MENSAGENS DA
QUINTA DIMENSÃO
Autor
K. H. SCHEER
Tradução
AYRES CARLOS DE SOUZA
Digitalização e Revisão
ARLINDO_SAN
Enquanto Perry Rhodan com a Crest III, a nave-
capitânia da Frota Solar, se encontra a mais de cinqüenta
milênios distante do tempo real do ano 2.404, nas
proximidades da Terra, só conseguindo escapar, a muito custo,
de um novo golpe da parte dos senhores de Andrômeda, Mory
Rhodan-Abro, esposa do Administrador-Geral, tenta encontrar
uma possibilidade para o regresso dos que se encontram
retidos no passado.
A operação de Mory falhou, e a seguir os homens de
Reginald Bell entram novamente em ação. Um novo plano
para resgatar os que se encontram sumidos no tempo toma
forma. Astronautas e técnicos do Império Solar dão início à
“Operação Secreta Miosótis”, também chamada de “Não te
esqueças de mim”.
O transporte da Frota Dino-3 ilude o alçapão do tempo,
penetrando no passado para levar ajuda a Perry Rhodan.
Apesar dos homens da Dino-3 já não terem mais futuro
para si mesmos, cuidaram do futuro de Perry Rhodan e do seu
Império Solar, colocando memotransmissores em pontos
estrategicamente importantes.
Estes aparelhos transmitem as Mensagens da Quinta
Dimensão.
Atlan ficou calmo ao encontrar, na mais cômoda cadeira reclinada de sua cabine, o
rato-castor.
Gucky vestia um leve uniforme de bordo, do qual o seu rabo surgia sem proteção. O
rosto pontudo de rato, com os olhos grandes, inteligentes, estava apoiado na lateral da
poltrona. Atlan notou apenas uma perna recolhida, o largo rabo de castor e a cabeça
coberta de pêlos com as orelhas redondas.
Inconscientemente até, Atlan defendeu-se contra os para-fluxos indagadores.
Gucky, mais uma vez, tentava espreitar o conteúdo do consciente de Atlan.
— Estraga-prazer — resmungou o rato-castor. — O seu monocampo energético está
cada vez mais forte.
— Sorte minha. Alguém me oferece oportunidade suficiente para me aperfeiçoar
cada vez mais.
Gucky mostrou o seu único dente.
— Vou fazer de conta que não ouvi isso, terrano de araque. O que é que você está
fazendo?
— Tirando a roupa para tomar uma chuveirada e depois dormir. Se você estiver de
acordo, peço-lhe que me dê oportunidade para uma pequena soneca.
O dente roedor de Gucky sumiu. Ergueu-se na poltrona pneumática, e deixou
pender as perninhas curtas. O Lorde-Almirante tirou o uniforme. Gucky olhou, por um
instante, para aquela saliência do tamanho de um ovo — o ativador de células — que se
desenhava sob a camiseta. Atlan esperou. Gucky, evidentemente, não viera à sua cabine
para falar de ninharias.
— Senti a sua falta na conferência — observou Atlan, como quem não quer nada.
— Estava cansado, ou simplesmente não tinha disposição para ficar ouvindo detalhar
cerca de cinqüenta planos absolutamente inexecutáveis?
— Estive trabalhando — declarou o rato-castor, magoado.
— Oh!
— Não há nada que justifique esse oh! Preciso falar com você seriamente.
— Mais essa. Baixinho, eu acabo de sair de uma discussão muito séria com homens
que devem ser levados a sério. Por favor, leve isso em conta, e deixe-me em paz. Eu
estou pronto, se você me permitir esta expressão da plebe.
Gucky conservou-se surpreendentemente calmo.
— Todos nós estamos prontos, Lorde-Almirante. Vocês não chegaram a qualquer
resultado, não é isso?
— Nenhum que pudesse ser usado. Minha sugestão é uma missão para malucos ou
cansados desta vida. Jamais a realizaremos. Aliás, agora me questiono, por que cheguei a
falar da conquista de Kahalo. Talvez, foi apenas para dar alguma coisa para pensar aos
homens mais competentes da Terra. Não sei ao certo.
— Você realmente está pronto — disse Gucky, pensativo. — Você jamais falou
coisas mais confusas. Perry no momento está andando pela sua cabine como um tigre
enjaulado. Cart Rudo está quebrando a cabeça, calculando manobras de aproximação de
vôo altamente complicadas, com as quais seja possível dominar a frota de vigilância
halutense.
— Loucura.
— Ele, pelo menos, está fazendo alguma coisa. Os mutantes estão elaborando
planos ousados, e eu também tenho algo para dizer. Por isso estou aqui.
Atlan foi até o autômato de bebidas, retirando-lhe uma caneca de suco de vitaminas
incolor. Gucky fez uma cara de nojo.
— Você devia comer cenouras. Ou melhor, não — acho melhor ficar nessa coisa
sintética. O meu estoque está cada vez menor. Afinal de contas, você está apenas fazendo
de conta que está desinteressado, ou está realmente?
Atlan sentiu que o rato-castor estava ficando inquieto.
Ele já não conseguia mais segurar, para si mesmo, suas novidades.
O arcônida tomou lugar em outra poltrona, esticou as pernas diante de si, e encostou
a cabeça para trás.
— Estou ouvindo, baixinho. E procure ser curto, está bem? É que eu estou
realmente cansado. A Crest vai orbitar esta zona junto de um sol da periferia galáctica,
até tomarmos a decisão de para onde ir. E então...?
Gucky usou de poucas palavras. Seus olhos marrons estavam sérios e penetrantes.
— O que digo agora não é nenhuma piada. Você lembra-se da incursão de Redhorse
à Terra do Período Glaciário? Ele acabou numa armadilha, que lhe fora colocada por um
dos senhores da galáxia, de nome Toser-Ban. Por um triz nós não fomos destruídos pelo
baluarte lunar automático. Antes, entretanto, voamos com uma corveta até a Terra e
conseguimos resgatar Redhorse.
— A quem você está contando isso?
— A você. Toser-Ban quase matou você com um tiro.
Eu ainda cheguei a tempo para poder alçar você telecineticamente. Em seguida
abrimos fogo sobre Toser-Ban com um canhão energético. O seu campo energético ruiu,
e você o matou com um desintegrador.
— Claro, claro. E esse tal cabo Surfat, agora promovido a sargento, comeu carne de
castor.
Gucky sorriu. Ele lembrava-se disso perfeitamente.
— Isso agora não é mais importante. O que interessa são os poucos segundos que eu
precisei para encontrar você. Tive que concentrar-me muito, e nessa ocasião ouvi alguém
chamar o meu nome. Não muito alto, mas nitidamente. Atlan! Eu tinha me concentrado
inteiramente na minha capacidade telepática, para verificar o seu paradeiro. Você me
chamou? Caso positivo, como você me chamou? Você tem dons telepáticos que nos
escondeu até agora?
Atlan colocou a caneca numa mesinha e ergueu-se.
— Baixinho, eu não tenho dons telepáticos, nem chamei você naquele instante. Eu
estava olhando diretamente para a boca da arma de Toser-Ban. Se bem me lembro, a
única coisa em que pensei foi como seria desagradável morrer ali, no meio de toda aquela
chuva. Talvez você tinha sido chamado por John Marshall.
— Não — afirmou Gucky energicamente. — Sobre isso nós discutimos durante
horas a fio. Ele estava ocupado com o mutante-monstro de Makata.
— Muito bem. Onde é que você quer chegar?
O rato-castor fez um gesto vago. Uma expressão de desespero apareceu nos seus
olhos.
