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Br a s ile ir a de
AS T RO
N OM I A
P r od u z i d a pe l a S oc i e d a d e
As t r o n ô m i c a B r a s i l e i r a
An o 2 | N ú m e r o 5
A G L O M
d e e s t re l a s
E R A D O S
Poei ra I nterestel a r
Pl a n etá ri os d o Bra si l
E ntrevi sta : Syl vi o Ferra z-M el l o
Editorial
A Revista Brasileira de Astronomia completa um ano de existência e
isso nos enche de orgulho, ao mesmo tempo em que amplia as
responsabilidades. Pois manter uma publicação científica como esta
requer um compromisso de toda a comunidade astronômica
brasileira, a começar pelos colaboradores que contribuem com seus
textos. O resultado, esperamos, é uma importante vitrine do que os
astrônomos brasileiros estão produzindo e em que áreas atuam.
Helio J Rocha-Pinto
Editor
Esquerda
Impressão artística de Betelgeuse, criada com base nos melhores
dados atuamente conhecidos sobre a estrela. A recente súbita
diminuição de brilho de Betelgeuse levou à especulação de que a
estrela estaria prester a explodir como uma supernova (Crédito:
ESO/L. Calçada).
Capa
Aglomerado estelar NGC 3572 (Crédito: ESO/G. Beccari).
ÍNDICE E EXPEDIENTE
Revista
Brasileira 4 Aglomerados
Estelares
de Astronomia Alan Alves Brito discute as propriedades
produzida pela
Sociedade Astronômica Brasileira
dos dois tipos clássicos de aglomerados
estelares que a Via Láctea contém.
Conselho Editorial Alan Alves Brito,
12
Reinaldo Ramos de Carvalho, Lucimara
Martins, Ramachrisna Teixeira,
Thiago Signorini Gonçalves
Planetários do
Editor Helio J. Rocha-Pinto
Equipe de colaboradores Hélio Dotto Brasil
Perottoni, Mylena Larrubia, Matheus
Bernini Peron, Douglas Brambila dos
Esses espaços de ciência são excelentes
Santos, Maria Luiza Ubaldo de Melo promotores da cidadania cósmica, como
nos mostram Daniela Pavani e Luana
Contato secsab@sab-astro.org.br Cruz.
20 Entrevista:
Para anunciar Fale com Rosana no email
acima ou ligue (11) 3091-8684,
Seg. a Sex. 10 às 16 h. Sylvio
Para submissões
Contacte um membro do conselho editorial Ferraz-Mello
Reinaldo Ramos de Carvalho entrevista
um expoente da astronomia brasileira, o
Prof. Sylvio Ferraz-Mello, do IAG/USP.
Presidente
28 Poeira de Estrelas
Silvia Lorenz e Rayssa Bastos levam-nos
Reinaldo Ramos de Carvalho
Vice-Presidente
ao meio interestelar para entender como
Helio J. Rocha-Pinto os grãos de poeira espacial são
Secretário-Geral formados e qual é sua importância na
Ramachrisna Teixeira Galáxia.
Secretário
36 ANomeieExoMundos
campanha
Alan Alves Brito
Tesoureira
Lucimara Martins
Endereço
Sociedade Astronômica Brasileira
Rua do Matão, 1226 Saiba como foi feita a campanha para
05508-090 São Paulo – SP nomear um planeta com nome
http://www.sab-astro.org.br
brasileiro, neste relato de Eduardo
Penteado e Helio J. Rocha-Pinto
N
entender a formação e evolução das galáxias que os hospedam, bem como
para descrever os processos (astro)físicos relacionados à formação
(nascimento), evolução e morte das estrelas. Leia e saiba mais abaixo.
• [Fe/H] = log10(Fe/H)estrela – log10(Fe/H)sol. Isso significa que um objeto com [Fe/H] = –2.0 é 100 vezes
mais pobre em metais do que o Sol. Para comparação, um dos objetos mais pobres em metais
encontrados no halo da Via Láctea, até o momento, tem [Fe/H] aproximadamente igual a –7.0.
• 1 ano-luz é a distância que a luz atravessa no vácuo em um ano juliano, ou seja, 9,46 trilhões de
quilômetros.
