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Nr. 2913

O Novo Império

Por:

Michael Marcus Thurner

Tradução:

Paulo Lucas

Revisão:

Alberto Hubert Müller

Pabel-Moewig Verlag KG, Rastatt

Space Traduções®

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O Novo Império

Registra-se ano de 1.551 NCG (5.138 a.D), uns bons três mil anos a
partir do século vinte um. Após grandes convulsões na Via Láctea, as
relações entre os diferentes reinos estelares estrelas se acalmaram; no
geral, a paz prevalece.
Acima de tudo, os planetas e luas habitados por humanos visam um
futuro positivo. Milhares de mundos se uniram para formar a Liga dos
Galácticos Livres, que também inclui seres que em anos anteriores teriam
sido chamados de "não-humanos".
Apesar de todas as tensões que ainda existem, a visão de Perry
Rhodan de transformar a galáxia em uma ilha estelar sem guerras parece
estar se concretizando lentamente. Mais contatos estão sendo
estabelecidos com outras galáxias. Atualmente, o próprio Rhodan está n
Império Dourado thoogondu, que também quer estabelecer um
relacionamento com a Via Láctea.
Os thoogondu foram uma vez um povo escolhido de AQUILO antes
que a superinteligência os banisse da Via Láctea. Agora eles dominam a
galáxia distante Sevcooris e estão felizes com o desaparecimento de
AQUILO. Segredos cercam os thoogondu, incluindo os gaones: Pois estes
são seres humanos — e governam o NOVO IMPÉRIO...

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Os principais personagens deste episódio:

Perry Rhodan - O terrano aprende sobre o passado.


Gi Barr - O gaone fala com um adversário.
Pincas Nikolov - O terrano se preocupa com a segurança de seu
pessoal.
Maeva Aponte - O comandante da ORION se preocupa com o feto.
Lisi Schiller - O Homo superior assume a responsabilidade.
Papa Uh - Um oponente perigoso assedia a ORION.

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1.

Na sala de interrogatório (1)

— É uma história cheia de tragédia — disse Gi Barr. — É sobre sacrifício. De


medo e desesperança. Desespero e fraqueza. Uma fraqueza que finalmente se
transformou em nossa vantagem e levou à fundação de um novo império.
— Tudo soa um pouco dramático, para não dizer pomposo — Perry Rhodan
cruzou os braços sobre o peito e estudou seu interlocutor. — Isso não aumenta
necessariamente a credibilidade.
— É a história dos gaone e eu faço parte dela.
— É claro. O que mais? — Rhodan suspirou. — Quantas vezes você acha que
ouvi dizer que alguém está cumprindo seu dever? Dificilmente alguém assume a
responsabilidade por suas ações – quase ninguém faz isso.
— Você gostaria de se envolver em uma discussão sobre os meus valores e
do Segundo Império Solar, ou gostaria de conversar comigo?
O gaone parecia cansado e esgotado, enquanto se sentava no chão encostado
a uma cadeira. Mas, Rhodan não podia ser enganado. No crânio sem pêlos de seu
interlocutor havia uma mente perfeitamente funcional e prática. Uma conversa com
Gi Barr o desafiaria.
— Eu quero saber o máximo que puder sobre o Segundo Império Solar —
disse Rhodan. — Me dê uma chance de mostrar algum tipo de compreensão por você
e seus congêneres.
— Existe alguma chance de podermos conversar em particular?
— Não — Rhodan apontou para um dos dois robôs de combate que flutuavam
à esquerda e à direita. — Mesmo se eu quisesse, não poderia decidir além do que se
passa nas cabeças dos nossos anfitriões. Os vanteneuerenses ordenaram a
segurança mais rígida para você. Isso inclui o fato de sempre haverá um campo
defensivo e este disco rígido de plástico transparente entre nós dois.
— É claro — Gi Barr sorriu. — Os vanteneuerenses fazem bem em me temer.
Rhodan conhecia algumas funções básicas da tecnologia na sala de
interrogatório. Ele tocou em um botão e garantiu que a conexão de áudio fosse
interrompida. Ele se virou para sua companheira, Penelope Assid.
— O que você acha dele? — ele perguntou.
— Ele está cansado, ainda sente dor por causa do combate com a gente —
disse a meio-terrana. — Que ele não pode mais usar seu traje o irrita e, em certo
sentido, paralisa sua resiliência.
Ela levantou a mão direita para impedir Rhodan de falar. — Mas, isso não
significa que Gi Barr tenha perdido sua periculosidade, muito pelo contrário. Ele vê
suas chances nessa conversa. Ele é um interlocutor altamente competente. Ele sabe
o que dizer e como usar suas palavras da maneira mais eficaz possível.
— Isso significa?
— No momento ele está ansioso para ganhar tempo. E construir
confiança. Acrescente a isso uma certa dose de curiosidade. Ele quer conhecê-lo
melhor e testar suas reações à narrativa dele. Então, quando ele começar a falar,
tenha cuidado para não divulgar muito de si mesmo. Fique sóbrio, não mostre

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emoções. Ofereça-lhe pouca superfície de ataque. Ele tentará atraí-lo para fora da
reserva.
Assid apoiou suas palavras com o uso de suas mãos. Rhodan valorizava muito
a xenolinguista; mas ele também tinha que ser cuidadoso para não sucumbir às suas
fracas parahabilidades. Ela era uma mestra em direcionar a conversa sem
problemas em uma determinada direção — em sua direção.
— Você saberia se Gi Barr está mentindo?
— Ainda não. Depende de como a conversa se desenvolve. Eu tentarei
analisar o estilo dele, sua linguagem corporal e suas reações. Sua ascendência
terrana torna isso um pouco mais fácil. Mesmo que eu tenha que ter em mente que
ele e seu povo não estiveram em contato com a Via Láctea por mais de mil e
quinhentos anos.
— Eu entendo — Rhodan não quis continuar falando sobre temas tão
delicados. Ele sentia-se observado. Os pequenos humanoides, com seus olhos
facetados distintamente pronunciados e hemisféricos, que carregavam no torso, em
vez de uma cabeça, seguiam tudo o que se dizia nessas salas.
Rhodan ligou o som novamente. O gaone bebeu água de um vaso em forma
de tigela.
— O que há na sua mesa? — perguntou Rhodan, apontando para algumas
folhas enrugadas espalhadas sobre a mesa.
— Isso? Elas são pétalas inofensivas.
Gi Barr pegou uma entre duas unhas, aproximou-a da janela de separação e
deixou que Rhodan a visse. Ela era seca, enrugada e desidratada. Contudo, havia um
fascínio especial pela pétala. Era simplesmente linda.
— Eu tenho carregado as folhas comigo por um longo tempo. Os
vanteneuerenses as examinaram e me devolveram a meu pedido.
— Elas o lembram do seu lar? — perguntou Assid.
— Eles me lembram muitas coisas. Para nós gaones, cada uma delas tem um
significado muito especial.
Mais, Gi Barr obviamente não estava pronto para dizer. Não naquele
momento.
— Eu devo confessar que estou curioso — disse Rhodan. — Como surgiu o
Segundo Império Solar – e como vocês encontraram Sevcooris, uma galáxia a
milhões de anos-luz de distância da Via Láctea?
Gi Barr voltou para sua mesa. Era perceptível nele que ele estava com dor e
tenso. Ele se sentou e olhou diretamente para Rhodan.
— Eu quero fazer um acordo com você antes de relatar — disse o gaone.
— Você não pode exigir nada, Gi Barr. E eu não tenho nada para te dar.
— Não se preocupe. Você pode cumprir meu pedido.
— Eu ouço.
— Você e a sua companheira, vocês me julgam. Você me valoriza e avalia
minha integridade pessoal. Assim que terminar minha história, quero ouvir um
veredito seu. Se você mudou de ideia sobre mim – e, em caso afirmativo, em quais
áreas. De acordo?
— De acordo — Rhodan assentiu, e o gaone entendeu.
Veio exatamente como Pen previu: Gi Barr fez arranjos para manipular os
dois a seu favor. Ele queria construir confiança e convencê-los a julgar seu ponto de
vista, a entrar em seu papel.

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Rhodan reconheceu o perigo. Ele tinha que ser cuidadoso para não se
envolver muito profundamente no mundo de valor do gaone.
Você é um bastardo bem inteligente, pensou Rhodan. Mas, certamente não vou
cair na sua. Eu tenho lidado com caras como você por milhares de anos.
Ele também se sentou à mesa. Ele olhou para Gi Barr e esperou. Pen parou,
os dois robôs de combate vanteneuerenses flutuavam imóveis no ar.
— Tudo começou a bordo do ultracouraçado ORION —, disse o gaone,
respirando fundo. — Foi no dia 20 de julho 3.441...

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2.

Papa Uh enlouquece

Havia estilhaços. Ganchos, ilhós chanfrados, peças metálicas bizarramente


dobradas com farpas. Eles irrompiam de dois andares, e estavam escondidos à
esquerda e à direita do caminho, atrás de montes de lixo que chegavam quase até o
teto.
Fran Kubelik foi o primeiro a ser pego. Ela desmoronou silenciosamente,
crivada das malditas coisas. Então, Sandra Burghese gritou, então Petar Novikam
reclamou.
— Para mim! Vamos! — exclamou Nikolov, atirando-se atrás de vários
painéis metálicos de ynkonite apoiados uns contra os outros com uma tonalidade
rosa característica. Não se poderia encontrar uma cobertura melhor. Dois soldados
imediatamente chegaram até ele, os outros se esconderam em algum lugar por
enquanto. Eles estavam esperando por uma oportunidade para alcançá-lo.
Ele daria a eles.
Nikolov espiou do lado atrás das placas de Ynkonite e viu as duas
armas. Atrás dele, agachavam-se dois terranos sem trajes protetores que encaravam
com franqueza.
Ele disparou com seu radiador na direção aproximada dos dois pequenos
grupos. O metal derreteu, uma pequena montanha de lixo desabou, poeira e fuligem
se espalharam pelo ar.
— Agora! — gritou ele, o pessoal de Nikolov saltou e se apressou em direção
a ele enquanto ele os apoiava com mais armas de fogo.
Eles eram oito. Errado. Eram sete. Kubelik está morto, seu corpo despedaçado
por estilhaços.
Burghese e Novikam, por outro lado, conseguiram, mancando, sangrando e
amaldiçoando, apoiados por companheiros. Eles se jogaram no chão ao lado de uma
montanha de revestimento plástico e sucata para serem examinados pelo único
paramédico do grupo.
Enquanto isso, Nikolov continuou a disparar com seu radiador térmico em
direção a seus inimigos. Ele tocava o gatilho muito gentilmente. Ele tinha que
economizar energia, e ele não queria matar.
A visão melhorou, por parte de seus oponentes, permaneceu calmo. Metal
aquecido crepitava. Vários fios finos de plástico líquido resfriavam-se rapidamente
e formavam fios pendurados nas montanhas de lixo como um enfeite escuro e
bizarro.
Aqui e acolá, Nikolov reconheceu as sombras dos inimigos que não sabiam
como explorar bem sua cobertura. Eles se comportavam estupidamente e
desajeitadamente. Como quase todos os membros da tripulação da ORION.
— Nós devemos nos retirar — aconselhou Bibi Anaitis, a sua segunda em
comando, que estava sentada ao lado dele alguns passos. — Nós voltaremos e
tentaremos outra rota em uma hora. Existem caminhos suficientes através da
confusão certa...

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— Ainda não, Bibi. Nós temos que ter uma ideia da situação aqui. Caso
contrário, em breve teremos mais problemas. E se esses caras forem para a central
de comando?
— Eles são muito pouco organizados para isso. Olhe para isso, sargento! Eles
mal sabem o que fazer aqui.
— Mas, há alguém que lhes diz o que fazer e quem preparou esta
emboscada. Nós precisamos saber com quem realmente estamos lidando.
Nikolov resumiu: uma emboscada cuidadosamente planejada; dois
atiradores; provavelmente meia dúzia de homens levemente armados, escondidos
atrás de pilhas de escombros e esperando, provavelmente indefesos e dependentes
das instruções de do seu mandante.
Ou o líder era um dos dois atiradores?
Difícil de imaginar. Então, o bombardeio teria continuado. Havia um mentor
que ainda não tinha aparecido. Um que Nikolov certamente encontrou nas últimas
semanas.
Thelma “Nariz de Broca” Zhin, talvez, a ex-oficial que orgulhosamente usava
seu apelido. Ela havia cortado ambas as narinas de cima a baixo e supostamente
jogava sal todos os dias no ferimento que nunca cicatrizava para ter um pouco de
compreensão do que era dor. Ou Potty do convés 13, que tinha os pensamentos mais
absurdos sob a influência de um coquetel de drogas. Ou os caras da cidade fossa...
Nikolov ouviu um grito que subiu por sua coxa até a sua medula óssea. Veio
da área oposta do salão. Ele conhecia muito bem esse som enervante. Ele deixava
claro quem era seu verdadeiro adversário.
— Onde estão meus queridos? — ele ouviu uma voz de fístula. — Venham,
venham, mostrem-se! Eu quero brincar com vocês!
— Ele certamente pode nos localizar — sussurrou Bibi ao lado dele. — Nós
temos que fugir! — Seus olhos estavam arregalados, suando na testa.
— Fique calma! — Nikolov disse com a mesma suavidade. — Muitas das
características padrão do Papa Uh estão na bunda dele.
— Nós não sabemos disso! Vamos! Nós temos que nos retirar!
— Negativo. Burghese e Novikam estão feridos, os agregados de voo dos
trajes não estão operacionais. Nós não podemos deixar os dois para trás. Nós temos
que passar por isso.
— Você sabe que não temos chance contra um TARA-III-UH. Não sob estas
condições.
Nikolov sinalizou silenciosamente para que ela silenciasse. Ele estava farto
de ouvir constantemente o que estava errado.
Ele considerou suas opções. Não havia muitas. Eles poderiam, como proposto
por Bibi, tentar escapar do robô de combate e seu pessoal em um dos conveses ainda
razoavelmente seguros. Ou eles permaneciam no lugar, esperando que seus
inimigos concordassem com um conceito e o envolvessem. Entre montanhas de lixo
e sucata. Em uma paisagem pós-apocalíptica, como não poderia ser pior.
— Eu vou pegar vocês ho-ho! — cantou seu adversário, a quem seus
seguidores chamavam de Papa Uh. — Vocês não podem me pegar deco-deco!
Mais uma vez aquele barulho terrível soou, depois um chocalho. Em algum
lugar um monte de lixo desabou, os guinchos indignados de ratos podiam ser
ouvidos.

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— Vamos lá, Papa Uh! — Um dos associados do robô gritou em uma voz
pouco inteligível. — Diga-nos o que devemos fazer. Você tem um plano, certo? Nós
seguimos você. Nós fazemos tudo o que você nos diz para fazer.
— Apenas se acalme, minha ovelhinha — Papa Uh disse. — Você vai
conseguir trabalhar em breve. Seja paciente!
Tornou-se quieto no salão. Só ocasionalmente o chiado e a tosse de seus
inimigos eram ouvidos. De tempos em tempos, o chapinhar de sapatos pesados no
chão coberto de água.
Os dois grupos de seus inimigos se reuniram sob a direção de Papa Uh. Eles
estavam aparentemente a cerca de cinquenta metros à esquerda e a trinta metros à
direita, atrás das maiores pilhas de lixo do salão.
Novikam gemeu reprimido. Maldição, justamente agora! O paramédico
cuidou dele e administrou um analgésico ao mestre de campo.
Nikolov espiou por trás da cobertura. Papa Uh estava longe de ser visto.
Não se sabia muito sobre ele. Exceto que ele era completamente louco e que
apenas parte dos instrumentos de seu corpo funcionavam. Talvez ele os tivesse
identificado através do calor ou com a ajuda de biovalores. Talvez os suspiros de
Novikam tivessem sido suficientes para chamar a atenção do TARA-III-UH para a
localização deles.
— Aquele bando ao lado dos papéis carbonizados — disse Bibi, que se
arrastou ao lado dele.
— E quanto a isso? — Nikolov apontou para um impacto a cerca de dois
metros de altura de detritos metálicos parcialmente fundidos entre si.
— Olhe para os cartuchos na base. Esses são os vasilhames Dewar, não
é? Para nitrogênio líquido.
— Talvez — Nikolov considerou. — Eu entendo o que você quer dizer. Boa
ideia, Bibi.
No entanto, existe o risco de ferirmos ou até mesmo matarmos alguns dos
nossos oponentes.
Ele tinha que assumir o risco. Afinal, ele era responsável por seis
companheiros, e por si mesmo.
Algo de repente apareceu entre pilhas de detritos. Um corpo cilíndrico de
dois metros e meio de altura, com dois braços e tentaculares. Na mão de agarrar,
havia uma enxada arcaica, uma espécie de facão que o TARA-III-UH deixava arrastar
repetidamente pelo chão.
— Ele ainda está em dúvida— sussurrou Nikolov. — Ele não sabe exatamente
onde estamos. Muito bom. Nós temos uma chance.
Ele olhou em volta e viu dezenas de controles eletrônicos espalhados pelo
chão. Presumivelmente, eles já haviam estado armazenados em uma das muitas
prateleiras derrubadas.
Ele pegou um deles. O item era do tamanho de um punho e um pouco pesado
demais para os propósitos de Nikolov. Mas ele não podia se permitir duvidar por
muito tempo. Ele tinha que agir. Ele só teve uma tentativa.
Ele esperou até que Papa Uh desaparecesse novamente entre as montanhas
de lixo. Ele se levantou, suave e cautelosamente. Talvez ele fosse descoberto por
seus oponentes. Ele não se importava. Levaria um tempo para eles entenderem. Eles
eram lentos.

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Ele avaliou a distância, arremessou o controle nas garrafas de nitrogênio e
então se abaixou novamente. Para que ele pudesse espiar por cima do painel de
ynkonite.
Pôde-se ouvir o alto aranhar do facão sobre o metal, depois golpes de
chicote. Papa Uh seguiu o som, saindo de trás das montanhas de lixo. Ele moveu seus
dois braços ainda utilizáveis como um homem com um tremor feroz.
Nikolov disse a seu pessoal para se preparar para fugir. Ele pegou sua arma,
avistou e disparou.
Resultados.
O raio de energia térmica penetrou o vasilhame de nitrogênio, reagindo com
o nitrogênio líquido frio. O material ferveu e explodiu o recipiente.
Mais vasilhames subiram na reação em cadeia. Objetos metálicos
atravessavam o corredor. Uma torre desmoronou, depois outra. Uma nuvem
reluzente de neblina cobriu a cena e, portanto, também Papa Uh.
— Vá embora! — gritou Nikolov, cutucando Bibi. — Leve os feridos com
você! Depressa!
— E você...?
— Você não deveria falar, deveria ir embora!
Ele não se importou mais com a sua segunda em comando. Ele ziguezagueou
em direção a cena, como ele havia aprendido e havia feito várias vezes nas
operações: sempre se mexendo, fique de olho nos arredores, sempre conte com o pior.
Do nevoeiro, um projétil disparou em sua direção, Nikolov apenas virou a
cabeça para o lado. A parte irregular de um tubo de nitrogênio passou por ele e
entrou pesadamente em uma pilha de lixo atrás dele, fazendo-a ruir.
Uma nuvem verde amarelada cobria o vapor d'água. Em algum lugar,
produtos químicos deviam ter vazado, que agora caiam como uma névoa
pulverizada sobre seu traje protetor.
Ele ouviu um gemido. Certo. Era um terrano. Ele usava apenas roupas
esfarrapadas, de sua coxa estendia-se uma lasca de plástico de um metro de
comprimento.
Avançar. Para o inimigo. Para Papa Uh, que devia estar bem na frente
dele. Esperançosamente destruídos e destroçado aos pedaços.
Nikolov se aprofundou mais e mais na nuvem, foi envolvido por ela e pensou
ter perdido o rumo por um momento. Não se via o lixo, até as pernas dele estavam
invisíveis dos joelhos para baixo.
Ele estava suando. Ele estava com medo. Seu traje protetor havia sido
danificado e consertado várias vezes durante as últimas semanas. E se gases tóxicos
entrassem no sistema de circulação e queimassem seus pulmões?
Ele sentiu que tinha que conhecer Papa Uh agora. Nikolov segurou o radiador
com mais força e respirou com a maior calma possível. Tudo ao redor dele rangia e
estalava, faíscas voaram para a direita.
Ele não sabia o que o fez abaixar. Foi uma sensação. Uma ideia que salvou sua
vida.
Algo passou voando por cima dele no ar. Uma arma cortante. Um facão.
— Espólio! — disse Papa Uh. — Eu te peguei! Você pertence a mim!
Nikolov inclinou-se para a frente, ativou o agregado antigravitacional e
correu pelo o controle manual em um ângulo agudo em direção ao teto. Ele bateu o
pescoço. Elementos de proteção amorteceram o impacto, mas doeram
adequadamente.

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— Venha até mim, passarinho! — gritou o Papa Uh. — Deixe-me arrancá-lo.
Nikolov atirou cegamente para baixo. Ele pensou ter visto um dos braços
tentaculares emergir da névoa, garras agarrando avidamente em direção a ele.
— Eu vou te pegar! Venha, venha para mim!
Nikolov teve que continuar se movendo. Ele não devia ter tentado reagir. O
TARA ainda era um inimigo, apesar de seus múltiplos danos, contra os quais ele não
se igualaria em combate próximo. Não com as possibilidades limitadas de seu
traje. Então, ele mudou o local várias vezes enquanto dava rajadas de
fogo. Esperando penetrar no campo defensivo de seu inimigo.
Nikolov sentiu uma sacudida terrível. Ele foi segurado na perna direita. Um
braço tentacular saltou e agarrou-o para lentamente puxá-lo para o TARA.
— Esse é o passarinho! — ele ouviu Papa Uh dizer, cantando em imitação.
Ele foi sacudido repetidamente, seu oponente devia ter estendido o braço
tentacular para o comprimento total. O poder do seu agregado de voo não coincidia
com o da TARA. Ele foi impiedosamente puxado para baixo. Até o corpo cilíndrico,
que continuava a sair da sopa de névoa amarelo-esverdeada.
Nikolov atirou, a arma falhou. O pente energético estava vazio. Ele tinha que
trocar o magazine rapidamente!
A pressão em torno do tornozelo tornou-se insuportável. Papa Uh decidiu
quebrar seus ossos, e ele comemorava sua captura cantando canções infantis para
ele.
Maldição! Um erro, um pouco ousado demais, e tudo já estava acontecendo
com ele. Ele conhecia o destino daqueles que haviam caído nos braços do robô TARA
enlouquecido. Eles não tiveram uma vida muito longa.
Algo explodiu, uma bola de fogo reluzente o ofuscou. A pressão na perna dele
cedeu abruptamente.
— Vamos lá, sargento venta até mim! — ele ouviu uma voz rouca que soou
infinitamente doce.
Nikolov estava livre, poderia se mover novamente. Ele disparou para o teto e
dirigiu com a ajuda do agregado de voo na direção em que suspeitava da saída do
salão. Abaixo dele, ele viu uma sombra. Seu salvador.
— Droga, Bibi! Eu te disse para ir embora! Você não pode simplesmente
seguir uma ordem simples?
Lá estava a escotilha que eles haviam cruzado nem dez minutos
atrás. Nikolov se dirigiu ao chão, caiu e rolou para longe. Ele correu em direção ao
portal. Bibi estava ao lado dele.
— Um agradecimento seria... apropriado — ela ofegou, tropeçando na
escotilha na frente dele.
Nikolov seguiu de perto. Ele ouviu Papa Uh gritar alguma coisa antes do
portal metálico fechar e eles estavam supostamente em segurança.
— Os explosivos estão prontos — disse Bibi, apontando para dois ovos
vermelhos reluzentes à esquerda e à direita do portal. — Vá em frente, vá em frente!
Eles ouviram algo bater contra a escotilha. Papa Uh estava bem atrás deles —
e pela primeira vez ele tentava segui-los até a área até então segura da nave.
O terreno nesta área era muito confuso para avançar com a ajuda do
agregado de voo. Os elementos antigravitacionais flutuavam a uma altura de dois
metros e vinte, controlados aleatoriamente por uma pequena positrônica. Às vezes
eles se moviam muito rapidamente, depois se moviam tranquilamente. Um toque
provocaria uma reação em cadeia destrutiva.

