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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO ACDÊMICO DO AGRESTE


NÚCLEO DE DESIGN
CURSO DE DESIGN

CRISTIANNY EUGÊNIA SILVA E MELO

POÉTICA DO ARCO E FLECHA NO DESIGN E NO


IMAGINÁRIO

CARUARU
2017
CRISTIANNY EUGÊNIA SILVA E MELO

POÉTICA DO ARCO E FLECHA NO DESIGN E NO


IMAGINÁRIO

Trabalho de conclusão de curso de


graduação apresentado ao Núcleo de
Design, da Universidade Federal de
Pernambuco, no centro acadêmico do
Agreste; como requisito para obtenção do
grau de bacharel em Design.

Orientador: Professor Doutor Eduardo


Romero Lopes Barbosa.

CARUARU
2017
Catalogação na fonte:

Bibliotecária – Paula Silva – CRB/4-1223

M528p Melo, Cristianny Eugênia Silva e.


Poética do arco e flecha no design e no imaginário. / Cristianny Eugênia Silva e Melo.
– 2017.
73f.; il.: 30 cm.

Orientador: Eduardo Romero Lopes Barbosa.


Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade Federal de
Pernambuco, CAA, Design, 2017.
Inclui Referências.

1. Poética. 2. Armas antigas. 3. Arco e flecha. 4. Simbolismo. 5. Civilização –


História. I. Barbosa, Eduardo Romero Lopes (Orientador). II. Título.

740 CDD (23. ed.) UFPE (CAA 2017-160)


CRISTIANNY EUGÊNIA SILVA E MELO

POÉTICA DO ARCO E FLECHA NO DESIGN E NO IMAGINÁRIO

Trabalho de conclusão de curso, apresentado à


Universidade Federal de Pernambuco- Centro
Acadêmico do Agreste, com exigência parcial
para obtenção de título de bacharel em Design,
sob a orientação do Professor Dr. Eduardo
Romero Lopes Barbosa.

Aprovada em, 11 de julho de 2017.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________

Profa. Ms Glenda Gomes Cabral

(Universidade Federal de Pernambuco)

________________________________________________________

Profa. Ms. Sophia Oliveira Costa da Silva

(Universidade Federal de Pernambuco)

________________________________________________________

Prof. Dr. Eduardo Romero Lopes Barbosa

(Universidade Federal de Pernambuco)


A primeira arqueira ou arqueiro, quem quer
que tenha sido você.
As culturas, aos mitos e aos Deuses e a
teoria da Sincronicidade. Sem esses
elementos essa pesquisa nunca seria
realizada.
AGRADECIMENTOS

Ao meu pai Eugênio que me incentivou a terminar o curso, mesmo com grandes
dificuldades.

Аоs meus amigos, pelas alegrias, tristezas е dores compartilhas. Com vocês, as
pausas entre um parágrafo е outro dе produção melhora tudo о qυе tenho produzido
nа vida. Agradeço a vocês meus amigos que me incentivaram e me ajudaram de
alguma forma no decorrer dessa viagem monográfica: Nanda, Thal, Villas, Jonas,
Dalci, Tays e minha grande amiga Larissa. Ao pessoal da APODEC Caruaru Archery,
aos meus amigos e arqueiros Angélica e George, que também contribuíram muito
para a finalização desse trabalho. Ao pessoal do Fotolab, tive um enorme prazer em
participar desse laboratório, sentirei muita falta de todos vocês.

Ao meu professor orientador Eduardo Romero, Companheiro de Caminhada ао


longo do Curso de Design. Еυ posso dizer qυе а minha formação, inclusive pessoal,
não teria sido а mesma sem а sυа pessoa, graças a você pude desenvolver essa
pesquisa e conhecer um dos métodos de ensino mais incríveis tanto para o
conhecimento espiritual como no conhecimento acadêmico.
“Nunca apontar o Arco e flecha quando ele
estiver armado ( quando puxa a corda com a
flecha no arco) para uma pessoa ou um
animal, deve-se sempre utilizar flechas com o
mesmo tamanho da puxada do arqueiro; o
arqueiro deve ter a pista de tiro livre, ou seja,
nunca deve haver um objeto, pessoas,
animais entre o arqueiro e o alvo; deve-se ter
cuidado com o tempo em que o Arco e flecha
fica dentro do porta malas de um carro, pois
dentro do mesmo gera muito calor podendo
danificar o Arco e flecha; quando retira-se a
flecha do alvo, deve-se olhar se há alguém
atrás ou próximo, pois uma retirada brusca
pode machucar o outro arqueiro; nunca deve-
se atirar o arco sem a flecha, pois a vibração
pode danificar as lâminas do arco.”

(Regras de segurança)
RESUMO

Esta pesquisa trata da poética do Arco e flecha no Design segundo a Teoria do


imaginário. Primeiramente são estudados os mitos e a história do Arco e flecha, onde
são identificadas narrativas míticas de distintas culturas para assim demonstrar como
este artefato foi utilizado e o seu simbolismo, assim como o desenvolvimento de seu
design na História. Num segundo momento é analisado o Arco e flecha na atualidade,
seus usos, os equipamentos que o compõem, os tipos de arcos que são utilizados e
suas especificidades, seu design e sua relevância. Também é analisado alguns
campeonatos que existem na atualidade. Por fim, as conclusões acerca das relações
entre este artefato e o Design.

Palavras-chave: Design. Imaginário. Arco e flecha.


ABSTRACT

This research deals with the poetics of the Bow and arrow in Design according to the
Theory of the Imaginary. First, the myths and history of the Arch and arrow where
mythic narratives of different cultures are identified to demonstrate how this artifact
was used and its symbolism, as well as the development of its design in History In a
second moment the Arch and arrow is analyzed in the present time, its uses, the
equipment that compose it, the types of arches that are used and their specificities,
their design and their relevance. Also analyzed are some championships that exist
today. Finally, the conclusions about the relations between this artifact and Design.
Keywords: Design, Imaginary, Archery.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.....................................................................................11
2 MITO E HISTÓRIA DO ARCO E FLECHA..........................................14
2.1 Mito de Apolo e Dafne ................................................................................... 16
2.2 Icamiabas - As Amazonas Brasileiras.......................................................... 19
2.3 O Mito japonês ............................................................................................... 21
2.4 O Kyudo e o Yabusame ................................................................................. 23
2.5 Arco Tradicional ............................................................................................ 33
3 O ARCO E FLECHA E DESIGN. CONTEXTO
CONTEMPORÂNEO..............................................................................37
3.1 Função Simbólica .......................................................................................... 37
3.2 Função de Uso ............................................................................................... 38
3.3 Função Técnica .............................................................................................. 38
3.4 Técnicas de Utilização do Arco e Flecha Contemporâneo ........................ 39
3.5 Arco Olímpico ou Recurvo ............................................................................ 40
3.5.1 Empunhadura ............................................................................................ 41
3.5.2 Lâminas..................................................................................................... 42
3.5.3 Dedeira ou Tab ......................................................................................... 44
3.5.4 Corda ........................................................................................................ 44
3.5.5 Estabilizadores .......................................................................................... 45
3.5.6 Pulseira ou Sling ....................................................................................... 46
3.5.7 Mira ........................................................................................................... 47
3.5.8 Rest ........................................................................................................... 48
3.5.9 Clicker ....................................................................................................... 49
3.5.10 Cushion Plunger ou Button ..................................................................... 49
3.5.11 Kisser Button ou Beijador ........................................................................ 50
3.6 Arco Composto .............................................................................................. 52
3.6.1 Polia Excêntrica......................................................................................... 54
3.6.2 Cordas e Cabos ........................................................................................ 56
3.6.3 Gatilho ....................................................................................................... 56
3.7 Outros aparatos que compõe o Arco e Fecha ............................................ 57
3.7.1 Nock Point ................................................................................................. 57
3.7.2 Flechas...................................................................................................... 58
3.7.3 Penas ........................................................................................................ 59
3.7.4 Alvo ........................................................................................................... 59
3.7.5 Nocks ........................................................................................................ 59
3.7.6 Ponta da Flecha ........................................................................................ 60
3.7.7 Braçadeira ................................................................................................. 60
3.7.8 Protetor de Tórax ou Peitoleira ................................................................. 61
3.7.9 Aljava ........................................................................................................ 62
3.7.10 Case ou estojo ........................................................................................ 62
3.8 Competições .................................................................................................. 63
3.8.1 Target ........................................................................................................ 63
3.8.1.1 Campeonato Outdoor ......................................................................... 64
3.8.1.2 Campeonato Indoor............................................................................ 65
3.8.2 Campeonato Field ..................................................................................... 66
3.8.3 Competição 3D.......................................................................................... 67
3.8.4 Arqueria Tradicional .................................................................................. 68
3.8.5 Bowhunting (Caça com Arco) .................................................................... 69
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................70
REFERÊNCIAS...................................................................................72
11

1 INTRODUÇÃO

A grande área desta pesquisa é o Design, que pode ser considerada uma Ciência
Social Aplicada, onde se é estudado os artefatos e sua influência na História e na
Cultura. No caso deste texto, será pesquisado o Arco e Flecha, artefato histórico, que
acompanha a trajetória do Homem desde os primórdios e em seus mitos de origem.
Desta forma, o Design enquanto grande área de pesquisa, aqui encontra-se com a
outra grande área que é a Cultura, e, ambos se unem nesse caso, pois o artefato Arco
e Flecha além de ser um objeto de Design e também um objeto cultural como será
debatido adiante.

Assim, a pergunta de pesquisa deste projeto é: Como os sistemas simbólicos do


artefato Arco e Flecha se manifestam no design do mesmo, considerando seu uso em
diversas culturas?

A partir do que foi dito acima, o objeto geral dessa pesquisa é analisar o
surgimento e o significado do Arco e Flecha enquanto artefato de Design através dos
Mitos e da História em culturas distintas segundo a Teoria do Imaginário, observando
o seu desenvolvimento ao longo dos séculos e seu contexto contemporâneo.

Especificamente os objetivos são:

- Debater sobre os Mitos e a História do Arco e Flecha;

- Discussão mito simbólica do Arco e Flecha enquanto artefato;

- Contextualização contemporânea do Arco e Flecha no âmbito do Design.

A pesquisa sobre a história dos artefatos é vital para se entender como surge
a cultural material e a necessidade dos objetos na sociedade, a exemplo do Arco e
Flecha, instrumento que surgiu simultaneamente em várias culturas praticamente no
mesmo período histórico. Através dos relatos míticos pode-se perceber os usos
simbólicos desse artefato em cada cultura. A importância deste debate para o âmbito
acadêmico e social é demonstrar como esse artefato é utilizado hoje, como ele deu
origem a outros artefatos e como o designer intervêm na sua concepção.
12

Para tal, utiliza-se a Teoria do imaginário que segundo Durand apud Pitta
(2005), trata do conjunto de imagens e de relações de imagens que constitui o capital
pensando pelo homem, que constitui a essência do espírito, ou seja, o esforço do ser
para se erguer uma esperança viva diante e contra o mundo objetivo da morte.
Quando se for falar do imaginário deve-se possuir um repertório amplo do imaginário
normal e patológico em todas as camadas culturais que propõem a história, as
mitologias, a etnologia, a linguística e as literaturas. Dessa maneira, ela foi a teoria
que mais se adequou para o estudo desse artefato, visando o estudo dele na cultura,
a sua importância simbólica e o porquê de ele ser um artefato tão utilizado e por
possuir um grande status social.

