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TEXTO E DIREÇÃO: JULIANA COUTINHO

CENA 1
Duende entra em cena e começa a narrar a história.
DUENDE- Era uma vez uma fada chamada Malu. Ela era uma pequena
fada que não via o mundo como ele era de verdade, mas sim como ele
poderia ser. Ela colocava sempre um pouco de magia, amor e carinho
em tudo. Para seu pai e sua mãe, Malu era única no mundo. Ela não
tinha título de rainha, é verdade, nem coroa, nem castelo, mas cá entre
nós, ela nem precisava. O seu jeito de ser, bastava. E de tanto bastar,
ela alegrava todos os lugares por onde passava, não tinha uma pessoa
que não a conhecesse. Malu cresceu e se tornou uma grande Fada
Madrinha. Dizem por ai, que havia até fila de espera para ser afilhada
da fada. Malu deixava todo mundo feliz e todo mundo queria ser
cuidado por ela.

Coreografia inicial de apresentação da Fada Malu. A coreografia


começa feliz, mas é interrompida por uma grande trovoada e barulho de
soldados marchando. Enquanto Duende explica a história a coreografia
encena o que é falado.

DUENDE- Acontece que as coisas mudaram, elas andam estranhas de


uns tempos para cá. Há muitos e muitos anos atrás, lá nos anos de mil
novecentos e bolinha uma grande, uma grande guerra entre duas
grandes famílias destruiu o grande Reino do Norte. Cansadas de tanta
guerra, um grupo de fadas, se uniu e lançou um feitiço criando um
tratado de paz. Tratado esse que vinha dando muito certo até pouco
tempo. Com a chegada do Rei Temerus no poder, o Reino seguiu novos
rumos e as coisas mudaram por aqui. Mas, esse não é o foco da nossa
história. (fica nervoso) Ai, ai! Por onde começar? Que tal começar
por...Já sei! Prestem bem atenção! Eu vou voltar até o dia em que a
coisa ficou feia! Em que tudo se escafedeu, em que deu a louca, deu
zebra, deu xabu, deu ruim. No famoso dia em que o gato subiu no
telhado. No dia em que a vaca foi pro brejo!

CENA 2
Todos estão em cena,menos a fada Malu, falando ao mesmo tempo.
Uma verdadeira confusão: alguns andam de um lado para o outro,
outros fazem gestos grandes e alguns choram de desespero. A
confusão é interrompida pela Detetive.
DETETIVE- Silêncio!!! Como todos sabem a fada Malu se encontra
desaparecida desde ontem. Nós já começamos as buscas e como
detetive é minha obrigação falar com todos próximos à vítima.
PRINCESA- Vítima? Será que ela morreu?
FININHA- Não fala isso, menina! O que a Detetive está querendo dizer é
só questão de protocolo! Termos técnicos.
GLINDA- E agora?
SEREIA- O que vamos fazer?
RAINHA DAS FADAS- Eu, como Rainha das fadas peço que algo seja
feito imediatamente!
RAINHA- Nós também! Afinal, não posso eu, uma Rainha, ficar sem
fada Madrinha. Onde já se viu?
REI- Algo precisa ser feito, eu ordeno!
BRUCE- E se foi um sequestro?
RISO- Verdade! Todos sabemos que o reino não anda muito seguro
desde que fomos submetidos a essas novas regras!
REI- Não vamos falar das questões do reino agora. Precisamos achar
essa menina.
PRINCESA- Ai meu deus! Que horror!!! Uma pobre fada sendo
sequestrada?
GLINDA- Pobre, Malu...Não merecia uma coisa dessas!
DETETIVE- Fiquem calmos. Não vamos tirar conclusões precipitadas.
FININHA- Nós precisamos de provas.
TODOS- Provas?
DETETIVE- Isso mesmo! Nós iremos colher o depoimento de todos
vocês.
FININHA- Queremos saber tudo! Desde a primeira vez que vocês viram
a fada Malu até a última!
RAINHA DAS FADAS- Vocês estão dizendo que somos suspeitos?
GLINDA- Isso é um absurdo!
GLINDA- Concordo! Por que faríamos uma coisa dessas?
PRINCESA- Eu jamais faria alguma coisa contra minha própria fada
Madrinha.
SEREIA- Muito menos eu!
RISO- Eu muito menos!
RAINHA- Essa acusação é sem fundamento.
BRUCE- Nós? (irônico) amamos a fada Malu, por que faríamos uma
coisa dessas?
FININHA- Será?
SEREIA- Isso é verdade também ou é só questão de protocolo?
GLINDA- Isso é um absurdo, isso sim!
Todos começam a falar juntos.
DETETIVE- Silêncio! Vamos todos ficar calmos!
FININHA- Não queremos ser injustos com ninguém.
DETETIVE- É por isso que todos serão ouvidos, um por um. Quem não
deve não teme!
Todos começam a falar ao mesmo tempo indignados com a acusação.