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Eles tinham que fugir a pé.
— Cinco segundos para a detonação — Bibi engasgou. — Três... dois... um...
Eles foram arrancados de suas pernas pela onda de choque e lançados para
frente por metros. Em direção a paredes que antes separavam laboratórios. Nikolov
bateu pesadamente, assim como Bibi.
Com dificuldade, eles se levantaram e olharam para trás. Alguns pequenos
robôs de serviço chegaram para reparar os danos na escotilha. O portal foi
completamente destruído, as peças metálicas fundiram-se a uma massa
indefinida. Fendas apareciam aqui e acolá na parede. A explosão foi tremenda.
Animados, eles esperaram por um sinal de vida de Papa Uh. Ele foi finalmente
destruído?
— Eu vou pegá-los, meus passarinhos — eles ouviram sua voz feia vindo do
armazém atrás da parede, sem poder determinar a localização exata do TARA. — Eu
estou ansioso pelo próximo encontro.
O facão de Papa Uh arranhou o chão. O som subiu através da espinha.
Nikolov parou, tenso, com a arma na mão. Só depois de alguns minutos ele se
permitiu respirar profundamente.
— De volta ao quartel general — disse ele a Bibi. Hesitantemente, ele
acrescentou. — E obrigado pelo apoio. No entanto, tenho que lhe dar uma
reprimenda por uma ordem desobedecida.
— Oh, cala a boca — Bibi suspirou.
— Desobediência permanece desobediência.
— Você realmente engoliu uma vara, Pincas. Você tornaria a vida mais fácil
para nós se nem sempre fosse tão tacanho.
— É preciso regras para se dar bem. Uma vida sem instruções e ordens seria...
anarquia.
— E como você chama o que está a bordo do ORION há
semanas? Uma deficiência temporária da vida a bordo?
— Esse seria um nome adequado. Certo.
— Eu desisto — Bibi gemeu. — É um milagre que você me ofereceu
isso. Muito antes que oferecesse aos outros imunes.
— Nós trocamos intimidades. Pareceu-me legítimo documentar essa
proximidade em palavras.
— Sargento, nós nos apaixonamos como animais. Porque precisávamos de
algo para nos apegar. Para nos provar que ainda estávamos vivos. Tanto pela
intimidade que trocamos.
— Do jeito que você diz parece sujo, Bibi. E repreensível — ele acrescentou
suavemente: — Foi um sexo muito, muito bom, a propósito.
— Claro. E você me ama desde então, não é mesmo? — Bibi liderou o
caminho, tão rapidamente que não conseguiu acompanhá-la.
Nikolov sabia que ele a havia tocado também, essa mulher durona em todos
os sentidos. Mas, ela não queria admitir, assim como ele não conseguia sair de sua
pele. Ambos estavam presos em suas convenções. Ambos precisavam de regras de
vida para não enlouquecer completamente nesse hospício voador.
Fran Kubelik estava morto.

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A coronel Maeva Aponte parecia calma quando Nikolov relatou. Mas, ele
reconheceu os sinais de medo na comandante. Todos eles estavam com medo, com
cada vez mais frequência.
— Papa Uh, então — disse o comandante da ORION. — Ele está se tornando
cada vez mais claro como o adversário mais perigoso.
Comandante... Nikolov quase riu alto. Aponte simplesmente comanda uma
área que inclui a centra de comando, algumas áreas externas e a ponte para a
luz. Tudo isso é guarnecido por um punhado de seguidores leais. Dos poucos
tripulantes que ainda estão em sã consciência.
— Papa Uh é muito mais louco do que os mais de quatro mil imbecilizados a
bordo da ORION — analisou Nikolov. — Infelizmente, ele combina astúcia diabólica
com sua insanidade. Ele coloca armadilha para nós, ele está nos perseguindo, ele
quer matar a nós, os imunes. Ele nos impede de salvar a nave e assim nós mesmos. O
que está acontecendo na sua... cabeça?
— Eu não estou interessada em uma análise profunda da psique plasmática
do seu robô enlouquecido, Pincas. O fato é que o Papa Uh é perigoso. Se ao menos
aquele técnico imbecilizado não tivesse conseguido manipular o TARA para que ele
não respondesse aos códigos de desligamento da central de comando. O que você
quer dizer? Quantos imbecilizados o seguem?
— Hoje não foram mais do que dez ou doze. Contudo, eu suponho que isso
seja apenas uma pequena parte de seus seguidores. Eles estão se tornando cada vez
mais. O TARA os atrai como um mago. Os imbecilizados sentem que há alguém que
os ajuda a entender a vida e define as regras que são compreensíveis para eles.
— Por que nunca fomos capazes de abordar os imbecilizados e conquistá-los
nós mesmos?
Bibi Anaitis interferiu na conversa. — Eu acho que somos normais demais
para eles. Nós também seguramos um espelho na frente dessas pobres
criaturas. Eles sabem que mudaram e nunca mais poderão ser os mesmos. Eles nos
desprezam por manter nossas cabeças fechadas. Um louco como Papa Uh, por outro
lado, prova a eles que até mesmo a insanidade pode ter algo como astúcia
interior. Isso os fortalece e os atrai.
Aponte olhou para a representante de Nikolov. Por muito tempo. —
Outro analista profundo. Que bom. Vocês dois dariam um casal encantador.
Ele sentiu o rosto avermelhar. Ele odiava isso.
Aponte mudou de assunto abruptamente. — Vocês tiveram que deixar o
corpo de Fran Kubelik para trás?

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— Sim.
— Você sabe o que isso significa?
Nikolov hesitou. — Nós descobrimos esporadicamente sinais de
canibalismo. Mas, eu acho que Papa Uh não permitiria isso. A este respeito, o TARA
e Lisi Schiller pertencem aos fenómenos positivos a bordo.
Eles ficaram em silêncio. Longamente. Todos eles se penduravam em seus
pensamentos, lidando com medo, insegurança e morte.
Era tão difícil entender e aceitar as condições alteradas a bordo. Um pequeno
grupo de quarenta e sete terranos ainda estava em seu perfeito juízo. Estimava-se
que quatro mil tripulantes foram vítimas dos curiosos efeitos da imbecilização que
experimentaram pouco antes do fracasso das instalações de hiper-rádio.
Se eles pudessem descobrir mais sobre isso! Havia cura? Somente a ORION e
algumas outras naves da frota terrana foram afetadas? A estranha doença estava se
espalhando em mundos habitados também, ou era causada por um pot-pourri de
radiação ao qual só os astronautas eram expostos?
— Nós precisamos de um pouco de descanso — disse Nikolov. — Os
armamentos e os trajes precisam ser inspecionados e parcialmente revisadas. Você
sabe em que condições está nosso equipamento. Mas, assim que esse trabalho
terminar, faremos outra tentativa para chegar ao Last Chance.
— Última chance — ecoou Maeva Aponte. — Ainda estamos normais? Nós já
aceitamos o vocabulário dos imbecilizados. O que costumava ser um propulsor de
impulso agora recebe um nome completamente absurdo.
A coronel Aponte estava certa. Eles estavam todos sobrecarregados com a
situação. Era um milagre que eles estivessem vivos após todos esses meses de
isolamento e luta. Que eles não desistiram.
— Não há outro caminho — disse Nikolov em voz baixa. — O propulsor
superluminal foi destruído, os quatro conversores Waring estão todos em um estado
instável. Os imbecilizados atiraram em alguns dos escaleres até transformá-los em
destroços, as outras pequenas unidades desapareceram no decorrer da evacuação
da nave. Sem poder dizer o que aconteceu com eles. Nós estamos presos nessa
maldita esfera. Nós nunca vamos deixá-la novamente.
— Mais otimismo nos faria bem, Pincas! — Bibi o repreendeu. — Nós
desenvolvemos várias estratégias para recuperar o controle da ORION e como
podemos conseguir pelo menos uma disponibilidade limitada de voo.
— Pensamento de desejo — disse Nikolov sucintamente. — Nós estamos
apenas enganando a nós mesmos.
— Tudo o que precisamos fazer é colocar a instalação de hiper-rádio em
funcionamento...
— Pare com isso, Bibi! Nenhum de nós tem o treinamento e os meios para
consertá-la. Pode ser que nos haja peças de reposição necessárias de prontidão nos
armazéns. Sem a ajuda de uma positrônica de bordo funcional e alguns especialistas
nunca teremos sucesso.
— Pare com isso agora! — Aponte fez um gesto energético. — Discutimos
nossa situação mil vezes e procuramos soluções. Tentar peneirar o dano no Last Ch...
da propulsão de impulso e possivelmente substituí-la falhou. Por enquanto. Eu
enviarei três comandos de reconhecimento para encontrar caminhos novos e
seguros através dos conveses.
Aponte espalhava otimismo de propósito. Todos sabiam que o caos
prevalecia além da área central em que haviam encontrado alojamentos. O que era

16
considerado seguro nesses minutos, poderia ser assombrado pelos imbecilizados
algumas horas depois. Quanto mais longe da central de comando da ORION, mais
confuso e perigoso o terreno se tornava.
Kilmartin se aproximou dela. O Doc. O único médico no grupo deles. Um
terrano letárgico e confortável, que poderia se tornar terrivelmente irascível.
— Eles ficarão bem em breve — disse ele, apontando para a enfermaria
improvisada perto do antigo departamento de rádio. — Sandra teve uma fratura na
perna e alguns ferimentos leves. Eu já injetei osso líquido, ele vai endurecer dentro
das próximas horas. Amanhã, ou mais tradar depois de amanhã, ela estará pronta
novamente.
— Como está Petar? — perguntou Nikolov. Ele apontou para o camarada, que
apaticamente estava murmurando baixinho para si mesmo.
— Um estilhaço perfurou seu estômago. Há hemorragia interna. Mas, o meu
último ajudante — Kilmartin apontou para um robô cirúrgico do tamanho de um
punho que espreitava o corpo ferido com pernas de aranha —, tem tudo sob
controle. Nós podemos nos alegrar por tê-lo.
— Excelente — Nikolov assentiu. Apesar dessa notícia relativamente boa, ele
estava se sentindo mal. A perda de Fran Kubelik o roía.
— Eu quero examiná-lo, Bibi e todos os outros membros da equipe.
— Por quê?
— Porque eu sou o médico, pelo amor de Deus, e porque eu estou pedindo
isso! — Kilmartin rosnou. — Talvez ocorra a você que não apenas seu físico, mas
também sua psique poderia ser ferida. Então, por favor, vá para a estação médica em
duas horas e...

— Eu acho que Pincas entendeu — Aponte interveio apressadamente antes


que Nikolov pudesse responder. — Dê a ele e seu pessoal tempo para lidar com as
coisas. Eles irão até você voluntariamente, caso precisem de seu... conselho.
Aquilo foi bom. Nikolov não gostava de ser tratado de cima para baixo. E
certamente não por Kilmartin, que havia sido apenas um dos vários médicos
subordinados da estação médica da ORION. E acima de tudo, com que direito ele
achava que poderia tratar sua psique?
Aponte pigarreou. — Vamos voltar ao nosso problema real — ela foi até a
estação de localização e afastou o oficial de serviço.
Uma pequena tela veio à vida. Uma das poucas que funcionava e mostrava
imagens externas. Ele tinha uma massa azul-branca em foco. — Curicaberis. Nosso
inimigo. Sabemos que somos atraídos para este sol. Se nossos cálculos estiverem
corretos, temos apenas algumas semanas, possivelmente dias, até sermos colocados
na zona de morte e assados. O paratron e os projetores de campo SAE falharam. Os
campos defensivos simples não nos salvarão de morrer no sol.
Nikolov não gostava de ver essas imagens. Aponte tinha uma maneira muito
especial de pressionar os dedos profundamente em uma ferida dolorosa. Ela era
uma boa emocionauta, e a estabilização mental a impediu de se tornar
imbecilizada. Mas, a sua condição atual ...
Ele olhou para a barriga inchada de Aponte. Ela estava grávida de sete
meses. Nikolov temia que Aponte às vezes decidisse como mãe e não como
comandante.

17
— O tempo está se esgotando — disse Aponte em voz baixa. — Nós temos
que fazer concessões. Há possíveis parceiros a bordo. Nem todos os grupos são tão
hostis e irracionais para nós como Papa Uh.
Kilmartin ergueu a cabeça avermelhada reluzente. — Você quer negociar
com esse louco? Com Schiller?
— Você tem uma sugestão melhor, doutor?
— A mulher está mentalmente doente! Megalomaníaca. Esquizofrênica.
— Eu entendo, Zacu. Mas, estamos ficando sem opções e tempo. Ela é imune
como nós e uma engenheira talentosa. Se pudermos fazê-la entender a gravidade da
situação, devemos chegar a um acordo.
— O que fazer? — perguntou Nikolov. — Para salvar Last Chance com a ajuda
dela? Nós já tentamos cooperar. Você certamente se lembra, Maeva.
A comandante olhou-o com ar penetrante, segurando o estômago como se
sentisse o feto intensamente e recebesse instruções dele. — Esta não é uma festa de
café, Pincas, e certamente não uma votação popular sobre meus planos. Schiller e eu
organizamos um encontro. Hoje à noite. Você vai me acompanhar e garantir minha
segurança. Entendeu?
Nikolov hesitou. — Entendido, senhora! — ele disse, saudando.
Mesmo que ele estivesse relutante em admitir isso, ele ficou aliviado. Ele era
um soldado espacial. Ele precisava de estruturas, e alguém que lhe desse instruções
claras.

18
3.

Na sala de interrogatório (2)

Exausto, Gi Barr fez uma pausa. Ele bebeu água, suas mãos tremiam.
— Dez minutos de pausa — ele pediu baixinho.
Ele fingia estar cansado? Ele queria evocar pena?
Rhodan desligou o som novamente. — O que você acha da história de Barr
até agora? — ele perguntou a Assid.
— Certamente, esta ORION tem algo a ver com a fundação do Segundo
Império Solar — disse a xenolinguista pensativamente. — O que me intriga é que a
história de Barr seja tão rica em detalhes. Esta não é uma história de um
ensinamento ou livro de história. Além disso, não acho que o gaone improvise e
adicione detalhes arbitrariamente. Ele realmente conhece essas coisas.
Rhodan assentiu com gratidão e recostou-se na cadeira. Ele tinha que pensar.
Ele lembrou-se do momento em que viu a representação estilizada de uma
espaçonave terrana como parte de um elaborado mosaico. Em uma galáxia que
ficava a 111 milhões de anos-luz da Via Láctea nativa!
Fazia menos de quatorze dias desde que ele havia olhado para este trabalho
em mosaico na terra oval da cidade de Khodnerez no planeta Taqondh e se
perguntava sobre a representação de uma espaçonave esférica, então na presença
do thoogondu Sfianid.
Os pensamentos de Rhodan vagaram mais para trás. Quais eram as suas
memórias pessoais do ano de 3.441?
Ele havia lutado com apenas um punhado de aliados contra os efeitos da
radiação causada pela presença do Enxame na galáxia de origem. Poucos seres
mantiveram suas mentes claras. A maioria deles era mentalmente estabilizado.
Além disso, paradotados, seres com próteses cerebrais especiais e aqueles cuja
resistência aos raios imbecilizantes nunca pôde ser claramente esclarecida.
E aquelas pessoas que se chamavam Homo Superior.
A radiação imbecilizante havia agido por dois anos e meio e provavelmente
tirou a vida de bilhões de seres imbecilizados. Todos eles ficaram incapazes de
enfrentar os desafios da vida normal. Eles morreram de fome ou de sede, tinham
falhado com objetos do cotidiano. Alguns foram reduzidos a seus instintos e lutaram
uns com os outros abertamente, outros se entregaram a apatia completa...
Rhodan não quis prosseguir com aqueles pensamentos. Foram épocas
terríveis. Ele não queria pensar no passado. Ele sempre agia no lema: Aprenda com
o passado para o futuro.
Como foi com a ORION? Ele tinha alguma lembrança de uma nave com esse
nome?
Não.
Em uma era de rearmamento constante, milhares de ultracouraçado
atravessando o espaço. Eles tinham sido a espinha dorsal militar do Império Solar
durante séculos.
Se Atlan estivesse aqui, ele certamente poderia me dar algumas informações
sobre a ORION, graças à sua memória fotográfica. Mas, eu não sei nada sobre a Coronel
Maeva Aponte ou Pincas Nikolov.

19
Rhodan abriu a conexão acústica para Gi Barr. O gaone coçava repetidamente
sua cabeça careca, onde haviam sido colocadas placas metálicas de contato cinza-
azuladas, que o haviam conectado ao capacete de sua armadura.
— Onde você conseguiu todas essas informações detalhadas sobre a ORION?
— perguntou Rhodan.
— Todo cidadão do Segundo Império Solar conhece a história da nave —
replicou Gi Barr, olhando para Rhodan. — É parte do nosso mito fundador. Existem
séries trivídeo, quadrinhos, holodramas, documentários, peças teatrais, épicos
literários... nós valorizamos a nossa história. Os eventos a bordo da ORION nunca
devem ser esquecidos. Eles nos definem.
— E quanto à precisão histórica? As palavras são realmente entregues como
são?
— Em seu âmago – sim. Contudo, eu não posso garantir que cada palavra
tenha caído exatamente como eu digo. Mas, há tom histórico e imagens que puderam
ser salvas.
— E se essa evidência fosse manipulada?
Gi Barr reagiu calmamente à provocação de Rhodan. — Ninguém o obriga a
me ouvir, e você certamente não precisa acreditar em mim. Mas, eu acho que você
está curioso. Não é?
— É claro — Rhodan assentiu. Ele olhou para Pen Assid.
Sua companheira abaixou a cabeça quase imperceptivelmente como sinal de
sua prontidão. Ela era altamente concentrada e intensamente envolvida com Gi
Barr. Cada palavra do gaone, cada um dos seus gestos era importante. Eles tinham
que descobrir o máximo possível sobre suas contrapartes — e também sobre o
surgimento do Segundo Império Solar.

20
4.

Encontro de um tipo especial

Havia um lugar neutro a bordo do ORION. Um lugar que serviu para a troca
dos agrupamentos individuais.
Desde o início do impasse, esse antigo salão de um centro de recreação e
esportes no convés 16 havia se cristalizado cada vez mais como um ponto de
encontro para os líderes de grupo. Eles concluíram acordos lá, negociaram pactos
de não agressão ou trocaram bens.
Nikolov suspirou oprimido. A maioria dos contratos não valiam o papel em
que foram escritos. Não era de admirar: os mais imbecilizados não entendiam o
significado de tais negociações. Eles mentiam e trapaceavam e estavam empenhados
em benefício próprio.
Nikolov prestou atenção em todos os lados. Havia uma bandeira branca presa
em uma pilha de lixo que marcava o centro do salão, iluminada por duas das poucas
luzes do teto que funcionavam.
No outro extremo do salão, ele viu duas figuras se aproximando lentamente:
Lisi Schiller e um epsalense, que desajeitadamente dava um passo à frente do outro,
sorrindo debilmente.
— Nós estamos a salvo — disse Aponte em voz baixa.
— Talvez — Nikolov inalou o ar que fedia miseravelmente. — Eu não confio
em Schiller para dar um passo do outro lado da estrada.
— Você não confia em ninguém.
— E estou bem com a minha desconfiança.
Não, ele não estava. Repugnava-o a si mesmo e, quando perdeu um camarada
como Fran Kubelik, sofreu ainda mais.
Rações de comida tinham sido empilhadas recentemente ao redor do monte
de lixo. Aponte as colocou ali. Para os membros de outros esquadrões e
imbecilizados isolados que eram incapazes de fazer uso dos depósitos de alimentos
da ORION.
A comandante esperava usar tais gestos para melhorar a compreensão a
bordo da nave. Mas, os imbecilizados não reagiram como Aponte gostaria. Eles
tinham esquecido muitas regras de convivência humana e se comportavam como
animais assustados que se sentiam encurralados.
Aponte pôs as mãos sobre o estômago, forçando o uniforme a bordo.
— Tudo bem? — perguntou Nikolov.
— Sim. O bebê chutou.
— Você sabe o que vai ser?
— O Doutor quis me dizer, mas eu não quis saber. Eu não quero saber até
estarmos seguros — ela sorriu cansada.
Nikolov deixou seus olhos virarem para a esquerda e para a direita
repetidamente. Lisi Schiller e seu companheiro estavam a vinte passos. Ninguém
mais era visível, exceto os dois. Também não na galeria do primeiro andar, donde
antigamente poderiam se inserir skuben antigravitacionais de treinamento.

21
Lá, ele passara inúmeras horas, principalmente em salas com gravidade
elevada, cercado por oponentes virtuais e reais. Apenas raramente ele saía da sala
de treinamento sem ferimentos dolorosos.
Nikolov evitou contato visual direto com Lisi Schiller. A loira de cinquenta
anos era irritantemente bonita, e ela sabia como se sentia em relação aos
homens. Ela ostentava sua autoconfiança abertamente.
Ela não estava usando um traje protetor. Notável. Mesmo em momentos de
extremo perigo, ela renunciara a equipamentos de alta tecnologia e roupas
modernas. Ela não valorizava o que ela chamava de tecnicidade. O traje simples
apertava notavelmente bem sobre suas curvas femininas...
Maldito Nikolov! Concentre-se!
O epsalense ao seu lado parecia fora do lugar. Ele sorria estupidamente, com
saliva escorrendo de sua boca.
Ele era um dos imbecilizados. Ele faria o que Schiller pedisse para ele
fazer. Sem pensar, sem pestanejar. Mas, ele foi incapaz de desenvolver suas próprias
ideias. A este respeito, ele não era uma fonte particularmente grande de perigo,
Schiller deveria ousar um ataque.
— Maeva Aponte e um de seus cachorrinhos — A ex-comandante de corveta
parou bem na frente deles. Ela sorriu e mostrou dentes brancos e regulares. — Que
bom que nos encontremos novamente. O que me dá a honra?
Schiller sussurrou algumas palavras para seu companheiro. O epsalense
pegou sua arma e apontou o cano para o chão.
— Nós temos que chegar a um acordo, Schiller — disse Aponte, ignorando a
morte presunçosa de sua interlocutora. — Eu não conheço seus planos e não estou
particularmente interessada neles. O fato é que vamos morrer em poucos dias. Se
não fizermos algo juntos.
O sorriso no rosto de Schiller desapareceu de um momento para o outro. —
Fique você mesma, com o que se espalhou entre os imunes. Todos vocês são aliados
naturais, blábláblá. E agora eu também. Então: Você já me contou a história de
carochinha da queda no sol Curicaberis, Aponte. Mas, você ainda está me devendo a
prova.
— Eu gostaria que você... se juntasse a mima na central de comando e...
— Rejeitado! — disse Schiller bruscamente. — Eu não confio em você. Você
só quer me colocar em seu poder – e com todo o meu pessoal.
É claro. A esse respeito, ela se parecia com um imbecilizado. Sua
desconfiança era tão forte que estava beirando a paranóia. Schiller sempre teve que
exercer controle sobre seu ambiente.
— Lisi, acredite em mim! Nós estamos perto da morte, depois que os
propulsores e os campos defensivos falharem! — Aponte tateou sobre o bracelete
multifuncional com movimentos lentos e cautelosos, erguendo a mão direita para
que Schiller pudesse ver a tela. — Aqui eu resumi as informações mais importantes
para você. Você tem tudo em um cristal de armazenamento.
— Claro. Dados que você pôde manipular facilmente nos últimos dias e
semanas.
— Como posso convencê-la, pelo amor de Deus, mais uma vez?
Nikolov pegou mais firmemente em seu radiador. O clamor furioso da
comandante aumentou a tensão. Quem sabia como o epsalense reagiria à explosão
emocional de Aponte?

