma experiência assustadora, realmente, — apiedou-se o homem,
quase como se genuinamente acreditasse naquilo. — Mas não se preocupe.
Tudo acabou agora. Vamos prender todo mundo e resolver essa situação. —
Ele acenou com a cabeça na direção da lateral de Dozer. — E muito
obrigado por recuperar minha pochete. Não sei como você conseguiu, mas
fico contente por você ter sido capaz de resgatá-la antes que essas
travessuras pudessem danificá-la ainda mais.
Winter sentiu um aperto no coração. Então os imperiais sabiam até sobre
o cryodex.
— Sua pochete? — perguntou Dozer franzindo ao abaixar o olhar para o
objeto na mão. — Não, não, isto é...
— Isso é a minha pochete, que foi roubada de mim, — interrompeu o
homem com firmeza. — É por isso que, quando recebi uma dica de seu
paradeiro, eu imediatamente chamei o capitão Worhven do Star Destroier
imperial Dominador e pedi que ele me ajudasse a recuperá-la. — O sujeito
sorriu de novo, e desta vez o sorriso era incisivo. — Eu tenho certeza de
que você entende como às vezes é difícil trabalhar com os nativos.
Winter engoliu em seco. Especialmente quando os nativos eram
essencialmente propriedade de Villachor e do Sol Negro, que os
controlavam.
— Ficamos contentes em poder ajudar, — disse ela cutucando Dozer.
Diante das circunstâncias, realmente não havia sentido em arrastar mais a
situação.
Com um suspiro resignado, Dozer entregou a pochete para o homem.
— Obrigado — disse ele, que abriu a pochete e espiou o interior. — Sim,
é isto aqui, comandante — confirmou o homem ao fechá-la e se virar para o
stormtrooper ao lado. — Mande que seus homens recolham todo mundo e
levem-nos para a guarnição de Tweenriver ser interrogado. Por falar nisso,
o que aconteceu com os outros dois hovercraft? Espero que eles não tenham
permissão para escapar.
— Não, meu senhor, nós os temos — disse o stormtrooper.
— Excelente — disse o homem. Naturalmente, as comunicações por
qualquer dos prisioneiros não são permitidas.
Sim, meu senhor. O stormtrooper fez um gesto em direção a Dozer e
Winter. O que há com esses dois?
O homem olhou para Winter e Dozer, e pareceu a Winter que, dessa vez,
seu sorriso tinha um toque de satisfação irônica.
— Sr. e Sra. Smith podem se aposentar — disse ele. Você vai precisar de
ajuda com seu veículo?
Houve uma breve pausa enquanto Dozer aparentemente tentava dizer
algumas palavras.
— Não — ele finalmente disse. Obrigado Nós podemos gerenciar.
— Muito bem — disse o homem energicamente. Adeus
Ele se virou e voltou para o elevador, enquanto um dos stormtroopers o
seguia respeitosamente atrás dele.
O outro stormtrooper fez um gesto com seu blaster.
— Eles ouviram — ele disse bruscamente. Saia.
Sem esperar por uma resposta, ele passou por eles e se dirigiu para onde
os outros imperiais estavam reunindo os homens furiosos de Aziel em
pequenos grupos para desarmar e algemar.
— Vamos — disse Dozer entre os dentes cerrados, pegando o braço de
Winter e voltando para o hovercraft em que ela estava trabalhando. Você
conseguiu abri-lo?
— Sim — disse Winter, com a cabeça ainda girando. Isso tinha que ser
algum tipo de truque. Algum jogo que o predador estava jogando com sua
presa.
Ela ainda estava esperando para cair os atingiu enquanto Dozer jogado
com cabos hovercraft, acendeu-o e atirou para o céu, transformando
cuidadosamente pela saída, sob o escrutínio do alerta olho e lasers
silenciosas da patrulha Ele estava de guarda sobre o Sentinela.
— Era muito barulhento para permanecer em segredo — disse Dozer
amargamente enquanto ele as levava para o fluxo do tráfego através das
luzes da cidade.
— Que queres dizer? Winter perguntou.
— Isso não é óbvio? Ele rosnou. Os imperiais conhecem a coisa toda
completamente. Primeiro, eles nos permitem obter o cryodex para ficar com
ele, e agora eles estão nos deixando livres na esperança de que possamos
obter os arquivos de chantagem também.
Winter sentiu o estômago apertar. Claro. Ela tinha estado tão focada em
seu relacionamento com a Aliança, que por um momento ela esqueceu que
estava em um lado completamente diferente dessa vez.
— O contato de Eanjer — ele murmurou.
— Quem mais? Disse Dozer sombriamente. Não é de admirar que o
homem soubesse o suficiente sobre Sol Negro e Qazadi.
— Eu me pergunto que tipo de acordo Eanjer terá alcançado com ele.
— Seja o que for, não está fazendo isso — disse Dozer com firmeza. A
evidência está aqui. Mesmo assim, isso será como um enorme quebra-
cabeça para Villachor e Qazadi, para digeri-lo.
— Você quer dizer o desaparecimento de Aziel e do cryodex sem deixar
rastros? — perguntou Winter.
Ela puxou o comunicador e ligou o sinalizador. Não adiantou, — eles
ainda deviam estar dentro do campo de interferência dos imperiais.
— Não vai durar muito, você sabe, — disse Winter. — Eles terão que
deixá-lo sair.
— Claro, mas tomara que não soltem Aziel até a gente estar bem longe...
— Espere — interrompeu Winter quando o comunicador deu sinal. Ela
atendeu. — Rachele?
— Sim, — respondeu ela parecendo aliviada. — Vocês estão bem? Eu
fiquei ligando sem parar.
— Estamos bem, — garantiu Winter. — Os imperiais tinham um campo
de interferência sobre o hotel.
— Os imperiais?
— É uma longa história; não temos tempo, — falou Winter. — O que
está acontecendo com Bink?
— Espere um instante — interrompeu Bink. — Você não pode
simplesmente deixar como está. O que está acontecendo com Aziel?
— Os imperiais chegaram e o capturaram — respondeu Winter. — Tanto
ele quanto o cryodex.
— O que deve, na verdade, trabalhar a nosso favor — comentou Dozer.
— Dependendo da velocidade com que a rede de espiões de Villachor
descubra isso, ele vai presumir que Aziel desertou para o Império ou então
imaginar que ele fugiu.
— Eu não vejo como isso nos ajuda — disse Rachele. — Se pensarem
que Aziel está fugindo, eles podem decidir apertar Tavia para descobrir o
que ele está tramando.
— Só que eles têm apenas a palavra de Sheqoa de que Tavia está
envolvido — disse Dozer. Sheqoa significa Villachor, e Qazadi não confia
em Villachor além do que Villachor representa para a segurança do cofre.
Ele não vai interrogar alguém simplesmente, digamos, porque é o que
Sheqoa diz.
— Olha, podemos conversar sobre isso depois que Bink abrir o cofre —
disse Winter. Em que situação você está?
— Eu tenho três sequências de código adicionais na minha frente —
disse Bink. Ela os leu. Você deve ter notado que eles têm comprimentos
diferentes, o que significa que eles não são apenas variantes de um código
padrão de vários dígitos ou algo parecido.
— Até agora, a equipe não encontrou nenhum padrão — disse Rachele.
Alguma ideia?
Winter olhou para a cidade abaixo deles, visualizando a distribuição do
teclado padrão Galáctico Superior que Villachor estivera usando e
sobrepondo as quatro sequências que eles já conheciam acima daquele
teclado.
— A série parece estar em ordem alfabética — sugeriu ele.
— Sim, já temos essa parte — disse Bink em breve. Você não é o único
que leu tudo o que existe sobre Villachor. Poderia ser uma lista de batalhas
famosas, ou seus velhos animais de estimação, ou sua escola ...
— Eu tenho isso — disse Winter de repente, como se tudo aparentemente
se encaixasse. Claro-. Tente esta sequência: sete dois, nove, dois, três,
quatro.
Houve um breve silêncio.
— Não está certo — disse Bink.
O inverno franziu a testa. Não foi certo?
Ele sorriu fortemente. Claro que não estava certo. Foi culpa dele por não
ter seguido as outras sequências completamente até o final. -Tente a mesma
sequência, seguida por três, dois, cinco, três, seis, cinco, três.
Outro curto silêncio. Dozer subiu para a próxima via e acelerou.
— É isso, — disse Bink, só faltando exultar. — Abrimos... lá vamos nós.
Uma caixa de datarcads de chantagem do Sol Negro... uma caixa realmente
bonita... mais uma pilha de outros cartões de dados que Villachor sem
dúvida também odiaria perder. E um punhado das fichas de crédito mais
lindas que vocês já viram na vida.
— Eu desisto, — falou Rachele, parecendo empolgada e perplexa ao
mesmo tempo. — O computador não consegue encontrar nada com aquela
sequência.
— Isso porque o computador procura por palavras normais, mas não
consegue cobrir toda a gama de nomes próprios, — respondeu Winter. — O
código de hoje é Qazadi Falleen. Villachor está alternando dentro de uma
lista alfabética dos nove vigos do Sol Negro, com suas respectivas espécies
anexadas.
— Que lindo, — disse Dozer. — Um lambe-botas subserviente, e é uma
lista que ele tem que manter memorizada de qualquer forma.
— Exatamente, — falou Winter. — Como está indo o resto da operação?
— No rumo certo, — respondeu Bink. — Kell está usando meu sensor e
plantando as cargas finais, Zerba está limpando o cofre, e eu vou subir de
volta à sala da guarda.
— Só não deixe de estar bem atrás dele quando as cargas dispararem, —
alertou Rachele. — Aquela parte do universo vai se tornar um lugar bem
insalubre por bastante tempo depois da explosão.
— Não se preocupe, eu ficarei bem — falou Bink baixinho. — Até mais.
— Espere um instante... eu ainda não acabei de falar sobre Tavia
— disse Rachele. — Talvez a gente devesse mandar Lando e Chewie
antes do planejado.
— Se você fizer isso, corremos o risco de perder ambas as equipes
— alertou Dozer. — O plano todo é fazer com que tudo acontecesse ao
mesmo tempo, de maneira que Villachor não soubesse para que lado pular.
Lembra?
— Han? — chamou Rachele. — O plano é seu, na verdade. O que você
acha?
— Vamos dar um tempo agora, — veio a voz de Han, suave e com um
estranho eco. — Eu não acho que Qazadi faria alguma coisa sem avisar
Villachor a respeito primeiro. Se vier aquela ordem, saberemos a tempo de
colocar Chewie e Lando em ação.
Winter franziu a testa para Dozer.
— Como ele espera saber o que Villachor está ou não fazendo? —
murmurou ela.
Dozer deu de ombros.
— É Han, — disse ele, como se aquela fosse toda a explicação de que
Winter precisasse.
Ou, mais provavelmente, toda a explicação que ela receberia.
— Então ficamos esperando, — falou Rachele, que ainda não parecia
contente, mas aparentemente estava disposta a aceitar a decisão de Han. —
Mas ficaremos em cima dele, ok?
— Claro — disse Han. — A conferência acabou. Todo mundo de volta
ao trabalho.
Winter olhou para Dozer com uma expressão de interrogação. Ele deu de
ombros e gesticulou, e ela desligou.
— O que faremos agora? — perguntou Winter.
— Eu não sei — respondeu Dozer lentamente. — O contato de
Eanjer provavelmente sabe onde fica a suíte. Por outro lado, pode
não saber. Eu realmente espero que ele não saiba onde é o ponto de
encontro.
— Então nós não vamos nem à suíte e nem ao ponto de encontro?
Ele deu de ombros novamente.
— Eu só estava pensando que é uma bela noite para um passeio. Se
importa de se juntar a mim?
Winter olhou para a cidade. Ao longe, um dos apoteóticos espetáculos de
fogos de artifício estava começando.
— Claro, por que não?

Com um suspiro baixinho de alívio, Kell plantou a última das cargas de


detonita e delicadamente armou a bomba. Evitar explosivos era uma coisa.
Evitar os explosivos de uma armadilha de outra pessoa era outra
completamente diferente.
— Zerba?
— Tudo pronto, — anunciou Zerba ao dar a volta pela curva do cofre e
prender a pochete agora protuberante na cintura. — E você?
— Pronto, — respondeu Kell.
Ele olhou para o buraco no teto. Bink deveria estar lá em cima, vigiando
para ver se eles ainda estavam no horário.
Só que ela não estava lá em cima. Não estava em lugar algum.
— Bink? — chamou Kell baixinho.
— Nem se incomode, — disse Zerba com um grunhido. — Ela já foi
embora faz tempo.
Kell ficou boquiaberto.
— Ela foi embora?
— É claro — falou Zerba. — Por que você acha que Bink deu o
detonador para Han? Ela jamais planejou ficar por aqui depois que abrisse o
cofre.
— Mas... — Kell olhou para cima novamente. Para onde foi?
— Onde você pensa? Zerba disse acidamente. Ela foi para resgatar sua
irmã.
Uma mulher solitária, carregando equipamento para roubos, fornecia
apenas as ferramentas de qualquer ladrão comum, sem armas, exceto uma
pequena luz blaster.
— Você nunca pode fazer isso — Kell murmurou.
— Não — Zerba concordou gravemente. Eu só espero que não seja
capturado no momento de estragar tudo isso para o resto de nós.
Kell olhou para ele.
— Como você pode…
— Porque esse é o tipo de negócio em que estamos, garoto — disse
Zerba calmamente. Você pode se juntar a alguém para um trabalho como
este, mas você tem que aprender a não fazer qualquer tipo de compromisso
a longo prazo. Nem mesmo nas profundezas do seu ser.
Ele fez um gesto.
— Vamos lá. Está na hora de se preparar.

