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A Morte Da Terra
Clark Darlton
Tradução
S. Pereira Magalhães
Formatação
ÐØØM SCANS
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O fim de uma época — a Terra mergulha no
mar do esquecimento.
3
Personagens Principais:
4
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Topthor e Ber-Ka tinham naquele momento
feito um acordo. Entre eles haveria um armistí-
cio e ambos aceitavam a obrigação de procurar
ou os saltadores ou os tópsidas para esclarecê-
los sobre o horrível engano.
O transmissor da Top II não podia mais ser
consertado e também para ouvir estava muito
difícil para Topthor, se bem que as notícias não
eram nada agradáveis para o infeliz Ber-Ka. Os
tópsidas estavam já derrotados, não havia mais
dúvida. Os míseros restos da frota encontra-
vam-se encurralados e obrigados à rendição.
Muitas naves haviam se refugiado nas clareiras
da floresta virgem, sem atinarem que exatamen-
te este planeta achava-se condenado à destrui-
ção total.
O reforço de Topsid estava chegando e en-
trando logo em combate. Esta leva de forças
frescas ainda tinha um moral bem elevado e
conseguiu infligir pesados danos aos saltadores.
Logo, porém, constataram a grande superiori-
dade dos superpesados. Os tópsidas fugiram,
mas seus perseguidores não tinham piedade, fo-
ram derrubando uma nave após a outra. So-
mente as esferas espaciais de Rhodan que apa-
reciam aqui e ali, não eram atingidas.
Topthor e Ber-ka ouviam os relatórios. O
tópsida tinha perdido qualquer esperança e es-
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tava resignado. Mas não o saltador.
— Tem que ser possível conseguir-se um
contato com uma das duas facções, Ber-Ka.
Vocês tinham uma base aqui. Fugiram todos ou
ficaram pelo menos os guardas?
— Não sei — lamentou o tópsida. — As
providências tomadas pelo comando supremo
nunca chegam ao nosso conhecimento. Talvez
existam ainda estações de rádio em funciona-
mento aqui, mas como conseguiremos contato
com elas, se não sabemos onde estão?
O sáurio fez uma pausa, depois sacudiu a ca-
beça:
— Seria lógico que investigássemos primeiro
o antigo quartel-general. Se há algum sobrevi-
vente, tem de ser lá.
— E onde é este quartel-general?
Ber-Ka apontou na direção do mar.
— Em qualquer lugar ali no litoral, numa ilha
artificial no mar. Mas não sei bem a localização,
pois não tenho idéia nenhuma do local onde
aterrissamos. Temos de procurar.
Topthor franziu a testa.
— A explosão do reator destruiu meu porão
e com isso meu planador e minha viatura. Ire-
mos a pé, mas eu acho isso impossível.
— Uma viatura nós temos também — disse
Ber-Ka, com um raio de esperança. — O plana-
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dor infelizmente foi destruído durante seu ata-
que. Tentaremos chegar até o mar, lá a praia é
larga e bem firme, para servir de estrada. Teori-
camente temos que dar a volta toda pelo conti-
nente, para chegarmos do outro lado, encon-
trando a ilha artificial.
— Mas isto é uma excursão muito agradável
— disse Topthor em tom amargo.
Porém compreendia que não havia outro jei-
to, se não quisessem ficar ali a vida toda.
— Qual é o tamanho de sua viatura?
— Se quisermos levar bastante mantimento
e água suficiente, proporia uma tripulação de
dois homens e, naturalmente, o armamento
correspondente. Não sabemos por quanto tem-
po teremos de viajar.
O superpesado ficou pensativo. Depois aba-
nou a cabeça, concordando:
— Está bem, Ber-Ka.
Olhou para o céu, o sol estava a pino e o
calor era enorme.
— Vamos partir logo, cada hora é preciosa.
Embora não tenha esperança de chegar a tem-
po. Mas é indispensável que todos saibam do
grande erro, que prejudicará toda a Via Láctea.
Os preparativos se fizeram em pouco tem-
po. Abriram um rombo no bojo da nave tópsi-
da, colocaram umas vigas para deslizamento e
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um carro pesado rolou para o chão do planeta.
Tinha rodas e esteira, podia, pois ser utilizado
em qualquer tipo de terreno. Uma pequena me-
tralhadora de raios energéticos podia girar em
todos os sentidos, oferecendo assim proteção
contra os ataques. O diminuto reator em seu in-
terior tinha energia suficiente para o carro ro-
dar ininterruptamente por mais de cem anos.
