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Os faróis cósmicos
Autor:
Victor Augusto Pereira da Silva - 15/0047525
2. PULSARES
2.1. Origens
Estrelas de nêutrons são os resquícios do que um dia fo-
ram estrelas supermassivas (> 8M⊙ ), as quais se tornaram,
ao final de sua vida, gigantes vermelhas. Estrelas essas que
Fig. 2. Registro gráfico do primeiro pulsar, chamado na esgotaram seu combustível e começam a fundir elementos
época de CP1919. Hoje conhecido como PSR B1919+21. cada vez mais pesados até que esse processo se tornasse in-
[4] viável. Ao longo de sua vida uma estrela funde elementos
mais leves, tendo como resultado elementos mais pesados
escutado 50 minutos sobre o tópico durante a palestra, foi o (por exemplo a fusão de hidrogênio que resulta em hélio) e
primeiro a ter um palpite correto sobre as fontes obscuras. gerando energia no processo. Esse processo é sustentado até
O artigo "Observation of a Rapidly Pulsating Radio não haver mais abundância de elementos leves, nesse mo-
Source"foi publicado alguns anos depois, em fevereiro de mento a fusão de elementos pesados (como enxofre, titânio,
1968, tendo Bell parte na autoria e ela eventualmente termi- ferro e níquel) começa a requerer energia. Quando o núcleo
nou seu PhD em 1969. O artigo culminou em Tony Hewish e se torna saturado por ferro, a morte dessa estrela se torna
Martin Ryle sendo laureados com o prêmio Nobel de física inevitável.
de 1974 pela descoberta dos pulsares, expandindo assim o
conhecimento da humanidade acerca do universo. Jocelyn
foi ignorada tanto por ser mulher quanto aluna, Fred Hoyle
foi em sua defesa alegando que Hewish e Ryle tinham ga-
nhado o prêmio nas costas do trabalho feito por uma mulher.
Apesar das controvérsias com o Nobel, Jocelyn Bell Bur-
nell se sentia contente por sua descoberta ser digna de tal
premiação. Entre as descobertas do segundo e terceiro pul-
sar ela se casou com Martin Burnell. Ela acredita que sua
vida poderia ter sido diferente se não tivesse casado, talvez
a ofereceriam um pós doutorado e uma carreira mais sólida
na radio astronomia. Jocelyn pode não ter tido o mesmo Fig. 3. O ciclo de vida e morte das estrelas. [5]
prestigio que seus pares mas sua carreira foi construída em
experiências vívidas e singulares, lecionou em lugares como A pressão que a radiação, fruto da fusão nuclear, exerce
a universidade de Southampton e Oxford, foi presidente do não é mais capaz de se opor a força gravitacional. Numa fra-
Royal Observatory em Edimburgo e gerente de projeto no ção de segundos (aproximadamente um quarto de segundo,
telescópio James Clerck Maxwell. Sua contribuição para quase o tempo existente num piscar de olhos) a implosão
dessa estrela dá lugar a um dos fenômenos mais extraordi-
nários do universo, uma supernova, brilhando o equivalente
a uma galáxia inteira por dias e até semanas. Para uma es-
trela a morte não significa encerramento, é meramente uma
passagem em direção ao nascimento de algo novo, dentre o
caos uma estrela de nêutrons emerge. Como o nome sugere
ela é formada predominantemente de nêutrons, seu eventual
colapso total foi interrompido em parte por essas partícu-
las, mais especificamente pela degenerescência dos neutros
e a repulsão da força forte. É relevante enfatizar que nem
toda estrela de nêutrons é um pulsar mas todo pulsar é uma
estrela de nêutrons, precisamos distingui-los delas.
2.2. Características
Pulsares podem ser compreendidos a partir de uma es-
cala humana, com raios que podem variar de 10km até 12km,
distâncias que somos capazes de percorrer no dia a dia sim-
plesmente indo ao trabalho ou a faculdade (como represen-
tado na figura 4). Sua massa está restrita entre 0,2 e 2,5
massas solares, qualquer coisa acima disso certamente faria
a estrela colapsar num buraco negro. Sua dimensão sozinha Fig. 5. Distribuição de massa de alguns pulsares, a média de
o tornaria um objeto invisível, somos capazes de enxerga- massas é de aproximadamente M = 1, 35M⊙ . [7]
los principalmente pelas emissões de rádio, raios-X e raios
gama.
nifica que a matéria no centro de um pulsar se encontra num
estado desconhecido, um problema a ser resolvido digno de
um Nobel.