Bink refletiu sobre o fato de que Han não tentou impedi-la, enquanto ele
atravessava a mansão. Zerba também não havia feito. Kell poderia ter
tentado, mas provavelmente não notara o fato de que ela os estava
abandonando.
Essa foi a parte do assunto que o incomodou. Ele trabalhou com um bom
número de pessoas nos últimos anos e nunca falhou com nenhum deles
antes.
Claro, ela não estava falhando nem Zerba nem qualquer um dos outros
que estavam aqui. Realmente não. Han agora tinha controle da situação e
Han sabia o que estava fazendo. Geralmente
Mas, às vezes, a percepção da culpa era ainda mais importante do que a
própria culpa.
Ele cerrou os dentes. Era sobre a irmã dele. Se eles não pudessem
entender, ou simplesmente não se importassem, então para o inferno com
todos eles.
E especialmente para o inferno com alguém que cruzou seu caminho com
o argumento de que ele estava indo para a boca do lobo, — na porta da suíte
de Qazadi, para ser morto. Isso seria alguém que não apenas não entenderia
a situação, mas também estaria insultando seu profissionalismo.
Diretamente à frente, o espaço entre os andares se estreitou para terminar
em outra porta pesadamente emoldurada que ela já havia cruzado duas
vezes. Soltando os ganchos que estavam presos no teto acima dela, ela
deslizou a cabeça e os ombros pela abertura, recolocou os ganchos do outro
lado e continuou se movendo. Pelo menos Han não deveria ter se
preocupado com isso, — pelo que ele tinha sido capaz de ouvir, no
momento em que ele contou a história enquanto esperavam na usina, —
ficou claro para ele que ele já tinha checado todos os ambientes aqui, e
concluiu que havia muito espaço para ela tornar invisível sua viagem pela
mansão.
Embora, para ser justo, talvez o que o incomodava, era como Bink seria
capaz de lidar com a distância vertical entre o segundo e o quarto andar. Os
poços dos elevadores eram as rotas óbvias, o que também significava que o
povo de Villachor os cobria.
Para sua sorte, havia uma rota que provavelmente nunca ocorreria a
nenhum deles.
Ele sempre se surpreendera com o número de edifícios com mais de cem
anos que incluíam quartos ou corredores escondidos em algum lugar. Talvez
os ricos e poderosos naqueles tempos tivessem sido mais paranóicos que
seus descendentes hoje, ou talvez simplesmente, gostassem do romance e
do glamour um tanto antiquados daquilo tudo. Visto que a mansão de
Villachor antigamente abrigara um governador de setor, Bink apostaria
muito que havia um conjunto inteiro de passagens de emergência
discretamente enfiadas em algum lugar entre as paredes.
Infelizmente, as plantas de Rachele não incluíam nenhum refúgio
escondido, e ela não tinha tempo para procurá-los.
Felizmente, aquelas mesmas plantas mostravam o elevador de cozinha.
Bink abriu caminho pela parede com pouco esforço e menos barulho
ainda. O poço era simplesmente tão estreito quanto ela esperava. Também
era fácil de passar para alguém do tamanho dela, que sabia o que estava
fazendo.
Bink entrou na passagem apertada e começou a escalar.

Os Zs eram coisas pesadas e volumosas, e mesmo com ajuda da força


ampliada dos trajes blindados, foram necessários quase dez minutos para
Uzior e seus homens retirarem do caminho a primeira das cinco fileiras de
droides. Villachor assistia em silêncio ao lado de Sheqoa, ouvindo os
segundos passarem, furiosamente ansioso para saber o que estava
acontecendo atrás daquela porta, mas igualmente determinado a manter o
medo e a frustração invisíveis para os homens de Qazadi.
Uzior começara a trabalhar na segunda fileira quando Villachor
subitamente notou que um sexto guarda blindado havia entrado na antessala
de mansinho, sem ser visto, e estava observando silenciosamente da parede
do outro lado da porta da caixa-forte.
— Quem é você? — indagou ele. — Quem é ele? — repetiu Villachor,
olhando feio para Sheqoa.
— Eu presumi que o senhor o tivesse chamado, — respondeu Sheqoa,
parecendo confuso. — Mais cedo, quando eu estava passando suas
instruções para os outros.
— Se eu o tivesse chamado, ele estaria ajudando, — rosnou Villachor
olhando feio para o recém-chegado. — Quem é você?
— Meu nome é Dygrig, — veio a voz filtrada do sujeito. — Sua
Excelência mestre Qazadi mandou que eu viesse e observasse.
Villachor disparou um olhar para Barbas e Narkan. A antessala inteira
estava começando a feder a vigo do Sol Negro.
— Ele disse para você colocar a minha armadura para a ocasião?
— O senhor já tinha falado que talvez houvesse confusão dentro da
caixa-forte, — lembrou Dygrig. — Sua Excelência achou que seria uma boa
ideia se outra pessoa viesse preparada.
Villachor respirou fundo, sentindo todo seu sistema sanguíneo prestes a
explodir. Para Qazadi ter mandado um dos guardas dele, vestido com um
dos trajes blindados de Villachor...
— Muito atencioso da parte de Sua Excelência, — respondeu ele lutando
ferozmente pelo autocontrole. Ficar enfurecido diante de testemunhas seria
toda a desculpa de que Qazadi precisaria para expulsá-lo e colocar outra
pessoa em seu lugar. — Já que está aqui, você pode dar uma mão para meus
homens.
— Eu recebi ordens de permanecer de prontidão para o que quer que
encontremos lá dentro, — opôs-se Dygrig calmamente. — Minhas ordens
não dizem nada sobre ajudar com as preliminares.
Não, obviamente Qazadi não queria que seus homens sujassem as mãos.
— Uzior?
— Vamos liberar a área em oito minutos, — prometeu Uzior.
— Eu posso chamar mais homens, — ofereceu Sheqoa.
— As equipes de busca encontraram o intruso?
Sheqoa torceu a cara.
— Não, senhor.
— Então nós vamos ter que nos virar, — disse Villachor.
Ele disparou um olhar para Dygrig, que agora o observava com o mesmo
distanciamento condescendente de Barbas e Narkan. Villachor prometera a
si mesmo que, caso sobrevivesse àquele desafio, encontraria uma forma de
Qazadi pagar por sua falta de tato, sendo vigo ou não.
— Mande a equipe de busca mais próxima ir à sala da guarda, —
ordenou ele para Sheqoa. — Se Qazadi tiver mais homens dele lá em cima,
pegando nosso equipamento sem permissão, eu quero ficar sabendo.

O comunicador de Rachele tocou, e ela respondeu:


— Relatório.
— Problemas, — disse Han com uma voz tão baixa que ela mal
conseguia ouvir. — Zerba, você trancou bem a sala da guarda depois que eu
saí?
— Tão bem quanto a tranca que estava lá permitia, — falou Zerba. —
Nós não soldamos a porta ou algo do gênero, se é isso que está
perguntando. Por quê?
— Villachor está mandando alguém aí, — disse Han. — No minuto em
que virem o buraco, o plano todo acaba. Haverá dez caras na caixa-forte
antes de Villachor terminar de gritar.
— E será o fim de Zerba e Kell, — falou Rachele com a cara fechada. —
Então explodimos agora?
— Não podemos, — respondeu Han. — Villachor ainda não abriu a porta
da caixa-forte.
— Tem certeza que precisamos de você para abri-lo? Kell perguntou. O
selo magnético não impediu a entrada do sabre de luz.
— Você não está usando um sabre de luz desta vez — Rachele lembrou.
Não sei o que o selo magnético poderia fazer, mas preferiria que não nos
arriscássemos.
— Tenha certeza de que, se você não quer se arriscar, nós também não —
concordou Zerba. Eu voto em nós para ir em frente e deixar Chewie e
Lando agirem.
— Espere — disse Bink. Eles ainda não podem intervir, não estou em
posição.
— Você tem dois minutos para entrar em posição — Han disse
duramente. Uzior diz que o cofre será aberto em oito. Precisamos de algo
para distrair os guardas desta parte da mansão, e esse algo é Chewie e
Lando.
— Você pode fazer isso, Bink? Kell perguntou.
— Eu tenho outra opção? Bink disse entre os dentes. Ok, continuo indo.
Mas se algo acontecer a Tavia, isso cairá em suas cabeças. E digo
literalmente.
— Eu sei — disse Han. Dois minutos, Rachele.
— Entendimento Rachele cruzou os dedos mentalmente enquanto
mudava para a frequência mais segura para contatar o comunicador de
Chewbacca. Chewie, Eanjer: dois minutos.

Ao longo dos anos, Bink acumulou uma extensa coleção de palavras que
eram mais apropriadas para esse tipo de situação. A caminho do topo do
poço do elevador, ele percorreu toda a lista deles.
Dois minutos. Ela ainda era metade de uma mansão longe de onde Tavia
estava sendo segurada, e Han estava dando a ela dois minutos miseráveis
para chegar lá.
Não havia como chegar lá pela brecha entre os andares. Suas técnicas de
gancho de aperto eram perfeitas para esse tipo de viagem sub-reptícia, mas
a natureza completa da operação exigia uma perspectiva de velocidade. E
mesmo a velocidade máxima não seria suficiente.
Que só o deixou com uma opção. Uma opção que, como a própria
empilhadeira, os projetistas originais da mansão, foram responsáveis por
fornecer.
Os ductos horizontais estavam justamente na parte superior do duto,
ramificando-se em direções opostas: um na direção da ala sudeste e o outro
na direção da ala nordeste. Em um duto completamente fechado, que
parecia tão pouco ameaçador como este, não haveria necessidade de
ganchos. Suas luvas padrão de atrito antiderrapante eram as únicas
ferramentas que ele precisaria, e ele poderia facilmente cobrir a distância na
metade do tempo que levaria para seguir a rota intermediária. Talvez até
dentro da janela de dois minutos que Han lhe dera.
O problema era que a rota entre andares permitia que ele escolhesse onde
sair do outro lado. Infelizmente, apenas uma saída existia na linha de
fornecimento de alimentos. Se Qazadi ou qualquer um de seus guardas
vigiasse a boca para a qual ela estava indo na hora errada, ela nem veria a
cena chegando.
Mas eu teria que tentar. Foi sobre Tavia. Era sobre a irmã dele.
Ele torceu o corpo em um ângulo ao redor da curva no topo do poço do
elevador, e empurrou o conduto, inclinando os ombros diagonalmente para
aproveitar ao máximo o espaço limitado. Agarrando-se às paredes laterais
de metal do duto com as luvas e começando a examinar sua lista completa
de maldições, ele foi direto para a escuridão.
Kastoni já estava começando a ficar perigosamente impaciente, e Lando
tinha sido reduzido a sua segunda e última linha de técnicas dilatórias,
quando toda a ala da mansão pareceu explodir em meio a uma cacofonia de
cerâmica, madeira e pedra quebrada.
E quando ele e Kastoni se viraram para a porta, um hovercraft rugiu pelo
corredor, saltando das paredes de ambos os lados. Kastoni mal teve tempo
de soltar uma maldição de horror enquanto um segundo veículo entrava
atrás do primeiro.
E logo atrás dos veículos, correndo como se suas vidas dependessem
disso, estavam Chewbacca e Eanjer.
Lando soltou um suspiro de alívio. Finalmente
— Em nome de ... -ele começou. Ele parou enquanto o rugido do
hovercraft foi substituído pelo rugido dos alarmes.
— Emergência! Kastoni gritou no comunicador de seu clipe quando ele
tirou seu blaster do caminho. O estacionamento foi invadido. Dois
hovercrafts estão se infiltrando livremente pela ala norte em direção à zona
central; Repito, dois hovercraft estão se movendo pela ala norte em direção
à área central.
Um "recebido" chegou e foi para a porta.
— O que eu posso fazer? Perguntou Lando, que estava atrás dele.
— Ele pode tirar sua bunda daqui — Kastoni rosnou. Aqui acabou.
Ele parou na porta, deslizou a cabeça para dar uma olhada rápida...
E ele desabou no chão quando Lando bateu com o punho diretamente
atrás da orelha esquerda de Kastoni.
Apertando a mão para abafar o súbito batimento cardíaco que sentia,
Lando se ajoelhou ao lado do homem inconsciente e pegou seu blaster. Por
um momento ele pensou em se comunicar com Rachele, mas decidiu que
não tinha tempo e correu atrás de Chewbacca.
Ele já havia presumido que o interior da mansão estaria essencialmente
deserto, com exceção do pessoal da cozinha que estava preparando os
refrescos para os visitantes do Festival que aconteciam do lado de fora.
Certamente, a maioria das forças de segurança estava do lado de fora,
vasculhando a multidão e tentando perseguir os últimos androides que
estavam fora de controle. Mas enquanto seguia o rastro de Chewbacca,
Eanjer e do hovercraft, ele encontrou um número surpreendente de pessoas
observando com medo, cautela ou descrença através das diferentes portas.
A maioria deles parecia ser de algum tipo de técnica, o que não era muito
surpreendente, já que eles estavam perto do estacionamento e da instalação
de reparo dos droides.
Um casal deles gentilmente apontou o caminho para o sargento da polícia
uniformizado que estava caçando, perseguindo os intrusos. Nenhum deles
fez qualquer movimento para detê-lo ou interpelá-lo.
Ele havia deixado a ala norte e estava descendo a larga escadaria que
levava à seção central e à ala nordeste, quando ouviu os primeiros sons de
tiros a laser.

