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NÚCLEO DE DESIGN
PADRÕES DE RUA
CARUARU, 2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO – UFPE
NÚCLEO DE DESIGN
PADRÕES DE RUA
CARUARU, 2016
Catalogação na fonte:
Bibliotecária – Simone Xavier CRB/4 - 1242
APROVADO(A)
Aos meus pais, por ter me dado apoio em toda a minha trajetória acadêmica,
bem como na minha vida inteira.
Aos artistas Lys Valentim, Glauber Arbos, Nando Zevê e Jota Zeroff, por ter
autorizado a utilização de suas obras como base para a produção das estampas.
This paper is intended for the preparation of prints created from the aesthetic four
graffiti artists from Pernambuco, trying to demonstrate how arisen and entrenched
street demonstrations can provide stunning technique for preparing printing projects,
divided into three parts: The first discusses the theoretical foundation about Graffiti, its
history and its spread around the world/Brazil/ Pernambuco. The second part comes
from the analysis of the works of selected artists from Pernambuco, with the study
based on the fundamentals of design in the book New Fundamentals of Design, Ellen
Lupton and Jennifer Cole Phillips. Thus, it was possible to identify the most recurring
points within each artist's style, helping the development of the third part, which is the
development of eight (08) drawings for stamping, and two (02) patterns for each artist
analyzed, following the projectual methodology of surface design.
In summary, this study contributes to the visual understanding of the graffiti movement,
its potential reference for the development of design products using the fundamentals
of design and printing techniques for conscious creation of the final product.
Figura 15: Fachada do Teatro de Cultura Artística, Di Cavalcanti, São Paulo .......... 38
Figura 20: 3nós3 em ação, intervenção Ensacamentos, São Paulo, 29 de Abril 1979
..................................................................................................................................42
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 17
Justificativa ................................................................................................................ 18
Metodologia ............................................................................................................... 19
GRAFFITI .................................................................................................................. 21
INTRODUÇÃO
Justificativa
Pergunta da Pesquisa
Como o universo do Graffiti pode servir como referência para a elaboração de um
produto de design?
Objetivo Geral
Elaborar coleção de estampas tendo como referência a estética de graffiteiros de
Pernambuco
Objetivos Específicos
1. Realizar ampla pesquisa sobre o graffiti e sobre artistas pernambucanos;
19
Metodologia
GRAFFITI
21
GRAFFITI
Além das imagens feitas com as mãos, pedras e ossos, utilizando sangue,
carvão e outros materiais provenientes do ambiente onde estavam inseridos e ao
colocar sua mão e soprar pó colorido utilizando ossos furados, o homem pré-histórico
executou uma técnica ancestral a do spray e do estêncil (GANZ, 2010, p. 8)
Para os egípcios, “(...) o faraó era considerado um ser divino (...) que (...) ao
partir deste mundo, voltava para juntos dos deuses dos quais viera” (GOMBRICH,
1999, p. 55). Seguindo essa crença, a preservação do corpo era fundamental para
que “a alma pudesse continuar vivendo no além”. Usando o embalsamento como
método a fim de evitar a degradação do corpo sagrado do faraó, esse ser divino teria
as pirâmides para ajudá-lo nessa ascensão. Era para os faraós que as pirâmides eram
construídas, onde seu corpo ficaria depositado no centro da edificação e “em toda
volta da câmara funerária, eram escritos fórmulas mágicas e encantamentos para
ajudá-lo em sua jornada para o outro mundo”. (GOMBRICH, 1999, p. 55).
mitos, hinos e preces relativas à vida do faraó divino no além. (MEGGS, 2009,
p. 30).
Podemos dizer que a partir de Roma que o Graffiti, da forma que conhecemos
hoje, tomou forma, consistindo numa forma de expressão, sem distinção de classes e
grau de escolaridade. Ele está ali para ser visto, querendo ou não, denunciando uma
insatisfação ou expressando ideias que podem ser compartilhadas por muitas
pessoas.
