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Astronomia:

um olhar para o Universo

Prof. Alex C. Carciofi


Univ. de São Paulo

© Oh Happy Way
Relembrando: os limites do Sistema Solar

Crédito: NASA
Relembrando: os limites do Sistema Solar

O que existe para além do Sistema Solar?

Crédito: NASA
Aula 5 - O Meio Interestelar
Um berçário de estrelas

"Há muito mais do que estrelas no céu…"

Agradecimentos: G. Limberg e S. Adduci Faria


Constelações (aula 1)
Exemplo: Ema

A ema no Tapi'i rapé


(caminho da anta)

© AstroMiniBr
Constelações "Escuras"

Os povos originários da
Austrália identificaram
padrões nas áreas
escuras de Via Láctea

À esquerda, a
"constelação escura"
do Emu
O que são essas manchas escuras na Via Láctea?

Via Láctea observada


em um local escuro
Lembram-se dessa imagem?

Imagem de longa exposição


da constelação de Órion

Crédito: Derrick Lim APOD 21 Março 2018


Crédito: Derrick Lim APOD 21 Março 2018
Crédito: Derrick Lim APOD 21 Março 2018
Crédito: Derrick Lim APOD 21 Março 2018
Nebulosa de Órion

Crédito: Derrick Lim APOD 21 Março 2018


Anel de Barnard

Crédito: Derrick Lim APOD 21 Março 2018


Nebulosa da
Cabeça do Cavalo

Crédito: Derrick Lim APOD 21 Março 2018


Em resumo:
há muito mais do que
somente estrelas no céu!
A evolução do telescópio

Charles Messier (1730 - 1817)


Astrônomo que dedicou sua a vida à descoberta de
cometas, tendo descoberto 20 objetos
Percebeu que existiam "nebulosidades" no céu que
podiam ser confundidas com cometas
Wikipedia commons

➜ Catálogo de 110 objetos, hoje conhecido como


catálogo de Messier
➜ Todos foram imageados pelo Telescópio Hubble
https://www.nasa.gov/content/goddard/hubble-s-messier-catalog
M1 - A Nebulosa do Caranguejo

Originou-se em uma explosão de


supernova (➜ próxima aula)
Testemunhada pelos chineses em
1054 d.C.
Hoje já tem mais de 6 anos-luz de
diâmetro

© HST Institute
M8 - A Nebulosa da Laguna

Esta nebulosidade foi descoberta em


1654 pelo astrônomo italiano Giovanni
Battista Hodierna
Vista por telescópios modernos, revela
uma intrincada rede de filamentos
escuros e regiões brilhantes
Importante: este objeto é dezenas de
vezes maior que o anterior

© HST Institute
Nebulosa da Laguna vista em luz visível
(esquerda) e no infravermelho (direta)
© HST Institute
M16 - A Nebulosa da Águia

Os "Pilares da Criação"
Uma pequena nebulosidade, descoberta
em 1745 pelo astrônomo Jean-Philippe
Loys de Chéseaux
A imagem ao lado é, talvez, a mais icônica
produzida pelo HST.

© HST Institute
© HST Institute
M16 - A Nebulosa da Trífide

Possui estrelas muito brilhantes


próximas ao centro.

© HST Institute
M32 - A Galáxia de Andrômeda

Galáxia espiral mais próxima da


Terra, a apenas 2 milhões de
anos-luz
Mosaico de imagens de alta
resolução do Hubble, sobreposto a
uma imagem de menor resolução
Tema da aula 11

© HST Institute
M42 - A Nebulosa de Órion

Nesta imagem:
➜ o laranja está associado ao
hidrogênio
➜ o verde com o oxigênio

➜ o vermelho com o enxofre

© HST Institute
M45 - As Plêiades

Conjunto de estrelas jovens,


formadas há "meros" 100 milhões
de anos
A cor azul vem do fato de que todas
as principais estrelas deste
aglomerado aberto são muito
quentes

© HST Institute
M57 - A Nebulosa do Anel

Mostra o fim da vida de uma estrela


parecida com o Sol
Nebulosa planetária
Esta estrutura é muito menor do
que as que vimos anteriormente
Nitrogênio (vermelho), oxigênio
(verde), Hélio (azul)

© HST Institute
Aglomerado M75

Alguns objetos do catálogo de


Messier, quando vistos com
instrumentos melhores
revelaram-se grupos de estrelas
(aglomerados)
M75 tem aproximadamente
400.000 estrelas (!) e está a 65,000
anos-luz da terra (!)