— Atlan — eu fui chamado! Telepaticamente e com uma sonoridade quase audível.
Quem é que poderia conhecer o meu nome na Terra primitiva? Há por lá alguém que nós,
no ardor da luta, tenhamos esquecido? Alguém que talvez pudesse ajudar-nos?
— Você está imaginando coisas, baixinho. Vá deitar-se um pouco.
— Eu não estou imaginando nada. Eu fui chamado, contatado. Não, você não
precisa mandar chamar Marshall. Ele nada ouviu. Nós estávamos ininterruptamente
ocupados, e além do mais, psiquicamente exaustos. Se eu não tivesse que defender-me
dos impulsos que tentavam penetrar em minha mente, vindos do mutante-monstro,
porque precisava encontrar você novamente, provavelmente também nada teria ouvido.
Mas, assim, eu o recebi. Eu afirmo que na Terra, ou se você quiser, na Lemúria, existe
alguém que conhece meu nome e que tem dons telepáticos. Este homem, ou esta mulher,
nós devíamos procurar. Afinal, só pode tratar-se de uma pessoa do tempo real. Como é
que ela chegou à Terra?
Atlan fixou o rato-castor com os olhos semicerrados. Via-se que estava pensando no
caso. Será que ele não chamara Gucky mesmo? Num momento de grande perigo, ele não
teria desenvolvido uma capacidade que, normalmente, não tinha à sua disposição?
Falou isso a Gucky, mas este não estava de acordo, e demonstrou-o rudemente, com
um gesto.
— O que é que você quer atingir com este seu relato? — quis saber o Lorde-
Almirante finalmente.
— Vim procurar você, porque foi você quem chefiou aquela missão. Só você é
capaz de saber, com exatidão, o que aconteceu naqueles minutos. Perry expulsou-me,
sem mais nem menos, do seu quarto, e os cientistas desta orgulhosa nave não me
acreditariam.
— Nem eu. Você teve uma alucinação.
Gucky deu uma risada estridente e gritou:
— Jamais tenho alucinações. Isso não existe no meu cérebro. Você vai voar comigo
para a Terra, ou não vai? Quem está afogando, é sabido, costuma se agarrar em qualquer
tábua de salvação. Por que nós não deveríamos fazê-lo?
— Você não está imaginando que Perry faria a loucura de levar a nave às
proximidades do baluarte lunar?
— Como passaremos por ele é assunto seu. Afinal, podemos pegar uma corveta ou
um jato-mosquito. Fale com Perry. Ele agora está num estado de espírito que...
— ...o toma acessível a qualquer maluquice — interrompeu-o Atlan.
Gucky encolheu os ombros.
— Uma pequena chance é melhor que nenhuma. Tire a sua soneca se quiser, e fale
com Perry depois. Dê-me a oportunidade de verificar quem, na Terra, chamou o meu
nome. Se nós recebermos apenas um bom conselho, isso, em nossa situação, já é muita
coisa.
— Este é um argumento muito sensato, baixinho. Muito bem, eu falarei com Perry.
Acorde-me daqui a seis horas.
Gucky desmaterializou num lampejo luminoso. Atlan olhou para aquele lugar, onde
o baixinho ainda estava sentado, segundos atrás. Depois foi tomar uma ducha, e deitou-se
no seu leito. A Crest III continuava orbitando o sol estranho.
4
O retumbar profundo dos impulsores emudeceu. A Crest III, que saíra há oito
minutos do espaço linear, retomara o restante de seu vôo de entrada.
Ela encontrava-se num setor pobre em estrelas, a trinta e cinco anos-luz da Terra. O
sol brilhava como bola de fogo nas telas de eco do rastreador energético ultraluz. Em
nenhuma parte conseguia-se descobrir flotilhas halutenses.
Rhodan estava sentado na poltrona do almirante da Crest III. Perto dele, Cart Rudo
preparava-se para uma partida de emergência.
Perry olhou em volta da gigantesca sala de comando, tentando reconhecer os rostos
dos seus homens. Alguns deles pareciam máscaras azuladas dentro dos capacetes de seus
trajes de combate.
“Eles já estão tendo novas esperanças”, pensou Rhodan, com um sentimento de
vergonha. Fez um esforço para afastar de sua cabeça aquela sensação de estar enganando
os seus homens, e pegou um microfone do intercomunicador, que levou aos lábios.
— Rhodan para Atlan. Chegamos. Distância da Terra, exatamente trinta e cinco
anos-luz, até o momento nenhum rastreamento de corpos estranhos. Você continua
preparado para ir atrás de fantasmas saídos de cabeça de Gucky?
O rosto de Atlan apareceu na tela de imagem. O arcônida já estava sentado na
carlinga hermeticamente fechada do seu caça-mosquito, de onde tinha uma visão de cento
e oitenta graus. Atrás dele, no assento do navegador-rastreador, Gucky estava acocorado.
Ambos vestiam trajes espaciais de combate altamente eficientes, com micro projetores
embutidos para campos antigravitacionais, bem como campos energéticos e defletores
individuais.
— Continuo. Os pontos de encontro de recuo, calculados, estão no seu computador?
Se eu tiver que desaparecer daqui, ainda assim gostaria de voltar a ver vocês novamente.
— Tudo em ordem. Permanecerei neste ponto pelo tempo que for possível, Atlan —
já que você está assumindo este risco, acho que devia tentar ter sucesso no
empreendimento.
Atlan não disse mais nada. Rhodan, hesitante, recolocou o microfone no console.
Com a voz abafada ainda disse:
— Tudo de bom. Levem nossa saudação à Terra, e façam o possível para não atirar
em ninguém. Lá embaixo vivem nossos antepassados. Eclusa livre para decolagem.
Rhodan ouviu o ruído de partida dos jatos através da instalação de vídeo. O caça de
Atlan logo aparecia no campo de filmagem das câmaras externas de bordo. O reator da
popa do aparelho rápido lançou um jato flamejante, e logo sumira de vista.
Durante quatro minutos ele ainda continuava nas telas em relevo como ponto de eco
do rastreamento energético ultraluz. Depois também este símbolo apagou-se.
— Rastreamento à sala de comando! — anunciou-se o Major Notami. — Ele agora
entrou no semi-espaço. Nenhuma interferência mensurável.
Rhodan levantou-se de sua poltrona, dirigindo-se à parede blindada, transparente, da
sala de comando.
— Cart, caso precisar de mim — nas próximas horas estarei na sala de
rastreamento. Tome muito cuidado. E atenção para partida em caso de alerta.
O comandante epsalense apenas anuiu. Ele sabia o risco que Atlan assumira. Na
Terra, continuava existindo a estação do agente do tempo, e além disso, o baluarte lunar,
que trabalhava com um imenso potencial energético. Atlan tinha que executar uma obra-
prima de navegação espacial, se quisesse mergulhar na atmosfera da Terra sem ser
notado.
O Major Don Redhorse estava sentado no assento de comando de sua corveta, em
prontidão de partida. Ele conseguira permissão para poder levar ajuda a Atlan, em caso
de necessidade.
Na Crest III, praticamente ninguém mais falava. Todos tinham esperanças e medo
ao mesmo tempo.
***
Atlan não era homem para confiar apenas numa medida de segurança. A carlinga do
caça-mosquito de vinte e seis metros de comprimento era pressurizada normalmente. Os
campos energéticos individuais dos trajes de combate ofereciam também a garantia para a
manutenção da pressão interna, necessária ã sustentação das forças vitais.
