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Página Título
Dramatis Personae
Nota do Editores
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Créditos
Dramatis Personae
Embora outras rarefeitas obras tenham sido lançadas no início dos anos
1980, dois marcos importantes deram impulso à saga, projetando-a ao atual
ousado projeto transmídia: em 1987, veio o lançamento do RPG STAR
WARS: The Roleplaying Game; em 1991, a publicação de STAR WARS:
Herdeiro do Império, de Timothy Zahn. Enquanto a importância do RPG foi
estabelecer novos cenários e trazer detalhes do universo de STAR WARS, o
livro de Zahn fez história ao ser o primeiro com autorização oficial da
Lucasfilm para abordar os acontecimentos posteriores ao Episódio VI. Os
personagens e as histórias do livro foram aproveitados por toda uma nova
geração de autores, que escreveram centenas de obras a fim de
complementar cada vez mais esse universo e saciar a sede dos fãs,
especialmente durante o intervalo de quinze anos entre os lançamentos das
duas trilogias no cinema, e também depois.
E trata-se de uma viagem que não tem ponto de partida nem direção
definidos. Não importa por qual obra você decida começar, seja por uma
das novas ou uma das Legends. Temos a certeza de que viverá uma grande
aventura.
EDITORA ALEPH
CAPÍTULO
O plano de Dayja, assim que chegou à sacada, era prender uma sonda à
janela, ouvir o que as pessoas lá dentro diziam e tentar entender quem ou o
que elas eram.
Ele não esperava chegar ao destino justamente quando o grupo estava se
desfazendo.
Mas era o que estava acontecendo. O grupo inteiro — nove humanos, um
Wookiee, um quase-humano, provavelmente um Balosar, — estava de pé,
indo em direções diferentes dentro da sala de estar, aparentemente a
caminho de cantos diferentes da suíte.
Dayja murmurou um xingamento ao recuar para a lateral da sacada, fora
do campo de visão das janelas. O veículo que ele notara andara vigiando
Marblewood, sim, e seguiu um comboio não identificado de lá até o Hotel
Lulina Crown. O rastreador voltara para lá, e depois ele e a maioria do
grupo, se não todo, tinha ido embora e se reunido no hotel do outro lado do
parque, em frente ao Lulina Crown. Alguns saíram, outros foram para a
frente do hotel, e finalmente o grupo inteiro retornou para a suíte, que Dayja
temporariamente identificara como o principal quartel-general.
Tinha sido muita correria para um dia só, especialmente considerando
que não tinha dado nenhum resultado aos olhos de Dayja. E não fosse pela
explosão tarde da noite no Lulina Crown, Dayja teria decidido que tinha
coisas melhores a fazer e deixado o grupo e suas atividades aos cuidados da
polícia local.
A explosão, porém, colocara aquela decisão fora de cogitação. Atentados
à bomba geralmente eram associados a roubo, sequestro, assassinato ou
grave dano à propriedade. Mas aquela explosão não estava ligada a nada
dessa lista. O fato levava inexoravelmente à conclusão de que o incidente
tinha sido uma distração.
Mas uma distração para quê? Naquele momento, D’Ashewl estava
sentado na suíte do hotel examinando as informações da polícia, mas até
então não havia detectado nenhum crime que a explosão pretendesse
confundir, distrair ou abafar.
Ainda assim, Dayja não tinha dúvida de que aquelas pessoas estavam
envolvidas. Então ele descobriu a suíte do grupo, encontrou um quarto
vazio três andares acima deles e desceu por rapei até a sacada.
Só para descobrir que seus pseudoinformantes inocentes estavam
encerrando o expediente.
Dayja ainda estava tentando decidir o que fazer a seguir quando notou
que um dos ocupantes da suíte, aquele com a mão e metade do rosto
medselados, vinha para a porta da sacada.
Dayja levou a mão à faca escondida enquanto a mente disparava. Ele
podia correr, se esconder ou atacar.
Ou podia fazer o que foi ali fazer.
Dayja esperou até que o homem percorresse todo o caminho até a sacada
e se instalasse com os cotovelos no parapeito, olhando as luzes de
Marblewood do outro lado. Então, de olho na janela ao lado para garantir
que eles não fossem interrompidos, Dayja deu alguns passos na direção do
recém-chegado.
— Boa noite, — disse ele baixinho.
Por uma fração de segundo o homem não reagiu, como se os ouvidos
tivessem dificuldade em mandar um alerta para o cérebro. Jzntao, como
uma súbita lutada de vento, um arrepio passou pelo corpo do sujeito. Ele
virou meio corpo para Dayja, e o único olho perfeito se arregalou. Ou o
homem tinha as reações mais lentas da galáxia, ou tinha tanto remédio para
dor dentro do organismo que vivia em um nevoeiro permanente.
Considerando o tamanho da área de medselo em questão, Dayja achou que
provavelmente fosse a segunda opção.
— Quem é você? — exigiu o homem, com a voz tensa. — Não... fique
aí.
— Calma, eu não vou machucar você, — disse Dayja em tom
reconfortante, dando mais alguns passos à frente. — Só quero conversar.
O único olho do sujeito lançou um olhar para a janela, e o olho prostético
implantado no medselo brilhou hipnoticamente na confusão das luzes da
cidade.
— Sobre o quê?
— Sobre você. — Dayja gesticulou para a sala de estar vazia. — Sobre
eles. Seu interesse em Avrak Villachor. Esse tipo de coisa. — Ele ergueu as
sobrancelhas. — Você está interessado em Villachor, não é?
A língua do homem surgiu brevemente no lábio superior.
— Você é um dos homens de Villachor?
— Longe disso, — garantiu Dayja em um tom seco. — Meu nome é
Dayja. Qual é o seu?
O olho do homem se voltou para a janela novamente.
— Eanjer.
— Vejo que é um nome local — comentou Dayja. — Interessante. E
quanto aos seus amigos? A maioria não é da cidade, correto?
Eanjer franziu a testa, e o olho percorreu a sacada como se ele
subitamente tivesse se lembrado de onde os dois estavam.
— De onde você veio? — perguntou Eanjer. — Como chegou aqui em
cima?
— Ah, não vamos falar sobre mim, — repreendeu Dayja. — Vamos falar
sobre você e seus amigos. O que todos vocês estão fazendo na Cidade de
Iltarr?
O rosto de Eanjer ficou sério.
— Procurando justiça.
— Isso é bom, — falou Dayja em tom encorajador. — Isso é muito bom.
Veja bem, eu também procuro justiça. — Ele encarou a pupila do olho
remanescente de Eanjer, sabendo que a primeira e mais honesta reação viria
dali. — Eu sou da Inteligência Imperial.
Novamente, Eanjer arregalou o olho. Desta vez, Dayja estava
suficientemente perto para ver a pupila crescer junto com o olho.
Ela cresceu, mas rapidamente voltou ao tamanho normal. A revelação
assustara o sujeito, mas ele tinha se recuperado rapidamente.
— Você tem como provar? — perguntou Eanjer.
— Sim, — respondeu Dayja, ele próprio lançando um olhar para a janela.
Mais cedo ou mais tarde, um dos outros acabaria voltando. Não seria
bom que ele e Eanjer estivessem conversando ali quando aquilo
acontecesse.
— Diga-me, — continuou Dayja -, você está confinado a esta suíte? Ou
pode sair e entrar quando quiser?
Eanjer deu um muxoxo baixinho de desdém.
— Eu saio e entro quando quero, é claro. Você pensou que eu fosse um
prisioneiro?
Dayja foi evasivo ao dar de ombros.
— Você joga sinuca?
Novamente, a única pupila de Eanjer se arregalou brevemente antes de
voltar ao normal.
— Sim, por quê?
— Há uma mesa na biblioteca lá embaixo, no segundo andar, logo na
saída do tapcaf, — informou Dayja. — Será um lugar bacana e reservado
para conversarmos.
— Tenho certeza de que será, — falou Eanjer com um toque de
nervosismo na voz.
— Não se preocupe, eu só quero conversar, — garantiu Dayja. — Talvez
comparar algumas anotações. Eu tenho a impressão de que você tem
informações úteis para mim. — Ele deu um sorriso matreiro. — Eu sei que
tenho informações úteis para você.
Eanjer respirou fundo e chegou a uma decisão.
— Tudo bem, — respondeu ele. — Temos uma hora antes de nos
reunirmos novamente.
— Ótimo, — disse Dayja, voltando ao fim da sacada e ao arnês de
gatuno que o esperava. — Eu encontro você em cinco minutos. Se chegar
antes, arrume as bolas e escolha um taco.
Ao longo dos anos, Dayja passara um bom tempo em salões de sinuca e
bilhar como aquele ao lado do tapcaf do hotel. Porém, dado que a maioria
das visitas havia sido para obter informação ou vigiar um suspeito em vez
de realmente tentar dominar o jogo, ele nunca se tornara um jogador muito
bom.
Ainda assim, contra um homem com um braço medselado e
provavelmente com uma prótese alienígena, Dayja calculou que teria uma
boa chance.
Para sua surpresa, ele não teve. Nem mesmo com Eanjer jogando com a
mão esquerda e tendo que equilibrar a ponta ao taco atabalhoadamente
sobre o pulso enfaixado.
Mas tudo bem. Na verdade, estava tudo ótimo. Dayja aprendera há muito
tempo que esportistas competitivos falavam mais livremente quando
estavam ganhando.
E o que Eanjer falava valia muito a pena escutar.
— 163 milhões, hein? — comentou Dayja enquanto observava Eanjer se
preparar para outra tacada. — São muitos créditos. E você disse que o valor
vai ser dividido entre onze pessoas?
— Eu disse que seria dividido igualmente, — corrigiu Eanjer. Ele deu
uma tacada de leve na bola branca. Dayja observou-a bater na bola três, que
caiu perfeitamente na caçapa da quina. — Eu nunca disse que éramos onze.
— Erro meu, — disse Dayja. — Ainda assim, me parece que você
deveria ficar com mais do que apenas uma parte, uma vez que as fichas de
crédito eram suas, antes de mais nada.
Eanjer deu de ombros.
— Cem por cento de nada é nada, — disse ele ao dar a volta para o fim
da mesa.
Eanjer alinhou o taco contra a bola branca e mirou na bola seis desta vez.
Puxou o taco para a tacada, mas antes disso a bola seis piscou e ficou preta
abruptamente.
Eanjer praguejou baixinho.
— Que pena, — Dayja se compadeceu. — Mas poderia ter sido pior. Eu
já vi a bola ficar preta justo quando o jogador ia dar a tacada na branca, sem
poder parar a tempo. A essa altura, tudo que o jogador pode fazer é
praguejar ao dar sequência à jogada e ver a própria tacada lhe custar a
partida.
— E a seguir ouvir a risada do oponente, imagino eu, — falou
Eanjer, dando um olhar maligno para Dayja ao reposicionar a tacada. —
Vamos ao que interessa, que tal? Você quer que o acordo seja uma divisão
em doze partes?
— De maneira alguma, — garantiu Dayja. — Eu não estou interessado
em Villachor e seus créditos adquiridos de forma ilícita. Só estou
interessado no convidado de Villachor... e no pequeno tesouro do
convidado.
— E o que seria esse misterioso tesouro exatamente?
Dayja franziu os lábios. Isso seria arriscado, mas não tão arriscado
quanto encarar Villachor e Qazadi sozinho.
— Farei um acordo com você, — ofereceu ele. — Eu lhe conto tudo
sobre o tesouro e dou qualquer apoio sigiloso de que você precisar, desde
que você o traga para mim assim que invadir a caixa-forte de Villachor. Em
troca, você me promete que não contará para os demais onde conseguiu a
informação e me manterá informado sobre seu andamento.
Eanjer o encarou com atenção.
— E você nos deixará seguir com o plano? Você, um agente da lei, nos
deixará simplesmente entrar lá e roubar Villachor?
— Sim, porque eu estava planejando fazer exatamente a mesma coisa, —
respondeu Dayja. — Dessa maneira, seremos capazes de juntar nossos
recursos e informações, e tomara que possamos nos ajudar.
— Com meu grupo correndo todos os riscos.
— E levando a maior parte das recompensas, — salientou Dayja. —
Além disso, após o golpe de vocês no Lulina Crown na noite de hoje, eu
poderia prender todo o grupo agora mesmo se quisesse. Como você disse,
cem por cento de nada é nada.
Por um momento, os dois se encararam em silêncio.
— Tudo bem, — disse Eanjer finalmente. — Vamos ouvir.
— Certamente, — falou Dayja. Ele pousou o taco na borda da mesma e
gesticulou para uma fileira de assentos ao lado. — Vamos nos sentar, e eu
contarei a respeito de uma organização criminosa conhecida como Sol
Negro. E sobre a coleção secreta e altamente lucrativa de arquivos de
chantagem que eles mantêm.
CAPÍTULO
Havia sido um longo dia, e como era de seu costume, Villachor saiu para
a varanda da suíte particular para alguns minutos de silêncio e relaxamento.
Era uma noite calma e agradável, sem nuvens e com apenas uma brisa
inconstante. As luzes da Cidade de Iltarr brilhavam em volta de Villachor,
— em volta e acima, uma vez que a maioria dos prédios ao redor de sua
propriedade era muito mais alta do que a própria mansão modesta de quatro
andares. Na maioria das noites, ele se deleitava com a vista, imaginando
que estivesse em algum palanque da Velha República, dando ordens para
um exército de criados em volta dele, em silêncio humilde.
Naquela noite, porém, as torres escuras com pontinhos de luz pareciam
encará-lo com um olhar sombrio. E em vez de um soberano altivo,
Villachor se sentia um alvo no meio de um estande de tiro.
Algo estava acontecendo lá fora. Algo espreitava pelas ruas da cidade,
talvez estivesse de olho em um de seus portões neste exato momento. Algo
que potencialmente poderia acabar com tudo que ele havia criado naquele
mundo e naquele setor subornando, chantageando e assassinando.
E Villachor não fazia ideia do que era.
O painel no parapeito piscou indicando uma solicitação: Sheqoa, seu
chefe de segurança, estava na porta da suíte pedindo para entrar. Villachor
girou o topo do braço da cadeira, apertou o botão para que Sheqoa entrasse
e fez uma aposta particular consigo mesmo de que daquela vez ele ouviria a
entrada do sujeito por trás, na varanda.
Novamente Villachor perdeu a aposta. Os ex-soldados imperiais da tropa
de choque, afinal de contas, não eram famosos por fazer barulhos
desnecessários.
— Eu recebi um relatório de Riston, senhor, — falou Sheqoa, cuja voz
vinha de menos de 2 metros de distância. Ele havia entrado na varanda e
andado um bocado. — Ele diz que o brilhestim de Crovendif é legítimo e
tem muita certeza de que não veio de Kessel.
— Muita certeza? — reagiu Villachor. — Que porcaria é essa de muita
certeza?
— Desculpe, senhor, — disse Sheqoa, em tom respeitoso, porém firme.
— Mas Riston diz que não há como ter 100% de certeza, não com uma
coisa criada organicamente. Há muita variação nas próprias aranhas. O
máximo que ele consegue é ter 85% de certeza.
Villachor fez uma expressão de desdém, — seu primeiro impulso foi se
levantar, marchar até o precioso laboratoriozinho de Riston e balançar o
pescoço fino do analista até que ele produzisse algo mais útil.
Mas aquilo não lhe renderia nada mais que uma satisfação momentânea.
O principal trabalho de Sheqoa era proteger Villachor, contudo, com o
passar dos anos, o grande ex- comandante também assumira a tarefa
informal de agir como um escudo entre o chefe e o resto do corpo de
funcionários.
O que provavelmente era uma boa coisa. Quando havia algo a ser
conquistado com ameaças de violência, Sheqoa estava logo ali ao lado de
Villachor, entregando armas ou cuidando ele próprio da tarefa. Mas quando
não havia, Sheqoa também estava ali para evitar que o chefe matasse as
pessoas. Especialmente pessoas competentes.
Se Riston dissera que não havia algo a ser apurado da amostra de
Crovendif, ele provavelmente estava certo.
Com algum esforço, Villachor afastou as ideias sobre matar o analista.
— E quanto ao próprio Crovendif? — perguntou ele.
— Crovendif trabalha para nós há dez anos, oito como vendedor, dois
como gerente de asfalto, — respondeu Sheqoa. — Desempenho decente.
Nada espetacular.
— Esperto o bastante para dar um golpe como esse sozinho?
Ele sentiu a cara feia de Sheqoa.
— A inteligência de Crovendif mal dá conta de conseguir a porcentagem
correta de vendas, — respondeu o grandalhão. — O senhor acha que é um
golpe?
— Acho que a escolha do momento é altamente suspeita, — rosnou
Villachor. — O vigo Qazadi aparece; e então, mal sepassaram nove dias,
alguém surge e nos oferece brilhestim abaixo dos valores do Sol Negro?
Sheqoa ficou calado por um momento, aparentemente tentando digerir
aquela informação.
— Tem que ser o golpista mais azarado da galáxia, — disse ele devagar.
— As chances de isso acontecer são... bem baixas.
Villachor olhou para as luzes da cidade ao redor, novamente contendo a
vontade de esganar. Ele não esperava que Sheqoa entendesse as sutilezas da
situação, e o chefe de segurança cumpriu exatamente suas expectativas.
Isso não era coincidência. Não mesmo. Ou alguém estava provocando
Qazadi e o Sol Negro, o que era uma coisa extraordinariamente idiota de se
fazer... ou então o estranho misterioso era alguém do pessoal de Qazadi, e a
oferta de brilhestim era um teste.
Um arrepio subiu pelas costas de Villachor. Um teste. Mas um teste de
quê? Da lealdade de Villachor? Tudo bem, — ele era capaz de passar num
teste assim.
Mas em que direção Villachor deveria pular? Deveria contar para Qazadi
sobre o vendedor de brilhestim e esperar que o vigo lhe dissesse o que
fazer? Isso poderia demonstrar fraqueza e indecisão da parte de Villachor,
qualidades que nem de longe o príncipe Xizor queria ver em um de seus
chefes de setor. Será que, em vez disso, ele deveria examinar a questão
pessoalmente e levá-la à atenção de Qazadi apenas depois que a
investigação fosse concluída? Mas se Qazadi o flagrasse no meio do
processo, poderia parecer que Villachor planejava fazer um acordo sem que
o Sol Negro soubesse. Esse seria o caminho rápido para uma cova de
indigente.
E se não houvesse uma resposta certa? E se Xizor já o tivesse julgado e
esse teste do brilhestim não fosse nada mais do que uma maneira de deixar
Villachor escolher o caminho para a própria armadilha? Xizor dificilmente
precisava de uma desculpa para eliminar um de seus subordinados, mas ele
poderia fazer daquela forma apenas pelo prazer de ver o condenado se
debater dentro de uma rede da qual não havia escapatória.
E tais pensamentos jamais devem ser simplesmente descartados, dissera
Qadazi sobre os receios de Villachor no primeiro encontro entre os dois,
porque eu não saio do Centro Imperial sem um grande motivo.
Villachor fez uma expressão de desdém. Qazadi explicara que sua visita
tinha três motivos: retirar os arquivos de chantagem do Centro Imperial e
assim despistar Vader e os outros inimigos de Xizor; tirar o próprio Qazadi
do alcance de várias intrigas que aqueles mesmos inimigos estavam se
preparando para lançar; e usar os arquivos para gerar mais alguns escravos
relutantes dentre a elite da Cidade de Iltarr e os dignatários que em breve
chegariam a Wukkar para o Festival das Quatro Honrarias.
Três motivos para sair do Centro Imperial. Se havia três, por que não
quatro? Será que o quarto motivo não seria armar a destruição de Villachor?
E ainda havia o incidente no Hotel Lulina Crown, onde o assistente de
Qazadi, Aziel, estivera no centro de um estranho semiataque.
— Alguma novidade sobre o incidente no Lulina Crown? — perguntou
ele.
— Não, senhor, — respondeu Sheqoa em um tom estranhamente
relutante. — Não exatamente.
— Não exatamente?, — repetiu Villachor incisivamente. — O que
significa não exatamente?
— A polícia deu o caso como encerrado, — falou Sheqoa, soando aflito.
— Eles descartaram como se fosse um trote.
Villachor girou o corpo na cadeira e ergueu um olhar furioso para o
outro.
— Um trote? - reclamou ele. — Uma bomba explode num corredor de
hotel e vira um trote?
Villachor deu as costas novamente e encarou fixamente as luzes da
cidade enquanto puxava o comunicador. Aparentemente era hora de lembrar
ao comissário de polícia Hildebron o nível de serviço que os créditos do
suborno do Sol Negro haviam comprado.
— Foi ordem do comissário Hildebron, — informou Sheqoa
evasivamente. — Após ele ter recebido uma ligação do mestre Qazadi.
Villachor ficou paralisado, com o comunicador a meio caminho dos
lábios.
— O mestre Qazadi suspendeu a investigação?
— E o que parece.
Lentamente, Villachor devolveu o comunicador ao cinto. Mas aquilo era
loucura. Por quê, pela galáxia, Qazadi suspenderia a investigação? Aziel era
um agente do Sol Negro como ele, um colega próximo, e, — até onde
Villachor era capaz de saber, — um amigo tão íntimo quanto era possível
um Falleen ter. Pela lógica, Qazadi deveria estar na delegacia naquele exato
momento, enchendo o gabinete de Hildebron com feromônios e insistindo
que a ameaça contra seu colega e os códigos do cryodex fosse
neutralizada...