CENA 3
Estão em cena a Rainha das fadas, Detetive e Fininha. Os três parecem
bastante tensos e nervosos.
RAINHA DAS FADAS- Detetive, eu exijo que algo seja feito. A fada Malu
é uma das minhas melhores fadas.
DETETIVE- Nós estamos aqui justamente para isso. A senhora por
acaso não reparou algum comportamento estranho da fada Malu nos
últimos dias?
RAINHA DAS FADAS- Comportamento estranho? Acredito que não.
Malu já é uma fada madrinha há alguns anos… sempre tão dedicada,
amorosa…
FININHA- E quando foi a última vez que a viu?
RAINHA DAS FADAS- A última vez foi no meu escritório. Ela marcou
um horário para conversarmos.
DETETIVE- E sobre o que era essa conversa?
RAINHA DAS FADAS- A Malu veio com uma história esquisita, veio falar
sobre mudanças. Não entendi muito bem. Disse que era coisa da
cabeça dela, que ela devia estar ficando louca!
FININHA- Ficando louca?
RAINHA DAS FADAS- Exato. Ela não falava coisa com coisa.
DETETIVE- Imagino. Mas a senhora não acha preocupante ela ter
falado desse jeito?
RAINHA DAS FADAS- Muitas fadas se queixam para mim, todos os
dias, é normal, mas as coisas que a fada Malu me falou, eram um tanto
quanto esquisitas.
FININHA- Esquisitas?
RAINHA DAS FADAS- É! Então, eu expliquei que devia ser cansaço,
que ela precisava descansar e voltar ao trabalho dela. Fada é assim,
nasceram pra isso mesmo…
DETETIVE- Nasceram?
RAINHA DAS FADAS- Nasceram! Nós fadas temos nossas funções
determinadas assim que nascemos. Eu, por exemplo, sou rainha por
determinação. É questão de dom, sabe. A fada Malu é madrinha de
coração. Ela ama o seu trabalho desde que nasceu e...
FININHA-(interrompendo) A senhora tem certeza? Não acha que…
RAINHA DAS FADAS-(irritada) A senhora acha que eu estou mentindo,
é isso? Eu exijo respeito! Cadê a minha fada? A senhora não imagina o
caos que essa história está causando na nossa comunidade. As fadas
estão assustadíssimas com tudo isso! Onde já se viu?
A detetive puxa fininha para um canto.
DETETIVE- Essa história vai muito além do que pensamos, Fininha.
FININHA- Eu estava pensando exatamente isso! Mas, e agora?

CENA 4
Todos os personagens estão em cena, cada um em um canto. No meio,
a fada Malu. O duende entra para narrar a história.
DUENDE- Perguntas, perguntas, perguntas. Precisam de respostas,
respostas, respostas. Malu ajudava todo mundo e as coisas andavam
esquisitas demais no Reino. O que ela não conseguia entender, era
como ninguém percebia isso. Todos só se preocupavam com as suas
questões. E ela, tadinha, com as questões deles, com as questões do
Reino e quando sobrava tempo, com as questões dela. Será que
ninguém percebeu que tem caroço nesse angu, minha gente?
MALU- Primeiro eu preciso passar no Rei e falar com ele sobre a
questão dos impostos, depois ajudar a dona Maria a fazer os doces
para a festa da primavera, depois ir ao palácio, fazer comprar, ajudar a
Rainha...Ah! Não posso esquecer da colheita.Ai meus deus! É muita
coisa!
TODOS- Malu!
MALU- No que posso ajudar?
Todos entram falando ao mesmo tempo.

Canto1: Rei e a Rainha discutindo.


REI- Eu não aguento mais! Isso é um absurdo! Agora é moda: o povo
acha que pode tirar o meu poder.
RAINHA- Seu poder? E o nosso dinheiro? Eu vou ficar pobre. Você não
pode deixar isso acontecer. Tem baile novo vindo! Eu preciso de novas
jóias!!! Se você tivesse me escutado…
REI- Se eu tivesse escutado o quê? Até parece que você é mais
preparada que eu para governar…
RAINHA- Não é o que o povo acha, meu bem.
REI- E o que o povo entende disso?
RAINHA- Olha, o que o povo entende eu não sei, mas a gente precisa
conversar. Será que você não percebe?
REI- Não percebo o que, Beatrice?
RAINHA- Desde que você mudou essas leis, aumentou os impostos e
colocou o Reino numa crise, você também colocou o nosso casamento
numa crise!
REI- Meu Deus! Você cismou com isso, não é?
RAINHA- Eu cismei com o quê?
REI- Com essa história de crise matrimonial. É o quê? Quer uma jóia
nova? É isso que você quer?
RAINHA- Você é um insensível isso sim!
REI- Chega, Beatrice. Eu não aguento esse showzinho todo! Cadê a
Malu? Eu não já pedi para ligarem para a nossa fada madrinha? Cadê
ela?
RAINHA- A gente paga caro demais para esses empregados e nem
para isso eles servem.
Malu aparece afobada.
REI- Querida, ainda bem que você chegou. Só você pode me ajudar…
RAINHA- O problema é que…
MALU- Deixa eu adivinhar: o povo está querendo tirar o Rei do poder!
OS DOIS- Isso!
MALU- E vocês não sabem como mudar a história…
OS DOIS- Certo!
MALU- E se a gente falar a questão de outra forma?
OS DOIS- Como assim?
MALU- O povo está indignado porque não tem educação, segurança e
saúde com um mínimo de dignidade e enquanto isso o Rei e a Rainha
gastam um dinheirão com jóias, festas, comidas caras... Por isso, o
povo cansou de tanto pedir e resolveu tirar o senhor do poder.
REI- Mas o que eu faço agora?
MALU- Que tal começar ouvindo o povo. Entendendo suas questões e
usando o dinheiro para eles e não para os seus próprios gastos?
RAINHA- Como se fosse fácil!
MALU- Mas é!
REI- É?
MALU- Sim! E eu vim justamente aqui para isso. Existe uma guerra
acontecendo lá fora. Há muitos e muitos anos atrás os seus avós
fizeram um tratado para ficarmos em paz e com essas novas leis, está
indo tudo por água abaixo. O Rei precisa pensar um pouco em seu
povo, não acha?
REI- Mas o Rei pensa!
MALU- Pensa?
RAINHA- Querido, precisamos admitir que você não anda pensando
muito no povo. Que tal criarmos ações sociais. A gente usa o dinheiro
dos impostos para investir no povo e no bem estar do Reino.
REI- E as suas jóias, Beatrice.
RAINHA- As minhas jóias são importantes, é verdade, mas podemos
comprar com nosso salário e não com o dinheiro dos impostos, certo?
REI- Calada, Beatrice!
MALU- Ei! Talvez ela tenha razão. Onde já se viu falar assim com a sua
mulher, Temerus?
RAINHA- Deixa, Malu, um dia eles percebem que nós mulheres
fazemos muito mais do que cuidar da casa...
REI- Um dia, Beatrice, um dia! Malu, querida, acho que deve estar
havendo um engano aqui. Te chamei aqui para concordar comigo e não
para ir contra mim! Eu vou continuar cobrando impostos sim! Ninguém
aqui sabe governar melhor do que eu! Onde já se viu, uma fada
achando que pode dizer o que eu devo e o que eu não devo fazer. Esse
tratado de paz é coisa do passado. Os tempo são outros.
MALU- O senhor…
REI- Tenho certeza absoluta. Se não tivesse, não seria, Rei. Se a
senhorita não está aqui para ajudar, pode se retirar.
o telefone dela toca
MALU- Ok, eu tenho que ir, eu só...É...que…(se embola toda)

