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Esquerda
Lançamento do foguete Apollo XI, que levaria a primeira missão
tripulada à Lua, há 50 anos (Crédito: NASA).
Capa
NGC 4214 observada pelo Telescópio Espacial Hubble (Crédito:
NASA/ESA/Hubble Heritage Team).
ÍNDICE E EXPEDIENTE
Revista
Brasileira 4 Nossa estrela: o
Sol
de Astronomia Adriana Valio descreve a estrutura do
produzida pela
Sociedade Astronômica Brasileira
Sol e conta sobre a Sonda Solar Parker,
que estudará seu campo magnético.
Conselho Editorial Allan Alves Britto,
12
Reinaldo Ramos de Carvalho, Lucimara
Martins, Ramachrisna Teixeira, Thiago
Signorini Gonçalves
Galáxias anãs
Editor Helio J. Rocha-Pinto
Equipe de colaboradores Hélio Dotto
Gustavo Lanfranchi apresenta ao leitor
Perottoni, Maria Luiza Ubaldo Melo, um tipo de galáxia que costuma ser
Mylena Larrubia, Matheus Bernini Peron, ignorada nos livros mais populares, pois
Douglas Brambila dos Santos não se encontram no clássico Diagrama
Contato secsab@sab-astro.org.br
de Classificação de Hubble.
22 Astrobiologia
Para anunciar Fale com Rosana no email
acima ou ligue (11) 3091-8684,
Seg. a Sex. 10 às 16 h.
Para submissões
Contacte um membro do conselho editorial Douglas Galante, Fábio Rodrigues e
Márcio Avellar contam a história do
surgimento da Astrobiologia como área
de pesquisa, e sobre como ela leva à
convergência de diversas áreas.
Presidente
30 Evolução
galáxias
de
Reinaldo Ramos de Carvalho
Vice-Presidente Evoluir é um ditame da Natureza.
Helio J. Rocha-Pinto Mesmo as galáxias estão sujeitas a isso,
Secretário-Geral como explica Karín Menéndez-Delmestre.
Ramachrisna Teixeira
Secretário
38 Bônus
Allan Alves de Brito
Tesoureira
Lucimara Martins
Endereço
Sociedade Astronômica Brasileira
Uma carta celeste do século XVIII em
Rua do Matão, 1226 página dupla!
05508-090 São Paulo – SP
http://www.sab-astro.org.br
Nossa estrela: o Sol Em nosso ir e vir cotidiano, acostumados que estamos a caçar estrelas no
céu noturno, por vezes é comum esquecer que aquela mais próxima está a
O
oito minutos-luz de nós e que deve ser estudada durante o dia. E, de fato,
muito do que sabemos sobre as estrelas se deve ao que descobrimos sobre o
Sol.
Acima
las até velocidades relativísticas Embora a maioria das ejeções Esquerda: Imagem em luz
e produz radiação em todo o es- de massa sejam arremessadas em visível do Sol. Direita:
pectro eletromagnético. Apesar de outras direções, algumas são lança- Ampliação de uma mancha
a energia liberada em uma gran- das para a Terra. Neste caso partí- solar com a Terra em escala
para comparação das
de explosão ser equivalente a de culas energéticas e campos mag- dimensões.
milhões de bombas atômicas, é a- néticos podem nos acertar e acar-
penas alguns centésimos da ener- retar vários danos à nossa socie-
gia produzida no interior solar dade altamente tecnológica. Como
pelas reações termonucleares. exemplos, podem ser citados as
Já as ejeções de massa, com e- tempestades geomagnéticas, os a-
nergia equivalente à das explo- pagões, as interferências em sinais
sões, são fenômenos, em princí- de satélites como GPS, interrupção
pio independentes, onde grandes de sinais de telecomunicações, pa-
quantidades de massa (aproxima- nes em satélites em geral e bússo-
damente um bilhão de toneladas) las, além das belas auroras bore-
do plasma da coroa solar são arre- ais e austrais (no hemisfério norte
messadas para o meio interplane- e sul, respectivamente). Também
tário. Estas bolhas de plasma são podem ocorrer altas doses de rai-
também envoltas em campos os X para tripulantes de aviões de
magnéticos e atravessam o meio caça, ou passageiros de voos co-
interplanetário com velocidades merciais transpolares. Para astro-
que variam de centenas de mi- nautas fora da proteção de naves
lhares a milhões de km/h. espaciais, a dose de raios X pode
conforme a atividade solar au- as que observamos hoje no Sol. Imagem do eclipse Acima total do
menta e isto aumenta a tempe- Nestes casos, a radiação ultravio- Sol de 2009, fotografado das
ratura aqui na Terra. leta produzida por estas explo- Ilhas Marschal por
Acredita-se que o Sol era bem sões ameaçaria a vida na Terra, pesquisadores da Brno
mais ativo no passado, há dois bi- uma vez que a camada de ozônio University of Technology. A
imagem evidencia a
lhões e pouco de anos atrás quan- ainda não existia. Portanto, uma estrutura da coroa solar.