Villachor sentiu um nó na garganta. É claro. Os códigos do cryodex.
Porque o fato de estar no bolso do Sol Negro não significava que
Hildebron não fosse um profissional competente. Ele era. E uma
investigação realmente correta poderia revelar facilmente que Aziel estava
na Cidade de Iltarr como guardião da metade dos códigos que ativavam o
cryodex que Qazadi havia trancado em sua suíte.
Obviamente, uma investigação incorreta poderia levar ao roubo daqueles
mesmos códigos se quem quer que estivesse tentando roubá-los decidisse
tentar de novo. Mas aparentemente Qazadi estava disposto a arriscar que
isso acontecesse.
Talvez ele estivesse certo em agir assim. Aziel viera a Marblewood para
ajudar Qazadi a ativar o cryodex antes de cada sessão de chantagem de
Villachor, mas o cryodex e os arquivos em si jamais correram risco algum.
Se os códigos de Aziel fossem roubados ou destruídos, isso simplesmente
significaria que Villachor não poderia usar os arquivos contra possíveis
alvos. Uma inconveniência, mas longe de ser um problema de verdade.
Mas tivesse o ataque falhado ou sido um trote, a questão é que um agente
do Sol Negro tivera sua noite arruinada no meio do território de Villachor.
Isso não era algo que poderia simplesmente ser ignorado ou varrido para
longe.
E se o brilhestim fosse um teste, talvez essa situação também fosse.
— Nós temos alguém no hotel? — perguntou ele.
— Não, — respondeu Sheqoa. — Eu achei que o mestre Qazadi tivesse
ordenado que ficássemos afastados.
— Isso foi antes de o pessoal dele ser atacado, — rosnou Villachor.
— Eu quero um esquadrão postado lá até a meia-noite. Coloque pelo
menos dois homens no mesmo andar, e os demais em qualquer quarto que
eles consigam em cima e embaixo da suíte de lorde Aziel.
— Sim, senhor, — disse Sheqoa com hesitação. — Posso lembrá-lo,
senhor, de que estaremos sobrecarregados controlando a multidão do
Festival nas atuais circunstâncias? Retirar um esquadrão inteiro da nossa
escala de serviço só vai piorar a situação.
— Eu não me importo, — falou Villachor rispidamente. — Desde que
mantenhamos um contingente completo na caixa-forte, isso é tudo que
importa. Se alguém quiser usar o Festival para entrar de mansinho na casa e
roubar algumas colheres, que fique à vontade para tentar. Qualquer coisa
assim pode ser resolvida mais tarde.
— Entendido, — disse Sheqoa, ainda nitidamente insatisfeito, mas
sabendo que não deveria continuar discutindo a questão. — O senhor não
poderia convencer o mestre Qazadi a trazer Aziel e os demais para cá em
vez disso? Tornaria a segurança bem mais fácil.
Villachor sentiu um nó no estômago. Sim, certamente tornaria. Na
verdade, Villachor havia salientado esse mesmo argumento para Qazadi no
primeiro encontro entre os dois.
Mas Qazadi dispensou a sugestão ao invocar uma política do Sol Negro
de manter os arquivos de chantagem e os códigos do cryodex separados, a
não ser que um dos arquivos estivesse para ser lido. Villachor ouviu o
argumento, aquiesceu educadamente e fingiu aceitá-lo, embora tivesse
ficado tão insatisfeito quanto Sheqoa. Aquilo sempre lhe parecera mais uma
desculpa com uma blindagem furada do que uma explicação.
Talvez houvesse outro motivo para Qazadi manter Aziel longe de
Marblewood. Talvez Aziel não estivesse ali apenas para cuidar dos códigos,
mas também estivesse esperando nos bastidores para avançar e assumir
como sucessor de Villachor no momento em que ele falhasse no teste de
Qazadi.
Se fosse esse o caso, dificilmente seria do interesse de Villachor fazer um
grande esforço e sobrecarregar seus recursos a fim de proteger Aziel.
Testes dentro de testes dentro de testes. E Villachor ainda não sabia em
que direção Qazadi queria que ele pulasse.
Mas havia uma coisa de que Villachor tinha certeza: se Qazadi esperava
por uma transferência de poder tranquila e civilizada, era melhor esquecer.
— Volte a falar com Riston, — ordenou ele para Sheqoa. — Diga- lhe
que quero que continue a fazer testes até poder me dizer com certeza de
onde vem aquele brilhestim.
— Não acho que haja mais testes que ele possa fazer, senhor, —
respondeu Sheqoa.
— Então é melhor que Riston invente alguns, — disparou Villachor. —
Vá.
— Sim, senhor.
Sheqoa não pareceu satisfeito, mas ele sabia o que era uma ordem.
— E você não deve contar para o mestre Qazadi ou para o pessoal dele
sobre nada disso aqui, — acrescentou Villachor. — Não até termos certeza.
— Sim, senhor, — disse o grandalhão. — Boa noite, senhor.
Ele deu meia-volta e saiu de mansinho, tão silencioso quanto chegara.
Villachor também se virou e observou até a sombra de Sheqoa passar pela
porta na outra extremidade da suíte. Então, com um suspiro pensativo, ele
se voltou para a vista da cidade.
Obviamente, Riston não descobriria nada de novo. Mas ordenar mais
testes garantiria algum tempo para Villachor, — o suficiente, ele esperava,
para examinar as possíveis armadilhas colocadas de maneira tão tentadora
diante de si.
Enquanto isso, o Festival das Quatro Honrarias começaria em três dias, e
com ele viriam multidões de pessoas importantes e insignificantes da
Cidade de Iltarr para suas dependências e pátio. Villachor tinha uma
exposição para montar, entretenimento para preparar, comida e bebida para
coordenar, e um grande número de autoridades para levar discretamente ao
interior da mansão a fim de suborná-las, ameaçá-las ou chantageá-las.
Ele prometeu a si mesmo que, quando o Festival acabasse, até mesmo
Xizor teria que admitir que Villachor, e apenas Villachor, sabia a melhor
forma de gerir as operações do Sol Negro naquele setor. Se o plano de
Qazadi ainda fosse derrubá-lo, ele descobriria que Villachor era um alvo
muito mais difícil do que imaginara.
E se a isca de brilhestim fosse outra pessoa tentando avançar em seu
território...
Villachor arreganhou os dentes para as luzes altas. Se alguém lá fora
fosse mesmo tolo o suficiente para enfrentá-lo, aquela pessoa se
arrependeria. Muito, muito amargamente.
A tranca fez um clique e a porta se abriu, e com um cansaço que Dayja
não se permitira sentir até aquele exato momento, ele entrou na suíte.
D’Ashewl estava à espera de Dayja, sentado à mesa do escritório.
— Como foi lá?
— Deu certo, — respondeu Dayja.
Ele arrastou os pés no tapete espesso até a cadeira confortável mais
próxima e se permitiu desabar nela. Tinha sido um dia muito, muito longo.
— O mestre Cuciv nem percebeu minha chegada e neste momento está
dormindo para passar o efeito da droga língua-solta.
D'Ashewl resmungou.
— Espero que você saiba o risco que está correndo com aquilo, —
alertou ele. — Uma chance de 80% de ataque cardíaco é algo para ser
levado a sério.
— Eu sei, — disse Dayja, torcendo o rosto ao se lembrar de ter visto o
velho agente do espaçoporto sobreviver à onda inicial da droga antes de o
coração finalmente se estabilizar. — Mas não havia escolha. Nós
precisávamos saber a respeito dos cartões de dados dos arquivos de
chantagem e não podíamos deixar Cuciv com nenhuma memória de ter sido
interrogado a respeito. O que significa que os droides de interrogação
estavam fora de cogitação, juntamente com a Bavo Seis, a OV 600 ou
qualquer outra droga de nosso repertório.
— E se ele tivesse morrido?
Dayja deu de ombros.
— Eanjer tinha dois outros nomes. Um deles provavelmente sobreviveria
ao procedimento.
D’Ashewl resmungou de novo.
— Mas você pegou?
— Sim, — respondeu Dayja. — Cartão de dado de tamanho padrão,
preto fosco, com o símbolo do Sol Negro gravado na frente em preto
reluzente.
— Sutil, — ironizou D’Ashewl. — Artístico também. Não o que se
esperaria dos capangas de Xizor. De que tamanho é o símbolo?
— Bem, esse é o pequeno problema, — admitiu Dayja. — Cuciv foi um
pouquinho vago quanto a isso. Eanjer vai ter que mandar a equipe dele criar
duas ou três versões e torcer para que uma delas seja suficientemente
parecida para passar.
— Não é o ideal, — falou D’Ashewl. — Mas você provavelmente
consegue fazer isso funcionar.
Por um momento, o ambiente ficou em silêncio. Dayja retirou a faca, o
comunicador, a arma de raios de pequeno porte dos bolsos e pousou na
mesinha baixa ao lado da cadeira, tentando decidir se estava cansado
demais para comer ou faminto demais para dormir. Faminto demais para
dormir, concluiu ele. Dayja se levantou e foi para a estação de comida ao
lado da central de entretenimento na outra ponta do escritório.
— Teve sorte identificando meus novos melhores amigos a partir dos
holovídeos que mandei para você? — perguntou ele de costas.
— Na verdade não, — respondeu D’Ashewl. — Sempre me surpreendo
que poucos criminosos tenham algo mais do que apenas os nomes nos
registros policiais. Mesmo os registros do DSI não têm muita coisa.
— Os criminosos do alto escalão aparentemente contratam hackers com
tempo livre demais, — concordou Dayja.
— Ao que parece, — disse D'Ashewl. — Ele já fez a pergunta óbvia?
— Por que não assobiamos para chamar uma legião de stormtroopers e
invadimos Marblewood com tudo? — perguntou Dayja em tom ácido. —
Não com essas mesmas palavras, mas Eanjer deu a entender a pergunta. Eu
tentei passar a impressão de que temos que nos manter dentro dos
procedimentos legais. Todo aquele lance de liberdades e direitos civis.
D’Ashewl deu um muxoxo de desdém.
— Liberdades e diretos, Sei. — Ele suspirou, um som que foi audível até
a estação de comida. — Eu espero que você se dê conta de que estamos na
corda bamba, Dayja. O Diretor está tendo problemas sérios com a corte
neste momento e pode estar de saída, quer a gente consiga ou não os
arquivos de chantagem para ele. Se estivermos ligados a ele quando cair, e
até nove dias atrás nós estávamos, não será agradável para nenhum de nós.
— Ainda há tempo, — disse Dayja com firmeza. — Se ele conseguir
descobrir quais de seus inimigos estão na folha de pagamentos do Sol
Negro, o Diretor pode virar essa ligação contra eles.
— Talvez, — disse D’Ashewl, não parecendo convencido. — Mas ele
conseguindo ou não escapar da queda, nosso futuro ainda está por um fio.
Se pegarmos os arquivos, seremos heróis. Se não conseguirmos, a questão
de o Diretor cair ou não pode ser insignificante. Xizor ficará furioso que
sequer tenham feito uma tentativa e, com suas capacidades de chantagem
ilesas, ele será um inimigo formidável.
— A vida é uma aposta, — frisou Dayja enquanto apertava botões para
pedir algo que fosse rápido de preparar e igualmente rápido de comer. —
Trabalho de espionagem é ainda mais. Não se preocupe, vai dar certo.
— Espero que você esteja certo, — falou D’Ashewl. — O que você vai
fazer com a jogada do brilhestim? Isso já está em andamento, não?
— Sim, mas pode ser pausado por alguns dias, — respondeu Dayja. —
Ninguém além daquele gerente de asfalto, Crovendif, sabe como eu sou.
Desde que eu fique longe da rua, estarei bem.
— Então você vai deixar Eanjer e a equipe dele assumirem a dianteira?
— Por enquanto, — disse Dayja. — Eu presumo que Qazadi estará aqui
para o festival inteiro. Se Eanjer não conseguir pegar os arquivos de
chantagem, eu devo ter tempo de voltar ao plano original.
— Vamos colocar nossas vidas em um conjunto de mãos extremamente
sujas, — alertou D’Ashewl.
— Vai ficar tudo bem, — garantiu Dayja, se permitindo um sorriso
contido.
A preocupação de D’Ashewl era tocante e certamente não era
inapropriada. Mas ambos sabiam que falar em “nossas vidas” era
meramente uma cortesia. D’Ashewl estava na carreira havia tempo
suficiente e amealhara muitos amigos e aliados, a ponto de até mesmo
Xizor hesitar enfrentá-lo. Certamente não por causa de uma tentativa de
espionagem que tinha fracassado, no fim das contas.
Não, a vida de D’Ashewl não estava nas mãos de Eanjer. Porém, Dayja
não tinha costas tão quentes assim. O que acontecesse nos próximos dias
faria ou encerraria sua carreira. Permanentemente.
Mas era preciso correr o risco. O Sol Negro era um mal que vinha roendo
as raízes da galáxia havia muito, muito tempo, e precisava ser detido. Se o
Imperador não estava inclinado a agir e Lorde Vader estava preocupado
demais, então o serviço caberia a homens menos importantes.
E se esses homens menos importantes também perecessem... ainda assim,
como ele dissera, a vida era uma aposta.
Os dados estavam lançados. Dayja simplesmente teria que esperar para
ver que resultado eles dariam.
Nos três dias seguintes, a equipe permaneceu perto da base. O quarto das
gêmeas rapidamente virou uma oficina eletrônica enquanto Bink, Tavia,
Chewbacca e Winter trabalhavam em montar cuspidores que coubessem no
espaço limitado dentro de um cartão de dado. Infelizmente, o amigo de
Eanjer, Donnal Cuciv, não fora capaz de informar o tamanho correto do
símbolo do Sol Negro impresso no cartão de dado que Villachor lhe
mostrara, o que significava que eles precisariam de pelo menos três e
possivelmente uns cinco para cobrir todas as possibilidades com segurança.
Com Winter e Chewbacca também construindo um cryodex falso, o prazo
seria apertado.
Ainda assim, Chewbacca estava com a mão na massa, e até então o
Wookie jamais o decepcionara. Han não esperava que essa fosse a primeira
vez.
Os demais tinham muito trabalho também. Kell instalou uma oticina de
explosivos no quarto adjacente ao das gémeas e passou três dias montando
cargas de vários tamanhos e formas. Zerba se ocupou com os trajes
rasgáveis para troca rápida que Han lhe passara, com pausas frequentes para
descansar os olhos e praticar prestidigitação. Eanjer, em contrapartida, tinha
pouco a fazer além de perambular pela suíte, fazer perguntas e, de resto,
atrapalhar os outros.
Lando e Han passavam a maior parte do tempo na sala de estar, longe dos
olhos dos demais e lendo o volume cada vez maior de material que Rachele
conseguia recolher sobre Villachor, seus funcionários, a mansão e as
pessoas com quem ele mais lidava, muitas das quais também eram
possivelmente associadas ao Sol Negro.
Tinha vezes que Han considerava toda aquela quantidade de dados um
pouco avassaladora. Villachor estava com as mãos em praticamente todos
os aspectos da vida da Cidade de Iltarr, com metade da polícia e
provavelmente mais da metade das autoridades do governo aparentemente
prontas para largar tudo sob seu comando. Era uma confirmação
preocupante de que a equipe tinha montado acampamento no meio de um
território seriamente hostil.
Lando, previsivelmente, não parecia incomodado com aquilo. Talvez,
como um apostador, ele estivesse mais do que acostumado a encarar mesas
cheias de inimigos. Talvez ele fosse apenas melhor em esconder seu
nervosismo. Ele examinava os dados de Rachele rápida e metodicamente,
às vezes fazendo comentários sobre alguma informação especialmente
reveladora ou útil. Às vezes experimentava vários sotaques que achava que
poderiam ser úteis quando finalmente encarasse Villachor cara a cara.
Era um pouco irritante vê-lo assim tão calmo, mas Han tinha que admitir
que talvez Lando encarasse a situaçao de uma maneira melhor. Jabba e os
outros Hutts não eram assim tão diferentes de Villachor e do Sol Negro, a
não ser pelo fato de que a influência deles era mais ou menos descarada e
óbvia, em vez de estar enterrada em um labirinto de raízes subterrâneas.
Han havia sobrevivido às intrigas e à inimizade dos Hutts. Ele também
sobreviveria a qualquer coisa que Villachor jogasse contra ele.
Dozer era a principal exceção do comportamento geral de ficar em casa,
adotado pelos demais. Desde a primeira vez que Tavia pedira a ele que
saísse para comprar algumas energicélulas, Dozer tomara para si o papel de
menino de recados, indo pegar tudo, de peças de detonador a novas
bandagens de medselo para Eanjer e comida rodiana quando Zerba
subitamente tinha uma vontade louca.
Houve um momento em que Rachele brincou que Dozer passava mais
tempo fora da suíte do que dentro, e se perguntou em voz alta se
conseguiria um desconto referente à parte dele do aluguel. Foi um exagero,
obviamente, mas todo mundo notou que Dozer geralmente se ausentava por
horas a fio, em busca de seu objetivo no momento.
Han apenas torcia para que nenhum deles suspeitasse do verdadeiro
motivo da ausência do sujeito.
Enquanto eles trabalhavam, as dependências de Villachor lá embaixo
estavam sendo transformadas em alguma coisa que era meio feira livre e
meio exposição. Do céu, telas e pavilhões acenavam com a promessa de um
retorno do esplendor da Velha República.
A multidão já era enorme, e parecia que uma em cada três pessoas que
avistava Villachor queria vir cumprimentá-lo, agradecer pela hospitalidade
ou conversar um momento com ele como se fosse de fato um amigo.
Mas se havia uma coisa que Lando aprendera na mesa de sabacc era
paciência. Ele exercia aquela paciência naquele momento, passeando pela
borda do séquito de Villachor, examinando o homem e seus guarda-costas.
Os nativos usavam determinados gestos e palavras nas saudações, que ele
percebia ao mesmo tempo que tentava identificar os sinais de interesse,
impaciência ou tédio da parte do próprio Villachor.
Finalmente, houve uma calmaria. Villachor fez uma pausa e olhou em
volta enquanto murmurava alguma coisa para um dos guarda-costas. Lando
deu a volta por um par de Ithorianos de cabeça de martelo e foi atrás do
grupo.
Villachor notou a aproximação dele, e Lando notou um leve tremor no
lábio antes de o rosto do anfitrião dar mais um de seus sorrisos falsos.
— Boa tarde, — disse Villachor, provavelmente na esperança de que, ao
falar primeiro, pudesse controlar a duração da conversa. — Curtindo o
Festival?
— Muito, — respondeu Lando, dando um educado aceno de cabeça que
parecia ser condizente com os cidadãos da elite da Cidade de Iltarr. — Eu
imagino que algo do gênero seja extremamente caro de organizar.
O sorriso de Villachor diminuiu um pouco. Aparentemente, a maioria das
pessoas com quem falava tinha o bom senso de não abordar um assunto tão
grosseiro.
— Vale muito o custo — respondeu ele calmamente. — O prazer que o
Festival dá ao cidadão comum é algo que não pode ser medido.
— É verdade — concordou Lando. — E, obviamente, eu suponho que o
Festival ofereça oportunidades únicas de conhecer pessoas. Algumas das
quais podem trazer ofertas interessantes.
O sorriso de Villachor cresceu, ao mesmo tempo que esfriou alguns
graus.
— Eu sinto muito, mas todas as discussões sobre novos negócios estão
interrompidas durante o Festival, mas fique à vontade para entrar em
contato com meu gabinete após o fim da Honraria ao Fogo em Movimento.
— Ele inclinou a cabeça e começou a dar as costas.
— Eu compreendo, — disse Lando dando um longo passo para se
aproximar, ciente de que os dois guarda-costas já se moviam para
interceptá-lo. — Deixe-me dizer apenas uma palavra: Cryo...
Lando foi interrompido quando os dois guarda-costas o seguraram, e um
colocou o antebraço em sua garganta como um gesto de advertência
enquanto o afastavam de Villachor.
— Um momento, — falou Villachor, detendo os homens com um dedo
erguido. — Muito bem — continuou ele com um tom de voz casual
ensaiado. — Uma palavra.
O guarda tirou milimetricamente o braço da garganta de Lando, pronto
para esganá-lo se necessário. Lando pigarreou.
— Cryodex — disse ele.
Lando contou seis batidas do coração antes de Villachor falar novamente.
— Tragam-no, — disse ele abruptamente.
Villachor deu meia-volta e retornou a passos largos para a mansão, indo
na direção de uma das menores portas de serviço. Os guarda-costas
soltaram Lando, e um deles o cutucou nas costas, dando uma ordem
silenciosa.
Não que ele precisasse de qualquer incentivo. Lando ia atrás de Villachor
a passos rápidos, ajustando o ritmo para alcançá-lo aos poucos. Ele sabia
que havia dezenas ou possivelmente centenas de pessoas e droides entrando
e saindo da mansão naquele dia, para reabastecer as barracas com comida e
bebida e cuidar de outros afazeres. Seria instrutivo ver exatamente como
Villachor havia arrumado as trancas das portas para permitir um vaivém
deles e, ao mesmo tempo, impedir que estranhos aleatórios entrassem na
mansão.
