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No. 2904

O Julgamento do Gondu
Por:
Leo Lukas

Tradução:
Paulo Lucas

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O Julgamento do Gondu

Registra-se o ano 1551 NCG, distante uns bons três mil anos do século 21 do
antigo calendário. Após grandes reviravoltas na Via Láctea, as relações entre os
diferentes impérios estelares se acalmaram; no geral, reina a paz.
Acima de tudo, os planetas e as luas habitadas pelos seres humanos aspiram a
um futuro positivo. Milhares de mundos uniram forças para formar a Liga dos
Galácticos Livres, que também incluem aqueles que foram descritos nos anos
anteriores como “não humanos”.
Apesar de todas as tensões que ainda persistem, a visão de Perry Rhodan de
transformar a galáxia em uma ilha estelar sem guerras parece tornar-se cada vez mais
realidade. Há ainda mais contato com outras galáxias.
Nesta situação, o Império Dourado thoogondu oferece uma aliança a Perry
Rhodan. O governante deste império, o Gondu, convida o Terrano imortal a uma
audiência, e ao fazê-lo, Perry Rhodan experimenta: O JULGAMENTO DO GONDU...

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Os personagens principais deste volume:

Perry Rhodan - O imortal pode ser misericordioso.


Briony Legh - O primeiro piloto RAS TSCHUBAI orgulha-se do marido.
Puoshoor – O herdeiro designado para o trono do Império Dourado,
aparentemente, esconde seu verdadeiro eu por trás de muitas máscaras.
Cascard Holonder - O comandante da RAS TSCHUBAI está à procura de ovos de
cuco.

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De novo e de novo, nós voamos para as estrelas, para o desconhecido.
Por quê?
Eu costumo responder: porque queremos aprender mais, ainda mais sobre o
cosmos.
Porque o cosmos está lá, implacavelmente real, não importa se lidamos com
isso ou não. E lá, como eu sei, por minha experiência pessoal de milênios, há perigos
inesperados e terríveis. E momentos de beleza perfeita.
Mas, isso é apenas metade da verdade.
A outra metade é simples: porque estamos à procura de aventura.
Por quê?
Porque somos terranos.
(Registros particulares de Perry Rhodan, apócrifo, mas presumivelmente
escrito em aproximadamente na época da crise de Orpleyd)

Prólogo

O verdadeiro Espírito Guardião

— Há algo errado? — perguntou Kriff Dnotz.


— O que te faz pensar isso?
— Você parece... de alguma forma fora de forma.
— Isso deveria ser uma alusão a minha figura? — Briony Legh disse com uma
voz deliberadamente baixa. — Ei, eu estou indo a academia com mais frequência.
Mas, certamente eu não perdi nenhuma das minhas curvas!
Rindo, Kriff delicadamente acariciou sua cintura bastante indefinida. — Eu
amo a sua banha no quadril e realmente sentirei falta dela. Mas, não é disso que eu
estou falando.
Eles se debruçavam no leito pneumático da cabine dupla comum a bordo da
RAS TSCHUBAI. Na holografia grande, corriam os créditos de um trivídeo de pirata
espacial.
— Mas?
— Eu sinto que você está preocupado.
Briony agarrou o braço do homem com quem tinha recentemente concluído
um contrato de casamento, deitou-o cautelosamente de lado e sentou-se. — Como
não? Os incidentes recentes em nossa nave não me deixarão relaxar.
— Tudo bem. Também estou preocupado. Particularmente, como os colegas
estavam preocupados e estão.
— Somente.
— Nós queríamos desfrutar do turno livre.
— Nós queríamos, e nós vamos — Briony ordenou seus cabelos
desgrenhados. — Em breve novamente. No momento eu não consigo relaxar, eu
sinto muito.
— O que está te impedindo?

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Ela sabia que ele já conhecia a resposta. No entanto, Kriff a ajudou a
concretizar e expressar seus pensamentos. — Nós poderíamos ter notado
anteriormente que a tripulação da RAS TSCHUBAI foi infiltrada?
— Por aqueles "Espíritos Guardiões" que acreditam que devem impedir a
RAS TSCHUBAI de causar danos? Eu não penso assim. Se nem mesmo ANANSI notou
alguma coisa?
— Hmm — Dê-me a pipoca, por favor!
Depois de colocar a tigela em seu estômago e usá-la, Briony continuou
mastigando: — Havia sinais de que Yerrem Karatas poderia ter sido o assassino em
toda a nave?
— Não, nem um pouco. Eu trabalhei com ele sempre agradavelmente sem
stress. E ainda...
— E ainda. Exatamente, é isso que eu quero dizer! Quem é o próximo a sair
da linha?
— Bem, se eu soubesse...
— Simplesmente. Ninguém sabe se o perigo foi dissipado ou não está se
aproximando de nós ainda muito mais terrível. É isso mesmo, o que me rouba a paz!

Briony Legh ocupava o cargo de primeiro piloto na nave portadora de longo


alcance da classe SUPERNOVA.
Então, ela tinha a patente de major. Com o uniforme azul escuro que usava,
um cometa de prata estava embutido em um emblema em forma de diamante.
Kriff Dnotz era "apenas" um engenheiro de campo defensivo. Um simples
tenente. Um círculo dourado.
Muitas vezes, eles brincavam com fato de que a bordo da TSCHUBAI, a prata
valia mais do que o ouro...
Kriff conhecia o mencionado Yerrem Karatas com certeza. Eles pertenciam
ao mesmo departamento: — Propulsores de máquinas de bordo.
Karatas tentou destruir um dos quatro armazenadores anelares Zyklotraf,
devido aos efeitos explosivos subsequentes esperados, em toda a nave
transportadora que medindo cerca de três quilômetros e meio de diâmetro. Sua
tentativa foi frustrada, felizmente. Além, disso, ele mesmo tinha morrido.
Contudo, o choque teve um efeito. — Como Yerrem pôde fazer isso? O que o
fez fazer isso? — Briony perguntou a si mesma e ao marido.
— Eu não faço ideia. Eu nunca tive a impressão de que ele pudesse estar
mentalmente instável. Sem mencionar que ele tivesse algum desejo de
autodestruição ou destruição total. Ele era agradável de se lidar. Um bom camarada,
silencioso, calmo e controlado...
— Controlado! — Briony Legh tirou a sugestão. — Controlado por quem? Ou
por qual poder secreto ou estranho que muito provavelmente ainda esteja a bordo?
Kriff sorriu e ergueu os ombros estreitos. — Se eu soubesse isso...

Ela deslizou a tigela de pipoca de volta para ele. — Eu tenho pelo menos
tantas inconsistências na minha página.
— Ah?

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— Kantweinen, o terceiro piloto.
— Major Andris Kantweinen — disse Kriff. — Um homem terra-a-terra,
embora bastante secreto. É lido com suas expressões faciais. Ocasionalmente ele
tenta sorrir, mas isso parece ser uma grande ajuda.
— O mesmo. Eu realmente aprecio ele como um colega profissional, mas... Ele
de todas as pessoas cuida de Taeller, o jovem Mandaamen, que contribuiu
decisivamente para a investigação de sabotagem.
— É bom, não é?
— Em princípio, sim. Mas por que temos todo um exército de psicólogos a
bordo, incluindo profissionais especializados em lidar com alienígenas
desconhecidos?
— Os especialistas descobriram, após críticas iniciais, que ambos são bons
para o relacionamento. A realidade superou suas teorias.
— Se você me perguntar, Kantweinen está sobrecarregado. Andris pilota a
TSCHUBAI sempre que ele está atrás do volante, muito limpo, às vezes até elegante.
Ele é responsivo e experiente. Mas, isso não o torna um xenopsicólogo.
—Você sabe o quê? — Disse Kriff suavemente. — Então, vocês dois são muito
parecidos. Você também gosta de cuidar de coisas que realmente não a preocupa.
— Silêncio e me dê a pipoca!
— Não mais — disse Kriff Dnotz, chateando. — Entre nós, o verdadeiro
espírito guardião da RAS TSCHUBAI é você. Mesmo no seu turno livre, você não pode
se livrar de tentar armar e defender esta nave e seus habitantes contra todos os
danos.
Briony admitiu secretamente que seu marido tinha atingido um ponto
dolorido. — Eu não quero poluir e soltar o nosso país de origem por quaisquer
agentes hostis.
— Talvez não eu?
— Tudo bem, você é suspeito. Embora, se você me empurrou nos lugares
certos...
Seu marido entendeu a dica. Finalmente, eles voltaram para o modo de
relaxamento.
Claro, Briony Legh não conseguiu impedi-la de queimar outra pergunta na
língua quando ela afundou:
“Como Perry Rhodan pensa sobre isso?”

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1.

Um encontro no espaço vazio

6 de outubro de 1551 NCG

Uma audiência com o governante do Império Dourado...


O Império Dourado, o Gondunat, ofereceu uma aliança à Via Láctea e, acima
de tudo, a Perry Rhodan, e de fato imposto. Os motivos eram até agora apenas
confusos — se fossem reconhecíveis — e os primeiros contatos, embora amigáveis,
eram bastante complicados. E o fato de que o Gondu ter pronunciado agora um
convite que não poderia ser recusado, Perry Rhodan avaliou como um progresso. O
próprio herdeiro do trono atuava como um líder do mundo em que a audiência
deveria ter lugar.
Como destino, o herdeiro designado ao trono do Império Dourado tinha
mencionado o sistema Tizillar, sem dizer a Perry Rhodan suas coordenadas.
Puoshoor concordou apenas com um lugar de encontro, a cerca de trinta mil anos-
luz do planeta Thooalon, o local da partida.
A RAS TSCHUBAI seguiu a nave penta-esférica DAAIDEM, a nave do
Ghuogondu Puoshoor. Não demoraria mais tempo, então, eles seriam os "primeiros,
a alcançar o destino intermediário.
Rhodan passou pela central de comando principal. Não havia pressa.
Claro, todas as estações de missão estavam ocupadas, algumas duas a três
vezes. Mas os membros da tripulação resolviam suas respectivas rotinas bastante
relaxados. Afinal, não havia nenhuma ameaça externa no momento.
“Internamente”, Rhodan suspirou em pensamentos, “parece diferente”.
Ninguém sabia se a conspiração dos Espíritos Guardiões havia terminado.
Afinal, mesmo após o ato de sabotagem frustrado, havia outros Espíritos Guardiões
a bordo, cuja identidade era desconhecida.
Importante a inexplicável, era o fato de que todos os Espíritos Guardiões
anteriormente conhecidos tinham se referido a RAS TSCHUBAI de uma nave do
terror, e arrastaram ao redor de si estranhas e falsas lembranças de atrocidades a
bordo. Não havia nenhuma indicação de quando, como e por que motivo alguém
havia instilado essas falsas memórias nos Espíritos Guardiões.
Em última análise, ninguém poderia excluir que o Barong, como o líder dos
Espíritos Guardiões tinha sido chamado, conseguiu recrutar mais ajudantes.
Perry Rhodan assumiu que os Espíritos Guardiões anteriormente conhecidos
foram manipulados. Uma peça do enigma eram as caixas de madeira ameaçadoras,
que cada Espírito Guardião possuía. Mas qual era a intenção por trás de tudo isso?
Durante dias, Sichu Dorksteiger, que não era apenas a esposa de Rhodan, mas
também a cientista-chefe da RAS TSCHUBAI, lidou com duas dessas lembranças
aparentemente inofensivas. Sichu não estava presente atualmente na central de
comando. Provavelmente, ela se encontrava em um dos laboratórios, e tentava todo
o possível para decifrar os segredos das duas caixas.
Rhodan resistiu ao impulso de ir à estação do departamento de ciências e
perguntar. Se Sichu tivesse feito um avanço, ela o teria informado imediatamente.
“Pelo menos”, ele se consolou, Gucky e seus colegas puderam ser libertados
de sua prisão”.

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Pouco antes de decolar na direção dada por Puoshoor, uma mensagem ultra
compactada de hipercomunicador foi recebida: “TDVB/F”.
Isso significava: — Todos de volta a bordo. Farye.
O que Farye e os outros experimentaram, Rhodan não ficou sabendo.
Puoshoor havia insistido em uma partida imediata antes que o cruzador MARTE BJO
BREISKOLL tivesse retornado à nave-mãe.
“Talvez seja até melhor... desta forma, nós mantemos um trunfo na manga”.
Uma escrita cintilou na cúpula holográfica principal. Ele disse que o fim da
etapa superluminal era iminente. Em trinta segundos, a RAS TSCHUBAI retornaria
ao espaço normal.
Sem pressa, Perry Rhodan sentou-se no passe do comando.

A DAAIDEM já estava esperando nas coordenadas fornecidas. No meio do


espaço vazio — nenhum sistema solar ou outro objeto cósmico se encontrava na
vizinhança imediata.
A nave de Puoshoor pertencia à maior classe conhecida de espaçonave penta-
esférica. Consistia em cinco segmentos esféricos dispostos simetricamente em fila,
que por sua vez mediam em torno de mil, dois mil, mil e quinhentos, dois mil e outros
mil metros. Uma vez que cerca de dezoito metros foram perdidos nas áreas de
acoplamento achatadas em média, resultava em um comprimento total de 7.430
metros.
Sem dúvida uma nave imponente e poderosa. Sobre a fuselagem de
Pedgondit1, um material branco quase deslumbrante, um material quase
deslumbrante branco, havia amplos ornamentos dourados: incrustações em
mosaico, que provavelmente deveriam anunciar a história bem-sucedida da nave.
— Chamada de rádio! — gritou o tenente-coronel Olwar, chefe do
departamento de localização, um imartense com uma caixa torácica típica em forma
de barril, com pele verde folha de bétula e cabelo cacheado violeta.
Perry Rhodan assentiu para Cascard Holonder.
— Para a holografia principal! — ordenou o ertrusiano de cabeça calva, que
comandava a RAS TSCHUBAI há oito anos.
Uma nova janela se construiu. Mostrava um thoogondu.
Ele se apresentou como comandante da DAAIDEM, mas não mencionou seu
nome. — O Ghuogondu gostaria de dar-lhe a honra de uma visita a sua nave, para
convidar solenemente pessoalmente Perry Rhodan, o Herdeiro do Peregrino.
— Ele é bem-vindo — disse Holonder. — Que modo de transporte... — Antes
que ele pudesse completar a frase, a holografia se extinguiu, assim como o link de
rádio.
— DAAIDEM está descarregando um escaler — informou Olwar. — Esfera
dupla, com diâmetro frontal de cinco metros na direção do voo, vinte metros na
parte traseira, comprimento total vinte e quatro metros.
— Bem, isso foi mais uma pergunta retórica — comentou Cascard Holonder
secamente.

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Material do qual são feitas as fuselagens da espaçonaves penta-esféricas dos thoogondu. No 33º
século A.C, Aquilo doou um Acumulador de energia vital (um tipo de ativador celular) ao primeiro
governante thoogondu, e que era feito desse material. N.T

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*

O escaler infiltrou-se e pousou em um hangar.


A visita de uma delegação da DAAIDEM, se não fosse até mesmo o próprio
Puoshoor, era esperada. Por isso, Rhodan instruiu a chefe do corpo diplomático,
Fabienne Iukik, como precaução, desenvolver um cerimonial correspondente. Era
para expressar respeito e reverência, ao estilo de vida bombástico gondusense, mas
não para competir com ele.
A própria Iukik liderava o comitê de recepção, que estava estacionado no
hangar especialmente adaptado no convés principal 19. O apoio da
excepcionalmente grande ex-nadadora de recorde terrana, consistia em dois outros
funcionários do protocolo e seis soldados espaciais e robôs de combate TARA, que
formavam um tipo de guarda de honra.
Quatro pessoas saíram do escaler da DAAIDEM. Como Rhodan observou na
transmissão holográfica, aquele realmente era realmente o filho do Gondu. Rhodan
imediatamente o reconheceu; já haviam se conhecido em Thooalon.
— Na minha qualidade de chefe diplomático desta nave — disse Fabienne
Iukik —, eu gostaria de recebê-lo a bordo da RAS TSCHUBAI. Eu posso acompanhá-
lo? Em breve, improvisaremos uma modesta sala para conferências que, pelo menos,
seria rudimentar o suficiente para suas necessidades.
Na verdade, ela e seu corpo diplomático haviam passado a maior parte dos
últimos dois dias lidando com isso.
— Por favor, por favor, sem circunstâncias! — disse o herdeiro ao trono
jovialmente. — É apenas uma pequena visita de voo, por uma boa forma. O Herdeiro
do Peregrino...?
—... virá imediatamente até nós — respondeu Iukik. — Ele está ansioso para
vê-lo novamente. Por aqui, por favor!
Essa foi a palavra-chave para que Perry Rhodan também se colocasse em
movimento.

A maior parte do convés 19 era tomado pelo habitat Ogígia, os 1,8


quilômetros de parque. Do lago central, quatro córregos serpenteavam pela área
verde até a periferia.
Em um deles, não muito longe do hangar disponibilizado para o escaler da
DAAIDEM, Fabienne Iukik e sua equipe tinham construído um pavilhão e o
projetaram quase no estilo gondusense. Além disso, eles haviam se servido de
elementos exuberantes semelhantes do barroco terrano e a alta florescência
arcônida comparavelmente suntuoso.
Embora Rhodan tivesse que superar uma distância muito maior, chegou
quase ao mesmo tempo que a delegação thoogondu. Ele foi ajudado pelo Slender, um
SERUN especial, que ele re-testou nesta ocasião.
O traje de combate recentemente desenvolvido não alcançou os níveis de
desempenho de um SERUNS pesado. No entanto, graças à miniaturização, ele
chegava perto sem que os agregados aparecessem visivelmente. O traje chamado
brevemente de S-SR apareceu como um simples macacão espacial simples
combinado. Ele também poderia imitar elegantes trajes sociais noturnos.

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— Ghuogondu — Perry Rhodan estendeu os braços e curvou-se. Ele falou em
gondunin, o idioma dominante desta galáxia que ele adquiriu através de
hipnoaprendizado. — Meus companheiros e eu estamos sinceramente lisonjeados
por hospedar um convidado tão elevado.
— Não há motivo para se preocupar! Trata-se apenas de uma questão de
rotina — disse Puoshoor. — A propósito, aqui é lindo.
O céu artificial acima do habitat justamente simulava um pôr-do-sol,
completo com flocos de nuvens em uma variedade de vermelhos. Antes disso,
circulava um bando de pássaros que Rhodan não sabia se eram reais ou projetados.
Fabienne Iukik convidou o grupo a sentar-se à mesa. — Nós devemos afastar
os guardas? — ela perguntou.
— Ah, como você quiser. Eles não me incomodam. Até mesmo o Gondunat
gosta de mostrar sua defesa, tanto quanto em grande ou pequena escala.
— Afastem-se! — Rhodan ordenou ao soldado e seus parceiros robóticos.
Os guardas e robôs se retiraram. Depois disso, eles estavam na mesa em cada
caso em um grupo de quatro, tão igualmente fortes, e, portanto, iguais. Um
simbolismo que Puoshoor certamente não perdeu.
— Nós podemos lhe servir refrescos? — Iukik ofereceu.
— Talvez mais tarde, obrigado — O filho do Fiador limpou o rosto com um
gesto cansado. — Eu não estou com sede e estou saciado.
“O que ele sugere com isso?” Perry Rhodan perguntou.

Apesar dos tradutores interligados, a comunicação aparentemente relaxada


ocorria com fluidez e quase sem atrasos.
Contudo, sempre havia um fosso cultural que sempre valia a pena considerar.
Rhodan não imaginava que pudesse entender completamente o Gondunat e
os representantes desse império aparentemente muito antigo. Isso provavelmente
acabaria por ser um erro fatal.
Sim, os thoogondu eram humanoides. E sim, sua ordem social funcionava de
uma maneira que evocava associações com os grandes impérios da antiguidade
terrana; bem como a história inicial das civilizações dos arcônidas ou outras da Via
Láctea.
Mas, tais paralelos não poderiam ser superestimados. Em vez disso, Perry
Rhodan evocou as diferenças em consciência.
Por exemplo, sobre os rostos sem pelos e de pele branca membranosa dos
thoogondu, veia azuis visivelmente cintilantes através dela, formando padrões
individuais obviamente variados. Os olhos eram grandes e muito escuros. Eles eram
encovados e podiam ser fechados por meio de duas pálpebras diferentes: por um
lado, como as dos terranos e outros descendentes lemurenses, por outro lado, uma
membrana nictante horizontal, por uma extensão horizontal, a partir da base raiz do
nariz.
Ainda mais impressionante era a armadura corporal sobreposta, na forma de
placas ásperas hexagonais do tamanho da unha do polegar que se estendiam da testa
sobre a parte de trás da cabeça e cobriam os lados exteriores dos braços. Na maioria
dos casos, os thoogondu se curvavam estranhamente para a frente, como se
quisessem apresentar somente as superfícies blindadas da pele ao firmamento.

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Talvez, os seus antepassados haviam sido expostos, em época cinzenta e
primitiva, a uma ameaça constante "de cima"?
Perry Rhodan se proibiu especular prematuramente sobre isso.
Além disso, havia outro tipo de percepção visual "deslocada": os thoogondu,
como se descobriu nesse meio tempo, viam o infravermelho. Então, eles registravam
radiação térmica em uma variedade de intensidade graduada.
Por causa disso, a sua percepção das cores terminava em comprimentos de
onda mais curtos. Eles não conseguiam distinguir entre amarelo e verde; eles apenas
viam a parte amarela no verde.
Na luz correspondente invisível, os pigmentos azuis e violetas pareciam
pretos para eles. Portanto, eles só poderiam ler certos escritos ou símbolos terranos
apenas com a ajuda tecnológica.
Os lábios eram cheios e vermelhos, de modo que pareciam permanentemente
maquiados. Isso poderia ser devido ao fato de que os thoogondu, além dos pulmões,
ganhavam oxigênio através de fortes poros que respiravam através das placas
ósseas, que eram entremeadas por canais finos.
Por essa razão, seus peitos e braços permaneciam descobertos; ou na roupa
havia fendas ou superfícies de gaze permeáveis ao ar.
As roupas de Puoshoor representavam um caso especial. Provavelmente foi
devido à sua posição exposta. Painéis de várias camadas de cores monocromáticas
e fortes cobriam seu corpo até o pescoço. Em algum lugar no meio deveria haver
aberturas ou outros dutos de ventilação; mas eram vistos com os olhos.
Em suma, o Ghuogondu era colorido, animado e poderoso, apesar de seu
tamanho de corpo relativamente pequeno — mas de modo algum atordoado ou
desordenado.
Ele parecia amigável e simpático. No meio, Puoshoor também repetidamente
mostrava uma arrogância coquete de uma autoridade que provavelmente já havia
sido colocada repetidamente em seu berço.
Houve uma pontada no peito de Perry Rhodan quando ele percebeu a quem
ele lembrava: seu próprio filho, Michael Rhodan, quando se apresentava em seu
álter ego “Roi Danton”...
Onde seu filho estava? Ele estava perdido como a maioria de seus filhos,
perdido juntamente com a SOL?
Eram perguntas que passavam repetidamente pela mente de Rhodan. E
repetidamente, ele as afastava e reprimia.