Canto2: Princesa Sofia muito triste.


MALU- Ei, querida, o que houve?
SOFIA- Malu, é um desastre!
MALU- Como assim um desastre? Ai meu deus! O Pedro não te ama
mais? É isso!
SOFIA- Não é isso. Eu contei para o papai e para mamãe que eu não
queria me casar com o Príncipe Miguel mas eles não entendem. Com
esse tratado de paz quebrado, nossas famílias se odeiam cada vez
mais. Nunca irão deixar eu e o Pedro ficarmos juntos!
MALU- Meu amor, sei que tudo isso que está acontecendo é horrível…
essa guerra toda!
SOFIA- E o que eu faço? Vou ser infeliz por isso?
MALU- Claro que não! Mas eu aprendi uma coisa muito importante
nesses meus anos como fada madrinha: não há nada mais forte que o
amor.
SOFIA- Será? O amor é tão difícil, que saco isso.
MALU- E é justamente isso que o torna tão fascinante. Essa coisa de
sentir o coração acelerar, o medo, o desejo pela perfeição.
SOFIA- Que coisa mais ridícula acreditar no amor, Malu.
MALU- Amor rima com dor. É esquisito, eu sei. Mas isso é uma coisa
que a gente só entende com o tempo. Ou nem entende mesmo. O amor
não tem explicação. Ele é essa coisa aí toda que você está sentindo.
SOFIA- Qual é o sentido de uma coisa se ela dói tanto?
MALU- O sentido é justamente não ter sentido. O sentido é justamente
valer a pena por ser o que é. O que tiver que ser…
SOFIA- Você já amou, Malu?
MALU- Eu...é...eu...amei. Não. Sim. Talvez.
SOFIA- Eu acho que a melhor opção é eu desistir dessa história toda.
Está decidido.
MALU- Não, Sofia, você não pode fazer uma coisa dessas. Acredita em
mim.
SOFIA- Eu não, na última vez que eu acreditei, deu tudo errado. Cansei
de sofrer. Quero ser uma mulher independente.
MALU- Mas…
SOFIA- Sem mais, Malu. Obrigada pela visita, foi ótima, mas já pode ir.
Malu abaixa a cabeça e sai. O telefone da fada toca.

Canto3: Bruce está de frente para uma caverna escura. Ele entra em
pânico.
BRUCE- Ai meu deus do céu! Eu não vou conseguir. Droga! Eu nunca
vou conseguir ser um caçador de dragões igual ao meu pai.
A fada Malu surge.
MALU- E nem precisa ser.
BRUCE- Você fala isso porque você é super competente. Pra você é
fácil!
MALU- Facilidade é só ponto de vista. Você acha que eu acho fácil, mas
às vezes é difícil pra caramba. E além disso, você é filho do seu pai e
não ele. Você não precisa ser igual a ele.
BRUCE- E como ele vai sentir orgulho de mim? Com essa guerra vindo
ai, ele vai querer que eu lute junto com ele, Malu.
MALU- Ele vai sentir orgulho de quem você é.
BRUCE- Orgulho de um caçador com medo de escuro?
MALU- Você já fez isso uma vez e deu certo. Por que ter medo de
novo?
BRUCE- Porque toda vez eu lembro que essa caverna ai na frente é
escura e eu tenho muito medo do escuro.
MALU- O escuro pode ser mesmo assustador mas se a sua vontade é
maior...vai em frente.
BRUCE- Eu já tentei, mas quando eu chego bem perto, eu percebo que
o meu medo é bem maior. E aí eu volto.
MALU- Quando você dorme, você não fecha os olhos?
BRUCE- Fecho!
MALU- E fica escuro, não fica?
BRUCE- Fica!
MALU- Quando você dorme, você tem sonhos bons num tem?
BRUCE- Tenho!
MALU- Você só tem sonhos bons se passa pelo escuro do fechar dos
olhos. Agora, fecha os olhos, finge que tá dormindo e entra! Vai que tem
um sonho lindo ai dentro e você tá com medo do que você nem sabe se
existe!
BRUCE- Será?
MALU- Vai, Bruce. Eu acredito em você!
BRUCE- É, mas você não é o suficiente. E toda vez você fala a mesma
coisa e eu continuo com medo. Você não é o meu pai, Malu, isso nunca
vai dar certo.
MALU- Mas, mas...Acredita em mim!
BRUCE- Desculpa, Malu, mas dessa vez eu não vou poder acreditar em
você.
Ele sai andando. A fada fica olhando para ele. O telefone dela toca.

Canto4: Riso está sentado com a cabeça baixa.


