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Essa rapariga tem raízes clássicas, tanto nas ações de erguer o cálix embebido de
xerez, bem como na sua compleição física que é loira e trançada. Mas apesar disso
tudo seu olhar não possui chama alguma, ou seja, não desperta profunda paixão. Isso
porque Barborá é uma ταίραι1, isto é, uma companheira. Esse adjetivo reforça o
caráter clássico atribuído a Barborá.
“O nardo oriental melhor transpira” assim é caracterizada Ester que pela graça que
lhe é atribuída já dá indícios de sua origem. Mas ela possui um traço fluido , pois o
perfil dela se “esvai”, “voa” e se “escoa”. Talvez seja um amor de momento, um
amor que tem uma data limite para expirar. Ao poeta só resta de Ester um perfume,
um canto, um rastro.
Essa mulher evoca um certa presença satânica. As imagens de dor, trevas, cadáveres
traduzem-se num adjetivo obscuro “filha da noite”. Ela é uma “bancante dos
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Hataíras eram, na Grécia antiga, um certo tipo de prostituta, pois não apenas prestavam serviços
sexuais, mas também ofereciam companhia diária e por isso tinham relacionamentos duradouros com
seus clientes e isso as diferencia das prostitutas comuns.
amores” que patrocina orgias satânicas. “Ela enche a noite de horror” nas palavras
do poeta.
Dulce, sétima sombra. Ela já é uma sombra finada, mas a memoria do poeta a traz
de volta a vida. A presença de Dulce traz “ao pântano a corrente pura, musgo ao
rochedo, festa a sepultura”, ainda deixa a donzela casta, saudades na alma de seu
amante.
A oitava sombra não é nomeada pelo poeta, apenas a apresenta como “último
fantasma”. O poema se inicia com interrogações a respeito desse vulto “quem és tu,
quem é tu, que te elevas da noite orvalhada?”. A descrição tem atributos físicos
“bela e branca desposada?”, mas ainda se mantém um “ser misterioso”. As duas
respostas possíveis para as indagações acerca de quem seja o vulto são dadas pelo
poeta no ultimo terceto: “ És a gloria talvez! Talvez a morte”.
Paulo é tomado pela paixão num primeiro momento de contato e projeta em Lucia
uma possível companheira “ Como deve ser pura a alma que mora naquele rosto”.
A provincianizada do narrador é expressa diversas vezes de modo direto; quando ele
próprio afirma ser provinciano, ou quando sua atitude o denuncia: “Tal é a força
mística do pudor, que o homem o mais ousado, desde que tem no coração o instinto
da delicadeza, não se anima a amarrotar bruscamente esse véu sutil que resguarda a
fraqueza da mulher.”. “Esta conversa desgostou-me; porque me fez parecer ainda
mais ridículo aos meus olhos. Tinha uma vaga desconfiança, pelo tom do convite, de
que Lúcia iria à casa do Sá; e protestei que antes disso me reabilitaria de minha
estúrdia ingenuidade.”. O narrador se compraz em ser um observador que traduz um
traço provinciano e também sua relação ao pudor do corpo que é sacro segundo sua
visão.
“No esplendor de sua completa nudez, a mais formosa bacante que esmagara outrora
com o pé lascivo as uvas de Corinto.” Assim se dá o primeiro contato sexual de
Paulo com Lúcia. Mas outras cenas sucederão em que essa imagem previamente
construída será refutada. Já no capitulo VI, há um encontro na casa de Sá, junto com
Lúcia, umas outras mulheres, Sr Couto e Sr. Rochinha.
No poema:
No romance: “Uma vez levantado o cálice, a contração muscular foi tão violenta que
o cristal espedaçou-se entre as falanges delicadas. Tinha-se ferido, e para estancar o
sangue, mergulhou o dedo no meu copo cheio de Sauterne: o áureo licor enrubesceu;
e eu esgotei-o até a última gota num assomo de galanteio romântico. Lúcia
acompanhou o meu movimento com um olhar tão cheio do que olhava, como se eu
lhe bebera a própria vida nessas gotas tintas de seu sangue.”