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1
Chave Secreta X
W. W. Shols
Tradução
Richard Paul Neto
Digitalização
Vitório
Revisão
Arlindo_San
Formatação
ÐØØM SCANS
2
Para impedir Thora de penetrar na forta-
leza de Vênus e estabelecer contato com Ár-
con, Perry Rhodan seguiu a arcônida, mas
não se lembrou de que os novos destróieres
espaciais ainda não estavam em condições de
irradiar mensagens em código que pudessem
atingir o cérebro positrônico da fortaleza.
Acontece que um robô nunca age irrefleti-
damente, guia-se apenas pela lógica; e é as-
sim que, face à aproximação não anunciada
de Thora e Rhodan, o comandante dos robôs
da fortaleza de Vênus manipula a CHAVE
SECRETA X, que fecha hermeticamente o
planeta...
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Personagens Principais:
4
1
2
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John Marshall corria para salvar a vida.
Correr era sua principal ocupação nos últi-
mos dias. Fugia dos homens do planeta Terra e
dos animais de Vênus. Todo o planeta parecia
conspirar contra sua pessoa.
Fungando caiu por cima de uma raiz que
atingia a altura de seu joelho. Rolou por cima
do ombro como um pára-quedista que toca o
solo e se voltou para ver o bicho. A raiz ofere-
cia bastante proteção, enquanto a ameaça só
viesse da frente.
Olhou para cima. O tronco era liso. Os pri-
meiros galhos ficavam a dez metros de altura.
Era impossível subir. O bicho chegaria antes. E
contra seus cem metros de comprimento prova-
velmente a mais alta das árvores de Vênus não
representaria uma proteção segura.
A cabeça comprida e pontuda do verme
branco e gosmento surgiu por entre a vegeta-
ção. A dois metros acima do solo, executou um
movimento ligeiro para a direita e para a es-
querda e arriscou mais um salto para a frente.
Marshall encontrara o bicho há cerca de
uma hora. Desesperado, pegou a carabina au-
tomática de fabricação russa que trazia consigo.
O susto pelo fato de que poderia revelar sua
posição aos perseguidores humanos sobrepujou
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o medo que o monstro venusiano lhe causava.
Há muito tempo o gigantesco verme gosmento
era conhecido como uma subinteligência abso-
luta: suas perigosas reações eram atos pura-
mente instintivos. Mas quem fosse enlaçado por
ele não teria tempo para fazer o testamento.
Uma arma automática convencional era pra-
ticamente ineficaz contra a massa de carne no-
jenta daquele monstro, cujas dimensões pareci-
am infinitas. Por isso mesmo, passado o primei-
ro susto, Marshall pegara o radiador de impul-
sos e abrira um fogo ininterrupto de vinte se-
gundos sobre aquela massa branca. O resultado
foi apenas uma divisão do bicho que, transfor-
mado em dois, reiniciou a perseguição. A fuga
consumiu as últimas energias de Marshall.
Naquele instante, estava deitado atrás da
raiz, que se erguia diante dele como uma mura-
lha protetora.
Que tal se atirasse bem de frente?
Era apenas uma idéia, e ao que tudo indica-
va até então ninguém a havia experimentado.
Um ataque lateral resultava na divisão daquele
corpo de cobra. E um ataque de frente? Pene-
traria por todo o corpo.
Era este o cálculo. Já não tinha forças para
correr. Mas ainda lhe restavam forças para fa-
zer pontaria e apertar o gatilho.
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O telepata John Marshall ergueu a arma. A
parte superior da raiz proporcionava um bom
apoio, que permitiria uma pontaria segura.
A conta tinha que dar certo. Tinha que dar
porque sua mente não podia conceber a idéia
de que pudesse morrer longe de toda a civiliza-
ção humana e sem qualquer pessoa que teste-
munhasse sua morte.
A cabeça do monstro balançava por cima da
alça de mira. Mas ainda não se encontrava
numa posição adequada para o tiro, já que o
corpo estendido ainda formava um ângulo obtu-
so com o eixo do radiador de impulsos.
Quando o animal se encontrava a menos de
vinte metros de distância, Marshall percebeu
que, de repente, aquele ser mudara de inten-
ções. Na verdade, falar de intenções em relação
a um bicho dotado de tão reduzida capacidade
cerebral já representava uma concessão. Não
possuía qualquer inteligência digna de nota. Só
agia através de reflexos condicionados. E isso
fornecia a explicação do comportamento irraci-
onal do verme.
Deslizou em direção à árvore, passou do
lado oposto do tronco de seis metros de diâme-
tro e, numa grotesca estupidez, prosseguiu seu
caminho em direção à vegetação rasteira não
muito distante.
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John Marshall conteve a respiração. O que o
obrigou a tanto não foi apenas a ansiedade,
mas também o cheiro penetrante e inexplicável
para um homem vindo do planeta Terra. O ver-
me levou mais de quinze minutos para passar.
Enojado, perplexo e aliviado, Marshall seguiu a
extremidade posterior do monstro, que num
movimento aparentemente inofensivo mergu-
lhou na selva.
Em algum lugar o verme encontraria um bu-
raco profundo repleto de pólipos. Mergulharia
ali e viveria numa simbiose harmoniosa com
aquelas criaturas.
Marshall enxugou o suor da testa. Mas a
lembrança da ponta branca da cauda do verme
logo o fez despertar. Há uma hora, quando cor-
tara aquele animal com o radiador de impulsos,
as duas extremidades pareciam enegrecidas e
carbonizadas. Pouco depois a crosta devia ter
caído, da mesma forma que na outra metade do
verme logo voltara a crescer uma cabeça.
As peculiaridades incríveis da fauna de Vê-
nus eram conhecidas há anos, e por isso
Marshall sabia perfeitamente que ainda não se
livrara do perigo.
Se aquele verme se transformara em dois, a
culpa era dele mesmo. E o segundo verme sur-
giu no momento exato em que voltou a olhar
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para a frente.
O que teria levado o primeiro a ignorá-lo de
repente? E isso depois de uma hora de perse-
guição intensa e metódica!
Uma única explicação acudiu a Marshall. Os
movimentos do fugitivo irritaram a fera e sem-
pre voltaram a despertar sua atenção sobre ele.
Assim que se abrigou atrás da raiz e se manteve
imóvel, o cérebro primitivo daquele ser deixou
de reconhecer o objetivo. A tática de se fingir
de morto tinha validade em qualquer mundo
onde a luta da vida se desenvolvia segundo leis
eternas.
Mas a nova esperança de Marshall logo se
revelou enganosa.
O segundo verme não era mais inteligente
que o primeiro. Apenas o acaso quis que raste-
jasse na direção, exata da raiz atrás da qual
Marshall se abrigara.
Desta vez teria que se defender. No último
instante, percebeu que não poderia participar
do espetáculo apenas como espectador. O mo-
vimento rápido com que levantou o radiador de
impulsos bastou para despertar a atenção do
animal.
A cabeça branca e pontuda disparou para a
frente. Os primeiros cinco ou seis metros do
corpo formavam uma reta perfeita.
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A conta estava dando certo.
No sentido longitudinal daquele corpo não
havia qualquer divisão ou qualquer encapsula-
mento. Cada um dos anéis transversais do cor-
po poderia formar um novo organismo. Assim
que fosse atingido pela energia mortal, morre-
ria.
A certeza do êxito incutiu nova coragem na-
quele homem. Reunindo as últimas forças, sal-
tou para fora do seu esconderijo e atacou.
