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Perry Rhodan

O Herdeiro do Universo
Uma série inigualável, que apresenta a evolução da Humanidade em
fantásticas histórias futuristas.
As aventuras de Perry Rhodan e seus companheiros trazem grandes
desafios, situações surpreendentes, mistérios instigantes, misturando
dramas humanos e sofisticadas tecnologias.
A série divide-se em ciclos de episódios, que formam um arco de histórias
fechado em si. Eles podem ser comparados às temporadas dos seriados
televisivos, por exemplo. A partir de um novo ciclo, novas situações,
ambientes e personagens são apresentados, até o seu desfecho dezenas
de episódios depois.
Cada volume da série Perry Rhodan traz uma história completa que pode
ser lida a partir de qualquer número.

Numeração dos volumes


Cada livro da série Perry Rhodan é identificado por dois números. O nú-
mero do volume indica a posição do livro dentro do ciclo, e o número do
episódio indica a posição do livro dentro de toda a série. Como a série é
dividida em ciclos, essa identificação dupla ajuda o leitor a determinar o
início de cada ciclo e a sequência das histórias em cada ciclo.

Neste volume:
Episódio 599: “O Dia da Decisão”

No sistema secreto Wild Man, a quarenta mil anos-luz do Sistema Solar,


Perry Rhodan inicia uma corrida contra o tempo! O asteroide Favo-1000,
numa órbita fora de controle, ameaça cair no sol vermelho e, com isso,
levar à ruína os oito Antigos Mutantes. E, além disso, em menos de qua-
tro dias, ocorrerão as eleições para Administrador-Geral, e a ausência de
Rhodan na Terra representará sua derrota para o inescrupuloso marechal
Terhera...
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9º Ciclo: “Os Antigos Mutantes”
Volume 30
Episódio 599

O Dia da Decisão
de Kurt Mahr

Tradução de
José Antonio Cosenza
e Salomão Delgado S. Júnior

Perry Rhodan regressa – e os assassinos estão à sua espera

Na Terra e nos demais planetas habitados pela Humanidade, registra-se o final


de julho do ano 3444 — o que significa que resta apenas um prazo bem curto
até 1º de agosto, data da eleição para o cargo de Administrador-Geral.
Porém, Perry Rhodan ainda não tem tempo para cuidar pessoalmente de sua re-
eleição. O Administrador-Geral está preocupado, acima de tudo, com as terríveis
consequências da catástrofe em Asporc, pela qual a Humanidade é indiretamente
responsável, e em manter vivos os oito mutantes da Segunda Crise de Geração,
seus antigos companheiros na construção do Império Solar.
Embora Perry Rhodan tenha deixado há muito o sistema Paramag, situado no
centro galáctico, levando consigo o asteroide Favo-1000, que contém metal TEP,
ele ainda não conseguiu fazer de Favo-1000, o “parabanco”, uma residência
segura para os Antigos Mutantes.
Apesar de o incidente com o halutense insano que tinha se estabelecido no Aglo-
merado Estelar Tolot ter se resolvido de forma relativamente branda, a situação
atual não parece muito boa em Favo-1000. Perry Rhodan e seus companheiros
precisam lutar por suas vidas — e, em meio a isso, se aproxima na Terra O DIA
DA DECISÃO...
Personagens principais
deste episódio:

Krym Matoscho – Comandante da CDIN-3.


Perry Rhodan – O Administrador-Geral volta à Terra.
Fellmer Lloyd – O telepata fecha uma aliança.
O Pairun – Senhor de um asteroide.
Cono Matunari – Um comandante sem nave.
Reginald Bell e Galbraith Deighton – Membros do comitê
de recepção de Perry Rhodan.
Kurt Mahr O Dia da Decisão

1.

Krym Matoscho tinha medo — um medo miserável.


Quem o via sentado, atado ao assento do piloto, musculoso, de ombros
largos, com os cabelos arrepiados e loiro-claros, os olhos claros fixos nos indi-
cadores dos instrumentos, teria achado difícil acreditar que Krym Matoscho já
conhecera o termo medo. E, no entanto, ele temia. Temia pela própria vida e
temia a perspectiva de que não poderia terminar com êxito a sua missão.
Uma das telas pequenas diante dele exibia a representação gráfica do
coeficiente de imersão. Havia um pequeno anel vermelho, que alterava o seu
diâmetro continuamente com movimentos trêmulos e pulsantes. O coeficiente
de imersão era, contemplado de maneira leiga, a medida de “facilidade” com que
uma espaçonave poderia realizar a transição para o espaço linear. Graficamente,
aparecia como um anel que limitava o buraco através do qual o veículo entrava
no espaço linear. Quanto maior o buraco, mais fácil a transição.
O que Krym Matoscho via diante de si parecia perigosamente peque-
no. Seu veículo, a CDIN-3, achava-se no prolongamento de uma tempestade
gravitacional vinda do centro da Via Láctea, que tornava uma impossibilidade
as manobras normais. Nesse caso, em circunstâncias normais, Matoscho te-
ria ousado, no máximo, uma manobra de voo linear extremamente curta ou
renunciado completamente à imersão no espaço linear. Ali, no entanto, essas
opções lhe eram negadas. Ele tinha que passar, fosse qual fosse o custo! Atrás
dele, em uma rocha de mil e duzentos metros de diâmetro, estavam Perry
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Kurt Mahr O Dia da Decisão

Rhodan, Atlan, Waringer e sua equipe, os oito Antigos Mutantes, os membros


do Novo Exército e os sobreviventes da Dino-386. O asteroide estava em uma
órbita instável em torno do sol gigante Wild Man. Em busca de seu curso, ele
chegaria tão perto da superfície do sol nas próximas trinta horas que derreteria
e acabaria vaporizado. A salvação só poderia vir de um dos supercouraçados
Marco Polo ou Mostonow, que estavam a mil setecentos e cinquenta anos-luz
de distância, na sombra de localização de um sol duplo de nome Ponto Para,
aguardando o retorno do tênder Dino-386, sobre o qual não sabiam que tinha
sido destruído durante os combates com os últimos paramags sobreviventes.
A tarefa de Krym Matoscho era informar aos comandantes de ambas as naves
sobre os acontecimentos nos arredores de Wild Man e colocar a Marco Polo
em movimento até ali o mais rápido possível. Com as ponderosas centrais de
força da nave gigante, seria fácil levar o asteroide ameaçado a uma órbita estável.
Mas ainda havia um longo caminho para isso. Krym Matoscho olhou
em volta. A pequena sala de comando do seu cruzador auxiliar não tinha mais
de oito metros de diâmetro. Dois de seus oficiais, o copiloto e o especialista em
positrônica, estavam-se acomodados e atados em seus assentos anatômicos.
— Preparação do salto de mais trezentos anos-luz — falou Krym Ma-
toscho no servoautômato acústico, que o ligava com o computador de bordo.
Meio segundo depois, a resposta estava lá. Em uma das telas, cintilou em
vermelho forte: DISTÂNCIA DE SALTO NAS CONDIÇÕES DETERMINADAS
NÃO COMPATÍVEL COM AS DIRETRIZES DE SEGURANÇA! DISTÂNCIA
MÁXIMA DE SALTO 400,18 DIAS-LUZ.
— Não dou a mínima para as diretrizes de segurança — rosnou furioso
Krym Matoscho. — Nós vamos saltar trezentos anos-luz, entendido?!
ENTENDIDO, a escrita se iluminou.
Séries de números passaram pela tela de medição. Matoscho entesou-se
involuntariamente quando os segundos se aproximaram da imersão. Sirenes
uivaram para avisar a tripulação restante do cruzador. Um dos indicadores
luminosos, que media a produção de potência das unidades propulsoras, saltou
para o final superior da escala. Krym Matoscho ouviu um zunido claro e agudo.
Entre uma respiração e outra, a imagem do aglomerado de estrelas da Via Láctea
interna desapareceu da grande tela panorâmica.
A CDIN-3 tinha imergido no espaço linear.

Em Favo-1000, o asteroide, que estava em uma rota de colisão com o sol


Wild Man, a situação por enquanto ainda não era crítica. Contudo, o momento
em que ela se tornaria assim podia ser previsto. Ele estava em um futuro próximo.
O bloco de rocha de mil e duzentos metros de diâmetro havia sido levado
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Kurt Mahr O Dia da Decisão

do sistema Paramag Alfa, com a ajuda do tênder Dino-386, para ali, circulando
Wild Man, pelos oito Antigos Mutantes, cujas consciências subitamente reapare-
ceram mais de quinhentos anos após a Segunda Crise de Geração, para lhes servir
de abrigo. No decurso da sequência de acontecimentos, verificou-se que os oito
mutantes, para poderem agir de acordo com suas capacidades, necessitavam do
material transformador emocional parabiológico que permeava o asteroide em
todas as direções, em veios mais ou menos espessos. Pouco depois de Favo-1000
ter sido colocado em uma órbita estável em torno de Wild Man, os paramags,
que tinham permanecido despercebidos no interior do asteroide, passaram a
atacar os invasores. No decorrer da luta, todos os paramags pereceram; mas, an-
tes, destruíram o tênder Dino-386 com a maioria da sua tripulação. Além disso,
como resultado da confusão, a maquinaria do asteroide, que tinha uma certa
autointeligência, realizara manobras que acabaram por levar Favo-1000 a uma
rota de colisão com o sol Wild Man.
Após a partida da CDIN-3, a maioria dos atores do drama de Wild Man
ainda se encontrava no asteroide. Por um tempo, tinha sido considerado uti-
lizar uma das naves auxiliares da CDIN-3 para a ação de salvamento. Porém,
uma análise mais detalhada das condições energéticas do espaço circundante
mostrou que as naves auxiliares não conseguiriam cobrir com rapidez suficiente
os cerca de mil e oitocentos anos-luz até Ponto Para, devido aos propulsores
relativamente fracos. A CDIN-3, apesar de a potência dos seus propulsores
ultrapassar muitas vezes a das naves auxiliares, tinha, segundo o computador
de bordo, apenas a probabilidade de oitenta por cento de alcançar Ponto Para.
Perry Rhodan tinha decidido permanecer em Favo-1000 depois de ter
ficado claro que era irrelevante para a expectativa de vida dos oito Antigos Mu-
tantes se eles deixassem o asteroide e, com isso, se separassem do metal TEP, ou
se eles permanecessem na rocha e caíssem com ela no sol. Eles eram dependentes
do material transformador emocional parabiológico. Por outro lado, havia, pelo
menos vagamente, a possibilidade de compreender a tempo o funcionamento da
estranha maquinaria dos paramags instalada nos corredores e salões do interior
do asteroide, e fazer com que as máquinas alterassem o curso de Favo-1000 de
modo que ele se estabilizasse.
Com respeito à compreensão da tecnologia dos paramags, que era
dominada de uma maneira altamente incomum por processos de controle
e gestão mentais, foram feitos progressos significativos ao longo do tempo.
Determinou-se que os processos de controle eram realizados pela fusão de um
ou mais paramags com o metal TEP, pela qual se desmaterializavam tempora-
riamente e se moviam dentro dos veios TEP, que permeavam todo o asteroide,
de acordo com certas especificações geométricas. A consciência de um paramag
desmaterializado que realizava o contorno da figura de um triângulo dentro
dos veios TEP dava à maquinaria uma certa ordem. Outra ordem era dada
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Kurt Mahr O Dia da Decisão

pelo paramag que contornava um círculo e, por sua vez, outra por aquele que
realizava o contorno de um quadrado.
Os oitos Antigos Mutantes que tinham “assumido” os corpos dos parama-
gs tinham tentado explorar esse conhecimento. Através dos olhos paratrans, que
estavam embutidos nas paredes dos inúmeros corredores, eles se fundiam com
o estranho material transformador. Os sucessos obtidos até agora resultaram no
chamado processo ganhar-ou-perder: os mutantes realizavam uma determinada
figura geométrica, e outros observavam a reação das máquinas. O processo era
necessariamente demorado. Além disso, houvera outras dificuldades, decorren-
tes, em parte, da confusão da luta contra os paramags. A maquinaria não era clara
em sua reação a certas figuras geométricas. Ou as máquinas tinham se tornado
confusas no curso do conflito, ou os terranos não tinham ainda compreendido
totalmente a tecnologia de influência mental. Outro problema surgira do fato
de que não se tinha certeza se haviam investigado completamente o asteroide.
Várias grandes instalações de máquinas tinham sido descobertas por sondagens
acústicas, e as leituras das sondas pareciam indicar que não havia mais cavidades
de dimensões significativas. No entanto, havia a possibilidade de que o fun-
cionamento das sondas fosse perturbado pela presença do metal TEP, fazendo
com que também não se pudesse estar completamente seguro a respeito de sua
causa. Por último, o próprio material transformador emocional parabiológico
causava problemas da própria espécie. Sob determinadas condições, que Perry
Rhodan e seu pessoal estavam longe de ter reconhecido plenamente, o metal
TEP era capaz de assumir uma certa inteligência própria.
Era contra adversidades desse tipo que Perry Rhodan e seu pessoal ti-
nham de lutar enquanto tentavam induzir a tecnologia dos paramags a levar
Favo-1000 para um curso mais seguro.
À margem, movida para o segundo plano pela urgência da situação
emergencial presente, existia a compreensão de que, nesse dia, se registrava
28 de julho de 3444 do calendário-padrão, e que, em quatro dias, se realizaria
uma eleição no Império Solar para preencher o posto de Administrador-Geral.
Entre as impressões obtidas no sistema Paramag Alfa, no qual ele observara um
enorme perigo não apenas para a Humanidade terrana, mas também para toda
a Via Láctea, Perry Rhodan tinha decidido candidatar-se no último minuto, por
assim dizer, ao cargo de Administrador-Geral.
Se ele — diante da propaganda eleitoral maciça realizada na Terra, em
particular por seu adversário Bount Terhera contra a administração Rhodan —
ainda quisesse ter a sombra de uma perspectiva de sucesso, ele tinha que chegar
à Terra o mais tardar no dia da eleição.
Mas a Terra distava mais de 40.000 anos-luz de Wild Man. Dada a ca-
tástrofe iminente em Favo-1000, ainda havia um lampejo de esperança de que
Perry Rhodan retornaria à Terra a tempo?
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Kurt Mahr O Dia da Decisão

Fellmer Lloyd atravessou um dos muitos corredores que percorriam o


interior do asteroide. Sua figura, atarracada e musculosa, parecia encurvada,
como se estivesse constantemente à espera de um perigo invisível. As paredes
do corredor apresentavam uma cintilação opaca sob a claridade da iluminação
branco-azulada alojada no teto. Ali e acolá, havia pequenas áreas de brilho bem
proeminente: metal TEP que estava à mostra ali.
O corredor não estava registrado nos mapas feitos pelos especialistas de
Waringer. Lloyd o tinha descoberto por acaso, quando examinava uma parede
que desmoronara, e encontrara um túnel estreito sob os escombros que conduzia
diagonalmente para o fundo e acabava por desembocar no corredor até agora
desconhecido. Lloyd tinha informado o coronel Matunari, que coordenava os
trabalhos de busca, sobre a sua descoberta. Mesmo antes de o pessoal de Matunari
chegar com seus equipamentos de busca e rastreamento, Lloyd tinha partido por
conta própria na exploração do corredor.
Desde o primeiro momento, tinha ficado claro para o mutante que esse corre-
dor era essencialmente diferente de outros caminhos. Teria sido difícil explicar qual
a diferença para uma pessoa sem dons parafísicos. No entanto, Fellmer Lloyd sentia
as vibrações estranhas que preenchiam o campo mental. Ele sentia o perigo que o
esperava em algum lugar por trás das paredes rochosas. Já tinha feito percepções
fugazes várias vezes ao longo dos últimos minutos. Formas sombrias cruzavam o
corredor diante dele, como pensamentos fugazes de uma inteligência alienígena.
Por isso, Lloyd se movia como alguém que se aproximava de um adversá-
rio perigoso. De vez em quando, ele pegava na coronha do radiador de impacto,
que estava preso no cinto. A presença da arma lhe dava uma segurança adicional.
Fellmer Lloyd tinha passado tempo suficiente na área de influência dos paramags
e sua tecnologia alienígena para saber quão mortal eles poderiam ser. Ao lado
do radiador de impacto, ele portava uma arma de choque, que lhe parecia inútil
nesse ambiente. Armas de choque agiam em seres de carne e sangue. Agora, no
entanto, não restava mais nenhum dos paramags — exceto os portadores das
consciências dos mutantes. O que permanecia era a maquinaria sinistra que
representava a alma dessa rocha cósmica.
De repente, no meio do movimento, o mutante estacou. Um pensamento
estranho ressoou em sua consciência. Ele estava cheio de ódio e hostilidade.
— Livrem-se do estranho!
Ele puxou o radiador de impacto.
Uma segunda consciência respondeu: — Nós obedecemos!
Fellmer Lloyd podia ser tudo, menos um covarde. Nesse caso, porém, o
tamanho do perigo que se aproximava dele era completamente desconhecido. O
mutante achou mais prudente recuar. Com o radiador de impacto pronto para
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Kurt Mahr O Dia da Decisão

disparar, ele começou a se retirar. Mais uma vez, localizou a radiação de uma
consciência alienígena. O pensamento era incisivo e conciso.
— Ele se afasta. Não percam tempo!
E a resposta: — Nós estamos prontos.
Por um instante, ficou escuro em torno de Lloyd. Quando a iluminação reapa-
receu, ela tinha adquirido uma cor diferente. E o mundo em volta tinha se alterado.
O mutante se achava no fundo de um amplo vale. Plantas que ele nunca
tinha visto cobriam as bordas íngremes e o solo da depressão. Um sol vermelho
enorme brilhava em um céu sem nuvens, e o céu era de um azul-turquesa. Estava
quente, e o éter vibrava com as radiações de incontáveis cérebros.
— Ali está ele! Ataquem!
— Por que nós? Vocês estão mais perto dele. Ataquem vocês!
— Não falem tanto! Ele vai escapar de nós, se vocês perderem tempo!
— Está bem, nós vamos atacar!
Os arbustos se dividiram diante do mutante. Uma horda de seres do tama-
nho de pigmeus investiu para ele. Eles se moviam sobre pernas curtas, cujos pés
possuíam três dedos salientes em forma de estrela. Os corpos marrom-ferrugem
e sem pelos estavam vestidos com trajes coloridos e brilhantes, cujas mangas
mal chegavam à metade dos braços. Os crânios semelhantes aos de babuínos
eram esticados para frente de maneira beligerante. Os grandes olhos facetados
e imóveis se dirigiam irados para o intruso.
Fellmer Lloyd não teve tempo para determinar o que acontecia ali. Pro-
vavelmente, ele estava sob o encanto de uma influência para-hipnótica excep-
cionalmente forte, pois o vale era grande demais para poder ter existido dentro
do pequeno asteroide. O que ele via era falso. Mas o fluxo de pensamentos que
ele recebia era real, e ele tinha que presumir que também as armas, que oscila-
vam nas mãos delicadas dos paramags, eram tão perigosas quanto a realidade.
Ele disparou sem hesitar. Cobriu a frente de ataque dos paramags com
um feixe bem disperso. O efeito foi surpreendente. Os atacantes, atingidos pelo
raio altamente energético da arma, foram lançados para trás e caíram no chão.
Lloyd os ouviu gritar, e sentiu seus pensamentos cheios de dor. Mas isso foi
tudo. Eles acabaram se levantando e investiram novamente contra ele. Dessa vez,
abriram fogo de longe. Ele viu as armas lampejarem nas mãos deles. Manchas de
luz violeta dispararam em direção a ele de todos os lados. Numerosas agulhas
pareceram penetrar sua pele, e o envolveram em uma onda de dor abrasadora.
Isso durou meio segundo, então tudo acabou.
Fellmer Lloyd deu um sorriso amargo enquanto ia apressadamente para
a cobertura de um arbusto espinhoso. Seu radiador térmico não fazia nada
contra os paramags furiosos. Mas a inversão das leis da física tinha efeito em
ambos os lados. As armas dos inimigos também permaneceram relativamente
ineficazes contra ele.
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Kurt Mahr O Dia da Decisão

Ele se moveu em direção à parede do vale. Parecia-lhe mais importante


do que qualquer outra coisa obter uma visão geral da situação. Isso era mais
fácil do alto do que do fundo, com má visibilidade. Acima de tudo, ele tinha
que saber quantos adversários o enfrentavam. Embora seu radiador de impacto
não tivesse o efeito de costume, talvez ele conseguisse intimidar os paramags
com fogo violento, para que eles se abstivessem de mais hostilidades. Talvez ele
pudesse capturar um deles e interrogá-lo telepaticamente.
Sua manobra de fuga pareceu ter confundido o inimigo. Ele ouvia seus
pensamentos.
— Ele está fugindo!
— Atrás dele!
— Temos que informar o Vermelho.
— Certo. Um homem para trás! Você, diga ao Vermelho que o inimigo
quer fugir. Aguardamos ordens!
O mutante assentiu afirmativamente. Enquanto esperavam, ele poderia
recuar mais. A parede rochosa distava cerca de oitenta metros. Havia muitas
arestas e saliências que facilitariam a ele subir. Além do mais, havia tantas plan-
tas estabelecidas nas arestas que ele poderia facilmente se esconder durante a
escalada. O Vermelho era, aparentemente, o comandante dos paramags. Se ele
pudesse intimidá-lo, a luta estaria ganha.
Fellmer Lloyd chegou sem problemas à parede rochosa. Somente quando
passou a subir foi que recebeu de novo um impulso de pensamento urgente.
— O Vermelho ordena perseguição imediata!
— Bom. Nossos batedores sabem para onde ele se retirou. Atrás dele!
Fellmer Lloyd forçou seus músculos e superou sem esforço os primeiros
dez ou doze metros. A partir de uma saliência de não mais de dois metros de
largura, cuja beirada frontal estava coberta de arbustos frondosos, ele olhou para
as profundezas. Dois dos batedores, dos quais tinha acabado de saber, agora
também tinham chegado ao sopé da parede rochosa e olhavam para cima. Por
trás da mata densa, era fácil para ele escapar de seus olhos. Esperou até que eles
voltassem a atenção para outra direção, então continuou a subir cautelosamente.
A uns vinte e cinco metros acima do fundo do vale, ele chegou a uma saliência,
que era excelente para fins defensivos. Em seu fundo, um nicho estreito pene-
trava na rocha, no qual ele poderia escapar completamente do olhar do inimigo
assim que se tornasse necessário.
Ele olhou para baixo. Dali, podia distinguir os atacantes de maneira
excelente. Havia quatro grupos. Um estava em seus calcanhares. Atrás de seus
batedores avançados, quinze paramags tinham chegado agora ao pé da parede
rochosa e se preparavam para subir. Os três grupos restantes também estavam
em movimento e se aproximavam da parede do vale. Três grupos eram de força
aproximadamente igual. O quarto, que se mantinha em segundo plano, consistia
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Kurt Mahr O Dia da Decisão

em apenas cinco paramags. Um deles chamou a atenção de Fellmer Lloyd. Ele


usava uma veste vermelha. Sem dúvida, tratava-se do comandante. As roupas
de seus companheiros, assim como as dele, diferiam do que era usado habitu-
almente no acampamento dos paramags. Enquanto todos os outros adversários
usavam vestes coloridas e brilhantes, um dos quatro companheiros do Vermelho
usava verde brilhante. Os outros três usavam uniformes azuis.
O mutante estimou a distância do esconderijo até a localização do Ver-
melho em quatrocentos metros. Então o alvo estava ao alcance do seu radiador
de impacto. Ele se apoiou e apontou com cuidado, mas, antes que chegasse a
puxar o gatilho, houve vida abaixo dele.
No entusiasmo, ele tinha avançado demais. Os paramags que estavam
atrás dele tinham descoberto o seu esconderijo. Lampejos violetas correram
em sua direção. Uma chuva de dores selvagens o deixou incapaz de lutar por
um segundo. Com suas últimas forças, ele se lançou para trás e saiu da linha de
fogo. Ouviu os pensamentos entusiasmados dos atacantes.
— Ele está ferido. Nós o pegamos!
— Rápido, atrás dele, antes que ele se recupere!
Uma raiva fria se apoderou de Fellmer Lloyd. Porém, os raios violeta
não eram tão inofensivos quanto acreditara inicialmente. Quem quer que fosse
exposto a eles por tempo suficiente, inevitavelmente, perderia a consciência. Ele
tinha que ter mais cuidado.
Ele se moveu para frente novamente. Quando reapareceu no campo de
visão do oponente dessa vez, ele o fez com o radiador de impacto sibilando e
de modo impetuoso. Um feixe luminoso disparou pela parede rochosa para
baixo. Paramags que estavam no alcance da arma pesada perderam o equilíbrio
e caíram gritando para as profundezas. Fellmer Lloyd tirou o dedo do gatilho
apenas quando nenhum dos perseguidores era mais visto. Eles tinham rastejado
para o meio dos arbustos ao pé da parede rochosa.
Apenas um, atordoado pela queda, ainda estava a descoberto. Ele se
recompunha lentamente, e um pensamento veio ao mutante. Ele estava em um
ambiente irreal. Seu radiador de impacto tornara-se uma arma relativamente
inofensiva. Talvez a arma de choque tivesse sofrido uma transformação seme-
lhante. Ela, que na realidade era um instrumento muito humano, podia ter se
transformado em um dispositivo assassino. Embora Lloyd não confiasse muita
probabilidade à sua hipótese, ele a quis experimentar.
Ele apontou. Antes de o paramag atordoado chegar à cobertura dos
arbustos, ele puxou o gatilho.
Em sua mente, ecoou o grito estridente de morte da vítima. Perplexo,
Fellmer Lloyd olhou para as profundezas. Diante de seus olhos, um processo
incrível se realizou. O paramag alvejado começou a se dissolver. Os contornos
da sua figura ficaram transparentes e tremeluzentes. Após alguns segundos,
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Kurt Mahr O Dia da Decisão

ele desapareceu completamente. Só lentamente o choque deu lugar à surpresa.