do a vida terrestre era composta possibilidade é que a vida multi- (Crédito: Miloslav
apenas por organismos unicelula- celular se desenvolveu debaixo Druckmüller, Peter Aniol,
res. Sabemos disso pela observa- d’água, em lagos ou a pouca pro- Vojtech Rušin, Ľubomír
Klocok, Karel Martišek,
ção de jovens estrelas do tipo solar. fundidade em oceanos. Há 2,2 bi- Martin Dietzel.
As explosões produzidas por es- lhões de anos atrás, as algas azuis Reproduzida com permissão
tas estrelas chegam a ser milha- (organismos multicelulares) foram dos autores )
res de vezes mais intensas do que capazes de produzir oxigênio em
Acima
Concepção artística da
sonda Solar Parker diante
de uma imagem do Sol em
raios X. (Crédito: NASA)
Galáxias anãs É verdade! Existem galáxias anãs, ao lado das quais a Via Láctea pareceria
um monstro. E nessas galáxias anãs pode residir o segredo sobre como as
galáxias se formam. Quer saber mais? Dê uma lida nesse artigo.
A
s galáxias anãs, embora dantes no Universo e fundamen-
tenham pequenas dimen- tais em estudos de cosmologia, so-
sões, baixas massas, es- bre matéria escura, formação de
trutura simples e serem galáxias, produção de elementos
difíceis de observar, são químicos, formação de estrelas,
de extrema importância entre muitos outros. A história so-
em várias áreas da astronomia. bre o que sabemos delas, porém,
Elas são as galáxias mais abun- é ainda bem recente.
1122 | REVISTA
REVI STA BRASILEIRA
BRASI LEI RADEDEASTRONOMIA
ASTRON OM I|AJUL-SET 2012019
| J U L-SET 9
GALÁXIAS ANÃS
Modelos teóricos de
formação
Uma ferramenta importante
em estudos teóricos é a utilização
de simulações computacionais que
permitem testar a teoria e com-
parar os resultados com observa-
ções. Um dos modelos mais utili-
zados nos estudos de galáxias é
o modelo cosmológico de forma-
ção de estruturas, que procura
explicar a evolução do universo a
partir dos instantes iniciais e pro-
por um cenário para a formação
e evolução de grandes estruturas
como galáxias e aglomerados de
galáxias. Os resultados dessas si-
mulações sugerem que as galáxias
anãs são as primeiras galáxias a
serem formadas. No início da evo-
lução do universo variações de
densidade na distribuição de maté-
ria escura criam regiões relativa-
mente pequenas (em escala galác-
tica) de alta densidade que exer-
cem atração gravitacional na ma-
téria ao seu redor. O gás então co-
meça a se concentrar formando
protogaláxias, com dimensões e
massas semelhantes às de galá-
xias anãs.
Após a formação da protoga-
láxia, o gás continua colapsando Acima
para a região central criando nu- gindo e se fundindo umas com as Formação hierárquica de
vens de gás chamadas de regiões outras gerando grandes galáxias galáxias: as grandes estru-
de formação estelar onde estre- como a Via Láctea e Andrômeda e turas galácticas se formam
a partir da aglutinação de
las de diferentes massas e tama- outras evoluindo isoladamente estruturas menores
nhos surgem. A galáxia anã está, até a época atual. (Crédito: Gemini
então, formada. A partir desse Observatory)
ponto, as galáxias anãs continuam
evoluindo, com algumas intera-
Astrobiologia
Uma ciência convergente
Muita gente tem-se interessado pela busca de vida fora da Terra. Esse tópico
A
instigou a imaginação da humanidade desde a antiguidade, mas só
atualmente temos condição de estudá-lo com todo o rigor científico.