Da esquerda para a direita: Gravura 1854 – 90, dos irmãos Fausto e Felice Niccolinii da Rua do
Templo de Jupiter Pompéia, Itália. E graffitis preservados em Pompéia. | Fonte:
http://descomplicarte.com.br/category/grafite-2/page/2/ (acessado em 21 de junho de 2016).
O graffiti é sim uma forma de produção mais elaborada, onde quem o faz tem
mais cuidado com os detalhes, que muitas vezes é autorizada, tendo assim mais
tempo de produção para que seja feita em determinado local, enquanto que a
pichação é sempre ilegal e rápida, um pequeno momento que se tem pra deixar, ali,
sua marca. Porém, o graffiti e a pichação possuem uma política de respeito, onde um
trabalho não cobre outro.
convergia para a palavra graffiti, forma com que foi escrita durante todo o texto. A
palavra graffiti é de origem italiana, plural da palavra graffito, que por sua vez, do grego
graphis (SILVA, 2014, p. 02). Grafito, no singular, refere-se a técnica e no plural,
refere-se aos desenhos (GITAHY, 1999, p. 13).
Figura 06: Muralismo Mexicano | Del Porfirismo a La Revolución, David Alfaro Siqueiros, 1954
Inscrição anti-semita pintada na parede de um cemitério judeu diz "A morte dos judeus acabará com a
miséria de Saarland." Berlim, Alemanha, novembro de 1938. | Fonte:
https://www.ushmm.org/wlc/ptbr/media_ph.php?ModuleId=10005175&MediaId=693
Fonte: https://streetartscene.wordpress.com/2011/03/02/the-history-of-getting-up-and-going-viral-from-
taki-183-to-bne/ (acessado em 30 de junho de 2016).
Por outro lado, a cena canadense se formou por volta de 1984, tardia se
comparada a dos Estados Unidos, mas com um número significativo de artistas,
decaindo em seguida e reerguendo-se na década de 1990. Toronto, Montreal,
Vancouver e cidades grandes eram onde geralmente os artistas se reuniam, porém o
graffiti também desenvolveu-se em pequenas cidades. Por exemplo, os Monikers são
tradição que até hoje marcam o país conhecida mundialmente. Consiste em figuras e
desenhos produzidos com pastel oleoso em trens de carga e sua história liga-se à
depressão dos anos 1930, onde pessoas embarcavam em trens sem rumo, indo de
cidade em cidade em busca de trabalho. Ao longo dos anos, esse grupo de pessoas
viajantes acabou criando uma forma de comunicação, usando o giz pastel. (Idem)
Na América do Sul o graffiti reflete a indignação dos que vivem nas periferias
para com as classes sociais altas, assim como em Nova York no início do movimento.
Para GANZ “Os problemas econômicos e sociais, o abuso de drogas e os conflitos
entre gangues que existem nessa parte do mundo exerceram grande impacto na cena
sul-americana do grafite” (2010, p.18)
O Rio de Janeiro e São Paulo são cidades apontadas por GANZ (2010) como
o berço da cena brasileira e mesmo tendo seu surgimento recente, possui grande
influência internacional, introduzindo um novo tipo de escrita, com caracteres
arredondados e que não são feitos em cima de outros trabalhos, mostrando respeito
com os outros artistas que também interviram naquele local.
Segundo GANZ (2010), a Suécia tem conseguido desenvolver seu estilo tendo
obras concentradas em Estocolmo e em outras cidades grandes; A Dinamarca teve
sua cena desenvolvida a partir da exibição do documentário Style Wars (figura 12),
em 1983. Daí em diante, tornou-se conhecida pelos diferentes estilos de letras, entre
eles o Wildstyle4, usados pelos grafiteiros Swet e Bates. Os primeiros artistas
britânicos iniciaram suas intervenções com as pieces, tendo como influência os
artistas da cena nova iorquina. Em 1993 surge um grupo de artistas utilizando spray
nas cidades de Londres, Wolverhampton e Bristol, sendo essa última, a cidade onde
Banksy cresceu.
como uma das primeiras cidades a desenvolver o graffiti no Continente, sendo o local
das primeiras exposições de graffiti fora dos EUA.
encontrar pinturas de Miss Van, Fafis e Lus (pincel), Tilt (throw-ups) e Ceet. (GANZ,
2010, p.127)
Fonte:http://www.trash80s.com.br/2011/04/ta-lembrado-o-filme-a-loucura-do-ritmo-beat-street-1984/
(acessado em 30 de junho de 2016)
um graffiti de alto nível, que saiu das cidades de Moscou e São Petersburgo para todo
o país. Em Belarus a cena gira em torno de Minsk desde 1997. Antes disso apenas
pequenos grupos mantinham atividade, onde foram logo reprimidos pelo governo. No
fim da década de 90, latas de spray e revistas sobre o tema eram inexistentes no país.
