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Capitulo 11

Como a Aparência Pode Enganar Até Os Mais Hábeis


Observadores ou Como Nasce Uma Lenda
Ao aparecerem desta vez eles se encontravam numa bonita clareira,
um lugar praticamente cercado de arvores, com uma área central que
lembrava muito um local destinado a realização de piqueniques, porém
rustico, com troncos de madeira nos lugares onde estaria, as mesas e
cadeiras e duas trilhas em lados opostos, um lugar muito tranquilo se
considerarmos os últimos lugares onde vinham aparecendo, parecia ser a
calmaria entre muitas guerras.
- Hummm, estranho, de acordo com nossos registradores não
estamos mais na época Arthuriana, este é o ano de 1376, apesar de ainda
estarmos na Inglaterra – a princípio Melanie não viu qualquer sentido
naquilo, teria aquela que ela acreditava ser sua primeira missão, se
concluído sem nenhuma explicação de como a história do rei Arthur se
tornou uma lenda?
- Porque isso pode ter acontecido? – perguntou ela imaginando que
eles deveriam seguir uma linha reta passando pelos eventos de maneira
linear e os analisando.
- Queridinha – começou a Rainha de Copas, o que fez Melanie não
gostar nada do que estava por vir e ela nem sabia o que era.
– Deve ser apenas uma parada intermediaria entre janelas olhe o
cronometro devemos ter pouquíssimo tempo aqui... – sendo interrompida
pelo Valete de Copas de modo nada gentil.
- Não é bem assim – começou a reexplicar o Valete de Copas apenas
para que Melanie lhe acenasse em sinal de que já havia entendido, pois
pensando com calma na explicação que o professor Maximus lhe dera
sobre como as janelas eram criadas parecia logicamente impossível que
todos os momentos necessários para uma viagem longa numa determinada
época se juntassem perfeitamente, parecia que em algum instante seria
necessário fazer ajustes para que elas se sincronizassem e pelo que ela via
tudo indicava que esse era o momento.
- Ficaremos aqui por dois dias – observou Melanie deixando de lado
a razão pelo qual estariam ali.
- Acho que não! – disse uma voz que vinha do meio da floresta.
– Nos entreguem seus valores e partam – continuou ele enquanto
surgia do ponto de onde vinha a voz, era um homem muito grande e
musculoso, ele deveria ter quase dois metros de altura, olhos castanhos,

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cabelos pretos e se fossemos ser completamente sinceros acharíamos que
ele tinha aspecto meio abobado, ele vestia roupas velhas que mal lhe
cabiam e portava uma espécie de cajado nas mãos, que provavelmente lhe
servia como arma.
- Não temos nada de valor – retornou imediatamente o Valete de
Copas, mas o homem olhava cobiçosamente para o braço de Melanie, onde
se encontrava o cronometro.
- Um camponês valente. – disse o homem grande e começou a rir,
enquanto vários homens saiam da floresta – mas não acho que você tem
opção - conclui ele, o Valete de Copas, no entanto estava sério, analisava
as possibilidades, em que época estariam? Quem seriam esses homens? E
talvez o mais importante, o que deveria fazer para resolver esta situação?
Não que aquilo lhe parecesse uma situação complicada, afinal
deveriam haver uns doze ou quinze homens que os cercavam, que para ele
com uma mínima ajuda das moças que o acompanhavam seria muito fácil
derrotar, se está prestando atenção verá que nem contei Terry, porque se
contarmos seria uma luta ridícula, nesse aspecto ele só tinha um problema
queria minimizar o estrago que poderiam produzir, foi quando resolveu
que a honra de um homem deveria ser muito importante na época em que
se encontrava, e apelou para ela.
- Não seria nada honroso tantos homens nos atacarem, somos apenas
seis, eu diria que seria covardia, afinal quatro de nós são mulheres – elas se
sentiriam ofendidas se não entendessem o que o Valete de Copas pretendia,
mas não foi o caso.
– Seria mais justo se um de vocês me enfrentasse. – a frase soou
nitidamente como um desafio, que foi imediatamente aceito.
- Somos ladrões, não temos honra, mas se quer me desafiar, que
assim seja, prove seu valor homenzinho – esta resposta deveria servir como
pista sobre o homem muito grande, fazendo um sinal para que um dos
homens jogasse um cajado para o Valete de Copas, que o agarrou
desajeitadamente quase deixando-o cair, enquanto seu oponente
imediatamente iniciava um ataque traiçoeiro, não fosse ele, o Valete de
Copas quem era já estaria caído no chão e desarmado, mas o ele não era
qualquer pessoa, defendeu-se e reverteu o ataque de volta a seu agressor,
consequentemente levando-o ao chão.
- O que foi João, não consegue mais derrubar um homenzinho – esse
um homem gordo, de aspecto engraçado, que trajava roupas que
provavelmente pertenciam a um sacerdote, frisando claramente o
homenzinho enquanto os outros riam.

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- Tuck, meu amigo, fui pego de surpresa – palavras fortes porem
erradas que o homem grande dizia enquanto se levantava e logo em
seguida recomeçou a atacar o Valete de Copas dizendo.
– Agora é que vamos realmente começar – e nem havia terminado
direito a frase já estava novamente no chão, o que foi motivo para todos
inclusive Melanie e sua equipe começarem a rir.
- João Grandão! – exclamou ironicamente o Valete de Copas, e
comentou – Deveria ser João Pequeno – e acompanhou os restantes nas
risadas.
“João Pequeno? Tuck? Frei Tuck! Meu Deus!” – pensou Melanie se
colocando entre os dois, ao mesmo tempo em que o Frei Tuck também se
colocava entre eles, que estavam para reiniciar o combate.
- Ficou louca mulher? Quer se machucar? E você Frei vai defender
nossos inimigos? – disse rapidamente o homem grande parando um ataque
que estava pela metade.
- Não, claro que não – respondeu ela, se voltando para o Valete de
Copas.
– São eles que estamos procurando – disse ela, com um enorme
sorriso e continuou.
- Não percebe João Pequeno e Frei Tuck, é o bando de Robin Hood
– David olhou para ela praticamente sem entender e o pior é que ninguém a
entendia, nem seus agressores.
- Quem é Robin Hood? – perguntou o homem gordo que em seguida
os apresentou.
– Eu sou o Frei Tuck e esse – se referindo ao homem grande – é João
Pequeno, muito prazer – Melanie achou aquilo muito estranho como
podiam eles não saber quem era Robin Hood.
- Quanto a você seu idiota, não percebeu que ele te chamou de João
Pequeno, só pessoas de confiança sabem isso. – esbravejou o Frei Tuck
para João Pequeno que percebeu ter entendido a situação de modo
completamente errado, enquanto o Frei Tuck olhava para Melanie tentando
entender.
- Robin de Locksley o nobre que se juntou aos ladrões da floresta de
Sherwood, contra a tirania do príncipe João, que rouba dos ricos e da aos
pobres – após esta breve explicação os homens estavam entre o perplexo e
o hilário, pois aquilo não fazia qualquer sentido para eles.
- Não sabemos quem é esse Robin de sei lá onde, nobres não se
juntam a nossa causa, e não damos aos pobres, porque somos pobres, culpa
do príncipe João, nisso você está certa. – comentou o João Pequeno.

