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Tiago Todescatto
Fundamentos básicos
da radioatividade
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Não tem como entender a radioatividade sem conhecer primeiro os
conceitos básicos sobre a estrutura da matéria, pois as radiações nuclea-
res vêm dos núcleos instáveis da menor partícula da matéria, o átomo.
A matéria é todo corpo que tem massa e ocupa espaço — o corpo
humano, o ferro, a terra, a pedra, a madeira, etc. Se colocarmos, por
exemplo, a água em um copo, logo notaremos o peso da água por causa
da sua massa e observaremos que a água ocupará um espaço dentro do
copo; portanto, podemos afirmar que água é matéria, pois tem massa e
ocupa espaço. O ar é outro exemplo de matéria: por mais leve que seja
o ar, quando você sopra e enche um balão de aniversário, logo nota sua
massa e o espaço preenchido no interior do balão.
Neste capítulo, você vai estudar as características dos átomos e quais
são os átomos radioativos. Também vai estudar o conceito de radio-
atividade e as suas aplicações na área médica, além de conhecer os
principais efeitos biológicos das radiações nucleares e como se proteger
adequadamente.
2 Fundamentos básicos da radioatividade
O final dos anos 1800 foi muito importante, pois, além dos raios X, também
foi descoberta a radioatividade. Os raios X descobertos por Röntgen foram o
resultado da fluorescência produzida pelos raios catódicos em um tubo de raios
catódicos. Antoine Henri Becquerel ouviu Henri Poincaré relatar a recente
descoberta de Röntgen e imaginou que a luminescência era uma condição
para a observação de raios X, e ele já havia estudado a fosforescência dos
compostos de urânio.
Uma diferença significativa entre essas duas descobertas é que os raios X
de Röntgen são produzidos artificialmente, e a radioatividade de Becquerel,
Marie Curie e Pierre Curie eram emitidas naturalmente. Pierre Curie e Marie
Curie mostraram que o tório também agia como o urânio descoberto por Bec-
querel, e, separando os submateriais (pechblenda) do urânio, eles descobriram
os elementos polônio e rádio.
Após essa descoberta incrível da radioatividade, Ernest Rutherford, acre-
ditando que a radiação emitida naturalmente pelos materiais radioativos
era semelhante aos raios X descobertos por Röntgen, começou a trabalhar
com os raios de urânio. Ele descobriu que, ao serem expostos a um campo
Fundamentos básicos da radioatividade 3
magnético, esses raios sofriam desvio na sua trajetória, ou seja, alguns raios
eram desviados para o lado positivo do campo magnético e outros raios eram
desviados para o lado negativo do campo magnético. A Figura 2 ilustra como
foi esse experimento de Rutherford.
Polo +
Radiações negativo (–)
emitidas
Anteparo para detecção
de radiação
Elétron negativo
+
Massa positiva
Kelvin considerou que o átomo era constituído por uma esfera, na qual
a massa e a carga são distribuídas uniformemente com elétrons incorpora-
dos, como um bolo recheado de ameixa, onde o bolo era a massa positiva
e as ameixas eram os elétrons. Nesse modelo, a radiação eletromagnética
seria emitida se forças externas causassem vibração nos elétrons do átomo.
Em 1903–1904, J.J. Thomson propôs uma modificação a essa ideia: os elétrons
se moviam em alta velocidade, em círculos concêntricos, em torno de uma
esfera de carga positiva contínua.
Em 1911, Rutherford postulou, por meio de experimentos, que a carga
positiva do átomo estava concentrada em um núcleo central muito menor
do que o próprio átomo, e que continha a maior parte da massa do átomo.
Os elétrons negativos estariam girando em torno do núcleo, como em um
sistema planetário. A quantidade de elétrons em órbita ao redor do núcleo deve
ser igual ao número cargas positivas dentro do núcleo atômico para garantir
a neutralidade elétrica. Como o elétron é a unidade fundamental de carga
negativa, Rutherford postulou que a unidade de carga positiva no núcleo é o
próton. Acompanhe o modelo atômico de Rutherford na Figura 4.
Fundamentos básicos da radioatividade 5
Elétron negativo
Núcleo positivo
Elétrons
Núcleo com K
prótons L
M
N
7 camadas
O
eletrônicas
P
Q
Nêutrons
Elétrons
Núcleo K
L
M
N
OP
7 camadas
Prótons Q eletrônicas
Átomo de carbono
6 nêutrons
6 prótons
7 nêutrons
6 prótons
Isótopos do carbono
8 nêutrons
6 prótons
Figura 7. Isótopos.
Mais de 3.000 nuclídeos são conhecidos, mas apenas cerca de 10% deles
são estáveis. O número total de prótons mais nêutrons é conhecido como
número de massa (A) de um nuclídeo, como ilustra a Figura 8.
Átomo (2He)
Nêutrons
Núcleo
Número de massa (A)
Prótons A=4
Elétron
Átomo
6 nêutrons Número
6 prótons
de massa (A) = 12
Número
6 nêutrons Número de de massa
7 prótons massa (A) = 13 diferente
6 nêutrons Número de
8 prótons massa (A) = 14
Figura 9. Isótonos.
