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Meio interestelar:

nuvens, poeira, extinção, HI


Natureza da Galáxia
Principais componentes
Braços espirais
Populações estelares
Centro da Galáxia: buraco negro

Galáxia (I)

Gastão B. Lima Neto


Vera Jatenco-Pereira
IAG/USP
Meio Interestelar (MIS)
O espaço entre as estrelas não é completamente vazio.
è MIS corresponde a ~10% da massa visível da Galáxia.
è ~ 99% gás e ~ 1% poeira (porcentagem da massa do MIS).
à raios cósmicos (partículas de alta energia 99% prótons e 1% íons).
à campos magnéticos, radiação eletromagnética.
Onde nascem as estrelas e para onde vai o material sintetizado por elas.
Propriedades do meio interestelar
Tipo Temperatura (K) Densidade (cm–3)
Meio internuvem mais de 10.000 0,1 – 1,0 ar: 2 1019 cm–3
Região de H ionizado ~ 10.000 100 vácuo de
laboratório:
Nuvens difusas 50 – 150 10 – 1000
1 106 cm–3
Nuvens escuras 3 – 20 1000 – 106
(moleculares)
Fonte:
J. Lépine, 2009 “A Via Láctea, nossa ilha no universo”
W. Maciel, “O céu que nos envolve”

Região HII, Nebulosa Bolha


Nuvem de poeira, Saco
de Carvão

Resto de supernova, Cygnus


Loop
Regiões de formação estelar
• Nebulosas de emissão:
– nuvens brilhantes e quentes (ionizadas) de matéria interestelar.
• Regiões HII : associadas a estrelas jovens de tipo O ou B.
Obs.: Nebulosas planetárias: associadas a uma anã branca (não
é região de formação estelar). Nebulosa Rosetta
– 100x mais denso que o MIS. Temperatura ~ 8.000 K.

• Nebulosas de reflexão:
– Associadas a estrelas que não são quentes o suficiente
para ionizar o gás. Temperatura < 1.000 K.

• Nuvens escuras de poeira:


NGC1977 (“running man”)
– Temperatura ~ 20 K; 1.000x mais densas que o MIS.
– Associadas a nebulosas de emissão.
– Áreas muito obscurecidas.

• Nuvens moleculares:
– Frias (~ 20 K) mas muito densas, 1 milhão de vezes o MIS.
– Tamanho ~ 10 – 50 pc, matéria suficiente para formar
milhões de estrelas como o Sol.
“Dark River” perto de Antares
Regiões HII
• As estrelas jovens tipo O e B emitem muita radiação
ultravioleta.
– espectro de corpo negro, com temperatura > 10.000K.

• Ionizam o hidrogênio que está nas proximidades.

• è Criam as chamadas regiões HII

Nomenclatura espectroscópica

hidrogênio neutro à HI
hidrogênio 1 vez ionizado à HII

hélio neutro à HeI


hélio 1 vez ionizado à HeII
hélio 2 vezes ionizado à HeIII

Fe que perdeu 13 elétrons à FeXIV


Regiões HII

espectro típico de
uma região HII

• Regiões HII na galáxia M51


Propagação da radiação eletromagnética no meio
interestelar
Um feixe de luz pode ser absorvido ou espalhado somente por partículas com um
diâmetro próximo ou maior que o comprimento de onda da radiação incidente.

A absorção ou o espalhamento produzido pelas partículas aumenta com a diminuição do


comprimento de onda da radiação.

poeira

Rogelio Bernal Andreo (Deep Sky Colors)


A poeira muda a cor dos objetos
Opacidade do meio interestelar: as estrelas parecem mais fracas e mais
vermelhas do que realmente são.
Poeira interestelar
Como um meio tão fino e tão esparso pode bloquear a luz das estrelas tão efetivamente? A
chave é a extensão: a distância entre as estrelas.

A baixa densidade (3x10–7 partículas/metro3) multiplicada pelo grande volume significa


muita poeira no caminho óptico.

Por exemplo, em um cilindro de 1m2 de base da Terra até a Centauro tem


pouco mais de 10 bilhões de partículas de poeira, o que corresponde
a apenas de 25 mg. Em 2 kpc, temos 1 trilhão de partículas (~35 g).
Poeira interestelar
Como um meio tão fino e tão esparso pode bloquear a luz das estrelas tão efetivamente? A
chave é a extensão: a distância entre as estrelas.

A baixa densidade (3x10–7 partículas/metro3) multiplicada pelo grande volume significa


muita poeira no caminho óptico.

Por exemplo, em um cilindro de 1m2 de base da Terra até a Centauro tem


pouco mais de 10 bilhões de partículas de poeira, o que corresponde
a apenas de 25 mg. Em 2 kpc, temos 1 trilhão de partículas (~35 g).

