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O ROBÔ TERRÍVEL
Autor
H..G. EWERS
Tradução
RICHARD PAUL NETO
Digitalização e Revisão
ARLINDO_SAN
O veículo usado por Perry Rhodan, durante a expedição de
Andrômeda, para avançar na área diretamente sob o domínio
dos misteriosos senhores da galáxia, é a Crest III.
Trata-se de um veículo espacial esférico, que é a nova
nave-capitânia do Império Solar. A Crest III tem 2.500 metros
de diâmetro e é tripulada por 5.000 terranos pertencentes à elite
astronáutica terrana. O armamento ofensivo e defensivo da nave
representam o máximo da técnica — mas nem por isso foi
possível impedir que a nave gigantesca tivesse de enfrentar
problemas...
Os calendários terranos registram os últimos dias do mês
de março de 2.404. A Crest já penetrou na área proibida de
Andrômeda e teve alguns encontros com as espaçonaves dos
guardiões do centro.
No curso dos combates os terranos conseguem aprisionar
um cruzador tefrodense chamado Askaha. Perry Rhodan vê
nisso sua grande chance de descobrir mais alguma coisa a
respeito dos guardiões do centro e dos donos de Andrômeda.
Abandona a Crest e sobe a bordo da nave-patrulha, pois
pretende levá-la ao estaleiro do engenheiro cósmico, onde será
submetida a um exame mais demorado.
Mas o colecionador de destroços impede que ele faça isso
— e O Robô Terrível se vê obrigado a lutar contra outras
criaturas de sua espécie, para salvar Perry Rhodan...
O robô psi fizera um salto às cegas. Quando rematerializou, viu-se à frente de uma
enorme escotilha, na qual dois robôs de guerra tefrodenses mantinham guarda.
Log ficou imóvel.
Seu cérebro registrou o fato de que as células oculares vermelho-brilhantes das
máquinas estavam dirigidas para ele. Mas os quatro braços armados continuaram
abaixados. Os robôs pareciam indecisos quanto à reação que deviam esboçar diante do
anão metálico que acabara de aparecer à sua frente. Ao que parecia, este acontecimento
não fora registrado em seus esquemas de ação.
Log não captou nenhum impulso com o qual os robôs pudessem ter informado seu
centro de comando sobre o misterioso acontecimento. Resolveu aproveitar a chance.
Aproximou-se cuidadosamente. Conseguiu aproximar-se a cerca de três metros das
máquinas.
Neste momento cada um dos robôs levantou um dos seus braços armados. Log viu
as aberturas dos canos de dois desintegradores ativados. Pensou em usar a telecinesia
para pôr os robôs fora de ação, mas chegou à conclusão de que não devia fazer isso. O
centro de computação positrônica de Terminal já fora posto em alarme por causa da
conversa que tivera com o robô executivo. Se além disso dois robôs vigilantes ficassem
fora de ação, o centro saberia onde ele se encontrava, Log resolveu blefar.
— Sou inspetor dos senhores da galáxia! — transmitiu com pouca intensidade. —
Vocês têm de me deixar passar.
— Não existem informações sobre o comportamento que devemos adotar diante de
um inspetor dos senhores da galáxia.
— É claro que não — confirmou Log. — Acontece que os inspetores estão acima
de todos os robôs dos tefrodenses. Vocês não têm o direito de exigir que lhes
apresentemos uma senha. Somos seus senhores, da mesma forma que os senhores da
galáxia são os senhores dos tefrodenses.
— Se você estiver acima de nós — respondeu o robô — então deve ser mais
poderoso. Mostre seu poder.
Era o que Log queria. Usou a telecinesia para dobrar os braços armados dos
vigilantes, fazendo com que as armas apontassem para os lados.
— Pronto! Vocês estão indefesos. Estão satisfeitos com a prova do meu poder? Ou
querem que eu os destrua?
— Basta — resolveu um dos robôs. — Pode passar.
Log quase não conseguiu acreditar no que acabara de ouvir, mas um ligeiro exame
do setor lógico do robô mostrou que ele não planejara nenhuma armadilha.
O pequeno robô psi tentou pisar bem firme, para dar também uma demonstração
acústica de seu poder. Os dois lados da escotilha abriram-se automaticamente à sua
frente.
Log entrou numa sala circular, que tinha cerca de cem metros de diâmetro por dez
de altura. Parou espantado.
A sala devia ter mais ou menos dez vezes o tamanho que ele acreditara no início.
Aquilo que parecera ser uma parede maciça na verdade era uma prateleira de quatro
andares.
Pelos cálculos de Log, devia haver pelo menos vinte mil robôs de guerra guardados
nas prateleiras, que avançavam profundamente para dentro das paredes.
As máquinas tinham sido desativadas. Só irradiavam uma débil energia, necessária
à sua manutenção.
Log refletiu.
Quem sabe se não seria possível modificar a programação dos robôs tefrodenses e
usá-los contra seus donos? Com este exército talvez pudesse libertar a Askaha.
O robô psi chegou à conclusão de que isso não seria nada fácil. Primeiro, até mesmo
um ser como ele levaria algumas horas para inverter a programação dos robôs de guerra.
Mesmo depois disso, as máquinas teriam de entrar em ação na superfície de Terminal. E
para isso seria necessário levá-las para lá.
De repente sobressaltou-se. O ar tremeu a seu lado, e uma figura pequena foi saindo
do turbilhão violento. Era Gucky, o rato-castor!
— Meus cumprimentos, anão! — piou Gucky. — Este comilão ertrusiano me
ofendeu tanto que resolvi teleportar ao acaso. Saí no meio de uma companhia de robôs de
guerra em marcha. Ensinei-os a voar. De repente meu rádio de pulso emitiu o sinal de
chamada. Testemunhei uma autêntica vigarice. Meus parabéns, Lucky!