MALU- Oi! (muda a entonação) Alôoo! Cheguei! To aqui! (ela tenta
chamar atenção dele)
RISO- Eu sou uma droga mesmo! Mas é claro que ninguém ri de mim.
MALU- Ah! Vai! Não pode ser tãaao difícil assim!
RISO- Pois eu aposto que é difícil! Mas não é difícil pros outros, é difícil
pra mim. E sabe qual é a piada disso? Eu sou um bobo da corte! A
minha função é só e apenas fazer os outros rirem!!!
MALU- Ei, não fica assim. Já sei!
RISO- O quê?
MALU- Eu vou te ajudar! Vai! Levanta! Conta uma piada para mim.
RISO- Tem certeza?
MALU- Tenho! Absoluta! Vamos!
Riso se faz um super aquecimento para contar a piada.
RISO- Qual é o fim da picada?
MALU- Num sei…
RISO- Quando o mosquito vai embora! (fica silêncio) Viu! Você não riu!
MALU-(sem graça) Mas eu sou difícil de rir mesmo!
RISO- O que é que a banana suicida falou? (silêncio) Macacos me
mordam!
Malu força uma risadinha.
RISO- Eu sou um desastre!
MALU- Tem certeza que o problema é a piada?
RISO- E qual seria?
MALU- Quando eu era mais nova eu tinha muito medo de voar. Eu
achava que não era boa o suficiente para isso e veja só: fadas
nasceram para voar.
RISO- E o que que tem isso?
MALU- Quando eu achei que já não podia mais, minha avó me falou
assim: Minha querida, se você não acredita em você mesmo, ninguém
vai acreditar. Esse é o segredo de voar.
RISO- Mas voar é fácil.
MALU- Não é não! A questão aqui é que se você ficar o tempo todo se
achando ruim, você vai ser sempre ruim. Você precisa acreditar em
você, os outros são consequência. Eu acredito em você, você acredita?
Fica um silêncio.
RISO- Não.
MALU- Ué. Como não?
RISO- Eu não acredito, oras. Simples assim. Eu sou um desastre e
ponto final. Está decidido: vou pedir demissão.
MALU- Como assim?
RISO- Isso mesmo. Deu pra mim, não dá mais. A-ca-bou! Eu desisto.
MALU- Desiste?
O telefone de Malu toca. Malu está cada vez mais cabisbaixa.
Canto5: Glinda está tentando fazer um feitiço, mas não consegue.
GLINDA- Maldição! Não é possível que seja tão difícil assim fazer uma
poção mágica para o bem!!!!
MALU- O que foi dessa vez, Glinda?
GLINDA- Eu preciso fazer uma poção do amor, mas eu só consigo fazer
poções de morte, hipnose… tudo menos do amor!
MALU- Claro! Poções do amor só podem ser feitas por aqueles que
amam e…
GLINDA- E eu sou uma Bruxa! Droga!
MALU- Eu já falei para você tirar essa ideia da cabeça. Onde já se viu
bruxa virar fada? E não é porque você é bruxa, que não pode amar!
GLINDA- Você não entende! Eu não aguento mais ser má. Ninguém
gosta de pessoas más!
MALU- O que é a maior bobagem…
GLINDA- Claro que não!
MALU- Claro que é! Você é bruxa por natureza e por mais difícil que
seja, a gente não deve ir contra a nossa natureza. Eu nasci fada
madrinha e morrerei fada madrinha.
GLINDA- Eu nasci bruxa má e morrerei bruxa má! Que tristeza!
MALU- Não acho! Só porque você tem uma natureza não significa que a
sua essência tenha que ser ruim. Você não pode ser uma fada, mas
pode ser uma bruxa boa.
GLINDA- E como faz pra ser boa?
MALU- Você sabe…
GLINDA- Sei?
MALU- Escuta seu coração. Eu tenho certeza de que ele sabe.
GLINDA- Mas e se o que ele sabe for o errado?
MALU- Não existe certo ou errado. O nosso coração sempre sabe o que
é melhor pra gente.
GLINDA- O nosso coração sabe quando a gente é uma pessoa boa e
eu não sou uma pessoa boa.
MALU- É sim!
GLINDA- Não sou.
MALU- É sim!
GLINDA- Será que não consegue entender? Eu não sou!!!!!! (Ela lança
um feitiço para cima da Malu, que sai correndo assustada)
O telefone da fada toca.

Cena6: A sereia está cabisbaixa.


MALU- Carol, o que foi dessa vez? Sua mãe disse que você está
precisando de ajuda!
SEREIA- Eu já disse pra minha mãe que eu não preciso de ajuda.
MALU- Tem certeza?
SEREIA- Eu tô gorda? E meu cabelo tá bom? E a minha pela? Ta
oleosa né?
MALU- Toda vez a mesma coisa…
SEREIA- Eu preciso estar bonita, Malu.
MALU- Mas você é bonita!
SEREIA- Você acha?
MALU- Toda vez eu te digo a mesma coisa. Por que essa preocupação
toda?
SEREIA- Porque eu vivo da minha imagem ué.
MALU- Que tal viver disso que tem dentro de você hein?
SEREIA- Eu sei, mas será que essa cor de batom ta boa mesma?
MALU- Carol, tem um guerra para acontecer e você está preocupada
com o seu look. É sério isso?
SEREIA- Malu, justamente! Com a guerra, muitas pessoas passarão por
aqui, eu preciso estar bonita para receber os nossos visitantes.
MALU- Eu desisto! Está ótima! Era só isso?
SEREIA- Era!
MALU- Posso ir então?
SEREIA- Pera, pera! Antes de você ir, pode dizer só mais um vez se
meu cabelo ta bom mesmo? Ain meu deus! Como eu sou linda né?
O telefone toca. Malu está exausta e triste.