Hoje a situação está melhor, existem livros sobre o tema e a True Stilo, equipe de
graffiti pioneira no país, tornou-se conhecida pelo contrato com a marca de spray
Montana. Assim como a Bulgária, Belarus e Portugal, a cena da Estônia só começou
a surgir na década de 1990, acontecendo principalmente na capital, Tallinn, onde a
equipe CAPO atua juntamente com outras equipes, fazendo o movimento do graffiti
crescer no país. Vários artistas trabalham com venda de telas e também são
designers. (Idem)
Na Ásia mesmo que a cena esteja dando seus primeiros passos, é comum
pintar com spray na Tailândia, Filipinas, Taiwan e Cingapura, além do Japão. A cena
inovadora e diversificada estimula artistas do mundo inteiro a viajar ao continente
Asiático. Os jovens japoneses tem interesse e são receptivos aos acontecimentos
europeus e americanos, ao contrário da Indonésia, tendo sua cena mais politizada,
com seus pôsteres e estênceis. No geral a cena asiática concentra-se nas capitais,
tendo seus artistas trabalhando como designers. (GANZ, 2010).
37
A internet foi e é uma ferramenta de grande ajuda aos artistas de todo o mundo.
Do isolamento em cidades, países e continentes, à interação de pessoas de todos os
lugares da terra, ela fez com que artistas do mundo inteiro pudessem se conhecer e
serem conhecidos, trocar referências e fazer contatos. A fotografia digital também foi
adotada pelos grafiteiros, eternizando o que antes tinha um tempo de vida indefinido.
A fotografia proporcionou que o artista registrasse suas obras e tivesse acervo
palpável ao que antes ficava registrado apenas na memória de quem o fez e que
observou. Juntas, proporcionam o estreitamento das relações de artistas de todo o
mundo, não tendo mais a barreira territorial como ponto decisivo para o isolamento
das cenas, de forma a universalizar ainda mais o movimento do graffiti.
38
Antes do graffiti atual, o Brasil, assim como no México, teve murais ocupando
fachadas de grandes construções, narrando a história da arte no país. “No Brasil, nos
anos 1950, vários murais arrematavam as fachadas dos edifícios[...] como o realizado
por Di Cavancanti, com cerca de 15 metros de comprimento, na fachada do Teatro de
Cultura Artística, na região central de São Paulo.” (GUITAHY, 1999, p. 15)
Fonte:http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/3400/conselho-aprova-tombamento-de-
remanescentes-do-teatro-de-cultura-artistica-em-sao-paulo (acessado em 30 de junho de 2016).
Com a ditadura militar nos anos 1960, a população utilizava os muros, assim
como os parisienses, para protestar, tendo como mote central a frase “Abaixo a
ditadura”, espalhadas pela cidade, vindo a ser contidas pela repressão. Foi nessa
época que a Arte Urbana se inicia no Brasil, tendo “mensagens pintadas sobre muros
e fachadas de prédios públicos ou privados que proclamava frases contra a censura,
a tortura, o imperialismo norte americano e incitavam a luta armada.” (FERREIRA,
2011).
39
Segundo Gitahy (1999), Alex foi o principal precursor do graffiti no Brasil e entre
1978 e 1980 fez seus primeiros graffitis na cidade de São Paulo. Seus primeiros
trabalhos eram simples, uma bota preta de salto agulha e cano alto, que com o passar
do tempo foi acrescido outros elementos: a Luva preta apontando, os óculos escuros
no estilo dos usados na década de 1950 e o biquíni de bolinhas, onde culminou numa
mulher latina, criação acompanhada durante os anos 1970, passo a passo, pela
cidade. Denominada “A rainha do Frango Assado”, por ter um graffiti dessa mulher
41
latina apontando para um frango assado, passou a ser retratada vestindo um maiô de
pele de onça, em tamanho natural.