Pasmo, Fellmer Lloyd voltou para o nicho encoberto. Ele havia matado um ser
inteligente! Para experimentar uma arma, tinha cometido um assassinato! Ele
ponderou e só gradualmente lhe veio a percepção de que ele não estava lidando
com seres reais. Estava em uma hipnoarmadilha. Ele vivia na irrealidade. O grito
de morte que tinha ouvido fora o produto de uma máquina diabólica, que se
achava em algum lugar do interior do asteroide.
Com essa ideia, ele se acalmou. Podia até ser diferente, ele disse para si
mesmo. Ele não lutava contra inimigos reais. Lutava contra as criações de um
aparelho hipnótico pré-programado.
O grupo do Vermelho tinha se aproximado nesse meio tempo. A dis-
tância era de pouco menos de duzentos metros. Quando ele saiu da cobertura
temporária do arbusto e das árvores, Fellmer Lloyd apontou. O cano da arma
de choque mirou o paramag vestido de vermelho.
Quando a ponta do dedo desceu para o gatilho, um pensamento selvagem
e imperioso passou por sua consciência. Ele era tão forte que Lloyd se abaixou,
como sob a força de um impacto físico.
— Não!...
O pensamento de um estranho que ele nunca tinha ouvido antes! A
ordem não vinha do cérebro de um paramag. Sua origem estava fora do vale,
fora da irrealidade em que Fellmer Lloyd se encontrava. Ele vinha do mundo
da realidade, que ele havia deixado para trás.
Não?...
Sem se dar uma resposta para isso, ele fez o cano da arma de choque
vagar um pouco mais para a esquerda. Ali estava o Verde, que era um dos
companheiros do Vermelho. Mais uma vez, o mutante mirou. Uma segunda
vez, o dedo desceu até o gatilho, tocou-o e o empurrou lentamente para baixo.
Dessa vez, tudo continuou quieto. Lloyd puxou o gatilho. Internamente, ele se
armou contra o terrível grito que ouviria.
Mas nada disso aconteceu. Ficou escuro. O vale desapareceu. Por um
momento, Fellmer Lloyd perdeu toda a orientação. Então ficou novamente claro.
A luminosidade de cor branco-azulada. O mutante olhou em volta. Assim como
ele havia se ajoelhado segundos antes na borda do penhasco, ele estava ajoelhado
agora no meio do corredor que tinha descoberto recentemente.
Ele ouviu indistintamente um pensamento estranho!
— Busquem outros inimigos para vocês! Esse é forte demais para nós!

2.

300,0001 ANOS-LUZ, disse o escrito luminoso.


Krym Matoscho limpou o suor da testa. Duas das cinco unidades dos
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Kurt Mahr O Dia da Decisão

propulsores apresentaram sintomas de sobrecarga temporários, mas, enquanto


ele ainda observava o mostrador luminoso, elas gradualmente regressaram para
o ponto de partida.
No mesmo instante, a CDIN-3 recebeu um solavanco. Os campos defen-
sivos tremularam, e, das imagens da tela panorâmica, uma luz fantasmagórica
inundou a sala de comando. Matoscho aguardou com os músculos tensos, como
se fosse fisicamente amortecer o solavanco seguinte. Porém, a nave permaneceu
calma. A cintilação dos campos defensivos cessou quando a energia absorvida
dos choques gravitacionais se extinguiu. Krym Matoscho olhou por alto os
bancos de aparelhos de medição. A tempestade gravitacional era mais forte ali
do que antes. A área era ruim. Ele se virou para o copiloto.
— Vamos ver se sumimos daqui o mais rápido possível — disse ele.
O copiloto lhe lançou um olhar de dúvida.
— Você já viu o coeficiente de imersão? — perguntou ele.
O olhar de Matoscho caiu sobre uma ilustração gráfica do coeficiente de
imersão. O anel tinha quase desaparecido. Em seu lugar, uma mancha verme-
lha brilhante tremulava e cintilava na tela. A entrada no espaço linear tinha se
tornado praticamente impossível.
— Maldição! — xingou Matoscho. — Nós temos que sair daqui!
Nesse momento, o segundo solavanco atingiu a nave. Dessa vez, foi mais
forte. Matoscho sentiu-se levantado. Os cintos cortaram dolorosamente na carne.
Em algum lugar, uma sirene disparou.
CONTROLE AUTOMÁTICO DE DANOS, iluminou-se em uma das te-
las. REGENERADOR DE OXIGÊNIO CONVÉS 3 ARRANCADO DO SUPOR-
TE E LEVEMENTE DANIFICADO. TEMPO DE REPARAÇÃO PREVISTO...
— Nós temos que sair daqui! — reafirmou Matoscho a sua decisão.
Ele gritou para o servoautômato acústico: — Salto linear acima de três
dias-luz!
Isto era o máximo que ele podia arriscar nessas circunstâncias. O compu-
tador de bordo, de qualquer maneira, acharia que ele enlouquecera. A resposta
veio de imediato:
DISTÂNCIA DE SALTO NÃO COMPATÍVEL COM DIRETRIZES DE
SEGURANÇA NAS CONDIÇÕES DETERMINADAS! DISTÂNCIA DE SALTO
MÁXIMA: 12 MINUTOS-LUZ.
— Eu lhe digo que quero saltar três dias! — rosnou Matoscho, irritado.
VEJA ÚLTIMO DIAGNÓSTICO, respondeu o computador.
— Um dia — implorou Matoscho.
DISTÂNCIA DE SALTO NÃO COMPATÍVEL COM DIRETRIZES DE
SEGURANÇA NAS CONDIÇÕES DETERMINADAS! DISTÂNCIA DE SALTO
MÁXIMA: 11,89 MINUTOS-LUZ.
— Doze horas! — gritou Matoscho.
15
Kurt Mahr O Dia da Decisão

ENTENDIDO.
Matoscho estendeu-se no assento. Se ele sobrevivesse ileso a essa confusão,
prometeu que pediria transferência para um posto mais calmo. Um terceiro
solavanco atingiu a nave. Dessa vez, nenhum dano foi reportado. Um novo in-
forme sobre o regenerador de oxigênio danificado disse que o dispositivo seria
restaurado em três horas. Matoscho fechou os olhos e esperou pela transição
para o espaço linear. Ela veio abruptamente, como se a CDIN-3 se impulsionasse
para saltar sobre um obstáculo invisível.

Cono Matunari não sabia como ele tinha ido de repente de um corredor
bem iluminado para uma pradaria sombria com nuvens de chuva. Mas ele
possuía experiência suficiente para não ficar se opondo à mudança e, em vez
disso, procurar os perigos que poderiam estar ali, à espera dele e de seu pessoal.
Seus três companheiros se mantiveram com ele: tenente Mukherjee e dois
cabos. Mukherjee, um terrano magro, moreno e de ascendência indiana, olhou
para ele inquisitivamente. Matunari encolheu os ombros largos. O pescoço de
touro empurrou o imenso crânio calvo para frente. O pequeno grupo estava
atrás de um arbusto baixo e seco. Um vento em rajadas soprava na direção deles.
Ao longe, um relâmpago caiu na planície. Longos segundos depois, um trovão
estrondoso e seco atravessou a pradaria.
— Para acabar logo com qualquer discussão — rosnou Matunari com
uma voz grave: — Eu também não sei onde estou. Consigo ver mais de mil e
duzentos metros, portanto não me encontro de maneira nenhuma no interior
de Favo-1000. De que modo cheguei aqui, eu não sei. Mas pretendo tirar o
melhor da nova situação.
Ele estreitou os olhos quando percebeu movimento ao longe. Pequenas
figuras deslizavam agachadas sobre um trecho livre da pradaria, entre dois
arbustos muito adequados para a cobertura.
— Mas aquilo deve ser... Mukherjee, você viu aquilo?
— Sim, senhor.
Matunari o contemplou com um olhar zangado.
— O que você viu, tenente? — trovejou ele.
— Três paramags, senhor.
A pradaria consistia em ilhas de arbustos. Ali e acolá, erguia-se uma so-
litária árvore meio ressecada. A grama tinha uma estranha cor verde-azulada
e parecia já sofrer há algum tempo com a falta de água. Tempestades, como
a que acabara de surgir, aparentemente foram raras nessa região nos últimos
tempos. Matunari, um homem relativamente jovem, de setenta e dois anos,
possuía experiência tática suficiente para decidir que não gostava da situação.
16
Kurt Mahr O Dia da Decisão

Atrás das ilhas de arbustos, poderia estar escondido um exército inteiro de pa-
ramags. Ele tinha que se mandar dali e ganhar terreno mais limpo. Mas, antes,
havia outra coisa a fazer.
— Bronson?!
Um dos dois cabos foi imediatamente para o lado dele.
— Me dê a coisa, meu jovem — pediu Matunari e pegou o radiador de
impacto, que o jovem suboficial estendeu para ele. — Agora, vamos primeiro
fazer uma área de manobra limpa.
Ele apontou brevemente e disparou. Um raio muito luminoso de energia
térmica foi em direção ao grupo de arbustos, atrás do qual os três paramags
tinham desaparecido. No mesmo momento, um relâmpago atingiu a terra nas
proximidades e cobriu a pradaria com trovões estrondosos. Matunari não tomou
conhecimento. Perplexo, ele olhava na direção dos arbustos em que tinha atirado.
Sob a ação da salva do radiador de impacto, ele tinha se lançado para a terra,
como se uma tempestade investisse sobre ele. Porém, agora que Matunari tirara
o dedo do gatilho, ele voltou a ficar em pé, como se nada tivesse acontecido.
Ou tinha! Ao lado do arbusto, um paramag rolava no chão e agitava os
braços e as pernas no ar. Demorou um pouco até ele se levantar e desaparecer
na cobertura dos arbustos.
Matunari abaixou a arma pesada e ficou passando a mão livre pela cabeça.
Mas que mundo irreal! Ele tinha grama verde-azulada, e radiadores de impacto
terranos não prestavam para nada além de agitar arbustos e desequilibrar pa-
ramags pigmeus. Ele lançou um olhar de lado para os companheiros e notou
que eles estavam pelo menos tão assombrados quanto ele.
— Isto não nos serve para nada, crianças — ele tentou tranquilizá-los.
— Temos que aceitar as coisas como elas são. Acabamos de...
Ele não prosseguiu. Atrás das ilhas de arbustos, algo ganhou vida. Os
paramags, pelo menos a força de uma companhia, partiam para um assalto.
— Cobertura! — gritou Matunari.
Ele se lançou atrás de um arbusto. Empurrou cuidadosamente o cano do
radiador de impacto para frente, rente ao chão. Os paramags estavam munidos
com pequenas armas manuais, das quais vinha um brilho incessante. Manchas
de luz de brilho violeta corriam para os quatro terranos. Um dos dois cabos foi
atingido e gritou. Matunari olhou preocupado para ele, mas o homem parecia
mais assustado do que ferido.
— Dói, senhor! — ele gritou para seu superior, como se quisesse se des-
culpar pelo grito.
Com o ataque dos paramags, também começou a tempestade. Gotas de
chuva pesadas, primeiro esporadicamente, então cada vez mais forte, caíram
nos galhos dos arbustos. Em poucos segundos, a chuva pareceu se transformar
em uma parede sólida de água que caía do céu, enterrando tudo. Relâmpagos
17
Kurt Mahr O Dia da Decisão

flamejavam numa sucessão cada vez mais densa. Eram como disparos inces-
santes de canhões que estrondeavam e ressoavam através da penumbra. Os
paramags atacantes se tornaram sombras apressadas, que o olho mal conseguia
perceber. Matunari colocou na mira uma das figuras que corriam, e puxou o
gatilho. O paramag foi arremessado para trás e permaneceu deitado de costas
por um momento. Então ele se levantou novamente e desapareceu mancando
na cobertura de um arbusto.
Os dois cabos compreenderam que os radiadores serviam para alguma
coisa. Com o fogo ininterrupto aos atacantes pela arma de serviço mais leve de
Bronson e pelo equipamento mais pesado que seu camarada portava, embora
a ação das armas se limitasse aos efeitos puramente mecânicos, o ataque dos
paramags gradualmente cessou. Durante esse tempo, o próprio Matunari tinha
recebido alguns acertos das armas de brilho violeta do inimigo e não sentira
nada mais do que uma dor breve, mas intensa.
Ele percebeu que o tenente Mukherjee não participava da defesa.
— Como é, Mukherjee — gritou ele ao seu subordinado —, você precisa
de um convite?
No reflexo de um relâmpago próximo, ele viu o indiano sorrir.
— De jeito nenhum, senhor — ouviu a resposta dele em meio ao estrondo
contínuo dos trovões. — Eu espero por um bom alvo.
— Lá fora, há dezenas deles — gritou Matunari, irritado.
— Para o seu radiador de impacto, senhor — corrigiu Mukherjee. — Não
para a minha arma de choque.
— Que diabos...?!
— Eu suspeito de que a arma de choque funciona melhor aqui do que o
radiador de impacto, senhor. Estamos sob influência para-hipnótica. Este mundo
não é real. Armas que atuam nos nervos de seres orgânicos serão mais eficazes
aqui do que radiadores térmicos, que só lançam energia eletromagnética.
Matunari seguiu com atenção outras ações de Mukherjee. Os paramags
abandonaram a tática de assalto aberto e começaram a se esgueirar de cobertura
a cobertura para mais perto. A chuva constante era vantajosa para eles. Ela tirava
a visão dos terranos e prejudicava a sua mira. De que lhes servia derrubarem
três ou quatro paramags com seus radiadores de impacto a cada avanço! Os
atingidos se arrastavam para a cobertura mais próxima e estavam presentes
de novo no próximo avanço. Matunari teria dado a ordem de recuar há muito
tempo, mas ele estava curioso para ver o que Mukherjee conseguiria com a sua
arma de choque, e o momento não estava muito longe, já que os paramags mais
ousados entrariam no alcance de tiro de Mukherjee.
No refulgir dos relâmpagos, que foram rareando cada vez mais, ele
teve a oportunidade de constatar que os paramags, em sua maioria, usavam
uniformes extremamente coloridos. Parecia ser uma espécie de uniforme, pois
18
Kurt Mahr O Dia da Decisão

havia dois ou três adversários que estavam vestidos de forma diferente e que, a
julgar por seu comportamento, desempenhavam o papel de oficiais. Um deles
era particularmente notável. Ele usava um traje vermelho, que podia ser visto
mesmo na meia-luz da tempestade. Em sua proximidade, havia sempre outros
três paramags, um dos quais usava um uniforme verde, e outros dois azuis.
— Agora, senhor! — gritou Mukherjee.
Matunari olhou para frente. Um paramag havia chegado a duzentos
metros. Por ordem de Matunari, os radiadores de impacto silenciaram por en-
quanto. O paramag deve ter tido a impressão de que estava seguro. Ele deixou
de buscar a cobertura mais próxima e rastejou direto para a posição dos quatro
terranos.
Mukherjee apontou cuidadosamente. Quando ele puxou o gatilho, um
feixe de luz azulada saiu do cano de sua arma — uma manifestação que nunca
havia sido observada numa arma de choque. O paramag foi para o alto como se
a terra se levantasse sob ele. Caiu para trás com os braços estendidos, e seu pene-
trante grito de morte podia ser ouvido claramente mesmo em meio aos trovões.
Matunari ficou olhando, incrédulo. Ele esperava que o paramag voltasse
a se levantar e se arrastasse para a segurança, como aqueles que tinham caído
sob as salvas do seu radiador. Mas nada semelhante aconteceu. A salva da arma
de choque o havia matado.
— Joguem fora os radiadores de impacto e atirem com as armas de
choque! — berrou Matunari. — Mukherjee, você viu o de uniforme vermelho?
— Sim, senhor. Ele parece ser um tipo de líder.
— Fique atento a ele! Se o pegarmos, o pesadelo acaba imediatamente.
Nesse momento, os paramags empreenderam um novo avanço. Sua
vanguarda estava apenas a duzentos e cinquenta metros. Um grupo de vinte
adversários tentou reduzir, da maneira praticada até agora, a distância até os
terranos em mais vinte a trinta metros. No trecho livre entre os dois pontos de
cobertura, eles tomaram o fogo das armas de choque concentradas. O efeito foi
devastador. Mais da metade do grupo permaneceu sem vida no trajeto. O resto
se retirou para a cobertura dos arbustos, de onde o avanço começara.
— Uma oportunidade única, senhor! — gritou Mukherjee de repente. —
Eu só espero ter uma mão firme.
Trezentos metros à frente, a forma do líder vestido de vermelho tinha
surgido atrás dos arbustos. Ele ficou fora de qualquer cobertura, um paramag
muito alto, de pelo menos meio metro. Um relâmpago distante iluminou a cena.
Parecia que o comandante inimigo, atordoado pelo massacre de que suas tropas
haviam sido vítimas, tinha esquecido no momento toda a cautela e saído em
campo aberto. Isso deu a Mukherjee a oportunidade que ele esperava.
Ele puxou o gatilho. Um raio brilhante e azul saiu da sua arma de choque
e atingiu o Vermelho. E então aconteceu o inacreditável. O raio pareceu, am-
19
Kurt Mahr O Dia da Decisão

plificado centenas de vezes, ricochetear no Vermelho e retornar ao seu local de


origem. Mukherjee gritou. Como se erguido por uma força invisível, ele dispa-
rou para trás da cobertura. Matunari o viu debater braços e pernas. Ele o ouviu
gritar. Porém, quando ele bateu no chão, não gritava mais nem mexia um único
músculo. Matunari se arrastou até ele. Mukherjee jazia em uma postura estra-
nhamente curvada, e, de seus olhos abertos e vidrados, a morte contemplava.
De repente, o mundo escureceu. A chuva cessou, e o trovão morreu. A
escuridão durou apenas um momento, então a luminosidade retornou. Ela era
forte, e Matunari fechou os olhos ofuscados por um momento. Quando ergueu
os olhos, ele estava no mesmo corredor rochoso que havia percorrido com seu
pessoal antes de terem chegado misteriosamente à pradaria tempestuosa. À sua
direita, estavam os dois cabos, as armas de choque ainda nas mãos. Ele próprio,
ajoelhado no chão duro e rochoso.
E, diante dele, jazia o tenente Mukherjee — tão morto como tinha estado
no mundo fictício.

— A tática é clara — declarou Fellmer Lloyd, e, em sua voz, vibrava a


raiva contida. — O que nos falta é o tático!
Eles estavam sentados em um pequeno espaço redondo aberto na rocha
do asteroide, que tinha sido tornado razoavelmente habitável com algumas
mobílias trazidas apressadamente antes da partida da CDIN-3. Perry Rhodan
inclinou-se para continuar a ouvir o mutante. Contudo, Cono Matunari tinha
uma pergunta.
— Poderia, por favor, me explicar, senhor, o que quer dizer?
— Simples — respondeu Lloyd. — Alguém – ou alguma coisa – pro-
duziu com meios para-hipnóticos uma cena em que enfrentamos paramags
hostis. Fomos atacados e nos defendemos. Primeiro, usamos os radiadores de
impacto, pois sabemos que são mais eficazes que as armas de choque. Mas as
circunstâncias são diferentes. Nossos radiadores de impacto não servem para
nada. Nossas armas de choque, ao contrário, são mortais. A tática alienígena
espera que sejamos espertos o suficiente para descobrir isso. Então ele empurra o
chamado Vermelho para o primeiro plano. Ele é a rainha do seu jogo de xadrez.
O Vermelho é, na verdade, um para-amplificador ou parapolarizador, que pega
a radiação de choque e a amplifica e irradia de volta para o local de origem. O
estranho tenta nos derrotar com nossas próprias armas, no verdadeiro sentido
da palavra. Ele empurra o Vermelho tanto para frente que, por fim, percebe-
mos que ele desempenha o papel principal na batalha simulada. Nossa reação
natural é colocar o Vermelho fora de ação o mais rápido possível. E, assim que
pressionamos o gatilho, estamos mortos no chão.
20
Kurt Mahr O Dia da Decisão

— Mas o senhor asseverou que a coisa toda era produzida para-hipno-


ticamente — protestou Matunari. — Como pode uma pessoa sob influência
para-hipnótica...
— Essa é a diferença entre a hipnose e a para-hipnose, coronel — inter-
rompeu Perry Rhodan. — Hipnose atua exclusivamente na consciência. Sob a
influência para-hipnótica, o influenciado não só acredita vivenciar coisas – ele
realmente as vivencia!
Matunari ficou calado.
— Resta a questão — disse Fellmer Lloyd, apaticamente: — Quem é o
tático?
— Temos certeza de que em Favo-1000 não há mais paramags? — in-
dagou Rhodan.
— Certeza mesmo, nunca teremos, senhor — respondeu o mutante. — Se
houvesse, suas radiações mentais teriam de ser percebidas.
— Protegidos? — ponderou Rhodan.
— Possivelmente, senhor. Mas outra coisa me parece mais plausível. Toda
a servotecnologia dos paramags funciona em uma base mental. Já vivenciamos
no passado que não só o metal TEP, mas também máquinas individuais da tec-
nologia dos paramags foram capazes de ter algo como uma inteligência própria.
Eu acho que estamos lidando aqui com um dispositivo, que até agora ainda não
descobrimos, que age contra nós de maneira para-hipnótica.
— Mas então ele usa uma tecnologia defensiva muitíssimo estranha
— ironizou Matunari. — A partir de agora, conhecemos o truque: de forma
nenhuma atire no Vermelho. A partir de agora, vencemos qualquer batalha!
— Eu pensei a respeito — respondeu Fellmer Lloyd. — Cometeremos um
erro perigoso se apenas transferirmos a nossa mentalidade para a mentalidade
da máquina. Ela provavelmente pensa diferente de nós.
— Desde que tal máquina exista mesmo — replicou Rhodan.
— Desde que exista, naturalmente — admitiu o mutante. — Ela não
nos conhece. Ela não sabe como parecemos. Ela provavelmente não possui a
capacidade de compreender os nossos pensamentos...
— Como ela então percebeu a nossa presença? — interrompeu Matunari.
— Eu não sei. Há muitas possibilidades. Pode-se, por exemplo, perceber
os pensamentos de um estranho sem compreendê-los. A máquina poderia ter
notado a manobra que a Dino realizou com o asteroide. Ou ela poderia ter sido
instigada pelos últimos paramags contra nós. Há centenas de hipóteses plausí-
veis. O mecanismo de percepção desempenha apenas um papel secundário. O
importante é compreender o procedimento da máquina. Eu gostaria de salientar
que, entre os paramags atacantes, há um vermelho e provavelmente um verde,
bem como vários azuis. A influência para-hipnótica é interrompida pela morte
do Vermelho ou do Verde. Se o Vermelho morre, aquele que dispara morre
21
Kurt Mahr O Dia da Decisão

junto. Nesse caso, a máquina teve êxito. Se o Verde se for, a cena para-hipnótica
termina sem que o atirador sofra dano. Nesse caso, a máquina não teve êxito.
Perry Rhodan levantou os olhos.
— Um tipo de jogo, você acha?
— Isso mesmo – um tipo de jogo. Com regras estipuladas. A máquina testa
o adversário. Agora, sabemos que o teste será a nosso favor, pois não seremos
induzidos a atirar no Vermelho. Por favor, concluam o que acontecerá a seguir.
Agora, Cono Matunari também tinha compreendido a lógica nas con-
siderações do mutante.
— A seguir, virá — exclamou ele apressadamente — uma nova série de
jogos! Com novas condições.
Lloyd assentiu.
— A questão é se será um jogo novamente. Lembre-se de que a intenção
mais urgente da máquina é nos destruir. Ela não está muito interessada no jogo
em si. Mas você tem razão: depois do truque para-hipnótico, ela nos tentará com
outro truque, e eu quase temo que ele seja mais perigoso do que o primeiro.
Perry Rhodan sorriu.
— Você e sua inteligência de máquina — ironizou ele de forma bonacho-
na. — Imagine se pudéssemos provar que tal coisa nem existe!
Fellmer Lloyd permaneceu sério.
— Então minha hipótese teria perdido o chão sob seus pés — admitiu
ele. — Mas eu não acho isso provável. Devíamos revistar o corredor que descobri
recentemente o mais rápido possível até os cantos mais fundos. Seu rosto de
repente assumiu uma expressão pensativa, quase espantada. — Outra coisa me
incomoda muito mais — murmurou ele, meio consigo mesmo.
— O que é?
— Eu gostaria de saber quem ou o que gritou para mim uma advertência
no último momento, antes de eu puxar o gatilho contra o Vermelho.
— Um dado extremamente interessante — respondeu Rhodan. — Eu
posso...
Ele se interrompeu quando Lloyd se endireitou na cadeira, como se
ouvisse um som ao longe, e fez um gesto apressado. — Estou em contato com
Betty — disse ele.
A troca de pensamentos entre Fellmer Lloyd e a Antiga Mutante Betty
Toufry foi de curta duração.
Lloyd ergueu os olhos, espantado.
— No metal TEP, aparecem novamente sinais de uma inteligência para-
doxal que desperta — afirmou ele.
Perry Rhodan olhou em volta. Nas paredes da sala, como também nas
dos corredores, existiam de pequenas a médias disseminações de metal TEP por
toda parte. Sem que houvesse sido notado pelos três, que discutiam no calor
22
Kurt Mahr O Dia da Decisão

do debate, o metal, entrementes, tinha alterado a sua aparência. O brilho opaco


parecido com estanho tinha sumido.
Os pedaços de TEP irradiavam um azul-turquesa cristalino.

3.

2,67228 HORAS-LUZ, disse o escrito luminoso.