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- Espere um pouco, Locksley? Lembro de alguma coisa, aquele
sujeito que o príncipe prendeu há duas ou três semanas atrás, aquele de
quem ele roubou as terras, o filho do barão. – o Frei Tuck quem sem
dúvidas era o mais bem informado do grupo, se lembrou de algo a respeito
de alguém com o mesmo nome.
- Você diz aquele nobre metido a besta que tentou enfrentar todos os
guardas do príncipe João com um arco e algumas flechas, se querem saber
nunca vi tolice tão grande, pra mim ele é doido. – concluiu João Pequeno.
- Pode até ser, mas quantos guardas ele acertou antes que o
pegassem? – o Valete de Copas que agora entendia onde estava, colocou
uma questão interessante a ser respondida e também sabia o que era
necessário fazer, embora tenta-se ao máximo não interferir nos
acontecimentos.
- Uns sete, talvez oito pelo que ouvi dizer, só que isso são histórias,
pura fantasia, para isso ele teria de acertar mais de um com a mesma
flecha, e isso é impossível. – embora a explicação do Frei Tuck tivesse
completa coerência, não era totalmente impossível.
- Espere um pouco, o que vamos fazer com eles Frei Tuck? Não
íamos rouba-los e manda-los embora? – se lembrou repentinamente João
Pequeno.
- Eles não parecem representar problemas, além disso acho que de
certa forma eles nos apoiam, principalmente se esse Robin se juntasse a
nós, e nisso devo confessar que a ideia deles não é má, o príncipe João
cobra impostos muito altos, o povo está sendo esfolado, precisam de
alguém que os ajude. – diante dessa afirmação João Pequeno ficou meio
contrariado, mas disse.
- Se é assim então acho que o melhor a fazer é encontrarmos esse tal
de Robin – hesitando por um momento para se lembrar do nome que
Melanie dissera e logo após prosseguindo – Hood e liberta-lo, e quem sabe
ele não pode ajudar – embora houvesse um tom de ironia em sua voz
Morigan foi primeira a se pronunciar.
- Isso mesmo, e nós podemos ajudar – o que naturalmente fez com
que todos os presentes olhassem para ela simultaneamente com um típico
“porque” no rosto.
- Ela é sempre assim? - Perguntou o Frei Tuck.
- Sim, sempre pelo que me lembro, e eu tinha a esperança de que
com o tempo mudasse, parece que me enganei – respondeu Doris rindo.
– Deve ter puxado para o pai. – esse último comentário fez Terry
torcer o nariz, mas não disse nada, acreditava que aquela não era a hora, ele
só ficou com cara de conversamos mais tarde.

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- Olha mocinha, mesmo que quiséssemos fazer isso não sabemos
onde esse Robin Hood está, e mesmo que soubéssemos, não sabemos
quantos homens o estão guardando. – explicou gentilmente o Frei Tuck, e
Morigan como sempre não se conteve.
- Mas isso não é obvio? – neste momento Melanie e seu grupo
tiveram muita sorte pois os homens do bando olhavam fixamente para
Morigan afim de saber o que ela pensava, o que não permitiu ver as caras
de espanto de todos afinal Morigan e obvio são duas coisas que nunca
combinaram.
- Alguém quer fazer essa fedelha ficar quieta? – a Rainha de Copas
não conseguiu se conter achava a observação de Morgan uma imensa
besteira, afinal a seu ver isso não tinha nada de obvio.
- Não, eu quero ouvi-la – era Terry que provavelmente por seu
sentimento paterno, e pela raiva que nutria pela Rainha de Copas,
adicionado ao fato de ter estado um delongado período distante de Morigan
e portando não conhecia as gafes da filha, Morigan, no entanto sorriu feliz
em ver que o pai a apoiara, e se pôs a explicar.
- Eu penso assim, que o melhor lugar para deixa-lo é em suas
próprias terras, afinal é uma prisão injusta e o ideal é que ninguém saiba,
agora quanto a quantidade de guardas que o estão guardando, um ou dois
no máximo que são os necessários para guardar as terras - e vendo a cara
de dúvida de todos explicou – ele não é um bandido então os nobres não
tem interesse nele, por outro lado ele também não é mais um nobre, logo os
bandidos não querem ele, além disso, se isso não convencer vocês, eu
tenho certeza que o príncipe João ficaria muito feliz se ele morresse, e tem
certeza que ninguém vai resgata-lo, então pra que guarda-lo – esse último
argumento realmente conseguiu convencer a todos, que agora se
indagavam o que fariam.
- A pequena tem razão, sabemos onde ficam as terras dos Locksley,
talvez devamos dar uma olhada – sugeriu inocentemente e com muitas
dúvidas João Pequeno.
- Certo, então ao cair da noite eu, João Pequeno e Terry invadiremos
as terras dos Locksley, é quando teremos a maior chance de entrar e sair
ilesos – disse firmemente o Valete de Copas já esperando que Melanie ou
qualquer umas das outras dissesse algo, afinal aquilo iria diretamente
contra os objetivos das missões, mas o fato é que por conhecer a história o
Valete de Copas tinha certeza que Robin não estaria na casa, e que depois
o bando teria que procura-lo, se é que fariam isso, mas para sua surpresa
ninguém disse nada.
- Ninguém vai dizer nada? – ainda reforçou ele.

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- Não – respondeu Melanie, que chegara a mesma conclusão.
- Deve ser fácil, vamos aproveitar para descansar – e assim ficou
resolvido.
Os homens passaram o restante do dia planejando como entrar e sair
das terras dos Locksley pois na melhor das hipóteses seria uma simples
invasão, na pior delas seria o resgate de um prisioneiro condenado,
precisavam tentar prever todas as possibilidades, e enquanto isso as
mulheres do grupo tomavam banho e pareciam não se preocupar, tudo
indicava que as coisas aconteceriam como planejado.
Com a chegada da noite os três pegaram tudo que precisariam e
saíram, após um hora e meia de caminhada já se encontravam na fronteira
com as terras dos Locksley, era um campo aberto onde se avistava a
distância uma grande casa e nenhum sinal de qualquer guarda, Terry fez
um sinal para que entrassem e seguissem até a casa, nas proximidades da
casa fizeram mais uma silenciosa verificação, não entendiam por que não
haviam avistado nenhum guarda ainda, e mais uma vez não encontraram
nada, parecia que Morigan estava certa sobre isso, e se tivessem um pouco
de sorte isso significaria que a casa estava vazia.
Eles chegaram à casa sem qualquer dificuldade, do lado de fora havia
uma grande parede azul com aproximadamente trinta metros de
comprimento e nove metros de altura com diversas janelas finamente
ornamentadas, que embora muito sujas ainda sustentavam sua beleza
original, no meio uma grande porta dupla de madeira que aparentava ser
bastante grossa, aquela casa era quase um castelo.
Eles decidiram entrar por uma das janelas, claro que neste momento
o Valete de Copas agradeceu por não estarem no final do século XX, onde
segundo contavam todas as casas tinham alarmes em cada janela, eles
entraram sem nenhum problema, até ouvirem uma voz vinda da escuridão.
- Ladrões! Curioso, como souberam o que se encontra aqui? – após a
pergunta ser concluída o local foi totalmente iluminado revelando uma sala
grande oval, provavelmente um salão destinado a festas, pois possuía
lindos desenhos no chão, que estavam empoeirados e pisados, o que
tornava quase impossível vê-los, sua cor era branca, e possuía duas escadas
largas uma de cada lado acompanhando as paredes, e um mezanino em
volta de todo o salão, onde estavam os trinta guardas armados de arco e
flecha, todos apontados para eles, e um homem no centro que possui
aspecto diferente dos restantes, era mais alto e mais robusto e estava bem
vestido, aquele com certeza não era um dos guardas.
- Prendam-nos! Depois os interrogaremos para sabermos como
descobriram. – disse o mesmo homem, o que mostrou que a diferença não