— Captou meus impulsos com seu rádio de pulso? — perguntou Log, assustado. —
Neste caso eles também devem ter sido captados por mais alguém. Quem sabe se o centro
de computação não os recebeu?
— Você se esquece de que além de oficial de patente especial do Império sou um
especialista da USO, Lucky! Dez anos de estudo e treinamento fizeram de mim um
verdadeiro gênio entre os agentes secretos e especialistas da USO. É claro que cheguei a
captar suas freqüências de transmissão em Runaway. Sabia como regular meu rádio de
pulso. Então, cabeça de bola. Que tal?
— Estou abalado — confessou Log. — Acho que qualquer um que convive com os
terranos transforma-se num gênio — deu uma risadinha. — Psicologicamente vocês se
parecem com os seres que me construíram. Até parece que aprenderam com vocês.
— Os seres que construíram você? — perguntou o rato-castor, apressado. — Quem
são eles?
Log fez um gesto de pouco-caso.
— Não importa. Faz séculos que desapareceram. É melhor conversarmos sobre o
que devemos fazer com estes robôs de guerra desativados.
— Quer que eu os ensine a voar...? — perguntou Gucky.
Log deu outra risadinha.
— Até parece que é a única coisa que você sabe fazer. Desculpe. Já ia me
esquecendo que você é um especialista da USO.
— Ainda bem que se lembrou.
Gucky sentou em posição de sentido, apoiando-se como de costume na cauda larga.
Lançou um olhar pensativo para a falange de máquinas de guerra.
— Que tal — principiou — se mudássemos parte de sua programação e em seguida
os ativássemos? Talvez nem soubessem mais contra quem lutar e atirassem em qualquer
coisa que se atravessasse em seu caminho. Nós nos divertiríamos a valer.
— Você é mesmo um gênio — reconheceu Log. — Acho que andei subestimando
você e seus companheiros. Nunca teria pensado nisso. Antes de você aparecer, pensava
em reprogramar totalmente os robôs e levá-los à superfície.
— Vamos começar! — disse Gucky, apressado. — Estou captando os pensamentos
de Marshall. Atlan apareceu por aqui, mas o transmissor não funciona. Há um
transmissor potente no interior de Terminal, que está emitindo fortes interferências.
— Acha que pode ajudar-me na reprogramação dos robôs? — perguntou Log.
— Tolice! — indignou-se o rato-castor. — O plano é meu, quem vai executá-lo é
você. É o que se chama de divisão do trabalho. Acho que o melhor seria bloquear
somente o contato da programação amigo-inimigo. Com isso os robôs serão atacados por
uma espécie de esquizofrenia — Gucky deu uma risada estridente. — Já fizemos coisa
parecida há quatrocentos anos, no planeta de Goszul. Os saltadores viram-se em palpos
de aranha.
— Mais tarde você vai contar tudo — disse Log. — Cuidado! Vou começar.
Log dirigiu-se ao centro do recinto circular e ficou parado.
Enquanto isso, Gucky saltitava para junto da chave de ativação e pôs-se a examinar
as luzes de controle coloridas. Depois voltou a prestar atenção aos impulsos mentais que
ia captando.
Os quatro cruzadores de patrulhamento dos tefrodenses também atacavam a
Askaha.
Cobriu os olhos com as mãos quando sua mente captou um impulso mental que lhe
comunicou que o raio energético disparado por um dos canhões das naves atacantes
atravessara a sala de comando do cruzador apresado, matando dois rádio-operadores.
— Depressa, Log! — cochichou.
***
Durante alguns minutos Perry Rhodan só viu diante dos olhos a escuridão completa
interrompida por alguns círculos vermelhos.
O impacto direto do tiro disparado pelo cruzador de patrulhamento tefrodense
atravessara a sala de comando da Askaha. O ar superaquecido fazia doer os pulmões ao
respirar. Alguém gemeu baixinho.
Perry saiu de baixo dos destroços de sua poltrona anatômica e ficou de quatro,
tateando, em direção ao lugar em que vira o modular pela última vez. Seus dedos tocaram
num corpo imóvel.
Nervoso, o Administrador-Geral apalpou o rosto da pessoa deitada. Sentiu a boca
larga, o lábio inferior saliente e a cabeça calva e compreendeu que se tratava de Baar
Lun.
Além disso sentiu o sangue tépido que grudou em seus dedos.
Chegou mais perto e suspirou aliviado quando ouviu a respiração regular de Lun.
Dali a pouco seus dedos tocaram na ferida que atravessava o lado esquerdo da face
do modular. Não encontrou outro ferimento.
Perry Rhodan continuou rastejando.
Ouviu alguma coisa rumorejar na sala de comando. Destroços foram empurrados, e
os passos fortes de alguém doíam em seu ouvido. Devia ser o halutense cuidando das
vítimas.
Dali a pouco o Administrador-Geral ouviu a voz calma de Tolot.
— Os dois rádio-operadores morreram, senhor. Os outros só sofreram ferimentos
leves, mas foram cegados por algum tempo pela luz forte.
Dali a pouco Perry voltou a enxergar um pouco. No início só via os contornos
confusos dos aparelhos, destroços e homens, mas não demorou a ver os detalhes.
Tiveram uma sorte incrível.
O tiro energético atravessara a sala de comando, sem que sua energia se
descarregasse em seu interior. Se não fosse assim, não haveria mais ninguém vivo por ali.
Baar Lun ainda demorou um minuto para abrir os olhos. Levantou, ajudado por
Rhodan, e apalpou a ferida aberta.
— Poderia ter sido pior — constatou. — Onde está Gucky?
— Isso mesmo. Onde está o rato-castor? — perguntou Rhodan.
Fechou o capacete pressurizado e pôs-se a chamar Gucky pelo telecomunicador. O
rato-castor não respondeu. Perry lembrou-se de que Gucky ficara tão aborrecido com
uma observação grosseira de Kasom que resolvera teleportar-se para longe. Depois disso
não fora visto mais.