O comunicador integrado na armadura de Han, estava ligado ao canal de


segurança do Tesouro de Mármore, o que significava que ele recebia as
notícias sobre o hovercraft ao mesmo tempo que Sheqoa, e alguns segundos
antes de Villachor.
Ele esperava que Villachor ficasse furioso com o relato de que algo mais
estava errado. Mas em vez de queimar, a atitude do senhor do crime ficou
congelada.
— Ele informa Sua Excelência que ele pode encontrar-se com intrusos
em seu caminho — disse a Sheqoa imperturbável. Ele fez um gesto para
Barbas e Narkan. — Talvez vocês devessem ir ajudar na defesa de seu
senhor.
Os dois homens trocaram olhares. Barbas concordou com a cabeça em
silêncio, e eles cruzaram a antessala e saíram pela porta norte em passos
rápidos.
Han torceu a cara. Tomara que Chewbacca e Lando soubessem ficar de
olho nos problemas que surgissem pelas costas.
— Você pode ir com eles, — acrescentou Villachor.
Han piscou para tirar da mente a visualização tática. Villachor estava
olhando para ele, com o mesmo gelo mortal nos olhos.
— Eu recebi ordens para ficar aqui, — falou Han. — Eu irei embora se e
quando receber novas ordens.
— Você vai embora quando eu ordenar para que vá embora, — disse
Villachor calmamente. — Isto ainda é meu território. Minha palavra é a lei
aqui, não a de mestre Qazadi.
— Eu compreendo, mestre Villachor — falou Han, tentando usar a
mistura certa de respeito e arrogância que tantos oficiais de médio escalão
da Frota dominavam. — E eu não tenho intenção de violar esse comando,
mas...
— Alerta! — surgiu subitamente uma voz tensa no comunicador do traje.
— A caixa-forte foi invadida por cima. Repito, a caixa-forte foi invadida.
— Senhor, a caixa-forte foi invadida, — informou Sheqoa urgentemente
para Villachor. — Parece que eles entraram pela sala da guarda.
Por um instante, Villachor apenas olhou fixamente para Sheqoa. Depois
ele se virou para os homens que removiam os Zs imóveis.
— Abram aquela porta agora! — rosnou Villachor.
Ele apontou para Han.
— E prendam esse homem.
CAPÍTULO

23

Nervoso, Lando notou que os disparos de raios estavam ficando mais


altos e intensos enquanto subia correndo a escada, três degraus de cada vez.
Até agora ele não tinha visto nenhum dos guardas de Villachor subindo por
trás, mas isso deveria acontecer muito em breve.
O ideal seria que o tiroteio tivesse parado no momento em que Lando
chegasse ao quarto andar da ala nordeste. No meio do corredor, estava o
motivo de os disparos continuarem. Um dos dois airspeeders havia parado
no meio do piso, bloqueando o que vinha atrás. Chewbacca e Eanjer
estavam agachados atrás do segundo veículo; o Wookiee mexia no controle
remoto tentando fazer o airspeeder ultrapassar o danificado. No fim do
corredor, um Falleen e um par de guardas humanos estavam agachados
atrás de um fuzil de raios de repetição F-Web que disparava uma rajada
contínua nos airspeeders, enquanto um segundo Falleen estava deitado ao
lado deles mirando com o que parecia ser uma versão pirata de um
BlasTech T-21.
Lando parou ao lado de Eanjer.
— Por que a demora? — berrou ele mais alto que o tiroteio.
— Acertaram um tiro da sorte — berrou Eanjer de volta. — Chewie acha
que consegue consertar, mas vai levar tempo, e nós precisamos fazer o
outro airspeeder passar para mantermos a pressão sobre os atiradores no
fundo do corredor.
— Por que você não... — Lando matou a pergunta.
Era óbvio que Eanjer não podia fazer o conserto por Chewbacca. O
controle remoto precisava de duas mãos, e a mão direita medselada de
Eanjer era inútil.
— Chewie, passe o controle para mim — disse ele para o Wookiee. —
Eu darei um jeito. Conserte o outro.
Chewbacca vociferou e enfiou o controle nas mãos de Lando, depois se
deitou no chão e rastejou até o airspeeder derrubado.
Com um airspeeder normal, Lando poderia simplesmente ter colidido o
segundo em cima do primeiro, amassando ou quebrando o canopi do
primeiro veículo para criar o espaço que precisasse. Mas os airspeeders de
Villachor eram reforçados e blindados demais para isso, o que
coincidentemente também era o motivo de eles já não terem sido fatiados
pelos disparos de raios vindos da outra ponta do corredor. Os esforços de
Chewie já tinham derrubado parte do teto; infelizmente, o vão entre pisos
não tinha lhe dado suficiente espaço extra para fazer o airspeeder passar.
Mas o Wookiee ainda não havia tentado bater contra as paredes. Se elas
fossem suficientemente finas, e se houvesse bastante espaço pelas laterais
do corredor, talvez isso funcionasse.
Lando fez o airspeeder que pairava no ar recuar alguns metros virou o
veículo na direção da parede e se preparou para a colisão.

O fim do duto do elevador de cozinha não estava a mais do que 20


metros à frente quando o corredor à esquerda de Bink explodiu com o som
de disparos de raios abafados.
Ela praguejou novamente e tentou arrancar um pouco mais de velocidade
do rastejo lateral. Lando e Chewie haviam começado o ataque, e o tempo de
Tavia estava se esgotando. Até mesmo um vigo do Sol Negro podia somar
dois mais dois, e um ataque à suíte de Qazadi enquanto ele abrigava um
prisioneiro era uma ligação óbvia demais para não ser percebida.
A guerra do lado de fora tinha entrado em um padrão constante, e havia
pelo menos um fuzil de raios de repetição em operação quando ela chegou
ao fim do duto. Bink tirou as luvas de fricção e sacou a arma de raios de
pequeno porte. Com uma expressão de determinação, ela colocou a outra
mão na porta do duto e empurrou.
Bink temia que a porta estivesse trancada e ela tivesse que desperdiçar
preciosos segundos passando uma sonda em volta dos selos de borracha
para pegar o ferrolho. Mas não havia tranca, nem ferrolho. Ela abriu a porta
de mansinho e prestou atenção da melhor maneira possível diante do
barulho, à procura de algum sinal de que a sensacional porta que abria
sozinha tivesse sido percebida.
Nada. Bink se segurou na borda e saiu pela passagem.
Ela se deparou com a sala de jantar mais deslumbrante que
provavelmente vira na vida. Havia duas portas de saída, e uma delas estava
entreaberta. Bink cruzou o ambiente até a porta e espiou pelo vão.
E sentiu um nó no estômago. Tavia realmente estava ali, sentada em um
sofá de encosto baixo, com as costas para a porta de Bink. Ela não
conseguia enxergar o rosto da irmã, mas podia ver a tensão nos ombros
dela. Sentado em uma cadeira de espaldar alto em frente a Tavia, estava um
Falleen com um traje ao estilo real completamente intimidante. Qazadi, sem
dúvida. Os olhos estavam voltados para a porta do corredor à direita dele, a
expressão era fria e calculista, com um sinal de sorriso macabro nos lábios.
Entre Qazadi e a porta, virados para o tiroteio abafado com as armas
sacadas e de prontidão, estavam dois guarda-costas Falleen.
Bink era uma ladra fantasma, não um soldado, uma assassina, ou mesmo
uma contrabandista. Ela normalmente portava uma arma de raios em
serviço, mas apenas porque era uma ferramenta ocasionalmente útil. Bink
havia atirado contra outro ser vivo exatamente duas vezes na vida, e em
ambas as ocasiões a intenção era conter a pessoa para que ela pudesse fugir.
Até onde ela sabia, nenhum daqueles tiros tinha acertado, muito menos
causado algum dano de verdade.
Agora ela teria que atirar em dois Falleens. Pelas costas.
Para matar.
Mas não havia outro jeito. Não se ela quisesse tirar Tavia e a si mesma
com vida dali. Com um nó tão apertado na garganta que Bink sentia como
se estivesse sendo esganada, ela pegou na arma com as duas mãos, alinhou
o cano com o primeiro guarda e apertou o gatilho.
Ele estremeceu como se tivesse levado um tapa na cara, as pernas
desmoronaram e o derrubaram no chão sem fazer barulho. O segundo
guarda estava começando uma espécie de pulo giratório de lado quando o
segundo disparo de Bink arrancou uma pequena nuvem de tecido e pele do
torso dele. Ele caiu esparramado no chão, com tanta força que Bink fez uma
careta de dor solidária. Ela empurrou a porta com o pé para terminar de
abri-la e virou a arma de raios para Qazadi.
— Não se mexa — alertou Bink.
— Eu não pensaria nisso, — disse o Falleen friamente.
Ele e Tavia estavam olhando para Bink agora, Qazadi sentado nas
profundezas da cadeira, Tavia por cima das costas baixas do sofá. O Falleen
estava sorrindo abertamente, e o olhar se alternava entre Bink e Tavia. A
expressão da irmã, em comparação, estava tensa e assustada.
— Agora finalmente nós temos a solução do quebra-cabeças, —
continuou Qazadi. — Muito inteligente. — Ele ergueu a mão para Bink. —
Você, imagino, é a ladra com a tinta rastreadora nas mãos?
— Apenas não se mexa, — ordenou Bink.
A onda de adrenalina do breve combate estava passando, e conforme o
cérebro funcionava novamente, ela se deu conta de que não fazia ideia do
que faria a seguir. Obviamente, Bink e a irmã não poderiam sair da mesma
forma como ela havia entrado, — tudo que Qazadi precisava fazer era
cruzar a sala de jantar, disparar alguns tiros pelo duto e dar o assunto como
encerrado.
Mas com a guerra barulhenta se desenrolando no corredor, aquele
caminho também não era uma direção especialmente salutar para correr.
A não ser que as duas mulheres levassem um refém com elas.
— Em pé, — ordenou Bink ao entrar completamente na sala.
Ela notou subitamente que o sorriso do Falleen era radiante, com certeza.
Estranho que não tivesse percebido isso antes.
— Você vai sair por aquela porta. — Bink se interrompeu.
O sorriso não era simplesmente radiante, era praticamente virtuoso.
Virtuoso, piedoso, amoroso...
E então, abruptamente, Bink compreendeu.
Mas era tarde. Era tarde demais.
Malditos feromônios de Falleen, raios.
— Por favor — convidou Qazadi ao gesticular para o assento ao lado de
Tavia. — Temos tanta coisa para conversar. Mestre Villachor, lorde Aziel,
isto aqui.
Ele indicou uma mesinha lateral com a cabeça, onde o falso cryodex de
Winter estava exposto com destaque.
Bink olhou para o rosto tenso de Tavia. Não havia esperança ali, a irmã
estava tão perdida no encantamento químico de Qazadi quanto ela.
Provavelmente até mais.
Bink estava com a arma de raios de prontidão na mão. Já usara duas
vezes. Com certeza podia usar de novo.
Só que não podia. Enquanto o cérebro ordenava que a mão se erguesse e
atirasse, o coração mandava que a mão permanecesse ao lado do corpo.
E dessa vez, o coração falou mais forte.
O que significava que tudo havia acabado. Ela e Tavia estavam perdidas.
Assim como, provavelmente, o resto da equipe de Han.
E ao afundar ao lado da irmã no sofá, Bink percebeu que havia acabado
de matar dois seres vivos. A troco de nada.