Do ponto de vista do observador, a poeira


no meio do caminho funciona como uma
cortina.
α Cen
p o e i ra
Terra
c
1.3 p

1 m2
Poeira interestelar
A baixa densidade (3x10–7 partículas/metro3) multiplicada pelo grande volume significa
muita poeira no caminho óptico.
Observações no infravermelho Þ poeira é constituída de
silicatos, carbono (grafite) e ferro.
Exemplo:
A poeira: contém “gelo sujo” Þ água congelada contaminada
com alguns traços de amônia, metano e outros componentes;

Þ parecida com a da cauda dos cometas do nosso sistema


solar.

0,0001 mm = 0,1 micron


1.000 Å

Tamanho: de algumas moléculas até


~0,01 mm (10 micron).

12 µm
Gás neutro do MIS
Gás Neutro espalhado por todo o disco: Regiões HI de T ~ 10 a 20 K.
detectadas pela linha de
21cm (1,42 GHz) do
Hidrogênio atômico.

configuração configuração de
excitada.
emissão de menor energia.
um fóton

próton
elétron
orbital n = 1 orbital n = 1
(nuvem de probabilidade) (nuvem de probabilidade)
spins paralelos spins antiparalelos

Prevista em 1944, pelo dinamarquês H. C. van de Hulst,


foi observada pela primeira vez em 1951.
Descobrindo a Galáxia
• Via Láctea = caminho de
leite (lactea = leite em latim).

• Do grego,
“Galaxias Kyklos” =
“círculo leitoso”
(γαλαξίας
=galaxias = leite).
– Segundo a mitologia grega,
leite derramado pela deusa
Hera.

• A olho nu, faixa de aparência


leitosa que atravessa o céu.

• Para diferenciar a Via Láctea


de outras galáxias usa-se
“Galáxia”, com “G”
maiúsculo.
Descobrindo a Galáxia
• Em 1609, Galileo descobre que a Via Láctea é feita de "um vasto número
de estrelas fracas".

Imagem HST
Descobrindo a Galáxia

menos estrelas

mais
estrelas

• Em 1750, o astrônomo Thomas Wright


sugere que a Via Láctea seja uma
casca esférica de estrelas.
• “Universos ilhas” do filósofo alemão
Immanuel Kant.
Descobrindo a Galáxia
• Entre 1758 e 1780, Charles
Messier observa e cataloga
110 “nebulosas”.

• Nebulosa = objeto de
aparência difusa, como uma
nuvem, diferente das estrelas
e planetas.

• Entre 1786 e 1802, William


Herschel e família catalogam
milhares de “nebulosas”.

• Será que estas nebulosas são


os “universos-ilhas” de Kant?
Descobrindo a Galáxia

~300 milhões de estrelas Sol


8 mil anos luz (2,5 kpc)

• Em 1785, William Herschel faz uma contagem de estrelas supondo que a luminosidade é a
mesma para todas. Herschel concluiu que a Galáxia era um sistema achatado, sendo ~ 5 vezes
maior na direção do plano galáctico do que na direção perpendicular a ele.

• Imagina a Via Láctea como um disco, com o Sol próximo do centro.

• Esta visão da Via Láctea vai predominar até o início do Séc. XX.
Descobrindo a Galáxia

Sol

• Se contarmos o número de estrelas em direções opostas, o número é mais ou


menos o mesmo.

• A conclusão lógica é de que estaríamos no centro da distribuição das estrelas.

• Mas falta um elemento neste raciocínio....


Descobrindo a Galáxia

Sol

• Se contarmos o número de estrelas em direções opostas, o número é mais ou


menos o mesmo.

• A conclusão lógica é de que estaríamos no centro da distribuição das estrelas.

• Mas falta um elemento neste raciocínio....

• A poeira! Nós não podemos ver claramente além de ~2 kpc.


– Luz visível é absorvida pela poeira. Brilho diminiu ~2 mag/kpc (até ~ 6 kpc).
• Na direção do centro galáctico, a absorção chega a 30 magnitudes.
– O papel da poeira só fica bem estabelecido no início da década de 1930.
Descobrindo a Galáxia
• A questão do tamanho da Galáxia e a natureza das nebulosas (principalmente as
espirais) é central para a compreensão da Via Láctea.

• “Grande Debate” de 1920:

Harlow Shapley Heber D. Curtis

Via Láctea muito grande. Via Láctea pequena.


Sol a 20 kpc do centro. Sol está no centro.
Nebulosas fazem parte da Galáxia. Nebulosas são “universos ilhas”.
Descobrindo a Galáxia

• No início do Séc. XX, Harlow


Shapley nota que o Sol não está
no centro da distribuição
espacial de aglomerados
globulares.

