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Modelo e dinâmica da estrutura interna da geosfera

. Contributos para o conhecimento da estrutura interna da


Terra
Neste capítulo vão ser abordados os contributos da Sismologia, Vulcanologia,
Planetologia e Astrogeologia para a definição de um modelo da estrutura interna da
Terra.

. Contributos da sismologia
Os primeiros estudos da estrutura interna da Terra deveram-se aos grandes
sismos ocorridos entre 1906 e 1936 que estabeleceram um modelo em camadas
concêntricas – crusta, manto e núcleo.
Em 1906, Oldham verificou que as ondas P, registadas no pólo oposto ao
epicentro de um sismo se propagavam a 4,5 km/s (estavam atrasadas) em vez de 6,5
km/s, quando registadas na proximidade do epicentro. A razão: a existência do núcleo,
que é uma descontinuidade no interior da geosfera, porque é composto por uma
matéria diferente que transmite as ondas com menor velocidade.

Sete anos mais tarde, Gutenberg localizou em profundidade essa superfície de


descontinuidade. Assim, a partir do foco sísmico quando a onda sísmica se propaga e
contacta um novo meio, pode recuar ocorrendo uma reflexão, ou pode ser transmitida
para o segundo meio ocorrendo uma refracção. Isto é, o núcleo terrestre desvia a
trajetória de ondas sísmicas diretas, originando ondas sísmicas refletidas e ondas
sísmicas refractadas.

Sendo assim, temos 3 formas de desenvolvimento de onda sísmica:


- Onda direta – é a onda inicial, com origem no foco sísmico, que não interage com
nenhuma superfície de descontinuidade e, por isso, não sofre reflexões nem
refracções.
- Onda refletida – é uma nova onda que, a partir da superfície de descontinuidade, se
propaga em sentido contrário (no mesmo meio da onda direta inicial).
- Onda refractada – é a onda transmitida, por uma superfície de descontinuidade, para
o segundo meio.

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Zona de sombra sísmica – é a faixa da superfície terrestre onde não se
propagam ondas sísmicas internas diretas. Gutenberg determinou que a distância
desta zona ao epicentro é constante, situando-se entre os 103º e os 142º, ou seja, se
convertermos a distância angular a distância quilométrica (1º  111,25 km), a zona de
sombra fica situada entre os 11 459 km e os 15 798 km de distância do epicentro.
Descontinuidade de Gutenberg – é a fronteira que assinala o início do núcleo,
que se localiza nos 2891 km de profundidade.
À profundidade a que se inicia o núcleo (2891 km), a velocidade das ondas S
anula-se e a velocidade de propagação das ondas P diminui consideravelmente
porque a camada externa do núcleo se encontra no estado líquido.

Em 1936, Inge Lehmann deu um contributo para o conhecimento do núcleo. Ela


concluiu que as ondas P, a 5150 km, se propagam a uma maior velocidade, porque
chocam num meio sólido – núcleo interno. Assim sendo:
Descontinuidade de Lehmann – é a fronteira entre o núcleo externo líquido e o
núcleo interno sólido.
NOTAS:
1. Na propagação das ondas P – o desvio da trajetória destas ondas, por reflexão e por
refracção e a criação de uma zona de sombra na superfície, é devida à existência do
núcleo terrestre.
2. Na propagação das ondas S – a respetiva zona de sombra é mais ampla do que a das
ondas P. Não se registam ondas S diretas a mais de 103º de distância do epicentro,
devido à existência do núcleo externo no estado líquido, que as reflete.
3. Na zona de sombra de um sismo – não se propagam ondas P e S diretas, porque no
seu trajeto se interpõe um núcleo líquido.
4. As ondas S propagam-se na crusta, no manto e no núcleo interno – porque são
camadas sólidas. As ondas S não se propagam no núcleo externo – porque este é
líquido.

