Você está na página 1de 82

1

Nr. 2912

O Último Transferidor-Galáctico

Por:

Robert Corvus

Tradução:

Alberto Hubert Müller

Revisão:

Paulo Lucas

Pabel-Moewig Verlag KG, Rastatt

Space Traduções®

2
O Último Transferidor-Galáctico

Registra-se ano de 1.551 NCG (5.138 a.D), uns bons três mil anos a
partir do século vinte um. Após grandes convulsões na Via Láctea, as
relações entre os diferentes reinos estelares estrelas se acalmaram; no
geral, a paz prevalece.
Acima de tudo, os planetas e luas habitados por humanos visam um
futuro positivo. Milhares de mundos se uniram para formar a Liga dos
Galácticos Livres, que também inclui seres que em anos anteriores teriam
sido chamados de "não-humanos".
Apesar de todas as tensões que ainda existem, a visão de Perry
Rhodan de transformar a galáxia em uma ilha estelar sem guerras parece
estar se concretizando lentamente. Mais contatos estão sendo
estabelecidos com outras galáxias. Atualmente, o próprio Rhodan está n
Império Dourado thoogondu, que também quer estabelecer um
relacionamento com a Via Láctea.
Os thoogondu já foram um povo bem escolhido de AQUILO antes
que a superinteligência os banisse da Via Láctea. Agora, eles dominam a
distante galáxia Sevcooris e se regozijam com o
desaparecimento de AQUILO. Segredos rodeiam os thoogondu, sobre o
qual provavelmente os terroristas da galáxia, os vantenuerenses, sabem
mais. Seu refúgio é o: ÚLTIMO TRANSFERIDOR GALÁCTICO...

3
Os principais personagens deste episódio:

Perry Rhodan – O terrano tem que ponderar sobre o que ele pode
aprovar.
Penelope Assid – A xenosemiótica tem que lidar com uma psique nem
tão estranha.
Gi Barr – O gaone luta com todos os meios possíveis.

4
1.

Chegada

— Perry! Perry, acorde! Nós temos que...


Donner abafou a última parte da frase, algo atingiu o campo defensivo do
SERUN de Perry Rhodan. A tela transparente no interior do capacete relatou o
impacto de sessenta e sete objetos pequenos. Eles estavam muito quentes,
provavelmente gotas de metal derretido, efeitos de dispersão de um impacto de
radiador.
Através do visor, Rhodan viu uma enorme figura encurvada sobre ele,
também vestida com um SERUN. Os trajes deviam ter emparelhado seus campos
defensivos, caso contrário o homem não teria agarrado o ombro de Rhodan e
sacudido. Com a outra mão, ele apontou para algo fora do campo de visão e
disparou. A arma foi comutada para o modo de raio térmico, como os sensores do
capacete revelaram.
— Nós temos que sair do campo de fogo! — gritou o homem. — Aqui nós
somos alvos fáceis!
Um impacto direto confirmou essa análise. Os campos defensivos ativados
reluziram enquanto irradiavam a energia.
Rhodan estava deitado de costas e o homem que o protegia era Báron
Danhuser, o soldado espacial de desembarque da equipe. Danhuser era alguém com
quem você não queria mexer. Ele vinha de Oxtorne, um mundo extremo ao qual sua
constituição fora adaptada. Os músculos de seu corpo anguloso foram projetados
para uma gravidade de 4,8 vezes a da Terra, a robustez de seu esqueleto suportava
a comparação com aço-plástico, e a pele podia até resistir à radiação térmica. Pelos
menos, teoricamente.
Rhodan não sentia o desejo de descobrir o que realmente acontecia quando
os campos defensivos desmoronassem. Ele rolou para o lado em uma posição
ajoelhada e com um movimento fluido puxou sua arma. — Localização?
— Recepção quente!
Algo explodiu em um lampejo luminoso. Embora a viseira do capacete
compensasse muito, todavia o resto ofuscou os arredores, de modo que Rhodan só
podia se orientar quando se levantou.
Ele ajoelhou-se numa plataforma circular, cuja borda envolvia três quartos
de colunas. Essa tinha que ser a estação de contrapartida do transmissor que eles
usaram em Porass.
Assim, eles haviam chegado na última espaçonave intergaláctica, que restou
aos vanteneuerenses. Disseram também que a plataforma estava em um salão
amplo. No teto alto, faixas de plástico azul e cinza claro emitiam luz. Com suas
ondulações, assemelhavam-se a rios, mas não seguiam as depressões no
subterrâneo que muitas vezes se arqueavam.
Em algumas áreas essas ondas solidificadas se assemelhavam, em outros
lugares havia grandes aberturas entre as costelas curvas. O ambiente dava uma
impressão altamente tecnológica, quase estéril, com os construtores evitando tanto
linhas retas quanto paredes contínuas. O SERUN de Rhodan mediu a linha de visão

5
em até cem metros, mesmo que se acertasse um obstáculo na maioria das direções
após um quarto daquela distância.
Os imponentes elementos de parede, mas numerosos, que raramente
alcançavam o teto, pareciam uma mistura de floresta e labirinto. Assim, eles
ofereciam boa cobertura para os oponentes, em cujo fogo os recém-chegados se
encontravam novamente.
Contudo, um dos thoogondu não aproveitou essa vantagem. Ele se inclinou
para frente como se quisesse abraçar sua arma de raios. O rosto brilhante, com veias
azuis, estava quase no cano que apontava para Danhuser.
Rhodan se antecipo ao disparo, disparando ele mesmo.
O ar zumbiu sobre o raio térmico. Rhodan esperava ver o brilho de um campo
defensivo individual, mas a energia penetrou o thoogondu sem resistência,
atingindo a parede atrás dele, criando uma mancha vermelha brilhante no material
cinza.
— Projeções holográficas! — gritou Danhuser. — A maioria deles.
Os dados do sensor do SERUN mostraram radiação de massa e calor onde
Rhodan viu o thoogondu. Era mais do que apenas uma ilusão ótica.
El algum lugar havia um adversário de verdade. Um robô composto por dois
discos sobrepostos explodiu. A força o expulsou da trajetória, os escombros
atingiram o pedestal.
Rhodan lembrou-se da figura que havia pulado na área irradiada do Emissor-
Paratrans no último instante. — Um gaone?
—Eu suponho que sim — confirmou Danhuser. — Eu não o vi claramente
ainda.
Provavelmente era apenas devido ao físico do oxtornense que Danhuser já
estava acordado, afinal, apesar do ativador celular, o transporte até mesmo tirara a
consciência de Rhodan.
Penelope Assid e Dean Tunbridge, os outros dois terranos da equipe, estavam
imóveis no chão. Também os seu SERUNS estavam no modo de proteção, os
capacetes estavam fechados. Traços negros de fogo queimaram o plástico ao redor
deles, em alguns lugares ele fundiu-se e imediatamente solidificou novamente. A
figura longa e esbelta de Penelope estava em um SERUN-SR coberto de poeira
roxa. Tunbridge, apesar de seu corpo bem tonificado, parecia mais corpulento do
que era excepcionalmente pequeno.
Uma granada detonou entre os dois. Os campos defensivos reluziram
amarelados.
— Nós precisamos colocar nosso pessoal em segurança! — gritou Rhodan. —
Também os soprassidenses!
— Eles foram alvejados pesadamente.
Rhodan entendeu imediatamente o que Danhuser quis dizer. O equipamento
de seus dois companheiros aracno-humanoides era tecnologicamente inferior aos
SERUNS. Embora estivessem a vários metros da explosão, eles foram gravemente
afetados. Suas vestimentas semelhantes a ponchos estavam queimando.
Rhodan correu para eles. Ele ativou um campo de isolamento para extrair o
oxigênio das chamas. De perto, ele viu uma rachadura escancarada na carapaça de
Ossprath. Um líquido amarelo pálido saía do ferimento. Os exoesqueletos resistiam
a muitos ferimentos, mas, uma vez rompidos, rapidamente se tornavam críticos
porque a estrutura interna era frequentemente menos resistente.

6
Outra granada explodiu, desta vez um impacto direto no campo defensivo de
Penelope. Parte da energia foi irradiada, o restante refletido.
Rhodan se jogou diante do ferido Ossprath. Seu próprio campo defensivo
individual se ativou.
O soprassidense agitou-se lentamente. A parte superior do corpo se curvou
para trás, os quatro braços se contorceram, mas os dois olhos duplos permaneceram
fechados. O fluido corporal amarelado fez uma poça sob o corpo.
Rhodan ativou o campo defensivo em torno de Ossprath e extinguiu as
últimas chamas em suas roupas. Elas não estavam quentes o suficiente para serem
perigosas para o SERUN. Ele desativou o campo de isolamento para que o astronauta
soprassidense não se sufocasse. Os últimos incêndios já não pareciam ameaçar a
vida. Contudo, ele precisava urgentemente ir a uma enfermaria.
Danhuser levou Tunbridge e Penelope para a borda da plataforma. Com os
dois debaixo dos braços, ele pulou por cima do chão rasgado pelo bombardeio. Seu
campo defensivo reluziu, o ar cintilou.
— SERUN! Capture o canal de raios e calcule a origem! — Rhodan ordenou.
A positrônica do traje criou uma linha dourada ofuscante no visor. Ela partiu
de Danhuser e se espalhou com distância crescente dele, porque a incerteza dos
dados criava um funil de probabilidade.
O marcador corria sob dois robôs flutuantes e ao lado de um vanteneuerense,
que aparentemente também estava inconsciente. Rhodan reconheceu Ea-Eaveud
por causa da vestimenta com anéis metálicos do ser avermelhado, que em vez de
uma cabeça tinha um órgão sensorial hemisférico que se projetava do tronco sem
pescoço. Ele os havia trazido a este lugar.
Thoogondu holográfico emergiram do nada e desapareceram sem deixar
vestígios. Os fantasmas luminosos puxaram armas para atacar, gritaram e fizeram
de tudo para atrair a atenção. Alguns dos robôs discoides dispararam contra eles,
mas apenas atingiram a espaçonave. As detonações criaram um caos maior do que
as simulações.
Aparentemente, os dois robôs protegeram Ea-Eaveud, um campo defensivo
o envolveu quando um raio térmico o golpeou.
— Inclua uma nova trajetória no cálculo! — Rhodan ordenou. — Suposição:
apenas um atacante.
A positrônica do SERUN detectou o ar aquecido através do disparo e o canal
do raio. Sua origem se encontrava deslocada em dez metros do primeiro ataque, mas
isso seria explicado com uma mudança na posição do gaone.
Rhodan colocou sua arma em efeito ventilador e disparou aproximadamente
na direção. Ele também acertou um dos robôs, mas o raio era fraco demais para
penetrar no campo defensivo da máquina. Contudo, colunas e elementos da parede
foram aquecidos... além de um ponto de tamanho humano. Devia ser o inimigo
invisível, seu traje de combate capturou a energia!
Rhodan concentrou o raio propositalmente e cortou mais alvos na área.
Ele acreditou ter reconhecido, mas uma estranha percepção diminuiu sua
atenção. Parecia que ele estava encolhendo. Tudo se esticava, o elemento de parede
em forma de onda, com cerca de cinco metros de largura, na frente do qual ele
suspeitava que estivesse o adversário, parecia se afastar e ao mesmo tempo se
alargar. Ele ficou tonto. A luz mudou para verde.

7
Rhodan ainda se encontrava ajoelhado ao de Ossprath. Ele se apoiou com
uma mão e parou o bombardeio. Nestas circunstâncias, o risco era alto demais em
atingir um companheiro.
Os arredores se normalizaram, mas depois se esticaram novamente como se
fossem elástico. O braço de Rhodan pareceu alongar-se, a mão parecia estar a vários
metros de distância.
Uma tontura tomou conta dele. Ele olhou em volta. O teto, as colunas curvas,
o chão, os elementos de parede, até os robôs discoides — tudo parecia uma parede
de água em movimento que distorcia a vista.
Mas isso durou apenas um curto período de tempo. Como um desenho em
uma membrana elástica, que se contraiu novamente após a expansão, os elementos
dos arredores também retornaram ao seu lugar. Apenas os hologramas dos
thoogondu continuavam desaparecidos.
Nos pontos em que os raios térmicos alvejaram, o plástico rígido arrefecido
rachou e uma coluna danificada cedeu e desmoronou. Mas, não houve mais disparos.
Rhodan se endireitou cautelosamente. — Tudo bem, Báron?
— Parece que nós sobrevivemos — Danhuser falou por rádio. — Dean está
retornando gradualmente. Pen e ele estão ilesos.
— Isso é bom, mas não se aplica a todos — ele olhou para o ferimento de
Ossprath. Até mesmo uma das quatro pernas de Loloccun foi afetada, ela se dobrava
abaixo do joelho superior. — Nossos amigos soprassidenses precisam
urgentemente de cuidados médicos.

8
2.

Guerra

Apesar da situação alterada, a missão de Gi Barr permaneceu inalterada.


Tudo o que ele tinha que fazer era adaptar sua abordagem.
O gaone carregava o robô danificado sob o braço esquerdo, os amplificadores
musculares de seu traje de combate o ajudavam. Contudo, a construção volumosa
ameaçou escapar. Consistia em dois discos, conectados por um cilindro que se
estreitava no meio.
Era um dispositivo particularmente pequeno — Barr também tinha visto
uma parte da plataforma do transmissor com até quatro discos e um diâmetro de
dois metros — mas ele ainda conseguiu cumprir o propósito que pretendia para a
máquina. Tudo o que ele tinha que fazer era consertar e reprogramá-la. O gerador
do campo de irradiação entre os painéis foi destruído, mas isso não importava. Barr
não precisava de um poder de fogo maior, mas de um batedor que lhe desse uma
visão geral.
Em essência, a tarefa dos soldados era forçar a vontade de seu governo pela
força. Os militares eram sobre controle. Então, Barr tinha que eliminar sua
desorientação e reconquistar a iniciativa. Ele tinha que descobrir onde o
transmissor o levara.
Por mais improvável que parecesse, tudo dizia que ele estava em uma grande
estrutura dos terroristas. Ou em um prédio enorme ou, como a arquitetura sugeria,
uma nave de grande capacidade. Essa percepção por si só já era uma sensação que
os superiores de Barr, sem dúvida, se preocupariam.
Invisível pela função de camuflagem de seu traje, Barr atravessou salões e
passagens. Os construtores aparentemente tinham uma relação perturbada com
linhas retas ou mesmo com a conveniência. O chão e o teto eram ondulados, as
paredes dobradas e havia aberturas por toda parte. Algumas eram tão altas que não
podiam servir como passagens. No entanto, elas promoviam uma brisa constante, a
direção múltipla e a força mudavam.
Barr fez uma pausa.
— Yester! — ele se voltou para a neurotrônica de sua armadura. Ele tinha um
campo de isolamento sonoro ao redor de si, então não precisava amortecer sua
voz. — Analise o ar para componentes orgânicos! Sementes, produtos de
decomposição, esporos... qualquer coisa que possa indicar que nos encontramos na
atmosfera de um planeta.
—Probabilidade abaixo de sete por cento — a voz calma disse diretamente
em seu ouvido. — Os vestígios biológicos são quase todos atribuíveis aos
vanteneuerenses ou elementos que são úteis para a sua dieta.
Vanteneuerenses... Barr preferia o termo terroristas. Naturalmente, ele sabia
que cada povo produzia diversos indivíduos. Mas, traçando o rastro dos ataques ao
Gondunat longe o suficiente, frequentemente se encontrava um vanteneuerense,
que não se poderia negar nem o talento para tais ações nem uma propensão para
estes atos.
Na maioria das vezes, eles operavam em pequenos grupos, mas nesse lugar
estava fervilhando com eles. Barr teve que tomar cuidado para não esbarrar em um

9
ser de um metro e meio. Seu corpo era vagamente humanoide, exceto pela cabeça
ausente. Em seu lugar, havia um enorme olho facetado entre os ombros. A comida
era absorvida através de uma abertura horizontal abaixo do olho, abaixo da qual
havia uma membrana oval que respirava e falava.
As roupas deixavam esses órgãos tão livres quanto as duas lamelas auditivas
ao lado da membrana, e era por isso que a maioria usava túnicas de corte baixo,
geralmente em branco ou rosa. O tecido solto fluindo harmonizava com a pele
vermelha. O clima parecia agradável para eles, eles frequentemente deixavam seus
braços e pernas nus.
A notícia do tiroteio na sala do transmissor se espalhou rapidamente, e
literalmente. Os vanteneuerenses encontraram-se em grupos alternados e
especularam entusiasmados sobre o mau funcionamento técnico, uma invasão ou
uma explosão estelar. Desde a sua transmissão, Barr se deparou com centenas de
terroristas.
Enquanto os robôs equipados com gravomódulos flutuavam em todos os
lugares, provavelmente em busca de Barr, os residentes usavam esteiras
transportadoras que cobriam não apenas longas distâncias sobre solavancos, mas
também os levava para cima e para baixo. A gravidade sempre puxava a esteira para
baixo, de modo que os vanteneuerenses permaneciam em segurança sobre elas,
mesmo que do ponto de vista de Barr eles estivessem horizontalmente no ar.
Ele mesmo não usava essas esteiras por enquanto; o risco era grande demais
de ser revelado através de um sensor de carga. Ele também usava a função
antigravitacional de seu traje com moderação. Ele queria poupar as reservas de
energia; além disso, a blindagem pós-batalha podia não ter sido completa, de modo
que os cada vez mais numerosos robôs poderiam ter medido as emissões 5-D.
Então, ele se movia a pé entre os elementos imponentes da parede em toda
parte, onde manteve uma direção. Desta forma, ele devia chegar ao limite do
complexo onde estava hospedado e obter mais informações sobre sua localização.
Barr estava sozinho, mas ele ainda era uma unidade militar. Um tenente-
coronel da guarda do Fiador e foi treinado para operar sozinho no território inimigo.
Havia vantagens até mesmo em operar sem apoio: ele não precisava prestar
atenção a ninguém e não se preocupar com danos colaterais no território
inimigo. Em um lugar como este, não havia cidadãos dignos do Gondunat, muito
menos uma pessoa a ser protegida que teria confiada aos cuidados de Barr.
Assim, Gi Barr era uma unidade de uma pessoa em guerra. Até agora, sua
situação era clara.
Seu equipamento estava quase completo, ele havia perdido apenas três bases
holográficas em combate. Os dispositivos providenciaram distrações na forma de
thoogondu atacantes que se derreteram sob o fogo inimigo. Mas, os outros haviam
retornado a ele sem danos. Ele estava ileso. O pedgondit de sua armadura havia
sofrido apenas alguns arranhões.
Ele estava preocupado apenas com o estranho fenômeno de distorção que o
havia surpreendido despreparado. Aparentemente, as dimensões da sala haviam se
esticado e contraído novamente. Agora que não havia perigo imediato, ele
questionou Yester sobre isso.
—Eu calculo uma probabilidade de noventa e oito por cento para um efeito
hiperenergético — relatou a neurotrônica.
— De onde ele veio?
— Desconhecido.

10
Ilustração: Dirk Schulz

11
— Isso poderia ser uma arma usada por Rhodan?
— Desconhecido.
Barr olhou em volta. No momento, havia alguns vanteneuerenses, mas não
havia robôs por perto. Ele ativou sua antigravidade para flutuar até o topo de uma
coluna curva e se posicionou lá. Ele colocou o robô danificado em seus joelhos.
— Mostre-me o registro de Rhodan durante este efeito!
A imagem apareceu em seu visor. Rhodan se agachava na frente de
um soprassidense, ele se debruçou no chão. Ele pareceu se dissolver, como se
estivesse atrás de um líquido em movimento. Mas, se isso era verdade para todo os
arredores, Barr não percebeu, mesmo na reprodução lenta, que o efeito teria se
originado em algum ponto. Afinal, ele foi capaz de descartar um mau funcionamento
de seus sensores, porque seus oponentes mostraram a mesma confusão que
também o dominou.
Barr desceu novamente e continuou seu caminho.
Ele não conhecia nenhum incidente em que os vanteneuerenses tivessem
usado uma arma similar. Dizia-se que havia vindo do arsenal de visitantes de outra
galáxia. Mas, que propósito eles perseguiram? Aparentemente, eles prejudicaram a
si mesmos, assim como seus oponentes.
Barr dispensou essa consideração quando chegou a um convés de
observação. Uma dúzia de vanteneuerenses tagarelava no corredor em forma de
rim, uma parede curva e arqueada que era transparente no topo.
— Ou é uma projeção? — ele perguntou a neurotrônica.
— É possível — respondeu Yester. — Eu recomendo uma análise tátil.
Barr pressionou as pontas dos dedos contra o material liso por trás do qual
as estrelas podiam ser vistas, em vez de adivinhadas. Uma nebulosa rodopiante e
parcialmente ionizada as encobria.
— Transplast — disse Yester, usando a amostra microscópica retirada da
luva de Barr.
— Provavelmente uma janela — ele murmurou. — Você pode determinar a
nossa localização através da constelação de estrelas?
A neurotrônica levou cinco segundos para responder. — Nenhum dos
sistemas mais visitados. Para uma análise mais detalhada, eu preciso de um banco
de dados maior. Eu sugiro obter dados do catálogo via hiper-rádio.
— Negativo — disse Barr. Se ele emitisse uma chamada omnidirecional de
hiper-rádio, ele também poderia desativar seu dispositivo de camuflagem.
— Nova distor...
Mais uma vez, o estranho efeito tomou conta de Barr. Sua mão estendida
pareceu alargar-se, uma ligeira vertigem se apoderou dele. Meio segundo, depois
acabou.
— ... ção.
Ele olhou em volta. Os vanteneuerenses pareciam perturbados,
interromperam as conversas por um curto período, mas não pareciam surpresos ou
intimidados. Um pouco aflitos. Ele voltou à especulação sobre o incidente na sala do
transmissor.
— Isso não é uma arma — murmurou Barr. — Você tem leituras confiáveis?
— Eu não tinha instruções para coletar nenhuma.
— Agora você a tem. Mantenha seus sensores ativos para fenômenos
hiperenergéticos.
— Há um impulso hiperenergético portador aqui.

12
— Mesmo agora? — Barr perguntou, surpreso.
— Sim, uma flutuação hiperenergética. Correção: vários efeitos sobrepostos.
Barr olhou em volta, mas não descobriu um agregado associado a emissões
5-D. — Você está captando uma mensagem de rádio?
— Negativo. Eu tenho poucos dados para determinar o propósito das
vibrações.
— Tudo bem — Barr alertou para manter a concentração. Ele não era um
pesquisador, mas um soldado, e ele tinha uma missão a cumprir. Para isso, ele
primeiro tinha que se orientar, explorar suas opções.
E ele tinha que desorientar o inimigo. Ele procurou por uma área não
perturbada entre alguns elementos colunas próximos e começou a reprogramar o
robô de combate danificado.

13
3.

Vítima

— Uma frente de interferência hiperenergética? — perguntou Perry Rhodan.