— Se alguém descobrir o rato-castor, quero que me avise imediatamente pelo rádio-
capacete! — disse Rhodan.
Mas nem com isto o misterioso desaparecimento de Gucky se esclareceu.
— Gucky e Log são grandes amigos — lembrou Lun. — Será que ele saltou para
onde estava o anão?
Rhodan confirmou com um gesto.
— Naturalmente. Resta saber onde está Log.
— Em algum lugar, no interior de Terminal — respondeu o modular. — Permita
que eu saia, senhor. Tentarei localizar os dois.
— Não é...
Houve um terrível abalo, que sacudiu a Askaha. No mesmo instante o ruído
crepitante de uma descarga energética veio pelo orifício de penetração do tiro. Em
seguida houve outro abalo violento.
O cruzador tombou para trás, bateu no chão com a protuberância equatorial e voltou
a erguer-se tão depressa como tinha caído.
— São bombas! — disse John Marshall. — As naves de patrulhamento estão
lançando bombas sobre nós.
Um sol ultrabrilhante surgiu em cima da Askaha. Dali a instantes as erupções da
esfera gasosa chicoteavam o revestimento do piso. O casco do cruzador ficou
incandescente. Os tripulantes que ainda não o tinham feito fecharam os capacetes
pressurizados.
— Evacuar posições de artilharia que estão em perigo! — ordenou Rhodan pelo
rádio-capacete.
Sabia que ninguém agüentaria ficar na periferia da espaçonave, nem mesmo com o
traje espacial fechado.
Dez quilômetros a bombordo um fantasma de fogo cruzou o céu. O impacto foi tão
violento que a Askaha deu um salto enorme.
Apesar disso os terranos levantaram os braços e irromperam em júbilo. Um inferno
como este só poderia ter sido desencadeado pela Crest!
Uma bola de fogo surgiu no lugar em que a nave-patrulha tinha caído. Um
cogumelo atômico subiu numa velocidade alucinante, mas em seguida foi espalhado por
uma segunda explosão.
A terceira nave-patrulha acabara de ser destruída.
O Administrador-Geral não pôde impedir que os homens que participavam do
comando suicida corressem de volta aos postos de artilharia e voltassem a dirigir um fogo
fulminante contra os robôs que se aproximavam da nave.
A quarta bola de fogo formou-se no firmamento — e em seguida mais uma. Outras
vinte nuvens formadas por explosões foram crescendo uma após a outra. A estibordo
duas naves esféricas incendiadas desceram que nem meteoros e foram atingir o chão bem
longe dali.
Depois ficou tudo em silêncio.
Mas bem ao longe, no espaço interplanetário, apareciam séries enormes de pontos
luminosos ofuscantes. Foram-se afastando cada vez mais, e acabaram por desaparecer de
vez.
Até mesmo o ultracouraçado Crest III não teria a menor chance contra uma frota de
gigantes espaciais, uma vez passado o fator surpresa.
Os ocupantes da Askaha reconheceram que dependeriam exclusivamente de seus
próprios recursos — até o fim amargo.
***
Gucky e Log desmaterializaram assim que os primeiros raios energéticos passaram
por perto.
Os espíritos que eles mesmos tinham despertado guiavam-se exclusivamente pelo
comando de extermínio introduzido em sua programação. Por pouco o rato-castor e o
robô psi não foram as primeiras vítimas.
Pararam na primeira curva do corredor e viram os robôs de guerra tefrodenses
recém-ativados saírem do depósito. Os dois robôs vigilantes foram destruídos. A
explosão de seus reatores fez desabar o teto numa extensão de cinqüenta metros.
Os vinte mil robôs de guerra levaram menos de cinco minutos para remover o
obstáculo.
Gucky e Log tiveram de teleportar mais uma vez. No lugar em que tinham estado
instantes antes formou-se uma cratera de metal plastificado liquefeito.
Foram fugindo, salto após salto, dos robôs que corriam que nem uns alucinados
pelos corredores, destruindo tudo que se mexesse. Os centros de comando e as usinas
geradoras secundárias foram transformados em infernos de fogo. Os robôs trabalhadores
transformavam-se em blocos de metal fundido ou nuvens de destroços suspensas no ar.
Mas o centro de computação positrônica do planeta-estaleiro não demorou a entrar
em ação. Aquilo que Log já vira repetiu-se — mas em escala muito maior.
O repertório de medidas defensivas de que dispunha o centro de computação de
Terminal era muito maior do que Gucky e Log poderiam ter imaginado.
Houve várias descargas nucleares, que provocaram um tremendo furacão. O
exército de vinte mil robôs foi destruído numa questão de segundos.
O atentado contra a segurança interna do estaleiro fracassara.
Gucky e Log nem pensaram em usar a telecinesia para combater os robôs de guerra
que apareciam em toda parte. Sabiam que era exatamente o que o centro de computação
positrônica esperava. No momento em que acontecesse alguma coisa que revelasse a
posição dos intrusos, haveria algumas descargas que matariam tudo que houvesse nesse
setor.
Nem mesmo suas parafaculdades poderiam livrá-los dos efeitos dessa diabólica
arma defensiva.
Finalmente os dois seres foram parar num depósito vazio, onde puderam descansar
alguns minutos. Prestaram atenção aos impulsos mentais vindos da Askaha e ficaram
sabendo que Atlan tentara em vão libertar os ocupantes do cruzador tefrodense. A mente
de John Marshall transmitiu a informação de que outras naves de patrulhamento
tefrodenses acabavam de aparecer. Os robôs já não tentavam tomar a nave de assalto. Por
isso era de esperar que houvesse um ataque concentrado de espaçonaves.
— É o fim! — disse Gucky com um gemido.
— Não! — exclamou Log. — Podemos arriscar mais uma tentativa. Mas se esta
falhar também...