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Ilustração: Swen Papenbrock

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*

— Eu vim — disse Puoshoor —, para selar oficial e diretamente o convite já


feito. Meu pai, Narashim, governante Fiador do Gondunat, deseja conceder-lhe uma
audiência, o herdeiro declarado do Peregrino.
— Até o momento, já faz alguns dias — disse Perry Rhodan com frieza. —
Certamente, você não quer me fazer acreditar, que só agora você quis vir sozinho a
bordo da RAS TSCHUBAI.
O herdeiro ao trono virou a cabeça da esquerda para a direita, deu um piscar
para seus acompanhantes, e disse: — Não. Embora dite a etiqueta. As mensagens do
Gondu para personagens influentes em um contexto histórico devem ser trazidas
cara a cara tanto quanto possível.
— Eu agradeço isso, mas agradeço por mais informações.
— Você pode ter, você pode ter... — Puoshoor mostrou-se aborrecido tanto
quanto possível. — Tudo bem, os fatos. Você será apresentado ao ancião em um dos
dez mundos palacianos do Gondunat, mais especificamente: em Taqondh no Sistema
Tizillar.
— Você já expôs isso para mim também.
— Eu sei, eu sei. Claro, é incomum que um poder não residente em Sevcooris
se dirija a um mundo palaciano com uma nave militar.
— Então, esta parada?
— Sim. Por sinal, não está no caminho direto para o do destino real.
— Compreensível. Eu não poderia ter organizado isso de forma diferente.
— Que bom! Já foram providenciados lugares a bordo da DAAIDEM para você
e um pequeno número de companheiros.
— Quantos?
— Olhe a sua volta, meu amigo...
— Eles são um total de quatro. Eu concluo sutilmente por seus
acompanhantes mudos, estejam dando um exemplo.
— Ha! Você é rápido por definição. Então, nomeie três companheiros e seja o
mais rápido possível.
— Você garante minha segurança?
— Claro. Como filho do Fiador, eu fui formalmente treinado para poder dar
garantias de longo alcance.
Rhodan não comentou o trocadilho. — A escolha deve ser feita com cautela.
Quantas horas você me concede para uma consulta com a equipe de gerenciamento?
— Uma de suas horas padrão — disse Puoshoor, tão casualmente como se ele
realmente não se importasse muito com isso. — Um total de quatro pessoas; mais
do que isso, o Gondu não tolera emissários de uma civilização alienígena, embora
causalmente ligada.
— Uma mensagem clara. Eu vou me apressar — Rhodan levantou-se,
gesticulando para que Fabienne Iukik se juntasse a ele.
— Nós podemos oferecer alguns lanches e bebidas para superar seu período
de espera? — Um dos funcionários do protocolo perguntou.
— Não é necessário — disse o herdeiro ao trono, bocejando discretamente
atrás de sua mão. — Mas, eu gostaria de andar um pouco nesse habitat, se você me
permitir isso.
— Nós organizamos uma turnê com dois jardineiros paisagistas
responsáveis.

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— De forma que o equilíbrio no número quatro seja novamente estabelecido?
De acordo comigo. Eu não teria, por sinal, nada contra se as mulheres fossem
acrescentadas. Lentamente, você deve saber, eu gosto de mulheres terranas.

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2.

A equipe ideal

— Cara peculiar — disse Fabienne Iukik no caminho para a área central. —


Ele está fazendo seu papel de príncipe herdeiro decadente?
— Eu não sei — O portador de ativador levou a mão ao nariz, mas parou
pouco antes de tocá-lo. — Ele certamente não é estúpido. Seu discurso em Goenetki
teve começo e fim. Ele foi inteligente, confiante, cheia de otimismo. Pensado e bem
escrito. Presidencial, imperial.
— Seu discurso não foi ruim.
— Hm. Eu fiz o meu melhor. Contudo, eu tive muito menos aplausos. De
qualquer forma, você gostaria de fazer parte da nossa pequena delegação? Eu
gostaria de ter você comigo.
Fabienne se ouviu. — Honestamente, não. Não me sinto à vontade. Eu temo
que esteja doente.
— Eu não percebi nada sobre isso até agora.
— Obrigado, então eu escondi com sucesso minha fraqueza.
— Certamente — Rhodan franziu a testa. — Você está preocupada?
— Não. Praticamente não é nada sério. Talvez apenas um efeito do excesso
de esforço dos últimos dias. Contudo, eu tenho que fazer um checkout completo – e
isso não será no curto prazo que Puoshoor nos estabeleceu. Como convalescente, eu
o impedirei mais do que ajudar.
— Eu vejo isso. É muito ruim.

A reunião teve lugar na sala de conferências, que estava anexada diretamente


ao nível de comando da central de comando. Todos os vestígios da explosão ocorrida
há alguns dias já tinham sido eliminados. Qualquer um que não soubesse nada sobre
o ataque dos Espíritos Guardiões, nunca teria aventado a ideia de que, naquele lugar,
uma bomba tivesse detonado.
Além de Fabienne e Rhodan, Cascard Holonder, Sichu Dorksteiger e o
primeiro-oficial, participaram o tenente-coronel Magebe Lenski, um terrano da
União Plêiades. ANANSI estava ligada como de costume.
— Eu estou relutante em deixar a RAS TSCHUBAI — admitiu Perry Rhodan.
— Uma vez que os atos de sabotagem estão longe de estar esclarecidos.
— Os trabalhos de reparos estão sendo realizados de acordo com o plano —
disse Lenski, que era notório por sua maneira concisa e maltratada de falar. — O
tubo de ligação danificado da rede expressa de cabines permanecerá inutilizável por
um longo período. O interrogatório e monitoramento dos suposto co-conspiradores
não forneceu mais provas até a hora.
— Eu também não posso encontrar conclusões sensacionais — acrescentou
Dorksteiger. — A menos que as caixas sejam uma porca muito difícil de soltar.
Devido ao receio instintivo documentado diversas vezes, de entrar no
recipiente de madeira, aparentemente vazio, ela e a equipe inicialmente fizeram
apenas medidas externas, explicou a cientista-chefe. — A análise de materiais de

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uma amostra retirada do exterior, resultou em uma madeira exótica, mas em uma
análise relativamente comum, embora com um revestimento interessante.
— Até que ponto? — Rhodan perguntou.
— Bem, há um material neste revestimento cujas moléculas são agrupadas
de forma diferente do normal sob a influência de hipercampos. Foi o que aconteceu
aqui. Em algum momento, a caixa deve ter sido exposta a hipercampos.
— Para qual propósito?
— Ainda não chegamos tão longe. Com a ajuda de ANANSI, nós temos feito
cálculos teóricos complexos desde então. Sobre se essa influência pode ser devido à
proximidade temporária da explosão do sol Taltaan. Até agora, sem resultados
claros.
— Você tem um prognóstico?
— Sim, contudo ele é muito esponjoso. A tendência parece ser que o
rearranjo molecular mencionado não possa ser totalmente explicado dessa maneira.
— Isso pode parecer um pouco radical agora — interrompeu o coronel
Holonder. — Mas, por que não juntamos todas essas caixas e as desintegramos, ou
as descartamos no espaço?
— Porque nós desejamos urgentemente saber quem, ou o que e como, se
infiltrou em nosso meio? — Sichu Dorksteiger respondeu com uma contra pergunta
acentuada.

Seguiu-se um debate acalorado que Fabienne só conseguiu acompanhar com


esforço.
Ela se sentia cansada, drenada e estranhamente nervosa ao mesmo tempo.
Em seu abdômen resmungou perturbadoramente. Tudo isso afetou sua
concentração.
— Anteriormente — informou Sichu Dorksteiger —, nós determinamos o
tamanho e o peso das caixas. Elas estavam cem por cento em linha com as
expectativas.
Outros testes confirmaram a velocidade de decaimento normal,
comportamento rotatório normal para um corpo com distribuição uniforme de peso,
nenhum magnetismo, nenhuma reação aos campos elétricos. — A caixa não é
condutora e apresenta um comportamento adequado em líquidos na densidade
medida.
— Mas, deve haver mais nela do que os critérios habituais disponibilizam —
disse Perry Rhodan.
— Nós ficaremos atentos — assegurou Dorksteiger. — Ainda estamos à
espera das extrapolações teóricas, então iremos ao trabalho. Digamos que nos
dedicaremos ao interior delas.
— Por meio de um braço robótico?
— Tentáculo, eu diria, dada a estreiteza. As sondas correspondentes já estão
preparadas.
— Bom — Rhodan olhou em volta. — Você está ocupada com esta coisa.
Nossa chefe diplomática está fora devido uma doença. Quem mais eu devo levar
comigo a audiência com o Gondu?

17
*

Embora, se tornasse mais difícil para Fabienne acompanhar a conversa por


causa da indisposição física, ela fez uma sugestão: — Penelope Assid.
— Quem é?
— Uma jovem aspirante a membro do corpo diplomático. Meio terrana, meio
báalol. Xenolinguista, xenosemiótica.
— Ela analisa e entende idiomas e sistemas pictográficos alienígenas? —
Sichu Dorksteiger perguntou.
— Sim. Além disso, Pen tem um leve dom sugestivo.
— Como funciona?
— Os seres humanos e outros seres inteligentes lhe contam mais do que eles
querem.
— Quanto mais?
— É um dom fraco. Não faz com que estranhos revele seus maiores segredos
para Penelope. No máximo, eles falam um pouco mais detalhadamente sobre as
coisas cotidianas do que fariam de outra forma. Pen sugere confiança. Eles reagem
a isso.
— Parece útil — disse Perry Rhodan. — Eu suponho que ela esteja
perfeitamente treinada.
— A melhor do ano na academia, durante todo o estudo. Ao mesmo tempo,
pelo menos também muitas penas disciplinares menores.
Questionando, Rhodan arqueou as sobrancelhas.
— Ela é idiossincrática — Fabienne percebeu que estava cada vez mais
incomodada com a conversa. — Mas, eu coloco a mão no fogo por Pen.
O portador de ativador celular sorriu. — Eu tenho certas experiências com
personalidades idiossincráticas.

— Você recomendaria Dean Tunbridge enquanto estivermos no processo —


disse o tenente-coronel Lenski. — Homem bom e experiente. Um especialista
absoluto para equipes de intervenção pequenas e autônomas, os chamados
esquadrões. Apto, duro, inteligente, original, nunca desiste.
— Você quer dizer Cashew Tunbridge?
— Sim. Você o conhece?
— Ele me feriu uma vez durante uma sessão de treinamento livre de corpo a
corpo.
— Memórias positivas ou negativas?
— Dependendo do seu ponto de vista. Mas você está certo, eu acho que ele
também é uma boa escolha. — Portanto, está faltando um especialista técnico.
— É melhor levar habilidades de combates táticas, estratégicas e gerais —
acrescentou Cascard Holonder. — Nunca se sabe, não é?
— Vou tê-lo à mão.
— Nosso terceiro batalhão espacial de desembarque tem alguém a quem se
aplica esta descrição. Ele também é um excelente piloto. Eu só não consigo lembrar
do nome. ANANSI, você poderia perguntar ao tenente-coronel Issiny Erskom?
— Não é necessário — veio a voz da semitrônica. — Eu suponho que você
quis se referir a Báron Danhuser, o tecnoanalista de Oxtorne.

18
— Correto. Droga, ele estava na minha língua! Vamos informar os três
convocados?
— Faça isso — disse Rhodan. — Equipe-os com SERUNS Slenders, e
certifique-se de se armazene todos os dados em estoque das idiossincrasias
culturais dos thoogondu — O biologicamente imortal olhou o relógio em seu punho.
— Nos encontraremos em quinze minutos.
— Você ainda precisa de mim? — Fabienne lembrou-se. — Me desculpe, mas
sinto que devo ir para a cama. E primeiro ao departamento médico, por favor.
— Eu entendo completamente — disse Rhodan. — Em breve você será
redimida. Eu só quero falar sobre algo em sua presença com a Puoshoor. ANANSI,
conecte-se à Ogígia!

Uma holografia mostrou o herdeiro do trono em uma conversa animada com


dois membros da equipe de funcionários da administração do parque.
— Ghuogondu, permita-me um pedido nesse meio tempo, por favor.
— Tudo o que seu coração deseja, ó Herdeiro do Peregrino!
“De alguma forma”, pensou Fabienne, “o cara consegue, repetidas vezes, se
pavonear na linha tênue entre mesquinhez e a cortesia”.
— Então, você não se importará se RAS TSCHUBAI seguir a sua DAAIDEM, de
bom grado e na devida distância, se você desejar. Se necessário, ela estacionará
diretamente fora do sistema Tizillar.
— Hm. O que você pretende com isso?
— Nós chamamos isso de... algum resseguro?
— Eu acho seu estranho pedido desnecessário, sem sentido, quase sem
importância, mas também é divertido. Considerando o nosso conhecimento muito
recente, eu não considero isso uma ofensa deliberada.
— O que deveria ser ofensivo nisso?
— Desconfiança aberta de um futuro aliado?
— Vamos lá, meu caro. Isso não é o que eu quis dizer.
— Como é então? – Que seja — O herdeiro ao trono fez um gesto desdenhoso.
— Sua pequena nave esférica deve tentar seguir a DAAIDEM de volta. Não tenho
objeção a uma pequena competição. Mas, também não tenho dúvidas de que a RAS
TSCHUBAI não acompanhará a minha penta-esfera.
— Você poderia nos dar as coordenadas do sistema de destino.
— Não, meu caro, como você diz lindamente, eu não posso fazer isso. Meu pai
pode ser um pouco paranoico. No entanto, sua palavra é lei. Do ponto de vista do
Fiador, nós ainda não estamos prontos para dizer ao seu ultracouraçado a
localização exata de um mundo abençoado com um dos seus dez assentos do
governo.
— Hm. Agora quem está demonstrando desconfiança?
— Eu não. Eu não sou o Gondu. Se for da minha vontade, eu nunca serei.
Fabienne Iukik viu que Perry estava para responder. Ela sinalizou para ele
fora do âmbito da ótica, para abster-se de fazê-lo.
O portador de ativador entendeu rapidamente. Em um instante, ele formulou
uma frase inofensiva. Então, ele pediu desculpas pela pressão do tempo e desligou.
Para Fabienne, ele disse: — Você notou alguma coisa?

19
— Sim. Eu acho que a última frase dele, foi uma isca deliberadamente
plantada. Puoshoor quis que você a mordesse.
— Por quê?
Ela massageou as têmporas para aliviar o zumbido no crânio. — Para que, a
partir de agora, ele possa transferir todas as responsabilidades para o pai dele.
— Como isso se encaixa com a aparência dele, hum, sempre arrogante?
— Não tenho certeza de que eu esteja cem por cento certa, mas acho que ele
desempenhou o bom e antigo jogo do status. De uma maneira geral: — Eu sou
apenas o governante da reserva, por isso, eu estou realmente abaixo de você.
— Por que... oh. Dessa forma, por muito tempo ele teria conseguido bloquear
as exigências irritantes do meu lado e, em vez disso, obter mais informações de mim.
— Eu posso estar completamente errada, mas pelo menos eu tive essa
impressão espontaneamente. Se você tivesse respondido como esperado por
Puoshoor, sua relação teria sido definida nesse desequilíbrio para os próximos dias.
— Entendo. Ele é um idiota muito inteligente, não é?
— Muito. Aliás, Puoshoor estima que você seja igualmente esperto; desde que
minha análise à mão livre esteja correta — Fabienne esfregou os olhos, que estavam
nublados com secreções lágrimas ardentes.
— Agora ele tem que revelar muito mais sobre ele na próxima vez que quiser
tirar algo de mim. Obrigado pela valiosa referência que fortaleceu significativamente
a minha posição de barganha — Você parece exausta.
— É assim que eu me sinto. Eu realmente tenho que ir à enfermaria.
— Então vá! — Agitou Magebe Lenski, o primeiro oficial. Seu tom não deixou
nenhuma contradição.
Fabienne Iukik obedeceu muito bem.

20
3.

As maravilhas do cosmos

6 e 7 de outubro 1551 NCG

Os três membros da escolta chegaram ainda antes da hora marcada no ponto


de encontro perto da central do comando.
Depois que Perry Rhodan os cumprimentou um por um com um aperto de
mão, ele os olhou cuidadosamente. Ele gostou do que viu.
Báron Danhuser era um soldado espacial de desembarque forte e musculoso
como um álbum de fotografias. Com exceção das sobrancelhas vistosas e espessas,
ele era completamente sem cabelos, até Rhodan pôde verificar isso. Ao redor da
cintura, ele usava um cinto largo eriçado com equipamentos miniaturizados.
Perry estimou a idade de Danhuser em aproximadamente quarenta anos. O
mesmo era válido para Dean Tunbridge.
O especialista do esquadrão tinha apenas 160 centímetros de altura, e era
construído extremamente compacto para um terrano de um mundo de extremos.
Sua postura encurvada, pronto para a defesa e o pescoço largo lhe davam uma
aparência semelhante a uma tartaruga.
Termos como “pronunciado” ou “saliente” descreviam deficientemente o
queixo de Tunbridge. As mandíbulas funcionavam incessantemente como se
estivessem a mastigando porcas duras. Onde o apelido de “Cashew” ficava fora de
questão.
Mesmo em comparação com essas duas figuras, Penelope Assid disparava na
frente.
Se a experiência de Perry Rhodan não o abandonasse completamente, ela era
a mais jovem da liga. Com pouco mais de trinta, no máximo trinta e cinco anos.
— Esta é a sua seriedade? — ele perguntou a ela.
— O que?
— Seu SERUN-SR foi programado para coloração externa lilás.
— Eu gosto disso.
— Você tem o cabelo tingido de lilás — Perry continuou, ainda perplexo como
sempre. — Olhos lilases, lábios lilases. Até mesmo no que está visível da roupa
íntima...
— Lilás. Acertou, cem pontos. Eu gosto da cor.
— Oh, sim? Percebe que você aparece para nossos anfitriões como o esboço
de uma sombra de um fantasma?
No mesmo instante, Perry Rhodan reconheceu que fora precipitado. Ele quis
morder o lábio.
Para a percepção humana do azul, lilás ou superfícies roxas do corpo não
refletiam a radiação infravermelha. Portanto, os thoogondu, enxergavam quase
nada de Penélope Assid em seu elevador atual, exceto a escuridão indefinível.
O que a jovem diplomata queria usar como uma provocação específica, como
confirmou imediatamente depois. — O conceito de 'intervenção paradoxal' lhe diz
alguma coisa, velho?

21
Secretamente, Perry argumentou consigo mesmo. Ele esteve muito distraído
por outras ideias para discernir o óbvio.
Mas, era agradável. Quando essa pessoa muito esbelta e de rosto pálido
começava a se esforçar para colocar os neurônios em funcionamento logo no início
da colaboração... — Eu conheci todos os três cientistas a que essa definição remonta.
Pelo menos na cultura terrana.
— Frankl? Watzlawick? Debord?
— Todos antigos contemporâneos, mocinha. Não tenho que listar os
arcônidas, tefrodenses, até mesmo os equivalentes lemurenses.
Assid saudou bruscamente; um pouco irritada para que não fosse uma
paródia. — Senhor, as ordens, senhor! — ela gritou. — Supremacia histórica geral
confirmada e aceita!
Perry riu de coração. — Isso mesmo, Penny. Assuma uma atitude
descontraída e não se preocupe mais com as autoridades. Fabienne estava certa –
nós dois nos divertiremos muito juntos.
Ela enrugou o nariz e puxou uma calda roxa. — Apenas em uma condição: se
você nunca mais contar a Penny.

O quarteto muito misto foi a bordo do escaler gondusense, juntamente com


Puoshoor e seus três assessores. O voo para a DAAIDEM levou apenas alguns
minutos.
Após a entrada na segunda esfera da espaçonave penta-esférica na direção
do voo, eles desembarcaram. Em duas fileiras paralelas de quatro, eles caminharam
em uma formação de vinte e quatro soldados e robôs de combate.
— Quatro vezes mais do que reunimos recentemente? — Perry Rhodan
murmurou para o herdeiro ao trono. — Entre amigos? Você precisa enfatizar sua
superioridade de tal maneira?
— Não — retrucou Puoshoor alegremente. — Ainda assim, nós fazemos isso
repetidamente. Alguns de nós amam tais demonstrações de poder. Meu pai também
está entre eles.
Perry, lembrou-se do diagnóstico de Fabienne Iukik, e não pulou na isca
oferecida. Ele quis deixar o Ghuogondu cozinhando por um tempo — para mais
tarde, poder atraí-lo cada vez mais da reserva.
Se Puoshoor ficou desapontado com isso, ele não demonstrou. — Então —
ele disse, quando chegaram ao fim da fileira de guardas que pareciam ser idênticos.
— Mais do que suficiente de realização de deveres para este dia! Desculpe-me, por
favor. Sfianid e Kauttuno continuarão ao lado de vocês.
Dois de seus companheiros deram um passo à frente e se empertigaram. Na
verdade, o oposto de uma mesura, mas ao mesmo tempo provavelmente o
equivalente deles. Afinal, os thoogondu geralmente assumiam uma postura
encurvada. O mesmo movimento brusco, que Perry já sabia, que também poderia
sinalizar a aprovação geral.
— Eles estão levando vocês para seus alojamentos por enquanto. Depois
disso, eles gostariam de levá-los ao redor pela nave — disse o herdeiro ao trono. —
Você está satisfeito ou quer mentores pessoais para cada indivíduo?
— A proporção de um a dois é perfeitamente adequada — disse Perry
Rhodan. Gradualmente, o espetáculo e os jogos psicológicos lhe davam nos nervos.

22
Ele suspeitava que o Puoshoor fizesse exatamente isso.

A gravidade a bordo do DAAIDEM era menor do que nas naves terranas.