22
— Não, senhora Coronel — disse Schiller com um tom de voz convencido e
sorriu. — Seus imunes estão condenados. Seu intelecto não é suficiente para olhar a
grandeza do plano de criação que está começando a surtir efeito nestes dias. Isso
ficou claro para mim com o início da radiação imbecilizante. Criaturas lamentáveis
como o meu companheiro de mente embotada e pessoas como você, que não sentem
as mudanças nas condições de vida, não terão importância no futuro. Porque o
futuro, somos nós: o homo superior. Nós viemos para ficar e governar. Nós não
vamos mais aceitar sua estupidez.
Nikolov aproximou-se de Aponte e mais uma vez verificou a função dos
campos defensivos. A situação ameaçou ficar sem controle. Ele estava pronto para
sacrificar sua vida por Aponte. Ele havia sido treinado e instruído para isso.
A comandante abaixou a cabeça. — Lisi – Eu ofereço a você tudo o que você
quer. Por minha causa, você pode assumir a infraestrutura da central de comando e,
assim, assumir o controle da maior parte da nave. Faça como você quiser. Mas,
vamos trabalhar juntos pelos próximos dias. Por favor!
A comandante ficou louca? Como ela poderia simplesmente entregar seu
único trunfo?
— Você realmente parece estar falando sério — disse Schiller, com a voz
insegura pela primeira vez. — Talvez seja verdade o que você diz ...
Um grito de raiva soou, o monte de lixo no centro do corredor literalmente
explodiu. Várias figuras saltaram do lixo, todas com armas primitivas nas mãos.
Alguns se atiraram no epsalense, outros se voltaram para as duas mulheres e
Nikolov.
Nikolov empurrou Aponte rapidamente contra Schiller e ficou com as pernas
afastadas na frente delas. Ele evitou o ataque do homem principal, deixou sua lança
passar por ele no vazio. Ele aproveitou-se do impulso do atacante, puxou-o para
além dele e deu-lhe um grande golpe na parte de trás da cabeça, de modo que ele
arriou tonto.
Não pense. Aja.
Deixe o próximo vir.
Chute a arma para fora da mão com um chute.
Um golpe com a quina de mão no pescoço dele, derrube-o.
Respire fundo.
Mantenha uma visão geral, encontre e avalie os inimigos restantes.
Encontre uma saída para Aponte e um caminho seguro para a segurança.
Ele ouviu um grito gorgolejante. O epsalense de Schiller caiu ao chão,
perfurado por várias facas.
Nenhum dos atacantes tinha um radiador. Eles estavam entre os
imbecilizados mal armados de um dos conveses inferiores.
Isso era bom Porque ele estava armado.
Nikolov disparou no modo desintegrador da arma-vário. Ele moeu um dos
pés dos atacantes. Ele tropeçou e caiu no chão como um pedaço de madeira.
Ele conhecia o homem sem ser capaz de lembrar seu nome. Ele o encontrou
várias vezes em um dos refeitórios a bordo. E agora ele teve que atirar nele.
Você não deveria pensar!, Nikolov lembrou-se mesmo mais uma vez.
— Recuar! — gritou ele, soltando outra salva. Ele rasgou um sulco no chão no
modo térmico. O plástico derretia entre ele e o imbecilizado. Nuvens finas de fumaça
se elevaram, um fedor corrosivo se espalhou.

23
Os adversários recuaram e o encararam horrorizados. Mas, a pausa no
combate não durou muito: uma marciana com o tom de pele bronzeado típico de um
adaptado ao ambiente emitiu um grito animalesco, deu um pulo e saltou sobre o
sulco para atacar Nikolov, de olhos arregalados, com os dedos estendidos como
garras.
Nikolov se afastou no último instante e deixou a atacante passar por ele. Ela
aterrissou com força e ficou atordoada no chão. Nem mesmo seus instintos naturais
funcionavam sob a influência da imbecilização. Ela havia esquecido de esticar os
braços para amortecer sua queda.
— Vão embora! — gritou Nikolov para os atacantes restantes. Estes
recuaram com alguns passos inseguros.
Com os olhares, ele se assegurou de todos os lados. Ele não confiava na
coisa. Esses imbecilizados nunca teriam tido a ideia de cavar uma pilha de lixo e
montar uma armadilha. Por tanto, um dos infames líderes de grupo a bordo da
ORION estava por trás disso; alguém que se destacou da multidão e obedecia ao
outro imbecilizado.
— Atenção! À sua esquerda!
Nikolov jogou-se para o outro lado, rolou para o lado e imediatamente ficou
de pé. Ao lado dele, o chão reluzia, o campo defensivo de seu traje ativou-se
rapidamente.
Ele procurou por Aponte. Foi ela quem o advertiu. Ela estava perto de Schiller
e envolveu o homo superior do seu campo defensivo. As duas estavam seguras por
enquanto.
Caia fora daqui! O bombardeio veio de cima, da balaustrada. Ele tinha que
sair da zona de perigo o mais rápido possível.
Nikolov ziguezagueou pelo salão. Flamejou ao lado dele, metal liquefeito
respingou.
Um dos imbecilizados foi atingido por um dos respingos como aquele. As
massas começaram a penetrar no rosto e na parte superior do corpo. O homem
gritou e correu para desmoronar depois de alguns passos.
O atirador não se importou com isso. Ele continuou disparando. As salvas
térmicas atravessavam o salão, desenhando linhas amarelo avermelhadas através
do salão.
O fedor tornou-se insuportável, o traje de Nikolov mudou para filtragem
interna de ar.
Um armamento pesado, ele analisou enquanto corria o mais longe possível
das duas mulheres pelas quais ele havia se responsabilizado.
Sim. Ele também protegeria Lisi Schiller. Aponte havia se encarregado do
Homo superior, de modo que ela também se tornara sua protegida.
Talvez um modelo KN-35, de projeto mais recente. Em um braço giratório, mas
sem mira automática. Caso contrário, o atirador teria me pegado há muito tempo.
Seu campo defensivo não resistiria a um bombardeio desse dispositivo
monstruoso por muito tempo, e provavelmente o salão também não. Os raios
térmicos penetraram fundo no piso e penetraram-no parcialmente. A interação da
estrutura em favo e ynkonite não poderia ser seriamente danificada; mas muito bem
a infraestrutura embutida nele: cabos grossos, dutos de água e ventilação, servo
robôs rastejantes do tamanho de uma cabeça, tudo isso seria destruído, e a situação
nesta parte da nave se deterioraria ainda mais. E se essa coisa ocorresse

24
particularmente ruim, as estruturas individuais de reforço de ynkonite seriam
destruídas e as estáticas já instáveis seriam ainda mais enfraquecidas.
— Eu vou te pegar! — Nikolov ouviu uma voz bem conhecida de longe.
Potty era o atirador. Aquele lunático, que estava no convés 13, dedicava-se
diariamente ao vício das drogas para tomar decisões nessa condição que
pareciam razoáveis para alguns imbecilizados.
— É você, Nikolov? — gritou Potty. — Eu te peguei finalmente?
A porta do outro lado do salão se abriu, outra KN-35 sobre rodas era
empurrada por três terranos. Onde, porra, Potty conseguiu essas armas pesadas?
Se Nikolov ficasse entre o fogo de duas dessas armas, isso seria muito ruim
para ele.
Os três oponentes lidavam desajeitadamente na KN-35. Um deles leu em voz
alta uma nota sobre o que eles tinham que fazer. Levaria alguns minutos para
colocar o armamento em funcionamento. Por enquanto, não havia nenhum perigo
por aquele lado. Isso era bom.
Nikolov correu para a arma KN-35. Ele tinha que se proteger e eliminar os
imbecilizados.
Instintivamente, ele encolheu os ombros. Ele sentiu como se Potty o tivesse
como alvo e seguisse todos os seus movimentos.
— Você nunca vai me pegar! — ele gritou contra melhor conhecimento. —
Você é e sempre foi burro demais!
A provocação ajudou.
Nikolov ouviu o viciado em drogas amaldiçoar. Imediatamente depois, o chão
ao lado dele foi rasgado, o fogo cortou-o ao meio em um comprimento de cinco
metros.
Nikolov foi varrido pelo ar aquecido, faíscas voaram para longe. Vapor e água
escaparam de um cano que estava no chão, por alguns segundos a visão de seu
inimigo havia sido impedida.
Potty tinha disparado apressadamente. Isso era bom
Agora! Agora!, disse Nikolov, disparou, ativou o antigravitacional e ergueu-
se no ar, quase até o teto, longe das luzes que ainda funcionavam.
Ele fez uma curva apertada. O traje, repetidamente consertado, dava sinais
alarmantes. Algumas luzes no topo da tela piscaram em vermelho. Nikolov ignorou
os sinais de alarme. Ele rapidamente investigou a situação, e descobriu a KN-
35. Onde Potty e seu pessoal se reuniam. Com dificuldade, eles direcionavam o cano
da arma, repetidas vezes em busca dele. A busca automática não funcionava.
Nikolov acelerou com valores que na verdade não eram razoáveis para o
traje. Ele voou em direção a Potty e a sua KN-35. Ele apontou o melhor que pôde e
disparou várias vezes seguidas. Barragem. Ele causou caos e confusão
A precisão era secundária nesses momentos. Ele tinha que fazer com que os
imbecilizados fugissem, para que ele pudesse se concentrar no único adversário
sério: Potty.
Nuvens de fumaça gordas e fuliginosas subiam ao teto, e o líquido oleoso se
espalhava como um borrifo no chão do salão.
Nikolov pousou na balaustrada, a uns vinte metros de distância do
armamento. Ele verificou o pente energético e a funcionalidade de seu traje antes de
se aproximar da KN-35 com o traje protetor ativado.
Os malditos fugiram animadamente. Eles amaldiçoaram, gritaram e
choramingaram, completamente dominados pela situação.

25
O armamento descascou sob o vapor sujo. Em um pilar maciço com uma placa
larga, estava o elemento principal rotativo da arma com seu cano de um metro e
meio de comprimento.
Um homem de baixa estatura inclinou-se aparentemente relaxado contra o
cilindro rotativo. Ele usava um macacão de bordo simples, sujo e desgastado.
Potty. O louco.
— Nada mal, Nikolov — disse seu colega, abrindo uma caixa de comprimidos
e colocando algumas pílulas brancas em sua boca. Ele as engoliu sem líquido. — Não
achei que você manteria a visão geral.
Nikolov aproximou-se passo a passo. Ele tinha que neutralizar o cara. Ele
encontrou Potty várias vezes durante viagens ao interior da ORION e sabia que não
poderia continuar com as negociações e discussões.
— Afaste-se da arma! — Nikolov disse suavemente, mas com firmeza.
— Por quê? — Potty riu com os olhos arregalados. — Este bebê e eu somos
bons amigos. A partir do momento em que o vi no arsenal, sabia que nosso
relacionamento se tornaria muito íntimo.
— Mais uma vez, afaste-se. Caso contrário...
— Mais alguma coisa, cachorrinho? — Potty gritou abruptamente, cuspindo
espuma branca. — Você quer atirar em mim? Você acha que eu me importaria com
isso? Pelo contrário, você me faria um grande favor!
— Você está bem? — ele ouviu Aponte gritar abaixo.
Nikolov manteve os olhos fixos em Potty enquanto respondia: — Eu tenho
tudo sob controle aqui.
— Lisi e eu neutralizamos a segunda arma, os imbecilizados fugiram.
— Acabou, Potty — disse Nikolov. — Você está sozinho. Ninguém vai te
ajudar. Nem tente apontar a KN-35 para mim. Você sabe que sou mais rápido que
você.
A arma era desajeitada para usar. Epsalenses e ertrusianos eram capazes de
lidar com ela sozinhos, mas não um ratinho leptossômico como Potty, que em uma
vida anterior havia esperado a bordo da ORION por servo robôs por sua capacidade
operacional.
— Quem disse que eu quero usá-la? — perguntou o oponente de Nikolov,
revirando os olhos repetidamente. — Você e eu, nos despediremos desse maldito
mundo hoje. E a ORION será nosso túmulo.
Potty estendeu sua mão direita. Ele segurava um simples emissor de
comandos na mão. — Uma pequena ondulação da mão e o reator de fusão iria pelos
ares. Provavelmente não levaria a nave inteira consigo. Mas, este salão certamente
irá junto.
Nikolov sentiu o coração palpitar mais depressa. Potty estava
completamente louco. Nada que ele fizesse fazia sentido. Ele estava seguindo sua
mente viciada em drogas.
Ele acreditava que havia instalado um dispositivo explosivo na parede do
pequeno reator?
Sim. Em todo caso. Graças às suas habilidades técnicas, ele também ativou as
pesadas armas KN.
— Vai com calma, Potty — disse Nikolov. — Você realmente não quer isso...
— Cala a boca! — gritou o homenzinho. — Você não tem ideia do que eu
quero e posso e deveria...

26
Potty se perdeu em um balbuciar sem sentido, para abruptamente parar e
sorrir novamente. — Nós vamos acabar com essa farsa. Você e a mulher lá embaixo
me impediram por meses de assumir meu lugar de direito como comandante da
ORION. Porque vocês não entendem. Porque vocês não aceitarão o meu
conhecimento superior — Lágrimas saíram dos olhos de Potty, em seguida, ele
gritou repreendeu novamente.
Nikolov parou em silêncio. Ele sabia que não podia se mover um milímetro
em direção ao seu oponente. Potty manteve o polegar diretamente sobre o
detonador. Ele iria ativá-lo imediatamente se ele se sentisse atacado.
Ele se concentrou em sua tarefa. Ele tinha que fazer aquele disparo muito
especial. Levante sua mão. Sem apontar. Confie em seus sentimentos. Arranque a
mão do braço do nanico com a ajuda do radiador térmico.
Ele abaixou a cabeça ligeiramente, respirou fundo. Se concentrou. O
comentário de Potty não tinha qualquer significado.
Nikolov puxou a arma e disparou em um movimento fluido, completamente
inesperado. Apenas um curto impulso térmico para não causar nenhum dano na
parte traseira da KN-35, que se apoiava na torre.
Ele disparou. Cortou parte do antebraço de Potty, fazendo com que a mão se
dobrasse para o lado como uma árvore abatida, pendurada no braço apenas com
alguns tendões e fibras musculares.
Um sucesso.
Aquilo não tinha sido bom o suficiente. Nikolov havia errado seu alvo em
alguns milímetros. Ele deveria ter cortado a mão de Potty.
O garoto conseguiu de alguma forma ativar a carga explosiva. Com um
sorriso e olhos girando loucamente. Ele parecia satisfeito e de alguma forma
aliviado.
Nikolov quis voar e escapar do salão o mais rapidamente possível com a
ajuda do antigravitacional. Um aviso para Schiller e Aponte estava em seus lábios.
Ele não conseguiu fazer nada disso. Uma bola de fogo inflou, tão furiosamente
rápida, mas infinitamente lenta. Ele se expandiu, lambendo Nikolov, envolvendo-o e
dando-lhe banho no calor que o campo defensivo quis absorver.
Ele sentiu uma dor terrível e se sentiu jogado no meio de um incêndio que o
levou mais longe ainda...
Então, Nikolov perdeu-se inconsciente.

27
5.

Na sala de interrogatório (3)

Gi Barr interrompeu sua história novamente. Ele bebeu da água, levantou-se


e fez alguns movimentos que pareciam estranhamente familiares para Rhodan. Eles
vieram de um manual de exercícios que tinha sido transmitido para as forças-tarefas
terranas há milênios no início de seu treinamento básico.
Exercícios isométricos baseados nos ensinamentos de Imse Buck, um
metodologista esportivo do século 35, lembrou Rhodan.
Ele reprimiu um sorriso e se concentrou em seu interlocutor. — Eu vou
perguntar novamente, Gi Barr: Como você sabe todos esses detalhes?
— Como eu disse, todo cidadão do Segundo Império Solar cresce com relatos
da história da fundação — O homem terminou sua prática e continuou: — No meu
planeta natal, ou seja, em Gaon no Neo Sistema Solar, há o continente de Maevania,
a capital do Segundo Império Solar. E a cidade Aponte, geralmente chamada
de Aponte.
— A cidade recebeu o nome da comandante da ORION.
— Um dos edifícios mais importantes perto da Praça Nikolov é o Museu
Maeva Aponte. E um elemento central no museu é o livro holográfico da
comandante. Você pode assistir e ouvir a voz de Aponte. Milagrosamente, o diário
foi preservado ao longo dos séculos e milênios.
Uma memória coletiva que é transmitida como o material genético. Claro,
a turma da escola é dirigida pela sala de aula através do museu.
— Eu olhei para o diário mais de uma vez. Quando criança, como estudante,
como adolescente, no início de minha carreira militar — Gi Barr fez uma breve
pausa. Sua voz estava decididamente calma quando ele continuou: — Talvez você
devesse ir até Gaon uma vez e conversar com o Solastror.
— Este é o atual governante do Segundo Império Solar?
— Governante é uma palavra errada e feia. Mas, um encontro seu com
Cassandra Somerset seria definitivamente um evento muito especial.
— Eu sempre fico feliz com novos encontros. E eu gosto de viajar. Onde
exatamente se encontra Gaon?
Gi Barr sorriu. — A localização do meu mundo natal, mesmo a de todo o
Segundo Império Solar, é um segredo bem guardado.
— Do que você tem medo?
— Isso não importa.
— Mas, Somerset poderia confiar em mim. Afinal, nós, por assim dizer,
aparentados uns com os outros.
— Eu temo que haja ressentimento por você — Gi Barr ficou
pensativamente. — O Neo Sistema Solar localiza-se na Terra de Órion. Mas, não lhe
direi nada sobre sua localização. E agora de volta à minha história e a Pincas
Nikolov...

28
6.

Do polo norte à Ponte para a Luz

Nikolov acordou com um terrível zumbido no crânio. Com dor nas pernas,
nos braços, no tronco.
A dor era boa. Ele significava que todos os seus membros ainda estavam no
lugar.
— Fique calmo, soldado — alguém o lembrou. Kilmartin, o doc. — Você está
sob a influência de fortes analgésicos. A pele precisa de algumas horas para crescer
adequadamente com a sua epiderme natural.
— Horas? — Nikolov abriu os olhos e tentou ver alguma coisa. Havia apenas
sombras. Silhuetas. Quatro delas estavam ao redor dele.
— Abra sua boca! — O doutor ordenou.
Nikolov obedeceu, como sempre obedecia. Ele sentiu um tubo em sua língua
e instintivamente o sugou.
Água fria correu pela garganta dele. Cada gole doía, e também o ajudou a se
livrar daquela terrível sonolência.
Alguém segurou a mão dele, como Nikolov percebeu surpreso. Ele sentiu
dedos curtos e calejados.
— Bibi — ele resmungou.
— Nunca mais você vai sozinho em uma missão. Você entendeu?
Ele ficou em silêncio, embora ele gostaria de contradizer. Aponte dera uma
ordem, ele havia obedecido como um bom soldado. Ele queria dizer isso a sua
companheira.
Mas, ele deixou para lá. Cada palavra que ele dizia era difícil para ele. O
discurso não era importante. Ele tinha que voltar ao trabalho o mais rápido possível,
então...
— O pulso e a frequência cardíaca estão elevados, os músculos tensos — ele
ouviu Doc dizer. — Você está tentando se levantar, maldito idiota?
O que mais? Ele tinha deveres e tarefas para cumprir.
— Como você pode ser tão louco, Pincas? Você não vai fazer isso!
Nikolov se preparou com as duas mãos, quis levantar-se e sentiu uma picada
no braço direito.
— Você vai dormir um pouco mais, soldado. Quando você voltar a si, vai estar
muito melhor.
Nikolov tentou se defender contra os efeitos do narcótico, mas foi uma luta
perdida desde o início. As pálpebras se tornaram pesadas e a dor passou.
Por um momento, sua visão clareou. Ele reconheceu as silhuetas ao seu
redor. Bibi Anaitis, que ainda apertava a mão dele. O Doc, como geralmente com um
rosto avermelhado. Maeva Aponte, cujo braço direito estava enfaixado e ditava as
palavras para um robô de protocolo.
E Lisi Schiller, o homo superior. Ela o encarava com interesse frio. A maneira
como a aranha olhava para uma mosca antes de capturá-la.