O diabo estava solto. Em toda a nave, sirenes uivavam. Krym Matoscho
olhou por alto os indicadores. Uma das unidades de propulsão tinha falhado.
O controle de danos informou:
UNIDADE III IRREPARAVELMENTE DANIFICADA POR SOBRE-
CARGA. UNIDADE DE SUBSTITUIÇÃO SENDO ENVIADA. DURAÇÃO
DE REPARO ESTIMADO 15,89 MINUTOS.
Esse fora o solavanco, constatou Matoscho, que ele tinha sentido ao imer-
gir no espaço linear. Provavelmente, a CDIN-3 havia entrado em um turbilhão
da tempestade gravitacional no momento da transição. O coeficiente de imersão
tornara-se insignificante, o “buraco de imersão” tinha se fechado. Com a tentativa
de abrir à força o buraco e forçar a transição, a unidade nº 3 fora queimada. Por
isso, o solavanco, e, por isso, a distância de salto consideravelmente encurtada
comparada ao comando.
Para Krym Matoscho, o momento da decisão tinha vindo com isso.
Ele olhou para o relógio digital que estava embutido na cabeceira do console.
Eram 6h21min de 28 de julho de 3444 do calendário-padrão. O deslocamento
de tempo relativista até o momento, calculado a partir da magnitude de mo-
vimento da CDIN-3 em relação a Ponto Para, fora de apenas dezoito minutos.
No ponto de encontro, então, o relógio mostrava agora 6h39min. A CDIN-3
estava a caminho fazia mais de uma hora e meia, e tinha coberto nesse período
cerca de um sexto da distância total. Isso era desanimador, pois, se a missão
fosse bem-sucedida, Krym Matoscho teria que chegar a Ponto Para com seu
cruzador o mais tardar até as treze horas. Para a transmissão de ordens e cálculo
de curso, eram destinadas duas horas. Às quinze horas, o mais tardar, a Marco
Polo tinha que partir em direção a Wild Man, para terem esperança de chegar
ao asteroide, que cambaleava para o sol gigante vermelho, antes que a situação
ali se tornasse crítica. Esse momento era especificado como 22h.
Para Krym Matoscho, tratava-se de decidir se ainda havia alguma chance
de completar o voo com sucesso. Se a questão se fizesse claramente negativa,
então não adiantava continuar a colocar em perigo a nave e a tripulação. Ma-
toscho consultou os dispositivos de localização e rastreamento sobre a extensão
do turbilhão de tempestade em que a CDIN-3 se achava no momento. Mas,
justamente em virtude das repercussões da tempestade gravitacional que res-
surgia, localizadores e rastreadores funcionavam irregularmente e chegavam
23
Kurt Mahr O Dia da Decisão

a resultados que não eram muito confiáveis. Depois de Matoscho mandar o


computador de bordo ordenar e comparar os resultados, pareceu a ele, como
cifra mais plausível, um valor de quase quinze dias-luz. Um questionamento
ao piloto automático revelou que esse — ignorando todas as diretrizes e sal-
vaguardas de segurança — considerava uma distância de dois dias-luz e meio
para a distância de salto linear máxima, dadas as circunstâncias. Para Matoscho,
isso significava que ele teria que ir pelo menos seis vezes ao espaço linear até o
final do turbilhão gravitacional. A probabilidade de falha de uma unidade de
propulsão por manobra linear era calculada em aproximadamente setenta e
cinco por cento. A perspectiva de perder pelo menos uma unidade durante os
seis saltos tornava-se, com isso, uma certeza. Mas também as probabilidades
de perda de dois ou até três dispositivos eram desagradavelmente elevadas. A
CDIN-3 possuía um total de duas unidades de substituição que podiam ser
utilizadas no lugar das unidades avariadas. Uma delas acabara de ser instalada.
Se, a partir de agora, mais de uma unidade adicional falhasse, então o cruzador
ficaria restrito na sua capacidade de voo linear, e as perspectivas de alcançar
Ponto Para a tempo cairiam rapidamente para zero.
Krym Matoscho não estava disposto a correr um risco desse tamanho.
Pelo menos, não sob sua responsabilidade. Ele estabeleceu uma conferência por
intercomunicador que o ligou a Roi Danton e Icho Tolot. Descreveu a situação
e apresentou a eles os resultados da análise que o computador de bordo tinha
realizado.
— Vejo que estamos bastante ruins nisso — reagiu Roi Danton com um
humor sombrio.
Dois olhos do halutense fitavam Krym Matoscho com uma expressão
dura.
— Qual a extensão do turbilhão gravitacional? — troou a pergunta de
Tolot.
Matoscho consultou os rastreadores. O resultado o surpreendeu. A
CDIN-3 distava apenas cem unidades astronômicas em voo direto da borda do
turbilhão. Isso era quase quatorze horas-luz. Ele transmitiu o resultado.
— Eu vejo aonde nosso amigo esperto quer chegar — sorriu Danton. —
Saímos lateralmente do turbilhão e entramos numa zona livre de turbilhão, a
partir da qual podemos avançar direto para Ponto Para.
Krym Matoscho passou a mão por seu cabelo curto e louro-claro.
— Como resultado, vou perder pelo menos cinquenta minutos — ele
resmungou, mal-humorado.
— E o que você ganha se continuar avançando na direção de voo atual?
— perguntou o halutense.
Matoscho assentiu, decidido.
— Vocês têm razão. Só existe essa possibilidade.
24
Kurt Mahr O Dia da Decisão

Poucos minutos depois, a CDIN-3 foi, pela terceira vez desde que deixara
para trás Favo-1000, para o espaço linear.

A capacidade do material transformador emocional parabiológico de ter


uma inteligência própria sob certas condições já era conhecida. O fenômeno fora
denominado por Geoffry Abel Waringer “Complexo de Inteligência Paradoxal”.
Apesar do reconhecimento precoce, porém, e apesar do nome imponente, pra-
ticamente nada se sabia sobre os detalhes da aquisição da inteligência e princi-
palmente sobre suas consequências. O certo era que o metal TEP no estado de
inteligência paradoxal não possuía mais o brilho opaco e cinza que lembrava
o estanho, mas brilhava na cor turquesa. A intensidade e a nitidez do brilho
eram uma medida da inteligência que era inerente ao metal. Suspeitava-se de
que os esforços dos oito Antigos Mutantes para percorrer o interior do veio TEP
em determinados padrões geométricos e assim realizar os controles mentais
de acordo com a maneira mental dos paramags no equipamento instalado no
interior do asteroide haviam ativado cataliticamente o processo de aquisição
de inteligência através do metal TEP.
Para Perry Rhodan, cuja intenção era proporcionar um local de descanso
permanente para os oito mutantes em Favo-1000, o problema da inteligência
paradoxal era tudo, menos secundário. Enquanto as últimas peculiaridades do
estranho metal não fossem investigadas, os mutantes não estariam seguros ali.
Não que se pudesse afirmar que o metal tornado inteligente tinha se compor-
tado de maneira hostil em relação aos terranos. Em vez disso, ele se limitara
a criar confusão geral e interferir nas funções das máquinas dos paramags de
uma maneira atabalhoada e aparentemente sem objetivo. Seu comportamento
era o de um ser que ainda não havia se acostumado com a posse da inteligência
e não tinha certeza do que fazer com ela. Um dia, porém, concluiu Rhodan, o
estado de inteligência paradoxal duraria tempo suficiente para que o metal se
orientasse e então usasse sua consciência pensante de maneira objetiva. O que
ele faria então era o que importava.
Nesse contexto, a observação de Fellmer Lloyd era de extremo interesse.
Na hipótese de Lloyd, tinha de haver dentro do asteroide uma máquina dos
paramags, até agora não descoberta, que se sentia ameaçada pelos terranos e
tentava atraí-los para armadilhas para-hipnóticas. Dificilmente alguém mais
duvidava disso no momento. Ainda não haviam sido encontradas evidências
tangíveis; mas, depois do que se tinha aprendido sobre os paramags, a teoria
de Lloyd parecia ser, de longe, a mais plausível de todas as pensáveis. Então, se
tivesse sido a máquina paramag que havia querido seduzir o mutante a dispa-

25
Kurt Mahr O Dia da Decisão

rar contra o oficial paramag uniformizado de vermelho, quem tinha advertido


Fellmer Lloyd no último momento e assim salvara a sua vida?
O metal TEP?...
A possibilidade merecia atenção. Perry Rhodan tinha destacado os dois
telepatas, Fellmer Lloyd e Betty Toufry, para chegar a um contato telepático com
o metal que se tornara repentinamente inteligente. De início, a tentativa falhara
miseravelmente. Apenas quando Betty Toufry penetrara no interior de um veio
TEP grosso enquanto Fellmer Lloyd, do lado de fora, bombardeava o metal
com impulsos telepáticos foi que se mostrou o primeiro sinal de um sucesso.

Nesse meio tempo, Cono Matunari tinha ido para a estação externa, que
tinha sido construída com recursos de bordo antes da partida da CDIN-3, para
ver como as coisas andavam por lá. De um dos corredores mais amplos, um poço
tinha sido escavado até a superfície do asteroide. Na extremidade superior do
poço, havia sido instalada uma eclusa de ar. Sobre o final do poço, curvava-se
uma bolha energética transparente, que ficava com a mesma pressão de ar do
interior de Favo-1000 quando a eclusa estava aberta, mas poderia ser hermetica-
mente selada com a ajuda da eclusa em caso de emergência. No espaço interno
da eclusa, eram mantidos trajes espaciais, que permitiriam aos homens em
torno de Rhodan subsistirem em caso de emergência sem a atmosfera artificial
do interior do asteroide.
No interior da bolha, fora instalado um conjunto heterogêneo de disposi-
tivos de medição e observação. A tarefa principal da estação externa era seguir
o curso do asteroide e determinar com precisão cada vez maior o momento
em que a situação em Favo-1000 se tornaria crítica por causa da aproximação
ao sol vermelho. A bolha energética deixava que apenas uma pequena fração
da radiação solar mais perigosa — como radiação ultravioleta, infravermelha,
raios X e corpuscular — chegasse ao interior da cúpula, sem influenciar de
maneira significativa a possibilidade de observação óptica. Na estação externa,
prevalecia uma temperatura constante de vinte e dois graus Celsius, e a parte
visível do espectro solar era modificada de modo que os vigilantes pudessem
observar a olho nu a enorme circunferência do sol vermelho, que cobria quase
um quarto do firmamento. A estação externa era permanentemente ocupada
por dois homens do comando de Matunari. Nas cinco horas desde a partida da
CDIN-3, o curso do asteroide não tinha mudado. Ele continuava a apontar na
direção da superfície do sol, e o momento em que os primeiros sinais de der-
retimento seriam perceptíveis na superfície de Favo-1000 tinha sido corrigido
para 22h04min.
Até lá, restavam doze horas.
26
Kurt Mahr O Dia da Decisão

Os homens saudaram quando Matunari saiu da eclusa. Um deles era o


cabo Bronson, que tinha carregado um radiador de impacto pesado durante a
aventura na armadilha para-hipnótica de Matunari.
— Tudo em ordem? — indagou o japonês laconicamente.
— Tudo em ordem, senhor.
— Distância do sol?
Bronson fez uma breve leitura.
— Três-vírgula-oito-dois-cinco unidades astronômicas da superfície,
senhor.
— Conforme previsto?
Bronson olhou, confuso.
— Essa foi a distância prevista que eu li para o senhor.
— Então leia para mim a distância real agora!
— Sim, senhor!
Dessa vez, levou muito tempo. Bronson ativou uma chave de impulsos que
enviou um sinal de rastreamento hiper-rápido na direção do sol. A superfície
do sol gigante tinha sido definida da maneira usual, como um círculo dentro
do qual um valor calculado a partir da densidade da matéria e da temperatura
excedia pela primeira vez um determinado limite. O tempo que o hiperimpulso
necessitava para ir da chave de impulsos até o círculo definido como superfície e
voltar para o receptor servia como medida da distância que ele tinha percorrido,
com a velocidade de deslocamento do impulso exatamente conhecida. Bronson
leu o valor e estacou.
— O que há? — quis saber Matunari.
— Três-vírgula-oito-dois-três — murmurou o cabo.
Matunari calculou rapidamente. A distância de Wild Man era três milé-
simos menor que o calculado anteriormente. Isso era uma diferença de 450.000
quilômetros — em detrimento de Favo-1000.
— Quando foi realizada a última atualização do curso? — perguntou
Matunari.
— Às nove horas e trinta, senhor.
Isso tinha sido trinta e dois minutos atrás.
— Realizem um novo cálculo! — ordenou o japonês.
— Agora mesmo, senhor.
Bronson ativou o pequeno computador, que pertencia ao equipamento
da estação externa. A partir dos elementos orbitais medidos do asteroide e do
efeito gravitacional conhecido de Wild Man, ele começou a recalcular o curso
de Favo-1000. Matunari sabia que isso demoraria alguns minutos.
— Senhor?...
Pânico vibrava na voz de Bronson.
— O que há?
27
Kurt Mahr O Dia da Decisão

— Uma mudança de curso significativa.


— Em nosso detrimento, não é?
— Sim, senhor.
— Possíveis erros de cálculo?
— Não, senhor. Ambos os cálculos foram verificados duas vezes.
— Quando atingiremos a distância crítica de acordo com o cálculo mais
recente de vocês?
Bronson olhou por alto os registros.
— Às vinte horas e trinta e nove, senhor.
Matunari assentiu sem olhar para o cabo.
— Notifiquem o Administrador-Geral — ordenou ele — e lhe deem a
seguinte mensagem: algo influenciou drasticamente o curso do asteroide durante
a última meia hora. Como consequência, o intervalo do ponto crítico diminuiu
em oitenta e cinco minutos.

Fellmer Lloyd não sentiu nada por enquanto da consternação que a desco-
berta de Matunari provocara. Ele flutuava na sua própria esfera, desprendido do
universo que o cercava, e os seus pensamentos conheciam apenas um objetivo:
o estranho, intangível, que se achava diante dele na escuridão e cuja radiação
mental fraca ele só tinha percebido uma vez.
“Eu o chamo...”, um fluxo de pensamentos telepáticos se formulou.
A escuridão permaneceu muda.
“Amizade... eu sou seu amigo... eu não quero nada de mal a você... nada
de mal...”
Silêncio na escuridão. Então, de repente, veio um fragmento de pensa-
mento quase incompreensível.
“... comece a despertar...”
O fragmento de pensamento não se originava do estranho invisível.
Fellmer Lloyd conhecia a frequência. Era a que enviava a consciência de Betty
Toufry. Ele tinha entrado em contato com a mutante, que estava desmateriali-
zada dentro de um veio TEP.
“... comece a despertar...”
Isso só podia estar relacionado à inteligência do material transformador.
A consciência estranha vinha a si agora? Ele irradiou um novo chamado: “Eu
espero por você! Fale comigo!”
Por segundos, ele escutou na escuridão, então ele ouviu, como de uma
distância infinita, um eco fraco: “... espero... você... fale... comigo...”
Foi difícil se concentrar. O entusiasmo queria arrastá-lo. O que ele ouviu
soava como o eco de seus próprios pensamentos. Mas o eco chegou até ele em
28
Kurt Mahr O Dia da Decisão

uma frequência estranha. O desconhecido tinha falado com ele. Com a inteli-
gência desperta de uma criança, ele havia repetido acriticamente os impulsos
telepáticos, que tinha recebido pouco antes.
“Paz... Amizade...”, irradiou Fellmer Lloyd.
A resposta o surpreendeu.
“Paz... Amizade... Solidão...”
“Você deseja solidão?”
“Solidão... Dor...”
A emoção era mais forte do que o pensamento lógico. O ser estranho
tinha medo da solidão.
“Você não está mais sozinho”, respondeu o mutante. “Nós estamos com
você. Nós lhe faremos companhia.”
Demorou algum tempo até vir a resposta. O pensamento era complicado.
A formulação tinha demandado tempo.
“Muito pouca companhia... mais companhia... alegria...”
Fellmer Lloyd achou sentir como o estranho se acostumava com a arte
de pensar, apropriava-se dela, e como seus pensamentos se tornavam cada vez
mais concisos e precisos.
“Há oito que podem lhe fazer companhia”, prometeu Lloyd.
Isso era um obstáculo difícil. O estranho, em sua solidão, provavelmente
não conseguia compreender termos numéricos. A cifra “um” era o único número
que ele conhecia.
“Oito?...”
Fellmer Lloyd pensou em uma estrutura geométrica simples, um círculo.
Ele irradiou a imagem.
“Um”, ele pensou para isso.
Pensou em um segundo círculo, que se juntou ao primeiro. Ele também
irradiou essa imagem.
“Dois”, foi seu comentário.
O estranho compreendeu. A ideia de obter companhia óctupla o encheu
de entusiasmo. Fellmer Lloyd achou que era hora de passar para o próximo
termo mais difícil, para o termo identidade. Só então dois estranhos poderiam
conversar racionalmente um com o outro a longo prazo, se soubessem quem
eram — ou em termos genéricos: quando um sabia quem era o outro.
“Quem é você?”, irradiou o mutante.
“... eu...”
Era inconfundível que a pergunta causava dificuldades. A inteligência
estranha nunca sentira a necessidade de diferenciar entre si e os outros. Por isso,
lhe faltava identidade. Fellmer Lloyd formou uma autoimagem em pensamento
e a enviou para o estranho.
“Eu”, ele pensou para isso.
29
Kurt Mahr O Dia da Decisão

Passou um tempo. Então surgiu em sua consciência uma estrutura que


consistia em finos fios entrelaçados e emaranhados. Assim o estranho se via, e
Fellmer Lloyd reconheceu na imagem uma representação dos milhares de veios
TEP que percorriam a rocha do asteroide Favo-1000.
Ele recriou a sua autoimagem e gerou para isso o pensamento que associou
ao seu nome, Fellmer Lloyd. A emissão foi recebida, e retornou um impulso tele-
pático que se assemelhava ao pensamento de nome. Ele despertava a associação
acústica “Felmloit”. O mutante ficou entusiasmado. Esse era o nome pelo qual
ele seria conhecido pelo estranho a partir de agora. Segundos depois, reapareceu
a imagem de fios entrelaçados, e Lloyd recebeu para isso um impulso que ele
interpretou acusticamente como Pairun. Pairun, assim se chamava o estranho,
que se via como uma massa de fios emaranhados.
“Nós temos inimigos”, pensou Fellmer Lloyd, que estava interessado em
também tirar vantagem prática da conversa de Pairun.
“Inimigos”, foi a resposta, e apareceu para isso a imagem de um para-
mag. Outra imagem surgiu, a de um grumo de contornos suaves, que mudava
constantemente de forma. Lloyd compreendeu. Assim Pairun via os paramags
desmaterializados que se moviam por seus veios. E então surgiu uma terceira
imagem.
Fellmer Lloyd segurou a respiração.
A terceira imagem mostrava um salão rochoso enorme, com inúmeras
máquinas. No centro do salão, havia um colosso metálico cintilante, em torno do
qual as outras máquinas pareciam se reunir como pintinhos em torno da galinha.
“Inimigos...”, pensou Pairun enfaticamente.

O informe de Matunari mal tinha chegado a Perry Rhodan, quando as


próximas más notícias chegaram. Dez homens de Matunari estavam constan-
temente ocupados supervisionando as aglomerações de conjuntos de máquinas
diferentes que os paramags tinham instalado no interior do asteroide. No meio,
havia geradores para a produção de gravidade artificial, unidades de climatização
que mantinham uma temperatura constante e tolerável nos corredores, máquinas
que liberavam quimicamente o oxigênio das rochas, e outras que regeneravam
o oxigênio utilizado, e, por fim, geradores que produziam a energia de que o
restante das máquinas precisava para funcionar. Os terranos tinham aprendido
até certo ponto a compreender as unidades dos paramags. Eles ainda estavam
longe de entender como funcionava em detalhes a tecnologia dos paramags,
mas podiam discernir se uma máquina funcionava corretamente ou não.
Às 10h12min, uma das patrulhas informou que, na sala de máquinas
supervisionada por eles, todos os regeneradores de oxigênio tinham falhado de
30
Kurt Mahr O Dia da Decisão

repente. Às 10h15min, Perry Rhodan recebeu uma mensagem de texto idên-


tica de uma segunda patrulha. Assim, não havia mais nenhum regenerador de
oxigênio funcionando em todo o asteroide.
Assim sendo, ele seguiu com preocupação as mensagens apresentadas
pelas duas patrulhas restantes. Na área de vigilância deles, estavam as máquinas
que liberavam oxigênio fresco da rocha. Por enquanto, tudo parecia estar em
ordem ali. A situação agora era que já não se processava oxigênio usado, mas
ainda se produzia oxigênio fresco.
Por volta de onze e meia, Cono Matunari regressou de sua inspeção na
estação externa. Ele parecia incomumente preocupado, e o que ele soube por
Rhodan não ajudou em nada a deixá-lo mais jovial.
— O que vem a seguir, senhor? — perguntou ele.
Rhodan deu um sorriso amargo.
— Eu queria saber o mesmo de você, coronel. O que acha?
Matunari contraiu os ombros largos.
— Se eu fosse o inimigo, senhor, eu primeiro paralisaria todo o forneci-
mento de oxigênio e depois inundaria imediatamente os corredores do asteroide
com vácuo.
— Fellmer Lloyd nos prometeu que a próxima fase seria mais difícil do
que a primeira — lembrou Rhodan. — Parece que ele tinha razão.
Um intercomunicador zumbiu. O Administrador-Geral se voltou para
o microfone.
— Aqui é Rhodan!
— Patrulha dois, senhor, da sala de máquinas leste. Há alguns segundos,
os produtores de oxigênio pararam de funcionar.
Perry Rhodan lançou ao japonês um olhar significativo.
— Dê instruções — ordenou ele — para o pessoal se equipar com trajes
protetores!

Fellmer Lloyd sobressaltou-se. Uma sensação de frio e falta de ar o agar-


rou. Terminou abruptamente o que ele achava ser, até agora, a mais importante
conexão telepática de sua carreira. Mais um pensamento tateante de Pairun:
“Medo... Perigo?...”
Então o contato cessou. Fellmer Lloyd se levantou. À sua volta, estava
novamente o ambiente familiar dos corredores rochosos e das lâmpadas azula-
das. De repente, ficou frio. Sussurrava em seu ouvido. Se ele se movesse rápido,
não conseguia mais respirar. Uma pressão assustadora parecia querer encher
o seu peito. Ele passou a mão sobre o rosto, e descobriu sangue nas costas da
mão. Descompressão!...
31
Kurt Mahr O Dia da Decisão

Ele compreendeu rapidamente.


Para a eclusa!...
Ele estava a apenas 200 metros dela. O corredor em que ele realizara a
sua experiência e que havia sido fechado a todo o tráfego durante seu intento
conduzia diretamente para o poço que ligava a eclusa com o interior do asteroide.
Ele começou a correr, mas, já depois de dois passos, estava tão sem fôlego que
perdeu o equilíbrio e caiu no chão. Voltou a se levantar com dificuldade. Assim
não dava. Fora o medo que o levara para frente, não o raciocínio. Movendo-se
lentamente, ele poupou ar e acabou progredindo mais rápido do que quando
tentara correr.
Ele encostou-se na parede rochosa ao lado e avançou apoiado nela. Nunca
estivera tão frio quanto nesse momento. Quando ele inspirava, o sangue no
nariz congelava durante a respiração. Quando expirava, uma nuvem densa se
formava bem à frente das narinas. A sua visão se turvou gradualmente. Véus
negros desceram sobre a cena iluminada e a esconderam dos seus olhos. Onde
estavam os outros? Eles o tinham esquecido — ou estavam na mesma situação
que ele? Enviou os seus pensamentos para encontrar uma consciência familiar;
mas não havia nada, apenas o vazio. Ele levou um segundo para olhar ao redor.
Os véus se afastaram por tempo suficiente para deixá-lo ver que mal tinha dado
alguns passos de seu ponto de partida. Será que ele alcançaria a eclusa? Ou teria
que morrer ali?
Por que o ar se fora? Por que estava tão frio? O que acontecera? Com
uma dor indescritível, ele foi se escorando na parede para frente. Se ele pensava
demais, desperdiçava energia demais. Não importava como ele tinha chegado
a essa situação. Ele só tinha que reencontrar a saída. “Oh, Pairun, se eu não
tivesse ficado tão absorto em seus pensamentos, teria percebido mais cedo o
que estava acontecendo ao meu redor. Então eu poderia ter escapado a tempo!
Mas desse jeito...”
O que foi isso?!...
“Felmloit!...”
Quem chamou?
“Eu... Pairun!”
“Eu o ouço, Pairun.”
“Você tem medo. Você congela! Se aqueça!”
Incrédulo, o mutante encarou um pedaço de metal TEP que estava encra-
vado na parede contra a qual ele se encostava. O pedaço começou a brilhar. Um
fluxo de ar quente saiu dele. Lloyd pressionou-se contra a parede para acolher
o calor. Como um fluxo de vida nova, ele percorreu seu corpo. Ele não sabia
quão perto estava do congelamento. Subitamente, a sua mobilidade retornou.
Ele ainda tinha o zunido nos ouvidos, e o nariz começou a sangrar novamente.
Ainda sofria a falta de oxigênio, mas, pelo menos, podia se mover novamente.
32
Kurt Mahr O Dia da Decisão

“Obrigado!...”, pensou ele.


“Eu queria poder fazer mais por você”, veio a resposta. “Mas salvação está
a caminho.”
Fellmer Lloyd agarrou-se a essa promessa enquanto avançava passo
a passo. Ele passou por outras disseminações de material TEP, que também
brilharam e lhe forneceram novo calor quando ele ameaçava congelar. Ele ca-
minhou metro a metro. No momento em que a falta de ar não obscurecia sua
visão, viu muito à sua frente, talvez a cem passos de distância, a boca escura
do poço que conduzia para cima, para a estação externa. E então, de repente,
houve uma nova sensação. Ele viu figuras que pareciam vir apressadas para ele
de longe. Primeiro, não confiou em seus olhos, mas as figuras se aproximavam.
Elas eram estranhamente disformes e com crânios enormes, redondos e rostos
brilhantes e sem contornos.
Então ele percebeu que eram homens em trajes espaciais. Ele simplesmen-
te se largou. O primeiro dos salvadores estava perto o suficiente para pegá-lo.
Do alto-falante do capacete, Lloyd ouviu a voz metálica e estranhamente alta
dele: — Um traje para o senhor! Vamos ajudá-lo a entrar.
O envoltório aquecedor de um traje espacial se fechou em volta do
mutante. Ar fresco sibilou no interior do receptáculo. Lloyd respirou fundo e
por um fio não perdeu a consciência pelo choque da mistura rica em oxigênio
deslocada para os pulmões. Mas ele se aguentou.
— Por que... não antes?... — arquejou ele.
Alguém respondeu. Ele não soube quem.
— Não dava, senhor! A eclusa foi trancada de repente. Tivemos de cortar
a escotilha.
— Rápido para Rhodan — proferiu Lloyd. — Eu sei a solução do pro-
blema...

4.