Esse artefato tem o formato de um arco, antigamente feito de madeira, onde é


utilizada uma corda para tencionar o arco, pois só dessa forma pode-se lançar a
flecha. Fazendo dessa maneira que um não funcione sem o outro, o arco e a flecha é
um conjunto de artefatos que dependem de uma dinâmica para funcionar.

O arco e flecha é um artefato histórico que foi e ainda é utilizado por diversas
culturas, onde inicialmente surge como uma arma para o uso da caça, onde passa a
ser utilizado em várias culturas como artefato de guerras. Hoje ele é mais utilizado
como um artefato voltado para o esporte, muito popular no meio olímpico.

Nesta pesquisa serão discutidos os Mitos, a História e a contemporaneidade do


artefato arco e flecha utilizando-se metodologicamente a análise mito-simbólica da
Teoria do Imaginário, que imprimem a este estudo e ao texto, uma abordagem poética
do tema.

A estruturação deste trabalho monográfico parte do pressuposto de que sua


criação auxiliará acadêmicos e estudantes que tenham interesse do simbolismo do
Arco e Flecha e seu desdobramento histórico. O mesmo terá uma abordagem de
cunho qualitativo, onde será feita uma revisão da literatura através de autores
pertinentes sobre os assuntos referentes à Mitologia, História, Design e o método do
Imaginário. Assim, o método de abordagem será hipotético-dedutivo, pois parte da
hipótese de que o estudo mito-simbólico e histórico do Arco e Flecha no Design tem
finalidades acadêmicas pela falta de material bibliográfico sobre o assunto.

Logo, será analisado o passado do Arco e Flecha onde foi utilizado para
guerras e para caça, em contrapartida que, na contemporaneidade este artefato é
13

utilizado para esporte como uma das modalidades olímpicas mais populares nas
grandes mídias. Sob a ótica do Design, o Arco e Flecha será analisado e estudado
como um produto, pois será debatida a sua importância cultural e sua evolução
enquanto artefato de caça, guerra e esporte.

Sobre a ótica do design de produto esse artefato será analisado e classificado


a partir das funções de uso, técnica e simbólica. Também será analisado sobre uma
ótica de design cultural, tentando entender a sua importância para as culturas na sua
atualidade.

A análise mito-simbólica articula o texto poético, os mitos, os arquétipos e os


símbolos. Para tal, será utilizada para compreender os símbolos e mitos desse
artefato, mostrando dessa forma a sua importância para a humanidade, pois um objeto
só é considerado um artefato simbólico-funcional através da legitimação da cultura,
que é construída a partir dos mitos.

No primeiro capítulo será abordada a análise mito-simbólica em relação à pesquisa


e também os mitos e seus sistemas simbólicos pertinentes ao artefato Arco e Flecha,
a partir de mitos grego, japonês e o sul americano, demonstrando assim a teoria da
Sincronicidade de Jung. Nesse capítulo também será abordada a história do Arco e
Flecha, suas diferentes formas de uso pelo mundo e as suas transformações durante
os tempos, mostrando dessa maneira a importância cultural que esse artefato teve e
ainda tem na história e na cultura material e simbólica da humanidade.

No segundo capítulo será debatido como esse artefato é utilizado na atualidade,


detalhando cada item de seu uso nas práticas atuais, inclusive, sobre as normas de
competições e de segurança. Também será abordado os torneios que existem e a
importância do design na sua concepção contemporânea. Será explicado o que o
design e a cultura falam sobre esse artefato e o porquê de continuar tendo uma
importância tão grande para a humanidade, apesar de se ter passado tantos séculos
desde a sua invenção.
14

2 MITO E HISTÓRIA DO ARCO E FLECHA

Essa pesquisa visa o estudo e a análise do Arco e Flecha, onde revela-se seu
simbolismo e sua história enquanto artefato, que aparece em várias culturas em
tempos próximos, lembrando desta maneira o que Carl Gustav Jung (2000, p.115) fala
sobre a Sincronicidade1. Através da noção de Sincronicidade de Jung entende-se
neste projeto que o Arco e Flecha é um artefato de simultaneidades históricas, pois
como dito anteriormente, o Arco e Flecha aparece quase ao mesmo tempo em
diferentes países. Trata-se de um Inconsciente Coletivo observado por Jung e
recrudescido pela Teoria do Imaginário (Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo -
Jung, 2000). Por exemplo, um Sujeito no Japão em tempos imemoriais projetou este
artefato enquanto outra pessoa em alguma parte do mundo também o fez. Dessa
maneira o Arco e Flecha se torna ele próprio um Mito, pois não se sabe realmente sua
origem e como ele chegou a povos distintos simultaneamente.

Através da análise mito-simbólica será analisado o artefato Arco e Flecha como


artefato de design nos mitos descritos abaixo, que pertencem a distintas culturas
remetendo a teoria da sincronicidade. A análise mito-simbólica, nesse caso, remete
aos símbolos que o arco representa em cada mito e cultura em que ele é descrito.

O Arco e Flecha é um artefato que não se sabe exatamente quando surgiu,


mas sabe-se que foi criado simultaneamente em épocas distintas e em civilizações
distintas. Originalmente esse artefato era utilizado para a caça e nas guerras tribais.

Artefato é um objeto feito pela incidência da ação humana sobre a matéria-


prima: em outras palavras, por meio da fabricação. Sua raiz etimológica está
no latim arte factus, “feito com arte”; e ela está na origem do termo “artificial”,
ou seja: tudo aquilo que não é natural. (CARDOSO, 2012, P. 47).

O Arco e Flecha é um artefato de design, pois como explicitado por Rafael


Cardoso em seu livro Design para um Mundo Complexo (2012), ele é um objeto
natural, ou seja, veio da natureza e é alterado tanto pelo imaginário como pela ação

1 Termo que se refere na Psicanálise Junguiana sobre a simultaneidade de acontecimentos


semelhantes e territorialmente distantes.
15

humana, sendo este artefato considerado uma arte, pois a própria raiz etimológica da
palavra artefato, diz que ele é feito como objeto de arte.

Segundo PITTA (2005), a história é subentendida por uma estrutura imaginária,


como toda atividade humana, e dessa forma, entende-se que os mitos são parte da
história da humanidade.

Outros intérpretes segundo Euhemerus Messina (século IV a.C) viram nos


mitos uma representação da vida passada do povo, sua história, seus heróis
e seus feitos, representado de forma simbólica no plano dos deuses e suas
aventuras, o mito seria um drama da vida social ou a história poetizada.
(CHEVALIER, P. 714-715, tradução nossa).2

Os arcos primitivos eram menores, utilizados para a caça por índios nas
Américas, na Europa e no Oriente. Através da história desse artefato, sabe-se que os
egípcios foram os primeiros a desenvolver os arcos compostos primitivos, esses feitos
de diversos materiais. A corda desse arco era feita com intestinos de carneiros
esticados. No Egito, os arqueiros utilizavam esse artefato sobre carruagens.

Durante a Idade média, e segundo relatos bíblicos, nesse período o poder dos
exércitos dessas nações dependia dos arqueiros infames (a pé) ou montados. Na
Grécia antiga, o arco foi utilizado como esporte desde os Jogos Olímpicos, assim
como foi muito utilizado em festividades egípcias, assírias, babilônicas e nos Jogos
Romanos do Coliseu. Vemos dessa maneira que o arco foi utilizado em diversas
culturas por diversos motivos, surgindo como esporte nos tempos modernos, embora
fosse já considerado um esporte por diversos povos.

O mito seria de alguma maneira o “modelo” matriarcal de todo relato,


estruturado pelos schèmes e arquétipos fundamentais da psique do sapiens
sapiens, a nossa. Deve-se então procurar qual – ou quais – mito mais ou
menos explícito (ou latente!) anima a expressão de uma “linguagem”
segunda, não mítica. Por quê? Porque uma obra, um autor, uma época – ou
ao menos um “momento” de uma época -, é “obcecado” (Ch. Mauron) de
maneira explícita que dá conta de maneia paradigmática de suas aspirações,
seus desejos, seus medos, seus temores. (DURAND, 1963 apud PITTA, 2005
p. 98).

2 Otros intérpretes, siguiendo a Evémero de Mesina (siglo IV a.C.) han visto en los mitos una
representación de la vida pasada de los pueblos, su historia, con sus héroes y sus hazañas,
representada en cierto modo simbólicamente en el plano de los dioses y de sus aventuras: el mito sería
una dramaturgia de la vida social o de la historia poetizada. (CHEVALIER, p. 714 - 715).
16

2.1 Mito de Apolo e Dafne

Na Grécia Antiga inúmeros mitos falam da importância do Arco e Flecha. No


mito de Apolo e Dafne é contada a história em que o Cupido usa diferentes tipos de
flechas feitas para atrair o Amor e outra para negá-lo.

Figura 1: Cupido por Reni Guido (1637-1638) – Coleção Real – Madri.

Fonte:https://www.museodelprado.es/coleccion/obra-de-arte/cupido/79460be4-4261-4084-
bcb0-369f885a31df Acesso: 16/06/2017

O cupido é “O deus-menino do amor, filho de Vênus (v.), uma repetição romana


de Eros (v.). [...].“ (ZAHAR, 2008, p.98 ). Como observado por Zahar, o Cupido mesmo
sendo um Deus era retratado como uma figura infantil na mitologia romana, é o Deus
do amor que sempre é caracterizado por carregar consigo o seu Arco e Flecha,
artefato que ele utilizava para atirar em suas vítimas causando amor, paixão ou ódio,
17

tanto em mortais como em imortais. O Cupido também é conhecido na mitologia Grega


como Eros:

Nas teogonias mais antigas Eros, o Amor, aparece como uma divindade
contemporânea de Gaia (a Terra), oriundo do Caos inicial e cultuado sob a
forma de uma simples pedra (ou então nascido do Ovo primordial engendrado
por Nix (a Noite)), do qual surgiram Urano (o Céu) e Gaia (a Terra). Tanto
numa versão como noutra Eros é uma força preponderante na ordem do
universo, responsável pela perenidade das espécies e pela harmonia do
próprio Cosmos (ZAHAR, 2008, p.131 ).

Neste relato mítico grego de Eros, vemos que ele é um dos deuses mais
importantes, foi um dos que primeiro surgiram no universo, sendo assim considerado
muito importante. Entende-se dessa maneira que de Eros descende que o amor é
fundamental para a existência e perseverança dos homens.

Mencionava-se outro Eros, filho de Hermes e Ártemis - o Eros alado ou não


dos escultores e dos poetas. Seu poder era irresistível, e a ele se dobravam
não-somente os mortais, mas também os heróis e os próprios deuses, todos
sujeitos às suas flechas certeiras. Uma das lendas mais conhecidas em que
aparece Eros é a relativa a Psiqué (v.). O Cupido (v.) dos romanos é uma
réplica de Eros (ZAHAR, 2008, p.131).