Ao lado
Diagrama HR para vários
aglomerados abertos. No
eixo das ordenadas temos a
magnitude absoluta (à
esquerda) e a idade (à
direita) em que as estrelas
têm quando saem da
Sequência Principal. É
desta forma, localizando a
estrela no ponto de virada
(saída da Sequência
Principal), que
determinamos a idade dos
aglomerados. No eixo das
abscissas, temos o índice de
cor, que é uma medida da
temperatura; quanto menor
este índice, mais azulado é
o objeto (Crédito: Mike
Guidry, University of
Tennessee).
Ao lado
Diagrama HR do
aglomerado globular
Messier 55. Os eixos das
ordenadas trazem a
magnitude absoluta (à
esquerda) e luminosidade
das estrelas relativa à
luminosidade do Sol (à
direita). No eixo das
abscissas, temos o índice de
cor, uma medida da
temperatura (Crédito:
NASA).
Abaixo
Tabela descritiva das
características comuns aos
aglomerados estelares e
exclusivas a cada classe de
aglomerado.
Há quase um século, os planetários começaram a instalar-se pelo mundo, possibilitando a observação de estrelas e planetas
a qualquer hora do dia. Você já fez está viagem? Você já pensou em trabalhar em um Planetário?
Planetários do Brasil
L
á fo ra o So l p o de estar t e c o m o é o de s e n h o da s c o n s -
alto num céu com ou sem te la çõ e s da cultura e s te la r O ci-
nuvens, o u mesmo p o de d e n t a l e a t é m e s m o M a ia , T u c a -
s e r u m a n o i t e c a r r e ga d a no ou Tupi-Guarani. Ainda é pos -
de nuvens que derramam sível que vo cê estej a navegando
gotas e mais gotas de chu- pelos primeiros momentos do sur-
va, mas, mesmo assim, vo cê p o - gimento do Universo . Neste lu-
d e e s t a r s o b u m c é u r e p le t o d e gar o nde a no ite é ab so luta, vo cê
estrelas, viaj ando p o r entre o s também pode descobrir que mes -
p lanetas, desco b rindo finalmen- mo de dia o s astro s faz em seu
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PLANETÁRIOS
balé celeste — e você pode acom- teve a ideia de construir um equi- Acima
panhar! Em mais de uma cente- pamento que pudesse reproduzir À esquerda, vemos a cúpula
construída no telhado da
na de planetários espalhados pe- os movimentos no céu do Sol, da empresa Zeiss, em Jena, e o
lo país podemos viajar pelo Cos- Lua e dos planetas sobre o das es- público que se dirige para
mos a qualquer hora do dia ou da trelas. Ele, então, discutiu com Carl assistir uma das primeiras
noite. Você já fez esta viagem? Zeiss sobre a possibilidade de sessões do planetário em
1924. À direita, temos uma
História construir esse tipo de simulador. imagem do Zeiss-
Mas com o início da Primeira Planetarium de Jena, em
Há quase 100 anos, mais preci- Guerra Mundial, em 1914, o pro- 1926. Este é mais antigo
samente em agosto de 1923, em u- jeto teve de ser adiado. Porém, já Planetário em operação
contínua no mundo, tendo
ma cúpula de 16 metros de diâme- em 1919, um ano após o final da sido inaugurado em 18
tro na cidade de Jena, Alemanha, guerra, os engenheiros e equipe julho de 1926. (Crédito:
a luz das estrelas foi pela primei- da Zeiss apresentaram um novo Zeiss, WikiCommons).
ra vez projetada de forma artifici- design para um planetário de pro-
al, com o propósito de simular o jeção! Após a primeira exibição Na página anterior
Projetor Spacemaster do
céu e seus movimentos para o pú- em Jena, sede da Zeiss, o planetá- Planetário da UFRGS Prof.
blico em geral. Para que a primei- rio foi instalado no Deutscher Mu- José Baptista Pereira,
ra estrela brilhasse e planetários seum e o espanto e a admiração inaugurado em 11 de
começassem a ganhar o mundo foi que causaram resultou em pelo novembro de 1972 e ainda
em atividade (Crédito:
necessário superarmos os obstá- menos 25 planetários instalados Acervo do Planetário da
culos causados por duas guerras pelo mundo até o início da Segun- UFRGS).
mundiais. A Primeira Guerra Mun- da Guerra Mundial, em 1939.
dial (1914-1918) se colocou entre Os primeiros modelos eram sis-
a ideia de um novo tipo de plane- temas óptico-mecânicos, que ain-
tário e “a primeira luz” de uma da seguem sendo utilizados: uma
projeção artificial do céu em imer- câmara escura ou câmara de ori-
são, resultado de anos de pesqui- fício, que em seu interior possui
sa e desenvolvimento de novas tec- uma fonte luminosa quase pun-
nologias pela empresa Carl Zeiss. tiforme, emite luz que passa atra-
Tudo começou em 1913 quan- vés de uma máscara perfurada.