Fonte: http://oglobo.globo.com/cultura/pioneiro-do-grafite-no-brasil-alex-vallauri-recebe-homenagens-
8099795 (acessado em 30 de junho de 2016).
Em 1979 foi criado o grupo 3nós3 (figura 20), pelos artistas Hudinilson Júnior,
Mário Ramiro e Rafael França, que tinham como proposta a intervenção na paisagem
urbana, propondo “interversões”, como declarava o próprio artista, onde ofereciam
uma nova versão do espaço urbano à cidade (GITAHY, 1999, p.52). O grupo realizou
dezoito intervenções pela cidade de São Paulo até a sua dissolução, no ano de 1982.
42
Formado por Jaime Prades, Milton Sogabe, José Carratu, Carlos Delfino e Rui
Amaral, o coletivo TupiNãoDá (figura 21) surge nos anos 80, de acordo com Gitahy
(1999), fazendo intervenções de grande porte na cidade de São Paulo, e a partir dessa
década o graffiti começa a ser cada vez mais reconhecido dentro do mundo da arte,
tendo os primeiros artistas do movimento sendo convidados a participar de grandes
eventos desse seguimento.
Figura 20: 3nós3 em ação, intervenção Ensacamentos, São Paulo, 29 de Abril 1979
Fonte: http://oglobo.globo.com/rio/bairros/intervencoes-artisticas-pipocam-pela-cidade-se-descolam-
do-grafite-18644403 (Acessado em 30 de junho de 2016).
Foto de matéria de 1977 da revista Veja sobre Antenor Lara Campos, conhecido como Tozinho, que
se utilizou de um precursor do picho como propaganda do seu negócio. (Foto: Sérgio Sade) | Fonte:
http://jpress.jornalismojunior.com.br/2015/12/pixacao-cidade-caderno-caligrafia/(acessado em 30 de
junho de 2016).
45
Participação de Robézio Marqs e Tereza Dequinta, integrantes do Grupo Acidum, no festival Mural,
um dos maiores Festivais do seguimento das Américas. | Foto: Halopigg | Fonte: Página Oficial do
Grupo Acidum no Facebook (acessado em 30 de junho de 2016).
46
1.4 Graffiti PE
O graffiti por natureza é marginal, pois passa por cima de regras pré-
estabelecidas de que o suporte onde ele está aplicado é propriedade de terceiros.
Para Gitahy (1999), sua proibição é ligada aos conceitos de propriedade privada.
Onde o proprietário vê seu espaço “invadido” por graffitis não autorizados.
O ato de invadir propriedades que não lhe pertence, de pintar em muros alheios
faz com que o graffiti seja entendido por muitos como vandalismo. Porém, é possível
perceber que na maioria das vezes, o graffiti está em locais negligenciados,
esquecidos dentro da cidade onde se encontram. E aí que está o impacto que o graffiti
quer causar: Ele está ali, aplicado a um local, que anterior a intervenção do artista, as
pessoas passavam e simplesmente não perdiam o seu tempo para olhar. O graffiti
sempre tem algo a dizer a quem passa e a partir do momento que você (re)descobre
aquele muro, a comunicação foi feita.
Em Londres é possível fazer um tour pela East London e conhecer obras dele
e de outros grafiteiros, sendo guiado por artistas, que conhecem cada estilo, cada
artista e os significados de suas obras.6
6 http://mapadelondres.org/street-art-tour/
50
Fonte: http://rede.natura.net/espaco/desodorante-colonia-masculino-urbano-edicao-limitada-100ml-
54095 (Acessado em 30 de junho de 2016).
54
Óculos de Sol inspirado na estética de Eduardo Kobra, coleção Arte Urbana, Chilli Beans, 2015 |
Fonte: http://www.adonline.com.br/rapidinhas/53655-chilli-beans-apresenta-colecao-arte-urbana.html
(acessado em 30 de junho de 2016).