Ainda havia dois Zs imóveis em frente à porta da caixa-forte, mas o


caminho estava finalmente livre o suficiente para Villachor chegar ao
teclado. Ele desdobrou o equipamento da parede e digitou o código de
acesso com tanta força que Han achou um pouco surpreendente que os
dedos não tivessem varado as teclas. A porta se abriu e Han esticou o
pescoço para olhar.
O cofre foi parado perto do centro do cofre, assim como a plataforma que
normalmente o movia pela sala, que flutuava imóvel naquele momento. O
segmento drop-down da área que deu lugar ao gabinete Hijarna pedra
estava pendurada aberta no meio, e Han não precisava potenciadores de
áudio do seu capacete para ouvir as maldições torcidas Villachor quando ela
O cofre foi violado. Bem no limite do campo de visão de Han, dois
seguranças deslizavam pela corda de sintetizador que Bink deixara
pendurado, os engenheiros prontos enquanto exploravam a sala.
— Cuidado, senhor — disse um deles, indo para a porta. Nos dê um
momento para ter certeza de que está claro.
Villachor os ignorou. Fez sinal para que três dos guardas armados
avançassem e, quando entraram no cofre, os outros dois apontaram na
direção de Han novamente, para o caso de terem esquecido que tinha que
ser mantido. em custódia. Virando novamente, Villachor entrou no cofre
atrás dos três guardas, enquanto seus dois guarda-costas habituais e Sheqoa
estavam indo para o interior muito perto dele.
Os dois guardas restantes cercaram Han, com suas mãos enormes
descansando em advertência, em seus engenheiros de caçamba. Han
colocou as mãos na cabeça, apenas para mostrar que sabia o procedimento
adequado para qualquer prisioneiro.
E enquanto ele passava a mão pela face direita da flange do capacete,
passou um dedo pelo detonador que Bink lhe dera e empurrou-o
gentilmente para a frente.

Com um impulso final, e enquanto produzia um desmoronamento de


madeira e pedra, o hovercraft esmagou o suficiente da parede lateral do
corredor para abrir um caminho que permitiria ir além do veículo entupido.
Dando um último impulso ao controle remoto, Lando girou o veículo
deslizando-o pelo último meio metro da superfície da parede e conseguiu
movê-lo à frente de seu parceiro caído.
E com isso, eles finalmente estavam prontos para atacar o outro extremo,
onde o objetivo estava finalmente ao alcance. O F-Webs foram
implementadas com geradores de escudo construídas, mas Lando teria
apostado fortemente que um escudo concebido para desviar pequenas armas
de fogo não seria capaz de fazer muito contra um hovercraft blindadas lança
em uma corrida para uma centena de quilômetros por hora.
Apenas começando a posicionar o hovercraft para enfileirar para sua
nova carreira, quando o fogo da F-Web começou a se intensificar, de
repente, enquanto guardas Qazadi viu a morte vem como um veículo
blindado preto em direção a eles. Naquele momento, abruptamente, Eanjer
saltou e foi para trás do hovercraft rugindo.
— Janjer! Lando gritou atrás dele. Volte aqui!
Mas já era tarde demais. Eanjer foi instalado e funcionando, as pernas de
bombeamento com força e velocidade, Lando nunca teria imaginado que o
homem tinha, tamborilando atrás do hovercraft como se fosse um burocrata
Centro Imperial tentando embarcar em um Airbus .
Lando assobiou uma maldição. Tinha planejado para manter o hovercraft
logo abaixo do teto até o último segundo, apresentando tanto a parte inferior
blindado que pôde contra o fogo inimigo para protegê-lo, na esperança de
que o tiroteio dos blasters não têm o mesmo tipo de acaso que havia
derrubado o primeiro veículo. Mas com Eanjer correndo como um louco
diretamente em frente à linha de fogo, essa não era mais uma opção viável.
Franzindo a testa, ele deixou cair o controle quase ao nível do solo,
movendo sua massa para tentar fornecer a Eanjer a maior cobertura
possível.
E, claro, deixou o veículo mais vulnerável a ataques. Se os guardas o
derrubassem antes de Lando poder virá-lo de lado e varrer tanto os homens
quanto o F-Web para tirá-los da jogada, como ele esperava fazer, Lando e
Chewbacca teriam que simplesmente usar o próprio Eanjer como escudo
quando invadissem a suíte de Qazadi.

Com uma brusquidão que passou uma forte impressão para Dayja de que
tinha sido premeditada, o grande espetáculo de fogos de Marblewood
começou em toda a sua plena glória brilhante. Não apenas com os rojões de
baixa altitude que ele tinha visto antes, mas também com os explosivos
mais altos e rebuscados, quase de nível militar.
O problema era que o escudo abrangente ainda estava ligado. E quando
os rojões acertaram o campo de energia invisível, explodindo
prematuramente e provocando uma chuva de fogo no solo, aquilo foi a gota
d’água para a multidão lá embaixo. Com berros, xingamentos e uma
dispersão de gritos histéricos, a multidão se desmanchou em caos.
Um pedaço dos destroços flamejantes caiu no telhado a mais ou menos 5
metros da chaminé de Dayja. Ele recuou e pegou o comunicador. Basta! Se
aquilo era coisa de Eanjer ou apenas um acidente, Dayja não podia ficar
mais sentado assistindo.
Outro disparo explodiu contra o escudo e provocou uma chuva de
fragmentos sobre a multidão, e com uma sensação de resignação, Dayja
guardou o comunicador. Era tarde demais. O pânico havia começado, e não
havia nada que ele, a polícia ou qualquer um dos outros serviços de
emergência da Cidade de lltarr pudessem fazer a respeito.
Tudo o que ele podia fazer agora era assistir.

Han havia avisado Kell que a coisa toda teria que se desdobrar
rapidamente. O garoto havia pego a palavra.
O detonito que foi colocado sob a plataforma flutuante foi o primeiro; um
grupo de pequenas cargas decepcionantes que deixaram as linhas de energia
de todos os repulsores na metade dianteira desabilitadas. A plataforma
manteve sua posição por não mais do que meio segundo, e então a borda de
ataque caiu no chão, produzindo um acidente explosivo. Quase mascarado
pelo eco ensurdecedor, houve uma crise ainda mais profunda, enquanto o
pilar enfraquecido que conectado com o chão que havia sido enfraquecida
por Zerba- sabre de luz, dobrados e entrou em colapso sob o súbito e
pressão inesperada. Outro meio segundo, e cargas finais de Kell explodiu,
arrancando pedaços duracrete da parte traseira do cofre, e um par de detonar
carga em forma explosiva que thunderously Shook ouvidos, que veio das
armadilhas poderosos caza- peitos que haviam sido enterrados abaixo da
superfície.
Com a aparência de uma miniatura da Estrela da Morte explodindo nos
sistemas de pós-combustão, e com um rugido que parecia abalar para baixo
toda a mansão, o cofre caiu de seu pilar, rolou para baixo da plataforma
inclinada, e fez contato com o chão.
Por um segundo eterno, Villachor e seus homens observaram, incrédulos,
a esfera de seis metros de diâmetro que se dirigia para eles. Então, quase em
perfeito sincronismo, eles entraram em choque descontroladamente em sua
tentativa de sair do caminho deles.
Villachor e seus dois guarda-costas tiveram sucesso. Sheqoa e os outros
três guardas não conseguiram.
Mesmo antes de desaparecerem abaixo da esfera, Han já estava se
movendo, dando um passo à frente e se plantando entre os dois guardas, que
agora assistiam boquiabertos ao drama que se desenrolava dentro da caixa-
forte. Han colocou as mãos no peito deles e empurrou com o máximo de
força possível para cada lado.
Os trajes eram pesados, mas a força ampliada de Han foi mais do que
suficiente para a tarefa. Os guardas voaram para trás uns bons 3 metros
antes de caírem esparramados no chão, talvez longe o suficiente para
estarem fora do caminho da esfera que se aproximava, mas Han realmente
não se importava tanto assim, de uma forma ou de outra.
Agora ele estava mais preocupado com a vida das centenas de cidadãos
que poderiam estar andando ou parados diretamente no caminho de um
colosso rolante prestes a irromper pela parede da mansão. Os disparadores
de fogos de artifício instalados anteriormente por Kell e Zerba deveriam ter
feito a maior parte da multidão ir na direção das saídas, mas sempre havia
alguns que eram valentes, distraídos ou estúpidos demais para saber quando
era a hora de ir embora.
Para essas pessoas, o cofre rolante provavelmente seria o último erro de
cálculo que elas fariam na vida.
O cofre estava quase chegando à parede blindada da caixa-forte. Han deu
meia-volta, correu para a porta lateral da antessala e esvaziou a Caliban
emprestada na parede em volta da porta enquanto corria. A arma de raios
ficou vazia; Han a jogou fora e se lançou contra a porta, torcendo que a
armadura fosse tão resistente quanto parecia.
Era sim. Han atravessou a porta praticamente sem se abalar, e um enorme
trecho da parede veio com ele. A saída mais próxima para o lado de fora da
mansão ficava a 30 metros de distância, para o sul; Han recuperou o
equilíbrio e se virou para lá, torcendo fervorosamente para que conseguisse
ser mais rápido do que a esfera lá fora. Atrás dele, Han ouviu o ruído
violento de destruição conforme a esfera avançava pela blindagem da caixa-
forte...
E eis que ele saiu pela porta do pátio e se voltou para o caminho da
esfera.
Han estava certo em relação à multidão. A maioria das pessoas já estava
bem longe, correndo para os portões enquanto os fogos de artifício
explodiam espetacularmente contra o escudo abrangente acima delas. Mas
algumas dezenas de visitantes ainda estavam por ali e observavam as falhas
dos fogos com uma informalidade ou arrogância que parecia ensaiada.
Han revirou os olhos. Até ele sabia que deveria se abrigar quando chovia,
especialmente quando a chuva era feita de brasas. Ainda assim, se
explosões aleatórias no céu não eram suficientes para fazer esses últimos
teimosos andarem, talvez algo mais íntimo e pessoal fosse.
Ele tirou o chicote neurônico do cinto, ativou-o e girou-o bem acima da
cabeça.
A maioria dos indolentes já tinha visto Han na armadura reluzente. Todos
viram o brilho branco-azulado do chicote, que estalava e chiava.
— Andem! — berrou Han enquanto girava o chicote acima da cabeça. —
Saiam daqui... agora!
Eles finalmente entraram em movimento, correndo como um Toong
assustado, quando a esfera irrompeu pela parede externa da mansão e rolou
pelo pátio, destruindo as pedras da pavimentação embaixo dela ao passar.
Dez metros à frente do cofre, onde a pavimentação cedia espaço para a
grama, uma cerca de estacas se erguia do solo e circundava a mansão como
uma floresta eletrificada e mortal de 6 metros de altura.
O cofre atravessou rolando a cerca sem sequer desacelerar.
Han passou se abaixando pelo vão que ainda chiava e forçou os limites
de velocidade e força da armadura para correr em volta do cofre e chegar à
frente dele. Novamente girando o chicote freneticamente acima da cabeça,
ele avançou.
Aquela era uma das façanhas mais malucas que Han realizara na vida.
Mas estava funcionando. No escuro, com a distração dos fogos de artifício,
muitas das pessoas no caminho da esfera provavelmente jamais teriam visto
o perigo até que fosse tarde demais. Mas uma figura de armadura com um
chicote azul brilhante era impossível não ver. Elas se espalharam diante de
Han, a maioria entendeu a situação e correu para as saídas, os demais
dispararam em todas as direções, exceto o vetor em que Han e o cofre
seguiam.
Ele continuou em frente, observando o cofre no monitor traseiro,
torcendo para que conseguisse se manter a salvo até que a esfera finalmente
perdesse o ímpeto. Torcendo, também, para que ela não pegasse a parte de
trás da grande multidão que se dirigia para as saídas, deixasse um enorme
rastro de morte entre as pessoas e depois quebrasse o muro exterior e
entrasse no intenso tráfego da Cidade de Iltarr.
Han torcia muito, muito mesmo para que isso não acontecesse.