Foi, na verdade, um completo anticlímax. Villachor simplesmente
percorreu a trilha de lajotas até a porta, pegou e virou a maçaneta, e abriu a
porta sem problemas, incómodos ou contestação.
Lando conteve um sorriso quando ele e os dois guarda-costas entraram
atrás de Villachor. Como um dos truques de mágica de Zerba, as aparências
enganavam. Villachor pegara a maçaneta, mas, imediatamente antes de
virá-la, curvou-se levemente na cintura. Havia então um disparador
eletrónico, com o receptor no mecanismo da maçaneta e o ativador
escondido em algum lugar na área do pescoço ou ombro de Villachor.
Possivelmente o pingente retangular com uma minúscula pedra esmaltada
que Lando notara em uma pequena gargantilha em volta do pescoço de
Villachor.
E que também estava no pescoço dos guarda-costas, Lando percebia
então.
Eles haviam arrumado um jeito de entrar. Talvez.
Villachor parou depois de alguns passos perto da porta e esperava por
eles ao lado de mais dois guardas.
— E agora, — disse ele, sem sequer a falsa cordialidade na voz -, vamos
a um lugar calmo para conversar um pouco.
CAPÍTULO
10
Lando foi levado para Villachor até um aposento pequeno e sem janela,
que continha possivelmente a mesa de trabalho mais intimidante que Lando
já tinha visto na vida. Mais dois guardas esperavam do lado de dentro, bem
perto da porta, o que elevava para seis o número de homens armados.
— Sente-se, — disse Villachor, indicando uma enorme cadeira
acolchoada em frente à mesa enquanto ele dava a volta por trás dela. —
Talvez você queira algo para beber?
Lando sabia que aquela provavelmente era uma oferta sincera. Mas
também era um teste. Villachor estava sondando Lando, tentando perceber a
fala, as reações, os modos e padrões. Era a mesma dança refinada que
também acompanhava toda partida de sabacc, e Lando estava acostumado
àquilo.
— Não, obrigado — disse ele se acomodando na cadeira.
Ela era ainda mais confortável do que aparentava; os braços macios e as
almofadas cederam ao peso de Lando e o envolveram. Ele estaria sem sorte
se estivesse planejando uma saída rápida e inesperada. Provavelmente era
esse o motivo por trás do design da cadeira, na verdade.
— Eu sei que seu tempo é valioso.
— É mesmo, — concordou Villachor, que se sentou na própria cadeira.
— Porém, mais valioso ainda do que o tempo é a informação —
continuou Lando. — E tenho certeza de que o senhor não quer que o que
estou prestes a lhe dizer seja ouvido por ninguém além do seu pessoal mais
próximo e mais confiável.
Villachor deu um sorrisinho.
— Se eu não confiasse nestes homens, eles teriam ido embora há muito
tempo.
— É claro — falou Lando. — Mas existe confiança e confiança.
Por um instante, Villachor o encarou pensativo. A porta se abriu do outro
lado da sala, e o homem que a pesquisa de Rachele identificara como o
chefe de segurança, Sheqoa, entrou. Villachor olhou de relance para o
sujeito e retornou o olhar para Lando.
— Muito hem — disse ele. — Tawb, Manning, esperem lá fora. Os
demais, voltem para seus afazeres. Sheqoa, você fica comigo.
Tão silenciosamente quanto Sheqoa entrara, o restante dos guardas saiu.
Villachor esperou que a porta estivesse fechada novamente, depois
gesticulou para Sheqoa ficar atrás de Lando.
— Muito bem, você tem a privacidade que queria, — falou ele. — Fique
sabendo que, se isto for alguma espécie de piada ruim, meu rosto será a
última coisa que seus olhos verão na vida.
— Sem piadas, — garantiu Lando, que estava acostumado a ser
ameaçado, mas havia algo na voz de Villachor que lhe provocou um arrepio
na espinha. — Vou começar contando algumas coisas que o senhor já sabe.
O senhor é um integrante do alto escalão do Sol Negro, está recebendo um
integrante ainda mais elevado, um vigo chamado Qazadi, e o mestre Qazadi
possui um conjunto de arquivos de chantagem que o senhor está usando
para ganhar ou sedimentar vantagens contra vários cidadãos de Wukkar e
provavelmente alguns visitantes de fora do planeta que vieram para o
Festival.
Ele fez uma pausa para tomar ar.
— Você é um contador de histórias divertido, no mínimo — comentou
Villachor, sem revelar nada na expressão. — Por favor, continue.
— Os arquivos de chantagem estão, obviamente, super encriptados, —
disse Lando. — O aparelho usado para decifrá-los é chamado de cryodex,
de design alderaaneano, e apenas poucos deles ainda existem.
— Ou possivelmente nenhum, — sugeriu Villachor.
— Não, existem pelo menos dois, — garantiu Lando. — O mestre
Qazadi tem um. — Ele inclinou a cabeça. — Eu tenho outro.
O olhar de Villachor foi para Sheqoa, depois se voltou para Lando.
— Eu calculo pelo seu tom excessivamente dramático que você espera
que isso tenha algum significado para mim.
— Sim, — concordou Lando. — E uma vez que ambos concordamos que
o tempo é precioso, deixe-me colocar as cartas na mesa. Eu represento um
grupo de pessoas que assumiu a tarefa de vasculhar o Império em busca de
gente que pense da mesma forma, cujos talentos e ambições estejam sendo
subutilizados ou, em alguns casos, completamente desperdiçados. Quando
pessoas assim são encontradas, esse grupo oferece melhores condições para
elas. Às vezes, isso envolve um posto em uma organização diferente, uma
que as valorize mais. Em outras ocasiões, significa dar ajuda para que elas
caminhem sozinhas. Às vezes, indicamos uma solução intermediária, um
trabalho temporário ou talvez uma autonomia tutelada.
— E se a pessoa está plenamente contente onde está? — perguntou
Villachor.
Lando deu levemente de ombros.
— Pela minha experiência, ninguém que esteja trabalhando abaixo de
suas capacidades está plenamente contente.
— A não ser que a pessoa saiba que a atual situação é a melhor que
provavelmente terá.
— Sempre há algo melhor, — falou Lando. — É simplesmente uma
questão de reconhecer a oportunidade quando ela chega.
— Você faz parecer tão fácil, — disse Villachor secamente. — E tão
desprovido de um provável perigo. Fale sobre este seu suposto cryodex.
— Como eu disse, o cryodex é a chave para ler os arquivos de chantagem
que estão guardados em sua caixa-forte neste momento
— explicou Lando mantendo a voz firme. O plano inteiro de Han
dependia de que essa história fosse convincente. — Esses arquivos teriam
um valor imensurável para as pessoas que eu represento.
O sorriso de Villachor foi sombrio e irritadiço.
— E tudo que eu tenho que fazer é entregar os arquivos, e oportunidades
maravilhosas cairão do céu?
— Oportunidades maravilhosas, exatamente, — confirmou Lando.
— O senhor seria capaz de literalmente cobrar o próprio preço, à sua
escolha. — Ele fez que não com a cabeça. — Mas nós dois sabemos que
não cairiam apenas oportunidades. O príncipe Xizor em pessoa
provavelmente lideraria a expedição atrás de sua cabeça.
– E da sua, — salientou Villachor. — Porque eles certamente arrancariam
todos os nomes, rostos e memórias de mim antes que eu tivesse permissão
para morrer.
— Ah, eu não tenho dúvida — concordou Lando em tom sombrio. — Por
isso o senhor seria um tolo se roubasse os arquivos, e por isso eu seria um
tolo se sugerisse tal coisa.
Villachor franziu levemente a testa.
— Neste caso, por que você está aqui exatamente?
— Para oferecer uma alternativa mais segura — disse Lando. — Não
para roubar os arquivos, mas para copiá-los.
Novamente, o olhar de Villachor se voltou para Sheqoa.
— Copiá-los, — repetiu ele categoricamente.
— Exatamente, — falou Lando. — O senhor tem os arquivos; eu tenho o
cryodex. Nós nos encontramos na caixa-forte, deciframos os arquivos e
copiamos em cartões de dados padrão, talvez protegidos por nossas próprias
encriptações, escolhidas por nós.
– Nossas encriptações?
Lando ergueu a mão.
— Um ato falho. Suas encriptações, obviamente.
— Ótimo — disse Villachor em uma voz que novamente provocou um
arrepio nas costas de Lando. — Porque qualquer tentativa da sua parte de
fazer uma cópia exigiria que eu lhe matasse ali mesmo. Vamos dizer que eu
tenha cópias dos arquivos. O que acontece a seguir?
— Eu apresentaria o senhor aos cavalheiros dos quais lhe falei, — Lando
conseguiu responder, com a garganta subitamente seca. — Vocês chegarão a
um acordo mutuamente satisfatório, e a ascensão à plenitude de seu
potencial terá começado.
— Sim, — falou Villachor pensativamente. — Deixe-me lhe dizer o que
eu acho. Acho que você nunca viu um cryodex na vida, muito menos possui
um. Acho que você não tem organização alguma por trás, certamente
nenhuma com algum poder. Acho que está aqui simplesmente como um
teste para ver se minha lealdade ao Sol Negro pode ser subvertida por uma
história tão ridícula e obtusa. E acho que, só por cautela, eu terei que matá-
lo.
Villachor se recostou novamente na cadeira.
— Vamos tentar de novo. Quem é você, e para quem você trabalha?
— Não há necessidade de ameaças — reclamou Lando brandamente,
sentindo um pouco da tensão ir embora.
A ameaça era real; porém, estranhamente, aquilo era um bom sinal, na
verdade. Se Villachor não estivesse interessado, ou pelo menos intrigado
pela oferta, ele simplesmente teria mandado Sheqoa expulsá-lo.
— Meu nome não é importante, mas o senhor pode me chamar de
Kwerve. E quanto aos meus empregadores... — Lando deu de ombros. —
Por enquanto eles devem permanecer anónimos.
— Que pena — falou Villachor. Talvez ele tivesse contraído a
sobrancelha ao ouvir o nome, mas a reação foi suficientemente pequena a
ponto de Lando ter apenas imaginado. — Teria sido útil saber para onde
enviar seu corpo.
— E claro que o senhor não precisa se comprometer agora, — continuou
Lando. — Eu não esperaria por isso. Daqui a dois dias é a Honraria ao Ar
em Movimento. Na ocasião, trarei meu cryodex para mostrá-lo. O senhor
pode selecionar um dos cartões de dados de chantagem, e eu decifrarei um
dos arquivos para o senhor. Depois disso, conversaremos mais.
— Considerando que nós dois ainda sejamos capazes de conversar?
— Por que não seríamos? — contra-argumentou Lando com bom senso.
— O senhor não fez nenhuma declaração e não tomou nenhuma atitude que
seja de alguma forma desleal aos chefes do Sol Negro. Tudo que o senhor
concordou em fazer foi ver se um estranho que alega possuir um artefato
valioso realmente o possui. Se eu possuir, é possível que sua intenção seja
comprar o artefato e enviá-lo para o Centro Imperial como um presente para
a coleção de raridades do príncipe Xizor.
— Talvez, — disse Villachor enquanto sondava o rosto de Lando com o
olhar.
Lando ficou sentado calado, esperando Villachor analisar a proposta.
Quando veio a decisão, ela veio subitamente.
— Depois de amanhã, na quinta hora após o meio-dia, — disse ele
abruptamente. — A tempestade presa será apresentada nesse horário e
atrairá a atenção dos visitantes para a seção noroeste das dependências.
Você virá à porta por onde está prestes a sair e esperará até que seja aberta.
Você trará, obviamente, o cryodex.
— Obviamente — concordou Lando, que começou a se levantar,
mexendo os quadris para soltar-se dos braços extremamente estofados da
cadeira.
E abruptamente caiu sentado de novo quando a mão de Sheqoa empurrou
Lando para baixo com força.
— Se você planeja uma traição, — continuou Villachor, em um tom de
voz baixo e mortal -, eu sugiro veementemente que, em vez disso, você saia
de Wukkar no transporte mais próximo.
— Compreendido. Eu verei o senhor depois de amanhã, às cinco horas
após o meio-dia. — Lando virou o pescoço a fim de olhar para Sheqoa. —
Posso?
Por um momento, o grandalhão apenas o encarou com uma cara
inexpressiva. A seguir, ele soltou o braço de Lando. Com mais esforço e
remelexo, Lando finalmente se soltou da cadeira.
— Os homens do lado de fora vão acompanhá-lo à saída, — falou
Villachor, que permaneceu sentado. — Até lá, mestre Kwerve.
— Até lá, — confirmou Lando. — Uma observação final, se for possível.
Nada neste universo dura para sempre. Nem o poder, posto ou aliados. —
Ele inclinou a cabeça. — Nem mesmo o Sol Negro. — Lando transformou
a inclinação de cabeça em um aceno educado. — Bom dia, mestre
Villachor.
Sheqoa o acompanhou até a porta e murmurou algumas palavras para os
guarda-costas que esperavam do lado de fora. Um deles gesticulou
silenciosamente para Lando, e sem dar uma palavra, eles o acompanharam
por um corredor largo, passaram por um par de portas entalhadas à mão e
chegaram a uma porta modesta em uma parede grossa, mas também
modesta. Lando foi conduzido através dela e se viu na extremidade sul da
ala sul da mansão.
A mesmíssima porta, na verdade, por onde Aziel sempre entrava.
O que significava que, presumindo que a planta de Rachele estivesse
correta, Lando acabara de passar pelo salão de baile menor e pela caixa-
forte de Villachor.
Talvez em dois dias ele conseguisse ver o interior daquela caixa- forte,
onde Rachele e sua incrível teia de contatos e fontes ainda nem tinham
conseguido entrar.
Talvez em dois dias ele estivesse morto.
11
12
A fábrica era velha, estava caindo aos pedaços, tinha três andares com
tinta descascando e janelas com camadas de poeira de décadas e arranhões
provocados pelo vento. Era o tipo de lugar que ninguém olharia duas vezes,
onde ninguém gostaria de entrar e que absolutamente ninguém jamais
gastaria suados créditos para alugar.
O que o tornava o lugar perfeito para uma força policial instalar uma sala
de interrogatório por baixo dos panos.
— Você sabe que vai disparar esses troços às cegas, — alertou Winter
quando eles armaram o quinto dos seis fuzis de raios de repetição E-Web
que foram roubados do depósito do contrabandista de armas. — Se você
tentar conectar esses gatilhos aos eletrobinóculos e ao sistema de mira, o
fluxo de dados será óbvio demais para o outro lado deixar de notar. Eles vão
rastreá-lo até você, e aí será o fim.
— Eu sei, — falou Han. — Ainda bem que eu não me importo se a gente
realmente acertar alguma coisa.
Winter fez uma longa pausa e olhou feio para ele.
— Você não planeja acertar alguma coisa? Então por que trouxemos as
armas, afinal?
— Porque elas são ótimas para fazer barulho, — respondeu Han ao se
abaixar para prender um dos gatilhos de Tavia ao mecanismo de disparo. —
Algo para fazer todo mundo olhar para as direções erradas. Chewie e Kell
vão infligir todo o dano de verdade.
— Tomara que seja apenas onde eles devam infligir, — murmurou
Winter.
— Chewie dá conta do recado. — Han olhou para Winter pelo cano do E-
Web. — A pergunta é: e Kell?
— Eu disse que já o vi voar.
— Sim, mas você não disse que o viu voando em combate, — salientou
Han. — Você o conhece bem, afinal de contas?
Winter deu de ombros ao terminar de firmar o tripé do E-Web e subir
novamente no airspeeder.
— Ele se juntou a Mazzic há mais ou menos seis meses, dois meses
depois de mim. Kell parece competente e leal o bastante, mas tenho a
impressão de que ele tem alguma história por trás. Um lance de família,
provavelmente.
— É, bem, quem não tem? — resmungou Han ao entrar no airspeeder ao
lado dela.
Ele ligou os repulsores, decolou e foi para o ponto que escolhera para
colocar a última arma.
— E ele não falou especificamente, — acrescentou Winter com hesitação
-, mas acho que Kell também é Alderaaneano.
Han sentiu o lábio se contorcer. Leia fingira não se abalar, tanto durante a
fuga da Estrela da Morte quanto depois. Porém, durante tudo aquilo, mesmo
quando ela estava dando parabéns a ele e a Luke pela vitória em Yavin, Han
notara o sofrimento profundo e duradouro por trás dos olhos dela.
Ele tinha reconhecido o mesmo sofrimento em Winter. E agora que
pensava a respeito, Han se dava conta de que ela tinha razão. Kell carregava
o mesmo fardo na memória.
Han tinha provado daquele sofrimento, embora não no mesmo nível que
Leia, Winter e Kell, e sabia muito bem que aquilo provocava alguns efeitos
nas pessoas. Às vezes o sofrimento as deixava deprimidas, indiferentes ou
letárgicas. Às vezes as deixava permanentemente furiosas e incapazes de se
importar com alguém ou alguma coisa por muito, muito tempo.
Às vezes o sofrimento as tornava temerariamente suicidas.
— Não se preocupe, ele vai se sair bem, — assegurou Winter. — Kell
sabe o que está em jogo e compreende seu dever. O que quer que você
tenha dito para ele fazer, Kell fará.
— Bem, se não fizer, ele vai se entender com Lando, — disse Han. O
comunicador tocou, e ele o tirou do cinto. — Chewie? E aí?
Desta vez, as notícias eram boas.
— Ótimo, — respondeu Han olhando o céu.
O trânsito de airspeeders nas principais rotas do centro da cidade ao sul e
a oeste estava intenso como sempre, e havia um fluxo constante de veículos
indo e vindo nas áreas interurbanas menos populosas, ao norte e a leste.
Mas nada parecia estar vindo na direção deles naquele momento.
— Você e Kell, esperem pelo meu sinal, — falou Han. — E mande Dozer
vir aqui imediatamente; é melhor que ele ajude com os E-Webs.
Han recebeu uma confirmação e desligou.
— Dozer provavelmente preferiria ficar esperando no espaçoporto, —
comentou Winter.
— Eu não dei escolha para ele.
— Talvez devesse dar, — disse Winter. — De todo mundo no grupo, ele
é quem mais me preocupa.
— Ele não tem problema, — falou Han. — Só está se sentindo um pouco
fora do que sabe fazer, apenas isso.
— Um ladrão de naves que não teve que roubar nave alguma até agora,
— disse Winter acenando com a cabeça. — Então por que você o trouxe?
— Ele seria o testa de ferro até Lando aparecer, — respondeu Han
enquanto dava a volta com o airspeeder e parava ao lado do motor quebrado
e coberto por poeira de uma esteira rolante.
— Isso significa que ele guarda mágoa de Lando? — insistiu Winter ao
sair e pegar o cano do último E-Web.
— Dozer, não, — garantiu Han ao pegar a outra ponta e ajudá-la a tirar a
arma do porta-carga do airspeeder. — Pague a Dozer os mesmos créditos
por metade do serviço, e ele voltará para casa rindo. Vamos colocar essa
aqui do outro lado daquele regulador.
Eles estavam na metade da montagem do E-Web quando Han notou um
airspeeder saindo do céu da noite e vindo na direção dos dois. Por um
instante ruim, Han achou que eles tivessem estourado o tempo, mas assim
que o veículo se aproximou, ele viu que era um airspeeder do grupo.
O veículo pousou, e Dozer saiu.
— Como estamos aqui? — perguntou ao se aproximar a passos largos.
— Quase terminando, — respondeu Han. — Chewie disse que você
conseguiu alguma coisa para Kell?
— Melhor do que apenas alguma coisa — disse Dozer enquanto protegia
os olhos da massa de luzes da cidade a oeste ao olhar para a fábrica. —
Encontrei um Z-95 Headhunter para ele. Uma versão AF-4 ainda por cima,
com todos os recursos de que a pessoa precisa para transformar prédios
antigos em pilhas de poeira. — Ele gesticulou. — Porém, se aquele é o
alvo, eu provavelmente teria dado duas pistolas sônicas para Kell e
encerrado o assunto. Onde você me quer?
— Ali, — falou Han apontando na direção de um barracão meio
desmoronado. — Deve ter espaço suficiente para você e o airspeeder ali
dentro. Você cuidará dos dois E-Webs deste lado. Winter e eu estaremos no
outro lado, com quatro.
— Certo — respondeu Dozer hesitante. — Então vamos atacar quando
eles entrarem?
— Não, — disse Han. — Vamos esperar que eles entrem.
— Ah, — falou Dozer com mais hesitação ainda. — E assim que
abrirmos fogo, como nós vamos evitar que tudo isso desabe em cima deles?
— Na verdade, — respondeu Han -, nós não vamos.
— Lá, — disse Wolv apontando para a direita. — Devem ser eles agora.
Lando acompanhou o dedo do sujeito. Ao longe, dois airspeeders haviam
saído do trânsito das aerovias principais e estavam descendo, indo a algum
lugar um pouco à esquerda.
— Já não era sem tempo, — resmungou Folx, que fez uma curva fechada
com o airspeeder e foi na direção do local de pouso apontado pelo outro.
Lando se debruçou à frente no meio do banco e virou o pescoço para
olhar entre os dois captores. Eles voavam sobre uma área industrial, e
apenas a metade dela parecia ainda estar sendo utilizada. Diretamente em
frente, o destino mais provável era um prédio monstruoso de três andares,
completamente sozinho no meio de pilhas de entulho, e que parecia ter sido
abandonado no primeiro dia das Guerras Clônicas.