Como que tomado de uma sede de sangue, per-
correu os quarenta e tantos metros do corpo do
animal e, disparando ininterruptamente, traçou
uma linha de fogo contínua sobre o corpo bran-
co e descorado.
Perto da trilha gosmenta, que prosseguia
por mais alguns quilômetros, as forças o aban-
donaram e ele caiu ao solo. Vencera. O que lhe
restava era um desamparo total. Nem mesmo o
cheiro nojento e penetrante evitou que adorme-
cesse instantaneamente.
Quando despertou, o sol ainda se encontra-
va bem no oriente, atrás de um véu de neblina
branquicenta. Seu primeiro olhar foi para o cro-
nômetro. Dormira nada menos de seis horas do
tempo terrestre. E continuava vivo.
Os nervos estavam um pouco mais calmos.
E os membros obedeciam novamente à sua
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vontade.
Naquelas seis horas parecia ter dormido o
sono inocente de uma criança. E toda criança
tem um anjo de guarda. Mas, no futuro,
Marshall não deveria confiar nesse anjo de
guarda.
Olhou para o sol que se levantava a leste.
Para uma orientação mais precisa, servia-se da
bússola giratória embutida na pulseira de múlti-
pla finalidade. A fuga do verme fez com que
desse uma volta, desviando-se alguns quilôme-
tros de sua rota. Bem, isso não lhe causava
maiores preocupações. Apenas faria com que
atingisse a costa um pouco mais ao norte. O
que importava era que atingisse o mar. Não de-
via ficar a mais de trinta quilômetros. Face às
suas forças minguadas, ainda era uma distância
muito grande. Poderia significar que teria de
marchar mais uns três ou quatro dias terrestres.
Ou uma semana, talvez mais.
Preferiu não fazer cálculos mais exatos quan-
to ao futuro. A marcha pela selva privara-o de
grande parte do seu otimismo.
A fome e a sede constituíam os fenômenos
mais regulares. Sorveu um gole de água da gar-
rafa que trazia de reserva; melhorara o sabor do
líquido com alguns restos de chá concentrado.
Sua refeição consistiu em duzentas e cinqüenta
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gramas de carne fria. Quando a carne acabasse,
teria que se lançar novamente à caça. Mas isso
teria tempo. Até que a fome voltasse a atacar.
Lambeu os restos da gordura dos dedos e
pôs-se em marcha na direção leste. O mar de-
via ficar nessa direção. E no oeste as patrulhas
do general Tomisenkow deviam estar à sua pro-
cura. Proteger-se dele parecia mais importante
para essa gente do que se defender dos mons-
tros venusianos.
Naquela área a vegetação rasteira era bas-
tante escassa. O solo era menos úmido que nas
baixadas. Nos primeiros quilômetros a marcha
não foi cercada de maiores dificuldades. A visi-
bilidade era boa. O dia venusiano que rompia,
trazendo consigo um futuro incerto, constituía
um desafio para uma espécie de balanço inter-
mediário. Quem não sabe muito bem o que fa-
zer dali por diante e formula indagações sobre o
sentido que possam ter seus esforços, faz bem
em procurar se lembrar de como tudo come-
çou.
Fazia alguns anos que John Marshall, o tele-
pata do Exército de Mutantes de Perry Rhodan,
pisou pela primeira vez no solo de Vênus. Na-
quela oportunidade foi descoberta no hemisfé-
rio norte uma fortaleza misteriosa, construída
por uma raça extraterrena, os arcônidas. A for-
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taleza datava da época em que os homens do
planeta Terra começavam a aproveitar o inven-
to da roda, a se arriscar cautelosamente mar
afora em embarcações primitivas e a lançar as
bases da geometria euclidiana.
Pelo que se dizia, naquela época os arcôni-
das de Vênus, cujo planeta natal ficava a milha-
res de anos-luz do sistema solar, chegaram a
fundar uma colônia na Terra. Mas esta submer-
giu com a lendária Atlântida.
Muitos séculos depois, se verificou o segun-
do encontro entre os homens e os arcônidas. A
primeira nave lunar americana, comandada
pelo então major Perry Rhodan, descobriu na
face oculta da Lua uma nave espacial arcônida
que realizara um pouso de emergência. Os úni-
cos sobreviventes entre os tripulantes da nave
eram o chefe científico da expedição, chamado
Crest, e Thora, a comandante da nave. Auxilia-
do pela supertecnologia arcônida, Rhodan ins-
talou no deserto de Gobi um novo poder políti-
co neutro. Após isso, comandou a primeira ex-
pedição a Vênus, que descobriu a fortaleza situ-
ada no norte. As instalações inteiramente auto-
matizadas e positronizadas levavam uma vida
autônoma. O grande cérebro robotizado dirigia
a defesa das fortificações segundo uma progra-
mação antiqüíssima. Rhodan foi o único que
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conseguiu regular sua freqüência cerebral de tal
maneira que o cérebro reagisse melhor aos seus
comandos que aos de um arcônida.
Vários anos de evolução terrena e de expe-
dições importantes nas áreas interestelares fize-
ram com que o planeta Vênus, com sua fortale-
za, recuasse para o segundo plano do interesse
público.
Mas no Bloco Oriental surgiu um grupo de
conspiradores que resolveu ignorar os acordos
celebrados com Rhodan, dando causa a novas
complicações.
Grande número de naves espaciais russas
decolou em direção a Vênus, para transformar
o planeta numa colônia do Bloco Oriental.
O empreendimento não foi bem sucedido.
Enquanto na Terra as divergências políticas pu-
deram ser reduzidas a uma medida tolerável, a
expedição de conquista comandada pelo gene-
ral Tomisenkow foi se transformando numa far-
sa. Não conseguiu se aproximar do cérebro po-
sitrônico instalado em Vênus. O combustível
das naves espaciais fora suficiente apenas para
a viagem de ida. Uma frota de abastecimento
foi dizimada em virtude de um choque casual
com a nave de Rhodan; quando atingiu Vênus,
perdera grande parte de suas naves.
Os russos transformaram-se em prisioneiros
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de Vênus. Levaram uma vida selvagem. A ex-
pedição desagregou-se. Grupos de rebeldes se-
pararam-se do grosso da tropa que se mantinha
fiel ao comando de Tomisenkow. Alguns fanáti-
cos paranóicos, como o tenente Wallerinski,
acreditavam chegada a hora de implantar um
novo tipo de pacifismo, que teria que ser im-
posto pela força das armas.
Muitas vezes Marshall refletira sobre a pro-
vável situação estratégica no planeta Vênus.
Mas tudo não passava de suposições. Só de
uma coisa tinha certeza: o general Tomisenkow
conseguira reunir os remanescentes de suas tro-
pas numa poderosa unidade. Era só a ele que
devia temer, pois suas patrulhas grudavam-se
nos seus calcanhares. Por duas vezes nos últi-
mos dias mal e mal conseguira escapar aos seus
perseguidores.
As forças desagregadas, como as dos pacifis-
tas comandados pelo tenente Wallerinski, tam-
bém poderiam se tornar perigosas. Mas só por
acaso poderia haver um encontro com elas em
meio à amplidão daquelas florestas e estepes.
Mas as preocupações da equipe de Perry
Rhodan não eram apenas estas.