De lá de fora no corredor veio um estrondo horrendo, acompanhado por


um som estridente de metal no permacreto que Bink às vezes ouvia quando
um airspeeder batido caía em uma plataforma de pouso e deslizava sobre
ela.
E quando o som estridente passou, ela percebeu que os disparos também
haviam parado.
Ele olhou para Qazadi. Seus olhos estavam fixos na porta, sua expressão
fria e dura.
— Fique quieto — disse ele para as duas mulheres. Não faça barulho Sua
mão mergulhou em sua capa e reapareceu segurando um blaster. Permaneça
sentado em silêncio e veja seus amigos morrerem.
Bink ingestão, lutando contra irrazoável senti calmo e até mesmo contra
o sentimento mais razoável de amor e alegria que flui através dele. Aqueles
que estavam lá fora, eram seus companheiros de equipe. Ele simplesmente
não podia deixá-los entrar no alcance de fogo do explosivo Qazadi. Eu tive
que fazer algo para parar.
Só não consegui. Ele não conseguia nem ouvir sua voz, para não
mencionar fazer algo com a mão.
Sua mão. Ele olhou para o colo, em direção ao raio de luz que estava lá.
Qazadi tinha permitido que ele retivesse a arma, sabendo que ele não seria
capaz de usá-la contra ele.
E ele estava certo. Ela queria que sua mão se movesse, ela queria com
toda a força dentro dela. Mas a mão dele ficou onde estava. Blaster ainda
permanecem lá, sem sucesso, e ela ficou lá permanecem inutilmente, e
assistindo seus companheiros de equipe veio por aquela porta e morreu.
— Há uma coisa que você está esquecendo, Mestre Qazadi — disse
Tavia.
Bink balançou a cabeça, olhando incrédulo para sua irmã. O rosto de
Tavia estava contraído e congestionado, a ponto de ser quase irreconhecível.
O tom de sua voz era monótona e hesitante, e as palavras soavam como se
tivessem sido completamente esmagado individualmente moinho de grãos
sob um agricultor.
Qazadi ordenou que ele não falasse. Entretanto, ela estava falando. Pelo
rabo do olho, Bink viu Qazadi se virar para olhar, aparentemente tão
surpreso quanto ela.
— Eu lhe disse para ficar calada, — falou ele.
— O senhor está esquecendo, — Tavia conseguiu dizer com dificuldade,
praticamente ofegante com o incrível esforço mental, — que nós não
viemos aqui sozinhas. O senhor está esquecendo... que eles são nossos
amigos.
— Eu disse fique calada! — rosnou o Falleen, que virou a arma de raios
para ela.
Com um estouro violento de madeira e pedra, a porta do corredor
explodiu para dentro.
Qazadi foi pego de surpresa, e seu braço tremeu com o impacto dos
destroços quando ele tentou reposicionar a arma no alvo. Através da nuvem
de fumaça, Bink viu uma figura entrar calmamente na sala.
Ela ficou sem ar. Havia presumido que seria Chewbacca ou Lando quem
estaria arriscando a vida para salvá-las. Mas não era nenhum deles.
Era Eanjer.
As mãos estavam espalmadas diante dele como se Eanjer estivesse se
rendendo; a mão direita deformada envolta no medselo, a esquerda aberta e
vazia.
— Eu lhe trago uma proposta, Vossa Excelência, — falou ele, mais alto
do que o barulho abafado dos estilhaços da porta caindo no chão e na
mobília.
— Eu não faço acordos — rosnou Qazadi, que apontou a arma de raios
para o intruso...
Um tiro verde irrompeu da mão direita deformada de Eanjer, cruzou a
sala e acertou bem no meio do rosto de Qazadi.
E enquanto rosnava desafiadoramente, o Falleen desmoronou na cadeira.
Morto.
Bink encarou Eanjer e abaixou o olhar para o buraco fumegante na mão
medselada. Ela percebeu que a mão não tinha aquela aparência porque era
deformada ou porque fora substituída por uma estranha prótese alienígena.
A mão tinha aquela aparência porque era uma mão humana normal,
completamente funcional, segurando uma arma de raios de pequeno porte.
Bink ergueu o olhar para o olho perfeito de Eanjer.
— Você...
— Era ele ou nós, — disse ele calmamente. — Vocês duas estão bem?
— Estamos, — garantiu Tavia com a voz ainda rouca, mas Bink notou
que ela estava começando a se recuperar.
Assim como o próprio cérebro de Bink. Sem os feromônios, ela sentiu a
bruma se dispersando rapidamente.
— Qual é o plano? — perguntou ela ao pegar a arma de raios no colo e se
levantar.
— Sair daqui, — respondeu Eanjer indicando com a cabeça o buraco
irregular atrás dele. — Lando e Chewie estão esperando ao lado do outro
airspeeder. Vamos.
Bink concordou com a cabeça, pegou o braço da irmã e ajudou Tavia a
ficar de pé.
— E quanto a você? — perguntou ela enquanto guiava Tavia sobre os
destroços.
— Eu quero pegar o cryodex, — falou Eanjer. A meia boca deu meio
sorriso. — Melhor deixá-los na dúvida. Vamos, vamos.
Bink levou sua irmã para o corredor, observando que nas proximidades,
um speeder meio esmagado estava à sua direita, e que um desintegrador
quebrado da F-Web estava emergindo a meio caminho de baixo dele. À sua
esquerda, Lando e Chewbacca agachavam-se atrás de um veloz oscilante,
os olhos e as metralhadoras apontavam para o outro lado do corredor. Ele
virou Tavia naquela direção. Quando saíram da sala, ele parou para dar a
Qazadi um último olhar, imaginando como sua mente poderia ter sido
levada a pensar que ele era bom, gentil e amoroso.
E porque ele estava olhando naquela direção, viu Eanjer em pé no corpo
da Falleen.
Ela não podia ter certeza, não com o olhar rápido e único que ela lhe
dera. Mas pareceu-lhe que ele estava vendo um holograma ...

Dayja pensou, atordoado, que parecia algo saído de uma holonovela


insana, enquanto observava a cena se desdobrar embaixo dele. Uma figura
blindada acenou com um chicote neurônico sobre os últimos remanescentes
da multidão noturna, puxando-os para fora do caminho de uma esfera
gigante que rolava inexoravelmente pelos terrenos do Tesouro de Mármore.
Ele esperava que a equipe de Eanjer roubasse o conteúdo do cofre de
Villachor. Eu nunca teria sonhado que eles planejavam roubar o cofre em si.
Nem teria pensado que, quando o roubo fosse executado, ele se veria
preso no telhado da mansão, a meio quilômetro de onde a ação estava indo.
Tanto quanto não ser capaz de entrar e apreender os arquivos de
chantagem antes que os patifes fizessem sua fuga.
No entanto, isso ainda não acabou. Eanjer prometera a ele os arquivos, e
com certeza ele ainda estava na cena. Em algum lugar.
O cofre estava praticamente invisível enquanto rolava para fora do
alcance das luzes da mansão e dos estalos reluzentes da cerca de varas. Mas
o brilho inconfundível do chicote neurônico mais do que compensava a
ausência de luz, e o cofre em si ficava esporadicamente visível nos breves
clarões dos fogos de artifício.
Dayja pegou os eletrobinóculos e começou uma cuidadosa varredura da
área. Se Eanjer estivesse lá fora, ele o encontraria.

Parecia, pensou Han mais de uma vez, com algo saído de uma
holonovela insana.
Ele esperava que o cofre rolasse em uma bela linha reta. Não rolou. O
segmento aberto da esfera ocasionalmente se prendia no chão, o que às
vezes atrasava o ímpeto à frente, e em outras alterava drasticamente a
direção. Han tinha que prestar atenção no monitor traseiro do capacete para
evitar perder completamente a esfera, ao mesmo tempo que continuava a
interpretar o papel do droide descontrolado enquanto tirava as pessoas do
caminho do perigo.
Algumas vezes Han pensou ter visto alguns seguranças de Villachor, mas
eles estavam tão boquiabertos quanto os visitantes. Nenhum dos seguranças
fez qualquer esforço para detê-lo. Quando estava já no meio das
dependências, o segmento finalmente bateu no solo com força suficiente
para se quebrar. Depois disso, o trajeto da esfera ficou muito mais
previsível.
Por alguns maus momentos, Han pensou que sua preocupação anterior
seria confirmada, de que a esfera realmente fosse atravessar o muro e entrar
na cidade. Mas, pelo menos dessa vez, o pior não aconteceu. A esfera
desacelerou e finalmente parou a cerca de 50 metros do muro. Han desligou
o chicote, deu meia-volta e voltou-se para ela.
Ele estava olhando para o túnel formado pelo armário de pedra Hijarna,
quando a porta se abriu, e Zerba e Kell se arrastaram de maneira insegura.
— Eles estão bem? Han perguntou a eles.
— Isso foi ótimo — disse Kell, soando e parecendo estar bêbado.
Lembre-me de nunca mais fazer isso.
— Sempre será melhor do que andar — disse Zerba. Especialmente
quando há pessoas que estão atirando em você.
— Contanto que a sua porta não termine na parte inferior — disse Han,
enquanto os ajudava a sair do túnel e ir para o chão.
— Não foi por acaso — assegurou-lhe Zerba. O gabinete estava fora do
centro da esfera, e a pedra Hijarna é muito mais densa que o duracreto. O
mesmo princípio que o dado cobrado.
— Eu vou acreditar sua palavra, — eu disse Han. Um ruído fora
explosões da direção da mansão foi ouvido, e se virou para ver um avanço
do acelerador do caminhão vários passageiros, atravessando a abertura
segura tinha produzido na cerca de arame farpado eletrificada, e que se
dirigia a eles pelo meio dos jardins.
Atrás dele, uma chuva de fogos de artifício estava furiosa nas paredes da
sala.
— Que bom — disse Zerba com aprovação. Eu acho que não há chance
de eles queimarem completamente o lugar.
— Provavelmente não — disse Han. Mas, desde que eles tenham que
lidar com o que resta de segurança, não acho que eles nos incomodem.
— A menos que esses sejam alguns deles — alertou Kell, apontando com
um dedo ainda instável em direção ao veículo que se aproximava.
— É apenas sobre Chewie — assegurou Han.
— Tem certeza? Kell perguntou.
Han concordou com a cabeça.
— Eu conheço o estilo de voo dele.
Mesmo assim, não faria mal verificar. Han ligou a visão telescópica do
traje e deu um zoom na speeder van. Era realmente Chewbacca, com Lando
e as gêmeas com ele.
Não havia sinal de Eanjer.
Han franziu a testa e melhorou a captação da imagem, caso tivesse
deixado de ver Eanjer nas sombras, em algum dos bancos detrás. Mas o
homem não estava ali. Han franziu ainda mais a testa e mudou a atenção
para as dependências atrás da speeder van, depois para a mansão. Ainda não
havia sinal de Eanjer.
Ele estava verificando as janelas da mansão para ver se o sujeito poderia
estar preso lá dentro quando algo acima delas chamou a atenção.
Havia um homem sentado no telhado.
Han aumentou um pouco a visão telescópica. Não apenas havia um
homem sentado calmamente lá em cima, mas ele estava com um par de
eletrobinóculos nos olhos. Alguma espécie de observador?
Mas aqueles não eram eletrobinóculos comuns, Han percebeu ao se
concentrar no equipamento. Eles eram pequenos e compactos, do tipo que a
pessoa poderia enfiar em um bolso lateral sem sequer ser notado. O tipo
caro de eletrobinóculos que um oficial imperial do alto escalão usaria.
Um oficial do alto escalão ou um agente imperial.
Irrefletidamente, Han afastou o olhar. Dozer havia especulado mais cedo
que o contato de Eanjer pudesse ser um imperial. Parece que ele estava
certo.
— Pegaram tudo? — perguntou ele para Zerba enquanto tirava o
capacete e soltava as presilhas da armadura do torso.
— Bem aqui, — confirmou Zerba dando um tapinha na pochete da
cintura. — Arquivos de contrabando, outros cartões de dados variados, e
todas as fichas de crédito de Eanjer.
— Ótimo, — disse Han soltando a armadura do braço e do torso no chão.
— Deixe comigo. Kell, pode me dar uma mão para sair dessa coisa?
Na luz refletida, ele viu Zerba franzir a testa. Mas o outro simplesmente
soltou a pochete e a entregou.
A armadura tinha sido retirada e Han estava revirando a pochete quando
a speeder van freou ao lado deles. A porta se abriu e Chewbacca rosnou.
— Sim, quase, — falou Han. — Onde está Eanjer?
— Ele ficou para trás a fim de virar mais alguns canhões de fogos de
artifício na direção da mansão, — respondeu Lando enquanto saía pelo
outro lado e ia na direção de Han. — Eanjer disse que vai ao ponto de
encontro por conta própria. — Ele esticou a mão. — Se você não se
importa, eu vou pegar a minha parte agora.
Han fez uma expressão de desagrado. Ele imaginou que Lando fosse
fazer essa gracinha.
— Que tal esperamos até todos nós estarmos no ponto de encontro? —
sugeriu Han.
— Que tal você me dar agora? — contra-argumentou Lando. — Então eu
posso pular o ponto de encontro e seguir com a minha vida.
— O que ele está falando? — perguntou Zerba.
— Lando quer trocar a parte dele dos créditos pelos arquivos de
chantagem, — explicou Han.
— Ele pode fazer isso? — indagou Kell franzindo a testa.
— Sim, ele pode, — disse Lando em tom firme. — Nós já concordamos.
E, sem querer ofender, Han, mas você tem o péssimo hábito de perder a
recompensa para outras pessoas. Então passe aí.
Não havia como evitar.
— Beleza, — falou Han com um suspiro.
Ele puxou a caixa com os arquivos de chantagem e entregou para Lando.
— Obrigado, — disse ele ao enfiar a caixa dentro da túnica de policial.
— Agora, se você puder me deixar no meu airspeeder, eu vou seguir meu
rumo. Quanto ao resto de vocês, foi divertido.
Um momento depois, eles estavam dentro da speeder van, e Chewbacca
seguia para uma das saídas. Provavelmente ainda havia seguranças de
serviço, mas Han não esperava que eles fossem causar problemas. Não com
um dos veículos do próprio Villachor.
Han estava preocupado com Lando e com o que Lando diria.
E com o que Lando faria.

