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O Herdeiro do Universo
Uma série inigualável, que apresenta a evolução da Humanidade em
fantásticas histórias futuristas.
As aventuras de Perry Rhodan e seus companheiros trazem grandes
desafios, situações surpreendentes, mistérios instigantes, misturando
dramas humanos e sofisticadas tecnologias.
A série divide-se em ciclos de episódios, que formam um arco de histórias
fechado em si. Eles podem ser comparados às temporadas dos seriados
televisivos, por exemplo. A partir de um novo ciclo, novas situações,
ambientes e personagens são apresentados, até o seu desfecho dezenas
de episódios depois.
Cada volume da série Perry Rhodan traz uma história completa que pode
ser lida a partir de qualquer número.
Neste volume:
Episódio 599: “O Dia da Decisão”
O Dia da Decisão
de Kurt Mahr
Tradução de
José Antonio Cosenza
e Salomão Delgado S. Júnior
1.
do sistema Paramag Alfa, com a ajuda do tênder Dino-386, para ali, circulando
Wild Man, pelos oito Antigos Mutantes, cujas consciências subitamente reapare-
ceram mais de quinhentos anos após a Segunda Crise de Geração, para lhes servir
de abrigo. No decurso da sequência de acontecimentos, verificou-se que os oito
mutantes, para poderem agir de acordo com suas capacidades, necessitavam do
material transformador emocional parabiológico que permeava o asteroide em
todas as direções, em veios mais ou menos espessos. Pouco depois de Favo-1000
ter sido colocado em uma órbita estável em torno de Wild Man, os paramags,
que tinham permanecido despercebidos no interior do asteroide, passaram a
atacar os invasores. No decorrer da luta, todos os paramags pereceram; mas, an-
tes, destruíram o tênder Dino-386 com a maioria da sua tripulação. Além disso,
como resultado da confusão, a maquinaria do asteroide, que tinha uma certa
autointeligência, realizara manobras que acabaram por levar Favo-1000 a uma
rota de colisão com o sol Wild Man.
Após a partida da CDIN-3, a maioria dos atores do drama de Wild Man
ainda se encontrava no asteroide. Por um tempo, tinha sido considerado uti-
lizar uma das naves auxiliares da CDIN-3 para a ação de salvamento. Porém,
uma análise mais detalhada das condições energéticas do espaço circundante
mostrou que as naves auxiliares não conseguiriam cobrir com rapidez suficiente
os cerca de mil e oitocentos anos-luz até Ponto Para, devido aos propulsores
relativamente fracos. A CDIN-3, apesar de a potência dos seus propulsores
ultrapassar muitas vezes a das naves auxiliares, tinha, segundo o computador
de bordo, apenas a probabilidade de oitenta por cento de alcançar Ponto Para.
Perry Rhodan tinha decidido permanecer em Favo-1000 depois de ter
ficado claro que era irrelevante para a expectativa de vida dos oito Antigos Mu-
tantes se eles deixassem o asteroide e, com isso, se separassem do metal TEP, ou
se eles permanecessem na rocha e caíssem com ela no sol. Eles eram dependentes
do material transformador emocional parabiológico. Por outro lado, havia, pelo
menos vagamente, a possibilidade de compreender a tempo o funcionamento da
estranha maquinaria dos paramags instalada nos corredores e salões do interior
do asteroide, e fazer com que as máquinas alterassem o curso de Favo-1000 de
modo que ele se estabilizasse.
Com respeito à compreensão da tecnologia dos paramags, que era
dominada de uma maneira altamente incomum por processos de controle
e gestão mentais, foram feitos progressos significativos ao longo do tempo.
Determinou-se que os processos de controle eram realizados pela fusão de um
ou mais paramags com o metal TEP, pela qual se desmaterializavam tempora-
riamente e se moviam dentro dos veios TEP, que permeavam todo o asteroide,
de acordo com certas especificações geométricas. A consciência de um paramag
desmaterializado que realizava o contorno da figura de um triângulo dentro
dos veios TEP dava à maquinaria uma certa ordem. Outra ordem era dada
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Kurt Mahr O Dia da Decisão
pelo paramag que contornava um círculo e, por sua vez, outra por aquele que
realizava o contorno de um quadrado.
Os oitos Antigos Mutantes que tinham “assumido” os corpos dos parama-
gs tinham tentado explorar esse conhecimento. Através dos olhos paratrans, que
estavam embutidos nas paredes dos inúmeros corredores, eles se fundiam com
o estranho material transformador. Os sucessos obtidos até agora resultaram no
chamado processo ganhar-ou-perder: os mutantes realizavam uma determinada
figura geométrica, e outros observavam a reação das máquinas. O processo era
necessariamente demorado. Além disso, houvera outras dificuldades, decorren-
tes, em parte, da confusão da luta contra os paramags. A maquinaria não era clara
em sua reação a certas figuras geométricas. Ou as máquinas tinham se tornado
confusas no curso do conflito, ou os terranos não tinham ainda compreendido
totalmente a tecnologia de influência mental. Outro problema surgira do fato
de que não se tinha certeza se haviam investigado completamente o asteroide.
Várias grandes instalações de máquinas tinham sido descobertas por sondagens
acústicas, e as leituras das sondas pareciam indicar que não havia mais cavidades
de dimensões significativas. No entanto, havia a possibilidade de que o fun-
cionamento das sondas fosse perturbado pela presença do metal TEP, fazendo
com que também não se pudesse estar completamente seguro a respeito de sua
causa. Por último, o próprio material transformador emocional parabiológico
causava problemas da própria espécie. Sob determinadas condições, que Perry
Rhodan e seu pessoal estavam longe de ter reconhecido plenamente, o metal
TEP era capaz de assumir uma certa inteligência própria.
Era contra adversidades desse tipo que Perry Rhodan e seu pessoal ti-
nham de lutar enquanto tentavam induzir a tecnologia dos paramags a levar
Favo-1000 para um curso mais seguro.
À margem, movida para o segundo plano pela urgência da situação
emergencial presente, existia a compreensão de que, nesse dia, se registrava
28 de julho de 3444 do calendário-padrão, e que, em quatro dias, se realizaria
uma eleição no Império Solar para preencher o posto de Administrador-Geral.
Entre as impressões obtidas no sistema Paramag Alfa, no qual ele observara um
enorme perigo não apenas para a Humanidade terrana, mas também para toda
a Via Láctea, Perry Rhodan tinha decidido candidatar-se no último minuto, por
assim dizer, ao cargo de Administrador-Geral.
Se ele — diante da propaganda eleitoral maciça realizada na Terra, em
particular por seu adversário Bount Terhera contra a administração Rhodan —
ainda quisesse ter a sombra de uma perspectiva de sucesso, ele tinha que chegar
à Terra o mais tardar no dia da eleição.
Mas a Terra distava mais de 40.000 anos-luz de Wild Man. Dada a ca-
tástrofe iminente em Favo-1000, ainda havia um lampejo de esperança de que
Perry Rhodan retornaria à Terra a tempo?
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disparar, ele começou a se retirar. Mais uma vez, localizou a radiação de uma
consciência alienígena. O pensamento era incisivo e conciso.
— Ele se afasta. Não percam tempo!
E a resposta: — Nós estamos prontos.
Por um instante, ficou escuro em torno de Lloyd. Quando a iluminação reapa-
receu, ela tinha adquirido uma cor diferente. E o mundo em volta tinha se alterado.
O mutante se achava no fundo de um amplo vale. Plantas que ele nunca
tinha visto cobriam as bordas íngremes e o solo da depressão. Um sol vermelho
enorme brilhava em um céu sem nuvens, e o céu era de um azul-turquesa. Estava
quente, e o éter vibrava com as radiações de incontáveis cérebros.
— Ali está ele! Ataquem!
— Por que nós? Vocês estão mais perto dele. Ataquem vocês!
— Não falem tanto! Ele vai escapar de nós, se vocês perderem tempo!
— Está bem, nós vamos atacar!
Os arbustos se dividiram diante do mutante. Uma horda de seres do tama-
nho de pigmeus investiu para ele. Eles se moviam sobre pernas curtas, cujos pés
possuíam três dedos salientes em forma de estrela. Os corpos marrom-ferrugem
e sem pelos estavam vestidos com trajes coloridos e brilhantes, cujas mangas
mal chegavam à metade dos braços. Os crânios semelhantes aos de babuínos
eram esticados para frente de maneira beligerante. Os grandes olhos facetados
e imóveis se dirigiam irados para o intruso.
Fellmer Lloyd não teve tempo para determinar o que acontecia ali. Pro-
vavelmente, ele estava sob o encanto de uma influência para-hipnótica excep-
cionalmente forte, pois o vale era grande demais para poder ter existido dentro
do pequeno asteroide. O que ele via era falso. Mas o fluxo de pensamentos que
ele recebia era real, e ele tinha que presumir que também as armas, que oscila-
vam nas mãos delicadas dos paramags, eram tão perigosas quanto a realidade.
Ele disparou sem hesitar. Cobriu a frente de ataque dos paramags com
um feixe bem disperso. O efeito foi surpreendente. Os atacantes, atingidos pelo
raio altamente energético da arma, foram lançados para trás e caíram no chão.
