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Biologia /Geologia

10º Ano

Ficha Informativa

Tema 3 – Compreender a estrutura e a dinâmica da geosfera

Capitulo 4 – Modelo e dinâmica da estrutura interna da Terra

Estudos realizados sobre registo de ondas sísmicas feitos em estações sismográficas


localizadas a diferentes distâncias epicentrais revelam que as ondas sísmicas atingem essas
estações num lapso de tempo menor do que aquele que seria previsto para uma suposta
Terra uniforme.

Além disso verifica-se que a discrepância entre o tempo previsto e o tempo real de
chegada das ondas aumenta progressivamente com a distância ao epicentro. Como quanto
mais distante se encontra a estação sismográfica mais profundamente mergulham as ondas
que a ela chegam, pode concluir-se que a velocidade das ondas sísmicas aumenta com a
profundidade.

Como a Terra não é homogénea nem uniforme, a constituição e as propriedades físicas


dos materiais terrestres varia com a profundidade, condicionando assim a velocidade das
ondas sísmicas P e S.

Verificou-se experimentalmente que, em geral, as ondas sísmicas se propagam mais


lentamente nas rochas mais quentes e pouco rígidas e com maior velocidade em rochas mais
frias e mais rígidas.

A velocidade das ondas sísmicas aumenta com a rigidez dos materiais e diminui
proporcionalmente com a sua densidade.

Os cientistas também sabem que a densidade dos materiais terrestres aumenta com a
profundidade, havendo zonas, por exemplo, da passagem do manto para o núcleo externo
em que se verifica um aumento brusco da densidade.

Estas variações bruscas da velocidade das ondas sísmicas ao serem atingidas


determinadas profundidades permitiram detectar superfícies no interior da Terra que
separam materiais com diferente composição e propriedades, designadas por superfícies de
descontinuidade.

A propagação das ondas sísmicas, através da Terra, pode experimentar desvios ou


podem mesmo ser absorvidas. Estes comportamentos são condicionados pelas mudanças na
constituição dos materiais que elas atravessam – superfícies de descontinuidade. Assim uma
onda sísmica, quando uma onda sísmica encontra uma superfície de descontinuidade entre
materiais com características diferentes pode reflectir-se ou refractar-se.
Assim, podemos definir para uma onda sísmica três formas de desenvolvimento:
 Onda directa: é a onda inicial com origem no foco sísmico e que não
interage com nenhuma superfície de descontinuidade, não sofrendo reflexões nem
refracções.
 Onda reflectida: é uma nova onda que se propaga, a partir de uma
superfície de descontinuidade, em sentido contrário e no mesmo meio em que a onda inicial
se estava a propagar.
 Onda refractada: é a onda transmitida, por uma superfície de
descontinuidade, para um segundo meio.

As ondas refractadas ao atravessarem materiais com diferentes características


experimentam desvios na direcção e modificações na velocidade. Devido a refracções
contínuas, a trajectória dos raios sísmicos não é rectilínea, mas sim arqueada na direcção da
superfície terrestre, uma vez que a velocidade aumenta com a profundidade.

Dados da sismologia e a existência de crusta e manto

No início do século, em 1909, um geofísico chamada Mohorivicic, analisou os registos


sismográficos do sismo que em Outubro desse ano ocorreu a sul de Zagrebe cujo o foco se
situava a uma profundidade de 40 km.
Verificou que nos sismogramas de estações situadas a algumas centenas de
quilómetros do epicentro havia registo de ondas P seguidas de ondas S e depois novamente
ondas P e ondas S, ou seja, havia a repetição dos dois tipos de ondas, o que não se verificava
nos sismogramas obtidos em estações mais próximas do epicentro ou mais longínquas.
Para explicar as suas observações Mohorovicic imaginou que os dois conjuntos de
ondas P e os dois conjuntos de ondas S teriam partido do foco ao mesmo tempo, só que
teriam seguido trajectórias diferentes e, por isso, gastaram tempos também diferentes.

Conhecendo exactamente a distância epicentral bem como o preciso momento em


que ocorreu o sismo, Mohorovicic pensou que um grupo de ondas P e S seguiu um caminho
mais directo entre o foco e a estação. É o que acontece com a estação A, que apenas
recebeu ondas directas.
Outro grupo de ondas devia ter encontrado um meio com rigidez e outras
características físicas diferentes, que teriam levado ao desvio da trajectória e modificando a
velocidade das ondas. Este último grupo devia ter sido refractado no interior da Terra, na
superfície de separação entre os dois meios e, ao penetrar no novo meio, a velocidade das
ondas aumentou, tendo chegado à estação C antes das ondas do primeiro grupo.
À estação localizada a 200 km do epicentro chegam as ondas que se propagam através
da crosta, seguindo uma trajectória mais curta e com uma velocidade mais baixa, ou
eventualmente dois tipos de ondas, as directas que chegam antes e as refractadas que
chegam mais tarde.
As estações localizadas entre os 200 km e 800 km recebem dois tipos de ondas P e dois
tipos de ondas S, ou seja, recebem as ondas propagadas na crosta, mais lentas, e as ondas
refractadas no manto, que chegam mais cedo, pois apesar de percorrerem uma maior
distancia atingem uma maior velocidade.
Estações localizadas a maiores distancias apenas recebem ondas refractadas no
manto.

