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ANEXO I
Para Shapiro, podemos aceitar a ideia entre a pintura de maçãs e as
fantasias sexuais, vez que no folclore, na poesia, nos mitos, linguagem e
religião ocidentais, a maçã tem um conhecido sentido erótico.“É um símbolo de
amor, um atributo de Vênus e um objeto ritual em cerimônias de casamento.”1
?
GRUPPE, O. Griechische Mythologie und Religiongeschichte. Munique, 1906, I, p. 384
2
?
Correspondence, p. 36. 9 de julho de 1858
moderno. Um turbilhão de azul e branco atravessado por um panejamento que
tira do espectador qualquer capacidade para fugir da cena da Orgia, cujos
corpos, volumes construídos por cor, se amontoam por todos os lados,
deixando para trás qualquer ideia de organização composicional. Figura e
fundo se mesclam causando uma vertiginosa e clara ideia da violência da tela.
ANEXO II
No final da década de 60, Cézanne começou a retratar as fêtes-
champêtres típicas do rococó. Foi uma conversão do mundo pastoral mítico
para a vida social moderna, a vida que Cézanne realmente experimentava
mesmo que tentasse se manter recluso. Shapiro aponta que as versões de
Cézanne eram anômalas em dois aspectos: as mulheres nuas entre os homens
vestidos em um piquenique – um devaneio romântico numa pintura realista, a
violência de contrastes, a insatisfação que permeia as imagens de prazer
bucólico. Em Pastoral ou Almoço sobre a relva, óleo sobre tela, 1870 (anexo
III), o autor vê:
?
Shapiro, M. Paul Cézanne, Nova York, 1958. P. 22
ANEXO III
Em Uma Olímpia moderna, óleo sobre tela, 1873, (Anexo IV) mostra
uma negra nua e um cachorrinho, uma natureza morta de frutas e garrafas está
posta numa mesinha próxima. Um homem que – segundo Shapiro – é o
próprio artista, olha a negra e a mulher branca desnuda. Como podemos
entender esta pintura? Uma relva ou um carpete verde? Uma negra que
desnuda a Olímpia sobre um pano diáfano cuja construção se deve apenas a
camadas de tinta branca em diferentes direções? É um turbilhão de cores e
planos distintos cujas figuras desproporcionais ditam o tema. O homem – que
Shapiro afirma ser o pintor – está sentado sobre um sofá de costas? Sem as
pernas à mostra? Nada é o tema em si, é a representação da percepção do
autor do que seria o tema. Não há nenhum compromisso com a realidade ou
como ela deveria ser retratada. Cézanne quebra todas as regras para talvez
mostrar seu próprio entendimento do tema.
“que o artista não podia exprimir sem ansiedade seus sentimentos pelas
mulheres. Nas pinturas de mulheres nuas em que não representa uma obra
anterior, geralmente fica constrangido ou violento. Para ele, não há o meio-
termo do prazer simples”4
?
Shapiro, M. A arte moderna: Séculos XIX e XX. São Paulo: EDUSP. 2010. P, 50.
ANEXO IV
ANEXO V
Para Shapiro há um exemplo de associação de frutas com figura erótica,
num processo de desvio e substituição, em uma pintura de nu do final da
década de 80, retrato de uma mulher nua, óleo sobre tela, 1886-90 (anexo VI),
a mulher é tão parecida com figura de Leda e o cisne, óleo sobre tela, 1886
(anexo VII), que é indubitável sua intenção de representar novamente Leda. A
posição de ambas as mulheres é parecida e a expressão facial também. O
autor argumenta que
?
Shapiro, M. A arte moderna: Séculos XIX e XX. São Paulo: EDUSP. 2010. P, 51.
ANEXO VI
ANEXO VII
?
Shapiro, M. A arte moderna: Séculos XIX e XX. São Paulo: EDUSP. 2010. P, 73
moderno e talvez visse na representação das naturezas-mortas uma forma de
por ordem em um mundo agora tão caótico.
Cézanne (1959)
“é direcionado indicar o reconhecimento que desde 1970 a história da arte desenvolveu formas
de descrição, análises, e avaliações enraizadas e inseparáveis dos ativismos político-sociais
recentes [maio 68] enquanto isso também se liga ao legado herdado dos acadêmicos e
ativismo político muito anteriores aos séculos XIX e XX ”7
“[...] o que aconteceu historicamente nos últimos quarenta anos foi uma retomada dos
movimentos intelectuais da modernidade, ligações com a linguagem, significado,
?
HARRIS, J. The new art history. A critical introduction. Londres: Routledge, 2001. P. 1
subjetividade, identidade. Todas recortadas nos termos do engajamento criado pela
consolidação global do capitalismo industrial do ocidente [...] A história da arte parece muito
pequena para tomar seu próprio campo, a cultura. Seriamente falha em ver a si mesma como
uma jogadora neste campo histórico, uma resposta reflexiva para a modernidade com sua
cultura de auto-definição e auto-mistificação [...]”.8
?
POLLOCK, G. Theory, ideology, Politics, art history and its myths. In: Art Bulletin 58. P. 21
9
?
BELTING, Hans. O fim da história da arte. São Paulo: Cosac Naify, 2012. P. 291
conta de tudo o que ainda não se tornara uma propriedade da história da arte.
Isso mudara com o tempo, quando não apenas escritores e críticos de arte
como Herbert Read mas também historiadores, como Haftmann e Hofmannn
começaram a escrever nos anos 50.
Podemos concluir das leituras que fizemos sobre Cézanne e das telas
que vimos que Cézanne nos leva a um patamar diferente da arte. Suas massas
volumétricas, pesadas e distorcidas, seus contornos difusos e sombreados e
suas cores passionais e contrastantes nos remetem a um barroco – como bem
lembra Argan – novo, apaixonado, decidido, cheio de fantasias e um pouco
perturbado. Uma obra entre o sublime arrebatador o belo quando é possível
acessá-lo. Acessar a obra de Cézanne nem sempre é fácil. Exige
contemplação, cuidado e atenção. A obra de Cézanne nos sugere uma
estranha percepção singular de um mundo para o qual o artista não estava
preparado para viver, daí então seu recolhimento, seu refúgio em tempos
passados. Mas sua obra mostra também um artista decidido a conquistar suas
batalhas, aperfeiçoar seu método e pesquisa.