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era apenas visual, ele também mandava nos restantes, eles foram levados
por alguns corredores até a parte inferior da casa, o Valete de Copas e
Terry poderiam facilmente render os cinco guardas que os acompanhava de
pelo menos três meios, mas além de saberem que não conseguiriam passar
pelo salão principal, também queriam saber quem era aquele homem que
deu as ordens, e o que ele acreditava que eles houvessem descoberto,
talvez por isso observavam atentamente tudo a sua volta, enquanto João
Pequeno amaldiçoava estar ali.
Finalmente após uma breve caminhada os guardas os escoltavam
abriram uma sala muito mal iluminada e que parecia não ser muito grande,
assim sem esboçar qualquer reação os três entraram sem produzir nenhum
problema e foram trancados.
- Vocês são mesmo péssimos ladrões ou talvez seu informante não
goste de vocês, tentar roubar a casa forte, e bem no dia anterior a inspeção
do xerife de Nottinghan, posso ter me enganado, mas isso foi uma grande
burrice. – curiosamente, apesar da voz ter vindo do interior da sala, ela
vinha de cima onde não se podia ver praticamente nada.
- Quem está aí? - Perguntou calmamente o Valete de Copas.
- Sou apenas outro prisioneiro – disse a voz que vinha do alto,
seguida do som de batidas no metal.
– Estou preso numa gaiola acima de vocês, e afinal quem são vocês?
Porque pelo jeito não são ladrões, exceto o grandão, esse deve ser mesmo
ladrão, estão muito calmos, o que vieram fazer aqui? - perguntou o
homem.
- Nós queremos encontrar o homem que era dono dessas terras antes
do príncipe João rouba-las dele, nós estamos procurando Robin de
Locksley, você sabe alguma coisa sobre ele? – era uma pena estar tão
escuro, porque se houvesse claridade não seria necessário fazer essa última
pergunta pois a cara de espanto do homem na gaiola ficou de tal forma
óbvia que ele não poderia ser outra pessoa se não o próprio Robin de
Locksley, mas estava escuro então nenhum deles pode ver a cara do
homem.
- O que querem com ele? – um homem desconfiado, quis saber antes
de dizer qualquer outra coisa.
- Queremos que ele se junte a nosso bando. – Respondeu João
Pequeno, sendo imediatamente corrigido pelo Valete de Copas.
- Queremos resgata-lo e depois fazer-lhe uma proposta. – o homem
pensou um pouco, imaginava o que João Pequeno quis dizer por bando,
mas estava particularmente intrigado com a segurança que o Valete de
Copas demonstrava, não parecia nada preocupado com o fato de estarem

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presos, quem o ouvisse falar poderia pensar que isso também fazia parte de
um plano mais elaborado.
- Pois bem, eu sou Robin de Locksley – disse o homem finalmente.
- E supondo que tenham vindo me salvar, como pretendem fazer
isso? Afinal me parece que vocês estão tão presos quanto eu. – esse era um
problema no qual eles ainda não haviam pensado, mas sabia que achariam
um modo, porem a falta de resposta fez Robin dizer.
– Foi o que pensei, vocês não sabem, então sugiro que descansem,
porque amanhã o xerife vai querer saber como vocês descobriram a casa
forte, e mais aceitem uma sugestão minha, mintam porque se ele souber
que vocês tentavam me resgatar terão problemas ainda maiores – assim
Robin silenciou dando a impressão de fora dormir, deixando o Valete de
Copas e Terry pensativos.
- David, sei que é difícil, mas Robin está certo, mal conseguimos ver
o que está a nossa volta, além disso podem haver muito mais homens lá
fora, o que precisamos é descansar, repor as energias, para amanhã bem
cedo, de cabeça tranquila, pensarmos em algo. – como Terry estava certo,
de muito contra gosto o Valete de Copas concordou, eles e João Pequeno
foram dormir, Robin que tudo ouvia pensava “O que eles pensam ter de
especial para acharem que podem nos tirar daqui?”, mas infelizmente ficou
sem resposta.
Faltavam uns dois minutos para as três da manhã quando Doris
entrou na cabana onde estava Melanie, ela não precisou dizer nada,
Melanie se levantou e foi chamar as outras que se reuniram próximo dali.
- Eu conheço Terry, se tudo tivesse dado certo ele já estaria de volta,
alguma coisa deu errado. – começou a indagar Doris.
- Temos que considerar o fato de que não sabemos onde ficam as
terras dos Locksley, - se adiantou a dizer a Rainha de Copas, o que quase
iniciou uma briga com Doris, isso se não fosse a hábil interferência de
Melanie.
- Você tem razão Amélia, mas João Pequeno disse que seriam no
máximo duas horas de caminhada, eles já deviriam ter retornado –
complementou Melanie olhando raivosa para a Rainha de Copas como
quem dizia “Quem pediu sua opinião?”, o que ela entendeu perfeitamente e
se calou, sabia só estar ali porque precisavam da sua ajuda, mas não
confiavam nela.
- Se permitirem acho que posso ajudar – era o Frei Tuck, que se
mostrava pela primeira vez, desde que elas se reunirão.
– Mas antes, poderiam me dizer o que pretendem fazer? – em outros
tempos a pergunta do Frei Tuck soaria de maneira ofensiva, mas naquele

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instante ele estava apenas preocupado por não saber o que elas poderiam
fazer.
- Pretendemos resgatar nossos amigos Frei Tuck, isso se eles
precisarem, o que não sabemos, só estamos nos prevenindo. – ele ficou
estarrecido com a ideia de que quatro mulheres poderiam fazer o que três
homens não conseguiram, vendo isso na cara de dúvidas do Frei Melanie
completou – não nos subestime somos tão hábeis quanto os homens que
foram procurar Robin.
- Eu diria que qualquer uma de nós é mais hábil que João Pequeno. –
completou a Rainha de Copas que embora inapropriada também era
verdade.
- Desculpem, não costumamos ver mulheres como vocês por aqui –
disse o Frei Tuck percebendo que aquelas não eram simples mulheres.
– Mas como eu disse acredito que posso ajuda-las, sei onde ficam as
terras dos Locksley, penso que vocês têm razão eles já deveriam ter
retornado. – com esta frase o Frei Tuck acabara de confirmar as suspeitas
de Doris.
- Temos que fazer alguma coisa, mas antes temos que pensar o que
pode ter dado errado, ir procurá-los as cegas pode fazer com que
cometamos o mesmo erro deles. – o sugestão de Melanie, pode até parecer
obvia, mas com verá não é.
- Eles podem não ter encontrado Robin – uma ideia otimista
Morigan, começou as possibilidades.
- Talvez filha, mas se isso houvesse acontecido, mesmo que tivessem
encontrado alguma pista sobre onde ele estaria, seu pai voltaria para avisar
– Doris conhecia seu marido e portanto tinha em mente o que faria na
maioria dos casos.
- Na minha opinião eles foram feitos prisioneiros e isso só pode
significar uma coisa, devem haver vários guardas, vinte e cinco no mínimo.
– Doris disse isso quase chorando, ela estava muito preocupada com Terry,
afinal tinham acabado de ser encontrados.
- Desculpe, mas somente eles três nunca conseguiriam passar nem
por dez guardas, porque acha que são vinte e cinco no mínimo? – o Frei
Tuck estava completamente incrédulo quanto ao número que Doris dissera,
afinal ninguém que ele conhecia podia lutar e vencer oito homens ao
mesmo tempo, mas o que ele ouviu a seguir o deixou ainda mais surpreso.
- Claro Frei – aparentemente Doris concordara com Frei Tuck, que
fez um leve ar de superioridade, mas que não durou muito.
– Se considerarmos que João Pequeno daria conta de uns três
homens, seria melhor subirmos o número para trinta, apenas por segurança.