Não chegou a completar a frase, e nem seria necessário. O rato-castor sabia o que
Log queria dizer. Prestou atenção à exposição do robô. O mutante e especialista da USO
reconheceu perfeitamente os riscos mortais que o plano envolvia. Havia uma chance de
cem contra um de que os dois iriam morrer.
Mas não tinham mais nada a perder.
A maior parte do trabalho ficaria por conta de Log, mas Gucky cuidaria da parte
mais difícil. Isso era inevitável, pois Log era o único que sabia o que tinha de ser feito,
pois só ele sabia qual era o calcanhar de Aquiles do planeta-estaleiro.
Gravou cuidadosamente as palavras de Log. Em seguida, cada uma das criaturas
seguiu seu caminho.
O rato-castor materializou num centro de comando secundário das amplas
instalações automáticas. Sacara a arma energética antes de dar início à teleportação. Não
perdeu tempo. Ficou atirando a esmo contra o quadro de comando. O revestimento de
metal plastificado despedaçou-se e o vento escaldante produzido por uma série de
explosões violentas encheu a pequena sala. Alguns robôs de guerra entraram correndo,
mas Gucky já tinha desaparecido.
Voltou a materializar num depósito repleto de robôs de trabalho desativados. Atirou
no acionador automático e mal conseguiu escapar dos tiros de seis robôs de guerra cuja
presença não notara.
A teleportação seguinte levou-o a outro centro de comando. Mas desta vez o rato-
castor não chegou a atirar. Viu em tempo a cilada que lhe tinham armado. Havia dez
robôs de guerra dispostos lado a lado à frente do painel. Abriram fogo assim que Gucky
rematerializou. O rato-castor só escapou porque não rematerializou no chão, mas bem
embaixo do teto.
Dali em diante teria de pensar e agir mais depressa que o centro de computação
positrônica de Terminal. Sabia que todos os setores do estaleiro tinham sido protegidos
contra a ação dos teleportadores.
Mas ainda havia uma chance muito pequena. Talvez o centro de computação se
julgasse superior a ponto de nem guarnecer seu interior com robôs de guerra.
As esperanças de Gucky neste sentido se concretizaram.
Foi parar num recinto semi-esférico de cerca de três metros de diâmetro. Pôs à
mostra o dente roedor solitário, num sorriso largo.
Mas alegrou-se antes da hora.
O centro de computação positrônica sentira-se superior, porque realmente o era.
O rato-castor sentiu um paracampo estranho envolver seu cérebro que nem uma
argola de aço. Quis teleportar-se para fora da armadilha, mas não conseguiu. Sua
capacidade de teleportação fora paralisada.
Gucky ouviu um zumbido vindo não se sabia de onde. Até parecia que a gigantesca
máquina de pensar quisesse escarnecer do prisioneiro.
Gucky lembrou-se de Log, que naquele instante ou dentro de mais um segundo
entraria na sala do computador positrônico executivo. Se Gucky não cumprisse sua parte
do plano, Log estaria perdido.
Sem muita esperança, recorreu aos seus fluxos mentais telecinéticos. Teve de agir
às cegas. Era uma ação praticamente condenada ao fracasso para quem não conhecia o
ponto de atuação da telecinesia com a precisão de um milímetro.
O rato-castor sabia disso, mas contava com um acaso feliz. Seus fluxos telecinéticos
foram atingindo ao acaso os circuitos positrônicos, lutavam contra a resistência que
encontravam e procuravam causar o maior dano possível.
Gucky não quis acreditar quando ouviu o ruído de descarga que anunciou o colapso
de alguns campos energéticos. O centro de computação positrônica certamente contara
com a presença de um teleportador, mas não de um telecineta.
Mais uma vez o rato-castor alegrou-se antes da hora.
Ainda não tinham passado trinta segundos quando seus parafluxos da quinta
dimensão foram bater numa muralha invisível. Gucky estava completamente indefeso.
Nunca mais escaparia da prisão, a não ser que acontecesse um milagre.
***
Atlan estava furioso.
Disse que ele e Perry Rhodan eram idiotas, que tinham feito das suas até que
encontrassem alguém capaz de enfrentá-los.
A última tentativa de forçar a passagem fora cuidadosamente planejada. Durante o
contato de hiper-rádio com a Askaha, os técnicos da Crest III conseguiram determinar a
posição de Rhodan com uma precisão de cinqüenta mil quilômetros. Era quanto bastava
para que, diante dos dados escassos de que dispunham sobre o Sistema dos Destroços,
chegassem à conclusão de que a Askaha só podia estar no quinto planeta.
Em virtude disso a Crest III entrara no semi-espaço e aproximara-se a cem mil
quilômetros do quinto planeta. Assim que saiu do espaço linear, teve de travar combate
com quatro cruzadores pesados da frota de vigilância tefrodense.
Durante menos de um minuto teve-se a impressão de que o golpe audacioso seria
bem-sucedido. Os canhões conversores não podiam ser usados nas imediações do
planeta, mas apesar disso os homens da Crest III conseguiram derrubar três dos quatro
cruzadores tefrodenses.
Depois disso o ultracouraçado quase chegou a ser destruído. As frotas tefrodenses
avançaram em alta velocidade em direção à Crest III e usaram de forma implacável seus
canhões de polarização invertida.
O campo defensivo hiperenergético da nave estava para entrar em colapso, quando
Atlan deu ordem de retirada.
— Que loucura! — exclamou o arcônida. — Estamos enfrentando um inimigo que é
esperto e valente demais. Não sabia que existem combatentes como estes além dos
terranos. E além de tudo possuem uma superioridade assustadora. O avanço para
Andrômeda não foi preparado como deveria ter sido.
— O senhor acha que deveríamos ter elaborado um plano de dez mil anos, como
fizeram os maahks? — perguntou o Coronel Rudo com a voz calma.