Foi só pela obstinação da arcônida Thora
que se viram nessa situação complicada. Há
anos Thora empenhava-se pelo regresso ao
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mundo distante de Árcon. Diante da falta de
compreensão de Rhodan, apoderou-se de uma
nave espacial terrestre e, acompanhada unica-
mente de um robô, decolou em direção a Vê-
nus. Na pressa se esqueceu do sinal codificado
de identificação, motivo por que a barreira ins-
talada pelo cérebro positrônico frustrou seus
planos. Perry Rhodan, que não pensara em ou-
tra coisa senão na imediata perseguição de
Thora, teve destino igual ao dela.
Ambas as naves viram-se detidas pelo cam-
po energético, que protegia a fortaleza num
raio de quinhentos quilômetros. Suas naves caí-
ram e, de uma hora para outra, viram-se numa
situação igual à do corpo expedicionário russo.
Thora logo fora aprisionada por Tomisenkow,
e Rhodan ainda não conseguira libertá-la. Mais
do que isso, durante um combate noturno foi
atingido no ombro, o que o pôs fora de ação
por algum tempo. Não estava em condições de
realizar marchas prolongadas. Por isso só o mu-
tante Son Okura, que tinha problemas de loco-
moção, permanecera em sua companhia.
Marshall recebera uma missão especial, que
o levara à selva inteiramente só, e o obrigava a
atingir o litoral do mar do norte.
Estacou. A debilidade física acelerava a
transpiração, obrigando-o a recorrer, com fre-
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qüência cada vez maior, ao lenço para enxugar
o suor.
Valeria a pena?
Lançou um olhar aflito para a pulseira de
múltipla finalidade, que entre outros equipa-
mentos incluía um potente mini-transmissor.
Mas Perry Rhodan havia proibido expressamen-
te o uso do rádio quando houvesse possibilidade
de ser ouvido e localizado pelo goniômetro.
A missão especial também se ligava a um
encontro havido há vários anos. Naquela opor-
tunidade, a equipe de Rhodan encontrara na
costa oriental do braço de mar de trezentos e
cinqüenta quilômetros de largura uma espécie
de focas semi-inteligentes, cuja mentalidade ins-
pirava bastante confiança.
Depois que Rhodan fora ferido no ombro,
os quinhentos quilômetros de marcha que o se-
paravam da fortaleza de Vênus transformaram-
se num infinito. Mesmo que a cura fosse rápida,
era provável que, por mais algumas semanas, a
ferida constituísse um sério fator negativo para
o chefe da Terceira Potência. Para sobreviver a
esse tipo de provação, o homem deve gozar de
boa saúde.
Nessa situação, a melhor idéia que poderia
ter acudido àqueles homens era a das focas. Se
é que alguém poderia prestar um auxílio, seri-
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am elas. E se havia alguém que pudesse entrar
em contato com elas, era o telepata John
Marshall, que atingiu o mar pelas noventa e
quatro horas.
Quando saiu da vegetação, estacou subita-
mente. À súbita visão do mar, ficou desconfia-
do, pois o subconsciente já lhe incutira a idéia
de que nunca atingiria seu destino. Mas pôs-se
a correr. A praia estava coberta de juncos que
iam até a altura dos joelhos. Seguia-se uma fai-
xa de areia amarelenta e limpa. E depois vinha
a água. Marshall só parou quando sentiu a mes-
ma tocar seus tornozelos.
As focas!
Procurou se concentrar. Colocou todo o de-
sespero de sua situação no grito telepático de
socorro. Depois de dois minutos se descontraiu.
Seu cérebro assumiu uma atitude passiva, sinto-
nizando-se para a recepção.
As impressões que penetraram nele eram
mais que assustadoras.
O ambiente aparentemente morto estava
cheio de vida. Essa vida ocultava-se nos juncos
e na água. E pensava. Eram pensamentos inu-
manos. Situavam-se muito abaixo do nível de
inteligência compreensível. Não passavam de
uma série de emoções, de reações instintivas si-
tuadas num primitivo nível animalesco. Não ti-
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nham a clareza de uma fórmula matemática;
antes, deixavam o campo livre para as interpre-
tações, como uma pintura abstrata. Apesar dis-
so Marshall acreditou poder extrair de tudo isso
uma interpretação inteligível.
Teve de compor essa interpretação com um
misto de ganância, inveja, fome e agressividade.
Era o concerto oferecido pelas almas das criatu-
ras mais baixas. Os tons provenientes das cria-
turas mais desenvolvidas, das focas, achavam-se
ausentes.
Decepcionado, Marshall esteve a ponto de
abandonar o exercício cansativo da concentra-
ção. Subitamente, porém, um sinal de alarma
soou em seu cérebro. Um pensamento concebi-
do numa mente humana surgiu dentro de seu
círculo de alcance. Era um pensamento mortífe-
ro, vindo da costa.
Por pouco não deu um salto e saiu corren-
do. Mas lembrou-se em tempo que naquela situ-
ação sua vida dependia de sangue-frio. O pen-
samento girava em torno do ato de matar. E a
intenção era tão nítida que até mesmo a vítima,
John Marshall, estava perfeitamente fixada.
“É o espião da Terceira Potência, o lacaio
de Rhodan. Há dias você anda fugindo de nós.
Mas agora chegamos ao mar e você não pode-
rá prosseguir. Você tombará morto. Não mere-
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ce nossa compaixão. Devia chamá-lo. Devia
mostrar-lhe o cano da arma e o fogo, mas
acontece que você é um dos homens de Rho-
dan. E com estes não se deve assumir o menor
risco.”
Marshall sabia que atrás dele, na orla da flo-
resta, existia uma mira, e que naquele instante
sua omoplata esquerda dançava diante da mes-
ma. O homem apontava a arma para seu cora-
ção... Assim que se virasse, o tiro seria dispara-
do.
Não se virou: atirou-se na água.
Naquele lugar a água era tão rasa que não
cobria seu corpo. Mas os juncos que cresciam
na praia ofereciam certa proteção.
No momento em que se deixou cair o tiro
foi disparado, mas o projétil passou por cima
dele.
O pensamento que surgiu a seguir na orla da
floresta foi uma idéia de pânico.
O assassino já não via sua vítima e pensou
em fugir. A reação de Marshall despertou rea-
ções supersticiosas em sua mente. Mas logo o
temor dos superiores e o medo da selva venusi-
ana interpuseram-se nestes fragmentos de idéi-
as.
“Preciso matá-lo! Preciso matá-lo, senão
nunca mais conseguirei viver tranqüilo perto de
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Tomisenkow.”
John Marshall rastejou pela água rasa, rolou
até a margem e se escondeu entre os juncos,
onde permaneceu imóvel.
“Os Rhodan são feiticeiros! O medo é de
enlouquecer. Só quando todos os Rhodan esti-
verem mortos teremos sossego e poderemos
dormir sem pesadelos. Preciso matá-lo!”
A idéia foi se aproximando, e com ela o as-
sassino. Também se atirara ao solo, abrigando-
se nos juncos para lançar seu ataque. Mas a ati-
vidade de seu cérebro traiu sua posição. Ergueu
a cabeça por cima dos juncos. Marshall conhe-
cia a direção. Bastou-lhe girar sua arma por um
centímetro para a esquerda e apertar o gatilho.
Quando se levantou e foi para junto do ini-
migo, só encontrou um morto.
— É estranho! Dizem que somos os Rho-
dan, quando só existe um homem que usa este
nome.