Lloyd os ouviu gritar, e sentiu seus pensamentos cheios de dor. Mas isso foi
tudo. Eles acabaram se levantando e investiram novamente contra ele. Dessa vez,
abriram fogo de longe. Ele viu as armas lampejarem nas mãos deles. Manchas de
luz violeta dispararam em direção a ele de todos os lados. Numerosas agulhas
pareceram penetrar sua pele, e o envolveram em uma onda de dor abrasadora.
Isso durou meio segundo, então tudo acabou.
Fellmer Lloyd deu um sorriso amargo enquanto ia apressadamente para
a cobertura de um arbusto espinhoso. Seu radiador térmico não fazia nada
contra os paramags furiosos. Mas a inversão das leis da física tinha efeito em
ambos os lados. As armas dos inimigos também permaneceram relativamente
ineficazes contra ele.
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Kurt Mahr O Dia da Decisão
2.
ENTENDIDO.
Matoscho estendeu-se no assento. Se ele sobrevivesse ileso a essa confusão,
prometeu que pediria transferência para um posto mais calmo. Um terceiro
solavanco atingiu a nave. Dessa vez, nenhum dano foi reportado. Um novo in-
forme sobre o regenerador de oxigênio danificado disse que o dispositivo seria
restaurado em três horas. Matoscho fechou os olhos e esperou pela transição
para o espaço linear. Ela veio abruptamente, como se a CDIN-3 se impulsionasse
para saltar sobre um obstáculo invisível.
Cono Matunari não sabia como ele tinha ido de repente de um corredor
bem iluminado para uma pradaria sombria com nuvens de chuva. Mas ele
possuía experiência suficiente para não ficar se opondo à mudança e, em vez
disso, procurar os perigos que poderiam estar ali, à espera dele e de seu pessoal.
Seus três companheiros se mantiveram com ele: tenente Mukherjee e dois
cabos. Mukherjee, um terrano magro, moreno e de ascendência indiana, olhou
para ele inquisitivamente. Matunari encolheu os ombros largos. O pescoço de
touro empurrou o imenso crânio calvo para frente. O pequeno grupo estava
atrás de um arbusto baixo e seco. Um vento em rajadas soprava na direção deles.
Ao longe, um relâmpago caiu na planície. Longos segundos depois, um trovão
estrondoso e seco atravessou a pradaria.
— Para acabar logo com qualquer discussão — rosnou Matunari com
uma voz grave: — Eu também não sei onde estou. Consigo ver mais de mil e
duzentos metros, portanto não me encontro de maneira nenhuma no interior
de Favo-1000. De que modo cheguei aqui, eu não sei. Mas pretendo tirar o
melhor da nova situação.
Ele estreitou os olhos quando percebeu movimento ao longe. Pequenas
figuras deslizavam agachadas sobre um trecho livre da pradaria, entre dois
arbustos muito adequados para a cobertura.
— Mas aquilo deve ser... Mukherjee, você viu aquilo?
— Sim, senhor.
Matunari o contemplou com um olhar zangado.
— O que você viu, tenente? — trovejou ele.
— Três paramags, senhor.
A pradaria consistia em ilhas de arbustos. Ali e acolá, erguia-se uma so-
litária árvore meio ressecada. A grama tinha uma estranha cor verde-azulada
e parecia já sofrer há algum tempo com a falta de água. Tempestades, como
a que acabara de surgir, aparentemente foram raras nessa região nos últimos
tempos. Matunari, um homem relativamente jovem, de setenta e dois anos,
possuía experiência tática suficiente para decidir que não gostava da situação.
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Kurt Mahr O Dia da Decisão
Atrás das ilhas de arbustos, poderia estar escondido um exército inteiro de pa-
ramags. Ele tinha que se mandar dali e ganhar terreno mais limpo. Mas, antes,
havia outra coisa a fazer.
— Bronson?!
Um dos dois cabos foi imediatamente para o lado dele.
— Me dê a coisa, meu jovem — pediu Matunari e pegou o radiador de
impacto, que o jovem suboficial estendeu para ele. — Agora, vamos primeiro
fazer uma área de manobra limpa.
Ele apontou brevemente e disparou. Um raio muito luminoso de energia
térmica foi em direção ao grupo de arbustos, atrás do qual os três paramags
tinham desaparecido. No mesmo momento, um relâmpago atingiu a terra nas
proximidades e cobriu a pradaria com trovões estrondosos. Matunari não tomou
conhecimento. Perplexo, ele olhava na direção dos arbustos em que tinha atirado.
Sob a ação da salva do radiador de impacto, ele tinha se lançado para a terra,
como se uma tempestade investisse sobre ele. Porém, agora que Matunari tirara
o dedo do gatilho, ele voltou a ficar em pé, como se nada tivesse acontecido.
Ou tinha! Ao lado do arbusto, um paramag rolava no chão e agitava os
braços e as pernas no ar. Demorou um pouco até ele se levantar e desaparecer
na cobertura dos arbustos.
Matunari abaixou a arma pesada e ficou passando a mão livre pela cabeça.
Mas que mundo irreal! Ele tinha grama verde-azulada, e radiadores de impacto
terranos não prestavam para nada além de agitar arbustos e desequilibrar pa-
ramags pigmeus. Ele lançou um olhar de lado para os companheiros e notou
que eles estavam pelo menos tão assombrados quanto ele.
— Isto não nos serve para nada, crianças — ele tentou tranquilizá-los.
— Temos que aceitar as coisas como elas são. Acabamos de...
Ele não prosseguiu. Atrás das ilhas de arbustos, algo ganhou vida. Os
paramags, pelo menos a força de uma companhia, partiam para um assalto.
— Cobertura! — gritou Matunari.
Ele se lançou atrás de um arbusto. Empurrou cuidadosamente o cano do
radiador de impacto para frente, rente ao chão. Os paramags estavam munidos
com pequenas armas manuais, das quais vinha um brilho incessante. Manchas
de luz de brilho violeta corriam para os quatro terranos. Um dos dois cabos foi
atingido e gritou. Matunari olhou preocupado para ele, mas o homem parecia
mais assustado do que ferido.
— Dói, senhor! — ele gritou para seu superior, como se quisesse se des-
culpar pelo grito.
Com o ataque dos paramags, também começou a tempestade. Gotas de
chuva pesadas, primeiro esporadicamente, então cada vez mais forte, caíram
nos galhos dos arbustos. Em poucos segundos, a chuva pareceu se transformar
em uma parede sólida de água que caía do céu, enterrando tudo. Relâmpagos
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Kurt Mahr O Dia da Decisão
flamejavam numa sucessão cada vez mais densa. Eram como disparos inces-
santes de canhões que estrondeavam e ressoavam através da penumbra. Os
paramags atacantes se tornaram sombras apressadas, que o olho mal conseguia
perceber. Matunari colocou na mira uma das figuras que corriam, e puxou o
gatilho. O paramag foi arremessado para trás e permaneceu deitado de costas
por um momento. Então ele se levantou novamente e desapareceu mancando
na cobertura de um arbusto.
Os dois cabos compreenderam que os radiadores serviam para alguma
coisa. Com o fogo ininterrupto aos atacantes pela arma de serviço mais leve de
Bronson e pelo equipamento mais pesado que seu camarada portava, embora
a ação das armas se limitasse aos efeitos puramente mecânicos, o ataque dos
paramags gradualmente cessou. Durante esse tempo, o próprio Matunari tinha
recebido alguns acertos das armas de brilho violeta do inimigo e não sentira
nada mais do que uma dor breve, mas intensa.
Ele percebeu que o tenente Mukherjee não participava da defesa.
— Como é, Mukherjee — gritou ele ao seu subordinado —, você precisa
de um convite?
No reflexo de um relâmpago próximo, ele viu o indiano sorrir.
— De jeito nenhum, senhor — ouviu a resposta dele em meio ao estrondo
contínuo dos trovões. — Eu espero por um bom alvo.
— Lá fora, há dezenas deles — gritou Matunari, irritado.
— Para o seu radiador de impacto, senhor — corrigiu Mukherjee. — Não
para a minha arma de choque.
— Que diabos...?!
— Eu suspeito de que a arma de choque funciona melhor aqui do que o
radiador de impacto, senhor. Estamos sob influência para-hipnótica. Este mundo
não é real. Armas que atuam nos nervos de seres orgânicos serão mais eficazes
aqui do que radiadores térmicos, que só lançam energia eletromagnética.
Matunari seguiu com atenção outras ações de Mukherjee. Os paramags
abandonaram a tática de assalto aberto e começaram a se esgueirar de cobertura
a cobertura para mais perto. A chuva constante era vantajosa para eles. Ela tirava
a visão dos terranos e prejudicava a sua mira. De que lhes servia derrubarem
três ou quatro paramags com seus radiadores de impacto a cada avanço! Os
atingidos se arrastavam para a cobertura mais próxima e estavam presentes
de novo no próximo avanço. Matunari teria dado a ordem de recuar há muito
tempo, mas ele estava curioso para ver o que Mukherjee conseguiria com a sua
arma de choque, e o momento não estava muito longe, já que os paramags mais
ousados entrariam no alcance de tiro de Mukherjee.