29
E Schiller foi a primeira a ser vista por Nikolov após seu segundo despertar.
— Você é interessante — disse ela. — Fiel à morte, não é? Você faria tudo por
sua comandante. Mas, ao mesmo tempo, você é inteligente pode improvisar.
— Quanto tempo eu dormi? — Nikolov perguntou, ignorando as palavras do
Homo superior. Ele endireitou a parte superior do corpo. Desta vez, ninguém o
deteve.
— Eu o observei em seu confronto com o louco — Schiller continuou;
ignorando sua pergunta. — Você sabia que tinha pouca chance de sobrevivência. E
ainda assim você não hesitou nem um segundo.
Nikolov olhou para o relógio. O dia 22 de julho de 3.441 já tinha várias horas
de idade. Havia se passado um dia desde a luta contra Potty.
— Eu gosto de pessoas que sabem exatamente o que fazer. Especialmente
homens.
Schiller apertou a mão dele. Nikolov levantou-se com a ajuda dela e ficou
vacilante. Ele olhou para si mesmo.
Ele estava nu, exceto por sua cueca. Sua pele estava coberta de suaves
manchas rosadas. Com pele artificial, que já estava bem cicatrizada e não apresentou
reações de rejeição. Muito bom.
— Eu gostaria de ter alguém como você ao meu lado — disse Schiller. —
Alguém que me apoie e mantenha os irritantes problemas cotidianos longe de
mim. Para que eu possa me dedicar com força total aos importantes problemas da
vida a bordo.
— E quem presumivelmente tem outros deveres a cumprir à noite?
— Você está se fazendo de idiota, soldado. Por que eu deveria lidar com um
ser menor como você?
— Perdoe-me. Eu esqueci que você é melhor — Nikolov mudou
abruptamente de assunto. — Não há futuro a bordo da ORION. Isso parece ter lhe
escapado apesar do seu... intelecto superior.
— Eu já discuti este assunto com Maeva. Eu vou ajudá-lo e todos os membros
do conselho. Chegamos a um acordo que é aceitável para ambos os lados.
— Muito bom. Então, a viagem para o salão de esportes valeu a pena.
Nikolov olhou em volta. Ele viu a coronel Aponte perto de seu posto de
comando improvisado. Ela conversava com seus dois confidentes seguintes: Doc e
Bubby Leons, um ex-oficial de armas. Além de si mesmo, Leons era o único membro
da antiga tripulação da central de comando que não foi afetado pela imbecilização.
— Minha oferta está disponível — disse Schiller suavemente. — Lembre-se,
comigo você tem uma boa amiga e aliada.
— Obrigado. Mas, não, obrigado — ele olhou profundamente nos olhos do
Homo superior. — Que tipo de acordo você e o Coronel Aponte fizeram?
— Nós estamos temporariamente unindo forças. Eu domino partes da nave e
sou responsável por um total de oitocentos imbecilizados. Eu me certifiquei de que
meus protegidos fiquem quietas durante os próximos dias e te deixem em paz.
— É isso?
— Eu me convenci de que a situação da ORION é precária. Os cálculos de
Apontes estão corretos. Provavelmente, a nave cairá no sol Curicaberis nos
próximos dias, e a situação permanecer inalterada. Não temos mais de uma semana
para evitar que isso aconteça. Mas, estou de bom humor.
— Então, você admite que subestimou o perigo que esteve ameaçando a
ORION o tempo todo?

30
Schiller estava calma. — Eu não tinha a informação para avaliar
adequadamente a situação. Mas, agora... — ela mudou de assunto abruptamente. —
Bibi Anaitis fará outra tentativa no Last Chance. Se ela puder lidar com os
esquadrões de Papa Uh, isso deve funcionar. Uma boa parte do caminho leva pelo
meu território.
Meu território... o Homo superior assumia como certo que governava parte
da ORION. Ela fingia ser um governante feudal.
Nikolov suspeitava que a influência dela sobre os imbecilizados fosse
baixa. Centenas de tripulantes se conheciam. Os imbecilizados, atraídos por sua
forma de megalomania, ouviam sua conversa sobre os altos planos de uma nova
forma de convivência, longe de toda a tecnologia e de um mundo natural e simples.
Mas, assim que Schiller não pudesse mais fornecer água e comida aos
imbecilizados e impedir que eles se matassem, toda a euforia logo seria esquecida.
— Eu não confio em você, comandante de corveta — Nikolov disse
categoricamente.
Schiller deu de ombros. — Eu nem você nem Aponte. Nós formamos uma
comunidade de interesses. Para sobreviver. Quando esta crise acabar, as cartas
serão embaralhadas. E espero que você decida me apoiar.
Nikolov não comentou sobre isso. — Você quer enviar Bibi a caminho do
propulsor de impulso, juntamente com todos os imunes que são aptos para
reparo. Não é?
— Correto.
— Mas, você também tem um plano B. Caso contrário, eu lideraria novamente
o comando de ação Last Chance.
— Correto também. Você sempre tem que planejar em várias direções. Nós
estamos sentados dentro de uma tumba metálica, e na maioria estamos mudos e
surdos, privados da maioria das fontes de informação. E se não conseguirmos fazer
com que a ORION voe a tempo? — ela limpou a garganta. — Eu odeio ficar inativa.
— Então?
—Então, eu concordei com Aponte para formar uma segunda equipe. Você
vai levar este esquadrão para o polo norte da ORION. Ao meu lado.
— Você quer colocar a instalação de hiper-rádio de volta em operação? —
sugeriu Nikolov.
— Correto. Em uma vida passada, eu estive bastante familiarizada com esses
dispositivos. Se o sistema não for completamente destruído, provavelmente poderei
colocá-lo em funcionamento.
— Nós temos que lutar no meio da nave para chegar às instalações — disse
Nikolov.
— É por isso que eu realmente queria você do meu lado — Schiller sorriu,
com seus olhos azuis brilhando.
Droga! O Homo superior sabia exatamente o que ela tinha que fazer para
conquistá-lo.

Os participantes das expedições a instalação de hiper-rádio e a um dos


propulsores de impulso foram equipados da melhor forma possível. Os objetivos dos
dois comandos de ação eram considerados como opções finais para que se evitasse
a queda da ORION, e assim, a morte de todos a bordo.

31
O traje protetor de Nikolov não era mais útil. Ele havia interceptado grande
parte da força da explosão da KN-35. A viseira do capacete blindado derretera, a
maior parte da fuselagem destruída. O que pôde ser salvo da infraestrutura
tecnológica foi expandido e levado para o pequeno armazém de reserva.
Nikolov estremeceu quando ele olhou para os restos do traje. Como ele pôde
ter sobrevivido a essa explosão?
Ele verificou o novo equipamento. O traje protetor estava em condições
razoavelmente boas, assim como a arma era utilizável. Até mesmo um pente
energético reserva completo estava pronto!
Ele se juntou a Bibi e verificou seu equipamento uma última vez, fazendo o
mesmo com sua arma, a mochila e seu traje. O controle mútuo provou seu valor. E
ela estava construindo confiança.
— Cuide-se! — Nikolov lembrou a sua segunda em comando. — Não se
arrisque. Recue, se o perigo for muito grande. Papai Uh ainda está aprontando suas
maldades. Nós nem sabemos exatamente quantos outros imbecilizados na nave se
juntaram para nos caçar.
— Tudo bem — Bibi sorriu com firmeza. — Eu posso cuidar disso
sozinha. Você, por outro lado...
— Eu vou lidar com Schiller, não se preocupe.
— Eu conheço o brilho nos seus olhos. Você está construindo um vínculo com
ela. Você gosta dela.
— Absurdo! Apenas camaradagem e confiança contam na missão.
— Quem poderia saber isso melhor do que eu? — piscou Bibi.
— Ouça! Eu...
Ela acenou com a mão antes que Nikolov pudesse se justificar. — Seus
desastres interpessoais não me interessam, Pincas. Mas, eles não devem afetar sua
missão.
— Você não precisa me lembrar dos meus deveres, Bibi.
— Oh, sim. Porque eu sei como você fala e com que facilidade você é
influenciado. Nós lutamos pela sobrevivência, nós experimentamos uma montanha-
russa de emoções. Amor, carinho, luxúria, ódio, raiva... tudo isso se mistura, e nosso
julgamento cai no esquecimento.
Bibi estava certa. Seus nervos estavam tensos. Levava às reações mais
estranhas.
Eles pensaram que eram seres sencientes que haviam superado a fera
interior dentro de si. Mas, a realidade os ensinou que não era bem assim. A cal do
Homo sapiens havia se espalhado entre a maioria da tripulação.
— Não faça besteira, Pincas — disse Bibi suavemente, acariciando
suavemente suas bochechas antes de colocar as luvas. — Eu quero ver você vivo e
bem.
Nikolov não sabia o que dizer. Então, ele apenas assentiu e se virou. Ele se
juntou a Schiller, que estava esperando por ele à distância. Ela valorizava-o com
olhares e sorria, como tantas vezes fazia.
— Nós vamos — ele disse bruscamente. — Coloque seu traje e...
— Eu não farei isso.
— Ouça, Lisi: eu estou tentando aceitar sua visão de mundo. Você renuncia à
alta tecnologia, acha escandalosa a vida neste mundo da arte e quer construir uma
nova existência o mais rapidamente possível em outro lugar. Juntamente com seus
congêneres, com outros Homo superior.

32
— Há muitos como eu — disse Schiller. — Você e o coronel Aponte, estão
obsoletos. Relíquias de uma época que chega ao fim. Você pode acreditar que viajar
nessas estruturas artificiais é desejável e necessário para o avanço dos
terranos. Mas, a realidade irá alcançá-lo. Centenas de mundos são o lar de homens e
mulheres como eu, perceberam que precisamos nos libertar da tecnologia
pervertida. O único caminho para um futuro viável é estar perto da natureza. Só se
vivermos em harmonia com todos...
— Se isso vai ser um plebiscito, eu sou o público errado — Nikolov apontou
para sua arma. — Nós estamos em uma espaçonave de alta tecnologia com inimigos
por toda parte. A vida que nos resta está contada em dias. Nós temos que trabalhar
juntos, e todos nós temos que pular sobre nossas sombras se quisermos salvar a
ORION.
Então, entre no traje protetor que fornecemos a você.
— Você não tem nada a me dar ordens, cachorrinho.
Nikolov contou até dez em pensamento. Não, esta expedição ao polo norte da
ORION não seria fácil.
Ele olhou para Aponte; mas ela apenas deu de ombros. Lisi Schiller era
problema até novo aviso.
— Tudo bem. Então, deixe o traje protetor para trás. Mas, leve os radiadores
e os equipamentos mais importantes! — Nikolov foi até o armário de armas,
decodificou-o, pegou um emissor de agulhas e entregou-o a Schiller. — Nós
dependemos um do outro. Se se trata de lutar, eu tenho que confiar em você para
nos apoiar.
Hesitantemente, o Homo superior, pegou a arma e apertou-a no suporte
magnético de seu macacão de bordo. — Concordo. Mas, eu me pergunto por que
você dá tão rapidamente.
— Eu não sou muito bom com mulheres difíceis — mentiu Nikolov. — Essa
briga só me custa força e tempo valioso.
Em sua mente ele acrescentou: Além disso, eu sempre ficarei perto de você e
colocarei você no meu campo defensivo, se for necessário.
Nikolov deu a Schiller uma mochila e o equipamento mais importante em sua
mão. Ela arrumou seus pertences e indicou que estava pronta para sair.
Nikolov sinalizou para ela e as duas escoltas para segui-lo. Ele saiu da central
de comando sem se virar novamente.

Schiller assumiu a liderança. Ela conhecia caminhos através da ORION que


Nikolov nunca tinha ido antes. Ela o guiou através das rotas de serviço entre os
conveses e as escadas metálicas que provavelmente nunca haviam sido usadas por
ninguém desde que a nave foi colocada em serviço.
Aponte emitiu uma proibição de rádio. Só seria permitido quebrá-lo na
emergência mais extrema. Ela não queria Papa Uh rastreasse ou outros
imbecilizados que mantiveram parte de sua inteligência.
O Homo superior não precisava de um rádio para ficar bem
informada. Repetidamente ela trocava mensagens com imbecilizados que estavam
sob seu comando e sempre apareciam do nada. De tempos em tempos, algumas das
figuras lamentáveis os acompanhavam, mostrando-lhes caminhos viáveis, passando
pelos acampamentos de gangues rivais e entregando recados.

33
O pequeno grupo progrediu rapidamente e logo subiu para o seu destino, que
estava a mais de mil metros acima da central de comando.
Os cúmplices alternativos da mulher mostraram notável habilidade. Os
instintos dos imbecilizados funcionavam como animais selvagens. Mas, quando se
tratava de abrir latas de auto aquecimento ou trocar de roupa, elas falhavam
miseravelmente.
Eles chegaram em salas do antigo ultracouraçado. Havia caos em quase toda
parte da nave, mas essa área da ORION parecia surpreendentemente limpa. A poeira
havia se acumulado nos cantos e, aqui e acolá, vermes causavam inquietação. Os
rastejadores, outrora confinados às paisagens recreativas da nave, estavam
rapidamente ganhando novos habitats.
Nikolov e seus companheiros passaram baterias de celas higiênicas que
estiveram disponíveis para mais de cem soldados de infantaria. Schiller sinalizou
para que ele a seguisse dentro da área sanitária enquanto os dois companheiros
esperavam do lado de fora da entrada.
Nikolov entrou no vestíbulo e depois no vestiário. A única luz de emergência
fraca e brilhante não permitia que ele visse todos os detalhes das instalações. E ele
estava feliz, porque havia uma bagunça terrível aqui.
— Nós garantimos esta parte da nave há algumas semanas — Schiller
sussurrou para ele, levando-o para as celas molhadas e parando em frente a uma
porta. — Eu disse ao meu pessoal para lavar a sujeira. Infelizmente, o controle
positrônico falhou, a água de dois chuveiros estava escaldante. No entanto, alguns
do meu pessoal ficaram por alguns minutos sob os jatos.
Schiller limpou a umidade de suas bochechas com a mão direita. — Eu dei a
eles uma ordem, então eles não se mexeram. Eles apenas ficaram sob a água muito
quente, enquanto eu era necessária em outro lugar.
Ela abriu a porta. Nikolov olhou para uma grande lona, na qual dois corpos
estavam embrulhados. Fedia bestialmente, animais corriam ao redor.
— Eu os ouvi gritando e gemendo à distância quando voltei. Já era tarde
demais quando cheguei aqui. Foi uma visão que... mas, vamos deixar isso em paz.
— Por que você não queimou os cadáveres ou os manteve em uma sala
refrigerada?
— Os imbecilizados se recusam a levar os mortos para longe daqui, e eu
sozinha não tenho forças — Schiller inclinou a cabeça. — Eu também tenho limites.
Eles deixaram esta área da nave e continuaram em silêncio.
Nikolov não estava com disposição para outra conversa. O comportamento
dos imbecilizados pressionou sua mente.

Além disso, havia passagens e áreas onde não havia luzes acesas e o piso
estava coberto de gelo. No convés 44, Nikolov e seus companheiros se depararam
com salas com diferentes vetores de gravidade, na área sobre a qual, a vida vegetal
exuberante estava ao redor.
Nós estamos presos na ORION por mais de sete meses, Nikolov percebeu. A
nave está mudando. Nós mudamos.
Ele empurrou seu espanto de lado o melhor que pôde e liderou o pequeno
grupo, sempre apoiado por Lisi Schiller.

34
Entre o convés 48 e 49, eles entraram em um corredor de serviço. Fedia
lastimosamente, ali sinais de vida animal podiam ser vistos aqui e acolá.
Os laboratórios de pesquisa mantiveram muitos mamíferos, pássaros e
anfíbios, lembrou Nikolov. Por que ele não sabia. Talvez alguns dos animais
tivessem encontrado acesso a essas áreas invisíveis da nave e...
Um de seus companheiros amaldiçoou e ergueu a arma. Nikolov reagiu
instintivamente. Ele empurrou Schiller para o lado e colocou-se protetoramente na
frente dela.
Algo atingiu seu ombro e cabeça, quase derrubando-o. O traje manteve-o de
pé e estabilizou-o.
O estranho havia caído de mais de cinco metros e meio na semiescuridão. A
criatura rapidamente se levantou, golpeou Nikolov, uma vez, duas vezes, e se
afastou, deslizando entre tubos e vigas de cabo em um canal estreito inacessível aos
humanos. Aquele caminho era reservado exclusivamente para robôs de
manutenção.
— Não atire! — gritou Nikolov, antes que o soldado pudesse atirar. — Não
podemos destruir mais a infraestrutura!
O homem obedeceu e abaixou a arma, mas permaneceu vigilante. Nikolov
não esperava mais nada de Benjeen Franco, que muitas vezes o acompanhara nos
comandos de ação. Ele podia confiar nele.
Por alguns segundos houve raspagem e arranhões, depois a coisa
desapareceu.
— Você está bem? — perguntou Nikolov Schiller.
O Homo superior apenas assentiu e ficou de pé. As pupilas dilatadas e as
gotas de suor em sua testa a traíram: Lisi Schiller estava com medo. Ela acreditava
que, graças a sua autoridade nesta parte da nave, nada poderia acontecer com ela, e
agora ela foi ensinada que não era bem assim.
— Aquilo foi um ser humano! — disse Franco, assegurando sua arma sem
perder sua atenção.
— Impossível!
Franco enviou-lhe algumas fotos tiradas por sua câmera do capacete. Elas
estavam fora de foco e nunca mostravam completamente o desconhecido. Mas, era
verdade: eles foram atacados por um ser humano.
— Ele está emaciado até os ossos — disse Schiller. Ela parecia preocupada.
— Ele provavelmente está morando na área de manutenção há meses. Ele
rasteja e se alimenta de coisas que eu nem quero pensar.
Uma alma perdida. O caso perdido de um ser humano imbecilizado que se
retirara da vizinhança de seus companheiros sofredores e cujo comportamento era
mais um animal do que um ser racional.
— Há alguns desses solitários — disse Schiller em voz baixa. — Eu os chamo
de perdidos.
Sim, esse termo se encaixava. Nikolov olhou de perto para uma foto
mostrando o rosto barbudo do homem. Não havia quase nada de humano em suas
feições.
— Vamos em frente! — ele ordenou, colocando a perna no último degrau da
escada. Ele puxou a cabeça e segurou a arma na direita enquanto se
levantava. Nikolov sentiu que as dificuldades acabavam de começar.

35
Dois conveses abaixo da instalação de hiper-rádio, a equipe de Nikolov teve
que lidar com ex-soldados, que se reuniram em um grupo de dez membros e
estavam procurando por algo útil. Por alimentos e roupas, mas também para objetos
de uso diário, que eles usavam pessimamente para outros fins. Alguns perfuraram
cintas metálicas através de suas bochechas como se fizessem parte de um ritual de
iniciação.
Com alguns tiros, o pessoal de Nikolov conseguiu afugentar os saqueadores.
Mas, eles correram para deixar o convés para trás e subir mais alto para aquela zona
cumulativa de alta tecnologia que abrigava o grande canhão conversor polar,
incluindo o conversor, o observatório polar e a antena de hiper-rádio.
No caminho através de laboratórios de pesquisa nas imediações de seu
destino, eles encontraram um grupo de mulheres que se colocaram em seu caminho
com autoconfiança. Elas ficaram ali de braços cruzados e de pernas abertas, sorrindo
e de bom humor.
— Atenção! — Nikolov disse baixinho sobre o rádio do traje. — Não se
deixem enganar. Aquela é Mirne. — ele segurou sua arma com mais força e colocou
o dedo no gatilho.
Ele ouvira falar de Mirne e suas amazonas. A ex-operadora de rádio lidava
bem com a situação a bordo. A mulher altamente inteligente reteve um
remanescente de sua sabedoria e se tornou a líder de um grupo de mulheres. Ela
reivindicou uma parte da nave para si.
Nikolov olhou para Mirne de cima a baixo. Ela tinha músculos como um
lutador, seu cabelo era oleoso e desleixado. Havia algo pendurado em seu cinto que
Nikolov não conseguiu classificar adequadamente.
— Imunes da central de comando, não é? — Mirne sorriu. — O que vocês
estão fazendo fora do seu esconderijo? Vocês estão procurando um domínio novo e
maior? Ou vocês são caçadores de tecnologia?
— Nenhum, nem outro — respondeu Nikolov devagar e decidiu dizer a
verdade. — Nós precisamos de passagem livre para a instalação de hiper-rádio.
— Que pena que você tenha que atravessar o nosso território se quiser
chegar ao dispositivo de rádio — disse Mirne. — Mas, somos sociáveis. Se você
quiser entrar em nossa área, você pode pagar com comida e água limpa.
— Nós não podemos servir isso. Mas, eu ficarei feliz em te deixar metade das
nossas barras de concentrados para você...
— Isso é muito pouco. Que pena.
Mirne falava e se comportava completamente normal. Como se ela fosse
também uma imune, que se tornara a líder de um pequeno grupo de pessoas. Isso
poderia ser?
— E se nos comunicarmos em outro lugar? Eu posso oferecer medicação. E
informações sobre o que está acontecendo dentro da nave.
A amazona deu um passo mais perto e sorriu amigavelmente. — Claro. Nós
não somos monstros.
Tenha cuidado! Nikolov lembrou a si mesmo. Depois, de tudo o que ouvimos
sobre Mirne e suas amazonas...
A mulher fez um movimento incrivelmente rápido, puxou um estilingue
primitivo do cós, colocou uma bola metálica no elástico e quis disparar, mas Nikolov
estava preparado, e foi mais rápido. Ele a acertou na área do peito. O raio paralisante

36
da vário-arma fez com que desmoronasse, assim como as outras mulheres alvejadas
por Schiller e seus dois companheiros.
— Isso foi quase fácil demais — disse Schiller. Ela olhou em volta. — Você
acha que acabou?
Nikolov demorou antes de responder. Com a rotina de muitas disputas
semelhantes, ele checou o ambiente imediato. Os sensores térmicos não mostraram
nenhum movimento e os óculos antiflex não mostraram nada.
— Verifique e reviste-as! — ele instruiu Franco.
O soldado fez o seu trabalho com rapidez e precisão. Ele procurou nas
mulheres por armas energéticas e fechou os olhos delas após não encontrar nada. O
efeito paralisante certamente duraria meia hora. Eles tinham que evitar que os
globos oculares secassem.
— Você é um verdadeiro filantropo — disse Schiller sarcasticamente
enquanto colocava um pequeno pacote de remédio e se concentrava diretamente ao
lado de Mirne.
— Elas não são inimigas — disse Nikolov claramente. — Meu trabalho é levá-
los ao seu destino com segurança. Isso não inclui prejudicar essas pobres criaturas.
— Mirne vai acordar da paralisia e buscar vingança.
— Talvez. Mas, espero que ela e os outros imbecilizados voltem um
dia. Certamente há uma cura para ela... sua doença.
Eles continuaram seu caminho, se assegurando cuidadosamente e por todos
os lados.