O campo magnético superficial de um pulsar está entre
108 e 1014 gauss, um campo magnético tão impressionante
combinado a rápida rotação gera um campo elétrico extre-
mamente forte, esses campos puxam partículas carregadas
da superfície, formando uma magnetosfera altamente con-
dutora e intensa. A magnetosfera é contida num velocity-of-
light cylinder, um cilindro, fora dele os campos magnéticos
rotacionais se tornam irradiadores de um dipolo clássico, o
qual posteriormente veremos retirar energia da estrela gi-
rante.
Com as noções aqui postas podemos definir teoricamente
Fig. 4. Um pulsar teria aproximadamente a extensão da um pulsar ideal, perfeitamente esférico, de densidade uni-
parte central do DF. forme, com massa M ≈ 1, 4M⊙ e raio R ≈ 10km. Seu
momento de inércia é
Sua parte mais externa é formada por uma casca sólida,
uma estrutura cristalina formada primariamente de núcleos 2M R2
de ferro, com uma espessura de apenas 1km. A densidade I= ≈ 1045 g cm2 (1)
5
da superfície está na ordem de 106 g/cm3 e aumenta rapida-
mente a medida que caminhamos em direção a seu núcleo. Talvez o uso da palavra "ideal"seja demais, visto que es-
Na profundidade a qual a densidade é de 1011 g/cm3 (cerca sas valores são apenas convenções para as propriedades de
de 9km do centro) os mais massivos desses núcleos de ferro um pulsar. Todavia seguiremos utilizando esses valores no
se tornam instáveis e nêutrons livres começam a aparecer, estabelecimento de conceitos mais elaborados, nosso pul-
esses nêutrons formam o que julgamos ser um superfluido, sar modelo será chamado de convencional e ao leitor fica a
que pode se movimentar independentemente da crosta. No informação: Pulsares podem ser mais diversos e ainda são
núcleo esse valor sobe para impressionantes 1015 g/cm3 , dez objetos parcialmente incompreendidos por astrofísicos e as-
vezes maior que a densidade de um núcleo atômico. Isso sig- trônomos.
• p = qr é o momento dipolar elétrico.
2 (m̈⊥ )2
Prad. = (3)
3 c3
Substituindo p⊥ por m⊥ = m sin(α), a componente
perpendicular do momento dipolar magnético. Para uma es-
fera uniformemente magnetizada com raio R e força super-
ficial de campo magnético B, a magnitude do momento di-
polar magnético será
m = BR3 (4)
Estando o corpo girando com velocidade angular Ω =
Fig. 6. Representação do cilindro que compreende a mag- 2π/P (P é seu período), então podemos manipular a fór-
netosfera. [4] mula (3) utilizando essa informação e (4), dessa maneira
4
2 m2⊥ Ω4
2.3. Radiação magnética dipolar 2 2π
Prad. = 3
= 3 (BR3 sinα)2 (5)
3 c 3c P
O sol assim como muitas estrelas possuem campos mag-
néticos que podemos aproximar de dipolos. Quando uma Essa radiação magnética dipolar extrai energia cinética
estrela colapsa e tem seu raio diminuído, a área de sua seção rotacional da estrela de nêutrons, fazendo com que o período
transversal também diminui na mesma proporção. Sabendo da mesma aumente com o tempo. Outra consequência é a
que o fluxo magnético e o momento angular são conserva- disposição dessa energia absorvida na circunvizinhança da
dos, também que essas grandezas físicas tem relação com nébula em torno da estrela. Isso é apenas uma parte do pro-
a geometria do corpo, podemos calcula-las após o colapso blema, a seguir veremos a participação da energia cinética
estelar. Por exemplo: uma estrela com raio originalmente na diminuição do período de um pulsar.
