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A propagação das ondas sísmicas P e S


no interior da geosfera
Muito do conhecimento que possuímos sobre o interior da Terra foi obtido através
do estudo do comportamento das ondas sísmicas P e S (originadas a partir da libertação
da energia acumulada por tensões tectónicas) quando atravessam o interior do planeta.

Essas ondas propagam-se em todas as direções, a partir do hipocentro (ou


foco), através da geosfera, atingindo primeiro o epicentro (local à superfície na vertical
do foco, isto é, o local à superfície mais próximo do ponto em profundidade onde se
gerou o sismo) e, mais tarde, locais a diferentes distâncias do epicentro, onde são
registadas por sismógrafos.

As ondas P são compressivas-distensivas e as partículas dos materiais que


atravessam vibram longitudinalmente (‘ao longo da’) à direção de propagação:

As ondas S aplicam movimentos perpendiculares ‘de corte’ (para cima e para


baixo e para um lado e para o outro) às partículas dos materiais que atravessam,
os quais vibram transversalmente (‘lateralmente’) à direção de propagação

Se a Terra fosse homogénea, ou seja, se a composição e as propriedades físicas


dos materiais geológicos fossem idênticas em qualquer ponto do planeta, a velocidade
das ondas sísmicas manter-se-ia constante em qualquer direção e as trajetórias
dos raios sísmicos seriam retas.

Os dados geofísicos sugerem que a constituição e as propriedades dos materiais


terrestres variam com a profundidade, afetando a velocidade das ondas P e S.

A velocidade das ondas P (Vp) é função da seguinte fórmula (que não é para
‘saber’, é só para saber interpretar!):

Em que:

k – constante de incompressibilidade (ou de resistência à compressão/à variação de volume) dos


materiais atravessados
µ – rigidez (ou módulo de rigidez): resistência à deformação dos materiais atravessados
ρ – densidade dos materiais atravessados

Em meios líquidos, a rigidez (µ) é nula (= 0), logo, o numerador da fração é


apenas o valor de k (e a Vp diminui significativamente!).
Por outro lado, em estruturas geológicas de baixa rigidez (como camadas
sedimentares saturadas em água ou a própria astenosfera), µ diminui bastante e na
fórmula de cálculo de Vp o valor de k+4/3µ também diminui, o que tem como
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consequência uma diminuição da velocidade das ondas P quando atravessam materiais


de menor rigidez ou pouco consolidados.

Isto implica que a velocidade de propagação das ondas P diminua


significativamente quando atravessam meios líquidos ou de menor rigidez e que
aumente significativamente quando atravessam meios sólidos de maior rigidez.
EM CONCLUSÃO: variações na rigidez dos materiais atravessados afetam a
velocidade de propagação das ondas P.

A velocidade das ondas S (Vs) é função da seguinte fórmula (que não é para
‘saber’, é só para saber interpretar!):

Em meios líquidos, a rigidez (µ) é nula (= 0) e o numerador da fração é nulo!


Assim, em meios líquidos, como a rigidez é = 0, e zero a dividir qualquer
número é zero (e a raiz quadrada de zero também é zero…), a velocidade das ondas
S nos meios líquidos é zero.

Logo, as ondas S não se propagam em meios líquidos!

No entanto, tal como com as ondas P, em estruturas geológicas sólidas de baixa


rigidez, µ diminui significativamente e na fórmula de cálculo de Vs o valor do numerador
também diminui, o que tem como consequência uma diminuição da velocidade das ondas
S quando atravessam materiais sólidos menos rígidos.

EM CONCLUSÃO: as ondas S não se propagam em meios líquidos e


variações na rigidez dos materiais atravessados afetam a velocidade de
propagação das ondas S.

Porém, há um outro dado a ter em conta! Qual será o efeito da variação da


densidade (ρ) dos materiais geológicos na velocidade de propagação das ondas
sísmicas P e S?
R:
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O estudo do comportamento das ondas sísmicas quando atravessam o interior da


Terra permitiu verificar variações bruscas da sua velocidade quando eram atingidas
determinadas profundidades.
Esta verificação permitiu inferir variações (DESCONTINUIDADES) na
composição química e nas propriedades físicas dos materiais que constituem o
interior da Terra.

As variações da velocidade das ondas P e S em profundidade podem ser


registadas (simplificadamente) no seguinte gráfico:

inserir o gráfico das velocidades P e S

EM CONCLUSÃO:

a) Aos entre os 100 e os 200 km de profundidade (valores médios)…

b) Aos ± 2900 km de profundidade…

c) ± 5150 km de profundidade…
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As Zonas de Sombra
O comportamento das ondas sísmicas P e S em profundidade e as
descontinuidades internas do planeta fazem com que, quando ocorre um sismo,
se verifique a existência de uma zona correspondente a uma “faixa” ou uma “área
esférica alargada” à superfície, variável conforme a localização do epicentro desse
sismo, em que as ondas sísmicas P e S diretas não são registadas pelos
sismógrafos.
Essa zona designa-se por zona de sombra uma vez que os sismógrafos
instalados nas estações e laboratórios geofísicos ficam como que “às escuras”
relativamente a esse sismo, uma vez que não o registam…

A zona de sombra de um sismo situa-se SEMPRE entre os 103º e os 143º


medidos à superfície a partir da localização geográfica do epicentro.

Nas regiões que se localizam para além dos 143º, voltam a ser registadas
ondas P diretas, mas não as ondas S, ou seja, as ondas S diretas não se registam a
partir de 103º de ângulo epicentral – Zona de Sombra das ondas S.

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