— Cuidado com o que fala, — alertou Wolv em tom ameaçador e bateu
no parceiro com as costas da mão para dar ênfase. — Quando o chefe
parece com medo, estamos falando de alguém com quem você não quer se
meter.
Folx deu um muxoxo de desdém.
— O chefe é um velho Ugnaught, — disse ele em tom de deboche. —
Um chefão do crime é basicamente igual ao outro.
— Se você quiser dizer alguma coisa errada e deixar com que fritem seu
cérebro, vá em frente, — contra-argumentou Wolv. — Só me faça o favor
de fazer isso quando estiver com Cran ou Barr em vez de mim, ok?
Folx deu outro muxoxo de desdém.
— Você é um velho Ugnaught também.
— Talvez, — disse Wolv. — Mas um Ugnaught chega à velhice sendo
esperto. Então me faça um favor: seja esperto.
Folx balançou a cabeça, e Lando conseguiu imaginá-lo revirando os
olhos.
— Beleza. Se isso faz você se sentir melhor.
Tirando alguns buracos nas janelas superiores da fábrica, o lugar não
parecia ter abertura alguma, e por um momento Lando teve a esperança de
que o encontro ocorreria do lado de fora. Não havia muitos lugares para
onde correr ali, mas pelo menos correr seria uma opção.
No entanto, ao se aproximarem do prédio, uma porta larga, atrás de um
cais de carga parcialmente desmoronado, começou a subir pesadamente. Os
outros dois airspeeders já estavam se dirigindo para o interior, e o primeiro
mal esperou que houvesse espaço suficiente para passar e entrou pela
abertura com uma indiferença que beirava a arrogância. O segundo
airspeeder deu mais alguns segundos para a porta e depois acompanhou o
outro.
Lando olhou para Zerba. O primeiro airspeeder está com os guarda-
costas, disse ele sem emitir som.
Zerba concordou com a cabeça e encolheu os ombros. Onde estão eles?,
respondeu ele da mesma forma.
Lando deu uma piscadela para Zerba e virou o rosto. Não havia, afinal de
contas, razão para que o outro também ficasse preocupado.
Porque Zerba estava certo. Han e os demais deveriam estar ali àquela
hora. Chewie deveria estar agachado ao lado de um daqueles barracões de
equipamentos desmoronados com sua balestra, disparando cuidadosamente
no agrupamento de repulsores para obrigar Folx a fazer um pouso rápido,
porém ainda sob controle. Han deveria estar em algum ponto próximo ao
cais de carga, disparando com aquele BlasTech DL-44 superaquecido que
ele tinha e mantendo os outros dois airspeeders ocupados. Outra pessoa do
grupo, talvez Dozer ou Kell, deveria estar dando fogo de cobertura para
Han e Chewie, enquanto outro integrante, — qualquer um, — deveria vir a
toda velocidade em um airspeeder para pegá-los e fugir rapidamente.
Mas não havia nada. Não havia ninguém lá fora atirando. Não havia
sequer alguém visível. Nenhum veículo de qualquer tipo, em parte alguma.
Havia muitos barracões e esconderijos onde alguém poderia estar à espreita,
mas nenhum deles com o tipo de recurso para ataque e desaparecimento que
um resgate como esse exigia.
Porque somente uma manobra de ataque e desaparecimento daria jeito
naquela situação. Assim que ele e Zerba estivessem no interior do prédio,
tudo poderia acontecer. Lando não era engenheiro de estruturas, mas
mesmo ali de fora era muito evidente que começar um tiroteio naquele
lugar poderia facilmente fazer tudo desmoronar em cima de quem quer que
estivesse no interior.
Lando olhou para a porta adiante, que ainda se abria com esforço. Seria
possível que não houvesse resgate porque o grupo não sabia onde ele e
Zerba estavam?
Ridículo. Winter e Tavia certamente testemunharam o sequestro lá da
suíte, e Rachele certamente conseguira rastrear o airspeeder de alguma
forma. Folx andara voando com eles pela cidade por mais de uma hora,
tempo mais do que suficiente para Han bolar um plano.
A não ser que não houvesse resgate porque Han decidira não perder
tempo com isso.
Lando tomou fôlego cautelosamente. Não, — aquilo era loucura. Han
não faria algo assim. Sim, Lando tinha dito poucas e boas para Han da
última vez que os dois se despediram; e sim, ele mencionara algo a respeito
de jamais querer ver Han novamente. Mas Han o convidara para aquele
serviço, e Lando já tinha desistido daquele lance de jamais-encontrá-lo-
novamente. E Han certamente parecia ter aceitado o pedido de desculpas de
Lando.
Além disso, mesmo que Han não estivesse pronto para perdoá- lo, com
certeza Chewie não daria as costas para dois colegas de equipe em apuros.
Não era do feitio dele.
No mínimo, alguém no grupo deveria se importar com Zerba para tentar
um resgate.
Então, onde estavam eles?
— Dê uma boa olhada, — alertou Wolv com um gesto amplo.
Lando despertou dos pensamentos sombrios para notar que estavam perto
da porta aberta. — Pode ser a última visão que você terá do mundo exterior.
— Não se preocupe, — respondeu Lando o mais calmamente possível.
Homens como ele, Lando se lembrou com firmeza, não se intimidavam
facilmente. — Nós vamos sair numa boa. A questão é: você vai?
Wolv apenas deu um muxoxo de desdém.
E então eles passaram pela porta e cruzaram a vastidão impressionante de
um espaço aberto parcialmente iluminado, e o som dos motores do
airspeeder ecoou no teto alto. Adiante, os dois airspeeders estavam
pousados, cercados por meia dúzia de grandalhões com fuzis de raios de
prontidão. Folx desceu o airspeeder gentilmente até o chão, a uma distância
respeitosa de 50 metros, e a seguir ele e Wolv saltaram, deixando Lando e
Zerba sozinhos.
— Agora? — murmurou Zerba, que mexeu os dedos e revelou a gazua de
três pontas.
— Ainda não — sussurrou Lando enquanto os sequestradores
caminhavam até o grupo que os aguardava. — Os outros guardas estão
observando a gente.
— Certo — disse Zerba, com a voz um pouquinho trémula. — Vamos
precisar de uma distração, não é? — Ele deu um tapinha expressivo no
estojo sobre o colo. — Calculo que a gente só tenha uma, mas ela é uma
belezinha.
— Calma, — alertou Lando. — Ainda não estou pronto para recolher os
frutos do jogo.
Um dos guardas gesticulou para o segundo airspeeder. A porta se abriu, e
um velhinho baixo saiu do interior. O especialista em bombas,
provavelmente. Ele deu um passo para o lado a fim de abrir espaço para
uma segunda figura...
Lando se contraiu. Atrás do velho, saiu um Falleen do airspeeder.
— Lando? — perguntou Zerba urgentemente.
— Ainda não, — respondeu Lando, se indagando por que ainda se dava
ao trabalho. Ele não sabia se aquele era o mesmo Falleen com quem Dozer
se envolvera no Lulina Crown, mas aquilo quase não importava. Ele era um
Falleen, era quase certo que fosse do Sol Negro, e de repente uma morte
súbita por detonita não parecia mais tão absurda.
Lando era um apostador. Um verdadeiro apostador jamais descartava a
mão quando ainda havia cartas sobrando para jogar.
— Ainda não — repetiu ele. — Han ainda pode aparecer.
Atrás deles houve um baque surdo. Lando olhou para trás e viu que a
porta de enrolar se fechara e isolara a fábrica do resto do universo.
Han não tinha aparecido.
Ele e Zerba estavam por conta própria.
13
Kell fez uma careta quando pedaços da parede que ele acabara de
explodir bateram e quicaram no canopi do Z-95. Ele definitivamente
passara raspando por essa. Algo a se lembrar para a próxima vez.
Considerando que haveria uma próxima vez. Kell mal tinha acabado de
passar pelos destroços da explosão quando subitamente a parte de baixo do
Z-95 foi alvejada por um intenso tiroteio de raios. A primeira hipótese
automática foi que a mira de Han e Dozer dera defeito, mas um segundo
depois Kell se deu conta de que o ataque vinha dos homens ao lado dos
outros dois airspeeders lá embaixo.
Um ataque intenso também. As armas de raios que eles disparavam eram
extremamente poderosas, muito além da capacidade de um equipamento
civil. Mesmo a blindagem do Z- 95, feita para combate espacial pleno,
estava rangendo e estalando sob o assalto furioso.
Teria sido extremamente satisfatório voar a toda velocidade até a outra
ponta da fábrica, virar o caça e acertar todos eles com um contra-ataque dos
canhões laser KX5. Mas Kell não podia arriscar. O ataque dos E-Webs
havia mostrado que a fábrica era perigosamente instável. E o escapamento
do motor e o calor osaquecimento imediato necessário para montar tal
ataque, poderia ser derrubado em todo o lugar. Seria um resgate bastante
patético se Lando e Zerba fossem esmagados até a morte por terem ficado
presos na casca de um hovercraft.
Felizmente, esse problema estava prestes a ser resolvido.
— Homens maus aos sessenta e cinco e setenta e seis anos — ele gritou,
enquanto o lutador girava alguns graus enquanto disparava a distância para
ter uma visão melhor do chão da fábrica. Ele levou um momento para olhar
para a tela, para a planta que Rachele lhe enviara e para a rede de orientação
que Chewbacca havia sobreposto. Amigável aos cinquenta e oito. Alvo para
o bombardeio: sessenta e sete. Eu repito: branco para bombardeio, sessenta
e sete.
A parede dos fundos estava se aproximando rapidamente. A parte do
plano projetada para ele contemplava disparar outra explosão, fazer um
novo buraco e partir antes que pudesse ser abatida. Em vez disso, ele soltou
o pé no acelerador, deslizou para o lado para fazer uma curva rápida, a fim
de matar o impulso da inércia que o estava levando para frente e finalmente
parar. Era arriscado, e Chewie provavelmente teria algo a dizer sobre isso
depois, se eles sobrevivessem.
Mas o plano de Han era tão insano, e sua execução tão impossível, que
ele só teria ficado vagando por aí, para ver por si mesmo se realmente tinha
alguma chance de trabalhar.
Para algumas coisas na vida, valeu a pena arriscar tudo. Para o resto...
bem, sempre foi uma questão de critérios.
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Por mais alguns segundos, ninguém fez um gesto ou falou. Han aguardou
ansiosamente...
E então Qazadi se mexeu e deu um sorrisinho para Han.
— Eu admiro um homem que gasta seu último suspiro cumprindo
ordens, — disse ele. — Levantem-no.
As mãos que prendiam Han ao chão mudaram de direção e o puxaram
para ficar em pé novamente.
— E eu ficarei com esse cartão de dado, — acrescentou o Falleen quase
como se tivesse esquecido. — Dygrig?
Um dos guardas de Qazadi recuperou o cartão de dado e o entregou para
o chefe.
— Vocês têm ordens a cumprir, — continuou Qazadi pensando enquanto
olhava o cartão de dado.
— Senhor? — perguntou um dos guarda-costas de Villachor.
— Sim, vá em frente, Manning, — falou Villachor com um sinal de
suspiro. — Tawb, vá com ele.
— Ande, — rosnou Manning no ouvido de Han enquanto apertava o
braço dele com as mãos novamente. Seu hálito tinha um leve cheiro de
tabaco; aparentemente o homem fumava cigarra.
Os guarda-costas o conduziram por um corredor comprido e por três
lances de escada acima até o quarto andar. Pelo caminho, Han percebeu
com algum interesse, eles passaram por uma única pessoa exatamente, um
velho em roupas de chef correndo para a área da cozinha. Aparentemente,
todos os funcionários de Villachor estavam do lado de fora ou de prontidão
nas várias áreas de serviço da mansão.
— Aonde estamos indo? — perguntou Han ao erguer o olhar para as
claraboias enquanto andavam pelo corredor até a ala nordeste.
— Você ouviu Sua Excelência, — rosnou Tawb.
— Sim, um armário na sala da guarda. — Han olhou Manning de lado.
— Você bem que podia me dar uma cigarra para ajudar a matar o tempo.
Manning deu um muxoxo de desdém.
— Sei.
— Não, é sério, — insistiu Han. — Eu realmente preciso de uma cigarra
e sei que você fuma; posso sentir o cheiro em você. Vamos lá, seja razoável.
Eu realmente preciso.
— Você realmente precisa fumar? — Manning soltou o braço de Han,
deu um longo passo à frente e depois acertou o passo ao lado dele. Ele tirou
do bolso uma cigarra comprida e fina. — Uma dessas?
— Cuidado, — alertou Tawb. — Qazadi não vai gostar se você jogar
fumaça nos aposentos dele.
— Não vou fazer isso, — garantiu Manning. Ele acendeu a cigarra,
tragou e baforou. — Fumar assim? — perguntou ele para Han e soltou outra
nuvem de fumaça.
— É, assim, — disse Han, lutando contra o aperto de Tawb enquanto
tentava se aproximar dos anéis de fumaça, torcendo para conseguir
esconder o nojo que sentia daquilo. — Vamos, deixe-me pelo menos sentir
o cheiro.
— Porque eu teria muitos problemas se desse alguma coisa a você, —
continuou Manning ao andar de costas enquanto tragava e baforava mais
fumaça em cima de Han, sempre mantendo distância suficiente para que
Han só sentisse um leve cheiro da borda de cada nuvem antes que ela
subisse para o teto. — Especialmente uma cigarra. Especialmente na suíte
de Qazadi.
— Ora, vamos, — implorou Han.
Ele praticamente podia sentir os pelos do nariz se enroscando ao inalar a
fumaça, e seus pulmões pairaram sobre a borda de um violento ataque de
tosse. Mas eu tive que fazer isso parecer real se eu quisesse que Manning
continuasse com o jogo.
— Chega — Tawb disse. Vamos lá, estamos bem perto.
— Relaxe — Manning se acalmou. Ele soltou um último suspiro e depois
deslizou uma tampa sobre o charuto para apagá-lo. Vou guardar o resto para
mais tarde — disse ele, colocando-o de volta no bolso. Aproveite a
memória. Ele parou em uma porta aberta e gesticulou para dentro. Entre lá
— Claro — disse Han. Winter e Rachele deveriam estar em sua suíte
agora, mantendo um olhar atento na mansão e nos jardins, e um estranho
padrão de fumaça em uma das claraboias, deveria ser exatamente o tipo de
coisas que um deles poderia perceber.
Ou pode ser que a mensagem tenha sido perdida completamente. Mas se
eles pudessem detectá-lo, eles poderiam perceber que Han estava apontando
a parte da mansão onde ele estava sendo mantido.
Era uma possibilidade muito remota. Mas, às vezes, tiros longos
compensavam.
O quarto por onde passaram era surpreendentemente grande, equipado
com uma pequena mesa e quatro cadeiras, um par de luzes no chão e seis
camas espaçadas ao redor da sala de estar. Era um quartel para guardas bem
equipados, para homens ou homens que usariam o quarto por muito poucas
coisas, exceto para dormir. Manning levou-o na direção de uma grande
porta na parede lateral, que tinha um teclado grande ao lado. Ele digitou um
código simples, — um, dois, três, — e a porta se abriu para revelar um
grande camarim. Tawb caminhou até Han e deu-lhe um empurrão para
mandá-lo para dentro.
— Você tem que estar brincando — Han protestou enquanto recuperava o
equilíbrio e olhou em volta. Sem roupas, sem caixas de arrumação, o
armário estava completamente vazio, exceto por um punhado de hastes
penduradas ao longo das paredes laterais, prateleiras móveis e uma dúzia de
cabides. E se você pelo menos me der uma daquelas cadeiras?
— E se não o fizermos? Tawb disse, dando ao gabinete uma rápida
verificação de sua parte, depois se afastando. Aproveite a sua estadia.
Estaremos de volta quando o Mestre Villachor mandar por você.
— Muito provavelmente quando o Mestre Qazadi me mandar — Han
respondeu quando a porta se fechou. Parece que é ele quem está
encarregado de tudo agora.
Nenhum comentário foi ouvido de nenhum deles. Han não esperava que
houvesse.
O armário estava escuro, mas Han descobrira um interruptor ao lado da
porta em seu caminho. Ele bateu, e um conjunto de luzes suaves iluminou
as bordas superiores do gabinete.
Ele passou os minutos seguintes olhando ao redor da sala, esperando
encontrar algo útil que não teria notado em sua primeira avaliação. Mas não
havia nada. Os cabides eram do tipo de alta classe, madeira polida com
ganchos cromados, — ligeiramente úteis como suportes, — mas nada que
pudesse causar qualquer dano contra uma pesada porta de madeira. As
prateleiras e os varais das roupas eram feitos da mesma madeira polida,
que, de novo, não oferecia muita esperança como material para conseguir
sua fuga. As paredes e o chão também eram feitos de madeira, de um tipo
diferente da prateleira, mas igualmente sólidos. Teto…
O teto.
Han olhou para cima. O teto parecia ser feito de algum tipo de cerâmica.
Mas quando Rachele falara sobre a caixa-forte, ela mencionara um vão
entre o teto e o piso acima dele. Se o mesmo design se aplicasse ali, aquele
teto não deveria estar sustentando peso algum e talvez não fosse tão grosso
assim.
E se o vão entre andares fosse suficientemente grande para Han caber
nele...
Ele levou alguns minutos para retirar as prateleiras e apoiá-las nas
paredes laterais, em ângulos opostos do chão ao teto para criar uma espécie
de andaime improvisado. Han pegou o cabide de madeira com aparência
mais robusta, subiu nas prateleiras e experimentou bater no teto.
Nada aconteceu. Ele bateu com mais força, depois com mais força ainda,
imaginando se o barulho atrairia atenção indesejada. Mas ninguém entrou
correndo. Han continuou batendo até que, finalmente, de uma batida de
força mediana, o cabide rompeu a cerâmica.
Ele estava certo, — o material não era muito grosso. Han forçou a teia de
rachaduras que partiam do ponto de impacto e arrancou o suficiente para
fazer uma abertura de 20 centímetros. Ele subiu o resto do andaime e enfiou
a cabeça no buraco.
Havia um vão entre os andares, realmente. Infelizmente, não tinha mais
do que 20 ou 30 centímetros de profundidade, e ficava mais estreito em
cima da porta do armário. Bink talvez conseguisse passar, especialmente
com o equipamento de alpinismo adequado, mas não havia jeito de Han
fazer aquilo.
Mas se ele conseguisse arrancar pedaços suficientes do teto do lado de
fora do armário, talvez fosse capaz de usar uma das barras de roupa para
bater no teclado e abrir a porta. O código um-dois-três que Manning usou,
provavelmente era uma configuração padrão, e seria fácil digitar
novamente.
Segurando de novo para poder descer, ele moveu seu andaime para um
lugar bem em frente à porta e foi trabalhar.
Por tudo isso Dayja tinha sido capaz de ler nos folhetos de visitantes, o
Tributo a Fire in Motion foi o destaque do Festival, um dia em que os vários
locais em toda a largura de todo o planeta, trabalhando da maneira mais
amarga para superar os outros. Algum dia, Dayja decidiu, ele teria que ter
tempo para vir aqui e apreciá-lo corretamente.
Mas hoje não foi esse dia. Hoje, ele só tinha olhos para a multidão que
passava pelos jardins da Hacienda de Mármore.
Havia onze pessoas na equipe de Eanjer, eu sabia disso. Depois de
observá-los secretamente na varanda nove dias antes, ele os tinha visto na
sala de conversação de sua suíte. E apesar de eu ter visto apenas uma das
mulheres, tive uma visão clara de todos os rostos dos outros. Hoje, naquele
exato momento, eles tiveram sua última e melhor chance de se infiltrar na
mansão de Villachor e invadir seu cofre. Eles deveriam estar aqui, prontos
para desempenhar seus papéis em qualquer plano com o qual Eanjer tivesse
chegado.
Ele já havia visto três deles. Dois deles, o mais jovem da equipe e balosar
Peeping macho humano, parecia ter o mesmo trabalho: passear e sub-
repticiamente colocar algo debaixo trajes com projetos da chama de
diferentes serviços droids que cuidou de provisionamento e manutenção de
droides. Restrições, Dayja supostamente, ou possivelmente pequenas
acusações de detonite. O terceiro membro da equipe, uma jovem de cabelos
negros, vestida com um longo tom vermelho intenso, grudara em Sheqoa, o
chefe da segurança de Marblewood. Ela, obviamente, estava planejando ser
a distração.
Então onde, raios, estavam os outros oito?
À esquerda, um jorro de chamas azul-amareladas subitamente disparou
para o céu e mandou uma onda de calor pela multidão reunida. Dayja deu
um olhar distraído para o chafariz, depois mudou a direção e foi para as
barracas de bebidas. O sol havia acabado de se pôr, e faltava mais ou menos
uma hora e meia para a escuridão completa e a exibição apoteótica de fogos
de artifício. Dayja decidiu dar uma hora para Eanjer agir; depois disso, se
nada tivesse acontecido ainda, ele encontraria Villachor e tentaria retomar o
seu plano original de infiltração.
Enquanto isso, as barracas de comida e bebida de Marblewood ainda
tinham um estoque impressionante. Não haveria problema em tirar
vantagem disso.