Caixas com mantimentos foram empilhadas
e o reservatório recebeu bastante água. Ber-Ka
deu as últimas instruções à sua tripulação, de-
pois virou-se para Topthor.
— Podemos partir. Acho que vamos atingir
o litoral em duas ou três horas. Depois será
mais fácil.
— O que há com os habitantes da água?
Ber-Ka tentou despistar.
— Não precisa se preocupar com eles, são
pacíficos e não possuem armas. Nem tomam
conhecimento de nós. Temos apenas que cui-
dar para que ninguém dos seus ou dos nossos
nos veja e abra fogo sobre nós. Este é o grande
perigo que corremos. O único. Nosso tratado
de paz particular não vale para os outros.
Topthor examinou sua pistola de raios.
— Vamos obrigá-los a fazer a paz — disse
ele ameaçador, entrando na cabina do carro,
que dava normalmente para quatro tópsidas.
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Quando Ber-Ka se sentou ao lado dele, todo
o espaço estava ocupado.
— Por todos os espíritos do espaço — disse
o tópsida em tom de brincadeira — não é à toa
que todo mundo chama seu povo de os “super-
pesados”.
Topthor sorriu amavelmente.
— Somos realmente pesados, mas não ape-
nas no sentido físico — explicou ele, olhando
para a máquina.
Os que ficaram nas duas naves viram a viatu-
ra desaparecer logo na mata virgem, voltando
para seus lugares.
Ber-Ka na direção, encontrava sempre uma
clareira ou um trecho com pouca vegetação por
baixo, para conseguir ir rompendo com as po-
derosas lagartas. E quando lhe havia pela frente
grossos troncos de árvores, que não podiam ser
contornados, entrava em ação o termo-radiador
de bordo. Assim foi que diversos montões de
cinza fumegante assinalavam o caminho que
Ber-Ka e Topthor iam seguindo, na primeira
hora de viagem, floresta adentro. Passou a tar-
de e veio a noite. Detiveram-se numa clareira e
se prepararam para o repouso noturno. É claro
que podiam ter continuado, mas temiam cha-
mar a atenção pelo clarão do farol.
A calefação espalhava um calor agradável na
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cabina. Tão diferentes, os dois indivíduos fize-
ram sua primeira refeição e se deitaram para o
repouso.
Em volta deles, era o silêncio e a calma. Ne-
nhuma lua para iluminar as tristes sombras da
floresta desconhecida, onde poderiam estar es-
condidos inimigos invisíveis. Nada se movia.
Em algum lugar, altas ondas estariam rebentan-
do no litoral e banhando as pilastras de aço que
sustentavam a ilha artificial. Isto podia ser a
uma distância de dez quilômetros, mas podia
também ser a mil quilômetros.
Topthor teve um sono muito perturbado.
Acordou muitas vezes. Ficava então ouvindo a
respiração compassada de seu aliado não inten-
cional, que ele aos poucos começava a invejar.
Quando ele virava a massa bruta de seu corpo
para o outro lado, o carro balançava. É verdade
que o Jovem tópsida não percebia nada disso,
seu sono era profundo.
Afinal clareou o dia. No leste, o céu se colo-
riu com todos os matizes do arco-íris. O sol ver-
melho galgou, gigantesco, as grimpas das árvo-
res.
Topthor acordou Ber-Ka.
— Já é hora de nos pormos a caminho, já
perdemos muito tempo. Certamente a batalha
já terminou, mas ninguém sabe ao certo o que
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aconteceu. Você prepara a refeição matinal?
Enquanto o tópsida preparava uma refeição
leve, Topthor desceu da cabina e deu umas vol-
tas. Estava convencido de ter ouvido certos ruí-
dos durante a noite. Se alguém tivesse andado
pela redondeza, devia ter deixado rastros. Esta-
va também intimamente convencido que tinham
errado um pouco o caminho e queria averiguar.
Na clareira não se notava nada de extraordi-
nário. Nenhum afastamento de galhos ou ra-
mos quebrados levava à idéia de que alguém ti-
vesse passado por ali. Não havia animais na flo-
resta, como Ber-Ka havia dito, pelo menos não
animais maiores. O pé de Topthor já estava
preparado para o próximo passo, quando es-
tancou de repente. Ficou parado com o pé no
ar. Seus olhos ficaram estarrecidos, olhando in-
crédulos uma pegada de algo que se arrastava,
vindo da floresta para a clareira, dando uma
volta em torno do carro e desaparecendo do
outro lado na vegetação baixa. Nenhum galho
quebrado, como se o rastro fosse de algo que
se arrastasse.