Perry calculou em cerca de 0,8 gravos.
Isso estava correlacionado ao fato de que os thoogondu, de acordo com suas
observações anteriores, em média, pareciam um pouco mais frágeis do que os
terranos. Contudo, eles apresentavam quadris relativamente largos e pernas longas
e fortes. As mãos tinham seis dedos, dois dos quais eram polegares opositores.
Mulheres e homens tendiam a ter o mesmo tamanho, entre 170 e 220
centímetros. Externamente, os gêneros mal diferiam, apenas no sombreamento de
sua armadura corporal geralmente acinzentada: as fêmeas thoogondu
apresentavam um tom vermelho fraco para os olhos terranos. Mas, na visão
infravermelha, como os analistas do RAS TSCHUBAI descobriram, elas apareciam
em um colorido variado.
A micropositrônica do SERUN de Rhodan confirmou a impressão de que
Sfianid era uma fêmea e Kauttuno era um macho thoogondu. — Uma comparação
biométrica de seus traços faciais também sugere que eles sejam irmãos. Por outro lado,
pela linguagem corporal e como se tratam mutuamente, sugere que eles sejam
parceiros de longa data.
Uma vez que essa informação não parecia particularmente relevante para ele
na época, Rhodan respondeu silenciosamente: — Há algo de novo sobre a tecnologia
escondida nos bastidores?
O SERUN negou. — Além do fato de que, mesmo nas paredes deste grande
hangar, imagens térmicas projetadas artisticamente estão incorporadas.
Sem comentários, Perry Rhodan comutou a micropositrônica de volta para o
modo de espera e se dedicou exclusivamente ao seu entorno.

O Ghuogondu se despediu. Depois de desaparecer em um corredor lateral,


Sfianid e Kauttuno escoltaram a delegação terrana para seus alojamentos.
O caminho foi incrivelmente longo.
Enquanto a RAS TSCHUBAI havia mostrado aos hóspedes apenas a área
periférica mais externa e partes do habitat Ogígia, os líderes gondusenses
deliberadamente tomaram uma rota intrincada através da esfera. Eles queriam
apresentar imediatamente o máximo possível de sua cultura, tecnologia e modo de
vida.
Perry Rhodan estava quase envergonhado de si mesmo, pelo modo como ele
e os seus recentemente demonstraram, em comparação, uma maneira mesquinha
de pensar.
“Nós terranos somos muito jovens” ele disse a si mesmo. “A julgar pelos
thoogondu, entramos no palco cósmico apenas alguns minutos atrás. Por outro lado,
eles têm agido muito antes que a superinteligência AQUILO se voltasse para as
arcônidas e mais tarde para nós”.
Como para fundamentar o pensamento de Rhodan, Kauttuno disse: — Vocês
têm um monte de dispositivos analisadores. Não se preocupem, vocês podem usá-lo
sem restrições.

23
— Porque você poderia bloqueá-los de qualquer maneira, se fosse para ser
feito? — perguntou Báron Danhuser.
O thoogondu afirmou com uma franqueza literalmente desarmante. — O
mesmo se aplica aos seus combiradiadores. Eles não representam nenhum perigo a
bordo desta espaçonave. Contudo, seria um bom sinal de que vocês não estão
negando a etiqueta, se vocês entregarem suas armas de mão colocando-as em
custódia temporária. Vocês as receberão novamente assim que deixarem a
DAAIDEM.
Perry Rhodan sinalizou para a equipe de intervenção obedecer a ordem. Ele
deu um bom exemplo ao entregar seus radiadores.

Sfianid e Kauttuno, certamente diplomatas astutos, não fizeram nenhum


segredo do seu orgulho pelas realizações de seu povo. Eles levaram Perry Rhodan e
seus companheiros a áreas onde engenheiros de alto escalão estavam envolvidos.
Já era aparente de passagem que a tecnologia aplicada não era de forma
alguma apenas um legado de tempos passados. Mas ainda era compreendida e
estava em constante evolução.
— Está com inveja? — Penelope Assid escreveu em uma mensagem de texto.
— Sim — admitiu Rhodan. — Você não? Ou você está ofendida porque
ninguém nunca falou de suas roupas provocantes?
— Mesmo que eles tenham que fazer um pequeno esforço para me examinar ou
observar através de mim, um sucesso parcial já foi alcançado.
Kauttuno, que tinha marcado um ritmo acelerado, parou. — Por acaso nós
estamos passando em uma extensão da unidade de controle principal. Vocês
gostariam de conversar com uma neurotrônica?
Eles não seriam convidados duas vezes.

Como os terranos já haviam aprendido em parte durante a sua estadia na


cidade de Goenetki, os thoogondu usavam positrônicas com componentes de plasma
neural. Ao contrário, por exemplo, os comandantes plasmáticos posbis ou a
semitrônica da RAS TSCHUBAI, elas desenvolviam até certo ponto sua própria
criatividade, mas nenhuma emoção.
Agora, o esquadrão de Rhodan, liderado pelo tecnoanalista Báron Danhuser,
descobriu que a neurotrônica era criada e treinada em espaçonaves. Como parte
desta “educação”, elas adquiriam uma espécie de autoconsciência e tinham suas
próprias histórias de vida a partir daí.
Danhuser e Rhodan perguntaram sobre a propulsão superluminal da nave
penta-esférica. A neurotrônica estava disposta a fornecer informações.
Os sofisticados propulsores de transição dos thoogondu eram chamados de
Localizadores. Não só permitiam uma transição de um estado “parado”, ou seja, sem
aceleração prévia, mas também se materializar semi-manifesto por cerca de doze
segundos após o salto. Durante este tempo, a neurotrônica conseguia sondar a
situação e, se necessário, reverter a transição.

24
Além disso, a rematerialização poderia ser induzida em quase qualquer
velocidade subluz em até 75 por cento da velocidade da luz.
— Qual o alcance desses localizadores? — Os olhos de Báron Danhuser
brilharam com curiosidade.
— Depois de mais de cem mil anos-luz, eles ficam exauridos e precisam ser
recarregados com hiperenergia — disse a neurotrônica. — Saltos individuais podem
alcançar até três mil anos-luz.
— É muito — O oxtornense lambeu os lábios.
Provavelmente, ele pensava o mesmo no momento como Perry Rhodan: Com
esta tecnologia, a RAS TSCHUBAI realmente teria dificuldade em seguir a DAAIDEM.
Como se ela também tivesse adivinhado seus pensamentos, Sfianid disse em
um tom calmante: — O Ghuogondu deu ordens para não esgotar totalmente os
localizadores do DAAIDEM. Uma vez, porque ele quer manter o efeito de equalização
para você, seus ilustres convidados, em o quadro mais fraco possível. Em segundo
lugar, por ele ser esportivo, pelo menos, quer dar uma pequena chance a sua nave-
mãe.
— Que generoso — respondeu Penélope Assid com atenção.
— Não é verdade? É assim que somos.

Logo após terem se mudado para as suítes de luxo, a espaçonave penta-


esférica fez uma transição.
Na verdade, a reentrada no espaço normal foi impressionantemente livre de
efeitos colaterais. Perry Rhodan, que tinha experimentado a dor da equalização
brutal dos primeiros dias das viagens espaciais interestelares, mal sentiu o choque
do salto. Apenas um ligeiro formigamento correu por sua espinha ao longo da coluna
vertebral.
Todas as preocupações que ele tivera com seus companheiros revelaram-se
supérfluas. Mas, surgiram outras preocupações.
Tal efeito tão fraco de equalização correspondia ao fato de que a vibração
estrutural da transição também era significativamente menor do que nos
propulsores convencionais de transição dos galácticos. A nave da prisão OONOM,
cujos primeiros saltos a RAS TSCHUBAI ainda tinha claramente se adequado,
possivelmente havia permitido choques mais fortes deliberadamente?
Por exemplo, para atrair qualquer perseguidor para uma armadilha?
Era uma coisa boa, que Perry através da mensagem condensada de rádio de
Farye Sepheroa-Rhodan, soubesse do resultado positivo de sua aventura! Caso
contrário, ele teria ficado bastante preocupado com sua neta e com a BJO
BREISKOLL.
Contudo, a tarefa da RAS TSCHUBAI, para se manter nos calcanhares da
penta-esferas, era a mais difícil, se não quase impossível...

Além disso, seus supervisores Sfianid e Kauttuno de forma alguma


mantinham as informações atrás da montanha.
Pacientemente, eles respondiam todas as perguntas. Generosos, eles também
colocavam detalhes por conta própria.

25
A menos que surgissem complicações imprevistas, o par de irmãos explicou
que as reentradas ocorriam imediatamente com o máximo de três quartos da
velocidade da luz. Isso permitia que os saltos seguintes fossem realizados com muito
mais eficiência energética.
Após cada etapa, a DAAIDEM passou pelo menos duas horas no espaço
normal. Os destinos sempre foram escolhidos para que demonstrassem as belezas
do cosmos.
Nebulosa de gás brilhante e colorida...
Nuvens escuras, aqui e ali, fantasmagoricamente iluminadas por estrelas
recém-criadas...
Formações fantásticas de sistemas triplos, em cujo interior se rodopiava em
uma dança selvagem...
Cintilantes, pontes de matéria se espalhavam entre estrelas binárias...
O espetáculo de um enxame de asteroides mergulhando em um planeta de
gás gigante...
Até mesmo Perry Rhodan, que realmente viu muitas coisas em sua longa vida,
não conseguiu escapar do fascínio desses panoramas. Como outro lemurense2
biologicamente imortal, presumivelmente o primeiro, escreveu: "Muito grande e
distante é o universo, e acima de tudo terrivelmente vazio, mas também cheio de
milagres".
Contudo, Kauttuno e Sfianid a cada vez também reagiram euforicamente aos
as imagens holográficas captadas externamente pelas câmeras de bordo. Eles
literalmente se superavam com exclamações de deleite.
Dean "Cashew" Tunbridge soltou a roda um pouco, agarrou uma amêndoa e
perguntou: — Realmente precisa se esperar muito tempo para recarregar os
localizadores? Ou isto faz parte do referido "comportamento esportivo"?
— Ambos também — disse Sfianid, enquanto destampava uma ânfora. — Por
favor, não deixemos que se destrua esses momentos com trivialidades. Vamos
comemorar em vez disso!

2
O lemurense Levian Paronn no prólogo do livro 04 da série Lemúria. N.T

26
4.

O fim inglório de uma perseguição

7 a 9 de outubro NCG

O coronel Cascard Holonder estimulou sua equipe ao melhor desempenho.


Em princípio, ele sempre fez isso; mas desta vez com mais ênfase. Ele
assumiu pessoalmente a aposta que Perry Rhodan tinha feito com o herdeiro ao
trono do Império Dourado.
— Vamos mostrar — disse Holonder novamente à tripulação da central de
comando —, a essas avós afetadas, o que a melhor nave portadora terrana de todos
os tempos pode fazer!
Não que eles realmente precisassem dessa motivação. Todas as estações de
missão, todas as seções da RAS TSCHUBAI cooperaram como um mecanismo de
relógio. Impecavelmente, com todas as engrenagens interligadas.
Cada operador sabia o que era importante: Puoshoor havia desafiado Rhodan
e a eles. O Ghuogondu havia batido com uma luva na cara deles todos, por assim
dizer.
Agora eles queriam provar que eles estavam sempre à frente da espaçonave
penta-esférica, cujo tamanho e tecnologia gondusense até mesmo superava a
TSCHUBAI.
Mesmo sendo tão breve, foi um trabalho árduo. Mas, de qualquer forma a
perseguição selvagem também foi muito divertida para toda a equipe.

Os mais requisitados foram os departamentos de localização do tenente-


coronel Olwar, e os supervisores da semitrônica, liderados pelo velho kamashita
Shalva Galaktion Shengelaia.
Durante a maior parte do curso, a ANANSI conseguiu calcular o ponto de
reentrada da nave penta-esférica a partir dos dados dos sensores rapidamente
fornecidos pela localização. Em pouco tempo, o piloto principal Briony Legh
estabeleceu o curso; assim, eles chegaram pouco antes do próximo salto
hiperespacial da DAAIDEM em sua localização.
O mais tardar na terceira ocasião, quando a nave penta-esférica se
desmaterializou apenas no momento em que a RAS apareceu, Cascard Holonder
suspeitava que os thoogondu estivessem brincando de gato e rato com eles.
Na quarta vez, Olwar falou, o que todos já suspeitavam de qualquer maneira:
— Eles querem nos mostrar, certo?
O imartense obteve aprovação total dos outros departamentos. Houve até
algumas palavras de brincadeira e maldições por baixo.
— É óbvio que os thoogondu se importa muito — disse Cascard Holonder,
depois que o alvoroço legítimo se estabeleceu —, em mostrar sua superioridade
tecnológica.

27
— De uma maneira tentadora! — disse Magebe Lenski, seu primeiro oficial,
enfurecido.
— Ainda assim, nós temos outra escolha senão continuar.
— Tudo bem!
— ANANSI acaba de identificar certo padrão — relatou Shengelaia. — Isso
poderia possivelmente... oh. Não, não.
— O quê?
— Como se eles soubessem muito bem sobre nossa capacidade de cálculo,
os thoogondu acabaram de mudar seu curso de ação.

De repente, o DAAIDEM deu um salto tão grande e poderoso que os sensores


quase não captaram nada.
Quando a RAS TSCHUBAI alcançou o destino mais provável, a espaçonave
penta-esférica já havia desaparecido. Somente após um longo período de
processamento, ANANSI conseguiu filtrar os traços fracos de um choque dos dados
que Olwar e sua tripulação haviam apanhado do espaço normal durante o voo.
— Parece-me que eles estão ampliando a ação — disse Briony Legh. — Como
se realmente quisessem nos deixar para trás.
—Nós temos outra chance? — gritou Holonder. Ele sentiu a adrenalina
circulando em seu corpo, a pulsação alta nas têmporas. — Quero dizer, nós ainda
podemos registar o rastro deles? Shalva? ANANSI? Alguém mais?
— Eles não estão brincando — respondeu o positrônico kamashita. »ANANSI
ainda está ocupada avaliando...
— Por um curto período, nós poderíamos dar mais energia a rede de
localização — interpôs Kriff Dnotz do departamento de máquinas a bordo. — Se isso
ajudar.
— Vamos! — gritou Olwar.
— À custa dos sistemas de armas ofensivas.
— Nós não estamos diretamente ameaçados. Portanto: aprovado! —
Holonder decidiu antes que os chefes de artilharia pudessem protestar. Em suas
holografias pessoais, apareceu uma representação esquemática dos fluxos
redirecionados.
— Ha! Obrigado, Kriff. Nós os temos! — ressoou triunfante com emoção, a
voz do chefe de localização.
Confirmou Shengelaia. — Conseguimos!
— Muito bom, pessoal. Excelente desempenho geral. — Briony, continue!

Quando a calma retornou, ANANSI recomendou completar a próxima etapa


linear com toda a proteção de localização disponível.
Cascard Holonder não teve objecções em princípio. — É claro que eu gostaria
de saber por quê?
— Há certas indicações — Shalva Galaktion Shengelaia disse com uma voz
rouca —, que os colegas gondusenses a bordo do DAAIDEM, notavelmente têm
muito mais facilidade de localizar outra uma nave do que nós.
— Porque eles têm melhores sistemas de localização?

28
— Eu não acredito nisso.
— Então?
— É muito cedo para fazer uma declaração séria sobre isso. ANANSI calcula.
Mas confie em mim, nós podemos ter uma pista.
— Controle de armas, vocês ouviram isso: camuflagem completa! —
Holonder não hesitou.
Ele não viu nenhuma razão duvidar a análise ou a inspiração do kamashita.
Shengelaia era contado entre os veteranos a bordo.
Portanto, a RAS TSCHUBAI, permaneceu estacionária no semiespaço após
superar a distância com os iniciadores de libração ativados. Então, sob a proteção
do campo de sombra Paros, ela entrou no espaço normal com sistemas adicionais
anti-localização Laurin...
E, no entanto, ela já era esperada por uma formação defensiva maciça de
naves thoogondu.
Imediatamente depois, chegou uma mensagem de rádio meio zombeteira.
— Felicitamos a tripulação da RAS TSCHUBAI por sua notável conquista. Ao
contrário de todas as previsões, vocês alcançaram a borda do sistema de destino.
Agora voltem, queridos amigos. Nós odiamos muito ter que mostrar-lhe as barreiras.
Cascard Holonder teve a sensação infeliz de que alguém acabara de lhe dar
um golpe de box suave e brincalhão no nariz. Justamente controlado e visando
precisamente que nada fosse ou de outra forma ferido.
Nada, exceto o orgulho de seu estilo.

Ele respirou profundamente. Então, ele deu a ordem para assumir uma
posição a uma distância de dez anos-luz.
— Nós realmente apanhamos? — Disse Magebe Lenski, depois de um longo
período de silêncio geral.
— Certamente não — disse Holonder duramente. — Por enquanto, nos
curvamos à superioridade dos governantes locais. Não seria no sentido de Rhodan
agora executar um curso de conflito aberto. Mas, ficamos perto, sem dúvida.
— Comandante...?
— Sim, Olwar?
— Eles ainda sabem onde estamos. Ou não?
— Sim. Também tenho medo. Eu tenho certeza, depois das experiências dos
últimos dias.
— Os thoogondu podem nos localizar. Como? Os campos de ocultação Laurin
e Paros falharam? Talvez por causa das mudanças energéticas a curto prazo?
—Kriff? Alguma coisa deu errado com você?
— Não. Certamente não.
— Quero dizer, todos nós estivemos sob alta pressão e estresse extremo. Algo
pode acontecer.
— Não vai. Nós, engenheiros de bordo, somos treinados a prestar muita
atenção aos valores-limite, incluindo todas as redundâncias e sobre utilização
segura, especialmente em tais situações. Quer ler a documentação?
— Eu vou em breve. Mas, agora eu acho que é desnecessário. Eu acho que o
erro está em outro lugar. ANANSI?

29
Para o grande alívio de Holonder soou a voz da semitrônica. Então, ela se
recuperou da tensão. — Tudo indica, com uma probabilidade de setenta por cento e
em constante aumento, que a própria RAS TSCHUBAI está enviando impulsos.
— Ei, espere! Não deveríamos tê-los registrado há muito tempo? — Olwar
zombou. — Você não acha que vamos acusá-lo de ser dorminhoco?
— Eu concretizo: impulsos que não podem ser medidos com nossos métodos
padrão.
— Alguém trouxe um farol tecnicamente imensamente sofisticado,
perfeitamente disfarçado a bordo, de alguma forma instalado e ativado em algum
momento? — Cascard Holonder falou sobre o que ele havia suspeitado por algum
tempo, mas ainda não queria admitir.
Pois se isso fosse verdade, uma velha suspeita endureceria ou mesmo se
confirmaria: já na chegada da RAS TSCHUBAI no avental da galáxia Sevcooris,
chamada NGC 4622 Perry Rhodan e ANANSI suspeitaram, que a bordo poderia haver
um informante da potência local. Porque imediatamente os thoogondu estiveram lá
para cumprimentá-los.
Um agente. Ou seus múltiplos...
— Os espíritos guardiões? — Briony Legh levantou-se do assento de piloto,
fechou a mão esquerda em punho e, com toda a força de uma epsalense, atacou um
inimigo invisível. — Perdão, isso teve que sair.
— Possivelmente. Pessoal, agora deve ficar claro o que virá em seguida em
nossa agenda.

30
5.

Uma reunião acolhedora

8 de outubro de 1551 NCG

Incessantemente, Sfianid e Kauttuno lideraram a equipe terrana através da


DAAIDEM. Várias vezes eles se moveram para as esferas vizinhas.
Perry Rhodan teria ficado muito surpreso se as áreas realmente sensíveis não
tivessem sido discretamente omitidas. Eles certamente não mostraram a eles
detalhes, a partir dos quais poderiam se extrair conclusões de tecnologias-chaves.
Contudo, eles descobriram algo. As espaçonaves penta-esféricas da classe
GARANT, mas também unidades menores, como a classe THOODID que mediam
pouco mais de um quilômetro e meio, eram todas construídas de maneira similar.
Em cada caso, as esferas mais externas e menores continham os propulsores
subluz e outras tecnologias, especialmente sistemas de localização e armas. Na
esfera central, onde a propulsão superluminal e a neurotrônica principal estavam
localizadas, havia também relativamente pouco espaço para a tripulação. Estava
reservado, como a maioria das naves auxiliares, nas duas esferas maiores.
A central de comando e os alojamentos da tripulação estavam na esfera
dianteira, onde o escaler penetrara com a delegação do Ghuogondus e a equipe de
Rhodan. Os conveses estavam dispostos de forma análoga ao eixo principal que
corria na direção do voo.
Todas as passagens de ligação, independentemente de qual esfera, pareciam
superdimensionadas para Rhodan, em comparação com as condições a bordo das
naves terranas. Não havia “salas” ou mesmo “câmaras”, mas apenas salões e salões
enormes.
Tudo sobre a arquitetura expressava: podemos nos dar ao luxo de não nos
limitarmos. O espaço não é uma mercadoria escassa.
Como em todo o Gondunat não parecia reinar a escassez.

No segundo dia de sua permanência na DAAIDEM, depois de uma fase de


sono, e Rhodan ter se permitido e acima de tudo, seus companheiros, um extenso
café da manhã, Sfianid os convidou para uma festa. Ela devia ocorrer na esfera
traseira de dois mil metros.
— Nada oficial, apenas uma celebração no círculo íntimo do Ghuogondu. Ele
ficaria muito feliz em vê-los lá.
— Aceitamos o convite, é claro — disse Penélope, antes que Rhodan ainda
pudesse abrir a boca. — Quando começa?
— A festa já está em andamento desde que partimos.
— Bem, isso parece tentador!
— Eu tenho certeza que vocês vão se divertir — disse Kauttuno.
— Puoshoor está presente?
— Nesse ínterim, certamente, mas não interruptamente. Ele vem e vai
quando e como quer.

31
— Ele é o Ghuogondu — lembrou Sfianid, como se isso significasse tudo.

A “pequena celebração” acabou por ser um banquete rumorejante, e


extravagante em todos os aspectos.
Como se viu a caminho para lá, os mais diversos mundos de lazer e
experiência foram habilmente organizados em grande parte do quarto segmento da
esfera. Além disso, teatro, salas de concertos, e outras instalações culturais de
qualquer tipo.
Em uma das instalações que passaram, estava sendo realizado um esporte
que para Perry Rhodan lembrou fortemente do velho badminton terrano. Bustos
com mais de cinco metros de jogadores lendários, flanqueavam os campos de jogo.
Kauttuno contou alguns nomes com admiração em sua voz: — Ristwuunge,
Reuttesch, o talentoso Kulinoor, o ainda o inigualável mestre Waniicz...
No final, eles chegaram em uma área, da qual o design generoso e habilmente
anguloso que os operadores dos cafés danceteria da juventude de Rhodan nunca
teria ousado sonhar. Baixos vibrantes e estrondosos produziam um tipo de
massagem corporal total, sem soar excessivamente intrusiva.
Grupos de música e dança trabalharam simultaneamente em cerca de duas
dúzias de palcos. Contudo, surpreendentemente, isso não produzia uma cacofonia.
Era como se alguém se movesse de forma semelhante através de uma área
inundada com efeitos de luz, e a cada poucos passos captasse coisas novas e
interessantes, bem como melodias passando suavemente como um véu de névoa. E
sempre era possível ter uma conversa em um volume normal na área.
Contudo, foi difícil para Rhodan e seus companheiros se orientarem no
grande complexo em forma de cúpula. Isso foi ajudado pelo fato de que os vetores
gravitacionais apontavam em todas as direções possíveis, e eram frequentemente
alternados, aparentemente arbitrariamente, sem qualquer ritmo discernível.
Isto, obviamente não fazia diferença para os grupos de centenas de
thoogondu que dançavam nas numerosas pistas de dança, nos assentos estofados e
sofás reclináveis. Eles estavam acostumados com isso. Como se nada estivesse
acontecendo, eles conversaram e flertavam com parceiros que estavam pendurados
de cabeça para baixo ou em qualquer outra posição imaginável.
— Isso é hipergaláctico! — gritou Pen Assid.
Raramente, Perry Rhodan havia se sentido tão velho e deslocado.
Além disso, os thoogondu tinha sua própria idéia de privacidade pessoal. Eles
apreciavam uma proximidade física que às vezes fazia com que ele se sentisse quase
desconfortável.