14,5582 HORAS-LUZ, disse o escrito luminoso, e Krym Matoscho sentiu-


se como se nunca tivesse ouvido uma mensagem mais alegre em sua vida. Os
rastreadores indicavam que a borda do turbilhão gravitacional estava quase
uma hora-luz atrás da CDIN-3. O cruzador ainda estava sob a influência da
tempestade, mas as condições ali não eram piores do que tinham sido no início
do voo. Matoscho informou Icho Tolot, Roi Danton e Atlan do sucesso da ma-
nobra, então se voltou para as tarefas que o esperavam. Agora eram 06h40min.
Como resultado do salto lateral que a CDIN-3 tinha acabado de realizar, o curso
tinha que ser recalculado primeiro. O cálculo de um curso através do continuum
pentadimensional era uma tarefa relativamente morosa, mesmo para um com-
putador potente. Krym Matoscho teve de se lembrar do teorema kalupiano, que
33
Kurt Mahr O Dia da Decisão

o famoso hiperfísico tinha compilado há muitos anos: dispositivos desenvolvidos


por seres que estão acostumados a pensar em três dimensões perdem metade
da eficiência quando são usados na solução de problemas quadridimensionais,
e, por sua vez, metade da eficiência restante quando se solicita deles a solução
de uma tarefa pentadimensional.
Naturalmente que, séculos atrás, já se tinha tornado claro como se po-
deria contornar o gargalo. Em vez de mandar humanos de conceitos limitados
projetarem computadores, deixava-se o projeto para aquelas máquinas que já
estavam acostumadas a pensar em regiões de alto nível — por conseguinte,
outros computadores. Tal programa tinha sido iniciado, e o sucesso não fora
apenas convincente, ele fora retumbante e impressionante. Os seguidores da
teoria da emancipação da máquina, como o conceito era na época chamado,
rejubilaram-se. A Humanidade parecia estar à beira de um avanço na área de
conhecimentos novos e não imaginados.
Então veio o choque. Um grupo de especialistas desmontou um dos com-
putadores construídos por computadores e tentou entendê-lo. E eles conseguiram;
porém, mais de trinta peritos necessitaram de um ano e meio de intenso trabalho
para entender completamente o funcionamento do dispositivo. A conclusão era
indiscutível: deixem máquinas desenvolverem máquinas, e, em duas gerações,
vocês não entenderão mais a própria tecnologia! A teoria da emancipação das
máquinas, consequentemente aplicada, conduziria em muito pouco tempo a
uma tecnologia que seria independente dos humanos, e, como não poderia ser
entendida por eles, ela os dominaria. Esse reconhecimento preponderou. Os
experimentos foram suspensos, e a Humanidade continuou a trabalhar com
computadores que, embora às vezes fossem lentos, eram mais servis.
Krym Matoscho teve de pensar nisso enquanto esperava os resultados
do novo cálculo de curso. Quando eles finalmente surgiram na tela diante dele,
observou pensativamente a série de algarismos. Claro que eles lhe diziam algo.
Podia inferir deles que ele ainda distava quinhentos e cinquenta anos-luz do
seu objetivo, e o objetivo estava um pouco mais próximo do centro galáctico do
que a sua localização atual. Porém, ele não sabia se estavam corretos. E se ele
reiniciasse o computador e obtivesse os mesmos resultados, ele ainda não sabia
se era porque o computador cometera o mesmo erro duas vezes.
Então, quão melhor ele estava do que as pessoas teriam estado se tivessem
seguido os preceitos da teoria da emancipação de máquinas?
Ele acariciou a cabeça. O roçar da mão sobre o cabelo duro o trouxe de
volta à realidade. Ele não recebia o soldo de major para chafurdar em pensa-
mentos filosóficos. Tinha outras tarefas a cumprir.
— Preparação de salto linear de quinhentos anos-luz! — ele gritou para o
servoautômato acústico, como se pudesse fazer algo pelo momento de fraqueza
que tinha acabado de passar.
34
Kurt Mahr O Dia da Decisão

DISTÂNCIA DE SALTO NAS CONDIÇÕES DETERMINADAS NÃO


COMPATÍVEL COM AS DIRETRIZES DE SEGURANÇAS...
— Que nada! — trovejou Matoscho ainda antes de terminar de ler a
expressão. — Quinhentos anos-luz, e nem um minuto a menos!
ENTENDIDO.

A máquina dos paramags tinha atacado dura e propositadamente. Mal


chegaram as instruções de Matunari, espalhadas via intercomunicador por
todos os corredores, para que todos os oficiais e tripulantes se equipassem de
traje espacial na eclusa, a última das quatro patrulhas informou que todos os
regeneradores e produtores de oxigênio estavam agora paralisados. Entretan-
to, a ordem de Matunari tinha sido obedecida. Os homens amontoaram-se
na eclusa para se protegerem contra o desastre iminente, colocando trajes
protetores. Sete dos oito Antigos Mutantes, cujos corpos de paramags tinham
surpreendentemente sobrevivido à morte de seus companheiros, como se tinha
verificado apenas muito tempo após a batalha decisiva por Favo-1000, também
se encontravam na eclusa.
Pouco tempo depois, às onze horas, a máquina dos paramags desferiu o
seu próximo ataque. Os instrumentos na estação externa registraram um abalo
sísmico que parecia emanar de um local distante, a cerca de oitocentos metros,
logo abaixo da superfície do asteroide. O local estava fora da visão óptica, de-
vido à forte curvatura da superfície. No entanto, as faixas rodopiantes de gás
condensado e sublimado que subiram no horizonte e se evaporavam novamente
no calor do sol falavam uma linguagem bem clara. A previsão de Matunari se
mostrou verdadeira. O inimigo tinha criado uma ligação entre o sistema de
corredores e o vácuo do espaço circundante. O ar escapava. O asteroide era,
como Matunari se expressara, inundado com o vácuo.
Nesse meio tempo, foi estabelecido que Fellmer Lloyd não estava na eclu-
sa. Com Betty Toufry, não havia preocupação, pois ela estava desmaterializada
nesse momento dentro de um veio TEP, e não estava dependente de oxigênio e
temperaturas toleráveis. O paramag cujo invólucro físico a mutante normalmen-
te habitava tinha sido arrastado para a eclusa pelos outros Antigos Mutantes.
No entanto, havia perigo para Fellmer Lloyd. Em seu esforço para estabelecer
contato telepático com o Complexo de Inteligência Paradoxal, ele não devia ter
ouvido a ordem de Matunari. Somente agora Matunari soube da tarefa a que o
mutante tinha se submetido, e se atormentava com autorrepreensões por não
ter procurado com atenção suficiente pelo mutante.
Ao tentarem sair da eclusa, os homens descobriram que a escotilha externa
da eclusa estava trancada por um estranho campo de força. O inimigo tinha,
35
Kurt Mahr O Dia da Decisão

aparentemente, percebido que todos os invasores, quase sem exceção, tinham


deixado o interior do asteroide, e, à sua maneira, tomara precauções para que
não pudessem retornar. Enquanto isso, no outro lado de Favo-1000, o precioso
ar respirável escapava pela abertura criada artificialmente. Somente com o uso
concentrado de radiadores térmicos pesados foi que se conseguiu eliminar o
campo de força inimigo. No decurso dos disparos, a escotilha da eclusa ficou
danificada e a atmosfera do interior da eclusa se evacuou para os corredores
com baixa pressão do interior do asteroide.
Os três homens do comando de resgate encontraram Fellmer Lloyd no
caminho para a eclusa. Que ele ainda pudesse se mover era quase um milagre.
A pressão no interior do corredor havia caído para a décima parte de uma
atmosfera, e a temperatura estava em trinta graus negativos. Porém, sob a pro-
teção do traje espacial, Lloyd se recuperou rapidamente do estresse passado e,
mal conseguira voltar a falar coerentemente, veio sua observação que fez todos
darem ouvidos: — Rápido para Rhodan. Eu sei a solução do problema!

Eles se agacharam na eclusa de ar vazia, e, como Fellmer Lloyd teve de


dar suas explicações pelo transmissor do capacete, todos o ouviram.
— A maior parte do que eu quero explicar — iniciou o mutante — vem
de informações que a inteligência estranha, Pairun, me deu. Algumas coisas, eu
mesmo conjecturei, e tenho certeza de que não passarei muito longe da verdade
com isso. Pairun, por nossos termos, é uma substância metálica cuja estrutura
atômica e molecular pode ser tão influenciada e alterada que, sob certas con-
dições, origina-se uma inteligência. O estímulo que leva ao desenvolvimento
da inteligência é de natureza pentadimensional. É importante que ele esteja
constantemente presente durante o período de formação; caso contrário, o
processo entra em colapso, o reagrupamento dos átomos e moléculas se desfaz
com um certo tempo de relaxamento, e a inteligência desaparece.
“No passado, esses estímulos apareciam de vez em quando. No entanto,
não duravam muito tempo. Pairun alcançava os estágios iniciais da existência
inteligente, mas então decaía de volta à ignorância. Estranhamente, ele se lembra,
ainda que obscuramente, de vários desses períodos de inteligência incipiente.
Eu concluo disso que o agrupamento especial das moléculas, que permite a
capacidade de pensar, não é completamente destruído com o decaimento, mas
somente até uma certa faixa residual. Isso dá a possibilidade a Pairun de lembrar
períodos anteriores de inteligência — e também outras coisas.
Pairun nunca conheceu até hoje outro ser além de si mesmo. Isso pode
soar estranho, pois, afinal, estes corredores estavam enxameados de paramags
até pouco tempo atrás, e, além disso, hoje tivemos prova de que as máquinas dos
36
Kurt Mahr O Dia da Decisão

paramags também possuem uma inteligência própria, que Pairun poderia ter
reconhecido como indicação da presença de outro ser. Isso, no entanto, nunca
aconteceu. Pairun sempre sentiu aversão pelos paramags e suas máquinas, mas
nunca lhe ocorreu que eles poderiam não fazer parte de seu próprio eu. Deve-se
imaginar assim: Pairun considerava os paramags como uma pessoa considera
uma dor de barriga. Ele não gosta dela, ele não podia — sem remédio — fazer
nada contra ela; mas, por outro lado, ele nunca teve a ideia de considerar a dor
de barriga como um ser estranho.
Por isso, foi difícil transmitir a Pairun o conceito de multiplicidade de
seres. Ele sentia uma espécie de solidão, mas a antítese, ou seja, o conceito de
dualidade ou pluralidade, lhe era completamente estranho. Ele ansiava por outro
ser e, contudo, não podia imaginar que tal ser poderia existir. Eu expliquei a ele
esse fato e ganhei seu afeto por isso.
Afinal, pode-se falar em amizade aqui. Amizade pressupõe a existência
de um conceito moral, e Pairun, como solitário, é um ser absolutamente amoral.
Ele conhece a alegria e a tristeza, mas não o bem e o mal. Ele não é uma criatura,
dito da maneira terrana, em que se pode confiar. Quem quiser coexistir com ele
deve atentar para pensar constantemente nele ou mantê-lo continuamente de
bom humor. Menciono isso porque, em nossos planos, este asteroide e, com ele,
Pairun desempenham um papel importante. Sobre as características de Pairun,
não deve haver a menor dúvida, senão experimentaremos uma catástrofe.
No estado de inteligência, Pairun tem a capacidade de pensar e de se
alterar fisicamente. Eu experimentei um exemplo quando quase congelei no
corredor já quase sem ar, e Pairun me salvou ao aquecer algumas disseminações
de material TEP na parede do corredor, para que eu pudesse me aquecer no
ar residual ascendente. Fora isso, no entanto, ele é quase impotente mesmo no
estado de inteligência. Não consegue ver, ouvir, sentir, provar ou cheirar. Não
possui nenhuma paracapacidade, exceto um certo grau de telepatia, através da
qual originalmente tomei conhecimento de Pairun. Foi quando ele percebeu que
eu tinha caído em uma armadilha para-hipnótica e estava prestes a me matar.
A ação de salvamento não foi porque eu era simpático a Pairun, mas porque
ele odiava os meus inimigos, ou seja, as figuras dos paramags para-hipnóticas.
É possível que Pairun possa desenvolver uma capacidade hipnótica no futuro.
No momento, porém, ela ainda não existe.
Pairun possui, no entanto, uma coisa que pode ser muito vantajosa para
nós: conhecimento. Já que ele sempre considerou as instalações técnicas dos
paramags como uma parte irritante de si mesmo, lidou com ela em períodos de
inteligência temporários e anteriores. Naturalmente que ele não entende nada
da tecnologia. Mas, no mundo dos processos mentais, ele está bem informado,
e, como os paramags usavam técnicas de controle e gerenciamento quase que

37
Kurt Mahr O Dia da Decisão

exclusivamente mentais, Pairun é, para nós, uma fonte rica em informações


sobre as máquinas dos paramags.
Especialmente um grupo de máquinas, sobre o qual eu o questionei em
detalhes. No interior do asteroide, longe de todos os corredores, há, de fato,
um grupo de máquinas que não descobrimos até agora. É um dispositivo de
tamanho impressionante, rodeado por dezenas de dispositivos menores. Na
minha opinião, que Pairun nem confirma nem rejeita, trata-se de um sistema
que foi criado pelos paramags para defender seu local caso algum dia fossem
expulsos deste asteroide ou mesmo impedidos de cumprir seus deveres diários.
Esse sistema começou a operar depois que os últimos paramags foram mortos
nos confrontos de ontem. Ele se lembrou de sua tarefa, ativou seus componen-
tes e começou a agir contra nós. Eu afirmei, há pouco, saber a solução para o
enigma, pois eu soube por Pairun onde esse sistema se encontra. De acordo
com as declarações de Pairun, parece-me plausível que o resto das instalações
dos paramags volte a funcionar normalmente assim que desligarmos o sistema
oculto. Restaria então a nós fechar o buraco pelo qual a atmosfera escapou e
climatizar de novo o interior de Favo-1000.”
Ele se calou. Sua fala não fora interrompida por uma única palavra.
Agora, porém, choveram perguntas. Ele respondeu todas elas pacientemente, e,
nas consciências de seus ouvintes, a imagem de Pairun como um ser que tinha
chegado por acaso à inteligência e que precisava de orientação para aplicá-la
corretamente tornou-se cada vez mais clara. Cono Matunari fez uma pergunta
que deixou o mutante temporariamente pensativo: — O estímulo que causa a
formação da inteligência realmente tem que estar sempre presente, ou Pairun
finalmente alcançou um estado em que ele pode sustentar sua capacidade de
pensar por conta própria?
Depois de breve hesitação, Lloyd respondeu: — Tenho certeza de que,
um dia, Pairun existirá como um ser inteligente independentemente de estí-
mulos externos. Nesse estado, ele entenderá a essência da inteligência em si,
enquanto que, no momento, só a aceita como um dado. Ele vai perceber quais
agrupamentos moleculares geram a capacidade de pensar, e, como tem seu
corpo inteiramente sob controle, então, em seguida, ele procurará preservar
esses agrupamentos.
Por fim, Perry Rhodan interrompeu o fluxo interminável de perguntas.
— Tenho certeza de que, por ora, sabemos o suficiente para poder agir
contra a máquina dos paramags. A partir de agora, limitaremos os nossos esfor-
ços ao desenvolvimento de um plano de combate detalhado. Perguntas podem
ser feitas mais tarde, quando tivermos certeza de que não iremos queimar em
algumas horas no sol.
Ele se virou para Fellmer Lloyd. O mutante o viu sorrir por trás da viseira
do capacete.
38
Kurt Mahr O Dia da Decisão

— Só há mais uma coisa que gostaria de mencionar. Você reparou em


algo no nome do ser estranho?
Lloyd balançou a cabeça.
— Não, senhor. Nomes, especialmente se forem transmitidos telepa-
ticamente, têm raramente importância. Se origina de um pensamento que a
consciência associa com certos sons. Isso é tudo.
— Não neste caso, me parece — objetou Rhodan. — Lembra-se de como
os paramags chamavam o material transformador emocional parabiológico?
O mutante de repente compreendeu.
— Viver no grau mais elevado! — exclamou ele. — Payn-Hrun-Tala!
Payn-Hrun... Pairun... é claro! Ele pegou o conceito dos paramags e o aplicou
a si mesmo.
— E esta — comentou Perry Rhodan, não sem ironia — deve ser a pri-
meira vez na história da vida inteligente que um ser se deixou nomear por sua
dor de barriga.

Eram quinze horas. A estação externa havia determinado que o asteroide


continua a alterar seu curso constantemente e se precipitava cada vez mais para
o sol. O momento em que os primeiros fenômenos de derretimento ocorreriam
na metade da superfície voltada para o sol, nesse meio tempo, havia avançado
para vinte horas e cinco minutos. Usando agora instrumentos de medição sen-
síveis, determinou-se que as alterações de curso foram causadas por campos
gravitacionais artificiais, que agarraram brevemente o asteroide e aceleraram o
componente de velocidade orbital apontando em direção ao centro do sol. Os
campos de gravidade artificial eram indubitavelmente produtos do dispositivo
paramag secreto, que parecia determinado a preferir destruir a si mesmo e
todo o asteroide a tolerar invasores alienígenas em Favo-1000. Em memória de
uma antiga técnica de batalha de sua terra natal, Cono Matunari tinha dado à
unidade o apelido de Máquina Kamikaze.
Pelo plano, o combate contra o perigoso dispositivo seria por túneis feitos
na direção do salão das máquinas, a partir de dois corredores que passavam em
sua proximidade. A tripulação foi dividida em dois grupos para essa operação. O
comando de um dos grupos era de Cono Matunari, enquanto o outro era lide-
rado por Perry Rhodan. Fellmer Lloyd foi colocado com o japonês, como apoio.
Era esperado que a Máquina Kamikaze notasse a aproximação do inimigo
e se defendesse contra ele. Rhodan recomendou ao pessoal, no caso de um ataque
para-hipnótico, pois era um padrão conhecido, apenas empregarem armas de
choque, mas de modo nenhum atirar no paramag uniformizado de vermelho.

39
Kurt Mahr O Dia da Decisão

A ideia de que a máquina poderia alterar sua tática e designar o paramag de


uniforme verde como anjo da morte causava-lhe muito incômodo.
Fellmer Lloyd tinha, nesse meio tempo, retomado o contato com Pairun
e inquirido outra vez sobretudo sobre o esconderijo da Máquina Kamikaze.
Ele estava particularmente interessado em saber o tamanho do salão no qual a
máquina com seus dispositivos-satélites estava alojada. No entanto, teve difi-
culdades nisso. Pairun era capaz de criar uma imagem telepática de si mesmo
e também uma imagem telepática do salão com as máquinas. No entanto, o
ser estranho era incapaz de explicar a relação entre as duas escalas de imagem.
Fellmer Lloyd, depois de alguns avanços e recuos, ficou com a impressão de que
o salão era provavelmente menor do que ele havia suposto inicialmente e que
seu diâmetro não era superior a cinquenta metros. A cúpula parecia se elevar,
na forma de um hemisfério, acima da base do salão e, segundo isso, possuía
uma altura de cerca de vinte e cinco metros.
Como resultado dessas dificuldades, não pôde ser determinado com an-
tecedência quão longos deveriam ser os túneis com a ajuda dos quais se queria
penetrar no salão. Nisso, no entanto, uma estimativa pôde ser determinada, a
partir do trajeto dos corredores adjacentes, que variava entre trinta e cinquenta
metros.
O trabalho avançou rapidamente no início. Grupos de três homens tra-
balharam com radiadores de impacto pesados na parede rochosa e criaram um
corredor com cinco metros de altura e dois metros de largura. A rocha era tra-
balhada até evaporar. O vapor saía do túnel para o corredor e, ali, era sublimado
nas paredes. A velocidade com que o túnel podia ser cavado era determinada
pela rapidez com que a rocha aquecida resfriava para temperaturas toleráveis,
para que os homens pudessem avançar mais.
Fellmer Lloyd tinha chamado a atenção de Pairun para o fato de que, com
o avanço dos dois túneis, o metal TEP também seria inevitavelmente derretido
e vaporizado. A inteligência estranha não se mostrou particularmente agitada a
respeito desse fato. A perda de algumas toneladas de matéria corporal não parecia
inquietá-lo. Muito mais importante para Pairun era que o odiado complexo de
máquinas, que finalmente ele tinha aprendido a considerar como um tipo de
ser inimigo com a ajuda de Fellmer Lloyd, fosse destruído.
Às 15h20min, ocorreu o primeiro incidente no túnel de Cono Matu-
nari. O túnel tinha cerca de vinte metros de comprimento nessa altura. Atrás
do grupo, que trabalhava na parede do fundo do túnel com três radiadores de
impacto, estavam Matunari e o resto de sua equipe. Então o chão começou a
tremer, e, quando Fellmer Lloyd se virou apressadamente, ele viu atrás de si o
teto da entrada do túnel já resfriado desmoronar. Matunari xingou a meia-voz.
Uma observação melhor revelou que o túnel estava completamente fechado.
Escombros o enchiam do chão ao teto. Isso significa que os gases de rocha ge-
40
Kurt Mahr O Dia da Decisão

rados pelos três radiadores de impacto não podiam mais sair para o corredor.
Eles condensariam dentro do túnel nas paredes e entupiriam o túnel ainda mais.
Pensativo, Matunari olhou o desabamento.
— Acha que é um processo natural? — ele perguntou ao mutante.
— Dificilmente — respondeu Lloyd. — A crosta rochosa solidificada era
forte e estável. Temo que sua Máquina Kamikaze seja a culpada pelo desastre.
— Não diga minha máquina, senhor — retrucou o japonês. — Estou feliz
com que ela não pôde mirar melhor.
— O que quer dizer com isso?
Lloyd perguntou, embora há muito conhecesse o pensamento do coronel.
— O desabamento poderia ter ocorrido bem em cima de nós, não é? —
se afervorou Matunari. — Então estaríamos soterrados, e quem sabe quanto
tempo levaria até que fôssemos tirados.
Ele gesticulou, e dois homens com armas de serviço médias vieram
correndo.
— Limpem pelo menos uma parte da coisa! — ordenou a eles.
Eles se puseram ao trabalho. Sob os raios energéticos brilhantes de suas
armas, o escombro vaporizou. Surgiu um buraco, através do qual o vapor pôde
sair. A partir de então, foi mais fácil. Um pedaço de rocha após outro começou
a brilhar, derreteu e se afastou em nuvens rodopiantes. Quando a abertura ficou
grande o suficiente para que um homem pudesse passar sem muito esforço,
Matunari fez os dois homens pararem. O incidente o tornara cauteloso. A par-
tir de agora, ele postou um guarda na boca do túnel. Caso houvesse mais um
desabamento, o homem poderia ajudar pelo lado de fora se necessário.
Um questionamento pelo rádio do capacete revelou que a tropa de Perry
Rhodan tinha sido poupada de incidentes até agora. O trabalho ali também
avançava rapidamente. O túnel de Rhodan tinha quase trinta metros de com-
primento, e era de contar com que, a qualquer momento, dessem com o salão
da Máquina Kamikaze.
Enquanto o trabalho no túnel de Matunari continuava, Fellmer Lloyd
ficou aparentemente parado à parte. Na verdade, ele se concentrava. Com os
olhos quase fechados, ele ouvia no campo mental e se certificava de que apenas
os pensamentos ruidosos dos homens trabalhando pudessem ser ouvidos. De
repente, ele estacou. Da entrada do túnel, veio um impulso mental que expres-
sava assombro e espanto. Logo depois, veio um pensamento mais preciso: “De
onde vocês vieram? O que vocês querem?”
Esses eram os pensamentos do vigia. Quem ele via? Com quem ele se
admirava?
“...Socorro...”
Um grito mental estridente, expelido na mais alta necessidade. Então
um fluxo de impulsos irrompeu de repente. Perto da boca do túnel, surgiu um
41
Kurt Mahr O Dia da Decisão

clarão forte. Ninguém, fora o mutante, o percebeu. Fellmer Lloyd continuou a


escutar. Pensamentos confusos e pouco nítidos o invadiram. Pensamentos de
uma consciência estranha.
Do vigia, ele não ouviu mais nada, nem mesmo o sussurro baixo e inco-
erente que emanava do cérebro de uma pessoa inconsciente. O homem estava
morto. Fellmer Lloyd teve uma suspeita terrível. Ele tinha que ter certeza. Em-
purrou o radiador de impacto mais fundo no cinto, como se não quisesse em
circunstância nenhuma ser tentado a usá-lo, e pegou a arma de choque. Com a
arma pronta para disparar, foi para a pequena montanha de entulho que sobrara
do desabamento. Sobre os escombros parcialmente derretidos e refundidos, ele
olhou para o corredor. O que ele viu confirmou sua suspeita.
Bem diante da saída do túnel, jazia o vigia, que Cono Matunari havia
postado ali. O capacete do seu traje espacial era uma massa derretida, por trás
do qual o rosto não podia mais ser reconhecido. Lateralmente no corredor,
estavam agachados dois paramags, figuras irreais em trajes espaciais terranos
grandes demais. Lloyd não os reconhecia, mas tinha certeza de que um deles
era o paramag cujo corpo o teleportador Tako Kakuta assumira. De que outra
forma teriam chegado ali, senão por teleportação? Eles estavam praticamente
imóveis nos enormes trajes espaciais.
Logo acima de uma das duas figuras grotescas, uma arma de serviço
flutuava no ar. Como se sustentado por fios invisíveis, que eram movidos por
um ator igualmente invisível, o cano se movia de um lado para outro, mirava
para um lado e para outro, como se o manipulador estivesse praticando a
arte da pontaria. Fellmer Lloyd compreendeu. O coldre do vigia morto estava
vazio. Tinham tomado a arma dele. Ela tinha sido roubada telecineticamente
dele. Provavelmente, também fora acionada telecineticamente quando a salva
mortal saíra do cano.
Entre os oito Antigos Mutantes, havia dois com dons telecinéticos. Betty
Toufry ainda se achava dentro do veio TEP. Então a segunda figura ali fora tinha
de ser Tama Yokida. Um teleportador e um telecineta, que combinação diabólica!
O teleportador dava mobilidade ao telecineta, e o telecineta puxava as armas e
matava pessoas. O que os dois mutantes pretendiam não estava claro para Lloyd
por enquanto. Mas nem por um segundo ele duvidava de que estavam agindo
em nome da Máquina Kamikaze. A influência para-hipnótica da máquina devia
ter conseguido fazer com que a consciência paramag dominasse a consciência
mutante no cérebro do corpo paramag habitado pelo mutante. A consciência
do paramag ditava as ações do corpo.
O perigo era iminente. Fellmer Lloyd estava agachado atrás da parede
baixa de escombros e apoiou a arma. Ele não podia usar uma arma mais pesada.
Se destruísse o corpo do paramag, também destruiria a consciência do mutante
que se achava nele. Apontou para a figura que ele considerava ser Tako Kakuta.
42
Kurt Mahr O Dia da Decisão

Se colocasse o teleportador fora de ação, o telecineta ficaria praticamente à sua


mercê.
No calor da batalha, ele devia ter avançado demais atrás da cobertura. De
repente, recebeu uma confusão de pensamentos amedrontados, e, no mesmo
momento, o radiador de impacto controlado telecineticamente apontou para
seu esconderijo. Ele se atirou de imediato para o chão. Um décimo de segundo
depois, um raio energético ofuscante passou pouco acima dele e foi para trás
dele na parede do túnel. Lloyd saltou para o lado para conseguir o acerto de uma
posição diferente; porém, quando ele se ergueu atrás da cobertura, o corredor
lá fora estava vazio. O inimigo havia fugido.
Fellmer Lloyd deu o alarme. Ele anunciou suas observações pelo rádio
do capacete. O trabalho no túnel foi interrompido imediatamente. A estação
externa foi chamada. Matunari ordenou ao oficial de serviço para olhar em
torno da eclusa. O homem obedeceu e informou, poucos momentos depois,
que dois dos corpos paramags haviam de fato desaparecido. Ele trocou algumas
palavras com os outros mutantes e teve a impressão de que eles ainda eram
senhores de si mesmos.
Por enquanto, os túneis permaneceram calmos. Os dois paramags pa-
reciam ter se retirado. Porém, eles poderiam retornar a qualquer momento.
O fantástico talento de Tako Kakuta, que a consciência paramag aprendera
a usar, levava-o a qualquer lugar dentro do asteroide em frações de segundo.
Fellmer Lloyd ofereceu-se para procurá-los. Ele se afastou dos dois túneis para
não ser perturbado pelo ruído dos pensamentos dos homens, e se retirou cerca
de cinquenta metros para o corredor de onde partia o túnel de Matunari. O
trabalho continuou nos túneis. A Máquina Kamikaze tinha que ser destruída
o mais depressa possível.
Lloyd se agachou no chão do corredor e se encostou à parede. Ele fechou
os olhos para se concentrar melhor, e começou a escutar. O que ele buscava era
uma emanação exótica e estranha, como a vinda do cérebro de um paramag
independente. Uma vez, ele pensou ter recebido tal impulso. Mas então perce-
beu que pegara o paramag que estava agachado na eclusa e esperava o retorno
de Betty Toufry, para que ela o libertasse da agonia da confusão e desamparo
constante.
Mas então, clara e distintamente, houve de repente uma estranha impres-
são em sua consciência.
“Você busca, Felmloit?”
Ele ficou surpreso. Porém, respondeu sem hesitação: “Sim, eu busco,
Pairun.”
“Dois inimigos que se movem rapidamente e se movem de um lado para
outro?”
“Eu os busco, Pairun.”
43
Kurt Mahr O Dia da Decisão

“Eles estão aqui, Felmloit!”