— Nós amortecemos o fenômeno o suficiente para torná-lo inofensivo — Ea-
Eaveud confirmou. — A proximidade do pulsar compensa largamente as flutuações
na propulsão-hiperboral.
— Outras pessoas se acostumam com um sinal sonoro em seus ouvidos —
comentou Dean Tunbridge secamente —, e as pessoas AN-ANAVEUD não acham
nada fora do comum com distorções ocasionais nas dimensões da sala.
Perplexo, Rhodan sacudiu a cabeça. Incrível, no que os seres inteligentes se
resignam.
Ele estava em pé junto com Tunbridge, Danhuser e Ea-Eaveud em uma
esteira rolante que os levava direto ao próximo convés. A despeito do sentido de
equilíbrio desse a impressão, de que o salão com os suportes curvos estivesse
inclinado noventa graus, e os cerca de cinquenta vanteneuerenses estivessem
agrupados na parede. No final, essa interpretação não era menos errada do que
qualquer outra, já que eles se encontravam a bordo de uma espaçonave.
A AN-ANAVEUD circulava em uma órbita apertada ao redor do pulsar Oto-
Otonnu, dentro da nuvem de gás de material estelar que havia repelido quando se
transformara uma estrela de nêutrons.
Danhuser colocou as mãos enormes no cinto de instrumentos e assobiou
baixinho para si mesmo. Era isso que o oxtornense costumava fazer quando
pensava. Sua voz de baixo contrastava com esse tons altos. — Se entendi bem, foi
sorte que a nave estivesse aqui quando os propulsores queimaram?
— Isso mesmo — Ea-Eaveud estava na frente, então ele foi o primeiro a ser
conduzido sobre a curvatura da esteira transportadora quando chegaram ao convés
superior.
Do ponto de vista de Rhodan, o alienígena de pele vermelha caía em um
abismo. Isso mudou imediatamente quando o próprio Rhodan cruzou a curva.
Constantemente, a gravidade puxava a esteira. Olhando para trás, pareceria que
tinham sido transportados por uma encosta íngreme.
Enquanto o vanteneuerense falava, vibrando uma pele oval, a voz de Ea-
Eaveud vibrava. Todavia, as palavras articuladas em gondunin eram claramente
compreensíveis. — A AN-ANAVEUD estava prestes a iniciar uma transferência
quando o desastre ocorreu. Desde então, o desligamento do propulsor-hiperboral
falhou, mas a transferência também é impossível. O pulsar fornece energia
suficiente para perpetuar o status atual. Ao mesmo tempo, ele modera as flutuações.
— Exceto pelo nível que experimentamos com a frente de interferência —
afirmou Danhuser. — Algo assim acontece com frequência?
— Não com frequência — disse Ea-Eaveud. — Contudo, acontece que está
correto, se alguém assumir que há pouco efeito, além de uma breve
desorientação. As máquinas continuam funcionando corretamente. A expansão do
espaço é mais subjetiva do que objetiva.
Eles chegaram a uma plataforma de distribuição onde a esteira
transportadora terminava. Mais quatro faixas corriam para lá. A luz azulada do teto

14
com múltiplas curvas reluzia sobre estruturas sinuosas, robôs flutuantes feitos de
discos sobrepostos e vanteneuerenses espalhados. Rhodan sentiu que o fluxo de ar
era mais forte e um pouco mais quente do que no convés anterior.
Os anéis metálicos que formavam o manto de Ea-Eaveud em várias camadas,
tilintaram suavemente sob seus passos. Ele os conduziu até uma esteira que se
estendia pelo terreno montanhoso entre as colunas prateadas e um buraco
aproximadamente circular em uma parede quase fechada. — Você não poderão
manter seus trajes de combate com o comandante.
— Eles não são trajes de combate — disse Tunbridge. Como soldado, ele
estava acostumado a outra coisa, como Danhuser.
— Todavia, eu receio que este requisito não se possa ser dispensado.
— Tudo bem — disse Rhodan rapidamente. — Eu suponho que o
comandante esteja em um ambiente seguro.
— Após o alarme por causa da batalha na sala do transmissor, ele está
esperando por nós na central de comando.
— Realmente não há nenhum problema com essas frentes de interferência?
— Danhuser duvidou.
Rhodan voltou sua atenção para uma chamada de rádio. Ela vinha de
Penelope Assid, que estava com os dois soprassidenses na enfermaria. — E sobre
Ossprath, Pen?
— Eles fazem tudo o que podem — disse a terrana.
— Eu espero que seja o suficiente.
— Por enquanto eles o estabilizaram. A rachadura em seu exoesqueleto está
selado até o ponto de que apenas um acesso permanece para as sondas médicas, e
elas o ligaram a uma bateria inteira de máquinas. Infelizmente, eles parecem ter
pouca experiência com sua biologia.
— Eu entendo — Até agora, Rhodan só tinha visto vanteneuerenses na AN-
ANAVEUD. — Como está Loloccun e você?
— Eu acho que estaremos aí em breve. Tudo bem; nossas lesões não
requerem tratamento urgente.
Em pensamento, Rhodan concordou com ela. Uma fratura óssea e uma ligeira
queimadura que um SERUN poderia cuidar com recursos próprios. Contudo,
Penelope aproveitou a oportunidade para dar uma olhada nas áreas da nave que
seus anfitriões não haviam preparado para ela. Além disso, ela não queria
deixar o soprassidense sozinho.
— Muito bem — disse Rhodan. — Entre em contato se houver alguma
dificuldade.
— Eu entrarei — ela interrompeu a ligação.
Através da abertura redonda na parede, eles alcançaram um corredor amplo
e sinuoso.
— O soprassidense está bem — Com uma pitada de nitidez em sua voz,
Rhodan acrescentou: — Exceto Dussudh. Eu acho que agora temos tempo para
algumas explicações.
— Os dados sobre a história da nossa galáxia estão nos armazenadores da
nave — disse Ea-Eaveud.
— Eu não quis dizer isso. O que aconteceu com Dussudh quando você
inicializou o iniciou o emissor-paratrans? Ele parecia tudo menos inofensivo! Ele
gritava, e as descargas energéticas eram óbvias. Ele sabia o que esperar?

15
Ea-Eaveud havia alegado que o processo era inofensivo para o mutante
soprassidense. Que ele somente inicializaria o processo de transporte com a sua
parahabilidade. No entanto, Rhodan teve a impressão de que Dussudh havia agido
como uma espécie de condutor para fornecer a energia necessária ao transporte ao
antigo transmissor de longa distância.
— Provavelmente, Dussudh não está mais vivo — disse Ea-Eaveud. — Isso
não era inesperado.
— O quê? — Danhuser cerrou os punhos.
Rhodan suspeitou que o oxtornense pudesse esmagar o olho hemisférico
facetado do vanteneuerense com um único golpe. Ele ergueu as mãos
tranquilizadoramente, embora se sentisse revoltado. — Isso soou muito diferente
quando concordamos com o seu plano.
O vanteneuerense ficou em silêncio. Era difícil interpretar os sinais não
verbais de um ser que não possuía cabeça.
— Eu sou um soldado — Danhuser achou difícil se controlar. — Eu sei que há
um risco em todo trabalho. Mas, é inaceitável mandar alguém ignorantemente para
a morte certa.
— Por quê? — perguntou Ea-Eaveud.
Os vantenuerenses não são descritos injustamente como terroristas,
reconheceu Rhodan. Mesmo que o Gondunat não seja confiável incondicionalmente,
existe algo de verdadeiro no cerne em tudo o que ele diz.
— A sua cultura conhece algum meio — ele perguntou —, o qual não deva
ser usado, mesmo se vale a pena lutar pela meta?
— É claro.
— Trazer a morte de outro não é um deles?
— A morte pode ser um preço razoável. Mas, me surpreende que você esteja
tão obcecado pelo passado, Perry Rhodan.
— Não é apenas pelo passado — ressaltou Rhodan. — Eu assumo que a
filosofia se aplica a nós também? Você também mentiria para nos fazer cooperar se
isso servisse aos seus propósitos?
Ao lado dele, Danhuser cerrou os dentes.
— Essa não é a questão — disse Ea-Eaveud. — A verdade é mais convincente
do que qualquer mentira. Você não duvidará se vir nossos registros.
Rhodan agarrou o braço de Danhuser e apertou-o para impedir que o
camarada reagisse apressadamente, uma reação precipitada que levaria apenas a
uma escalada. Com o Tunbridge, um aviso foi o suficiente.
Ainda assim, ele percebeu que todos estavam se perguntando o quanto os
vanteneuerenses eram confiáveis. Mesmo se descobrisse que eles buscando os
mesmos objetivos, e embora Rhodan ainda não tivesse desenvolvido uma posição
definitiva sobre o Gondunat, ele não poderia aceitar o sacrifício inescrupuloso de
inocentes. Não mais do que a aniquilação de um sistema solar pelos thoogondu para
estabelecer um marcador de caminho. — Nós estamos ansiosos por esses registros.
— Eles não vão decepcioná-lo. E considere: um gaone o atacou. Deve ficar
claro que temos o mesmo inimigo. Isso agora tem que ficar claro.
— Mais uma pergunta — grunhiu o oxtornense. — Os vanteneuerenses estão
por trás do ataque atômico no planeta Porass?
— Claro que não! — Ea-Eaveud gritou com uma vibração elevada.
— Quem, então? — perguntou Danhuser.

16
—O Gondunat. Mais para garantir para que a responsabilidade seja imputada
a nós, vanteneuerenses.
De acordo com a impressão de Rhodan, tal procedimento era perfeitamente
adequado ao procedimento usual do Império Dourado. Obviamente, os
vanteneuerenses tendiam a serem brutais aos escolherem os métodos. Era possível
que a propaganda continuasse a mudar ainda mais a linha de fronteira, com base nas
atividades reais desse povo, a fim de demonizá-lo e, assim, criar uma imagem
inimiga que mantivesse os planetas do império unidos e buscando a proteção do
poder central. Mas...
— Isso contradiz o que Loloccun disse — disse Rhodan. — Ele afirma que
tudo foi coordenado por um comando que você liderava. Ele até aprovava este
ataque, apesar de ter sido dirigido contra seu próprio povo.
Bufando, Danhuser balançou a cabeça. — É preciso entender essa loucura
primeiro!
Rhodan apertou ainda mais o braço dele. A raiva ardia nos olhos
do oxtornense.
Ea-Eaveud acenou com os braços vermelhos, fazendo com que os anéis
metálicos de sua vestimenta tilintassem. — Loloccun confia em mim porque sabe
que nunca fiz nada que contrariasse os interesses dos soprassidenses. Se até ele não
duvida que eu realizei o ataque, isso só mostra quão abrangente o império dourado
doutrina o pensamento dos oprimidos.
No caminho da esteira transportadora, a arquitetura da nave ficou mais
fechada. Em vez de outras salas, eles agora cruzavam salas menores até chegarem a
uma escotilha redonda. Ea-Eaveud se autenticou com uma impressão de sua mão
com nadadeiras. A passagem se abriu como um diafragma de íris, com os
componentes deslizantes oscilando em uma onda.
— Aqui vocês podem tirar seus trajes — Ea-Eaveud liderou o caminho.
Dois grandes robôs de combate, cada um deles consistia de quatro discos
sobrepostos e campos de radiação azuis, dominavam a sala aproximadamente
circular, ao longo das paredes das quais havia nichos. A visão das máquinas fez com
que Rhodan duvidasse de que eram realmente vistos como convidados na AN-
ANAVEUD. Eles eram vítimas de um tipo de sequestro complicado?

17
4.

Médico

Penelope Assid foi a última da fila. Sua queimadura resultou, segundo a


análise do SERUN, de uma fenda que se abriu em seu campo defensivo por três
milissegundos. Durante esse tempo, a energia do bombardeio térmico havia
penetrado e, em conjunto com as interações do campo, atacou o material do traje.
Provavelmente, um SERUN pesado teria evitado isso, mas a versão Slender
que eles usavam nessa missão pagava pelo visual mais elegante com um
desempenho ligeiramente inferior. A manga esquerda aquecera tanto que a pele
estava ligeiramente queimada. Por causa da pele pálida de Penelope, a vermelhidão
era claramente visível, embora não houvesse comparação com a cor da pele que
lembrava uma lagosta cozida de Kel-Kellad, o médico assistente.
Para o vanteneuerense, a anatomia humana era obviamente nova. Enquanto
ele tratava o braço dela com um irradiador médico, ele continuava se movendo,
mudando para o outro lado e fazendo comparações com o braço saudável. Ele se
inclinou para Penelope, e entre o olho composto apareceu uma lente translúcida
verde, aparentemente parte de um aparato de pesquisa.
— Já está melhor — disse ela. — Isso não arde muito mais.
Kel-Kellad voltou para a posição de tratamento. — Eu tenho certeza que
posso eliminar completamente o desconforto, Penelope Assid — a barra de
tratamento médico zumbiu.
— Meus amigos me chamam de Pen. Eu ficaria feliz se você se dirigisse a mim
assim também.
— Eu não ficaria desconfortável com isso.
Ela sorriu. A peculiaridade dos vanteneuerenses de usar duplos negativos a
agradava. Ela os notara nos outros também, mas não tão bem quanto nos médicos.
Ela também notou que Kel-Kellad estava muito feliz. Por cerca de uma hora
ele cuidou dos dois soprassidenses e da mulher terrana. Durante esse tempo,
ninguém mais tinha ido ao posto médico, e Penelope tinha a vaga sensação de que o
médico quase não tinha amigos. Às vezes ela sentira algo assim.
— Você realmente vem de tão longe? — Kel-Kellad perguntou.
— O transmissor nos trouxe quinhentos anos-luz, disse Ea-Eaveud. Eu
suponho que seja verdade.
— Ele não tem motivos para não falar a inverdade.
A xenolinguista ponderou brevemente sobre os negativos implícitos e
explícitos, enquanto o médico usando se casaco esvoaçante, mudou de lado
novamente. Ela chegou à conclusão de que ele achava que Ea-Eaveud estava dizendo
a verdade.
— Então, nós estamos no lugar trinta e sete agora? — ela se assegurou.
— Nós raramente usamos esse nome. A maioria chama a nave de AN-
ANAVEUD.
— Eu não vi muito dela — Penelope admitiu. — Mas, eu suponho que seja
muito grande.
— Uma esfera de dois mil e cem metros de diâmetro — ela sentiu o orgulho
ao invés ouvir a vibração na voz.

18
— Tão grande? — ela se inclinou no leito e assentiu com aprovação. Ela não
precisou jogar no nariz inexistente dele que a RAS TSCHUBAI tinha três quilômetros
de diâmetro.
Ele correu para a esquerda. — Não seria prejudicial se o seu braço
permanecesse em posição de tratamento.
— Oh, claro — ela deitou-se. — Desculpe.
O instrumento de tratamento apitou e mergulhou o braço em luz
violeta. Penelope gostava dessa cor. Lábios, cabelos, olhos e unhas eram violetas
nela. Uma conveniência dos cosméticos modernos. O fato de Rhodan ter permitido
que ela entrasse em ação com seu SERUN de cor púrpura também falava por ele
como um líder compreensivo. Contudo, no que dizia respeito às suas próprias
roupas, Penelope achou-o tão carente de estilo quanto o vantenuerense em seu
casaco verde gritante.
— Se você não negligenciar a protuberância equatorial, a AN-ANAVEUD não
terá menos de dois mil e quinhentos metros de diâmetro — prosseguiu Kel-Kellad.
— Isso é interessante — disse Penelope. — Ela é a única nave do tamanho
dela?
— Sim, o único transferidor-galáctico. O último. Houve uma vez nada menos
que três.
— Vocês querem produzir mais?
— Nós não temos a possibilidade de não nos abster de projetos tão ousados
— lamentou o vanteneuerense. — Mesmo antes da PED-PEDNUR e da NUG-
NUGENNAR, o inimigo destruiu nossos estaleiros de alto desempenho. A tecnologia
para criar tais milagres não existe mais no Plenário.
— Isso é lamentável — Penelope disse seriamente.
Em todos os lugares do universo, seres inteligentes procuravam dar forma
aos seus sonhos. Suas mentes os levavam ao espaço, explorando, compreendendo,
construindo e criando. Mas, até mesmo o poder destrutivo era inerente à vida em
expansão. Em baixa dosagem, ela criava espaço para novo, que se baseava no
desatualizado. Mas, a destruição rapidamente saía do controle e as guerras
poderiam empurrar civilizações inteiras de volta à primitividade.
— Nada mais deve limitar a sensação de bem-estar em seu braço.
Penelope suspeitou que o médico pediu a ela para que o movimentasse em
uma base experimental. Ele não protestou quando ela se sentou. Ela circulou seu
ombro e dobrou o cotovelo.
— Como novo — ela brincou.
Presumivelmente, ele não podia categorizar essa observação, então ela
acrescentou: — Eu não tenho mais desconforto — A vermelhidão havia
desaparecido também.
— Então, você não pode dizer que eu ainda tenho um trabalho a fazer com
você.
— Não isso — ela balançou as pernas para fora do leito e se levantou para ir
ao seu SERUN. Ela endireitou seu traje, violeta, é claro, para que não houvesse rugas
sob o traje. — Mas, eu ficaria feliz se você pudesse me mostrar as peculiaridades da
AN-ANAVEUD. Esta nave tem que ser uma verdadeira maravilha.
— Eu não me importaria de passar um tempinho com você.
Ela riu. Então, o olho hemisférico sem pescoço concordou com um encontro.

19
5.

Comandante

— Você tem que responder por isso! — gritou Chos-Chosserd, o comandante


da AN-ANAVEUD, em um vibrante estridente. — Você trouxe um gaone a bordo!
Os braços de Ea-Eaveud pendiam flacidamente. No geral, ele dava uma
impressão abatida, talvez ajudado pelo fato de ter mudado sua túnica de cota de
malha para uma toga branca e macia.
— Eu entendo que você teve que fugir — Chos-Chosserd admitiu. — Mas, por
que você teve que trazê-los aqui? — ele se aproximou de Rhodan, Tunbridge e
Danhuser. Ele estendeu a aba de músculo flexível que formava sua mão.
As roupas do comandante davam uma impressão mais formal do que a de Ea-
Eaveud. O roupão também deixava livre a área do órgão oval respiratório e de fala
acima do peito. Contudo, o tecido preto, estava mais perto do corpo vermelho,
apenas algumas fitas soltas se moviam na brisa. Os apliques metálicos podiam
marcar sua patente, mas poderiam ser sensores ou ferramentas de
comunicação. Como Rhodan e seus companheiros haviam deixado seus SERUNS
para trás, ele não teve a oportunidade de medir as emissões energéticas.
— Parecia sensato trazer esses viajantes — explicou Ea-Eaveud. — Eles são
importantes para o Gondunat, então eles não podem ser sem importância para nós.
— E o que os torna tão importantes? — A luz azul que caía com um com um
brilho irregular do teto multi abobadado, reluzia nas mil facetas do olho de Chos-
Chosserd.
O projeto da central de comando, atendia a preferência vanteneuerense por
formas curvas e as necessidades funcionais. O piso e o teto eram tão
moderadamente ondulados que as estações alojadas em saliências tinham contato
visual umas com as outras.
As colunas de outra forma tão comuns, foram largamente dispensadas, e as
poucas que existiam eram feitos de plástico transparente. Elas cumpriam funções
técnicas, os símbolos luminosos nas superfícies lisas mudavam assim que a
tripulação os tocava com as barbatanas sobre eles.
No meio da área com cento e cinquenta metros quadrados flutuava um grupo
de holografias, algumas das quais mostravam dados contínuos, alguns esquemas de
agregados e representações de linhas que Rhodan não conseguiu interpretar. Cinco
dos vinte vanteneuerenses que serviam ali se envolviam com aquelas holografias,
lendo-as, manipulando-as e substituindo-as por outras.
— Este é Perry Rhodan — Ea-Eaveud apontou para ele. — Em sua
homenagem, o Gondu organizou uma grande recepção. Ele vem da Via Láctea.
— É isso mesmo? — Chos-Chosserd se aproximou dele até que ele ficou a
apenas meio metro na frente dele. Provavelmente, o olho de dez centímetros de
diâmetro entre os ombros proporcionava um ângulo de visão ideal, afinal, ele estava
a um metro e meio e era muito menor do que Rhodan, e assim a maioria das facetas
o captava.
— Sim, isso é verdade — Embora ele usasse apenas o macacão leve usado
por baixo do SERUN, Rhodan achou o fluxo de ar na central de comando agradável.

20
Era como uma brisa em um dia de início de verão em Connecticut. Rhodan e Reginald
Bull haviam passado as horas da noite em sua antiga casa em longas conversas.
— O Império Dourado nos recebeu gentilmente, mas queremos ter uma visão
mais completa da situação em Sevcooris — continuou Rhodan. — Ea-Eaveud nos
deu a perspectiva de obter um vislumbre do armazenamento de dados nesta nave,
fornecendo uma visão inalterada da história da galáxia.
Chos-Chosserd se virou para Ea-Eaveud tão rápido que as fitas em seu
uniforme tremularam. — Não se mentiria se dissesse que Ea-Eaveud não estava
agindo sob sua autorização quando assumiu tal compromisso.
— Eu tinha certeza de que não era um preço alto demais — se defendeu Ea-
Eaveud. — Convidados de estado tão importantes certamente podem nos fornecer
conhecimentos sobre os círculos mais altos do Gondunat. O interesse na Via Láctea
não será infundado.
O comandante voltou-se para Rhodan. — Como vocês chegaram aqui?
— Nós fomos chamados.
— E como foi isso?
— Esse foi um contato incomum, de fato — disse Rhodan. — No planeta mais
interno do nosso sistema solar, nós descobrimos uma coleção de figuras de vários
milênios.
— Figuras? Quais figuras?
Rhodan decidiu que demoraria muito contar a história dos lemurenses antes
dos vanteneuerenses. — Estátuas de guerreiros — ele disse vagamente. — Feitas de
um metal especial que também contém traços de uma substância carregada
psiônicamente. Logo após a descoberta, essas figuras tornaram-se ativas; elas
viraram a cabeça e todos olhavam para o mesmo ponto. Este ponto vagou.
— Qual era o aspecto desse ponto?
Rhodan sorriu. — Quero dizer, elas estavam olhando na mesma direção. Não
havia manchas coloridas ou algo assim. Mas na direção em que olhavam, surgiu um
fenômeno cósmico.
— Não seria errado para eu dizer que esta é uma descrição extremamente
imprecisa.
— Se você nos deixasse terminar — resmungou Danhuser —, você obteria a
explicação completa mais rapidamente. Estas eram supernovas, três delas.
— Novamente, com um componente psi, é claro — acrescentou Dean
Tunbridge. — Isso guiou a percepção, grandes multidões se reuniram ao ar livre
para observar o fenômeno.
— Não só isso — disse Rhodan. — Na verdade, a luz da nova levaria muito
mais tempo para chegar ao nosso sistema doméstico. Isso tornou-se visível
imediatamente.
Chos-Chosserd juntou as mãos sem dedos. Talvez esse gesto tivesse
expressado impaciência, mas ele não o interrompeu mais.
— Nós interpretamos as três aparições como sinais e estendemos a linha que
as formava. Isso levou nosso nave para sua galáxia, Sevcooris.
— Nós não usamos o nome Sevcooris, mas Theuershavd — interveio Chos-
Chosserd.
Rhodan reconheceu isso com um aceno de cabeça; Ea-Eaveud havia dito a
mesma coisa em Porass. — De qualquer forma, nós já tínhamos uma espaçonave
penta-esférica do Gondunat esperando por nós e nos escoltou para a grande
recepção que Ea-Eaveud descreveu.

21
— Por que os thoogondu esperavam por vocês ? O que eles querem de vocês?
— Uma aliança — Rhodan cruzou os braços. A brisa de ar na central de
comando esfriara consideravelmente. — Mas, até hoje nós não decidimos se
queremos concordar com ela. Nós achamos mais sensato primeiro entender a
situação com mais detalhes.
O vanteneuerense esperou, mas Rhodan não viu motivo para divulgar mais
informações, especialmente porque seus próprios anfitriões agiam com cautela no
que dizia respeito ao armazenamento de dados.
— Como você conseguiu a hostilidade do Gondunat? — Chos-Chosserd
perguntou.
— Eu não me vejo como amigo ou inimigo do Gondunat.
— Você se contradiz! — O comandante ergueu os braços, as fitas do
uniformes giraram para cima. — Um gaone o perseguiu e disparou em você. Por que
ele deveria ter feito isso se você não é inimigo?
— Nós fomos colocados em contato com os soprassidenses, mas esse
encontro foi diferente do que o Gondunat esperava. Eu suponho que eles queria nos
levar de volta à força.
— Nós mostramos as relíquias de Porass — disse Ea-Eaveud. — O Gondunat
deve perceber que suas mentiras entrarão em colapso.
— Ainda assim, você nunca deveria ter trazido o gaone para o local trinta e
sete! Isso foi irresponsável...
— Não se pode dizer que o convidamos para se juntar a nós — disse
Tunbridge secamente.
— Realmente não? — Chos-Chosserd inclinou-se para a frente e apontou o
olho facetado para o oficial.
Naquela posição, os dois tinham algo de engraçado, pensou Rhodan, já que
Tunbridge costumava esticar o pescoço. Como ele era pouco maior que o
vanteneuerense, podia-se imaginar com um pouco de imaginação que eles se
inclinavam para fora das sacadas em uma viela estreita para se beijar.
— Talvez devêssemos apenas acreditar que o gaone está atrás de vocês.
— Alguns dos nossos camaradas ficaram feridos — lembrou Danhuser.
— Ele quer dizer os dois soprassidenses que vieram conosco — explicou Ea-
Eaveud.
— E Pen — acrescentou Danhuser.
— Ainda assim!— Chos-Chosserd juntou as barbatanas novamente. — Não é
incomum que sacrifícios sejam feitos para alcançar um objetivo.
— Nós não sacrificamos nosso pessoal! — disse Danhuser bruscamente.
Rhodan ergueu as mãos e esperou que o interlocutor percebesse o gesto
como apaziguador. — Eu acho que seguiremos em frente se percebermos que não
teríamos nada a ganhar em trazer um gaone para esta espaçonave.
— Nada não? — gritou o comandante. — Este é o último transferidor-
galáctico! Sua perda enfraqueceria o plenário consideravelmente.
— Nosso império estelar — explicou Ea-Eaveud.
— O que resta dele! — Chos-Chosserd disse.
Rhodan suspirou. — Nos tornaria confiáveis, se o ajudássemos a capturar o
gaone?
Chos-Chosserd considerou. — Seria um bom começo.
Danhuser lançou um olhar de dúvida para Rhodan. Ficou claro o que ele quis
dizer: a questão era, de fato, se alguém poderia confiar nos vanteneuerenses.