Seus companheiros cuidavam deles, embora com o mesmo sentimento de


superioridade não disfarçado que obviamente se tornou uma questão de curso para
aqueles em contato com outros povos.
Rhodan deixou o campo em grande parte para Penélope Assid. A jovem
diplomata estava em seu elemento. Ela agia como o peixe na água do ditado.

32
Sua roupa incomum nunca foi criticada, mas muitas vezes até mesmo
elogiada original e impressionante. Correndo de um grupo para outro, ela
rapidamente conseguiu novos conhecimentos.
Nem por um segundo, Perry Rhodan a tomou por uma entusiasta ingênua. A
mulher sabia exatamente o que estava fazendo: o trabalho dela. Para sublinhar o que
ela queria encarnar, ela gesticulava com suas mãos extremamente magras e
expressivas como uma feiticeira.
Os outros dois membros da equipe também de modo algum ficaram ociosos.
Báron Danhuser se dedicou, como de costume, principalmente aos dispositivos de
análise no cinto. Dean Tunbridge conversava alegremente com Kauttuno, sobre o
que quer que fosse.
O próprio Rhodan permaneceu distante, consciente de todos os olhos atentos
que o observavam incessantemente. A fim de não ser considerado como um
rabugento, ocasionalmente mordiscou as iguarias e bebidas oferecidas — embora
ele soubesse antecipadamente que não poderiam inebriá-lo nem o entusiasmar.
Aliás, ele tentou encontrar o Puoshoor no entusiasmo orgíaco.
Mas, ele viu o herdeiro do trono, se foi verdade, apenas fugazmente, e no
máximo de longe. Ele estava cercado por aglomerações de entusiastas.
O Ghuogondu estava comemorando, e acima de tudo ele deixou que se
celebrasse. Ele estava totalmente absorto em uma sociedade exuberantemente
decadente, que sem dúvida girava ao seu redor.

— O Príncipe Herdeiro e seus amigos estavam vivendo em uma espécie de


juventude eterna e dourada, por assim dizer — Pen Assid resumiu suas impressões
mais tarde no alojamento.
— Jeunesse Dorée — exclamou Rhodan.
— Como, por favor?
— Oh, nada. Um termo de uma das antigas línguas terranas. — O que mais
você notou?
— A droga preferia dos cortesãos se chama Luooma. Ela retira as
preocupações e aumenta a autoestima.
— Você provou?
— Você acha que eu sou louca? Eu deixei que me descrevessem o efeito em
detalhes. Pelos meus interlocutores desinibidos.
Trata-se de uma bebida vermelha escura com faíscas prateadas que cintilam
de vez em quando. As centelhas do Luo misturadas ou batidas respectivamente com
o líquido vermelho, espumam violentamente.
— O efeito de Luooma no thoogondu é que a sensação de tempo e espaço é
tão irrisório e, quando tomado várias vezes, completamente fragmentado. Os
usuários não se conhecem mais. Eles perdem quase todas as relações com a
realidade. Os pesadamente inebriados podem literalmente se perder na cadeira.
— E eles gostam disso?
— Até mesmo muito. Afinal, Luooma dá um sentimento de juventude e
frescor aos consumidores.
— Ocorrem consequências em longo prazo?

33
Pen Assid riu brevemente e secamente. — Prazer sem remorso, que até
mesmo os thoogondu não conseguem! Como um lado negativo, o Luooma acelera,
como me disseram, o processo de envelhecimento. O que é aceito levemente.
— Infinita juventude feliz e dourada, hein?
— Certamente. Se não morrer cedo demais...

A próxima etapa superluminal terminou à beira de um sistema solar, pouco


espetacular à primeira vista. Sete planetas médios orbitavam uma estrela média tipo
sol.
— Então, vocês viram os pontos turísticos? — Cashew indagou.
Logo, a DAAIDEM executaria um exercício de artilharia, disse Sfianid via
rádio. Se os convidados de honra estivessem interessados em ver mais, um
observatório adequado seria colocado à disposição para eles na esfera dianteira.
— Artilharia? — Tunbridge repetiu. — Não vamos perder isso, não é?
Báron Danhuser concordou com o especialista do esquadrão. — Se então,
eles já tiverem descido as calças um pouco...
— Eu acho que eles estão apenas balançando o traseiro — Pen Assid pegou a
metáfora. — Mas, eu também sou a favor.
— Eu fico feliz que estamos cem por cento de acordo — disse Perry Rhodan.
Seus supervisores se juntaram a eles. O casal, que ainda não tinha certeza se
era irmão e irmã ou cônjuges ou ambos, conduziu-os quase a proa da nave
gigantesca. Através da cúpula transparente, o ambiente poderia agora ser observado
diretamente visualmente.
— Um sistema insignificante — disse Kauttuno. — O segundo planeta
produziu vida inteligente. No entanto, os habitantes ainda estão em um nível muito
baixo de desenvolvimento.
Holografias foram exibidas. Eles mostraram lagartos, alguns deles de pé,
alguns em quatro patas. Afinal, eles já trabalhavam na agricultura e pecuária. Alguns
assentamentos de quedas de rio e deltas logo se tornariam as primeiras cidades.
— Eles se chamam vluandeesh, a mesma palavra também designa o planeta
em sua língua — continuou Kauttuno. — Um povo amável, que não conhece quase
nenhum conflito armado.
Rhodan tornou-se enjoado. — Você quer testar o poder de fogo de suas armas
neles?
— Não, o que você está pensando?
— A coesão é tão importante para os vluandeesh quanto para nós — disse
Sfianid. — Eles teriam todas as condições para se tornarem valiosos membros da
comunidade internacional de Sevcooris e, portanto, do Gondunat no futuro distante.
— Teriam?
— Infelizmente, restam apenas quinze minutos antes da extinção de
qualquer vida superior neste planeta.

34
6.

Pistas falsas

9 e 10 de outubro 1551 NCG

Briony Legh foi substituída prematuramente pelo major Andris Kantweinen,


o terceiro piloto. Uma vez que a RAS TSCHUBAI se deslocava para uma posição de
estacionamento, o painel de controle não era atualmente um dos pontos focais da
ação a bordo.
Durante a rendição, ela perguntou casualmente: — Como está seu protegido?
— Taeller? Bem, eu acho — O terrano alto franziu o rosto anguloso,
geralmente um pouco tenso, em um sorriso. — Ele ainda está orgulhoso por ter sido
capaz de ajudar a descobrir a conspiração dos espíritos guardiões.
Taeller era um jovem mandaamense, humanoide magricela e órfão desde a
destruição do sistema Taltaan. Kantweinen o trouxe e o escolheu como uma espécie
de filho adotivo.
— Ele pode estar também. Sem Taeller, as coisas poderiam ter sido muito
piores. Ele está realmente sendo cuidado psicologicamente?
— O que significa, exceto para mim, isso é: profissionais treinados? Claro.
Regularmente.
— Muito bom. Então, uh... serviço agradável! — Briony ficou um pouco
envergonhada por ter acusado indiretamente o colega de falta de competência.
— Obrigado — Kantweinen parecia impassível. — Você está indo para a
reunião?
— Sim.
— Se surgir algo novo, você me manterá atualizado? Também por causa de
Taeller.
Ela prometeu e se afastou da central de comando.

Na sala de conferências adjacente, reuniu-se a equipe de crise convocada pelo


comandante da nave.
Quando todos chegaram, o coronel Holonder disse: — Nós devemos assumir
que alguém contrabandeou um emissor de orientação muito especial a bordo. Isso
poderia ser qualquer coisa, possivelmente até uma pessoa com habilidades psi
apropriadas. Por isso, eu sugiro o termo mais neutro “rastreador” para o que nós
estamos procurando.
Ninguém levantou objeção. As antigas expressões terranas parecia estar
muito na moda mais uma vez, Briony pensou.
— É claro que os chamados espíritos guardiões estão no topo da lista de
suspeitos — Holonder assentiu para o ara Delak. — Um relatório de situação curto,
por favor.
— Nós estamos cientes de cinco co-conspiradores comprovados ou suspeitos
— disse o representante do departamento de segurança Interna. — Yerrem Karatas,

35
que queria paralisar ou explodir a RAS TSCHUBAI por meio de uma cabine expressa
manipulada, está morto. Chiara Logau e Amauran Aist, com quem se provou que ele
esteve em contato, foram detidos.
— Para mencionar, em vão — disse o tenente-coronel Olwar, o chefe da
localização —, que nós os monitoramos, bem como os outros dois. Mas até agora
eles não deram um pio, pelo menos nada que pudéssemos escutar.
Uma Lee e Myrrdin Hawk, assim como Taeller, foram levados a bordo como
convidados. Ambos eram terranos e sobreviventes do desastre de Taltaan, onde
trabalharam na estação de pesquisa Jarbridge.
— Lee e Hawk ainda estão soltos — disse Delak. — Nós os observamos
secretamente. Contudo, deve-se temer que Logau já os tenha informado desse fato
antes do ataque e, e que eles têm agido de forma tão discreta desde então.
— O misterioso Barong tentou contatá-los enquanto isso?
— Não. Não de uma forma que possamos imaginar. Não há nenhum sinal
disso.
Briony Legh brincou com a idéia de propor outro uso do capacete TSEM. Mas,
ela rejeitou-o novamente.
Em primeiro lugar, tinha que se conseguir o consentimento das pessoas
afetadas em questão, de acordo com a lei aplicável da Liga. Em segundo, Hawk e Lee
eram mais propensos a se trair se não estivessem na mira diretamente.
— Então, por enquanto, nenhuma indicação – o segundo assunto na lista —
disse o Comandante Holonder. — As malditas caixas de madeira.

— A coisa mais importante antecipadamente — disse Sichu Dorksteiger: —


Das caixas de madeira vazias, certamente é improvável que haverá quaisquer
impulsos que seriam fortes o suficiente para superar os nossos próprios
absorventes de emissão. Elas simplesmente não têm uma fonte de energia
correspondente. O que não significa que elas estariam energeticamente mortas.
— Mas? — Briony não conseguiu resistir a aparte.
— Por sua vez. Desde que eu me recuso a ser perseguido por sentimentos
vagos, nós abrimos a caixa de Logau. Um tentáculo robótico controlado
remotamente alcançou sem enfrentar resistência, e examinou seu interior.
— Deixe-me adivinhar – está realmente vazia.
Dorksteiger confirmou. — Nossa sonda robótica raspou um pouco do
revestimento interno, que, aliás, é separado do externo. A amostra tirada ainda nos
dá alguns enigmas.
De acordo com suas medidas e os cálculos e análises de ANANSI, a cientista-
chefe explicou que a caixa era realmente estranha. — O revestimento interno mostra
remanescente de hipercampos. Sem ser capaz de dizer claramente se o pó fino
hipercristalino é ativado por um campo externo ou se irradia.
— Então, aquilo irradia alguma coisa!
— Minimamente e, como já mencionado, não é suficientemente poderoso
para servir de impulso de pesquisa. Dentro da caixa, pode ocorrer um tipo de efeito
de ressonância..., mas a estrutura de campo resultante é muito complexa.
Eles já experimentaram todo tipo de coisas, relatou Dorksteiger, por
exemplo, apresentando bioplasma que não foi visivelmente alterado. — Outras

36
criaturas, protozoários, plantas... tudo sem descobertas. Como vocês sabem, as
experiências com animais maiores, como ratos, são estritamente proibidas e eu não
continuarei a fazê-lo.
“Se isso serve para encontrar a verdade...”, Briony pensou consigo mesma,
mas manteve a boca fechada.
— De qualquer forma, mesmo no final do dia, nenhum de nós pôde explicar
como tudo isso contribui para esse efeito psicossomático, que não quer ser
descoberto. Da mesma forma, nós tateamos no escuro, sobre quais são os efeitos do
hipercampo e a radiação que ocasionalmente emana ao longo da superfície.
— Taeller não declarou que havia uma conexão entre as caixas e seus
proprietários, uma espécie de conversa sem palavras? — Delak perguntou.
— O jovem mandaamense afirma ter notado isso várias vezes. Mas, ele está
sozinho nisto até agora. Com os nossos meios, suas observações não foram
compreensíveis nem verificáveis.
— Bem, obrigado de qualquer maneira — Cascard Holonder, que estava
rabiscando algumas folhas de papel com a mão esquerda, sem olhar, respirou
profundamente. — Então, nós também teríamos assinalado a segunda questão.
— Mais uma coisa, comandante — disse Sichu Dorksteiger. Poder-se-ia dizer
por seu tom aflito, que ela não estava disposta a aceitar a derrota temporária. — Nós
continuamos a pesquisar com todos os meios e pessoal completo, vinte e quatro
horas por dia.
— Eu não teria esperado nada mais. Mas agora...
— Perdão —A ator interrompeu. — O que eu quis assegurar: sem ser capaz
de apresentar provas conclusivas, eu apresento por enquanto, a hipótese de que as
pequenas caixas de madeira não têm nada a ver com o rastreador que você está
procurando. Pelo menos não imediatamente.
— Anotado como pista falsa — disse o tenente-coronel Magebe Lenski.
— Me desculpe. Eu também gostaria de lembrar que nenhuma dessas caixas
foi encontrada durante a busca no alojamento de Yerrem Karatas.
— Isso não precisa significar nada. Ele poderia tê-lo levado a bordo da cabine
expressa, e nesse caso teria sido destruída na explosão — disse Holonder. — De
qualquer forma, alguém tem alguma sugestão que de outra forma poderia nos
colocar na pista do rastreador?

O primeiro oficial sugeriu que fosse despachado um esquadrão de escaleres


menores, que deveriam ser distribuídos a alguma distância em torno da RAS
TSCHUBAI.
— Não é uma má idéia — elogiou Cascard Holonder, a quem Briony sempre
confiava, que ele próprio já teria tido essa ideia. — Nós faremos isso. Inicie a ação
imediatamente. Mas, deixe que pareça uma manobra usual que estamos
organizando para o passatempo, porque fomos forçados a inação.
— Não se preocupe. Os thoogondu não devem notar que suspeitamos.
— Isso é certo. Eu gostaria de manter aberta a opção para que possamos virar
esse espeto. Mas, primeiro, nós temos que localizar o rastreador. Outras sugestões,
exceto que todos os departamentos estão sendo mantidos em maior atenção?
Como ninguém falou, o comandante da nave declarou a reunião encerrada. O
pessoal dispersou.

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Em direção a sua cabine e de Kriff, Briony Legh quebrou a cabeça com o que
a equipe da crise poderia ter deixado passar. Mas, ela não pôde pensar em nada.
Ela esperava ser capaz de se desligar, dependendo fortemente da ajuda do
marido. Entregar-se a especulações sem fundamento não trazia nada além de
tristeza.
Até mesmo se ANANSI, Dorksteiger e os outros iluminados estivessem
desamparados...

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7.

O Mundo Paladino

8 a 11 de outubro 1551 NCG

— Os pobres vluandeesh e seu planeta com o mesmo nome estão condenados


a destruição — disse Sfianid. — Se não intervirmos e evitarmos a ameaça existencial.
— Como? Qual ameaça? — Perry perguntou a Rhodan, embora ele se sentisse
como se fizesse papel de tolo.
Ele tinha uma idéia bem concreta do que isso significaria. Mas, o casal
supervisor deve se divertir.
—Eu lhe mostrarei — Kauttuno ativou mais holografias.
Elas mostravam que um asteroide colidiria com o planeta dos seres
reptilianos, uma grande parte dele. Dentro de alguns anos, o impacto e os efeitos
posteriores envenenariam irremediavelmente a atmosfera e erradicaria toda vida
superior no mundo jovem.
— Você acha que esse povo primitivo merece uma chance, Perry Rhodan?
Ele não teve que pensar nisso nem por um segundo. — É claro. Não evitar tal
calamidade, se alguém tem os meios, seria um crime. Eu ficaria muito surpreso se a
penta-esfera não estivesse equipado de acordo.
— Na verdade, é fácil para nós tirar o asteroide da rota ou destruí-lo
completamente. Do que você gosta mais?
— Você queria nos mostrar os sistemas de armas. Então, comece com isso.
Mas, não torne isso muito emocionante – brincar com a sobrevivência de uma jovem
civilização é obsceno.
— Um pouco de emoção pode ser parte disso — disse Sfianid. — Mas, posso
dizer-lhe que as coisas sairão bem. Incline-se, olhe e admire!

As espaçonaves dos thoogondu tinham artilharia de impulso e desintegrador


semelhantes às dos terranos. Bem como o campo Kollten, análogo à tecnologia
terrana paratron e paros, que desviava para o hiperespaço os impactos energéticos,
opcionalmente poderia ser alternado para o modo defletor.
Em certa medida, os torpedos localizadores de vários calibres, tinham a
função dos canhões conversores. Eles descansavam em câmaras visoras, onde foram
supridos com as coordenadas pela neurotrônica e transitavam para a área alvo. A
DAAIDEM carregava um arsenal enorme deles.
Alguns desses torpedos possuíam leitores. Assim que o torpedo se
materializava parcialmente, eles “liam” a estrutura energética de um campo
defensivo oposto. Em seguida, eles modificavam o impulso de sua própria explosão
de modo que uma abertura estrutural era rasgada por uma fração de segundo.
As coordenadas da abertura estrutural que se esperava, eram transmitidas
em tempo real, imediatamente em seguida, para o torpedo atuador. Este atuador
cruzava o campo defensivo e detonava diretamente no alvo.

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— Portanto, o leitor e o atuador trabalham juntos como gêmeos — explicou
Sfianid. — Assim como Kauttuno e eu.
— Um casal mais bonito do que o outro — zombou Penélope Assid.
— Isto é lisonjeiro — respondeu Kauttuno, colocando o braço ao redor do
quadril de sua parceira.
Perry Rhodan se perguntou se eles ignoravam soberanamente o escárnio da
jovem diplomata, ou se eles não o entendiam como tal.

Como prometido, as armas DAAIDEM eliminaram o asteroide em tempo. O


povo vluandeesh foi salvo — e eles nem sequer souberam o quanto eles e seu mundo
estiveram por um triz.
—Eu tenho que admitir: a eficiência dos sistemas ofensivos me impressionou
— disse Dean Tunbridge depois.
— Provavelmente, esse foi o propósito do exercício — disse Perry Rhodan.
— O que você acha, Pen? O espetáculo foi principalmente para nos intimidar?
— Não. Os thoogondu estão longe de ameaçar de forma desajeitada. Eles
estão tão seguros de sua superioridade que isso não lhe ocorreria. Eu acho que eles
só queriam mostrar o quanto as suas armas são ótimas.
— Nada mais?
— Nada mais.
— Eles teriam salvado o planeta Vluandeesh se não estivéssemos a bordo?
— Boa pergunta... talvez a DAAIDEM não tivesse feito um desvio para lá. Mas,
então outra nave teria vindo para o salvamento em seu lugar. Os thoogondu, como
eu os vejo, não deixariam de passar sob qualquer circunstância, essa chance de se
provarem como um poder de proteção total.
— Parece lógico — admitiu Rhodan.
Não deveria ter sido o último desvio. Ao todo, de acordo com as informações
dos seus supervisores, a distância remanescente do ponto de encontro no espaço
vazio de cerca de 30.000 anos-luz foi estendida para quase 40.000 anos-luz.
Se a RAS TSCHUBAI tinha conseguido ficar com a penta-esfera, Rhodan e seus
companheiros não descobriram. Um por um, eles especularam mais de uma vez
sobre por que Puoshoor não tolerou nenhum atraso no início, mas agora mostrava
pouca pressa.
Ele era apenas um personagem inconstante? Ou ele estava fingindo?
Eles não chegaram a nenhum resultado ao qual poderiam ter concordado.

*
— Nossa jornada está chegando ao fim — anunciou Kauttuno no dia seguinte.
— Nesta ocasião, o Ghuogondu convoca a delegação terrana.
— Para a central de comando? — perguntou Báron Danhuser ansiosamente.
Isso teria sido mais do que certo para o tecnoanalista oxtornense.
— Melhor: em uma de suas salas íntimas de representação! A partir dali a
abordagem do mundo paladino é muito mais fácil de acompanhar.
Felizmente, o medo de Perry Rhodan de entrar na próxima orgia não se
tornou realidade. Desta vez, eles realmente se encontraram em um pequeno círculo.
Apenas um punhado de thoogondu masculinos e femininos estava com o herdeiro
ao trono.

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— Bem-vindo, herdeiro do Peregrino! — Puoshoor gritou. — Sente-se ao
meu lado! Você pôde aproveitar o voo?
— Ele foi divertido e instrutivo — respondeu Rhodan. — Quando nós
chegaremos?
— Em cerca de meia hora. Sirva-se se você está com fome ou com sede. Ou,
em vez disso, se a sua sede de conhecimento ainda não foi suficientemente satisfeita.
Então, isso também deve acontecer.
Rhodan assentiu com a cabeça para Danhuser. O oxtornense projetou uma
lista holográfica usando sua pulseira multifuncional e fez várias perguntas
detalhadas sobre a tecnologia gondusense.
Ele não estava no meio do caminho quando o herdeiro do trono se afastou.
— Oh, não sou muito bem versado neste campo. Contudo, eu emitirei ordens para
lhe forneçam as informações solicitadas o mais rápido possível.
— Contudo, você sabe muito sobre o Gondunat, especialmente o sistema do
governo — disse Rhodan. — O Fiador não é eleito, mas a posição é transmitida
hereditariamente, certo?
— Infelizmente. Como o título diz, o Gondu é o fiador da paz, bem-estar,
progresso, segurança, em suma: o incessante aborrecimento de um poder
incontestavelmente hegemônico. Mas, talvez vocês terranos, queiram desafiar o
Império Dourado?
— Por que e como deveríamos fazer isso?
— Enquanto você questiona a legitimidade do Fiador?
— Até o momento, eu não vejo o menor motivo. O Gondu sozinho é
responsável por tudo?
— O que você acha? Acreditar seria tolice e presunção.
Muitas coisas no Gondunat, explicou Puoshoor, seguia o modelo de
subsidiariedade. — As decisões são tomadas no nível mais baixo possível, onde a
democracia também faz sentido. O Gondu somente determina o grande e o todo. E
até ele tem conselheiros e depende dos pilares do império.
— O que se entende por isso?
Naquele momento, Sfianid relatou que o contato visual com o sistema alvo
acabara de ser feito. Em um gesto de mão moderadamente comprometido do
Ghuogondu, uma holografia se construiu.

