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LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS

PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA (PE:ID)

POSTAGEM 2: ATIVIDADE 2

REFLEXÕES ACERCA DO ARTIGO:


“PEDAGOGIAS VISUAIS DO FEMININO: ARTE, IMAGENS E
DOCÊNCIA” DE LUCIANA LOPONTE

Raquel Figueiredo Pereira Cardoso RA 1906561

LONDRINA
2020
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SUMÁRIO

1 TEXTO SELECIONADO .......................................................................................... 3

2 REFLEXÒES REFERENTES AO TEXTO SELECIONADO .................................... 4

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 8
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1 TEXTO SELECIONADO
4

2 REFLEXÕES REFERENTES AO TEXTO SELECIONADO

O artigo da pesquisadora e professora Luciana Gruppelli Loponte trata da


docência de artes visuais e, especificamente, de como o discurso artístico trabalha
as imagens do feminino. Um dos problemas centrais do estudo abordado é como as
imagens do feminino aparecem nos livros didáticos de Educação Infantil e Ensino
Fundamental e como a docência se alimenta dessas imagens de mulheres.
A leitura do texto me proporcionou algumas reflexões profundas, percebi que,
tanto como estudante quanto como professora, assumo um discurso masculinizante
ao tratar das obras de arte. Mesmo sendo mulher, ao ler e discutir sobre uma obra,
assumo uma postura que normaliza a mulher como objeto da representação
masculina e o enunciador masculino como o enunciador dito universal.
Além disso, me vi estimulada a pensar a arte nas escolas, os estereotipados
desenhos para colorir e a insistência em confundir arte com a elaboração de
decoração para datas festivas. Também refleti sobre como a docência, em especial
na disciplina de arte, carrega o estigma da feminilidade dócil e como ela pode ser
ressignificada.
A pesquisadora parte dos múltiplos femininos, propondo uma reflexão mais
ampla do que seria a feminilidade. A primeira imagem que ela propõe é de práticas
associadas ao universo feminino, como o bordado de um lenço delicado, com
imagens sutis e dóceis de flores, corações, personagens de histórias infantis, para
depois apresentar a artista contemporânea Rosana Palazyan, que subverte esses
suportes tipicamente dóceis para tratar de temas como violentos, histórias
sangrentas de dor e morte. A artista constrói narrativas visuais de estupros e
violências em delicadíssimos bordados e leva o espectador a reconhecer a
identidade feminina a partir do choque entre a docilidade esperada e o vigor e
ousadia da sua produção poética.
Um segundo exercício proposto pela pesquisadora é pedir ao leitor que
imagine a azulejaria barroca, presente em ambiente íntimos e privados de uma casa,
como “ um respeitável banheiro ou cozinha qualquer” (LOPONTE, 2008, p. 149),
para depois contrapor esta imagem às obras de Adriana Varejão, seus azulejos
recheados de vísceras, carne e membros mutilados. A artista contemporânea é
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escolhida pela pesquisadora justamente por ser outro exemplo de produção artística
de autoria feminina que subverte as expectativas do público e distorce os modelos
de feminilidade dócil.
O que mais interessa nesses exercícios iniciais propostos pela pesquisadora
é como ela expões as ideias mais antigas sobre o que é o feminino e como “essas
imagens criadas por mulheres artistas rompem com os lugares estereotipados
destinadas a elas pela cultura” (LOPONTE, 2008, p. 150). Ela parte de artistas
mulheres, colocando-as como sujeito de criação, para significar (ou descontruir
significados) do que é a feminilidade. Em geral, os livros didáticos e o próprio
imaginário artístico ocidental, exclui a mulher do campo da criação artística, ao
mesmo tempo em que hipervisualiza a mulher como objeto de representação.
No dia-a-dia escolar, a professora de arte lidará com a onipresença do corpo
feminino nas obras de arte. A imagem da mulher estará frequentemente nos
materiais e na produção artística dos estudantes. Nesse caso, são importantes os
esforços para “desautomatizar”, para não naturalizar o e legitimar o corpo feminino
como mero objeto de contemplação e, sim, tratar o tema sem a cristalização dos
estereótipos. É preciso, primeiro, que a professora esteja atenta às múltiplas
feminilidades, que não assuma um lugar de enunciação masculino como se esse
fosse um lugar neutro. Depois, é que se traga para a sala de aula a mulher como
sujeito de criação artística.
As artistas contemporâneas abordadas na pesquisa podem ser estudadas e
discutidas nas salas de Ensino Médio, ajudando os alunos a perceberem outras
possibilidades de representação da imagem da mulher e provocar, de modo
intencional, um possível estranhamento em um olhar já acostumado ao ponto de
vista feminino.
Mas me pareceu mais relevante ainda levar este exercício para a Educação
Infantil e o Ensino Fundamental Anos Iniciais, segmentos em que são muito comuns
as imagens de mulheres que remetem à passividade, submissão, delicadeza. Quão
comum é que meninas e meninos desenhem as mulheres com românticos vestidos
longos e padronizados gestos contidos? Por que não aproveitar a espontânea
representação do universo feminino feita pela criança e abordar este tema de outras
formas também?
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Seria interessante trabalhar, por exemplo, a artista francesa Nikki de Saint


