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Imaginologia

Tiago Todescatto
Fundamentos básicos
da radioatividade
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer o que é radioatividade e o que são elementos radioativos.


„„ Listar os elementos radioativos utilizados nas técnicas de imaginologia.
„„ Relacionar os conceitos de radioatividade com seu impacto biológico.

Introdução
Não tem como entender a radioatividade sem conhecer primeiro os
conceitos básicos sobre a estrutura da matéria, pois as radiações nuclea-
res vêm dos núcleos instáveis da menor partícula da matéria, o átomo.
A matéria é todo corpo que tem massa e ocupa espaço — o corpo
humano, o ferro, a terra, a pedra, a madeira, etc. Se colocarmos, por
exemplo, a água em um copo, logo notaremos o peso da água por causa
da sua massa e observaremos que a água ocupará um espaço dentro do
copo; portanto, podemos afirmar que água é matéria, pois tem massa e
ocupa espaço. O ar é outro exemplo de matéria: por mais leve que seja
o ar, quando você sopra e enche um balão de aniversário, logo nota sua
massa e o espaço preenchido no interior do balão.
Neste capítulo, você vai estudar as características dos átomos e quais
são os átomos radioativos. Também vai estudar o conceito de radio-
atividade e as suas aplicações na área médica, além de conhecer os
principais efeitos biológicos das radiações nucleares e como se proteger
adequadamente.
2 Fundamentos básicos da radioatividade

História da radioatividade e estrutura da


matéria
Em novembro de 1895, Wilhelm Conrad Röntgen descobriu um raio X. Nessa
época o átomo era conhecido como uma esfera maciça e indivisível, conforme
o modelo atômico de Dalton, visto na Figura 1.

Esfera maciça sem carga elétrica

Figura 1. Modelo atômico Dalton.

O final dos anos 1800 foi muito importante, pois, além dos raios X, também
foi descoberta a radioatividade. Os raios X descobertos por Röntgen foram o
resultado da fluorescência produzida pelos raios catódicos em um tubo de raios
catódicos. Antoine Henri Becquerel ouviu Henri Poincaré relatar a recente
descoberta de Röntgen e imaginou que a luminescência era uma condição
para a observação de raios X, e ele já havia estudado a fosforescência dos
compostos de urânio.
Uma diferença significativa entre essas duas descobertas é que os raios X
de Röntgen são produzidos artificialmente, e a radioatividade de Becquerel,
Marie Curie e Pierre Curie eram emitidas naturalmente. Pierre Curie e Marie
Curie mostraram que o tório também agia como o urânio descoberto por Bec-
querel, e, separando os submateriais (pechblenda) do urânio, eles descobriram
os elementos polônio e rádio.
Após essa descoberta incrível da radioatividade, Ernest Rutherford, acre-
ditando que a radiação emitida naturalmente pelos materiais radioativos
era semelhante aos raios X descobertos por Röntgen, começou a trabalhar
com os raios de urânio. Ele descobriu que, ao serem expostos a um campo
Fundamentos básicos da radioatividade 3

magnético, esses raios sofriam desvio na sua trajetória, ou seja, alguns raios
eram desviados para o lado positivo do campo magnético e outros raios eram
desviados para o lado negativo do campo magnético. A Figura 2 ilustra como
foi esse experimento de Rutherford.

Material Campo magnético


radioativo Polo –
positivo (+)

Polo +
Radiações negativo (–)
emitidas
Anteparo para detecção
de radiação

Figura 2. Experimento de Rutherford.

Por meio do experimento com fontes radioativas, Rutherford descobriu


que havia três tipos de radiação emitidos pelo material radioativo: alfa (α —
positiva), beta (β — negativa) e gama (γ — sem carga elétrica). Lembrando
que cargas elétricas opostas se atraem, a radiação alfa, positiva, sofreu desvio
para o polo negativo. O elétron, com carga elétrica negativa, sofreu desvio
para o polo positivo do campo magnético. Já a radiação gama, que não tem
carga elétrica, não sofreu desvio, seguindo em linha reta. Com a descoberta da
radiação alfa, Rutherford fez experimentos posteriores, usando as partículas
alfa para sondar a estrutura dos átomos. Com isso descobriu que o átomo tem
um núcleo positivo com elétrons negativos ao redor desse núcleo.
A descoberta da radioatividade foi muito importante para as teorias da
estrutura atômica. Um dos problemas associados à descoberta do elétron como
constituinte fundamental da matéria era como explicar a neutralidade elétrica
do átomo. Para explicar essa neutralidade elétrica, Lord Kelvin propôs, em
1902, uma configuração na qual as cargas negativas dos elétrons e as cargas
positivas dos átomos eram canceladas, feita a partir do modelo atômico de J.J.
Thomson, o “pudim de passas”, que você pode ver na Figura 3.
4 Fundamentos básicos da radioatividade

Elétron negativo

+
Massa positiva

Figura 3. Modelo atômico de J.J. Thomson.

