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As 

estrelas de nêutrons 

Sabemos que os átomos podem ser descritos, de um modo bastante aproximado, como sendo formados por um núcleo, composto de 
prótons e nêutrons, em torno do qual giram elétrons. Isso não foi sempre assim. Somente em 1932 é que o físico inglês Chadwick 
descobriu o nêutron. Antes disso, os astrofísicos acreditavam que a configuração mais densa, e estável, que podia ser obtida com a 
matéria degenerada, era uma estrela anã branca. No entanto, tão logo o nêutron foi descoberto, dois astrofísicos, Fritz Zwick e 
Walter Baade, propuseram, em 1933, que deveriam existir configurações estelares formadas por matéria ainda mais densa do que 
os elétrons degenerados das estrelas anãs brancas. Para eles poderiam existir estre las d e nêutrons. 

Como estas estrelas seriam formadas? Ocorre que, segundo o limite  de  Chandrasekhar, se a estrela central de uma nebulosa 


planetária tem massa maior do que 1,4 massas solares, ela não consegue se estabilizar como uma estrela anã branca. Ao contrário, 
esta estrela continua a contrair até que a matéria que a forma atinge a densidade de 2 x 10 10  quilogramas por metro cúbico. Quando 
isto ocorre, os elétrons começam a reagir com prótons dando origem a nêutrons. A matéria estelar fica cada vez mais enriquecida de 
nêutrons. A estrela continua a contrair e quando sua densidade chega a 3 x 10 16  quilogramas por metro cúbico ela já está composta 
por um gás de nêutrons degenerado. A estrela agora é uma típica estrela d e nêutrons. 

Podemos dizer então que 

Se uma estrela central de uma nebulosa planetária tem massa maior do que 1,4 massas 
solares ela evolui, tornando­se cada vez mais degenerada, e finalmente se estabiliza como 
uma estrela de nêutrons. 

É importante entender que uma estrela de nêutrons não é uma estrela anã branca que continuou a colapsar! Lembre­se que as 
estrelas anãs brancas constituem o estado de equilíbrio de uma estrela central residual que se originou a partir da transformação de 
uma estrela gigante vermelha em uma nebulosa planetária. Uma estrela de nêutrons é formada por processo totalmente diferente. 

A s prop ried ades das estrelas de  nêutrons 

A tabela abaixo resume as propriedades mais gerais das estrelas de nêutrons até agora observadas. 

Dados gerais sob re as  estre las d e nêutrons 


~10 quilômetros 
raio 
(~ 1/ 600 R Terra  ou 10 ­5  R sol ) 
densidade  de 2 x 10 16  a 2 x 10 18  quilogramas por metro cúbico 
entre 1,4 e 3 M sol 
massa 
(em média massa > 1/5 Msol) 

Observe o valor assombroso da densidade de uma estrela de nêutrons. Uma colher de chá de matéria tirada da superfície de uma 
estrela de nêutrons pesaria cerca de 100 milhões de toneladas na superfície da Terra! 

A  estrutura de  uma estrela d e nêutrons 

Podemos ser levados a pensar que uma estrela de nêutrons é formada apenas por nêutrons. Isso não é correto. A estrutura de uma 
estrela de nêutrons é algo bastante complexo e, até hoje, os cientistas discordam em alguns detalhes. 

Podemos dizer que uma estrela de nêutrons é formada por:

· uma cam ada superf icial: 


esta região, uma camada rígida formada por 56Fe, tem uma densidade menor do que 109 quilogramas por metro cúbico.

· uma crosta ex terna:
esta camada, que fica abaixo da camada superfícial, é também uma região sólida formada por núcleos pesados. Sua 
densidade ρ é 1010 < ρ < 4,3 x 1014 quilogramas por metros cúbico.

· uma crosta inte rna: 
esta região, cuja densidade está entre 4,3 x 1014 e 2 x 1017 quilogramas por metros cúbico, é formada por nêutrons livres 
uma vez que quando a densidade da matéria atinge valores de 1014 quilogramas por metro cúbico os núcleos atômicos 
começam a se dissociar e os nêutrons ficam livres.