Taqondh, o segundo planeta do sol vermelho Tizillar, parecia bastante


parecido com a Terra.
— Como não original — disse Puoshoor, sacudindo-se e fechando os olhos
teatralmente, como que nauseado.
— Você está visitando este mundo paladino pela primeira vez? — Perry
Rhodan perguntou.
— Sim. O Gondu muda a sede do governo regularmente, mas não reside em
todos frequentemente e por muito tempo. Taqondh não é um dos locais mais
importantes, apesar da proximidade com o sistema Hacdahall.
— O que há?
— Você não foi instruído sobre isso? O sistema principal e de origem dos
bondria pondh fica a apenas quarenta e três anos-luz de Tizillar.

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Rhodan estava plenamente consciente de por que ele tinha sido privado
desta informação: apontando para o sistema Hacdahall, cujas coordenadas eram
provavelmente bem conhecidas, a RAS TSCHUBAI poderia ter se poupado de toda a
perseguição!
Mas ele não se queixou. — Então, nós estamos no território de bondria
pondh?
Era um dos povos de Sevcooris que não estavam integrados diretamente no
Gondunat, mas eram apenas “aconselhados”, o que quer que isso significasse.
— É assim é. Oh, veja, o meu velho já chegou.
Puoshoor deixou que uma das milhares de espaçonaves em órbita de
Taqondh se aproximasse mais. — APOTOOLEM, a nave-capitânia de Narashim e lar
voador.
— Ela também é da classe GARANT?
A espaçonave penta-esférica assemelhava-se às proporções da DAAIDEM.
Contudo, o branco básico do Pedgondit era complementado por um brilho de
madrepérola. Os extensos mosaicos ricos em variados tons dourados pareciam se
destacar quase tridimensionalmente.
— Sim, Sim. Oh, por que a visão me cansa? E apenas esta reunião exagerada
da frota... caros amigos terranos, agora devo cumprimentá-los. Eu estou diante de
um encontro com o meu progenitor. Para isso eu tenho certos arranjos a fazer, quer
goste ou não.
— Quando terá lugar a audiência para qual eu fui oficialmente convidado?
— Eu não sei. Mas logo, certamente, amigo Rhodan. Não se preocupe. Sua
paciência não será testada por muito mais tempo.

— A DAAIDEM também ocupa posição de estacionamento em órbita — disse


Kauttuno ao terrano no caminho de volta. — Você gostaria de dar uma olhada ao
redor pela superfície do planeta? Nós ficaremos felizes em acompanhá-lo e seus
seguidores, também com uma escolta maior a pedido.
— Embora não haja perigo em Taqondh — acrescentou Sfianid. — Os bondria
pondh são muito amorosos e disciplinados.
— Não é necessário. Vocês são suficientes para nós — respondeu Perry
Rhodan.
— Tudo bem. Nós vamos buscá-los assim que pudermos organizar um
escaler.
— Obrigado.
Rhodan estava curioso sobre o mundo paladino. Especialmente quando se
tratava dos “associados”, muitas vezes era possível ler o que um império realmente
era.
Ele aguardava ainda mais ansiosamente pela audiência com o Fiador. Ele se
lembrou da mensagem que o Gondunat lhe enviara na Via Láctea:
O Peregrino desistiu de sua concentração de poder. Seus povos estelares estão
livres novamente. Contudo, a fuga do Peregrino, despertará os desejos de outros
poderes mais sombrios e destrutivos.
Nós, o povo expulso, oferecemos nossa proteção.

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Nós convidamos o Herdeiro do Peregrino a unir forças conosco. Siga o farol do
Império Dourado!
Se a Via Láctea quer viver, precisa da aliança entre você, a humanidade e o
Gondunat.
Nós contamos com você, Perry Rhodan.
Rhodan ainda achava que foram afirmações bem pomposas e bombásticas. O
Gondu ou seu filho seriam capazes de mantê-las?

Em 10 de outubro, eles desembarcaram em Taqondh.


Embora Perry Rhodan tivesse pedido que se fizesse pouco alarido quanto
possível sobre ele e seus companheiros, o oposto foi o caso. Imediatamente, eles
foram conduzidos pelos bondria pondh para toda uma série de compromissos
oficiais.
— Os representantes da população principal deste mundo paladino — disse
Sfianid se desculpando —, ouviram a notícia de que você é o convidado de honra do
Fiador e do Ghuogondu. Consequentemente, eles apreciam sua presença.
— Então, eles ouviram — disse Penelope Assid. — De que fonte?
— Rumores estão se espalhando rapidamente...
— Você não vai me persuadir de que o Gondunat não controla os canais de
notícias locais.
— Eu não sei nada sobre isso.
— Realmente agora? — Pen Assid pavoneou-se para o thoogondu.
Ela se moveu incrivelmente depressa, girou várias vezes em torno do próprio
eixo, muito além do permitido e aconselhável a uma bailarina principal. Rhodan
percebeu que naquele momento ela estava usando conscientemente seu exterior
desagradavelmente colorido, bem como sua fraca parahabilidade.
— O que você está fazendo? — Kauttuno perguntou defensivamente.
— Honestamente, entre nós – você realmente faz parte da Inteligência
Gondunat?
Kauttuno recuou assustado. Ele ficou tenso e caiu de joelhos, inclinando-se
para a frente como se estivesse prestes a enrolar seu corpo em posição embrionária.
Sua irmã gêmea, por outro lado, manteve sua postura, embora visivelmente
com dificuldade. — Dos observadores? Não é o que sabemos.
— O que isso deveria significar? — Pen Assid pressionou. — Você sabe, ou
não sabe?
— Eu sei — disse Sfianid superficialmente —, tanto quanto você.
— O que?
Mais uma vez uma chamada interferiu.

Isto dizia respeito ao esclarecimento de uma questão de protocolo.


Se Perry Rhodan, como o Herdeiro do Peregrino, deveria ser tratado como
equivalente ao Fiador Narashim? Ou, ao invés disso, com o termo "herdeiro"
insinuava, como Ghuogondu?
— Nenhum dos dois — Rhodan tentou esclarecer. — Na minha galáxia natal,
nós tentamos há muito tempo equilibrar as numerosas forças e grupos de poder. No

43
momento, eu só ocupo o cargo de representante especial e chefe da nossa expedição.
Em suma, eu quero ser tratado como um simples turista.
— Sem chance — foi a resposta de Sfianid. — Você vem de longe. Para o
Gondunat, você é imensamente importante. Mais ainda: Obviamente, mais
importante do que qualquer outra delegação de povos estrangeiros ou grupos de
poderes que eu possa imaginar, pelo tempo que posso me lembrar.
— Nós não viemos por nossa própria iniciativa — disse Perry Rhodan. —
Pelo contrário, nós fomos atraídos para Sevcooris.
— Justamente! — Kauttuno, que havia se recuperado rapidamente do seu
infortúnio, estalou com sua carapaça corporal. — O Gondunat fez um grande esforço
para contatá-lo através de uma distância intergaláctica gigantesca. Por isso, você não
pode resistir a ser recebido com as maiores honras em Taqondh.
Suspirando, Rhodan se submeteu ao seu destino. — Então, por favor, o
menor, isto é, o herdeiro ao trono.
Obscuramente, ele se lembrou o que lhe havia sido profetizado há algum
tempo, que herdaria uma vez o universo inteiro. Ele estremeceu com esse
pensamento.

O segundo planeta do sistema Tizillar acabou por ser um mundo idílico com
muitas reservas naturais em grande escala.
As cidades jaziam entre elas, onde dois estilos arquitetônicos completamente
diferentes coexistiam de forma relativamente harmoniosa. Os edifícios palacianos
thoogondu estavam em desvantagem numérica. Eles se erguiam aninhados da
paisagem, devido às suas formas suaves e fluidas de prédios orgânicos dos
colonizadores, como flores cristalinas de musgo exuberante.
Em suma, eles pareciam mais decorativos do que perturbadores ou mesmo
excessivamente pretensiosos. Mais uma vez, Perry Rhodan teve que conceder ao
Gondunat que, com toda modéstia, provou ter um estilo.
Os bondria pondh eram octópodes. Presumivelmente, em algum ponto no
curso de sua evolução tinham deixado o mar para trás, se estabeleceram em terra e
tinham-se adaptado a este modo de vida.
Eles caminhavam eretos, em quatro de suas oito extremidades. As duas
superiores agiam como braços instrumentais, os mais finos inferiores, eram
divididos em lóbulos preênseis.
Sua pele era azul pálido. O rosto que era dominado por um bico de papagaio
e forte, que podiam cobrir com dois lóbulos.
As vozes soavam altas, estridentes e agudas, mas Perry Rhodan e sua equipe
se deram bem com isso. Eles nem sequer tiveram que tentar os amortecedores
acústicos em seus SERUNS.
Juntamente com os núncios e mentores thoogondu, os líderes planetários dos
bondria pondh desenvolveram inúmeros programas de entretenimento para o
Fiador e seu sucessor designado, que agora se adaptaram a Rhodan e seus
companheiros. O resultado foi uma série de recepções, apresentações e encenações,
todas as quais foram luxuosamente concebidas, mas em última análise
insatisfatórias. Novas descobertas decisivas não puderam ser obtidas delas.

44
Contudo, Rhodan e seu pessoal deram uma boa olhada nas apresentações de
péssimo gosto. Pelo menos eles perceberam que toda a população do planeta estava
assistindo.
O Fiador do Império Dourado não ficava neste mundo paladino há décadas.
Todos estavam sedentos pelo momento em que Gondu Narashim se mostraria aos
seus súditos.

No meio da capital, Khodnerez havia um quadrado de torres que formavam


os pontos de esquina de uma praça.
Eles estavam atados por pontes graciosas. Surgiram outros pontos de ligação,
que recordaram pontes levadiças para Perry Rhodan.
— O paladino do Fiador logo tomará seu lugar nesta estrutura — disse
Kauttuno. — O palácio itinerante do Gondu.
— Ele não vem com a sua nave capitânia? — Rhodan perguntou.
— Sim, mas..., a POTOOLEM pousará amanhã, em um espaçoporto construído
especificamente em frente à capital. Você quer visitá-la?
Penélope Assid sacudiu a cabeça e abriu a boca. Mas, finalmente, Perry
Rhodan foi mais rápido. — Com prazer.
Báron Danhuser riu. Do mesmo modo divertido, Dean Tunbridge ofereceu
sua bolsa ao diplomata: — Nozes agradáveis?

O oval aterrissado media nove quilômetros no eixo longo, e sete no curto.


Ele era revestido com uma camada de Pedgondit, que se relacionava ao
terconite, o metalplástico brilhantemente branco. Tal como acontecia com as
espaçonaves thoogondu, estava adornada com incrustações douradas brilhantes,
mais do que qualquer penta-esfera, exceto a do Gondu. Aparentemente, os mosaicos
deveriam perpetuar as façanhas do Fiador atual em imagens às vezes concretas, às
vezes abstratas.
— Se realmente ele fez tudo aquilo sozinho — disse Pen Assid —, ele é muito
mais velho do que pensávamos.
— Você pode dizer muito — disse Báron Danhuser. — Nós conhecemos
inúmeros exemplos de adoração retrospectiva de heróis da história. Eu...
— Espere um minuto! — Perry Rhodan disse. Ele havia notado algo.
Entre a multidão de cenas heroicas e representações estranhas, havia
também a imagem de uma espaçonave. Um pouco estilizada, mas inconfundível:
uma espaçonave esférica com protuberância anelar.
Rhodan estreitou os olhos, deslizou o capacete do SERUNS e ativou a função
de ampliação da câmera incorporada. Ele tentou ler a inscrição.
As letras vinham do alfabeto gondunin. Devido à resolução granulada, eles
não podiam ser decifrados com total certeza, apesar de todos os filtros ativados pela
micro positrônica.
Mas, eles provavelmente deram um nome chocantemente familiar: ORION.
Danhuser, que tinha feito o mesmo que Rhodan, deu um assobio suave. —
Como isso veio parar aqui?

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— Eu sinto muito — disse Sfianid —, mas devemos afastar-se deste lugar. A
ordem acabou de ser emitida para que se evacue o campo de pouso. As ordens
preliminares do Gondu o protegerão hermeticamente em breve.
ORION, pensou Perry Rhodan. Ele sentiu o calafrio correr pela espinha.
A imagem de uma nave aparentemente terrana, que recebeu o nome de um
setor historicamente e estrategicamente significativo da Via Láctea... isso poderia
ser coincidência?
Sim. Com certeza.
Ou o passado o alcançou, como tantas vezes? Teria havido uma conexão
muito mais histórica entre Sevcooris e a inimaginável Via Láctea, a 111 milhões de
anos-luz, do que ele havia acreditado anteriormente?

No dia seguinte, 11 de outubro, NCG, a POTOOLEM pousou silenciosamente


e serenamente.
A partir da esfera traseira de 2000 metros, foi descarregada uma estrutura,
um imponente cubo com quinhentos metros de borda. Ele flutuou para a cidade de
Khodnerez, para a praça preparada das torres, e se conectou com elas sobre as
pontes levadiças dobráveis.
— O Paladino se instalou e ancorou — disse Sfianid solenemente. —
Narashim, nosso Gondu, o Fiador, está conosco. Ele abençoa e nos deleita com sua
presença.
Perry Rhodan deu a Pen Assid um olhar agudo e questionador. Isso acenava
uma insinuação.
"Nosso supervisor não mente, isso deve significar algo". Depois de tudo o que
o jovem diplomata percebeu e coletou, Sfianid falava a verdade.
— Quando começa a audiência? — Rhodan perguntou.
— Em breve — disse Kauttuno. — E tenha a certeza, herdeiro do Peregrino,
que você é um dos primeiros da fila.

46
8.

O Maldito Rastreador

11 de outubro de 1551 NCG

Cascard Holonder permitiu que se realizasse mais manobras nas


proximidades.
Os cruzadores MARTE foram lançados, e por sua vez, lançaram todo um
enxame de escaleres. Em primeiro lugar, isso trouxe um pouco de variedade para as
respectivas tripulações; em segundo lugar, sinalizou a qualquer observador remoto
que as liberações anteriores não tinham sido relacionadas à ocasião, mas também a
rotina.
Terceiro — e o que era verdade — os respectivos departamentos de rádio e
localização estavam se observando. Raramente, as unidades individuais de uma
nave portadora se espreitavam mutuamente.
Mas, nada aconteceu. Nenhum dos técnicos altamente motivados pôde medir
uma irregularidade.
Enquanto boa parte da frota de naves auxiliares operava sem sucesso no
espaço vazio, Holonder convocou uma comissão de especialistas.
— A questão central é — ele abriu a reunião. — Como o rastreador conseguiu
enviar o impulso orientador sem que nós não registrássemos nada? Olwar?
— Bem, nós estivemos usando o método extremamente compactado de
mensagem de rádio condensada, por meia eternidade — disse o imartense. — Ping,
e a mensagem se foi. Você precisa de uma certa quantidade de energia de
transmissão, mas não de muitos dados.
— E não se precisa enviar permanentemente, certo?
— Um único impulso por mudança de localização é suficiente.
Isso atendeu as considerações de Holonder. — O rastreador poderia estar
relacionado aos propulsores? Isso significa que ele é ativado pelos saltos
superluminais?
— Teoricamente possível — disse Kriff Dnotz, o técnico em campos
defensivos despachado pelo departamento de máquinas de bordo. — Mas, muito
improvável. Suas emissões são filtradas de forma urgente. Afinal, elas seriam as mais
reveladoras. É por isso que as amortecemos com todas as regras da arte.
— Entenda-me, eu não estou lhe culpando. O que quero dizer é: poderia um
programa de danos contrabandeado produzir um pequeno vazamento nos campos
em cada etapa por frações de um segundo? De modo que o impulso seja gerado
indiretamente?
— Nós ainda notaríamos isso de qualquer maneira — disse Olwar. — O mais
tardar na segunda ou terceira vez, até mesmo o desvio mais ínfimo seria registrado,
fora da TSCHUBAI por suas naves auxiliares, bem como internamente — O chefe de
localização começou, e acariciou uma mecha roxa de sua testa. — A menos que...
— Sim?
— A menos que o rastreador envie de qualquer lugar a cada vez.
— Ele é – móvel! — gritou Briony Legh. — Sim claro!
Holonder falou com ANANSI sobre isso. A semitrônica confirmou uma alta
probabilidade para essa suposição.

47
O que foi a razão de redirecionar as suspeitas novamente para os Espíritos
Guardiões...

— Eu devo desapontá-lo — disse Delak, o representante do departamento de


segurança do conselho. — Os quatro co-conspiradores suspeitos ainda estão
discretos. Amauran Aist e Chiara Logau estão sob custódia, e Uma Lee e Myrrdin
Hawk raramente deixam suas cabines. Nesses casos, eles se movem apenas nas
imediações.
— Eles eram mais frequentes na Ogígia — Taeller tinha ouvido Lee e Aist lá,
lembrou Cascard Holonder.
— Não desde os dias da perseguição. Nem uma vez. Sem os tivemos sob
vigilância.
— Merda. Quem ou o que mais está a caminho? Um robô sequestrado e
semiautônomo? Ou mais?
Kriff Dnotz balançou a cabeça. — Não há chance de atualizar um dos nossos
modelos com um hiperemissor ou um disruptor de campo defensivo altamente
desenvolvido para se esconder de nós e ANANSI.
— Nós devemos assumir que esta é uma tecnologia até agora desconhecida e
de alta qualidade — advertiu Shalva Shengelaia, que também estava ligado a
semitrônica que ele também supervisionava. — Mas, mesmo sob essa premissa, eu
concordo com o Kriff. As unidades robóticas móveis são limpas e nós temos controle
de cem por cento sobre elas.
— Isto igualmente se aplica aos colegas e ao computador de bordo dos
escaleres — explicou o engenheiro de campos defensivos.
Frustrado, Holonder bateu na mesa com os nódulos da mão direita. — Não
há nenhum vestígio do instigador, esse Barong?
Delak confirmou. — Nenhuma evidência. Nada e ninguém tentou entrar em
contato com um dos quatro suspeitos. Nossa vigilância é impermeável, eu poderia
jurar isso. Desculpe, nós estamos completamente no escuro.
— Portanto, ainda não é possível descartar que Barong seja um pseudônimo
de Yerrem Karatas — disse Shengelaia.
— Você mesmo não acredita nisso! — Briony Legh apertou os lábios largos e
cheios. — Que tipo de... — ela pronunciou uma maldição.
Mas, Holonder passou por cima disso. Ele entendia seu primeiro piloto muito
bem.
Ele também gostou muito dela. Briony era excepcionalmente alta para um
epsalense de 175 centímetros e tão incomumente não musculosa, embora de forma
alguma fraca.
Seu marido, Kriff Dnotz, pesava a metade. Não obstante, os dois pareciam
muito felizes. É era por isso que ninguém fazia piadas sobre o casal desigual, nem
mesmo os blasfemos mais desagradáveis das tropas espaciais de desembarque.
— Eu estou tão preocupado com isso quanto você — disse Cascard Holonder
calmamente. — Que alguém colocou um cuco no ninho e não podemos identificá-lo
me deixa com raiva.
Ele recebeu um murmúrio de aprovação, bem como uma ou outra, expressão
igualmente forte de insatisfação.

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— Mas, apenas nesta situação, nós precisamos manter a calma e não deixar
nossa atenção diminuir. ANANSI, verifique todos os diários e outros registros. Deve
haver uma pista para este maldito rastreador!
— O que eu deveria buscar nos dados?
— Por irregularidades de qualquer tipo. Além disso, especialmente em áreas
que não incluímos em nossas considerações até agora. Todo detalhe pequeno pode
ser importante.
— Há algo, comandante.

— Deixe-me ouvir — Holonder recuou para trás.


— A clínica de bordo registou um ligeiro aumento na ocupação por alguns
dias. Nada que não esteja dentro da faixa de flutuação estatística usual. E não há
doenças preocupantes.
— Mas?
— Entre aqueles que foram admitidos em cuidados hospitalares, quase todos
são membros da tripulação da central de comando e os que ocupam nível de gestão
de alto escalão da RAS TSCHUBAI.
— Me dê Matho Thoveno!
Imediatamente pipocou uma holografia. E formou o chefe do departamento
médico.
— O que é isso? — O ara perguntou, mal-humorado como de costume. — A
perturbação é inconveniente. Nós estamos ocupados agora.
— É disso que se trata — disse Cascard Holonder. — Você pode me explicar
em frases tão curtas quanto possível, e sem qualquer linguagem técnica, o que os
colecionadores dos últimos dias têm em comum?
— Eles estão doentes — retumbou Thoveno, cuja careca pontiaguda estava
coberta por um pano vermelho. — Foi tão curto e amador o suficiente?
Holonder absteve-se de uma repreensão. Ele conhecia e apreciava seu
médico chefe há muito tempo, e aceitava estoicamente seu ego às vezes
demasiadamente autoritário como um prêmio por ser um ótimo profissional. — Por
que eles estão sendo tratados?
— Nós temos duas lesões esportivas, uma queimadura de segundo grau
devido a um acidente no trabalho...
— Matho. É possível identificar uma tendência, além de incidentes normais?
Por exemplo, com um grupo de oficiais ou outras pessoas de patente maior?
— O que te faz pensar isso?
— ANANSI.
— Os registros dos pacientes são protegidos pela privacidade.
— Eu sei disso. Mas você não vai acreditar, nós percebemos, de qualquer
maneira, se alguém está doente. Porque isso também tem uma influência sobre a
manutenção da operação da nave — De repente, Holonder lembrou-se de algo. —
Fabienne Iukik, o "pé de feijão" do corpo diplomático, ainda está com você?
— Sim.
— O que ela tem? — Iukik tinha seu apelido pelo fato de que ela era magra e
muito mais alta do que a maioria dos outros terranos.
— Sintomas leves de náusea, mal-estar geral, bem como ansiedade associada.
Certamente nada de ruim. Nós ainda não a liberamos...

