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Prova 1

Type Atividade

Created @December 25, 2022 7:48 PM

Class Topicos Especiais 4 em Engenharia Aeroespacial (Radio Astronomia)

Materials

Reviewed

Descrever com suas palavras e com detalhes os fenômenos físicos que a rádio
astronomia permite caracterizar.

1. Oscilações Acústicas de Bárions


1.1 Entendendo “BAO"
Um dos problemas em aberto da astronomia é entender energia e matéria escura.
Sabemos quais são seus efeitos no universo mas não temos ideia do mecanismo
de ação e qual sua composição. Isso se dá pela dificuldade de detectar essas
formas escuras por meios habituais, uma vez que ambas interagem apenas com a
gravidade.

Assim nos resta compreender como o setor escuro do universo interage


gravitacionalmente com a matéria bariônica. As oscilações acústicas de barions
podem nos fornecer tais respostas.

As oscilações acústicas de bárions ou BAO são flutuações na densidade da


matéria bariônica visível do universo, causadas por ondas acústicas de densidade
no plasma primordial do universo primitivo.

O universo primitivo era quente e denso, matéria e radiação estavam


acopladas, e matéria escura não era exceção. Enquanto a matéria criava
poços de potencial no plasma, a pressão de radiação se opunha a essa força.
Esse processo de compressão e rarefação gerava ondas acústicas.

Em algum momento da expansão e resfriamento do universo os efeitos da


matéria escura se tornaram prevalentes, influenciando na distribuição de
matéria comum pelo universo. Seria previsível que as galáxias estivessem em
poços de potencial nos quais havia abundância de matéria escura, todavia

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podemos observar também um aglomerado circular de galáxias em torno do
central. Esse anéis são vestígios das oscilações, congeladas no tempo, que
carregaram a matéria nos primórdios do universo.

A distância entre o centro e a borda do anel é de aproximadamente 150 [Mpc]


e esse valor é uma constante, podendo até ser utilizado como uma régua
padrão para definir a escala de aglomeração da matéria no universo.

Imagem produzida pelo BOSS (Baryon Oscillation Spectroscopic Survey) mostrando esferas de
bárions em volta dos aglomerados iniciais de matéria escura.

Em suma buscamos entender o processo de formação e evolução das primeiras


estruturas do universo, um quebra cabeça que chamamos de “Modelo
Cosmológico Padrão”.

1.2 O papel da radio astronomia


No rádio captamos uma banda de frequência que é separada em frequências
individuais. Uma técnica relativamente nova chamada “Intensity Mapping (IM)” é
utilizada para pesquisar estruturas de interesse no universo. Sua conveniência é
que não é necessário apontar o rádio telescópio para um ponto especifico.

Com essa banda é possivel identificar elementos, átomos e regiões que nos
contam histórias físicas distintas. Regiões de formação de estrelas são
abundantes em CO, por exemplo.

Além dessas informações recebemos também o redshift, ou seja, distância e


velocidade desses objetos.

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O átomo em questão utilizado para mapear a distribuição de matéria no universo é
o hidrogênio neutro (HI). Apesar de somente 1% do hidrogênio estar em estado
neutro, essa porcentagem ainda é significativa pois hidrogênio é o elemento mais
abundante do universo.

Quando um átomo de HI tem uma mudança em seu nível energético ele emite
radiação eletromagnética com comprimento de onda igual a 21 cm (
1420 MHz ) no vácuo. Essa radiação penetra nuvens de gás e poeira
interestelar que seriam opacas na faixa do visível.

2. Radiação cósmica de fundo (CMB)


2.1 História
Nos anos 60 duas linhas lutavam por hegemonia. Haviam aqueles que acreditavam
no universo como estático (eterno) e imutável, um infindável processo de morte e
renascimento, enquanto outros sustentavam a teoria que o universo teve um
começo (o “Big Bang”) e que teria um fim.

Dois cientistas americanos, Robert Wilson e Arno Penzias, totalmente alheios a


essa discussão, trabalhavam para os laboratórios Bell com um tipo especial de
radio telescópio. O projeto era chamado ECHO e o objetivo da pesquisa era
receber ondas de radio de balões satélites, uma forma de passiva de comunicação.

Robert Wilson (à esquerda) e Arno Penzias. Ao fundo a Holmdel Horn Antenna, antena que
proporcionou a descoberta do CMB.

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Ao ligar o receptor, Wilson e Penzias se depararam com uma interferência que não
fazia parte do projeto. Uma interferência irritante que persistia não importando o
que faziam, tentaram compensar todas fontes de ruído vindas da Terra, apontar o
telescópio para outras partes do céu, resfriar o receptor a temperaturas alguns
graus acima do zero absoluto, tentaram eliminar interferências vindas da galáxia e
do sol mas nada surtia efeito. Entraram em conflito até com simples pombos que
fizeram da antena sua casa, despejando-os e limpando seus dejetos. Nada,
absolutamente nada que fizessem poderia eliminar esse ruído, pois nele residiam
ecos de um passado quente e distante do universo. Algo maior que eles estava
prestes a ser descoberto.

Os dois discutiram com outros cientistas qual poderia ser a causa desse ruído de
fundo. Sabia-se que pesquisas sobre uma dita “Radiação Cósmica de fundo” já
haviam sido conduzidas por Ralph Alpher e Robert Herman nos anos 40 e por
Robert Dicke nos anos 60, sendo esse último o responsável por interpretar os
dados de Wilson e Penzias. A peça que faltava para dar força a teoria do Big Bang
foi encontrada e os dois foram laureados com o prêmio Nobel de física de 1978
pela descoberta da radiação cósmica de fundo.

