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Nr. 1

Os Saltadores Temporais
Por:

Uwe Anton

Tradução:

Paulo Lucas

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O ano é 1523 do Novo Calendário Galáctico: Por milênios, a
Humanidade viaja para as estrelas. Ela colonizou inúmeros planetas.
Perry Rhodan, que levou a Humanidade ao espaço desde o início,
voa para um planeta no limite do sistema solar. Lá, os arqueólogos
fizeram uma descoberta intrigante — Rhodan encontra uma tumba
misteriosa.
A descoberta estabelece uma ligação com o passado de Rhodan —
há mais de um milênio e meio. Na fase final do império solar, a
humanidade foi fragmentada em impérios hostis, há a ameaça de uma
gigantesca guerra fratricida.
Repetidamente, aparecem humanos especiais. Eles têm dons que as
fazem se sobressair da multidão. Rhodan conhece dois deles: são os
SALTADORES TEMPORAIS...

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Os principais personagens deste volume:

Perry Rhodan – O terrano é apanhado pelo seu passado.


Juki Leann - O espião tem uma experiência incrível.
Darren Zitarra - O guarda-negro despreza os terranos.
Renier Bievre - O hiperfísico briga com Gucky.
Gucky - O rato-castor reinventa a hiperfísica.

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Prólogo

Sistema Solar, cinturão de Kuiper

5 de setembro de 1523 NCG

— Lá está ele! Orcus! — O comandante da ALLAN D. MERCANT apontou para


o holograma na frente de Perry Rhodan. Na representação tridimensional, havia
uma rocha nua, de formato irregular, que só se destacava da escuridão graças à
iluminação feita pela positrônica de bordo.
Rhodan estremeceu. O Plutino no cinturão de Kuiper parecia emanar um frio
que o alcançava através da fuselagem do cruzador de combate da classe MARTE, e
penetrava em seus ossos. Claro que era uma ilusão, mas o objeto do Cinturão de
Kuiper pareceu-lhe assustador desde o começo.
E estranhamente familiar.
Os olhos de Rhodan se estreitaram. Ele já tinha visto esse pedaço de rocha de
917 quilômetros? Isso poderia ser absolutamente verdade, Rhodan já havia estado
várias vezes nessa área periférica extrema do sistema solar. Às vezes, quando seu
escasso tempo permitiu, ele havia sentado em uma caça espacial e voado por
algumas horas sem um destino fixo, apenas por prazer. Mas, isso foi há muito tempo,
e ele duvidava que pudesse lembrar de um corpo celestial em particular. Para o olho
humano não treinado, todos pareciam iguais.
O Cinturão de Kuiper era um campo de treinamento desafiador, se alguém
renunciasse ao apoio da positrônica de bordo para aguçar os sentidos e melhorar a
capacidade de resposta. Nesta região em forma de anel, relativamente plana, que se
estendia no sistema Sol fora da órbita de Netuno em uma trajetória solar de 30 a 50
unidades astronômicas perto da eclíptica, estima-se que se movam 70.000 objetos
com mais de 100 quilômetros de diâmetro e incontáveis menores. Por onde os
destroços de Plutão, há muito destruído, não foram sequer incluídos.
Em algum ponto nessa área espacial, dois grandes corpos celestes colidiram
e se fragmentaram, ou a massa local de matéria não foi suficiente para se aglutinar
em um planeta no início do sistema. As maiores estruturas do cinturão de Kuiper
poderiam quase ser chamadas de planetas menores, mas apenas quase. Em
homenagem ao nono mundo destruído do sistema solar tinham chamado de Plutino.
O comandante deu um sinal, e o piloto da espaçonave esférica de 500 metros
de diâmetro diminuiu a velocidade da viagem. A ALLAN D. MERCANT se aproximou
de uma área do cinturão onde muitos planetoides seguiam seu curso, praticamente
rastejando pelo espaço.
Contudo, Rhodan sentiu que estava ficando cada vez mais nervoso.
Ele respirou fundo. Não há o menor perigo — ele disse a si mesmo. —
Absolutamente nenhum motivo para preocupação. Os campos defensivos da MERCANT
afastam suavemente quaisquer objetos que possam danificar a fuselagem.
Mas sua inquietação não parou.

— Se quisermos evitar que aconteçam novas colisões — disse o comandante


—, agora você deve se transferir para o mini space-jet. Ele está pronto para partir.
Rhodan assentiu, embora a perspectiva de se aproximar de Orcus em uma
espaçonave ainda menor lhe causasse mais desconforto. Mas, a descoberta se devia

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apenas a uma colisão de um planetoide com Orcus, se ele tivesse entendido
corretamente, então era preferível que não causassem novas colisões.
Orcus. De certa forma se adequava... na mitologia romana, um dos nomes para
o deus do submundo. O outro era Plutão.
Quando os humanos do século 20 descobriram os planetas anões exteriores
do sistema solar, eles devem ter-lhes parecido ameaçadores. Não é de se estranhar
que esses objetos tivessem sido muito, muito distantes e misteriosos naquela época,
e o que o ser humano não conhecia, ele automaticamente considerava uma ameaça.
—Bobagem! — Rhodan gritou como uma ordem. — O desconhecido não é
perigoso por si só! O que há de errado com você? — ele se endireitou. — Vamos
embora. Quem você deixou como piloto?
— Claro que eu vou levá-lo pessoalmente a Orcus, Perry.
Rhodan assentiu. Claro.
O comandante da ALLAN D. MERCANT insistiu em bancar o piloto para um
potencial imortal. Rhodan sabia dessa reação.
Obviamente, Mario Weiss desfrutava de cada segundo de sua presença. Nas
próximas décadas, ele diria a seus parentes, amigos e colegas o quão perto ele esteve
de uma lenda viva.
Rhodan o invejava.
Ele começou a se mover e o comandante correu atrás dele.

Na holografia da localização de curta distância, Orcus estava ficando cada vez


maior. Se o Plutino acabara de ser visto em sua totalidade, Perry Rhodan poderia
agora ver detalhes da superfície. Uma superfície escarpada, sem atmosfera, com
cordilheiras afiadas, desproporcionalmente elevadas para o tamanho do corpo
celeste, as quais nenhuma erosão poderia ter causado. O único perigo para a
imutabilidade do planeta anão eram colisões com rochas menores que percorriam
o espaço vazio e hostil como Orcus em uma órbita eterna ao redor do sol. Se as suas
trajetórias se cruzassem aleatoriamente em momentos inapropriados, o que
acontecia com mais frequência do que se imagina, havia colisões como a que ocorreu
recentemente.
Calmamente e com a maior facilidade, o comandante Weiss fez a
aproximação de pouso. Para ele, era um voo de rotina, ele mal sentia a ansiedade,
que se tornava cada vez mais forte em Rhodan, quanto mais perto ele chegava de
Orcus.
Será que de repente ele estava suando muito?
Novamente, ele se perguntou pela razão de sua preocupação inexplicável, ele
vasculhando em suas memórias por quaisquer pistas de Orcus, mas não encontrou
nenhuma. A sensação de conhecer Plutino se tornou ainda mais forte. Ele estivera
aqui antes, talvez há muito tempo, mas, por mais que atormentasse seu cérebro, não
queria se lembrar de quando acontecera.
Um pouco à frente, Rhodan notou um terreno com cerca de cem metros
quadrados de tamanho, muito plano para ser de origem natural. Aquele era o destino
do seu pequeno e ágil escaler.
Sua inquietação se tornou ainda mais forte. Ele admitiu estar contente que a
ALLAN D. MERCANT estivesse a poucos minutos de distância de voo e que poderia
estar lá em poucos minutos.

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Mas o que deveria acontecer? O sistema solar havia sido pesquisado por
milênios. De cabeça, Rhodan poderia razoavelmente descartar perigos
desconhecidos à espreita a frente.
O space-jet pousou à beira de um campo de pouso recém-criado. Rhodan
reconheceu edifícios pequenos e planos a alguma distância.
“Os locais de pesquisa provisórios dos arqueólogos que me informaram”, ele
pensou. Eles pareciam estar ligeiramente tingidos de azulado. Os cientistas tinham
estendido um campo defensivo sobre a sua descoberta, a fim de protegê-la de danos,
por exemplo, de outros impactos de asteroides.
Ou então, para o que esteja debaixo do campo defensivo não possa sair?
Rhodan sorriu ligeiramente. Já chega. Se ele não se recompusesse, ele ficaria
nervoso antes mesmo de falar com um dos arqueólogos. Isso não se parecia com ele.
O que o trouxe aqui apenas de resto?
— Eu estou saindo — disse ele para Weiss. — Com certeza, os especialistas
já estão me esperando.
— É claro que eu vou acompanhá-lo. Eu não permitirei que o nosso
convidado de alto escalão fique sozinho em Orcus — Weiss deu uma olhada no
terceiro e último membro da tripulação da espaçonave. — Wolf Wesel mantém a
posição aqui.
Claro — Rhodan pensou. Mas ele não disse nada, deixou Weiss dar os poucos
passos para a eclusa, fechou seu traje espacial, o SERUN, enquanto ele o seguia.
Assobiando, o ar residual escapou da câmara da eclusa, se condensando no
vácuo gelado sobre Orcus. A positrônica do seu traje protetor entrou em contato
com o computador da pequena estação de pesquisa e agiu de forma independente,
captou o destino, ativou o propulsor do traje e acelerou. Rhodan flutuou sobre a
superfície escarpada até a superfície nivelada, passou através da lacuna estrutural
do paratron e se aproximou dos edifícios.
Uma figura voou na direção deles, protegida do frio e da falta de ar do espaço
por um traje espacial mais simples, e pousou suavemente na superfície vitrificada.
O SERUN de Rhodan o pousou a um metro à frente dele.
— Bem-vindos a Orcus — cumprimentou o homem. — Eu estou feliz que você
tenha respondido tão rapidamente à minha mensagem.
Rhodan precisou de uma fração de segundo para se recompor. O rosto sob o
capacete transparente era tão familiar para ele quanto foi o Plutino em sua primeira
aproximação.

— Professor Jonathaon Voss? — Quando Perry Rhodan pronunciou o nome,


ficou claro para ele. Ao longo dos séculos ou milênios, ele encontrou pessoas com o
sobrenome Voss, cujos primeiros nomes todos começaram com a letra “J” e eram
semelhantes nas feições do rosto. E todos eles tiveram uma longa carreira.
Por algum tempo, Rhodan ficou surpreso com isso e fez perguntas. Os
membros masculinos desta família Voss, aparentemente possuíam genes
dominantes que determinavam sua aparência. Por gerações, todos os que ele
encontrou pareciam ser um clone de um único original. E por seus primeiros nomes
eles colocam certas tradições.

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Não procure pelo em ovo — ele lembrou a si mesmo. Não há nada de
misterioso nisso. Você verificou isso há séculos.
Voss assentiu. — Esse sou eu.
Rhodan apresentou brevemente o comandante da ALLAN D. MERCANT e
depois chegou ao ponto. — Sua mensagem foi claramente formulada. Mas, eu
gostaria de ouvir tudo da sua boca novamente. O que aconteceu em Orcus?
— Devido a uma recente colisão com um menor objeto do cinturão de Kuiper,
os cientistas terranos fizeram mais ou menos acidentalmente uma descoberta —
explicou Voss. — Naves de patrulha foram capazes de identificar emissões
energéticas mínimas, mas inexplicáveis e investigaram o assunto. O impacto dos
detritos em Orcus expôs acidentalmente uma cavidade dentro de Plutino. Nós
encontramos algo nela que você não pode realmente esperar no sistema solar. Você
viu os registros holográficos...
— Sim. Eu sei o que esperar. É por isso que vim imediatamente. Você já
conseguiu novas ideias agora?
O arqueólogo balançou a cabeça. — Ainda não. Primeiramente, nós
queríamos aguardar sua avaliação. A coisa toda parece muito explosiva.
— Muito bem. Você agiu certo, Jonathaon.
Eles deixaram os edifícios baixos logo para atrás e se aproximaram de uma
fenda escancarada em uma face de rocha escarpada que subia quase exatamente 34
metros acima da superfície, enquanto a positrônica do SERUN de Rhodan colocou
dados em uma holografia no topo esquerdo de seu capacete transparente. Holofotes
fortes iluminavam a abertura, como se o sol não estivesse à bilhões, mas a apenas
alguns milhões de quilômetros de distância.
O brilho extremo deveria ter aliviado a tensão de Rhodan, mas fez
exatamente o oposto. Ele sentiu o estômago se contrair. Provavelmente, seu pulso
também acelerou e sua pressão sanguínea disparou para cima. Se isso não mudasse,
a positrônica do traje apontaria em poucos minutos e aconselharia uma injeção de
drogas.
Voss voou na frente para a abertura da caverna, que era tudo menos
ameaçadora por causa dos holofotes. O interior da passagem também estava
iluminado. Não havia sombras ali, das quais fantasmas misteriosos pudessem
rastejar.
Depois de alguns segundos, seu grupo alcançou a cavidade verdadeira que o
impacto do asteroide havia exposto. Agora Rhodan viu com seus próprios olhos o
que ele havia visto apenas nas holografias.
Ele se perguntou se o passado o alcançou novamente, como aconteceu tantas
vezes.

A caverna também estava iluminada pelas fortes luzes de holofotes. A dura


iluminação artificial dava uma realidade à imagem que se desdobrava diante Perry
Rhodan, que mais uma vez parecia estranha e surreal. Os objetos da caverna
lançavam sombras acentuadamente delineadas que poderiam ser claramente
percebidas.
Pelo menos a maioria dos objetos.
Já que ao redor de um pedestal feito de um material que parecia ser
hipercristal, cintilando em uma luz vermelha mortiça, flutuavam nove obeliscos de

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cerca de dois metros e meio de altura arranjados em um círculo. Eles não lançavam
sombras. As holografias já haviam revelado isso e Rhodan correra para cá
imediatamente.
Ele tinha visto algo semelhante antes. Era um círculo de tumbas, como ele
havia descoberto no aglomerado estelar Arphonie há quase 200 anos. Depois de
observar os hologramas dos arqueólogos de Orcus, os acontecimentos daquela
época pareciam tão vívidos como se tivessem acabado de acontecer.
Naquele aglomerado estelar, Rhodan havia se deparado cada vez mais com
locais que apontavam para os cynos. Seu povo se tornou conhecido pela primeira
vez em novembro de 3441 do antigo calendário durante a Conferência dos Imunes
no planeta Dessopato. Eles compareceram à conferência com três delegados
vestidos de preto.
Mais tarde ficou claro que os cynos poderiam assumir qualquer forma
através da paramodulação, e possuir diferentes graus de poderes parapsíquicos.
Após a sua morte, eles também se transformavam em obeliscos que não lançavam
sombras. Mas, a maior parte de sua história permaneceu contraditória e ainda não
completamente esclarecida.
Agora, os terranos descobriram por acaso mais obeliscos desse tipo no limite
de seu próprio sistema solar? O que os cynos tinham que fazer aqui? Que eles haviam
mantido sua presença escondida, Rhodan não ficou surpreso com todo o sigilo que
eles mantinham. Mas, todas as dúvidas foram excluídas. Embora, houvesse algumas
pequenas diferenças, estes eram claramente restos sem sombras de cynos falecidos.
O que nós encontramos aqui? — perguntou-se o terrano. Uma tumba cyno na
borda do Sistema Solar...
Havia mais por trás disso, muito mais, ele sabia com absoluta certeza. De
repente, estava lá de novo, aquela antiga sensação, o formigamento na pele que às
vezes aparecia quando ele estava na pista de segredos.
Com o canto do olho, Rhodan viu que o professor Voss estava começando a
se mover, querendo ir em direção aos objetos sem sombras. Instintivamente, ele
estendeu o braço e o segurou.
— Não toque nos obeliscos — ele aconselhou cautela. — Cynos mortos e
fossilizados não devem estar necessariamente mortos!
— Eu acredito em você — respondeu o professor. — Você tem mais
experiência do que eu a esse respeito. Mas, nós descobrimos esses obeliscos há
alguns dias, e alguns de meus colegas, assim como eu, os tocaram várias vezes. Eles
não mostraram nenhuma atividade até agora.
— Do contrário, vocês não puderam examinar os artefatos detalhadamente?
— Não. Nós não tivemos tempo para isso ainda. Nós o informamos
imediatamente sobre o achado. Mas, eles parecem inofensivos. Se os obeliscos são
na verdade cynos, eles estão mortos há muito tempo.
Rhodan ativou todos os instrumentos de localização de seu SERUN.
Naturalmente, os arqueólogos não tinham colocado o local da descoberta, que pode
ter existido sem danos na caverna vazia por dezenas de milhares de anos, sob uma
atmosfera de oxigênio, mas deixaram em seu estado original, apenas estenderam o
campo defensivo sobre ele.
Os instrumentos não mostraram qualquer tipo de emissões.
Rhodan sacudiu a cabeça. Ele poderia ter imaginado que o professor e seus
colegas haviam agido da mesma maneira ao descobrir os obeliscos. Se alguma coisa
tivesse saído deles, Voss o teria informado sobre isso há muito tempo.

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Hesitante, ele deu um passo à frente, depois outro, aproximando-se
cautelosamente do círculo de obeliscos flutuantes. Ele estava esperando que algo
acontecesse, mas sua esperança, ou medo, não se realizou.
Ele esticou o braço e tocou um dos obeliscos.
Nada.
O que ele esperava? Que ecoasse uma voz de outro mundo, o acolhesse no
círculo dos mortos de um povo antigo e enigmático? Ridículo.
Ele prosseguiu cautelosamente para o pedestal de hipercristal, novamente
estendendo a mão e o tocou.

O golpe o jogou dois metros antes que a positrônica do SERUN reagisse e


interceptasse seu voo.
De repente, os arredores mudaram. Perry Rhodan não estava mais em uma
caverna no Plutino Orcus na borda do Sistema Solar. Ele flutuava algumas centenas
de metros acima de um planeta, olhando para uma grande planície que se estendia
até o horizonte.
Em um campo enorme onde havia milhares de obeliscos que não lançavam
sombras.
O campo abaixo dele se estendia quase infinitamente. Rhodan não poderia
sequer começar a calcular o número de obeliscos.
No momento seguinte, a imagem se dissolveu novamente.
Em vez disso, pensamentos mais ou menos compreensíveis se derramaram
sobre ele como uma onda de maré. Por um momento ele entendeu o que tinha
acabado de acontecer, por que o pedestal de hipercristal só tinha reagido a ele, e não
aos arqueólogos que o haviam descoberto.
Tinha que ser devido às emissões do seu ativador celular. Ou os restos de sua
aura como um Cavaleiro das Profundezas. Seja como for, tinha que ser algo que só
ele irradiava.
Essa percepção durou apenas uma fração de segundo, depois sua mente foi
inundada com lembranças. Elas surgiram com força bruta, romperam as represas
que antes as detinham. Eles estiveram por ali há muito tempo, mas algo os havia
suprimido antes, mantendo-as sob controle.
Horrorizado, Rhodan percebeu que alguém havia lidado com as suas
lembranças, manipulando-a. O conhecimento doeu, e o feriu profundamente. Ele se
sentiu impotente, quis se rebelar contra isso, mas era uma batalha perdida há muito
tempo, que ele não pôde retomar.
As lembranças o levaram embora, levando-o de volta a uma época distante,
quando a humanidade esteve no crepúsculo, no abismo. E nesse segundo, ele
percebeu o que realmente estava acontecendo. Naquele segundo, as impressões
tornaram-se mais concretas, fundiram-se numa imagem coerente e ele obteve todas
as respostas.
— Meu Deus — resmungou Perry Rhodan —, o que eu fiz...?

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1.

Sistema Solar, cinturão de Kuiper

30 de outubro de 3430 do antigo calendário

— Você está nervoso? — Wloto Gribsen riu zombeteiramente. Não soou


amigável, já que o tom cínico era inconfundível.
Juki Leann o escrutinou com raiva mal disfarçada. Seu oficial superior nunca
duvidara de que ela e Darren Zitarra ainda estivessem molhados atrás das orelhas.
Em determinado momento, ele até sugeriu que a Guarda Negra só a enviara para
essa missão, porque Leann era parente distante de Sua Sabedoria.
Zitarra lutou interiormente, mas se absteve de responder. Isso foi uma coisa
boa. Ele não era de modo algum tão diplomático ou paciente quanto ela, e não era
aconselhável discutir com tal superior sobre como lidar uns com os outros.
Especialmente durante uma missão difícil, que os levava para o meio do
território inimigo e agora estava chegando a um primeiro clímax crítico.
Ela decidiu ignorar a pergunta de Gribsen. — O que dizem os instrumentos?
— Veja por si mesma. Você pode ler os anúncios, não é?
Leann sacudiu a cabeça. Por que Gribsen insistia em provocá-la
permanentemente? Desde que eles estavam a bordo da WOOGAN-237, ele
expressou que ele tinha algo contra Zitarra e ela. Pelo menos, eles eram muito
inexperientes para ele como tripulantes de um rápido Cruzador de Sistema Trans-
Plutão, mas minúsculo, onde não havia privacidade.
Ela olhou para as telas. A WOOGAN-237 se aproximava de Plutão. Esse era o
momento crítico. Havia uma estação de quarentena no planeta anão.
Lá, eram internados astronautas e animais que vinham de mundos
desconhecidos e, portanto, classificados como potencialmente perigosos. Somente
quando se assegurava que não carregavam quaisquer patógenos perigosos, eles
podiam continuar sua jornada para os planetas internos do Sistema Solar. Contudo,
a instalação realmente não militar também possuía uma eficiente central de
localização. Consequentemente, havia o maior perigo de descoberta na primeira fase
de sua missão.
— Nós não temos nada a temer — disse Darren Zitarra calmamente. — O
Serviço Secreto de Sua Graciosa Tolerância funciona de maneira respeitável. Nós
não seremos descobertos.
Juki Leann franziu a testa. Zitarra estava realmente tão calmo e
despreocupado quanto ele queria aparentar? Ou ele acabara de interpretar seu
papel como um mulherengo bonito, mas arrogante? A quem ele estava tentando
impressionar?
Você, é claro, Juki! — pensou a agente. Ou ele não sai da sua cola ou está atrás
de você!
Ela franziu o cenho. Antes que ela se envolvesse com ele...
Mas, ela não poderia subestimá-lo. Ele não era idiota e às vezes exibia uma
segurança instintiva que era quase assustadora. Como agora. Ele parecia ter sentido
que ela estava preocupada com a aproximação de Plutão, e de maneira muito
grosseira tentou dissipar seus medos.