de 106 km colapsa num pulsar de 10km, sua área trans-
versal é diminuída em π(106 )2 /π102 = 1010 . Tendo um 2.4. Redução de luminosidade (spin-down luminosity)
campo magnético inicial de 100G, apos o colapso ele au-
mentaria num fator de 1010 , ou seja, 1012 G (mil bilhões de A energia cinética de rotação E de um corpo em rotação
gauss). Para caracterizar um dipolo magnético vamos con- está relacionada ao seu momento de inércia por
siderar que o eixo de rotação e o eixo magnético não estão
alinhados, o ângulo entre eles é um α > 0, isso faz com IΩ2 2π 2 I
E= = (6)
que qualquer radiação emitida assim seja feito seguindo a 2 P2
frequência de rotação do corpo. Reescrevendo a equação de E por convenção, o momento de inércia típico adotado
Lamor podemos afirmar que para uma estrela de nêutrons é
• q é uma carga estacionária. A medida que a radiação dipolar extrai energia rotacio-
nal do pulsar, seu período lentamente aumenta. Matemati-
• v̇ é a aceleração. camente falando isso pode ser traduzido em
dP !1/2
Ṗ ≡ >0 (8)
B 19 P Ṗ
dt ≥ 3.2 · 10 (14)
gauss s
Realçando que a derivada do período Ṗ é adimensional
pois suas unidades seriam [s/s]. Combinando o período P Essa quantidade (14) é muitas vezes chamada de campo
observado e sua derivada Ṗ produzimos uma estimativa na magnético característico de um pulsar.
qual a energia rotacional muda (Ė)
Ω̇ ∝ Ω3 (18)
É o ponto de partida para definição do índice de breca-
gem. Adicionando uma constante C para tornar a relação de
proporção numa igualdade e generalizando o expoente para
n
Ω̇ ∝ Ωn = CΩn (19)
Novamente, vemos que o índice de brecagem n é com-
pletamente determinável utilizando somente o período e suas
Fig. 7. Glitches no pulsar de Vela nos anos de 1969, 1971,
derivadas. Derivando a equação (19)
1975, 1978, ... , 1991. Vemos que o intervalo é de apro-
ximadamente 3 anos com algumas anomalias, como os dois
glitches seguidos no ano de 1981 e 1982. [8]
!
CΩn
n−1 Ω̇
Ω̈ = CnΩ =n Ω̇ = n Ω̇
Ω Ω
Um glitch em si ocorre em alguns milissegundos mas
nΩ̇ 2 sua influencia faz com que a estrela demore semanas para
Ω̈ = (20) se recuperar. Outros pulsares como o B1858-23 não tem a
Ω
mesma sorte, com glitches em intervalos que se repetem ao
Com isso longo de anos a fio, contudo sem uma recuperação a cada
salto na sua taxa de rotação.
ΩΩ̈ Glitches acontecem tanto em pulsares jovens quanto ve-
n= (21)
Ω̇2 lhos. O pulsar de Vela mesmo no auge de seus vinte e
Queremos explicitar o índice n em função do período, a mil anos apresenta um comportamento ativo na categoria
fim de tornar isso possível precisamos derivar a velocidade da ’meia idade’. Aqueles os quais denominamos pulsares
angular duas vezes de milissegundos, nesse contexto, tem um comportamento
de relógios. Sendo extremamente precisos, cientistas são
" !# capazes de estabelecer modelos preditivos para determinar
2Ṗ 2
−2
2π P̈ quando pulsos futuros irão acontecer. Antes do ano de 2017
n= 2π + 3 −2πP −2 Ṗ
P P 2 P apenas dois glitches haviam sido observados em pulsares de
milissegundos.
P P̈
n=2− (22)
Ṗ 2
Sabemos que índices de brecagem dos pulsares conhe-
cidos até hoje se restringem a valores entre 1, 4 ≤ n < 3.
O cálculo de n é um exercício experimental pois eventos
que chamados de glitches podem alterar momentaneamente
o período e frequência de um pulsar, quando as medidas para
encontrar um valor mais confiável de n são feitas por vários
anos. Não sabemos ao certo a causa real desses glitches, pela
natureza alienígena desses corpos podemos apenas supor, e
realmente temos um punhado de suposições.