Topthor voltou lentamente para a viatura.
Ber-Ka já sabia do que se tratava.
— Não se preocupe, Topthor, são os seres
da água. Às vezes vêm à terra, mas voltam logo
a seu elemento. Se o senhor viu o rastro deles
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lá fora, é sinal que o mar não está muito longe.
Portanto, estamos alcançando o que queremos.
E agora, venha tomar sua refeição para que
possamos continuar.
Topthor olhou mais uma vez para as pega-
das e se espremeu para entrar pela porta do
carro, para ele estreita demais.
Apesar da perspectiva de alcançar o mar em
breve, não sentiu muito apetite com a comida
que o tópsida lhe preparara, não por causa da
comida em si. Talvez fosse a incerteza do que
tinha pela frente, que lhe tirou o apetite.
***
***
***
***
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Quando o planeta das águas apareceu na
tela, Gucky se concentrou e pulou. Assim que
sentiu chão firme debaixo dos pés, respirou ali-
viado. Era sempre um grande risco pular no
nada, mas Gucky teve sorte. Estava no alto de
um morro sem vegetação, que emergia íngreme
do meio da mata virgem, proporcionando um
magnífico panorama. Isso não interessava mui-
to a Gucky, mas a busca foi muito facilitada
pelo fato de que Aqua possuía apenas um con-
tinente, que não era tão grande assim.
Olhou para o sol quase a pino, sentou-se
numa pedra lisa e fechou os olhos. Tinha que
ouvir o que não podia ver. Do contrário, não
encontraria sua presa.
E sua presa se chamava Topthor. Concen-
trou-se para captar os impulsos de pensamento
do superpesado, o que devia ser mais difícil do
que no espaço livre. Para sua surpresa, porém,
percebeu logo nos primeiros segundos partes
de pensamentos, que sem dúvida vinham de sal-
tadores e de tópsidas.
“Saltadores e tópsidas! Na mesma direção?”
Gucky virou a cabeça; a distância, natural-
mente, não podia calcular, mas a direção, sim.
— Puxa, saltador e tópsida em harmoniosa
conversa, que surpresa! Isto tem que ser exami-
nado de perto. Quem sabe Topthor pode estar
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por perto — murmurou.
Procurou localizar bem a direção e se tele-
portou para o próximo morro. Depois da ter-
ceira teleportação, viu duas naves: ou melhor,
escombros de duas naves, próximas uma da ou-
tra, num planalto pedregoso. Gucky realmente
se espantou:
— Puxa! A Top II, se não me engano. Que
coisa maravilhosa!
Enfiou a mão num bolso de couro da cintu-
ra, tirando dali um objeto metálico, do tamanho
de um ovo de galinha, a bomba atômica. Pe-
gou-a com cuidado, regulou o detonador, aper-
tou um botão, olhando para que se mantivesse
nesta posição, Se o soltasse, a bomba teria cin-
co segundos para explodir. Pulou para dentro
da nave e se materializou na cabina de coman-
do que pertencera a Topthor. O oficial que es-
tava de plantão, sentado no sofá, arregalou os
olhos espantado e se levantou num pulo para
ver melhor a estranha aparição. Tinha arma na
cintura, mas não fizera menção de usá-la. Olha-
va horrorizado para o rato-castor que surgira do
nada, segurando um objeto metálico na mão,
como se quisesse atirá-lo.
— Se você for bonzinho, lhe darei uma coi-
sa — disse Gucky no mais puro intercosmo,
que deixou o superpesado ainda mais perplexo.
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Conseguiu apenas balbuciar:
— O que você vai me dar?
— A vida — disse-lhe Gucky triunfante,
mostrando-lhe a bomba. — É poderosíssima, se
eu a soltar, explode imediatamente e haverá en-
tão um buraco enorme neste trecho do planeta.
Portanto, não faça bobagem. Vá para o ar livre
lá fora e reúna os outros.
— Os outros? — disse o pobre superpesado,
sem compreender nada. — Quem é você?
— Sou Gucky. Nunca ouviu falar no meu
nome? Meu melhor amigo se chama Perry
Rhodan.
— Rhodan...? — exclamou o bem nutrido
guarda. — Rhodan está aqui?
— Na redondeza, bem perto. E agora, cha-
me os outros lá para fora. Eu queria dizer umas
palavras a eles. Chame também os sáurios. Vo-
cês fizeram aliança com eles?