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Além disso, a situação geral era motivo de preocupação. Sua missão já
deixava claro que a Coalizão Antiterrrana estava planejando um ataque ao Sistema
Solar. As frotas dos três impérios terranos livres, o Império Dabrifa, a União Central
Galáctica e a Liga Carsuálica, se deslocavam ou se reuniam nas posições designadas.
O ataque era iminente e a WOOGAN-237 era a vanguarda. Pelo menos era
uma das unidades que haviam sido enviadas antecipadamente como a primeira
ponta de reconhecimento. Shalmon Kirte Dabrifa, os ertrusianos Nos Vigeland,
Runeme Shilter e Terser Frascati, que governavam a Liga Carsuálica como um
triunvirato, nem Kartch Tain, Roser Sakilate e Fereth Haynesto, as três principais
ordenanças (Calfactores) da UCG eram tão idiotas, para enviar 80.000 espaçonaves
de combate sem primeiro certificar-se de que esta batalha teria um bom resultado.
Gribsen, Zitarra e Leann receberam a honrosa missão de voar secretamente
para o Sistema Solar como um comando de verificação para fins de reconhecimento.
Eles deveriam espionar as capacidades defensivas do sistema, e identificar os
centros de pesquisa em que a tecnologia paratron terrana era desenvolvida através
da escuta de rádio de dados intrasolares. Então, eles seriam capazes de dar alvos
exatos para os invasores das forças espaciais de desembarque.
Para fazer isso, os três agentes com seu Cruzador do Sistema Trans-Plutão,
deveriam passar astronomicamente como um asteroide, cuja órbita excêntrica
cruzava a trajetória de Plutão, e que deveria passar por Saturno e suas luas. Lá, o
serviço secreto suspeitou que se encontravam as instalações de pesquisa do Projeto
Paratron Terrano. A missão deles era marcar um objetivo para uma tropa de reação
rápida, que fosse voar em espaçonaves de transição, para que lançasse um golpe de
surpresa contra as instalações de pesquisa. Segundo a inteligência, os terranos
queriam construir um campo paratron que abrangesse todo o sistema, e isso tinha
que ser evitado a todo custo.
Juki Leann sorriu levemente. O velho jogo... entrar e sair antes que os terranos
percebessem o que estava acontecendo. Para o pretendido comando de ação, as
tropas da Coalizão Antiterrrana tinham que saber exatamente em qual instalação
exatamente se encontravam os protótipos do paratron e a positrônica isolada do
projeto.
Assim, o trio de agentes dabrifanos monitorava a transmissão de dados entre
os sistemas de computadores da rede de pesquisa e as decifrava. Os receptores de
rádio sensíveis da WOOGAN-237 funcionavam a toda velocidade, e captavam —
assim, se esperava! — tudo com o que estava acontecendo lá, bem na beira do
Sistema Solar.
A Guarda Negra, o serviço de inteligência estrangeira do imperador Dabrifa,
já havia feito muito trabalho de reconhecimento, e suspeitava que a instalação se
encontrava em Calipso, o satélite de Saturno. Sua segunda tarefa era impedir que se
levantasse um campo paratron em torno desta lua, com mísseis explosivos de
bunker que fossem disparados do céu claro de encontro aos projetores em sua
superfície.
Contudo, a data exata do ataque ao Sistema Solar não era conhecida por eles
por razões de sigilo.
— Não por muito tempo — disse Wloto Gribsen —, e teremos feito
atualmente a coisa mais difícil. Depois disso, temos algumas horas de descanso. Eu
já lhe contei que anteriormente costumava estar profissionalmente na Terra? A
guarda negra tinha laboriosamente construído para mim um disfarce no negócio de

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importação e exportação. Então, um dos meus subordinados cometeu um erro
ridículo, e todo o anel de espionagem foi pelos ares...
— Sim, você já contou — Zitarra rosnou rudemente.
Leann simplesmente não entendia seu oficial de liderança. Às vezes ele se
comportava como o último idiota, às vezes parecia quase comovedoramente
preocupado com os dois agentes atribuídos a ele. Ela suspeitava que ele estava
reiterando essa velha história para aliviá-la de seu nervosismo.
— E? A Guarda Negra liquidou seu funcionário incompetente? — Zitarra
continuou. — Eles ainda não te informaram.
— Liquidado? — Gribsen franziu a testa. — Como você inventou isso?
— Afinal, você conhece os rumores.
— Não. Não que eu saiba. De qualquer forma, eu tinha um velho amigo na
embaixada, com quem eu muitas vezes fui a Atlan Village. Raif Brestekin, que sempre
cuidou de... folhas transparentes de carga.
— Em Atlan Village?
Leann sabia o que era Atlan Village. Ela viveu na Terra por quase uma década.
Ela não prosseguiu mais a conversa, concentrando-se nos instrumentos da
WOOGAN-237. Ou pelo menos tentou.
Ela não teve sucesso. — Talvez Darren Zitarra também tivesse feito merda —
, seus pensamentos se voltaram para o mulherengo. Ela só o conheceu recentemente,
os quais tinham sido reunidos especificamente para esta missão.
E eles não se deram bem um com o outro, tanto que ela descobriu
rapidamente.
Ela se surpreendeu de que a Guarda Negra os tivesse enviado juntos nesta
missão. Eles tinham muitas diferenças, muitos problemas não resolvidos por causa
de seu modo de vida, e sua posição social.
Mas, ambos ocultaram essas dificuldades, porque o serviço secreto dabrifano
supostamente os punia se os agentes permitissem que seus assuntos pessoais
atrapalhassem o serviço — com punições em um espectro que chegava até a
liquidação.
Talvez Zitarra tivesse realmente feito alguma coisa que tivesse despertado o
descontentamento de seus superiores? Talvez sua missão fosse uma reação a isso?
Leann achou que isso era possível. A Guarda Negra costumava ser assim.
Seria tolice em tempos de escassez de recursos e de mão-de-obra, liquidar um
agente altamente treinado inutilmente. Em vez disso, ela simplesmente o enviava
em uma missão que provavelmente seria fatal. Então, pelo menos ele poderia fazer
algo pelo império e a Sua Sabedoria...
Mas, não eu — ela pensou. Ela era filha de um respeitado embaixador e ainda
parente do imperador Dabrifa, embora extremamente distante. Quanto a isso, os
comentários ultrajantes de Wloto Gribsen lhe deram nos nervos.
Houve, de fato, alguns incidentes em seu passado recente que poderiam
causar um tumulto, se não desagrado, nos círculos em questão.
Ela reprimiu os pensamentos sombrios, especialmente sobre seu pai, e
novamente tentou se concentrar. A localização rudimentar revelou que eles
avançaram para a área de localização de Plutão.
É agora! — ela pensou.
A Guarda Negra havia feito de tudo para tornar a localização segura do
Cruzador do Sistema Trans-Plutão. Por razões de proteção contra localização, a
pequena nave deles era energicamente quase “morta”, um elipsoide negro como a

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noite com propulsão magnética, invisível para o rastreador de massa de massa. Além
disso, eles usavam apenas sensores passivos, sem localização ativa.
Como seu instrutor técnico disse logo no início dos preparativos para a
missão? — A localização protetora está sempre passiva, a localização defensiva
sempre ativa. Por exemplo, um embaralhador — revela sua presença
imediatamente!
Portanto, os rastreamentos não eram possíveis e os dispositivos de
localização lhes forneciam apenas informações aproximadas sobre a localização
atual. Eles tiveram que confiar completamente na tecnologia da WOOGAN-237, e
que o curso que eles estabeleceram em queda livre os levava ao seu destino.
Ela confiava muito nos cálculos dos cientistas dabrifanos. O caminho
percorrido levaria seu barco de espionagem através do Sistema Solar externo para
a órbita de Saturno, em cujas luas estavam os centros de pesquisa. O voo levaria
quase quatro dias em sua velocidade atual. Além disso, eles já haviam começado a
ouvir.
Ainda assim, a situação era desconfortável, mais do que desconfortável.
Leann se sentia desamparada, embora tivesse sido especialmente treinada para
lidar com tais condições.
Ela não se enganou. Seus nervos estavam tensos ao ponto de romper. E não
só dela; Darren Zitarra e Wloto Gribsen provavelmente reagiram com tanta
irritabilidade porque conseguiram reduzir pelo menos parcialmente sua tensão.
Um bipe suave soou, tornando-se mais alto rapidamente. A localização
passiva relatou com a menor emissão energética possível, que os impulsos de
rastreamento da estação de Plutão se tornaram mais fortes.
— Biip... bip... bip...
Leann fechou os olhos, respirou fundo, tentando ignorar o som.
— Nada pode acontecer — ela murmurou tão baixinho que os outros dois não
puderam ouvi-la. — O Cinturão de Kuiper é a camuflagem perfeita para nós. A
WOOGAN-237 não se destaca entre os milhares de objetos conhecidos nesta região...
Pelo menos ela esperava.
Fascinada, ela olhou para as telas. Agora, Plutão aparecia como uma mancha
escura e desbotada contra um fundo ainda mais escuro. Para se distrair, ela recordou
os dados. Com 2374 quilômetros de diâmetro, era o maior dos Plutinos, que, por sua
vez, eram os maiores e mais conhecidos objetos do Cinturão de Kuiper.
Os outros três são Charon com 1.208 quilômetros, Orcus com 917 e 617. Ixion
— o conhecimento tinha sido martelado em sua mente impiedosamente no curto
período de preparação. A Guarda Negra não pensava muito em hipnoaprendizado.
— Biip... bip... bip...
A mancha escura tornou-se ligeiramente maior, mas permaneceu tão borrada
que não podia ver os detalhes de sua superfície. Involuntariamente, a visão do
planeta anão novamente causou profunda ansiedade nela. Um mundo
absolutamente hostil à vida humana, em tempos antigos, o epítome de todos os
horrores planetários. Não era de se admirar que alguém o tivesse nomeado com o
nome do deus do submundo.
— Biip... bip... bip...
Ela aguçou os ouvidos, mas não conseguiu dizer se o bip ficou ainda mais alto
ou se novamente silenciou.

14
Também Darren Zitarra e Wloto Gribsen agora estavam quietos. Até mesmo
seu oficial comandante não podia mais negar sua inquietação, e a autoconfiança se
afastara de Zitarra como velhas roupas de papel.
— Biip... bip... bip...
Sim! Agora ela tinha certeza! O som ficou mais quieto novamente. E mesmo
nas telas, Plutão parecia ter finalmente passado por eles, tornando-se menor
novamente.
Eles conseguiram sobreviver ao momento crítico. Tudo havia permanecido
calmo, como eles esperavam. Sem ser detectados, eles continuaram o voo para
Saturno.
Juki Leann exalou profundamente.
— Bem, eu não disse isso? — a voz de Darren Zitarra soou tão confiante
novamente quanto havia sido algum tempo antes.
— Não será realmente crítico até deixarmos o cinturão de Kuiper e entrarmos
realmente no sistema solar — ela respondeu suavemente. — Então, nós perderemos
a proteção de localização que OCK’s nos dá.
— O OCK’s? — Gribsen perguntou.
— Os objetos do cinturão de Kuiper — disse ela. Ela fizera o dever de casa.
Como agente bem qualificada e preparada, ela conhecia sua área operacional.
Seu oficial superior olhou para ela pensativamente, contudo, reprimiu para
si todos os seus comentários.

O tempo passou dolorosamente devagar. Juki Leann nunca foi boa em esperar
calmamente. A inatividade lhe maltratava os nervos mais do que a maioria das
outras pessoas, ela supunha.
Quantas horas se passaram desde que a WOOGAN-237 passou por Plutão?
Ela não sabia disso, e não queria saber.
O aperto a bordo era cada vez mais um fardo. O barco espacial que possuía a
forma de disco, tinha um diâmetro de quarenta metros e uma altura de apenas doze
metros. Foi feito inteiramente de nano tubos de carbono, extremamente leves e não
magnéticos. Ele extraiu sua energia de um reator Schwarzschild de emissão zero,
para a propulsão usava-se um propulsor de campo magnético dinâmico. O serviço
secreto de Dabrifa já havia posicionado a pequena unidade de espionagem no
sistema Sol anos atrás.
A bordo não era possível simplesmente ficar fora do caminho a bordo. Talvez
ela pudesse ter recuado para outro convés, para outra pequena sala — se a carga
não estivesse lá. Desta vez, o Cruzador Trans-Plutão transportava cento e quarenta
e quatro mísseis espaciais-terrestres detonadores de bunkers com intenção
desintegradora, o que ocupava muito espaço. Os dispositivos explosivos
funcionavam exclusivamente quimicamente, porque todas as instalações de grande
escala do Sistema Solar possuíam campos defensivos que impediam ou, pelo menos,
amorteciam as explosões atômicas.
Diante deles Orcus justamente se tornou visível nas telas. Detalhes da
superfície não puderam ser reconhecidos por Juki Leann. Eles passaram muito longe
pelo Plutino.
Eles se aproximaram dele rapidamente, ficaram na mesma altura por um
momento, depois ele ficou para atrás.

15
— Quando deixarmos o Kuiper... — Darren Zitarra parou no meio da frase. —
O que é isso? — ele perguntou.
Leann também viu. De repente, um estranho fenômeno luminoso encheu a
pequena central de comando do barco espião. A princípio, apenas o ar pareceu
brilhar, então, brilhou vermelho escuro.
— Droga! — Wloto Gribsen amaldiçoou após a exclamação antes de se
certificar: — Está afetando todos os instrumentos!
O agente olhou para as telas. A localização passiva registrava uma erupção
hiperenergética com a força de campo gigantesco!
Um horror gelado a invadiu. Agora, alguma coisa havia dado errado? Era algo
completamente inesperado que eles não conseguiram descobrir?
— O que está acontecendo aqui? — ela perguntou calmamente.
— Colocar trajes! — Gribsen ordenou.
As telas mostravam apenas véus de cores sobrepostas.
O fenômeno luminoso tornou-se mais fortes. O brilho vermelho escuro
pareceu mover-se repentinamente. Seu fluxo invadiu a central de comando. E, sem
dúvida, a nave inteira! — Leann pensou atordoada. Eles não estavam seguros em
lugar nenhum. O fenômeno era abrangente.
As ondas luminosas mudaram, a cor mudou para o vermelho vivo, para
amarelo, depois para verde claro e finalmente para branco. Elas eram tão intensas
que Leann teve que fechar os olhos, caso contrário, teria enlouquecido por causa das
insuportáveis impressões sensoriais.
O barco espacial pareceu ser abalroado por um punho de um titã, parecendo
que ser destroçado.
O que está acontecendo aqui? — Leann pensou novamente. Algo acontece com
a gente! — Ela tinha a sensação como se o seu interior fosse virado para fora, ela
abriu os olhos novamente para não perder toda a orientação, para se livrar da
impressão de estar desamparada e à deriva no espaço e sem traje protetor.
O que ela viu quase a deixou louca. A WOOGAN-237 parecia tornar-se
transparente, dissolver, e perder toda a substância. Mas, a assombração durou
apenas uma fração de segundo, então a nave se estabeleceu novamente.
Leann sentiu um frio incrível e inexplicável penetrar em seu corpo,
enchendo-a até os ossos.
Então, ela perdeu a consciência.

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2.

Sistema Solar, trajetória de Netuno

30 de outubro de 3430

O mundo estava obscurecido por véus cinzentos.


Juki Leann piscou, mas os véus permaneceram, não puderam ser dissipados.
Ela respirava ar fresco e puro. Ela tinha fechado o traje espacial no último
instante, ou ele fez isso automaticamente quando a catástrofe começou?
Desastre? Que catástrofe?
Ela piscou novamente. Os véus ficaram um pouco mais tênues e
transparentes, e sua memória retornou lentamente.
A luz... o brilho avermelhado... ainda estava lá, em todos os lugares, cercando-
a por todos os lados e também acima e abaixo dela. E os sons... Ela ouvia algum
barulho? Se não, ela o fazia agora.
Um som decrescente, que ia permeando tudo.
Uma sirene de alarme, ela percebeu. Ou o alarme vinha de seu traje espacial
ou dos sistemas da nave, ela não conseguia distinguir.
Ela tentou empurra-se nos cotovelos, mas falhou. Uma dor aguda se contraiu
através do peito, ela caiu para trás novamente. Só após ter respirado profundamente
várias vezes e as pontadas terem sido acalmadas a um nível tolerável, ela ousou
novamente.
Desta vez, ela conseguiu. Ela se sentou com dificuldade.
O brilho suave que ela via, vinha das paredes da central de comando, do teto
e do chão. Eles quase brilhavam.
Lentamente, o olhar dela clareou. Darren Zitarra estava deitado no chão a
menos de dois metros dela. Seu traje espacial também estava fechado. Ele também
parecia ter sobrevivido; lentamente levantava um braço, e dobrava uma perna.
Ela ouviu um gemido fraco através do receptor de rádio. Obviamente, eles
não se saíram melhor do que ela.
As mulheres são mais duras do que os homens, pensou ela. É por isso que
acordei antes deles!
Ou eles estavam mais gravemente feridos do que ela...
Então, ela descobriu Wloto Gribsen.
Ela estreitou os olhos, depois os fechou completamente quando viu a figura
encurvada na parede oposta, primeiro acreditando em uma ilusão de ótica. Algo
havia mexido em seu cérebro. As sinapses haviam desaparecido ou inundavam seu
cérebro com alucinações.
Quando abriu os olhos novamente, ela ainda viu.
O corpo de Wloto Gribsen parecia...
Flutuar. Essa era a expressão correta?
Seu traje espacial cintilava em uma chuva dourada e prateada como no
aniversário do imperador. Então, ele se tornou meio transparente, ameaçou se
dissolver, mas solidificou novamente depois de alguns segundos.
Ela estava pior do que ela supunha? Ela delirava?

17
Ela escorregou para trás, tentando se empurrar contra a parede atrás dela.
Um estalo feio a alertou. Ela verificou os sistemas do traje, e descobriu que o campo
defensivo do traje espacial havia sido ativado por algum tempo.
Ela leu os anúncios. A temperatura na central de comando da WOOGAN-237
era de 211,7 graus Celsius, e continuava a subir. Sem o campo defensivo, ela estaria
morta há muito tempo.
— O que aconteceu?
Ela estremeceu quando ela ouviu a voz de Darren Zitarra, e virou a cabeça
para ele. Ele se ajoelhou no chão, levantou-se lentamente, e olhou em volta.
O que ele pode fazer, eu também posso! — Leann pensou, rolando de bruços,
ficando de pé, cambaleou momentaneamente e se recompôs.
— Eu não sei — disse ela. — Algo deve ter atingido a WOOGAN.
— Uma nova arma terrana?
Leann encolheu os ombros. Então, ocorreu-lhe que Zitarra não poderia ver
este gesto. —Eu não faço idéia. E quanto a Gribsen?
Eles se juntaram ao seu oficial de liderança.
— Droga — Zitarra murmurou
Por um momento, o dabrifano mais velho e seu traje estavam tão
transparentes que a parede reluziu atrás dele, depois se estabilizou novamente.
A parede realmente brilhava? Ou foi apenas um jogo de luz vermelha que
permeava a espaçonave da Guarda Negra?
Zitarra cambaleou para o painel de instrumentos e amaldiçoou. — Tudo
acabado. Quase todos os sistemas falharam.
Nós sufocaremos e morreremos de deficiência de oxigênio! — pensou Leann.
— Oxigênio não é um problema — Zitarra novamente adivinhou seus
pensamentos. — Mas, o campo de contenção do reator Schwarzschild oscila porque
a matriz cristalina foi deslocada por hiperenergias relacionadas.
— Então, o campo defensivo paratron dentro do reator?
— Bem verificado, Leann. É por isso que a radiação gama penetra do exterior
e nos grelhará em uma hora, no máximo. Até lá, os campos defensivos dos nossos
trajes protetores ainda estarão funcionando, e então eles ficarão sobrecarregados.
— Uma hora — sussurrou Leann.
— Além disso, a radiação aquece a fuselagem da WOOGAN até torná-la
incandescente. A fuselagem da nave já está acima de oitocentos graus.
— E as bombas?
— Elas também estão sob campos defensivos. A positrônica de bordo
realmente é inteligente, e transferiu toda a energia disponível para os sistemas do
campo defensivo. Eles aguentarão mais uma hora e meia. Então, tudo se eleva aqui.
Leann não gostou da expressão concisa de Zitarra, mas neste caso ela era
apropriada. Não poderia ter sido melhor expressado.
— Onde estamos?
— Nós estamos muito danificados e desamparados no espaço no auge da
trajetória de Netuno.
— O rádio ainda funciona?
— Sim. Por quê?
Leann hesitou. Sua sugestão não agradaria a Zitarra. — Vivos, nós valemos
mais para o Império Dabrifa do que mortos.
Zitarra deu um passo atrás e depois dois passos à frente.

18
Mesmo através do capacete espacial, ela pôde ver que seu rosto estava
distorcido. — Você está sugerindo que desistamos? Fazer uma chamada de rádio
para os terranos e pedir socorro?
— Sim, os terranos vão nos capturar e prender — disse ela lentamente. —
Mas, nós encontraremos um jeito de escapar.
Ele bufou. Ela pensou ter ouvido desprezo no som gutural.
— Você prefere apenas desistir? — ela insistiu. — Morrer em uma morte sem
sentido sem tentar tirar o melhor proveito da situação? Nós estamos acabados. E de
qualquer maneira... se a coalizão antiterrrana vencer, nós seremos libertados e
celebrados como heróis!
— Não. Eles nos marcarão como traidores e nos condenarão à morte! Nós
estaremos adiando o inevitável por alguns dias!
O fim inevitável..., por algum motivo, ela teve que pensar em seu pai, que havia
enfrentado um destino semelhante se os relatórios não oficiais fossem verdadeiros.
E ela não duvidava disso.
— Zitarra, nós...
— Leann, isso está fora de questão!
Antes que ela pudesse responder, um gemido alto no receptor de rádio fez
Leann recuar. Ela se virou e olhou para Wloto Gribsen.
Seu corpo novamente mostrava sinais de dissolução. Mais sustentável do que
nos momentos anteriores.
Ela se aproximou dele. Quando estava a dois passos de distância, ela sentiu
um golpe violento que a jogou de volta. Ela abriu os olhos e quis gritar, mas não
conseguiu.
A escuridão caiu sobre ela novamente.

Juki Leann não poderia ter estado inconsciente por muito tempo, e quando
abriu os olhos, ela enxergava perfeitamente. Nada estava embaçado. As paredes da
central de comando reluziam em um vermelho mais escuro do que alguns minutos
atrás.
— O que aconteceu? — perguntou ela.
Darren Zitarra estendeu a mão para ela e ela deixou que ele a ajudasse a se
levantar. —Os instrumentos no meu traje espacial revelam que Gribsen irradia
frentes de emissão invisíveis que nos impedem de se aproximar dele. E agora, por
favor, não me pergunte o que isso significa. Eu não tenho explicação para isso. Você
tem?
Horrorizada, ela olhou para Zitarra. — Não — ela sussurrou.
Ele apontou para seu oficial de liderança novamente visível. — Eu acho que
é hora — disse ele. — Ele não aguentará isso por muito tempo.
Ela virou-se para Gribsen.
O corpo do velho guarda ficou novamente transparente, mas desta vez ele
não se solidificou novamente. Ela mal reconheceu seus contornos.
Outro gemido escapou de sua garganta, então Wloto Gribsen lentamente se
dissolveu. Ele estava literalmente desmoronando, decaindo em partículas
individuais que rodopiavam como nuvens de fumaça na central de comando,
gradualmente tornando-se invisíveis, e apenas desaparecendo.
Nenhum vestígio.

19
Depois de alguns segundos, nada restava dele. Como se nunca tivesse
existido, como se Leann e Zitarra tivessem saído para essa missão apenas em duas
pessoas.