O teto do quarto bem do lado de fora da porta foi tão fácil de quebrar
quanto o teto do armário, embora Han fizesse uma careta a cada estalo e
ruído que a cerâmica fazia quando os pedaços se soltavam. Ele conseguiu
ver que a porta do quarto estava parcialmente aberta e ficou um pouco
surpreso de que ninguém lá fora tivesse notado o barulho que fazia.
Ainda assim, como Han já havia percebido, a maioria dos funcionários de
Villachor estava ocupada em outros lugares. Isso e mais o barulho da
multidão e do espetáculo lá fora eram aparentemente suficientes para
acobertar suas atividades.
O primeiro problema aconteceu quando ele se deu conta de que as barras
eram longas demais para manejar dentro do buraco, através do vão entre os
andares, até descê-las pelo buraco ao lado da porta. Também teimavam em
não quebrar, mesmo com Han apoiando uma delas contra a parede e
pulando sobre ela.
Mas ainda havia os cabides de luxo. Prendendo um no outro, ele
conseguiu fazer uma corrente flexível suficientemente comprida para
pendurar pela abertura e tocar no teclado.
Não que tenha sido fácil. Foram necessárias inúmeras tentativas e mais
paciência do que Han achou que tivesse. Mas, no fim, ele conseguiu abrir a
porta.
Felizmente, o quarto ainda estava vazio. Segurando um dos cabides de
prontidão como um porrete, e reconhecendo no fundo de sua mente que
uma arma assim seria ridícula contra facas, chicotes neurônicos e armas de
raios, Han cruzou o quarto e espiou de mansinho lá fora.
E se viu completamente bloqueado. A 15 metros, descendo o corredor,
parados de cada lado de uma porta, estavam os dois guarda-costas Falleen
que ele vira mais cedo.
Evidentemente Qazadi era a única pessoa na Cidade de Iltarr que não
estava lá fora vendo o espetáculo pirotécnico de Villachor.
Han praguejou baixinho e recuou da porta. Ok, então ele estava
encurralado ali. Mas isso não duraria para sempre. Assim que Lando
surgisse com o cryodex falso, Qazadi certamente desceria para dar uma
olhada. Aonde fosse Qazadi, os guarda-costas também iriam.
E com o resto dos funcionários de Villachor ocupados, assim que os
Falleens saíssem, Han basicamente teria liberdade de ação dentro da
mansão.
Presumindo que Lando realmente trouxesse o cryodex.
Enfie isso na sua cabeça, as palavras raivosas de Lando retornaram à
memória. Como nós fomos amigos no passado, eu não eu não vou fazer o
que você realmente merece, o que é para explodir sua mente. Mas nunca
mais se aproxime de mim.
Lando havia dito a ele dias antes, que a questão já havia esfriado desde a
disputa, que ele havia relutantemente percebido que Han não o havia
enganado de propósito. Em virtude de sua longa história em comum, Han
aceitara que esse fogo era autêntico.
Mas e se não fosse? E se as desculpas não fossem de todo, não fossem
mais do que as palavras que Lando achava que ele tinha a dizer para se
aproximar dos cento e sessenta e três milhões de créditos de Eanjer?
Nesse caso, tudo o que Lando tinha que fazer era continuar com o plano
original, ajudar os outros a invadir o cofre do Tesouro de Mármore e deixar
Han para Qazadi decidir o que ele queria fazer com ele. Limpo e bem
cuidado, sem Lando precisar sujar as mãos.
E seria quase como garantir que ele nunca teria que se preocupar com
Han chegando perto dele novamente.
Han respirou fundo. Não, Lando não faria isso com ele. Não dessa
maneira. Definitivamente não com Chewie respirando em seu pescoço.
Eu apenas tive que esperar. Isso foi tudo. Apenas espere.
Voltando pela sala para uma das camas, ela se sentou no chão atrás dela,
abaixando o suficiente para colocar os olhos logo acima do nível do
colchão, de onde ela podia ver o corredor, mas onde ela não iria fazê-la. A
pessoa era imediatamente visível, a menos que a pessoa que passasse
tivesse um olhar cuidadoso.
Lando e os outros viriam com alguma coisa. Eu só precisava estar pronta
para quando eles fizessem.
18
Uma chama sibilante passou diretamente acima deles como uma cobra
flamejante. Lando se abaixou por reflexo, embora o fogo estivesse contido
por um campo repulsor e separado por bons 2 metros da cabeça dele.
Chewbacca, que estava mais próximo ainda à chama, sequer piscou.
Mas, por outro lado, Chewbacca estava seriamente concentrado agora.
Como já tinha visto aquele humor antes, Lando estava contente por não ser
o foco do Wookiee.
O fogo passou, e Chewbacca rosnou.
— Ele está aqui, — disse Lando.
— Onde? — perguntou Eanjer.
— Ao lado do posto de segurança na extremidade sul do pavilhão infantil
— informou Lando.
Eanjer resmungou.
— Estou um pouco surpreso de que ele tenha se disposto a se reunir
publicamente assim.
— Eu não ofereci outra escolha, — disse Lando com a cara fechada. —
Duvido que ele esteja muito contente a respeito disso.
— Nem sempre conseguimos o que queremos, — comentou Eanjer
filosoficamente. — Qazadi está com ele?
Chewbacca rosnou de novo.
— Nenhum sinal do Falleen, — disse Lando. — Certo. Mais dez passos e
será o momento de você e Chewie se separarem e encontrarem Bink.
— Espere um minuto — reclamou Eanjer franzindo a testa para Lando
com o olho bom. — Eu pensei que iria com você.
— Não sei de onde você tirou essa idea — falou Lando. — Você vai com
Chewie.
— Mas...
— E se você encher nossos ouvidos de estática quanto a isso, ele vai
jogá-lo sobre o ombro e levá-lo para fora daqui como uma criança
malcriada, — disse Lando. — Entendeu?
Eanjer ergueu o olhar para Chewbacca.
— Entendi — respondeu ele relutantemente.
— Você veio aqui ajudar a soltar Han, — lembrou Lando. — Esse é o
trabalho de Chewie, e sei que ele pode contar com a sua ajuda.
Chewbacca vociferou sua opinião sobre aquilo.
Dessa vez, Lando decidiu que seria melhor não traduzir.
— Da minha parte, só vou entregar uma encomenda e depois irei embora,
— disse Lando, em vez da tradução.
O que também não era verdade. Mais uma vez, Eanjer não precisou se
preocupar com os detalhes.
Chewbacca rosnou um aviso.
— Hora de ir– disse Lando, enfatizando sua ordem com um firme
empurrão no ombro de Eanjer. Boa sorte.
Com um breve aceno de cabeça, Eanjer deslizou pela multidão,
Chewbacca andando atrás dele. Lando esperou até que o Wookiee fosse
apenas uma cabeça emergindo acima da multidão, e então retirou seu
comunicador.
— Rachele?
— Parece que há um total de oito guarda-costas no grupo — ela
informou. Mas há pelo menos mais quatro tipos de segurança vagando,
formando um anel a cerca de vinte metros do lado de fora do grupo
principal. Poderia haver mais alguns que eu não consegui detectar.
Lando assentiu. Ele esperava que Villachor fosse fortemente protegido e
estava certo.
E Qazadi?
— Não há sinais dele. Villachor poderia estar planejando levá-lo para
dentro para que você possa conhecê-lo.
— Tenho certeza de que é assim — disse Lando acidamente. Entrar na
mansão era o que deixara Han preso, e Lando não tinha intenção de
oferecer a Villachor um especial dois por um. Particularmente considerando
o que ele usava sob o terno para rasgar. Tavia está indo bem?
— Ela já está lá, circulando ao redor da instalação principal do gêiser de
chamas — disse Rachele. Espere ... Sim, ela viu Chewbacca. Está
começando a se mover para o sudeste ... bem, agora eu posso ver Bink,
saindo do quiosque de bebidas com Sheqoa. Chewie e Tavia estão a
caminho para interceptá-los.
Bem, disse Lando. Ele pensou brevemente em dizer a Rachele para dar
um rápido telefonema a Tavia para lembrá-lo sobre a nova sincronização
com a qual haviam concordado, mas decidiu contra. Ela e Chewbacca
sabiam o que estavam fazendo, e Bink já sabia o que esperar para não
ultrapassá-los. Contanto que eles não a empurrem, o tempo deve ser
preciso. Ok, eu vou entrar — disse ele. Como você vê a extremidade norte
do pavilhão infantil?
— Está claro, pelo que vejo — disse Rachele. Mas eu não posso ver
todas as pessoas de Villachor daqui. Tenha cuidado.
— Eu vou ter — disse Lando. Não se esqueça de que todas as
probabilidades são contra Villachor, tornando meu rosto familiar demais,
mesmo entre sua própria força de segurança.
— Isso pode ser o que seus cálculos lhe dizem — Rachele disse
severamente. Eu não tenho tanta certeza.
— Eu vou ficar bem — disse Lando. Eu tenho aquelas cargas estridentes
do pacote de Kell. Se o pior acontecer, posso começar a jogá-los ao redor
deles e tentar escapar em meio à confusão.
— Apenas não muito barulho — Rachele lembrou a ele. A última coisa
que queremos agora é desencadear um pânico total.
— Eu sei — disse Lando. Vou verificá-los novamente antes de fazer a
entrega.
O pavilhão das crianças era fácil de identificar, cheio de equipamentos
coloridos para brincar e repleto de gritos e risos excitados das crianças.
Lando se aproximou do extremo norte com cautela, mas não notou nenhum
homem de rosto duro andando por ali. Através do labirinto colorido de
estruturas de escalada e estruturas de jogo, ele vislumbrou aparições
ocasionais de Villachor e seu grupo de guardas, à espera de Lando, no
extremo sul, exatamente onde Lando lhes havia dito que esperar.
Villachor não ficaria feliz por levar um bolo dessa maneira, mas as
pessoas nem sempre conseguiam o que queriam.
Ao passar pelo pavilhão, Lando deixou cair o estojo discretamente dentro
da coluna no canto noroeste.
Ele andou por mais um minuto, ziguezagueando entre grupos de pessoas,
e em dado momento passou por uma fila dupla de gente que ia e vinha entre
um dos chafarizes de chamas e a barraca de bebidas. Só então ele puxou o
comunicador e ligou para o número de Villachor.
O homem atendeu prontamente.
— Villachor.
— Kwerve, — Lando se identificou. — O pacote o espera no canto
noroeste do pavilhão infantil.
Houve uma breve pausa.
— Eu pensei que teríamos uma discussão cara a cara como cavalheiros
civilizados.
— Eu sei, — concordou Lando. — Meu chefe decidiu que não havia
mais nada que a gente precisasse dizer um para o outro no momento. Ele
também quer saber quando podemos esperar que o outro funcionário seja
libertado.
— Depois que verificarmos seu aparelho, — respondeu Villachor. — E
se ele não estiver onde você disse, ou se acontecer uma explosão quando
abrirmos, eu lhe prometo que a única libertação que seu funcionário terá
será na forma de uma morte muito lenta.
— Não haverá explosões — prometeu Lando com uma careta. Era
melhor que o plano de Chewie para resgatar Han funcionasse. — Por sua
vez, meu chefe mandou que eu lhe dissesse que, se alguém do nosso pessoal
for machucado, é você que morrerá muito lentamente.
— Tenho certeza de que sim — disse Villachor com uma calma
enganosa. Diga a ele que estou ansioso para conhecê-lo um dia.
— Algum dia — prometeu Lando, tentando igualar o tom do outro.
Aproveite o pacote. Estaremos esperando para ver nosso amigo livre muito
em breve.
Outra pessoa qualquer, até mesmo outro senhor do crime, talvez tivesse
expressado sua impaciência andando de um lado para o outro no saguão.
Mas vigos não andavam de um lado para o outro. Pelo menos não esse.
Qazadi estava perfeitamente imóvel quando Villachor e seus dois guarda-
costas entraram pela porta; ele encarou e trespassou Villachor com um olhar
frio.
— O cryodex está em nossas mãos, Vossa Excelência, — anunciou
Villachor. — Estão verificando se há armadilhas neste exato momento.
— E aquele tal mestre Kwerve? — perguntou Qazadi.
— Ele fugiu da reunião e deixou o estojo em um lugar diferente
— disse Villachor. — Provavelmente já foi embora das dependências.
— Sem o companheiro? — Um leve sorriso gelado surgiu nos lábios de
Qazadi. — Acho que não. Alerte seus guardas para vigiarem as portas com
cuidado. Mais cedo ou mais tarde ele tentará entrar na mansão.
— Os guardas já foram alertados, — respondeu Villachor tentando não
torcer a cara. Ele não precisava de um vigo para dizer como deveria
gerenciar o próprio território. — As portas estão bem seguras.
— Ótimo — falou Qazadi. — Eu gostaria de ver esse suposto cryodex.
Quando termina a verificação?
Do outro lado do saguão, a porta da sala da guarda se abriu e
surgiu Dempsey, com um passo que era uma mistura fatídica de urgência
e hesitação. Ele segurava o cryodex em frente ao corpo com as duas mãos,
como se fosse uma obra de arte de valor incalculável.
— Eu diria que a verificação está completa agora, — disse Villachor ao
acenar para Dempsey. — Traga-o aqui. Pelo que vejo não havia explosivos?
O olhar de Dempsey se voltou para Qazadi. Porém, em vez de responder,
ele simplesmente apertou o passo.
Villachor sentiu uma nova pontada de raiva. Ele não estava acostumado a
ver suas perguntas serem ignoradas.
— Eu perguntei se havia explosivos, — repetiu Villachor asperamente.
— Não havia, mestre Villachor — falou Dempsey ao parar aos trancos a
alguns metros do grupo. Agora ele parecia fazer muito esforço para não
olhar para Qazadi. — Mas havia uma armadilha, um tubo de gás
pressurizado pronto para explodir em uma nuvem quando o estojo fosse
aberto.
Então Kwerve tinha uma última carta letal na manga. Ele e seu pessoal
pagariam caro por aquilo.
— Que tipo de gás?
— Vou precisar levar o tubo de volta ao laboratório para realizar uma
análise química adequada, — respondeu Dempsey. — Mas a etiqueta... —
A língua lambeu o lábio superior. — A etiqueta identificava como fieljina
branca.
Um chiado violento irrompeu dentro do grupo de Qazadi, um som
diferente de tudo que Villachor ouvira antes. Ele estremeceu como reação e
se virou para olhar.
Villachor pensava ter visto Qazadi furioso antes. Ele estava errado. Foi
assim que um homem furioso foi realmente visto.
— Excelência? Ele perguntou cautelosamente.
— Você vai encontrar esse humano, Kwerve, e trazê-lo para mim —
Qazadi disse em uma voz que fez um frio percorrer o corpo de Villachor.
Então você encontrará todos os membros da sua organização e também os
trará para mim.
— Entendido, Excelência — disse Villachor, desejando que o demônio o
levasse embora. Ele se virou para Dempsey. Em nome da galáxia, o que é
esse fieljine branco?
— É um veneno — disse Dempsey, tremendo visivelmente naquele
momento. Isso só mata o falleen.
Villachor olhou para ele, sentindo o sangue escorrer de seu rosto. Em um
piscar de olhos, isso passou de uma rivalidade comercial para algo
amargamente pessoal.
Kwerve estava morto, certo. Assim foram todos em sua organização e,
provavelmente, todos que já tiveram relações com sua organização.
E a menos que Villachor executasse o filho de Sith, e rapidamente, ele
provavelmente se juntaria a todos eles.
— Eu vejo — ele disse. Bem ...
Ele parou de novo, enquanto a porta se abriu de repente. Ele se virou,
quase esperando ver Kwerve e uma equipe de assalto fortemente armada,
entrando para resgatar seu companheiro.
Mas eram apenas dois membros de sua equipe de segurança, Becker e
Tarrish, que estavam à porta, com um homem desconhecido usando
suspensórios de camponeses, espremidos entre eles.
— O que aconteceu? Ele rosnou.
— Alguém de fora, chamado Crovendif, disse-nos para trazê-lo, senhor
— disse Becker, seu comportamento profissional rachando quando
percebeu o clima tenso no saguão. — Crovendif disse que esse é o homem
que deu a amostra de brilhestim para ele, há alguns dias.
Villachor sentiu uma pontada de alívio. Finalmente notícias boas, e o
momento não poderia ter sido melhor.
— O senhor pediu a organização de Kwerve, Vossa Excelência, — disse
Villachor fazendo um gesto para que eles entrassem. — Aqui está o
primeiro deles.
— Sério? — disse Qazadi enquanto observava o recém-chegado.
Villachor notou que o breve acesso de raiva aparentemente
havia passado. Com Falleens, ele sabia que isso podia ser um mau sinal
ou um péssimo sinal.
— Traga-o para mim. — Qazadi gesticulou para Dempsey. — E o
cryodex.
Villachor confirmou a ordem com um aceno de cabeça. Becker e Tarrish
conduziram o prisioneiro para Qazadi e pararam a alguns metros de
distância ao serem interceptados por dois dos guarda- costas do Falleen, que
pegaram o homem sob custódia silenciosamente, porém com firmeza. Ao
mesmo tempo, Dempsey foi cautelosamente até o grupo e da mesma forma
entregou o cryodex para um dos Falleens do Qazadi, que por sua vez passou
o aparelho para o chefe.
— Como o senhor pode ver, Vossa Excelência, é realmente um cryodex,
— falou Villachor enquanto Qazadi estudava o instrumento. — E como lhe
disse, minha única intenção era atrair esse sujeito e a organização dele...
— O que é isso? — rosnou Qazadi, subitamente com raiva de novo. —
Onde você pegou isso? — Ele disparou um olhar fulminante como laser
para o prisioneiro. — Onde conseguiu isso? — indagou o Falleen.
— Eu não sei, — reclamou o prisioneiro estremecendo diante da fúria do
Falleen. — Quem quer que sejam essas pessoas, eu não estou com elas...
Abruptamente, Qazadi deu um longo passo à frente e estapeou com força
o rosto do homem. Ele cambaleou para trás e só não caiu no piso de pedra
porque os guardas impediram.
— Vossa Excelência, o que foi? — perguntou Villachor cautelosamente.
Qazadi virou um olhar cruel para ele.
— Este aqui não é um cryodex qualquer, — disparou o Falleen. — Esse é
o cryodex de Aziel. De AzieD.
— De Aziel? — repetiu Villachor, completamente confuso agora. — Ele
tem o próprio...?
E numa onda repentina e horrível, ele compreendeu. Aziel não detinha os
códigos de um cryodex que Qazadi guardava em sua suíte, da forma como
Qazadi lhe contara. Ele jamais tivera. Na verdade, Aziel era o guardião do
próprio cryodex.
Mas se aquele era o cryodex de Aziel, então a oferta de Kwerve para
copiar os arquivos de chantagem...
Villachor ficou aflito. Era impossível. Para um ajudante de um vigo do
Sol Negro, era completamente impossível sequer pensar em traição.
E, no entanto, ali estava o cryodex, entregue a eles pelo próprio Kwerve.
O cryodex de Aziel.
Ou alguma coisa que parecia o cryodex de Aziel.
— Só pode ser uma cópia — disse Villachor no silêncio tenso. — Uma
falsificação.
— Como? — indagou Qazadi. — Há marcas na parte traseira que só o
cryodex dele tinha. Marcas que nenhuma outra pessoa jamais
veria. Marcas que certamente ninguém mais notaria. Por que elas
teriam sido incluídas?
— Eu não sei, — falou Villachor. — Mas só pode ser um truque. Porque
se for mesmo o cryodex do lorde Aziel... — Ele se interrompeu ao se dar
conta de que não ousaria dizer.
Qazadi não teve tais escrúpulos.
— Então Aziel é um traidor, — disse ele baixinho. — E portanto, talvez,
você também seja.
— Não, — falou Villachor rapidamente. Talvez rápido demais. — Se eu
estivesse planejando alguma coisa com o lorde Aziel, nós dois dificilmente
precisaríamos passar por essa complicação toda. Eu poderia ter entregado
os arquivos para ele há muito tempo.
— Talvez você tenha feito isso, — disse Qazadi. — Talvez esse seja
apenas o método que você escolheu para atrair meu interesse para a questão
e depois providenciar a minha morte. — Ele ergueu o cryodex levemente.
— Com certeza, assim que eu estivesse morto, seria difícil provar quem
seria o verdadeiro dono deste aparelho.
Villachor sentiu um nó no estômago. A situação inteira era uma loucura
completa.
Mas um vigo do Sol Negro não precisava das típicas provas de um
tribunal para tomar decisões e julgar. Ele poderia fazer isso puramente
baseado nas próprias suspeitas.
— Mas eu não acho que veneno seja o seu estilo, — continuou Qazadi.
— Se não for você, talvez um de seus homens esteja agindo em conluio
com o traidor.
O primeiro impulso de Villachor foi negar. Seus homens eram leais,
selecionados a dedo pelo próprio Sheqoa.
O segundo impulso foi manter a boca bem fechada. Se a ameaça de
morte de Qazadi fosse apontada para outra pessoa, não seria para ele.
Qazadi também sabia disso.
— Vejo que você não nega a possibilidade, — comentou ele.
— Infelizmente, tudo é possível, Vossa Excelência, — falou Villachor
escolhendo as palavras com cuidado. — Antes do dia de hoje, eu teria dito
que a lealdade de todos os meus homens ao Sol Negro era inquestionável.