Atlan deixou-se cair na poltrona anatômica. Fez um gesto de resignação.
— Entramos num beco sem saída, Cart. É claro que o senhor tem toda razão em não
concordar com um preparo de dez mil anos. Mas por outro lado não se pode conquistar
uma galáxia com uma única nave e um punhado de homens.
— Só viemos para sondar o terreno, senhor. Reginald Bell está deslocando a frota
invasora propriamente dita. O senhor certamente não ignora que desde o início os
terranos estavam em minoria. Acontece que fomos obrigados a entrar nesta luta. Se não
fossem as ações isoladas realizadas por Perry Rhodan, a esta hora a Via Láctea já teria
sido inundada pelos povos auxiliares dos senhores da galáxia.
— Para mim isso não é novidade — respondeu Atlan em voz baixa.
Apoiou a cabeça nas mãos e olhou com uma expressão vazia para a tela frontal.
Durante dez minutos reinou um silêncio quase completo na sala de comando do
maior couraçado que já tinha cruzado a primeira e a segunda galáxia.
Finalmente o arcônida levantou. Parecia antes uma estátua. Demonstrava estar
longe dali quando começou a falar.
— Vamos tentar de novo, Cart. Entre no espaço linear e aproxime a Crest III a dez
milhões de quilômetros do quinto planeta.
— A dez milhões de quilômetros? — perguntou o Coronel Rudo em tom de
incredulidade. — Os tefrodenses devem estar concentrados em torno do planeta, senhor.
A uma distância destas nunca conseguiremos passar.
Um sorriso cansado apareceu no rosto de Atlan.
— O senhor não deixou que eu terminasse, Cart — respondeu em tom delicado. —
Retomaremos ao espaço normal quando estivermos a dez milhões de quilômetros do
planeta. É claro que numa questão de segundos entraremos no fogo concentrado das
naves tefrodenses. Mande disparar algumas salvas das baterias de costado, Cart. Em
seguida fugiremos, para voltar ao semi-espaço quando estivermos na periferia do sistema.
Seu sorriso congelou, transformando-se numa máscara impenetrável.
— Espero, que desta forma afastemos pelo menos metade das naves tefrodenses do
planeta cinco — prosseguiu em tom áspero. — Assim que tivermos entrado no espaço
linear, voltaremos. Quero que a Crest volte ao universo einsteiniano a poucos quilômetros
do quinto planeta. Entendido?
— Perfeitamente, senhor! — respondeu o epsalense.
***
Log materializou no recinto alongado em que estava instalado o computador
executivo.
No mesmo instante desabou sobre ele a trovoada mortífera das descargas
energéticas que conhecia tão bem.
Log teve de dar um salto para o paraespaço, onde estava salvo. Conseguiu uma
coisa de que nenhum ser orgânico seria capaz: rematerializar no paraespaço.
A consciência do robô anão despertou no meio de uma névoa vermelha. Tentou
orientar-se na massa luminosa confusa. Quinze minutos se passaram. Log só conseguiu
uma coisa: captar as radiações difusas da sexta dimensão de um computador que
funcionava na quinta dimensão.
Pôs-se a refletir sobre o que deveria fazer. No paraespaço não se via absolutamente
nada do computador executivo propriamente dito. E Log nem poderia ter esperado outra
coisa. Seu plano baseava-se quase exclusivamente na intuição de cada momento.
Conhecia o ponto vulnerável do computador executivo — mas não sabia como chegar a
ele.
O chiado ininterrupto dos campos energéticos difusos da sexta dimensão deixou-o
irritado. Tentou afastar o ruído do consciente, mas ele se tornava cada vez mais forte.
Finalmente teve uma idéia!
Que tal se tentasse irradiar seus próprios paraimpulsos na sexta dimensão, fazendo-
os seguir a trajetória dos impulsos emitidos pela máquina, da frente para trás? Log
concentrou-se.
Não era nada fácil descobrir o ponto de origem das radiações da sexta dimensão,
situado na quarta dimensão, em meio a um paraconjunto instável. Constantemente
surgiam campos de interferência estranhos, que funcionavam como muralhas que o
separassem do destino, atraindo as antenas mentais do robô psi para pistas falsas. As
imagens confusas de recintos quase irreconhecíveis iam passando que nem os desenhos
de um caleidoscópio.
Quando Log pensou que estivesse perto do alvo, uma parede muito forte formada
por radiações da quinta dimensão fechou-lhe o caminho. Era uma para-armadilha! Mas
ela não se destinava a Log!
O robô reforçou seus paraimpulsos da sexta dimensão e suspendeu de vez as
transmissões na quinta dimensão. A para-armadilha paralisaria os dons especiais de
qualquer mutante orgânico e o manteria preso.
Acontece que Log não era um mutante orgânico. Era uma máquina inteligente, que
tinha sido construída para certo fim, fora dotada de uma consciência e há vários séculos
dependia exclusivamente de seus próprios recursos. Podia ser comparado com os pos-bis,
os membros de uma raça de robôs independentes sediada na primeira galáxia, que se
aliara aos terranos. Mas havia uma diferença. Os pos-bis não possuíam nenhuma
paracapacidade.
O robô psi rompeu a parede da para-armadilha e penetrou no plano existencial da
quarta dimensão do planeta-estaleiro Terminal — e do computador executivo.
Encontrou o comando capaz de desativar instantaneamente todas as medidas
defensivas de Terminal — mas não pôde fazer nada com ele. O plano em que se
encontrava estava tão distante do plano de Terminal que seria impossível fazer agir sua
energia telecinética por cima do abismo da quinta dimensão.
Assim não era possível
Em compensação Log descobriu outra coisa. As descargas energéticas tinham
parado.