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O Frei Tuck olhava para ela ainda mais incrédulo, começava a pensar
que ela deveria ser louca, afinal já era insano imaginar como poderiam
apenas três homens enfrentar vinte e cinco guardas, e agora chegaram à
conclusão que deveriam ser uns trinta, que nesse caso estariam bem
armados e talvez até esperando por um resgate de seus amigos, e mesmo
assim saírem ilesas, o que torna isso algo impossível de ser feito, o que o
fez concluir que realmente elas deveriam ser loucas.
- Eu tenho uma outra preocupação, não consigo imaginar uma prisão
que possa segurar Terry e David juntos por muito tempo. – Doris assentiu
com o que Melanie dissera e ela continuou.
– Portanto devemos imaginar que estão amarrados, desacordados ou
na pior hipótese feridos – quanto mais ouvia, mais curioso o Frei Tuck
achava, elas realmente pretendiam ajudar seus amigos, e além disso havia
muita coerência no que pensavam, concluiu por fim que não eram loucas,
mas sim muito corajosas e talvez por isso sentiu que precisava ajuda-las
também.
- Existe outra possibilidade As de Copas, se deixaram prender para
inspecionar o lugar, seria mais a cara deles. – ao ouvir a ideia de Doris
Melanie percebeu que as varias possibilidades se estendiam além do que
ela pensara.
- Podemos pesar em duas razões para fazerem isso existem guardas e
queriam contar se Robin Hood estava na casa, o que geraria um problema
adicional sair de lá com Robin e João Pequeno, o que quer dizer que
podem apenas estarem bolando um plano de fuga. – Melanie estava
tentando completar as lacunas na ideia de Doris que no momento parecia
ser a mais razoável.
- Acho que você tem razão As de Copas, só que eu acho que não
conseguirão sair sozinhos. – uma observação curiosa a feita por Morigan.
- Porque pensa isso Morigan? – Melanie sabia que Morigan poderia
não ter motivo nenhum mais se tivesse ela queria saber.
- Vai dar ouvidos a essa fedelha? Se eles estão encrencados é por
culpa das previsões erradas dela, lembra? – as vezes a Rainha de Copas diz
algumas coisas que realmente magoam as pessoas, essa foi uma dessas
vezes, Morigan ficou triste em ouvir isso por acreditar que ela estava certa,
acabando por não responder a pergunta de Melanie.
- Sabe qual é o seu problema Amelia, é achar que só você esta certa e
que é melhor que todo mundo, ela pode até ter dito alguma coisa errada,
mas tenho certeza que não foi intencionalmente, muito diferente de você,
pode responde a pergunta querida. – você já viu uma mão leoa defendendo

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seus filhotes? O que Doris fez nesse momento foi algo bem parecido, mas
com palavras.
- O Frei Tuck disse que pegaram Robin a duas ou três semanas, acho
que ele não estaria muito bem, talvez nem pudesse correr, então se eles o
acharam, seria um problema sair da casa, e nesse caso nem precisaria de
muitos guardas. – a questão por Morigan também era importante, afinal em
teoria eles iriam resgata-lo.
Melanie parou para pensar um pouco onde concluiu que o melhor a
fazer era trabalhar com a pior das hipóteses utilizando o pior cenário
conseguido pela união de todas as ideias, foi quando o Frei Tuck resolveu
dizer algo.
- Se pretendemos resgata-los, melhor irmos imediatamente logo vai
amanhecer e não teremos mais a noite para nos ocultar, além disso ainda
existe outra possibilidade, se bem me lembro a casa dos Locksley possui
andares subterrâneos, acho que isso dificultaria para seus amigos – o Frei
pensava em realizar um novo ataque furtivo, e ele se surpreendeu
novamente.
- Agradeço a boa intenção Frei Tuck, mas não acho uma boa ideia, a
essa altura temos que pensar que os guardas já sabem que eles têm amigos,
se fizermos isso seremos facilmente pegos, vamos esperar amanhecer,
talvez seja mais simples e mais produtivo simplesmente batermos na porta
da frente e pedirmos para entrar, eles podem até desconfiar, mas com
certeza não acharão que três mulheres e uma menina representariam
qualquer perigo. – com um sorriso o Frei Tuck mostrou que concordava
com Melanie e assim eles se puseram a preparar sua saída.
Por volta das seis da manhã, a luz que anunciava o início do dia
começou a iluminar o cômodo que servia de cela para o Valete de Copas e
seus amigos, o que automaticamente o despertou, e logo após a Terry.
- Tem alguma ideia? – Terry não sabia que o Valete de Copas
acabara de se levantar e que começara a analisar as possibilidades naquele
instante.
- Ainda não, mas dei uma olhada pela sala, não há nada que
possamos usar – via-se uma expressão preocupada no valete de copas, não
por estarem presos, mas sim porque para saírem precisariam de ajuda e
isso significava envolver João Pequeno e Robin Hood no processo.
- Mas uma coisa eu sei, temos que soltar Robin – assim o Valete de
Copas e Terry se ocuparam em tirar Robin da gaiola o que demandou um
pouco mais de tempo do que o previsto pelo fato de haverem dois guardas
na porta e eles não poderiam saber o que faziam, além disso a falta de
ferramentas não ajudou em nada, mesmo assim uma hora depois Robin se

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encontrava no chão juntamente com os outros, precisavam agora traçar um
plano de fuga.
- Abram as portas em nome do xerife de Nottinghan – essa era a voz
de um dos soldados que por volta das sete da manhã anunciou a chegada
do indesejado xerife de Nottinghan.
- Ele chegou, vocês têm que me esconder, se ele me ver aqui serei
enforcado. – uma preocupação estranha vinda de João Pequeno.
- Enforca-lo? Porque? – perguntou Terry.
- Somos ladrões procurados, se ele me reconhecer será o fim. – agora
até fazia sentido ele se preocupar, contudo qual a possibilidade do xerife se
lembrar de alguém em particular? Com certeza quando executavam os
roubos escondiam suas caras, não deveria haver problema, porem
analisando com mais calma haviam pouquíssimos homens com a estatura
de João Pequeno, menos ainda que eram fortes como ele, de fato eles
tinham um problema.
- Me ensinaram que os problemas se resolvem, não que se
multiplicam, tudo que acontece é que as vezes não temos o conhecimento
de todo o problema, mas a solução em geral é a mesmo se o novo
conhecimento faz parte do mesmo problema. – disse o Valete de Copas a
Terry, que respondeu com um sorriso.
- É sua primeira missão? – perguntou Terry.
- Claro que não, sou o Valete de Copas desde que vocês
desapareceram. – uma esclarecimento desnecessário o do Valete de Copas,
afinal Terry sabia que as missões não parariam por falta dele, então alguém
estaria em seu lugar.
- Entendi, alguma vez as coisas ficaram mais simples? – a cara do
Valete de Copas disse tudo.
- Foi o que imaginei, nessas horas você tem que confiar nos instintos
da sua As de Copas. (péssima escolha de palavras na minha humilde
opinião, afinal ele mesmo jamais confiaria em Amelia, que os abandonara
a sorte e quanto a Melanie nem lembrava do complexo ou do que fazia
como As de Copas, por isso eles pensaram mutuamente, perece que é uma
situação do tipo desesperadora).
Em outro local da casa.
- Senhor ontem prendemos três ladrões, gostaria de interroga-los? –
perguntou um dos guardas ao xerife.
- Parecem ser perigosos? – perguntou ele imaginando que tipo de
pessoa invadiria aquele lugar.

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- Não senhor, nem tentaram resistir a prisão, apenas se entregaram
sem luta ou qualquer outra gracinha desde que foram presos. – respondeu o
mesmo guarda.
- Pelo jeito são só ladrões atrapalhados, não oferecem perigo, vou
descansar, a viagem foi longa eles que apodreçam em sua prisão. – se
retirando para ir descansar.
Quase seis horas depois de terem conversado Melanie, Doris,
Morigan e a Rainha de Copas, se encontravam na frente da porta da casa
nas terras dos Locksley, até este momento não haviam avistado nenhum
dos guardas, o que significava que estariam todos do lado de dentro e que
também queriam saber se elas representavam alguma espécie de perigo ou
não, por isso bateram na porta de maneira fraca e espaçada queriam dar a
ideia de que estavam com medo a quem ouvisse.
Passados alguns instantes a porta se abriu, do lado de dentro via-se a
mesma sala onde antes havia estado o Valete de Copas, com quatro
guardas que vieram recepcionar Melanie e as outras da equipe.
- O que desejam? – perguntou de maneira bastante áspera e
intimidadora o guarda mais a frente, Melanie fez cara de choro,
aparentando estar assustada de modo muito convincente, de modo que o
homem repetiu a pergunta mas de modo mais gentil - O que desejam?
- Dois homens maus estavam nos perseguindo, viemos correndo sem
prestar atenção, estava escuro, nem sabemos onde estamos, se puder nos
informar agradecemos? – a representação de Melanie continuou
igualmente convincente, sensibilizando os guardas que iniciariam uma
resposta, Melanie porem não os deixou falar, continuou falando.
– Nós estávamos em quinze, nos perdemos as outras, vocês não
entendem, estamos desesperadas, por favor nos esconda, fazemos qualquer
coisa. – pelas expressões dos guardas ficava obvio que Melanie os havia
convencido, e olhando para dentro da casa ela via vários guardas trinta e
dois até onde pode contar, isso indicava que algo importante estava
guardado naquela casa e com certeza não era Robin Hood.
- Vamos levar vocês a um dos quartos de cima, não saiam de lá, se o
Xerife de Nottinghan ver qualquer uma de vocês estarão em sérios apuros.
– agora elas entendiam o que havia dado errado, se o Xerife de Nottinghan
está na casa alguma coisa estava acontecendo.
- Vamos ficar bem quietinhas, nem vão perceber que estamos aqui –
completou Doris, já que a atenção de Melanie estava na sala cheia de
guardas.
- Venham conosco. – pediu um dos guardas, elas subiram as escadas
a direita, parando em frente da terceira porta, o guarda a abriu.