Fonte: http://www.vogue.it/en/shows/show/collections-fall-winter-2012-13/jean-paul-gaultier
56
FUNDAMENTOS DO DESIGN
57
FUNDAMENTOS DO DESIGN
A criação das estampas será feita a partir da análise das obras dos artistas e da
identificação de pontos característicos de cada um deles, de modo a retratar seu estilo
dentro do projeto gráfico que será criado. A coleção de estampas terá como tema o
graffiti tendo objetivo a integração desta manifestação artística urbana com o design
e seus fundamentos, agregando as informações técnicas do design com os conceitos
artísticos de cada um dos quatro artistas.
Atuante em Petrolina e Juazeiro, Lys trabalha com Arte Urbana desde 2012.
Traz em suas obras personagens femininos quase sempre intermediados por seres
auráticos9, onde é abordado a densidades das relações entre as pessoas e elas
mesmas, o desapegar das coisas e a leveza que essa consciência traz. Em algumas
obras as personagens são retratadas com uma fenda na altura do coração, onde fica
clara a alusão ao “deixar ir” e o “vazio” que isso representa. Tais personagens são
retratadas com os olhos fechados como se olhassem para dentro de si, estando
atentas aos conflitos internos. Quando sozinhas, tomam forma de seres fantásticos,
representadas carecas e de olhos fechados; quando acompanhadas, retratam o Ser
e sua Consciência, em conversa interior materializada em dois ou mais personagens.
Linhas
9 Referente a aura
60
Segundo Lupton e Phillips, “(...) uma linha pode ser uma marca positiva ou uma
lacuna negativa” (2008, P. 16). Nesse caso as linhas são marcas positivas e retratam
o trajeto de algo indo a algum lugar, como nas obras Lys 01 (figura 39) e Lys 04 (figura
40), que podem representar “(...) a conexão entre dois pontos ou o trajeto de um ponto
em movimento” (LUPTON; PHILLPS, 2008, p.16), ponto esses representados,
respectivamente, pela linha que liga as duas personagens presentes na extremidade
do desenho (Lys 01) e pelo barco sendo levado pelo fluido azul que sai da
personagem.
61
Plano
62
Como artista de rua, Lys Valentim, assim como outros artistas, utilizam os
suportes e as interferências do ambiente urbano, como forma de fazer que sua obra
saia do plano bidimensional, como pode ser identificado na obra Lys 02 (figura 41),
onde a linha vermelha “sai” da parede e interage com a pedra, tendo assim mais de
um plano como suporte das obras e conferindo-lhe tridimensionalidade real, e não
apenas visual. “Um objeto gráfico que comporta espaço tridimensional tem volume.
Ele tem altura, largura e profundidade” (LUPTON; PHILLIPS, 2008, p.18). Nesse caso,
o volume foi adicionado no momento em que a linha “salta” da parede e passa pela
pedra.
Lys 06 (figura 42) e 09 (figura 43), efeito esse conseguido quando adiciona linhas que
parecem o movimento de algo fluido, onde a personagem emerge e seus movimentos
repercutem na forma deste fluido, lembrando o movimento da água quando algo é
colocado nela.
Equilíbrio
Como seus seres são muitas vezes não humanos ou retratados em situações
não reais, com ênfase na condição psicológica, suas personagens parecem flutuar
dentro de um espaço, possuindo um equilíbrio não convencional. O equilíbrio visual
fica por conta da distribuição dos elementos dentro do suporte, como na obra Lys 09
(figura 43) onde a mão interage com a porta branca já existente dentro do suporte
escolhido ou com a distribuição de forma harmônica dos elementos, como nas obras
Lys 01 (figura 39), Lys 02 (figura 41) e Lys 03 (figura 44). Nessas imagens podem-se
como a forma e os outros elementos são postos causando um equilíbrio visual, que
65
“(...) acontece quando o peso de uma ou mais coisas está distribuído igualmente ou
proporcionalmente no espaço” (LUPTON; PHILLIPS, 2008, p.29).