22
Embora Rhodan tivesse cuidado com um julgamento apressado, a crueldade deles
também o repelia. Mas, ele queria sair em outra coisa
— Nós poderíamos aumentar significativamente nossas capacidades
conjuntas se trouxéssemos nossa nave aqui — disse Rhodan. — A RAS TSCHUBAI
está bem equipada tecnologicamente e em termos de pessoal.
— Se estamos a quinhentos anos-luz de distância de Porass — disse
Danhuser, —, nós teríamos que usar uma forte estação de hiper-rádio e...
— Esta opção não vale a pena considerar — interrompeu Chos-Chosserd. —
Nós não revelaremos a localização trinta e sete.
Ele estava preocupado que uma transmissão de hiper-rádio fosse
interceptada com as coordenadas? Ou ele não confiava nos terranos e acreditava
que eles passariam essa informação ao Gondunat?
Ambas são considerações válidas em sua posição, admitiu Rhodan. — A fim de
contribuir eficientemente, pelo menos, nós precisamos do nosso equipamento
pessoal — ele apontou para a escotilha pela qual entraram na central de
comando. — Nossos SERUNS.
Mais uma vez o comandante considerou. — Isso não parece absurdo — disse
ele. — Mas, não queremos ser descuidados. Vocês atuarão como parte de uma
equipe.
— Então, você quer nos supervisionar — observou Tunbridge.
— É claro — Chos-Chosserd confirmou. —Pelo menos até termos certeza de
que vocês não querem cometer sabotagem.
— Pode parecer absurdo — disse Danhuser com dificuldade para se
controlar —, mas uma de nossas atividades habituais não é realizar ataques.
— Uma certa cautela parece apropriada para você, espero — disse Ea-
Eaveud. Ele parecia ansioso por mediação, provavelmente para suavizar as ondas
causadas por sua arbitrariedade.
— Companheiros são uma vantagem — disse Rhodan. — Afinal, não
conhecemos o caminho a bordo. É por isso que também precisamos dos planos de
construção dos conveses da AN-ANAVEUD. Assim, nós poderíamos fazer suposições
para onde o gaone pode ter ido.
— O que você acha que ele tem em mente? — Chos-Chosserd perguntou.
— A transmissão através do emissor-paratrans também não foi planejada
para ele — ponderou Rhodan. — Ele poderia ter tentado escapar da captura com a
batalha que havíamos feito. Na maioria dos exércitos que eu conheço, a diretriz seria
escapar e voltar para suas próprias tropas. Presumo que você tenha escaleres a
bordo que possam tornar isso possível?
— Claro.
— Então, os hangares são seus destinos naturais.
— Os gaones não são conhecidos por táticas defensivas ou evasivas —
apontou Ea-Eaveud.
— Um homem sozinho dificilmente poderia ir à ofensiva em uma nave deste
tamanho — Rhodan duvidou. — Se ele quiser fazer isso de qualquer maneira, ele
terá que chamar reforços. Nós devemos monitorar o tráfego hiper-rádio de forma
intensiva.
— Isso não será um problema — disse Chos-Chosserd. — Com o pulsar e a
propulsão hiperbólica ativa, nós temos duas fontes hiperenergéticas tão fortes que
apenas algumas frequências exóticas estão disponíveis para comunicação. Ele não

23
será capaz de alcançar seu comunicador de fato e, mesmo se o fizesse, seu alcance
seria curto demais para fazer contato com o Gondunat.
Ele desconfiava tanto dos terranos que não os deixaria entrar nas estações
de rádio?
— Tudo bem — disse Rhodan —, então vamos nos concentrar nos hangares.
— E para isso nós precisamos da planta da nave — lembrou Tunbridge.
Chos-Chosserd hesitou novamente. Parecia extraordinariamente difícil para
ele confiar nos estranhos. Rhodan temia que essa desconfiança se baseasse menos
em más experiências com os outros do que na extrapolação do que um
vanteneuerense teria feito em sua situação.
— Eu vou reunir o material adequado — concordou o comandante. — Vocês
precisam de mais alguma coisa?
— Comida — disse Danhuser. — Eu estou com fome.
Rhodan olhou para o homem volumoso. Ele esperava que a AN-ANAVEUD
oferecesse alimentos ricos em calorias que o metabolismo de Danhuser pudesse
absorver. O desempenho da fisiologia oxtornense exigia um suprimento calórico
alto e frequente.

24
6.

Planejamento

A mera existência do transferidor-galáctico impressionou Gi Barr. Até agora,


os vanteneuerenses nunca havia operado em uma nave desse porte. A mera
manutenção de tal unidade exigia recursos consideráveis. A estrela de nêutrons era
capaz de atender a demanda de energia, mas sua proximidade também tinha que se
alimentar da estrutura.
A neurotrônica do traje de Barr foi programada para um alerta de
aproximação, permitindo que ele se concentrasse totalmente nos dados coletados.
Ele sentou-se em um grupo de cinquenta colunas parecidas com uma floresta,
aparentemente caótico à primeira vista. De fato, sua posição e inclinação tinham algo
a ver com os ventos que sopravam através da nave. Elas criavam turbulências que
pareciam agradar aos vanteneuerenses no salão. Consciente ou inconscientemente,
os terroristas se reuniam onde os vórtices atingiam o nível do solo e, eles mudavam
de localização conforme o vento mudava. Não havia ninguém se movendo no
labirinto entre as colunas.
A menos que a análise de Barr estivesse completamente errada, a AN-
ANAVEUD movia-se através dos remanescentes repelidos do sol cujo colapso o
pulsar havia emergido. Isso estava carregado de matéria altamente corrosiva. Além
disso, a nave precisava de uma alta velocidade orbital para suportar a atração
gravitacional da estrela massivamente comprimida. Isso aumentava o impacto das
partículas impactantes. Campos de repulsão eram capazes de compensar muito, mas
em tal ambiente isso exigia uma operação contínua por anos. Cada unidade tinha
que ser reparada uma vez que seus componentes se esgotassem.
De onde vinha o material essencial para essa manutenção?
Até onde Barr sabia, os terroristas eram mais propensos à destruição do que
a roubos, e se os estaleiros do Gondunats fossem regularmente saqueados, isso seria
conhecido. Então, o Plenário dos vanteneuerenses preparava mais surpresas?
Talvez mundos industriais não descobertos? Ou uma extensa rede de comércio que
incluía outras civilizações da galáxia Sevcooris? O Império Dourado tinha mais
inimigos que o público ficava sabendo...
O gaone balançou a cabeça e se concentrou novamente na transmissão do
robô de combate manipulado. Investigações fundamentais não faziam parte de sua
missão, então os serviços de inteligência deveriam cuidar disso. O foco de Barr
estava em Perry Rhodan e seus companheiros.
Os sensores do robô não foram projetados para capturar imagens de alta
qualidade. O que ele captou acusticamente, Yester amplificou e esclareceu o
suficiente para Barr ouvir a conversa. Com certa satisfação, o gaone notou que a
preocupação com sua intrusão não havia diminuído, mas se transformara em uma
insegurança geral.
Isso era bom, porque o medo muitas vezes levava a ações mal consideradas
e, assim, mais cedo ou mais tarde, a erros decisivos. Contudo, seria melhor se ele
conseguisse aumentar a agitação para um pânico e, ao mesmo tempo, dissociar-
se de sua pessoa. Na melhor das hipóteses, os vanteneuerenses temeriam por suas
vidas e buscaria sua própria salvação sem prestar atenção a Rhodan. Sua psicologia

25
apoiava este plano, eles não valorizaram indivíduos e sacrificavam seu próprio
pessoal sem hesitação.
Barr moveu o robô para um convés mais alto. Isso o aproximou da central de
comando da esfera.
Ele usou o sistema elétrico para se comunicar com a máquina. Os robôs
sempre estavam conectados a ele de qualquer maneira, ele só teve que se certificar
que seu espião estivesse esperando um prefixo modificado para suas ordens e
enviasse suas mensagens com uma senha específica. Havia um número incontável
deles, e os vanteneuerenses provavelmente queriam evitar que alguém assumisse o
controle de todos os robôs de combate de uma só vez.
Isso ocultou a atividade de Barr, mas também fez com que ele não ousasse
invadir as outras máquinas. Provavelmente, o inimigo estava considerando seu robô
como uma “falha em combate”, então ninguém ficaria surpreso se ele não
respondesse e ninguém enviasse um sinal de solicitação. As coisas pareciam
diferentes com as unidades ativas.
No que dizia respeito aos dados não salvos, ele fez Yester investigar. A
neurotrônica deveria encontrar um ponto fraco adequado onde pudesse fornecer o
grau apropriado de distração.
Ele encontrou Perry Rhodan perto da central de comando. O terrano saiu de
uma escotilha para o corredor com seus companheiros, onde o robô estava
flutuando. Um desses companheiros era um vanteneuerense, o outro era um
humano de baixa estatura, que mantinha a cabeça estranhamente estendida. Não
havia sinal da mulher com o traje lilás, mas o colosso estava com ele. Seu nome era
Báron Danhuser e ele era desconhecido para Barr. Isso era ruim, incógnitas
diminuíam o controle e aumentavam o risco de fracasso.
Danhuser tinha cerca de dois metros de altura, era careca e de ombros largos,
como não se poderia esperar de um terrano. Talvez ele fosse apenas um homem
excepcionalmente construído, mas provavelmente ele fosse outra coisa. Barr não
podia subestimá-lo.
— Identifiquei um ponto fraco que corresponde ao seu critério de pesquisa
— relatou Yester.
— Então — Barr murmurou, verificando os dados na viseira do capacete. —
Aumente a própria orientação, desorientando o inimigo — Seus olhos piscaram em
números e desenhos esquemáticos. — Isso parece realmente útil...

26
7.

Preocupações

— O que há nessas áreas escondidas? — perguntou Perry Rhodan.


— Não há hangares — garantiu Ea-Eaveud.
Isso era óbvio; dificilmente nenhuma das áreas que apareciam na holografia
cinza estava na fuselagem externa da espaçonave esférica.
— Ainda seria bom se soubéssemos exatamente onde estivemos lutando —
Com o rosto sério, Dean Tunbridge empurrou uma castanha em forma de rim em
sua boca. Ela quebrou com um estalo audível quando ele a mordeu.
Rhodan riu quando o soldado o lembrou de Atlan. Além disso, o arcônida
certamente teria defendido uma abordagem rápida. Eu sinto sua falta, velho amigo,
ele pensou com uma pitada de amargura.
O lóbulo da mão de Ea-Eaveud se contraíram e se esticaram. — Nós
concordamos que os escaleres serão o alvo principal do intruso.
— A busca por um lutador solitário treinado não pode ser completamente
planejada — A expressão de Tunbridge era implacável. — Suas ações podem nos
confrontar com situações que não esperamos. Então, nós temos que agir rápido. As
áreas ocultas representam um fator de risco.
— Eu passarei suas preocupações para o comandante — prometeu Ea-
Eaveud. — Mas, primeiro ele espera que eu reúna a equipe. Ele também
pessoalmente me tornou responsável para que nenhum hangar esteja desprotegido.
O vanteneuerense deixou a pequena sala com uma vestimenta ondulante
através da escotilha redonda, que abriu sibilando e se fechou atrás dele.
No entanto, a sala não estava completamente fechada. Embora estivesse
cercada por todos os lados por paredes, duas razoavelmente retas e uma
semicircular, o teto estava ausente. Apenas vinte metros acima, uma estrutura com
nervuras fechava o salão, que continha várias áreas separadas.
Então, não apenas o vento agora mais frio tinha acesso livre. Os robôs que
eram compostos por discos, também podiam puxar suas trajetórias sobre
ela. Aparentemente, os vanteneuerenses enviaram todas as unidades disponíveis
em busca do gaone. O módulo superior de tal máquina, parada imóvel acima deles
no ar, foi danificado por uma explosão.
Tunbridge adivinhou os pensamentos de Rhodan. — É uma jogada
inteligente ativar tantos sensores quanto possível.
Rhodan assentiu. — Infelizmente nós não sabemos exatamente o que
estamos procurando — Na estação transmissora, eles mal haviam rastreado os
radiadores. O bombardeio e a atividade de campo defensivo estavam ausentes.
— Mesmo que ele use um dispositivo de camuflagem e seu campo energético
intercepte tudo, a carga no chão poderia denunciá-lo — sugeriu Penelope Assid.
A mulher extremamente esbelta estava sentada com Báron Danhuser em
uma mesa curva que conectava várias prateleiras diferentes. A mesa
vanteneuerense não foi projetada para um oxtornense, meia dúzia de pratos e placas
se amontoavam à sua frente. Neles havia vários legumes assados e um assado de
carne azul. O SERUN declarou todos os alimentos inofensivos; uma raiz de cor

27
laranja, em forma de espiral, que certamente teria agradado a Gucky, era até mesmo
particularmente nutritiva. Danhuser comeu com apetite saudável.
— Eu duvido que ele seja capaz de evitar permanentemente as emissões
energéticas — Tunbridge cruzou os braços atrás das costas, enfatizando ainda mais
a postura avançada de sua cabeça, e andou pela pequena sala. — Especialmente se
ele mantiver a função camuflagem ativada. Nós temos o mesmo problema com
nossos trajes de combate. De vez em quando se tem que interromper a energia, caso
contrário, haverá congestionamento.
— Gel refrigerante? — Sugeriu Danhuser, asperamente.
— Ele teria que substituí-lo também, mais cedo ou mais tarde — especulou
Tunbridge.
— Quanto tempo? — perguntou Rhodan.
— Se ele tem um bom estoque, pode ser o suficiente para alguns dias — disse
Tunbridge. — Mas, eu acho que devemos sugerir o aumento dos sensores de bordo
para as emissões energéticas. Isso pode desencadear falsos positivos, mas é uma das
poucas oportunidades que temos.
— De qualquer forma, nós precisamos de fusíveis especiais para as áreas do
hangar — disse Rhodan. — Rastreamento ativo. Emite feixes nos portões que
atacam assim que alguém cruza o campo.
— Isso os vanteneuerenses devem ter em estoque — Satisfeito, Tunbridge
pegou algumas nozes da tigela sobre a mesa e jogou-as uma após a outra em sua
boca depois de retomar sua caminhada pela sala.
Danhuser examinou o robô de combate quebrado, que Rhodan já havia
notado com um olhar sinistro. Talvez isso tivesse intimidado alguém que estivesse
monitorando os sensores óticos da máquina. Ela flutuou para longe.
—Também devemos enviar sondas — sugeriu Tunbridge. — Não podemos
dar a ele uma área para descansar.
—Certo — disse Rhodan. — Obviamente, não há falta de unidades robóticas
móveis.
Danhuser olhou em volta, levantou-se e foi até Rhodan. Ele acenou para
Penelope e Tunbridge para que fosse até eles.
— Você acha que podemos falar de forma confidencial? — perguntou
o oxtornense em uma voz sombria, mas abafada.
— Meu SERUN não está medindo dispositivos de escuta — sussurrou
Rhodan. Todos sabiam que não havia garantias.
— Campo de interferência? — perguntou Tunbridge.
Se os vanteneuerense presumissem tal campo, eles poderiam interpretá-lo
como desconfiança. Mas, isso então seria mútuo. Rhodan assentiu.
Tunbridge ativou a distorção de seus SERUNS.
— Os vanteneuerenses realmente são nossos aliados? — perguntou
Danhuser.
— É difícil dizer — admitiu Rhodan. — Mas, eu espero que eles tenham
informações que nos ajudem a avaliar o que está acontecendo nesta galáxia.
— Como nós decidimos se podemos confiar em seus dados?
— Nós temos que compará-los com o que já sabemos — disse Penelope.
— E com o que observamos — acrescentou Tunbridge.
Danhuser cerrou os dentes.
— Eu compartilho suas preocupações — disse Rhodan. — Os métodos que
descobrimos com os vanteneuerenses são inaceitáveis. Nós não os apoiaremos se

28
eles quiserem sacrificar seres conscientes. Mas, recusar-se a agir não significa
necessariamente que seu propósito seja repreensível. Se quisermos avaliar o
Gondunat adequadamente, também precisamos conhecer a visão de seus inimigos.
— Eu não acho que devamos julgar os vanteneuerenses apressadamente —
Penelope tirou o cabelo do rosto e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. —
Kel-Kellad, o médico que nos tratou não parece um terrorista sem consciência. Ele
ainda se preocupa em evitar o dano de radiação que a poeira radioativa de Porass
pode causar em Loloccun e Ossprath.
— Você deveria manter este contato — Rhodan a encorajou. — Com ele,
podemos ter certeza de que ele não foi selecionado para nós.
— Eu já combinei com ele para me mostrar a nave.
— Bom — Rhodan olhou cada membro da equipe no olho. — Nós
concordamos. Nós ajudaremos os vanteneuerenses a encontrar o gaone. Nós vamos
descobrir o máximo possível. Mas, não confiamos plenamente nos vanteneuerenses.
— Certamente não — garantiu Danhuser.
— O que fazemos quando capturarmos o gaone? — perguntou Tunbridge. —
Se deixarmos a decisão para os vanteneuerenses, eles poderiam escolher a solução
final para eliminar o perigo.
— Se a situação permitir, impediremos isso — disse Rhodan. — Mas, também
é do nosso interesse que o Gondunat não saiba que estamos atualmente cooperando
com seus inimigos.
— Parece que escolhemos um lado — disse Danhuser.
— Nós decidimos questionar o Império Dourado — apontou Rhodan. — Após
ver as relíquias no mundo dos soprassidenses, não há dúvida de que
os thoogondu nos dão uma falsa impressão da história desta galáxia.
— Eu estou relutante em mentir — disse Tunbridge.
— Pode ser que acabemos escolhendo uma posição neutra — disse
Rhodan. — Mas, para isso precisamos de mais tempo e mais esclarecimentos.
Danhuser assentiu bruscamente.

29
8.

Recursos bélicos

O quinto-radiador de Gi Barr oferecia uma ampla gama de possibilidades. Ele


poderia narcotizar um adversário, dar-lhe choques neurais, desintegrá-lo, e usar
raios térmicos ou impulso para lidar com ele impulso para lidar. Para o combate
corpo-a-corpo havia uma baioneta vibratória anexada de alto desempenho.
Contudo, até mesmo esta arma era limitada, ela havia sido projetada para a luta
contra as pessoas. Para dominar uma estrutura maciça, o gaone precisava de algo
com uma força de impacto maior.
Ele encontrou isso em um depósito acima da protuberância equatorial, ao
lado de um hangar, na entrada da qual os vanteneuerenses haviam colocado um
campo de detecção, enquanto ele passava invisível e silenciosamente a dois metros
de distância.
— Eles são e continuarão sendo terroristas — ele sussurrou ao ver o
recipiente na sala livre de gravidade. Os símbolos de advertência laranja-
avermelhados mostravam estruturas destroçadas e a inscrição ao lado indicava o
tipo de explosivo.
Barr esperou ao lado da porta até que o robô de transporte — um trenó com
garra — ancorasse sua caixa metálica em um ponto livre na diagonal acima dele e
saísse da sala novamente. Então, ele se afastou e flutuou ao longo das fileiras de
contêineres.
— Yester, analise os caracteres! Nós precisamos de algo que possa ser
acionado por um fusível ou impulso de rádio e libere um efeito explosivo dirigido —
Calmamente, ele girou a cabeça para que o máximo possível entrasse na área de
cobertura dos sensores do capacete, de modo que a neurotrônica pudesse avaliar os
dados.
Infelizmente, o fato de seu dispositivo de camuflagem tê-lo protegido de ser
descoberto também levou ao sistema automático do depósito, a assumir que
ninguém mais estaria na sala, apagando a iluminação. Todavia, Barr foi capaz de se
orientar: seu capacete avaliava anomalias de campo magnético e criava um perfil do
ambiente, uma paisagem cúbica em cinza-azulado. Mas, nem os campos magnéticos
nem a radiação térmica ajudaram a decifrar os caracteres.
Ele ativou os holofotes. O risco de alguém assistir a um depósito escuro era
insignificante. Por meio de seu antigravitacional, ele criou campos gravitacionais
momentâneos para se mover no ar. Novamente, ele assumiu que tais flutuações sutis
não desencadeassem um alarme, uma vez que a proximidade da estrela de nêutrons
também causava irregularidades.
— Um grande número de substâncias armazenadas aqui correspondem aos
seus parâmetros de pesquisa — relatou a neurotrônica. — Por favor, continue nos
armários.
— Alto impacto com baixa massa explosiva.
Provavelmente, essa era a regra também. Os terroristas como ele, usariam
quantidades que um indivíduo poderia carregar. Ele sorriu. Basicamente, o que ele
estava fazendo era uma típica ação terrorista, tanto em sua escolha de meios quanto
em seu objetivo: espalhar o caos e o medo.

30
Ainda assim, ele era um soldado, não um terrorista. — Dentro desses
parâmetros, os menores efeitos colaterais possíveis, especialmente emissões
radioativas — Sacrifícios necessários tinham que ser feitos, mas causar sofrimento
sem sentido era incivilizado.
— Eu sugiro o Polinitrato Aratona.
— Seria bom se não detonasse com a menor vibração. Eu deveria sobreviver
ao transporte.
— É muito provável que ele esteja engarrafado em recipientes que sirvam a
este propósito — disse a voz sem emoção de Yester.
Barr concordou calmamente com a neurotrônica, mas o pensamento no
Polinitrato de Aratona causou-lhe uma sensação enjoativa. Este composto reagia em
condições moderadas de temperatura e pressão com praticamente qualquer coisa,
especialmente oxigênio, e os processos de conversão liberaram tremendo calor e
energia cinética. Para causar uma explosão, era suficiente liberá-lo em uma
atmosfera padrão. Não se precisava de um detonador no sentido real, só tinha que
abrir o recipiente de isolamento.
Hesitantemente, ele olhou para a marcação que aparecia na tela de seu
capacete em volta de uma caixa de três metros de comprimento. Ele flutuou para
mais perto.
— Tudo bem — ele murmurou, soltando a baioneta vibratória de seu
cinto. — Libere duas bases holográficas!
Yester desacoplou dois dispositivos capazes de produzir ilusões holográficas
e os enviou para o corredor. Eles deixaram o campo de camuflagem. Como eram
pequenos como insetos, ele esperava que eles escapassem dos sensores de
movimento.
Uma descoberta não teria feito grande diferença, porque o que Barr fazia
agora não passaria despercebido. Ele ativou a lâmina vibratória que então começou
a oscilar a vinte bilhões de ciclos por segundo. A arma altamente técnica não se
caracterizava apenas pelo fato de seu material resistir a essa tensão e ao
consequente aquecimento instantâneo sem deformação. Particularmente
importante, era o estabilizador na haste de proteção, que também vibrava com vinte
giga-hertz, mas exatamente ao contrário, de modo que neutralizava o movimento
em direção ao cabo.
Como esperado, a caixa não tinha nada para se opor a essa violência. Barr
cortou as dobradiças, o metal fluiu dos dois lados, formando contas e solidificando
como cera. Algumas gotas se dissolviam e flutuavam como projéteis sem peso. Barr
desativou a baioneta e tirou a tampa, que também voou para longe.
O mais tardar, isso ativou a automação da sala. A iluminação se acendeu.
Yester apagou as luzes do traje.
— Ligar projeções! — Barr ordenou.
As duas bases holográficas criaram imagens de thoogondu com armas
prontas para disparar. Eles foram projetados para uso em um ambiente normal,
então eles pareciam que estivessem em recipientes, mas em um vislumbre, isso era
acreditável, supondo que eles usassem botas magnéticas.
Barr examinou os cilindros do comprimento de um antebraço, guardados na
caixa. Eles receberam etiquetas brilhantes de advertência, uma rede de correias os
protegia de vibrações. Ele também descobriu campos sensores, que ele
provavelmente poderia usar para definir uma contagem regressiva ao abrir o selo.