Agora... — Ele balançou a cabeça.
— Sim, — disse Qazadi, e a palavra saiu da boca como um silvo de
cobra. — Você retirou todos os guardas humanos da caixa-forte, como
mandei?
— Sim, Vossa Excelência, — confirmou Villachor. Na ocasião, ele
achara a ordem perigosamente estúpida; agora, estava bem contente por ter
obedecido. — E verifiquei a caixa-forte após eles terem saído. Os cartões
de dados continuam no lugar. — Villachor usou a cabeça para indicar o
prisioneiro, que havia conseguido ficar mais ou menos de pé e estava
apoiado entre os guardas. — O que o senhor quer que eu faça com ele?
— Eu cuido dele, — disse Qazadi com um olhar frio para o homem. —
Você disse que não está com essas pessoas, humano?
— Eu nunca ouvi falar desse tal Kwerve, — respondeu o sujeito, com a
voz estremecida, a respiração fraca e acelerada. — Ou desse Aziel, ou de
um cryodex, ou de todo o resto. Eu só tenho uma boa fonte de brilhestim e
procuro alguém para distribuí-lo para mim. Até trouxe outra amostra, que
está com ele ali. — Ele começou a erguer a mão a fim de apontar para
Becker.
E ofegou engasgado quando o guarda de Qazadi dobrou o braço dele no
cotovelo.
— Eu não estou com eles, — gemeu o prisioneiro. — Eu juro.
Por mais um momento, Qazadi encarou o sujeito. O homem
estremeceu sob o olhar do Falleen e evitou seus olhos como se estivesse à
beira das lágrimas. Bem diferente do traficante arrogante e convencido que
Crovendif havia descrito, pensou Villachor com desdém.
— Levem-no para meus aposentos, — disse Qazadi finalmente. — O que
ele carregava?
— Um comunicador, uma holocâmera e uma pequena ampola, —
respondeu Becker. — Talvez o brilhestim. Sem armas.
— Tragam aqui.
Novamente Becker deu uma olhadela para Villachor em busca de
confirmação, depois deu um passo à frente e entregou os itens para um dos
homens que segurava o prisioneiro.
— Levem essas coisas para os meus aposentos também, — ordenou
Qazadi. — Esperem por mim lá.
— Nós obedecemos, Vossa Excelência, — disse um dos guardas.
Ele empurrou o prisioneiro, e o trio foi na direção do
turboelevador de serviço no fundo do saguão. Qazadi observou a saída
deles, depois se voltou para um dos quatro guardas humanos
remanescentes.
— Levem mais dois e os meus airspeeders e se posicionem em pontos de
observação ao redor do Hotel Lulina Crown, — ordenou ele. — Eu
mandarei o lorde Aziel trazer o cryodex aqui. Se o mestre Villachor estiver
correto e esta for simplesmente alguma cópia bem feita, ele responderá ao
chamado sem hesitação ou medo.
Ele olhou para Villachor.
— Se o mestre Villachor estiver errado e este for mesmo o cryodex de
Aziel, ele tentará fugir. Pelas próprias ações, Aziel será condenado.
O guarda se curvou.
— Eu obedeço, Vossa Excelência. — Ele puxou o comunicador e saiu
rapidamente do saguão, na direção da garagem.
— Posso oferecer a assistência da minha própria segurança? —
perguntou Villachor com hesitação.
— Existe alguém em quem você confie com a própria vida? — contra-
argumentou Qazadi.
Diante das circunstâncias, Villachor sabia qual seria a resposta correta.
— Não, — admitiu ele.
— Então seus homens não podem ajudar, — falou Qazadi. — Eu lhe
informarei os resultados dos interrogatórios no devido tempo.
Ele deu meia-volta e foi na direção da escada, com os dois Falleens e os
três humanos formando uma caixa móvel ao redor de Qazadi.
Villachor observou o vigo ir embora, com uma sensação de nó no
estômago. Nas quase três semanas desde a chegada de Qazadi e seu séquito,
ele tinha visto os guardas do Falleen assumirem uma formação defensiva
tão óbvia apenas nas raras ocasiões quando eles saíam da segurança da
mansão para as dependências lá fora. Obviamente, Qazadi não se sentia
mais seguro dentro da casa de Villachor.
Villachor mal podia culpá-lo. Se o cryodex era falso, como tinha sido
feito? Se era real, o que poderia ter possuído Aziel para que ele fizesse essa
jogada louca por poder?
A não ser que o pessoal de Kwerve não estivesse apenas mirando em
Villachor. Talvez eles estivessem trabalhando com ambos os lados: com
Aziel pelo cryodex, com Villachor pelos próprios arquivos.
Ou talvez não houvesse traição alguma. Afinal de contas, ele só tinha a
palavra de Qazadi de que o cryodex de Kwerve era idêntico ao de Aziel.
Será que essa era a forma de Qazadi pintar Villachor com a suspeita de
traição?
Se fosse isso, provavelmente não haveria nada que pudesse fazer.
Villachor era um chefe de setor; Qazadi era um vigo. Se Aziel era realmente
um traidor ou se Qazadi estava manipulando uma prova inexistente para
implicar Villachor, era a palavra de um lado contra a de outro.
E não havia dúvida alguma sobre em que lado o príncipe Xizor
acreditaria.
De repente, o acordo com os imperiais parecia cada vez melhor.
— Senhor? — disse Tawb.
Villachor saiu dos pensamentos sombrios e sentiu uma onda de
determinação renovada. Ele não sairia correndo para lorde D'Ashewl, Darth
Vader ou até mesmo o próprio imperador. Ele defenderia sua posição e
lutaria pelo poder e o território que trabalhara tão pesado para construir. O
poder e o território que eram dele por direito. Como Villachor seria sequer
capaz de pensar em desistir?
E aí ele se deu conta de como fora capaz de pensar naquilo e cerrou os
dentes em um rosnado cruel.
Maldito Qazadi e seus feromônios de Falleen, de qualquer forma.
— Senhor? — repetiu Tawb com mais urgência.
— O que foi? — disparou Villachor.
— Estou recebendo informes de uma comoção lá fora, — disse o guarda-
costas em tom de emergência.
— Que tipo de comoção? — A voz de Qazadi cruzou o saguão.
Villachor se virou. O falleen e sua guarda haviam parado perto da base da
escada e estavam olhando para Villachor e os outros.
Villachor virou-se para Tawb. E ele amaldiçoou Tawb e sua boca grande
também.
— Você já ouviu falar — ele rosnou. Que tipo de comoção?
— Parece... — Tawb franziu a testa e aproximou-se do comunicador de
seu clipe. Parece que alguns dos droides estão ficando loucos...
19
20
— Eu não sei — disse Kastoni, olhando para frente e para trás nos
monitores e teclados. Tenho certeza de que fizeram alguns ajustes em algum
lugar. Por que mais eles entram aqui? Mas não tenho ideia do que eles
poderiam ser.
— Vamos precisar de um técnico — concordou Lando, fingindo olhar em
volta. Ele notou o console que Zerba havia cortado quase tão logo ele
entrou na sala. Mas, claro, ele sabia o que procurar. Ele também sabia que
não deveria apontar muito depressa. Já fiz a ligação, mas todos os nossos
técnicos estão espalhados pela cidade nos vários locais do Festival. Vai
demorar um pouco para qualquer um deles voltar.
— Tudo bem — disse o outro guarda, Bromley, do outro lado da sala. De
qualquer forma, não acho que o Mestre Villachor queira que seu pessoal
esteja bisbilhotando por aqui. Nosso chefe de androides poderá consertá-lo
assim que ele acordar.
— Espero que sim — disse Lando, olhando casualmente para a porta.
E ele estava petrificado. No outro extremo do corredor, falando
incessantemente para o comunicador escondido em seu clipe enquanto
caminhava em direção à sala de controle, estava Sheqoa.
Uma das poucas pessoas na propriedade de Marble que conhecia Lando
de vista.
De repente, Lando ficou sem tempo.
— Espere um segundo — disse ele, apontando o dedo para o console
danificado. Aquela consola ... vês o corte?
— Sim — disse Kastoni quando ele cruzou para ela. Parece que eles
fizeram isso com a mesma coisa que usaram para cortar e abrir a porta.
— Tenho certeza de que era — disse Lando, juntando-se a ele e
examinando seu próprio console. Não havia nada para identificá-lo como
um painel de controle do 501-Z, pelo menos nada que ele pudesse ver. Mas,
obviamente, Bink tinha percebido que era, e se ela pudesse fazê-lo,
certamente o sargento da polícia Talbot poderia fazer isso também. Parece
que é um console de controle 501-Z — disse ele. Eles têm Zeds patrulhando
os jardins em algum lugar?
Com o canto do olho, viu Kastoni balançar a cabeça em sua direção.
— Isso controla os Zeds? Ele bufou. Oh inferno. Ele tocou o
comunicador que estava em seu clipe. Lando prendeu a respiração... – É
Kastoni, senhor — disse Kastoni rapidamente. Parece que eles estavam
mirando no painel de controle dos Zeds ... Sim, senhor.
Ele recuou e esticou o pescoço para olhar pelo corredor.
Sim, eu vejo ... Mestre Sheqoa? -eu chamo-. Mestre Villachor requer sua
presença.
Kastoni foi pelo corredor. Lando virou as costas para ele, inclinando-se
sobre o console Zed, enquanto fingia examinar o corte irregular que o sabre
de luz de Zerba havia produzido. Atrás dele, os dois homens conversavam
em voz baixa e, embora Lando não conseguisse distinguir as palavras, ele
pôde ver a mudança no tom de voz de Sheqoa quando parou de falar com
Kastoni e começou a conversar com Villachor. A conversa chegou ao fim e
Lando ouviu passos que estavam saindo rapidamente.
— Você foi verificar seus Zeds? Lando perguntou por cima do ombro.
— Sim, se eles ainda estão lá — Kastoni rosnou, chegando ao seu lado.
— Você sabe que a polícia sabe alguma maneira de acordar alguém que
foi atingido por um atordoador? Bromley perguntou. Alguma droga ou algo
que possamos usar?
— Nada que possa ser legal — Lando disse a ele. Sinto muito. Aqui,
você poderia me ajudar a tirar esse outro console do caminho? Precisamos
ver se os cabos deles também entram nos conduítes da parede.
O landspeeder de Aziel não fora tão fácil de invadir quanto Dozer fizera
parecer. Longe disso. Mas ele era o melhor, ele estava determinado, e o Sol
Negro realmente precisava gastar os créditos em uma segurança melhor.
Ainda assim, Dozer podia ouvir os passos se aproximando no permacreto
na hora em que finalmente terminou e rolou pelo chão até um ponto seguro.
Winter o esperava a cinco fileiras de distância, abaixada atrás de um
clássico Incom T-24 lindamente restaurado.
— Nada como terminar em cima do laço, — murmurou ela.
— Isso mantém o coração batendo, — sussurrou Dozer de volta enquanto
olhava por trás do estabilizador ventral do T-24 e se perguntava se o seu
dono tinha optado por um sistema de segurança decente.
Havia doze pessoas vindo a passos largos, incluindo Aziel. O contingente
completo, se a estimativa anterior de Rachele sobre o
tamanho do grupo estivesse correta. Em volta da cintura de Aziel
havia uma pochete que aparentemente continha o cryodex.
— Qual é o plano? — perguntou Winter.
— A primeira parte de qualquer plano é sempre a mesma, — respondeu
Dozer enquanto abria o console do controle remoto que ele instalara no
sistema do landspeeder. O sincronismo ali seria importantíssimo. — Você
separa o doce das pessoas contratadas para guardá-lo.
— Se você quer dizer que espera que ele entre naquele landspeeder
sozinho, isso não vai acontecer, — alertou Winter. — Lá em Marblewood, o
motorista e dois guardas sempre entraram no mesmo momento que Aziel.
— Eu sei, — falou Dozer. — A gente simplesmente vai ter que se virar
com o que tem.
O primeiro humano da fila parou diante do landspeeder de Aziel e entrou
pela porta do motorista. Assim que o sujeito fez isso, o próximo homem na
fila passou por ele e abriu a porta traseira. O segurança entrou e foi seguido
por Aziel, que por sua vez foi acompanhado pelo próximo homem na fila.
Os demais guardas esperaram até que ambas as portas estivessem fechadas,
depois foram na direção dos outros três landspeeders. Dozer se concentrou
para escutar o motor do primeiro landspeeder ser ligado.
E no meio segundo entre a ignição e a digitação do código de acesso do
motorista, Dozer ativou o interruptor do redirecionador no console.
Com um ronco, os motores foram levados à potência máxima.
Dozer apertou o acelerador e girou completamente o controle de
nível; o veículo deu um pulo para cima e colidiu com força no teto de
permacreto.
Os guardas eram bons, de fato. Nenhum deles perdeu tempo olhando
boquiaberto para o movimento súbito e inexplicável do landspeeder. Em
vez disso, os oito sacaram as armas de raios e se espalharam, à procura de
quem seria o responsável pela sabotagem.
Um segundo depois, correram freneticamente para se proteger quando
Dozer derrubou o landspeeder bem no meio deles.
— Você pegou um, — avisou Winter baixinho de uma nova posição, no
nariz do T-24. — O resto está se protegendo entre outros veículos.
Onde Dozer não poderia atingi-los. Mas era um atitude óbvia de defesa, e
ele tinha contado com ela. Tudo que Dozer realmente queria fazer era
atrasá-los e obrigá-los a reagir em vez de pensar.
Porque aquele era o momento de afastá-los de Dozer. Ele ergueu o
landspeeder acima do nível dos veículos em geral, balançou-o
violentamente para trás e para frente, a fim de manter os passageiros se
agitando no interior, e lançou o landspeeder pela garagem, na direção dos
destroços dos dois veículos que Dozer e Winter haviam provocado antes.
Com a mistura perfeita de raiva frustrada e reação irracional com que
Dozer contara, o grupo inteiro de guardas se levantou dos esconderijos e
disparou atrás do landspeeder.
Dozer deu um sorrisinho. Perfeito. Agora tudo que ele tinha que fazer era
manter o veículo balançando tanto que o motorista não conseguisse
pressionar o botão para desligar o motor, deixar os guardas caçarem o
sabotador que eles naturalmente presumiam que estivesse em algum ponto
perto do destino do landspeeder, e depois trazê-lo de volta para lá. Antes
que os guardas conseguissem retornar, ele deveria ser capaz de virar o
veículo de cabeça para baixo, abrir a porta, tirar o cryodex da pochete de
Aziel enquanto o Falleen e seus guardas estivessem tontos demais para
fazer qualquer coisa, e fugir dali.
— Cuidado. Três deles estão entrando em um dos outros landspeeders,
— alertou Winter.
O sorrisinho de Dozer virou uma careta. Ok, então os guardas de Aziel
não eram tão burros quanto ele pensara. Eles estavam dividindo as apostas;
um grupo cuidava da busca no solo, enquanto o outro voava.
O que significava que ele tinha menos tempo do que pensara para
terminar o plano.
— Você pode fazer ligação direta em um airspeeder? — perguntou Dozer
para Winter.
— Provavelmente, — respondeu ela, e pelo rabo de olho, Dozer viu
Winter olhando em volta. — Algum modelo em especial?
— Esquece, — falou Dozer. Ele recuou até Winter e enfiou o console nas
mãos dela. — Para frente, para trás, de lado, balançar, acelerar, — disse ele
rapidamente, tocando cada controle para identificá-los. — Mantenha o
landspeeder lá, e mantenha-o em movimento.
— Dozer...
— E se o landspeeder cair, significa que o motorista desligou o motor, e
nós desistimos e saímos correndo, — acrescentou ele olhando para os
veículos estacionados mais perto; Dozer optou pelo OS-20 a dois veículos
dali.
— Dozer, cuidado!
Ele deu meia-volta. Um airspeeder negro entrou roncando pela entrada
desobstruída, com mais dois pairando em posições de guarda atrás dele. O
primeiro veículo parou assim que entrou na garagem enquanto o motorista
aparentemente avaliava a situação.
— São de Villachor, — disse Winter com a voz tensa. — As placas...
— Sim, sim, — interrompeu Dozer ao pegar de volta o console. — Pegue
um veículo para nós, eu vou contê-los.
O recém-chegado concluiu a avaliação e se voltou na direção do
landspeeder de Aziel, que estava pairando...
E virou a toda para o lado, tentando sair do caminho, enquanto Dozer
mandava o veículo sabotado diretamente para cima dele.
O outro piloto quase conseguiu. O veículo de Aziel pegou de raspão no
anteparo dos jatos e jogou o airspeeder contra a parede lateral em uma
colisão rangente. Um vislumbre de movimento chamou a atenção dos olhos
de Dozer: o outro landspeeder de Aziel havia decolado então, com
propulsores a toda velocidade, a caminho do veículo sabotado.
E com isso, as chances de Dozer de repente foram reduzidas a zero. Com
dois veículos no jogo e mais dois pairando do lado de fora, à espera de uma
oportunidade de participar, era apenas uma questão de tempo para que eles
conseguissem isolar o veículo sabotado de Aziel por tempo suficiente para
o motorista se soltar dos assentos e desligá-lo.
Era agora ou nunca.
— Proteja-se, — disparou Dozer e virou o controle com força.
O landspeeder sabotado mudou de direção e colidiu novamente no
recém-chegado. Dozer virou-o novamente para frente e trouxe o veículo
diretamente para o ponto onde ele e Winter estavam abaixados. Pela visão
periférica, notou que os dois airspeeders lá fora tinham desaparecido em
algum lugar. Dozer trouxe o veículo sabotado quase até eles, colidiu-o com
o teto pela última vez, depois virou o landspeeder de cabeça para baixo e
fez com que deixasse cair no chão na frente deles.
Ele não tinha ideia de quanto tempo levaria os homens e as pessoas
dentro para se recuperar daquele duplo impacto. Ele também não tinha
intenção de ficar tempo suficiente para descobrir. Saltando de seu
esconderijo, ele correu para o veículo que estava virado de cabeça para
baixo, digitou o controle de seu seguro e abriu a porta.
O interior do slider da Terra estava quase tão quebrado quanto o exterior.
Aparentemente, Aziel tinha sido equipado com um frigobar com bebidas
para o seu conforto, o conteúdo do qual, foram espalhados em cima, ou
estavam pingando nos luxuosos assentos.
Mas nada disso importava. A única coisa que importava era o cryodex
que permanecia preso ao redor da cintura do idiota atordoado, e que não
havia blasters apontando para ele. Descompactando a mochila que estava na
cintura de Aziel, Dozer se agachou para sair do veículo e correu na direção
dos turbolifts. Ele não teve tempo para se apossar de um hovercraft naquele
momento, ele sabia disso, e mesmo se ele tivesse, ele não tinha nenhum
lugar onde pudesse ir com ele. Sua única chance era tentar escapar dos
perseguidores que os procuravam no estacionamento e jogar todas as suas
possibilidades no nível do solo.
Winter estava agachado ao lado de um dos hovercrafts, trabalhando na
fechadura. Dozer agarrou seu pulso quando ele passou, fazendo-a ficar de
pé e arrastando-a para trás dele. Atrás dele, o estacionamento explodiu com
os flashes e a fúria de várias explosões de blaster, e Dozer fez uma careta
enquanto muitas das cenas queimavam o ar acima de suas cabeças. Ele
pensou em olhar para trás para ver o quão próximos seus perseguidores
estavam, mas decidiu que ele tinha que focar toda a sua atenção em sua
fuga. Os turbolifts não estavam mais de trinta metros à frente. As portas de
todas abriram ao mesmo tempo...
E com uma maldição horrorizada, Dozer parou de repente. Em um piscar
de olhos, a situação subitamente chegara ao fim.
O jogo estava encerrado... e ele e Winter haviam perdido.
CAPÍTULO
21
22
O jogo acabou, Winter pensou com frieza. Ela jogara bem e sobrevivera
por muito mais tempo do que jamais imaginara. Certamente por mais tempo
que muitos de seus companheiros. Mas então acabou.
E ela perdeu.
Sem forças, Winter estimava que havia pelo menos trinta, ao vê- los sair
aos borbotões dos turboelevadores. Trinta stormtroopers imperiais. As
armaduras brancas reluziam mais do que deveriam na luz difusa do lugar,
com os fuzis de raios de prontidão enquanto eles se espalhavam com
eficiência silenciosa pela garagem.
— Lá se foi nossa fuga, — murmurou Dozer ao lado dela. — Pelo menos
nós sabemos por que aqueles outros dois airspeeders de repente
descobriram outro lugar para estar.
Winter olhou para trás. Pairando do lado de fora da entrada da garagem,
reluzindo como a armadura dos stormtroopers na luz difusa da cidade,
estava uma nave imperial de desembarque, classe sentinela, com canhões de
laser e armas de raios giratórias cobrindo a garagem.
— Vocês, — disse bruscamente uma voz filtrada.
Winter se virou para a frente. Dois stormtroopers foram até ela e Dozer,
com os fuzis de raios não exatamente apontados para eles.
— Venham conosco.
E ali o jogo realmente chegava ao fim.