Marshall sabia que estava só. Caminhando
ereto, dirigiu-se para a vegetação protetora da
selva. Um sorriso brincava em torno de seus lá-
bios. Era um sorriso de orgulho. Na terminolo-
gia do inimigo, também ele era um Rhodan.
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O General Tomisenkow transferira seu quar-
tel-general para um ponto situado cinqüenta
quilômetros a leste. Estava situado num planalto
que se erguia em meio à selva com uma vegeta-
ção escassa. Isso facilitava sua defesa no caso
de um ataque lançado por um dos grupos rebel-
des. Era bem verdade que na selva encontraria
um esconderijo melhor. Mas não estava muito
interessado em ficar sem ser reconhecido. To-
dos sabiam que se instalara nessa área. E todos
sabiam que a tropa que se mantinha fiel a ele
era numericamente superior a todas as outras.
E essa superioridade colocava-o numa posição
em que não precisava temer um confronto
aberto.
As barraquinhas e cabanas de plástico emer-
giam em meio à vegetação de pouco menos de
dois metros de altura. Todo o perímetro do
acampamento estava protegido por uma linha
compacta de sentinelas.
De seis em seis horas a senha era modifica-
da, o que dificultava bastante a infiltração de re-
beldes. A patrulha que fora mandada no encal-
ço do telepata John Marshall era composta de
apenas doze homens e não dependia da senha.
Tomisenkow conhecia pessoalmente cada um
desses homens.
Subitamente o sargento Kolzov viu um pano
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branco que se erguia em meio à vegetação.
— Senha!
— Sou o tenente Tanjev do comando avan-
çado. Preciso falar com o general.
— Levante os braços! Pode passar.
Um homem se levantou de um salto e se
aproximou com os braços erguidos.
— Está bem, tenente. Vá na direção daquele
arbusto redondo. O general mora à esquerda.
Há alguma novidade?
— Não ouvi sua pergunta, Kolzov. Preciso
falar com o general, não com o senhor.
O tenente Tanjev tinha o aspecto de um sol-
dado sadio que há vários dias se mantinha
numa atividade ininterrupta. E isso correspon-
dia aos fatos. Tomisenkow recebeu-o sem de-
mora. Ao entrar fez uma continência impecá-
vel.
“Os homens ainda estão em boas condi-
ções”, pensou Tomisenkow satisfeito. Recebeu
Tanjev com um sorriso benévolo, atrás do qual
se ocultava a curiosidade.
— Vejo que ainda está vivo, tenente. Quais
são as novidades?
— Aquele homem chegou ao mar, general.
— Que homem?
— Como sabe, há quatro dias houve uma
batalha de rebeldes ao sul do planalto. Confor-
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me constatamos, pelo menos três elementos da
Terceira Potência participaram.
— Isto são fatos conhecidos, tenente — in-
terrompeu o general. — Acho que veio trazer
alguma novidade.
— Pois um desses homens foi sozinho em
direção ao leste, e saímos em sua perseguição
conforme nos foi ordenado.
— Foram instruídos para matá-lo ou trazê-lo
para cá. Já conseguiram?
O tenente Tanjev hesitou.
— Ainda não conseguimos capturá-lo, gene-
ral. Não é fácil agarrar um homem só, quando
o mesmo esteja prevenido.
— Quem poderia tê-lo prevenido? Em Vê-
nus quase não há gente.
— O soldado Lvov cometeu um erro. Cor-
reu à frente do grupo por conta própria. Não
gosto de pôr a culpa nos mortos.
— Quer dizer que Lvov está morto?
— Sim, general. Encontramos seu cadáver
na praia.
— Quer dizer que aquele homem solitário do
grupo de Rhodan foi o elemento mais capaz.
Será que nem com uma superioridade de doze
para um e com todas as vantagens estratégicas
o senhor está em condições de cumprir uma
missão destas?
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A benevolência desapareceu por completo
do rosto de Tomisenkow.
— Por que veio até aqui, tenente? Para
anunciar seu fracasso?
— Vim pedir reforços, general. Atingimos o
mar e, para estarmos seguros, devemos contro-
lar pelo menos dez quilômetros de costa. Além
disso, julgo necessário que cada grupo seja
composto ao menos de três homens. Precisa-
mos dessa superioridade, que na verdade nunca
passará de uma inferioridade.
— O que quer dizer com essa frase contradi-
tória, tenente?
Tanjev voltou a hesitar.
— General, o senhor sabe perfeitamente o
que andam contando por aí...
— É aquela história do gigante e do feiticei-
ro, não é? — disse Tomisenkow em tom áspe-
ro. — Não venha me dizer que vai falar seria-
mente nos termos das fantasias propagadas pe-
las revistas de fim-de-semana. Se o grupo co-
mandado pelo senhor é composto de gente in-
gênua, mandarei recolhê-lo ao acampamento e
o substituirei por uma tropa composta de gente
adulta.
— Às ordens, general! Cumpriremos nosso
dever. Mas acho que os reforços são indispen-
sáveis.
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— Por causa dos dez quilômetros de costa?
— Sim, general — respondeu Tanjev em
tom submisso.
— Muito bem; o senhor os receberá. Tomi-
senkow escreveu um bilhete.
— Apresente isto ao coronel Popolzak e es-
colha os melhores elementos. Espero que da
próxima vez que se apresente possa comunicar
uma ação bem sucedida. Obrigado.
— Obrigado, general. Mais uma pergunta. A
suspensão das comunicações pelo rádio conti-
nua de pé? Num caso urgente uma mensagem
radiofônica será mais apropriada...
— Pode retirar-se, tenente — interrompeu
Tomisenkow. — Darei novas instruções quando
julgar conveniente. A suspensão continua de
pé. Tenho motivos para isto.
Dali a uma hora o tenente Tanjev saiu do
quartel-general, acompanhado de vinte e cinco
soldados.
Durante essa hora o general não quis falar
com ninguém. As informações de Tanjev leva-
ram-no a refletir, embora não o reconhecesse
perante os outros. Ele mesmo achara instintiva-
mente que havia algo de verdadeiro naqueles
boatos que nunca silenciavam. Mas não havia
nada de tangível. Era apenas o milagre dos êxi-
tos de Perry Rhodan e da Terceira Potência,
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que já se prolongavam por dez anos. Devia ha-
ver alguma explicação para o fato.
Pensou em Thora, a arcônida aprisionada. E
no robô R.17, que nunca saía de seu lado.
Sua mão se fechou. Deu uma pancada na
mesa de lona e despedaçou-a. Nem por isso sua
exaltação diminuiu.
Dirigiu-se à saída da barraca.
— Coronel Popolzak — gritou em meio ao
amanhecer de Vênus.
O coronel engatinhou para fora da barraca
vizinha.
— Às ordens, general.
— Venha cá! Preciso de cinco homens de
absoluta confiança.
— Pois não. Logo os mandarei.
— Deixe-me terminar! Não quero ver estes
homens. Ninguém deve vê-los. Daqui a pouco
darei um passeio com a prisioneira, fora do
acampamento.
Tomisenkow explicou mais alguns detalhes e
dirigiu-se à cabana que abrigava Thora e seu
robô.
— Olá, miss Thora. Posso entrar?
— Ah, é o general. Desde quando resolveu
praticar a cortesia?
Saiu da cabana e, num gesto de desafio, ati-
rou seu longo cabelo branco para a nuca. Tomi-
47
senkow evitou o olhar zombeteiro de suas pupi-
las avermelhadas. Esse tipo de duelo com aque-
la mulher sempre o deixara irritado.