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(Você sabe dizer qual foi o primeiro engano dos guardas? Poderia
dizer que foi confiar nelas, mas este foi o segundo, o primeiro foi abrir a
porta por se tratarem de mulheres.)
– Vocês podem ficar aqui por enquanto. – esclareceu um dos
guardas.
- Muito obrigada, o que podemos fazer para agradecer. – ninguém
entendeu porque a Rainha de Copas havia dito aquilo, na verdade Melanie
queria matá-la por isso, ficar flertando com os guardas, ela, no entanto, não
lhe deu nenhuma atenção e prosseguiu.
– Vocês não querem nos fazer companhia? – neste instante Melanie
entendeu o que a Rainha de Copas queria e para surpresa de todos passou a
ajuda-la.
- Poderiam nos aquecer, nós fugimos a noite toda estamos com medo
de ficarmos sozinhas. – Melanie parecia estar implorando para que eles
ficassem, e estava mesmo, mas não pelos motivos que eles pensavam, e ela
conseguiu, assim que a porta se fechou, tinhamos quatro guardas caíram no
chão vencidos pelas moças.
(Terceiro erro, achar que merece ser premiado sem ter feito nada,
típico da época.)
- Bom plano Amélia, ao invés de enfrentar os guardas vamos
substitui-los – a Rainha de Copas não disse nada, mas qualquer um que
olhasse para ela entenderia imediatamente que esse não era seu plano, ela
só queria se livrar de alguns guardas, mas agora que ouviu o que Melanie
disse tinha que admitir, era um bom plano.
Elas arquivaram as aparências dos guardas no arquivo de vestuários,
e em seguida tomaram seus lugares, saindo do quarto sem que ninguém
notasse nada, embora o que elas estivessem fazendo fosse suspeito, não
tardou muito para que encontrassem o Valete de Copas e os outros, eles
estavam na parte inferior da casa onde havia um longo corredor, com
diversas portas de aparência rustica, largas e arredondadas na parte
superior, que estavam de ambos os lados, ligeiramente espaçadas parecia
uma masmorra o que não fazia sentido uma vez que aquela era uma casa
residencial.
Na frente da porta, onde o Valete de Copas estava haviam dois
guardas, que foram facilmente rendidos e desacordados, elas fizeram isso
da maneira mais silenciosa possível pois não sabiam quem estava na sala
naquele instante.
Elas abriram a porta devagar e com cuidado, Melanie fez sinal para
Rainha de Copas entrar primeiro, pois apesar de não confiar nela, tinha que
admitir que de todas, ela era a mais hábil em combate corpo a corpo, assim

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que ela passou pela porta o Valete de Copas saltou sobre ela, imaginando
que surpreenderia um guarda, no entanto foi ele quem ficou surpreso, a
Rainha de Copas fez um belo giro no chão colocando o Valete de Copas a
sua frente.
- Você já foi melhor que isso Valete de Copas, está ficando mole. –
disse a Rainha de Copas encarando-o e sorrindo sarcasticamente.
- Amélia! O que fazem aqui? Não disseram que ficariam no
acampamento? – ele a reconheceu pela voz e olhando para fora viu mais
três guardas que deduziu serem as outras, que apesar de perguntar o Valete
de Copas ficou muito feliz em vê-las.
Sem entender o que se passava, ao ver os outros três guardas
entrando Robin e João Pequeno iniciaram um ataque, por sorte João
pequeno atacou Doris e Robin, Melanie o que resultou nos dois caídos no
chão e indefesos, com Morigan rindo e dizendo a Robin.
- Este é Robin Hood? Achava que ele seria totalmente diferente. – de
fato olhando agora para aquele homem com calma, ele era moreno, olhos
castanhos, cabelos pretos, com no máximo 1,70 de altura e franzino demais
em nada se parecia com Robin Hood.
Robin achou estranho aquela voz feminina sair do guarda e mais
curioso ainda o fato do Valete de Copas ter parado o ataque que fazia
contra o primeiro guarda, o simples pensamento do que poderia ser o fez
entrar em pânico, talvez por isso ele se levantou rapidamente e quando
começava a correr, ouviu a voz do Valete de Copas.
- Calma Robin estas são quatro amigas nossas, elas estão disfarçadas.
Robin olhou Morigan muito de perto, mas mesmo assim ainda lhe parecia
um homem - não responderam minha pergunta, o que fazem aqui? –
insistiu o Valete de Copas, Melanie tomou a frente e respondeu.
- Viemos salvar vocês, outra vez. – ela estava muito seria parecia
preocupada e ao mesmo tempo nervosa.
– Temos que sair daqui rápido, deixamos quatro soldados
desacordados no andar de cima, tem mais dois ali fora, e além disso o Frei
Tuck está do lado de fora um pouco além das terras dos Locksley.
- Parece que temos um pouco de urgência em sair daqui. – ressaltou
o Valete de Copas o que deixou Melanie com um olhar mais nervoso
ainda.
– Tá já entendi, poderíamos usar os disfarces de vocês, mas isso só
nos levaria com certeza até a porta, isso é, se os guardas que vocês
deixaram no quarto não acordarem, o problema é e depois? – o real
problema deles era sair da casa.

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- Eu posso opinar sobre duas coisas? – Robin que até agora havia
sido ignorado achou que era uma ótima hora para se pronunciar, o Valete
de Copas assentiu.
– Primeiro o Xerife de Nottinghan mandara vir buscar vocês em
breve, por isso parem de discutir, segundo eu cresci nessa casa, sei outro
jeito de sair que não seja pela porta da frente, ou qualquer outro lugar no
andar superior, - agora Robin tinha a atenção de todos.
– Quando eu era criança, eu e minha mãe tivemos que fugir da casa
por causa de uma invasão nas nossas terras, usamos um túnel que sai de
algum lugar nesse andar, só não lembro exatamente onde, lembro que é
uma das salas do outro lado do corredor, e que é acionada por uma
alavanca. – não era muito, e nem era possível saber se esse túnel ainda
existia, ou estava intacto, mas era um início.
- Me parece a melhor alternativa que temos. – disse Terry já saindo.
- Esperem, preciso pegar meu arco, eles o jogaram em algum lugar
por aqui – rapidamente Robin achou seu arco e flechas, colocando a alforja
nas costas e encaixando o arco no peito, e saindo com os restantes em
seguida.
Eles decidiram iniciar sua busca pela porta que estava mais ao fundo
por estarem mais perto dela, entraram na sala, testaram tudo que estava na
sala e poderia ser utilizado como alavanca e nada ocorreu, o mesmo se deu
com as outras duas salas a seguir.
- Parem em nome do xerife de Nottinghan!!
A situação se alterou completamente quando chegaram a quarta
porta, pois ao terminarem de abri-la quatro guardas surgiram no corredor
onde eles estavam, imaginando que as quatro mulheres eram guardas feitos
de reféns, eles foram ajudar, assim a força deles somada prenderia os
fugitivos facilmente, logo no início do combate eles perceberam o quanto
estavam errados, não se tratava de reféns, de modo que o guarda mais
afastado do combate saiu da briga para buscar ajuda, Melanie e sua equipe
haviam chegado a um momento crucial, se o homem que se afastava
conseguisse ajuda não sairiam dali, porem os outros guardas detinham seu
avanço mais rápido, parecia ser impossível detê-lo.
Levado pelo calor do momento Robin tirou o seu arco, pegou uma
flecha na alforja, fez uma mira precisa e soltou a flecha, ao mesmo tempo
em que Melanie gritava um surdo “Nãããããoooo”, os segundos entre o
soltar da flecha e ela atingir o alvo pareciam uma verdadeira eternidade,
mais o que ninguém imaginava e talvez fosse o mais importante, era onde
Robin havia mirado, pois ao chegar no alvo a flecha não atingiu o guarda,
mais sim o colarinho da sua camisa, produzindo um efeito completamente