— Ele tem cerca de 1,75 metro de altura, cabelo escuro, pele negra,
bigode tipo três — falou Dayja correndo no comunicador enquanto o
airspeeder passava pelo portão e entrava no intenso tráfego da cidade. —
Está com os arquivos de chantagem e, se tiver algum bom senso, levará
para fora de Wuklcar assim que chegar ao espaçoporto.
— Eu não imagino que você saiba o nome dele, — disse D’Ashewl. —
Há muitas naves no solo agora.
— Eu não sei o nome de ninguém, a não ser o de Eanjer, — disse Dayja.
— Mas acho que podemos reduzir as possibilidades. A nave dele
provavelmente será alguma coisa pequena, para um passageiro apenas.
Tenho a impressão de que ele apareceu depois que os demais e veio
sozinho. Pela aparência, ele provavelmente é do tipo que adora as coisas
boas da vida, mas não pode pagar por elas, então procure por uma nave que
já esteve no topo da lista dos esnobes, mas que atualmente parece um pouco
gasta. Tempo de chegada há nove dias, com provavelmente uma janela de
doze horas em ambos os lados.
— Entendido, — respondeu D’Ashewl. — O que ele está vestindo?
— Você vai morrer ao ouvir isso, — falou Dayja ao se abaixar quando
um dos rojões que acertavam a mansão jogou fogo em um telhado próximo.
— Ele está usando o uniforme da polícia da Cidade de Iltarr. Mas duvido
que tente passar pelo espaçoporto desse jeito.
— Eu espero que não, — concordou D’Ashewl. — Mais alguma coisa?
— Ele estará com pressa, — disse Dayja. — Na verdade...
Ele parou e fez os cálculos de cabeça. Pegar a speeder van roubada até o
local onde um veículo de fuga adequado certamente estava estacionado;
mudar para aquele veículo; ir ao espaçoporto; ir à baia; ligar os motores...
— Ele deve pedir uma permissão para decolar em 32 ou 55 minutos,
dependendo de como vai chegar, se de airspeeder ou landspeeder, — falou
Dayja.
— Certo, — disse D’Ashewl. Se ficara surpreso ou duvidara das
estimativas de Dayja, ele foi discreto. — Você quer que ele seja capturado
no solo?
— Melhor não — respondeu Dayja. — Eu não sei em que estado estão
Villachor e sua organização neste exato momento, mas não podemos
arriscar que um de seus agentes no espaçoporto se meta antes que tenhamos
garantido. Peça ao Dominador para capturá-lo depois que ele entrar em
órbita.
— Vou ligar para o Capitão Worhven imediatamente — disse D'Ashewl.
Tenho certeza de que você ficará feliz em receber outra tarefa sem dar
maiores explicações.
— Faz parte do seu trabalho — disse Dayja. Algo novo sobre Aziel?
— Infelizmente, tivemos que deixá-lo ir — disse D'Ashewl. O príncipe
Xizor foi tão gentil que lhe deu credenciais diplomáticas. Mas havia
evidências suficientes de que o cryodex havia sido originalmente roubado,
então consegui retê-lo como prova.
— Perfeito — disse Dayja. Se conseguirmos os arquivos de chantagem,
teremos o bloqueio e a chave. O diretor ficará satisfeito.
— Eu não me importo com o diretor — disse D'Ashewl com um
grunhido. Lorde Vader ficará satisfeito. Ele representa o futuro do império.
— Talvez — disse Dayja cautelosamente. A última coisa que ele queria
naquele momento era se enredar em outro argumento político. Obtenha um
canal de comunicação com a torre do espaçoporto e coloque o Dominator
em alerta. Eu estarei lá assim que eu puder me apropriar de um speeder do
estacionamento do Villachor.
— Suponho que você quer conduzir o interrogatório por si mesmo?
— Dayja sorriu vigorosamente.
— Apenas pegue ele — ele disse. Eu cuido do resto.

Eanjer sempre esperou sair deste emprego vivo. Ele não estava tão certo
sobre o resto da equipe.
Eu também fiquei um pouco mais do que surpreso que, na realidade, o
plano teria funcionado.
O píer de ancoragem permaneceu em silêncio enquanto passava pela
porta. Ele estava preocupado que Han e Chewbacca tivessem conseguido
chegar à sua frente, apesar de terem que deixar os outros saírem do veículo
nas proximidades do ponto de encontro. No entanto, o Falcon permaneceu
silenciosamente estacionado no escuro brilho da cidade vizinha, com suas
luzes e sistemas desligados e frios.
Ele se perguntou brevemente o que os outros pensariam quando ele e Han
não aparecessem no ponto de encontro. Eles provavelmente concluiriam
que ambos prepararam tudo isso com antecedência, com a clara intenção de
não compartilhar os milhões desses cartões de crédito com qualquer outra
pessoa. Eles ficariam furiosos, prometiam vingança e faziam todas as outras
coisas que as pessoas faziam em tais situações.
E eles falariam sobre isso. Eles definitivamente iriam falar sobre isso.
Com sorte, o que restava da reputação contaminada de Han nunca poderia
se recuperar.
Não que Han precisasse de uma boa reputação. Eu não precisaria mais
disso.
Encontrou um lugar onde pudesse sentar-se confortavelmente e observar
toda a seção de campo aberto entre a entrada da doca e a rampa dos
Falcões. Descansando com sua luz blaster em seu colo, ele se preparou para
esperar.

Depois de deixar o resto do resto de sua equipe, Han decidiu deixar o


caminhão de aceleração emprestado, e ele e Chewbacca estavam finalmente
prontos para ir para o espaçoporto sozinhos.
— Chewbacca rugiu.
— Eu sei, eu sei — Han disse irritado. Chewbacca estava lhe dando o
mesmo olhar de desaprovação pela última hora. Tudo estará bem. Confie
em mim.
— Chewbacca fez um comentário final e depois ficou calado.
Han suspirou. Ele estava certo, era claro. Lando ficaria furioso. Ou coisa
pior.
Mas não havia nada que Han pudesse fazer. Não com aquele imperial no
telhado observando a coisa toda.
— Ele vai superar, — disse Han em tom firme para Chewbacca. — Eles
não farão nada com ele. Não sem alguma prova.
Chewbacca urrou o óbvio.
— Claro, só que ele não vai simplesmente deixar a caixa parada às claras,
— explicou Han pacientemente. — Olha só, vai dar certo. Lando e eu
temos uma longa história. Ele vai superar isso.
Chewbacca não respondeu.

Há duas abordagens quando se lida com uma súbita e avassaladora


presença Imperial, pensou Lando friamente. Uma era continuar voando em
inocência calma e perfeita, um cidadão comum do Império sem nada a
esconder. A outra era meter potência nos motores subluz e tentar fugir.
Em retrospecto, ele deveria ter tentado fugir.
— Eu não estou entendendo nada dessa situação, — insistiu Lando com
os dois soldados da Frota de expressão severa que estavam entre ele e a
porta da área de estar de sua nave. — Nem sei o que eu supostamente fiz.
Os senhores podem pelo menos me dizer qual é a acusação?
Os soldados não responderam. Por outro lado, tirando terem mandado
que ele abrisse a escotilha após ter sido trazido via raio trator para o hangar
do Star Destroier, e depois terem mandado que ele fosse à área de estar,
nenhum dos dois guardas tinha dito uma palavra.
Lando suspirou e desistiu da última tentativa de comunicação. Todos eles
obviamente estavam esperando por alguém, e nada aconteceria até aquele
alguém chegar. Aquela seria uma noite longa, muito longa.

Do outro lado da baia, a tranca da porta se abriu com um clique. Eanjer


ergueu a arma de raios e mirou com o olho bom.
E abaixou novamente quando o droide de limpeza entrou na baia, com os
quatro braços escovando diligentemente as paredes e o piso.
Eanjer verificou o relógio e franziu a testa. Han estava atrasado.

A porta da área de estar se abriu e, para a surpresa de Lando, uma figura


mascarada, de capuz e capa, entrou no ambiente.
— Boa noite, — falou o sujeito ao parar entre os dois soldados. — Eu
peço desculpas pelo atraso. Imagino que o senhor esteja à vontade?
— Bastante, — respondeu Lando se sentindo abatido.
Sem uniforme, sem insígnia, com o rosto oculto, e andando livremente
por um Star Destroier. Alguma espécie de agente então, — Inteligência,
Ubictorado, talvez até o Departamento de Segurança Imperial.
— Ótimo. — O homem gesticulou para os soldados. — Esperem do lado
de fora.
— Sim, senhor, — respondeu um deles.
Os dois saíram juntos. O sujeito aguardou até que a porta se fechasse,
depois abaixou o capuz e a capa e retirou a máscara.
— Chega disso — disse ele animadamente enquanto esfregava a testa. —
Desculpe pela atitude teatral, mas por razões que não explicarei eu não
posso mostrar minha cara a bordo desta nave.
— Eu compreendo, — falou Lando ficando ainda mais abatido.
O homem que o encarava era jovem. Bem mais jovem do que ele
esperava. Assustadoramente jovem.
Porque os jovens eram sempre ambiciosos. E no universo nebuloso em
que essa gente operava, só havia uma única maneira de jovens agentes
subirem na carreira: levando troféus de presente para seus superiores.
Inimigos do Império. Verdadeiros ou meramente plausíveis.
A situação só ficava cada vez pior.
— Bem, então, — disse o jovem ao colocar a máscara na mesinha lateral
e se sentar na cadeira diante de Lando. — Vamos começar com as
apresentações. Eu sou Dayja, e você... bem, vamos só chamá-lo de Lando,
que tal?
— O que você quiser, — respondeu Lando contendo uma cara feia. Lá se
foram a identidade falsa cuidadosamente construída e o registro da nave que
ele usara para voar.
— Ótimo, — falou Dayja. — Bem, está tarde, nós dois tivemos um dia
muito cheio, e tenho certeza de que você está tão cansado quanto eu. Então,
o que você diz de nós andarmos rápido com isso, e você simplesmente me
dar a caixa.
— Caixa?
— A caixa de arquivos de chantagem do Sol Negro, — explicou Dayja
pacientemente. — Aqueles que você roubou na noite de hoje do cofre de
Avrak Villachor. Trabalho magnífico, por falar nisso. Estou muito
impressionado.
— Ficamos contentes que tenha gostado — disse Lando com o cérebro
dando voltas com as possibilidades.
Não parecia haver sentido em negar que Han lhe dera os arquivos. Dayja
obviamente sabia de alguma forma.
Mas se ele jogasse bem suas cartas, talvez ainda conseguisse algum
espaço para negociação.
— Se eu lhe entregar a caixa ...
— Se é o que? Dayja o interrompeu, olhando para ele perplexa. Não,
você não entende. Não é um "se isso". Você vai me dar a caixa. Em seguida,
vamos falar sobre como fazer uma oferta.
Soa mais como um ultimato do que um acordo.
— Eu suponho que sim — Dayja concordou, olhando ao redor da sala.
Eu vou te dizer o que vamos fazer. Para economizar tempo, por que não
acabo procurando a caixa sozinho? Ele se levantou e se aproximou da
estação de monitoramento do motor na parede lateral.
E a incredulidade horrorizada de Lando, deu o canto da ventilação tela do
monitor, um empurrão rápido para liberá-lo, e enquanto o cofre escondido
fez sua aparição, virou o monitor aberto para revelar o compartimento de
arrumação escondido atrás do.
— Sinto muito — disse ele, dando um sorriso forçado para Lando.
Infelizmente para você, este pequeno esconderijo de jóias tem sido um
recurso padrão na série G50 já há algum tempo.
Lando suspirou.
— Eles me disseram que era um condicionamento personalizado.
— E, sem dúvida, eles cobraram extra por isso. Algumas pessoas não têm
escrúpulos. Inserindo a mão na abertura, Dayja removeu cuidadosamente a
caixa. Lançou a Lando um olhar indecifrável e, quase com reverência,
soltou a fechadura da caixa e levantou a tampa.
Sua expressão petrificada. Por um momento mais, ele manteve sua
postura, depois ergueu os olhos para Lando.
— Muito inteligente — ele disse, uma súbita fragilidade em sua voz.
Onde estão?
— Onde eles estão? Lando perguntou, com uma desagradável sensação
de desgraça caindo sobre ele. Não; Han não poderia ter conseguido ...
Dayja virou a caixa vazia na frente dele.
— Onde estão os cartões de dados?
Lando suspirou. Sim, Han foi capaz de fazer isso.
— Eles ainda estão em Wukkar, suponho — disse ele. Na verdade, eles
provavelmente estão em algum lugar no hiperespaço agora.
— Onde eles estão indo?
— Um ponto de encontro em Xorth — disse Lando. Mas duvido que eles
fiquem lá por muito tempo. De fato, desde que eles estavam obviamente
esperando que eu fosse capturado, eles provavelmente não irão a esse lugar.
Por um longo minuto, Dayja olhou para ele. Então, com cuidado, ele
fechou a caixa.
— Você joga sabacc, Lando? -te pergunto.
— Sim — disse Lando, sentindo o cenho franzido na testa.
— Sim, claro que sim — disse Dayja, voltando para a cadeira, mas ainda
de pé. E aposto que ele depende muito de sua habilidade de blefar.
— Na verdade, prefiro ter boas cartas na mão.
— Eu também — disse Dayja. Mas às vezes temos que ser criativos com
os cartões que nos foram entregues. Ele puxou o seu link. Capitão
Worhven? Eu terminei aqui. Peça a seus homens que preparem meu
transporte. Deu a Lando um sorriso estranhamente irônico. Assim que eu
partir, nosso convidado e seu navio estarão livres para recuar. -Ele recebeu
um "entendido" e removeu o comunicador.
— Realmente? Perguntou Lando com cautela.
— Sério — Dayja assegurou. Alcançando a cadeira, ele pegou sua
máscara. Felizmente para você, é do meu interesse que isso pareça como se
tivéssemos chegado a um acordo, que tivéssemos negociado nossos
negócios, e então nos separaríamos amigavelmente. Ele inclinou a cabeça.
A menos que você queira ficar a bordo.
— Não, não, não mesmo — disse Lando apressadamente.
— É claro que você não deve contar aos seus amigos nada sobre isso —
continuou Dayja. O que aconteceu aqui continuará sendo nosso pequeno
segredo.
— Não se preocupe — rosnou Lando. Eu duvido que eu veja algum
deles. Pelo menos não por um bom tempo.
— Bem. -Dayja colocou a máscara e reorganizou sua capa e capuz. Uma
boa noite para você, e tenha uma viagem segura. E mais uma coisa.
Ele apontou o dedo para o rosto de Lando.
— Você me deve uma — ele disse. Algum dia eu vou aparecer
novamente para coletar.
Colocando a caixa no bolso de sua capa, ele se virou e saiu da sala.
Lando esperou um minuto. Os soldados não retornaram. Ele esperou
mais um minuto, depois outro e finalmente abriu a porta do quarto.
Os troopers foram embora. Bem como Dayja. Lando foi até a escotilha,
certificou-se de que estava bem fechado e seguiu para a cabine.
Ele estava no banco do piloto, olhando para os homens andando no
interior da estação de controle de voo do outro lado do hangar, quando
recebeu a ordem de soltura.
Porém, foi preciso todo o tempo até entrar no hiperespaço para Lando
respirar normalmente outra vez.