Abordagem e temas
escopo e por ter evoluído para se tratados pela
tornar uma ferramenta de inte-
gração muito eficiente. Certamen- Astrobiologia
te uma das principais caracterís- De forma geral, a astrobiologia
ticas da astrobiologia é sua capa- se propõe a entender a vida por
cidade de reunir profissionais de um ponto de vista bastante am-
diferentes áreas em um enfoque plo, considerando as diversas in-
convergente sobre problemas ci- terações com o corpo planetário
entíficos extremamente comple- que a abriga e com seu ambiente
xos, mas essenciais para compre- astrofísico. Essas interações são
endermos o fenômeno da vida no intrinsecamente dinâmicas, ou se-
Universo. ja, mudam com o tempo, e assim
Página dupla
cifrarmos os sinais sutis e com- trobiologia se mostra como uma A vida em um planeta como
plexos da vida. Apesar do paradig- poderosa ferramenta, criando a a Terra está intimamente
ligada à evolução física e
ma científico-acadêmico contem- linguagem e a oportunidade de química de seu ambiente
porâneo criar pesquisadores e a- transpor barreiras acadêmicas e astrofísico (Crédito: Projeto
lunos cada vez mais especializa- de conectar a história da vida, na Conexões Cósmicas/
dos em seus respectivos temas de Terra e no Universo, como um con- Augusto Damineli, arte de
Paulo Roberto F. Santiago).
estudo, se quisermos realmente tínuo com os processos astrofísicos.
compreender a vida nesse grande Astrobiologia no Brasil
contexto é necessário que criemos
estratégias para aumentar a co- Apesar de a astrobiologia, em
municação e colaboração entre as sua roupagem moderna, ser relati-
áreas. E é nesse ponto que a as- vamente recente no Brasil, estu-
Evolução de Galáxias Mesmo um sistema tão grande e complexo como uma galáxia evolui,
especialmente quando possui galáxias vizinhas com as quais interage,
trocando gás e estrelas. Eventualmente algumas podem ser fundir. Embora as
I
escalas de tempo para esses processos sejam grandes, não se engane: é um
fenômeno bem comum!
to dos bilhões de anos que carac- galáxia velha. Pense numa Fonte
terizam a idade das galáxias! Uma da Juventude cósmica!
colisão ou até apenas uma passa-
gem próxima entre galáxias pode
levar à modificação do formato
das galáxias envolvidas. Quando
uma galáxia se aproxima de outra
(mesmo quando não entram em
contato direto), as estrelas das pe-
riferias sentem uma atração gravi-
tacional forte que pode levar a uma
mudança na forma global das ga-
láxias envolvidas, formando es-
truturas que denominamos cau-
das ou pontes de maré, que evi-
denciam parte do material arran-
cado no encontro. Essas estruturas Acima
podem persistir por centenas de No caso das colisões ditas de Simulação do desmonte
milhões de anos antes de se dissi- maior porte — quando as galá- gravitacional da galáxia
parem no meio intergaláctico. Ou- xias participantes têm tamanhos anã Sagittarius por efeito
da força de maré da Via
tras estruturas de longa vida, co- semelhantes — os efeitos são a- Láctea (Crédito:
mo barras e braços espirais são inda maiores e mais intensos. Na David Law)
também o resultado de tais intera- presença de grande quantidade
ções entre galáxias. de gás, intensos surtos de forma-
Em caso de uma colisão de pe- ção estelar são gerados numa es-
queno porte, quando uma galáxia cala global. Imagens no ultravio-
menor funde-se com uma galáxia leta e no óptico capturam a emis-
maior, o evento pode gerar um são das estrelas novas e traçam
surto de formação estelar local na um sistema fortemente mistura-
galáxia maior. A combinação de do. Numa escala de centenas de
uma nova entrada de gás (trazido milhões de anos (algo rápido com-
potencialmente pela galáxia me- parado à idade do universo, mas
nor) e as forças geradas pela inte- muito devagar na escala huma-
ração levam à compressão do no- na!) o sistema passa por uma ver-
vo combustível e à formação de dadeira dança entre duas galáxias:
novas gerações de estrelas. Isso os formatos das galáxias indivi-
pode ter um impacto incrível nu- duais se desfazem aos poucos, dei-