Apesar disso, Atlan tinha fechado o capacete de visão completa, ligando o oxigênio
para respiração. Caso o jato fosse atingido por algum projétil, e se, além disso, os micro
aparelhos dos trajes de combate falhassem, eles ainda poderiam ser usados como trajes
espaciais normais.
Gucky seguira, sem dizer uma palavra, as instruções de Atlan. Ele estava informado
de quanto este vôo era arriscado.
Diante do campo energético do caça aglomeravam-se as partículas de gás de uma
protuberância solar, ejetada, longe, ao espaço. Atlan passou por dentro dessas massas de
matéria quente, com dez por cento da velocidade simples da luz.
Os caças-mosquito eram, até mesmo para grandes estações de rastreamento, objetos
que dificilmente eram notados. Eram pequenos demais, rápidos demais e capazes de
manobras que dificilmente facilitariam uma imagem clara nas suas telas de eco.
Somente suas freqüências naturais energéticas podiam ser mensuradas por aparelhos
de boa qualidade, de modo que existia o perigo de uma perseguição. Para estes casos,
entretanto, os mosquitos tinham, no nariz, um canhão-conversor embutido, cujo
desenvolvimento energético era de pelo menos vinte gigatoneladas de TNT, o que
impunha respeito.
Atlan alcançara o Sol terrano com uma manobra linear. A Terra surgiu como uma
foice em relevo na tela do rastreamento de massa. O relampejar caótico do campo de
sobrecarga de alta energia amainou, à medida que as massas gasosas se tornavam cada
vez menos densas. À esquerda da nave, aparecia a bola de fogo imensa do Sol. Atlan
ignorou suas fantásticas forças gravitacionais de atração com a indiferença do astronauta
que sabia muito bem que podia confiar na sua nave, conhecendo bem suas limitações
exatas.
A velocidade do jato era suficiente para fugir facilmente dos campos gravitacionais.
A enorme irradiação de calor era absorvida pelos campos energéticos da nave.
Deste modo, o aparelho deslizou para fora das últimas línguas brilhantes de gás. A
Terra distante tornou-se mais visível.
O automático de bordo tocou. Atlan apertou uma tecla.
— Apronte-se, baixinho! A segunda manobra leva-nos até à Terra. O anel de gás
cósmico do planeta Zeut destruído chega até à órbita de Vênus. Nós vamos sair por cima
do campo receptor-transmissor do campo magnético da Terra, e imediatamente vamos
mergulhar na atmosfera. Se for o caso de sermos rastreados, os resultados das medições
serão tão afetados pelas micropartículas das nuvens de matéria que será impossível uma
avaliação correta. Nós já passamos por isso.
— Se não acabarmos torrados primeiro!
— Eu tenciono evitar incidentes dessa natureza. A estação de tempo fica no
continente norte-americano Makata e a central de hiper-rádio fica no México. Portanto,
vou tentar mergulhar no outro hemisfério da Terra, entrando em vôo baixo, perto da costa
leste asiática, mais ou menos na altura do Mar da China do sul. Caso conseguirmos isso,
estaremos seguros. Você não terá mais nada a fazer do que aguçar bem seus ouvidos
telepáticos e ficar na escuta. Caso você “ouvir” alguma coisa, terá que me chamar. Nada
de dados de graus. Limite-se a dizer, “para a direita” ou “para a esquerda”. As
diferenças de altitude eu mesmo encontro. Fico mais ou menos na linha do Equador,
entrando numa rota para o oeste. No meio do Atlântico, em todo o caso, me desviarei
para o sul, para não entrar no alcance do rastreamento da estação norte-americana. É lá
que você terá que ter muito cuidado. Se você ouviu o chamado com maior nitidez no
México...
— Não foi com maior nitidez, mas apenas ali — interrompeu-o o baixinho.
Sua voz demonstrava seu nervosismo.
— Muito bem, então só ali. Neste caso, suponhamos que a pessoa desconhecida está
em algum lugar no continente americano. Isso dificulta nossa tarefa. Mas, ainda assim,
vamos levá-la a cabo, uma vez que cheguemos lá. Em caso de necessidade, pousamos
numa montanha alta das Cordilheiras, para que você possa “escutar” em paz. A manobra
terá início dentro de dois minutos.
— Você esqueceu-se do baluarte lunar?
— Não, mas isso não me interessa. No momento não consigo calcular a posição do
satélite. A nuvem de gás de Zeut, em todo o caso, nos esconderá. Além disso, eu suponho
que a aparelhagem do baluarte é controlada da Terra. A manobra começa.
O kalup-compacto do caça-mosquito entrou em ação. O campo de compensação
aparou o aparelho das influências energéticas de quarta e quinta dimensão,
possibilitando-lhe alcançar a zona de libração entre ambas as dimensões.
Na tela que indicava a meta, apareceu a Terra como uma bola brilhante, vermelha.
O jato atirava-se com velocidade ultraluz multiplicada em direção ao corpo celeste,
atravessou sem problemas as nuvens de partículas do planeta explodido Zeut, inofensivas
no espaço linear, saindo tão perto por cima do planeta, que a passagem teve o efeito de
um choque.
A correção de rota de Atlan foi operada manualmente, e por visibilidade direta. A
Terra era uma bola que brilhava, vermelho-esbranquiçada, cujas massas de gelo refletiam
a luz do círculo de gás.
O Sol, instantes atrás ainda um chamejante forno atômico, tornara-se um disco
anormalmente grande, porém sem força luminosa, dependurado no céu.
Formações de nuvens, brilhando também vermelhas, impediam uma visão melhor
da superfície da Terra. Apesar disso, podia reconhecer-se que o jato saíra do espaço linear
por cima do hemisfério à luz do dia, na altura das Ilhas Galápagos.
Esta era exatamente a posição que Atlan não desejara. A altura era de ainda 2.432
quilômetros. As camadas superiores da atmosfera ainda estavam bem distantes.
Gucky não disse uma só palavra. Ele sabia que cálculos mais exatos haviam sido
impossíveis por falta de reconhecimento prévio.
A turbina impulsora do jato chegou a rugir com a reversão. A velocidade de
mergulho do aparelho diminuía em setecentos quilômetros por quadrado de segundo. Este
era um valor que, à parte os jatos-mosquito, somente os mais modernos cruzadores de
reconhecimento da Frota Solar podiam atingir.
Com o resto do seu impulso, Atlan disparou até muito longe acima do Oceano
Pacífico, puxando a alavanca de controle do impulso para a frente.
Este movimento da pilotagem era transmitido, através da computação sincrônica,
para as diversas turbinas direcionais que, deste modo, faziam o efeito de lemes
aerodinâmicos.
O nariz pontudo baixou. Atlan caía num ângulo de queda de quase noventa graus
em direção à superfície.
— Você está maluco! — gritou Gucky, de repente. — Nós vamos arrebentar logo
que tocarmos a atmosfera. Atlan...!
O arcônida não deu-lhe importância. A velocidade da queda era de
aproximadamente seiscentos quilômetros por segundo. Quando o rastreamento de matéria
começou a assobiar, Atlan puxou a nave em queda para cima, suportou os valores de
pressão que passavam até cerca de cinco gravos e, por um segundo, ligou a reversão
completa para frenagem.
O jato entrou em ângulo raso nas camadas superiores da capa atmosférica da Terra,
mas então já não tinha mais, praticamente, nenhuma velocidade.
O segundo vôo em queda aconteceu somente ainda num ângulo de quarenta e cinco
graus e com uma velocidade de queda de dez mil quilômetros por hora. O calor do atrito
derivado pôde facilmente ser absorvido pelo campo de choque da proa.