Outro homem tinha surgido dos turboelevadores abertos quando Winter e
Dozer chegaram. Ele foi meio que uma surpresa: um sujeito mais velho, de
rosto rosado e com um excesso de peso bem maior do que até mesmo um
oficial superior da Frota poderia manter impunemente, vestindo roupas
comuns, porém caras. Alguém importante, a julgar pela maneira como a
escolta de stormtroopers ficou em posição de sentido ao parar diante dele.
— Ah — falou o homem alegremente, com um olhar intenso,
concentrado e sagaz. — É isso?
— É isso o quê? — perguntou Dozer, com uma confusão genuína na voz.
— Eu não sei o que está acontecendo aqui, mestre, mas estou muito
contente que o senhor e suas tropas tenham aparecido. Essa gente, — ele
apontou para trás com o polegar, — está maluca ali. Simplesmente maluca.
— Sério? — comentou o homem calmamente. — Voando a esmo como
maníacos, não estavam?
— E batendo no telhado e nos veículos estacionados e simplesmente
destruindo o lugar inteiro — disse Dozer pegando gosto pela história. —
Pensei que a gente fosse morrer, com certeza.
— Uma experiência assustadora, realmente, — apiedou-se o homem,
quase como se genuinamente acreditasse naquilo. — Mas não se preocupe.
Tudo acabou agora. Vamos prender todo mundo e resolver essa situação. —
Ele acenou com a cabeça na direção da lateral de Dozer. — E muito
obrigado por recuperar minha pochete. Não sei como você conseguiu, mas
fico contente por você ter sido capaz de resgatá-la antes que essas
travessuras pudessem danificá-la ainda mais.
Winter sentiu um aperto no coração. Então os imperiais sabiam até sobre
o cryodex.
— Sua pochete? — perguntou Dozer franzindo ao abaixar o olhar para o
objeto na mão. — Não, não, isto é...
— Isso é a minha pochete, que foi roubada de mim, — interrompeu o
homem com firmeza. — É por isso que, quando recebi uma dica de seu
paradeiro, eu imediatamente chamei o capitão Worhven do Star Destroier
imperial Dominador e pedi que ele me ajudasse a recuperá-la. — O sujeito
sorriu de novo, e desta vez o sorriso era incisivo. — Eu tenho certeza de
que você entende como às vezes é difícil trabalhar com os nativos.
Winter engoliu em seco. Especialmente quando os nativos eram
essencialmente propriedade de Villachor e do Sol Negro, que os
controlavam.
— Ficamos contentes em poder ajudar, — disse ela cutucando Dozer.
Diante das circunstâncias, realmente não havia sentido em arrastar mais a
situação.
Com um suspiro resignado, Dozer entregou a pochete para o homem.
— Obrigado — disse ele, que abriu a pochete e espiou o interior. — Sim,
é isto aqui, comandante — confirmou o homem ao fechá-la e se virar para o
stormtrooper ao lado. — Mande que seus homens recolham todo mundo e
levem-nos para a guarnição de Tweenriver ser interrogado. Por falar nisso,
o que aconteceu com os outros dois hovercraft? Espero que eles não tenham
permissão para escapar.
— Não, meu senhor, nós os temos — disse o stormtrooper.
— Excelente — disse o homem. Naturalmente, as comunicações por
qualquer dos prisioneiros não são permitidas.
Sim, meu senhor. O stormtrooper fez um gesto em direção a Dozer e
Winter. O que há com esses dois?
O homem olhou para Winter e Dozer, e pareceu a Winter que, dessa vez,
seu sorriso tinha um toque de satisfação irônica.
— Sr. e Sra. Smith podem se aposentar — disse ele. Você vai precisar de
ajuda com seu veículo?
Houve uma breve pausa enquanto Dozer aparentemente tentava dizer
algumas palavras.
— Não — ele finalmente disse. Obrigado Nós podemos gerenciar.
— Muito bem — disse o homem energicamente. Adeus
Ele se virou e voltou para o elevador, enquanto um dos stormtroopers o
seguia respeitosamente atrás dele.
O outro stormtrooper fez um gesto com seu blaster.
— Eles ouviram — ele disse bruscamente. Saia.
Sem esperar por uma resposta, ele passou por eles e se dirigiu para onde
os outros imperiais estavam reunindo os homens furiosos de Aziel em
pequenos grupos para desarmar e algemar.
— Vamos — disse Dozer entre os dentes cerrados, pegando o braço de
Winter e voltando para o hovercraft em que ela estava trabalhando. Você
conseguiu abri-lo?
— Sim — disse Winter, com a cabeça ainda girando. Isso tinha que ser
algum tipo de truque. Algum jogo que o predador estava jogando com sua
presa.
Ela ainda estava esperando para cair os atingiu enquanto Dozer jogado
com cabos hovercraft, acendeu-o e atirou para o céu, transformando
cuidadosamente pela saída, sob o escrutínio do alerta olho e lasers
silenciosas da patrulha Ele estava de guarda sobre o Sentinela.
— Era muito barulhento para permanecer em segredo — disse Dozer
amargamente enquanto ele as levava para o fluxo do tráfego através das
luzes da cidade.
— Que queres dizer? Winter perguntou.
— Isso não é óbvio? Ele rosnou. Os imperiais conhecem a coisa toda
completamente. Primeiro, eles nos permitem obter o cryodex para ficar com
ele, e agora eles estão nos deixando livres na esperança de que possamos
obter os arquivos de chantagem também.
Winter sentiu o estômago apertar. Claro. Ela tinha estado tão focada em
seu relacionamento com a Aliança, que por um momento ela esqueceu que
estava em um lado completamente diferente dessa vez.
— O contato de Eanjer — ele murmurou.
— Quem mais? Disse Dozer sombriamente. Não é de admirar que o
homem soubesse o suficiente sobre Sol Negro e Qazadi.
— Eu me pergunto que tipo de acordo Eanjer terá alcançado com ele.
— Seja o que for, não está fazendo isso — disse Dozer com firmeza. A
evidência está aqui. Mesmo assim, isso será como um enorme quebra-
cabeça para Villachor e Qazadi, para digeri-lo.
— Você quer dizer o desaparecimento de Aziel e do cryodex sem deixar
rastros? — perguntou Winter.
Ela puxou o comunicador e ligou o sinalizador. Não adiantou, — eles
ainda deviam estar dentro do campo de interferência dos imperiais.
— Não vai durar muito, você sabe, — disse Winter. — Eles terão que
deixá-lo sair.
— Claro, mas tomara que não soltem Aziel até a gente estar bem longe...
— Espere — interrompeu Winter quando o comunicador deu sinal. Ela
atendeu. — Rachele?
— Sim, — respondeu ela parecendo aliviada. — Vocês estão bem? Eu
fiquei ligando sem parar.
— Estamos bem, — garantiu Winter. — Os imperiais tinham um campo
de interferência sobre o hotel.
— Os imperiais?
— É uma longa história; não temos tempo, — falou Winter. — O que
está acontecendo com Bink?
— Espere um instante — interrompeu Bink. — Você não pode
simplesmente deixar como está. O que está acontecendo com Aziel?
— Os imperiais chegaram e o capturaram — respondeu Winter. — Tanto
ele quanto o cryodex.
— O que deve, na verdade, trabalhar a nosso favor — comentou Dozer.
— Dependendo da velocidade com que a rede de espiões de Villachor
descubra isso, ele vai presumir que Aziel desertou para o Império ou então
imaginar que ele fugiu.
— Eu não vejo como isso nos ajuda — disse Rachele. — Se pensarem
que Aziel está fugindo, eles podem decidir apertar Tavia para descobrir o
que ele está tramando.
— Só que eles têm apenas a palavra de Sheqoa de que Tavia está
envolvido — disse Dozer. Sheqoa significa Villachor, e Qazadi não confia
em Villachor além do que Villachor representa para a segurança do cofre.
Ele não vai interrogar alguém simplesmente, digamos, porque é o que
Sheqoa diz.
— Olha, podemos conversar sobre isso depois que Bink abrir o cofre —
disse Winter. Em que situação você está?
— Eu tenho três sequências de código adicionais na minha frente —
disse Bink. Ela os leu. Você deve ter notado que eles têm comprimentos
diferentes, o que significa que eles não são apenas variantes de um código
padrão de vários dígitos ou algo parecido.
— Até agora, a equipe não encontrou nenhum padrão — disse Rachele.
Alguma ideia?
Winter olhou para a cidade abaixo deles, visualizando a distribuição do
teclado padrão Galáctico Superior que Villachor estivera usando e
sobrepondo as quatro sequências que eles já conheciam acima daquele
teclado.
— A série parece estar em ordem alfabética — sugeriu ele.
— Sim, já temos essa parte — disse Bink em breve. Você não é o único
que leu tudo o que existe sobre Villachor. Poderia ser uma lista de batalhas
famosas, ou seus velhos animais de estimação, ou sua escola ...
— Eu tenho isso — disse Winter de repente, como se tudo aparentemente
se encaixasse. Claro-. Tente esta sequência: sete dois, nove, dois, três,
quatro.
Houve um breve silêncio.
— Não está certo — disse Bink.
O inverno franziu a testa. Não foi certo?
Ele sorriu fortemente. Claro que não estava certo. Foi culpa dele por não
ter seguido as outras sequências completamente até o final. -Tente a mesma
sequência, seguida por três, dois, cinco, três, seis, cinco, três.
Outro curto silêncio. Dozer subiu para a próxima via e acelerou.
— É isso, — disse Bink, só faltando exultar. — Abrimos... lá vamos nós.
Uma caixa de datarcads de chantagem do Sol Negro... uma caixa realmente
bonita... mais uma pilha de outros cartões de dados que Villachor sem
dúvida também odiaria perder. E um punhado das fichas de crédito mais
lindas que vocês já viram na vida.
— Eu desisto, — falou Rachele, parecendo empolgada e perplexa ao
mesmo tempo. — O computador não consegue encontrar nada com aquela
sequência.
— Isso porque o computador procura por palavras normais, mas não
consegue cobrir toda a gama de nomes próprios, — respondeu Winter. — O
código de hoje é Qazadi Falleen. Villachor está alternando dentro de uma
lista alfabética dos nove vigos do Sol Negro, com suas respectivas espécies
anexadas.
— Que lindo, — disse Dozer. — Um lambe-botas subserviente, e é uma
lista que ele tem que manter memorizada de qualquer forma.
— Exatamente, — falou Winter. — Como está indo o resto da operação?
— No rumo certo, — respondeu Bink. — Kell está usando meu sensor e
plantando as cargas finais, Zerba está limpando o cofre, e eu vou subir de
volta à sala da guarda.
— Só não deixe de estar bem atrás dele quando as cargas dispararem, —
alertou Rachele. — Aquela parte do universo vai se tornar um lugar bem
insalubre por bastante tempo depois da explosão.
— Não se preocupe, eu ficarei bem — falou Bink baixinho. — Até mais.
— Espere um instante... eu ainda não acabei de falar sobre Tavia
— disse Rachele. — Talvez a gente devesse mandar Lando e Chewie
antes do planejado.
— Se você fizer isso, corremos o risco de perder ambas as equipes
— alertou Dozer. — O plano todo é fazer com que tudo acontecesse ao
mesmo tempo, de maneira que Villachor não soubesse para que lado pular.
Lembra?
— Han? — chamou Rachele. — O plano é seu, na verdade. O que você
acha?
— Vamos dar um tempo agora, — veio a voz de Han, suave e com um
estranho eco. — Eu não acho que Qazadi faria alguma coisa sem avisar
Villachor a respeito primeiro. Se vier aquela ordem, saberemos a tempo de
colocar Chewie e Lando em ação.
Winter franziu a testa para Dozer.
— Como ele espera saber o que Villachor está ou não fazendo? —
murmurou ela.
Dozer deu de ombros.
— É Han, — disse ele, como se aquela fosse toda a explicação de que
Winter precisasse.
Ou, mais provavelmente, toda a explicação que ela receberia.
— Então ficamos esperando, — falou Rachele, que ainda não parecia
contente, mas aparentemente estava disposta a aceitar a decisão de Han. —
Mas ficaremos em cima dele, ok?
— Claro — disse Han. — A conferência acabou. Todo mundo de volta
ao trabalho.
Winter olhou para Dozer com uma expressão de interrogação. Ele deu de
ombros e gesticulou, e ela desligou.
— O que faremos agora? — perguntou Winter.
— Eu não sei — respondeu Dozer lentamente. — O contato de
Eanjer provavelmente sabe onde fica a suíte. Por outro lado, pode
não saber. Eu realmente espero que ele não saiba onde é o ponto de
encontro.
— Então nós não vamos nem à suíte e nem ao ponto de encontro?
Ele deu de ombros novamente.
— Eu só estava pensando que é uma bela noite para um passeio. Se
importa de se juntar a mim?
Winter olhou para a cidade. Ao longe, um dos apoteóticos espetáculos de
fogos de artifício estava começando.
— Claro, por que não?
Bink refletiu sobre o fato de que Han não tentou impedi-la, enquanto ele
atravessava a mansão. Zerba também não havia feito. Kell poderia ter
tentado, mas provavelmente não notara o fato de que ela os estava
abandonando.
Essa foi a parte do assunto que o incomodou. Ele trabalhou com um bom
número de pessoas nos últimos anos e nunca falhou com nenhum deles
antes.
Claro, ela não estava falhando nem Zerba nem qualquer um dos outros
que estavam aqui. Realmente não. Han agora tinha controle da situação e
Han sabia o que estava fazendo. Geralmente
Mas, às vezes, a percepção da culpa era ainda mais importante do que a
própria culpa.
Ele cerrou os dentes. Era sobre a irmã dele. Se eles não pudessem
entender, ou simplesmente não se importassem, então para o inferno com
todos eles.
E especialmente para o inferno com alguém que cruzou seu caminho com
o argumento de que ele estava indo para a boca do lobo, — na porta da suíte
de Qazadi, para ser morto. Isso seria alguém que não apenas não entenderia
a situação, mas também estaria insultando seu profissionalismo.
Diretamente à frente, o espaço entre os andares se estreitou para terminar
em outra porta pesadamente emoldurada que ela já havia cruzado duas
vezes. Soltando os ganchos que estavam presos no teto acima dela, ela
deslizou a cabeça e os ombros pela abertura, recolocou os ganchos do outro
lado e continuou se movendo. Pelo menos Han não deveria ter se
preocupado com isso, — pelo que ele tinha sido capaz de ouvir, no
momento em que ele contou a história enquanto esperavam na usina, —
ficou claro para ele que ele já tinha checado todos os ambientes aqui, e
concluiu que havia muito espaço para ela tornar invisível sua viagem pela
mansão.
Embora, para ser justo, talvez o que o incomodava, era como Bink seria
capaz de lidar com a distância vertical entre o segundo e o quarto andar. Os
poços dos elevadores eram as rotas óbvias, o que também significava que o
povo de Villachor os cobria.
Para sua sorte, havia uma rota que provavelmente nunca ocorreria a
nenhum deles.
Ele sempre se surpreendera com o número de edifícios com mais de cem
anos que incluíam quartos ou corredores escondidos em algum lugar. Talvez
os ricos e poderosos naqueles tempos tivessem sido mais paranóicos que
seus descendentes hoje, ou talvez simplesmente, gostassem do romance e
do glamour um tanto antiquados daquilo tudo. Visto que a mansão de
Villachor antigamente abrigara um governador de setor, Bink apostaria
muito que havia um conjunto inteiro de passagens de emergência
discretamente enfiadas em algum lugar entre as paredes.
Infelizmente, as plantas de Rachele não incluíam nenhum refúgio
escondido, e ela não tinha tempo para procurá-los.
Felizmente, aquelas mesmas plantas mostravam o elevador de cozinha.
Bink abriu caminho pela parede com pouco esforço e menos barulho
ainda. O poço era simplesmente tão estreito quanto ela esperava. Também
era fácil de passar para alguém do tamanho dela, que sabia o que estava
fazendo.
Bink entrou na passagem apertada e começou a escalar.
Ao longo dos anos, Bink acumulou uma extensa coleção de palavras que
eram mais apropriadas para esse tipo de situação. A caminho do topo do
poço do elevador, ele percorreu toda a lista deles.
Dois minutos. Ela ainda era metade de uma mansão longe de onde Tavia
estava sendo segurada, e Han estava dando a ela dois minutos miseráveis
para chegar lá.
Não havia como chegar lá pela brecha entre os andares. Suas técnicas de
gancho de aperto eram perfeitas para esse tipo de viagem sub-reptícia, mas
a natureza completa da operação exigia uma perspectiva de velocidade. E
mesmo a velocidade máxima não seria suficiente.
Que só o deixou com uma opção. Uma opção que, como a própria
empilhadeira, os projetistas originais da mansão, foram responsáveis por
fornecer.
Os ductos horizontais estavam justamente na parte superior do duto,
ramificando-se em direções opostas: um na direção da ala sudeste e o outro
na direção da ala nordeste. Em um duto completamente fechado, que
parecia tão pouco ameaçador como este, não haveria necessidade de
ganchos. Suas luvas padrão de atrito antiderrapante eram as únicas
ferramentas que ele precisaria, e ele poderia facilmente cobrir a distância na
metade do tempo que levaria para seguir a rota intermediária. Talvez até
dentro da janela de dois minutos que Han lhe dera.
O problema era que a rota entre andares permitia que ele escolhesse onde
sair do outro lado. Infelizmente, apenas uma saída existia na linha de
fornecimento de alimentos. Se Qazadi ou qualquer um de seus guardas
vigiasse a boca para a qual ela estava indo na hora errada, ela nem veria a
cena chegando.
Mas eu teria que tentar. Foi sobre Tavia. Era sobre a irmã dele.
Ele torceu o corpo em um ângulo ao redor da curva no topo do poço do
elevador, e empurrou o conduto, inclinando os ombros diagonalmente para
aproveitar ao máximo o espaço limitado. Agarrando-se às paredes laterais
de metal do duto com as luvas e começando a examinar sua lista completa
de maldições, ele foi direto para a escuridão.
Kastoni já estava começando a ficar perigosamente impaciente, e Lando
tinha sido reduzido a sua segunda e última linha de técnicas dilatórias,
quando toda a ala da mansão pareceu explodir em meio a uma cacofonia de
cerâmica, madeira e pedra quebrada.
E quando ele e Kastoni se viraram para a porta, um hovercraft rugiu pelo
corredor, saltando das paredes de ambos os lados. Kastoni mal teve tempo
de soltar uma maldição de horror enquanto um segundo veículo entrava
atrás do primeiro.
E logo atrás dos veículos, correndo como se suas vidas dependessem
disso, estavam Chewbacca e Eanjer.
Lando soltou um suspiro de alívio. Finalmente
— Em nome de ... -ele começou. Ele parou enquanto o rugido do
hovercraft foi substituído pelo rugido dos alarmes.
— Emergência! Kastoni gritou no comunicador de seu clipe quando ele
tirou seu blaster do caminho. O estacionamento foi invadido. Dois
hovercrafts estão se infiltrando livremente pela ala norte em direção à zona
central; Repito, dois hovercraft estão se movendo pela ala norte em direção
à área central.
Um "recebido" chegou e foi para a porta.
— O que eu posso fazer? Perguntou Lando, que estava atrás dele.
— Ele pode tirar sua bunda daqui — Kastoni rosnou. Aqui acabou.
Ele parou na porta, deslizou a cabeça para dar uma olhada rápida...
E ele desabou no chão quando Lando bateu com o punho diretamente
atrás da orelha esquerda de Kastoni.
Apertando a mão para abafar o súbito batimento cardíaco que sentia,
Lando se ajoelhou ao lado do homem inconsciente e pegou seu blaster. Por
um momento ele pensou em se comunicar com Rachele, mas decidiu que
não tinha tempo e correu atrás de Chewbacca.
Ele já havia presumido que o interior da mansão estaria essencialmente
deserto, com exceção do pessoal da cozinha que estava preparando os
refrescos para os visitantes do Festival que aconteciam do lado de fora.
Certamente, a maioria das forças de segurança estava do lado de fora,
vasculhando a multidão e tentando perseguir os últimos androides que
estavam fora de controle. Mas enquanto seguia o rastro de Chewbacca,
Eanjer e do hovercraft, ele encontrou um número surpreendente de pessoas
observando com medo, cautela ou descrença através das diferentes portas.
A maioria deles parecia ser de algum tipo de técnica, o que não era muito
surpreendente, já que eles estavam perto do estacionamento e da instalação
de reparo dos droides.
Um casal deles gentilmente apontou o caminho para o sargento da polícia
uniformizado que estava caçando, perseguindo os intrusos. Nenhum deles
fez qualquer movimento para detê-lo ou interpelá-lo.
Ele havia deixado a ala norte e estava descendo a larga escadaria que
levava à seção central e à ala nordeste, quando ouviu os primeiros sons de
tiros a laser.
23
Com uma brusquidão que passou uma forte impressão para Dayja de que
tinha sido premeditada, o grande espetáculo de fogos de Marblewood
começou em toda a sua plena glória brilhante. Não apenas com os rojões de
baixa altitude que ele tinha visto antes, mas também com os explosivos
mais altos e rebuscados, quase de nível militar.
O problema era que o escudo abrangente ainda estava ligado. E quando
os rojões acertaram o campo de energia invisível, explodindo
prematuramente e provocando uma chuva de fogo no solo, aquilo foi a gota
d’água para a multidão lá embaixo. Com berros, xingamentos e uma
dispersão de gritos histéricos, a multidão se desmanchou em caos.