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— Porque você não sabe o que está por trás disso!
O ara ficou rígido, se isso fosse possível. Suas feições congelaram. A boca
tornou-se uma linha estreita, exatamente horizontal.
Holonder tinha acertado no alvo, mas ele não triunfou nem um pouco. — Mais
uma vez, Matho. De onde as queixas de Fabienne vieram? Será possível que ela tenha
sido a primeira a experimentar esses sintomas, e que depois alguns outros vieram
até você com o mesmo sofrimento?
— Eu protesto de toda forma contra esse sarcasmo inapropriado, senhor
comandante. Não há nenhum motivo para ser pessoalmente ou mesmo para se
submeter a uma violação do dever entre as linhas.
Holonder percebeu que ele tinha que oferecer a seu camarada de longa data
uma brecha para que Thoveno pudesse salvar o rosto. — Você teria relatado há
muito tempo se você tivesse pesquisado suficientemente as causas da acumulação
de casos similares.
— É assim. Todo o resto teria sido um alarmismo. É desnecessário dizer que,
como não há sinais de perigo pessoal ou impacto potencial na totalidade para a RAS
TSCHUBAI.
— Nada que não seja curável?
— Claro. Dentro de alguns dias, caso contrário...
— Bem, Matho — Cascard Holonder interrompeu o ara com o ego enorme, e,
portanto, suscetível. — Quantos casos existem e o que os conecta, exceto os
sintomas?

— Vinte e sete. E sim, você está certo, Fabienne Iukik foi a primeira —
admitiu Thoveno – o que, obviamente, não foi fácil para ele.
— Certamente você já tem uma hipótese...? — Holonder ofereceu a
assistência argumentativa ao médico chefe. — Uma que não estela madura o
suficiente para apresentá-la em uma situação de crise.
— Crise... que tipo de crise?
Cascard Holonder sorriu gentilmente. — O que você atribui ao acúmulo de
significativamente de enfraquecimento semelhante da situação de saúde
atualmente?
— Envenenamento — respondeu o ara. — Mas, é apenas um dos vários
diagnósticos possíveis...
— Oh, não fique usando sempre 'se' ou, 'mas'! — exclamou Briony Legh
enfurecida. — O que poderia ter envenenado Fabienne e os outros?
— É relativamente provável — disse o homem magro na holografia —, que
os vinte e sete pacientes da minha clínica, estejam envenenados por hipercristal. Uma
muito leve e fácil de tratar.
— Bom. Agradecemos. Obrigado pelas palavras francas — disse Holonder. —
Próximo passo. O que liga as pessoas afetadas? Elas estiveram em áreas da nave
onde as contaminações pelas irradiações poderiam acontecer mais rapidamente?
Sobre nas áreas dos propulsores?
Pelo canto do olho, ele viu que Kriff Dnotz agitou os braços
descontroladamente para protestar. Holonder deu-lhe um olhar agudo que fez com
que o engenheiro de bordo que queria defender sua profissão, ficasse parado.

50
— Não, nenhum deles — Matho Thoveno respondeu à pergunta. — Nem
mesmo com as torres de artilharia. Isso é estranho. Em nenhum outro lugar, eles
poderiam ter entrado em contato com emissões erráticas de hipercristais. A situação
é extremamente difícil.
— Então. O que você conclui disso?
O ara alcançou o lenço de cabeça com dedos delgados e puxou para si. — É
isso. Eu não tenho conclusões definitivas para oferecer... eu sugiro...
— Não — disse Holonder com severidade. — As sugestões não contam agora,
a menos que não se ajustem a minha ordem.
— Qual ordem? — O ara perguntou intrigado.
— Que bom que você perguntou: na atual emergência, você está liberando
toda a capacidade disponível de sua seção imediatamente para responder a seguinte
pergunta: O que as pessoas afetadas têm em comum, exceto os sintomas e se são
membros da tripulação de alto escalão?
— Isso é o que fazemos...
— Com todas as possibilidades, material, pessoal, tempo — explicou
Holonder.
— Nós vamos...
— Você terá mais recursos: inclua ANANSI em maior medida do que antes!
Os outros departamentos também, especialmente a tecnologia e segurança a bordo,
estão sob sua direção neste caso! — ele assentiu com a cabeça para Delak, que
também assentiu violentamente.
— Ordem entendida. Será executada imediatamente — disse Thoveno, que
não mostrou o que sentia.
Holonder agradeceu e desligou. Se ele fosse honesto consigo mesmo, ele não
teria podido dizer se eles não estavam seguindo um caminho errado novamente.
Mas, o coronel Cascard Holonder não viu outra palhinha na qual pudesse se
agarrar.

51
9.

Finalmente: a audiência

11 de outubro NCG

Perry Rhodan recebeu uma chamada de rádio de maior prioridade e


classificação.
Era Puoshoor. — Como é isso, herdeiro do Peregrino?
— Para ser honesto – eu estou um pouco entediado, herdeiro do Gondunat.
Eles nos mostram ao redor, nos mostram atrações locais... em alguns casos, não são
espetaculares e não carecem de estímulos arquitetônicos ou geológicos. Sfianid e
Kauttuno faz todos os esforços para adoçar a nossa estadia. Mas, no total... —
— Bem-vindo ao meu mundo, Perry Rhodan!
— Eu pensei que Taqondh fosse apenas um dos muitos e ainda novo para
você?
— Certo. Mas, você ainda não viu tantos planetas tão indescritíveis
adequados ao nosso modo de vida que as diferenças rudimentares não podem mais
fasciná-lo?
Rhodan, que de outra forma não tinha caído na lábia dele, hesitou em dar uma
resposta. Ele sentia-se apanhado e entendido de uma maneira que o desagradava.
— Nunca é o suficiente — ele transmitiu de volta. Evasivo e irritantemente
banal para ele. — Seja o que for. Finalmente está acontecendo?
— É por isso que eu estou ligando. Aliás, eu também estou na cidade
Khodnerez, tão magnífica. A audiência com o Fiador acabou de começar.
— Com o Gondu, seu pai.
— Por Narashim, exatamente, o governante inquebrável e infalível desse
império estelar. Eu o convido a me acompanhar até lá.
— Eu tenho escolha?
— Claro. Você pode recusar. Recue, volte para a sua galáxia doméstica, que
você considerou com o nome bastante ridículo ‘Via Láctea’. Mas, então você não
obteria respostas para as perguntas que o torturam.
“O Ghuogondu constantemente lança armadilhas para você, como acontece
casualmente”, lembrou Perry Rhodan, como Penelope Assid lhe havia dito. “Não faça
o favor a Puoshoor de cair nelas! Ele está apenas esperando por isso. Deixe-o
continuar em vez disso. A informação é a mercadoria mais importante e mais valiosa
do cosmos. Não dê nada sem, pelo menos, um contra proposta adequada!”
Rhodan não gostou da visão que se escondia atrás do conselho da jovem
diplomata. Contudo, no momento ele estava certo, no entanto. — Quando?
— Quando você quiser.
Uma holografia foi exibida sobre a ligação de rádio. Ela mostrava a seção
cúbica da penta-esfera POTOOLEM, que estava ancorada na praça das torres e
pontes da estrutura paladina de Khodnerez. Escadarias se estendiam dos quatro
lados, sobre as quais agora fervilhavam pessoas.
A maioria era bondria pondh, os thoogondu eram em menor número. Rhodan
também reconheceu membros de muitos outros povos de Sevcooris: por exemplo
sheoshesenses, que se assemelhavam a grandes aves corredoras com plumagem
azul profundo. Os seres cibernéticos, que vinham dos zeé brancos ou vermelhos,

52
também se aglomeraram nos degraus, os emissários de muitas outras civilizações,
às vezes até mais exóticas.
— Há muita pressão — disse Perry Rhodan.
— Todo mundo quer ver e falar com o Gondu.
— Seria o tempo — disse Rhodan friamente —, para você me esclarecer qual
seria o propósito da sua ligação.
— Vamos lá, meu caro. Nós estamos perto disso.
— Mas, alguns fizeram isso antes de nós.
— Isso seria se você fosse do povo comum. Mas, você e eu, estamos acima dos
outros. É por isso que chegaremos por cima. Nós pousaremos no telhado do
paladino.
— Não sem minha equipe.
— Eu não quero lhe negar isso, mesmo que esses personagens menores
sejam dispensáveis e podem até se tornar irritantes. Vá em frente!

Após terem pousado no telhado plano do segmento do cubo de cor


madrepérola cintilante, coberto de incrustações douradas e entrelaçadas, figuras
marciais impediram que eles entrassem no interior.
Provavelmente, elas eram humanoides. Na medida em que estavam eretos,
cada um tendo dois braços e pernas dispostos simetricamente, e acima do tronco
uma espécie de cabeça abaulada em todas as direções. No entanto, corpos como
caveiras estavam escondidos sob uma armadura de alta tecnologia que consistia em
muitas camadas diferentes.
Perry Rhodan não tinha dúvidas de que cada uma dessas superfícies flexíveis
de cor cinza esverdeada a preto tinha propriedades especiais. Ele ligou a câmera
infravermelha de seu SERUN-SL. Mas, nada mudou.
Sem assinaturas de calor, como em qualquer outro lugar ao alcance dos
thoogondu. Esses caças eram combatentes sem rosto, anônimos, frios, e
provavelmente não por acaso.
— Gaones — Puoshoor sussurrou para ele. — Os melhores guarda-costas que
você pode imaginar. Sua armadura consiste de Pedgondit com dispositivos de
camuflagem incluídos. Seu coração quente não possui mais que fidelidade ao Fiador.
— Ciborgues?
— O que você acha? Nós, thoogondu somos amigos da vida. Por que devemos
usar escravos cibernéticos ou outras formas híbridas?
— Por que você pode?
— Você não pode?
— Isso não é resposta.
— Você não fez uma pergunta séria que mereça uma resposta, caro Perry
Rhodan.

Por mais que se esforçasse, Rhodan não sabia o que fazer com o seu
interlocutor.

53
A cada instante o Ghuogondu mudava seu comportamento. Obviamente, ele
gostava do papel do caráter imprevisível, sempre errático.
Enquanto isso, no entanto, Perry Rhodan considerou que isso também fosse
apenas uma máscara. Quantas vezes Puoshoor ainda seria aparentemente ele
mesmo?
Repetidamente, ele sugeria que não lidava nem com seu papel como herdeiro
do trono ou com seu pai, o autocrata sobre uma galáxia inteira. Repetidamente, ele
tentou estilizar-se aos visitantes da Via Láctea como se opondo ao Gondunat; a única
oposição.
Era um pouco preguiçoso se Perry Rhodan confiasse em seu instinto. Ele
conhecia o suficiente sobre sistemas de poder monárquicos. Não menos importante,
porque ele mesmo tinha sido atribuído mais de uma vez para assumir a posição do
governante com autoridade total.
Ele até tinha assumido por muito tempo. Embora ele tivesse sido chamado a
fazê-lo por escolha, desde o início ele nunca se sentiu completamente confortável.
A frase curta, porém, que definiu uma tendência "Eu sou um terrano", foi a
primeira a vir sobre seus lábios, se todos os escritos históricos não fossem
enganosos. Como um primeiro entre semelhantes. Porque foi assim que ele se viu a
si mesmo, e seus companheiros de tempo e espaço: como iguais em princípio.
Isso também se aplicava a Puoshoor, o príncipe herdeiro do Império
Dourado?

— Eu sou o Ghuogondu. Eu desejo entrar porque fui convocado pelo Fiador.


— Diga seu nome! — Soou abafado de uma das máscaras faciais escurecidas.
— Não.
Estalando, elementos de comutação se destravaram. Os gaones destravaram
suas armas de fogo.
Puoshoor não parecia impressionado. — Você sabe o que pode fazer comigo?
Não atirar, por exemplo. E você sabe por que não?
— Segundo e último aviso. Faça sua legitimação, caso contrário...
O Ghuogondu agarrou seu nariz achatado plano. Ao mesmo tempo, soou um
ruído de encaixe. — Do contrário?
— Eu lhe imploro! — interpôs Perry Rhodan. — O que são esses jogos,
Puoshoor?
— O nome foi mencionado. Isso é suficiente. Você pode entrar no paladino do
Fiador — O gaone abaixou a arma.
— Que eu goste ou não — disse Puoshoor, dando um ligeiro empurrão contra
o ombro do guarda fortemente armado —, nunca foi para um debate.

Rhodan estava irritado porque tinha sido tentado a pronunciar o nome do


Ghuogondu para acabar com a farsa. Por conseguinte, a cena só serviu para
Puoshoor demonstraram o quanto era fácil manipulá-lo.

54
Através de várias escadarias magníficas e rampas, eles chegaram ao
auditório. Pouco antes de entrar, Penélope Assid enviou uma mensagem de texto: —
Eu tenho uma sensação estranha. Os sinais não estão corretos. Algo é iminente.
— Você pode comprovar isso? — Rhodan respondeu. Assid foi entre outras
coisas xenosemiótica. — Que sinais? O que...
Justamente, os dois gaones de guarda abriram as duas folhas da porta de
cinco metros de altura. Ao mesmo tempo, o canal de comunicação se extinguiu.
Evidentemente, rádio particular era suprimido no salão.
Perry Rhodan estava preocupado. O que fazia a jovem diplomata paradotada
sentir uma atmosfera ameaçadora?
A área era grande, semelhante a uma catedral, com uma planta oval de solo.
De ambos os lados estreitos, se posicionavam portais. Enquanto apenas ela e seus
companheiros estavam de pé ao lado dele e de Puoshoor, um grande fluxo de
convidados da audiência se movia em direção ao centro pela porta oposta.
Lá estava o trono do Fiador — uma estrutura estranha para os olhos terranos.
Era uma estrutura cilíndrica fechada, embora de turquesa transparente.
Por enquanto, Rhodan não conseguiu ter um vislumbre do Gondu.
Numerosas pessoas, provavelmente cortesões, cercavam o trono cilíndrico, tão
densamente que obscureciam a vista do interior.
A música instrumental discreta enchia o salão e um murmúrio de vozes.
Perry Rhodan inclinou-se para Puoshoor. — Eu suponho que você vá se empurrar
para frente?
— Eles vão me obrigar. Afinal, eu sou...
Rhodan não ouviu o resto da frase, porque naquele momento o caos estourou.

Disparos de raios silvaram. Soaram gritos estridentes de dor.


Formas individuais caíram ao chão, contorcendo-se em agonia. Outras
apareceram do nada.
Eles eram os agressores! Eles usavam trajes de combate de vários projetos.
Presumivelmente, mantinham-se escondidos atrás de campos defletores.
Eles dispararam. Mas não ao acaso, justamente visando os guardas presentes.
— Protejam-se! — gritou Perry Rhodan. Reflexivamente, a mão direita foi
para o coldre no quadril — apenas para encontrá-lo vazio.
Eles haviam deixado seus combiradiadores na DAAIDEM e não foram
recuperados desde...
O SERUN construiu um campo defensivo individual. Rhodan duvidava que a
proteção fosse suficiente em longo prazo. Se ele interpretou corretamente os efeitos
de armas, os intrusos usavam vários radiadores, mas também rifles de projétil e até
arcos de alta tecnologia.
De onde eles vieram? Como conseguiram se esgueirar para a sala de
audiência?
Perguntas inúteis, agora. Agora, tratava-se da sobrevivência.

55
Perry Rhodan mergulhou atrás de um arranjo floral que oferecia cobertura
duvidosa, mas pelo menos uma certa privacidade. Ele olhou em volta para seus
camaradas.
Dean Tunbridge apenas arrancou a jovem diplomata consigo. Os seus quatro
campos defensivos se uniram em uma bolha protetora comum. Cintilaram faíscas,
provavelmente dos impactos ricocheteando, o que felizmente não causou nenhum
dano.
O especialista do esquadrão se arrastava, enquanto Pen Assid sem esforço,
rastejou alguns metros mais longe da linha de fogo. Ao mesmo tempo, Báron
Danhuser descaradamente afastou o Ghuogondu com o mesmo objetivo: colocar o
cilindro do Fiador entre ele e os invasores.
Rhodan tentou obter uma visão geral. Mas, havia um tumulto total — tal
confusão visual, acústica e gravitacional que até os filtros dos SERUNS especiais não
puderam fazer nada contra isso.
Perto, ondulou uma névoa densa e negra. Repentinamente despedaçada por
lampejos ofuscantes. Ruído ensurdecedor. Vibrações que abalaram as pernas.
Sem efeitos desconhecidos. Presumivelmente, desencadeados por granadas
apropriadas, como também as temos no arsenal.
Contudo, esse conhecimento ajudava muito pouco. Perry Rhodan percebia
seus companheiros apenas vagamente.
Por meio dos sinais de mão e gestos da frota espacial terrana previstos para
tais casos extremos, Tunbridge freneticamente sinalizava que uma retirada não era
aconselhável. Ele estava certo.
Imediatamente depois, no portal aberto atrás deles, apareceram os
contornos de quatro, cinco e seis gaones. Os guardas dispararam de forma
imprudente em tudo que se movia.
Como muitas vezes em situações críticas, a percepção de Rhodan acelerou e
forçou os eventos em uma espécie de movimento lento. Ele reconheceu com uma
precisão quase clínica que os gaones o poupavam deliberadamente, seus
companheiros e não menos o Ghuogondu.
As salvas barulhentas de suas armas de raios pararam bruscamente, em vez
de varrê-los e penetrar nos campos defensivos. Tecnologia inteligente, sem dúvida,
programada para distinguir amigos e inimigos.
Muitos outros convidados da audiência foram menos afortunados. Eles foram
ceifados de ambos os lados.
Dano colateral...
Os defensores não se preocuparam muito com o trono do Fiador.
Aparentemente, a estrutura cilíndrica era capaz de proteger-se e seu conteúdo.
Foi o que Perry Rhodan pensou. Mas ele estava errado.

De repente, tudo ao seu redor tornou-se branco, mais claro, até mesmo como
Pedgondit. Ao mesmo tempo, retumbou tão implacavelmente alto e agudo e que ele
quase perdeu os sentidos.
Alguém detonou uma bomba.
Então: apenas algumas imagens.

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Instantâneos de uma batalha. Pessoas que atiravam. Pessoas que eram
atingidas. Clique, clique, como uma apresentação de slide da juventude de Perry
Rhodan.
Moribundos. Mortos. Cadáveres.
Thoogondu, bondria pondh, membros de outros povos.
Um congelamento letal. Subitamente rasgado bruscamente com o súbito
surto de violência.
Tudo voava pelos ares. Surpreso, Rhodan percebeu que ele também fora
afetado.
Alguém detonou uma bomba. Mais uma.
Fraquejando pateticamente, o SERUN relatou sobrecarga; a integridade do
seu dono já não podia ser garantida.
As últimas impressões de Perry Rhodan foram: ao seu redor, muitos seres
inteligentes inocentes caíram no fogo cruzado das duas facções.
Uma forma que se assemelhava a um terrano mediano, embora musculoso e
compacto, oferecia resistência. Ela atravessou as multidões cambaleantes, como um
arado através da terra solta.
O oxtornense era muito rápido. Ele não se deixou parar por tiros de várias
armas, nem sequer se irritou, e ele liquidou um outro adversário com os punhos nus.
Contudo, ele chegou muito tarde.
No cilindro transparente do trono surgiu uma rachadura fina, que
rapidamente se expandiu. Os arcos energéticos atingiram e entraram. Então, houve
um som alto, como uma implosão.
O Gondu estava ferido?
Na turbulência, que aumentou cada vez mais, Rhodan não conseguiu ver nada
especificamente. Ele sentiu um toque quente e ardente em sua coxa, quase
agradavelmente fazendo cócegas.
Quando ele olhou, ele se perguntou sobre o aumento da fumaça. E sobre o
líquido vermelho escuro que surgiu com jato e pulsava tão ritmicamente quanto o
batimento do coração.

57
10.

A solução do enigma

11 e 12 de outubro 1551 NCG

Vinte e sete membros da equipe de liderança de alto escalão estavam na


clínica de bordo da RAS TSCHUBAI com sinais ligeiros de intoxicação.
O que mais os ligava entre si? O que eles tinham em comum?
Eles pertenciam a diferentes povos. Eles desempenharam várias funções.
Todos tinham seus próprios hobbies. Resumidamente: Nenhuma correspondência
significativa pôde ser averiguada.
Como toda a equipe de crise, Briony Legh estava constantemente
atormentando seu cérebro. Não vemos na floresta da além das árvores? Ou estamos
completamente errados e caçando um fantasma que na verdade não existe?
Afinal, foi seu marido, o engenheiro de bordo Kriff Dnotz, que deu a pista
decisiva. Como correspondia à sua natureza contida, ele apenas estreitou os olhos e
disse calma e deliberadamente: — Eu acho que posso ter uma idéia.
— Diga!
— Geralmente, a liderança é mais móvel do que o resto da tripulação, não é?
— Lógico. Porque não é incomum para nós deixarmos nossos locais de
trabalho de origem para se precipitarem para reuniões, inspeções, e assim por
diante.
— Também o rastreador, supomos que ele seja móvel.
— Você está insinuando que os vinte e sete são todos, conscientemente ou
inconscientemente, agentes hostis?
— Não, não. Mas eles podem ter entrado em contato com o rastreador ou seus
componentes por acidente. Eles foram envenenados hiperenergicamente.
— Então, por que a nossa localização não registrou a fonte dessa radiação há
muito tempo?
— Porque está sendo entregue em doses tão pequenas que as emissões em
expansão que existem em todos os lugares as cobrem?
— Há algo nisso... os pacientes devem ter entrado em contato com ele várias
vezes. Mas, eles trabalham em diferentes departamentos, visitaram diferentes
setores! Isso foi cuidadosamente verificado.
— Como eles chegaram lá?
Briony deu de ombros. — Da maneira usual. Com... — ela fez uma pausa,
olhando para Kriff.
O rosto de seu marido de outra forma modesto mostrava uma ligeira
insinuação. — Você concorda que devemos contatar ANANSI imediatamente?

A semitrônica determinou que todos as pessoas afetadas usaram


frequentemente o sistema de cabines expressas.

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Isso em si não era uma descoberta completamente nova, especialmente
porque também era verdade para inúmeros outros membros da tripulação. Mas
apenas vinte e sete pacientes posteriores foram acidentalmente conduzidos várias
vezes com as mesmas três cabines!
O sistema de tubos da RAS TSCHUBAI baseava-se principalmente em
motores lineares de energia magnética puramente normal. Mesmo com a inclusão
dos amortecedores de pressão, que funcionaram gravomecanicamente, o esforço
necessário exigia apenas uma fração da energia de uma rede de tubos
antigravitacionais de capacidade comparável. É por isso que este sistema de
transporte foi instalado.
Os tubos duplos evacuavam em pressão mínima equivalente ao espaço. As
escotilhas de pressão mantinham o vácuo permanentemente.
Assim, as cabines cilíndricas, de cinco metros de comprimento e altas,
moviam-se sem resistência obstrutiva do ar entre trilhos que não precisavam de
manutenção, enquanto os campos magnéticos que mantinham a distância impediam
o contato direto. Apenas em repouso ou em situações de emergência utilizaram-se
âncoras mecânicas.
As cabines expressas atingiram uma velocidade máxima regular de 500
metros por segundo ou 1800 quilômetros por hora. Assim, a travessia completa da
espaçonave esférica, incluindo aceleração e desaceleração, cada uma com um
máximo de 1000 metros por segundo ao quadrado, exigia apenas 6,5 segundos. A
distância mais curta em tal etapa era de 250 metros, era coberta em um segundo.
Neutralizadores de pressão neutralizavam de forma confiável as inevitáveis
forças de inércia resultantes. A célula interna de cada cabine era uma esfera de
quatro metros e meio de diâmetro, montada de forma rotativa, ajustável horizontal
e verticalmente. Ela continha o compartimento de passageiros de três metros de
altura, que proporcionava espaço para até 12 pessoas em bancos circulares.
Onde cientistas e engenheiros de várias seções se aglomeravam. Com a
devida cautela, eles examinaram as três cápsulas expressas designadas por ANANSI.
Rapidamente, eles encontraram o que estavam procurando.

