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A representação da mulher
1 Vilancete – composição de origem palaciana, formada por um mote de dois ou três versos e por glosas de sete
versos de redondilha maior (7 versos) ou menor (5 versos).
2 Endechas – poema de fundo melancólico, constituído por quadras ou oitavas, utilizando versos de cinco ou seis
O Amor
Utilizando as palavras de Jacinto do Prado Coelho sobre o lirismo camoniano, “o conjunto dos seus poemas
líricos constitui, por assim dizer, um diário, uma longa série de confidências, queixas e meditações. Mas,
como a própria vida que flui, como o próprio amor que nos domina, esse é contraditório, vário e paradoxal.”
Da leitura dos poemas de Camões é possível reconstruir o seu percurso afectivo marcado pelas vicissitudes
do amor.
• o retomar da herança medieval presente na interpelação das ondas do mar por parte do pescador
– “- Ondas – dezia – antes que Amor me mate,/Tornai-me a minha Ninfa”;
• o tipo de natureza descrita – nocturna e marinha – que se afasta do típico locus amoenus clássico
e que antecipa a natureza romântica;
• a identificação da natureza com a morte, característica também antecipadamente romântica.
A natureza
De referir que o tema da partida/separação que domina esta composição faz parte da nossa tradição lírica,
já aparecendo trabalhado na lírica trovadoresca, na poesia palaciana do Cancioneiro Geral e mantendo-se
bem presente, sobretudo na poesia de resistência à ditadura salazarista dos poetas panfletários do século
XX, de que o soneto “E alegre se fez triste”, de Manuel Alegre, é exemplo.
O desconcerto do mundo
A temática do desconcerto do mundo foi cara a Camões, não só pelas circunstâncias sociais de uma época
de grandes transformações na qual viveu, mas também pela riqueza e variedade das suas experiências de
vida.
(…) O desconcerto do mundo aparece a Camões sob diversas formas. É um facto objetivo de que os
prémios e os castigos estão distribuídos desencontradamente. Há aqui um vício social particularmente
flagrante na sociedade portuguesa do século XVI, em que a expansão ultramarina proporcionava enormes
contrastes e mutações de opulência e miséria e dava largas oportunidades aos aventureiros sem
escrúpulos: a terra (escreve Camões referindo-se à Índia) é a mãe de “vilões ruins e madrasta de homens
honrados”.
António José Saraiva, Luís de Camões
Algumas composições poéticas camonianas revelam um pendor autobiográfico, em que o poeta aparece,
quase sempre, como vítima de um destino inexorável e injusto que se adapta a um cenário mais abrangente
do desconcerto do mundo.
Este pendor pessoal que preside a praticamente todo o lirismo de Camões confere grande autenticidade
às suas composições poéticas e revela, ao mesmo tempo, um ser hipertrofiado com uma série de vivências
e experiências pessoais: amores, saudades, desenganos, frustrações, pessimismo existencial, revolta
contra um destino adverso, desejo de fuga…
3 Esparsa – espécie de trova curta, muito frequente no Cancioneiro Geral, de fundo melancólico, composto em
redondilha e que consta geralmente de um mínimo de oito versos e máximo de dezasseis. Ao contrário das cantigas
e dos vilancetes, a esparsa aborda diretamente o assunto, dá-lhe forma epigramática, e terminas sem refrão nem
variações.
Este soneto é talvez dos mais sofridos de toda a lírica camoniana, uma vez que o sujeito poético culpa não
só o mundo e os amores infelizes, mas também a sua própria conduta pelo percurso desencantado da sua
vida.
Atentemos:
• na identificação da atitude predominante do sujeito poético: o “eu” lírico faz um balanço da sua
vida, dominada pelos seus erros, mas também pelo destino (“fortuna”) e pela paixão (”amor
ardente”). Este balanço de vida é construído pela referência/enumeração aos factores que
dominaram a sua vida e pelo emprego de formas verbais no pretérito perfeito (“conjuraram”,
“sobejaram”).O valor semântico destas formas verbais revela-nos um sujeito lírico amargurado e
desesperado, mas também alguém que se sente vítima do destino e alvo de uma perseguição por
parte da fatalidade e da vida. No entanto, o eu poético tenta analisar um pouco mais
objectivamente o seu percurso de vida e culpa-se também a ele próprio daquilo por que passou,
facto reforçado pelo emprego da 1ª pessoa:
- erros meus,
- errei todo o discurso;
- dei causa;
- meu duro génio.
• na constatação de que as experiências passadas condicionam a atitude presente do poeta (2ª
quadra) – “A não querer já nunca ser contente”. De sublinhar o valor semântico do emprego da
consecutiva ( “…mas tenho tão presente(…)/ Que as magoadas iras me ensinaram /a não querer
já nunca ser contente.”) que reforça a importância da vivência do passado como condicionante da
atitude presente do “eu”;
• na referência à mudança da atitude do “eu” lírico observada nos dois últimos versos do soneto.
Na verdade, a uma certa resignação, a uma certa atitude contemplativa que domina os doze
primeiros versos do soneto, segue-se um sentimento de revolta e a expressão de um desejo de
vingança, presente nos dois últimos versos, a que o emprego do conjuntivo, modo adequado á
expressão de desejos (”pudesse”, “fartasse”), da interjeição “oh!” e da exclamativa – “…que
fartasse/ este meu duro génio de vinganças!” – conferem um tom determinado e mesmo violento.
Os aspetos clássicos, a nível temático, presentes no poema são:
• o desencanto e a desilusão;
• o papel do destino e da fortuna;
• a valorização da experiência da vida;
• o balanço de vida.
A mudança
O tema da mudança, um dos protótipos literários mais universais, constitui um dos tópicos mais versados
pelos poetas renascentistas. Camões, poeta do Renascimento, foi sensível ao tema e em algumas das
suas composições desenvolveu-o, associando-o ao desencanto face à sua existência e ao mundo.
Composições representativas:
Tal como acima se referiu, o tema da mudança é um dos mais glosados pelos poetas renascentistas, no
entanto, a sua expressão na lírica camoniana, reveste-se de um tom mais sofrido. A diferença constatada
entre a mudança na natureza que se opera no sentido positivo e aquela que se opera no mundo e no sujeito
poético, ambas direcionadas negativamente, agudizadas pela mudança da própria mudança, intensificam
o sofrimento do “eu” poético que se sente um joguete nas mãos do destino e da fatalidade.
Bom estudo!
Rimas, de Camões
Exercício 1
Exercício 2
GLOSSÁRIO
1 morro.
2nascido.
3aproveitar, desfrutar.
GLOSSÁRIO
1 afeto.
2prémio, recompensa.
3duplicada.
4desprezo.
Num texto expositivo, mostre como Camões faz uma reflexão autobiográfica na sua
poesia, fundamentando a resposta com referências textuais pertinentes.