Phalle, que recriou de forma alegre e divertida a personagem “Nana”.
Figura 1: Naná de cabeça para baixo

Naná de cabeça para baixo, 1967, Nikki de Saint Phalle, escultura de


poliéster.

Estas gigantescas e coloridas figuras femininas são lúdicas, afeitas ao


universo infantil e brincam com as estereotipadas imagens românticas sobre a
mulher. As Nanas de Nikki são a própria imagem das possibilidades de subversão
feminina aos padrões que cercam a representação da subjetividade feminina.
Mas propor a abordagem das Nanás em sala de aula não significa que esta
obra encerra em si um “verdadeiro” conceito de feminilidade, nem que esta imagem
se constituirá como uma visão sobre a mulher para os estudantes.
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A professora deve, antes de tudo, pensar em como a aprendizagem pode ser


significativa, como se aproximar de seus alunos para entender de que maneira ela
poderia afetá-los. Somente assim ela vai conseguir inventar e reinventar.
Afinal, é preciso buscar

Práticas que desfazem a compreensão, a fala, a visão e a escuta das


mesmas coisas, dos mesmos sujeitos, dos mesmos conhecimentos.
Desassossegam o sossego dos antigos problemas e das velhas soluções.
Estimulam outros modos de ver e ser visto, dizer e ser dito, representar e
ser representado. (CORAZZA, 2001, p. 30)

É importante que a professora entenda o estudante como um artista, que tem


sua subjetividade, mas que também exerça uma mediação capaz de apresentar a
ele outras alternativas para o pensar, que estimule “outros modos de ver e ser visto,
dizer e ser dito, representar e ser representado” (CORAZZA, 2001, p. 03).
Pensar e problematizar a docência em arte é inscrever-se na tarefa de
arriscar-se a formular aulas diferentes, a se resinificar como professora, como
pesquisadora e como artista, num exercício de tensão e criação constante. Não
basta assumir que o corpo feminino é subjetivado a partir do discurso masculizante,
precisamos pensar quais são as saídas, quais as possíveis resistências e quais
práticas pedagógicas favorecem a liberdade.
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REFERÊNCIAS

CORAZZA, Sandra. Na diversidade cultura, uma docência artística. Pátio – revista


pedagógica. Porto Alegre, Ano V, nº 17, 2001.

LOPONTE, Luciana Gruppelli. Pedagogias visuais do feminino: arte, imagens e


docência. In: Pedagogias visuais do feminino. Círculo sem fronteiras, v.8, n.2,
pp.148-164. Jul/ dez 2008. Disponível em: <
http://www.curriculosemfronteiras.org/vol8iss2articles/loponte.pdf> Acesso em
novembro de 2020.

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