— Nós descobrimos minúsculos vestígios de hipercristais desconhecidos —


disse Sichu Dorksteiger no dia seguinte à investigação. — Eles brilham prateados,
como mercúrio congelado. Sua radiação tende a ser prejudicial para a saúde.
— Quanto? — Briony exclamou, preocupado com Fabienne Iukik e com os
outros camaradas.
— Nenhum de nossos pacientes está em perigo — acalmou Matho Thoveno.
— Todos serão completamente curados no departamento médico. Nós apenas os
mantemos em observação por alguns dias. Até então, a seção de ciência
provavelmente nos dará mais informações sobre as peculiaridades dos hipercristais
estranhos.
Dorksteiger assentiu com a cabeça. Ela começou a explicar, mas o ara não a
deixou falar.
— Eu ainda não terminei — ele disse severamente. — No momento, parece
que a radiação pode causar consequências letais. Mas, você teria que estar exposto
a ela por vários dias sem interrupção. O que ninguém esteve nem perto disso.

59
— Isso é algo positivo — disse Cascard Holonder. — Nós já sabemos como
esses cristais geram o impulso do rastreador?
— Exatamente — disse Kriff Dnotz.

Enchia Briony de orgulho de que seu marido teve a honra de apresentar as


ideias para o conhecimento que foi adquirido — mesmo que ele fosse apenas um
engenheiro de campos defensivos com a patente de segundo tenente! Mas, foi ele
quem colocou a ANANSI na pista decisiva.
Kriff teve uma representação esquemática do RAS TSCHUBAI projetado no
cubo holográfico. Nela, a rede de tubos do trem expresso foi destacada em um rosa
antigo e delicado.
Três manchas vermelhas brilhantes marcavam as cabines nas quais Iukik e
os outros haviam se envenenado, e onde os vestígios de hipercristais foram
encontrados. — Agora vemos — disse Kriff —, em movimento rápido, os
movimentos desses três elementos de transporte nas últimas quatorze horas.
— Por que apenas esse período? — Holonder perguntou.
— Certo, comandante. Por favor, também preste atenção às exposições na
parte inferior direita, que a rede de localização contribuiu.
— Estes são os registros de medidores extremamente aperfeiçoados —
acrescentou o tenente-coronel Olwar. — Nós colocamos os dois nas três cabines e
em muitos lugares do lado de fora, principalmente ao longo dos tubos. Eu devo
explicar em detalhes como as erupções cutâneas devem ser atribuídas aos
diferentes grupos de sonda?
Holonder assentiu. — Talvez mais tarde. Se houver falta de clareza. Por favor,
Kriff!
O marido de Briony começou a apresentação com uma expressão quase
solene no rosto.

Por um tempo, os pontos na rede do tubo cintilaram; tão rápido que Briony
só pôde segui-los a olho nu se eles parassem para permitir que os passageiros
entrassem ou saíssem.
No canto inferior esquerdo estava em execução uma exibição de tempo. Após
vinte e dois minutos fortemente aceleradas as distâncias das três cápsulas
cruzaram-se, de modo que os pontos de luz pareceram se unir.
Exatamente neste momento, os feixes encheram as telas do departamento de
localização! Não muito forte e apenas muito brevemente, mas reconhecível.
Várias pessoas gritaram: — Lá! — Como se não fosse óbvio para todos, e
Briony percebeu que ela mesma tinha sido uma delas.
Imediatamente depois, os pontos da cabine separaram-se novamente.
Imediatamente os feixes caíram para zero.
— Você pode voltar novamente? — O comandante da nave perguntou.
— Com prazer — disse Kriff. — Eu vou parar no momento crítico — ele
recuou um pouco e desacelerou até a imagem congelar, depois assentiu para Olwar.
— A coincidência do tempo é flagrante — disse o chefe da localização. — No
momento em que as três cápsulas expressas contaminadas se encontram – quase, é

60
claro, elas não colidem, isso só aparece na redução – nossos instrumentos medem
uma descarga de impulso.
Ele apontou para os feixes. — Dentro de cada uma das três cabines, mas mais
forte ainda fora. Em outras palavras: os impulsos não apenas se somam, eles se
acumulam, em termos simples.
— Eu acredito fortemente — disse Sichu Dorksteiger —, que você tem mais
a oferecer do que uma observação.
— Absolutamente correto. Um único evento não seria muito significativo,
especialmente porque operamos em áreas de limite extremamente baixas aqui.
Kriff...?
— Eu pulo mais de meio dia, embora às vezes dois, mas todas as três nossas
cápsulas especiais de trem expresso nunca se aproximaram. Ficou apenas
interessante novamente cerca de uma hora e meia atrás.
O cronômetro e as outras exposições provaram que ele não tinha prometido
demais. — Precisamente o mesmo efeito, embora em outro cruzamento — disse
Kriff, permitindo-se um sorriso quase insolentemente triunfante. — O tenente-
coronel Olwar confirmará que mesmo os valores individuais dificilmente diferem.
— Isso significa...?
— Sim, comandante. Nós rastreamos o mecanismo do rastreador.

— Obrigado. Eu lhe parabenizo e a todos nós e por este meio expressamos


um elogio oficial a todos os envolvidos: bom trabalho pessoal!
Todos bateram na mesa com os nós dos dedos. Briony teve que se segurar,
para não bater com os pés.
— Duas provas são cem por cento melhores do que uma — disse Sichu
Dorksteiger, amortecendo a euforia um pouco. — Do ponto de vista científico, as
incertezas continuam. Mas não se preocupe, acho que essa é outra hipótese viável.
Assim, o impulso do rastreador é ativado não em uma base regular, mas de forma
aleatória?
— Sim — disse Shalva Galaktion Shengelaia, o positronista principal. —
ANANSI extrapolou dos dados da última semana que a reunião das três cápsulas
expressas preparadas ocorre em média uma ou duas vezes por dia.
— Uma maldita ação habilidosamente inteligente — disse Cascard Holonder.
— Eu estou impressionado. O que ainda não entendo bem – por que os
hiperimpulsos produzidos foram tão difíceis de medir? Afinal, ele tem que
desenvolver um alcance considerável. Olwar?
— Existem vários componentes que ocorrem juntos. Em primeiro lugar, nós
temos quartzos vibratórios pentadimensionais – hipercristais, para explicar de
forma simples – de proveniência desconhecida. Em segundo lugar, o já mencionado
‘aumento da interação’ das três fontes continua em estruturas correlacionadas.
— O rastreador usa nossos próprios agregados como um amplificador?
— Em princípio, sim. Particularmente, a localização remota, em cujas
assinaturas energéticas ele se adapta em terceiro lugar. O impulso do rastreador se
esconde nela, e pode ser carregado em contraposição até certo ponto para o exterior.
Em quarto lugar, ele é gerado de forma tão ultracurta que nossas mensagens
condensadas parecem como uma performance geral de todas as óperas imartenses.
— É por isso que ele foi tão difícil de identificar.

61
— Correto. Mesmo para ANANSI, depois que soubemos onde deveríamos
procurá-lo. A dica de Kriff valia o ouro.
Briony Legh sempre achava doce quando esposo corava.

— Claro — disse Olwar — Está ocorrendo uma revisão em todas as outras


cápsulas expressas, para todos os casos. Levará um tempo. Até agora, não
conseguimos encontrar nenhum vestígio desse tipo de hipercristal em qualquer
outro lugar.
— Então, você está assumindo por enquanto que ficará com os três módulos
do rastreador?
— Do meu modesto ponto de vista: sim.
— Mais seria absurdo matematicamente — disse Sichu Dorksteiger. — Uma
quarta cabine preparada seria a probabilidade... — Suas pálpebras piscaram. — De
qualquer forma, eu lhe pouparei das fórmulas. Contudo, quanto mais
frequentemente o impulso do rastreador é desencadeado, maior o risco de
descoberta, apesar de toda a camuflagem.
— A questão permanece — disse Cascard Holonder —, quem ou o que está
por trás disso. Qualquer um que instale o rastreador não é apenas muito habilidoso,
mas também sabe muito bem sobre a nossa tecnologia.
— Os espíritos guardiões? — propôs Briony. — O Barong ou um cúmplice
desconhecido?
— Objeção — Depois, Kriff levantou o braço e corou mais... e mais
amorosamente.
— Sim? — Holonder encorajou-o.
— Devido ao ataque felizmente frustrado de Yerrem Karatas, um dos tubos
expressos ainda está fora de serviço. Isso reunirá as cabines restantes no resto do
sistema.
— Elas se encontram mais vezes.
— Eu concordo. Portanto, os três ovos de cuco têm enviado o impulso do
rastreador com mais frequência desde então, aumentando a probabilidade de serem
encontrados como fontes.
— Bom homem — elogiou Sichu Dorksteiger. — Homem esperto!
O ciúme surgiu abruptamente em Briony Legh. O que permitiu que a dondoca
seca de pele verde inspirasse seu marido? Ainda não teve o suficiente com Perry
Rhodan?
— Racionalmente considerado — disse o comandante Holonder —, os
espíritos guardiões teriam sido mais propensos a jogar mais em nossas mãos, sem
querer. Sem o ataque e a falha resultante de parte do sistema de trem expresso,
nenhum ou muitos membros da tripulação não teriam sido envenenados e ficariam
tão visivelmente doentes.
— De fato — Briony argumentou, feliz em poder distrair-se do particular
para o oficial —, até agora se fala relativamente pouco sobre o fato de que os
espíritos guardiões atuem de maneira racional.
— Eu estou com você, Major Legh. Embora, nós tenhamos alcançado um
significativo sucesso parcial, não há motivo para perder nossa vigilância.
— Meu discurso. Agora que nós resolvemos o enigma do rastreador... como
lidamos com ele? O que fazemos com ele?

62
— Eu tenho — disse Holonder —, uma ou duas ideias específicas.

63
11.

Julgamentos

12 a 14 de outubro NCG

O chão brilhava, salpicado com pequenas incrustações. As paredes eram


revestidas com material sintético como o quartzo e muitas temperaturas diferentes,
de modo que para os thoogondu, resultava em imagens térmicas.
Perry Rhodan não via nada disso. Seu SERUN-SL não podia apoiá-lo porque
ele havia sido danificado e o reparo automático levaria um tempo.
A cicatrização do portador, avançava mais rápido, não menos importante
graças ao ativador celular de Rhodan. Seu ferimento a bala na perna não provou ser
particularmente difícil, especialmente porque ele foi colocado em segurança a
tempo e recebeu cuidados.
Pior, tinha sido para Penelope Assid. Ela foi atingida várias vezes antes que
Tunbridge e Danhuser a tirassem do salão de audiência.
Enquanto isso, a jovem diplomata, felizmente estava fora de perigo. Como
Rhodan acabara de se convencer, ela estava sendo cuidada e devotamente atendida
nesta xeno-clínica especial.
Os thoogondu também o trataram com muita cortesia. Ele não podia
reclamar. Suas indicações sobre a fisiologia terrana foram prontamente aceitas
pelos médicos.
Contudo, eles não sabiam nada sobre as circunstâncias que envolviam o
ataque ao Fiador. Exceto que o Ghuogondu também foi examinado nessa clínica.
Então, Rhodan coxeou pelo corredor. Ele mal sentia dor enquanto o anestésico local
funcionava.
Ele passou por uma janela em forma de arco que revelou a visão de um
parque com bom gosto, cheio de pontes, pavilhões e esculturas. Sob outras
circunstâncias, Rhodan teria gostado de descansar e relaxar naquele lindo parque.
Mas, para saber mais sobre a trama e suas consequências, ele avançou.

O quarto de hospital de Puoshoor era, como esperado, enorme e


luxuosamente mobilado.
Os dois gaones na porta deixaram Perry Rhodan passar sem palavras.
Aparentemente eles já o conheciam. Talvez tivessem sido um daqueles soldados que
finalmente superaram os invasores no paladino.
Rhodan perguntou pela saúde do herdeiro ao trono. Embora, ele tivesse
apenas alguns arranhões, ele exagerou os ferimentos descaradamente. Ele
chafurdava literalmente em auto piedade.
— Você já conhece os antecedentes do atentado? — Perry Rhodan perguntou
quando a lamentação finalmente sumiu.
— Pelo o meu conhecimento, os nossos bravos gaones mataram a maioria
dos criminosos. Cinco foram capturados, três thoogondu e dois bondria pondh. Eles

64
poderiam fazer parte de uma conspiração maior, foi o que me disseram. Os
interrogatórios ainda estão em progresso.
— E o Gondu?
— O que tem ele?
— Tanto quanto eu vi, o trono foi destruído.
Puoshoor deu o equivalente a uma risada. — Sim, mas esse não era o
verdadeiro Fiador, era um duplo. Este duplo ficou gravemente ferido, mas ele vai
sobreviver.
— Ele sempre faz isso? Que o Gondu aparece pessoalmente apenas
aparentemente?
— Não mencionei que meu pai tem traços paranoicos?
— Você poderia ter me dito que ele não iria pessoalmente a audiência.
Mais uma vez, Puoshoor riu alto. — Se eu soubesse!
— Você não estava a par, não arrancar isso de você.
— Ah, Rhodan... quão maravilhosamente ingênuo você é! Além disso,
Narashim, por assim dizer, atendeu a audiência. Porque, como eu o conheço, ele
certamente controlava o duplo de sua nave capitânia.
— Obviamente, suas suspeitas foram justificadas nesse caso.
— A desconfiança faz parte desse negócio. Para mim, mais um motivo para
me retirar da política o mais rápido possível e dedicar-me inteiramente à arte e à
transmissão dos meus preciosos genes.
— Você é o sucessor designado de seu pai. Em algum momento, você será o
Gondu.
— Não se isso depender de mim. Eu gostaria de abolir esta instituição.
“Um príncipe como anti-monarquista?” Perguntou Perry Rhodan. Em voz
alta, ele perguntou: — E por qual substituto?
— Eu não me importo. Não estou interessado na política. O circo inflado me
limita na minha liberdade, só isso conta. Eu sou forçado a participar no negócio do
estado, desempenhar o meu papel...
— Excelente — disse Rhodan.
— Obrigado pela decoração das flores. Contudo, eu odeio esse papel. Eu
quero aproveitar meus prazeres. Comemorar, fertilizar as mulheres e assim por
diante. E não é necessário fazer coisas que um manequim faria também. Você sabe
que eu já tinha protestado contra isso quando fui nomeado para Ghuogondu?
— Não — Os agentes terranos haviam capturado uma grande quantidade de
dados históricos em Thooalon, mas era principalmente de pouca relevância.
Como parecia, o Gondunat se lembrava de cada momento de sua história com
uma precisão incomparável. Foram registradas miríades de discursos, conversas
fiadas de visitantes em banquetes, protocolos de festividades e solenidade, no que
dizia respeito às danças separadas, músicas e mudanças de roupa.
— Ha! — Puoshoor sentou-se. — Um evento inédito e igualmente
escandaloso, é que eu concordei com apenas uma condição: depois de trinta e um
anos no Ghuogondunat, o Fiador me dispensa.
— Isso é possível?
— Sim, se você tem uma irmã gêmea. Puorengir se tornará Ghuogonda no
meu lugar.
— Narashim concordou com isso?
— O que resta para ele? Foi há vinte e oito anos. Desde então, minha
contagem regressiva particular está correndo. Uma vez por ano, celebro a

65
aproximação da minha liberdade com uma festa pródiga, contra a qual a festa na
DAAIDEM foi um exercício de ascetismo.
— Você não está preocupado com o ataque ao seu pai?
— Nem um pouco. Um pequeno atentado de vez em quando não machuca.
Pelo contrário, ele mantém os velhos aptos.

Um mensageiro chegou com a notícia de que no dia seguinte, Gondu se


sentaria para julgar os cinco terroristas presos.
O julgamento deveria ser realizado publicamente na cidade de Khodnerez;
não no paladino, que fora fechado ao público por causa dos trabalhos de limpeza,
mas em um palácio gondusense adequado. O herdeiro do Peregrino foi cordialmente
convidado a participar.
— Eu realmente verei o seu pai desta vez? — Rhodan perguntou depois que
ele concordou com o herdeiro ao trono.
— Verá de qualquer jeito... e agora, retire-se, estimado amigo e companheiro
de sofrimento, e me deixe em paz. Eu preciso descansar. Meu corpo de luxo está
ferido, minha alma pura está manchada. Oh, que provações eu devo suportar?
Perry Rhodan renunciou com prazer a mais lamentações. Embora
suspeitasse que Puoshoor apenas simulava o aborrecimento, contudo, ele preferia a
companhia dos dois soldados espaciais terranos taciturnos.

No dia seguinte, Rhodan e seus companheiros, incluindo Kauttuno e Sfianid,


superaram uma série de barreiras de segurança até serem admitidos no salão de
audiência.
Gaones foram posicionados a intervalos de alguns metros ao longo das
paredes do superdimensionado e magnífico salão. — Puro espetáculo —, sussurrou
Báron Danhuser. — Nenhum causador de maldades virá neste momento, certo,
Cashew?
Mastigando, Dean Tunbridge assentiu com a cabeça. Perry Rhodan absteve
de comentar.
Eles tinham discutido na noite anterior, como havia sido possível o atentado
da guerrilha ao trono do Fiador. Afinal, na praça do paladino devia ter havido
guardas, controles e outras medidas de segurança.
Ou teria sido, em vista do domínio geral do Gondunat, uma ação tão
imprevisível? Talvez até uma intriga no mais alto círculo governante?
Puoshoor não encontrou a resposta para essas perguntas. Os detalhes seriam
discutidos no julgamento e esclarecidos de forma exaustiva, ele alimentou as
esperanças de Rhodan.
Os funcionários que não falaram uma palavra, conduziram os três terranos
para um camarote na área do átrio esquerdo. Diretamente em frente a eles, no lado
direito, o Ghuogondu estava se permitindo homenagear pelos dos cavalheiros, e
especialmente por suas senhoras que os acompanhavam.
O Fiador não apareceu pessoalmente, mas se apresentava via holografia. Isso
foi o que Puoshoor quis dizer quando disse que eles “veriam" o Gondu de qualquer
maneira.

66
Mesmo como uma projeção, o governante autocrata um carisma difícil de
escapar.

Narashim usava uma túnica de tecido vermelho escuro. Envolvia seu corpo,
exceto nas áreas respiráveis da pele, nos quais o material fracamente brilhante era
substituído por uma gaze da mesma cor.
Os antebraços e as mãos sobressaíam. Eles estavam despidos; ao redor dos
pulsos, apenas uma faixa do mesmo tecido estava enrolada ao redor dos pulsos. A
dobras e rugas da pele sugeriam uma idade elevada.
Contudo, para Rhodan a postura não parecia senil ou frágil. O Gondu
Narashim parecia aberto, livre, autoconfiante, muito composto e digno. Ele não
usava cobertura para a cabeça. Os olhos eram relativamente pequenos e
acinzentados.
— Muitos de nós testemunharam e alguns foram vítimas de um crime
horrível e repulsivo — afirmou o Fiador, abrindo a reunião. — Particularmente, isso
nos abala muito, porque, felizmente, acontece muito raramente.
O Gondunat não é um bloco monolítico que é administrado de forma
autoritária, mas é uma grande comunidade que oferece espaço para todos os tipos
de nichos, facções e dissidentes. Todos podem elevar a voz, independentemente de
quais pessoas, de sexo, de disposição e da idade. Ninguém precisa chamar atenção
através da violência. Portanto, eu estou infinitamente triste com uma ação tão
supérflua e sem sentido.
"Antes de nos dirigirmos aos equivocados, homenagearemos os falecidos e
expressemos nossas sinceras condolências aos sobreviventes. Eu peço que esses
presentes se levantem de seus assentos".
Todos responderam ao pedido, incluindo Rhodan e seus dois companheiros.
Da galeria na parte traseira do salão, ouviu-se um canto de coral: melancólico e
alienígena em termos de harmonia e ritmo, mas melodioso e, apesar de numerosos
enfeites melódicos, cativante e emocionante.
Uma sequência regular de estrofes e coros não foi comunicada a Perry
Rhodan. Não obstante, ele acreditou reconhecer três linhas curtas recorrentes:
Não te isoles.
Siga os sinais.
Permaneça no rio.
Eles também valiam, como o terrano sabia até agora, também como o “slogan
do Império” e soava um pouco enigmático para Rhodan, que sabia tão pouco sobre
o Gondunat. Provavelmente, em primeiro lugar, devia expressar um sentimento de
conexão total.
Quase sempre, e musicalmente na forma de desarmonia, isso contrastava
com a fórmula "alguém que anda sozinho". Se Rhodan interpretasse corretamente
as sutilezas do gondunin, isso poderia significar um herói e, mais frequentemente,
um tolo.
Ele não gostou muito desse duplo significado.