Textura
As texturas são vistas de duas formas nas obras de Lys Valentim. A primeira,
as texturas visuais são produzidas pela artista de modo a agregar um detalhamento
maior nas imagens, com a utilização do Estêncil10 para a produção de padrões que
são repetidos nas imagens, como nas obras Lys 01 (figura 38), Lys 03 (figura 44), Lys
04 (figura 40), Lys 05 (figura 45), Lys 06 (figura 42), Lys 08 (figura 38) e Lys 09 (figura
43). Nas áreas circulares ao redor das cabeças das personagens são vistos padrões
de desenhos replicados.
10 Técnica que consiste em produzir um molde de papel vazado onde os recortes formam imagens. A
partir desses cortes e partes fechadas é permitida ou não a passagem da tinta para pintar o suporte.
66
Deste modo podemos afirmar que as texturas visuais utilizadas por Lys
Valentim agregam valor visual a sua obra, nos fazendo observar cada pequeno
detalhe feito por ela. Ainda sobre as texturas visuais, podemos identificar em suas
obras a presença delas nos cabelos, proporcionada pelo jato da tinta spray ou pelas
linhas contínuas.
aparência ótica dessa superfície” (2008, p.53). Portanto a textura do suporte onde a
obra se encontra acaba por fazer parte do todo que a constitui, assim, a artista tem
nas interferência do meio urbano valores que se agregam as suas obras, como nas
imagens Lys 02 (figura 41) , Lys 07 (figura 45) e Lys 10 (figura 47), tendo essa última
como o exemplo maior de como a textura interfere e muda o sentindo final da obra -
caso o pássaro fosse aplicado em uma parede lisa, regular, não teria a mesma poética
do que aplicado em colunas de concreto, cinzas, manchadas pelo tempo, que trazem
uma dureza contrastante com a leveza do passarinho. Dessa maneira, podemos
concluir que “(...) texturas palpáveis afetam a maneira como uma peça é sentida pela
mão, mas também afetam sua aparência” (LUPTON; PHILLIPS, 2008, p.53), pois o
modo como a superfície de suporte se apresenta não só afetará o resultado tátil, mas
principalmente o visual do produto final.
Cor
Além do preto e do branco, a artista utiliza mais quatro cores que são
recorrentes em seus trabalhos, tendo assim uma cartela cromática formada por seis
cores: preto, branco, azul, vermelho, amarelo e rosa. Percebe-se que algumas das
obras de Lys possuem a presença de tons de verde, porém de forma tímida.
69
O vermelho está sempre presente nas linhas, sendo uma marca da estética
da artista. O azul também é recorrente nos seus trabalhos, onde normalmente as
personagens emergem, remetendo à um estado líquido, mas que também pode
remeter a uma outra dimensão onde o azul é a cor predominante. Por fim, o amarelo
e o rosa que geralmente aparecem juntos, criando um contraste entre esses tons
complementares.
Figura/Fundo
A artista utiliza esse recurso para dar ênfase as questões do deixar ir, como
na obra Lys 05 (figura 45) e Lys 07 (figura 46), onde o vazio deixado é concretizado
por espaços em negativos que possuem um formato e que o mesmo tem algo de
significativo para o todo da imagem. Dessa forma, tanto o pintado como o não pintado,
reforçam o conceito da obra, onde o significado de cada elemento fica mais claro
quando esses espaços negativos aparecem. Se a artista resolvesse pintá-los, perderia
o sentido de falta de uma parte, de vazio.
Para Lupton e Phillips, é essencial para o designer a capacidade de
criar/avaliar a tensão entre figura fundo, treinar o olhar para criar espaços em branco
ao compor formas e olhar os contornos produzidos por elas, a fim de detectar os
espaços vazios e igualmente atraentes.
Padronagem
Tempo e Movimento
Ponto
Outro elemento que, por ser solto dentro dos desenhos, tem uma área ao
redor que o faz ter um destaque, são as assinaturas do artista. Uma estilização da
letra A acaba tornando-se um ponto, visto que sempre é aplicada de forma a não ter
interferência de nenhum outro elemento gráfico, “(...) tomando forma como sinal, uma
marca visível” (LUPTON; PHILLIPS, 2008, p.14).