— Foi ordem de Topthor. Ele disse que a
guerra foi um erro.
— Toda guerra é um erro — continuou
Gucky. — Mas há erros que evitam a guerra.
O superpesado continuava olhando para
Gucky, sem nada compreender. Gucky sorria,
mostrando seu dente roedor.
— Vamos, não temos tempo a perder. Em
dois minutos, quero ver as duas tripulações lá
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fora. E lhe digo logo que tenho uma bomba
atômica em minhas mãos que detonará cinco
segundos após minha morte, se algum maluco
estiver pensando em me matar.
Levou apenas um minuto. Gucky esperou na
escotilha até que os saltadores e os tópsidas es-
tivessem todos reunidos lá fora, no planalto.
Depois avançou um pouco mais, com a mão er-
guida, e gritou bem alto:
— Para ser bem rápido: Rhodan me deu a
incumbência de, com esta bomba atômica, des-
truir os escombros da nave. Desapareçam todos
daqui, do contrário voarão pelos ares em peda-
ços. Têm dez minutos para isto. Compreendi-
do?
Entenderam perfeitamente, disparando em
todas as direções. Apenas um dos superpesa-
dos, com menos de quatrocentos quilos, ainda
antes de entrar na floresta virou para trás e dis-
se:
— Sem a nave, nós não temos mais abrigo.
Temos que morrer aqui ou alguém virá nos sal-
var?
Gucky encolheu os ombros.
— Construam seus ninhos — disse ele pilhe-
riando. — Aliás, onde está Topthor?
O superpesado acabou de desaparecer.
Gucky ainda esperou dez minutos. Depois vol-
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tou ao grande aparelho e procurou o lugar
onde estavam os instrumentos de navegação
positrônica. Parou diante daqueles gigantescos
aparelhos, mostrando-lhes a bomba atômica, di-
zendo baixinho:
— Agora vocês vão receber um presente es-
pecial, principalmente você, computador de
boa memória. Sabe também por quê? Não?
Muitos já morreram sem saber o porquê. O
mesmo vai acontecer a você.
Com muito cuidado, colocou a bomba sobre
a mesa de controle, diante do robô, e deu um
passo atrás. O botão vermelho estava puxado
para fora. Gucky se desmaterializou e, em me-
nos de um segundo, estava no alto de um mor-
ro, a cinco quilômetros dos escombros da Top
II.
— Ainda três segundos — disse ele, sen-
tando-se sobre a volumosa cauda. — Agora!
Lá ao longe, além do teto verdejante da flo-
resta, subiu ao céu o clarão ofuscante da explo-
são, apagando quase a claridade do sol. Um co-
gumelo de fumaça surgiu lento: estava tudo aca-
bado.
— Aquela caixa de metal não falará mais —
disse para si mesmo, virando-se para outra dire-
ção. — Topthor está pensando de novo muito
alto. Portanto deve estar por perto.
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No horizonte, se estendia a imensa super-
fície do mar, até se encontrar com as nuvens
baixas, à direita da língua de terra.
— Está falando com Ber-Ka, quem é Ber-
Ka? — Gucky auscultava atento. De repente, le-
vantou-se de um salto, e de pé, com a cabeça
levemente virada, como se assim pudesse ouvir
melhor. — Ele é um assassino? Isto me torna o
serviço mais fácil. Vamos lá, meu caro.
Com “meu caro”, Gucky se referia a si mes-
mo. O primeiro salto o deixou na praia, não
longe daquele lugar onde ancoravam os barcos
para a travessia. Ali no mar, estava a ilha de
aço. Gucky sondou e percebeu que Topthor de-
via estar ali.
O segundo salto levou Gucky para a plata-
forma da ilha. Daí em diante, não quis mais se
teleportar. Concentrou-se nos pensamentos de
Topthor e achou a direção exata. O saltador
devia estar debaixo da plataforma, na sala de
rádio. Ber-Ka já estava morto e Cekztel estava
no aparelho para falar com Topthor. Não se
podia perder mais um segundo. Gucky desceu
as escadas, atravessou o corredor, chegando a
uma porta encostada, que abriu cuidadosamen-
te.
Viu Topthor de costas, olhando para a tela.
Ao lado dele, jazia o cadáver de um sáurio.
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— ...erro — dizia Topthor. — Um grande
erro. Você podia poupar sua bomba e...