Kelvin considerou que o átomo era constituído por uma esfera, na qual
a massa e a carga são distribuídas uniformemente com elétrons incorpora-
dos, como um bolo recheado de ameixa, onde o bolo era a massa positiva
e as ameixas eram os elétrons. Nesse modelo, a radiação eletromagnética
seria emitida se forças externas causassem vibração nos elétrons do átomo.
Em 1903–1904, J.J. Thomson propôs uma modificação a essa ideia: os elétrons
se moviam em alta velocidade, em círculos concêntricos, em torno de uma
esfera de carga positiva contínua.
Em 1911, Rutherford postulou, por meio de experimentos, que a carga
positiva do átomo estava concentrada em um núcleo central muito menor
do que o próprio átomo, e que continha a maior parte da massa do átomo.
Os elétrons negativos estariam girando em torno do núcleo, como em um
sistema planetário. A quantidade de elétrons em órbita ao redor do núcleo deve
ser igual ao número cargas positivas dentro do núcleo atômico para garantir
a neutralidade elétrica. Como o elétron é a unidade fundamental de carga
negativa, Rutherford postulou que a unidade de carga positiva no núcleo é o
próton. Acompanhe o modelo atômico de Rutherford na Figura 4.
Fundamentos básicos da radioatividade 5

Elétron negativo

Núcleo positivo

Figura 4. Modelo atômico de Rutherford.

No experimento em que descobriu o núcleo positivo e os elétrons ao redor


do núcleo atômico, Rutherford bombardeou folhas finas de ouro com partículas
alfa emitidas por polônio radioativo. Neste experimento foi observado que as
partículas alfa (positivas) passavam diretamente pela folha de ouro, mas outras
partículas eram desviadas da sua trajetória original. Rutherford logo pensou
que existia um núcleo positivo no centro do átomo que repelia as partículas
alfa, pois cargas elétricas iguais se repelem e opostas se atraem. Ao passarem
próximas ao núcleo positivo, essas partículas eram repelidas por causa da
igualdade de carga elétrica e desviadas da sua trajetória inicial.
Experimentos confirmaram as ideias de Rutherford, mostrando que os
átomos consistiam em núcleos carregados positivamente com diâmetro de
5 × 1015 m e que esses núcleos eram separados por distâncias de, aproxima-
damente, 1010 m. Verificaram também que o número de cargas unitárias no
núcleo era, aproximadamente, igual ao número atômico do átomo e cerca de
metade do seu peso atômico.
6 Fundamentos básicos da radioatividade

Embora esse processo tenha sido revolucionário, apresentava falhas. Por


exemplo, como os elétrons são mantidos no lugar fora do núcleo e como os
prótons podem ser mantidos juntos, tendo em vista as fortes forças repulsivas
das partículas de carga iguais (positivas)? Outra limitação do modelo era o
fato de ele não explicar os espectros de emissão de átomos, identificados pela
primeira vez por Gustav Kirchhoff e Robert Bunsen, que mostraram que as
linhas espectrais constituem uma impressão digital que pode ser usada para
identificar átomos.
As ideias de Rutherford eram, de fato inconciliáveis, com a teoria clássica
do eletromagnetismo. Novas ideias estavam surgindo a respeito da estrutura do
átomo nessa época. Em 1913, Niels Bohr desenvolveu um modelo baseado na
nova teoria “quântica” proposta por Max Planck para a radiação. Essas ideias
foram substanciadas ainda mais com a descoberta do efeito fotoelétrico por
Albert Einstein, em 1905. Em suas investigações sobre como os elétrons são
emitidos de placas de metal sob a ação da luz ultravioleta, Einstein mostrou que
a energia dos elétrons emitidos depende apenas da frequência da luz incidente,
e não da sua intensidade, como explicava a teoria clássica. Ele mostrou ainda
que a luz deve ser composta por fótons discretos, cada um com energia (hν).
Bohr então propôs que os átomos estão em estados estacionários e que
qualquer emissão de energia está associada a uma transição de um estado para
outro. Com essa ideia, Bohr resolveu a dificuldade das teorias clássicas, nas
quais os elétrons em órbita devem emitir radiação continuamente.
O modelo de Bohr pode ser resumido da seguinte forma:

„„ os elétrons orbitam em torno do núcleo em estados discretos de energia,


sem emitir radiação;
„„ quando um elétron salta de um estado de energia mais alta para um
estado de energia mais baixo, é emitida a radiação eletromagnética
proporcional à diferença de energia entre a transição de alta para baixa.
Fundamentos básicos da radioatividade 7

O modelo atômico de Bohr, apresentado na Figura 5, explica os espectros


atômicos de linhas nítidas que resultam, por exemplo, da excitação elétrica
de gases.

Elétrons

Núcleo com K
prótons L
M
N
7 camadas
O
eletrônicas
P
Q

Figura 5. Modelo atômico de Bohr.

Explicar como os prótons podem ser mantidos juntos dentro do núcleo do


átomo, tendo em vista as fortes forças repulsivas das partículas carregadas
positivamente, era uma das dificuldades de Rutherford. Essas dificuldades
foram resolvidas quando, em 1932, James Chadwick descobre o nêutron den-
tro do núcleo do átomo. Sua presença no núcleo explica a diferença entre os
números atômico e de massa e, mais importante ainda, explica que o nêutron
é responsável pela força coesa que mantém o núcleo unido. Essa força nuclear
é atraente e possui um alcance extremamente curto — cerca de 2–3 × 1015m.
8 Fundamentos básicos da radioatividade

Devido ao alcance muito curto da força nuclear, os nêutrons só podem


interagir com seus núcleos vizinhos mais próximos, em contraste com as
forças elétricas repulsivas de maior alcance dos prótons. A descoberta do
nêutron também explicou a existência de isótopos, descobertos em 1913 por
Frederick Soddy, para elementos radioativos. A Figura 6 mostra como ficou
o modelo atômico após a descoberta do nêutron.

Nêutrons

Elétrons

Núcleo K
L
M
N
OP
7 camadas
Prótons Q eletrônicas

Figura 6. Modelo atômico depois da descoberta do nêutron.

Classificação dos elementos


A tabela periódica é composta de 118 elementos químicos. Cada elemento
representa um tipo de átomo, contendo um número fixo de prótons no núcleo,
denotado pelo número atômico (Z), e um número igual de elétrons orbitais
para garantir a neutralidade elétrica. Além dos prótons, no núcleo contém um
número variável nêutrons (N) eletricamente neutros. Átomos de um mesmo
elemento com diferentes números de nêutrons, mas com número fixo de prótons
são conhecidos como isótopos. Z é o número atômico (número de prótons),
N é o número de nêutrons. Acompanhe a Figura 7.
Fundamentos básicos da radioatividade 9

Átomo de carbono

6 nêutrons
6 prótons

7 nêutrons
6 prótons

Isótopos do carbono

8 nêutrons
6 prótons

Figura 7. Isótopos.

Mais de 3.000 nuclídeos são conhecidos, mas apenas cerca de 10% deles
são estáveis. O número total de prótons mais nêutrons é conhecido como
número de massa (A) de um nuclídeo, como ilustra a Figura 8.

Átomo (2He)
Nêutrons
Núcleo
Número de massa (A)
Prótons A=4

Número atômico (Z)


A=2

Elétron

Figura 8. Número atômico e de massa.


10 Fundamentos básicos da radioatividade

Nuclídeos com número atômico (Z) e número de massa (A) diferentes e


mesma quantidade de nêutrons (N) são chamados isótonos, como mostrado
na Figura 9.

Átomo

6 nêutrons Número
6 prótons
de massa (A) = 12

Número
6 nêutrons Número de de massa
7 prótons massa (A) = 13 diferente

6 nêutrons Número de
8 prótons massa (A) = 14

Figura 9. Isótonos.

Nuclídeos com o mesmo número de massa (A) e diferente número atômico


(Z) são conhecidos como isóbaros, como mostrado na Figura 10.
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Átomo

6 Nêutrons Número
5 Prótons de massa (A) = 11

Número Número
7 Nêutrons
4 Prótons de massa (A) = 11 de massa
iguais

5 Nêutrons Número
6 Prótons de massa (A) = 11

Figura 10. Isóbaros.