A infraestrutura do dispositivo de hiper-rádio não sofreu grandes danos. O


complexo do dispositivo com mais de vinte metros de equipamento não havia sido
visitado desde que Nikolov o visitara pela última vez. Isso foi cerca de seis semanas
atrás. Acompanhado por um funcionário imune do laboratório que se pensava ter
reparado a planta. Contudo, o homem não conseguiu ver o dano.
Nikolov tinha assegurado e trancado a área por precaução. O selo estava
intacto: nenhum dos imbecilizados conseguira penetrar lá dentro.
Lisi Schiller sondou a periferia do dispositivo. Ao lado de um cubo de dois por
dois metros de altura, a base pesada da antena real se projetava do piso. Ele
alcançava outros trinta metros antes de atravessar a blindagem de terconite da
ORION. Do lado de fora, a instalação se alargava em uma confusão de placas e
painéis, que na sua totalidade resultava na a antena de hiper-rádio.
Schiller ajoelhou-se e olhou para o cubo técnico, onde traços de danos eram
visíveis. Quando a imbecilização se instalou, as vítimas dispararam
indiscriminadamente, destruindo grandes partes da flotilha escaleres e danificando
mais de noventa por cento da infraestrutura da nave.
É um milagre que ainda estejamos vivos, pensou Nikolov. Mas, certamente
precisamos de um milagre maior para sobreviver nos próximos dias.
Schiller fez seu trabalho e soltou painéis danificados para dar uma olhada no
controle de hiper-rádio. Ela mostrou uma expressão de nojo. Ela exibia sua aversão
pela alta tecnologia enquanto tirava um pequeno robô de diagnóstico da mochila e
o soltava dentro do cubo.
Nikolov entendia muito pouco da função e construção da estrutura. Mas, ele
se sentia desconfortável perto dela. Na vizinhança imediata, a artilharia do canhão

37
conversor polar se erguia alta, alimentada por energias que há muito haviam
perdido o controle sobre seus conversores.
Pare de ter medo, Pincas!, ele lembrou a si mesmo. Seria uma coincidência, se
o conversor inicializasse agora.
Schiller acenou para ele, Nikolov se aproximou dela.
— Eu vou poupar-lhe os detalhes técnicos — disse ela —, mas acho que posso
colocar a coisa em operação novamente. Eu só preciso de algumas peças de
reposição que devem ser encontradas aqui, bem como uma pasta metálica. Pode ser
que no revestimento da antena tenha surgido fissuras capilares. Então, nós
precisamos aplicar uma camada protetora. Ela balançou a cabeça. — Eu nunca
entendi porque a administração da frota terrana atribui tanta importância à
redundância múltipla e ao armazenamento excessivo. Agora, eu sei disso. Vou
enviar uma carta de agradecimento ao comandante assim que formos resgatados.
De onde Schiller conseguiu seu otimismo? Ou era a megalomania que
acompanhava sua crença de que ela era melhor que o Homo sapiens?
— Quanto tempo? — perguntou Nikolov.
— Quatro a cinco horas.
— Nós podemos colocar o aparelho em funcionamento daqui?
— Eu vou cuidar disso.
De repente, Schiller pareceu distraída. Ela cuidou de seu robô de diagnóstico
e conectou a pequena coisa com uma unidade de entrada, em seguida,
imediatamente entrou em um diálogo animado com sua positrônica e discutiu as
etapas iniciais para o reparo.
Nikolov observou a antiga comandante de corveta. Toda a sua arrogância e
também o ostensivo ódio à tecnologia foram esquecidos. Ela foi absorvida em seu
trabalho.
Schiller olhou para ele abruptamente, como se ela pudesse ler sua mente. Ela
sorriu. Feliz e satisfeita.
Ela era indisciplinada e teimosa, e certamente não estava em seu juízo
perfeito. Nikolov respirou fundo. Que tipo de idiota era ele! Porque todos esses
ingredientes resultavam no tipo de mulher que ele tanto valorizava.

Quatro horas e meia depois, chegara a hora. Mais e mais luzes de uma cabine
de rádio improvisada ficaram verdes. A energia necessária para a transmissão de
dados fluiu, o sistema de hiper-rádio ganhou vida.
Em algum lugar, uma peça mecânica bateu, mas Schiller deixou claro para
Nikolov que não precisava se preocupar com isso.
— É a sua vez — disse Schiller, colocando um microfone de garganta
antiquado.
Nikolov limpou a garganta e reajustou as palavras antes de iniciar a gravação,
que seria gravada e reproduzida em um loop infinito.
— Aqui é o Pincas Nikolov — disse ele com a maior calma possível. —
Sargento do primeiro batalhão espacial a bordo da ORION. Nossa nave está
naufragada e ameaça cair no sol Curicaberis. As coordenadas são...
Limitou-se a algumas informações básicas sobre o acidente da ORION e
apontou para os eventos a bordo. Pediu ajuda tão rápida quanto possível em nome

38
da comandante, antes de apontar para a situação precária no constante confronto
com os imbecilizados.
— Hoje é 24 de julho de 3.441 — acrescentou Schiller. — Na melhor das
hipóteses, temos mais uma semana para viver antes de cairmos no sol.
Ele terminou a gravação e desligou o microfone.
Foi opressivo. Para abordar as notícias de sua morte que se aproximava do
espaço, isso golpeou sua mente com força.
— Agora é hora de esperar — disse Schiller. —N o entanto, dois dos módulos
de raios direcionais de busca me preocupam.
— Isso significa?
— Pode ocorrer falhas. Nós temos que esperar por um teste de estresse. Isso
leva cerca de três horas. Então, eu verifico a estrutura do módulo novamente e
procuro por dano de carga antes de colocar a coisa boa finalmente em
operação. Então, selamos esta sala o melhor possível, ativamos a linha para a central
de comando e retornamos a Aponte.
— Você está preocupada?
— Você não acha? Você viu as amazonas. Elas e outros grupos podem
aparecer aqui e nos causar problemas.
— Três horas é muito tempo — Nikolov passou instruções para Franco. O
soldado obedeceu sem hesitação. Abriu a escotilha do único acesso, e olhou
cuidadosamente para o corredor.
— Alternativamente, podemos retornar imediatamente e esperar que os
módulos continuem a funcionar sem danos — disse Schiller.
— Não. Eu quero ter certeza de que a localização por hiper-rádio possa ser
controlada a partir da central de controle.
— Eu não posso lhe dar segurança — disse Schiller, demonstrativamente
cruzando os braços sobre o peito.
— Sim, sim, tudo bem... qual é o tamanho do alcance do hiper-rádio?
— Provavelmente cinquenta ou cem anos-luz — ela olhou para a pequena
tela que seu robô de diagnóstico carregava em seu peito. — Curicaberis é um fator
natural de interferência. O sol fornece interferência no alcance do hiper-rádio, que
às vezes sofre mais, às vezes menos influência forte no alcance. Em qualquer caso, a
ORION irradia em um intervalo de doze minutos de arco.
— Não mais? — perguntou Nikolov, desapontado.
— Esta é a situação — respondeu Schiller. — Alguns dos painéis direcionais
móveis na superfície externa da ORION não funcionam mais. Nós teríamos que
deixar a nave para ver a extensão do dano. E honestamente, não acho que posso
fazer nada sobre isso. Eu não estou muito familiarizado com esse tipo de tecnologia.
— Eu vejo. Mais três horas de espera — Nikolov deslizou as costas pelo cubo
central do dispositivo e caiu no chão. Ele estava tão terrivelmente cansado.
Franco e o outro soldado protegiam a única escotilha. Ele substituiria um
deles em uma hora e lhe daria um pouco de descanso. Eles precisavam de toda a
força para o caminho de volta.
Tantos pensamentos passaram por sua mente. A tensão constante entre
esperança e ansiedade custou substância, assim como o atravessar pela ORION e os
conflitos com os imbecilizados consumiam seus nervos.
Nikolov afastou seus medos de lado. Ele simplesmente não conseguia pensar
na condição miserável da ORION.
Desligue. Feche os olhos e relaxe um pouco ...

39
Ele sentiu um toque. Lisi Schiller se sentou ao lado dele. Ela encostou a
cabeça no ombro dele.
— Você acha que eu sou louca, não é? — ela perguntou.
— Sim.
— Por que você tem tanta certeza disso?
— Eu não posso levar a sério essa confusão de Homo superior. — Nikolov
colocou o braço em torno da mulher e puxou-a para mais perto. Ele cheirou o cabelo
dela.
— E ainda assim você parece gostar de mim — ela levantou a cabeça
levemente e sorriu ironicamente para ele.
— A escolha de... mulheres normais não é tão grande a bordo da ORION.
— Por que você não pode simplesmente admitir que gosta de mim? Que você
gosta de mim? Que não importa o que há entre nós?
— Por favor, fique quieta. Não estrague esse momento.
Lisi relaxou e se aconchegou perto dele sem dizer outra palavra. Sua
respiração se tornou regular, e eventualmente ela adormeceu.
Nikolov reprimiu um suspiro. Em outras circunstâncias, esses momentos de
confidencialidade nunca teriam acontecido. Eles eram fundamentalmente
diferentes e desprezavam um ao outro pelo que cada um deles representava. Mas, a
bordo de uma nave moribunda tudo era diferente. Eles precisavam um do outro,
precisavam de proximidade e calor corporal, e a sensação de não estarem sozinhos.
Nikolov abraçou Schiller o mais forte que pôde. Ela suspirou suavemente em
seu sono.

O Homo superior tinha coletado mensagens de hiper-rádio pela positrônica


de seu robô de diagnóstico. O Curicaberis perturbou a recepção, de modo que só
restaram fragmentos das mensagens erráticas. Mas, isso foi o suficiente para fazer
com que todos entendessem a verdadeira extensão do desastre na Via Láctea.
A imbecilização se instalou como uma epidemia através da galáxia. A maioria
das mensagens veio de sofredores que tiveram a sorte de ativar seus hiper-rádios e
transmitir mensagens gaguejantes que não tinham sentido.
Ocasionalmente Nikolov recebia pedidos de ajuda, que pareciam com os
seus. Imune como eles imploraram para ser resgatado de situações perigosas. A
notícia veio de espaçonaves, estações espaciais ou planetas.
— É isso aí — disse ele, preocupado. — Ninguém virá.
— Nós nos tornaremos o Homo superior...
—... você não fará nada! — Interrompeu Nikolov Schiller. — Não vamos nos
enganar. Se há um poder em algum lugar que quer sufocar a imbecilização e
restaurar a ordem, estará procurando por outros objetivos maiores. Nós somos
insignificantes demais para sermos salvos. Centenas de milhares de naves devem ter
sido perdidas no espaço.
— Nós vamos esperar que Anaitis consiga algo na Última Chance.
— Nós teríamos notado há muito tempo se o propulsor de impulsos tivesse
inicializado.
Nikolov ficou irritado com sua atitude negativa. Demasiadas más notícias
haviam surgido, a situação era muito ruim. Não poderia realmente piorar...

40
Houve um barulho violento, a fumaça veio do cubo técnico. Schiller xingou e
correu em direção ao bloco para retirar os painéis laterais fixados
provisoriamente. Ela enviou seu ajudante robótico para dentro.
Os sons ficaram mais altos. Eles foram transferidos para outras partes da
instalação. A partir da junta de expansão de uma parte rotativa mecânica da antena,
vazava vapor de óleo fumegante.
Houve um súbito silêncio.
Schiller se endireitou devagar. Mostrou a Nikolov o que restara do robô
diagnóstico: um caroço metálico com membros absurdamente retorcidos.
— É isso aí — disse Schiller, colocando palavras em sua boca que Nikolov
nunca ouvira antes.

O Homo superior ficou em silêncio durante o retorno. Ela teve dificuldade em


engolir que não conseguiu impedir a destruição da instalação de hiper-rádio. Uma e
outra vez, Nikolov pôde dizer-lhe que ela não era culpada pela destruição da
mecânica — ela não quis ouvi-lo.
O caminho estava limpo, eles fizeram um progresso surpreendentemente
bom. De tempos em tempos, passaram imbecilizados dispersos. Todavia, eles
evitaram um confronto aberto e se esconderam em algum lugar.
Sempre que possível, Nikolov deixava alimentos concentrados para trás. Ele
só podia esperar que essas figuras infelizes soubessem o que fazer com ele.
Nikolov armazenou em um cristal de dados. Ele deixou seus próprios
pensamentos sobre a situação a bordo, tentando permanecer o mais autêntico
possível.
Sua vida foi medida em dias ou até horas. O cubo de notas que ele alimentou
com suas anotações, seria destruído como qualquer outra coisa ao cair no sol. Mas,
isso não importava. Tornou mais fácil para ele falar sobre seus sentimentos, seus
medos e suas esperanças. Ele sentiu como se estivesse fazendo uma confissão e
chegando a um acordo consigo mesmo.
— O que você está pensando?
— Huh? — Nikolov olhou para Lisi Schiller, que estava andando na frente
dele, por um corredor de serviço através das entranhas da nave.
— Você parece tão calmo. Como se você tivesse perdido todo fogo.
— Eu estou tão preocupado.
— Nós vamos conseguir — Schiller tentou sorrir. Mas, falhou.
— Claro que sim — Nikolov mentiu de volta. Ele se virou e retornou ao seu
relatório. Sem perder sua atenção. Porque a bordo da ORION, como ele sabia, nunca
se estava imune a surpresas.

Nikolov mudou de ideia antes de chegar a central de comando. Ele deu


algumas instruções a Franco, que lhe deu um breve aceno de cabeça e posicionou-se
à frente do pequeno grupo.
— O que é isso? — Schiller pareceu aborrecida. — Eu pensei que você queria
voltar para a central de comando o mais rápido possível?

41
— Certo. Mas, primeiro eu quero te mostrar uma coisa. Não se preocupe. O
caminho para a ponte para a luz é uma caminhada em comparação com a nossa
subida ao hiper-rádio.
Schiller encolheu os ombros. Ela o seguiu ao longo do poço equatorial em
direção a protuberância equatorial, na ponte para a luz.
Esta parte da ORION estava praticamente deserta. Não havia razão para os
imbecilizados evitarem a pequena faixa entre o centro da nave e a protuberância
equatorial. Mas, Nikolov teve suas suposições: ao longo do caminho, eles se
depararam com estranhas obras de arte feitas de lixo. Elas pareciam ser
rituais. Como se os imbecilizados tivessem desenvolvido uma espécie de crença nos
deuses e quisessem apaziguar a ira dos seres superiores através de oferendas.
Foi uma imagem muito estranha que Nikolov tentou pintar. Mas, se a lógica
não fosse mais suficiente para entender as ações do imbecilizados, ele teria que agir
de maneira diferente.
Houve um silêncio mortal durante a marcha deles. Ele e todos os outros
imunes haviam trilhado este caminho para a Ponte para a Luz pelo menos uma vez
durante os últimos meses. Para esticar as pernas e escapar dos limites de seu
domínio por um curto período de tempo, ou, para...
Nikolov não quis mais pensar nesse assunto.
— O que é essa ponte para a luz? — perguntou Schiller.
— Nós seguimos por esse caminho. Ele leva a um dos hangares da
protuberância equatorial — Nikolov respondeu monossilábicamente, ignorando
outras perguntas.
O Homo superior continuou procurando por sua arma e olhando em
volta. Ela não confiava na calma. Ela demonstrava que não concordava com a
mudança do plano dele.
— Aponte saberá do nosso fracasso em breve — disse Nikolov.
Eles passaram por um pequeno parque cuja infraestrutura ainda estava
intacta. Um homem imune, um cientista do campo da xeno-arqueotipologia, sentava-
se num banco do parque e acenou letargicamente para eles. Ele se recusou a
perguntar-lhes sobre o sucesso de sua missão e permaneceu sentado, centrado em
si mesmo, com a mão estendida sobre a qual uma borboleta-limão se instalara.
— Quase se podia acreditar que tudo estaria em perfeita ordem — Schiller
murmurou.
Ficaram em silêncio pelo resto da viagem e, menos de quinze minutos depois,
chegaram ao seu destino, o hangar K-0.
— ORION K-03 e K-04 — disse Schiller, olhando para as duas espaçonaves —
Irmãs da minha própria corveta, e destruídas como todas as outras. Danificadas por
disparos de radiadores térmicos e desintegradores.
— Certo. E ainda nos deixam um pequeno vislumbre de esperança.
— Oh, sim? Por quê?
— Eu vou te contar mais tarde — Nikolov decodificou um armário embaixo
da sala dos pilotos e disse a Schiller inequivocamente para colocar um dos trajes
protetores armazenados aqui. — É só por alguns minutos — disse ele.
Ela sucumbiu à surpresa dele, vestiu o traje e ativou todas as funções.
Nikolov entrou na sala dos pilotos e assumiu o controle do hangar. Em alguns
instantes, ele abriu uma pequena porta lateral, que havia sido usada para a inserção
e remoção de lentes espaciais.

42
O oxigênio escapou. A luz do interior do hangar foi encoberta pelo brilho
radiante azul-branco do sol Curicaberis.
Nikolov pegou um emissor de comandos móvel e foi até o hangar. Ele agarrou
a mão de Schiller e se juntou a ela no portal aberto.
Ela hesitou.
Ele ouviu sua respiração violenta no rádio.
A viseira do capacete escureceu na capacidade máxima, e ainda a visão da
estrela era difícil de suportar.
— A temperatura externa já está em várias centenas kelvin — disse ele
depois de olhar para os medidores de seu traje. — Irá piorar nas próximas horas e
dias, assim como a exposição à radiação. Até entrarmos na coroa. A exposição aos
raios X já é absurdamente alta.
— Por que você está mostrando isso para mim?
Ele agarrou com mais força, para que ela não pudesse recuar e teve que
suportar o banho no brilho do sol Curicaberis.
— Nós éramos mais imunes a bordo — disse Nikolov. — Alguns de nós não
suportou o desespero. O que quer que fizéssemos para salvar a nave; por mais que
quiséssemos ajudar os imbecilizados; por mais intensivamente que negociamos um
cessar-fogo ou restrição com eles e os outros líderes a bordo da ORION: fomos
repelidos em nossos esforços repetidas vezes, destruindo nossas esperanças
repetidas vezes.
Os membros da tripulação que se tornaram bons amigos vieram aqui para
retirar seus trajes protetores e se jogar.
Você é a culpado pela morte dessas pessoas, ele quis acusar Schiller, mas
depois deixou para lá.
— Você duvidou, Lisi. Eu quero que você reconheça a realidade e me
diga agora que você vai nos apoiar. Não há mais tato. Sem negação, sem
diversão. Essa é a realidade. A morte nos esperará se não encontrarmos uma saída
nos próximos dias.
Ela ficou em silêncio. Longamente.
— Eu entendo — disse ela. —Eu vou ajudar. E eu já sei como. Afinal, eu sou
um homo superior — ela se afastou e voltou para o interior do hangar.
Ele fechou o pequeno portal e ajudou Schiller a tirar o traje de seu corpo. O
traje protetor que alguém tinha dobrado ordenadamente e deixado para trás, antes
de passar pela ponte para a luz.

43
7.

Na sala de interrogatório (4)

— Então, os registros de Nikolov foram incorporados aos registros


holográficos de Aponte — disse Rhodan, mais uma vez Gi Barr ficou em silêncio e
comeu um mingau.
— Certo — disse a gaone entre as mordidas. — Há outros testemunhos que
se tornaram parte desses registros. Mas nenhum deles é tão medíocre quanto o de
Nikolov. — Acrescentou com mais calma: — Surpreende-me que ele desempenhe
um papel comparativamente menor no mito fundador do Império. Mas, essa é a
história relatada.
Rhodan fez uma anotação mental. Gi Barr tinha uma mente crítica e sabia
como classificar a história fundadora do Segundo Império Solar. Não havia nada de
muito adoração de herói para sentir.
— Na história da Via Láctea, o Homo superior é, na melhor das hipóteses,
uma nota de rodapé — Rhodan mudou de assunto. — Eles ganharam alguma
importância durante a crise do enxame e logo desapareceram.
— Como esperar o contrário. Arrogância e megalomania não são um bom
emparelhamento.
— Mas, Lisi Schiller desempenha um grande papel em sua história.
— Ela é menor do que você pensa. Talvez ela tivesse conseguido um lugar
maior em nosso mito fundador, mas..., deixe-me contar mais. Então, você vai
entender, Perry Rhodan.

44
8.

Propulsores e convidados

O corpo de Bibi Anaitis foi encontrado poucas horas após o retorno de


Nikolov à central de comando. Sua segunda em comando havia sido assassinada por
Papa Uh.
Bibi e seus companheiros provavelmente nunca haviam chegado à Última
Chance. O TARA enlouquecido havia atraído os imunes para uma armadilha, matado
e arrastado os restos dos cadáveres até o quartel-general para empilhá-los uns sobre
os outros. De alto-falantes cuidadosamente escondidos, a risada metálica tinha
matizado por minutos. Até que Aponte encontrou e destruiu os amplificadores.
— Nós temos que pegá-lo! — Nikolov segurou a arma com mais força. Ele mal
conseguia pensar corretamente. — Enquanto ele não estiver fazendo nada bom no
ORION, não teremos paz...
— Não! — disse Aponte com firmeza. — O TARA está apenas esperando que
deixemos nosso território seguro. Ele quer nos derrubar um por um. Eu não vou
permitir isso.
— Você quer deixar esses assassinatos a sangue frio continuarem?
— Sim. Por mais difícil que seja para mim. Por que eu deveria me vingar de
um robô maluco, Pincas? A caçada ao Papa Uh iria usaria muitos recursos. Recursos
que precisamos urgentemente.
— Para defender a central de comando e fazer outra tentativa desesperada
de alguma forma, tirar a ORION do sistema Curicaberis?
— O plano de Schiller tem alguma chance de sucesso.
— Pare com isso, Comandante! Nós dois sabemos que nunca será possível a
tempo de remover os restos de propulsores de impulso defeituosos dos destroços
das duas corvetas do hangar K-0 e montá-los para que funcionem.
— O conhecimento técnico de Schiller é inestimável. Ela sabe exatamente o
que fazer.
Nikolov não queria mais discutir. Aponte estava certa, é claro. Ela tinha que
oferecer aos seus companheiros uma palha, dar-lhes esperança.
Schiller fez um excelente trabalho. Desde que o homo superior se juntou a
eles, os imunes voltaram a ter esperança. A ex-comandante de corveta tinha cérebro
e sabia improvisar.
Era um absurdo. A própria mulher que se distanciou da tecnologia moderna
e sonhava com uma vida próxima à natureza em um mundo intocado, ajudou-os
ainda mais.
Nikolov não queria mais pensar nisso. Não nessas horas. Ele estava tão triste.
Bibi Anaitis estava morta.

Eles tinham talvez trinta horas para viver. Um cálculo exato não foi possível.
Eles não tinham dados críticos e capacidade de computação. Os dois últimos robôs
restantes sem aditivos de plasma poderiam tê-los ajudado com as extrapolações,
45
mas nas corvetas naufragadas eles estavam ocupados vasculhando peças
sobressalentes e recuperando-as.
Nikolov voltou para a central de comando e bebeu duas xícaras de café
quente. Ele tinha trabalhado por mais de 24 horas e absolutamente precisava de um
descanso. Para arejar sua mente e chegar a outros pensamentos.
Ele olhou para o pequeno saco de medicação que o médico colocou em sua
mão. Os comprimidos o ajudariam a suprimir a sensação de sono e a permanecer
em sã consciência.
— Como vai? — perguntou Aponte, passando a maior parte do tempo na
central de comando, encarregando-se do controle logístico de seu trabalho.
— Eu nunca acreditei em milagres. Mas Schiller me faz exatamente isso. Ela
é inacreditável. Ela dirige pessoas, e pode ser encontrada em todos os lugares,
desempenha um papel ativo e também mantém uma visão geral. Ela conseguiu
aproveitar alguns de seus imbecilizados para trabalhar e obter peças de reposição
de outras partes do ORION.
— Vocês dois formam uma excelente equipe.
Nikolov deixou essa afirmação na sala. Ele não queria falar sobre seu
interesse por Lisi Schiller. Principalmente, porque ele próprio não sabia como
definir sua afeição por essa mulher cínica e arrogante.
— Alguma notícia de Papa Uh? — ele mudou de assunto.
— Negativo. Ele não é visto desde o assassinato de Bibi e seus
companheiros. Schiller me ajudou a ativar algumas câmeras de observação no
ORION. Enquanto isso, eu tenho acesso a cerca de trezentas deles. Mas, mal posso
cobrir um vigésimo da nave. E Papa, obviamente, sabe disso.
— Ele atacará a central de comando?
— Certamente não sozinho. Ele depende do apoio de seus imbecilizados. E
eles ainda têm respeito por nós. Enquanto nos barricarmos aqui e nos
concentrarmos na ponte para a luz.
— Eventualmente Papa Uh vai perder a coragem.
— Nós vamos esperar que seja tarde demais para ele então.
Nikolov olhou em volta. Apenas dez imunes estavam de serviço na central de
comando. Alguns usavam a infraestrutura disponível e controlavam as funções da
nave da melhor maneira possível. Foi graças a eles que as bombas de recirculação
de ar funcionavam e a gravidade artificial foi mantida em grande parte do ORION.
Além disso, havia soldados que deixavam as mãos repousar nervosamente
nas armas. O trabalho deles era manter Papa Uh e qualquer outro líder dos
imbecilizados fora daqui.
Nikolov havia perdido todo o nervosismo. Ele aceitaria sua morte com calma.
Se Schiller conseguisse colocar o propulsor de emergência em operação a
tempo, apenas se ganharia tempo. A situação a bordo não teria mudado nada.
Ele pegou uma das pílulas e mastigou devagar. Um gosto ácido e pungente se
espalhou em sua boca. O esgotamento rapidamente deu lugar a uma sensação de
euforia.
Como ele poderia acreditar nos planos de Schiller? Ele ainda estava vivo e
estava cem por cento pronto! Ele não precisava dormir. Ele voltaria ao hangar e
ajudaria.
Nikolov se despediu da comandante Aponte e partiu.