Gucky emitiu um fluxo de suas forças teleci-
néticas, pegando com mão invisível na confu-
são eletrônica dos fios. A imagem sumiu da
tela, a resistência queimou, não havendo mais
corrente.
— Vire-se — disse Gucky — mas tire a mão
da pistola.
Topthor obedeceu imediatamente.
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— É relativamente simples, mas tem de ser
feito no segundo exato — concluiu Rhodan,
olhando com interrogação para Gucky. — Se
você quiser, poderá ser feito também por Ras.
O rato-castor sacudiu a cabeça tão violenta-
mente que as orelhas esvoaçaram.
— Ras deve ser poupado, chefe. Além de
tudo, está na Centauro com Deringhouse, en-
quanto eu estou aqui.
Rhodan concordou.
— Quanto à sua explicação barata sobre a
morte de Topthor, é melhor a gente esquecer
isto. Mas cá entre nós, como foi mesmo? —
olhou para o relógio. — Ainda temos dois mi-
nutos, conte depressa.
Gucky andava nervoso de um canto para o
outro, olhando muito para Bell, com olhos su-
plicantes.
— Realmente, eu o surpreendi e o chamei,
ele se virou, já com a arma na mão para me
matar. Que devia eu fazer? Que seria de você,
chefe, se eu morresse? E o coitado do Bell?
Não, não consegui deixar que me matasse.
— E depois? — perguntou Rhodan impaci-
ente, olhando para o relógio.
— Nada! Topthor ergueu a arma para o ou-
vido e disparou.
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— De qualquer maneira, você é telecineta e
pode mover a matéria sem tocar nela. É isso
que deverá fazer com a bomba atômica.
Gucky olhou para ele com certa tristeza nos
olhos.
— Está certo, chefe.
Rhodan olhou pela última vez para o reló-
gio:
— Um depósito cheio de cenoura, eu lhe
prometi, e você receberá, Gucky. Mas, vamos
embora, não há mais tempo a perder. Os salta-
dores vão desaparecer em cinco minutos,
Gucky. Vamos para a sala de munições, regular
o detonador exatamente para cinco segundos e
esperar até que chegue meu comando. Tudo
claro?
— Há muito tempo — disse Gucky e desa-
pareceu.
Bell olhou espantado para o lugar vazio.
O hipercomunicador estava ligado. A pri-
meira mensagem era cifrada e se destinava a
McClears e a Deringhouse:
— Vocês liguem o compensador e executem
dez saltos antes de voltarem para Terrânia. Lá
esperarão por mim. Tudo em ordem?
— Entendido — foi a resposta dupla.
Vinte segundos depois, não havia mais Cen-
tauro nem Terra no sistema do sol vermelho de
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Beta. A Titan ficou sozinha.
Rhodan calculara bem as coordenadas, mas
antes de saltar com a supernave, deixou aque-
cer o hipertransmissor. A freqüência do cérebro
eletrônico foi regulada. Agora, com a simples
pressão de um botão, Rhodan podia entrar em
contato com o regente do Império Arcônida, a
mais de 30 mil anos-luz de distância.
Na tela já se podia ver Gucky. Em seus bra-
ços, se via um objeto alongado: a bomba.
— Pronto, Gucky?
— Pronto.
— Atenção! Salto!
A Titan se desmaterializou e surgiu, no mes-
mo segundo, a menos de dois quilômetros da
nave de Cekztel, no espaço normal. Na redon-
deza estavam mais de duzentas unidades que se
preparavam para o grande salto de retorno. So-
mente devido a esta circunstância foi que leva-
ram tanto tempo para abrir fogo contra a gran-
de nave esférica.
Antes, porém, aconteceu muita coisa ao
mesmo tempo.
Gucky saltou com a bomba atômica através
do hiperespaço e se materializou fora da Titan.
Usava um traje espacial e não podia ser reco-
nhecido na carcaça de brilho prateado da nave.
Comprimiu o botão de ignição. Assim que lar-
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gasse o dedo, haveria ainda exatamente cinco
segundos para a detonação. Seus fluxos tele-
páticos auscultavam o cérebro de Rhodan,
aguardando seu comando.
Rhodan comprimiu a tecla do transmissor. A
ligação para Árcon estava feita. Não era apenas
o cérebro robotizado de Árcon que ia ouvir a
transmissão, mas todo o mundo, pois Rhodan,
de propósito, não usou nenhum código.
Ao contrário da Centauro e da Terra, o
compensador estrutural estava desligado. Por-
tanto todo rastreador de estrutura poderia loca-
lizar o salto, em toda a Via Láctea. Em torno da
Titan, estava ligado o envoltório magnético de
proteção, principalmente para defender Gucky
dos disparos dos raios energéticos.