— O que... — Leann ficou em silêncio depois da primeira palavra. — O que


acabou de acontecer? — pensou ela. — O que tudo isso significa?
Ela não podia falar isso. Isso teria soado ridículo demais. Muito trivial. Sua
mãe teria ficado muito zangada se ela tivesse dito algo assim.
— Aquele ataque maluco — ela murmurou. — Ahna falou contra isso.
— O quê?
— Ahna. Minha mãe. Ela se opunha ao fato de que Dabrifa, Vigeland e Tain
constantemente alimentaram o conflito com Rhodan. Ela aconselhou o Imperador a
não fazer campanha contra o Sistema Solar.
— O que você quer dizer com isso? — perguntou Zitarra. — Isso soa como...
—... como alta traição? Não seja ridículo! Minha mãe discutiu oficialmente
essas coisas com Sua Sabedoria.
— Ela é do mundo natal do Imperador, não é? E ela é aparentada com ele...
— Apenas muito distante.
— E ainda assim você é tão crítica do Império?
— Meu local de nascimento não afeta meu pensamento. Eu...
Darren Zitarra levantou a mão. — Eu não quero mais ouvir sobre isso! Isso
soa como... — Houve um fraco ping. Zitarra fez uma pausa e olhou para os poucos
instrumentos a bordo. — Nós fomos descobertos — disse ele depois de alguns
segundos.
Leann sentiu uma esperança obscura. Mesmo que sua missão tivesse falhado,
ela preferia passar os próximos anos no cativeiro terrano, do que morrer sem
sentido.
Além disso, algo a incitava. Ela queria descobrir o que havia acontecido com
a WOOGAN-237.
Ela se inclinou para Zitarra e olhou por cima do ombro dele. — O que... — ela
parou, incapaz de ver qualquer coisa na tela.
— Você não vê isso? — Zitarra fez um gesto para a exibição com o dedo
indicador que parecia mais volumoso, por causa do traje espacial. —Bem aí!
Os mesquinhos remanescentes da localização deram apenas uma impressão
muito indistinta. Leann identificou uma... sombra negra na escuridão ainda mais
sombria do espaço. — Isso é...?
— Sim — confirmou Zitarra. — Uma espaçonave. Não só fomos descobertos,
mas eles até mesmo enviaram alguém para nos pescar do espaço.
Algo perturbava Leann em todo o cenário. Se, de fato, uma espaçonave se
aproximasse, como Zitarra imaginava, não poderia ser coincidência. O Sistema Solar
era enorme e a WOOGAN-237 estava quase perfeitamente protegida contra a
localização.
Ou os terranos sabiam que uma equipe inimiga estava em uma missão de
espionagem no Sistema Solar e eles conheciam sua posição aproximada... ou que
algo aconteceu precisamente no local da WOOGAN-237l, a partir do qual Leann e
Zitarra não tinham conhecimento, e o inimigo havia precisamente enviado naves de
reconhecimento para lá.

20
— Droga — disse Zitarra. — O ataque ao sistema solar é iminente, isso está
claro. Para fins de teste, a guarda Negra dificilmente enviará alguém aqui. E isso
significa...
O ataque falhou, pensou Leann. De alguma forma, Perry Rhodan ficou
sabendo dele. E um trunfo em suas mãos que eles não conheciam.
Ao mesmo tempo, ela ficou chocada que Zitarra ainda estivesse abrasado pelo
fogo do ataque. Ele havia dito com firme convicção na reunião que estava
reconhecendo a responsabilidade que eles tinham pela missão. Deveria se ter
sucesso em todos os pontos em acabar de uma vez por todas com o jogo terrano...
E ele evidentemente continuou a argumentar, embora a WOOGAN-237 não
fosse nada além de um pedaço carbonizado de nano tubos de carbono.
Ele preferiu a morte ao invés de cativeiro.
— A espaçonave está se aproximando da nossa posição! — ele gritou. — Está
ficando maior. É uma pequena esfera negra! Uma espaçonave halutense!
— Uma nave halutense? — Embora ela tivesse vivido na Terra por quase dez
anos, ela nunca tinha visto um halutense. Havia muito poucos deles, e eles não
passeavam no shopping ao lado. Eles eram uma espécie de mito para Leann, seres
de lenda urbana que tinham feito sua missão ajudar seus amigos terranos.
Ela olhou para a tela, e viu através da ampliação, uma figura deixando a nave
alienígena vestida com um traje espacial vermelho brilhante.
— Ele quer nos abordar! — disse Zitarra. — Mas, nem que o inferno congele!
Nós não nos renderemos!
— Você está — Leann parou no meio da frase. Louco, ela quis dizer. Que
chance eles teriam contra um invencível halutense, em uma espaçonave que
explodiria — ela olhou para o relógio — em vinte minutos?
Não, ela se corrigiu. Com a WOOGAN-237 isso poderia acontecer em menos de
uma hora. Em dezenove minutos o meu campo defensivo vai parar de funcionar e eu
vou ser grelhada... como Zitarra disse lindamente.
— Nós vamos dar uma lição no halutense! — A testa de Zitarra borbulhava
de suor sob o disco do capacete. — Se tivermos que morrer, vamos levá-lo conosco
— Sem mais explicações, ele se virou e saiu da central de comando.

Três minutos depois, Darren Zitarra retornou. Agora, o halutense no traje


espacial vermelho havia se aproximado trezentos metros na luz dos holofotes da
WOOGAN-237 ativados automaticamente.
— Onde você estava? — perguntou Juki Leann. — O que você esteve fazendo?
— Na proa — Zitarra disse apenas.
Leann franziu a testa. A central de comando da WOOGAN-237 ficava no meio
da espaçonave. Na proa estava instalado o lançador pesado de foguetes anti-bunker,
dos quais transportavam exatamente cento e quarenta e quatro peças.
— E o que você vai fazer agora?
— Espere — Zitarra se agachou na frente da tela.
O receptor de rádio estalou, então soou uma voz profunda. De alguma forma,
o halutense conseguira determinar a frequência com que Leann e Zitarra se
comunicavam.
— Meu nome é Icho Tolot — Leann ouviu uma voz em que, por causa das
distorções causadas pelo receptor, poderia ter pertencido a um terrano. — Sua

21
espaçonave queimará em cerca de quarenta minutos. Se vocês quiserem sobreviver,
devem se render e deixar a nave.
Quarenta minutos. Então, o campo de contenção do reator Schwarzschild
entraria em colapso.
Meia hora depois, seu traje espacial não teria energia para manter o campo
defensivo. Eles não experimentariam mais isso.
— Venha nos buscar! — respondeu Zitarra.
— Como quiser — respondeu Icho Tolot. O famoso Icho Tolot, o melhor amigo
que os terranos já tiveram.
Leann viu na tela quando o halutense no traje espacial vermelho acelerou e
se aproximou da WOOGAN-237. Segundos depois, ele desapareceu da faixa de
captação dos dispositivos de gravação.
Uma sacudida atravessou sua espaçonave e uma raspagem claramente
audível. Tolot teve que abrir a eclusa no ventre do barco espião com força bruta,
diretamente abaixo da central de comando.
Um segundo depois, um golpe pesado quase derrubou os dois agentes.
— Nós o pegamos! — gritou Darren Zitarra. — Nós voaremos e não teremos
que nos preocupar com a nossa camuflagem! Nós morreremos, mas levaremos Icho
Tolot à morte!
Leann ficou tonta. — Como você fez isso?
Zitarra sorriu. — Eu não fui atingido!
Seu patriotismo, sua crença incondicional no Império Dabrifa, causava
náusea em Juki Leann. Ele ia para a morte sorrindo e...
— Eu improvisei uma armadilha na eclusa da WOOGAN! — Zitarra
interrompeu sua linha de pensamento. — Com um gerador hiperenergético, que
rompeu o campo defensivo do halutense! E então, eu detonei uma bomba. Tolot está
morto! Agora, nós podemos voar para a nave dele com os trajes espaciais e...
O piso da central de comando que ficava em cima da eclusa foi rasgado como
se fosse feito de papel. Uma figura gigante atravessou a abertura, grande demais
para a pequena sala. Com seus quatro braços, sua cabeça quebrou o teto com a
mesma facilidade brincalhona, então ficou na frente deles, agarrando-os.
— Eu estive esperando por isso! — Zitarra puxou seu radiador térmico e
disparou.
Leann queria convocá-lo a se render, mas ela não teve tempo para isso. A
faixa avermelhada e rápida do feixe invisível ricocheteou no halutense, embora não
estivesse protegido por um campo defensivo, como Leann percebeu naquela fração
de segundo. O gerador hiperenergético realmente o havia rompido.
Ela nunca havia visto um halutense, mas sabia da capacidade de
endurecimento estrutural. Graças ao seu metabolismo especial, eles foram capazes
de transformar de bom grado sua estrutura corporal em uma base molecular-
atômica. Seus corpos então se tornavam mais duros do que o terconite, e se
precisaria de uma arma pesada de uma nave para poder tornar-se perigosa para um
gigante negro nessa condição.
Um radiador manual não era capaz de fazê-lo.
Icho Tolot emitiu um rugido ensurdecedor que quase sobrecarregou o
receptor de rádio de Leann e abriu seu par de braços superiores. Mais pedaços do
teto se espalharam como papel de seda.

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Quando Tolot foi direto para ela feito um monstro, ela também levantou o
radiador e disparou instintivamente, embora ela realmente precisasse saber
melhor.
Este raio também fracassou ineficazmente.
Em seus dois braços inferiores, Tolot segurava uma arma tão grande que
Leann provavelmente não conseguia segurá-la. Mais rápido do que ela poderia
reagir, ele os soltou.
Pelo menos ele usa apenas um paralisador, ela pensou enquanto desmaiava e
não conseguia mexer um dedo.
Seu cérebro continuou a funcionar, então ela observou o halutense agarrá-la.
Com ela e Zitarra nos braços instrumentais, Tolot avançou através da brecha de
destruição que ele havia feito.
Na eclusa da WOOGAN-237, ele apenas continuou correndo e deixou seu
impulso levá-lo ao espaço, enquanto o agregado de propulsão de traje espacial já
estava em pleno funcionamento, enviando-os voando em direção à esfera negra à
frente deles.
Icho Tolot jogou Leann por cima do ombro para usar os braços novamente
para outras coisas. A partir desse momento, ela viu apenas um traje espacial
vermelho até que o halutense finalmente a colocasse suavemente no chão da eclusa
de sua espaçonave negra.
Não pela paralisia, mas a tensão dos minutos anteriores, que ela acabou
desmaiando, o que foi mais do que benfazejo ao cérebro.

23
3.

Terra, Império-Alfa

30 de outubro de 3430

Darren Zitarra podia ver Juki Leann, mas não falou com ela. Ela estava
sentada em uma prancha simples na parede da cela em frente a ele. Os campos de
repulsão impediram que o menor ruído chegasse até ele. Com ela, certamente não
seria diferente.
Leann olhava para frente, exatamente como ele. Depois de acordar na cela,
ele tentou se comunicar com ela por meio da linguagem de sinais, mas ela não
respondeu. Então, ele percebeu porque não, e ele imediatamente desistiu de tentar.
Como agentes da Guarda Negra, eles desenvolveram uma comunicação
secreta, inventando uma espécie de código Morse. Mas ele não ficaria em segredo
por muito tempo se eles o usassem. Ele não havia notado nenhuma câmera ou outro
dispositivo de gravação, mas Leann obviamente adivinhou que eles estavam lá, e ela
estava, sem dúvida, certa.
Os terranos registraram cada movimento dos dois agentes para analisar em
suas positrônicas e descobrir mais sobre os prisioneiros. Ele tinha que assumir que
eles seriam vigiados de perto e o código quebrado depois de alguns minutos.
Mas, havia outro modo mais imaginativo de se comunicar sem sequer dizer
uma palavra. Ele baixou os olhos e olhou para as pontas das tatuagens nas costas da
mão. Ainda era cedo demais para isso; primeiro precisavam aprender mais sobre o
ambiente e as promissoras rotas de fuga. Não seria útil falar com a filha mimada da
casa rica como ela se sentia a respeito.
Zitarra não podia dizer para onde eles haviam sido trazidos, mas ele assumiu:
Império Alfa, o centro de poder do Império Solar. Havia especialistas lá que
tentavam tirar toda a informação de seus narizes.
Era exatamente por isso que ele rejeitou a proposta de Leann de se render. A
tortura terrana era temida até mesmo no Império de Dabrifa. Ele não tinha dúvidas
de que os interrogadores dos terranos dobrariam ele e Leann e, mais cedo ou mais
tarde, provavelmente muito mais cedo.
Todas as suas posses foram retiradas, os despiram, escaneados e analisados
a procura de itens que poderiam ter sido implantados cirurgicamente. Então, eles
foram vestidos com macacões laranja ridículos e trancados nas celas.
Seu dispositivo pulseira multifuncional foi o primeiro a ser
removido. Portanto, Zitarra não pôde dizer exatamente quanto tempo se passara
antes que dois soldados uniformizados do Império Solar entrassem no corredor das
celas. Mas ele não foi o objetivo deles, mas Leann.
Os guardas, sem ver exatamente como fizeram isso, desligaram o campo de
repulsão e, evidentemente, disseram a Leann para acompanhá-los. Zitarra não
conseguia entender o que eles estavam dizendo; pois o campo em torno de sua cela
permaneceu.
Leann levantou-se sem resistência e acompanhou os dois. O que mais ela
deveria ter feito? Se ela não tivesse cumprido a chamada, os guardas a teriam jogado
do beliche com um choque e a arrastariam à força.

24
Os homens levaram Leann. Sem dúvida para o primeiro
interrogatório, pensou Zitarra.
Talvez ele pudesse jogar por um tempo. Ele tinha conhecimento rudimentar
do procedimento usual. Métodos sensatos de interrogatório visavam uma
combinação de paz e segurança com incerteza abrupta e desestabilização. Então, um
confinamento solitário estrito, um interrogatório com ameaça de hipnoradiador, e
novamente confinamento solitário. Em algum momento, alguém ofereceria a Leann
e a ele a possibilidade oculta de comunicação — e depois os monitorariam.
Isso levava dias. Talvez ele pudesse atrasar o processo até que as frotas da
Coalizão Antiterrana eliminassem toda resistência no Sistema Solar e capturassem
a Terra.
Talvez os terranos também soubessem que o ataque à sua pátria era iminente
e, portanto, usariam métodos muito mais leves, porém mais rápidos.
Ele só podia esperar e reagir de acordo com a situação.
Pouco depois, chegou a hora. Mais uma vez, dois soldados entraram no
corredor da cela e desta vez desligaram o campo de repulsão de sua cela.
— Venha conosco! — ordenou o mais alto dos dois.
Zitarra obedeceu, como antes fizera Leann. Os dois subalternos teriam
simplesmente ignorado todos os protestos.
Sem outra palavra, levaram-no para uma pequena sala cujo único mobiliário
era uma mesa e duas cadeiras. Os soldados fizeram sinal para que ele se sentasse em
uma das cadeiras. Ele obedeceu e, no momento seguinte, não conseguiu se
mexer. Haviam colocado um campo de confinamento ao redor dele.
Ele esperou. Por um tempo.
Essa era a primeira fase do interrogatório. Eles queriam desgastá-lo e
desestabilizá-lo.
Ele via através da jogada, e sorriu fracamente.
Ele era paciente, pelo menos tentava.

Finalmente, um terrano entrou na sala.


Era um terrano muito estranho. Ele tinha cerca de um metro e oitenta de
altura, cabelos escuros, muito magro, e seu rosto estava coberto por uma simples
máscara de plástico prateado.
Zitarra olhou para o homem com os olhos estreitados.
A máscara o tornava absolutamente assustador. Ela só tinha fendas para os
olhos, nariz e a boca. E ela dava ao terrano uma vantagem considerável. Zitarra não
podia ver seu rosto e, por isso, não conseguia nem adivinhar o que o oponente
pensava ou pretendia.
Por que ele estava usando-a? Isso era um truque psicológico? Como
torturador, ele queria ser especialmente ameaçador para a Defesa Solar? Ou ficar
incógnito? Zitarra não acreditou. Havia mais do que isso.
O magro sentou-se na cadeira do outro lado da mesa e não disse nada.
Zitarra conhecia o jogo que o terrano estava jogando e não entrou nele. — O
que aconteceu com a nossa nave? — ele perguntou. — Por que seu pessoal a
destruiu?
O homem com a máscara permaneceu em silêncio, apenas olhando para
Zitarra.

25
— Por que você enviou o halutense para nos salvar se agora você nos trata
como criminosos?
O magricela permaneceu em silêncio.
Zitarra desistiu de tentar e não fez mais perguntas.
Silenciosamente, eles se entreolharam.
Finalmente, o portador da máscara pigarreou. — Meu nome é Alaska
Saedelaere — disse ele. — E agora, nós dois falaremos em detalhes.

— O que há com suas tatuagens?


Darren Zitarra fez uma careta, embora Saedelaere certamente tivesse feito
essa pergunta três vezes.
Depois de se juntar à Guarda Negra, Leann e ele tinham se tatuado. Nas
representações elaboradas se escondiam contatos psicoativos, que possibilitavam
uma comunicação a prova de interceptação. Desta forma, os agentes eram capazes
de formar cadeias de palavras silenciosas que apenas os membros do serviço secreto
de Dabrifa compreendiam. Mas, ele não revelaria isso voluntariamente ao homem
com a máscara. Para descobrir, a Defesa Solar teria que fazer uma pequena cirurgia
nele.
Cirurgias custavam tempo, e Zitarra jogava com o tempo.
— Quantas espaçonaves da coalizão antiterrrana foram reunidas diante do
sistema solar? — Saedelaere mudou abruptamente de assunto. — Que planos de
batalha e formações de ataque elas praticam?
Zitarra sorriu levemente. Se pudesse se mover, ele teria aberto os braços. —
Eu não sei. Eu não tenho a menor ideia do que você está falando.
— Quando a frota da coalizão antiterrrana começará o ataque?
— Mesmo se eu soubesse disso, negaria qualquer resposta sob a lei de guerra.
Saedelaere recostou-se em sua cadeira. — Que lei de guerra? — perguntou
ele. — Nós não declaramos guerra a ninguém, nem recebemos uma declaração de
guerra. Você é simplesmente um espião que pegamos em flagrante. Não há lei da
guerra para você.
Zitarra engoliu em seco. Se Saedelaere disse a verdade, o ataque da Coalizão
Antiterrana ainda não havia ocorrido. Isso foi ruim para ele. Quanto mais tarde isso
acontecesse, mais tempo ele teria para tentar enganar.
O magro enfiou a mão no bolso do traje azul escuro e tirou dois objetos.
Zitarra reconheceu os dois. Uma era um hipnoradiador, o outro uma pistola
de injeção, que sem dúvida estava cheia de um soro da verdade.
— A escolha é sua — disse Saedelaere. — Três possibilidades. Você fala
voluntariamente, ou eu injeto um soro de verdade. Ou eu uso o hipnoradiador. Você
definitivamente vai falar.
— Isso não é uma escolha — respondeu Zitarra.
Saedelaere se levantou, pegou a pistola de injeção e deu a volta na mesa.
Zitarra se jogou de um lado para o outro na cadeira. Mais de alguns
centímetros de liberdade de movimento não lhe permitia o campo da cadeira. Não o
suficiente para impedir o que o magricela estava fazendo.
O homem da máscara deu um passo atrás dele. Zitarra sentiu o toque de algo
frio em seu pescoço.
Um sensor que mediu as reações do seu corpo!

26
Então, Saedelaere pressionou a pistola em seu pescoço e, sibilando, seu
conteúdo se derramou em sua corrente sanguínea.
Zitarra não sentiu o menor efeito. Mas, ele viria mais cedo ou mais tarde.
De repente, o campo da cadeira deu-lhe mais liberdade de movimento.
Saedelaere sentou-se novamente. — Cerca de oitenta mil espaçonaves foram
implantadas em frente ao sistema solar — disse ele. — Elas querem atacar e
conquistar a Terra, se não destruí-la. O que você sabe sobre isso?
Zitarra não sentiu vontade de falar. Contudo, ele notou que Saedelaere o
observava de perto. Zitarra presumiu que as câmeras o registravam através do
campo da cadeira e, uma positrônica avaliava cada uma de suas reações corporais
inconscientes. Micro mímicas, tensão da pele, reações pupilares, gestos suprimidos,
tudo era detectado. Provavelmente, Saedelaere conseguia essas informações
diretamente em seu ouvido por meio de um pequeno transmissor.
Talvez isso nem fosse necessário. Se Saedelaere fosse bem treinado, a visão
imediata das reações de Zitarra revelariam a ele tudo o que precisava, mesmo sem
análise positrônica.
— Qual é o nome da espaçonave? O barco do qual Icho Tolot salvou vocês?
— WOOGAN-237 — Zitarra se ouvir dizer para a sua surpresa.
O soro da verdade agia! Ele não objetava, apenas conversava.
— Como vocês chegaram a bordo da nave?
— Nós embarcamos no dia dezessete de outubro em uma barcaça de carga a
granel em Ferrol.
— O destino exato?
— Ceres.
— Quem somos nós?
— Os guardas negros Wloto Gribsen, Juki Leann e eu.
Saedelaere franziu a testa. — Três pessoas?
— Sim.
— Eles alcançaram o sistema solar. E então?
— No ponto de orientação Ferrol Cinco, no Cinturão de Kuiper, nós partimos
com trajes espaciais normais e fomos para a WOOGAN-237. Nós tivemos que
alcançar o barco em trinta minutos.
— Por quê?
— Pelo tempo fomos protegidos da localização. O velho cargueiro ferronense
trabalhava com emissores tratores intermitentes, mal protegidos para consertar sua
carga externa antes de entrar no sistema solar. Para os terranos a banheira velha e
a sua assinatura são bem conhecidas. Ela vem na mesma hora toda semana há doze
anos.
— Vá em frente.
— Até vinte e quatro de outubro, nós tínhamos tempo para colocar o barco
espião na melhor condição possível. Peças de reposição eram abundantes a bordo.
— Por que essa data?
No dia vinte e quatro, houve um acidente encenado a bordo do velho
cargueiro. Um dispositivo de armazenamento de energia que alimentava o emissor
do trator principal, queimou completamente e, produziu um efeito extremamente
forte através de um campo trator por um curto período de tempo em um grupo de
asteroides incluindo a WOOGAN -237, que foram disparados com acelerações de
mais de mil quilômetros por segundo em direção ao Sol. Houve um incidente
semelhante, não tão ruim, cinco ou três anos atrás.

27
— Como vocês sobreviveram a esses valores de aceleração?
— Porque neste momento, o nosso reator de Schwarzschild disparou
trezentos por cento de sua potência neste momento, ele tinha uma bateria inteira de
neutralizadores de pressão agindo em um cinturão de dois metros de diâmetro na
central de comando da WOOGAN-237. Exceto pelos de fogos de artifício nos hiper-
rastreadores, nada pôde ser visto.
— E então?
— A WOOGAN-237 acelerou continuamente através da propulsão de campo
magnético até atingir a velocidade de cruzeiro. A propulsão do campo magnético
não pode ser localizada, porque os grandes planetas têm campos muito mais
fortes. A fim de evitar qualquer impressão de uma espaçonave artificial, nós
sopramos uma nuvem de poeira de carbono, que formou uma camada de pó na
superfície da WOOGAN-237 e foi estabilizada por carga estática. Nós alinhamos a
rede de hipercristal de nossos sensores de monitoramento na direção de Saturno. As
biopositrônicas foram configuradas para procurar as assinaturas de campos
paratron, emissores, grandes transmissores e reatores Schwarzschild.
— Qual era o plano de vocês?
— Nós queríamos usar o campo magnético de Saturno para entrar em uma
órbita em espiral ao redor do planeta gigante. Não nos foi permitido usar os
neutralizadores de pressão. Em um ponto de Lagrange atrás da lua afetada a
WOOGAN devia aguardar o sinal para atacar. Nossa palavra-código era ‘Noite de
Dezembro’.
— Prossiga.
— A WOOGAN-237 deveria ativar o reator em uma órbita de cem quilômetros
acima dos institutos de pesquisa locais. Deveríamos soltar os escudos dos nossos
mísseis e abrir o fogo nos projetores de campo paratron desprotegidos. Os foguetes
são estabilizados e equipados com a cabeça desintegradora. Os raios teriam
perfurado um buraco na blindagem e os explosivos teriam explodido adiante como
uma carga direcional. Nós tínhamos que impedir que os campos paratron
dos institutos de pesquisa fossem ativados. Se os primeiros campos estruturais se
formassem, nós teríamos evitado isso com o disruptor de estrutura de campo
defensivo que tínhamos a bordo.
— Por que a WOOGAN-237 tem um reator Schwarzschild? O Império Dabrifa
não possui a tecnologia paratron!
Zitarra tentou lutar contra isso, mas ele não teve chance. As palavras
simplesmente saíram dele. Ele não foi informado muito, mas ele sabia disso. —
Roubado de um space-jet terrano.
— Você falou do guarda negro Wloto Gribsen, que estava a bordo com você. O
que aconteceu com ele? Para onde ele foi?
Mais uma vez Zitarra ouviu-se falar. Ele falou longamente sobre o incidente
inexplicável que levou a WOOGAN-237 à beira da aniquilação, e sobre o
desaparecimento de Gribsen.
— Ele simplesmente desapareceu? — perguntou Saedelaere.
— Ele se dissolveu. Desintegrou-se — corrigiu Zitarra.
O homem da máscara ficou em silêncio.
Zitarra estava enganado ou o desejo de responder a todas as perguntas tinha
enfraquecido? Talvez o efeito da droga da verdade tivesse diminuído
gradualmente. Então, Saedelaere lhe daria uma nova dose ou...