31
Ele ativou a lâmina vibratória novamente, cortou quatro recipientes e
prendeu-os ao cinto. Ele estava ocupado com o quinto quando a escotilha se abriu e
um robô de três camadas flutuou com campos de irradiação cintilantes.
— Nós estamos sendo alvejados — relatou Yester. — Raios paralisadores.
— Tolice.
A neurotrônica ativou o campo defensivo imediatamente.
Barr se afastou e ativou o quinto-radiador no modo térmico.
O campo defensivo do robô brilhou intensamente. Em segundos, ele mudou
de laranja para amarelo e para branco.
A máquina mudou do bombardeio com raios paralisantes em larga escala
para raios desintegradores direcionados. Eles foram direcionados nas duas
projeções, que foram atravessados sem resistência e danificaram alguns contêineres
na extensão. Afinal, um protocolo de backup parecia estar ativo, o que impediu o
feito de atingir o conteúdo e causar uma detonação.
Barr baixou a arma.
Ao pensar no Polinitrato de Aratona, o suor emergiu. Muitos outros
explosivos não eram detonados com um bombardeio desintegrador, eles
desmaterializavam parte da massa. Porém, neste caso em particular, o rompimento
dos contêineres já provocaria uma catástrofe.
— Afaste as bases holográficas dos suprimentos! — ele ordenou.
— Isso reduziria a credibilidade — objetou Yester. — O perfil de
movimentação estaria sem ponto de contato no ar...
— Execute a ordem! — Barr exigiu.
Na verdade, parecia engraçado como as pernas dos thoogondu se moviam
como se estivessem andando em terra firme. Esperava-se que os robôs não se
preocupassem com isso.
Mas, os quatro vanteneuerenses que agora apareceram atrás dele, já se
preocupavam.
Amaldiçoando, Barr acelerou e atravessou a abertura da escotilha. Seu
campo defensivo entrou em contato com os terroristas, provocando efeitos
luminosos ofuscantes e um grito estridente, mas ele chegou ao corredor, e isso
contava.
Havia gravidade, ele ficou de pé e correu.
— Nós estamos sendo alvejados — relatou Yester. — O desempenho do
campo defensivo caiu para sessenta por cento.
A arquitetura sinuosa era a vantagem de Barr. Ele seguiu uma curva, de modo
que a parede interrompeu a linha de fogo por enquanto. Mas, é claro que não era
uma solução permanente.
Na próxima curva, ele enviou uma base holográfica em um corredor,
enquanto ele mesmo continuou na outra direção. Ele chegou em um amplo salão
com uma grande frente transplast, na frente do qual uma multidão se reunia. Lá fora,
a névoa de matéria iluminada era menos densa do que Barr lembrava. Mas, ele
simplesmente não deu uma olhada rápida.
Ele subiu em uma esteira quando a notícia da batalha no armazém chegou a
reunião e levou a gritos animados. E se alguns disparos na multidão causassem caos
adicional?
Mas, isso também teria revelado que Barr estava aqui e que a base
holográfica era apenas uma distração. Ele desistiu e desapareceu em um corredor
que levava a protuberância equatorial.

32
9.

Flores de Sombras

— Ele invadiu um armazém e roubou explosivos de alta detonação — disse


Perry Rhodan.
— Eu devo ir até você?— Penelope Assid estava em um salão de observação
acima do anel da AN-ANAVEUD.
Cerca de cem vanteneuerenses se reuniam neste lugar, e Kel-Kellad também
aconselhou seus pacientes soprassidenses a assistir ao espetáculo. No entanto, o
médico fez um segredo do que havia para se maravilhar. No momento, apenas
estrelas eram visíveis atrás do véu da matéria leitosa repelida.
— No momento, é melhor você ficar onde está, Pen — aconselhou Rhodan. —
Eu só quero que você seja informada.
— Tudo bem. Obrigado.
Rhodan finalizou a ligação.
Talvez a sensação anunciada não tivesse nada a ver com a perspectiva. Os
vanteneuerenses não se aglomeravam ao redor da janela, mas se espalhavam pelo
salão. Alguns formavam grupos, mas muitos ficaram sozinhos. Porém, Penelope não
descobriu nenhum ponto para o qual a atenção geral teria sido direcionada.
Kel-Kellad veio com Ossprath até ela.
O jovem soprassidense já estava se movendo com segurança em suas quatro
pernas. O dispositivo médico que o médico havia colocado sobre o ferimento
amassava o manto branco. O envoltório parecia adequado aos seus anfitriões para a
forma do corpo com as oito extremidades e a dobra entre a parte superior do corpo
e o abdômen. Além disso, o soprassidense usa máscara respiratória para enriquecer
a atmosfera pobre em oxigênio a bordo, comparado ao seu planeta natal.
— Poderia ser especialmente bom se vocês não ficassem longe daquele lugar.
— Kel-Kellad apontou para a interseção de três linhas prateadas correndo pelo chão
ondulante.
Nesta dica, Penelope notou que todos os vanteneuerenses estavam em tal
encruzilhada. — O que são esses fios? — Se ela esperava um desempenho tátil, por
exemplo, através do fluxo de corrente luminosa, Penelope só poderia apreciá-lo
indiretamente. Seu SERUN a protegia.
— Apenas padrões — afirmou Kel-Kellad.
Ossprath olhou para ela de seus dois grandes olhos duplos. — Vamos nos
reunir!
Ela riu. — Tudo bem. O que devemos fazer?
— Seria muito agradável se você se posicionar lá e improvisar quando isso
começar.
— Quando começa? — Penelope e Ossprath assumiram a posição desejada.
Loloccun levantou-se gentilmente e acenou para eles. Ele era menor do que
Ossprath e, devido a danos em seu genoma, ele tinha apenas um olho duplo. Onde
deveria estar o outro, havia carapaça de quitina completamente lisa. Em Porass ele
havia escondido essa mancha sob um chapéu volumoso, agora uma touca prateada
cumpria o mesmo propósito. Ela se posicionava na diagonal na cabeça redonda.
— Está começando! — Kel-Kellad caminhou para outro cruzamento.

33
Ossprath tamborilou com seus quatro pés e olhou para a parede transplast.
— Você sabe do que se trata? — perguntou Penelope.
— Trata-se da estrela de nêutrons — respondeu o soprassidense. — Oto-
Otonnu é um pulsar relativamente jovem. Ele só precisa de um terço de segundo
para uma rotação.
Fenômenos cósmicos o fascinavam. Ele sonhava em se tornar um
“verdadeiro astronauta”, o que significava que queria se aventurar profundamente
no universo e explorar suas maravilhas. Isto, sem dúvida, incluíam pulsares.
— Suponha que a estrela tenha tido um diâmetro de dois milhões de
quilômetros — disse Ossprath —, e agora são apenas cem milésimos!
Sorrindo, Penelope assentiu. Quando você cresceu com espaçonave e
colônias interestelares, rapidamente perde sua nova perspectiva sobre os incríveis
eventos da natureza. No momento em que surge uma estrela de nêutrons, a pressão
energética de um sol perde a luta contra a atração gravitacional. Se esse corpo
celeste já havia queimado bilhões de anos, ele desmorona no menor espaço. As
forças titânicas agem de tal forma que até mesmo as camadas de elétrons são
puxadas nos núcleos atômicos. Cargas positivas e negativas neutralizaram-se
mutuamente.
— Olhe! — Ossprath cutucou Penelope. — A AN-ANAVEUD deixa a nuvem.
Nem toda a matéria do sol foi rasgada na estrela de neutrões emergente. A
energia irradiada pressionava contra a cobertura externa e a explodia. O resultado
era a nuvem circundante, na qual o transferidor-galáctico permaneceu a maior parte
do tempo. Agora, porém, sua órbita o levou para dentro desse manto e, ao mesmo
tempo, a espaçonave esférica inclinava-se de modo que a estrela de nêutrons
apareceu.
Ele era uma bola reluzente e cintilante que Penelope poderia ter coberto com
o polegar. Ainda assim, ela estava ciente do que um monstro furioso que estava lá
fora. Ela protegeu os olhos com a mão porque a luz a cegou.
— Não tenha medo! — disse Ossprath. — Os vanteneuerenses filtram a
radiação forte.
— Olhe para cima! — Loloccun apontou os quatro braços para o teto.
Apareceu um espelho holográfico. A representação reduzida permitia
capturar todo o salão de relance. Penelope viu a si mesma e Ossprath e os
vanteneuerenses. Acima de tudo, ela viu o jogo das sombras. A luz das estrelas
iluminava o chão, mas a superfície ondulada, e ainda mais claramente os corpos
posicionados no salão, criando áreas escuras compridas. Eles formavam espirais
interligadas que se assemelhavam a um buquê de flores com alguma
fantasia. Parecia mesmo que um vento que varresse a espaçonave e que também
movesse as pétalas, o que se devia às vestes ondulantes dos vanteneuerenses.
— Isso é lindo — sussurrou Ossprath.
— Nós parecemos uma espete com flores — Penelope riu. Kel-Kellad
posicionou-a no centro de um grupo de espirais concêntricas. — Hipergaláctico.
O soprassidense acenou com os braços. Sua sombra se intensificou.
Penelope a instruiu seu antigravitacional para reduzir seu peso e, assim, a
tração. — Eu te disse que eu gosto de dançar?
Ela esticou os braços, torceu a parte superior do corpo para obter ímpeto, e
girou em torno de seu próprio eixo. Ela puxou um joelho para que ficasse apenas
girando ao redor, e puxou os cotovelos. Isto reduziu seu raio, mas o impulso
rotatório se manteve. Consequentemente, tornou-se mais rápido, exatamente como

34
tinha acontecido ao pulsar quando ele tinha perdido a maior parte do seu volume.
Era por isso que a estrela agora realizava uma revolução em 0,3 segundos.
Penelope diminuiu a velocidade, conseguiu mais impulso e deu a volta
novamente. Seus longos cabelos esvoaçavam ao redor dela como uma bandeira roxa.
Ossprath tentou imitá-la, mas seu físico tornou difícil para ele ficar em uma
perna.
Ela se perguntou se poderia ajudá-lo. Algo além da parede transplast,
chamou sua atenção.
Eles eram muito claros para serem nuvens de gás. E eles se tornaram mais
numerosos. Aparentemente eles se moviam com aproximadamente a mesma órbita
e velocidade que a AN-ANAVEUD, porque se moviam apenas lentamente.
— SERUN! Feche o capacete.
Penelope ativou o filtro de luminosidade e aumentou o contraste.
Ela estabeleceu uma conexão de rádio com Rhodan. — Perry! Pedaços de
escombros estão flutuando por aqui.
— Confirmado. Houve uma explosão no propulsor hiperboral.
— O gaone? — perguntou ela.
— Muito provavelmente, mesmo que a análise de dados tenha apenas
começado.
— Kel-Kellad está saindo — Ossprath apontou para o médico, que estava
saltando para uma esteira transportadora.
Certamente ele foi chamado para a cena do crime para cuidar dos
feridos. Penelope decidiu ajudá-lo e voou atrás dele.

35
10.

Resgate

Explosões trovejaram através do corpo atormentado da espaçonave. Não


houve mais bombas, mas havia consequências do fato de que uma seção do
propulsor havia sido brutalmente destruído.
Ao redor de Penelope Assid, fraturas reluziam no metal, substâncias
brilhantes verdes e amarelas saíam através de fissuras em agregados complexos,
lampejos faiscavam, nesgas de fumaça saíam de orifícios irregulares. Com o SERUN
fechado e o campo defensivo ativado ela voou através do inferno em busca de
feridos.
À esquerda havia uma abertura na fuselagem. A uma altura de cento e
cinquenta metros, a protuberância equatorial anelar estava rompida. Como ossos
quebrados, elementos técnicos destacavam-se no vazio.
Os vanteneuerenses lutaram para conter o dano com o auxílio de campos de
amortecimento. Penelope não sabia o quão bem-sucedidos eles eram deter o dano
térmico dentro da estrutura da nave, mas os escaleres que haviam sido ejetados
fizeram um bom progresso na vedação da abertura. Em sua chegada, a matéria
estelar da nebulosa solar havia penetrado e lixado os agregados como uma
tempestade de areia. Enquanto isso, um campo defensivo amarelado deteve as
partículas. Como partículas colidiam com o campo permanentemente, parecia uma
parede de faíscas.
Contudo, o que os escaleres foram incapazes de fazer, foi restaurar a
proteção cuidadosamente ajustada do propulsor hiperboral permanentemente
ativado contra a radiação pentadimensional do pulsar. Durante dois séculos, a AN-
ANAVEUD havia circulado a estrela de nêutrons e, durante esse tempo, os
engenheiros haviam descoberto o ajuste ideal para conter as frentes
hiperenergéticas que interferiam tanto quanto possível. Agora, grande parte dessa
proteção flutuava no vazio e, como resultado, a propulsão emitia uma interferência
após a outra.
Como se não fosse difícil encontrar sinais de vida neste ambiente energizado,
Penelope reclamou em pensamento.
Mais uma vez ela teve a impressão de que as distâncias estavam se
expandindo — o que os sensores do SERUNS também confirmaram. O anúncio não
era confiável durante uma onda de choque. Um agregado composto de muitos tubos,
e com dez metros de acordo com medições, afastava-se para quinhentos
metros. Mas isso não era tudo, as estruturas já curvas também se contorciam, como
se Penelope estivesse na dobra de um tecido que alguém estivesse torcendo.
Tudo o que a central de comando conseguiu fazer para mitigar esses efeitos
foi desviar o vazamento da estrela de nêutrons e transformá-la na nebulosa
ionizada. Só se podia esperar que os gaone não explodisse outro buraco na
fuselagem do lado oposto.
A frente de interferência diminuiu, as dimensões da sala voltaram à sua
extensão original. Penelope continuou sua busca.

36
Um sinal piscando chamou sua atenção. Vinha de uma cápsula elíptica
encravada entre detritos caídos. Por trás da janela transplast redonda acenava um
vanteneuerense que segurava uma lâmpada.
— Kel-Kellad! — ela transmitiu. — Eu tenho mais um!
— Eu estou indo! — confirmou o médico.
Segundos depois, os sensores do traje de Penelope o captaram Durante a
operação de resgate, ele usava um macacão espacial com função
antigravitacional. Ele tinha uma silhueta angulosa. Penelope se viu procurando uma
cabeça em seus ombros novamente. Provavelmente, a semelhança dada ao físico
humano evocava a sensação de que algo estivesse faltando.
Ela voou com Kel-Kellad para a cápsula, cujo passageiro fazia uma dança
selvagem, como se temesse que pudessem se afastar dele. Os destroços em queda
não só deformaram o veículo, como também abriram seu casco. Em vários lugares a
atmosfera sibilava ao escapar. É claro que o oxigênio ausente poderia não ser o
problema mais urgente, mas, certamente a radiação que penetrava do propulsor.
Ao contrário da maioria daqueles que já haviam se recuperado, o
vanteneuerense da cápsula usava apenas um manto esvoaçante, e não roupas
protetoras. Sua pele realmente vermelha ficou azul em alguns lugares.
— Nós temos que agir rapidamente! — gritou Kel-Kellad.
—Eu posso levá-lo para debaixo do meu campo defensivo — Penelope
sugeriu. — Se primeiro, nós o retirarmos, isso deve ser suficiente para protegê-lo de
mais radiação.
— Eu estou mantendo o meu respirador pronto — ele soltou um cilindro de
seu cinto que terminava em um soquete que lembrava o órgão respiratório oval de
sua espécie.
O campo de vedação mantido pelo escaler evitou que a atmosfera escapasse,
mas nenhum novo foi introduzido para impedir que os incêndios se
expandissem. Como resultado, a pressão na seção do motor era apenas um décimo
de um Bar.
— Segure-se em algum lugar! — Penelope aconselhou. Ela enfiou a mão em
uma fresta e puxou a protuberância da escotilha, que também continha a janela de
observação. Os impulsionadores musculares ajudaram, mas ela ainda não conseguiu
rasgar o selo.
O vanteneuerense no interior entendeu. Ele não parecia mais gritar, mas
enchia os pulmões com respirações profundas. Então, ele pressionou um campo
sensor.
A escotilha se abriu, o resto da atmosfera escapou e também empurrou o
passageiro.
Kel-Kellad estava imediatamente à mão com o seu respirador. Penelope
abraçou-os e colocou o campo defensivo em volta do grupo.
Enquanto o médico realizava exames iniciais e injeções, Penelope os afastou
da área do desastre. Eles chegaram a escotilha, que os vanteneuerenses haviam
estabelecido em uma eclusa de emergência. Por outro lado, a luz uniforme e azul, o
design suave e a limpeza estéril tornaram o caos surreal. Apenas os membros da
tripulação agitados se encaixavam na situação explosiva.
— Nós precisamos chegar à estação médica agora mesmo! — Kel-Kellad já
estava puxando o resgatado para uma esteira rolante, onde ele desmoronou
inconsciente.
— Eu vou voltar — anunciou Penelope no rádio.

37
— Isso não faria sentido — disse Kel-Kellad. — Eu acabei de ser informado que não
é mais possível prover os campos de amortecimento. O perigo de uma detonação em
grande escala com total falha no propulsor é alto demais.
Penelope sabia o que isso significava. A operação de resgate acabou. Aqueles que
não foram encontrados até agora, estariam morto, ou levaria menos de um minuto,
quando os campos drenassem tudo para extinguir a alimentação do incêndio. Além
disso, eles também aumentariam a pressão cinética, que o traje protetor contra
radiação de um engenheiro não tinha nada a opor.
Ela voou atrás de Kel-Kellad e seu paciente e pousou com eles na esteira. —
Está tão ruim assim? — ela perguntou.
— Meu pedido de adiamento foi negado — O médico se agachou ao lado do
inconsciente e se inclinou, examinando as áreas descoloridas de sua pele com um
sensor portátil. — Eu suponho que eles não querem arriscar qualquer incerteza
quando se trata do último transferidor-galáctico.
A esteira rapidamente os transportou pela paisagem montanhosa dos salões
e corredores. Penelope sentou-se, ela não queria ficar tão acima de seu interlocutor.
— Uma vez houve três transferidores-galácticos, se eu entendi
corretamente?
— A NUG-NUGENNAR não conseguiu escapar dos thoogondu — respondeu
Kel-Kellad. — Os invasores a destruíram. A PED-PEDNUR não é vista há mais de dois
séculos.
O tradutor do SERUN de Penelope converteu imediatamente o tempo
vanteneuerense em anos normais. — Houve um aumento na hiperimpedância cerca
de dois séculos atrás — Penelope já havia aprendido sobre essa mudança de uma
constante natural fundamental como uma aluna da escola. Praticamente da noite
para o dia, os propulsores superluminais da época tornaram-se inutilizáveis,
levando ao renascimento da tecnologia de voo linear.
— Nós suspeitamos que a PED-PEDNUR tenha se dissipado no hiperespaço entre as
galáxias. O propulsor hiperboral da AN-ANAVEUD foi interrompido ao mesmo
tempo, mas felizmente este nave estava em órbita em torno de Oto-Otonnu. Na
verdade, para usar a sombra de localização, mas felizmente este nave estava em
órbita ao redor de Oto-Otonnu. Na verdade, usando a sombra de localização, mas
agora os impulsos de compensação da estrela salvaram o transferidor-galáctico.
Como se em resposta a essa informação, outra frente de interferência dobrou as
dimensões espaciais. Ela era a mais forte até agora, Penelope ficou tão tonta que o
SERUN a injetou com uma medicação para evitar que ela vomitasse.
— Isso acabou com o resgate — prosseguiu Kel-Kellad.
— Que operação de resgate? — Penelope perguntou.
— Antes do desaparecimento da PED-PEDNUR e do fracasso da AN-
ANAVEUD, os transferidores-galácticos serviram para evacuar o máximo possível
do domínio do Império Dourado. Nós estabelecemos um refúgio em uma galáxia a
alguns milhões de anos-luz de distância de Theuershavd.
Outra frente de interferência interrompeu as observações de Kel-Kellad. O
fato de ser um pouco mais fraca do que a anterior, Penelope pôde se acalmar um
pouco. Ela sabia que as próximas ações do gaone determinariam o destino da nave.

38
11.

Contato

— Nós temos uma localização ótica — disse Ea-Eaveud a caminho do hangar.


— Sério? — exclamou Dean Tunbridge.
Várias vezes os campos sensores dispararam alarmes, na corrida apressada
após a explosão muitos vanteneuerenses não se autenticaram antes de
atravessarem a escotilha. Contudo, o sinal que Rhodan, Danhuser, Tunbridge, Ea-
Eaveud e seu esquadrão de cinco vanteneuerenses armados estavam rastreando,
não foi registrado oticamente. Isso dizia a respeito de um dispositivo de camuflagem
ativado.
— Um robô de combate nos enviou isso — Ea-Eaveud transferiu as imagens
para o SERUN deles.
A resolução era ruim, o espectro de cores mudava, as máquinas eram
orientadas de maneira diferente das criaturas biológicas. Além disso, a percepção de
que o povo vanteneuerense estava acostumado com seus olhos compostos diferia
da do humano. No entanto, Rhodan reconheceu uma figura humanóide em
armadura branca reluzente. Ela apareceu do nada na frente de um escaler em forma
de disco, correndo entre as pernas de aterrissagem e desapareceu novamente, como
se estivesse se dissolvendo no ar.
— Isso parece um mau funcionamento no campo de camuflagem — sugeriu
Tunbridge. — É possível que seu traje de combate tenha apanhado um pouco da
explosão.
— Este polinitrato de aratona é muito ruim — resmungou Báron Danhuser.
— Diga aos robôs de combate para se retirarem — aconselhou Rhodan. —
Assim que o gaone perceber que foi descoberto, ele fugirá.
— Mas, nós precisamos matá-lo o mais rápido possível — assinalou Ea-
Eaveud. — Outra bomba poderia significar o fim da AN-ANAVEUD.
— Ele não tem motivos para explodir o hangar — disse Rhodan.
— Isso aumentaria o caos — contra-argumentou Ea-Eaveud.
— Ele ganha pouco com isso. É mais provável que ele queira sequestrar um
escaler. Existem unidades com propulsão linear neste hangar?
Ea-Eaveud levou alguns instantes para buscar os dados. — Três das sete
espaçonaves estão equipados com isso. Outra tentou ir para este hangar, mas nós a
redirecionamos. Nenhum barco deve entrar ou sair.
— Especialmente não fora — concordou Rhodan. — E os robôs?
— Eu ordenei que eles só observassem por enquanto.
— Bom — Se possível, Rhodan queria o gaone com vida. Por outro lado, ele
sabia que eles tinham que impedi-lo de causar outra explosão a qualquer custo. Dez
mil vidas estavam em jogo na AN-ANEVEUD.
Eles chegaram ao hangar. Ea-Eaveud autenticou o grupo, eles entraram.
Os escaleres estavam estacionados em cavidades que formavam o solo
ondulado. Por trás de um campo repulsor transparente, a névoa brilhava leitosa,
mas principalmente o brilho descia dos elementos azulados no teto.
Entre os barcos, flutuavam meia dúzia de robôs discoides de diferentes
tamanhos. O maior deles era um disco de trinta metros de diâmetro; o menor era

39
uma esfera na qual Danhuser, Tunbridge e Rhodan dificilmente conseguiriam
encontrar espaço ao mesmo tempo, dado que a tecnologia também exigia seu
espaço.
— Lá está ele! — gritou Tunbridge. Eles tinham fechado seus capacetes
fechados e se comunicavam pelo rádio.
Rhodan olhou na direção que o radiador de Tunbridge apontava. Só agora ele
reconheceu o gaone enquanto subia a rampa de um disco, antes de se tornar
invisível novamente.
— Atrás dele! — Rhodan voou.
— Nós poderíamos fechar a escotilha externa — sugeriu Ea-Eaveud.
— Negativo! — disse Rhodan. — Se chegarmos a bordo e o colocarmos no
espaço, minimizamos o perigo para a AN-ANAVEUD. Mesmo se ele fosse detonar uma
bomba lá fora, ele acrescentou em sua mente.
Isso pareceu convencer Ea-Eaveud. Ao seu lado, o vanteneuerense voou para
o barco.
À primeira vista, a arquitetura foi projetada de maneira mais direta do que
no transferidor-galáctico. Com uma espaçonave menor, era preciso cortar as
correntes de vento que eram tão agradáveis para esse povo.
Dois vanteneuerenses, que usavam macacões espaciais simples, controlavam
o carregamento do espaço de carga com material que poderia ser usado para selar
a fuselagem da espaçonave. Não havia nenhum vestígio do gaone.
— Saiam daqui! — Rhodan gritou para os dois tripulantes. Em um tiroteio
eles estariam mal protegidos.
— Não seria tolice seguir a recomendação do terrano — disse Ea-Eaveud. Seu
esquadrão usava correntes entrelaçadas de várias camadas, que tinham geradores
de campo defensivos.
Antes de chegarem à saída, uma explosão sacudiu o escaler. No espaço
confinado, ela foi ensurdecedora. O trovão rompeu-se em gritos metálicos, a
espaçonave se inclinou para o lado e caiu no chão. Fumaça negra veio de trás dos
consoles.
— Uma armadilha! — reconheceu Tunbridge.
— Todo mundo fora! — ordenou Ea-Eaveud. — Agora!
A rampa também estava envolta em fumaça, mas desapareceu quando um
raio desintegrador dissolveu as ligações moleculares. A luminosidade verde
também envolveu um vanteneuerense da equipe de Ea-Eaveud. O campo defensivo
reluziu, mas aparentemente, a arma possuía muita energia. Em um segundo, o
campo entrou em colapso, o braço da vítima desapareceu apesar da malha protetora
da corrente.
Imediatamente, Rhodan ativou o antigravitacional e subiu ao teto do salão
para sair do campo de disparo.
Outro disparo de desintegrador reluziu.
O atirador estava obviamente fora do escaler, e a explosão provavelmente
ocorreu no fundo da fuselagem, em uma das pernas de aterrissagem. O gaone devia
tê-los enganado com uma de suas projeções holográficas para fazê-los acreditar que
ele subia a bordo. Agora, ele usava sua vantagem para atirar nos fugitivos na área
confinada da saída.
Três vanteneuerenses caíram.