CENA 5
A detetive está em cena para interrogar o Rei e a Rainha, Bruce e
Glinda.
DETETIVE- Como vocês sabem a nossa intenção aqui é descobrir o
que aconteceu com a fada Malu e para isso vocês precisam ser
honestos. Posso contar com vocês?
TODOS- Sim.
DETETIVE- Rei e Rainha, então a última vez que vocês se encontraram
com a Malu foi no palácio de vocês. Como terminou esse encontro?
REI- Olha, Detetive, preciso ser sincero, Malu não estava muito bem...
RAINHA- Querido, não seja indelicado.
REI- Preciso dizer que ela não falava coisa com coisa, Detetive.
RAINHA- O que é um absurdo, cá entre nós!
DETETIVE- Como assim? Sobre o que falaram?
REI- Detetive, a Malu é mais que uma fada madrinha, ela é como uma
fada conselheira. Seu dever é nos ajudar com as questões do Reino,
mas dessa vez ela parecia louca. Não falava nada com nada.
RAINHA- E do nosso relacionamento…
REI- É o que?
RAINHA- A função dela é nos ajudar com as questões do Reino e do
nosso relacionamento.
REI- Você cismou com isso né? Não é possível que você não veja…
RAINHA- Não veja o que? Você tá me chamando de louca?
O Rei e a Rainha começam a brigar.
DETETIVE- Quietos! Não estou entendendo, o que faz disso algo
estranho?
REI- Ela começou a falar sobre questões políticas. Um saco!
GLINDA- Detive, será que não podemos ser mais rápidos e breves?
BRUCE- Verdade. Estamos aqui para ajudar mas…
DETETIVE- Mas, a vida de vocês é mais importante não é mesmo?
GLINDA- Não é isso, Detetive. Não interprete a gente errado.
BRUCE- Eu não faço a minima ideia de onde a Malu possa estar. Nosso
último encontro foi
rápido. Ela estava toda esquisita.
DETETIVE- Esquisita?
GLINDA- É! Esquisita. Com uns tiques estranhos, nervosa, ansiosa.
DETETIVE- Ansiosa?
TODOS- É.
DETETIVE- Será que não passou pela cabeça de vocês que ela poderia
estar certa?
REI- Claro que não.
RAINHA- Ela é uma fada madrinha. Fadas madrinhas concordam.
BRUCE- É verdade. Podemos acreditar nela até um certo ponto.
GLINDA- Detetive, a questão aqui é que já ficou claro que não sabemos
de nada.
DETETIVE- Será mesmo que não sabem?
BRUCE- Se bem que teve outro dia que…
TODOS- SHI...
DETETIVE- Outro dia o que?
BRUCE- Não, não é nada…
DETETIVE- Essa história está muito estranha e eu acho que vocês
podem ser culpados pelo
sumiço da fada.
TODOS- A gente?

CENA 6
Fininha interroga Princesa Sofia, Riso e Sereia Carol.
FININHA- Como vocês sabem a nossa intenção aqui é descobrir o que
aconteceu com a fada
Malu e para isso vocês precisam ser honestos. Posso contar com
vocês?
TODOS- Sim.
FININHA- Princesa Sofia, a senhorita era muito próxima da fada, certo?
PRINCESA- Certo. Princesas tem fadas madrinhas desde que elas
nascem. É como um presente.
FININHA- Então, a senhorita sabia o que ela mais gostava, o que fazia
nas horas vagas... Qual era a cor preferida dela, por exemplo?
PRINCESA- Para falar a verdade, eu não sei.
FININHA- Como não? E sobre o que conversavam?
PRINCESA- Sobre mim.
FININHA- Riso, você saberia me dizer a cor preferida da fada Malu?
RISO- Ah! Deve ser azul. Ela tem cara de quem gosta de azul.
FININHA- Tem cara de gostar? E você, Carol?
SEREIA- Rosa?
FININHA- Meu deus! Você sabem ao menos onde ela morava por
exemplo?
RISO- Numa árvore?
SEREIA- Num castelo?
PRINCESA- Na casa dos pais?
FININHA- Princesa Sofia, a fada Malu perdeu os seus pais quando
ainda era criança. Você não sabia?
PRINCESA- Não. (triste) Ela nunca falou sobre isso.
RISO- Ou a gente não perguntou.
SEREIA- Ou melhor: a gente nem quis saber…
FININHA- Da última vez que a viram, me contem, o que aconteceu.
PRINCESA- Não lembro muito bem.
FININHA- Não?
RISO- Ela estava estranha…
FININHA- Estranha?
SEREIA- Dando uns conselhos esquisitos…
FININHA- Esquisitos?
PRINCESA- Não falava coisa com coisa, Detetive.
SEREIA- Mas nada com que devemos nos preocupar.
FININHA- Tem certeza que só foi isso? Nada demais mesmo?
SEREIA E PRINCESA- Sim!
RISO- Se bem que teve outro dia que…
TODOS- SHI!!!
FININHA- Outro dia o que?
RISO- Não, nada não, esquece...
FININHA- Essa história está muito estranha e eu acho que vocês podem
ser culpados pelo sumiço da fada.
TODOS- A gente?