Linha
Equilíbrio e Ritmo
O estilo de Arbos possui equilíbrio bem definido, tanto pelo fato da utilização
da simetria dentro de seus trabalhos, como na ausência dela, os elementos são
distribuídos no suporte de forma a criar um equilíbrio visual, que acontece quando “(...)
o peso de uma ou mais coisas está distribuído igualmente ou proporcionalmente no
espaço” (LUPTON; PHILLIPS, 2008, p.29).
79
Em alguns casos suas obras possuem uma compensação visual obtida pela
interação dos elementos dentro do espaço a ser trabalhado, que segundo Lupton e
Phillips (2008), se explica pela oposição dos elementos, onde grandes objetos se
contrapõem aos pequenos e os escuros, aos objetos claros. Como exemplo, pode ser
citada a obra Arbos 10 (figura 56), onde os elementos que são visivelmente de
tamanhos e pesos diferentes possuem um equilíbrio linear. Em outros, possui uma
simetria da esquerda para a direita, onde os dois lados da imagem possuem os
mesmos elementos empregados de forma espelhada, como nas obras Arbos 01
(figura 49), Arbos 05 (figura 57) e Arbos 16 (figura 58).
Textura
Cor
Não possui uma cartela de cores bem definidas, tendo em vista a grande
variedade de cores presentes nas imagens analisadas, sendo apenas o preto e o
84
Figura/Fundo
O artista possui uma preocupação com o plano de fundo de suas obras, seja
utilizando tintas ou adequando o desenho ao plano de fundo que o suporte
proporciona, como na obra Arbos 15 (figura 63), que os desenhos se integram com o
branco e a porta do plano de fundo.
86
Seus planos de fundo se constituem por cores e/ou formas, sempre possuindo
uma relação estável de figura/fundo, onde a forma principal destaca-se em relação ao
fundo. Assim, o plano de fundo emoldura o elemento principal, complementando-o de
forma sutil, não havendo conflito entre eles.
Enquadramento
central, acaba proporcionando uma moldura “invisível”, pois quando olhamos a obra,
conseguimos enquadra-la na parede branca a partir dessa forma geométrica. Sem
ela, a obra ficaria “solta” dentro do suporte.
48) e Arbos 17 (figura 64), mas na maioria do material analisado, as obras possuem
margem dos quatro lados.
Camada
Transparência
Padronagem
Ponto
expressar sua própria identidade ou mesclar-se à massa” (2008, p.14), sendo assim,
o ponto mescla-se aos outros elementos para compor um desenho, agregando maior
detalhamento nas obras, como em ZV 04 (figura 65), ZV 06 (figura 66) e ZV 08 (figura
67), aparecendo nas escamas como elemento ornamental, de modo que se retirados,
não compromete o entendimento do desenho maior.
Figura 65: ZV 04
Figura 66: ZV 06
Figura 67: ZV 08
Figura 68: ZV 01
Figura 69: ZV 03
Linha
Figura 70: ZV 10
Ritmo
Nas obras de Nando, o Ritmo é criado nas escamas dos peixes, onde o
mesmo formato e aplicado diversas vezes, sendo “um padrão forme, constante e
repetido” (LUPTON; PHILLIPS, 2008, p.29)
Figura 71: ZV 11
Figura 72: ZV 05
Figura 73: ZV 07
Textura
Aparecem também nas escamas dos peixes, criadas a partir dessa repetição
do elemento, podendo variar dependendo dos elementos aplicados dentro de cada
escama. Pontos e linhas constituem as texturas e a coloração usada em dégradé
também formam essa textura visual. A textura tátil fica a cargo dos suportes onde o
elemento irá ser aplicado, interferindo de certa forma no produto final.
Cor
Possui uma cartela de cores bem ampla, mas é possível identificar nas obras
uma predominância de cores frias ou quentes, como em ZV 02 (figura 74) e ZV 09
(figura 75). O preto é a cor que sempre está presente nas obras, por se tratar de uma
cor usada em contornos, que normalmente são grossos e bem delimitados, e
detalhamentos, que são finos e delicados.