do Oscar Von Miller, fundador do Os orifícios nas máscaras não es-
Deutscher Museum, em Munique, tão distribuídos aleatoriamente,
Sylvio Ferraz-M
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ENTREVISTA: SYLVIO FERRAZ MELLO
Mello
REVI STA BRASI LEI RA DE ASTRON OM I A | J AN -M AR 2020 | 21
ENTREVISTA: SYLVIO FERRAZ MELLO
RBA: Você sempre pensou em ser cientista, estudos nenhum ídolo científico. Meu primei-
ou foi algo que aconteceu ao longo da vida ? ro mestre foi meu pai, que me ensinou a ler
por volta dos meus 4 ou 5 anos de idade. Não
Sylvio: Eu morava na periferia de São Paulo, lembro exatamente dos detalhes, sabe como
onde naquela época nem se falava de ciência. é, as lembranças são difusas, mas lembro de
Ciência? A gente nem sabia o que era isso. Eu ficar desenhando letras com as cascas enro-
morava na confluência de Tatuapé, Belém e ladas de tomate na beira do prato. Aprender
Alto da Mooca conhecida como Quarta Para- a ler nesta idade foi para mim, muito impor-
da. Ser professor era algo em que se pensava, tante e influenciou o resto da minha vida. Me
mas cientista não. Veja bem como a época era lembro quando acompanhava minha mãe às
diferente. Na zona leste a única escola públi- compras na quitanda e era chamado pelas
ca que ia além dos primeiros anos do curso pessoas a me exibir lendo as manchetes dos
primário era a Padre Anchieta, escola normal jornais que lá estavam para embrulhar ver-
no Brás, que era exclusiva para meninas. Es- duras e frutas. Mas enfim, voltando ao assun-
tamos falando da época entre 1940 e 1950. As- to. Eu tive ótimos professores no Bandeiran-
sim eu fui fazer o antigo curso ginasial no cen- tes, em geral profissionais liberais que davam
tro da cidade. O nome da escola prefiro não aula e seus cursos eram muito completos. No
dizer, mas era muito ruim e de certa forma o terceiro ano do colegial, nós estudamos em
aluno se tornou tão ruim quanto a escola. En- Física, o livro do professor Roberto Salmeron
fim, isso para dizer que ser cientista não es- – Introdução à Eletricidade e ao Magnetismo.
tava no meu horizonte naquela época. Em al- Estudamos o livro inteiro e fizemos muitos
gum momento eu percebi que precisava fazer exercícios. Era trabalho duro e acabou que
alguma coisa quanto ao meu futuro e basica- este livro me trouxe a atração pela ciência.
mente forcei meu pai a me transferir para o Nesta mesma época encontrei um livro de di-
Colégio Bandeirantes. Eu já estava no colegial vulgação chamado O Átomo, de Fritz Kahn,
(atual ensino médio). No Bandeirantes, sim, en- que era um médico alemão que escreveu
contrei uma escola de alto nível e esses dois vários livros de divulgação. Ou seja, não tive
últimos anos do colegial foram os anos que um ídolo científico, tudo surgiu da junção de
mais trabalhei na minha vida. Mas o que foi estudar duro o livro de Física do Salmeron e
fundamental para mim foi ter vivido em um ler o livro do Fritz Kahn. Isso sim me impul-
tempo em que os pais se preocupavam com sionou para a ciência e então me decidi a ser
os filhos conferindo-lhes total prioridade. Ter Físico.
sido criado por um pai e uma mãe, juntos e
em harmonia, foi fundamental para a boa RBA: Nos diga brevemente sobre como foi
formação minha e de meu irmão. sua formação, que professores foram mar-
cantes na tua trajetória ?