O som de fogos de artifício pela cidade havia parado fazia muito tempo.
Assim como o volume de trânsito havia diminuído conforme o povo da
Cidade de Iltarr saía dos vários locais do Festival e rumava para casa. E
Han ainda não tinha aparecido.
Finalmente, com atraso, Eanjer percebeu.
Era uma cópia excelente, ele teve que admitir ao passar por baixo da
nave e iluminar o casco com o eletrosoldador. Um cargueiro YT-1300
clássico, praticamente com a mesma idade e estado, até mesmo com
algumas das mesmas modificações.
Mas apenas com algumas. Outras, como o compartimento de mísseis de
concussão e o canhão de raios Ground Buzzer, não estavam presentes.
Não era a Millennium Falcon. Era um chamariz, trocado na baia em
algum momento durante os últimos nove dias.
Han não viria. Na verdade, ele já tinha ido embora fazia muito tempo,
sem dúvida.
Eanjer deu um sorriso frágil na escuridão. Dozer, obviamente. Tinha que
ter sido ele. Todo o tempo que Dozer passara longe da suíte nos primeiros
dias de preparação, supostamente resolvendo compromissos e comprando
equipamentos para todos os demais.
Eanjer teria que encontrar alguma maneira de fazer o ladrão de naves
pagar.
Ainda assim, haveria outras oportunidades. Ele podia esperar.
Eanjer saiu da baia e cruzou o espaçoporto até onde a própria nave estava
pousada. Não olhou para trás.

A multidão já tinha ido embora fazia muito tempo, e os fogos de artifício


descontrolados há muito tinham acabado.
E a vida de Villachor estava acabada.
Ele estava no guarda-corpo da sacada, olhando nas dependências para o
enorme cofre impenetrável parado ali fora para o universo inteiro ver. O
cofre impenetrável que tinha sido invadido.
Os arquivos de chantagem do príncipe Xizor haviam sumido. Aziel se
livrara dos imperiais, mas perdera o cryodex e estava procurando
furiosamente alguém para culpar.
E Qazadi estava morto. Fora assassinado.
Na própria casa de Villachor.
Atrás dele, a estação de comunicação segura da suíte apitou. Por um
breve momento, Villachor considerou ignorá-la. Mas não havia sentido
realmente. Quando o Sol Negro decidisse rastreá-lo, não haveria nada que
pudesse fazer a respeito. Ele lançou um último olhar para sua amada e
devastada propriedade, deu meia-volta e entrou na suíte.
Ele esperava que fosse Aziel, possivelmente o príncipe Xizor em pessoa.
Mas não era nenhum dos dois.
— Mestre Villachor, — disse lorde D'Ashewl, sorrindo alegremente no
monitor. — Espero não estar ligando muito tarde?
— De maneira alguma, — falou Villachor. — O que posso fazer pelo
senhor?
— Eu estava pensando em nossa conversa há alguns dias — respondeu
D’Ashewl — e achei que o senhor estaria interessado em algo que acaba de
chegar às minhas mãos. Ele se inclinou, levantando o arquivo de chantagem
da Black Black. Eu acho que não preciso te dizer o que isso significa —
acrescentou ele, abrindo a caixa para mostrar a Villachor os cinco cartões de
dados pretos colocados perfeitamente por dentro.
— Não, não — concordou Villachor, cansado. Você me chamou para me
gabar?
— Não, de jeito nenhum — assegurou D'Ashewl. Estou ligando para ver
se ele ainda está interessado em chegar a um acordo.
Villachor franziu a testa, tentando ler as intenções daquele rosto redondo
e corado.
— Você tem os arquivos e você também tem o cryodex. Por que ele
precisaria de mim?
D'Ashewl encolheu os ombros.
— Você sabe muito sobre Sol Negro e Você pode ser uma contribuição
muito valiosa para nós.
— E claro, você poderia me proteger? Villachor grunhiu sarcasticamente.
— Na verdade, somos bons o suficiente para esse tipo de coisa — disse
D'Ashewl, enquanto todos os remanescentes de leveza desapareciam de seu
rosto e voz. Lorde Vader é ainda mais. Acredito que, nas circunstâncias
atuais, poderia ser persuadido a colocar um interesse pessoal nisso.
Era uma possibilidade remota, Villacho sabia. Sol Negro tinha pessoas e
agentes em todos os lugares. Sua vida provavelmente estava sendo contada
em questão de dias ou até horas.
Mas mesmo uma possibilidade remota era melhor que nenhuma chance.
— Muito bem — disse ele. Ele cruzou os dedos mentalmente. Toda a sua
vida, todos os seus esforços, todo o seu poder acumulado e suas riquezas ...
— Você tem um acordo.
CAPÍTULO