— Quero convidar a distinta senhora para
um passeio. Acho que concordará em desfrutar-
mos juntos esta linda manhã de Vênus.
— Vamos — respondeu Thora numa sur-
preendente concordância. — Deve ter um esto-
que daqueles assuntos com que costuma me en-
treter de forma tão agradável.
Tomisenkow sabia perfeitamente que até en-
tão nenhum dos assuntos por ele abordados ha-
via sido do agrado da arcônida. E o assunto a
ser tratado hoje seria ainda mais desagradável.
A malícia voltou a animá-lo.
— Aguarde a surpresa, madame.
— Estou certa de que conseguirá surpreen-
der-me, general. Por exemplo, esse canhão que
traz nas costas...
Tomisenkow trazia um fuzil a tiracolo.
— Talvez tenhamos que penetrar em terre-
no difícil. Não preciso explicar à senhora, que
conhece perfeitamente as condições reinantes
em Vênus, que certos animais podem se tornar
bastante perigosos.
— Na minha opinião o R.17 será suficiente.
— Talvez seja suficiente para proteger a se-
nhora. Mas estou convencido de que não move-
48
rá um dedo se alguma coisa acontecer a mim.
Por isso, peço-lhe que deixe por minha conta a
escolha da maneira pela qual vou proteger mi-
nha pessoa.
As sentinelas postadas na saída do acampa-
mento fizeram continência quando Thora, o ge-
neral e R.17 passaram diante deles.
— Por que vamos nos afastar tanto? — per-
guntou a arcônida de repente. Estaria desconfi-
ando de alguma coisa?
Tomisenkow conseguiu esboçar um sorriso.
— Não se preocupe, madame. Não nos
afastaremos do acampamento mais que a dis-
tância de um tiro. Se estiver entrevendo a idéia
de fugir com o auxílio de seu amigo artificial, ou
mesmo de fazer algum mal à minha pessoa,
deixe que eu a previna em tempo. Quero lhe fa-
lar a sós.
— Isso poderia ser feito na barraca do se-
nhor.
— Deixe a decisão por minha conta. E pro-
cure se concentrar para dizer a verdade, no seu
próprio interesse.
— Devo interpretar isso como uma ameaça?
— Sinta-se ameaçada enquanto não obede-
cer às minhas ordens. Conte alguma coisa so-
bre seus mutantes.
— Sobre quem?
49
— Sobre seus mutantes. Refiro-me àquelas
pessoas misteriosas, sobre as quais a imprensa
mundial andou publicando uma porção de toli-
ces. Acontece que deve haver algo de verdadei-
ro em tudo aquilo. Sabe perfeitamente que de-
pendemos um do outro. O próprio Rhodan difi-
cilmente terá uma chance na selva de Vênus.
Deixou sua superioridade técnica em casa. E
antes que atinja a fortaleza do norte seu corpo
apodrecerá nos pântanos.
— No entanto, o senhor acredita nos mu-
tantes. Admitamos a hipótese de que estes real-
mente existem. Neste caso a superioridade de
Rhodan não seria imensa? Mesmo sem os re-
cursos tecnológicos? Ainda acontece que o se-
nhor se engana ao acreditar que Rhodan veio a
este planeta em minha companhia.
— Rhodan está aqui! — disse Tomisenkow
em tom áspero. — Não adianta negar.
— O que acabo de lhe dizer é a verdade, ge-
neral. O que adiantaria ratificar a mesma? Ao
que parece está mais bem informado sobre o
paradeiro de Rhodan do que eu. Se ainda se
encontra na Terra, ele me tirará daqui antes
que se passe mais um dia de Vênus.
— Pois antes que esse dia de Vênus chegue
ao fim, teremos atingido as montanhas do nor-
te. E assim que estivermos de posse da fortale-
50
za, tenho todo o planeta sob meu controle. Se
os planos secretos da senhora prevêem outra
coisa, só posso ter pena, madame. Se unir-se a
mim, levará o tipo de vida que lhe agrada. A
outra alternativa seria continuar a ser minha
prisioneira para sempre. E posso lhe assegurar
que disponho de meios para tornar sua vida
bastante desagradável.
— Não tenho a menor dúvida. Toda vez que
me diz uma coisa desagradável, suas palavras
correspondem à verdade. Acho que devemos
voltar, general. Nossa palestra é inútil.
— E os mutantes?
— Conheço os mutantes da Terceira Potên-
cia — disse Thora. — Alguns deles sabem ler
pensamentos. Outros podem influenciar os
pensamentos de alguém. Os chamados telepor-
tadores transferem-se de um lugar para outro
por força do pensamento. A qualquer momento
encontram-se no lugar em que querem estar. Se
eu fosse uma teleportadora, poderia chegar à
fortaleza de Vênus dentro de dois segundos.
— Rhodan é um mutante?
— Isso seria novidade para mim. Por que diz
isso?
— Enviei uma patrulha que o vem perse-
guindo há dias. Rhodan já atingiu a grande baía
do mar do norte. Está numa armadilha. Admita-
51
mos que não seja um mutante. Neste caso pos-
so ter certeza de pôr as mãos nele dentro de
dois dias terrestres.
Thora não deixou perceber quão profunda-
mente a notícia que Tomisenkow acabara de
dar-lhe a comovia. Embora ao sair da Terra
praticamente tivesse fugido de Rhodan, acredi-
tava que este seria o homem mais indicado
para libertá-la. Depois que seus planos se frus-
traram com a queda sobre a selva de Vênus, já
estava arrependida no seu íntimo da sua ação
precipitada.
— Se acredita que ele se instalou em algum
lugar da costa do mar do norte, vá buscá-lo.
Não posso impedi-lo.
Naquele instante um tiro foi disparado nas
proximidades. Uma bala ricocheteou e, assobi-
ando, foi bater contra a rocha.
— Proteja-se! — gritou o general, mas cor-
reu mais uns vinte metros antes de se atirar ao
solo.
Thora desapareceu imediatamente. Mas o
robô continuava de pé e enviou um breve raio
energético para a floresta, que logo começou a
arder.
Seguiu-se uma salva de tiros de armas manu-
ais.
Era evidente que o ataque se dirigia exclusi-
52
vamente contra a arcônida, pois o fogo se con-
centrou sobre o lugar em que se abrigara.
No mesmo instante o robô saltou para a
frente.
Ninguém acreditaria que pudesse ser tão
ágil. Seu corpo foi cercado por uma camada
tremeluzente, que parecia de ar quente.
“Será um campo energético?”, foi a pergun-
ta que acudiu a Tomisenkow.
Pouco importava! Segurou o fuzil por baixo
do braço e colocou um projétil superdimensio-
nal no cano; parecia uma granada de fuzil.
R.17 havia procurado um abrigo. A floresta
foi coberta por um fogo energético ininterrup-
to. Logo depois os tiros das armas convencio-
nais cessaram. O general completou a pontaria.
Puxou o gatilho. O campo energético do robô
revelou-se impotente contra a granada atômica.
R.17 volatilizou-se numa ligeira nuvem in-
candescente.
Poucos segundos depois Tomisenkow en-
contrava-se ao lado de Thora.
— Paço votos de que a senhora tenha pas-
sado sã e salva por tudo isso, madame. Posso
ajudar?