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inesperado, pois ao invés de transpassar a camisa, como aconteceria
normalmente, ela se fixou no colarinho o que forçou o guarda para frente
muito rápido fazendo-o se desequilibrar e bater a cabeça na parede,
desacordando-o.
Robin se voltou para Melanie.
- O que achou que eu ia fazer? Mata-lo? Ele não tem culpa do que
fazem o príncipe João e o Xerife de Nottinghan. – curiosamente isso havia
sido exatamente o que Melanie pensou, e ainda pensava, não acreditava
que qualquer um poderia fazer aquilo, acreditava ser sorte, pois na sua
opinião nem mesmo Dariam nesta situação acertaria aquela flecha, todavia
logo após dizer isso Robin levantou uma das mãos nela estava a seta que
servia de ponteira para a flecha lançada, foi quando Melanie entendeu que
de fato Robin sabia precisamente o que estava fazendo, e porque sua
extraordinária habilidade com arco e flecha se tornou uma lenda.
Não tendo mais essa preocupação o Valete de Copas e Terry
renderam facilmente os Guardas restantes, agora, porém, sabiam ter menos
tempo ainda pois em breve sentiriam falta destes guardas, e outros guardas
viriam a procura deles, talvez por isso se dividiram espontaneamente em
dois grupos, um formado por David, Terry e João Pequeno que entrou na
quarta porta e outro formado por Melanie, Doris, Rainha de Copas,
Morigan e Robin que entraram na quinta porta, o Valete de Copas e os
Outros haviam iniciado sua busca quando Doris apareceu na porta.
- Encontramos! – os homens a seguiram até a outra sala, onde no
canto direito abriu-se um pequeno alçapão por onde uma pessoa poderia
passar.
Eles entraram o mais rapidamente que o espaço permitia, no exato
instante em que fecharam o alçapão mais guardas chegaram e vendo os
guardas caídos iniciaram uma desleixada busca pelos fugitivos, porque
embora tenham olhado em todos os cômodos, foi possível a Melanie e os
outros ouvirem dois deles andando sobre o alçapão, se realmente
estivessem prestando atenção eles os teriam visto, mas ao contrário disso,
destruíram a evidencia de que alguém passara por ali.
Eles se encontravam num túnel sem qualquer tipo de iluminação, por
isso todas as informações do local vinham do tato das pessoas presentes, a
primeira coisa que descobriram é que o túnel não possuía altura suficiente
para se andar totalmente ereto, ele devia ter aproximadamente dois terços
da altura do Valete de Copas, variando um pouco no decorrer do percurso,
o que naturalmente forçou todos a andarem meio abaixados, ele não era
muito largo, era possível tocar dos dois lados com as mãos sem a
necessidade de abrir os braços, apenas uma pessoa podia passar por vez, o

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que fez eles andarem em fila, primeiro vinha o Valete de Copas, seguido
em ordem por Melanie, Morigan, Doris, Rainha de Copas, Robin, João
Pequeno e finalmente Terry, contudo a pior informação sobre o túnel é que
não havia qualquer perspectiva de um final, eles teriam que caminhar as
cegas e simplesmente confiar na sorte.
- Você se lembra onde esse túnel sai, Robin? – perguntou David
depois de estarem caminhando por uns 10 minutos.
- Pelo que me lembro, em algum lugar a leste, fora das minhas terras.
– respondeu Robin meio triste por saber que estas não eram mais suas
terras, agora elas pertenciam ao príncipe João, com esta informação e
fazendo algumas contas básicas o Valete de Copas chegou à conclusão de
que ainda caminhariam aproximadamente por mais uns dez minutos para
chegar ao final do túnel.
Decorridos mais doze minutos o Valete de Copas teve um problema,
se deparou com uma parede o que em primeiro lugar o deixou preocupado,
por não haver qualquer sinal de luz que indicasse o final do túnel, outro
problema foi que devido a preocupação não avisou aos restantes que
parassem, isso fez com que Melanie se chocasse com ele, Morigan com
Melanie e assim por diante até Terry.
- O que houve? – Melanie não entendia por que o Valete parara.
- Bati em alguma coisa, parece uma parede. – agora o Valete de
Copas estava mais calmo, ele percebeu que a parede a sua frente era lisa o
que indicava que ela havia sido escavada por alguém.
– Robin, acha que encontramos a saída? E como fazemos para voltar
a superfície?
- Deve ter uma escada, logo a sua frente. – respondeu Robin, o
Valete de Copas tateou por todos os lados, mas infelizmente nada da
escada.
- Terry, poderia me ajudar? Preciso de um apoio para ver o que
temos mais acima. – prontamente Terry atendeu o pedido do Valete de
Copas, sendo acompanhado por João Pequeno, que tiveram que passar por
todos o que acabou demorando um pouco.
- Eu quero ajudar também. – disse ele.
Terry e João Pequeno acabaram por servir de apoio para o Valete de
Copas, que tateando a parte de cima acabou por encontrar um outro
alçapão, que com muita dificuldade conseguiram abrir, eles saíram do
túnel, estavam finalmente livres outra vez.
Pela posição em que se encontravam em relação a casa, Melanie
pode determinar facilmente onde haviam deixado o Frei Tuck, rumando
assim para seu encontro.

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Durante o caminho Melanie e as outras mulheres da equipe que
estavam disfarçadas precisaram voltar a usar as roupas que estavam antes
de entrarem na casa dos Locksley, a oportunidade perfeita surgiu quando
passaram próximos a um lago.
- Eu e as meninas precisamos tirar esse disfarce. – disse Melanie
após chamar a atenção do Valete de Copas para o lago.
-Vi um lago faz uns instantes, vocês poderiam voltar até lá, se
tiverem algum problema gritem, iremos até vocês. – sugeriu o Valete de
copas, como se tudo houvesse sido combinado antes, assim elas aceitaram
a ideia e foram na direção do lago.
Passados alguns minutos elas voltaram, estavam novamente com as
roupas que estavam usando antes de entrar na casa, e o mais importante
com seus próprios rostos, ao vê-las Robin pensou, “Gostaria de saber como
fizeram os disfarces, tão lindas moças pareciam convincentemente quatro
homens, um ótimo truque”.
Eles continuaram caminhando um pouco, encontrando facilmente o
Frei Tuck, que não entendeu porque voltavam por aquele lado, mas não
perguntou nada, esse não era a melhor hora para isso.
- Esse é Robin Hood? O que se uniria a nós? – foi a primeira coisa
que ele disse após avista-los, ele não entendia como um homem como
aquele poderia ajuda-los, afinal ele não parecia ter nada de especial, e se
pensarmos com calma não tinha mesmo, era só um ótimo lançador de
flechas.
-Não, meu nome é Robin de Locksley, bom frei, e eu agradeço o que
fizeram por mim, mas não tenho a intenção de me unir a vocês, os
Locksley sempre foram fieis ao rei Ricardo, não posso me tornar um
marginal. – explicou Robin.
- Eu sabia! Desde que pus os olhos nele vi que era um covarde,
fizemos tudo isso para nada. – João Pequeno aparentava estar muito bravo,
não podia crer que haviam passado por tudo aquilo por um homem que
nem sequer merecia, e frustrado pois ele também queria alguém que
liderasse o bando contra o príncipe João.
- Acho que está enganado João Pequeno, ele deve estar desorientado,
pelo jeito como está magro deve ter ficado preso uns três ou quatro meses.
– ao ouvir isso Melanie se surpreendeu, lembrava do frei ter dito que havia
sido a poucas semanas, e Robin achou muito curiosa a precisão do Frei
Tuck porque pelas suas contas havia ficado preso por 3 meses e 28 dias. –
logo ele não sabe dos atuais problemas que temos com o Príncipe João.