· o interio r: 
esta região, que está abaixo da crosta, atinge uma pressão bastante alta que força a matéria a se transformar em um 
estado líquido formado por nêutrons, prótons e elétrons livres. Dizemos que, em regiões internas da estrela de nêutrons 
onde a densidade é superior a 2 x 1017 quilogramas por metro cúbico, a estrela é formada por um líquido  de  nêutron s, 
embora ele tenha também uma concentração pequena de elétrons e prótons. Um fato muito importante é que este líquido 
de nêutrons é um líquido superfluido e superconduto r. Isto quer dizer que as partículas que o formam praticamente não 
têm fricção e ele é um condutor quase perfeito de eletricidade.

· o núcleo: 
esta é a região mais central da estrela de nêutrons e, por esta razão, a mais difícil de ser entendida. Nesta região a 
densidade da matéria alcança o fantástico valor de 1018 quilogramas por metro cúbico. Este é o domínio da física de 
partículas de  altas energ ias. Acredita­se que o núcleo das estrelas de nêutrons seja formado por quarks, um dos 
elementos mais fundamentais da natureza que, como já vimos, forma as partículas nucleares.
O campo magnético  de um a estrela de  nêutrons 

Uma das principais características de uma estrela de nêutrons é o fato de que elas possuem intensos campos magnéticos. Na superfície 
da estrela esse campo pode atingir valores entre 10 10  gauss < B < 10 13  gauss (Gauss é uma unidade de medida de campo magnético). 
Para sentir como este campo é intenso, devemos lembrar que o nosso Sol possui um campo magnético de 1 gauss, exceto nas regiões 
de manchas solares quando o valor do campo magnético pode ser maior do que vários milhares de gauss. Note também que o campo 
magnético da nossa Galáxia é de 10 ­6  gauss.
A  rotação de uma estrela de nêutrons 

As estrelas de nêutrons giram muito rapidamente, especialmente se elas foram produzidas a partir da explosão de uma supernova. 
Trabalhos teóricos revelaram que as estrelas de nêutrons deveriam ter um período mínimo de rotação de 1/2 milisegundo, o que é 
uma rotação muito rápida para um objeto deste tamanho. 

Estrelas de nêutrons: uma história quase esquecida até que... 

A possibilidade de existirem estrelas tão densas e com propriedades tão estranhas foi considerada inaceitável por muitos 
cientistas. Pode­se dizer que a teoria das estrelas de nêutrons não foi bem recebida e, praticamente, foi ignorada até o ano de 
1967. 

Em 1967, foi inaugurado na Inglaterra um novo radiotelescópio. Durante o seu trabalho para a obtenção do título de doutor, 
Jocelyn Bell (imagem abaixo), então aluna orientada por Anthony Hewish, detectou um estranho sinal rádio com um período 
altamente regular. Este sinal se repetia, do mesmo modo, a cada 1,33730119 segundos! 

Isto era algo impressionante. Nunca havia sido detectado no espaço 
qualquer objeto capaz de emitir pulsos tão regulares. Ironicamente, 
os pesquisadores do grupo de Hewish, do qual Jocelyn Bell fazia 
parte, apelidaram o sinal de "Little Green Men" ("pequenos homens 
verdes") numa alusão à possibilidade de que pudessemos estar 
recebendo sinais de uma civilização alienígena. 

Hewish e seus colaboradores, com exceção de Jocelyn Bell, não 
levaram a sério esta detecção periódica atribuindo­a a vários outros 
fatores. No entanto, Jocelyn acreditou que havia detectado algo 
interessante e prosseguiu o seu trabalho. Algumas semanas mais 
tarde, mais três objetos, emitindo também sinais rádio incrivelmente 
regulares, foram detectados em outras regiões do espaço, 
completamente diferentes daquela onde foi registrada a primeira 
detecção. Isto mostrava que, ao contrário de "pequenos homens 
verdes", os astrônomos haviam descoberto um novo e estranho 
objeto no espaço. A esses objetos foi dado o nome de "pulsing radio 
sources", logo abreviado para pulsares. 