Nessa versão grega de Eros pode-se notar a semelhança com o Cupido


romano.

Em outra passagem mítica, Apolo vendo o Cupido com seu arco e flechas,
desqualificando-o, dizendo-lhe que ele não passa de um menino, e como Apolo havia
acabado de derrotar a serpente Píton, se achava o mais poderoso dos deuses. Desse
modo, Cupido disse-lhe que as flechas de Apolo poderiam ferir qualquer animal ou
homem mortal, porém as suas flechas poderiam ferir o próprio Apolo. Assim, Cupido
retirou as duas flechas distintas de sua aljava e as desferiu em Dafne e Apolo. Com a
flecha de chumbo (a que repelia o Amor) ele ferira a ninfa Dafne e com a de ouro
(flecha que atraia o Amor) acertou Apolo no coração. Quando Dafne, filha do rio-deus
Peneu, percebeu o interesse de Apolo, fugiu dele, porém, o deus continuou a caçá-la,
implorando para que ela cessasse de fugir, fazendo-lhe juras de amor. Porém pelo
efeito da flecha do Cupido, Dafne continua fugindo quando percebe que Apolo ia ao
seu encontro. Ela roga ao seu pai para ser tragada pela terra ou ser transformada em
qualquer outra criatura para fugir de Apolo. Ouvindo as suas preces, Peneu transforma
sua filha em uma árvore. Apolo vendo que não poderia ter Dafne como sua mulher diz
então que a transformaria na sua planta preferida e que usaria as suas folhas como
18

coroa. Diz também os relatos históricos que quando os romanos caminhavam em


cortejos triunfais usavam coroas de folhas de Dafne.

Figura 2: Apollo e Daphne por Gian Lorenzo Bernini (1598 - 1680) – Galleria Borghese - Roma.

Fonte: http://www.beardedroman.com/images/bernini_apollo.jpg Acesso: 16/06/2017

Através desse mito se difundiu não apenas o Arco e Flecha como um


instrumento de guerra, para a cultura romana e grega, mas também como um artefato
onde o Amor e o Ódio dialogam, pois, o Cupido possuía ambas flechas (BULFINCH,
2006). Ao contrário de outros mitos, nesse caso, o Arco e Flecha são o símbolo do
Amor e do Ódio, ele representa sentimentos e não um objeto de caça ou de batalhas.
19

Em relação a este fato, as guerras têm um sentimento ambíguo, onde são


marcadas pelo amor, por uma causa ou pelo ódio ao inimigo, nesse caso, o Arco e
Flecha é a arma que serve aos propósitos da batalha, da mesma maneira que no mito
de Apollo e Dafne, onde há a flecha do Amor e a do Ódio. Nessas guerras, o Cupido
é um mensageiro, e como ele é uma criança, pode ser que ele não saiba o que está
fazendo, atirando sem querer causar nenhum dano, porém como as crianças são
traquinas, o Cupido pode atirar muitas vezes por diversão. Como as flechas do Cupido
viviam misturadas, nos seus mitos pode-se pensar simbolicamente sobre a
imprevisibilidade e o destino.

2.2 Icamiabas - As Amazonas Brasileiras

No Brasil, segundo Patrícia Peres (2006), no ano de 1542 expedicionários


europeus liderados pelo espanhol Francisco Orellana, chegaram à região pertencente
à Amazônia onde encontraram um grupo de índias guerreiras que viviam em
localidades isoladas. Sem homens, elas lutavam nuas e os índios as chamavam de
Icamiabas. Pela maneira que viviam, elas são equivalentes as lendárias amazonas da
mitologia grega. A origem do nome do estado de Amazonas, tem a sua origem neste
mito, associada as Icamiabas.

A descrição do frei Gaspar de Carvajal, um dos integrantes da excussão de


Orellana sobre as Icamiabas, é de que elas eram mulheres musculosas, com pele
clara, altas, possuíam cabelos compridos e negros. Segundo os relatos do frei, ele as
viu às margens do rio Nhamundá, que fica na divisa entre os estados Pará e
Amazonas. Era proibido a presença de homens em suas terras e elas utilizavam arcos
e flechas para mantê-los longe, segundo Patrícia Perreira (2006).

O mito relata que essas mulheres arrancavam o seu seio direito para se
tornarem excelentes arqueiras. Mas, segundo Rosane Volpatto apud Patrícia Perreira
(2006), “A versão mais aceita era que elas atavam o seio direito com uma faixa,
parecendo assim que não tinham um dos seios”.

A palavra icamiaba significa “a que não tem seio”, segundo o estudioso João
Barbosa Rodrigues. Essa versão encontra respaldo na lenda grega que dizia
que as amazonas queimavam o peito das meninas ainda crianças para que
não atrapalhasse o lançamento da flecha. (PERREIRA, 2006, n.p.)
20

Segundo Kury (2009), as Amazonas eram mulheres descendente de Ares (o


deus da guerra) e da ninfa Harmonia. As Amazonas utilizavam estrangeiros para a
procriação de sua raça e se a criança fosse um menino, elas o matavam, mutilavam
ou os cegavam, utilizando-os para trabalhos servis, deixando vivas as meninas. Elas
tinham o costume de mutilar o seio das meninas para melhor utilizar o Arco e Flechas,
daí vem a origem do seu nome. A palavra amázon tem origem grega e quer dizer sem
seio. A deusa protetora das amazonas era Ártemis, que possuía muitas características
em comum com essas guerreiras; uma delas era o manejo do arco e flecha. Essas
guerreiras tinham o seu domínio no norte da Europa, porém a sua localização varia
conforme a fonte de pesquisa.

As índias Icamiabas demonstram através de seu mito, que a mulher sempre


teve em seu poder o uso do Arco e Flecha, esse mito mostra que o desejo por se
tornar uma grande arqueira era tão grande que elas se mutilavam ou atavam os seios
para poder utilizar melhor esse artefato. Nesses relatos míticos, simbolicamente o
Arco e Flecha é visto como um Artefato de defesa e poder da mulher, onde ela cuida
de si mesma sem a ajuda dos homens.

O indigenista Peret, que convive com índios há mais de 50 anos, afirma que
as mulheres guerreiras existiram e ainda existem na Amazônia. A última
notícia que teve delas foi em 1967 (PERREIRA, 2006, n.p.).
21

Figura 3: Fantasia das Amazonas por Roland Stevenson (1989 -1990) - Capa da Lista telefônica do
estado do Amazonas.

Fonte: https://frankchaves-ita.blogspot.com.br/2014/08/fantasia-das-amazonas-obra-prima-
de.html Acesso: 22/06/2017

2.3 O Mito japonês

Há um mito japonês que informa sobre a trajetória do guerreiro Minamoto no


Tametomo, que é uma das mais conhecidas no Oriente. Nesta narrativa, Minamoto
em meio a uma guerra subiu em um monte e enquanto dois exércitos guerreavam
abaixo dele, ele como um excelente arqueiro com uma única flecha afundou um navio
do clã Taira, um dos quatro clãs mais importantes que dominavam a política japonesa,
dando fim à guerra entre os clãs.

Arqueiro << Símbolo do homem apontando para alguma coisa, de certo


modo, alcança em efígie...>>(ACS;---+ seta) Se identifica com o seu alvo Ele
ainda identifica com ela branco, e que seja para comer a presa cobrado como
se fosse para provar sua coragem ou habilidade. Da mesma forma, em
numerosíssimas representações de bestas de matar Hinds mostrado aqueles
que abrange a sua presa, e a montagem, antes da alimentação: duplo
fenómeno de identificação e posse. O arqueiro simboliza o desejo de posse:
22

matar é manso. Eros é geralmente representado com um arco e aljava.


(CHEVALIER, 1986, p.141, tradução nossa).3

Esse mito demonstra o poder do Arco e Flecha como instrumento de batalhas,


onde podemos observar seu poder enquanto artefato, pois através do mesmo foi
possível pôr fim a uma batalha. Neste mito também se observa que o guerreiro
Minamoto se torna um deus e o seu instrumento mais poderoso é o arco e flecha.

Figura 4: Minamoto no Tametomo desenhado por Kikuchi Yosai (s.d.)

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Minamoto_no_Tametomo Acesso: 16/06/2017

3
Arquero «Símbolo del hombre que apunta a alguna cosa y que ya, en cierto modo, la alcanza en efigie
... El hombre se identifica com su proyectil» (CHAS, 324; ---+ flecha). Se identifica incluso con su blanco,
ya fuere para comer la presa cobrada, ya fuere para probar su valentía o su habilidad. Igualmente, en
numerosísimas representaciones de fieras matando ciervas, se muestran aquéllas cubriendo su presa,
como para montarla, antes de devorarla: doble fenómeno de identificación y de posesión. El arquero
simboliza el deseo de la posesión: matar es domeñar. Eros se representa generalmente con um arco y
un carcaj.
23

Ao longo da história, sabe-se que Gengis Khan conquistou grande parte do seu
império, por fazer uso em seu exército mongol, de arcos curtos e potentes. Nessa
época o império mongol se estendia da Áustria, Síria, Rússia, Vietnã e até a China.

Figura 5: Arco com flechas da época de Gengis Khan

Fonte: http://revistaplaneta.terra.com.br/secao/cultura/o-tumulo-perdido-de-gengis-khan Acesso:


16/06/2017

2.4 O Kyudo e o Yabusame

Ao longo do tempo, no Japão, foi desenvolvida duas formas de artes marciais


envolvendo o uso do Arco e Flecha: o Kyudo e o Yabusame. A prática dessas artes
marciais são incentivadas pelo governo do Japão. Apesar da arte do Arco e Flecha
serem antigas no Japão, foi apenas no século XX que o termo Kyudo se difundiu e se
tornou amplamente praticada e respeitada pela população japonesa. O Kyudo (Kyu:
Arco, Do: Caminho – tradução livre: O Caminho do Arco) é o termo japonês que define
a prática marcial, tradicional e filosófica do arco e flecha como meio para
aperfeiçoamento pessoal inserido em aspectos Zen-Budista.
24

Para os japoneses a forma de experienciar a arte do Kyudo está relacionada


como um caminho para algo maior, é uma forma de obter harmonia pessoal e
espiritual. Essa arte marcial é extremamente ligada à meditação e os seus objetivos
máximos são Shin-Zen-Bi, que significa: a Verdade, o Bem e a Beleza.

O confucionismo através da prática dessa arte, concebe que o arqueiro irá se


tornar moralmente bom (Zen) e a sinceridade de seu caráter irá estimular o senso
estético de qualquer um que o assista em um nível intuitivo, emocional – dando ao
desempenho do arqueiro uma beleza que emana não só da sua habilidade técnica,
mas também da maturidade emocional e da sinceridade espiritual do mesmo.

Por causa da proximidade entre a China e o Japão entre os séculos IV e IX, a


produção dos arcos tanto em relação as técnicas de produção como no uso da
filosofia, teve uma grande influência chinesa. Em uma dessas crenças se diz que
através da dedicação ao arco, era que uma pessoa poderia encontrar o seu eu
verdadeiro, e isso teve e ainda tem um grande peso na cultura do arco e flecha no
Japão. A literatura chinesa falava muito sobre o arco e flecha influenciando, também,
o Japão, onde era é difundido o pensamento de Confúcio através de livros.