“Isto é perfeitamente lógico”, pensou. O centro de computação positrônica
certamente observara sua teleportação e só podia pensar que não se encontrava mais no
mesmo lugar do espaço de quatro dimensões. A máquina não podia saber que certos
teleportadores eram capazes de permanecer no mesmo lugar da quarta dimensão,
enquanto no paraespaço da sexta dimensão uma eternidade os separava desse lugar.
Todas estas reflexões só consumiram uma fração de segundo. Um cérebro
positrônico com a densidade do de Log era capaz de realizar cerca de cem mil operações
diferentes num segundo.
Por isso entrou em ação praticamente no mesmo instante em que constatou a
ausência das descargas mortíferas.
Retornou à quinta dimensão, usou trinta por cento de sua paraenegia telecinética —
e no mesmo instante desapareceu no paraespaço da sexta dimensão, juntamente com o
computador executivo...
***
Os tripulantes da Askaha podiam dar-se por felizes, pois as naves-patrulha
tefrodenses ainda faziam tudo para proteger seu planeta-estaleiro. Só usavam bombas
atômicas de 0,1 a 0,3 megatons de potência no bombardeio do cruzador apresado.
Mas era o suficiente para transformar num inferno a nave que já não era protegida
por qualquer campo defensivo.
Perry Rhodan reconheceu que tinham perdido o momento adequado para forçar a
saída. Ninguém mais sairia vivo da nave. As minúsculas bombas-foguete dos tefrodenses
aproximavam-se em alta velocidade, envolvendo a Askaha numa série de esferas de fogo
com até cinqüenta metros de diâmetro. Os conveses superiores, até as imediações da
protuberância equatorial, pareciam antes um campo de batalha em chamas. Se os terranos
pudessem ver a nave do lado de fora, certamente chegariam à conclusão de que fora
dividida pela metade.
Era somente uma questão de tempo, e a fúria destrutiva atingiria também a parte
inferior da Askaha.
Mas talvez ainda tivessem uma chance.
Grupos de barcos espaciais elípticos desciam a dez quilômetros de distância. Caíam
do céu que nem um enxame de vespas.
Eram tropas de desembarque!
Provavelmente os tefrodenses só queriam enfraquecer os intrusos com o
bombardeio. Rhodan e Tolot imaginavam perfeitamente que os tefrodenses dariam muito
para pegá-los vivos. Deviam estar ansiosos para descobrir quem eram o seres que tinham
sido capazes de conquistar um dos seus cruzadores mantendo-o praticamente intacto.
O Administrador-Geral deu ordem para que os homens que guarneciam as poucas
posições de artilharia ainda intactas suspendessem provisoriamente o fogo. Depois disso
reuniu todos os homens que podiam ser dispensados no hangar de naves auxiliares em
cujo interior fora instalado o transmissor que acabara por tornar-se inútil.
— Não poderemos resistir por muito tempo — disse aos homens reunidos. — Mas
parece que as naves-patrulha não querem destruir-nos. Só pretendem abalar nosso moral.
— Eles ainda não nos conhecem, Chefe! — disse um dos homens pertencentes ao
comando de abordagem.
Perry olhou demoradamente para o homem que acabara de dizer estas palavras. Era
um sargento rechonchudo, de face vermelha e olhos verdes, com cabelos curtos e ruivos.
Rhodan teve de sorrir.
— Realmente, eles ainda não nos conhecem, sargento. — Voltou a dirigir-se a todos
os homens reunidos: — Mandei suspender o fogo para levar o inimigo a acreditar que
estamos maduros. As tropas de desembarque certamente darão início ao assalto assim que
as naves-patrulha suspendam o bombardeio. Os artilheiros deixarão que cheguem a cem
metros e abrirão fogo de repente. As tropas inimigas certamente ficarão confusas e se
dispersarão. Será a hora de iniciarmos o contra-ataque, durante o qual tentaremos abrir
caminho para uma das entradas de Terminal. Não posso dizer o que virá depois.
— Por que convocou a reunião para cá, senhor? — perguntou o sargento ruivo. —
Será que nos compartimentos inferiores não estaríamos mais protegidos contra o
bombardeio?
— O senhor se esquece de que o bombardeio certamente cessará daqui a pouco,
sargento — respondeu Perry em tom amável. — Estamos aqui porque não podemos
excluir a possibilidade de o transmissor voltar a funcionar. Entendido?
— Sim senhor.
John Marshall levantou o braço.
Neste momento o bombardeio diminuiu e dentro de instantes parou de vez. Rhodan
abriu o capacete. Sentiu-se aliviado. Os homens seguiram seu exemplo.
— Sim, John!
O chefe do Exército de Mutantes, que ocupava o posto de general, parecia
relativamente disposto. Mas havia uma expressão indefinível em seus olhos profundos,
que parecia revelar um medo contido.
— O que é feito de Gucky, senhor? O rato-castor ainda não apareceu. Não podemos
abandoná-lo.
Perry prestou atenção às mensagens dos postos de artilharia, transmitidas pelo
telecomunicador, segundo as quais as tropas de desembarque começavam a movimentar-
se. Fez um gesto para o telepata.
— Eu não disse que vamos abandonar Gucky. É claro que alguns homens ficarão
aqui, à espera do rato-castor, mesmo que o transmissor volte a funcionar. Eu por
exemplo.
— Eu também fico, senhor — exclamou Marshall. Tolot e Melbar Kasom, Baar
Lun, Noir e Goratchim ofereceram-se no mesmo instante, além de alguns homens do
comando de abordagem, entre eles o sargento ruivo e obeso.
Perry Rhodan fez um gesto de recusa.
— Ao que parece, ninguém poderá passar pelo transmissor. Mas se conseguirmos
avançar até o interior de Terminal teremos uma chance de descobrir o rato-castor. Acho
que deve estar por lá. Há vinte minutos John Marshall teve contato com ele. Infelizmente
Gucky não disse quais eram suas intenções. Ficou fazendo segredo e o contato logo foi
interrompido.