Em 1969, astrônomos do Lick Observatory observaram ópticamente, pela primeira vez, um pulsar próximo à região central da 
nebulosa Caranguejo, com uma freqüência de 30 pulsos por segundo. Sabendo que a nebulosa Caranguejo é resultado da 
explosão de uma estrela ou seja, é um resto de  superno va, os astrônomos começaram a investigar as propriedades deste pulsar 
e, para alegria de todos, verificou­se que o pulsar tinha as mesmas propriedades de uma estrela de nêutrons! Tanto os pulsares 
como as estrelas de nêutrons têm tamanhos de, aproximadamente 10 quilômetros, seu período de rotação é totalmente 
compatível e seus campos magnéticos têm o mesmo valor. Finalmente podia­se dizer que as estrelas de nêutrons realmente 
existiam e eram os pulsares.
Se as  estre las de nêutrons são  o mesmo que os pu lsares, o que está " pulsando"  nelas ? 

Na verdade, o nome "pulsar" não é correto. A emissão periódica de radiação feita 
por um pulsar não é uma pulsação verdadeira, estando associada com a rotação d a 
estrela de nêutron. 

Veja só como issso ocorre. Já vimos que as estrelas de nêutrons giram muito rápido 
e possuem um campo magnético muito forte. A física elementar nos diz que se um 
campo magnético é submetido a uma rotação rápida há a produção de um campo 
elétrico (este é o princípio básico dos geradores de eletricidade que usamos nos 
carros e em diversas outras atividades da nossa vida diária). É isto então que ocorre 
nas estrelas de nêutrons. Elas criam um intenso campo elétrico à sua volta o qual 
arranca partículas carregadas de sua superfície, principalmente elétrons situados 
próximos aos pólos da estrela. Estas partículas carregadas são então aceleradas a 
altas velocidades. Mas também sabemos que se uma partícula carregada é acelerada 
ela emite energia na forma de fótons. Estes fótons se deslocam na mesma direção 
dos elétrons, saindo da estrela de nêutrons ao longo dos pólos, em feixes estreitos. 
Se o eixo magnético da estrela de nêutrons (ou pulsar) está inclinado em relação ao 
seu eixo de rotação vemos a radiação como se fossem .... pulsos! 

Na verdade, a emissão da radiação é contínua e não verdadeiros pulsos. É a 
orientação deste feixe de radiação em relação a nós, observadores, que nos leva a 
percebe­los como se fossem pulsos rádio. 

Esta imagem mostrada ao lado nos revela de que modo um pulsar "liga" e "desliga" 
sua emissão de energia. Observe o ponto luminoso na parte superior esquerda da 
primeira imagem e que desaparece nas outras. 
Hoje mais de 1300 pulsares já foram observados. 

A s Magnetars 

Existe um tipo especial de estrelas de nêutrons que estão em rotação e possuem um 
campo magnético extremamente intenso. Estas estrelas de nêutrons super 
magnetizadas são chamadas de magnetars. 
Uma destas magnetars é a SGR 1900+14. Esta estrela de nêutrons tem o mais forte 
campo magnético conhecido em toda a nossa Galáxia! O seu campo magnético é, 
aproximadamente, 1 000 000 000 000 000 de vezes maior do que o campo 
magnético da Terra! Para que você possa imaginar o que este valor significa saiba 
que se uma barra magnetizada com esta intensidade de campo magnético fosse 
colocada na metade da distância entre a Terra e a Lua ela seria capaz de arrancar 
qualquer caneta de metal que estivesse em seu bolso na Terra. O magnetar SGR 
1900+14 emite poderosos lampejos de raios gama.
I ntensidades de Campos Magnéticos T ípicos 
I ntensidade  do cam po magnético 
Objeto 
(em gauss) 
campo  magnético da Terra  0.6 
barra de fe rro magnetizada  100 
os mais fo rtes cam pos magné ticos mantidos em  labo ratório  4 x 10 5 
os mais fo rtes cam pos magné ticos feitos por cientistas 
10 7 
(duração d e m ilise gundos) 
campo  magnético máximo  em estre las ordinárias  10 6 
campos magnéticos típ icos de pu lsares  radio  10 12 
magnetares  10 14  ­ 10 15 

Aqui estão alguns arquivos .WAV onde você poderá ouvir a modulação de áudio freqüência do ruido radio gerado pelos pulsares. 
Todos estes registros foram obtidos pela antena de 92 metros do radiotelescópio do National Radio Astronomy Observatory (NRAO), 
nos Estados Unidos.

· pulsar PSR 0329+54: período de 0,71 segundos.
· pulsar PSR 0950+08 : período de 0,253 segundos
· pulsar PSR 0833 (Vela Pulsar): período de 0,089 segundos

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