Por causa das trocas culturais com a China que ocorreram entre os séculos IV
e V d.C., o modo de se pensar e praticar o arco e flecha foi se tornando diferente. Foi
justamente dessa troca cultural que nasceu o lado cerimonial da prática. Os guerreiros
focavam no Kyujutsu, que eram as técnicas marciais de como usar o arco e flecha
como arma, enquanto que os nobres utilizavam o arco e flecha em suas cerimônias.

Com o passar das eras, o estilo de utilizar o arco e flecha foi mudando e se
dividindo até chegar nos dois estilos mencionados acima, mais comuns hoje no Japão.

Com a invenção da pólvora e o desenvolvimento das armas de fogo, o arco e


flecha quase foi esquecido por completo. Isso fez com que as técnicas de arco e flecha
se refinassem cada vez mais com o objetivo de disciplinar o corpo e a mente.

No Japão existe o Toshiya, que são os torneios de tiro à longa distância, que
existem desde o século XII. Nesses torneios o alvo fica em torno de 120 metros e a
uma altura 4,9 metros. Esse tipo de torneio ganhou popularidade no século XVI, e é
caracterizado por ser um torneio de resistência. O maior torneio desse estilo ocorre
desde 1165 em Quioto, é o no Sanjusangendo. Esse tipo de torneio costumava durar
25

um dia inteiro e os arqueiros atiravam centenas de flechas, cada um. Existia diferentes
categorias, como a competição de doze horas e, também, a de vinte e quatro horas,
ainda, o torneio de cem flechas e a de mil flechas. As mulheres também podiam
participar delas, a partir da Era Tokugawa (1603-1868).

Com a paz durante a era Edo, o Arco e Flecha continuou a ser aperfeiçoado
para uso militar e para uso como arte do caminho zen, usado como uma forma de
disciplina para o corpo e para a mente. Como nessa era o treinamento militar não era
visado para guerras e com o surgimento da arma de fogo, o uso do Arco e Flecha foi
deixado cada vez mais de lado. O Kyoudo continuou sendo utilizado como treinamento
de militares de baixa patente, mas no ano 28 na era Meiji, em Quioto, ocorreu o
primeiro encontro nacional de artes marciais do Japão, onde foram realizadas
competições de Kyoudo, fazendo com que essa arte voltasse a ser praticada por mais
pessoas.

Um grande acontecimento foi o feito de Honda Toshizane, que era um instrutor


da arte do Kyoudo da Universidade Imperial de Tóquio, onde combinou elementos do
estilo de guerra e do estilo cerimonial do arco e flecha, fazendo surgir um estilo híbrido,
o Hoda-ryu, ou estilo Honda. Esse estilo se tornou popular entre as pessoas e foi
considerado por muitos como o salvador do arco e flecha japonês, salvando-o do
esquecimento.

Durante as Eras Taisho (1912-1926) e Showa (1926-1989) a arte do Kyudo foi


incluída no currículo escolar como uma disciplina de perfil obrigatório e/ou opcional
nos clubes esportivos. Na II Guerra Mundial o Ministério Japonês da Educação,
Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia (Monbusho) declarou as artes marciais como
exercício de educação física, ligando essas artes marciais ao combate. No final da
Guerra as aulas de Kyudo foram proibidas. Porém seis anos após essa decisão, o
Monbusho voltou atrás e voltou a permitir a prática do Kyudo, mas somente no ano de
1967 foi que a Secretaria de Educação Física aprovou nas escolas do ensino médio
a prática do Kyudo, fazendo com que o que essa arte marcial fosse vista sobre uma
nova ótica, agora como uma disciplina para a educação corporal.

Após a II Guerra Mundial o Japão foi ocupado pelos Estados Unidos, e durante
essa ocupação, todas as artes marciais foram proibidas, fazendo com que a arte
tradicional do Kyujutsu declinasse ainda mais. Quando o governo Japonês ordenou
26

que a proibição contra a prática das artes marciais acabasse, o Kyudo se tornou uma
arte comum no Japão.

Figura 6: Arte do Kyudo.

Fonte: http://www.revistavitrinni.com.br/conteudos/4-formas-de-praticar-arco-e-flecha
Acesso: 15/06/2017

Diferente do arco e flecha tradicional, o arco e flecha no Kyudo é utilizado de


uma maneira diferente. Na cultura japonesa, a forma e o respeito do uso do Kyudo
estão ligados de maneira intima, e no local em que é realizado o exercício há muitas
regras e também existe o respeito à maneira em que o exercício é realizado. Esse
local é chamado de Dojo.
27

Figura 7: Arqueiros fazendo exercício com o elástico.

Fonte: http://farm6.staticflickr.com/5180/5400970703_2964fb2630.jpg Acesso:15/06/2017

Para a prática do Kyodo exige-se uma evolução no aprendizado, antes mesmo


de se usar o arco e flecha Japonês. Ao se atirar com o arco e flecha, existe uma
progressão de oito passos básicos: o primeiro é o posicionamento dos pés chamado
de Ashibumi; o segundo é a correção da postura chamada de Dozukuri; o terceiro é a
preparação chamada de Yugamae; o quarto é a suspensão chamada de Uchiokoshi;
o quinto é a vergadura chamada de Hikiwake, o sexto é o encontro chamado de Kai;
o sétimo é a separação chamada de Hanare; e o oitavo é a reflexão chamada de
Zanshin. Quando o arqueiro atira, esses passos levam poucos segundos ao serem
reproduzidos, porém eles têm de ser precisos, pois um erro em um único passo
compromete a estrutura do momento seguinte.
O aprendizado ocorre por etapas. No começo o arqueiro iniciante treina com as
mãos vazias, aprendendo a construir a postura correta com a progressão dos oito
passos. Depois repetirá os mesmos movimentos com uma borracha, treinando dessa
forma a musculatura e realizando os oito passos de forma correta. Ao finalizar esses
treinamentos e evoluindo, o arqueiro irá treinar apenas com o arco e depois quando o
seu instrutor ver que ele está preparado irá lhe entregar também as flechas com ou
sem penas, começando a atirar em um alvo a uma distância curta. Quando o arqueiro
28

estiver com certo domínio dos oito passos é que irá atirar em um alvo mais distante
que é cerca de 28 metros de distância do arqueiro.

Figura 8: Dimensões e divisão dos ambientes em um Dojo tradicional.

Fonte: http://artesdojapao.com/2016/03/kyudo-arte-da-arquearia-japonesa/ Acesso: 15/06/2017

Esses passos também são importantes por causa da segurança do praticante


e das pessoas que o cercam, pois não se pode esquecer que o arco e flecha é um
artefato que pode ferir alguém.

Segundo o artigo a História do Kyoudo (2016), o estilo Kyudo é subdividido em


duas categorias: o Shamen Uchiokoshi e o Shomen Uchiokoshi, este último
desenvolvido por Honda Toshizane. Nessas duas categorias os oito passos estão
presentes, porém há pequenas variações. No Shamen os arqueiros levam o arco para
frente e arrumam a empunhadura antes de o elevarem. Todos os arqueiros utilizam o
mesmo arco, ele é basicamente o mesmo arco desde o século XII, feito
29

tradicionalmente de madeira de bambu, observando-se que o arco Japonês é um dos


mais longos com mais de dois metros de altura.

Figura 9: Quadro com faixas de altura de arqueiros e o tamanho que deve ser o arco e flecha.

Fonte: http://artesdojapao.com/2016/03/kyudo-arte-da-arquearia-japonesa/ Acesso em: 15/06/2017

No Kyudo o objetivo não é acertar o alvo ou disparar uma flecha o mais longe
possível. Trata-se de um exercício para harmonizar a mente, o corpo e o espírito. No
Japão, o arco e flecha começou a ser praticado no século XVI como esporte e seu
primeiro torneio foi realizado na Inglaterra em 1673

Há um conto chinês chamado O Jovem Arqueiro, que explica bem o que o


Kyudo representa. Na primeira versão, o mestre arqueiro vivia nas montanhas da
China e por muitos anos ensinou aos seus discípulos a manejarem o arco e flecha
com precisão e maestria. Um dia um jovem príncipe chamado Huang Kiu, de uma
grande família da região norte do país, decidiu ir aprender com o mestre arqueiro e se
aperfeiçoar na arte do arco e flecha.

Esse jovem tinha uma personalidade forte e não aceitava explicações das
técnicas do mestre arqueiro. O mestre arqueiro sempre com muita paciência lhe
ensinava várias técnicas e o jovem príncipe sempre treinava sem descanso. Ele não
conversava muito, estava sempre treinando com o arco e flecha, e muito rápido esse
jovem se tornou o aluno mais preciso na arte da mira e na precisão da flecha, fazendo
com que os seus amigos se espantassem.

Em uma noite o jovem príncipe foi questionado por seu mestre, ele queria saber
porque o jovem treinava tão arduamente e sem descanso e queria saber se ele estava
competindo com alguém, ao que o jovem respondeu que estava apenas treinando,
pois ele queria ser o melhor arqueiro da China.
30

O mestre resolveu questionar o jovem, lhe dizendo que ele estava preso ao
desejo de superar os outros e lhe perguntou porque apenas ele não se aperfeiçoava
na arte do arco e flecha, lhe dizendo que a flecha flui por si mesma, que não era
necessário tanto esforço, da mesma forma que o dia nasce por ele mesmo e a noite
também. Não precisava de esforço para que isso ocorresse, pois segundo o mestre
onde havia esforço, o fluxo era quebrado, pois a mente estava controlando tudo.

Huang Kiu disse ao seu mestre que isso era uma besteira, pois ele já sabia
que era o melhor arqueiro dentre os alunos e que ele só precisava agora ser melhor
que o seu mestre e que quando conseguisse já teria cumprido o seu ciclo naquele
local. O mestre lhe disse para treinar muito. Quando o arqueiro decidiu que já estava
pronto, falou ao mestre, que iriam provar a sua superioridade. Assim, eles foram para
um alvo que estava muito distante e que somente um grande arqueiro poderia acertá-
lo com precisão.

Huang Kiu acertou com precisão a flecha e não se dando por satisfeito atirou
outra que ficou rente a primeira no alvo. O seu mestre impressionado, o elogiou
dizendo que ele foi muito bem, mas que ainda não estava pronto.

Huang Kiu incrédulo perguntou ao seu mestre o que faltava, afinal ele havia
acertado perfeitamente o alvo. O mestre pediu para o jovem o seguir e o levou a uma
ponte frágil que ligava dois morros há uma grande altura com um rio abaixo. O vento
estava muito forte nesse dia. O mestre disse-lhe então para que ele fosse para o meio
da ponte e que dali ele deveria acertar o alvo, o jovem estava assustado porque tinha
medo de altura e dessa maneira pensou que poderia cair, pois o vento estava muito
forte, além disso a neblina não deixava que ele enxergasse com clareza o alvo, e disse
ao seu mestre que o que ele pedia era ridículo, que ele não precisava fazer isso pois
era um grande arqueiro e não precisava treinar nessas condições. Sendo assim,
Huang Kiu virou para ir embora e quando olhou para trás viu o seu mestre no meio da
ponte atirando no meio do alvo com a maior tranquilidade e precisão, mesmo em meio
a toda aquela adversidade.