67
Depois da parte cerimonial, testemunhas e consultores foram chamados.
Finalmente, ia-se ao questionamento dos assassinos sobreviventes.
Estes foram autorizados a falar livremente. Tanto quanto Perry Rhodan
poderia dizer, eles não foram drogados nem influenciados ou intimidados de outra
forma. O Gondu holográfico presidia o processo, como Rhodan teve que conceder,
com calma, rigor e sabedoria.
Sem longas circunlocuções, os réus confessaram pertencer a uma
organização subterrânea maior chamada Vranoo ba'Drant, que se traduzia como:
“Príncipes da Luz”. Nela estavam ativos vanteneu, ruiyumenses dispersos, alguns
arautos noturnos, mas também thoogondu, bondria pondh e zeé brancos e
vermelhos.
— Infelizmente e incompreensivelmente — Narashim disse com amargura
em sua voz. — Equivocados, por causa dos quais nós sofremos de forma semelhante
às suas vítimas. No entanto, tais ofensas não devem ficar impunes.
Perry Rhodan teve o cuidado de não levar o lado do Gondu sem reservas,
embora sua inteligente negociação o impressionasse. Autocratas eram suspeitos
para ele. Muitas vezes ele tinha se aliado com a resistência local em galáxias
estranhas, e na maioria das vezes tinha feito bem.
Contudo, os autoproclamados Príncipes da Luz certamente despertaram
pouca simpatia nele até gora. Parecia, por um lado, que eles transmitiam um senso
de justiça que de modo algum era desconhecido para ele: de acordo com a visão
deles, o Império Dourado não estava autorizado a governar a galáxia Sevcooris. Da
mesma forma, como ele mesmo viu sempre que conquistadores estranhos tentaram
governar a Via Láctea, independentemente do propósito. No entanto, aos Príncipes
estava adicionado uma medida abalada de vaidade pessoal e bastante primitiva,
energia criminosa e desejo de devastação. E estes, por sua vez, permaneciam alheios
a Perry Rhodan.
De qualquer forma, ele não podia acusar o Fiador de influenciar os inquiridos
ou suprimir seus argumentos. Narashim só concluiu o caso quando os três
thoogondu e os dois bondria pondh tinham confirmado que não queriam apresentar
nada para justificar suas ações ou circunstâncias atenuantes.
Então, o Gondu anunciou o veredito. — Os réus foram considerados culpados
e, de acordo com nossas leis, agora tem a escolha: ou a vitrine vazia ou a penalidade
da memória. Todos devem falar por si mesmos.
Todos os cinco escolheram a vitrine.
O que se deveria entender daquilo não veio do julgamento.
Agora, a presença holográfica de Narashim voltou-se para ele com surpresa:
— Herdeiro do Peregrino, você pode me ouvir?
— Eu o ouço.
— Nós procuramos uma aliança entre você, sua humanidade e o Império
Dourado. O que certos críticos se opõem.
"Quais os críticos?" Rhodan pensou instantaneamente. "A quem ele se refere?
Sobre o seu filho que não está disposto? Ou existem outras facções rivais dentro do
Gondunat?"
Ele não pôde fazer essas perguntas, pois o Fiador continuou: — Até a sua vida
também não seria poupada, embora não fosse o objetivo real do ataque. Portanto,
eu libero para você como meu convidado de honra para revisar o julgamento que os
assassinos do Vranoo ba'Drant trouxeram sobre si mesmos. Eles deveriam sofrer a
penalidade da memória em vez da vitrine vazia?

68
— Eu me sinto oprimido — admitiu Perry Rhodan. — Eu não saberia, porque
para quê?
Ele deveria explicar a todo o público planetário a diferença entre as duas
penalidades, cujas consequências ele nem poderia sequer começar a avaliar?
Rhodan decidiu contra isso.
Puoshoor já havia mostrado mais de uma vez como perfeitamente dominava
a arte de irritação e manipulação. E quem, se não fosse Narashim, tinha sido o
professor mais importante de seu filho?
— Eu não tenho antecedentes culturais — disse Rhodan evasivamente. — Em
primeiro lugar, e enfatizo: primeiro, confio na sabedoria do seu julgamento. Se você
deixar a escolha para os infratores condenados e confessos, deve ser assim.
— Eu devolvo o elogio — respondeu o Gondu holográfico —, e aguardamos
nossa futura cooperação. Sua decisão é adiada para amanhã.
Aplausos surgiram. Mais uma vez, da galeria, houve uma polifonia de
madrigais3 em batidas sofisticadas de micro tons. Sua intensidade musical era bem
adequada para tentar até tirar lágrimas de Perry Rhodan.
Não fiques isolado...

No dia seguinte, as sentenças foram executadas na Praça dos Penitentes.


Um grande público estava presente, e embora a área nos arredores da cidade
de Khodnerez oferecesse muito espaço, havia uma aglomeração quase agonizante.
As multidões de espectadores se aglomeravam entre inúmeros riachos ornamentais,
pontes em filigrana e barracas estilo pagode que serviam comida e bebidas.
Rhodan passou a metade da noite com seus companheiros discutindo sobre
o que seriam as alternativas oferecidas para punir os assassinos. Mas, até mesmo
Danhuser, o tecnoanalista oxtornense, não pôde servir com informações adicionais
para o esclarecimento.
— Porque nossos SERUNS ainda não foram restaurados, não posso acessar
os sistemas thoogondu no momento — ele explicou se lamentando. — Se eu
estivesse inclinado a teorias de conspiração, poderia conjecturar a coisa toda, e que
teria servido este propósito, entre outras coisas.
— Mas, se você não fizer. Ou?
— Digamos assim: eu gostaria de imortalizar a ideia reconhecidamente
ousada no diário de bordo interno desta missão. Apenas para todo caso.
Puoshoor também não tinha dado qualquer informação adicional. Ele repeliu
qualquer indagação, referindo-se a seu terrível aspecto físico, como feridas mentais
e o tempo de reabilitação absolutamente necessário resultante disso.
Como antes, Perry Rhodan ainda não poderia dizer qual personalidade, esse
personagem realmente escondia atrás das máscaras multicamadas do Ghuogondu.

3
Madrigais: composição poética concisa que exprime um pensamento fino, terno ou galante e que
em geral se destina a ser musicada; surgiu no século XIV no Norte da Itália e teve sua época de maior
difusão no século XVI, quando floresceu em toda a Europa. N.T

69
Uma estrutura alta, esbelta e ligeiramente curva elevava-se acima da praça e
de outros edifícios; uma espécie de palco.
Cinco pódios surgiram da superfície saliente, que semelhantemente a
armadura corporal thoogondu, possuía pequenas placas em mármore. Em cima
deles, havia cinco cilindros completamente transparentes, com bem uns três metros
de altura e um metro e meio de diâmetro.
Aquelas eram as vitrines vazias?
Perry Rhodan pressentiu o mal. Os dois soldados espaciais e ele assistiam aos
eventos em uma espécie de tribuna de honra. Seus supervisores, os gêmeos Sfianid
e Kauttuno, os escoltaram para seus lugares e depois recuaram alguns metros, como
se para evitar perguntas desagradáveis.
Aparentemente resignados com seu destino, os cinco condenados sem
resistência, um após o outro, foram colocados nos cilindros. Houve um ruído
retumbante, como se um gongo titânico reverberasse em todo o ambiente.
Involuntariamente, Rhodan esfregou os olhos. Dentro de uma fração de
segundo, a luz mudou na primeira vitrine à esquerda — e o corpo do infrator,
bondria pondh, tinha desaparecido, dissolvido no nada.
— Desintegrado — Dean Tunbridge observou desnecessariamente. Sua voz
estava rouca. — Nós estamos justamente vivenciando uma execução.
O medonho gongo ressoou novamente. O segundo infrator, também um
bondria pondh, morreu sem qualquer som.
— Eles não sofrem qualquer dor — disse Puoshoor, que de repente havia
surgido ao lado de Rhodan, flanqueado por quatro gaones. — Vapt! E assim por
diante. Um método que você chamaria de “relativamente humano”– ou eu estou
errado, meu irmão em herança?
—Eu rejeito a pena de morte. É uma expressão bárbara de desamparo.
— Oho. Então, se isso não é adequado a você, o que acontece aqui? Bem, então
apenas mude o castigo. Só você pode parar o extermínio dessas figuras infelizes.
Então, se você quiser, vá em frente!
— Por que eu?
— Meu pai, o maravilhoso Gondu Narashim, honra seu nome glorioso,
justamente lhe concedeu o direito de mudar o castigo. Mesmo contra a vontade dos
condenados.
O sangue correu nas orelhas de Perry Rhodan. Ele sentiu que estava sendo
empurrado para algo que logo ele poderia se arrepender. Tinha de haver uma razão
para os condenados terem concordado com a morte. Era permitido a ele ignorar
isso?
Ele teria gostado de obter o conselho de Penelope Assid. Mas, a jovem
diplomata estava em um tanque terapêutico na xeno-clínica, ainda inconsciente.
— Qual é a alternativa? — Rhodan ofegou.
— Eles não morrem. Contudo, você deveria, se desejar, intervir rapidamente.
Em alguns segundos, o gongo soará novamente, e a terceira coisa sem valor vira
história.
— Pare! — gritou Perry Rhodan.

Aparentemente, os microfones ocultos captaram sua voz, porque ela ecoou


em todo o lugar na Praça dos Penitentes.

70
— Então, nós não queremos continuar sobre como a justiça é praticada no
Império Dourado? — Puoshoor perguntou em voz baixa e suave, divertido.
— Eu nunca gostei da morte de outros seres inteligentes.
— Oh... eu pensei que você e seus terranos – me corrija, se eu interpreto mal
a estranha expressão 'terranos' – já seriam um pouco mais.
Perry Rhodan teve um horrível desejo de esbofetear o rosto sorridente
superior do herdeiro ao trono. Mas, ele se dominou e, em vez disso, disse: — O que
eu posso fazer?
— Como o Gondu lhe ofereceu ontem, você pode perdoar o resto dos
condenados a penalidade da memória.
— Eles não queriam isso — interrompeu Báron Danhuser. — Perdoe-me por
me intrometer, mas... eles saberiam o porquê.
— O que é a penalidade da memória? — Rhodan perguntou ao Ghuogondu.
— E sem mais desculpas!
— Um procedimento cirúrgico mnemoplástico.
— Eles poderão viver depois disso?
Puoshoor disse que sim. — Você tem cinco segundos para salvar a vida nua
de um culpado provado. Três, dois...
— Usando a autoridade que me foi concedida — disse Perry Rhodan —, eu
comuto o veredito para a penalidade da memória!

Soou um alto zumbido sobre a Praça dos Penitentes. A multidão reunida e


heterogênea respondeu com um gemido coletivo.
Os guardas soltaram os últimos condenados das vitrines, as câmaras de
desintegração. Até agora, os três thoogondu haviam agido com calma. Mas, agora
eles lutavam violentamente.
Três planadores pousaram muitas maquinas no palco por meio de raios
trator; que para Perry Rhodan lembravam os antigos pulmões de ferro. Só que as
cabeças também ficavam fechadas... o que despertou nele novamente a associação
desconfortável com a dama de ferro4.
Os infratores foram empurrados com força bruta. Eles passaram cerca de dez
minutos naqueles aparelhos de aparência arcaica. Então, foram liberados.
O público parecia curioso e ansioso.
— Eles podem ir onde quiserem — disse Puoshoor. — Se eles quiserem.
Os três conspiradores agora liberados graças à intervenção de Rhodan, eram
thoogondu. Suas expressões faciais ainda não eram muito familiares para ele. Mas
não havia dúvidas sobre uma coisa: seus rostos refletiam um horror sem nome.
— O que aconteceu com eles? — Perry Rhodan perguntou ao herdeiro do
trono.
— Nem mais nem menos do que você pretendia, herdeiro do Peregrino. Os
três criminosos agora se lembram de como eles abateram suas famílias em um
ataque de fúria. Eles têm todos os detalhes pervertidos armazenados em sua
memória, indeléveis. Atormentando-os todos os dias e todas as noites.
— O que? Que sentido teria...?

4
Dama de ferro: instrumento de tortura da Santa Inquisição na Idade Média. N.T

71
— Deve haver punição, amigo Rhodan — De repente, a suavidade saiu de
Puoshoor. — Nós estamos falando tanto de um perdão quanto de uma penitência de
longo prazo.
— Vai com calma. Espere um momento! Vocês estão enxertando isso — Perry
Rhodan quase disse, pobres pecadores —, lembranças falsas nessas pessoas? Para
que eles possam fritar em um inferno pessoal e mental até o final de suas vidas?
— Sim — O Ghuogondu respondeu simplesmente. — Tão pouco eu tenha em
comum com o meu progenitor, o Fiador, mas acho que isso é justo. Morte ou vida.
Felicidade em autoabandono ou maldição permanente. Esses malfeitores devem
pagar pelas atrocidades cometidas, de um jeito ou outro.
— O Gondunat conhece — retrucou Rhodan, se recompondo com dificuldade
—, o conceito, e acima de tudo, a atitude de perdão?
— Nós — disse Puoshoor, esticou-se e espreguiçou-se, bocejou,
aparentemente caindo novamente na antiga personalidade imperturbável do
preguiçoso —, perdoamos quase tudo. Apenas da nossa maneira comprovada.
— Mas é uma falsa memória! — Rhodan objetou, ainda chateado. — Vocês
condenam pessoas, de forma criminosa e irresponsável, a uma existência de culpa
eterna e infernal.
— Então, não é correto o que acontece com eles?
— Não. Não, e três vezes não! Qualquer um, mesmo o ofensor mais
desprezível, deve sempre, apesar de tudo isso, ter uma chance de um novo começo.
— Eles têm. Na prisão autoconstruída de sua maldade.
— Você não me entende. O que vocês praticam é... — Rhodan lutou por
palavras. Ele não podia pensar em nada melhor do que “desumano”.
— Você espera julgar os padrões de thoogondu, que estão muito mais no
estágio cósmico do que seus humanos?
— Vocês colocam uma consciência culpada sobre pessoas – criminosos, mas
ainda pessoas vivas, inteligentes. Ainda mais – um trauma indissolúvel. Uma
lembrança falsa!
— Oh, quem sabe — disse Puoshoor, com as feições petrificadas
repentinamente. — Qual é a verdade? Qual é a verdade? Exceto a ilusão de uma
racionalidade que nos engana com nossa capacidade intelectual ainda não esgotada?
— Se eu estivesse ciente do que estou fazendo com isso — disse Rhodan com
voz rouca —, minha decisão teria sido diferente.
— Tanto na sua quanto a nossa língua, o subjuntivo é um poder de dúvida.
Teria, seria. Você não precisava inclinar as escalas de jurisdição para este lado, Perry
Rhodan, herdeiro do Peregrino. Você não precisava. Ninguém o forçou a interferir.
Rhodan ficou desconcertado. Ele lutou por palavras em vão.
O Ghuogondu riu. — E agora desculpe-me. Meus colegas de atuação
aguardam ansiosamente por mais benfeitorias. Eu não quero decepcioná-los.

Epílogo

O teste da amostra

13 e 14 de outubro 1551 NCG

72
— Vamos colocá-lo fora de ação! — Briony gritou.
— Com todo o devido respeito, Major Legh, por que devemos fazer isso? — O
comandante do navio respondeu.
— Hein? Isso é óbvio. Então, o thoogondu não pode mais localizar
arbitrariamente a RAS TSCHUBAI.
— Para isso nós não precisamos destruir o rastreador — disse Cascard
Holonder suavemente. — Na minha opinião, isso seria um erro. Se, ao longo de
alguns dias, nenhum desses impulsos forem emitidos, o outro lado pode facilmente
descobrir que nós o encontramos.
— Também isso é verdade novamente — Briony estava um pouco irritada
por ter sido tão exagerada. — Claro, nós teríamos jogado fora a vantagem de
informação que conseguimos.
— E nos privar da opção de usar o rastreador para nossos propósitos no
futuro.
— Como isso deve acontecer? O que você está pensando?
— Nós equipamos uma das nossas naves auxiliares. Uma corveta da classe
FOBOS, eu diria.
Estes eram naves esféricas com um diâmetro de 60 metros, sem
protuberância anelar. A RAS TSCHUBAI tinha um total de 240 naves desta e da classe
DEIMOS relacionada a bordo.
Eles diferiram principalmente no fato de que as corvetas FOBOS eram
espaçonaves modulares cujas configurações técnicas podiam variar amplamente
com um tempo relativamente curto. A metade deles também era controlada por
robótica-biopositrônica, e caso de dúvidas, poderia ser pilotada por uma pessoa
sozinha.
Lentamente, Briony se deu conta do que o comandante queria. — Você quer
enviar as três cabines expressas preparadas hiperfisicamente para esta nave
auxiliar?
— Assim é. Eu estou convencido de que nossos engenheiros de voo poderão
construir e instalar uma pequena rede de transporte dentro de um curto espaço de
tempo. As cápsulas serão colocadas nela. Um gerador aleatório fará com que elas se
aproximem em intervalos irregulares à distância crítica.
— Por sinal — disse Kriff Dnotz —, exatamente dezoito metros e noventa
centímetros, como descobrimos até agora. Assim que esta marca fica aquém, os
hipercristais enviam o impulso do rastreador.
— E todo o sistema está configurado para continuar a fazê-lo em termos
estatísticos tão frequentemente quanto antes — disse Briony. — Os thoogondu não
vão cheirar fusível queimado. Toda a honra ao Coronel Holonder – esse é um plano
bastante inteligente.

Os colegas da Kriff do departamento tecnológico da Navio fizeram um ótimo


trabalho. Após menos de 18 horas, a corveta, renomeada como RED HERRING para
esta missão, estava pronta para o uso.
— Huh? Quem sugeriu esse nome? — Briony perguntou ao marido.

73
— Até onde eu sei, foi Jiqiren, o porta-voz posbi. Como sabemos, ele é muito
interessado na história pré-astronáutica da humanidade. Red Herring é o antigo
nome terrano para um engano ou, mais especificamente, para uma pista falsa
deliberada.
— Bem, se ele acha... eu teria gostado mais de VELA NEBULOSA.
— O que é isso de novo?
— É a mesma coisa. Bem, é realmente uma antiga expressão para granada de
fumaça.
Kriff deu um soco. — Parece mais bonito, mas o outro se encaixa melhor.
Dizem que eram peixes fortemente curados e defumados e que foram tingidos de
vermelho, e que distraíam cães rastreadores que perseguiam a pista.
— Obrigado, fim da lição. Quem comanda o arenque salgado?
— Um posmi chamado Winter. Seu adjunto é o terrano Lars Hansberry.
— O último não me diz nada, mas eu me encontrei com Winter brevemente.
Posmis eram seres robóticos semelhantes aos posbis. Em vez da porção de
plasma de seus primos positrônicos-biológicos do Mundos dos Cem Sóis, eles tinham
uma personalidade semitronicamente simulada.
De seus aposentos particulares, Briony e Kriff observaram quando a RED
HERRING foi ejetada. Posteriormente, a nave-mãe levantou todos os sistemas de
camuflagem.
Que eles estavam de folga, muito cansados e realmente deveriam dormir
muito, não importava. Em nenhum caso, eles queriam perder se o teste de amostra
seria bem-sucedido. Afinal, ambos estiveram pessoalmente envolvidos no assunto
desde o início.
— A corveta fará algumas manobras lineares — disse Kriff. — Em seguida,
Winter dispara o rastreador. A partir daí o gerador aleatório assume o controle.
— O que você acha – funcionará? Ou deixamos de ver alguma coisa?
— Eu estou confiante, então vou preparar as taças de champanhe.
Briony deu beijos com prazer. — Homem inteligente. Bom homem.
A tensão aumentou. Demorou um tempo ainda..., mas, em seguida, a
localização remota informou que uma espaçonave penta-esférica gondusense havia
entrado em movimento.
E claramente na direção da posição atual da RED HERRING!
Eles tinham vencido os espiões do Gondu com uma trapaça. De agora em
diante a portadora SUPERNOVA poderia operar livremente em Sevcooris — e só ser
localizada se eles deliberadamente permitissem, recarregando a corveta com o
rastreador ativado.
A rolha de champanhe de Kriff Dnotz certamente não era a única que estava
batendo a bordo da RAS TSCHUBAI naquele momento.

FIM

Não pela primeira vez, Perry Rhodan deve colocar seus valores humanos à
prova em uma galáxia estranha. Os thoogondu não seriam os primeiros aliados
diferentes dos terranos. Mas, quem eram os thoogondu realmente?
Michelle Stern relata o encontro entre Perry Rhodan e o Gondu no próximo
episódio emocionante, que tem por título:
O POVO PERDIDO

74
Glossário

Ghuogondu

O herdeiro do trono do Gondu.

Império Dourado

O Império Dourado é composto por 79.776 sistemas solares na galáxia de


Sevcooris que foram colonizados pelos thoogondu — apesar de uma população
nativa, às vezes em mundos sem seus próprios habitantes inteligentes.
Fora do Gondunat, existem povos "aconselhados", como o zeé brancos e
vermelho, os bondria pondh e os sheoshesenses.
O Império Dourado tem uma Pax Gondunatia sobre Sevcooris; é indiscutível
como pré e superpotência desta ilha estelar. O Império Dourado é efetivamente
governado por gigantescas frotas e pelo Gondu, que reside alternadamente a bordo
de sua nave ou em um dos dez "Mundos Paladinos".
Os mundos paladinos são vitrines e bastiões ao mesmo tempo. Existem
palácios poderosos do Gondu. Enquanto, ele estiver ausente, seus governadores, os
mentores, residem. Outros funcionários importantes são os Núncios. Eles anunciam
a chegada do Gondu ou o Ghuogondu em um mundo, cuidam do planejamento e
coordenação da estadia, e assegura-se de que tudo esteja devidamente preparado e
que não haja ameaças.

Gondu

O governante do Império Dourado. Os guarda-costas de Gondu são os gaones.

Gondunat

O Império Dourado thoogondu, que é governado pelo respectivo Gondu,


também é conhecido como o Gondunat.

Gondunin

O idioma comum do Império Dourado.

Neurotrônica

Os thoogondu usam neurotrônica. Estas são essencialmente positrônicas


com componentes de plasma neural; elas são criadas e treinadas antes de serem
instaladas em espaçonaves, têm suas próprias histórias de vida, mas não são

75
emocionalmente orientadas. Elas têm uma certa criatividade que lhes permite julgar
situações de maneiras incomuns.

Observadores

Os membros do serviço secreto do Gondunat.

Pedgondit

O material de construção principal thoogondu para espaçonaves, estações


espaciais e similares é Pedgondit, um material branco quase deslumbrante, muitas
vezes adornado com incrustações douradas. As incrustações são mosaicos que
anunciam as missões da nave. Pedgondit é uma espécie de metalplástico semelhante
ao terconite.

Espaçonaves penta-esféricas

Para o voo dentro de Sevcooris, os thoogondu atende as espaçonaves penta-


esféricas. Eles consistem em cinco segmentos esféricos de diferentes tamanhos
acoplados em seus polos achatados. A direção do voo é paralela ao eixo ao longo do
qual eles são acoplados.
A maior classe de espaçonaves penta-esféricas, a classe GARANT, tem as
seguintes dimensões: a esfera central mede 1500 metros; os dois segmentos de bola
colocados nos polos medem 2000 metros; as esferas anexadas aos polos desses dois
segmentos medem 1000 metros. Em média, cerca de dezoito metros são perdidos
em cada caso nas áreas de acoplamento achatadas. Os níveis de acoplamento têm
um diâmetro de 230 metros. O comprimento total da espaçonave penta-esférica é,
portanto, de cerca de 7430 metros, com um diâmetro máximo de 2000 metros.
As esferas das classes menores são cada uma menor na mesma proporção,
de modo que a classe THOODID mede 200, 400 e 300 metros, com um comprimento
total de 1486 metros.

76

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