Para reconhecer um tipo de elemento, basta identificar seu número atômico


Z e depois verificar o símbolo do elemento químico na tabela periódica,
que é representado por uma letra. Por exemplo, hidrogênio (1H), hélio (2He),
lítio (3Li), e assim sucessivamente.

Você sabia que a ONU elegeu 2019 como o Ano Interna-


cional da Tabela Periódica? Isso não é à toa — na tabela
periódica constam todos os elementos químicos conheci-
dos, e ela tem importância fundamental para a ciência. Se
quiser saber mais a esse respeito, leia o artigo disponível
no link a seguir.

https://qrgo.page.link/86HpX
12 Fundamentos básicos da radioatividade

Radioatividade: conceitos gerais


Radioatividade é o fenômeno ao qual um núcleo instável emite, espontanea-
mente, radiação ionizante, como partículas alfa e beta, e ondas eletromagnéticas
gama. Um núcleo instável que emite radiação é denominado de radionuclídeo,
elemento radioativo ou radioisótopo. A radioatividade poderá acontecer
naturalmente ou de maneira induzida.
Os materiais radioativos encontrados na natureza, por exemplo, têm núcleo
instável e emitem radiação por meio do seu decaimento. Ao decaírem e se
transformarem em outro elemento, esse outro elemento poderá ainda ter núcleo
instável, emitindo radiação, ou ficar com o núcleo estável e cessar a emissão
de radiação. O tório, o rádio e urânio são exemplos de elementos radioativos
naturais que decaem diversas vezes, emitindo radiação até se transformarem
em chumbo e cessarem a radioatividade.
Já a radioatividade induzida acontece quando o núcleo de átomos estáveis
são bombardeados com partículas subatômicas, como nêutrons, prótons e
partículas alfa, e isso acaba deixando o núcleo instável. Após a instabilidade
do núcleo, ele emitirá radiação para buscar sua estabilidade novamente, ou seja,
induzimos um núcleo estável a se tornar instável para emitir radioatividade.

Se pegarmos o elemento Cobalto 59, que tem o núcleo estável e não emite radiação,
e bombardearmos seu núcleo com um nêutron, o Cobalto 59 se transformará em
Cobalto 60. Esse Cobalto 60 estará com o núcleo instável e passará a emitir radiação
para buscar a sua estabilidade. O Cobalto 60 é um exemplo de radioatividade induzida
aplicada nos aparelhos de radioterapia para tratamento de tumores, como o câncer.

Todo material radioativo tem um tempo de meia-vida específico. Ele emitirá


100% da radiação no início, mas, ao passar o seu tempo de meia-vida, emitirá
apenas a metade, ou 50%, da sua intensidade máxima. O tempo de meia-vida
de um radionuclídeo poderá durar desde poucos segundos até milhares de anos.
Fundamentos básicos da radioatividade 13

O Césio 137, utilizado antigamente nos equipamentos de radioterapia, tem um tempo


de meia-vida de 30 anos. Já o Iodo 131, utilizado para tratamentos de tumores na
tireoide, tem um tempo de meia-vida de 8,02 dias.

A descoberta de que um núcleo estável (elemento não radioativo) poderia


ser bombardeado e se tornar em um núcleo instável (elemento radioativo),
emitindo radiações espontaneamente, foi de grande interesse para a medicina.
Logo foram criados diversos radionuclídeos artificiais em laboratórios (reato-
res nucleares, cíclotrons), com o objetivo tanto de aquisição de imagens para
diagnóstico em medicina nuclear quanto terapêutico em medicina nuclear ou
radioterapia, por isso são tão necessários na imaginologia.
Na tabela periódica, os elementos com número atômico (Z) igual ou maior
que 83 têm o seu núcleo instável e são radioativos — por exemplo, urânio
(Z = 92), tório (Z = 90), rádio (Z = 88), polônio (Z = 84) e bismuto (Z = 83).
O elemento com número atômico igual a 82 é o chumbo. Alguns radionuclídeos
com número atômico menor que 82 também são radioativos, como o Potássio
40 e o Carbono 14.