Foi quando Huang Kiu percebeu que não sabia nada sobre o caminho do arco
e flecha e percebeu que o seu ego era enorme e que uma mente serena é capaz de
vencer as adversidades momentâneas, desde que fixa no alvo, ainda que tudo ao seu
redor esteja um caos. Huang Kiu pediu desculpas ao seu mestre entendendo o que
31

queria lhe ensinar, pois não era com técnica e treinamento que se alcançava a
maestria, mas sim pelo ego vazio e por uma mente em silencio, por não se esforçar e
por estar em paz, concentrado e tranquilo. Dessa forma, a flecha segue o seu caminho
sozinha. Ao que o mestre lhe disse que ele havia aprendido a lição e que agora era
um verdadeiro arqueiro.

Esse mito nos mostra muito sobre o que é a arte do arco e flecha japonês.
Entende-se que uma mente serena no momento necessário, agirá em perfeita sintonia
e precisão, que se deve ser humilde e não se achar-se melhor que os outros, e que,
um verdadeiro arqueiro dispara de coração com mente equilibrada e relaxado para
acertar o alvo.

Ainda em relação a esta arte japonesa, o Yabusame é uma outra forma de se


usar o arco e flecha no Japão, que é considerado um esporte herdado dos samurais.
O que se sabe sobre esse estilo de artes marciais é que os mestres do Yabusame
ensinam essa arte pelo amor, pois o interesse deles é que essa tradição não morra
ao longo do tempo.

A característica principal desse esporte é que o arqueiro deve acertar três


alvos de madeira montado em um cavalo em movimento. A origem desse esporte é
da Era Kamakura (1185–1333). Os samurais eram treinados para melhorarem sua
destreza com o arco e flecha, onde trabalham a concentração, a disciplina, as técnicas
de respiração e agilidade, e isso ajudou bastante os samurais nas batalhas, pois
melhoravam o seu foco e a sua precisão.

No local onde ocorre o Yabusame, a pista tem 225 metros de comprimento


onde são colocados três alvos que os arqueiros deverão acertar. Por conta da pouca
quantidade de praticantes, o governo japonês financia escolas para dar aulas gratuitas
para a população.
32

Figura 10: Arqueiro praticando o Yabusame.

Fonte: http://www.japaoemfoco.com/yabusame-um-esporte-medieval-do-japao/ Acesso:


17/06/2017.

Por essa imagem pode-se ver que o arqueiro não segura as rédeas do cavalo,
e dessa maneira, percebe-se que essa forma de arte marcial é muito complexa e
precisa de anos para ser praticada.

Figura 11: Roupa tradicional utilizada para a prática do Yabusame.

Fonte: http://www.japaoemfoco.com/yabusame-um-esporte-medieval-do-japao/ Acesso:


17/06/2017
33

Na roupa tradicional utilizada para a prática do Yabusame (Figura 9),


percebemos que sua complexidade protege o arqueiro desde a sua
Natsukagemukabaki, usada para a proteção das pernas do arqueiro ao montar o
cavalo, ao Igote que é utilizado para a proteção do braço do arqueiro por causa da
corda do arco e flecha.

2.5 Arco Tradicional

Segundo a FCETARCO (s.d.): “Há dezenas de variedades de arco tradicional,


dependendo da referência do povo e época que o utilizou” (s.d.) Dessa forma,
entende-se que a cada cultura existente há um arco tradicional, como é o caso da
cultura Japonesa na prática do Kyoudo.

Figura 12: Modelos de Arcos Tradicionais: A) Arco longo medieval de teixo; B) Arco nativo da
América, curvado; C) Arco angulado do Oeste da Ásia; D) Arco do povo Cita; E) Arco turco do século
XVII; F) Arco dos tártaros da Crimeia (FCETARCO, s.d.).

Fonte: https://arcoeflechace.com/para-iniciantes/tipos-de-arco/
Acesso: 15/06/2017
34

Um arco tradicional de referência mundial é o arco Huno. Ele é feito de forma


assimétrica com a lâmina inferior mais curta para facilitar o movimento da espada
durante a cavalgada, e a lâmina superior mais grossa para aumentar a potência do
tiro (CTBARCO, s.d.)

O arco e flecha tornou-se um esporte do período Renascentista até a era


Moderna, principalmente na Inglaterra, onde era praticado tanto por plebeus como por
aristocratas. Mesmo se não houvesse competições, saber atirar uma flecha
corretamente era considerado um ato de elegância e educação primorosa.

A Inglaterra foi a principal responsável pela evolução do arco e flecha, pois


desenvolveu o famoso arco longo, conhecido como Longbow, além do
desenvolvimento das flechas emplumadas, fazendo com que a precisão aumentasse,
pois facilitavam na direção do tiro.

Ainda sobre o Longbow, durante a Guerra do Vietnã, este tipo de arco e flecha
foi novamente utilizado como arma bélica e desenvolvidos para o uso em florestas,
dando origem ao arco composto atual. Com esta adaptação, este arco e flecha era
menor e mais silencioso que o Longbow, não denunciava sua localização ao inimigo.

O arco e flecha na Inglaterra era visto não só como arma de guerra, mas como
artigo de sofisticação, sendo por muito tempo obrigatório que todo jovem inglês tivesse
um arco nas mãos, além de uma quantidade significativa de flechas.

Segundo Chevalier (1986), o arco e flecha é tanto uma função real como um
exercício espiritual. Ele tanto serve como um artefato utilizado para a função de caça,
esporte, entre outros, como também é um exercício espiritual praticado pelo Kyudo,
por exemplo.

Para Chevalier (1986), a flecha é sinônimo de conhecimento. “Mas a seta como


um relâmpago ou raio como Solar - é o raio de luz que atravessa a escuridão da
ignorância, porque símbolo de conhecimento”4. (CHEVALIER, 1986, p.133, tradução
nossa.). A flecha traz a clareza para o arqueiro, ela irá dizer se ele acertou o alvo ou
não, esse alvo não precisa ser algo físico, precisa ser apenas o seu objetivo.

4 Por la misma razón las saetas de los indios de América llevan una línea roja en zig-zag que figura el
relámpago. Pero la flecha como relámpago –o como rayo solar- es el trazo de luz que perfora las
tinieblas de la ignorancia: es pues um símbolo del conocimiento. (CHEVALIER)
35

Figura 13: Arco Longbow

Fonte: www.google.com Acesso: 15/05/2015.

Na Inglaterra o arco e flecha não se perdeu na história porque os ingleses


faziam torneios nacionais e regionais e os campeões recebiam honras de heróis para
que o arco não fosse esquecido. A rainha Vitória foi uma das monarcas a praticar o
tiro com arco. O rei Henrique VIII, por exemplo, foi um renomado arqueiro e durante o
seu reinado surgiram muitas competições. Foi ele quem ajudou a fundar o primeiro
clube de arqueiros denominado Frateernity of St. George, me 1537. Em 1545, foi
escrito por Robert Ascham, instrutor da Rainha Elizabeth I, o primeiro livro sobre
ensinamentos da arte do arqueirismo na Inglaterra: O Toxophilus, que significa
Amantes do Arco. Em 1583, aconteceu a primeira competição de tiro com arco em
36

Finsbury na Inglaterra, que contou com 3.000 participantes. Enquanto esporte, o arco
e flecha foi um grande destaque no final do século XIX e no início do século XX. Ele
entrou para os jogos olímpicos no ano de 1900. Nas Olimpíadas o arco e flecha passou
por duas fases: disputado de 1900 a 1920; e voltando a partir de 1972, como um
evento individual para homens e para mulheres.

Figura 14: Mulheres competindo nas Olimpíadas de 1908 com arcos longos.

Fonte: http://www.planetseed.com/pt-br/sciencearticle/historia-e-o-esporte-do-arco-e-flecha.
Acesso:15/05/201.

Os primeiros arcos no Brasil eram de madeira e muitos deles feitos de Irí, uma
madeira fibrosa de palmeira muito elástica. Em algumas escolas esses arcos ainda
são utilizados para ensinar os mais jovens ou os adultos que estão iniciando na
prática. Os arcos atuais são muito modernos e mais eficientes, todos laminados com
fibra de vidro, madeira e carbono, com o corpo em alumínio e magnésio.

Atualmente o esporte consiste em acertar os alvos, tentando chegar o mais


próximo possível do centro que vale 10 pontos. Observou-se, portanto, que o arco e
flecha é utilizado para a caça, para o ataque e defesa ao longo dos séculos em
guerras, mas ao mesmo tempo, utilizado pelos japoneses como uma forma de manter
o equilíbrio da mente e do corpo. Contudo, nos dias atuais é mais comum ver o arco
e flecha como modalidade esportiva.
37

3 O ARCO E FLECHA E DESIGN. CONTEXTO CONTEMPORÂNEO

O arco e flecha é um artefato de design que se desenvolveu junto com a história


da humanidade. Passou de um artefato de caça para um artefato que hoje é
característico como esporte. Ele é um artefato esportivo e de design no momento em
que se torna um símbolo da cultura atlética, que busca oferecer a superação do
desempenho (o sobre-humano), um símbolo que se repete através dos mitos.

Desde que o ser humano começou a interferir no espaço natural, por meio da
criação de seus primeiros artefatos, estes passaram a interagir e a participar
na constituição de si mesmo, tornando-se um referencial para a sua própria
existência. Assim, a natureza, o desenvolvimento e a cultura do ser humano
configura-se como processos inseparáveis (ONO, 2006, p. 3).

Maristela Ono explica em seu livro Design e Cultura (2006), as três funções do
artefato que serão explicadas nessa pesquisa visando associá-los ao arco e flecha.

3.1 Função Simbólica

Funções simbólicas, também chamadas “de estima”, são aquelas ligadas a


comportamentos e motivações psicológicas individuais ou partilhadas pela
coletividade, em que cada consumidor reage em função de um sistema de
valor próprio e de um sistema de referências sociais e culturais, (ONO, 2006,
p. 30).

Dessa forma, o arco e flecha é um artefato de design onde a sua função


simbólica dependerá de cada usuário e da cultura em que ele está inserido. Vimos
isso, quando foi explicitado acima sobre a arte do Kyudo no Japão, onde arco e flecha,
dentro do Kyudo, é apreendido de uma maneira muito diferente do arco e flecha
voltado para os jogos olímpicos.

A função simbólica do arco e flecha enquanto artefato de design, pode ser


analisada no seu formato, pois ainda é semelhante aos arcos antigos, não mostrando
completa estranheza ao usuário, onde, segundo Ono: “As funções simbólicas dos
objetos encontram-se diretamente vinculadas à percepção das formas, cores,
texturas, à aparência visual, às associações simbólicas e afetivas [...]” (2006, p. 33).
Ao longo do tempo, o arco e flecha vem sofrendo alterações, acompanhando
38

tendências de design e aumentando o número de modelos existentes, tendo em vista


que antigamente, em cada cultura, existia um arco que pertencia e era característico
da uma região. Como exemplo, o arco Longbow pertencente a cultura inglesa.