Assim Mohorovicic propôs a existência de uma descontinuidade a separar um meio


superficial, no qual as ondas se deslocam a uma menor velocidade – a crusta – de um meio
mais profundo, onde a velocidade das ondas é maior – o manto. Estes dois meios são
formados por materiais de composição e características diferentes. A essa superfície que
separa a crosta do manto, localizada a uma profundidade média de 35 a 40 km foi atribuída
a designação de descontinuidade de Mohorovicic.
As ondas sísmicas atingem essa superfície reflectem-se ou refractam-se. As que se
refractam no manto aumentam significativamente a sua velocidade o que denuncia uma
composição diferente.
Através dos dados da sismologia é possível determinar a espessura da crosta,
admitindo-se que a crosta continental vai desde os 15 aos 20 km.

A constatação que existe uma diferença entre a velocidade de propagação das ondas P
nos oceanos e nos continentes permite considerar que a crosta está subdividida em dois
tipos – crusta continental e crusta oceânica. Esta variação da velocidade ao longo da crosta
deve-se à variação da sua composição química – a crosta continental é constituída
essencialmente por rochas graníticas, enquanto que a crosta oceânica é constituída por
rochas basálticas.

Dados da sismologia e a existência da descontinuidade de Gutenberg

Em 1912, um alemão chamado Gutenberg ao estudar os sismos distantes, verificou


que as estações sismográficas situadas a menos de 11 500 km do epicentro registavam a
chegada de ondas P e S directas. No entanto, nas estações sismográficas situadas entre 11
500 e 14 000 km as ondas P e S directas não eram registadas.

De acordo com Gutenberg, existem uma zona da superfície da Terra em que não são
registadas ondas P e S directas, ou seja, ondas que atingem a superfície sem
experimentarem desvios significativos na trajectória. Essa zona em geral situa-se entre os
103º e os 143º a partir do epicentro de um sismo e designa-se por zona de sombra sísmica.
Nas regiões que se localizam para alem dos 143º já são registadas ondas P, mas não ondas S,
ou seja, as ondas S não se propagam a partir de 103º ângulo epicentral.
Pode verificar-se pela figura que a velocidade das ondas P e S aumenta ate à
profundidade de 100 km. Aí verifica-se um abaixamento da velocidade que depois volta
novamente a aumentar. A 2 900 km de profundidade a velocidade das ondas P tem uma
diminuição abrupta e as ondas S deixam de se propagar a partir dessa profundidade.
À profundidade de cerce de 2 900 km localiza-se uma superfície de descontinuidade
denominada por descontinuidade de Gutenberg que separa o manto do núcleo terrestre.
Tendo em conta as expressões que traduzem a velocidade das ondas P e S podemos
constatar que a zona de sombra está directamente relacionada com as propriedades
elásticas dos materiais que estas atravessam, nomeadamente a densidade, a
incompressibilidade e a rigidez.
Através do manto o aumento progressivo mais rápido da rigidez do que da densidade
explica o aumento de velocidade das ondas. A constituição do núcleo deve ser muito
diferente da do manto, dado o diferente comportamento das ondas sísmicas. Diversos dados
geofísicos sugerem que o núcleo seja constituído por material extremamente denso,
predominantemente formado por ferro associado a algum níquel e pequenas quantidades
de outras substâncias. Como as ondas S deixam de se propagar a partir dessa profundidade,
pode admitir-se que esse material esteja fundido ou que se comporta como um liquido. Esta
hipótese também explica a queda de velocidade das ondas P, que passaria a propagar-se
num material muito denso e pouco rígido.
As ondas percorrem trajectórias tangenciais ao núcleo emergem em locais da
superfície cuja distância epicentral corresponde a um ângulo de 103º. As ondas que seguem
percursos mais internos na direcção do núcleo têm comportamento diferente na superfície
de separação, conforme são ondas P ou ondas S. As ondas S não se propagam a partir da
descontinuidade de Gutenberg e, por isso, todos os locais que se encontram a distancia
superiores a ângulos de 103º do epicentro não recebem ondas S directas nem refractadas no
núcleo.
É uma zona de sombra em relação às ondas S. As ondas P refractam-se a partir do
núcleo e a sua velocidade baixa não só devido ao aumento da densidade, como também
devido à diminuição da rigidez. Nessa refracção são desviadas da sua trajectória e vão
emergir apenas em locais cuja distância epicentral corresponde a ângulos superiores a 143º.
Os desvios verificados pelas ondas P são tais que no anel da superfície compreendido entre
103º e 143º há “silêncio sísmico”, não emergindo ondas P nem ondas S directas.
Os dados da sismologia permitem inferir que o núcleo externo deve apresentar uma
constituição muito distinta da do manto e propriedades também diferentes, o que se traduz
por uma alteração no comportamento das ondas sísmicas nesta zona do Globo. Uma vez que
não existe propagação das ondas S podemos admitir que a zona externa do núcleo externo
se encontra no estado líquido. Esta hipótese também explica a diminuição da velocidade das
ondas P, que passariam a propagar-se num meio mais denso, essencialmente constituído por
ferro e níquel e num meio cuja rigidez é nula.