O tom de voz e as palavras do general deixa-
ram a arcônida ainda mais confusa. Não conse-
guiu dissimular o choque. R.17 ainda represen-
53
tava um certo apoio moral para ela, mesmo
como prisioneira. O ataque parecera verdadei-
ro. Mas quando ouviu as palavras de Tomi-
senkow percebeu que se deixara cair numa ar-
madilha.
Ignorou a mão que se estendia em seu auxí-
lio e levantou-se sozinha.
— O senhor é um homem ordinário! Thora
estava furiosa.
Isso fez com que Tomisenkow gozasse seu
triunfo com mais intensidade. E nem desconfia-
va de que na boca daquela mulher a palavra ho-
mem representava uma ofensa muito grave.
— Vamos voltar, madame. Imagino que a
perda de seu protetor metálico deve tê-la atingi-
do profundamente e que a continuação do pas-
seio não constituirá um bom descanso. Vá para
a cama e descanse um pouco.
— Isso o senhor me paga, general.
— Por que justamente eu?
— O senhor não vai querer negar que essa
manobra infame foi tramada pelo senhor.
— É claro que não. A senhora dá provas de
sua elevada inteligência por ter descoberto isso
tão depressa. Saiba perder esportivamente, ma-
dame.
Thora cuspiu diante dele. Vira algum ho-
mem fazer isso e pouco se importou com o fato
54
de que um gesto desse tipo não ficava muito
bem para uma dama. Aliás, não tinha o menor
interesse em guardar as formalidades terrenas.
Quando se enfurecia, perdia toda inibição.
Tomisenkow já conhecia sua prisioneira há
bastante tempo; sabia que, enquanto ela se en-
contrasse nesse estado, não seria fácil conver-
sar com ela. Sem dizer uma palavra deu-lhe as
costas e se dirigiu ao acampamento. Cem me-
tros atrás dele Thora passou pela sentinela. Um
soldado seguiu-a a certa distância para verificar
se realmente se recolhia à sua cabana.
O general mobilizou um grupo que se pôs a
controlar o incêndio da floresta. O estoque de
extintores a seco era muito reduzido, mas foi
suficiente para manter o fogo sob controle. A
flora suculenta de Vênus não era um combustí-
vel muito eficiente. Naquele planeta não se co-
nheciam secas prolongadas que permitissem o
resseca-mento das florestas e das estepes.
Tomisenkow era de uma obstinação prover-
bial. Voltou a se dirigir a Thora para perguntar
sobre os mutantes.
— Fora, seu bárbaro! — gritou Thora e res-
pirou profundamente para amontoar novos in-
sultos sobre o russo. Mas o sorriso zombeteiro
que seu rosto exibia tirou-lhe a fala. Deu-lhe as
costas e não disse mais uma palavra.
55
O general usou uma linguagem mais gentil.
— Em certa oportunidade a senhora me
ameaçou, dizendo que o R.17 poderia destruir
toda a tropa sob meu comando. Levei suas pa-
lavras a sério. Será que vai me dizer que tudo
não passava de um blefe inocente?
Thora não respondeu.
— Pois bem, seja o que quiser! — resmun-
gou Tomisenkow. — Não acredite que continu-
arei disposto por toda vida a prestar contas à
senhora. A senhora me ameaçou, e eu nunca
ocultei o fato de que para mim o robô represen-
tava um obstáculo. Fui mais rápido, e a senhora
se encontra sob meu poder, mais que antes.
Ainda dispõe de duas horas para descansar. De-
pois levantaremos o acampamento e marchare-
mos na direção nordeste. A fortaleza de Vênus
cairá. Não tenha a menor dúvida. E quem assu-
mirá a herança de seus antepassados arcônidas
serei eu, só eu. Com a senhora ou sem a se-
nhora, pouco importa.
Não obteve resposta. Depois de algum tem-
po saiu, dando de ombros.
Ao passar pela praça central do acampa-
mento, viu a tábua negra colocada junto aos
alojamentos da companhia de prontidão. Po-
polzak mandara afixar outro papel em que esta-
vam escritos os nomes dos cinco homens tom-
56
bados no combate contra o R.17.
Tomisenkow procurou reprimir a indagação
sobre a finalidade dessa ação. Quando entrou
em sua barraca sentia dor de cabeça.
***
61
4
***
***
***
***
99
— Vamos, Okura! Somos dois inválidos,
mas temos de aumentar nossa velocidade mais
um pouco. Será que você consegue?
O mutante tentou esboçar um sorriso confi-
ante, mas não conseguiu. Rhodan viu que o ra-
paz estava realizando um esforço que ultrapas-
sava sua capacidade.
— Venha cá, Son. Passe as três carabinas,
espingardas e o saco de mantimentos. É minha
vez de fazer o papel de burro de carga.
— Não fale como se eu até aqui tivesse leva-
do a carga sozinho. E não se esqueça do seu
ombro.
— Bobagem! Meu ombro está em vias de se
curar. Passe para cá essas bugigangas e pegue
o facão. Nos quilômetros que se seguem você
irá à frente. Terá bastante para fazer.
O gracioso japonês obedeceu. Continuaram
a avançar pela selva.
Há muito haviam deixado para trás a passa-
gem pelo rio.
Rhodan, que havia recebido o pedido de so-
corro de Marshall, não pôde permanecer por
mais tempo nas proximidades de Thora. Tinha
de chegar ao mar quanto antes. Só lhe restava
fazer votos de que alguém da tropa de Tomi-
senkow tivesse encontrado o bilhete que conti-
nha a advertência sobre a armadilha montada
100
por Wallerinski.
A hora já passara e não se ouvira nenhum
tiro.
— É claro que encontraram o bilhete — as-
severou Okura. — Se Tomisenkow tivesse pas-
seado embaixo daquelas árvores em que Walle-
rinski se mantinha à espreita, já teríamos ouvi-
do o barulho de outra batalha.
— Se for assim, por enquanto Thora está
em segurança. Não demorará muito e nós a ti-
raremos de lá. Assim que a noite descer sobre o
planeta, você será nossa arma mais potente,
Okura...
Perry Rhodan estava aludindo à capacidade
de ver as freqüências, de que Okura era dotado.
Embora para enxergar normalmente Okura
precisasse de óculos, ele possuía olhos que difi-
cilmente outro homem conhecia. Sua visão pe-
netrava profundamente nas faixas do ultraviole-
ta e do infravermelho. Isso significava que en-
xergava muito bem de noite.
— Quando a noite descer sobre o planeta...
— repetiu Okura. Pelo tom em que pronuncia-
va as palavras, até parecia que ansiava pela noi-
te. — Não sei por que, mas acho a divisão do
tempo na Terra muito mais simpática que a que
temos aqui. Até o anoitecer faltam mais de três
dias. E até lá temos de libertar Marshall da situ-
101
ação crítica em que se encontra.
— Não é até lá — asseverou Rhodan em
tom áspero. — Acho que o tempo de que dis-
pomos é muito menor.
Os últimos quilômetros foram percorridos
com uma relativa facilidade. Isso não dependia
tanto da natureza do terreno, mas antes da roti-
na que adquiriram ao lidar com a selva.
Captaram regularmente o vetor transmitido
por Marshall e isso lhes permitiu seguir pelo ca-
minho mais curto.
Pelas cento e cinqüenta e duas horas, Rho-
dan afirmou que estava cheirando o mar.
— Muito cuidado, Son! — advertiu. — Esta
floresta está cheia de combatentes sem escrúpu-
los.