46
*

O propulsor provisório foi movido e posicionado usando projetores


antigravitacionais. Duas mulheres suadas e ofegantes usavam um enorme martelete
antigravitacional para empurrar os rebites expansivos nas abas metálicas soldadas
na base do propulsor. As suspensões e as junções primitivas do cardam asseguraram
um giro dos bocais de até trinta por cento.
Os bocais do propulsor foram alinhados em direção ao hangar externo. O
salão teria que ser evacuado durante a ignição do propulsor de pulso. Não havia
cobertura térmica, nenhum amortecedor, nenhuma proteção contra vibração ou
radiação. Partes da parede externa do hangar seriam dissolvidas durante a
operação, a contaminação por radiação também era provável.
Em um canto do salão, os imunes estavam trabalhando no problema do
fornecimento de energia. Cabos grossos estavam espalhados por todo o lugar, um
sistema de proteção de canos acabara de ser concluído. Alcançavam o conversor um
andar abaixo.
Nikolov viu Schiller na sala dos pilotos, curvada sobre os documentos. Ele
acenou para ela, ela não respondeu. Durante dias ela trabalhou obsessivamente e
mal se afastou por duas ou três horas em um canto sossegado para dormir.
Imunes iam um a um para sala até ela. Eles recebiam instruções e
conselhos. Poucos tinham formação prática em engenharia ou experiência em lidar
com esses objetos. Mas, todos fizeram o melhor que puderam, como Nikolov sabia.
Um dos dois robôs auxiliares operacionais girava em torno do corpo
propulsor, que tinha um diâmetro de mais de cinco metros. O maquinário seria
integrado ao corpo no final do trabalho. Graças à sua positrônica, a precisão
necessária no controle do motor estava garantida.
Eles precisavam de energia por cerca de trinta segundos de empuxo para
arrancar a ORION do curso atual ao redor do sol e acelerar para escapar da
velocidade. Por enquanto, Schiller manteve os dados exatos para si mesma, ou ela
ainda não sabia disso.
Alguns dispositivos de medição na fuselagem externa da ORION forneciam
informações de que ele se alimentaria imediatamente antes que o propulsor fosse
colocado em operação.
Em poucas horas, Schiller queria iniciar um primeiro teste.
— Nós temos um problema — Nikolov ouviu Aponte dizer pelo rádio.
— Apenas um? — ele perguntou, cansado.
— Nós não estamos mais sozinhos a bordo da ORION.
— O que isso quer dizer?
— Alguém invadiu a nave. Vários alienígenas. Eles avançam do polo sul para
a central de comando.
Nikolov olhou para Lisi Schiller na sala dos pilotos. Ela levantou-se de seu
lugar e pendurou um rádio auricular, assim como todos os imunes. Todo o barulho
no hangar diminuiu, apenas os dois robôs auxiliares continuaram a trabalhar.
— Isso significa que estamos salvos! — Nikolov mal podia acreditar.
— Eu não penso assim — disse Aponte enfaticamente. — Os invasores são
alienígenas. Não há indicações em nossos registros de representantes desse povo.

47
Uma imagem foi espelhada na frente do capacete de Nikolov. Era de má
qualidade, mas os atributos físicos mais importantes de um alienígena eram
facilmente reconhecíveis.
Nikolov olhou para figuras semelhantes a humanos em trajes espaciais
brancos reluzentes carregando armas.
Os estranhos respiraram o ar do ORION. Seus crânios eram carecas. Eles
carregavam redes sobre eles cujos nós consistiam de cristais brilhantes
prateados. As partes do peito dos trajes de proteção eram em forma de barril.
— Olhe com cuidado! — disse Aponte depois de alguns segundos, passando
por uma série de outras apresentações.
Mostraram um dos alienígenas com arma em prontidão, ligeiramente
curvado e com capilares claramente protuberantes na careca. Ele atirou em um
homem imbecilizado, e o matou. Impiedosamente. Para continuar seu
caminho. Sem se virar para a vítima.
— Ele pode ter sido atacado e ameaçado — disse Aponte. — Mas,
aparentemente os alienígenas se comportam como conquistadores.
— Você querem levar a nave — continuou Nikolov. — E eles se movem com
confiança, como se já fosse deles.
— Certo. Aliás, tenho outra imagem. Vem da localização da ORION. O objeto
tem alguns milhares de metros de comprimento.
Nikolov viu uma holografia na qual cinco elementos esféricos pendiam como
uma série de pérolas. Mais uma vez, foi o branco brilhante das fuselagens metálicas
que mais o impressionou. De vez em quando ele descobriu inserções nelas que eram
um pouco mais escuras e possivelmente representavam um padrão.
— Vários milhares de metros de comprimento — Nikolov repetiu
suavemente. — E os alienígenas estão chegando agora, quando a nossa necessidade
é maior? Isso pode ser coincidência?
— Talvez você tenha contatado alguém com a sua mensagem de hiper-
rádio. Ou talvez os errados. Aponte suspirou. — Os alienígenas na ORION são
autoconfiantes e não desanimam, não importando quais obstáculos encontrem. E
eles estão em sã consciência. Você entende o que quero dizer com isso?
— Sim, Maeva. Talvez esses sejam os seres que sejam culpados por tudo
isso. Aqueles que causaram a imbecilização na ORION e em grandes áreas da Via
Láctea.

48
9.

Na sala de interrogatório (5)

— Aponte e Nikolov estavam enganados — Rhodan interrompeu Gi Barr. —


Esses eram os thoogondu que haviam penetrado no interior da ORION.
— Correto. Mas, os nossos ancestrais não puderam conhecer melhor. Eles só
viram o que queriam ver com os nervos tensos ao máximo. E assim quase ocorreu a
um desastre a bordo da nave.
Os pensamentos de Rhodan dispararam. Ele suspeitava há muito tempo que
os governantes do Império Dourado haviam feito contato com os imunes da
ORION. Mas, somente agora ele tomou conhecimento das deslocações históricas que
resultaram disso.
Mais de um mil quinhentos anos atrás, os thoogondu haviam estado ativos na
Via Láctea, e havia resistido à imbecilização dos Karduuhls.
Rhodan lembrou-se da verdadeira causa da catástrofe do Enxame: os
chamados ídolos do Enxames caçaram naves em forma de arraia através da galáxia
nativa e assim alteraram as linhas de campo da constante gravitacional. Essa
influência sobre a constante de base pentadimensional levou à imbecilização de
grande parte da população da Via Láctea.
Rhodan voltou com seus pensamentos para os thoogondu. Sua superioridade
tecnológica sobre os membros do Império Solar no ano 3.441 do antigo calendário
era considerável.
Porém, os thoogondu só agiram silenciosamente. Certamente, eles não
queriam que AQUILO soubesse sobre seus impulsos.
Por que a superinteligência nunca dissera uma palavra a Rhodan sobre seus
antigos protegidos? Que tipo de jogo o velho Peregrino estava fazendo? Talvez ele
fosse um inimigo dos povos da Via Láctea? Teria ele acabado de declarar os terranos
seus favoritos por interesse próprio?
Por mais complicado que fosse o relacionamento terrano com a
superinteligência, AQUILO sempre os apoiou e os protegeu.
— Deixe-me terminar minha história — disse Gi Barr. — Afinal, você queria
saber qual o papel que Lisi Schiller desempenhou nela...

49
10.

Encontros

A ex-comandante de corveta deu instruções sobre como continuar


trabalhando no propulsor de emergência. Então, ela acompanhou Nikolov de volta à
central de comando.
Schiller provou seu valor para os imunes em um curto espaço de tempo. Ela
não era apenas uma excelente engenheira. Além disso, ela possuía qualidades de
liderança, e com seu estilo de comando, ela alcançava uma parte dos imbecilizados.
... e, portanto, vou acompanhá-lo quando enfrentarmos os estranhos, Pincas!
— ela disse em um tom que não permitia contradição. — Sem mim, você está
perdido na ORION.
Nikolov não tinha nada a dizer. Ela lhe mostrara um caminho para o hiper-
rádio e mantinha suas costas livres graças às suas conexões com imbecilizados.
Se ela tivesse acompanhado Bibi, a minha segunda em comando provavelmente
ainda estaria viva. Meu pessoal e eu, por outro lado, teríamos sido eliminados entre as
amazonas, Papa Uh e outros grupos.
Contudo, Nikolov não queria que Schiller se colocasse em perigo. Seu lugar
era no hangar K-0. — Rejeitado — ele disse.
— Ela está certa, Pincas — disse Aponte. — Ela conhece as condições da nave
melhor do que nós.
— Eu sou responsável por várias centenas de imbecilizados. Você acha que
eu apenas os deixei atirar em invasores sem escrúpulos? Não, soldado! Além disso,
você não tem nada para me dar ordens.
Lá estava novamente aquela horrível arrogância. Schiller o tratava de cima,
como se ele fosse um pobre escravo.
— Eu vou enfrentar os alienígenas — insistiu Nikolov. — É minha
responsabilidade. Assim, como da minha equipe.
— Eu estou lhe dando a ordem para levar Lisi Schiller, sargento — disse
Aponte oficialmente. — Você lidera o grupo, Schiller está subordinado às suas
ordens. Vocês me entendem?
— É claro — disse Schiller, assentindo. — Eu vou apenas assessorar Pincas.
As patentes e estruturas de comando ainda tinham significado nesses dias? E
se ele desafiasse o comando de Aponte?
Não. Ele manteria sua visão de mundo. Ele era um soldado por completo. —
Ao seu comando, comandante — disse ele, saudando Aponte asperamente.
A primeira vez em mais de três meses.

Nós podemos conseguir com o propulsor de emergência? — ele perguntou a


Schiller.
— Está chegando perto — ela respondeu secamente.
— E você ainda quer ir comigo? Você deve cuidar melhor do trabalho no
hangar!

50
— Nós temos que passar por esse assunto novamente, Pincas? O encontro
com os alienígenas pode ser crucial, e lá alguém como eu é absolutamente
necessário. Talvez possamos forçá-los a nos aceitar.
Schiller fugia de alguma coisa. Ela evitava as perguntas dele e estava ainda
mais arrogante do que o habitual. O que havia de errado com ela?
Nikolov conhecia vários caminhos através das profundezas da nave. Todos
eles levaram através da área insegura. Mesmo se Schiller se dava muito bem em
algumas áreas da ORION, até ela tinha pontos cegos. Havia conveses, passagens e
áreas nas quais ela nunca tinha ido com seus protegidos.
Nikolov se manteve o mais próximo possível do poço antigravitacional. Ele
só queria se deixar cair no buraco escuro para ganhar tempo. Mas, o tubo estava
bloqueado por detritos em alguns conveses.
Nikolov empurrou o ritmo. Os intrusos se aproximavam deles em uma rota
similarmente complicada. Eles tinham que chegar à área destino o mais rápido
possível e se preparar para o encontro. Sempre era melhor organizar um encontro
de acordo com as próprias ideias.
Juntamente com Aponte, ele elaborou apressadamente um plano para o
encontro. Eles mostrariam que estavam no controle da situação na ORION e que não
renderiam a nave sem luta.
E o que viria em seguida? E se conseguirmos sobrecarregar os
alienígenas?, pensou Nikolov. Eles devem ter chegado a bordo da ORION com um
escaler. Nós poderíamos capturá-lo e escapar desse túmulo voador. Ele olhou para o
relógio, não a primeira vez desde a partida do pequeno grupo. Mas quem sabe se
temos tempo para isso?
Também era seu dever salvar os mais de quatro mil imbecilizados. Nikolov
nunca poderia concordar com sua consciência de deixar essas pobres criaturas para
trás. Eles eram amigos e companheiros.
Eles não atribuíam qualquer importância à infiltração discreta. Eles pareciam
altivos e decididos durante a marcha. Eles não temiam confronto com os
imbecilizados e ganhavam respeito pela força das armas.
Apenas um ano atrás eu conhecia a nave como a palma da minha mão, pensou
Nikolov. Hoje em dia a ORION é completamente estranha para mim. Os tetos
desmoronaram, corredores foram bloqueados, laboratórios devastados, instalações
destruídas ou móveis simplesmente movidos.
— À direita — disse Schiller. — Este caminho é mais curto.
— As coisas não estão assim...
— Errado. O pessoal de Algernon Brown quebrou as paredes e redecorou os
depósitos atrás deles.
Nikolov nunca tinha ouvido o nome Algernon Brown antes. Mas isso
importava? Repetidamente, os imbecilizados se encontravam em pequenos grupos
tentando aumentar sua esfera de influência. Os membros geralmente brigavam
razoavelmente em breve e se separavam.
Nikolov subiu cautelosamente os restos desgastados de uma placa
metálica. Um atirador despretensioso queimou um buraco do tamanho de um
homem com um radiador térmico e acrescentou rabiscos obscenos.
Eles entraram em um corredor de serviço estreito, subiram ao longo de um
segundo painel de disparos e entraram em um depósito de peças sobressalentes,
onde um incêndio devia ter assolado: as paredes eram de um preto fuliginoso. Parte

51
da enorme sala estava cheia de água salobra, sobre a qual uma espessa camada de
graxa se acumulava. Fedia lastimosamente a comida estragada.
— Você se acostuma com o cheiro — disse Schiller, colocando
cuidadosamente um pé na frente do outro. Mais uma vez ela se recusou a usar um
traje protetor.
Havia um ronronar e um zumbido em uma área do salão. — Alguns dos
sistemas de refrigeração ainda devem estar em ordem — sugeriu Nikolov
suavemente.
— Às vezes os imbecilizados mostram inteligência incrível e montam
armadilhas. A fome seduz outros tripulantes a desistir de sua desconfiança e arriscar
algo. Eles se deixam atrair para uma emboscada e são... bem.
Nikolov se concentrou em sua tarefa. Ele estava aqui para descobrir mais
sobre os intrusos e, possivelmente, eliminá-los. Então, ele contornou o
acampamento.

Eles alcançaram a área destino e avistaram o mais rápido possível. Nikolov


conhecia a ala razoavelmente bem.
Uma vez, mais de trezentos tripulantes foram acomodados em alojamentos
neste lugar. Os imbecilizados haviam reduzido grande parte deles a escombros e
cinzas. Paredes haviam sido demolidas, barricadas haviam sido erguidas em outros
lugares com os corpos de robôs quebrados. Em cabines individuais, peças de
plástico e metálicas foram empilhadas e depois fundidas em estruturas bizarras com
o auxílio de artilharia térmica.
Alguns imbecilizados conseguiram conectar vários robôs domésticos em
unidades maiores. As máquinas se arrastavam pelo labirinto em oito ou mais pernas
metálicas, tagarelando coisas incompreensíveis. Eles perfuravam buracos no chão
ou espalharam vazamentos de óleo, se vestiram em peças costuradas por eles
mesmos, construíram novas paredes ou derrubaram outros.
— Saia do caminho deles! — Nikolov instruiu seu pessoal. — Você nunca
sabe o que farão a seguir.
Eles tinham mais cinco minutos antes que a equipe de seus oponentes se
aproximasse desse labirinto. Tempo suficiente para identificar seu caminho e
escolher um lugar para encontrar os humanoides corcundas, em seus termos e com
risco reduzido.
Nikolov olhou contente para o trabalho de seu pessoal. Eles montaram
barricadas e inspecionaram o terreno, escondendo armadilhas sob pilhas de lixo, e
juntos criaram uma tática.
— Nós dividimos os invasores em três grupos usando campos de repulsão
portáteis — Nikolov instruiu seu pessoal. — O efeito surpresa nos beneficiará. Nós
identificamos o líder e nos concentramos nele. A tarefa é colocá-lo em nossas mãos
o mais ileso possível. Não negociamos, agimos. Entenderam?
Seu pessoal assentiu, um após o outro. Apenas Schiller permaneceu imóvel.
— Se os corcundas se tornarem hóspedes graciosos que só querem tomar
uma xícara de chá conosco, pediremos desculpas depois. Mas, se eles abrirem o fogo,
não há restrição. E agora para os seus lugares!

52
Eles eram em doze e, portanto, apenas um pequeno número. Além disso, eles
se familiarizaram com o local e estavam preparados para o encontro. Mesmo que os
corcundas tivessem equipamentos melhores, eles tiveram uma chance.
Houve um solavanco e, por um momento, Nikolov achou que estava
flutuando. Droga! Havia outro problema com os geradores gravitacionais?
Um alarme vibratório em seu bracelete o fez recuar. Nikolov deu instruções
ao seu pessoal para se esconder. Como precaução, ele havia distribuído alguns
detectores de movimento na área ao redor do labirinto. Um deles sinalizou.
O inimigo estava próximo. Ele avançava mais rápido do que Nikolov
esperava.
Ele acenou para Schiller. Eles estavam escondidos atrás de um cubo
construído por imbecilizados ou sucatas metálicas de robôs.
Nikolov ligou o defletor e fez sinal para Schiller se aproximar dele o mais
próximo possível. O homo superior estava hesitante, e ansioso. Mas, ela
obedeceu. Ela percebeu que tinha ficar no campo defletor de Nikolov se não quisesse
colocar o grupo em perigo de descoberta.
Schiller usava um traje protetor leve que tinha apenas algumas funções
básicas: um suprimento de oxigênio autossuficiente, rádio e uma unidade médica.
Essa mulher teimosa e estúpida!
Ainda faltava cerca de sessenta segundos.
Nikolov avistou o terreno uma última vez. Seu pessoal havia se escondido e
disfarçado, preparado a armadilha. Várias bombas de fumaça estavam esperando
para serem detonadas. Dezenas de marcadores de set tornariam cada passo dos
alienígenas reconhecíveis no display. Os campos repulsores estavam prontos para
uso, os radiadores carregados.
Um sinal de rádio! Apenas neste momento! E veio de Aponte.
— Esse é um momento muito ruim, Coronel — ele sussurrou. — E não
concordamos com o silêncio do rádio?
— Isso não importa mais — disse Aponte. Sua voz era tênue e frágil. — Ouça
com atenção, Pincas: sinto muito. É... é...
Ela estava chorando?
— O que aconteceu, Maeva?
Levou segundos para o comandante reportar novamente. — Os cálculos
estavam errados — ela disse suavemente. — Curicaberis. A atração...
— O que você está tentando me dizer ?!
— A ORION cairá irremediavelmente no sol. Já nos próximos minutos. Nós
estávamos todos errados. Esses malditos instrumentos...
Mais uma vez houve um intervalo maior. Então, Aponte disse calmamente: —
Meu bebê... — ela terminou a ligação de rádio.
Só minutos? Nikolov e Schiller se entreolharam. O que deu errado?
Não, isso não poderia ser verdade! Os alienígenas nunca se colocariam em tal
perigo e entrariam em uma nave para morrer nela. Ou eles estavam errados
também?
Você não vai desistir, soldado! Nunca! Você apenas tem que acreditar em sua
chance. Os alienígenas atracaram com um escaler funcional na ORION. Supere os
corcundas e pegue a nave!
Lá estavam eles. Vários seres entrando um ao lado do outro e falando
baixinho. Eles ficavam olhando para a esquerda e para a direita, apontando para as

53
paredes de lixo à direita, segurando suas armas pesadas casualmente na dobra de
seus braços.
Os corcundas se sentiam completamente seguros e não demonstravam
medo. Eles se abstiveram de ativar seus campos defensivos.
Chegue mais perto, vá em frente! Trinta passos restantes, outros vinte e cinco...
Mais uma vez um tremor percorreu a ORION, alcançando o peso de três ou
quatro gravos.
De repente, um movimento onde não deveria haver nenhum. Gritos. Lixo que
começou a se mover e paredes que foram derrubadas.
Imbecilizados saltaram de seus esconderijos. Eles seguravam porretes e
armas afiadas em suas mãos, apenas alguns deles possuem radiadores. Eles
atacaram os alienígenas, mas também Nikolov e seu pessoal.
Como ele poderia ter negligenciado os imbecilizados? O pessoal de Nikolov
não havia pesquisado com intensidade suficiente, e aqueles loucos estavam
protegidos em suas pilhas de lixo e a salvo da descoberta?
Uma mulher de uniforme amassado de bordo correu na direção de Nikolov e
Schiller. Ela parecia saber exatamente onde eles estavam se escondendo. Com um
grande pulo, saltou sobre o cubo metálico, escorregou na superfície lisa, pôs-se de
pé e atirou-se sobre Nikolov, embora não lhe fosse permitido vê-lo! Afinal, ele estava
na proteção do defletor.
A babando e rugindo mulher o derrubou, caindo com ele. Sem qualquer
inibição, ela o golpeou com uma esfera metálica. Contra o ombro e peito de seu traje,
bem como a blindagem do capacete, sem poder conseguir nada.
Mas, ela o grudou Nikolov no chão e o impediu de completar seu verdadeiro
trabalho: dar ordens. Ele tinha que ter uma ideia da situação e tomar decisões.
A raiva desapareceu dos olhos do atacante, o assombro tomou o seu lugar. Ela
caiu pesadamente inconsciente sobre Nikolov.
Schiller empurrou a atacante para o lado. Ela segurava uma espécie de pedra
na mão, uma amálgama de metal e plástico que usara para bater na parte de trás da
cabeça do oponente.
— A paralisação não funcionou — disse ela, ajudando Nikolov. — Caso
contrário, eu teria narcotizado você também...
Ela foi derrubada pelo atacante seguinte e levada para o chão. Outro se jogou
sobre ela. Ele foi alavancado por seu próprio impulso e voou sobre ela para cair
deitado de costas, ofegando por ar.
Vários imbecilizados apressaram-se em direção a ela, todos de olhos
arregalados, gritando e completamente desinibidos.
Nikolov agiu, o primeiro choque foi superado. Ele esmagou os atacantes com
raios narcotizantes. Eles caíram em filas e obstruíram o progresso dos outros
enquanto avançavam. Mas, mesmo com as mãos e pernas paralisadas, elas se
arrastaram e se aproximaram dele.
Nikolov disparou ainda mais, calmo e decidido. Para aproveitar a primeira
oportunidade e libertar Schiller de seus dois adversários, e também paralisá-los.
Ele ignorou a mulher. Ele se virou para a luta, que ocorria mais
profundamente no corredor. Ele circulou a pilha de imbecilizados narcotizados,
olhando para um campo de batalha que se deflagrava com inúmeros confrontos
individuais. Todos os seus camaradas foram atraídos para o combate. Alguns deles
ainda protegidos pelos campos defletores, e ainda sitiados pelos imbecilizados que
os espancaram com tudo o que possuíam.