CENA 7
Malu entra no escritório da Rainha das Fadas. Malu parece muito
cansada e a Rainha muito ocupada.
RAINHA DAS FADAS- Querida, que bom receber você aqui. Não nos
vemos há tanto tempo. Você está ótima! O que quer falar de tão
importante comigo?
MALU- Sabe o que é, Rainha. É que eu...eu nem sei como dizer. Mas,
sinto que nós, fadas, precisamos fazer alguma coisa a respeito do que
vem acontecendo no Reino.
RAINHA DAS FADAS- Já entendi tudo!
MALU- Entendeu?
RAINHA DAS FADAS- Entendi. Mas você precisa entender que ser
madrinha é assim mesmo. A gente vê as coisas e ajuda até onde pode,
faz a sua parte e no final dá tudo certo.
MALU- Eu sei. Acontece que eu gosto de ser madrinha. É bom ajudar
as pessoas e poder abraçar o outro e ver o outro feliz. Mas será que
ninguém percebe o que está acontecendo? Eu preciso que vocês
acreditem em mim.
RAINHA DAS FADAS- Meu amor, claro que acreditam. Mas isso que
você quer, é um absurdo. Você precisa de uma licença? Acho que talvez
você esteja cansada demais não acha?
MALU- É talvez, talvez eu esteja mesmo atarefada e…
RAINHA DAS FADAS- Faz assim, toma um chazinho que passa, tenho
certeza.
MALU- Um chá?
RAINHA DAS FADAS- Nós fadas madrinhas tiramos nossas energias
dos outros, meu amor. Não há nada mais grandioso que isso. Nada de
ser uma fada rebelde hein. Se a vontade do Rei é essa, cabe a você
apoiá-lo em suas decisões. Você sabe que é fada madrinha por
determinação.
MALU- Mas e se isso for errado?
RAINHA DAS FADAS- Lembra do dia do seu juramento?
MALU- (fala como se falasse jurando) Nós fadas madrinhas devemos
seguir nossa missão: colocar os nossos afilhados em primeiro lugar é o
nosso dom.
RAINHA DAS FADAS- É isso! Vai pra casa, toma um banho, dorme e
amanhã vai estar tudo bem, ok? Confia em mim. É assim mesmo, mas
fica tranquila que passa.
Coreografia Malu cansada e triste.
MALU- Passa? Será que passa?

DUENDE- É verdade. Malu amava ser fada madrinha, desde


pequenininha esse era o seu sonho. Mas também é verdade que ela
andava triste e desacreditada. Malu já não conseguia mais ver o mundo
com aquele olhar mágico de quando era criança e a cada dia ia ficando
mais fraquinha. Prestem atenção! Nós, seres mágicos, somos movidos
pelo acreditar. Fada desacredita é igual pássaro preso na gaiola. As
asas vão ficando fracas, mas tão fracas que quando é preciso nem se
lembra mais como se voa. O brilho vai se perdendo, a força vai
diminuindo e a magia vai desaparecendo, assim, dia após dia, noite
após noite.

Cena 8
Malu está em cena. Pequenas ceninhas acontecem. Malu se divide em
6. Fica de um lado para o outro. Todos os personagens falam ao mesmo
tempo.

REI- Malu, você precisa nos ajudar. Focar no nosso problema entende?
O povo não para de reclamar.
RAINHA- A minha cabeça vai explodir com essa barulheira toda de
manifestação.
PRINCESA- Esquece essa besteira de amor, Malu. Engraçado, quando
eu era menor achava você mais eficiente.
BRUCE- Quantas vezes vou ter que repetir que você não é o meu pai,
Malu? Que saco! Eu nunca vou conseguir vencer o meu medo.
RISO- E se eu for sem graça mesmo e esse for meu destino? Já pensou
nisso?
GLINDA- Maldição! Eu odeio ser bruxa!!!!
SEREIA- Qual o melhor? O batom rosa ou o roxo?
RAINHA DAS FADAS- Querida, é só tomar um chá que vai dar tudo
certo.
Todos começam a falar ao mesmo tempo.
MALU- CHEGA!!!!!!! Será que não percebem? Caramba! Olhem em
volta de vocês! Estamos vivendo um caos no nosso Reino. E ao invés
disso vocês estão preocupados com as suas jóias, com os seus amores
ou com as suas belezas. Não que vocês não sejam importantes, mas já
pararam pra pensar que se o nosso Reino acabar, vocês também
acabam? Eu preciso que acreditem em mim e me ajudem a acabar com
essa guerra. Precisamos restabelecer a paz do nosso Reino. Estão
comigo?
Ninguém levanta a mão. Ninguém fala nada.
REI- A fada Malu está doida!!!
RAINHA- Pavoroso!
PRINCESA- Que coisa mais feia. Que fada mais mal educada.
BRUCE- Vamos embora o mais rápido possível.
RISO- Que coisa mais sem graça.
GLINDA- Credo! Fadas gritam?
SEREIA- Nossa, você está horrível, Malu!
RAINHA DAS FADAS- Não foi isso que eu ensinei…
MALU- Esperem, eu preciso que vocês acreditem em mim.
REI- Eu sou o Rei e ordeno que ninguém acredite na Fada Malu.
RAINHA- Malu, nós não acreditamos em você.
PRINCESA- Você tinha que estar me ajudando, isso sim.
BRUCE- Pensei que você fosse legal, Malu.
RISO- Eu acreditava em você.
GLINDA- Mas agora não acredito mais.
SEREIA- Tchau, Malu.
RAINHA DAS FADAS- Que decepção para nós, Fadas, Malu.
MALU- Ei, gente, espera.
Malu fica sozinha, cada vez mais fraca.

DUENDE- E quanto mais eles desacreditavam, mais fraca Malu ficava.


Assim, ela ia morrendo aos pouquinhos...Ela guardou coisa demais
dentro de si, durante muito tempo. É difícil ficar calada quando o
coração grita. Às vezes, nossos sonhos, nossas vontades, caem no
chão como pedacinhos de estrelas que pouco a pouco se apagam.
Acontece que Malu ainda é nova nessa coisa de acreditar. Se ela
olhasse para dentro de si, se daria conta que ainda restam milhões de
estrelas dentro de si, mas ela andava ocupada demais pensando nos
outros. Eu disse andava? Disse! Disse porque aqui a nossa história
ganha um novo rumo. E me dá licença que é agora que eu entro na
história.

CENA 9
Malu está enfraquecida. Ela fala sozinha.
MALU- Onde será que foi que eu errei? Sempre me disseram que eu
precisava ser corajosa e justamente quando eu decido ser, dá tudo
errado. Ouvir sempre foi o meu dom. Durante toda a minha vida eu fui
sempre procurada para ouvir desabafos, enxugar lágrimas e consertar
as coisas com abraços apertados. Mas nunca me perguntam um
simples "como você está?". As vezes eu sinto uma solidão enorme. Sei
que sempre serei a fada que sabe e deseja ouvir, mas talvez esteja na
hora de parar um pouquinho. É um desejo que mora em mim, apesar de
ficar em silêncio adormecido às vezes. O que eu faço agora? Eu só
queria que alguém acreditasse em mim (ela adormece).