40
Rhodan cobriu a área ampla que poderia ser usada como a localização do
atirador com um amplo raio térmico. O chão começou a borbulhar, mas em um ponto
um campo defensivo reluziu.
O gaone havia escolhido sua posição com sabedoria. Ele recuou sob um
grande disco para que Rhodan não pudesse mais alcançá-lo.
Tunbridge e Danhuser aproveitaram a oportunidade para evacuar o resto da
tripulação e levar os feridos para fora da zona de perigo.
— O que você recomenda? — Ea-Eaveud transmitiu. — Os robôs de combate
ainda devem ficar contidos?
Do outro lado da espaçonave disco, uma daquelas máquinas estava reluzindo
no disparo do desintegrador.
Realmente, o gaone era algo como um exército de um homem
só! Aparentemente, ele tinha excelente equipamento. Tal oponente poderia vencer
o combate se eles não usassem todas as vantagens. De fato, era surpreendente que
ele não tivesse aberto fogo em Rhodan; afinal, ele não tinha cobertura ali no
ar. Claro, havia mais alvos na rampa..., mas Rhodan sentiu que o gaone estava
poupando-o.
Talvez suas ordens fosse para levar Rhodan de volta vivo?
Um raio térmico reluzente pareceu desmentir essa teoria. Imediatamente, o
SERUN fez uma manobra evasiva.
Contudo, o anúncio revelou que o bombardeio foi surpreendentemente com
pouca energia. Em comparação com os raios desintegradores disparados nos
vanteneuerenses, ele havia sido uma espécie de carícia. O gaone não poderia esperar
incomodar Rhodan com isso.
Ele só iria querer atraí-lo para sua posição?
Eu posso fazer-lhe o favor. — Guie os robôs de combate para longe! — pediu
Rhodan. — Os escaleres usaram campos de contenção para conter o dano da
explosão, não foi?
— Entre outras coisas, sim — Ea-Eaveud confirmou.
— A espaçonave esférica com a protuberância anelar dupla deve preparar o
seu campo de contenção.
— O que você está fazendo?
— Não há tempo para uma explicação. Ele deve atingir o recipiente
esverdeado.
Rhodan voou perto do chão perto de onde o ataque veio. Ele se assegurou
que nenhum vanteneuerense estivesse no campo de fogo, e novamente usou o raio
térmico em ampla difusão.
O campo defensivo do gaone flamejou. Desta vez ele devolveu o fogo com um
jato muito mais energético, ele se sentiu mais seguro na curta distância.
Imediatamente, o campo defensivo de Rhodan perdeu quarenta por cento de
sua potência.
— Ele é muito bom — sussurrou Rhodan, parando no contêiner com alta
aceleração.
Quando ele ignorou, outro raio atingiu-o nas costas. Seu campo defensivo
caiu para trinta por cento. Era possível que o próximo disparo tivesse penetrado.
Atrás do contêiner, ele desceu abruptamente e se pressionou contra o metal
esverdeado. Ele ligou os sensores acústicos.
Diagonalmente acima dele, ele ouviu quando o gaone pousou no recipiente.

41
— Campo de contenção – agora! — ele exclamou, se afastando ao mesmo
tempo.
Dedos luminosos lilases interligaram os emissores da espaçonave esférica à
superfície do container. O campo defensivo do gaone pulsou em amarelo. Ele havia
desistido de sua invisibilidade. O capacete com a viseira abaulada encobria
completamente a cabeça. Sua arma era um rifle que terminava em várias canos, que
ele aparentemente podiam girar. Entre eles havia uma baioneta quase
monstruosamente grande.
— Desista! — gritou Rhodan, atirando no campo defensivo individual.
Ele flamejou.
A armadura branca provavelmente fortalecia o corpo, ou o campo de
contenção estava mal ajustado. O gaone conseguiu alinhar sua arma com a
espaçonave esférica. Um raio desintegrador verde atingiu o emissor.
Os dedos luminosos e roxos se apagaram.
O bombardeio térmico atingiu suas costas quando ele se virou para Rhodan.
— Você não quer aproveitar a diversão sem mim, Perry! — Tunbridge
telefonou.
— Qualquer ajuda é bem-vinda para mim! — O campo defensivo de Rhodan
reconstruiu-se, mas o desempenho ainda estava abaixo de cinquenta por cento.
As dimensões espaciais se retorceram na força de uma frente de interferência
hiperenergética. Apesar da estabilização mental e do ativador celular, Rhodan
perdeu a orientação por alguns segundos.
Quando sua percepção clareou, o gaone havia desaparecido.

42
12.

Presente

A frente de interferência hiperenergética passou.


Rhodan era bom, contudo não se deveria esperar mais nada de um soldado
com vários milhares de anos de experiência em combate. Ele quase capturou Gi Barr
com o campo de contenção. Apenas a modulação simples do raio permitiu Yester
neutralizá-lo por meio de um campo de amortecimento, até o momento em que Barr
conseguira atirar no emissor. Ele não podia arriscar que o inimigo erradicasse esse
ponto fraco e o capturasse com o próximo campo de contenção.
— Checagem do sistema!— Barr pediu enquanto ganhava distância no modo
furtivo.
Ao redor dele, o metal estalava, arrefecendo após os impactos dos radiadores
térmicos. Onde Rhodan tinha alvejado o chão estendia-se uma superfície bizarra de
plástico espumado. Os raios desintegradores de Gi Barr, por outro lado, haviam
perfurado buracos em escaleres, revelando circuitos que lampejavam em faíscas.
— Potência do campo em setenta e cinco por cento — relatou a
neurotrônica. — Células de energia a noventa por cento.
Lá ele reabasteceu seus suprimentos da armadura e armas. O Polinitrato de
Aratona eliminou todas as indicações disso. E ninguém suspeitaria que agora ele
estava carregando uma sonda de infiltração. Ela deveria ajudá-lo a entrar no canal
de comando.
— Sensor de energia vital falhou — Yester continuou. — Sensor térmico
falhou. O sensor do campo magnético falhou. Pequenos danos nos atuadores do
traje.
— Espere aí! — Barr chamou. — De onde vieram esses danos?
Ele voou baixo sobre o chão ondulado e evitou as áreas com fumaça grossa
para não atrair a atenção pelas turbulências.
— A variação de frequência para afastar o campo de contenção criou fendas
estruturais no campo defensivo — disse a neurotrônicas impassivelmente. — Parte
do tiro térmico penetrou e atingiu o capacete.
Os punhos de Barr se cerraram na arma.
Essas falhas eram ruins, podiam interferir em sua orientação no momento
crucial, como quando ele precisasse operar novamente no escuro. Ele não
acreditava mais que ele colocaria Rhodan em seu poder no hangar. Ainda havia
bastante agitação sobre o combate, principalmente por causa da explosão do
escaler, mas, se acontecesse, seus oponentes poderiam limpar o hangar, selá-lo e, em
caso de dúvida, até mesmo destruí-lo de maneira controlada. Até então, ele teve que
escapar dele.
Já não era possível colocar o pequeno veículo superluminal em sua
posse. Isso só teria sucesso com reféns adequados e, mesmo assim, um retorno
estaria fora de questão. Então, ele tinha que implementar seu plano alternativo.
Embora...
Seus olhos caíram em um grupo de vanteneuerenses feridos. De qualquer
forma, mesmo com os terroristas, ele não podia imaginar que eles sobreviveriam se
um desintegrador dissolvesse metade de sua parte superior do corpo.

43
Interessante para Barr era o homem nervoso que cuidava dos feridos.
Embora o capacete do traje estivesse fechado, a figura não deixava dúvidas de que
era Báron Danhuser.
Ele levara os feridos para uma depressão longe do combate. Isso também
significava que os combatentes estavam longe o suficiente, do outro lado do hangar,
guardando a escotilha ou se reunindo em volta de Rhodan.
— Que presente generoso — Barr murmurou e disparou.

44
13.

Longa luta

— O que você quer dizer com: Báron despareceu? — Penelope Assid tentou
falar suavemente.
Ela estava na estação médica em que Kel-Kellad e seus assistentes tratavam
duas dezenas de feridos na explosão. Os dois soprassidenses também ajudavam. Os
aracno-humanoides com máscaras respiratórias eram uma visão encorajadora para
os pacientes?
Sobre alguns leitos estendiam-se campos azuis de isolamento. Quatro
vanteneuerenses estavam em coma artificial. A maioria sofreu queimaduras,
algumas contusões, fraturas e cortes devido ao efeito cinético da detonação ou
detritos voadores.
— Não pudemos encontrá-lo — disse Rhodan. — Os vanteneuerenses viram-
no cair atrás de uma ondulação no chão. Desde então, ele desapareceu sem deixar
vestígios.
Para Penelope parecia que havia algo em seu pescoço. Ela limpou a
garganta. — Você acha que o gaone o desintegrou?
— Infelizmente, isso não pode ser descartado — A voz de Rhodan também
tornou-se grave na ligação de rádio. — Mas, eu não vejo nenhuma razão pela qual
ele deveria ter feito isso completamente. Ele é um soldado e ...
— Ele é um terrorista! — exclamou Penelope. No mesmo momento, ocorreu-
lhe que a mesma coisa foi atribuída aos vanteneuerenses.
— Se seu objetivo era desabilitar Báron, ele o teria deixado morto após um
golpe fatal.
Penelope imaginou o oxtornense com a cabeça meio desintegrada ou um
buraco no peito. Ela se sentiu mal.
— Além disso, não apenas Báron, mas também se perdeu todos os vestígios
do gaone.
— Então, eles estão no hangar?
— Nós estamos tentando descobrir — Rhodan falou por rádio. — Ninguém
passou despercebido pela escotilha, seja visível ou invisível.
— Então, ele pode estar em algum lugar com ele!
— Infelizmente, tanto se perdeu aqui que há muitos esconderijos. Eu tenho
que cuidar disso agora. Entraremos em contato assim que soubermos algo novo.
Penelope respirou profundamente e se endireitou. Ela notou um
vanteneuerense que estava ao lado de um leito e olhava para ela, enquanto ela
suspeitava de sua postura. O olho hemisférico não se aproximou em nenhuma
direção. Ele usava roupas pretas muito apertadas com apliques metálicos, talvez
condecorações militares. Apenas algumas fitas soltas se moveram no rascunho.
Ela esperava que isso a distraísse de se preocupar com Danhuser enquanto
falasse com ele e fosse até ele.
— Ele é um parente seu? — Agora ela soube que o vanteneuerense no leito
era feminino. Ela estava na cápsula, o último que eles trouxeram do inferno.
— Obrigado por salvar minha irmã do vento, Pen.
Aparentemente, Kel-Kellad lhe deu o apelido.

45
— Eu acho que é natural ajudar em uma emergência — disse ela.
Ele colocou uma das mãos semelhantes a nadadeiras ao lado do fone de
ouvido esquerdo em seu peito. — Eu sou Chos-Chosserd, o comandante desta nave.
Ela olhou para ele surpresa. Claro, ela poderia tê-lo reconhecido pela
descrição que os outros deram a ela depois da conversa aparentemente fria e bem-
vinda.
— Ina-Inata ficará encantada que alguém da sua galáxia a tenha ajudado —
disse Chos-Chosserd. — Minha irmã do vento é uma pesquisadora que está muito
interessada na Via Láctea. É por isso que ela veio para o transferidor-galáctico.
— Ela se ocupa com a nossa galáxia doméstica? — perguntou Penelope com
cautela.
Ele hesitou, mas depois decidiu que ela ganhara alguma informação. — A Via
Láctea não é apenas seu lar, mas também dos invasores. Em qualquer caso, se você
não tiver que desconfiar completamente de seus registros. Você nunca pode ter
certeza. Os thoogondu sempre quiseram falsificar a história, infiltrar-se em
armazenamentos de dados de outros povos e estabelecer sua versão de um império
benevolente. Onde eles não conseguem, eles inundam a memória com dados falsos.
— Nós vimos coisas perturbadoras com os soprassidenses — Com isso,
Penelope não lhe disse nada de novo; certamente ele foi informado por Ea-Eaveud
sobre os incidentes em Porass. — Alta tecnologia que não deveria existir em seu
planeta. Isso contradiz o que o Gondunat diz.
— Sem dúvida. O Império Dourado nos persegue também pela razão de
termos registros muito confiáveis por um longo tempo.
— Isso soa como se eles estivessem perdidos.
— Isso não é totalmente errado, infelizmente. Também os nossos dados não
danificados sofreram com a confusão após o aumento da hiperimpedância, muito
não pode ser recuperado. Ina-Inata estabeleceu a tarefa de alinhar os registros e
também estudar a fonte em lugares históricos para operar.
— Eu suponho que a AN-ANAVEUD seja um lugar tão histórico?
— De fato. 27.043 anos atrás, nós enviamos os três transferidores-galácticos
para a Via Láctea para aprender sobre a origem dos invasores. Nós esperávamos que
suas fraquezas não fossem mais desconhecidas para nós. Foi o culminar do conflito
que hoje chamamos de lutas e que durou de 22.121 a 20.700 a.C.
O tradutor no SERUN de Penelope converteu esses dados.
— Infelizmente, os thoogondu ganharam de qualquer maneira. Eles
conquistaram uma parte substancial de Theuershavd, o antigo braço da nossa
galáxia. Eles não apenas destruíram a maior parte de nosso Plenário, mas também
os reinos estelares Dos ruiyumenses e os arautos noturnos. Nós subestimamos os
invasores, permitindo que eles durassem por séculos. Um erro mortal.
— Você sabe quando eles vieram?
— Eles devem ter chegado a Theuershavd, por volta de 23.000 a.C. e, como
mais tarde descobrimos na Via Láctea.
Isso pelo menos concordava com a informação dos thoogondu. Eles
disseram que haviam fugido do Peregrino, como chamavam AQUILO, e agora
estavam celebrando a retirada da superinteligência de sua concentração de poder.
— Mas as expedições dos transferidores-galácticos não descobriram nada
que pudesse ajudá-los na guerra?
— Os thoogondu são mestres em ocultar seus rastros — Chos-Chosserd
acenou com as palmas das mãos. — Identificar a Via Láctea como uma galáxia

46
doméstica não foi diferente de uma atividade de espionagem com perdas. Quando
nós chegamos lá, passamos muito tempo para encontrar informações úteis.
Penelope teve a impressão de que ele estava hesitante. — Mas com bancos
de memória completamente vazios, seus naves não retornaram — ela adivinhou.
— Eles conseguiram fazer contato com um ser artificial — admitiu o
comandante. — Era chamado Inominável.

47
14.

Prisioneiro

Eles haviam facilitado para que Gi Barr escapasse do hangar. A escotilha


interna havia sido guardada por ele, mas havia coberto todo o espaço da área apenas
por um campo de repulsão, fraco o suficiente para permitir que até mesmo pequenas
unidades voassem através dele. Tanto o traje de combate do gaone quanto ao traje
de seu prisioneiro eram adequados para o vácuo.
Do lado de fora, Báron Danhuser gradualmente recuperou o controle de seu
corpo após ser atingido por dois choques neurais e anestésico. Apenas por garantia,
Barr disparou um terceiro e quarto tiro após retornara ao interior da AN-ANAVEUD
através de outro hangar. Ele só podia esperar que essa erupção de energia não fosse
apropriada. Ele não conseguira fazer nada além de encobrir o assunto perto de um
escaler que justamente estava entrando.
Juntamente com um grupo vanteneuerense, ele passou pelo campo de
sensores, que guarneciam a escotilha. Agora, ele estava em uma cabine, que
aparentemente servia como vestiário. A sala grande vizinha podia ser usada para
eventos esportivos ou culturais.
Barr ficou surpreso com a constituição de seu prisioneiro. Ele se mexeu
novamente, enquanto o gaone o cortava o macacão de seu corpo com a lâmina
vibratória.
— Não se agite, ou meu brinquedo poderá cortar o seu braço.— O material
era resistente, mas não podia fazer nada contra a baioneta. Sobre o ombro esquerdo
já havia uma abertura.
Primeiramente, Barr havia removido o cinto de instrumentos no qual pendia
o radiador.
— Eu posso me despir — resmungou Danhuser. Afinal, ele ainda estava
atordoado.
Poderia até ser mais rápido se Barr aceitasse sua sugestão. — Abra o
capacete! — ele exigiu sem retirar a baioneta.
O material da esfera pareceu se liquefazer, deslizou para trás e se dobrou no
pescoço. Os ossos com bordas angulares marcavam a cabeça, assim que veio à luz, a
pele brilhava um pouco oleosa. Danhuser não tinha cabelo da cabeça, sobrancelhas
grossas sombreavam os olhos.
Barr recuou, mas apontou o quinto-radiador antes de soltar a arma
branca. — Eu não aconselho tentar ver se seu campo defensivo se constrói mais
rápido do que o meu desintegrador é disparado. Eu o combinei com meus sensores
de energia.
Danhuser rosnou incompreensivelmente. Ele mal conseguia manter os olhos
abertos.
— Tudo bem — disse Barr. — Tirando!
Com evidente esforço, o prisioneiro levantou-se para atender ao pedido. Ele
usava uma macacão leve de material branco sob o seu traje de vácuo. Os músculos
do peito se destacavam claramente.

48
Barr ativou o campo de isolamento. Danhuser não precisava ouvir o que ele
estava discutindo com a neurotrônica de sua armadura. — O sensor de energia vital
ainda está perturbado.
— Até agora, só consegui restaurar os receptores térmicos — admitiu
Yester. — Os detectores de anomalia magnética também estão em grande parte
inutilizáveis. Como não há peças sobressalentes disponíveis, só posso mover os
recursos existentes. Por favor, indique suas prioridades.
Danhuser se sentou no banco e empurrou o traje para o lado.
Em um ambiente técnico, especialmente durante uma batalha, os sensores
térmicos podem fornecer informações enganosas. Plásticos aquecidos
frequentemente tinham temperaturas semelhantes a um corpo. Por um lado, o
sensor de energia vital não forneceu imagens claramente definidas, mas apenas
faixas douradas, mas, por outro lado, esses traços eram evidentes. Com isso, ele
rastreou os fugitivos em Porass e, mesmo na situação atual, Barr achou essa função
útil.
— Sensor de energia vital — ordenou secamente. — E conecte-se à rede de
comunicações da nave. Eu quero saber o que Perry Rhodan está fazendo.
Danhuser esfregou o rosto. As cargas que o quinto-radiador lhe dera teriam
sido suficientes para toda uma força-tarefa.
Barr desativou o campo de isolamento. — O que você é?
O prisioneiro massageava as têmporas. — Meu nome é Báron Danhuser.
— O que. Não quem.
— Eu sou um solado espacial de desembarque, especializado em análise
técnica.
Impaciente, Barr girou os canos do quinto-radiador. — Você não é um
terrano.
Franzindo a testa, Danhuser olhou para ele. — Eu sou um oxtornense. Meus
ancestrais vieram da Terra, mas colonizaram um mundo de gravidade elevada. Nós
nos adaptamos a esse ambiente.
É possível que as bases de dados do Gondunat e do império já tivessem essa
informação. Se não, Barr iria adicioná-los em seu retorno.
— Por que você está fazendo negócios com os terroristas? — Barr perguntou.
— Nós não fazemos isso. Nós aceitamos um convite e agora estamos tentando
obter uma visão completa da situação.
— Por ordem de quem?
— Perry Rhodan convenceu o nosso governo a realizar essa missão.
Barr bufou. — Como se Perry Rhodan tivesse algo dizer sobre um governo!
As rugas se aprofundaram na testa de Danhuser. — Eu acho que você o julga
precipitadamente.
— E você o segue sem saber quem ele realmente é — Barr disse a ele. — Ou
você é tão escravo quanto ele.
O oxtornense sacudiu a cabeça. — Eu não entendo o que você quer dizer.
— Eu acho — ele observou o rosto de seu interlocutor —, que vocês são
agentes do Peregrino.
— Eu sei que você tem problemas com o AQUILO. No entanto, você não deve
acreditar que a Via Láctea está sob o comando de AQUILO.
Barr riu. — É do conhecimento comum que Perry Rhodan é uma criatura do
Peregrino.
— Por que você acha isso?

49
O gaone levantou a mão. — Nós conversaremos em outra ocasião.
A neurotrônica projetou uma transferência de imagem do robô manipulado
na viseira de Barr. Ele estava pairando sobre Rhodan, Tunbridge e alguns
vanteneuerenses que podiam ser transportados por uma esteira.
Barr ordenou que a máquina descesse até chegar ao rosto de Rhodan. Ele
ativou a transmissão de som para os campos acústicos.
— Seria bom da sua parte — disse ele ao prisioneiro —, se você tivesse uma
boa saudação para seu amigo Perry Rhodan. Ele deve saber que podemos concordar
se ele sensatamente...
A súbita frente disruptiva o interrompeu.
Quando as dimensões da sala voltaram à ordem natural, o oxtornense atirou-
se sobre ele. Ele era incrivelmente rápido, e sua força foi o suficiente para derrubar
o quinto-radiador de Barr, mesmo que a armadura muscular da armadura fosse
ativada em frações de segundo. O cinturão de armas foi arrancado de seu ombro.
Com a mão esquerda, Barr começou a estrangulá-lo.
As fibras musculares tensas no pescoço de Danhuser pareciam como se
fossem cabos de aço. Havia componentes tecnológicos instalados neste
corpo? Mesmo o cotovelo de Barr contra o peito não teve efeito.
— Mais energia nos amplificadores de potência! — ele exigiu.
Danhuser esmagou-o contra a parede.
Como resultado, o gaone ganhou uma superfície sólida na qual ele pudesse
pressionar. Ele empurrou o oxtornense para longe e castigou suas costelas com
golpes assassinos. Na verdade, essa série deveria ter transformado suas costelas em
lama, mas ele não pôde fazer mais do que quebrar uma costela. Embora nenhum
traje protegesse seu oponente! E primeiro a resiliência do pescoço, que Barr ainda
não conseguiu apertar!
Danhuser até bloqueou um balanço invertido contra a cabeça!
O oxtornense continuou o movimento. Agarrou a viseira de Barr com as duas
mãos — e arrancou com tanta força que o capacete se quebrou!
Os cabos finos foram rasgados, os sentidos de Barr ficaram ofuscados. Pontos
vermelhos e pretos preenchiam sua visão, assobios altos ofuscavam todos os outros
sons. Ele mal se ouviu quando gritou: — Yester! Ative o esquema de fuga!
A neurotrônica assumiu o controle da armadura.

50
15.

Inominável

— O que seu homem está fazendo lá? — Chos-Chosserd perguntou.


Penelope Assid colocou a mão na mão do comandante e chamou sua
atenção. A habilidade da mulher com o cabelo de cor púrpura, para ter
interlocutores para si, obviamente, não funcionava somente em humanoides. —
Você pode explicar melhor isso para Perry— ela acenou para Rhodan.
Rhodan improvisou um raciocínio de que Dean Tunbridge desapareceu no
laboratório anexado à ala médica. — É sobre o robô danificado — disse ele. —
O gaone tentou entrar em contato conosco por meio dessa máquina, mas a conexão
parou imediatamente.
— Isso não é desinteressante! — gritou o comandante. — Eu deveria dar uma
olhada nisso.
— Eu adoraria, mas primeiro temos que ter certeza de que não há explosivos
na máquina. É melhor fazermos isso em uma câmara isolada.
Chos-Chosserd parecia estar pensando nisso. Os leitos com os feridos se
amontoavam ao redor deles, agora que os feridos do combate no hangar também se
juntaram a eles.
Na realidade, os terranos estavam preocupados com algo completamente
diferente. O gaone não matou Danhuser, mas o sequestrou. O oxtornense havia
escapado e relatado via rádio coletivo. Ele fora monossilábico e insistiu em
“conversar em paz”.
Então, ele tinha algo a dizer que os vanteneuerenses não deveriam ouvir. Ele
estava a caminho da estação médica agora, e Tunbridge tentou encontrar uma sala
segura. Um laboratório que pudesse produzir isolamento total era um candidato
particularmente promissor para isso.
— Certamente Perry está interessado neste inominável que seus ancestrais
encontraram na Via Láctea — Os olhos roxos de Penelope olharam para ele.
Rhodan assentiu enquanto considerava. Inominável... a semelhança com o
Filho de Ninguém que ele aprendeu em conexão com o Gondu era evidente. Ele
provavelmente era idêntico a Homunk. Confirmar isso agora a partir de uma
segunda fonte provaria que os thoogondu tiveram um relacionamento com AQUILO.
— Você pode descrever esse inominável?
— Poucas informações confiáveis sobre ele foram preservadas — disse Chos-
Chosserd. — Nós encontramos centenas de descrições do encontro em nossos
bancos de dados. A maioria é, sem dúvida, falsificação thoogondu. Nós nem sabemos
quantos contatos houve com o ser artificial.
— Foi de que forma?
— Os detalhes variam, mas apareceu como um thoogondu completamente
branco.
Isso combinava com o que Rhodan tinha visto nas memórias do predecessor
do Gondu reinante. — E você tem certeza de que era uma forma de vida artificial?
— Os registros concordam com isso. E aquele Inominável servia ao
Peregrino.