Mais parecendo um monstrengo sibilante, o caça desceu até às camadas espessas da
atmosfera sobre o mar.
Atlan puxou-o para cima com os lemes
e os jatos da proa, ligando o aparelho para
condições de vôo atmosférico somente. A
nave espacial transformou-se num avião. O
ar reverberante e quente, diante da proa,
diminuía à medida em que a velocidade
decrescia.
Numa velocidade de vôo de apenas
ainda três mil quilômetros por hora,
desapareciam as últimas turbulências. Atlan
tomou a rota oeste, em direção ã costa
asiática.
— Sinto muito — disse ele pelo
intercomunicador de bordo. — O absorvedor
de pressão, mais uma vez, só entrou em ação
com meio microssegundo de atraso. Tive que
entrar em mergulho com um valor de
setecentos. Foi muito ruim?
— Ruim? — gritou Gucky agitado. —
Com todos os diabos, agora eu entendo por
que Redhorse não quer mais voar com você.
Uma coisa dessas a gente faz, quando muito,
com uma programação de computador de
primeira categoria, jamais manualmente. Se você tivesse puxado a nave para cima com
um centésimo de segundo de atraso e, ao mesmo tempo, não tivesse frenado com força
suficiente, nós agora seríamos apenas algumas partículas da nuvem de gás cósmico. Esta
é uma manobra de risco que é proibida em todo...
— Terra firme à vista — interrompeu-o Atlan, sem se impressionar. — Não fique
nervoso, baixinho. O que me interessava era ficar longe do alcance do rastreamento da
estação de tempo, o mais rapidamente possível. É que nós saímos do espaço linear
exatamente por cima da costa oeste norte-americana. Ou será que você não notou isto?
— Notei sim — disse Gucky, chateado. — Você pode subir um pouco mais?
— Sete quilômetros, e nenhum mais. Velocidade três mil, constante. Eu não quero
puxar atrás de mim turbilhões de ar superaquecido, nem entrar no horizonte de
rastreamento de alguma estação desconhecida. Procure controlar-se agora, baixinho. A
sua tarefa está por começar. Eu vou voar ao longo do maciço do Himalaia, atravesso a
planície da índia e depois giro para o sudoeste com a rota embicada para a África Central.
Preste atenção na sua tarefa.
— Faça o favor de me chamar em voz alta, caso acontecer algum incidente.
Em vez de uma resposta, Atlan colocou em alerta de fogo os dois canhões do caça.
A placa blindada do cabeçote da alavanca impulsora foi ejetada para o alto, deixando à
mostra as teclas de ignição.
— Você não está querendo soltar uma bomba de vinte gigatoneladas, está? — quis
saber Gucky, assombrado. — Homem, você está maluco. Isso acabaria rasgando a crosta
do planeta.
— Preste atenção na sua tarefa — repetiu Atlan. — Silêncio agora. Aí na frente
surge a costa asiática.
Gucky recostou-se na sua cadeira e desligou psiquicamente. Fechou os olhos. E
então, o Lorde-Almirante sabia que o seu parceiro não-humano estava escutando com
todos os seus sentidos inconcebíveis, impulsos que um ser humano normal jamais poderia
ouvir.
Gamas de ondas parapsíquicas eram sensivelmente mais complicadas nas suas
freqüências de quinta dimensão, que as conhecidas formas de energia do espaço normal.
Mestres do ofício, ao qual pertencia o rato-castor, afirmavam que cada ser vivente podia
ser reconhecido exatamente através de sua irradiação individual e sintonizados.
O aparelho deslizou por cima das terras costeiras. Bem ao longe ao norte,
destacavam-se os cumes do Himalaia. A planície siberiana, ainda mais para o norte, era
uma gigantesca geleira. Apesar disso, havia vida por ali.
***
As sirenes de alerta soaram através de toda a Crest III. A situação de alerta
condicional de combate, que valera até então, foi substituída por alerta total.
— Nave em alerta total de combate — ressoou a voz de Cart Rudo por todos os
alto-falantes do serviço de intercomunicação. — Rastreamento de corpo estranho em
Vermelho 47 graus, Valor-C 003758, Valor-H 14.0176. Prontidão canhões conversores,
preparar comando em série para compasso de costados em alvo direto. Comando central
de máquinas — elevem todas as estações de força para valores de absorção em cem por
cento, prontidão nos propulsores. Encerrar marcha lenta, nós já fomos rastreados. Central
de comando de tiro. Informe alcance de alvo.
— Central de Comando de Tiro, alcance de alvo concluído. Torres de conversores
já devidamente roladas para fora. Distância um — dois — três — cinco milhões de
quilômetros. Alvo rapidamente erguendo-se no Setor Vermelho. Computador positrônico
de objetivo evoluindo correspondentemente, programação de tiros por baterias.
Este fora o Major Cero Wiffert, o homem mais importante a bordo, quando se
chegava ao contato com o inimigo.
Rhodan apareceu na sala de comando, no momento em que começaram a rugir os
reatores de fusão dos doze gigantescos propulsores. Apesar disso, o ultracouraçado ficou
onde estava, sem se mexer do lugar.
Rhodan sentou-se na sua poltrona e fechou o capacete sobre a cabeça. Os
abafadores de som imediatamente abaixaram sobre seus ouvidos. Respiração separada e
comunicação por rádio, ligaram-se automaticamente.
— Rhodan a todos, intercomunicação por rádio. A nave continua de prontidão para
partida de emergência. Em caso de necessidade, entraremos com empuxe mínimo no
espaço linear. Prepare-se para exigir o máximo dos seus kalups, Hefrich.
— Entendido, sir. Faço isso com o maior prazer. Quantos são?
Ninguém precisava perguntar o que o engenheiro-chefe queria dizer com isso. A
nave encontrava-se na área de domínio dos invasores halutenses.
— Uma só, doutor. Esférica, com pólos achatados. Mil e setecentos metros de
diâmetro equatorial. Propulsores ajustados centralmente na placa polar inferior, ou seja,
construção típica halutense.
— Um pato gordo, sir.
— Rastreamento para o chefe — ouviu-se outra voz. — Objeto entrando em rota de
adaptação. Distância ainda trezentos e quarenta mil quilômetros. Alcance de tiro atômico
para canhões conversores já alcançado. O halutense está diminuindo a velocidade. Fortes
radiações de impulsos energéticos. Agora estão entrando freqüências de quinta dimensão.
O inimigo está erguendo um campo defensivo. Parece que eles estão se perguntando o
que é que está pairando, sem se mexer, aqui no espaço. É possível que nos tomem por um
destroço do período lemurense.
— Acho melhor não contar muito com isso. Destroços geralmente têm um tipo de
impulso próprio, característico. Além disso, nós estamos brilhando como um sol. Oficial-
chefe da bateria de tiro. Fogo à vontade!
O Major Cero Wiffert disparou a primeira salva da bateria de dez canhões do
costado vermelho. A Crest derivou para sotavento do fogo, aparada imediatamente pelo
computador com a instantânea entrada em ação dos propulsores-estabilizadores, e no
espaço de um segundo foi transformada numa estável plataforma de tiro, sem o menor
movimento reflexo.
O troar dos disparos ainda não cessara, quando diante dos halutenses, que se
aproximavam agora em alta velocidade, as bombas de fusão, irradiadas como impulsos de
ultra-luz, se materializaram e imediatamente entraram em processo de reação nuclear.