Lloyd suspirou. Topologia, assim como medição de comprimento, não
estava entre os pontos fortes de Pairun. Ou teria ele aprendido alguma coisa nas
últimas horas? Uma imagem do emaranhado de corredores apareceu na mente
de Fellmer Lloyd. Um dos corredores estava muito bem denotado, e um lugar
nele estava marcado por um ponto colocado ao lado.
“Você está aí, Felmloit”, ele ouviu Pairun pensar.
Um segundo corredor apareceu, denotado mais fortemente. Um segundo
ponto se formou.
“Os inimigos estão aqui, Felmloit.”
O mutante memorizou a imagem. A segunda marcação não estava longe
da primeira. Se tomasse o corredor lateral seguinte e virasse para a direita...
“Obrigado, Pairun”, ele pensou com fervor. “Muito obrigado.”
“Você não me deve nada, Felmloit”, veio a resposta. “Por meio de você, eu
fiquei livre da solidão!”
Fellmer Lloyd ficou surpreso. Pairun começava a mostrar emoções
humanas. Talvez ele não fosse, para os oito Antigos Mutantes que deveriam
permanecer ali, o aliado pouco confiável como ele tinha pensado inicialmente.
Ele se livrou do pensamento. Havia coisa mais importante em que tinha de se
concentrar. Os dois mutantes, se é que ainda se encontravam ali, estavam na
proximidade imediata de um cruzamento de corredores. Quando ele se apro-
ximasse furtivamente através do corredor lateral mais estreito, ele os poderia
surpreender. A arma de choque estava pronta para disparar.
Ele se moveu tão rápido quanto permitia a cautela. À medida que se
aproximava, começou a perceber a emanação dos cérebros estranhos. Ele ouviu:
... inseguro...
... para onde?...
... examine...
... melhor desistir...
... uma última tentativa...
Lloyd se moveu mais rápido. Os dois paramags preparavam-se para uma
nova investida, que ele depreendeu do último impulso de pensamento. Ele tinha
que alcançá-los antes que ela acontecesse. Os homens que trabalhavam nos
túneis estavam à mercê deles.
Ele alcançou o cruzamento de corredores. Os impulsos confusos eram
agora mais intensos do que antes. Eles ainda falavam de incerteza e hesitação.
Ele se moveu cautelosamente para um canto, pronto para disparar ao menor
movimento suspeito. Os dois paramags estavam apenas a três metros dele. Um
virado de lado para ele, o outro de costas. Diante do que estava de costas para
ele, o radiador de impacto flutuava no ar. Lloyd apontou cuidadosamente. Então
puxou o gatilho.
44
Kurt Mahr O Dia da Decisão

Esse paramag foi jogado para o lado como se tivesse sido atingido por
um duro golpe. As mangas do traje espacial, em que os braços do corpo do
paramag se estendiam apenas até a metade, voaram balançando para o alto.
O ser alienígena caiu no chão e ficou imóvel. O outro paramag tentou desajei-
tadamente se virar. O radiador de impacto, que flutuava no ar diante dele, já
que as mãos esguias no envoltório disforme do traje espacial não conseguiam
agarrá-lo, acompanhou a virada.
— Pare! — gritou Lloyd. — Ou você está perdido.
Foi, observado friamente, uma ação inútil. O corpo do paramag dominava
uma consciência aborígene que não entendia a linguagem dele. A consciência
de Tama Yokida fora suplantada e não tinha nenhuma influência nas intenções
do paramag.
Mas, apesar disso, o milagre aconteceu. O paramag estacou em meio ao
movimento. Ele, agora no meio do caminho até Lloyd, se virou para o lado.
Tinha virado tanto o crânio semelhante ao de um babuíno que ele podia ver
o inimigo. Os grandes olhos facetados encararam ansiosamente o terrano. O
radiador de impacto ainda estava flutuando no ar, mas sua boca apontava ino-
fensivamente para o corredor.
Fellmer Lloyd abaixou a arma. Ele teve uma ideia melhor. Não tinha um
talento hipnótico, mas podia, quando se esforçava, amplificar seus pensamentos
para que eles também chegassem à consciência de um não telepata. Ele não ti-
nha certeza se teria sucesso. Mas tinha que tentar. Numa emergência, ele ainda
tinha a arma de choque.
“Tama Yokida, eu o chamo!”
Confusão, medo, ira, decepção, desamparo responderam.
“Tama Yokida, eu o chamo!”
Confusão e medo e, entre eles, um pequeno impulso mal perceptível:
“Eu... Tama Yokida... outro...”
“Defenda-se, Yokida!”, irradiou Lloyd. “Você tem a força. O inimigo está
impotente!”
“Eu tento... esforço... demais...”
“Você conhece isso, Tama Yokida!”, insistiu Lloyd. “Você é forte! Seu ini-
migo quer desistir!”
A luta se passou diante ele, silenciosa para todos os outros, menos para
ele, que podia escutar os gritos dos pensamentos, os impulsos de choque do
medo e do triunfo. A consciência de Tama Yokida foi despertada. Ela lutou
contra a alma dos paramags, sob cujo domínio estivera até agora. Importava
muito em que medida a Máquina Kamikaze apoiava seu agente — isso se ela
fosse capaz de apoiá-lo. Fellmer Lloyd não podia mais intervir na luta. Yokida
tinha de encará-la sozinho.
E ele a estava encarando.
45
Kurt Mahr O Dia da Decisão

Um suspiro quieto, doloroso ainda, então isso. Um suspiro baixo e dolo-


roso, então finalmente a consciência do paramag deu-se por vencida. O radiador
de impacto, que pendia imóvel no ar até agora, caiu no chão. Um pensamento
claro surgiu na mente de Lloyd: “Eu, Tama Yokida, venci!”
Ele guardou a arma no cinto e foi apressado até os mutantes indefesos.
Do seu receptor de capacete, vieram as palavras crocitantes formadas pelo ins-
trumento de fala de um paramag: — E estou exausto também!...

5.

Daria certo.
Repetidamente, Krym Matoscho se persuadia. Daria certo. Lentamen-
te, a CDIN-3 se afastou das áreas mais perigosas da gigantesca tempestade
gravitacional. O relógio mostrava 12h45min quando o pequeno cruzador se
aproximou quinhentos anos-luz de seu destino. No entanto, o computador de
bordo ainda não queria concordar com um salto linear sobre essa distância.
A distância restante teria de ser coberta em dois saltos. Seriam mais de treze
horas depois que a CDIN-3 chegasse a Ponto Para. Mas talvez o tempo perdido
pudesse ser compensado em outro lugar. O pequeno cruzador tinha sobrevivido
muito bem à viagem infernal até agora. Na última saída do espaço linear, outra
unidade propulsora falhara. Acabara de ser substituída pela segunda unidade
de reserva. Com isso, as reservas estavam esgotadas, mas a CDIN-3 ainda estava
totalmente manobrável.
O próximo salto foi fixado em duzentos e cinquenta anos-luz. O compu-
tador de bordo se opôs, apontando as diretrizes de segurança. Mas, como Krym
Matoscho insistiu em seu desejo, ele acabou cedendo. A manobra de imersão
decorreu sem dificuldades. Às treze horas e dois minutos, o piloto automático
fez a CDIN-3 deixar o espaço linear novamente e a materializou no continuum
einsteiniano. A distância de salto medida foi de exatamente duzentos e cinquenta
anos-luz. Krym Matoscho estava satisfeito consigo mesmo e com sua nave.
Ele ativou os rastreadores e mandou analisar as condições energéticas do
espaço. Os resultados o surpreenderam. Ele sabia que ainda não tinha deixado a
área da tempestade, e, ainda assim, estava tudo tão calmo como se não houvesse
tempestade gravitacional. Instruiu o computador para preparar o próximo salto
o mais rápido possível. Entrementes, veio-lhe uma ideia. Ele não tinha ideia
de quão longe se estendia a zona de calmaria em que a CDIN-3 estava nesse
momento. Se ela acabasse antes do ponto de destino, seus esforços seriam em
vão. Mas uma tentativa não faria mal, e, se tivesse sorte, ele já poderia resolver
o problema de seu atraso.
Ele se virou para o copiloto.
— Vamos tentar uma pequena mensagem de hiper-rádio — ordenou ele.
46
Kurt Mahr O Dia da Decisão

O emissor foi ativado, as hiperantenas apontadas para Ponto Para. Krym


Matoscho assumiu o microfone. A transmissão era apenas acústica. Utilizar a
largura de banda necessária para a transmissão de imagens, teria significado
desperdiçar energia nas circunstâncias predominantes.
— CDIN-3, major Matoscho, para Marco Polo e Mostonow. Por favor,
confirmem!
Ele pousou o microfone e ouviu. Do receptor, veio um ruído que aumen-
tava e diminuía, misturado com guinchos e silvos. Em alguma parte entre ali
e Ponto Para, o éter não estava tão tranquilo como nas cercanias da CDIN-3.
Matoscho esperou um minuto, então repetiu a chamada. Mais uma vez, o recep-
tor permaneceu em silêncio, exceto pelos guinchos e silvos. Como Matoscho,
mesmo após a segunda repetição do seu chamado, não obteve resposta, ele
estava pronto para desistir. Além disso, o piloto automático informou que a
nave estava pronta para a manobra de imersão. Suspirando, Matoscho estendeu
a mão para desligar o hiperemissor.
Então o milagre aconteceu. Do receptor, saíram, estridentes e distorcidas
por ruídos de interferência, as palavras: — Confirme, CDIN-3, major Matoscho.
Aqui Mostonow, coronel Spitzer. Por favor, fale CDIN-3.
Krym Matoscho jogou os braços para o ar e soltou um grito de guerra
agudo. Ele tinha vencido! Não chegaria tarde demais. Ele tinha conseguido!
— Mostonow, você ouve! — gritou ele, cheio de entusiasmo para o mi-
crofone, como se tivesse de alcançar a nave, a duzentos e cinquenta anos-luz de
distância, somente com a força do volume. — Tenho instruções de Perry Rhodan.
Elas se referem principalmente à Marco Polo. Por favor, grave e transmita...

Era por volta das dezessete horas quando Fellmer Lloyd ouviu de uma
pequena distância o grito de júbilo mental de um dos três homens que traba-
lhavam na frente, na cabeça do túnel.
— Chegamos!
O túnel tinha quarenta e três metros de comprimento. Lloyd correu para
frente. Os homens haviam desligado os radiadores de impacto e recuado. Cono
Matunari estava ajoelhado diante do buraco — até onde ele podia ousar ir por
causa da rocha incandescente — e tentava olhar através dele.
— Confusão estranha — ele resmungou e ficou em pé novamente. —
Aumentem o buraco!
Os radiadores entraram novamente em ação. Fellmer Lloyd reparou
que a erupção de gás que se esperava ao arrombar o salão de máquinas estava
ausente. O salão estava tão vazio de ar quanto o resto do interior do asteroide.
Os raios brilhantes dos três radiadores de impacto comiam pedaço por pedaço
47
Kurt Mahr O Dia da Decisão

a rocha circundante, evaporavam-na e faziam a abertura crescer. Quando ela


atingiu um diâmetro de mais de um metro, Matunari ordenou uma nova parada.
Ele gesticulou para Fellmer Lloyd se aproximar. Juntos, eles se ajoelha-
ram em frente ao buraco. Lloyd ouviu o climatizador do seu traje espacial saltar
para níveis mais elevados quando ele chegou perto das pedras incandescentes.
O interior do salão era como Pairun havia descrito. O salão era circular. Seu
diâmetro devia ser de pouco mais de quarenta metros. No centro do círculo,
erguia-se uma estrutura cuboide de pelo menos quinze metros de altura. Ela
era revestida de metal cinza, e o revestimento não tinha nenhuma estruturação.
As superfícies metálicas eram lisas. Em torno do gigante, se agrupavam mais ou
menos ordenados cerca de cento e cinquenta a duzentos dispositivos, que também
eram quadrados ou cuboides, e suas alturas variaram de menos de um metro
até cinco ou seis metros. O revestimento liso e sem emendas era típico de todos
os dispositivos. Via-se claramente: ali não havia painéis de controle, consoles de
comando ou bancos de medidores. Esse sistema fora concebido exclusivamente
para funcionar por si mesmo, automaticamente, sem nenhum controle externo.
Cono Matunari se levantou.
— Matunari para Rhodan — disse ele. — Chegamos, senhor, e aguarda-
mos suas instruções.
Rhodan respondeu sem hesitar.
— Nós ainda temos alguns metros, de acordo com as medições da sonda.
Vocês podem penetrar livremente?
Matunari examinou as bordas do buraco. Havia apenas um brilho
vermelho-escuro e opaco.
— Vamos tentar, senhor — respondeu o japonês.
Ele rastejou para a abertura. Pouco antes do buraco, ele se virou de lado
para passar cuidadosamente a perna direita sobre a borda do buraco e evitar
assim, tanto quanto possível, a rocha ainda incandescente. Mal tinha começado
o movimento, quando gritou. Em torno da perna, formou-se, por frações de
segundo, um envoltório de luz fluorescente e esverdeada. Matunari vacilou. Um
dos homens saltou, pegou-o pelo braço e o puxou para o túnel.
O coronel caiu inconsciente no chão. Fellmer Lloyd sentira claramente as
ondas de dor que sua mente tinha irradiado. Ele relatou o incidente a Rhodan.
— A abertura está fechada por um campo de força invisível, senhor. Tocar
o campo provoca uma dor muito forte.
— Como está Matunari? — indagou Rhodan.
— Está inconsciente, senhor, mas não ferido seriamente.
— Tente atuar no campo com radiadores de impacto!
— Será feito — prometeu Lloyd.
Ele pegou um dos radiadores térmicos pesados. Apertou o gatilho e
deixou o raio brilhante atuar. O efeito foi notável. Em vez de atravessar a aber-
48
Kurt Mahr O Dia da Decisão

tura, o feixe brilhante ricocheteou e retornou para o túnel. Fellmer Lloyd tirou
imediatamente o dedo do gatilho, pois, senão, ele seria ameaçado pelo ricochete
da sua própria salva.
— Sem sucesso, senhor — ele informou a Rhodan. — A energia do raio
é simplesmente refletida.
— Vou lhe enviar ajuda, Fellmer — prometeu Rhodan.
O mutante olhou para cima. Ele não precisou esperar muito. Uma es-
tranha cintilação apareceu no fundo do túnel. Ficou clara, tomou forma. Um
traje espacial apareceu. O crânio de um babuíno com grandes olhos facetados
e rígidos olhava pela viseira.
— Kakuta?...
— Sim — veio a resposta rouca.
Quando Tako Kakuta despertara da inconsciência, ele era novamente
senhor de sua vontade. A alma do paramag, a quem a Máquina Kamikaze tinha
dado força adicional, não mais o dominava. A Máquina o tinha deixado em paz
desde então, assim como a Tama Yokida. Os dois mutantes tinham retornado
com a ajuda da capacidade de teleportador de Kakuta para a eclusa e, dali,
acompanharam de longe o progresso dos trabalhos nos dois túneis.
— Eu sou necessário? — perguntou Tako Kakuta.
Lloyd apontou para a abertura.
— Estamos bem diante do objetivo — respondeu ele. — Mas o buraco está
fechado por um campo de força de estrutura desconhecida. Não conseguimos
passar, e nossos radiadores de impacto ricocheteiam sem efeito nele.
— Entendi — respondeu o teleportador.
— Eu quero que você aja com cuidado — advertiu Lloyd. — Eu não sei
até onde o campo chega e que influência tem nos teleportadores.
— Eu terei cuidado — prometeu Kakuta.
Fellmer Lloyd recuou. O teleportador ficou imóvel por um momento,
então se formou a mesma cintilação que as pessoas viram quando ele se mate-
rializara no túnel. Intensificou-se notavelmente. Os contornos do traje espacial
começaram a se turvar. Fellmer Lloyd prendeu a respiração involuntariamente.
Mais um segundo — e Tako Kakuta estaria dentro do salão!...
Então a cintilação parou de repente. Cessou como se alguém tivesse
girado o interruptor que provocava o desligamento. No chão da galeria, jazia
Tako Kakuta. Uma convulsão moveu uma ou duas vezes o corpo raquítico do
paramag; então o mutante ficou imóvel. Fellmer Lloyd escutou. Ele ouviu um
sussurro abafado e incoerente vindo da consciência do teleportador. A rever-
beração da dor física ainda podia ser sentida.
Tako Kakuta tinha falhado.
O radiador de impacto tinha falhado.
Cono Matunari tinha falhado.
49
Kurt Mahr O Dia da Decisão

Fellmer Lloyd curvou-se e olhou novamente pela abertura. Dentro, nada


havia mudado. As máquinas cinzentas estavam do jeito que ele as tinha visto
antes: silenciosas, imóveis, imperturbáveis. Uma fúria fria apoderou-se dele.
De onde um conjunto de máquinas insensíveis e pré-programadas tiravam o
direito de dirigir os destinos dos humanos? Quem lhes dera o direito de decidir
sobre a vida e a morte dos outros? Onde ganhava força para resistir aos meios
mais modernos e eficazes da tecnologia terrana?
“Felmloit?...”
Ele escutou, surpreendido.
“Estou aqui, Pairun!”
“Você vê o inimigo?”
“Eu vejo o inimigo e não posso derrotá-lo.”
“Eu o ajudo, Felmloit. Você diz que eu nunca mais serei solitário?”
“Eu digo que você nunca mais será solitário, Pairun.”
“Eu o ajudo!”
Lloyd olhou incrédulo para o corredor. Ele não sabia como Pairun iria
ajudá-lo. Duvidava de que ele possuísse a possibilidade para isso. Como é que
ele penetraria no campo de força que cercava o salão de máquinas?
Um pensamento passou por sua cabeça: o campo de força não estava
em todos os lados. Surgira apenas sobre a abertura que fora feita na parede do
corredor! Ele se inclinou mais para frente. Ocorreu-lhe uma circunstância, que
ele havia negligenciado até então, devido a estar grandemente ocupado com as
máquinas. As paredes internas do salão consistiam em rocha bruta. Os para-
mags não viram necessidade de alisar paredes de um salão onde havia apenas
máquinas. Nas paredes rochosas, havia as usuais incrustações de metal TEP. Elas
começaram a brilhar. Isso atraiu a atenção de Lloyd. O brilho azul-turquesa foi
inicialmente para o vermelho, então o fulgor se tornou branco-amarelado. O
salão, que era iluminado até o momento por uma única luz no teto, de repente
refulgiu em amarelo. Milhares, dezenas de milhares de disseminações de material
TEP irradiaram em forte incandescência.
Fellmer Lloyd não confiou em seus olhos. Primeiro, fios finos, então
pequenos riachos, então riachos de metal TEP derretido começaram a escor-
rer das paredes. Primeiro, eles solidificaram ainda antes de chegarem ao chão.
Então, à medida que as temperaturas no salão subiam, eles ficaram líquidos por
mais tempo e começaram a formar grandes charcos no chão abaixo da parede.
E finalmente, quando o metal líquido fluiu livremente e em jorros de cada veio,
formou-se uma ampla corrente, que atravessou todo o salão e ficou se movendo
lentamente das paredes para o centro.
O mutante se sobressaltou quando ouviu uma ordem enérgica pelo re-
ceptor do capacete.
— Aqui, senhor!... — respondeu ele, sentindo-se culpado.
50
Kurt Mahr O Dia da Decisão

— Fellmer, você me assustou, eu o chamei três vezes...


— Peço desculpas, senhor. Eu estava tão fascinado...
— Eu sei. Acabamos de romper. Temos o mesmo campo de força que
vocês. O que está acontecendo lá dentro?
— É Pairun, senhor! — exclamou Lloyd, cheio de entusiasmo. — Ele
vem em nosso auxílio!
Perry Rhodan ficou em silêncio. Fellmer Lloyd fitava o inferno que se
iniciava diante dele. O campo de força, embora fosse opticamente transparente,
não deixava passar nada do calor que agora devia prevalecer no salão. Lloyd ob-
servava as caixas cinzentas das máquinas. Sulcos se formaram nos revestimentos
das máquinas. Uma das caixas menores, que ficava na periferia do conjunto,
e da qual a frente que avançava de metal TEP líquido distava apenas poucos
metros, de repente se retorceu e ruiu sobre si mesma. Momentos depois, ela
desapareceu sob a massa de TEP branca incandescente.
Milhares de toneladas de metal fundido fluíam pelo salão. As estruturas
das máquinas dos paramags estavam impotentes. A inundação incandescente
avançava inexoravelmente. Uma caixa após outra perdeu o apoio, desabou sobre
si mesma e foi submersa pelas massas metálicas. Gradualmente, até o gigantesco
cuboide do dispositivo central mudou de forma.
Então, por fim, chegou o momento da vitória. Por um triz, quase custou
a vida de Fellmer Lloyd e algumas pessoas do grupo de Cono Matunari. O
resto da Máquina Kamikaze ruiu pesadamente sobre si mesma. No momento
em que ela morreu, o campo de força que havia fechado a abertura do túnel
também se extinguiu.
Um dispositivo de aviso zuniu no traje espacial de Fellmer Lloyd. Em
seu pulso esquerdo, duas luzes de controle piscaram, uma azul, outra vermelha.
Temperatura. Lloyd olhou para o termômetro da pulseira e leu, incrédulo: 3.200
graus. Ele entendeu. Ficou em pé com um salto.
— Fora daqui! — ele berrou sua ordem.
Os homens saíram correndo. Dois agarraram o coronel ainda incons-
ciente, um terceiro catou Tako Kakuta e o carregou no ombro. Foram o mais
rápido que puderam para o corredor. Só quando estavam fora, o zunido parou
de avisar. Mesmo no corredor, a temperatura ainda era de mais de oitocentos
graus, devido ao calor que irradiava pela boca do túnel.
— Pairun! — chamou Fellmer Lloyd.
“Estou aqui, Felmloit!”, veio a resposta.
Ele se assustou. O pensamento era fraco. A impressão da dor a recobria.
Ele entendeu. Uma grande parte da matéria corporal de Pairun flutuava lá
dentro do salão.
— Pairun, você venceu! — exclamou Lloyd. — Pare! A vitória é nossa.
O inimigo está destruído.
51
Kurt Mahr O Dia da Decisão

“... destruído”, chegou o eco. “Eu paro, Felmloit. Você pensa… em nosso...
acordo...
— Eu nunca vou esquecer, Pairun — ele soltou. — Nunca... enquanto
eu viver.

Às 13h40min, a CDIN-3 se materializou, vinda do espaço linear, a algumas


unidades astronômicas de Ponto Para. Os dois supercouraçados Marco Polo e
Mostonow estavam prontos para partir. Logo após o aparecimento do pequeno
cruzador, a Mostonow começou a se mover. Sob o comando do coronel Nosla
Spitzer, ela voava para Paramag Alfa para observar os novos desenvolvimentos
no domínio do planetoide dos paramags.
A CDIN-3 foi recolhida a bordo da Marco Polo. Roi Danton assumiu o
comando. A central de comando foi despojada da tripulação e oficiais, pois ainda
valia a prescrição de que a posição galáctica de Wild Man só devia ser conhecida
pelos mais próximos confidentes de Perry Rhodan. Sobre o status do major Krym
Matoscho, que realmente não estava entre os confidentes e tivera forçosamente
que saber as coordenadas de Wild Man, seria decidido mais tarde. Também se
oferecia a escolha entre a possibilidade de simplesmente confiar em Matoscho
e a utilização de um procedimento de eliminação hipnótica inofensiva, que
removeria o conhecimento dos dados de posição da consciência de Matoscho.
Dados de posição galáctica consistiam normalmente em longas filas de
dígitos e operadores. A memória de um ser humano é um lugar inadequado
para a conservação de coordenadas galácticas no espaço pentadimensional.
Por isso, Roi Danton e Icho Tolot acordaram em armazenar os dados de Wild
Man de forma criptografada na positrônica da Marco Polo e tornar o acesso à
memória dependente de uma série de senhas que foram compartilhadas apenas
com os confidentes de Rhodan. Uma vez que o armazenamento único sempre
acarretava o risco de perda irrecuperável, os mesmos dados, na mesma forma,
também foram inseridos na memória central dos computadores de bordo de
dois cruzadores auxiliares. Uma quarta possibilidade de armazenamento, que,
embora de natureza orgânica, não era de forma alguma inferior às três primeiras
em confiabilidade, oferecia-se na forma do cérebro planejador do halutense Icho
Tolot, de onde a informação sobre a existência do sol vermelho gigante Wild
Man tinha sido originalmente adquirida.
Sem outras perdas de tempo, a Marco Polo se pôs em movimento às
14h15min em direção a Wild Man. Os registros da CDIN-3 sobre a posição do
turbilhão de tempestade gravitacional foram transferidos para o computador
da nave capitânia. Havia uma esperança justificada de que a Marco Polo che-

52
Kurt Mahr O Dia da Decisão

gasse ao asteroide ameaçado ainda antes de surgir um perigo sério para os que
haviam ficado em Favo-1000.
Assim se acreditava. Afinal, nada se sabia sobre os perigos completamente
novos aos quais Perry Rhodan e seus companheiros estavam expostos nesse
momento.

A vitória foi completa.