ma galáxia velha, pobre em gás: xando compridos rastros e corren-
uma interação com uma galáxia tes de estrelas e gerando grandes
rica em gás pode literalmente re- episódios de formação estelar, até
juvenescer a população estelar da o sistema se estabelecer numa ú-
Acima nica galáxia resultante. As estru- ma, uma fusão de grande porte
Mosaico de imagens turas de disco nas galáxias origi- transforma galáxias ricas em gás
observadas pelo Telescópio
Espacial Hubble, que nais podem ser completamente em uma grande galáxia massiva
mostram galáxias em destruídas dando passo a um for- pobre em gás e com pouca possi-
processo de interação e mato final mais parecido com um bilidade de formar novas estre-
fusão (Crédito: NASA) esferoide único. Uma tal fusão las. Sem outras interações, o des-
transforma o formato, a massa es- tino da galáxia resultante de tal
telar e a metalicidade do sistema espectacular evento é um lento
de forma drástica. Depois de um envelhecimento. Vale notar que a
tal evento, que em apenas cente- galáxia mais próxima da Via Lác-
nas de milhões de anos sugou a tea, Andrômeda, está em trajetó-
grande proporção de gás disponí- ria direta para encontrar com a
vel para formar estrelas novas, o Via Láctea. Embora não estaremos
sistema apenas progride evoluin- aqui para aproveitar a paisagem
do passivamente à medida que as noturna que tal evento gerará, a
estrelas geradas pela fusão enve- colisão entre estas galáxias leva-
lhecem com o tempo. Desta for- rá à produção de grandes surtos de
fim toda atividade de formação es- teve que percorrer uma enorme
telar. Isso aponta a uma evolução distância e portanto levou muito
em conjunto (ou co-evolução) das tempo para chegar até nós. Isso
estrelas numa galáxia e o buraco significa que a luz que observa-
negro no centro desta. mos hoje mostra-nos essas galá-
São muitas as perguntas que xias como eram há muito tempo.
ainda permanecem em aberto no Desta forma estudar galáxias mui-
campo de evolução de galáxias o to distantes nos permite investigar
que faz com que este seja um cam- seus estágios primitivos. Portanto,
po muito ativo em pesquisa. Es- ainda que a caracterização do Uni-
tudos detalhados de nossa galáxia verso local nos permita estabelecer
e seus satélites permitem explo- a diversidade em propriedades as-
rar muitos aspectos relacionados trofísicas existentes em galáxias, pa-
com a evolução química de uma ra desenvolver um modelo com-
galáxia, com a evolução de galáxi- pleto sobre os processos que for- Na página anterior
as via fusões menores, entre ou- mam e transformam galáxias é ne- Diagrama HR construído
tros. Porém, ainda servindo de re- cessário estudá-las tanto no univer- por observações do
ferência principal para entender so próximo como no distante. Para experimento SINGS. As
cores das galáxias foram
a formação e evolução de galáxi- isso desenvolvemos tecnologias compostas por três canais
as, sabemos que a Via Láctea é ape- que nos permitem construir teles- RGB, cada qual
nas uma das centenas de bilhões cópios para estudar galáxias cada correspondente a um
de galáxias que povoam o univer- vez mais distantes, assim como comprimeiro de onda, a
saber: IRAC 3.6 μm (azul),
so. Levantamentos observacionais explorar em cada vez maior de- IRAC 8 μm (verde) e MIPS 24
revelam uma grande diversidade talhe as galáxias próximas. A ex- μm (vermelho). Composição
em galáxias, com morfologias e ta- ploração continua! • feita por Karl D. Gordon
xas de formação estelar completa- (Crédito: Spitzer).
Individuais
Institucionais
Como se associar
Visite https://sab-astro.org.br/associacao/adesao/
Esquerda
Detalhe do céu estrelado (Crédito: Lucas
Pezeta/Pexels)
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Mapa celeste criado em 1670 pelo cartógrafo
holandês Frederik de Wit.
Contracapa
Uma pequena galáxia espiral é flagrada enre duas
elípticas gigantes, no Grupo Compacto de Hickson
90 (Crédito: NASA, ESA e R. Sharples)
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