Nas telas de imagem do rastreamento de energia, de velocidade ultraluz, as
explosões tornaram-se imediatamente visíveis. A luz precisava de quase um segundo para
ser captada pelo sistema de computação externa de bordo. Este segundo de dilação,
entretanto, já dera lugar a uma dilatação tão formidável das dez bolas de fogo, que a
impressão ótica seguinte jogava na tela de imagem uma espécie de chamejante sol
gigantesco.
A nave de combate do inimigo, de grandes proporções, entrara em alta velocidade
naquele inferno, sumindo dentro do mesmo. Até mesmo os gigantes de Halut, conhecidos
por sua rapidez de reação, não haviam tido mais nenhuma possibilidade de escapar da
mais perigosa arma terrana.
Rhodan olhava as diversas telas de imagem e de rastreamento, fascinado. A nuvem
de fogo ampliava-se cada vez mais. E então pareceu como se ela quisesse rebentar de
dentro para fora, e retomar, mais uma vez, o processo atômico.
— Rastreamento à Sala de Comando — o inimigo explodiu. Desenvolvimento
energético de cerca de cinco mil vezes o valor da bomba. Reação integral das armas
utilizadas.
O computador reduziu a luminosidade das telas de imagem. O sol artificial
expandia-se cada vez mais. No seu centro reinavam milhões de graus de calor.
Rhodan levantou-se lentamente. Ao virar-se, viu Icho Tolot. O halutense estava
olhando, em silêncio, aquela bola de fogo.
— Sinto muito, Icho — declarou Rhodan, com a voz abafada.
— Por quê? Eu não o censuro. Nunca se esqueça que estamos lutando contra
sombras. Somente me questiono por que os seus antepassados não conseguiram dobrar os
invasores halutenses.
— É que a Lemúria não possuía o nosso canhão conversor, mas apenas uma
variação dessa superarma. A busca do alvo era muito complicada, muito incerta e
demorada demais. O efeito, em si, correspondia ao de nosso canhão-conversor. Mas isso,
apenas relativamente. De que lhe serve a melhor arma, se o inimigo atira mais
rapidamente e com maior precisão? A queda da Lemúria foi devida, em grande parte, à
deficiência dos canhões de polarização invertida de então. Os alvos precisavam, antes,
serem envolvidos num campo de rematerialização, para ser possível arremessar a bomba.
Naturalmente, os seus ancestrais, muito rapidamente, acomodaram-se a esta
circunstância. Porém, nos primeiros dez anos da guerra, os sucessos de tiro dos
lemurenses devem ter sido tão enormes, que Halut quase foi destruído. E então,
descobriram como era possível absorver o campo de polarização invertida, e já o sonho
de uma batalha de defesa de sucesso passara. Venha, Tolot. Vamos conversar um pouco
mais sobre este assunto.
Rhodan e o gigante, que nada tinha de humano, afastaram-se. A cerca de trezentos
mil quilômetros de distância, a bola de gás brilhante atingia uma tal extensão, que punha
a Crest em perigo, apenas ainda sendo possível ser colhida pelas grades angulares da
aparelhagem de vídeo externa.
Os propulsores da Crest trabalhavam em produção máxima. O campo defensivo
hiperenergético já estava de pé.
Cart Rudo voltou-se para o Primeiro Oficial de Cosmonáutica, Tenente-Coronel
Brent Huise.
— Se isso não for rastreado, eu engulo um sapo. Atenção todos a bordo: Situação de
alerta de combate permanece. Almoço cancelado, usem suas rações de reserva.
— Todo mundo vai gostar — disse o huno de barba vermelha. — Nossa comida já
não é coisa para gourmets. E as rações de reserva, então...!
Huise interrompeu-se a si mesmo e ergueu os ombros. Como quem não quer nada,
ele acrescentou:
— Dez bombas de fusão com mil gigatoneladas por unidade, até mesmo um
halutense tem dificuldade de digerir. Será que agora nós provocamos um paradoxo do
tempo?
Ninguém respondeu. Entretanto, todos pensavam na distância relativamente
pequena da Terra. Esta erupção de energia já poderia ser rastreada, até mesmo por
aparelhos muito ruins, numa distância de trinta e cinco anos-luz.
O Tenente Ische Moghu empurrou para trás o seu capacete e inspirou, como para
certificar-se, o ar da nave.
— Correta e ruim como sempre — disse ele. — O velho está jogando tudo num só
lance. Ele não desviou-se um só centímetro, apesar do halutense praticamente vir em
linha reta sobre ele. Para isso, a gente precisa de nervos de aço. Aliás, eu me pergunto se
ele tem algo parecido com nervos.
***
— ...à direita... direita... mais, mais... para a direita...! — Atlan virou a cabeça,
espantado. O caça-mosquito agora encontrava-se praticamente parado sobre o delta da
foz do futuro Ganges e Brahmaputra. No ano 49.488 a.C, a planície da área dos rios
formava uma imensa baía, que se estendia até as massas escarpadas das montanhas do
Himalaia. O desaparecimento do continente Lemúria, também aqui, tinha causado
movimentos tectônicos. O continente asiático, entretanto, de outro modo, mal se
modificara. Esta imensa massa de terra parecia ter-se defendido com sucesso contra as
fantásticas forças de compressão das massas continentais à deriva.
— Para- a direita...! — disse Gucky, novamente.
Sua voz soava baixa e parecia pouco modulada. Parecia mergulhado num transe
profundo.
“À direita” significava o norte para Atlan. Ele não conseguia imaginar por que o
rato-castor indicava a direção da mais formidável montanha da Terra. A primeira
transmissão, que consistira, conforme dizia ele, da menção do seu nome, tinha sido
captada por ele no México. Como então, de repente, isso começava a falar, de repente,
em pleno Golfo de Bengala?
— À direita...! — exigiu Gucky, com urgência.
Ele estava ficando inquieto.
Atlan colocou o aparelho em ponta e, acionando repentinamente o leme de altitude,
puxou-o numa curva tão violenta, que alguns gravos se fizeram presentes. Forçou o caça
de volta à posição horizontal, tomou altitude e orientou-se pela bússola normal.
— Trezentos e sessenta graus, rumo norte — disse ele, com toda a calma que lhe
era possível. — Está bem?
— Ótimo. Incidência da frente. Não, para a direita demais. Para a esquerda —
esquerda...
Atlan pisou cuidadosamente no leme lateral. A seta iluminada da bússola oscilou
fortemente.
— Gucky, estamos a trezentos e cinqüenta graus. Certo? O baixinho continuava
“escutando” ainda com maior intensidade. O seu nariz pontudo chegou a ficar vermelho.
Atlan, nessa situação, nem se atrevia a perguntar o que estava acontecendo. Estava claro
que o rato-castor estava ouvindo alguma coisa.
— Meu nome passa constantemente — murmurou Gucky, agitado. — Cada vez
mais forte. A intensidade do som está aumentando. Um transmissor fraco.
Demasiadamente à direita, dobre para a esquerda. Rápido, eu o estou perdendo.
A sete luminosa continuava a oscilar. Finalmente, aos trezentos e cinqüenta e sete
graus, conseguira fixar o ângulo de incidência. Ali, nesta linha de vôo, devia estar o
telepata desconhecido, irradiando os seus chamados.
Atlan viu-se diante de um monte de perguntas, para as quais não encontrava
qualquer resposta. Como é que o desconhecido sabia que Gucky estava novamente por
perto? Ou ele o teria rastreado logo após a manobra de penetração na atmosfera? Para
isto, entretanto, ele teria que conhecer, e muito bem, as freqüências individuais de Gucky.
As vibrações sobrepostas dos milhões de sobreviventes lemurenses que se escondiam nas
cidades sob o gelo eram muito fortes. A estas reuniam-se ainda as vibrações duras de
seres humanos mutantes, que também haviam desenvolvido determinados dons
paranormais.