No refulgir dos relâmpagos, que foram rareando cada vez mais, ele
teve a oportunidade de constatar que os paramags, em sua maioria, usavam
uniformes extremamente coloridos. Parecia ser uma espécie de uniforme, pois
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havia dois ou três adversários que estavam vestidos de forma diferente e que, a
julgar por seu comportamento, desempenhavam o papel de oficiais. Um deles
era particularmente notável. Ele usava um traje vermelho, que podia ser visto
mesmo na meia-luz da tempestade. Em sua proximidade, havia sempre outros
três paramags, um dos quais usava um uniforme verde, e outros dois azuis.
— Agora, senhor! — gritou Mukherjee.
Matunari olhou para frente. Um paramag havia chegado a duzentos
metros. Por ordem de Matunari, os radiadores de impacto silenciaram por en-
quanto. O paramag deve ter tido a impressão de que estava seguro. Ele deixou
de buscar a cobertura mais próxima e rastejou direto para a posição dos quatro
terranos.
Mukherjee apontou cuidadosamente. Quando ele puxou o gatilho, um
feixe de luz azulada saiu do cano de sua arma — uma manifestação que nunca
havia sido observada numa arma de choque. O paramag foi para o alto como se
a terra se levantasse sob ele. Caiu para trás com os braços estendidos, e seu pene-
trante grito de morte podia ser ouvido claramente mesmo em meio aos trovões.
Matunari ficou olhando, incrédulo. Ele esperava que o paramag voltasse
a se levantar e se arrastasse para a segurança, como aqueles que tinham caído
sob as salvas do seu radiador. Mas nada semelhante aconteceu. A salva da arma
de choque o havia matado.
— Joguem fora os radiadores de impacto e atirem com as armas de
choque! — berrou Matunari. — Mukherjee, você viu o de uniforme vermelho?
— Sim, senhor. Ele parece ser um tipo de líder.
— Fique atento a ele! Se o pegarmos, o pesadelo acaba imediatamente.
Nesse momento, os paramags empreenderam um novo avanço. Sua
vanguarda estava apenas a duzentos e cinquenta metros. Um grupo de vinte
adversários tentou reduzir, da maneira praticada até agora, a distância até os
terranos em mais vinte a trinta metros. No trecho livre entre os dois pontos de
cobertura, eles tomaram o fogo das armas de choque concentradas. O efeito foi
devastador. Mais da metade do grupo permaneceu sem vida no trajeto. O resto
se retirou para a cobertura dos arbustos, de onde o avanço começara.
— Uma oportunidade única, senhor! — gritou Mukherjee de repente. —
Eu só espero ter uma mão firme.
Trezentos metros à frente, a forma do líder vestido de vermelho tinha
surgido atrás dos arbustos. Ele ficou fora de qualquer cobertura, um paramag
muito alto, de pelo menos meio metro. Um relâmpago distante iluminou a cena.
Parecia que o comandante inimigo, atordoado pelo massacre de que suas tropas
haviam sido vítimas, tinha esquecido no momento toda a cautela e saído em
campo aberto. Isso deu a Mukherjee a oportunidade que ele esperava.
Ele puxou o gatilho. Um raio brilhante e azul saiu da sua arma de choque
e atingiu o Vermelho. E então aconteceu o inacreditável. O raio pareceu, am-
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junto. Nesse caso, a máquina teve êxito. Se o Verde se for, a cena para-hipnótica
termina sem que o atirador sofra dano. Nesse caso, a máquina não teve êxito.
Perry Rhodan levantou os olhos.
— Um tipo de jogo, você acha?
— Isso mesmo – um tipo de jogo. Com regras estipuladas. A máquina testa
o adversário. Agora, sabemos que o teste será a nosso favor, pois não seremos
induzidos a atirar no Vermelho. Por favor, concluam o que acontecerá a seguir.
Agora, Cono Matunari também tinha compreendido a lógica nas con-
siderações do mutante.
— A seguir, virá — exclamou ele apressadamente — uma nova série de
jogos! Com novas condições.
Lloyd assentiu.
— A questão é se será um jogo novamente. Lembre-se de que a intenção
mais urgente da máquina é nos destruir. Ela não está muito interessada no jogo
em si. Mas você tem razão: depois do truque para-hipnótico, ela nos tentará com
outro truque, e eu quase temo que ele seja mais perigoso do que o primeiro.
Perry Rhodan sorriu.
— Você e sua inteligência de máquina — ironizou ele de forma bonacho-
na. — Imagine se pudéssemos provar que tal coisa nem existe!
Fellmer Lloyd permaneceu sério.
— Então minha hipótese teria perdido o chão sob seus pés — admitiu
ele. — Mas eu não acho isso provável. Devíamos revistar o corredor que descobri
recentemente o mais rápido possível até os cantos mais fundos. Seu rosto de
repente assumiu uma expressão pensativa, quase espantada. — Outra coisa me
incomoda muito mais — murmurou ele, meio consigo mesmo.
— O que é?
— Eu gostaria de saber quem ou o que gritou para mim uma advertência
no último momento, antes de eu puxar o gatilho contra o Vermelho.
— Um dado extremamente interessante — respondeu Rhodan. — Eu
posso...
Ele se interrompeu quando Lloyd se endireitou na cadeira, como se
ouvisse um som ao longe, e fez um gesto apressado. — Estou em contato com
Betty — disse ele.
A troca de pensamentos entre Fellmer Lloyd e a Antiga Mutante Betty
Toufry foi de curta duração.
Lloyd ergueu os olhos, espantado.
— No metal TEP, aparecem novamente sinais de uma inteligência para-
doxal que desperta — afirmou ele.
Perry Rhodan olhou em volta. Nas paredes da sala, como também nas
dos corredores, existiam de pequenas a médias disseminações de metal TEP por
toda parte. Sem que houvesse sido notado pelos três, que discutiam no calor
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Kurt Mahr O Dia da Decisão
3.
Poucos minutos depois, a CDIN-3 foi, pela terceira vez desde que deixara
para trás Favo-1000, para o espaço linear.
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Kurt Mahr O Dia da Decisão
Nesse meio tempo, Cono Matunari tinha ido para a estação externa, que
tinha sido construída com recursos de bordo antes da partida da CDIN-3, para
ver como as coisas andavam por lá. De um dos corredores mais amplos, um poço
tinha sido escavado até a superfície do asteroide. Na extremidade superior do
poço, havia sido instalada uma eclusa de ar. Sobre o final do poço, curvava-se
uma bolha energética transparente, que ficava com a mesma pressão de ar do
interior de Favo-1000 quando a eclusa estava aberta, mas poderia ser hermetica-
mente selada com a ajuda da eclusa em caso de emergência. No espaço interno
da eclusa, eram mantidos trajes espaciais, que permitiriam aos homens em
torno de Rhodan subsistirem em caso de emergência sem a atmosfera artificial
do interior do asteroide.
No interior da bolha, fora instalado um conjunto heterogêneo de disposi-
tivos de medição e observação. A tarefa principal da estação externa era seguir
o curso do asteroide e determinar com precisão cada vez maior o momento
em que a situação em Favo-1000 se tornaria crítica por causa da aproximação
ao sol vermelho. A bolha energética deixava que apenas uma pequena fração
da radiação solar mais perigosa — como radiação ultravioleta, infravermelha,
raios X e corpuscular — chegasse ao interior da cúpula, sem influenciar de
maneira significativa a possibilidade de observação óptica. Na estação externa,
prevalecia uma temperatura constante de vinte e dois graus Celsius, e a parte
visível do espectro solar era modificada de modo que os vigilantes pudessem
observar a olho nu a enorme circunferência do sol vermelho, que cobria quase
um quarto do firmamento. A estação externa era permanentemente ocupada
por dois homens do comando de Matunari. Nas cinco horas desde a partida da
CDIN-3, o curso do asteroide não tinha mudado. Ele continuava a apontar na
direção da superfície do sol, e o momento em que os primeiros sinais de der-
retimento seriam perceptíveis na superfície de Favo-1000 tinha sido corrigido
para 22h04min.
Até lá, restavam doze horas.
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Kurt Mahr O Dia da Decisão
Fellmer Lloyd não sentiu nada por enquanto da consternação que a desco-
berta de Matunari provocara. Ele flutuava na sua própria esfera, desprendido do
universo que o cercava, e os seus pensamentos conheciam apenas um objetivo:
o estranho, intangível, que se achava diante dele na escuridão e cuja radiação
mental fraca ele só tinha percebido uma vez.
“Eu o chamo...”, um fluxo de pensamentos telepáticos se formulou.
A escuridão permaneceu muda.
“Amizade... eu sou seu amigo... eu não quero nada de mal a você... nada
de mal...”
Silêncio na escuridão. Então, de repente, veio um fragmento de pensa-
mento quase incompreensível.
“... comece a despertar...”
O fragmento de pensamento não se originava do estranho invisível.
Fellmer Lloyd conhecia a frequência. Era a que enviava a consciência de Betty
Toufry. Ele tinha entrado em contato com a mutante, que estava desmateriali-
zada dentro de um veio TEP.
“... comece a despertar...”
Isso só podia estar relacionado à inteligência do material transformador.
