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Bocage, leitor atento de Camões em seu soneto da amada gabada revisita o que
antes foi trazido por camões no seu épico:
Contudo, até nos poemas de hiperbólica exaltação de uma mulher idealizada, Bocage
não deixa de fazer referência a aspectos concretos do corpo feminino, por vezes com
alguma ousadia.
É inegável a magnificência dos versos muito bem escritos por Bocage e camões,
todavia no que diz respeito à figura feminina, fica claro que tentam, delinear uma
imagem de grandiosidade e de exótica beleza das suas amadas, num processo de
falso engrandecimento singularizado em suas literaturas por conceder uma dimensão
carnal às mulheres a quem o sujeito poético se dirige, tentando atribuir a elas
presenças acentuadas ao invés de meros adereços estáticos e sem pulsão individual.
No entanto essa visão levanta uma falsa bandeira libertária, pois o corpo, trazido na
lírica camoniana de forma velada, e na poesia erótica de Bocage escancaradamente
não significou maior liberdade da mulher para falar de si, mas o desejo dos homens
de representá-las de maneira polarizada, ou como simples objetos dos seus desejos
ou como uma entidade perfeita e sem defeitos. É irrefutável que nos dias atuais a voz
das mulheres pode estar sendo mais ouvida, contudo a figura feminina continua sendo
objetificada nas diversas mídias, o que mostra a realidade de uma sociedade moderna
que continua sendo feita de homens para homens. Tendo em vista toda essa
concepção, é impossível afirmar que esta poesia representou uma maior autonomia
feminina.