28
— Conversaremos mais tarde — disse o agente da Contraespionagem Solar,
levantando-se e saindo da sala de interrogatório.
Dois homens uniformizados se aproximaram por trás. Zitarra ouviu seus
passos, então, eles colocaram as mãos nos ombros dele. O campo de contenção
extinguiu-se.
Eles o levaram para fora e de volta para sua cela. Leann já estava na
dela. Quando ela viu Zitarra e seus guardas chegando, ela se endireitou e olhou para
eles. Seus olhos pareciam vidrados.
Os guardas deixaram a ala das celas. Zitarra não verificou se o campo
repulsor havia se formado novamente.
Ele também se agachou na cama e olhou para Leann. Ele lentamente puxou
as mangas de seu macacão de prisioneiro. Ele queria saber se ela havia sido
interrogada com uma droga da verdade e o que ela dissera ao pessoal da Defesa
Solar.
Ele tinha que permanecer cauteloso, convencido de que eles continuariam a
ouvir e filmar. Mas, se eles fossem discretos, o inimigo poderia precisar de um tempo
para descobrir o que eram as tatuagens. Em todo caso, o homem magro com a
máscara não fez a pergunta depois que o efeito da droga começou.
Leann não parecia entender o que ele estava fazendo. Ela sofreu mais com os
efeitos do interrogatório do que ele?
Ele estudou o rosto dela. Estava pálido e a transpiração se formou em sua
testa.
Instintivamente, Zitarra tocou a testa com as pontas dos dedos. Ele sentiu a
umidade; ele também estava suando. Sentiu-se tremendo e, de repente, ficou muito
frio.
O que há de errado comigo? — ele se perguntou. Que Leann sofresse com
qualquer resultado, era bastante concebível, mas ele...?
Ele estava tremendo mais e mais, e a visão escurecia. Felizmente ele estava
sentado na cama, caso contrário poderia ter desmaiado.
Ele olhou de volta para Juki Leann, viu que ela estava obviamente perdendo
a consciência e lentamente saindo do catre. Quando se sentou no chão, ela se
inclinou para frente.
Zitarra cerrou os punhos, tentando resistir à súbita fraqueza, mas seu campo
de visão se estreitou. A escuridão parecia penetrá-lo de todos os lados ao mesmo
tempo.
Então, ele desmaiou também.

— Senhor — disse Alasca Saedelaere a seu supervisor —, o interrogatório


não foi muito produtivo. O prisioneiro quase não revelou nada de novo para nós.
Mas, nós sabemos como a Guarda Negra prossegue. Os agentes enviados para a
missão recebem o mínimo de informações possível para divulgar o mínimo possível
em caso de captura.
Saedelaere olhou ao redor do escritório de Sadinoha. Era completamente
impessoal. Nada indicava que o homem tivesse família ou hobbies.
Tezen Sadinoha assentiu pensativamente. — Nós não procedemos de
maneira diferente, Sr. Saedelaere. Eu estou preocupado com o terceiro guarda negro
a bordo. Tem certeza de que usou a droga da verdade das araras corretamente?

29
— Claro, senhor — Saedelaere olhou diretamente para o seu interlocutor.
O almirante Sadinoha era um dos representantes de Galbraith Deighton, o
chefe da Defesa Solar, a CESPSOL. Ele tinha setenta anos, era corpulento, mas não
era gordo, musculoso, careca e usava uma tatuagem no crânio.
Alasca Saedelaere não foi caloroso com ele desde o início. Sadinoha sempre
foi jovial, mas tinha um ar frio. Quando ele sorria, o sorriso nunca chegava aos seus
olhos.
Talvez tivesse que ser assim, se alguém ocupasse um cargo importante na
Defesa Solar, pensou Saedelaere. Talvez, eu também me torne assim alguma vez.
Ele não esperava, mas não podia descartá-lo. Agências de inteligência faziam
algo com as pessoas, e isso raramente era bom.
Saedelaere percebeu que Sadinoha estava esperando por mais explicações.
— Eu tenho observado suas reações corporais — continuou ele. — Darren Zitarra
disse a verdade, pelo menos o que ele pensa ser a verdade. O que ele viu? Se isso seja
verdade é outra questão, é claro.
— Então, nós temos que resolver algumas questões. Por que o guarda negro
Wloto Gribsen simplesmente... desapareceu? Por que seu barco de espionagem foi
praticamente destruído?
— Há uma explicação simples para o segundo ponto. O Administrador-Geral
proclamou o Caso Laurin. Suspeitamos que a WOOGAN-237 foi afetada pelo
desenvolvimento do campo AAT.
— Não vamos antecipar a análise dos cientistas. Além disso, isso não explica
o que aconteceu com o terceiro guardião negro.
— Como você diz, nossos cientistas estão trabalhando nisso. Eu sugeriria...
Saedelaere silenciou quando escritório de Sadinoha inundou-se com um som
de alarme. O ruído ascendente lhe penetrou até o interior.
Sibilando, a porta da frente se abriu e um guarda uniformizado da Defesa
Solar entrou e saudou. Ele olhou para Tezen Sadinoha.
— Senhor — disse ele —, os dois prisioneiros desapareceram de suas celas!

O chefe do Alasca Saedelaere ficou perplexo. — O que você está dizendo?


— Desapareceram, senhor! Nenhum vestígio! — O homem correu para uma
parede tela e ativou-a. Depois de pressionar a tela duas ou três vezes, apareceu uma
representação tridimensional da ala das celas do Império Alfa.
Saedelaere estreitou os olhos. As duas celas onde os prisioneiros estiveram
alojados durante a fase de interrogatório estavam vazias. Nada indicava que
tivessem sido ocupados há alguns minutos atrás. As barras e a porta da cela não
mostravam o menor dano, o campo de repulsão, que adicionalmente protegia a área
de detenção, estava ativado e intacto, como os instrumentos indicavam.
Não obstante, os dois prisioneiros tinham desaparecido.
Eles eram teleportadores? Ou isso está relacionado com a afirmação de
Zitarra? — perguntou-se Saedelaere. O guarda negro descreveu em detalhes como o
terceiro membro da tripulação da nave espiã desapareceu. E agora os outros dois
também desapareceram...
— Vamos dar uma olhada nos registros — sugeriu ele.

30
Obviamente, Sadinoha dava tratos à bola. Então, o representante de Galbraith
Deighton levantou uma mão.
— Mais tarde — ele decidiu. — Vamos analisar os registros de perto. Mas,
primeiro vamos informar o Marechal Solar... e o Administrador-Geral!
Mais tarde? — pensou Saedelaere. O que falava contra o fato de que ele tinha
que olhar as gravações até a chegada do seu superior supremo e, então apresentasse
a este um relatório sumário?

31
4.

Império-Alfa

30 de outubro de 3430

O marechal solar Galbraith Deighton, chefe da Defesa Solar, entrou na sala e


imediatamente a temperatura pareceu cair em dois ou três graus.
Alasca Saedelaere sempre sentia essa opressão na presença de Deighton.
Como um mecânico emocional — essa paráfrase havia refinado Deighton em uma
academia especial em Terrânia — ele era capaz de reconhecer impulsos cerebrais
emocionais e vibrações emocionais de indivíduos, mas também de multidões e
adaptar suas ações de acordo com isso.
Isso dava-lhe uma clara vantagem sobre o seu companheiro. Saedelaere se
sentiu inferior a isso; ele havia aprendido em primeira mão o quanto Deighton sabia
inteligentemente explorar a mecânica dos sentimentos.
O eco solar assentiu na rodada. — Senhores — disse ele. — Foi bom que vocês
tenham me informado imediatamente.
Saedelaere franziu a testa. O chefe da inteligência teve que dar extrema
importância ao desaparecimento dos agentes dabrifanos se ele pessoalmente
cuidasse desse incidente.
E não só ele.
— Vamos começar a analisar a situação imediatamente — continuou
Deighton. — Nós estamos apenas esperando pelo Administrador-Geral. Ele deveria
chegar a qualquer momento.
— Ele já está aqui — veio uma voz sonora da porta.
Saedelaere se virou. Perry Rhodan estava na porta, ladeado por outras duas
pessoas. O terrano magro e alto parecia sério, quase preocupado. Contudo, seus
olhos azuis acinzentados, contradiziam essa impressão. Eles pareciam enérgicos e
empreendedores.
Saedelaere conhecia o primeiro companheiro do Administrador-Geral, com o
que ele não podia imaginar nada. Todos os seres vivos do Sistema Solar pelo menos
ouviram falar dele uma vez antes. Era o oficial de patente especial Gucky do Exército
de Mutantes. Gucky, o rato-castor, provavelmente o mais forte mutante vivo destes
dias.
À direita do ilt, havia uma mulher bastante alta, com cabelo azul escuro,
criado na última moda. Ela tinha olhos azuis e sua pele tinha um leve tom bronzeado.
Saedelaere admitiu que ela era uma das mulheres mais bonitas que ele já tinha visto.
— Eu posso lhe apresentar? — disse Rhodan. — Esta Takayo Sukurai, a chefe
da oficina de falsificação Imperial. Ela trabalha muito de perto de mim.
Saedelaere tinha ouvido falar dela, mas mais do que rumores nem sequer
chegaram a CESPSOL. Alguns deles diziam que Takayo Sukurai era secretamente a
guarda-costas pessoal de Rhodan, que não estava saindo do seu lado. Outros diziam
que o relacionamento deles ia muito além disso, mas Saedelaere não participava de
tais especulações.
— Você pode se surpreender que eu pessoalmente cuide desse assunto —
continuou Rhodan. — Eu proclamei o Caso Laurin hoje. O humor na Via Láctea
atualmente está dirigido contra nós, terranos. O império Dabrifa, a União Galáctica

32
Central e a Aliança Carsuálica uniram-se para forjar planos para um ataque à Terra.
Hoje, esta coalizão antiterrana enviou uma frota de guerra de oitenta mil
espaçonaves ao sistema solar para conquistá-lo. Mas, as tripulações apenas
encontraram um sistema solar que explodiu. Sob a liderança do Primeiro Senador
Científico do Império Solar, Geoffry Waringer, o campo de alternância anti-temporal
foi desenvolvido. Para evitar ter que suportar uma guerra fratricida entre os
terranos, eu permiti que se colocasse o sistema em cinco minutos no futuro com a
ativação deste campo AAT. Ao mesmo tempo, nós fingimos a destruição do sistema
solar.
Saedelaere franziu a testa. Ele sabia tudo isso, mas sabia o que Perry Rhodan
estava tentando fazer.
— O desaparecimento dos dois agentes dabrifanos do Império Alfa me enche
de grande preocupação — continuou o Administrador-Geral. — Por um lado, é claro,
porque é obviamente inexplicável. Afinal, não há melhor prisão segura na Terra! Em
segundo lugar, porque eu temo que os agentes da Guarda Negra descubram a
verdade e passem para o Império Dabrifa. Então, nosso plano de levar o sistema
solar para o futuro e, assim, para a segurança, teria fracassado antes de ser
implementado adequadamente. Nós não poderíamos trabalhar em segredo fora do
sistema solar. Portanto, precisamos descobrir como os dois espiões conseguiram
escapar de suas celas e, a todo custo, impedir que saiam do sistema — Rhodan fez
uma pausa. — Há algum registro de seu desaparecimento?
— Sim, senhor — respondeu Deighton. — Eu as encontrei e as preparei —
Ele foi até as telas na parede e ativou uma delas.
As imagens tridimensionais das câmeras de vigilância mostraram a ala
contendo as celas dos dois prisioneiros. Eles sentavam-se em seus leitos, absortos
em si mesmos, aparentemente ainda atordoados com o soro da verdade usado nos
interrogatórios.
— Eles não parecem estar se sentindo bem — disse Rhodan.
Saedelaere parou a gravação. — Eu obtive a perícia do diretor médico do
Império Alfa, senhor. Ele assume que a droga tenha efeitos secundários, embora
nenhum seja realmente conhecido.
— Você seguiu as regras? — perguntou Deighton bruscamente. — Você usou
o soro da verdade exatamente como prescrito?
— Claro, senhor. A dosagem foi registrada.
— Prossiga! — disse o Administrador-Geral.
Saedelaere apertou a tela. A gravação mostrou quando quase ao mesmo
tempo ambos os prisioneiros perderam a consciência e deslizaram para fora das
camas.
— Agora acontece, senhor — disse Tezen Sadinoha.
Então, ele já olhou para as imagens — pensou Saedelaere.
De repente, houve um lampejo em torno das duas figuras. A princípio,
Saedelaere achou que fosse um erro de transmissão, um distúrbio com as cores. Mas,
o brilho vermelho escuro e fluido ficou mais forte, depois a cor mudou para
vermelho vivo, amarelo, verde claro e finalmente branco.
Os dois guardas desabaram completamente, contorcendo-se em agonia no
chão... e desapareceram como se nunca tivessem existido.
— Mostre-nos os últimos segundos — disse Takayo Sukurai.
Ansioso para mostrar serviço, o representante de Deighton cumpriu o desejo
da mulher incrivelmente bela. — Por favor, preste atenção aos dados de medição de

33
temperatura. Eles indicam que, pouco antes do desaparecimento dos dois
prisioneiros, um frio inexplicável encheu as celas.
— Estranho — disse Rhodan. — Ambos desaparecem de suas celas ao
mesmo tempo. Isso sugere o fato de que não seja uma parahabilidade.
— Ou eles são irmãos que herdaram a mesma habilidade — disse Gucky. —
Lembre-se de Rakal e Tronar.
O rosto de Rhodan tornou-se sombrio brevemente. Os gêmeos Woolver
morreram há mais de 500 anos, durante a Crise da Segundo Gênesis. Eles realmente
tinham parahabilidades idênticas.
— Nós podemos excluir isso — contrariou Sadinoha. — Nós pegamos
amostras de sangue dos prisioneiros. A análise genética revelou inequivocamente
que eles não são parentes.
Rhodan olhou para o rato-castor. — Pequenino, você não pode fazer nada
agora. Procure pelos fugitivos no Império Alfa. Se eles ainda estiveram aqui, você
tem que encontrá-los.
— O Império Alfa é grande — disse Gucky. — Mas, isso não é um obstáculo
— Ele se teleportou. Com um som suave, o ar entrou no vácuo que ele havia deixado
para trás.
— Esse fenômeno inexplicável pode ter alguma coisa a ver com o campo de
alternância anti-temporal? — perguntou Rhodan. — Como eu vi nos relatórios, a
nave de espionagem dabrifana poderia ter entrado em contato com ele.
— O halutense que descobriu a WOOGAN-237, pode nos fornecer
informações — Sadinoha ergueu os olhos de seu dispositivo pulseira multifuncional.
— Nós chegamos a Icho Tolot e ele acaba de chegar ao Império Alfa.
— Excelente — disse Rhodan.
— Senhor, temos que nos mudar para outra sala de conferências. Este não é
projetado para um halutense.
Rhodan olhou para o teto e assentiu. A altura do quarto era de dois metros e
meio. Isso foi realmente um problema para um gigante negro de três metros e meio
de altura.

— Meus pequeninos! — disse Tolot, abrindo os braços. — Rhodanos!


Aqueles que não conheciam o halutense talvez ficassem congelados de medo.
Os três olhos vermelhos protuberantes na cabeça hemisférica, os três metros e meio
de altura do gigante de duas toneladas, eram quase da cor do traje de combate que
Tolot usava. O contraste entre a pele negra e o traje vermelho era o suficiente para
despertar medos.
— Tolotos! — Respondeu Perry Rhodan, indo em direção ao halutense. — Eu
estou feliz que você veio tão rápido!
— A situação é séria — O gigante tinha artificialmente amortecido sua voz,
caso contrário as pessoas ao redor dele poderiam ter estourado seus tímpanos. —
Eu espero poder responder às suas perguntas para sua satisfação.
— Como você descobriu a pequena espaçonave da guarda da Dabrifa? —
Rhodan foi ao ponto imediatamente.
Tolot riu alto. — Eu estava apenas voando na área da borda na periferia do
sistema solar. Lá, quando você ordenou a ativação do campo de alternância
antitemporal, eu localizei frentes de hiperchoques sextadimensional no topo da

34
escala hiperenergética. Essas radiações sextadim e as extensões internas do campo
AAT devem ter provocado interações imprevisíveis com estruturas
hiperfisicamente ativas a bordo do barco espião. Provavelmente, os dabrifanos
perceberam o evento apenas como uma erupção hiperenergética com enorme força
de campo — O halutense era um cientista, tentando falar da forma mais inteligível
possível. Mas, algumas coisas poderiam ser precisamente descritas apenas com
termos científicos. — Eu consegui localizar a espaçonave deles porque ela emitia
uma forte radiação gama, provavelmente devido a danos na tecnologia a bordo,
como resultado da interação multidimensional. Além disso, eu notei um pico no
hiperespectro, talvez quando o terceiro membro da tripulação se desfez.
— E você só pôde medir esses impulsos, porque a sua nave tem os melhores
instrumentos?
— Se você quiser expressá-lo dessa forma, Rhodanos... você investigou os
destroços dos guardas?
— Ela foi completamente recozida — disse Tezen Sadinoha. — Nós ainda
estamos examinando-a, mas ainda não encontramos nada, nem mesmo amostras de
DNA utilizáveis do terceiro tripulante que deveria estar a bordo.
— Essa história soa plausível — disse Tolot. — É apoiada pelo pico do
hiperespectro que eu medi. O timing confirma isso claramente. Mas, que tipo de
matéria reage a essa hiper-irradiação?
Rhodan assentiu pensativamente. — Você acha que é possível que a pequena
espaçonave, possivelmente possa ter trazido uma arma secreta do Império Dabrifa
para o Sistema Solar, Tolotos?
— Eu sou tão dependente da especulação quanto você.
— O barco espacial em si não era uma arma — disse Sadinoha. — Nós
literalmente examinamos todos os parafusos remanescentes.
— Portanto, o desaparecimento dos dois agentes dabrifanos é altamente
preocupante — disse Tolot indiretamente a Rhodan. — Nós temos que capturá-los
antes que eles possam relatar que o Sistema Solar ainda existe. Todo o Plano de
Quinhentos Anos depende do fato de que a Coalizão Antiterrana não ouça sobre isso.
Os olhos de Rhodan ficaram nublados novamente. Ele queria impedir uma
guerra fratricida entre os terranos e os colonos terranos. Mas, era imperativo que
seu projeto permanecesse secreto.
De repente, Gucky se materializou na sala de conferências. O ilt balançou a
cabeça desanimadamente. — Nada — ele disse. — Se os agentes dabrifanos não são
mentalmente estabilizados, eles não estão mais no Império Alfa. Eu estive
auscultando cada andar e cada porão!
Rhodan pensou momentaneamente e depois se virou para Sadinoha. —
Vamos fazer uma ligação para Waringer! — ele ordenou. — Talvez o Primeiro
Senador Científico do Império Solar saiba mais.
—Senhor, sim, senhor! — O representante de Deighton saudou e deixou a
sala de conferências.

— Eu lamento, Perry — O homem magro com grandes olhos castanhos e


cabelo preto espesso, disse em uma voz grave e sombria. — Eu percebo o quanto é
ameaçadora a situação. Mas, infelizmente eu sou indispensável, não posso deixar

35
Mercúrio. Eu preciso realizar diversos ajustes finos no campo AAT. Ele ainda flutua
minimamente.
Alasca Saedelaere não ficou surpreso com a confidencialidade entre o
iniciador do Projeto Laurin e o Administrador-Geral do Império Solar. O professor
Waringer tinha sido o genro de Perry Rhodan, o marido da falecida filha de Rhodan,
Suzan Betty. O campo AAT era o culminar do seu trabalho engenhoso no passado.
— Se os agentes dabrifanos forem bem-sucedidos...
— Eu sei, eu sei — Com um movimento desajeitado da mão, Waringer levou
um cano longo a boca e o sugou por um logo tempo. — Eu vou enviar-lhe Renier
Bievre, meu melhor homem para fenômenos hexadimesnionais. Eu só posso dizer
coisas boas sobre ele. Caso contrário, ele não confiaria a mim o manuscrito do plano
de construção de um propulsor dimesexta. Bievre já escreveu cerca de trezentas
páginas de manual.
— Geoffry, se você...
— B... Bievre já está a caminho — O Primeiro Senador Científico gaguejou,
interrompendo a ligação.

36
5.

Império-Alfa

Juki Leann estava com frio; ela congelava lamentavelmente. E ela se sentiu
fraca, tão fraca que mal conseguia abrir os olhos. Ela conseguiu, embora com grande
dificuldade.
No começo, ela apenas viu seus arredores embaçado. Ela não se surpreendeu
que ainda estivesse na cela que suspeitava estar no Império-Alfa. Mas, algo devia ter
acontecido com ela. Este frio, a fraqueza repentina... o que isso significa?
Lentamente, seu olhar clareou. No momento seguinte, ela piscou os olhos
novamente porque achou que estivesse sucumbindo a uma ilusão.
A porta da cela está aberta.
Ela não se atreveu a se mover. Isso era uma armadilha? Um engano traiçoeiro
da CESPSOL?
Discretamente, ela olhou novamente.
A porta estava aberta, claramente não trancada. O campo de repulsão
também foi extinto, como indicava um display.
Tinha que ser uma armadilha.
Provavelmente, a Defesa Solar queria descobrir como ela reagia quando se
oferecesse essa oportunidade.
Ela forçou-se a pensar com calma.
Onde Icho Tolot originalmente a trouxera? Se quisesse aproveitar a
oportunidade para escapar, ela precisava saber onde se encontrava. Esse
conhecimento melhoraria muito suas chances.
Império-Alfa, ela pensou. O gigantesco centro de controle em que todos os fios
do Império Solar convergiam. A cidade dentro de uma cidade, no meio de Terrânia.
Os negócios diários eram realizados nos edifícios acima do solo, mas a
maioria das instalações foi estabelecida abaixo da superfície. Ninguém sabia de
nada, mas relatórios de inteligência disseram que havia pelo menos doze andares
baixos. O acesso aos bunkers profundos era feito em cúpulas de aço, que foram
equipados com elevadores antigravitacionais e elevadores de funcionamento
mecânico. Também era possível entrar no Império-Alfa com transmissores.
Ela tinha que descobrir se o palpite estava correto.
Ela ficou de pé. Ela estava fraca, mas podia ficar de pé. Ela estava cética,
procurando por gravadores que estavam observando cada movimento dela, mas não
encontrou nenhum.
Ela caminhou até a grade da cela e escorregou através da porta.
Ninguém a deteve.
Estremecendo, ela bateu os braços sobre o peito. O largo macacão laranja que
lhe haviam colocado não parecia protegê-la da temperatura. Estava mais fria do que
nunca.
Toda a ala das celas foi abandonada, todas as portas das celas estavam
abertas.
Hesitantemente, ela colocou um pé na frente do outro. Depois de alguns
passos, chegou ao fim da ala. A escotilha de segurança também estava aberta, sem
vestígios de um campo repulsão ou campo energético.