A consciência estranha vinha a si agora? Ele irradiou um novo chamado: “Eu
espero por você! Fale comigo!”
Por segundos, ele escutou na escuridão, então ele ouviu, como de uma
distância infinita, um eco fraco: “... espero... você... fale... comigo...”
Foi difícil se concentrar. O entusiasmo queria arrastá-lo. O que ele ouviu
soava como o eco de seus próprios pensamentos. Mas o eco chegou até ele em
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Kurt Mahr O Dia da Decisão
uma frequência estranha. O desconhecido tinha falado com ele. Com a inteli-
gência desperta de uma criança, ele havia repetido acriticamente os impulsos
telepáticos, que tinha recebido pouco antes.
“Paz... Amizade...”, irradiou Fellmer Lloyd.
A resposta o surpreendeu.
“Paz... Amizade... Solidão...”
“Você deseja solidão?”
“Solidão... Dor...”
A emoção era mais forte do que o pensamento lógico. O ser estranho
tinha medo da solidão.
“Você não está mais sozinho”, respondeu o mutante. “Nós estamos com
você. Nós lhe faremos companhia.”
Demorou algum tempo até vir a resposta. O pensamento era complicado.
A formulação tinha demandado tempo.
“Muito pouca companhia... mais companhia... alegria...”
Fellmer Lloyd achou sentir como o estranho se acostumava com a arte
de pensar, apropriava-se dela, e como seus pensamentos se tornavam cada vez
mais concisos e precisos.
“Há oito que podem lhe fazer companhia”, prometeu Lloyd.
Isso era um obstáculo difícil. O estranho, em sua solidão, provavelmente
não conseguia compreender termos numéricos. A cifra “um” era o único número
que ele conhecia.
“Oito?...”
Fellmer Lloyd pensou em uma estrutura geométrica simples, um círculo.
Ele irradiou a imagem.
“Um”, ele pensou para isso.
Pensou em um segundo círculo, que se juntou ao primeiro. Ele também
irradiou essa imagem.
“Dois”, foi seu comentário.
O estranho compreendeu. A ideia de obter companhia óctupla o encheu
de entusiasmo. Fellmer Lloyd achou que era hora de passar para o próximo
termo mais difícil, para o termo identidade. Só então dois estranhos poderiam
conversar racionalmente um com o outro a longo prazo, se soubessem quem
eram — ou em termos genéricos: quando um sabia quem era o outro.
“Quem é você?”, irradiou o mutante.
“... eu...”
Era inconfundível que a pergunta causava dificuldades. A inteligência
estranha nunca sentira a necessidade de diferenciar entre si e os outros. Por isso,
lhe faltava identidade. Fellmer Lloyd formou uma autoimagem em pensamento
e a enviou para o estranho.
“Eu”, ele pensou para isso.
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Kurt Mahr O Dia da Decisão
4.
paramags também possuem uma inteligência própria, que Pairun poderia ter
reconhecido como indicação da presença de outro ser. Isso, no entanto, nunca
aconteceu. Pairun sempre sentiu aversão pelos paramags e suas máquinas, mas
nunca lhe ocorreu que eles poderiam não fazer parte de seu próprio eu. Deve-se
imaginar assim: Pairun considerava os paramags como uma pessoa considera
uma dor de barriga. Ele não gosta dela, ele não podia — sem remédio — fazer
nada contra ela; mas, por outro lado, ele nunca teve a ideia de considerar a dor
de barriga como um ser estranho.
Por isso, foi difícil transmitir a Pairun o conceito de multiplicidade de
seres. Ele sentia uma espécie de solidão, mas a antítese, ou seja, o conceito de
dualidade ou pluralidade, lhe era completamente estranho. Ele ansiava por outro
ser e, contudo, não podia imaginar que tal ser poderia existir. Eu expliquei a ele
esse fato e ganhei seu afeto por isso.
Afinal, pode-se falar em amizade aqui. Amizade pressupõe a existência
de um conceito moral, e Pairun, como solitário, é um ser absolutamente amoral.
Ele conhece a alegria e a tristeza, mas não o bem e o mal. Ele não é uma criatura,
dito da maneira terrana, em que se pode confiar. Quem quiser coexistir com ele
deve atentar para pensar constantemente nele ou mantê-lo continuamente de
bom humor. Menciono isso porque, em nossos planos, este asteroide e, com ele,
Pairun desempenham um papel importante. Sobre as características de Pairun,
não deve haver a menor dúvida, senão experimentaremos uma catástrofe.
No estado de inteligência, Pairun tem a capacidade de pensar e de se
alterar fisicamente. Eu experimentei um exemplo quando quase congelei no
corredor já quase sem ar, e Pairun me salvou ao aquecer algumas disseminações
de material TEP na parede do corredor, para que eu pudesse me aquecer no
ar residual ascendente. Fora isso, no entanto, ele é quase impotente mesmo no
estado de inteligência. Não consegue ver, ouvir, sentir, provar ou cheirar. Não
possui nenhuma paracapacidade, exceto um certo grau de telepatia, através da
qual originalmente tomei conhecimento de Pairun. Foi quando ele percebeu que
eu tinha caído em uma armadilha para-hipnótica e estava prestes a me matar.
A ação de salvamento não foi porque eu era simpático a Pairun, mas porque
ele odiava os meus inimigos, ou seja, as figuras dos paramags para-hipnóticas.
É possível que Pairun possa desenvolver uma capacidade hipnótica no futuro.
No momento, porém, ela ainda não existe.
Pairun possui, no entanto, uma coisa que pode ser muito vantajosa para
nós: conhecimento. Já que ele sempre considerou as instalações técnicas dos
paramags como uma parte irritante de si mesmo, lidou com ela em períodos de
inteligência temporários e anteriores. Naturalmente que ele não entende nada
da tecnologia. Mas, no mundo dos processos mentais, ele está bem informado,
e, como os paramags usavam técnicas de controle e gerenciamento quase que
37
Kurt Mahr O Dia da Decisão
39
Kurt Mahr O Dia da Decisão
rados pelos três radiadores de impacto não podiam mais sair para o corredor.
Eles condensariam dentro do túnel nas paredes e entupiriam o túnel ainda mais.
Pensativo, Matunari olhou o desabamento.
— Acha que é um processo natural? — ele perguntou ao mutante.
— Dificilmente — respondeu Lloyd. — A crosta rochosa solidificada era
forte e estável. Temo que sua Máquina Kamikaze seja a culpada pelo desastre.
— Não diga minha máquina, senhor — retrucou o japonês. — Estou feliz
com que ela não pôde mirar melhor.
— O que quer dizer com isso?
Lloyd perguntou, embora há muito conhecesse o pensamento do coronel.
— O desabamento poderia ter ocorrido bem em cima de nós, não é? —
se afervorou Matunari. — Então estaríamos soterrados, e quem sabe quanto
tempo levaria até que fôssemos tirados.
Ele gesticulou, e dois homens com armas de serviço médias vieram
correndo.
— Limpem pelo menos uma parte da coisa! — ordenou a eles.
Eles se puseram ao trabalho. Sob os raios energéticos brilhantes de suas
armas, o escombro vaporizou. Surgiu um buraco, através do qual o vapor pôde
sair. A partir de então, foi mais fácil. Um pedaço de rocha após outro começou
a brilhar, derreteu e se afastou em nuvens rodopiantes. Quando a abertura ficou
grande o suficiente para que um homem pudesse passar sem muito esforço,
Matunari fez os dois homens pararem. O incidente o tornara cauteloso. A par-
tir de agora, ele postou um guarda na boca do túnel. Caso houvesse mais um
desabamento, o homem poderia ajudar pelo lado de fora se necessário.
Um questionamento pelo rádio do capacete revelou que a tropa de Perry
Rhodan tinha sido poupada de incidentes até agora. O trabalho ali também
avançava rapidamente. O túnel de Rhodan tinha quase trinta metros de com-
primento, e era de contar com que, a qualquer momento, dessem com o salão
da Máquina Kamikaze.
Enquanto o trabalho no túnel de Matunari continuava, Fellmer Lloyd
ficou aparentemente parado à parte. Na verdade, ele se concentrava. Com os
olhos quase fechados, ele ouvia no campo mental e se certificava de que apenas
os pensamentos ruidosos dos homens trabalhando pudessem ser ouvidos. De
repente, ele estacou. Da entrada do túnel, veio um impulso mental que expres-
sava assombro e espanto. Logo depois, veio um pensamento mais preciso: “De
onde vocês vieram? O que vocês querem?”
Esses eram os pensamentos do vigia. Quem ele via? Com quem ele se
admirava?
“...Socorro...”
Um grito mental estridente, expelido na mais alta necessidade. Então
um fluxo de impulsos irrompeu de repente. Perto da boca do túnel, surgiu um
41
Kurt Mahr O Dia da Decisão
Esse paramag foi jogado para o lado como se tivesse sido atingido por
um duro golpe. As mangas do traje espacial, em que os braços do corpo do
paramag se estendiam apenas até a metade, voaram balançando para o alto.