RBA: Teve algum grande cientista que te-
nha sido seu “ídolo” cientifico na juventu- Sylvio: Pois é, aí veio o curso de Física da USP.
de, que tenha influenciado na tua decisão Devo dizer que a faculdade não foi bem o que
de ser cientista ? eu esperava. Muito do que aprendi no Bandei-
rantes acabei esquecendo na faculdade! Na fa-
Sylvio: Não tive nesta época inicial dos meus culdade não se estudava. Fazia-se política dia
Estando no avião, sem nada o que fazer, co- tão de preferência, simplesmente não sei. Sei
mecei a pensar em contradições das teorias trabalhar com aluno, dar uma ideia e seguir o
de marés existentes, que me atormentavam há projeto, mas em grupo é difícil. Veja por exem-
mais de dois anos. Daí, escrevi uma primeira plo o projeto CoRoT, que tinha uns 40 ou 50
equação, e a coisa foi indo, e de repente eu não colaboradores, incluindo os prêmios Nobel de
consegui mais parar de fazer aquilo. Cheguei Física de 2019, Michel Mayor e Didier Queloz.
a uma equação fundamental que parecia per- Tinha também gente que não fazia absoluta-
mitir uma nova abordagem da teoria (embo- mente nada. Nem mesmo sabia o que estava
ra tenha visto depois que Newton já tinha es- sendo feito. Não fizeram nada nunca. Partici-
crito a mesma equação em estudos de hidro- param de algumas reuniões e ponto. Trabalhar
dinâmica). Isso me deu imenso prazer. Tanto em grupo é difícil. Em todos os trabalhos do
prazer que faltei a algumas apresentações do CoRoT de que eu participei eu fiz alguma
congresso para ficar no hotel desenvolvendo coisa. Estudei a evolução devida às marés em
a teoria. O trabalho criativo é assim, ele fica vários sistemas e para todos determinei, de
na tua cabeça o tempo todo. Não acredito em modo independente, os parâmetros das órbi-
dádivas. As ideias criativas nascem do esforço tas a partir das observações de velocidade ra-
continuado, de você estar ali pensando exaus- dial.
tiva e incessantemente sobre uma questão,
talvez até obsessivamente, até que em algum RBA: O Brasil vem tentando se associar ao
momento as coisas se fecham e você resolve o ESO (European Southern Observatory).
problema. Estas ideias não vêm por acaso. E- Qual sua opinião sobre isso ? Que impacto
las necessitam maturação. Por exemplo, a As- você acha que esta associação teria para a
tronomia moderna é uma ciência fática, ela Astronomia Brasileira ?
descobre fatos incríveis, como matéria escu-
ra, por exemplo, cuja natureza desconhece- Sylvio: Acho que a adesão do Brasil ao ESO mu-
mos totalmente. Para explicá-los, é preciso sa- daria a cara da comunidade astronômica bra-
ber Física e ter uma atitude quase obsessiva sileira. No Brasil, tudo começou com o teles-
de pensamento criativo. Tem mui-
ta gente pensando sobre a maté-
ria escura hoje em dia. Uma hora
dessas amadurece e alguém vai
chegar à explicação.
RBA: Você prefere trabalhar so-
zinho ou em grupo ?
Sylvio: Eu não sei trabalhar em
grupo. Talvez eu seja muito indi-
vidualista. Inclusive agora que es-
tou mais velho e não consigo tra-
balhar tanto… Mas não é uma ques-
— ou seja, usavam o livro do Bertrand Russell tante porque ela organiza os fatos que conhe-
como livro de Filosofia. Estudávamos Filoso- cemos sobre o mundo, quando aconteceu e
fia da Ciência. Depois a faculdade me atrapa- quanto tempo levou para acontecer. Infeliz-
lhou. Veio me dizer que eu tinha que estudar mente, a datação não recebeu dos divulgado-
Lenin. Li muito o Lenin e perdi meu tempo. res da ciência a atenção que mereceria e os
Deveria ter continuado a ler o Russell. filósofos de hoje em dia não percebem a rele-
vância da datação nas muitas revoluções ci-
entíficas do século XX.
RBA: Alguma palavra final para aqueles
que estão iniciando na carreira ?
Sylvio: Olha, antes de mais nada uma forma-
ção sólida é fundamental. Tive alguns pontos
altos na minha formação que coloquei em des-
taque no início da entrevista, em particular
no colegial e nos últimos anos da Faculdade.