O primeiro tiro contra a supernave partiu da
nave de Cekztel. Foi o sinal para todas as ou-
tras naves dos saltadores. E para Rhodan tam-
bém.
— Aqui fala Perry Rhodan do sistema Terra
— gritou ele no microfone do hiper-transmis-
sor, com voz de desespero. — Os saltadores
acabam de destruir o planeta Terra.
Utilizou-se então da pequena pausa para se
concentrar e poder pensar: “Agora, Gucky”.
Depois continuou e ainda tinha cinco segun-
dos para falar:
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— Eu estou com defeito no gerador do cam-
po estrutural... quero fugir e saltar para...
Desligou a alavanca do hipertransmissor e
com a outra mão acionou o controle de ligação
da instalação de hipersalto.
A Titan se desmaterializou.
Atrás ficou a bomba, mas a diferença de
tempo para sua detonação foi tão diminuta, que
Cekztel foi vítima de um erro compreensível.
Com seus próprios olhos, julgou ter visto como
a Titan, durante a desmaterialização, foi dissol-
vida por uma terrível explosão. Simultaneamen-
te, penetrou em seu ouvido o grito de socorro,
enviado por Rhodan ao cérebro robotizado de
Árcon, no entanto interrompido pela tremenda
explosão.
O rastreador estrutural da nave de Cekztel, e
com ele milhares de outros rastreadores em to-
das as regiões da Via Láctea, haviam registrado
o início do hipersalto da Titan. Ninguém, po-
rém, registrara o seu aparecimento no espaço
normal. Rhodan tinha sumido no hiperespaço.
Cekztel estava triunfante. Sua mensagem de
rádio não cifrada percorria toda a Galáxia e era
recebida em toda parte, a uma velocidade mi-
lhões de vezes superior à da luz:
— Afastamos o maior perigo para o Univer-
so! Rhodan está morto. O planeta Terra se
154
transformou num sol. O império não será mais
ameaçado. Viva Topthor, a quem devemos
tudo isto.
Mas o pobre Topthor não podia mais ouvir
este elogio.
Quando Rhodan, sob a proteção dos com-
pensadores que absorviam todos os abalos, pe-
netrou no espaço normal e ouviu o elogio fúne-
bre de Cekztel, contraiu o rosto num sorriso
irônico.
As coordenadas estavam de novo em or-
dem. O próximo salto, com os compensadores
ligados, traria a Titan, intacta, para a Terra.
Para uma Terra que por anos ou decênios mer-
gulharia no mar do esquecimento. Pelo menos
pelo tempo que Rhodan julgasse conveniente.
Com toda certeza, tanto tempo quanto fosse
necessário para que o planeta pudesse se pre-
parar para resistir a qualquer ataque.
Gucky estava feliz e puxava a mão de Bell
para lhe coçar as costas.
— Sabe de uma coisa, Gorducho? — obser-
vou ele. — A vida é tão bela, mas nunca havia
pensado que “estar morto” é ainda mais belo.
— É isto mesmo — disse Bell amavelmente.
Rhodan olhou pensativo para os dois amigos
e pôs a mão no controle central da instalação
de hipersalto. Empurrou-o lentamente.
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A supernave deslizou novamente para um
outro Universo e não deixou o menor rastro
atrás de si, no espaço calculável.
Ao se rematerializar no espaço normal, ti-
nham diante de si, nas telas da Titan, um sol
claro e maravilhoso.
Bem perto, cintilava um corpo celeste pe-
queno, meio azulado.
Era o planeta mais lindo do Universo: a Ter-
ra.
***
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Graças à sorte e a Gucky, o maravilhoso
plano de Perry Rhodan — o qual a Terra te-
ria que dar a todos os seres inteligentes das
Galáxias a impressão de estar destruída —
foi bem sucedido. A Humanidade ganhou as-
sim tempo para um desenvolvimento tranqüi-
lo e para a formação do poderoso “Império
Solar”.
Os dramáticos acontecimentos, que se de-
senrolam no ano 2040, lhe permitirão viver
uma época nova da história da Humanidade.
Em ATLAN, O SOLITÁRIO DO TEMPO,
título do próximo volume da série, um en-
contro de gigantes acontece.
*
* *
ÐØØM SCANS
PROJETO FUTURÂMICA ESPACIAL
https://doom-scans.blogspot.com.br
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