© HST Institute
M87 - Galáxia Elíptica

Galáxia elíptica gigante (muito


maior que a nossa Via Láctea)
Estima-se que contenha vários
trilhões de estrelas
A imagem do buraco negro
supermassivo em seu centro ficou
famosa uns anos atrás

© HST Institute
M87 - Galáxia Elíptica

Primeira imagem de um buraco


negro supermassivo, divulgada em
2019

© HST Institute
M42 - A Nebulosa de Órion

Podemos observar um padrão:


Muitas nebulosas, quando vistas em
detalhes,revelam estrelas cercadas
de regiões brilhantes, intercaladas
por faixas escuras

© HST Institute
Ou seja, um padrão observado na Via Láctea como
um todo se repete em escalas menores

Via Láctea observada


em um local escuro
O Meio Interestelar

Hoje sabemos que o meio entre as estrelas (ou meio interestelar) é muito diverso,
complexo e heterogêneo
No nosso passeio pelo catálogo de Messier, vimos que alguns objetos possuem
apenas estrelas. São os chamados aglomerados estelares.
Outros têm uma aparência de uma nuvem difusa (nebulosa). Podemos de forma
grosseira dividir essas nebulosas em 3 grupos principais:
1) Grandes nuvens moleculares ➜ darão origem a novas estrelas
2) Remanescentes estelares ➜ estruturas formadas após a morte de estrelas
3) Galáxias
Aglomerados estelares

➜ aula 7

M4

M2

M15

© HST Institute
Galáxias
M74
➜ aulas 10 e 11

M32

M 15

© HST Institute
Remanescentes estelares
➜ próxima aula

M46

M57
M1

© HST Institute
Nuvens moleculares

M8

M16
© HST Institute
O meio interestelar

~1.8 BILHÃO de estrelas observadas pelo Gaia


Crédito: Gaia/ESA
O meio interestelar
Matéria, na forma de
gás e poeira, que
existe no espaço
entre as estrelas!

~1.8 BILHÃO de estrelas observadas pelo Gaia


Crédito: Gaia/ESA
O meio interestelar

Via Láctea
(Galáxia)

APOD 9 Maio 2009


O meio interestelar

Exemplo de nuvem
Saco de
molecular, que são as carvão
estruturas que dão
origem a nova
estrelas

APOD 9 Maio 2009


Meio interestelar
Gás e poeira que ocupa o espaço entre as estrelas

● ~99% da massa na forma de gás:

● ~1% da massa em poeira interestelar:


Meio interestelar
Gás e poeira que ocupa o espaço entre as estrelas

● ~99% da massa na forma de gás:


○ HI: hidrogênio atômico neutro
○ HII: hidrogênio ionizado
○ H2: hidrogênio molecular

(átomos + íons + moléculas)

● ~1% da massa em poeira interestelar:


Meio interestelar
Gás e poeira que ocupa o espaço entre as estrelas

● ~99% da massa na forma de gás:


○ HI: hidrogênio atômico neutro ~70% da massa do
○ HII: hidrogênio ionizado meio interestelar é de
○ H2: hidrogênio molecular hidrogênio

+ 29% em He
(átomos + íons + moléculas) + 1% em outros elementos
● ~1% da massa em poeira interestelar:
Meio interestelar
Gás e poeira que ocupa o espaço entre as estrelas

● ~99% da massa na forma de gás:


○ HI: hidrogênio atômico neutro ~70% da massa do
○ HII: hidrogênio ionizado meio interestelar é de
○ H2: hidrogênio molecular hidrogênio

+ 29% em He
(átomos + íons + moléculas) + 1% em outros elementos
● ~1% da massa em poeira interestelar:
○ Grãos amorfos de diferentes
materiais: silicatos (silício e
oxigênio), carbonados (grafite, etc.)
○ Muito pequenos
Meio interestelar
A distribuição do MI não é
homogênea!

Centro da Anticentro
Galáxia
Crédito: Gaia/ESA
Meio interestelar
Gás e poeira que ocupa o espaço entre as estrelas

➜ A matéria do MI não está distribuída de forma homogênea,


mas apresenta concentrações espaciais: nuvens interestelares
Nebulosa da águia
Meio interestelar
Gás e poeira que ocupa o espaço entre as estrelas

➜ A matéria do MI não está distribuída de forma homogênea,


mas apresenta concentrações espaciais: nuvens interestelares
Nebulosa da águia
Meio interestelar
Gás e poeira que ocupa o espaço entre as estrelas

