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PRL “A VAIDOSA” CESÁRIO

VERDE
POEMA
Dizem que tu és pura como um lírio 
E mais fria e insensível que o granito, 
E que eu que passo aí por favorito 
Vivo louco de dor e de martírio. 

Contam que tens um modo altivo e sério, 


Que és muito desdenhosa e presumida, 
E que o maior prazer da tua vida, 
Seria acompanhar-me ao cemitério. 

Chamam-te a bela imperatriz das fátuas, 


A déspota, a fatal, o figurino, 
E afirmam que és um molde alabastrino, 
E não tens coração, como as estátuas. 

E narram o cruel martirológio 


Dos que são teus, ó corpo sem defeito, 
E julgam que é monótono o teu peito 
Como o bater cadente dum relógio. 

Porém eu sei que tu, que como um ópio 


Me matas, me desvairas e adormeces, 
És tão loura e dourada como as messes 

E possuis muito amor... muito amor-próprio.

ANÁLISE FORMAL
- É constituído por 4 quadras, 1 terceto e o um monóstico sendo
este a chave de ouro
- Segue o esquema rimático ABBA até ao fim, ou seja, rimas
interpoladas e emparelhada
- Quanto à métrica, os versos classificam-se como versos
decassilábicos, dez sílabas métricas
- Rimas ricas, pois pertencem a classes gramaticais diferentes

ESTRUTURA INTERNA
GERAL: descrição da cidade absorvendo a melancolia e a
monotonia, mulher artificial, mas mesmo assim ele sofre por ela;
atração fatalmente, como uma droga (“como um ópio”) v17
arrastando-o para a morte
1 e 2- Caracterização da mulher citadina e a sua relação com o
sujeito poético: “E que o maior prazer da tua vida / Seria
acompanhar-me ao cemitério”
Mulher citadina: “pura como um lírio” (comparação); “fria e
insensível”; “modo altivo e sério”; “desdenhosa e presumida”;
corpo sem defeito”; “loira e doirada”; sem sentimentos; fatal;
madura; dominadora; fria; etc.
3 e 4- Caracterização física e psicológica da mulher
5 e 6- Opinião do sujeito poético em relação à mulher e à
influência que esta tem na vida dele
- Nas primeiras quatro estrofes, o poeta descreve a mulher
citadina de um modo irónico e distante, descrevendo-a como
fria, altiva e insensível (tripla adjetivação). Uma mulher fatal e
inalcançável, artificial como uma estátua, sem sentimentos e de
corpo perfeito, mas mesmo assim ele sente uma atração imensa
por ela provocando-lhe ao mesmo tempo um desejo que chega a
ser humilhante. Na quinta e última estrofe, o sujeito poético
reconhece a fatalidade da mulher, aprecia os cabelos “doirados”
e por fim critica e realça que o único amor que ela sente é por si
própria. Este modelo de mulher, sem sentimentos provoca no
sujeito poético – que tem consciência da personalidade dela –
“um desejo absurdo de sofrer” (Antero de Quental). O poema
“Vaidosa” faz uma interpretação de Lisboa, esta personifica a
ausência de amor e consequentemente de vida.

FIGURAS DE ESTILO

Comparação: “Dizem que tu és pura como um lírio” v1 (relação


de analogia entre dois termos com o objetivo de assinalar as suas
diferenças ou semelhanças, recorrendo a uma palavra ou
expressão comparativa) neste caso realça-se a pureza da mulher
comparando-a com um lírio (pureza, inocência)
Dupla Adjetivação: “E mais fria e insensível que o granito” v2 dá
vivacidade e expressividade ao poema
Hipérbole: “Vivo louco de dor e de martírio” v4 (Exagero de uma
realidade com a finalidade de acentuar determinado aspeto)
neste caso acentua-se o sentimento de aflição do sujeito
poético
- Encontramos para além desta marca da linguagem de Cesário
Verde (a utilização de recursos expressivos que dá vivacidade e
realismo à obra) a perceção sensorial, neste caso, Cesário verde
utiliza inúmeras sensações visuais

IMAGEM:
1º: Deambulando pela cidade e pelo campo, os dois espaços que
o acolheram, o poeta encontra dois tipos de mulher, que estão
articulados com os locais em que se movimentam.
Assim, tal como a cidade se associa à fatalidade, à morte, à
destruição, à falsidade, também a mulher citadina nos é
apresentada como frígida, frívola, calculista, madura, destrutiva,
dominadora, sem sentimentos. O erotismo da mulher da cidade
é expresso em imagens antitéticas que permitem opô-la à
mulher campesina, capaz de fazer despoletar um amor puro e
desconfiado. O erotismo da mulher fatal é humilhante,
conseguindo reduzir o amante à condição de presa fácil,
originando uma reacção sado-masoquista entre a mulher, que
personifica o artificialismo da cidade, e a sua vítima. Em
contraste com esta mulher predadora, surge um tipo feminino,
por exemplo em "A Débil", que é o oposto complementar das
esplêndidas, frígidas, aristocráticas, presentes em poemas como
"Deslumbramentos" e "Vaidosa". Essa mulher frágil, terna,
ingénua, mesmo que enquadrada na cidade, como é o caso da
que é retratada em "A Débil", desperta no poeta o desejo de
protegê-la e de estimá-la.

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