Pairun gradualmente se recuperou. Ele realmente não tinha sofrido uma
perda de substância com a inundação do salão de máquinas com metal TEP
líquido, uma vez que, após a solidificação, o metal antes fundido ainda estava em
contato com as provisões remanescentes de TEP do corpo de Pairun. Tratou-se,
como Fellmer Lloyd soube diretamente de Pairun, mais de uma redistribuição
da substância corporal, que, no entanto, era consumidora de energia e, por isso,
levara ao enfraquecimento temporário do ser metálico.
No decurso da negociação que Fellmer Lloyd conduziu em nome de Perry
Rhodan, Pairun concordou em disponibilizar aos terranos seu conhecimento
intuitivo da tecnologia dos paramags. Com isso, se descobriu que, de fato, to-
dos os dispositivos no interior do asteroide tinham estado exclusivamente sob
o comando da Máquina Kamikaze. Agora, após a destruição da máquina, eles
estavam inativos, mas podiam ser novamente colocados em operação através
de medidas de controle adequadas. Para o espanto de todos, Pairun tinha um
profundo conhecimento das figuras geométricas que tinham que ser percorridas
pelos paramags paratransdeformados no interior dos veios TEP para efetuar
essa ou aquela operação de controle. Com a ajuda desse conhecimento, Perry
Rhodan esperava não somente restaurar o interior do asteroide ao seu estado
anterior, mas também influenciar o curso de Favo-1000 de tal forma que uma
ameaça do sol próximo ocorresse mais tarde do que o calculado.
Nesse meio tempo, os homens do coronel Matunari fecharam o buraco de
ventilação aberto à força para a superfície pela Máquina Kamikaze. O material
rochoso da parede do buraco foi derretido a partir do interior, desceu pelo poço
e, por fim, encheu o buraco com um tipo de tampa rochosa, que ficou comple-
tamente hermético após a solidificação. Só então Perry Rhodan encarregou seus
Antigos Mutantes de se paratransformarem e, com a ajuda do método explicado
por Pairun, colocarem os produtores de oxigênio de novo em operação. Isso
foi conseguido sem dificuldades. O próximo passo foi reativar os sistemas de
aquecimento e garantir que as temperaturas em Favo-1000 retornassem aos
valores normais. Pouco tempo depois, quando os homens puderam tirar seus
trajes espaciais, e o consumo do oxigênio que tinham acabado de produzir
começou, os regeneradores também voltaram a funcionar.
53
Kurt Mahr O Dia da Decisão

Os oito mutantes — entre eles, Betty Toufry, que não tinha deixado os
veios metálicos TEP desde a primeira tentativa de contato com Pairun — perma-
neceram por enquanto dentro do material transformador. Ademais, tratava-se
de um pagamento adiantado para o fim do estado de solidão prometido por
Fellmer Lloyd.
Após a casa interna do asteroide ser restaurada desse modo ao equilíbrio,
os terranos começaram a procurar uma maneira de influenciar o curso do corpo
celeste, que continuava a cair em direção ao sol.
Perry Rhodan tinha esperança de compreender o mecanismo de controle
do sistema de propulsão para que ele pudesse estabilizar o curso de Favo-1000
em uma distância não perigosa de Wild Man.
Essa esperança não se cumpriu. E não foi por falta de solicitude de Pairun.
Pelo contrário: o ser metálico estava mais do que disposto a realizar todos os
desejos concebíveis dos terranos o mais rápido possível. No entanto, Pairun não
tinha ideia dos processos que ocorriam com o asteroide como um todo e, com
isso, além do emaranhado de corredores, salões e veios TEP que representavam
o mundo real de Pairun. Pairun era, por enquanto, incapaz de imaginar a massa
rochosa do asteroide como uma circunstância dentro de um ambiente maior.
Para ele, Favo-1000 era simplesmente o mundo, o Cosmo, o Universo, e o pen-
samento de colocar o Cosmo em um novo curso era inconcebível para Pairun.
Por essa razão, ele não foi capaz de explicar aos terranos o uso das má-
quinas que, no conjunto, constituíam o propulsor. Já parecia a Perry Rhodan
que teria de desistir de qualquer tentativa de influenciar o curso do asteroide e
confiar apenas na chegada da Marco Polo no devido tempo. Então Fellmer Lloyd
fez uma descoberta que permitiu ao menos aliviar parcialmente a situação. Na
discussão dos diversos dispositivos, a maioria dos quais era incompreensível
para Pairun, o mutante e o ser metálico aludiram a três máquinas que estavam
bem lado a lado em um dos salões e pareciam tão semelhantes como se todas
servissem para a mesma finalidade. No entanto, uma observação telepática fez
Lloyd ficar atento: “... em cima e embaixo são às vezes trocados...”
Ele investigou e veio a saber, com algum esforço, que a inversão de em
cima e embaixo resultava de uma modificação do campo de gravidade artificial
que penetrava no asteroide. Tal mudança só poderia — exceto pela falha dos
geradores de gravidade — vir de uma rotação rápida do planetoide em torno de
um ou mais dos seus três eixos. Se a suposição de Fellmer Lloyd estivesse corre-
ta, então cada uma das três máquinas servia para colocar a massa do asteroide
em movimento em torno de um dos três eixos de inércia. Pairun sabia como as
máquinas eram operadas. Ele tinha observado os paramags durante milhares
de anos nessa atividade. Apenas o propósito das máquinas não lhe era claro.
Perry Rhodan ordenou uma tentativa. Os oito mutantes executaram as
figuras prescritas. Uma das três máquinas começou a funcionar, e, depois de
54
Kurt Mahr O Dia da Decisão

alguns minutos, a estação externa informou que Favo-1000 tinha começado a


girar em torno do seu próprio eixo. A rotação logo ficou mais rápida, até que,
após um curto período, o asteroide precisou apenas de uma hora para completar
uma rotação completa. A máquina foi desligada novamente. O sucesso, que
Rhodan tinha alcançado, foi pequeno em comparação a uma estabilização do
curso de Favo-1000. No entanto, impedia que o fulgor do sol próximo atingisse
constantemente a mesma parte da superfície do asteroide. A autorrotação de
Favo-1000 impossibilitava uma distribuição unilateral do calor solar. Agora que
todas as partes da superfície do asteroide estavam expostas à radiação em um
ritmo regular, o tempo em que ocorreriam os primeiros sinais de derretimento
deslocou-se para pelo menos três horas no futuro.
Foi uma ironia amigável do destino que esse único sucesso que Perry
Rhodan foi capaz de obter, no que dizia respeito à segurança do asteroide,
provou-se no mesmo momento quase acadêmico. Às 21h48min, ele deu a ordem
de desligar o dispositivo que causava a rotação de Favo-1000.
Às 21h51min, o oficial de serviço na estação remota informou com a voz
estridente pela alegria: — A Marco Polo! Ela está aqui!...

6.

Nesse momento, a mais de quarenta mil anos-luz de distância, em um


prédio de escritórios do centro de Terrânia, realizava-se uma reunião. Os par-
ticipantes eram três homens entre quarenta e sessenta anos — jovens, portanto,
numa época em que a expectativa de vida média do ser humano gradualmente
se aproximava do limite de duzentos anos — e uma mulher de trinta e poucos
anos. Notava-se que todos os quatro participantes pareciam ter o mesmo gosto
em termos de moda e aparência. Eram deliberadamente casuais, vestidos quase
com desleixo. Todos os quatro usavam cabelos longos e pouco cuidados até os
ombros, os homens também tinham barbas desgrenhadas. A sala onde se rea-
lizava a reunião era escassamente mobiliada. Não havia janelas. Uma lâmpada
fluorescente branca brilhava forte e impessoalmente no teto. No meio da sala,
havia uma mesa redonda, junto à qual estavam sentados a mulher e os três
homens. Diante de um dos homens, um gigante ruivo, havia uma conexão de
videocomunicação. Havia também uma pequena barra de controle, que podia
ser usada para operar remotamente o equipamento habitual.
O ruivo abriu a conversa com as palavras: — Nós quatro somos o Co-
mitê de Ação de Terrânia. Por termos sido convocados tão tarde, vocês veem
que o nosso homem não espera dificuldades nessa área. Afinal, é importante
estar vigilante. Nós nos encontramos hoje pela primeira vez. Seria melhor nos
apresentarmos – pelos nomes que usaremos exclusivamente a partir de agora.
Eu começo: sou Cobre.
55
Kurt Mahr O Dia da Decisão

Ele apontou para um de cabelos negros, atarracado e robusto, que se


sentava à direita dele.
— Este é Aço.
A mão que apontava foi para a esquerda e apontou para um homem
magro e jovem, com abundantes cabelos louros e sujos.
— Este é Ferro.
Cobre recostou-se e observou, sorridente, a garota que se sentava na frente
dele. Ela retribuiu o olhar com um sorriso suave e se inclinou um pouco para
frente. Quem olhasse bem veria que, sob a roupa casual e disforme, escondia-se
um corpo em forma ideal.
— E esta é Açúcar — sorriu Cobre.
— Hehehe — baliu Aço. Ferro arregalou os olhos.
— Açúcar é a nossa arma secreta, caso um dia precisemos de uma —
explicou mais Cobre. — Ela tem relações.
Ferro parecia não gostar do curso da reunião.
— Vamos ao que interessa — reclamou ele. — Qual é a nossa tarefa?
— Estarmos prontos — respondeu Cobre como se tivesse decorado. —
Cada um de nós deve estar constantemente ao alcance caso, ao contrário da
expectativa, surja uma dificuldade.
— De onde isso deve vir? — perguntou Aço. — Perry Rhodan está muito
longe, e o nosso homem ganha dos outros chorões sem se esforçar.
Aparentemente, Ferro era o intelectual do grupo.
— Pode-se realmente dizer Bount Terhera, ou deve ser sempre chamado
de o nosso homem? — perguntou ele de maneira um pouco arrogante.
Cobre olhou espantado para ele.
— Há quanto tempo você já está com o movimento?
— Há quase dois anos.
— Então você provavelmente trabalhou fora, na província. Conosco aqui,
ele é chamado basicamente de o nosso homem!
Ferro preferiu ficar calado.
— A única dificuldade que vejo — Cobre se preparou para responder à
pergunta de Aço — é que Rhodan possa ainda aparecer aqui no último minuto.
Isso tem que ser evitado.
— Como se evita isso? — quis saber Aço.
— Não vamos ter que quebrar a cabeça sobre isso. Agiremos de acordo
com a tarefa. Em qualquer caso, a eleição começa às oito horas do tempo-padrão
do dia primeiro de agosto. Se Rhodan não aparecer até lá, ele não poderá mais
nos causar dificuldades. Se, no entanto, ele aparecer antes em cena, então deve
ser escondido da Humanidade que ele retornou... ou algo semelhante.
— Ah — fez Aço.

56
Kurt Mahr O Dia da Decisão

— É isto — confirmou Cobre. — Nossa reunião acabou, pois não há mais


nada para dizer hoje. Vocês podem voltar para casa.
Aço se levantou e lançou um olhar meio questionador, meio cobiçoso
para a garota. Cobre o empurrou para o lado, então ele foi para a porta, que se
abriu automaticamente na frente dele, e saiu pisando forte. Ferro o seguiu sem
hesitar. Cobre ficou sozinho com a garota.
— Quanto a nós? — perguntou ele com uma piscadela significativa.
Ela se levantou e o empurrou para o lado.
— Você deveria se lavar novamente, pequeno revolucionário — ela sorriu
e desapareceu.

O SER PAIRUN E O SER FELMLOIT, EM NOME DE UMA COMUNIDA-


DE MAIOR DE SERES QUE SE CHAMAM DE TERRANOS, AQUI PROMETEM
UM COM O OUTRO E JURAM MANTER A PROMESSA PARA SEMPRE:
Que oito seres amigos do ser Felmloit — respectivamente, pelo menos
um, na maioria das vezes, no entanto, vários ou todos — compartilharão a
solidão do ser Pairun por todo o futuro, que o ser Pairun dará toda a proteção
aos oito seres amigáveis do ser Felmloit — separados ou juntos — que esteja
em seu poder dar, em particular proteção contra ações que afetem a segurança
dos seres amigáveis no estado de transdeformação.
OS SERES PAIRUN E FELMLOIT CONFIRMAM ISSO UM COM O
OUTRO.
Esse foi o acordo fechado entre Pairun e os terranos. Segundo esse acordo,
os oito Antigos Mutantes encontrariam em Favo-1000 um lar permanente e
confiável. O texto do acordo continha apenas duas palavras cuja interpretação
exigia um certo conceito moral: jurar e prometer. Fellmer Lloyd tinha feito um
esforço para explicar ao ser metálico o que esses termos significavam. Após
várias horas de conversa, ele finalmente havia se convencido de que Pairun o
havia entendido. Ele estava convencido de que Pairun nunca teria a ideia de
prejudicar os oito mutantes, quebrando o acordo. Para não confundir o ser
metálico, e porque tal precaução era, em todo caso, apenas de natureza teórica,
o acordo não continha disposições especificando o que deveria acontecer em
caso de quebra de contrato.
O texto do acordo foi registrado por um gravador telepático, que foi ins-
talado definitivamente em um corredor nas imediações de um olho paratrans. A
ativação podia ser realizada por comando hipnótico ou por influência de calor,
de modo que tanto os mutantes como Pairun poderiam colocar o gravador em
funcionamento a qualquer momento para ouvir novamente o conteúdo do
acordo ou para lembrar o outro.
57
Kurt Mahr O Dia da Decisão

O abandono dos corpos que as oito consciências dos Antigos Mutantes


podiam usar como residência temporária quando não estivessem dentro dos
veios TEP também causou algumas dores de cabeça. Teria sido desumano e,
por esse motivo, nunca foi seriamente debatido manter os oito paramags, que
tinham servido a esse propósito até o momento, para sempre em Favo-1000. No
entanto, não havia outra opção como solução transitória. Para aliviar a severi-
dade, foi acordado que apenas quatro dos oito paramags deveriam permanecer
com autoconsciência hipnoticamente paralisada no asteroide, enquanto os
outros quatro deveriam ser devolvidos para Paramag Alfa e ali liberados após
a remoção do bloco hipnótico. De acordo com essa solução, os oito mutantes
foram instruídos a se dividirem em apenas quatro corpos alienígenas.
O dr. Waringer já tinha em vista uma solução final para esse problema
num futuro próximo. Em sua documentação, já existia o esboço esquemático
de um robô híbrido para acomodação de consciências compactas, RHACC, dos
quais oito exemplares deveriam tomar o lugar dos infelizes paramags. O hibri-
dismo do robô consistia em que ele tinha uma autoconsciência positrônica e,
adicionalmente, um cérebro orgânico — de origem sintética ou natural — que
ficava inativo no estado normal. Como os oito mutantes eram dependentes da
proximidade constante do material transformador emocional parabiológico,
Waringer obteve permissão de Pairun, por meio de Fellmer Lloyd, para fundir
uma certa quantidade de metal TEP na liga metálica do corpo do robô. A fabri-
cação dos RHACCs, portanto, seria realizada em Favo-1000. De acordo com a
ideia de Waringer, os RHACCs eram seres semelhantes aos humanos, com cerca
de um metro e noventa de altura e pesando um máximo de trezentos quilos.
A exigência de que os robôs fossem semelhantes aos humanos vinha do ponto
de vista estético, não de motivos de praticidade: os Antigos Mutantes fizeram
questão de se parecerem em seu ambiente como humanos caso eles algum dia
deixassem Favo-1000.
Era intenção de Waringer equipar os RHACCs de tal modo que fossem
robôs completos, com suas próprias forças. Eles estavam armados e equipados
com sensores e órgãos de percepção altamente sensíveis. Enquanto os oito
mutantes estivessem no interior dos veios metálicos, os robôs estariam livres
para se mover no interior do asteroide de acordo com a sua programação.
Somente quando a consciência de um dos mutantes se estabelecesse na parte
de consciência orgânica do RHACC, a programação e o cérebro positrônico
perderiam automaticamente prioridade, e o mutante assumiria o controle do
corpo do robô. Tinha sido esclarecido a Pairun, até o tanto que Fellmer Lloyd
conseguira, esse contexto um pouco complicado.
Waringer — e também Perry Rhodan — via nos RHACCs um certo
contrapeso à superioridade que Pairun possuía sobre os oito Antigos Mutan-
tes. Waringer achava que era possível programar os robôs de tal forma que
58
Kurt Mahr O Dia da Decisão

aprendessem com o tempo a operação mecânica das máquinas dos paramags,


que, antes, só podiam ser controladas por processos de controle mentais. Se os
RHACCs fossem capazes de controlar a maquinaria dos paramags, eles domina-
riam o asteroide. Se Pairun se tornasse perigoso para os oito Antigos Mutantes,
eles só precisariam recuar para os corpos dos robôs, que estavam preparados,
e poderiam se defender contra o perigo com a ajuda do conhecimento que os
RHACCs tivessem adquirido automaticamente nesse meio tempo. De acordo
com a afirmação de Fellmer Lloyd, tal desdobramento de eventos não deveria
ser temido. Mas nem Rhodan nem Waringer eram homens dispostos a correr
riscos desnecessários. Waringer calculava que decorreriam de quatro a cinco
meses-padrão até os RHACCs estarem disponíveis. Então os quatro paramags
restantes poderiam ser devolvidos a si próprios e levados para casa. A partir daí,
os Antigos Mutantes estariam prontos para servir à causa do Império Solar em
seus novos corpos de RHACCs sempre que fossem chamados.
Depois que o parabanco das consciências mutantes estava implemen-
tado dessa maneira, pelo menos conceitualmente, a atenção geral se voltou
para um problema que, embora crescendo de segundo a segundo, até então
recebera pouca atenção. Registrava-se o dia 29 de julho de 3444. Os relógios
mostravam 00h32min, tempo-padrão. Em menos de oitenta horas, começaria,
no Império Solar, a eleição do novo Administrador-Geral. Apenas alguns dias
antes, Perry Rhodan, sob a impressão do perigo que ameaçava o Império pelos
paramags, vira-se disposto a se candidatar. A Humanidade conhecia essa de-
cisão do Administrador-Geral. Galbraith Deighton a havia mandado anunciar
por hiper-rádio. Nas primeiras horas após o anúncio, as ondas de entusiasmo
aumentaram. Depois, porém, surgiu um novo ceticismo. Por que é que Perry
Rhodan não tinha se mostrado? Por que ele falava aos terranos a partir de um
gravador de videocomunicação? Quem dava à Humanidade a garantia de que
Perry Rhodan ainda estava vivo?
O postulado milenar de que quem quisesse ser eleito tinha que se mostrar
aos eleitores não tinha perdido nada de sua veracidade, mesmo no século trinta
e cinco. Nos dias seguintes à declaração de Rhodan, os resultados das pesquisas
de opinião mostravam uma nova atração na popularidade do marechal Bount
Terhera, cuja reputação recentemente sofrera um duro golpe, com o sacrifício
insensato e sem sentido de várias naves e suas tripulações. A Humanidade estava
pronta para perdoá-lo. Terhera tinha enviado milhares para a morte, mas ele
havia feito isso por convicção, e, o que era mais considerado, ele estivera disposto
a correr o mesmo risco. Ele só devia ao acaso, não a seus próprios cálculos, o
fato de ele próprio estar ainda vivo.
Bount Terhera ganharia a eleição se Perry Rhodan não conseguisse re-
tornar a tempo para a Terra. A tempo significava: várias horas antes do começo
da eleição. Ele precisava de tempo para se mostrar aos terranos. Ele tinha que
59
Kurt Mahr O Dia da Decisão

dar declarações. Ele tinha que recordar a sua própria pessoa aos cidadãos do
Império. Em outras palavras: ele tinha que chegar à Terra o mais tardar às duas
horas da manhã de primeiro de agosto.
Enquanto isso, a Marco Polo tinha manobrado, usando campos de tração e
campos de contenção, o asteroide para uma órbita estável em volta de Wild Man.
Favo-1000 se movia a uma distância média de quatro unidades astronômicas
da superfície do sol. A autorrotação do asteroide feita por Rhodan tinha sido
mantida. Favo-1000, Pairun e os oito Antigos Mutantes estavam em segurança.
A Marco Polo estava pronta para partir. A perspectiva, no entanto, de que Perry
Rhodan chegaria a tempo à Terra de maneira convencional era mínima.

— Eu estive passando o assunto pela minha cabeça — declarou Atlan com


uma voz em que ressonava preocupação —, e ela está bastante sem esperança.
Ele tinha toda a atenção de seus ouvintes: Roi Danton, Perry Rhodan e
Icho Tolot. A reunião se passava em uma sala contígua à grande sala de comando
da Marco Polo. Era 00h40min, tempo-padrão, de 29 de julho de 3444.
— Temos de cobrir pouco mais de quarenta mil anos-luz — continuou
o arcônida. — Temos menos de oitenta horas para fazer isso. Teríamos que nos
deslocar no espaço linear com um fator superluminal de cerca de quatro milhões
e meio para chegarmos a tempo.
Ele ergueu os olhos e deixou que os outros tirassem a conclusão inevitável.
— Tais fatores podem ser alcançados — comentou Danton, pensativo. —
Mas somente nas circunstâncias mais favoráveis, que em nenhum caso temos
disponíveis aqui.
O halutense tomou a palavra. Mesmo se esforçando para falar baixo, sua
voz poderosa ainda soava como um trovão.
— Coloco para consideração que, de acordo com os meus cálculos, como
resultado da tempestade gravitacional num raio de pelo menos oito mil anos-
luz, não é possível alcançar um fator superluminal de mais de dois milhões.
O fator superluminal era o fator pelo qual uma nave espacial — ou
generalizando, um processo —, com a ajuda da tecnologia de voo linear, se
movia mais rapidamente do que uma onda eletromagnética na passagem pelo
continuum einsteiniano.
— Isso significa — continuou o halutense depois de ter empenhado seu
cérebro planejador por uma fração de segundo — que precisamos de pelo menos
trinta e cinco horas para percorrer só os primeiros oito mil anos-luz. No entanto,
depois, para chegar a tempo à Terra, teria que ser alcançado, nos trinta e dois mil
anos-luz restantes, um fator ultraluz de mais de seis milhões…

60
Kurt Mahr O Dia da Decisão

— ... e isso… — Perry Rhodan interrompeu a fala dele — é totalmente


sem perspectiva.
Ele olhou em volta. Um sorriso um pouco triste brincava nos seus lábios.
— Como é, meus senhores? Vamos nos render?
— Ora! — ironizou o arcônida. — O bárbaro terrano vai jogar a toalha
assim tão depressa?
— Se você não tiver nenhum plano razoável, seu produto de uma civili-
zação decadente... o que mais me resta fazer?
— Agora ele ataca com armas pesadas! — lamentou Atlan. — Porém, eu
tenho um plano...
— Razoável?
O arcônida fez uma careta.
— Não, mas realizável.
— Vamos ouvir! — Rhodan o instou.
— Como deve ser do conhecimento dos presentes — explicou Atlan com
um sorriso um pouco presunçoso —, eu sou o comandante supremo de uma
organização que opera sob o nome de USO.
— Ouçam, ouçam — murmurou Roi Danton.
— A dita organização — continuou o arcônida — mantém neste momento
quase trezentas bases e estações secretas distribuídas pela Galáxia e – aqui vem
o ponto crucial! – interconectadas por um sistema de transmissores. Isto é: se
consegue ir de qualquer estação para qualquer outra, passando por um ou mais
saltos de transmissores. Isso acontece, em comparação com uma viagem de uma
nave espacial, com uma perda mínima de tempo.
— Isso é totalmente novo para todos nós! — disse Danton ironicamente.
— Se não fosse, você mesmo poderia ter pensado no meu plano, não é? —
Atlan retornou a ironia. — Então, para encurtar o assunto: a base da USO mais
próxima está a pouco mais de nove mil anos-luz daqui. Se tivermos sorte, nós
a alcançaríamos em quarenta horas. Com isso, restariam quase quarenta horas
para ativar a rota de transmissores para a Terra e nos transportar para o destino.
Os debochados ficaram calados. Só depois de um tempo Tolot comen-
tou: — Não ouvi nenhuma objeção. Meu próprio cálculo também diz que não
temos outra escolha.

Às vinte e uma horas de 30 de julho de 3444, Galbraith Deighton recebeu,


via retransmissores de hiper-rádio, a mensagem de que Perry Rhodan pretendia
chegar à Terra algumas horas antes da eleição. A mensagem foi muitas vezes
embaralhada e criptografada e, com isso, completamente protegida contra
interceptação de pessoas não autorizadas. Perry Rhodan tinha considerado
61
Kurt Mahr O Dia da Decisão

necessário dar conhecimento ao chefe da Segurança Solar sobre seu método de


locomoção e o itinerário em detalhes. Do ponto de partida temporariamente
desconhecido de sua viagem, Rhodan tinha rumado para a estação USO 238.
A 238 estava a pouco menos de trinta e dois mil anos-luz de distância da Terra.
Dessa estação, também partira a mensagem que agora chegava a Galbraith depois
de inúmeros desvios por diversos retransmissores de hiper-rádio. O destino
seguinte de Rhodan era a estação USO 47, a vinte e oito mil anos-luz da Terra.
De lá, ele passaria para a estação 151, distante 21.000 anos-luz, a 189, distante
15.000 anos-luz, a 99, distante 9.500 anos-luz do mundo dos livres-mercadores
Olimpo. Após uma curta estadia em Trade City, Rhodan pretendia superar os
6.300 anos-luz restantes com a ajuda do grande transmissor de contêineres. A
chegada à Terra estava marcada para as duas horas da manhã de primeiro de
agosto.
O fim da mensagem de retransmissores deixava a critério do Marechal
Solar Deighton agir com discrição com base na informação que tinha acabado de
receber, mas sempre em termos da segurança pessoal do Administrador-Geral.
Com isso, Galbraith Deighton via-se, como se queixou com bom humor
mais tarde para Perry Rhodan, em um aperto. Agora, trinta e cinco horas antes
do início da eleição, o resultado parecia irrevogavelmente certo. As pessoas do
Império Solar já não duvidavam disso: o novo Administrador-Geral se chamaria
Bount Terhera. A afluência às urnas seria relativamente baixa, pois havia muitos
partidários de Rhodan que preferiam se abster a votar em Terhera. Muitos dos
rhodanianos dariam o seu voto para o antigo Administrador-Geral; mas um
número maior ainda ficaria longe da eleição, pois se sentiam enganados por
Rhodan não participar ativamente da campanha eleitoral — já que nem sequer
tinham certeza se ele ainda estava vivo.
Bount Terhera ganharia, isso estava certo. No local onde as celebrações
da vitória de Terhera deveriam ser realizadas, as bebidas já estavam prontas.
Havia apenas uma maneira de evitar a vitória de Terhera: Perry Rhodan tinha
de retornar à Terra a tempo.
Por razões psicológicas eleitorais, era aconselhável espalhar a notícia do
iminente retorno de Rhodan agora. Isso agitaria as pessoas. Isso as faria pensar.
Assim preparadas, elas estariam ainda mais dispostas a dar o seu voto ao velho
Administrador-Geral quando ele finalmente se materializasse após o último
salto do transmissor.
Outro efeito, no entanto, era igualmente grave. Bount Terhera se sentiria
espoliado da vitória certa quando soubesse do regresso de Rhodan. Era justa-
mente a segurança que se fazia sentir no refúgio de Terhera nos últimos dias que
podia dar origem a uma reação de pânico às notícias do regresso de Rhodan.
Terhera era um homem impulsivo. Era concebível que ele tentaria impedir Perry
Rhodan de fazer uma aparição pública em tão poucas horas antes da eleição. A
62
Kurt Mahr O Dia da Decisão

que meios ele recorreria para isso, não estava muito claro para Deighton. Terhera
já tinha infringido a lei antes para obter vantagens na campanha eleitoral. Era
concebível que ele tentasse matar Perry Rhodan?
O pensamento acabou parecendo aventureiro demais para Deighton.
Terhera tentaria criar problemas, mas não deixaria chegar a uma tentativa de
assassinato. Galbraith Deighton decidiu divulgar a data de chegada estimada do
Administrador-Geral. No entanto, ele manteve para si mesmo o conhecimento
de que Rhodan avançava com a ajuda dos transmissores e que, no momento,
ele ainda estava a cerca de trinta mil anos-luz da Terra.
Às vinte e duas horas de 30 de julho de 3444, a surpreendida Humanidade
do Império Solar ouviu em um anúncio especial:
PERRY RHODAN ESTÁ RETORNANDO!