➜ A matéria do MI não está distribuída de forma homogênea,


mas apresenta concentrações espaciais: nuvens interestelares
Nebulosa da águia

➜ Densidade média muito baixa


Espaço entre
Local Densidade (g/cm3)
partículas (cm)

Ar em nível do mar 10-3 10-7

Vácuo em lab. 10-12 5x10-6

Nebulosa de Órion 10-21 0,1

Meio interestelar
“típico”
10-24 1
Meio interestelar
Gás e poeira que ocupa o espaço entre as estrelas

➜ A maior parte (~90% da massa) do MI está na


forma de hidrogênio neutro difuso
Meio interestelar
Gás e poeira que ocupa o espaço entre as estrelas

➜ A maior parte (~90% da massa) do MI está na


forma de hidrogênio neutro difuso

Distribuição
de hidrogênio
neutro na
Galáxia

HI4PI Collab. (2016)


Meio interestelar
Gás e poeira que ocupa o espaço entre as estrelas

➜ A massa de gás + poeira no MI é cerca de


10−20% da massa em estrelas
Meio interestelar
Galáxia
Gás e poeira que ocupa o espaço entre as estrelas

➜ A massa de gás + poeira no MI é cerca de


10−20% da massa em estrelas

➜ Distribuição de massa da Galáxia (Via Láctea):

● Massa total: 1.0−1.5 x 1012 M☉ ESA

● Massa estelar: ~5 x 1010 M☉

● Massa em gás: ~1 x 1010 M☉

PS: essas quantidades são extremamente difíceis de estimar e


dependemos de modelos para tal!
Meio interestelar
Galáxia
Gás e poeira que ocupa o espaço entre as estrelas

➜ A massa de gás + poeira no MI é cerca de


10−20% da massa em estrelas

➜ Distribuição de massa da Galáxia (Via Láctea):

● Massa total: 1.0−1.5 x 1012 M☉ ESA


… mas onde
● Massa estelar: ~5 x 1010 M☉ foi parar o
resto da
massa?
● Massa em gás: ~1 x 1010 M☉

PS: essas quantidades são extremamente difíceis de estimar e


dependemos de modelos para tal!
Meio interestelar
Galáxia
Gás e poeira que ocupa o espaço entre as estrelas

➜ A massa de gás + poeira no MI é cerca de


10−20% da massa em estrelas

➜ Distribuição de massa da Galáxia (Via Láctea):

● Massa total: 1.0−1.5 x 1012 M☉ ESA


… mas onde
● Massa estelar: ~5 x 1010 M☉ foi parar o
resto da O resto da massa da
massa? Galáxia se encontra na
● Massa em gás: ~1 x 1010 M☉
forma de matéria escura
PS: essas quantidades são extremamente difíceis de estimar e (aulas 11 e 12)
dependemos de modelos para tal!
Efeitos do meio interestelar nas observações
“Nuvens escuras no céu” têm sido
fotografadas há mais de 100 anos!

Não é que essas regiões não tenham


estrelas, mas estas estão localizadas atrás
de grandes nuvens de gás e poeira e são
obscurecidas por esse material

Esse fenômeno é conhecido como


extinção interestelar e é resultado da
somatória de dois efeitos: espalhamento
e absorção da luz proveniente das estrelas

Barnard (1919)
Poeira interestelar

Jessberger et al. (2001)

● Parte externa feita de materiais


congelados (CO2 / H2O / NH2 )

● Núcleo de ferro, silicatos e


grafite
Poeira interestelar
Comparação de tamanhos:

● Átomos: ~0.1 nm
● Moléculas pequenas: ~ 1 nm
● Poeira: 100 nm

Distribuição da poeira interestelar pela missão Planck

Jessberger et al. (2001)

● Parte externa feita de materiais


congelados (CO2 / H2O / NH2 )

● Núcleo de ferro, silicatos e


grafite
ESA/Planck
Extinção interestelar
Mesmo que não haja uma
Luz das estrelas nuvem aparente em uma
observação, o gás do MI
também possui uma
componente difusa

Nuvem de
gás + poeira
Extinção interestelar
Mesmo que não haja uma
Luz das estrelas nuvem aparente em uma
observação, o gás do MI
também possui uma
componente difusa

Nuvem de
gás + poeira

Comprimentos de onda
Luz vermelha é maiores são menos
transmitida afetados. Portanto, a luz
vermelha pode atravessar
o MI sem sofrer muitas
interações / desvios
Extinção interestelar
Mesmo que não haja uma
Luz das estrelas nuvem aparente em uma
observação, o gás do MI
também possui uma
componente difusa

Luz azul é
Nuvem de espalhada
gás + poeira em todas as
direções!