Kasom quis dizer alguma coisa, mas nem mesmo sua voz potente foi capaz de
superar o rugido infernal de oito canhões energéticos disparando ao mesmo tempo.
— Abrir eclusa! — ordenou o Administrador-Geral.
Dobrou o capacete para a frente e fechou-o. Em seguida pegou sua pesada arma
energética e caminhou com passos ágeis em direção à eclusa.
As duas escotilhas deslizaram silenciosamente para o lado.
Perry viu imediatamente que a salva demorada dizimara as tropas de desembarque
tefrodenses e lançara a confusão entre os homens que ainda restavam. Certamente não
esperavam que ainda houvesse resistência.
Perry fez um sinal para que os homens se aproximassem e ligou seu gerador
antigravitacional. — Atenção...!
“Vamos sair” — quis acrescentar, mas neste instante houve um lampejo no
horizonte. Uma fileira de pontos incandescentes surgiu de repente.
No mesmo instante os homens que se encontravam no hangar perderam o apoio dos
pés.
Houve um estrondo ensurdecedor. Uma salva disparada por dezenas de canhões
energéticos atingiu a parte inferior da Askaha.
O Administrador-Geral voltou a pôr-se de pé. O cruzador espacial estava adernado.
Perry Rhodan olhou para a eclusa aberta e assustou-se.
Normalmente o hangar de naves auxiliares ficava uns cem metros acima da calota
polar inferior, mas no momento a distância estava reduzida a dez metros. A Askaha
praticamente deixara de existir, com exceção do setor central, situado em torno da
protuberância equatorial.
Todas as posições de artilharia tinham sido destruídas. Mas o Administrador-Geral
viu mais uma coisa: a próxima onda das tropas de desembarque. Sua vista turvou-se por
um instante. Mas logo dirigiu-se aos seus subordinados.
— Não adianta mais tentar abrir passagem — disse. — Ficaremos aqui mesmo. Pelo
menos não podemos ser mortos que nem lebres.
Virou-se abruptamente, com o rosto tenso, pois a luz bruxuleante que surgira no
interior do hangar mostrava que houvera uma tremenda descarga energética do lado de
fora.
Mas desta vez não era um bombardeio. Os barcos tefrodenses que tinham trazido as
tropas de desembarque acabavam de ativar seus jatopropulsores e decolavam com uma
pressa difícil de explicar.
Dali a instantes um gigantesco fantasma verde-brilhante desceu do céu, fez uma
curva e preparou-se para pousar.
O ruído ensurdecedor dos jatos levou algum tempo para atingir os homens.
“É a Crest”, ainda chegou a pensar Perry. Em seguida milhares de raios energéticos
subiram ao céu e envolveram o ultracouraçado. Os tefrodenses sem dúvida haviam tirado
suas lições do primeiro ataque do gigante espacial e fizeram sair seus fortes.
O campo defensivo hiperenergético da Crest III resistiu facilmente às energias
tremendas das armas energéticas e desintegradores convencionais. Mas o impacto
tremendo atirou a nave esférica para fora da rota como se fosse uma bola.
A Crest III errou o local de pouso, voltou a sair para o espaço e fez mais uma
tentativa de pousar.
De repente Terminal ficou envolto num campo energético cintilante.
O comandante conseguiu fazer subir o ultracouraçado literalmente no último
instante.
Lã fora no espaço, detonaram as primeiras gigabombas disparadas pelas naves
tefrodenses...
Perry sentiu-se deprimido quando se deu conta de que o campo defensivo azulado
de Terminal certamente pertencia à quarta dimensão. Deixaria passar livremente os
impulsos de irradiação do transmissor — se não fosse o campo de interferência...
Os homens que se encontravam atrás dele começaram a gritar. Rhodan levou algum
tempo para compreender o que tinha acontecido. Pensou que seus nervos se tivessem
descontrolado, voltou a cabeça — e teve uma grande surpresa.
O arco do transmissor brilhava.
— O campo de interferência não existe mais! — gritou Kalak com a voz áspera.
Nos minutos que se seguiram Perry agia como se estivesse num transe. Deu ordem
para que Melbar Kasom preparasse o mecanismo-relógio da bomba atômica previamente
preparada.
Depois mandou que os homens do comando de abordagem atravessassem em
grupos o transmissor, cuja luz verde se acendera.
No fim só restaram os mutantes, Melbar Kasom, Baar Lun e o próprio Rhodan.
“E Gucky!”, pensou Rhodan, amargurado. Acontecia que ninguém sabia se o rato-
castor ainda estava vivo.
— Marshall, Kasom, Goratchim, Noir, Lun! — disse Perry com a voz apagada. —
Passem pelo transmissor. Tolot e eu atravessaremos as linhas das tropas inimigas e
tentaremos localizar o rato-castor.
Melbar Kasom resmungou alguma coisa, mas Rhodan não admitia que ninguém o
contradissesse. John Marshall compreendeu a atitude do Chefe. Só mesmo alguém que
Tolot pudesse carregar nas costas teria alguma chance de passar pelas linhas inimigas.
— Muito bem, Tolot! — disse o Administrador-Geral num suspiro, quando se
viram a sós no cruzador destroçado. — Vamos tentar a sorte.
Quando ia subir nas costas do halutense, o ar brilhou bem à sua frente. O rato-castor
apareceu e gritou com a voz estridente:
— Atlan manda dizer que atravessem logo o transmissor, seus idiotas. Será que
ainda não sabem que ele está lá para isso?
O Administrador-Geral cambaleou. Simplesmente não conseguia compreender que
Gucky tinha aparecido.
— Quem manda dizer isso? — perguntou, perplexo. — Atlan? Onde é que você
estava?
O rato-castor soltou um assobio agudo, usando o dente roedor. Apontou para cima.