51
Esse foi o nome usado em Sevcooris para AQUILO! — O que você sabe sobre
esse Peregrino? Ele se mostrou para vocês?
— Nós só encontramos o factótum dele — Chos-Chosserd lamentou.
Um alarme tocou em um leito. Kel-Kellad se apressou. Aparentemente, uma
emergência médica. O combate com os gaones resultou em ferimentos terríveis.
Porém, o comandante parecia confiar nos médicos. Em vez de se preocupar
com a comoção ao seu redor, continuou a conversa com Rhodan.
— O Peregrino protegeu os thoogondu enquanto eles viveram na Via Láctea
— relatou ele. — Mas, houve uma ruptura.
— Por que razão? — perguntou Rhodan.
— Isso é desconhecido para nós. O Inominável falou dos thoogondu tentando
tomar influência ilegítima sobre o Peregrino. Mesmo assim, o desejo de manipular
não era estranho à sua natureza.
Rhodan já sabia da disputa entre os thoogondu e AQUILO. Que uma tentativa
de manipulação tinha sido o gatilho para isso, ele não havia aprendido nessa
variante possivelmente embelezada da história.
— Quem é esse Peregrino? — ele tateou o caminho para frente.
— Infelizmente, nunca fizemos contato direto — disse Chos-Chosserd. —
Minha irmã do vento acredita que o termo descreve uma civilização. Não nos parece
impossível que seja uma inteligência coletiva. Ela poderia se chamar “Peregrino”
porque ela explora planetas e depois segue em frente. Isso também explicaria o
conflito com os thoogondu – talvez o mundo deles tenha sido vítima desse viajante.
— Existem outras teorias?
— Também pode ser uma civilização de simbiontes mudando para veículos
mais adequados assim que os encontre.
Eles não suspeitam da superinteligência, Rhodan percebeu. Isso significava
que Os vanteneuerenses não possuíam informações essenciais para uma
especulação precisa. Sem experiência com a superinteligência, era impossível
avaliar a ação dos poderes cósmicos. Isso era difícil para o próprio Rhodan, embora
tivesse passado a maior parte de sua longa vida como escolhido de AQUILO e
frequentemente agido em seu nome.
De qualquer forma, Rhodan tinha chances muito melhores do que os
vanteneuerenses de descobrir algo sobre os eventos daquela época. Ele mesmo
deveria agir para descobrir a verdadeira causa da expulsão dos thoogondu da Via
Láctea, especialmente sobre a natureza da tentativa de manipulação punida. Ele
tinha que tentar falar com Homunk... mesmo que no momento não houvesse ideia
de como ele poderia entrar em contato com Homunk ou outro assistente
de AQUILO. Se ele não tivesse desaparecido juntamente com o AQUILO de qualquer
maneira.
Parece que vamos atuar no palco cósmico novamente.
Essa percepção provocou sentimentos mistos em Rhodan. Por um lado, ele
sentiu a antecipação de levantar um pouco mais o véu dos grandes segredos do
universo. Mas até mesmo a relutância do ser em lidar com forças que poderiam
obliterar civilizações inteiras simplesmente por descuido se infiltrou em sua mente.
Pensativamente, ele olhou para suas reflexões no olho facetado do
vanteneuerense. Se uma cultura que estivera operando voos espaciais interestelares
por décadas não sabia nada sobre superinteligência, surgiu a questão de saber se a
galáxia Sevcooris, na qual essa civilização estava operando, até pertencia a uma
concentração de poder. Como os thoogondu tinham fugido de Peregrino, essa

52
superinteligência não poderia ser AQUILO. E essa entidade que dominava neste
sector cósmico — se fosse uma — parecia não se importar com os povos desta
galáxia. Ou ela agia de forma mais sutil que AQUILO.
— Báron! — Chamou Penélope.
Danhuser entrou na estação médica e olhou em volta. Ele parecia ileso,
mesmo que seu SERUN estivesse danificado.
Penelope correu para ele e o abraçou.
— E quanto à ruptura na fuselagem? — perguntou Rhodan ao
comandante. — O trabalho de reparo no propulsor estão progredindo?
— Nós estamos começando a restaurar o isolamento — Chos-Chosserd
respondeu. — Isso também deve reduzir as frentes de interferência. De qualquer
forma, desde que a gaone não provoque outra explosão.
— Ele tem explosivos suficientes para isso?
— Nós não podemos saber disso.
— Sabe-se quantos suprimentos estão faltando. Desde que você reforçou os
fusíveis nos campos, ele tem que se dar bem com o que roubou de seu primeiro
roubo.
— A partir daí podemos concluir as opções que ele tem! — Chos-Chosserd
gritou com sua voz vibrante. — Eu vou calcular imediatamente o efeito
explosivo. Isso nos dá uma indicação de quanto ele consumiu.
— Um pensamento inteligente — disse Rhodan.
O comandante ativou seu comunicador.
Rhodan o deixou sozinho e seguiu Penelope e Danhuser até o laboratório.

53
16.

Terrano

Dean Tunbridge levantou os polegares em saudação. — Tudo bem. Nós


estamos sozinhos — ele jogou uma noz no ar, pegou com a boca e a quebrou.
O robô discoide defeituoso, através do qual o gaone fez contato com Rhodan,
estava deitado em uma mesa de operação sob um campo de contenção e isolamento
combinados.
— O gaone é humano! — exclamou Báron Danhuser.
Os companheiros olhavam para ele.
— Você não está se referindo ao físico humanóide — adivinhou Rhodan.
O oxtornense apoiou os punhos na mesa de operações. — Um humano. Um
terrano. Eu o vi quando abri o capacete.
Até agora, eles haviam encontrado apenas gaones em sua armadura
totalmente fechada.
— Como ele se parece? — perguntou Penelope Assid.
— Ele não seria notado em Terrânia. Ele tem a pele ligeiramente escura e sem
cabelos na cabeça — Danhuser acariciou sua própria careca —, mas com uma
sombra de barba. Cabos finos conectam o capacete com placas de contato no crânio,
algumas das quais eu provavelmente arranquei no corpo-a-corpo. Eu acredito, que
até mesmo nos ouvidos havia fios.
— Uma integração neural com a armadura? — perguntou Tunbridge.
— Eu acho que sim. Ele ficou completamente desorientado quando eu
quebrei o capacete. Ele abriu os olhos e ordenou que sua armadura assumisse o
controle, e o levasse embora. Esta ordem... — Danhuser olhou para Rhodan. — Ele
fez em Intercosmo.
Rhodan piscou. A linguagem comum da Via Láctea — em uma galáxia
distante?
O que está acontecendo aqui?
Obviamente, não apenas as peças essenciais dos vanteneuerenses do quebra-
cabeça estavam faltando!
— Você esteva em combate e parecia ruim para ele? — Penelope se
assegurou.
— Isso mesmo. E eu verifiquei meu tradutor. Ele não traduziu nada, tão
pouco a armadura do gaone. Não houve duas vozes ou algo assim. Ele
definitivamente falou intercosmo.
— Hipnotreinamento? — Tunbridge sugeriu. Ele segurava algumas nozes na
mão, mas esqueceu de colocá-las na boca. Uma indicação segura de sua confusão.
Penelope sacudiu a cabeça. — Isso seria muito incomum. Em uma declaração
espontânea em uma situação de estresse, recorremos aos padrões que estão mais
firmemente ancorados no cérebro. Você poderia fazer isso com um
hipnotreinamento, mas por quê? Se você só quer entender e falar a língua, é
suficiente desistir do conhecimento. Não há vantagem em realizar o esforço extra
para encobrir a língua materna.
— Então, você acha que o gaone cresceu com o intercosmo?

54
A xenolinguista assentiu. Seu rosto já brilhante parecia ainda mais pálido do
que o habitual.
— Ele parece um terrano e fala como um terrano — disse Danhuser. — Ele
poderia se preparar para uma infiltração?
— Essa abordagem seria mais apropriada para os vantenuerenses — sugeriu
Tunbridge.
Rhodan cruzou os braços. Embora, eles estivessem constantemente
adquirindo novos conhecimentos, mas isso aumentava toda a complexidade do
quadro geral. Em vez das peças do quebra-cabeça revelar o motivo, cada peça
revelava que a imagem era muito maior do que supunham.
O thoogondu e sua história na Via Láctea... AQUILO, o Peregrino e o Filho de
Ninguém, Inominável, Homunk... o Império Dourado, sua preocupação com as
civilizações em Sevcooris e sua falsificação da história... os ataques terroristas e a
propaganda... a Imprudência dos vantenuerenses que possivelmente era excedida
pela brutalidade do Gondunat. E então, como um clímax temporário: um terrano,
onde não poderia haver terranos! E ainda assim...
— Infiltração desse jeito não faz sentido — disse Rhodan. — Metamorfos ou
espiões cirurgicamente alterados são infiltrados secretamente, mas não os envia
para um combate direto.
Tunbridge largou as nozes e massageou as têmporas. — Eu não consigo
entender isso. Se este soldado é realmente um terrano – isso se aplica a todos
os gaones? O Gondu conseguiu uma Guarda Terrana?
— Ele teria feito há muito tempo — ponderou Rhodan. — Os gaones parecem
servir neste serviço por gerações.
Ele olhou para o robô danificado. — Desligue o campo de isolamento, Caju!
— ele disse para Tunbridge. — Usamos o tempo que estamos sendo perturbados e
perguntemos àquele que deve saber.

55
17.

Império

Perry Rhodan deu a impressão de querer entrar no pequeno robô. Ele se


inclinou para frente, apoiando-se nos antebraços, que colocara na mesa de
operações.
— Nós estamos surpresos — confessou ele. — Não esperávamos encontrar
uma cultura humana em Sevcooris. Isso poderia fazer tudo parecer em uma luz
diferente.
O gaone enviou um sinal de confirmação, ele ouvia. Mas, ele não disse nada.
O ga...
— Se sabe, é óbvio! — Penelope Assid bateu a palma da mão contra a testa. —
Está claro! Nós entendemos 'gaone' para nos referirmos a uma profissão, mas não é
assim — ela foi até a mesa e falou na direção do robô. — Os gaones – eles são um
povo, certo? Eu suponho que o nome deriva de Gaia, a personificação da terra na
mitologia grega.
Uma risada veio do campo acústico. — É hora de me apresentar. Meu nome é
Gi Barr, eu sirvo como tenente-coronel na Guarda do Fiador. E tenho orgulho de ser
um cidadão do Segundo Império Solar.
Rhodan começou a se erguer. — Um império solar aqui na galáxia Sevcooris?
Apaziguadora, Penelope pôs a mão no ombro dele. Ela mal podia imaginar o
que estava acontecendo no antigo Administrador-Geral. Ele mesmo havia fundado o
Império Solar há milênios, na fase expansiva, às vezes agressiva, da expansão
humana para o espaço.
Enquanto isso, muitos historiadores avaliaram criticamente a política
comparativamente restritiva do mundo central da Terra em relação aos planetas
coloniais, mas com o tempo também ficou claro que essa abordagem havia
conquistado e garantido ao povo terrano seu lugar entre os povos da Via Láctea.
Todos os erros, mas também a energia da partida daquela época, tinham que estar
presentes para Perry Rhodan, a personalidade formativa da época.
— O que isso significa? — ele perguntou audivelmente. — Este Segundo
Império Solar é idêntico ao Gondunat?
— Somos aliados — explicou Barr. — Eu sirvo ao Fiador porque o
Solastrador me mandou lá.
— Solastrador — Penelope sussurrou. — Eu suspeito de uma fusão dos
termos ‘Império Solar’ e ‘Administrador-Geral’.
Com um aceno de cabeça, Rhodan tomou nota de sua teoria.
— O Gondu, por sua vez, me designou para seu filho Puoshoor — prosseguiu
Barr. — É por isso que eu estava em sua viagem na esteira do Ghuogondu. Ele quer
o seu retorno imediato, Perry Rhodan — Houve uma ameaça na última frase.
— Se este Segundo Império Solar não é Império Dourado dos thoogondu —,
perguntou Rhodan, — o que é isso tudo?
— Eu teria pensado que você teria entendido mais rapidamente. Nosso
estado é exatamente o que seu nome expressa: um império solar dos terranos em
Sevcooris.

56
— Mas, como pode ser isso? Nessa distância? Por que nunca ouvimos falar
disso? Desde quando ele existe?
Penelope trocou um olhar com Danhuser e Tunbridge. Eles também
pensaram sobre a missão dos transferidores-galácticos para a Via Láctea?
Ela balançou a cabeça.
Esso não pode ser a conexão. Essas viagens remontam há milhares de
anos. Naquela época a humanidade não era uma civilização astronáutica, e sob o
Império Solar, ao qual as gaones se referem, o povo da Idade da Pedra não conseguia
imaginar nada.
— Você tem que perdoar — disse a voz sarcástica de Barr —, mas eu não
contarei nenhum segredo para o lacaio de um lacaio.
Rhodan recostou-se na mesa. — Nós temos muitas perguntas e, com certeza,
seu dever de soldado não será uma resposta para a maioria deles. Nós podemos falar
sobre o Peregrino?
— Isso é o que eu estava prestes a sugerir.
— Muito bem! Então ...
— Perry! — Tunbridge apontou para a porta.
Pela janela ele viu Chos-Chosserd se aproximando. O comandante estava
obviamente a caminho deles.
— Eu tenho que terminar! — Rhodan explicou. — Eu voltarei para você o
mais rápido possível.
Tunbridge ativou o campo de isolamento em torno do robô pouco antes de
Chos-Chosserd entrar no laboratório.
— Nós podemos localizá-lo! — anunciou o comandante.

57
18.

Plano

As coisas estão se movendo rápido demais, pensou Perry Rhodan. Ele


controlou sua impaciência para não olhar para o robô que servia de retransmissor
para a gaone. Um homem cuja cultura estava profundamente enraizada em
Sevcooris!
Rhodan foi o primeiro humano na lua. Ele estabeleceu contato com os
arcônidas, fundou Terrânia, estabeleceu a Terceira Potência e levou a humanidade
unida às estrelas.
Enquanto isso, aprendera a desistir da liderança em muitas áreas, mas
mesmo assim sentia-se responsável pelos terranos.
Ele adorava a variedade com a qual eles se desenvolveram no espaço. Báron
Danhuser era um excelente exemplo disso, com seu corpo poderoso adaptado a um
mundo extremo. Ou Penelope Assid com seu material genético Báalol e a sua
parahabilidade leve, que levava seus interlocutores a se abrirem com ela.
Assim, Rhodan estava incrivelmente curioso sobre os gaones, os humanos
desta galáxia distante.
Ao mesmo tempo, ele sabia que Gi Barr era um perigo para os dez mil seres
sencientes da AN-ANAVEUD. Ele já havia matado mais de uma dúzia.
— Como você vai encontrá-lo? — Rhodan perguntou ao comandante.
Chos-Chosserd abriu os braços. — Através do vento.
— No movimento do ar? — Danhuser ergueu as sobrancelhas espessas. —
Eu já havia pensado nisso antes, mas suspeitava que o vento constante, com sua
turbulência, tornava todas as medições impossíveis.
— Nós controlamos as correntes com muita precisão — explicou Chos-
Chosserd. — Sua mudança estrutura nosso dia.
— Como a posição do sol em outras culturas! — explicou Penélope.
— Uma brisa constante marca a madrugada — continuou Chos-Chosserd. —
Seria possível movê-la por todos os conveses e mantê-la. Assim, obteríamos um
padrão de fluxo uniforme no qual os desvios são percebidos. Nosso computador de
bordo filtraria tudo o que é relativo a pessoas e objetos visíveis. O que restar é um
caso suspeito.
— Seria útil mandar os civis para seus quartos — disse Dean Tunbridge. — É
assim que reduzimos a interferência e, ao mesmo tempo, protegemos os não
combatentes.
Uma onda percorreu o braço de Chos-Chosserd. — Eu suponho que
despertaria a suspeita do gaone quando de repente todos os salões e corredores
esvaziarem.
— Mas, isso protegeria seu pessoal — rugiu Danhuser.
— Não necessariamente — disse Rhodan. — Se o gaone se sentir caçado e
provocar outra explosão, isso poderia custar muito mais vidas.
— Até onde foi o reparo na fuselagem? — perguntou Tunbridge.
— Nós estamos fazendo um bom progresso — respondeu Chos-Chosserd. —
No entanto, as frentes de interferência reforçadas não devem surpreender nas
próximas horas.

58
— Elas irão golpeá-lo da mesma forma que nos atingir — disse Tunbridge.
— Sua armadura poderia lhe dar uma vantagem — disse Danhuser.
— Você acha que ela protege dos efeitos hiperenergéticos? — Rhodan
duvidou.
— Não é isso — disse Danhuser. — Mas, na sala do transmissor, ele pôde usar
a frente de interferência para se afastar. Eu suponho que a neurotrônica da
armadura seja menos propensa à desorientação do que um cérebro biológico. Isso
permite que ela reaja mais cedo.
— Isso seria possível — ponderou Rhodan.
— Independentemente disso, vamos ter que eliminá-lo rapidamente — disse
Chos-Chosserd. — Antes que ele faça qualquer coisa que coloque a AN-ANAVEUD
em sérios apuros.
— O que faremos se o encontrarmos? — perguntou Rhodan. — Disparar
raios paralisantes de alta energia?
— Nós consertamos os emissores apenas em alguns lugares — O comandante
apontou para a máquina danificada na mesa de operações. — Nós teríamos que usar
os robôs de combate.
— Isso é uma coisa ruim para fazer de qualquer maneira — Tunbridge cruzou
as mãos no pescoço, o que, por causa de sua postura habitual, parecia querer colocar
a cabeça no peito.
— Não sabemos quão poderosa é o campo defensivo do nosso oponente. No
começo, temos que rompê-lo com algo mais destrutivo do que raio paralisador. Se
aplicarmos doses muito baixas, não teremos efeito e ele nos escapa. Se a intensidade
for muito alta, o efeito pode ser devastador. E mesmo se o campo defensivo for
desativado..., sabemos pouco sobre a armadura. Ela também poderia conter
paralisadores.
— A morte dele seria aceitável — disse Chos-Chosserd.
— Ela seria prejudicial — acrescentou Rhodan. — Não se pode interrogar os
mortos.
— O que deveríamos saber sobre ele?
— Este gaone serve na guarda do Gondu — lembrou Rhodan. — Sem dúvida,
ele acompanhou o governante em muitos assuntos do estado, certamente para
entrevistas confidenciais. Ele tem que manter seus olhos e ouvidos abertos. Ele terá
ouvido muito.
— Informações de tais reuniões não seriam desinteressantes — admitiu
Chos-Chosserd.
— Mas, como o capturaremos se campos paralisadores não são adequados?
— perguntou Danhuser. — Não podemos começar um tiroteio selvagem no meio da
nave, especialmente quando há espectadores nas proximidades.
— Sacrifício razoável não seria um problema — Chos-Chosserd assegurou.
— Eu acho que temos ideias diferentes sobre quais sacrifícios são
‘apropriados’ — disse o oxtornense friamente —, e, acima de tudo, não se pode
exigir isso de alguém que não consentiu.
— Contudo, o comandante está certo — disse Penelope pra a surpresa de
Rhodan. A luz que caía do teto criava linhas duras em seu rosto brilhante. — Não
devemos nos deixar levar por nossas dúvidas, senão nos entregaremos a um
adversário inescrupuloso.

59
19.

Falhas

— Você ainda tem capacidade limitada de combate — afirmou Yester.


— Eu teria chegado a isso sozinha — resmungou Gi Barr.
Ele se agachou entre um aglomerado de blocos de agregados do propulsor
hiperboral. Não onde sua bomba explodiu a fuselagem externa, mas em uma parte
distante da protuberância equatorial. Lá, as emissões de energia devem escondê-lo.
O capacete estava fechado apesar da rachadura, o equipamento de campo
continha material de reparo suficiente para selar tal dano. No lado esquerdo, ele
ainda estava pressionado contra a têmpora. Esse desconforto acabou, mas o gaone
não conseguiu reparar os neurocontatos com seus próprios recursos. Se ele
removesse o capacete como deveria, as placas de contato se soltariam de sua pele, e
os fios em seus ouvidos interromperiam as conexões. O ataque áspero de Danhuser,
por outro lado, causou danos que só poderiam ser eliminados com equipamentos de
precisão.
Embora ele fosse capaz de controlar a armadura através de implantes
cerebrais positrônicos, apenas algumas das funções estavam disponíveis para ele
dessa maneira. Ele era capaz de se mover e chegar em segurança, mas mais
manobras ofensivas foram deliberadamente omitidas. Em particular, o tempo de
reação foi atrasado em alguns décimos de segundo. Caso contrário, o perigo teria
sido grande demais para que uma armadura gaone fosse tomada por controle de
rádio e, assim, um ataque ao Gondu seria cometido.
— Os sensores além da ótica normal falharam em grande parte — relatou
Yester impassivelmente.
O que significa em grande parte?
— Você priorizou a exibição da energia vital. Ela foi restaurada.
Isso era alguma coisa, mas não o ajudava no momento. Embora a viseira da
armadura parecesse intacta, isso não ajudava, porque seus nervos óticos foram
superestimulados pelo choque do seu capacete ao ser arrancado. Ele via seu
entorno, mas tantas manchas pretas e vermelhas dançavam na frente que ele não
conseguia manter qualquer alvo com certeza.
— Com o tempo, isso vai parar — ele agarrou o quinto-radiador. Mas eu tenho
tempo?
A cada minuto que passasse, seus inimigos controlariam melhor a
situação. Seu pânico diminuiu, o planejamento frio assumiu o seu lugar.
Ele tinha que neutralizar isso com urgência.
Por que ele conversou com Rhodan? Ele estava aborrecido por ter sucumbido
à tentação. Ele estava muito ansioso pela criatura do Peregrino. E então, sobre como
ele reagiu à existência do Segundo Império Solar. Infelizmente, ele não tinha visto o
rosto de Rhodan, mas Barr já podia imaginar pela transmissão do som que essa
revelação o incomodava.
Isso é bom. Ele sorriu. Nem todos os humanos são personagens do seu jogo,
Rhodan. Alguns cresceram.

60
Talvez a conversa não tivesse sido tão ruim assim. Foi bom ocupar Rhodan e
distraí-lo de ações significativas. E com seus sentidos limitados, Barr dificilmente
poderia ter usado o tempo de outra maneira.
Chega de auto piedade!, ele lembrou a si mesmo. Hora de ir para a ofensiva
novamente.
Ele se levantou e começou a aumentar o poder de seu arsenal.
Polinitrato de Aratona. Incrível a rapidez com que você se acostuma com as
coisas. Na verdade, eu teria que agradecer aos terroristas por armazenarem muito
disso neste transferidor-galáctico. Seria uma pena se todos os suprimentos fossem
atomizados com a navio.

61
20.

Poço

Gemendo, Penelope Assid abriu caminho através do poço de ventilação. Na


AN-ANAVEUD havia um número incrível deles. Penelope havia descoberto que os
ventos a bordo não eram apenas sobre temperatura e velocidade, mas também
sobre a umidade e gases que eram adicionados em quantidades precisamente
dosadas. Os ventos eram perfumados, por assim dizer.
Ela riu, ciente de que sua estupidez era devido aos estimulantes que o SERUN
injetou em sua corrente sanguínea. Ela não teria sobrevivido sem essas substâncias,
ela estava acordada por mais de vinte e quatro horas: primeiro no planeta saturado
de oxigênio de Porass, depois no transferidor-galáctico. Constantemente sob tensão,
continuamente reunindo informações, combinando pistas, envolvida em um
tiroteio... E a paz não parecia ser previsível. Ela precisava de seus sentidos, mas os
estimulantes agora alcançavam uma concentração que fazia o SERUN alertar.
Os vantenuerenses tinham certeza de que Gi Barr havia entrado no sistema
dos poços de ventilação. Infelizmente, sua metodologia de medição mostrou-se
incompleta, especialmente no interior deste emaranhado, porque os sensores
estavam muito escassos. O mapa que Penelope projetava no interior de seu capacete
mostrava uma rede tridimensional de tubos entrelaçados. Os vanteneuerenses
produziam através das curvas os sussurros e os uivos do vento que tanto amavam?
De qualquer forma, esses tubos frequentemente ramificavam-se, com a
maioria dos entroncamentos equipados com abas para regular o fluxo do vento.
Havia tanques de ar sob pressão porque grandes quantidades eram armazenadas ali
e enriquecidas com as fragrâncias desejadas. E havia aberturas em várias salas,
incluindo armazéns, onde os explosivos eram armazenados. Mas, infelizmente, havia
dez deles nesta área da nave, então Penelope não podia ter certeza de onde
exatamente era o destino do gaone.
Pelo menos os vanteneuerenses escolhidos por Ea-Eaveud para acompanhá-
la tinham a mesma dificuldade. Três estavam atrás de Penelope, mais oito nos tubos
vizinhos. Ela ouviu os ruídos enquanto se moviam.
O indicador do capacete disse a ela que a última mensagem de posição para
o gaone já estava a um minuto atrás. Ele deixou o sistema de tubos?
Franzindo a testa, ela estudou o mapa. Infelizmente, a tela do capacete não
permitia a verdadeira tridimensionalidade, ela precisava girar a tela para capturar
o arranjo espacial.
O alvo mais provável parecia ser um depósito com produtos de decaimento
reutilizáveis do gerador. Certamente, ele poderia construir uma bomba suja — se
fosse um pouco consciencioso para usar tal arma.
Penelope passou a trabalhar mais rapidamente com os cotovelos e joelhos
para avançar.
A gaone não foi embora. Ele a esperava em uma seção reta de dez metros de
comprimento. E ele não hesitou. Assim que Penelope entrou em seu campo de fogo,
ela viu o brilho verde de um raio desintegrador e quase imediatamente depois o
brilho de seu campo defensivo.