2.2 Características e interpretações


A radiação cósmica de fundo é um retrato de uma época do universo denominada
“era do desacoplamento”. Naquele período a temperatura média do universo era de
aproximadamente 3000 K , o universo era opaco e feito de um plasma tão quente
que impossibilitava a formação de átomos tão simples quanto o hidrogênio neutro.

O universo nesse período já estava em expansão e evidentemente esfriou ao ponto


que se tornou possivel a formação de átomos, passando de opaco (τν → ∞) para
transparente (τν → 0). A radiação que uma vez permeou aquele plasma
primordial estava livre para percorrer o universo por toda eternidade.

A temperatura média do universo prevista por Alpher e Herman era de 5 K , já a


medida por Penzias e Wilson foi de aproximadamente 3, 5 ± 1, 0 K . Na ultima
medida feita a temperatura foi dada em 2, 7260 K com precisão de ±0, 0013 K .

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Mapa da radiação de fundo, liberado em 2013 pela agência espacial europeira (ESA) e feito pelo
observatório espacial Planck.

Essa temperatura extremamente baixa, se comparada a temperatura da época do


universo que a radiação cósmica representa, é causada pelo desvio ao vermelho.
O espectro térmico que uma vez brilhava em laranja, passou para vermelho,
infravermelho e em bilhões de anos teve seu comprimento de onda aumentado
pela expansão do universo, até chegar a faixa do rádio, faixa na qual recebemos
essa radiação atualmente.

Uma das características do CMB é que ele é a representação mais próxima que
temos de um corpo negro ideal, ele tem seu espectro descrito pela distribuição de
Planck.

2hν 3 1
Iν = (2.1)
c2 ehν/kT − 1

Derivando (2.1) com respeito a frequência ν e igualando a zero para encontrar a


frequência máxima do CMB vamos obter

2, 8214kTCMB
νmax,CMB = = 160, 3 [GHz]
h
Que corresponde a um comprimento de onda de 1, 87 mm.

Em geral o mapa parece homogêneo e isotrópico, localmente os pontos mais azuis


representam regiões de rarefação enquanto os pontos mais vermelhos regiões de
compressão.

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Assim como as ondas acústicas de bárions, o mapa da radiação de fundo pode ser
interpretado como regiões de compressão e rarefação de várias amplitudes
sobrepostas entre si. Esse movimento oscilatório pode ser modelado como uma
série de harmônicos, a melhor forma de visualizar isso é um espectro de potência
que mostra o tamanho das “bolhas” de rarefação/compressão e a frequência na
qual elas aparecem.

Espectro de potência do CMB feito pelo observatório Planck

O primeiro pico em aproximadamente 1º são as bolhas que se comprimiram


apenas uma vez antes do desacoplamento, o segundo pico as que se comprimiram
e expandiram, o terceiro representa compressão, expansão e novamente
compressão. Lembrando que antes do desacoplamento radiação e matéria
estavam juntas num plasma primordial esses picos podem nos revelar mais ainda
sobre a distribuição de matéria:

O primeiro pico nos diz o total de energia, energia escura, matéria escura e
bárions presentes naquele período.

O segundo pico a quantidade de bárions que existiam.

Do terceiro pico adiante temos a informação sobre o total de matéria escura no


universo.

Com isso chegamos a distribuição moderna de matéria do universo, na qual


sabemos ser composta por aproximadamente 5% de matéria comum, 27% de

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matéria escura e 68% de energia escura. Isso significa que das menores as
maiores estrelas, planetas rochosos e gigantes gasosos, buracos negros
supermassivos, galáxias inteiras estão contidas nesses 5%. Os outros 95%,
chamado de setor escuro, permanecem ainda um mistério para a humanidade.

3. Linhas espectrais
Linhas espectrais são manifestações macroscópicas de fenômenos quânticos
podendo ser geradas por recombinação, rotação de moléculas polares ou
transições hiperfinas. São processos que demandam quantidades especificas de
energia (consequentemente frequências características) sendo absorvida ou
emitida.

Antes das linhas de rádio, informações fornecidas pelas linhas espectrais na faixa
do visível já eram utilizadas na década de 40 do século passado. Jan Oort,
percebendo a importância dessa ferramenta, acreditou que linhas na faixa do radio
teriam um potencial de impacto tão grande quanto, se essas existissem.
Perguntando a um de seus estudantes, Henk Van de Hulst, se isso era possivel, de
Hulst o respondeu que o hidrogênio em seu estado fundamental tinha um
comprimento de onda de 21 cm.

Em anos seguintes essa linha espectral foi confirmada, seguido da descoberta da


linha de emissão do OH (hidroxilo) em 1665 e 1667 MHz , linhas de água (H2 O
), amônia (NH3 ) e formaldeído (H2 CO ) foram catalogadas logo após.
Atualmente mais de 200 espécies moleculares foram identificadas no meio
interestelar, se estendendo até a estruturas grandes como C60 .

As linhas apresentam um poderosa análise das condições físicas e químicas de


objetos astronômicos. Sua frequência pode identificar os átomos e moléculas
especificas com as quais estamos lidando. O tamanho das linhas e o efeito Doppler
associado na frequência central nos dão diagnósticos da temperatura local e
dinâmica. As linhas observadas em galáxias distantes nos dão pistas sobre o
desenvolvimento dessas estruturas em estágios anteriores do universo

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Espectro de emissão de uma nuvem molecular, mostrando as frequências emitidas e os elementos
associados.

4. Extras
O formato espiral da nossa própria galáxia foi descoberto mapeando átomos de
hidrogênio neutro, utilizando a linha de 21 cm do mesmo.

Quasares foram descobertos pela grande emissão de radiação na faixa do radio.

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