Dados da sismologia e a existência da descontinuidade de Lehmann

Em 1936 através da análise dos registos sismográficos de um sismo ocorrido em 1929


na Nova Zelândia a dinamarquesa Ingue Lehmann verificou que algumas ondas P eram
registadas na zona de sombra. Lehmann admitiu que esta anomalia se devia à existência de
um núcleo interno no estado sólido, a uma profundidade de 5150 km sendo responsável
pela refracção e reflexão das ondas P que as obrigava a emergir na zona de sombra. Esta
superfície que estabelece a separação entre o núcleo externo, no estado fluido e o núcleo
interno, no estado sólido, designa-se por descontinuidade de Lehmann.
Assim, conclui-se que a 5150 km de profundidade existe uma nova descontinuidade a
separar o núcleo externo do núcleo interno, devido ao aumento da velocidade das ondas P.
O núcleo interno deve ser sólido e com composição idêntica à do núcleo externo, pois a
velocidade das ondas é maior do que a prevista para um núcleo totalmente líquido.
A razão da passagem de liquido a sólido deve residir no efeito da pressão sobre o
ponto de fusão do ferro. Nas zonas próximas do centro da Terra a pressão deve ser milhões
de vezes superior à pressão atmosférica e o seu efeito deve sobrepor-se ao da temperatura,
ficando o ferro no estado sólido.

Dados da sismologia e estrutura do manto

O gráfico da velocidade das ondas internas permite verificar que, no interior do manto,
a uma profundidade, sensivelmente, de 660 km, a velocidade de propagação das ondas P e S
sofre um ligeiro aumento, sugerindo um aumento de rigidez, facto que justifica a sua divisão
em manto superior e inferior. Contrariamente, verifica-se que, sensivelmente, entre os 220
km e os 410 km de profundidade, ao nível, portanto, do manto superior, a velocidade de
propagação destas ondas diminui, sugerindo que o material rochoso se encontra num
estado próximo da fusão e pontualmente, em fusão parcial.

Zona de baixa velocidade – manto


O estudo da propagação das ondas sísmicas através do manto tem colocado algumas
questões sobre a estrutura desta zona do Globo.
A partir da descontinuidade de Mohorovicic inicia-se uma nova camada da geosfera
que se denomina de manto. Desde a base da crusta terrestre até cerca de 400 km o manto é
essencialmente constituído por uma rocha designada por peridotito, formada
essencialmente por olivina.

Um estudo detalhado da propagação das ondas P e S próximo da base da litosfera


revelou que, no manto, aproximadamente a partir da profundidade de 100 km a velocidade
das ondas P baixa. A partir dos 200 km de profundidade a velocidade começa a aumentar
ligeiramente, atingindo cerce de 8 km/s aos 350 km de +profundidade. A zona
compreendida entre a profundidade de 100 km e 200 km, em que a velocidade das ondas é
mais baixa, é chamada zona de baixa velocidade.

A zona de baixa velocidade não está nitidamente definida, uma vez que não existem
superfícies de descontinuidade evidentes a limitá-la e não se observa em todos os locais,
sendo mais definida por debaixo dos oceanos do que a nível dos continentes.
Não há evidências de que a composição da zona de baixa velocidade seja diferente da
do restante manto.

