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A identificação de novos planetas fora do sistema solar é uma das fronteiras mais
fascinantes da ciência neste final de milênio. Vários deles foram observados nos
últimos anos, mas até agora nenhum revelou características semelhantes às da
Terra, que pudessem abrigar formas de vida. Isso não significa que não existam.
"Nossos aparelhos não têm a capacidade de detectar planetas tão pequenos, mas é
bastante provável que eles existam em vários outros sistemas planetários", afirma o
astrônomo Peter Nisenson, do Centro de Astrofísica da Universidade Harvard. É
difícil imaginar que a Via Láctea, com um número estimado de 200 bilhões de
estrelas, seja apenas um deserto cósmico, no qual a humanidade vive em abissal
solidão. "A descoberta dos novos planetas levanta sérias questões a respeito de
nosso lugar no universo", observa o astrônomo Marcy.
É difícil imaginar alguma novidade que pudesse ter tantas conseqüências na história
humana quanto a eventual descoberta de vida em outros planetas. A presunção de
que a Terra era o centro do universo foi, durante milênios, o pilar de inúmeras
religiões e correntes filosóficas. Imagine o impacto que uma descoberta dessa
natureza teria, por exemplo, no judaísmo e no cristianismo. Durante milhares de
anos, essas duas religiões ensinaram que os seres humanos foram criados à
imagem e semelhança de Deus e por Ele escolhidos como filhos preferenciais. Na
doutrina cristã, a escolha divina foi levada ao extremo: para resgatar a humanidade
do pecado, Cristo, o próprio filho de Deus, tornou-se ser humano e foi sacrificado na
cruz. O que aconteceria se, de repente, os cientistas anunciassem que há centenas
ou milhares de outros planetas habitados por seres tão ou mais evoluídos que os
humanos? Que papel teriam essas criaturas na doutrina cristã? Também elas teriam
direito ao livre-arbítrio, à possibilidade de pecar e ser redimidas pela graça divina?
Ou seriam apenas um subproduto da criação, na qual só os humanos manteriam o
privilégio de espécie favorita?
Além dos limites - Depois disso, durante cerca de sessenta anos, os astrônomos
caçadores de planetas se envolveram numa incansável busca por novas técnicas
que lhes permitissem enxergar além dos limites do universo visível a olho nu.
"Detectar planetas fora do sistema solar é um trabalho muito difícil, já que eles
apenas refletem a luz de suas estrelas", explica o astrônomo Marcy. A radiação
emitida por eles é muito tênue, impossível de ser captada pelos telescópios
terrestres. Para driblar essa dificuldade, os pesquisadores desenvolveram um
sistema que mede a oscilação no movimento da estrela, provocada pela presença de
um planeta nas vizinhanças. Ou seja, tudo que os astrônomos conseguem é inferir a
presença do planeta, sem observá-lo diretamente. É por esse motivo que os atuais
aparelhos só detectam os planetas de grande massa, do tamanho de Júpiter. Eles
são os únicos capazes de provocar oscilações no movimento das estrelas
perceptíveis a uma distância tão grande. Desde 1995, já foram identificados dezoito
planetas assim.
A dúvida a respeito da vida fora da Terra é tão antiga quanto a própria espécie
humana. Há milhares de anos, pensadores, teólogos e cientistas se vêem às voltas
com as mesmas perguntas. Em alguma outra parte do universo a vida inteligente
floresceu como na Terra? Que aparência teriam esses seres? Em que estágio de
evolução estariam hoje? Que tipo de pergunta fariam a respeito da própria
existência? Também eles, como os humanos, se julgariam o centro e a razão de ser
do universo? Essas perguntas fazem parte das questões filosóficas essenciais, que
dizem respeito à origem do universo e aos motivos pelos quais estamos aqui. A
descoberta anunciada na semana passada está longe de responder a elas. Mas é
um passo importante nessa direção.