Como é que o estranho poderia falar tão diretamente ao rato-castor? Ou — e esta
era a última e menos provável possibilidade que Atlan imaginou — ou o misterioso
estava chamando ininterruptamente, não importando se Gucky estava próximo ou não?
Isso exigiria um imenso potencial energético. Atlan achou que esta possibilidade teórica
não merecia uma maior investigação. Porém, mesmo assim, Gucky era chamado pelo
nome.
Atlan examinou, mais uma vez, os controles das armas do caça. Neste momento, o
telerrastreamento de energia deu um sinal. Muito longe, no espaço, pelo menos a trinta
anos-luz de distância, forças gigantescas haviam sido liberadas. O computador calculou e
mostrou, com base nos impulsos recebidos, os valores aproximados. Atlan mordeu o
lábio inferior, apertando os dentes com tanta força, que as maçãs do rosto ficaram
salientes. Por ali devia estar pairando a Crest. O que tinha acontecido?
Gucky distraiu-o com um murmúrio ininteligível. Nos receptores dos capacetes do
intercomunicador de bordo, aquilo mais parecia um sussurro indistinto.
O caça-mosquito passou em vôo rápido por cima da cordilheira do Himalaia. Mais
para o norte, surgiram os cumes majestosos das montanhas mais altas. Entretanto, eram
um pouco mais baixas que no tempo real.
Atlan reconheceu o Monte Everest, à direita deste o Kanchinching e, mais para a
esquerda, o pico principal do Gaurisankar. Outras montanhas apareceram bem diante
dele. Teve que puxar o aparelho para cima, para não colidir com aqueles gigantes.
Gucky deu uma nova instrução para a manutenção da rota. Um pouco para a
esquerda!
Atlan seguiu-a rapidamente, erguendo o aparelho. Ele mergulhou num banco de
nuvens e, no segundo seguinte, estava sobrevoando o Gaurisankar. E logo o pico sumira
outra vez.
— A incidência do som está diminuindo — disse Gucky, mais alto. A sua voz
chegava a tremer. — Voamos por cima do transmissor. Voltar!
Atlan não quis acreditar no que ouvia. Obrigou o caça a descrever uma longa curva
para a esquerda, diminuiu os jatos impulsores e deslizou uma velocidade mínima num
vôo de aproximação de volta para o sul. Debaixo deles, erguia-se novamente, majestoso,
o Gaurisankar.
A velocidade do aparelho era ainda de setecentos quilômetros horários. Se Atlan
diminuísse ainda mais a velocidade, o aparelho não agüentaria. As diminutas asas de
sustentação, em forma de delta, não haviam sido desenvolvidas para vôos tão vagarosos.
Atlan estendeu os flaps, aumentando assim a sustentação, conseguindo segurar, com
certa segurança, o jato no ar. O seu polegar, entretanto, estava bem por cima da tecla do
projetar de antigravidade.
Entretanto, ele ainda queria esperar com esta liberação energética. As frentes de
onda de quinta dimensão podiam ser, decididamente, rastreadas com mais facilidade do
que as irradiações dos jatos-propulsores.
Atlan começou a circular o pico. Gucky estava ficando cada vez mais seguro. O
arcônida olhava, sem entender, para baixo. O Gaurisankar, já nesta época, tinha quase
oito mil e quinhentos metros de altura. Ninguém, pelo menos nenhum ser normal, poderia
viver naquela atmosfera rarefeita e gelada. A temperatura do lado de fora da nave era de
setenta graus abaixo de zero.
Finalmente, Atlan viu-se obrigado a ligar a antigravidade. O caça foi amparado pelo
campo, e as asas de suporte foram recolhidas. Pouco depois, o jato estava parado bem
perto, acima do platô do cume. Não era muito grande, e parecia bem diferente do que
existia no tempo real.
Ventos fortíssimos, de alta montanha, batiam contra aquele corpo sem peso, que
somente conseguia ser aparado com a constante utilização dos jatos corretores. Cristais
de gelo, pontudos e duros como agulhas de aço, golpeavam as vidraças reforçadas da
carlinga do piloto.
— Pousar, — exigiu Gucky. Ele estava tremendamente agitado. — Pousar. Eu... eu
ainda não consigo saltar. Exausto demais. Pousar.
Atlan diminuiu o absorvedor da antigravidade e deixou o aparelho descer. Ele tocou
a neve congelada, quebrou a superfície e finalmente parou sobre o duro piso da geleira.
O rugir dos jatos emudeceu. Somente o banco de conversão do microrreator
continuava zunindo o seu canto permanente.
Gucky acordou lentamente de sua condição de transe. Os seus olhos tornaram-se
mais claros.
Finalmente conseguiu falar normalmente outra vez. Lá fora, as tempestades de neve
uivavam em volta do caça. O mesmo foi coberto de massas de neve em turbilhão, e no
instante seguinte, já estava livre delas novamente. A temperatura continuava constante,
em setenta graus abaixo de zero.
— Eles continuam chamando. E agora muito alto e muito nitidamente.
Atlan virou-se rapidamente na sua poltrona.
— Eles...? — gritou ele, sem poder se conter.
— Sim, são diversos. Eu me enganei. Eles falam de si. Eu traduzo...
Gucky fechou os olhos novamente, agarrou-se no seu cinturão e disse com a mesma
voz que anteriormente:
— Gucky — nós chamamos o Oficial Especialista Gucky, chamado Gucky. Mundo
natal Vagabundo, mundo de sua escolha, Terra. Chamamos Gucky. Irradiar para impulso
“Miosótis” — “Não te esqueças de mim” em freqüência individual. Comutação de
transmissor para transferência de informações, indispensável.
O baixinho acordou novamente. Nervosamente, ele declarou:
— Meu nome passa com uma sonoridade dez vezes superior, o texto
significativamente mais baixo. Por isso mesmo, eu apenas escutei “Gucky”, até estar bem
perto. Atlan —isso não é nenhum telepata, mas um paratransmissor mecânico, que foi
sintonizado exatamente para a minha freqüência cerebral. Quem é que poderia conhecê-
la? Somente os especialistas da Defesa estão informados a esse respeito. Além disso
nenhum outro telepata poderia ouvir o chamado.Transmissões em freqüências eletivas
são vinculadas individualmente. Até mesmo Marshall, agora, não captaria um só impulso.
O transmissor foi sintonizado especialmente em mim. Atlan — eu estou com medo.
O almirante conseguiu controlar-se, com esforço. Milhares de pensamentos e
reflexões passavam, ao mesmo tempo, pela sua cabeça. Depois ele lembrou-se da
situação.
— Nada de imaginar coisas agora, baixinho. Irradie o impulso de abertura — qual é
ele?
— Curioso! “Miosótis” — “Não te esqueças de mim”. Estou muito nervoso. Parece
que estou sentindo um profundo pesar.
Atlan conseguiu abafar um gemido, curvou-se sobre os aparelhos de rastreamento, e
sacudiu o rato-castor. Este caiu em si.
— Baixinho, controle-se. Passe o impulso de sua onda cerebral. Em seguida, você
vai ter que ir buscar o transmissor, contanto que possa transportá-lo. Ao que parece,
alguém deixou uma notícia para você.
— E parece que a deixaram há muito tempo. O transmissor já deve ter irradiado
com maior intensidade que agora. O seu estoque de energia deve estar diminuindo.
Somente o meu nome ainda continua passando muito nitidamente. Muito bem, dê-me
apenas mais um minuto.