37
Ela continuou. Um corredor largo estava à sua frente, as paredes metálicas
frias, iluminadas por luzes de emergência discretas, estavam embutidas
discretamente no teto em intervalos curtos. Ela foi andando a cada vez mais com
segurança; sua força voltava gradualmente, e o frio foi lentamente se esvaindo de
seu corpo.
Depois de algumas centenas de metros, ela notou uma placa de indicação na
parede.
Realmente, Juki Leann fora mantida no Império-Alfa, o lendário centro do
poder do Sistema Solar que ela conhecia apenas por boatos. Em seu tempo em
Terrânia, ela nunca havia visitado o enorme complexo no meio da cidade. Somente
internos trabalhavam aqui; como em todos os lugares em naves ou estações
espaciais, esses planos de evacuação também eram encontrados aqui.
Ela rapidamente se orientou. De acordo com a indicação, ela estava no sexto
de um total de doze andares subterrâneos. Os rumores eram verdadeiros.
Os poços antigravitacionais que levavam da superfície e aos andares
inferiores estavam marcados.
Leann encontrou seu caminho e finalmente alcançou um dos poços depois de
algum tempo. Ela calculou que havia percorrido vários quilômetros, superando
inúmeras barreiras, nenhuma das quais reagiu à sua presença.
Está ficando mais estranho — ela pensou.
Desconfiada. Ela examinou o poço. Normalmente, poços antigravitacionais
eram trancados quando falhavam. Mas, ela não quis correr nenhum risco, e
cuidadosamente colocando a mão na abertura e sentiu o leve puxão para cima.
Ela olhou em volta. Equipamentos de vigilância não eram reconhecíveis,
embora indubitavelmente existissem. E ainda pessoas não foram vistas.
O que estava se desenrolando aqui? No começo, ela assumiu que a CESPSOL
tivesse lhe preparado uma armadilha, mas ela havia desistido há muito tempo desse
pensamento. Tal cenário elaborado não seria encenado por causa de um espião
comum do Império Dabrifa. Algo devia ter acontecido aqui que ela não podia
imaginar.
Lentamente ela entrou no poço.
O que diabos está acontecendo aqui?, ela perguntou-se novamente, enquanto
subia lentamente a escada. Por que não há uma alma humana aqui?
O Império-Alfa, de acordo com relatórios de inteligência, poderia conter até
quatro milhões de pessoas em uma emergência. Era impossível que ninguém
estivesse no centro do poder do Império Solar.
Acima dela a extremidade do poço ficou à vista. Ela o deixou em uma sala
inundada por luz, ela alcançara a superfície da terra, o andar superior desse prédio,
que era apenas uma pequena parte do Império-Alfa.
Por mais inimaginável que pudesse ser, nenhum outro ser vivo ainda não
podia ser encontrado em lugar algum. Seus passos ecoaram ruidosamente na vasta
sala.
A luz agora já não era mais artificial, mas de origem natural. Ela olhou em
volta. Aparentemente, ela estava em um salão de entrada aberto ao público. O
Império-Alfa era praticamente uma cidade separada dentro e debaixo de Terrânia.
Estava dividido em duas grandes áreas, um geralmente acessível e outro setor
protegido.
Todos os cidadãos tinham acesso ao primeiro, ele era o centro de
informações do governo. Contudo, no setor protegido, só poderia entrar em pessoal

38
autorizado. Ele também estava dividido em áreas com níveis de segurança cada vez
mais restritivos.
Precauções de segurança, das quais ela também notou nenhum vestígio.
Normalmente, ele estava repleto de robôs de combate TARA II que estavam
conectados ao cérebro central do Império-Alfa e equipados com rastreadores de
vibração individuais. Se alguém quisesse entrar nos transmissores ou nos poços
antigravitacionais, com os quais poderia atingir níveis bloqueados, era preciso
completar numerosos procedimentos de identificação. As varreduras de íris, bem
como linhas de mão e reconhecimento de rosto estavam entre os mais inofensivos.
E agora não havia mais nada disso? Impossível!, pensou ela.
O que aconteceu?
Ela parou quando de repente ouviu vozes, olhou em volta freneticamente,
depois caminhou até a entrada de um pátio. Seus passos ecoaram em sua imaginação
tão alto que ela tinha certeza de que seriam descobertos. Mas nada aconteceu. Como
poderia? Ela usava mocassins leves de prisão.
Leann se empurrou contra a parede e esperou sem fôlego. As vozes
suavizaram, finalmente desaparecendo completamente. Ela não tinha entendido o
que eles estavam dizendo.
Mas, eles não a notaram!
Ela quis se afastar da parede quando viu um objeto caído no chão a dois
metros dela. Uma presilha de comunicação! Ela se abaixou e pegou a presilha. Seu
macacão não tinha bolsos. Ela abriu o velcro no peito e colocou o dispositivo no
decote.
O prédio da frente era uma das numerosas publicamente acessíveis do
Império-Alfa. Ela olhou em volta mais uma vez e caminhou até as enormes portas.
Elas estavam trancadas, não abriram automaticamente quando se
aproximava delas.
Demorou um pouco para ela encontrar uma pequena porta que
provavelmente era destinada ao pessoal. Ela identificou um botão para operação
manual e o apertou.
Leann saiu em uma paisagem semelhante a um parque no meio de Terrânia.
A poucos quilômetros de distância, viu os edifícios impressionantes no horizonte.
Ela cavou em sua memória, lembrando que o centro do poder se encontrava no
centro da cidade. Contudo, Terrânia não era apenas enorme, mas também uma
metrópole verde.
A combinação do parque da cidade e dos prédios do governo, organizada em
um círculo ao redor do parque, era um convite para dar um passeio, embora ela
raramente tivesse visto essa oportunidade durante sua longa estadia na Terra. A
Administração Solar fora o epítome da imagem do inimigo do Império Dabrifa.
Ela avistou algumas esteiras rolantes elevadas, mas todas estavam paradas.
Os pontos de parada dos canais subterrâneos pareciam completamente desertos e
tudo menos funcional. O Império-Alfa não poderia sofrer de falta de energia, era
autossuficiente pelos próprios reatores Schwarzschild.
A sede do Império Solar era fortificada, com numerosos sistemas defensivos,
incluindo fortes blindados retráteis, cujo poder de fogo correspondia ao de cerca de
duzentas naves de combate da classe Galáxia, se ela se lembrasse. Numerosos outros
sistemas defensivos, distribuídos por toda a Terra, poderiam ser controlados daqui.

39
Durante a sua preparação para a missão, o Império-Alfa não desempenhou
nenhum papel. Não estava previsto que eles fossem penetrar na Terra. Agora Leann
se arrependia dessa circunstância.
Se ela quisesse descobrir o que havia acontecido com Terrânia, ela teria que
ir para a cidade. Isso significava uma caminhada de uma hora, ou um voo curto com
um planador. Devia haver uma frota de veículos em algum lugar, ou
estacionamentos onde os funcionários do Império-Alfa poderiam estacionar seus
veículos antes do início do serviço...
Ela puxou a presilha de comunicação e a ativou. Para sua surpresa, ela
funcionou perfeitamente. Um pequeno display iluminou-se. Contudo, quase
nenhuma estação remota foi exibida como ativa na comunicação. Os habituais canais
de dados esperados estavam mortos, e apenas alguns computadores primitivos
locais e subordinados do Império-Alfa relataram prontidão de receptividade,
incluindo o do depósito de planadores.
Ela tinha que assumir um risco que ela considerava gerenciável. Porque não
apenas o Império-Alfa, até mesmo seu ambiente imediato parecia estar deserto. Algo
acontecera que mudara completamente Terrânia.
Ainda havia pessoas — elas tinham ouvido vozes — mas obviamente muito
poucas. Então, se ela solicitasse um transportador por rádio, isso seria notado
imediatamente — ou não. E ela poderia se armar contra o primeiro caso.
Se o acesso a dados via rádio ainda funciona, ela pensou.
Ela bateu nos campos de exibição, pediu um planador e determinou o local
de pouso. O servo positrônico confirmou o processo com um sinal verde brilhante.
Agora era hora de esperar. Leann procurou uma cobertura razoavelmente
segura atrás de um grupo de árvores nas proximidades de seu local de pouso
designado. Se o monitoramento positrônico do terreno ainda estivesse funcionando
e uma pessoa realmente reagisse ao processo, ela estaria perdida. Mas, ela não
assumiu isso.
E ela estava certa. Poucos minutos depois, um planador saiu de um depósito
subterrâneo próximo e se aproximou da posição designada. Delicadamente, ele se
pousou no chão.
Leann esperou um momento, mas nada aconteceu. Ninguém parecia se
importar que um táxi aéreo tivesse decolado.
Ela ficou aliviada, mas ao mesmo tempo sua preocupação cresceu. Onde
estavam todas as pessoas, por que ninguém reagiu a uma violação tão flagrante do
protocolo de segurança?
Cautelosamente ela foi para o planador, olhando em todas as direções. Ela
esperava que TARAS caísse do céu a qualquer momento, para cercá-la e paralisá-la,
mas nada disso aconteceu. Com a presilha de comunicação, ela abriu a entrada.
Ela escorregou para o assento do piloto e ativou o controle manual. Então, ela
voou de encontro a enorme metrópole, a capital da Terra e do Império Solar.

Ela mal reconheceu a megalópole.


Era um Terrânia completamente diferente do que ela lembrava. A cidade
parecia deserta e abandonada, assim como o Império-Alfa. Alguns arranha-céus
estavam danificados, alguns pareciam queimados. Lixo acumulava-se nas ruas, em

40
parte já deteriorado em adubo, em parte perfeitamente preservados, porque eram
inorgânicos.
Soou um aviso sonoro. Juki Leann estremeceu, olhando para a guarnição do
planador.
Os sistemas de localização que ela ativou relataram um aglomerado de
pessoas a alguns quilômetros à frente dela.
— Então ainda há pessoas! — ela murmurou.
Na esperança de que elas não tivessem notado o planador, ela voou mais
profundamente no desfiladeiro da rua da metrópole e pousou a dois quilômetros da
aglomeração de pessoas. Ela deixou o veículo e seguiu a pé. Em seu macacão laranja,
ela seria notada imediatamente, mas ela ainda não tinha tido a chance de mudar de
roupa.
Onde exatamente ela havia pousado? Ela não prestou atenção, ainda estava
aturdida pelas impressões que a cidade deserta lhe causara. Ela entrou
furtivamente, ficando tão perto das paredes dos arranha-céus que se empilhavam
centenas de metros ao lado dela. Finalmente, a estrada se abriu para uma grande
praça.
Ela ouviu vozes. Diante dela, acontecia uma espécie de reunião.
Se ela se aproximasse, teria que desistir de seu disfarce. Ela correu para um
grupo de árvores, aconchegou-se perto do caule quente. Só agora a percebia como
estava quente em Terrânia. Ela calculou a temperatura em mais de quarenta graus.
No começo de novembro? Ou o controle do tempo falhou, ou...
Ela olhou para frente. Cerca de cinquenta pessoas se reuniram em torno de
um pedestal no qual um homem se levantava e fazia um discurso, cujos destaques
ele enfatizava com gestos fracos.
Os ouvintes pareciam estranhos para ela, embora Leann só os visse por trás.
Suas roupas foram arrancadas, e eles ficaram em volta, pouco envolvidos, mal
conseguindo seguir o discurso, sem entender o que estava acontecendo.
Alguns deles estavam armados.
Com forcados e ancinhos!, pensou Leann, assombrada.
Apenas o orador parecia normal. Ele não era mais jovem, tinha cerca de cem
anos, usava calças antiquadas, uma camisa de linho branco e um colete vermelho
por cima.
Leann foi para o próximo grupo de árvores para entendê-lo melhor. Ela
conseguiu pegar alguns fragmentos do discurso.
— Todos vocês me conhecem — disse o palestrante. — Eu sou Harper
Buroom, um dos cinquenta primeiros oradores. Há um ano, nós levamos a Via Láctea
ao seu verdadeiro propósito! O Império Solar, mas também os outros impérios
galácticos que nos constituíam uma ameaça... o Império Dabrifa, a União Galáctica
Central e a Aliança Carsuálica... vocês sabem o que aconteceu com eles! Eles são
história!
Como se golpeada na cabeça, Juki Leann abriu os olhos. O que o homem
relatava? O que aconteceu com o Império Dabrifa?
O que está acontecendo aqui?, ela pensou desesperadamente. O que se
desempenha aqui? Onde é que eu fui parar?
Ela havia se movido para um mundo paralelo? O fenômeno que causou a
decadência de Wloto Gribsen também foi responsável por sua mudança de
ambiente?
Ou ela saltou no tempo?

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— Todos vocês me conhecem — continuou o orador. — Meus colegas e eu
somos os Homo superior, estudiosos universais da verdadeira pureza. Nós
prevalecemos. Nosso objetivo ainda é desmantelar completamente as instalações
técnicas e militares, libertar as pessoas comuns da ciência agressiva e reconciliá-las
com o solo. O homem do gênero Homo sapiens é levado de volta à agricultura
saudável.
As pessoas da Terra, pensou Leann atordoada, tornaram-se primitivas! Elas
não têm mais tecnologia e fazem agricultura e pecuária? O que está acontecendo aqui?
— Todos vocês me conhecem — vieram as próximas palavras do orador —
,e vocês não devem ter medo. Nós cuidaremos de vocês! Tirem os grilhões da sua
existência anterior! Nós, os representantes do Homo superior, só serviremos à
humanidade, e você nos seguirão! Até lá, vocês devem retornar às suas raízes!
Aproveitem a vida, façam seu trabalho com ar fresco e saudável!
Isso não existe!, pensou ela. Isso é impossível!
— Vocês todos me conhecem, e esta vigília é para comemorar o dia em que o
Sistema Solar e todos os sistemas da Via Láctea mudaram fundamentalmente. A
caminho de um futuro novo e melhor!
Um grunhido suave a fez se recompor. Ela se virou e olhou para o rosto de
um homem jovem e discreto que subitamente estava ao lado dela. Seus olhos se
encontraram e o homem parecia olhar através deles para o interior mais profundo.
Leann sentiu o desconforto mais profundo. Leann sentiu o mais profundo
desconforto. Ela teria gostado de gritar em voz alta,, mas seu treinamento como
agente da Guarda Negra a dominou. Ela se recompôs e imediatamente recuperou o
controle.
Ela colocou um sorriso, não podia dizer se tinha sido razoavelmente bom,
mas esperava que sim. Ela levantou as duas mãos para sinalizar que não queria fazer
mal ao seu oponente e deu um passo para trás.
Com isso, ela desistiu de seu disfarce.
Ao mesmo tempo, o jovem gritou em voz alta.
Leann amaldiçoou e correu. Por que ela não tinha simplesmente eliminado o
homem? Ela não olhou ao redor, mas havia outras vozes atrás dela. Não a sonoridade
do orador no pedestal, mas rouca, de alguma forma gutural e primitiva.
Os outros ouvintes a descobriram!
Ela continuou correndo, olhando por cima do ombro. O homem no pedestal
apontou para ela, e seus ouvintes a seguiram. Não propositalmente, porém eles
enxamearam e havia muitos. Eventualmente, um deles lhe cortaria o caminho, e
então estaria acabado.
Ela tomou uma decisão e se dirigiu para a rua onde havia estacionado o
planador. Ela não escaparia a pé, ela tinha que chegar ao seu veículo.
Um dos terranos, que obviamente havia caído em primitividade, apareceu
diante dela. Ela reagiu mais rápido do que ele, empurrando-o para o lado, e saiu
correndo. Ela não alcançaria seu objetivo diretamente, dois outros primitivos lhe
bloquearam o caminho.
Ela encolheu para a esquerda quando uma dor ardente em suas costas a fez
gritar. Foi tão forte que ela perdeu o equilíbrio e tropeçou.
Este momento foi suficiente para os primitivos. Um se jogou sobre ela. Ela se
esquivou, mas ele a pegou pela cintura. Seu impulso a levou ao chão. Ela se
aproximou do homem, agarrou seu pescoço, aplicou um aperto de atordoar que
aprendera durante seu treinamento, mas já havia um segundo homem com ela.

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Ela não viu o punho chegando, só sentiu a força amortecida do golpe em sua
têmpora, então tudo ficou escuro ao seu redor.

O mundo de Juki Leann era apenas dor.


Uma ardente nas costas, uma embotada no crânio.
Lentamente a memória retornou. O golpe na cabeça... e nas costas? Alguém a
golpeara com um chicote? Um chicote de couro?
Ela sentiu uma pressão no pescoço e ombros, queria alcançá-lo, mas não
conseguiu mexer as mãos. Ela estava amarrada de costas.
Ela abriu os olhos uma fresta. Indistintamente, ela viu que ela que se
encontrava em solo de argila não pavimentado. Dez metros de distância havia uma
espécie de carroça de madeira, uma carroça de mola, como uma vez tinha sido
puxada por cavalos em uma época cinzenta e arcaica.
Obviamente, eles tinham notado que ela estava novamente consciente.
Alguém a arrastou grosseiramente.
Cambaleando, ela ficou ali, tentando manter o equilíbrio.
A tentativa foi condenada ao fracasso. Ela recebeu um empurrão violento que
a enviou cambaleando para a carroça. Um homem a recebeu lá, puxou-os ao redor,
arrastou-a para o arnês peitoral da carroça.
Leann não acreditou naquilo. Eles queriam... colocá-la na frente da carroça?
Um jugo de escravo, ela pensou. Ela tinha sido colocada em um arnês e
esperavam que ela puxasse uma carroça!
Em qual trivídeo ruim ela havia pousado?
Em uma sociedade agrária, ela se deu uma resposta. Muitas dessas
comunidades foram sociedades de escravos. Sem tecnologia, a sobrevivência era
muito trabalhosa.
Se alguém quisesse levar uma vida privilegiada, os outros precisavam ser
privados dos frutos de seu trabalho. Se o “Humanista”, como o orador haviam se
chamado, não queriam trabalhar com um ancinho, outros tinham que ganhar a vida
para eles.
O homem não a pressionou ainda. Ele deixou seus olhos deslizarem
lentamente sobre o corpo dela, aparentemente pensando bastante.
Ele gosta do que vê. Leann sentiu um horror nu. Ela estava carregando um
arreio em volta do pescoço, as mãos amarradas atrás dela. O homem queria...
estuprá-la?
Deixe-o tentar, ela pensou. Graças ao treinamento, ela seria capaz de eliminá-
lo sem problemas. Um chute contra a parte certa do corpo e...
O homem sorriu largamente, agarrou seu cinto e puxou um chicote de seu
suporte.
Que lugar é esse que eu cheguei? Leann respirou fundo, esticou os músculos,
preparado para o golpe.
Abruptamente, ela sentiu novamente aquele frio estranho, que já sentira
quando desmaiara em sua cela. Ele penetrou do nada em seus ossos, e de lá encheu
seu corpo, tornando-a imóvel.
Não agora!, pensou ela. Agora não! O suor borbulhou na dela e não somente
ali. De repente, seu corpo inteiro parecia molhado. Ela se sentia incrivelmente fraca
e estava tonta.

43
Ela olhou para si mesma. Houve um lampejo no macacão laranja, um brilho
avermelhado escuro e um borbulhar. Tornou-se mais forte, depois a cor mudou para
vermelho vivo, para amarelo, para verde claro e finalmente para branco.
O que está acontecendo comigo?
Seu corpo parecia se dissolver, tornando-se transparente. Como o Wloto
Gribsen! De imediato, desmoronaria, decompondo-se em partes separadas.
Antes disso, ela perdeu a consciência.

44
6.