54
Nikolov descobriu os intrusos ao fundo. Três haviam forçado seus corpos a
uma postura estranha. Eles se enrolaram como se pudessem se proteger do ataque
dos imbecilizados. Sob seus trajes protetores brancos, placas ósseas se sobressaíam
claramente visíveis.
Supostamente, tal ação surgiu de um reflexo natural. Afinal de contas, os
campos defensivos haviam sido erigidos há muito tempo, cercando os trajes brancos
e cintilantes.
Quanto tempo eles tinham? Quão perto a ORION estava do sol?
Três partes se enfrentaram. Os intrusos, os imbecilizados completamente
desinibidos e os imunes. Todo mundo estava lutando contra todos.
Nikolov fez o que se esperava dele. Ele disparou com o emissor narcotizante
e colocou fora de ação um imbecilizado após o outro. Mais e mais pessoas
recuperaram a liberdade de movimento e o apoiaram na defesa.
Benjeen Franco mais uma vez provou ser um exímio atirador, que sabia
exatamente o que tinha que fazer e que nunca hesitava.
Schiller por outro lado, raramente atirava, mas com propósito. Além disso,
ela só usava o modo paralisante.
De canto de olhos, Nikolov observou os intrusos. Eles permaneceram
passivos. Eles simplesmente fizeram o necessário e defenderam suas posições na
entrada do labirinto. Com completa compostura irradiavam os imbecilizados,
usando armas cujo efeito se igualava os dos emissores de raios paralisantes.
Por que eles estavam tão calmos? Eles não sabiam que a morte deles era
iminente?
— Onde estão meus queridos? — ele ouviu uma voz que lhe deu arrepios. —
Que bom nos encontrarmos novamente!
Papa Uh desceu de uma pilha de lixo. Seu corpo cilíndrico girava. Ele se movia
com velocidade relâmpago e ofereceu pouca superfície de ataque. Os poucos golpes
dos corcundas o deixavam tranquilo, a irradiação narcotizante não o incomodava.
Antes que os alienígenas entendessem o que estava acontecendo, Papa Uh
atacou. Com um braço tentacular, ele bateu descontroladamente e golpeou um dos
alienígenas no pescoço. Ele foi jogado a metros de distância e caiu pesadamente de
costas. Papa Uh matou um segundo corcunda com um poderoso golpe de seu facão
antes de se virar e alinhar os braços na direção de Nikolov, como se para abraçá-lo.
— Eu não disse que nos encontraríamos novamente, soldado? — ele
gritou. — Você realmente achou que poderia me desarmar? Eu não gosto de ser
enganado por um ser inferior como você. Minha tenra alma está gravemente
ferida. E você vai pagar por isso. Expiação!
Nikolov ajustou sua arma para a radiação térmica. Um movimento muito
praticado. O de um soldado de elite.
Papa Uh projetou um braço tentacular com uma velocidade relâmpago,
estendendo-o no comprimento total.
Nikolov colocou as duas pernas firmemente contra o chão e respirou fundo.
Papa Uh terminou sua recuperação e jogou.
Nikolov apontou para o seu adversário.
O facão do Papa Uh voou na direção dele. Uma arma que reluziu
continuamente, lançada com tanta força que perfuraria seu traje.
Nikolov sabia que estava atrasado. Por frações de segundo.
Ele quis fechar os olhos, mas mesmo assim não havia tempo para isso. Os
últimos momentos de sua vida passaram.

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Apenas assim.
Então, veio o impacto.
— Plop! — isto se fez, e ele sentiu uma pressão estranhamente leve contra
seu corpo, contra seu estômago.
O dedo de Nikolov encontrou o gatilho. Ele atirou. Ele banhou o robô TARA
em chamas. Ele tropeçou para trás, carregado pelo impacto do golpe, mantendo seu
oponente à vista. Papa Uh também seria destruído, porque mais e mais trajetórias
de raios o envolveram. Franco atirava juntamente com mais dois membros de sua
equipe, assim como dois dos corcundas.
Nikolov caiu no chão. Ele bateu forte, teve que soltar seu
radiador. Subitamente, ele a luz do teto. E se surpreendeu que mal sentia
dor. Apenas uma forte pressão em seu corpo.
Até que finalmente, finalmente entendeu: Ele não foi atingido, não se feriu.
Ele gritou sua dor e raiva pela ORION quando percebeu que Lisi Schiller tinha
se jogado entre ele e Papa para interceptar o facão com seu próprio corpo.

56
11.

Na sala de interrogatório (6)

— Você acha que minha história é crível, Perry Rhodan?


Que pergunta estranha! Gi Barr aproximou-se da parede de vidro, e olhou
para ele, examinando-o.
— Há coisas que parecem ilógicas para mim — disse Rhodan
categoricamente. — Talvez tudo seja esclarecido se você me contar o resto da
história.
Esta narrativa com o desmantelamento e a conversão de um propulsor de
impulso das sobras parece completamente inacreditável para mim, pensou
Rhodan. Além disso, eu não acredito que tenha havido algo parecido com essa ponte
para a luz. Você também está descrevendo o uso de rádios de uma maneira
totalmente inconsistente, cara. E por que os thoogondu se colocariam em tal perigo?
Há uma infinidade de detalhes que não se encaixam. É por isso que não acredito em
você.
— Você aprenderá tudo o que sei sobre o destino do ORION e sua
tripulação. Mas, o que você acha das circunstâncias do encontro de meus ancestrais
com os thoogondu?
— Eu lidei com os imbecilizados e sei do que eles eram capazes — respondeu
Rhodan.
Memórias o inundaram. Aquelas que causavam uma dor infinita nele e que
ele dificilmente poderia colocar em palavras.
Rhodan reprimiu seus sentimentos e se concentrou nos fatos. — Eu
testemunhei o caos a bordo da MARCO POLO naquela época... — ele respirou
fundo. — Inúmeros seres se tornaram imbecilizados. Estimativas dizem que vários
trilhões morreram. E muitas centenas de milhões se perderam em espaçonaves. Até
hoje, ainda encontramos astronautas vagando pelo espaço vazio e obtemos novos e
terríveis conhecimentos sobre do ano 3.441 do antigo calendário.
— Certamente é um fardo carregar todas essas lembranças — disse Gi Barr,
à espreita.
Rhodan sinalizou para Pen Assid. Ela deveria se concentrar mais
no gaone. Ele queria virar a mesa, forçando Rhodan a assumir um papel passivo e
convencê-lo de uma consciência culpada.
— Não importa — disse a mulher. Ela sorriu e fez alguns movimentos
intrincados com os dedos, como se estivesse puxando fios de lã entre eles. — Você
deve levar sua história para um fim. Você quer isso, não é?
— Sim ... sim — Gi Barr passou a mão sobre a cabeça careca.
Assid tirou o gaone fora do conceito. Sem que ele entendesse como e por
quê. Excelente.
— A ORION foi uma das naves perdidas de que o Império Solar nunca ouviu
falar. Se por algum motivo isso não tem nada a ver com a radiação imbecilizante, não
é? Foram os thoogondu que salvaram seus ancestrais.

57
Gi Barr assentiu. Assim como os terranos faziam. — Oh, sim — disse ele,
sentando-se à mesa e continuando com sua história.

58
12.

Decisões

A dor no peito de Nikolov não tinha nada a ver com uma possível lesão. Ele
se irradiava de onde aquele grande músculo bombeando sangue chamado coração
estava posicionado.
Ele segurou Lisi Schiller em seus braços e olhou para ela. O barulho da
batalha desapareceu, apenas ocasionalmente imbecilizados lutavam contra os
corcundas e seu pessoal. Os imunes ganharam aquela disputa.
Mas, o que isso importava?
Ele olhou para Lisi. Ela parou de respirar, o sangue já estava parando. Ela se
sacrificou por ele.
Por que? Ele se perguntou, e mais uma vez por que ?!
O que fez a mulher dar a vida por ele? Ela, o orgulhoso homo superior, que o
considerara uma criatura inferior e o fizera sentir mais de uma vez que ela era
intelectualmente superior a ele?
— Acabou — ele ouviu alguém dizer. — Papa Uh se derreteu em uma pilha
de escória, todo o seu povo escapou. E os alienígenas estão esperando por você para
conversar com eles.
Nikolov olhou para cima. Franco estava na frente dele, estendendo a mão
direita. Esperava-se que ele fizesse seu trabalho e continuasse trabalhando.
Ele olhou para Lisi novamente. Seus traços finos e os cabelos loiros
marcantes que emolduravam seu rosto. Era como se ela estivesse dormindo.
— Eu estou cansado — ele disse suavemente para ela. — Mas, eu estarei com
você em breve.
— Desculpe-me?
— Eu estou falando comigo mesmo, Benjeen — Nikolov agarrou a mão do
soldado que o ajudou a se levantar. Dois imunes tiraram o corpo dele e o deitaram
suavemente no chão.
Nikolov virou para o lado. Suor e algum outro líquido se acumularam nos
cantos de seus olhos. Ele abriu o capacete, limpou a umidade e concentrou-se em
sua tarefa.
Ele entregou a arma para Franco e caminhou rapidamente em direção aos
alienígenas. Enojado, ele passou por cima dos restos mortais de Papa Uh e chutou a
parte que continha o aditivo de plasma do TARA.
Nikolov estava procurando palavras. Ele não tinha experiência com os
primeiros contatos. Especialmente desde que este encontro, dentro de uma nave
moribunda, exigia uma grande dose de sensibilidade.
Ele deu uma olhada mais de perto nos corcundas. Eles olharam para ele,
tensos e com os ombros curvados. Em nenhum lugar havia qualquer sinal de
agitação. Eles não foram afetados pelo fracasso dos geradores de gravidade e não
mostravam nada que suspeitassem de algo da queda do ORION.
Nikolov avaliou rapidamente o olhar dos alienígenas. Em média, eles eram
vinte centímetros maiores do que os terranos, um pouco mais estreitos mas bastante

59
poderosos. Particularmente perceptíveis, eram o acréscimo de carapaça, que se
estendia das costas até a testa, as pálpebras nictantes sobre os olhos, e os dois
polegares em cada mão. E, é claro, as redes em suas cabeças carecas, cujos nós de
cristal reluziam prateados.
— Isso é o suficiente — disse o corcunda mais importante, em um intercosmo
sem sotaque, enquanto Nikolov estava a cerca de dez metros de distância. — Seu
nome e patente, terrano?
— Eu sou o sargento Pincas Nikolov. Ouça, a nave está condenada. Nós temos
que... vocês têm que deixar a nave. Evacuar...
Nikolov ficou sem palavras. Como ele poderia explicar rapidamente aos
corcundas o que ele esperava e esperava deles?
O líder do esquadrão virou-se para outro corcunda e conversou suavemente
com ele.
— Nós temos a situação sob controle — disse ele. — Minha nave estabiliza a
situação da ORION. Eu garanto a você que não há perigo.
— Mas, os geradores... a vibração da fuselagem...
—... trata-se da ação do nosso acesso com campos de repulsão nesta
espaçonave. Eu suspeito que você mal tenha dispositivos de medição e
localização? Caso contrário, você saberia há muito tempo que está seguro.

Nikolov transmitiu por rádio o que o alienígena lhe dissera. Maeva Aponte
tomou nota. Ficou claro pela voz dela que ela desconfiava das palavras do
corcunda. Mas, quanto mais tempo eles ficavam ali, mais a célula da nave se
acalmava, e mais forte se tornava a sensação de alívio.
Eles tinham se salvado mais uma vez!
— Eu sou o líder desse pequeno grupo de imunes a bordo da ORION — disse
ele ao corcunda. — Eu falo em nome da comandante Maeva Aponte.
— Quantos imunes há a bordo?
O alienígena indicou que estava bem informado sobre o que estava
acontecendo na nave e provavelmente também sobre a Via Láctea.
Nikolov contou em seus pensamentos. — Quarenta e dois.
— Meu nome é Septhol. Eu sou um thoogondu no posto de comandante de
uma espaçonave penta-esférica. A VELLETHON, que você já pode ter visto nas
imagens de localização.
Nikolov olhou para o alienígena. Ele era um pouco mais largo que seus
camaradas e quase dois metros de altura. Sua carapaça acinzentada estava partida
várias vezes em sua testa. Isso foi um sinal de idade?
— Nossas possibilidades de observação são drasticamente limitadas — disse
ele. — Nós...
— Antes de você continuar falando, Pincas Nikolov, gostaria de lhe pedir um
favor.
— E o que?
— Não minta para mim. Isso só complicaria nossas negociações com isso.
Septhol se inclinou para frente e inclinou as costas. — Nós reconhecemos sua

60
intenção. Vocês pensaram que éramos inimigos e queriam nos prender. Seu bom
plano, no entanto, não deu certo por causa do surgimento dos imbecilizados.
O que ele poderia dizer, o que ele tinha permissão para dizer? Ele era um
simples soldado. Aponte deve conduzir estas negociações em seu lugar!
— Correto — ele admitiu.
— Eu não entendo esse comportamento hostil — A mão esquerda de Septhol
descansou em sua arma. O comandante da nave alienígena parecia tenso e irritado.
— Você mesmo não tentou entrar em contato conosco. Vocês invadiram a
ORION como se quisessem tomar posse da nave. Vocês mataram pessoas!
— Nós entramos em uma nave sem piloto ameaçando cair no sol. Os
imbecilizados nos atacaram repetidamente. Então, nós resistimos.
Nikolov estava cansado das táticas. Ele não era diplomata. — E fomos
prisioneiros desta nave por meses! Cercado por imbecilizados que dificultam a vida
para nós. Houve conflitos todos os dias. Amigos morreram ou perderam a
cabeça. Eu apenas tive que aceitar a morte de um... companheiro.
Isso eclodiu de Nikolov. Ele não tinha forças e era certamente o pior parceiro
de negociação que você poderia imaginar.
— Nós sofremos bastante, Septhol — concluiu ele. — Se você é responsável
por todo o caos na Via Láctea, por favor, coloque um fim rápido nisso. Esse é o meu
único pedido.
O thoogondu o considerou avaliadoramente. Repetidamente, um dos dois
polegares da mão esquerda acariciava o cabo da arma.
— Vocês estão nos julgando mal — disse Septhol, relaxando bem. — Nós
recebemos seu pedido de ajuda. Nós estamos aqui para ajudar. Agora, nos leve para
Maeva Aponte.

Nikolov ficou aliviado por ter permissão para passar a responsabilidade de


negociações adicionais ao comandante. Ele se concentrou em suas tarefas principais
e garantiu que permanecessem não molestados no caminho de volta.
Ele disse a Franco para ficar no final do comboio. Com
uma maca antigravitacional na qual o corpo de Lisi tinha sido colocado. Sob
nenhuma circunstância ele queria deixar a mulher para trás no labirinto, mas ele
não tinha forças para levá-la consigo por perto.
Ele não podia chorar, mas precisava de alguns minutos de silêncio longe da
ação.
Nikolov sentiu que os imbecilizados em seus esconderijos estavam mais
inquietos que o normal. Talvez rumores tenham feito as rondas. Talvez eles já
soubessem que Schiller havia morrido, a mulher a quem muitos deviam suas vidas.
Nikolov transmitiu outra mensagem de rádio para Aponte e contou a ela
sobre a situação. Após cerca de quinze minutos de marcha rápida, chegaram à
central de comando.
A comandante estava esperando por ela em um traje protetor e armada,
cercada por quase todos os sobreviventes. Ela havia retirado o pessoal do hangar
com o propulsor de impulso provisório.

61
— Então, esses são nossos convidados. Bem-vindos — disse ela, voltando-se
para Nikolov. — E você realmente acredita nisso...
Septhol a interrompeu. — Não se preocupe. Eu lhe asseguro, Maeva Aponte,
que chegamos com intenções pacíficas. Porque ninguém deveria ficar sozinho.
Nikolov não entendeu o significado dessas palavras. Presumivelmente, era
um ditado thoogondu, cujo significado não era facilmente traduzido para o
intercosmo.
Aponte parecia calma e controlada. Bastante diferente do que alguns
minutos atrás. — Antes de continuar, você realmente estabilizou a ORION?
— Caso contrário, estaríamos aqui conversando com você? Nossos campos
repulsão protegem a ORION. Nós não somos suicidas.
Nikolov saltou de repente. Ele se sentou em uma das mesas na central de
comando e colocou uma barra energética em sua boca com os dedos trêmulos. Ele
estava exausto demais para ser feliz. E triste demais.
— Eu agradeço do fundo do meu coração — disse Aponte rigidamente,
acariciando seu estômago, depois retornando aos seus deveres. — Mas me diga,
quem são vocês?
—Nós somos observadores.
— Isso não é suficiente para mim, Septhol. O que você está observando e por
quê?
O thoogondu empurrou seu corpo, possivelmente como um sinal de que ele
não gostava do tom de Aponte. Mas, ele relaxou rapidamente.
— Esta galáxia já foi nosso lar. Enquanto isso, nos instalamos na galáxia
Sevcooris. E isso é bom, porque a Via Láctea é um ponto focal constante da história
cósmica. O que tem a consequência de exercer grande atração em seres de todos os
tipos.
— O que você quer dizer com isso?
— Você nunca se perguntou sobre todos os desastres que acontecem na Via
Láctea?
Aponte era a calma em si. Ela cruzou os braços sobre o peito e disse: — Para
ser honesta, eu não tenho como comparar.
— É melhor em Sevcooris. Calmo. O desenvolvimento dos povos pode seguir
um curso natural.
— E isso significa?
— Há uma razão real para todos os terríveis eventos que culminam na
catástrofe com os raios de imbecilização.
— Como assim?
— É o Peregrino. Aquele ser que você conhece pelo nome AQUILO. O
Peregrino é a causa de todo mal.
— AQUILO? — Aponte riu devagar. — Eu conheço o nome, é claro, e sei qual
o papel que esse poderoso ser desempenhou na construção da Terceira Potência, e
mais tarde no Império Solar. Nós, terranos, temos muito o que agradecer a ele. Mas,
esse tempo já passou.
— Eu vejo o seu papel e o do Peregrino completamente diferente.
— Deixe isso para você.
— Eu quero que você ouça nossa opinião sobre o Peregrino, terrana.
— Vá em frente! — Aponte sentou-se ao lado de Nikolov.

62
Septhol também se sentou. — Nós somos governantes de um grande e
pacífico império — disse ele com urgência. — Tranquilo, porque nós o construímos
longe do local de ação trabalho do Peregrino. Você precisa entender com quem está
realmente lidando, Maeva Aponte. O desastre atual é devido a uma falha do
Peregrino.
— O que é esse absurdo? Há rumores de que Perry Rhodan contatou AQUILO
de vez em quando. Mas, esse ser não interferiu em nossas preocupações por mais de
mil anos. AQUILO fugiu e destruiu seu mundo residencial. Então, como poderia
AQUILO ser culpado da Via Láctea?
— Sim. O Peregrino manipula vocês terranos – e vocês não percebem — O
thoogondu bufou alto através de seu nariz achatado. — A verdade é que o que vocês
estão experimentando está intimamente relacionado a ele.
“A Via Láctea inteira está sob o feitiço de irradiação imbecilizante causada
pelos habitantes de uma estrutura massiva e comedora de estrelas. Uma entidade
chamada Enxame. Os intrusos alteram a constante gravitacional pentadimensional,
afetando as mentes da maioria dos seres nesta ilha estelar.”
A cabeça de Nikolov zumbiu com todos os conceitos novos e desconhecidos.
Como o thoogondu sabia tudo isso? Ele não disse que ele e seu povo apenas
observavam?
— O Peregrino teria tido oportunidades suficientes para alertar os povos da
Via Láctea desse perigo. Ele não o fez – e falhou miseravelmente — Septhol ergueu
cabeça e empurrou os cantos da boca para cima. — Ou ele mesmo convidou o
enxame a vir aqui para causar toda essa miséria?
— É claro, você pode fornecer evidências para essas alegações?
— Você não pode provar nada a uma criatura como o Peregrino. É muito
sofisticado para isso. Sempre age secretamente ou empurra mensageiros ou povos
auxiliares para frente.
— Ah. Então, eu deveria confiar na sua palavra, Septhol?
Nikolov notou que a paciência do thoogondu havia terminado. Aponte
irritou-o até o íntimo. Ele não estava preparado para tal curso de conversa.
— A VELLETHON está em operação na periferia da Via Láctea há mais de uma
década. Nós operamos... hm... observamos remotamente a uma distância segura. E
encontramos pistas para a traição do Peregrino. Eu providenciarei nosso material
para você e seu pessoal no devido tempo.
— Você está aqui há dez anos? Por que você nunca contatou representantes
do Império Solar?
— Há boas razões para isso.
— E o que?
— Você gosta de perfurar feridas abertas, não gosta?
— Não, comandante Septhol. Eu e todos os sobreviventes somos
infinitamente gratos por nos ajudar. Eu digo em nome do imbecilizados a bordo,
quem realmente não sabe o que está acontecendo na nave. Mas, eu gostaria de saber
com quem estou lidando. Isso é justo, não é? Porque vocês thoogondu parecem nos
conhecer muito bem.
Septhol ficou em silêncio por alguns segundos antes de baixar a cabeça e
dizer: — Você está certa, Maeva Aponte. Eu esqueci minhas boas maneiras. Perdoe-
me. Para responder à sua pergunta: nós temos boas razões para ficarmos
quietos. Nós não queremos atrair a atenção e a ira do Peregrino.
63
— Então, AQUILO conhece o thoogondu?
— O Peregrino nos expulsou da Via Láctea como resultado de uma séria
briga. Se ele descobrir que estamos aqui, sua raiva nos atingirá.

Nikolov tentou entender, e falhou. Não o interessava de todo, o que um ser


como o AQUILO fazia e que intrigas tinha. Ele queria ficar longe deste lugar, longe
deste sistema solar.
E, se ele pudesse expressar um desejo especial para o universo e seus deuses:
Ele teria gostado de ver a ORION pousar em um planeta com solo exuberante para
poder enterrar Lisi.
— Vocês foram expulsos e ainda não foram embora — continuou Aponte. —
Você tem que admitir que isso não se encaixa bem.
— Você está certa — admitiu Septhol francamente. — Entenda, por favor,
que temos todos os motivos para temer o Peregrino. Ele é vingativo. Então, nos
informamos secretamente, em silêncio sobre ele e as maquinações de seus povos
auxiliares. A ignorância poderia levar à nossa queda.
— Você nos vê os terranos como um povo auxiliar de AQUILO?
— É claro. Vocês simplesmente não estão cientes disso. Assim como Perry
Rhodan não suspeita que ele é uma criatura do Peregrino.
Aponte não retornou nada, e Nikolov achou que isso era uma coisa boa.
Septhol representou sua opinião com zelo missionário. Esse ser não poderia ser
tratado por argumentos.
— Contudo, a sua salvação agora nos coloca em um dilema — continuou o
thoogondu.
— Eu ouço — Aponte esfregou seu estômago novamente.
— Nós recebemos sua mensagem de hiper-rádio e viemos ajudar. Isso
corresponde à nossa autoimagem, a vida é sagrada para nós. Mas, se deixássemos a
tripulação da ORION na Terra ou em um mundo habitado do Império, o Peregrino
saberia disso. Ele nos identificaria e saberia que estamos observando os eventos na
Via Láctea. Isso seria uma ameaça à vida para o nosso Império, para o Gondunat.
— Eu entendo. Você pode nos colocar em um mundo desabitado e...
— Isso não faz diferença — interrompeu Septhol. — Com toda a honestidade:
De acordo com as nossas informações, os terranos não são conhecidos pelo seu
silêncio, e a rede de informantes do Peregrinos é fortemente tecida. Mesmo na crise
atual.
O thoogondu era paranoico, sem dúvida. Ele via inimigos em todos os
lugares.
— Há outra razão pela qual não queremos entrar mais na Via Láctea.
— E isso seria?
— Não somos de modo algum imunes à radiação imbecilizante. Nós
carregamos redes em nossas cabeças que nos protegem. Mas, o efeito delas nem
sempre é cem por cento. Além disso, as redes Hooris são extremamente difíceis de
fabricar e caras.
— Redes Hooris?