Atlan esperou, muito impacientemente. O aparelho já estava novamente coberto de
neve. Imediatamente ele afastou aquelas massas geladas com um jato quente das turbinas
dos lemes.
E então, o rato-castor começou a trabalhar. Transmitiu o impulso telepático e
esperou.
A uma distância de apenas trinta metros, uma micro aparelhagem complicadíssima
começou a funcionar. Um relê girou para a esquerda. O contato de transmissão II foi
fechado. Imediatamente, o baixinho estremeceu novamente.
— Alto, muito alto! — gemeu ele. — Silêncio, estas são realmente notícias. Eu
traduzo. É possível que aconteça sair alguma coisa torneada. Passe por cima. Eu
menciono as coisas apenas mais ou menos como me chegam. É difícil falar ao mesmo
tempo, enquanto se recebe uma mensagem telepática. E agora, segue-se o primeiro texto.
Até agora só recebi sinais de chamada. Atenção...
Atlan ligara a gravação em fita do caça, interligando-a com o rádio do capacete do
rato-castor. Nenhuma palavra deveria perder-se. Neste instante, o arcônida já não pensava
mais no perigo que poderia estar espreitando-os de muito perto. Também já esquecera a
fantástica explosão no cosmo. O baixinho não se enganara. Alguma coisa o chamara
efetivamente. E agora ele começava a falar.
— Major Gerald Snigert, comandante do grande transporte da frota Dino-3, chama
a nave-capitânia Crest III. Chamo o Administrador-Geral do Império Solar, Perry Rhodan
e o Lorde-Almirante Atlan, da USO. Eu me encontro com a minha nave, na minha
galáxia natal. Minhas ordens são para encontrar a Crest e substituir os seus kalup-
conversores usados. A bordo de minha nave encontram-se três conversores novos,
testados, saídos da fábrica, que o meu grupo de técnicos poderia instalar na Crest. Minhas
instruções dizem ainda que devo ajudar Perry Rhodan, com meios de auxílios normais, a
regressar para a Nebulosa de Andrômeda. Fui catapultado ao passado pelo planeta Vario.
Conforme nossa documentação, no momento nos encontramos no ano 49.988 antes de
Cristo. Estes transmissores telepáticos, chamados memotransmissores, construídos em
Siga, a pedido da Defesa Solar, são minha última possibilidade de alcançá-los. Sei que
fizeram um salto intermediário de quinhentos anos. Maiores informações somente
poderão ser dadas com a abertura do memotransmissor. Encontrarão uma microfita
gravada, inclusive com imagens, com dados exatos sobre a chegada de minha nave à Via
Láctea, e sobre nossas medidas tomadas.
“Atenção! O memotransmissor é imediatamente destruído, caso for feita uma
tentativa de abri-lo à força. O aparelho abre-se automaticamente, no momento em que o
oficial especialista do Exército de Mutantes, Gucky ou John Marshall, irradiar em sua
freqüência única o nome do homem que no ano 1.971 funcionava como chefe da US-
Space Force, dirigindo os preparativos para o primeiro vôo tripulado por seres humanos
para a lua. Sei que o nome deste oficial somente ainda é conhecido por poucos seres
humanos. Fim das informações.
“Atenção! Post-scriptum: Esta notícia telepática pode ser recebida unicamente pelos
oficiais especialistas Gucky e Marshall. Os memotransmissores espalhados pelos homens
de minha tripulação na galáxia, num total de trinta e duas unidades, foram especialmente
sintonizados nas freqüências individuais, conhecidas de mim, das pessoas mencionadas.
Coloque em segurança o aparelho quem receber esta notícia. Lembro-lhe o código de
abertura. Caso eu seja ouvido, gostaria de despedir-me com um ‘muita sorte’ desejado de
todo o coração. Desligo.”
Gucky, desta vez, precisou de cinco minutos, até novamente ter-se sob controle.
Atlan, durante este tempo, ficou ouvindo a fita gravada. Ele conhecia um major terrano
de nome Gerald Snigert. Ele era um dos oficiais mais responsáveis da frota solar, sendo
conhecido pelo seu equilíbrio.
Atlan começou a refletir mais uma vez. Mal dava atenção ao arquejar de Gucky. O
rato-castor chegara ao fim de suas forças.
De repente, o almirante foi interpelado pelo rato-castor.
— Está bem, eu estou novamente mais ou menos em condições. A tradução foi
horrível. Eu falei compreensivelmente?
— Até sem qualquer erro e não apenas adequadamente, Gucky — eu gostaria de
ajudá-lo a recolher o transmissor. Provavelmente ele está debaixo de uma camada de gelo
de um metro. Você já conseguiu localizá-lo mentalmente?
Gucky já o conseguira. Indicou o lugar. Era ao pé de um paredão rochoso, muito
íngreme, que poderia ser visto como o ponto culminante da montanha. Ali encontrava-se
uma pequena gruta que, aliás, estava inteiramente fechada pela neve, e verdadeiras
massas de gelo erguiam-se diante da mesma.
Atlan não hesitou mais tempo. Examinou o seu traje de combate e abriu a porta
interior da diminuta eclusa de descompressão.
— Deixe disso, — informou Gucky. A sua voz ciciante parecia calma, quase solene.
— Atlan, eu ainda posso dar esse pequeno salto. A gruta é suficientemente grande para
mim. E parece não ter gelo no seu interior. O transmissor não deve ser pesado, caso
contrário o major não teria falado de uma recuperação do mesmo por mim ou por John
Marshall. Os siganeses nunca fabricam aparelhos grandes. Mantenha-se nesta mesma
posição, e espere por mim. Eu salto mais ou menos dentro de três minutos.
Ele silenciou novamente, e Atlan deixou-se cair, hesitante, no seu assento. O seu
plano era de derreter o muro de gelo.
Depois de alguns instantes, o baixinho começou a falar, levado por sua inquietação
interior.
— Você já se deu conta de que Snigert, devido ao nosso salto intermediário, chegou
aqui quinhentos anos cedo demais? A julgar por seu campo de referência, nós nos
encontrávamos no futuro, apesar de, na realidade, ainda continuarmos muito longe, no
passado. Eu acho que Snigert mandou colocar os memotransmissores em planetas
importantes, sempre na esperança de que nós os encontraríamos, quinhentos anos mais
tarde. Esta é a única solução. Neste caso, Snigert, conforme a idade que atingiu, deve
estar morto por pelo menos há quatrocentos e cinqüenta anos. Nós vamos encontrar
apenas ainda os seus despojos — quando muito. Ele teve uma idéia genial, Atlan. Ele não
disse que nos trouxera três kalups novinhos em folha para o passado? Com um tender
denominado Dino-3? Estas são naves gigantescas, sobre cujas plataformas até um
ultracouraçado pode pousar. Isso poderia significar nossa salvação.
Três minutos mais tarde, o rato-castor desapareceu de repente do seu assento.
Depois de mais cinco minutos, ele reapareceu, tão inesperadamente como sumira. Seu
traje de combate não sofrera nenhum dano.
Suas mãozinhas seguravam um cilindro prateado brilhante, com as extremidades
fechadas por terminações abauladas. A superfície era inteiramente lisa.
— Eu sabia que os engenheiros siganeses, experientes em microeletrônica, jamais
constroem grandes aparelhos — disse ele. — Esta coisa aqui tem, pelo menos, quinhentos
anos de existência. Você lembra-se do nome do oficial que, naquela ocasião, chefiou o
vôo lunar de Perry?
