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MÉTODOS MATEMÁTICOS

AULA 5 – FUNÇÕES ORTOGONAIS E SÉRIES ORTOGONAIS


FUNÇÕES ORTOGONAIS E SÉRIES ORTOGONAIS
Funções ortogonais:

Por volta do ano de 1800, o matemático Joseph Fourier percebeu que


uma função 𝑓 poderia ser representada por meio de uma série de
funções trigonométricas, as séries de Fourier.

A série de Fourier representa um caso particular de um conceito mais


geral que parte de um conjunto infinito de funções ortogonais

Esse conceito servirá de base para a solução de equações diferenciais


parciais lineares em um contexto aplicado.
FUNÇÕES ORTOGONAIS E SÉRIES ORTOGONAIS
Funções ortogonais:

Em várias áreas da matemática, uma função pode ser vista como uma
generalização do conceito de vetor.

Para compreender uma função ortogonal, vamos considerar dois


vetores ortogonais:
|𝒖 − 𝒗| 2 = ||𝒗||2 + |𝒖| 2

𝒖 − 𝒗 𝑇 (𝒖 − 𝒗) = 𝒗𝑇 𝒗 + 𝒖𝑇 𝒖
||𝒖 − 𝒗||
||𝒗||
𝒖𝑇 𝒖 − 𝒖𝑇 𝒗 − 𝒗𝑇 𝒖 + 𝒗𝑇 𝒗 = 𝒗𝑇 𝒗 + 𝒖𝑇 𝒖

2
|𝒂| = 𝒂𝑇 𝒂 ||𝒖|| −𝒖𝑇 𝒗 = 𝒗𝑇 𝒖 → 𝒖𝑇 𝒗 = 𝟎
FUNÇÕES ORTOGONAIS E SÉRIES ORTOGONAIS
Funções ortogonais:

Em outras palavras, dois vetores são ortogonais quando o


produto interno entre eles é nulo:
Propriedades do produto interno:
(𝒖, 𝒗) = 0
Sejam 𝑢 e 𝑣 dois vetores de ordem 𝑛:
(𝒖, 𝒗) = 𝑢1 𝑣1 + 𝑢2 𝑣2 + 𝑢3 𝑣3 + ⋯ + 𝑢𝑛 𝑣𝑛 = 0
𝒖, 𝒗 = 𝒗, 𝒖
𝑛

= ෍ 𝑢𝑘 𝑣𝑘 = 0 (𝑘 ⋅ 𝒖, 𝒗) = 𝑘(𝒖, 𝒗), onde 𝑘 é um número escalar


𝑘=1
𝒖, 𝒖 = 𝟎, se 𝒖 = 𝟎 e 𝒖, 𝒖 > 𝟎, se 𝒖 ≠ 𝟎

(𝒖 + 𝒗, 𝒘) = (𝒖, 𝒘)+(𝒗, 𝒘)
FUNÇÕES ORTOGONAIS E SÉRIES ORTOGONAIS
Funções ortogonais:

Esses conceitos e propriedades para produto interno de vetores pode


ser estendido para funções:

Assim:
𝑏
𝑓1 𝑥 , 𝑓2 𝑥 = න 𝑓1 𝑥 ⋅ 𝑓2 𝑥 𝑑𝑥
𝑎

Produto interno entre duas funções 𝑓1 𝑥 𝑒 𝑓2 (𝑥)


FUNÇÕES ORTOGONAIS E SÉRIES ORTOGONAIS
Funções ortogonais:

De forma similar ao conceito de vetor ortogonal, quando o produto


interno entre duas funções é nulo, dizemos que elas são ortogonais:

Assim:

𝑏
𝑓1 𝑥 , 𝑓2 𝑥 = න 𝑓1 𝑥 ⋅ 𝑓2 𝑥 𝑑𝑥 = 0
𝑎

𝑓1 𝑥 𝑒 𝑓2 𝑥 são ortogonais.
FUNÇÕES ORTOGONAIS E SÉRIES ORTOGONAIS
Funções ortogonais:

Exemplo:

Verificar que as funções 𝑓1 𝑥 = 𝑥 2 e 𝑓2 𝑥 = 𝑥 3 são ortogonais no


intervalo [-1,1]:

𝑏 1 1 6 1
𝑥 1 1
𝑓1 𝑥 , 𝑓2 𝑥 = න 𝑓1 𝑥 ⋅ 𝑓2 𝑥 𝑑𝑥 = න 𝑥 2 ⋅ 𝑥 3 𝑑𝑥 = න 𝑥 5 𝑑𝑥 = ቚ = − =0
𝑎 −1 −1 6 −1 6 6
FUNÇÕES ORTOGONAIS E SÉRIES ORTOGONAIS
Conjunto ortogonal:

Um conjunto de funções reais {𝑓1 𝑥 , 𝑓2 𝑥 , 𝑓3 𝑥 , … } é dito ortogonal


em um intervalo [𝑎, 𝑏] se:

𝑏
𝑓𝑚 𝑥 , 𝑓𝑛 𝑥 = න 𝑓𝑚 𝑥 ⋅ 𝑓𝑛 𝑥 𝑑𝑥 = 0 ,𝑚≠𝑛
𝑎
FUNÇÕES ORTOGONAIS E SÉRIES ORTOGONAIS
Conjunto ortonormal:

Se Ω = {𝑓1 𝑥 , 𝑓2 𝑥 , … , 𝑓𝑛 (𝑥)} for um conjunto ortogonal em [a,b] e


𝑓𝑖 𝑥 = 1, para 𝑖 = 1, 2, … , 𝑛; então o conjunto Ω é chamado de
conjunto ortonormal no intervalo [𝑎, 𝑏]

Qualquer conjunto ortogonal de funções não nulas


𝜔 ={𝑓1 𝑥 , 𝑓2 𝑥 , … , 𝑓𝑛 (𝑥)} pode ser normalizado, i.e., transformado
num conjunto ortonormal por meio da seguinte forma:

𝑓1 𝑥 𝑓2 𝑥 𝑓𝑛 𝑥
𝜔= , ,…,
𝑓1 𝑥 𝑓2 𝑥 𝑓𝑛 𝑥
FUNÇÕES ORTOGONAIS E SÉRIES ORTOGONAIS
Conjunto ortonormal:

A norma de um vetor 𝒂 é definida como:


2
|𝑎| = 𝑎𝑇 𝑎 → |𝑎| = 𝑎𝑇 𝑎

Norma do vetor a

Generalizando:
A norma de uma função 𝑓(𝑥) será definida como:

𝑏 𝑏
|𝑓(𝑥)| = 𝑓 𝑥 ,𝑓 𝑥 = න 𝑓( 𝑥) ⋅ 𝑓 𝑥 𝑑𝑥 = න 𝑓 2 ( 𝑥) 𝑑𝑥
𝑎 𝑎
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Conjunto ortonormal:

Ex.:

Mostrar que o conjunto Ω = { 1, 𝑐𝑜𝑠 𝑥 , cos 2𝑥 , cos 3𝑥 , … } é


ortogonal no intervalo [−𝜋, 𝜋].
𝑓0 𝑥 = 1

Solução: 𝑓1 𝑥 = 𝑐𝑜𝑠(𝑥)

Mostrar que Ω é um conjunto ortogonal significa dizer que 𝑓2 𝑥 = 𝑐𝑜𝑠(2𝑥)


𝑏
න 𝑓𝑚 𝑥 ⋅ 𝑓𝑛 𝑥 𝑑𝑥 = 0 , 𝑚 ≠ 𝑛 𝑓𝑛 𝑥 = 𝑐𝑜𝑠(𝑛𝑥)
𝑎

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Ex.:

Vamos partir inicialmente de:

𝜋 𝜋
𝑠𝑒𝑛 𝑚𝑥 𝜋 𝑠𝑒𝑛 𝑚𝜋 𝑠𝑒𝑛 −𝑚𝜋 𝜋
න 𝑓0 𝑥 ⋅ 𝑓𝑚 𝑥 𝑑𝑥 = න 1 ⋅ 𝑐𝑜𝑠 𝑚𝑥 𝑑𝑥 = ቚ = − 2
−𝜋 −𝜋 𝑚 −𝜋 𝑚 𝑚

sen
𝑛𝜋 cos 2n𝜋
1
= 𝑠𝑒𝑛 𝑚𝜋 − 𝑠𝑒𝑛 −𝑚𝜋 =0
𝑚
𝑛=1,2,3,...
0 3𝜋
0
2
𝜋
2
FUNÇÕES ORTOGONAIS E SÉRIES ORTOGONAIS

sen
𝑛𝜋 cos 2n𝜋

Ex.:
𝑛=1,2,3,...
3𝜋
Devemos demonstrar ainda que 2

𝜋 𝜋 1 𝜋
න 𝑓𝑚 𝑥 ⋅ 𝑓𝑛 𝑥 𝑑𝑥 = 0 → න 𝑐𝑜𝑠 𝑚𝑥 ⋅ 𝑐𝑜𝑠 𝑛𝑥 𝑑𝑥 = 0 න 𝑐𝑜𝑠 𝑚 + 𝑛 𝑥 + 𝑐𝑜𝑠 𝑚 − 𝑛 𝑥 𝑑𝑥 =
−𝜋 −𝜋 2 −𝜋
,𝑚≠𝑛
𝜋
1 𝑠𝑒𝑛 𝑚 + 𝑛 𝑥 𝑠𝑒𝑛 𝑚 − 𝑛 𝑥
+ = 0
2 𝑚+𝑛 𝑚−𝑛 −𝜋
cos(𝐴+𝐵)+cos(𝐴−𝐵)
cos 𝐴 cos 𝐵 =
2
0 0
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Séries ortogonais:
Considere três vetores ortogonais 𝒗1 , 𝒗2 e 𝒗3 no ℜ3 . Tal conjunto de
vetores ortogonais forma uma base no ℜ3 , i.e., qualquer outro vetor 𝒖
tridimensional pode ser escrito como uma combinação linear entre esses
três vetores 𝑣1 , 𝑣2 e 𝑣3 e, nesse caso:

𝒗3
𝒖
𝒖 = 𝑎1 ⋅ 𝒗1 + 𝑎2 ⋅ 𝒗2 + 𝑎3 ⋅ 𝒗3
𝒗1
Onde 𝑎𝑖 , 𝑖 = 1, 2, 3. é chamado de componente 𝑐𝑖 do vetor.

𝒗2
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Séries ortogonais:
Qualquer componente 𝑐𝑖 do vetor pode ser escrito em função de 𝒖 e do
vetor 𝒗𝑖 correspondente.

Para demostrar isso, vamos calcular o produto vetorial do vetor 𝒖 com o


vetor 𝒗1 , 𝑝𝑜𝑟 𝑒𝑥𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜: 𝒖

𝒖, 𝒗𝟏 = (𝑎1 ⋅ 𝒗1 + 𝑎2 ⋅ 𝒗2 + 𝑎3 ⋅ 𝒗3 , 𝑣1 )
0 0

𝒖, 𝒗𝟏 = 𝑎1 ⋅ (𝒗1, 𝑣1 ) + 𝑎2 ⋅ (𝒗2, 𝑣1 ) + 𝑎3 ⋅ (𝒗3, 𝑣1 )

𝒖, 𝒗𝟏 𝒖, 𝒗𝟏
𝒖, 𝒗𝟏 = 𝑎1 ⋅ (𝒗1, 𝑣1 ) → 𝑎1 = =
(𝒗1, 𝒗1 ) 2
𝒗1
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Séries ortogonais:
Da mesma forma:

𝒖, 𝒗𝟐 𝒖, 𝒗𝟐 𝒖, 𝒗𝟑 𝒖, 𝒗𝟑
𝑎2 = = 2 𝑎3 = = 2
(𝒗2, 𝑣2 ) 𝑣2 e (𝒗3, 𝑣3 ) 𝑣3

Generalizando para um vetor de ordem 𝑛:


𝑎1 𝑎2 𝑎3 𝑎𝑛
𝒖, 𝒗𝟏 𝒖, 𝒗𝟐 𝒖, 𝒗𝟑 𝒖, 𝒗𝒏
𝒖𝒏 = 2 ⋅ 𝒗1 + 2 ⋅ 𝒗2 + 2 ⋅ 𝒗3 + ⋯ + 2 ⋅ 𝑣𝑛
𝑣1 𝑣2 𝑣3 𝑣𝑛
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Séries ortogonais:

Considere um conjunto de funções {𝑓1 𝑥 , 𝑓2 𝑥 , … , 𝑓𝑛 𝑥 , …} como


sendo um conjunto ortogonal infinito de funções em um intervalo [𝑎, 𝑏]

Pergunta: Se 𝑔 𝑥 for uma função definida no intervalo [𝑎, 𝑏], podemos


representar 𝑔 𝑥 como uma combinação das funções ortogonais 𝑓(𝑥) por
meio da definição de seus coeficientes?

𝑔 𝑥 = 𝑐0 𝑓0 𝑥 + 𝑐1 𝑓1 𝑥 + 𝑐2 𝑓2 𝑥 + ⋯ + 𝑐𝑛 𝑓𝑛 𝑥 + ...
FUNÇÕES ORTOGONAIS E SÉRIES ORTOGONAIS
Séries ortogonais:
Solução:
Se fizermos o produto interno (𝑔 𝑥 , 𝑓𝑚 (𝑥)), teremos:
𝒈(𝒙)

𝑔 𝑥 , 𝑓𝑚 𝑥 = (𝑐0 𝑓0 𝑥 + 𝑐1 𝑓1 𝑥 + 𝑐2 𝑓2 𝑥 + ⋯ + 𝑐𝑛 𝑓𝑛 𝑥 + … , 𝑓𝑚 𝑥 )

𝑏 𝑏 𝑏 𝑏
= 𝑐0 න 𝑓0 𝑥 ⋅ 𝑓𝑚 𝑥 𝑑𝑥 + 𝑐1 න 𝑓1 𝑥 ⋅ 𝑓𝑚 𝑥 𝑑𝑥 + ⋯ + 𝑐𝑚 න 𝑓𝑚 𝑥 ⋅ 𝑓𝑚 𝑥 𝑑𝑥 + ⋯ + 𝑐𝑛 න 𝑓𝑛 𝑥 ⋅ 𝑓𝑚 𝑥 𝑑𝑥 + ⋯
𝑎 𝑎 𝑎 𝑎

0 0
0

𝑔 𝑥 , 𝑓𝑚 𝑥 𝑔 𝑥 , 𝑓𝑚 𝑥
𝑐𝑚 = = 2
(𝑓𝑚 𝑥 , 𝑓𝑚 𝑥 ) 𝑓𝑚 𝑥
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Séries ortogonais:
Expansão em séries ortogonais ou série
Dessa forma: de Fourier generalizada


∞ 𝑔 𝑥 , 𝑓𝑛 𝑥
𝑔 𝑥 =෍ 2 ⋅ 𝑓𝑛 𝑥
𝑔 𝑥 = ෍ 𝑐𝑛 ⋅ 𝑓𝑛 𝑥 𝑛=0 𝑓𝑛 𝑥
𝑛=0

𝑔 𝑥 , 𝑓𝑛 𝑥
𝑐𝑛 = 2 Onde:
𝑓𝑛 𝑥 𝑏
𝑔 𝑥 , 𝑓𝑛 𝑥 = න 𝑓𝑛 𝑥 ⋅ 𝑔 𝑥 𝑑𝑥
𝑎

𝑏
2
𝑓𝑛 𝑥 = න 𝑓𝑛2 𝑥 𝑑𝑥
𝑎

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