DUENDE- Xii… dormiu, tadinha.


Malu desperta aos poucos. Ela vê o duende, mas acha que está
sonhando. Ela se assusta.
MALU- Quem é você?
DUENDE- Tem certeza que você não sabe?
MALU- Eu deveria saber?
DUENDE- Ah! Vai! Será que é tão difícil assim?
MALU- Eu morri?
DUENDE- Ainda não. Graças a Deus.
MALU- Se eu não morri, então, você é de verdade?
DUENDE- Ah! Menina esperta! Sou sim.
MALU- Ahhh! Eu só posso estar louca! Eu não te conheço. Eu tenho
certeza que eu não te conheço. Você veio me assaltar né? Vai pode
levar, leva! Leva tudo!
DUENDE- Minha querida, para de besteira! Olha pra mim! Vê se eu
tenho cara de quem veio aqui pra roubar. Eu vim aqui é pra cuidar de
você.
MALU- Isso só pode ser uma piada!
DUENDE- Eu tenho cara de palhaço?
MALU- Não.
DUENDE- Então é claro que não é um piada.
MALU- Ah! Eu to confusa.
DUENDE- Ih! Já vi que vai ser difícil. Vamos simplificar as coisas,
vamos?
MALU- Mas minha única missão era cuidar dos meus afilhados e eu
falhei. Nenhum deles acredita mais em mim.
DUENDE- Falhou por dois motivos.
MALU- Dois?
DUENDE- É, menina. A questão aqui é que você pensa demais nos
outros e de tanto pensar nos outros, esquece de você. Pensar em você
não anula o seu pensar nos outros. O mundo tá cheio de gente egoísta,
é verdade, e por isso pessoas como você são raras. E por isso dói tanto
ser você, às vezes.
MALU- Dói pra caramba. Tem dias que parece que a gente nem existe.
A gente absorve tudo, desde a mudança no jeito de falar, até a frieza
dos seres humanos. A gente lê no olhar, sabe quando tá tudo meio
errado, a gente conhece a dor do outro e sente como se fosse nossa.
DUENDE- Mas isso não é ruim. O que machuca é que esperamos essa
mesma empatia e sensibilidade de todos que conhecemos, e
geralmente não recebemos.
MALU- Esperamos que alguém entenda nossa dor tanto quanto
entendemos a dos outros, mas a gente acaba em casa, sofrendo
sozinho e em silêncio. Mas qual é a outra questão?
DUENDE- A outra questão é que você pela primeira vez resolveu lutar
por alguma coisa que você realmente acredita, só que isso significou ir
contra os seus afilhados.
MALU- Ah! Salvar o Reino… Estou ferrada, então!
DUENDE- Claro que não! Vou te contar uma história, posso?
MALU- Pode!
DUENDE- Há muitos e muitos anos atrás, lá nos anos de mil
novecentos e bolinha uma grande guerra entre duas grandes famílias
destruiu o grande Reino do Norte. Cansadas de tanta guerra, um grupo
de fadas, se uniu e lançou um feitiço criando um tratado de paz.
MALU- Ué, mas eu conheço essa história.
DUENDE- É claro que conhece! Mas tem uma parte que ninguém nunca
te contou.
MALU- Qual?
DUENDE- Esse grupo de fadas, era liderado por uma fada pequena de
tamanho mas enorme de coração, muito parecida com você. O nome
dela era Maria Luiza Primeira.
MALU- Espera! Eu conheço esse nome.
DUENDE- Sim, minha querida. Esse grupo era liderado pela sua avó e
eu prometi a ela que eu estaria aqui para te dar isso aqui (ela tira do
bolso um cordão com uma pedra).
MALU- Um cordão?
DUENDE- Cuidado! Nem tudo é o que a gente vê. Ela dizia que a gente
precisa acreditar na nossa coragem e todos acreditarão. Você acredita?
MALU- Du, acho melhor não, é muita responsabilidade. Eu nem sei
como cuidar de mim que dirá acreditar em mim mesma. A minha avó
deveria ser uma Fada incrível, mas eu não sou igual a ela, com certeza
não sou.
DUENDE- Como não sabe? Sua avó nunca errou nada, ela não pediria
isso a toa, menina, vai por mim.
MALU- Eu nunca fiz isso.
DUENDE- É fácil! Fecha os olhos e abre um sorriso. Sente o vento
batendo no rosto. Tá sentindo? Acreditar na gente é assim: é leve e
feliz. Agora é só deixar rolar e ser você. Vamos balançar esse corpinho!
Vem comigo?
MÚSICA DE PASSAGEM DE TEMPO
MALU- Du, preciso te contar uma coisa.
DUENDE- Fala, Maluzete.
MALU- Eu nunca fui tão feliz quanto agora. Obrigada!
DUENDE- Que nada, é um prazer.
MALU- Você é a melhor amiga que eu já tive nesse mundo!
DUENDE- E você também. Eu adoro você, minha fadinha.
VOLTA MÚSICA DE PASSAGEM DE TEMPO
A música vai abaixando. Malu está estranha, ela parece nervosa.

MALU- Du, eu não sei se vai dar certo. Eu nem sei por onde começar.
DUENDE- Claro que sabe, você sempre soube, só nunca se permitiu
escutar a resposta que está aí, dentro de você.
MALU- Eu to com medo.
DUENDE- O que é a vida se não um caminho cheio de sentimentos?
Pega o medo e vai.
MALU- E se eu não conseguir.
DUENDE- Para de enrolar e vai logo.
Duende começa a se afastar dela.
MALU- Ei, espera, onde você está indo???
DUENDE- Voltando pra casa.
MALU- Mas eu pensei que você fosse ficar aqui comigo.
DUENDE- Eu já fiquei aqui tempo o suficiente, já cumpri a minha
função. Agora é a sua vez.
MALU- Mas, mas…
DUENDE- Vai logo, menina, e não esquece: o segredo é acreditar!
Eles se abraçam. Malu sai correndo.