Átomo
6 Nêutrons Número
5 Prótons de massa (A) = 11
Número Número
7 Nêutrons
4 Prótons de massa (A) = 11 de massa
iguais
5 Nêutrons Número
6 Prótons de massa (A) = 11
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12 Fundamentos básicos da radioatividade
Se pegarmos o elemento Cobalto 59, que tem o núcleo estável e não emite radiação,
e bombardearmos seu núcleo com um nêutron, o Cobalto 59 se transformará em
Cobalto 60. Esse Cobalto 60 estará com o núcleo instável e passará a emitir radiação
para buscar a sua estabilidade. O Cobalto 60 é um exemplo de radioatividade induzida
aplicada nos aparelhos de radioterapia para tratamento de tumores, como o câncer.
quíveis e mantendo a qualidade dos exames por imagem. Isso vale também
para as áreas de tratamento oncológico, na qual uma equipe multidisciplinar
avalia cada situação individualmente, calcula as menores doses e tenta, ao
máximo, proteger os tecidos sadios contra as radiações ionizantes aplicadas no
tratamento, pois, além de destruir células tumorais, essas radiações também
poderão destruir células normais, caso sejam expostas.
Os efeitos biológicos da radiação ionizante são divididos em determinísticos
e estocásticos. Os efeitos a uma exposição a altas doses de radiação, como as
pessoas expostas ao acidente nuclear de Chernobyl (1986) e ao Césio 137 em
Goiânia (1987), caracteriza efeitos determinísticos, que dependem diretamente
da exposição. Já os efeitos daquelas exposições a baixas doses de radiação,
como nos exames de radiografia, tomografia computadorizada e medicina
nuclear, e que podem se manifestar de forma imprevisível após meses ou anos,
caracterizam efeito estocástico. Como a probabilidade de ocorrência do efeito
estocástico é muito pequena, e os benefícios da radiação para diagnóstico
ou tratamento de um paciente superam essa desvantagem, são justificados e
sempre indicados os exames e tratamentos radiológicos pelos médicos.
Por menor que seja a dose e a exposição, sempre há riscos, por isso, deve-se evitar
repedir exames radiológicos com frequência, principalmente em crianças e jovens,
que são mais vulneráveis, assim como gestantes. Outros exames, como ultrassom e
ressonância magnética, não utilizam radiação ionizante nas suas aplicações, e podem
ser escolhidos antes da solicitação de um exame que utilize radiação ionizante.
Grandezas e unidades
Diversas formas de radiação ionizante são aplicadas na medicina para aquisição
de imagens radiológicas. Embora o risco seja baixo, é apropriado aplicar o
mínimo de dose de radiação possível durante os procedimentos radiológicos
e usar apenas radiação suficiente para produzir uma imagem de qualidade.
Além disso, alguns procedimentos de imagem médica expõem a própria equipe
à radiação, por isso, é necessário determinar sua exposição para que o risco
possa ser minimizado ao máximo e garantir a segurança dos profissionais.
Existem grandezas físicas que podem ser usadas para expressar a quanti-
dade de radiação fornecida ao corpo humano. Existem aquelas grandezas que
expressam a concentração da radiação em algum tecido ou órgão específico,
e também existem grandezas que expressam a radiação total entregue ao
corpo inteiro.
As grandezas dosimétricas são necessárias para estabelecer os princípios
e os sistemas de proteção radiológica, quantificando tanto a exposição interna
(fonte radioativa dentro do corpo) quanto a exposição externa (indivíduo
exposto à fonte de radiação fora do corpo) de seres humanos à radiação.
As grandezas físicas, grandezas de proteção e grandezas operacionais são as
principais categorias da física das radiações.
As grandezas dosimétricas foram introduzidas para estabelecer limites
de exposição à radiação no corpo humano. Também conhecidas como gran-
dezas de proteção, elas não podem ser medidas com equipamentos, por isso
foi necessário introduzir as grandezas operacionais para que se pudesse
fazer uma monitoração tanto individual quanto da área. Com isso, tornou-se
possível estimar o limite superior dos valores das grandezas de proteção no
corpo inteiro ou em tecidos e órgãos específicos, quando expostos à radiação
ionizante emitida de uma fonte externa. Quanto às grandezas físicas, abor-
daremos a exposição, a dose absorvida e o Kerma.
Para correlacionar os efeitos biológicos com as diversas radiações ioni-
zantes, foram estabelecidas as grandezas listadas a seguir.
Referência
Leituras recomendadas
ATKINS, P.; JONES, L. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio
ambiente. 7. ed. Porto Alegre: Bookman, 2018.
BIRENDRA, K. Tomografia por emissão de pósitrons: um guia para médicos. São Paulo:
Springer, 2014.
BROWN, M.; BROWN, L. Radiografia de Lavin para técnicos veterinários. 5. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2014.
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Thieme Revinter Publicações LTDA, 2017.
DRAKE, R. L.; VOGL, A. W. M.; MITCHELL, A. W. Gray’s anatomia básica. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2013.
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1996.
KNIGHT, R. D. Física: uma abordagem estratégica. Porto Alegre: Bookman, 2009. v. 3 e 4.
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