Foi ali que trabalhei duro. A natureza dos pro-
RBA: O que você considera a maior revolu- blemas encontrados em Astronomia precisa
ção científica do século XX ? de muita Física e você não sabe hoje a Física
que vai precisar amanhã — então tem que
Sylvio: Depois da revolução criada pelos tra- saber Física e saber antever que Física será
balhos do Einstein, que foram excepcionais, é necessária no futuro para resolver os proble-
difícil imaginar outro. Como uma pessoa po- mas da Astronomia. Na hora que aparecem
de num espaço de tempo tão curto explicar o os problemas, você precisa estar preparado
Efeito Fotoelétrico, o Movimento Browniano para saber fazer as associações necessárias
e ainda elaborar a Teoria da Relatividade. Ab- com a Física conhecida •
solutamente espetacular! Agora, tirando isso,
considero que a grande revolução do século Sylvio foi entrevistado por Reinaldo Ramos de
passado foi a datação usando isótopos radioa- Carvalho.
tivos, algo que ocorreu de maneira silenciosa
e que ninguém comenta. Todos os processos
evolutivos em Geologia e Biologia só puderam
ser compreendidos com a Datação estabele-
cendo quando cada um ocorreu. Você vai no
Grand Canyon e vê a estratificação dos areni-
tos. A datação nos conta que as camadas mais
profundas foram formadas há 1 bilhão de a-
nos! E como nos sabemos hoje que o Sistema
Solar se formou há 4.57 bilhões de anos? Pela
datação dos meteoritos! A datação é impor-
Poeira de Estrelas O espaço entre as estrelas está longe de ser vazio. Inúmeras pequenas
particulas podem ser encontradas aí, e elas costumam ser responsáveis por
contrastes dramáticos nas imagens astronômicas, além de influenciarem na
f o r m aç ão d e p lan e t as .
Q
uando olhamos para o o Saco de Carvão, na direção do
céu, em uma noite clara Cruzeiro do Sul, uma nuvem de
e sem nuvens, percebe- poeira e gás que na verdade ab-
mos que existem algu- sorve toda a luz emitida por es-
mas regiões mais escu- trelas situadas atrás dela. A exis-
ras sobrepostas ao fun- tência de tais regiões em nossa
do estrelado da Via Lác- Galáxia foi primeiramente nota-
tea. Muitos que o fizeram podem da por William Herschel que pro-
ter imaginado que nessas dire- duziu a primeira contagem de es-
ções nada exista. Um exemplo é trelas notando que havia um “bu-
que os grãos são lançados ao meio tre outras espécies. Existem estu-
interestelar são as fases evoluti- dos que sugerem que supernovas
vas estelares mais avançadas. No de tipo II — que resultam da e-
caso de estrelas de pequenas mas- volução de uma única estrela de
sas, tal como o Sol, essas fases si- grande massa — podem produzir
tuam-se entre a fase chamada de uma quantidade de poeira da or-
gigante vermelha e a fase de ne- dem da massa do Sol, em um
bulosa planetária. Nesses estágios, tempo de 0.01 a 0.1 bilhões de
as estrelas lançam também uma anos a partir do nascimento da
quantidade significativa de gás, progenitora. Abaixo
Galáxia do Sombrero em
através dos ventos estelares. Partículas de poeira estão pre- iImagem composta com
Por outro lado, estrelas com mas- sentes em diversos objetos este- observações feitas pelo
sas muito grandes também podem lares sendo observadas em nu- telescópio espacial Hubble
e pelo telescópio espacial
produzir grãos de poeira em seus vens interestelares, em discos pro- Spitzer usando uma câmera
estágios evolutivos mais avança- toplanetários, em asteroides e co- infravermelha. A imagem
dos. Tais estrelas têm massas com metas. Nos cometas, os grãos estão revela a poeira em forma
cerca de 10 a 50 vezes a massa misturados a moléculas congela- de anel, vista em vermelho
(Crédito: NASA/JPL-Caltech,
do Sol e terminarão suas vidas das compostas de elementos vo- Hubble).
em eventos explosivos, como su- láteis e serão soltos quando o co-
pernovas. As supernovas também meta se aproximar do Sol, forman-
têm sido consideradas como fon- do uma cauda de poeira. Medidas
te de poeira no Universo e são res- feitas pela missão Stardust da
ponsáveis pela formação de grãos NASA revelaram a presença de
de grafite, diamante, óxidos, en- compostos orgânicos presentes no
E
nomeassem uma estrela e um planeta, além de criar a regra de nomenclatura
para esse sistema. Descubra aqui curiosidades da campanha!