24

— E ainda nenhum sinal de Eanjer? — perguntou Dozer, provavelmente


pela décima vez desde que chegara.
— Não, — respondeu Han ao desmoronar no sofá, cansado.
A suíte não era tão grande ou luxuosa quanto aquela na Cidade de Iltarr, e
a mobília não era tão confortável. Mas, diante das circunstâncias, era bem
mais segura.
E ser segura era bom naquele momento. Ser segura era muito bom.
— E nem haverá sinal dele, — acrescentou Han. — Rachele acabou de
descobrir...
— Espere um instante — interrompeu Zerba incrédulo. — Você está nos
dizendo que ele simplesmente escapou?
— É mais provável que Eanjer não tenha visto a mensagem no ponto de
encontro, — sugeriu Bink. — Talvez um de nós devesse voltar e ver se ele
ainda está esperando lá.
— Ele não está. — Han fez um gesto para Rachele, sentada atrás
dele ao computador, com uma expressão tensa no rosto. — Você quer
contar para eles, Rachele? Ou eu conto?
— Eu conto, — falou Rachele com a voz melancólica. — Eu acabei de
receber um relatório da polícia da Cidade de Iltarr. Eles encontraram o
corpo de Eanjer.
— Ah, não, — sussurrou Tavia, parecendo abalada. — Ah, Rachele.
— Não seja assim tão sentimental, — rosnou Han. — Conte o resto.
— Eles encontraram o corpo de Eanjer — repetiu Rachele, — onde
aparentemente foi desovado e deixado para sangrar até morrer. — A
garganta travou. — Há seis semanas.
Por um longo momento, ninguém falou. Han olhou ao redor da suíte,
observando as expressões de surpresa e confusão se tornarem uma
compreensão horrorizada.
— Você quer dizer... antes de ele sequer falar com Han? — indagou Kell,
que disparou um olhar para Han. — Ou...
— Ou quem quer que fosse — disse Dozer parecendo não ter certeza se
deveria estar chocado ou furioso. — Mas então...
— O que ele queria? — Han balançou a cabeça. — Eu não faço a menor
ideia.
— Eu faço — falou Bink baixinho. — Ele veio para matar Qazadi.
Chewbacca vociferou.
— Com certeza, — concordou Winter em tom sério. — E todos nós
caímos nessa.
— Mas você pelo menos suspeitou de alguma coisa, não foi, Han? —
perguntou Rachele. — Aquela conversa que você teve com ele depois que
resgatamos Lando e Zerba.
— Eu sabia que o cara tinha alguma coisa esquisita — falou Han. — Ele
parecia mais interessado em entrar na mansão do que em retirar seus
créditos. Mas eu imaginei que fosse apenas a parte da vingança falando. O
resto... — Ele balançou a cabeça. — Eu não tinha noção.
— Então ele nos usou — murmurou Kell. — Ele nos trouxe para fazer
todo o trabalho pesado, levá-lo ao interior da mansão e matar os guardas de
Qazadi. Filho de um bantha.
— E a troco de nada — rosnou Zerba e jogou a ficha de crédito que
andara remexendo de volta à pilha na mesa. — Sem Eanjer... o verdadeiro
Eanjer... essas coisas não valem nada.
— Não completamente, — disse Rachele. — Eu conheço alguns hackers.
A gente talvez consiga pegar... eu diria uns 815 mil.
— Erro meu, — falou Zerba sarcasticamente. — Isso continua sendo
mais perto de zero do que os 163 milhões que eram o nosso combinado. Se
algum dia eu pegar aquele cara...
— Você não vai pegá-lo — disse Bink. — Quem quer que fosse, ele era
um profissional.
— Ou um imperial — grunhiu Dozer.
— Ou um imperial, — concordou Bink. — O que eu quero dizer é que
nós nem sabemos como é a aparência dele. Não com todo aquele medselo
metido na cara. Para onde quer que tenha desaparecido, ele escapou para
valer.
— E então, o que faremos agora? — perguntou Kell.
— Nós recuperamos o que for possível — respondeu Han tentando evitar
a própria decepção avassaladora no tom de voz. Lá se fora o sonho de se
livrar de Jabba. Lá se foram todos os seus sonhos. — Rachele disse que
consegue arrancar 815 mil das fichas. É 81.500 para cada um. Nada mal
para duas semanas de trabalho.
— Oitenta e um mil e quinhentos? — perguntou Zerba franzindo a testa.
— Eu conto 90 mil mais uns trocados.
— Dez de nós são 81.500 para cada um, — lembrou Kell.
— Eu só vejo nove pessoas nesta sala.
— Lando ainda recebe a parte dele — disse Han em tom firme.
— Eu pensei que a parte dele fosse os arquivos de chantagem, — falou
Zerba em tom de desdém.
— Que ele não recebeu, — falou Han. — Então ele recebe um décimo
dos créditos como foi combinado.
— Que você vai entregar em pessoa? — Zerba deu um muxoxo de
desdém. — Isso eu pagaria para ver.
— Vamos entregar para ele, — disse Han olhando a pilhagem sobre a
mesa.
O resto dos cartões de dados se mostrara sem valor, — detalhes das
operações de contrabando de Villachor que seriam interessantes para uma
promotoria, mas não para um bando de vigaristas freelancers.
Mas ainda havia os cinco cartões de dados de chantagem. Como os
outros cartões de dados, eles não valiam nada para ninguém naquela sala.
Talvez não fossem inúteis para todo mundo. Pelo que Han tinha visto da
base em Yavin, a Aliança Rebelde tinha todo tipo de coisa esquisita
entocada. Se eles conseguissem desencavar um cryodex em algum lugar,
talvez pudessem fazer bom uso dos arquivos de chantagem.
E se esse fosse o caso, talvez Han pudesse pedir alguma recompensa para
Dodonna. Provavelmente não o suficiente para levar uma vida mansa, como
aquele serviço deveria ter bancado, mas talvez o bastante para pelo menos
dar a ele e Chewbacca uma pausa para respirar.
Han fez um pequeno cálculo mental. Se ele mantivesse o suficiente para
pagar sua dívida com Jabba...
— Deixe-me adoçar o pote um pouco — ele ofereceu. Eu posso comprar
sua parte dos arquivos de chantagem por dezoito mil e quinhentos cada.
Isso faria com que cada um ganhasse cem mil mil.
Chewbacca rugiu uma pergunta.
— Bem, sim, estou incluindo sua parte nessa transação — Han
confirmou. De que outra maneira você acha que ele ia oferecer dezoito mil
e quinhentos para cada um?
— Então, primeiro Lando queria as cartas e agora quer ficar com elas?
Zerba perguntou desconfiada. Há algo que você não está dizendo ao resto
de nós?
— Na verdade não — disse Han. Na verdade, achei que todos gostariam
de receber alguns créditos adicionais. E não é que Chewie e eu estamos
escapando de qualquer lugar.
— Então você poderia pagar sua dívida com Jabba — Bink apontou.
— Teremos o suficiente para fazer isso — assegurou Han.
— Na verdade... — Rachele interrompeu. Não importa.
— É um negócio? Han perguntou.
Os outros se entreolharam.
— Tudo bem para mim — disse Kell.
— Para mim também — destacou Dozer.
— Claro, porque não? Zerba rosnou. Eu não podia usá-los no meu ato ou
para qualquer outra coisa.
— Tudo bem — disse Han. Deixe suas informações de contato com
Rachele, e ela enviará suas partes depois que ela puder transformar as fichas
em dinheiro.
— E não vamos mais falar sobre isso — acrescentou Rachele. Com
ninguém.
— Sem problema, — falou Kell. — Para começo de conversa, quem
acreditaria na gente?
— Apenas as pessoas que nos matariam por ter feito o serviço, — falou
Zerba ao ficar de pé. — Bem. Até mais, todo mundo. Bons voos.
— Foi ótimo não nos conhecermos assim, — disse Tavia ironicamente.
— Na minha opinião, Han, foi divertido — falou Bink ao se levantar
também. — Chame a gente da próxima vez que tiver um serviço.
Cinco minutos e uma rodada de despedidas depois, todos eles, a não ser
Chewbacca, Rachele e Winter, tinham ido embora.
— Você queria alguma coisa? — perguntou Han para Winter.
— Só um minuto, — disse ela. — Primeiro, eu gostaria de ouvir o que
Rachele estava começando a dizer anteriormente.
Chewbacca rosnou, concordando.
— É unânime, Rachele, — falou Han. — Vá em frente.
Rachele suspirou e respondeu:
— E uma coisa que eu captei nos canais alternativos. Antes de nós
sabermos sobre Eanjer. — Ela respirou fundo. — Jabba aumentou sua
dívida, Han. Aumentou para meio milhão.
Han olhou fixamente para Rachele.
— Meio milhão?
— Ele está culpando você pelo Sol Negro ter descoberto sobre Morg Nar
em Bespin, — explicou Rachele com tristeza. — Eu sinto muitíssimo.
Imaginei que não fosse importar realmente, uma vez que você ganharia
quase quinze milhões, e não quis estragar a ocasião para você. Mas depois,
quando descobrimos sobre Eanjer, e... — Ela se interrompeu.
— Tudo bem, — disse Han, sentindo o peso de todo o universo caindo
em cima dele.
Han não esperava que a notícia sobre Nar chegasse a Jabba tão rápido.
Mesmo que chegasse, ele não imaginava que Jabba fosse capaz de culpá-lo.
Han certamente não esperava que Jabba levasse a perda da operação de
Bespin para o lado pessoal.
Assim, em vez de se livrar de Jabba para valer, ele se envolvera ainda
mais.
Chewbacca grunhiu.
— E, talvez, — concordou Han em tom de dúvida. — Mas ele com
certeza não vai se acalmar por enquanto. Aquela operação de Bespin não
dava muito dinheiro, mas por algum motivo Jabba realmente gostava dela.
— Se você precisar de um lugar para ficar, tenho certeza de que consigo
encontrar, — ofereceu Rachele.
— Ou, — falou Winter calmamente — você pode voltar para seus outros
amigos.
Han franziu a testa.
— Que outros amigos?
— As pessoas com quem você trabalha, — disse Winter. — As pessoas
para quem eu imagino que você dará os arquivos de chantagem. — Ela
ergueu levemente as sobrancelhas. — As pessoas que simplesmente podem
ser capazes de encontrar outro cryodex.
Han disparou um olhar para Chewbacca. Como ela tinha conseguido
descobrir aquilo, raios?
— Eu não sei do que você está falando.
— Você sabe, sim, — retrucou Winter. — Veja bem, eu cuido da
Logística para eles... e aquela cápsula de fuga que você disparou
dentro da fábrica fazia parte de um lote que eu contrabandeei para eles há
sete meses.
— Claro que fazia, — falou Han revoltado. Ele nunca, jamais deveria ter
deixado Sua Veneranda convencê-lo a deixá-la substituir as cápsulas de
fuga que ele ejetara durante o lance da Estrela da Morte. — Olha só, eu não
roubei as cápsulas, se é isso que está pensando. Ela insistiu que nós as
pegássemos.
Foi como se alguém tivesse ligado um farol atrás dos olhos de Winter.
— Ela? — repetiu Winter abruptamente ajeitando as costas na cadeira. —
Sobre qual ela nós estamos falando?
Han encarou Winter, e aquela confissão amarga que ela fizera
subitamente lhe veio à mente. Eu era envolvida com o palácio real de
Alderaan...
— A princesa, — respondeu ele. — Leia.
— Você a viu? — perguntou Winter com a voz um pouco trêmula. —
Desde Alderaan, quero dizer.
— Claro. Na verdade, eu estive com ela em Yavin, onde a... — Ele
disparou um olhar para Rachele.
— Tudo bem — disse Rachele. — Nós sabemos sobre Yavin e a Estrela
da Morte.
— Ela escapou de lá numa boa, — falou Han. — Até onde eu sei, ela
continua numa boa.
E continua esnobe e insuportável, ele pensou em acrescentar. Ainda
assim, se Winter conhecia a princesa, ela provavelmente já sabia disso.
— Obrigada, — disse Winter calmamente. — Eu fiquei... nós não
soubemos dos detalhes.
— Bem, você vai ter que saber o resto por outra pessoa, — falou Han ao
se levantar. — Se Jabba aumentou minha dívida, ele provavelmente
aumentou a minha recompensa também. Nós precisamos encontrar algum
lugar para nos escondermos por um tempo.
— Leia vai acolhê-lo, — prometeu Winter.
— Veremos. — Han a encarou. — A propósito, aquele lance sobre jamais
mencionar este serviço para alguém? Vale em dobro para Sua Alteza.
Winter sorriu.
— Certamente, — prometeu ela. — Cuide-se, Han.
— Ele vai, — disse Rachele sorrindo também. — Ele sempre se cuida.
Eles estavam de volta à Falcon, esperando pela permissão para decolar,
quando Chewbacca finalmente fez a pergunta óbvia.
— Eu não sei ainda, — respondeu Han. — Voltaremos quando for o
momento, acho eu.
Chewbacca ponderou, depois grunhiu novamente.
— Claro que ela gosta de mim, — disse ele sarcasticamente. — Quem
não gosta?
— Mestre? — chamou hesitante o droide protocolar parado na porta. —
Chegou a hora.
— Hora de quê? — perguntou Eanjer, concentrado no espelho diante dele
enquanto tirava com cuidado a última faixa de medselo do rosto.
— Sua Sublimidade espera sua presença, — disse o droide parecendo
ainda mais nervoso do que o normal.
O que não era de surpreender, realmente.
— Diga a Sua Sublimidade que eu irei lá quando estiver pronto.
— Sim, senhor. — O droide hesitou. — Se não se importa, senhor, eu
prefiro esperar aqui até que esteja pronto.
— Beleza, — disse Eanjer. — Como queira.
Ele gentilmente tocou a bochecha que fora coberta pelo medselo. Ele não
havia se dado conta do que três semanas enfaixado daquela forma fariam
com a pele. Ela estava vermelha e inchada, manchada em alguns pontos, e
coçava como o caos do Núcleo Profundo. A mão e o braço direitos
pareciam quase tão ruins.
Ainda assim, os sintomas eram temporários. Passariam em breve.
O que não passaria tão rápido era a irritação de um serviço feito apenas
pela metade.
Qualquer grupo de ladrões ou mercenários teria conseguido levá-lo ao
interior da mansão de Villachor e passado por cima, pelo lado e através de
todos os guardas, deixando ao mesmo tempo o suficiente de Qazadi para
que ele fosse identificado. O único motivo para ele ter atraído Solo para
Wukkar originalmente, e depois tê-lo manipulado a aceitar o serviço, era
que o contrabandista por vezes arrogante estivesse onde Eanjer pudesse
pegá-lo quando tudo estivesse acabado. Plantar aquela mensagem falsa com
Rachele, de modo que ele pudesse trazer Calrissian para a mira, foi outro
plano que não tinha dado em nada.
Então talvez ele devesse considerar que apenas um terço do plano tinha
sido bem-sucedido?
Ainda assim, o que passou passou. Toda a irritação e arrependimento não
conseguiriam mudar isso.
E se apenas uma terça parte tinha sido bem-sucedida, mesmo assim era a
parte maior e mais recompensadora. A recompensa pela morte de Qazadi
mais do que faria valer a pena a operação inteira.
Haveria outras oportunidades de resolver as coisas com Solo e Calrissian.
Paciência, como sempre, era a chave.
— Mestre?
— Já ouvi. — Ele se levantou, pegou o surrado capacete Mandaloriano e
colocou na cabeça. — É melhor que Jabba esteja pronto com meus créditos.
— Eu tenho certeza que sim, mestre, — garantiu o droide às pressas.
— Ótimo. — Boba Fett gesticulou. — Vá à frente.
SOBRE O AUTOR

TIMOTHY ZAHN é autor de mais de quarenta romances, quase noventa


contos e novelas e quatro curtas coleções de ficção. Em 1984, ele ganhou o
Prêmio Hugo de melhor novela. Zahn é mais conhecido por seus romances
de Star Wars (Herdeiro do Império, Ascensão da Força Negra, O Último
Comando, Espectro do Passado, Visão do Futuro, Busca do Sobrevivente,
Voo de Saída, Fidelidade e Escolhas de Um) com mais de quatro milhão de
cópias de seus livros impressos. Outros livros incluem a série Cobra, a série
Quadrail e a série de jovens adultos Dragonback. Zahn tem um
Bacharelado em física na Universidade Estadual do Michigan e um
Mestrado na Universidade de Illinois. Ele mora com a família na costa do
Oregon.
STAR WARS / CANALHAS
TÍTULO ORIGINAL: Star Wars / Scoundrels

COPIDESQUE: Lilian Moreira Mendes

REVISÃO: Balão Editorial | Pausa Dramática | Matheus Perez | Tradutores dos Whills

CAPA, PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Desenho Editorial

ILUSTRAÇÃO: The Two Dots

DIREÇÃO EXECUTIVA: Betty Fromer

DIREÇÃO EDITORIAL: Adriano Fromer Piazzi

VERSÃO ELETRÔNICA: S2 Books

EDITORIAL: Daniel Lameira | Katharina Cotrin | Bárbara Prince | Andréa Bergamaschi | Renato Ritto

COMUNICAÇÃO: Fernando Quinteiro | Lidiana Pessoa | Roberta Saraiva | Ligia Carla de Oliveira | André Castilho

COMERCIAL: Daniel Lameira | Katharina Cotrin | Bárbara Prince | Andréa Bergamaschi | Renato Ritto

FINANCEIRO: Roberta Martins | Sandro Hannes

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CANALHAS É UM LIVRO DE FICÇÃO. TODOS OS PERSONAGENS, LUGARES E ACONTECIMENTOS SÃO FICCIONAIS.

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


Odilio Hilario Moreira Junior CRB-8/9949

Z19s Timothy, Zahn


Canalhas [recurso eletrônico] / Timothy Zahn ; traduzido por André Gordirro. — São Paulo : Aleph, 2018.
464 p. : 1.5 MB.

Tradução de: Star Wars: Scoundrels


ISBN: 9978-85-7657-371-5 (Ebook)

1. Literatura norte-americana. 2. Ficção científica. I. Gordirro, André. II. Título.

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