Como existe uma diminuição da velocidade das ondas pode admitir-se que, embora a
composição seja idêntica, o material deve ser menos rígido, menos elástico e mais plástico
que nas regiões acima e abaixo dela.
A diminuição da velocidade nesta zona do manto superior é explicada porque, a essa
profundidade, considerando as condições de pressão, a temperatura aproxima-se do ponto
de fusão de alguns minerais das rochas do manto, podendo ocorrer fusão parcial dos
constituintes dos peridotitos, rochas existentes nessa zona. Esta pequena porção de material
fundido, em algumas zonas do manto pode formar finíssimas películas em torno dos cristais
sólidos, o que poderia funcionar como um lubrificante e fazendo diminuir a rigidez da rocha
mantélica e, consequentemente, a velocidade das ondas sísmicas que se propagam nesta
zona. A quantidade de material fundido deve ser muito pequena, uma vez que as ondas S se
propagam através desta zona do manto.
Assim, a rocha deve manter-se sólida na quase totalidade, mas a existência de
pequeníssimas quantidades de material fundido torna a rocha menos rígida, determinando a
diminuição da velocidade das ondas sísmicas.
O facto de a fusão parcial ser compatível com um modelo capaz de suportar o
deslizamento das placas litosféricas levou os geólogos a identificar a zona de baixa
velocidade como sendo a zona inicial de uma camada mais extensa, denominada
astenosfera, menos rígida que a litosfera.
A partir de 350 km de profundidade a velocidade continua aumentar ligeiramente, o
que sugere que o meio se torna mais rígido.

Estrutura interna da geosfera

Com base em dados fornecidos pelos estudos geofísicos, em resultados laboratoriais,


em cálculos matemáticos e apoiando-se em dados astrogeologia, nomeadamente na
composição dos meteoritos, os cientistas tem procurado estabelecer e caracterizar unidades
estruturais no interior da Terra.
• Pressão: aumenta com a profundidade, alterando a estrutura dos minerais,
tornando-os mais densos e fazendo subir o ponto de fusão dos mesmos.
• Temperatura: aumenta com a profundidade. Em certas regiões as condições de
pressão e temperatura devem combinar-se de tal modo que se torne possível a fusão do
material parcial ou totalmente.
• Densidade dos materiais: a densidade media do planeta é de 5.5. a densidade
aumenta com a profundidade existindo no interior do Globo materiais muito densos.
• Velocidade das ondas sísmicas: varia de acordo com a profundidade, sendo
condicionada pela rigidez e densidade dos materiais, aumentando com a rigidez e
diminuindo com o aumento da densidade. A variação brusca da velocidade das ondas
sísmicas ao atingirem determinadas profundidades permite detectar superfícies de
descontinuidade que separam zonas cujos materiais tem diferentes propriedades.
• Composição dos meteoritos: admitindo que alguns meteoritos poderão ter sido
originados a partir de corpos diferenciados, o seu estudo levou a estabelecer a
correspondência entre os diferentes tipos de meteoritos e as zonas estruturais da Terra.
Assim, admite-se que o núcleo tenha uma composição idêntica à dos sideritos, sendo
formado essencialmente por ferroniquélica.

Actualmente são considerados dois modelos da estrutura da Terra baseados em


critérios diferentes:
 Modelo geoquímico – baseado na composição química.
 Modelo físico – baseado nas propriedades físicas dos materiais.
Modelo segundo composição química

Modelo segundo composição física


Contributos da vulcanologia

Os produtos que são expelidos do interior da Terra através da actividade vulcânica são
importantes registos da composição físico-química e mineralógica dos materiais que
constituem a Terra.
O estudo dos materiais vulcânicos expelidos do interior da geosfera contribuiu para o
estudo da composição litológica do manto, que se admite ser de base essencialmente
peridotitica.

Contributos da planetologia

A astrogelogia é o estudo comparado de corpos celestes e constitui outro importante


meio de estudo indirecto da estrutura interna da Terra, nomeadamente através dos
meteoritos.
Os meteoritos são relíquias dos primórdios do Sistema Solar – a sua constituição
química é um reflexo das suas condições de formação, na medida em que os seus
constituintes não sofreram alterações significativas.

Atendendo às características químicas e mineralógicas dos meteoritos, alguns


investigadores pressupõem que estes corpos rochosos são fragmentos de astros de grandes
dimensões, possivelmente de planetas que não terminaram a sua fase de diferenciação.

Assim, por analogia, com as diferentes camadas que constituem o planeta Terra:
- Os meteoritos pétreos constituídos por minerais ricos em sílica e por uma
percentagem mínima de ferro e de níquel corresponderiam a fragmentos das zonas mais
externas da Terra, a crusta;
- Os meteoritos petroferreos constituídos por porções idênticas de minerais silicatados
e ferro-niquel, corresponderiam ao manto
- Os meteoritos férreos, constituídos por ferro e níquel corresponderiam ao núcleo.

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