O ser alienígena caiu no chão e ficou imóvel. O outro paramag tentou desajei-
tadamente se virar. O radiador de impacto, que flutuava no ar diante dele, já
que as mãos esguias no envoltório disforme do traje espacial não conseguiam
agarrá-lo, acompanhou a virada.
— Pare! — gritou Lloyd. — Ou você está perdido.
Foi, observado friamente, uma ação inútil. O corpo do paramag dominava
uma consciência aborígene que não entendia a linguagem dele. A consciência
de Tama Yokida fora suplantada e não tinha nenhuma influência nas intenções
do paramag.
Mas, apesar disso, o milagre aconteceu. O paramag estacou em meio ao
movimento. Ele, agora no meio do caminho até Lloyd, se virou para o lado.
Tinha virado tanto o crânio semelhante ao de um babuíno que ele podia ver
o inimigo. Os grandes olhos facetados encararam ansiosamente o terrano. O
radiador de impacto ainda estava flutuando no ar, mas sua boca apontava ino-
fensivamente para o corredor.
Fellmer Lloyd abaixou a arma. Ele teve uma ideia melhor. Não tinha um
talento hipnótico, mas podia, quando se esforçava, amplificar seus pensamentos
para que eles também chegassem à consciência de um não telepata. Ele não ti-
nha certeza se teria sucesso. Mas tinha que tentar. Numa emergência, ele ainda
tinha a arma de choque.
“Tama Yokida, eu o chamo!”
Confusão, medo, ira, decepção, desamparo responderam.
“Tama Yokida, eu o chamo!”
Confusão e medo e, entre eles, um pequeno impulso mal perceptível:
“Eu... Tama Yokida... outro...”
“Defenda-se, Yokida!”, irradiou Lloyd. “Você tem a força. O inimigo está
impotente!”
“Eu tento... esforço... demais...”
“Você conhece isso, Tama Yokida!”, insistiu Lloyd. “Você é forte! Seu ini-
migo quer desistir!”
A luta se passou diante ele, silenciosa para todos os outros, menos para
ele, que podia escutar os gritos dos pensamentos, os impulsos de choque do
medo e do triunfo. A consciência de Tama Yokida foi despertada. Ela lutou
contra a alma dos paramags, sob cujo domínio estivera até agora. Importava
muito em que medida a Máquina Kamikaze apoiava seu agente — isso se ela
fosse capaz de apoiá-lo. Fellmer Lloyd não podia mais intervir na luta. Yokida
tinha de encará-la sozinho.
E ele a estava encarando.
45
Kurt Mahr O Dia da Decisão
5.
Daria certo.
Repetidamente, Krym Matoscho se persuadia. Daria certo. Lentamen-
te, a CDIN-3 se afastou das áreas mais perigosas da gigantesca tempestade
gravitacional. O relógio mostrava 12h45min quando o pequeno cruzador se
aproximou quinhentos anos-luz de seu destino. No entanto, o computador de
bordo ainda não queria concordar com um salto linear sobre essa distância.
A distância restante teria de ser coberta em dois saltos. Seriam mais de treze
horas depois que a CDIN-3 chegasse a Ponto Para. Mas talvez o tempo perdido
pudesse ser compensado em outro lugar. O pequeno cruzador tinha sobrevivido
muito bem à viagem infernal até agora. Na última saída do espaço linear, outra
unidade propulsora falhara. Acabara de ser substituída pela segunda unidade
de reserva. Com isso, as reservas estavam esgotadas, mas a CDIN-3 ainda estava
totalmente manobrável.
O próximo salto foi fixado em duzentos e cinquenta anos-luz. O compu-
tador de bordo se opôs, apontando as diretrizes de segurança. Mas, como Krym
Matoscho insistiu em seu desejo, ele acabou cedendo. A manobra de imersão
decorreu sem dificuldades. Às treze horas e dois minutos, o piloto automático
fez a CDIN-3 deixar o espaço linear novamente e a materializou no continuum
einsteiniano. A distância de salto medida foi de exatamente duzentos e cinquenta
anos-luz. Krym Matoscho estava satisfeito consigo mesmo e com sua nave.
Ele ativou os rastreadores e mandou analisar as condições energéticas do
espaço. Os resultados o surpreenderam. Ele sabia que ainda não tinha deixado a
área da tempestade, e, ainda assim, estava tudo tão calmo como se não houvesse
tempestade gravitacional. Instruiu o computador para preparar o próximo salto
o mais rápido possível. Entrementes, veio-lhe uma ideia. Ele não tinha ideia
de quão longe se estendia a zona de calmaria em que a CDIN-3 estava nesse
momento. Se ela acabasse antes do ponto de destino, seus esforços seriam em
vão. Mas uma tentativa não faria mal, e, se tivesse sorte, ele já poderia resolver
o problema de seu atraso.
Ele se virou para o copiloto.
— Vamos tentar uma pequena mensagem de hiper-rádio — ordenou ele.
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Kurt Mahr O Dia da Decisão
Era por volta das dezessete horas quando Fellmer Lloyd ouviu de uma
pequena distância o grito de júbilo mental de um dos três homens que traba-
lhavam na frente, na cabeça do túnel.
— Chegamos!
O túnel tinha quarenta e três metros de comprimento. Lloyd correu para
frente. Os homens haviam desligado os radiadores de impacto e recuado. Cono
Matunari estava ajoelhado diante do buraco — até onde ele podia ousar ir por
causa da rocha incandescente — e tentava olhar através dele.
— Confusão estranha — ele resmungou e ficou em pé novamente. —
Aumentem o buraco!
Os radiadores entraram novamente em ação. Fellmer Lloyd reparou
que a erupção de gás que se esperava ao arrombar o salão de máquinas estava
ausente. O salão estava tão vazio de ar quanto o resto do interior do asteroide.
Os raios brilhantes dos três radiadores de impacto comiam pedaço por pedaço
47
Kurt Mahr O Dia da Decisão
tura, o feixe brilhante ricocheteou e retornou para o túnel. Fellmer Lloyd tirou
imediatamente o dedo do gatilho, pois, senão, ele seria ameaçado pelo ricochete
da sua própria salva.
— Sem sucesso, senhor — ele informou a Rhodan. — A energia do raio
é simplesmente refletida.
— Vou lhe enviar ajuda, Fellmer — prometeu Rhodan.
O mutante olhou para cima. Ele não precisou esperar muito. Uma es-
tranha cintilação apareceu no fundo do túnel. Ficou clara, tomou forma. Um
traje espacial apareceu. O crânio de um babuíno com grandes olhos facetados
e rígidos olhava pela viseira.
— Kakuta?...
— Sim — veio a resposta rouca.
Quando Tako Kakuta despertara da inconsciência, ele era novamente
senhor de sua vontade. A alma do paramag, a quem a Máquina Kamikaze tinha
dado força adicional, não mais o dominava. A Máquina o tinha deixado em paz
desde então, assim como a Tama Yokida. Os dois mutantes tinham retornado
com a ajuda da capacidade de teleportador de Kakuta para a eclusa e, dali,
acompanharam de longe o progresso dos trabalhos nos dois túneis.
— Eu sou necessário? — perguntou Tako Kakuta.
Lloyd apontou para a abertura.
— Estamos bem diante do objetivo — respondeu ele. — Mas o buraco está
fechado por um campo de força de estrutura desconhecida. Não conseguimos
passar, e nossos radiadores de impacto ricocheteiam sem efeito nele.
— Entendi — respondeu o teleportador.
— Eu quero que você aja com cuidado — advertiu Lloyd. — Eu não sei
até onde o campo chega e que influência tem nos teleportadores.
— Eu terei cuidado — prometeu Kakuta.
Fellmer Lloyd recuou. O teleportador ficou imóvel por um momento,
então se formou a mesma cintilação que as pessoas viram quando ele se mate-
rializara no túnel. Intensificou-se notavelmente. Os contornos do traje espacial
começaram a se turvar. Fellmer Lloyd prendeu a respiração involuntariamente.
Mais um segundo — e Tako Kakuta estaria dentro do salão!...
Então a cintilação parou de repente. Cessou como se alguém tivesse
girado o interruptor que provocava o desligamento. No chão da galeria, jazia
Tako Kakuta. Uma convulsão moveu uma ou duas vezes o corpo raquítico do
paramag; então o mutante ficou imóvel. Fellmer Lloyd escutou. Ele ouviu um
sussurro abafado e incoerente vindo da consciência do teleportador. A rever-
beração da dor física ainda podia ser sentida.
Tako Kakuta tinha falhado.
O radiador de impacto tinha falhado.
Cono Matunari tinha falhado.
49
Kurt Mahr O Dia da Decisão
“... destruído”, chegou o eco. “Eu paro, Felmloit. Você pensa… em nosso...
acordo...
— Eu nunca vou esquecer, Pairun — ele soltou. — Nunca... enquanto
eu viver.
52
Kurt Mahr O Dia da Decisão
gasse ao asteroide ameaçado ainda antes de surgir um perigo sério para os que
haviam ficado em Favo-1000.
Assim se acreditava. Afinal, nada se sabia sobre os perigos completamente
novos aos quais Perry Rhodan e seus companheiros estavam expostos nesse
momento.