Império-Alfa

Darren Zitarra abriu os olhos, estava bem acordado e percebeu o que o


rodeava.
Como as lutas de rua, ele pensou. Se um adversário o mandasse para o chão,
ele não teria tempo de sacudir a cabeça e olhar em volta por alguns minutos. Ele
estaria morto em três segundos.
Porém, ele havia sobrevivido, mais do que qualquer outro. E ele sobreviveria
dessa vez também.
Por um momento, ele ainda ficou paralisado pela descrença. Ele não podia
acreditar no que viu.
Ele estava na cela onde desmaiara, mas a porta estava destrancada, aberta
com meio metro de largura. O campo de repulsão também fora extinto.
O que está acontecendo aqui?, pensou ele.
E: não importa. Não importava. Ele não sabia o que havia acontecido. Todavia,
ele tinha a oportunidade de escapar e a usaria.
Ele quis saltar e correr, mas o treinamento da Guarda Negra prevaleceu. Ele
permaneceu deitado, forçando-se a analisar sua situação.
Para onde Icho Tolot o trouxe? Provavelmente para o Império-Alfa, no centro
de controle do poder do Império Solar. Isso reduzia suas chances
consideravelmente. Até onde ele sabia, ninguém jamais conseguiu escapar de lá.
Talvez ele simplesmente não conhecesse ninguém que tivesse tentado.
Ainda assim, algo estava errado aqui. Um prisioneiro no Império-Alfa, em
uma cela cuja porta estava aberta?
Ele se levantou e balançou brevemente. Ele ainda estava fraco, mas podia
ficar de pé.
Ele esperou que algo acontecesse, o alarme soasse e os robôs Taras
chegassem.
Nada. Nem um único terrano parecia interessado que ele estivesse em uma
cela no Império-Império.
Ele foi até a porta da cela aberta, saiu e olhou ao redor no corredor. Sem
dúvida, havia dispositivos de vigilância, mas ele não conseguiu encontrá-los.
Toda a situação parecia absurda para ele. Isso também era verdade para o
frio estranho que ele ainda sentia, que penetrava em seus ossos e se espalhava de lá
para seu corpo.
Isso era uma consequência da droga da verdade dada a ele? Não havia outra
explicação.
Ele olhou em volta e ficou surpreso que nenhum alarme tivesse. A ala estava
bem ocupada, a maioria das celas estavam ocupadas. Humanos homens e mulheres
olhavam para ele suplicantes, falavam com ele, mas ele não os entendia. Os campos
de repulsão protegiam os compartimentos dos prisioneiros além das grades e
impediam que ele se comunicasse com os internos.
Ele parou por um momento, pensando no que tudo isso significava, mas não
chegou a nenhuma conclusão. Além disso, a hesitação nunca foi uma coisa dele. Se a

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CESPSOL quisesse lhe preparar uma armadilha, que fosse assim. Os demônios nos
salões de Terrânia podiam fazer qualquer coisa e ele não tinha nada a perder.
É hora de tomar o poder deles! Talvez o ataque da Coalizão Antiterrana já
tivesse ocorrido. Talvez seja por isso que tudo no Império-Alfa estivesse fora do
costumeiro. Ele não tinha outra explicação.
Como poderia ser que uma porta da cela estivesse subitamente aberta no
centro de comutação do Império Solar e os campos de repulsão fossem desligados?
Ele seguiu em frente, deixando a ala das celas, pensando na maneira mais
rápida de descobrir se estava na Império-Alfa e como poderia escapar.
Um homem veio na direção dele, usando o uniforme verde-limão da frota
solar. O soldado olhou Zitarra com ceticismo aberto.
Naturalmente, pensou Zitarra. Eu ainda uso um macacão de prisioneiro!
Ele sorriu, desarmado, como ele esperava. — É apenas um teste — disse ele.
— Nada para se preocupar — Ele continuou, sentindo o olhar do soldado em suas
costas. Obviamente. ele não conseguiu dissipar a preocupação do homem.
Para onde agora? Como ele queria fugir do Império-Alfa? Como ele poderia
superar as inúmeras barreiras que impediam que pessoas não autorizadas
entrassem ou saíssem dessa área? Ele não tinha ideia de como fazer isso, apenas
saiu.
Apesar do frio, que não queria deixar seu corpo, ele estava suando mais e
mais. Algo estava errado com ele. Ele não estava fisicamente no auge, a marcha
através dos corredores o forçava muito mais do que deveria ser. Ele teria adorado
desistir, para enfrentar o próximo terrano que ele encontrasse. Todavia, isso estava
fora de questão. Não para Darren Zitarra, o lutador de rua de Regenz, o Guardião
Negro. Ele só sobrevivera porque levantara repetidamente, e nunca desistira.
Ele teve que conseguir roupas e se livrar do macacão laranja. Esse foi o
primeiro passo. Ele deveria ter feito isso quando se encontrou com o membro da
Frota. Isso teria lhe poupado muitas dificuldades, mas ele ainda estava fraco demais.
Naquele momento, ele ouviu o som.
Ele parou, endureceu.
Foi um gemido tenso e cansado de duas vozes, seguido de um grito alto. Se
Zitarra não estivesse completamente enganado, era barulho luta que ele ouvia.
Sons de luta? No meio do Império-Alfa?
Não faça isso!, pensou ele. Use sua oportunidade inesperada e saia daqui!
Ele sorriu, continuou, para a fonte dos sons. Ele sorriu, caminhou para a fonte
dos sons. Na curva seguinte, ele parou e espiou pela esquina.
Ele não estava errado. Imediatamente diante dele ocorria uma briga
barulhenta. Dois homens lutavam um com o outro. Ele não conseguia ver nenhum
deles claramente. Seus rostos pareciam de alguma forma... confusos, irreais, como
se fossem apenas máscaras humanas as quais algo completamente diferente sob
elas.
Máscaras que acabaram de desmoronar.
Zitarra deu um passo à frente. Um homem parecia querer estrangular o outro.
Apertava-o contra a parede com a massa do corpo, as duas mãos ao redor do pescoço
do oponente. E depois...
O Guarda Negro abriu os olhos.
A aparência do oprimido começou a mudar, obscurecendo sob o olhar de
Zitarra, parecendo assumir uma forma diferente. Um ertrusiano? Um oxtornense?
Em qualquer caso, um adaptado ao ambiente com força física superior. Zitarra não

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conseguia distinguir a estatura exata, ela permaneceu estranhamente borrada,
mudando de um segundo para o outro.
E justamente o perdedor repeliu seu atacante. Sua forma agora mudou
também, mais uma vez assumindo traços inequivocamente humanos.
Zitarra cambaleou para trás. O que ele acabara de ver? Seres que poderiam
mudar de forma, no Império Alpha? Ou... ele imaginou tudo isso? Ele estava sofrendo
de delírios? Isso era um efeito da droga que havia sido injetada?
Uma sirene de alarme soou através do corredor. Obviamente, a ala das celas
estava sendo monitorado e a sua fuga havia sido descoberta!
Mas..., a fuga de Zitarra provocou o alarme ou a briga que ele acabara de
assistir?
O homem que quase estrangulou o outro, olhou para cima, viu o rosto de
Zitarra. Contudo, Zitarra não pôde ver claramente suas características. A fisionomia
do estranho, de alguma forma estava... inacabada, como uma máscara da qual um
louco queria criar quimeras semelhantes a humanos.
Passos soaram, aproximou-se rapidamente. Uma batida pesada e maciça de
homens em botas de combate.
As duas figuras, que tinham acabado de lutar uma luta de vida ou morte,
deram a volta, fugindo, afastando-se dos sons cada vez mais altos.

Zitarra se sacudiu, lutou contra o frio que ameaçava paralisá-lo, começou a se


mover e também correu.
Tarde demais. — Tem alguém! — Veio um grito atrás dele. Os passos
tornaram-se mais rápidos e mais altos.
Zitarra correu. Soou um zumbido baixo, ele se atirou de lado.
Eles atiraram nele! Aparentemente, apenas com um paralisador — qualquer
outra coisa teria sido uma loucura nos estreitos corredores do Império-Alfa.
Ele passou correndo por uma placa na parede, casualmente pegou seu
conteúdo. Era um guia, uma placa indicativa para o pessoal. Se ele teve alguma
dúvida, agora ela foi dissipada. Ele estava realmente no Império-Alfa.
À sua frente, ele viu um enorme poço antigravitacional que poderia ser usado
para mudar de andar. Ele parou e se jogou para trás quando homens uniformizados
apareceram no poço, com armas nas mãos, apontando-as para ele.
Ele caminhou em direção a um corredor lateral, passando por inúmeras
portas que provavelmente levavam a escritórios. Todas estavam fechadas e ele nem
sequer tentou abrir uma, porque seus perseguidores estavam muito perto de seus
calcanhares.
Sua esperança diminuiu. Era impossível, ele não podia escapar desta ala do
centro de controle do poder.
— Fique parado! — ele ouviu alguns metros atrás dele. — Pare, ou vamos
atirar!
A ameaça foi seguida por um clique suave. Seus captores destravaram as
armas.
Típico dos terranos, ele pensou.
De repente, o frio voltou, envolvendo-o, penetrando seu corpo mais do que
nunca. Véus negros se estabeleceram diante de seus olhos.
Ele cambaleou e desmoronou.
Então, ele perdeu a consciência.

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7.

Império-Alfa

30 de outubro de 3.430

— Continuamos a busca, senhor — relatou Alasca Saedelaere. — Mas, não


encontramos nenhum vestígio dos dois guardas dabrifanos.
— Obrigado — disse Perry Rhodan.
Discretamente, o Administrador-Geral olhou para o homem com a máscara.
De alguma forma, o agente esquelético da CESPSOL o fascinava, e ele se informou
detalhadamente sobre Saedelaere. Takayo Sukurai compilou e preparou os dados de
várias positrônicas para ele.
Saedelaere era considerado um sujeito difícil, solitário e casual — ou o
destino? — teve uma influência decisiva em sua vida. Tudo começou com o seu
nascimento. Ele nasceu em 3.400, exatamente à meia-noite entre os dias 2 e 3 de
dezembro, de modo que diferentes fontes deram diferentes datas de nascimento.
Seu pai Tresham tinha sido um agente da Defesa Solar. A vida familiar com a esposa
Felissia e o filho pequeno servira apenas como uma existência camuflada. Talvez
essa infeliz infância também tenha influenciado o caráter solitário de Saedelaere.
Saedelaere havia iniciado sua carreira como técnico simples e permanecera
imperceptível nos primeiros anos de sua vida. Porém, quando ele usou uma ligação
transmissora entre os planetas de Bontong e Peruwall em 3.428, esse transporte não
ocorreu em tempo zero, mas durou quatro horas.
Quando ele finalmente se materializou na outra estação, ele foi
involuntariamente responsável pela morte de várias pessoas. Ele deixou o
transmissor com uma Coisa desconhecida no rosto, uma massa colorida reluzente.
Todos os mortais normais, que vissem Saedelaere de agora em diante,
perderiam a cabeça e inevitavelmente morreriam pouco depois. Portanto, desde
aquele evento, o lesado por transmissor usava essa feia máscara de plástico.
Máscaras vivas ou outros materiais orgânicos foram repelidos pela Coisa em seu
rosto, de modo que Saedelaere teve que viver com essa imperfeição claramente
visível. Ele sempre fora solitário, e desta forma a vida na sociedade tornou-se ainda
mais difícil para ele.
O acidente do transmissor teve sérios efeitos psicológicos em seu
desenvolvimento, que, no entanto, como Sukurai havia explicado ao Administrador
Geral, estavam sujeitos a sigilo médico e nem sequer eram observáveis com seus
amplos poderes.
Após seu acidente, Galbraith Deighton tomou conhecimento de Saedelaere e
o contratou para a Defesa Solar. Aqueles que, como Sukurai, conseguiram ler nas
entrelinhas, perceberam que esse recrutamento não havia ocorrido sem problemas.
O colega de Rhodan não havia descoberto mais. O colega de trabalho de Rhodan não
descobriu nada mais específico. A CESPSOL sabia como guardar seus segredos.
No entanto, o ex-técnico havia se encaixado bem e ganhou a reputação de ser
um dos melhores lógicos do Império Solar em pouco tempo.
Rhodan tomou a decisão de ficar de olho no jovem e em sua futura carreira.
Alasca Saedelaere olhou para ele com expectativa. — Mais ordens, senhor?

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Antes que Rhodan pudesse responder, a porta se abriu e Galbraith Deighton
invadiu a sala. — Eles voltaram, senhor! — Anunciou o companheiro longa data de
Perry Rhodan.
Saedelaere olhou interrogativamente para o chefe superior.
— Os agentes dabrifanos que escaparam!— explicou o Mecânico Emocional.
— Eles reapareceram em suas celas como se nunca tivessem saído!

Perry Rhodan chegou a ala depois que os agentes da CESPSOL tinham


assegurados as celas. Em cada caso, dois membros da Defesa Solar, em trajes de
combate, dirigiam suas armas contra os dois guardas dabrifanos, enquanto outros
dois se aproximaram deles e os examinaram superficialmente.
Rhodan viu à primeira vista que isso era supérfluo.
Tanto Juki Leann quanto Darren Zitarra estavam inconscientes.
Especialmente a espiã parecia maltratada. Ela ainda estava vestindo o macacão de
prisioneiro, mas ele estava rasgado em pedaços em seu torso. Suas costas tinham
vergões ensanguentados.
O Administrador-Geral estreitou os olhos. Aquilo parecia...
— Açoites?— Takayo Sukurai disse ao lado dele. — Ela foi torturada? — ela
olhou ao redor com a maior tensão.
Galbraith Deighton encolheu os ombros. — Leve-a imediatamente para a cela
de alta segurança preparada! — ele ordenou ao seu pessoal. Ele olhou para Rhodan.
— Eu construí celas, que são adicionalmente protegidas por campos de repulsão
intercalados e campos SAE. Eu não quero correr nenhum risco, e impedir que eles
desapareçam novamente.
O guarda, ajoelhado no chão ao lado de Leann, olhou para cima. — Ela está
fisicamente maltratada, senhor — disse ele. — Ela precisa de atendimento imediato.
O chefe da CESPSOL hesitou. Obviamente, ele pesava as preocupações de
segurança a despeito do aspecto humanitário.
Rhodan assentiu. — Cuide dela primeiro — disse ele. — O Império-Alfa
possui clínicas de última geração. Uma delas certamente atenderá aos seus
requisitos de segurança, Marechal Solar.
Deighton franziu a testa, mas aceitou a decisão do Administrador-Geral e
acenou para o seu pessoal.
Zitarra gemeu baixinho. Ele estava muito melhor que seu colega. Ele parecia
estar fisicamente ileso e acordou de seu desmaio.
Rhodan observou-o de perto. Zitarra contraiu os músculos como se fosse
saltar e atacar os agentes da CESPSOL. Então, ele viu as bocas das armas apontadas
para ele, e ele relaxou novamente, então ficou lá por um momento, olhando para a
esquerda e para a direita.
Ele viu sua colega, suas costas feridas, o macacão esfarrapado. Rhodan olhou
o espião dabrifano no olho e encontrou apenas ódio selvagem em seu olhar.
Zitarra provavelmente supunha que os odiados terranos haviam feito isso
com ela.
Porém, ele não resistiu quando os dois agentes do CESPSOL o puxaram e o
levaram embora.
Rhodan não se enganava. Darren Zitarra era um lutador que mal se mantinha
sob controle. O Administrador-Geral não duvidava que o agente Dabrifa tivesse

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praticamente todos os truques sujos dos livros didáticos, e mais alguns que os livros
didáticos não contavam por um motivo.

— Eles devem ter estado em algum lugar — disse Perry Rhodan.


Eles haviam retornado à grande sala de conferências, que também fornecia
espaço para Icho Tolot. Gucky se teleportou para o ombro do halutense e
entronizou-se acima de todos eles.
O anão sentado sobre os ombros do gigante, pensou o Administrador-Geral
divertido.
O marechal solar Galbraith Deighton, seu adjunto Tezen Sadinoha e o agente
Alaska Saedelaere pareciam bastante perdidos. Takayo Sukurai sentou-se um pouco
afastada dos outros e até então permaneceu em silêncio.
— Eu não consigo ler os pensamentos dela — disse Gucky. — Eu posso
percebê-los, sim, mas nada mais. Eu recebo algumas impressões borradas, eu sei que
eles estão lá, mas é sobre isso. — O ilt olhou pensativamente para baixo de seu
assento elevado.
— Ela é mentalmente estabilizada? — perguntou Takayo Sukurai.
— Isso é diferente — insistiu o Rato-Castor.
— De qualquer forma, alguém simplesmente não desaparece de sua cela e,
em seguida, retorna tão surpreendentemente com um jugo escravo de madeira em
torno de seu pescoço e chicotadas em suas costas novamente. Isso não foi uma
tentativa de fuga — Rhodan olhou para Deighton. — É por isso que cancelei seu
pedido para colocar os dois em células especialmente protegidas. Isso não foi um
capricho da minha parte.
— Eu entendo — disse o Marechal Solar em breve.
— Você está certo, senhor — interrompeu Saedelaere. — Eu também
presumo que isso não seja uma tentativa de fuga. Caso contrário, os dois guardas
negros não teriam retornado ao ponto de partida. Eles não fizeram essa... viagem
voluntariamente. Pelo menos Juki Leann está em perigo agudo.
— Eles já estão aptos para o interrogatório?
— Nós estamos trabalhando nisso — respondeu Sadinoha. — A condição
deles é estável. Nós temos a intenção de submetê-los a interrogatórios em breve.
Rhodan ficou pensativo. — Mas desta vez, não com soro da verdade — ele
ordenou. — Nós devemos tentar ganhar a confiança dos espiões. Caso o incidente se
repita, sua vida está em perigo agudo. Esse é um ponto de partida. Nós temos que
descobrir o que aconteceu com eles. Caso contrário, isso poderia comprometer todo
o Caso Laurin.
— E nós queremos evitar isso, não é? — disse uma voz à porta. — Que o Caso
Laurin está voando em torno de nossos ouvidos. É por isso que estou aqui. Senhores,
acho que você estava me esperando.

Perry Rhodan olhou para a entrada. Ele havia lido sobre Renier Bievre, mas
o estudo dos arquivos não o preparara para a realidade.
Se seu genro Geoffry era considerado um excêntrico, isso se aplicava muito
mais a ele do que o seu “padrinho” em termos de hiperfísica. Se seu genro Geoffry era

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considerado um excêntrico, isso era ainda mais verdadeiro para seu "padrinho" na
hiperfísica. O terrano que entrou na sala tinha cerca de quarenta anos de idade.
Carregava uma barriga enorme a sua frente, parecendo muito acima do peso para
Rhodan. Ele havia amarrado o cabelo loiro escuro em uma trança, uma barba
desgrenhada da mesma cor adornava seu rosto. Os pequenos óculos redondos e sem
aro que ele usava pareciam completamente anacrônicos.
Bievre olhou brevemente para a rodada ilustre, depois pegou um maço azul
e branco de cigarros do bolso do casaco e acendeu um cigarro. Ele ignorou o olhar
ligeiramente desaprovador de Rhodan.
Bievre foi até uma poltrona perto de uma mesa com um cinzeiro e caiu nela.
— O que posso fazer por você, senhor?
— O professor Waringer lhe passou o quadro geral? — perguntou Rhodan.
— Claro. Isso economiza tempo valioso. Eu notei uma inconsistência nos
arquivos. O império Dabrifa não possui tecnologia paratron e, portanto, não possui
reatores Schwarzschild, apenas reatores de fusão de catálise de deutério. Portanto,
a flutuação de campo, que provavelmente matou o terceiro membro da tripulação
da WOOGAN-237, é bastante inexplicável para mim.
— Flutuação de campo? — Tezen Sadinoha pareceu confuso com Bievre.
— Eu tomei a liberdade de começar o trabalho enquanto ainda viajava —
explicou o professor. — Todo o resto teria sido uma perda de tempo, e o tempo
parece ser crucial aqui.
— Tecnologia roubada — ponderou Rhodan. — O Império Dabrifa preparou
meticulosamente o ataque ao Sistema Solar. Nos últimos anos, espaçonaves do
Império Solar desapareceram repetidamente. Agora, nós sabemos onde pelo menos
alguns delas foram parar.
Bievre apagou o cigarro e acendeu imediatamente o seguinte. — O Império
Dabrifa teve um bom professor. Nossos ancestrais não fizeram isso de maneira
diferente, começando com a aquisição da tecnologia arcônida que um certo piloto
de risco acidentalmente encontrou na lua.
Rhodan ignorou a alusão sobre ele. — Como vamos proceder, professor
Bievre?
— Eu tenho que examinar os dois prisioneiros. De forma abrangente. Você
recebeu minha lista de requisitos para os instrumentos apropriados?
— Sim. Nós preparamos tudo. O equipamento está localizado em um a sala
entre os dois quartos de hospitais fortemente protegidos onde os espiões dabrifanos
se encontram. Eu espero que atenda às suas expectativas.
— Não necessariamente, mas deve ter o suficiente, certo?
O Administrador-Geral achava revigorante o estilo direto de Bievre, por mais
grosseiro que fosse. Finalmente havia alguém para encontrá-lo não apenas com
admiração e respeito pelo passado.
— Eu observarei sua análise — ele respondeu tão diretamente —, enquanto
Galbraith Deighton e Alasca Saedelaere interrogam os dois presos novamente.
Talvez dessa conversa... resulte novas descobertas que sejam interessantes para
você.
O professor olhou para Rhodan diretamente nos olhos. — Você realmente
acha que entende o que eu estou fazendo... senhor?
Deighton ofegou, e Saedelaere deu a impressão de que ele preferiria ter
afundado no chão.

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Contudo, Takayo Sukurai deu a Bievre um sorriso radiante. — Se necessário,
pedirei que você explique ao Administrador-Geral... senhor. Acredite em mim, eu
entendo.

Perry Rhodan nem mesmo tentou que Bievre lhe explicasse o significado e o
propósito dos instrumentos fornecidos pelos agentes do CESPSOL na pequena sala.
Além disso, o Doctor scientiae hyperphysicorum não teria se incomodado de
qualquer maneira. Ele trabalhava com um rosto sombrio, concentrando-se
totalmente na tarefa.
Um Bievre não barbeado, pensou o Administrador Geral, na parte da manhã
poderia realmente ter semelhança com o animal de uma forma a partir do qual o seu
nome foi derivado.
Rhodan se perguntou por que os cientistas, cujo gênio estava perto da
loucura, muitas vezes tinham que ser pessoas tão incomuns.
Renier Bievre era um talentoso hiperfísico especializado em cálculo de
hiperestrutura e, portanto, especialista em física hexadimensional e transformação
estrutural, no entanto já sua biografia era incomum. Ele nasceu na metrópole de
Grande-Koblenz em 4 de junho de 3.391, em uma cidade chamada Andernach, tinha
passado a educação escolar habitual, ingressou no serviço militar com a idade de 21
anos e ascendeu ao posto mais baixo de oficial, havia renunciado ao cargo. com 24
anos e começou a estudar em Terrânia.
De alguma forma, Geoffrey o genro de Rhodan, o Primeiro Senador Científico
do Império Solar, tinha reconhecido talento de Bievre e fez dele um membro de sua
equipe. Até que ponto Bievre já havia se formado antes não poderia ser extraído dos
bancos de dados e não estava claro. Em todo caso, ele era chamado de professor.
Pouco tempo depois, Bievre tinha publicado seus primeiros tratados científicos.
Quando solicitado para projetos complicados especiais para a Frota Solar, seu
treinamento básico anterior deu-lhe o posto de capitão no serviço militar, e,
portanto, tinha autoridade sobre as patentes subordinadas. Se ele se dava bem com
eles era outra questão.
Ele era considerado impetuoso e teimoso e dificilmente tinha contatos
sociais. Mas distinguiu-se pelo conhecimento profundo não somente em seu campo
especial — ele se considerava um Nexialista e se esforçava para acumular um
conhecimento abrangente de todos os tópicos concebíveis.
Bievre levantou os olhos do equipamento. — Os ajustes estão feitos —,
anunciou ele. — A CESPSOL fez um ótimo trabalho. Não é perfeito, mas pelo menos
ela não estragou nada.
— Eu fico feliz em ouvir isso — disse Rhodan. — É bom que ela ainda possa
ser usada para serviços menores.
O professor olhou para ele com ceticismo. — Bem intencionado é, por vezes,
o oposto de bem feito. Mas, você podem começar!
Rhodan assentiu e apertou o botão do intercomunicador. — Senhores, vocês
podem começar agora!

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O Administrador-Geral observou enquanto Deighton e Saedelaere faziam os
arranjos finais. Eles pareciam tensos; Parecia haver alguma tensão entre eles.
Contudo, o jovem e magro agente da CESPSOL comportava-se bem, embora
mantivesse uma distância, porém, respeitosa do Marechal Solar.
Perry Rhodan sorriu fracamente. Nem sempre era fácil com o Mecânico
Emocional. Deighton era objetivo, preciso e conhecido por ser capaz de se adaptar a
novas situações e tomar decisões qualificadas no menor tempo possível. Além disso,
o chefe da CESPSOL era considerado um gênio criminal e de técnica de defesa. Ele
era mentalmente estabilizado e dominava inúmeras técnicas de combate Dagor, que
ele regularmente treinava com Reginald Bull.
Porém, o homem alto e delgado com o cabelo escuro parecia incrivelmente distante
de seus subordinados e colegas. Eles simplesmente não se aqueciam com ele. Talvez as
dificuldades entre Deighton e Saedelaere tivessem se originado disso.
Rhodan decidiu acompanhar de perto o interrogatório conduzido pelo
Marechal solar com a agente dabrifana. Se Deighton usasse sua parahabilidade
sensatamente, ele obteria resultados.
O Administrador-Geral ativou a tela 3-D na hora certa para ver Galbraith
Deighton entrar no quarto de hospital de Juki Leann.