98
Figura 74: ZV 02
Figura 75: ZV 09
Figura/Fundo
Padronagem
Figura 76: ZV 12
Figura 77: ZV 13
Júlio Cesar de Freitas, mais conhecido como Jota Zeroff é Natural da cidade
de Carpina, na Zona da Mata de Pernambuco, tem 29 anos e a 21 dentro do mundo
das artes. É autodidata e desenhista, grafiteiro e interventor urbano. Amante das artes,
Jota busca desenvolver uma arte que transmita sonhos, ideias, sentimentos e gostos,
101
mas que ao mesmo tempo cause desconforto e faça pensar quem observa seus
trabalhos. (GRUD, 2013, p.206)
Ponto
Linha
Plano
Escala
O artista cria painéis que utilizam características reais, porém de uma forma
quase que fantástica, fazendo com que o espetador pare para olhar aquelas pessoas
gigantes ou pequenas demais.
111
Textura
Cor
Figura/Fundo
Geralmente Jota não trabalha o fundo onde vai aplicar os desenhos, ele
adequa ou utiliza a cor/textura do suporte já existente como parte integrante da obra.
A relação entre Figura/Fundo das imagens e o suporte é estável, que segundo Lupton
e Phillips, ocorre quando “(...) uma forma ou figura se destaca claramente do seu
fundo” (2008, p.86)
Padronagem
Para conseguir tais desenhos nas superfícies, o homem foi utilizando dos
artefatos disponíveis a cada momento da história, onde “provavelmente [...]usou a
mão como matriz para estampas os primeiros tecidos com pigmentos.” (PEZZOLO,
2007, p. 184). Conforme afirma Rüthschilling, no mundo, os antecedentes do que viria
a ser o design de superfície, se perdem no tempo e no espaço (2013, p.11), sendo
possível dizer que a necessidade do homem de adornar o mundo a seu redor é
intrínseca a todas as civilizações, surgindo de forma paralelas umas às outras.
Já no segundo caso, foi escolhido apenas o elemento barco e mais uma vez
as linhas, agora nas cores vermelha e azul.
Na estampa 02, o elemento serpente foi o escolhido, bem como os dois tipos
de grafismos identificados como recorrente em suas obras.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após o término desse projeto, ficou demonstrado que o objetivo geral foi
alcançado, visto que a produção de graffiti dos quatro artistas serviu como base de
estudo, análise e inspiração para a produção da coleção de 08 (oito) estampas, tendo
como maior dificuldades o acesso às obras. Uma vez entendida a efemeridade do
graffiti, o estudo foi feito a partir de imagens obtidas diretamente com os artistas.
É esperado que a presente pesquisa, bem como o projeto criado a partir dela,
possa servir como referência para projetos futuros, onde se tenha a vontade de
estudar um campo tão vasto e rico como o do graffiti, não se limitando à área de
atuação dessa pesquisa, mas em todas as vertentes do design.
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REFERÊNCIAS
BLAUTH, Lurdi; POSSA, Andrea Christine Kauer; Arte, grafite e o espaço urbano,
PALÍNDROMO Nº 8 /2012 – Programa de Pós‐Graduação em Artes Visuais –
CEART/UDESC, Pibid Artes Visuais, , 2012
GOMBRICH, E.H., A História da Arte, 16ª edição, Rio de Janeiro: Livros técnicos e
Científicos, 1999.
GUITAHY, Celso, O que é Graffiti, 1ª edição, São Paulo: Coleção Primeiros Passos,
Editora Brasiliense, 2012.
MEGGS, Phillip B., História do Design Gráfico, São Paulo: Cosac Naify, 2009.
MORÉ, Carol T. Nando Zevê cria tattoos fantásticas de seus desenhos autorais
e linhas estilizadas. Disponível em: < http://followthecolours.com.br/tattoo-
friday/nando-zeve-cria-tattoos-fantasticas-de-seus-desenhos-autorais-e-linhas-
estilizadas/>. Acesso em: 04 mai. 2016
PEZZOLO, Dinah Bueno. Tecidos: História, tramas, tipos e usos. São Paulo:
Editora Senac São Paulo, 2007.