Comprimentos de onda
Como o azul é removido
Luz vermelha é maiores são menos
pelo espalhamento, a luz
transmitida afetados. Portanto, a luz
de uma estrela que
vermelha pode atravessar
atravessa o MI sofre
o MI sem sofrer muitas
AVERMELHAMENTO
interações / desvios
Exatamente o mesmo
Por do sol na USP princípio que explica
porque o pôr do sol é
avermelhado
Extinção interestelar

Nebulosa da águia

NASA/ESA/Hubble

Mesma região do céu imageada no óptico (esquerda) e no


infravermelho (direita). É possível enxergar muito mais estrelas de
“fundo” em comprimentos de onda maiores, conforme discutido
Nebulosas de reflexão
Nuvens de gás e poeira que refletem
ou espalham a luz de estrelas
próximas

Crédito: Casey Good & Steve Timmons APOD 29 Outubro 2020


Nebulosas de emissão
Esse tipo de nebulosa é formada por gás ionizado. Portanto, deve haver
alguma fonte de energia suficiente para ionizar o gás

Em alguns casos a fonte de energia pode ser a estrela "moribunda"

Nebulosa da Hélice
Nebulosa do Caranguejo.
APOD 23/08/20 M1
Crédito: C. R. O’Dell
Nebulosas de emissão
Esse tipo de nebulosa é formada por gás ionizado. Portanto, deve haver
alguma fonte de energia suficiente.

Outra fonte possível de radiação ionizante para


o gás do MI são estrelas massivas em regiões
de formação estelar recente

Esses objetos são chamados de regiões HII

Portanto, regiões HII estão associadas à


formação estelar atual e/ou recente

Crédito: ESO/VLT
Nuvens moleculares
● Nuvens de gás e poeira densas e frias

● Principalmente compostas de hidrogênio


molecular (H2 )

● Temperaturas de ~10K

● Massa: 103−107 massas solares

É a partir dessas
regiões que as
estrelas se formam!
Nuvens moleculares
● Nuvens de gás e poeira densas e frias

● Principalmente compostas de hidrogênio


molecular (H2 )

● Temperaturas de ~10K

● Massa: 103−107 massas solares

É a partir dessas
regiões que as
estrelas se formam!

… mas como nascem as estrelas?


Como nascem as estrelas?
Em linhas gerais, as estrelas se
formam a partir do colapso
gravitacional de uma nuvem de gás

Para que seja possível o colapso


gravitacional, a nuvem de gás deve
ser muito densa e fria

➜ Se não for densa o suficiente, a


gravidade não é capaz de iniciar o
colapso Simulação do colapso de uma
proto-estrela massiva (M. Krumholtz)
➜ Se for quente demais, a pressão do
gás impede o colapso
Estágios de formação estelar
Em geral, as nuvens interestelares
estão em equilíbrio hidrostático

Logo, para que ocorre colapso


gravitacional, a nuvem deve sofrer
algum tipo de perturbação

1. Fragmentação: nuvem
divide-se em pedaços menores,
mas mais densos

2. Colapso: fragmentos atingem


a massa de Jeans e colapsam
Estágios de formação estelar
Em geral, as nuvens interestelares
estão em equilíbrio hidrostático

Logo, para que ocorre colapso


gravitacional, a nuvem deve sofrer
algum tipo de perturbação

1. Fragmentação: nuvem
divide-se em pedaços menores,
mas mais densos

2. Colapso: fragmentos atingem


a massa de Jeans e colapsam
Estágios de formação estelar

~ tamanho do Sistema Solar


alguns anos-luz décimos de anos-luz Sequência principal

Energia potencial
Nuvem molecular (fria e Seu núcleo se torna quente
gravitacional é convertida
densa) inicia o processo de o suficiente para iniciar
em térmica e a nuvem
colapso reações de fusão nuclear
esquenta
Crédito: Matthew Bate
Ciclo de vida das estrelas

Formação estelar O gás do meio interestelar é Fim da vida


(hoje) utilizado na formação de das estrelas
novas gerações de estrelas

As estrelas, por sua vez,


colapso gravitacional processam esse material e fim do “combustível”
de uma nuvem molecular devolvem para o MI um gás
rico em elementos pesados

Este processo caracteriza a evolução


química da Galáxia (e das galáxias)!
Para se aprofundar…

● Próxima aula: Vida e morte das estrelas


● Sugestão de pesquisa: ler sobre o 1ʻOumuamua, objeto que foi
descoberto em 2017 e tornou-se o primeiro "asteróide" de origem
interestelar.

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