Os oito mutantes — entre eles, Betty Toufry, que não tinha deixado os
veios metálicos TEP desde a primeira tentativa de contato com Pairun — perma-
neceram por enquanto dentro do material transformador. Ademais, tratava-se
de um pagamento adiantado para o fim do estado de solidão prometido por
Fellmer Lloyd.
Após a casa interna do asteroide ser restaurada desse modo ao equilíbrio,
os terranos começaram a procurar uma maneira de influenciar o curso do corpo
celeste, que continuava a cair em direção ao sol.
Perry Rhodan tinha esperança de compreender o mecanismo de controle
do sistema de propulsão para que ele pudesse estabilizar o curso de Favo-1000
em uma distância não perigosa de Wild Man.
Essa esperança não se cumpriu. E não foi por falta de solicitude de Pairun.
Pelo contrário: o ser metálico estava mais do que disposto a realizar todos os
desejos concebíveis dos terranos o mais rápido possível. No entanto, Pairun não
tinha ideia dos processos que ocorriam com o asteroide como um todo e, com
isso, além do emaranhado de corredores, salões e veios TEP que representavam
o mundo real de Pairun. Pairun era, por enquanto, incapaz de imaginar a massa
rochosa do asteroide como uma circunstância dentro de um ambiente maior.
Para ele, Favo-1000 era simplesmente o mundo, o Cosmo, o Universo, e o pen-
samento de colocar o Cosmo em um novo curso era inconcebível para Pairun.
Por essa razão, ele não foi capaz de explicar aos terranos o uso das má-
quinas que, no conjunto, constituíam o propulsor. Já parecia a Perry Rhodan
que teria de desistir de qualquer tentativa de influenciar o curso do asteroide e
confiar apenas na chegada da Marco Polo no devido tempo. Então Fellmer Lloyd
fez uma descoberta que permitiu ao menos aliviar parcialmente a situação. Na
discussão dos diversos dispositivos, a maioria dos quais era incompreensível
para Pairun, o mutante e o ser metálico aludiram a três máquinas que estavam
bem lado a lado em um dos salões e pareciam tão semelhantes como se todas
servissem para a mesma finalidade. No entanto, uma observação telepática fez
Lloyd ficar atento: “... em cima e embaixo são às vezes trocados...”
Ele investigou e veio a saber, com algum esforço, que a inversão de em
cima e embaixo resultava de uma modificação do campo de gravidade artificial
que penetrava no asteroide. Tal mudança só poderia — exceto pela falha dos
geradores de gravidade — vir de uma rotação rápida do planetoide em torno de
um ou mais dos seus três eixos. Se a suposição de Fellmer Lloyd estivesse corre-
ta, então cada uma das três máquinas servia para colocar a massa do asteroide
em movimento em torno de um dos três eixos de inércia. Pairun sabia como as
máquinas eram operadas. Ele tinha observado os paramags durante milhares
de anos nessa atividade. Apenas o propósito das máquinas não lhe era claro.
Perry Rhodan ordenou uma tentativa. Os oito mutantes executaram as
figuras prescritas. Uma das três máquinas começou a funcionar, e, depois de
54
Kurt Mahr O Dia da Decisão
6.
56
Kurt Mahr O Dia da Decisão
dar declarações. Ele tinha que recordar a sua própria pessoa aos cidadãos do
Império. Em outras palavras: ele tinha que chegar à Terra o mais tardar às duas
horas da manhã de primeiro de agosto.
Enquanto isso, a Marco Polo tinha manobrado, usando campos de tração e
campos de contenção, o asteroide para uma órbita estável em volta de Wild Man.
Favo-1000 se movia a uma distância média de quatro unidades astronômicas
da superfície do sol. A autorrotação do asteroide feita por Rhodan tinha sido
mantida. Favo-1000, Pairun e os oito Antigos Mutantes estavam em segurança.
A Marco Polo estava pronta para partir. A perspectiva, no entanto, de que Perry
Rhodan chegaria a tempo à Terra de maneira convencional era mínima.
60
Kurt Mahr O Dia da Decisão
que meios ele recorreria para isso, não estava muito claro para Deighton. Terhera
já tinha infringido a lei antes para obter vantagens na campanha eleitoral. Era
concebível que ele tentasse matar Perry Rhodan?
O pensamento acabou parecendo aventureiro demais para Deighton.
Terhera tentaria criar problemas, mas não deixaria chegar a uma tentativa de
assassinato. Galbraith Deighton decidiu divulgar a data de chegada estimada do
Administrador-Geral. No entanto, ele manteve para si mesmo o conhecimento
de que Rhodan avançava com a ajuda dos transmissores e que, no momento,
ele ainda estava a cerca de trinta mil anos-luz da Terra.
Às vinte e duas horas de 30 de julho de 3444, a surpreendida Humanidade
do Império Solar ouviu em um anúncio especial:
PERRY RHODAN ESTÁ RETORNANDO!
65
Kurt Mahr O Dia da Decisão
uma suíte de escritórios inteira nesse andar. O que havia nas outras salas, eles
não tinham ideia. Cobre voltou em menos de dez minutos.
— Devemos inutilizar a linha de contêineres — disse ele e se largou em
sua cadeira.
— Simples assim? — perguntou Aço com a voz grave.
— Com a ajuda de Açúcar.
Aço olhou para a garota como se a visse pela primeira vez.
— De onde você tira a impressão de que pode destratar as outras pessoas?
Açúcar não deu atenção.
— Quando? — ela perguntou a Cobre..
— Se possível, no último momento. Para que Rhodan não tenha alter-
nativa.
Ela pensou.
— Vou obter acesso para vocês à estação de transmissores hoje à noite,
às vinte e duas horas. Vocês cuidam do resto?
Cobre torceu o rosto em uma careta lamentável.
— Nós temos que cuidar, garota, nós temos! Senão, eles arrancam a
nossa cabeça.
Açúcar se levantou.
— Vão dormir! — aconselhou ela. — A noite vai ser dura.
O olhar duro de Aço repousou nela com uma curiosidade irrefreável.
— O que mais, gordo? — ela perguntou, desrespeitosa.
— De onde você tira tudo isso? — perguntou ele, admirado. — Quero
dizer – toda a vivacidade, todas as suas relações, todas as suas...
— Deixe-me lhe perguntar uma coisa — ela o interrompeu bruscamente.
— Por que você toma parte nisto?
Aço ficou tão surpreso que gaguejou.
— Eu... eu quero dizer... por convicção... Nosso homem... bem, a gente
simplesmente tem que participar... não é?
Ela assentiu como se não esperasse outra resposta.
— Aí, há uma diferença — disse ela friamente.
— Como assim? Eu... eu não entendo...
— Vocês são tolos sentimentais. Amadores. Agentes de convicção política,
que entendem tanto sobre ser agente como um macaco de xadrez tridimensional.
— E você?!... — Aço se admirou.
— Eu estou pela profissão. Sou uma agente treinada. Não estou nem aí
para seu homem. Vou receber cem mil solares se o negócio aqui der certo, e
isso é tudo que me importa!
66
Kurt Mahr O Dia da Decisão
7.
um arco e terminava com a ponta em uma das grandes dragonas que o Imperador
usava nos ombros como um sinal de sua posição. Quem via a figura agigan-
tada do imperador e conhecia seu tipo extrovertido e afável teria dificuldade
em acreditar que Anson Argyris, na verdade, era um robô — uma máquina
que, como Imperador dos Livres-Mercadores Independentes, representava os
interesses do Império Solar.
Estavam na companhia de Argyris três nobres do Conselho de Comércio
do planeta Olimpo. Do lado de Rhodan, Atlan e Roi Danton participavam da
reunião.
— Estou ciente disso, Majestade — respondeu Perry Rhodan sobre as
ideias do imperador —, mas não posso levar em consideração essas coisas.
Afinal, eu quero ser reeleito. Por isso, não tenho alternativa senão retornar para
a Terra da maneira mais rápida.
Argyris passou a grande mão em uma das tranças da barba.
— Mesmo seu próprio especialista, o marechal Deighton, teme pela sua
segurança, senhor — ele insistiu novamente.
— Ele não vai me deixar na mão — sorriu Rhodan, tranquilizador. — Do
jeito que conheço Deighton, ele tomou todas as medidas de segurança possíveis.
Ele deu uma olhada para o relógio. O dia da decisão chegara. Registrava-
se o dia primeiro de agosto de 3444. O relógio mostrava trinta minutos após a
meia-noite, tempo-padrão, embora, ali sobre o espaçoporto e sobre Trade City,
o sol estivesse brilhando.
— Está na hora — disse Perry Rhodan e se levantou.
Anson Argyris suspirou de maneira resignada.
— Se não pode ser convencido, senhor...
— Eu aprecio a sua preocupação bem intencionada, Majestade — res-
pondeu Perry Rhodan. — Mas não me resta escolha. A Terra espera por mim.
O Administrador-Geral, o imperador e sua comitiva caminharam para
um portal que se abriu diante deles. Lá fora, estava o enorme pavilhão do
transmissor com o arco-portal brilhando, engolindo toneladas e toneladas de
mercadorias valiosas para transportá-las para a Terra. Em Olimpo, o mundo
dos livres-mercadores, tudo tinha que ter a sua formalidade. Fanfarras soaram
quando o imperador entrou no pavilhão com seus acompanhantes. Centenas de
trabalhadores, que estavam ocupados com o envio das mercadorias, e ainda mais
espectadores, que tinham vindo para observar o funcionamento do transmissor,
interromperam o que estavam fazendo para saudar o governante de Olimpo e
o Administrador-Geral do Império Solar.