O arco e flecha da contemporaneidade também traz na sua função simbólica o


status social, pois ele é um artefato muito caro, podendo ser considerado por uns um
artefato de luxo, e, segundo Ono, “Um dos fatore vinculados à função simbólica dos
objetos é a relação dos mesmos com a questão do status social [...]” (2006, p. 37).

3.2 Função de Uso

As funções de uso caracterizam o que o usuário espero do produto, em


termos de serviços prestados. Podem ser definidas como: funções principais
e secundárias. As funções principais (ou básicas) caracterizam as principais
finalidades, e as funções secundárias auxiliam o desempenho da função
principal (ONO, 2006, p. 40).

No caso do arco e flecha, a sua função principal ou básica é a de disparar a


flecha, para acertar o alvo, seja lá o que o usuário queira entender por alvo, portanto,
este artefato não possui função secundária, pois segundo Ono: “As funções de uso
são aquelas relacionadas à execução da ação. Exprimem características objetivas e
são “quantificáveis” como, por exemplo: suportar peso, medir temperatura, conduzir
eletricidade, etc.” (2006, p. 40).

3.3 Função Técnica

Para Ono: “As funções técnicas decorrem da tradução das funções simbólicas
e de uso em características e especificações, e servem, assim, para satisfazer, em
termos técnicos, as demandas dos usuários” (2006, p. 43). Como será visto nesse
capítulo, os arcos e flechas contemporâneos se utilizam de diversos materiais
tecnológicos. Os designers observaram que esse artefato necessitava de melhoras,
pois com o a evolução das armas de fogo, o arco e flecha poderiam ficar preso no
tempo e não serem mais utilizados. No intuito de não ser esquecido, necessitava de
melhorias no seu desempenho, os designers observaram que modificando alguns
materiais e o formato de alguns arcos, os mesmos se tornaria mais rápido em alguns
casos, e mais resistente.

As funções técnicas compreendem os princípios e elementos de construção


de um objeto, e seu cumprimento depende diretamente, dentre outros fatores,
39

da qualidade dos seus materiais e componentes e dos recursos tecnológicos


empregados pelas empresas. (ONO, 2006, p. 43)

3.4 Técnicas de Utilização do Arco e Flecha Contemporâneo

Assim como na arte do Kyudo, existem técnicas para se aprender a utilizar o


arco e flecha modern o, e assim como no Kyudo, também o arco e flecha ocidental é
uma arte poética, até na forma em que o arqueiro deve utiliza-lo, pois, um movimento
realizado no arco depende do outro para que tudo dê certo no momento em que a
flecha alcança o seu voo rumo ao alvo final, para que o arqueiro obtenha sucesso.

No arco e flecha para competições, do tipo FITA (Federação Internacional de


Tiro com Arco e Flecha), existem dez passos para o arqueiro seguir antes de atirar a
flecha, segundo o Manual de Arqueiria (2008):

- No primeiro passo, o arqueiro deve ficar com a postura ereta e deve afastar
as pernas e coloca-las entre a linha de tiro. O arqueiro pode inclinar um pouco o pé
que fica atrás da linha de tiro, buscando o equilíbrio.

- O segundo passo, o arqueiro deve pegar a empunhadura e apoiá-la entre o


indicador e o polegar. O arqueiro deve estar usando o sling, e deve manter o arco na
posição vertical.

- No terceiro passo, o arqueiro deve esticar o braço que segura o arco, com o
cotovelo levemente flexionado, mantendo a sua mão alinhada com o antebraço.

- O quarto passo, o arqueiro deve puxar levemente a corda com as primeiras


falanges dos três dedos (indicador, médio e anular). Esses três dedos devem estar
entre o Nock Point, um acima (indicador) e dois abaixo (médio e anular). O arqueiro
deve ter o cuidado de não apertar o Nock da flecha entre os dedos, pois isso pode
fazer com que a flecha saia do Rest5 antes ou depois do disparo.

- No quinto passo, o arqueiro irá puxar a corda e empurrar a empunhadura,


fazendo com que a sua clavícula gire de forma correta. Dessa maneira, ele irá prevenir

5
O Rest será explicado adiante no texto.
40

futuras lesões, e deve levar a corda até o seu ponto de descanso, ou no cetro do rosto
do arqueiro, ou na lateral do rosto do mesmo, depende de cada arqueiro.

- No sexto ponto, o arqueiro deve ajustar a sua mira, depois ele irá centralizar
o centro da corda com o centro da mira.

- No sétimo passo, o arqueiro deve respirar profundamente e prender a


respiração, mantendo a sua posição.

- No oitavo passo que é a largada, o arqueiro deve expirar no momento em que


for liberar a flecha, irá abrir os dedos rapidamente, puxando a mão para trás, tendo o
cuidado para não a desviar, pois isso altera a posição da flecha,

- No nono passo, o arqueiro deve manter a sua posição até o momento em que
ouvir que a flecha atingiu o alvo.

- No décimo passo, se o arqueiro tiver dúvida se não fez corretamente todos os


passos, deve repeti-los.

A seguir será feito um detalhamento do artefato Arco e Flecha, mostrando as


peças que o compõem atualmente e os diferentes tipos de arcos utilizados. Isso se
faz necessário porque enquanto artefato de design o Arco e Flecha necessita desse
detalhamento técnico pois isso faz parte de sua bagagem histórica e cultural.

3.5 Arco Olímpico ou Recurvo

Segundo a CTBARCO (2015), o arco recurvo para tiro é também conhecido


como Arco olímpico. Ele possui esse nome (recurvo) por causa da envergadura que
ele forma nas suas extremidades. Os arcos modernos para tiro com flecha são
desmontáveis e formado pelos seguintes itens:
41

Figura 15: Partes do Arco Recurvo

Fonte: https://arcoeflechace.com/para-iniciantes/tipos-de-arco/ Acesso: 10/06/2017

3.5.1 Empunhadura

Segundo Geraldo (2013), a empunhadura é a peça central do arco recurvo, pois


é através dela que o arco se conecta, e, também, é a peça que o arqueiro usa para
segurar o arco. A empunhadura pode ser feita de diversos materiais da escolha do
arqueiro, entre eles estão: aço, madeira, alumínio, carbono ou um mix de materiais.
Ela é medida em polegadas e é representada pelo seu símbolo (“).

As empunhaduras intermediárias atuais são feitas com suporte universais de


encaixe para a maior parte das lâminas fabricadas pelo mercado global. As na maioria
das vezes possuem 23” ou 25” (GERALDO, 2013)
42

Figura 16: Empunhadura

Fonte: https://guiadoarqueiro.files.wordpress.com/2013/10/sf-riser.jpg Acesso: 15/06/2017

3.5.2 Lâminas

As lâminas são as peças fundamentais de um arco e flecha, pois quando a


corda é puxada, sua força é transmitida para as lâminas que são tencionadas, e dessa
maneira, a lâmina funciona como um armazenamento de força e velocidade que serão
transmitidas para a flecha no momento do disparo. Assim como a empunhadura, as
lâminas são feitas de diversos materiais, são eles: madeira, fibra de vidro, espuma
(poliuretano), fibra de carbono ou uma combinação destes materiais (GERALDO,
2013).

Ainda, segundo Geraldo (2013), os tamanhos das lâminas são diversos e são
medidas em polegadas. Existem as lâminas pequenas (66”), médias (68”) e grandes
(70”). Essas lâminas se encaixam em uma empunhadura de 23” ou 25”.
43

Para saber o tamanho correto de uma lâmina para cada arqueiro, têm-se que
encordoar o arco, que é montado e tem que medir aproximadamente da altura dos
pés a altura dos olhos do arqueiro (GERALDO, 2013). A libragem do arco deve ser
modificada sempre que o arqueiro estiver habituado com ela, assim de maneira
progressiva ele deve ir modificando a potência até chegar a uma libragem ideal para
si. Para a prática olímpica não existe um padrão de potência de libras para os
arqueiros, tudo depende do arqueiro e de seu condicionamento físico.

Figura 17: Lâminas

Fonte: https://guiadoarqueiro.files.wordpress.com/2013/10/limbs.jpg Acesso: 15/06/2017


44

3.5.3 Dedeira ou Tab

Utilizada para arcos recurvo e tradicional, a Dedeira ou Tab é normalmente


confeccionado em couro. Esse equipamento serve para a proteção dos dedos
momento em que o arqueiro larga a flecha (CTBARCO, 2015).

Figura 18: Tab

Fonte: https://guiadoarqueiro.files.wordpress.com/2013/10/finger-tab.jpg Acesso:15/06/2017

3.5.4 Corda

Segundo Geraldo (2013), a corda é quem liga as duas lâminas. Quando


colocada, exerce tanta pressão que enverga as duas lâminas, fazendo com que elas
armazenem energia segundo a sua libra. As cordas geralmente são feitas da união de
linhas e podem ser feitas de diversos materiais como Dracon, Fastflight, entre outros.
A quantidade de linhas que vem na corda deve ser analisada na compra segundo a
potência das lâminas do arco e flecha. As cordas possuem voltas nas suas
extremidades que são reforçadas com linha de Serving, para que possam resistir ao
45

contato com o arco sem se romperem. É a partir dessas voltas nas extremidades que
a corda se conecta ao arco e a flecha.

Segundo a CTBARCO (2015), na antiguidade as cordas eram feitas com linha


encerada ou linho. A quantidade de fios que formam a corda é determinado pelo
material da corda, atualmente utilizam-se materiais sintéticos, como o poliéster
(KEVLAR; DACRON).6

Figura 19: Corda de Arco

Fonte: www.google.com.br. Acesso: 15/10/2015

3.5.5 Estabilizadores

O estabilizador é uma haste longa ou long rod, que se encaixa a um V-bar, ou


V-var é uma peça de formato em V, onde se encaixam as hastes curtas, chamadas
de short rod. Ao extensor de estabilizador, chamado de extender, também são
encaixados pesos e amortecedores ao sistema de estabilização (GERALDO, 2013).

Para Geraldo (2013), o estabilizador é encaixado normalmente na frente da


empunhadura na parte inferior. Sua finalidade é amortecer e estabilizar o arco antes
e após o lançamento da flecha. Dessa forma, o peso do arco é estabilizado e evita

6
São materiais de cordas.
46

que ele penda para um lado e dessa forma, faz com que a mira do arqueiro se torne
mais certa. Com o uso desses pesos o arco cai para a frente após cada disparo, por
isso é necessário que o arqueiro utilize também o sling que será descrito depois. A
haste é feita de diversos materiais como o alumínio e o carbono, cuja função é
estabilizar o arco e tirar a vibração da flecha.

Figura 20: Estabilizador para Arco Recurvo

Fonte: https://guiadoarqueiro.files.wordpress.com/2013/10/stabs.png Acesso: 10/06/2017

3.5.6 Pulseira ou Sling

Segundo a CTBARCO (2015), o sling é utilizado para manter o arco junto à


mão após o momento da largada da flecha, pois quando a flecha é disparada o arco
pende para frente por causa do peso dos outros equipamentos que o compõe, e o
sling o prende junto ao punho ou antebraço do arqueiro.
47

Figura 21: Pulseira

Fonte: www.google.com.br Acesso: 15/10/2015

3.5.7 Mira

Segundo a CTBARCO (2015), a mira é um equipamento que fica preso na


empunhadura do arco. A mira é utilizada como ponto de referência para o tiro pelo
arqueiro. Nos arcos recurvos, a mira só pode ter 2 cm de espessura. Ela pode ter um
pino de metal ou de fibra ótica. Para se ajustar a mira, o arqueiro altera ela
verticalmente até achar o centro do alvo que ele deseja atingir.
48

Figura 22: Mira de Arco Recurvo.