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- Bom Frei, não sei ao que se refere, mas o rei Ricardo retornara em
breve, ele resolvera estes problemas. – enfatizando Robin no que
acreditava.
- Robin, nos últimos dois meses corre o boato de que o Rei Ricardo
morreu na guerra, não sabemos se é verdade ou se é apenas uma armação
do Príncipe João, o fato é que seja o que for, isso não fará nenhuma
diferença, o ele tem cobrado impostos muito altos, todos que não pagam,
seja por não terem dinheiro, ou por simplesmente não concordarem com
ele, ou ele manda matar, como fez com seu pai, ou ele expulsa as pessoas,
de qualquer forma ele toma as terras para si mesmo, não para o reino, então
se o Rei Ricardo retornara ou não, é o menor dos problemas, o real
problema é se seu reinado ainda existira quando ele retornar, se retornar. –
esta afirmação feita pelo Frei Tuck preocupou Robin, mas o que ele
poderia fazer? Era o que se perguntava.
- Frei, se estiver certo, estamos todos perdidos, não sei de onde
tiraram a ideia de que poderia ajuda-los, não sou nenhum tipo de herói, sou
apenas um homem comum, que tenta fazer o que pode. – justificou Robin
– não desejo criar atritos desnecessários com a coroa.
- Você faz o que pode, né? Então nos mostra o melhor caminho para
roubarmos a casa forte? Nem precisa nos acompanhar ou se envolver, é só
mostrar o caminho. – sugeriu João Pequeno.
- Casa forte? Como assim? – a curiosidade do Frei Tuck era
compreensível, afinal ele era o único que não havia estado na casa,
portanto não tinha como saber o motivo pelo qual tantos guardas foram
utilizados para vigia-la.
- A minha casa serve de caixa forte para guardarem o dinheiro, não
sabia de onde vinha, mas penso que seja dos impostos que o Príncipe João
arrecada, são dois cômodos estão cheios de dinheiro, mas não tem como
roubarmos, o Xerife de Nottinghan tem uns 53 homens lá dentro, e isso foi
só o que consegui contar, podem ser muitos mais, isso supondo que não
tenha trazido mais com ele, temos também um problema com a quantidade
de dinheiro, é muito grande para nós carregarmos, além disso ele pensa que
vocês eram ladrões, só por isso, vai chamar reforços ou mudar tudo de
posição, de qualquer forma não conseguiríamos chegar nem perto do
dinheiro. – Robin queria convence-los de que isso não era uma boa ideia, e
seus argumentos até conseguiram convencer o frei Tuck e João Pequeno,
mas nunca convenceriam o Valete de Copas, que embora não devesse
começou a falar.
- Com certeza ele tomará providências, e analisando podemos ver
que tirar tudo e levar para outro lugar daria muito trabalho, afinal ele teria

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que achar um lugar seguro, colocar tudo em sacos ou baús, a operação teria
que ser feita a noite sem chamar a atenção, e dado ao volume seriam
muitas carruagens ou carroças, logo podemos descartar isso, o mais
provável é ele pedir reforços, e nesse aspecto temos uma vantagem –
Robin fez uma desnecessária cara de “Qual?” já que não entendera, mas
bastaria esperar por que o Valete de Copas explicaria de qualquer forma.
– O Xerife de Nottinghan não viu nenhum de nós, alguns guardas
viram três, contando Robin, Melanie, Doris, Amélia e Morigan, que foram
vistos por outros guardas, somos 8, acredito que ele não imaginaria que
fossemos mais do que uns 20, afinal todos sabem que bandos de ladrões
costumam ser pequenos, (algo que se pensarmos faz sentido, menos gente
para dividir) tudo que precisamos fazer é ir até o acampamento, e recrutar
alguns homens, se conseguirmos uns 50 podemos armar um ótimo plano. –
era impossível saber o que o Valete de Copas estava pensando, mas pelo
jeito ele havia tido uma ótima ideia.
Foi preciso um pouco mais de uma hora e meia para retornarem ao
acampamento, chegando nele o Frei Tuck reuniu os melhores e mais
confiáveis, levando-os até o Valete de Copas, que depois de uma hora
esperando se pôs a explicar.
- Nós descobrimos onde o Príncipe João esconde o dinheiro dos
impostos e pretendemos toma-lo de volta, preciso de voluntários dispostos
a uma boa briga para devolver esse dinheiro a seus legítimos donos, mas
antes de responderem quero dizer que teremos de enfrentar 50 guardas
armados, o que pode ser perigoso. – houve um breve silencio, parecia que
pensavam sobre aquilo que o Valete de Copas dissera.
- E nós não ganharemos nada com isso? – perguntou um deles.
- Eu acho justo que ganhem, afinal, estarão prestando um serviço
público, digamos... 10 por cento do que conseguirmos será dividido entre
vocês. – todos estavam aplaudindo o Valete de Copas quando uma voz
surgiu do meio deles.
- Tá tudo muito bonito, mas 10 por cento de nada, ainda é nada de
quanto estamos falando? – esse foi um momento, que embora tenha sido
muito curto e particularmente critico, por dois motivos, primeiro por que o
Valete de Copas não esperava por este tipo de pergunta, mas especialmente
por não saber exatamente de quanto dinheiro ele falava.
- Duas salas muito grandes com dinheiro do chão ao teto, eu vi com
meus próprios olhos. – respondeu Robin, para felicidade do Valete de
Copas. -Então, quem quer vir conosco? – disse finalmente o Valete de
Copas enquanto quase todos se habilitaram levantando suas mãos.

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– Ótimo sigam-me – eles foram a uma clareira na floresta onde
David explicou seu plano, todos concordaram, assim ao cair da noite
colocariam seu plano em ação.
- David, quero ir com vocês. - disse Robin quando eles estavam
quase saindo.
- Não disse que não queria se envolver? – questionou David meio
incrédulo.
- Ainda não quero, apenas gostaria de ajudar como puder, como
forma de agradecer por terem me libertado, conheço bem o interior da
casa, posso indicar o melhor caminho. – pensando dessa forma David até
achou uma boa ideia leva-lo, mas tinha serias dúvidas se poderia confiar
nele, pois era difícil ver Robin Hood naquele homem que mais parecia um
covarde.
Com a chegada da noite os homens do bando se posicionaram,
alguns nos limites das terras dos Locksley, outros dentro do túnel que
serviu de rota de fuga para Melanie e sua equipe.
Do lado de fora eles estavam divididos em oito equipes de 10
homens cada, quatro lideradas por Melanie, Doris, Rainha de Copas e
Morigan uma com cada grupo, Robin, David, Terry e João Pequeno
lideravam os outros quatro grupos de 10 homens, a tarefa do grupos das
moças era colocar fogo na mata do lado de fora da terra dos Locksley,
porque uma vez que a mata estava muito crescida e seca o fogo se
espalharia rapidamente, e ao mesmo tempo estaria contido fora das terras
dos Locksley, pois entre a mata no interior das terras e a do lado de fora
havia um grande espaço que provavelmente fora produzido devido a cerca
que os separava.
O objetivo desta manobra era cercar a casa principal, ocupando boa
parte dos guardas, dando a ideia de que queriam queima-la, elas deveriam
iniciar o fogo 40 minutos após os homens terem entrado nos tuneis para
que houvesse tempo suficiente para chegarem à casa.
- Senhor, avistaram fogo do lado de fora. – disse um dos guardas
aflito ao Xerife de Nottinghan com uma urgência incomum na voz.
- Porque você simplesmente não manda alguém apagar? – o xerife
não deu a menor importância ao que o guarda disse, estava distraído
demais contando o dinheiro dos impostos.
- Senhor, acredito que não seja tão simples. – tendo ouvido isso o
Xerife de Nottinghan, primeiro encarou o guarda, não acreditava em sua
petulância, porque simplesmente não executava a ordem, depois foi até
uma janela próxima de onde poderia ver o fogo do qual o guarda falava,
pensava ser algo que seria facilmente resolvido, mas o que constatou é que