62
A parede do tubo não teve nada a opor ao efeito de arma, e também o campo
defensivo dissipando a energia, entrou em interação desfavorável. O metal brilhou
ou transformou-se em fumaça fina. Antes que Penelope pudesse apontar seu
radiador, o chão cedeu.
A segurança automática do SERUN ativou o antigravitacional. Dez
centímetros acima do piso de aço cinza, ela subitamente ficou no ar, erguida e
nivelada.
Enquanto isso, Barr teve que estar no salão, que estava cheio de colunas
curvas de diferentes alturas. Outro raio desintegrador reduziu o desempenho do seu
campo defensivo para trinta por cento.
— Eu recomendo manobras evasivas! — relatou o SERUN.
Acima dela, nos tubos, ouvia-se os vanteneuerenses. Eles não vieram em sua
ajuda, mas recuaram o mais rápido possível.
— Negativo, sem manobra evasiva! — ela ativou o campo acústico e soltou
sua arma. — Eu não sou idiota! Eu me rendo!
O bombardeio terminou.
— Desative o campo defensivo! — ela ouviu uma voz do nada. — Abra o
capacete!
De qualquer maneira, seu campo defensivo havia chegado a nove por cento.
Penelope levantou os braços e obedeceu.

63
21.

Idiotice

— Você não tem que fazer o meu SERUN como Báron — Penelope Assid
rosnou. Aparentemente, ela estava realmente zangada, mas, paradoxalmente, não
contra o inimigo que a capturara, mas contra o próprio pessoal que a abandonara. —
Eu vou tirá-lo sozinha.
— Tudo bem — Ainda assim, Gi Barr apontou o quinto-radiador para ela.
O corte elegante do macacão roxo enfatizava a figura magra da mulher
pálida. Nos bailes onde o gaone protegia o Ghuogondu, ele às vezes via roupas muito
mais desajeitadas, cuja aparência desajeitada não podia ser totalmente explicada
pelo físico exótico de seus usuários.
Apesar disso, Barr não sucumbiu à tentação de supor que os terranos
perdessem a funcionalidade em favor de uma aparência agradável. O poder de
combate deste SERUN podia ser menor que o de sua própria armadura, mas os
combates anteriores provaram a eficiência dos geradores de campo defensivo.
Irritantemente, manchas pretas e vermelhas ainda dançavam através do
campo de visão de Barr. O arrancar do capacete irritara tanto o sistema neuronal
que até a medicação da armadura feita sob medida para ele teve apenas um efeito
gradual.
— Eles apenas fogem enquanto eu estou no fogo de desintegrador! —
Penelope gritou.
Ela saiu do SERUN. O macacão justo por baixo era roxo. Qualquer outra cor
teria surpreendido Barr, ela não teria se preocupado com unhas, cabelos e olhos.
Ela deu dois passos para o lado, para frente de uma turbina, que ajudava a
regular o fluxo de ar na nave com campos repulsores e raios tratores. A sonda de
infiltração que ele havia capturado no hangar permitiu que o gaone analisasse essas
instalações da nave vanteneuerense. Como a intenção de Barr obviamente fora
descoberta, ele interrompeu a tentativa de obter mais explosivos por enquanto e se
retirou com sua prisioneira para o interior do sistema de distribuição, onde não
suspeitava de sensores.
— Perry Rhodan sempre sacrificou os outros por si mesmo — disse Barr. —
Ele é uma criatura do Peregrino.
Ela arqueou os dedos como se quisesse rasgar o rosto de alguém com as
unhas. — Você está certo, e eu fui estúpida o suficiente para não ter percebido
isso! Envie-me em ação contra um soldado de elite! Eu sou uma máquina de combate
ou algo assim?
Comparado a Danhuser, essa mulher não era defensiva. Mas, isso não era
crucial. Um menino de seis anos com um desintegrador era mais perigoso do que um
combatente experiente, mas desarmado. E não estava fora de questão que Penelope
tivesse escondido um radiador em miniatura no macacão, em uma mecha de cabelo
ou em qualquer outro lugar em seu corpo.
— Eu realmente não posso acreditar nisso! — ela balançou a cabeça
vigorosamente. — Eu segui Perry por todo tipo de coisas, em uma galáxia estranha.
E então ele me queima. Desse jeito! — ela estalou os dedos. — Bem pensado: Ou isso

64
acerta um golpe de sorte ou o gaone atira nele. De qualquer forma, ele ainda está um
pouco distraído. Isso não deve ser verdade!
Barr ouviu. — O que você quer dizer com ‘distraído’? De quê?
A raiva estava em seu rosto, mas ela apenas olhou para ele em silêncio.
Alguma coisa me escapou?, perguntou-se Barr. — O que ele está preparando?
— Nós deveríamos fugir — ela baixou a voz. — Você e eu, quero dizer.
— Nós? Por que nós?
— Porque estou farto de Perry e suas intrigas! Você sabe o que eu vou fazer?
Ah, não, eu vou te contar! Esse fracasso, que quase me deixou, só serve para ele. Ele
está nas lamelas de escuta o tempo todo, então eles estão deixando-o entrar na
central de rádio. Ele quer chamar a RAS TSCHUBAI.
Imediatamente, Yester projetou os dados da espaçonave esférica na tela do
capacete. Contudo, Barr não precisava saber que essa nave estava trazendo uma
nova qualidade de poder de combate para o jogo.
—É caro que você pode imaginar o que algumas centenas de soldados
espaciais de desembarque do calibre de Báron Danhuser estão fazendo com a AN-
ANAVEUD. Se os vanteneuerenses acreditam que seu apoio é a única maneira de
torná-lo inofensivo, e deixar a nossa nave atracar, o transferidor-galáctico está nas
mãos de Perry. Então, ele se torna o chefe aqui e pode fazer o que quiser com ele.
Sua mão percorreu o ar como se quisesse dar um tapa na cara de alguém. —
É exatamente como você diz. Então, ele tem outro brinquedo, com o qual ele pode
lidar até ficar entediado.
— Mas, você não quer esperar — Barr percebeu.
Penelope bufou. — Eu estou farta dele! Eu não posso suportar a ideia de estar
em uma sala com ele novamente. Mas, com a RAS TSCHUBAI nas costas, ele
vence. Então, nós temos que fugir antes que ela chegue.
Ela andou tão perto que o quinto-radiador quase a tocou.
Barr colocou o dedo no sensor de disparo.
— Eu tenho os códigos do hangar — disse ela em voz baixa. — Perry é tão
arrogante que ele não consegue imaginar que eu possa mudar de lado. Ele não vai
esperar que nós peguemos uma espaçonave juntos. Eu sei onde encontrar uma
pequena unidade com propulsor superluminal que podemos controlar em dupla. Se
fizermos isso de maneira inteligente, teremos duas etapas lineares atrás de nós
antes que percebam que partimos.
“Isso só poderia ter sucesso, desde que a RAS TSCHUBAI ainda não esteja
aqui. A nave terrana de longo alcance, com sua frota de naves auxiliares, certamente
implantaria rapidamente uma unidade de vanteneuerenses. A AN-ANAVEUD, por
outro lado, não pode deixar sua posição, e os sensores das naves menores
certamente não se encontram no mesmo nível terrano. além disso, é bem possível
que os vanteneuerenses se contentem em se livrar do gaone que lhes causou tantos
problemas.
Barr reuniu conhecimentos valiosos que poderiam ser extremamente úteis
se ele pudesse transmiti-los para as pessoas certas no Gondunat. Alguém ficaria
muito interessado na existência do transferidor-galáctico.
Ele balançou a cabeça. Suas ordens eram diferente. — Fugir, não é meu jeito
— ele esclareceu.

65
22.

Sala de Hiper-rádio

Perry Rhodan olhou com ceticismo para os vanteneuerenses na central de


hiper-rádio. Eles se comportaram da maneira que se esperaria de especialistas
tentando capturar um banda de sinal estreito para alcançar a RAS TSCHUBAI? Ou
era óbvio à primeira vista que este novo comando de ação de Ea-Eaveud, e aqueles
que estavam trabalhando aqui foram trazidos por segurança?
Um dos doze vanteneuerenses entrou direto no console à sua frente. Ele
inclinou a parte superior do corpo sem cabeça para frente. Os campos sensores, que
ele acionou com suas abas mão, ele provavelmente escolheu por acaso. Telas
holográficas surgiram, parcialmente sobrepostas, mostrando ampliações, visões
gerais ou pacotes de fontes e desapareceram novamente. O vantenuerense
certamente não prestou atenção nelas. Ele estava em transe e pressionou os
sensores exatamente em segundos.
Rhodan foi até ele e empurrou o radiador do soldado debaixo do console tão
longe que não pôde ser visto da entrada.
Isso interrompeu a rotina do vanteneuerense. Por cinco segundos, ele não
pressionou um campo sensor.
Dean Tunbridge mastigava algumas nozes enquanto usava um manipulador
de campo para otimizar um dos emissores que eles haviam montado ao lado da
entrada para que eles não pudessem ser vistos do lado de fora. Outro foi posicionado
abaixo, dois do outro lado. Para isso, uma estação de antena teve que ser cedida, o
que levou a um confronto amargo entre Chos-Chosserd e o chefe da estação
de rádio. A posição de Tunbridge prevaleceu. O oficial era um perfeccionista
implacável.
Ele ativou o último dos campos de contenção. Rhodan estava convencido de
que, com esse arranjo, um halutense poderia ser capturado, mesmo se um dos
quatro emissores falhasse. Mas, ele sabia que fazer esse trabalho contribuía para a
tranquilidade de Tunbridge, e eles não podiam fazer nada mais significativo de
qualquer maneira. Eles estavam esperando pelo gaone.
Báron Danhuser bateu com os dedos. Comparado à sua forma volumosa, o
console, sobre o qual ele monitorava o status do escaler preparado, parecia uma
peça de mobília em um quarto de criança. Rhodan foi até ele para que pudessem
falar baixinho um com o outro.
— Ainda nada — murmurou Danhuser. — Ele está segurando Pen por duas
horas agora.
— Isso sugere que ele não engolirá a isca com o escaler e virá aqui.
A espaçonave desarmada teria repelido a propulsão assim que alguém
tentasse deixar o espaço einsteiniano. Posteriormente, os vanteneuerenses teria
recolhido a unidade sem propulsão calmamente.
Contudo, o gaone não parecia querer sair sem Rhodan. Das informações de
Penelope, ele teve que concluir que os terranos tentariam convocara a RAS
TSCHUBAI. Encontrar a única estação de hiper-rádio a bordo da AN-ANAVEUD que
fosse adequada seria fácil para o gaone.

66
O que ele não sabia era que essa possibilidade não existia na prática. Rhodan
nem sabia a posição galáctica do pulsar em que a nave estava orbitando. Ele só sabia
que o transferidor-galáctico estava a quinhentos anos-luz de Porass.
Se a RAS TSCHUBAI tinha descoberto que havia dúvidas, após as manobras
de voo que a nave do Ghuogondu havia feito. De qualquer forma, a espaçonave
esférica terrana procuraria por eles em uma área muito diferente da galáxia
Sevcooris, muito além do alcance de chamadas comuns de hiper-rádio.
Danhuser correu um raio adesivo sobre o corte no ombro do seu SERUN. —
Eu espero não estar enganado sobre ele.
Também espero que sim, pensou Rhodan. Só por causa da avaliação de
Danhuser que o gaone não mataria ninguém que não fosse uma ameaça, ele
concordara que Penelope caísse nas mãos dele.
Uma ligeira frente de interferência hiperenergética atravessou a nave. Durou
apenas dois segundos. Rhodan percebeu que estava se acostumando com esse
fenômeno, a desorientação era mais fraca a cada vez. Os vanteneuerenses que
viviam a bordo, provavelmente raramente sentiam uma deficiência grave.
Tunbridge mudou para o emissor inferior. Se o gaone fosse incapaz de se
mover, eles o cobririam com raios desintegradores. A intensidade deveria ser
mantida continuamente até que o campo defensivo entrasse em colapso. Depois
disso ele ficaria paralisado, uma cela da ala de alta segurança já estava preparada.
Caso ele de alguma forma escapasse dos campos de contenção, um esquadrão
inteiro de robôs de combate esperava nas salas de cada lado do corredor
que levava à estação de hiper-rádio.
Chos-Chosserd concordou em tentar capturar o inimigo vivo. Mas, sob
nenhuma circunstância o comandante quis arriscar escapasse ele escapasse e
provocasse outra explosão.
— O furacão parece estar arrebentando lá fora — brincou Tunbridge. — Você
ouve o vento uivar?
O barulho aumentou. Aparentemente, havia rajadas pesadas nos salões e
corredores da AN-ANEVEUD.
— Não há furacão — Ea-Eaveud estava na entrada. — Além disso, apenas
ventos facilmente previsíveis devem soprar para que possamos localizar a
turbulência causada pelo gaone.
Um projeto que provou ser apenas parcialmente viável. Mesmo com uma
brisa constante da manhã, havia milhares de falsos alarmes.
— Mas, há tempestade lá fora! — Com o manipulador de campo na mão,
Tunbridge apontou o corredor.
— Controle climático! O que está acontecendo? Evidentemente Ea-Eaveud
usou seu comunicador.
— Nós não entendemos! — A resposta veio vibrando a partir de um campo
acústico na frente do peito do traje de correntes de Ea-Eaveud. — O sistema está
fora de controle. Todos os tanques de ar se abrem.
Penelope havia revelado ao gaone como determinar sua posição? Ele estava
se preparando para sua vinda com essa tempestade?
Uma explosão estrondosa interrompeu a deliberação de Rhodan. Lampejos
luminosos se inflamaram na central de hiper-rádio.
Os capacetes dos SERUNS foram fechados. Danhuser arrancou o console da
sua ancoragem quando ele deu um pulo. Tunbridge largou o instrumento e puxou o
radiador.

67
Os sensores mostraram leituras energéticas erráticas.
O gaone já se encontrava na central de rádio? Mas, mesmo que ele estivesse
invisível — como poderia ter vindo? A porta estava segura, os dutos de ar eram
muito estreitos.
Estreito demais para um humano!, percebeu Rhodan. Não para pequenos
robôs de combate. O gaone havia usado vários projetores holográficos móveis. Era
óbvio que ele também tinha unidades similares que produziam frentes de
interferência.
Um terminal metálico explodiu, metalplástico incandescente espirrou contra
o SERUN de Rhodan. Fumaça oleosa saiu. Os vanteneuerenses pegaram as armas
escondidas e correram descontroladamente.
Outras explosões causaram fumaça adicional, sons altos ecoaram pela sala,
lampejos erráticos levaram o absorvedor de luminosidade no capacete de
Rhodan ao seu limite. O chão tremeu e se rompeu.
Ele quer nos matar em vez de nos levar ao seu Ghuogondu?, perguntou-se
Rhodan.
Um pedaço circular do piso desapareceu. Do buraco apareceu a luz verde de
um raio desintegrador, fumaça vaporizada e uma camada do teto. O gaone de
armadura branca ergueu-se como um demônio do submundo.

68
23.

Capitulação

Gi Barr disparou e matou dois vanteneuerenses que dispararam com seus


radiadores. Os outros dois não foram reconhecidos, os sensores de seu traje de
combate provavelmente não conseguiam penetrar a fumaça e a agitação excessiva
das sondas de camuflagem.
Obviamente, foi diferente com Perry Rhodan. Ele se aproximou de Barr.
O gaone o reconheceu em sua estatura apesar de seu capacete fechado. Ele
apontou o quinto-radiador para ele.
Rhodan não estava armado. Ele levantou as mãos sobre a cabeça.
Confuso, Barr verificou a análise ambiental.
Yester não viu sinal de artifício. A entrada para a central de hiper-rádio
estava preparada, todo o resto o teria decepcionado. Afinal de contas, seus inimigos
não sabiam o quanto sua armadura fora danificada e que o dispositivo que o tornava
invisível funcionava apenas de maneira não confiável.
Quatro grandes emissores e, presumivelmente, mais alguns brinquedos que
não foram descobertos à primeira vista, guarneciam a porta. Contudo, como Gi Barr
havia penetrado a partir do piso, essa estrutura não era uma ameaça e nada mais
era visível. Os vanteneuerenses estavam armados, mas nem robôs de combate
estavam posicionados.
— Eu me rendo — Rhodan acenou com a mão direita. Ele segurava um
módulo nela. — Meu gerador de campo defensivo. Eu iria até você se não atirasse.
— Yester! Análise!
A resposta veio imediatamente. — Uma probabilidade de noventa e três por
cento que na verdade seja um gerador de campo defensivo.
— Ele poderia ter estado instalado no traje de Rhodan?
— Positivo — O visor de leme translúcido mostrava uma imagem ampliada
do peito de Rhodan. Uma depressão ajustada em forma e tamanho ao módulo, pode
ter sido levada para lá.
O sensor de energia vital representava uma forma de vida que se aproximava
como uma nuvem de faíscas que se condensava na fumaça.
Barr arrancou a arma e atirou, antes de se dar um alvo reconhecível.
Um campo defensivo flamejou. O outro recuou.
Os dados de desempenho sugeriram que não se tratava de tecnologia
vanteneuerense. Então, Danhuser ou Tunbridge? Tão pouco quanto Rhodan, Barr
desprezava os soldados que não ajudavam seus camaradas em combate. —
Covardes.
— Já houve mortos o suficiente — disse Rhodan. — Você me queria, agora
você me tem. Deixe os outros em paz.
Barr estava pronto para lutar contra toda a força. Mas, isso teria sido um
meio para um fim. Suas ordens era para que levasse Rhodan de volta e, quanto mais
fácil, melhor. — Venha cá!
Rhodan se aproximou a um metro.

69
Barr amarrou um Transmissor de interferência de rádio no peito dele e o
ativou. — Abra o capacete! — ele queria ter certeza de que não sequestraria alguém
com um traje controlado remotamente.
Rhodan obedeceu. A fumaça fez com que ele tossisse.
Barr puxou-o para o buraco que ele havia queimado no chão e pulou com ele.
Eles correram pela passagem no convés inferior seguinte. Redemoinhos
lançavam objetos soltos pelo corredor: panos que serviam de decoração, placas
leves, um pedaço de plástico.
Barr felicitou-se por levar a sonda de infiltração consigo. Ela fez todo o
trabalho. Era preciso conceder aos vanteneuerenses uma criatividade excepcional,
como atos de sabotagem em questão. Como mais poderia ser alcançado em mundos
civilizados ao paralisar uma rede de computadores do que explodir um prédio, eles
também tinham equipamentos apropriados. Não era de surpreender que eles
pudessem facilmente lidar com a tecnologia da informação vanteneuerense — ela
era mais conhecida pelos projetistas.
Talvez Barr pudesse ter tornado o transferidor-galáctico incapaz de
manobrar, mas um ataque aos sistemas centrais teria aumentado o risco de
descoberta. Então, ele estava contente com o controle do armazenamento de ar. Um
quarto de hora de caos a bordo era tudo o que ele precisava.
Ele segurou o quinto-radiador em Rhodan enquanto seguiam o caminho que
Yester projetava na tela do capacete. — Eu presumo que o escaler que Penelope
Assid falou esteja manipulado?
— É claro — confirmou Rhodan.
— Bom que eu não considerei usá-lo de qualquer maneira.
— Como está Pen? — Rhodan gritou contra a tempestade.
— Eu não sou um assassino — Barr esclareceu. — Ela poderá se mover
novamente dentro de uma hora no máximo. O mais cedo, se você encontrá-la antes
e eliminar o efeito anestésico.
— Eu estou feliz por Báron ter julgado você corretamente — ele parecia
aliviado.
Internamente, Barr sacudiu a cabeça. A história do membro renegado da
tropa que estava decepcionado com seu líder, ele não comprou de Penelope de
qualquer maneira. Lembrando-se dos registros históricos, Perry Rhodan, embora
ingênuo e servilmente dedicado ao Peregrino, mas sempre mostrava às vezes até
lealdade irracional às pessoas em seu ambiente imediato.
Ele realmente se comprometia a proteger os outros? — Eu esperava mais
resistência de você.
— Eu achei nossa conversa interessante, mas fomos interrompidos — disse
Rhodan. — Eu pensei que quando eu fosse com você, poderíamos continuar sem
perturbações. Eu desconfio dos vanteneuerenses.
— Sério?
Eles correram ao longo de uma esteira transportadora para alcançar três
níveis abaixo. Nos corredores, que eles atravessaram, o vento soprava um pouco
mais fraco.
— Os métodos dos vanteneuerenses... — a voz de Rhodan estava
calma. Aparentemente, o ativador celular evitava a exaustão durante a corrida. —
Eu suponho que eles matariam Penelope em seu lugar.
— Eles são terroristas, eu sou um soldado — Barr esclareceu.

70
24.

Peregrino

Perry Rhodan não tentou abrandar o caminho através da AN-


ANAVEUD. Teria sido imprudente provocar o gaone. Certamente, Gi Barr teria sido
capaz de narcotizá-lo, dando-lhe um tiro com sua arma multifuncional, a armadura
obviamente tinha amplificadores de potência. E o anestésico seria apenas a variante
inofensiva.
Talvez Rhodan devesse estar mais preocupado com a arma multifuncional
apontada para si. Mas, ele foi dominado pela emoção de encontrar um terrano em
um lugar tão improvável. Ele não podia esperar para descobrir mais.
— Quando fomos interrompidos, estávamos conversando sobre AQUILO —
disse ele, tentando pegar sua primeira conversa.
— O que eu deveria dizer sobre ele? — Barr perguntou. — Você conhece a
má sorte melhor do que qualquer outra pessoa.
Por causa do vento uivante, que soprava sobre Rhodan às vezes mais fraco,
às vezes mais forte no rosto, as sutilezas na modulação foram perdidas,
especialmente desde que a voz do gaone soou muito tecnológica. Todavia, Rhodan
acreditava que Barr falou sem emoção audível, como ridicularização ou raiva. Ele
usava o nome de AQUILO como um todo. Sua raiva pela superinteligência devia ser
profunda.
— A maioria das pessoas veem AQUILO como um aliado — disse ele
cautelosamente.
— Então, elas são estúpidas — disse Barr —, ou manipuladas. Qualquer um
que possa pensar com clareza deve perceber que não se deve confiar no Peregrino.
Ele segurou Rhodan e empurrou-se contra a parede de um corredor ao lado
de um desvio. O gaone esperou um momento, seus dedos se abriram e fecharam ao
redor do cano de sua arma, abaixo da extensão, onde vários orifícios podiam girar.
Só depois de dez segundos eles continuaram no chão suavemente
ondulado. O corredor de abertura estava vazio.
— Sem AQUILO, eu estaria morto agora — disse Rhodan. — Só por causa
do AQUILO eu tenho um ativador celular. O mesmo se aplica a muitos dos meus
amigos.
— Sim, seus amigos — disse Barr. — É assim que o Peregrino te corrompeu,
não é? Como se sente ao ter o poder sobre a vida? Dá-la e retê-la como quiser?
Rhodan apontou para a arma de raio. — Para mim, parece que você é quem
decide sobre a vida e a morte.
Ele deu de ombros, um movimento bem visível na armadura flexível. —
Sobre a morte, isso pode ser. Mas, eu não posso dar imortalidade. Certamente, você
se sentiu como um deus quando deu a vida eterna a Reginald Bull. Ele é seu melhor
amigo. Ele ainda está vivo?
Eu também gostaria de saber disso, pensou Rhodan. Ele esperava ouvir Bull
novamente logo. Bem como Atlan e Tifflor. Desde os eventos que que rodearam o
Tribunal Atópico, eles desapareceram de sua vida. Mais de três décadas se passaram
desde a última vez que os vira, mas ele sempre pensava neles. Julian Tifflor havia se
tornado um juiz atópico, o que quer que isso significasse em detalhes. Atlan tinha

71
literalmente desaparecido entre os tempos, e ninguém sabia quando e como ele
voltaria dos Domínios Intemporais.
Atravessaram um corredor tempestuoso no qual redemoinhos de ar uivavam
em torno de colunas tortuosas.
— Com a vida eterna, o Peregrino teve você nas mãos, eu acho — Barr disse,
quando eles estavam de volta em um corredor. — Eu imagino que é por isso que
você está ajustando as coisas para justificar suas ações para si mesmo. Mas, isso não
explica por que todo mundo segue você.
— Eles não seguem — corrigiu Rhodan. — Há uma oposição viva às minhas
ideias.
Barr riu. — Como aquela Penelope Assid?
— Aquilo foi apenas um truque — admitiu Rhodan.
— Um bem ruim. Mas, você pode se divertir. Guiar a humanidade para a
tutela do Peregrino é outra questão.
— Você não acha que tem uma visão unilateral?
— Você está tentando me persuadir de que algo lhe legitimou para
determinar quem usa o Fisiotron?
Esta questão não é tão fácil de descartar, achou Rhodan. Não havia nenhum
mandato democrático para minhas decisões na época. Ainda assim, ele achava que
não agira de maneira egoísta ao selecionar os destinatários para a ducha celular que
prolongava a vida.
— Você usou sua posição de poder para tornar pessoas importantes
dependentes de você — continuou Barr. — Quem quer morrer? E você foi o único
que poderia dar ou reter a salvação deste medo da criatura. Mas, você conseguiu
apenas assegurando o favor do Peregrino. Então, ele tinha você em duas mãos: sua
própria imortalidade e o poder que você não queria renunciar.
— Mesmo se estivesse certo, você ainda não pode negar que AQUILO provou
ser um amigo para a humanidade.
Mais uma vez eles pararam em frente a uma encruzilhada. O gaone virou a
viseira escura para ele. A superfície arqueada ampliou o reflexo de Rhodan. O
material branco do capacete mostrava linhas irregulares, restos selados de
rachaduras.
— Por que seu amigável Peregrino não avisou sobre o Enxame para a
humanidade e os outros povos da Via Láctea? — o gaone perguntou friamente. —
Ele finalmente sabia sobre seu retorno. As tropas agressivas que fizeram o seu
caminho. Sem mencionar a imbecilização que causou bilhões de mortes. Os gênios
tornaram-se idiotas, mas ainda serviram-se de instalações altamente técnicas com
imenso potencial destrutivo. Com algum conhecimento prévio, a Via Láctea poderia
ter mitigado o perigo. A imbecilização teria sido tecnicamente evitável.
— Pode ser que a AQUILO tenha permanecido passivo neste assunto. Mas
quase sempre, quando AQUILO se tornou ativo, salvou a humanidade, e você tem
que ver isso também. Basta pensar no reinado de terror dos afílicos!
— O que há sobre ele?
— AQUILO salvou muita gente da morte, pela superinteligência tê-las
absorvido. Para não esquecer, durante esta crise, AQUILO salvou o planeta Terra.
Barr desintegrou a tampa de um duto e apontou convidativamente para a
abertura. — Depois de você.
Rhodan entrou. Afinal, ele não precisava rastejar, mas podia se curvar.