2.8. Glitches
Variações na taxa de rotação e na redução de luminosi-
dade ocorrem em vários pulsares observados. O pulsar de Fig. 8. Breve explicação sobre glitches.
Para explicar esse comportamento exótico dos pulsares
conceitos extraordinários de física precisam ser suscitados.
Os saltos mostram que no mínimo 2% do momento de inér-
cia é atribuído a um comportamento separado de estrela de
nêutrons, é um comportamento que pode ser atribuído a um
superfluido. A rotação de um superfluido é anormal, com
uma quantidade incontável de vórtices sendo formados den-
tro da estrela, cada um com um quantum de momento angu-
lar. Esse momento é transferido para a crosta em situações
especificas, removendo parte da inércia rotacional e permi-
tindo ao pulsar uma desaceleração mais rápida.
Outra explicação plausível poderiam ser tremores cau-
sados pelo movimento da crosta numa escala milimétrica, é
absurdo pensar que mudanças tão pequenas causariam even-
tos assustadoramente gigantescos, todavia é preciso lembrar
que 1cm3 de volume num pulsar seria o suficiente para com-
portar a massa de 7,7 bilhões de pessoas, quase a população Fig. 9. A nebulosa de caranguejo como observada em vários
inteira da Terra. comprimentos de onda. [9]
3. A NEBULOSA DO CARANGUEJO
4π 2 · 1045 g cm2 · 10−12,4 s s−1
−Ė =
A nebulosa de caranguejo é um remanescente de su- (0, 033s)2
pernova com um pulsar no centro que aconteceu em me-
−Ė ≈ 4 × 1038 erg s−1 ≈ 105 L⊙ (24)
ados 1054, sabemos disso por registros chineses e árabes.
Possivelmente várias parte do mundo viram o ultimo es- Se Pr ad. ≈ −Ė ≈ 105 L⊙ , a luminosidade das frequên-
petáculo dessa estrela, uma vez que seu brilho levou dois cias baixas (ν = P −1 ≈ 30Hz) da radiaçõ magnética di-
anos para desaparecer e podia ser visto até durante o dia. polar do pulsar de caranguejo é equivalente as emissões de
Pelos registros sabemos que ela se apresentou no céu com rádio da via láctea inteira. Enquanto isso os comprimentos
um brilho cinco vezes maior que Vênus, sendo quase tão maiores dessa radiação são absorvidos e aquecem suas re-
brilhante quanto a lua. Somente no século passado, muito dondezas como se fosse um gigantesco ’microondas’ (pode-
tempo após a identificação da nebulosa em 1971 pelo astrô- ríamos até chama-lo de ’megaondas’ pelas escalas de ener-
nomo inglês John Bevis, alguns astrônomos se depararam gia empregadas). Sua força mínima de campo é conseguida
com a descoberta que a nebulosa de caranguejo talvez fosse a partir de (14)
a mesma ’guest star’ a qual os chineses se referiam no ano
de 1054. Ela então foi considerada o primeiro objeto as- 1/2
0, 033s · 10−12,4
tronômico identificado ligado a uma explosão de supernova. B 19
≥ 3.2 · 10
Com a teoria aqui estabelecida é possível o calculo de gauss s
vários parâmetros da nébula de caranguejo e de seu pulsar.
B
Seu período é de P = 0, 033s e a derivada Ṗ = 10−12,4 , ≥ 4 × 1012 (25)
gauss
podemos começar por sua energia cinética de rotação utili-
zando (6) Com uma densidade de energia extremamente alta re-
presentada por UB
2π 2 · 1045 g cm2 B2
E≈ UB = > 6 × 1023 erg cm−3 (26)
(0, 033s)2 8π
1000cm3 de volume desse campo conteriam mais de 6×
E ≈ 1, 8 × 1049 ergs = 1, 8 × 1046 J (23) 10 J = 6×106 kW s, isso é equivalente a 2×109 kW/ano
19
4. REFERÊNCIAS