— Estive na Crest. Onde mais poderia ter estado? Vamos logo! Atlan não
conseguira agüentar sua posição por muito tempo.
Ainda meio atordoado, Perry Rhodan saiu caminhando em direção ao arco do
transmissor, que continuava iluminado. Mas fez questão de ser o último homem a sair da
Askaha.
Os gritos dos tefrodenses que tomavam a nave de assalto ainda ressoavam em seus
ouvidos, quando saiu do terminal receptor instalado na sala de comando da Crest. Teve
de pensar na bomba guardada no hangar das naves auxiliares, cujo detonador fora ligado.
Tolot regulara o mecanismo-relógio para apenas trinta segundos.
Levantou o rosto e viu à sua frente os olhos gelados do arcônida.
— Os terranos nunca aprendem a não meter o nariz em certas coisas que lhes
podem custar muito mais que o nariz — disse o arcônida, fazendo um gesto irônico. —
Isso não pode acabar bem.
***
Dali a seis horas.
A Crest III fugia, e a fuga parecia não ter fim.
Perry Rhodan acabara de dormir algumas horas. Já esquecera as canseiras de sua
última aventura. As batidas vivificadoras do regenerador de células se faziam sentir em
seu peito, regenerando rapidamente suas energias físicas e psíquicas.
O Administrador-Geral acabara de participar de uma conferência toda especial.
Ficara sentado uma hora e meia no centro de computação positrônica do ultracouraçado,
interpretando juntamente com os lógicos e o matemático-chefe os resultados da operação
realizada com a Askaha.
As máquinas e os homens concordavam em que os tefrodenses representavam um
sistema defensivo muito eficiente, criado pelos senhores da galáxia.
Os tefrodenses eram capazes de construir quase instantaneamente os chamados
transmissores situacionais em qualquer ponto que pudesse tornar-se perigoso. O centro de
computação positrônica chegou à conclusão de que havia um processo latente da
engenharia solar, que juntamente com algumas naves especiais promovia a ativação do
processo solar.
Já se sabia como a gigantesca frota tefrodense pudera chegar ao local pouco depois
do momento em que os maahks tinham aparecido.
Uma vez concluída a interpretação dos dados, Perry ficou calado. Parecia pensativo.
Os tefrodenses igualavam-se aos humanos não somente no físico. Possuíam o mesmo
espírito combativo, a mesma técnica que os homens, e agiam com a mesma inteligência e
astúcia dos terranos.
Atlan e o Administrador-Geral chegaram a um acordo quanto ao nome que seria
dado ao sistema formado pelo sol geminado vermelho. Seria o Sistema dos Destroços. O
nome Redeye foi riscado do catálogo.
Os astrônomos da Crest apuraram que o Sistema dos Destroços ficava a uns mil
anos-luz da periferia, no interior da área proibida do centro de Andrômeda. Ficava mais
ou menos em linha reta entre KA-barato, o Sistema de Atrum e o núcleo central
propriamente dito.
Perry Rhodan ainda não sabia se devia permanecer com a Crest III no interior da
zona central, ou se seria preferível voltar para KA-barato.
Nos próximos dias conversaria sobre isso com os oficiais mais importantes e os
lógicos.
Naquele momento dirigia-se ao camarote de Tolot. O alojamento do halutense
ficava no chamado convés dos chefes, onde também estava situado seu próprio camarote.
Sorriu sem querer ao ver que a porta do camarote estava apenas encostada. Teve de
lembrar-se de uma coisa engraçada que acontecera a bordo da Askaha, quando esta ainda
se encontrava no planetóide Runaway.
Infelizmente o rato-castor nunca mais poderia praticar a arte poética juntamente
com Lucky Log, pois o robô psi desaparecera em Terminal. Pelo que dizia Gucky, Log
provavelmente fora destruído quando tentava desligar o campo de interferência que
impedia o funcionamento do transmissor.
Perry nunca mais se esqueceria do robô anão. Este ser mecânico, cujo
comportamento se assemelhava tanto ao dos humanos, salvara-o juntamente com os
melhores montantes do Império Solar — e se sacrificara.
No mesmo instante Rhodan estremeceu e ficou pálido que nem cera. O suor pingou
de sua testa e os dentes batiam como se Rhodan estivesse com febre.
Perry não acreditava em fantasmas. Mas não se podia negar que a voz saída do
camarote de Gucky só podia ser de um fantasma.
— Um portal chamejante abre-se à frente de Atrum. Nossa nave-capitânia avança
em direção ao transmissor...
A voz fina de Gucky prosseguiu:
— O Sistema dos Destroços treme e ribomba Transformado em pudim pelo Lucky...
Em seguida notou-se perfeitamente uma tonalidade característica na voz de Log.
— Gucky, o herói radiante Transforma-o em purê de cenouras...
O rato-castor soltou um grito de entusiasmo. O riso fino de Log se fez ouvir.
Perry Rhodan abriu abruptamente a porta do camarote — e respirou profundamente.
Os dois seres — o rato-castor natural do planeta Vagabundo e o robô psi de
Runaway estavam sentados no sofá, de braços dados, entoando uma canção terrana dos
tempos áureos dos grandes navegadores da Cristandade.
De repente Rhodan não se sentiu capaz de fazer perguntas ao anão robô, que devia
ser invulnerável. Deixou isso para outra oportunidade e fechou discretamente a porta do
lado do corredor.
***
**
*
Ainda não foi possível resolver o mistério dos
senhores de Andrômeda e de seu povo auxiliar, os
tefrodenses, cuja aparência e comportamento tanto os
assemelham aos humanos.
A Crest III escapou das naves que a perseguiam.
Mas os cavalgadores de ondas de Atlan descobrem uma
pista que indica que os senhores da galáxia já conhecem
o planeta Terra...
Leia a história no próximo volume da série Perry
Rhodan, intitulado Os Fantasmas do Passado.