Efeitos biológicos da radioatividade


As radiações emitidas dos núcleos instáveis dos átomos no processo da radio-
atividade são ionizantes, ou seja, são capazes ionizar a matéria e causar danos
nos tecidos, células e DNA do indivíduo exposto. Os riscos são proporcionais
ao tempo de exposição: quanto maior a exposição, maiores são os riscos.
Portanto, todos os exames de imagem para diagnóstico devem ter solicitação
médica especificando o motivo pelo qual o exame está sendo requisitado.
É necessário justificar e assegurar que os benefícios sejam maiores do que os
malefícios causados pela exposição à radiação.
Além disso, é indispensável que todas as normas de segurança e regula-
mentações da Portaria da Secretaria de Vigilância Sanitária e do Ministério
da Saúde nº. 453, de 1º de junho de 1998, sejam seguidas. O profissional
responsável por produzir as imagens deve aplicar seus conhecimentos com
muito critério e responsabilidade, expondo o paciente a mínimas doses exe-
14 Fundamentos básicos da radioatividade

quíveis e mantendo a qualidade dos exames por imagem. Isso vale também
para as áreas de tratamento oncológico, na qual uma equipe multidisciplinar
avalia cada situação individualmente, calcula as menores doses e tenta, ao
máximo, proteger os tecidos sadios contra as radiações ionizantes aplicadas no
tratamento, pois, além de destruir células tumorais, essas radiações também
poderão destruir células normais, caso sejam expostas.
Os efeitos biológicos da radiação ionizante são divididos em determinísticos
e estocásticos. Os efeitos a uma exposição a altas doses de radiação, como as
pessoas expostas ao acidente nuclear de Chernobyl (1986) e ao Césio 137 em
Goiânia (1987), caracteriza efeitos determinísticos, que dependem diretamente
da exposição. Já os efeitos daquelas exposições a baixas doses de radiação,
como nos exames de radiografia, tomografia computadorizada e medicina
nuclear, e que podem se manifestar de forma imprevisível após meses ou anos,
caracterizam efeito estocástico. Como a probabilidade de ocorrência do efeito
estocástico é muito pequena, e os benefícios da radiação para diagnóstico
ou tratamento de um paciente superam essa desvantagem, são justificados e
sempre indicados os exames e tratamentos radiológicos pelos médicos.

Por menor que seja a dose e a exposição, sempre há riscos, por isso, deve-se evitar
repedir exames radiológicos com frequência, principalmente em crianças e jovens,
que são mais vulneráveis, assim como gestantes. Outros exames, como ultrassom e
ressonância magnética, não utilizam radiação ionizante nas suas aplicações, e podem
ser escolhidos antes da solicitação de um exame que utilize radiação ionizante.

Para evitar os riscos e se proteger das radiações, tanto os profissionais


que manipulam as fontes radioativas quanto os pacientes que são expostos à
radioatividade em algum procedimento médico devem utilizar as vestimentas
de proteção radiológica, que geralmente são feitas de chumbo, para evitar a
exposição direta às radiações ionizantes.
Fundamentos básicos da radioatividade 15

Grandezas e unidades
Diversas formas de radiação ionizante são aplicadas na medicina para aquisição
de imagens radiológicas. Embora o risco seja baixo, é apropriado aplicar o
mínimo de dose de radiação possível durante os procedimentos radiológicos
e usar apenas radiação suficiente para produzir uma imagem de qualidade.
Além disso, alguns procedimentos de imagem médica expõem a própria equipe
à radiação, por isso, é necessário determinar sua exposição para que o risco
possa ser minimizado ao máximo e garantir a segurança dos profissionais.
Existem grandezas físicas que podem ser usadas para expressar a quanti-
dade de radiação fornecida ao corpo humano. Existem aquelas grandezas que
expressam a concentração da radiação em algum tecido ou órgão específico,
e também existem grandezas que expressam a radiação total entregue ao
corpo inteiro.
As grandezas dosimétricas são necessárias para estabelecer os princípios
e os sistemas de proteção radiológica, quantificando tanto a exposição interna
(fonte radioativa dentro do corpo) quanto a exposição externa (indivíduo
exposto à fonte de radiação fora do corpo) de seres humanos à radiação.
As grandezas físicas, grandezas de proteção e grandezas operacionais são as
principais categorias da física das radiações.
As grandezas dosimétricas foram introduzidas para estabelecer limites
de exposição à radiação no corpo humano. Também conhecidas como gran-
dezas de proteção, elas não podem ser medidas com equipamentos, por isso
foi necessário introduzir as grandezas operacionais para que se pudesse
fazer uma monitoração tanto individual quanto da área. Com isso, tornou-se
possível estimar o limite superior dos valores das grandezas de proteção no
corpo inteiro ou em tecidos e órgãos específicos, quando expostos à radiação
ionizante emitida de uma fonte externa. Quanto às grandezas físicas, abor-
daremos a exposição, a dose absorvida e o Kerma.
Para correlacionar os efeitos biológicos com as diversas radiações ioni-
zantes, foram estabelecidas as grandezas listadas a seguir.