tas, uma vez que as propostas de- nacional, refletir os diferentes te-
veriam ser enviados diretamen- mas escolhidos para a campanha,
te aos Comitês Nacionais. Vale no- representar diversidade e parida-
tar, entretanto, as diferentes mo- de de gênero, além de potencia-
tivações: enquanto umas queriam lizar a divulgação do projeto na
nomear as estrelas com nomes de mídia nacional e nas escolas. A
seus namorados, outras pretendi- comissão foi montada em março
am que seus entes queridos já de 2019 e as primeiras reuniões
falecidos fossem homenageados (todas virtuais) ocorreram a par-
no céu. tir da primeira semana de abril
Ao todo, mais de 700 000 pes- desse ano.
soas participaram diretamente do Inicialmente, a Comissão Naci-
projeto, seja submetendo propos- onal decidiu internamente quais
tas de nomes para seus respecti- seriam os temas gerais dentro dos
vos comitês ou votando nos seus quais propostas de nomeação se-
nomes favoritos. riam aceitas. A metodologia pro-
A Campanha no Brasil posta pela IAU serviu de base pa-
ra a discussão, considerando que
Como NOC pelo Brasil, também a escolha deveria ser "entre nomes
me coube a tarefa de selecionar de coisas, pessoas ou lugares de
a Comissão Brasileira que faria a significado cultural, histórico ou
gerência da campanha. A seleção geográfico de longa data, dignos
foi feita de maneira que a Comis- de serem memorizados pela no-
são pudesse abranger a diversida- meação de um objeto celeste".
de da comunidade astronômica Com isso em mente, a Comissão
Nacional selecionou os seguintes
Comissão Nacional Brasileira temas gerais:
a) cultura indígena brasileira;
Eduardo Monfardini Penteado b) cultura afrobrasileira;
Representante da União Astronômica Internacional c) literatura brasileira;
Helio Jaques Rocha-Pinto
Vice-presidente da SAB, coordenador da comissão
e a campanha ganhou uma cara
Flávia Pedroza Lima nacional, sendo rebatizada como
Astrônoma do Planetário do RJ NomeieExoMundos.
Josina Nascimento De abril a maio, os trabalhos
Representante da Olimpíada Brasileira de Astronomia voltaram-se para a construção da
Alan Alves Brito
Diretor do Observatório de Porto Alegre
página eletrônica da campanha.
Thiago Signorini Gonçalves A hospedagem acabou sendo an-
Coordenador de Imprensa da SAB corada à própria página do NOC
Eugênio Reis Neto da IAU no Brasil, usando inclusi-
Vice-presidente da Olimpíada Brasileira de Astronomia
Gleici Kelly de Lima
ve parte das ferramentas web de-
Mestranda em Ensino da Astronomia senvolvidas por Felipe Carrelli.
Acima onados para a irem à votação pú- tal de votos três vezes maior do
Tupi e estrelas de blica, que teve início do dia 15 de que a campanha dos EUA, que
constelações próximas que setembro. possui população mais numerosa.
possuem nome próprio
aprovado pela IAU. O Cada um desses pares foi pro- Os três nomes mais votados pe-
tamanho do marcador movido nas redes sociais por um lo público foram elencados em
dessas estrelas na artigo que explicava sua etimolo- uma lista tríplice enviada ao Co-
ilustração não tem relação gia e listava os proponentes. Es- mitê Diretor no dia 13 de novem-
com sua magnitude
aparente (Crédito: ses artigos objetivavam permitir bro, juntamente com um sumá-
Stellarium, Helio J. Rocha- que os proponentes e simpatizan- rio sobre a campanha nacional.
Pinto). tes compartilhassem suas propos- Cabia agora ao Comitê Diretor va-
tas entre amigos para pedir vo- lidar o par de nome mais votado
tos, ampliando assim o alcance da ou, se fosse o caso de nomes in-
campanha. Isso, de fato, ocorreu. válidos, escolher o par seguinte
Mas notamos que muitas pessoas mais votado. Todavia, como espe-
preferiram expor suas escolhas rávamos, no dia 4 de dezembro
nas caixas de comentário das pos- o Comitê Diretor anunciou ao co-
tagens e não votaram pelo sistema ordenador nacional que o par de
que efetivamente computava os nome mais votado pelos brasi-
votos. leiros foi acolhido para o sistema
A votação online prosseguiu a- HD 23079.
té o dia 4 de novembro, quando O anúncio mundial só foi feito
tínhamos computados 7060 votos. no dia 17 de dezembro. A partir
A rigor, muito poucos para um daí a estrela HD 23079 foi oficial-
país de 200 milhões de habitantes, mente batizada de Tupi e o pla-
mas ainda assim um número to- neta HD 23079 b recebeu o nome