— Conheço. Foi o general de três estrelas Lesly Pounder, chefe da US-Space Force,
e comandante militar do Nevada Space Port. Isso faz muito tempo. Snigert foi muito
esperto, escolhendo o nome de Pounder como código para a abertura do aparelho. Caso o
memotransmissor tivesse caído em mãos erradas, seus descobridores, só com isso,
estariam diante de um mistério insolúvel. Isso, mesmo sem contar que jamais poderiam
ter “escutado” os chamados, devido à parafreqüência especial.
Gucky olhou ansioso para o aparelho, quando Atlan deu partida na nave.
Atlan puxou o caça para o alto e afastou as massas de gelo com os jatos dos lemes.
Segundos mais tarde, um corpo lançando labaredas atravessou as nuvens, erguendo-se,
com aceleração máxima, para o espaço, o seu verdadeiro elemento.
Gucky desistiu de abrir o memotransmissor, já agora. Antes de mais nada, era
importante alcançar a Crest.
Atlan voou em direção oeste, por cima do continente asiático, para desviar-se da
lua, visível como uma foice. Depois de ter sumido atrás do horizonte, começou o
verdadeiro vôo de subida.
A atmosfera incendiou-se. Continuava brilhando como uma chama vermelha ao
longo da trajetória de vôo, quando o caça-mosquito já havia sumido no cosmo,
aprestando-se para sua manobra linear.
Atlan tinha consciência de que seu empreendimento tivera o favorecimento de, pelo
menos, três fatores.
O bastião lunar não tivera qualquer possibilidade de abrir fogo, uma vez que o caça,
na sua chegada, encontrava-se perto demais da superfície da Terra.
A isso juntava-se o fato de que naves de vigilância halutenses se encontravam nas
proximidades. Os agentes do tempo na Terra não tinham meios de saber quem teria
enviado aquele pequeno aparelho. Por isso, simplesmente, nada tinham feito.
Como terceiro fator, contava a explosão gigantesca rastreada, em pleno espaço.
Quando coisas dessa natureza aconteciam, nas proximidades da Terra, o emissário dos
senhores da galáxia certamente achava melhor não tomar quaisquer medidas que
pudessem denunciá-lo.
Interiormente Atlan sentiu-se bem com o seu triunfo. Sua missão valera a pena.
Agora não tinha mais a menor importância se ela fora feita a partir da estação ou não. Os
mortos haviam procurado a Crest, e finalmente a haviam encontrado.
Para Atlan agora somente ainda era importante a questão de saber-se onde o tender
Dino-3 estaria orbitando à espera deles, e se ele ainda existia.
Além disso a Crest teria que ser alcançada com exatidão. Atlan lembrou-se do
rastreamento de energia. Se o ultracouraçado fora atacado, em dadas circunstâncias, Perry
teria que recuar. O arcônida preparou-se para uma longa busca, apesar de ter esperanças
de encontrar a nave-capitânia no setor previamente determinado.
Ele olhou o relógio de bordo. Desde o início da missão haviam se passado três horas
e quarenta e seis minutos. A bordo da Crest agora estaria começando a tarde,
aleatoriamente escolhida, dentro do ritmo habitual de vinte e quatro horas.
A explosão dera-se há cerca de uma hora atrás. Atlan perguntava-se quanto tempo
os halutenses hesitariam em voar até o local da explosão de energia. Eles certamente se
davam conta de que ali haviam acontecido coisas nunca antes vistas.
Atlan tinha como certo que Rhodan não se deixara surpreender. Ele provavelmente
abrira fogo, quando não tivera mais outro recurso. A questão era apenas saber-se se ele
teria conseguido manter a sua posição.
5
“E-CK-121288-31”
E isso era tudo que o Major Snigert queria comunicar. Ele apareceu uma vez mais
no filme e declarou, para finalizar:
— Deus queira que os senhores tenham me ouvido. Não temos mais nenhuma
possibilidade de abandonar a galáxia. Portanto vamos tentar concluir nossas vidas em
calma e paz. Nossa tarefa mais importante, agora, é a de conservar os aparelhos, tão
importantes e vitais para os senhores, de tal modo que possam passar quinhentos anos
sem deterioração. Eu agora darei partida para nossa nova posição indicada.
“Quando encontrarem a Dino-3, por favor, verifiquem na sala de comando. Ali
deixarei mais uma videofita, gravada com notícias e informações detalhadas, além de
dados secretos. Uma placa mostrará claramente onde a mesma foi guardada. Desejamos
tudo de bom aos homens da Crest. Encontrem o astro que agora passaremos a orbitar.
Tenho fundadas esperanças que o tender não será rastreado. Caso, entretanto, não mais o
encontrarem, é porque o destino golpeou-nos fatalmente. E nós, apesar de todas as
medidas de segurança tomadas, fomos destruídos. Neste caso, perdoem-nos nossa
incapacidade de fazer-lhes chegar os aparelhos tão necessários. Fizemos tudo que estava
em nossas forças.”
Com isto, o comandante do pesado transporte da frota, Dino-3, despediu-se. O filme
terminara. As luminárias foram acesas.
Os homens continuaram em silêncio. As notícias dos mortos deixaram todos
profundamente perturbados.
Rhodan foi o primeiro a levantar-se, e, antes de mais nada, colocou-se diante de um
videofone.
— Mensagem para todos: Os senhores ouviram Gerald Snigert. Espero que o tender
continue orbitando este sol. A... sim, o que é que há?
Ele virou-se e olhou para Atlan, que se aproximara dele. Atlan observou, fazendo
força para mostrar-se calmo:
— Eu decifrei o código. Como sabe tenho uma memória fotográfica. E-CK-121288-
31 é o código para o sol, sem planetas, verde-claro, Profus, que, no tempo real, é orbitado
por uma estação da USO, do mesmo nome. O astro continua no centro galáctico, a 11.417
anos-luz de Kahalo. O setor foi muito bem escolhido por Snigert. Ali jamais há tráfego de
naves. A Estação Profus da USO serve como posto de observação adiantado, perto do
front dos blues. Eu tenho como altamente provável que a Dino-3 não foi descoberta. Era
isto que eu queria comunicar-lhe.
Atlan recuou. Perry respirou fundo. Seu rosto avivou-se visivelmente. Ele agora era
novamente aquele terrano carregado de energia, que jamais dava para trás, a quem todos
admiravam e amavam.
— Nada tenho a acrescentar às explicações. Partiremos dentro de meia hora, para
um vôo linear direto. Coronel Rudo — acho que, por prudência, indague da computação,
depois indique o rumo para o vôo ao astro mencionado. Isso é tudo. Obrigado.
Depois que Perry desligou, começou a bordo da Crest a mais animada discussão já
havida, há meses. A ação de Snigert era elogiada por todos. Ele e os seus homens não se
resignaram fazendo de tudo para que a Crest ainda recebesse os kalups tão necessários
para substituir urgentemente os que estavam em vias de exaustão.
Depois de exatamente trinta e um minutos, a Crest iniciou sua viagem. Os dados
fornecidos por Atlan demonstraram serem absolutamente corretos.
O astro E-CK-121288-31 era o sol Profus, verde e sem planetas.
6
***
**
*
A mensagem dos mortos ajudou aos vivos a
abandonar a galáxia e voar até a Nebulosa de
Andrômeda, de onde um salto de cinqüenta mil anos
deve ser preparado.
Pioneiros e preparadores do caminho desse
ousado empreendimento são nove sujos vagabundos
espaciais e o rato-castor Gucky, que seguem em missão
secreta para a Nova
Lemúria...
“Missão Secreta na Lemúria” é o título do
próximo volume da série Perry Rhodan.