„„ Atividade: velocidade com que as substâncias que emitem radiações


espontaneamente se desintegram. Mensura a quantidade de radiação
emitida por uma fonte por unidade de tempo. Não se pode adivinhar
o momento exato em que um núcleo instável irá emitir radiação, esse
fenômeno acontece de maneira imprevista.
16 Fundamentos básicos da radioatividade

„„ Exposição: primeira grandeza relacionada à radiação, criada em 1928.


É aplicada apenas aos raios X e gama que interagem no ar, ou seja,
mede a capacidade dos fótons de raios X ou gama de ionizarem o ar,
medindo a quantidade de cargas elétricas de mesmo sinal no ar por
unidade de massa.
„„ Dose absorvida: esta é a grandeza mais importante na radiobiologia,
na radioproteção e na radiologia, pois as doses de radiação absorvidas
pelos tecidos, órgãos e corpo inteiro estão diretamente relacionadas aos
danos biológicos. É definida como energia média de radiação depositada
em um volume de massa. A unidade de medida utilizada nesta grandeza
era o rad e, atualmente, é o gray (Gy), seguindo a unidade estabelecida
pelo sistema internacional (SI). Esta é uma grandeza que vale para
qualquer tipo de radiação, qualquer meio e qualquer área irradiada.
„„ Dose equivalente: a dose equivalente nos tecidos ou órgãos está incluída
nas grandezas de proteção, e a dose efetiva é utilizada para limitar a
dose tanto no corpo inteiro quanto nos tecidos e órgãos específicos.
A dose equivalente é aplicada a qualquer tipo de radiação, e pode ocorrer
no tecido ou órgão (por exemplo, cristalino, pele, mãos, pés). A unidade
de medida atual para a dose equivalente é sievert (Sv); antigamente
era o rem.
„„ Kerma: é a soma de todas as energias cinéticas depositada por uni-
dade de massa, e tem a mesma unidade de medida da dose absorvida,
o gray (Gy). Esta é a grandeza da área do radiodiagnóstico, geralmente
utilizada para calibrar os instrumentos.
„„ Equivalente de dose: é uma grandeza operacional para monitoramento
individual de exposições externas de radiação, ou seja, o indivíduo fica
exposto a uma radiação que está vindo de fora (meio externo) para dentro
(corpo). A unidade de medida para a equivalência de dose pessoal é o
sievert (Sv). O valor de equivalência de dose pessoal é obtido por meio
de um monitor individual, que geralmente é colocado na altura do tórax
do indivíduo exposto à radiação.
„„ Dose efetiva: a fim de limitar a ocorrência de efeitos biológicos heredi-
tários e cancerígenos, foram estabelecidos limites de exposição do corpo
inteiro à radiação, e a grandeza responsável por isso é a dose efetiva.
Esta dose se refere à soma das doses absorvidas pelos tecidos e órgãos
(dose equivalente) multiplicada pelo fator de ponderação (Wt) do tecido
ou órgão exposto. A unidade de medida é o Sievert (Sv). A indução de
câncer, os efeitos hereditários e a sensibilidade de determinado tecido
ou órgão são relacionados ao fator de ponderação do tecido ou órgão
Fundamentos básicos da radioatividade 17

exposto à radiação. Por exemplo, as gônadas têm Wt de 0,08; medula


vermelha, Wt 0,12; pulmão, Wt 0,12; mama, Wt 0,12; bexiga urinária,
Wt 0,04; pele e cérebro, Wt 0,01. Os valores de fator de ponderação
utilizados nos exemplos são da ICRP-103 (ICRP, 2007).

Referência

ICRP. The 2007 Recommendations of the International Commission on Radiological


Protection. ICRP Publication, 103, Ann. ICRP 37, 2007.

Leituras recomendadas
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BIRENDRA, K. Tomografia por emissão de pósitrons: um guia para médicos. São Paulo:
Springer, 2014.
BROWN, M.; BROWN, L. Radiografia de Lavin para técnicos veterinários. 5. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2014.
CARNEVALE, F. C. Tratado de radiologia intervencionista e cirurgia endovascular. São Paulo:
Thieme Revinter Publicações LTDA, 2017.
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