Um pedaço dos destroços flamejantes caiu no telhado a mais ou menos 5
metros da chaminé de Dayja. Ele recuou e pegou o comunicador. Basta! Se
aquilo era coisa de Eanjer ou apenas um acidente, Dayja não podia ficar
mais sentado assistindo.
Outro disparo explodiu contra o escudo e provocou uma chuva de
fragmentos sobre a multidão, e com uma sensação de resignação, Dayja
guardou o comunicador. Era tarde demais. O pânico havia começado, e não
havia nada que ele, a polícia ou qualquer um dos outros serviços de
emergência da Cidade de lltarr pudessem fazer a respeito.
Tudo o que ele podia fazer agora era assistir.
Han havia avisado Kell que a coisa toda teria que se desdobrar
rapidamente. O garoto havia pego a palavra.
O detonito que foi colocado sob a plataforma flutuante foi o primeiro; um
grupo de pequenas cargas decepcionantes que deixaram as linhas de energia
de todos os repulsores na metade dianteira desabilitadas. A plataforma
manteve sua posição por não mais do que meio segundo, e então a borda de
ataque caiu no chão, produzindo um acidente explosivo. Quase mascarado
pelo eco ensurdecedor, houve uma crise ainda mais profunda, enquanto o
pilar enfraquecido que conectado com o chão que havia sido enfraquecida
por Zerba- sabre de luz, dobrados e entrou em colapso sob o súbito e
pressão inesperada. Outro meio segundo, e cargas finais de Kell explodiu,
arrancando pedaços duracrete da parte traseira do cofre, e um par de detonar
carga em forma explosiva que thunderously Shook ouvidos, que veio das
armadilhas poderosos caza- peitos que haviam sido enterrados abaixo da
superfície.
Com a aparência de uma miniatura da Estrela da Morte explodindo nos
sistemas de pós-combustão, e com um rugido que parecia abalar para baixo
toda a mansão, o cofre caiu de seu pilar, rolou para baixo da plataforma
inclinada, e fez contato com o chão.
Por um segundo eterno, Villachor e seus homens observaram, incrédulos,
a esfera de seis metros de diâmetro que se dirigia para eles. Então, quase em
perfeito sincronismo, eles entraram em choque descontroladamente em sua
tentativa de sair do caminho deles.
Villachor e seus dois guarda-costas tiveram sucesso. Sheqoa e os outros
três guardas não conseguiram.
Mesmo antes de desaparecerem abaixo da esfera, Han já estava se
movendo, dando um passo à frente e se plantando entre os dois guardas, que
agora assistiam boquiabertos ao drama que se desenrolava dentro da caixa-
forte. Han colocou as mãos no peito deles e empurrou com o máximo de
força possível para cada lado.
Os trajes eram pesados, mas a força ampliada de Han foi mais do que
suficiente para a tarefa. Os guardas voaram para trás uns bons 3 metros
antes de caírem esparramados no chão, talvez longe o suficiente para
estarem fora do caminho da esfera que se aproximava, mas Han realmente
não se importava tanto assim, de uma forma ou de outra.
Agora ele estava mais preocupado com a vida das centenas de cidadãos
que poderiam estar andando ou parados diretamente no caminho de um
colosso rolante prestes a irromper pela parede da mansão. Os disparadores
de fogos de artifício instalados anteriormente por Kell e Zerba deveriam ter
feito a maior parte da multidão ir na direção das saídas, mas sempre havia
alguns que eram valentes, distraídos ou estúpidos demais para saber quando
era a hora de ir embora.
Para essas pessoas, o cofre rolante provavelmente seria o último erro de
cálculo que elas fariam na vida.
O cofre estava quase chegando à parede blindada da caixa-forte. Han deu
meia-volta, correu para a porta lateral da antessala e esvaziou a Caliban
emprestada na parede em volta da porta enquanto corria. A arma de raios
ficou vazia; Han a jogou fora e se lançou contra a porta, torcendo que a
armadura fosse tão resistente quanto parecia.
Era sim. Han atravessou a porta praticamente sem se abalar, e um enorme
trecho da parede veio com ele. A saída mais próxima para o lado de fora da
mansão ficava a 30 metros de distância, para o sul; Han recuperou o
equilíbrio e se virou para lá, torcendo fervorosamente para que conseguisse
ser mais rápido do que a esfera lá fora. Atrás dele, Han ouviu o ruído
violento de destruição conforme a esfera avançava pela blindagem da caixa-
forte...
E eis que ele saiu pela porta do pátio e se voltou para o caminho da
esfera.
Han estava certo em relação à multidão. A maioria das pessoas já estava
bem longe, correndo para os portões enquanto os fogos de artifício
explodiam espetacularmente contra o escudo abrangente acima delas. Mas
algumas dezenas de visitantes ainda estavam por ali e observavam as falhas
dos fogos com uma informalidade ou arrogância que parecia ensaiada.
Han revirou os olhos. Até ele sabia que deveria se abrigar quando chovia,
especialmente quando a chuva era feita de brasas. Ainda assim, se
explosões aleatórias no céu não eram suficientes para fazer esses últimos
teimosos andarem, talvez algo mais íntimo e pessoal fosse.
Ele tirou o chicote neurônico do cinto, ativou-o e girou-o bem acima da
cabeça.
A maioria dos indolentes já tinha visto Han na armadura reluzente. Todos
viram o brilho branco-azulado do chicote, que estalava e chiava.
— Andem! — berrou Han enquanto girava o chicote acima da cabeça. —
Saiam daqui... agora!
Eles finalmente entraram em movimento, correndo como um Toong
assustado, quando a esfera irrompeu pela parede externa da mansão e rolou
pelo pátio, destruindo as pedras da pavimentação embaixo dela ao passar.
Dez metros à frente do cofre, onde a pavimentação cedia espaço para a
grama, uma cerca de estacas se erguia do solo e circundava a mansão como
uma floresta eletrificada e mortal de 6 metros de altura.
O cofre atravessou rolando a cerca sem sequer desacelerar.
Han passou se abaixando pelo vão que ainda chiava e forçou os limites
de velocidade e força da armadura para correr em volta do cofre e chegar à
frente dele. Novamente girando o chicote freneticamente acima da cabeça,
ele avançou.
Aquela era uma das façanhas mais malucas que Han realizara na vida.
Mas estava funcionando. No escuro, com a distração dos fogos de artifício,
muitas das pessoas no caminho da esfera provavelmente jamais teriam visto
o perigo até que fosse tarde demais. Mas uma figura de armadura com um
chicote azul brilhante era impossível não ver. Elas se espalharam diante de
Han, a maioria entendeu a situação e correu para as saídas, os demais
dispararam em todas as direções, exceto o vetor em que Han e o cofre
seguiam.
Ele continuou em frente, observando o cofre no monitor traseiro,
torcendo para que conseguisse se manter a salvo até que a esfera finalmente
perdesse o ímpeto. Torcendo, também, para que ela não pegasse a parte de
trás da grande multidão que se dirigia para as saídas, deixasse um enorme
rastro de morte entre as pessoas e depois quebrasse o muro exterior e
entrasse no intenso tráfego da Cidade de Iltarr.
Han torcia muito, muito mesmo para que isso não acontecesse.
Parecia, pensou Han mais de uma vez, com algo saído de uma
holonovela insana.
Ele esperava que o cofre rolasse em uma bela linha reta. Não rolou. O
segmento aberto da esfera ocasionalmente se prendia no chão, o que às
vezes atrasava o ímpeto à frente, e em outras alterava drasticamente a
direção. Han tinha que prestar atenção no monitor traseiro do capacete para
evitar perder completamente a esfera, ao mesmo tempo que continuava a
interpretar o papel do droide descontrolado enquanto tirava as pessoas do
caminho do perigo.
Algumas vezes Han pensou ter visto alguns seguranças de Villachor, mas
eles estavam tão boquiabertos quanto os visitantes. Nenhum dos seguranças
fez qualquer esforço para detê-lo. Quando estava já no meio das
dependências, o segmento finalmente bateu no solo com força suficiente
para se quebrar. Depois disso, o trajeto da esfera ficou muito mais
previsível.
Por alguns maus momentos, Han pensou que sua preocupação anterior
seria confirmada, de que a esfera realmente fosse atravessar o muro e entrar
na cidade. Mas, pelo menos dessa vez, o pior não aconteceu. A esfera
desacelerou e finalmente parou a cerca de 50 metros do muro. Han desligou
o chicote, deu meia-volta e voltou-se para ela.
Ele estava olhando para o túnel formado pelo armário de pedra Hijarna,
quando a porta se abriu, e Zerba e Kell se arrastaram de maneira insegura.
— Eles estão bem? Han perguntou a eles.
— Isso foi ótimo — disse Kell, soando e parecendo estar bêbado.
Lembre-me de nunca mais fazer isso.
— Sempre será melhor do que andar — disse Zerba. Especialmente
quando há pessoas que estão atirando em você.
— Contanto que a sua porta não termine na parte inferior — disse Han,
enquanto os ajudava a sair do túnel e ir para o chão.
— Não foi por acaso — assegurou-lhe Zerba. O gabinete estava fora do
centro da esfera, e a pedra Hijarna é muito mais densa que o duracreto. O
mesmo princípio que o dado cobrado.
— Eu vou acreditar sua palavra, — eu disse Han. Um ruído fora
explosões da direção da mansão foi ouvido, e se virou para ver um avanço
do acelerador do caminhão vários passageiros, atravessando a abertura
segura tinha produzido na cerca de arame farpado eletrificada, e que se
dirigia a eles pelo meio dos jardins.
Atrás dele, uma chuva de fogos de artifício estava furiosa nas paredes da
sala.
— Que bom — disse Zerba com aprovação. Eu acho que não há chance
de eles queimarem completamente o lugar.
— Provavelmente não — disse Han. Mas, desde que eles tenham que
lidar com o que resta de segurança, não acho que eles nos incomodem.
— A menos que esses sejam alguns deles — alertou Kell, apontando com
um dedo ainda instável em direção ao veículo que se aproximava.
— É apenas sobre Chewie — assegurou Han.
— Tem certeza? Kell perguntou.
Han concordou com a cabeça.
— Eu conheço o estilo de voo dele.
Mesmo assim, não faria mal verificar. Han ligou a visão telescópica do
traje e deu um zoom na speeder van. Era realmente Chewbacca, com Lando
e as gêmeas com ele.
Não havia sinal de Eanjer.
Han franziu a testa e melhorou a captação da imagem, caso tivesse
deixado de ver Eanjer nas sombras, em algum dos bancos detrás. Mas o
homem não estava ali. Han franziu ainda mais a testa e mudou a atenção
para as dependências atrás da speeder van, depois para a mansão. Ainda não
havia sinal de Eanjer.
Ele estava verificando as janelas da mansão para ver se o sujeito poderia
estar preso lá dentro quando algo acima delas chamou a atenção.
Havia um homem sentado no telhado.
Han aumentou um pouco a visão telescópica. Não apenas havia um
homem sentado calmamente lá em cima, mas ele estava com um par de
eletrobinóculos nos olhos. Alguma espécie de observador?
Mas aqueles não eram eletrobinóculos comuns, Han percebeu ao se
concentrar no equipamento. Eles eram pequenos e compactos, do tipo que a
pessoa poderia enfiar em um bolso lateral sem sequer ser notado. O tipo
caro de eletrobinóculos que um oficial imperial do alto escalão usaria.
Um oficial do alto escalão ou um agente imperial.
Irrefletidamente, Han afastou o olhar. Dozer havia especulado mais cedo
que o contato de Eanjer pudesse ser um imperial. Parece que ele estava
certo.
— Pegaram tudo? — perguntou ele para Zerba enquanto tirava o
capacete e soltava as presilhas da armadura do torso.
— Bem aqui, — confirmou Zerba dando um tapinha na pochete da
cintura. — Arquivos de contrabando, outros cartões de dados variados, e
todas as fichas de crédito de Eanjer.
— Ótimo, — disse Han soltando a armadura do braço e do torso no chão.
— Deixe comigo. Kell, pode me dar uma mão para sair dessa coisa?
Na luz refletida, ele viu Zerba franzir a testa. Mas o outro simplesmente
soltou a pochete e a entregou.
A armadura tinha sido retirada e Han estava revirando a pochete quando
a speeder van freou ao lado deles. A porta se abriu e Chewbacca rosnou.
— Sim, quase, — falou Han. — Onde está Eanjer?
— Ele ficou para trás a fim de virar mais alguns canhões de fogos de
artifício na direção da mansão, — respondeu Lando enquanto saía pelo
outro lado e ia na direção de Han. — Eanjer disse que vai ao ponto de
encontro por conta própria. — Ele esticou a mão. — Se você não se
importa, eu vou pegar a minha parte agora.
Han fez uma expressão de desagrado. Ele imaginou que Lando fosse
fazer essa gracinha.
— Que tal esperamos até todos nós estarmos no ponto de encontro? —
sugeriu Han.
— Que tal você me dar agora? — contra-argumentou Lando. — Então eu
posso pular o ponto de encontro e seguir com a minha vida.
— O que ele está falando? — perguntou Zerba.
— Lando quer trocar a parte dele dos créditos pelos arquivos de
chantagem, — explicou Han.
— Ele pode fazer isso? — indagou Kell franzindo a testa.
— Sim, ele pode, — disse Lando em tom firme. — Nós já concordamos.
E, sem querer ofender, Han, mas você tem o péssimo hábito de perder a
recompensa para outras pessoas. Então passe aí.
Não havia como evitar.
— Beleza, — falou Han com um suspiro.
Ele puxou a caixa com os arquivos de chantagem e entregou para Lando.
— Obrigado, — disse ele ao enfiar a caixa dentro da túnica de policial.
— Agora, se você puder me deixar no meu airspeeder, eu vou seguir meu
rumo. Quanto ao resto de vocês, foi divertido.
Um momento depois, eles estavam dentro da speeder van, e Chewbacca
seguia para uma das saídas. Provavelmente ainda havia seguranças de
serviço, mas Han não esperava que eles fossem causar problemas. Não com
um dos veículos do próprio Villachor.
Han estava preocupado com Lando e com o que Lando diria.
E com o que Lando faria.
— Ele tem cerca de 1,75 metro de altura, cabelo escuro, pele negra,
bigode tipo três — falou Dayja correndo no comunicador enquanto o
airspeeder passava pelo portão e entrava no intenso tráfego da cidade. —
Está com os arquivos de chantagem e, se tiver algum bom senso, levará
para fora de Wuklcar assim que chegar ao espaçoporto.
— Eu não imagino que você saiba o nome dele, — disse D’Ashewl. —
Há muitas naves no solo agora.
— Eu não sei o nome de ninguém, a não ser o de Eanjer, — disse Dayja.
— Mas acho que podemos reduzir as possibilidades. A nave dele
provavelmente será alguma coisa pequena, para um passageiro apenas.
Tenho a impressão de que ele apareceu depois que os demais e veio
sozinho. Pela aparência, ele provavelmente é do tipo que adora as coisas
boas da vida, mas não pode pagar por elas, então procure por uma nave que
já esteve no topo da lista dos esnobes, mas que atualmente parece um pouco
gasta. Tempo de chegada há nove dias, com provavelmente uma janela de
doze horas em ambos os lados.
— Entendido, — respondeu D’Ashewl. — O que ele está vestindo?
— Você vai morrer ao ouvir isso, — falou Dayja ao se abaixar quando
um dos rojões que acertavam a mansão jogou fogo em um telhado próximo.
— Ele está usando o uniforme da polícia da Cidade de Iltarr. Mas duvido
que tente passar pelo espaçoporto desse jeito.
— Eu espero que não, — concordou D’Ashewl. — Mais alguma coisa?
— Ele estará com pressa, — disse Dayja. — Na verdade...
Ele parou e fez os cálculos de cabeça. Pegar a speeder van roubada até o
local onde um veículo de fuga adequado certamente estava estacionado;
mudar para aquele veículo; ir ao espaçoporto; ir à baia; ligar os motores...
— Ele deve pedir uma permissão para decolar em 32 ou 55 minutos,
dependendo de como vai chegar, se de airspeeder ou landspeeder, — falou
Dayja.
— Certo, — disse D’Ashewl. Se ficara surpreso ou duvidara das
estimativas de Dayja, ele foi discreto. — Você quer que ele seja capturado
no solo?
— Melhor não — respondeu Dayja. — Eu não sei em que estado estão
Villachor e sua organização neste exato momento, mas não podemos
arriscar que um de seus agentes no espaçoporto se meta antes que tenhamos
garantido. Peça ao Dominador para capturá-lo depois que ele entrar em
órbita.
— Vou ligar para o Capitão Worhven imediatamente — disse D'Ashewl.
Tenho certeza de que você ficará feliz em receber outra tarefa sem dar
maiores explicações.
— Faz parte do seu trabalho — disse Dayja. Algo novo sobre Aziel?
— Infelizmente, tivemos que deixá-lo ir — disse D'Ashewl. O príncipe
Xizor foi tão gentil que lhe deu credenciais diplomáticas. Mas havia
evidências suficientes de que o cryodex havia sido originalmente roubado,
então consegui retê-lo como prova.
— Perfeito — disse Dayja. Se conseguirmos os arquivos de chantagem,
teremos o bloqueio e a chave. O diretor ficará satisfeito.
— Eu não me importo com o diretor — disse D'Ashewl com um
grunhido. Lorde Vader ficará satisfeito. Ele representa o futuro do império.
— Talvez — disse Dayja cautelosamente. A última coisa que ele queria
naquele momento era se enredar em outro argumento político. Obtenha um
canal de comunicação com a torre do espaçoporto e coloque o Dominator
em alerta. Eu estarei lá assim que eu puder me apropriar de um speeder do
estacionamento do Villachor.
— Suponho que você quer conduzir o interrogatório por si mesmo?
— Dayja sorriu vigorosamente.
— Apenas pegue ele — ele disse. Eu cuido do resto.
Eanjer sempre esperou sair deste emprego vivo. Ele não estava tão certo
sobre o resto da equipe.
Eu também fiquei um pouco mais do que surpreso que, na realidade, o
plano teria funcionado.
O píer de ancoragem permaneceu em silêncio enquanto passava pela
porta. Ele estava preocupado que Han e Chewbacca tivessem conseguido
chegar à sua frente, apesar de terem que deixar os outros saírem do veículo
nas proximidades do ponto de encontro. No entanto, o Falcon permaneceu
silenciosamente estacionado no escuro brilho da cidade vizinha, com suas
luzes e sistemas desligados e frios.
Ele se perguntou brevemente o que os outros pensariam quando ele e Han
não aparecessem no ponto de encontro. Eles provavelmente concluiriam
que ambos prepararam tudo isso com antecedência, com a clara intenção de
não compartilhar os milhões desses cartões de crédito com qualquer outra
pessoa. Eles ficariam furiosos, prometiam vingança e faziam todas as outras
coisas que as pessoas faziam em tais situações.
E eles falariam sobre isso. Eles definitivamente iriam falar sobre isso.
Com sorte, o que restava da reputação contaminada de Han nunca poderia
se recuperar.
Não que Han precisasse de uma boa reputação. Eu não precisaria mais
disso.
Encontrou um lugar onde pudesse sentar-se confortavelmente e observar
toda a seção de campo aberto entre a entrada da doca e a rampa dos
Falcões. Descansando com sua luz blaster em seu colo, ele se preparou para
esperar.
O som de fogos de artifício pela cidade havia parado fazia muito tempo.
Assim como o volume de trânsito havia diminuído conforme o povo da
Cidade de Iltarr saía dos vários locais do Festival e rumava para casa. E
Han ainda não tinha aparecido.
Finalmente, com atraso, Eanjer percebeu.
Era uma cópia excelente, ele teve que admitir ao passar por baixo da
nave e iluminar o casco com o eletrosoldador. Um cargueiro YT-1300
clássico, praticamente com a mesma idade e estado, até mesmo com
algumas das mesmas modificações.
Mas apenas com algumas. Outras, como o compartimento de mísseis de
concussão e o canhão de raios Ground Buzzer, não estavam presentes.
Não era a Millennium Falcon. Era um chamariz, trocado na baia em
algum momento durante os últimos nove dias.
Han não viria. Na verdade, ele já tinha ido embora fazia muito tempo,
sem dúvida.
Eanjer deu um sorriso frágil na escuridão. Dozer, obviamente. Tinha que
ter sido ele. Todo o tempo que Dozer passara longe da suíte nos primeiros
dias de preparação, supostamente resolvendo compromissos e comprando
equipamentos para todos os demais.
Eanjer teria que encontrar alguma maneira de fazer o ladrão de naves
pagar.
Ainda assim, haveria outras oportunidades. Ele podia esperar.
Eanjer saiu da baia e cruzou o espaçoporto até onde a própria nave estava
pousada. Não olhou para trás.
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REVISÃO: Balão Editorial | Pausa Dramática | Matheus Perez | Tradutores dos Whills
EDITORIAL: Daniel Lameira | Katharina Cotrin | Bárbara Prince | Andréa Bergamaschi | Renato Ritto
COMUNICAÇÃO: Fernando Quinteiro | Lidiana Pessoa | Roberta Saraiva | Ligia Carla de Oliveira | André Castilho
COMERCIAL: Daniel Lameira | Katharina Cotrin | Bárbara Prince | Andréa Bergamaschi | Renato Ritto