Subitamente viram o mar junto de si. A vi-
são os surpreendeu um pouco. Poucos minutos
antes ainda se viram diante de uma vegetação
densa e rebelde.
— Hum — resmungou Rhodan. — Não se
vê muita coisa. Que neblina!
Okura sorriu.
— É uma neblina muito estranha, mas não
me incomoda nem um pouco. Se não me enga-
no ela vai se tornando cada vez mais densa
para o lado esquerdo.
— Você não está enganado, Son. Consegue
102
enxergar alguma coisa?
— Enxergo muito bem. A menos de trezen-
tos metros daqui pelo menos vinte homens es-
tão deitados na orla da floresta.
Estão simplesmente deitados no capim, por-
que acreditam que a neblina os protege contra
a visão.
— E Marshall?
— A península fica pouco adiante.
— Ah, sim. Vejo a ponta lá fora. E vejo um
ponto negro. Deve ser John. Não compreendo
como a neblina pode se concentrar num espaço
tão reduzido. No resto da área a visão é perfei-
ta.
Okura não soube responder.
— Quer que avance sozinho? — perguntou.
— Será fácil achar o meu caminho.
— Um momento: isso tem tempo. Rhodan
enfiou as mãos numa sacola que tirara dos paci-
fistas. Retirou duas cargas explosivas.
— Acho que isso os despertará. Voltaram à
floresta e aproximaram-se do grupo inimigo por
trás. Colocaram as duas cargas explosivas num
flanco do grupo e regularam os detonadores
para uma diferença de trinta segundos. Depois
retiraram-se apressadamente. Muito bem abri-
gados, acompanharam o desenrolar dos aconte-
cimentos.
103
— Falta um minuto — murmurou Rhodan.
Okura confirmou com um aceno de cabeça.
A primeira carga explodiu.
— Levantaram-se e estão correndo confusa-
mente de um lado para o outro. Gritam alguma
coisa...
— Estou ouvindo.
— A maioria deles procurou uma cobertura
no próprio local.
— E os outros?
— Três estão fugindo, para o oeste. Vão
correndo pela praia. Um deles parece ser cora-
joso: caminha em direção à floresta. Está com a
carabina em posição de atirar.
— Diz que isso é coragem? Esse sujeito ficou
maluco.
Os trinta segundos passaram.
A segunda carga explosiva detonou. A con-
fusão nas fileiras inimigas foi total. Todos espe-
ravam novas detonações, cuja origem por en-
quanto era desconhecida. Face a isso teve início
uma retirada geral para o oeste, que degenerou
até que cada um corria o mais que podia. Corri-
am pela costa, pois na praia o deslocamento
era mais fácil.
— O acesso à península está livre — disse
Okura em tom exaltado.
— Vamos, meu filho — decidiu Rhodan. As-
104
sumiram suas posições no início da península.
— Verifique o terreno a oeste — ordenou
Perry, mantendo-se ocupado com o rádio. —
Venha, John. Libertamos a passagem. Você
nos encontrará no ponto exato em que a pe-
nínsula se liga à terra firme.
— Pelo sagrado Universo, chefe! Isso foi um
trabalho bem feito. Já dispõe de peças de arti-
lharia?
— As explicações ficam para depois. Antes
de mais nada quero ver se ainda está inteiro.
Quando o vulto de John Marshall surgiu na
neblina, novas detonações rugiram ao longe.
Pela sua intensidade concluía-se que eram car-
gas de grosso calibre.
— O que foi isso? — gemeu Son Okura.
— Acho que foi um bombardeio — disse
Rhodan em voz baixa, falando entre os dentes.
— Vivo dizendo que alguns cavalheiros que se
encontram em Vênus erraram nos seus cálcu-
los.
***
***
— ALARMA!
A mensagem percorreu a coluna de Tomi-
senkow de ponta a ponta.
Depois que Raskujan apareceu, trazendo cla-
reza sobre a situação reinante em Vênus, ne-
nhum dos grupos em luta achou mais necessá-
rio brincar de esconder por meio de uma sus-
145
pensão das comunicações pelo rádio. Há mui-
tas horas reinava vida nas faixas de ondas cur-
tas e ultracurtas. Podiam correr livremente nas
imediações do planeta, pois a barreira levanta-
da pelo cérebro positrônico só impedia qual-
quer contato para fora. No interior da barreira
toda e qualquer forma de comunicação se tor-
nava possível.
O sargento Kossygin mantivera o aparelho
portátil ligado o tempo todo para a recepção.
Por isso pôde transmitir logo a advertência ao
general.
A mensagem de alarma foi seguida imediata-
mente de instruções mais precisas. Tomisenkow
explicou que era do interesse de cada um segui-
las. Os homens se dividiram em grupos e pro-
curaram se abrigar atrás de árvores espessas.
As armas leves e semipesadas de infantaria fo-
ram colocadas em posição. As metralhadoras
foram montadas em tripés e posicionadas para
atirar em aviões.
Tomisenkow vigiou Thora com olhos de lin-
ce.
— Não me cause problemas a esta hora,
madame — disse em tom áspero. — Nos próxi-
mos minutos não terei muito tempo. Não pode-
rei lhe indicar cada passo que deve dar. Mante-
nha-se sempre perto de mim.
146
A linguagem lacônica e enérgica parecia
produzir o efeito desejado. Aborrecida, confir-
mou com um aceno de cabeça e não esperou
que Tomisenkow a segurasse brutalmente pela
mão e a arrastasse por entre a vegetação. Se-
guiu-o espontaneamente.
O general se dirigiu ao posto de rádio.
— Dê-me um fone, cabo.
— As ordens!
Tomisenkow ouviu um chiado que subia e
descia pela escala acústica, enquanto Kossygin
procurava sintonizar o aparelho. Subitamente
ouviu os sons familiares de sua língua materna.
— César para Lúculo. Espalhem-se de acor-
do com o plano A. Repito. Nada de bombardei-
os enquanto a posição do inimigo não tiver sido
perfeitamente determinada. O estado-maior de
Tomisenkow e principalmente essa arcônida
devem cair em nossas mãos intactos. César
aguarda resultados da exploração do terreno.
Fim!
— César e Lúculo! — gemeu Tomisenkow.
— Ouçam só o vocabulário usado por esse ban-
do de desertores. Mantenha o receptor ligado,
cabo.
Kossygin confirmou com um aceno de cabe-
ça.
Conforme se depreendia das indicações de
147
posição não codificadas, os primeiros helicópte-
ros haviam atingido a costa ao sul. Pouco de-
pois o ruído dos motores se tornou perceptível.
O ninho de metralhadora que ficava mais
perto do posto de rádio era comandado pelo
pequeno e atarracado Alicarim.
— Olá, Ali! Aguarde minhas ordens. Não
atire antes.
— Às ordens, general.
Uma voz voltou a soar nos fones de ouvido.
— Lúculo para César. Tomisenkow abando-
nou o acampamento anterior. Sentido provável
de seu deslocamento aproximadamente para o
norte. A distância é de cinco a dez quilômetros
da costa.
— César para Lúculo. Utilizar visores infra-
vermelhos para a observação no solo. Concen-
trar-se numa faixa de dez quilômetros ao sul da
costa sul.
Nesse momento o primeiro helicóptero tro-
vejou exatamente sobre o lugar em que a tropa
de Tomisenkow se encontrava. Os homens iam
respirar aliviados quando o ruído se perdeu por
cima da selva. Mas logo se ouviu a mensagem
seguinte.