Em 1909, Andrija Mohorovicic constatou a existência de uma descontinuidade


a separar um meio superficial, no qual as ondas se propagam com menor velocidade –
a crusta – de um meio mais profundo, onde a velocidade das ondas é maior – o manto.
Ao analisar os registos sismográficos de um sismo, Mohorovicic verificou a chegada de
2 conjuntos de ondas P e S, que eram consequência da refracção das ondas nessa
descontinuidade: o 1º grupo de ondas P e S correspondia a ondas refractadas e o 2º
grupo correspondia a ondas diretas. As ondas refractadas atingiam a estação
sismográfica mais rapidamente do que as ondas diretas, porque a velocidade de
propagação no manto é maior. Assim sendo:

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Descontinuidade de Mohorovicic ou Moho – é a separação crusta-manto.
Com base nos dados da sismologia, surgiu um modelo para a estrutura interna
da geosfera que, com base na composição, a subdivide em (modelo químico):
. Crusta continental – granítica, rica em silício e alumínio.
Crusta oceânica – basáltica, rica em silício e magnésio.
. Manto, subdividido, à profundidade de 600 km, em manto superior e manto inferior
– peridotítica, rica em ferro e magnésio (olivina e piroxena).
. Núcleo externo – metálica, rica em níquel e ferro.
. Núcleo interno – metálica, rica em níquel e ferro.
Com base na rigidez dos materiais, temos o modelo físico:
. Litosfera – rochas da crusta e de parte do manto superior; sólida, rígida e de
comportamento frágil ou quebradiço. Profundidade: 0 a 220 km.
. Astenosfera – faixa de baixa velocidade das ondas sísmicas; parcialmente líquida, de
baixa rigidez e de comportamento plástico ou moldável/deformável. Profundidade:
220 a 410 km.
. Mesosfera – sólida, rígida. Profundidade: 410 a 2891 km.
. Endosfera – núcleo externo, líquido e núcleo interno, sólido, de elevada rigidez.
Profundidade: 2891 a 6371 km.

. Contributos da vulcanologia
O estudo dos materiais vulcânicos contribuiu para o conhecimento da
composição químico-mineralógica da geosfera, nomeadamente do manto
(peridotítica).

. Contributos da planetologia e da astrogeologia


Durante as missões espaciais do programa Apollo, iniciado em 1969, foram
colocadas na Lua estações sismográficas que permitiram o estudo do interior da Lua.
A Astrogeologia, isto é, o estudo comparado de corpos celestes, constitui outro
importante meio de estudo indireto da estrutura interna da Terra (através dos
meteoritos).
Assim temos:
- Meteoritos pétreos, constituídos, essencialmente, por minerais ricos em sílica e
percentagem mínima de ferro e níquel; correspondem à crusta.

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- Meteoritos petroférreos, constituídos por porções idênticas de minerais silicatados e
ferro-níquel, correspondem ao manto.
- Meteoritos férreos, constituídos basicamente por ferro e níquel; correspondem ao
núcleo.

. Um modelo de estrutura interna da Terra


Com base na Gravimetria, Geomagnetismo, Sismologia, Vulcanologia,
Planetologia e Astrogeologia, temos o seguinte modelo do interior da geosfera:
- Crusta oceânica e crusta continental
- Descontinuidade de Moho
- Manto superior
- Manto inferior
- Descontinuidade de Gutenberg
- Núcleo externo
- Descontinuidade de Lehmann
- Núcleo interno.

NOTAS:
- A pressão e a temperatura aumentam com a profundidade, da crusta até ao núcleo
interno.
- A densidade aumenta com a profundidade, da crusta até ao núcleo interno:
. Crusta continental – 2,7
. Crusta oceânica – 3
. Manto – entre 3,3 e 5,5
. Núcleo – entre 10 e 13
- O núcleo tem uma composição essencialmente ferroniquélica, comprovado por:
. a análise dos sideritos ou férreos (formados por ferro e níquel,  90%)
. a existência de um campo magnético terrestre, sugere esta composição
metálica para o núcleo.

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