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o fogo vinha de todas as direções e que seria difícil controla-lo, aquilo com
certeza era uma espécie de armadilha.
- Aqueles malditos ladrões, mas isso não é problema, triplicamos os
guardas, pegue um grupo para apagar o fogo e outro bem armado para
protege-los, mate qualquer coisa que se mexer. – ordenou o Xerife de
Nottinghan imaginando que tentariam realizar um ataque aos guardas que
estariam ocupados apagando o fogo, e que ao protege-los estaria seguro.
Assim que os guardas saíram para apagar o fogo, aos poucos os
grupos de homens que estavam na passagem abaixo da casa foram subindo
para as partes superiores da casa, de modo rápido, sistematicamente
dominando os poucos guardas que ficaram dentro da casa, deixando por
último duas salas, a que neste momento estava o Xerife de Nottinghan e
uma sala onde estava o restante dos impostos.
- João Pequeno, leve os homens e tire todo o dinheiro daqui, usem o
túnel para sair. – João Pequeno assentiu com o Valete de Copas mexendo a
cabeça em sinal de positivo - enquanto isso eu, Terry e Robin vamos
conversar com o Xerife de Nottinghan.
Os três estavam com os arcos em punho quando abriram a porta da
sala onde estava o Xerife de Nottinghan, dominando facilmente os quatro
guardas que o acompanhavam, e permitindo que alguns homens pegassem
todo o dinheiro que estava naquela sala também.
- Quem são vocês? – indagou o Xerife para o Valete de Copas.
- Também poderiam me dizer como souberam que os impostos
estavam aqui? – mas ele mesmo respondeu.
- Não precisam responder, mas estou muito curioso para saber como
pretendem sair daqui. – ele queria ganhar tempo, afinal não sabia sobre o
restante dos homens, nem sobre a passagem que os permitiu entrar e agora
os permitiria sair, o Valete de Copas sabendo disso riu.
- Não sabíamos, foram vocês quem nos disseram, nós estávamos
apenas procurando Robin de Locksley. – para o Xerife de Nottinghan
aquilo não fazia qualquer sentido, porque alguém quereria Robin de
Locksley? Mas com isso conseguiu distrai-los, ele pode pegar uma besta
que estava abaixo da mesa onde ele se encontrava disparando-a
mortamente na direção do Valete de Copas, que ele acreditava ser o líder
do bando.
Este foi com certeza um momento estranho, talvez por não ter
pensado nisso o Valete de Copas não teve tempo de fazer nada, a pequena
flecha com certeza o mataria, aqui talvez você se pergunte, mataria? Como
assim mataria? É uma duvida razoável, mas apenas para esclarecer a flexa
só o mataria se ele estivesse sem o uniforme por que nas condições em que

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se encontrava essa flechinha não lhe faria mal algum, claro que se a flecha
o alcançasse ele teria um problema, como explicar isso, afinal ninguém
dessa época sabia da existência dos uniformes.
Robin, no entanto, era outra história, tendo visto o ocorrido, talvez
por puro reflexo ou com a intenção de agradecer a um amigo, lançou a
flecha que estava em seu arco atingindo a flecha que voava rumo ao Valete
de Copas, desviando-a, lançando em seguida outra na direção do Xerife de
Nottinghan que se prendeu no gatilho impedindo-o de atirar novamente.
- Você? – só agora o Xerife de Nottinghan percebeu algo que jamais
imaginaria, aparentemente Robin se uniria aos bandidos, na verdade nem
ele mesmo imaginaria, mas ali estava ele ajudando David a roubar o xerife,
o que se tornaria um caminho sem volta.
- Vou persegui-los até a morte, mas principalmente você Robin de
Locksley, você traiu a coroa e seu castigo será o pio... – o Xerife de
Nottinghan não pode concluir a ameaça, David o amarrou e amordaçou
como fizera como os outros guardas, ele não queria ser vítima de gritos
desnecessários.
Depois disso eles se juntaram a João Pequeno na coleta do dinheiro,
caixas, sacos baús, enfim, tudo que continha algo de valor foi pego pelo
bando, de modo que três horas e meia depois de começarem, a sala onde
antes havia uma fortuna digna de um rei, agora estava completamente
vazia, logicamente eles saíram pelo mesmo caminho por onde entraram de
modo que quando o fogo foi controlado, horas depois de ter sido iniciado o
bando já estava bem longe dali, ao entrar na casa, os homens que estavam
apagando o fogo, tiveram uma visão, no mínimo curiosa, os guardas dentro
da casa amarrados e ninguém que aparentemente tivesse feito aquilo.
- Rápido! Procurem os ladrões que entraram na casa. – foram as
primeiras palavras do Xerife de Nottinghan que descobriu logo após duas
coisas, a casa forte não possuía mais dinheiro nenhum e um alçapão que
servira de rota de entrada e saída para os ladrões, ele amaldiçoou a todos e
partiu naquela tarde para dar as notícias ao Príncipe João, que não ficaria
nada feliz com isso.
Três horas e meia após iniciada a fuga os homens finalmente
retornavam ao acampamento, comemorando sua vitória com um grande
jantar e aclamando o Valete de Copas como seu líder, no momento em que
ele falaria a todos o que ocorrera, Melanie lhe mostrou o cronometro, eles
tinham menos de uma hora para retornar a clareira onde a janela se abriria.
- Senhores! – disse ele com urgência na voz.
– O verdadeiro herói é Robin de Locksley, ele salvou minha vida, ele
é quem deve ser o novo líder - se dirigindo baixinho a Robin.

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– Robin, eu não posso ficar, eles precisam de alguém que os guie,
além disso você ouviu o Xerife de Nottinghan, ele vai caçar você até a
morte, estará mais seguro com eles, sobre a proteção de Sherwood. –
Robin concordou e pela primeira vez como líder se dirigiu ao bando.
- É com muita honra que aceito a proposta de David, mas para isso
hoje morre o nobre conhecido como Robin de Locksley, em seu lugar
nasce aquele que roubara dos ricos para dar aos pobres, o bandido Robin
Hood. – durante o tempo que todos glorificavam Robin, Melanie e sua
equipe saíram quase despercebidos, apenas o Frei Tuck os viu se
afastando.
Achando aquilo estranho, se perguntou porque eles estariam saindo
sorrateiramente, talvez por isso decidiu segui-los se mantendo a uma certa
distância, para tentar saber o que estava acontecendo, o Valete de Copas,
assim como Terry o viram, mas sabiam que ele não os alcançaria a tempo
de perguntar ou questionar qualquer coisa a eles.
Eles chegaram na clareira faltando 10 minutos para a janela se abrir,
o Frei Tuck também parou mantendo quase a mesma distância que os
separara por todo o caminho, achava ser mais seguro, após esperar um
pouco e percebendo que talvez não saíssem dali, ele decidiu falar com eles,
no entanto, enquanto se deslocava por entre as folhas que o separavam e
não permitia que os visse diretamente a janela se abriu e eles se foram,
quando o Frei Tuck chegou na clareira eles não estavam mais lá, ele até os
procurou, mas não os via em lugar algum, e o mais esquisito as pegadas
também sumiam naquele ponto, mas eles não podiam simplesmente terem
sumido no ar, ele pensava, e sem saber o que houve ou quem eram Melanie
e sua equipe, retornou ao acampamento pensando o que diria a Robin e
João Pequeno, se eles acreditariam, e se algum dia voltaria a vê-los.

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