A presença de Perry Rhodan em Olimpo não fora mantida em segredo.
Que ele tinha a intenção de ir pelo caminho mais rápido para a Terra, todo
mundo podia contar nos cinco dedos, e chegar à conclusão de que ele faria uso
da linha de transmissores, isso também não exigia nenhuma inteligência especial.
70
Kurt Mahr O Dia da Decisão
71
Kurt Mahr O Dia da Decisão
Perry Rhodan não tinha se movido. Somente agora, após o perigo ter
sido eliminado, ele deu um passo adiante e, aparentemente intocado, se apro-
ximou de seus três marechais. A saudação foi calorosa, mas breve. O momento
em que o Administrador-Geral poderia se dedicar aos seus amigos ainda não
havia chegado. Nesses segundos, apenas a política desempenhava um papel.
Rhodan gesticulou para os jornalistas nas tribunas para se aproximarem com os
seus equipamentos. Em um instante, ele foi cercado por câmeras e microfones.
O tumulto no enorme salão era indescritível. Mas só foi preciso um gesto do
Administrador-Geral para cessar o alarido.
— Amigos — ele falou na direção dos aparelhos de gravação —, eu
regressei para concorrer às eleições. Que eu tenho algo a lhes oferecer, vocês
reconhecem pelo atentado de que acabei de escapar. Se não fosse assim, meus
adversários não teriam se dado ao trabalho do atentado. Então eu devo ter algo
aos seus olhos que vocês apreciam aí fora – ou não teria havido este incidente.
Fez uma pausa e deu tempo para as palavras penetrarem na consciência
dos ouvintes. Então continuou: — Eu me recusei até há pouco a me candidatar
porque eu não tinha tempo para a candidatura e as atividades relacionadas.
Lá fora, nas profundezas do interior da Galáxia, ameaçava um perigo que eu
queria enfrentar e rechaçar, antes de ter tempo para viagens de eleições e belos
discursos...
O interrogatório dos três agentes revelou uma ligação clara entre o gru-
po de ativistas e a organização do marechal Terhera. Embora o próprio Bount
Terhera tenha negado categoricamente ter dado ordem de atacar Perry Rhodan,
e, embora ele tivesse dito a verdade, ninguém acreditou nele. Os indícios eram
demasiado convincentes.
FIM
Perry Rhodan fez o que a maioria achava impossível! Ele voltou a tempo
e ganhou as eleições!
Mas como as coisas continuam para Perry Rhodan e a Humanidade
solar? Informações a respeito estarão no volume de jubileu n° 600, que
transcorre no ano 3456 do calendário terrano.
Perry Rhodan e seus amigos cruzam A FRONTEIRA INVISÍVEL...
A FRONTEIRA INVISÍVEL — esse também é o título do próximo volume
de Perry Rhodan, que foi igualmente escrito por Kurt Mahr.
75
Imagem: Johnny Bruck / Copyright © 1969 Pabel Moewig Verlag KG.
SSPG Editora Perry Rhodan
Glossário
Dino-386: Espaçonave terrana do tipo tênder de frotas pesado da classe Dinossauro.
Alguns membros da tripulação conhecidos são: Bronson, Cono Matunari (coronel e
comandante do tênder, considerado extremamente capaz), Floyd Cilamaro e Krym
Matoscho (comandante do cruzador CDIN-3). No ano 3444, a Dino-386 participou do
abastecimento dos asporcos como parte de um comando experimental consistindo
de 165 unidades, já que o planeta natal deles, Asporc, foi devastado pela decolagem
de um meteorito convertido em espaçonave e pelos subsequentes desastres naturais.
Em 23 de julho do ano 3444, o tênder de frotas foi posto em marcha por Roi Danton,
juntamente com o ultracouraçado Mostonow, na direção do sistema estelar Paramag
Alfa. Apesar de uma violenta tempestade gravitacional, o coronel Matunari e o co-
mandante da Mostonow, o coronel Nosla Spitzer, conseguiram levar as duas grandes
espaçonaves em voo sincronizado para o sistema natal dos paramags. A missão secreta
das duas naves envolveu a recuperação de um asteroide contendo metal TEP, que foi
chamado de “Favo-1000”, o qual mais tarde serviria como refúgio para os Antigos
Mutantes. Posteriormente, a Marco Polo e a Mostonow escoltaram o tênder, que
estava carregando o asteroide em sua plataforma, até o objetivo secreto no sistema
Wild Man, no Aglomerado Tolot. Depois que o tênder chegou ali, Rhodan ordenou
que o cruzador CDIN-3 fosse descarregado e ficasse vigiando. Porém, no metal TEP de
Favo-1000, foram encontrados inúmeros paramags, que estavam escondidos nos veios
TEP dentro do planetoide. A falha em desalojar todos os paramags do asteroide levou à
destruição da plataforma da Dino-386 com um ataque-surpresa deles, quando usaram
a sua arma definitiva para criar um campo de formação de antimatéria para-abstrato
construtivo positivo. Apenas o cruzador CDIN-3 sobreviveu ao ataque, pois já havia
sido descarregado. Do resto da tripulação, apenas Perry Rhodan, Alaska Saedelaere,
o coronel Matunari e dezessete outros homens conseguiram chegar à seção esférica
antes que essa também fosse destruída. A luta terminou com a morte dos atacantes.
Depois disso, os vinte astronautas sobreviventes do tênder foram atacados pelo ha-
lutense Tondor Kerlak, que estava em um estado mórbido de lavagem forçada. No
curso da luta com Kerlak, três sobreviventes foram mortos, e o halutense se libertou
temporariamente de sua compulsão. No entanto, ele voltou para o seu estado mór-
bido e quis se jogar no sol junto com Rhodan, que foi salvo pela intervenção de Icho
Tolot. Um pouco mais tarde, Rhodan, Saedelaere e os demais astronautas encalhados
puderam ser resgatados pela CDIN-3 e levados para Favo-1000.
Ponto Para: Sistema estelar da Via Láctea, formado por um sol duplo que serviu como
ponto de encontro no ano 3444. O sol duplo está situado a 5.000 anos-luz do sistema
Paramag Alfa e a 1.750 anos-luz de Wild Man em linha reta entre ambos os sistemas.
Não se sabe se os sóis são orbitados por planetas. Em julho do ano 3444, depois que
o asteroide Favo-1000 contendo metal TEP foi recuperado do sistema Paramag Alfa
em uma missão ousada pelo tênder de frotas pesado Dino-386, uma nova localiza-
ção para ele foi encontrada em um local secreto. O tênder e suas naves de escolta,
77
SSPG Editora Perry Rhodan
Marco Polo e Mostonow, voaram para um sol duplo, que recebeu o nome de “Ponto
Para”, a fim de fazer uma parada intermediária. Para surpresa de todos, a estranha
flotilha encontrou ali a nave negra do halutense Tondor Kerlak, o qual estava na fase
de lavagem forçada. Para manter o sistema-alvo em segredo, o sol duplo serviu como
local de espera da Marco Polo e da Mostonow, enquanto Perry Rhodan prosseguiu o
voou dali com a Dino-386 para o sol Wild Man, no Aglomerado Tolot. No entanto, o
halutense seguiu o tênder até esse destino.
Wild Man: Sistema estelar da Via Láctea, situado no Aglomerado Estelar Tolot, formado
por uma estrela vermelha com um diâmetro oito vezes maior que o do sol terrano. A
estrela foi batizada assim pelo halutense Icho Tolot, por causa de sua alta temperatura
superficial e protuberâncias violentas. Não possui planetas. A distância para o Sistema
Solar é de aproximadamente 42.000 anos-luz, cerca de 6.700 anos-luz de Paramag Alfa
e 1.750 anos-luz de Ponto Para. A estrela mais próxima é uma supergigante azul, a ape-
nas 3,8 semanas-luz de distância. As órbitas gravitacionais são particularmente densas
nesse setor, desencadeando eventos energéticos como só podiam ser imaginados nos
aglomerados estelares. Algumas estrelas nessa região só podem ser encontradas por
acaso. Isso também é verdade em relação a Wild Man, que os terranos nunca teriam
alcançado sem as coordenadas exatas fornecidas por Tolot. Em tempos anteriores, o
Aglomerado Tolot serviu como base militar para os halutenses, e Rhodan entendeu
por que eles tinham usado o Aglomerado como base. Em julho do ano 3444, o tênder
de frotas Dino-386 levou Favo-1000 até ali, pois o planetoide deveria servir como o
novo lar para os Antigos Mutantes e um parabanco.
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SSPG Editora Perry Rhodan
Autor
Kurt Mahr
© Pabel-Moewig Verlag KG
Kurt Mahr era considerado “o físico” do grupo de autores de Perry Rhodan. Nascido
em 1934, em Frankfurt, ele entrou para a universidade disposto a seguir a carreira
de engenheiro, porém logo mudou de ideia e passou para o curso de Física em 1956.