Quando Perry Rhodan pôde observar a agente em seu leito hospitalar pela
primeira vez, foi como se escamas lhe caíssem dos olhos. Ele a conhecia, e se
encontrara com ela antes. Até agora, ele não associara o nome Leann com um rosto,
mesmo em sua cela, quando ela apareceu de novo do nada. Ali ele havia prestado
especial atenção ao jugo de escravo e aos ferimentos dela, mas mal notou seu rosto.
Mas, ele lidaria com isso mais tarde.
Deighton sentou-se ao lado da do leito médico. Juki Leann estava acordada,
observando-o atentamente e desconfiada ao mesmo tempo.
O Mecânico Emocional parecia brincar com a idéia de colocar uma mão no
braço dela, mas depois renunciou a esse gesto muito íntimo demais para ele. —
Quem fez isso com você? — ele perguntou em seu lugar.
Leann bufou. — Quem fez isso comigo? Você!
Deighton olhou para ela inexpressivamente. — Eu?
— Não você pessoalmente, Marechal Solar — Quando o Mecânico Emocional
franziu a testa, Leann soltou um suspiro pesado novamente. — Sim, eu sei quem
você é. Seus terranos fizeram isso comigo!
— Como assim?
Rhodan quase podia sentir Deighton usar sua parahabilidade. Ele
influenciava a espiã dabrifana a abandonar sua postura defensiva, a reagir mais
objetivamente, não mais cheia de agressão. Uma vez que ele desse o impulso, Juki
Leann literalmente borbulharia para fora.
Sua história parecia confusa e incoerente para Rhodan. Um Império-Alfa
vazio sem pessoas? Uma terra despovoada, na qual algumas pessoas normais
queriam levar numerosos primitivos de volta ao solo, a uma vida sem tecnologia?
Então, Rhodan percebeu o que estava impulsionado a verbosidade dela. O
Império Solar havia caído? E os outros impérios galácticos, o Império Dabrifa, a
União Galáctica Central e a Liga Carsuálica...?

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Isso tinha que estar muito perto da espiã dabrifana. Normalmente, os agentes
da Guarda Negra não revelavam nada, mas o fato de que a sua pátria havia se
tornado história, claramente a havia afetado.
O que isso significava afinal? O que tinha acontecido?
Rhodan podia imaginar que mais de um mundo desabasse para ela.
Onde ela esteve?, pensou Rhodan. Ela foi levada a um mundo paralelo? Suas
supostas experiências eram tão confusas que ele não conseguia entender. Esses
eventos não eram nada mais do que alucinações?
Mas, isso não explica por que ela desapareceu de sua cela e voltou tão
maltratada.
Finalmente, Galbraith Deighton evidentemente se convenceu de que
descobrira tudo o que Juki Leann lhe diria e terminou o interrogatório controlado
parapsiquicamente.

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8.

Império-Alfa

30 de outubro de 3.430

— Bem — disse Perry Rhodan —, o que você descobriu, professor?


Renier Bievre não respondeu imediatamente. Ele tinha um pequeno lanche e
estava ocupado em dar cabo dele. Ele não gostou do prato de churrasco ao estilo
grego, lutava contra ele, enfiava garfo na boca e o erradicou mecanicamente mordida
após mordida, sem parar uma vez.
— Eu posso pegar outro prato para você? — perguntou Takayo Sukurai
presunçosamente. — Qualquer um que trabalhe duro deve comer razoavelmente. —
A mulher esbelta deixou o olhar deslizar significativamente sobre o corpo do
professor.
— Não — O professor limpou o molho de churrasco da barba com as costas
da mão e acendeu um cigarro. Ele o sugou com prazer. — Mais tarde, talvez. Agora,
eu estou cheio. Então, ele se inclinou para trás e olhou para os presente um por um.
— Eu descobri que os corpos dos dois espiões dabrifanos emitem um tipo até então
desconhecido de impulsos sextadim e já há uma teoria inicial sobre as causas e as
consequências.
Tenso, Rhodan se inclinou para frente. Enquanto o cientista fornecesse
resultados, ele estava pronto para tolerar suas... peculiaridades. — Eu estou
ouvindo.
Bievre olhou para Rhodan. — Você proclamou o Caso Laurin hoje — ele
começou. — Você ativou o campo de alternância antitemporal e colocou o Sistema
Solar cinco minutos no futuro. O professor Waringer ainda está ocupado com os
ajustes precisos.
Rhodan assentiu. — Para retirar nossa pátria do ataque da coalizão
antiterrana. O que você está procurando?
— É possível — refletiu Alasca Saedelaere —, que a pequena espaçonave dos
dois agentes dabrifanos, que se infiltrou furtivamente no Sistema Solar hoje, viesse
exatamente no momento da ativação na formação do campo temporal?
— É possível, jovem rapaz? — Bievre se revoltou. — Isso não é apenas
possível, são os fatos! Icho Tolot gentilmente me permitiu acessar seus dados. Eu
tracei a trajetória e a posição da WOOGAN-237. Eu não especulei, Sr. Saedelaere, mas
a calculei! Porém, eu acho agradável que se possa entender esse processo pelo
pensamento lógico, mesmo sem a subestrutura científica.
— Então você quer dizer... — Rhodan fez uma pausa, tentando não olhar para
o rato-castor, com a boca bem aberta.
— As forças temporais que surgiram na construção do campo AAT foram
mais concentradas lá. Elas danificaram severamente a espaçonave dabrifana e
inundaram os dois Guardas Negros com impulsos sextadim. Aparentemente, uma
interação multidimensional nos corpos dos agentes induziu as partes médias
secundárias de modo que elas, por sua vez, geram impulsos sextadim. Como
resultado, sua posição temporal está sujeita a deslocamentos esporádicos. O terceiro
membro da tripulação foi, naturalmente, afetado da mesma forma, mas

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provavelmente mais intensamente. Isso levou à sua morte prematura, e como eu
vejo o assunto, Juki Leann e Darren Zitarra logo o seguirão. A exposição à radiação
provavelmente levará a sua morte mais cedo ou mais tarde.

— Deixe-me ver se entendi — disse Perry Rhodan. — Você acha que os dois
espiões dabrifanos desapareceram de suas celas porque saltaram através do tempo?
— Em termos leigos está correto. Eu estou falando de uma forte radiação
sextadim. Se você relacionar isso com a constante sextadim e a constante temporal...
— Bievre foi até um terminal positrônico na parede, ativou-o e chamou arquivos.
Enquanto corria os dedos através das telas, ele continuou. — A sexta dimensão é
geralmente apenas uma ajuda para transportes particularmente complicados,
viagem temporal ou viagens particularmente rápidas e também muito longas
através do espaço. Isso refere-se não apenas ao hiperespaço de baixa frequência, ou
seja, o pentadimensional, mas também ao hiperespaço de frequência elevada,
hexadimensional e além. A hiperfísica virtual agora diz...
Rhodan não pôde mais seguir as explicações do cientista. Rhodan não pôde
mais seguir a explicação do cientista. Porém, ele estremeceu ao ver os esboços de
campo das hiperforças que Bievre estava criando. Ele podia lê-las, mas nada mais,
mesmo que os detalhes tivessem uma nova nitidez, um novo significado.
Gucky se teleportou de seu assento no ombro do halutense, materializando-
se diretamente na frente de Bievre, a um metro de altura acima do solo, mantendo
sua posição flutuando telecineticamente.
— Para tornar isso compreensível — disse ele. — Com esta radiação
sextadim, você quer dizer partículas temporais?
O professor deu um olhar indignado ao rato-castor. — Partículas temporais
pressupõem uma natureza de partícula do tempo — ele respondeu. — Esse não é o
caso. Pelo contrário, o tempo não é uma constante física, mas, de acordo com Albert
Einstein, uma função de energia e massa e, portanto, variável. Veja os buracos negros
e a velocidade da luz...
Rhodan revirou os olhos. Bievre não tinha medo de mexer com Gucky?
— A menor unidade de tempo é o período de Planck. 5,391 vezes 10 a menos
44 segundos. A partir daqui, a intemporalidade começa. Assim: nenhum traço de
partículas! Eu suspeito que os dois agentes foram saturados com uma radiação
sextadim intermitente de polaridade oposta, que eles estão agora irradiando, com o
pico de amplitude de emissões constantemente aumentando. Nos máximos, eles
desaparecem do tempo real e penetram imagens espelhadas do passado e do futuro.
Se eles morrem disso, continua a ser investigado – afinal, o fenômeno é
relativamente constante...
Gucky levantou um dedo indicador. — O professor Ernest Rutherford,
ganhador do Prêmio Nobel, já sabia no início do século XX, que as partículas
subatômicas também podem ser descritas como ondas – ou ao contrário. Então o
que significa chamar a ocorrência instantânea, espontânea de energias
hiperdimensionais com efeito temporal como partículas temporais?
Bievre olhou incrédulo para o rato-castor.
— Os experimentos básicos do dualismo onda-partícula — ele respondeu
depois de um tempo —, ocorreu nos anos vinte do século XX. Rutherford fez seu
trabalho importante cerca de vinte anos antes. Se você quiser colocar esses nomes

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em jogo, procure por um colega oficial, em seguida, Louis-Victor Pierre Raymond de
Broglie, que recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1929 por sua descoberta da
natureza ondulatória do elétron em sua dissertação: Recherches sur la théorie de
quanta e a teoria resultante de ondas de matéria.
O ilt mostrou o dente roedor. — Então, grande mestre — ele continuou —
,todo mundo sabe sobre as partículas temporais. Por uma questão de simplicidade,
digamos que as partículas temporais estão envolvidas.
Bievre quis protestar, mas Rhodan levantou a mão. — Isso é o suficiente.
Pode deixar, professor — disse ele com um sorriso.
Um trovão ecoou através da sala de conferências. Icho Tolot pigarreou. — O
professor Bievre está certo, meus pequenos — ele confirmou. — Quando eu
encontrei os espiões, eu tive algo apropriado. Graças ao meu cérebro planejador,
posso me lembrar exatamente do curso da espaçonave destruída. O destino da
WOOGAN-237 eram as luas de Saturno, mas a nave espiã foi na verdade capturada
pelo campo AAT resultante. Os cálculos do professor são exatamente os mesmos que
os meus.
— Uma incrível coincidência — Rhodan respondeu.
— Com a multiplicidade de atividades da coalizão antiterrana, tal evento é
bastante provável — assegurou Bievre. — Pelo menos, está dentro da tolerância do
possível.
— Você falou sobre isso — disse Rhodan —, que os dois prisioneiros estão
espelhando o passado e o futuro. Como você chegou nisso?
Bievre mostrou um sorriso superior. — Eu responderei sua pergunta logo,
senhor. Mas, antes disso... eu gostaria de reexaminar os dois prisioneiros e comparar
os resultados com os da primeira pesquisa imediatamente após sua admissão na
Império-Alfa e a minha. Agora, nós sabemos o que precisamos procurar.
— Por uma concentração de partículas temporais?
Bievre parecia azedo. — Exatamente. Você acha que um dos presentes é
capaz de pressionar botões diferentes três vezes na ordem correta?
Os olhos de Rhodan se arregalaram. Isso foi realmente um pouco longe
demais.
Tezen Sadinoha, representante de Galbraith Deighton, levantou-se. — Eu
acho que posso fazer isso, professor Bievre.
O cientista escreveu alguns números em um pedaço de papel. Sadinoha pegou
e saiu da sala.
— Passado e futuro — disse Rhodan. — Você também desenvolveu uma
teoria para isso?
Bievre sentou-se novamente e acendeu um cigarro. — A natureza está
tentando equilibrar isso — explicou ele. — Se os dois prisioneiros realmente
saltarem erraticamente através do tempo, um deles provavelmente será dilacerado
no futuro e o outro no passado.
Rhodan pensou por um momento. — Mas, isso significa...
— Sim — disse o professor. — Isso é exatamente o que isso significa.

Tezen Sadinoha apertou os botões exatamente como foi instruída melhor e


viu os instrumentos solicitados pelo professor Bievre retomarem seu trabalho.

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Sadinoha não precisou esperar pelos resultados. Ele sabia o que as pesquisas
revelariam.
A sala foi abandonada e não foi monitorada; ele tinha cuidado disso. Ele
ativou o rádio de sua pulseira multifuncional.
— Nosso palpite está correto — disse ele. — Os dois agentes dabrifanos
realmente abalroaram o campo AAT e agora estão saltando no tempo. Então, isso os
tornou muito interessantes para o nosso grupo. Nós devemos aproveitar isso.
Ele ouviu o que seu interlocutor tinha a dizer.
— Rhodan não é idiota — respondeu ele. — Ele logo tirará as conclusões
corretas e tomará as medidas apropriadas. E ele confia no sigilo absoluto. Ele nos
surpreendeu completamente com o Caso Laurin. Não estávamos preparados e
fomos empurrados para um papel que não poderíamos gostar.
Novamente ele ouviu o que a pessoa do outro lado da ligação dizia.
— Nós precisamos colocar nossas mãos nos dois espiões — disse ele — , para
usá-los para nossos propósitos. Eu suspeito que isso levará a mulher para o futuro!
Se isso vazar, todos os serviços secretos da Via Láctea farão todo o possível para
colocar as mãos nela. E já que estamos no local...
Ele ficou em silêncio, ouvindo. — Mesmo correndo o risco que eu seja
desmascarado? — disse ele.
Ele ouviu novamente, e finalmente assentiu. — Tudo bem. Eu tomarei as
medidas apropriadas... — ele terminou a conversa.
Quando Sadinoha retornou à sala de conferência, os resultados da pesquisa
já haviam chegado lá.
Ninguém ficou surpreso que sua ausência tivesse demorado tanto. Ninguém
o notara.
Ele teve que se corrigir. Perry Rhodan não chegaria às conclusões corretas
muito em breve, ele já as havia esboçado.
E assim os problemas para ele só tinham realmente começado.

O professor Bievre recostou-se e cruzou os braços sobre o estômago. —


Assim como eu disse isso. A concentração de... — ele fez uma pausa, dando a Gucky
um olhar de raiva subliminar. —... as partículas temporais nos corpos dos
prisioneiros não mudaram, mas sua saúde se deteriorou. Ninguém pode sobreviver
a isso a longo prazo.
— Quanto tempo levará para os primeiros efeitos acontecerem? —
perguntou Rhodan.
Bievre encolheu os ombros. — Nós entramos em novo território médico aqui.
Eu não tenho nenhuma teoria ainda. Semanas, meses, anos... coloque seus médicos
nisso, Sr. Rhodan!
O Administrador-Geral assentiu. — Eu colocarei. Mais uma vez para sua
avaliação, professor. Então, você suspeita que Juki Leann irá para o futuro sem a sua
intervenção, e Darren Zitarra para o passado?
— Isso é lógico, não é? Esta mulher viu uma Terra sem pessoas, uma
realidade na qual o Império Solar pereceu.
— Isso é apenas um futuro em potencial? — perguntou Rhodan. — Isso
eventualmente pode ser prevenido?

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O professor abriu os braços. — Eu assumo que seja. O passado pode ser
corrigido, o futuro não. Pequenas decisões podem mudá-lo.
— Então, nós teremos que evitar esse futuro! — disse o Administrador-Geral
enfaticamente. — Nós não podemos apenas esperar e deixar Terra se tornar
despovoada e o Império Solar cair!
— E como você fará isso, senhor? — interpôs Sadinoha. — Para fazer isso,
primeiro nós precisamos descobrir o que acontecerá.
— Nós descobriremos, almirante. Eu não sei como ainda, mas nós só temos
que ter sucesso! — Rhodan pensou por um momento. — Professor, se sua teoria
estiver correta, Zitarra foi arrastado para o passado. Se apenas uma transferência
temporal e não espacial tiver ocorrido, deve haver registros dela. Eu estou dando a
você autorização para o computador principal lunar NATHAN e todos as
positrônicas do Império-Alfa. Procurem eventos inexplicáveis no passado. Comece
na data de hoje e volte mais e mais. Algo será encontrado.
— Uma boa idéia, senhor — disse Bievre. — Isso poderia ter vindo de mim.
— Enquanto isso, Gucky e eu conversamos com os dois agentes do Império
Dabrifa novamente. Talvez novos insights cheguem para nós, ou eu seja capaz de
fazê-los cooperar.

59
9.

Império-Alfa

31 de outubro de 3.430

Perry Rhodan estava ansioso pela reação de Juki Leann se ela o visse. Ele não
duvidava que ela se lembraria do encontro deles anterior.
Enquanto isso, a NATHAN confirmou esse encontro único. A gigantesca
biopositrônica na lua terrena identificou Juki Leann, sem dúvida, através do
reconhecimento facial. Rhodan só se perguntava por que a positrônica lunar
demorara tanto.
Pela manhã, ele havia ordenado que os dois espiões fossem levados juntos
para um quarto, contra o conselho de Galbraith Deighton. Ele dependia da
cooperação deles, e um confinamento solitário prolongado incorreria
desnecessariamente em acusações adicionais contra ele e a Defesa Solar.
Ele bateu na porta como um visitante normal e abriu a porta depois de um
suave: — Entre!
Como ele esperava, os olhos dela se arregalaram quando o viu com Gucky ao
seu lado. — Perry Rhodan...— ela murmurou.
— Senhorita Leann — ele acenou para ela. — Quando soube que você foi
presa, eu imediatamente pedi ao Marechal Solar para vê-la.
— Você lembra de mim?
— Claro. Nós nos encontramos em uma recepção. Um encontro desagradável,
se bem me lembro. Você é a filha do ex-embaixador do Império Dabrifa na Terra.
Rhodan riu baixinho. — Shalmon Kirte Dabrifa quis me mostrar logo na época.
Ela ficou em silêncio.
— Eu posso? — Rhodan apontou para uma cadeira ao lado do leito médico e
sentou-se. Gucky ficou ao lado dele.
— Você se colocou em uma posição bastante precária. Vocês enfrentarão
acusações de espionagem.
— Deixe-me ir, Administrador-Geral. Pelo amor de minha mãe.
Rhodan deslizou o olhar por Darren Zitarra e depois olhou para Gucky. O
rato-castor balançou a cabeça ligeiramente, o sinal combinado de que ainda não
conseguia ler os pensamentos dos prisioneiros.
— Isso não é fácil, senhorita Leann. Você não possui imunidade diplomática
e, ao contrário do meu colega Dabrifa, eu não posso ignorar as leis existentes. Além
disso, eu tenho um certo dever de cuidado para com você e seu cúmplice.
— Dever de cuidado? O que você quer dizer?
— Você e o Sr. Zitarra estão gravemente doentes, Srta. Leann.

— Gravemente doentes? — perguntou Juki Leann, hesitantemente.


Rhodan assentiu. — Nós encontramos uma explicação para o fato de que
vocês desapareceram inexplicavelmente de suas celas. O que estou dizendo parece
bastante improvável, mas, por favor, pense nisso.

60
— O que aconteceu com a gente? — ela perguntou. — Com o que a WOOGAN
colidiu?
Rhodan não estava disposto a dizer aos agentes que eles saltaram no tempo
após ter entrado em contato com o campo AAT errático. Eles não sabiam sobre o
Caso Laurin e do engodo, e isso deveria continuar assim por enquanto.
— Partículas temporais se acumularam em seus corpos e afetam sua
estrutura celular. Portanto, vocês saltaram incontrolavelmente e provavelmente
não intencionalmente através do tempo. A concentração dessas partículas
temporais em seus corpos, mais cedo ou mais tarde, levará à sua morte.
Darren Zitarra falou pela primeira vez. Ele se sentou em seu leito médico e
olhou para Rhodan com ódio aberto. — Isso é um absurdo completo! Esta história
devemos acreditar em você?
— Se você diz, Sr. Zitarra — Rhodan entregou dispositivos de leitura a ele e a
Leann. — Todos são dados relevantes. Estudem isso. E pensem no que aconteceu
com vocês. Vocês têm alguma outra explicação para esses incidentes?
Zitarra ficou em silêncio.
— Nós conversaremos daqui a algumas horas — disse Rhodan, saindo do
quarto com Gucky.

Perry Rhodan não sabia dizer por causa da máscara, mas teve a impressão de
que o Alasca Saedelaere sorria fracamente.
A tela na parede à sua frente mostrava várias imagens tridimensionais dos
dois prisioneiros. Eles deitaram em suas camas e olhavam um para o outro
silenciosamente.
— Eles se comunicam — disse o agente e lógico do CESPSOL. — Você vê as
tatuagens nos braços deles? — ele ampliou uma imagem que mostrava tatuagens
artísticas, representações coloridas de cabeças de animais, paisagens planetárias e
pessoas. — Olhe atentamente, senhor!
Rhodan fez o que ele disse e descobriu que as tatuagens mudaram bastante
ligeiramente. Além disso, os dois agentes moveram os dedos em rápida sucessão,
olhavam-se repetida vezes e piscavam.
— Eles praticam um código — continuou Saedelaere. — Obviamente, eles
estão envolvidos em uma discussão acalorada sobre o que fazer em seguida.
— Você pode decifrar o código? — perguntou o Administrador-Geral.
— Nós gravaremos tudo, senhor, e mais cedo ou mais tarde vamos decifrá-lo.
— Obrigado — Rhodan voltou-se para os outros. — Professor, sua pesquisa
produziu alguma coisa?
— Sim — Renier Bievre se levantou, foi para a tela e ativou uma gravação. —
As positrônicas encontraram. Cerca de doze anos atrás e um mês, no final de
setembro de 3.418, houve um incidente inexplicado no Império-Alfa, que
corresponde à descrição de Darren Zitarra. Houve uma briga na ala das celas em que
ontem o espião dabrifano esteve alojado.
Rhodan assistiu ao vídeo. Ele não conseguia reconhecer muito nas imagens.
Dois homens lutavam um com o outro, ambos embaçados. De um deles,
Rhodan viu apenas as costas e a nuca, e essa pessoa ocultava o outro com quem
lutava.