— Lúculo para César. Localizamos o inimi-
go. Tomisenkow suspendeu a marcha. É prová-
vel que tenha assumido uma posição defensiva.
148
Transmitirei as coordenadas.
— César para todos. Orientem-se por Lúcu-
lo II. Realizem um vôo visual. O grupo de de-
sembarque Otávio desembarcará na faixa cos-
teira e se espalhará em direção ao sul. O grupo
de desembarque Cícero saltará conforme o pla-
no AB. Ainda não abram fogo.
Furioso, Tomisenkow arrancou o fone do
ouvido.
— Quem foi o idiota que andou livremente
por aí? Quero que ele se apresente imediata-
mente.
É claro que ninguém se apresentou.
— Quando os helicópteros se aproximarem
de novo, abram fogo — ordenou Tomisenkow.
Fechou os olhos por alguns segundos. Thora
percebeu que se esforçava desesperadamente
para recuperar o autocontrole. Numa situação
dessas não convém que o comando esteja nas
mãos de um louco furioso.
As tropas de Raskujan se concentraram cada
vez mais em torno do ponto que correspondia
às coordenadas fornecidas pelo observador Lú-
culo II. Alguns minutos depois, seis helicópteros
passaram em vôo rasante sobre as posições de
Tomisenkow.
— Fogo! — berrou o general em meio ao
barulho infernal produzido pelos rotores.
149
Alicarim leu o comando nos seus lábios mais
do que o ouviu. No mesmo instante a primeira
rajada saiu do cano refrigerado a ar. Poucos se-
gundos depois as metralhadoras que se encon-
travam em pontos mais afastados também co-
meçaram a atirar. O som entrecortado das mes-
mas se misturou ao barulho dos helicópteros.
Era evidente que o coronel Raskujan subesti-
mara em muito o poder de fogo do inimigo. De
outra forma nunca teria dado ordem para um
vôo rasante tão despreocupado. Alguns ho-
mens de Wallerinski que vagabundeavam pela
selva deviam ter fornecido um relato distorcido
sobre os remanescentes da divisão espacial. E,
ao que tudo indicava, esqueceram-se de menci-
onar que, apesar de todo embrutecimento, os
homens de Tomisenkow ainda não haviam de-
saprendido a arte de atirar.
Para os helicópteros, sujeitos à já conhecida
proibição de atirar, o fogo de metralhadora re-
presentou uma surpresa total. Era o oposto
exato do primeiro ataque.
— Atingi um! — berrou Alicarim depois das
primeiras três rajadas.
O rotor do primeiro helicóptero se desinte-
grou. Devia ter atingido a junta. O helicóptero
caiu imediatamente e com um grande estrondo
atingiu uma árvore de uns sessenta metros de
150
altura. Os destroços caíram ao chão.
Alicarim visou outro alvo, quando a derruba-
da de um segundo aparelho foi anunciado pelos
ocupantes de um ninho de metralhadora situa-
do mais adiante.
— Tudo está correndo segundo o programa.
Continue a atirar, Ali! Atire! Aquele gorducho
que está bem em cima de nós...
Os êxitos alcançados entusiasmaram Tomi-
senkow. Apesar disso manteve-se abrigado,
pois a todo instante contava com uma reação
do inimigo.
Pouco depois uma forte detonação superou
todo o ruído da batalha. Alicarim derrubara
mais um inimigo. Atingira-o no tanque de com-
bustível. A máquina explodiu no ar e os ho-
mens que se encontravam no solo encolheram
a cabeça. Uma chuva de destroços aquecidos e
incendiados despencava em todos os cantos.
Nuvens de fumaça subiram em meio à selva.
O general levantou a cabeça.
— Tudo bem por aí?
— Aqui não aconteceu nada, general. Ali
vem o número quatro. Os Raskujan estão cho-
vendo de todos os quadrantes do céu. Esse su-
jeito não vai esquecer a lição que recebeu.
O quirguiz só teria razão em parte. Raskujan
extraiu as conclusões cabíveis dos resultados da-
151
quele combate; mas essas conclusões não deter-
minavam a cessação completa dos ataques.
Os helicópteros que vinham depois deram
meia-volta assim que viram o que estava acon-
tecendo com os que iam à frente. O céu estava
limpo. Desta vez a divisão espacial escapara
sem perdas.
— Procure entrar em contato com Raskujan
— disse Tomisenkow ao sargento-telegrafista.
— E dê-me o microfone e o fone de ouvido.
— O coronel já está na onda, general —
anunciou Kossygin. — Quer falar pessoalmente
com o senhor.
— Passe para cá! Esta o senhor não espera-
va, não é, Raskujan? Recomendo-lhe que se
submeta às minhas ordens. Se comparecer pes-
soalmente dentro de duas horas, esquecerei
tudo que aconteceu até aqui. Dou-lhe minha pa-
lavra de oficial.
— Muito obrigado, general! Não posso pro-
meter que o encontro seja possível dentro de
duas horas. Mas irei até aí. Não tenha a menor
dúvida. Mas recomendo-lhe que antes de nosso
encontro largue toda e qualquer arma que te-
nha em seu poder. Eu lhe garanto que não so-
frerá nenhum dano pessoal.
— Raskujan! Será que o senhor não com-
preende que está precipitando sua própria des-
152
graça? Não haverá nenhuma visita como o se-
nhor imagina. Temos armas e munições para
rechaçá-lo mais cem vezes...
— Ora, Tomisenkow! Quando eu o ouço fa-
lar chego a ter vergonha de saber que já foi
meu professor de estratégia. Não me importarei
nem um pouco de lançar meu próximo ataque
com bombas de todos os calibres. Estou em
condições de destruir o senhor e seus homens
dentro de poucos minutos. E o trecho de selva
em que se encontra está cercado por todos os
lados pelas minhas tropas. Reflita à vontade. O
senhor pode morrer de fome e se desgastar aos
poucos numa série de combates, ou então será
razoável e permitirá que eu lhe indique uma ha-
bitação condigna numa das nossas naves espa-
ciais.
— Muito obrigado pela oferta. Sua comodi-
dade é um sinal de decadência que não me atrai
nem um pouco. Meus homens e eu estamos
praticamente casados com Vênus. Mas seus he-
róis de salão quebrarão os ossos na selva. Não
deixe de aparecer, coronel! Será tratado segun-
do seu comportamento, como um oficial ou
como um criminoso. Pense no assunto. Fim.
Tomisenkow largou o microfone e o fone de
ouvido.
— Continue com o receptor ligado, Kossy-
153
gin. Mas não responda mais. Quando surgir
uma palestra interessante grave-a até o fim,
para que eu possa ouvi-la depois. Continuare-
mos a marchar em direção ao litoral.
***
***
***
***
166
Reginald Bell, que pretendia vir em auxí-
lio de seu chefe e amigo, teve que admitir
que a CHAVE SECRETA X também impedia
qualquer penetração através da quinta di-
mensão.
Por isso, Perry Rhodan não pode contar
com qualquer auxílio vindo de fora. Tem de
se libertar com suas próprias forças para não
perecer na selva do mundo primitivo.
NA SELVA DO MUNDO PRIMITIVO é o
título do próximo volume da série Perry Rho-
dan.
*
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ÐØØM SCANS
PROJETO FUTURÂMICA ESPACIAL
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