• Conclui que o Sol


não está no centro
da Via Láctea.

• Podemos ver aglomerados


distantes.
Descobrindo a Galáxia
• Em 1926, a natureza da Galáxia fica
estabelecida definitivamente quando Edwin
Hubble mostra que as “nebulosas” espirais
estão muito além da Via Láctea.

• Hubble utilizou a relação Período-


Luminosidade das Cefeidas (Henrietta
Leavitt) como indicador de distância.
A Galáxia Halo da
Galáxia

Barra
Halo
Bojo Sol

Disco com
braços espirais
Sol

• Hoje, como imaginamos que seja a Galáxia.


A nossa Galáxia: um disco
30
kpc Halo
(10
0m
il a
n o s-
luz
)
8
kp c
(2 6
mi l
Sol an
o s-
l uz
)

Bojo
Dis
co

A Galáxia, se pudéssemos vê-la de perfil.


Note a faixa de poeira no plano do disco.
(NGC 4565)
A Galáxia

Disco

Bojo

imagem de Axel Mellinger

• Nossa Galáxia vista de dentro (isto é, da Terra).


• Note a faixa de poeira no plano do disco.
• Imagem feita com a luz visível.
A Galáxia

Disco

Bojo

• Nossa Galáxia vista de dentro (isto é, da Terra).


• Note a faixa de poeira no plano do disco.
• Infravermelho próximo (1,2 - 2,2 microns).
A Galáxia em outros comprimentos de onda

360 graus

• Infravermelho próximo: estrelas frias


• Visível: estrelas próximas
• Infravermelho médio e distante: poeira e
moléculas
Braços
• A Via Láctea seria uma “nebulosa” espiral?

Easton, 1900. Primeiro esboço dos braços espirais da Via Láctea.


Aglomerados h
Braços e c Persei

Braço de
Perseus

Braço de
Sagitário

Braço de
Orion
• Distribuição dos Aglomerados Estelares Abertos
(p.ex., Plêiades, Híades...)
Sol
Braços espirais
• Braços espirais no disco
Galáctico.

• São 4 braços, mas em dois


deles damos dois nomes
pois estão em lados
opostos em relação ao
bojo.
Obscurecimento pela poeira
• No visível, é impossível
observar o outro lado da
Galáxia.

• Isto é feito no
infravermelho e em rádio.
A poeira é relativamente
transparente nestes
comprimentos de onda.

• Regiões HII também


traçam os braços.
Populações estelares
• No início dos anos 1940, aproveitando os apagões da 2a Guerra Mundial,
Walter Baade descobre que as estrelas se dividem em duas populações:

• População I:
– estrelas ricas em metais
órbitas do disco
– + azuis
– no disco da Galáxia
– movimento circular
Plano Galáctico órbitas circulares
• População II:
– estrelas pobre em metais
– + vermelhas
órbitas do halo
– no bojo e no halo da
galáxia
– movimento elíptico,
fora do disco.
Plano Galáctico órbitas elípticas
Centro da Galáxia
• Constelações e estrelas mais brilhantes na região do centro galáctico.
Centro da Galáxia

• Imagem no visível.

• Vários aglomerados abertos e


globulares estão marcados.

• Janela de Baade:
– região com pouca poeira por onde
observamos melhor o bojo.

• A luz difusa vem de muitos


milhões de estrelas.
Centro da Galáxia

• Imagem em rádio em 333


MHz.

• A fonte rádio Sagitário A*


coincide com o centro da Via
Láctea.

• Observamos vários restos de


supernovas.

0,5
Estrelas no centro da Via Láctea

Vídeo: www.eso.org/public/news/eso0846/

• Órbitas de 28 estrelas no centro da Via Láctea, observadas desde 1992.


Centro da Galáxia

• Movimento de estrelas próximas do centro da Galáxia, observadas desde 1992.


• Massa no interior de ~130 U.A. = 3,4´106 M¤. è Buraco Negro Super Massivo.
Componentes da Galáxia
Bojo Disco Halo

Diâmetro 2 kpc 30 kpc ~200 kpc

Massa total 10´109 M¤ 70´109 M¤ 550 ´109 M¤


Luminosidade 3´109 L¤ 18´109 L¤ 1,0´109 L¤
Pop. estelar população II população I população II

• O Bojo é a componente mais


brilhante, as estrelas estão Halo
concentradas.

• O Disco é a componente mais


luminosa, têm a maior parte Bojo
das estrelas.

• O Halo é a de maior massa e o


menos luminoso.
Disco
Fim

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