Cena 10
Todos os personagens estão em cena. A detetive chega com
informações para todos.

DETETIVE- Bom, depois de muito averiguar, nós chegamos a nossa


conclusão final. Nossa conclusão é que não chegamos a conclusão
nenhuma.
RAINHA DAS FADAS- Como assim?
FININHA- Todos vocês viram a Malu no mesmo dia pela última vez, mas
por acaso ninguém sabe o que aconteceu com ela.
DETETIVE- Nós percebemos que na verdade, a grande questão é que
nenhum de vocês percebeu ela.
REI- Mas isso é um absurdo!
RAINHA- A gente não tinha nada para perceber.
SEREIA- E por isso a culpa é nossa, detetive?
RISO- Perceber não é nossa função.
BRUCE- E quem disse que fomos os últimos a vê-la?
PRINCESA- Quem garante que alguém não a sequestrou?
GLINDA- Quem garante que ela não fugiu?
Um som de ventania forte e marcha toma conta do Reino. Todos ficam
assustados.
DETETIVE- O que é isso? O que está acontecendo?
FININHA- Detetive, detetive!!! Estão dizendo que uma grande confusão
tomou conta da praça principal! Uma grande confusão. O povo está
fazendo uma grande manifestação.
RAINHA- Manifestação? Outra?
REI- Esse pessoal não tem o que fazer? Ninguém trabalha não?
BRUCE- O que a gente faz agora?
PRINCESA- Ah! Eu to com medo!
SEREIA- Olha esse vento estragando o meu cabelo.
RAINHA DAS FADAS- Detetive, tome uma providência. Urgente!
RISO- Eu tenho certeza que se a Malu tivesse aqui, ela saberia o que
fazer…
BRUXA- Ela sempre sabe o que fazer.
BRUCE- Verdade, que saudade da Malu.
Um som estranho anuncia a entra da fada Malu que entra correndo.
TODOS- Malu!
REI- Querida, que bom que você está aqui. Precisamos de você para
nos ajudar acabar com isso tudo. Você nos ajuda?
MALU- Rei, eu estou aqui justamente para isso, mas só posso fazer
alguma coisa com vocês ao meu lado. Vocês estão comigo?
TODOS- Sim.
RAINHA- O que a gente precisa fazer?
MALU- É muito simples: O segredo é acreditar.
BRUXA- E como a gente faz isso?
MALU- É fácil! Fecha os olhos e abre um sorriso. Sente o vento batendo
no rosto. Tá sentindo? Agora pensem em todas os momentos que eu
ajudei vocês. Acreditem em mim!!!! Vocês acreditam?
TODOS- Sim!!!
Malu faz um feitiço com as mão. Com um efeito de luz e um som
estranho a ventania e os sons param. Todos comemoram.
DETETIVE- Que felicidade ter você de volta, Fada Malu.
FININHA- É, mas ainda queremos entender direitinho o que aconteceu
com você.
REI- Mas antes de qualquer coisa, Detetive, todos nós devemos nossa
gratidão e desculpas a melhor fada Madrinha do nosso Reino.
BRUCE- Por que a gente demorou tanto tempo para perceber?
Desculpa, Malu!
RAINHA- Já sei! Vamos dar uma festa! Uma festa para a fada Malu.
MALU- Eu? Nunca tive uma festa só para mim. Mas eu não mereço
gente!
GLINDA- Merece sim!
PRINCESA- Você merece muito mais do que isso.
REI- Você estava certa esse tempo todo, Malu.Você me mostrou que eu
sou um Rei e como Rei preciso pensar no meu povo e por isso irei rever
todos os impostos e leis criadas! A paz precisa reinar. Mais do que isso!!
De agora em diante você é muito mais do uma fada madrinha e
conselheira.
RAINHA- Na verdade você sempre foi, a gente que não se deu conta.
SEREIA- E por isso você merece essa festa e o nosso carinho!
RISO- É por isso que hoje você é antes de tudo nossa amiga.
BRUCE- E amigos merecem comemorar juntos.
DETETIVE- Agora sim, caso resolvido!
FININHA- É, detetive, algumas coisas precisam acontecer para a gente
perceber outras.
DETETIVE- Mesmo que perceber não seja a nossa função.
Todos ficam em quadro vivo.
MALU- Algumas pessoas nasceram para governar reinos, algumas para
desvendar mistérios. Algumas para fazerem os outros rirem, outras para
se apaixonarem eternamente. E algumas pessoas...Bem, algumas
pessoas nascem com tanto amor dentro de si que amam o mundo e os
outros mais do que a si.
DUENDE- The end. Fim. E foi isso o que aconteceu. Nossa! Ufa!
Terminar uma história é muito mais fácil do que começar. Guerras
acontecem o tempo todo, entre as pessoas e dentro da gente mesmo. E
às vezes a solução é mais simples do que a gente imagina, o problema
é que a gente insiste em complicar. E quer saber o segredo disso tudo?
Nunca é tarde demais para ser quem você quer ser. Não há limite de
tempo, a gente pode começar quando quiser. Quando estiverem em
uma situação difícil, naqueles dias em que a gente não acredita na
gente mesmo, sabe? Quando sentirem que já não podem mais, não
desanimem e estejam seguros que ainda que as coisas pareçam muito
complicadas, dentro da gente restaram milhões de estrelas. E são essas
estrelas, a nossa força interior, que derreterão todo o gelo em nosso
coração. E a vida será assim: leve e feliz. Lembre-se o segredo é
acreditar.

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