Fonte: https://guiadoarqueiro.files.wordpress.com/2013/10/sight.jpg Acesso: 10/06/2017

3.5.8 Rest

O Rest é o local onde a flecha fica antes de ser lançada (GERALDO, 2013).

Figura 23: Rest Magnético para Arco Recurvo.

Fonte:
http://static5.minhalojanouol.com.br/spinarchery2/produto/20170220113615_3094996906_D.jpg
Acesso: 17/06/2017
49

3.5.9 Clicker

O clicker é um acessório sonoro que serve para manter a potência dos tiros,
ele indica quando a puxada do arqueiro está no limite correto. O clicker sempre
informa ao arqueiro quando a flecha está bem puxada e pronta para o disparo
(GERALDO, 2013).

Figura 24: Clicker

Fonte: https://guiadoarqueiro.files.wordpress.com/2013/10/clicker.png Acesso: 17/06/2017

3.5.10 Cushion Plunger ou Button

Segundo a CTBARCO (2015), o button é um botão de pressão, cuja função é


a absorção do impacto da flecha no arco após a sua largada, ou seja, a saída da flecha
do arco, ele também ajuda na estabilização da flecha em seu o voo.

Para Geraldo (2013), o button nada mais é do que um acessório utilizado para
que a flecha se designe a uma determinada distância da empunhadura e que serve
como estabilização para o voo da flecha. A composição desse botão de pressão é:
uma mola interna que força a saída da flecha do arco, fazendo com que ela realize
um voo reto, reduzindo a deformação e interferência da flecha no momento do disparo.
50

Figura 25: Button

Fonte: https://guiadoarqueiro.files.wordpress.com/2013/10/sf-archery-forged-cushion-plunger.jpg
Acesso: 17/06/2017

3.5.11 Kisser Button ou Beijador

Esse equipamento é uma peça pequena que é presa na corda e serve como
um ponto de referência adicional no tiro. Ele serve como a ancoragem correta para o
arqueiro. A ancoragem é fundamental para o arqueiro, pois é nessa função onde ele
desempenha sua puxada máxima da corda. A puxada de um arqueiro precisa ser
sempre a mesma, para que os disparos não sofram interferências, e o arqueiro pode
estar pensando que está errando em alguma outra coisa, como a sua posição e não
na sua ancoragem (GERALDO, 2013).
51

Figura 26: Beijador na corda

Fonte: http://cdn6.bigcommerce.com/s-
xhej0tb/products/553/images/341/2720001_angle2_1__38184.1443232475.356.300.jpg?c=2 Acesso:
17/06/2017

Figura 27: Beijador

Fonte:
http://www.merlinarchery.co.uk/media/catalog/product/cache/1/image/800x/9df78eab33525d08d6e5fb
8d27136e95/h/o/hot-shot-kisser-group.jpg. Acesso: 17/06/2017.
52

3.6 Arco Composto

Segundo a FPTARCO (Federação Pernambucana de Tiro com Arco, S.D.), o


arco composto existe desde os tempos antigos. Porém, foi em 1970 que o arco
composto moderno surgiu, incialmente utilizado para caça, principalmente nos
Estados Unidos. Esse arco possui um sistema de cabos e roldanas que permitem ao
arqueiro mais conforto ao disparar. Esse arco traz uma maior facilidade ao arqueiro
na hora de estabilizar a mira, porque as roldanas ajudam a diminuir o esforço da
puxada, dessa forma, quando o arqueiro puxa a corda e estabiliza a puxada, as
roldanas detêm parte da força da puxada do arqueiro, ou seja, parte da libragem que
o arco tem. Esse arco aumenta a velocidade da flecha e a sua aceleração na sua
largada. O arco composto diferente do arco recurvo, possui muitas evoluções
tecnológicas, como as miras telescópicas, os gatilhos e as roldanas.

Figura 28: Arco Composto.

Fonte:https://arcoeflechace.files.wordpress.com/2015/08/compostodiagrama700.jpg Acesso:
20/06/2017
53

Para a Federação Cearense de Tiro com Arco (FCETARCO, s.d.), um arco


composto é medido de uma extremidade há outra. Seu comprimento, normalmente, é
entre 30 e 48 polegadas. Para a modalidade Target (tiro no alvo), os arcos menores
não são adequados por não serem tão precisos, e os arcos maiores normalmente são
mais lentos, mas podem ser utilizados para a prática.

Existem três tipos Riser do Arco composto moderno, o reflexo, deflexo e


alinhado.

Figura 29: Riser.

Fonte: https://arcoeflechace.files.wordpress.com/2015/08/modelos-de-riser.jpg Acesso: 19/06/2017

O Riser Reflexo possui a característica de ser curvado para trás em relação à


linha entre o limb pocket das lâminas superior e inferior. O design desse artefato
oferece uma sensação de equilíbrio e uma boa velocidade da flecha, por causa do
54

brace height 7 curto associado a este modelo. Já o Riser Deflexo é curvado para frente
em relação à linha entre o limb pocket das lâminas. O design desse modelo é muito
visto em arcos de alta qualidade. Por causa da sua baixa velocidade esse modelo é
menos popular. No Riser Alinhado o grip é alinhado com a reta imaginária entre as
limb pockets. Esse modelo possui o design que é um misto dos outros dois
supracitados (FCETARCO, s.d.).

O modelo do riser atual é diretamente associado com o desempenho da


velocidade da flecha, pois é o riser quem irá determinar o tamanho do brace height, e
quanto mais tempo se demora ao se empurrar a flecha mais energia e mais velocidade
é transmitida ao projétil. Porém, quanto mais tempo o arqueiro leva para soltar toda a
corda, mais tempo ele tem que manter o arco estável e isso pode fazer com que ele
cometa algum erro e pode afetar a trajetória e a qualidade do seu voo.

3.6.1 Polia Excêntrica

Existem vários tipos de sistemas de polias excêntricas. Elas são classificadas


como roldanas redondas e hard cam, que é a forma que não é redondo (FCETARCO,
s.d.).

A hard cam possui o formato elíptico, o que faz com que uma grande
quantidade de energia seja armazenada e aumente a velocidade da flecha. As
roldanas redondas têm forma circular, fazendo com que tenha menos energia do que
a hard cam, diminuindo a velocidade da flecha é menor.

7Brace height é a medida entre o grip e a corda na posição de escora (sem puxada). Um brace height
mais curto amplia a força do disparo do arco, empurrando a flecha com mais energia do que um brace
height longo (FCETARCO, s.d.)
55

Figura 30: Hard Cam.

Fonte: https://http2.mlstatic.com/arco-composto-caca-pesca-pesada-maximus-turbo-4075-lb-
D_NQ_NP_424021-MLB20681075071_042016-F.jpg Acesso: 20/06/2017

Figura 31: Polia Excêntrica

Fonte: https://http2.mlstatic.com/flecha-composto-arco-D_NQ_NP_828701-
MLB20404891697_092015-F.jpg Acesso: 20/06/2017
56

3.6.2 Cordas e Cabos

Figura 32: Exemplo de cordas que não devem ser utilizadas.

Fonte: https://arcoeflechace.com/2015/08/06/manual-de-tiro-com-arco-composto-parte-1-design-do-
riser-curva-de-forca-e-polia/ Acesso: 20/06/2017

O arqueiro deve escolher uma corda com uma quantidade de número de fios
que tenha um bom diâmetro para que se encaixe no sulco da roldana. 8 Ele deve
preencher o sulco, mas não pode ser muito grossa, pois pode ficar presa. O adequado
é a corda ter um diâmetro apropriado para o nock das flechas, ele deve sempre
prender a corda sem qualquer movimento lateral, pois ele só pode deslizar para cima
e para baixo da corda (FCTARCO, s.d.).

3.6.3 Gatilho

Segundo a CTBARCO (2015), esse aparato é utilizado em arcos compostos


com a função de substituir a dedeira, fazendo com que o arqueiro consiga puxar a
corda, sem causar maior desconforto para o arqueiro. No momento do disparo da
flecha, o arqueiro irá apertar um botão que tem nesse aparato e ele irá liberar a corda,
o que proporciona um disparo mais preciso. Os gatilhos possuem formas diversas.

8 É onde a corda se encaixa.


57

Figura 33: Gatilho.

Fonte: https://mlb-s2-p.mlstatic.com/257915-MLB25346286920_022017-C.jpg Acesso: 15/10/2015

3.7 Outros aparatos que compõe o Arco e Fecha

3.7.1 Nock Point

Segundo a CTBARCO (2015), o nock point é o local onde a flecha irá se


encaixar. Ele é um tipo de limitador para que a flecha fique sempre na mesma
localização, fazendo com que a os disparos não sofram alterações. O nock point pode
ter a forma de nó, ou pode-se por um anel de pressão diretamente na corda. Ele deve
ser colocado observando que a flecha mantenha sempre a posição de 90º no arco.
58

Figura 34: Nock Point.

Fonte: https://guiadoarqueiro.files.wordpress.com/2013/10/nockpoint.jpg Acesso: 01/07/2017

3.7.2 Flechas

Existem diferentes materiais em que as flechas atuais são feitas. Entre os


exemplos desses materiais, temos o alumínio, o carbono ou o alumínio/carbono, a
madeira e a fibra de vidro. A flecha tem que ser cortada no tamanho da puxada para
melhorar o desempenho do tiro. O peso da flecha, o seu tamanho e a sua flexibilidade,
são muito importantes no momento de seu voo. O arqueiro deve escolher a flecha de
acordo com o seu arco, a sua puxada e com a potência do arco que ele irá utilizar.

Figura 35: Flecha atual de fibra de vidro.

Fonte: www.google.com.br Acesso: 15/05/2015


59

3.7.3 Penas

A pena possui a função de estabilizar a flecha durante o seu disparo. Elas têm
cores diferentes e também possuem diferentes formatos e materiais.

Existem penas diferentes, assim como as flechas e as pontas. Elas serão


utilizadas de acordo com a competição ou a prática que ele pretende participar.

3.7.4 Alvo

Figura 36: Alvo oficial de competição olímpica.

Fonte: http://www.brasil2016.gov.br/pt-br/olimpiadas/modalidades/tiro-com-arco Acesso:18/06/2017.

3.7.5 Nocks

Nocks são aparatos que são fixados na extremidade das flechas e o seu
objetivo final é de fixar a flecha na corda do arco (CTBARCO, 2015).
60

Figura 37: Nocks

Fonte: www.google.com.br Acesso: 17/05/2015.

3.7.6 Ponta da Flecha

A ponta da Flecha pode influenciar no voo da flecha, pois cada ponta possui
um peso específico e cada arqueiro deve observar o material em que a ponta é
fabricada, para escolher a correta para o tipo de campeonato que ele pretende
praticar.