Havia um brilho estranho no olhar de Cobre.


— Nós nos reunimos porque a situação mudou dramaticamente — disse
ele com voz rouca. — O nosso homem tinha a certeza absoluta da sua vitória
até há pouco tempo. Agora, ao contrário, parece...
— Bah! — interrompeu Ferro. — O que vocês ainda não entenderam: a
coisa toda é uma farsa ridícula.
Cobre se levantou com um salto e agarrou Ferro pelo colarinho.
— É assim que um derrotista pensa! — ele gritou para o homem perple-
xo. — É assim que pensa um sujeito gordo demais e preguiçoso demais para se
mexer. E se não for uma farsa? Então vamos nos sentar aqui depois de amanhã
de novo, puxar as barbas um do outro e lamentar: oh, se tivéssemos sido menos
preguiçosos!
— Não exagere! — advertiu Aço. — Desse jeito, não conseguiremos nada.
Tire as patas de Ferro.
Cobre obedeceu. Ferro passou a mão sobre o local onde tinha sido agar-
rado, como se tivesse de remover a sujeira do contato. Cobre sentou-se.
— Que instruções recebemos do quartel-general? — perguntou a garota.
Cobre sorriu maldosamente.
— Nenhuma. Apenas perguntas. Eles querem saber onde, quando, como
e por que Rhodan chegará aqui.
Ele bateu com o punho na mesa.
— Então você sabe o que tem que fazer — comentou laconicamente
Açúcar.
— Eu...? O quê?
— Descubra como, quando, onde e por que Rhodan chegará.
Os olhos de Cobre jorraram veneno.
63
Kurt Mahr O Dia da Decisão

— E como é que eu começo isso?


Açúcar se inclinou para frente. Ela respondeu ao olhar selvagem de Cobre
com uma calma gélida.
— Diga por que mesmo eles fizeram de você o líder deste grupo? Para
que você possa fazer grandes discursos aqui enquanto tudo está em ordem? E
entrar em pânico quando se precisa de você?
Cobre ia se levantar com um salto uma segunda vez. Mas o olhar gelado
de Açúcar parecia ter uma força hipnótica, que entupiu a abertura através da
qual sua explosão queria descarregar.
— Fique sentado, meu jovem! — aconselhou a garota. — Eu tenho re-
lações, como você observou da última vez. Vou agora descobrir o que há com
o retorno de Perry Rhodan. Os três garotos aí vão para casa nesse período. Se
eu souber o que está acontecendo, eu ligo para você, Cobre. E, uma vez que
soubermos a quanta estamos, é melhor mostrar algum miolo além da sua boca
grande, senão você vai ficar gritando aqui por muito tempo, certo?
Ela se levantou e saiu da sala.

30 de julho de 3444, 18h25min.


Estação 238.
Desembarque da Marco Polo. Um capitão ligeiramente perturbado pela
alta visita precisa de meia hora para entender o que está se passando ali. Por
fim, ele dá a ordem para ativar o transmissor para a estação 47. Isso leva algum
tempo. Na 238, o transmissor não é usado faz algum tempo. Ali, quase não
há necessidade de transporte pelo transmissor. O hipertransmissor também é
ativado. Uma mensagem de rádio será enviada em direção à Terra através da
linha de retransmissores da USO.
Para Perry Rhodan e seu estado-maior: uma hora de descanso. Refrescos.
Medicamentos. A fadiga deve ser superada. O Administrador-Geral não dorme
há mais de quarenta horas.
— Você não vai fazer isso por muito mais tempo, bárbaro — diz Atlan.
Perry Rhodan sorri.
— Você fala isso com a sua constituição fraca, arcônida!
19h31min. A linha de transmissor está pronta para transmitir. Perry
Rhodan e seus vinte acompanhantes vão para o arco-portal. É um transmissor
pequeno. Ele leva apenas uma pessoa de cada vez. Eles avançam um após o ou-
tro para baixo do arco-portal e desaparecem. Perry Rhodan é o décimo da fila.
19h34min.
Escuridão. A sensação de queda sem peso. O vórtice insubsistente através
de uma caricatura de espaço e tempo que a consciência humana é incapaz de
64
Kurt Mahr O Dia da Decisão

compreender. Passam-se segundos, minutos. Finalmente, a luz. De novo, um


rosto estranho.
— Major Steadman, senhor, à sua disposição...
— Estação quarenta e sete?
— Sim, senhor.

Cobre ligou o videofone. Ele suprimiu o desejo de assobiar pelos dentes.


O ser feminino mais encantador que tinha visto em muito tempo olhava para
ele da tela.
— Sim, por favor?... — ele disse, um pouco inseguro.
— Pernambuco não envia mais!
Ele arregalou os olhos. Era a chamada de código para uma reunião.
— Como, por favor?!...
— Contenha-se! — gritou a garota para ele. Ele a reconheceu pela voz.
Açúcar. Ele nunca a tinha visto vestida assim antes.
— Então vamos tentar por São Paulo — ele respondeu com a segunda
metade do sinal de identificação.
Meia hora depois, eles estavam sentados e reunidos. Eram cinco horas
da manhã do trigésimo primeiro dia de julho.
— Estou esquecendo lentamente o sono — resmungou Aço.
— Vamos lá, garota — instou Ferro —, o que há?
— Rhodan chegará por transmissor — esclareceu Açúcar. — De Olimpo.
De alguma forma, ela conseguira, apesar da brevidade do tempo, colocar
de novo a combinação desleixada de blusa e calças em que todos ali a conheciam
— exceto Cobre, é claro, que a via de forma diferente e não tinha mais os seus
pensamentos bem juntos desde então.
— Por que ele vai esperar até amanhã cedo, então? — perguntou Ferro
logicamente. — Por que ele não vem agora?
— Pelo que consegui saber, ele ainda não está em Olimpo — respondeu
a garota.
— Onde mais?
— Em algum lugar bem distante lá fora. Não se espera que ele chegue
aqui antes das duas horas.
Todos os olhos se dirigiram, cheios de expectativa, para Cobre. O ruivo
finalmente entendeu o que se queria dele. Ele se levantou.
— Um momento — ele exclamou apressadamente. — Vou falar com o
quartel-general. Vocês esperam aqui!
Ele saiu. Aqueles que ficaram sabiam que a organização tinha alugado

65
Kurt Mahr O Dia da Decisão

uma suíte de escritórios inteira nesse andar. O que havia nas outras salas, eles
não tinham ideia. Cobre voltou em menos de dez minutos.
— Devemos inutilizar a linha de contêineres — disse ele e se largou em
sua cadeira.
— Simples assim? — perguntou Aço com a voz grave.
— Com a ajuda de Açúcar.
Aço olhou para a garota como se a visse pela primeira vez.
— De onde você tira a impressão de que pode destratar as outras pessoas?
Açúcar não deu atenção.
— Quando? — ela perguntou a Cobre..
— Se possível, no último momento. Para que Rhodan não tenha alter-
nativa.
Ela pensou.
— Vou obter acesso para vocês à estação de transmissores hoje à noite,
às vinte e duas horas. Vocês cuidam do resto?
Cobre torceu o rosto em uma careta lamentável.
— Nós temos que cuidar, garota, nós temos! Senão, eles arrancam a
nossa cabeça.
Açúcar se levantou.
— Vão dormir! — aconselhou ela. — A noite vai ser dura.
O olhar duro de Aço repousou nela com uma curiosidade irrefreável.
— O que mais, gordo? — ela perguntou, desrespeitosa.
— De onde você tira tudo isso? — perguntou ele, admirado. — Quero
dizer – toda a vivacidade, todas as suas relações, todas as suas...
— Deixe-me lhe perguntar uma coisa — ela o interrompeu bruscamente.
— Por que você toma parte nisto?
Aço ficou tão surpreso que gaguejou.
— Eu... eu quero dizer... por convicção... Nosso homem... bem, a gente
simplesmente tem que participar... não é?
Ela assentiu como se não esperasse outra resposta.
— Aí, há uma diferença — disse ela friamente.
— Como assim? Eu... eu não entendo...
— Vocês são tolos sentimentais. Amadores. Agentes de convicção política,
que entendem tanto sobre ser agente como um macaco de xadrez tridimensional.
— E você?!... — Aço se admirou.
— Eu estou pela profissão. Sou uma agente treinada. Não estou nem aí
para seu homem. Vou receber cem mil solares se o negócio aqui der certo, e
isso é tudo que me importa!

66
Kurt Mahr O Dia da Decisão

Escuridão. Queda. Vórtice. Finalmente, luz...


— Capitão Portner a postos, senhor...
— Estação um-oito-nove?
— Não, senhor. Ainda não. Aqui é um-cinco-um.
— Horas, por favor?
— Zero-oito-zero-dois, senhor. Trinta e um de julho.
Mais refrescos, mais medicamentos. Perry Rhodan vê seu ambiente como
se através de um véu colorido. O fato de seus acompanhantes também o verem
através de um véu colorido dá-lhe alguma satisfação. Ele calcula. Oito horas
da manhã. Ele está na estrada desde as dezoito horas da noite anterior. Por
transmissor, isto é. Entretanto, ele viajou quase quinze mil anos-luz. Agora, ele
cobriu quase quinze mil anos-luz — sempre em zigue-zague, pois as estações
da USO não estão uma atrás da outra na rota mais curta para a Terra.
Atlan faz um esforço para manter a dignidade. Outros se esticam e dor-
mem logo que se lhes oferece uma chance. O único que ainda se mantém integro
sobre as pernas é Icho Tolot. “Eu queria ter a constituição de um halutense”,
pensa Perry Rhodan.
— Senhor?...
— Sim, aqui!
— A linha está pronta para o transporte, senhor. Estão esperando pelo
senhor em um-oito-nove.
— Estamos chegando. Ei, Lloyd, acorde os dorminhocos!
— Imediatamente, senhor.
Outro arco-portal. Escuridão. Queda. Luz.
— Um-nove-oito?
— Perdão, senhor – um-oito-nove.
— Sim, sim, estou ficando um pouco confuso com o tempo.
Estadia de curta duração. Curta? Duas horas, diz Icho Tolot. Então con-
tinua através da luz e através da escuridão, através da queda e da vertigem...
— Estação noventa e nove, senhor. Tenente-coronel Lacrosse!
Quer dizer então que as patentes ficam mais altas ao se aproximar da
Terra. A importância das estações cresce.
— Eu aconselho ao sr. Administrador-Geral descansar algumas horas.
Seus acompanhantes também, senhor...
— Meus acompanhantes têm tão pouco tempo quanto eu, entende?
— Sim, senhor.
— Bárbaro!
— Quem foi esse?
— Eu não consigo mais me lembrar do meu nome, mas acho que eu
venho de Árcon...
Escuridão...
67
Kurt Mahr O Dia da Decisão

Agora vem a última estação, não é?


Luminosidade.
Fanfarras.
Alto-falantes.
— Sua Majestade, o imperador do mundo dos livres-mercadores... Anson
Argyris!
Oh, meu Deus, isso também! Nada de tapete vermelho agora, nada de
discursos. Eu preciso de uma cama!
Rhodan não percebe que ele expressa o pensamento em voz alta. Uma
voz potente nas proximidades o assusta: — Uma cama! Imediatamente, uma
cama para o sr. Administrador-Geral!

Apenas por um momento, o humano se mexeu na consciência da agente.


Então ela ficou acima da fraqueza. Cem mil solares acenavam no final dessa
operação. Ali, piedade era inútil. O jovem oficial que havia acabado de abraçá-la,
ainda tempestuosamente, caiu molemente de lado quando o remédio hipnótico
começou a agir. Ele ficou inconsciente por alguns minutos; então, gradualmente,
ele voltou a si. Com os olhos arregalados, olhou em volta.
— O que... o que houve?
Um jovem bonito, ela pensou, e lhe deu seu sorriso mais radiante.
— Um pouco derrubado, hein? — Ela zombou dele. — Provavelmente,
são muito duros no serviço com vocês; aí, algo assim pode acontecer.
Ele assentiu. De agora em diante, até que o remédio perdesse o efeito, ele
aceitaria suas explicações, respostas e ordens sem críticas.
— O que você vai fazer esta noite? — perguntou Açúcar.
O jovem tenente encolheu os ombros.
— Bem, então eu tenho uma sugestão — disse ela energicamente. — Eu
quero ver onde você trabalha. O controle do transmissor, você entende? Mas
você tem que me levar de modo que ninguém perceba.
Ele concordou. Saíram do apartamento onde tinham combinado se en-
contrar e desceram até o andar térreo. Lá fora, sobre a larga rua, fluía o tráfego
noturno da grande cidade de Terrânia. Sóis artificiais, que flutuavam acima das
faixas de trânsito, transformavam a escuridão da noite em luz do dia. De uma
cabine de videofone pública, Açúcar fez uma chamada. As coisas corriam como
planejado, Cobre atendeu. Açúcar e seu companheiro sem vontade tomaram um
carro de aluguel para ir ao complexo de Império Alfa. O complexo em si era uma
área de segurança militar, e só podiam entrar os expressamente autorizados após
um controle rigoroso. No entanto, a estação terminal da linha de contêineres,
que era principalmente utilizada para fins econômicos, estava fora do complexo
68
Kurt Mahr O Dia da Decisão

e tinha se transformado ao longo dos anos em uma atração turística de primeira


classe. Mesmo agora, havia muita atividade ali. De tribunas, visitantes curiosos
observavam o fluxo constante de mercadorias, que se materializavam sob o
enorme arco-portal refulgente, eram recolhidas por robôs carregadores e man-
dadas automaticamente para os pontos de transbordo da cidade através de rotas
subterrâneas de mercadorias. Entre os robôs carregadores, moviam-se alguns
robôs de vigilância. O valor das mercadorias que se moviam por esse pavilhão,
ao longo de um dia, era de vários bilhões de solares. Perante esses números, era
compreensível que os responsáveis quisessem aplicar a necessária prudência.
Açúcar olhou em volta. Na tribuna mais alta, atrás da qual estava a entrada
das salas de controle, estavam Ferro, Cobre e Aço. Ela levou seu companheiro
lá para cima. Ele foi apresentado aos três ativistas e reagiu ao encontro como se
não esperasse outra coisa. Não fez objeção quando Açúcar deixou claro para ele
que seus três amigos também queriam visitar seu local de trabalho. Ele levou
seus companheiros para a parede dos fundos da tribuna e abriu uma porta atrás
da qual havia um corredor estreito e bem iluminado.
— Ninguém trabalha aqui? — indagou a garota.
— Não à noite — respondeu o tenente.
No final do corredor, havia uma segunda porta. O hipnotizado a abriu.
Ela dava para uma sala de trabalho de tamanho médio, que era ocupada por
um complexo terminal de dados, com consoles de imagens e dispositivos de
armazenamento associados.
— Eu trabalho aqui — declarou o jovem oficial a meia-voz.
Cobre se afastou da porta para que ela pudesse se fechar.
— E tem certeza de que ninguém vem aqui? — ele perguntou, desconfiado.
— Somente à meia-noite — foi a resposta. — Normalmente, mas esta
noite há algo de especial. Todos os postos estão duplamente guarnecidos.
Cobre deu aos seus companheiros um olhar significativo.
— Vocês ouviram, pessoal. Vamos lá, ao trabalho!

7.

— Eu gostaria de ponderar, senhor — observou Anson Argyris com um


tom apreensivo na voz profunda —, que seu intento é associado ao perigo. Ao
regressar inesperadamente, o senhor priva o marechal Terhera de uma vitória
certa. É possível que ele não aquiesça tão facilmente.
O Imperador dos Livres-Mercadores e Perry Rhodan estavam sentados
em uma mesa de conferência no complexo de edifícios do grande transmissor
de contêineres. Argyris era uma personalidade imponente — dois metros de
altura, ombros largos, com um rosto rude, quase grosseiro, e um estilo de barba
estranho, em que, em cada metade da barba, havia uma trança, que pendia em
69
Kurt Mahr O Dia da Decisão

um arco e terminava com a ponta em uma das grandes dragonas que o Imperador
usava nos ombros como um sinal de sua posição. Quem via a figura agigan-
tada do imperador e conhecia seu tipo extrovertido e afável teria dificuldade
em acreditar que Anson Argyris, na verdade, era um robô — uma máquina
que, como Imperador dos Livres-Mercadores Independentes, representava os
interesses do Império Solar.
Estavam na companhia de Argyris três nobres do Conselho de Comércio
do planeta Olimpo. Do lado de Rhodan, Atlan e Roi Danton participavam da
reunião.
— Estou ciente disso, Majestade — respondeu Perry Rhodan sobre as
ideias do imperador —, mas não posso levar em consideração essas coisas.
Afinal, eu quero ser reeleito. Por isso, não tenho alternativa senão retornar para
a Terra da maneira mais rápida.
Argyris passou a grande mão em uma das tranças da barba.
— Mesmo seu próprio especialista, o marechal Deighton, teme pela sua
segurança, senhor — ele insistiu novamente.
— Ele não vai me deixar na mão — sorriu Rhodan, tranquilizador. — Do
jeito que conheço Deighton, ele tomou todas as medidas de segurança possíveis.
Ele deu uma olhada para o relógio. O dia da decisão chegara. Registrava-
se o dia primeiro de agosto de 3444. O relógio mostrava trinta minutos após a
meia-noite, tempo-padrão, embora, ali sobre o espaçoporto e sobre Trade City,
o sol estivesse brilhando.
— Está na hora — disse Perry Rhodan e se levantou.
Anson Argyris suspirou de maneira resignada.
— Se não pode ser convencido, senhor...
— Eu aprecio a sua preocupação bem intencionada, Majestade — res-
pondeu Perry Rhodan. — Mas não me resta escolha. A Terra espera por mim.
O Administrador-Geral, o imperador e sua comitiva caminharam para
um portal que se abriu diante deles. Lá fora, estava o enorme pavilhão do
transmissor com o arco-portal brilhando, engolindo toneladas e toneladas de
mercadorias valiosas para transportá-las para a Terra. Em Olimpo, o mundo
dos livres-mercadores, tudo tinha que ter a sua formalidade. Fanfarras soaram
quando o imperador entrou no pavilhão com seus acompanhantes. Centenas de
trabalhadores, que estavam ocupados com o envio das mercadorias, e ainda mais
espectadores, que tinham vindo para observar o funcionamento do transmissor,
interromperam o que estavam fazendo para saudar o governante de Olimpo e
o Administrador-Geral do Império Solar.
A presença de Perry Rhodan em Olimpo não fora mantida em segredo.
Que ele tinha a intenção de ir pelo caminho mais rápido para a Terra, todo
mundo podia contar nos cinco dedos, e chegar à conclusão de que ele faria uso
da linha de transmissores, isso também não exigia nenhuma inteligência especial.
70
Kurt Mahr O Dia da Decisão

Apenas o momento em que a viagem devia ser iniciada tinha permanecido um


segredo. Ninguém sabia que Perry Rhodan atravessaria o arco às 0h48min em
ponto — exceto o Imperador e confidentes mais próximos de Rhodan.
Faltavam apenas sete minutos. Anson Argyris levantou o braço. As esteiras
rolantes que levavam as mercadorias para o transmissor pararam. Os trabalha-
dores afastaram-se para o lado para permitir o acesso ao arco-portal. Entre os
espectadores, houve murmúrios enquanto o imperador e seus acompanhantes
se dirigiam para a boca brilhante do campo transmissor.
A despedida foi breve e formal, como exigido pelo protocolo. Como iguais,
o imperador e o Administrador-Geral se despediram com um abraço. Em casos
contrários, o aperto de mão era a despedida habitual. Às 0h45min, Roi Danton
foi o primeiro da delegação de Rhodan a entrar no transmissor. Atlan seguiu
um minuto e meio depois. Exatamente às 0h48min, o próprio Perry Rhodan
caminhou para baixo do arco-portal. Ele virou-se novamente, acenou para o
imperador e sua comitiva — e despareceu um segundo depois.

— Não — respondeu o jovem tenente com uma voz apática. — O trans-


missor não pode ser bloqueado daqui.
— Maldição! — gritou Cobre em fúria descontrolada. — E você nos diz
isso só agora?!
— Ele não disse porque ninguém perguntou! — declarou Açúcar em
tom áspero. — Controle-se, homem! Gritando por aqui, não conseguirá nada.
— Ela se virou para o oficial. — O que é controlado daqui? — Ela perguntou
em um tom suave.
— A atividade dos robôs de vigilância — foi a resposta.
— Exatamente do que precisamos! — exclamou Cobre.
Açúcar o encarou, desconfiada.
— O que você pretende?
— Rhodan tem que ser impedido de se mostrar ao povo, não é? — de-
clarou ele. — Vamos mandar suas próprias máquinas policiais matá-lo, então
o problema será resolvido!
Silêncio lhe respondeu. Ferro olhou para o chão. Aço começou a rosnar
depois de um tempo.
— Você quer matar Rhodan?
— Mandar matar — corrigiu Cobre.
— Dá no mesmo. Eu sou contra.
— Você não tem que ser contra! — gritou Cobre para ele. — Eu sou o
líder deste grupo, e o que eu digo é feito!

71
Kurt Mahr O Dia da Decisão

Ele enfiou a mão no bolso. Quando ela reapareceu, segurava um pequeno


radiador de impacto. O cano da arma foi apontado para Aço.
— Comece o trabalho! — ordenou Cobre. — Pergunte ao homem ali
o que você tem que fazer para que pelo menos dois robôs de vigilância caiam
sobre Rhodan assim que ele passar pelo arco-portal! Vamos, homem, não temos
tempo a perder.
Ferro ergueu os olhos. Com um olhar perturbado, ele se virou para a garota.
— E você? Vai simplesmente entrar nessa?
Ela contraiu desdenhosamente os ombros.
— Meu contrato com a organização de Terhera é claro: Rhodan será
impedido de ganhar a eleição. Nesse caso, vão me pagar cem mil solares. Isso é
o que me importa. Nada mais!

Pouco antes da meia-noite, Galbraith Deighton deixou as mídias de infor-


mação saberem que o Administrador-Geral chegaria à Terra por volta das duas
horas da manhã seguinte. A mesma informação já tinha circulado previamente
dentro da Segurança Solar e da guarnição de Império Alfa. Que Perry Rhodan,
na verdade, era esperado uma hora antes, ninguém sabia. Deighton insinuara
em seu anúncio que Rhodan chegaria ao espaçoporto. Poucos minutos depois
da meia-noite, ele se convenceu de que a mídia tinha levado a sério sua alusão.
No espaçoporto, se juntou tudo que tinha nome e posição no setor de informa-
ções. As câmeras estavam ligadas. Em todos os mundos do Império Solar, os
programas regulares de televisão haviam sido suspensos para que os repórteres
pudessem contar aos seus espectadores sobre a atmosfera no espaçoporto de
Terrânia, pouco antes do tão esperado retorno do Administrador-Geral.
Nesse meio tempo, Deighton havia dado ordens para bloquear o pavilhão
dos transmissores a partir das 0h30min da manhã para todo o tráfego público,
e para persuadir os espectadores ainda presentes a deixar o edifício. Para se
convencer do sucesso dessa medida, ele próprio foi até a estação de contêineres
meia hora depois da meia-noite. Ele estava acompanhado por uma numerosa
escolta, como era devido para a recepção do Administrador-Geral, e, entre seu
pessoal, havia numerosos agentes da Segurança, cuja função era garantir um
bom andamento da cerimônia vindoura. Por volta da mesma hora, o Marechal
de Estado Reginald Bell e o Marechal Solar Tifflor chegaram ao salão de trans-
missores, também com numerosos acompanhantes.
Apenas às 0h35min, Deighton mandou informar aos repórteres reunidos
no espaçoporto que Perry Rhodan, na realidade, chegaria à Terra pela linha de
transmissores. O pessoal da mídia reagiu imediatamente. O salão de transmis-
sores era ligado por várias esteiras rolantes com as instalações do espaçoporto.
72
Kurt Mahr O Dia da Decisão

Mal o anúncio de Deighton terminara, os primeiros repórteres já chegavam ao


salão. Os especialistas de Deighton certificaram-se de que só fossem admitidas
pessoas das quais não se esperava que causassem quaisquer problemas.
Então veio o grande momento. O local imediatamente em frente ao gigan-
tesco arco-portal foi flanqueado de ambos os lados por um grupo de robôs de
vigilância. No final do caminho curto e largo resultante dessa ordem, Deighton,
Bell e Tifflor esperavam pelos que chegariam, com o Marechal de Estado Bell,
como representante do Administrador-Geral, um passo à frente dos dois ma-
rechais solares, conforme exigido pelo protocolo. Atrás dos marechais, estavam
suas comitivas. Os repórteres com suas câmeras foram direcionados para as
tribunas, de onde tinham uma visão livre, sem poder perturbar a cerimônia.
0h45min.
Debaixo do arco-portal, começou a cintilar. Uma figura ficou visível. Ela
saiu da abertura do campo e se aproximou lentamente do comitê de recepção. Roi
Danton, o filho de Rhodan. Uma segunda vez, o arco-portal entrou em atividade.
Dessa vez, se materializou Atlan, o comandante da United Stars Organization.
E então veio Perry Rhodan. O aplauso espontâneo, que tinha começado
com o aparecimento de Danton, intensificou-se para um furacão. Ereto, tenso,
como o mundo se lembrava dele, ele saiu de baixo do arco-portal. Sorrindo,
caminhou em direção ao grupo de marechais. Para as câmeras que tinham sido
montadas nas tribunas, ele tinha uma saudação amigável com os braços.
Ao mesmo tempo, o inacreditável aconteceu.
Dois dos robôs de vigilância deixaram a formação em que estavam até
então imóveis e se dirigiram para o Administrador-Geral. Roi Danton e Atlan,
que tinham quase passado o grupo de robôs, viraram-se ao ouvirem sons atrás
de si. Perry Rhodan parou. Os aplausos se extinguiram como que cortados.
Galbraith Deighton avançou correndo. Um grito horrorizado soou. Um
dos robôs levantou o braço da arma e apontou o cano do radiador de impacto
para Rhodan. Então a arma de Deighton rugiu. O robô foi atingido na lateral. A
força da salva o desequilibrou. O tiro dele passou por cima do Administrador-
Geral. No momento seguinte, o raio fino como agulha da arma portátil de Dei-
ghton atravessou a fuselagem metálica da máquina até os centros de controle.
O robô entrou em colapso.
Reginald Bell tinha agido tão rápido quanto Deighton. Com duas passa-
das enormes, ele se posicionou de modo que seu fogo não colocasse em risco
nenhum dos presentes. Com uma segurança em sua mira, que buscava seu
semelhante, sua salva capturou o segundo robô, que também tinha investido
contra Rhodan. Bell manteve a mira no braço de armas e o cortou numa fração
de segundo. O robô começou a virar para fazer frente ao atacante, mas, antes
que ele pudesse dar o primeiro passo, a salva de Bell atingiu o cérebro positrô-
nico e o destruiu.
73
Kurt Mahr O Dia da Decisão

Perry Rhodan não tinha se movido. Somente agora, após o perigo ter
sido eliminado, ele deu um passo adiante e, aparentemente intocado, se apro-
ximou de seus três marechais. A saudação foi calorosa, mas breve. O momento
em que o Administrador-Geral poderia se dedicar aos seus amigos ainda não
havia chegado. Nesses segundos, apenas a política desempenhava um papel.
Rhodan gesticulou para os jornalistas nas tribunas para se aproximarem com os
seus equipamentos. Em um instante, ele foi cercado por câmeras e microfones.
O tumulto no enorme salão era indescritível. Mas só foi preciso um gesto do
Administrador-Geral para cessar o alarido.
— Amigos — ele falou na direção dos aparelhos de gravação —, eu
regressei para concorrer às eleições. Que eu tenho algo a lhes oferecer, vocês
reconhecem pelo atentado de que acabei de escapar. Se não fosse assim, meus
adversários não teriam se dado ao trabalho do atentado. Então eu devo ter algo
aos seus olhos que vocês apreciam aí fora – ou não teria havido este incidente.
Fez uma pausa e deu tempo para as palavras penetrarem na consciência
dos ouvintes. Então continuou: — Eu me recusei até há pouco a me candidatar
porque eu não tinha tempo para a candidatura e as atividades relacionadas.
Lá fora, nas profundezas do interior da Galáxia, ameaçava um perigo que eu
queria enfrentar e rechaçar, antes de ter tempo para viagens de eleições e belos
discursos...