72
— A fundação da Liga Hanseática Cósmica também remonta a AQUILO —
explicou Rhodan. — Isso trouxe paz, progresso e prosperidade a níveis sem
precedentes.
— E você quer me dizer, que o Peregrino teria feito isso sem segundas
intenções?
— Mesmo que houvesse uma vantagem nisso, era mútua — argumentou
Rhodan. — E o que dizer da segunda terra que AQUILO criou no ataque de Vishna?
— Se você olhar com cuidado suficiente, você sempre reconhecerá o
interesse próprio do Peregrino.
Rhodan achou essa afirmação notavelmente vaga quando comparada às
alegações específicas que Barr fez com referência à crise do Enxame. Seria possível
que o gaone estivesse desinformado sobre os eventos posteriores na Via Láctea,
embora os thoogondu aparentemente continuassem a seguir o desenvolvimento?
— Quanto ao Enxame — ele pegou o fio da meada —, uma dica oportuna
certamente teria sido útil.
— Útil? — Barr perguntou. — Você não acha que é uma descrição trivial quando
você fala sobre vários bilhões de vítimas?
— Eu concordo. Mas, AQUILO não aceitou deliberadamente esses
sacrifícios. O retorno do enxame havia sido calculado para outra época.
Barr bufou. — Isso é ridículo. Que tipo de superinteligência é essa que calcula
erroneamente de tal maneira? Ela tem tecnologia fabulosa à sua disposição! E povos
inteiros para ajudá-la. Não deveria ter alguém que prestasse atenção em uma coisa
tão importante e verificasse o resultado?
Novamente Rhodan descobriu que a acusação de Barr era bem
fundamentada. Não apenas em termos do Enxame, mas também em outras
catástrofes cósmicas, um alerta de AQUILO, para dizer o mínimo, teria sido útil.
Todavia, AQUILO escapava aos padrões humanos. A superinteligência atuava
em um contexto de relações causais que abrangiam épocas e distâncias
inimagináveis, bem como dimensões alternativas. Até mesmo a morte de bilhões de
inteligências poderia impedir um infortúnio ainda maior — mesmo se fosse apenas
por causa da ausência de resistência ativa que alguém não atraísse a atenção de um
adversário muito mais formidável.
Contudo, AQUILO era tudo menos um patrono de boa índole que se
divertia. Perry Rhodan tinha de admitir que sabia muito pouco sobre o que a
superinteligência realmente era. Ele só podia supor que havia sido no espírito de
Aquilo ter deixado os terranos caírem na “armadilha do Enxame”. E que isso também
era do interesse dos terranos, mesmo que não sentissem isso, ele só podia esperar.
— Espere — Barr o segurou na frente de uma grade de ventilação. — Nós
ficamos aqui.

73
25.

Fuga

— Não estamos perto de um hangar — disse Perry Rhodan.


— Isso mesmo — confirmou Gi Barr.
Ele disse a Yester para enviar os últimos projetores holográficos através das
aberturas das tampas de ventilação. A transmissão da imagem mostrava três
vanteneuerense, cujas roupas soltas pareciam enlouquecidas pelo vento forte.
Barr fez com que as sondas construísse imagens de thoogondu atacantes,
explodindo as tampas e saindo.
Sem trajes protetores, os vanteneuerenses distraídos pelas holografias foram
vítimas fáceis de seus raios anestésicos.
— O transmissor! — Rhodan percebeu.
Barr puxou-o para o terminal de controle ao lado da plataforma circular, em
grande parte cercada por colunas. Devido à batalha com a chegada deles na AN-
ANAVEUD, o piso estava rasgado em muitos lugares, mas isso não deveria afetar a
função de irradiação.
O gaone segurou o multirradiador contra Rhodan, enquanto ele deslizava a
mão esquerda enluvada sobre o campo de troca de dados. — Yester: faça o login!
Nas últimas horas, a neurotrônica esteve estudando a rede de computadores
do transferidor-galáctico, e os algoritmos da sonda de infiltração permitiram as
conclusões cruciais. Isso permitiu que a maioria dos backups ocorresse. Em
qualquer caso, se aceitarmos que a invasão foi descoberta.
Barr não precisava mais agir em segredo. Ele não ficaria mais um minuto na
nave. Satisfeito, ele viu o painel de controle confirmar que o transmissor estava
inicializando. Agora, ele só precisava escolher uma contra-estação adequada.
— O que você espera de uma fuga para um mundo vanteneuerense? —
perguntou Rhodan.
— As bases dos terroristas interessarão nossa inteligência — disse Barr
alegremente. Por essa razão, ele também fez com que Yester registrasse os dados
que recebeu através do banco de dados de destino. Acima de tudo, no entanto, a
neurotrônica costumava comparar com os planetas conhecidos do Império
Dourado. — Algo como Porass seria apropriado — ele murmurou. — Um mundo em
que o Gondunat tenha influência significativa.
— Você não conseguirá uma transferência para Porass — alertou Rhodan. —
A estação está muito longe. Nós só chegamos aqui porque energia psiônica foi
usada. O doador morreu, mas não podemos repetir isso.
— O Império Dourado é grande — Barr respondeu casualmente. — Os
vanteneuerense preferirão viajar para os nossos mundos, não para os seus. Afinal,
eles querem ataques... ah, nós temos alguma coisa!
Ele quis direcionar Rhodan para a plataforma irradiante, mas, de repente, um
campo defensivo individual envolveu seu prisioneiro.

74
26.

Ajuda

Se o segundo gerador de campo defensivo surpreendeu o gaone, ele não


mostrou. Ele se afastou, ativou o antigravitacional de sua armadura e disparou.
O impacto direto de perto reduziu imediatamente o desempenho do campo
defensivo para sessenta por cento.
Rhodan voou para trás de uma coluna e ao mesmo tempo arrancou o emissor
de interferência que seu oponente havia anexado ao SERUN. — Para o transmissor!
— ele transmitiu. — Repito: nós estamos no transmissor!
— Entendido! — Confirmou Dean Tunbridge. — Nós estamos a caminho.
Uma das regras mais importantes em um combate era nunca fazer o que o
inimigo esperava. Como Rhodan não tinha arma ofensiva, Gi Barr supunha que ele
fugiu ou se escondeu.
Assim, ele circunavagou as colunas e voou a cinco metros de altura do gaone
que flutuava. Ele bateu com o punho no console de controle do transmissor. Não
apenas os intensificadores musculares, mas também o campo defensivo ativado
garantissem que o golpe atingisse o dispositivo. Faíscas voaram para todos os lados.
Eu espero que isso seja o suficiente para paralisar o transmissor.
Assim que os aliados de Rhodan chegassem, o gaone desistiria de seu plano
e aproveitaria a oportunidade para fugir sozinho. Isso era o que tinha que ser
evitado. Ainda havia muitas perguntas. Quanto ao Segundo Império Solar, Rhodan
acabara de arranhar a superfície.
O prêmio por sua iniciativa foi outro impacto de raio desintegrador.
O campo defensivo caiu para vinte e um por cento, o SERUN soou o alarme e
iniciou uma manobra de fuga. Em um curso errático em ziguezague, Rhodan se
afastou.
Os robôs de combate vanteneuerenses voaram em direção a ele com campos
de radiação ativados. Imediatamente, eles abriram fogo no gaone.
O campo defensivo dele brilhou tão intensamente que as colunas da área
projetaram sombras profundas. A silhueta cintilou, aparentemente o defletor
funcionava de maneira incerta.
As máquinas não permitiram errá-lo perdê-lo novamente. Mais e mais foram
chegando, e eles se revezaram no bombardeio, para que o campo defensivo fosse
constantemente atingida.
— Nós estamos nos movendo para o grande salão ao lado do transmissor.—
Impaciente, Rhodan observou a carga do gerador de campo defensivo se recuperar
lentamente.
— Nós vamos localizá-lo claramente — disse Tunbridge.
Alguns vanteneuerenses apareceram entre as colunas, mas não ousaram
intervir. Aqueles raios dos robôs que erravam o alvo eram tão perigosos quanto um
possível ataque do gaone. Como resultado dos raios térmicos, o SERUN indicou uma
temperatura do ar de oitenta graus. Aço plastificado estava fervendo por toda parte,
uma coluna derreteu na base até que tombou.
Barr aparentemente não estava familiarizado com a palavra “rendição”. Ele
destruiu quatro robôs de combate antes que seu armazenamento energético caísse

75
tanto que ele finalmente desistiu da invisibilidade. Ele também não parecia
mais dispor de projetores holográficos, pelo menos não havia mais ilusões. O campo
defensivo ainda se mantinha, mas cintilava de forma errônea, mesmo que ele não
recebesse um impacto. Em curto prazo, fendas causaram a queimadura da
armadura, provocando manchas pretas no pedgondit branco.
— Eles devem parar o bombardeio, Perry! — Danhuser falou por
rádio. O oxtornense correu para o campo de batalha, algo arriscado, embora as
falhas agora fossem raras por causa do alvo mais seguro. — Eles estão matando-o!
— Ele tem que se render — retrucou Rhodan. — O que você está fazendo?
— Ele me fez prisioneiro, mas não me matou — O oxtornense usou uma
ondulação do piso como uma rampa, saltou e ativou o antigravitacional para se
dirigir contra Barr.
O campo defensivo de Rhodan estava novamente em dois terços da
potência. — Você me ouviu, Ea-Eaveud? — ele voou na direção de Danhuser e
Barr. — Pare o bombardeio! Nós podemos consertar isso.
A resposta não veio.
Danhuser voou para as trajetórias dos raios, protegendo o gaone com seu
próprio campo defensivo, que reluziu tão intensamente que o oxtornense tornou-se
indetectável.
— Isso está indo longe demais, Báron!
— Eu não quero ser culpado de nada pelo cara.
Rhodan suspeitava que esse não fosse o único motivo. Danhuser nutria uma
profunda aversão pelos vanteneuerenses desde o ataque atômico em Porass. Ele
esperava que o interrogatório do gaone fizesse Rhodan acreditar que eles eram
aliados inadequados. Uma esperança não totalmente infundada, o gaone havia
realmente provado que ele lutava muito, mas evitava sacrifícios desnecessários.
Apesar da proteção de Danhuser, Barr recebeu mais alguns impactos. Seu
campo defensivo entrou em colapso.
O oxtornense se jogou sobre ele e colocou os braços ao redor dele.
Rhodan prendeu a respiração.
De repente, o bombardeio terminou.
Os dois caíram no chão, onde lutaram um com o outro. A força do oxtornense
parecia ganhar vantagem, mas de repente o gaone tinha uma lâmina brilhante em
sua mão.
Com um mergulho, Rhodan pousou no antebraço, impedindo-o de atacar.
Contudo, o gaone conseguiu derrubar o oxtornense.
Rhodan lembrou-se do ponto fraco que Danhuser descrevera. Ele alcançou o
queixo do oponente e arrancou o capacete.
Estalando, a viseira se abriu.
Os movimentos de Barr tornaram-se erráticos.
Rhodan arrancou novamente.
O capacete finalmente cedeu e escorregou da cabeça. Rhodan afastou-o e
atirou-o para longe.
O homem parecia exatamente como Danhuser o descrevera: de pele escura,
careca, com placas de contato em sua cabeça careca, uma sombra de barba,
sobrancelhas escuras sob as quais suas pálpebras tremiam. Definitivamente um
terrano.
— Cuidado! — Danhuser se jogou sobre o gaone. — A armadura assumirá o
controle.

76
De fato, seus braços e pernas se moviam, e parecia que ele estava trabalhando
contra Danhuser, que por sua vez estava usando os geradores de gravidade de seu
SERUNS para manter seu oponente para baixo.
— Nós o pegamos! — Dean Tunbridge balançou os braços para os
vanteneuerenses que se aproximavam. — Não atire!
Rhodan arrancou a lâmina vibratória do gaone e a segurou contra seu rosto.
— Eu suponho que uma máquina controla esta armadura. Ouça! Se sua programação
é projetada para proteger seu usuário, desista agora. Caso contrário, ele vai morrer.
Os algoritmos levaram alguns segundos para entender esse argumento.
Então, a resistência terminou.
No silêncio após o trovão da batalha, o gemido do gaone era o som mais alto.
— Ele é um terrano! — Ea-Eaveud gritou em uma voz vibrante.
— Isso não é certo — disse Danhuser. — O universo produz semelhanças
surpreendentes.
Uma tese que duraria apenas brevemente, temia Rhodan.
— Eu temo que tirar o capacete seja ruim para ele — disse Ea-Eaveud.
Os vanteneuerenses formaram um círculo ao redor do prisioneiro. Alguns
deles apontaram suas armas para ele, mas eles não seriam tão loucos para atirar
enquanto Rhodan estivesse ao lado dele e Danhuser estivesse deitado em cima dele.
— Não seria insensato usar sua fraqueza para tirar a armadura — sugeriu
Ea-Eaveud. — E então, vamos levá-lo para uma cela de alta segurança.
— Concordo — disse Rhodan. — Mas, eu quero falar com ele lá.
— Chos-Chosserd tem que decidir isso — disse Ea-Eaveud.

77
27.

Cela

— Você está se sentindo melhor? — perguntou Penelope Assid.


Ela se recusou a dar um tempo. Ela queria estar lá quando falasse com o
prisioneiro.
Perry Rhodan ficou muito aliviado por ela ter sido encontrada atordoada
pelos raios anestésicos. Ela segurava um copo com uma bebida fumegante na mão,
assim como Rhodan. O cheiro era doce, o sabor amargo, mas não era desagradável.
Despido de sua armadura, o gaone usava apenas um pedaço branco liso feito
de fibras sintéticas. Os vanteneuerenses havia examinado minuciosamente o tecido
e pareciam intrigados por não conter componentes explosivos.
Gi Barr manteve os olhos fechados. — Eu vou ficar de pé novamente — ele
prometeu cansado.
Ele estava sentado no chão, embora houvesse um leito, uma cadeira e uma
mesa em sua cela. Uma parede consistia em plástico duro transparente e permeável
ao som, sobre o qual havia um campo energético no interior.
Penelope cruzou as pernas. — Você nunca tira sua armadura?
— Normalmente, os contatos são retirados de maneira controlada —
explicou Barr. — Então, você não se sente meio cego, meio surdo e como se estivesse
fazendo uma corrida contínua em um mundo de alta gravidade.
— Você precisa de ajuda médica? — perguntou Rhodan.
Barr bufou. — Só um pouquinho de tempo, então eu assumo a nave inteira
novamente. Quantos soldados e robôs de combate você usou contra mim?
— Muitos — admitiu Rhodan.
O gaone sorriu, mas isso pareceu causar-lhe uma dor de cabeça. Ele gemeu e
esfregou as têmporas.
— Nós queremos conversar com você — disse Rhodan. — Eu espero que você
também queira isso. Nós convencemos o comandante de que podemos alcançar os
melhores resultados se você cooperar. Se não, os vanteneuerenses têm métodos de
interrogação que não requer cooperação. Contudo, eles podem danificar seu cérebro
permanentemente.
— Ah, a criatura do Peregrino mostra seu rosto feio.
— Não queremos ameaçá-lo — Penelope insistiu. — Mas, também achamos
errado não contar as consequências das diferentes opções.
— Porém. na Via Láctea eu tenho muito menos influência do que você poderia
esperar — disse Rhodan —, e não tenho nada a comandar nesta nave. Mas, Chos-
Chosserd decide se ficará satisfeito com o curso da nossa conversa.
— Eu presumo que ele esteja ouvindo agora também.
— Isso mesmo.
Dois robôs de combate flutuavam ao lado sobre Rhodan e Penelope. Talvez o
gaone não os tivesse notado ainda, porque não emitiam nenhum som, ele mantinha
os olhos fechados a maior parte do tempo e dizia, segundo suas próprias
informações, que já estava enjoado de qualquer maneira.
Barr molhou os lábios. — Eu não revelarei nenhum segredo de estado.
— Talvez o que queremos saber não esteja sujeito a sigilo — disse Penelope.

78
— Vamos tentar — Barr sugeriu.
Em sua última conversa, o gaone havia revelado bom conhecimento da
invasão do Enxame. Mas, ele não disse nada sobre a guerra contra os Dolans ou
outros eventos incisivos em que alguém poderia desejar uma sugestão de AQUILO.
Nós podemos concluir que a chegada do Enxame tem um significado especial
para os povos que vivem hoje em Sevcooris?
Encorajadoramente, Penelope assentiu para Rhodan.
Ele se inclinou para frente e observou o rosto do cativo. — Qual é a relação
entre o Segundo Império Solar e o Enxame?
As feições de Barr se endureceram. — Para isso, eu posso contar uma história
que é tão presente para cada um dos nossos cidadãos como se tivesse
experimentado pessoalmente. Talvez seja uma boa ideia de qualquer maneira. Se
você souber sobre esses eventos, até mesmo você verá o Peregrino e o Gondunat sob
uma nova luz. As coisas são diferentes do que você pensa.
Rhodan cruzou as mãos. Esta sugestão despertou sua curiosidade. Ela
prometeu que não só aprenderia sobre um ramo da humanidade desconhecido até
ontem e sobre o Império Dourado. Ele era capaz de esperar por novos
conhecimentos sobre AQUILO. E tudo o que dizia respeito à superinteligência
afetava o papel da humanidade no universo.
Gi Barr sentou-se. Ele parecia ter tomado uma decisão. — Você quer ouvir
essa história, Perry Rhodan? — ele perguntou desafiadoramente.
— Sim, eu quero.

Fim

Não os vanteneuerenses, mas sim os gaones parecem dar a Perry Rhodan mais
informações sobre o pano de fundo da atual política gondusense. Mas, até a visão deles
pode ser colorida. Em qualquer caso, Perry Rhodan fará tudo o que estiver ao seu
alcance para desvendar os segredos que estão obviamente relacionados com a Crise
do Enxame e AQUILO.
O próximo episódio foi escrito por Michael Marcus Thurner, e resolve alguns
dos enigmas que cercam os gaones, AQUILO e os thoogondu, e tem por título:

O NOVO IMPÉRIO

79
Glossário

Assid, Penelope

A xenolinguista e xenosemiótica de 35 anos, muito magra, com uma


preferência pela cor roxa é meia terrana e meio báalol. Provavelmente, ela também
deve seus poderes paranormais à sua herança báalol. Ela é uma ouvinte sugestiva.
Este leve dom para-sugestivo faz com que as pessoas revelem a ela mais do que
realmente desejam.

Danhuser, Báron

O oxtornense de 40 anos, é um soldado espacial de desembarque, mas


também é um profundo tecnoanalista e um excelente piloto.

Tunbridge, Dean (Caju)

O terrano de 40 anos e com apenas 1,60 metros de altura geralmente comanda


pequenas equipes de ação e autônomas, os chamados Esquadrões. Ele é considerado
experiente, apto, resistente, inteligente, original e alguém que nunca desiste. Com o pescoço
estendido, ele se parece com uma tartaruga, seu apelido "Caju" deve a sua peculiaridade de
mastigar constantemente nozes, amêndoas e coisas do gênero.

Gaones

Os gaones são guarda-costas do Gondu, e membros da sua guarda. Os gaones


escondem seu rosto e corpo com uma armadura branca feita de pedgondit com
mosaicos dourados. Estes são guerreiros selecionados, mas por causa de sua forma
e postura eles provavelmente não sejam thoogondu, como os terranos os conhecem
até agora.

Filho de Ninguém

O Filho de Ninguém foi conhecido naquela época, quando os thoogondu


estavam em aliança com AQUILO, como o factótum do Peregrino, assim designado
pelo primeiro Gondu que encontrou a Morada do Peregrino.
O Filho de Ninguém é um thoogondu; na verdade, ele não é um ser vivo, mas
um robô numa base intotrônica, mas exteriormente ele se parece com um
thoogondu. Ele é alto e magro. Sua carapaça não é nem cinza (como nos thoogondu
masculinos) nem multicolorida (como nos thoogondu feminino), mas de um branco
simples e quase cerâmico. Ele usa seu macacão simples de peça única como uma

80
segunda pele cuja cor se adapta ao ambiente. O macacão é fechada do pescoço aos
pés. Apenas as mãos estão livres. É reforçado nas solas.

Vanteneuerenses

Os vanteneuerenses são um povo da galáxia Sevcooris. Eles possuem


vagamente à forma básica humanoide: tronco, dois braços, duas pernas. A pele
visível é de um vermelho escuro, mede um metro e meio até o ombro. Eles não
possuem cabeça nem pescoço; entre os ombros, há um olho facetado hemisférico
do tamanho de um punho com visibilidade total.
Na altura do peito, há uma abertura bucal na horizontal, atrás da qual duas
linhas de mastigação se tornam visíveis. Abaixo da boca há um órgão oval em forma
de vela no peito, através do qual se respira, mas com o qual também se fala. Para
este propósito, a vela de dicção vibra. Em cada discurso, é possível uma
compreensão clara; a voz vibra levemente. Há duas lamelas auditivas estreitas à
direita e à esquerda da vela de fala.
Braços e pernas têm ombros e articulação do cotovelo. As mãos não estão
dispostas em dedos, mas cada uma consiste em um retalho de pele muscular e
elástica. Os pés são estruturados da mesma forma.
Os vanteneuerenses falam e entendem a lingua franca de Sevcooris, o
Gondunin, mas também cultivam seu próprio idioma, o Vanto. Uma peculiaridade
linguística é o uso de múltiplos negativos, com os quais eles afirmam pedidos ou até
mesmo demandas — o que eles nunca fariam diretamente.
Os vanteneuerenses são hermafroditas. Em sua fase masculina, eles
fertilizam um óvulo de uma parceira que está na fase feminina. As fases masculina e
feminina se alternam a cada três anos.
Assim como os soprassidenses, os vanteneuerenses tinham um império
estelar que foi esmagado pelo thoogondu : o Plenário. Naquela época, eles também
tinham uma tecnologia sofisticada.

81
82

Você também pode gostar