3.7.7 Braçadeira

A braçadeira é um protetor para o antebraço do arqueiro que serve para evitar que a
corda o atinja após a largada da flecha, evitando ferimentos no local (CTBARCO,
2015).
61

Figura 38: Braçadeira.

Fonte: www.google.com.br Acesso: 15/10/2015

3.7.8 Protetor de Tórax ou Peitoleira

A função do protetor de tórax é a de proteger a região do peitoral masculino ou


dos seios femininos. Na hora em que o arqueiro larga a flecha a corda pode atingir
essa região causando ferimentos.

Figura 39: Protetor de Peito.

Fonte: http://www.howardarchery.com/20692-1672-large/plastron-enighma.jpg
Acesso: 17/06/2017
62

3.7.9 Aljava

Para a CTBARCO (2015), a Aljava é uma bolsa de couro, tecido ou plástico


(podendo ser feita de outro material), que é prendida à cintura do arqueiro onde são
colocadas as flechas para que o arqueiro não saia da sua posição. Nas competições
FIELD9, a maioria dos arqueiros preferem usar a aljava presa as costas.

Figura 40: Aljava de cintura.

Fonte: www.google.com.br Acesso: 15/06/2015.

3.7.10 Case ou estojo

Aparato em que o arco e flecha e todos os seus utensílios são guardados,


evitando dessa forma que eles sofram danos. Ele pode ser feito de diversos materiais,

9
Será explicado adiante no tópico competições, competição field.
63

muitos arqueiros optam por materiais mais rígidos para proteger melhor o seu arco e
flecha.

Figura 41: Case de Arco e Flecha composto

Fonte:http://appsisecommerces3.s3.amazonaws.com/clientes/cliente6287/produtos/25048/Z1
1438177040.jpg Acesso: 21/06/2017

3.8 Competições

3.8.1 Target

Segundo a FCTARCO (2014), o Target é praticado nos maiores eventos


esportivos com arco, como a Copa do Mundo de Tiro com Arco Fita e os Jogos
Olímpicos. O Target é uma palavra oriunda do inglês que significa alvo. Essa
competição consiste em acertar um alvo com anéis coloridos, sendo o anel central o
de maior pontuação.
64

O Target pode ser realizado em duas competições: em ambientes fechados


(indoor) ou em locais abertos (outdoor). O local em que ocorre as competições deve
ter uma estrutura adequada, com terreno plano e raias para organização dos atletas
na linha de tiro (FCTARCO, 2014).

Figura 42: Target.

Fonte: http://4.bp.blogspot.com/-80ixhl4VF9g/TsjcStQfrDI/AAAAAAAAAFA/r1wF-
vll8L4/s320/tiro%2Bcom%2Barco.jpg Acesso: 20/06/2017

3.8.1.1 Campeonato Outdoor

Segundo a FPAF (Federação Paulista de Arco e Flecha), os campeonatos de


Outdoor que são realizados em campo aberto, é a forma de competição internacional
mais tradicional, onde são realizados disparos à longas distâncias. As distâncias entre
o arqueiro e o alvo variam conforme o gênero dos participantes. Nas Olimpíadas existe
um padrão que é de 71 metros para todos.

Para o masculino, as distâncias são de 30, 50, 70 e 90 metros. No feminino as


distâncias são de 30, 50, 60 e 70 metros.
65

Figura 43: Campeonato Outdoor

Fonte:http://www.fpaf.com.br/home/index.php?option=com_content&view=article&id=3&Itemid=9
Acesso em: 20/06/2017

3.8.1.2 Campeonato Indoor

Segundo a CTBARCO (2015), os campeonatos de Indoor são de curta


distância, realizados em quadras fechadas. Nesse campeonato o arqueiro atira a 18
metros. Nessa competição é arremetido uma sequência de 3 tiros por arqueiro, que
configuram dez sequências de 3 tiros.

Para a FPAF (s.d.) esse tipo de competição teve sua origem em países de
inverno rígido, porque em lugares abertos durante essa estação, a prática do esporte
é suspensa por grandes períodos.
66

Figura 44: Campeonato Indoor.

Fonte:http://www.fpaf.com.br/home/index.php?option=com_content&view=article&id=3&Itemi
d=9 Acesso: 20/06/2017

3.8.2 Campeonato Field

Segundo a FPAF (s.d.), esse torneio é caracterizado por ser realizado em


campo aberto, em condições adversas, conforme o relevo, a vegetação, as
dificuldades naturais, o clima, entre outros. A distância em que o arqueiro atira nesse
tipo de competição varia entre 5 à 65 metros.

Nesse tipo de competição os alvos são representações em papéis com círculos


pretos (diferente do Target onde os alvos apresentam cores chamativas) ou em forma
de animais colocados a distâncias entre 20 e 80 metros. Os alvos ficam localizados
em descidas, sobre galhos, do outro lado da correnteza de rios, entre outros
(FCETARCO, 2014).
67

3.8.3 Competição 3D

Figura 45: Alvo 3D para competição Field.

Fonte: https://arcoeflechace.com/tag/field/ Acesso: 20/06/2017

Para a FCETARCO (2014), a arqueiria em 3D é semelhante a Field, com


relação ao local das competições, que são feitas em terrenos naturais. Porém esse
tipo de competição utiliza alvos feitos de animais esculpidos em madeira ou material
sintético, diferente das competições Field.

O arqueiro que acertar as áreas mais vitais dos animais pontuam mais. Esse
tipo de competição em 3D simula a caça. No Brasil é proibido competições que
utilizem a cópia de animais que existam na fauna nacional (FCETARCO, 2014).

Figura 46: Campeonato Field.

Fonte:http://www.fpaf.com.br/home/index.php?option=com_content&view=article&id=3&Itemid=9
Acesso: 20/06/2017
68

Existem dois tipos de competições Field: a competição Filed FITA (Federação

de Tiro com Arco) e a NFAA, que é uma entidade dos Estados Unidos que rege as

competições do tipo Field. No Brasil o mais praticado é a Field NFAA.

3.8.4 Arqueria Tradicional

Figura 47: Arqueria Tradicional.

Fonte: https://arcoeflechace.com/tag/field/ Acesso: 20/06/2017

Na atualidade o tiro com arco tradicional tem um significado diferente para cada
indivíduo, mas no geral esta modalidade simula a prática de arco e flecha que ocorria
há séculos. Porém, o arqueiro não utiliza alguns recursos que os arcos modernos
podem oferecer. Por exemplo, o arqueiro utiliza um arco recurvo moderno, mas não
usa a mira, estabilizadores e outros equipamentos de precisão. A maioria dos
arqueiros tradicionais preferem atirar com flechas modernas de fibra de carbono e
usar uma corda feita de materiais sintéticos. Alguns arqueiros dizem que o tiro com
arco tradicional, é melhor com arcos e flechas feitas apenas de materiais naturais,
como madeira, chifre e penas de aves (FCETARCO, 2014).
69

3.8.5 Bowhunting (Caça com Arco)

Figura 48: Caçador praticando Bowhunting

Fonte: https://arcoeflechace.com/tag/field/

Acesso: 20/06/2017

O Bowhunting, como o próprio nome sugere, é caça com o arco. É uma forma
de hobby e não um esporte. Mesmo havendo inúmeros equipamentos com
tecnologias avançadas, há caçadores que preferem o método tradicional de caça,
utilizando um arco moderno. Os arcos utilizados por esses caçadores possuem maior
potência nos tiros, e as suas flechas possuem lâminas, diferente dos arcos de
competição.
70

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse estudo foi realizado com o intuito de compreender como os sistemas


simbólicos do artefato arco e flecha se manifestam histórico e culturalmente, ao
analisar os seus mitos na cultura e seus desdobramentos contemporâneos no esporte.

Através dos mitos analisados, percebeu-se que esse artefato representa muito
bem as culturas guerreiras e a espiritualidade ancestral, pois a sua simbologia remete
não apenas a um artefato de caça, mas também um artefato de transcendência
espiritual que busca a beleza pelo equilíbrio.

Esse trabalho contextualizou o arco e flecha no âmbito do design, segundo


Maristela Ono e Rafael Cardoso, a partir das funções de uso, função simbólica e
função técnica, mostrando dessa forma, porque ele é um artefato de design.

Durante a realização desse trabalho foram analisadas outras maneiras de se


utilizar o arco e flecha, onde, diferente do que se imagina no ocidente, o arco pode ser
utilizado como uma prática de arte, tendo como exemplo disso, o Kyudo, onde foi
observado a partir disso, que toda a forma de se praticar o arco e flecha é uma forma
de arte. Desde o momento em que o arqueiro tem que se posicionar para pegar a
flecha até o momento em que acerta o alvo, ele se concentra da mesma maneira em
que um artista se concentra diante de sua tela em branco. Quando o arqueiro atinge
o seu alvo é o momento em que o pintor finaliza a sua obra.

Ao se observar como o Kyudo é praticado, entende-se porque é considerado


uma arte, pois quando se compreende que a prática do arco e flecha dura uma vida,
o sujeito entende que esse artefato é uma representação do cotidiano do sujeito,
afinal, a prática dessa arte envolve a busca do autoconhecimento, onde o sujeito
sempre tem que se renovar, que nunca irá saber de tudo, assim como a busca atingir
o ideal do belo, o conhecimento e a verdade.

Ao se analisar o arco e flecha em diversas culturas, pode-se perceber a


importância histórica e cultural que o mesmo tem para a humanidade e como esse
artefato de design ajudou e ainda ajuda no desenvolvimento da história e da sua
cultura. Ainda pode ser percebido que esse artefato de design não ficou perdido no
71

tempo. O design conseguiu inovar, fazendo com que esse artefato além da sua grande
importância para a história da humanidade tenha ainda um papel fundamental na
contemporaneidade a partir da prática desportiva.

Assim, percebemos como o design do arco e flecha evoluíram com o advento


das novas tecnologias e com a prática cada vez mais concorrida no mercado. Logo,
inúmeros aparatos para auxiliar o arqueiro a utilizar seu arco e Flecha foram criados
e desenvolvidos, pois o arco contemporâneo se tornou tão tecnológico, que
atualmente ficou difícil para o arqueiro conseguir utiliza-lo sem usar os equipamentos
que o compõe, como a mira, o tab, entre outros acima listados. Além de que em
campeonatos como os Jogos Olímpicos, é preciso fazer uso desses aparatos para a
segurança e melhor performance do arqueiro nessas competições.

Assim sendo, toda a analise apresentada nesse trabalho buscou observar a


importância do Arco e Flecha enquanto artefato de design, cuja rica histórica pode ser
contemplada nas diversas culturas, buscando a partir de seus mitos a sua importância
na trajetória humana.
72

REFERÊNCIAS

MOGAMI, Simone; DF Kyudo Kai. O caminho do arco e flecha japonês. Disponível


em < http://kyudokai-df.webnode.com.br/kyudo-historico-e-origem/origem-e-historia/>
BULFICH, Thomas. O livro de ouro da mitologia: histórias de deuses e heróis.
34 ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006

KURY, Mário da Gama. Dicionário de mitologia grega e romana. 8 edi. Rio de


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