64
— Os cristais nos pontos de vime são chamados de Hooris. Eles são um tipo
de hipercristais comuns para agente. Muito valioso, muito raro.
— Eu entendo.
Os pensamentos de Nikolov fizeram cambalhotas. E se eles fizessem um
acordo com o thoogondu e comprassem as redes Hooris? Graças ao gênio financeiro
Homer G. Adams, o império solar tinha meios praticamente ilimitados...
— Nós precisaremos desesperadamente de nossas redes nos próximos anos
— Septhol instantaneamente destruiu a esperança de Nikolov. — As perspectivas
futuras para a Via Láctea são sombrias. O Enxame vai durar décadas, se não séculos,
nesta galáxia indefesa e saciar sua fome por recursos. Poderia ficar pior ainda: O
Enxame pode estabilizar na Via Láctea e ancorar sua constante gravitacional para
sempre.
O thoogondu se inclinou para frente como se estivesse com dor. — Ambas
as variantes levariam à queda de civilizações espaciais, na verdade, possivelmente
até galácticas.
— Impossível! — exclamou Nikolov. Ele deu um pulo e Aponte gentilmente
o empurrou de volta para seu assento.
— Você nos conhece os terranos — ela disse. — Nós vamos enfrentar os
comandantes do enxame. Não seria a primeira vez que nos livraríamos de uma
situação aparentemente sem esperança. Os livros de história estão cheios de
exemplos.
— Talvez.
— Nós sempre pudemos confiar em Perry Rhodan, Reginald Bull, Atlan,
Gucky e os outros imortais. Eu tenho certeza que eles encontrarão uma saída.
— Onde estão seus heróis, Maeva Aponte? Você já ouviu falar deles
ultimamente?
— Eles estão a bordo do MARCO POLO em uma galáxia alienígena. Eu tenho
certeza de que eles voltarão em breve.
— Claro, claro.
— A VELLETHON pode cobrir longas distâncias, certo? — Aponte mudou
abruptamente de assunto.
— Correto. Ela é uma nave de longa distância confiável.
— E se lhe pedíssemos para nos levar a Andrômeda ou a uma das Nuvens de
Magalhães?
— Ou o Mundo dos Cem Sóis? — Nikolov interrompeu. — Lá, o efeito da
radiação imbecilizante provavelmente não será mais sentida.
— Provavelmente não. Mas nosso problema continua o mesmo: todas as
galáxias nas imediações da Via Láctea fazem parte da esfera de influência do
Peregrino.
— Eu entendo — Aponte suspirou profundamente. — Então, EU peço que
nos ajudem com equipamento técnico depois que A VELLETHON nos tirar da zona
de perigo imediata. De alguma forma, conseguiremos tirar A ORION do chão e
colocar os imbecilizados sob controle — ela parou por um momento, depois disse:
— Nós recompensaríamos você por sua ajuda com o conhecimento
técnico. Em áreas de micro miniaturização, o Império Solar é líder e...
— Eu vejo você está carregando um feto? — interrompeu Septhol.
— Sim... sim.

65
— Onde está o pai?
— Isso não importa, thoogondu!
Nikolov sabia a resposta, mas não a pronunciou. Coisas assim não diziam
respeito aos corcundas.
O marido de Aponte tornou-se imbecilizado. No começo do desastre, ele
havia desaparecido nas profundezas da nave. Talvez ele fosse um dos incontáveis
mortos que haviam sido chorado nos primeiros dias da turbulência.
— Você faria qualquer coisa pelo bem do seu feto? — perguntou Septhol.
— Correto. É a minha vida — respondeu Aponte em voz baixa.
— Há um lugar onde eu poderia leva-la e seu bebê. A sugestão pode ser um
pouco estranha, mas...
— Você quer que deixemos a Via Láctea e nos levar ao seu lar. Certo?
— Não me entenda mal. Eu estou relutante em fazer essa proposta porque
nós thoogondu sabemos o que significa lar. Esta ilha estelar uma vez foi o nosso lar
também. Nós tivemos que deixá-la, e sofremos por gerações. Nós fomos
desenraizados e tivemos que nos adaptar laboriosamente a novas circunstâncias.
— Vocês conseguiram?
— O nosso lar oferece excelentes condições. Sóis com um espectro de
radiação semelhante ao da sua terra de origem. Mundos desocupados que atendem
a você e às nossas necessidades. Terra fértil, água limpa e um ambiente que poderia
ser facilmente domesticado.
Talvez até com flora e fauna terranas, pensou Nikolov. Quando penso em
todos os animais de laboratório que escaparam e no parque hoje coberto de vegetação
a bordo do ORION...
— Com o tempo, catalogamos incontáveis mundos que logo serão liberados
para colonização.
— Essa é uma oferta muito generosa. Talvez um pouco generoso demais,
Septhol.
— Ah. Você ainda suspeita, Maeva Aponte — O thoogondu esticou a parte
superior de seu corpo para trás. — Eu entendo suas preocupações.
— Você pode refutá-las, por favor?
— Nós geralmente não colocamos nossos dedos em assuntos estrangeiros e
guardamos nossos segredos. Mas, para nós é interessante aprender em primeira
mão sobre os eventos na Via Láctea, para protegermos contra o Peregrino. Além
disso, estou convencido de que vocês terranos seriam um enriquecimento para o
nosso império.
— Então, você também está interessado no conhecimento que está
armazenado na positrônica da ORION.
— Eu admito: isso seria um bom efeito colateral da nossa cooperação. Mas,
em primeiro lugar queremos ajudar. Sem nos prejudicar.
Aponte procurou contato visual com ele, com Nikolov. O comandante
esperava que ele a ajudasse a tomar uma decisão? Por que ela não estava falando
com o doutor ou com Bubby Leon?
Ele assentiu devagar.
— Nós daríamos as boas-vindas à tripulação da ORION na VELLETHON —
continuou Septhol —, tanto imbecilizados quanto imunes. Assim que tivermos

66
deixado a periferia da Via Láctea, os imbecilizados virão até nós. Pode demorar um
pouco, mas o efeito da radiação diminuirá.
— Nós teremos a oportunidade de voltar aqui assim que a crise acabar?
— Não — Septhol enganchou os polegares de ambas as mãos juntas. —
Nossos segredos devem ser mantidos. Em todas as circunstâncias.
— Eu entendo — Aponte hesitou. — Eu terei que discutir isso com o meu
pessoal. Mas ,presumo que eles concordem com a proposta.
— Isso me agrada e me honra, comandante — Septhol manteve os dedos
cruzados.
— O que acontece com o ORION? — perguntou Aponte.
— Você terá espaço suficiente para armazenar as mercadorias mais
necessárias. Vamos transportar a própria nave para o sol. Isso removeria todos os
vestígios.
— Rejeitado! — disse Nikolov e Aponte em uníssono. A Comandante
continuou: — Se acompanhamos você a Sevcooris, gostaríamos de pelo menos
manter um remanescente de nossa tecnologia e nossa cultura.
Septhol considerou longamente.
— Tudo bem — ele disse então. — A VELLETHON cuidará para que a ORION
alcance o Sevcooris.
Aponte olha para Nikolov. Eles fizeram a coisa certa? Eles consideraram
todas as possibilidades?
Eles estavam à mercê dos alienígenas. Os thoogondu eram amigáveis e
salvaram suas vidas. Mas, eles realmente agiam desinteressadamente e
abnegadamente?
— Bem-vindos ao Gondunat — disse o comandante Septhol, estendendo a
mão para Aponte.

67
13.

Na sala de interrogatório (7)

— E então? — Perguntou Rhodan.


— O resto é dito rapidamente — disse Gi Barr, acariciando levemente uma
das pétalas secas na mesa. — A tripulação da ORION gravemente danificada foi
estabelecida em Sevcooris. Em um mundo onde meus ancestrais chamaram de
Gaon. Eles desmontaram a fuselagem da nave e usaram os ingredientes como base
para um primeiro assentamento.
— Aponte, Nikolov e todos os outros ex-companheiros nunca fizeram uma
tentativa de voltar para a Via Láctea?
— Não. Pelo que viram e experimentaram em Sevcooris, eles sabiam que o
Peregrino havia falhado. Os thoogondu abriram os olhos deles. E de qualquer
maneira, o Império solar logo foi abaixo.
Rhodan ficou calmo. Até que ponto Gi Barr estava ciente dos eventos após o
fim da crise do Enxame?
Houve tremendas revoluções na Via Láctea. A humanidade foi pela primeira
vez esteve envolvida diretamente nos conflitos das potências superiores, surgiu o
Conselho dos Sete, nasceu a idéia da Liga Hanseática Cósmica...
Houve muitos golpes nos terranos, sim. Mas, eles cresceram em seus
empreendimentos e progrediram enormemente de muitas maneiras.
Rhodan interrompeu o som e virou-se para Pen Assid. — O que você quer
dizer? — perguntou ele a xenolinguista.
— A narrativa está cheia de inconsistências — ela encolheu os ombros. —
Essas tradições foram agrupadas, simplificadas e encobertas. Então, eles dão um
mito fundador. E é claro que o thoogondu Septhol estava jogando um jogo sujo com
as pessoas da ORION. Ele realmente queria atrair os terranos para Sevcooris.
— Eu concordo com você. Gi Barr, no entanto, parece ser um razoável e
pensar racionalmente... para ser um gaone. Por que ele não reconhece as falhas em
sua narrativa?
— Porque ele não quer, Perry. Você já questionou a Ilíada? É claro que
não. Você pega um mundo onde os deuses determinam o destino e as pessoas
tentam se rebelar contra ele. Homero inventou e contou a maior de todas as
histórias heroicas. Ela também teve lições importantes nela. O mesmo efeito
provavelmente tem o mito do naufrágio da ORION em Gi Barr.
A comparação mancava. Rhodan absteve-se de corrigir Assid. Ela era jovem,
ela não sabia tudo. Além disso, Atlan havia lhe contado algumas coisas sobre Ulisses
e sobre o cego Homero, que lançava uma luz muito diferente sobre os
acontecimentos há mais de sete mil anos.
Rhodan reabriu o canal de som. Gi Barr estava indiferente, esperando por
uma continuação da conversa.
— Em Gaon, sob a égide do Gondunat, o Segundo Império Solar floresceu —
concluiu Rhodan. — Deve ser melhor organizado e mais poderoso que o Império
Solar da Via Láctea. As gaones o tomaram como modelo para superá-lo.

68
— Certo — Gi Barr assentiu. — Na pátria de Órion surgiram estruturas
sociais, econômicas e militares que não podem ser encontradas em nenhum outro
lugar no Gondunat.
— Eu gostaria de saber mais sobre a Pátria de Órion.
— Talvez você vá. Mas não aqui, não hoje, não por mim.
Não, desde que os vanteneuerenses ouçam, o gaone quis dizer a ele.
— Uma situação extremamente interessante surgiu depois que o Peregrino
fugiu covardemente da Via Láctea — Gi Barr alterou abruptamente o assunto. Sua
concentração de poder está órfã. Isso não faz você pensar, Rhodan?
AQUILO não tinha fugido covardemente. Como resultado dos eventos nos
Domínios Intemporais, a Eiris haviam fluido da concentração de poder. A
superinteligência precisava dessa energia de estabilização do espaço-tempo e não
pôde mais se manter na Via Láctea.
Rhodan absteve-se de discutir. Nesse ponto, Gi Barr certamente alcançou os
limites de seu entendimento. Ele havia crescido com uma narrativa completamente
diferente sobre AQUILO do que os habitantes da galáxia nativa.
— A fuga do Peregrino altera permanentemente as condições na Via Láctea
— continuou o gaone. Ele sorriu. — Também pode ser a hora do Segundo Império
Solar. Será necessário que nossa frota retorne à sua antiga terra natal para evitar
tumultos antecipados e trazer ordem. Porque forças alienígenas agressivas
emergirão para preencher o vácuo de poder deixado pelo Peregrino.
— Eu acho que podemos lidar com isso sozinhos — disse Rhodan. Ele se
acalmou quando sentiu vontade. — A Liga dos Galácticos Livres está bem preparada
para os invasores.
— Como sempre — Gi Barr riu alto e calorosamente. A primeira vez desde
que começaram a conversa.
Quão bem o gaone realmente estava informado sobre os acontecimentos na
Via Láctea?
Gi Barr rapidamente tornou-se sério novamente e aproximou-se muito do
disco de separação. Ele parecia mais forte do que no começo da conversa. — Eu
tenho um problema com você, Rhodan.
— E qual é?
— Você é o primeiro e mais importante capanga do Peregrino. Você está
agora a par dos planos do SIS. O que você fará com esse conhecimento?
— Nada por enquanto. Eu vou pensar nisso e tentar conciliar isso com
minhas próprias ideias.
— São palavras bonitas, Rhodan. Mas, e se você for um agente do
Peregrino? E se a suposta partida do Peregrino não passa de uma farsa
para localizar os thoogondu e seu Gondunat? E se você tiver uma tarefa aqui?
— Então, você cometeu um erro e me contou muito sobre o SIS.
Gi Barr pesou para baixo. — Estas foram apenas coisas que explicaram
nossas origens. Não mais, não menos.
— Talvez. Mas deixe-me fazer uma contra pergunta.
— Pare com isto, Rhodan!
— E se o Gondunat não for o que parece? E se os thoogondu não estiverem
certos, mas o AQUILO, o Peregrino?

69
— Que bobagem! — Gi Barr bufou alto.
— Eu gosto de abraçar sua visão das coisas e aceitá-las, gaone. Mas, espero
que você me mostre o mesmo respeito.
Pen Assid tocou seu ombro e apertou ligeiramente. Ela fez Rhodan entender
que ele havia encontrado a abordagem correta.
— Esse é um pensamento ridículo. Mas, aceito de bom grado o seu convite
para este jogo. No entanto, eu me pergunto como devemos descobrir o... hm... a
verdade?
— Existem maneiras e meios, gaone — Rhodan sorriu. —Vamos falar sobre
isso no devido tempo.
— Claro. Mais uma pergunta.
— Sim?
— Você se lembra do começo da nossa conversa? Eu queria saber se e como
sua opinião sobre mim mudou depois que eu te contei a história da ORION.
— Eu entendo algumas coisas melhor agora. E eu considero você um homem
honrado.
Pen Assid beliscou o ombro pela segunda vez. Desta vez, foi concebido como
um lembrete, ou até mesmo como um sinal de raiva. Ela era aparentemente da
opinião de que Rhodan estava em um nível muito pessoal com o gaone.
Ela estava certa, ele admitiu. Mas, ele seguia seu pressentimento. Ele
raramente falhava.
Gi Barr não era apenas um soldado inescrupuloso e autoconfiante de alta
inteligência. Ele também demonstrou empatia, conscienciosidade, bravura,
integridade e muitas outras virtudes que Rhodan apreciava.
— Permitam-me uma última pergunta também.
— Por favor, muito.
— Eu queria saber de você antes, porque em sua história, Pincas Nikolov e
Maeva Aponte foram exaltados como grandes heróis. Monumentos foram erguidos
em sua honra, lugares e cidades em homenagem a eles. Lisi Schiller, por outro lado,
aparentemente não apareceu. Então, eu repito minha pergunta: por quê?
— O Paradoxo de Schiller...— Gi Barr assentiu gravemente. — É difícil para
um estranho entender e pode ter algo a ver com a falta de registros pessoais do
homo superior. Aponte, por outro lado, registrou todos os seus pensamentos em seu
papel de comandante e que nos legou. É por isso que ela é a personalidade mais
importante a bordo da ORION para nós. A mãe fundadora que deu à luz o primeiro
filho sob o sol de Gaon.
— Eu entendo.
— Não, você não, Rhodan. Ainda não. Porque você certamente se pergunta
por que Lisi Schiller se jogou diante de Nikolov e salvou sua vida?
—Certo. Isso foi um... hm... quebra sua história.
— Aquilo não foi totalmente compreendido, eu devo admitir. Mas, existem
teorias para o motivo de seu sacrifício. O mais provável é que Schiller não
suportasse ter que admitir o fracasso. Ela havia dirigido e supervisionado a
construção do propulsor de impulso improvisado. Como um homo superior, ela
estava firmemente convencida de que poderia salvar a ORION. Em algum momento,
ela deve ter percebido que seu plano não funcionaria porque ela não tinha

70
tempo. Um fracasso parecia insuportável para ela. Ela, uma criatura mais altamente
evoluída olhando para o Homo sapiens como insetos, falharia.
— E é por isso que ela se sacrificou?
Gi Barr encolheu os ombros. — Como eu disse, é apenas uma teoria.
— Eu prefiro a história de uma mulher corajosa que descobriu o amor por
um ser inferior nos últimos minutos de sua vida.
— Você não está sozinho com isso, Rhodan. Lisi Schiller é a epítome do amor
romântico e abnegado em minha terra natal — Gi Barr estendeu sua mão direita
para Rhodan. Ele ainda segurava a pétala seca com força. — Nikolov levou o corpo
de Schiller para Sevcooris. Ele a enterrou do primeiro assentamento em Gaon. No
flanco de uma colina suave, de onde se podia olhar para longe sobre a terra. E eis
que no ano seguinte, as mais belas flores já vistas foram espalhadas em seu
túmulo. Tão colorido, tão bom cheiro, tão cativante...
Rhodan observou o gaone. De repente ele estava muito longe, em sua terra
natal. Suas narinas estremeceram, seu peito se elevou e abaixou, e ele sorriu
relaxado.
— Ainda há muitos gaones que sobem essa colina pelo menos uma vez na
vida e escolhem uma flor. Uma flor de Schiller. Secar e guardá-los sempre. Como
uma expressão de carinho, amor, lealdade.
Nossa história é baseada em narrativas heroicas que lembrarão por muito
tempo nomes como Nikolov e Aponte. Mas, o que é um monumento ou um nome de
cidade contra esta flor?
Gi Barr colocou a mão sobre o rosto, fechou os olhos e sentiu o cheiro da
pétala seca.

Fim

A história da ORION não é sem lacunas, e as intenções dos thoogondu na época


como hoje não podem ser totalmente compreendidas. Mas, se Perry Rhodan quiser
saber mais, ele deve visitar o Segundo Império Solar. Mas antes que ele possa fazer
isso, ele tem que decidir como ele quer ficar com os vanteneuerenses em cujo
transferidor-galáctico vivem atualmente.
O próximo episódio foi escrito por Michelle Stern e tem por título:

SOB O ENCANTO DO PULSAR

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Glossário

Assid, Penelope

A xenolinguista e xenosemiótica de 35 anos, muito magra, com uma


preferência pela cor roxa é meia terrana e meio báalol. Provavelmente, ela também
deve seus poderes paranormais à sua herança báalol. Ela é uma ouvinte sugestiva.
Este leve dom para-sugestivo faz com que as pessoas revelem a ela mais do que
realmente desejam.

Curicaberis

Curicaberis ("o Grande Queimador") é um antigo nome asteca para um deus


sol e o nome de um sol Classe B azul e branco com 16 vezes a massa do Sol e uma
temperatura de superfície de 23.000 Kelvin e 9500 vezes a luminosidade do
Sol. Curicaberis está a 8.816 anos-luz de distância do Sistema Solar e está localizado
na periferia da Via Láctea. O sistema tem dois planetas: o mundo mais interno é o
gigante gasoso Ayau; Curicaberis II é Kantico, um planeta rochoso com
temperaturas inóspitas.

Enxame Estelar

As transições com as quais este Enxame Estelar se movia tiveram um forte


efeito no espaço-tempo circundante na área de lançamento e destino, levando a
terremotos e destruição. Além disso, os planetas que o enxame dirigia e recebia
eram impiedosamente explorados e toda a vida neles destruída. Colisões com o
campo adaptável também levaram à destruição de vários planetas habitados.
Na realidade, o Enxame era destinado a promover o desenvolvimento da vida
inteligente, mas por um longo tempo seus comandantes reais, os cynos, foram
privados do poder e as instalações da entidade puderam ser abusadas pelos
usurpadores e seus ajudantes.

Vanteneuerenses

Os vanteneuerenses é m povo da galáxia Sevcooris. Eles são chamados de


terroristas pelos thoogondu e se comportam como tal. Eles possuem vagamente a
forma básica humanoide: tronco, dois braços, duas pernas. A pele visível é de um
vermelho escuro, medem um metro e meio até o ombro. Eles não possuem cabeça
nem pescoço; entre os ombros, há um olho facetado hemisférico do tamanho de um
punho com visibilidade total.

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Os vanteneuerenses, assim como os soprassidenses, tinham um império
estelar que foi esmagado pelos thoogondu : o Plenário. Naquela época, eles também
possuíam uma tecnologia sofisticada cuja última relíquia parece ser um
transferidor-galáctico.

Imbecilização (durante a crise do Enxame)

Em 29 de novembro de 3.440, o Enxame Estelar que se aproximava da Via


Láctea mudou a linha de campo pentadimensional da constante gravitacional,
causando a imbecilização na maioria dos seres. Houve apenas algumas exceções em
termos percentuais, os chamados Imunes, incluindo estabilizados mentalmente,
paradotados e o homo superior.
Os imbecilizados rapidamente perderam sua inteligência e capacidade de se
concentrar, eles agiam acima de tudo instintivamente e movidos por seus
impulsos. Sua curiosidade lúdica foi a condenação de muitos. Outros se tornaram
completamente apáticos ou agressivos. Gangues se formaram. Algumas delas eram
liderados por imunes.
O Homo superior foi um grupo de pessoas altamente inteligentes que já
haviam aparecido antes da imbecilização e que, por causa de suas capacidades
mentais ampliadas, se viam como o próximo estágio da evolução humana. Ao
mesmo tempo, eles lutaram ativamente e com terrorismo por um afastamento da
dependência da tecnologia.
Após o início da imbecilização, eles tentaram, como líderes dos imunes,
provocar um retorno a uma vida natural em harmonia com a natureza. Isso
geralmente falhou por causa de suas visões completamente ingênuas sobre os
efeitos e problemas na natureza. Em um ajuste fino subsequente da constante
gravitacional pelo Enxame, o homo superior declinou e morreu rapidamente.

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