Poucos minutos depois da uma hora, o serviço de segurança de Deighton


encontrou um tenente perturbado do serviço técnico em uma das salas de con-
trole no fundo do salão de transmissores, que falou sobre coisas incoerentes
sobre ativistas e assassinatos. Os médicos cuidaram dele e descobriram que, até
recentemente, ele estava sob um efeito hipnótico criado por drogas. Um exame
do terminal de dados no escritório do tenente revelou que os dois robôs de
vigilância tinham sido programados incorretamente a partir dali.
O tenente conscientemente não se lembrava de nada do que tinha acon-
tecido nas últimas cinco horas. A partir de uma análise do seu subconsciente,
no entanto, especialistas produziram uma imagem dos quatro ativistas com os
quais o jovem oficial havia trabalhado sob coação hipnótica. Entre uma e duas
horas, dois agentes chamados Aço e Ferro foram capturados em Terrânia. Um
terceiro, chamado Cobre, que havia deixado a capital do Império antecipando
o desastre, foi preso pouco tempo depois em Nova Deli, quando estava prestes
a embarcar em uma nave espacial destinada para o sistema Vega.
No entanto, o quarto agente, uma jovem de beleza supostamente cativan-
te, desapareceu sem deixar vestígios. Por mais que a Segurança Solar tentasse,
Açúcar os enganava.
74
Kurt Mahr O Dia da Decisão

O interrogatório dos três agentes revelou uma ligação clara entre o gru-
po de ativistas e a organização do marechal Terhera. Embora o próprio Bount
Terhera tenha negado categoricamente ter dado ordem de atacar Perry Rhodan,
e, embora ele tivesse dito a verdade, ninguém acreditou nele. Os indícios eram
demasiado convincentes.

Às oito horas desse histórico 1º de agosto de 3444, os cidadãos do Im-


pério Solar foram à eleição. Eles o faziam em suas residências, digitando ou
falando o nome do seu candidato preferido nos seus terminais de dados —
dependendo do modelo que possuíam. Havia quase um trilhão de eleitores
com direito de voto. Apesar do enorme número de votos, a apuração eleitoral
procedia positronicamente sem qualquer perda de tempo significativa. Já em
torno das quatorze horas, tempo-padrão, ficou claro que Perry Rhodan seria o
novo Administrador-Geral.
Mas o resultado final só era determinado às vinte e duas horas. Bount
Terhera tinha destruído com as próprias mãos seu futuro político com o aten-
tado ao Administrador-Geral. Com quase oitenta por cento de todos os votos,
Perry Rhodan foi reeleito.

FIM

Perry Rhodan fez o que a maioria achava impossível! Ele voltou a tempo
e ganhou as eleições!
Mas como as coisas continuam para Perry Rhodan e a Humanidade
solar? Informações a respeito estarão no volume de jubileu n° 600, que
transcorre no ano 3456 do calendário terrano.
Perry Rhodan e seus amigos cruzam A FRONTEIRA INVISÍVEL...
A FRONTEIRA INVISÍVEL — esse também é o título do próximo volume
de Perry Rhodan, que foi igualmente escrito por Kurt Mahr.

75
Imagem: Johnny Bruck / Copyright © 1969 Pabel Moewig Verlag KG.
SSPG Editora Perry Rhodan

Glossário
Dino-386: Espaçonave terrana do tipo tênder de frotas pesado da classe Dinossauro.
Alguns membros da tripulação conhecidos são: Bronson, Cono Matunari (coronel e
comandante do tênder, considerado extremamente capaz), Floyd Cilamaro e Krym
Matoscho (comandante do cruzador CDIN-3). No ano 3444, a Dino-386 participou do
abastecimento dos asporcos como parte de um comando experimental consistindo
de 165 unidades, já que o planeta natal deles, Asporc, foi devastado pela decolagem
de um meteorito convertido em espaçonave e pelos subsequentes desastres naturais.
Em 23 de julho do ano 3444, o tênder de frotas foi posto em marcha por Roi Danton,
juntamente com o ultracouraçado Mostonow, na direção do sistema estelar Paramag
Alfa. Apesar de uma violenta tempestade gravitacional, o coronel Matunari e o co-
mandante da Mostonow, o coronel Nosla Spitzer, conseguiram levar as duas grandes
espaçonaves em voo sincronizado para o sistema natal dos paramags. A missão secreta
das duas naves envolveu a recuperação de um asteroide contendo metal TEP, que foi
chamado de “Favo-1000”, o qual mais tarde serviria como refúgio para os Antigos
Mutantes. Posteriormente, a Marco Polo e a Mostonow escoltaram o tênder, que
estava carregando o asteroide em sua plataforma, até o objetivo secreto no sistema
Wild Man, no Aglomerado Tolot. Depois que o tênder chegou ali, Rhodan ordenou
que o cruzador CDIN-3 fosse descarregado e ficasse vigiando. Porém, no metal TEP de
Favo-1000, foram encontrados inúmeros paramags, que estavam escondidos nos veios
TEP dentro do planetoide. A falha em desalojar todos os paramags do asteroide levou à
destruição da plataforma da Dino-386 com um ataque-surpresa deles, quando usaram
a sua arma definitiva para criar um campo de formação de antimatéria para-abstrato
construtivo positivo. Apenas o cruzador CDIN-3 sobreviveu ao ataque, pois já havia
sido descarregado. Do resto da tripulação, apenas Perry Rhodan, Alaska Saedelaere,
o coronel Matunari e dezessete outros homens conseguiram chegar à seção esférica
antes que essa também fosse destruída. A luta terminou com a morte dos atacantes.
Depois disso, os vinte astronautas sobreviventes do tênder foram atacados pelo ha-
lutense Tondor Kerlak, que estava em um estado mórbido de lavagem forçada. No
curso da luta com Kerlak, três sobreviventes foram mortos, e o halutense se libertou
temporariamente de sua compulsão. No entanto, ele voltou para o seu estado mór-
bido e quis se jogar no sol junto com Rhodan, que foi salvo pela intervenção de Icho
Tolot. Um pouco mais tarde, Rhodan, Saedelaere e os demais astronautas encalhados
puderam ser resgatados pela CDIN-3 e levados para Favo-1000.

Ponto Para: Sistema estelar da Via Láctea, formado por um sol duplo que serviu como
ponto de encontro no ano 3444. O sol duplo está situado a 5.000 anos-luz do sistema
Paramag Alfa e a 1.750 anos-luz de Wild Man em linha reta entre ambos os sistemas.
Não se sabe se os sóis são orbitados por planetas. Em julho do ano 3444, depois que
o asteroide Favo-1000 contendo metal TEP foi recuperado do sistema Paramag Alfa
em uma missão ousada pelo tênder de frotas pesado Dino-386, uma nova localiza-
ção para ele foi encontrada em um local secreto. O tênder e suas naves de escolta,
77
SSPG Editora Perry Rhodan

Marco Polo e Mostonow, voaram para um sol duplo, que recebeu o nome de “Ponto
Para”, a fim de fazer uma parada intermediária. Para surpresa de todos, a estranha
flotilha encontrou ali a nave negra do halutense Tondor Kerlak, o qual estava na fase
de lavagem forçada. Para manter o sistema-alvo em segredo, o sol duplo serviu como
local de espera da Marco Polo e da Mostonow, enquanto Perry Rhodan prosseguiu o
voou dali com a Dino-386 para o sol Wild Man, no Aglomerado Tolot. No entanto, o
halutense seguiu o tênder até esse destino.

Transmissor de contêineres: Tecnologia de transporte. Transmissor de carga de grande


porte para conexões de longa distância que forma a chamada estrada de contêineres,
uma rota de transmissores de matéria que liga o Sistema Solar e o planeta Olimpo.
Através dessa construção sem igual, a Terra e os outros planetas habitados do Sistema
Solar são abastecidos com bens e matérias-primas vindos de diversos planetas da Via
Láctea. Por outro lado, o excedente de bens do Sistema Solar é encaminhado para o
mercado da Galáxia através de Olimpo. Um tênder de frotas da classe Dinossauro é
usado como interseção entre o Sistema Solar e o planeta Olimpo. Um teletransmissor
externo ergue-se no espaço fora da plataforma. Colunas luminosas vermelhas saem
dos blocos de projeção da plataforma do tênder e unem-se a seiscentos metros de
altura, formando o arco-portal do teletransmissor. Esse transmissor serve como um
ponto de transferência para os teletransmissores do planeta Olimpo. Um sistema de
raio trator automático (também chamado de “estrada de energia”) assume o transporte
dos contêineres em ambas as direções. Durante a crise do Enxame e a imbecilização
de âmbito galáctico, o fornecimento da população da Terra pela rota de contêineres
continuou a operar.

Wild Man: Sistema estelar da Via Láctea, situado no Aglomerado Estelar Tolot, formado
por uma estrela vermelha com um diâmetro oito vezes maior que o do sol terrano. A
estrela foi batizada assim pelo halutense Icho Tolot, por causa de sua alta temperatura
superficial e protuberâncias violentas. Não possui planetas. A distância para o Sistema
Solar é de aproximadamente 42.000 anos-luz, cerca de 6.700 anos-luz de Paramag Alfa
e 1.750 anos-luz de Ponto Para. A estrela mais próxima é uma supergigante azul, a ape-
nas 3,8 semanas-luz de distância. As órbitas gravitacionais são particularmente densas
nesse setor, desencadeando eventos energéticos como só podiam ser imaginados nos
aglomerados estelares. Algumas estrelas nessa região só podem ser encontradas por
acaso. Isso também é verdade em relação a Wild Man, que os terranos nunca teriam
alcançado sem as coordenadas exatas fornecidas por Tolot. Em tempos anteriores, o
Aglomerado Tolot serviu como base militar para os halutenses, e Rhodan entendeu
por que eles tinham usado o Aglomerado como base. Em julho do ano 3444, o tênder
de frotas Dino-386 levou Favo-1000 até ali, pois o planetoide deveria servir como o
novo lar para os Antigos Mutantes e um parabanco.

Elaboração: Jocélio Tadeu Hoffelder Maciel e


Rodrigo de Lélis

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SSPG Editora Perry Rhodan

Autor
Kurt Mahr

© Pabel-Moewig Verlag KG

Kurt Mahr era considerado “o físico” do grupo de autores de Perry Rhodan. Nascido
em 1934, em Frankfurt, ele entrou para a universidade disposto a seguir a carreira
de engenheiro, porém logo mudou de ideia e passou para o curso de Física em 1956.
Após formar-se, Kurt Mahr mudou-se para os EUA. Sua carreira literária começou no
final da década de 1950, com histórias de amor e faroeste — contudo, sem grande
sucesso. Isso mudou quando ele passou a escrever ficção científica: em 1960, seu livro
“Zeit wie Sand” (“Tempo Feito Areia”) foi publicado na série Terra, e, em 1961, ele
estreou na série Perry Rhodan com o episódio “Alarme Galáctico”, o quinto da série.
Seus conhecimentos de física impregnavam a série, e seus volumes caracterizavam-se
por extrapolações técnico-científicas exatas e detalhadas. Em 1972, Mahr retornou
à Alemanha e começou a escrever para a série Atlan. A partir de então, ele passou a
escrever exclusivamente para as séries Perry Rhodan e Atlan, bem como para os “ro-
mances planetários” de Perry Rhodan. Em 1977, ele retornou para os EUA. A partir de
1985, Mahr começou a escrever, juntamente com Ernst Vlcek, as sinopses básicas para
a série Perry Rhodan. Durante uma década e meia, ele escreveu o suplemento “Perry
Rhodan Computer”. Kurt Mahr morreu em 1993, na Flórida, em consequência de um
acidente. O desenhista Johnny Bruck prestou-lhe uma homenagem, retratando-o na
capa do episódio 1700 da série.

Elaboração: César Augusto Figueiredo Maciel


e Rodrigo de Lélis

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SSPG Editora Perry Rhodan

Próximo Volume

10º Ciclo: “Xadrez Cósmico”


Volume 1
Episódio 600

A Fronteira
Invisível
de Kurt Mahr

Tradução de
Marcel Vilela de Lima
e Marcos Roberto Inácio Silva

Um experimento dá errado – e surge um oponente incrível

Perry Rhodan conseguiu algo que ninguém tinha julgado possível! O Admi-
nistrador-Geral retornou para a Terra em cima da hora e, em 1º de agosto de
3444, foi reconduzido ao seu cargo pelo voto de uma maioria impressionante
do eleitorado do Império Solar.
Desde esse dia memorável, que marcou o fim dos eventos turbulentos relaciona-
dos aos Antigos Mutantes, aos asporcos e aos paramags, já se passaram pouco
mais de doze anos. Agora, a Terra está no final de agosto de 3456.
Duas outras eleições já ocorreram, e Perry Rhodan ainda é o Administrador-Geral.
Sua velha e conhecida equipe — formada pelos imortais portadores de ativador
celular — permanece fiel a seu lado.
A catástrofe da imbecilização, que eclodiu há dezesseis anos devido ao surgimento
do Enxame Estelar na Galáxia, foi completamente superada pela Humanidade e
pelos demais povos estelares. O Império Solar não enfrenta problemas políticos
nem militares. Comércio, indústria, ciência e tecnologia florescem, levando o
progresso a muitos lugares.
Porém, no decurso de uma experiência envolvendo novas técnicas de voo espacial,
Perry Rhodan cruza A FRONTEIRA INVISÍVEL...

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SSPG Editora Perry Rhodan

Próximo Ciclo

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SSPG Editora Perry Rhodan

Ciclos Anteriores
Os volumes da série Perry Rhodan narram uma história contínua que se inicia no ano de 1971 e avança progressivamente
pelos séculos e milênios adiante, apresentando a história futura da Humanidade como uma epopeia grandiosa e intrigante.
Para facilitar o acompanhamento da narrativa por novos leitores, a série divide-se em ciclos de cerca de cinquenta ou cem
episódios. Cada ciclo forma um arco de histórias fechado em si: a partir de um novo ciclo, novas situações, ambientes e
personagens são apresentados, até o seu desfecho dezenas de episódios adiante.

1º Ciclo: “A Terceira Potência” – Episódios: 1 a 49


Período das histórias: 1971 a 1984

A primeira viagem tripulada à Lua, comandada por Perry Rhodan, encontra uma nave ava-
riada dos arcônidas. Com a ajuda de sua tecnologia superior, Rhodan unifica a Humanidade,
defende a Terra de invasões alienígenas e começa o avanço para a Via Láctea. Com isso,
ele toma conhecimento da existência de outros povos, como os tópsidas, os saltadores e
os aras. O superser Aquilo concede aos mais importantes terranos a imortalidade relativa.

2º Ciclo: “Atlan e Árcon” – Episódios: 50 a 99


Período das histórias: 2040 a 2045

Perry Rhodan encontra-se com Atlan, o Solitário do Tempo. Juntamente com o arcônida
imortal, ele combate os druufs, seres vindos de outro universo, e protege o pequeno reino
sideral terrano dos ataques dos mercadores galácticos e do robô regente dos arcônidas.

3º Ciclo: “Os Pos-bis” - Episódios: 100 a 149


Período das histórias: 2102 a 2114

Perry Rhodan encontra-se com os antepassados dos arcônidas, os aconenses. Os antis


inundam os mundos da Via Láctea com o liquitivo, uma droga mortal. Surgem os poderosos
robôs positrônico-biológicos das profundezas do espaço intergaláctico, que envolvem os
povos da Galáxia em sua guerra contra os invisíveis laurins.

4º Ciclo: “O Segundo Império” – Episódios: 150 a 199


Período das histórias: 2326 a 2329

O superser Aquilo espalha 25 ativadores celulares pela Via Láctea, levando as inteligências
da Galáxia a uma corrida pela imortalidade. Os terranos entram em conflito com os blues,
seres que criaram um poderoso império no setor oriental da Via Láctea. O líder do mundo
colonial Plofos rebela-se contra o Império Solar.

5º Ciclo: “Os Senhores da Galáxia” – Episódios: 200 a 299


Período das histórias: 2400 a 2406

Perry Rhodan e seus companheiros descobrem a estrada de transmissores solares para


Andrômeda e encontram-se nessa galáxia com os maahks, seres que respiram hidrogênio,
e com os tefrodenses, seres humanoides semelhantes aos terranos. Os terranos enfrentam
os senhores da galáxia, os tirânicos soberanos de Andrômeda. Rhodan viaja ao passado e
toma conhecimento da história dos lemurenses, a Primeira Humanidade.

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SSPG Editora Perry Rhodan

6º Ciclo: “M-87” – Episódios: 300 a 399


Período da história: 2435 a 2437

Na Via Láctea, surge de repente Old Man, uma gigantesca plataforma robotizada. Os policiais
do tempo e suas espaçonaves vivas atacam o Império Solar para punir os terranos por seus
supostos crimes contra o tempo. Perry Rhodan é enviado para a galáxia M-87 com sua nave
capitânia Crest IV e lá desvenda a história dos halutenses. Os terranos avançam para as
Nuvens de Magalhães e conseguem derrotar os líderes da Polícia do Tempo.

7º ciclo: “Os Cappins” – Episódios: 400 a 499


Período das histórias: 3430 a 3438

A Terra é ameaçada por poderosos impérios formados por seus antigos mundos coloniais e
vê-se obrigada a se proteger atrás de um campo temporal. Perry Rhodan viaja 200 mil anos
no passado com o deformador do tempo-zero e descobre na Terra primitiva as atividades dos
takerers, uma parte do povo dos cappins. Para evitar uma iminente invasão, Perry Rhodan viaja
com a nave Marco Polo à galáxia natal dos cappins e ajuda Ovaron, o Ganjo dos ganjásicos.

8º ciclo: “O Enxame” – Episódios: 500 a 569


Período das histórias: 3438 a 3443

O Enxame, um conglomerado gigantesco de sóis e planetas, atravessa a Via Láctea e reduz


a inteligência de seus habitantes. Juntamente com alguns imunes à onda de imbecilização,
Perry Rhodan luta contra os ídolos, que assumiram o poder no Enxame há milhares de anos,
e devolve o controle da minigaláxia peregrina aos seus senhores originais.

Os episódios da série Perry Rhodan a partir do nº 650 são publicados no Brasil pela SSPG Editora desde o ano de 2001, e
uma edição digital a partir do nº 537 foi iniciada em paralelo em 2015. No início de 2019, foi lançada também uma edição
digital a partir do nº 1800. Para maiores informações, visite o site oficial da série no Brasil em www.perry-rhodan.com.br.

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SSPG Editora Perry Rhodan

Ciclo Atual
9º Ciclo: “Os Antigos Mutantes” – Episódios: 570 a 599
Período das histórias: 3444

As “Vozes da Agonia” escravizam o povo dos asporcos e colocam em risco a Humanidade.


Para tentar resolver a crise causada pela misteriosa influência parapsíquica, Perry Rhodan
e o Exército de Mutantes encontram-se com os paramags e defendem o Sistema Solar dos
seus ataques de antimatéria. O metal TEP é descoberto. Rhodan enfrenta uma forte opo-
sição entre os humanos, e seu posto na liderança do Império Solar é colocado em xeque.

Vol. Epis. Título


1 570 As Vozes da Agonia
2 571 A Espaçonave dos Possuídos
3 572 A Hora do Simbionte
4 573 A Dama e o Bárbaro
5 574 O Metal Celestial
6 575 A Cidade no Mar de Lava
7 576 Um Mutante Desaparece
8 577 Um Mutante é Caçado
9 578 No Labirinto dos Mortos
10 579 Os Psicovampiros
11 580 Os Cavaleiros do Tempo
12 581 Os Mutantes-Fantasmas
13 582 Os Caçadores de Mutantes
14 583 O Ara e os Desesperados
15 584 O Plano dos Mutantes
16 585 O Jogo Duplo do Arcônida
17 586 O Gigante do Espaço
18 587 A Frota dos Salvadores
19 588 Os Especialistas em Sobrevivência
20 589 Estação do Antimundo
21 590 Destino de Voo Desconhecido
22 591 A Inteligência Paradoxal
23 592 Um Mundo em Ruínas
24 593 A Guerra Metapsíquica
25 594 A Luta dos Paramags
26 595 A Ameaça de Antimatéria
27 596 Planetoide na Hipertempestade
28 597 O Último Refúgio
29 598 O Parabanco
30 599 O Dia da Decisão

Toda quinzena, a SSPG Editora lança novos volumes da série Perry Rhodan. Cada volume traz uma história completa que
pode ser lida separadamente a partir de qualquer número. Para mais informações, visite o site oficial da série no Brasil
em www.perry-rhodan.com.br.

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Créditos Editoriais

Copyright © 2019:
Perry Rhodan 599, by Kurt Mahr, “Tag der Entscheidung”,
Pabel-Moewig Verlag KG, Rastatt, Germany
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Copyright da edição brasileira © 2019:


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dos editores, constitui violação de direitos autorais (Lei 9.610/98).

Todos os personagens deste livro são fictícios. Qualquer semelhança


com pessoas ou acontecimentos da vida real é mera coincidência.

As nossas edições reproduzem integralmente o texto original.

Grafia atualizada respeitando o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Perry Rhodan – O Herdeiro do Universo – é uma publicação quinzenal da SSPG Editora – Star
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– MG. Publicado sob licença contratual de Pabel-Moewig Verlag KG, Rastatt, Alemanha (VPM KG).
Coordenação geral: Rodrigo de Lélis. Divulgação: César Augusto Figueiredo Maciel. Tradução:
José Antonio Cosenza e Salomão Delgado S. Júnior. Revisão da tradução: Marcos Roberto Inácio
Silva, Paulo Eustáquio Marra Pinto, Rodrigo de Lélis. Artigos e colaborações: Jocélio Tadeu Hoffel-
der Maciel. Editoração: Rodrigo de Lélis. Ilustrações das capas: Johnny Bruck, copyright © VPM KG.
A distribuição é feita exclusivamente pela SSPG Editora através do site oficial da edição na Internet
(www.perry-rhodan.com.br). Números atrasados em formato impresso ou digital podem ser
adquiridos diretamente com a editora de acordo com a disponibilidade dos mesmos. Primeira
edição digital, versão 1.0. Julho de 2019.
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PERRY RHODAN ONLINE: As últimas novidades e todas as informações sobre a edição brasileira
de Perry Rhodan na Internet. Endereços oficiais:
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Índice

Apresentação 2
Manifesto da Editora 3
Introdução 4
Personagens Principais 5
1. 6
2. 14
3. 23
4. 33
5. 46
6. 55
7. 69
Glossário 77
Autor 79
Próximo Volume 80
Próximo Ciclo 81
Ciclos Anteriores 82
Ciclo Atual 84
Créditos Editoriais 85
Contatos 86
Índice 87
A maior série de ficção científica do mundo!

Uma série inigualável, que apresenta a evolução da Humani-


dade em fantásticas histórias futuristas.
As aventuras de Perry Rhodan e seus companheiros trazem
grandes desafios, situações surpreendentes, mistérios insti-
gantes, misturando dramas humanos e sofisticadas tecno-
logias.
A série divide-se em ciclos de episódios, que formam um arco
de histórias fechado em si. Eles podem ser comparados às
temporadas dos seriados televisivos, por exemplo. A partir de
um novo ciclo, novas situações, ambientes e personagens são
apresentados, até o seu desfecho dezenas de episódios depois.
Cada volume da série Perry Rhodan traz uma história completa
que pode ser lida a partir de qualquer número.

9º Ciclo: “Os Antigos Mutantes” – Episódios: 570 a 599

As “Vozes da Agonia” escravizam o povo dos asporcos e colocam em risco a Humanidade.


Para tentar resolver a crise causada pela misteriosa influência parapsíquica, Perry Rhodan
e o Exército de Mutantes encontram-se com os paramags e defendem o Sistema Solar dos
seus ataques de antimatéria. O metal TEP é descoberto. Rhodan enfrenta uma forte opo-
sição entre os humanos, e seu posto na liderança do Império Solar é colocado em xeque.

Neste volume:
Episódio 599: “O Dia da Decisão”

No sistema secreto Wild Man, a quarenta mil anos-luz do


Sistema Solar, Perry Rhodan inicia uma corrida contra o
tempo! O asteroide Favo-1000, numa órbita fora de controle,
ameaça cair no sol vermelho e, com isso, levar à ruína os
oito Antigos Mutantes. E, além disso, em menos de quatro
dias, ocorrerão as eleições para Administrador-Geral, e a
ausência de Rhodan na Terra representará sua derrota para
o inescrupuloso marechal Terhera...

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