61
De repente, a câmera se moveu para um rosto no fundo da imagem, que
também não foi claramente mostrada. Então, apenas a estática cinza encheu a tela.
— Só podemos adivinhar o que aconteceu naquela época — explicou Bievre.
— Como aconteceu hoje, uma pessoa não identificada desligou os sistemas de
alarme na respectiva ala. Quando eles voltaram, fizeram essas imagens. Apesar de
todos os programas de reconhecimento facial, as pessoas envolvidas não puderam
ser identificadas naquele momento. O processo foi registrado Talvez você possa
esclarecer alguma coisa, almirante Sadinoha?
Rhodan franziu a testa e olhou para a pessoa endereçada.
Terzen Sadinoha pigarreou. — Sim. Eu relatei o incidente na época, mas não
o vinculei com os eventos atuais. Alguém me atacou na época. Um desconhecido, ele
nunca foi identificado. Ele pôde fugir sem ser detectado. O incidente ainda não foi
resolvido.
Rhodan olhou para Gucky, mas o rato-castor apenas balançou a cabeça. O
Administrador-Geral esperava isso. Um homem na posição de Sadinoha
naturalmente era estabilizado mentalmente; o rato-castor não pôde ler seus
pensamentos.
— Se a sua teoria está correta, Professor — interveio Galbraith Deighton —,
e o rosto que vimos brevemente e borrado é, na verdade, o de Darren Zitarra, ele
deve ter abruptamente aparecido na cela em que o trancamos doze anos depois.
— O que você está querendo? — Bievre fez uma careta. Aparentemente, ele
não gostou que alguém o questionasse.
— Se uma pessoa aparecer de repente em uma cela vazia no Império-Alfa, o
alarme deve ter tocado imediatamente! Aparentemente, isso não aconteceu então.
— Provavelmente, os sistemas não reagiram por causa das partículas
temporais no corpo de Darren Zitarra. É concebível que ele passe mais alguns
minutos no seu tempo e faça um ajuste lento. Os instrumentos só então o
perceberiam no caso. Em algum momento, o alarme foi acionado. Eu vou verificar
isso. Porém, eu encontrei mais confirmação da minha teoria.
Rhodan olhou interrogativamente para o cientista.
— Eu revisei os dados da pesquisa sobre Leann e consegui novos resultados.
Sua radiação sextadim na verdade tem uma polaridade diferente da de Darren. Eu
avalio isso como uma afirmação da minha teoria do salto temporal. Como eu disse,
as leis da natureza estão sempre buscando o equilíbrio. É até imaginável que Juki
Leann tenha saltado para o futuro exatamente na mesma época que Darren Zitarra
no passado. Ambos se tornaram saltos no tempo através do contato com o campo
AAT. Isso significa que eles saltam incontrolavelmente ao longo do tempo, sempre
acoplados, sempre no mesmo período de tempo. É chamado efeito simétrico.
— Então, se Darren Zitarra saltou doze anos e um mês no passado, Juki Leann
poderia ter saltado para o futuro na mesma quantidade de tempo?
— De acordo com a minha teoria, pelo. A prova final ainda está por vir e não
será fornecida em tão pouco tempo. Até agora nós só estamos cientes do tempo em
que Zitarra saltou para o passado, mas não com o salto de Leann. Só podemos supor
que isso levou à mesma extensão.
O rosto de Rhodan se tornou sombrio. — Se sua teoria estiver correta, o
Império Solar será destruído em 12 anos e a Terra será despovoada. Doze anos...
— Doze anos é muito tempo, senhor — disse Tezen Sadinoha.
— Eu vejo isso de tal maneira que nós temos um máximo de doze anos para
impedir um futuro que significa o nosso fim. A Via Láctea está enfrentando um

62
perigo incalculável. Uma invasão? A Terra uma terra agrícola primitiva... nós temos
que evitar isso em todas as circunstâncias! E mais uma coisa — A expressão de
Rhodan ficou mais sombria. — O incidente inexplicado no Império-Alfa há doze
anos...
— O que você está planejando, senhor? — perguntou Galbraith Deighton.
— É possível que, mesmo assim, uma quinta coluna tenha penetrado na Terra
e trabalhado contra o Império Solar? Se já houve um incidente desse tipo na
Império-Alfa...
— Senhor, nós nem sabemos se Juki Leann realmente viu nosso futuro —
objetou Sadinoha. — Talvez isso a tenha levado a um mundo paralelo...
— Isso claramente contradiz minhas pesquisas — disse Bievre em voz alta.
— Os dois agentes estão definitivamente saltando no tempo! Não desperdicemos
horas valiosas com discussões inúteis.
— E como você vai construir de um único incidente isolado... uma
conspiração, senhor?
Rhodan lançou-lhe um olhar frio. — Chame isso de intuição, almirante. Mas
além disso... eu proclamei o Caso Laurin, e se sabe que o Sistema Solar não foi
destruído, mas só foi transferido em cinco minutos no futuro, estamos lidando com
exatamente a guerra fratricida entre os seres humanos no lar, que eu quis impedir,
nós não podemos correr o menor risco!
— O que você vai fazer, senhor? — perguntou Deighton.
— Eu imponho o mais alto nível de sigilo. Ninguém tem permissão para ouvir
sobre esses eventos, exceto as pessoas nesta sala. A investigação adicional deve ser
feita em completo sigilo. Rhodan hesitou. — Não que eu não confie neles, mas nem
mesmo Reginald Bull pode ouvir sobre isso!
— Isso é... — Sadinoha sacudiu a cabeça. — Você quer dispensar todos os
recursos que NATHAN e a CESPSOL podem lhe oferecer?
— De maneira alguma — disse Rhodan. — Eu pretendo usá-los. Mas essa
quinta coluna poderia estar ativa em todos os lugares do Império-Alfa. Nenhuma
conexão sem fio e nenhuma linha de dados é mais segura! Acima de tudo, nossos
oponentes parecem ser capazes de desaparecer no ar, como prova o incidente
documentado. Um ataque no Império-Alfa que nunca foi resolvido? Com toda a
vigilância que acontece aqui?
— Isso não é um pouco paranoico, senhor? — Insistiu Sadinoha.
— Durante séculos, a paranóia tem sido uma maneira saudável de ver o
mundo — destacou Deighton. — Exatamente para esses casos...— ele sorriu
friamente. —... como um paranoico confesso, eu assumi um procedimento especial
do meu predecessor Allan D. Mercant, o qual eu ponho em prática através de
NATHAN. Ele prevê uma perda de memória de todos as positrônicas subordinadas e,
uma transmissão exclusivamente acústica de comandos através de hiperligações de
mensagens com supressão de todos os protocolos afetados. a abordagem de Perry
Rhodan, neste caso, já não pode ser rastreada pela tecnologia de dados. Ferramentas
e pessoas recrutadas por ele estão ocultas.
— Além disso — interveio o Administrador-Geral —, NATHAN tem a tarefa
de registrar todas as informações em um arquivo que só eu pessoalmente posso
ativar com um comando supremo. Senhores, não me sinto muito confortável. Um
enorme desastre que afeta toda a Via Láctea é iminente, e eu estou tentando resolver
este problema em um pequeno círculo? Porém, eu não tenho que renunciar aos

63
recursos do Império Solar, e a segurança do Caso Laurin tem prioridade
incondicional. Alguma pergunta?
Todos ficaram em silêncio.
— Bom. Em seguida, falaremos novamente com os dois agentes dabrifanos.
Talvez eles se mostrem razoáveis.

A esperança de Rhodan foi abalada muito rapidamente, pelo menos no que


dizia respeito a Darren Zitarra. E isso, embora desta vez ele foi acompanhado não só
por Gucky, mas também por Galbraith Deighton, que tentou influenciar o dabrifano
com sua mecânica emocional.
— Você chegou a uma conclusão? — perguntou o Administrador-Geral,
acomodando-se na cadeira ao lado da cama de Leann.
— Nós exigimos que você nos transfira para o Império Dabrifa. — Desta vez,
Zitarra parecia querer liderar a conversa. — Nós olhamos para os registros médicos
e estamos convencidos de que podemos ser melhor atendidos em Nosmo.
— Eu duvido disso — Rhodan respondeu com firmeza. — As melhores
clínicas conhecidas da Via Láctea estão localizadas aqui no Sistema Solar em Mimas.
Eu estou pronto para levá-los e lhe fornecer cuidados adequados.
Zitarra riu com voz rouca. — Se nós desertarmos para vocês, você quer dizer?
— Se você nos encontrar de alguma forma.
— Quem nos diz que os registros médicos não são falsos? — interveio a filha
do ex-embaixador de Dabrifa.
— Nós realmente não temos que falar sobre isso, não é? Vocês mesmos
sabem o que viram. Vocês saltaram no tempo, isso sem dúvida está correto. Aliás,
isso provavelmente o levou de volta doze anos e um mês, senhor Zitarra. Agora, nós
temos provas disso.
— Então, eu estive... doze anos no futuro? — perguntou Juki Leann.
— Nós não podemos dizer com certeza, mas acreditamos que você quase se
matou, Juki. Você viu com os próprios olhos o terceiro membro da tripulação da sua
nave de espionagem morrer. E você, Juki, viu um futuro em que o Império Dabrifa
pereceu.
— Assim como o Império Solar — disse Zitarra teimosamente. — Nós nos
recusamos a qualquer declaração adicional. Mas, se você nos transferir para o
Império Dabrifa, nós lhe daremos todos os detalhes que você quer saber. Você
precisa saber se quer salvar seu império, Rhodan.
— Você sabe que existem maneiras e meios de fazer você falar?
Zitarra apontou para o rato-castor. — Se ele pudesse ler nossas mentes, você
não estaria aqui, Rhodan. Então, nós estaríamos presos em um centro de detenção
em Netuno.
Rhodan pareceu preocupado. — O Império Dabrifa transmite essa imagem
do Sistema Solar? Não há campos de detenção em Netuno. E em nenhum outro lugar.
Zitarra sacudiu a cabeça. — Nossa oferta está disponível. Você não pode
esperar mais de nós.
— Você estudou as descobertas médicas — Rhodan repetiu pacientemente.
— E a senhorita Leann viu um futuro em que o Império Dabrifa é história. Você quer
impedir o desaparecimento do Império Dabrifa?

64
Zitarra ficou em silêncio novamente, mas Juki Leann se endireitou em sua
cama. — O que você espera que façamos, Administrador-Geral?

Perry Rhodan sorriu fracamente. Alasca Saedelaere há muito tempo tinha


decifrado o código secreto em que os dois agentes se comunicavam entre si.
Eles sabiam que Rhodan não os deixariam ir. Então, eles tinham concordado
em fazer uma causa supostamente comum com ele, em seguida, para usar a primeira
maneira de escapar. No Império-Alfa, a fuga era quase impossível. No final, eles
concordariam com uma transferência para Mimas. Eles cerraram os dentes, mas na
realidade seguiram seu próprio plano.
— Abertura total — exigiu Rhodan. — Um relato detalhado de todos os
eventos.
— Tudo bem — Juki Leann supostamente estalou. — Nós lhe contaremos
todos os detalhes, e em troca você fornecerá assistência médica adequada.
— A melhor que existe — Rhodan confirmou. — Se vocês puderem ser
curados ou melhorar sua condição, nós teremos sucesso em Mimas.
Juki Leann começou a falar.

Perguntas suficientes ficaram sem resposta. Rhodan passou por cima delas
repetidamente.
— Você deve ter passado por várias telas de parede no futuro — disse ele. —
Havia uma data e hora marcadas em uma delas?
Juki Leann pensou por um momento.
— Como agente, você deve se lembrar disso — insistiu Rhodan.
— Não — a nosmorense finalmente disse. — Todas as telas estavam
desativadas. A propósito, isso também se aplica a todos os outros anúncios
eletrônicos ou positrônicos. Além disso, não prestei atenção às datas.
— A presilha de comunicação que você encontrou e usou para solicitar o
planador teria que exibir calendários e dados de tempo.
— Não fiz isso — respondeu Juki Leann. — E ela não me disse minha posição.
Além disso, não havia nenhuma rede de rádio global e, portanto, nenhuma conexão
com a grande positrônica da rede de dados do Sistema Solar.
Perry Rhodan teve um pressentimento ruim. — Isso significa que no futuro
você viu, NATHAN deve ter falhado. E todos as outras biopositrônicas para
gerenciamento de tráfego e toda a rede de dados, que é baseada em biopositrônica
com suas gigantescas capacidades de armazenamento.
Leann pareceu preocupada. — A Terra cairá em doze anos — disse ela. Não
houve alegria ou satisfação em sua voz.
— Liberte-nos! — exigiu novamente Darren Zitarra. — Colabore conosco! Em
Nosmo também há bons cientistas. Talvez nós possamos trabalhar juntos para
afastar o perigo iminente. Ameaça não só o Império Solar, mas também o Império
Dabrifa. Você realmente acha que seríamos tão míopes a ponto de ignorar esse
perigo? Vamos unir forças contra o inimigo comum que quer nos destruir!
Rhodan ficou em silêncio. Isso estava fora de questão para ele. A Coalizão
Antiterrana havia implantado 80.000 espaçonaves de combate para atacar e

65
destruir o Sistema Solar. Leann e Zitarra não sabiam nada de seu movimento para
salvá-lo no último segundo usando o Campo de Alternância Antitemporal.
E duvidava que o Imperator Dabrifa acreditasse em uma palavra do que havia
acontecido com seus agentes no Sistema Solar. Não, não se podia saber que o
Sistema ainda existia.
— Isso está fora de questão — disse ele. — Além disso, você não tem
autoridade para tomar tal decisão.
Zitarra olhou para ele.
— Mas, nós mantemos nossa palavra — Rhodan se levantou. — Nós os
levaremos para Mimas e lhes daremos o melhor atendimento médico possível lá.
Nós tentaremos remover as partículas temporais em seus corpos. Quem sabe como
vai funcionar? — ele se levantou e saiu da sala com Deighton e o rato-castor.

— Você não acredita neles, senhor? — perguntou Galbraith Deighton à porta.


— Claro que não. Eu nem mesmo confio nos dois guardas até onde posso vê-
los. Eu suspeito que eles fujam na primeira oportunidade, como previu o Sr.
Saedelaere. Gucky?
O rato-castor sacudiu a cabeça. — Eu ainda não consigo ler seus
pensamentos, talvez perceber seus sentimentos e intenções um pouco. Juki Leann
está indecisa e pronto para manter o acordo por enquanto. Darren Zitarra, por outro
lado, quer apenas uma coisa: escapar de nós!
— Essa também é a minha impressão — Rhodan fez uma careta. — Às vezes,
o bom conhecimento humano é tão valioso quanto a telepatia.
— Ah, é? — o ilt pipilou. — Isso é novo para mim.
— Tudo bem, pequenino. Claro, eu espero uma tentativa de fuga. Mas, sem
ajuda, ela não terá sucesso.
O rato-castor coçou a ponta do nariz. — Pode ser que você queira tirar os
conspiradores desse esconderijo que você suspeita no Império-Alfa?
— Isso pode ser verdade. Mas, os prisioneiros não sabem nada sobre isso. E
eles não sabem que sabemos que querem fugir.
— Então, eles são estúpidos! — o rato-castor respondeu. — Não os
subestime!
— Não se preocupe, eu não os subestimo. E mesmo que, ao contrário das
expectativas, eles tenham sucesso em escapar... eu ordenei que eles misturassem
nanopartículas em sua comida, enviando um sinal que podemos localizar a qualquer
momento.

66
10.

Império-Alfa

1 de novembro de 3.430

— Você sabe para onde nos levam? — perguntou Darren Zitarra.


Juki Leann olhou para ele com raiva reprimida.
Ele não tinha passado pelo que ela havia passado. Ele não foi açoitado no
futuro, nem foi quase estuprado e morto. Ele não havia visto um mundo em que o
Império Solar e o Império Dabrifa supostamente havia se tornado história.
Ela brincara com a ideia de aceitar a oferta de cooperação de Perry Rhodan.
Mas, isso teria sido equivalente a se bandear para a Defesa Solar. E com todo o
ceticismo que ela sentia... ela não era uma traidora.
Ela se perguntou por que não havia mencionado seu pai. Mas, isso só daria a
Rhodan outro empurrão.
— Provavelmente o espaçoporto Aldebarã. Ele está mais próximo do
Império-Alfa. Essa seria a escolha lógica.
Ela olhou em volta. Eles estavam sozinhos no compartimento trancado e
seguro de um transportador de prisioneiros. Ao entrar, pôde ver que pelo menos
dois agentes da CESPSOL estavam sentados na frente do planador, com as armas
desembainhadas e destravadas. Eles deveriam se certificar que Zitarra e ela nem
sequer se atrevem a tentar escapar.
Galbraith Deighton os colocou em um modelo fortemente blindado. No início,
Leann tinha visto através da pequena janela de visualização da cabine de
prisioneiros que mais dois veículos estavam acompanhando e assegurando o
comboio à distância. Então, uma placa empurrou-se na frente da janela e bloqueou
sua visão. A CESPSOL não queria que eles vissem para onde eram levados.
Por que esse esforço?, perguntou-se ela. Claro, eles saltaram no tempo, que
Leann de alguma forma ainda não poderia aceitar e entender, mas...
Não, ela se corrigiu. Eles saltaram uma vez. Se o processo seria repetido estava
longe de ter certeza.
Aqui estava se desenrolando um jogo que ela ainda não via. Tanto quanto ela
quebrou a cabeça, ela simplesmente não conseguia descobrir o que era aquilo tudo.
Mas, a fuga estava realmente fora de questão. Zitarra planejava tentar, mas
temia que ele estivesse julgando mal a situação.
— Nós temos que... — começou Zitarra.
Um forte estrondo o interrompeu. Houve um silvo e crepitação, depois um
longo bipe.
Leann sacudiu a cabeça, incrédula. Alguém estava tentando libertá-los? Isso
era um ataque? Outros agentes da Guarda Negra? Ela descartou o pensamento tão
rapidamente quanto havia chegado. A inteligência do Império Dabrifa simplesmente
não tinha a capacidade de fazer isso na Terra.
Mas, o que acontecia lá fora? O planador foi danificado?
A iluminação do compartimento do prisioneiro se apagou e o zumbido do ar-
condicionado parou. De repente ficou escuro.
Juki Leann só ouvia a respiração tensa de seu parceiro.

67
Fim

Para evitar um conflito fratricida, Perry Rhodan, o Administrador-Geral do


Império Solar, proclamou o Caso Laurin em 30 de outubro de 3.430. Enquanto a frota
de ataque da Coalizão Antiterrana corre para o vazio, uma nave de espionagem
dabrifana consegue, no último segundo, penetrar no Sistema Solar.
Mas, os agentes a bordo estão mudando de maneira surpreendente. Como
saltadores temporais, eles têm experiências misteriosas no futuro e no passado da
Terra. Embora a Defesa Solar possa capturar os espiões, há um incidente enquanto
eles são realocados.
Quem está atacando o transporte dos prisioneiros? Como Perry Rhodan quer
evitar o futuro catastrófico para o qual Juki Leann saltou?
O que está acontece com Perry Rhodan e os saltadores temporais no Império
Solar será descrito no volume 2 de Perry Rhodan Terminus, que foi escrito por Dennis
Mathiak, sob o título:

FUGINDO ATRAVÉS DE TERRÂNIA

68
Euer Uwe Anton

O Caminho para Terminus

Perry Rhodan já sonhava com uma humanidade unificada quando foi o


primeiro humano a entrar na Lua da Terra em 1971. Em 1990, ele havia dado o
primeiro grande passo em direção ao seu objetivo: os estados nações da Terra
estavam emergindo no recém-fundado Império Solar (IS), e a Terra doravante
passou a ser chamada de Terra. Nos séculos seguintes, o Império Solar se espalhou
pelo lado oeste da Via Láctea, tornando-se o fator de potência dominante e
colonizando milhares de mundos colonizáveis.
Embora carregasse a palavra "Império" no nome e o Administrador-Geral
Perry Rhodan atuasse quase constantemente como chefe interino do governo e
plenipotenciário da humanidade, o IS era uma entidade estatal democrática. A base
da filiação ao Império era voluntária e não coerciva.
Isso ficou claro depois da guerra contra a Polícia do Tempo (2.435 até 2.437).
Terra jazia em ruínas e como o mundo central do Império, a unidade terrana
anteriormente inabalável. Com o tempo, mais e mais mundos colonizados se
separaram do IS, buscando a sua sorte na independência ou se uniram para formar
novos estados. No século 29, a Liga Carsuálica, a União Central Galáctica (UCG) e o

69
Império Dabrifa haviam surgido como os mais importantes novos fatores de poder
no lado oeste.
Por meios militares, o IS poderia ter impedido o desenvolvimento pela raiz,
porém, Rhodan sempre respeitou a autarquia dos mundos terranos colonizados e
rejeitou o exercício da coerção sobre eles em princípio. A alienação dos diferentes
estados estelares terranos aumentou, emergiram trincheiras cada vez mais
profundas. As discussões alcançaram proporções que exigiram uma mudança na
constituição solar.
Desde abril de 2930, não era mais o parlamento solar, mas o povo do Sistema
Solar que elegia diretamente o cargo de Administrador-Geral. A decisão foi recebida
de diferentes maneiras: Indiferença entre aqueles que se sentiram separados do IS,
amargura entre outros e encorajamento entre alguns que perseguiram seus
próprios objetivos.
Rhodan percebeu que seu sonho de uma humanidade unida havia fracassado.
A estrutura de mais de cinco mil mundos coloniais era muito confusa e extensa, os
próprios interesses eram diversos e contraditórios demais para que a unidade
prevalecesse sem compulsão interna. O Administrador-Geral do Império Solar
queria impedir agora, acima de tudo, que houvesse uma guerra interestelar entre os
reinos estelares da Humanidade, na qual os humanos disparassem contra humanos.

O Caso Laurin

O Império Solar iniciou um plano de quinhentos anos com o uso de enormes


recursos científicos e tecnológicos de pesquisa coordenado pelo Primeiro Cientista
Senador Geoffrey Abel Waringer. De acordo com as previsões, os outros reinos
estelares se fortaleceriam e finalmente se aliariam para atacar o Sistema Solar.
Os detalhes e objetivos de longo prazo do contra plano eram conhecidos
apenas pelo círculo interno em torno de Rhodan, que consistia em portadores
ativadores celulares potencialmente imortais. Além de Rhodan e Waringer, estes
eram o Marechal de Estado Reginald Bull, o representante de Rhodan, o Marechal
Solar Julian Tifflor, comandante-em-chefe da frota doméstica, o Primeiro Senador
Financeiro Homer G. Adams e o Primeiro Mecânico emocional e chefe da CESPSOL,
o Marechal Solar Galbraith Deighton.
O prognóstico provou ser verdadeira: os três maiores reinos estelares
separados sob a liderança do imperador Shalmon Kirte Dabrifa se juntaram para
formar a Coalizão Antiterrana CAT. O seu plano: a conquista do Sistema Solar.
Em 30 de outubro de 3.430 é o dia. Uma frota de ataque de cerca de 80.000
espaçonaves de combate pesadas da CAT se põe em curso para o sol. Ao mesmo
tempo, três mil espaçonaves de transição de um Comando de Saque transferem-se
para importantes centros de pesquisa do Sistema Solar para obter os segredos de
fabricação de três realizações tecnológicas do Império Solar em suas mãos: o novo
Canhão Conversor, o Campo Paratron e o Propulsor Dimetrans para voos de
longa distância de galáxia à galáxia.
Porém, quando a frota de ataque deixa o espaço linear na borda do Sistema
Solar, ela encontra, em vez do sol, um pilar flamejante hiperenergético com bordas
irregulares. O Sistema Solar desapareceu, aparentemente derrubado por uma fenda

70
estrutural na estrutura temporal do hiperespaço. O plano para se esconder atrás de
um campo paratron deve ter falhado.
A Terra e os outros planetas solares já não existem. Rhodan está morto, e as
notícias se espalham como fogo na Via Láctea.
Na verdade, Rhodan ainda vive, e o Sistema Solar continua a existir, mas em
outro momento. Perry Rhodan ativou o Caso Laurin para desarmar a situação
Galáctica fingindo a destruição do Sistema Solar. Os quinhentos anos de pesquisa e
preparações foram necessários para criar o Campo de Alternância Antitemporal,
que moverá todo o Sistema Solar cinco minutos para o futuro relativo. Isto foi
baseado em dados e descobertas que a Frota Solar capturou da Polícia do Tempo. O
Sistema Solar ainda está no mesmo lugar, mas de um modo em um nível temporal
diferente.
Para dar a impressão de destruição por hiperexperiências perigosas, no
momento do desaparecimento todas as defesas obsoletas do sistema são explodidas
com munição antiga madura mas ainda incendiável, com efeito comparado a
sessenta milhões de dispositivos explosivos que liberam uma média de dois mil e
quinhentos gigatoneladas de TNT. Do lado de fora, a nuvem de explosão se
assemelha a uma pequena galáxia de forma discoide que envolve o Sistema Solar.
Uma espaçonave experimental com conversores paratron está exposta ao
caos nuclear perto do sol. Seus campos paratron colapsam, os conversores detonam
e criam uma brecha estrutural típica.
As naves de transição do Comando de Saque, que se materializam do
hiperespaço neste inferno energético, não têm a menor chance de sobrevivência.
Apenas alguns destas espaçonaves escapam ao desastre — e a WOOGAN-237...

Você já sabia?.
. . . que o Império Solar em 3.430 consistia apenas no Sistema Solar? Todos os
outros planetas foram tornados independentes por Perry Rhodan. (Fonte: PERRY
RODAN 400.)

71
O próximo volume da série:

72

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