Após formar-se, Kurt Mahr mudou-se para os EUA. Sua carreira literária começou no
final da década de 1950, com histórias de amor e faroeste — contudo, sem grande
sucesso. Isso mudou quando ele passou a escrever ficção científica: em 1960, seu livro
“Zeit wie Sand” (“Tempo Feito Areia”) foi publicado na série Terra, e, em 1961, ele
estreou na série Perry Rhodan com o episódio “Alarme Galáctico”, o quinto da série.
Seus conhecimentos de física impregnavam a série, e seus volumes caracterizavam-se
por extrapolações técnico-científicas exatas e detalhadas. Em 1972, Mahr retornou
à Alemanha e começou a escrever para a série Atlan. A partir de então, ele passou a
escrever exclusivamente para as séries Perry Rhodan e Atlan, bem como para os “ro-
mances planetários” de Perry Rhodan. Em 1977, ele retornou para os EUA. A partir de
1985, Mahr começou a escrever, juntamente com Ernst Vlcek, as sinopses básicas para
a série Perry Rhodan. Durante uma década e meia, ele escreveu o suplemento “Perry
Rhodan Computer”. Kurt Mahr morreu em 1993, na Flórida, em consequência de um
acidente. O desenhista Johnny Bruck prestou-lhe uma homenagem, retratando-o na
capa do episódio 1700 da série.
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SSPG Editora Perry Rhodan
Próximo Volume
A Fronteira
Invisível
de Kurt Mahr
Tradução de
Marcel Vilela de Lima
e Marcos Roberto Inácio Silva
Perry Rhodan conseguiu algo que ninguém tinha julgado possível! O Admi-
nistrador-Geral retornou para a Terra em cima da hora e, em 1º de agosto de
3444, foi reconduzido ao seu cargo pelo voto de uma maioria impressionante
do eleitorado do Império Solar.
Desde esse dia memorável, que marcou o fim dos eventos turbulentos relaciona-
dos aos Antigos Mutantes, aos asporcos e aos paramags, já se passaram pouco
mais de doze anos. Agora, a Terra está no final de agosto de 3456.
Duas outras eleições já ocorreram, e Perry Rhodan ainda é o Administrador-Geral.
Sua velha e conhecida equipe — formada pelos imortais portadores de ativador
celular — permanece fiel a seu lado.
A catástrofe da imbecilização, que eclodiu há dezesseis anos devido ao surgimento
do Enxame Estelar na Galáxia, foi completamente superada pela Humanidade e
pelos demais povos estelares. O Império Solar não enfrenta problemas políticos
nem militares. Comércio, indústria, ciência e tecnologia florescem, levando o
progresso a muitos lugares.
Porém, no decurso de uma experiência envolvendo novas técnicas de voo espacial,
Perry Rhodan cruza A FRONTEIRA INVISÍVEL...
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SSPG Editora Perry Rhodan
Próximo Ciclo
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SSPG Editora Perry Rhodan
Ciclos Anteriores
Os volumes da série Perry Rhodan narram uma história contínua que se inicia no ano de 1971 e avança progressivamente
pelos séculos e milênios adiante, apresentando a história futura da Humanidade como uma epopeia grandiosa e intrigante.
Para facilitar o acompanhamento da narrativa por novos leitores, a série divide-se em ciclos de cerca de cinquenta ou cem
episódios. Cada ciclo forma um arco de histórias fechado em si: a partir de um novo ciclo, novas situações, ambientes e
personagens são apresentados, até o seu desfecho dezenas de episódios adiante.
A primeira viagem tripulada à Lua, comandada por Perry Rhodan, encontra uma nave ava-
riada dos arcônidas. Com a ajuda de sua tecnologia superior, Rhodan unifica a Humanidade,
defende a Terra de invasões alienígenas e começa o avanço para a Via Láctea. Com isso,
ele toma conhecimento da existência de outros povos, como os tópsidas, os saltadores e
os aras. O superser Aquilo concede aos mais importantes terranos a imortalidade relativa.
Perry Rhodan encontra-se com Atlan, o Solitário do Tempo. Juntamente com o arcônida
imortal, ele combate os druufs, seres vindos de outro universo, e protege o pequeno reino
sideral terrano dos ataques dos mercadores galácticos e do robô regente dos arcônidas.
O superser Aquilo espalha 25 ativadores celulares pela Via Láctea, levando as inteligências
da Galáxia a uma corrida pela imortalidade. Os terranos entram em conflito com os blues,
seres que criaram um poderoso império no setor oriental da Via Láctea. O líder do mundo
colonial Plofos rebela-se contra o Império Solar.
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SSPG Editora Perry Rhodan
Na Via Láctea, surge de repente Old Man, uma gigantesca plataforma robotizada. Os policiais
do tempo e suas espaçonaves vivas atacam o Império Solar para punir os terranos por seus
supostos crimes contra o tempo. Perry Rhodan é enviado para a galáxia M-87 com sua nave
capitânia Crest IV e lá desvenda a história dos halutenses. Os terranos avançam para as
Nuvens de Magalhães e conseguem derrotar os líderes da Polícia do Tempo.
A Terra é ameaçada por poderosos impérios formados por seus antigos mundos coloniais e
vê-se obrigada a se proteger atrás de um campo temporal. Perry Rhodan viaja 200 mil anos
no passado com o deformador do tempo-zero e descobre na Terra primitiva as atividades dos
takerers, uma parte do povo dos cappins. Para evitar uma iminente invasão, Perry Rhodan viaja
com a nave Marco Polo à galáxia natal dos cappins e ajuda Ovaron, o Ganjo dos ganjásicos.
Os episódios da série Perry Rhodan a partir do nº 650 são publicados no Brasil pela SSPG Editora desde o ano de 2001, e
uma edição digital a partir do nº 537 foi iniciada em paralelo em 2015. No início de 2019, foi lançada também uma edição
digital a partir do nº 1800. Para maiores informações, visite o site oficial da série no Brasil em www.perry-rhodan.com.br.
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Ciclo Atual
9º Ciclo: “Os Antigos Mutantes” – Episódios: 570 a 599
Período das histórias: 3444
Toda quinzena, a SSPG Editora lança novos volumes da série Perry Rhodan. Cada volume traz uma história completa que
pode ser lida separadamente a partir de qualquer número. Para mais informações, visite o site oficial da série no Brasil
em www.perry-rhodan.com.br.
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Créditos Editoriais
Copyright © 2019:
Perry Rhodan 599, by Kurt Mahr, “Tag der Entscheidung”,
Pabel-Moewig Verlag KG, Rastatt, Germany
www.perry-rhodan.net
PERRY RHODAN® is a registered trademark by
Pabel-Moewig Verlag KG, Rastatt, Germany
Perry Rhodan
Marca requerida – INPI
Star Sistemas e Projetos Gráficos Ltda.
Perry Rhodan – O Herdeiro do Universo – é uma publicação quinzenal da SSPG Editora – Star
Sistemas e Projetos Gráficos Ltda. Redação: Caixa Postal 2466 – CEP 30130-976 – Belo Horizonte
– MG. Publicado sob licença contratual de Pabel-Moewig Verlag KG, Rastatt, Alemanha (VPM KG).
Coordenação geral: Rodrigo de Lélis. Divulgação: César Augusto Figueiredo Maciel. Tradução:
José Antonio Cosenza e Salomão Delgado S. Júnior. Revisão da tradução: Marcos Roberto Inácio
Silva, Paulo Eustáquio Marra Pinto, Rodrigo de Lélis. Artigos e colaborações: Jocélio Tadeu Hoffel-
der Maciel. Editoração: Rodrigo de Lélis. Ilustrações das capas: Johnny Bruck, copyright © VPM KG.
A distribuição é feita exclusivamente pela SSPG Editora através do site oficial da edição na Internet
(www.perry-rhodan.com.br). Números atrasados em formato impresso ou digital podem ser
adquiridos diretamente com a editora de acordo com a disponibilidade dos mesmos. Primeira
edição digital, versão 1.0. Julho de 2019.
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Você pode utilizar os seguintes canais para contatar a SSPG Editora a respeito de assuntos
ligados à edição de Perry Rhodan.
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Carta: SSPG Editora – Caixa Postal 2466 – CEP 30130-976 – Belo Horizonte – MG – Brasil.
Favor indicar o assunto no verso do envelope conforme discriminado abaixo.
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da edição e sobre as tramas das histórias publicadas. Por motivo de limitações de espaço ou
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temas da série Perry Rhodan e estar preferencialmente em formato retrato. Ilustrações digitais
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A5 e no máximo A4. Materiais originais remetidos à editora não serão devolvidos.
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Índice
Apresentação 2
Manifesto da Editora 3
Introdução 4
Personagens Principais 5
1. 6
2. 14
3. 23
4. 33
5. 46
6. 55
7. 69
Glossário 77
Autor 79
Próximo Volume 80
Próximo Ciclo 81
Ciclos Anteriores 82
Ciclo Atual 84
Créditos Editoriais 85
Contatos 86
Índice 87
A maior série de ficção científica do mundo!
Neste volume:
Episódio 599: “O Dia da Decisão”